uma contribuic¸˜ao da fenomenologia para a...

70
Hebbertt de Farias Soares Uma contribui¸ ao da Fenomenologia para a Arquitetura da Informa¸ ao Bras´ ılia, DF Dezembro de 2004

Upload: nguyennguyet

Post on 07-Oct-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Hebbertt de Farias Soares

Uma contribuicao da Fenomenologia para a

Arquitetura da Informacao

Brasılia, DF

Dezembro de 2004

Page 2: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Hebbertt de Farias Soares

Uma contribuicao da Fenomenologia para a

Arquitetura da Informacao

Monografia apresentada como requisito par-cial para obtencao do grau de Bacharel emBiblioteconomia.

Orientador:

Prof. Dr. Mamede Lima-Marques

Departamento de Ciencia da Informacao e Documentacao

Faculdade de Economia, Administracao, Contabilidade e Ciencia da

Informacao e Documentacao

Universidade de Brasılia

Brasılia, DF

Dezembro de 2004

Page 3: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

i

Reitor da Universidade de Brasılia

Prof. Dr. Lauro Morhy

Diretor da Faculdade de Economia, Administracao, Contabilidade e Ciencia da

Informacao e Documentacao

Prof. Dr. Cesar Augusto Tiburcio Silva

Chefe do Departamento de Ciencia da Informacao e Documentacao

Profa. Dra. Sofia Galvao Baptista

Coordenador do Bacharelado em Biblioteconomia

Prof. Dr. Tarcisio Zandonade

Soares, Hebbertt de Farias, 1985 -

Uma contribuicao da Fenomenologia para a Arquitetura da In-

formacao / Hebbertt de Farias Soares. – Brasılia : CID/UnB, 2004.

x, 58 f.

Orientador : Prof. Dr. Mamede Lima-Marques.

Bacharelado (Monografia) - Universidade de Brasılia / Faculdade

de Economia, Administracao, Contabilidade e Ciencia da Informacao

e Documentacao / Departamento de Ciencia da Informacao e Docu-

mentacao / Bacharelado em Biblioteconomia, 2004.

1. Arquitetura da Informacao. 2. Fenomenologia. 3. Filosofia da

Ciencia. I. Tıtulo. II. Soares, Hebbertt de Farias. III. Lima-Marques,

Mamede.

Page 4: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

ii

Referencia bibliografica

SOARES, Hebbertt de Farias. Uma contribuicao da Fenomenologia para a Arqui-

tetura da Informacao. 2004. 59 f. Monografia (Bacharelado em Biblioteconomia) –

Departamento de Ciencia da Informacao e Documentacao, Faculdade de Economia,

Administracao, Contabilidade e Ciencia da Informacao e Documentacao, Universi-

dade de Brasılia, Brasılia, 2004.

Cessao de direitos

Nome do autor: Hebbertt de Farias Soares

Tıtulo da monografia: Uma contribuicao da Fenomenologia para a Arquitetura da

Informacao

Grau: Bacharel

Ano: 2003

E concedida a Universidade de Brasılia a permissao para reproduzir copias desta mo-

nografia para emprestar ou vender tais copias somente para propositos academicos

e cientıficos. O autor reserva outros direitos de publicacao e nenhuma parte desta

dissertacao de mestrado pode ser reproduzida sem a autorizacao por escrito do autor.

Hebbertt de Farias Soares

SRIA QI 7 bloco E apt 207

CEP: 71020-056 – Guara/DF – Brasil

E-mail: [email protected]

Page 5: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

iii

“O ponto de vista faz o objeto.”

Ferdinand de Saussure

“Da sag’n s’ dass ma’ so was net mach’n kann;

aber wann amal ein’s g’macht hat, dann wer’n s’ schon anders red’n!”

Adalbert Posch.

Page 6: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

iv

Agradecimentos

Certa vez o poeta portugues Fernando Pessoa declamou: “O valor das coisas nao

esta no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem

momentos inesquecıveis, coisas inexplicaveis e pessoas incomparaveis”. As poucas palavras

abaixo sao para agradecer a todas pessoas que me auxiliaram para que eu concretizasse

esse projeto. Muito obrigado a todos!

Agradeco especialmente ao meu orientador, conselheiro, professor e sobretudo amigo

Professor Doutor Mamede Lima-Marques por sua preocupacao com esse aluno rebelde

e afoito, sua paciencia nas longas orientacoes durante esses ultimos dois anos em que

trabalhamos juntos.

Nao posso deixar de agradecer a atencao dispensada por todos os meus colegas do

Programa de Pos-graduacao em Ciencia da Informacao da Universidade de Brasılia, espe-

cialmente Flavia Macedo, Joao Luiz Pereira Marciano, Simone Suganuma, Roberta Pontes,

Rinalda Riecken, Edgar Oliveira e todos os outros cujas opinioes foram fundamentais.

Gostaria de agradecer ilimitadamente a Professora Doutora Sely Maria de Souza Costa

e a Professora Doutora Elmira Simeao, minhas “maes”, ao Professor Doutor Antonio Mi-

randa os quais durante esses tres anos de graduacao me aconselharam e apoiaram.

Agradeco tambem aos professores Antonio Miranda e Tarcisio Zandonade por terem

aceitado o convite para serem membros de minha banca examinadora.

Agradeco aos colegas do Centro de Formacao de Recursos Humanos em Transportes

da Universidade de Brasılia (CEFTRU/UnB), especialmente Professora Doutora Yaeko

Yamashita, George Lavor, Daniel Aldigueri, Diogenes Correia, Pastor Gonzalez, Carla

Sampaio, Alessandra Brandao, Erika Kneib, Thadeu Magalhaes, Marcelo Queiroz, Luiz

Gustavo Pinheiro, Daliana Bandeira e Ednardo Ferreira por me ensinarem o significado da

Page 7: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Agradecimentos v

amizade e do trabalho em grupo. Muito obrigado por “terem me ensinado a ser gente”.

Nao existem palavras para descrever o quanto eu lhes sou grato.

Many, many, many special thanks to Ms Joselia Oliveira from International Labour

Office at Brasilia.

Agradeco aos meus colegas do bacharelado em biblioteconomia pela convivencia nos

ultimos anos.

Agradeco a enorme paciencia de Geanny Pereira, minha amada.

E por ultimo, mas nao menos importante, sou eternamente grato aos meus pais, Fran-

cisca e Antonio, por terem me tirado de casa afim de que eu estudasse; e aos meus irmaos

Humberto, Hudson, Gleide e Helio por todo o apoio nesse anos de convivencia conjunta,

desde que saı da casa dos meus pais.

Agradeco a todas as outras pessoas que conviveram, estudaram e trabalharam comigo,

sem duvida alguma todas foram e sao importantes para mim.

Deixo registrado que todas as limitacoes desse trabalho, assim como seus erros e

equıvocos, sao de minha inteira responsabilidade.

Page 8: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

vi

Resumo

Em face da babel terminologica na qual se encontra a area de Arquitetura da In-formacao (AI) sao analisadas as possibilidades de contribuicao que a Fenomenologia podeoferecer para os fundamentos epistemologicos dessa disciplina. Baseado na definicao deCiencia da Informacao proposta por Capurro, busca caracterizar a Arquitetura da In-formacao como uma subdisciplina do escopo da Ciencia da Informacao voltada para aestruturacao de sistemas de informacao. Em seguida, analisa os conceitos de Arquiteturada Informacao existentes atualmente, assim como revisa a Fenomenologia, em especial ateoria fenomenologica do conhecimento compendiada por Hessen. E proposto que a Feno-menologia pode contribuir na definicao do objeto de estudo para a AI, realiza a distincao ea localizacao das disciplinas envolvidas no estudo do Conhecimento, apresenta um enten-dimento do papel do sujeito na estruturacao de sistemas de informacao.

Palavras chaves: Fenomenologia, Arquitetura da Informacao, Filosofia da Ciencia

Page 9: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

vii

Abstract

Due to the divergence on Information Architecture (IA) definition, it is analised howPhenomenology can improve the IA epistemological foundations. Based on Capurro’s workin Information Science theory, it is tried to characterise the IA as discipline from Infor-mation Science scope which focuses on information system structural design. Followingit is analised the practiced definitions of IA, as well as the definition for Phenomenologyfocusing on Hessen’s interpretation for Phenomenology’s knowledge theory. It is discussedon this work that the Phenomenology can improve the field of IA building the definitionof its object, the localization of the disciplines involved on knowledge question and theunderstanding of human being roles in Information System design.

Key words: Phenomenology, Information Architecture, Philosophy of science

Page 10: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

viii

Sumario

1 Introducao p. 1

2 Objetivos p. 2

2.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 2

2.2 Objetivos especıficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 2

3 Justificativa p. 3

4 Metodologia p. 6

4.1 Metodologia de meta-modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 7

4.2 Procedimentos metodologicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 8

5 Estado da arte p. 9

5.1 Consideracoes iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 9

5.2 Estado da arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 10

6 Base teorica p. 17

6.1 Ciencia da Informacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 17

6.2 Arquitetura da informacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 19

6.2.1 Definicoes voltadas para a area de editoracao . . . . . . . . . . . . p. 20

6.2.2 Definicoes voltadas para a area de arquitetura e urbanismo . . . . p. 21

Page 11: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Sumario ix

6.2.3 Definicoes voltadas para a area de negocios e de tecnologia . . . . p. 21

6.2.4 Definicoes voltadas para a area de gestao da informacao . . . . . . p. 23

6.2.5 Definicoes voltadas para a area de Ciencia da Informacao . . . . . p. 23

6.2.6 Definicoes gerais que visam englobar varias areas . . . . . . . . . p. 25

7 Arquitetura da Informacao no contexto da Ciencia da Informacao p. 27

7.1 Arquitetura da Informacao como uma subdisciplina da Ciencia da In-

formacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 29

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao . . . . . . . p. 31

7.2.1 Nıvel Epistemologico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 33

7.2.2 Nıvel de tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 33

7.2.2.1 Sub-nıvel de representacao . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 34

7.2.2.2 Sub-nıvel de armazenamento . . . . . . . . . . . . . . . p. 34

7.2.2.3 Sub-nıvel de organizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 34

7.2.3 Nıvel de analise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 35

7.2.4 Nıvel de recuperacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 35

7.2.5 Nıvel de aplicacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 36

8 Base filosofica p. 37

8.1 Fenomenologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 37

8.1.1 Edmund Husserl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 38

8.1.1.1 Reducao eidetica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 38

8.1.1.2 Reducao fenomenologica . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 38

8.1.1.3 A nocao de intencionalidade . . . . . . . . . . . . . . . . p. 39

8.1.2 Maurice Merleau-Ponty . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 39

Page 12: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Sumario x

8.1.2.1 A fenomenologia da percepcao . . . . . . . . . . . . . . . p. 39

8.1.3 Martin Heidegger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 40

8.1.3.1 A retomada da intencionalidade . . . . . . . . . . . . . . p. 40

8.1.3.2 A ontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 40

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenome-

nologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 41

8.2.1 Hermeneutica da teoria do conhecimento de Hessen . . . . . . . . p. 43

9 Contribuicoes da Fenomenologia para a Arquitetura da Informacao p. 48

10 Trabalhos Futuros p. 52

Referencias p. 53

Page 13: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

1

1 Introducao

Este trabalho tenta argumentar que a Arquitetura da Informacao pode ser considerada

uma disciplina inclusa no escopo da Ciencia da Informacao e que a Fenomenologia, em

especial a sua teoria do conhecimento, compendiada por Hessen (1973), pode servir de

base para uma epistemologia da Arquitetura da Informacao.

No levantamento realizado para a execucao desse estudo nao foi encontrado nenhuma

definicao unanimamente aceita acerca do que seja a Arquitetura da Informacao. Diversos

grupos, desde pesquisadores da area de Ciencia da Informacao ate arquitetos e urbanistas,

clamam para si a definicao dessa disciplina. As definicoes existentes sao, em sua maio-

ria, voltadas para elementos da pratica de uma parte da arquitetura da informacao em

detrimento dos aspectos epistemologicos e cientıficos da disciplina1.

Nessas definicoes observa-se uma verdadeira verborragia desmedida, rementendo aquilo

que o filosofo alemao Karl Popper denominou essencialismo, isto e, discussoes acerca das

palavras e seus significados, desprovida de consideracoes sobre o fenomeno.

Baseado na exortacao anti-essencialista “the relations between a theory and the words

used in its formulation is in several ways analogous to that between written words and the

letters used in writting them down” de Popper,2 propoe-se rever o conceitos de Arquitetura

da Informacao em favor de uma construcao fundamentada epistemologicamente na Ciencia

da Informacao fenomenologica-hermeneutica proposta por Capurro (1985) e na Teoria do

Conhecimento a partir da perspectiva da Fenomenologia.

1Miranda (2003b) discute questao similar no contexto da biblioteconomia.2A primeira versao era “Never let yourself be goaded into taking seriously problems about words and

their meaning. What must be taking seriously are questions about facts: theories and hypotheses, the

problems they solve and the problems they raise” que posteriormente foi revista.

Page 14: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

2

2 Objetivos

2.1 Objetivo geral

Caracterizar a Teoria do Conhecimento, fundamentada na fenomenologia, como base

epistemologica para a Arquitetura da Informacao, disciplina da Ciencia da Informacao.

2.2 Objetivos especıficos

• Realizar revisao bibliografica sobre o conceito de Arquitetura da Informacao;

• Realizar revisao bibliografica sobre o conceito de Teoria do Conhecimento;

• Realizar revisao bibliografica sobre o conceito de Fenomenologia;

• Caracterizar a Arquitetura da Informacao como disciplina da Ciencia da Informacao;

• Identificar modelos que utilizaram a Fenomenologia como base para uma teoria do

conhecimento;

• Caracterizar uma teoria do conhecimento a partir da Fenomenologia;

• Propor uma fundamentacao epistemologica da Arquitetura da Informacao baseada

na Fenomenologia.

Page 15: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

3

3 Justificativa

A area de Arquitetura da Informacao (AI) transformou-se em uma algazarra termi-

nologica desprovida de fundamentos epistemologicos, cientıficos ou metodologicos.

As discussoes para a definicao dessa area do conhecimento sao, em sua maioria, base-

adas na pratica, seguidas de uma inducao ao status de definicao ou mesmo de teoria.

Figura 1: Diagrama os homens cegos e o elefante de Rosenfeld e McMullin (2001b)

Considerando esses problemas, Rosenfeld e McMullin (2001a) propoem um diagrama

Page 16: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

3 Justificativa 4

para representacao grafica do conceito de AI.

De fato, a proposta de Rosenfeld e McMullin (2001b) e criticar a falta de consenso na

area atraves da parodia com a fabula indiana de cegos que tateiam um elefante. Para ele,

seja em gestao do conhecimento, marketing de relacionamento, ou interaction design todos

estao tentando sintetizar campos, ferramentas, tecnicas e experiencias existentes em algo

novo, usando sua propria metodologia e perspectiva, para projetar sistemas de informacao

de alta complexidade.

O que se observa na literatura e um emaranhado de definicoes, sendo que a maior parte

converge o entendimento da AI como uma pratica voltada para o arranjo de interfaces

web. Paralelamente, verifica-se a ocorrencia de manifestacoes das mais variadas origens

clamando por uma definicao mais ampla e contextualizada.

Dillon (2002) afirma que e necessario definir aquilo que Morville (2000) chamou de big

Information Architecture, onde mostra que espacos de informacao necessitam de projetos

de multiplos nıveis e que a experiencia de vida do usuario naquele espaco e uma orientacao

direta advinda da AI.

Haverty (2002) afirma que Arquitetura da Informacao pode ser considerada um campo,

mas nao ainda uma disciplina, devido a falta de uma teoria capaz de compreender a

interacao entre os elementos que a compoem e nortear o planejamento de sistemas de

informacao. Por este motivo, os sistemas acabam sendo projetados de forma indutiva, por

demanda, com solucoes caso a caso. A autora alerta para a necessidade de uma teoria com

abordagem sistemica para compreensao do objeto de estudo, que possa fornecer a base para

o planejamento de sistema de informacao de um modo geral, num processo dedutivo de

solucao de problemas. Segundo a autora, quando consolidar seu corpo teorico, AI passara

de campo para disciplina.

Latham (2002) afirma que e preciso estabelecer uma base teorica que caracterize AI,

e ao mesmo tempo um currıculo academico flexıvel para abarcar materias mais tecnicas,

dependentes dos avancos tecnologicos, que sao constantes.

Robins (2002) mostra que nao existe um consenso nas propostas de cursos de formacao

em Arquitetura da Informacao, nas varias escolas especializadas dos EUA, tao-pouco, nao

Page 17: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

3 Justificativa 5

existe consenso em seu significado. AI ainda se encontra em um estado onde nem mesmo

o mercado possui uma definicao, embora ja absorva profissionais com especializacoes em

campos correlatos.

Se as discussoes acerca do conceito de AI ainda sao incipientes, aquelas acerca dos

fundamentos epistemologicos sao inexistentes1. Ao mesmo tempo verifica-se que a AI esta

se consolidando como pratica profissional2 e academica3.

Van Gigch e Pipino (1986) argumentam que, no estudo de um problema, o entendi-

mento do seus pressupostos epistemologicos e essencial, uma vez que o mesmo e fundamento

para a criacao de metodos e modelos cientıficos para o estudo.

Os autores partem do princıpio de que quando uma area do conhecimento nao busca

renovar ou auto-examinar as suas raızes epistemologicas, ela esta condenada a se repetir,

caindo na incapacidade de renovar-se ou de sair dos modos e procedimentos estabelecidos.

Nesse contexto, eles propoem a Metodologia de meta-modelagem4.

Considerando-se que a Arquitetura da Informacao ainda esta em um estagio em-

brionario, az-se necessario promover pesquisas no nıvel epistemologico de modo a criar

elementos para o desenvolvimento de uma base cientıfica da AI.

1Nao foi encontrada nenhuma literatura acerca do tema epistemologia da arquitetura da informacao.2Recentemente o parlamento britanico anunciou a abertura de vagas para arquitetos da informacao3Em 2004, o Programa de Pos-graduacao em Ciencia da Informacao da Universidade de Brasılia criou

a linha de pesquisa em arquitetura da informacao4Miranda (2003a) propoe “o conceito de metametodologia e derivado justamente da constatacao de

que as metodologias que servem a uma area em particular, tambem podem, quando adaptadas a esse fim,servir a outras disciplinas cientıficas, superando suas orientacoes e aplicacoes originais.”

Page 18: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6

4 Metodologia

O presente trabalho tem como objeto os fundamentos epistemologicos para a Arqui-

tetura da Informacao, como subdisciplina da Ciencia da Informacao. Nao sao focos dessa

discussao problemas de aplicacoes da Arquitetura da Informacao, sendo esta, portanto, de

carater abstrato e filosofico.

A construcao desse trabalho esta fundamentada em duas teses: a) a de que sao ne-

cessarios elementos epistemologicos para consolidacao de uma disciplina, conforme pro-

posto por Van Gigch e Pipino (1986); b) a Fenomenologia suporta modelos que permitem

trabalhar o complexo sem perder as suas essencias.

Defende-se aqui que a Arquitetura da Informacao esta diretamente relacionada ao

desenho estrutural de sistemas de informacao, e preocupa-se tanto com os aspectos de

forma quanto com os de conteudo.

Observa-se que a area de sistemas de informacao e caracterizada por um tecnicismo

dominante. Por tecnicismo (teckhne) entende-se a predominancia de solucoes tecnicas,

sobre os aspectos humanos. Sao comuns os casos de aquisicao de uma solucao tecnologica

para criar um problema. Esse modelo pode ser visto como fruto de uma separacao entre a

forma e o conteudo, o corpo e alma, imposta por um paradigma positivista-cartesiano.

Todavia, a construcao de sistemas de informacao efetivos requer um equilıbrio entre

os aspectos humanos e tecnologicos, sem perder nenhum dos aspectos. A Fenomenologia

favorece esse ponto por criar, atraves da correlacao, um equilıbrio.

Um segundo ponto para escolha da Fenomenologia foi o fato de ela possuir uma teoria

do conhecimento consolidada e com alto potencial de aplicabilidade no setor de tecnologia,

por exemplo, sua abordagem de objetos fenomenicos e isomorfica a abordagem de conceitos

Page 19: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

4.1 Metodologia de meta-modelagem 7

de objetos utilizados na analise de informacao em engenharia de software.

O terceiro fator foi o fato de a Fenomenologia ter se destacado como um dos grandes

movimentos filosoficos do seculo XX, tendo influenciando quase todas as areas do pensa-

mento humano.

Neste trabalho adotaremos a Fenomenologia como solidificante do estudo para uma

epistemologia da Arquitetura da Informacao.

4.1 Metodologia de meta-modelagem

A Metodologia de meta modelagem consiste em diferentes nıveis indagacao. O primeiro

e mais baixo nıvel e chamado de nıvel de implementacao, o nıvel da pratica ou o nıvel de

intervencao. E o nıvel no qual as pessoas - gerentes, cidadaos, clientes, etc. - estao

envolvidas diretamente nos problemas reais (real life problems). Neste nıvel as teorias,

modelos, tecnicas e tecnologias sao empregados pelas organizacoes e pelas sociedades.

O segundo nıvel consiste das atividades nas quais sao criados modelos e teorias para

descrever, explicar, predizer ou modelar os problemas reais. Este nıvel e chamado de nıvel

da ciencia, nıvel do objeto ou nıvel da modelagem.

O terceiro nıvel “engloba as atividades que buscam definir a origem do conhecimento

da disciplina, justificar os seus metodos de raciocınio e enunciar a sua metodologia”(VAN

GIGCH; PIPINO, 1986). Esse nıvel e chamado de nıvel epistemologico ou nıvel de meta-

modelagem (ERIKSSON, 1998).

A figura 2 ilustra a hierarquia do sistema de questionamentos e as relacoes entre cada

nıvel, as entradas e as saıdas, assim como concebido na Metodologia de Meta-Modelagem.

O sistema funciona da seguinte maneira: o nıvel epistemologico recebe uma entrada dos

nıveis da pratica e da ciencia, assim como da Filosofia da Ciencia; o nıvel da ciencia recebe

o paradigma1 proposto pelo nıvel epistemologico e as evidencias do nıvel da pratica. O

nıvel da pratica por sua vez emprega os modelos e teorias produzidos pelo nıvel da ciencia.

1o termo paradigma e usado segundo a definicao proposta por Kuhn (1970)

Page 20: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

4.2 Procedimentos metodologicos 8

Figura 2: Ilustracao da hierarquia do sistema de questionamentos e as relacoes entre cadanıvel, como concebido na metodologia de meta-modelagem. Adapatada com modificacoesde Van Gigch e Pipino (apud ERIKSSON, 1998).

4.2 Procedimentos metodologicos

A fim de alcancar o objetivo pretendido, serao executadas as seguintes etapas:

1. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Arquitetura da Informacao;

2. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Teoria do Conhecimento;

3. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Fenomenologia;

4. Realizar levantamento do estado da arte sobre modelos que utilizam a Fenomenologia

como base para uma teoria do conhecimento;

5. Analisar dos conceitos da base teorica;

6. Caracterizar uma teoria do conhecimento a partir da Fenomenologia;

7. Desenvolver os argumentos para a possibilidade da Fenomenologia fundamentar uma

epistemologia da Arquitetura da Informacao.

Page 21: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

9

5 Estado da arte

5.1 Consideracoes iniciais

O objetivo do estado da arte e apresentar trabalhos publicados na mesma linha do

que esta sendo proposto. Para a realizacao do presente, foi feita uma busca exaustiva nas

seguintes bases de dados:

• Google – buscador que conta com mais de oito bilhoes de paginas indexadas;

• Science Direct – base de dados do grupo Elsevier que possui aproximadamente mais

sessenta de milhoes de artigos indexados;

• The ACM Digital Library – biblioteca eletronica publicada Association for Com-

puting Machinery que conta com um acervo de aproximadamente um milhao de

entradas;

• ISI Web of Knowledge – base de dados publicada pelo grupo Thomson;

• Scientific Literature Digital Library – biblioteca eletronica mantida pela National

Science Foundation e que possui aproximadamente setecentos mil itens.

Infrutiferamente, nao foi encontrado nenhum1 trabalho sobre a epistemologia da arquite-

tura da informacao.

O trabalho que mais se aproxima do tema desenvolvido e o de Macedo (2004), que

ainda esta em fase de preparacao.Neste trabalho a autora busca conceituar a Arquitetura

da Informacao como uma subdisciplina do escopo da Ciencia da Informacao.

1As buscas foram realizadas ate o dia 25/11/2004.

Page 22: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 10

Os trabalhos encontrados com maior afinidade com o tema proposto foram na area de

epistemologia aplicada a sistemas de informacao. Considerando-se que na decada de 80

foram publicadas varias pesquisas na area de sistemas de informacao, optou-se por buscar

trabalhos publicados nos ultimos vinte anos, compreendendo o perıodo de 1985 a 2005.

5.2 Estado da arte

Ja em 1989, Hirschheim e Klein (1989) analisaram a importancia dos paradigmas no

desenvolvimento de sistemas de informacao. De acordo com os autores o desenvolvimento

dos sistemas computadorizados necessariamente envolvem crencas (explicıtas e implıcitas).

Tais crencas estao relacionadas a maneira como entendemos e modelamos a realidade

para ser representada em um sistema de informacao. Neste processo, sao feitas escolhas a

favor de determinados aspectos em detrimento de outros.

Os autores argumentam que essas escolhas tem importantes consequencias sociais, uma

vez que o sistema de informacao vira a ser usado por todo um grupo. No estudo, observou-

se que as escolhas realizadas pelos desenvolvedores de software estao agrupadas em quatro

paradigmas predominantes, ilustrados na figura 3.

Figura 3: Paradigmas do desenvolvimento de sistemas de informacao Burrell e Morgan(apud HIRSCHHEIM; KLEIN, 1989)

Burrell e Morgan (apud HIRSCHHEIM; KLEIN, 1989) analisam as crencas sobre o

conhecimento (epistemologicas) e sobre o mundo (ontologicas), ambas variando em duas

Page 23: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 11

dimensoes: subjetivismo-objetivismo e ordem-conflito.

A partir desses extremos e tracado um plano cartesiano para avaliacao dos paradigmas.

No extremo objetivista, em essencia, pretende-se aplicar os metodos das ciencias naturais

nas ciencias sociais, contrastando com o extremo subjetivista que nega todos os metodos das

ciencias naturais e estuda o fenomenos sociais a partir do ponto de vista das experiencias

individuais dos sujeitos.

No outro eixo, a ordem ou integracionismo enxerga o mundo social como sendo carac-

terizado pela ordem, estabilidade, integracao e consenso ao passo que o conflito enxerga o

mundo social como sendo caracterizado pela desordem, instabilidade e desintegracao. Por

meio da relacao entre os quatro extremos e possıvel encontrar os paradigmas subjacentes.

Winograd e Flores (1990)2 propoem que a area de inteligencia artificial e dominada por

um modelo de analise construido a partir do pensamento cartesiano, o qual eles denominam

tradicao racionalista.

Para os autores, esse modelo deve ser substituıdo por uma abordagem baseada na

hermeneutica, de forma a associar o entendimento dos processos biologicos e psicologicos

as maquinas. A grande contribuicao dessa obra a area de epistemologia de sistemas de

informacao e a “insurgencia” contra o paradigma predominante na area de computacao,

em especial da area de inteligencia artificial.

Eriksson (1998) analisa metodologias para estudo de sistemas voltados para a resolucao

de problemas dentro da perspectiva da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Utilizando

a Metodologia de Meta-modelagem de Van Gigch (1991) ele argumenta que os modelos

epistemologicos sao necessarios para o entendimento dos modelos e teorias de uma dada

area do conhecimento, e que sem aqueles nao ocorre a evolucao do pensamento cientıfico,

pois mantem-se os mesmos paradigmas e metodos da pesquisa.

Gregg, Kulkarni e Vinze (2001) se propoem a analisar como os modelos filosoficos das

ciencias sociais poderiam ser aplicados a pesquisa em engenharia de software. Os autores

partem da premissa popperiana de que a qualidade de uma pesquisa nao e baseada no seu

metodo empırico, mas sim na natureza do problema estudado. Eles concluem que, dado

2Esta obra e considerada um das dez mais importantes obras na area de computacao, segundo aAssociation of Computing Machinery.

Page 24: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 12

o carater de desenvolvimento3 da pesquisa em engenharia de software, faz-se mister um

novo paradigma para a area, uma vez que os paradigmas da ciencias sociais nao atendem

as suas demandas.

Turk (2001) considera que modelos conceituais em arquitetura e engenharia civil sao

em essencia estruturas de dados que podem ser utilizadas para descrever todas as etapas

do processo de construcao, do projeto a demolicao. Entretanto, os modelos conceituais

tem recebido pouca atencao na area.

Em seu trabalho o autor descontroi as abordagens tradicionais de modelagem usando a

fenomenologia e a hermeneutica como base filosofica. Ele conclui que um modelo conceitual

e incapaz de abarcar toda a realidade, ele e limitado e considera apenas um pedaco da

realidade, sendo possıvel dessa maneira que existam diversos modelos corretos e diferentes

de uma mesma realidade.

Lee e Lacey (2003) estudam a influencia da epistemologia no processo de desenvol-

vimento de agentes inteligentes. No estudo realizado sao construıdos dois agentes basea-

dos em epistemologias opostas (o holismo e o atomismo). Colocados diante dos mesmos

fenomenos os agentes obtiveram resultados distintos. Em vistas das observacoes eles con-

cluem que a escolha de uma epistemologia desempenha grande influencia no desenvolvi-

mento de agentes.

Fenema e Qureshi (2004) estudam a questao dos ambientes de trabalho policontextuais,

a partir da otica da Fenomenologia. As novas tecnologias aportam uma serie de questoes

para a maneira como as pessoas trabalham. Os autores optaram por utilizar a fenomenolo-

gia, como ponto de partida para um metodo de analise, por causa da sua simplicidade, que

permite ao pesquisador trabalhar com a essencia de um fenomeno observavel, mas pouco

compreendido.

Na literatura pesquisada o autor que mais se aproxima do foco deste trabalho e Mingers

(2001b, 2001a, 2003, 2004b, 2004a) com seus trabalhos na area de epistemologia de sistemas

de informacao.

Na obra Embodying information systems: the contribution of phenomenology, Mingers

3developmental orientation

Page 25: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 13

(2001b) analisa a possibilidade da incorporacao (embodiment) em sistemas de informacao, a

partir de consideracoes sobre a funcao que o corpo exerce na cognicao humana, e explorando

suas consequencias para os sistemas de informacao e a inteligencia artificial. Baseado

no trabalho de Zuboff (1988), Mingers afirma que a influencia da tradicao racionalista a

cognicao e a mente foram separadas do corpo e da acao, sendo que os sistemas de informacao

adotaram essa abordagem e a expandiu. A reacao ao modelo racionalista surge, no seculo

XX, dentro de alguns movimentos filosoficos, como a fenomenologia.

A partir do trabalhos de Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty, Mingers (2001b) demons-

tra que e possıvel sair do estado de pensamento puro de Descartes atraves do retorno ao

mundo da vida, o Lebenswelt, promovendo assim um retorno as essencias, como previsto no

projeto fenomenologico. Dentro desse quadro, o corpo desempenha um papel importante,

sendo o elo de interacao para o indivıduo (e a sociedade), a acao e a cognicao e con-

sequentemente adquire um papel central no desenvolvimento de sistemas de informacao

efetivos.

Na obra Real-izing information systems: critical realism as an underpinning philosophy

for information systems, Mingers (2004b) parte da constatacao de que a pesquisa e o

desenvolvimento da area de Sistemas de Informacao, sobretudo nos Estados Unidos da

America, e fundamentado por uma filosofia positivista (empiricista). Todavia durante a

decada de 1980 e 1990 surgiram novas abordagens nao positivistas como a etnografia,

hermeneutica, etnometodologia, fenomenologia e o realismo, dentre outras.

As filosofias realistas assumem que determinados elementos existem no mundo inde-

pendentemente do sujeito mas que e possıvel obter conhecimento delas, contrariando assim

as abordagens empıricas segundo as quais e possıvel obter o conhecimento apenas a partir

do observavel.

Para o autor a aplicacao do realismo crıtico e importante porque:

1. permite usar a argumentacao desenvolvida pela filosofia realista;

2. permite unir as ciencias naturais com as ciencias sociais, permitindo uma melhor

fundamentacao da area de sistemas de informacao;

3. permite obter solucoes satisfatorias para os problemas da area de Sistemas de In-

Page 26: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 14

formacao como uma disciplina aplicada.

Klein (2004) discorda de Mingers (2004b) e argumenta que:

1. o realismo crıtico e um tipo de filosofia da ciencia denominado pos-positivista, isto

e, nada mais e do que uma ontologia e uma epistemologia positiva empırica que

considera as crıticas do empiricismo ingenuo do seculo XX, e que contraria o princıpio

da falsificabilidade de Popper;

2. o realismo crıtico nao possui uma teoria do conhecimento explıcita, que possa definir

o conhecimento ou criterios de verdade;

3. o realismo crıtico possui um carater impreciso em relacao as normas e valores sociais;

4. o realismo crıtico nada mais e do que uma sıntese das discussoes de Kuhn (1970),

Lakatos (1970) e Lakatos e Musgrave (1970), nao apresentando nenhuma inovacao

do ponto de vista filosofico;

5. o realismo crıtico traz uma versao limitada da nocao de falsificabilidade e do ideal de

uma ciencia unificada.

Outra crıtica ao trabalho de Mingers (2004b) e feita por Monod (2004) que apresenta

os seguintes argumentos:

1. a afirmacao de que o fenomeno e independente de sua concepcao pelo sujeito e uma

ideia ultrapassada formulada pela fısica de Newton e Galileu, tendo sido superada

pelo princıpio da incerteza de Heisenberg (1962), pelo princıpio da complementarie-

dade de Bohr (1963) e pela teoria da relatividade de Einstein (1990);

2. conceito de causalidade apresentado como central em Mingers (2004b) tambem e

rejeitado a partir da fısica contemporanea e das “‘condicoes de possibilidade” de

Kant (1974);

3. a respeito da separacao entre as ciencias sociais e naturais e a busca de uma “meto-

dologia universal” e refutada a partir da distincao metodologica proposta por Kant

(1974), em Kritik der reinem Vernunft visando evitar casos de antinomia.

Page 27: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 15

Mingers (2004a) responde as crıticas de Monod (2004) da seguinte maneira:

1. quanto a crıtica da separacao entre o mundo e o sujeito, Mingers (2004a) argumenta

que a proposicao de Monod (2004) trata-se de uma falacia epistemica, inerente as

filosofias idealistas, derivada de uma incapacidade de diferenciar questoes ontologicas

de questoes epistemologicas;

Nao existe contradicao no argumento de que existe um mundo a priori transcen-

dente ao sujeito (argumento ontologico) e ao mesmo tempo reconhecer que o nosso

conhecimento ou experiencia desse mundo e moldado pelas experiencias cognitivas

do sujeito (argumento epistemologico);

2. quanto a crıtica da antinomia inerente ao realismo crıtico, Mingers (2004a) afirma que

essa corrente de pensamento nao “junta” outras vertentes, mas sim tenta incorporar

as nocoes que ela considera adequada.

Em relacao as crıticas de Klein (2004), Mingers (2004a) afirma:

1. quanto a crıtica que Klein (2004) faz a ontologia do realismo crıtico, Mingers (2004a)

responde que o axioma desse modo de pensar esta no argumento de que existe uma

separacao entre o sujeito e o objeto aliada a um mecanismo de causalidade;

E importante salientar que a causalidade aqui e entendida diferentemente da nocao

linear efeito-causa do pensamento positivista, mas sim o resultado de uma complexa

interacao (interplay) entre multiplas e estratificadas estruturas;

2. quanto a crıtica que Klein (2004) faz a epistemologia do realismo crıtico, Mingers

(2004a) responde que o conhecimento esta intimamente relacionado a verdade. Sendo

possıvel estabelecer quatro aspectos basicos para a verdade:

• Verdade fiduciaria, isto e, que necessita de provas;

• Verdade justificavel, isto e, garantida pelas evidencias;

• Verdade proposicional, isto e, garantida pela relacao entre as proposicoes e os

fatos;

Page 28: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

5.2 Estado da arte 16

• Verdade aletica, isto e, a causa ou razao real de um fenomeno.

3. quanto a crıtica que Klein (2004) faz a moral do realismo crıtico, Mingers (2004a)

responde que de fato esse aspecto nao foi desenvolvido nos trabalhos originais, mas

tem potencial para futuros desenvolvimentos.

Page 29: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

17

6 Base teorica

Este capıtulo apresenta as bases teoricas que fundamentam o trabalho. Estao apre-

sentadas na seguinte sequencia: apresentacao das definicoes sobre Ciencia da Informacao

e definicoes sobre Arquitetura da Informacao.

6.1 Ciencia da Informacao

A ciencia e um produto humano que se encontra condicionado a uma situacao historica e

a um determinado tipo de sociedade. Ela nao pode ser infalıvel, nem pode ter a capacidade

de explicar o todo, tampouco pode ter como missao controlar a vida do homem. Sua missao

e trazer para o homem um conhecimento da realidade de modo que permita transforma-la

e satisfazer as suas necessidades (PAREJA; DAVILLA, 1984).

A Ciencia da Informacao (CI) e uma area do conhecimento que inicia o seu processo

de consolidacao no perıodo pos-guerra, recebendo influencias de varias outras disciplinas

ja existentes ou em processo de criacao, tais como a Ciencia Cognitiva, a Biblioteconomia,

a Informatica dentre outras (SARACEVIC, 1996; LE COADIC, 1994). Esse agrupamento

inicial foi importante para a definicao da CI enquanto area do conhecimento. Todavia, nao

implica que o escopo da CI seja limitado aquelas.

A medida que a CI foi amadurecendo esses conceitos foram sendo modificados e incor-

porando as novas contribuicoes. Saracevic (1996) considera que a “Ciencia da Informacao

e um campo dedicado as questoes cientıficas e a pratica profissional voltadas para os pro-

blemas da efetiva comunicacao do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos,

no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informacao”.

Page 30: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.1 Ciencia da Informacao 18

A definicao de Saracevic (1996) evidencia um foco na area de comunicacao e trans-

ferencia da informacao, sendo que questoes relativas a gestao da informacao, por exemplo,

estao implıcitas. Corroborando com Saracevic, Le Coadic (1994) afirma que as “atividades

tecnicas sao o manancial de onde surgem os conhecimentos cientıficos e tecnicos que se

transformarao, depois de registrados, em informacoes cientıficas e tecnicas (...) A ciencia

da informacao, as ciencias do conhecimento, em geral, sao, a esse respeito, excelentes exem-

plos de interdisciplinas. (...) onde o pesquisador que ganha e aquele que primeiro publica

a informacao”.

Essas sao apenas algumas definicoes, entretanto observa-se na literatura uma vasta

gama de autores que propoem definicoes de Ciencia da Informacao. A maioria destas do

tipo consuetidario, isto e, definem o “que e” e o “que nao e” a CI.

Em face a essa diversidade faz-se mister rever as epistemologias que embasam a Ciencia

da Informacao.

Seguindo uma orientacao Popperiana focada em problemas e nao em areas tematicas1

Capurro (1992) busca definir a CI nao pelo que ela e (What is Information Science? ) mas

pela sua funcao (What is Information Science for? ).

Para Capurro (1985, 1992, 2000) o elemento fundamental da CI nao e a informacao,

mas sim o homem. Realizando assim uma importante mudanca epistemologica. Em sua

obra e abandonada a ideia de informacao como um elemento externo a mente humana, e

busca olhar o fenomeno da cognicao como condicao necessaria para a determinacao do que

e chamado informacao.

Para Capurro (1992) a CI, enquanto disciplina retorico-hermeneutica, deve preocupar-

se com o estudo da dimensao pragmatica-contextual das relacoes de trocas de informacao

e conhecimento, de forma a estabelecer nao apenas instrumentos, mas sim ways of being 2

(Wasein).

A mudanca na organizacao dos sistemas de informacao requer uma mudanca na ciencia

da informacao.

1Ver a exortacao anti-essencialista de Popper.2Winograd e Flores (1990)

Page 31: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 19

E necessario que a CI esteja aberta as perspectivas culturais e sociais dos processos

hermeneuticos, levando em consideracao as diferencas qualitativas que existem entre o con-

texto e o suporte. Implicando assim na inclusao sine qua non dos processos hermeneuticos

nos processos informacionais.

Outro aspecto importante e que os processos hermeneuticos sao essencialmente multi

e interdisciplinares (CAPURRO; HJORLAND, 2003).

6.2 Arquitetura da informacao

A Arquitetura da Informacao (AI) e um domınio ainda nebuloso. Apesar de o termo

ja ser usado desde a decada de 1960, e apos a segunda metade da decada de 1990 que ele

se populariza.

O primeiro uso explicıto do termo arquitetura da informacao e feito por Richard S.

Wurman um arquiteto que trabalhava na area de editoracao, no inıcio da decada de 1960.

Como arquiteto, ele interessou-se pela relacao entre os elementos que compunham a

paisagem urbana e as pessoas que a usavam, especificamente ele se especializou na orga-

nizacao de fontes de informacao para urbanistas, arquitetos, engenheiros de transportes e

sobretudo para pessoas que vivem ou visitam na cidade.

Em 1976, como chair da American Institute of Architects National Conference Wurman

escolheu como um dos temas da conferencia The Architecture of Information, nascendo

assim a expressao arquitetura da informacao.

Todavia, a designacao arquitetura da informacao passa a ser usada de forma intensiva

a partir da segunda metade decada de 1990 com a “explosao” da World Wide Web, a

WWW, que faz surgir a demanda por interfaces mais amigaveis e interativas.

Esse uso iniciado na decada de 1960 e feito predominantemente pelas comunidades

de designers e artistas plasticos os quais associam a Arquitetura da Informacao somente

a apresentacao dos conteudos na WWW, enfocando aspectos como usabilidade e ergono-

mia. Apesar de algumas vertentes entenderem a Arquitetura da Informacao relacionada

ao urbanismo e a teoria da arquitetura.

Page 32: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 20

As definicoes encontradas na literatura adotaram duas estrategias: ou definiram a AI

como especıfica de um um domınio ou buscaram definicoes genericas que englobassem

varias areas do conhecimento

A seguir sao apresentadas definicoes de AI encontradas na literatura, e importante

ressaltar que a proveniencia dessas citacoes sao, em sua maioria, de paginas da internet,

uma vez que ainda e pouco o numero de trabalhos sobre teoria da arquitetura da informacao

publicados em meios cientıficos.

6.2.1 Definicoes voltadas para a area de editoracao

Para Wodke (2000) a AI e o estudo da organizacao de estruturas efetivas de sistema

web, em particular dos relacionamentos entre os elementos internos de uma pagina assim

como o relacionamento entre as paginas.

Shiple (2003) considera a AI como um campo que envolve a investigacao, analise e

a implementacao de sıtios. Esta definicao, no contexto da web, inclui a organizacao,

navegacao, representacao e mecanismos de busca. O objetivo e fazer com que os usuarios

encontrem e gerenciem a informacao de forma efetiva.

Hill (2000), influenciado pelos trabalhos de Rosenfeld e Morville, afirma que a AI

envolve o projeto, os rotulos, a navegacao e a busca em sistemas de informacao visando

ajudar os usuarios a localizarem e gerenciar a informacao de forma mais eficaz.

A arquitetura da informacao e o processo de organizacao e apresentacao dos dados para

o usuario de forma clara, intuitiva e significativa. AI e a base de todos os sites de sucesso.

Todos os outros aspectos do projeto grafico devem ser feitos a partir da arquitetura de

informacao segundo o Addwise smart web architecture (2004).

Esse conjunto de definicoes aponta para uma Arquitetura da Informacao voltada exclu-

sivamente para a editoracao de paginas da internet, excluindo a possibilidade de arquitetura

da informacao em outros ambientes.

Page 33: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 21

6.2.2 Definicoes voltadas para a area de arquitetura e urbanismo

Burke (2002) considera que a AI estabelece um processo de estruturacao, organizacao e

desenho3 de ambientes virtuais interligados, podendo ser utilizados os metodos empregado

no planejamento urbano.

A pratica da arquitetura da informacao requer a criacao de grupos de trabalho inter-

disciplinares, dentro dos quais o arquiteto da informacao trabalharia no papel de um elo

de ligacao entre os diversos especialistas.

Para Coward e Salingaros (2004) as cidades podem ser entendidas como sistemas de

arquiteturas4 da informacao. Sendo que as cidades efetivas sao aquelas onde os sistemas

de arquiteturas respondem as mudancas no ambiente, isto e, as alteracoes no fluxo da

informacao.

6.2.3 Definicoes voltadas para a area de negocios e de tecnologia

Os arquitetos da informacao sao profissionais encarregados de disponibilizar a in-

formacao e procuram, por intermedio de uma arquitetura adequada de TI, compor um

quadro abrangente e significativo de informacoes, transformando-a numa ferramenta es-

trategica para a organizacao. A criacao de uma arquitetura de informacao articulada,

contemplando as necessidades de informacao dos usuarios e os atributos da estrutura da

informacao necessaria para atende-los viabilizam o uso da informacao pelas diversas partes

envolvidas em todo o processo de gestao, o que envolve, tambem, o seu bom gerenciamento.

Logo, o modelo de gestao e um subsistema do sistema institucional, sendo influenciado,

alem da missao, pelas crencas (conviccoes) e valores (apreciacoes), os quais sofrem o im-

pacto da cultura organizacional. Do sistema institucional sao emanadas diretrizes gerais

para orientar o processo de gestao. A empresa busca cumprir sua missao e assegurar a con-

tinuidade de suas atividades pelo sistema de gestao. O conjunto de princıpios, conceitos

e normas definidos no modelo de gestao sao operacionalizados no sistema de gestao, que

3No sentido de projetar.4A expressao arquitetura e empregada com o mesmo sentido de arquitetura de computadores, ela nao

se refere ao projeto de construcoes, mas sim a maneira como os componentes de um sistema complexointeragem

Page 34: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 22

orienta o processo de gestao organizacional, o qual, por sua vez, e suportado pelos siste-

mas de informacoes e social, conectados com o sistema fısico-operacional da organizacao,

segundo Beuren (1998).

Bidgood e Jelley (1991) propoem que a AI constitui-se no veıculo para determinar

as necessidades de informacoes da organizacao, mostrando as atividades empreendidas no

negocio, ou parte dele, bem como os dados que essas atividades requerem, como devem ser

agrupadas, sequenciadas, permitindo a organizacao planejar o desenvolvimento de sistemas

de informacoes em bases racionais. Uma arquitetura de informacoes convencional mapeia

atividades de negocio destinadas a uso por entidades de dados.

Os autores apontam que para produzir uma arquitetura de informacoes os analistas

devem evitar excesso de detalhes. As entidades e atividades identificadas deve ser relevan-

tes para o nıvel empresarial, nao meramente para o nıvel departamental. Cada atividade e

entidade identificada devem ser brevemente definidas, de tal forma que os negocios repre-

sentativos possam validar o modelo e ser utilizados mais tarde pelas equipes de projeto.

Quanto mais detalhada for a analise, mais definicao requerera e mais complexa e de difıcil

manejo se tornara o quadro resultante, sendo menos provavel que a arquitetura de TI de

um retrato claro das necessidades de informacoes.

MacGee e Prusak (1994) consideram que a criacao de uma Arquitetura da Informacao

bem definida, elaborada e gerenciada de forma coerente permite que todas as partes en-

volvidas numa organizacao falem a mesma lıngua e utilizem a informacao para tomada

de decisoes significativas. Assim, o modelo e as metodologias em que a Arquitetura da

Informacao se baseia procuram sistematicamente documentar todas as fontes de dados

importantes numa organizacao (por exemplo, clientes, produtos, funcionarios, etc.) e as

relacoes entre os dados.

O objetivo e criar mapas abrangentes dos dados organizacionais e, em seguida, construir

sistemas baseados nestes mapas, definindo o espaco de informacao da organizacao em

termos de domınios de interesse de informacoes essenciais e vias denominadas de fluxo de

informacao, como tambem, os limites crıticos do espaco de informacao da organizacao.

A Arquitetura da Informacao se constitui em uma serie de ferramentas que adaptam

os recursos as necessidades da informacao. Um projeto bem-implementado estrutura os

Page 35: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 23

dados em formatos, categorias e relacoes especıficas. A arquitetura, vista desse modo, e

uma abstracao, uma representacao simplificada da realidade que visa fazer a ponte entre o

comportamento, os processos e as pessoas, com metodos e estrutura. Em uma perspectiva

ecologica, a arquitetura inclui nao apenas modelos de engenharia, mas tambem mapas,

diretorios e padroes. Essas ferramentas podem ser automatizadas, fixadas em documentos

ou podem simplesmente estar na mente de um unico especialista de acordo com Davenport

(1998).

6.2.4 Definicoes voltadas para a area de gestao da informacao

Para Evernden e Evernden (2003) a AI e uma disciplina voltada para a descricao de

teorias, princıpios, guias, padroes, convencoes e fatores para gerenciamento da informacao

como um recurso.

Enquanto que White (2004) a considera um conjunto de ferramentas e abordagens que

podem ser utilizadas por profissionais de varias areas para resolver uma vasta gama de

problemas de gestao da informacao.

6.2.5 Definicoes voltadas para a area de Ciencia da Informacao

Para Lamb (2004) a AI trata-se de uma area emergente da Ciencia da Informacao

voltada para a identificacao, organizacao e armazenagem da informacao para uma razao

em particular.

Ao passo que para Macedo (2004) a “Arquitetura da Informacao e a parte do escopo

da ciencia da informacao que se concentra na estruturacao de Sistemas de Informacao,

com vistas a promover o acesso a informacao, considerando a integracao entre contexto,

conteudos e uso”.

A autora considera ainda que para a qualificacao da arquitetura da informacao como

disciplina a arquitetura da informacao “deve construir seu arcabouco teorico e delimitar

seu campo de atuacao, e que este nao pode estar atrelado a ambientes informacionais

especıficos ou dependente de tecnologias especıficas”.

Page 36: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 24

Figura 4: Componentes da arquitetura de um sistema de informacao (LIMA-MARQUES,2000)

Lima-Marques (2000) no contexto da arquitetura de sistemas de informacao propoe um

modelo para estabelecimento de arquiteturas de sistemas. A proposta de Lima-Marques

(2000) define os sistemas de informacao a partir de seus modelos: o modelo de captura de

dados, o modelo de informacao, o modelo de comunicacao e o modelo de operacionalizacao,

como mostrado na figura 4.

Esses modelos sao agregados em funcao da missao organizacional e considerando os

aspectos de gestao, seguranca e processos de negocio.

O modelo de informacao da arquitetura de Lima-Marques (2000) e o elemento res-

ponsavel pela criacao de contextos especıficos na formacao de informacoes. Ele estabelece

categorias, atribui significado, cria relacionamentos, interpreta e define os modos de inte-

gracao, organizacao, estruturacao, contextualizacao da informacao.

O Modelo de Captura de Dados da arquitetura de Lima-Marques (2000) e um conjunto

de definicoes das polıticas de aquisicao de dados basicos. Sua concepcao estabelece as

estrategias de coleta, padroes de qualidade e de confiabilidade e performance de apropriacao

de dados.

Page 37: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 25

O Modelo de Comunicacao da arquitetura de Lima-Marques (2000) e responsavel pela

comunicacao adequada das informacoes, utilizando-se de meios que interagem com o pro-

cesso de transmissao de conhecimento aos atores do sistema.

O Modelo de Operacionalizacao da arquitetura de Lima-Marques (2000) e um con-

junto de definicoes da infra-estrutura dos demais modelos e esta baseado em elementos de

tecnologia da informacao.

6.2.6 Definicoes gerais que visam englobar varias areas

Enquanto as definicoes apresentadas anteriormente buscavam caracterizar a AI como

ligada a um ramo especıfico, alguns autores preferiram criar definicoes “genericas” que

englobassem varias areas do conhecimento:

Em uma definicao consuetudinaria Morville (2002) afirma que a AI e:

• A organizacao de combinacoes, rotulos e esquemas de navegacao dentro de um sistema

de informacao;

• O desenho de estruturas para o espaco informacional, de modo a promover acesso

intuitivo aos conteudos;

• A arte e a ciencia de estruturacao e classificacao de sites web e intranets de forma a

ajudar as pessoas a localizarem e gerenciarem a informacao.

A partir de um grupo de trabalho do projeto IAwiki, Lombardi et al. (2004) propoem

que a arquitetura da informacao e o domınio do conhecimento voltado para o projeto de

ambientes de informacao (como oposto de espacos fısicos) para seres humanos trabalharem,

estudarem ou divertirem-se5.

Dillon (2002) argumenta que na comunidade de arquitetura da informacao existem

varios autores que veem a area como estando voltada apenas para o design de Web sites.

Ele considera implausıvel a hipotese de que seja possıvel fazer uma divisao entre arquite-

tura da informacao web e aquelas que nao o sao, e conjectura que essa tentativa reside

5play

Page 38: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

6.2 Arquitetura da informacao 26

na necessidade de alguns em enxergar uma unica identidade para a area. Segundo esse

autor, a arquitetura da informacao e o termo usado para descrever o processo de desenho,

implementacao e avaliacao de espacos informacionais que sao humanamente e socialmente

aceitados para os seus stakeholders.

Garrett (2000), em sua obra “Elementos da experiencia do usuario” ele apresenta um

diagrama (figura 5) onde compara a web como uma interface de software e como um

sistema de hipertexto. Dentro do seu projeto a AI se encontra no sistema de hipertexto

voltada para o “design estrutural do espaco de informacao para facilitar o acesso intuitivo

ao conteudo”.

Figura 5: Elementos da experiencia do usuarios

Page 39: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

27

7 Arquitetura da Informacao no contexto

da Ciencia da Informacao

Acreditamos que a Arquitetura da Informacao e a parte do escopo da Ciencia da

Informacao voltada para a estruturacao de Sistemas de Informacao, tanto dos aspectos

de forma quanto dos aspectos de conteudo, considerando a integracao entre contexto,

conteudos e uso.

A esse respeito da definicao de uma area do conhecimento Barreto (2001) afirma que

e necessario definir os objetivos para uma area de estudos, para que estes possam nortear

todo o pensamento subsequente em sua estruturacao, orientar a pesquisa e o ensino, alem

de delimitar as fronteiras, as inter-relacoes com outras disciplinas e o seu nucleo tematico.

O autor declara ainda que “a Ciencia da Informacao clama por definicoes: do conceito de

informacao, do seu objeto e do que seria pesquisa em seu campo de atuacao”.

Por sua vez, a Arquitetura da Informacao, considerada como parte da Ciencia da In-

formacao, sofre com os mesmos problemas, agravados pelo fato de estar sendo redefinida

como disciplina no nıvel mundial. “Redefinida”porque defende-se aqui que o conceito de

AI nao e novo, ja vem sendo aplicado na area de planejamento de Sistemas de Informacao

ha tempos. Iniciativas como o encontro Information Architecture Summit que ocorre anu-

almente desde 2000, confirmam as tentativas de delimitacao do campo de atuacao da

disciplina.

Haverty (2002) afirma que Arquitetura da Informacao pode ser considerada um campo,

mas nao ainda uma disciplina, devido a falta de uma teoria capaz de compreender a

interacao entre os elementos que a compoem e nortear o planejamento de sistemas de

0Capıtulo escrito em parceria com Flavia Macedo e Mamede Lima-Marques.

Page 40: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7 Arquitetura da Informacao no contexto da Ciencia da Informacao 28

informacao. Por este motivo, os sistemas acabam sendo projetados de forma indutiva, por

demanda, com solucoes caso a caso. A autora alerta para a necessidade de uma teoria com

abordagem sistemica para compreensao do objeto de estudo, que possa fornecer a base para

o planejamento de sistema de informacao de um modo geral, num processo dedutivo de

solucao de problemas. Segundo a autora, quando consolidar seu corpo teorico, AI passara

de campo para disciplina.

Quanto a questao da interdisciplinaridade, Saracevic (1995) afirma que a Ciencia da

Informacao e interdisciplinar por natureza, e a relacao com outras disciplinas vem mu-

dando constantemente; que esta inexoravelmente conectada a tecnologia da informacao;

que e participante ativa na evolucao da sociedade da informacao; e que, alem e acima da

tecnologia, tem uma forte dimensao humana e social. O autor afirma ainda que as disci-

plinas que exercem influencia mais forte sobre a CI sao a Biblioteconomia, a Ciencia da

Computacao, a Ciencia Cognitiva e a Comunicacao.

Saracevic (1999) divide, por fim, a CI em duas grandes areas ou sub-disciplinas: uma

com foco na comunicacao e no uso da informacao (esta ultima poderia incluir a gestao da

informacao de hoje); e outra com foco na recuperacao da informacao. A primeira, centrada

na comunicacao da informacao, segundo Dias (2002), relaciona-se tanto a comunicacao

cientıfica - que inclui atividades que vao desde o momento em que o cientista tem uma

ideia de pesquisa ate a incorporacao dos resultados dessa pesquisa no correspondente corpus

de conhecimento - quanto a comunicacao como um processo basico - que ocorre em todos os

demais segmentos informacionais, ou seja, os sistemas informais, baseados em informacao

nao-registrada.

A segunda, por conseguinte, constitui-se no objeto da arquitetura da informacao. Nesse

sentido, AI integra o escopo da area de CI, complementando as areas de Comunicacao

Cientıfica e Gestao do Conhecimento, mas ao mesmo tempo independente destas, de acordo

com o princıpio sistemico. Apesar da necessidade de reconhecimento do objeto de estudo

de cada area, as areas sao indissociaveis, pois formam um todo, a Ciencia da Informacao.

Dias (2002) destaca a relevancia dos sistemas de informacao afirmando que: “se ado-

tarmos o pressuposto de que a questao basica da Ciencia da Informacao e a de acesso a

informacao, ou facilitacao desse acesso, isso implica em trazer para o primeiro plano a

Page 41: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.1 Arquitetura da Informacao como uma subdisciplina da Ciencia da Informacao 29

importancia de sistemas de informacao e de sistemas de recuperacao da informacao, cu-

jos objetivos sao os de facilitar o acesso a informacao necessitada por uma determinada

comunidade de usuarios”.

7.1 Arquitetura da Informacao como uma subdisciplina

da Ciencia da Informacao

Pela etimologia do termo, arquitetura do latim architectura,ae, significa “arte de edi-

ficar”. Pela definicao, “e um conjunto de princıpios, normas, materiais e tecnicas usados

para criar o espaco arquitetonico; ou um conjunto de elementos que perfazem um todo;

estrutura, natureza, organizacao”(HOUAISS. . . , 2001).

O termo “arquitetura da informacao”, como registra a literatura, foi utilizado pela

primeira vez pelo arquiteto Richard Saul Wurman em 1976, que definia o conceito como a

“ciencia e a arte de criar instrucoes para espacos organizados”. Wurman encarava o pro-

blema da busca, organizacao e apresentacao da informacao como analogo aos problemas da

arquitetura de construcoes que irao servir as necessidades de seus moradores, pois o arqui-

teto precisa levantar essas necessidades, organiza-las em um padrao coerente que determine

sua natureza e suas interacoes, e projetar uma construcao que as satisfaca (WYLLYS, 2000).

Wurman definiu arquiteto da informacao como aquele capaz de estabelecer princıpios

sistemicos, estruturais e ordenados para fazer algo funcionar - o “fazer pensado”tanto de

artefatos quanto de ideias e de polıticas capazes de informar porque sao claras.

Em busca de um conceito mais proximo dos propositos de relacao com a Ciencia da

Informacao, definiu-se AI como o planejamento de ambientes de compartilhamento de

informacoes. Para Bailey (2003) AI e “a arte e a ciencia de estruturar e organizar sistemas

de informacao para ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos. Arquitetos da informacao

organizam conteudos e projetam sistemas de navegacao para ajudar as pessoas a encontrar

e gerenciar informacao”. Arquiteto da informacao, portanto, deve ser especialista em

estruturacao e organizacao de espacos de informacao.

Partindo da premissa de que informacoes so existem em contextos especıficos, para

“comunidades de significado”, caso contrario, sao meros dados; e de que o ser humano (o

Page 42: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.1 Arquitetura da Informacao como uma subdisciplina da Ciencia da Informacao 30

sujeito) deve ter um papel privilegiado (CAPURRO, 1992) isso nos leva a crer que a AI

deve estar de acordo com as necessidades de informacao dos usuarios (postulado basico

para o desenvolvimento de sistemas de informacao em CI).

A apresentacao da interface e a arquitetura sao interdependentes (desenvolvimento de

produtos e servicos de informacao com valor agregado e ergonomia sao conceitos tambem ja

desenvolvidos em CI). O modelo abaixo pretende representar a Arquitetura da Informacao

como a interseccao de conteudo, usuarios e contexto no ambiente da arquitetura (DENN;

MAGLAUGHLIN, 2000).

Contexto

Conteúdos

Usuários

AI

Modelos de negócio,objetivos estratégicos,política, cultura,recursos

Necessidades de informação,tipos de audiência,

especialidades,tarefas, ecologia

Tipos de documentos,estruturas de objetos,

atributos, meta-informação

Figura 6: Modelo de Arquitetura da Informacao (ROSENFELD, 2002)

Portanto, para projetar um sistema de informacao e necessario questionar de que forma

o sistema pode estruturar o conteudo para que este esteja de acordo com o contexto, isto

e, em consonancia com os objetivos estrategicos do sistema, e seja capaz de atender as

necessidades dos usuarios.

Atualmente, a AI vem sendo projetada pela analise de cada caso e aplicacao das “me-

lhores praticas”do mercado (projetos que deram certo em outros ambientes). Nesse sentido,

Morin (1999) afirma que “ha antes de tudo a pressao superadaptativa que forca a confor-

mar o ensino e a pesquisa as demandas economicas, tecnicas, administrativas do momento,

a reduzir o ensino geral, a marginalizar a cultura humanista...”.

Page 43: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 31

Em consequencia disso, pelo vies mercadologico, parte da literatura atual tende a

definir AI com escopo limitado a web. Morville e Rosenfeld, apesar de concentrarem seu

trabalho na web, atentam para o fato de que a AI nao se aplica somente a websites, mas

a qualquer colecao de informacoes (ROSENFELD; MORVILLE, 2002).

Defende-se aqui uma abrangencia maior, independente do suporte. Sob esse aspecto,

Latham (2002) afirma que e preciso estabelecer uma base teorica que caracterize AI, e

ao mesmo tempo um currıculo academico flexıvel para abarcar materias mais tecnicas,

dependentes dos avancos tecnologicos, que sao constantes.

Enfim, a essencia de AI e promover o acesso a informacao por meio do projeto de sis-

temas de informacao. Entende-se sistema de informacao como definido por Lima-Marques

(2000): “um conjunto de informacoes sistematicamente estruturado, servindo a propositos

bem definidos. A arquitetura de um sistema de informacao deve retratar o ciclo de vida

da informacao: a genese, a consolidacao, a transformacao e a comunicacao da informacao.

A arquitetura de um sistema e concebida a partir de modelos que caracterizam suas pro-

priedades e as diferentes etapas do seu ciclo de vida”.

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da In-

formacao

De acordo com Haverty (2002), para projetar uma Arquitetura da Informacao e ne-

cessario:

• Determinar os problemas de informacao;

• Aplicar as teorias para nortear o desenvolvimento das solucoes;

• Integrar as solucoes no ambiente e valida-las.

Baseado em Lima-Marques (2000) e proposto um quadro conceitual representado na

figura 7.

Nessa proposta para a Arquitetura da Informacao e considerado que a AI deve trabalhar

tanto os aspectos de forma quanto os aspectos de conteudos da estruturacao de um sistema

Page 44: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 32

Modelo decaptura dainformação

Modelo deComunicação

Modelo de informação

Nível de análise

Modelo de operacionalização

Nível de aplicação

FO

RM

AC

ON

TE

ÚD

O+

CO

NT

EX

TO

Nível epistemológico

Nível de tratamento

Nível de recuperação

Figura 7: Proposta de um quadro conceitual da Arquitetura da Informacao

de informacao.

Outro pressuposto e que uma Arquitetura da Informacao consiste em quatro modelos

basicos:

• o modelo de captura de dados, responsavel por definir a entrada de dados no sistema

de informacao;

• o modelo de comunicacao, responsavel pela saıda das informacoes do sistema de

informacao;

• o modelo de informacao, responsavel pela estruturacao das informacoes dentro do

sistema de informacao;

• o modelo de operacionalizacao, onde serao definidas as tecnologias para implementacao

do sistema de informacao.

Page 45: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 33

Todos os modelos sao permeados por algum nıvel da AI. Cada nıvel e detalhado a

seguir.

7.2.1 Nıvel Epistemologico

O nıvel epistemologico oferece o arcabouco teorico para a determinacao dos conceitos

a serem adotados em todos os nıveis.

Neste nıvel fica caracterizada a influencia da interdisciplinaridade na formacao da base

conceitual da AI. Dentre as areas apontadas pela literatura como influentes no processo

estao: Logica, Biblioteconomia, Ciencia da Computacao, Psicologia, Comunicacao, De-

senho Industrial, Administracao e Linguıstica; e dentre as principais teorias: a Teoria

da Informacao; Teoria do Conhecimento; Teoria Geral de Sistemas. Ressalta-se aqui a

importancia de adaptar as teorias importadas de outras areas, nao somente importa-las.

Como observa Barreto (2001), “uma pesquisa, em uma area interdisciplinar, nao pode

simplesmente transpor teorias e conceitos emprestados da outra area de conhecimento para

area de ciencia da informacao. Esta transmutacao de ideias, metodos, do pensar em si tem

que respeitar as caracterısticas existentes e manifestas da area de ciencia da informacao,

do objeto informacao em si, com todas as suas condicoes, caracterısticas e singularidades”.

O arquiteto da informacao, na concepcao de Rosenfeld e Morville, deve ter a habilidade

de compreender as perspectivas de outras disciplinas com conhecimentos especializados em

visualizar, organizar e classificar informacao (LATHAM, 2002).

7.2.2 Nıvel de tratamento

Este nıvel esta relacionado ao tratamento dos conteudos. Segundo Dias (2002), o

tratamento da informacao em sistemas de informacao e definido como a funcao de descrever

os documentos, tanto do ponto de vista fısico (caracterısticas fısicas dos documentos)

quanto do ponto de vista tematico (ou de descricao do conteudo).

Neste nıvel o conteudo e preparado para ser recuperado pelo usuario.

Page 46: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 34

7.2.2.1 Sub-nıvel de representacao

O sub-nıvel de representacao realiza a descricao dos conteudos por meio de padroes. A

representacao do conhecimento tem como maior desafio capturar e representar a riqueza

do mundo.

A formalizacao da representacao e feita por meio da linguagem (sistema de signos).

O conhecimento, por sua vez, e “representado por uma estrutura de conceitos ligados por

suas relacoes”(LE COADIC, 1994).

A logica, como representacao geral, e a base para o desenvolvimento de uma serie de

formalismos de representacao do conhecimento.

Segundo Miranda e Simeao (2002), documentos nos quais a informacao e registrada

podem ser caracterizados por:

• Tipo – e a forma que determinam a producao e uso do documento;

• Conteudo – e o nucleo do documento, e determinado pelo seu tipo;

• Formato – e o desenho ou arquitetura do documento, determina a leitura de um texto

e sua sequencia;

• Suporte – e a parte acessıvel do documento, pode ser fısico ou eletronico.

7.2.2.2 Sub-nıvel de armazenamento

Neste sub-nıvel devem ser consideradas as questoes de armazenamento dos estoques de

conteudos, tais como suporte (base fısica que reune as ideias construıdas em um determi-

nado formato - ex: digital, papel) e preservacao.

7.2.2.3 Sub-nıvel de organizacao

Neste sub-nıvel a informacao e organizada (categorizada, classificada) no ambiente para

facilitar a recuperacao pelo usuario.

Page 47: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 35

A organizacao depende da forma de representacao adotada. Pode ser feita por loca-

lizacao, alfabetica, temporal, por categorias ou hierarquica. Rosenfeld e Morville (2002)

afirmam que sistemas de organizacao sao compostos por esquemas e estruturas.

Os esquemas (ex: ontologias) definem as caracterısticas compartilhadas de itens de

conteudo e influenciam o agrupamento logico dos itens. Estruturas definem os tipos de rela-

cionamentos entre itens de conteudo e grupos (classificacoes, estruturas de rede) (WYLLYS,

2000).

A aplicacao dessas estruturas e esquemas ocorre no nıvel de representacao, mas deter-

mina a forma de organizacao. Quando ha necessidade, pode ser criada uma camada de

integracao de conteudos disponibilizados em mais de um sistema de informacao neste nıvel.

7.2.3 Nıvel de analise

Neste nıvel deve ser analisado o contexto, considerando os elementos do ambiente,

como polıtica, missao, visao e objetivos estrategicos; requisitos dos gestores; polıticas de

seguranca da informacao.

Os fluxos de informacao devem ser mapeados, com levantamento de necessidades de

informacao e analise dos conteudos e de sua forma de veiculacao.

Posteriormente e preciso fazer a modelagem do sistemas de informacao, que deve incluir

previsao de mudancas e crescimento.

7.2.4 Nıvel de recuperacao

Este nıvel esta relacionado ao uso do sistema de informacao.

Os Sistemas de Recuperacao de Informacoes sao instrumentos fundamentais para loca-

lizar informacao no respectivo sistema de informacao. Funcionam por meio de mecanismos

e estrategias de busca; motores de inferencia, entre outros.

O conceito de relevancia, atribuıdo pelos usuarios, e a medida da efetividade de recu-

peracao de informacao do sistema. Pode ocorrer em diversos nıveis: algorıtmico, tematico,

cognitivo (relacionado ao estado de conhecimento do usuario), situacional (relacionado ao

Page 48: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informacao 36

problema a ser resolvido) e motivacional (relacionado a satisfacao do usuario).

Neste nıvel sao definidos tambem os produtos e servicos de informacao que o sistema

deve gerar. Questoes como a forma de disseminacao da informacao e a personalizacao

devem ser discutidas nessa fase.

A definicao da interfaces usuario-sistema tambem sao definidas aqui, e deve-se levar

em conta as questoes de interatividade, ergonomia e usabilidade, prevendo as diferentes

formas de procurar informacao.

7.2.5 Nıvel de aplicacao

O nıvel de aplicacao permeia os demais, na medida em que abarca as ferramentas de

tecnologia da informacao que atendem a todos os nıveis. Entende-se aplicacao como um

conjunto de metodologias de implementacao de AI. Neste nıvel deve-se definir as ferramen-

tas de tecnologia da informacao mais adequadas ao projeto, a infra-estrutura de tecnologia

e as metodologias de seguranca da informacao.

Page 49: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

37

8 Base filosofica

8.1 Fenomenologia

A expressao Fenomenologia e usada pela primeira vez por Hegel (HEGEL, 1995) vi-

sando expressar o desenvolvimento dialetico do espırito atraves de estados de racionalidade.

Todavia, e com os trabalhos de Emund Husserl que a Fenomenologia e consolidada dentro

da Filosofia.

A Fenomenologia pode ser caracterizada como um movimento ao inves de uma es-

cola. Um movimento nao precisa ter uma doutrina utilizada por todos os seguidores, pelo

contrario e mais uma abordagem.

As diversas abordagens fenomenologicas partilham alguns princıpios em comum:

• Oposicao ao naturalismo e foco no Lebenswelt ;

• Oposicao ao pensamento especulativo e preocupacao com a linguagem;

• A sua tecnica de reflexao metafısica busca entender a relacao de cada objeto com o

mundo e vice-versa;

• Buscam produzir explicacoes tanto no nıvel particular quanto no nıvel eidetico.

A seguir sao analisadas as obras de Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty e Martin

Heidegger, considerados os principais autores da Fenomenologia.

Page 50: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.1 Fenomenologia 38

8.1.1 Edmund Husserl

Edmund Husserl formulou uma doutrina de alta complexidade, mas que exerce uma

grande influencia no pensamento contemporaneo. Originalmente voltado para a Ma-

tematica, em especial para a Teoria dos Numeros, apos frequentar os cursos de Franz

Brentano desperta-lhe o interesse pelo estudo do problema da intencionalidade.

Os pontos centrais de sua obra sao o estudo da reducao eidetica, da reducao fenome-

nologica e da nocao de intencionalidade.

8.1.1.1 Reducao eidetica

Husserl parte da crıtica ao psicologismo empirista, o filosofo argumenta que tentar ex-

plicar o princıpio de causalidade pelo habito adquirido de esperar o retorno dos fenomenos

numa certa ordem, e reduzir a causalidade a um mecanismo psicologico, e negar a causali-

dade enquanto verdade. E roubar todo sentido verdadeiro a causalidade, e desqualifica-la

por suas origens.

A intuicao das essencias (Wesenschau) fornece os ultimos fundamentos. A reducao

empirista que nega a essencia, pretendendo explica-la por suas origens acidentais, Husserl,

substitui pela reducao eidetica que nos da o “eidos”, a essencia verdadeira, purificada de

todos os acidentes.

A reducao psicologica que desqualifica as essencias pela sua origem, Husserl opoe, entao,

a reducao eidetica que apreende a essencia em sua verdade.

8.1.1.2 Reducao fenomenologica

Outro aspecto central da obra de Husserl e o conceito de reducao fenomenologica.

Para Husserl enquanto o sujeito estiver no domınio da doxa, “da atitude natural”, ele e

capaz de conhecer apenas objetos diante de si. Ele esquece que os objetos existem apenas

para um sujeito pensante.

Baseado na duvida metodica de Descartes, Husserl propoe uma maneira diferente de

se analisar a realidade, ao inves de abandonar o mundo ele faz e a simples “colocacao entre

Page 51: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.1 Fenomenologia 39

parenteses”do mundo, a “epoche”em grego, einklammerung no alemao.

A duvida husserliana se difere da duvida cartesiana pelo fato de que em Descartes a

realidade do mundo exterior e negada, ao passo que em Husserl ela e suspendida. Husserl

poe em parenteses a afirmacao da realidade substancial das evidencias eideticas.

Por consequencia, a colocacao entre parenteses de toda a existencia substancial e exa-

tamente uma reducao fenomenologica, porque a minha experiencia aı se encontra propria-

mente “reduzida”ao que e dado, ao que aparece, ao que se manifesta autenticamente.

8.1.1.3 A nocao de intencionalidade

O terceiro ponto central na filosofia de Husserl e a nocao de intecionalidade. Esse

conceito surge a partir da indagacao sobre o que restaria apos a realizacao da reducao

fenomenologica. Oras, nada mais que o mundo

O conceito de intencionalidade em Husserl refere-se ao fato de que toda consciencia

intenciona a um objeto.

8.1.2 Maurice Merleau-Ponty

A filosofia de Merleau-Ponty e uma filosofia do homem incorporado (embodied), inserido

na temporalidade (ek-sistente) e em contato com outras consciencias. Trata-se de uma

crıtica ao intelectualismo e uma tentativa de recoloca-lo em uma existencia preliminar.

Sua obra mais importante e a Fenomenologia da Percepcao, onde analisa o comporta-

mento sobre a otica da Fenomenologia.

8.1.2.1 A fenomenologia da percepcao

A fenomenologia da percepcao de Merleau-Ponty e uma superacao da Gestalt, base

dos seus trabalhos iniciais. Para ele o comportamento nao e um conjunto de reflexos

provocados no sujeito por estımulos, mas um conjunto de reacoes significativas dependentes

da adptacao global do sujeito.

Page 52: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.1 Fenomenologia 40

A percepcao deixa de ser algo pre-existente, unico e torna-se entao algo dependente da

subjetividade viva do sujeito.

8.1.3 Martin Heidegger

Martin Heidegger exerceu grande influencia no pensamento existencialista do seculo

XX, sua obra mais importante, o Ser e o Tempo, e dedicada ao amigo Edmund Husserl.

Sua obra gira em torno do problema da Ontologia.

8.1.3.1 A retomada da intencionalidade

Heidegger continua o projeto husserliano da intencionalidade, isto e, de que toda

consciencia intenciona as um objeto, todavia ele faz as suas investigacoes em busca da

verdade.

A palavra verdade origina-se do grego aletheia e significa revelacao, algo que estava

oculto e e revelado. Como consequencia de seu pensamento, nao e o homem quem descobre

a verdade, mas e a verdade que se revela, em termos husserlianos isso implica que nao e a

consciencia que descobre o objeto, mas sim que o objeto se revela para a consciencia.

8.1.3.2 A ontologia

A discussao acerca da intencionalidade leva ao ponto central da filosofia de Heidegger de

que a ontologia propriamente dita, esta em um nıvel mais profundo, fundamental, inscrito

nos Entes e que fazem com que os Entes sejam e e o proprio ser.

Ainda analisando o tema da tragedia humana, Heidegger faz duas assercoes:

1. o homem que existe aqui, o ser-aı (Dasein), se descobre no momento em que toma

consciencia dele proprio e do mundo como ja estando aı, recebendo a existencia como

ja estando aı;

2. somente o Dasein e um ek-sistente, isto e, ele e capaz de sair de si, e se projetar para

o mundo ao mesmo tempo que possui um passado que lhe escapa.

Page 53: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 41

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a pers-

pectiva de Fenomenologia

A Teoria do Conhecimento, ou Epistemologia, e o ramo da Filosofia preocupado com a

investigacao acerca do conhecimento e suas propriedades, essencialmente ela estuda os pro-

blemas decorrentes da relacao entre o sujeito e o mundo (objeto), assim como as condicoes

para um saber verdadeiro1.

Hessen (1973), a partir de perspectiva fenomenologica do conhecimento, agrupa os

problemas da teoria do conhecimento em cinco classes, a saber:

• As questoes acerca da possibilidade do conhecimento;

• As questoes acerca da origem do conhecimento;

• As questoes acerca da essencia do conhecimento;

• As questoes acerca das especies de conhecimento;

• As questoes acerca do criterio de verdade.

E importante ressaltar que a Teoria do Conhecimento, enquanto ramo da filosofia e

unica, mas como um entendimento acerca dos problemas do conhecimento ela e multipla,

pois cada corrente, cada movimento filosofico a entende a sua maneira.

A Fenomenologia, enquanto movimento filosofico, possui varias teorias do conhecimen-

tos, no contexto deste trabalho foi escolhida a definicao compendiada por Hessen (1973),

considerada a mais adequada aos objetivos delineados.

Para Hessen (1973, p. 26-28) o problema do conhecimento pode ser explicado da se-

guinte maneira:

No conhecimento encontram-se frente a frente a consciencia e o objecto, o

sujeito e o objecto. O conhecimento apresenta-se como uma relacao entre estes

1No sentido de episteme, como o oposto de doxa.

Page 54: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 42

dois elementos, que nela permanecem eternamente separados um do outro. O

dualismo sujeito e objecto pertence a essencia do conhecimento.

A relacao entre os dois elementos e ao mesmo tempo uma correlacao. O

sujeito so e sujeito para um objecto e o objecto so e objecto para um sujeito.

Ambos eles so sao o que sao enquanto o sao para o outro. Mas esta correlacao

nao e reversıvel. Ser sujeito e algo completamente distinto de ser objecto.

A funcao do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em ser

apreendido pelo sujeito.

Vista pelo lado do sujeito, esta apreensao apresenta-se como uma saıda do

sujeito para fora da sua propria esfera, uma invasao da esfera do objecto e

uma recolha das propriedades deste. O objecto nao e arrastado, contudo, para

dentro da esfera do sujeito, mas permanece, sim, transcendente a ele. Nao no

objecto mas sim no sujeito alguma coisa se altera em resultado da funcao do

conhecimento. No sujeito surge algo que contem as propriedades do objecto,

surge uma “imagem”do objecto.

Visto pelo lado do objecto, o conhecimento apresenta-se como uma trans-

ferencia das propriedades do objecto para o sujeito. Ao que transcende do

sujeito para a esfera do objecto corresponde o que transcende do objecto para

a esfera do sujeito. Sao ambos somente aspectos distintos do mesmo acto.

Porem, tem nele o objecto predomınio sobre o sujeito. O objecto e o determi-

nante, o sujeito e o determinado. O conhecimento pode definir-se, por ultimo,

como uma determinacao do sujeito pelo objecto. Mas o determinado nao e o su-

jeito pura e simplesmente; mas apenas a imagem do objecto nele. Esta imagem

e objectiva, na medida em que leva em si os tracos do objecto. Sendo distinta

do objecto, encontra-se de certo modo entre o sujeito e o objecto. Constitui o

instrumento pelo qual a consciencia cognoscente apreende o seu objecto.

Sendo o conhecimento uma determinacao do sujeito pelo objecto, nao ha

duvida que o sujeito se conduz receptivamente perante o objecto. Esta re-

ceptividade nao significa, contudo, passividade. Pelo contrario, pode falar-se

de uma actividade e espontaneidade do sujeito no conhecimento. Esta nao

se refere, naturalmente, ao objecto, mas sim a imagem do objecto, no que a

consciencia pode muito bem participar, contribuindo para a sua elaboracao.

Page 55: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 43

A receptividade perante o objecto e a espontaneidade perante a imagem do

objecto no sujeito sao perfeitamente compatıveis. Ao determinar o sujeito,

o objecto mostra-se independente dele, transcendente a ele. Todo o conhe-

cimento designa (“intende”) um objecto, que e independente da consciencia

cognoscente. O caracter transcendente e proprio, enfim, de todos os objectos

do conhecimento.

(...)

Assim se esclarece o fenomeno do conhecimento humano nos seus aspectos

principais. Ao mesmo tempo verificamos que este fenomeno confina tres esferas

distintas. Como vimos, o conhecimento apresenta tres elementos principais:

o sujeito, a “a imagem” e o objecto. Pelo sujeito, o fenomeno toca esfera

psicologica; pela imagem, com a logica; pelo objecto, com a ontologica.

8.2.1 Hermeneutica da teoria do conhecimento de Hessen

Uma vez elicitada a definicao de teoria do conhecimento parte-se para a sua her-

meneutica, isto e, uma interpretacao acerca do sentido das acoes propostas por Hessen

(1973).

1. No conhecimento encontram-se frente a frente a consciencia e o objecto, o sujeito e o

objecto. O conhecimento apresenta-se como uma relacao entre estes dois elementos,

que nela permanecem eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e

objecto pertence a essencia do conhecimento. A relacao entre os dois elementos e ao

mesmo tempo uma correlacao. O sujeito so e sujeito para um objecto e o objecto so

e objecto para um sujeito. Ambos eles so sao o que sao enquanto o sao para o outro.

Mas esta correlacao nao e reversıvel. Ser sujeito e algo completamente distinto de

ser objecto.

Essa primeira assercao leva a reflexao acerca dos elementos que “formam” o conhe-

cimento. Para Hessen o conhecimento so e possıvel por causa da existencia de um

sujeito e de um objeto, todavia esses elementos permanecem sempre separados. E in-

teressante observar que mesmo o sujeito estando fisicamente no mundo (na dimensao

do concreto), na dimensao do conhecimento eles estao separados. O sujeito jamais

Page 56: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 44

atingira o objeto. Esse ponto e de grande importancia para a ciencia, pois como

consequencia dele e impossıvel que o sujeito acesse diretamente a realidade objetiva

(o objeto puro).

Nessa parte sao apresentadas a nocao de intencionalidade de Husserl, isto e, dois

elementos distintos, o sujeito e o objeto, que se intencionam.

2. A funcao do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em ser apreendido

pelo sujeito. Vista pelo lado do sujeito, esta apreensao apresenta-se como uma saıda

do sujeito para fora da sua propria esfera, uma invasao da esfera do objecto e uma

recolha das propriedades deste. O objecto nao e arrastado, contudo, para dentro da

esfera do sujeito, mas permanece, sim, transcendente a ele.

Dentro da correlacao sujeito-objeto cada elemento tem uma funcao clara, definida e

distinta: a do sujeito e apreender o objeto; a do objeto e ser apreendido pelo sujeito.

O conceito de apreensao na teoria fenomenologica do conhecimento de Hessen refere-

se a captacao das propriedades do objeto e a apropriacao das mesmas, nao implicando

que o objeto seja unido ao objeto, pelo contrario, este permanece transcedente ao

sujeito, inalterado.

3. Nao no objecto mas sim no sujeito alguma coisa se altera em resultado da funcao do

conhecimento. No sujeito surge algo que contem as propriedades do objecto, surge

uma “imagem”do objecto.

Trata-se do primeiro ponto central da teoria fenomenologica do conhecimento de

Hessen, a explicitacao do conceito de conhecimento: uma imagem de um objeto

formulada por um sujeito cognoscente.

Ao formular o conceito da imagem como sendo o conhecimento, fica evidente a

influencia Heideggeriana em Hessen, e na teoria do conhecimento fenomenologica.

Aquilo que Heidegger buscava e que estava alem das evidencias e justamente a ima-

gem.

4. Visto pelo lado do objecto, o conhecimento apresenta-se como uma transferencia das

propriedades do objecto para o sujeito. Ao que transcende do sujeito para a esfera do

objecto corresponde o que transcende do objecto para a esfera do sujeito. Sao ambos

somente aspectos distintos do mesmo acto.

Page 57: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 45

Do outro lado, a colheita de propriedades do sujeito pelo objeto, e visto como sendo

uma transferencia de propriedades do objeto para o sujeito. Outro ponto de grande

importancia e a relacao entre o sujeito e o objeto. Trata-se de uma relacao de ambos

os lados, denominada correlacao. Um sujeito e sujeito para um objeto ao mesmo

tempo que um objeto e objeto para um sujeito. Todavia, nao e excluido o fato que

em determinados momentos um elemento que outrora exercera a funcao de sujeito

em uma relacao A seja um objeto para outro sujeito no contexto de uma relacao B.

Nao caracterizando um novo tipo de relacao, sao ambos aspectos distintos do mesmo

ato. Ou seja dentro de uma mesma relacao X e impossıvel que um elemento seja

sujeito e objeto ao mesmo tempo, isto e, a correlacao nao e reversıvel, todavia nada

obriga que os papeis continuem os mesmos em uma relacao Y.

5. Porem, tem nele o objecto predomınio sobre o sujeito. O objecto e o determinante,

o sujeito e o determinado. O conhecimento pode definir-se, por ultimo, como uma

determinacao do sujeito pelo objecto. Mas o determinado nao e o sujeito pura e

simplesmente; mas apenas a imagem do objecto nele.

Na correlacao proposta pela teoria fenomenologica do conhecimento de Hessen o

objeto e sempre predominante, pois nao e alterado durante a colheita de propriedades

pelo objeto, ao que a imagem construıda pelo sujeito e determinada, isto e, alterada

de acordo com o objeto.

6. Esta imagem e objectiva, na medida em que leva em si os tracos do objecto. Sendo

distinta do objecto, encontra-se de certo modo entre o sujeito e o objecto. Constitui

o instrumento pelo qual a consciencia cognoscente apreende o seu objecto.

Aqui e apresentada o segundo ponto central da teoria fenomenologica do conheci-

mento de Hessen: a localizacao do conhecimento. Segundo esse modelo o conheci-

mento nao esta no sujeito, tampouco no objeto, mas, sim, em um terceiro elemento,

intermediario, que contem o conhecimento, a imagem.

Outro ponto apresentado e o criterio de afericao da corretude da imagem e a medida

em que ela apropria se dos tracos do objeto. A mensuracao dessa objetividade e

justamente o papel desempenhado pelas ciencias dentro do projeto fenomenologico.

7. Sendo o conhecimento uma determinacao do sujeito pelo objecto, nao ha duvida que o

Page 58: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 46

sujeito se conduz receptivamente perante o objecto. Esta receptividade nao significa,

contudo, passividade. Pelo contrario, pode falar-se de uma actividade e espontanei-

dade do sujeito no conhecimento. Esta nao se refere, naturalmente, ao objecto, mas

sim a imagem do objecto, no que a consciencia pode muito bem participar, contri-

buindo para a sua elaboracao. A receptividade perante o objecto e a espontaneidade

perante a imagem do objecto no sujeito sao perfeitamente compatıveis.

Neste item e apresentado o terceiro e quarto pontos centrais da teoria fenomenologica

do conhecimento de Hessen. O terceiro e que nao existe um unico conhecimento, isto

e, uma unica imagem para todos os sujeitos. Para cada sujeito existe uma imagem,

podendo as imagens serem semelhantes entre si.

Aqui se observa a influencia da teoria da percepcao de Merleau-Ponty, apesar de o

sujeito possuir um papel passivo na correlacao, ele e uma consciencia viva e a sua

percepcao (e consequentemente a sua imagem) e determinada pela sua expereincia

global enquanto um ser-aı e ek-sistente.

O quarto ponto e que do processo de construcao da imagem pode, naturalmente, a

consciencia participar.

8. Ao determinar o sujeito, o objecto mostra-se independente dele, transcendente a

ele. Todo o conhecimento designa (“intende”) um objecto, que e independente da

consciencia cognoscente. O caracter transcendente e proprio, enfim, de todos os

objectos do conhecimento.

Nesse ponto Hessen (1973) propoe que todo conhecimento vem de algum objeto,

independente do sujeito, retomando a nocao de intencionalidade Husserl.

9. Assim se esclarece o fenomeno do conhecimento humano nos seus aspectos principais.

Ao mesmo tempo verificamos que este fenomeno confina tres esferas distintas. Como

vimos, o conhecimento apresenta tres elementos principais: o sujeito, a “a imagem”

e o objecto. Pelo sujeito, o fenomeno toca esfera psicologica; pela imagem, com a

logica; pelo objecto, com a ontologica.

Hessen (1973) encerra a sua proposicao localizando as disciplinas correspondentes a

cada domınio. Ao domınio do sujeito corresponde a Psicologia (o estudo do processos

de pensamento), ao domınio do objeto corresponde a Ontologia (o estudo do Ser) e

Page 59: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

8.2 Caracterizacao da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia 47

ao domınio da imagem corresponde a Logica (o estudo da concordancia do objeto

consigo mesmo).

Recapitulando, a teoria fenomenologica do conhecimento esta fundamentada em cinco

pontos:

1. O conhecimento e uma imagem de um objeto formulada por um sujeito;

2. A imagem nao se encontra no sujeito, tampouco no objeto. Ela e externa ao sujeito;

3. Nao existe uma unica imagem de um mesmo objeto para todos os sujeitos; sujeitos

diferentes possuem imagens diferentes do mesmo objeto;

4. A inteligencia participa da construcao da imagem, ela nao e, essencialmente, uma

imagem.

5. Para cada domınio da relacao do conhecimento existe uma disciplina destinada ao

seu estudo, e do fato gnoseologico ocupa-se a Teoria do Conhecimento.

Page 60: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

48

9 Contribuicoes da Fenomenologia para a

Arquitetura da Informacao

A partir dos expostos tentaremos apontar alguns caminhos pelos quais a Fenomenologia

pode ser aplicada a Arquitetura da Informacao, e possivelmente a Ciencia da Informacao.

O primeiro ponto, e talvez o mais importante, e que a Fenomenologia pode trazer a AI

uma definicao muito apropriada do conceito de conhecimento. A Fenomenologia atraves

de sua teoria do conhecimento estabelece um conceito claro e preciso de conhecimento, a

partir do qual podem ser obtidas, como consequencia, definicoes sobre informacao e sobre

dado bem adequadas a aplicacao em AI.

Afirmamos que o conceito de conhecimento na Fenomenologia e claro e preciso devido

a sua simplicidade. Retomando o que Hessen (1973) aponta (ver secao 8.2.1, pagina 41)

a simplicidade dessa definicao esta na proposta de um modelo onde e possıvel distinguir

com clareza seus elementos basicos, isto e, o sujeito, o objeto e a imagem. Esta clareza faz

com que possamos trabalhar com o conceito proposto de conhecimento de forma clara e

com aplicacoes precisas na AI.

Na Filosofia observa-se uma dualidade entre o sujeito e o objeto, em algumas teorias

o conhecimento e posto como algo do sujeito ao passo que em outras o conhecimento esta

no objeto. A Fenomenologia supera essa dicotomia ao propor que o conhecimento e algo

externo ao sujeito e ao indivısduo, trata-se do resultado na correlacao entre o sujeito e o

objeto, isto e, o resultado da experiencia do Lebenswelt.

Para a Fenomenologia, o conhecimento e o conjunto das propriedades do objeto reuni-

das no que ela chama de “imagem”. Portanto, a imagem e a “materializacao” do conheci-

mento que somente pode existir a partir da existencia do sujeito e do objeto.

Page 61: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

9 Contribuicoes da Fenomenologia para a Arquitetura da Informacao 49

O segundo ponto no qual a Fenomenologia pode contribuir para a AI e uma decorrencia

da definicao do conceito de conhecimento, que consiste na distincao e na localizacao

das disciplinas envolvidas no estudo do conhecimento.

Como ja visto, para a Fenomenologia (ver Hessen (1973)) a relacao do conhecimento

conta com tres elementos de naturezas distintas: o sujeito, a imagem e o objeto. A cada

um desses corresponde uma disciplina de estudo de acordo com a sua funcao dentro da

relacao do conhecimento:

• Ao sujeito, dentro da relacao do conhecimento, corresponde a esfera da Psicologia,

disciplina voltada para a investigacao acerca da origem e desenvolvimento dos pro-

cessos da psique.

A Psicologia por si so nao e capaz de resolver o problema do conhecimento pois em

suas analises ela prescinde do objeto. Portanto, tentar justificar o conhecimento por

esse caminho induziria ao equıvoco do psicologismo;

• Ao objeto, dentro da relacao do conhecimento, corresponde a esfera da Ontologia.

Independentemente do seu tipo, o objeto apresenta-se como algo que e. E justamente

enquanto ser ele e objeto da Ontologia.

Assim como a Psicologia, a Ontologia por si so e incapaz de resolver o problema do

conhecimento, uma vez que ela prescinde do sujeito. Ora, se os elementos da relacao

sao indissociaveis, e inconcebıvel que se considere o todo sem uma das partes. Tentar

justificar o conhecimento exclusivamente a partir da Ontologia levaria ao equıvoco

do ontologismo;

• A imagem, por se tratar de uma entidade logica, corresponde a esfera da Logica.

Uma justificacao do conhecimento exclusivamente pela Logica, relevando o sujeito e

o objeto, tambem resultaria em um equıvoco: o logicismo, uma vez que o seu objeto

de estudo e a concordancia da imagem consigo mesma, dispensando completamente

a referencia ao sujeito e ao objeto.

Mas entao qual deveria ser, portanto, a disciplina encarregada de resolver o dilema

acima?

Page 62: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

9 Contribuicoes da Fenomenologia para a Arquitetura da Informacao 50

A Fenomenologia (HESSEN, 1973) mostra que esse problema e de domınio da Episte-

mologia ou Teoria do Conhecimento, disciplina cuja missao esta na descricao, interpretacao

e explicacao filosofica do fenomeno do conhecimento. Por decorrencia, esta e a disciplina

que devera fundamentar a AI, ja que seu objeto e o conhecimento.

O terceiro ponto no qual a Fenomenologia pode contribuir para a AI e a caracte-

rizacao do conceito de informacao e de dados a partir da nocao de conheci-

mento.

Parte-se da premissa de que se a Logica e a disciplina responsavel pelo estudo da

“imagem”, fornecendo, por consequencia, “ferramentas” para se estudar a estrutura interna

do conhecimento.

Na Logica de Predicados, o dado, o elemento mais simples,desprovido de significado,

desprovido de semantica, corresponde a um termo. Termo e um tipo de argumento que

pode ser uma constante, uma quantidade ou uma variavel. Todos estes tipos obedecem a

definicao de dado, isto e, sao desprovidos de semantica.

A informacao e um conjunto de dados com significado, com contexto. Na Logica, a

estrutura que equivale a essa definicao e o predicado. A contextualizacao se faz atraves da

predicacao. A predicacao consiste na atribuicao de semantica a um conjunto de termos.

Temos, portanto, as mesmas condicoes que caracterizam a definicao de informacao.

Como a informacao pode ser expressa por predicado, entao a informacao expressa

propriedade do objeto. Em decorrencia, um conjunto de propriedades do objeto, ou um

conjunto de predicados, ou ainda um conjunto de informacao caracteriza um certo conhe-

cimento sobre o qual aquele conjunto se refere.

A partir dessa analise podemos afirmar que a diferenca entre informacao e conhecimento

esta na granularidade da analise que consideramos sobre a “imagem”. Numa analogia com

a materia, a imagem seria composta por moleculas (informacao), e por atomos (dados).

O quarto ponto que a Fenomenologia pode contribuir para a Arquitetura da Informacao

reside no entendimento do Dasein e do ser ek-sistente (ver secao 8.1.3.2, 40). Trata-se

de dois importantes aspectos a serem considerados na estruturacao de sistemas de in-

formacao e sistemas de conhecimento. O Dasein assume o ser estando aı, o ser agora, em

Page 63: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

9 Contribuicoes da Fenomenologia para a Arquitetura da Informacao 51

pleno Lebenswelt, isto e, inserido em seu contexto. O Dasein e necessariamente embodied

(ver secao 5.2, pagina 12). Com isso e possıvel superar a classica separacao cartesiana

entre mente e corpo, corroborando dessa maneira para um equilıbrio entre o tecnicismo e

o humanismo, objeto de nossa busca.

Outro aspecto do ser, na Fenomenologia, e que ele e ek-sistente, possui uma historia.

Portanto, adotar essa vertente implica na possibilidade de projetar sistemas de informacao

mais adequados as necessidades socio-culturais do homem.

As consequencias do Dasein e do ser ek-sistente para a Arquitetura da Informacao

remontam ao nıvel de seus fundamentos. Implicam na construcao de uma nova disciplina,

que guardaria em si um aparente paradoxo (a dimensao humana e a dimensao tecnologica),

mas que de fato sao apenas aspectos complementares do mesmo ato.

Page 64: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

52

10 Trabalhos Futuros

Este trabalho nao pretendeu esgotar o assunto, mas limitou-se a apontar caminhos que

podem ser empregados pela Arquitetura da Informacao rumo a sua consolidacao.

Em funcao do tipo deste documento e o tempo disponıvel do projeto alguns pontos

foram prejudicados, sobretudo a base filosofica que ficou por demais sintetizada e a base

teorica que foi pouco discutida.

Quanto as contribuicoes da Fenomenologia para a Arquitetura da Informacao, entende-

se, que sao apenas assercoes. Seus argumentos de prova devem ser desenvolvidos de modo

a confirmar ou a rejeitar tais argumentos.

Sugestoes de continuacao desse trabalho sao diversas. Todavia, alguns pontos de in-

vestigacao merecem destaque:

1. Proposicao de uma Teoria Unificada da Arquitetura da Informacao, isto e, a inves-

tigacao acerca da possibilidade de se criar uma Teoria Unificada da AI, semelhante

aquelas observadas nas ciencias naturais. Sobre esse assunto vale a pena levar em

consideracao os argumentos de Capurro, Fleissner e Hofkirchner (1999);

2. Aprofundamento do estudo sobre as consequencias de um Dasein Ek-sistente;

3. Investigacao acerca das aplicacoes da nocao de Dasein Ek-sistente em sistemas de

informacao.

Sugere-se que esses temas sejam exploradas em diversos nıveis da pesquisa, desde pro-

jetos de iniciacao cientıfica, ate teses de doutorado.

Page 65: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

53

Referencias

ADDWISE SMART WEB ARCHITECTURE. Information Architecture. 2004. Disponıvelem: <http://www.addwise.com/htmls/inf arc.htm>. Acesso em: 21/11/2004.

BAILEY, Samantha. Information architecture: a brief introduction. 2003. Disponıvel em:<http://aifia.org/tools/ download/Bailey-IAIntro.pdf>. Acesso em: 15/06/2004.

BARRETO, Aldo de Albuquerque. O tempo e o espaco da Ciencia da Informacao. 2001.Disponıvel em: <http://www.alternex.com.br/aldoibct/tempespa.htm>. Acesso em:15/06/2004.

BEUREN, Ilse Maria. Gerenciamento da informacao: um recurso estrategico no processode gestao empresarial. Sao Paulo: Atlas, 1998.

BIDGOOD, T.; JELLEY, B. Modeling corporate information needs: Fresh approaches tothe information architecture. Journal of Strategic Information Systems, v. 1, n. 1, Dec.1991.

BOHR, N. Physique atomique et connaissance humaine. Paris: Folio, 1963.

BURKE, Lauren. Designing a new urban internet. Journal of the American Society forInformation Science and Technology, v. 53, n. 10, p. 863, 2002.

BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis.London: Heinemann, 1979.

CAPURRO, Rafael. Epistemology and Information Science. Stockholm, 1985.

CAPURRO, Rafael. What is information science for? a philosophical reflection. In:VAKKARI, Pertti; CRONIN, Blaise (Ed.). Conceptions of Library and InformationScience: Historical, empirical and theoretical perspectives. London: Taylor Graham, 1992.

CAPURRO, Rafael. Sein und zeit und die drehung ins synthetische denken. In: ELDRED,M. (Ed.). Twisting Heidegger. Drehversuche parodistischen Denkens. [S.l.]: Cuxhaven,1993. p. 51–65.

CAPURRO, Rafael. Hermeneutics and phenomenon of information. In: MITCHAM,Carl (Ed.). Metaphysics, Epistemology, and Technology. New York: JAI/Elsevier, 2000,(Research in Philosophy and Technology, v. 19). p. 79–85.

Page 66: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Referencias 54

CAPURRO, Rafael; FLEISSNER, Peter; HOFKIRCHNER, Wolfgang. Is a unified theoryof information feasible? In: Proceedings of the 2nd International Conference on theFoundations of Information Science. [S.l.: s.n.], 1999. p. 9–30.

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. The concept of information. In: CRONIN, B.(Ed.). Annual Review of Information Science and Technology. Silver Spring: ASIS, 2003.v. 37, p. 343–411.

COWARD, L. Andrew; SALINGAROS, Nikos A. The information architecture of cities.Journal of Information Science, v. 30, n. 2, p. 107–118, 2004.

DAVENPORT, Thomas H. Ecologia da Informacao: por que so a tecnologia nao bastapara o sucesso na era da informacao. Sao Paulo: Futura, 1998.

DENN, Sheila O.; MAGLAUGHLIN, Kelly L. World´s fastest modeling job, orinformation architecture: What is it? the multidisciplinary adventures of ph.d. students.Bulletin of the American Society for Information Science, p. 13–15, Jun./Jul. 2000.

DIAS, Eduardo Wense. Ensino e pesquisa em ciencia da informacao. DataGramaZero,v. 3, n. 5, 2002.

DILLON, Andrew. Information architecture in jasist: Just where did we come from?Journal of the American Society for Information Science and Technology, v. 53, n. 10,p. 821, 2002.

EINSTEIN, Albert. Conceptions scientifiques. Paris: Flammarion, 1990.

ERIKSSON, Darek M. Managing problems of postmodernity: some heuristics forevaluation of systems approaches. Laxenburg, Austria, 1998.

EVERNDEN, Roger; EVERNDEN, Elaine. Information First : Integrating Knowledgeand Information Architecture for Business Advantage. [S.l.]: Butterworth-Heinemann,2003.

FENEMA, Paul C. van; QURESHI, Sajda. A phenomenological exploration of adaptationin a polycontextual work environment. In: Proceedings of the 37th Hawaii InternationalConference on System Sciences. Hawaii: [s.n.], 2004. p. 1–10.

GARRETT, Jesse James. Elementos da experiencia do usuario. 2000. Disponıvel em:<http://www.jjg.net/ia/>. Acesso em: 21/11/2004.

GREGG, Dawn G.; KULKARNI, Uday R.; VINZE, Ajay S. Understanding thephilosophical underpinnings of software engineering research in information systems.Information Systems Frontiers, v. 3, n. 2, p. 169–183, 2001.

HAVERTY, Marsha. Information architecture without internal theory: An inductivedesign process. Journal of the American Society for Information Science and Technology,v. 53, n. 10, p. 839, 2002.

Page 67: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Referencias 55

HEGEL, Georg Wilhelm. A fenomenologia do espırito. Brasılia: EdUnB, 1995.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petropolis: Vozes, 1988.

HEISENBERG, W. Physics and philosophy. New York: Penguin Science, 1962.

HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. Coimbra: Armenio Amado, 1973.

HILL, Scott. An Interview with Louis Rosenfeld and Peter Morville. 2000. Disponıvel em:<http://web.oreilly.com/news/infoarch 0100.html>. Acesso em: 21/11/2004.

HIRSCHHEIM, Rudy; KLEIN, Heinz K. Four paradigms of information systemsdevelopment. Communications of the ACM, v. 32, n. 10, p. 1199–1216, 1989.

HOUAISS: Dicionario Eletronico da Lıngua Portuguesa. 2001. CD-ROM.

HUSSERL, Edmund. Meditations cartesiennes. Paris: Vrin, 1969.

HUSSERL, Edmund. The idea of Phenomenology. The Hague: Nijhoff, 1970.

HUSSERL, Edmund; MERLEAU-PONTY, Maurice. Investigacoes logicas. 2. ed. SaoPaulo: Abril cultural, 1975.

KANT, Immanuel. Kritik der reinem Vernunft. Hamburg: Meiner, 1974.

KLEIN, Heinz K. Seeking the new and the critical in critical realism: deja vu? Informationand Organization, v. 14, n. 2, p. 132–144, 2004.

KUHN, Thomas. The structure of scientific revolutions. Chicago: Chicago UniversityPress, 1970.

LAKATOS, I. Falsification and the methodology of scientific research programmes. In:LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. (Ed.). Criticism and the growth of knowledge. Cambridge:Cambridge University Press, 1970. p. 91–196.

LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. Criticism and the growth of knowledge. Cambridge:Cambridge University Press, 1970.

LAMB, Annette. Information architecture for the web: web development for schools andlibraries. 2004. Disponıvel em: <http://eduscapes.com/arch/archia.html>. Acesso em:21/11/2004.

LATHAM, Don. Information architecture: Notes toward a new curriculum. Journal of theAmerican Society for Information Science and Technology, v. 53, n. 10, p. 824, 2002.

LE COADIC, Yves-Francois. A Ciencia da Informacao. Brasılia: Briquet de Lemos, 1994.

LEE, M.H.; LACEY, N.J. The influence of epistemology on the design of artificial agents.Minds and Machines, v. 13, n. 3, p. 367–395, 2003.

Page 68: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Referencias 56

LIMA-MARQUES, Mamede. Arquitetura de um Sistema de Informacao. Uberlandia,2000.

LOMBARDI, Victor et al. DefiningTheDamnThing. 2004. Disponıvel em:<http://iawiki.net/DefiningTheDamnThing>. Acesso em: 21/11/2004.

LUKASIEWICZ, Jan. Aristotle’s syllogistic from the standpoint of modern formal logic.New York: Garland, 1987.

MACEDO, Flavia. A arquitetura da informacao no contexto da ciencia da informacao.Artigo apresentado na disciplina Topicos especiais em Ciencia da Informacao 2:arquitetura da informacao, do PPGCINF/UnB. 2004.

MACGEE, James; PRUSAK, Laurence. Gerenciamento Estrategico da Informacao. [S.l.]:Campus, 1994.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepcao. Sao Paulo: Martins Fontes,1996.

MINGERS, John. Combining is research methods: Towards a pluralist methodology.Information Systems Research, v. 12, n. 3, p. 240, 2001.

MINGERS, John. Embodying information systems: the contribution of phenomenology.Information and organization, v. 11, p. 103–128, 2001.

MINGERS, John. The paucity of multimethod research: a review of the informationsystems literature. Information Systems Journal, v. 13, n. 3, p. 233–249, 2003.

MINGERS, John. Critical realism and information systems: brief responses to monodand klein. Information and Organization, v. 14, n. 2, p. 145–153, 2004.

MINGERS, John. Real-izing information systems: critical realism as an underpinningphilosophy for information systems. Information and Organization, v. 14, n. 2, p. 87–103,2004.

MIRANDA, Antonio. Em torno da metametodologia da ciencia. In: SIMEAO, Elmira(Ed.). Ciencia da Informacao: teoria e metodologia de uma area em expansao. Brasılia:Thesaurus, 2003.

MIRANDA, Antonio. Metodo indutivo e pesquisa na area de biblioteconomia. In:SIMEAO, Elmira (Ed.). Ciencia da Informacao: teoria e metodologia de uma area emexpansao. Brasılia: Thesaurus, 2003.

MIRANDA, Antonio; SIMEAO, Elmira. Conceituacao de massa documental e a interacaoda tecnologia com o conhecimento registrado. DataGramaZero, v. 3, n. 4, 2002. Disponıvelem: <http//www.dgzero.org/ago02/Art 03.htm>. Acesso em: 12/06/2004.

Page 69: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Referencias 57

MONOD, Emmanuel. Einstein, heisenberg, kant: methodological distinction andconditions of possibilities. Information and Organization, v. 14, n. 2, p. 105–121, 2004.

MORIN, Edgar. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS,Francisco Menezes; SILVA, Juremir Machado da (Ed.). Para navegar no seculo XXI:tecnologias do imaginario e cibercultura. 3. ed. Porto Alegre: PUC-RS, 1999.

MORVILLE, Peter. Big Architect, Little Architect. 2000. Disponıvel em: <http://argus-acia.com/strange connections/strange004.html>. Acesso em: 21/11/2004.

MORVILLE, Peter. The Definition of Information Architecture. 2002. Disponıvelem: <http://semanticstudios.com/publications/semantics/000010.php>. Acesso em:21/11/2004.

PAREJA, Ignacio Velez; DAVILLA, Ricardo. De la investigacion universitaria encolombia. Educacion superior y desarollo, v. 3, n. 1, p. 48–54, 1984.

QUINE, Willard Van Orman. Elementary logic. New york: Harper & Row, 1965.

QUINE, Willard Van Orman. From a logical point of view. 2. ed. Cambridge: HarvardUniversity Press, 1965.

QUINE, Willard Van Orman. Filosofia da logica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

ROBINS, David. Information architecture in library and information science curricula.Bulletin of the American Society for Information and Technology, v. 28, n. 2, p. 20–22,2002.

ROSENFELD, Louis. Information architecture: Looking ahead. Journal of the AmericanSociety for Information Science and Technology, v. 53, n. 10, p. 874, 2002.

ROSENFELD, Louis. (Not) Defining the damn thing. 2003. Disponıvel em:<http://www.boxesandarrows.com/archives/not defining the damn thing.php>.Acesso em: 21/11/2004.

ROSENFELD, Louis; MCMULLIN, Jess. IA area of practices. 2001. Disponıvel em:<http://www.louisrosenfeld.com/home/bloug archive/images/010725b.gif>. Acesso em:21/11/2004.

ROSENFELD, Louis; MCMULLIN, Jess. Post-web in-formation system design. 2001. Disponıvel em:<http://www.louisrosenfeld.com/home/bloug archive/images/011014elephant.gif>.Acesso em: 21/11/2004.

ROSENFELD, Louis; MORVILLE, Peter. Information architecture for the World WideWeb. 2. ed. Cambridge: O’Reilly, 2002.

Page 70: Uma contribuic¸˜ao da Fenomenologia para a …rabci.org/rabci/sites/default/files/fenomenologia_0.pdf · SRIA QI 7 bloco E apt 207 CEP: 71020-056 – Guar´a/DF – Brasil ... Professor

Referencias 58

SARACEVIC, Tefko. Interdisciplinary nature of information science. Ciencia daInformacao, v. 1, n. 24, 1995.

SARACEVIC, Tefko. Ciencia da informacao: origem, evolucao e relacoes. Perspectivas emCiencia da Informacao, v. 1, n. 1, 1996.

SARACEVIC, Tefko. Information science. Journal of the American Society forInformation Science, v. 12, n. 50, p. 1051, Oct. 1999.

SHIPLE, John. Information architeture tutorial. Hotwired WEBmonkey De-sign, 2003. Disponıvel em: <http://hotwired.lycos.com/WEBmonkey/design/site-building/tutorials/tutorial1.html>. Acesso em: 04/2003.

TURK, Ziga. Phenomenological foundations of conceptual product modelling inarchitecture, engineering and construction. Artificial intelligence in engineering, n. 15, p.83–92, 2001.

VAN GIGCH, John P. System design, modelling and meta-modelling. New York: Plenum,1991.

VAN GIGCH, John P.; PIPINO, Leo L. In search for a paradigm for the discipline ofinformation systems. Future Computing Systems, v. 1, n. 1, p. 71–97, 1986.

WHITE, Martin. Information architecture. The Electronic Library, v. 22, n. 3, p. 218–219,2004.

WINOGRAD, Terry; FLORES, Fernando. Understanding computers and cognition: Anew foundation for design. Norwood: Ablex, 1990.

WODKE, Christina. Information architecture defined. 2000. Disponıvel em:<http://www.sitepoint.com/article/architecture-defined>. Acesso em: 21/11/2004.

WURMAN, Richard Saul. Information Anxiety: What to Do when Information Doesn’tTell You What You Need to Know. New York: Bantam, 1990.

WURMAN, Richard Saul; BRADFORD, Peter. Information Architects. Zurich,Switzerland: Graphis, 1996.

WURMAN, Richard Saul; LEIFER, Loring; SUME, David. Information Anxiety 2.Indianapolis: Que, 2000.

WYLLYS, R. E. Information Architecture. 2000. Disponıvel em:<http://www.gslis.utexas.edu/ l38613dw/readings/InfoArchitecture.html>. Acessoem: 21/11/2004.

ZUBOFF, S. In the age of smart machines: the future of work and power. New York:Basic Books, 1988.