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Ciência e Tecnologia e no Brasil

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Pesquisa FAPESP - Ed. 92

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Page 1: Uma antiga civilização na selva

Ciência e Tecnologia e no Brasil

Page 2: Uma antiga civilização na selva

Para organizações complexas, tecnologia de ponta.InfoCluster. Tecnologia cluster de alto desempenho com plataforma Intel® e arquitetura de 32 ou 64 bits.

Do trabalho conjunto entre a Itautec e a Escola Politécnica de São Paulo nasce o InfoCluster:primeiro supercomputador brasileiro. Com capacidade mil vezes superior à do primeiro

rcomputador do mundo, o Itautec InfoCluster baseado no processador Intel® ltanium" 2uma incrível capacidade de processamento de informações. Capaz de realizar

de cálculos por segundo, é uma ferramenta importantíssima para a pesquisaca, cálculos de operações financeiras, previsão do tempo e até localização de

petróleo. ltautec InfoCluster com processador Intel® ltanlum" 2.mputador que colocou a Itautec e o Brasil no topo do mundo da tecnologia.

Page 3: Uma antiga civilização na selva

•Pesql!!,a Ciência e Tecnologia no Brasil

www.revistapesquisa.fapesp.br

SEÇÕES

CARTAS ..•..••......•......•..•..• 5

CARTA DO EDITOR ..•..•..•..•..•...• 7

MEMÓRIA 8Há 40 anos, era criado o Cenpes,especializado em pesquisas sobre petróleo

ESTRATÉGIASA República Tcheca no clubedas células-tronco 10Quando Einstein enfrentou Britney 10A onda dos espiões de laboratório 11Parceria contra os flagelos africanos 11A mobilidade dos cérebros europeus 11

África e Índia duelam por instituto 12Teller: a ciência dos artefatos mortais 12Ciência na web 12Conselheiros com biografias notáveis 13Diversidade no Fórum da Anpocs 13Dinheiro para o software livre 13Sem fronteiras para a biodiversidade 14Um edita I em que as exatas não entram 14Saídas para o desenvolvimento 14O BNDES entra no jogo 14Ferramenta que integra o Nordeste 15O sonho começa a sair do papel 15Retomada de importações 15

REPORTAGENS

CAPAAo contrário do que se dizia,o Brasil tinha sociedadescomplexas antes da chegadados europeus 82

POLÍTICA CIENTÍFICAE TECNOLÓGICA

ESPAÇO

~--~-'~~mn~--~z~~w~""

Plano de revisão do programaespacial valoriza o diálogocom universidades 16

POLÍTICAS PÚBLICASProjeto de recuperação dematas ciliares preserva sistemahídrico em São Paulo 22

EDUCAÇÃOEndeavor, Sebrae-SP e FAPESPfirmam parceria inovadora ... 26

INTERNET AVANÇADATidia inicia análisede projetos de rede óptica,incubadora de conteúdose aprendizado eletrônico ..... 28

GOVERNO FEDERALPresidente Lula reinstalaConselho Nacionalde Ciência e Tecnologia 31

CIÊNCIA

GENÉTICA

,------------------,~Êo:i!

~

Destaque na Nature Genetics,trabalho de grupo paulistaleva à identificaçãode quase 14 mil genesdo Schistosoma mansoni ..... 36

MICROBIOLOGIAAnálise de genes ajuda aentender mecanismos de adaptaçãoda bactéria Chromobacteriumviolaceum 42

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 3

Page 4: Uma antiga civilização na selva

Pesquisa Ciência e Tecnologia no Brasil---------------'---'- FAPESP -------"-----------------------

SEÇÕES

LABORATÓRIOMais verde, menos estresse 32O protozoário mutante 32O cigarro, o DNA e o câncer de pulmão 32O mapa da gravidade na Terra 33Pequenos tremores, grandes estragos 33O gene sexual das abelhas 33

Remédios provocam quedas de idosos 34Escova de baixo custo aprovada 34A análise de genes do eucalipto 34A poluição na gênese dos raios 35Os vermes persistentes 35

SCIELO NOTícIAS 58

LINHA DE PRODUÇÃOInterferências na formação de cristais 62Receptor capta sinais múltiplos 62Investimento em tecnologia sem fio 62Laser quebra barreira do quilowatt 63Embalagens transformadas 63

Gaúchos ganham parque tecnológico 63Informação sobre o câncer nas escolas 64Alunos criam robô para detectar bomba 64Recuperação de águas contaminadas 64Empresa fecha contrato no Havaí 65Patentes 65

RESENHA 94Imigrantes Judeus do Oriente Médio -São Paulo e Rio de Janeiro, de Rachei Mizrahi

LANÇAMENTOS 95

CLASSIFICADOS 96

ARTE FINAL 98

4 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

REPORTAGENS

SAÚDE PÚBLICACresce o númerode moradores das grandescidades que aderemà atividade física moderada ... 44

GEOLOGIAA erosão e o recuodo mar redesenhamo litoral brasileiro 46

AMBIENTE

Excesso de prédiose escassez de áreas verdesfazem a temperaturaem São Paulo variar até 10graus no mesmo momento .... 52

TECNOLOGIA

ENERGIA

Pequena empresafaz ajustes finais em célulaa combustível que seráentregue à Eletropaulo 66

TRANSPORTEÔnibus produzido em SãoBernardo, com tração elétricae motor a diesel, ganhadestaque internacional 71

ENGENHARIA DE MATERIAIS

Grupos do Ipen e da USPdesenvolvem coração do sensorde oxigênio, peça importadapelo Brasil 74

METEOROLOGIAColetor desenvolvido naUnesp registra volumede chuvas, data e horárioem que ocorreram 77

CRIAÇÃO ANIMALCultivo em água doce e pesquisagenética fortalecem a produçãodo camarão marinho 78

HUMANIDADES

LITERATURA

Estudo póstumo deRoberto Ventura sobreEuclides da Cunha dá visãopsicanalítica do escritor ..... 88

ARQUITETURALivro analisa espaçoe estilo dos cemitérios 92

Capa: Hélio de AlmeidaFoto: Carlos Fausto/Museu Nacional

Page 5: Uma antiga civilização na selva

Ainda a matemática

Fiquei apavorado com a reação dedois colegas ao artigo sobre o prêmioAbel na seção Cartas de Pesquisa FA-PESP (edição nO91). Parece óbvio queo jornalista está enunciando uma si-tuação bastante objetiva: sendo a ma-temática uma forma de conhecimentoaltamente abstrata e com uma intera-ção com o cotidiano nem sempre ób-via, pode ser difícilque ela mexa com oimaginário das pessoas com o mesmoimpacto que assuntos como paz, eco-nomia, medicina etc., que emprestamao Nobel um glamour só compará-vel alguns grandes eventos do mun-do "profano" (cinema ou moda, porexemplo). Isto não significa desprezaro valor da matemática, nem muito me-nos da ciência em geral. Além disso,não sei a que tipo de preconceito osautores se referem. A maioria das pes-soas, cientistas ou não, tem uma cer-ta veneração pela matemática, à queconsideram produto de mentes inte-ligentes e altruístas. Pelo contrário, euacho que cartas como essas (que nãodevem nada aos manifestos do Ku KluxKlan) contribuem sim para criar pre-conceito nos leitores, inclusive nos quetêm contato com o mundo matemá-tico. Lendo essas queixas, pessoas de-sinformadas poderiam pensar que oprotótipo do matemático é Iohn For-bes Nash. Aliás, ser parecido a Nashnão seria tão ruim: foi um dos pou-cos matemáticos a ganhar um Nobele quem sabe ainda não ganhe o Abel.

CARLOS ALBERTO LUNGARZO

Centro de Lógica/UnicampCampinas, SP

Ensino médio

Li com interesse a reportagem"Portas abertas" (edição nv 90) sobreo programa do Instituto de Físicade São Carlos da Universidade deSão Paulo (USP). A Universidade Es-tadual de Campinas (Unicamp) tam-bém tem um programa para estu-

Revista

Volto a escrever para a Pesquisa FA-PESP pois, a cada número, mais meencanta a qualidade editorial e gráficadesta revista. A abrangência temáticae seriedade jornalística tornam sua lei-tura obrigatória e gratificante. Fantás-tico o trabalho de sua equipe de fo-tógrafos, ressaltando a foto que abrea reportagem "Imagem ampliada", deEduardo Cesar (edição nO88), uma au-têntica obra de arte. Parabéns tambéma Carlos Henrique Fioravanti e MarcosPivetta pelos prêmios de reportagemsobre biodiversidade da Mata Atlânti-ca. Nosso meio ambiente precisa deprofissionais desse quilate. Continuemsurpreendendo e eu continuarei mesentindo na obrigação de escreveragradecendo e elogiando.

JOÃo ROBERTO LAQUE

São Paulo, SP

Gostaria de continuar a receberregulamente a revista Pesquisa FA-PESP. Esclareço que recebi men-salmente esta estimulante e orien-tadora publicação em 2000, 2001 e2002 até que fui transferido de uni-dade prisional. Encontro-me em re-clusão, em regime fechado. Desen-volvo pesquisas de caráter pessoalnas áreas de literatura e organiza-ção e métodos em penitenciárias.

EDUARDO ISAAC MANZINO ISRAEL

Dracena, SP

Omissão

A matéria "A micose da terra"(edição n° 89) inexplicavelmente omi-tiu os nomes de Edecio Cunha Neto eJorge Kalil, os "pesquisadores da Fa-culdade de Medicina da USP': respon-sáveis pela predição e identificaçãodos peptídeos promíscuos da gp43do Paracoccidioides brasiliensis em pa-cientes apresentadas na mesma ma-téria. Este assunto é alvo do auxílioFAPESP nv 00/008404-3, coordenado

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 5

[email protected]

dantes do ensino médio intituladoCiência & Arte nas Férias. O progra-ma, organizado pela Pró-Reitoria dePesquisa da universidade, recebeu emsua primeira edição, realizada em ja-neiro deste ano, 33 estudantes de es-colas públicas. Os estudantes foramrecebidos em laboratórios de pesqui-sa da universidade, onde desenvol-veram projetos individuais durantetodo o mês de janeiro. Os trabalhosforam expostos na forma de pôster.Estamos ampliando o programa e,em janeiro de 2004, planejamos re-ceber cem estudantes. Atualmente es-tamos na fase de submissão de proje-tos pelos docentes da Unicamp.

Ioss ROBERTO DE F. ARRUDA

Comissão organizadora do programa"Ciência & Arte nas Férias"

Campinas, SP

Texto e foto

A revista está cada vez melhor.Mas há um problema, fácil de resol-ver. Exemplos: a excelente reporta-gem "Os olhos do deserto" (página35, edição nv 90) e "Adubo Natural".(páginas 68 e 69, edição nv 90). Se-guinte: texto sobre foto é um horror.Difícil de ler. Até que fica bonitinho,mas ... primeiro a informação, depoiso enfeite, que é importante, claro.Parabéns.

LUIZ ALBERTO DE LIMA NASSIF

São Paulo, SP

Page 6: Uma antiga civilização na selva

As reportagens de PesquisaFAPESP retratam a construçãodo conhecimento que seráfundamental parao desenvolvimento do país.Acompanhe essa evolução semperder nenhum movimento.

• Números atrasadosPreço atual de capa da revistaacrescido do valor de postagem.Tel. <ll) 3038-1438

• Assinaturas, renovaçãoe mudança de endereçoLigue: ui: 3038-1434Mande um fax: ni: 3038-1418Ou envie um e-mail:[email protected]

• Opiniões ou sugestõesEnvie cartas para a redaçãode Pesquisa FAPESPRua Pio XI, 1.500São Paulo, SP 05468-901pelo fax (11) 3838-4181ou pelo e-mail:[email protected]

• Site da revistaNo endereço eletrônicowww.revistapesquisa.fapesp.brvocê encontra todos os textos dePesquisa FAPESP na íntegrae um arquivo com todas asedições da revista, incluindoos suplementos especiais.No site também estãodisponíveis as reportagensem inglês e espanhol.

• Para anunciarLigue para:Nominal Propaganda

e Representação: tel. 5573-3095

pelo dr. Edecio Cunha Neto. O Labo-ratório de Imunologia do Incor e adisciplina de Imunologia Clínica eAlergia estão entre os poucos centrosbrasileiros especializados na identi-ficação e análise de peptídeos anti-gênicos, com atuação na doença deChagas, febre reumática, esquistosso-mose, malária, Aids, doenças auto-imunes oculares e neurológicas.

EDECIO CUNHA NETO

JORGE KAUL

Laboratório de Imunologiado Instituto do Coração

Disciplina de Imunologia Clínicae Alergia-Faculdade de

Medicina da USP.Instituto de Investigação em

Imunologia/Institutos do MilênioSão Paulo, SP

Cachaça

Lemos o artigo "Cachaça semMistério" (edição nv 87), fornecidapor um amigo astro físico do Obser-vatório Nacional. Somos engenhei-ros e proprietários de uma loja (nãoum bar) que vende somente cacha-ça, no Rio de Janeiro, bairro do Le-blon, chamada Garapa Doida. Ven-demos a cachaça como uma das maisautênticas expressões da cultura bra-sileira e nos empenhamos em co-nhecer profundamente o produto,principalmente suas característicastécnico-científicas, as quais procura-mos passar para os nossos clientes.

ANTONIO GILLET E CATARINA LAMARCA

Rio de Janeiro, RJ

Correções

Na nota "Tratamento interrom-pido" (página 33, edição nv 91), di-ferentemente do que foi publicado,a tuberculose é causada pela bacté-ria Mycobacterium tuberculosis, enão Mycoplasma tuberculosis.

Na reportagem "O lado escuro doUniverso" (edição nv 91), a matériaescura responderia por 90% de todaa massa do Universo - e não 85%,como foi publicado -, o equivalen-te a nove vezes - e não seis vezes - aquantidade de matéria comum con-centrada em planetas, estrelas e nu-vens de gás.

No mapa do pôster que acompa-nha a edição n= 91, Jaboticabal apa-rece duas vezes - a cidade a nordestedo Estado de São Paulo, próxima aFranca, corresponde na verdade aSão Joaquim da Barra. A cidade queaparece com o nome de Lins é, narealidade, Penápolis; Lins encontra-se a cerca de 50 quilômetros antes dePenápolis para quem vai da capitalpara o interior pela rodovia Mare-chal Rondon.

Cartas para esta revista devem ser enviadas parao e-mail [email protected], pelo fax (Ll) 3838-4181ou para a Rua Pio XI, 1.500, São Paulo, SP,CEP 05468-901. As cartas poderão serresumidas por motivo de espaço e clareza.

6 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

Aposentados

Sou leitora assídua da revista Pes-quisa FAPESP, que, freqüentemen-te, me surpreende por tornar acessí-veis assuntos das mais diversas áreas.Gostaria de sugerir um tema parareportagem: o destino de docentes/pesquisadores aposentados. Para ondevão esses indivíduos com grande ex-periência de vida e acúmulo de conhe-cimento? Muitos tomam o rumo dapesquisa voluntária, na própria ins-tituição de origem, engrandecendoainda mais sua trajetória e fazendo jusao fato de que a persistência da ati-vidade profissional em indivíduosmaduros propicia a manutenção da'saúde mental. Seria interessante co-nhecermos mais sobre eles. Ao mes-mo tempo, poderíamos refletir so-bre as políticas para essa parcela dosdocentes/pesquisadores, que tende ase tornar maior com a atual reformada Previdência Social.

MÁRCIA VALÉRIA R. SCOGNAMILLO SZABO

Jaboticabal- SP

Laurabeatriz

Parabéns a Laurabeatriz pelosbelos desenhos que enriquecem arevista Pesquisa FAPESP.

LAVRO VARGAS

Maringá, PR

Page 7: Uma antiga civilização na selva

PesquisaFAPESP

CARLOS VOGTPRESIDENTE

PAULO EDUAROO DE ABREU MACHADOVleE-PRESIDENTE

CONSELHO SUPERIORAOILSON AVANSI DE ABREU, ALAIN FLORENT STEMPFER,

CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ, CARLOS VOGT,FERNANOOVASCO LEÇA 00 NASCIMENTO,

HERMANN WEVER, JOSÉ JOBSON DE ANORAOE ARRUOA,MARCOS MACARI, NILSON DIAS VIEIRA JUNIOR,

PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO,RI CARDO RENZO BRENTANI, VAHAN AGOPYAN

CONSELHO TÉCNICO-AOMINISTRATIVOFRANCISCO ROMEU LANOI

DIRETOR PRESIDENTE

JOAQUIM J. OE CAMARGO ENGLERDIRETOR ADMINISTRATIVO

JOSÉ FERNANOO PEREZDIRETOR CIENTíFICO

PESQUISA FAPESP

CONSELHO EDITORIALLUIZ HENRIQUE LOPES DOS SANTOS (COOaOENADORCIENTIF1CO),EDGAR OUTRA ZANOTTO, FRANCISCO ANTONIO BEZERRA

COUTlNHO, FRANCISCO ROMEU LANOI, JOAQUIM J.DE CAMARGO ENGLER, JOSÉ FERNANOO PEREZ,

LUIZ EUGÉNIO ARAUJO DE MORAES MELLO,PAULA MONTERO, WALTER COLLI

DIRETORA DE REDAÇÃOMARILUCE MOURA

EDITOR CHEFENELOSON MARCOLlN

EOITORAS~NIORMARIA OA GRAÇA MASCARENHAS

DIRETOR DE ARTEHÉLIO DE ALMEIOA

EDITORESCARLOS FIORAVANTI (C]!,,"), CLAUDIA IZIQUE (POliTlCAC&Tl

MARCOS DE OLIVEIRA mCIiOlOGIA), HEITOR SHIMIZU (VERSÃOOHINE)

REPÓRTER ESPECIALMARCOS PIVETTA

EDITORES-ASSISTENTESOINORAH ERENO, RICAROO ZORZETTO

CHEFE DE ARTETÂNIA MARIA DOS SANTOS

DIAGRAMAÇAoJOSÉ ROBERTO MEOOA, LUCIANA FACCHINI

FOTÓGRAFOSEDUARDO CESAR, MIGUEL BOYAYAN

COLABORADORESAFFONSO NUNES, BRAZ, CARLOS HAAG, CLAUOIUS,

EDUARDO GERAQUE (O,UE)"FABRIcIO MARQUES, GIL PINHEIRO,

LAURABEATRIZ, MARGO NEGRO, SÉRGIO AOEOOATO,SIRIO J. B. CANÇAOO, SYLVIA LEITE,

RENATA SARAIVA, THIAGO RQMERO (OtHlNE>,TIAGO MARCONI

ASSINATURASTELETARGET

TEL. nu 3038-1434 - FAX: (11) 3038-141Be-maü: [email protected]

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TEL: (11) 3865-4949atendlmentoêlmx.ccm.br

FAPESPRUA PIO XI, N'l.5oo, CEP 05468-901

ALTO DA LAPA - sÃO PAULO - SPTEL. (11) 383B-4ooo - FAX: (11)3838-4181

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NÚMEROS ATRASADOSTEL. (ll)3038-1438

Osartigos assinados não refletemnecessariamente a opinião da FAPESP

É PROIBIOA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIALDE TEXTOS E FOTOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO

FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO

SECRETARIA DA CltNCIA, TECNOLOGIA,OESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E TURISMO•GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CARTA DO EDITOR

De indígenas e de imaginação

Sempre imaginávamos todos os in-dígenas brasileiros como homensmuito primitivos reunidos em pe-

quenas aldeias formadas por ocas co-bertas de palha, isoladas umas das ou-tras, e prontos para procurar um novopouso assim que as condições de caça,pesca e coleta de frutos do local em queestavam estabelecidos se deterioravam,Civilizações mais avançadas na Améri-ca pré-colombiana, só as dos maias eastecas, acima do Equador, e a dos in-cas, nos Andes, Éramos assim capazes deviajar boquiabertos e cheios de invejapelo vasto império asteca, em guerracontra os invasores espanhóis coman-dados por Hernán Cortez, que Salva-dor de Madariaga, por exemplo, nosoferecia nos quatro volumes de No Co-ração da Pedra Verde, escrito lá pelosanos 40 do século passado, Tínhamos aopor à riqueza e ao esplendor com queele atiçava nossa imaginação apenasumas poucas lendas, como a da Iara e ada índia Mani.

A reportagem de capa desta edição,contudo, nos diz que as coisas não sepassaram exatamente assim - e pode-mos, portanto, abandonar aquele feiosentimento de inveja, Recentes desco-bertas arqueológicas em pelo menosdois pontos distintos da Amazônia bra-sileira, relata o repórter especial MarcosPivetta, a partir da página 82, sugerema existência de grandes e refinados as-sentamentos humanos, habitados pormilhares de pessoas, há 500 anos ou tal-vez mais tempo, no Alto Xingu, nortedo Mato Grosso, e na confluência dosrios Negro e Solimões, a cerca de 30quilômetros de Manaus, Amazonas,Esses achados foram relatados na edi-ção de 19 de setembro passado da re-vista norte-americana Science e, o que émelhor, num artigo científico que tema raridade de contar entre seus autoresdois índios kuikuro do Brasil, ao ladode três pesquisadores da Universidadeda Flórida e dois do Museu Nacionaldo Rio de Janeiro. É uma leitura quevale a pena, com certeza,

Merece também destaque especialnesta edição a reportagem sobre os re-sultados do projeto Genoma do Schis-

tosoma mansoni (página 36), que forampublicados em artigo científico na edi-ção de outubro da revista britânica Na-ture Genetics e anunciados pelo gover-nador Geraldo Alckmin, em cerimôniano Palácio dos Bandeirantes, sede dogoverno paulista, em 15 de setembroúltimo. Os pesquisadores responsáveispor esse projeto conseguiram determi-nar de forma integral ou parcial as se-qüências de 92% dos estimados 14 milgenes do parasita analisado e, por ana-logia com o material genético de outrosorganismos seqüenciados, descobrirama função de 45% dos genes do vermeque infecta cerca de 10 milhões de bra-sileiros. As conseqüências práticasdesse belo trabalho deverá ser o desen-volvimento de novas formas de tra-tamento contra a esquistossomose,conhecida popularmente como barri-ga-d'água, É possível que mais adiantesurja de todo esse esforço científicouma vacina contra a doença.

Outro destaque é a reportagem so-bre o programa espacial brasileiro (pá-gina 16), posto em cheque desde o trá-gico acidente na Base de Alcântara em22 de agosto, quando um incêndio des-truiu completamente o terceiro protó-tipo do Veículo Lançador de Satélites(VLS), provocou a morte de 21 técni-cos e causou perdas materiais estima-das em R$ 36 milhões, As fragilidades,os avanços e os impasses do programasão esmiuçados num texto primorosodo editor de Ciência, Carlos Fioravanti.Para encerrar, destacamos a reporta-gem de Fabrício Marques a respeito dasconclusões do primeiro levantamentonacional sobre as alterações do perfillitorâneo brasileiro (página 46). Sãopreocupantes, registre-se. Hoje, 40%das praias brasileiras são fustigadas poralgum processo de erosão e perdem ter-reno para o mar, enquanto em 10% dacosta ocorre o inverso: a areia avançasobre o oceano, Ou seja, a estabilidadeda silhueta de boa parte dos oito milquilômetros da costa do País não passade uma referência nos mapas escolares,como o repórter explica, Boa leitura!

MARILUCE MOURA - DIRETORA DE REDAÇÃO

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 7

Page 8: Uma antiga civilização na selva

I. MEMÓRIA

A Petrobras faz50 anos; há 40criava o Cenpes,especializadoem pesquisassobre petróleo

Do poço ao laboratório

NELDSON MARCOLIN

Pesquisadores emlaboratório do Cenap, em1957: precursor do CenpesNa década de 1970, as

discussões sobre omonopólio estatal do

petróleo ainda existiam, mas nãoeram tão intensas como nosanos 40 e 50. Também não haviadúvidas sobre a capacidadede o Brasil achar e produzir seupróprio "ouro negro". De 1974a 1977, foram descobertos extensoscampos de petróleo no mar, nabacia de Campos, Rio de Janeiro.Garoupa, Pargos, Namorado,Badejo, Enchova, Bonito e Pampoprenunciavam recordes deprodução nos anos que viriam.Mas havia um problema a serresolvido: como explorar petróleoem águas profundas? Nãofaltavam dinheiro e vontadepara resolver a questão, decaráter meramente tecnológico.A complexa tarefa foi entregueao Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento LeopoldoAmérico Miguez de Mello(Cenpes), órgão criadooficialmente pela Petrobras em1963. O centro levou alguns anos

'para desenvolver a tecnologianecessária, sempre aperfeiçoadanas décadas seguintes - e o fezcom maestria, a ponto de ganharpor duas vezes, em 1992 e 2001,o prêmio DistinguishedAchievement, da OffshoreTechnology Conference (OTC), dereconhecimento internacional naliderança mundial em tecnologiade exploração e produção emáguas profundas. Em 1987, porexemplo, foi lançado ao maro primeiro veículo submarinode controle remoto concebido efabricado inteiramente no Brasil.A excelência do Cenpes não seconstruiu apenas nessa época.Ela nasceu no final dos anos 1940,

quando o então ConselhoNacional do Petróleo apontoupara a necessidade da formaçãode engenheiros para uma futuraindústria brasileira nessa área.Esse desejo se materializou em1952, quando foi montado oCentro de Aperfeiçoamento dePessoal (Cenap). Nesse mesmoano, foi ministrado o primeirocurso de refinação de petróleono Brasil, em convênio com aEscola Nacional de Químicada Universidade do Brasil (atualUniversidade Federal do Riode Janeiro, a UFRJ). As duasiniciativas se deram antes mesmoda criação da Petrobras, em3 de outubro de 1953. Depoisde incorporado à Petrobras, em1954, o Cenap investiu em novos

8 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

Page 9: Uma antiga civilização na selva

cursos de formação, comogeologia, perfuração e produção,manutenção de equipamentose aplicação de asfalto, entreoutros. Em 1956, um grupode trabalho e estudos sobrepetróleo concluiu que a pesquisatecnológica era um imperativoda atividade industrial, o quelevou à reestruturação doCenap - definiu-se que suafinalidade, além da formação,era "incentivar a realização deestudos e pesquisas científicasda tecnologia do petróleo':Foi em 1963 que um relatórioproduzido por especialistasrussos a pedido da Petrobrasrecomendou a instalação deuma instituição que agregassepesquisa científica e laboratóriosbem estruturados. Foi o sinalpara a criação do Cenpes, queabsorveu o Cenap, ganhou

Perfuração em alto-mar erobô nos anos 80: expertiseem ágúas profundas

mais recursos nos anosseguintes e um prédio dentroda cidade universitária daUFR]. O centro tornou-seum dos principais do mundo.Desde 1992 recebe 1%do orçamento brutoda Petrobras e dispõede 137 laboratórios e 28unidades-piloto, com 1.308funcionários, dos quais 86são doutores, 247 mestrese 292 graduados, situação semigual em nenhuma empresabrasileira. Não à toa,o Cenpes é responsável porgrande parte do sucessoda Petrobras, como as 750patentes depositadas pelaPetrobras no Brasil e,entre elas, 180 no exterior.

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 9

Page 10: Uma antiga civilização na selva

• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

• ESTRATÉGIAS MUNDO

Cientistas tchecos consegui-ram cultivar linhagens decélulas-tronco extraídas deembriões humanos descar-tados numa clínica de ferti-lização (Nature, 7 de agos-to). E estão estudando opotencial dessas matrizes -capazes de se transformarem várias outros tipos de

A República Tcheca no clube das células-troncocélulas no desenvolvimen-to de neurônios, uma áreade pesquisa promissorapara pacientes dos malesde Parkinson e Alzheimer.Com esse avanço, a Repú-blica Tcheca se torna o pri-meiro país do Leste Euro-peu, e em vias de ingressarna União Européia (UE),

a iniciar pesquisas dessanatureza. Também crescemas pressões para que a UEpatrocine experiências comcélulas-tronco de embriõeshumanos. Não será fácil.Países como Itália e Ale-manha se opõem visceral-mente. A Espanha, que eracontra, acaba de mudar de

posição. Outros países, comoInglaterra e Suécia, permi-tem a pesquisa sob estritospadrões éticos. A pesqui-sadora Eva Syková, da Uni-versidade de Carlos, emPraga, uma das responsá-veis pelos estudos, garanteque, na República Tcheca,a ética prevalece. •

• Quando Einsteinenfrentou Britney

Na tentativa de descobrir atéque ponto os desbravadoresda ciência e da tecnologia ri-valizam com os artistas noimaginário popular, a revistaNewScientist (16 de agosto)decidiu testar a popularidadede expoentes dos dois timesna Internet. Como regra, fi-cou estabelecido que o ran-king dos mais famosos seriadecidido sumariamente pelonúmero de referências en-contradas para cada nome nosite de busca Google. Comoastro que se preza tem de serconhecido por um só nome

- como Elvis ou Einstein, porexemplo -, decidiu-se que osnomes sobressalentes seriamdispensados. Se ignorarmos

alguns senões - como o deque os resultados para Ma-donna certamente incluemmenções à Virgem Maria -,

alguns resultados surpreen-dem. Abaixo de Deus (na-turalmente digitado comoGod), que não tem partido

Celebridades no Google15.2

CIENTISTAS ARTISTAS

10 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

Page 11: Uma antiga civilização na selva

e obteve expressivos 44 mi-lhões de citações, o primeironome que aparece é o deFord (o desbravador em ques-tão é Henry Ford, o pioneirodos automóveis), empatadocom Jesus com "15 milhões".O que significa mais-do quetriplo das menções obtidaspela primeira artista no ran-king: Britney, com 4,3 mi-lhões. É possível argumentarque Ford é um termo amplodemais, designa também umadas maiores indústrias doplaneta e, afinal, não expressaoriginalidade científica. Maso que dizer da originalidadeartística de Britney? Justiçaseja feita: se o time dos cien-tistas é mais rico em cra-ques, o dos artistas tem maiscraques ricos. E dá vagas atalentos vivos. •

• A onda dos espiõesde laboratório

O físico Valentin Danilov, doCentro de Termofísica daUniversidade Técnica Estatalde Krasnoyarsk, na Sibéria,aguarda julgamento, desde suaprisão em fevereiro de 2001,sob a acusação de espiona-gem. Ele é suspeito de ter pas-sado informações secretassobre um aparelho em que tra-balhava para uma companhiachinesa (Nature, 31 de julho).Não está sozinho. Vários ou-tros cientistas, presos entre1997 e 2002 pelo FSB - ser-viço de inteligência que subs-tituiu a KGB -, respondem aprocessos de traição na moro-sajustiça russa. "Está na modaacusar cientistas de espiões",diz Ludmila Alexeyeva, chefede uma organização de direi-tos humanos que luta parapôr um fim no que caracteri-zacomo "uma perseguição aospesquisadores". Danilov, co-mo outros acusados, tem asolidariedade da comunidadeacadêmica. O aparelho que

A mobilidade dos cérebros europeus

desenvolveu só serviria paratestar o efeito da atividadeeletromagnética dos satélites,embora o FSB, não se sabe

Segundo o articulista doFinancial Times DonaldKennedy (27 de agosto), oscientistas europeus já tran-sitam entre as fronteiras doVelho Continente com amesma leveza com que, porexemplo, um pesquisadornorte-americano se deslo-ca de· Massachusetts paraCalifórnia. Mas, ao mes-mo tempo em que supe-ram as barreiras nacionaise lingüísticas em nome deuma realidade mais co-munitária e economica-mente unificada, os paísesda Europa também assis-tem ao aumento da evasãode seus cientistas para osEstados Unidos. Que fa-zer? A implementação depolíticas como Sexto Pro-grama Quadro para a Pes-quisa, que prevê subsídiospara trabalho científico

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 11

por quais desígnios, acrediteque algo nele possa munir oschineses de uma arma espa-cial para usar contra a Rús-sia. Dos cientistas presos,nenhum, até agora, foi con-denado. Alguns até já foramlibertados. Danilov asseguraque a condição de réu nãomudou sua vida pessoal eprofissional. "Ando de cabe-ça ergui da", diz. •

• Parceria contra osflagelos africanos

Na última reunião regionalda Organização Mundial deSaúde (OMS), em Iohannes-burgo, na África do Sul, ocomissário de pesquisa daUnião Européia, Phillippe Bus-quin, conclamou os países daÁfrica a mobilizar esforçospara colaborar com o progra-

por todo o continente,sem dúvida, pode ajudar,mas Kennedy sugere trêsoutras ações coordenadas.Em primeiro lugar, rees-truturar as prioridades daciência européia - issoajudaria, por exemplo, aconter a insatisfação dospesquisadores que dizemhaver pesquisa aplicadademais e pesquisa básicade menos nos programasda UE. Em segundo lugar,

ma Parceria Europa-Países emDesenvolvimento para a Pes-quisa Clínica, lançado há umano para combater o HIV, amalária e a tuberculose nocontinente (The Scientist, 4de setembro). Busquin tam-bém aproveitou para infor-mar os 46 ministros dos paí-ses africanos presentes que oprograma já conta com osU$S 432 milhões de fundosprometidos pela Europa. Es-peram-se contribuições da in-dústria farmacêutica e da co-munidade internacional paracompletar os U$S 650 mi-lhões previstos. "Trata-se deuma oportunidade para ospesquisadores, funcionáriospúblicos e industriais africa-nos e europeus darem as mãospara lutar contra as pioresepidemias do mundo", decla-rou o comissário. •

a Europa e os Estados Uni-dos deveriam trabalhar jun-tos para evitar a fuga detalentos da Europa - umintercâmbio mais equâni-me resolveria problemasde parte a parte. Finalmen-te, empenhar os cientistasna criação de centros de ex-celência mais focados emregiões do que em países -na tentativa de superar aspolíticas ainda definidasisoladamente por nações .•

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• África e Índiaduelam por instituto

Toma corpo a idéia de trans-ferir para a África a sede doIcrisat, sigla em inglês paraInstituto Internacional dePesquisa de Colheitas para osTrópicos Semi-Áridos (Natu-te, 31 de julho). Atualmente,o instituto - um dos núcleosda ONG Future Harvest, quepatrocina projetos de desen-volvimento agrícola e ecoló-gico com o apoio de 50 paí-ses - funciona no Estado deAndhra Pradesh, na Índia. Aproposta surgiu em Washing-ton na última reunião doConselho Consultivo para aPesquisa Agrícola Internacio-nal, que administra a ONG.A intenção seria fortalecer aposição dos postos mais caren-tes da organização no Quênia,na Nigéria e no Zimbábue. Ocorpo técnico do instituto epesquisadores indianos desa-provam a mudança, pois te-mem que seus projetos fi-quem em segundo plano.Com a ajuda do Icrisat, aÍndia obteve avanços na pro-dução de alimentos. •

Teller: a ciência dos artefatos mortaisO físico Edward Teller,controversa personagem daciência no século 20, mor-reu no dia 9 de setembro,aos 95 anos. Seu esforçopara fazer a bomba de hi-drogênio, com poder dedestruição centenas de ve-zes maior que as bombasde Hiroshima e Nagasaki,serviu de combustível pa-ra a corrida armamentis-ta durante a Guerra Fria etransformou-o numa fi-gura odiada. Nascido naHungria numa família ju-daica, Teller deixou o paísnos anos 20, depois queuma revolução comunistavarreu o país em 1919 -experiência que forjariasua verve anticomunista.Mudou-se para a Alema-nha, fez doutoramentosob orientação de WernerHeisenberg, um dos paisda física quântica, mas aascensão do nazismo con-duziu-o aos Estados Uni-

Teller deu fôlegoà corrida armamentista

dos, em 1935. Em 1943, in-tegrou-se ao Projeto Ma-nhattan, que produziu aprimeira bomba atômica.Logo se tornaria rival deJ. Robert Oppenheimer, ochefe do projeto. Encerra-da a Segunda Guerra, Tel-ler queria que os EstadosUnidos desenvolvessem lo-go a bomba de hidrogênio- antes que a União Sovié-tica o fizesse. Oppenheimerse opunha à idéia. Em 1950,

o governo americano de-cidiu investir no projeto dabomba H e deu autonomiapara Teller trabalhar. Escan-teado, Oppenheimer che-gou a ser taxado de agentesoviético. A vitória custoucaro a Teller, que passou aser visto como um páriaentre os cientistas. Arrogan-te, não se furtava a dar de-poimentos ao Congressodefendendo a bomba H -testada em 1952 - e, maistarde, o sistema espacial an-timísseis que se converteuno programa Guerra nasEstrelas. É certo que Tellerajudou a transformar omundo num lugar perigo-so. Como teve vida longa,assistiu ao desmorona-mento soviético e pôdedefender-se com o argu-mento de que, sem pres-são armamentista, o blococomunista estaria de pé -e o mundo continuariasob a ameaça nuclear. •

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• ESTRATÉGIAS BRASIL

Conselheiros com biografias notáveiso Conselho Superior daFAPESP ganhou três no-vos membros, indicadospelo governo do Estado: oex-chanceler Celso Lafer,o presidente da Fiesp, Ho-racio Piva, e o economistaYoshiaki Nakano. Subs-tituem o professor AlainFlorent Stempfer, o advo-gado Fernando Vasco Le-ça do Nascimento e ohistoriador José IobsonArruda, cujos mandatosterminaram. •

• Do Direito aoItamaraty

Celso Lafer é professor-titular da Faculdade deDireito da Universidadede São Paulo (USP) e umdos integrantes do comitêconsultivo da Organiza-ção Mundial do Comércio(OMC). Foi ministro deEstado em três ocasiões.No governo Fernando Col-lor, teve rápida passagemno Ministério das RelaçõesExteriores. No governo Fer-nando Henrique Cardoso,assumiu o Ministério doDesenvolvimento, Indús-

tria e Comércio em 1999e, em 2001, tornou-se no-vamente chanceler. Ho-mem público com conhe-cida formação intelectual,também foi embaixadordo Brasil junto à OMC e àONU. Recebeu a mais altacondecoração da Ciência eTecnologia do Brasil, a Or-dem Nacional do MéritoCientífico. •

• A nova geraçãoda Fiesp

Horacio Lafer Piva cumpreo segundo mandato comopresidente da Federação eCentro das Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp-Ciesp). Membro dos con-selhos de administraçãoda Indústrias Klabin e daAssociação Brasileira deCelulose e Papel, integra oComitê Empresarial Per-manente do Ministério dasRelações Exteriores e oConselho de Desenvolvi-mento Econômico e Socialda Presidência da Repú-blica. Formado em econo-mia e pós-graduado emadministração, foi eleito

um dos Global Leadersfor Tomorrow (Líderes doAmanhã) pelo World Eco-nomic Forum. •

• Especialistaem economia

Yoshiaki Nakano é pro-fessor de Economia, dire-tor da Escola de Economia

da Fundação Getúlio Var-gas (FGV) e chefe do De-partamento .de Economiada Escola de Administraçãode Empresas de São Paulo,também da FGV. Foi secre-tário da Fazenda do Esta-do de São Paulo, de 1995 a2001, diretor do Centro dePolítica Econômica, secre-tário especial de AssuntosEconômicos do Ministérioda Fazenda e consultor doBanco Mundial. Nakanotambém já exerceu a fun-ção de secretário-adjun-to do Estado de São Pau-lo, entre 1985 e 1987, eocupou o mesmo cargo naSecretaria de Estado daCiência, Tecnologia, Desen-volvimento Econômico eTurismo. •

• Diversidade noFórum da Anpocs

O mais prestigiado fórumdos antropólogos e sociólo-gos terá, neste ano, um in-grediente inédito: um pes-quisador da Ásia e outro daÁfrica estão no rol dos con-ferencistas do 27° EncontroAnual da Associação Nacio-nal de Pesquisa e Pós-Gra-duação em Ciências Sociais(Anpocs) - que acontece emCaxambu entre 21 e 25 deoutubro. São o senegalêsAdebayo Olukoshi, diri-gente da associação de cien-tistas sociais da África, e oiraniano Asef Bayat, espe-cialista em fundamentalis-mo islâmico da Universi-dade Americana no Cairo.Tradicionalmente, o encon-tro traz nomes dos EstadosUnidos e da Europa. Elestambém estarão lá. RenatoRosaldo, da Universidade deStanford, por exemplo, seráum dos conferencistas. •

• Dinheiro parao software livre

O Comitê Gestor do FundoSetorial para Tecnologia deInformação definiu investi-mentos de R$ 4,3 milhõespara projetos na área dosoftware livre - aquele tipode programa que pode serdesenvolvido e aperfeiçoadopor qualquer pessoa e setransformou em alternativade baixo custo aos softwa-res das gigantes de informá-tica. Um edital para seleçãodos projetos está saindo doforno. Os recursos vêm doFundo Nacional de Desen-volvimento Científico e Tec-nológico. •

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Uma parceria do governodo Amapá com a ONG am-bientalista ConservationInternational deu origem aum gigantesco corredor eco-lógico. A área, maior que oterritório de Portugal, com-preende 10 milhões de hec-tares de florestas tropicais,mangues e cerrados. Na prá-tica, engloba 12 parques ereservas indígenas já exis-

Sem fronteiras para a biodiversidade

• Um edital em que asexatas não entram

Pela primeira vez o Conse-lho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tec-nológico (CNPq) lança umedital específico para asáreas de ciências humanas,no valor de R$ 3 milhões.Normalmente, os pesqui-sadores que atuam na áreade humanidades têm decompetir com especialistasde outras áreas do conheci-mento - como Exatas e Bio-lógicas, entre outras - noseditais universais do con-selho. "A maior parte dasverbas acaba destinando-seàs ciências exatas e a turmadas ciências humanas ficaem desvantagem", afirma ocientista político ManuelDomingos Neto, vice-pre-sidente do conselho. Paraparticipar desta nova mo-dalidade de edital, os can-didatos interessados deve-rão ter nível de doutorado eestar vinculados a uma uni-versidade ou instituição depesquisa, no âmbito da qualdesenvolverão as atividadesde pesquisa. Cada um dosprojetos receberá um valormáximo de R$ 20 mil. •

tentes, das Guianas ao estu-ário do rio Amazonas, queagora passam a ser conecta-dos por novas áreas prote-gidas. O que realmente mudaé a forma de administrar oenorme patrimônio natu-ral. Num corredor de bio-diversidade, os recursosnaturais são gerenciados demodo conjunto para garan-tir a sobrevivência de um

• Saídas para odesenvolvimento

A Assembléia Legislativa pau-lista criou uma arena paradiscutir saídas que criemcondições para o desenvol-vimento sustentado, concei-to que concilia prosperidadeeconômica com respeito àecologia. Instalado no dia 9de setembro, o Fórum Le-gislativo do Desenvolvimen-to Econômico Sustentado temuma agenda ambiciosa. Vaipromover audiências nasquinze regiões administra-

número maior de espécies.O mosaico de reservas abri-ga 45 espécies de lagartos, 505de aves e nove de prima tas."O corredor preserva as ca-beceiras dos principais riosdo Amapá. Isso irá garantiro abastecimento de água noEstado no futuro", diz Rus-sell Mittermeier, presidenteda Conservation Internatio-nal. O projeto vai receber

tivas de São Paulo. O objeti-vo não é só fazer diagnósti-cos, mas também apresentarpropostas que estimulem aretomada dos investimentosprivados, fortaleçam a com-petitividade das empresas ereduzam as desigualdadesregionais. "AAssembléia querser um catalisador de novasações", disse o presidente daAssembléia, Sidney Beraldo."Queremos identificar po-tencialidades que melhorema distribuição de renda epreservem o -meio ambien-te." Os deputados estaduais

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investimentos de US$ 15milhões nos próximos qua-tro anos. O governo do Ama-pá dará o maior quinhão. AConservation lnternationalentrará com US$ 1,6 milhão.A criação do corredor foianunciada pelo governadordo Amapá, Waldez Góes, noCongresso Mundial de Par-ques, realizado em Durban,na África do Sul. •

vão debater a eficácia daspolíticas públicas em cadaregião e discutir o Plano Plu-rianual apresentado pelo go-verno à luz das conclusões dofórum. As informações co-lhidas pelo fórum vão abas-tecer um banco de dados es-tratégicos da Assembléia.Outro objetivo do fórum éaproximar a comunidade aca-dêmica do setor produtivo.Para estimular esse contato,o conselho consultivo do fó-rum é composto por repre-sentantes de associações em-presariais, além dos reitoresdas universidades estaduaise do presidente da FAPESP,Carlos Vogt. •

• O BNDES entrano jogo

As torneiras do Banco Na-cional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES)vão abrir-se para a criação depequenas empresas de tecno-logia, numa linha de finan-ciamento que pode chegar aR$ 1 bilhão. "Estão sobran-do recursos do banco paranovos empreendimentos, de-vido à baixa demanda dosetor privado", disse o pre-sidente do BNDES, Carlos

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matas, manter um museu docérebro - e ainda desenvolverprojetos sociais. Deve ter en-tre dez e 15 laboratórios, li-derados pelos melhores neu-rocientistas brasileiros. Como aporte de verbas, deverácomeçar a funcionar em trêsanos. •

Lessa. A fonte de capital derisco, que virá de uma parce-ria do banco com a Finep,está prevista num protocoloassinado por Lessa e o minis-tro da Ciência e Tecnologia,Roberto Amaral, no dia 19de setembro. A meta do pro-grama, batizado de Criatec -Programa de Criação de Tec-nologia -, é a formação demil novas empresas tecno-lógicas no país até 2006 e amultiplicação do númerode patentes. O Criatec deveser lançado oficialmente ain-da neste ano. •

• Ferramenta queintegra o Nordeste

Um acordo celebrado entreos presidentes das Funda-ções de Amparo à Pesquisana Região Nordeste prometereduzir custos e burocracia.As FAPs decidiram compar-tilhar o software de gestãoAgil, desenvolvido nos últi-mos três anos pela Fundaçãode Amparo à Ciência e Tec-nologia de Pernambuco (Fa-cep). A ferramenta racio-naliza o preenchimento deformulários. Permite, ainda,que os pesquisadores façamsuas solicitações de verbas,

bolsas e passagens aéreas pelaInternet e acompanhem a tra-mitação dos pedidos on-line."As fundações de Minas Ge-rais, Mato Grosso e Rio Gran-de do Sul também demons-traram interesse em obter oprograma", diz José CarlosVieira Wanderley, presidenteda Facepe. A integração entreas FAPs nordestinas deve iralém. Numa reunião entreos dirigentes das fundações,

realizada em Fortaleza, no fi-nal de agosto, decidiu-se queas instituições vão comparti-lhar um banco de dados deconsultores. Com isso, sem-pre que uma delas abrir umedital, terá mais facilidade emarregimentar pesquisadoresque avaliem os projetos. •

• O sonho começaa sair do papel

O Instituto Internacional deNeurociências do Brasil, queserá sediado em Natal, RioGrande do Norte, vai receberR$ 2 milhões dos ministériosda Ciência e Tecnologia e daEducação - conforme esta-belece um convênio e umprotocolo assinados em mea-dos de setembro. A idéia decriação do instituto partiu detrês neurocientistas brasileirosque atualmente trabalhamnos Estados Unidos: MiguelNicolelis e Sidarta Ribeiro,pesquisadores da Duke Uni-versity, em Durham, e Clau-dio Mello, da Oregon Healthand Science University, emPortland (Pesquisa FAPESP,edição 88). A instituição pre-tende ser um centro de exce-lência mundial na pesquisade circuitos neurais em pri-

• Retomada deimportações

A FAPESP iniciou nova eta-pa no processo de retoma-da das importações de bense serviços. Vai analisar so-licitação apresentada porpesquisadores responsáveispor projetos com conclu-são prevista entre 10 de no-vembro de 2003 e 30 deabril de 2004. As propostasdevem ser apresentadas até14 de novembro. Na primei-ra etapa, foram autorizadascompras de bens para proje-tos com conclusão previstaaté 31 de outubro, no valorde até US$ 5,4 milhões. En-tre os 251 projetos qualifi-cados para pleitear recursos,foram apresentadas 42 so-licitações com valor total deUS$ 535,5 mil, ou seja, pou-co menos de 10% dos recur-sos disponíveis. •

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dentes, dos quais não escapam nemmesmo os países mais avançados,como os Estados Unidos e a Rússia."Estamos num momento fundamen-tal para definir os rumos e concepçõesdo programa espacial brasileiro", co-menta João Evangelista Steiner, físicoda Universidade de São Paulo (USP)que encerrou no final de dezembrouma temporada de três anos como se-cretário de coordenação das unidadesde pesquisa do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT).

Tenta-se agora inverter umatendência histórica e darmaior transparência aoprograma espacialbrasilei-ro, ao mesmo tempo que

se promove maior integração com asuniversidades, cuja participação no de-senvolvimento de satélites e foguetestem sido bastante rara. Até agora, não foiexatamente profícuo o diálogo mesmoentre as duas instituições - uma militare outra civil- que conduzem a pesqui-sa espacial:o Centro Técnico Aeroespa-cial (CTA), subordinado ao Ministérioda Aeronáutica, responsável pelo de-senvolvimento do VLS, e o InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),ligado ao MCT, que cuida dos satélites.

O CTAe o Inpe se uniram em 1980,com o início da Missão Espacial Com-pleta Brasileira, que prevê a conquistade autonomia no desenvolvimento e naoperação do veículo lançado r e de saté-lites, em conjunto com a construção deuma plataforma de lançamento, emAlcântara, inaugurada em dezembro de1989.A partir desse momento, emboravizinhos, em São José dos Campos, oCTA e o Inpe seguiram trajetórias dis-tintas. Enquanto o Inpe ganhou tempono desenvolvimento de satélites pormeio de acordos internacionais detransferência de tecnologia, ao CTA sórestou o caminho do trabalho solitário,sob forte bloqueio internacional. Ospaíses que detêm a tecnologia de cons-trução de veículos lançadores não a re-passam nem a vendem, por razões es-tratégicas. Afinal, o mesmo foguetepode levar tanto um satélite quanto ummíssil de uso militar. Mas o bloqueiotambém tem razões comerciais. Paísescomo Estados Unidos, França, China eRússia, que já contam com foguetespróprios, não desejam um competidora mais nesse lucrativo mercado: para

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cada lançamento de satélite cobram-sede US$ 15 milhões a US$ 25 milhões.

Reaproximação - A distância entre asduas instituições pode ser, até certoponto, inevitável. "O Inpe não pode seracusado de participar de pesquisas comfinalidades bélicas, para não perde"!'acredibilidade nos acordos internacio-nais", alerta Leonel Fernando Perondi,coordenador geral de engenharia e tec-nologia espacial do Inpe. O problema éque o isolamento, hoje, parece excessi-vo, na visão de Luiz Bevilacqua, presi-dente da Agência Espacial Brasileira(AEB),órgão civil criado em 1994paracoordenar o programa espacial. Ligadaao Ministério da Ciência e Tecnologia,a AEBsubstituiu a Comissão Brasileirade Atividades Espaciais, subordinadaao Estado Maior das Forças Armadas, edeu um caráter civil ao programa espa-cial brasileiro, antes associado apenasaos militares. "Estou procurando criarcanais mais ativos de comunicação en-tre o CTA,o Inpe, as universidades e asindústrias': diz Bevilacqua.

O esforço de reaproximação haviacomeçado, sem alarde, pouco antes dodesastre de Alcântara.No início de agos-

to, três meses depois de ter assumidoefetivamente a AEB, Bevilacqua haviapromovido um encontro no CTA comrepresentantes das duas instituições deSão José dos Campos e de cerca de 20empresas que atendem ao programa es-pacial- quatro delas já estão trabalhan-do na chamada plataforma multimissão,uma estrutura comum aos satélites aserem lançados a partir de 2006. No en-contro, segundo Bevilacqua, cada umpôde expor o que fazia ou desejava fa-zer, as dificuldades e os ressentimentos.Seu plano é promover neste mês de ou-tubro um encontro ainda maior, para oqual devem ser convidados também pes-quisadores de universidades e institutosinteressados em participar do progra-ma espacial. "Há uma disposição tantodo Inpe quanto do CTA de cooperar",observa Bevilacqua, que abriu espaçopara pesquisadores de universidades in-tegrarem a comissão coordenada peloCTA, que vai apurar as causas do aci-dente de Alcântara. Pressionada por ins-tituições científicas, a Câmara dos De-putados anunciou a criação de umacomissão independente para examinaro desastre do final de agosto e promo-ver uma ampla avaliação do programa

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espacial brasileiro. "O programa espa-cial brasileiro civil é reconhecido nomundo todo porque houve continui-dade, o que não se vê no programa mi-litar, cujas equipes se mantêm, mas aschefias se alteram com freqüência e seperde ritmo de trabalho': diz Nelson deJesusParada, que dirigiu o Inpe na épo-ca da implantação da Missão Espacial-mais tarde, entre 1993 e 1996, foi dire-tor-presidente da FAPESP.

á no final dos anos 80 surgiramsinaisde que seria difícilconciliaros ritmos entre as duas institui-ções à medida que se acentuavaa defasagem entre os cronogra-

mas e se tornava claro que o primei-ro satélite do Inpe estaria pronto bemantes do veículo lançador. Renato Ar-cher, na época o ministro da Ciência eTecnologia, criou então uma vertentepuramente civil do programa: assinouum acordo de cooperação internacio-nal com a China para desenvolvimentoconjunto de satélites de sensoriamentoremoto, mais complexos que os proje-tados no âmbito da Missão CompletaBrasileira.Apesar dos benefícios- o Bra-sil já era um usuário habitual de ima-

gens de sensoriamento remoto -, oacordo com a China causou um cons-trangimento nas relações entre o Inpe eo CTA, por representar a independên-cia do Inpe em relação à Missão Com-pleta e ao CTA.

Este mês, na China - O acordo com aChina resultou na construção do primei-ro satélite sino-brasileiro de sensoria-mento remoto, o CBERS-1(China-Bra-zilEarth ResourcesSatellite),lançado deTaiyuan em 1999 - com cinco anos deatraso - pelo foguete chinês LongaMar-cha 4. Provavelmente no final deste mês,também de Taiyuan e novamente a bor-do do Marcha 4, deve subir o CBERS-2,cujo lançamento deve ser acompanha-do por um grupo de 12 técnicos e pes-quisadores do Inpe, que em agosto dei-xaram a plataforma de Alcântara duashoras antes do incêndio com o VLS.

O CBERS-2 ganha o espaço compelo menos dois anos de atraso em re-lação ao planejado para substituir o sa-télite anterior, cuja vida útil é de doisanos. Réplica do anterior, com 1.450kge um corpo cúbico de 2 metros de ladoacoplado a um painel solar de 2,6 me-tros de largura por 6,3 de comprimen-

to, o CBERS-2 também deverá entrarem órbita polar, a 778 km de altitude.Como o anterior, deverá enviar as ima-gens que indicam o uso da terra ou osespaços nos quais uma cidade aindapode crescer, por exemplo, com umaresolução de 20 metros. "Já imaginouse no final do ano o governo disser quenão sabe quanto se desmatou na Ama-zônia?",indaga Gilberto Câmara, enge-nheiro do Inpe que coordena o setor deobservação da Terra. "O CBERSé a ga-rantia de que teremos imagens sobre oterritório brasileiro': acrescenta, preo-cupado com o fato de um satélite nor-te-americano, o Landsat-7, outro assí-duo observador da Amazônia, terparado de funcionar, após quatro anos.

Além dos satélites chineses, estão noar dois satélites de comunicação de da-dos. O primeiro, o SCD-1 - um prismade base octogonal com 1 metro de diâ-metro, 1,45de altura e 115kg-, entrouem órbita em fevereiro de 1993, lança-do da Flórida, Estados Unidos, por umfoguete norte-americano, o Pegasus.Com uma vida útil estimada em umano, o SCD-1 continua em funciona-mento, por consumir lentamente aenergia de sua bateria. Em 1998, um

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ano depois de o CTA ter lançado o pri-meiro protótipo do VLS, que perdeu orumo e teve de ser explodido 65 segun-dos depois de ter deixado o solo, o Inpepôs em órbita o SCD-2, com o mesmolançado r norte-americano. Ambos seencontram a 750 quilômetros de altitu-de, acompanhando a linha do Equador,e captam e enviam a cada 100 minutosinformações meteorológicas (umidadedo ar e temperatura) e hidrológicas(vazão dos rios e represas).

Aespeito .dos i~passes'A n~ose questiona a unportanciaestratégica do programaespacial para o País. Umdos principais argumen-

tos apresentados em defesa do programapor Bevilacqua, José Viegas, ministro daDefesa, e pelo brigadeiro Tiago da SilvaRibeiro, diretor do CTA, nas audiênciasdo Senado e da Câmara, é que a exten-são territorial exige monitoramento con-tínuo, em nome da segurança e da so-berania do país. "Não há país grandecomo o Brasil sem um programa espa-cial ambicioso", reforça Steiner. Alémdisso, Alcântara é uma das bases de lan-çamento mais bem posicionadas domundo - a proximidade com a linha doEquador permite o aproveitamento daforça de rotação da Terra e a economiade combustível- e, é consenso, não de-veria ser aproveitada apenas para pôrem órbita satélites estrangeiros.

Outro ganho do programa é o La-boratório de Integração e Testes (LIT)inaugurado em 1978 para apoiar a pes-quisa espacial. Parada lembra-se decomo foi difícil montar esse laborató-rio, que simula as condições que os sa-télites enfrentarão lá em cima - comvariações de temperatura de 70° negati-vos para 70° positivos em menos deduas horas -, além de fazer de 20 a 30testes para fabricantes de objetos tãodíspares como telefones celulares, equi-pamentos médicos ou automóveis."Ninguém queria transferir tecnologianem vender os equipamentos, queeram considerados de segurança nacio-nal", diz Parada, que conseguiu ajudado governo francês, após insistentes re-cusas dos norte-americanos. "No fim,com muita diplomacia e muito cuida-do, conseguimos."

Sob a lua soviética . O que está emjogo neste momento é como conduzir a

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pesquisa espacial no Brasil. Steinerlembra que o programa espacialnorte-americano também estavadividido entre vários ministériosquando os então soviéticos, maiságeis, inauguraram a corrida espa-cial em outubro de 1957 lançandoo Sputinik 1, o primeiro satélite ar-tificial a entrar em órbita. Semanasdepois, subiu o Sputinik 2 com acachorra Laika, o primeiro ser vivoa ir para o espaço. Em dezembrodesse mesmo ano, os Estados Uni-dos lançaram seu primeiro satéli-te, o Navy Vanguard, que explo-diu. Como a partir daí a corridaespacial confundiu-se com a cor-rida armamentista, alimentando oconflito político entre os EstadosUnidos e a União Soviética, o pre-miê Nikita Krushev aproveitou achance para provocar: "A Américadorme sob a lua soviética': Em respos-ta, no ano seguinte o governo norte-americano criou a Nasa, uma institui-ção civil, com o propósito de agilizar ecentralizar a pesquisa espacial, e em1969 pôs o homem na Lua.

Também se critica o fato de o pro-grama espacial brasileiro estar sujeito àLei nO 8.666, ou lei das licitações, queexige a abertura de concorrências públi-cas para compras ou contratação deserviços. "O programa teria de ter flexi-bilidade para escolher as empresas porcritérios técnicos, não por preço': rei-vindica Perondi, do Inpe. Segundo ele,o controle dos gastos poderia ser feitopor meio de auditorias externas. "Nes-sa área, cada produto é único", diz.

Num plano mais amplo, questiona-, se o próprio papel das instituições. Nãose tem ao certo, por exemplo, se a Agên-cia Espacial Brasileira deveria realmen-te permanecer ligada ao Ministério daCiência e Tecnologia, como o Inpe, ouretornar, com mais autonomia, à Presi-dência da República, à qual era inicial-mente vinculada. Nas semanas seguin-tes ao acidente de Alcântara, os jornaisde São Paulo, Rio de Janeiro e Brasíliapublicaram uma série de artigos ques-tionando os rumos do programa espa-cial. "Seria difícil questionar a dedica-ção e a competência do pessoal doCTA", escreveu na Folha de S. Paulo obrigadeiro-do-ar Aldo Vieira da Rosa,fundador do Inpe e hoje professor emé-rito da Universidade Stanford, nos Es-tados Unidos. "Poderíamos, quando

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Peças da plataformamultimissão: estruturaúnica para satélitescom missões diferentes

muito, examinar se lá é o local maisadequado para o desenvolvimento defoguetes ou se tal atividade deveria sercontratada com indústria privada.'"

Acordos· Em conseqüência dos nósque agora se procura desatar, o progra-ma espacial brasileiro acumulou umatraso estimado em pelo menos 20anos. "Até os anos 80, tínhamos. umprograma espacial tão avançado quan-to o da Índia': comenta Perondi. "Hoje,a Índia já tem capacitação integral naconstrução e no lançamento de fogue-tes e de satélites de sensoriamento re-moto, científicos, meteorológicos e detelecomunicações." O governo da Índiatem dedicado cerca de US$ 400 milhõespor ano ao programa espacial, motiva-do, é verdade, pela perspectiva de guer-ra iminente com um de seus vizinhos, oPaquistão. Sem um inimigo à vista, ogoverno brasileiro destinou ao progra-ma, este ano, cerca de US$ 35 milhões.Mas pode haver mais no ano que vem.Bevilacqua e José Viegas, convocadospara explicar o programa e o acidentede Alcântara no Senado e na Câmarados Deputados, aproveitaram as au-diências para reivindicar um reforçoorçamentário de US$ 130 milhões parao próximo ano, aos quais se somariam

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ser

os US$ 40 milhões a princípio já asse-gurados.

IS Bevilacqua tem trabalhadointensamente em acordosde cooperação internacio-nal que permitam ao pro-grama espacial avançar mais

rapidamente. No momento, o maispromissor é costurado com o governoda Ucrânia, interessado em usar a basede Alcântara para realizar os testes fi-nais do seu lançador, o Ciclone 4. Já emfase final de redação, o acordo seria as-sinado, de acordo com o presidente daAEB, com a vinda ao Brasil do presi-dente da Ucrânia, Leonid Kuchma, pre-vista para este mês. Essa é uma das ra-zões pela qual se deseja reconstruir atorre de lançamento, o mais rapida-mente possível, e começar a fabricaçãode outro protótipo do veículo lançador.O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaafirmou logo após o acidente e reiterousemanas depois que o quarto VLS de-ve ser lançado até o final de seu manda-to, em 2006.

Os ucranianos teriam interesseem aumentar a força exercida pelosfoguetes do lançador Ciclone 4 comdispositivos adotados no VLS brasi-leiro, segundo Bevilacqua. Teriam tam-

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bém proposto o desenvolvimento con-junto de combustível líquido, adota-do internacionalmente, junto com ospropelentes sólidos, nos foguetes quepõem satélites em órbita. Para parti-cipar do mercado de colocação desatélites de constelações de órbita bai-xa será necessário desenvolver veí-culos que utilizem apenas a propulsãolíquida, ou, em uma solução-mista, tam-bém a sólida, reconhece, em um artigona revista Parcerias Estratégicas, o bri-gadeiro-do-ar Tiago da Silva Ribei-ro, diretor do CTA, que, procurado pelarevista Pesquisa FAPESP, não respon-deu às questões enviadas.

Até agora, o CTA conhece apenas aprodução de combustível sólido, esco-lhido no início da Missão Completapela perspectiva de poder ser usadotambém em mísseis balísticos e porapresentar semelhanças com os explo-sivos de alta energia - os combustíveislíquidos são de manuseio mais com-plicado. Tratava-se de uma decisãocoerente com os objetivos militares ecom os interesses comerciais de umgrupo de empresas de São José dosCampos, que nos anos 80 era um cen-tro exportador de armamentos, prin-cipalmente para o Oriente Médio. Ofoco na indústria bélica, porém, difi-

cultou o acesso a tecnologias de usocivil dos próprios lançadores, cujodesenvolvimento permanece sob o cu-idado exclusivo do CTA. "Somos pri-sioneiros do passado", comenta Gilber-to Câmara, do Inpe.

Por enquanto, o programa espa-cial brasileiro oscila entre cenáriosdistintos. O primeiro deles implica acontinuidade do modelo atual: o CTAconsegue recursos para reconstruir oVLS e a base de Alcântara e lançar ou-tro protótipo em 2006. Como se-gunda alternativa, o Brasil estabeleceacordos de cooperação internacionalque levem a um projeto totalmente di-ferente do lançador. Na terceira op-ção, o País adota o exemplo da Índia,procura recuperar o atraso, amplia bas-tante o orçamento do programa e ini-cia um projeto novo de VLS, com umarevisão completa dos objetivos doprograma e do país e uma sinergia en-tre a pesquisa civil, militar e univer-sitária. Outro caminho seria desistirde construir lançadores próprios, comoo Canadá e a Argentina, e concentrar-se nas tecnologias de satélites e suasaplicações. Na quinta saída, talvez ain-da mais improvável de acordo com arealidade atual, o Inpe e parte do CTAseriam unificados, sob o comandoda AEB, que passaria a ter o comandoefetivo do programa espacial. Os pró-ximos meses serão decisivos para de-finir o quanto vai mudar a pesquisaespacial no Brasil. •

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

POLÍTICAS PÚBLICAS, .1105

produzidosProjeto derecuperaçãode matas ciliaresresgata abiodiversidade epreserva sistemahídrico de São Paulo

Noinício deste século, estima-va-se que as áreas de matasciliares degradadas em SãoPaulo somavam 1,3 milhãode hectares, expondo ao ris-

co o sistema hídrico estadual. Grande partedesse desmatamento ocorreu de maneirairregular e ilegal e, por exigência de lei, estasáreas deveriam ser recuperadas. Na época,no entanto, as ações de reflorestamento en-frentavam dois obstáculos. O primeiro era abaixa capacidade de produção de mudas, decerca de 13 milhões por ano, ante às neces-sidades do replantio, que demandava umaoferta de 2,6 bilhões de mudas. Mantidoesse ritmo de produção, qualquer projeção

para a reparação dessas áreasultrapassava um período de200 anos. O segundo proble-ma era a baixa qualidade dosprojetos de reflorestamento,que utilizavam poucas espé-cies - geralmente as de mudasmais baratas e mais facilmen-te disponíveis no mercado -,limitando-se assim à recons-tituição da paisagem. "Emáreas de mata natural, existementre 100 e 400 espécies ar-bóreas', ressalta Luiz MauroBarbosa, diretor-geral do Ins-

tituto de Botânica da Secretaria de Estadodo Meio Ambiente (SMA). Agravando a si-tuação, dentre as espécies utilizadas, doisterços eram de ciclo de vida curto, ou seja,cresciam rapidamente. "O resultado é que,em 10 anos, começavam a declinar e preci-savam ser replantadas", diz ele.

O cenário de degradação e a falta deorientação técnica no reflorestamento exi-giam rápida intervenção. E foi este o objeti-vo do projeto Modelos de RepovoamentoVegetal para a Proteção de Sistemas Hídri-cos em Áreas Degradadas dos Diversos Bio-mas do Estado de São Paulo, desenvolvidopelo Instituto de Botânica (lBt) em parceriacom a Prefeitura Municipal de Ilha Com-prida e de Mogi-Guaçu, com apoio da In-ternational Paper e da Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP),no âmbito do Programa de Políticas Públi-cas da FAPESP.

O projeto, sob coordenação do diretor-geral do Instituto de Botânica, foi iniciadoem 2001. "Constatamos, já na primeira fase,que a situação era pior do que imagináva-mos", conta Barbosa. Neste diagnóstico fo-ram avaliadas 98 áreas de reflorestamentoem todo o Estado de São Paulo, num totalde 2.500 hectares. "As áreas monitoradas ti-

/

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nham tamanhos diversos e estavam vincu-ladas a empresas e universidades, sendo quea maioria dos projetos não utilizava maisque 30 espécies", afirma Barbosa. A diver-sidade só é maior em áreas próximas agrandes remanescentes de mata naturalconservadas, como, por exemplo, na MataAtlântica, por conta da propagação naturalde determinadas espécies. Já nas áreas derestinga, a situação é ainda mais grave: alié possível encontrar espécies arbóreas típi-cas de matas do interior, que haviam sidoplantadas de forma errada. A baixa diver-sidade tem origem principalmente napequena oferta de mudas diversificadas eaté no custo de produção diferenciado, jáque as espécies mais usadas eram sempreas mesmas. Os pesquisadores constataramque, em 41 viveiros florestais consultados,são produzidas cerca de 590 espécies arbó-reas nativas. Mas a grande maioria con-centra sua produção naquelas 30 espéciesidentificadas nas áreas de reflorestamentoamostradas.

Replantio orientado - A primeira medidada equipe de pesquisadores envolvida noprojeto foi propor à SMA a edição da Re-solução n= 21, publicada em novembro de2001, normatizando procedimentos para oreplantio em áreas degradadas. As novasnormas passaram, desde então, a pautar aanálise e a aprovação de projetos de reve-geração, além de orientar sobre o reflores-tamento heterogêneo no Estado de SãoPaulo. "Alguns dos objetivos do projeto fo-ram identificar as formas mais adequadaspara transferir conhecimentos para a so-ciedade, subsidiar o licenciamento ambien-tal no Estado e apoiar ações do MinistérioPúblico e SMA, entre outros", justifica Bar-bosa. "A resolução é um parâmetro técnicoa ser seguido:'

A resolução estabeleceu proporções so-bre o número mínimo de espécies por hec-tare. Projetos de reflorestamento de até umhectare, por exemplo, devem contar com30 espécies. Já aqueles implementados emáreas maiores que 50 hectares, a exigênciamínima é de 80 espécies distintas. Outrarecomendação visa proteger as espécies emextinção, respeitando-se as regiões ou for-mações de ocorrência. Assim, áreas de re-plantio de até 1 hectare devem contar com5% de mudas de pelo menos cinco espé-cies distintas ameaçadas de extinção. Nosgrandes projetos, com mais de 50 hectares,as plantas em extinção devem representar10% das mudas, com pelo menos 15 espé-cies distintas.

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As mudas deverão,preferencialmente, serproduzidas com semen-tes procedentes da mes-ma região e nativas dobioma ou formação flo-restal correspondente,sempre com pelo menos20 centímetros de alturae sistema radicular quegaranta a sua sobrevivên-cia pós-plantio.

A medida é detalha-da: sugere que nas áreasreflorestadas sejam ado-tadas medidas de con-trole de formigas e reali-zadas, no mínimo, trêscapinas e/ou coroamen-tos anuais, mantendo asentrelinhas vegetadas ebaixas. "Se possível': cons-ta na resolução, "devemser efetuadas pelo menosduas adubações anuaiscom formulação normal-mente utilizada na re-gião, ou de acordo comos resultados da análisedo solo."

No caso de áreas degradadas locali-zadas em restingas, manguezais e flo-restas paludosas, também conhecidascomo matas de brejo, 50% das mudasdevem ser de espécies existentes nas vi-zinhanças.

AesoluçãOtraz ainda uma lis-ta de 247 espécies arbóreasexemplificativas, com in-dicação do ecossistemade ocorrência natural e

classe sucessional - isto é, levando-seem conta espécies pioneiras e não pio-neiras - para facilitar a implementaçãode projetos. Esta lista acaba de ser am-pliada. O Instituto de Botânica lançouo manual Diversificando o Refloresta-mento no Estado de São Pau/o: espéciesdisponíveis por região e ecossistema, coma sugestão de 589 espécies que podemser utilizadas no replantio. "O livro tam-bém é resultado da pesquisa patrocina-da pela FAPESP", ressalta Barbosa.

Ainda é cedo para avaliar os efeitosda resolução sobre a biodiversidade, jáque foi adotada há pouco mais de umano e meio. Mas há sinais de que seusefeitos são positivos. "Já é possível cons-tatar uma maior conservação da biodi-

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A diversificação da oferta de mudas nosviveiros é estratégica para o sucesso do projeto

versidade e a melhor qualidade dos re-florestamentos': observa Barbosa.

A International Paper do Brasil Ltda.,por exemplo, adotou, em 2002, as no-vas diretrizes para o plantio do ParqueFlorestal São Marcelo, mantido pelaempresa. Plantaram 732 mil mudas em439 hectares, com uma média de 1.667plantas por hectare. Desta área, 24ahec-tares foram replantados utilizando 101espécies nativas arbóreas das regiões de,Mogi-Guaçu, Aguaí e Espírito Santo doPinhal. De acordo com Miguel MagelaDiniz e Doraci Milani, respectivamentesupervisar técnico e gerente técnico do

o PROJETO

parque, esta foi a primeira área do Esta-do a ser recomposta atendendo inte-gralmente aos parâmetros técnicos es-tipulados pela resolução, garantindomaior diversidade florística e suportealimentar para a fauna local. Compa-rando os procedimentos de repovoa-mento antes e depois da resolução, elesconcluem que, utilizando uma menordiversidade de espécies, o custo de im-plantação da floresta nativa é menor nafase inicial, devido à rápida coberturado solo, mas é necessário, no futuro, en-riquecer o povoamento com outras es-pécies, o que acaba por acarretar custosadicionais.

Em Ilha Comprida, município ins-talado em área de proteção ambiental,ao sul do Estado - cuja prefeitura é par-ceira no projeto patrocinado pela FA-PESP -, a resolução também apresentabons resultados. Para ampliar a ofertade mudas e treinar produtores locais,foi instalado um viveiro municipal deespécies florestais de restinga e man-guezal na área de um antigo depósitode lixo. As mudas de mangue estão sen-do utilizadas no plantio de uma áreade 6.700 m2 na zona urbana, que vemsofrendo processos erosivos. "Busca-secom esta alternativa evitar a execução

Modelos de Repovoamento Vegetalpara a Proteção de SistemasHídricos em Áreas Degradadasdos Diversos Biomas do Estadode São Paulo

MOOALIDADEPrograma Políticas Públicas

COORDENADORLUIZ MAURO BARBOSA- Institutode Botânica - SMA

INVESTIMENTOR$ 178.062,59

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de obras civis, que aumentariam muitoo gasto de recursos para a contençãoda erosão", conta o prefeito Décio JoséVentura. "O projeto", ele avalia, "criouuma nova consciência entre os viveiris-tas. Eles próprios estão sugerindo, por'exemplo, a produção de muda conhe-cida na região como cataia (Pimentapseudocaryophyllus), espécie utilizada naprodução de cachaça típica da região."Também está em estudo um projeto dearborização do setor urbano com mu-das nativas produzidas nos viveiros lo-cais. "A resolução pode se consolidarcomo instrumento legal de restauraçãoda biodiversidade paulista", avalia Ri-cardo Ribeiro Rodrigues, da Esalq.

Além da resolução e do manual so-bre espécies, o projeto patrocinado pelaFAPESP promoveu, ao longo de doisanos, uma série de ações de transferên-cia de conhecimento à sociedade, comoo treinamento de viveiristas e produto-res de sementes, cursos sobre a conser-

total de mudas para qualquer espé-cie. As espécies escolhidas deverão estarincluídas em dois grupos ecológicos:pioneiras e não pioneiras, consideran-do o limite mínimo de 40% para qual-quer dos grupos.

Outros aspectos também conside-rados pelos especialistas referem -se aoscritérios necessários para a recuperaçãopor meio da semeadura direta, induçãoe/ou condução da regeneração natural,entre outras. Tais projetos devem levarem conta a avaliação da paisagem; ava-liação do histórico de degradação daárea; avaliação e retirada dos fatores dedegradação; avaliação dos processos deregeneração natural e aproveitamentodo potencial de auto-recuperação.

O secretário do Meio Ambiente, JoséGoldemberg, que participou do evento,garantiu que a secretaria está disposta aeditar novas resoluções para enfrentaro desafio de recuperar as áreas degrada-das do Estado. "Esse projeto de políticapública é paradigmático", ele afirmou,lembrando que a qualidade do progra-ma de recuperação de matas ciliares ga-rantiu à SMA um financiamento deUS$ 7,7 milhões do Banco Mundial. Odiretor científico da FAPESP,José Fernan-do Perez, também esteve presente. •

Replantioexigediversificaçãodas váriasespécies

vação, sobre tecnologia de sementes eprodução de mudas, bem como de edu-cação ambiental em escolas, além deum série de seminários. O último semi-nário e o workshop sobre a recuperaçãode áreas degradadas, realizados nos dias12 e l3 de setembro, no Instituto de Bo-tânica, reuniram cerca de 550 pesquisa-dores, técnicos, policiais ambientais eespecialistas em meio ambiente e reflo-restamentos, além de prefeitos, para ava-liar os avanços e perspectivas da Reso-lução SMA n> 21/01.

As contribuições fizeram avançar oscritérios estabelecidos na resolução e de-verão resultar na edição de um novo con-junto de regras, uma nova resolução.Dentre as modificações previstas está onúmero de espécies necessárias para ga-rantir uma diversidade. Assim, para áreasde recuperação maiores que 1 hectare,a nova proposta sugere o plantio de, nomínimo, 80 espécies arbóreas diferen-tes, com um limite máximo de 20% do

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Endeavot Sebrae-S Pe FAPESP firmamparceria inovadora

parceiro participa na sua área de com-petência, aliando a inovação, empresase'pesquisa", diz Marcelo Dini Oliveira,gerente da Unidade de Inovação e Aces-

;< so a 'Iecnologias do Sebrae-SP. A FA-PESP coloca à disposição do projetosua expertise na seleção eacompanha-mento de projetos de inovação tec- .nológica; o Empreender Endeavor, aexperiência na seleção e suporte estra-tégico para empreendedores inovado-res e na capacitação gerencial; e o Se-brae-SP, seu know-how na gestão denegócios de .pequenas empresas e suarelação com o mercado.

Os cursos - que serão conduzidospelo W-Institute, parceiro educacionalcontratado - são o núcleo do proje-to, Serão realizados em 49 municípiospaulistas que abrigam projetos financia-dos.pelo PIFE, e a primeira turma con-tará. com cem participantes, Parte dasatividades será presencial e ocorrerá emespaço físico cedidopela FAPESP. Ou-tras atividades poderão ser realizadas a 'distância; pore meio de ferramenta dee-Iearning. Os empreendedores terão,ainda, acesso gratuito a reuniões dê

. aconselhamento estratégico, parti-cipação igualmente, gratuita em se-minários semanais, além de ter aoportunidade de desenvolver projetos

:t. específicos de interesse de suas empresasCom o apoio de estudantes de pós-gra-duação de universidades conveniadas,recrutados pelo parceiro educacional.

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Estesestudantes poderão colaborar, por "exemplo, na elaboração e realização doplano de negócio da empresa, uma dasdificuldades mais comumente apon-

, tadas por en;ipreendores' na busca deparceiros de risco.

I"Será, na verdade, um curso comconsultores'l.resume Marília Rocca, di-retora-geral do Endeavor,uma organiza-ção sem fins lucrativos,que iniciou suasatividadesno Brasilem 2000 e ruja mis-são é gerar emprego e renda por meiodo fomento à cultura empreendedorabaseada na oportunidade e na inova- 'ção. Os participantes poderão tambémconsultar - por meio eletrônico - umarede de 300 empresários-voluntáriosmantida pelo Endeavor, que reúne di-retores de empresas como Danone, Cis-co,Votorantim Metais, Microssiga, ape-nas para citar uns poucos exemplos.Também terão assessoria de .advogadosespecializàdos em assuntos relevantese com larga experiência no mercado,lgualmente ligadosao Endeavor.~(Opro-

, grama mova porque' reúne elementosque não andam' juntos em empreendi-mentos de base tecnológica: a capaci-tação de empresários, dirigida à neces-sidade de inovação, com orientaçãosobre patenteamento 'e capital de risco,além de qualificação para o desenvolvi-

, mento de novos modelos', diz Marília.O Sebrae-SP vai incluir os empre-

endedores participantes do projeto nasrodas de negócios voltadas para a área

de tecnologia, além de divulgar o pro-grama entre as empresas da sua redecom o objetivo de trazer novos candi-.datosao PIPE.

Ó projeto será coordenado por umespecialista - já contratado pelo Endea-vor e que ficará locado na FAPESP -responsávelpela implementação do cro-nograma de trabalho, elaboração domaterial de comunicação, operaciona-lização das aulas, aplicação de formulá-rios de avaliação do projeto e elabora-ção de entrevistas de pré-seleção, entre"Outrasatividades.

Competitividade - Além de qualificarempreendedores e garantir a competi-tividade de sua empresa no mercado, oprojeto poderá, ainda, fomentar par--cerias entre empresas e escolas, desen-volver tecnologias de acesso ao merca-ao e programas de educação voltadospara as necessidades, do público. "Nãoexiste nada parecido no Brasil"; com-

)leta Marília. "Esse pode ser um mo-delo de formação de gestorês', observa 'Oliveira.

'0 projetoesta orçado em R$ 808,4mil. O Sebrae-SP responderá pelo cus-teio de 490/0 do custo total do projeto,

,e o Endeavor e a FAPESP,juntos, farãouma contrapartida financeira correspon-dente a 16,910/0 do custo total. As em-presas participantes do programa tam-bém contribuirão para o seu custeiocomR$ 100,00 por empreendedor. •

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Nesta primeira chamada, foramapresentados 29 projetos, dentre os quaisselecionados os laboratórios partici-pantes. Inicialmente, serão constituídostrês grupos de trabalho. O grupo deRede Externa vai implementar a infra-estrutura externa doslaboratórios, testes decertificação, entre ou-tras atividades neces-sárias à consolidação doque, no jargão de espe-cialistas, é conhecidocomo Camada Físicaou óptica da InternetAvançada. O grupo res-ponsável pela Camadade Transporte vai ana-lisar protocolos de co-municação para testare definir padrões, apro-veitando, inicialmente,o legado das redes Aca-demic Network at SãoPaulo (ANSP) e RedeMetropolitana de AltaVelocidade (ReMAV)no Estado de São Pau-lo. Este grupo tambémvai conduzir pesquisasem engenharia de re-de. O terceiro grupo vaitrabalhar na CamadaAplicações, ou seja, nadefinição e acompa-nhamento de controlede instrumentos viaInternet. Fará, inicialmente, um levan-tamento das tecnologias existentes e re-comendará, por exemplo, softwares decontrole de instrumentos, desenvolvi-mento de novos softwares, entre outrasmedidas necessárias. Os três gruposvão trabalhar de forma sinérgica, comopartes de um único projeto. Ao final do6° e do 12° mês de implementação doKyaTera serão realizadas reuniões paraa apresentação dos resultados.

Conteúdos digitais - O KyaTera será su-porte para a implementação da Incu-badora Virtual de Conteúdos Digitais,projeto que vai desenvolver metodo-logias cooperativas inovadoras, em am-biente de software livre e de códigoaberto. O software livre, propriamentedito, será um dos principais objetos depesquisa. "Trata-se de um ambiente decooperação auto matizada", detalha ImreSimon, coordenador deste projeto.

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Diferentemente dos demais, esseprojeto vai se organizar em função dasdemandas da comunidade científicapor conteúdos acadêmicos. É, porassim dizer, quase uma obra em aber-to. "A incubadora expressa de maneira

paradigmática o con-ceito de bazar", com-para Perez. Ele se re-fere à comparação daqual lançam mão doisantropólogos norte-americanos, Eric S.Raymond e BobYoung, no livro ACatedral e o Bazar, so-bre o sistema operaci-onal Lynux. Na cate-dral, a organizaçãobusca a perfeição ab-soluta. Já no bazar, aordem é imperfeita esujeita a permanenteatualização, e o erro éum pressuposto. "Aincubadora trabalhacom o princípio dobazar. É aberta e deinteligência coletiva",compara Perez.O projeto inspira-seem experiências co-mo a do site SourceForge, patrocinadopor uma empresa pn-vada, para o desen-volvimento de proje-

tos de softwares livres. O site tem hóje450 mil usuários de 40 mil projetos."A comunidade desenvolvedora desoftware livre se apegou a essa pro-posta porque é um sistema padroni-zado", justifica Simon.

Outro exemplo desse tipo de pro-jeto é o site wikipedia.org, uma espé-cie de enciclopédia construída coope-rativamente que, em menos de doisanos, já tem mais de 150 mil verbetes,mais que a Enciclopédia Britânica. Osistema permite a alteração, correção erecuperação de conteúdos, conhecidocomo sistema de controle de versões, ea intervenção de diversos usuários de-vidamente autorizados. A Incubadorade Conteúdos deverá funcionar demaneira semelhante.

A Incubadora é inovadora tambémna forma de financiamento. Os proje-tos que completarem com sucesso seismeses de incubação poderão solicitar

auxílio à FAPESP. A primeira chamadadeverá ocorrer dentro de um ano, quan-do está prevista a realização de umaavaliação crítica e pública do projeto."Neste início, a Fundação vai funcionarcomo catalizadora de iniciativas de pes-quisa. Se errar, não tem custo. ão hálimite para a ousadia", afirma Perez.

O site - incubadora.fapesp.br - jáestá funcionando em caráter experi-mental. No início de setembro, o site jáhospedava 23 projetos e registrava 78usuários. Um desses projetos quer reu-nir especialistas e interessados em ana-lisar o Sistema Brasileiro de TV Digital.Outro projeto é o Arca, que pretende"organizar pessoas trabalhando emprojetos transdisciplinares" Um tercei-ro é o Arte para Todos, que tem comoobjetivo oferecer "aos segmentos me-nos privilegiados o acesso ao conheci-mento e à experimentação estética dasArtes Visuais, usando Tecnologia Avan-çada da Informação': O site vai ofereceruma série de serviços que facilitem essainteração entre usuários e criar uma in-fra-estrutura de cooperação.

Aprendizado eletrônico - A rede de fibraóptica implementada no KyaTera tam-bém vai apoiar o desenvolvimento das pes-quisas de aprendizado eletrônico. A idéiaé construir uma ferramenta comum, apartir de softwares abertos, fazendo con-vergir distintos esforços de pesquisa, como objetivo de especificar, desenvolver edistribuir um conjunto único de ferra-mentas de suporte à aprendizagem.

A coordenação do Tidia está anali-sando 34 projetos nesta modalidade depesquisa.Também nesse caso, serão or-ganizados três grupos de trabalho. Oprimeiro terá a tarefa de definir e dis-ponibilizar desde ferramentas de traba-lho até a documentação e o acervo téc-nico do projeto. O segundo grupo vaipadronizar a arquitetura, linguagem eobjetos de aprendizagem, entre outrastarefas. E o terceiro será responsável pordar suporte ao conjunto de ferramen-tas utilizadas no aprendizado a distân-cia. Também nesse caso duas reuniõesde apresentação de resultados serão rea-lizadas ao final do primeiro semestre edo primeiro ano de trabalho. A expec-tativa é de que, no 12° mês de ativida-des, os grupos concluam a elaboraçãode um protótipo do ambiente de Edu-cação a Distância sobre plataforma deInternet Avançada. •

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

•Lula preside

Conselho formado por 24representantes do governo

e dos setores de C&T

GOVERNO FEDERAL

Interlocução qualificadaPresidente Lula reinstalaConselho Nacionalde Ciência e Tecnologia

Opresidente Luiz InácioLula da Silva reinstalou,no dia 11 de setembro,o Conselho Nacional deCiência e Tecnologia,

uma instância criada em 1996 paraassessorar o Planalto na definição depolíticas de Ciência e Tecnologia. Oconselho não se reunia desde marçode 2001. A primeira reunião ocorreulogo depois da posse e a segunda, nodia 18 de setembro. Neste encontro,ficou decidido que o conselho vaioperar com cinco comissões temáti-cas temporárias: de Coordenação; deDesenvolvimento Regional e Inclu-são; de Prospectiva, Informação e Co-operação Internacional; de Interaçãocom o Meio Acadêmico e Setor Em-presarial; e de Acompanhamento eArticulação.

A plenária do conselho se reunirá acada três meses a as comissões terão

encontros mensais, sempre na segunda tro protótipo do VLS", disse. Mas re-quinta-feira de cada mês. clamou da ausência de mulheres. "Este

Num gesto simbólico, o próprio conselho é um clube do bolinha", brin-presidente assumiu a coordenação do cou. No mesmo dia, assinou decretoconselho, que terá o ministro da Ciên- ampliando a sua composição de 12 paracia e Tecnologia, Roberto Amaral, co- 24 membros: doze ministros de Esta-mo secretário. "Quero dar minha con-~/oito representantes dos produto-tribuição não sendo cientista, mas res e usuários de Ciência e Tecnologiasendo presidente da República, de ser e quatro representantes de entidades na-uma espécie de indutor para que o cional de ensino e pesquisa, entre eles,conselho recupere o tempo perdido", uma mulher: Wrana Panizzi, reitora dadisse o presidente, no dia da reinstala- Universidade Federal do Rio Grandeção, Prometeu aumentar os investi- do Sul (UFRGS).mentos em ciência e tecnologia para José Fernando Perez, diretor cien-2% do Produto Interno Bruto (PIE) e tífico da FAPESP, e Hermann Wever,ampliar o número de doutores em ati- presidente do Conselho Consultivo davidade no Brasil de 6 mil para 10 mil. Siemens e conselheiro da FAPESP, in-O presidente voltou a defender a con- tegram o conselho. Perez participa dastinuidade do programa do Veículo Lan- comissões de Desenvolvimento Regio-çador de Satélite, depois da explosão nal e Inclusão e de Interação entre ado foguete em Alcântara que matou universidade e empresa. E Wever inte-21 técnicos (veja matéria na página 16). gra a comissão de Prospectiva, Informa-"Vamos testar ainda nesse governo ou- ção e Cooperação Internacional. •

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• CIÊNCIA

LABORATÓRIO MUNDO

Sabemos, intuiti-vamente, que ocontato com florese plantas faz bem àsaúde. Quase nin-guém duvida deque a jardinagem-ou a simples con-templação de umabela paisagem -traz renovação fí-sica e mental. Mascomo explicar es-se efeito? Em umestudo publicadoem junho no [our-nal of Environ-mental Psychology,Terry Hartig, daUniversidade deUppsala, na Suécia,concluiu que as pessoas serecuperam mais rapida-mente do estresse quandoentram em contato com anatureza. E, o que é melhor,esse restabelecimento ocor-re em poucos segundos

• O protozoáriomutante

Pesquisadores da Escola deMedicina da Universidade deWashington, nos EstadosUnidos, conseguiram criaruma versão geneticamentemodificada do parasita cau-sador da leishmaniose, doen-ça que atinge 2 milhões depessoas por ano, principal-mente nos países pobres.Desprovido de moléculas co-nhecidas como fosfoglicanos,o protozoário mutante do gê-nero Leishmania mostrou-seperfeitamente apto a sobrevi-

Mais verde, menos estresse

(The Wall Street [ournal, 26de agosto). Hartig subme-teu 112 jovens a uma sériede tarefas estressantes - en-tre elas, dirigir um auto-móvel por um local desco-nhecido. Os participantes,

ver no organismo de um hos-pedeiro por tempo indeter-minado sem torná-lo doente(Science, 29 de agosto). Emsua versão natural, o parasita- transmitido aos homens eaos animais pela picada domosquito flebótomo - conse-gue permanecer inativo du-rante longos períodos, reati-vando-se apenas para agravaros sintomas agudos da leish-maniose, que vão de levesulcerações cutâneas a gravís-simas lesões nos órgãos inter-nos. Os pesquisadores espe-ram que o parasita mutantepossa ajudá-los a compreen-

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Contato com plantas: efeito comprovado até na recuperação de cirurgias

que, depois disso, descan-saram em uma sala comvista para uma paisagemarborizada e, em seguida,passearam por um localcom árvores; recobraramo ânimo e experimentaram

der os mecanismos usadospela Leishmania para escapardo sistema imunológico e adesenvolver vacinas e trata-mentos mais eficazes paracombatê-Ia. •

• O cigarro, o DNA e ocâncer de pulmão

Se fumar é normalmente pre-judicial à saúde, esse hábitopode causar danos ainda maisgraves para as pessoas comproblemas de reparo no ma-terial genético (DNA) das cé-lulas: os membros desse grupoapresentam uma probabilida-

uma redução napressão arterial emmenos tempo doque as pessoas quese sentaram emuma sala sem ja-nelas e depois ca-minharam por umaárea urbanizada.De acordo com ou-tra pesquisa, a sim-ples contemplaçãode paisagens natu-rais auxilia na reabi-litação de pessoasrecém-operadas.Roger Ulrich, daUniversidade doTexas, nos EstadosUnidos, constatouque os pacientes

internados em quartos comvista para a natureza se re-cuperam mais prontamenteda cirurgia, em compara-ção com aqueles que fica-ram em um lugar sem essavista privilegiada. •

de até 124 vezes maior de de-senvolver câncer de pulmãodo que as pessoas que não fu-mam. Pesquisadores do Insti-tuto de Ciências Weizmann,em Israel, investigaram em 68pacientes fumantes e 68 não-fumantes a atividade da enzi-ma OGG, uma das proteínaassociadas à correção de de-feitos no DNA (Journal of theNational Cancer Institute).Verificaram que a ação da en-zima é rigorosamente a mes-ma nos dois grupos. Mas osproblemas aparecem quando,a uma capacidade reduzidade regeneração do DNA por

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carência dessa enzima, seacrescenta o tabagismo, oprincipal fator de risco paradesenvolver câncer de pul-mão. •

• O mapa dagravidade na Terra

Saiu o primeiro resultadodo Grace (Gravity Reco-very and Climate Experi-ment), projeto conjuntoentre as agências espaciaisdos Estados Unidos e da Ale-manha: é o mais detalhadomapa da gravidade terrestre,feito a partir de dois satélitesidênticos lançados em marçode 2002. De imediato, o tra-balho deverá ajudar os ocea-nógrafos a entender melhor acirculação das correntes oceâ-nicas profundas, que influen-ciam o tempo e o clima. Asáreas vermelhas do modeloacima indicam as regiões nasquais a atração gravitacionalda Terra é mais forte. •

• Pequenos tremores,grandes estragos

As grandes falhas da crostaterrestre podem ser compara-das à fileira de botões de umacamisa apertada: basta saltaro primeiro e os outros se des-garram. Cada botão que voaequivale a um grande terre-moto que, ao surgir em al-gum ponto do planeta, de-sencadeia uma série de abalosmenores até dar origem a umnovo tremor de grandes pro-porções. Por isso, ao traçarseus mapas projetando a lo-calização e a intensidade deterremotos futuros, os geofí-sicos tendem a concentrar-senos tremores maiores e a con-siderar os menores como ati-vidade sísmica secundária.Em estudo recente, porém,Agnes Helmstetter, da Uni-versidade da Califórnia, emLos Angeles, Estados Uni-

dos, sugere que esse métodopode comprometer a preci-são do prognóstico (PhysicalReview Letters, 10 de agosto).

Depois de analisar os regis-tros de todos abalos secun-dários ocorridos nos últimos28 anos no sul da Califórnia,

Sob o olhar de Newton:forma de conhecer melhor

o clima no planeta

Agnês concluiu que a rela-ção entre a magnitude deum terremoto e o núme-ro de abalos secundários

provocados por ele não édiretamente proporcional.Segundo seus cálculos, o

fator alfa, que determinaessa relação, não é 1, como se

acreditava, mas 0,8. Isso querdizer, por exemplo, que o do-bro de determinada magni-tude não causaria necessaria-mente o dobro dos abalossecundários e que a todo aba-lo secundário também cor-responde uma atividade sís-mica própria - e importanteo bastante para repercutirnos grandes terremotos. •

o gene sexual das abelhasPara ser fêmea, uma abelhatem de nascer com ao me-nos duas versões distintasde um gene chamado csd(determinador complemen-tar do sexo). O macho sóprecisa de uma ou, even-tualmente, duas cópias damesma versão desse gene,que existe em uma dúziade variações diferentes. Aexistência do csd foi pro-posta há 50 anos, mas sóagora ele foi identificadopelo entomologista RobertPage, da Universidade daCalifórnia, em Davis (Cell,22 de agosto). Em abelhas,vespas e formigas - o gru-po de insetos chamados hi-menópteros -, os ovos fer-tilizados geram fêmeas. Osmachos não têm pai, querdizer, nascem de ovos não-fertilizados. A vida socialcomplexa desses insetos -que vivem em colônias comraras fêmeas reprodutoras,

Vida ou morte: machos estéreis são devorados

muitas trabalhadoras e umpunhado de machos ocio-sos - é em grande parte co-mandada pela atividade docsd. As abelhas-rainhas co-pulam com muitos machos- talvez para garantir a mis-tura de genes. Ninguémsabe por que o sistema re-produtivo desses insetosevoluiu assim. Uma hipó-tese é que favoreça as fême-as incapazes de encontrar

machos na natureza. Assim,elas conseguem gerar ma-chos com os quais possamcopular mais tarde. Mas aendogamia tem um preço.Se a fêmea copula com ummacho que carrega um csdigual ao dela, metade da crianasce estéril e é devoradapelas operárias. O próximopasso é descobrir por queversões idênticas do csd nãofuncionam juntas. •

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Page 34: Uma antiga civilização na selva

Remédios provocam quedas de idososDelineia-se um grave riscopara a qualidade de vida daspessoas idosas: o uso exces-sivo de medicamentos elevaa incidência de quedas. Aconclusão emerge de um es-tudo coordenado por SuelyRozenfeld, pesquisadora daEscola Nacional de SaúdePública (ENSP), da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), doRio de Janeiro, e publicadona Revista Panamericana deSalud Publica. Suely entrevis-tou 634 mulheres com maisde 60 anos, freqüentadoras

• Escova de baixocusto aprovada

Uma escova dental de baixocusto, cujo corpo e cerdas sãofeitas de um único materialplástico, foi aprovada numteste realizado pelas pesqui-sadoras Symonne Parizotto eCélia Regina Rodrigues, daFaculdade de Odontologia daUniversidade de São Paulo(USP). Conhecida como mo-nobloco e desenvolvida porPedro Bignelli, professor daUSP de Ribeirão Preto, essa

da Universidade Aberta daTerceira Idade, no Rio de Ja-neiro. Apenas 9,1% delasrelataram que não haviamtomado medicamentos nos15 dias anteriores. No outrogrupo, 52,7% usaram de 1 a4 medicamentos, 34,4% de5 a 10 remédios diferentes e3,8%, de 11 a 17 medicamen-tos. No universo de entrevis-tadas, 23,3% tinham sofridouma queda nos 12 meses an-teriores e 14%, duas ou mais.Dois tipos de medicamentosmostraram-se mais ligados

escova custa em média 15%do preço de uma escova ven-dida em farmácias. A pesqui-sa que comparou os dois tiposde escova envolveu 32 crian-ças de 4 a 6 anos de idade dacidade de Campo Grande,Mato Grosso do Sul. Ambasas escovas apresentaram amesma capacidade de remo-ver a placa bacteriana, embo-ra cerca de 60% dos depósitosde placa tenham persistidoapós a escovação, nas duas si-tuações. "As crianças nessaidade ~inda possuem uma

A monobloco:com ou semcreme dental,o mesmo efeito

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à ocorrência de tombos. Oprimeiro são os beta-blo-queadores, que combatem ahipertensão e problemas car-diovasculares e podem pro-vocar episódios de pressãoarterial baixa. O outro gru-po são os tranqüilizantes. Aincidência de tombos recor-rentes foi duas vezes maiorentre os consumidores debeta-bloqueadores e 4,9 ve-zes maior entre os usuáriosde sedativos, comparados àsidosas que não usavam taisdrogas. "Muitas dessas que-

coordenação motora precá-ria", comenta Célia Regina,que é professora de Odonto-pediatria da USP, alertandopara a importância da super-visão dos pais na escovaçãodurante essa fase. O estudotambém comparou o desem-penho da escova mono blocousando-se ou não pasta dedente. Surpreendentemente,constatou-se que o uso dodentifrício (creme dental)não fez nenhuma diferençana remoção dos depósitos deplaca. "Imaginávamos que odetergente das pastas de den-te poderia ajudar na remo-ção, mas não houve diferen-ça': diz a pesquisadora. Osresultados da pesquisa, publi-cados recentemente na revis-ta Pesquisa Odontológica Bra-sileira, mostram o potencialda escova monobloco, sobre-tudo para populações caren-tes. Mas não se deve inter-pretar esses dados corno umacondenação à pasta de dente."Os dentifrícios contêm flúore seu uso é fundamental narealização da higiene bucal",afirma Célia Regina. •

das poderiam ser evitadascom um uso mais racionaldos remédios", diz a pesqui-sadora. "Vivemos numa so-ciedade que se deixou medi-calizar, um problema queatinge todos, não só aos ido-sos." Suely critica sobretudoo abuso dos tranqüilizantes,em geral, "usados para tra-tar problemas de ordem so-cial, não médica", afirma.Dados dos Estados Unidosmostram que 42% dos ido-sos que sofrem quedas têmde ser hospitalizados. •

• A análise de genesdo eucalipto

Começou há dois meses otrabalho de data mining (ga-rimpagem de dados) do ge-noma do eucalipto, mapeadopor laboratórios e empresaspaulistas no âmbito do proje-to Forests - Eucalyptus Geno-me Sequencing Project Con-sortium. As descobertas jácomeçam a aparecer: um gru-po de pesquisadores da Uni-versidade Estadual Paulista(Unesp), de Botucatu, desco-briu um gene que pode con-ferir resistência a um herbici-da. De modo geral, o que sebusca são formas de melho-rar a qualidade da madeirapara celulose e a produção deaglomerados de madeira, alémde aplicações em outros cam-pos, como a indústria farma-cêutica. Dessa etapa da pe-quisa, que deve terminar emjaneiro do próximo ano, par-ticipam grupos de pesquisa deoito estados - Alagoas, Ceará,Pernambuco, Rio de Janeiro,Rio Grande do Norte, RioGrande do Sul, Santa Catari-

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na e São Paulo - sob a coor-denação de Luis Camargo eHelaine Carrer, da Escola Su-perior de Agricultura Luiz deQueiroz (Esalq), da Universi-dade de São Paulo (USP). •

á

a• A poluição na

gênese dos raiosMetrópoles de todo o mundosão fustigadas por uma quan-tidade cada vez maior de raiosnão apenas por causa do fe-nômeno conhecido comoilhas de calor - o aumento natemperatura de regiões ur-banas causado pela imper-meabilização do solo e asconstruções de concreto. "Apoluição atmosférica tam-bém tem um papel impor-tante na incidência crescentede raios", sustenta OsmarPinto Iúnior, com base em

e

e

um estudo feito com outrosdois pesquisadores do Insti-tuto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe), Kleber Nac-carato e Iara de Almeida Pin-to e publicado na revista Geo-physical Research Letters. Elesacompanharam as tempesta-des entre os verões de 2000

e 2002 em três regiões metro-politanas do Estado de SãoPaulo - a capital, Campinase São José dos Campos - ecomprovaram o aumento naincidência de raios: juntas, astrês regiões foram alvo de 310mil raios no período analisa-do e amargaram uma densi-dade de descargas elétricas de60% a 100% maior que emregiões próximas menos ur-banizadas. Tais dados combi-navam com a teoria das ilhasde calor. Mas o estudo especí-fico da Região Metropolitanade São Paulo revelou que osraios se intensificavam sem-pre que as partículas em sus-pensão no ar se avolumavam,segundo medições realiza-das pela Companhia de Tec-nologia de Saneamento Am-biental (Cetesb). Acredita -seque a poluição exerça umduplo efeito sobre as tempes-tades. De um lado, colaborapara a elevação da tempera-tura, potencializando as ilhasde calor. De outro, as partí-culas em suspensão formamnúcleos de condensação naatmosfera, que fazem comque mais moléculas de vapord'água se agreguem nas nu-vens .e mais partículas degelo sejam formadas. A fric-ção entre essas partículasproduz cargas elétricas que seacumulam - e vão converter-se em raros.

Perigo urbano: partículas no ar atraem descargas elétricas

• Os vermespersistentes

Um estudo realizado no mu-nicípio alagoano de Barra deSanto Antônio, a 40 quilôme-tros de Maceió, reafirma umaantiga equação dos sanitaris-tas: sem investir em saneamen-to básico e educação sanitária,é impossível combater as ver-minoses em comunidades po-bres. Gilberto Fontes e ElianaMaurício da Rocha, da Uni-versidade Federal de Alagoas,avaliaram a prevalência de pa-rasitoses intestinais entre 1.020alunos da 13 a 43 séries da re-de de ensino da cidade, numtrabalho financiado pela Fun-dação de Amparo à Pesqui-sa do Estado de Alagoas (Fa-peal). O exame parasitológicode fezes mostrou que 938 es-tudantes (92%) estavam con-taminados - e 767 traziam atéoito tipos de vermes ao mes-mo tempo, o chamado poli-parasitismo. As crianças foramtratadas com medicamen-tos contra as verminoses. Seismeses depois, os pesquisa-dores retomaram e reexami-naram uma amostra de 383estudantes. Pois 347 (nova-mente mais de 90%) estavamoutra vez contaminados e 281apresentavam até seis tiposde vermes. Segundo esse estu-do, aceito para publicação naRevista da Sociedade Brasi-leira de Medicina Tropical, oúnico ganho foi uma reduçãono grau de poliparasitismo."Não houve uma diferençasignificativa antes e depois detratamento, o que revela a ne-cessidade de investir em sa-neamento na melhoria dascondições socioeconômicasda população", diz Fontes.Cidade turística com praiasbelíssimas, Barra de SantoAntônio é um dos municí-pios mais pobres de Alagoas:apenas 1,2% das casas têmsaneamento básico. •

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da rede ONSA (consórcio virtual de la-boratórios genômicos do Estado de SãoPaulo, na sigla em inglês), começam aescrever com tintas nacionais o que podeser um novo capítulo na trajetória daesquistossomose - desta vez, com notí-cias alvissareiras. Eles determinaram, deforma integral ou parcial, as seqüênciasde 92% dos estimados 14 mil genes doparasita. Por analogia com o materialgenético de outros organismos seqüen-ciados, descobriram a função de 45% dosgenes do verme. Os outros 55% repre-sentam seqüências totalmente novas -ainda não se sabe quais proteínas deri-vam de sua ação. "Pouco mais da meta-de dos genes do parasita nunca haviasido identificada em outros organis-mos': afirma Sergio Verjovski-Almeida,do Instituto de Química da Universi-dade de São Paulo (USP), coordena-dor do projeto, orçado em US$ 1 mi-lhão, apoiado também pelo ConselhoNacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq). "Antes,eram conhecidas as seqüências comple-tas de apenas 163 genes do verme. Ele-vamos esse número para 510 genes."

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Para alcançar esse índice de infor-mações inéditas sobre os genes do pa-rasita da esquistossomose, os cientistasgeraram 163 mil seqüências parciais degenes ativos nos seis principais estágiosdo ciclo de vida do verme, desde-as for-mas que vivem livremente na água doceaté as que habitam seu hospedeiro in-termediário, o caramujo, e as que infes-tam o homem (veja acima o ciclo devida do parasita).

Atesda publicação dos resul-tados da rede ONSA, haviasó 16 mil trechos de seqüên-cias expressas - as expies-sed sequence tags, ou eti-

quetas de seqüências expressas (ESTs)-do verme da esquistossomose nas basespúblicas de dados, 75% delas derivadasdo estágio adulto do parasita. "Aumen-tamos em mais de dez vezes esse núme-ro", comemora Emmanuel Dias Neto,do Instituto de Psiquiatria da USP, par-ticipante do projeto. A façanha deve serduplamente festejada: resulta da apli-cação, por brasileiros, de um métodonacional de encontrar ESTs, chamado

Orestes. Ao lado de Andrew Simpson,hoje no escritório de Nova York doInstituto Ludwig de Pesquisa sobre oCâncer, Dias Neto é um dos inventoresdesse método que identifica regiões cen-trais de genes expressos, que levam à for-mação de proteínas atuantes nos di-ferentes estágios analisados.

Os resultados desse trabalho foramanunciados no dia 15 de setembro emuma cerimônia realizada no Palácio dosBandeirantes, sede do governo paulista,com a presença de representantes dasuniversidades públicas paulistas, da co-munidade científica e de autoridadesdo Estado. ''A conclusão do trabalho como Schistosoma mansoni é mais um fei-to da ciência de São Paulo e do Brasil",disse o governador Geraldo Alckmin."Somos um exemplo para a pesquisana América do Sul': afirmou o presiden-te da FAPESP, Carlos Vogt, também pre-sente ao evento.

Em Brasília, no dia seguinte à apre-sentação dos resultados, Verjovski, osoutros 37 pesquisadores do GenomaSchistosoma mansoni e a FAPESP ga-nharam reconhecimento público, na

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forma de um Voto de Aplauso, confe-rido pelo Senado na sessão de 16 desetembro.

A data para a divulgação do traba-lho não foi escolhida ao acaso. Precisa-mente nesse dia, a versão eletrônica darevista Nature Genetics, um dos perió-dicos científicos de maior prestígio, an-tecipou em sua página na Internet oconteúdo de dois artigos sobre parasi-,tas causadores da esquistossomose: umtexto de dez páginas escrito pelos cien-tistas brasileiros do Genoma Schis-tosoma mansoni e outro de nove pági-nas redigido por um grupo chinês queanalisou genes e proteínas do Schistoso-ma japonicum, a espécie do verme queprovoca a doença na Ásia. Feitos porgrupos concorrentes, ambos os artigosrenderam a principal chamada de capada edição impressa de outubro da Na-ture Genetics.

No projeto concorrente à iniciativada ONSA, pesquisadores do Centro Na-cional Chinês de Genoma Humano, emXangai, utilizaram a forma tradicionalde procurar ESTs e geraram 43.707 frag-mentos de seqüências expressas (qua-

tro vezes menos que os brasileiros) apartir de material coletado de apenasdois estágios de vida do S. japonicum -o projeto da ONSA trabalhou com seisestágios do ciclo do S. mansoni. Aindaassim, os chineses dizem que. suas se-qüências estão relacionadas a 13.131genes dos 15 mil que, segundo eles,constituem o genoma do S. japonicum.Apenas 35% dos genes identificadosno projeto chinês nunca haviam sidoencontrados antes em outros organis-mos, ao passo que no trabalho brasi-leiro, como se verificou, esse índicechegou a 55%.

Essa quantidade de genesinéditos pode ser uma de-corrência de o S. mansoniser um verme muito an-tigo. Segundo cálculos da

equipe brasileira, o parasita diferenci-ou-se de outras espécies de animaismulticelulares, a partir de um ancestralcomum, há 1 bilhão de anos. Assim,originou uma linhagem independentede seres que apresentam os lados es-querdo e direito do corpo simétricos,

mas não possuem tubo digestivo nemuma cavidade contendo os órgãos in-ternos. "O S. mansoni é o mais antigoanimal a apresentar dimorfismo sexualcom genes seqüenciados'; afirma Ver-jovski. Ou seja: o macho e a fêmea doverme apresentam formas distintas: osexemplares do sexo masculino são mai-ores que os do sexo feminino.

A importância atribuída ao artigodos pesquisadores paulistas na NatureGenetics lembra outra recente façanhados membros da rede ONSA. Em ju-lho de 2000, eles conseguiram a capada revista Nature, da qual deriva a Na-ture Genetics, ao se tornarem o primei-ro grupo do mundo a terminar o se-qüenciamento integral do genoma deuma bactéria que ataca plantas: a Xy-lellafastidiosa, causadora da Clorose Va-riegada dos Citros (CVC), ou amareli-nho. A diferença é que, agora, o feitofoi dividido com os chineses, talvez opaís emergente que mais concorra como Brasil na área genômica.

Em dois anos, o Genoma Schisto-soma mansoni envolveu 37 pesqui-sadores e nove laboratórios da rede

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ONSA e gerou resultadosde destaque como a desco-berta de 46 genes, que, aprincípio, podem ser úteisna busca de novos medica-mentos, além de 28 genescandidatos a alvode uma va-cina contra a doença. Paragarantir a proteção intelec-tual de eventuais produtosderivados de seus achados,os cientistas da ONSA pe-diram a patente nos Esta-dos Unidos sobre o direitode uso de 1 mil fragmentosativos de DNA do parasita.Tais pedaços de genes po-dem ser de grande valia tam-bém para criar formas maiseficazes de diagnóstico ouprevenção da esquistosso-mose. "Queremos evitar abiopirataria de nossos da-dos e buscar parcerias comempresas para custear os es-tudos para desenvolvimen-to de drogas e vacinas", ex-plica o diretor científico daFAPESP,José Fernando Perez. "O ge-noma do Schistosoma mansoni é umainiciativa de grande impacto social."

Hoje,há indícios de queo medicamento maisusado contra a esquis-tossomose, o prazi-quantel, está perden-

do eficiência,principalmente na África,o continente mais afetado. Ainda nãohá vacina contra a doença, que afeta200 milhões de pessoas em 75 países-é superada apenas pela malária, com300 milhões de casos. Os dados sobreo número de mortes em decorrênciada esquistossomose variam enorme-mente: vão de 11 mil a 200 mil óbitosanuais, segundo a Organização Mun-dial da Saúde (OMS). Há ainda se-qüelas e perda de qualidade de vidaassociadas aos casos mais graves dadoença, cerca de 10%. A esquistosso-mose é uma moléstia típica de paísesou regiões pobres, em que faltam águaencanada, rede de esgotos - saneamen-to básico, enfim -, além de campa-nhas educativas capazes de prevenir acontaminação. O homem elimina nasfezes os ovos do verme, que, em locaisonde não há sistema adequado de es-goto, encontra seu hospedeiro inter-

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União antiga: hospedado pelos Biomphalaria,o S. mansoni surgiu há um bilhão de anos

mediário, os caramujos de água docedo gênero Biomphalaria. No molusco,o Schistosoma se reproduz por cercade 30 dias e retoma para a água - énessa fase que se torna capaz de infec-tar o ser humano.

Criar uma vacina contra a esquistos-somose não é fácil. É uma tarefa paracinco ou dez anos, caso alguma linhade pesquisa se mostre realmente -pro-missora. O Instituto Butantan - um doscentros que participaram do estudo dogenoma do verme, ao lado da Univer-sidade Estadualde Campinas (Unicamp)e do Instituto Adolfo Lutz - já testouem camundongos seqüências de DNAque poderiam atuar como vacina con-

o PROJETO

Genoma Schistosoma mansoni

MODALIDADEPrograma Genoma - FAPESP

COORDENADORSERGIO VERJOVSKJ-ALMElDA -

Instituto de Química da USP

INVESTIMENTOUS$ 500.000100 (FAPESP)US$ 500.000100 (CNPq)

tra a esquistossomose.Nessa abordagem, ospesquisadores alteramgenes do parasita pos-sivelmente ligados aodesenvolvimento dadoença. Depois, ino-culam nos roedoresum preparado con-tendo os genes mo-dificados e os infec-tam com um elevadonúmero de vermes.Até agora, a equipe doButantan já testou va-cinas com oito genes

alterados. Os resultados iniciais comdois genes mostraram-se razoáveis eservem de estímulo para o trabalho pros-seguir. "Conseguimos uma imunizaçãode cerca de 35%", diz Luciana Cezar deCerqueira Leite, do Butantan. "AOMSdiz que uma vacina com 45% de efi-cácia é aceitável." É preciso ficar claroo que significam esses números. Nes-se caso, uma proteção de 35% quer di-zer que, se entrarem em contato comuma população de cem parasitas, osanimais imunizados com as mais efi-cientes candidatas a vacinas de DNAserão infectados por 65 parasitas. Aimunização gênica consegue reduzir apopulação de vermes no animal, o quejá é um avanço no controle da infec-ção, mas não impede o desenvolvimen-to da esquistossomose.

Arsenal inteligente - Alguns genes re-cém-identificados do S. mansoni po-dem ser úteis para a criação de fár-macos, na medida em que fornecemimportantes pistas sobre os mecanis-mos que permitem ao parasita driblaro sistema imunológico humano e per-manecer a salvo na corrente sangüínea.Uma das descobertas mais interessan-tes diz respeito a um grupo de quatrogenes com funções semelhantes. Com

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eles, as células do verme fabricam qua-tro tipos de compostos químicos queprovocam reação alérgica no orga-nismo humano - as toxinas alergêni-caso Curiosamente, cada uma dessastoxinas é similar ao veneno de espé-cies distintas de vespa. A síntese dessearsenal químico detona uma respostaalérgica especifica no sistema imuno-lógico, que produz anticorpos contraessas toxinas, mas não direciona suaação contra o próprio parasita. Outradescoberta de peso: o S. mansoni temum gene responsável pela produção deuma proteína anticoagulante parecidacom uma toxina encontrada no vene-no de serpentes. Por não deixar o san-gue do indivíduo contaminado coa-gular ao redor do parasita, essa toxinadificulta a identificação do Schistoso-ma mansoni pelo sistema de defesado organismo no qual se instala. Fun-ciona, portanto, como mais um des-piste do verme.

Capa da Nature Genetics de outubro: brasileirose chineses desvendam o verme da esquistossomose

decorrentes da doença no territórionacional. Em 1979, ocorriam sete mor-tes a cada 1 milhão de habitantes. Em1999, esse índice caiu para três por 1 mi-lhão. No Nordeste, a região mais afeta-da pela doença, também se verificouuma diminuição nos óbitos da ordemde 50% nesses 20 anos. O problema éque o número de mortes por 1 milhãode habitantes caiu de 12 para seis. Ouseja, o índice de letalidade da esquis-tossomose no Nordeste ainda é o do-bro da média brasileira.

Não se deve, no entanto, pensar quea moléstia é uma chaga exclusiva dosnordestinos. "Não há duvida de que ouso de medicamentos fez cair a mor-talidade associada à doença em todo

o país", observa o parasitologista Pau-lo Marcos Zech Coelho, coordenadorgeral do Programa Integrado de Esquis-tossomose da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz). "Mas a esquistossomose ain-da está em expansão geográfica no Bra-sil, longe de ser controlada." SegundoCoelho, focos da doença foram des-cobertos nos últimos anos até nosEstados da região Sul, áreas antes li-vres desse problema. "Criar uma va-cina eficaz contra a doença é difícil, masos dados do genoma do Schistosomamansoni podem ajudar no desenvol-vimento de novas drogas para tratara esquistossomose," Espera-se que, as-sim, o praziquantel deixe de ser a úni-ca arma contra a doença. •

AeSqUiSaajuda a elucidar omecanismo associado à re-

sistência ao praziquantel.Suspeitava -se que essemedicamento atuasse

sobre uma espécie de poros das células,os canais de cálcio, produzidos a partirde um gene já conhecido do parasita.Assim, a droga conseguiria neutralizara transmissão de mensagens químicasentre as células do verme, dificultandoseu crescimento. Mas, segundo essa pes-quisa, há dois outros genes capazes delevar à produção de outros canais decálcio, que substituiriam os bloquea-dos, além de manter a comunicaçãoentre as células do Schistosoma. A per-da de eficácia do medicamento podeestar relacionada a alterações em al-guns desses genes, que levariam à pro-dução de canais de cálcio ligeiramen-te diferentes.

Apesar de pouco ter freqüentado onoticiário nos últimos anos, ofuscadapor outras doenças tropicais, como ossurtos de dengue em grandes cidades,a esquistossomose continua sendo umgrave problema de saúde pública noBrasil. Dados da Fundação Nacional deSaúde (Funasa) mostram que o uso demedicamentos, ao lado das tradicionaismedidas de controle da população decaramujos do gênero Biomphalaria eda expansão dos sistemas de esgoto,reduziu à metade o número de mortes

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• CIÊNCIA

MICROBIOLOGIA

Sobrevivente das selvasAnálise de genes ajuda a entendermecanismos de adaptação de bactériacomum nas águas escuras da Amazônia

;

Ãidase com poucos nutrien-

tes, as águas cor de café dorio Negro, no Amazonas,

não devem ser o melhorlocal para viver. A tem-

peratura chega facilmente a 40° Cel-sius, a radiação ultravioleta do Sol éintensa e a concentração de agentestóxicos como metais pesados e radi-cais livres é elevada. Ainda assim, tan-to o rio quanto o solo de suas mar-gens abrigam quantidades elevadas

de uma bactéria de vida livre, a Chro-mobacterium violaceum, agora maisbem conhecida. Em 30 de setembro,107 pesquisadores do projeto Geno-ma Brasileiro publicaram um artigona revista norte-americana Proceedingsof the National Academy of Sciences(PNAS) apresentando o seqüenciamen-to de todo o genoma (conjunto de ge-nes) desse microorganismo. Além dosdados básicos, como a dimensão dogenoma (cerca de 4,7 milhões de pa-

res de bases nitrogenadas) e o núme-ro estimado de genes (4.431), o artigodestaca uma peculiaridade da C. vio-laceum que parece ser vital para suaadaptação às águas de ambientes tãoremotos quanto a Amazônia, oesteda África ou Austrália: 11% de seusgenes (496) contêm instruções para aprodução de proteínas de membranacelular relacionadas ao transporte desubstâncias de fora para dentro dabactéria e vice-versa.

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Os pesquisadores identi-ficaram, por exemplo, 35 ge-nes ligados à utilização doferro e 14 que amenizam osefeitos do calor. "Esse conjun-to de proteínas transporta-doras permite à bactéria umaeficiente exploração de baixasconcentrações de nutrientese é responsável pela sua tole-rância a muitos agentes tó-xicos", afirma Ana TerezaVasconcelos, do LaboratórioNacional de ComputaçãoCientífica (LNCC), de Petró-polis, coordenadora do projeto. Toca-do por uma rede nacional de 25 la-boratórios de pesquisa, espalhados por15 estados, do Amazonas ao Rio Gran-de do Sul, o seqüenciamento do geno-ma do microorganismo custou quaseR$ 12 milhões, financiados pelo Con-selho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq). Parteda verba foi usada na compra de equi-pamentos especiais, os seqüenciadores,para os laboratórios da rede nacional.

Primeiro organismo seqüenciadopelo consórcio nacional de laborató-rios, a C. violaceum ganhou esse nomepor produzir um pigmento de corpúrpura denominado violaceína, que

dências de que pode ter açãoantibacteriana e antiviral.

Encontrada em ambientestropicais e subtropicais, é aúnica espécie desse gêneroeventualmente patogênica aoser humano, sobretudo crian-ças e velhos: não costuma cau-sar problemas sérios, emboraexistam registros de casos deinfecções severas nos EstadosUnidos, França e Coréia doSul. Mas foi sua abundânciano rio Negro que motivou suaescolha como objeto de estu-

do, além da perspectiva de gerar pro-dutos de valor econômico.

A equipe do Genoma Brasileiroacredita que a C. violaceum possa ser uti-lizada como uma biofábrica, capaz deproduzir, por exempo, certos tipos deplástico. "Para garantir a proteção inte-lectual de eventuais aplicações que pos-sam surgir a partir dos resultados denosso trabalho, antes de publicarmoso artigo na PNA5, pedimos patentessobre genes da Chromobacterium", dizAna Tereza. Compreender os mecanis-mos que a bactéria emprega para seadaptar a ambientes diferentes podeser o primeiro passo para explorar suaspotencialidades biotecnológicas. •

C. violaceum e o rio Negro: fonte potencial de antibióticos

parece apresentar uma série de pro-priedades de interesse médico e ambi-entalo A violaceína já é empregada emtratamentos dermatológicos e há evi-

o PROJETO

Projeto Genoma Brasileiro

COORDENADORAANA TEREZA VASCONCELOS -Laboratório Nacionalde Computação Científica (LNCC)

INVESTIMENTOR$ 11.990.074,84 (CNPq)

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• CIÊNCIA

SAÚDE PÚBLICA

Cresce o númerode moradoresdas grandes cidadesque aderem à atividadefísica moderada

Aada dia, quase 1.000mora-dores da Região Metropo-litana de São Paulo - amancha urbana formadapela capital e pelos 37

municípios vizinhos, com 17 milhõesde habitantes - começam a caminharou a praticar algum tipo de atividadefísica com regularidade. No ABC pau-lista, são quase 40 pessoas por dia quedecidem acordar cedo e incorporar ohábito de caminhar na rua ou no par-que mais próximo, de acordo com oCentro de Estudo do Laboratório deAptidão Física de São Caetano do Sul(Celafiscs),o mesmo que atestou o cres-cimento nada desprezível de 2% ao anono contingente de paulistas que acres-centaram as atividades físicas à rotina.

Mas não sejamos bairristas: a ade-são a atividades físicas regulares e mo-deradas para combater a obesidade e se-dentarismo avança também em outrascapitais. Curitiba, vista há anos comoexemplo de planejamento urbano, des-ponta agora como uma boa cidade paraatividades físicas, com base em um es-tudo feito a partir de entrevistas com

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2.000 pessoas em 30 municípios paulis-tas, incluindo a cidade de São Paulo, e400 na capital paranaense. Entre os eu-ritibanos, 31% conheciam as pistas ex-clusivas para bicicletas de sua cidade,lembradas por apenas 19,6% dos pau-listas, em média. Entre os curitibanos,35% conhecem os espaços de lazer gra-tuitos onde se pode caminhar e prati-car esportes, em comparação com 25%dos paulistas.

Ao comparar o nível de atividade fí-sica entre os dois grupos de cidades, oautor desse estudo, o médico ortopedis-ta Victor Matsudo, presidente do Ce-lafiscs, notou um resultado equivalen-te: cerca de 60% dos moradores tantoda capital paranaense quanto das cida-des paulistas fazem atividades mode-radas. "Podemos interpretar essesdadoscomo um sinal de que a mensagem doprograma Agita São Paulo está renden-do frutos e as pessoas estão mais cons-cientes da importância de se exercitar",comenta Matsudo, organizador do 26°Simpósio Internacional de Ciências doEsporte, que se realiza de 23 a 25 deoutubro na capital paulista.

o Agita São Paulo, um dos desta-ques desse encontro, no qual está pre-vista a apresentação de 900 trabalhoscientíficos,é um projeto que desde 1996divulga a idéia de que não é preciso pra-ticar esportes ou matricular-se numaacademia de ginástica para se exercitarcom eficiência. Ao contrário: atletasde fim de semana e malhadores com-pulsivos correm riscos ao exigir demaisdo próprio corpo. O Agita São Paulopontifica: vale mais incorporar ao dia-a-dia hábitos saudáveis que nem pare-cem ginástica, como subir escadas emvez de pegar um elevador, levar o ca-chorro para passear e descer do ônibusum ponto antes do destino. Uma ca-minhada de 30 minutos por dia - ematé três blocos de 10 minutos - é sufi-ciente para afugentar a obesidade e osedentarismo, responsáveis por 15% a20% dos casos de câncer, doenças docoração e diabetes.

O Agita São Paulo é o resultado deuma parceria entre o Celafiscs e a Se-cretaria Estadual da Saúde de São Pau-lo, proposta em 1996 pelo então Se-cretário da Saúde José da SilvaGuedes.

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Complemento ao passeiono parque: exercício contrao sedentarismo e a obesidade

"Houve um tempo em que os proble-mas de saúde se resolviam com obrasde saneamento, e dependíamos dos en-genheiros para promover a saúde", co-menta Guedes, professor de MedicinaPreventiva da Faculdade de Medicinada Santa Casa de São Paulo e consultorcientífico do Agita São Paulo. Depois,foi a vez das vacinas e remédios - eis asaúde nas mãos de médicos e enfer-meiros. "Hoje, quando o sedentarismoé um fator de risco para uma série deproblemas de saúde", diz Guedes, "po-demos contar com um professor de edu-cação física que oriente sobre exercíciosou um grupo de vizinhos que resolvafazer caminhadas."

Guedes foi professor de Matsudo naSanta Casa e desde os anos 70 acompa-nhava seu trabalho. A reaproximaçãolevou à criação de uma organizaçãonão-governamental, também chamadade Agita São Paulo, formada pela secre-taria e pelo Celafiscs. Esse modelo foi

decisivo: se fosse um programa apenasprivado, talvez não tivesse recursos paracrescer; se somente público, estaria su-jeito a solavancos políticos. Foi o que sedeu com um dos frutos do Agita SãoPaulo, o Agita Brasil, criado em 2000pelo Ministério da Saúde, mas interrom-

. pido com a mudança de governo."No começo, éramos muito criti-

cados, pois ninguém acreditava que oexercício moderado fosse suficiente': lem-bra o professor de educação física LuisCarlos de Oliveira, do Celafiscs. Aos pou-cos, o Agita São Paulo criou atividadespara públicos específicos - jovens, ido-sos e trabalhadores. A mais abrangen-te é o Agita Mundo, parte de uma redemundial de caminhadas em comemo-ração ao Dia Mundial da Saúde, feste-jado no dia 7 de abril.

Nas ruas e no metrô - Hoje apoiadopelo atual secretário da Saúde, LuizRoberto Barradas Barata, o Agita tam-bém estimula prefeituras a construircalçadões e ciclovias e a fazer campa-nhas em locais públicos. "Quando háambientes adequados e informação, aspessoas começam a caminhar com re-

guiar idade", comenta Oliveira. Em es-tações de trem e metrô, o programainstalou cartazes sugerindo o uso dasescadas no lugar das escadas rolantes.No ano que vem, o programa vai in-tegrar-se ao esforço da OrganizaçãoMundial de Saúde, que escolheu 2004para lançar sua estratégia global decombate à obesidade e ao sedentaris-mo. A mensagem será a mesma: 30minutos por dia de atividade física bas-tam para prevenir doenças e garantirqualidade de vida.

Entre os convidados estrangeirosao simpósio há três norte-americanos.Barry Franklin, da Wayne State Uni-versity, vai fazer uma conferência sobreos benefícios das caminhadas. StevenBlair, do Instituto Cooper, vai apre-sentar um estudo feito com 16.878 ho-mens entre 40 e 87 anos que estabele-ce uma relação estatística entre o maucondicionamento cardiorrespiratórioe a ocorrência de derrames cerebrais. Mi-ke Pratt, do Centro de Controle e Pre-venção de Doenças (CDC), narrará aexperiência da campanha Healthy Peo-ple 2000, pioneira na disseminação doestilo de vida ativo. •

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I•__ CI_Ê_N_CI_A ~ ~~

GEOLOGIA

As praiasperdidasE rosão e recuodo mar redesenhamo litoral brasileiro

FABRícIO MARQUES

m julho de 1993, o Farol da Conceiçãocedeu à ação do mar e desabou em umadas praias de São José do Norte, no sul.do Rio Grande do Sul. A queda do farolé o resultado de uma batalha silenciosaque se desenrola há anos nesse municí-pio gaúcho de 27 mil habitantes, distan-

te 350 quilômetros de Porto Alegre e cenário de lutasda Revolução Farroupilha no século 18. Ali, as águas dooceano Atlântico disputam espaço com a areia e avan-çam de modo sorrateiro sobre uma faixa de 30 quilô-metros de praias desertas de areia firme e escura. Cons-truído no início do século passado numa estreita faixade terra entre o mar e a Lagoa dos Patos - a maior dopaís -, o Farol da Conceição ficava até os anos 40 a 80metros do mar, guiando as embarcações que chegavamao porto de Rio Grande. Só caiu por causa do processode erosão natural, decorrente de ondas vigorosas que acada ano consomem 3 metros de areia. Seu posto é hojeocupado por outro farol, feito de alumínio e instaladono alto de uma duna.

Exemplos como o de São José do Norte são mais co-muns do que se imagina. Cerca de três quartos do li-toral brasileiro encontra-se num processo constante detransformação, que torna a aparente estabilidade da si-

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Vila do Cabeço, na foz do São Francisco: erosão destruiu as casasdo povoado e deixou dentro d'água o farol que antes ficava em terra firme

lhueta de nossos 8.000 quilômetros decosta uma referência apenas nos mapasescolares. Atualmente, 40% das praiassão fustigadas por algum processo ero-sivo e perdem terreno para o mar, en-quanto em 10% da costa brasileira ocorreo inverso - a areia avança sobre o oce-ano, um fenômeno chamado de progra-dação -, de acordo com as conclusõesdo primeiro levantamento nacional so-bre as alterações do perfil litorâneo.Segundo esse estudo, a erosão corróitambém um quarto dos paredões na-turais de rocha (falésias) e invade a de-sembocadura de 15% dos rios que de-ságuam no oceano. Em outros 15%dos casos a foz dos rios ganha espaçosobre o mar. Concluído recentemente,o Diagnóstico de Erosão e ProgradaçãoCosteira resulta de um esforço coletivode 16 grupos de pesquisa e mostra queo desaparecimento das praias em al-guns pontos e o crescimento das faixasde areia em outros ocorre com maiorou menor intensidade nos 17 estados

brasileiros banhados pelo Atlântico, de-pendendo da geografia local.

Esse levantamento indica não ape-nas os trechos mais afetados e os pontosmais suscetíveis à força das ondas, comoa região Nordeste, na qual as praias apre-

. sentam inclinação suave e facilitam ainvasão do mar. O diagnóstico faz ain-da um mapeamento detalhado das áreasem que a ocupação humana corroeu apaisagem e daquelas em que a trans-formação do litoral é obra da natureza.Por essa razão, deve orientar a criaçãode uma rede permanente de monitora-mento dos trechos de maior risco eauxiliar na elaboração de normas queimponham limites mais rigorosospara a construção de casas e condomí-nios à beira-mar. "A fixação desses li-mites depende da velocidade de recuoda costa e do monitoramento das áreasde risco", comenta o geógrafo DieterMuehe, pesquisador da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) ecoordenador geral do levantamento, fi-

nanciado pela Secretaria da Comissãolnterministerial para os Recursos doMar (Secirm).

Segundo Muehe, a adoção de reco-mendações adota das pelo Ministériodo Meio Ambiente, como não construira menos de 50 metros da praia em áreasurbanas e a distâncias inferiores a 200metros nas regiões ainda não ocupa-das - algo que não se observou até hojeem boa parte dos municípios costei-ros -, evitaria problemas como os en-frentados em 2001 pela população daBarra de Maricá, no litoral norte do Riode Janeiro, onde uma tempestade pôsabaixo um conjunto de casas construí-das na faixa de areia. Esse trecho da cos-ta tluminense se encontra numa área emque o emagrecimento da faixa de areiaé cíclico - em um ano as águas tomama praia, que se recupera no ano seguin-te. Sem respeitar os limites impostospelo oceano, os proprietários recons-truíram as casas e ergueram muros dedefesa na areia, mutilando a paisagem.

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Murosà beira-martransferema erosãopara o terrenovizinho

Dividido em 16 capítulos, o levan-tamento deve ser publicado até o finaldeste ano na forma de atlas, com mapasdos trechos avaliados de cada estado. ORio Grande do Sul, com um litoral defácil acesso para os pesquisadores, éo estado que melhor es-quadrinhou sua orlamarinha e reuniu infor-mações coletadas du-rante os últimos 80 anossobre os 640 quilôme-tros da costa gaúcha. Jáo Maranhão, na regiãoNordeste, e o Pará, naNorte, dispõem apenasde informações mais re-centes sobre as condi-ções das praias, carênciaque dificulta a compre-ensão de como esses fenômenos evo-luem no tempo.

O jogo de avanços e recuos do ocea-no remodela a costa brasileira desdeque a América do Sul começou a se se-parar da África há 130 milhões de anos.É um fenômeno natural determinadopela energia das ondas e as característi-cas geológicas das praias, que orientamas correntes marinhas e o transporte deareia, a exemplo do que se observa emSão José do Norte. Também é assim nolitoral norte do Rio de Janeiro, em umtrecho de 50 quilômetros entre CaboFrio e Saquarema, na restinga de Mas-sambaba. Ali, um Atlântico de águasmuito azuis - e também geladas, mes-mo sob sol intenso - consumiu 6 metrosde praias e dunas de areia fina e brancade abril de 1996 a agosto de 2002. Comoa região é praticamente deserta, a ero-são só foi identifica da porque os pes-quisadores da UFRJ já monitoravam aregião nesse período.

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Intervenção danosa - O estudo deta-lha o impacto da intervenção humana eé motivo de alerta. Em diversos pontosdo litoral, a erosão e seu reverso, a pro-gradação, surgem ou são agravadas pelaintervenção na natureza. A construçãode um cais ou de um canal para nave-gação altera o ciclo de transporte desedimentos e faz a areia acumular-se deum lado dessa barreira artificial e fal-tar do outro. No porto gaúcho de RioGrande, dois paredões de pedras (mo-lhes) de 3,5 quilômetros de compri-mento, erguidos dentro do mar paraproteger a navegação, mudaram o per-

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fil da praia do Cassino. Considerada amais extensa praia do planeta com seus245 quilômetros de extensão, a praia doCassino tornou-se ainda maior: en-gordou 450 metros desde 1947. Maisao norte da barreira artificial, a praia

do Mar Grosso cumpreo destino oposto e vemencolhendo num ritmode 1,4 metro por anonum trecho de quatroquilômetros. É algo se-melhante ao que ocorreem Ilhéus, no sul da Ba-hia, onde a construção deum porto provocou ero-são severa nas praias aonorte e acúmulo de areianas praias ao sul.

A situação de alertanão significa, porém, que toda a costase encontre ameaçada. As praias enso-laradas - e cercadas por coqueiros noNorte e no Nordeste ou rodeadas pormorros no Sul e no Sudeste - não de-vem desaparecer, embora se transfor-mem com a ação do mar. Por hora, osefeitos da erosão são mais graves emtrechos restritos, localizados sobre-tudo em áreas urbanizadas, alvo de es-peculação imobiliária recente comoem Matinhos, balneário situado a 111quilômetros ao sul de Curitiba, no Pa-raná. Antes imperceptível para a po-pulação, a erosão que atinge 6 quilô-metros de praia começou a gerarincidentes com o avanço da especula-ção imobiliária no litoral nos últimosanos. Em maio de 2001, uma ressacadestruiu 19 casas erguidas na areia dapraia em loteamentos irregulares, dei-xando 50 famílias desabrigadas. A so-lução mais eficaz - e óbvia - é respeitara natureza e construir a uma distânciasegura do nível de maré alta. Em vezdisso, apela-se para paliativos, como aconstrução de muros, que podem causarresultado desastroso. "Os muros trans-ferem a erosão para o terreno vizinho,destroem a paisagem e desvalorizamos imóveis", comenta o geólogo Ro-dolfo José Angulo, do Laboratório deEstudos Costeiros da Universidade Fe-deral do Paraná, que monitora a ero-são em Matinhos, cidade apelidada deNamorada do Paraná.

No balneário paranaense, o pro-blema se agravou por causa da urbani-zação mal planejada, que removeu asdunas da praia, uma proteção natural

contra as ressacas - uma praia tem trêspartes fundamentais: a zona de quebradas ondas, a praia seca e um acúmulode areia, conhecido como duna fron-tal. Em Saquarema, no litoral norte doRio de Janeiro, a remoção das dunaspara construção de uma estrada foi cas-tigada pelo mar. A rodovia ruiu apósduas décadas de erosão. Muehe contaque a prefeitura local, "num ato de in-sistência possivelmente inócua", ater-rou novamente o local e reconstruiua estrada à beira-mar. De modo ge-ral, a falta de planejamento urbanoinduz ou mesmo acentua os danos daerosão.

Os efeitos da interferência humanasobre o comportamento do mar nãodecorrem apenas de obras realizadas naspraias ou próximas ao litoral. Barragenserguidas a centenas de quilômetros dacosta, em rios que deságuam no mar, in-terrompem o processo natural de trans-porte de sedimentos para as praias. Coma escassez repentina de areia dos rios, asondas do mar deixam de enfrentar asbarreiras naturais e invadem com maisfacilidade as praias. Um exemplo extre-mo desse fenômeno ocorreu no povoa-do de Vila do Cabeço, 140 quilômetrosao sul de Aracaju, em Sergipe, na foz dorio São Francisco. Em 1998, as ondasvarreram esse povoado de 50 famílias.Antes em terra seca, o farol da Marinhaconstruído no final do século 19 en-contra-se hoje dentro d'água, em con-seqüência do processo de erosão asso-ciado à escassez de sedimentos.

Sabe-se também que as desem-bocaduras de grandes rios sãoregiões naturalmente instá-veis. De acordo com Mue-he, esses ecossistemas sofrem

erosão e progradação em proporçõesequivalentes (15% delas apresentamdesgaste e 15%, acréscimo), em espe-cial na costa do Paraná e de Santa Ca-tarina. Os dois fenômenos podem ain-da conviver numa mesma foz. É o quese vê, por exemplo, em Ilha Comprida,no litoral sul de São Paulo, onde a de-sembocadura do rio Ribeira de Igua-pe se desloca lentamente para o sul pelaforça das areias. "É comum que o em-bate entre a energia das ondas e a forçados rios mude lentamente a configu-ração de praias", diz José Maria Lan-dim Dominguez, do Instituto de Geo-ciências da Universidade Federal da

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São Luís - Bancosde areia migramem direção à praia.

Ponta do Tubarão - O mar alcançoupoços de petróleo antesa 800 metros da praia.

Fortaleza - Umquebra-mar provocaerosão nas praiasa oeste da cidade.

Guamaré - A erosão expôstubulações de gáse óleo instaladas a1,5 metro de profundidade.

São Bento e Caiçara do Norte - A erosãodestruiu duas ruas e casas nos últimos 30 anos.

Paulista - Praia do Janga perdeu10 metros de areia devido a obrascontra a erosão em Olinda.

Recife - Ocupaçãoda orlana praia de Boa Viagem geraacúmulo de areiaao norte e erosão ao sul.

Vila do Cabeço - Barragens no rioSão Francisco agravaram a erosão,que destruiu o povoado em 1998.

Belmonte - A orla avançou 500 metrossobre o mar na foz do rio Jequitinhonha.

Porto de Ilhéus - Obras no porto causaramerosão nas praias ao norte e acúmulo de areia ao sul.

Caravelas - Em 40 anos, a linha da costarecuou 200 metros em 15 quilômetros de praias.

Atafona - Na foz do rio Paraiba do Sul,a erosão pôs abaixo um quarteirão de casas.

Barra de Maricá - O mar consomeas praias e derrubou

casas à beira-mar em 2001.

Saquarema - Na praia de Ponta Negra,uma rodovia ruiu por causa do avanço do mar.

'-------- São Vicente - Construção de emissário submarinoagravou erosão na praia do Gonzaguinha.

Ilha Comprida - Acúmulo de areia desloca foz do rio Ribeira de Iquape para o sul.

1iI~~r-----------------São José do Norte - A erosãoderrubou o Farol

da Conceição em 1993.

Balneário do Hermenegildo - A erosão destruiu 30 casas.

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Porto deSuape, ao sulde Recife,fez o maravançar sobreáreas urbanas

Bahia (UFBA) e responsável pelos ca-pítulos do levantamento referentes aosestados da Bahia, Sergipe e Paraíba.

Ameaçadora em boa parte da cos-ta, a ação do oceano nem sempre geradanos. Em alguns casos, o caprichodas ondas produz situa-ções curiosas. No litoralnorte de São Paulo, trêspraias vizinhas do mu-nicípio de Ubatuba apre-sentam característicascompletamente diferen-tes. Uma delas, a de Su-nunga, recebe ondas vio-lentas vindas do sul e éalvo de um processoconhecido como rotaçãopraial, na qual há alter-nância de erosão e depo-sição nos extremos das praias, con-forme estudo conduzido por MichelMichaelovitch de Mahiques, pesqui-sador do Instituto Oceanográfico daUniversidade de São Paulo (USP), e adoutoranda Cristina Célia Martins. Ogrupo do Oceanográfico, integrado porMoysés Gonsalez Tessler, autor do ca-pítulo paulista do levantamento, quecontou com apoio da FAPESP, estáprocurando entender com precisão osprocessos de erosão e reconstituiçãonatural das praias do Estado de SãoPaulo. "O importante não é detectarunicamente a erosão, mas avaliar o ba-lanço de sedimentos que entram e saemda praia." Ao lado de Sununga, comsua areia grossa e mar bravo, encon-tra-se a praia do Lázaro, bem mais cal-ma, protegida do impacto direto dasondas por uma baía e um costão ro-choso. Em seguida, vem a praia de Do-mingas Dias, plácida e com areia fina.

o impacto do porto - De toda a costa,as áreas mais suscetíveis à erosão estãona região Nordeste, onde as praias ori-ginalmente padecem de escassez deareia causada pela falta de rios capazesde abastecer o mar com sedimentos.Em Pernambuco, um dos estados maisafetados por esse problema, cerca deseis em cada dez praias dos 187 quilô-metros de costa cedem terreno para omar. Na capital do estado, o Porto deRecife, com 3,4 quilômetros de exten-são, deslocou os efeitos da erosão paraOlinda, uma cidade vizinha 8 quilô-metros ao norte. É uma interferênciaque agrava a situação do historicamen-

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te vulnerável litoral pernambucano,afetado pela escassez de sedimentos ecarente de dunas naturais que dete-nham o avanço do mar.

Os primeiros registros de erosãono estado remontam a 1914 e foram

agravadas principalmen-te pelas obras do porto,que alterou as correnteslitorâneas que atingemOlinda. Em 1953, foramencomendados estudosao Laboratoire Dau-phinois d'HydrauliqueNeyrpic, em Grenoble,na França, que recomen-dou a construção dequebra-mares próximoao porto, numa área emque não existem recifes

naturais, comuns na região. Dessemodo, as faixas de areia na cidade pra-ticamente desapareceram, substituídaspor muralhas de pedras erguidas contraa força das ondas. Mas o que se conse-guiu foi transferir a erosão para a cos-ta mais ao norte, chegando até a cida-de de Paulista, a 16 quilômetros doRecife, onde a poluída praia de Iangaemagreceu 100 metros nos últimosdez anos. Uma situação parecida com aque se observa a partir dos anos 80 emFortaleza, no Ceará, após a construçãode um quebra-mar ter bloqueado o flu-xo de sedimentos e causado erosão naspraias a oeste da cidade.

Nas últimas décadas, a erosão no li-toral pernambucano só piorou -corn aconstrução de prédios, estradas e diquessobre as praias. Na praia de Boa Viagem,uma das mais conhecidas do Recife, omar engoliu cinco metros da faixa de

praia, em 20 anos. "E a tendência é pio-rar': adverte o geólogo Valdir Manso,do Laboratório de Geologia e GeofísicaMarinha da Universidade Federal dePernambuco (UFPE), que monitoracontinuamente 15 pontos da costa per-nambucana. A intervenção humana napaisagem, com a construção do porto deSuape no município de Ipojuca, 40quilômetros ao sul do Recife, interrom-peu o fluxo de sedimentos e amplifi-cou o problema. Como conseqüência,o mar avançou sobre áreas urbaniza-das, como a praia de Toquinho, onde osproprietários de mansões à beira-maroptaram por erguer muralhas de ro-chas na areia na tentativa de manter omar distante. Com a consultoria daUFPE, a prefeitura de Ipojuca elaborouum projeto de R$ 5 milhões destinadoa proteger a orla com a construção deum dique de proteção a 200 metrosmar adentro.

Entender por que uma praiaperde ou ganha areia não éfácil mesmo para os pes-quisadores - o que se temclaro são os efeitos desses

fenômenos. No litoral do Rio Grandedo Norte, o desgaste ameaça poços depetróleo que, na década de 80, haviamsido instalados a 800 metros da praiano campo petrolífero de Macau-Serra,próximo à Ponta do Tubarão. Preven-tivamente, esses poços à beira-mar fo-ram circundados por muros de conten-ção. Na maré alta, a água chega até eles.Em Guamaré, cidade produtora de pe-tróleo e gás natural a pouco mais deduas horas de carro de Natal, dutos eemissários submarinos instalados a 1,5

Avaliação Multitemática doTransporte de Sedimentos em umAmbiente Praial: Praia da Sununga,Ubatuba, Estado de São Paulo

OS PROJETOS

Atlas de Erosão e ProgradaçãoCosteira do Litoral Brasileiro

MODALIDADEPrograma de Geologia e GeofísicaMarinha

COORDENADORDIETER MUEHE - UFRJ

INVESTIMENTOR$ 47.000,00 (Secirrn)

INVESTIMENTOR$ 163.920,67 (FAPESP)

MODALIDADELinha Regular de Auxílioa Pesquisa

COORDENADORMICHEL MICHAELOVITCHDE MAHIQUES- Instituto Oceanográfico/USP

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metro de profundidade encontram-sehoje à flor da terra. Em um estudo fi-nanciado pela Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior (Capes), pelo Fundo Setorial doPetróleo e Gás Natural (CTPetro) e aPetrobras, a equipe da geóloga Heleni-ce Vital, do Laboratório de Geologia eGeofísica Marinha e MonitoramentoAmbiental da Universidade Federal doRio Grande do Norte, descobriu queuma convergência de fatores provocaerosão nessa parte do estado. De umlado, os rios que drenam a região são depequeno porte e não fornecem sedi-mentos em quantidades significativase, para piorar a situação, alguns delesforam represados. De outro, as caracte-rísticas tectônicas da plataforma pro-duzem áreas com rebaixamento do ter-reno, criando o mesmo efeito que umaelevação do nível do mar. Nos municí-pios de São Bento e Caiçara do Norte,as praias recuaram 250 metros nos últi-mos 30 anos.

Já o mistério da destruição do Fa-rol da Conceição, no Rio Grande doSul, só foi desvendado com uma aná-lise do movimento das ondas. Consta-tou-se que elas são mais fortes e car-regam mais energia que nas praiasvizinhas. O fundo do oceano funcionacomo uma lente que aumenta a ener-gia das ondas no ponto erodido. A sín-drome é conhecida como efeito foco."Como não havia urbanização, a causasó podia ser natural", diz Lauro Cal-lia ri, pesquisador do Laboratório deOceanografia Geológica da FundaçãoUniversidade Federal de Rio Grande.

Projeções internacionais sugeremque o nível do mar pode subir de 40 a 50centímetros nos próximos cem anos."Ninguém sabe ainda se isso realmen-te acontecerá, mas convém tratar o as-sunto com seriedade, uma vez que ofundo do mar próximo à costa temuma declividade baixa", diz Muehe.Uma elevação de 50 centímetros nonível do Atlântico poderia consumir

100 metros de praia, em regiões comoo Norte e o Nordeste. Mesmo o litoralsul de São Paulo poderia sofrer, apesarde resguardado por planície de até 25quilômetros de extensão entre o mar ea serra. Quem ignora essa possibili-dade desdenha a dinâmica do mar.Sabe-se que, nos últimos 120 mil anos,o nível do mar oscilou muitas vezes,em decorrência de fenômenos climáti-cos. Há 17 mil anos, o oceano voltou asubir após ter descido mais de 100 me-tros devido ao período glacial, fazendocom que a linha de costa se situasse adezenas de quilômetros defronte à linhade costa atual. Há 5.100 anos, o marsubiu e seu nível ficou 4 metros acimado atual. Ninguém aposta numa novaglaciação capaz de afetar o nível domar nas próximas gerações, mas comcerteza sai menos caro monitorar ocomportamento do litoral e estabele-cer faixas de proteção do que esperarpelo pior e mais tarde reconstruir asbordas das cidades costeiras. •

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 51

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dera os fatores que alte-ram as características doclima e influenciam obem-estar das pessoas,como o tipo de constru-ção predominante (maisou menos casas, prédiosou favelas) e a intensida-de do trânsito, já que atemperatura pode subircom o calor emitido pe-los carros e a poluição. Oresultado é um mosaicoque ganha homogenei-dade nos extremos da ci-dade, por causa da proxi-midade com as serras daCantareira, ao norte, e a doMar, ao sul. Há tambémuma certa uniformidadenos bairros que crrcundamo Centro, num arco quecomeça na Barra Funda,na Zona Oeste, passa porLimão e Santana, na Nor-te, avança até Penha e VilaMatilde, na Leste, e termi-na no Sacomã, na ZonaSul da cidade. Há varia-ções de temperatura den-tro dos próprios bairros,em ruas ou praças, razãopela qual esses climas tam-bém podem ser chama-dos de microclimas. Mas

o mosaico se embaralha, com diferençasmais acentuadas de temperatura, nasporções das regiões Oeste e Sul próxi-mas ao Centro (veja mapa).

Uma das principais causas de ta-manha variação é o desmatamento, as-sociado a loteamentos clandestinos efavelas que se disseminam nos extre-mos da cidde. Aos danos da devastação,de acordo com o estudo coordenadopelo geógrafo José Roberto Tarifa,soma-se inicialmente o impacto provo-cado pela impermeabilização do solo:São Paulo tem hoje 60 mil quilômetrosde ruas asfaltadas, que retêm calor eassim tornam a cidade mais quente.Há também uma forte influência dacirculação diária dos 3 milhões de car-ros na cidade. Além de gerar calor coma queima de combustíveis, que corres-ponde a um décimo da energia que a ci-dade recebe do Sol, os veículos lançamao ar 2,6 milhões de toneladas de polu-entes por ano, segundo a Companhiade Saneamento Básico do Estado de

Avenida São João, centrode São Paulo: luz do Sol

não chega ao solo por causado excesso de prédios

te o dia e geladeiras à noite.O põe-e-tira de agasalho - e,claro, a propagação de habi-tações precárias, nas quais vi-vem 12% dos 10 milhões demoradores da capital- é con-seqüência do crescimento de-sordenado da metrópole, agoraesmiuçado com a publicaçãoeste mês do Atlas Ambientaldo Município de São Paulo,projeto conduzido pelas secre-tarias municipais do Verde edo Meio Ambiente e do Pla-nejamento, com apoio do Bio-ta-FAPESP, programa de levan-tamento da flora e da faunapaulistas. O Atlas, cujos pri-meiros resultados foram anun-ciados em dezembro de 2000(veja Pesquisa FAPESP n° 60),já se encontra na internet(http://atlasambiental.prefei-tura.sp.gov.br). O projeto depesquisa que o fundamentou"é resultado de uma parceriaparadigmática entre o poderpúblico municipal e o sistemade pesquisa do Estado de SãoPaulo", comenta José Fernando Perez,diretor científico da FAPESP, no prefá-cio do livro. "O sucesso desse empre-endimento deve nos remeter a uma re-flexão sobre o potencial dessa relaçãopossível e necessária, mas ainda tãopouco explorada."

O Atlas mostra como se distribuemos 200 quilômetros quadrados que ain-da restam de vegetação intacta no mu-nicípio, o equivalente a 13% do seu ter-ritório (1.512 quilômetros quadrados).Ao longo de seus quase 450 anos, a se-rem completados no início de 2004, aconstrução de casas, prédios e indústriaspôs abaixo 87% da vegetação nativa dacapital paulista. De acordo com esse es-tudo, coordenado pela geóloga HarmiTakiya, subprefeita da Moóca, a cidadeperdeu um quinto de sua vegetação na-tural entre 1990 e 2000. Hoje as árvoresse concentram nos 39 parques estadu-ais e municipais e em poucos bairros -Jardins, Pinheiros e Morumbi, na ZonaOeste, e Moema, na parte da Zona Sul

mais próxima ao Centro. Mas à medi-da que se segue rumo a Capão Redon-do e Jardim Ângela, no miolo da ZonaSul, o braço mais longo da cidade, acerca de 20 quilômetros do Centro, asárvores escasseiam. Ganha espaço umapaisagem horizontal absolutamente ur-bana, com prédios esparsos e impressi-onantes conjuntos de casas precárias -e a temperatura sobe, lentamente. Embairros mais próximos da serra do Mar,como Marsilac, por causa da proximi-dade com a reserva de Capivari-Mo-nos, a temperatura é bem mais baixa,oscilando ao redor dos 23° Celsius.

Mosaico de microclimas - Em uma dasvertentes de trabalho do Atlas, umaequipe da Universidade de São Paulo(USP) descobriu que, em conseqüênciadas distintas formas de ocupação doespaço urbano, a cidade apresenta 77climas diferentes - vistos em umaconcepção mais ampla, que, além datemperatura e da umidade do ar, consi-

S4 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

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27 - 31

27 - 30

27 - 29

_ 26-29

_ 25-29

_ 24-28

_ 23-26Obs.: Medição feitaàs 10h do dia 3 de setembro de 1999.Foram consideradasapenas as 14 categorias básicasde microclimas, semas variações internas decada uma delas.

ITAPECERICADA SERRA

EMBU-GUAÇU

Serra do

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Represa de Guarapiranga:com clima ameno, é um oásisem meio a regiõesde intensa urbanização

São Paulo (Cetesb) - e, quanto mais fu-maça no ar, mais calor. Adicione-se oconcreto de 4 milhões de casas e prédi-os. Resultado: a temperatura tende asubir ainda mais com a densidade deconstruções verticais - efeito conheci-do como ilhas de calor. O centro histó-rico de São Paulo é uma exceção. Adensidade de arranha-céus é tão eleva-da que surge o efeito oposto, as ilhas defrio: em muitos prédios, os andaresmais baixos não recebem a luz do Sol.

Desde que começou a estudar oclima de São Paulo há 30 anos, Tarifanão se conformava com a idéia de queambientes tão diferentes - as alame-das dos Jardins e o tapete acinzentadode casas da Zona Leste - tivessem o cli-ma homogêneo, de acordo com a vi-são clássica de físicos e meteorologis-tas. "Os estudos eram segmentados eavaliavam apenas um ou outro as-pecto, como as chuvas ou a poluição",diz Tarifa, que logo após aposentar-seda USP, em 2002, foi contratado pelaUniversidade Federal de Mato Grosso(UFMT), em Rondonópolis. "A visãoantiga não levava em consideração quea vida das pessoas em São Paulo sofre

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a influência, por exemplo, da quali-dade do ar e do conforto térmico."Segundo ele, a mudança na forma deanalisar o problema era necessária tam-bém porque há períodos do dia em queas atividades dos moradores, a exem-plo do deslocamento para o trabalho,pesam mais que o relevo para definira temperatura em uma região especí-fica em um determinado horário.

Tarifa e Gustavo Armani, outro geó-grafo do Laboratório de Climatologia eBiogeografia da USP,reuniram os estu-dos sobre o clima paulistano realizadosde 1970a 2000 e compararam os dadoscom fotos aéreas da cidade e imagensdo satélite Landsat 7. Foi a partir dessabase de dados que eleslistaram 18variá-

o PROJETO

Atlas Ambiental do Municípiode São Paulo

MODALIDADElinha Regular de Auxílioa Pesquisa/ integradoao programa BiotalFAPESP

COORDENADORHARMI TAKIYA - Secretaria do Verdee do Meio Ambiente

INVESTIMENTOR$ 148.845/00

veis relacionadas ao clima da cidade. Oclima de uma região é definido inicial-mente por oito delas,como a temperatu-ra da superfície do solo, a umidade doar e a quantidade de chuva. Os outrosdez fatores regulam essas característicasbásicas: são os chamados controles cli-máticos, como emissão de poluentes,dimensão da cobertura vegetal e densi-dade da população e de edifícios. O re-sultado final - os 77 climas apresenta-dos no livro Os Climas na Cidade de SãoPaulo - Teoria e Prática, publicado em2001 - deixa claro que essas expressõesda urbanidade são hoje mais importan-tes na definição do clima metropolitanoque o próprio relevo, um dos principaisfatores determinantes das característi-cas dos climas naturais até o início doséculo passado.

São Paulo cresceu a partir de umacolina entre os rios Tietê e Tamandua-teí, a 720 metros de altitude, sobre aqual os padres jesuítas José de Anchietae Manuel da Nóbrega criaram o Colé-gio de São Paulo de Piratininga em umaprecária cabana de madeira. Dali, osmoradores ganharam, primeiro, as ter-ras mais planas e baixas. Num segundomomento, avançaram rumo à elevaçãoconhecida pelos geógrafos como espi-gão central, a 800 metros acima do ní-vel do mar, sobre o qual hoje se assen-tam bairros como Sumaré, Cerqueira

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César, Vila Mariana e Jabaquara. O tre-cho mais alto desse corredor é a aveni-da Paulista, que até 1900 não passavade um bucólico conjunto de chácaras emansões.

Desde o começo do século passado,a população da cidade, então com 240mil habitantes, cresceu 40 vezes e hojese espalha até mesmo pelas áreas antesde difícil acesso como a serra da Canta-reira, uma muralha natural a 1.200 me-tros de altitude. "Cada vez que se alterao espaço, redefine-se o clima", lembraTarifa. Cercada ao norte pela Cantarei-ra e ao sul pela serra do Mar, a maiormetrópole brasileira se encontra emum corredor que facilita a entrada dasmassas de ar frio provenientes da An-tártica e das correntes de ar carregadasde umidade do oceano Atlântico, dis-tante apenas 45 quilômetros em linhareta - ainda hoje elementos naturaisresponsáveis pela temperatura relativa-mente amena da cidade.

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Terra sem garoa - Da época dos jesuí-tas para cá, São Paulo devorou quasetodo o verde ao redor e deixou de terapenas cinco climas, como há quinhen-tos anos, na época do descobrimento.Os cinco tipos eram variações do climaTropical, marcados por uma estaçãofria e seca, que se estende pelo outono eo inverno, e outra quente e chuvosa, du-rante a primavera e o verão, com tem-peraturas médias que variavam de 15°Celsius a 25° Celsius. De acordo comum estudo feito no Instituto de Astro-nomia, Geofísica e Ciências Atmosféri-cas da USP, a temperatura média da ci-dade subiu 1,30 Celsius nos últimos 40anos. Até os anos 60, a capital ainda erraa Terra da Garoa, por causa da chuva finae assídua que se somava a um clima maisfrio que o atual. No inverno, os paulis-tanos não dispensavam casacos grossos,luvas e cachecóis.

Tão elevada diversidade de climasnão é uma exclusividade de São Paulo.Em maior ou menor grau, existe tam-bém em metrópoles mundo afora,como a Cidade do México, Santiago, noChile, e Buenos Aires, na Argentina."Variações tão acentuadas de climassurgem quando se abdica do sonho deuma vida harmoniosa com o ambien-te", comenta Tarifa. "É um fenômenoque ocorre quando a lógica do lucropassa a determinar a forma como os es-paços devem ser ocupados." •

Page 58: Uma antiga civilização na selva

Biblioteca deRevistas Científicasdisponível na Internetwww.scielo.org

compreender de que modo o processo de exoneraçãodo magistério acontece ao longo da vida e da experiên-cia profissional dos professores. Com base em um ques-tionário enviado a 158 ex-professores da rede pública,além de 16 entrevistas individuais, Flavinês Rebolo Lapoe Belmira Oliveira Bueno perceberam que houve umaumento da ordem de 300% nos pedidos de desistên-cia do cargo de docente. "Além dos baixos salários, asprecárias situações, a insatisfação no trabalho e o des-prestígio profissional estão entre os fatores que maiscontribuem para que os professores deixem a profis-são", concluem as pesquisadoras. Para elas, este pro-cesso acontece em várias etapas até atingir o abandonodefmitivo, por meio de uma série de mecanismos pes-soais e institucionais de que os docentes fazem uso aolongo de suas carreiras.

CADERNOS DE PESQUISA - W 118 - SÃo PAULO - MAR. 2003

www.seielo.br/seielo. ph pvscrtpt-scr arttextêp id=SO 100-15742003000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• SaúdeJogos para diabéticos

O artigo A Experiência de Jogos em Grupos Operativos naEducação em Saúde para Diabéticos discute uma estraté-gia educativa desenvolvida em um ambulatório, cujoobjetivo é estimular o indivíduo a refletir sobre seu co-tidiano relacionado à sua patologia. Trata-se do Progra-ma Educativo através de Jogos para Grupos Operativos,desenvolvido no Serviço Especial de Endocrinologia eMetabologia do Hospital das Clínicas da UniversidadeFederal de Minas Gerais (HC/UFMG). O estudo, que seconcentrou no caso específico do diabetes melito, ca-racterizou-se como um instrumento de educação emsaúde sob uma perspectiva de promoção, prevenção econtrole da doença. Foi implementada uma dinâmicade interação entre o profissional e o paciente que se ba-seou na utilização de jogos educativos e técnicas peda-gógicas aplicadas em diferentes grupos no ambulatório.As técnicas usadas foram: curso de orientação sobre adoença, consulta individual, grupo operativo e uso dejogos educativos de comunicação e aprendizagem. Taistécnicas possibilitaram a construção do conhecimentomútuo e a troca de vivências entre os pacientes, além doentendimento da experiência individual da doença peloprofissional de saúde. Foi concluído que essa técnicapode contribuir para uma rápida adesão ao tratamentoe maior responsabilidade em relação aos cuidados com

oNotícias

• QuímicaCrianças criam cultura

O artigo A Transmissãoda Cultura da Brinca-deira: Algumas Possibi-lidades de Investigaçãotraz um estudo sobrealguns fatores relacio-nados às brincadeirasinfantis, tais como ovocabulário típico, suaaprendizagem social,as regras existentes e osdiferentes tipos de interação entre as crianças. O tra-balho promove uma reflexão sobre os fatores envolvi-dos na produção das brincadeira. "A investigação dessascategorias é importante para uma melhor descrição dabrincadeira e também para criar indicadores para a com-preensão das relações entre os grupos de crianças noque diz respeito à socialização, à constituição do sujeitoe à transmissão da cultura'; afirmam os pesquisadores daUniversidade Federal do Pará (UFPA), responsáveis peloartigo. Segundo o estudo, a cultura da brincadeira deveser estudada a partir dos processos de aprendizagem dosindivíduos, já que nos grupos de brincadeira estão pre-sentes todos os elementos de uma sociedade: os rituais,as regras, as sanções e as formas de se esquivar das difi-culdades. Por isso, com base nesses estudos culturais, ospesquisadores concluem que "as crianças não são somen-te criadas, crianças se criam, crianças criam cultura".

PSICOLOGIA: REFLEXÃO E CRITICA - V. 16 - N°·1 - PORTO

ALEGRE - 2003

www.seielo.br/seielo .ph p?se ri pt=sei_arttext&p id=SO 102-79722003000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• EducaçãoAbandono do magistérioDuas professoras da Faculdade de Educação da Uni-

versidade de São Paulo (USP) realizaram uma pesquisapara examinar a questão do abandono do magistériopúblico na rede de ensino do Estado de São Paulo. Osresultados estão no artigo Professores, Desencanto coma Profissão e Abandono do Magistério, disponível noScielo. O objetivo do estudo, que se baseou em dadosquantitativos da Secretaria Estadual de Educação, foi

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a doença, com conseqüente melhoria da qualidade devida dos indivíduos.

Utilizando Métodos de Histo-morfometria e Autofluo-rescência procura analisar as possíveis alterações da pelenormal com o passar dos anos. Após uma série de estu-dos realizados por pesquisadores da Universidade Fede-ral do Ceará (UFCE) com amostras de pele do abdômende 18 corpos, foi concluído que o envelhecimento é aprincipal característica que leva à redução natural da es-pessura da derme e epiderme. Porém as mudanças dapele ao longo da vida nem sempre seguem um perfil li-near, apresentando drásticas alterações nas últimas déca-das de vida. A redução da espessura da derme e epider-me se dá principalmente com indivíduos após os 60 anosde idade. O estudo concluiu também que, apesar de algu-mas alterações estruturais da pele serem inerentes ao en-velhecimento, outras estão relacionadas à exposição aosol, influências ambientais, grau de nutrição ou altera-ções do estado de saúde, como doenças endócrinas.

CADERNO DE SAODE POBLICA - V. 19 - N° 4 - Rio DE

JANEIRO - JULHO/AGO. 2003

www.seielosp.org/seielo.php?seript=seUrttext&pid=S01 02-311 X2003000400026&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Psicologia

Baixa freqüênciaDentre os diversos

problemas que redu-zem a qualidade de vi-da dos idosos, os dis-túrbios auditivos estãoentre os mais comuns."Nos Estados Unidos,aproximadamente 30%das pessoas com maisde 65 anos de idade e 50% das pessoas com mais de 75anos de idade sofrem com alguma perda auditiva': cons-ta no estudo Envelhecimento do Processamento TemporalAuditivo, das pesquisadoras Vera Tôrres das Neves e MariaAngela Guimarães Feitosa, ambas da Universidade de Bra-sília (UnB). O artigo faz uma revisão da literatura sobreo envelhecimento do processamento temporal audi-tivo, especificamente estudos sobre detecção de inter-rupções em sons por sujeitos adultos de mais idade. Sãoapresentadas definições e descrições da presbiacusia, oua deficiência auditiva adquirida por envelhecimentobiológico natural, além de suas conseqüências e suaprevalência no decorrer do processo evolutivo humano.De acordo com os procedimentos experimentais, aspesquisadoras verificaram que a diminuição da capa-cidade de processamento dos estímulos sonoros nemsempre é relacionada a danos do aparelho auditivo pe-riférico, podendo estar relacionada também a perdas deneurônios centrais. Ou seja, o processamento temporalauditivo pode ser, em muitos casos, uma forma de pro-cessamento central, executada no encéfalo.

PSICOLOGIA: TEORIA E PESQUISA - V. 18 - NO 3 - BRASILlA -

SET./DEZ. 2002

www.seielo.br/seielo .php?seri ptesciarttextôpi d =SO 102-37722002000300006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Dermatologia

Cuidados com a peleAs características da pele humana passam por mudançasde acordo com a idade do ser humano, devido às forçasambientais como radiação ultravioleta, assim como porfatores intrinsecos, alguns deles relacionados com altera-ções no tecido conjuntivo da derme, que atua como ali-cerce estrutural para epiderme. O artigo Estudo das Al-terações Relacionadas com a Idade na Pele Humana,

ANAIS BRASILEIROS DE DERMATOLOGIA - V. 78 - w 4 - Rio

DE JANEIRO - JUL./AGO. 2003

www.seielo.br/se ie Io. Ph P?se ri pt= se i_arttext& p id = SO3 65-05962003000400005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Enfermagem

Intuição nipônicaA dificuldade com o idioma pode interferir na com-

preensão e no tratamento de doenças por parte dos pro-fissionais de enfermagem, quando o hospitalizado é umestrangeiro. Partindo desse pressuposto, em que a comu-nicação verbal e não-verbal é essencial no processo dedescoberta das enfermidades em um paciente, duas pes-quisadoras da Escola de Enfermagem da Universidade deSão Paulo (USP) desenvolveram o estudo A Comuni-cação no Processo da Hospitalização do Imigrante Japonêspara conhecer a importância da comunicação para oimigrante japonês durante o seu processo de internaçãoem um hospital. Foram entrevistados pacientes japone-ses em um hospital de São Paulo numa pesquisa qualita-tiva com abordagem fenomenológica. Percebeu-se queos imigrantes possuem dificuldades de relacionamentopelo fato de o idioma ser uma barreira, impedindo-os demanter uma comunicação efetiva com a equipe de saúde.Conseqüentemente, os japoneses tinham dificuldades paracompreender a sua doença e o tratamento ao qual esta-vam sendo submetidos. "O estudo revelou que a falta deentendimento do idioma fez com que a grande maioriados entrevistados se acomodasse e não aprendesse a lín-gua portuguesa", diz o artigo, que, devido a esta falta deentendimento, chama a atenção para a falsa impressão deque os imigrantes podem transmitir de que está tudo emordem. "Nesse caso, devemos lembrar que pequenos ges-tos ou um olhar podem ser tão significativos quanto aspalavras': concluem as pesquisadoras.

REVISTA LATINO-AMERICANA DE ENFERMAGEM - V. 10 - N° 6- RIBEIRÃO PRETO - NOV./DEZ. 2002

www.seielo.br/seielo .ph p?seri pt=sei_arttext&pid=S01 04-11692002000600009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 59

Page 60: Uma antiga civilização na selva
Page 61: Uma antiga civilização na selva

TecnO/og''a de " .geração é o tunaqUe fica a ~tna COisano d' nt'ga

Ia segUint e.

Page 62: Uma antiga civilização na selva

ITECNOLOGIA

• LINHA DE PRODUÇÃO MUNDO

Interferências na formação de cristais

Com a ajuda de simulaçõesde computador e de colegasna Hungria e na França, pes-quisadores do Instituto Na-cional de Ciência e Tecno-logia dos Estados Unidos(Nist, sigla em inglês) con-seguiram avançar no en-tendimento de como par-tículas estranhas - sejamimpurezas ou não - inter-ferem nos padrões de for-mação dos cristais. Primei-

Impurezasdefinem asmudançasde padrão

ro, eles descobriram que assimulações de computadordesenvolvidas para projetara formação de ligas metáli-cas tinham impressionantesemelhança com as imagensde cristais reais formadas emfilmes de polímeros bemmais finos que um fio de ca-belo. Em ambos os casos,encontravam-se partículasdispostas de maneira alea-tória, que os cientistas ape-

dos Estados Unidos anuncioua invenção de um receptordigital que promete comuni-car-se com todos os sistemasatualmente em uso. Alta pre-cisão e velocidade de processa-mento permitirão a esses apa-relhos administrar a recepçãode uma multiplicidade de si-nais simultâneos nas maisamplas larguras de banda.Deborah Van Betchen, dire-tora da divisão de eletrônicada Agência de Pesquisa Naval,diz que a Hypres - empresa

62 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

• Receptor captasinais múltiplos

Quem ainda se recorda da afli-ção, há dois anos, do pessoaldas equipes de resgate tentan-do comunicação por rádiodepois do ataque às torres gê-meas, em Nova York, conse-gue imaginar o que significa-ria uma comunicação livredos sinais cruzados e da in-compatibilidade de sistemas.Em setembro, a Agência dePesquisa Naval da Marinha

lidaram de "dendritos zon-zos': E os três eixos do cris-tal tendiam à assimetria, di-ferentemente do que ocorrenos cristais puros, que ten-dem a ser regulares e simé-tricos. Simulações posterio-res mostraram que a rotaçãoconjunta das partículas du-rante o processo de cristali-zação leva à produção dedendritos espiralados. Já aalternância de fileiras de par-

do Estado de Nova York quese encarregará da fabricaçãodos novos receptores - desen-volverá um protótipo doaparelho capaz de "digitali-zar" simultaneamente todosos sinais nas faixas mais críti-cas para a comunicação mili-tar (HF e VHF) e filtrará ossinais com a ajuda de umsoftware. O controle por soft-ware, aliás, é fundamentalpara o uso combinado comum sistema tático de rádio(JTRS, em inglês) que o De-

tículas de uma direção paraoutra produz padrões emziguezague. Os pesquisado-res acreditam que esses pa-drões complexos possam serreproduzidos experimental-mente. As sugestões vão des-de a utilização de um rolopara imprimir um padrãono cristal em formação até oemprego de campos eletro-magnéticos externos ou laserorientando as partículas. •

partamento de Defesa con-cebeu e já está a caminho. Osrádios JTRS, também equipa-dos com tecnologia digital,substituirão os modelos ana-lógicos, com o objetivo de re-duzir custos e a complexida-de dos aparelhos. •

• Investimento emtecnologia sem fio

Oito novos projetos - que vãodesde a transmissão multi-mídia via redes sem fio até a

Page 63: Uma antiga civilização na selva

investigação de novos espaçosde banda ultralarga para co-municação sem fio e redes desensores inteligentes - foramcontemplados com US$ 3,5milhões nos Estados Unidos.Além da fundação estatal Dis-covery Grants, um consórcioque reúne as empresas Erics-son, Hewlett-Packard, IBM,Intersil, Nokia e Texas Instru-ments, entre outras, financiaa iniciativa. Os estudos, quecomeçaram em agosto, são deresponsabilidade de 20 pes-quisadores da Iacobs Schoolof Engineering da Universi-dade da Califórnia, em SanDiego (UC San Diego NewsRelease, 28 de agosto). Entreos projetos consta um sobreespaços de banda ultralargapara comunicação sem fio,que investigará a possibili-dade de projetar sistemas ca-pazes de suportar conexõescom mais de 100 megabitspor segundo e por usuário.Também serão estudados osprotocolos de configuraçãode comunicação e as arquite-turas sem fio das redes de te-lefonia e de Internet. Outroprojeto escolhido vai tratardas redes de sensores paracaptura de imagens e intera-tividade. O objetivo é exami-nar os principais problemasque surgem quando os senso-res dos equipamentos de te-

.lecomunicações abrangemáreas muito grandes. •

• Laser quebrabarreira do quilowatt

Uma importante invenção nocampo da tecnologia do la-ser, com capacidade para libe-rar mais de 1 quilowatt (kW)de força com um feixe de altaqualidade em fibra única, foidesenvolvida pelo Centro dePesquisa Optico- Eletrônicada Universidade de Southam-pton, na Inglaterra. As fibrase amplificadores de laser sãofilamentos de vidro transpa-rente um pouco mais espes-sos que um fio de cabelo. Fo-ram criadas em meados dosanos 80 na própria universi-dade a partir de fibras ópti-cas de telefonia. Para produ-zir laser, o minúsculo núcleoda fibra recebe uma cargade íons semelhante à utiliza-da nos grandes lasers indus-triais. Surpresos, os pesqui-sadores descobriram que atímida luminescência das fi-bras que alimentam a Inter-net pode ascender à escalado quilowatt - potência su-ficiente para cortar uma pla-ca de aço. Comparados aosatuais lasers industriais, oslasers a fibra são fontes maisflexíveis, compactas e ro-bustas com feixes de melhorqualidade. "Conseguir fa-zê-Ias quebrar a barreira doquilowatt é um marco", dizDavid Paine, diretor do cen-tro de pesquisa. •

Plástico reciclado é base de tubos condutores de esgoto

Embalagens transformadasformado por uma mistura deplásticos reciclados, é moídoe passa por uma máquina ex-trusora, onde ganha a formafinal. Guido Nigra conta que asextrusoras convencionais ti-veram de ser adaptadas paraproduzir os tubos de PET, fa-bricados com base nas espe-cificações da Associação Bra-sileira de Normas Técnicas(ABNT). •

Encontrar novos usos para asgarrafas descartadas de refri-gerantes, água e outros pro-dutos, as embalagens de poli(tereftalato de etileno), cha-madas de PET, tem sido umdesafio para a imaginação.Afinal, nos últimos anos esseplástico resistente, depois dereciclado, transformou-se emroupas, tintas, pisos, revesti-mentos ~ outros produtos. Edesde maio pode ser encon-trado também em tubos paraesgoto de prédios, produzidospela Empresa Brasileira de Re-ciclagem (EBR), de Diadema,na Grande São Paulo. Antesde chegar ao produto final,chamado de Tubopet, GuidoNigra, diretor da empresa, ou-viu de vários especialistas quedificilmente conseguiria pro-duzir tubos de PET. Mas nãodesanimou. Procurou ajudano Instituto de Pesquisas Tec-nológicas (IPT) e no Departa-mento de Engenharia de Ma-teriais da Universidade Federalde São Carlos (UFSCar). Parachegar aos tubos que fazemas mesmas funções das tubu-lações em PVc, o material,

• Gaúchos ganhamparque tecnológico

A HP Brasil inaugurou emPorto Alegre um centro depesquisa e desenvolvimento,o maior da empresa na Amé-rica Latina, no novo parquetecnológico da PontifíciaUniversidade Católica do RioGrande do Sul, o TecnoPUc.Nas novas instalações, queocupam uma área superior a3 mil metros quadrados, ope-ram 80 profissionais comouma extensão dos vários la-boratórios mundiais da HPpara a geração de produtos epesquisa avançada de novastecnologias. •

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 63

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Informação sobre o câncer nas escolasEspecialistas do Hospital doCâncer, de São Paulo, pro-duziram um kit com infor-mações sobre prevenção,diagnóstico precoce e dú-vidas a respeito da doença,que está sendo distribuídoa professores de escolas pú-blicas e particulares do Es-tado de São Paulo para usoem salas de aula. O kit Edu-cação em Câncer, compostopor cinco manuais, cartazes,folhetos e duas fitas de ví-deo, é resultado do proje-to de difusão científica doCentro Antonio Prudentede Pesquisa e Tratamento doCâncer, um dos dez Centrosde Pesquisa, Inovação eDifusão (Cepid) apoiadospela FAPESP. A iniciativatem como objetivo cola-borar para a mudança doperfil da doença no país,marcada pela falta de pre-venção e diagnóstico tardio.No kit podem ser encontra-das informações sobre fa-tores de risco, sintomas, pre-

• Alunos criam robôpara detectar bomba

Um robô controlado via rá-dio, utilizado para tarefas querepresentem risco para o ope-rador, como detecção de bom-bas e ambientes contami-nados por radioatividade,foi desenvolvido por alunosda Faculdade de Engenha-ria Mecânica da FundaçãoArmando Álvares Penteado(Faap) com materiais dispo-níveis no mercado, para quepossa ser reproduzido comfacilidade. O Veículo de Ope-ração Remota (VOR1) é equi-pado com câmera colorida,

II

venção, faixas etárias maispropensas a diferentes ti-pos de tumores, esclareci-mento das dúvidas maisfreqüentes e formas de tra-tamento. Segundo os espe-cialistas, cerca de 70% doscasos de câncer são causa-dos pela exposição indevi-

Material resultade projeto de

difusão científica

mira laser para guiá -10 e umbraço mecânico que lhe per-mite agarrar objetos com até10 centímetros de diâmetro.Segundo o coordenador docurso de Engenharia Mecâ-nica, Nicola Getschko, "o ob-

64 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

da a fatores de risco comocigarro, responsável por35% de todos os tumores,álcool, 15%, sol em excesso,

10%, e bactérias ou vírus,10%. O material também éencontrado nos sites doHospital do Câncer (http://www.ecancer.org.br) e doprojeto Saúde Brasil (www.-saudebrasilnet.corn.br), deonde poderá ser reproduzi-do na íntegra. •

--_.1..._., '~s~3j~'"-c

jetrvo de trabalhar com oVORl é criar condições rea-listas de trabalho para o fu-turo profissional". Getschkoconta que o conhecimentoadquirido vai ser utilizado nodesenvolvimento de outro

protótipo para testes de con-trole e de comunicação pormeio de fios. •

• Recuperação deáguas contaminadas

••••I~ Um processo de recuperaçãode águas industriais contami-nadas com compostos de si-licone, usados na indústriatêxtil para amaciamento defibras sintéticas, recebeu oprêmio de melhor trabalhoentre os 73 projetos científicosapresentados no II Encontrosobre Aplicações Ambientaisde Processos Oxidativos Avan-çados (Epoa), realizado em

Veículo éequipado combraço mecânicoe mira laser

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~----------~----Campinas. Os pesquisado-res Claudio Augusto Oller doNascimento, Antônio CarlosSilva da Costa Teixeira e Ro-berto Guardani, do Labora-tório de Simulação e Con-trole de Processos da EscolaPolitécnica da Universidadede São Paulo, desenvolveramum método que utiliza a luzpara transformar os compos-tos poluentes em substânciasmenos nocivas ao ambiente.Todas as fases da pesquisa,do desenvolvimento do pro-cesso à elaboração da paten-te (veja Pesquisa FAPESP N°86), foram financiadas pelaFAPES~ •

PatentesInovações financiadas pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento

de Tecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Contato: [email protected]

Título: Fases Estacionáriaspara Cromatografia Líquida deAlta Eficiência Baseadas emPolissiloxanos Adsorvidos eImobilizados na Superfície deSílica PorosaInventores: Kenneth Coflins,Carol Coflins, Isabel Jardim,Tania Anazawa, Maria doCarmo da Silva, Carla Bot-toli, Edivan Tonhi, ZahraChaudhry e Marcos KaporTitularidade: Unicamp/FA-PESP• Empresa fecha

contrato no Havaí Membrana de hidrogel reforçada acelera cicatrização• Prevenção de danos

aos neurôniosA empresa Fujitec, de Forta-leza, fechou contrato paraimplantar até maio de 2004um novo sistema de bilheteseletrônicos para os 550 ôni-bus de Honolulu, no Havaí.Inicialmente serão 30 milcartões, com previsão dechegar a 250 mil em um ano,para atender aos usuários dosistema coletivo de transpor-te. Criada por dois ex-alunosdo Instituto Tecnológico deAeronáutica (ITA), de SãoJosé dos Campos, AdalbertoPessoa e Danilo Reis, a em-presa participou de licitaçãorealizada pela prefeitura dacapital havaiana em um con-sórcio formado com a Smar-talliance, dos Estados Unidos."Caberá à empresa norte-americana fornecer os car-tões, computadores e a infra-estrutura de rede, e a Fujiteco sistema de software e dehardware necessário para aemissão de cartões e das car-gas de valor, além do contro-le dos bilhetes eletrônicos",explica Reis. O contrato é deUS$ 2,2 milhões. Desse total,a Fujitec ficará com US$ 1,3milhão. •

• Curativo paraqueimaduras

• Novos materiais paracromatografia líquida

Aplicação de medicamentospara prevenir danos a neu-rônios causados pelo ácidometilmalônico, tóxico paraas células. Esse ácido se acu-mula no organismo emfunção de uma deficiênciametabólica genética, a aci-dose metilmalônica, doençaque causa retardo do de-senvolvimento infantil. Emtestes feitos em cultura decélulas de neurônios, elasmorreram quando tratadascom ácido metilmalônico.Quando tratadas com esseácido na presença de drogasque abrem canais de potás-sio, como o anti-hipertensi-vo diazóxido, a morte celu-lar foi inibida.

Novos materiais foram de-senvolvidos para a Cro-matografia Líquida de AltaEficiência (CLAE), resul-tando em análises eficien-tes e econômicas para con-trolar a qualidade de váriosprodutos. A CLAEé um ins-trumento de separação queutiliza colunas cromato-gráficas, que consistem deum tubo de aço inoxidávelrecheado com material po-roso ou não. A esses mate-riais se dá o nome de faseestacionária. Atualmente,a CLAE utiliza colunas re-cheadas com fases estacio-nárias quimicamente liga-das ao suporte poroso desílica. As propostas nesseinvento envolvem um con-ceito em que polímeros dotipo polissiloxano encon-tram-se adsorvidos (fixaçãode moléculas de uma subs-tância na superfície de ou-tra) e imobilizados dentrodos poros da sílica, elimi-nando a reação química

Desenvolvimento de umamembrana de hidrogel re-forçada com fibras de po-lipropileno, um materialplástico, ideal para o tra-tamento de queimados.Essa membrana apresentacomo vantagens grande re-sistência mecânica e esta-bilidade, mantendo as ca-racterísticas originais dogel sem reforço, como fle-xibilidade, adesão à pele,permeabilidade a líquido egases e barreira contra mi-crorganismos. O polipropi-leno permite que os cura-tivos sejam fabricados emqualquer dimensão.

Título: Curativo Formadopor Polímero Hidrofílico Re-forçado por Fibras TêxteisHidrofóbicas Enxertadas comMonômeros HidrofílicosInventor: Luiz HenriqueCatalani, Lilian Cristine Lo-pérgolo e Ademar BenévoloLugãoTitularidade: USP/FAPESP

Título: Uso de Agonistas deCanais de Potássio paraPrevenir e Tratar Danos Te-ciduais Promovidos por Áci-do MetilmalônicoInventores: Alicia I<owal-towski e Roger CastilhoTitularidade: USP/Uni-campl FAPESP

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Page 66: Uma antiga civilização na selva

Electrocell fazos ajustesfinais da célula

Ca m -I nhos .do :uC::~~~~~~~gueà Eletropaulo

hidrogênioMARCOS DE OLIVEIRA

Placas bipolares degrafite: conduzem edistribuem o hidrogêniodentro da célula

Page 67: Uma antiga civilização na selva

• TECNOLOGIAENERGIA

Umequipamento com 1,5 metro de largura, 2 de altura e 1 de profun-didade, que produz energia elétrica com hidrogênio, é o resultado decinco anos de pesquisas realizadas na empresa paulistana Electro-cell. Até o final do ano, ele deverá ser entregue para a AES Eletropau-10, a distribuidora de energia que atende a 24 municípios, inclusive

a capital, da Região Metropolitana de São Paulo. Dentro dele está instalada a cha-mada célula a combustível, um conjunto de módulos de eletrodos e membranascondutoras capaz de produzir 30 quilowatts (kW) de energia, suficientes para su-prir de dois a três andares de um prédio-ou 40 casas populares. Ela vai funcionarcom hidrogênio acondicionado em cilindros, embora esteja preparada para tambémextrair esse combustível do gás natural e do etanol (o álcool utilizado nos veículos).Dessa forma inaugura-se uma nova fase energética em São Paulo, que passa a inte-grar um restrito grupo de cidades no mundo onde existem células a combustível emuso, embora ainda de forma alternativa e experimental.

São equipamentos que concentram grande interesse tecnológico e são conside-rados, pelos especialistas da área, a novidade energética com grandes chances de serdisseminada neste início de século. Empresas canadenses, norte-americanas e ale-mãs já produzem as células, mas ainda sob encomenda, sem linha de produção con-sistente, há pouco mais de cinco anos. Essa produção comercial vem na esteira doprograma espacial norte-americano, iniciado na década de 1950, que produziu cé-lulas para as naves das séries Gemini, Apollo e, depois, para os ônibus espaciais. Oobjetivo no espaço era produzir, além de energia elétrica, água para os astronautas,um subproduto desses equipamentos. Com avanços tecnológicos dos materiais e daeletrônica nos últimos 15 anos, as células tornaram-se mais baratas e formatadas parauso em situações mais corriqueiras.

As células a combustível funcionam como uma bateria ou uma pilha, transforman-do energia química em energia elétrica, quebrando as moléculas de hidrogênio que

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Page 68: Uma antiga civilização na selva

reagem com o oxigênio do ar. Na formaestacionária são parecidas e fazem as fun-ções de um gerador, mas em tamanhoreduzido. A diferença mais importanteé que fazem isso de forma silenciosa esem emitir poluentes. Quem já ficou aolado de um gerador a diesel em funcio-namento sabe bem o barulho e a fuma-ça que ele emite. Assim, as células abremnovos espaços e servem de poderosa fer-ramenta em que a preocupação ambi-ental e o silêncio ganham pontos.

Primeiro protótipoda Electrocellproduziu25 watts deenergia elétrica

Para a Eletropaulo, as célulaspodem representar o iníciode formas alternativas deprodução de energia elétri-ca. "Quando recebermos a

célula, nós vamos levá-Ia, provavelmen-te, para um prédio, onde será simuladaa substituição de um no break (equipa-mento que evita a paralisação de umarede de computadores)': explica a enge-nheira eletrônica Mara Ellern, especialis-ta em análise de negócios da Eletropau-10. "Vamos verificar o funcionamento eas possíveis falhas." Antes de irem parao teste de campo as células também vãopassar por análise final do professor JoséAntônio Iardini, do Departamento deEngenharia de Energia e Automação Elé-trica, da Escola Politécnica da Universi-dade de São Paulo (USP).

Os no breaks normalmente suprema rede de computadores por 15 minutos,funcionam com enormes pilhas e seucusto sai em torno de US$ 1 mil por kW.As células, para fazer o mesmo serviço,tendem a ficar num preço em torno deUS$ 1,5 mil pelo mesmo kW. "A vanta-gem da célula é que ela opera por umtempo que só é limitado pela capacida-

Célula a combustívelcomercial: montagem

final com cincomódulos de

10 quilowatts cada

tinados à produção de energia elétrica),quando atravessam a membrana poli-mérica condutora, no interior da célula,encontram o oxigênio do outro lado.

de de armazenamento de combustível,podendo chegar a uma autonomia demuitos dias de operação se conectada atubulações de gás natural. Com isso, amanutenção fica menor, além de dimi-nuir as exigências de espaço físico e aemissão de poluentes.

"Meu sonho é colocar, no futuro, ascélulas em uma aplicação nobre comoem um hospital, porque, além da energiaelétrica limpa e silenciosa e sem inter-rupção, elas podem fornecer água quen-te para esterilização", diz Mara. A água éproduzida porque os prótons do hidro-gênio (depois de os elétrons serem des-

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Planos e expectativa - Para obter oequipamento, a Eletropaulo investiu R$1,7 milhão na fabricação da célula, comrecursos do Fundo Setorial de Energia(CTEnerg), controlado pelo Ministérioda Ciência e Tecnologia (MCT) e ad-ministrado pela Agência Nacional deEnergia Elétrica (Aneel).

Do lado da Electrocell, a expectativaé grande para entregar o primeiro pro-

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Ia energética. Desde então, bilhões dedólares são gastos todos os anos para áimplementação e a popularização dascélulas que produzem energia elétricade forma limpa e silenciosa. Somente Q

governo norte-americano deve investirUS$ 5,5 bilhões em células nos próximosdez anos. Em junho deste ano, o presi-dente da Comissão Européia, RomanoProdi, anunciou que os países-membros irão investir € 2 bilhões em cinCO;;anos nas pesquisas com hidrogênio. Nucomunicado de Prodi consta tambémintenção de colocar esse combustívelas células na frente da economia enen

dação ambiental, a poluição e o efeitoestufa levaram a uma busca por ener-gias limpas. Uma inquietação concreti-zada no Fórum Mundial de Kyoto, noJapão, em 1997, quando grande partedos países se comprometeu a diminuiro nível de poluentes na atmosfera.

A preocupação ambiental somada aosurgimento de novos materiais e o ba-rateamento das células a combustível,também um ganho da década passada,levaram o hidrogênio novamente à bai-

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duto comercial. "Os primeiro protótiposnós desenvolvemos dentro do projetodo Programa de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPE) da FA-PESP, num trabalho iniciado em 2000,que fez decolar a empresa", conta o en-genheiro eletrônico Gilberto Ianólio, umdos quatro sócios. "Dentro do projetodo PIPE fizemos protótipos de 25 watts(W), de 75 W e um de 10 kW:' Nessesprojetos, inclusive o da Eletropaulo, queenvolve o conjunto final de cinco mó-dulos de 10 kW cada, os pesquisadoresda Electrocell estão utilizando 90% dematerial desenvolvido no Brasil. O úni-

co produto importado é a Membranade Troca de Prótons, chamada na siglaem inglês de PEM, que caracteriza otipo de célula. Esse polímero, chamadode náfion, considerado o coração dessetipo de célula, foi desenvolvido pela em-presa norte-americana Dupont na dé-cada de 1960 para a produção eletrolí-tica (por eletrólise, reação química pormeio de corrente elétrica em meio aquo-so) de cloro. Essa membrana está'insta-lada no interior da célula como se fosseum sanduíche, tendo de cada lado cata-lisadores e eletrodos, um positivo e ou-

. tro negativo. Esse conjunto leva o nome

quisa e de ensino no país estão empe-nhados nos estudos das células e de seuscomponentes e várias empresas da áreaenergética financiam projetos de pesqui-sa e desenvolvimento, como Eletropau-10,Petrobras, CopeI (PR) e Cernig (MG).No ano passado, sob a coordenaçãodo Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT) e do Fundo Setorial de Energia,foi estabelecido o Programa Brasileirode Células a Combustível, que preten-dia aglutinar pesquisadores desse tipode equipamento no país, além de terestabelecido uma meta de 50 mega-watts (MW) - como comparação, a hi-

de Conjunto de Membrana e Eletro-dos, ou MEA em inglês.

Para montar a célula, os quatro só-cios e mais 20 colaboradores desenvol-veram toda a engenharia que envolveesse equipamento. "São as engenhariasde construção do stack (conjunto deMEAs), de controle, de processamentode energia, além de processos de veda-ção, refrigeração e integração" diz [a-nólio. Outro produto elaborado e fa-bricado pela Electrocell são as placasbipolares de grafite. Elas servem para acondução e distribuição do gás hidro-gênio dentro da célula, além de fazer a

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 69

II

Page 70: Uma antiga civilização na selva

Funcionamento básico de uma célula a combustível

ligação entre um MEA e ou-tro. Fora o trabalho direto nacélula, foi preciso montartodo o sistema elétrico quetransforma a energia de cor-rente contínua (DC) que acélula produz para a corren-te alternada (AC) usada nonosso dia-a-dia.

Para a Electrocell, esse mo-mento é de afirmação. "Nãoarriscamos mais, estamosproduzindo um equipamen-to que é fruto de desenvol-vimento tecnológico", afirmaIanólio, "Agora não é maispossível errar", diz ele. "Nos-sa meta é montar uma fábricade células a combustível paraprodução seriada no Brasil.Para isso já ternos um layoutplanejado para absorver urnaequipe de 58 funcionários':conta o engenheiro químicoGerhard Ett, outro sócio.

Instalada no Centro In-cubador de Empresas de Tec-nologia (Cietec), que ficadentro do prédio do Instituto de Pes-quisas Energéticas e Nucleares (Ipen),na Cidade Universitária, em São Paulo, aempresa contou com um amplo apoiocientífico e tecnológico. "Na área teóri-ca e de pesquisa básica tivemos a cola-boração do professor Ernesto Gonzalez,do Instituto de Química de São Carlosda Universidade de São Paulo (USP), ena área tecnológica do professor Mar-celo Linardi, do Ipen", conta Ianólio.

Pela convivência dentro do Ipen, opessoal da Electrocell esteve nos últimosanos muito próximo do professor Li-nardi e do seu grupo de oito pesquisa-dores. Entre as contribuições do institu-to aos projetos da Electrocell existe umcontrato formal de parceria no desen-volvimento dos eletrodos e dos catali-sadores. Linardi está finalizando a pro-dução laboratorial de um novo tipo deMEA. "Desenvolvemos camadas de ele-trodos e de catalisadores que são aplica-das ao náfion", conta o pesquisador doIpen que também recebe financiamen-to da FAPESP e do Fundo Setorial doPetróleo e do Gás (CTPetro). ''Agora es-tamos requerendo urna patente nacio-nal sobre esse produto e poderemos re-passar a tecnologia para a Electrocell,"

Para Linardi, a adoção de catalisado-res e eletrodos próprios será muito útil

70 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

para diminuir o preço da célula da Elec-trocell. Outro fator importante é queesses equipamentos do tipo PEM são oscandidatos naturais para uso em auto-móveis. "É o tipo de célula mais versá-til, para ser usada tanto em veículoscorno na forma estacionária para ge-ração de energia elétrica': diz Linardi.Atualmente, todas as montadoras deveículos testam a célula PEM em veícu-los experimentais na substituição domotor a combustão ou como comple-mento a ele.

. Outra vantagem da PEM é que elatrabalha em baixas temperaturas, em

o PROJETO

Desenvolvimento de Célulasa Combustível Integradocom Software e Hardwarede Monitoração, Diagnóstico,Controle e Periféricos

MODALIDADEPrograma de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPEl

COORDENADORGERHARD ETT - Electrocell

INVESTIM E NTOR$ 241.580,00 e US$ 24.000,00

torno dos 80° Celsius (C), fa-cilitando a instalação em veí-culos automotores. Se as bai-xas temperaturas facilitam ouso automotivo, as altas tra-zem novas vantagens. "Emoutro projeto, nós estamosdesenvolvendo uma célulaa combustível do tipo óxidosólido cerâmico (Sofc, siglaem inglês)': conta o pesqui-sador. Essa célula opera emaltas temperaturas, entre 800°e 1.000° C, e numa estaçãoestacionária trabalha comoco-geradora, fornecendo va-por d'água para uma caldei-ra, produzindo mais energiaelétrica.

Seja qual for o tipo dacélula, a dependência do hi-drogênio é total. E a manei-ra mais simples de obtê-lo,que seria por meio da eletró-lise da água, é um processoque usa a energia elétrica e émuito caro. O uso da célula,nesses casos, está restrito às

usinas hidrelétricas. Como elas nãotêm meios de estocar esse tipo de ener-gia, as usinas podem, fora dos horáriosde pico, produzir hidrogênio com o ex-cedente não utilizado na rede.

Reforma energética - Mas o que ga-rantirá o sucesso das células a combus-tível são os reformadores, equipamen-tos capazes de extrair o hidrogênio dogás natural, da gasolina ou do metanol.Nessa linha, em julho deste ano, o La-boratório de Hidrogênio do Institutode Física da Universidade Estadual deCampinas (Unicamp) apresentou umreformador de etanol, o álcool produ-zido da cana-de-açúcar. "É uma reaçãotermo química em que reagentes e cata-lisadores são usados para transformar oetanol em hidrogênio': explica o pes-quisador Antônio José Marin Neto.

A idéia do professor Ennio Peres daSilva, coordenador do laboratório e tam-bém secretário-executivo do Centro Na-cional de Referência em Energia do Hi-drogênio (Ceneh), igualmente abrigadona Unicamp, é aperfeiçoar esse primei-ro protótipo e colocá-Io em urna cami-nhonete (veja Pesquisa FAPESP n° 82)dotada de célula a combustível que estásendo montada no Ceneh e deve ficarpronta no início de 2004. •

•••Adne~dsili

ferrelôC<figin.l~sap.T(mcip,çêD

teerrooscoalede

Page 71: Uma antiga civilização na selva

ITECNOLOGIA

SYLVIA LEITE

TRANSPORTE-- - -- --

Híbridos nas ruasÔnibus com tração elétrica econvencional, produzido em São Bernardo,ganha destaque internacional

A percorrer asruas e avenidasde São Bernar-do do Campo,na região do

ABC paulista, o ônibus pro-duzido pela empresa Eletramarca mais um ponto paraesse tradicional pólo da in-dústria automobilística bra-sileira. Equipado de formainovadora combinando duasformas de propulsão nummesmo veículo, a energiaelétrica e o motor a diesel, oônibus levou a empresa a fi-car entre as sete instituiçõesfinalistas na categoria ener-gia no prêmio World Tech-nology 2003, de um total de15indicados por 700 pesqui-sadores e organizações de 50países que formam a WorldTechnologyNetwork. O prê-mio, considerado uma espé-cie de Oscar tecnológico, épatrocinado por empresas e organiza-ções do porte da Nasdaq, Microsoft,DuPont e revista Time.

Esse tipo de tecnologia está presen-te comercialmente em automóveis dasempresas japonesas Toyota, com o car-ro Prius, e Honda, com o Insight. Entreos ônibus, existem poucos fabricantescom essas características no mundo -além do Brasil, apenas os Estados Uni-dos possuem esse tipo de ônibus em

Gosto do freguês: tecnologia adaptável a várias marcas de carroceria e de chassi

operação comercial. Entre as vantagensem relação aos convencionais, estão obaixo preço e os ganhos ambientais. Se-gundo medições do Instituto de Pós-Graduação em Engenharia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro(Coppe-UFRJ), a redução dos particu-lados, ou fumaça preta, chega a 90%em relação ao ônibus convencional. Nobalanço geral, a emissão de poluentesfica 63% menor. "Com esses índices de

emissão de particulados, nosso ônibusjá atende à norma Euro V,que só entra-rá em vigor na Europa em 2008': diz oengenheiro eletrônico Antônio Vicentede Souza e Silva,diretor técnico da em-presa e responsávelpelo desenvolvimen-to do ônibus híbrido. "No Brasil, aindavigora a Euro Il'; compara.

O funcionamento desse ônibus sebaseia num sistema com um motor decombustão interna, um motor elétrico,

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 71

Page 72: Uma antiga civilização na selva

III

I

o sistema eletrônico temcusto fixo, sem relação como tamanho do ônibus

um gerador e um conjunto de bateriasadministrados por um sistema eletrô-nico que calcula, a cada momento, anecessidade energética do veículo. "Di-ferente dos veículos convencionais, omotor a combustão serve apenas paraacionar o gerador que abastece o veícu-lo de energia elétrica. O motor elétricoé o responsável pela movimentação doônibus e recebe a energia do gerador edo banco de baterias",diz o engenheiro.Nas baterias fica acumulada a energiaexcedente produzida pelo gerador.Quando comparado ao trólebus, o hí-brido tem a vantagem de não dependerda rede de fiação aérea para obter ener-gia elétrica. ''A rede exige manutençãoconstante, está exposta a contratempos,como quedas de árvores e raios, e limi-ta a movimentação do veículo."

O ônibus híbrido mesmo quandoestá parado é abastecido com a energiaelétrica vinda do gerador que recarregaas baterias. Nos percursos planos,quando a demanda do motor elétrico éreduzida, a energia excedente tambémé armazenada. O aproveitamento ener-

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gético se dá, ainda, durante a frena-gemo"Em um veículo convencional, aenergia de movimento se transformaem calor no sistema de freio e acaba seperdendo. No híbrido, a eletrônica re-conhece o comando para frenagem etransforma o motor elétrico em umgerador, acumulando energia nas bate-

'rias ao invés de dissipá-Ia no sistemade freios:'

Ofato de o motor a com-bustão ser usado apenaspara acionar o geradorpossibilita que sua po-tência seja bem inferior

à utilizada em veículos convencionaisdo mesmo porte. Para movimentar umônibus padrão de 12 metros (rn) comsistema de tração convencional, porexemplo, é necessário um motor depelo menos 210 cavalos (cv), enquantoo híbrido só demanda 80 cv - a potên-cia de uma van. Isso diminui o consu-mo de combustível e de óleo lubrifi-cante, além de reduzir os gastos commanutenção do motor.

O argumento de venda da empresa,no entanto, está centrado na reduçãode poluentes, nos gastos com combus-tível e manutenção, e na durabilidadedo veículo, que, segundo Silva, é pelomenos duas vezes superior. "O tempode vida do tradicional é de cinco a seteanos, enquanto os híbridos duram omesmo que os trólebus, ou seja, 15anos." No combustível, ainda segundoa Coppe, a economia varia de 15% a30% a depender da rota. A redução noscustos operacionais se estende, tam-bém, ao óleo lubrificante, lona de freio,pneus e manutenção do motor.

Veículo multimarcas - A tecnologiados ônibus híbridos é adaptável a pra-ticamente todas as marcas de carroce-ria e chassis, que podem ser escolhidasde acordo com a necessidade do clien-te. Até o momento, foram usadas car-rocerias da Marcopolo e da Buscar echassis da Volvo, Mercedes e Volkswa-gen. Com os motores ocorre o mesmo.Os híbridos produzidos pela Eletratêm motores a combustão da Interna-tional ou da Mercedes e motores elétri-cos da Weg e da Equacional. "Isso é im-portante porque, às vezes,o cliente tem

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uma frota com chassis e carroceria dedeterminada marca e quer continuarcom ela para facilitar a manutenção",diz o engenheiro.

Um ônibus híbrido padrão de 12 m,por exemplo, custa 30% mais que umconvencional. A diferença cai para 10%no articulado de 18 m e sobe para 40%no microônibus. O motivo da variaçãoé que o sistema eletrônico tem um cus-to fixo sem relação direta com o tama-nho do veículo. Silva assegura, no en-tanto, que a diferença de 30%, no carropadrão, se paga em aproximadamentetrês anos com a economia de consumoe manutenção. Um veículo padrão de12 m pode ser vendido no mercado in-ternacional por US$ 150 mil. Nos Esta-dos Unidos, um modelo semelhantecusta em torno de US$ 370 mil. A dife-rença de preço ocorre, segundo ele,pelo fato de o Brasil ser um dos maio-res produtores de carrocerias e chassisdo mundo e dispor de mão-de-obra debaixo custo.

A Eletra ainda tem uma produçãotímida. Segundo a diretora-presidente,Maria Beatriz Setti Braga, a empresapossui 14 ônibus em circulação comer-cial e trabalha na produção de 51 veícu-

Paulistão e exportação - O desenvolvi-mento do primeiro ônibus durou 12meses e custou cerca de US$ 500 mil.Segundo a presidente, os primeiroscarros da Eletra entraram em circula-ção em 1999, um pouco antes dos hí-bridos norte-americanos que só come-çaram a rodar em 2000. Quatro anosdepois, com patentes requeridas noBrasil, nos Estados Unidos, no Chile,no Panamá e países da União Euro-péia, a empresa começa a fechar os pri-meiros grandes contratos. O primeiroé para o projeto Paulistão, da Prefeitu-ra de São Paulo, que será feito exclusi-vamente com híbridos. Segundo a di-retora presidente, já foi assinado ocontrato para a produção dos primei-ros 15 ônibus. A Metra Sistema Metro-politano de Transporte testa, desde ofinal de 2002, três ônibus híbridos daEletra, num percurso de 33 quilôme-tros entre os bairros de São Mateus eIabaquara, em São Paulo, passando pe-las cidades de São Bernardo e SantoAndré. As exportações também come-çam a se concretizar. A empresa possuium veículo em demonstração no Chi-le, onde vai participar de uma grandeconcorrência para a substituição da fro-ta urbana da cidade de Santiago.

O prestígio alcançado com o prê-mio poderá acelerar o processo decrescimento da empresa. Afinal, o hí-brido brasileiro foi escolhido entre osmelhores projetos de desenvolvimen-to tecnológico na área de energia porum júri internacional e concorreucom empresas e universidades de di-versas partes do mundo. Nessa cate-goria, o vencedor foi o Lawrence Ber-keley Laboratory, da Universidade daCalifórnia, nos Estados Unidos, peloconjunto de trabalhos no campoenergético que resultou em melhoreficiência e diminuição dos impactosambientais. Entre as empresas finalis-tas, a Eletra teve companhia brasileiraem outras categorias. Na área de em-preendedor social, o primeiro lugar foiconquistado pelo professor de infor-mática e empresário Rodrigo Baggio,criador do Centro para Democratiza-ção da Informática, entidade voltadapara a inclusão digital. Como finalistanessa área também ficou o diretor doprojeto Viva Rio, Rubem César Fer-nandes, que oferece cursos de infor-mática em comunidades pobres noRio de Janeiro. •

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Baterias instaladasno teto do ônibusarmazenam energiaexcedente geradanos percursos planos

los que serão entregues até o final dosemestre. "Quando começarmos a pro-duzir em maior quantidade, nosso pre-ço chegará perto do ônibus convencio-nal", promete. Ela esclarece, no entanto,que a empresa não pretende entrar nomercado de produção em massa, por-que não tem a intenção de concorrercom grandes montadoras. "Nosso tra-balho será sempre por encomenda,como ocorre com os aviões da Em-braer", exemplifica.

Beatriz e o irmão, João An-tônio, são proprietários daABC Transportes Urbanosque atua há 90 anos em SãoBernardo. Eles criaram a

Eletra há quatro anos para atenderuma demanda da empresa de ônibus."Nós queríamos um veículo que nãopoluísse, não fizesse barulho e consu-misse pouco combustível. Inicialmentepensamos em comprar ônibus elétri-cos à bateria, mas decidimos aprovei-tar a experiência do engenheiro Antô-nio e Silva, que trabalhou por muitosanos no projeto e produção de tróle-bus, e fazer nosso próprio híbrido", dizMaria Beatriz.

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Encontrados nas mais diversas formas e áreas de aplicação, os sen-sores estão em toda parte. Nos dispositivos usados para contar pes-soas que entram ou saem de lojas, na avaliação química de bebi-das e na identificação de algumas moléculas de gás em meio a 1milhão de outras que compõem o ar. Na indústria siderúrgica, por

exemplo, a tarefa de controlar o processo de fabricação de aços é feita com oauxílio de um senso r descartáveL Colocado em um vagão com 200 toneladasde aço a 1.600° Celsius, o dispositivo, antes de derreter, tem apenas 4 ou 5 se-gundos para avaliar o nível de oxigênio no metal, medida fundamental paradeterminar as características finais do produto. Formado por mais de dezcomponentes, apenas um deles, justamente o mais importante, feito em ma-terial cerâmico e chamado de coração do sensor, não é fabricado no Brasil.Mas, pelos resultados apresentados em um estudo conduzido com óxidos ce-râmicos por dois grupos da Universidade de São Paulo (USP) e um do Institu-to de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), essa dependência do produtoimportado poderá ser suprida com tecnologia nacional.

"Temos condições não só de desenvolver um material igual, mas até me-lhor, porque atuamos exatamente no ponto do sensor mais problemático, queé o fenômeno intergranular", diz o professor Reginaldo Muccillo, do Ipen, co-ordenador do projeto temático financiado pela FAPESP sobre materiais cerâ-micos. O grupo do Ipen faz parte do Centro Multidisciplinar para o Desen-volvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos Centros de Pesquisa,Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação em que a interação com as indús-trias é incentivada.

O fenômeno intergranular está relacionado ao processo de fabricação dosmateriais cerâmicos, que tem como ponto de partida um pó, que pode ter vá-rios componentes. Para transformar esse pó tanto em um vaso como em umsensor, é necessário que o material seja colocado no forno a altas temperaturas,em um processo conhecido como sinterização. O produto final é um materialsólido constituído de pequenos grãos. A região de contato que existe entre eles,

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Pastilhas de óxidode zircônio são

a base de sensoresque avaliam oxigênio

chamada de intergranu-lar, é crítica para a pas-sagem de oxigênio, acondução de elétrons ede calor, além de deter-minar as propriedadesmecânicas.

"No temático, a ênfa-se é para o estudo daspropriedades elétricas",relata Muccillo. Essa es-colha deve-se ao fato deque na maioria dos sen-sores é necessário utilizarum sinal elétrico para fa-zer as medições deseja-das. "Se o contorno dogrão não for muito bem elaborado, omaterial fica resistente à passagem deíons de oxigênio", explica o professorDouglas Gouvêa, do Departamento deEngenharia Metalúrgica e de Materiaisda Escola Politécnica da USP, que elabo-ra a estrutura interna (microestrutura)das cerâmicas. "Estudamos como pro-cessar esses materiais para ter um grãomaior ou menor, porosidade mínimaou máxima, dependendo da aplicação",relata. O terceiro grupo que participado projeto tem à frente o professor Re-nato Jardim, do Instituto de Física daUSP, especialista nos fenômenos detransporte elétrico a baixas temperatu-ras dos materiais supercondutores."Um grupo complementa o outro", dizMuccillo.

Ampla aplicação - Nesse projeto, queteve início em setembro de 2000 e estáprevisto para terminar em agosto doano que vem, são estudados vários óxi-dos cerâmicos, como óxido de zircônio,de estanho, de alumínio, manganitas delantânio e supercondutores cerâmicos.Essas substâncias têm amplas aplica-ções em dispositivos, sensores, bateriase células a combustível. Como exemplode aplicação do óxido de zircônio, elecita o senso r de oxigênio, que pode serusado tanto pela indústria siderúrgicano processo de fabricação do aço comona automobilística para determinar emtempo real o teor de oxigênio no motor

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e no cano de escapamento de veículos.Esses sensores permitem um melhorrendimento e o controle do equilíbrioentre ar e combustível. Também nascaldeiras de hospitais é possível econo-mizar combustível.

Muccillo estuda o óxido de zircôniodesde 1979. Essa dedicação já resultouem um pedido de patente da preparaçãode uma massa cerâmica, à base de óxidode zircônio e óxido de magnésio, paraser usada em sensores de oxigênio des-cartáveis, que garantem uma sobrevidade 10 segundos antes de se desintegra-rem nos vagões de aço. Ele diz que oBrasil, mesmo tendo a matéria-primapara a produção de óxido de zircônio elaboratórios de pesquisa com capacida-de de desenvolver materiais apropriadospara sensores, importa o componentecerâmico. "Um quilo do óxido seria sufi-

o PROJETO

ciente para fazer uns mil sensores. Umapequena usina produzindo 500 quilospor mês poderia suprir a demanda atualdo país", afirma o coordenador.

Tratamento térmico - Douglas lembraque uma das idéias discutidas dentrodo projeto temático é reativar a produ-ção de óxido de zircônio no Brasil,abandonada depois que o Ipen desati-vou a sua usina piloto. Ele ressalta queo grupo tem uma contribuição interes-sante a dar nas fases de conformação equeima das cerâmicas, partes do proces-so dominadas plenamente apenas pelasempresas detentoras no exterior datecnologia de fabricação do coração dosensor. Na fase da queima, por exemplo,o seu grupo conseguiu baixar o pata-mar de sinterização do óxido de zircô-nio de 1.550° durante duas horas para1.350° por dez segundos. "Realmenteé uma condição especial de fabricação.Mas se a indústria conseguir baixar atemperatura para 1.350° por meia horaterá um ganho energético enorme", dizMuccillo.

Os pesquisadores já atestaram apossibilidade de ganhos energéticos noprocesso de fabricação, com a reduçãoda temperatura e do tempo de sinteriza-ção, Agora eles vão trabalhar na caracte-rização do material, para ter certeza deque todas as propriedades da cerâmicaserão mantidas e ela poderá ser usadana confecção industrial de sensores. •

Estudo de FenômenosIntergranulares em ÓxidosCerâmicos

MOOALIOAOEProjeto Temático

COORDENADORREGINALDO M UCCILLO - Ipen

INVESTIMENTOR$ 309.075,00 e US$ 216.752,00

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ITECNOLOGIA

M ETEOROLOGIA

Gotas em detalhesColetar desenvolvido na Unespregistra volume de chuvas,data e horário em que ocorreram

para o coletor. Durante o períodoem que fica no campo, o aparelhoregistra não só o volume de chuvas,mas também a data e o horário emque ocorreram, minuto a minuto.O coletor tem uma memória ondeficam armazenados os dados regis-trados, transferidos posteriormen-te para um computador. O softwa-re para a recepção dos dados pelocomputador também foi desenvol-vido por Perea e pode ser adaptadoàs pesquisas locais.

Coletar tem baixo consumo de energia

Informação preservada - O pesqui-sador conta que tudo foi pensadopara simplificar a instalação doequipamento em campo. "Bastaapertar dois parafusos para conectaro pluviômetro ao coletar." Falta deenergia elétrica também não é pro-blema. Três pilhas garantem seufuncionamento por até dois anos. Se

houver falha, as informações não sãoperdidas. "Ele tem urna memória espe-cial, que retém informação mesmoquando acaba a energia",explica.

O diretor do Instituto de PesquisasMeteorológicas (IPMet), de Bauru,Maurício de Agostinho Antonio, queutilizou o coletor na fase experimental,cita como principais vantagens seubaixo custo e a boa resposta temporal.Segundo Osmar Cavassan, da Faculda-de de Ciências da Unesp, também deBauru, "o equipamento permite corre-lacionar variações na fauna e na floracom as características físicasdo ambien-te, principalmente clima e solo': Agoraele está à espera da instalação do cole-tor na versão final para utilizá-lo emprojetos de pesquisa, principalmentede ecologia. •

Nodistante ano de1442 os agricultoresda Coréia do Sul jáconseguiam medir aquantidade de chuvas

que caía em suas terras e, com essainformação, enviada a Seul,a capitaldo reino, planejavam as colheitas. Amedição era feita com um equipa-mento de metal no formato de tam-bor,com escalainterna, que mais tar-de no Ocidente recebeu o nome depluviômetro. Mais de cinco séculosdepois, novas funções foram agre-gadas a esse aparelho, utilizado pormeteorologistas,pecuaristas, empre-sasde construção civil,de geração deenergiahidrelétrica e outros setores.Apesar da grande demanda, aindahoje quase todos os instrumentoseletrônicos para medir chuvas en-contrados no mercado brasileirosão fabricados fora do país. A cons-tatação de que faltava um aparelho to-talmentenacional, que fosse facilmenteadaptado às necessidades dos usuárioslocais,levou o professor João EduardoMachado Perea Martins, do Departa-mento de Computação da Faculdadede Ciências da Universidade EstadualPaulista(Unesp), de Bauru, a desenvol-verum coletor de dados automático ca-pazde armazenar grandes quantidadesdedados pluviométricos, processar in-formações,econômico no consumo deenergiae com baixo custo de monta-gem."O valar comercial do produtoimportado chega a US$ 500, já o preçodecusto de montagem do nosso cole-tar é de US$ 25",diz. Perea prepara-separapatentear o coletor e conta ter re-cebidovárias consultas de empresas in-teressadasem conhecer o projeto.

O equipamento, de pequenas di-.mensões, funciona ligado a um pluviô-metro, um recipiente plástico que captaa água da chuva. A cada 0,2 milímetroregistrado, é enviado um sinal elétrico

o PROJETO

Implementação de um SistemaAutomático para Aquisição deDados Pluviométricos

MODALIOAOELinha Regular de Auxílio a Pesquisa

COORDENADORJOÃO EOUARDO MACHADO PEREAMARTINS - Unesp

INVESTIMENTOR$ 46.315,00

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ITECNOLOGIA

CRIAÇÃO ANIMAL

·sa Odo camarão

Cultivo em água doce e pesquisagenética fortalecem aprodução de crustáceo marinho

NOspróximos três anos, a Redede Genoma Nacional estaráenvolvida no trabalho demapeamento do genomado camarão-branco do

Pacífico, o Litopenaeus vannamei, espé-cie cultivada na quase totalidade dosviveiros brasileiros. São 13laboratóri-os que estão aprimorando o conheci-mento sobre a genética desse crus-táceo, que ganha importância acada ano, principalmente porqueo Brasil teve um crescimento es-pantoso nas exportações desse pro-duto. Passou de US$ 14,2 milhões em 1999para US$ 155 milhões em 2002. Neste ano, a previ-são é atingir US$ 240 milhões. A produção totaldeve ficar em 90 mil toneladas, sendo que mais de90% sairá da região Nordeste do país, onde o culti-vo do camarão ocupa o segundo lugar na pauta deexportações, atrás apenas dos derivados da cana-de-açúcar. Assim, quanto mais se conhecer o animal e acriação, mais asseguradas estarão a produtividade ea expansão dessa iguaria apreciada em todos os can-tos do planeta.

Outra boa notícia sobre esse animal aquáticocriado em terrenos à beira-mar, onde se aproveita aágua marinha ou de estuários, é que ele pode ser cul-tivado em água doce, conforme estudos do professorPaulo de Paula Mendes, do Departamento de Pesca daUniversidade Federal Rural de Pernambuco (UFR-PE). "Depois de três anos de pesquisas conseguimos

aclimatar e criar o camarão ma-rinho em água totalmente doce,

igual à de beber", conta Mendes, que pre-parou a divulgação do trabalho para o XIII

Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca,marcado para o final de setembro, em Porto

Seguro (BA). A base da técnica usada consisteem reduzir a concentração salina da água de for-

ma lenta até eliminar o sal. Com esse processo,Mendes diz que conseguiu um índice de sobrevi-vência de 95%. "A criação desse camarão em águatotalmente doce é inédita inclusive em outros paísesque criam o crustáceo, como China, Tailândia, In-donésia e Equador:'

O cultivo do camarão em águas ligeiramente do-ces já é uma prática usada em algumas localidades doNordeste brasileiro. No Rio Grande do Norte, Esta-do líder na produção de camarão, existem experiên-cias para cultivo em água com baixíssima salinidade.A atividade é uma forma de interiorizar a criação elevá-Ia a regiões com escassas possibilidades de ge-ração de emprego e renda. Na cidade de Tangará, oaçude do Trairi, região a 300 quilômetros de Natal,abriga 70 hectares de viveiros desse tipo financiadospela Agência de Fomento do Rio Grande do Nortecom recursos do Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES).

Segundo o professor Mendes, "a criação emágua doce desse camarão irá promover mais umaoportunidade de fixação do homem no campo,principalmente o pequeno produtor, e até servircomo meio de subsistência". Em algumas fazendas,

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o rendimento bruto dessa cultura podeatingir US$ 10 mil por hectare numano, com o quilo do camarão vendido àindústria processadora por R$ 8,00. Es-ses números resultam do fato de o Bra-sil possuir a maior produtividade domundo, com 5.400 quilos por hectareao ano (kg/ha/ano). Na China, é de1.158 kg/ha/ano, e na Tailândia, 3.421kg/ha/ano, a segunda maior.

Famílias diferentes· O excelente de-sempenho brasileiro é resultado dabem-sucedida colaboração entre pro-·dutores e pesquisadores de instituiçõespúblicas, que culminou, neste ano, como início do projeto Genoma Camarão.As primeiras pesquisas com essa espé-cie começaram em 1998 na Universida-de Federal do Rio Grande do Norte(UFRN). Foi um trabalho de identifica-ção, por meio da análise do DNA, davariabilidade de reprodutores de dife-rentes famílias (pedigrees) em váriosviveiros. O objetivo era afastar a possi-bilidade de consangüinidade, um fatorque pode gerar deficiências de resistên-cia e de crescimento. Para a criação docamarão, esses estudos são muito im-portantes porque esses crustáceos sãoextremamente prolíferos. Um único ca-sal pode sustentar vários viveiros, faci-

litando o cruzamento de indivíduos deuma mesma família.

Um dos problemas enfrentados pe-los pesquisadores foi selecionar os dife-rentes reprodutores. As pesquisas che-garam, então, a um diagnóstico davariação genética encontrada nos di-versos plantéis de reprodutores do Lito-penaeus vannamei. Com essa informa-ção, foi possível orientar cruzamentospara estabelecer diferentes linhagensnos laboratórios de produção de pós-larvas - o primeiro estágio de cresci-mento do camarão no viveiro.

"Em 2000, iniciamos nosso progra-ma de genômica do camarão do PaCÍ-fico por meio de um projeto de pros-pecção de microssatélites (seqüênciasde repetições curtas no genoma), mar-cadores extremamente úteis para estu-dos de variação genética, identificaçãode linhagens, estudos de pedigrees emapeamento genético. Após dois anosde prospecção desses microssatélites,foi natural propormos a realização doprojeto Genoma para obtermos o co-nhecimento das etiquetas de seqüên-cias expressas (ESTs) - fragmentos docódigo genético que ajudam a identifi-car os genes", explica o coordenador doprojeto, professor Pedro Manoel Galet-ti Iúnior, do Departamento de Gené-

tica e Evolução da Universidade Fe-deral de São Carlos (UFScar). A pes-quisa não será realmente um trabalhofácil. Um dos motivos é o tamanhodo genoma do Litopenaeus vannamei,aproximadamente dois terços do ge-noma humano, que representa cerca de2 bilhões de pares de bases. No total, oprojeto vai seqüenciar 300.000 ESTs dediferentes tecidos e fases de desenvol-vimento do camarão.

Peneirando os cromossomos . Outrotrabalho que deverá em breve gerar re-sultados práticos foi concluído peloprofessor Wagner Molina, coordenadordo Programa de Pós-Graduação em Ge-nética e Biologia Molecular da UFRN,um dos participantes do projeto Geno-ma. O pesquisador completou o estudodo cariótipo - conjunto de cromosso-mos que são as estruturas que contêma informação genética - do camarão eatestou que o crustáceo possui 88 cro-mossomos, em dois lotes, um paterno eum materno. Só como comparação, oshumanos possuem 46 cromossomos.

O próximo passo será a tentativa demanipulação genética dos cromosso-mos para tornar os camarões estéreis, oque evitaria a indesejável reproduçãonos viveiros de engorda. ''A reprodução,

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que não interessa ao produtor, requerenergia dos animais. Camarões estéreispoderiam usar essa energia para o cres-cimento, favorecendo a produção. Ou-tro ganho com a esterilidade seria parao ambiente marinho, porque não se temcontrole sobre as criações e sabemosque muitos camarões-brancos do Pací-fico já estão no mar do Nordeste, porcausa de vazamentos dos viveiros. Asconseqüências para o ambiente são im-previsíveis, porque a espécie não é nati-va. Ela pode estar competindo com oscamarões naturais da nossa costa': alertaWagner Molina. Os problemas ambien-tais também se estendem para os locaisde criação. Muitos criadores instalaramseus viveiros em mangues, prejudican-do esses ecossistemas. No final de 2001,o Instituto Brasileiro do Meio Ambien-te e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) promoveu uma megaoperaçãoque multou 180 produtores, a maioriade pequeno porte. A metade das multasfoi por causa do desmatamento de áreasde manguezais. A procura por esses am-bientes tem algumas explicações. Alémde proporcionar água de boa qualida-de, os mangues são ricos em nutrientes,o que permite reduzir o uso de ração.

~

OIUÇãO pode estar na criaçãodo camarão em água doce,evitando assim os problemasnas áreas de preservaçãoambiental e garantindo o

bom desenvolvimento da carcinicultura,como é chamada a criação do crustáceo.Provavelmente, quando esse novo cami-nho estiver sendo estabelecido nos pró-ximos anos, os primeiros resultados doprojeto Genoma começarão a estar dis-poníveis. Assim a expansão da criaçãoserá ainda mais beneficiada. Galetti Iú-nior quer disponibilizar parte das infor-mações sobre o Genoma antes mesmoda conclusão final do trabalho. O obje-tivo é que as pesquisas que levem a re-sultados práticos comecem a ser feitaslogo. ''As informações sobre marcas ge-néticas que acompanham caracteres deimportância econômica permitirão aseleção assistida por esses marcadores.Daí surgirão informações sobre o fun-cionamento dos genes identificados e amaneira como esse conhecimento po-de ser potencializado em benefício daatividade de cultivo", diz o pesquisador.

O projeto Genoma Camarão teráum custo total de R$ 3 milhões, finan-

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Tanques de criação de larvas de camarão

No microscópio, análise de pós-larvas

Camarão recebe marca de tinta que define linhagem

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Nos 11 mil hectares de cultivo de camarão predominamas fazendas que usam água do mar ou de estuários

ciados pela Associação Brasileira deCriadores de Camarão (ABCC), Con-selho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq), Mi-nistério da Agricultura e Abastecimen-to e governo do Estado do Rio Grandedo Norte. Do seqüenciamento partici-pam as seguintes universidades: UFS-Car, UFRPE, UFRN, Universidade deSão Paulo, Universidade Estadual Pau-lista, Universidade Federal do Mara-nhão, Universidade Federal do Ceará,PontifíciaUniversidade Católica do Rio .Grande do Sul,Universidade Federal deSanta Catarina, Universidade EstadualSanta Cruz (Ilhéus, Bahia) e Universi-dade Federal do Pará.

Emprego e divisas- O interessedos nor-destinos nas pesquisas é grande. A car-ciniculturaé um setor que trabalha coma perspectiva de produzir 90 mil tone-ladaseste ano, 40 mil a mais do que em2002.A atividade gera 3,75 postos detrabalho diretos e indiretos por hectarecontra os 2,14 na fruticultura irrigadadoValedo São Francisco,por exemplo,segundopesquisa do Departamento deEconomia da Universidade Federal dePernambuco (UFPE). Em 2002, a carci-nicultura produziu divisas, por meio

dos 11mil hectares de cultivo, para cer-ca de 40 mil pessoas que trabalham aoredor de 680 produtores em todo o país.

O camarão-branco do Pacífico,encontrado naturalmente da costa doMéxico até o Chile, foi trazido ao Brasilnos anos 80. Era uma espécie criadacom sucesso em países como o Equa-dor, grande produtor na época-A técni-ca de cultivo para esse crustáceo já exis-tia e foi adotada pelos produtores quecomeçavam o negócio no Brasil. Umadas vantagens sobre as espécies de ca-marões brasileiros era que o Litope-naeus vannamei precisava de menosproteína para crescer,embora fosse me-nos resistente a doenças.

Muitos brasileiros foram aprendercom os equatorianos as técnicas de ma-nejo, que, no fim, não se mostrarameficazes.No final dos anos 90, uma vi-rose, chamada de mancha branca, dizi-mou 90% da produção do país e o go-verno brasileiro proibiu a importaçãodas matrizes reprodutoras por motivossanitários. Os produtores trabalharamduro para desenvolver a cadeia repro-dutiva em cativeiro e hoje as técnicas demanejo são mais avançadas que as dosmaiores países produtores. Enquantoos brasileiros lutam para conseguir um

camarão resistentea doenças, investindoem pesquisas genéticas, produtores chi-neses e tailandeses usam grandes dosesde antibióticos nos viveiros. Com isso,enfrentam barreiras sanitárias dosmaiores importadores, como EstadosUnidos, França e Espanha.

Manejo avançado • "O Genoma doCamarão pode nos ajudar a ter umproduto ainda melhor. Investimos noprojeto também para despertar o inte-resse da comunidade científica brasi-leira para as pesquisas com o cama-rão", diz Itamar Rocha, presidente daABCC. Alguns laboratórios, como oAquatec, no Rio Grande do Norte, jáse preocupam com melhoramento ge-nético há algum tempo. O resultado éuma produção de 250 milhões de lar-vas vendidas para cinco Estados brasi-leiros. "Há seis anos, começamos umtrabalho de seleçãode famílias e forma-ção de pedigrees com alta qualidade.Para nós, o Genoma será uma podero-sa ferramenta para uma seleção ain-da mais rigorosa", diz Ana Carolina deBarros Guerrelhas, bióloga e sócia dolaboratório. Para ela, o Brasil não devese preocupar em ser o maior produtor,mas sim um dos melhores. •

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• HUMANIDADES

CAPA

.que o homem branco apagouAo contrário do que se dizia,o Brasil tinha sociedades complexasantes da chegada de europeus

MARCOS PrVETTA

Naescola, os livros de História ensinam, rapi-damente, que havia três grupos indígenascom sociedades avançadas na América pré-colombiana, até 1492: astecas e maias acimado Equador e incas aqui nos Andes. Exibin-

do cidades com rica arquitetura erigida em pedra, domíniosobre a agricultura, hierarquia social e certos conhecimen-tos científicos, esses povos, cada um à sua maneira e comsuas particularidades, costumam ser agrupados na coluna das"civilizações" conquistadas - destruí das, talvez seja o me-lhor termo - pelas armas de fogo e doenças trazidas pelos pri-meiros colonizadores europeus do século 16. São a luz quese apagou com a chegada do homem branco. Aos demaispovos ameríndios, inclusive os do Brasil, igualmente vítimasdo desembarque dos novos senhores vindos do Velho Mun-do, restou a imagem de sociedades primitivas, das trevas,sem refinamento cultural ou marcantes distinções de clas-ses, composta por pequenas aldeias isoladas umas das ou-tras onde imperava o nomadismo. Enfim, representavam oatraso - perto do esplendor imperial de seus contemporâ-neos andinos e centro-americanos.

Recentes descobertas arqueológicas em pelo menos doispontos distintos da Amazônia brasileira sugerem que aste-cas, maias e incas não eram os únicos a ter o monopólio dassociedades complexas na época do desembarque do navega-dor Cristóvão Colombo. Nos últimos anos, intensos traba-lhos de campo conduzidos por pesquisadores nacionais e doexterior no Alto Xingu, no norte do Mato Grosso, e na con-fluência dos rios Negro e Solirnões, a cerca de 30 quilômetrosde Manaus, no Amazonas, indicam a existência de grandese refinados assentamentos humanos, habitados simultanea-mente por alguns milhares de pessoas, nessas áreas 500 anosatrás - ou até mesmo antes disso.

As evidências mais espe-taculares de ocupações dessamagnitude - um feito só pos-sível com a adoção de um es-tilo de vida sedentário e de

Índios kuikuro dançam navéspera do Quarup: seusprováveis ancestrais talveztivessem rituais parecidos

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práticas que alteravam afloresta nativa e possibi-litavam a adoção de umaagricultura razoavelmen-te produtiva - saíram desítios pré-históricos si-tuados nas terras hoje ha-bitadas pelo povo kui-kuro, dentro da reservaindígena do Xingu, e sematerializaram nas pá-ginas da edição de 19 se-tembro de revista norte-americana Science, umadas publicações de maiorpeso entre os cientistas.

Num artigo de quatropáginas, ilustrado por seisimagens de satélite, umapouco usual equipe deautores - três da Univer-sidade da Flórida, doisdo Museu Nacional doRio de Janeiro e dois ín-dios kuikuro - descrevea estrutura do tipo de sociedade quehavia nesse ponto da Amazônia entre1.200 e 1.600 d.C: um conjunto de 19aldeias de formato circular, as maioresprotegidas por fossas de até 5 metros deprofundidade e muros de paliçadas, in-terligadas por uma extensa e larga ma-lha de estradas de terra batida. Os pes-quisadores estimam que entre 2.500 e5.000 pessoas moravam nas maioresaldeias. O capricho e a precisão comque as vias foram concebidas e executa-das impressionam. Elas eram extrema-mente retilíneas, com larguras entre 10e 50 metros e extensão de 3 a 5 quilô-metros. "As estradas são um trabalhode engenharia que movimentou umaquantidade enorme de terra no planohorizontal", afirma o arqueólogo Mi-chael Heckenberger, da Universidadeda Flórida, principal autor do texto naScience, um norte-americano de 41 anosque fala português fluentemente porter vivido sete anos no Brasil, um emeio dos quais dentro do Xingu.

Indícios de praças, pontes, represase canais e do cultivo de mandioca e ou-tras plantas também foram encontra-dos no sítio arqueológico, que com-preende uma área de 400 quilômetrosquadrados, equivalente a um terço doterritório da capital fluminense, nãomuito distante das três aldeias contem-porâneas dos kuikuro. "Construir essasestruturas na floresta talvez não tenha

Recriação artística de aldeia pré-colonial no Xingu:praça circular, estradas retilíneas e fileiras de casas

no Xingu, capaz de fornecer a localiza-ção precisa de um ponto geográfico como auxílio de satélites, tinha uma margemde erro de menos de 1 metro. O ins-trumento foi de grande valia para osdois índios que também assinam o ar-tigo da Science, Afukaká Kuikuro e Uris-sapá Tabata Kuikuro. "Eles são ótimos emachar o trajeto das estradas e sítios ar-queológicos': conta Heckenberger. Mui-tas vezes, trechos dos caminhos abertospelos habitantes dos antigos assenta-mentos encontram-se atualmente toma-dos pela floresta. Nesses pontos, é di-fícillocalizar os salientes meios-fios quese formavam nas bordas das estradas eque podiam chegar a 1 metro de altura.

sido mais complicado do que fazerpirâmides, mas representa uma outraforma de monumentalidade" comparaHeckenberger. "Esse povo tinha umamonumentalidade horizontal': diz o an-tropólogo Carlos Fausto, do Museu Na-cional, outro autor do estudo. "As estra-das tinham uma função mais estéticado que prática." Segundo Fausto, os ín-dios não transportavam nada de tãogrande entre as aldeias que justificasseabrir caminhos de, no mínimo, 10 me-tros de largura, onde passam com f6lgadois automóveis. Os largos caminhosdesbravados na floresta estariam liga-dos à tradição de promover rituais co-letivos entre as tribos e simbolizariam aunião entre as aldeias. Se essa hipóteseestiver correta, entre os séculos 13 e 16,enquanto os incas, por exemplo, de-monstravam o seu conhecimento cons-truindo cidades de pedra nas terrasaltas dos Andes, os membros desse an-tigo povo do Xingu, instalados numaárea plana de floresta tropical, monta-vam uma majestosa malha viária nasfranjas da Amazônia, talvez o seu lega-do arquitetônico mais surpreendente.

Os vestígios da "cidade" xinguanaforam datados pelo método de carbono14 e o traçado das estradas, que se ba-seava nos movimentos do Sol e denotavaconhecimentos de astronomia, foi ma-peado com o auxílio de um GPS de altaprecisão. A versão do aparelho usado

osautores do estudo acre-ditam que, em seus as-pectos centrais, o assen-tamento pré-colonial erauma versão expandida

do modo de vida dos menos de 600kuikuro presentes hoje no Xingu, quetambém abrem estradas e fazem roças.Nas antigas aldeias de caráter mais resi-dencial, as casas, provavelmente erigi-das com estrutura de madeira e cober-tas por sapé, como as moradias atuais,ficavam em torno da praça central. Adiferença é que agora existe apenas umanel de moradias. Na época do desco-brimento da América, deveria haver vá-rios. Não há, contudo, certeza de que os

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Imagem de satélite da área dos kuikuro:antigas estradas (em vermelho) e valas(preto) e as estradas atuais (azul)

mento da floresta. Não se trata disso.Provocativamente intitulado "Amazônia1492: Floresta Virgem ou Bosque Cul-tural?", o texto sugere que aquilo que amaioria das pessoas encara como "flo-resta virgem" é, na verdade, produto deuma interação milenar entre as popu-lações indígenas e o ecossistema. E quea interferência humana no meio am-biente não degradou o solo local.

Terra preta - Muitos quilômetros aci-ma dos antigos assentamentos na áreados kuikuro, mais vestígios de socie-dades complexas na época do desco-brimento saem de uma mini-Mesopo-tâmia tropical, distante 30 quilômetrosde Manaus, e parecem confirmar as des-cobertas no Alto Xingu. Numa porçãode terra situada na confluência entreos rios Solimões e Negro, a equipe deEduardo Góes Neves, do Museu de Ar-queologia e Etnologia da Universidadede São Paulo (MAE/USP) identificou 70sítios arqueológicos com evidências depresença humana e realizou 71 dataçõespor carbono 14 para determinar a suaidade aproximada. Os sítios mais anti-gos remontam a 8.000 anos. Num de-les, por exemplo, descobriu-se umaponta de lança feita de sílex de 7.700anos. As áreas arqueológicas mais novas,que concentram a maior parte dos traba-lhos realizados até agora, têm sítios comidade entre 2.500 e 500 anos. Cinco des-ses sítios mais recentes já foram esca-vados e mapeados digitalmente: Açu-tuba, Osvaldo, Lago Grande, Hataharae Dona Stella. O material de estudo nes-ses locais pode até ser menos espeta-cular do que as antigas estradas do AltoXingu. Mas não menos eloqüente.

Nessa região próxima à periferia dacapital amazonense, foram encontradaspartes de esqueletos humanos dispostasdiretamente no solo ou dentro de ur-nas, incontáveis fragmentos de cerâmi-cas, valas escavadas na parte de trás dealguns sítios, resquícios de paliçadas - emuita terra preta. Extremamente fértile rico em nutrientes e repleto de peda-ços de cerâmica, esse tipo de solo or-gânico costuma ser interpretado comouma marca produzida por grandes eprolongados assentamentos em uma

índios que ali viveram há 500 anos eramrealmente os ancestrais dos atuais kui-kuro. A hipótese está longe de ser absur~da, embora não tenha sido comprovada."Mas, como há continuidade cultural aolongo de mais de mil anos de históriados povos do Xingu, pode-se pensar opassado por meio do presente'; diz Faus-to. "É bem possível que vários aspectosda cultura xinguana atual já estivessempresentes entre as populações que cons-truíram e viveram nas antigas grandesaldeias." Entre eles, a adoção de hierar-quia política, que distingue os índiosentre chefes e não-chefes, e de algunsrituais intertribais, semelhantes ao o fa-moso Quarup, a festa em homenagemaos líderes mortos.

Os índios da época pré-colonial vi-viam em perfeita harmonia com a flo-resta intocada, certo? Bem, acredita-se

que eles estavam em paz com o meioambiente. Mas a mata - é forçoso dizer- não era mais virgem. Para edificar umasociedade de tal complexidade, com es-tradas ligando aldeias fortificadas e cin-turões agrícolas ao seu redor, os antigoskuikuro promoviam grandes alteraçõesna paisagem natural - assim como fa-zem os kuikuro de hoje. Mas os pesqui-sadores se apressam em dizer que nãose tratava de agressões descabidas aosrecursos naturais. "Alguns estudos deetnobotânica mostram que o manejoindígena do meio ambiente, de formaconsciente ou inconsciente, tende aproduzir maior biodiversidade do quese a floresta fosse, de fato, 'virgem"; ex-plica Fausto. Ecologistas mais radicais,românticos, podem ter visto o trabalhodos brasileiros e norte-americanos naScience como um estímulo ao desmata-

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determinada região. Em alguns locais, aterra preta foi usada pelos povos pré-colombianos, junto com centenas depedaços de cerâmica, como matéria-pri-ma para construir montículos de 1 ou2 metros de altura que tinham a fun-ção de tumbas. Escavando esses montí-culos, os pesquisadores depararam, àsvezes, com urnas funerárias. "Todos es-ses elementos indicam que a presençados povos ameríndios foi contínua emalguns pontos da Amazônia Central': dizNeves, cujo projeto é financiado pela FA-PESP."Certos sítios foram habitados pordécadas seguidas, talvez até mais de cemanos ininterruptos, por uns poucos mi-lhares de pessoas:'

C orno esse conjunto deachados do passado é in-terpretado pelo arqueó-logo e serve para emba-sar a teoria da existência

de sociedades complexas na Amazôniapré-colonial? Os montículos erigidoscom terra preta e cacos de cerâmica,como os dez encontrados no sítio Hata-raha, situado numa área elevada vizinhaà planície aluvial do Solimões, são umindício de que haveria uma certa di-visão de trabalho - e, por conseguinte,diferenças hierárquicas - entre os po-vos ameríndios da floresta. "Alguémcom comando precisava coordenar osesforços de vários homens para que seconseguisse obter esse tipo de tumbafunerária", comenta Neves, que, até omês passado, se recuperava de umamalária contraída em sua última via-gem à Amazônia. A descoberta de va-las nos fundos de áreas onde houveocupações humanas denota uma preo-cupação dos habitantes de uma aldeiade se defender de ataques de outraspovoações. Em Açutuba, o maior sítioidentificado pelo projeto de Neves,com 90 hectares de área, os pesquisa-dores localizaram duas fossas na partede trás de seu terreno. As dimensõesdos buracos são significativas: 150 me-tros de extensão por 2 metros de pro-fundidade. Perto das valas, foram acha-dos também vestígios de paliçadas,antigos muros de madeira, o que re-força a idéia de que os índios queriamproteger a retaguarda de Açutuba. "Sehavia preocupação em guarnecer osfundos de uma aldeia, é porque haviarisco de guerras entre as tribos", deduzo arqueólogo da USP. O mesmo racio-

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cínio vale para as aldeias fortificadasdos kuikuro no Alto Xingu.

Presente na maioria dos sítios loca-lizados na confluência dos rios Solirnõese Negro (e também na área dos kuikuroe em outras partes da bacia amazônica),a terra preta é um dos elemento-chavepara sustentar as teses de que os índiospré-coloniais já levavam um estilo 'devida mais elaborado do que se pensava.Em outras palavras, é um indício de queos povos pré-colombianos (ou ao me-nós algumas levas deles) se fixaram empontos da bacia amazônica, erigiramaldeias perenes de porte significativo,onde praticavam alguma forma de agri-cultura. Com o passar do tempo, os re-síduos produzidos por essa ocupaçãocontínua de uma área - a carcaça de ani-mais caçados na floresta, as sobras depeixes pescados nos rios vizinhos, pe-daços de plantas coletadas ou cultivadas,excrementos humanos, a madeira usa-da na construção de habitações - aca-baram dando origem à terra preta. NaAmazônia, a maioria dos sítios arqueo-lógicos que apresentam essa formaçãogeológica tem entre 2.500 e 500 anos.Bem no centro de Manaus, na praçaDom Pedro, operários que trabalhavamnuma obra de revitalização do espaço

público descobriram, sem querer, emagosto passado, três urnas funerárias nu-ma camada de terra preta com idadeestimada entre 1.000 e 1.200 anos.

De acordo com a interpretação deNeves, a terra preta se torna mais co-mum há cerca de dois milênios e meioporque, nesse momento da pré-histó-ria, deve ter havido uma explosão de-mo gráfica - e de sedentarismo - entreas tribos ameríndias. Quando, cerca decinco séculos atrás, o tamanho das po-pulações indígenas dá sinais de declí-nio, em razão das armas e doenças tra-zidas pelo europeus, a formação dessetipo de solo começa a rarear. Até a dé-cada de 1980, não havia consenso de quea terra preta era resultado da ação dohomem. Alguns estudiosos imaginavamaté que esse tipo de solo negro, que,quando aflora, é usado atualmente paraagricultura, pudesse ter-se formado apartir de material oriundo de vulcõesandinos trazidos pelo vento ou de sedi-mentos provenientes de lagos. "Hoje,quase todo mundo aceita a idéia de quea terra preta é fruto da intervenção dohomem na paisagem na região", assegu-ra o arqueólogo da USP. A questão ain-da em aberto é saber quanto tempoa terra preta demora para se originar.

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e

"Alguns autores acham que 1 centíme-tro de terra preta leva dez anos para seformar. Pessoalmente, acredito que esseprocesso é mais rápido e tem mais a vercom a dimensão dos assentamentos doque com o seu tempo de duração", afir-ma Neves. Em Açutuba, por exemplo, po-dem ter vivido 3 mil índios num mes-mo período, segundo suas estimativas.

Quando recorrem à expressão socie-dade complexa, arqueólogos, antropó-logos e outros estudiosos imaginam umpovo que havia deixado para trás - ourelegado a um segundo plano - a vidanômade de caçador e coletor das dádi-vas da fauna e flora nativa. Um grupo

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de pessoas que tinha se fixado num pe-daço de terra e desenvolvido algumaforma de agricultura. Um assentamen-to com algum grau de sedentarimo, do-tado de aldeias para algumas centenas outalvez milhares de pessoas, com hierar-quia social e divisão do trabalho. A hi-pótese de que houve culturas com essascaracterísticas na Amazônia pré-colo-nial se choca com a visão tradicional eainda dominante da arqueologia, muitoinfluenciada, a partir da década de 1950,pelos trabalhos de campo e artigos danorte-americana Betty Meggers.

Para a veterana pesquisadora, aindahoje ativa aos 81 anos e fiel às suas teses

INVESTIMENTOUS$ 150.100 (NationalScience Foundation, EUA)

OS PROJETOSe,'aa

Complexidade Social na Pré-históriatardia da Amazônia (Alto Xingu)

es1- COORDENADOR

MICHAEL HECI<ENBERGER-Universidade da Flórida

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Levantamento arqueológico da áreade confluência dos rios Negroe Solimões: continuidade dasescavações, análise da composiçãoquímica e montagem de um sistemade informações geográficas

COORDENADOREDUARDO GÓES NEVES - MAE/USP

INVESTIMENTOR$ 209.968)8 (FAPESP)

de décadas atrás, as condições naturaisno trópico úmido - solos pobres e pou-co alimento disponível ao nível do solo- eram adversas à presença humana emgrande escala e somente possibilitavama formação de pequenas aldeias, commenos de cem pessoas, que ocupavamáreas de poucos hectares. Quando a co-mida acabava, as pequenas aldeias eramrefeitas em outro lugar, o que aconte-cia com freqüência. Uma crítica comumfeita por Meggers os trabalhos de seuscolegas que dizem ter descoberto vestí-gios de grandes assentamentos humanosna Amazônia é que esses pesquisadoresteriam, na verdade, encontrado resquí-cios de pequenas aldeias que nunca fo-ram contemporâneas. No caso da áreados kuikuro, fica difícil acreditar que osíndios tenham construído uma malhaviária tão grande e larga para ligar aldeiasque existiram em épocas distintas.

Teorias alternativas à idéiade que a Amazônia foimorada exclusiva de povospré-coloniais sem elabora-da organização política e

social não são exatamente uma novida-de produzida no século 21 por pesqui-sadores como Heckenberger, Fausto,Neves e outros. Em certa medida, cro-nistas europeus do século 16 que pas-saram pela floresta equatorial, porexemplo, fizeram referências a socieda-des organizadas na bacia amazônica. Oproblema é que uma das mais famosasalusões desse gênero não passa delenda, a saga das guerreiras amazonas.Nas últimas décadas, alguns estudiosospassaram a procurar evidências maisconcretas que pudessem contradizer asidéias dos seguidores de Meggers. Masa tese de que poderia ter havido socie-dades complexas nos trópicos na épo-ca do descobrimento nunca se firmoudevido à escassez de provas materiaisque a sustentassem. A descoberta degrandes estradas e aldeias pré-coloniasno Alto Xingu e de assentamentos an-tigos e densos nos arredores de Ma-naus começam a preencher essa lacu-na. Os povos da floresta podiam aténão ser tão sofisticados quanto seusvizinhos dos Andes ou da AméricaCentral, mas também não eram assimtão "primitivos". "Não eram um impé-rio inca ou maia. No entanto, eramcomplexos, com uma estrutura ama-zônica", resume Heckenberger. •

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• HUMANIDADES

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oberto Ventura (1957-2002) morreu tragicamente (um aciden-te de carro) aos 45 anos, em meio à escrita da biografia de Eu-clides da Cunha, morto tragicamente aos 43 anos, após terescrito sobre a vida de Antonio Conselheiro, morto tragica-mente em Canudos. Essas vidas paralelas reúnem-se de formanotável na obra póstuma de Ventura, Euclides da Cunha - Es-

boço Biográfico, estudo sobre a vida do autor de Os Sertões que, de forma ino-vadora e para acentuar ainda mais o paradoxo, revela a duplicidade Eucli-des-Conselheiro, em que o líder do Monte Belo aparece como uma projeçãopsicanalítica e uma criação literária do escritor.

"Roberto insistia muito no fato de ser um ensaio, o que lhe permitiria tra-balhar várias interpretações da vida de Euclides, como a das vidas paralelas ou aretórica das antíteses ou das antinomias em Os Sertões. Mas não se pode esque-cer de que, embora a obra como está diga pouco sobre como seria em verdade,ela é útil para entender o escritor e sua obra, pois Roberto era um detalhistaque traz indicações precisas sobre a vida de Euclides", observa o professor JoãoAlexandre Barbosa, orientado r de Ventura e amigo do pesquisador.

Éverdade: o Euclides de Ventura está longe de ser uma ficção. Fruto de dezanos de pesquisas obsessivas, o esboço biográfico, encontradopor amigos no computador, pode até ousar na interpretação,como o próprio pesquisador preconizava, mas é um retratofiel, ainda que não terminado, de um homem torturado pelocontraste entre os seus ideais e a realidade nacional e umapaixonado pela República, que, em poucas semanas donovo regime, estava desiludido com seus rumos. Acima detudo, o Euclides que Ventura traz à luz é um homem inseguroe ameaçado pelos seus próprios fantasmas (temor da sexua-lidade, da irracionalidade, do caos, da anarquia), que viu o Con-selheiro e Canudos como ameaça a seus valores.

Daí o Conselheiro ameaçador e fanático e Canudos comoa urbs maldita, pondo em xeque a própria objetividade doescritor, ao mesmo tempo um crítico da insurreição do BeloMonte e da ação destrutiva do exército sobre as populaçõespobres. Mas a subjetividade venceu: o relato de Euclides,como nos mostra Ventura, fecha os olhos para os excessos efaz do Conselheiro um personagem ficcional mais do quereal, já que o autor de Os Sertões, ainda que observador direto,não teve acesso - e não quis ter - a toda a verdade sobre Ca-nudos e seus habitantes. Até mesmo o "apolítico" Machado de Assis protestoucontra a perseguição que se fazia ao movimento e concluiu que, por falta deinformações, restou a imaginação para descobrir a doutrina da seita e a "poesiapara floreá-Ia':

Há que se levar em conta a trajetória do escritor que, de família pobre, seguiusempre carreiras sob o manto protetor do Estado, como nota Ventura. Um leitorapaixonado das grandes hagiografias da Revolução Francesa, formou-se umromântico pleno de racionalidades: "Euclides se sentia desajustado no mundourbano e civilizado, em que a beleza e a moral se degradavam, ameaçando alinha reta da inteireza de caráter e do dever. Adotava uma postura românticadiante da vida e da história, com sentimentos que oscilavam entre a utopia e amelancolia': escreve o biógrafo. "Mais do que um poeta romântico, tentou ser,ele próprio, um herói, que perseguia visões inspiradas nos romances e narra-tivas da Revolução Francesa que lera na juventude:' Um mal, aliás, típico da épo-ca e que fazia parte da formação de boa parte dos adeptos mais fervorosos dofim da monarquia decadente e da República.

Acreditava na evolução da humanidade que ocorreria por meio de uma sé-rie linear de etapas históricas. Cadete rebelado contra o exército imperial, foichamado a escrever uma coluna política para A Província de São Paulo, atual OEstado de S. Paulo, a convite de Júlio de Mesquita. A amizade iniciada entre osdois, que incluía o desejo pela República, levou mais tarde à cobertura de Ca-nudos para o jornal. Ventura observa como os artigos para os Mesquita tra-

Roberto Ventura:biógrafoousa ao interpretarbiografado

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ziam a marca futura de Os Sertões e muito do pensa-mento de Euclides, em especial o conflito entre ideal ereal, entre espírito e sociedade.

as o tom revolucionário jacobinoimpregnava a sua visão de Canu-dos antes de partir para o sertão:em A Nossa Vendéia, escrito para oEstadão antes de partir, traz o tom

apologético do Estado, do exército e da luta contraretrógados que queriam restaurar a monarquia. Otom de Os Sertões será bem outro após vivenciar omassacre, embora a crítica de Euclides seja muito ame-na em relação ao tamanho da carnificina real. E foicobrir a guerra já desiludido com a recente Repúbli-ca que tanto desejara, "a ruína do sonho republicanoconvertido em amarga decepção e na busca de umnovo rumo para o país". Mais: "Criou, em Os Sertões,uma tensão constante entre a perspectiva naturalista,que concebe a história a partir do determinismo domeio e da raça, e a construção literária, marcada pelotom antiépico e pelo fatalismo trágico".

Para Ventura, Euclides propôs uma outra visão deCanudos como movimento sebastianista e messiâni-co, mas, apesar da visão negativa da insurreição, acu-sou os governos estadual e federal pelo massacre, reali-zado em nome da ordem e do progresso. "E construiuo Conselheiro como personagem trágico, guiado pormaldições hereditárias e crenças messiânicas, que o le-varam à loucura, ao conflito com a República e à que-da na desgraça." O livro, apesar da complexidade, foium sucesso e, em 1903, Euclides assumia sua carreirana Academia Brasileira de Letras. Com a vitória literá-ria veio o prestígio federal e um convite do barão doRio Branco para ser chefe da comissão brasileira dereconhecimento do Alto Perus. A viagem ao Amazo-nas renderia um novo "livro-vingador': Um ParaísoPerdido, que se integraria a Os Sertões como "uma am-pla interpretação histórico-cultural com elevado cla-mor por justiça social': "O fracasso do projeto nacio-nal encontra sua imagem na natureza amazônica.Natureza vista por Euclides como inacabada, 'tumul-tuária', em instabilidade permanente dos elementosnaturais e humanos", diz Ventura. Mas o destino cor-tou o fio da narrativa.

Em 1909, em tiroteio com o amante da mulher, oescritor morre. Foi um dos maiores escândalos da cul-tura nacional. "Sua trajetória sentimental apresenta, porironia, paralelos com as peripécias de Conselheiro, opersonagem que tentou esboçar nas páginas de Os Ser-tões.Ambos tiveram o destino marcado pelo adultériodas esposas, pela vendeta entre suas famílias e a de seusinimigos e pelas posições que tomaram perante a Re-pública, um se opondo e o outro apoiando e depois cri-ticando o novo regime". Ironia sem fim. •

Prisioneiros de Canudos: multidão de mulhereschamadas por Euclides de

"fúrias que encalçam o exército"

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Entre assimilação e alteridadeObra mostra contribuição de imigração judaica ao Brasil

OSWALDO TRUZZI no e o português), em con-traposição ao maior conser-vadorismo religioso, apegoà cultura original (regiona-lismo), endogamia, concen-tração e conseqüente isola-mento dos judeu-orientais.A obra tem o mérito de nosdeixar entrever uma comu-nidade judaica complexa,entrecortada por origens etradições distintas, temas su-geridos nos capítulos 5 - im-

pacto na comunidade de novos imigrantes judeusdo Oriente Médio - e 6, que trata da força dos re-gionalismos.

Em São Paulo, por exemplo, foi significativa amaior proximidade inicial entre judeu-orientaisinstalados na Mooca e sírios e libaneses, praticantesda mesma língua, do que com os judeus asquena-zes, de fala iídiche, mais numerosos. Prescindindo atradição religiosa judaica de uma hierarquia centra-lizadora como a cristã, esse é apenas um exemplo,entre muitos, das inúmeras clivagens, alimenta-das por regionalismos e desconfianças - inclusivequanto à pertinência religiosa de alguns grupos -que acompanharam a história das comunidades ju-daicas e de suas sinagogas.

Os casos também fornecem amplo materialpara se refletir sobre os dilemas e exigências que en-volveram o difícil equilíbrio entre a assimilação -exigida pelo país de acolhimento - e a alteridade- condição de manutenção da identidade grupal.Apesar do tom muito descritivo de alguns capítulose das hesitações em cotejar de modo mais completoa comparação entre as trajetórias dos dois grupos(compreensível aliás para uma autora cuja famíliaprocede de um deles), há no trabalho de Rachel oenorme mérito de recuperar e sistematizar infor-mações que de outro modo ficariam confinadas àmemória familiar e que estariam, com o passar dosanos, irremediavelmente perdidas. Por tal motivo, aobra assinala uma contribuição indelével ao regis-tro da história das minorias étnicas no Brasil.

Imigrantes Judeusdo Oriente Médio -São Paulo eRio de JaneiroRachei Mizrahi

AE Ateliê Editorial

330 páginasR$ 70,00

OSWALDO TRUZZI é professor da Universidade Federal deSão Carlos (UFSCar).

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inOria da minoriaexiste e deseja seureconhecimento:

esta é a chave para a apre-ciação do livro bem ilus-trado e editado de RachelMizrahi. Desde a apresen-tação, transparece a moti-vação persistente da auto-ra em mostrar, sobretudo àcomunidade judaica maisampla, que o pequeno grupo de judeu-orientais es-tabelecidos na Mooca, do qual sua família e outrasprovinham, existiu e tem uma história. Tal moti-vação inicial foi aos poucos se ampliando, para in-cluir os judeus sefaradis.

O capítulo 1 situa brevemente a história da pre-sença de judeus no Oriente Médio, onde por sécu-los conviveram à sombra da relativa tolerância reli-giosa islâmica e depois do império otomano. Aofinal do século 19, quando o império turco já apre-sentava sinais de desagregação, e o Brasil começavaa atrair imigrantes, a autora chama a atenção paraa comunidade dos judeu-orientais propriamenteditos e a dos sefaradis, expulsos da Península Ibé-rica ao final do século 15. Correligionários, masportadores de tradições culturais distintas: a convi-vência milenar com os árabes fez com que os pri-meiros assimilassem muitos traços' dessa cultura -língua, música, dança, alimentação e tradições pa-triarcais -, enquanto os sefaradis se diferenciavamsobretudo pela prática do ladino - dialeto próprio,resultante de uma mistura do espanhol, português,árabe, hebraico e turco.

A autora então detém-se sobre trajetórias de fa-mílias pertencentes aos dois grupos no Rio de Ja-neiro (capítulo 2) e em São Paulo (capítulos 3 e 4).Apoiada sobretudo em fontes orais, percorre os es-forços dessas comunidades em se inserir economi-camente na nova terra e, sobretudo, em mantersuas tradições religiosas, agrupando-se para orarprivadamente e fundando sinagogas, na tentativade conservar sociabilidades, ritos e entonações dereza próprios a cada região de origem.

De modo geral, observa o maior cosmopolitis-mo, tolerância, liberalidade e integração dos sefaradis(facilitada inclusive pela proximidade entre o ladi-

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Dicionário CríticoCâmara CascudoMarcos Silva (orqanizador)Editora Perspectiva/FAPESP331 páginas I R$ 45,00

A Arte do RomanceHenry JamesMarcelo Pen (organização,tradução e notas)Editora Globo320 páginas I R$ 39,00

Eis um livro que traz competência emdose dupla: por um lado, a traduçãoesmerada de Marcelo Pen de textos atéentão pouco conhecidos dos leitores

que não lêem inglês; por outro, a riqueza dos prefácios deHenry Iames, um curso intensivo sobre os fundamentosda ficção. No princípio de tudo o desejo de representar avida por meio das palavras, reunindo, de forma harmônica,a espontaneidade do texto com o artifício da escrita.

Editora Globo: (11) 3457-1545www.somlivre.com.br

As Vozes da Canção na MídiaHeloísa de Araújo Duarte ValenteVia Lettera Editora e Livraria/FAPESP240 páginas I R$ 40,00

Manuel Bandeira era incisivo: só restadançar um tango argentino. HeloísaValente partiu da mesma idéia e em seuestudo disseca como se dá a intersecçãoentre o tango e a mídia. Ao mesmo

tempo que as canções portenhas eram extremamenteligadas à mídia e a ela deveram sua propagação,sobreviveram ao caráter de rápido esquecimento do meio.Um livro fascinante que fala sobre discos, partituras e decomo UIlJ. gênero conseguiu vencer o tempo e marcá-lo.

Via Lettera Editora e Livraria: (11) 3862-0760/3675-4785www.vialettera.com.brouvialettera.com.br/[email protected]

Enredos de Clio Pensare Escrever a História comPaul VeyneHélio Rebello Cardoso JuniorEditora Unesp214 páginas I R$ 27,00

Muito antes de a cultura popularvirar moda e ser respeitada como

assunto sério, Luís da Câmara Cascudo já adissecava com olhar de especialista, revelando todaa sua riqueza. Cascudo mostrou que o popular nãoera pobreza cultural, mas podia ser uma formadiferenciada de erudição. Esse dicionário dá contada riqueza do pensamento de Cascudo.Editora Perspectiva: ni: 3885-8388www.editoraperspectiva.com.br

BKASIL:FORMAÇÃO 00 ESTAOO

F. DANAÇÃO

Em oposição direta à segmentaçãodos saberes nas Ciências Humanas,

Hélio Cardoso, a partir da obra do historiador francêsPaul Veyne, coloca em discussão as relações entre filosofiae história e de como a prática do historiador o leva semprea questionamentos de cunho filosófico. Nesse contexto,o pesquisador discute temas como as tarefas narrativas dohistoriador, o conceito de causalidade histórica e relaçõesentre conceito, acontecimento e totalidade da história.

Editora Unesp: (11) [email protected]

Brasil: Formaçãodo Estado e da NaçãoIstván Jancsó (orqanizador)Editora Hucitec/FAPESP703 páginas I R$ 95,00

Uma obra fascinante que reúne umacoleção de artigos sobre todasas complexidades da relação entreEstado e Nação no caso brasileiro.

O estudo é fruto de um seminário realizado em 2001na Universidade de São Paulo sobre o "enigma da nossaformação" nacional, visto sob a perspectiva histórica (1780a 1850), mas que fala, sobretudo, dos problemas que sãomais do que atuais no país. Entre os articulistas: TamarHerzog, Luiz Geraldo Silva, Pedro Puntoni, etc.

Editora Unijuí: (55) 3332-0343www.unijui.tche.br/unijui/[email protected]

A Evolução Geológica daTerra e a Fragilidade da VidaI<enitiro Suguio/Uko SuzukiEditora Edgard Blücher Ltda.152 páginas I R$ 35,00

O tamanho do volume, reduzido,e sua forma, didática, não faz juzàs intenções dos autores: dar contado estado atual dos conhecimentos

sobre a Terra e sua situação no Sistema Solar e nouniverso. Pode-se dizer que se trata de uma históriada história do nosso planeta, deixando claro comoos conhecimentos sobre sua origem e futuro avançaramem poucos séculos.

Editora Edgard Blücher Ltda: n n 3079-2707e-mail: [email protected]

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 95

Page 96: Uma antiga civilização na selva

~~•.,.UNICAIlAP

Abertas as inscrições para os cursosde Mestrado e Doutorado

Estão abertas as inscrições para os cursos de Mestrado eDoutorado em Política Científica e Tecnológica.

As inscrições irão até 31/10/2003.

Mais informações:[email protected] ouhttp://www.ige.unicamp.br/site/htm/04_ 02_03. php?area=1&local=4

ENCE abre inscriçõespara Mestrado

A Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE,ENCE, estará com inscrições abertas até 13 de outubropara o curso de mestrado em Estudos Populacionais ePesquisas Sociais. Os cursos oferecidos abrangem trêsáreas de concentração: Demografia; Estatística Social ePopulação, Sociedade e Território: teoria e prática depesquisa interdisciplinar.

Mais informações:Tel.: (21) 2142-46841 2142-469l.E-mail: [email protected] .

"'..unesp ....•~UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Pós-graduação emEngenharia Mecânica

A Faculdade de Engenharia da UNESP, campus de Bau-ru, por meio do Programa de Pós-Graduação em En-genharia Mecânica, vai abrir inscrições, de 10111/2003 a21/1112003, para seleção somente de alunos regulares.

Mais informações:Telefones: (14) 221-6109/221-6120/221-6119http://www.feb.unesp.brhttp://www.feb.unesp.br/-bpiubeli/fe.htm

96 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

• Anuncievocê tamhêmctel, (11) 3838-4008 www.revistapesquisa.fapesp.br

First Latin American Symposiumon Dependable Computing

21-24 de Outubro de 2003Escola Politécnica da USP- São Paulo/SP

CLASSIFICADOS PeiqeT~niiisaFAPESP

FINEP 0CA'[S

Para maiores informações, acesse:http://ladc2003.pcs.usp.br

o LADC2003 é o único evento na América Latina dedicado à discussão detópicos relacionados à confiabilidade, disponibilidade e segurança de

sistemas computacionais.

UNICAMP

VAGAS PARA DOCENTE

Faculdade de Engenharia MecânicaDepartamento de Projeto Mecânico

Brevemente estarão abertas as inscrições para os pro-cessos seletivos, conforme segue abaixo:

l.

Disciplinas:Projeto de Sistemas Mecânicos, Resistênciados Materiais I, Resistência dos Materiais II, Elementosde Máquinas I e Elementos de Máquinas 11.Cargo:Professor DoutorRegime:RTP

2.Disciplinas:Redes de Comunicação em Ambiente Indus-trial, Controle Avançado de Sistemas, Sistemas de Aqui-sição de Dados, Circuitos Lógicos e Projeto de SistemasMecatrônicos.Cargo:Professor DoutorRegime:RTP

Mais informações:Secretaria do Departamento de Projeto Mecânicoda Faculdade de Engenharia Mecânica - Unicamp,Bloco C, com Denise Aparecida Villela,através do tel. (19) 3788-3166/3788-3165ou e-mail: [email protected]

Page 97: Uma antiga civilização na selva

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COMPETÊNCIA MÉDICAEM CARDIOLOGIA

•Concebido para reconhecer e I

divulgar nacionalmente e I

I internacionalmente o mérito:científico de médicos'

I

cardiologistas e' pesquisadores na I•área de cardiologia que nele seinscreverem com trabalhos a :serem julgados por um júri de alto :nível nacional e internacional.

CATEGORIAS •Internacional em CardiologiaDestinado a estrangeiros e brasileiros que:desenvolveram seustrabalhos no exterior. I

Nacional em CardiologiaDestinado a pesquisas e trabalhos I

I realizados no Brasil que não tiveram aparticipação do InCor-HCFMUSP.

Nacional em Cardiologia -lnCorDestinado.a pesquisas e trabalhos:realizados no InCor-HCFMUSP.

INSCRIÇÕES.Os trabalhos deverão ser inscritos entre os :dias 01 de abril de 2003 e 15 de outubro:

I de 2003. I

I Para mais informações, consulte o site

www.zerbini.org.brou retire o regulamento na I

Fundação Zerbini, Av. Brig. Faria Lima, •• 1884 - 2Q ando - Edif. Cal Center ]

São Paulo-SP - Tel.: (Oxx11) 3038-5300. I

CI~NCIA E HUMANISMO

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 97

Page 98: Uma antiga civilização na selva

fT E FI N A L,-

CiaudiusPesquisadores comprovam: o mar avança sobre vilanjos epraias

98 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

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