uma análise das políticas públicas para o ... de souza... · utilização da água de reuso ......

16
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARTIGO CIENTÍFICO 1 Uma análise das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável: a utilização da água de reuso Rafael de Souza [email protected] UFF/ICHS Wagner Miguel Rolim Ribeiro [email protected] UFF/ICHS Resumo O presente artigo pretende analisar as principais políticas públicas implementadas, alicerçada na legislação vigente no Estado do Rio de Janeiro, publicadas a partir do ano de 2011, as quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas pelo próprio poder público estadual, referindo-se em particular, quanto à proposta utilização da água de reuso, frente ao risco eminente de escassez, amplamente noticiada em outros estados brasileiros. Não sendo o foco do presente trabalho as especificidades técnicas do processo de captação, tratamento, armazenamento e distribuição da água para reuso. A análise das políticas públicas seguirá os modelos conceituais propostos por Thomas Dye, considerando a ampla difusão de suas obras que contribuem para a compreensão do processo das políticas públicas enquanto um fenômeno social, político e/ou econômico. Palavras-chave: Políticas públicas; Desenvolvimento sustentável; Água de reuso. 1 - Introdução No Brasil, a atual indisponibilidade de água potável em algumas regiões, ilustra uma questão que se desdobra historicamente, principalmente no Nordeste, região esta que vivencia algumas políticas públicas que atenuaram a realidade da seca. Em decorrência de fatores múltiplos, recentemente o problema de escassez atingiu a região Sudeste, na qual se concentra o maior índice demográfico do país, exigindo medidas alternativas para contornar a situação que perpassa tanto pelo campo de políticas públicas quanto da gestão ambiental. Para Capra (2006), na atualidade as apreensões aos dilemas ambientais adquirem decisiva importância. Defrontando a série de problemas globais que está danificando a biosfera e a vida humana de maneira alarmante, situação essa que pode logo se tornar irreversível. Para contextualizar tal realidade, vale lembrar os recentes noticiários quanto à falta de água nos reservatórios do estado de São Paulo, assim como a proposta polêmica de utilizar a água do Rio Paraíba do Sul com intuito de suprir a inevitabilidade de oferta de água disponível ao estado paulista, reduzindo o volume do rio a qual, consequentemente, implicaria em impactos no volume desse recurso no estado fluminense. Nesse contexto, torna-se imprescindível a formulação e o contínuo aperfeiçoamento das políticas públicas que permitam um desenvolvimento sustentável, garantindo a disponibilidade de água potável à sociedade como um todo. Assim, de modo a assegurar o desenvolvimento econômico e, paralelamente o bem estar social, a política pública direcionada às questões ambientais, como a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),

Upload: vuongdan

Post on 09-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

1

Uma análise das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável: a

utilização da água de reuso

Rafael de Souza – [email protected] – UFF/ICHS

Wagner Miguel Rolim Ribeiro – [email protected] – UFF/ICHS

Resumo

O presente artigo pretende analisar as principais políticas públicas implementadas, alicerçada

na legislação vigente no Estado do Rio de Janeiro, publicadas a partir do ano de 2011, as

quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas pelo

próprio poder público estadual, referindo-se em particular, quanto à proposta utilização da

água de reuso, frente ao risco eminente de escassez, amplamente noticiada em outros estados

brasileiros. Não sendo o foco do presente trabalho as especificidades técnicas do processo de

captação, tratamento, armazenamento e distribuição da água para reuso. A análise das

políticas públicas seguirá os modelos conceituais propostos por Thomas Dye, considerando a

ampla difusão de suas obras que contribuem para a compreensão do processo das políticas

públicas enquanto um fenômeno social, político e/ou econômico.

Palavras-chave: Políticas públicas; Desenvolvimento sustentável; Água de reuso.

1 - Introdução

No Brasil, a atual indisponibilidade de água potável em algumas regiões, ilustra uma

questão que se desdobra historicamente, principalmente no Nordeste, região esta que vivencia

algumas políticas públicas que atenuaram a realidade da seca. Em decorrência de fatores

múltiplos, recentemente o problema de escassez atingiu a região Sudeste, na qual se concentra

o maior índice demográfico do país, exigindo medidas alternativas para contornar a situação

que perpassa tanto pelo campo de políticas públicas quanto da gestão ambiental.

Para Capra (2006), na atualidade as apreensões aos dilemas ambientais adquirem

decisiva importância. Defrontando a série de problemas globais que está danificando a

biosfera e a vida humana de maneira alarmante, situação essa que pode logo se tornar

irreversível. Para contextualizar tal realidade, vale lembrar os recentes noticiários quanto à

falta de água nos reservatórios do estado de São Paulo, assim como a proposta polêmica de

utilizar a água do Rio Paraíba do Sul com intuito de suprir a inevitabilidade de oferta de água

disponível ao estado paulista, reduzindo o volume do rio a qual, consequentemente, implicaria

em impactos no volume desse recurso no estado fluminense.

Nesse contexto, torna-se imprescindível a formulação e o contínuo aperfeiçoamento

das políticas públicas que permitam um desenvolvimento sustentável, garantindo a

disponibilidade de água potável à sociedade como um todo. Assim, de modo a assegurar o

desenvolvimento econômico e, paralelamente o bem estar social, a política pública

direcionada às questões ambientais, como a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),

Page 2: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

2

motivou políticas neste mesmo segmento nos estados brasileiros, bem como sanções a alguns

setores da iniciativa privada, quando cabível.

Como respaldo, cabe lembrar que a elaboração e o processo de políticas públicas

iniciam quando as pessoas identificam problemas sociais e econômicos os quais podem ser

resolvidos por esforços governamentais. Depois que o problema é percebido e definido, os

interesses são agregados e organizados antes de apresentar as demandas ou propostas aos

funcionários (agentes) governamentais (PETERS e PIERRE et al., 2003 apud MIDORE e

OLIVEIRA, 2010, p. 317).

Ao dedicar uma atenção às diversas políticas públicas existentes, aplicadas à temática

hídrica, este trabalho debruça-se, em particular, as propostas de reutilização da água previstas

na legislação estadual, publicadas a partir do ano de 2011. A análise dessas políticas prima

pela adoção desse processo como alternativa minimizadora ao risco iminente de escassez de

água de potável à população, a partir de ações realizadas pelos entes públicos que compõem a

administração pública estadual.

Antes de qualquer conclusão, um conceito inicial em relação ao termo água de reuso

faz-se importante, entendida como “a água residuária que se encontra dentro dos padrões

exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas”. Já a água residuária origina-se de

“esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e

agropecuária, tratadas ou não” (BRASIL, 2005).

Com vistas à Resolução n° 54/05 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, o reuso

direto não potável de água destina-se a fins urbanos para irrigação paisagística, lavagem de

logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, edificações, combate a incêndio;

fins agrícolas e florestais para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas; fins

ambientais para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente; fins industriais em

processos, atividades e operações industriais; e dentre outros, como produção de concreto em

obras públicas, descarga de sanitários, cemitérios, irrigação de quadra de esporte.

Embora existam diversos processos para obtenção da água de reuso, este não é o foco

principal da discussão, considerando as particularidades regionais ao longo do estado,

investimento em saneamento, presença de complexos industriais, índice pluviométrico,

características do zoneamento urbano e outros. Portanto, este trabalho propõe uma análise das

políticas públicas no que concerne à legislação vigente e aplicável à administração pública, as

quais contribuam para o desenvolvimento sustentável.

2 – Referencial Teórico

2.1 – Políticas Públicas

Considerando a gama de teóricos inclinados à definição do termo “políticas públicas”

e a falta de consenso entre os autores quanto ao conceito, para referendar este trabalho,

convém expor duas perspectivas aparentemente claras e concisas, citadas por Santos (2012, p.

59). A primeira, elaborada por Easton (1953, p. 129), “políticas públicas são a alocação

autorizada de valores para toda a sociedade”. E a segunda de Kaplan e Laswell (1979), os

quais afirmam que “políticas públicas são programas que projetam objetivos, valores e

práticas”.

Page 3: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

3

Quanto aos modelos de políticas públicas, na obra Understanding Public Policy, Dye

(2005) apud Heidemann; Salm, (2009, p. 100) expõe um grupo de modelos conceituais de

análises políticas.

Quadro 1: Modelos Conceituais de Análises Políticas (Elaborado pelos autores)

Modelo de Análise Característica

Institucional Política como produto institucional

Processo Política como atividade política

Teoria dos Grupos Política como equilíbrio entre grupos

Teoria da Elite Política como preferências das elites

Racionalismo Política como máximo ganho social

Incrementalismo Política como variações sobre o passado

Teoria dos Jogos Política como escolha racional em situações competitivas

Teoria da Escolha Pública Política como deliberação coletiva de indivíduos movidos pelo auto-interesse

Teoria Sistêmica Política como produto do sistema

Fonte: Dye (2005 apud HEIDEMANN e SALM, 2009)

O processo de políticas incluí a formulação de um programa para responder à

demanda por ação, sua colocação na agenda de políticas da administração, a aprovação da

legislação para autorizar a efetuação do programa e a atribuição de fundos suficientes para

efetivação. Isso requer a interação entre os legisladores, os grupos defensores da proposta, o

Executivo e os órgãos que, em seus respectivos âmbitos, serão responsáveis pela efetivação

das políticas (PETERS e PIERRE et al., 2003 apud MIDORE e OLIVEIRA, 2010, p. 318).

2.2 – Desenvolvimento Sustentável

Para World Wide Found for Nature Brasil (WWF Brasil), o conceito de

desenvolvimento sustentável mais aceito refere-se ao desenvolvimento capaz de suprir as

necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das

futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

A conceituação de desenvolvimento sustentável, segundo Camargo (2003, p. 43)

refere-se a: um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção

dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a

mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e

futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas

(CAMARGO, 2003, p. 43).

Quanto ao uso racional dos recursos naturais, a Cartilha da Agenda Ambiental na

Administração Pública (A3P), elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente, destaca que: a economia brasileira caracteriza-se por elevado nível de desperdício de

recursos, sendo a redução destes uma verdadeira reserva de desenvolvimento

para o Brasil, bem como fonte de bons negócios. Quando se fala em meio

ambiente, passam despercebidas oportunidades de negócios ou de redução

de custos. Sendo o meio ambiente um potencial de recursos mal

aproveitados, sua inclusão no horizonte de negócios pode gerar atividades

que proporcionem lucro ou pelo menos se paguem com a poupança de outros

recursos naturais (BRASIL, 2009, p. 37).

Page 4: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

4

O desenvolvimento econômico atual necessita alinhar-se cada vez mais ao prisma

sustentável, orientado tanto ao segmento privado quanto ao público, neste último, por meio de

ações governamentais.

2.3 – Legislações Pertinentes aos Recursos Hídricos

Iniciando pela Carta Magna de 1988, o Art. 21 identifica-se uma preocupação inicial

com a problemática atinente aos recursos hídricos, trazendo à esfera federal a

responsabilidade de “instituir um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e

definir critérios de outorga de direitos de seu uso” (BRASIL, 1988).

Mas, apenas em 1997, que a legislação veio ao encontro ao comando constitucional,

lei federal aquela que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), criou o

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e regulamentou o inciso XIX do

art. 21 da Constituição Federal, conforme o artigo 1º da Lei nº 9.433/97.

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes

fundamentos:

I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o

consumo humano e a dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo

das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da

Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades (BRASIL,

1997).

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) tem como objetivo, segundo o Art.

2º, assegurar a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos

respectivos usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao

desenvolvimento sustentável; e a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos

(BRASIL, 1997).

Dentre as diretrizes gerais de ação para da PNRH, previstas no Art. 3º, destaca-se a

atenção detida na “gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de

quantidade e qualidade” e “a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos

setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional” (BRASIL, 1997). E

nos instrumentos adotados pela PNRH, vale salientar a importância dos Planos de Recursos

Hídricos, do enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes

da água e do o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

De modo a consubstanciar a proposta deste trabalho torna-se pertinente a análise do

conceito de Planos de Recursos Hídricos, previsto no Art. 6º como “planos diretores que

visam a fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e

o gerenciamento dos recursos hídricos” (BRASIL, 1997).

Page 5: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

5

Conforme o Art. 7º, incisos IV e V, da referida lei que instituem a integração do

conteúdo mínimo dos Planos de Recursos Hídricos as metas de racionalização de uso; o

aumento da quantidade e qualidade destes recursos; bem como as medidas a serem tomadas,

os programas a serem desenvolvidos e os projetos a serem implantados, para o atendimento

das metas previstas.

2.4 – Utilização da Água de Reuso

A água de reuso é a água residuária que se encontra dentro dos padrões exigidos para

sua utilização nas modalidades pretendidas (BRASIL, 2005).

No Brasil, o reuso é classificação a partir de parâmetros físico-químicos de qualidade

e, por consequência, a adequada aplicação, conforme estabelecido na ABNT NBR 13.969/97.

Quadro 2: Classificação de Água de Reuso, ABNT NBR 13.969/97

Água de Reuso Aplicações Padrões de Qualidade

Classe 1 Lavagem de carros e outros usos com contato direto

com o usuário.

Turbidez < 5uT

Coliformes Termotolerantes < 200 NMP/100 ml

Sólidos Dissolvidos totais < 200 mg/l

pH entre 6 e 8

Cloro residual entre 0,5 a 1,5 mg/l

Classe 2

Lavagem de pisos, calçadas e irrigação de jardins,

manutenção de lagos e canais paisagísticos, exceto

chafarizes.

Turbidez < 5uT

Coliformes Termotolerantes < 500 NMP/100 ml

Cloro residual superior a 0,5 mg/l

Classe 3 Descargas em vasos sanitários Turbidez < 10uT

Coliformes Termotolerantes < 500 NMP/100 ml

Classe 4

Irrigação de pomares, cereais, forragens, pastagens

para gados e outros cultivos através de escoamento

superficial ou por sistema de irrigação pontual.

Coliformes Termotolerantes < 5000 NMP/100

ml

Oxigênio dissolvido > 2,0 mg/l

Fonte: Adaptado pelos autores de FIRJAN/2006

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U. S. Environmental

Protection Agency – EPA) apresenta uma forma diferente em relação à adotada pelo Brasil,

quanto à classificação da água para reutilização.

Quadro 3: Classificação da Água de Reuso Classificação da água de reuso

Reuso urbano Uso sem restrições: espaços públicos.

Uso com restrições: espaços públicos com áreas restritas.

Reuso para fins

agrícolas

Cultivo de alimentos.

Cultivo de alimentos processados ou não consumido por humanos.

Represamento Uso sem restrições: atividades recreativas.

Uso com restrições: sem contato humano.

Reuso ambiental

Reuso industrial

Reabastecimento

Reuso para fins

Potável

Reuso indireto: após tratamento preliminar será inserido na estação de tratamento de

água para distribuição.

Reuso direto: inserido diretamente na estação de tratamento de água para distribuição,

sem tratamento preliminar.

Fonte: Adaptado pelos autores de U. S. Environmental Protection Agency, 2012

Page 6: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

6

Nesse sentido, como forma de racionalizar o uso e o aumento da quantidade deste

recurso natural, deve-se considerar o reuso de água como parte de uma atividade mais

abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle

de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água. O

reuso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água potável por

uma água de qualidade inferior (CETESB, 2010).

3 – Metodologia

A metodologia adotada pauta-se no método funcionalista, exposto por Lakatos e

Marconi (2010, p. 92) como o aplicado a um grupo de métodos específicos das ciências

sociais, sendo a rigor, mais um método de interpretação do que de investigação, considerando

de um lado, a sociedade como uma estrutura complexa de grupos ou indivíduos, reunidos

numa trama de ações e reações sociais; de outro, como um arranjo de instituições

correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação às outras. Qualquer que seja o

enfoque, fica claro que o conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um

sistema em operação. E o papel das partes nesse todo é compreendido como funções no

complexo de estrutura e organização.

O universo da pesquisa é constituído pela legislação vigente, nas esferas federal e

estadual, em documentos governamentais e oficiais sobre o tema das políticas públicas,

relacionadas à água de reuso no Estado do Rio de Janeiro. Por meio de publicações

disponíveis em sites governamentais e, em um segundo momento, nos artigos, livros e

revistas disponíveis na literatura pertinente impressa.

A abordagem e o método do problema da pesquisa seguirão à classificação de

Richardson et al. (2007 apud ZANELLA, 2012, p. 73), ou seja, uma pesquisa qualitativa “que

se fundamenta principalmente em análises qualitativas, caracterizando-se, em princípio, pela

não utilização de instrumental estatístico na análise dos dados”. E a natureza da pesquisa,

como pesquisa aplicada, a qual, segundo Silveira e Córdova (2009, p. 35) “objetiva gerar

conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos”. Quanto

ao objetivo da pesquisa, a pesquisa descritiva exige do investigador um agrupamento de

informações sobre o que deseja pesquisar. (TRIVIÑOS, 1987). A coleta de dados

desenvolverá através da pesquisa bibliográfica, por meio de documentação indireta, a qual,

nos ensinamentos de Lakatos e Marconi (2010, p. 157), por meio de documentação indireta,

na qual implicam o levantamento dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos

ou técnicas empregadas”. E pesquisa documental que, em conformidade com o proposto por

Zanella (2012, p. 124) “envolve a investigação em documentos internos [da organização] ou

externos [governamentais] de organizações não governamentais ou instituições de pesquisa”.

4 – Resultados e discussões

Respaldando-se nas arenas políticas constitucionais e regulatórias, a Resolução nº

54/05, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em seu Art. 10 impõe o

incentivo e a promoção de programas de capacitação, mobilização social e informação quanto

Page 7: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

7

à sustentabilidade do reuso, em especial os aspectos sanitários e ambientais. Nesse contexto,

considera-se como referência nacional, a Petrobras que representa uma organização da

administração indireta, classificada como sociedade anônima de capital aberto, adotou a

prática de racionalização e reuso da água, de modo a garantir uma fonte segura de

abastecimento e contribuir para a redução de captação de água que pode ser destinada ao

consumo humano. Em termos práticos, as ações resultaram em uma economia, no volume de

água reusada, de 20,32 bilhões de litros em 2011 e 23,31 bilhões de litros em 2014. O volume

adicional de reuso representou uma economia de 3% de toda água consumida pelas nossas

refinarias no Brasil. Este montante é suficiente para abastecer uma cidade de 75 mil habitantes

por um ano, considerando uma média de consumo per capita de 110 litros por dia, como

exposto pela instituição (PETROBRAS, 2014).

As práticas de reuso de água da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), integrante do

sistema Petrobras, minimizaram o consumo, permitindo a economia de 8,2 bilhões de litros de

água no seu processo industrial em um período de dois anos e contribuíram para o

desenvolvimento sustentável no Estado do Rio de Janeiro (PETROBRAS, 2014).

O Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), com a instalação da Estação de

Tratamento e Reuso de Água (ETRA), através do tratamento dos esgotos sanitários e

industriais de todo o complexo, em um ano e meio de funcionamento, permitiu o

aproveitamento de 280 milhões de litros de água de reuso gerada, quantidade equivalente a R$

8,3 milhões em tratamento de esgoto e em fornecimento de água pelo sistema público. Além

da ETRA, outro sistema implantado foi o de captação da água da chuva de telhados e pisos

para a utilização em bacias sanitárias e irrigação, contribuindo, adicionalmente, para a

economia anual de cerca de R$ 2,5 milhões, reforçando a importância desses projetos

(PETROBRAS, 2014).

O Projeto Bioágua Familiar, no sertão do Apodi, possibilita o reaproveitamento da

água residual oriunda de chuveiros, lavagem de roupa e de louça para irrigar culturas, após

filtragem, beneficiando 93 famílias. Assim, incrementou-se a agricultura familiar local e

reduziu-se a contaminação da água naqueles municípios. O referido projeto desenha-se com o

patrocínio da Petrobras e em parceria com a do Projeto Dom Helder Camara, da Universidade

Federal Rural do Semiárido e de escolas públicas e associações comunitárias dos

assentamentos e comunidades situados nas áreas de abrangência do projeto (PETROBRAS,

2015).

Uma parceria entre a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) e a Companhia

Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) visa o fornecimento de água reutilizada para

limpeza de ruas após feiras livres, calçadas, praças e monumentos do Rio de Janeiro, é uma

solução consciente, porque não é razoável usar água potável para tal finalidade (EMPRESA

BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO, 2015).

O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, firmou um

contrato com a Cedae para que a empresa passe a fornecer toda a água de uso industrial do

local a partir de 2016. A água fornecida será proveniente da lavagem dos filtros e

decantadores da ETA do Guandu (RIO DE JANEIRO, 2015).

Em observância aos exemplos anteriores, percebe-se que as ações desenvolvidas por

todos os agentes integrantes da sociedade, independente do setor privado ou público,

representa uma importante contribuição a todos, consoante a afirmação de Abib et al. (2007,

Page 8: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

8

p. 2), segundo o qual, se cada célula social, cada organização, puder dar sua contribuição a

essa tarefa, será atingida com maior eficiência a sustentabilidade desejada.

Uma proposta na esfera estadual de encontro à resolução do CNRH faz-se presente na

Lei 6.034/11 no Estado do Rio de Janeiro, ao dispor a obrigatoriedade dos postos de

combustíveis, lava rápidos, transportadoras e empresas de ônibus urbanos intermunicipais e

interestaduais, localizados no estado, a instalarem equipamentos de tratamento e reutilização

da água usada na lavagem de veículos.

Tramitam no legislativo estadual algumas propostas na forma de projeto de lei,

publicados no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro (DOERJ) ou no site da Assembleia

Legislativa Estadual (ALERJ).

Quadro 4: Projetos de Lei Publicados

Projeto de Lei Ano Caput

2.851 2014

Cria o Programa Estadual de Reuso de Efluentes das Estações de Tratamento de Esgoto -

ETE's, para fins industriais, estabelece incentivos para sua implementação e dá outras

providências.

51 2015 Altera a Lei Nº 6879 de 02 de setembro de 2014 que autoriza o Poder Executivo a instituir o

Programa “Consumo Responsável” no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

141 2015 Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de mecanismo de captação, armazenamento e

conservação para reuso de água proveniente de aparelhos de ar condicionado.

166 2015 Fica obrigada a utilização de água de reuso pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de

Janeiro.

321 2015 Dispõe sobre o reuso de água não potável e dá outras providências.

328 2015 Cria o Programa de Reuso de Água em postos de gasolina e lava jatos no Estado do Rio de

Janeiro, e dá outras providências.

483 2015 Dispõe sobre o reuso de água em serviços instalados no âmbito do Rio de Janeiro e dá

outras providências.

668 2015

Dispõe sobre o controle de água potável distribuída pela rede pública estadual, institui o

Programa Estadual de Conservação e Uso Racional da água em edificações, cria Concurso

de Economia de Água nas escolas da rede estadual e dá outras providências.

Fonte: Elaborado pelos autores do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro (DOERJ)

O Projeto de Lei nº 141/2014 se justifica pelo o argumento de que em “[...] média, um

aparelho de ar condicionado de 7.500 BTUs, em funcionamento por 10 horas por dia, produz

cerca de 15 litros de água. Logo, um prédio com 200 aparelhos, produz aproximadamente

3.000 litros de água por dia”. Assim, as novas edificações situadas no Estado do Rio de

Janeiro ficariam obrigadas a instalar mecanismos de Captação, Armazenamento e

Conservação para reuso de água proveniente de aparelhos de ar condicionados nas edificações

e o pagamento de multa no caso de descumprimento.

A proposta legislativa 166/2015 tem foco em um órgão específico demandante de um

grande volume de água: Corpo de Bombeiros. Aqui, defronta-se uma perspectiva de consumo

eficiente, pois a água para combate ao incêndio não exige elevado índice de potabilidade,

reduzindo a disputa da água tratada – ofertada pelo sistema de distribuição – com a parte da

sociedade que a utiliza para o consumo humano.

A proposta do Projeto de Lei nº 321/2015 possui um direcionamento, em particular ao

próprio estado, pois evoca todos os integrantes do poder público estadual.

Artigo 1º- Os órgãos integrantes da administração pública estadual direta,

das autarquias, das fundações instituídas ou mantidas pelo poder público, das

empresas em cujo capital do Estado do Rio de Janeiro tenha participação,

Page 9: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

9

bem como as demais entidades por ele controladas direta ou indiretamente,

ficam obrigados a utilizar água de reuso não potável, sempre que houver este

recurso disponível, consoante os critérios a serem estabelecidos em

regulamentação posterior.

O Projeto de Lei nº 483/2015 almeja atualizar a vigente Lei nº 6.034/11, pois pretende

revogar dispositivos contraditórios e ampliar os espaços e serviços que deverão reutilizar a

água, no intuito de erradicar o desperdício.

O recente Projeto de Lei nº 668/2015 esboça a integração entre todos os setores da

sociedade, buscando a redução do desperdício de água potável, tendo como propostas a

educação ambiental em escolas por meio de concurso; a criação de um disque denúncia por

telefone; reuso nas atuais e novas edificações; sistema de captação, armazenamento e

utilização da água da chuva e adaptação das edificações públicas e privadas existentes.

No contexto de regulamentações, o Estado do Rio de Janeiro necessita acompanhar os

modelos desenvolvidos por algumas unidades da federação, pois já sancionaram legislações

específicas, enquanto o primeiro, ainda encontra-se na etapa de propositura de projetos de lei,

como observado no Quadro 5.

Quadro 5: Legislações Estaduais

Legislação Estado Caput

Decreto n° 45.805/01 São Paulo Institui o Programa Estadual de Uso Racional da Água Potável e dá

providências correlatas.

Decreto nº 48.138/03 São Paulo Institui medidas de redução de consumo e racionalização do uso de água no

âmbito do Estado de São Paulo.

Lei nº 14.572/11 Pernambuco Estabelece normas para o uso racional e reaproveitamento das águas nas

edificações do Estado de Pernambuco e dá outras providências.

Fontes: Elaborado pelos autores dos Diários Oficiais dos Estados de São Paulo e de Pernambuco

O Gabinete de Emergência do Governo do Estado do Rio de Janeiro discute ações de

enfrentamento à crise hídrica e a adoção de medidas emergências, de forma mais específica o

uso eficiente da água pelo setor industrial. Entre essas medidas está a possibilidade da

construção de um entroncamento (dique de pedras) na Bacia do Rio Guandu com o objetivo

de reduzir a entrada da água no mar nesse curso d’água. A Secretaria de Estado de Meio

Ambiente entende a medida como uma solução de curto prazo até a implementação de uma

solução definitiva: a construção de uma adutora com 14 quilômetros de extensão que vai levar

água de reuso da Cedae para alimentar essas indústrias. Para a secretaria, há uma estimativa

de economia de 11 mil litros de água por segundo. A proposta é que essas empresas

construam essa adutora e passem a tirar a água de que precisam da Cedae, priorizando o

abastecimento humano e por isso estão tratando primeiramente essa questão, com o setor

industrial (RIO DE JANEIRO, 2015).

Ao institucionalizar o gabinete de emergência, para discutir a crise hídrica, a esfera

estadual objetiva, por meio desta ação, inserir o caráter sistêmico e sustentável ao

enfrentamento à crise e responder às preocupações da sociedade evitando o comprometimento

na disponibilidade da água. Esta ação coaduna ao comando constitucional relativo ao direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo às presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Page 10: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

10

Um exemplo de iniciativa sustentável desenvolvida no Colégio Estadual Olga Benário

Prestes, em Bonsucesso, é o uso da água da chuva nas limpezas, no jardim, na horta além de

possuir uma cisterna de 20 mil litros, atendendo a aproximadamente 2,5 mil estudantes (RIO

DE JANEIRO, 2015).

Embora não se apresente de forma regulamentada, a iniciativa de instituir o gabinete

de emergência e da unidade escolar tem por objetivo operacionalizar uma política de

perspectiva inovadora, ou seja, conforme Kingdon (1984), “[...] as políticas inovadoras são

possíveis quando há convergência entre atenção pública, interesse político em responder à

preocupação pública e “empreendedores políticos” capazes de canalizar energia para

mudanças nas políticas” (PETERS e PIERRE et al., 2003 apud MIDORI e OLIVEIRA, 2010,

p. 317).

Considerando a metodologia funcionalista, na qual, todos os integrantes da trama

social estão correlacionados e, com vistas aos modelos conceituais de análise de políticas

públicas presente no escopo desse trabalho, infere-se que a exigência de uma legislação

estadual impactaria sobre todos os atores sociais, pois a redução no consumo de água potável

permite ampliar a oferta à sociedade e não menos a redução de custo, verbas estas que

poderiam destinar-se a outros fins sociais. Faz-se pertinente relembrar os exemplos

apresentados de políticas internas adotadas pelas organizações integrantes do sistema

Petrobras, as quais geram um impacto social, seja via disponibilidade do volume de água

potável à sociedade, seja pela redução de custo – internalização, que foram direcionados às

outras áreas da organização, como no caso do Projeto Bioágua, corrigindo deste modo,

externalidades negativas.

Em observância aos projetos de lei, considerando-os como futuras políticas públicas,

são ações decorrentes de um processo político, sendo assim apresenta aspectos do modelo

conceitual de processo. Ao compararmos o objeto dos projetos de lei, identifica-se que são

complementares e/ou competitivos entre si. Disso, depreende-se que a efetivação dessa

política depende da superação dos interesses diversos entre os legisladores estaduais,

alinhando-se ao modelo da teoria dos jogos, o qual, na visão de Santos (2012, p. 66-67), é

aplicado “[...] às situações em que as decisões de apenas um ator não garantem o resultado

desejado; este depende ainda de escolhas feitas por outros atores envolvidos na mesma

situação, em posição conflitantes.”

Ao analisar os projetos de lei, podemos identificar que elas pretendem satisfazer

demandas pontuais específicas, com caráter completivo, cautelar, pois os projetos possuem

aspectos de continuidade, complementação ou de síntese entre si, em seus diversos artigos,

assim sendo, na descrição de Dye (2005 apud HEIDEMANN e SALM, 2009, p. 115) “como

uma continuidade das atividades anteriores com apenas algumas modificações incrementais”:

modelo incremental.

A Lei 6.034/11, após sanção, coaduna ao modelo conceitual institucional, conforme

Dye (2005 apud HEIDEMANN e SALM, 2009, p. 101), no qual o governo empresta

legitimidade às políticas, perecendo de universalidade e o uso da coerção.

A proposta de uma legislação dedicada aos órgãos públicos enquadrar-se-ia como um

modelo conceitual racional, isto é, como uma política que visa o máximo ganho social

superando os custos pelo maior valor e que os custos não excedam os ganhos, bem como

modelo da teoria sistêmica, ou seja, um grande sistema (DYE 2005 apud HEIDEMANN e

SALM, 2009, p. 111).

Page 11: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

11

A instauração do Gabinete de Emergência apresenta traços do modelo institucional e

da opção pública, no qual, de acordo com este modelo, busca atenuar às externalidades

negativas que a iniciativa privada gera ao meio ambiente, por meio da poluição e do consumo

excessivo de água tratada. Com isso, o gabinete pretende imprimir ações regulatórias às

empresas.

Embora os modelos propostos por Dye (2005 apud HEIDEMANN e SALM, 2009, p.

100) apresentem-se isoladamente, destaca-se que os modelos não são auto-excludentes ou

possuem terminalidade, pois o momento temporal da análise, em relação à mesma política,

permite observá-la com base nos diferentes modelos. Assim, uma política originária na

competição entre grupos diversos, ao entrar no processo legislativo, de modo que promova

um lucro social e, por fim, necessita de revogação/atualizações em seus artigos, identificam-se

traços de vários modelos no desenvolvimento cronológico de política. Para corroborar a isso,

Peters e Pierre et al. (2003 apud MIDORI e OLIVEIRA, 2010, p. 319) nos alerta que “[...] de

certa forma é enganoso dizer que a avaliação ou a análise é o último passo no processo de

elaboração de políticas; na realidade, ocorrem ao longo de todo o processo”.

5 - Conclusão

Após a pesquisa, conclui-se que embora exista uma legislação estadual que se

preocupe com alguns setores específicos da economia – postos de combustíveis, lava rápidos,

transportadoras e empresas de ônibus – inexiste uma normatização que se aplique à esfera

pública, tendo apenas iniciativas isoladas e segmentadas, principalmente as empresas públicas

que objetivam aumentar os lucros por meio da redução dos custos.

A aprovação dos projetos de lei e a inserção de novos identificam-se ao modelo de

processo, caracterizado este, como um processo político composto por um aglomerado de

ações políticas. Após esta fase, a consecução das políticas pelos entes governamentais

classifica-se como um modelo institucional, no qual, a política é entendida como um produto

da instituição.

A adoção de medidas para introdução de uma proposta de reutilização da água na

esfera pública, principalmente pela administração direta, representa um importante fator de

influência na percepção tanto institucional quanto social, possibilitando a adesão de uma

postura voltada à gestão preventiva e o incentivo de uma prática de forma sistêmica. Com

isso, reaplicar a água em obras públicas, escolas estaduais e unidades prisionais, oportuniza o

desenvolvimento sustentável, tendo em vista os benefícios agregados a toda sociedade:

redução no consumo energético despendido no processo de produção, tratamento e

distribuição de nova quantidade de água potável; ampliação do volume de água potável à

população; possibilidade de consumo de água tratada por parte de um grupo ainda não

atendido por este serviço básico; otimização dos custos destinados ao tratamento de água e

esgoto; refreamento no índice de poluição dos rios; e, por conseguinte, benefícios ao meio

ambiente.

Pode-se observar que os representantes da administração indireta que desenvolvem

projetos e ações relativos à reutilização da água, buscaram aliar os interesses sociais aos

econômicos, principalmente a redução de custos, e a consequente ampliação de receitas. Em

contrapartida, na administração direta do Estado do Rio de Janeiro, a adoção da filosofia

Page 12: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

12

encontra-se em fase de amadurecimento, com a propositura de projetos de leis em tramitação

no legislativo estadual, diferentemente de outras unidades da federação que já encontram uma

legislação consolidada. Com isso, percebe-se um descompasso no âmbito legalista estadual

enquanto política pública, entretanto existem iniciativas pontuais relacionadas à questão da

reutilização da água por parte do setor público.

Não sendo o foco desse trabalho, observa-se a necessidade de uma análise criteriosa

em novas pesquisas quanto aos meios atuais ou ausentes que estimulem o reuso da água por

meio de tributação diferenciada, uma fiscalização ostensiva, o incentivo ás tecnologias sociais

inovadoras e a conscientização social efetiva.

6 - Referências

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13.969: Tanques sépticos -

Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos - Projeto,

construção e operação. Rio de Janeiro, 1997. 60 p.

ABIB, C. H. et. al. Desenvolvimento sustentável e reciclagem de água. Revista Terceiro setor.

v. 4, n. 1. UNG, 2010.

BRASIL, Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Resolução nº 54/2005. Estabelece

modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso direto não potável de água, e

dá outras providências. Disponível em: http://www.cnrh.gov.br/index.php?option=com_conte

nt&view=article&id=14. Acesso em 25 abr. 2015.

_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

_______, Ministério do Meio Ambiente. Cartilha da Agenda Ambiental na Administração

Pública (A3P). 5ªed. Brasília: MMA, 2009. Disponível em: www.mma.gov.br/estruturas/a3p

/_arquivos/cartilha_a3p_36.pdf. Acesso em 02 de mai. 2015.

_______, Presidência da República. Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997: Institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei

nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em 25 abr. 2015.

CAMARGO, A. L. B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas, SP:

Ed. Papirus, 2003.

CAPRA, F. A teia de vida. São Paulo: Cultrix, 2006.

DYE, T. R. Mapeamento dos modelos de análise de políticas públicas. In: Políticas Públicas e

Desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análise. Tradução Francisco G.

Page 13: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

13

Heidemann e José Francisco Salm. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009. p. 99-

129.

EASTON, D. The political system. Nova York: The Free Press, 1953.

EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO. Cedae aproveita água de reuso para

limpeza urbana no Rio. 10 mar. 2015. Disponível em:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-03/cedae-aproveita-agua-de-reuso-para-

limpeza-urbana-no-rio. Acesso em 27 jul. 2015.

FIRJAN. Manual de conservação e reúso da água na indústria. Rio de Janeiro: DIM, 2006. 38

p.: il.

KAPLAN, A.D.; LASSWELL, H. D. Poder e sociedade. Brasília: Ed. Universidade de

Brasília, 1979.

KINGDON, J. W. Agendas, Alternatives and Public Policies. Boston: Little Brown, 1984.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. – São

Paulo: Atlas, 2010.

PETER, G; PIERRE, J. (org.). Administração pública: coletânea/B. Tradução Sonia Midori

Yamamoto, Mirian Oliveira – São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: ENAP, 2010.

PETROBRAS. Reuso de água gera economia de 24 bilhões de litros por ano. Fatos e dados.

22 de mar. 2014. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/reuso-de-agua-

gera-economia-de-24-bilhoes-de-litros-por-ano.htm. Acesso em 27 jul. 2015.

PETROBRAS. Estação de reúso de água do Cenpes gera economia de 280 milhões de litros.

Fatos e dados. 01 de jun. 2014. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-

dados/estacao-de-reuso-de-agua-do-cenpes-gera-economia-de-280-milhoes-de-litros.htm.

Acesso em 27 jul. 2015.

PETROBRAS. Ganhamos prêmio da Firjan por economia de água na Reduc. Fatos e dados.

16 de jun. 2014. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/ganhamos-

premio-da-firjan-por-economia-de-agua.htm. Acesso em 27 jul. 2015.

PETROBRAS. Elevamos reúso de água em 3 bilhões de litros em nossas refinarias no Brasil.

15 de jan. 2015. Fatos e dados. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-

dados/elevamos-reuso-de-agua-em-3-bilhoes-de-litros-em-nossas-refinarias-no-brasil.htm.

Acesso em 27 jul. 2015.

PETROBRAS. Projeto patrocinado promove o reúso de água no sertão do Rio Grande do

Norte. 09 de abr. 2015. Fatos e dados. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-

dados/projeto-bioagua-promove-o-reuso-de-agua-no-sertao-do-rio-grande-do-norte.htm.

Page 14: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

14

Acesso em 27 jul. 2015.

PERNAMBUCO. Lei Nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011: Estabelece normas para o uso

racional e reaproveitamento das águas nas edificações do Estado de Pernambuco e dá outras

providências. Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Poder Legislativo. 28 dez. 2011. p. 2.

Disponível em:

http://200.238.101.22/docreader/docreader.aspx?bib=2011&pesq=lEI%2014572. Acesso em

06 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Lei Nº 6.034/2011: Dispõe sobre a obrigatoriedade dos postos de

combustíveis, lava-rápidos, transportadoras e empresas de ônibus urbanos intermunicipais e

interestaduais, localizados no Estado do Rio de Janeiro, a instalarem equipamentos de

tratamento e reutilização da água usada na lavagem de veículos. Diário Oficial do Estado do

Rio de Janeiro. Poder Legislativo. 08 set. 2011. p. 2. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/26373595/doerj-poder-legislativo-08-09-2011-pg-2.

Acesso em 02 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 2.851/2014: Cria o Programa Estadual de Reuso de

Efluentes das Estações de Tratamento de Esgoto - ETE's, para fins industriais, estabelece

incentivos para sua implementação e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio

de Janeiro. Poder Legislativo. 27 mar. 2014. p. 1. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/68191507/doerj-poder-legislativo-27-03-2014-pg-1.

Acesso em 06 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 51/2015: Altera a Lei Nº 6879 de 02 de setembro de

2014 que autoriza o Poder Executivo a instituir o Programa “Consumo Responsável” no

âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro. Poder

Legislativo. 29 mai. 2015. p. 8. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/92927447/doerj-poder-legislativo-29-05-2015-pg-8.

Acesso em 02 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 141/2015: Dispõe sobre a obrigatoriedade de

instalação de mecanismo de captação, armazenamento e conservação para reuso de água

proveniente de aparelhos de ar condicionado. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro.

Poder Legislativo. 12 mar. 2015. p. 2. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/87749248/doerj-poder-legislativo-12-03-2015-pg-2.

Acesso em 06 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 166/2015: Fica obrigada a utilização de água de reúso

pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. Diário Oficial do Estado do Rio de

Janeiro. Poder Legislativo. 13mar. 2015. p. 3. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/87849678/doerj-poder-legislativo-13-03-2015-pg-3.

Acesso em 06 ago. 2015.

Page 15: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

15

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 321/2015: Dispõe sobre o reuso de água não potável e

dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro. Poder Legislativo. 16 abr.

2015. p. 3. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/89860564/doerj-poder-

legislativo-16-04-2015-pg-3. Acesso em 02 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 328/2015: Cria o Programa de Reuso de Água em

postos de gasolina e lava jatos no Estado do Rio de Janeiro, e dá outras providências. 15 abr.

2015. Poder Legislativo. 12 mar. 2015. p. 15. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/87749248/doerj-poder-legislativo-12-03-2015-pg-15.

Acesso em 09 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 483/2015: Dispõe sobre o reuso de água em serviços

instalados no âmbito do Rio de Janeiro e dá outras providências. Poder Legislativo. 03 jun.

2015. p. 1. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/93235051/doerj-poder-

legislativo-03-06-2015-pg-1. Acesso em 09 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei Nº 668/2015: Dispõe sobre o controle de água potável

distribuída pela rede pública estadual, institui o Programa Estadual de Conservação e Uso

Racional da Água em Edificações, cria Concurso de Economia de Água nas escolas da rede

estadual e dá outras providências. Poder Legislativo. 06 ago. 2015. p. 2. Disponível em:

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/98394884/doerj-poder-legislativo-06-08-2015-pg-2.

Acesso em 12 ago. 2015.

RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado do Ambiente. Campanha em escolas conscientiza

sobre o uso da água. 04 fev. 2015. Disponível em:

http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=2324875. Acesso em 04 jul.

2015.

RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Obras. Cedae investe em projeto de reúso de

água. 30 jan. 2015. Disponível em: http://www.rj.gov.br/web/seobras/exibeconteudo?article-

id=2320829. Acesso em 04 jul. 2015.

RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado do Ambiente. Governo do Estado institui Gabinete de

Emergência para discutir ações de enfrentamento à crise hídrica. 10 fev. 2015. Disponível em:

http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=2331212. Acesso em 02 jul. 2015.

SANTOS, M. P. G. Políticas públicas e sociedade. – 2. ed. Reimp – Florianópolis:

Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012. 98 p.

SÃO PAULO. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Reúso da

água. São Paulo, SP. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/gesta_reuso.asp.

Acesso em 26 abr. 2015.

SÃO PAULO. Decreto Nº 45.805, de 15 de maio de 2001: Institui o Programa Estadual de

Uso Racional da Água Potável e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São

Page 16: Uma análise das políticas públicas para o ... de Souza... · utilização da água de reuso ... quais contribuam para o desenvolvimento sustentável, partindo de ações desenvolvidas

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

16

Paulo. Poder Executivo. 16 mai. 2001. Seção I. p. 2. Disponível em:

http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao=20010516&Cadern

o=EXECUTIVO%20I&NumeroPagina=2. Acesso em 06 ago. 2015.

SÃO PAULO. Decreto Nº 48.138, de 7 de outubro de 2003: Institui medidas de redução de

consumo e racionalização do uso de água no âmbito do Estado de São Paulo. Diário Oficial

do Estado de São Paulo. Poder Executivo. 8 out. 2003. Seção I. p. 3. Disponível em:

http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao=20031008&Cadern

o=EXECUTIVO%20SECAO%20I&NumeroPagina=3. Acesso em 18 jul. 2015.

SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. Pesquisa científica. [org.] Tatiana Engel Gerhardt e

Denise Tolfo Silveira. UAB/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. 120p.: il.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. São Paulo: Atlas, 1987.

U. S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Guidelines for Water Reuse.

Washington, 2012. Disponível em: http://nepis.epa.gov/Adobe/PDF/P100FS7K.pdf. Acesso

em 14 jun. 2015.

WWF Brasil. O que é desenvolvimento sustentável? Disponível em:

http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel

/. Acesso em 26 abr. 2015.