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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE
FACULDADE DAS CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – FACE
CURSO DE PEDAGOGIA
CLAUDIA WEMBLER DA SILVA EDNA LOPES DE MEIRA CAMPOS
ESTEFANY PAULY DA SILVA LUCINEIA FLOR DE OLIVEIRA
MARIANA DOS SANTOS ALMEIDA
UMA ABORDAGEM SOBRE O BULLYING
Governador Valadares-MG 2013
CLAUDIA WEMBLER DA SILVA EDNA LOPES DE MEIRA CAMPOS
ESTEFANY PAULY DA SILVA LUCINEIA FLOR DE OLIVEIRA
MARIANA DOS SANTOS ALMEIDA
UMA ABORDAGEM SOBRE O BULLYING
TCC apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências, Educação e Letras da Universidade Vale do Rio Doce como requisito parcial para a obtenção do título de Pedagogo.
Orientadora: Prof.ª Eliene Nery Santana Enes
Governador Valadares-MG
2013
CLAUDIA WEMBLER DA SILVA EDNA LOPES DE MEIRA CAMPOS
ESTEFANY PAULY DA SILVA LUCINEIA FLOR DE OLIVEIRA
MARIANA DOS SANTOS ALMEIDA
UMA ABORDAGEM SOBRE O BULLYING
TCC apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências, Educação e Letras da Universidade Vale do Rio Doce como requisito parcial para a obtenção do título de Pedagogo.
Orientadora: Prof.ª Eliene Nery Santana Enes Governador Valadares, _____ de _______________________ de _____. Aprovadas em
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________ Prof.ª. Mestre Eliene Nery Santana Eres – Orientadora
Universidade Vale do Rio Doce
_________________________________________________ Profa. Mestre Renata Grego de Oliveira
Universidade Vale do Rio Doce
_________________________________________________
Profa. Mestre Erika Christina Gomes de Almeida
Universidade Vale do Rio Doce
AGRADECIMENTOS
Agradecemos, primeiramente a Deus, que com sua imensa sabedoria nos possibilitou a
chegada ao mundo acadêmico, ultrapassando as barreiras encontradas no caminho
onde muitas vezes nos intentaram desanimar, mas com nossa perseverança logo
retomamos o fôlego e assim prosseguimos na jornada que sabemos termos que
enfrentar em tudo o que formos fazer.
Aos nossos familiares, que de uma forma direta ou indireta contribuíram para que essa
caminhada logo chegasse ao seu destino, e que com muita compreensão abriram mão
de muitos momentos de lazer para nos ouvir e até nos orientar nos momentos de
ansiedade.
Aos nossos filhos que de uma maneira direta, nos motivaram a querer buscar sermos
melhores como corpo docente e querermos uma educação de qualidade.
Aos professores que passaram e que permaneceram em nossas trajetórias, fazendo-
nos refletir, a buscar o conhecimento que pensávamos está escondido em algum lugar,
que nos incentivavam a cada momento de desmotivação, que nos ensinou a arte de se
apaixonar por cada disciplina, até as mais "difíceis". A todos, nosso carinho e respeito.
Conflitos são próprios de um ambiente onde as pessoas convivem. Começam por uma razão identificada e terminam quando a questão é resolvida. No caso do bullying não há motivo que explique ou justifique tal perversidade sem fim, sem data nem hora para acabar. As feridas abertas acompanham os alunos-alvo por toda a vida. Para algumas vítimas, esse é um preço muito alto, que não vale a própria vida. (CHALITA, 2008, pg. 124)
RESUMO
Neste presente trabalho de conclusão de curso buscamos através de uma revisão
bibliográfica falar sobre o fenômeno bullying no ambiente escolar, quais suas
implicações na vida das vítimas e algumas formas de prevenção. Fazemos uma breve
abordagem sobre o conceito de violência, em seguida sobre o que é bullying, como se
comportam as vítimas e os agressores e quais ações já foram feitas para prevenir esse
fenômeno. Em nossas leituras sobre as diversas formas de violência, entendemos o
bullying como prática de violência tanto física como psicológica que se diferencia das
demais violências por fazer com que o indivíduo sofra por meio de constrangimento ou
atitudes que o inferiorizam de maneira constante. Embora possa acontecer em outros
espaços, nossa pesquisa buscou compreender e limitar-se somente na prática do
bullying no âmbito escolar.
Palavras chaves: Violência escolar, Bullying, Prevenção.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................8
2 DA VIOLENCIA AO BULLYING..................................................................................10
2.1 O QUE É O BULLYING.............................................................................................14
3 BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR: PREVENÇÃO............................................24
4 CONCLUSÃO..............................................................................................................30
REFERÊNCIAS...............................................................................................................31
8
1 INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) busca realizar uma revisão
bibliográfica sobre bullying, priorizando a discussão sobre sua manifestação no
contexto escolar. Essa temática foi pensada no percurso da graduação de Licenciatura
em Pedagogia, quando nas disciplinas se apresentaram discussões sobre
comportamentos dos alunos, atitudes inadequadas e situações de violência vividas na
escola. Também influenciaram nossa escolha situações vividas de modo pessoal, que
nos fizeram refletir sobre o tema com o desejo de aprofundar conhecimentos e intervir
na realidade escolar quando situações como essas se apresentarem.
Reconhecemos a escola como espaço privilegiado, onde se busca
conhecimentos, mas também espaço de formação e atitudes, espaço de interação
social, de relações entre pares, onde se deve discutir e buscar modos de lidar com o
bullying de forma preventiva. No cotidiano da escola, nos pátios, corredores e até
mesmo nas salas de aula, as brincadeiras são inevitáveis, fazem parte das relações
sociais. Porém, brincadeira tem limites e quando extrapolam esses limites, podem criar
situações de constrangimento, humilhação, com prejuízos ao aluno passando a ser
tratadas como bullying.
Nesse sentido, fazemos referência ao nosso cotidiano escolar, onde observamos
nos espaços escolares situações de violência verbal, psicológica e física. Esses
comportamentos existem como formas de agressividade entre alunos ou pequenos
grupos com brigas por razões fúteis, em que os mais fortes buscam dominar os mais
fracos, com intimidações. Essas situações têm aumentado muito trazendo inquietações
aos profissionais da educação que buscam parcerias com a 1Polícia Militar no sentido
de buscar apoio na mediação de conflitos entre alunos e prevenção da agressividade.
Quando tem uma confusão, ou seja, uma situação mais difícil que a diretora ou a
supervisora não conseguem resolver, ou quando a situação foge aos limites das
1 A Polícia Militar de Governador Valadares atua na mediação de conflitos com o GOE- Grupo de Operações Especiais.
9
escolas, a Polícia Militar é chamada para dar suporte, conversar e chamar atenção no
caso do agressor e tentar apaziguar a situação ali presente.
Entendemos que o bullying é um tema atual, com necessidade urgente de
debates nas escolas, no intuito de oferecer aos professores conhecimentos e
informações de como combater e prevenir situações de bullying. O tema envolve não só
a área da Educação como também a área da Saúde, onde o bullying é considerado um
problema de saúde pública, pois traz consequências diretas na área emocional, no
psicológico de quem é vítima. Consideramos que o estudo nos oferece contribuição
para nossa formação individual e colabora com os profissionais da educação que
desejam discutir o bullying.
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi uma abordagem qualitativa, realizada
por meio de revisão bibliográfica em autores que discutem a temática. Buscamos de
modo geral compreender o bullying e discutir sua prevenção no contexto escolar. Os
objetivos específicos são: compreender o conceito de bullying; caracterizar situações de
bullying e suas consequências e identificar propostas de prevenção no contexto
escolar.
O presente trabalho está organizado com introdução, dois capítulos, relato de
uma das autoras desse trabalho e a conclusão. O primeiro capítulo trata do conceito de
violência e bullying em seguida falamos sobre as vítimas e os agressores. O segundo
capítulo busca analisar formas de prevenção do bullying no contexto escolar com apoio
dos pesquisadores do tema e trabalhos realizados em escolas locais. Por último, na
conclusão apresentamos algumas considerações sobre a realização deste trabalho.
Pretendemos com esse trabalho, contribuir com as discussões sobre o bullying
no contexto escolar e abrir espaço para outros estudos que favoreçam nossa formação
profissional como educadoras.
A partir da escolha do tema apresentamos algumas indagações: o que é bullying
e quais são os tipos de bullying? Como identificar a vítima e o agressor e quais as
consequências para a vítima de bullying? Quais devem ser as ações do corpo docente
em busca de solução para o bullying no contexto escolar? Essas são indagações que
buscamos discutir o que nos capítulos a seguir.
10
2 DA VIOLÊNCIA AO BULLYING
O bullying é uma forma de manifestação da violência, portanto, iniciando esse
capítulo antes de trazer concepções sobre o bullying é importante conceituar violência,
fenômeno que está presente em todos os setores da sociedade com reflexos dentro
das escolas tornando o papel de seus agentes, tanto do corpo docente quanto do
discente, um desafio a ser superado a cada dia.
Arrieta, Grolli e Polenz (2000) trazem a definição de violência, a princípio, como
toda forma de agressão física ou moral à vida ou propriedade do outro, e tem caráter de
crime. Para os autores, a violência faz parte da natureza humana onde todos estão
envolvidos com ela direta ou indiretamente em níveis de proporções diferentes em cada
indivíduo, ou seja, uns são mais violentos outros menos, mas todas as pessoas tem
dentro de si, agressividade. Acreditamos que essa afirmação é verdadeira, pois a
violência está presente na sociedade, porém vai depender de cada pessoa manifestar
ou não alguma atitude de violência contra algo ou alguém.
Diferente da violência intencional, algumas situações podem fazer com que as
pessoas pratiquem algum ato violento sem se dar conta ou sem a devida reflexão,
respondendo ao impulso de uma situação vivenciada. Os autores também apontam
situações de violência, que consideramos como violência simbólica e dão exemplos:
Sobre as notas dos alunos: “Esse garoto está em minhas mãos. Vai aprender quando souber de sua nota”. O olhar: “Aquele monstro (Professor) me humilhou e pisoteou com seus olhos diante de mim”. O palavrão: “Ainda me perseguem aquelas palavras desgraçadas: você é burra”. Os gestos: "Aquele dedo em riste do professor ainda me persegue, hoje, 23 anos depois". Imposições religiosas: “Ele me disse que a única saída pra mim era o caminho de Judas - procurar uma árvore e me enforcar” (ARRIETA, GROLLI E POLENZ, 2000, p.43).
Outro aspecto que pode influenciar indiretamente a violência escolar é o
chamado currículo oculto onde por meio dele “são transmitidas ideologias, concepções
de mundo pertencentes a determinados grupos hegemônicos na sociedade que servem
para reproduzir as desigualdades sociais” (RIVAS, 2005, p. 9).
11
Entendemos o currículo por conteúdos estabelecidos a serem transmitidos nas
escolas, e ainda, as questões políticas, sociais e culturais. Consideramos o currículo
como uma ferramenta conceitual que busca responder às perguntas: o que ensinar?
Como? Porque ensinar?
Silva (2003) explica o conceito de currículo oculto, que faz parte do cotidiano
escolar. Currículo Oculto, para o autor, é tudo aquilo que não faz parte da estrutura do
currículo oficial da escola, explicitamente, mas que contribui de maneira implícita, para
as aprendizagens sociais e relevantes. Silva (2003) enfatiza também, que através do
currículo oculto, são ensinados noções de ambiente espaço, atitudes regras, valores.
Fante (2005), alerta para as atitudes do professor, que muitas vezes por não saber lidar
com problemas de violência na sala de aula, acabam reproduzindo os comportamentos
dos alunos, agindo com agressividade verbal. Nesse sentido entendemos que o
currículo é um tema ambíguo que contribui e influencia a formação do caráter do
educando suas normas éticas e culturais. Portanto, julgamos importante estar atento ao
currículo oculto, buscando saber identificar as ações desse tema ambíguo e usá-lo a
favor do processo de aprendizagem do aluno.
Por falta de entendimento e clareza por parte dos professores, os mesmos
acabam por reproduzirem efeitos do bullying também de forma camuflada, de modo não
intencional, por exemplo, quando simplesmente privilegiam alguns alunos e excluem
outros, fazendo comparações entre os grupos de alunos. Compreendemos que nesse
sentido ocorre uma ação presente no currículo oculto.
A seguir, reproduzimos um diálogo resultante de nossa observação em situação
de estágio curricular do curso de licenciatura em Pedagogia:
“Professora:” Gabriel, leia aqui pra mim...
Aluno: Não sei professora.
Professora: Sabe sim, menino.
Aluno: Eu não sei!
Professora batendo na carteira com muita arrogância: “Para de fazer gracinha,
leia aqui agora, você não é burro".
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Ao analisar a prática da professora percebemos a ação do currículo oculto,
quando a professora em sua atitude, reproduz uma ideologia e nesse caso, não se trata
de bullying.
Compreendemos que as consequências do bullying podem trazer prejuízos para
a vítima e acarretar danos psíquicos, medo, insegurança e dificuldades de
aprendizagem. Citamos aqui, o relato de uma situação de bullying que uma das
participantes do grupo deste trabalho acompanhou de perto e que auxilia a
compreensão de situações de bullying no contexto escolar:
Observando esses exemplos de violência intencionais e de um momento de
impulsividade, podemos dizer que algumas dessas atitudes podem deixar marcas para
toda vida.
Os exemplos citados lembram a discussão de Bourdieu e Passeron (1975) sobre
violência simbólica definida como algo imposto a alguém, deixando-o sem opção de
escolha, onde há uma hierarquia de poderes seja na comunidade em que frequenta,
seja na mídia, em casa, na política, na religião, etc.
Nesse sentido entendemos que a violência simbólica, não está presente somente
nas escolas, embora seja o foco da nossa pesquisa, mas também a repercussão dessa
violência ocorre em diversos lugares como na família, na sociedade, na mídia, nas
ações e gestos de um indivíduo para com o outro, na relação aluno/professor, ou vice-
versa. Nogueira e Nogueira (2009) atentando para os sistemas simbólicos na
sociedade, afirmam que a desigualdade social é propiciadora da violência simbólica
devido aos seus produtos simbólicos adquiridos ao longo do tempo, como as ações
governamentais, que agem camufladamente como violência simbólica e dominação das
camadas dominantes.
Segundo Bourdieu (1975), a escola reproduzir a violência e desigualdades
sociais. É o que também aponta Arrieta, Golli e Polenz (2000), a violência existe em
todos os espaços sociais e se faz presente também no ambiente escolar.
Marra (2007) em seus estudos, constata que quando a violência não vem de fora
pra dentro das escolas, são os próprios participantes da comunidade escolar, ou seja,
pais, alunos, professores, gestores e funcionários da escola, que manifestam atitudes
violentas contra o próprio patrimônio ou contra pessoas. Isso contribui para que a
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escola perca a característica de lugar onde se aprende a ser bom cidadão, a ter
carácter, boas maneiras, um lugar onde se busca e adquire conhecimento. A
constatação da autora pode ser observada no cotidiano escolar. Em nossa prática
pedagógica, em nossas visitas e trabalho de estágio curricular, nas escolas,
observamos muitas situações que consideramos como violência contra alunos e entre
os alunos e seus pares.
Marra (2007) traz a violência entendida como uso da força, de forma exagerada
contra o próximo, uso indevido de poder contra alguém. Significa “força que
abusivamente se emprega contra o direito; opressão, tirania; constrangimento exercido
sobre uma pessoa; coação” (MARRA, 2007, p. 34).
Para Gilberto Velho (1996) onde for necessário ameaçar, usar a força física e o
poder para impor algo, também é considerado um ato de violência.
Arendt (2001) afirma que a violência desentitula o poder, ou seja, não existe mais
poder onde é necessário usar a violência.
Para ajudar a definir o que é violência contamos também, com estudos de
Abramovay (2010). Para a autora a violência é fruto do subjetivo contemporâneo, onde
os laços sociais e as relações entre pessoas ficam de lado; as pessoas estão sempre
procurando ser melhores que as outras, o que Abramovay cita como “cultura do
narcisismo”.
Na realidade atual, muitos tipos de violência surgem como forma de expressão. A violência muda, e a mudança está também nas representações do fenômeno. Se frequentes e numerosos esforços são empreendidos no sentido de fornecer uma apresentação objetiva, convertida em cifras, da violência – estatísticas de crimes, de delinquência, de motins, etc. – está também não deixa de ser altamente subjetiva, ela é aquilo que em um dado momento uma pessoa, um grupo, uma sociedade considera como tal (ABRAMOVAY, 2010, p. 40, 41).
Abramovay (2010) enfatiza o consumismo que diariamente vem se tornando
cada vez mais exagerado. As pessoas estão sendo moldadas pela quantidade de
produtos e de posses. O desejo de ter aguçado, leva a competição que alimenta a
violência entre as pessoas e principalmente entre os jovens. Muitos deles por não ter
condições ou oportunidades (lembrando que isso não é uma regra), acabam entrando
14
para o mundo do crime em busca de reconhecimento, como forma de chamar atenção
para quem vive as margens da sociedade.
Entendemos que a violência é um tema bastante amplo, onde não há um
consenso em sua definição fazendo com que esse tema dê margens para várias
discussões de forma mais específica em cada uma, ou seja, sobre as várias formas de
manifestação da violência, seja ela dentro do ambiente escolar ou fora dele. Falar sobre
violência não é uma tarefa fácil, e apesar de ser um tema bastante discutido e
pesquisado, acreditamos que os estudos a cerca desse tema favorece a sociedade de
modo geral na busca de esclarecimentos sobre o fenômeno.
Observando as definições acima podemos dizer que o significado de violência é
bem amplo, com as mesmas características: usar a força contra uma pessoa ou um
objeto, patrimônio público, etc. Coagir alguém, intimidar, fazer passar por algum tipo de
constrangimento. Todos esses significados contribuem para compreensão do fenômeno
bullying que vamos abordar a seguir que também, é considerado como um ato de
violência.
2.1 O QUE É O BULLYING?
Para responder essa questão em nosso estudo trazemos alguns autores, como
Constantini (2004); Fante (2005); Fante e Pedra (2008); Chalita (2008); Sousa (2008);
Constantini (2004); Silva (2010) e Torres (2011).
Os autores afirmam que esse tipo de violência está presente em nossas vidas e
muitas vezes passa despercebida, dessa forma, podendo causar consequências graves
em suas vítimas.
Para Constantini (2004) bullying é:
(...) um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica. É uma ação de transgressão individual ou de grupo, que é exercida de maneira continuada, por parte de um indivíduo ou por um grupo de jovens definidos como intimidadores nos confrontos com uma vítima predestinada (CONSTANTINI, 2004, p. 69).
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Conforme a citação acima e a discussão anterior sobre violência podemos
observar que o bullying está ligado aos outros tipos de violência no sentido de que o
agressor se sente superior a quem está sendo alvo da agressão, e quem está sendo
agredido se sente coagido, forçado a aceitar brincadeiras de mau gosto calado, pois
tem medo de se abrir com alguém, fazendo com que quem agride se sinta mais forte e
mais encorajado a continuar com as humilhações. A vítima sofre constrangimentos
constantes diante dos outros.
Fante e Pedra (2008) explicam o bullying a partir da origem da palavra onde
“bully pode ser traduzido como valentão, tirano, brigão”. Além dessa definição os
autores trazem o significado de bully na forma verbal e como substantivo:
Como verbo, bully, significa tiranizar, amedrontar, brutalizar, oprimir, e o substantivo bullying descreve o conjunto de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender (FANTE e PEDRA, 2008, p.34).
A partir da definição de Fante e Pedra (2008) que está de acordo com
Constantini (2004) podemos dizer que o bullying é diferente de uma simples brincadeira
e pode deixar marcas para toda vida em uma pessoa. Fante e Pedra (2008) enfatizam:
O bullying é diferente de uma brincadeira inocente, sem intenção de ferir; não se trata de um ato de violência pontual de troca de ofensas no calor de uma discussão, mas sim de atitudes Hostis, que violam o direito a integridade física e psicológica e à dignidade humana. Ameaça o direito à educação ao desenvolvimento, à saúde e à sobrevivência de muitas vítimas. As vítimas se sentem indefesas, vulneráveis, com medo e vergonha, o que favorece o rebaixamento de sua autoestima e a vitimização continuada e crônica (FANTE e PEDRA, 2008, p. 9).
Entendemos ser bastante importante o alerta do autor, pois muitas vezes
podemos confundir bullying com agressões momentâneas ou brigas passageiras. De
acordo com o autor o bullying: “Ameaça o direito à educação ao desenvolvimento, à
saúde e à sobrevivência de muitas vítimas”, ou seja, pode causar consequências
devastadoras na vida de um aluno vítima de tal violência. Entendemos que o bullying é
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como ato de violência pode envolver brincadeiras e zoações agressivas, onde somente
o agressor se diverte, enquanto o alvo das brincadeiras sofre com atitudes alheias.
Segundo Torres (2011) bullying significa:
Todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder (TORRES. 2011, p.9).
A partir dessa definição compreendemos que quem pratica o bullying sente uma
certa superioridade sobre a pessoa alvo da violência e a vítima se sente acuada e sem
reação. Entendemos que todas as atitudes contínuas de agressão ou apelidos que vem
de mais de um aluno que causa tristeza, angustias, mágoas e até mesmo
constrangimentos com outro colega que se sente diferente caracteriza o bullying.
Uma vítima de bullying é identificada quando a mesma se encontra sempre pelos
cantos de casa chorando, se sente ameaçada, com medo, triste, desanimado,
autoestima baixa e sem vontade de ir para a escola todos os dias, pois o medo às
intimidações aos poucos mexe até com o psicológico da pessoa que está sendo vítima
do bullying.
Para identificar os atores do bullying buscamos apoio principalmente nos
estudos de Chalita (2008), Torres (2011), Cléo Fante (2005). Esses autores são os
pesquisadores principais nesse trabalho, que buscam aprofundar estudos sobre essa
temática, além de outros como Martins (2005), Sousa (2008) e Silva (2010).
Sobre as consequências do bullying, Torres (2011) em seu livro "Bullying:
Vingança Silenciosa" traz um relato pessoal que vale a pena destacar:
Quando eu era criança também fui vítima de bullying, que só terminou no dia em que eu e meu irmão reagimos com violência, que felizmente me deu apenas uma cicatriz na testa, e não cicatriz psicológica como acontece com muitos jovens, que os leva a mudar radicalmente o comportamento com reflexos muitas vezes pata toda vida. Meu filho mais velho também sofreu com essa prática, o que o levou a ter uma briga corporal com os colegas, e por último meu netinho se transferiu de uma escola em razão de coleguinhas que o perturbavam a ponto de desestimulá-lo a voltar às aulas (TORRES, 2011, p.10).
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O autor destaca ainda que houve uma época em que o bullying era tratado como
algo natural pelos professores e pais de alunos, para eles, não passava de brincadeiras
de criança. Essa postura dos pais e professores só fazia levar as vítimas a sofrerem
caladas tendo como consequência danos psicológicos.
Segundo Chalita (2008), todo o corpo docente precisa observar e se fazer
presente, pois geralmente a violência acontece em áreas da escola onde não há
supervisão e a vítima se sente desencorajada a falar com outra pessoa, escolhendo
sofrer até que alguém perceba o que está acontecendo. Para o autor:
A escola pode sim tornar-se um lugar constrangedor. Sob a roupagem de brincadeira de mau gosto, o fenômeno bullying invade silenciosamente os espaços escolares, furtando de crianças e jovens a possibilidade de sonhar. As experiências de dor, de angústia e de humilhação, vividas solitariamente, deixam cicatrizes e podem trazer graves consequências para os adultos que essas crianças serão (CHALITA, 2008, p. 85).
Fante (2005) alerta que na realidade, muitos professores não estão preparados,
ou não sabem identificar o bullying na sala de aula considerando as "brincadeiras" de
mau gosto, como uma prática "normal” entre os alunos ou brincadeiras próprias da
idade. Entendemos que é preciso que os professores busquem informações e
conhecimentos para que possam identificar e prevenir situações de bullying.
Nesse sentido, não poderemos deixar de mencionar a importância do papel do
educador na identificação dos protagonistas do bullying, afinal são os professores que
no convívio do cotidiano escolar podem observar situações de bullying ou que possam
vir a ser caracterizadas como tal.
Fante (2005) afirma que bullying passou a ser considerado como um problema
de saúde pública, devendo ser identificado pelos profissionais em razão dos danos
físicos e emocionais sofridos pelos envolvidos. O autor cita três critérios que auxiliam a
identificação de casos de bullying no contexto escolar: ações repetitivas contra a
mesma vítima; desequilíbrio de poder, dificultando a defesa da vítima e falta de motivos
para o a devida agressão.
Martins (2005) insere o bullying em três categorias: o direto e físico que inclui
bater, ameaçar, extorquir, forçar comportamento; o direto e verbal que engloba insultar,
apelidar, gozações, salientar características de modo negativo; e o bullying indireto, que
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se refere a situações como excluir sistematicamente do grupo de pares, espalhar
boatos, manipular a vida social.
A cartilha do Conselho Nacional de Justiça de Silva (2010) traz um comparativo
entre as formas como o bullying se manifesta no Brasil e em outros países dos Estados
Unidos e Europa:
Em linhas gerais o bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em todas as partes do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte do cotidiano dos jovens. Alguns países, no entanto, apresentam características peculiares na manifestação desse fenômeno: nos EUA, o bullying tende a apresentar-se de forma mais grave com casos de homicídios coletivos, e isso se deve à infeliz facilidade que os jovens americanos possuem de terem acesso as armas de fogo. Nos países da Europa o bullying tende a se manifestar na forma de segregação social a até da xenofobia. No Brasil, observam-se manifestações semelhantes às dos demais países, mas com peculiaridades locais: o uso de violência com armas brancas ainda é maior que a exercida com armas de fogo, uma vez que o acesso a elas ainda é restrito a ambientes sociais dominados pelo narcotráfico. A violência na forma de descriminação e segregação aparece mais em escolas particulares de alto poder aquisitivo, onde os descendentes nordestinos, ainda que economicamente favorecidos, costumam sofrer discriminação em função de seus hábitos, sotaques ou expressões idiomáticas típicas. Por esses aspectos é necessário sempre analisar, de maneira individualizada, todos os comportamentos de bullying, pois as suas formas diversas podem sinalizar com mais precisão as possíveis ações para a redução dessas variadas expressões da violência entre estudantes (SILVA, 2010, p. 13).
Observamos por meio dessa comparação que no Brasil o bullying se manifesta
com características semelhantes às dos outros países, apesar do difícil acesso a armas
de fogo, temos casos de invasões a estabelecimentos ou instituições escolares de
pessoas armadas, além do uso de armas brancas. O bullying por meio do preconceito
racial ou cultural também acontece muito, principalmente nas escolas.
Destacamos também nesse trabalho outro aspecto de violência que achamos
pertinente mencionar que é o bullying virtual ou cyberbullying.
Para Mason (2008) a popularidade da Internet e de outras tecnologias, sobretudo
as de comunicação, dentro das salas de aula, fez surgir uma nova forma de agressão e
ameaça entre os alunos: o cyberbullying. Para o autor o cyberbullying, no fundo, é um
modo dissimulado de agressão verbal e escrita. Os agressores intimidam suas vítimas
através de dois meios – o computador e o celular. Através do computador, a vítima
recebe mensagens ameaçadoras nos e-mails e redes sociais. Enviam-lhes imagens
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obscenas, insultos em chats. O agressor pode, até mesmo, criar blogs ou websites para
promover conteúdos difamatórios, o que faz do cyberbullying uma forma de violência
invasiva que ameaça os estudantes até fora da escola.
Cléo Fante em 14/06/2010 concedeu uma entrevista sobre os perigos do
cyberbullying nas escolas ao site conexão professor do governo estado do Rio de
Janeiro, onde afirma que as principais ferramentas utilizadas hoje pelos jovens para a
prática do cyberbullying além dos e-mails, fóruns, blogs, fotologs, jogos online e
mensagens por telefone celular são as redes sociais como orkut, Twitter, facebook, etc.
Fante afirma ainda que o cyberbullying é considerado mais perigoso do que o bullying
que acontece nas escolas porque a notícia se espalha com mais facilidade, chega com
mais rapidez a todos que fazem parte das redes na internet por ser um espaço público
onde todos estão interligados.
Além do mais, no ambiente escolar é mais fácil para a vítima identificar o autor de bullying, enquanto no espaço virtual a identificação é mais difícil, o que acaba por converter os colegas em suspeitos, fato que pode comprometer o processo de socialização (FANTE, 2010).
Observamos na fala de Fante (2010) que o bullying no espaço virtual é mais
difícil de ser percebido pelos professores, exigindo uma maior percepção no
comportamento dos alunos. Os próprios alunos vítimas começam a observar os outros
colegas e por não saber de quem são os autores das agressões virtuais, começam a
desconfiar de todos. Para Fante a internet é usada para cometer essa prática por
pessoas que não tiveram uma orientação sobre como usar essa ferramenta, onde
muitas vezes esquecem que se trata de um espaço público. Em resposta à pergunta:
“Quais são os motivos que podem levar um adolescente a intimidar outros pela
internet?” feita pelo site conexão professor, Cléo Fante responde:
Os motivos estão associados, principalmente, à falta de orientação para o uso ético e responsável na utilização da tecnologia, bem como a falta de canais de comunicação entre os usuários e seus familiares para que possam denunciar e buscar auxílio. A falta de orientação e de comunicação acaba por estimular o cyberbullying, uma vez que os usuários desconhecem ou se esquecem que estão frequentando um espaço público de convivência. Por outro lado, mais grave ainda, acaba facilitando a prática de atos ilícitos ou infracionais, que poderiam ser evitados (FANTE, 2010).
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Torna-se evidente a importância da presença de um professor e de todos os
outros profissionais da educação bem informados, qualificados e que se atualizam de
acordo com as mudanças dentro do espaço escolar, para que dessa forma possam
orientar os alunos sobre os riscos do mau uso das redes sociais e de outros sites da
internet, mostrando que se trata de um espaço público, ou seja, é preciso respeitar o
espaço do outro da mesma forma que acontece fora da internet e que quando esse
espaço não é respeitado, o autor do mau uso das ferramentas cibernéticas poderá ter
que responder judicialmente pelos seus atos.
As vítimas do bullying, conforme Fante (2005) são classificadas como: vítima
típica, vítima provocadora, vítima agressora. A vítima típica é aquela que não dispõe de
habilidades e nem recursos para se defender devido sua aparência, timidez, baixa
autoestima e às vezes dificuldades de aprendizagem. Essas características deixam a
vítima mais frágil e sem argumentos de defesa.
A vítima provocadora, é aquela que provoca, atrai reações agressivas. Por
último, a vítima agressora, aquela que reproduz a agressão recebida, em indivíduos
mais frágeis transformando assim a prática do bullying em uma dinâmica hierárquica
aumentando o número de vítimas.
Para o autor as vítimas do bullying são identificadas geralmente por suas
fragilidades sejam elas intelectuais ou aparência física e, não escolhe classe social,
gênero ou raça. Às vezes as crianças com necessidades educacionais especiais, são
alvos perfeitos para a ação dos agressores, por serem na maioria das vezes indefesos,
e/ou por não saberem se expressar. Também as crianças das séries iniciais também
fazem parte desse alvo, pois devido à pouca idade poderão sofrer as relações de poder
por parte dos alunos mais velhos devido à série que cursam.
Outros aspectos sobre as vítimas do bullying que vale destacar são a regras do
silêncio é predominante dentre os agredidos, pois esses se sentem constantemente
ameaçados pelos autores e indefesos e não se reportam aos adultos ou pais sobre o
que está acontecendo.
Para falar sobre o autor da agressão trazemos também Torres (2011), que diz:
Todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou
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mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder (TORRES, 2011, p.9).
Compreendemos com a definição de Torres (2011), que quem pratica o bullying
sente certa superioridade sobre a pessoa alvo desse tipo de violência, pois a vítima
diante dessa situação se sente acuada e sem reação, com isso o agressor se encoraja
para desferir os atos que deixaram essa vítima cada vez mais angustiada e que por
medo opta na maioria das vezes por sofrer calada, pois temem a perseguição dos
agressores. Para o autor, as formas de bullying mais comuns, utilizadas pelos
agressores são apelidos com sentidos desagradáveis que depreciam ou desdenham a
vítima.
Nesse sentido, a participação efetiva dos pais e professores na observação do
comportamento de seus pupilos é essencial na identificação do bullying. Geralmente,
quando a criança sofre bullying ocorre mudanças de comportamento no contexto
escolar, em casa, que deixam margem para observação de que algo não vai bem.
Também se podem notar outras modificações no comportamento como: falta de apetite,
insatisfação, desencanto pela escola, não brinca, falta de perspectiva, isolamento, ou
ainda queda dos fatores cognitivos.
Silva (2010) aponta como os pais e professores podem ajudar a superar o
sofrimento dos alunos vítimas de bullying:
A identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma importância. As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola, por medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Os pais não devem hesitar em buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental, para que seus filhos possam superar traumas e transtornos psíquicos. Outro aspecto de valor inestimável é a percepção do talento inato desses jovens. Os adultos devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que essas habilidades possam resgatar sua autoestima, bem como construir sua identidade social na forma de uma cidadania plena (SILVA, 2010, p. 14).
Como sempre a presença da família é essencial nas vidas das vítimas de
bullying, com a família atuando de forma positiva com o intuito de ajudar essas pessoas
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não se sentirão sozinhas e sim muito mais confortadas psicologicamente. Também a
percepção do professor para ajudar a identificar as habilidades das vítimas e investir
nelas juntamente com o apoio da família, pode contribuir para que as vítimas confiem
mais em si mesmas. Acreditamos também que é preciso investir nas habilidades dos
alunos que agridem, mostrando que eles podem ser bons em coisas que fazem bem a
todos e principalmente.
A seguir apresentamos o depoimento de uma das autoras deste trabalho, que
descreve uma situação de bullying vivenciado no espaço escolar. Optamos em
apresentar esse relato por entender que o mesmo oferece um recorte da realidade de
nossa comunidade. Relato:
“Minha filha que estudava em uma escola pública no 1º ano do ensino médio, ia
bem nos estudos. Observei que estava um pouco mudada, calada, às vezes chorava.
Quando lhe perguntava o que estava acontecendo, negava qualquer ocorrência. Algum
tempo depois, me pediu para sair da escola sem dar explicação que justifique, apenas
dizia que não queria mais estudar naquela escola. Ela chorava e sempre repetia: “não
vou lá mais”. Por muita insistência, teve coragem de falar que estava sofrendo bullying
na escola – uma colega da sala lhe dirigia agressões verbais, para todos ouvirem. Ela
tinha medo de revidar, ficava sem reação. Passou a ter medo de pegar ônibus sozinha
ao ir para casa com medo que a colega lhe agredisse fisicamente.
Fui à escola conversar com a diretora sobre o que estava acontecendo pois a
mesma não tinha conhecimento do fato. Fiz uma ocorrência, assinei e deixei bem claro
que aguardava uma atitude da escola o mais rápido possível, pois minha filha estava
sofrendo muito. Segundo a própria as professoras sabiam o que estava acontecendo
dentro da sala de aula, mas nada fizeram para ajudá-la.
Passando alguns dias, o telefone da minha casa tocou, era a diretora solicitando
meu comparecimento à escola. Lá encontrei minha filha na sala da supervisora
chorando muito e assustada. A equipe pedagógica da escola havia conversado com a
aluna agressora, que na escola, afirmava que iria matar minha filha. Nesse contexto,
com o apoio da supervisora, a diretora chamou o Grupamento Operacional Escolar –
GOE, que é um projeto do 6º Batalhão da Polícia Militar de Governador Valadares, que
em parceria com o Conselho Tutelar e escolar atuam na prevenção e mediação de
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conflitos em situações de violência escolar. Com a intervenção da GOE, a diretora,
supervisora, alunos envolvidos e pais, foi buscada uma solução. Os policiais da GOE,
mediaram a conversa com os pais e a aluna agressora que pediu desculpas para minha
filha, vítima da situação”
Uma situação como essa é vivida por toda família e para uma mãe é muito ruim,
ver um filho passar por situação de bullying. Penso que após o início de minhas leituras
para a realização da pesquisa para esse trabalho de conclusão de curso, passei a ter
um olhar mais esclarecedor do papel dos profissionais da educação, o professor,
supervisor, gestor e outros envolvidos na prevenção e apoio aos alunos que sofrem
bullying. Nós professores, não podemos ficar omissos diante de situações como essa.
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3 BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR: PREVENÇÃO
Ao falar sobre prevenção do bullying nas escolas entendemos que é importante
destacar que cada escola tem suas características próprias, cada aluno com sua
especificidade e formas de se relacionar diferentes. Cabe à escola levar em conta o
contexto social da comunidade em que está inserida ao pensar em formas de
prevenção do bullying.
De acordo com a cartilha sobre o bullying do Conselho Nacional de Justiça, da
autora Ana Beatriz Barbosa Silva:
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção da escola (como autoridade máxima da instituição) deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos) a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violência e da criminalidade infanto-juvenil (SILVA, 2010, p. 12).
A autora afirma que a escola é o local onde os agressores mais praticam atos de
bullying. Daí a importância de se ter uma maior atenção ao comportamento dos alunos,
e de saber até onde uma brincadeira se trata de uma simples brincadeira e não está
extrapolando seus limites ao ponto de ferir o outro. A escola precisa estar a todo o
momento preparada para saber detectar situações de bullying.
Para Fante e Pedra (2008) a prevenção começa pelo conhecimento e
informação. Para que ocorra algum projeto nas escolas sobre prevenção do bullying,
antes de qualquer coisa é preciso que o fenômeno seja reconhecido, pois são comuns
brincadeiras que violam o psicológico do outro, passarem como algo normal, próprio do
desenvolvimento da criança e do adolescente.
Os autores destacam ainda, que para detectar os índices e situações de bullying
é necessário que a escola envolva os alunos, buscando ouvi-los para saber as suas
expectativas e os seus sentimentos despertados por situações de bullying.
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Para ajudar nesse reconhecimento de que o bullying acontece e começa na
maioria das vezes dentro das salas de aula, é preciso destacar a importância do papel
do professor, pois ele que está em contato direto com os alunos nesses momentos.
Muitas vezes na correria do dia a dia essas situações passam despercebidas, mas o
professor é um grande aliado para que a prevenção aconteça, pois pode observar mais
de perto as relações interpessoais dos alunos.
A escola também precisa capacitar seus profissionais para a observação, identificação, diagnóstico, intervenção e encaminhamentos corretos, levar o tema a discussão com toda a comunidade escolar e traçar estratégias preventivas que sejam capazes de fazer frente ao fenômeno. Além do engajamento de todos, é preciso contar com a ajuda de consultores externos, como especialistas no tema, psicólogos e assistentes sociais. É imprescindível o estabelecimento de parcerias com conselhos tutelares, delegacia da Criança e do Adolescente, promotorias públicas, varas da Infância e Juventude, promotorias de Educação dentre outros (FANTE e PEDRA, 2008, pg. 106).
Observamos que o papel das escolas frente à prevenção do bullying precisa
contar com a ajuda de todos envolvidos no ambiente escolar, além dos que estão fora,
mas são capacitados profissionalmente para ajudar na intervenção de problemas que
acontecem dentro das escolas. Além desses profissionais externos Fante e Pedra
(2008) destaca a importância da capacitação dos profissionais da educação. Quando os
autores destacam essa questão da capacitação, pensamos que não só os professores
e gestores precisam se capacitar como também os outros funcionários que trabalham
nas escolas, cantineiras, zeladores, vigias, dentre outros. Pois o bullying não acontece
somente dentro da sala de aula, como também nos pátios, corredores, banheiros,
portões e entrada, enfim, em todos os ambientes da escola. A escola não está sozinha
para resolver esse problema de violência que nos últimos anos tem tido papel de
destaque nos veículos de comunicação.
A presença do fenômeno constitui realidade inegável em nossas escolas, independentemente do turno escolar, das áreas de localização, do tamanho das escolas ou das cidades, de serem as séries iniciais ou finais, de ser a escola pública ou privada. Isso significa que o bullying acontece em 100% das nossas escolas (FANTE, 2005, p. 61).
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Não importa se a escola está situada em locais de vulnerabilidade social o
bullying está presente em todos os níveis de escolaridades e em todos os tipos de
escola, até mesmo em escolas de ensino superior, onde todos são adultos e supõe-se
que sabem conviver com as diferenças.
Estando presente em todas as escolas é importante que todas, tenham projetos
de prevenção ao bullying. Em nosso trabalho buscamos identificar projetos
desenvolvidos nas escolas em relação ao combate e prevenção.
A pesquisadora Cleo Fant apresenta como proposta inicial de intervenção na
escola - a conscientização - que não vem com uma receita pronta. Cada escola deverá
criar seu projeto. A autora que há muitos anos desenvolve pesquisas sobre o bullying e
cita alguns programas e iniciativas antibullying desenvolvidos em outros países.
Na Espanha, o Ministério da Educação apoia o programa Sevilha Contra
Violência na Escola (SAVE) com o objetivo de desenvolver a educação dos sentimentos
e valores na melhoria do relacionamento interpessoais, além de contribuir para que o
estabelecimento educacional seja compreendido como lugar suscetível a ocorrências
de fenômenos que não são desejáveis como a violência, ou seja, a conscientização de
que no ambiente escolar onde se espera um comportamento exemplar casos de
violência podem acontecer. Acreditamos que a partir dessa conscientização se torna
mais fácil perceber quando algo desse nível estiver acontecendo, dessa forma a
intervenção acontecerá de maneira mais rápida e eficaz.
Na Inglaterra, vários programas foram criados no intuito de melhorar a
convivência na escola, tais materiais informativos distribuídos nas comunidades
escolares, treinamentos entre os alunos que inclui o respeito às diferenças, entre
outros.
Na Irlanda o projeto envolve campanha teatral que visa a conscientização do
fenômeno por meio da dramatização, além de assessoria a pais, treinamento de
docentes e o programa Childline, um serviço de prevenção a crueldade.
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No Brasil, Fante aponta o “Programa Educar para a Paz”, desenvolvido pela
autora e equipe, como fruto de sua pesquisa. O Programa busca envolver os alunos
para que percebam o impacto desse fenômeno, suas consequências, saibam
interiorizar os valores, o respeito pelo próximo, gerando habilidade para lidarem com os
conflitos tornando-se agentes de transformação comprometidos com bem estar comum.
O Programa Educar Para a Paz tem como objetivo, mobilizar a comunidade escolar na
conscientização e combate à violência.
O Programa é desenvolvido em duas as etapas:
Etapa A - Conhecimento da realidade da escola.
Etapa B - Modificação da realidade escola.
A primeira etapa, conhecimento da realidade escolar, fomenta a conscientização
e compromisso dos educadores, aborda as reflexões sobre as variadas formas de
violência escolar. Nesta etapa se dá a escolha da comissão que vai coordenar o
programa e a um escolha do tutor para desenvolver o segundo passo de investigação
da realidade escolar, que inclui: observações, anotações e aplicações de instrumentos,
divulgação dos indicadores e confecção de material explicativo, jornada sobre violência
e apresentação do diagnóstico escolar.
A segunda etapa, modificação da realidade escolar busca adotar estratégias de
intervenção e prevenção incluindo observação do contexto escolar, encontros com
alunos solidários, serviços de denúncia, encontro semanais para avaliação, redação
sobre tema escolar, familiar e entrevista pessoal com vítimas e agressores.
Nas estratégias as serem desenvolvidas em sala de aula apresenta proposta de
criação de um estatuto contra o bullying e projetos solidários. Por último, as estratégias
familiares, promove encontros de pais e tutores com orientações sobre convivência
familiar.
Podemos perceber a mobilização de vários países na busca da melhor forma de
combater o bullying cada um com sua característica. Em nosso entender programas de
intervenção contra o bullying são indispensáveis e todos precisam estar envolvidos,
pois representam forma de mediação e busca de resolução dos conflitos de maneira
organizada através da reflexão da realidade de cada local.
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Outro projeto que em nosso entendimento contribui na diminuição da violência
escolar é o trabalho do Grupo Operacional Escolar - GOE, desenvolvido pelo 6º
Batalhão da Polícia Militar de Governador Valadares que tem como parceiros o
Conselho Comunitário de Segurança Preventiva de Governador Valadares (CONSEP),
do Ministério Público, Conselho Tutelar, Superintendência Regional de Ensino,
Secretaria Municipal de Educação e Comissário de Menores.
Os policiais mediadores que participam do GOE recebem treinamento em rádio
patrulhamento, conhecimentos dos direitos humanos, capacitação pedagógica e estágio
supervisionado da patrulha escolar. O projeto foi implantado em Governador Valadares
em 2002, atende por meio de duas equipes aproximadamente 80 escolas e tem como
objetivos: promover a aproximação da Polícia Militar com toda a comunidade escolar;
oferecer maior segurança aos profissionais da educação em seu ambiente de trabalho
bem como aos pais e aos alunos; e reprimir todo tipo de violência nas escolas. O GOE,
na sua rotina de trabalho diária faz patrulhamento, realiza palestras, fóruns, distribui
panfletos informativos e educativos. Os resultados do projeto são apontados como
positivos pelas escolas, parceiros e pela coordenação do projeto.
Citamos também o trabalho de prevenção desenvolvido pelo Ministério Público
de Minas Gerais que publicou no ano de 2012 uma cartilha com o título: “Diga não ao
Bullying”. O trabalho foi coordenado pelo promotor de justiça Lélio Braga Calhau que é
de Governador Valadares (MG) e se interessa pelo tema. Na cartilha o autor se refere
ao bullying de forma clara e direta com dicas por exemplo, do que uma pessoa deve
fazer caso identifique uma situação de bullying.
O Projeto “Diga não ao Bullying” (2010) do Ministério Público de Minas Gerais,
considera quatro passos para o combate do bullying:
a) Reconhecer o bullying na escola é muito mais comum do que pensam os pais
e professores;
b) Entender que a responsabilidade por elaborar estratégias e traçar ações
efetivas contra o bullying deve ser assumida igualmente tanto pelos pais quanto pelas
escolas;
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c) Organizar uma “comissão antibullying” com participarão de pais, direção da
escola, psicólogos e pedagogos. Essa comissão tem a responsabilidade de detectar e
agir contra a violência, orientar professores, para promoverem a conscientização dos
alunos, identificar o bullying quando instalado e deixar clara a forma como lidar com o
problema; promover palestras, debates e seminários sobre o assunto.
d) Identificar e orientar os alunos que são vítimas, agressores ou testemunhas.
Percebemos que identificar situações de bullying nas escolas não é tão difícil, no
entanto, traçar estratégias para combater esse problema nas escolas é tarefa onde toda
a comunidade escolar precisa participar.
Sobre a prevenção do bullying Calhau, no livro livro “Bullying: o que você precisa
saber: identificação, prevenção e repressão”, cujo a intenção é de contribuir com
informações sobre o bullying para os pais, professores, pedagogos, dentre outros faz uma
abordagem sobre a importância de identificar e enfrentar esse tipo de violência em nos
vários espaços da sociedade. Calhau relata o programa criado pelo professor e
pesquisador da Universidade de Bergen, Dan Olweus o pioneiro em estudos sobre o
bullying. O programa criado por ele com parceria do Governo Norueguês foi
desenvolvido após uma pesquisa com 84 mil estudantes, onde ficou constatado que de
casa 7 alunos 1 estava envolvido em casos de bullying. Esse programa cujo objetivo
era a conscientização e prevenção do bullying escolar envolveu professores e alunos e
diminui em até 50 por cento os casos de bullying nas escolas Norueguesas.
Sobre a prevenção do cyberbullying um projeto de lei foi apresentado em 2013
pelo senador Clésio Andrade, que visa tornar o cyberbullying crime sujeito a penas que
podem chegar a até três anos de detenção. O projeto considera o bullying virtual como
“violência emocional por meio da propagação de mensagem humilhante ou
constrangedora via correio eletrônico, sítio da internet, redes sociais ou dispositivos da
telefonia móvel”. Caso o autor seja menor de idade serão aplicadas medidas
socioeducativas conforme consta no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA- Lei
8.069 de 1990). A proposta do senador foi enviada para que a Comissão Temporária de
Reforma do Código Penal analise.
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4 CONCLUSÃO
Nesse trabalho tentamos não meramente, apontar projetos que amenizem a
violência escolar ou simplesmente indicar propostas de implantação dos mesmos e que
esses fiquem como parte do currículo, mas sim despertar um senso de criatividade e
um espírito humanizado no corpo docente pensando em uma escola para todos. E com
isso pensar que se uma escola tem um projeto antibullying, que esse projeto seja para
trazer melhorias no desenvolvimento de aprendizado do aluno, elevando sua
autoestima, que tenha menos evasões causadas pela violência e, que envolva toda a
comunidade escolar e não escolar fundado assim uma escola democrática e
pacificadora.
Consideramos que o ambiente escolar pode ser um caminho para influenciar e
iniciar o processo de mudança de ideias, comportamentos e valores, tanto para os
profissionais atuantes na escola, que precisam estar preparados para distinguir e
enfrentar o bullying, quanto para os alunos que serão capazes de agir de forma
responsável, consciente e autônoma, frente às diversas situações cotidianas.
Sabemos também que são vários os fatores que acomete a violência, os fatores
ambientais, sociais, são mais comumente explicitados por sua ligação direta ao
indivíduo, e nem precisamos enfatizar que a desigualdade também é uma das grandes
percussoras da violência em todas as modalidades, mas não são discursos com os
mesmos clichês que vão fazer a diferença, mas sim nossas atitudes, e o nosso olhar
como corpo docente.
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