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93 Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos - REVISTA DE FILOSOFIA. FORTALEZA, CE, V. 11 N. 21, INVERNO 2014 LAURO DE MATOS NUNES FILHO Recebido em mai. 2014 Aprovado em ago. 2014 SICOLOGIA EMPÍRICA E PSICOLOGIA DESCRITIVA: O ESTATUTO ONTOLÓGICO DO OBJETO INTENCIONAL EM BRENTANO RESUMO O propósito deste artigo é conceber o conceito de objeto intencional de Brentano como um elemento crítico na formulação da teoria da intencionalidade. A análise se debruçará sobre a passagem de uma abordagem epistemológica do objeto intencional na um Ponto de Vista Empírico para uma abordagem ontológica na Psicologia Descritiva. Neste sentido, faremos neste artigo uma leitura que toma inicialmente o objeto intencional em um sentido epistemológico insuficientemente definido por Brentano, para, então, só mais tarde conceber o objeto intencional em uma determinação ontológica mais precisa (nichts Reales). PALAVRAS-CHAVE Psicologia. Objeto intencional. Epistemológico. Ontológico. Intencionalidade. * Doutorando em Filosofia pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC. * * Mestre em Filosofia pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC. Participante dos Grupos de Pesquisa “Origens da Filosofia Contemporânea” (PUC-SP) e “Lógica e Fundamentos da Ciência” (UFSC). BRENO RICARDO GUIMARÃES SANTOS *

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LAURO DE MATOS NUNES FILHO

Recebido em mai. 2014Aprovado em ago. 2014

PSICOLOGIA EMPÍRICA E PSICOLOGIA DESCRITIVA:O ESTATUTO ONTOLÓGICO DO OBJETO INTENCIONAL EM BRENTANO

RESUMO

O propósito deste artigo é conceber o conceito de objetointencional de Brentano como um elemento crítico naformulação da teoria da intencionalidade. A análise sedebruçará sobre a passagem de uma abordagemepistemológica do objeto intencional na ���������� �

um Ponto de Vista Empírico para uma abordagemontológica na Psicologia Descritiva. Neste sentido,faremos neste artigo uma leitura que toma inicialmenteo objeto intencional em um sentido epistemológicoinsuficientemente definido por Brentano, para, então,só mais tarde conceber o objeto intencional em umadeterminação ontológica mais precisa (nichts Reales).

PALAVRAS-CHAVE

Psicologia. Objeto intencional. Epistemológico.Ontológico. Intencionalidade.

* Doutorando em Filosofia pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA

CATARINA - UFSC.* * Mestre em Filosofia pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

- UFSC. Participante dos Grupos de Pesquisa “Origens daFilosofia Contemporânea” (PUC-SP) e “Lógica e Fundamentosda Ciência” (UFSC).

BRENO RICARDO GUIMARÃES SANTOS *

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ABSTRACT

The aim of this paper is to think of Brentano’s conceptof intentional object as a critical element in theformulation of the theory of intentionality. The analysiswill look at the transition from an epistemologicalapproach of the intentional object in Psychology from an

Empirical Standpoint to an ontological approach inDescriptive Psychology. Thus, we will work with aninterpretation that initially takes the intentional objectin an insufficiently defined epistemological sense, andafter that we will understand the intentional object in amore accurate ontological determination. (nichts Reales).

KEYWORDS

Psychology. Intentional object. Epistemological.Ontological. Intentionality.

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Brentano, PES I

INTRODUÇÃO

No que se segue trataremos de uma abordagem histórico conceitual do conceito de objetointencional em Brentano1, focando especialmente aPsicologia de um ponto de Vista Empírico (Psychologievom Empirischen Standpunkte)2 (1874) e a PsicologiaDescritiva3 (1880 - 1890). Defenderemos a tese de queem 1874, Brentano, sem prever a repercussão que viriaa ter o conceito de objetividade imanente(intencionalidade) proposto por ele, oferece umaleitura epistemológica4 do objeto intencional, a qual,

1 A influência de Brentano foi abarcadora, cabendo entre seusdiscípulos nomes como os de E. Husserl, A. Meinong, K.Twardowski, C. Stumpf, A. Marty, B. Kerry, Th. G. Masaryk eS. Freud, sendo inclusive a sua influência sentida nas filosofiasde M. Heidegger, Chr. V Eherenfels, M. Wertheimer, W. Kölher,e, em especial caso, sobre a Escola de Lvov-Varsóvia, cujainfluência se deu por meio de Twardowski.

2 No que se segue faremos referência a esta obra como PES I,diferenciando-a de outras edições da Psychologie vomEmpirischen Standpunkte; PES II – Von der Klassifikation derpsychischen Phänomene, (Psychologie vom empirischenStandpunkt, vol. 2) (1911); PES III – Vom sinnlichen undnoetischen Bewußtsein, (Psychologie vom empirischenStandpukt, vol. 3) (1928).

3 No que se segue faremos referência a esta obra como PD.4 No decorrer do texto, quando falarmos de epistemologia não

queremos nos referir à acepção do termo que faz referênciaàs questões justificacionais da teoria do conhecimento, masusamos este termo em seu sentido fenomenológico, referenteà perspectiva transcendental acerca das estruturas quesubjazem ao conhecimento.

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posteriormente (PD), torna-se tema de umaconceituação ao nível ontológico. O mero objeto, quena PES I é apenas referido como conteúdo/objeto deum ato psíquico, recebe o status de não-real (nichts

Reales) (PD). O que isto significará para as abordagensfilosóficas posteriores ficará oculto para Brentano pormuito tempo, tornando-se tema das discussões acercado reísmo no final de sua vida. Propriamente, já em1874, o estar dirigido da consciência para algo (etwas)como objeto parecia já estabelecer um fundoepistemológico não solipsista por meio de seu caráteraparentemente referencial5. Contudo, obviamente, nãose trata aqui de um Bedeutung fregeano, e muito menosse trata de uma caracterização semântica. O que estáem jogo é uma teoria que assume que a consciência éa responsável pela determinação epistemológica doobjeto. Assim, apenas a partir da concepção ontológica(negativa) do não-real (PD) é que o intencional emergecomo ontologicamente contraposto ao ato, este sendoreal. Assim, nosso objetivo centra-se na passagem doconceito de objeto intencional em Brentano entre asduas obras acima referidas.

1 PSICOLOGIA DE UM PONTO DE VISTA EMPÍRICO (1874)

Na direção oposta da psicofísica, caminhaBrentano, que propõe uma abordagem empírica dapsicologia. Assim, diferentemente da abordagemexperimental da psicofísica, Brentano entende o examepsicológico fundado na percepção, mas cuja análise5 De certo modo, essa teoria antecipa, sem dispor de uma

caracterização semântica, a tese husserliana de que aconsciência é designativa de sentido.

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a análise do objeto da percepção para o ato quedetermina este mesmo objeto. Por meio da suaPsicologia de um Ponto de Vista Empírico, Brentanopropõe uma singular junção entre o método empíricode investigação e a perspectiva argumentativa dafilosofia, conciliando as inovações científicas da épocacom o resgate dos moldes mais clássicos da filosofia.Organizada de modo a ser estendida por seis volumes,apenas os dois primeiros vieram ao público em 1874,sofrendo profundas modificações na sua reedição em1911. Num período em que as psicologias estavam namoda, a PES I consegue se distinguir, pois como apontaAlbertazzi, a PES I “[...] representa um desenvolvimentoda teoria da percepção de Aristóteles independente dapsicofísica” (ALBERTAZZI, 2006, p. 94), já que paraBrentano uma base psicofísica revelava apenas asdeterminações dos fenômenos externos, não podendo,ao menos diretamente, determinar os fenômenosinternos, os quais segundo ele, só podiam serdeterminados por meio de um exame descritivo, assimcomo fizera Aristóteles. Partindo deste ponto, fica claraa distinção entre a abordagem psicofísica e aabordagem filosófico-descritiva de Brentano 6. Por meiodesta posição ele busca refutar tanto a perspectivafisiológico-psicológica dos seus contemporâneos,quanto a posição daqueles que optavam pelaobservação interna (introspecção) como método dedescrição dos atos psíquicos. Contra estas duas frentes

@ Cf. Albertazzi, 2008, p.104; Brentano, 1874, pp. 90-91; 1995,p. 7 [5].

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luta Brentano, buscando um novo modo de conceber apsicologia, o qual exigirá a reformulação do conceitode consciência como consciência intencional e oestabelecimento de sua unidade.

1.1 O CONCEITO DE INTENCIONALIDADE

Dentre os motes mais conhecidos da filosofia deBrentano, o conceito de intencionalidade é o maisfamoso. Tal conceito é retomado por Brentano por meiode Aristóteles7 via Tomás de Aquino. Contudo, Brentanoreconduz o conceito de intencionalidade a um novosentido, pois apesar de receber esta herança clássica, oressurgimento do conceito objetiva possibilitar um novométodo de investigação dos fenômenos internos comodeterminantes para os fenômenos externos e,principalmente, estabelecer os limites destes últimos.Claramente, o conceito de intencionalidade envolveinúmeras complicações devidas à natureza de suarelação, implicando problemas de natureza ontológica,semântica e epistemológica.

Aquele que deseja abordar este problema toma orisco de passar de um campo a outro, confundindoos limites dos gêneros e a diferença específica entreos objetos do conhecimento, deslizando,frequentemente, de uma definição conceitual parauma definição ontológica e, em seguida, de umadefinição ontológica para uma semântica.(BOCCACCINI, 2010, p. 5).

Desta forma, iniciamos nossa investigação peloconceito de intencionalidade, pois na PES I, Brentano

H Metafísica, 1022b, 30; 1050a, 35.

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consciência. Os objetos intencionais surgem como umresíduo necessário à relação intencional, isto é, aconsciência é consciência de algo, está dirigida paraalgo. Conceber o contrário seria conceber umaconsciência inconsciente. Na PES I o estatuto dosobjetos intencionais parece ser deixado de lado paraque em seu lugar seja tratada a intencionalidade comocaracterística distintiva da consciência. Não que,simplesmente, se desconsidere a natureza destesobjetos, contudo a presença deles é reduzida a merarelação que determina a consciência. Assim, na PES I,antes de nos perguntarmos o que se quer dizer porobjeto intencional, devemos nos questionar: O que éintencionalidade?

No cotidiano, fala-se muito frequentemente noato realizado, na intenção que se teve, se esta ou aquelaatitude foi intencional, fala-se mesmo na intencionalidadedo autor de um texto ou obra artística (intentio auctoris).Mas será que intencionalidade significa tudo isso?

Claramente não, e foi com a intenção de evitartais equívocos que Brentano tentou evitar a todo custoo uso do termo intencionalidade em seus textos,preferindo expressões menos óbvias, como atointencional, objeto intencional, relação intencional,inexistência intencional ou mesmo objetividadeimanente. Entretanto, o que deve ficar claro é queintencionalidade não é sinônimo de intenção. Naverdade, a intenção é apenas mais um modo deintencionalidade8, ter a intenção de fazer algo é nomáximo, apenas, um ato psíquico que apresenta

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intencionalidade. A intencionalidade é uma intentio

no sentido de estar atento (intendi animo), não é umaintentio no sentido de um fim a ser atingido(propositum).

Mas, então, o que significa intencionalidade?Assim, para responder a esta questão,

retomemos o trecho já clássico da PES de 1874, ondeBrentano parece oferecer, senão uma definição(Bestimmung) explícita, ao menos um traço oucaracterística positiva9 (positive Merkmal) dosfenômenos psíquicos, objetividade imanente:

Todo fenômeno psíquico é caracterizado pelo que osescolásticos da Idade Média chamaram de inexistênciaintencional (ou ainda mental) e que nós mesmospoderíamos chamar, embora usando expressões que nãoseriam totalmente inequívocas, relação a um conteúdo,direção para um objeto (sem que se entenda por issouma realidade) ou objetividade imanente. Todofenômeno psíquico contem em si algo como objeto, masnão da mesma maneira. Na representação algo érepresentado; no juízo algo é aceito ou rejeitado; noamor, amado; no ódio, odiado; no desejo, desejado; eassim por diante. Esta inexistência intencional éexclusivamente peculiar aos fenômenos psíquicos.Nenhum fenômeno físico exibe algo de semelhante. E,com isso, podemos então definir os fenômenos psíquicos,dizendo que são os fenômenos que contêm em si,intencionalmente, um objeto.10 (grifo nosso).

8 Cf. Brentano, 1874, p. 103.9 Cf. Brentano, 1874, pp. 114-115.10 „Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert,

was die Scholastiker des Mittelalters die intentionale (auchwohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes [CONTINUA]

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o objeto é um mero coadjuvante, desempenhando aintencionalidade o papel central. O conceito deintencionalidade de Brentano é entendido sobre váriosaspectos. Antonelli atribui as diferentes interpretações àambivalência das expressões utilizadas por Brentano nacitação acima, pois elas não excluem todo o equívoco verbal:

Com efeito, algumas expressões parecem fazerreferência ao objeto ou conteúdo (Gegenstand,Gegenständlichkeit, Inhalt) dos fenômenos psíquicose ressaltam a questão relativa ao que chamamos“objeto imanente”: se trata de um objeto ou maisprecisamente de uma classe de objetos que nãoexistiriam independentemente da consciência? Ouse tratará antes da modalidade de existência própriado objeto “transcendente” quando ele se faz“imanente”, isto é, quando ele se torna objeto deuma consciência? Outras expressões (Beziehung auf,Richtung auf) parecem, ao contrário, reenviar à

[CONTINUAÇÃO DA NOTA 10] genannt haben, und was wir,obwohl mit nicht ganz unzweideutigen Ausdrücken, dieBeziehung auf einen Inhalt, die Richtung auf ein Objekt(worunter hier nicht eine Realität zu verstehen ist), oder dieimmanente Gegenständlichkeit nennen würden. Jedes enthältetwas als Objekt in sich, obwohl nicht jedes in gleicher Weise.In der Vorstellung ist etwas vorgestellt, in dem Urteile ist etwasanerkannt oder verworfen, in der Liebe geliebt, in dem Hassegehaßt, in dem Begehren begehrt u.s.w. Diese intentionaleInexistenz ist den psychischen Phänomenen ausschließlicheigentümlich. Kein physisches Phänomen zeigt etwasÄhnliches. Und somit können wir die psychischen Phänomenedefinieren, indem wir sagen, sie seien solche Phänomene,welche intentional einen Gegenstand in sich enthalten.”(BRENTANO, 1874, p. 115, grifo nosso) [nossa tradução].

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natureza fundamental relacional dos fenômenospsíquicos e obrigam, então, a perguntar se a relaçãointencional apresenta características específicas eirredutíveis àquelas relações ordinárias. Precisamente,esta ambivalência está na origem das divergênciasentre as diferentes interpretações que os investigadorestêm formulado sobre a teoria brentaniana daintencionalidade. (ANTONELLI, 2009, p. 469).

Entretanto, seja ela clara ou não, a caracterizaçãoque Brentano concede aos fenômenos psíquicos não deveser desconsiderada, pois ela entrou para os anais dahistória da filosofia como o atestado de paternidade dateoria fenomenológica. Sem esta caracterização,provavelmente, a fenomenologia de Husserl não seriaimaginável. Vejamos, então, o que Brentano nos propõeem 1874. Propriamente, não se trata de uma definição,mas de uma caracterização. Ele nos diz que aintencionalidade é um traço exclusivo dos fenômenospsíquicos em contraposição aos fenômenos físicos quenão apresentam nada de análogo. A intencionalidadeé o traço do psíquico pelo qual Brentano espera fundara validade irrestrita da psicologia. “A intencionalidadenão é considerada por Brentano por ela mesma. Ela éum instrumento utilizado para delimitar o domínio dapsicologia, a qual Brentano quer tornar uma ciênciade pleno direito.” (GYEMANT, 2010, p. 29)

Diferentemente de Kant, Brentano descreve osfenômenos em uma dupla relação. Se para Kant osfenômenos eram apenas de um tipo, a saber, comoindeterminação de uma intuição empírica11, para

11 Cf. Kant, CRP, A20/B34.

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duas classes12, a dos fenômenos físicos, assemelhável àrepresentação no sentido kantiano, e a dos fenômenospsíquicos (atos) que contém os fenômenos físicos(objetos de atos). A intencionalidade é um traço dosfenômenos psíquicos e determina os demais. Em todocaso não são fenômenos diferentes, mas distintos.

Desta maneira, surge a intencionalidade comouma characteristica universalis da consciência nadeterminação de seus objetos, os quais estão numarelação qualitativa entre o ato e o modo como o objetoestá contido no mesmo. Provavelmente, é daqui quesurge a tão cara correlação noético-noemática deHusserl13.

Para Brentano a linha divisória entre osfenômenos físicos e fenômenos psíquicos é difícil deser estabelecida, isto deve-se a própria definição doconceito de intencionalidade como característicadistintiva dos fenômenos psíquicos, pois apesar de serum traço exclusivo do psíquico, a intencionalidadeparticipa do físico como determinação do objeto deconsciência. Desta forma, os fenômenos físicos dadosà percepção externa, mostram-se fundados nosfenômenos psíquicos, vindo a se revelar como umconstructo, que apesar de ser recíproco ao ato, torna-se secundário, uma vez que o ato apresenta-se fundadoprimeiramente pela percepção interna que é direta eevidente14. Seguindo estas implicações, Brentano

�� Cf. Brentano, 1874, p. 101.13 Cf. Mulligan, 2006, p. 91.14 Cf. Brentano, 1874, p. 119.

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reformulará o conceito de representação (Vorstellung),determinando-o como ato e não mais como objeto daconsciência. “Toda representação, sensorial ouimaginativa, provê um exemplo de fenômeno psíquico.E, por representação, entendo eu aqui não o que érepresentado, mas o ato de representar.”15.

Toda consciência é consciência de algo comoseu objeto, ou seja, todo ato (fenômeno psíquico) temum objeto intencional (fenômeno físico) como seuconteúdo, entendendo-se, por um lado, comofenômenos psíquicos os atos de ver, ouvir, julgar, etc.e, por outro lado, os fenômenos físicos como o que évisto, ouvido, julgado, etc..

A questão a ser posta aqui não pode ser outrasenão: O que é representado? A óbvia resposta nos dizque é o objeto intencional. Mas o que Brentano entendepor objeto intencional?

1.1.1 OBJETO E CONTEÚDO

A proposta que iremos definir agora secircunscreve justamente em torno da possibilidade dese conceber o objeto intencional, em PES I, comodispondo de um status epistemológico e nãoontológico. Nossa argumentação joga justamente comduas características que nos auxiliariam na atribuiçãode um status ontológico ao objeto intencional em PESI, porém, é justamente a falta de uma caracterização��„Ein Beispiel für psychischen Phänomene bietet jede

Vorstellung durch Empfindung oder Phantasie; und ichverstehe hier unter Vorstellung nicht das, was vorgestellt wird,sondern den Act des Vorstellens.” (BRENTANO, 1874, p. 103)[nossa tradução].

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inferir que o objeto intencional possui apenas umacaracterização epistemológica, em 1874.

Estas duas características deveriam ser:

a) Uma distinção adequada entre objetointencional e conteúdo (mental) de um atopsíquico;

b) Uma diferenciação entre os diferentes objetosintencionais com vistas a não inseri-los em umúnico estrato ontológico.

Em nossa leitura verificamos que nenhuma destascaracterísticas é cumprida em 1874. Vejamos isso maisde perto.

Como percebemos no item 1.3, em PES I,Brentano (1874, p. 115) parece conceber umaequivalência entre o objeto intencional (fenômenofísico) e conteúdo mental, ou como ele mesmo diz,“relação a um conteúdo” (die Biezehung auf einenInhalt), “direção para um objeto” (die Richtung auf einObjetct). Essa perspectiva que busca descrever aobjetividade imanente (intencionalidade) insere oobjeto em uma relação de equivalência com o conteúdojustamente porque, no nosso entender, não há anecessidade de se inserir tal diferenciação, uma vezque se entende que o objeto intencional é tomado comoconteúdo (mental) do ato e com este se confunde, nãohavendo a necessidade de uma distinção entre umconteúdo epistemológico e um objeto intencional comum status ontológico próprio e diferenciado de algummodo do conteúdo. Em outros termos, há uma

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identidade entre o objeto intencional e o conteúdomental de um ato16.

O segundo ponto trata de examinar se Brentanoconcebe uma diferenciação entre os tipos de objetointencional que há e se há um distinção ontológica entreeles. Infelizmente, Brentano não nos fornece muitoselementos a este respeito. Em nossa leitura nãoidentificamos uma definição de objeto intencional,exceto aquela que nos diz que o objeto intencional é ofenômeno físico. O máximo que Brentano nos forneceacerca disso é que:

Exemplos de fenômenos físicos, por outro lado, sãouma cor, uma figura, uma paisagem que eu vejo,um acorde que eu ouço, o calor, o frio, o odor osquais eu sinto, assim como as imagens do mesmotipo que aparecem na minha imaginação.17

Além da caracterização do objeto intencional comofenômeno físico, ele nos oferece uma lista de exemplos

¯° A falta de uma distinção adequada dará ensejo a diversas críticasdirigidas a Brentano por seus contemporâneos. Esta distinçãoserá o motivo das críticas feitas por Höfler, que teria afirmadoque Brentano tomava o conteúdo e o objeto de um ato comosinônimos. A posição de Brentano a este respeito surge em umacarta enviada a Anton Marty em 1905, nela Brentano procurarebater as críticas feitas por Höfler. Esse caráter problemático eincidente da teoria da objetividade imanente levará Brentano aassumir uma posição reísta nos últimos anos de sua obra.Infelizmente não trataremos deste embate aqui.

17 “Beispiele von physischen Phänomenen dagegen sind eineFarbe, eine Figur, eine Landschaft, die ich sehe; ein Accordden ich höre; Wärme, Kälte, Geruch, die ich empfinde; sowieähnliche Gebilde, welche mir in der Phantasie erscheinen.”(BRENTANO, 1874, p. 104) [nossa tradução].

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não nos oferece o critério de que necessitávamos, a saber,uma distinção entre os diferentes tipos de objetointencional, o que nos auxiliaria na determinaçãoontológica dos objetos intencionais entre eles. Todavia,isso não ocorre, já que o objeto intencional é concebidoapenas epistemologicamente. Se há uma diferenciação,essa diferenciação trata apenas dos atos psíquicos18, elesmesmos em cada caso de relação com o conteúdo mental.

Por fim, ainda é interessante ressaltar queBrentano nos diz apenas que “[t]odo fenômenopsíquico contém em si algo como objeto [...]”19. Seráeste algo (etwas) que propiciará, por exemplo, aMeinong e Twardowski, toda uma gama depossibilidades de interpretação, pois Brentano nãoespecífica o sentido do termo ‘algo’ no contexto de suasinvestigações, não sendo difícil para seus intérpretesdesenvolverem teorias que aceitem todo tipo de objetos,cabendo a eles proporem tipologias de existência comrelação ao objeto intencional.

1.1.2 ATOS PSÍQUICOS

Apesar de não proporcionar uma análiseexaustiva dos objetos intencionais, Brentano estabeleceuma descrição para os atos psíquicos, estabelecendouma tripla distinção e elencando três classes defenômenos psíquicos, a saber, as representações

ÄÅ Em Husserl este tema será tratado exaustivamente com relaçãoà qualidade do ato.

19 „Jedes enthält etwas als Objekt in sich [...]”(BRENTANO,1874, p. 115) [nossa tradução].

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(Vorstellungen); os juízos (Urteile); os afetivo-volitivos(Gemüthsbewegungen).

a) RepresentaçãoAs representações são a base de todos os outrosfenômenos psíquicos. Um ato psíquico semprerepresenta algo como o objeto imanente para oqual está direcionado. Esta forma de atointencional (representacional) é maisfundamental, pois as outras duas classes defenômenos psíquicos só podem ocorrer na medidaem que há representações.b) JuízoO ato de julgar pressupõe o objeto (representado)de um ato de representação que lhe serve defundamento. Não é possível julgar sem um objetoque possa ser afirmado ou negado.c) Movimento afetivo-volitivoOs atos desta classe são definidos pelo sentimentoque apresentam em relação a um determinadoobjeto: odiar, amar, querer, etc. Estes atosnecessitam de um objeto representado que ossuscite ao ato. Em 1874, atos específicos destaclasse podem apresentar um ato e dois objetos,por exemplo, amar algo em detrimento de umobjeto que é odiado20.Com esta tripartição, Brentano fornece uma

nova abordagem dos fenômenos psíquicos, deixando,porém, os fenômenos físicos (objetos) de lado.

Além de tudo isso, a unidade da consciência nãoestá pautada apenas na relação do ato com o objeto.

ÍÎ Cf. Mulligan, 2006, pp. 81-83.

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entendidos como separáveis uns dos outros. O princípiobásico neste ponto é que é “[...] impossível que algo seja,simultaneamente, uma coisa efetiva e uma multiplicidadede coisas efetivas.”21. A proposta de Brentano para evitartal contradição, mas manter a unidade real da consciência,é propor uma categorização dos elementos da consciência,o que ele propõe nos seguintes termos.

i) Coisa (Ding): Uma coisa não pode ser partede outra coisa, e de maneira inversa, uma coisanão pode ser composta de partes que sejam elasmesmas coisas.ii) Coletivo (Collectiv): Um coletivo é compostode coisas e por isso mesmo não é uma coisa, ouseja, a sua multiplicidade não contradiz a suaunidade.iii) Divisivo (Divisiv): Os divisivos são as partesde uma coisa, não podendo os divisivos seremeles mesmos coisas.

Como já foi dito acima, unidade e multiplicidadereais-simultâneas de um mesmo objeto são impossíveis, eé nisto que se pauta a aparente contradição de tal ontologiada mente, isto é, manter a unidade de todos e partesmediante a sua multiplicidade sem entrar em contradição.

Os divisivos não são coisas, mas qualquerdivisivo depende de uma coisa para existir, ao contrário,uma coisa não necessita de um divisivo para continuar

áâ „Es ist unmöglich, dass etwas zugleich ein wirkliches Dingund eine Vielheit wirklicher Dinge sei.” (BRENTANO, 1874,p. 205) [nossa tradução].

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existindo, porém, os divisivos são algo de real, casocontrário não seriam separáveis da coisa. E por último,certos divisivos podem deixar de existir e não afetaroutro divisivo. Paralelamente, cada ato psíquico é umdivisivo da totalidade da consciência, a qual é umaúnica coisa, não simples, mas múltipla nas suas partes(divisivos). Assim, a consciência é múltipla enquantocomposta de partes (divisivos) não-abstratas, e aomesmo tempo, conserva sua unidade que não é simples.

Os atos (divisivos), segundo a interpretaçãoproposta, tornam-se total ou parcialmente independentesuns dos outros, e pela fundação psíquica dos atos derepresentação fica estabelecida uma dupla caracterizaçãodos atos psíquicos. Em primeiro lugar, que eles sãounilateralmente divisivos (einseitig divisive Teile), isto é,o ato de julgar pode cessar de existir que a representaçãocorrespondente continuará a existir, sendo que o mesmonão ocorre na situação inversa, na qual o julgar semprepressupõe o ato de representação. Em segundo lugar,existem as partes reciprocamente divisivas (gegenseitigdivisive Teile), ou seja, os atos que independemcompletamente um do outro na sua existência, neste casoos atos de ver e ouvir ilustram muito bem a situação.Neste primeiro momento, este gênero de separação dosatos será sempre real, mais tarde, na Psicologia Descritiva,Brentano tratará dos elementos separáveis apenasabstratamente, ou melhor, como partes distincionais. Porenquanto, é cabível notar que Brentano estabelece desdecedo as bases de uma ontologia da mente no sentido deuma mereologia de partes reais, com vistas a estabelecera unidade da consciência.

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Durante os anos de 1880-189022, Brentanodesenvolve uma psicologia descritiva muito maisapurada do que aquela esboçada na PES I. Nesta novaempreitada, ele chega mesmo a desenvolver umamereologia aplicada às investigações psicológicas,consistindo esta mesma num avanço frente à leituramereológica presente na análise da consciência da PESI. Os propósitos de tais investigações giram em tornodo estabelecimento de um claro traço de demarcaçãoentre a abordagem pura e a abordagem psicofísica daconsciência, tratando-se neste último caso de umapsicologia descritiva (pura), independente daperspectiva genética23 e, já distante, das discussões deteor fisiológico da PES I24. “A psicologia descritiva é aparte mais importante da psicologia” (BRENTANO,1995, p. 138 [129]). Provavelmente fora daqui queHusserl extraíra os traços inicias de uma análise purados elementos da consciência, sendo “[...] responsávelpor transformar a psicologia descritiva de Brentano emalgo que soa mais ambicioso, a fenomenologia.”(SMITH, 1994, p. 24)

O texto do qual tratamos aqui, é um dosmanuscritos de Brentano publicados postumamente.Este manuscrito, intitulado Elementos da consciência,trata da descrição das partes da consciência emconsonância com a unidade da mesma. Assim, oproblema que reencontramos na Psicologia Descritiva

ìì Cf. Albertazzi (2006).23 Cf. Brentano, 1995, pp. 137-138 [129].24 Cf. Brito, 2012, p. 121.

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(PD) é o mesmo que se encontra nos momentos iniciaisda filosofia de Brentano, isto é, a instituição da unidadedo objeto de investigação. Tal problema surge como umaconstante nos seus escritos, lutando principalmentecontra uma interpretação do tipo humeana, queargumenta a favor de uma teoria de feixes (bundle),que assevera que as ideias sucedem-se umas às outrasnum rápido e contínuo fluxo, não constituindo asmesmas uma unidade, uma vez que a sua unidadeexigiria simplicidade, sendo esta contraditória com amultiplicidade de atos, acarretando com isto umaunidade vazia, meramente aparente 25.

Desta forma, o problema encontra-se no modocomo os elementos da consciência são tomados nainvestigação. Brentano esclarece que não é porque aconsciência se mostra como uma multiplicidade que amesma deixe de consistir numa unidade real. “Aunidade da realidade é algo diferente da simplicidadeda realidade.” (BRENTANO, 1995, p. 15 [12]).

A intencionalidade revela a relação dedependência entre os atos e não meramente umarelação casual dos seus elementos, configurando umaunidade real (eine Einheit der Realität) dada pelo inteirode suas relações. Pois, se por um lado, nos primórdiosde seu aristotelismo o problema era metafísico ereferente à unidade de sentido de ser, por outro, porém,Brentano retorna à discussão nos termos de umaargumentação que gira em torno da unidade daconsciência, mas que se conserva nos entremeios dodiscurso onto-mereológico. O discurso mereológico de

ôõ Cf. Mulligan & Smith, 1985, p. 9.

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muito mais ampla. Em especial sentido, a suamereologia26 será determinante para seus discípulos,principalmente nos casos de Twardowski, Husserl eMeinong, sendo sua influência sentida mesmocontemporaneamente.

Decorrente de sua nova visão acerca dapsicologia aliada à mereologia, Brentano oferece umadeterminação mais clara do que seja o objetointencional. Será disto que trataremos a seguir.

2.1 MEREOLOGIA

A diferença entre a abordagem da PES I e daPD é refletida no estatuto ontológico concedido aoselementos da consciência. Como já vimos, na PES I aspartes (Teile) da consciência eram unicamente de umtipo, isto é, realmente separáveis. Já na PD, o programabrentaniano é ampliado, atendendo não somente aspartes reais, mas também as partes meramentediferenciáveis (não separáveis) da consciência.

Estas partes (meramente) distinguíveis/distincionais (distinktionelle Teile) operam como“elementos de elementos”27 elas não são realmenteseparáveis, porém funcionam como partições(Teilungen) distinguíveis, mas não são atualmente28

separáveis. As partes distincionais se dividem em doistipos; partes distinguíveis em stricto sensu e as partesdistincionais em sentido modificado. As primeiras sãodistinguíveis em sentido próprio e se dividem em quatro

2� Cf. Brentano, 1995, p. 15 [12-13].27 Cf. Brentano, 1995, p. 17 [14].28 Cf. Brentano, 1995, p. 16 [13-14].

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grupos. Às demais, em sentido modificado, nãocorresponde mais do que um grupo.

As primeiras dividem-se em:

a) Partes mutuamente inseparáveis: Devido àinerente dependência de suas partes não se podealterar ou separar uma de suas partes sem afetaras demais e, com isto, a sua determinação. Porexemplo, a evidência do juízo “Existe uma verdade”não pode ser separada, mas apenas distinguidada qualidade afirmativa do juízo.b) Partes lógicas: São aquelas separáveisdistincionalmente apenas de modo unilateral, istoé, a relação psíquica sobre a qual está baseadaestabelece uma relação de dependência unilateral,como no caso da experiência visual, o sentir, o vere o ver-vermelho (Rot sehen).c) Partes dos pares de correlatos intencionais: Nestecaso, trata-se da relação entre o ato (real) e oobjeto intencional (não-real). “Os dois correlatossão somente distincionalmente separáveis um dooutro.” (BRENTANO, 1995, p. 24 [21]).d) Partes da consciência primária e secundária:Em boa medida conservam o sentido presentena PES I, mas passam a ser entendidas dentro darelação de inerência de suas partes como respostaao problema dos atos inconscientes e da unidadeda consciência.e) Por último surgem as partes em sentidomodificado (modifizierende Teile) como sentidoimpróprio das partes distincionais. Brentano

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não há uma separação real. Entretanto, não hátambém uma pura distinção como nos demaiscasos, mas sim uma distinção em sentidomodificado, no qual, por exemplo; o azul só podeser objeto como o azul presente na experiência dacor (Farbempfindung) e, não o azul mesmo.

2.2 OBJETOS NÃO-REAIS

O novo posicionamento de Brentano reflete aabertura da perspectiva pura da psicologia. O que há deficar claro na PD é o modo como o objeto intencional éentendido por Brentano, diferenciando-odefinitivamente do ato, e propondo uma saída para oproblema dos irrealia e do platonismo que elesimplicavam29. Ato e objeto intencional são entendidoscomo pares de correlatos intencionais (claramentedistincionais), sendo o primeiro real e o segundo não-real, ou seja, conservam estatutos ontológicos diferentes.Efetivamente, o objeto é concebido como não-real porser dado de maneira modificada no ato. Ele é, por assimdizer, negativamente modificado, invertendo o seu statusontológico ao tornar-se intencional. Todavia, fica claroque o objeto intencional tem sua presença definidaepistemologicamente no ato, porém o objeto mesmodado à percepção não sofre tal modificação, sendoimpossível ao sujeito acessar de maneira positiva oreferido objeto, ou seja, o objeto real. Entretanto, poderiase argumentar que o objeto intencional e o pressupostoobjeto real fossem o mesmo, e que mesmo este último

� Cf. Rollinger, 2009, p. 8.

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não dispusesse de realidade alguma, aferindo que adistinção ontológica proposta é apenas epistemológica.Porém, este não pode ser o caso, pois se a existência deum objeto real (de onde advém o objeto intencional) fossenegada por Brentano (o que não é o caso), então nãohaveria a necessidade de uma distinção entre real e não-real, uma vez que ambos seriam apenas constructosmentais e fechados sobre si mesmos.

Assim, pelo que foi exposto acima, pode-se vercomo podemos definir, mesmo que negativamente, ostatus ontológico do objeto intencional na PsicologiaDescritiva. O maior indício de que nossa argumentaçãoé consequente, advém da caracterização positiva (real)do ato em oposição à caracterização negativa do objeto(não-real). Essa diferenciação deve se estabelecernecessariamente ao nível ontológico.

Claramente, o problema que se coloca aqui dizrespeito ao representacionalismo que tal tese apresenta,a solução de Brentano refere-se a uma duplarepresentação do fenômeno físico. Em primeira instânciaum objeto primário é dado à consciência primária (ver acor); este objeto primário (cor) é extrínseco à relaçãoque mantém com a consciência primária. Em segundainstância, o objeto primário (cor) surge intrinsecamentecomo correlato intencional (cor vista) no par de correlatosintencionais (ver a cor – cor vista), consistindo estes noobjeto secundário presente na consciência secundária(consciência do ver a cor).

No primeiro caso, a cor é um objeto explicito,no segundo, por assim dizer, um objeto implícito.

E o que é verdadeiro para o membro real da relaçãointencional também vale para seu correlato não-real

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014(nichts Reales). A ‘cor vista’ (gesehene Farbe) contém, de

certo modo, a cor, não como uma parte distincional emsentido estrito, mas como uma parte obtida dela por umadistinção modificada. (BRENTANO, 1995, p. 29 [27]).

O representado, neste caso, é tomado comoobjeto intencional, isto é, o correlato intencional doato psíquico. Apenas o objeto é intencional, o ato não,pois o ato é algo real dado pela percepção interna. Oobjeto intencional, ao contrário, é apenas correlatointencional e distingue-se pelo seu modo de existênciaque reflete um estar na consciência, mas que não éreal nela; o objeto intencional é não-real (nichts Reales).“O problema básico, inclusive da própria imanência,não é ‘onde’ o objeto intencional é, senão ‘como’.”(PORTA, 2002, p. 103). Propriamente, de maneira nãomuito rigorosa, o objeto intencional é a forma semmatéria, pois é claro que o objeto de consciência nuncadispõe de matéria30. O que é dado31 pelo objeto nuncaé a matéria, mas sim a forma objetiva do objeto32.

3 CONCLUSÕES: PES I - PD

Por fim, o que verificamos foi que Brentano, noperíodo referido, não trata senão de objetos de ordemempírica. Sua argumentação não inclui objetosimaginários ou mesmo impossíveis como farão seusdiscípulos mais conhecidos. Assim apesar de estar

30 Não tomamos este termo no mesmo sentido que Husserl.31 “Em efeito, a percepção não é um “padecer” no sentido próprio

do termo, uma alteração cognitiva e não física da psique, apercepção não implica a presença material ou física dos objetossensíveis na pessoa que percebe, mas somente sua presençaobjetiva.” (ANTONELLI, 2009, p. 482).

32 Cf. Aristóteles. De Anima, II.

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atento ao problema da objetividade, ele não conseguedeixar de lado o âmbito da representação empírica,isto é, do simples representado (imagem).

Este posicionamento de Brentano torna-se cada vezmais problemático, especialmente no que se refere à suateoria da intencionalidade, a qual se verificou como poucoesclarecedora. A argumentação brentaniana deixa entreverque é impossível termos uma definição precisa do que sejaa intencionalidade, pois esta é uma característica da relaçãoentre ato e objeto em um movimento de atualização. Ouseja, podemos ter um objeto, mas não o ato, uma vez que,ao tentar concretá-lo por meio da observação, o seumovimento de atualização cessa e não temos mais o ato. Épor isso que Brentano aceita a percepção interna (innereWahrnehmung) do ato, mas nega absolutamente aobservação interna (innere Beobachtung) do mesmo. Aofinal verificamos que a intencionalidade conserva algumascaracterísticas que podem ajudar na sua definição33. Dentreelas podemos elencar as seguintes:

i) O estar direcionado para algo como seu objeto(pedra);ii) O ter este algo como seu objeto (a pedra-vista [representada]);iii) Não dispor de nenhuma localização espacial(ser objetivo e não-real);iv) Ser um traço exclusivo do psíquico;

33 Talvez tenha sido o problema de definição da noção deintencionalidade que tenha levado Meinong a exigir uma teoriaespecífica do objeto (Gegenständstheorie) e, mesmo a escolapolonesa, via Twardowski, tenha representado, como diz RogerPouivet, “uma descendência não fenomenológica de Brentano”.

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observável internamente.O que vemos aqui é um conjunto de marcas

positivas e negativas 34 que apenas nos dão uma noção35

do que seja a intencionalidade, pois, como já dissemos,ela é um traço do psíquico, o qual não pode ser isoladofora da relação psíquica. Deste modo, a intencionalidadeé o traço definidor do objeto intencional, o qual nãopode ser dado fora da relação possibilitada por ela.Propriamente, é a exigência de sempre tomar tudo quevem à consciência como objeto que possibilita aobjetivação da realidade. Por isso, a teoria de Brentanomostrou-se inicialmente confusa, pois dava preterimentoà abordagem epistemológica desta relação comoconstituidora da objetividade. Apenas mais tarde, elevolta a tratar do objeto intencional, buscando sanar asimplicações decorrentes de sua primeira definição.

Assim, os esclarecimentos de Brentano a esterespeito mantêm o objeto intencional (PES I), oumelhor, o correlato intencional (PD) como determinadoem uma realidade objetiva que só pode ser dada demaneira imanente, porém, em PD, o objeto passa areceber uma caracterização ontológica (negativa),sendo considerado como não-real. Assim, percebemosque Brentano conceitua o objeto intencional de duas

34 Cf. Brentano, 1874, pp. 113-115.35 “Desta forma, o estudo da intencionalidade, isto é, do que é

próprio do mental, terá uma definição diferente segundo amaneira pela qual abordamos a noção. Para um, será umproblema de natureza psíquica; para outro, uma simplesquestão de lógica, e para outro, ainda, se tratará de umproblema de linguagem mal utilizada. O metafísico, por fim,lhe buscará definir a essência.” (BOCCACCINI, 2010, p. 5).

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maneiras distintas, a saber, de um modo epistemológicona PES I, e de um modo ontológico na PD.

Estas duas definições do objeto intencional nafilosofia de Brentano nos mostram a origem dascontroversas interpretações de seus discípulos. Assim,para justificar a nossa leitura nos referimos a doispontos: o primeiro, na PES I (1874, p. 115), nos dizque “Todo fenômeno psíquico contém em si algo comoobjeto”; o segundo, na PD (1995, p. 24 [21]), nos dizque o objeto intencional “não é algo de real”. Assim,podemos verificar que apesar do dar-se epistemológicodo objeto intencional no ato (PES I), o que possibilitaa diferenciação entre ambos é a modificação, ao nívelontológico (PD), operada sobre o objeto no dar-seobjetivamente à consciência. Enfim, o que deve ficarclaro é que entre o ato e o objeto intencional (PD) sópode haver uma distinção devido à inerência entre eles.Contudo, uma diferenciação ontológica torna-se latenteao se assumir que o objeto intencional neste caso refere-se36 a um objeto real positivo que só pode ser dadonegativamente (ser não-real) ao ato37.

<= “No seio desta tradição, o objeto (objectum, íôéêåwìåíïí) ésempre associado de maneira indissociável à nossa atividadepsíquica: o objeto é, por definição, o objeto de uma faculdadepsíquica, de uma maneira epistêmica ou intencional. ‘Objeto’não é um sinônimo perfeito de ‘coisa’ ou ‘entidade’, mas serefere a uma coisa em função do aspecto ou do ponto de vistasegundo o qual uma coisa é apresentada a nosso espírito: numaatividade psíquica nós temos sempre algo (uma coisa, umaentidade) por objeto, o qual se trata de um objeto visível,audível ou cognoscível.” (ANTONELLI, 2009, pp. 473-474).

37 Cf. Brentano, 1911, p. 122.

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