um pequeno dossiê que um design de moda precisa para fazer uma boa coleção

31
Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Upload: traqueltixa

Post on 02-Jan-2016

280 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa

coleção

Introdução

Design de Moda As Etapas das pesquisas de Moda Entenda as estações da Moda O que é a Tendência da Moda A pesquisa de Tendência

Page 2: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Criação do Design de Moda A criação O processo da criação Planeando uma coleção

• PDF• Como fazer o mapa de uma coleção

Desenho Introdução ao Desenho Técnico da Moda Desenho Anatómico e suas Proporções Começando a desenhar Desenho Técnico no CorelDraw Papel de Desenho

Design de Moda

As pesquisas da Moda

Pesquisar moda pode parecer uma tarefa um pouco vaga ou algo muito previsível, afinal, as tendências vêm e vão e tudo parece se repetir. Mas como fazer uma pesquisa consistente que faça a diferença no seu projeto de coleção?Então vamos ao caminho das pedras…

Conheça o assunto:

É preciso garimpar muito para ter boas ideias. Procure ter conhecimento sobre história, artes e a maior quantidade de assuntos que for possível. Isso pode render muitas visitas a museus, galerias, passeios, horas na internet, mas valerá muito à pena. Também é interessante conhecer o trabalho de outros designers, não para copiar suas ideias, mas para se atualizar sobre o que está sendo feito no mercado.

Page 3: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Encontre um tema

Ter um tema mantêm o designer no foco, deixa o trabalho coeso. O tema pode ser de um assunto literal, até uma ideia abstrata. Procure ver as coleções de outros designers e a maneira como estes trabalharam os seus temas. Para se escolher um tema vale tudo, desde revisitar épocas passadas, explorar a arquitetura, obras artísticas, culturas diversas ou escolher assuntos diversos como elementos da natureza e até temas mais abstratos e subjetivos.

Forme um conceito

Conceito é o que podemos chamar de “o espírito” da coleção. São os valores que essa coleção traz, que são intrínsecos às criações. Resuma o conceito a algumas palavras-chave.

Busque fontes de pesquisa

O lugar mais fácil para se iniciar uma pesquisa é a internet, onde pode-se fazer um levantamento de imagens, livros e lugares a serem visitados para aprofundar o conhecimento sobre o tema escolhido. Depois é interessante ir a alguns lugares para vivenciar algumas situações para aguçar a criatividade e acumular experiências que depois se converterão em boas ideias. As fontes de pesquisa dependerão do tema e do conceito escolhido.

Faça um book de pesquisa

Alguns designers juntam fotografias, recortes, amostras de materiais e esboços que serão inspirações para as suas criações. Uma boa maneira de organizar essas matérias é colecioná-los num book de pesquisa, que possa ser levado a qualquer lugar e onde se possa fazer colagens, anotações e esboços rapidamente. O objetivo não é um caderno extremamente organizado, as imagens e anotações podem ser colocadas aleatoriamente para que gerem novas ideias e possa ser sempre revisitado.

Page 4: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Exemplo de book de pesquisa

Faça um painel de inspiração

O painel de inspiração geralmente é feito de colagens de imagens, podendo conter também amostras de materiais e de cores, bem como esboços e desenhos e até palavras-chave. Um painel pode ser feito manualmente ou no computador e quantas vezes forem necessárias até se chegar à uma ideia que traduza sucintamente o conceito que se pretende passar.

Page 5: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Painéis de inspiração

Faça muitos esboços

Os surgimentos das primeiras ideias pode ser um pouco frustrante, afinal quando não temos intimidade suficiente com o conceito encontramos alguma dificuldade em traduzi-lo para o papel. Por isso é tão importante desenhar muitos esboços, tanto para amadurecer as ideias, como também para explorar o maior número de possibilidades para cada elemento de estilo que se pretende trabalhar em cada família. Os esboços não têm compromisso com perfeição, apenas devem deixar clara a ideia que se quer

transmitir para cada peça.

Os esboços não têm compromisso com perfeiçãoDefina as silhuetas

Page 6: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

A definição da silhueta é considerada fundamental na tomada de decisão de que tipos de peças formarão a coleção. É importante refletir que partes do corpo serão realçadas e que tipos de estruturas as roupas terão e porque, tudo isso deve estar de acordo com o conceito que se pretende passar.

Exemplos de silhuetas

Defina a proporção e as linhas

A proporção da roupa é definida a partir da silhueta. Ao passo que a silhueta é a conceção completa da roupa, ou o todo, a proporção pode ser considerada as partes, ou seja, as linhas, que podem ser horizontais,  verticais, diagonais ou curvas. Além disso deve-se pensar nos blocos de tecidos, ou seja, cada parte que compõe a peça. A linha de uma roupa geralmente está relacionada ao seu corte e à localização de costuras, pences e os recortes.

Page 7: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Os detalhes devem ser estudados para definir os elementos de estilo de cada família

Defina os detalhes

Os detalhes da roupa podem ser decisivos para atrair os olhares e fazer com que as pessoas tenham interesse em experimentá-la e consequentemente, possuí-la. Deve-se pensar nos detalhes como uma consideração prática de que tipo de fecho, bolso, botão ou qualquer outro elemento escolher para que a roupa assuma uma identidade única e se torne atraente.

Defina os tecidos, as texturas e as cores

É imprescindível ao designer de moda conhecer tipos de tecidos, as diferentes texturas e estar a par das cores da estação. Isso porque é importante pensar na disponibilidade de matéria-prima para a Confecção das peças da coleção. Além disso cada um desses itens devem estar em harmonia com o todo da coleção, ou seja, o seu conceito.

Entenda

Todos falam em tendências de moda, mudança de estações, lançamento de coleções. Mas você sabe o que realmente significam estes termos? Se você acha que essas coisas só interessam aos estilistas, é bom rever os seus conceitos, pois entendendo o ciclo da moda você poderá planejar melhor suas compras e ter mais autonomia quando o assunto é estar na moda. É sempre bom lembrar que nem toda tendência combina com o seu estilo, é preciso filtrar e pensar bem antes de comprar!A moda é ao mesmo tempo uma tendência humana de diferenciação, imitação, desejo de aceitação e necessidade de mudança. Por isso a moda é um fenômeno tão efêmero e passageiro. Para alavancar as vendas no setor de vestuário, as marcas lançam periodicamente suas coleções.Segundo Rech (2002:68), coleção “é um conjunto de produtos, com harmonia do ponto de vista estético ou comercial, cuja fabricação e entrega são previstas para determinadas épocas do ano”.*

Page 8: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

As coleções são criadas após uma pesquisa de tendências. Estas tendências são elaboradas segundo os artigos que serão lançados principalmente  pela indústria têxtil. Muitos profissionais estão envolvidos nas pesquisas de novos tecidos e novos pigmentos para dar cores a esses tecidos, além de outras tecnologias envolvidas na produção de roupas.

Imagens do Première Brasil

Para acompanhar todas as mudanças e caprichos da moda, a Indústria estabeleceu um calendário que até hoje é seguido nas principais capitais do mundo. Esse calendário é baseado nas estações do ano, pois a indústria percebeu que era na época de mudanças de estação que as pessoas procuravam comprar novas peças de roupas, para se adequar às variações climáticas. Mesmo nos países como o Brasil onde essas variações climáticas não são tão bruscas de uma estação para outra, esse calendário de lançamento de coleções é mantido.Tudo isso começou no século XIX com o estilista Charles Worth (1826–95). Ele instituiu a alta-costura e sentiu a necessidade de mostrar as suas criações ao público, promovendo os lançamentos das coleções divididos em duas temporadas. Após difundir a alta-costura, Worth propôs um sistema para os lançamentos da moda que concentrava a criação e a divulgação das novidades duas vezes ao ano, acompanhando as estações climáticas, primavera/verão e outono/inverno.

Charles Worth

Este calendário serve para planejar o que está sendo vendido no presente e o que será lançado no futuro. Veja o exemplo abaixo baseado no livro Inventando Moda de Doris Treptow:

Page 9: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

MÊS COLEÇÃO EM VENDAS

JaneiroPromoção das peças que sobraram da coleção de alto-verão (fim de ano)

Fevereiro

Promoção das peças que sobraram da coleção de alto-verão (fim de ano)

Março Lançamento da coleção de outonoAbril Venda da coleção de outonoMaio Lançamento da coleção de invernoJunho Venda da coleção de inverno

JulhoPromoção das peças que sobraram da coleção de outono/inverno

AgostoPromoção das peças que sobraram da coleção de outono/inverno

Setembro

Lançamento da coleção de primavera

Outubro Lançamento da coleção de verãoNovembro

Lançamento da coleção de alto verão e festa (fim de ano)

Dezembro

Venda da coleção de alto verão e festa (fim de ano)

Agora que você já entende o ciclo da moda, pode acompanhar os lançamentos e aproveitar para aproveitar também as promoções de final de temporada!

O que é Tendência da Moda

As tendências desempenham um papel importante no mundo da moda. Precisamos entender o funcionamento do sistema de moda para tirar melhor proveito da pesquisa de tendências.

Page 10: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Segundo o Oxford Dictionary of English, pesquisa é “a investigação sistemática no estudo de materiais e fontes para estabelecer fatos e alcançar novas conclusões.”Já o Dicionário Ilustrado de Moda define tendência como “direção geral para a qual algo se movimenta ou evolui. Na moda, uma tendência pode ser um estilo, uma cor, uma estampa ou uma patronagem que começa a ganhar aceitação ou adoção ampla.”Dario Caldas em seu livro Observatório de Sinais  (pág. 23 a 26) analisa o termo que deu a origem à palavra tendência, que deriva do latim tendentia. Alguns significados atribuídos a esse verbo são “tender para”, “ser atraído por”. Atualmente, além desses significados, a palavra tendência também passou a se relacionar com a ideia de evolução. Resumindo, podemos entender uma tendência como uma “evolução” da moda que aponta para determinadas propostas estéticas a cada temporada.Atualmente a tendência de moda segue um ciclo. Não há nada realmente inédito e sim novas propostas em cima de estéticas já existentes. Essas novas propostas são baseadas na observação dos desejos e das novas necessidades dos consumidores. Essas pesquisas são levadas muito a sério pelos bureaux de pesquisa que contam com profissionais de diversas áreas. Estes buscam as macrotendências, ou seja, detetam através da observação os novos comportamentos das pessoas e analisam que rumos tomarão os hábitos de consumo dessas pessoas. Essa pesquisa inicial está muito mais focada nos comportamentos das pessoas do que nos produtos. Só depois é que as aspirações das pessoas serão traduzidas em tecidos, cores, texturas, etc, que são as tendências de moda.

Os caçadores de tendências, ou coolhuntters, conseguem antever o que um grupo ou uma grande maioria de pessoas estão aspirando, o que elas desejarão num futuro próximo. Essas novidades são apresentadas primeiramente num bureaux de estilo para que profissionais especializados de diversas áreas possam trabalhar seus respetivos produtos.As Macro Tendências são super importantes de serem analisadas, porque estas referencias são as principais, aquelas que irão indicar o caminho a ser trilhado na

Page 11: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Estação. Assim, essas tendências serão mostradas, em primeira mão, nas mais diversas feiras dos mais variados segmentos como a Semana de Moda de Paris, a SPFW, Feira de Design de Milão, Casa Cor de São Paulo, Salão do Automóvel de São Paulo, etc.Algumas mudanças podem permanecer por um longo período e outras explodem, são usadas e descartadas em um curto espaço de tempo. Essa vida útil inconstante das tendências é conhecida como ciclo de moda. Dentro do Ciclo de Moda podemos identificar diferentes categorias de tendências examinando a vida útil da tendência e a velocidade entre a ascensão e o declínio do período de adoção. Uma tendência pode vir a ser um estilo ou pode simplesmente ser esquecida rapidamente, como observamos nos modismos. Existem três teorias da liderança de moda:

TrickleDownA moda se difunde de cima para baixo, ou seja, é lançada nas passarelas e cai no gosto popular.

TrickleAcrossA moda se difunde entre todos os grupos ao mesmo tempo, como se fosse uma febre coletiva.

TrickleUpA moda surge entre os pequenos grupos e sobe para as passarelas, como no exemplo dos punks da Inglaterra que inspiraram a estilista Vivienne Westwood e tornou-se um estilo.No dia-a-dia da indústria de moda a pesquisa tem um importante papel de revelar conceitos através de novas propostas de vestuário, atendendo cada vez melhor os anseios dos consumidores, o que é um grande diferencial  para as indústrias que buscam destaque no mercado cada vez mais competitivo. Acima de tudo a pesquisa estimula a mente e abre novos caminhos ao design. Bibliogrfia consultada:

SEIVEWRIGHT, Simon. Pesquisa e Design. Porto Alegre: Bookman, 2009.NEWMAN, Alex; SHARIFF, Zakke. Dicionário Ilustrado – Moda de A a Z. São Paulo: Publifolha, 2011.CALDAS, Dário. Observatório de Sinais. Teoria e Prática da Pesquisa de Tendências. São Paulo: Senac Nacional, 2004. Crédito das imagens: WGSN

Page 12: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

A pesquisa da Tendência

A pesquisa criativa é o segredo ou truque que

embasa todo design original”. John Galliano.

Vou começar a falar da pesquisa necessária para iniciar uma coleção. Para muitos a pesquisa é só um capricho, algo dispensável. Porém é ela que dá originalidade às criações. Quando falo em originalidade, não quero dizer que tudo que criamos deve ser inédito, afinal, isso seria impossível. Mas a originalidade de uma coleção está nos detalhes que são inspirados na pesquisa. Em primeiro lugar pesquisamos as tendências.Na minha opinião o que deve ser mais levado em consideração nessa pesquisa são os shapes, ou seja, as formas predominantes, para guiar as silhuetas das modelagens, e as matérias-primas que estarão disponíveis no mercado. Além disso é bom levarmos em consideração as peças-chave da estação. Boas fontes de pesquisa são os portais de pesquisa de tendências como Usefashion, WGSN, ViPreview, entre muitos outros.O importante é darmos preferência para pesquisar as macrotendências da estação e delas tirar um tema para guiar todas a criação da coleção.  A tendência de moda não pode ser entendida como uma obrigatoriedade. Na minha opinião ela apenas aponta os rumos da moda, cabendo ao criador usar as informações de acordo com a sua proposta.

Page 13: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Com as informações coletadas na pesquisa de tendências, precisamos de um tema. O tema serve de embasamento, é o que vai dar coerência e harmonia a todas as peças. O tema precisa ser algo amplo e rico em referências, pois é ele que vai dar as ideias de cores, formas, silhuetas, texturas, etc. Costumo dizer que qualquer assunto pode servir de tema, basta saber explorar. O tema pode ser algo muito pessoal para o estilista, extraído de suas próprias experiências estéticas.No caso desta coleção, o tema escolhido para a primeira coleção foi “Areias”. Esse tema surgiu de experimentos de modulagem que eu estava desenvolvendo com pregas e drapeados, quando praticava as técnicas que aprendi com o estilista Jum Nakao. Enquanto modelava e manipulava os tecidos, lembrei do dinamismo das areias que são modificadas pelo vento, formando diversas texturas. Desses experimentos cheguei a peças com efeitos de drapeados, pregas e camadas.Esse tema em si já é bastante amplo e já daria muitas ideias. Mas para o tema se tornar ainda mais rico e consistente, pode ser associado a um subtema, que irá gerar outras ideias e propostas. Nesse caso o subtema da coleção “Areias” entrou para prestigiar o nosso típico artesanato, as famosas garrafinhas de areias coloridas, de onde tirei a cartela de cores da coleção. Tenho sempre a sensação de que está faltando algo na coleção, de que eu poderia ter desenvolvido mais propostas e conversando com outros colegas estilistas, descobri que esse é um sentimento comum de quem cria. Mas descobri que às vezes temos que nos tolhia um pouco, pois a quantidade de ideias às vezes não corresponde ao tempo e o recurso que temos. Por isso vale sempre guardar boas ideias para revisitá-las em uma próxima coleção.Para que essas ideias sejam “extraídas” do tema, cada estilista deve encontrar a sua maneira. A minha maneira de fazer isso é buscando imagens sobre o assunto e colando-as no meu sketchbook, ou caderno de esboços. Essas colagens são bem aleatórias e ajudam a nos inspirar nas formas, cores, texturas, etc. Vale tudo: fotos, recortes de revistas, esboços, tecidos.Eu sou meio organizadinha, por mais que eu tente, não consigo jogar as informações de qualquer jeito, mas não precisa ser assim. Já vi sketchbooks de outros estilistas que são uma bagunça, mas são verdadeiras obras de arte. Bom, cada um ao seu estilo. O meu sonho é um dia conseguir fazer um sketchbook bagunçado.

Sketchbook com colagens e anotações sobre o tema da coleção

Depois de definir o tema e dele tirar as ideias, é preciso pensar no conceito da coleção. O conceito é como o estilista define a sua coleção. É um resumo de tudo. O tema escolhido, o público-alvo e como pretendemos passar a ideia desse tema para o público. Eu diria que é o clima ou o espírito da coleção. Quando trabalhamos o conceito de uma coleção, fazemos com que o público experimente sentimentos e sensações ao visualizar o nosso trabalho. É como quando assistimos a um filme que nos transporta para um mundo que foi criado pelo diretor. Precisamos transportar o nosso público-alvo para o mundo criado por nós, através da coleção.

Imagens que inspiraram a escolha de tecidos e texturas

Imagens das garrafas de areias que inspiraram a escolha de cores

Page 14: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Para esta coleção poderíamos definir o seu conceito como: uma coleção voltada para um público feminino jovem, atento às tendências, porém, não escravo delas. Um público que valoriza muito mais a roupa de modelagem bem talhada e bom caimento, do que peças descartáveis que são usadas só durante uma estação. A atmosfera da coleção é voltada à natureza, porém, com um toque de sofisticação, considerando que a proposta é de uma moda casual mais refinada. O nicho de mercado corresponde ao prêt-à-porter, ou seja, roupas produzidas em quantidade, porém, com qualidade e relativa exclusividade, já que a produção é pequena em relação às marcas que fazem produção em massa.

Criação do Design de Moda

Criação

O estilista que senta à sua prancheta nos momentos de inspiração e tira  ideias maravilhosas  do nada, certo? TOTALMENTE ERRADO!O estilista é um profissional que estudou muito e continua estudando, pesquisando, lendo, aperfeiçoando o seu traço, praticando modelagem e sempre testando novas possibilidades. A criação não é assim tão fantasiosa quanto se pensa. O único glamour da vida desse profissional é a ocasião do desfile de sua marca, que aliás, só dura uns poucos minutos. A frase que todo estilista deveria aprender a dizer e repetir todos os dias é “eu não sei tudo” e a atitude que deveria adotar diante dos desafios é “eu não sei isso, mas vou aprender”.Depois da pesquisa feita espera-se ter bastante conteúdo para a criação, mas a verdade é que a pesquisa deve continuar durante todo o processo do planeamento de uma coleção. Para isso um sketchbook ou caderno de esboços é indispensável para colocar todas as ideias que vierem à cabeça, sem limites.Dependendo da estação, construímos o clima da coleção, de acordo com o conceito trabalhado. Essa coleção de lançamento da loja é um Preview de Primavera-Verão e por isso tem peças mais leves e uma cartela de cores mais aberta.  Depois da pesquisa que fiz sobre o meu tema, comecei a fazer as definições de cores,

Page 15: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

silhuetas, detalhes, elementos de estilo e matéria-prima  de cada família de peças, para a partir daí começar a desenhar os croquis, que no início são apenas rascunhos.Uma coleção é um conjunto de roupas ou acessórios inspirados dentro de um tema ou conceito. Esse conjunto de peças deve ser esteticamente harmônico, tecnicamente viável, ou seja, possível de ser fabricado e vendável. Além disso deve ter bom corte e acabamento, para que tenha valor agregado. A criação é uma etapa ao mesmo tempo lúdica e racional, pois deve haver um equilíbrio entre o que queremos fazer e o que realmente podemos fazer. A escolha de alguns tecidos e aviamentos pode significar uma aposta, mas o estilista tem que ter bastante poder de decisão na hora das compras. Toda a matéria-prima tem que ser comprada com antecedência, principalmente quando fazemos encomenda de grandes quantidades, para que tudo seja entregue nas datas planejadas para começar a fabricar. A quantidade também é uma decisão bem difícil, pois não podemos correr o risco de comprar mais matéria-prima do que necessário, para evitar deixar capital parado.

Painel de inspiração da

coleção Areias

Escolha das Cores

Montar a cartela de cores é uma das primeiras decisões a serem tomadas. É interessante experimentar várias combinações de cores, para se chegar ao resultado ideal.O tema é essencial para a escolha das cores. Nessa coleção prevaleceram os tons terrosos e neutros, mas cores mais quentes também entraram para equilibrar a cartela. Todas as cores refletem a personalidade da coleção. Os tons neutros como o marfim e o branco refletem a luminosidade do ambiente. Os tons terrosos remetem às falésias que oscilam suas cores entre marrom, ferrugem, caramelo e bege. O vermelho e o vinho entram representando a rica mistura de cores que se forma na natureza quando a palidez da areia clara é iluminada pela luz quente em tons avermelhados no final da tarde.A estampa costuma ilustrar a cartela de cores, os temas e as influências recebidas durante a pesquisa. As estampas escolhidas para essa coleção foram os pois e os florais miúdos. Os pois como referência às pedrinhas arredondadas que misturam-se

Page 16: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

às areias e os florais referem-se à discreta vegetação que se expressa no ambiente explorado na pesquisa.

Escolha dos Tecidos

A escolha do tecido é essencial para o sucesso de uma roupa. É importante conhecer bem os tecidos sugeridos para a estação atual. Os tecidos escolhidos devem harmonizar com a proposta e o estilo das peças e ser adequados para os tipos de modelagem e detalhes que se pretende fazer.Saber qual o tecido ideal para cada modelo é algo que aprendemos com a experiência. Nem sempre fazemos a escolha certa, por isso é tão importante realizar testes. Nessa coleção usei sarja acetinada, tricoline, linho, laise, crepe e seda sintética.

Definição das Silhuetas

A silhueta da coleção segue numa tendência ajustada e estruturada que evolui para formas mais fluidas. Vestidos, saias e corsets apresentam recortes sinuosos junto ao corpo, dando uma forma mais estruturada às peças. Mais tarde essas formas alargam-se, tornando-se esvoaçantes, dando um ar da leveza própria do verão.A tradução do conceito através das roupas é direcionada  pela construção da relação entre a silhueta, a estrutura das peças e os detalhes.  A Silhueta é o contorno ou forma da roupa e é a primeira coisa a ser notada pelas pessoas. Ao definir uma silhueta devemos considerar todos os ângulos da peça, 360 graus. O desenvolvimento das silhuetas ajuda a criar uma identidade para a coleção.Neste caso o foco da silhueta é a representação de uma mulher sensível e romântica, com espírito livre, traduzido nos complementos do look, como os cabelos ao vento ou presos de forma desleixada. Cintura ajustada, cortes arredondados remetendo à feminilidade, contrastam com a parte inferior da silhueta que sugere uma base firme com sandálias de saltos largos e presença marcante.

Definição da Proporção

Depois de definida as silhuetas que predominarão na coleção, eu parto para a relação entre proporções e detalhes. O corpo é dividido por linhas horizontais, verticais e diagonais e são essas divisões que definem a proporção. A linha de uma roupa está relacionada ao seu corte e à localização de costuras, recortes e pences.A combinação de proporção, cores e texturas podem criar possibilidades infinitas. Nessa coleção foram usadas linhas curvas e enviesadas que têm caráter feminino. Não existem regras para a localização de costuras, recortes e pences, podendo estes serem deslocados em torno do corpo. Esse processo exige estudo de técnicas de modelagem e tempo gasto diante do manequim de moulage para experimentar as possibilidades. As linhas dessa coleção foram inspiradas no movimento das dunas, que formam diferentes desenhos de linhas curvas na areia, o que eu levei para o tecido em forma de recortes nas peças mais estruturadas e cortes enviesados nas peças mais fluidas.

Definição dos Detalhes

Page 17: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Os detalhes são o diferencial de uma peça de roupa. São considerados detalhes de confeção pespontos, pregas, nervuras, drapeados, lapelas, tipos deferentes de abotoamentos, formas de palas, mangas e de bolsos, entre outros. Além disso os aviamentos como zíperes, botões, ilhoses, etc., podem também fazer a diferença em uma peça, dependendo da maneira como usamos. Para definir os detalhes das peças precisamos primeiro definir os elementos de estilo, que são elementos que escolhemos a partir do painel de inspiração da coleção e servirão de inspiração para a criação das peças. Começo fazendo associações dos elementos de estilo com soluções que sejam possíveis de serem conseguidas nos tecidos. Os elementos que trabalhei, como já mencionei, foram os desenhos curvos feitos na areia pelo vento, que viraram pregas; as pedrinhas arredondadas encontradas na praia, que viraram botões; a arquitetura natural das falésias, que viraram camadas de tecidos. 

Alguns elementos de estilo que inspiraram as peças da coleção

Desenho dos Esboços

Os esboços são os primeiros desenhos feitos para uma coleção. Geralmente desenhamos muitas ideias, para ter muitas opções de escolha. Durante esse processo é comum descartarmos muitas ideias. Faço os esboços divididos por família, assim eu consigo explorar os elementos de estilo dessa família sem perder o foco. Faço os esboços diretamente nos meus ketchbook e trabalho cada família em uma mesma página. Se eu não ficar satisfeita com as ideias de uma família, deixo emstand by e vou desenhar outras coisas, para depois voltar para a ideia anterior. Algumas coisas que eu desenho e não gosto ficam lá esquecidas e não entram na coleção, mas não jogo nada fora. Tudo fica registrado, até as ideias ruins.

Page 18: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Esboços de uma das famílias da coleção

Desenho dos Croquis

Croqui é o desenho da roupa no manequim, feito para ilustrar, mostrar o caimento das peças no corpo. Não tem muito compromisso com os detalhes técnicos, mesmo assim, para desenhar croquis é preciso ter um bom conhecimento do corpo humano para fazer uma projeção de como cada peça vai cair no corpo. Nem todos os profissionais desenham croquis de suas coleções, pois na indústria de vestuário, o que mais importa é o desenho técnico das peças e nem sempre há tempo para desenhar os croquis, devido ao ritmo acelerado da produção. No caso de um atelier é mais fácil reservar tempo para isso, já que as coleções são planejadas de forma mais minuciosa do que na indústria.Separei dois croquis para mostrar para vocês. Eles correspondem aos esboços que mostrei mais acima nesse post. Assim vocês podem ter uma ideia do processo de criação como um todo.

Page 19: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Processo da Criação

Muitos estudantes de moda e até profissionais tremem na base só de pensar no desafio que é criar uma coleção de moda. Porém, o processo de criação de cada estilista pode variar muito e não há fórmulas prontas para isso.O estilista precisa enxergar além da roupa, pois a combinação novas texturas, estampas, tecidos, temas e materiais é que realmente faz a grande diferença em uma coleção de moda.Mas de onde chegam tantas ideias?Existem várias maneiras de desenvolver uma coleção de moda. O primeiro passo é pesquisar temas e tendências e depois colocar todas as ideias no papel. Mas como eu já falei, não há uma fórmula e nem todos os profissionais percorrem os mesmos caminhos.Alguns estilistas baseiam suas criações no passado, recorrendo à história do vestuário. Outros, se inspiram em estudos da história da arte antiga para começar seu processo de criação e usam imagens do cenário artístico como inspiração para elaborar o conceito das suas coleções.Alguns profissionais pesquisam os materiais que vão ser usados na próxima coleção e mantém em seu escritório um quadro visual de fotos e imagens para seguir o caminho do tema da sua coleção.Ostrower (1987) diz a respeito do processo de criação:“Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse ‘novo’, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.” (OSTROWER, 1987).A criação tem um papel muito importante em qualquer segmento ligado à moda, pois é importante interpretar as tendências de moda de maneira original e criativa, filtrando as informações impostas pela indústria da moda. A pesquisa deve ser feita em várias fontes, para que se tenha base para criar peças com viabilidade comercial e de acordo com estética atual.O trabalho de criação consiste em chegar a uma ideia que esteja de acordo com a proposta e o tema escolhido e procurar a melhor forma de exteriorizar esta ideia, levando em conta fatores como o público-alvo, o mercado, os recursos tecnológicos e financeiros. A criação voltada para o mercado de consumo deve apresentar a característica de ser útil para a empresa e benéfica para a sociedade.O design é uma forma de agregar valor ao produto, sendo refletido no aspeto estético. Porém, o design não se limita apenas ao aspeto estético, mas busca otimizar todo o processo de produção. O designer de moda tem a função de desenvolver um estilo compatível com a marca, definindo estratégias de mercado, de criação e de produção de novas linhas de produtos.

Planeando uma coleção

Page 20: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Uma coleção consiste em todos os lançamentos de uma determinada estação. Mas porque se lançam coleções?

Para acompanhar as inovações das indústrias têxtil e de aviamentos; Para acompanhar as tendências de moda; Para se ter um melhor controle da produção, dando condições para o

estabelecimento de metas (prazo de entregas das peças);

As coleções são lançadas de acordo com um calendário seguido pela maioria das confecções. O calendário oficial para o lançamento de coleções é de três em três meses, ou seja, de acordo com as estações do ano: primavera-verão, outono-inverno. Na região Nordeste do país não temos estas estações muito definidas, então fazemos sempre coleções destinadas ao verão, por não termos necessidade de roupas de frio. Algumas empresas estão optando por lançarem mini-coleções em um espaço menor de tempo, o que pode ser uma boa estratégia para oferecer maior variedade de produtos para os clientes.

Quando vamos lançar uma coleção, devemos observar bem alguns fatores:

Estilo: é aquilo que dá característica a uma roupa. Ex: estilo clássico, estilo punk, estilo anos 60, etc.;Linha: é o tipo de roupa que se vai produzir. Ex: linha surf, linha sportwear, linha moda praia, linha aeróbica, etc.Segmento: segmento masculino, segmento, feminino, segmento infantil, etc.;Público-alvo: são as pessoas para quem pretendemos vender a coleção que iremos lançar. Ex: homens, mulheres, adolescentes, etc.;Faixa etária: é a idade do público-alvo que deve ser definida para se possa modelar as peças nos tamanhos certos.

Composição da coleção

As coleções precisam ser bem organizadas para facilitar o trabalho de modelagem e montagem das peças. Mas como se organiza uma coleção? Primeiro devemos dividi-la em partes que chamamos de famílias.

Família: é um grupo que deve ter pelo menos 4 peças que são confecionadas seguindo uma mesma programação visual, ou seja, usando mesmo tecido ou os mesmos aviamentos, diferindo no modelo e nas cores. O objetivo das famílias é enfatizar as características da coleção, oferecendo ao cliente várias opções de peças do mesmo estilo.

Variação dos produtos da coleção

Produto sazonal: lançado em períodos festivos.Produto de oportunidade: aqueles que são lançados por apresentadores e atores da televisão, cantores, etc. Estes produtos ficam pouco tempo na moda, por isso devem ser lançados e vendidos rapidamente.Produto de tendência: inspirado nas pesquisas de tendências atuais.

Page 21: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Desenvolvimento da Coleção

Quando vamos desenvolver uma coleção, precisamos definir algumas coisas antes para garantir que seremos bem-sucedidos em nossas vendas.A moda segue algumas tendências que precisamos conhecer antes de produzir roupas destinadas para venda. Temos que escolher os tecidos, os aviamentos, as cores e os modelos de acordo com essas tendências. As principais fontes de pesquisa são as publicações de moda como revistas e catálogos, bem como os sites da internet especializados na área.Depois de pesquisarmos as tendências podemos escolher um tema ou assunto para a nossa coleção. A escolha de um tema ajuda a manter uma unidade na coleção.A produção de uma coleção segue várias etapas. Pode haver algumas modificações dependendo do tipo de empresa e de produto.

Cartela de cores

A cor exerce uma atração psicológica no ser humano. Esta muita além de assumir apenas um papel decorativo ou estético, está ligada “à expressão de valores sensuais e espirituais” (FARINA, 1982). A cor pode ser utilizada de maneira simbólica ou como forma de estímulo visual, pois é o elemento que mais proporciona impacto e predomina numa imagem.Portanto, a utilização da cor não pode ser feita arbitrariamente numa coleção. É preciso encontrar uma linguagem específica por meio da qual se consiga atingir os objetivos desejados junto ao público-alvo. A simples pesquisa das tendências atuais de moda não basta para definir a cartela de cores de uma coleção, pois é necessário levar em conta o público e suas particularidades, a personalidade da marca e o tema predominante na coleção.Por exemplo, se o público for jovem estima-se que a preferência predominante é por cores fortes, já que se trata de pessoas mais abertas a estímulos externos e mais propensas às influências da moda, Há uma reação corporal do jovem em relação às cores fortes, podendo ser este um fator decisivo no comportamento de compra. “Pelas próprias exigências da idade e porque sabe que poderá substituir os objetos dentro de um prazo relativamente curto, ele se inclina ao uso de cores vivas” (FARINA, 1982).Se o público for feminino essa tendência se acentua. Segundo pesquisas já realizadas, as mulheres são mais recetivas às mudanças, o que parece explicar as rápidas mudanças na moda feminina. Há uma grande variedade de cores para esta estação.Ao elaborar uma coleção deve-se pesquisar quais cores estão em moda, para definir a cartela de cores. Geralmente se trabalha com 8 cores, subdivididas em quatro tons frios e quatro quentes, podendo se acrescentar o preto e o branco, se este for o caso da coleção. As pessoas que trabalham com moda devem prestar muita atenção quando forem fazer combinação de cores, para que o resultado seja agradável. Porém, o número de cores também não é uma regra fixa, pois isso dependerá da proposta.

Matéria-prima

Chamamos de matéria-prima os aviamentos e os tecidos usados para confecionar as peças. A escolha da matéria-prima deve levar em conta o público-alvo, o segmento, o estilo da coleção, a viabilidade de utilização e principalmente se estes materiais são encontrados com facilidade no mercado.As características dessa matéria-prima precisam também atender às exigências do consumidor, e consequentemente aos padrões de qualidade da empresa. As matérias-primas são selecionadas e especificadas na fase de desenvolvimento do produto,

Page 22: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

durante a confeção dos protótipos, de maneira clara e em linguagem escrita, constando sempre amostras.

Desenho dos Croquis

Chamamos de croquis os desenhos das peças da coleção. Antes de fazer os croquis definitivos, fazemos os esboços, que são as ideias iniciais, que serão selecionadas para compor a coleção. Os desenhos da coleção devem ser claros e de fácil compreensão, contendo indicação de costuras, detalhes, aviamentos, etc. A coleção também pode ser apresentada através de desenho técnico, que deve seguir as regras de proporção. Alguns estilistas apresentam as suas coleções tanto em croquis como em desenhos técnicos.

Ficha Técnica

Para melhor orientar a produção dos protótipos é necessário se fazer uma ficha técnica para cada peça da coleção. A ficha técnica é muito importante para formar o arquivo das peças confecionadas e proporcionar fidelidade aos modelos elaborados. Por isso na ficha devem ser especificados todos os detalhes, como de linhas, cor, aviamentos e tecidos, dimensões, etc. Detalhes como bordados, aplicações, entre outros, devem ser desenhados separadamente, de preferência em tamanho real, com todas as especificações necessárias à execução.A ficha técnica só se mostrará eficaz quando utilizada na prática, pois pode acontecer que sejam necessárias algumas alterações para que esta atenda melhor o seu objetivo. Assim, é essencial que nela constem as informações mais importantes, evitando excesso de itens.

Temos ainda:

Ficha Técnica em PDF Como fazer o mapa de uma coleção

Desenho

Introdução ao desenho Técnico de Moda

Definição

O desenho técnico é um ramo especializado do desenho, caracterizado pela sua normatização e pela apropriação que faz das regras da geometria descritiva e espacial para a construção da representação gráfica da vista frontal, posterior e lateral. Além do conhecimento sobre a anatomia humana e tecnologia.

Na moda, a tecnologia está relacionada ao conhecimento dos objetos que se está desenhando e suas partes como: botões, zíper e punhos, entre outros. Neste campo conceitual também está ligado as técnicas e modos de produção destas peças.

Tal forma de desenho é utilizada como base para a atividade projetar.

Page 23: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

O desenho técnico, é a ferramenta mais importante num projeto, por ser o meio de comunicação entre quem projeta e quem fabrica. Nele constam todas as informações referentes ao projeto.

O código, que diz respeito ao significado das linhas, espessuras, escalas, símbolos e padrões, é o principal assunto abordado pelas normas da ABNT para desenho técnico, que são específicas para as áreas de engenharia e arquitetura. Na área de moda utilizam-se os mesmos recursos que um engenheiro ou arquiteto durante todo o processo de desenvolvimento do projeto de produto do vestuário, porém com particularidades especificas da área.

Para o desenho técnico, não se utiliza a cor. O desenho deve ser monocromático. Porém o desenho técnico feito no computador, já aceita cores e detalhes como estampas, bordados devido à plasticidade em testar combinações e harmonias.

Normas

Para o desenhista técnico de moda, a roupa deve ser entendida como um objeto que repousa sobre o volume do corpo, obedecendo as suas formas e articulações. No desenvolvimento de seu trabalho, o profissional precisará lembrar que suas orientações servirão de base para a confeção da roupa e que esta, fora do corpo, é uma superfície plana, mas que ganha volume quando vestida, tornando-se tridimensional.

Assim, além das medidas de altura, o desenho precisa reproduzir as reentrâncias e os relevos do corpo.

O desenho técnico é uma espécie de “código genético” da roupa, uma vez que nele estão inscritas todas as informações necessárias à reprodução de cópias idênticas. Através dele os diferentes profissionais e setores da cadeia têxtil e de confeção tem preservado as informações, o que possibilita uma comunicação precisa.

Os desenhos técnicos de produtos do vestuário são representados com caneta nanquim ou similar. Para uma maior clareza, propõe-se a utilização de quatro espessuras: 0.7 para contornos externos e 0.5 pespontos largos e 0,2 para linhas auxiliares e costuras finas. Porém, na prática pode-se reduzir esta regra à utilização de apenas duas espessuras de canetas de livre escolha: a mais grossa para contornos e a mais fina para os detalhes.

Os desenhos técnicos de produtos do vestuário devem ser realizados em escala, necessitando também da representação numérica das dimensões das partes, evitando dessa forma erros na fabricação do protótipo.

Conceitos Básicos

Proporção: Refere-se ao equilíbrio ideal de tamanho entre as partes que compõe um todo. No caso do corpo humano, a cabeça estabelece uma relação de proporção com tronco e as pernas. No desenho, a cabeça é usada como unidade de medida que fornecerá alturas e larguras do corpo. Na mulher brasileira, cuja altura média fica entre 1,60m e 1,75m, o corpo é dividido em aproximadamente 8 cabeças.

Simetria: Refere-se à semelhança entre os lados direito e esquerdo. De um modo geral, o corpo humano não mantém exatamente as mesmas medidas de um lado e do outro; há pequenas diferenças, muitas vezes impercetíveis quando se olha, mas percetíveis quando se mede. No desenho, o eixo de simetria é representado por uma linha vertical que vai da cabeça, passando pelo nariz, até o espaço entre os pés.

Volumes e Concavidades: Referem-se às formas do corpo; suas curvas, reentrâncias e relevos. No desenho, são as linhas sinuosas que o representam.

Base do Desenho Técnico

Page 24: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

O desenho técnico manual pode ser feito através da representação técnica com a observação de peças prontas, medi-la e utilizar escala reduzida ou pode ser feito sobre uma base que deve ter as proporções corretas do corpo humano.

O desenho técnico deve evidenciar a linhas, as proporções, o caimento, os acabamentos, aviamentos, decotes, fechamentos e todos os detalhes de aviamento necessários para a leitura e construção do modelo idealizado.

Serão traçadas linhas guia na folha, similares as linhas bases da modelagem, demarcando localização do decote, ombros, cavas, cintura, quadril, joelhos e tornozelos.

Desenho Anatómico e suas Proporções

Em primeiro lugar, quero esclarecer que o desenho anatômico não tem a única finalidade de ser realista ao extremo. O mais importante é que o desenho seja coerente, só isso. A realidade extrema nós deixamos para a câmara fotográfica.Vamos então falar da base do desenho anatômico, que é a proporção. Proporção é a relação de uma coisa em comparação com outra. Para começar a desenhar devemos estabelecer algumas proporções.Tratarei aqui da anatomia do corpo humano adulto, pois o corpo infantil tem características muito particulares. Deixarei o desenho de crianças para outra ocasião.Em arte a unidade de proporção mais utilizada é a “cabeça”. Para o desenho anatômico da figura humana usaremos sete cabeças e meia, porém, o desenho de moda usa até nove cabeças, em virtude de a figura de moda ser mais alongada.Antes de estudar as proporções é interessante saber o nome dos principais ossos do corpo humano. Não precisa decorar os nomes nem ler livros e mais livros de anatomia. Basta entender a estrutura e observar as diferenças entre a estrutura do homem e da mulher e as diferenças entre estas.

Proporções do Homem

O corpo masculino é mais largo na região que fica um pouco abaixo dos ombros (deltoides), que corresponde a aproximadamente duas cabeças.

Entre os quadris a largura é de aproximadamente uma cabeça e meia e entre os ombros, duas cabeças;

O padrão de uma pessoa com altura de sete cabeças e meia é o seguinte: uma “cabeça” para a cabeça; duas cabeças e três quartos para o pescoço e tronco; três cabeças e três quartos para os membros inferiores;

Devem-se ter duas cabeças da ponta dos dedos ao cotovelo.

Page 25: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

Proporções da Mulher

Os ossos da mulher são mais curtos e têm superfície menos ásperas que os do homem. O osso do peito (esterno) é mais curto e mais curvo e a pélvis é mais longa e mais baixa, o que faz com que os quadris sejam mais largos;

O sacro é maior e se projeta para trás; As espinhas ilíadas posteriores e superiores e as espinhas ilíadas anteriores são

mais separadas que as do homem; A distância que vai da caixa torácica até a pélvis é maior, devido à pélvis ser

mais baixa e mais larga; A distância entre as espinhas ilíacas aos grandes trocânteres dos quadris é

menor, pois as espinhas ilíacas anteriores são maiores e mais baixas, e muito mais separadas;

Os ligamentos de Poupart é a prega da virilha são mais horizontais; Os ombros são mais estreitos e as clavículas mais retas e curtas. Por isso o

pescoço é mais longo e as espáduas são mais arredondadas, em contraste com os ombros retos do homem;

Os braços são mais curtos em relação ao troco. Isso ocorre porque  o úmero da mulher é mais curto, fazendo com que o cotovelo seja mais elevado;

As pernas são mais curtas e o crânio é menor.

Comparação Entre as Proporções

Page 26: Um pequeno dossiê que um Design de Moda precisa para fazer uma boa coleção

O centro da figura feminina fica acima do púbis e o da figura masculina fica quase no próprio púbis;

A largura dos quadris da mulher é aproximadamente igual à medida do tórax masculino mais a largura de um braço;

A mulher tem nádegas com maior diâmetro porque o sacro está colocado em maior ângulo do que o do homem. Além disso, a mulher tem mais gordura nessa região;

O abdome da mulher é mais arredondado do que o do homem; As pernas da mulher são mais grossas na parte de trás do que as do homem.