dossiê brecht

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Dossi Brecht BRECHT Teatro, esttica e poltica Eduardo Luiz Viveiros de Freitas Ugen Friedrich Berthold Brecht1 nasceu em 10 de fevereiro de 1898 em Augsburgo, Baviera, na Alemanha do final do sculo XIX. A educao e o conforto proporcionados por seus pais foram retratados em alguns de seus textos e poemas: Meus pais me ataram a um colarinho, me educaram no costume de ser servido e ensinaram a arte de ordenar.2

Apresentao Erson Martins Homenagem a Victor Jarra Pedro Tierra De poetas para poetas Homenagem de Carlos Drummond de Andrade a Federico Garca Lorca Homenagem de Murilo Mendes a Bertolt Brecht Homenagem de Murilo Mendes a Ren Char Dossi Pedro Tierra O poeta Pedro Tierra Entrevista de Pedro Tierra Revista Cultura Crtica PEDRO TIERRA - Um rosto talhado por muitas faces Dossi Joo Cabral JOO CABRAL ou a educao pela poesia Morte e vida severina quando o Capibaribe desaguou no Tuca Dossi Brecht BRECHT Teatro, esttica e poltica

J em 1913 ele comeou a colaborar numa revista escolar - A Colheita -, escrevendo seus primeiros textos. Imagens e motivos escolares influenciavam a obra do jovem escritor, que tinha como tambm o hbito de ler a Bblia. Sua primeira pea, que foi tambm publicada naquela revista escolar, recebeu o ttulo de A Bblia. Rebelde, Brecht era admiradopelos colegas de ginsio e incomodava seus professores, utilizando-se de expedientes para confund-los: Quando estudante, descobri que o melhor jeito de melhorar minha nota no era apagar as correes do professor feitas em vermelho

Dossi Maiakovski Cronologia de Maiakvski UM TOQUE DE BALALAICA PARA MAIAKOVSKI poeta da voz e do gesto Dossi Ren Char REN CHAR e a potica do combate Dossi Lorca Federico Garca Lorca musicalidade de uma ruptura potica Federico Garca Lorca morte e liberdade

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e sim acrescentar outras onde elas no cabiam, confundindo o professor e obrigando-o a rever a nota [...]3 Apesar de sua rebeldia juvenil, Brecht enquadrou-se no patriotismo alemo anterior Primeira Guerra Mundial. Aos 16 anos ele escreveu: Ns todos, todos os alemes, tememos a Deus e a mais nada no mundo.4

EDIES ANTERIORES

Em breve, porm, Brecht mudaria seus hbitos de leitura e suas opinies. Passou a ler Friedrich Hebbel - um dramaturgo maldito do sculo XIX - e Frank Wedekind, que, precursor do teatro expressionista, voltara sua ateno para os fracassados e marginais e em suas peas procurava desmascarar a moral pequeno-burguesa. Morando prximo a Munique, Brecht conheceu o teatro popular das cervejarias e a msica dos cabars alemes, que exerceram forte influncia em sua formao e carreira teatral. Desencadeada pelo Estado-Maior alemo, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) tornou-se um excelente campo de negcios e um laboratrio de testes para a indstria de armamentos. Dois anos depois do patriotismo que expressara no comeo da guerra, em uma dissertao sobre estes versos de Horcio - Morrer sempre faz mal, no leito ou no campo de batalha. S quem no tem nada na cabea gaba-se de dar generosamente a vida, sendo esses os primeiros a dar no p quando a morte se aproxima [...]5 Brecht escreveria: doce e honroso morrer pela ptria. A influncia da msica popular patente em Baal, cuja primeira verso de 1918. Encenada em 1923, ela considerada sua primeira grande pea. Obra da juventude, ela foi uma forma encontrada pelo jovem dramaturgo para ridicularizar a decadncia do teatro expressionista, mas carrega as marcas desse mesmo2

teatro, assim como de autores como Georg Bchner (1813-1837) e Frank Wedekind (1864-1918). Baal, a personagem, , segundo palavras de Anatol Rosenfeld, um [...] macho devorador de mulheres e aventureiro incapaz de integrar-se sociedade. Numa sociedade tida por criminosa segundo a concepo expressionista, o criminoso, ao negar a sociedade, por assim dizer puro6 . Baal um provocador, um poeta que canta seus poemas em cabars suspeitos. Para ele, a arte a prpria vida. Concentra em si os smbolos da vida Homem homem (1924-1925), em Berlim, no final da dcada de 1920, e principalmente A pera de trs vintns (1928) e Ascenso e queda da cidade de Mahagonny (1928-1929), que Brecht utilizaria a msica como um dos elementos do que chamou de Teatro pico. Considerada pr-surrealista, Na selva das cidades (1923) tambm possui elementos expressionistas em sua composio, principalmente a linguagem exacerbada. Com esta pea, Brecht comea a diferenciar-se do expressionismo, recusando o tom destrutivo, conceitualmente vazio, de um idealismo ingnuo, que fora assumido pelo movimento. A igualdade social e o pacifismo atraram Brecht para o marxismo no incio dos anos 1920. A revoluo russa de 1917 e os acontecimentos que levaram morte de Karl Liebknecht e de Rosa Luxemburgo, lderes do movimento espartaquista, o impressionaram vivamente. O governo social-democrata reprimira violentamente a revolta iniciada com o motim dos marinheiros de Kiel (em novembro de 1918), que chegou a vrias cidades, inclusive Berlim. Brecht segue o movimento com interesse e v de perto o horror da guerra imperialista enquanto, como estudante de Medicina, estagiava no hospital de Augsburg. A experincia da guerra de 1914-1918 e a da frustrada revoluo espartaquista foram fundamentais[...]. Constituram seu primeiro encontro concreto com dois dos temas centrais de sua obra: guerra e revoluo. [...] Durante seu estgio no hospital de Augsburg, conheceu de perto a violncia do homem, a podrido dos cadveres, a putrefao, a morte como realidade material. [...] Foi ainda em 1918 que Brecht [...] escreveu seu primeiro grande poema: a Lenda do soldado morto. [...] Escrito com agressiva ironia, imagens fortes e concretas, penentrante vigor satrico, o poema (que foi a causa direta da colocao do nome de Brecht em quinto lugar na lista negra dos que seriam assassinados se o putsch de Hitler em 1923 tivesse vencido) um smbolo potico de uma suja guerra imperialista esfacelada.8 A pea Tambores na noite, inicialmente intitulada Spartakus, situase na poca da revoluo abortada da Alemanha. O soldado3

Kragler volta a Berlim em novembro de 1918, depois de ser dado como morto na frica. Ana, sua noiva, filha de um especulador de guerra, est grvida de Murk e ser obrigada a casar, porque, depois de quatro anos de guerra, a famlia no quer mais esperar pela volta do soldado. vspera do levante espartaquista. Kragler renuncia a participar da luta para reconquistar Ana: KRAGLER - Minha carne tem que apodrecer na sarjeta para seu ideal subir at o cu? Esto bbados?... [...] Sou um porco e o porco volta para casa [...] Amanh cedo a gritaria ter acabado, mas amanh cedo estarei na minha cama, me multiplicando, para no desaparecer [...]9 Baal, Na selva das cidades, Tambores na noite e Um homem um homem (comdia escrita entre 1924 e 1925 e na qual Brecht utiliza pela primeira vez canes e comentrios dirigidos diretamente ao pblico, caracterstica que marcar muitas de suas peas posteriores) introduzem o dramaturgo na cena teatral alem. Aos 24 anos, ganha o Prmio Kleist, um dos mais importantes da Alemanha. Sua atribulada vida pessoal (aos 26 anos j tinha trs filhos, de trs mulheres diferentes) aparece ironizada no poema Sobre o pobre B. B., publicado em 1926: Eis que em minhas cadeiras vagas, de manh, uma mulher ou outra se balana. Olho-a sem pressa e digo-lhe: dispes em mim de algum que no merece confiana. (trad. de Nelson Ascher) O poema considerado um marco em sua obra potica. Tem incio uma poesia de sensvel objetividade sobre si mesmo e sobre as coisas. Seus interesses intelectuais e sociais movem-se do romance policial ingls para o teatro clssico chins, passando pelas lutas de boxe em ginsios lotados: No palcio dos esportes, no momento em que as pessoas compram os ingressos, sabem exatamente o que vai ocorrer: homens treinados exibem seus dotes especficos dando a impresso de agir por prazer [...] No sei por que o teatro no teria tambm seu bom esporte [...]10 Na busca por novas formas dramticas, antiburguesa e individualista. La incertidumbre del joven Brecht se refleja en las relaciones contraditorias que le unen a su here. No escribe Baal para propornernos un ideal de vida, sino para llevar hasta el absurdo4

una experiencia. Y si se siente fascinado, hasta cierto punto por la vitalidad insolente de su personaje, es siempre com cierta reserva.7 A msica utilizada em Baal, assim como em Tambores na noite (1922) e na adaptao de A vida de Eduardo II de Inglaterra, de Marlowe, na forma de canes e de marchas nas quais a motivao naturalista ainda est presente. Mesmo assim, seu uso rompe com o convencionalismo do teatro dramtico, dando leveza ao espetculo, e a representao teatral adquire um cunho artstico (valor prprio). Mas seria na colaborao com Kurt Weill (1900-1950), em trabalhos como a reprise de Brecht aproxima-se por algum tempo do grupo de jovens artistas de oposio que gravitava em torno de Erwin Piscator (1893-1966). Inspirado na agit-prop russa, Piscator tinha como objetivo transformar o palco numa tribuna poltica. Palcos giratrios, telas para a projeo de filmes ou slides, bastidores mveis, esteiras rolantes, plataformas para aes simultneas eram elementos utilizados no estudo e na prtica das tcnicas de direo teatral criadas pelo grupo de Piscator. O teatro de agit-prop pretendia levar as doutrinas marxistas-leninistas a um pblico em grande parte iletrado: o operariado alemo. O dramaturgo, porm, mostrava-se ctico quanto aos espetculos em que Piscator introduzia levantes em massa no palco. Para ele, as cenas grandiloqentes no levariam os operrios a sair s ruas. Apesar de fazer uso de recursos tcnicos e teatrais revolucionrios, o teatro de Piscator limitava-se a reproduzir tipos j existentes, no apresentando ou representando uma transformao no plano formal da arte. Tais preocupaes estticas, aliadas ao estudo e leitura de Marx, surgem num momento importante da carreira e da obra teatral de Brecht: o incio da colaborao de Kurt Weill, que se estenderia por muitos anos. A msica de Weill deu um impulso decisivo sua produo teatral. O sucesso da pera de trs vintns (1928) tanto na Alemanha quanto no exterior e de Ascenso e queda da cidade de Mahagonny incorporava a msica como o elemento novo de seu teatro. No entanto, a grande contribuio formal e poltica trazida por ele arte teatral veio de sua busca por uma nova forma de encenao, por um teatro anti-culinrio, no-aristotlico, pico. Como terico, Brecht no primou pela coerncia na construo de sua obra. Muitas das notas e dos textos explicativos de suas peas alteravam ou at contradiziam parte de seus escritos anteriores sobre um mesmo tema. Com o desenvolvimento de suas idias sobre o Teatro pico no foi diferente. E bom que tenha sido assim, pois a grandeza da idia tal que novos desafios se lanam aos que enfrentam a empreitada de montar ou mesmo discutir seu5

teatro. Trata-se de uma mudana que envolve mais de dois milnios de histria e esttica teatrais!!! Nas notas que escreveu para pera de trs vintns e Mahagonny esto as primeiras manifestaes importantes a respeito do teatro pico. O autor critica o teatro burgus, classificado por ele como teatro culinrio, onde o pblico compra emoes e estados de embriaguez, eliminando o juzo crtico; um teatro de evaso, escapista, destinado ao gozo imediato. Walter Benjamin, que conheceu Brecht nos anos em que ele comeava a esboar as teorias sobre seu teatro, identificara em 1930 os principais elementos diferenciadores do teatro pico, que viu como o correspondente no teatro das novas formas tcnicas, como o rdio e o cinema. A insero do narrador o que mais distancia esta nova forma do teatro aristotlico, impondo ao espectador uma tomada de posio em relao ao que se desenrola no palco. A influncia do modelo do teatro clssico chins marcante. A histria (fbula), narrada do ponto de vista do autor, no tem continuidade e se desenvolve em saltos, retrocessos, contradies. O teatro aristotlico, por sua vez, exigia a unidade de lugar, tempo e ao. Nas observaes sobre Mahagonny, Brecht define o teatro pico, o ambiente (cenrio) em que ele encenado, a ausncia da quarta parede (que fazia desaparecer o espectador) e a atitude dos atores com relao a seus papis. Teses como a da no-identificao do espectador com as personagens, a do efeito distanciamento (Verfremdungeffekt ou, para simplificar, efeito V), a da oposio entre sentimento e razo, entre outras, esto representadas ou sugeridas em dois esquemas do quadro que ele preparou para mostrar as diferenas profundas entre o teatro pico e o teatro dramtico.11 Comparando teatro dramtico e teatro pico, Brecht mostra as diferenas entre as duas formas, sem que isso represente estabelec-las em plos opostos, mas sim caracterizadas por divergncias de acento. O pblico dever manter-se lcido na representao de uma pea sua graas atitude narrativa imprimida a todos os elementos do espetculo, inclusive a msica. O objetivo principal do teatro pico a desmistificao, a [...] revelao de que as desgraas do homem no so eternas e sim histricas, podendo por isso ser superadas12 . A advertncia colocada pelo dramaturgo em relao ao quadro com os dois esquemas pode ou no ajudar no debate sobre suas teses estticas e polticas: Este quadro no sublinha oposies absolutas, mas simplesmente deslocamentos de tnica. assim que, no interior de uma6

representao destinada a informar o pblico, se pode fazer apelo quer sugesto afetiva, quer persuaso puramente racional.13 Ao escrever o seu Pequeno Organon (1948), expresso terica de sua maturidade artstica, o autor resume sua concepo de teatro pico, agora chamado tambm de teatro cientfico, afirmando que tal teatro no precisaria emigrar do reino do agradvel, convertendo-se em mero rgo de publicidade. Sem perder seu carter didtico-poltico, deveria continuar plenamente teatro, e, enquanto tal, divertir o pblico. Brecht admite a emoo, desde que elevada ao raciocnio e ao conhecimento, e utiliza o controverso efeito V ou distanciamento para produzir (no espectador e no prprio ator) um estado de surpresa semelhante ao que para os gregos se manifestava como o incio da investigao cientfica e do conhecimento. A discusso de suas teorias estticas no teatro, na poesia, na construo de uma nova potica; o desafio sempre renovado que a montagem de suas peas representa para os artistas de teatro; a vinculao de sua esttica a uma opo poltica e ideolgica clara, o marxismo. a convocao para a revoluo proletria e para a transformao social e socialista da sociedade14 ; o sentido positivo da existncia que perpassa seus textos teatrais e poticos, considerado utpicos por alguns... tais fatos e desafios colocam o artista e o poltico, o artista-poltico Brecht na ordem do dia quando se pensa em instrumentos para entender e representar a vida e a transformao da realidade. Nesse sentido, uma reflexo sobre a obra e a militncia polticointelectual do dramaturgo alemo deve incorporar algumas questes que a aproximao e o dilogo entre Arte e Poltica podem ajudar a ver respondidas. Uma delas diz respeito aos fundamentos do teatro pico e ao to discutido distanciamento: [...] Para ser breve, trata-se aqui de uma tcnica que permite dar aos processos a serem representados o poder de colocar homens em conflito com outros homens, proporcionar o andamento de fatos inslitos, de fatos que necessitam de uma explicao, que no so evidentes, que no so simplesmente naturais. O objectivo deste efeito fornecer ao espectador a possibilidade de exercer uma crtica fecunda, colocando-se do lado de fora da cena para que adquira um ponto de vista social. [...]15 Estamos diante de uma nova construo formal, uma sntese das vrias influncias e fontes teatrais que Brecht coletou ao longo da vida (expressionismo, agit-prop de Piscator, teatro chins, os Milagres medievais, o teatro barroco - Trauerspiel alemo, Shakespeare e os elizabetanos, Marx, Gorki, etc.), transformando o7

teatro e a arte do sculo XX, ou diante de um instrumento de propaganda poltica datado, com elementos passveis ou no de apropriao [...] pela publicidade e assemelhados, perdendo, assim, a eficcia?16 A pesquisa formal de Brecht na busca de uma cincia em cena, cincia do homem17 , reduzia tudo categoria de objeto (racional, frio) ou deixava espao para a subjetividade? Em que medida o exemplo de Brecht, de sua radicalidade autocrtica18 , pode ensinar que possvel [...] conciliar a preocupao artstica com a preocupao poltica sem nunca submeter uma outra, mas justamente encontrando um novo e surpreendente significado para ambas?19 O poeta e dramaturgo viveu na Repblica de Weimar entre 1919 e 1933. Fugindo do nazismo do Terceiro Reich, passou por vrios pases da Europa, at exilar-se nos Estados Unidos. Retornou Alemanha aps a Segunda Guerra Mundial e trabalhou em seu teatro, o Berliner Ensemble, nos ltimos oito anos de sua vida. Sua obra teatral abrange 50 peas, adaptaes e fragmentos deixados por concluir. Bertolt Brecht no Brasil A discusso a respeito das idias e da influncia de Brecht sobre o teatro brasileiro tem marcado presena nos meios artsticos e intelectuais brasileiros por muitas dcadas. A obra do poeta e dramaturgo j era mais ou menos conhecida no Brasil desde sua morte, em 1956. O crtico Sbato Magaldi escrevera um artigo sobre o autor para o Suplemento Cultural do Estado naquele ano. Uma montagem de A alma boa de Setsuan foi realizada em 1958 pela Companhia Maria Della Costa-Sandro Polloni, em So Paulo. No apenas a capital paulista, mas tambm o Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, principalmente, viram montagens de peas do autor nesses quase cinqenta anos em que ele conhecido no Brasil. A influncia das idias e da esttica do dramaturgo patente em autores, diretores e demais artistas de teatro, em instituies e entidades culturais e polticas como Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, e nos CPCs da UNE (Centros Populares de Cultura da Unio Nacional dos Estudantes). Textos e montagens como Revoluo na Amrica do Sul, Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, de Augusto Boal, criador do Sistema Curinga, inspirado no distanciamento brechtiano, e todo o desenvolvimento posterior de sua teoria teatral so realizaes que devem muito ao Pequeno Organon (1948) e ao Teatro de Brecht. Tambm nesse quadro insere-se o Teatro Oficina de Jos Celso8

Martinez Corra, na montagem do Rei da vela, de Oswald de Andrade, e nas elogiadas Galilei Galileu e Na selva das cidades, do prprio Brecht, e mesmo no polmico Roda viva, de Chico Buarque, dirigido por ele. Ainda Eles no usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri (que, apesar de usar black tie na forma dramtica, no deixou de fazer um macaco pico, contrariando In Camargo da Costa), Francisco de Assis, Aderbal Freire Filho, O Grupo Opinio e seus shows (no Rio de Janeiro), Fauzi Arap, Dias Gomes e (por que no?) Millr Fernandes, no momento em que concebeu o espetculo Liberdade, liberdade junto com Flvio Rangel. O momento poltico-esttico mais sensvel da recepo de Brecht no Brasil, as experincias e os artistas mencionados, que aconteceram/atuaram principalmente dos anos 1950 at o final dos anos 1960, podem ter deixado de lado o apuro na aplicao dos postulados tericos e tcnicos criados por Brecht, mas convm no esquecer que, no enfrentamento poltico-cultural daquelas dcadas, em especial nos primeiros momentos da ditadura militar (1964-1968), importava mais o que se fazia do que como se fazia. O como foi objeto de julgamento severo de autores como In Camargo da Costa, no seu A hora do Teatro pico no Brasil, julgamento feito com a devida distncia no tempo (1996). Resta saber se, mesmo assim, faz-se justia esttica e poltica a criadores que atuaram em condies to adversas. De resto, a resposta do crtico teatral e imortal Sbato Magaldi s crticas da autora em artigo do mesmo ano (Polmica do Teatro pico - 1996), republicado no seu Depois do espetculo (2003), faz um contraponto que merece ser lido. Do ponto de vista do movimento editorial, a recepo e a crtica obra de Brecht foi e continua sendo boa no Brasil. A partir de crticos, pesquisadores e ensastas como Anatol Rosenfeld, Sbato Magaldi, Ingrid Koudela, Gerd Bornheim, Jaco Guinsburg, Antonio Pasta Jr., Fernando Peixoto (tradutor tambm do Teatro completo de Brecht - 12 vols.) e mais recentemente Srgio de Carvalho e Mrcio Marciano, alm de tradutores como Manuel Bandeira (O crculo de giz caucasiano), Christine Rhrig (O declnio do egosta Johann Fatzer), Paulo Cesar Souza e Geir Campos (Poemas e canes) e Maria Silvia Betti (O mtodo Brecht, de Frederic Jameson), temos acesso a muitas obras do autor e sobre sua vida, assim como ao estudo e crtica de seus postulados estticos e teatrais. As metforas dos anos 1960 e o experimentalismo (a criao coletiva) dos anos 1970 revelaram-se obsoletos para uma era de individualismo exacerbado, predomnio da imagem e busca do efeito esttico impressionante, como foi a dcada de 1980. O vcuo foi em parte preenchido pelo besteirol (Mauro Rsi, Hamilton Vaz Pereira, entre outros), mas a hegemonia foi quase total dos9

encenadores-criadores, como Antunes Filho, Gerald Thomas, Ulisses Cruz, William Pereira, Moacir Ges, mais ou menos presentes na cena teatral ao longo da dcada, que teve tambm a presena de Eduardo Tolentino e o conjunto preciso de seu Grupo TAPA. Foram criados espetculos belos, mas destitudos da fora instigante do teatro pico. Destaque para o espetculo e disco Cida Moreyra Canta Brecht (1988). Dos anos 1990 para c, o momento de ressurgimento de Brecht como fora esttica e politicamente propulsora para o teatro brasileiro coincide com a retomada do trabalho em grupo, com as propostas, em So Paulo (frize-se), das companhias Parlapates, Companhia do Lato, Folias DArte, Teatro gora, Teatro da Vertigem, Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes, entre outras, que tm no dramaturgo alemo referncia obrigatria para seus artistas no apenas como autor mais prximo ideologicamente de sua formao poltica, mas principalmente pelo desafio que ele representa para os criadores. A esto dramaturgos, dramaturgistas, em colaborao direta com atores, diretores, cengrafos, no processo colaborativo, devedor dos mtodos e das idias de Brecht, ou na criao de uma dramaturgia em processo, procura de caminhos para o teatro brasileiro. Eplogo O centenrio do nascimento do poeta e dramaturgo (1998) foi comemorado com montagens de suas peas, debates e publicaes em vrias partes do mundo. Brecht deixou um poema em que dizia que no seria necessria uma pedra tumular quando ele morresse, mas que, se fosse feita, ela deveria conter os seguintes escritos: Ele fez sugestes Ns as aceitamos Provocativo e irreverente como Brecht, Heiner Mller (1929-1995), dramaturgo alemo que o sucedeu na direo do Berliner Ensemble, fez uma pardia destes versos em sua pea GERMNIA 3 (Germania 3. Gespenter am Toten Mann; Verlag Kiepenheuer & Witsch, Kln, 1996): VOZ DE BRECHT - Mas de mim eles vo dizer Ele fez propostas, no as aceitamos. Por que que havamos de o fazer?. isto que deve estar escrito na minha sepultura, e que os pssaros lhe caguem em cima e que as ervas cresam no meu nome escrito na pedra. Por todos quero ser esquecido, um rastro na areia. 20 No foram apenas excrementos de pssaros e ervas que10

macularam o tmulo de Brecht, mas inscries neo-nazistas e depredao. A Alemanha, que aps a queda do Muro de Berlim e a reunificao passou por grandes mudanas em sua situao poltica e econmica - desemprego em alta, dio aos imigrantes e o fim das certezas do saudvel bom senso representado pelos dezesseis anos no poder de Helmut Kohl -, elegeu um social-democrata (Gerhard Schroeder, do SPD), chanceler nas eleies de setembro de 1998. De l para c, renasceram antigos traumas da sociedade alem, com o ressurgimento dos nazistas, a perseguio aos estrangeiros e a ciso entre os dois lados da Alemanha, mesmo sem o Muro: alemes do oeste tm preconceitos contra alemes do leste, considerados cidados de segunda categoria. Mesmo o SPD, confivel aos olhos do poder econmico, no tem conseguido administrar as tenses polticas e os conflitos que remetem ao passado. A Repblica de Weimar (1919), com um governo socialdemocrata abrindo caminho para o nazismo, levou Hitler ao poder em 1933, aps o incndio do Reichstag (parlamento). A histria se repete? Ento, como poderamos esquecer o poeta do aprendizado poltico, o dramaturgo do teatro pico, que retratou a decadncia moral e poltica da Alemanha de Hitler em Terror e misria no Terceiro Reich21 (1935-1938) e nos apresentou uma das mais complexas e profundas reflexes sobre o comportamento dos intelectuais frente a uma sociedade repressiva na pea A vida de Galileu (1944-1946)? No milnio que se inicia, as condies polticas e estticas nunca foram to boas para se compreender as idias e o teatro de Brecht. H outras referncias do universo teatral, como Artaud, Boal, Eugnio Barba, Grotowski, Peter Brook. H uma busca incessante no teatro, talvez mais do que na sociedade, por um sentido para o Homem. E isso no se traduz s em imagens, mas em palavras, em aes, em novos personagens e em propostas cnicas. Sobre o efeito V, quando Brecht ainda esboava sua teoria sobre o distanciamento, Walter Benjamin disse que sempre essa distncia que a posteridade fez sua quando qualificou um escritor de clssico. Talvez seja cedo demais, em termos de posteridade, para arriscarmos a pergunta: diante de Brecht, estamos na presena de um clssico? E, nesta presena, ficaremos apenas em atitude de reverncia? Ou tomaremos uma posio crtica, fazendo com que sempre se renove a tradio do teatro e das idias estticas e polticas de Brecht? Que seja uma tradio viva, dinmica, transformadora! Querido pblico, procure o fim que est faltando. Deve haver uma sada: deve haver e tem que haver!2211

LOUVAO DA DESMEMRIA Boa a desmemria! Sem ela, como iria deixar o filho a me que lhe deu de mamar, que lhe emprestou fora aos membros e que o retinha para o experimentar. Ou como iria o aluno deixar o mestre que lhe emprestou o saber? Com o saber emprestado, cumpre ao discpulo pr-se a caminho. Na casa velha os novos moradores entram; se l estivessem ainda os que a construram, seria a casa pequena demais. O forno esquenta, e do oleiro ningum se lembra mais. O lavrador no reconhece o po depois de pronto. Como levantar-se de novo o homem de manh, sem o esquecimento que apaga os rastros da noite? Como iria, quem foi ao cho seis vezes, levantar-se pela stima vez para amanhar o pedregoso cho, para subir ao perigoso cu? a fraqueza da memria que d fora criatura humana. (Poemas e Canes.Trad. Geir Campos. Civilizao Brasileira, 1996. p.120.) FALA AO AMADO QUE VAI PARA A GUERRA Meu querido, meu querido, se agora vais para a guerra, vais combater o inimigo, no vs na frente da guerra nem fiques atrs da guerra: o fogo rubro na frente, atrs rubra a fumaa. Fica no meio da guerra, perto do porta-estandarte. So mortos sempre os primeiros, os ltimos so tambm;12

os do meio que para casa vm. (Poemas e Canes. Trad. Geir Campos. Civilizao Brasileira, 1996. p.181.) SOUBE QUE VOCS NADA QUEREM APRENDER Soube que vocs nada querem aprender Ento devo concluir que so milionrios. Seu futuro est garantido sua frente Iluminado. Seus pais Cuidaram para que seus ps No topassem com nenhuma pedra. Neste caso Voc nada precisa aprender. Assim como Pode ficar. Havendo ainda dificuldades, pois os tempos Como ouvi dizer, so incertos Voc tem seus lderes, que lhe dizem exatamente O que tem a fazer, para que vocs estejam bem. Eles leram aqueles que sabem As verdades vlidas para todos os tempos E as receitas que sempre funcionam. Onde h tantos a seu favor Voc no precisa levantar um dedo. Sem dvida, se fosse diferente Voc teria que aprender. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 91.) PROFESSOR, APRENDE! No digas tantas vezes que ests com a razo! Deixa que o reconheam os alunos! No forces com demasia a verdade: que ela no resiste Escuta, quando falas! (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 208.) PERGUNTA Como h de ser instituda a verdadeira ordem sem o saber das massas? Sem aviso, no se pode o caminho para tantos

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descobrir. Vs, grandes mestres, deveis escutar bem o que os pequenos dizem! (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 209) REALIZAR ALGO DE TIL Quando li que queimavam as obras dos que procuravam escrever a verdade Mas ao tagarela George, o de fala bonita, convidaram Para abrir sua Academia, desejei mais vivamente Que chegue enfim o tempo em que o povo solicite a um homem desses Que num dos locais de construo dos subrbios Empurre publicamente um carrinho de mo com cimento, para que Ao menos uma vez um deles realize algo de til, com o que Poderia ento retirar-se para sempre Para cobrir o papel de letras s custas do Rico povo trabalhador. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 108.) QUANDO ME FIZERAM DEIXAR O PAS Quando me fizeram deixar o pas Lia-se nos jornais do pintor Que isto acontecia porque num poema Eu havia zombado dos soldados da Primeira Guerra. Realmente, no penltimo ano da guerra Quando aquele regime, para adiar sua derrota J enviava os mutilados novamente para o fogo Ao lado dos velhos e meninos de dezessete anos Descrevi em um poema Como um soldado morto era desenterrado e Sob o jbilo de todos os enganadores do povo Sanguessugas e opressores Conduzido de volta ao campo de batalha. Agora que preparam uma nova Grande Guerra Resolvidos a superar inclusive as barbaridades da ltima Eles matam ou expulsam gente como eu Que denuncia Seus golpes.14

(Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 109.) BALADA DO SOLDADO MORTO (Legende Vom Toten Soldaten) (Bertolt Brecht/Kurt Schwaen - verso de Cac Rosset. Encarte do Disco Cida Moreira Interpreta Brecht) Durava mais de seis anos a guerra E a paz no apareceu Ento o soldado se decidiu E como um heri morreu Mas como a guerra no terminou O rei vendo morto o soldado Ficou muito triste e pensou assim: Morreu antes do fim. O sol esquentava o cemitrio E o soldado jazia em paz At que uma noite chegou ao front Um mdico militar Tiraram ento o soldado da cova Ou o que dele sobrou E o mdico disse: T bom pro servio, ainda tem muito pra dar! Saram levando dali o soldado Que j aprodecia Rezavam em seus braos duas freiras E uma puta vadia E como o soldado cheirava a morte Um padre ia em frente ao andor Perfumando a cidade com nuvens de incenso Para encobrir o fedor A banda ia na frente da procisso Fazendo bum bum pr tr Para que o soldado marchasse Como no batalho Dois enfermeiros erguiam o soldado Para mant-lo de p Pois se ele casse no cho Virava um monte de lixo! Na frente marchava um homem de fraque Usando gravata engomada Um bom cidado consciente de ser15

Patriota da Ptria Amada Tambores e gritos de saudao A mulher, o padre e um co O soldado ia morto cambaleando Um mico de porre danando E quando passavam pelas cidades Ningum enxergava o soldado E todos entravam na grande marcha Gritando: Pela Ptria lutar! Agitavam bandeiras esfarrapadas Para esconder o soldado Que s podia ser visto de cima Mas em cima s brilham estrelas... Mas as estrelas no esto sempre l E outro dia nasceu Ento de novo morreu o soldado E foi outra vez enterrado! NOTCIA SOBRE UM NUFRAGO Quando o nufrago pisou em nossa ilha Chegou como algum que alcanou seu destino. Quase acredito que ao nos ver A ns que havamos corrido a ajud-lo Ele imediatamente sentiu compaixo. J desde o incio Ocupou-se apenas de nossas coisas Com a experincia do seu naufrgio Ensinou-nos a velejar. Mesmo coragem Ele nos instilou. Das guas tempestuosas Falava com grande respeito, talvez Por terem vencido um homem como ele. Sem dvida Haviam assim revelado muitos de seus truques. Este conhecimento faria de ns, alunos dele Homens melhores. Sentindo falta de certas comidas Ele melhorou nossa cozinha. Embora visivelmente insatisfeito consigo Jamais se deixou ficar satisfeito com o estado de coisas Em torno dele e de ns. Nunca, porm Durante todo o tempo em que passou conosco Ouvimo-lo queixar-se de outro algum que no ele mesmo. Morreu de uma velha ferida. J no leito Experimentou um novo n para nossas redes. Assim Morreu aprendendo.16

(Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 152) SOBRE A DECADNCIA DO AMOR Suas mes deram luz com dor, mas suas mulheres Concebem com dor. O ato do amor No mais vingar . O ajuntamento ainda ocorre, mas O abrao um abrao de lutadores. As mulheres Ergueram o brao em defesa, enquanto So cingidas por seus possuidores. A rstica ordenhadora, conhecida Por sua capacidade de no abrao Sentir prazer, olha com desprezo Suas infelizes irms vestidas em peles Que recebem por cada meneio do traseiro bem-cuidado A fonte paciente Que deu de beber a tantas geraes V com horror como a ltima Lhe bebe a poro com expresso amarga. Todo animal sabe faz-lo. Entre esses tido como uma arte. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 152.) A QUEIMA DE LIVROS Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente Os livros que continham saber pernicioso, e em toda parte Fizeram bois arrastarem carros de livros Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido Um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados Descobriu, horrorizado, que os seus Haviam sido esquecidos. A clera o fez correr Clere at sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder. Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queimem-me! No me faam uma coisa dessas! No me deixem de lado! Eu no17

Relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me Como um mentiroso! Eu lhes ordeno: Queimem-me! (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 194.) MAU TEMPO PARA A POESIA Sim, eu sei: s o homem feliz querido. Sua voz ouvida com prazer. Seu rosto belo. A rvore aleijada no quintal Indica o solo pobre, mas Os passantes a maltratam por ser um aleijo E esto certos. Os barcos verdes e as velas alegres da baa Eu no enxergo. De tudo Vejo apenas a rede partida dos pescadores. Por que falo apenas Da camponesa de quarenta anos que anda curvada? Os seios das meninas So quentes como sempre. Em minha cano uma rima Me pareceria quase uma insolncia. Em mim lutam O entusiasmo pela macieira que floresce E o horror pelos discursos do pintor. Mas apenas o segundo Me conduz escrivaninha. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 229.) SOBRE A SERIEDADE NA ARTE A seriedade do homem que d forma s jias de prata igualmente benvinda arte do teatro, e benvinda a seriedade das pessoas que trancadas Discutem o texto de um panfleto. Mas a seriedade Do mdico inclinado sobre o doente j no adequada18

arte teatral, e inteiramente imprpria A seriedade do padre, seja suave ou inquieta. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 256.) AS NOVAS ERAS As novas eras no comeam de uma vez Meu av j vivia no novo tempo Meu neto viver talvez ainda no velho, A nova carne comida com os velhos garfos. Os carros automotores no havia Nem os tanques Os aeroplanos sobre nossos tetos no havia Nem os bombardeiros. Das novas antenas vm as velhas tolices. A sabedoria transmitida de boca em boca. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 291.) SOBRE A ATITUDE CRTICA A atitude crtica para muitos no muito frutfera Isto porque com sua crtica Nada conseguem do Estado. Mas o que neste caso atitude infrutfera apenas uma atitude fraca. Pela crtica armada Estados podem ser esmagados. A canalizao de um rio O enxerto de uma rvore A educao de uma pessoa A transformao de um Estado Estes so exemplos de crtica frutfera. E so tambm Exemplos de arte. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 257.)

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REGRESSO A cidade natal, como a encontrarei ainda? Seguindo os enxames de bombardeiros Volto para casa. Mas onde est ela? L onde sobem Imensos montes de fumaa. Aquilo no meio do fogo ela. A cidade natal, como me receber? minha frente vo os bombardeiros. Enxames mortais Vos anunciam meu regresso. Incndios Precedem o filho. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 291.) FACILIDADE Vejam s a facilidade Com que o rio poderoso Rompe as barragens! O terremoto Com mo indolente Sacode o cho. O fogo terrvel Toma com graa A cidade de mil casas E a devora com gosto: Um comilo treinado. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 256.) GERAES MARCADAS Bem antes de sobre ns aparecerem os bombardeiros Eram j inabitveis Nossas cidades. Canalizao nenhuma Nos livrava da imundcie. Bem antes de cairmos em batalhas sem sentido Ainda andando por cidades ainda intactas Nossas mulheres Eram j vivas20

E nossos filhos rfos. Bem antes de nos lanarem em covas aqueles tambm marcados ramos sem alegria. Aquilo que a cal Nos corroeu J no eram rostos. (Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 290.)Referncias bibliogrficas ARAJO, Nelson de. Histria do Teatro. 2. ed.Salvador: Empresa Grfica da Bahia, 1991. ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. (Trad.) Denise Bottmann. So Paulo: Companhia das Letras, 2003. BADER, Wolfgang (Coord.). Brecht no Brasil: experincias e influncias. Rio de Janeiro/So Paulo: Paz e Terra, 1987. BORNHEIM, Gerd. Brecht: a esttica do teatro. So Paulo: Graal, 1992. COSTA, In Camargo. A Hora do Teatro pico no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996. ___________. Sinta o Drama. Petrpolis:Vozes, 1998. GUINSBURG, Jac. Da Cena em Cena: ensaios sobre teatro.So Paulo, Perspectiva, 2001. (Estudos,175) JAMESON, Frederic. O Mtodo Brecht. (Trad.) Maria Silvia Betti. Petrpolis: Vozes, 1999. MAGALDI, Sbato. Depois do Espetculo. So Paulo,Perspectiva, 2003. (Estudos, 192) ___________. Moderna Dramaturgia Brasileira.So Paulo, Perspectiva, 1998. (Estudos,159) MORIE, Monique et alii.Esttica Teatral: Textos de Plato a Brecht. Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 1996. MLLER, Heiner. Germnia 3: os espectros do morto-homem.(Trad.)Eduarda Dionnio e Maria Adlia Silva Melo.Lisboa, Edies Cotovia, 1997. PEIXOTO, Fernando. Brecht: vida e obra. 4. ed. Rio de Janeiro/So Paulo, Paz e Terra, 1991. ROSENFELD, Anatol. Histria da Literatura e do Teatro alemes. Campinas/So Paulo:Editora da Unicamp/Edusp/Perspectiva, 1993. (Coleo Debates, n225.) ___________. O teatro como instrumento didtico. IN: O Teatro pico. So Paulo: Perspectiva, 1985. (Coleo Debates, n 193.) THOSS, Michal & BOUSSIGNAC, Patrick. Brecht para iniciantes. (Trad.) Maria Lcia Pereira. So Paulo: Brasiliense, 1990. WEIDELI, Walter. Bertolt Brecht. Mexico: Fondo de Cultura Econmica. (Coleccion Brevirios, n 209.) Jornais e revistas JORNAL O Sarrafo, ano I, ns 01 a 06, disponveis em www.jornalsarrafo.com.br JORNAL Shopping News, fevereiro-maro de 1966. REVISTA Vintm (Companhia do Lato). Especial Brecht, jul.-ago./1997. REVISTA Cult, n7, fev./1998 NOTAS 1 Depois de adulto ele mudou seu nome para Bertolt Brecht e, s vezes, assinava sua correspondncia como Bert Brecht ou mesmo b.b. 2 Revista Cult, n. 7, fev./1998, p. 25. 3 THOSS, Michal & BOUSSIGNAC, Patrick. Brecht para iniciantes. (Trad.) Maria Lcia Pereira. So Paulo: Brasiliense, 1990. p. 8. 4 Revista Cult, n. 7, fev./1998, p. 25. 5 THOSS & BOUSSIGNAC, op. cit., p. 9. 6 ROSENFELD, Anatol. Desenvolvimentos ps-expressionistas. Bertolt Brech. In: Histria da Literatura e do Teatro alemes. So Paulo/Campinas: Perspectiva/Edusp/Editora da Unicamp, 1993. p. 317. 7 WEIDELI, Walter. Bertolt Brecht. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, Coleccion Brevirios, n 209, p. 15.

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8 PEIXOTO, Fernando. Brecht: vida e obra. 4. ed. Rio de Janeiro/So Paulo: Paz e Terra, 1991. p. 26-7. 9 THOSS & BOUSSIGNAC, op. cit., p. 27. 10 THOSS & BOUSSIGNAC, op. cit., p. 27. 11 BORIE, Monique et alii. Esttica teatral Textos de Plato a Brecht. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1996. p. 470. 12 ROSENFELD, Anatol. O teatro como instrumento didtico. In: O teatro pico. So Paulo: Perspectiva, 1985. p. 150. (Coleo Debates, n 193.) 13 BORIE, Monique et alii. Op. cit., p. 470. 14 GUINSBURG, Jac. Revista Cult, fev./1998, p. 32. 15 BORIE, Monique, et alii. Op. cit., p. 474. 16 PASTA JR. Jos Antonio. Revista Vintm. Especial Brecht, jul.-ago./1997, p. 22. 17 BORNHEIM, Gerd, Revista Vintm. Especial Brecht, jul.-ago./1997, p. 2-7. 18 PASTA JR. Jos Antonio. Revista Vintm. Especial Brecht, jul.-ago./1997, p. 21. 19 PEIXOTO, Fernando. Revista Vintm. Especial Brecht, jul.-ago./1997, p.25. 20 MLLER, Heiner. Germnia 3 Os espectros do morto-homem. (Trads.) Eduardo Deonsio e Maria Adlia Silva Melo. Lisboa: Edies Cotovia, 1997. p. 54. 21 Walter Benjamin definiu o conjunto das pequenas peas enfeixadas em Terror e Misria utilizando uma frase de O Processo, de Kafka: A mentira est erigida em ordem universal.. PEIXOTO, Fernando. Op. cit., p. 171. 22 THOSS & BOUSSIGNAC. Op. cit., p. 134.

Eduardo Luiz Viveiros de Freitas doutorando em Cincias Socais da PUC-SP [email protected]

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Bertolt BrechtOrigem: Wikipdia, a enciclopdia livre. Ir para: navegao, pesquisa Esta pgina ou seco foi marcada para reviso, devido a inconsistncias e/ou dados de confiabilidade duvidosa. Se tem algum conhecimento sobre o tema, por favor, verifique e melhore a consistncia e o rigor deste artigo. Considere utilizar{{reviso-sobre}} para associar este artigo com um WikiProjeto.

Bertolt Brecht

Bertolt Brecht, 1931

Nome completo Nascimento

Eugen Berthold Friedrich Brecht 10 de Fevereiro de 1898 Augsburg, Baviera Imprio Alemo 14 de agosto de 1956 (58 anos) Berlim Leste, Estado de Berlim Repblica Democrtica da Alemanha Poeta, dramaturgo, contista Modernismo

Morte

Ocupao Escola/tradio

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Assinatura

Eugen Berthold Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemo do sculo XX. Seus trabalhos artsticos e tericos influenciaram profundamente o teatro contemporneo, tornando-o mundialmente conhecido a partir das apresentaes de sua companhia o Berliner Ensemble realizadas em Paris durante os anos 1954 e 1955. Ao final dos anos 1920 Brecht torna-se marxista, vivendo o intenso perodo das mobilizaes da Repblica de Weimar, desenvolvendo o seu teatro pico. Sua praxis uma sntese dos experimentos teatrais de Erwin Piscator e Vsevolod Emilevitch Meyerhold, do conceito de estranhamento do formalista russo Viktor Chklovski, do teatro chins e do teatro experimental da Rssia sovitica, entre os anos 1917-1926. Seu trabalho como artista concentrou-se na crtica artstica ao desenvolvimento das relaes humanas no sistema capitalista.

ndice[esconder]y y y y y y y y y y y

1 Biografia 2 Obra 3 Teatro pico 4 Interpretao pica 5 Influncias 6 Referncias 7 Livros e artigos 8 Peas de teatro 9 Ver tambm 10 Obras de Brecht traduzidas ao Portugus 11 Ligaes externas

[editar] BiografiaBrecht nasceu no Estado Livre da Baviera, no extremo sul da Alemanha, estudou medicina e trabalhou como enfermeiro num hospital em Munique durante a Primeira Guerra Mundial. Era filho de Berthold Brecht, diretor de uma fbrica de papel, catlico, exigente e autoritrio, e de Sophie Brezing (em solteira), protestante, que fez seu filho ser batizado nesta igreja. Suas primeiras peas, Baal (1918/1926) e Tambores na Noite (Trommeln in der Nacht) (1918-1920), foram encenadas na vizinha Munique. Em sua participao no teatro Brecht24

conhece o diretor de teatro e cinema Erich Engel, com quem veio a trabalhar at o fim da sua vida. Depois da primeira grande guerra mudou-se para Berlim, onde o influente crtico, Herbert Ihering, chamou-lhe a ateno para a apetncia do pblico pelo teatro moderno. Trabalha inicialmente com Erwin Piscator, famoso por suas cenas Piscator, como eram chamadas, cheias de projees de filmes, cartazes, etc. Em Berlim, a pea Im Dickicht der Stdte, protagonizada por Fritz Kortner e dirigida por Engel, tornou-se o seu primeiro sucesso. O Nazismo afirmava-se como a fora renovadora que iria reerguer o pas, pretendendo reviver o Sacro Imprio Romano-Germnico. Mas, ao mesmo tempo, chegavam Alemanha influncias da recm formada Unio Sovitica. Com a eleio de Hitler, em 1933, Brecht exila-se primeiro na ustria, depois Sua, Dinamarca, Finlndia, Sucia, Inglaterra, Rssia e finalmente nos Estados Unidos. Recebeu o Prmio Lnin da Paz em 1954. Seus textos e montagens o fizeram conhecido mundialmente. Brecht um dos escritores fundamentais deste sculo: revolucionou a teoria e a prtica da dramaturgia e da encenao, mudou completamente a funo e o sentido social do teatro, usando-o como arma de consciencializao e politizao. Teve trs filhos com Helene Weigel: Stefan Brecht, Barbara Brecht-Schall e Hanne Hiob.

[editar] ObraAs suas principais influncias foram Constantin Stanislavski, Vsevolod Emilevitch Meyerhold, Erwin Piscator e Viktor Chklovski. Algumas de suas principais obras so: Um Homem um Homem, em que cresce a ideia do homem como um ser transformvel, Me Coragem e Seus Filhos, sobre a Guerra dos Trinta Anos, escrita no exlio, no comeo da Segunda Guerra Mundial, e A Vida de Galileu. Afirma Bernard Dort a respeito deste ltimo:Galileu foi escrita, pelo menos originalmente, para servir de exemplo e de conselho aos sbios alemes tentados a abdicar seu saber nas mos dos chefes nazistas.

Alm dessas, escreveu tambm Seu Puntila e seu Criado Matti, A Resistvel Ascenso de Arturo Ui, O Crculo de Giz Caucasiano, A Boa Alma de Setzuan, A Santa Joana dos matadouros e A pera dos Trs Vintns.

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"Bertolt Brecht". Escultura de bronze, por Fritz Cremer. Praa Bertolt Brecht, em Berlim, em frente ao Berliner Ensemble

[editar] Teatro picoVer artigo principal: Teatro pico

No simples falar sobre o conceito que Brecht tinha do teatro, apesar de ao longo de 30 anos haver escrito ensaios e comentrios sobre este tema. Este autor era mais um pensador prtico, que sempre recriava suas peas ou "experimentos sociolgicos", como as preferia chamar, no intuito de aperfeio-las. Pois era atravs delas que toda sua teoria, crtica e pensamento seriam expostos. Alm de dramaturgo e diretor, Brecht foi responsvel por aprofundar o mtodo de interpretao do teatro pico, uma das grandes teorias de interpretao do sculo xx. Uma das grandes influncias no desenvolvimento desta forma de interpretao foi a arte do ator Mei Lan-Fang, que Brecht acompanhou numa representao em Moscou em 1935. Descreve Brecht em Escritos sobre Teatro um relato deste ator chins que informa muito sobre a forma de interpretao no teatro pico, ao representar papis femininos. Mei LanFang repetira vrias vezes numa palestra, por seu tradutor, que ele representava personagens femininos em cena, mas que no era imitador de mulheres. Continua Brecht, descrevendo uma demonstrao das tcnicas deste ator num encontro, que este ator, de terno, executava certos movimentos femininos, ressaltando sempre a presena de duas personagens, um que apresentava e outro que era apresentado. Brecht sublinha que o ator chins no pretendia andar e chorar como uma mulher, mas como uma determinada mulher (pg40, vol2).

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[editar] Interpretao picaSegundo Rosenfeld, "Foi desde 1926 que Brecht comeou a falar de teatro pico, depois de pr de lado o termo drama pico, visto que o cunho narrativo da sua obra somente se completa no palco" (ROSENLD, 1965, p. 146), possvel inferir, portanto, a importncia que a encenao tem para os textos brechtianos. s atravs da atitude dos atores, do cenrio, da msica, dos sons e at do silncio que seu pensamento se completa, s atravs destes elementos que seu texto causar o efeito desejado, caso o contrrio seu no causar o impacto devido. No incio de sua carreira Brecht estabelece os elementos de uma nova forma de interpretao para o ator. Em, a propsito dos critrios de apreciao da arte dramtica, defende o ator Peter Lore de crticas negativas dizendo que uma interpretao gestual levar o pblico a exercer uma operao crtica do comportamento humano. Afirma que cada palavra deve encontrar um significado visual e atravs do gesto o espectador pode compreender as alternativas da cena (Peixoto, 1974, 2. edio, pg; 68). Peixoto descreve que para Brecht a interpretao gestual deve muito ao cinema mudo, principalmente a Chaplin, que elaborara uma nova forma de figurao do pensamento humano (Peixoto, 1974, 2. edio, pg; 68). Esta preocupao levar a que Brecht defina o conceito de gestus na interpretao e montagem de suas peas.

[editar] InflunciasConforme destaca Fredric Jameson, em seu Mtodo Brecht, algumas das inovaes propostas pela cena brechtiana so similares quelas propostas por importantes artistas modernistas no teatro ou em outras artes. Destacam-se entre eles a dramaturgia de Frank Wedekind, influncia reconhecida pelo prprio Brecht, o romance Ulysses de James Joyce, as propostas cubo-futuristas de Maiakovski, ou construtivistas no cinema de Sergei Eisenstein e, principalmente, os postulados do diretor de teatro Meyerhold e os procedimentos de colagem nos trabalhos de Picasso. Willet, por outro lado, refora o aspecto da construo narrativa em seu trabalho: Com Brecht os mesmos princpios de montagem espalham-se ao teatro pois a forma narrativa do teatro pico seria mais adequada para se lidar com temas scio-econmicos, evidenciando Willet que a montagem foi a tcnica estrutural mais natural na prtica artstica brechtiana (1978, 110).

[editar] Refernciasy y y y

Brecht, Bertolt. Escritos sobre el Teatro. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visin. 3 vols. 1970, 1973, 1976. Willet, John. O Teatro de Brecht. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. Peixoto, Fernando. Brecht Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 2a. Edio. Garcia, Silvana. As Trombetas de Jeric. Tese de doutorado. Eca/USP. 1997. 27

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Jameson, Frederic. Mtodo Brecht So Paulo, Vozes, 1999. ISBN 85-326-2298-4 Brecht e o Estranhamento no Teatro Chines - texto de Huang Zuolin in Brecht and East Asian Theatre

[editar] Livros e artigosy y y y

artigo de Eduardo Luiz Viveiros de Freitas em Dossi Brecht - Brecht. Teatro, esttica e poltica 2005 (em portugus) Anatol Rosenfeld. O Teatro pico. SP: Editora Perspectiva, 1985. Bertolt Brecht. Escritos sobre Teatro. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visin. 3 vols. 1970, 1973, 1976. Gerd Bornheim. Brecht a Esttica do Teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

[editar] Peas de teatroEntradas com nome da traduo ao portugus (quando houver), ttulo original, ano da escrita / ano da produo.y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y

Baal (Baal) 1918/1923 Tambores na Noite (Trommeln in der Nacht) 1918-20/1922 Os mendigos (Der Bettler oder Der tote Hund) 1919/? O Casamento do Pequeno Burgues (Die Kleinbrgerhochzeit) 1919/1926 (Er treibt einen Teufel aus) 1919/? Lux in Tenebris (Lux in Tenebris) 1919/? (Der Fischzug) 1919?/? (Mysterien eines Friseursalons) (roteiro para cinema) 1923 Na Selva das Cidades (Im Dickicht der Stdte) 1921-24/1923 A Vida de Edward II da Inglaterra (Leben Eduards des Zweiten von England) 1924/1924 (Der Untergang des Egoisten Johnann Fatzer) (fragmentos) 1926-30/1974 O Homem um Homem (Mann ist Mann) 1924-26/1926 O Elefante Calf (Das Elefantenkalb) 1924-6/1926 Mahagonny (Mahagonny-Songspiel) 1927/1927 A pera dos Trs Vintns (Die Dreigroschenoper) 1928/1928 O Vo no Oceano (Der Ozeanflug; originally Lindbergh's Flight [(Lindberghflug]) 192829/1929 A Pea de Baden-Baden (Badener Lehrstck vom Einverstndnis) 1929/1929 Happy End (Happy End) 1929/1929 Ascenso e Queda da Cidade de Mahagonny (Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny) 1927-29/1930 Aquele que diz Sim, Aquele que diz No (Der Jasager; Der Neinsager) 1929-30/1930-? A Deciso (Die Manahme) 1930/1930 Santa Joana do Matadouros (Die heilige Johanna der Schlachthfe) 1929-31/1959

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Selo da antiga Alemanha Oriental estampando Brecht e uma cena de 'A Vida de Galileu.y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y y

A Exceo e a Regra (Die Ausnahme und die Regel) 1930/1938 A Me (Die Mutter) 1930-31/1932 Kuhle Wampe (roteiro para cinema) 1931/1932 Os Sete Pecados Capitais (Die sieben Todsnden der Kleinbrger) 1933/1933 Cabeas Redondas, Cabeas Pontudas (Die Rundkpfe und die Spitzkpfe) 1931-34/1936 Horcios e Curicios (Die Horatier und die Kuriatier) 1933-34/1958 Terror e Misria no Terceiro Reich (Furcht und Elend des Dritten Reiches) 1935-38/1938 Os Fuzis da Senhora Carrar (Die Gewehre der Frau Carrar) 1937/1937 Galileo Galilei (Leben des Galilei) 1937-9/1943 Quanto Custa o Ferro (Was kostet das Eisen?) 1939/1939 (Dansen) 1939/? Me Coragem e seus Filhos (Mutter Courage und ihre Kinder) 1938-39/1941 O Julgamento de Lucullus (Das Verhr des Lukullus) 1938-39/1940 O Sr Puntila e seu criado Matti (Herr Puntila und sein Knecht Matti) 1940/1948 A Boa Alma de Sezuan (Der gute Mensch von Sezuan) 1939-42/1943 A Resistvel Ascenso de Arturo Ui (Der aufhaltsame Aufstieg des Arturo Ui) 1941/1958 Hangmen Also Die (roteiro cinema) 1942/1943 As Vises de Simone Machard (Die Gesichte der Simone Machard ) 1942-43/1957 Schweik na Segunda Guerra Mundial (Schweyk im Zweiten Weltkrieg) 1941-43/1957 O Crculo de Giz Caucasiano (Der kaukasische Kreidekreis) 1943-45/1948 Antgone (Die Antigone des Sophokles) 1947/1948 Os Dias da Communa (Die Tage der Commune) 1948-49/1956 The Tutor (Der Hofmeister) 1950/1950 29

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O Julgamento de Lucullus (Die Verurteilung des Lukullus) 1938-39/1951 (Herrnburger Bericht) 1951/1951 Coriolanus (Coriolan) 1951-53/1962 O Julgamento de Joana D'Arc, 1431 (Der Prozess der Jeanne D'Arc zu Rouen, 1431) 1952/1952 Turandot (Turandot oder Der Kongre der Weiwscher) 1953-54/1969 Don Juan (Don Juan) 1952/1954 Trumpetes e Tambores (Pauken und Trompeten) 1955/1955

[editar] Ver tambmy y y y y y y y y y y

Perguntas de um trabalhador que l Anatol Rosenfeld Berliner Ensemble Erwin Piscator Ekkehard Schall Estranhamento Gestus Helene Weigel Teatro de feira Teatro pico V-effekt

[editar] Obras de Brecht traduzidas ao Portugusy y y y y y y y y y y y y y

Peas Teatrais (coleo). 12 volumes. BERTOLT BRECHT TEATRO COMPLETO. Ed. PAZ E TERRA (1995) BRECHT SELECAO DE POESIAS, TEXTOS E TEATRO. Ed. DINOSSAURO (1999) SETE PECADOS MORTAIS DOS PEQUENOS BURGUESES, OS. Ed. AFRONTAMENTO (1986) CIRCULO DE GIZ CAUCASIANO, O. Ed. COSAC NAIFY (2002) DA SEDUAO. Vrios Autores. EDITORIAL BIZANCIO(1998) DECLINIO DO EGOISTA JOHANN FATZER, O. Ed. COSAC NAIFY (2002) DIARIO DE TRABALHO, 2 vols. Ed. ROCCO (2002) ESTUDOS SOBRE TEATRO. Ed. NOVA FRONTEIRA (2005) HISTORIAS DO SENHOR KEUNER. PREFEITURA POA (1998) EDITORA 34 (2006) HOMEM E UM HOMEM, UM. Ed. AUTENTICA (2007) POEMAS - BERTOLT BRECHT. Ed. CAMPO DAS LETRAS POEMAS 1913-1956. EDITORA 34 (2003). PROCESSO DO FILME "A OPERA DOS TRES VINTENS". Ed. CAMPO DAS LETRAS (2005) SANTA JOANA DOS MATADOUROS, A. Ed. COSAC NAIFY (2001). Ed. PAZ E TERRA(1996)

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y y y y y y y y y y

Pgina do Deutsche Welle, com fotos de locais e notas sobre a vida do casal Brecht/Weigel na Alemanha Mark W. Clark. Bertolt Brecht Heri ou vilo? e a crise de junho de 1953 em Estudos Avanados vol.21 no.60 So Paulo May/Aug. 2007. Artigo que discute as posies polticas de Brecht e o Stalinismo. Textos de Brecht em Ingls The Brecht Yearbook The International Brecht Society Fotos e tmulo de Bertolt Brecht Poema de Brecht inscrito nas ruas de Portland Your Tank is a Powerful Vehicle - em ingls e alemo Arquivos pblicos do FBI sobre Brecht, em ingls Ensaio filosfico que discute Brecht, em ingls. Biblioteca de Chicago - Brechts Werke, lista completa dos trabalhos de Brecht publicados em alemo Histria de Mack, the Knife publicada em Brechthall (ingls) Literatura de e sobre Bertolt Brecht no catlogo da Biblioteca Nacional da Alemanha (em alemo)

Bertolt BrechtBertolt Brecht. (10 de Fevereiro de 1898 14 de Agosto de 1956) foi um influente dramaturgo, poeta e encenador alemo do sculo XX. 1 - 25 do total de 29 pensamentos de Bertolt Brecht

No conseguireis desgostar-me da guerra. Diz-se que ela destri os fracos, mas a paz faz o mesmo.Bertolt Brechty y y

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Para quem tem uma boa posio social, / falar de comida coisa baixa. / compreensvel: eles j comeram.31

Bertolt Brechty y y

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Do rio que tudo arrasta, diz-se que violento. Mas ningum chama violentas s margens que o comprimem.Bertolt Brechty y y

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A vida curta e o dinheiro tambm.Bertolt Brechty y y

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Temam menos a morte e mais a vida insuficiente.Bertolt Brechty y y

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Apenas a violncia pode servir onde reina a violncia, e / apenas os homens podem servir onde existem homens.Bertolt Brechty y y

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De todas as coisas seguras, / a mais segura a dvida.Bertolt Brechty y

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Primeiro vem o estmago, depois a moral.Bertolt Brechty y y

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Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito.Bertolt Brechty y y

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O que no sabe um ignorante, mas o que sabe e no diz nada um criminoso.Bertolt Brechty y y

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Quem no conhece a verdade no passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira um criminoso!Bertolt Brechty y y

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O amor a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro.Bertolt Brechty y y

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A confiana pode exaurir-se caso seja muito exigida.Bertolt Brecht 33

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Perante um obstculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.Bertolt Brechty y y

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Miservel pas aquele que no tem heris. Miservel pas aquele que precisa de heris.Bertolt Brechty y y

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Po e um gole de leite so vitrias! / Um quarto quente: uma batalha vencida! / Para te fazer crescer / Devo combater dia e noite.Bertolt Brechty y y

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Apenas quando somos instrudos pela realidade que podemos mud-la.Bertolt Brechty y y

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DA SEDUO DOS ANJOS Anjos seduzem-se: nunca ou a matar. Puxa-o s para dentro de casa e mete - Lhe a lngua na boca e os dedos sem frete Por baixo da saia at se molhar. Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia E fode-o. Se gemer, algo crispado34

Segura-o bem, f-lo vir-se em dobrado P'ra que do choque no fim te no caia. Exorta-o a que agite bem o cu Manda-o tocar-te os guizos atrevido Diz que ousar na queda lhe permitido Desde que entre o cu e a terra flutue Mas no o olhes na cara enquanto fodes E as asas, rapaz, no lhas amarrotes.Bertolt Brechty y y

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O USO DAS PALAVRAS OBSCENAS Desmedido eu que vivo com medida Amigos, deixai-me que vos explique Com grosseiras palavras vos fustigue Como se aos milhares fossem nesta vida! H palavras que a foder do euforia: Para o fodidor, foda palavra louca E se a palavra traz sempre na boca Qualquer colcho furado o alivia. O puro fodilho de enforcar! Se ela o der at se esvaziar: bem. Mar no lava o que a arvore retm! S no faam lavagem ao juizo! Do homem a arte : foder e pensar. (Mas o luxo do homem : o riso).Bertolt Brechty y y

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AULA DE AMOR Mas, menina, vai com calma35

Mais seduo nesse grasne: Carnalmente eu amo a alma E com alma eu amo a carne. Faminto, me queria eu cheio No morra o cio com pudor Amo virtude com traseiro E no traseiro virtude pr. Muita menina sentiu perigo Desde que o deus no cisne entrou Foi com gosto ela ao castigo: O canto do cisne ele no perdoou.Bertolt Brechty y y

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O COITO E A SAUNA Melhor foder primeiro, e ento banhar. Esperas que, curva, sobre o balde se ajeite O traseiro nu miras com deleite E tocas-lhe entre as coxas a reinar. Mantm-na em posio, mas logo aps Assento no pio lhe seja permitido Se duche quiser na cona, invertido. Depois, claro, seguindo nossos avs, Serve ela no banho. As pedras pe a apitar Com btega rpida (que a gua ferva) Com tenra btula te aoita e corado Em balsmico vapor mais esquentado A pouco e pouco te deixas refrescar Suando agora a fodana em caterva.Bertolt Brechty y y

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Ah! Desgraados! Um irmo maltratado e vocs olham para o outro lado? Grita de dor o ferido e vocs ficam calados? A violncia faz a ronda e escolhe a vtima, e vocs dizem: "a mim ela est poupando, vamos fingir que no estamos olhando". Mas que cidade? Que espcie de gente essa? Quando campeia em uma cidade a injustia, necessrio que alguem se levante. No havendo quem se levante, prefervel que em um grande incndio, toda cidade desaparea, antes que a noite desa.Bertolt Brechty y y

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O Analfabeto Poltico O pior analfabeto o analfabeto poltico. Ele no ouve, no fala, nem participa dos acontecimentos polticos. Ele no sabe o custo de vida, o preo do feijo, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remdio dependem das decises polticas. O analfabeto poltico to burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a poltica. No sabe o imbecil que, da sua ignorncia poltica, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que o poltico vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.Bertolt Brechty y y

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Tenho muito o que fazer. Preparo o meu prximo erro.Bertolt Brechty y y

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Privatizado

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Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. da empresa privada o seu passo em frente, seu po e seu salrio. E agora no contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que s humanidade pertence.Bertolt Brecht

Antologia Potica de Bertolt BrechtSe os tubares fossem homens A Mscara Do Mal A Troca da Roda Aos que viro depois de ns Elogio da Dialtica A Exceo e a Regra O Nascido Depois Para Ler De Manh e Noite A Fumaa Os Esperanosos Expulso Por Bom Motivo Quem Se Defende Esse Desemprego! Nada Impossvel De Mudar Refletindo Sobre O Inferno Os que lutam Poesia do Exlio Precisamos De Voc. O Analfabeto Poltico Perguntas De Um Operrio Que L Esse Desemprego O Vosso Tanque General, Um Carro Forte O Maneta No Bosque No Necessito De Pedra Tumular No Segundo Ano De Minha Fuga A Minha Me A Cruz de Giz Acredite Apenas Epitfio Para Gorki Se Fossemos Infinitos Tempos Sombrios Ferro Sobre a Violncia As Boas Aes Os maus e os bons Privatizado

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Com Cuidado Examino De Que Serve A Bondade Epstola Sobre O Suicdio Da Seduo Dos Anjos Elogio do Revolucionrio Eu Sempre Pensei Um Homem Pessimista Na Morte De Um Combatente Da Paz Tambm O Cu

Como Bem Sei Quem No Sabe De Ajuda Das Elegias De Buckow No Muro Estava Escrito Com Giz Jamais Te Amei Tanto Soube Lendo Horcio Louvor ao Estudo Na Guerra Muitas Coisas Crescero

A Cruz de Giz Eu sou uma criada. Eu tive um romance Com um homem que era da SA. Um dia, antes de ir Ele me mostrou, sorrindo, como fazem Para pegar os insatisfeitos. Com um giz tirado do bolso do casaco Ele fez uma pequena cruz na palma da mo. Ele contou que assim, e vestido paisana anda pelas reparties do trabalho Onde os empregados fazem fila e xingam E xinga junto com eles, e fazendo isso Em sinal de aprovao e solidariedade D um tapinha nas costas do homem que xinga E este, marcado com a cruz branca apanhado pela SA. Ns rimos com isso. Andei com ele um ano, ento descobri Que ele havia retirado dinheiro Da minha caderneta de poupana. Havia dito que a guardaria para mim Pois os tempos eram incertos. Quando lhe tomei satisfaes, ele jurou Que suas intenes eram honestas. Dizendo isso39

Ps a mo em meu ombro para me acalmar. Eu corri, aterrorizada. Em casa Olhei minhas costas no espelho, para ver Se no havia uma cruz branca. ... A Exceo e a Regra Estranhem o que no for estranho. Tomem por inexplicvel o habitual. Sintam-se perplexos ante o cotidiano. Tratem de achar um remdio para o abuso Mas no se esqueam de que o abuso sempre a regra. ... A Fumaa A pequena casa entre rvores no lago. Do telhado sobe fumaa Sem ela Quo tristes seriam Casa, rvores e lago. ... A Mscara Do Mal Em minha parede h uma escultura de madeira japonesa Mscara de um demnio mau, coberta de esmalte dourado. Compreensivo observo As veias dilatadas da fronte, indicando Como cansativo ser mal ... A Minha Me Quando ela acabou, foi colocada na terra Flores nascem, borboletas esvoejam por cima...40

Ela, leve, no fez presso sobre a terra Quanta dor foi preciso para que ficasse to leve! ... Acredite Apenas Acredite apenas no que seus olhos vem e seus ouvidos Ouvem! Tambm no acredite no que seus olhos vem e seus Ouvidos ouvem! Saiba tambm que no crer algo significa algo crer! ... A Troca da Roda Estou sentado beira da estrada, o condutor muda a roda. No me agrada o lugar de onde venho. No me agrada o lugar para onde vou. Por que olho a troca da roda com impacincia? ... As Boas Aes Esmagar sempre o prximo no acaba por cansar? Invejar provoca um esforo que inchas as veias da fronte. A mo que se estende naturalmente d e recebe com a mesma facilidade. Mas a mo que agarra com avidez rapidamente endurece. Ah! que delicioso dar! Ser generoso que bela tentao! Uma boa palavra brota suavemente como um suspiro de felicidade! ...41

Aos que viro depois de ns I Eu vivo em tempos sombrios. Uma linguagem sem malcia sinal de estupidez, uma testa sem rugas sinal de indiferena. Aquele que ainda ri porque ainda no recebeu a terrvel notcia. Que tempos so esses, quando falar sobre flores quase um crime. Pois significa silenciar sobre tanta injustia? Aquele que cruza tranqilamente a rua j est ento inacessvel aos amigos que se encontram necessitados? verdade: eu ainda ganho o bastante para viver. Mas acreditem: por acaso. Nado do que eu fao D-me o direito de comer quando eu tenho fome. Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!) Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens! Mas como que posso comer e beber, se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome? se o copo de gua que eu bebo, faz falta a quem tem sede? Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo. Eu queria ser um sbio. Nos livros antigos est escrito o que a sabedoria: Manter-se afastado dos problemas do mundo e sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra; Seguir seu caminho sem violncia, pagar o mal com o bem,42

no satisfazer os desejos, mas esquec-los. Sabedoria isso! Mas eu no consigo agir assim. verdade, eu vivo em tempos sombrios! II Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava. Eu vim para o convvio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles. Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra. Eu comi o meu po no meio das batalhas, deitei-me entre os assassinos para dormir, Fiz amor sem muita ateno e no tive pacincia com a natureza. Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra. III Vocs, que vo emergir das ondas em que ns perecemos, pensem, quando falarem das nossas fraquezas, nos tempos sombrios de que vocs tiveram a sorte de escapar. Ns existamos atravs da luta de classes, mudando mais seguidamente de pases que de sapatos, desesperados! quando s havia injustia e no havia revolta. Ns sabemos: o dio contra a baixeza tambm endurece os rostos! A clera contra a injustia faz a voz ficar rouca! Infelizmente, ns, que queramos preparar o caminho para a amizade,43

no pudemos ser, ns mesmos, bons amigos. Mas vocs, quando chegar o tempo em que o homem seja amigo do homem, pensem em ns com um pouco de compreenso. ... Com Cuidado Examino Com cuidado examino Meu plano: ele Grande, ele Irrealizvel. ... Como Bem Sei Como bem sei Os impuros viajam para o inferno Atravs do cu inteiro. So levados em carruagens transparentes: Isto embaixo de vocs, lhe dizem o cu. Eu sei que lhes dizem isso Pois imagino Que justamente entre eles H muitos que no o reconheceriam, pois eles Precisamente Imaginavam-no mais radiante ... Da Seduo Dos Anjos Anjos seduzem-se: nunca ou a matar. Puxa-o s para dentro de casa e mete-lhe a lngua na boca e os dedos sem frete Por baixo da saia at se molhar Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia E fode-o. Se gemer, algo crispado44

Segura-o bem, f-lo vir-se em dobrado Para que do choque no fim te no caia. Exorta-o a que agite bem o c Manda-o tocar-te os guizos atrevido Diz que ousar na queda lhe permitido Desde que entre o cu e a terra flutue Mas no o olhes na cara enquanto fodes E as asas, rapaz, no lhas amarrotes. ... Das Elegias De Buckow Viesse um vento Eu poderia alar vela. Faltasse vela Faria uma de pano e pau. ... De Que Serve A Bondade 1 De que serve a bondade Se os bons so imediatamente liquidados,ou so liquidados Aqueles para os quais eles so bons? De que serve a liberdade Se os livres tm que viver entre os no-livres? De que serve a razo Se somente a desrazo consegue o alimento de que todos necessitam? 2 Em vez de serem apenas bons,esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne possvel a bondade Ou melhor:que a torne suprflua! Em vez de serem apenas livres,esforcem-se45

Para criar um estado de coisas que liberte a todos E tambm o amor liberdade Torne suprfluo! Em vez de serem apenas razoveis,esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne a desrazo de um indivduo Um mau negcio. ... Elogio da Dialtica A injustia passeia pelas ruas com passos seguros. Os dominadores se estabelecem por dez mil anos. S a fora os garante. Tudo ficar como est. Nenhuma voz se levanta alm da voz dos dominadores. No mercado da explorao se diz em voz alta: Agora acaba de comear: E entre os oprimidos muitos dizem: No se realizar jamais o que queremos! O que ainda vive no diga: jamais! O seguro no seguro. Como est no ficar. Quando os dominadores falarem falaro tambm os dominados. Quem se atreve a dizer: jamais? De quem depende a continuao desse domnio? De quem depende a sua destruio? Igualmente de ns. Os cados que se levantem! Os que esto perdidos que lutem! Quem reconhece a situao como pode calar-se? Os vencidos de agora sero os vencedores de amanh. E o "hoje" nascer do "jamais". ... Elogio do Revolucionrio Quando aumenta a represso, muitos desanimam. Mas a coragem dele aumenta.46

Organiza sua luta pelo salrio, pelo po e pela conquista do poder. Interroga a propriedade: De onde vens? Pergunta a cada idia: Serves a quem? Ali onde todos calam, ele fala E onde reina a opresso e se acusa o destino, ele cita os nomes. mesa onde ele se senta se senta a insatisfao. comida sabe mal e a sala se torna estreita. Aonde o vai a revolta e de onde o expulsam persiste a agitao. ... Epstola Sobre O Suicdio Matar-se coisa banal. Pode-se conversar com a lavadeira sobre isso. Discutir com um amigo os prs e os contras. Um certo pathos, que atrai Deve ser evitado. Embora isto no precise absolutamente ser um dogma. Mas melhor me parece, porm Uma pequena mentira como de costume: Voc est cheio de trocar a roupa de cama, ou melhor Ainda: Sua mulher foi infiel (Isto funciona com aqueles que ficam surpresos com essas coisas E no muito impressionante.) De qualquer modo No deve parecer Que a pessoa dava Importncia demais a si mesmo ...47

Epitfio Para Gorki Aqui jaz O enviado dos bairros da misria O que descreveu os atormentadores do povo E aqueles que os combateram O que foi educado nas ruas O de baixa extrao Que ajudou a abolir o sistema de Alto a Baixo O mestre do povo Que aprendeu com o povo. ... Esse Desemprego! Meus senhores, mesmo um problema Esse desemprego! Com satisfao acolhemos Toda oportunidade De discutir a questo. Quando queiram os senhores! A todo momento! Pois o desemprego para o povo Um enfraquecimento. Para ns inexplicvel Tanto desemprego. Algo realmente lamentvel Que s traz desassossego. Mas no se deve na verdade Dizer que inexplicvel Pois pode ser fatal Dificilmente nos pode trazer A confiana das massas Para ns imprescindvel. preciso que nos deixem valer Pois seria mais que temvel Permitir ao caos vencer Num tempo to pouco esclarecido! Algo assim no se pode conceber Com esse desemprego! Ou qual a sua opinio?48

S nos pode convir Esta opinio: o problema Assim como veio, deve sumir. Mas a questo : nosso desemprego No ser solucionado Enquanto os senhores no Ficarem desempregados! ... Eu Sempre Pensei E eu sempre pensei: as mais simples palavras Devem bastar.Quando eu disser como e O coracao de cada um ficara dilacerado. Que sucumbiras se nao te defenderes Isso logo veras. ... Expulso Por Bom Motivo Eu cresci como filho De gente abastada. Meus pais Me colocaram um colarinho, e me educaram No hbito de ser servido E me ensinaram a dar ordens. Mas quando J crescido, olhei em torno de mim No me agradaram as pessoas da minha classe e me juntei gente pequena. Assim Eles criaram um traidor, ensinaram-lhe Suas artes, e ele Denuncia-os ao inimigo. Sim, eu conto seus segredos. Fico Entre o povo e explico Como eles trapaceiam, e digo o que vir, pois Estou instrudo em seus planos.49

O latim de seus clrigos corruptos Traduzo palavra por palavra em linguagem comum, Ento Ele se revela uma farsa. Tomo A balana da sua justia e mostro Os pesos falsos. E os seus informantes relatam Que me encontro entre os despossudos, quando Tramam a revolta. Eles me advertiram e me tomaram O que ganhei com meu trabalho. E quando me corrigi Eles foram me caar, mas Em minha casa Encontraram apenas escritos que expunham Suas tramas contra o povo. Ento Enviaram uma ordem de priso Acusando-me de ter idias baixas, isto As idias da gente baixa. Aonde vou sou marcado Aos olhos dos possuidores. Mas os despossudos Lem a ordem de priso E me oferecem abrigo. Voc, dizem Foi expulso por bom motivo. ... Ferro No sonho esta noite Vi um grande temporal. Ele atingiui os andaimes Curvou a viga feita A de ferro. Mas o que era de madeira Dobrou-se e ficou. ... Jamais Te Amei Tanto50

Jamais te amei tanto, ma soeur Como ao te deixar naquele pr do sol O bosque me engoliu, o bosque azul, ma soeur Sobre o qual sempre ficavam as estrelas plidas No Oeste. Eu ri bem pouco, no ri, ma soeur Eu que brincava ao encontro do destino negro Enquanto os rostos atrs de mim lentamente Iam desaparecendo no anoitecer do bosque azul. Tudo foi belo nessa tarde nica, ma soeur Jamais igual, antes ou depois verdade que me ficaram apenas os pssaros Que noite sentem fome no negro cu. .. Lendo Horcio Mesmo o diluvio No durou eternamente. Veio o momento em que As guas negras baixaram. Sim, mas quo poucos Sobreviveram! ... Louvor ao Estudo Estuda o elementar: para aqueles cuja hora chegou no nunca demasiado tarde. Estuda o abc. No basta, mas Estuda. No te canses. Comea. Tens de saber tudo. Ests chamado a ser um dirigente. Freqente a escola, desamparado! Persegue o saber, morto de frio! Empunha o livro, faminto! uma arma! Ests chamado ser um dirigente.51

No temas perguntar, companheiro! No te deixes convencer! Compreende tudo por ti mesmo. O que no sabes por ti, no o sabes. Confere a conta. Tens de pag-la. Aponta com teu dedo a cada coisa e pergunta: "Que isto? e como ?" Ests chamado a ser um dirigente. ... Na Guerra Muitas Coisas Crescero Ficaro maiores As propriedades dos que possuem E a misria dos que no possuem As falas do guia* E o silncio dos guiados. *Fhrer ...Na Morte De Um Combatente Da Paz memria de Carl von Ossietzky

Aquele que no cedeu Foi abatido O que foi abatido No cedeu. A boca do que preveniu Est cheia de terra. A aventura sangrenta Comea. O tmulo do amigo da paz pisoteado por batalhes. Ento a luta foi em vo? Quando abatido o que no lutou s O inimigo Ainda no venceu. ...52

Nada Impossvel De Mudar Desconfiai do mais trivial , na aparncia singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: no aceiteis o que de hbito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confuso organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossvel de mudar. ... No Necessito De Pedra Tumular No necessito de pedra tumular, mas Se necessitarem de uma para mim Gostaria que nela estivesse: Ele fez sugestes Nos as aceitamos. Por tal inscrio Estaramos todos honrados. ... No Muro Estava Escrito Com Giz: Eles querem a guerra. Quem escreveu J caiu. ... No Segundo Ano De Minha Fuga No segundo ano de minha fuga Li em um jornal, em lngua estrangeira Que eu havia perdido minha cidadania. No fiquei triste nem alegre Ao ver meu nome entre muitos outros Bons e maus.53

A sina dos que fugiam no me pareceu pior Do que a sina dos que ficavam. ... O Analfabeto Poltico "O pior analfabeto o analfabeto poltico. Ele no ouve, no fala, nem participa dos acontecimentos polticos. Ele no sabe que o custo de vida, o preo do feijo, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remdio dependem das decises polticas. O analfabeto poltico to burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a poltica. No sabe o imbecil que da sua ignorncia poltica nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que o poltico vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo." Nada impossvel de Mudar "Desconfiai do mais trivial, na aparncia singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: no aceiteis o que de hbito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confuso organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossvel de mudar." Privatizado "Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. da empresa privada o seu passo em frente, seu po e seu salrio. E agora no contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que s humanidade pertence." ... O Maneta No Bosque Banhado de suor ele se curva Para pegar o graveto.Os mosquitos Espanta com um movimento de cabea.Com os joelhos54

Amarra a lenha com dificuldade.Gemendo Se apruma,ergue a mo Para ver se chove.A mo erguida Do temido Guarda SS. ... O Nascido Depois Eu confesso: eu No tenho esperana. Os cegos falam de uma sada. Eu Vejo. Aps os erros terem sido usados Como ltima companhia, nossa frente Senta-se o Nada. ... O Vosso Tanque General, Um Carro Forte Derruba uma floresta esmaga cem Homens, Mas tem um defeito - Precisa de um motorista O vosso bombardeiro, general poderoso: Voa mais depressa que a tempestade E transporta mais carga que um elefante Mas tem um defeito - Precisa de um piloto. O homem, meu general, muito til: Sabe voar, e sabe matar Mas tem um defeito - Sabe pensar ... Os Esperanosos

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Pelo que esperam? Que os surdos se deixem convencer E que os insaciveis Lhes devolvam algo? Os lobos os alimentaro, em vez de devor-los! Por amizade Os tigres convidaro A lhes arrancarem os dentes! por isso que esperam! ... Os que lutam "H aqueles que lutam um dia; e por isso so muito bons; H aqueles que lutam muitos dias; e por isso so muito bons; H aqueles que lutam anos; e so melhores ainda; Porm h aqueles que lutam toda a vida; esses so os imprescindveis." ... Os maus e os bons "Os maus temem tuas garras Os bons se alegram de tua graca. Algo assim Gostaria de ouvir Do meu verso." ... Para Ler De Manh E Noite Aquele que amo Disse-me Que precisa de mim. Por isso Cuido de mim Olho meu caminho E receio ser morta Por uma s gota de chuva.

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... Perguntas De Um Operrio Que L. Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilnia, tantas vezes destruida, Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma Est cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Csares? A to cantada Bizncio S tinha palcios Para os seus habitantes? At a legendria Atlntida Na noite em que o mar a engoliu Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Indias Szinho? Csar venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu servio? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ningum mais? Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou? Em cada pgina uma vitria. Quem cozinhava os festins? Em cada dcada um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histrias Quantas perguntas ... Poesia do Exlio Nos tempos sombrios se cantar tambm?57

Tambm se cantar sobre os tempos sombrios. ... Precisamos De Voc. Aprende - l nos olhos, l nos olhos - aprende a ler jornais, aprende: a verdade pensa com tua cabea. Faa perguntas sem medo no te convenas sozinho mas vejas com teus olhos. Se no descobriu por si na verdade no descobriu. Confere tudo ponto por ponto - afinal voc faz parte de tudo, tambm vai no barco, "a pagar o pato, vai pegar no leme um dia. Aponte o dedo, pergunta que isso? Como foi parar a? Por que? Voc faz parte de tudo. Aprende, no perde nada das discusses, do silncio. Esteja sempre aprendendo por ns e por voc. Voc no ser ouvinte diante da discusso, no ser cogumelo de sombras e bastidores, no ser cenrio para nossa ao58

... Privatizado "Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. da empresa privada o seu passo em frente, seu po e seu salrio. E agora no contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que s humanidade pertence." ... Quem No Sabe De Ajuda Como pode a voz que vem das casas Ser a da justia Se os ptios esto desabrigados? Como pode no ser um embusteiro aquele que Ensina os famintos outras coisas Que no a maneira de abolir a fome? Quem no d o po ao faminto Quer a violncia Quem na canoa no tem Lugar para os que se afogam No tem compaixo. Quem no sabe de ajuda Que cale. ... Quem Se Defende Quem se defende porque lhe tiram o ar Ao lhe apertar a garganta,para este ha um paragrafo Que diz: ele agiu em legitima defesa.Mas O mesmo paragrafo silencia Quando voces se defendem porque lhes tiram o pao. E no entanto morre quem nao come,e quem nao come o suficiente Morre lentamente.Durante os anos todos em que morre Nao lhe e permitido se defender.59

... Refletindo Sobre O Inferno Refletindo, ouo dizer, sobre o inferno Meu irmo Shelley achou ser ele um lugar Mais ou menos semelhante a Londres. Eu Que no vivo em Londres, mas em Los Angeles Acho, refletindo sobre o inferno, que ele deve Assemelhar-se mais ainda a Los Angeles. Tambm no inferno Existem, no tenho dvidas, esses jardins luxuriantes Com as flores grandes como rvores, que naturalmente fenecem Sem demora, se no so molhadas com gua muito cara. E mercados de frutas Com verdadeiros montes de frutos, no entanto Sem cheiro nem sabor. E interminveis filas de carros Mais leves que suas prprias sombras, mais rpidos Que pensamentos tolos, automveis reluzentes, nos quais Gente rosada, vindo de lugar nenhum, vai a nenhum lugar. E casas construdas para pessoas felizes, portanto vazias Mesmo quando habitadas. Tambm as casas do inferno no so todas feias Mas a preocupao de serem lanados na rua Consome os moradores das manses no menos que Os moradores do barracos ... Se Fossemos Infinitos Fossemos infinitos Tudo mudaria Como somos finitos Muito permanece. ... Sobre A Violncia A corrente impetuosa chamada de violenta Mas o leito do rio que a contem Ninguem chama de violento.60

A tempestade que faz dobrar as betulas E tida como violenta E a tempetasde que faz dobrar Os dorsos dos operarios na rua? ... Soube Soube que Nas praas dizem de mim que durmo mal Meus inimigos, dizem, j esto assentando casa Minhas mulheres pem seus vestidos bons Em minha ante-sala esperam pessoas Conhecidas como amigas dos infelizes. Logo Ouviro que no como mais Mas uso novos ternos Mas o pior : eu mesmo Observo que me tornei Mais duro com as pessoas. ... Tambm o Cu Tambm o cu s vezes desmorona E as estrelas caem sobre a terra Esmagando-a com todos ns. Isto pode ser amanh. ... Tempos Sombrios Realmente, vivemos tempos sombrios! A inocncia loucura. Uma fronte sem rugas denota insensibilidade. Aquele que ri ainda no recebeu a terrvel notcia que est para chegar. Que tempos so estes, em que quase um delito61

falar de coisas inocentes, pois implica em silenciar sobre tantos horrores. ... Se os Tubares Fossem Homens Bertold Brecht Se os tubares fossem homens, eles seriam mais gents com os peixes pequenos. Se os tubares fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem gua sempre renovada e adotariam todas as providncias sanitrias cabveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que no moressem antes do tempo. Para que os peixinhos no ficassem tristonhos, eles dariam c e l uma festa aqutica, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos. Naturalmente tambm haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubares. Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubares, deitados preguiosamente por a. Aula principal seria naturalmente a formao moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo o sacrifcio alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubares, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro s estaria garantido se aprendessem a obedincia. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinao baixa, materialista, egosta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubares se qualquer deles manifestasse essas inclinaes. Se os tubares fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.As guerras seriam conduzidas pelos seus prprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubares existem gigantescas diferenas. Eles anunciariam que os peixinhos so reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes lnguas, sendo assim impossvel que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns62

peixinhos inimigos da outra lngua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o ttulo de heri. Se os tubares fossem homens, haveria entre eles naturalmente tambm uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubares seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubares.A msica seria to bela, to bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubares sonhadores e possudos pelos mais agradveis pensamentos. Tambm haveria uma religio ali. Se os tubares fossem homens, eles ensinariam essa religio. E s na barriga dos tubares que comearia verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubares fossem homens, tambm acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso s seria agradvel aos tubares, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construo de caixas e assim por diante. Curto e grosso, s ento haveria civilizao no mar, se os tubares fossem homens. *** Um Homem Pessimista Um homem pessimista tolerante. Ele sabe deixar a fina cortesia desmanchar-se na lngua Quando um homem no espanca uma mulher E o sacrifcio de uma mulher que prepara caf para seu amado Com pernas brancas sob a camisa Isto o comove. Os remorsos de um homem que Vendeu o amigo Abalam-no, a ele que conhece a frieza do mundo63

E como sbio Falar alto e convencido No meio da noite. ... Esse Desemprego Meus senhores, mesmo um problema Esse desemprego! Com satisfao acolhemos Toda oportunidade De discutir a questo. Quando queiram os senhores! A todo momento! Pois o desemprego para o povo Um enfraquecimento. Para ns inexplicvel Tanto desemprego. Algo realmente lamentvel Que s traz desassossego. Mas no se deve na verdade Dizer que inexplicvel Pois pode ser fatal Dificilmente nos pode trazer A confiana das massas64

Para ns imprescindvel. preciso que nos deixem valer Pois seria mais que temvel Permitir ao caos vencer Num tempo to pouco esclarecido! Algo assim no se pode conceber Com esse desemprego! Ou qual a