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    A CIDADE DE LUZES E SOMBRASPgina 3

    REFORMA E AMPLIAO DO

    ESTDIO JOAQUIM AMRICOPgina 10

    COMUNIDADE NOVA COSTEIRAPgina 19

    CONSTRUO DE TRINCHEIRA NARUA ARAPONGASPgina 26

    HOTEL BRISTOL NOMUNICPIO DE CURITIBAPgina 30

    CONSTRUO DO PARQUE DAIMIGRAO JAPONESA NOMUNICPIO DE CURITIBAPgina 34

    REQUALIFICAO DARODOFERROVIRIAPgina 38

    VIADUTO ESTAIADO FRANCISCOHERCLITO DOS SANTOS NO MU-NICPIO DE CURITIBAPgina 42

    CONCLUSOPgina 46

    SUMRIOEXPEDIENTECOORDENAO GERALComit Popular da Copa de CuritibaCOORDENAO DE PESQUISATerra de Direitos eObservatrio das MetrpolesPESQUISADORESOlga Lucia C. de Freitas Firkowski(Observatrio das Metrpoles); Pa-tricia Baliski (Observatrio das Me-trpoles); Elena Justen Brandenburg(Observatrio das Metrpoles); AnaCaroline de Oliveira Chimenez (Ob-

    servatrio das Metrpoles); AlineFerreira Martins (Observatrio dasMetrpoles); Vincius Zanona (Ob-servatrio das Metrpoles); Anna Ca-rolina Murata Galeb (SAJUP/UFPR);Giovanna Bonilha Milano (Ambiens);Alexandre do Nascimento Pedrozo(Ambiens); Jlia vila Franzoni (Ter-ra de Direitos); Isabella Madruga da

    Cunha (Terra de Direitos)Andra Luiza Curralinho Braga(CRESS/PR); Fernanda Keiko Ikuta(GEDIME e ENCONTTRA/UFPR); Le-andro Franklin Gorsdorf (NPJ/UFPR);Alexandre Maftum (NPJ/UFPR); Mari-na Carvalho Sella (NPJ/UFPR); Rosn-gela Marina Luft.

    CONSULTORIA TCNICAE REDAO FINALJlia vila Franzoni eRosngela Marina LuftAPOIOFundo Brasil de Direitos HumanosPRODUO CARTOGRFICAAlexandre Pedrozo e Felipe Timmer-mann (Instituto Ambiens)

    EDITORAO E DIAGRAMAOMathias Rodrigues eLetcia Trein (Instituto Ambiens)

    O dossi Copa do Mundo e Violaes deDireitos Humanos em Curibaintegra oProjeto Comit Popular da Copa de

    Curitiba: garantia dos direitos humanos,articulao e construo coletiva do

    conhecimento coordenado pelo Insti-tuto Ambiens de Educao, Pesquisa e

    Planejamento.

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    A CIDADE DE LUZES E SOMBRASEstratgias parciais e localizadas das intervenes urbanasem Curitiba, relacionadas Copa do Mundo FIFA 2014

    Opresente Dossi tem por ob-jetivo apresentar uma anlisecritica realizada pelo Comit

    Popular da Copa de Curitiba CPC acer-ca dos resultados, mesmo que ainda noconclusivos, das aes desencadeadascom vistas realizao da Copa do Mun-do FIFA 2014 em Curitiba.

    O Comit Popular da Copa de Curitiba

    um frum amplo constitudo por su-jeitos e entidades da sociedade civil dediversos setores, tais como movimentossociais, universidades, sindicatos, orga-nizaes no-governamentais, coletivosde mdia independente e comunidadesatingidas. Tem por objetivo a produode informao e denncia sobre as vio-laes de direitos provenientes das in-

    tervenes de grandes projetos urbanosvinculados aos megaeventos esportivos,bem como o trabalho de monitoramen-to, mobilizao social e defesa contraesses processos. Espaos similares en-contram-se hoje atuantes nas 12 cida-des-sede da Copa do Mundo de 2014,em dilogo permanente.

    Na persecuo dos objetivos acimamencionados, o Comit tem esbarradona lgica de no cumprimento do deverde informar por parte dos Poderes Pbli-cos. Os projetos e aes governamentaisseguem o padro de falta de transparn-cia e problemas de acesso a informaesrelevantes, em especial vivenciados pelascomunidades por eles diretamente afe-tadas e grupos sociais vulnerveis.

    Diferentemente do ocorrido em outrascidades brasileiras, cujo argumento cha-ve para a realizao do Dossi foram asviolaes de direitos, em especial do di-

    reito moradia, em Curitiba as violaesnesse mbito foram proporcionalmentemenos evidentes, embora tenham assu-mido uma caracterstica peculiar, pois,mesmo pontualmente, foram capazes deatingir populaes de diferentes classessociais.

    Por essa razo, pusemo-nos a reetiracerca de qual a dimenso de violaes

    seriam relevantes para serem apresenta-das sociedade no formato de um Dos-si.

    Duas perspectivas nos pareceram sedestacar, respectivamente, a da violaodo direito informao, tendo em vistaos processos obscuros que permearamas decises sobre as obras e a impossi-bilidade de participao da populao

    afetada, e a violao do direito cidade,em sentido amplo, sobretudo tendo emvista as intervenes parciais e que notomaram a cidade como uma totalidadee as transgresses a direitos e regras quej estavam consolidados na cidade.

    , portanto, nessas duas perspectivasque se desenvolver o presente docu-mento. Para tanto, nessa introduo,sero acionados alguns elementos te-ricos que nos permitem compreender oargumento central do Dossi, qual seja,as intervenes como potencializadorasde uma viso fragmentada de cidade eque contribuem para a cristalizao doprocesso de segregao socioespacial,na medida em que priorizam certas reasem detrimento de outras.

    Assim, optamos por selecionar ca-sos que, ofcialmente ou no, nos pare-cem relacionados diretamente ao efeitoCopa, bem como organizar todos os ca-

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    sos selecionados por meio de um roteiroprprio, capaz de permitir, com agilida-de, a comparao entre os mesmos, namedida em que priorizam os mesmoselementos.

    NCORAS INTERPRETATIVAS

    A compreenso da realidade s sefaz por meio da conjugao entre oselementos constitutivos da prpria rea-lidade (de carter emprico ou assenta-do na realidade ela prpria) e a buscade interpretao para os mesmos, pormeio de um olhar mais amplo e capaz

    de organizar tais elementos na busca denexos explicativos para os mesmos e desimilaridades entre diferentes realidades.

    Santos (2002) nos fornece um esque-ma explicativo interessante para a com-preenso das desigualdades territoriaisno Brasil e do qual lanaremos mo, nosem correr os riscos da adaptao escalarpara a realidade urbana. Ou seja, Santos

    (2002) ao tratar das desigualdades ter-ritoriais no Brasil reconhece a existnciano de um, mas de vrios Brasis, resulta-do da conjugao de diversas variveisque caracterizam as novas desigualda-des espaciais.

    Num outro degrau escalar, entende-mos que a proposio de Santos, queser detalhada a seguir, nos fornece im-portantes elementos para compreenderas intervenes relativas Copa do Mun-do em Curitiba, na medida em que asescolhas espaciais para abrigar as obrasda Copa, so tambm resultantes de ele-mentos que reforam as desigualdadesespaciais previamente existentes e con-tribuem para dotar espaos j inseridosna lgica dos investimentos pblicos, denovos e mais potentes atributos que re-foram sua posio precedente. Ou seja,as obras da Copa resultam mais na per-manncia do que na transformao.

    Santos (2002) nos apresenta algunspares espaciais analticos, a saber: zo-nas de densidade e de rarefao; uideze viscosidade; espaos da rapidez e dalentido; espaos luminosos e espaosopacos; espaos que mandam e espa-

    os que obedecem. Tais pares foramincorporados e adaptados ao presenteDossi resultando numa sntese de espa-os de luzes e espaos de sombras, ouseja, olhamos a cidade sob a tica dosinvestimentos para a Copa e podemosreconhecer um corredor luminoso, umeixo sobre o qual se reforaram investi-mentos e todo o restante da cidade na

    sombra. Desse modo, refora-se a visoparcial de cidade, que se distingue danecessria viso de totalidade, perdidah muito das aes de planejamento,que desde os anos de 1990 tm se pau-tado por intervenes localizadas e par-ciais. Essa a lgica do planejamento es-tratgico urbano e tambm da ao poracupuntura, que no necessariamente

    resulta em benefcios amplos para todosos moradores da cidade.

    Para Santos (2002, p. 260) as zonas dedensidade e de rarefao se baseiam nasdensidades dos homens e das coisas, ouseja, da populao e das concentraesde artefatos espaciais cuja explicao histrica. Temos zonas densas e zonasrarefeitas de cidades, de produo, de

    consumo, de comunicao, dentre ou-tras.

    J as diferenas no mbito da circula-o imprimem ao espao caractersticasque vo da uidez viscosidade, ou seja,as condies para circulao assumemposio chave no atual perodo histricoe a dotao de infraestrutura e demaiscondies para tal, resultam em espaos

    abertos uidez e espaos travados aela ou viscosos. Nesse mbito, a criaode sistemas de engenharia que aceleramo movimento so essenciais, tais como,

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    no mbito das cidades, as avenidas lar-gas, as vias para BRT e VLT, os metrs,dentre outros. O Autor arma ainda, queo processo de criao de uidez se-letivo e no-igualitrio (SANTOS, 2002,p. 261).

    Por espaos da rapidez e da lentidoo Autor entende a diferenciao espa-cial que existe entre os lugares dotadosde maior nmero de vias e em melho-res condies, a existncia de maiores emais modernos veculos, de transportepblico mais eciente e frequente, delugares onde a vida de relaes maisintensa e onde a diviso do trabalho res-

    ponde a lgicas mais externas que locais.Santos (2002, p. 263) adverte ainda querapidez e densidade no so necessaria-mente sinnimos, assim como lentido erarefao. Aproxima os espaos da rapi-dez com os espaos do mandar e os dalentido com os espaos do fazer, isto ,

    os espaos do mandar so ordenadores

    da produo, do movimento e do pen-samento em relao ao territrio como

    um todo [...] a produo que dinamiza

    certas reas tem seu motor primrio ou

    secundrio em outros pontos do territ-

    rio nacional ou mesmo do estrangeiro.

    (SANTOS, 2002, p. 263)

    Os espaos do mandar podem ser re-conhecidos como aqueles que exercema funo diretora, ordenadora e que,portanto, so espaos que comandam,no por atributos isolados do lugar emsi, mas porque nele esto instaladas en-tidades pblicas e privadas que exercemo poder regulatrio sobre o espao.

    Os espaos luminosos so compreen-didos por Santos, como

    aqueles que mais acumulam densidadestcnicas e informacionais, cando assim

    mais aptos a atrair avidades com maior

    contedo em capital, tecnologia e or-

    ganizao. Por oposio, os subespaos

    onde tais caracterscas esto ausentes

    seriam os espaos opacos. Os espaos

    luminosos, pela sua consistncia tcnica

    e polca, seriam os mais susceveis de

    parcipar de regularidades e de uma l-gica obediente aos interesses das maio-

    res empresas. (SANTOS, 2002, p. 264)

    Nesse sentido, o processo desencade-ado pela escolha de Curitiba como umadas cidades-sedes da Copa do Mun-do FIFA 2014, inicia-se com uma visoabrangente e cujos projetos teriam re-

    percusso por diferentes reas na cidade(Figura 01, prxima pgina) e mesmo noentorno metropolitano. Contudo, como passar do tempo, essa perspectiva foiencolhendo e hoje se resume a obras emum corredor ou eixo, muito especco dacidade e capaz de inserir novos elemen-tos num espao j dotado das variveis aque Santos se referia como as tpicas dos

    espaos luminosos.Um olhar atento ao Mapa 01, mostraque das oito intervenes de mobilida-de previstas na Matriz de Responsabili-dades no ano de 2011, cinco tinham al-gum tipo de repercusso metropolitana,respectivamente: o corredor Aeroporto--Rodoferroviria (Curitiba e So Jos dosPinhais); a requalicao da Av. MarechalFloriano Peixoto (Curitiba e So Jos dosPinhais); a Via Radial Rua da Pedreira(Curitiba e Colombo); a Via Radial Av. daIntegrao (Curitiba e Pinhais) e o Cor-redor Metropolitano (Araucria, FazendaRio Grande, So Jos dos Pinhais, Pira-quara, Pinhais e Colombo).

    Outras quatro obras estavam previstaspara Curitiba: a Reforma da Rodoferrovi-ria e seus acessos; o corredor Av. Cn-dido de Abreu; o BRT/Extenso da LinhaVerde Sul e a reforma e ampliao do

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    Terminal de Santa Cndida1.De todos esses projetos, apenas os

    seguintes foram viabilizados: CorredorAeroporto-Rodoferroviria, Requali-cao do Corredor Marechal Floriano,Requalicao da Rodoferroviria (inclu-

    sive acessos), Vias de Integrao RadialMetropolitanas, BRT: Extenso da LinhaVerde Sul e Obras Complementares daRequalicao do Corredor MarechalFloriano2, conformando um corredor oueixo ao longo do qual se concentram as

    1 Alm destas obras, pode ser citado o SistemaIntegrado de Mobilidade. Porm, esse projetono prev intervenes fsicas na cidade, pois

    se trata de um sistema de monitoramente detrnsito.2 Com as revises e atualizaes da Matriz deResponsabilidades, algumas obras tiveram seusprojetos e nomes alterados.

    obras da Copa. Osdemais foram, aospoucos, retirados daMatriz de Responsa-bilidades. Em todosos casos a principal

    justicativa foi a fal-ta de tempo hbilpara a concluso dasobras e/ou a cres-cente ampliao dosinvestimentos neces-srios. Dentre essesencontram-se: o Cor-redor Metropolitano,

    excludo da Matrizde Responsabilidadespela Resoluo GE-COPA n. 22, de 26 dedezembro de 2012; eo Corredor AvenidaCndido de Abreu,obra ainda constantena Matriz de Respon-

    sabilidades, mas quetambm ser exclu-da, como j indicadopelo governo muni-

    cipal.Alm das obras ociais, apresenta-

    das anteriormente, vrias intervenespontuais e indiretamente relacionadas Copa tambm ocorreram densican-

    do as aes nesse corredor, e que domesmo modo, sero objeto de anliseno presente Dossi, por congurarem oefeito Copa tratado a seguir.

    A concentrao das obras num corre-dor ou eixo privilegiado fez com que osrecursos se concentrassem em sua ex-tenso, como que lanando luzes sobreessa poro da cidade e remetendo s

    sombras todo o restante.A Figura 02 mostra esse corredor ou

    eixo e as obras selecionadas para seremtratadas no presente Dossi.

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    Mapa:Obra

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    011.

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    CopadoMundoeviolaesdedireitoshumanosemCuritiba |7

    Mapa:

    Espaose

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    inosos

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    O EFEITO COPA NA CIDADE

    E OS NEXOS ENTRE OS

    CASOS SELECIONADOS

    Os megaeventos reforam a tendnciarecente da cidade de projetar para o ex-terior, visando atrair empresas, negciose os capitais associados.

    So inmeros os exemplos dessa rela-o de Curitiba com o exterior, tanto emmbito nacional quanto internacional:indstrias, shopping centers, incorpora-doras imobilirias, subvertem as lgicaslocais para se projetarem num outro pa-tamar, que prioriza as relaes com o ex-

    terior cidade.O mesmo ocorre quando se observam

    as obras que se tornaram prioritrias emrazo do efeito Copa. Por efeito Copa en-tendemos um conjunto de intervenesque, embora no sejam integrantes daMatriz de Responsabilidades, foram ouesto sendo executadas luz da lgicado megaevento, em razo de nancia-

    mentos indiretos para tal, de sua locali-zao e de sua apropriao simblica

    Dentre as principais aes relaciona-das ao efeito Copa podemos citar: o con-junto composto pelas obras de requali-cao urbana na divisa de Curitiba e SoJos dos Pinhais, com nfase no Parqueda Imigrao Japonesa e na mudana deuso e implantao de empreendimento

    de hotelaria em rea destinada habi-tao de interesse social, no interior daqual foram vericadas aes de remoode famlias em nome da recuperao am-biental; obras relacionadas construode uma ponte que afetaria a Comunida-de So Cristvo; remoes que serorealizadas na Comunidade Nova Costei-ra, efeito indireto da Copa, na medida

    em que a rea hoje no regularizada eocupada por populao de baixa renda,ser dotada de moderna infraestrutura

    aeroporturia e abrigar a terceira pistado Aeroporto Internacional Afonso Pena.No menos relevante foi a insero deum elemento novo no projeto do cor-redor Aeroporto-Rodoferroviria, qualseja, a opo pela Ponte Estaiada, ao in-

    vs de uma obra com custos menores,nitidamente se trata da criao de umnovo smbolo para a cidade, mais do quesua funcionalidade, que poderia ser al-canada com a execuo de um projetode menor custo. Tambm no se podeesquecer o processo de desapropriaodas residncias localizadas no entornoimediato do estdio onde os jogos se-

    ro realizados. Embora no integranteda Matriz de Responsabilidade por seruma obra privada, uma complexa en-genharia pblico-privada protagoniza-da pelo Estado do Paran, Municpio deCuritiba e Clube Atltico Paranaense seps em marcha para viabilizar a naliza-o da ampliao do estdio, nanciadapela utilizao pervertida do instrumen-

    to do potencial construtivo. O empreen-dimento tambm resultou num conitode interesse entre moradores x admi-nistradores do estdio x poder pblico,sobretudo em razo do fato de que asdesapropriaes realizadas com dinheiropblico vo se reverter para uma apro-priao privada por parte da empresaadministradora do estdio.

    Assim, as intervenes ociais e noociais, se concentram numa pequenaporo da cidade, capaz de garantir eaprofundar os atributos espaciais j exis-tentes e que permitam a uidez de pes-soas e atividades.

    O corredor ou eixo garante condi-es favorveis de acesso cidade, poraqueles que viro de fora, seja por meio

    do Aeroporto ou da Rodoferroviria. Aampliao e construo de uma novapista na Av. das Torres tambm contri-

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    buem para a uidez, posto que facilitaro acesso entre o Aeroporto e o centro deCuritiba, intermediado pela Rodoferrovi-ria e tendo em seu extremo o estdiode futebol onde se realizaro os jogos.

    Dessa forma, na cidade moderna,

    enquanto novos objetos se instalam(prdios inteligentes, vias rpidas, infra-estruturas) em algumas reas urbanas,na maior parte da aglomerao perma-necem objetos herdados representativosde outra poca (SANTOS, 1996, p. 245).

    Santos adverte que tais objetos cus-tam caro e que esto associados direta-mente a uma lgica que vem de fora, a

    uma lgica global e, para implant-los,

    o poder pblico acaba aceitando uma or-

    dem de prioridades que privilegia alguns

    poucos atores, relegando a um segundo

    plano todo o resto: empresas menores,

    instuies menos estruturadas, pessoas,

    agravando a problemca social. Assim,

    enquanto alguns atores, graas aos recur-

    sos pblicos, encontram as condies parasua plena realizao (fuidez, adequao

    s novas necessidades tcnicas da produ-

    o) os demais, isto , a maioria, no tm

    resposta adequada para as suas necessida-

    des essenciais. H desse modo, uma produ-

    o limitada da racionalidade, associada a

    uma produo ampla da escassez. (SAN-

    TOS, 1996, p. 245)

    Com isso, a paisagem urbana com-posta por setores luminosos, vetoresda modernidade e setores opacos, re-presentantes das lgicas no globali-zadoras. Nesse contexto, os resultadosdas intervenes e obras relacionadas Copa em Curitiba no se revelam comopotenciais modicadores de uma ordem

    previamente estabelecida, pelo contr-

    rio, reforam os lugares luminosos dacidade, alm de amplia-los, por meio da

    extenso da infraestrutura, da remoode pessoas, mesmo que os nmeros to-tais no possam ser comparados aos quetem caracterizado o processo em outrascidades brasileiras. E, nalmente, o Mo-dus Operandi do poder pblico que no

    garante a informao e a participaodas pessoas diretamente envolvidas nosprocessos de desapropriao e remoo.Embora tenham sido criados diversosmecanismos de transparncia e acesso informao, ainda no faz parte docotidiano da maioria daqueles que nosrepresentam, a transparncia nas aes,nos contratos, nas escolhas, nos prazos,

    e nas mais variadas aes que atingempessoas, muitas vezes consideradascomo objetos, cuja retirada de um locale envio para outro se d como num jogode xadrez, como peas inanimadas e semo respeito s relaes de pertencimentoe de identidade, construdas ao longo deuma existncia.

    REFERNCIAS

    SANTOS, Milton A natureza do espa-o. Tcnica e tempo. Razo e emoo.So Paulo: HUCITEC, 1996.

    SANTOS, Milton e SILVEIRA, MariaLaura. O Brasil. Territrio e sociedade noincio do sculo XXI. Rio de Janeiro: Re-

    cord, 2002.

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    REFORMA E AMPLIAO DOESTDIO JOAQUIM AMRICO

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    Fotograadar

    eformad

    oe

    stdio(

    Gazetad

    oP

    ovo)

    Em janeiro de 2010, foi rmadoum acordo de Matriz de Respon-sabilidades em razo da Copa do

    Mundo de 2014, entre a Unio, o Gover-no do Estado do Paran e a Prefeiturade Curitiba, na qual foram denidas ascompetncias de cada ente. Interven-es em portos e aeroportos caram acargo da Unio, porquanto intervenes

    de mobilidade urbana, nos Estdios eseus entornos, nos terminais tursticos,aeroportos e portos e seus entornos, -cariam a cargo do Estado do Paran e daPrefeitura de Curitiba.

    Levando-se em considerao que emCuritiba optou-se por um estdio pri-vado para sediar os jogos da Copa dasConfederaes e da Copa do Mundo

    2014, foi tambm rmado um Termo deCompromisso, no qual guraram os en-tes pblicos que acordaram a Matriz deResponsabilidades (Estado do Paran e

    Municpio de Curitiba) e o presidente doClube Atltico Paranaense, Clube deten-tor do Estdio Joaquim Amrico conhe-cido como Arena da Baixada.

    No Anexo I da Matriz de Responsabi-lidade, foi apresentada uma tabela (Ane-xo B Estdio/Arena) na qual se colocaque a reforma e ampliao do EstdioJoaquim Amrico se daria com recursos

    do prprio Clube Atltico Paranaense eda Unio, via BNDES.

    Diante disso, em setembro do mes-mo ano, foi estabelecido o Convnio19.275 entre o Estado do Paran, a Pre-feitura de Curiba (que intervinha atravsdo IPPUC), e o Clube Atlco Paranaense,para a adequao do estdio JoaquimAmrico s condies da FIFA.

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    HISTRICO DA ENGENHARIAFINANCEIRA PARA

    REFORMA DO ESTDIOJOAQUIM AMRICO:

    No Convnio 19.275 cou estabele-cido, por sua vez, que cada parte seria

    responsvel por 1/3 do valor estimadopara execuo da obra, o que signicou poca um valor equivalente a at 45milhes para cada parte e um limite totalde 130 milhes. Ressalta-se que na cotaparte do Clube Atltico Paranaenseestavam includos os incentivos scaise os projetos e obras j executados epagos pelo Clube; o que mascarou, em

    certa medida, que o valor a ser pagopelo Clube seria efetivamente menorem relao aos entes pblicos1.

    O Convnio tambm determinou queo Estado do Paran no repassasse deforma direta o valor equivalente a suacota parte para as obras do estdio, deforma que os 45 milhes de reais devi-dos por ele seriam destinados para obras

    conjuntas com o municpio em demaisprojetos, medidas e programas rela-cionados Copa do Mundo de 20142.Dessa maneira, seria o municpio deCuritiba quem caria responsvel di-retamente por 2/3, ou seja, 90 milhesem recursos para a reforma da Arenada Baixada3.

    As contrapartidas previstas para Clube

    Atltico Paranaense, frente a esses inves-timentos dos entes pblicos, seriam:a) Intensicao da parceria exis-

    tente relativa s Escolinhas do AtlticoParanaense, em especial em reas caren-tes;

    b) Cedncia, pelo perodo de 5(cinco) anos aps o encerramento daCopa do Mundo, de um espao junto 1 Clausula Segunda, Pargrafo Primeiro, IncisoIII2 Clausula Segunda, Pargrafo Primeiro, Inciso Ido Convnio e item V do Plano de Trabalho3 Clausula Segunda, Pargrafo Primeiro, Inciso II

    sua Sede Administrativa correspondentea 50% do total da rea da Sede, para ins-talar rea da ento Secretaria Municipalde Esporte e Lazer, atual Secretaria deEsporte, Lazer e Juventude;

    c) Cedncia, pelo perodo de 50

    (cinqenta) meses a partir da assinaturado convnio, espaos para a realizaode eventos de interesse do ESTADO e/ou do MUNICPIO, compatveis com oespao existente, e sem qualquer utili-zao dos espaos destinados prticado futebol e de seus meios para treina-mento, sem nus, ressalvado o reembol-so de despesas tais como iluminao,

    segurana e limpeza (considerando queo convnio foi assinado em setembro de2010 e imaginando que as obras acabemem maro de 2014, a contrapartida seriautilizada somente de maro de 2014 anovembro de 2014);

    d) Viabilizao de espao para ainstalao de quiosques dos programasLEVE CURITIBA e FEITO AQUI PARA-

    N, como forma de apoiar o artesanatolocal;e) Manuteno da parceria com o

    Instituto Municipal de Turismo quantoao espao para o ponto de parada da Li-nha Turismo na Arena do CAP;

    f) Cedncia, sem nus, de doiscamarotes na Arena do CAP, sendo umpara o MUNICPIO e outro para o ESTA-

    DO, para o desenvolvimento de progra-mas e eventos de interesse municipal eestadual, pelo perodo de 50 (cinquenta)meses a partir da assinatura do convnio(mesmo caso do item c); e

    g) Realizao, ao nal do ano, deum evento das escolinhas de futebol doClube, do qual participem os alunos dasescolas parceiras.

    Percebe-se que nenhuma das contra-partidas previstas para o Clube AtlticoParanaense signica o dispndio de re-cursos na mesma proporo dos entes

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    pblicos, de forma que, seria um equvo-co cham-las de contrapartidas.

    A estratgia que o poder pblico mu-nicipal encontrou para repassar valoresao Clube foi atravs da instituio dettulos de potencial construtivo em

    nome do Atltico Paranaense, resol-vendo que do valor total de 90 milhesde reais, 45 milhes poderiam ser des-tinados construtora responsvel pelaobra e 45 milhes seriam dados em ga-rantia em um possvel emprstimo reali-zado junto ao Fundo de Desenvolvimen-to Econmico do Estado do Paran4, ouainda, os 90 milhes de reais poderiam

    ser repassados integralmente como re-munerao da construtora selecionadapara a obra5.

    Para que essa estratgia pudesse seconcretizar, em novembro de 2010, foipublicada a Lei Municipal 13.620, queinstitua o potencial construtivo relativoao estdio Joaquim Amrico. No mes-mo sentido, foi aprovada a Lei Estadual

    16.733, que permite que o Tesouro doEstado, atravs do Fundo de Desenvol-vimento Econmico FDE, apoiasse -nanceiramente o Projeto de reforma eampliao do estdio Joaquim Amrico,embasado no interesse pblico e coleti-vo que este envolveria (o que se ques-tiona por se tratar de investimento embem privado, vinculado a contrapartidas

    de carter social duvidoso).Com a atualizao dos custos dasobras, foram rmados o Termo Aditivo Matriz de Responsabilidade e o Ter-mo Aditivo ao Convnio celebrado porEstado, Municpio e Atltico, em que seapontou o novo valor do projeto emum total de 234 milhes de reais va-lor a ser repartido entre os trs entes res-ponsveis.

    Em agosto de 2011 ocorreu o pri-

    4 Clausula Quarta, Pargrafo nico5 Clausula Quinta, Pargrafo nico

    meiro repasse de verbas por parte doEstado do Paran para a Prefeitura novalor de 7 milhes de reais, sem que asobrigaes da Clusula 1, 2 do Con-vnio, melhoria na drenagem das baciasdo rio gua Verde e desapropriao dos

    imveis em torno do Estdio, tivessemsido cumpridas.

    No intuito de viabilizar a recepodos recursos da Prefeitura atravs dopotencial construtivo, foi criada aindaem agosto do mesmo ano pelos con-selheiros do Clube Atltico Paranaenseuma Sociedade de Propsito Especco,a CAP S/A ARENA DOS PARANAENSES,

    com participao acionria total do clu-be.Apenas em dezembro que foi publi-

    cado o Decreto Municipal 1.957/2011,que decretou de interesse pblico osimveis do entorno da Arena da Baixa-da, cumprindo-se o primeiro passo paraas desapropriaes, conforme exigia oConvnio 19.275.

    Em abril de 2012 foi lanado o rela-trio nmero 1 da Comisso de Fisca-lizao Copa de 2014 do Tribunal deContas do Estado Paran. O Tribunalatravs do relatrio apontou irregula-ridades, a falta de transparncia e ob-jetividade nos dados apresentados, es-pecialmente no que concerne s obrasno Estdio Joaquim Amrico, que resul-

    taram numa srie de recomendaes,dentre elas: que as partes dessem efe-vidade s obrigaes estabelecidas no

    Convnio 19.275 atentando a como seria

    feita a scalizao dos recursos a serem

    repassados e a prestao de contas; for-

    malizao e publicao de qualquer alte-

    rao dos contratos por meio de termos

    adivos; a reavaliao das obrigaes que

    caberiam ao Clube Atlco Paranaense.Seguido desse relatrio, em maio do

    mesmo ano, foi editado o Decreto Mu-nicipal n. 826/2012, que regulamenta-

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    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 13

    va a Lei Municipal 13.620. Esse decretoestabeleceu que o potencial construti-vo transfervel ao Programa Especial daCopa do Mundo FIFA 2014, correspon-der a 60.000 cotas de 1,00 m cadauma. Como havia sido mencionada, a

    estratgia que o poder pblico munici-pal encontrou para transferir recursospara as obras na Arena foi a criao dettulos de potencial construtivo. Esse ins-trumento de poltica urbana reguladopor lei especca, Lei Municipal 9.803/00,pelo Plano Diretor da cidade, Lei Munici-pal 11.266/04, e pela Lei de Zoneamen-to Urbano, Lei Municipal 9.800/00. Vale

    ressaltar, no entanto, que os indicado-res utilizados nos anexos do Decretocolidem com os estabelecidos na Leide Zoneamento Urbano, alm de norespeitarem outras disposies das leisregulamentadoras e as destinaes es-peccas a que esse instrumento deverespeito, conforme disposto do Estatutoda Cidade (Lei 10.257/01) Lei Federal

    que dispem sobre as normas gerais dosinstrumentos de poltica urbana.As criaes e alteraes legislativas,

    no entanto, no pararam por a. Em ju-nho foi publicado o Decreto Estadual4.913/12, que criou um comit de ges-to e acompanhamento das aes doFDE com relao Copa, denominadoComit de Financiamento da Copa;

    lembrando que parte do FDE havia sidodada em garantia do emprstimo doBNDES para a realizao das obras noEstdio Joaquim Amrico.

    No mesmo sentido, ainda em junho,publicou-se a Lei Estadual 17.206/12que autoriza o Poder Executivo a contra-tar operao de crdito junto ao BancoNacional de Desenvolvimento Econ-mico e Social BNDES, at o montantede R$ 138.450.000,00 a ser aportado noFundo de Desenvolvimento Econmico FDE, sendo que este valor dever ser

    utilizado exclusivamente para reforma eampliao do Estdio (art. 1).

    Em seguida, foi rmado novo TermoAditivo ao Convnio 19.275, que de-terminava, principalmente, que o CAPat dezembro de 2014 entregasse

    prefeitura de Curitiba imveis com valorequivalente aos desapropriados em tor-no do Estdio para sua ampliao.

    Nesse meio tempo, tem-se o lana-mento do relatrio nmero 2 da Co-misso de Fiscalizao da Copa de2014 do TCE, que buscou vericar asprovidncias cumpridas pelos atores en-volvidos, conforme determinado no rela-

    trio nmero 1.Em agosto veio o relatrio nmero 3

    da Comisso, cujo escopo era vericar aexecuo dos projetos e obras relaciona-das ao megaevento tendo como base oestabelecido na Matriz de Responsabili-dades para cada ente federativo.

    No ms de novembro, o pleno doTribunal de Contas do Estado julgou

    questo referente natureza jurdicados recursos transferidos por meio depotencial construtivo, decidindo quese tratava de recursos pblicos.

    Em dezembro, na ltima sesso daCmara Municipal sob antiga gesto daprefeitura de Curitiba, foi aprovada a LeiMunicipal 14.219/12, que alterava dis-positivos da Lei 13.620/10, aumentan-

    do o valor mximo para concesso depotencial construtivo ao estdio paraR$ 123.066.66667. Alm de estabelecerque o CAP teria que dar as contraparti-das sociais ao Municpio por receber talcrdito, sem, contudo, especic-las.

    O primeiro acontecimento referenteao caso relatado no ano de 2013 foi orepasse de recursos nanceiros pelo Go-verno do Estado do Paran CAP S/A,por meio de nanciamento via FDE. Esem cumprir todas as determinaes es-tabelecidas pelo Tribunal de Contas do

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    Estado.

    A PROBLEMTICA EMTORNO DA CESSO DE

    POTENCIAL CONSTRUTIVO

    A opo pela utilizao da venda dopotencial construtivo para fnanciar asobras no estdio surgiu do Convnion 19.275/2010, o qual sofreu 5 (cinco)

    substanciais modifcaes at o momen-to termos aditivos n. 19275-01, 19275-02, 19275-03, 19275-04, 19275-05. Combase no Convnio, foi aprovada a LeiMunicipal n 16.620/2010 que instituiuo potencial construtivo para o EstdioJoaquim Amrico, sendo esta lei altera-da pela Lei Municipal n 14.219/2012.

    Essas duas leis municipais (16.620/2010

    e 14.219/2012) no instituem propria-mente novos potenciais construtivospara a cidade, elas apenas autorizam o

    emprego de parte do banco de poten-cial construtivo do Municpio de Curi-tiba em benefcio das obras do estdio.Os coecientes de aproveitamentoestabelecidos nas leis municipais noforam modicados, razo pela qual opotencial de solo criado que pode servendido pelo Municpio continua omesmo desde as leis de 2000.

    Essa concluso corroborada pelo

    (confuso) pargrafo nico do art. 1 doDecreto 826/2012 que regulamenta aLei Municipal 13.620/2010: o incentivoque trata do caput deste artigo consis-tir na concesso de parmetros, portransferncia de potencial construtivo,conforme estabelecido na legislaoem vigor. Reitere-se que as tabelasdo Decreto n 826/2012 xam coe-

    cientes bsico e mximo de aprovei-tamento que no esto previsto na Leide Zoneamento, congurando verda-Es

    quemadaengenhariafnanceiraco

    nstrudopeloCPC.

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    deira ilegalidade.Em relao s necessrias contraparti-

    das que devero ser oferecidas pelo Clu-be em vista da cesso de potencial cons-trutivo, o art. 7 da Lei n 14.219 apenasinstitui que essa compensao dever

    ser proporcional e ter carter social.A prefeitura de Curitiba liberou

    257.143 cotas de potencial construtivoao Atltico e deixou disposio do clu-be para utilizar os papis como garantiaem emprstimos. O primeiro valor apre-sentado pela Secretaria de Urbanismoindicava que cada ttulo equivalia R$500,00, totalizando quantia diferente dos

    123 milhes indicados (o valor ultrapas-sa 128 milhes).

    H, conforme a formalizao nal dasleis aplicveis ao caso e os termos doConvnio e seus aditivos, em relao cesso de potencial construtivo parareforma do estdio Joaquim Amrico, 2grupos de potencial construtivo:

    i) aproximados 30 milhes entregues

    ao Atltico para negociao no mercado;ii) aproximados 92 milhes dados emgarantia ao FDE em funo do emprs-timo feito pelo Estado do Paran juntoao BNDES, que fora repassado CAP/SA.

    Ocorre que, muito embora tenhamsido previstas essas duas modalidadesde utilizao do potencial construtivo, ho risco de que os ttulos sejam integral-

    mente utilizados para pagamento doscustos da obra. O Atltico estar, de fato,utilizando recurso do municpio de Curi-tiba para quitar suas prprias dvidas.

    ATUAO DO CPC

    DENNCIA, INCIDNCIA EMOBILIZAO

    Articulao do Observatrio de Pol-ticas Pblicas do Paran que fomentoua criao do Comit Popular de Curitibaque teve como ponto de partida a ne-

    cessidade de monitoramento da utiliza-o do potencial construtivo em GrandesProjetos Urbanos, como o caso da LinhaVerde e da Reforma e ampliao do es-tdio Joaquim Amrico.

    Em relao incidncia e denncia

    foram realizadas as seguintes atividadespelo CPC:

    (i) Documento de providnciasoriundo de audincia pblica realizadacom sociedade civil em setembro de2010;

    (ii) Ofcios do OPP de 28.09.2010 e06.10.2010 versando sobre a instituiodo potencial construtivo atravs de lei

    municipal;(iii) Ofcio do OPP de 09.04.2012 em

    resposta a manifestao do MPF relatan-do provveis impactos do empreendi-mento;

    (iv) Informaes encaminhadaspelo CPC e OPP ao TCE do PR sobre osimpactos decorrentes das intervenesurbanas preparatrias para os Megae-

    ventos, com destaque para engenhariananceira de reforma do estdio;(v) Relatrio sobre os impactos da

    obra produzido para rgo da Controla-doria Interna da Unio CISET em abrilde 2013.

    Em relao mobilizao, foram rea-lizadas as seguintes atividades pelo CPC:

    (i) manifestao de rua em dezem-

    bro de 2012 sobre impactos da Copa;(ii) participao no Grito dos Exclu-dos de 2012 com jogo FIFA X POVO;

    (iii) divulgao de nota de repdiocontra utilizao do potencial construti-vo para nanciamento da obra em abrilde 2012;

    (iv) entrevista concedidas apubli-ca.org e jornal Ggazeta do pPovo e

    (v) realizao de evento pblico(debate-bola) em junho de 2013 como tema da reforma do estdio.

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 15

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    AUTORITARISMO DA CORTE DE CONTROLE DIREITO INFORMAOE O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARAN

    O Tribunal de Contas do Estado do Paran TCE/PR instaurou o processo n. 22904-7/12 para acompanhar e scalizaras aes ligadas ao uso de verbas pblicas estaduais e municipais em obras e intervenes ligados realizao daCopa do Mundo de 2014 da FIFA.

    Fonte: Relatrio TCE 01/2012,processo n. 22.904-7/12

    No mbito do referido pro-cesso, em julho de 2012, oComit Popular da Copaprotocolizou o Ofcio paradenunciar ao TCE/PR as irre-gularidades e violaes queestavam acontecendo e parapostular providncias a res-peito das aes ligadas Copa:

    O COMIT POPULAR DA COPA DE CURITIBA, neste representado pela TERRA DE DIREITOS, organizao de direitos

    humanos, sediada Rua Desembargador Ermelino de Leo, n. 15, cj. 72, Centro, Curitiba-PR, e o OBSERVATRIODAS METRPOLES/INCT NCLEO CURITIBA, sito Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 100, bloco 5, Centro Politcnico,Jardim das Amricas, Curitiba-PR, vm apresentar informaes e possveis violaes referentes aos projetos de infra-estrutura em curso na cidade Curitiba e regio metropolitana, em virtude da realizao da Copa do Mundo de 2014,bem como solicitar reunio e providncias desta Exma. Corte de Contas a respeito.Uma vez que j tinham sido realizados novos atos para viabilizar a construo do estdio Joaquim Amrico e de -terminadas inmeras providncias por parte do TCE/PR, o Comit novamente ociou nos autos para solicitar cpiados novos documentos e informaes juntadas. No entanto, o coletivo foi surpreendido com a deciso do novoPresidente do TCE/PR negando acesso aos autos (17/04/2013):

    PROCESSO N: 227912/13ENTIDADE: TERRA DE DIREITOSINTERESSADO: TERRA DE DIREITOSASSUNTO: PEDIDO DE ACESSO INFORMAODESPACHO: 1329/13I- Trata-se de requerimento encaminhado pela Organizao Social Terra de Direitos, atravs do qual solicita a estaCorte acesso aos autos n 22904-7/12, atinente scalizao dos recursos aplicados para a realizao da Copa doMundo de 2014.II- Indero o pedido, nos termos do art. 12, inciso II da Resoluo n 31/2012 desta Corte de Contas[1]. Encaminhe-se Diretoria de Protocolo para encerramento do feito.III- Publique-se.

    Gabinete da Presidncia, 16 de abril de 2013.-assinatura digitalARTAGO DE MATTOS LEOPresidente 1

    1 http://www1.tce.pr.gov.br/multimidia/2013/4/pdf/00243902.pdf

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    O fundamento utilizado para negar o acesso aos autos foi o art. 12, II, da Resoluo 31/2012 do TCE que regu-lamenta a Lei de Acesso Informao no Tribunal:

    Art. 12. Poder ser indeferido o pedido de informaes:II que comprometam ou possam comprometer a eccia de scalizaes previstas ou em andamento;

    Segundo dispe a Lei de Acesso Informao (Lei 12.527/2011):

    Art. 21. No poder ser negado acesso informao necessria tutela judicial ou administrativa de direitosfundamentais.Pargrafo nico. As informaes ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violao dosdireitos humanos praticada por agentes pblicos ou a mando de autoridades pblicas no podero ser objetode restrio de acesso.

    O CPC entende que o regulamento do TCE destoa com os princpios e das regras presentes na Lei de Acesso Informao e a postura da Corte contraria a necessidade dos Poderes Pblicos darem publicidade aos seusatos e permitirem participao e controle por parte da sociedade civil.

    PRINCIPAIS PROBLEMAS

    APONTADOS PELO CPC:

    Como decorrncia da engenharia -nanceira para reforma e ampliao doestdio o coletivo denuncia os seguintesproblemas:

    a) envio de recurso pbico para obraprivada de forma a desrespeitar o marcoregulatrio existente e seguidas altera-es do custo total do empreendimentoem vista de demandas da FIFA no con-dizentes com o interesse pblico (adap-tao da cobertura do estdio s exign-cias da FIFA);

    b) utilizao pervertida do instrumen-to de potencial construtivo (irregulari-dades e contradies entreas normativas aplicveis ao

    caso, falsa previso de queparte da cesso de poten-cial gurar apenas comogarantia do emprstimorealizado pela CAP/SA jun-to ao FDE);

    c) contradies da le-gislao municipal atinen-te cesso de potencial

    construtivo para reformado estdio. As tabelas doDecreto n 826/2012 xam

    coecientes bsico e mximo de apro-veitamento do solo que no esto pre-visto na Lei de Zoneamento Municipal,congurando verdadeira ilegalidade;

    d) no previso das necessrias con-trapartidas sociais que o Clube AtlticoParanaense dever efetivar para o Mu-nicpio de Curitiba e, mais ainda, nopreviso das compensaes urbansticasem vista da utilizao do instrumento do

    potencial construtivo;e) ausncia de efetiva participao po-

    pular no processo, tendo sido negadoacesso informao a representantes dasociedade civil, como foi o caso de ne-gativa de acesso ao Comit Popular daCopa aos autos do processo instaurado

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    NotaderepdiodoComitPopulardaC

    opadeCuriba

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    COMUNIDADE NOVA COSTEIRAE a construo da 3 pista do Aeroporto Afonso Penaem So Jos dos Pinhais

    Acomunidade Nova Costeira, lo-calizada no municpio de SoJos dos Pinhais, Regio Me-

    tropolitana de Curitiba, uma ocupaoconsolidada h mais de 20 anos, atual-mente integrada por 342 famlias. Ela ini-ciou na dcada de 90, com a realocaode inmeras pessoas do bairro Costeirapara o local, por iniciativa da Coordena-

    o da Regio Metropolitana de Curitiba COMEC, tendo em vista a realizao deobras do chamado Canal Extravasor doRio Iguau. Ela est estabelecida prximo

    ao Aeroporto Afonso Pena e as famliasque ali habitam esto na iminncia de

    sofrer remoo por fora das obras deconstruo da 3 pista do Aeroporto In-ternacional de Curitiba.

    Com a eleio do Brasil como sede

    da Copa do Mundo de 2014 e a ulteriorescolha de Curitiba como uma das cida-des-sede, uma srie de obras de infraes-trutura urbana foi anunciada, incluindoobras no Aeroporto Afonso Pena. Algu-mas obras do Aeroporto foram introdu-zidas na Matriz de Responsabilidade e noPAC Copa1. A construo da terceira pista um projeto de quase trs dcadas do

    governo estadual e atualmente est in-cluda para ser fnanciada com recursosdo PAC 2. A Copa do Mundo, portanto,no deixa de persistir como motivo jus-

    tifcador da acelerao dosprojetos e obras no aero-porto e, consequentemen-te, das remoes.

    UMA POSSE LCITA ELEGTIMA

    As famlias que moram naNova Costeira detm a pos-se regular dos bens, posseesta legitimada por normase atos de iniciativa do pr-prio Municpio de So Jos

    dos Pinhais. O Decreto Mu-nicipal 2.347 de 1/09/2008demarca a rea como ZonaEspecial de Interesse So-cial a ZEIS Costeirinha, combase no Plano Diretor deSo Jos dos Pinhais (Lei

    Complementar n. 9 de 23/12/2004) quenos seus artigos 13 e 14 vincula as carac-

    tersticas e os tipos de uso das ZEIS para1 Resoluo GECOPA n. 2, de 23 de setembrode 2011 e Resoluo GECOPA n. 23, de 22 demaro de 2013 F

    onte:hp://www.gazetadopovo.com.b

    r/vidaecidadania/conteudo.p

    html?id=1398493&t=Despejo-inevitavel

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    habitao social:

    Art. 13. As reas especiais de interesse so-

    cial so aquelas desnadas produo e

    manuteno da habitao de interesse

    social, com desnao especca, normas

    prprias de uso e ocupao do solo, com-preendendo as seguintes situaes:

    I - assentamentos auto produzidos por po-

    pulao de baixa renda em reas pblicas

    ou privadas;

    II - assentamentos irregulares em reas

    pblicas, idencado at 30 de junho de

    2001, que atendam a padres de qualidade

    de vida e ao equacionamento dos equipa-

    mentos urbanos e comunitrios, circulaoe transporte, limpeza urbana e segurana

    conforme regulamentao especca;

    III - loteamentos privados irregulares ou

    clandesnos, que atendam a padres de

    qualidade de vida, e ao equacionamento

    dos equipamentos urbanos e comunitrios,

    circulao e transporte, limpeza urbana e

    segurana conforme regulamentao espe-

    cca; eIV - reas delimitadas pelo Poder Execu-

    vo, considerado o dcit anual da demanda

    habitacional prioritria, permida a pro-

    moo de parcerias e incenvos.

    1 As reas instudas nos incisos I, II e

    III integraro os programas de regulariza-

    o fundiria e urbansca, com o objevo

    de manuteno de habitao de interes-

    se social, sem a remoo dos moradores,exceo feita s moradias em situao de

    risco.

    2 A instuio das reas especiais de

    interesse social, bem como a regularizao

    urbansca e recuperao urbana, deni-

    das pelos programas municipais, no exime

    o loteador das responsabilidades civis e cri-

    minais, bem como da desnao de reas

    para equipamentos e servios pblicos, soba forma de imveis, obras ou valor corres-

    pondente em moeda corrente a ser desna-

    do ao Fundo Municipal de Habitao.

    3 A regularizao fundiria de ncleos

    habitacionais, em reas de propriedade

    municipal, de suas autarquias, empresas

    pblicas e sociedades de economia mista

    dar-se- mediante a Concesso de Direito

    Real de Uso, de acordo com legislao fe-

    deral e municipal pernente (grifos nossos).

    Com base nas referidas normas, forameditados decretos e termos de permis-so/concesso de uso aos moradores.Tambm com base nos aludidos atos etendo em vista a consolidao no tempodaquela ocupao, o Municpio iniciouprocesso formal de regularizao fundi-

    ria (n. 865/2008) de iniciativa da prpriaPrefeitura.

    Foto:Decre

    todepermissodouso

    Havia, portanto, uma base legal quegerou aos moradores a outorga de per-misso de uso de terreno de proprie-dade da Prefeitura, a partir de decretos

    municipais datados do ano de 1992. Asfamlias foram realocadas para a regioe receberam documento especfco quelhes conferiu a posse dos imveis. Este

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    Foto:Termoindividualdepermissode

    uso.

    quadro de regularidade levou as famliasa investirem, com o dinheiro do seu pr-prio bolso, em obras de saneamento, pa-vimentao de ruas, iluminao pblicaetc., pois a despeito do reconhecimentoda posse, o Municpio no disponibilizouuma infraestrutura mnima, ele apenasnomeou as ruas e numerou as casas.

    H, por conseguinte, o desrespeito or-dem urbansca que qualica a rea para

    ns de implantao de habitao social e

    frontal ofensa ao direito moradia.

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 21

    MOBILIZAO PARADEFENDER O DIREITO

    MORADIA DAS FAMLIAS

    A partir do ano de 2012 houve inten-so envolvimento do Comit Popular daCopa. O trabalho realizado pelo CPC jun-to comunidade Nova Costeira ocorreupela ameaa iminente de realocao dasfamlias para a construo da terceirapista do Aeroporto Internacional Afonso

    Pena, como obra desencadeada ou mo-dicada pela proximidade da Copa doMundo da Fifa.

    As aes comearam com a realiza-o de assembleias de mobilizao e daorganizao de uma comisso de mora-

    dores. A participao do Comit Popularda Copa e a ao desta comisso de mo-radores aconteceram de modo bastanteativo, em diferentes momentos e a partirde inmeras iniciativas ao longo dos anosde 2012 e 2013. Cabe citar aqui algumasaes e resultados:

    a) Assembleias de mobilizao da co-munidade e a deciso pela regularizao

    fundiria por meio da concesso de usoespecial para ns de moradia (CUEM);

    b) Assembleias para esclarecer os mo-radores, denir estratgias, reunir docu-mentao e dados das famlias e paraacolher as assinaturas destes nos pedidosde CUEM;

    c) Panetagem, uso de carros de som,distribuio de folders e outros meios

    para divulgao das aes e reunies;d) Realizao de vrias entrevistas com

    membros da comunidade e do CPC di-vulgadas em jornais impressos de grandecirculao no Estado, assim como repor-tagens com os moradores por canais deteleviso do Brasil e do exterior (Alema-nha).

    e) Reunies de trabalho do Comit

    para a organizao das documentaes epara a construo dos pedidos individuaisde CUEM;

    f) Realizao de ato no dia 5 de maiode 2013 junto Prefeitura de So Josdos Pinhais para apresentar os 69 pedi-dos de concesso de uso especial parans de moradia (CUEM);

    g) Reunio na Cmara de So Jos dos

    Pinhais (30/07/2013), para conversa sobreo projeto de construo da 3 Pista e so-bre as desapropriaes.

    h) Ocina da CUEM 15/06/2013 com o

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    objetivo de esclarecer aos moradores queno conheciam o que a concesso deuso especial para ns de moradia; quaisos procedimentos necessrios para a en-trada da ao administrativa ou judicial;

    tirar as dvidas dos

    moradores;i) Ocina de co-

    municao ondefoi realizada a for-mao com enfo-

    que nos jovens da comunidade. Na o-cina, o objetivo foi trabalhar com vriasabordagens de comunicao: produode vdeo, jornais, fanzines, stencil, entre

    outras tcnicas;j) Ocina de construo de proje-

    to popular alternativo de moradia em29/06/2013: discusso ampliada e parti-cipativa com os moradores da Vila NovaCosteira com o intuito de formular ree-xes sobre o processo de desapropriaoda rea e para a construo de propostasque identiquem a vontade coletiva dos

    moradores sobre o acesso moradia ade-quada;

    k) Convite e acompanhamento da visi-ta da Raquel Rolnik, relatora especial doConselho de Direitos Humanos da ONUpara o Direito Moradia Adequada;

    l) Convite e acompanhamento da visi-ta do Grupo de Trabalho sobre MoradiaAdequada, vinculado Secretaria de Di-

    reitos Humanos da Presidncia da Rep-blica;

    m) Convite e acompanhamento da vi-sita da Auditoria da Secretaria Interna daPresidncia da Repblica;

    n) Produ-o de umabaixo-as-sinado dos

    moradorescom o pe-dido de in-formaes

    sobre o projeto de construo da 3 pistapara os entes envolvidos;

    o) Ofcios endereados Infraero, aoEstado do Paran e Prefeitura de SoJos dos Pinhais, bem como reunio re-alizada com representantes destes para a

    obteno de informaes sobre o projetoe obras da 3 pista;

    p) Participao de moradora da comu-nidade no Encontro Nacional dos Comi-ts Populares no evento Copa Pblica emSo Paulo, em 06/12/2012 e entrevistaconcedida ao jornalista ingls AndrewJannings.

    q) Produo de vdeos a respeito da

    violao do direito moradia, um dosquais integrou o vdeo nacional da Arti-culao Nacional dos Comits Popularesda Copa (ANCOP)1 .

    De uma pequena organizao local,com a participao do CPC formou-seuma Comisso de Moradores ampliada. Oenvolvimento do CPC realizando assistn-

    cia jurdica e social pra a comunidade sedeu e continua ocorrendo atravs de arti-culao e mediao da comisso referida,em que alguns membros so refernciatanto para as aes do CPC, como paraas dvidas e demandas da comunidade.

    No dia 06 de maio de 2013, foramprotocolados na Prefeitura os citados 69pedidos administrativos de CUEM. Inicia-

    mos, logo aps, novo processo de coletade informaes e documentos para futu-ramente protocolar novos pedidos.

    A ENGENHARIA FINANCEIRA

    No termo de cooperao tcnica n.001-SBCT-2010 as atribuies foram divi-didas nas seguintes:

    A obra foi includa no PAC 2, confor-me prev o documento que acompanha

    1 http://www.youtube.com/watch?v=HmoLZBtqQ3c

    22 | Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba

    Fotos:Reu

    niesdemoradores

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    o termo de cooperao tcnica n. 001-SBCT-2010. O decreto estadual de desa-propriao da rea (n.3.409/2011) esta-belece que as despesas decorrentes dosatos praticados por fora deste Decretosero suportados por recursos prove-

    nientes da Secretaria de Estado de Infra-estrutura e Logstica. Este decreto merareproduo de outros decretos anteriorescomo os decretos estaduais n. 1510/1999e 4593/2001, os quais no permitem de-

    fnir claramente a rea exata que ser de-sapropriada.

    A engenharia fnanceira envolvida ar-ticula, portanto, verba federal, estaduale municipal. O montante federal servir,num primeiro plano, para fnanciar a obramotivadora do conito, com recursos doPAC2. No entanto, a verba envolvida paraa resoluo oferecida ao caso qual seja, a

    desapropriao da rea, de recurso es-tadual. Estes valores das desapropriaesno foram ainda divulgados. J o Munic-pio fcar responsvel pelas despesas de

    urbanizao.A previso de concluso da terceira

    pista do aeroporto no ano de 20182.

    A FALTA DE INFORMAO EDE PARTICIPAO DOS MORA-

    DORES NAS DECISOES SOBRE ASOBRAS E DESAPROPRIAES

    Os afetados tm frontalmente viola-dos seus direitos informao e par-

    ticipao. A comunidade nunca foi con-sultada ofcialmente sobre o projeto e oandamento da obra, tem difculdades emsaber suas caractersticas, seus impactossobre a comunidade e quais sero as pos-sveis alternativas adotadas:

    At hoje no possvel precisar quaissero as famlias do Nova Costeira afe-tadas pelas desapropriaes. Segundo

    constatado pelo Observatrio das Metr-2 http://www.cmsjp.com.br/cms/2013/04/17/luiz-paulo-pede-informacoes-a-infraero-sobre-desapropriacoes-na-regiao-do-quissisana/

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 23

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    poles:Nas oportunidades em que o CPC of-

    ciou s entidades e rgo responsveis,como Infraero, Prefeitura de So Josdos Pinhais e governo do Estado, foramconcomitantemente agendadas reunies,

    com a participao da Comisso de Mo-radores, assessorada pelo Comit, paraobter as informaes necessrias. Masou os referidos responsveis no respon-diam, ou atribuam a obrigao uns aosoutros, esquivando-se em fornecer as in-formaes concretas.

    Foram vrias as ten-tativas de obter dados,

    como, por exemplo: i) opedido de acesso in-formao realizado atra-vs do site do governofederal (http://www.acessoainformacao.gov.br) com a remessa daremessa do Ofcio n.01/2012; ii) o mesmo ofcio foi enviado

    COMEC, protocolo n. 11583.784-2; iii)e Secretaria de Estado de Infraestrura eLogstica (SEIL), respondido por meio doOfcio n. 699/GS de 2012. Todas as res-postas enviadas pelos referidos rgos eentidades no traziam informaes escla-

    recedoras sobre os efeitos das desapro-priaes e das obras.

    A primeira reunio aconteceu em13/09/2013, entre a prefeitura e os mora-dores da comunidade, com a presena doSecretrio de Habitao, do Secretrio de

    Urbanismo e do Secretrio do Meio Am-biente. O objetivo foi esclarecer os mo-radores sobre a desapropriao da rea.Eles informaram que no tinham dadosdetalhados sobre a obra da Secretaria deEstado de Infraestrutura e Logstica (SIEL)

    e da Infraero. Houve,tambm, outras reuni-es com a Prefeitura, a

    Infraero e o Governo doEstado, mas as informa-es continuam impre-cisas.

    REGULARIZACAOFUNDIRIA: A

    LUTA POR RECO-NHECIMENTO

    Independente de as informaes ob-tidas no serem precisas e de os mora-dores da Nova Costeira no terem sidoincludos nos processos decisrios a res-peito dos efeitos das obras da 3 pista edas solues que sero dadas diante dasua eminente remoo, uma certeza queo CPC e os moradores tm que sua pos-

    se legtima e que seria necessrio ado-tar providncias independentemente doEstado, da Prefeitura ou da Infraero paraassegurar a proteo do direito funda-

    A maior reclamao a falta de dilogoentre poder pblico e comunidade. Aspessoas no sabem as reas que devero

    ser desapropriadas, as ruas que sero in-terrompidas e no h discusso para saberqual a opinio dos moradores em relaoas mudanas. As audincias pblicas de-veriam j ter comeado, pois a populao apenas informada sobre as obras, semdireito a expor sua vontade, explicou overeador. Fonte: www.cmsjp.com.br

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    Foto:Reuni

    onaINFRAERO

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    mental moradia das famlias.A despeito de continuarem sendo re-

    alizadas aes de denncia a rgospblicos e sociedade e de presso so-bre entidades responsveis por obras eaes ligadas construo terceira pista,

    deniu-se uma segunda frente de ao.Foram construdas, junto com a comuni-dade, duas estratgias de regularizaofundiria: i) a concesso de uso especialpara ns de moradia (CUEM) e; ii) um pro-

    jeto alternativo de realocao da comuni-dade para rea prxima Nova Costeira.

    Estudando alternativas de regulariza-o da rea, a equipe do Comit chegou

    concluso de que a Concesso Uso Espe-cial Para Fins De Moradia, regulada pelaMedida Provisria n. 2220/2001, seria oinstrumento jurdico mais adequado paraproteger a posse e respectivos direitosdos moradores da Nova Costeira no con-texto de desapropriao iminente.

    Em outubro de 2012 foi realizada umaocina na comunidade expondo as infor-

    maes at ento obtidas sobre a obra ea possibilidade do pedido administrativo

    da CUEM. A partir de ento o trabalhodo CPC foi intenso e ininterrupto. Vriosnais de semana consecutivos membrosdo CPC foram comunidade e junto coma comisso de moradores passou-se decasa em casa para explicar a situao de

    iminente desalojo e a estratgia pensada,foram colhidos documentos para os pe-didos de CUEM, prestou-se esclarecimen-tos etc. Os meses de janeiro e fevereiro de2013 foram consagrados elaborao dopedido. Outras ocinas foram realizadasem maro de 2013 para a coleta nal dedocumentos e a assinatura dos pedidosadministrativos de CUEM, culminando

    com o protocolo de 69 pedidos na Pre-feitura de So Jos dos Pinhais no dia 06de maio de 2013, em reunio ocial entrea Comisso de Moradores e a Prefeitura.E o trabalho continua, sero protocoliza-dos, em breve, novos pedidos de CUEM.

    A segunda estratgia de regularizaofundiria est na construo de projetopopular alternativo de moradia. Em

    29/06/2013 foi realizada ocina na comu-nidade Nova Costeira para discusso am-pliada e participativa com os moradorescom o intuito de formular reexes sobreo processo de desapropriao da rea epara a construo de propostas que iden-tiquem a vontade coletiva dos morado-res sobre o acesso moradia adequada.

    O caso da Nova Costeira emblemti-

    co, por articular, a um s tempo, todo umhistrico de violao do direito cidadee funo social da propriedade, bemcomo a sistemtica violao de direitosda populao fragilizada nos contextosde megaeventos. Nesse sentido, dadoos grandes interesses que a cercam noatual contexto econmicos e polticos, a visibilidade, aps anos de completo

    abandono, sintomtica, mas deve tam-bm servir de estratgia, como forma dedenncia.

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 25

    Panfetoda

    comunidadedaNovaCosteira

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    CONSTRUO DE TRINCHEIRANA RUA ARAPONGAS

    So Jos dos Pinhais Comunidade So Cristvo

    Acomunidade localizada no bair-ro So Cristvo, no Municpiode So Jos dos Pinhais, foi sur-

    preendida, em outubro de 2011, com anotcia de que seria construda, na RuaArapongas, trincheira com passagem vi-ria subterrnea. A surpresa da comuni-dade deu-se ante a ausncia de qualquercomunicao com os afetados diretos

    do empreendimento pelo Poder Pblico.Frente ao ocorrido, a comunidade iniciourpido processo de mobilizao popular,tendo em vista os provveis impactos daobra.

    Como possvel visualizar na chadeste caso, a obra integra o projeto Cor-redor Aeroporto/Rodoferroviria naAvenida das Torres, envolvendo diversos

    entes na sua engenharia nanceira e fazparte do PAC da Copa 2014. As obrassituadas no interior desse Corredor cor-respondem aos empreendimentos prio-ritrios para realizao do Megaeven-to Esportivo em Curitiba e nas cidadestambm impactadas, como So Jos dosPinhais. O rgo responsvel por suaexecuo a Coordenao da Regio

    Metropolitana de Curitiba (COMEC).

    VIOLAO AO DIREITO DEPARTICIPAO E INFORMAO:

    A obra da trincheira no escapou aopadro dos empreendimentos realizadose em realizao no interior desse Cor-redor luminoso. Durante o perodo de

    sua concepo e aprovao, o processofoi conduzido sem qualquer consulta eparticipao dos moradores afetadospelo empreendimento, o que poderia,

    no caso da trincheira, ter possibilitado aevidencia de diversos impactos regio,particularmente nos bairros So Crist-vo e Boneca do Iguau, como posterior-mente denunciaram as ditas comunida-des.

    Foi aps o conhecimento da obrapelos jornais locais que os moradoresiniciaram processo de mobilizao po-

    pular na comunidade. Esse processo ti-nha como fundamento a unnime dis-cordncia dos moradores mobilizadosquanto localizao escolhida para atrincheira, e levantou, no decorrer dasreunies realizadas, diversos impactosnegativos na mobilidade, no acesso aservios e riscos do aumento do trfegona regio afetada.

    RAZES DA COMUNIDADECONTRRIA REALIZAO

    DA OBRA:

    Entre as razes assinaladas pelosmoradores para discordncia dostermos da obra, foram debatidas: (i) aampliao do uxo e da velocidade do

    trfego de veculos, o que intensicariama possibilidade de acidentes e atropela-mentos, (ii) o bloqueio do acesso pa-rquia So Cristovo, (iii) criao de di-culdades para acesso dos comercianteslocais, identicando-se, inclusive, que amdio e longo prazo a Rua Arapongasno poderia ser ampliada, o que indica-ria possibilidade de vrias desapropria-

    es, (iv) risco no transporte e locomo-o de crianas da Escola Municipal Pe.Pedro Fuss e Colgio Estadual So Cris-tovo, uma vez que o local passaria a ser

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    cercado por trs vias rpidas e (v) piorano sistema de mobilidade da populao.

    INCIO DA MOBILIZAO:

    A comunidade do bairro So Cris-

    tvo organizada em torno da obra datrincheira realizou, como primeiro atode mobilizao contrria obra, umabaixo-assinado com coleta de maisde duas mil assinaturas. Foi nesse mo-mento que o Comit Popular da Copa deCuritiba (CPC) foi contatado para auxiliarna organizao, mobilizao e incidncianos rgos pblicos.

    A mobilizao em torno do abaixo--assinado e as reunies da comunidadepermitiram que os moradores identif-cassem na prpria regio a viabilidadede outras ruas que poderiam ser objetodo projeto e que no trariam impactosnegativos.

    A COMEC, rgo responsvel pelaexecuo da obra, em resposta s inqui-

    ries sobre o projeto, apresentou umapossibilidade para sua no realizao.Seria necessrio pedido formalizado pelaPrefeitura Municipal de So Jos dos Pi-nhais, identifcando os problemas que atrincheira traria para a comunidade emquesto.

    MOBILIZAO CONJUNTA - A

    LUTA DA COMUNDIADE E CPC:A comunidade So Cristvo, em con-

    junto com o Comit Popular da Copa deCuritiba, deu seguimento mobilizaopopular e organizou um movimento lo-cal de resistncia obra da trinchei-ra, evidenciando as violaes de direitose provveis impactos da execuo do

    projeto. Diversas atividades fruto des-sa atuao conjunta foram realizadas,dentre elas: (i) produo de materiais dedivulgao e mobilizao, como faixas,

    cartazes e panetos para divulgar as rei-vindicaes do coletivo; (ii) organizaode reunies peridicas da populao emembros do CPC para divulgao dasinformaes de debate dos problemas eestratgias; (iii) realizao de uma ofcina

    ministrada pelo CPC com o objetivo deampliar a discusso para alm da situa-o local e apresentar os impactos gera-dos pela Copa em diferentes localidades;(iv) interlocuo e incidncia em diversosrgos pblicos, como a Prefeitura deSo Jos dos Pinhais e Ministrio PblicoEstadual.

    REALIZAO DE ATO PBLICO:

    Em resposta falta de dilogo do po-der pblico e demais rgos envolvidos,foi construdo por iniciativa da comuni-dade, um ato pblico, programado parao dia 12 de dezembro de 2011. O atopblico congregou a manifestao con-tra a construo da trincheira e a entrega

    do Dossi Nacional de Violaes de Di-reitos Humanos (elaborado pela Articu-

    lao Nacional dos Comits Populares).A populao foi s ruas para pressionaros rgos pblicos e exigir respostas. Osmoradores entoaram por vrias vezes amsica de Geraldo Vandr: Pra No Di-zer Que No Falei Das Flores. A data em

    dezembro marcava tambm o dia na-cional de luta dos Comits Populares daCopa de 2014.

    Os moradores fzeram uma passeataFoto:At

    o

    contra

    a

    construo

    daTr

    incheira

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 27

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    que saiu da parquia So Cristvo e foiat a prefeitura municipal. O objetivo eraprotestar contra as violaes dos direitoshumanos cometidos em funo da Copae reivindicar a no construo da trin-cheira. O documento do Dossi Nacional

    foi entregue Cmara de Vereadores e Prefeitura de So Jos dos Pinhais e areclamao da trincheira ouvida nos doislocais.O ato pblico contra a obra da trincheira gerougrande repercusso local, sendo veiculado emvrios jornais e meios de comunicao de mas-sa. Em entrevista ao jornal da regio, uma dasmoradoras e lder comunitria, Maria Auxiliado-ra, expressa sua opinio sobre os riscos que a

    trincheira poder trazer a populao: O lugar imprprio para a obra, com a trincheira o esta-cionamento da igreja ir acabar. Como a igrejaest bem prxima, a construo pode danifcaro prdio que possui mais de 40 anos. E o maisimportante, h duas quadras do local est sen-do construda uma escola, na regio temos asRuas Maring e Joaquim Nabuco com um gran-de movimento. Com a trincheira, a Rua Arapon-gas ter o mesmo destino, aumento o risco paraos alunos e toda a comunidade.

    http://www.jornalregistra.com/sao-jose-do--pinhais/536-comunidade-do-sao-cristovao--faz-protesto-em-sao-jose-dos-pinhais.html

    RESPOSTA DOS PODERESPBLICOS AO ATO:

    Quinze dias aps a passeata, a COMECencaminhou um comunicado Prefei-

    tura dizendo que a trincheira no seriamais construda, especifcando que, ematendimento solicitao da comunida-de local, no consideraria a execuo da

    obra em questo.A populao, em festejo, decidiu tro-

    car as faixas da igreja, que pediam pelano construo da trincheira, por faixascomemorativas, que traziam frases comoVencemos! A trincheira no vai sairaqui.

    RETROCESSO:

    Aps a conquista coletiva e compro-misso poltico frmado pela COMEC

    comprometendo-se no realizao daobra da trincheira, no incio de 2013, osmoradores foram surpreendidos com ainformao que a obra seria retomadano local previsto pelo do projeto inicial.Os Poderes Pblicos voltaram atrsdepois de terem se comprometido of-cialmente com a comunidade.

    RETOMADA DA MOBILIZAO:Em 28 de fevereiro de 2013 foi rea-

    lizada reunio com Ministrio PblicoFoto:Ofcio

    daCOMECcomunicandoaos

    so-joseensesecasademoradornacomunidadeSoCristvo

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    Estadual, COMEC e comunidade paradiscutirem a obra. Mais de cem lideran-as comunitrias e moradores da cidadeparticiparam da reunio e se manifesta-ram contrrios realizao da trincheira,que poderia ser executada em outras in-

    terseces da rodovia, na avaliao dospresentes.

    A promotora de justia Cristina CorsaRuaro, frisou na discusso: Os estudostcnicos a serem realizados pela COMEC,voltados a garantir a mobilidade em de-corrncia do aumento do nmero depessoas que iro transitar no aeroportode So Jos dos Pinhais e na rodovia de

    acesso a Curitiba, no perodo da Copa,no podem deixar de levar em conside-rao a rotina e os hbitos da comuni-dade local. De fato, h que se ponderarque Curitiba sediar apenas quatro jogosdo campeonato, em um perodo de umms. A obra, como legado da Copa de2014, no pode ser um fm em si mesmoe deve interferir o mnimo possvel na

    rotina das pessoas, corroborando parafacilitar suas vidas.

    DESRESPEITO COMUNIDADEEM PROL DO MEGAEVENTO:

    Para a comunidade So Cristvo, afalta de dilogo com os moradores foium grande problema, como afrma o

    Padre Estanislau, e o que causou maiorindignao nos moradores. Ns nosomos contra a logstica da Copa esim contra a falta de consulta popu-lao, diz.

    Segundo a COMEC, a deciso pela re-tomada do empreendimento tem o ob-jetivo de melhorar o trnsito entre Ave-nida das Torres e o acesso do Aeroporto

    Internacional Afonso Pena, em So Josdos Pinhais, e a capital paranaense. Mui-to embora tenha sido evidenciado quehaveria alternativas para construo datrincheira em outros locais, a ampliaodos custos impediria a mudana de rea.A COMEC insistiu que a obra no oca-sionaria os prejuzos identifcados pe-los os moradores, embora no tenha

    sido realizado estudo especfco deimpacto de vizinhana para a realiza-

    o do projeto. O rgoconfrmou que o projeto uma exigncia para aCopa e o cronograma dasatividades tem previsode trmino para abril de2014.

    Os moradores organi-zados da comunidade SoCristvo ainda buscamalternativas execuo doprojeto no formato inicial,requerendo seja mantidadeciso que havia des-considerado a construoda trincheira.

    Fotos:Plen

    ria

    dediscusso

    da

    Trinchei

    ra.

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    HOTEL BRISTOL NO MUNICPIO DE CURITIBA

    OHotel Bristol Portal do Iguauest localizado na Rua VelcyBolvar Grand, n 645, esqui-

    na com a Av. Comendador Franco nobairro Uberaba, no eixo AeroportoRo-doferroviria. Ele est estrategicamenteposicionado no caminho de quem chegapelo aeroporto Afonso Pena, ao lado dorecm-inaugurado (dezembro de 2012)

    Parque da Imigrao Japonesa.O caso do Hotel Bristol Portal do Igua-u no est includo nos projetos ofciaisvinculados ao megaevento da Copa de2014, mas foi selecionado para anlisepor estar associado expanso da redehoteleira no eixo Aeroporto-Rodoferro-

    viria e por demonstrar que a Copa de2014 vem reforar as tticas empregadasde mudana de gesto do espao urba-no para fnalidades de mercado espe-cfcas, independente de se sobrepor adireitos sociais.

    ORDEM URBANSTICA EDIREITO MORADIA

    O que torna a questo peculiar sualocalizao num bairro caracterizadopor usos residenciais de baixa renda(Setor Especial de Habitao de Inte-resse Social- SEHIS) e a transformaodo uso em uma obra que j estava

    30 | Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba

    Fontedaim

    agem:

    hp:/

    /www.o

    pcionalengenharia.c

    om.b

    r/opcional-

    engenharia-e-construcoes-trabalhos-realizados-hotel-bris

    tol

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    praticamente concluda.No local do atual empreendimento

    existiam as obras do condomnio resi-dencial Parques do Iguau que perten-ciam construtora Opcional Engenhariae Construes Ltda, empresa paulista.

    Quando a obra estava a aproximada-mente 95% de sua concluso, inclusivecom publicidade indicando que esta-va nalizada, a rede de hotis Slavie-ro fez uma proposta para a construtorapara adaptar a obra a um empreendi-mento hoteleiro em funo da localiza-o estratgica - 4km do aeroporto e12Km do centro da cidade. Na ocasio

    a Opcional Engenharia solicitou redede hotis Bristol que zesse um segun-do estudo de viabilidade e custos paraa implantao do hotel, obtendo assimum parmetro comparativo entre as pro-postas. Isso porque a empresa paulistano tinha experincia no ramo hoteleiro,j que especializada na construo deempreendimentos residenciais, pblicos,

    industriais e rodovirios. A proposta darede de hotis Bristol foi mais detalhadae vivel, e a construtora viu neste estu-do a oportunidade de explorar este seg-mento do mercado, apesar de as adap-taes na obra encarecerem em R$ 17milhes o valor investido inicialmenteque era da ordem de R$10 milhes.

    A Opcional Engenharia foi respons-

    vel pelas modicaes no projeto e peloprocesso burocrtico para a aprovaoda alterao de uso frente ao poderpblico, enquanto a rede Bristol couresponsvel pela administrao do em-preendimento quando nalizado. A Pre-feitura Municipal de Curitiba permitiu aalterao de uso habitacional para habi-tacional transitrio 2, a partir de parecer

    emitido pelo Conselho Municipal de Ur-banismo. De acordo com o documento,a possibilidade de alterao de uso sedeu porque o empreendimento possui

    testada tanto para a Rua Velcy BolvarGrand quanto para a Av. ComendadorFranco. Portanto, apesar de estar numSetor Especial de Habitao de InteresseSocial (SEHIS), que, alm de no permi-tir hotel, apresenta-se destinado a uma

    parcela especca da sociedade.Quando analisamos o mapa de zone-

    amento de Curitiba vericamos que oterreno est integralmente situado emSetor Especial de Habitao de InteresseSocial (SEHIS). A lei municipal vincula asnalidades de uso da rea para habita-o de interesse social, no existindo apreviso de uso compatvel com a ativi-

    dade hoteleira.A Lei n. 9800/2000, que dispe sobre

    o Zoneamento, Uso e Ocupao do Solono Municpio de Curitiba prev:

    Art. 29. O Setor Especial de Habitao

    de Interesse Social - SEHIS compreendeas reas onde h interesse pblico emordenar a ocupao por meio de urba-nizao e regularizao fundiria, em

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 31

    Fonteda

    imagem:hp://www.ippuc.org.br

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    implantar ou complementar progra-mas habitacionais de interesse social,e que se sujeitam a critrios especiaisde parcelamento, uso e ocupao dosolo.

    Pode-se armar que tanto o setor

    privado quanto o poder pblico tive-ram interesse na implantao do hotelno local. A construtora, em investir numempreendimento mais rentvel e o po-der pblico em expandir a rede hoteleirano contexto da aproximao do megae-vento esportivo da Copa de 2014. Ape-sar disso, todo o investimento, desde oprojeto at infraestrutura de acesso para

    o empreendimento, foi de responsabili-dade da construtora.

    A partir deste exemplo, ca claro queos interesses dos agentes sociais produ-tores do espao urbano proprietriosfundirios, proprietrios dos meios deproduo, promotores imobilirios e po-der pblico so cada vez mais orienta-dos pela lgica capitalista de produo

    do espao. Como arma Corra (2002,p.16) os proprietrios de terra atuamcom o objetivo de obterem a maior ren-da fundiria de suaspropriedades, por-tanto se interessampelo uso que seja omais rentvel pos-svel. Foi o caso da

    Opcional Engenha-ria, que viu no hoteluma oportunidadede rendimento maiorque investir no usoresidencial. O autordefende ainda queno contexto da so-ciedade capitalista

    no h interesse dosagentes imobiliriosem produzir habita-es populares, em

    funo dos baixos salrios das camadaspopulares, face ao custo da habitaoproduzida capitalisticamente (CORRA,2002, p.21).

    VIOLACAO AO DIREITO MORADIA

    A obra do condomnio residencial Por-tal do Iguau atenderia a demanda porhabitao de interesse social. O empre-endimento, includo no programa Mi-nha Casa, Minha Vida atenderia pelomenos 96 famlias, que era a quantida-de de habitaes colocadas venda. Isso

    supriria uma signicativa demanda debens em rea urbanizada e bem locali-zada. No entanto, ele se tornou um hotelcom 136 unidades.

    No entanto, o prdio de apartamen-tos foi transformado em um hotel paraatender as demandas de turistas em de-trimento do interesse da populao localpor habitao social. Segundo entrevista

    realizada com o gerente tcnico do pro-jeto, em 14 de maio de 2013, 15 dos 60apartamentos existentes j tinham sido

    32 | Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba

    Fontedaimagem:hp://curiba.o

    lx.co

    m.br/lancamento-do-residen

    cial-parques-do-iguacu-ii-uberaba-iid-186342852

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    vendidos, mas, tendo em vista a altera-o de uso, a construtora comprou osapartamentos fnanciados pelos mo-radores com uma valorizao de 50%,o que garantiu a no existncia deconitos no procedimento.

    A COPA, OS EMPRESRIOSE A CIDADE

    A FIFA pr-estabelece que exista umconjunto de obras de infraestrutura ca-pazes de viabilizar o evento, mas a de-nio das obras feita pelo poder p-blico local. A no realizao das obras

    pode colocar em risco a chance de acidade sediar os jogos do megaevento.Esta constante ameaa faz o poder p-blico local buscar recursos e parcerias,exibilizar a legislao local, driblar osestudos de impacto e a participao dapopulao no processo para garantira implantao das obras no tempo de-terminado. Tendo em vista que a cidade

    funciona sob a lgica da cidade-empresae cidade-mercadoria estes mecanismosso largamente utilizados mesmo forado contexto do megaevento (momentoem que so apenas evidenciados). Issoporque, busca-se prioritariamente aten-der os interesses de empresrios, inves-tidores, empreendedores que investemna produo de um espao urbano a servendido em detrimento do interesse da

    populao local.Como arma Oliveira (2000), quem

    efetivamente participa do planejamentourbano em Curitiba so os empresriose urbanistas do poder pblico, agentesque tm historicamente pensado a cida-de. Para o autor, a compatibilizao en-tre os interesses destes agentes sociaisfoi fundamental para o xito na poltica

    urbana, e salienta que o planejamentourbano implantado no tem se dirigido cidade real e sim a cidade legal, ex-cluindo, portanto, os setores da econo-

    mia informal.Sendo assim, no contexto da Copa de

    2014, o corredor Aeroporto-Rodoferro-viria se tornou local ainda mais estra-tgico para investimentos, j que inevi-tavelmente ser lugar de passagem dos

    turistas quem vm para o megaeventopelo aeroporto. Portanto, a vitrine dacidade, onde atualmente se justicamexibilizaes na legislao urbana paraqualicao e embelezamento da rea.Como arma Santos (2010), se congu-ra como um espao luminoso, ondese concentram momentaneamente osmaiores investimentos, apesar de estes

    no envolverem os interesses da maioriada populao.REFERNCIAS

    CORRA, R.L. Quem produz o espaourbano? In: O espao Urbano. So Paulo:tica, 2002, p.11-31.

    HARVEY, David. Do gerenciamentoao empresariamento: a transformaoda administrao urbana no capitalismo

    tardio. Espao & Debates, ano XVI, n. 39,1996, p. 48-64.LEFEBVRE, Henri. O direito cidade. 4

    ed. So Paulo: Centauro, 2006. p. 145.OLIVEIRA, D. Curitiba e o mito da cida-

    de modelo. Curitiba: Ed. da UFPR, 2000.PORTAL DA TRANSPARNCIA. 2013.

    Disponvel em: Acesso em maio de 2013.

    SNCHEZ,F. Produo de sentido eproduo do espao: convergncias dis-cursivas nos grandes projetos urbanos.Revista Paranaense de Desenvolvimento,Curitiba, n.107, p.39-56, jul./dez. 2004.Disponvel em: Acesso em: 12/05/2010.

    SANTOS, Milton; SILVEIRA, Mara Lau-ra. As diferenciaes no territrio. In:_____. O Brasil: Territrio e sociedade noincio do sculo XXI. 13 ed. So Paulo:Record, 2010. p. 259-277.

    VAINER, C. Cidade de Exceo: Ree-xes a partir do Rio De Janeiro. Anais XIVEncontro Nacional da ANPUR. Rio de Ja-neiro RJ, 2011.

    Copa do Mundo e violaes de direitos humanos em Curitiba | 33

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    CONSTRUO DO PARQUEDA IMIGRAO JAPONESA

    NO MUNICPIO DE CURITIBA

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    OParque da Imigrao Japonesasitua-se na Av. ComendadorFranco (Avenida das Torres),

    no bairro Uberaba, em Curitiba, perto dadivisa com o municpio de So Jos dosPinhais (Regio Metropolitana de Curiti-ba). Inaugurado em dezembro de 2012,nos ltimos dias do mandato do prefeitoanterior, o parque est situado em lugar

    de visibilidade estratgica no corredorAeroporto-Rodoferroviria-Estdio, reaonde anteriormente havia uma ocupa-o por populao de baixa renda.

    OMISSES QUANTO AOIMPACTO NO ORAMENTO

    PBLICO

    Foi noticiado no site do Ministrio doTurismo, em 2009, que a obra custaria975.000,00. Em reportagem publicadaem marco de 2013 foi anunciado o mon-tante de 3,8 milhes. Segundo entrevistarealizada com funcionrio da SecretariaMunicipal de Meio Ambiente, em maiode 2013, a obra estaria sendo reajustadade 5 milhes para o valor de 5,5 milhes.

    No entanto, a obra ultrapassa 10 mi-lhes de reais. Tivemos acesso a inmerasleis municipais que tratam de valores dedesapropriaes, de obras e outras pro-v i d n -cias paraa rea-l i z a odo par-que. Elesconstamc o m oa b e r -

    turas de crdito adicionais especiais esuplementares para a construo doParque da Imigrao Japonesa, pre-vistos nas leis ordinrias municipais n.12.748/2008, 12.820/2008, 13.157/2009e 14.009/2012. Constatam-se, nas refe-ridas leis, que a obra atingia, em 2012,pelo menos, R$ 9.259.750,09.

    A este montante deve ser acrescenta-

    do o valor relativo s desapropriaes,previsto na Lei n. 12.749/2008, num totalde R$ 1.004.857,30.

    No entanto, esta importncia se refereapenas s desapropriaes dos imveisde Indicao Fiscal n. 88.249.002.000a 88.249.029.000, 88.250.023.000,88.250.024.000, 88.250.030.000,88.250.032.000 e 88.255.013.000. O de-

    creto de desapropriao n. 1469/2007prev as referidas indicaes scais eacrescenta as seguintes: 88.255.020.000,88.255.133.000, 88.255.140.000 e88.255.141.000. Tal condio permitesupor que o Municpio empregou maisreceita com desapropriaes, alm dovalor previsto na Lei n. 12.749/2008.

    preciso ressaltar que no foramcomputadas as despesas necessrias realizao das realocaes das 855 +473 famlias que integraram, inclusive, osconsiderandos que motivaram a edio

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    do Decreto municipal n. 846/2007. Logo,conclui-se que toda a obra ultrapassaexpressivamente os 10 milhes de re-ais.

    DESRESPEITO AO DIREITO MORADIA

    De acordo com a entrevista realizadaem maio de 2013, a escolha da rea sedeu pela unio de dois objetivos: i) trans-formar e requalicar a rea da Vila Audi--Unio degradada pelo uso irregular e;ii) de encontrar um local para homena-gear o centenrio da imigrao japone-

    sa. Alm disso, com a obra do parque narea, haveria maior controle da circula-o de aves numa regio de rota de avi-es, fato comum pelo acmulo de lixo narea.

    Nesse contexto, o que torna a questocomplexa o discurso socioambiental,muito utilizado pela gesto local parajusticar requalicaes e regularizaes

    fundirias. Com o discurso, objetiva-se amelhoria na qualidade de vida da popu-lao, a valorizao da regio e inevita-velmente o afastamento de problemasurbanos em locais estratgicos.

    O ex-prefeito de Curitiba declarou queTodas as famlias foram realocadas na

    rea perto do Centro da Juventude AudiUnio, em moradias dignas. Esse centrode eventos do Parque da imigrao serutilizado para exposies temticas e oparque linear tambm servir para pro-teger o Rio Iguau1. Tal declarao

    incompatvel com a notcia citada acimado site da Prefeitura de Curitiba que in-forma que apenas 473 famlias foram re-manejadas dentro da comunidade. Ondeforam parar as outras 855 famlias?

    A precria ocupao Vila Audi Uniositua-se hoje atrs do parque, onde tam-bm foi implantada uma Unidade do Pa-ran SeguroUPS, aos moldes das UPPs

    no Rio de Janeiro. Para o poder pblico:Este parque a marca da transformaosocial e urbana que essa regio regis-trou nos ltimos anos [...] Antigamente,aqui moravam famlias em rea de risco.Elas hoje vivem em moradias dignas, emlocais apropriados, arma o ento pre-feito Luciano Ducci na inaugurao doparque2. No entanto, pelas constantes

    prticas urbanas de valorizao de reasespeccas, justicadas pela promoodo marketing em detrimento da resolu-o dos reais problemas urbanos, pode--se tambm interpretar a implantaodo parque como uma ao estratgicaque visa embelezar a entrada da cidade,principalmente no contexto da chegadada Copa de 2014.

    IMPACTO SOBRE AORDEM URBANSTICA

    Segundo referido, na rea ondehoje est localizado o Parque existiauma ocupao h anos de uma comu-nidade intitulada Vila Audi-Unio. Esta-

    1 http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/centro-

    da-juventude-e-parque-da-imigracao-transfor-mam-o-uberaba/278402http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/luciano-ducci-entrega-as-obras-do-parque-da-imigra-cao-japonesa/28213

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    Noticia da PrefeituraO Parque da Imigrao Japonesa uma parte

    do pacote de obras de urbanizao e revitali-zao que a Prefeitura de Curitiba executa naregio da Vila Audi/Unio. Para a instalao doparque, a Companhia de Habitao de Curitiba(COHAB) transferiu 855 famlias que viviam emcondies irregulares e insalubres na rea.Alm da transferncia, outras 473 famlias estosendo remanejadas dentro da prpria comuni-dade para melhorar as condies de moradiase facilitar a recuperao ambiental da regio.Alm de transformar completamente a paisa-

    gem, a implantao do parque evitar que ou-tras ocupaes se formem, diz Tochio.(http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/noticia.aspx?codigo=20993)

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    vam ocorrendo e continuam sendo exe-cutadas intervenes de urbanizao erevitalizao pela Prefeitura de Curitiba.Tramitava, tambm, na 1 Vara Cvel deCuritiba, um processo judicial cujo ob-jeto era a posse da rea. Neste ltimo,

    foi pactuada a regularizao fundiria doimvel com os proprietrios registrais eas famlias que ocuparam o imvel3.

    Verifca-se,portanto,quenolo-cal o Municpio j tinha priorizado o usohabitacional para moradia de baixa ren-da.Noentanto,houveamodifcaona

    ordem urbanstica da regio para priori-zar o turismo aliado ao discurso ambien-tal, com o manto de fundo da Copa doMundo.

    3 No possvel precisar os limites da reaabrangida no processo judicial, apenas que seuobjeto se relaciona rea onde se situa a vilaAudi-Unio.

    Essa suposta soluo para o problemasocioambiental no entorno do parque,nos leva a inferir que Curitiba, enquan-to cidade-modelo, parece ocultarqualquer possibilidade de imagem ne-gativa sobre suas intervenes urba-

    nas. No caso, o despejo e a realocaode vrias famlias de baixa renda queviviam no local.

    A COPA COMO DESCULPA

    No corredor Aeroporto-Rodoferrovi-ria se concentraa maioria dos

    invest imentosrelacionados Copa, em detri-mento das de-mais reas dacidade. O Parqueda Imigrao Ja-ponesa localiza--se neste eixo,

    portanto, o seuvnculo primei-ro com os pre-parativos paraa Copa de 2014em Curitiba estna localizaodo parque, qued a ele a funo

    de carto de vi-sitas da cidade,j que est lo-calizado na en-trada de Curitiba

    para quem chega pelo aeroporto AfonsoPena, via Avenida das Torres4, como re-conhecido em uma coluna de notcias dosite da Prefeitura. Este link da obra com

    4 Luciano Ducci entrega as obras do Parque daImigrao Japonesa. Disponvel em: .

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    Fonteda

    imagem:hp://www.eventos.turismo.gov.br/copa/acoes/Curiba/detalhe/acao4.htm

    l

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    a Copa ca ainda mais explcito quandose sabe que, segundo o Ministrio doTurismo, recursos pblicos foram trans-feridos aos municpios para a promooturstica das cidades sedes da Copa de2014, e o Parque da Imigrao Japonesaest includo nas obras de infraestrutura

    turstica

    5.

    Alm da atual funo estratgica assu-mida pelo parque de carto de boas vin-das aos turistas que chegam para o me-gaevento, tambm um espao de lazere de possvel conteno de cheias, porconta dos dois grandes lagos que pos-sui6. No entanto, ao contrrio dos Par-ques Barigui e So Loureno, o Parqueda Imigrao Japonesa no estava pre-visto no Plano Diretor de 1965. Segundoo site de Parques e Praas da Prefeitu-ra de Curitiba, atualmente existem 28parques7 na cidade, dos quais 18 foram

    5 Para maiores detalhes consultar: 6 Depoimento da secretria municipal doMeio Ambiente, Marilza Dias, in: 7 http://www.parquesepracasdecuritiba.com.br/parques.html

    inaugurados a par