um olhar sobre abril (andré santos, 12º a)
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“ Portugal, um Abril sem fim? ”
“Quis saber quem sou, o que faço aqui …” e, por isso, vi-me na obrigação,
ou melhor, tomei a liberdade de perceber o porquê do rumo que a minha vida
leva enquanto membro da sociedade, o rumo que a minha família leva enquanto
agente integrante de um grupo social, de um povo, que ao longo dos tempos
sempre lutou virtuosamente pela conquista dos seus direitos enquanto povo, mas
principalmente enquanto Nação. Dispus-me a perceber, portanto, o rumo que o
meu país tinha tomado. Longínquo vai o pensamento, bem como o ano de 1143,
altura em que oficialmente se dava inicio à construção de uma nova e gloriosa
pátria, ou então o distante ano de 1640 em que a restauração da independência
havia sido conseguida face à valentia e ao
inconformismo demonstrado pelo povo
lusitano, contra o vizinho espanhol, que
tentava retirar aquilo que “O
Conquistador” havia conquistado. Neste
seguimento de grandes conquistas, surge-
me o 25 de Abril. Não um 25 de Abril
qualquer, pois desses houve para cima de
2000, e isto contando apenas a partir do
momento em que a Cristandade entrou na
contagem temporal. Surge-me um 25 de
Abril de 1974, não como mais uma dessas
valorosas datas que enchem e preenchem
todo um calendário nacional de feriados
comemorativos, motivados por
determinadas conquistas e/ou
acontecimentos, mas sim, um 25 de Abril
que conseguiu catapultar uma Nação da
estagnação em que se encontrava, a praticamente todos os níveis, através da
implantação um regime, grosso modo, muito mais aprazível para uma sociedade
já de si, tão fustigada como é a portuguesa. Embora não desminta o que foi até
aqui escrito (até porque de mentiroso, pouco ou nada tenho), a verdade é que se
me coloca uma interrogação sobre a forma como as coisas aconteceram após esta
data. Terá o rumo seguido, sido aquele que mais interessava e beneficiava as
ambições de uma Nação carente do prestígio que, outrora, havia possuído?
Assim, interpela-se-me uma questão, que em todas as suas vertentes, é
complexamente simples: Afinal, para a Nação Portuguesa, terão os meses pós-
Abril de 74 sido melhores que aqueles que o antecederam?
Sim!
A revolta, o descontentamento e a repressão sentidas, aliadas à
necessidade de efectuar uma ruptura com o então presente, serviram de motivos
para que a nação se desunisse em conformismo e se unisse na busca de um novo
rumo, em busca de um novo timoneiro, em busca de uma nova vida, que pudesse,
acima de tudo, ser por si escolhida. Se verificarmos a História, esta dir-nos-á que
os momentos imediatamente posteriores à intervenção do povo nos carris do
país, não terão sido, na generalidade, melhores que aqueles que o antecederam.
Entendamos que tal como não se pode exigir a um pássaro que esteve toda a vida
“engaiolado”, que bata asas e voe em busca do seu caminho, também não se pode
implementar a liberdade sobre um povo oprimido, que, não sabe, de um
momento para o outro, conviver e sobreviver numa sociedade livre de pressões
políticas. A sucessão de governos provisórios, pós-intervenção militar é a prova
disso. Mas não se pense que isto era algo de novo, até porque, como se sabe,
Portugal de novo nada tem! Assim, nesta linha do tempo e também do
desenrolar histórico, surge-nos a título de exemplo, a reedição da instabilidade
republicana, aquando da sua nascença, onde se havia verificado que a liberdade
de escolher, não havia sido bem colhida, por não ter existido nem uma boa
delineação, nem tão pouco, uma boa aplicação da mesma. Aqui é me imediata a
exclamação de que, apesar da experiência vivida, a repetição dos erros
primordiais republicanos se voltavam a verificar,
quando havia sido isso mesmo, que nos tinha
conduzido a décadas de ditadura. Ora, se era para
seguir este rumo, de que teria valido então, o
esforço de Abril? Se a situação se tivesse prolongado
certamente que haveria sido um enorme desperdício
de tempo e de emoções fortes, ter destituído o
Sr.Marcelo Caettano, do seu posto de pai, à mesa
familiar portuguesa. Porém, tamanho erro não se prolongou muito mais, sendo
que, com isto, não quero dizer que o erro não tenha voltado a surgir. Não! Ele
apareceu, como aliás aparece e aparecerá sempre, porque errar é humano, e
apesar de muitos contestarem o carácter da actual humanidade, acredito que
estes costumes ainda se mantêm intactos. Apareceu mas em outras formas e sem
as proporções que aquele poderia atingir, caso se mantivesse de pedra e cal. Num
país faminto de liberdade, o “vira o disco e toca o mesmo”, motivado por uma
degradação estável, não seria de todo desejável, apesar de a oportunidade ter
surgido. Colocar não o teu, nem o meu, mas sim o nosso Portugal, numa rota que
conduziria à bandeira vermelha comunista, e tudo o que ela acarretaria, só faria
com que de nada valesse Abril. Mas eu reitero que valeu, e não só pelo facto de
me permitir a mim e aos restantes
portugueses gozar de mais um dia de
“folga” laboral. Valeu porque a
oportunistas da desgraça humana, já
estamos todos habituados, e não
poderia ter sido uma tentativa de
aproveitamento “comuna”, que travaria todo um rumo
traçado por milhares de Delgados, Maias, Humbertos e
Salgueiros, que pretendiam ver a sua pátria livre, não só do
Estado Novo, mas sim livre da “desliberdade” existente. Mas
atenção, não há que culpabilizar Cunhais, muito menos os
Álvaros por tentarem impor esta ideologia. Não foi caso
isolado, e aliás, ainda na actualidade, os oportunismos
políticos se apresentam na ordem do Sol, e consequentemente também do dia.
Abril não trouxe apenas as águas mil, trouxe também liberdades mil, que são
muitas vezes abusivamente utilizadas. Quando face à
existência de liberdade, existem pessoas que se
aproveitam de tudo e de nada, excedendo os limites da
moralidade (que aliás é algo que se perdeu, infelizmente,
na cadeira de António de Oliveira Salazar), para tentarem
alcançar os seus objectivos políticos, isto só poderá
merecer a minha repulsa. Vejamos o caso de José Sócrates,
o actual timoneiro da Nação. É por estes dias,
provavelmente, o maior exemplo do alvo desse
oportunismo, onde todo e qualquer argumento, baseado na especulação e
difamação, servem para tentar colocar o governo e a pessoa que o encabeça, em
situação difícil, retirando a confiança que a maioria popular lhe havia dado em
eleições livres e democráticas. Não será este um exemplo de falta de civismo, e,
logicamente, de ausência de respeito pelas liberdades democráticas?
Sim!
Apregoa-se a existência de uma censura,
com semelhanças àquela que se verificou durante
o período do Estado Novo, sob pretexto de se
violar constantemente o direito e uma conquista
da revolução de 74, ou seja, a liberdade de
expressão. Certamente que quem o refere é
porque decerto não entende o verdadeiro
significado da Revolução de Abril, bem como
não compreende os pressupostos necessários
para a existência da liberdade, ou da falta dela. Não poder escrever as verdades
incómodas era regra em Ditadura, em liberdade, escrevem-se as verdades e as
mentiras, as certezas e as suposições, as conveniências e as inconveniências,
nomeadamente através da comunicação social, e diz-se que há ausência de
liberdade de expressão. Ora se efectivamente esta não existisse, como seria
possível termos conhecimento de casos como o da Universidade Independente,
Freeport, Face Oculta, envolvendo a imagem do chefe de governo? Por certo, se
a censura existisse, determinados serviços noticiosos e imprensa escrita, não
teriam sequer a oportunidade de abrir janelas, quanto mais de irradiar o dia-a-
dia dos cidadãos com a sua “aurora” de imprensa de final de semana, que marca
pela indiferença pelo respeito individual de todos, mas especialmente de cada
um. Reitero que a liberdade de expressão tem de ser vista como uma base dum
sistema democrático, que se pretenda dar a conhecer por isso mesmo, ou seja,
por uma democracia, e é essa democracia que Abril conquistou. Não uma
democracia de fachada, ou asfixiada, como muitos pretendem dar a entender, e
continuam a reivindicar. E se as coisas ainda ocorrem desta forma, por certo
algo se perdeu na mentalidade da população. O peso da palavra e os valores
característicos da sociedade rural, do sucessor do Estado Velho, perderam-se.
Sim!
Perderam-se e esta é no meu entender, ainda a grande causa, para a
discussão sobre o verdadeiro valor da Revolução. Reitero que dessa sociedade
rural (sob a qual me indigna que até 74 se tenha mantido o seu último vocábulo,
quando a modernização e a industrialização acompanhavam todos os países, que
ainda hoje são as grandes potências mundiais), apenas manteria esse espírito de
compromisso que valoriza um ser humano, e que inflaciona ainda mais uma
sociedade. Porém a realidade é que, com a
ausência de valores que se foram perdendo com
o passar dos anos de uma, quiçá, libertinagem
excessiva, os problemas que hoje marcam a
nossa sociedade foram surgindo e crescendo.
Um exemplo disso é a criminalidade violenta,
que hoje mancha de sangue as ruas e os becos,
as televisões e as rádios, com noticias
constantes de graves atentados à vida das
pessoas e respectivos bens materiais. Com a
ditadura, este tipo de acontecimentos eram evitados, pois, por certo, ninguém
pretenderia usufruir da oficial e legalizada, criminalidade violenta,
protagonizada pela PIDE/DGS. Aí, talvez o nosso estado democrático devesse
dar um passo atrás, para dar dois em frente, pois se a autoridade (entenda-se
GNR, PSP, PJ, Tribunais) fosse por vezes mais rígida e linear nas sanções a
aplicar a quem não anda por cá a fazer nada de útil, e muito de inútil, por certo
índices como os da criminalidade seriam reduzidos, beneficiando índices como o
da confiança da população, segurança, entre outros. O significado de Abril é
neste aspecto doloroso, pois a realidade é que hoje em dia, as pessoas sofrem na
pele, e também nas carteiras, o peso do não saber usar um direito como o da
liberdade. “As liberdades ilimitadas destroem-se a si próprias.” foi expressão de
Oliveira Salazar, e será que este dito, era coerente e leal amigo da razão?
Sim!
Retomo então à democracia, (sinónimo, no meu entender, da revolução de
Abril), não que alguma vez me tenha escondido dela, mas para falar mais um
pouco, daquilo que ela acarreta. Falo de algo imensamente popular e que está
inerentemente ligado à vida política. Falo das promessas, essas frases e
compromissos que se estabelecem entre os órgãos governativos e o povo. Ora
Abril foi também um mar de promessas, em que muitas das idealizadas, não
passaram de isso mesmo, de um pensamento. A questão é que a democracia vive
de votos, e a realidade é que o cidadão vota naqueles que melhor defendem os
seus interesses. Isto por sua vez faz com que, os políticos, para angariarem a
confiança e o voto popular prometam coisas, que vastas vezes acabam por não
conseguir cumprir, acabando por ficarem, vastas vezes, apenas como
pensamentos bonitos e bem-intencionados, mas não concretizáveis. Abril
prometia igualdade, mas hoje sabemos que ela não
existe em todos os campos. Continuam a existir
pobres e ricos, mulheres e homens, se bem que, ao
contrário do que a Ditadura indicava, agora a
distinção, por exemplo, ao nível do género, já não é
tão vincada como era. A emancipação está
totalmente efectuada e a mulher consegue
desempenhar, por estes dias, um papel de extrema
importância na vida da sociedade portuguesa. Não
que dantes não o fizesse, através dos excelentes
trabalhos que obrava enquanto dona de casa, mas
agora já assistimos à mulher com poder em
autarquias, nas assembleias, e, inclusivamente em governos, como é o caso da
Sra.Isabel Alçada, detentora da actual pasta da Educação, ou da já falecida e
saudosa Maria de Lurdes Pintassilgo, que inclusive, foi chefe de governo. Depois
destes parênteses, retomo a ideia principal: sem Abril isto não seria possível.
Quanto às promessas que não foram e não são cumpridas, isso faz parte da
política, e a verdade é que o povo e os eleitores já não se devem amargurar por
algumas delas não serem cumpridas. Afinal já dizia a sabedoria popular que
“promessas não pagam dívidas”, excepção feita a Oliveira Salazar, que havia
prometido sanear as contas públicas e conseguiu-o. Porém, neste caso, como
todos os políticos, ainda para mais ditadores, terão existido muitas, e muitas
mais, que terão ficado pelo caminho, no que concerne, à
rota do cumprimento.
Sim!
Á medida que estes escritos vão progredindo, a
história também, porque minuto a minuto se faz o
momento, minuto a minuto se faz o acontecimento,
minuto a minuto se faz a história. Realcemos agora que
Abril trouxe consigo a libertação de verdadeiros ícones
da liberdade, e que assim, livres, conseguiram dar
impulsos, para passos importantes no desenvolvimento
democrático do país. Surge-me de forma clara o nome de
Mário Soares, como um excelente exemplo disso. Acérrimo defensor das
liberdades e não menos feroz opositor do regime salazarista, a ele estão ligados
inúmeros factores que só Abril poderia ter trazido. A simbologia de ter sido o
primeiro chefe de governo, eleito pelo povo (não se entenda por PCP), em
eleições democráticas e livres, aliado à obra ao nível da estabilização política
pós-76, fazem dele, na actualidade, uma figura incontornável no plano nacional.
Recordo, neste contexto, as eleições de 1976, em que Mário Soares alcança uma
vitória estrondosa sobre a oposição
comunista, reafirmando que o seu
governo, e consequentemente, o seu país
era “(…) a favor do Socialismo autêntico
e não do Socialismo de miséria (…)”
dizendo um claro “olhe que não” à
intenção de tornar Portugal, num bastão
comunista, num bastão de pobreza (um
pouco à imagem do que havia sucedido
com o Estado Novo). Não nos
esqueçamos ainda que foi com ele, o intitulado “fixe”, que nos tornámos
verdadeiramente europeus, abrindo portas ao desenvolvimento, em virtude, de
tudo o que a adesão à CEE (1986) significou. Por exemplo a chegada de fundos
comunitários, que para além de terem proporcionado uma importante ajuda no
progresso do país, permitiram também desenvolvimento de grandes famas,
nomeadamente de políticos, que, estando no governo na altura em que as
remessas eram efectivamente elevadas, beneficiaram de uma elevada
popularidade e credibilidade. Exemplo claro disso é, o actual Presidente da
República, Aníbal Cavaco Silva. Mas enfim, como em tudo na vida, nada tem só
vantagens, e esta popularidade, decerto, não poderá embelezar muito mais o que
é, foi, e será, Abril (antes pelo contrário).
Sim!
Não poderá embelezar mais, mas Abril trouxe
muitas outras novidades que merecem todo o meu apreço,
tal como deverá merecer a todos os portugueses, que se
auto-denominem por esse nome. A revolução desvendou,
finalmente a verdadeira cultura portuguesa. Uma cultura
livre a vários pontos de vista, o que permitiu o seu grande
desenvolvimento, e essa é no meu ver, uma das grandes
batalhas vencidas, e conquistadas por todos os
revolucionários. Repare-se numa coisa, ou melhor em
duas. Duas palavras: José Saramago. Ou então em
outras duas: Prémio Nobel. Inquestionavelmente, seria
impensável, escritores que tão longe levam Portugal na
actualidade, conseguirem-no fazer sem Abril, sem
aquele Abril. Em que sonho poderia Saramago ousar
rotular Cristo, como um “filho da puta”? Num país de regime religiosamente
vincado, afirmações destas não mereceriam, por certo, complacência por parte
dos “Deuses policiais”. Mas vejamos mais casos: Homens (com H grande) como
Raul Solnado, que só após o 25 de Abril de 1974, puderam por em prática a sua
verdadeira arte (antes eram aprisionados no aparelho da censura), permitindo
dar um outro espírito a um Portugal morto culturalmente, e amarrado a um
isolamento que em nada abonou (nem abanou) na credibilidade ditatorial. No
plano da comédia, a sátira evidenciada pelo Pai, e seguida pelos seus delfins, que
desde então, até à actualidade, têm transformado assuntos que em nada merecem
o nosso esboçar sorridente, em situações com as quais podemos encarar-nos de
forma mais leviana, evidenciando uma alegria atenuadora, muitas vezes, das
desilusões que os cidadãos sofrem no seu dia-a-dia. Fica aqui, e antes que tenha
que utilizar o pretérito perfeito do indicativo, e sim não
suponho a utilização de um não perfeito, pois o nome não
merece tal desfeita, a sentida homenagem a um homem da
cultura pré e pós-Abril, que tal como muitos outros, só
graças à liberdade conquistada em 74, conseguiram
conquistar o carinho de todo um povo. Parabéns e
Obrigado António Feio! E estas são felicitações colectivas
para todos aqueles, que, como ele, fazem e fizeram, todos
os dias, um pouco por um Portugal melhor, por um
Portugal mais livre, por um Portugal mais Português. Vejamos “Desfolhando”
que este salto cultural não se remete apenas a cantores, actores, e outros
acabados em qualidade (como já havia referido). Grande português (não daqueles
concursos televisivos que pouca ou nenhuma credibilidade merecem, onde ainda
se vê um ditador a conquistar o título de grande português, e um aspirante a
tirano a ficar em segundo classificado) e também porque nem só das minhas
palavras deve viver esta reflexão, as palavras que se seguem são de Ary dos
Santos, num dos seus poemas, em que, de forma clara e inequívoca, demonstra o
significado da revolução de Abril:
“E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu! “
Palavras para quê? A
liberdade libertou vozes, mentes, inspirações, e se apenas para isso, Abril tivesse
servido, pois bem, eu diria que teria sido uma revolução com uma causa
plenamente justificada, e enriquecedora de um Portugal que se quer rico e
próspero. Poderia eu, na actualidade, admirar tanto os artistas portugueses, pela
sua originalidade e talento, sem o 25 de Abril? Poder podia, mas não era a
mesma coisa.
Sim!
Não era a mesma coisa, mas felizmente, hoje, dizemos desde 74 “não!” ao
“orgulhosamente sós”, e sim à livre circulação de pessoas, bens e serviços, sim à
liberdade, sim à autodeterminação dos povos, mas também dizemos não.
Dizemos não o que convém, mas sim o que queremos, e
pelo facto dessa prerrogativa estar em vigor, posso
afirmar, sem pudor, que Abril cometeu um grave erro.
Não um erro recuperável, infelizmente. É irreversível e a
verdade é que a história nunca nos dirá se na realidade foi
um erro, porém, na minha história, e nestas linhas, a
história far-se-á como eu entendo que ela se faria, pelo
que nego categoricamente a minha concordância com a
descolonização efectuada pós-Abril. A remoção do sonho de um Portugal, em
todos os seus quadrantes de descobridor, a remoção
de um sonho para os povos de Angola, Moçambique,
Guiné, Cabo Verde, São Tomé, a remoção de umas
tropas, foram um grande percalço. Portugal tinha a
obrigação de fazer mais por si, e também mais por
estes portugueses, pois descolonizar por descolonizar
não beneficiou nem
os colonizadores
nem os colonos. Porquê descolonizar?
Argumenta-se que as pessoas eram obrigadas a
ir para uma Guerra, cuja causa, não valeria a
pena. Pois bem, é um facto. Eram obrigadas a
ir, mas a causa? A causa era nossa, era a causa
Portuguesa! Será uma causa melhor a do
Afeganistão, cujo envio de tropas portuguesas
proporcionou? Porventura há quem considere que essa será uma causa em que a
aplicação dos nossos ente-queridos, é (passe a redundância) melhor aplicada.
Porquê a subjugação subsequente à ideia de que aquilo pelo qual lutamos é mau,
e que aquilo pelos quais os outros lutam, é bom? Abril não terá então vincado
como deveria, a ideia de que o que é nacional é bom (excepção feita à marca de
massas). Os territórios eram legitimamente portugueses, e os factos, apontam,
para que não possamos afirmar que para o Portugal Africano, o processo de
saída portuguesa tenha beneficiado as suas populações, que é como quem diz(ia),
as Nossas Populações.
Sim!
“Estou firmemente convencido que só se perde
a liberdade por culpa da própria fraqueza”, afirmou
Mahatma Gandhi, quando se referia à sua Índia.
Conhecido defensor do cariz liberal, certamente que
não se importaria que uma associação das suas
palavras seja feita ao caso português. Eu, estou
realmente convencido que a liberdade conquistada
em Abril, o seu significado, só se perderá por culpa
própria de quem a defende, pelo que a manutenção
não linearmente recta, dos princípios que regeram
a revolução mais floreira do mundo, adaptados
convenientemente
à situação da
sociedade actual,
trará apenas benefícios, a todos os portugueses, e
a todos os defensores do progresso, apoiado
numa estrutura marcada pela possibilidade de
uma escolha. E sim, foi uma escolha, a escolha de
querer saber quem sou, de querer saber o que
faço aqui, (sentida homenagem a Paulo de
Carvalho) e a escolha recai num sim a Abril, um
sim a que os Cravos não se tornem apenas num
farol de ética, de virtude e de humanismo, e que desta forma, os delfins desta
liberdade não se “incultem” face à causa que os seus avós defenderam. Que
tenhamos um Abril sem fim, que a liberdade esteja sempre e para sempre “Aqui
ao luar, ao pé de ti, ao pé do mar (...)”, ou seja, que a liberdade, que a nossa
liberdade esteja sempre o pé de ti Portugal, ao pé de nós Portugueses!
Sim, Abril!
André Santos