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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Sandra Bazylewski Um olhar pedagógico para a dimensão motora: contribuições de Henri Wallon MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO SP 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Sandra Bazylewski

Um olhar pedagógico para a dimensão motora: contribuições de Henri Wallon

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO – SP

2015

Sandra Bazylewski

Um olhar pedagógico para a dimensão motora: contribuições de Henri Wallon

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de Mestre em

Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação da

Profª. Drª. Laurinda Ramalho de Almeida.

SÃO PAULO – SP

2015

Banca Examinadora

_______________________________________________

_______________________________________________

_______________________________________________

Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus filhos, que mesmo sem

entender minha ausência, me apoiaram com suas alegrias, peripécias e muito carinho...

todos os dias.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe Léa, que mesmo em outro plano, continua sendo uma forte influencia devido ao

seu legado de força e perseverança.

À minha família pelo apoio e pela compreensão dos momentos de ausência.

À Professora Doutora Laurinda Ramalho de Almeida, minha orientadora, por ter

compartilhado seus conhecimentos e me orientado com paciência, competência, alegria e

afeto, característicos de uma personalidade marcante.

Aos professores Doutores Mitsuko Aparecida Makino Antunes e Sergio Vasconcelos de Luna

por incentivarem e acreditarem no meu potencial como aluna e pesquisadora.

À Marilena K. O. S. Leite, grande incentivadora nestes dois anos de estudo e pesquisa.

Aos colegas de mestrado por compartilharem ideias, incertezas e alegrias.

Ao Edson Aguiar por ser muito atencioso e por estar sempre disposta a ajudar.

Às professoras entrevistadas pela disponibilidade de participar desta pesquisa.

À CAPES pelo apoio e financiamento do curso

RESUMO

Bazylewski, Sandra. Um olhar pedagógico para a dimensão motora: contribuições de

Henri Wallon. Dissertação (Mestrado em Educação: Psicologia da Educação). Programa de

Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação. Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, 2015.

Este projeto de pesquisa foi delineado com o objetivo de investigar qual concepção de

dimensão motora embasa a atuação de professores de Educação infantil e como tal concepção

interfere em sua prática. Para dar sustentação teórica, foi utilizada a teoria de

desenvolvimento de Henri Wallon, que entende o ser humano de forma completa e integrada.

A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e, para a produção de informações foram

realizadas entrevistas com professoras que atuam em diferentes segmentos de diferentes

instituições de Educação Infantil, com o intuito de identificar no discurso das mesmas o que

entendem por dimensão motora e se implementam na rotina da educação infantil situações

e/ou propostas relacionadas à esta dimensão. Quadros e sínteses foram elaborados para

auxiliar na analise e discussão das informações. Este estudo apontou que as dimensões afetiva

e cognitiva estão asseguradas nas práticas pedagógicas. Quanto à dimensão motora, faz - se

necessário ampliar o conhecimento das professoras sobre esta dimensão e transformá-lo em

pratica pedagógica que propicie o desenvolvimento integral da criança.

Palavras-chave: dimensão motora; desenvolvimento infantil; psicogenética de Wallon;

aprendizagem.

ABSTRACT

This research project was designed in order to investigate which conception of motor

dimension underlies the role of child education teachers and how such design interferes in

their practice. For theoretical support, we used Henri Wallon’s development theory, which

considers the human being in a complete and integrated way. The research had a qualitative

approach and information has been collected through interviews performed with teachers who

work in different segments of different institutions of early childhood education, in order to

identify their discourse, what they mean by motor dimension and if they implement in early

childhood education routine situations and / or proposals related to this dimension. Tables and

summaries have been designed to assist in the analysis and discussion of information. This

study found that the affective and cognitive dimensions are ensured in pedagogical practices.

As for the motor dimension, it is necessary to extend the teachers’ knowledge concerning this

dimension and turn it into educational practice that fosters the whole development of the

child.

Key words: motor dimension; child development; Wallon’s psychogenetics; learning.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 08

Capítulo I - HENRI WALLON, POR QUE ESTE TEÓRICO? .............................. 12

1.1 O estágio Impulsivo-Emocional ............................................................................... 15

1.2 O estágio Sensório-Motor e Projetivo ...................................................................... 16

1.3 O estágio do Personalismo ....................................................................................... 17

1.4 O estágio Categorial ................................................................................................. 19

1.5 O estágio da Puberdade e Adolescência ................................................................... 19

Capítulo II - A HISTÓRIA DO CORPO ................................................................... 21

2.1 O corpo na educação brasileira ................................................................................. 24

Capítulo III – A DIMENSÃO MOTORA .................................................................. 27

3.1 O Meio ...................................................................................................................... 31

3.2 A Imitação e o Simulacro ......................................................................................... 32

3.3 O controle do movimento ......................................................................................... 34

3.4 A inteligência prática e a inteligência discursiva ..................................................... 34

3.5 A Imperícia ............................................................................................................... 36

Capítulo IV - PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................... 40

4.1 Os sujeitos da pesquisa ............................................................................................. 41

4.2 Os procedimentos para a produção de informações ................................................. 42

4.2.1 Para obtenção das informações .................................................................... 42

4.2.2 Para análise das informações ....................................................................... 44

Capítulo V - ANÁLISE E DISCUSSÃO ..................................................................... 47

5.1 A síntese dos depoimentos ....................................................................................... 48

5.1.1 Depoimentos da professora Gina ................................................................. 48

5.1.2 Depoimentos da professora Ana .................................................................. 50

5.1.3 Depoimentos da professora Adriana ............................................................ 52

5.2 Falas das entrevistadas em quadros demonstrativos de análise ................................ 53

5.3 Eixos temáticos ........................................................................................................ 77

5.3.1 O cuidar e o educar enquanto faces de um mesmo processo ....................... 77

5.3.2 O meio escolar como meio de ação.............................................................. 82

5.3.3 As oportunidades ofertadas .......................................................................... 87

5.3.4 As atividades corporais intencionadas pelo educador .................................. 91

5.3.5 A dimensão motora na perspectiva das entrevistadas .................................. 94

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 99

APÊNDICES ................................................................................................................ 103

Apêndice I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................... 103

Apêndice II - Transcrição da entrevista com a professora Gina.................................... 104

Apêndice III - Transcrição da entrevista com a professora Ana ................................... 117

Apêndice IV - Transcrição da entrevista com a professora Adriana ............................. 125

8

INTRODUÇÃO

Conhecer cada vez mais para, sempre que possível, poder auxiliar! Foi com esse

pensamento ou, ainda, com essa vontade, que iniciei o estudo sobre o desenvolvimento motor

das crianças em idade de Educação Infantil.

O meu percurso profissional e educacional justifica esse interesse. Cresci em contato

com área da Pedagogia, pois desde cedo acompanhei minha mãe estudando e trabalhando na

área da Educação. E, antes mesmo de concluir o curso magistério, eu já estava trabalhando em

sala de aula. Passados alguns anos da conclusão do curso de Pedagogia e após vários cursos

de aprimoramento, senti falta de conhecer, com mais profundidade, o campo de atuação do

profissional Pedagogo. Foi quando decidi fazer a minha primeira especialização em

Psicomotricidade e, pouco tempo depois, a segunda especialização em Educação Infantil.

Nesses 20 anos de atuação na área, pude acompanhar algumas mudanças que

envolveram o ensino de Educação Infantil: confrontos de concepções pedagógicas entre

educadores preocupados com os saberes, com a melhor Pedagogia, com a formação de

atitudes, competências, identidade e desenvolvimento pessoal dos educandos. E ao longo

dessa trajetória profissional, o meu olhar esteve voltado ao desenvolvimento cognitivo das

crianças: como elas aprendem? Quais situações favorecem a aprendizagem infantil?

Como consequência desse meu interesse por pesquisar e descobrir tais aspectos,

comecei a perceber que estava deixando de lado outros fatores, também essenciais, para o

crescimento e a formação dessas crianças A dimensão cognitiva estava tendo um peso maior

nos meus estudos do que os demais fatores determinantes no desenvolvimento infantil, o que

me levou a ter um olhar mais criterioso sobre a dinâmica da sala de aula, que envolvia a

prática pedagógica, levando em consideração o planejamento (conteúdo), a rotina e as

intervenções, dentre outros aspectos.

Para mim, com o passar do tempo, foi ficando evidente o papel da Educação Infantil e a

sua relevância no desenvolvimento global das crianças, de forma a determinar o sucesso

escolar dessas crianças nas séries subsequentes. Por outro lado, as crianças desta faixa etária

apresentam, cada vez mais, dificuldades que chamam nossa atenção, sejam dificuldades em

relação ao comportamento, grafia ou adaptação.

9

Nesse sentido, o contato diário com as crianças me mostrou que estamos privando-as de

algo essencial, estamos roubando-lhes o espaço, a utilização do corpo, assim como o prazer de

experimentar o mundo e vivê-lo. Em virtude dessa reflexão, procurei informações acerca do

que era possível realizar para suprir essa demanda. Minha procura estava voltada para uma

abordagem que visasse ao desenvolvimento integral do indivíduo nas suas várias etapas de

desenvolvimento e, como consequência, que pudesse prevenir algumas das dificuldades

apresentadas pelas crianças. Frente às informações, deparei-me com a Psicomotricidade e

descobri o seu significado, que, aliás, é bem diferente do que eu havia vivenciado no

magistério e no primeiro curso de especialização.

Enquanto ciência, a Psicomotricidade tem como objetivo primordial o equilíbrio da

pessoa em sua mais ampla concepção, harmonizando aspectos cognitivo, motor e afetivo. No

decorrer do curso, fui compondo e aperfeiçoando o pequeno conhecimento sobre corpo e

movimento. À medida que as aulas eram ministradas pelos diversos professores, pude

observar o quanto que a evolução da criança está ligada, intimamente, à conscientização e ao

conhecimento do seu próprio corpo. Ajuriaguerra (s/a apud FONSECA, 1995) afirma que é

por meio do corpo que a criança elabora todas as suas experiências.

Durante a realização do curso de Psicomotricidade, tive o primeiro contato com a

literatura de Henri Wallon. Ao ler sobre Wallon, Fonseca (1995, p.02) afirma que Wallon é

“de fato, a pedra angular do edifício da psicomotricidade”, uma vez que este já havia traçado

linhas a respeito do estudo da comunicação afetiva, da sociabilização e das emoções. De fato,

em suas obras originais, em seus estudos e pesquisas, Wallon apresenta que em toda emoção

estão vinculados, ao mesmo tempo, certo comportamento tônico e certas transformações

características das atitudes e das reações musculares e viscerais.

Na busca por trabalhos que envolvessem a dimensão motora, encontrei alguns que

abordam a questão corporal, sendo a maioria dos estudos voltada para a área da Educação

Física. Ao procurar por trabalhos sobre a Teoria de Desenvolvimento, de Henri Wallon,

encontrei alguns estudos que enfatizam o papel da dimensão motora no desenvolvimento

infantil, dentre eles, os que mais se aproximaram de meu interesse foram Garanhani (2004),

Limongelli (2006) e Cintra (2012).

A pesquisa de Garanhani (2004) teve como objetivo compreender, no discurso e na ação

das educadoras, os saberes utilizados na educação do movimento corporal das crianças de três

a seis anos. Limongelli (2006) procurou descrever e analisar o processo de formação

acadêmico-profissional, vivenciado por ela mesma e por seus alunos, durante as aulas da

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disciplina de Natação, ofertada no curso de licenciatura em Educação Física, em uma

Instituição de Ensino Superior (IES) privada, de São Paulo.

E no estudo de Cintra (2012), a pesquisa foi voltada à investigação de como é tratada a

motricidade das crianças de seis anos no ensino fundamental. Nesse estudo, a motricidade foi

abordada como sinônimo de psicomotricidade considerando que, para Wallon, motricidade é

sinônimo de psicomotricidade, uma vez que a concebe como indissociável do psiquismo.

Afetividade e cognição são dois conceitos razoavelmente focalizados na literatura atual.

Segundo Leite (2013, p. 46), foi a partir de 1990 que a afetividade passou a ser objeto de

pesquisa: “Praticamente ausente das pesquisas e de estudos pedagógicos até os anos 1990, a

partir de então tem tido uma presença constante na agenda de vários estudiosos em nosso

meio, com destaque para a área da Psicologia.”

Os olhares dos profissionais de educação estão voltados para o desenvolvimento do

educando nestas duas dimensões. E o motor? Quem se preocupa com esta dimensão? Em

tempos atuais, observando as pesquisas, a dimensão motora está a cargo dos profissionais de

Educação Física. O desenvolvimento progressivo dessa dimensão, cujos vínculos com as

dimensões cognitiva e afetiva não se pode excluir, deveria ser observado pelos professores e

por todos os profissionais da área de Educação.

Compreendendo que a prática pedagógica deve abarcar as três dimensões (cognitiva,

motora e afetiva) a fim de promover o desenvolvimento em todas elas e de considerar o

indivíduo com um ser total, meu interesse é decorrente tanto de minha atuação profissional

em Educação Infantil, quanto da descoberta do pequeno número de pesquisas relacionadas à

dimensão motora. Para tanto, delineei um projeto de pesquisa partindo do seguinte problema:

Qual concepção de dimensão motora que embasa a atuação de professores de Educação

infantil? O objetivo proposto foi investigar como a dimensão motora vem sendo tratada no

trabalho desenvolvido na Educação Infantil, na visão pedagógica das professoras que

trabalham neste segmento.

A dissertação está organizada em três capítulos, sendo os três primeiros capítulos de

fundamentação teórica; e o quarto e quinto capítulos de coleta e análise de dados, conforme

descrição a seguir: Introdução; Capítulo I: concentra em conhecer Henri Wallon, seus

caminhos, as ideias e a relação com a Psicomotricidade; Capítulo II: aborda a história do

corpo e como ele era visto desde a Idade Média até hoje; Capítulo III: o desenvolvimento

infantil e a dimensão motora nesse processo; Capítulo IV: o percurso metodológico realizado

11

para coleta de dados; Capítulo V: análise e discussão à luz da teoria walloniana e

considerações sobre o olhar para a dimensão motora; e, Considerações Finais.

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CAPÍTULO I

1. HENRI WALLON, POR QUE ESTE TEÓRICO?

Ainda que a preocupação com o corpo tenha sua origem na Antiguidade, tendo como

seus representantes: Platão, Homero, Aristóteles e, no inicio da Modernidade, com Descartes,

dentre outros, foi no século XIX que o corpo passou a ser percebido e estudado, deixando de

ser considerado objeto ou algo fragmentado. Foi Henri Wallon que, de forma explicita e a

partir de 1925, formulou uma teoria psicogenética postulando o corpo como continente de

cognições, afetividades e motricidade.

A psicogenética de Wallon evidencia a integração organismo-meio como uma unidade

impossível de dissociar, da qual decorre a integração dos conjuntos funcionais: motor, afetivo,

cognitivo e pessoa, os quais formam o psiquismo humano. De acordo com Wallon (2007), os

seres humanos estão em permanente transformação e esta é modelada pela troca constante

entre os fatores genéticos e os meios físico e social. Sendo que, esses últimos, determinam a

direção do processo de desenvolvimento que transformará a criança em adulto de sua cultura.

Assim, as transformações são condições no processo de desenvolvimento do ser humano,

trazendo mudanças quantitativas e qualitativas que definem cada estágio de sua teoria do

desenvolvimento.

O meio, na visão walloniana, além de ser considerado fundamental, tem duplo

significado: meio ambiente e meio de ação. Na criança pequena, o meio social é responsável

por fazer o intercâmbio com o meio físico, de estabelecer o contato com as pessoas que estão

ao seu redor. É também o meio social que norteia a existência individual, a estrutura familiar

e as relações entre indivíduos e grupos.

E assim, a linguagem do meio, isto é, a linguagem expressa pelo grupo social (ao qual a

criança pertence) modula os pensamentos e os instrumentos culturais propiciando os

movimentos do desenvolvimento. A partir disso, a criança desenvolve sua consciência,

passando a expressar sua vida psíquica em conjuntos funcionais (dimensões) que se integram

cada qual com sua identidade específica.

Essas dimensões, vinculadas entre si, estão em constante movimento “[...] a cada

configuração resultante, temos uma totalidade responsável pelos comportamentos daquela

pessoa, naquele momento, naquelas circunstancias.” (MAHONEY; ALMEIDA, 2012, p.12)

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Em suas obras Wallon (1925/2007; 1949/1971; 2008) formulou leis sobre a inter-

relação do tônus e da emoção, mostrando que em toda emoção estão vinculados, ao mesmo

tempo, certo comportamento tônico, certas transformações características das atitudes, das

reações musculares e viscerais.

Estudar o movimento à luz de Wallon é uma oportunidade para estudar e explicar a

importância do trabalho da Psicomotricidade na Educação, em especial, na Educação Infantil.

E para isso, as contribuições teóricas do desenvolvimento da pessoa, na visão walloniana,

estão relacionadas, intimamente, com a definição da Psicomotricidade como ciência, uma vez

que considera o indivíduo como ser total, não fragmentado, assim como a psicogenética de

Wallon, que compreende o indivíduo na sua totalidade.

Apoiada nas obras de Wallon, as quais forneceram informações acerca do

desenvolvimento neurológico do recém-nascido e da evolução psicomotora das crianças,

surge uma nova técnica terapêutica, a Psicomotricidade, com o objetivo de reeducar as

funções motoras perturbadas. (COSTE, 1992)

Ao longo do seu percurso, a Psicomotricidade ganhou vários representantes e cada qual

contribuiu com suas descobertas para a ampliação do conceito, deixando de ser encarada

como prescrição da medicina psiquiátrica, para tornar-se uma intervenção preventiva,

educativa, reeducativa e psicoterapêutica.

O fato de a Psicomotricidade abranger uma mediatização corporal e expressiva, na qual

o indivíduo especializado seja terapeuta, professor ou reeducador, estuda e compensa

condutas inadequadas e inadaptadas em diversas situações, é outra razão de fundamentar este

estudo na teoria de Wallon, uma vez que aponta preocupações, também, com a educação e a

formação do professor.

Wallon defendia que ao incorporar conhecimentos gerados pela Psicologia, pela

Biologia e pela Sociologia na formação dos professores, esses teriam posturas mais adequadas

ao desenvolvimento integral, uma vez que incluiriam em suas decisões, considerações

envolvendo os aspectos cognitivos, assim como os aspectos motores e afetivos.

Acompanhando a trajetória de vida de Henri Wallon conseguimos tomar conhecimento

dos pressupostos que definiram o caminho de suas pesquisas. Parisiense, nasceu e viveu entre

1879 e 1962. De família da alta burguesia com avô deputado, pai arquiteto e funcionário

publico e mãe dona de casa, Wallon cresceu em um núcleo de tradição liberal, convivendo

com pensamento democrático e republicano.

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Presenciou várias mudanças de ordem social, econômica e política. Alguns episódios

marcaram sua infância e adolescência, tais como: o General Boulanger (aos 10 anos) e o caso

Dreyfus, quando prestava serviço militar. Essas situações contribuíram para sua indagação

sobre a natureza das relações entre os seres humanos. Entre as mudanças que presenciou,

estão: uma revolução comunista soviética e duas guerras mundiais, com participação ativa,

tanto do ponto de vista intelectual, quanto em presença física.

Na Primeira Guerra (1914-1918), participou como médico e, ao tratar dos feridos, pode

observar lesões orgânicas e seus reflexos sobre os processos psíquicos, o que o levou a

aprofundar as teses já defendidas com o estudo de crianças com psiquismo profundamente

deteriorado ou profundamente perturbado, internadas em instituições psiquiátricas. Essas

experiências originaram mais uma obra de Wallon: A criança turbulenta, publicada em 1925.

Em ambas as situações, percebe que o ato psíquico depende da relação de condições orgânicas

e condições externas decorrentes do ambiente físico e social.

Na Segunda Guerra (1939-1945), participou do movimento da Resistência contra a

invasão nazista, o que aprofundou sua crença de que a escola deveria assumir valores de

solidariedade, justiça social e antirracismo para reconstruir uma sociedade justa e

democrática.

Com formação acadêmica em Filosofia, Medicina e Psiquiatria, Wallon realizou obras e

atividades voltadas à Educação e que culminaram no Projeto Langevin-Wallon, que consistia

numa reforma completa do sistema educacional Francês, após a Segunda Grande Guerra.

Retomando, ainda, o período da 1ª Guerra, em 1914, Wallon dedicou-se a

psicopatologia; registrando 214 observações de crianças de 2 a 15 anos. Para Wallon, o

comportamento patológico era um laboratório natural para estudar Psicologia, pois com essas

circunstâncias era possível observar os fenômenos se transformando mais vagarosamente,

favorecendo observações mais precisas. (MAHONEY; ALMEIDA, 2012)

A partir dos resultados obtidos em estudos com crianças, Wallon fez uma comparação

com as observações realizadas em soldados feridos na 1ª Guerra, que apresentavam lesões

neurológicas. Essa comparação visou tanto às semelhanças quanto as diferenças. Ao mesmo

tempo, buscou identificar o igual e o diferente, explicitando sua escolha pela concepção

materialista dialética. O contraste é um dos recursos mais surpreendentes pelos quais se opera

a diferenciação. (MAHONEY; ALMEIDA, 2012)

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Ao estudar o desenvolvimento da criança, Wallon focou, necessariamente, o estudo da

consciência e para isso foi em busca da origem biológica da mesma. Comparando

semelhanças e diferenças entre o desenvolvimento de crianças normais e com patologias e

entre crianças e adultos, obteve os princípios reguladores do processo de desenvolvimento

identificando seus vários estágios.

Dois fatores constituem as condições em que afloram as atividades de cada estágio:

fatores orgânicos e fatores sociais. Cada estágio é a junção da estrutura orgânica e fisiológica

com o meio social, que é diferente em cada época.

Impulsivo-emocional (0 a 1 ano);

Sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos);

Personalismo (3 a 6 anos);

Categorial (6 a 11 anos);

Puberdade e adolescência (11 anos em diante).

Embora os estágios estejam indicados por idade, é preciso rever cada faixa etária, uma

vez que as sociedades passam por transformações que, muitas vezes, aceleram o

desenvolvimento. E com isso, a idade na teoria walloniana não é um marco e sim, aparece

para mostrar o processo de evolução e transformações. Pode-se dizer que é um indicativo e

que precisa ser atualizado.

Para tanto, é preciso identificar os interesses e as atividades que aparecem em cada

período; ter em mente que os estágios seguem uma sequência temporal, pois cada um deles é

preparado pelas atividades do anterior e prepara para o seguinte; as crianças reagem às

situações de acordo com os recursos de que dispõe no momento; a idade faz variar as relações

da criança com o meio e esse meio é diferente em cada um dos estágios.

1.1 O estágio Impulsivo-Emocional1

De 0 a 3 meses, acontece a primeira fase, impulsiva, na qual as atividades são voltadas

para a exploração do próprio corpo em relação às sensibilidades internas e externas. A

1 As características dos diferentes estágios são apontadas por Mahoney e Almeida (2012) fundamentados na

teoria walloniana.

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atividade é global, não estruturada, apresenta movimentos bruscos e desordenados, a tensão

muscular ora enrijece, ora relaxa. A criança seleciona os movimentos que garantem a

aproximação do outro e estes passam a funcionar como instrumento expressivo de estados de

bem-estar e mal-estar.

A concepção Walloniana chama essa fase de simbiose fisiológica, na qual o bebê não

diferenciar suas necessidades de sobrevivência com respostas motoras adaptativas e que

permitam satisfazê-la. A simbiose acaba sendo compensada por uma simbiose afetiva segura e

realizada pelo adulto experiente, podendo provocar, assim, respostas motoras imediatas e

eficazes. E com isso, trazer uma significação afetiva de grande importância emocional e

relacional, uma vez que provoca no adulto e na criança, entre o ser experiente e o ser

inexperiente, uma relação profunda e de grande intimidade. (FONSECA, 2008)

Na fase emocional (3 a 12 meses), o bebê já é capaz de expressar padrões emocionais

diferentes para medo, alegria e raiva, dando início ao processo em que descobre formas de se

comunicar com o corpo. (FONSECA, 2008)

1.2 O estágio Sensório-Motor e Projetivo

Esse estágio é caracterizado pela exploração e investigação da realidade exterior, assim

como pela aptidão simbólica e pelo início da representação. As atividades estão voltadas para

a exploração concreta do espaço físico, uma vez que estão desenvolvendo as habilidades de

agarrar, segurar, manipular, apontar, sentar, andar, em conjunto com a fala e acompanhada

por gestos. Dá-se início ao processo de discriminação entre objetos, separando-os entre si.

Essas atividades preparam o afetivo, assim como o cognitivo que acaba por instrumentalizar a

criança para o próximo estágio.

Com os objetos, a criança coordena suas ações com as sensações, procurando ajustar o

gesto aos seus efeitos, uma espécie de ponto de partida para o conhecimento que advêm de

sua ação. Ao perceber o objeto, na medida em que o manipula, dá-se início à organização das

primeiras representações e essa ação acaba por ser uma fonte de estímulos para atividade

mental e não, apenas, uma estrutura de execução ou de expressão. Iniciam-se, então, os jogos

de alternância, em que a criança é autora e objeto do mesmo gesto, unindo dois papeis

diferentes. Diminui a simbiose afetiva, assim como o sincretismo que antecede a

diferenciação entre o indivíduo e o seu ambiente.

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As atividades circulares que surgiram no estágio impulsivo-emocional passam a ser

encadeadas pelos ‘movimentos de exploração objetivo’, os quais as crianças realizam com

objetos e também nas partes do próprio corpo. Nesse estágio, a criança procura reproduzir os

mesmos gestos que foram provocados pelas sensações, tentando obter assim, o mesmo efeito.

Essas atividades circulares, por coordenarem mutuamente os campos sensoriais e motores,

possibilitam o ajustamento do gesto a seu efeito, refinando, assim, os progressos da preensão

e da percepção.

Organizando suas ações passa a discriminar diferentes movimentos e os efeitos

sensoriais, visuais, auditivos e cinestésicos, conseguindo assim, planejar e organizar

voluntariamente sua atividade.

Ao estabelecer relação no espaço sensório-motor, a criança desenvolve uma inteligência

prática chamada, também, de inteligência das situações. Mahoney e Almeida (2012, p.33)

explicam que quando isso acontece, significa que “[...] ela já é capaz de perceber e fazer

combinações, o que pressupõe a intuição das relações voltadas para a ação imediata, em um

espaço concreto delimitado e em um tempo presente.”

O andar, em conjunto com a linguagem, traz à criança uma oportunidade de entrar no

mundo dos símbolos e, dessa maneira, entrar na segunda etapa desse estágio: a etapa

projetiva, na qual o ato mental projeta-se em atos motores, uma vez que seu pensamento,

ainda, está no início e necessita do auxilio dos gestos para expressá-lo. Na fase projetiva, a

criança mostra-se capaz de elaborar o pensamento sem precisar do concreto, abrindo caminho

à representação, na qual se utiliza da ação motora para dar forma ao pensamento.

Existem dois movimentos projetivos que contribuem para a expressão da atividade

mental: a imitação e o simulacro. Esses dois serão descritos no capítulo III, ao dissertar sobre

a dimensão motora e relacionar o movimento e a representação.

1.3 O estágio do Personalismo

No estágio do Personalismo, a criança continua a exploração de si mesma, porém com

outro olhar, como um ser diferente de outros seres. Nesse estágio, o desenvolvimento está

voltado para o enriquecimento do eu e para a construção da personalidade. A capacidade

simbólica, em conjunto com a consciência corporal adquirida ao longo dos primeiros três anos

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de vida, é condição fundamental para o processo de desenvolvimento da pessoa. Nessa etapa,

os desafios apresentados estão relacionados à formação da personalidade da criança.

A criança tomará consciência de si, como um sujeito social, progressivamente. Lutará

para se individualizar e se diferenciar, entrando será num período de conflito, no qual tentará

se afirmar e conquistar sua autonomia. Na compreensão de Mahoney e Almeida (2012, p.40),

a constituição da pessoa, nesse estágio, é “[...] permeada por conquistas e conflitos,

contradições, crises, que aparecem e reaparecem ao longo do desenvolvimento, jamais

findam; apenas se modificam, reduzem-se, espaçam-se e tomam diferentes coloridos

emocionais [...]”.

Passa a construir sua própria subjetividade por meio das atividades de oposição

(expulsão do outro), das atividades de sedução (assimilação do outro) e da imitação, dando

início ao processo de discriminação entre o eu e o outro, tarefa esta do Personalismo, fazendo

uso das expressões: eu, meu, não, etc. É por volta dos três anos de idade, que começa a crise

de oposição ao outro, fase na qual a criança contradiz e confronta-se com o outro para

experimentar sua independência, impondo-a. Segundo Mahoney e Almeida (2012), Wallon

denominou essa fase de recusa e reinvindicação.

Após a oposição, tem-se a fase da sedução ou idade da graça. A criança busca por apoio

e tem necessidade de ser admirada, de sentir que agrada aos outros, de ser prestigiada, de

mostrar suas qualidades. Assim, nessa fase, a criança reconhece que pode ter sucesso ou

fracasso. A necessidade de admiração vem acompanhada de inquietações, conflitos e

decepções, uma vez que sua expectativa pode não ser correspondida.

A terceira fase do Personalismo, a imitação, é marcada pelo estágio em que as próprias

qualidades não são suficientes. A criança cobiça a dos outros, tomando-os como modelo. A

imitação passa a ser de um papel, de uma personagem que admira e deseja suplantar, que para

Dantas (1992, p.95) é o momento em que a “[...] criança usa o outro como modelo para

ampliação das próprias competências”. E, ao diversificar a imitação, a criança enriquece a

construção de sua pessoa pelos diferentes papéis que toma para si. Portanto, as diferentes

fases que a criança passa nesse estágio do Personalismo, promovem a individualização de sua

pessoa em relação ao seu ambiente.

Para Mahoney e Almeida (2012), é importante considerar, ainda, que é no Personalismo

que surgem duas manifestações da atenção infantil: a instabilidade e a perseveração. Na

primeira, a criança reage indiscriminadamente aos estímulos exteriores; na segunda, a criança

19

permanece na mesma atividade, como se estivesse aderida a ela, alheia aos demais estímulos.

Ambas são consideradas exercícios funcionais para atenção, sendo esta manifestada só no

estágio seguinte: o Categorial.

1.4 O estágio Categorial

Ao diferenciar o eu do outro, a criança obtém melhores condições para explorar,

mentalmente, o mundo físico com atividades de agrupamento, seriação, classificação e

categorização em vários níveis de abstração, chegando ao pensamento categorial. Mahoney e

Almeida (2012) explicam que organizar o mundo físico em categorias possibilita

compreender melhor a si mesmo.

1.5 O estágio da Puberdade e Adolescência

Continua a exploração de si mesmo, mas como uma identidade autônoma. As atividades

são de confronto, autoafirmação e questionamentos. A criança se submete e se apoia no grupo

de pares, contrapondo-se aos valores interpretados pelos adultos com quem convive. Maior

nível de abstração e a dimensão temporal toma relevo, o que possibilita discriminar os limites

de sua autonomia e de sua dependência, explicam Mahoney e Almeida (2012).

Existem três leis que regulam a sequência dos estágios citados. Analisando-os, é

possível observar que existe alternância de direções opostas entre eles, chamada de lei da

alternância funcional. Isto significa que, o movimento do desenvolvimento que predomina ora

é para dentro (conhecimento de si), ora é para fora (conhecimento do mundo exterior).

Para Wallon (2007), essa condição indica, também, que existe alternância dos conjuntos

funcionais a cada estágio, chamados de lei da sucessão de predominância funcional. Cada um

deles (motor, afetivo, cognitivo) destaca-se em um estagio e se nutrem mutuamente, embora o

exercício e o amadurecimento apresente interferência no amadurecimento dos outros. Unindo

as duas leis, observa-se que quando a direção é para si mesmo (centrípeta), predomina o

afetivo e quando a direção é para o mundo exterior (centrífuga), predomina a dimensão

cognitiva. Essas duas dimensões – afetiva e cognitiva – têm como suporte a atividade motora,

20

isto é, a dimensão motora, seja em seus deslocamentos no espaço, seja em sua expressão

plástica (postura tônica).

Como explicam Mahoney e Almeida (2012), a lei da integração funcional descreve essa

relação entre os estágios como sendo uma relação de hierarquia, na qual os primeiros estágios

são considerados conjuntos mais simples, com atividades mais primitivas que serão integradas

aos conjuntos mais complexos de estágios seguintes, dependendo das possibilidades do

sistema nervoso e do meio ambiente.

A atividade da criança, no início, é elementar, descontinua e só o movimento corporal

pode testemunhar sobre a vida psíquica. Segundo Dantas (1983), o desenvolvimento psíquico

da criança está continuamente ligado ao seu desenvolvimento motor, visto que o aspecto

motor e mental de uma mesma vivência se dispõe numa reciprocidade de ações e de reações.

E assim, podemos entender o porquê da teoria de Wallon ser considerada a base da

Psicomotricidade. Fonseca (2004) esclarece que, em Psicomotricidade, o psíquico e o motor

são dois elementos complementares, solidários e dialéticos, da mesma totalidade sistêmica,

considerando o corpo e a motricidade como elementos essenciais da estrutura psicológica do

Eu, pois é na ação que se toma consciência de si próprio e do mundo. Wallon vai além. Para

ele, a motricidade é sempre psicomotricidade. (DANTAS, 1992)

21

CAPÍTULO II

2. A HISTÓRIA DO CORPO

O que entendemos por corpo? Qual o conceito que se tem? E porque pensar sobre isso?

Essas são questões que devem ser esclarecidas, antes de apresentar as dimensões que o

envolvem, em especial a dimensão motora. Qual é a importante em elucidar o significado?

Pois, ainda hoje, muitos desconhecem sua importância para o desenvolvimento integral do

indivíduo e outros têm um conhecimento superficial de sua capacidade.

Para Vigarello (2000 Apud GIRARD; CHALVIN, 2001, p.229): “o corpo é um objeto

múltiplo que pode representar dimensões bastante diferentes da vida, tais como a

sensibilidade, a expressão ou uma verdadeira mecânica ligada ao trabalho. Ele evoca

numerosas imagens, sugere múltiplas possibilidades de conhecimento [...].” O autor

descreveu, ainda, as várias concepções do corpo desde a Idade Média até os nossos dias,

incluindo também sua influência na Pedagogia francesa. Para cada época, existiam posturas

ideais que ditavam as respectivas pedagogias.

Da Idade Média ao século XVIII, a sociedade procurou corrigir o corpo e os valores

estéticos tinham uma grande importância. Na Idade Média, o cavaleiro deveria ser valente e

robusto e as mulheres da corte aprumadas, sem permissão para correr e saltar e, ainda, evitar

olhar para os lados. Assim, procurava-se impedir exageros, abolindo as gesticulações.

No século XVI, observa-se um controle maior em relação à postura e à posição ereta.

Além do uso do coto de malha e do corpete apertado, surgia o espartilho, para modelar o peito

e segurar as costas criando a forma que os padrões estéticos exigiam, e indiferentes às

doenças e aos desmaios. Já no século XVII, o comportamento era regido pela regra, acabando

com toda a espontaneidade, o corpo ereto adquire um sentido puramente social. As crianças

eram enfaixadas, com o objetivo de prepará-las para ficar em pé e evitar que ficassem

corcundas ou desformes. As roupas que usavam eram apertadas e caso necessário, usavam o

espartilho.

No campo pedagógico, o exercício ainda era moderado e possível, embora as propostas

tivessem o objetivo de aperfeiçoar a postura ereta. Para impedir exageros e turbulências,

marcavam-se os limites do corpo do aluno, deixando-o travado a fim de ajuda-lo a dominar

suas paixões. No século XVIII, a concepção do corpo modelado altera-se e passa-se a exaltar

22

o músculo e a liberdade de movimento na roupa. No entanto, a ideia de um corpo sem defeito

permanece e os exercícios tornaram-se imprescindíveis para corrigir, quando necessário.

A partir de 1830, os homens com poder aquisitivo alto passaram a frequentar os

ginásios. Nasce nessa mesma época a ginástica, como ciência dos nossos movimentos, sendo

que o ginasta torna-se o especialista do corpo e a harmonia e a higiene passam a ser

enfatizadas. Até aqui, a questão de gênero diferencia muito a concepção de corpo.

E na Pedagogia, já assombrada pela escoliose (decorrente das más posturas) e pela

tuberculose, tentava-se domesticar o corpo; agir sobre o estado de espírito; disciplinar os

rebeldes e civilizar os rústicos; com vigilância permanente do modo de vestir até a postura,

assim como das regras de etiqueta e da linguagem. A preocupação era em erradicar as

malformações e os comportamentos inconvenientes. O argumento higienista da época

ordenava a correção e a vigilância das posturas dentro de sala de aula. A preocupação em

prevenir e curar ocasionou um aumento de rigidez.

Por volta da segunda metade do século XIX, o corpo e tudo que se refere a ele sofrem

significativas transformações. Dentro da sala de aula com o intuito de se tornar mais

funcional, a organização do espaço passa a privilegiar a vigilância e a rigidez, o mobiliário é

responsabilizado pelos comportamentos desaprovados dos alunos. Perdem espaços os longos

bancos e mesas com alturas diferentes, nas quais comportavam dez alunos.

A partir de 1857, com a Exposição Universal realizada na França, aparecem as

primeiras propostas de fabricar um mobiliário escolar próprio e de organização mais racional

da sala de aula. Aos poucos, surgem as indústrias de mesas e bancos preocupados com a

ordem e a boa postura. E por volta de 1880, a ginástica passa a ser obrigatória nas escolas da

França com a função de domesticar o corpo; organizar os grupos; desenvolver o tórax por

meio dos movimentos respiratórios e distinguir as anomalias e deficiências. Com perfil

rigoroso e normativo, voltava-se mais para a ordem militar e para autoridade científica do que

para o desenvolvimento do corpo.

A prática de movimento deveria preparar para a atenção e a obediência, com o intuito,

também, de corrigir a postura, hábitos esses que deveriam ser incorporados pelos alunos nas

salas de aula. Mas até então, o contato corporal era praticamente nulo. O distanciamento do

professor envolvia tanto o social quanto o afetivo. Ao professor cabia padronizar as posições e

os movimentos, desencadeando as correções de postura se utilizando somente da voz.

23

A preocupação com a higiene e a ordem alongou-se até aproximadamente 1954.

Contudo, a partir de 1923, observa-se uma preocupação com o equilíbrio e com a harmonia. A

Educação Física perde o aspecto militar e restrito e a correção corporal está voltada para

tornar mais proveitoso o ensino da escola. Acreditava-se que corrigir a desarmonia postural,

garantindo a postura ereta, os alunos teriam melhores condições de suportar os ensinamentos

propostos.

A partir da segunda Guerra Mundial, a ideia central era “Mente sã num corpo são”. O

indivíduo passa a reexaminar as restrições a que era submetido na mesma proporção em que

passa a ser estimulado a desenvolver a autoafirmação. Cada indivíduo torna-se responsável

por seu próprio corpo, devendo prestar atenção às mensagens e informações enviadas pelo

organismo, experimentando bem-estar, indisposições e todos os indícios para fazer

desaparecer as tensões e crispações corporais.

A harmonia continua em voga, no entanto, torna-se pessoal e individual como

exemplifica Girard e Chalvin (2001, p.21) ao dizer que o corpo “[...] não mais se molda

numa silhueta exemplar, reta como um i, mas num corpo desenvolvido.” E, por essa razão, a

Pedagogia torna-se mais solta: a ginástica busca flexibilizar e não endireitar, preocupa-se com

o prazer de mover os músculos, de eliminar as tensões acumuladas e de recuperar a

espontaneidade dos gestos. “[...] dar a palavra ao corpo para nele, ler a história oculta do

inconsciente e dos afetos.” (GIRARD; CHALVIN, 2001, p. 22)

Em suma, se faz necessário lembrar que, mesmo existindo uma preocupação com o

corpo na mais alta Antiguidade, foi no século XIX que o corpo passou a ser estudado e

percebido, por aqueles que atuavam no campo da Medicina, os neurologistas e os psiquiatras.

No campo científico, temos dentre outros, Henri Wallon, com sua teoria sobre a integração

das dimensões motora, afetiva e cognitiva, compreendendo o indivíduo em sua totalidade, em

especial na fase da infância (criança).

Dando continuidade à obra de Wallon, temos J. Ajuriaguerra (s/a apud Coste 1992) que

colocou o corpo em uma dimensão antropológica e ontológica de grande amplitude. O autor

afirmou que a criança é o seu corpo e este deve ser considerado a substância que confirma a

existência do homem sendo, ao mesmo tempo: o que nos pertence e faz parte do mundo;

superfície e interior; inerte e palpitante; habitáculo e habitado.

As pesquisas acadêmicas sobre o corpo, em sua maioria, abordam a questão corporal e

são realizadas por profissionais da área de Educação Física e pouco voltadas à dimensão

24

motora, em especial no desenvolvimento infantil. No entanto, alguns estudos se aproximam

da proposta desta pesquisa: Garanhani (2004), Limongelli (2006) e Cintra (2012).

2.1 O corpo na educação brasileira

Por volta de 1915 o ensino racionalista vinha perdendo força. Em 1925, Maria Lacerda

de Moura propôs inserir, nas atividades escolares, a Educação Física, a educação dos sentidos

e o estudo do crescimento físico, pois acreditava que além das noções de: cálculo, da leitura,

língua e história, era fundamental o despertar, na criança, da sua vida interior para que

houvesse uma autoeducação.

Com a burguesia urbano-industrial no poder, um novo projeto educacional foi

implantado. O Manifesto dos pioneiros da Educação Nova, assinado por 27 educadores em

1932, que foi resultado de uma luta política que durou cerca de 10 anos, em favor de um

Plano Nacional de Educação. Do esboço escrito a partir do manifesto, encontramos em Gadoti

(2003, p.240):

[...] VIII – Desenvolvimento das instituições de educação e de assistência

física e psíquica à criança na idade pré-escolar (creches, escolas maternais e

jardins de infância) e de todas as instituições complementares periescolares e

pós-escolares: a) Para a defesa da saúde dos escolares, como os serviços

médicos e dentários escolares (com função preventiva, educativa ou

formadora de hábitos sanitários e clínicas, pelas clínicas escolares, colônia

de férias e escolas para débeis) e para a prática de educação física (praças de

jogos para crianças, praças de esportes, piscinas e estádios).

Na legislação brasileira, que orienta os caminhos para a educação, as Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação Básica foram fundamentais para eu compreender como a

legislação trata das questões do corpo e da Psicomotricidade. As orientações englobam:

Educação Infantil; Ensinos Fundamental (I e II) e Médio; Educação no Campo; Educação

Indígena, Quilombola; Educação Especial e de Jovens e Adultos, incluindo em Situação de

Privação de Liberdade nos estabelecimentos penais; e, também, Educação Profissional

Técnica de Nível Médio.

As diretrizes desse documento têm o objetivo de orientar a organização, a articulação, o

desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino

25

nacionais. E por se tratarem de orientações, não foram encontradas referências ao tratamento

do corpo, especificamente, como também concluem Vaz et al (2004, p. 04): “O corpo não

deixa marcas tão precisas para o estudo histórico. Os registros dos quais dispomos são

sempre mediações, ou representações, se preferirmos [...].” Entretanto, encontra-se um olhar

para o sujeito integral, isto é, orientações que consideram seu contexto histórico e

sociocultural, com suas condições físicas, emocionais e intelectuais.

Em relação à Educação Infantil:

[...] nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação, valorizando a

aprendizagem para a conquista da cultura da vida, por meio de atividades

lúdicas em situações de aprendizagem (jogos e brinquedos), formulando

proposta pedagógica que considere o currículo como conjunto de

experiências em que se articulam saberes da experiência e socialização do

conhecimento em seu dinamismo, depositando ênfase: I – na gestão das

emoções; II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e alimentares; III –

na vivência de situações destinadas à organização dos objetos pessoais e

escolares; IV – na vivência de situações de preservação dos recursos da

natureza; V – no contato com diferentes linguagens representadas,

predominantemente, por ícones – e não apenas pelo desenvolvimento da

prontidão para a leitura e escrita –, como potencialidades indispensáveis à

formação do interlocutor cultural. (MEC, 2013, p.37)

Em relação ao currículo da Educação Infantil:

Intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, as práticas que

estruturam o cotidiano das instituições de Educação Infantil devem

considerar a integralidade e indivisibilidade das dimensões expressivo-

motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural das

crianças, apontar as experiências de aprendizagem que se espera promover

junto às crianças e efetivar-se por meio de modalidades que assegurem as

metas educacionais de seu projeto pedagógico. (MEC, 2013, p.86)

Em relação à visão de criança:

[...] são histórica e culturalmente produzidas nas relações que estabelecem

com o mundo material e social mediadas por parceiros mais experientes.

Assim, a motricidade, a linguagem, o pensamento, a afetividade e a

sociabilidade são aspectos integrados e se desenvolvem a partir das

interações que, desde o nascimento, a criança estabelece com diferentes

parceiros, a depender da maneira como sua capacidade para construir

conhecimento é possibilitada e trabalhada nas situações em que ela participa.

26

Isso por que, na realização de tarefas diversas, na companhia de adultos e de

outras crianças, no confronto dos gestos, das falas, enfim, das ações desses

parceiros, cada criança modifica sua forma de agir, sentir e pensar. (MEC,

2013 p. 86)

Podemos, então, dessas afirmações, depreender que as Diretrizes postulam uma

educação integral para a criança pequena que engloba as dimensões motora, afetiva e

cognitiva.

No capítulo que segue, o foco está na dimensão motora por ser este o objetivo desta

pesquisa, no entanto, com a devida clareza de que as três dimensões estão imbricadas uma na

outra e que a interferência em uma das dimensões, repercute nas demais.

27

CAPÍTULO III

3. A DIMENSÃO MOTORA

De acordo com a teoria psicogenética de Wallon, o desenvolvimento é postulado como

um processo no qual cada estágio significa mais do que um acréscimo de atividades mais

complexas: um processo contínuo de transformações coerentes com a história evolutiva

anterior.

Com essa concepção, a cada nova exigência do meio, novas possibilidades orgânicas

podem ser ativadas em várias direções e, para isso, acionam-se os conjuntos funcionais: o

motor, o afetivo, o cognitivo e a pessoa, uma vez que cada um deles é responsável, dentro do

sistema total, por uma dimensão das funções que constituem o ser humano. Isso significa que

toda atividade do indivíduo origina-se da integração do cognitivo com o afetivo e com o

motor.

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos

tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que

cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária

apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa

interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos

eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda

disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação

mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas elas têm um impacto no

quarto conjunto: a pessoa, que ao mesmo tempo em que garante essa

integração, é resultado dela. (MAHONEY; ALMEIDA, 2012, p. 15)

Em se tratando de crianças, a motricidade é a característica essencial, uma vez que as

mesmas a utilizam como resposta preferencial e prioritária para suas necessidades básicas e

estados emocionais e relacionais. Sendo assim, a motricidade é a primeira estrutura de relação

e de correlação com o meio, com os outros e, por intermédio dos outros, com os objetos.

Fonseca (2008) esclarece que desde o desenvolvimento intrauterino da criança, a motricidade

é uma das mais ricas maneiras de interação com o mundo externo, o que a torna um

instrumento privilegiado de comunicação da vida psíquica.

Segundo Dantas (1992), o grande eixo para Wallon é a motricidade. A afetividade e a

cognição surgem uma vez que não se dissociam do conjunto que constituem a pessoa. Para

essa pesquisadora, a psicogênese da pessoa funde-se com a psicogênese da motricidade e, por

28

essa razão, é comum encontrarmos o termo psicomotricidade em sua teoria, pois devemos

considerar que o motor é sinônimo de psicomotor.

Para Wallon (2008), a dimensão motora envolve muito mais do que as relações

biomecânicas que o corpo e suas partes efetuam ao deslocar-se no tempo e no espaço. Em sua

concepção, o autor considera as influências dos elementos internos da pessoa, ou seja, as

emoções, os sentimentos e os pensamentos para a realização dos movimentos corporais.

Argumenta, ainda, que o movimento se dá pela capacidade dos músculos em gerar tensão para

os deslocamentos corporais, assim como, por ser considerada a base das atitudes dos seres

humanos. Assim, o movimento corporal é compreendido como um funcionamento

permanente do corpo nas várias situações.

Limongelli (2006) acrescenta que, ao aprofundar-se nessa dimensão, Wallon identificou

os órgãos do movimento corporal, isto é, a musculatura e as estruturas cerebrais responsáveis

pela sua organização. Enquanto atividade muscular a partir de três formas de deslocamentos:

o movimento exógeno ou passivo, o movimento autógeno ou ativo e o movimento de reações

posturais, ou deslocamentos dos segmentos corporais. Sendo o movimento exógeno ou

passivo responsável por manter a posição em uma relação harmoniosa com a força da

gravidade, pois são movimentos subconscientes, uma vez que as estruturas corporais ou

centros neurológicos que os controlam estão localizados na região subcortical.

Em relação ao movimento autógeno ou ativo, Limongelli (2006) explica que esse

movimento é responsável pelo movimento voluntário ou intencional do corpo ou de partes

dele. São movimentos conscientes, uma vez que as estruturas corporais ou centros

neurológicos estão localizados na região cortical do cérebro. Enquanto que o terceiro

movimento, o movimento das reações posturais ou deslocamentos dos segmentos corporais,

em relação aos outros, são àqueles que constituem as atitudes que as pessoas apresentam

segundo suas emoções e vivencias. Os centros neurológicos responsáveis por esse movimento

se localizam na região subcortical do cérebro, sendo assim, são movimentos subconscientes.

Esse último movimento tem sua origem na variação das emoções e os deslocamentos

acontecem a nível músculo-cutâneo, não permitindo provocar mudanças do corpo no tempo e

no espaço, apenas mudanças visíveis na plástica da musculatura corporal. E com isso, dar

origem ao movimento que normalmente é ignorado por não ter efeito transformador sobre o

ambiente físico, embora tenha sobre o ambiente social, pois estamos falando da motricidade

expressiva da mímica. É pela expressividade que o indivíduo atua sobre os outros, em

especial no seu período do primeiro estágio de desenvolvimento, fase em que a criança

29

expressa suas emoções e, por meio dessa expressão, afeta o outro para atender suas

necessidades.

Com essas três formas de deslocamentos, a teoria walloniana reconhece que o

movimento acontece tanto no espaço físico externo do corpo quanto no espaço orgânico

interno do corpo, reforçando a importância das emoções como forma de sobrevivência para o

bebê humano, que nasce tão desprovido de condições para sobreviver. Wallon considera,

também, que esses três movimentos preenchem duas funções: a função cinética e função

tônica.

A função cinética ou clonica responde pelo movimento visível, pela mudança de

posição do corpo ou dos segmentos do corpo no espaço (a atividade do músculo em

movimento). Quanto à função postural ou tônica, envolve o músculo parado, a manutenção da

posição assumida, isto é, da atitude, assim como da mímica, sendo esta identificada, de acordo

com Dantas (1992), como substrato da função cinética.

Na visão de Wallon (2008), a função tônica está presente no indivíduo antes mesmo da

motricidade adquirir sua eficácia, uma vez que ela atua durante a imobilidade e está presente

nas emoções, até mesmo quando a função simbólica vem internalizar o ato motor. O ato

mental, que se expande a partir do ato motor, termina por inibi-lo, mas não o extingue.

Em Wallon (1949/1971), é possível compreender que a noção do eu corporal necessita

que haja uma diferença entre os elementos relacionados ao mundo exterior e os atribuídos ao

próprio corpo. Por esta razão, se faz necessário que seja possível uma ligação entre a atividade

para o mundo exterior e a relacionada às necessidades e às atitudes do corpo. Contudo, essa

integração só ocorrerá quando houver mielinização das fibras nervosas do sistema vestibular,

do núcleo ventral, do corpo trapezoide, da oliva superior, dos núcleos motores; o que se inicia

por volta do terceiro mês e não se conclui antes do duodécimo.

O período inicial é considerado a etapa impulsiva que consiste além dos reflexos,

apenas os movimentos impulsivos, globais e incoordenados. A partir deles, com o

amadurecimento das estruturas descritas anteriormente, associado à resposta social do

ambiente diante da interpretação do significado (bem-estar, mal-estar) dos movimentos, será

introduzida a etapa expressiva emocional.

Para Wallon (1949/1971), a resposta motora ao meio está apoiada em uma integração

das reações interoceptivas, proprioceptivas e exteroceptivas. Entretanto, existe uma

dissociação entre esses diferentes domínios, uma vez que entre suas manifestações devemos

30

considerar a diferença cronológica. As funções interoceptivas são mais precoces e as

exteroceptivas verificam-se posteriormente.

As reações interoceptivas envolvem a sensibilidade visceral, isto é, estão relacionadas

às manifestações orgânicas, tais como, sucção, deglutição, nutrição, respiração, eliminação,

vigilância, etc. Provocam sensações difusas, sinalizando os estados de bem estar ou mal estar.

Essas informações são provenientes da região subcortical responsável pelas emoções. A

sensibilidade proprioceptiva está relacionada a um sistema de funções que acompanha o

desenvolvimento da atividade motora desde o seu estado mais anacrônico até as suas

possibilidades atuais.

Esses sistemas sinérgicos de movimentos e de atitudes são constituídos, de tal maneira,

que o deslocamento realizado por uma parte do corpo e a resistência por ele encontrada,

suscitam no resto do corpo: a expressão corporal da emoção (atitude) e os movimentos que

melhor podem manter o equilíbrio geral e contribuir com a ação solicitada. E desta maneira,

auxilia na formulação da noção do próprio corpo, uma vez que provoca sensações relativas ao

equilíbrio do corpo e à posição dos segmentos corporais em relação ao próprio corpo. Os

sentidos vestibular e tátil cinestésicos assumem a preferência na interação com o mundo

exterior.

Quanto às reações exteroceptivas, são consideradas sinergias relacionadas às excitações

vindas do mundo exterior e não mais do próprio organismo, sendo que essas surgem no curso

das primeiras semanas. E, ao mesmo tempo em que as sinergias parciais se formam, as

sinergias generalizadas se desenvolvem gradualmente e é ao cérebro que compete essa

regulação.

Os componentes iniciais são: virar-se, sentar-se, erguer-se nos pés agarrando-se com as

mãos. Em seguida, aparecem as tentativas para deslizar-se para trás, para rastejar, andar de

quatro. A partir desses avanços, a criança começa a fazer ligação para ver o que mais lhe

convêm. A rapidez desses progressos, seja referente ao processo de equilíbrio, da estabilidade

e da velocidade ou ao processo do ritmo, apresenta grande diferença de indivíduo para

indivíduo, e isso acontece em todos os domínios, fazendo-se necessária uma intervenção da

sinergia postural e motora. Ou seja, em tudo que serve de apoio não só para à atividade

motora mas, também, à atividade sensorial e psíquica.

Optei por detalhar alguns tópicos da teoria walloniana que se referem mais

especificamente à dimensão motora.

31

3.1 O Meio

Wallon (1986) propõe, também, o entendimento de que a motricidade humana começa

pela atuação sobre o meio social, antes de modificar o meio físico, e o meio-social, nessa

perspectiva, é a chave para o intercâmbio com o meio físico. E o meio é complemento

indispensável do ser vivo, uma vez que deve corresponder às necessidades e aptidões

sensório-motoras e, depois, psicomotoras do indivíduo. “[...] a maneira pela qual o indivíduo

pode satisfazer suas necessidades mais fundamentais depende do meio e, também, de certos

refinamentos de costumes que podem fazer coexistir, nos mesmos locais, pessoas de meios

diferentes.” (Wallon, 1986, p. 170)

Wallon (1986) esclarece, ainda, que o homem é inserido pela sociedade em novos

meios, novas necessidades, novos recursos, aumentando suas possibilidades de evolução e

diferenciação individual. E o meio, por sua vez, é considerado um conjunto de circunstâncias,

duráveis ou não, nas quais se desenvolvem existências individuais, comportando condições

físicas e naturais, que são transformadas pelas técnicas e pelo uso do próprio grupo humano.

Werebe e Brulfert (1986) pontuam que na obra de Wallon, o próprio distinguiu o meio

em três grandes categorias. A primeira distinção relacionada ao conjunto dos seres vivos

envolve o tipo de intercambio que os meios permitem. Temos então, o meio físico-químico,

base de todas as espécies, representa um mecanismo quase estável de trocas para uma

determinada espécie. O meio biológico, se refere ao meio em que se organizam as ações

mutuas entre as diferentes espécies, assim como suas limitações e os estados de equilíbrio

mais ou menos estáveis. Já o meio social está relacionado às varias condições da existência

coletiva e podem ser destacadas diferenças individuais, além de serem mais moveis e

transitivas do que os meios anteriores.

A segunda distinção, própria da espécie humana, menciona a superposição do meio

social ao meio físico, como escrito no inicio deste tópico. A terceira distinção, também

especifica da espécie humana, envolve dois tipos de meio:

“[...] o meio físico, espacial e temporalmente determinado, meio das reações

sensoriomotoras, dos objetivos atuais, da inteligência das situações, em que

os meios de ação são os sistemas funcionais ligados aos movimentos; o meio

fundado sobre a representação, em que as situações são simbólicas e

implicam o manejo de conceitos.” (WEREBE; BRULFERT, 1986, p.21)

32

Nadel (1981) discute que o meio proposto por Wallon tem duplo status, o meio pode ser

considerado tanto como “meio ambiente” (meios físicos e sociais) como “meio de ação”

(campos de aplicação), sendo que este último pode ou não coincidir com os meios locais. A

escola é um bom exemplo de meio funcional e de meio local. Funcional, pois as crianças a

frequentam para instrumentar-se, familiarizarem-se com as relações interindividuais. Por

outro lado, é também um meio local onde as crianças podem pertencer a meios sociais

variados que se encontram. A família também pode ser considerada um meio funcional, no

qual a criança encontra recursos para satisfazer suas necessidades. Entretanto, sua estrutura

faz dela um grupo, isto é, sua existência baseia-se na reunião de indivíduos que mantêm, entre

si, relações que determinam o papel e/ou o lugar de cada indivíduo no conjunto.

Para Wallon (1986), é importante para a criança fazer parte de um grupo, não somente

para sua aprendizagem social, como também para o desenvolvimento de sua personalidade e

para a consciência que terá desta última. A pesquisa realizada por Kernberg e Chazan (1992,

apud PREBIANCHI, 2002, p. 88) evidencia que, na idade escolar, “[...] o grupo de

companheiros assume importância, porque o aprendizado de valores e normas de

comportamento, dentro de seu grupo etário, ajuda as crianças a se tornarem mais autônomas

e a avançarem em seu desenvolvimento.”

O meio ao qual a criança está inserida, assim como aqueles com que ela sonha, auxilia

na constituição de sua pessoa. Ambos marcam o indivíduo e é dessa maneira que a criança

desenvolve sua consciência, sua vida psíquica, se expressa, organizando-se nos conjuntos

funcionais que se integram, cada qual com sua identidade própria.

Vários meios podem, então, superpor-se para um mesmo individuo e até

entrar em conflito. Alguns são vergonhosos, outros vantajosos, alguns são

renegados e outros desejados. Assim a existência dos meios reais pode ser

duplicada, para a criança, por julgamentos de valor ou por aspirações

imaginativas, no decorrer das quais ela opõe a situação que desejaria para si

e a situação do outro ao seu próprio destino. Os meios em que vive e aqueles

com os quais sonha são a fôrma que deixa nela sua marca. Não se trata de

uma marca recebida passivamente [...]. (WALLON, 1986, p.171)

3.2 A Imitação e o Simulacro

Na concepção walloniana de desenvolvimento infantil, a imitação e o simulacro são

imprescindíveis para novas aprendizagens. A imitação é de grande importância para o

33

desenvolvimento da criança, uma vez que anuncia o nascimento da representação. É tida

como uma atividade que relaciona o movimento e a representação. A criança quando imita os

modelos sociais, elabora-os corporalmente construindo imagens mentais contextualizadas,

recria e modifica-os por meio de interiorizações e de exteriorizações sensório-motoras.

Wallon (2008) explica que a imitação não acontece de imediato, existe um tempo entre

a percepção e a execução. Após um período de incubação, ela reproduz os movimentos

observados, nos quais coexistem automatismo e invenção. O período maior demonstra o grau

de importância do aprendizado mudo, que aconteceu entre as percepções iniciais e a aquisição

do novo gesto. Nessa concepção, a imitação pode ser vista de duas maneiras: como

participação ou como desdobramento do ato. No que se refere à participação, reflete a junção

do meio físico com o humano, e a criança realiza o movimento de imitação espontânea de um

modelo que fora percebido anteriormente e transformado em ação no momento presente. E o

desdobramento se “sobrepõe” a essa ação imediata possibilitando-lhe, por meio da

representação, realizar o “desdobramento”, a diferenciação do eu e do outro, tomando

consciência de si e do outro.

De pequeno até aproximadamente três anos de idade, os jogos sensório-motores, dos

quais a criança participa, fazem com que se estabeleçam conexões mais amplas e variadas

entre os campos sensoriais ou exteroceptivos e os posturais ou proprioceptivos. Essas

conexões são resultados de investigações e comportam certo grau de previsão ou de dedução.

Já por volta dos três ou quatro anos de idade, ocorre a imitação fantasista (imitação dramática)

que coincide com a crise de personalidade. Assim, ao mesmo tempo em que sente a

necessidade de afirmar-se a si mesmo, a criança se interessa pelas outras pessoas,

demonstrando esse interesse pela imitação. Integrado ao comportamento, essa imitação

adquiri a marca do meio na mesma medida em que se torna o próprio meio.

A partir dos seis anos de idade, a imitação se torna racional e refletida. Os interesses

imediatos são substituídos pelos interesses diferidos. A criança utiliza a imitação para

conquistar afeição, para obter recompensa ou gesto de afeição. Outra situação que antecede a

representação é o simulacro que se caracteriza pelo exercício ideomotor, isto é, quando os

gestos apoiam o pensamento. A criança “simula” uma situação, na qual utiliza um objeto sem

tê-lo presente. Na verdade, podemos dizer que se trata de um ato sem o objeto real, que

envolve o movimento e a representação. Os simulacros apoiam a narrativa da criança

permitindo a ela lidar com a ficção, com seus desejos de invenção e de criação, por isso, para

ela não é ilusório e sim, a descoberta e o exercício de uma função.

34

Considerado como uma representação, dependendo do momento e do grau de evolução,

pode prevalecer uma das três funções: o real, a imagem e os sinais. Embora esteja ligado a

objetos materiais, pode emigrar para o plano dos símbolos. Ambos (imitação e simulacro)

ilustram um desdobramento da realidade, “pressupondo” o início da representação, abrindo

em seguida “portas” para o pensamento simbólico prospectivo.

3.3 O controle do movimento...

Wallon (2007) chama de disciplinas mentais a capacidade que o indivíduo tem de

controlar suas próprias ações, isso inclui a redução da motricidade exterior e o ajustamento

progressivo do movimento no mundo físico e social, entrando assim, fortemente, a ação da

cultura. Essa capacidade está ligada ao amadurecimento dos centros de inibição e

discriminação, que se localizam no córtex cerebral e que se dá por volta dos seis e sete anos.

Antes desse amadurecimento, a atividade da criança é marcada por uma instabilidade,

uma vez que costuma reagir, indiscriminadamente, aos estímulos externos. Por outro lado, é

comum situações em que a criança está totalmente concentrada, em um estado de afastamento

aos outros estímulos. Esta situação em que o estimulo controla o sujeito é chamado de

perseveração.

A partir do fortalecimento das condutas voluntárias, o indivíduo passa a comandar o

estimulo, sendo capaz de escolher o foco de sua atenção ou o sentido de sua ação motora.

Consequentemente, a criança se torna apta para se desligar das ações espontâneas e imediatas,

postergando-as, passando a realizar atividades planejadas.

A consolidação das disciplinas mentais é um processo lento e gradual que depende de

condições neurológicas e de fatores de origem social, como o desenvolvimento da linguagem

e a aquisição do conhecimento. (WALLON, 2007)

3.4 A inteligência prática e a inteligência discursiva2

2 Este tópico esta baseado no texto de Amaral, que integra a coletânea organizada por Mahoney e Almeida

(2004)

35

Compreender o desenvolvimento das capacidades intelectuais no conjunto do

desenvolvimento do indivíduo significa aprender essas capacidades no entrelaçamento das

três dimensões: o motor, o afetivo e o cognitivo. Na abordagem walloniana, o

desenvolvimento da função cognitiva ocorre desde o nascimento, embora a predominância

nesse início de vida seja da dimensão motora, como já evidenciamos neste texto.

Nos três primeiros meses de vida, o conjunto de reações da criança mobiliza o entorno,

contagiando o meio humano, sendo atendido ou não os seus apelos, interpreta dando-lhes

significados, criando seu próprio repertório de significados. Essa forma de sociabilização, em

fusão com o ambiente externo, forma as primeiras imagens mentais, sincréticas e globalizadas

da criança.

A estimulação vinda do trabalho cotidiano com a criança, sempre com liberdade de

movimentos, de tirá-la da cama, alimentá-la, mudar de posição, de ambiente, ativa as funções

sensório-motoras, fazendo com que possa diferenciar as diversas sensações. Ao coordenar os

movimentos de seu próprio corpo, passa a integrar a sensação com o ato, possibilitando a

apreensão do real e inteligente das coisas.

A primeira forma de expressão da criança é o movimento, com o qual revela o que se

passa no seu mundo interno. Desenvolve-se inicialmente, por meio das reações de

compensação e reajustamento do próprio corpo sob a ação da gravidade. A cada nova posição

conquistada, trazendo novos deslocamentos do corpo, possibilita na criança o reconhecimento

das coisas e do mundo na sucessão de três espaços: o espaço bucal, o espaço próximo e o

espaço conquistado pela locomoção.

O uso das mãos, em conjunto com os deslocamentos no espaço, traz para a criança

novas possibilidades de percepção do ambiente e de ação sobre ele, tornando possível

aprimorar as relações, intensificando funções intelectuais. Todas essas situações são

caracterizadas por um tipo de inteligência chamada, por Wallon, de inteligência prática.

A inteligência prática, conhecida também por inteligência das situações ou inteligência

espacial, é desenvolvida à medida que a criança estabelece relações no espaço sensório-motor.

Isso sinaliza sua capacidade de perceber e fazer combinações frente à ação imediata, em um

espaço concreto demarcado e em um tempo presente.

A inteligência discursiva passa a se desenvolver com o surgimento da linguagem, tendo

em vista que nomear, identificar e localizar os objetos auxilia a criança a distingui-los,

compará-los e agrupá-los com diferenciações gradativas.

36

Desta maneira, o andar e a linguagem oportunizam para essa criança ingressar no

mundo dos símbolos, entrando assim, na segunda parte do estágio sensório motor, a etapa

projetiva, quando o ato mental projeta-se em atos motores. Isso significa que o gesto precede

a palavra, pois a criança não é capaz de imaginar sem representar nesta etapa, ela os utiliza

para expressar seus pensamentos.

Aos poucos a linguagem passa a substituir a ação motora direta sobre as coisas, fazendo

com que a aprendizagem não dependa da manipulação imediata e concreta. Por meio da

apropriação da linguagem, a criança tem a possibilidade de representar o mundo mentalmente,

encontrando para cada representação um signo.

O desenvolvimento avança conforme a sucessão dos estágios e a sua expansão se

caracteriza pelo maior domínio do corpo e da capacidade mental, garantido pela maturação

cerebral e pelas práticas sociais. A integração das funções em cada momento do

desenvolvimento traz um conjunto de comportamentos diferentes dos anteriores, uma vez que

ocorrem transformações que apontam para novas direções.

A integração das funções dos vários domínios na pessoa resulta dos movimentos de

superação de oposições entre elas, pois há conflitos, forças divergentes e refluxos, que

produzem uma integração dinâmica, plástica, garantindo ao organismo adaptar-se ao meio. E,

por sua vez, esse meio torna o desenvolvimento das funções cada vez mais sofisticado e

diferenciado.

3.5 A imperícia3

A intenção de trazer essa questão para a parte teórica da pesquisa envolve duas razões.

A primeira, usando as palavras de Wallon (1975, p.125): “A imperícia é algo que nos é

bastante familiar. Conhecemo-la, por nós próprios e como educadores. Sempre que queremos

aprender um movimento novo ou ensiná-lo, temos de nos debater com a nossa imperícia ou

com a dos nossos alunos”. Em segundo, se faz necessário que os professores conheçam as

diferentes formas de imperícia que podem aparecer, para compreender o movimento corporal

que os alunos apresentam durante as aulas.

3 As considerações teóricas apresentadas estão respaldadas em artigo do mesmo nome escrito por Wallon,

publicado originalmente no Journal de Psychologie em 1928 e publicado posteriormente em Psicologia e educação da infância, 1975.

37

Sendo a imperícia uma imperfeição habitual dos movimentos, podemos dizer que

alguém é inábil quando não consegue executar uma ação. Por esta razão, todos os fatores

relacionados à execução do movimento, por sua insuficiência tornam-se causa de imperícia.

Segundo Wallon (1975), os fatores, a principio, estão relacionados aos instrumentos e

ao comando do movimento. “Os instrumentos, indispensáveis ao movimento são os

membros”. Quando se tem algum vicio ou deformação o movimento torna-se incorreto ou

difícil. No entanto, existe a possibilidade do individuo desenvolver uma habilidade motora

para compensar essa dificuldade.

Quanto ao comando, se faz necessário distingui-lo (voluntário ou involuntário). No

movimento voluntário somos autores de nossa própria atividade. As manifestações das

atividades estão ligadas às ideias e representações, com sede em uma determinada região do

córtex cerebral, denominado de região cinzenta que envolvem os hemisférios.

A atividade do ser vivo está construída de tal modo que o seu aparelho motor

é posto em ação por excitações vindas da periferia. Assim se constituíram

vias centrípetas ou aferentes que as conduzem aos centros nervosos,

enquanto vias centrifugas ou eferentes levam para os órgãos periféricos a

resposta [...] Quando não existem lesões nem doenças, o que pode causar a

imperícia é a falta de sensibilidade, isto é, quando não se atem à

sensibilidade advinda dos movimentos. “... As sensações que resultam do

próprio movimento são necessárias à sua boa execução e a imperícia pode

ser devida às suas alterações ou à sua ausência. (WALLON, 1975, pp. 127-

128)

A atividade do cerebelo não está ligada às sensações tampouco às imagens, mas o seu

papel é o resultado da função motora, fator indispensável do movimento. O cerebelo dá um

ponto de apoio ao movimento, regulando o equilíbrio do corpo, entra em ação quando existe

um deslocamento de um membro originando um deslocamento do centro de gravidade, ele

regula a intensidade e a direção das pressões que suporta ou que exerce.

Quando apresenta insuficiência corresponde a uma forma de imperícia, “... uma vez que

nenhum movimento é possível sem uma exata regulação do equilíbrio.” (WALLON, 1975,

p.130). Todo movimento tem necessidade de ter uma regulação delicada e precisa, “...todo

movimento constitui um jogo de alavancas e a precisão do seu jogo exige a estabilidade

perfeita do seu ponto de apoio.” (WALLON, 1975, p.131)

38

A aquisição de um movimento novo também é outra forma de imperícia. Os

movimentos existem com vistas a certas ações, que são sua razão de ser, assim como, sua

origem.

A cada movimento novo é necessário que sistemas parciais de movimentos tracem seu

domínio sobre os sistemas anteriores. Sendo assim, existe um poder inibidor dos sistemas

motores, órgãos de inibição necessários para libertar cada um dos sistemas.

A hierarquia dos sistemas motores ou automatismos, adquiridos sucessivamente,

integram-se numa função de dissociar e de especializar as contrações musculares, para que

possam modelar-se na diversidade de nossas ações. A insuficiência em qualquer parte

descrita, traduz-se em correspondentes formas de imperícia.

A perfeição do automatismo não está em ter definitivamente fixado um certo

encadeamento de ações musculares; pelo contrario, é uma liberdade

crescente na escolha das ações musculares a encadear. A aquisição de um

automatismo consiste em tornar disponíveis as ações musculares que será

necessário utilizar, em libertá-las de todo o entrave, em resolvê-las em cada

um dos termos que pode ser necessário utilizar isoladamente. (WALLON,

1975, p.136)

Quando não conseguimos selecionar em cada circunstancia, os elementos necessários à

boa execução do movimento se produz sincinesias, isto é, o esforço para realizar o movimento

será em bloco, não haverá dissociação da musculatura nas diversas ações.

Para que o movimento se torne automático, deve existir uma substituição progressiva

das imagens mais objetivas pelas mais internas e mais pessoais, para em seguida ocorrer sua

eliminação total. Em se tratando de criança, esta deve experimentar, vivenciar situações em

que tenha necessidade de moldar sua atitude e sua imaginação ampliando assim, sua

educação motora.

Os tipos de imperícia citados até aqui, expressam uma insuficiência nas funções de

execução, entretanto existem outras que envolvem uma perturbação ou um vicio da atividade

cortical, assim como, aquelas que acontecem devido à “interferência no aparelho motor de

influencias distintas do movimento. Trata-se daquelas ações que em nós desenvolvem a

impressão de estarmos na presença ou sob o olhar de outrem.” (WALLON, 1975, p.143)

As imperícias decorrentes sob o olhar de alguém são consideradas imperícias sob

condições. Em sua maioria, os indivíduos que as cometem tem grande habilidade de

39

movimento, desde que a presença de alguém não lhes traga atitudes que não conseguem

dominar. Nestas situações, como diz Limongelli (2006, p.69) a presença do educador pode se

tornar um dos fatores desencadeadores da imperícia do seu aluno. “O conhecimento da causa

de imperícia permite ao educador estar atento às necessidades do seu aluno, permite a ele

acompanhar a aprendizagem dos alunos, sem excesso de atenção e cobrança.”

Segundo Dantas e Maciel (1993) e Almeida (2012), a cada situação nova ou difícil, para

a qual não se esta preparado, eleva-se o tônus emocional, diminuindo o funcionamento

cognitivo, podendo ser responsável por uma situação de imperícia. Entretanto, o inverso

também pode acontecer, as situações de imperícia podem elevar a temperatura emocional.

Neste caso podemos dizer que a emoção é proporcional ao grau de imperícia.

40

CAPÍTULO IV

4. PERCURSO METODOLÓGICO

Tendo como objetivo desta pesquisa investigar como a dimensão motora vem sendo

tratada no trabalho desenvolvido na Educação Infantil, optei por entrevistar os que atuam

diretamente com as crianças: os professores. Concordo Mahoney e Almeida (2012) que uma

das funções do professor é observar os processos e intervir, apoiando e dando ao aluno

suporte para desenvolver suas potencialidades.

A metodologia adotada nesta pesquisa baseia-se nos pressupostos da pesquisa

qualitativa “que reconhece a relevância do sujeito, dos valores dos significados e intenções

das pesquisas, afirmando a interdependência entre a teoria e a pratica, a importância da

invenção criadora, do contexto dos dados e da inclusão da voz dos atores sociais...”

(CHIZZOTTI 2006, p.53).

Com uma abordagem qualitativa, uma vez que as percepções, os valores e as atitudes

não podem ser quantificados, procurei identificar por meio de entrevistas o que os professores

entendem por dimensão motora e, se implementam situações e /ou propostas relacionadas à

esta dimensão.

O tipo de entrevista escolhida foi a semiestruturada, por não ser padronizada e permitir

um aprofundamento das questões, assim como, por acreditar que o falar da própria prática traz

de certa forma uma reflexão sobre a atuação profissional.

Segundo Manzini (2012), a entrevista semiestruturada permite uma flexibilidade na

sequencia da apresentação das questões ao entrevistado, assim como o entrevistador pode

realizar questões complementares para entender melhor o assunto em pauta. E foi exatamente

isso que aconteceu no decorrer das entrevistas. Com a Gina (nome fictício), a professora que

participou do pré-teste, foi possível seguir o roteiro planejado, indo além das questões de

acordo com suas respostas.

Tanto a Adriana quanto a Ana, entrevistas realizadas em momentos diferentes, após a

orientação da banca, acabei alterando uma ou outra questão, também, conforme a devolutiva

das entrevistadas.

41

A questão da flexibilidade ficou evidente na entrevista de Adriana, quando, ao falarmos

da dimensão motora, a mesma trouxe seu conhecimento sobre treino motor e a

psicomotricidade e acabamos por conversar a respeito.

4.1 Os sujeitos da pesquisa

Foram priorizados professores que tiveram experiências em vários segmentos da

educação infantil, isto é, que exerceram a docência com as diferentes faixas etárias de 1 ano e

meio a 6 anos. A diversidade do tipo de escola também foi proposital, sendo que o objetivo

não foi de comparar, mas sim de conhecer a pratica em cada uma das instituições. A Intenção

inicial era ter duas professoras de crianças iniciando a Educação Infantil, sendo uma de rede

publica e outra da rede particular, e duas professoras de crianças que estariam finalizando a

Educação Infantil, sendo também, uma da rede publica e outra da rede particular. Entretanto,

no decorrer da pesquisa, a professora da rede publica do grupo de crianças finalizando a

Educação Infantil, acabou impossibilitada de participar e por questões de tempo, a pesquisa

acabou sendo realizada apenas com três professoras, sendo duas da rede particular e uma da

rede publica.

Utilizamos nomes fictícios para preservar a identidade dos participantes, assim como,

não houve menção ao nome da unidade escolar.

A professora Gina (nome fictício) leciona em escola da rede publica de ensino, com a

faixa etária de 1 ano e meio a 2 anos e meio. Formada em Pedagogia, fez mestrado e está

cursando o doutorado na área de Educação. Tem 26 anos de atuação profissional em

Educação, sendo desses, 10 anos são na rede publica, na Educação Infantil, trabalhando com

crianças de 0 a 3 anos.

A professora Ana (nome fictício) leciona em escola da rede particular de ensino, com

crianças que completam dois anos. Formada em Pedagogia, fez espacialização em

Psicopedagogia. Tem 24 anos de atuação profissional em Educação, sendo desses, 23 anos na

Educação Infantil, um ano com crianças de 4 anos e os demais com a faixa etária com a qual

trabalha atualmente.

A professora Adriana (nome fictício) leciona em escola da rede particular de ensino, que

fica localizada dentro de um clube, com crianças de 5 anos a 6 anos. Formada em Pedagogia,

42

com especialização em Administração Escolar. Tem 18 anos de atuação profissional em

Educação, sendo desses, 16 anos em Educação Infantil. Esta profissional atuou com as

diferentes idades deste segmento.

Quadro 01 - Caracterização das professoras entrevistadas

Nome (fictício) e

tempo de atuação

Formação

Acadêmica

Tipo de escola em

que trabalha Nível em que atua

Gina - 26 anos

Graduada em

Pedagogia, com

mestrado e doutorado

em Educação

Escola Municipal

Educação infantil –

Berçário (1ano e

meio a 2 anos e

meio)

Ana - 24 anos

Graduada em

Pedagogia, com

especialização em

Psicopedagogia

Escola Particular

Educação Infantil –

maternal (crianças

completando 2 anos)

Adriana - 18 anos

Graduada em

Pedagogia, com

especialização em

Administração

Escolar

Escola Particular

Educação Infantil –

Infantil II (crianças

de Cinco anos a seis

anos)

Fonte: elaboração da própria autora.

4.2 Os procedimentos para a produção de informações

4.2.1 Para obtenção das informações

Foi enviado para as entrevistadas um questionário de caracterização via e-mail, para ser

retornado com as seguintes informações: idade; formação; tempo de magistério; um pequeno

histórico de seu percurso como docente. Ainda via e-mail, foi solicitado que respondessem à

seguinte comanda: Descreva dois dias de sua rotina escolar, um dia típico e outro atípico. O

objetivo dessa descrição era oportunizar a primeira reflexão sobre o tema que seria tratado na

entrevista.

A partir da resposta enviada por e-mail, foram agendadas as entrevistas. A primeira

tarefa realizada com todas as participantes foi a explicação da entrevista, com todos os

detalhes, isto é, qual o propósito, por que está sendo feita, como a informação será tratada

para a assinatura do consentimento livre e esclarecido. Em seguida, conversamos sobre a

43

descrição da rotina enviada anteriormente por e-mail. Após os esclarecimentos, foram

introduzidas as questões sobre o tema investigado: a dimensão motora.

1. Como você vê a dimensão motora na escola?

2. Como você, professora, percebe o corpo de seus alunos?

3. Como você lida com a movimentação dos alunos dentro de sala de aula?

4. Em que medida o planejamento contempla a dimensão motora?

5. Houve alguma situação em que a percepção de indicadores corporais levou você a

redirecionar o rumo da aula?

6. Você percebe alguma diferença, no que diz respeito à questão corporal, entre as

diferentes idades?

7. Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

8. Como você percebe a integração afetivo-cognitivo-motora no seu trabalho com os

alunos?

9. Considerando afetividade, cognição e movimento, em sua opinião, no trabalho

pedagógico existe a predominância de uma dessas dimensões?

10. Ao ouvir “Para Wallon, um psicólogo do desenvolvimento, o meio humano tem duplo

sentido: meio ambiente e meio de ação”, qual deles vc acha que interfere mais no

desenvolvimento da criança?

A partir deste roteiro foi possível coletar dados e relacioná-los aos conceitos estudados,

que serão explicitados no próximo capitulo.

Com a professora Gina, conforme o previsto, realizamos a entrevista na escola, dentro

de uma sala de aula vazia. Por sua descrição da rotina estar em tópicos (ver anexo), foi

necessário conversar a respeito das atividades, tanto do dia típico, quanto do dia atípico antes

das questões serem apresentadas. A entrevista durou aproximadamente 2 horas e meia.

Com a professora Ana, a entrevista precisou ser agendada em um Café, pois a

professora preferiu não realizá-la na escola. Mesmo não sendo o ideal, conseguimos uma

mesa em uma parte tranquila, com pouco barulho. Como a descrição da rotina do dia típico

estava em forma de texto, conversamos mais sobre o dia atípico. A duração da entrevista foi

de aproximadamente 2 horas

44

Para conseguir realizar a entrevista com a professora Adriana foi necessário marcarmos

na hora do almoço, isto é, entre uma atividade e outra da entrevistada. Embora pudéssemos

almoçar no clube, a entrevistada pediu para que saíssemos do espaço, preferiu não fazer a

entrevista nem na escola tão pouco no espaço do clube. Sendo assim, fomos a um restaurante

próximo. Quando chegamos, em razão de estar vazio, conseguimos uma mesa em um canto

sossegado, entretanto, no decorrer da entrevista pessoas foram chegando e o barulho

incomodou um pouco. A entrevista teve duração de aproximadamente 1 hora e meia.

Segundo Szymanski et al (2008), o pesquisador ao selecionar a entrevista como

procedimento da produção de dados, deve ater-se à fala de seu entrevistado, assim como, estar

atento ao meio, o que inclui os diversos aspectos do ambiente físico e social. Em se tratando

de ambiente físico, inicialmente havia planejado realizar as entrevistas dentro da escola, em

um lugar calmo, como aconteceu com a professora Gina, entretanto, com as demais

professoras não foi possível por questões de atender às necessidades das entrevistadas.

4.2.2 Para análise das informações

Entendo que já durante a realização da entrevista aprofundamos a compreensão do tema

de pesquisa. Segundo Szymanski et al (2008), percepções, impressões e sentimentos

acompanham o pesquisador no decorrer da entrevista, por esta razão preferi gravar com a

autorização das entrevistadas, o conteúdo falado e também registrar gestos, pausas e

reticências da fala.

Segundo Manzini (1990/1991, p. 155):

Na análise, o pesquisador precisa separar o discurso em partes para que

possa extrair e apreender as informações contidas nessas partes, para depois

transformar as informações em dados, ou seja, essa transformação da fala

transcrita em classes ou categorias será o tratamento das informações.

Sendo assim, os relatos das entrevistadas passaram por algumas etapas. A primeira diz

respeito à leitura das respostas da comanda sobre a rotina escolar. O objetivo foi um

conhecimento preliminar sobre o contexto escolar, no qual as entrevistadas atuam.

45

Transcrição das entrevistas, que já se constituíram em um primeiro momento de análise,

foi a segunda etapa realizada. Neste momento, foi possível reviver e refletir sobre os

comentários e/ou as respostas das entrevistadas.

Lendo e relendo as transcrições das entrevistas foi possível identificar trechos das falas

das entrevistadas que se relacionam com o objetivo desta pesquisa, algumas vezes comum a

todas elas, outras vezes não. Esses trechos foram agrupados em dois quadros por entrevistada,

perfazendo um total de 6 quadros, a fim de sistematizar a discussão.

2º Quadro: Dia típico/ atípico de Ana. Este quadro apresenta trechos da comanda inicial

sobre a rotina escolar, das crianças de 1 ano e meio a 2 anos e meio da rede particular de

ensino

3º Quadro: Questões relacionadas ao tema dimensão motora, na perspectiva de Ana. Este

quadro apresenta trechos das respostas dadas às questões sobre o tema investigado: a

dimensão motora.

4º Quadro: Dia típico/ atípico de Gina. Este quadro apresenta trechos da comanda inicial

sobre a rotina escolar, das crianças de 1 ano e meio a 2 anos e meio da rede publica de ensino.

5º Quadro: Questões relacionadas ao tema dimensão motora, na perspectiva de Gina. Este

quadro apresenta trechos das respostas dadas às questões sobre o tema investigado: a

dimensão motora.

6º Quadro: Dia típico/ atípico de Adriana. Este quadro apresenta trechos da comanda inicial

sobre a rotina escolar, das crianças de 5 até 6 anos da rede particular de ensino.

7º Quadro: Questões relacionadas ao tema dimensão motora, na perspectiva de Adriana. Este

quadro apresenta trechos das respostas dadas às questões sobre o tema investigado: a

dimensão motora.

Os quadros (ver apêndices) contêm as seguintes colunas: Depoimentos (trechos das

entrevistas); Explicitação dos significados (a compreensão da pesquisadora sobre os

depoimentos); Apoio teórico (os conceitos fundamentados na psicogenética de Wallon, que

auxiliaram na discussão); e, Observações (os dados corporais das professoras coletados no

decorrer da entrevista e também, dados não explicitados pelas professoras durante a

entrevista).

Após a criação dos quadros, foram elaboradas sínteses dos depoimentos de cada

professora. Nestas, procurou-se evidenciar o que foi apreendido de seu conjunto, buscando

46

revelar o fio condutor de cada depoimento, demonstrado não só pela fala, mas pela expressão

corporal apresentada no decorrer da entrevista.

É importante lembrar que embora tenha-se identificado diferentes fios condutores nos

depoimentos, o assunto que cada professora enfatizou foi abordado com diferente ênfase por

todas as entrevistada. Como por exemplo, no depoimento da professora Ana, o fio condutor

foi o espaço em que as crianças podem se movimentar (parque). Nos outros depoimentos,

também se nota a importância, ainda que com ênfase diferente, quando as professoras se

referem às possibilidades que o espaço oferece, com foco nas intervenções e o espaço como

diversão.

Partindo dos quadros e em conjunto com as sínteses, surgiram os seguintes eixos

temáticos: O cuidar x o educar; O meio escolar como meio de ação; As oportunidades

ofertadas: a imitação, o simulacro, o brincar e as atividades corporais intencionadas

pelo educador; e A dimensão motora na perspectiva das entrevistadas.

47

CAPÍTULO V

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO

Ao longo da minha experiência pedagógica dentro da Educação Infantil, acrescida da

minha formação em Psicomotricidade, venho procurando respostas acerca de como está o

olhar para a dimensão motora no desenvolvimento infantil, uma vez que a dimensão cognitiva

e de certa maneira a dimensão afetiva vem sendo garantidas. Dessa forma, a minha busca por

respostas culminou com esta pesquisa.

No Capitulo I, procurei compartilhar a teoria do desenvolvimento de Henri Wallon, para

dar suporte a esta pesquisa, assim como dá suporte tanto a minha pratica pedagógica quanto a

minha pratica como psicomotricista.

Por estarmos falando de desenvolvimento infantil, o corpo é a peça fundamental desta

faixa etária, pois é através deste que a criança mantem contato com o mundo; o corpo é a

linguagem da criança. Sendo assim, no Capitulo II temos um breve histórico do corpo.

Retomando o objetivo desta pesquisa de investigar como a dimensão motora vem sendo

tratada pelos professores de educação infantil, o Capitulo III traz um aprofundamento sobre

esta dimensão, considerando que as dimensões cognitivas e afetivas estão sempre interligadas

com a dimensão motora, isto significa que ao priorizar uma dimensão sei que estou intervindo

em todas.

Acompanhando todo o percurso metodológico desta pesquisa no Capitulo IV, chegamos

ao item das analises das entrevistas. Esta foi estruturada em duas partes. A primeira envolve

uma síntese de cada depoimento das professoras, com o intuito de evidenciar o que foi

apreendido de seu conjunto, buscando revelar o fio condutor de cada depoimento,

demonstrado não só pela fala, mas pela expressão corporal apresentada no decorrer da

entrevista.

Na segunda parte, temos uma analise mais adensada que possibilitou identificar quatro

eixos temáticos: o cuidar x o educar; o meio escolar como meio de ação; oportunidades

ofertadas: o brincar, a imitação, o simulacro e as atividades corporais intencionadas pelo

educador e por ultimo, a dimensão motora, na perspectiva das entrevistadas. No entanto, por

esta pesquisa estar apoiada na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, os eixos temáticos

48

estão interligados e a apresentação dos mesmos será feita separadamente apenas como um

recurso didático.

No decorrer da analise, foram colocadas algumas falas das entrevistas, com o objetivo

de ilustrar e dar suporte as considerações. Todavia, é bom lembrar que para se chegar a essas

considerações seguiu-se um procedimento metodológico criterioso, levando-se em

consideração as sugestões dos professores que fizeram parte da banca de qualificação. No

mais, informo que a integra dos depoimentos encontram-se no anexo.

5.1 A síntese dos depoimentos

5.1.1 Depoimentos da professora Gina

O fio condutor que perpassa todo o depoimento da professora Gina é a afetividade e o

apego à função de educadora. A afetividade a que me refiro é a condição que o ser humano,

no caso a professora Gina tem de ser afetada pelo mundo, tanto pelo mundo interno quanto

pelo externo. Esta dimensão aflora constantemente durante o depoimento, por meio da

emoção com que se expressa, seja pela entonação da voz, seja pela movimentação e expressão

corporal apresentada pela depoente.

Esta percepção da qual falo, vem da observação realizada por mim, durante a entrevista.

Embora saibamos que este procedimento é um recurso rico, Wallon (In Almeida, 2012 p.18)

argumenta que “não existe observação que seja um decalque exato, completo da realidade...”

Em se tratando de expressão corporal, neste caso, facial, foi possível observar as

expressões de bem estar da professora ao falar sobre o cuidar, cada pensamento sobre o

assunto vinha acompanhado de um largo sorriso.

[...] eu tô tocando, tô sorrindo, tô conversando com ela, e ela olha pra mim

e conversa comigo. Então essas concepções elas são bem claras quando

você tem o olhar de educador que está cuidando.

Em outro momento, enquanto tentava justificar o comportamento das crianças ao tirar o

brinquedo do amigo, Gina sorria e seus olhos brilhavam.

49

[...] existem momentos que o levantar a mão é buscar aquilo que ele tem

interesse, o levantar a mão é defender um amigo, já percebi isso, quando

alguém esta tentando tirar o brinquedo do outro, é muito bonito. Ele vai,

ele puxa o amigo, tira o brinquedo que estava e entrega. Então, nesse

momento que ele puxa o brinquedo do outro, ele quis demonstrar afeto

para o outro. Gente, é uma coisa assim que (sorriso enorme seguido de

pausa).

As expressões de animação, que neste caso, envolvem uma certa movimentação

corporal, como se ela estivesse vivenciando a situação relatada aconteciam durante os

depoimentos em que o assunto eram as conquistas de seus alunos.

[...] essa rotina, todo o meu trabalho, está atrelado ao meu planejamento.

Uma criança quando consegue tirar a mochilinha que está na altura dele,

isso faz parte do meu planejamento. Quando ele identifica qual é a

mochila dele, ele vai até a mochila dele, faz parte do meu planejamento.

Quando ele já pega a agenda dele e coloca na mesa.

Ao se referir as diferenças entre as faixas etárias com as quais trabalhou, seus olhinhos

brilhavam, além da animação corporal, enquanto dizia:

[...] Uma criança de berçário um, quando ela começa a andar, quando ela

se apropria do movimento, que ela levanta e dá os primeiros passos, depois

ela vem, gente é uma coisa assim, mágica!!! E ai, aquele corpo já não

depende mais do professor para pegar o objeto. [...] No berçário um, a

brincadeira da bola eu não viro cambalhota, até porque, estão ainda no

inicio, o corpo ainda está muito mole, mas eles se apropriam do

movimento. No berçário dois, eu já viro cambalhota, né! E no segundo

semestre do berçário dois, eles já viram cambalhota sozinhos!!!!

Esse mesmo bem estar que seu corpo e sua expressão facial exalava apareceu ao

pensar e verbalizar sobre as dimensões motoras, afetivas e cognitivas.

O corpo dos nossos pequenininhos traduz, eu diria que traduz até mais,

porque o corpo dele está em movimento a todo momento, né! Seja na hora

que ele chega, com um abraço no professor (cruzando os braços como se

estivesse abraçando) então o corpinho, no carinho. Esse mesmo corpo, ele,

ao mesmo tempo que acaricia ele bate no outro, faz o movimento de

defesa.

Estamos analisando, então duas perspectivas, o movimento do corpo

enquanto você abraça e o resultado desse abraço, enquanto afeto,

enquanto emoção. Muito legal!

50

Não foram apenas situações de bem estar que Gina demonstrou durante os depoimentos.

Ao se referir a postura de seus pares ou às condições de trabalho, mostrou um certo

desconforto.

Mas eu percebo que existe distinção, de professor para professor, de

concepção, para concepção.... Existe sim essa diferença. Pessoas que não

valorizam a questão do movimento, pessoas que não valorizam, por

exemplo, o choro. O que o choro quer dizer? O choro diz muita coisa. O

choro pode ser desde uma fome, necessidades físicas[...].

Quanto às condições de trabalho, mostrou um misto de desconforto e conquista ao

referir-se sobre o momento de encontro e possíveis trocas com os pares:

Assim que entrei na Prefeitura de São Paulo, em 2004, as crianças

entravam a partir das 7 horas. Então não havia esse momento pedagógico

que nós chamamos hoje de PEA (projeto especial em ação)... isso foi uma

construção. Tanto é que as reuniões eram no horário do soninho. Horário

esse, que o professor também precisa ficar em sala. Uma criança que está

dormindo, ela pode ter um momento de choro, pode passar mal, enfim.

Então digo pra você que isso é agora, tá... diria uns cinco anos.

5.1.2 Depoimentos da professora Ana

O fio condutor da professora Ana foram os espaços físicos oferecidos às crianças, que

neste caso podemos chamar de parques, em seu depoimento, este foi um dos assuntos com o

qual se preocupou mais em detalhar. Ao longo da entrevista, manteve por igual a entonação e

a expressão corporal, sem se mostrar afetada pelos diferentes tópicos abordados.

A neutralidade em suas expressões, tanto ao falar dos espaços que para ela era muito

importante, quanto ao falar dos quase 40 minutos de roda, talvez se justifica pelo fato de estar

“um pouco cansada”, por estar tanto tempo com a mesma faixa etária. Observa-se em seu

depoimento, que procurou responder apenas as questões, sem deixar transparecer seu ponto de

vista espontaneamente.

Mostrou-se incomodada com o fato de “perder” ou não ter aulas com especialistas. No

caso de “perder”, ao se referir ao dia atípico, por conta de uma festa comemorativa, seu

incomodo parece ser com o fato das crianças não poderem desfrutar a aula de musica em

outro momento e a equipe gestora não tomar providencia alguma.

51

Tivemos há pouco tempo uma comemoração e eles marcaram justamente

no dia que tem aula de musicalização, então eu perdi aquilo e como eles

são pequenos, diferente de outras faixas etárias que eles já tem muitas

outras aulas especificas com professores especialistas. Os meus só tem isso

e que bom, por que eles não precisam ter mais nada do que além disso.

Então eles só tinham aquilo naquele dia e perderam e não tem como

substituir e eu canto minhas musicas do meu jeito, mas não sou

especialista nisso e não há substituição, eu perdi aula naquele dia, acabou.

Quanto à questão do especialista voltado para o movimento, fez questão de deixar bem

claro que era uma queixa sua e de seus pares o fato do mesmo desenvolver um trabalho

apenas com as crianças maiores.

[...] Antes a gente tinha uma professora de movimento para as crianças

desde o ingresso escolar e eles estão deixando cada vez mais para frente.

Então aquela professora de movimento que tinha um olhar muito mais de

especialista, hoje ela só trabalha com crianças de Infantil 2... ela só atende

a partir de crianças de três anos. É uma queixa nossa, mas por questão

financeira, a escola não promove.

Para ela, seria importante que tivesse um especialista, neste caso, da área de movimento,

uma vez que acha deficitário apenas o seu conhecimento, baseado no Referencial Curricular

Nacional.

Acredita, também, que por serem pequenos, não conseguem lidar com muitas

mudanças, preferindo deixa-los sempre que possível na zona de conforto.

Compartilhou que ao longo desses anos de prática pôde rever sua postura , assim como,

suas concepções frente às situações do dia-a-dia. Como por exemplo, ao se referir à

movimentação das crianças dentro de sala em uma atividade de roda, aceitando que o

movimento corporal não impede a atenção das crianças.

Hoje eu já consegui entender que tudo bem, se uma criança ficar deitada

me olhando, é um exercício difícil, porque quem olha de fora imagina que

aquele que está deitado presta menos atenção e a gente sabe que isso não é

verdade.

Costuma indagar-se quanto ao seu limite enquanto educadora, isto é, até onde deve ou

não intervir com seus alunos. Referindo-se à uma criança que costuma ficar brincando com

areia durante o parque, comentou:

52

[...] aquela criança que está quieta, brincando com o brinquedo, não quer

falar, não quer ousar, criança que sentou no parque e ficou fazendo

bolinho de areia, ela está feliz. Então, será que o tempo todo eu tenho que

traze-la, vamos agora escorregar, vamos agora escorregar, vamos ver que

fruta, olha o fruto da carambola. Eu também tenho que respeitar essa

criança que é mais introvertida. É difícil a nossa ação em mediar, aquela

que extremamente expansiva que também não para em nenhum momento

e aquela que diz com o próprio corpo que está tudo bem eu brincar

sozinha, eu sei que tem o outro lado, mas eu tô olhando pra ele, me deixa.

[...] Qual é o limite nosso, enquanto educador? Eu reflito muito sobre isso,

acho que a nossa ação como educador, passando por todas as filosofias,

por tudo que eu já li e todas as teorias, acho que é um movimento. Até a

gente estava lendo na escola Morin, ele diz assim, que o professor tem que

se autodestruir para poder entender até onde ele pode chegar e é muito

difícil isso [...].

5.1.3 Depoimentos da professora Adriana

O fio condutor que sobressai em seus depoimentos foi o que podemos chamar de marco

entre deixar a Educação Infantil e o inicio do Ensino Fundamental I, isto é, deixar de ser

criança e passar a ser estudante. Como se a criança não pudesse ao mesmo tempo aprender

brincando e/ou brincar aprendendo, tanto em um quanto em outro grau escolar. A dimensão

cognitiva, também, apareceu com bastante frequência em suas respostas.

Ao ser questionada sobre os jogos oferecidos, Adriana deixa transparecer a questão

deles não serem mais tão crianças.

Apesar deles terem crescidos, eles adoram ainda brincar de quebra gelo, o

jogo da pizza.

Nessa afirmação, deixa transparecer a duvida sobre se só por terem crescido, não tem

mais interesse em jogos que não sejam cognitivos.

Ao se referir ao dia atípico, quando as crianças (em suas palavras) “[...] chegam mais

agitadas [...]”, se faz necessário reorganizar as atividades para que fiquem mais tranquilos, a

escolha por roda de história é priorizada. Em sua maioria, este tipo de proposta está voltada

para a dimensão cognitiva, uma vez que tem como um dos objetivos o acesso ao mundo

letrado pelas crianças. Para colocá-la como uma atividade tranquilizadora, se faz necessário,

prevalecer o silencio, a homogeneidade, eliminando as falas simultâneas, a movimentação e

os gestos. O que não condiz com a percepção que Adriana diz ter do movimento corporal.

53

A percepção que Adriana tem sobre a movimentação corporal das crianças refere-se a

uma forma de comunicação, afirmando que os gestos e este tipo de linguagem são

fundamentais para as crianças.

Acho que não só as crianças, mas o ser humano, quando se comunica, não

se comunica só através da fala, mas de gestos e a linguagem corporal se

torna fundamental. Aquela carinha de que não estou entendendo nada,

aquele corpo caído na cadeira, de que não estou a fim de fazer a atividade,

então enfim, tudo isso, sendo observado com muito cuidado, traz uma

referencia gigantesca para você conseguir fazer até grandes intervenções.

Por outro lado, embora tenha a noção sobre a necessidade de movimentação, procura

cobrar de seus alunos uma postura mais compatível com o que acredita que irão exigir deles

no Ensino Fundamental I.

A movimentação nem sempre é ausência de disciplina, é uma necessidade,

em se tratando de Educação Infantil é uma necessidade absurda. Quando

eles são mais velhos, eu sou um pouco mais rígida com a movimentação

em alguns momentos. Eu sei que a grande maioria que esta ali para qual

escola vai, como são as cobranças dessa escola, então eu procuro sempre

estruturar um pouco: tá na roda, tá na roda, não dá para deitar agora, não

dá pra ficar jogado; tá na cadeira, tá na cadeira, se posiciona, não dá para

ficar levantando de 5 em5 minutos para bater papo com o amigo.

Esta ideia de contenção motora esta baseada no fato de que o movimento impede a

concentração e a atenção, atrapalhando a aprendizagem, como se pensava anteriormente.

(Referencial Curricular Nacional).

Costuma estar atenta aos indicadores corporais de seus alunos, fazendo com que esses

redirecionem o rumo da aula, demonstrando o quanto procura respeitar o ritmo das crianças.

[...] Do corpo me avisar que a proposta não estava agradando. Estávamos

em uma roda oferecendo a atividade, daqui a pouco, meia dúzia já deitou,

a outra metade estava olhando para o teto, por que persistir na proposta?

Neste sentido, costumo, eu respeito bastante o ritmo das crianças.

5.2 Falas das entrevistadas em quadros demonstrativos de análise

54

Os quadros a seguir, contêm os trechos das falas das entrevistadas que se relacionam

com o objetivo desta pesquisa e nos auxiliaram na sistematização das discussões. Esses

quadros foram divididos em colunas e contemplam os seguintes pontos:

Depoimentos (trechos das entrevistas);

Explicitação dos significados (a compreensão da pesquisadora sobre os depoimentos);

Apoio teórico (os conceitos fundamentados na psicogenética de Wallon, que auxiliaram

na discussão);

Observações (os dados corporais das professoras coletados no decorrer da entrevista e

também, dados não explicitados pelas professoras durante a entrevista).

55

Quadro 2 - Dia típico / atípico de Ana

Depoimento Explicitação dos

significados Apoio teórico

Observações

Ana não explicita que...

Mas, mesmo que é uma minoria que chega logo

nesse momento de entrada, já que a partir dai a gente

vai para o parque, eles escolhem o brinquedo, vendo

a escolha do outro, que é diferente da sua, eles

abandonam o brinquedo inicial e vão em busca do

outro.

Logo na entrada, antes da

ida ao parque cada criança

escolhe um brinquedo, mas

abandona-o para buscar o

do colega.

Meio oferecendo

possibilidades: brinquedos e

interação com outras

crianças; Sensibilidade à

presença do outro; Imitação.

Esse movimento de pegar o do

outro faz parte do estagio em que

se encontram seus alunos.

O que acho interessante falar sobre os parques

propriamente dito, porque assim, tem a questão

espacial deles, o parque da ponte a gente consegue

ter estímulos diferentes do parque de bolinhas. Os

dois tem areia, só que assim, no parque da ponte, só

para descrever um pouco, tem essa ponte, que ela

cria um maior desafio motor. Eles tem que escalar

um morro ou escalar tipo um trepa-trepa para poder

chegar a ele e as crianças que começam elas ainda

estão saindo da questão do equilíbrio motor

propriamente dito.

Eles estão começando a andar, então até que eles

cheguem a isso é um desafio enorme. Já o parque de

bolinhas ele é mais linear, então sempre foi mais

fácil o uso dele. E esse parque da ponte, voltando um

pouco, então a gente tem a ponte, o parque de areia

mesmo, com os baldes e os acessórios afins e a gente

tem atrás dele, um carrinho de madeira que eles não

há muito interesse para eles, tem balança. E o que é

mais rico, isso em ambos os parques, a gente tem

arvores frutíferas, então as crianças vão subindo nos

morros e tentando pegar as frutas dessas arvores,

O parque expande o espaço

e oferece diferentes

estímulos: o parque da

ponte oferece maiores

estímulos motores: escalar

um morro, trepa-trepa. São

movimentos que favorecem

o equilíbrio motor.

O desafio da marcha é

grande.

O parque das bolinhas é

mais fácil para as crianças.

O parque da ponte tem

acessórios que permitem

diferentes desafios.

O meio escolar como meio

de ação;

A integração das dimensões

motora, afetiva e cognitiva;

A importância do brincar.

Integração funcional

A dimensão cognitiva esta

atrelada ao motor

O porquê do carrinho de mão não

despertar interesse;

A possibilidade de explorar a

partir de atividades motoras,

atividades cognitivas.

56 dependendo da época elas estão dando mais frutos ou

não.

Já o parque de bolinhas, a gente tem as bolinhas,

uma piscina de bolinhas, assim, como a gente vê em

vários outros lugares, a gente tem um túnel que dá

acesso a outro escorregador gigante e a areia em si é

um espaço menor.

O que tem nesse parque é o

mesmo que as crianças

encontram em vários

lugares: a piscina de

bolinha, com túnel que dá

acesso ao escorregador e

este à areia.

Meio como campo de

aplicação.

A possibilidade de realizar

propostas diferentes em um lugar

que eles já conhecem.

O carrinho de madeira no parque da ponte é um

carrinho fixo que tem, eles só na verdade, a direção

se move, ele não sai. A gente tem as motocas

mesmo, mas a gente faz pouco uso nessa idade, só

quando assim, para limpeza da sala, para circulação

para algum outro, uma outra atividade, mas a gente

ainda não faz muito uso das motocas, geralmente do

infantil 2 para cima é quem fazem uso.

Carrinho de madeira não

permite avançar no

desenvolvimento motor.

Características dos estágios

de desenvolvimento.

Que as crianças podem

experimentar um brinquedo

mesmo não tendo total domínio

pelo mesmo.

Autonomia das crianças pode ser

garantida, desenvolvida com os

devidos cuidados.

Sobre a roda de conversa:

Então assim, primeiro o mais importante é falar

porque ela costuma demorar de 30 a 40 minutos, é

um tempo grande para essa faixa etária, mas é um

tempo que...

As crianças ficam sentadas

em roda de 30 a 40’, o que

é um tempo excessivo.

Características do estagio de

desenvolvimento.

Criança que encontra-se no

estagio, não consegue inibir o

movimento por tanto tempo

Tenta se justificar, mesmo

sabendo que não é o mais

apropriado, mas aceita fazê-lo.

O porquê de formato circular, primeiro, eles

conseguem se entre olhar, então eles conseguem ver

o que um fala, ouvir melhor, prestar mais atenção

não só em mim, querendo ou não acabo sendo mais a

mediadora, a maior interlocutora de tudo e acho que

isso é muito significativo.

A importância da

aprendizagem de ouvir os

outros, não só a professora,

mas, também os amigos.

Características do estagio de

desenvolvimento.

Muitas vezes o sentar em roda não

induz ao movimento;

Dar autonomia de poder se

movimentar favorece o

desenvolvimento.

Mostra-se mais preocupada com a

57 dimensão cognitiva do que com a

dimensão motora.

O que eu acho mais interessante da formação da

rotina, a gente desde o inicio do ano vamos pegando

elementos de tudo que é feito, por exemplo, do

parque de bolinhas, a gente pega uma bolinha e leva

para uma caixa, do parque da ponte, a gente pega um

instrumento, um elemento alias não é instrumento,

que é utilizado nesse parque, da aula de

musicalização, a gente pega um instrumento musical

e leva para essa caixa.

Que a criança precisa de

rotina e deve entendê-la.

Simulacro. Objetos do parque podem ser

transformados em instrumentos,

em brinquedo pela criança.

A preocupação com a dimensão

cognitiva integrada à motora e à

afetiva.

Geralmente é de 30 a 40 minutos. Mas essa roda

sempre culmina com uma atividade de artes. Então,

na verdade só a roda eu não sei precisar quanto. Esse

tempo inclui a atividade de artes, as vezes sim, as

vezes não.

O tempo da roda de

conversa de 30’ a 40’ é

quase sempre todo ele só

para conversa.

Estágio de desenvolvimento. Impor 30’ a 40’ sentados em roda

vai contra as possibilidades

orgânicas das crianças.

Tem dia que eles estão mais agitados, por exemplo,

ultimamente é raro, mas quando chove, eles já

perderam o parque, ou seja, já estão com uma

energia mais canalizada, não extravasaram tudo isso,

a gente não consegue fazer uma roda enorme.

Enorme na questão de tempo, de tempo. Então a

gente acaba tendo que diminuir.

Quando perdem o tempo do

parque, as crianças ficam

agitadas. Não consegue

fazer uma roda de 30’ a

40’.

Estágios de

desenvolvimento.

A agitação, que nada mais é do

que a movimentação corporal é

inerente à faixa etária dos alunos,

estagio de exploração dos

espaços. Mostra-se totalmente

dependente do espaço físico do

parque.

A roda tem suas variantes, eu não posso dizer que

tem uma rigidez no horário. Mas de maneira geral,

acho que 30 minutos.

Eles estão muito acostumados com a rotina, de eles

sentarem em formação de cadeiras e se você

desestabiliza, eles não conseguem.

A roda de conversa inicial

leva 30 minutos.

A rotina implica em ficar

sentados em cadeiras,

quando isso não acontece,

as crianças se

desestabilizam.

Possibilidade de escolhas. A rotina é fazer a roda depois do

parque, isto é a sequencia das

atividades, mas é necessário fazer

a roda sempre da mesma maneira,

com cadeira?

58

Se eu sento no chão para contar uma história e não

trago as cadeiras, eles vão puxando as cadeiras, eles

sozinhos conseguem e eu sinto isso com alguns

sinais. Por exemplo, teve um dia que a gente saiu do

parque e geralmente, 99% das vezes, a gente sai do

parque e vai para a classe e faz a formação circular

da roda. Uma vez, eu falei assim: “podem pegar

brinquedos”, eles ficaram me olhando e mostrando o

tapete. Então assim, eles já estão vinculados com

essa questão e para eles, a gente pode mudar a rotina,

não só pode como deve, mas a segurança para eles é

tão importante neste momento, que eles sentem falta.

Se a gente mexe muito com essa rotina eles se ficam

um pouco perdidos. Acho que crianças maiores, eles

conseguem compreender, por que assim, a rotina eu

digo que a gente usa elementos concretos, que pra

eles isso surte efeito. Para os maiores, existem outros

recursos. Eu acho que quando você mexe com

crianças um pouco maiores, eles conseguem elaborar

de uma forma mais tranquila. Eu já tive crianças que

choraram quando você o desestabiliza.

Nesta fala tem dois

assuntos misturados o

habito de ouvir a história

sempre nas cadeirinhas e a

troca da atividade da rotina.

A rotina garante segurança

e dá às crianças concretude

na ação.

O hábito precede a escolha.

Que a questão de pegar a

cadeirinha virou um habito para

as crianças, não conseguem ouvir

histórias de outra maneira.

A questão da segurança está nas

crianças saberem o que será feito

e não necessariamente fazer

sempre do mesmo jeito ou sempre

a mesma atividade.

Faltam alternativas de ação.

Criança pequena também

consegue elaborar diferenças nas

rotinas, desde que se faça de

maneira gradativa.

Nós não temos parque coberto, então dias de chuva

ou dias de muito frio, que a gente não consegue sair,

eles ficam muito presos naquele espaço muito

pequeno. O que a gente sente, eles ficam muito

agitado, o tempo não passa nem pra mim nem pra

eles.

A falta de espaço amplo e

coberto na escola faz com

que as crianças passem

grande parte do tempo em

uma sala pequena e isso

leva à agitação.

Estagio de desenvolvimento;

Oportunidades ofertadas.

Que a movimentação corporal é

inerente à faixa etária dos alunos

que estão no estagio de

exploração dos espaços.

Que faltam propostas que

promovam o interesse das

crianças, mesmo em uma sala

pequena.

Por que assim, você vai tirando várias atividades da

cartola, você vai oferecendo o tempo todo, por que as

O professor é responsável

por oferecer atividades que

Oportunidades ofertadas.

A criança modificando o

Que as crianças também podem

criar propostas dependendo do

59 atividades para esta faixa etária não podem e não

devem durar mais do que 20, 30 minutos por que eles

têm o tempo que é deles, que inerente a essa faixa

etária mesmo, não dá pra você ir além. Tem uma

hora que parece que você esgota, eles se esgotam,

eles olham super cansados, então a gente começa a

procurar espaços dentro da escola, é uma que tem

espaços fechados que a gente até pode recorrer, mas

que é de uso coletivo da escola.

não podem passar de 20’ a

30’;

As crianças tem seu tempo

limite;

As crianças apresentam

cansaço.

meio, assim como é

modificada por ele.

material que for oferecido.

Fonte: elaboração da própria autora.

Quadro 03 - Questões relacionadas à dimensão motora, na perspectiva de Ana

Depoimento Explicitação dos significados Apoio teórico Observações

Ana não explicita que...

Em que medida o planejamento contempla a dimensão motora?

Eu já vivenciei curricularmente algo muito mais

intenso na questão motora. Hoje, nos delegam

enquanto coordenação, que a gente contemple a

coordenação motora como a gente julgar pertinente a

faixa etária.

A coordenação delega

responsabilidade ao professor

como contemplar esta dimensão.

A integração das três

dimensões.

Ao falar mostrou um certo

incomodo por não ter apoio da

coordenação.

Antes a gente tinha uma professora de movimento

para as crianças desde o ingresso escolar e eles estão

deixando cada vez mais para frente. Então aquela

professora de movimento que tinha um olhar muito

mais de especialista, hoje ela só trabalha com

crianças de Infantil 2.

Existia uma época em que essa

faixa etária tinha um especialista

que cuidava desta dimensão,

uma professora do movimento.

Dimensão motora. Ao falar mostrou um certo

incomodo por ter que planejar

atividades para esta área.

Não parece perceber que nessa

faixa todos devem ser professores

de movimento.

60

Vejo nos parâmetros curriculares o que essa criança

tem que atender, dentro dessa faixa etária e

entendendo isso, promovo essas atividades, mas eu

acho que ainda falta. Acho que é deficitário.

Procura saber o que seus alunos

precisam e promove atividades

que possam abarcar as

necessidades.

Tem consciência de que não é o

suficiente para o

desenvolvimento das crianças.

Integração das três

dimensões.

Dentro do planejamento, o motor

está atrelado ás propostas cognitivas

e afetivas.

Como você lida com a movimentação dos alunos dentro da sala de aula?

Infelizmente, eu tenho uma sala que o espaço é

muito pequeno. É minúscula, não sei nem descrever

o tamanho dela, mas é a menor sala, o que é um

paradoxo, porque são crianças pequenas,

teoricamente precisam de mais espaço e é a sala que

tem o menor espaço físico.

O espaço da sala é pequeno

demais e que crianças desta

faixa etária precisaria de um

espaço maior.

O meio escolar como

meio de ação.

Que se pode oferecer possibilidades

de movimentação em uma sala

pequena. Por exemplo: empilhando

as mesas e cadeiras ou usando-as

para que as crianças passem por

baixo.

Hoje eu já consegui entender que tudo bem, se uma

criança ficar deitada me olhando, é um exercício

difícil, porque quem olha de fora imagina que

aquele que está deitado presta menos atenção e a

gente sabe que isso não é verdade... Então em uma

roda, eles têm essa movimentação de poder, não

existe muita circulação.

Sua percepção mudou quanto às

crianças deitarem durante uma

roda de conversa.

Disciplinas mentais. Que o fato da criança deitar pode

ser um sinal de cansaço físico ou

uma necessidade de movimentar o

corpo por esta parado na mesma

posição por 40 min.

Na aula de musica, existe uma circulação muito

maior, até porque a aula promove isso. Só que a

professora de musica fala, agora vamos sentar e

pegar os instrumentos, agora vamos pegar os

instrumentos e passear e cantar e dançar.

A movimentação das crianças,

em sala, acontecem na aula de

musica, uma vez que a

professora especialista a

promove.

Dimensão motora. A movimentação das crianças deve

acontecer independente de ser

proporcionada pelos professores.

Sobre a criança que levanta durante a roda de

história: Esse olhar é um olhar muito do tempo de

cada um, do momento de cada um... a consigna não é

Quando todos se movimentam,

o professor deve voltar seu olhar

para a proposta é preciso

A importância de

respeitar a

individualidade do

As crianças deste estágio têm um

tempo limite de atenção.

61

só para ele... quando uma criança, ela não está com

vontade, você acha que é só ela, mas quando muitos

não estão com vontade e começam a circular, a sua

atividade, o seu momento ou o que você promoveu,

não é para eles naquele momento.

respeitar o movimento da

criança.

aluno;

Estágios de

desenvolvimento;

Disciplinas mentais.

Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

Sim, com certeza. Eu acho que o corpo, ele dita

muitas regras, a criança começa falando pelo corpo.

Então aquela criança que anda com o corpo mais

projetado para dentro de si, aquela criança que fala

menos, a criança mais quieta, ela já diz a proposta

dela. É assim, não quero tanto, fico mais no meu

canto. A criança mais expansiva e ela usa isso como

o próprio corpo. Vou dar um exemplo, crianças

minhas pequenas que não falam muito ainda estão

começando a adquirir o repertório, a fala o

vocabulário e propriamente dito a comunicação, né?!

Por que uma coisa é você falar e outra coisa é você

se comunicar. Mas tem crianças que chegam

correndo e abraçam um amigo, ela não disse nada,

ela já falou com seu próprio corpo. Agora existem

crianças que chegam mais cabisbaixas, elas

procuram o brinquedo, levam para o canto o seu

brinquedo, elas já estão dizendo com o seu próprio

corpo quem eu sou e o que eu quero....

Percebe a dimensão motora

apenas no corpo, como forma de

expressão.

Integração das

dimensões.

A dimensão motora envolve a

exploração, por isso esta atrelada ao

cognitivo; Não percebe como a

dimensão motora afeta a

aprendizagem.

A relação com a aprendizagem... Acho que ai entra

muito eu enquanto mediadora. A criança que fala

mais, é mais expansiva, eu consigo fazer, primeiro,

com que ela ajude aquela que é mais introvertida a

trazer para o mundo de maiores, arriscar mais, ousar

mais. Então a gente acaba fazendo com que ela seja

mediadora dessa ação. Então eu acho que o papel

O olhar da dimensão motora

como forma de expressão

corporal.

Acredita que a aprendizagem

passa pelo professor, este como

mediador;

62

nosso é de olhar, entender ...

É difícil a nossa ação em mediar, aquela que

extremamente expansiva que também não para em

nenhum momento e aquela que diz com o próprio

corpo que está tudo bem eu brincar sozinha, eu sei

que tem o outro lado.

A criança também tem o seu

papel de mediadora.

Considerando afetividade, cognição e movimento, em sua opinião, no seu trabalho pedagógico, nos seus planejamentos existe a prevalência de

uma dessas dimensões?

Acho que assim, quando eu paro para pensar no

planejamento, vou ser redundante, o afetivo já tenho

garantido e acho que é uma questão não só garantido,

como alimentar o tempo todo, pela faixa etária

mesmo. É o cognitivo, não tem jeito. Tanto que

assim, a gente faz o planejamento pensando em tudo

que a gente tem de desafios cognitivos para essa

criança. O motor entra como algo fragmentado.

O que eu vou pensar do motor, eu vou na quadra,

com bolas. Paramos para pensar diariamente,

desafios, materiais, o uso do corpo, propriamente

dito, como corpo. Mas eu acho que não paramos

como a gente deveria. A gente não contempla como

deveria ser.

Mencionou essas propostas

quando questionada sobre a

prevalência de uma das

dimensões e a falta da dimensão

motora.

Integração das

dimensões.

Que o motor nesta faixa etária está

presente em tudo que as crianças

fazem.

Fonte: elaboração da própria autora.

63

Quadro 04 - Dia típico / atípico de Gina

Depoimento Explicitação dos significados Apoio teórico Observações

Ana não explicita que...

A creche, ela tinha toda uma infraestrutura, porque

naquela época havia essa necessidade de alimentar

mesmo. Essas crianças precisavam de alimentação,

estavam correndo risco de perderem a vida. Naquele

contexto a assistência social assumiu.

A partir de 2002, aqui na prefeitura de São Paulo, quando

passou para educação, começou a se discutir quem iria

cuidar porque havia uma dicotomia entre cuidar e educar.

Na assistência social havia as pessoas que apenas

cuidavam, trocava fralda, dava comida e aquela que

educava. Então havia um status realmente, aquela que

cuida é a pajem, é a auxiliar, é a baba. Aquela que educa

esta sim é a pedagoga, essa vai educar.

A legislação vigente até 2002,

na Prefeitura de São Paulo.

Justifica a questão do

assistencialismo e explica a

diferença entre pajem e

pedagoga.

Dimensão afetiva: o

cuidar no olhar

walloniano.

Como se nós pudéssemos pegar aquela criança dividi-la

ao meio...

...E na realidade, percebe-se claramente que o cuidar e o

educar estão juntos.

... você vê claramente que quando se tinha essa visão da

separação do educar e do cuidar, eu creio que a criança

perdia muito, não é?!

Sua visão sobre a dicotomia

que havia no que se refere ao

atendimento nas creches.

Integração da dimensão

motora e da dimensão

afetiva.

No momento da troca, por exemplo, você quando vai

trocar você está olhando para uma criança, ela tá olhando

pra você. O contato, o contato físico... Eu tô tocando, tô

sorrindo, tô conversando com ela, e ela olha pra mim e

conversa comigo. Então essas concepções elas são bem

Esclarece o seu ponto de vista

em relação ao tratamento da

criança no momento da troca

de fralda, demonstrando uma

Integração das três

dimensões: motora,

afetiva e cognitiva.

Demonstra corporalmente a

alegria enquanto sorri ao

falar.

64

claras quando você tem o olhar de educador que está

cuidando.

concepção integradora.

Como nós acolhemos:... Nada como você preparar esse

espaço. Então a gente arruma bonecas com mamadeira, a

gente arruma mesinha com panelinhas, tem outro dia que

você arruma carrinhos e quando ela chega, ela olha pra

mãe e diz assim: tchau mãe.

Ao explicar sobre o

acolhimento na chegada das

crianças à escola, demonstra

que em sua concepção o

acolher é preparar o espaço.

“O meio nada mais é do

que o conjunto mais ou

menos durável de

circunstâncias nas quais

se desenvolvem

existências individuais.

Ele comporta... condições

físicas e naturais, que são,

porém, transformadas

pelas técnicas e pelos usos

do grupo humano

correspondente” ( p. 170

Werebe).

Que estas propostas

envolvem a dimensão motora

e cognitiva .

Imita os gestos da criança

enquanto fala.

... no faz de conta é claro. A criança que ainda não se

apropria da fala, ela imita, ela põe lá o açúcar, ela põe a

canequinha e oferece pra vc. Isso quando a proposta é o

canto envolvendo a casa a família.

Comenta sobre as situações

oferecidas na escola.

Imitação.

... A gente põe as almofadinhas, quando a gente tem,

quando a gente não tem, a gente forra com colchões, a

gente coloca os livros a disposição deles. Então eles

pegam os livrinhos... Então ele pega o livrinho e começa

a imitar o professor, começa a ver as figuras.

Comenta sobre as situações

oferecidas na escola.

Imitação: a criança imita

quem é importante.

Que ao mesmo tempo em

que a criança brinca, também

amplia a dimensão cognitiva.

Temos outra proposta que são os carrinhos. A gente faz

com fita, às vezes, as pistas e eles se apropriam dessas

pistas de corrida. A gente arruma as bonecas com

mamadeiras, a gente pega a bonequinha e coloca a

mamadeira Dependendo desse material, dessa logística

que a escola vai nos oferecer, você cria diferentes

Os vários tipos de materiais,

de propostas que são

oferecidas às crianças.

Oportunidades ofertadas Os espaços são criados pela

professora, e as crianças

recebem tudo pronto.

Corporal: gesticula com os

braços, fazendo o

movimento, como se

65

espaços. estivesse vivenciando o

material, enquanto explica as

propostas.

Como a gente canta muito com eles e se apropria desses

instrumentos que são feitos com sucata; eles também,

quando recebem sozinhos, eles se utilizam dessa forma.

Com as sucatas as crianças tem

possibilidade de transforma-las

em instrumentos musicais.

Movimentação

Música

Imitação

Enquanto explicava sobre a

exploração de sucata como

instrumento musical foi

realizando a movimentação

como se estivesse com os

objetos em mãos.

Muita das vezes os pais, quando deparam com essa

situação, eles às vezes tem esse estranhamento. Meu filho

é menino, dando mamadeira? Ou quando a gente faz, por

exemplo, o canto da beleza, que os meninos pintam sua

unha de rosa. E o que a gente faz (pausa) eu pelo menos,

com o trabalho que desenvolvo, eu trago o pai em

parceria e quando o pai coloca essas questões de gênero,

o que é de menina e o que é de menino.

Pontuou que trouxe para

reunião de pais a questão de

gênero que foi levantada por

pais ao verem seus filhos

trocando de papeis durante a

brincadeira.

Troca de papéis na

brincadeira de faz de

conta.

O trabalhar com a educação infantil, essa questão do

tempo e do espaço, existe uma sequencia, uma logística,

que a criança se apropria dessa logística e se você deixa

ela sozinha sem uma proposta, mesmo que seja livre, se a

proposta é livre, é livre, então eles vão brincar com os

carrinhos, né!. Mesmo que a proposta seja partindo da

criança, você tem que oferecer algo, para que ela também

possa trabalhar, que ela possa brincar.

Mesmo na brincadeira livre o

professor intervêm de alguma

maneira, neste caso, com os

materiais.

O professor como

mediador.

Meio de ação.

E se a proposta for em um parque, em que não vai ter as

motocas, mas tem o trepa-trepa, tem escorregador, tem a

casinha. Então eles estão sempre criando a partir do

espaço que você construiu, eles mesmos vão trabalhar

e vão construir a sua própria brincadeira. Que é a

O meio modificando a criança,

assim como a criança é

modificada por ele.

Espaços diferentes.

66

brincadeira livre, a gente deixa eles a vontade.

Eles já usam aquela caneca com aquele canudinho,

porque eles não tem ainda o controle de tomar com a

canequinha. (eu) com o copo.

Maior Autonomia , por

conta do desenvolvimento

das praxias.

Agora, em alguns momentos a gente também dá a caneca,

por exemplo, sem a tampa. Por que tem momentos assim

que a agua já dá, só que a gente fica ali pertinho,

esperando eles tomarem e depois eles criam atividades

encima da caneca, ou seja, eles pegam aquela caneca e

joga agua no amiguinho. Eles são muito criativos, eles

colocam objetos ali dentro, peles percebem a diferença,

são criativos, são inteligentes.

Ver a bagunça como

experimentação, criatividade.

Característica da

instabilidade.

Disciplinas mentais.

E a gente deixa que eles manuseiem a fruta, ai a gente

pergunta que cor é a fruta. Tem um que não dá tempo,

que já dá uma mordida, isso faz parte. Eu lembro que a

gente foi apresentar a manga e depois de lavar a manga, já

estava lavada, não deu tempo, porque eles não resistiram

e deram uma mordida na manga.

Não tem a consolidação

das disciplinas mentais.

Instabilidade x

perseveração.

Então partindo dessa necessidade deles, nós inserimos no

nosso planejamento a fruta. Então a gente trabalha a fruta,

a cor da fruta e depois cada um vai comer um pedacinho

da fruta.

Experimentação.

Integração das dimensões.

A nossa unidade ela tem três parques então a gente pode

variar com as crianças, né! A gente tem um parque com

trepa-trepa, com balanços. Nós temos um outro parque

que tem as casinhas, um escorregador, um espaço que

eles vão explorando, subindo depois descendo. Muito

interessante esse espaço que tem lá, também a gente

chama de trepa-trepa, eles vão trepando, vão subindo, vão

entrando, um brinquedo, um brinquedo bem grande. E

Movimentação corporal. Meio ambiente.

67

existe um outro espaço que tem mais arvores, então eles

gostam, que tem frutas, tem amora, um pé de amora.

Então a gente pega amora, amora já foi motivo de varias

coisas, além de provar, até para pintar, roxinho, né, então

eles exploram. As folha secas também explora.

É um espaço que a gente trabalha com eles no primeiro

semestre, tendo em vista que eles põem tudo na boca, eles

estão na fase de provar, na fase oral, eles põem tudo na

boca. A gente deixa os seis primeiros meses do ano ali,

para que depois, a gente vai pros outros parques, porque

eles vão pegar mesmo, mas eles já entendem um

pouquinho mais, né.

Preocupação com a limpeza

pelo fato das crianças

colocarem tudo na boca.

Fase oral, limita-se o

espaço

Características dos

estágios de

desenvolvimento.

Que as crianças podem

experimentar um brinquedo

mesmo não tendo total

domínio pelo mesmo.

Autonomia das crianças pode

ser garantida, desenvolvida

com os devidos cuidados.

Então a gente explora outros parques, mas a gente

entende que o externo favorece bastante porque a gente

brinca de roda, a gente brinca de bola, a gente

trabalha com eles é (pausa). Agora a gente está

envolvendo em duplas, brincadeira em duplas, quando um

joga bola, porque a tendência é segurarem a bola, não

percebe o outro. Tem que jogar bola pro outro. A gente

usa esse espaço. Quando a gente vai pro espaço maior, a

gente explora não só os brinquedos mas o que o espaço

também oferece, né! Nós temos também lá, um tanque de

areia. Esse tanque de areia, também, a gente vai num

rodizio, cada sala tem um dia, linha do tempo, um

horário.

Descreve atividades das

crianças em espaços diferentes.

O brincar.

Pegam aquele brinquedo, que por exemplo é um

chocalho que é pra ouvir o som e que ouvir o som, mas

usando no próprio corpo do amigo, né, então ele pega o

chocalho que já explorou, ele quer ver se no corpo do

amigo que barulho. A gente sabe que isso vai machucar o

amigo. Então a gente percebe, ele dá indícios quando ele

Conflitos para Wallon

Propulsores do

desenvolvimento.

68

explora o suficiente e utiliza aquele instrumento de uma

forma que vai ferir o amigo e ele próprio. Então a gente,

percebe, os indícios são esses. Eles avisam a gente que

aquele instrumento ali já esgotou a exploração.

A gente põe uma musica de relaxamento e deitamos. Tem

sempre um que não gosta de dormir, a gente deixa esses

que não querem dormir, esperar o momentozinho do

sono, mas fica sentadinho, porque se eles começam

correr, acorda os outros.

Tonus.

Na realidade, eu deixo de brincar, por exemplo, quando

estou sozinha, no espaço em que eu preciso de outra

pessoa para ficar por exemplo, são dois brinquedos, o

trepa-trepa e o escorregador. Eu não consigo ficar nos

dois ao mesmo tempo, então quando estou sozinha eu

tento fazer atividade no solário, que são brinquedos mais

baixos, que eu posso coordenar, eu posso ver a criança em

todo o seu processo, porque os brinquedos são baixos.

Então eu digo que é um dia atípico.

No dia atípico o que muda é

exatamente o que envolve a

dimensão motora, o

movimento.

Fonte: elaboração da própria autora.

Quadro 05 - Questões relacionadas à dimensão motora, na perspectiva de Gina

Depoimento Explicitação dos significados Apoio teórico Observações

Ana não explicita que...

Como você lida com a movimentação das crianças dentro da sala de aula?

Tem grupo que entra na roda, brinca, mas tem criança que

não quer entrar na roda. Essa criança que não quer entrar

na roda, ela vai ter a oportunidade de explorar um

A grande dificuldade e o

paradoxo do ensino é ter

de desviar a criança da

Ao falar da movimentação da

criança na roda, referiu-se

apenas as conversas,

69

brinquedo que já está ali. Ou o cantinho de leitura, mas

geralmente, quando a gente põe uma musica e essa

musica, estimula esse movimento, automaticamente ele já

vem para brincar. Às vezes, ele não quer dá a mão, a

gente respeita, porque tem o outro que quer dar a mão.

Acontecem tantas coisas em tão pouco tempo que eu

confesso a você que a gente não consegue pegar todas as

falas, pegar todos os momentos. Então como ficamos em

duas, a gente procura focalizar aquela criança que está

falando de um lado e a minha amiga também pegar mais

ou menos as falas deles na roda da conversa.

Então na roda eu sei que muitos se movimentam, as

vezes, não querem ficar sentadinhos mas eles estão

atentos ao que você está trabalhando. Então em uma roda,

o meu ponto maior ali é tentar escutar esse momento da

exploração.

sua experiência imediata e

espontânea para a

interessar por aquilo que

não se relaciona

diretamente com suas

necessidades. (Wallon

1975, p. 370).

preocupação com o cognitivo.

Não fez leitura corporal.

Bom, pra começar a gente tenta coloca-lo na roda. Se

agente não consegue coloca-lo na roda eu tento dar a fruta

na mão dele. Geralmente esse que se mexe, ele quer ficar

com a fruta sozinho. Então para essas crianças a gente

procura dar outra fruta, outra não, aquela que a gente está

trabalhando, para ela ficar explorando sozinha. Mas na

maioria das vezes, aquela criança, ela começa brincar, ele

olha fruta e ela se levanta. O que ela se levanta a gente

tenta trazê-la pra roda, seja de uma maneira carinhosa,

seja de uma maneira assim, até “adultocentrica”, né!

Em que medida o seu planejamento contempla a dimensão motora?

Olha, na dança, a gente dança muito com eles. A gente

faz movimentos, quando a gente vira cambalhota....

Eu tenho uma bola de fisioterapia grande, logo assim no

Apenas dois momentos de

movimento.

70

primeiro semestre, eles não sabiam virar cambalhota,

então o meu objetivo era que eles se apropriassem da bola

e fazer aquele movimento (demonstrando com as mãos) e

eu segurando o pezinho deles.

Quando eles vão pegar a caneca, quando eles vão pegar o

brinquedo, quando eles se sentam na cadeira .(pausa)

quando eles vão se deitar, quando eles vão pegar a

mochila, quando eles colocam a agenda.

O restante são tarefas do dia a

dia. Passagem do ato motor

para o ato mental.São as

praticas cotidianas que

surgem as primeiras

explicações.

E essa rotina, todo o meu trabalho, está atrelado ao meu

planejamento. Uma criança quando consegue tirar a

mochilinha que está na altura dele, isso faz parte do meu

planejamento.

Largo sorriso.

Olha o movimento...

Olha o movimento! E olha a capacidade desse movimento

que está atrelado a toda uma construção...

O movimento foi uma construção dele....

Qdo o aluno elaborou uma

estratégia para esconder o

brinquedo que queria, ele

elaborou toda uma

movimentação.

Eu tenho uma bola de fisioterapia grande, logo assim no

primeiro semestre, eles não sabiam virar cambalhota,

então o meu objetivo era que eles se apropriassem da bola

e fazer aquele movimento e eu segurando o pezinho deles,

né! Automaticamente, o movimento da bola, o colchão já

estava aguardando e ele virava cambalhota. Foi uma

atividade planejada, para trabalhar o movimento do

corpo. Só que depois eu tiro a bola, eu brinco com todos,

todos viram a cambalhota com bola, porque a bola

auxilia, aquela bola é grande, né! Quase do tamanho

deles. Tiro a bola e deixo os colchões e fico observando,

eles virando a cambalhota, ou tentando virar a

(demonstrando com as mãos)

71

cambalhota.

Um movimento planejado que eu considero é o sentar na

cadeira, não é fácil. Sentar em uma cadeira, mesmo

pequenina, não é fácil e a gente observa que tem uns que

primeiro se ajoelha na cadeira, depois estica a perninha.

Depois eles se apropriam da cadeira e põe a perninha num

outro espaço que não o da frente. E tem o descer da

cadeira. E tem o depois, brincar embaixo da cadeira e da

mesa. Então existem atividades que você planeja com

movimento, seja com uma bola, seja no balanço. O

balançar, enquanto você empurra é uma coisa, depois a

criança passa a ter o movimento, a perninha, né!

Em sua opinião a dimensão motora afeta a aprendizagem?

A criança que se apropria do movimento é logico que ela

vai explorar sozinha, ela vai ter a maior facilidade para,

não só explorar aquilo que lhe é proposto, mas de

construir até mesmo objetos para sua exploração. A

perninha dela vai leva-la, ela vai poder levantar e, por

exemplo, quando a gente arruma as prateleiras na altura

dela para que ela mesma pegue os objetos, que ela já pode

colocar sobre, é logico que essa criança vai crescer mais,

vai conseguir, não só explorar, mas construir o seu objeto

de exploração.

Mas essa criança que já faz o seu movimento e que ela se

apropria disso como uma ferramenta, como um

instrumento mesmo para poder explorar os demais

espaços e mais eles já exploram inclusive as outras salas.

A criança se apropria do

meio e este a constrói.

Suas relações são de

transformação mutua.

Considerando a afetividade, a cognição e o movimento, em sua opinião, no trabalho pedagógico existe a prevalência de uma dessas dimensões?

Eu acho que uma está ligada a outra. Porque a criança, o

adulto, ele necessita de todas essas áreas serem

Integração das três Ao responder verbaliza sobre o

72

preenchidas. Existem crianças, por exemplo, que elas

sentem mais necessidades do toque, do que a outra. Já

existem outras que no olhar, tem uma criança que eu olho

assim, ela já dá um sorriso.

O vinculo, essa construção desse vinculo com a criança é,

você vai percebendo aquela que necessita mais de uma

área do que a outra.

Existe, não da instituição. Acho que a instituição ela faz o

discurso enquanto politicamente correto. Trabalhar o

lúdico, trabalhar o toque, trabalhar o afeto, isso até na

pratica. O discurso é esse. Na prática mesmo, na reunião

que a gente tem. O que o professor precisa. O discurso,

ele é politicamente correto.

Mas eu percebo que existe distinção, de professor para

professor, de concepção, para concepção.

dimensões. vinculo (dimensão afetiva).

Esta dimensão é expressa

quase que constantemente por

esta professora.

Fonte: elaboração da própria autora.

Quadro 06 - Dia típico / atípico de Adriana

Depoimento Explicitação dos

significados Apoio teórico

Observações

Ana não explicita que...

Você não tem um espaço aberto para ficar, automaticamente

você tem que ficar naquele lugar fechado e propor neste

espaço fechado uma atividade tão prazerosa quanto, o que e

bastante difícil, porque e mais legal brincar no parque, mais

legal brincar na quadra.

Nesta fala, reconhece que as

crianças tem grande

necessidade de se

movimentar corporalmente e

entende o ato motor como

parte do desenvolvimento

infantil. Por outro lado, não

consegue reconhecer o

Meio como campo de

aplicação. (Nadel)

Indiferente do espaço,

deve-se pensar nas

propostas, essas sim é que

devem prender a atenção

dos alunos.

73

espaço sala de aula como

meio de aplicação de

atividades.

Tem tido uma proposta muito grande com essa hora do

brincar, então a gente promove quando chove, esse ano não

aconteceu mas, quando o dia esta muito mais frio, enfim. O

que a gente tem feito, eles elencam o tema de brincadeira e a

gente estrutura a sala para a brincadeira, a sala vira um

grande consultório medico. É voltada para o jogo simbólico.

Ás vezes acontece, vira um grande rodízio de jogos, daí são

propostas diversificadas dentro desses jogos. São jogos mais

cognitivos. Sim ou não, mas também, jogos mais prazerosos.

Apesar de eles terem crescidos, eles adoram ainda brincar de

quebra gelo, o jogo da pizza. E um momento mais livre e fica

para oferecer o que eles têm vontade de fazer.

Percebe-se que esta hora do

brincar as crianças são

ouvidas, isto é, seus

interesses prevalecem.

Existe uma variedade de

jogos oferecidos nesse

momento mais livre, desde

os jogos cognitivos,

incluindo também os jogos

motores de mesa.

A imitação é muito seletiva

na criança. Costuma

dirigir-se à aqueles que lhe

interessa a seus sentimentos

( evolução psicológica, p

67).

Wallon, para ser completo

o sucesso tem de ser

vivenciado, ser conhecido.

Isso justificaria a escolha

das crianças por jogos de

manipulação em que estão

envolvidos os prazeres

funcionais. (evolucação

psic, p 66)

Essa hora do brincar

parece que acontece

apenas quando está frio

ou chovendo. Deveria ser

garantida todos os dias.

No dia atípico, eles já chegam muito impulsivos para a festa,

então não adianta quere que eles trabalhem de acordo com,

segundo uma atividade que exige muito raciocínio, que vai

exigir muita concentração, então eu pego o que eu planejei

para a semana tento jogar para aquele momento atividades

que são mais tranquilas.

Tipo artes, por exemplo, que e mais prazeroso ou de novo

um jogo e deixo uma atividade de escrita, de registro, para

outro dia que não seja aquele da festa, uma roda de historia,

muito bem vista pelo grupo.

No dia atípico, por terem

alguma comemoração, as

crianças chegam impulsivas,

então são oferecidas

atividades que não requerem

muito raciocínio, tais como,

artes, jogos e história.

Integração das dimensões

afetivas, motoras e

cognitivas e o impacto no

quarto conjunto a pessoa.

As atividades citadas pela

professora requerem um

mínimo de raciocínio, no

entanto, não exigem muita

concentração.

Fonte: elaboração da própria autora.

74

Quadro 07 - Questões relacionadas à dimensão motora, na perspectiva de Adriana

Depoimento Explicitação dos significados Apoio teórico Observações

Ana não explicita que...

Como você lida com a movimentação dos alunos dentro da sala de aula?

A movimentação nem sempre é ausência de

disciplina, é uma necessidade, em se tratando de

Educação Infantil é uma necessidade absurda.

Nesta fala, reconhece que as

crianças tem grande necessidade de

se movimentar corporalmente e

entende o ato motor como parte do

desenvolvimento infantil.

Disciplinas mentais.

Se esta sentado na roda, senta na roda, se esta sentado

na cadeirinha, senta na cadeirinha, realiza a proposta

que é para ser elaborada, mas eles tem toda condição ,

todo o direito de ir em busca de uma borracha que esta

faltando no estojo, no achados e perdidos ou pedir para

o colega. Eles têm uma autonomia de não ter a total

compreensão do que é para ser feito e buscar essa

informação se não conseguir na própria mesa, em outra,

eles trocam bastante entre eles. Isso é uma coisa que a

gente também ofereceu para esse grupo.

Existe a possibilidade de

movimento durante as atividades,

como levantar para pegar um

material emprestado ou para

perguntar algo para o amigo,

Disciplinas mentais. Ter a liberdade de

movimento é respeitar o

desenvolvimento infantil e

não apenas uma oportunidade

oferecida.

Com os menores: Impossível você exigir que crianças

de um ano e meio a três permaneçam quietinhas e

tranquilas nas funções que você pede a todo instante.

Não! Pelo contrario, elas precisam se movimentar e

muito, elas precisam imitar o que o colega esta fazendo,

elas precisam ir buscar, ir fuçar na caixa que está no

canto da sala, é outra estrutura, outra proposta. Esse

movimento se torna fundamental para o

desenvolvimento delas, né!?

As crianças pequenas precisam se

movimentar, imitar, buscar na

caixa. A movimentação é essencial

para o desenvolvimento das

mesmas.

Estágio sensório motor e

projetivo.

Quando diz: é outra estrutura,

outra proposta... faz pensar

que só essa idade necessita de

movimentação corporal..

75

Em que medida o seu planejamento contempla a dimensão motora?

Eu acho que o meu planejamento não contempla. O

planejamento dos especialistas mais: musica,

movimento, até mesmo as aulas de cultura judaica,

inglês envolvem as vezes, rodas cantadas. Mas eu

consigo propor situações em que o corpo aparece, não

formalizada em planejamento, mas nas situações que

ofereço de brincadeiras.

Na hora do brincar é que o movimento aparece.

Aparece, como disse agora pouco, informalmente, uma

coisa mais natural, mas não uma coisa pensada,

estruturada.

Não tem um planejamento voltado

para essa área. AS crianças tem a

possibilidade de se movimentar

mais na hora da brincadeira.

Apenas os professores especialistas

garantes esta dimensão com

atividades planejadas.

Integração das

dimensões motora,

afetiva e cognitiva.

Com os menores: Nisso de novo, o movimento era

estruturado, era pensado e também, tinha o trabalho, não

sei se ainda existe, mas acredito que sim, com os

circuitos, que era com o intuito de trabalhar espaço e

forma, era voltado para matemática, mas era totalmente

corporal. Também era bem interessante, porque existia

toda uma estruturação, tinham etapas, desafios que eram

ampliados gradativamente, novamente pensados no

movimento.

Com os pequenos o movimento é

planejado, são propostos circuitos

com objetivo desenvolver conceitos

matemáticos, utilizando o corpo. E

outros circuitos pensados apenas

nos movimentos corporais.

Estágio sensório motor e

projetivo.

Por que o infantil 2 é um grau com excesso de conteúdo,

sobra pouco tempo para as crianças conseguirem espaço

até para essa ação do brincar. O que é uma coisa que a

escola esta revendo, graças ao bom D’us, esta tendo um

cuidado maior nesse sentido.

Quando eu aceitei a proposta de trabalhar no infantil 3,

eu já recebi com esse olhar , como eu tive o prazer de

conseguir estruturar os conteúdos, então eu me

preocupei em não abarrota-los demais, para que as

s crianças com 4 para 5 anos tem

excesso de conteúdo, sem tempo de

brincar. Atualmente a escola esta

revendo essa questão.

Na faixa etária com a qual trabalha,

vem conseguindo garantir um

espaço para o brincar envolvendo o

Imitação/ Simulacro.

76

crianças tivessem espaço para o jogo simbólico ,

tivessem um espaço para o movimento.

jogo simbólico.

Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

Depende muito da criança. Eu já tive crianças com

problemas de coordenação motora fina enorme,

gigantesco, mas que tinha um cognitivo intacto. Na hora

de uma hipótese de escrita, por exemplo, se eu desse

para essa criança o alfabeto escrito na etiqueta de

bolinha, ela escrevia as palavras em dois segundos e

depois ela fazia uma cópia com a letra dela. Agora se eu

desse para ela só o lápis e a borracha, era tão dificultoso

para ela traçar a letra que ela se perdia na hipótese e

acabava não chegando ao potencial cognitivo. Então

você tem que ter na manga recursos, para ver se a

questão é cognitiva ou não.

Dimensão motora

integrada com a

dimensão cognitiva e

afetiva.

Quando a criança, dita

normal, é privada de se

movimentar, de explorar seu

meio, realizando

modificações e sendo

modificada por ele, seu

cognitivo deixa de avançar

como deveria, influenciando

também a dimensão afetiva.

Considerando afetividade, cognição e movimento em sua opinião no trabalho pedagógico existem a prevalência de uma dessas dimensões?

Eu acho, existe uma reflexão para resposta, eu acho que

o corporal não existe tão forte, existe se o professor tiver

o olhar, se não tiver o olhar não existe. Nesta instituição

existe uma proposta muito grande para a cognição,

voltado ao conteúdo.

O corporal só existe se o professor

tiver o olhar esta dimensão. A

instituição tem uma proposta

grande para a dimensão cognitiva.

Integração das

dimensões cognitiva,

motora e afetiva.

Parou para pensar antes de

responder.

Fonte: elaboração da própria autora.

77

5.3 Eixos temáticos

5.3.1 O cuidar e o educar enquanto faces de um mesmo processo

Nossas entrevistadas evidenciaram, em seus discursos ao mesmo tempo duvidas e

certezas quanto a integração entre o cuidar e o educar.

“Como se nós pudéssemos pegar aquela criança dividi-la ao meio... ...E na

realidade, percebe-se claramente que o cuidar e o educar estão juntos....

você vê claramente que quando se tinha essa visão da separação do educar

e do cuidar, eu creio que a criança perdia muito, não é?! (professora

Gina)

Gina mostra segurança sobre sua concepção de educar e cuidar, como conjunto

integrado. Mas há razões para se pensar na dicotomia entre o cuidar e o educar, a partir da

trajetória da instituição creche no Brasil.

A creche como instituição no Brasil4 foi criada para o atendimento de crianças pobres,

com ótica assistencialista, para evitar que as mesmas ficassem na rua.

Na fala da professora Gina, observamos o quanto esta visão era presente no meio

educacional:

[...] A creche, ela tinha toda uma infraestrutura, porque naquela época

havia essa necessidade de alimentar mesmo. Essas crianças precisavam de

alimentação, estavam correndo risco de perderem a vida. Naquele contexto

a assistência social assumiu. (professora Gina)

Já os jardins da infância5 surgiram em 1883, diferentemente das creches, eram

instituições para crianças de poder aquisitivo alto. Para valorizar e diferenciá-la das creches,

usava-se o termo “pedagógico” e estavam destinadas a educar e não apenas cuidar das

crianças.

Com a Constituição Federal Brasileira de 1988, as crianças e suas famílias obtiveram o

direito de frequentar instituições que garantam cuidado e educação desde o nascimento.

4 Em 1899, inaugurou-se a primeira creche para filhos de operários da Companhia de Fiação e Tecidos

Corcovados, no Rio de Janeiro. 5 Desde sua origem em 1840, em Bad Blankenburg, na Alemanha, o jardim da infância, ou Kindergarten, foi

concebido por Frederico Guilherme Fröebel como uma pré-escola de caráter educativo.

78

Entretanto, somente em 1996, com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) foram elaborados

documentos conceituando o que é creche, delimitando seus objetivos e estabelecendo

parâmetros para sua regulamentação.

Em seu histórico, o interesse por creches e pré-escolas passou por um período de

reinvindicação quanto à expansão de vagas ou de atendimento. Atualmente, a preocupação

está voltada para a melhoria da qualidade do serviço oferecido, propiciando o surgimento e

aprofundamento de vários temas de debate teóricos sobre Educação Infantil.

Dentre eles está a dicotomia entre o cuidar e o educar da criança pequena. Nas atuais

propostas de atenção à criança pequena, a diretriz é para que as creches e pré-escolas

desempenhem essa dupla função: educar e cuidar. Entretanto, existe uma problemática quanto

à ausência de uma concepção consensual sobre o cuidar, entre os envolvidos com a educação

infantil, uma vez que não se discutem seus possíveis significados ou implicações especificas

na formação das educadoras.

Muitas vezes, o termo surge como sinônimo de assistência e utilizado quando se faz

referencias a funções consideradas importantes para as crianças, dividindo-as entre as de

natureza afetiva e as de ações praticas tais como, aconchegar e responder as necessidades

corporais (alimentar e limpar).

Novamente, observamos na fala da professora Gina que no momento do cuidado,

também se esta educando:

E o professor que cuida, tem que ter concepções porque até no momento

de cuidar, o que você fala para uma criança, por exemplo, na fase do

desfralde, que ela já faz no vaso sanitário ela já vai, mas naquele dia

escapuliu ... exatamente, o controle dos esfíncteres... Porque ela muitas

das vezes era educada nesse momento da higiene, no momento do controle

dos esfíncteres, no momento da própria reação daquela criança.

(professora Gina)

Gina relaciona aqui cuidar e educar, enfatizando a relação movimento e afetividade, a

reação do professor ao acontecido, pode travar os movimentos dos esfíncteres.

Os argumentos para se entender que a orientação assistencialista não poderia ser

considerada pedagógica, se deve ao fato de que, de início as creches estavam vinculadas aos

órgãos de assistência social, além do que no que se refere aos aspectos políticos, as verbas

acabavam por serem menores, uma vez que incluía-se despesas com merenda e atendimento

79

de saúde nas escolas. Sendo assim, alguns serviços de assistência (alimentação e cuidado com

higiene) pareciam representar uma ameaça ao caráter educacional das instituições. Por esta

razão, ainda hoje encontramos pedagogos que não aceitam a ideia de trocar fraldas, por

acreditarem que ações como essas, não fazem parte de sua ciência. (KUHLMANN JR, 2000).

[...] Então havia um status realmente, aquela que cuida é a pajem, é a

auxiliar, é a babá. Aquela que educa esta sim é a pedagoga, essa vai

educar [...]. (professora Gina)

Referindo-se ao educar, as preocupações pedagógicas estavam presentes desde o inicio

das propostas de creche, como podemos observar no primeiro artigo sobre a instituição,

elaborado por Kossuth Vinelli, no jornal A MÃI DE FAMILIA, no qual se prevê a existência

de sala para as crianças brincarem, além daquela destinada aos berços.

Montenegro (2005) ao discutir o tema, pontua que a dificuldade em obter clareza do

conceito “cuidar”, pode estar relacionado ao componente emocional que o envolve. Segundo

esta pesquisadora, a medida que se investiga o termo, se está investigando as emoções, assim

como as relações interpessoais.

Centrando-se na teoria do desenvolvimento de Wallon, as emoções são um componente

orgânico, corporal, motor e plástico que fazem parte do conceito de afetividade. Esta por sua

vez, reporta-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e

interno, na ótica walloniana um conjunto funcional que responde pelos estados de bem-estar e

mal-estar. (WALLON, 1938)

Embora a idade das crianças, com as quais as entrevistadas trabalham esteja,

respectivamente, relacionadas aos estágios sensório-motor e projetivo (Ana e Gina) e

personalismo (Adriana) é nítida a preocupação com a dimensão afetiva. A fala das professoras

vem comprovar a integração da inteligência, da afetividade e do ato motor. Na visão de

Wallon (2007), a evolução da inteligência tem raízes no desenvolvimento da afetividade e

vice-versa.

Eu não tenho e nem devo substituir o papel de mãe, mas é muito maternal

o trabalho com uma criança pequena. A gente tem que trazê-la muito para

o laço afetivo, conquistar essa criança, trazê-la para a compreensão de que

está tudo bem se você não está com sua mãe, eu estou aqui do seu lado, eu

vou ser sua parceira. Então o afetivo é sempre o que rege a criança tão

pequena. (professora Ana)

80

No estágio sensório-motor e projetivo, a afetividade e a inteligência estão

sincreticamente misturadas, entretanto, esta etapa caracteriza-se pela investigação e

exploração da realidade exterior, é o momento em que a inteligência dedica-se a construção

do real por meio do movimento corporal que a criança realiza diante dos objetos.

Agora se eu tenho afeto, se eu tenho essa criança garantida como bem-

estar, como zelo, como cuidado, ela vai sentir-se segura em estar comigo,

estar com os amigos, estar nos espaços e tudo que eu trabalhar e oferecer,

ela vai fazer de forma mais tranquila, mais efetiva. (professora Ana)

Wallon (1938, p. 146) esclarece que “a vida intelectual supõe a vida social” e é isso

que Ana apreende em sua experiência como professora.

O estágio do personalismo é marcado pela diferenciação entre o eu e o mundo exterior e

a afetividade é o fio condutor do desenvolvimento. Mesmo sabendo que tudo tem a sua

individualidade, a compreensão que tem sobre isso está relacionada a suas experiências

emocionais.

A dimensão afetiva revela-se inicialmente de forma sincrética, tem seu inicio nas

sensibilidades internas de interocepção (ligadas às vísceras) e de propriocepção (ligadas aos

músculos), responsáveis pela atividade generalizada do organismo. Essas sensações em

conjunto com as respostas dos outros (que podemos considera-las como relações

interpessoais) provocam sentimentos e emoções cada vez mais especificas: medo, alegria,

raiva, tristeza, etc. Em suma, ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a

situação desperta.

No momento da troca, por exemplo, você quando vai trocar você está

olhando para uma criança, ela tá olhando pra você. É o contato, o contato

físico. Eu estou tocando, estou sorrindo, estou conversando com ela, e ela

olha pra mim e conversa comigo [...]. (professora Gina)

Esta fala exemplifica o quão significativo para Gina, são as ações dos professores, ou

seja, dela mesma. De início, a afetividade confunde-se com a emoção e manifesta-se

principalmente pelo toque, pela troca de olhar, pela intensa comunicação não verbal. A

medida que a criança se desenvolve, as manifestações epidérmicas são substituídas por novas

exigências afetivas, como acontece com o estagio do personalismo, em que a necessidade de

atenção é bastante significativa. A admiração e a aprovação por parte do adulto influencia a

81

forma de como a criança admira-se a si mesma, fazendo com que a necessidade de apego

pessoal seja muito intensa. Por esta razão os cuidados do adulto são fundamentais.

A criança quando ela chega, por exemplo, com algum probleminha,

tristinha e que você dá um abraço nela, que você acolhe, ela dá uma

olhada, um sorriso para você, é como se você tivesse alimentado aquele

momento, aquela carga emocional que ela precisava.... mas naquele

momento ela se levanta e vai brincar e ela vai se movimentar e ela vai

brincar. Porque, naquele momento que eu acolhi, eu dei para ela o que ela

estava necessitando.... o fato de eu acolher , abraçar, você está afirmando

que é um movimento. Estamos analisando, então duas perspectivas, o

movimento do corpo enquanto você abraça e o resultado desse abraço,

enquanto afeto, enquanto emoção. Muito legal! (sorriso) [...]. (professora

Gina)

Gina introduz aqui, de forma explicita a integração afetividade – movimento. E o faz

com alegria, revelando o quanto as crianças pequenas a afetam. A fala da professora Adriana

nos traz a questão do vinculo, que por sua vez, envolve as relações interpessoais:

Se você não ama o que você faz, você não cria um vinculo afetivo com o

seu educando o tempo todo... Na educação Infantil essa é a grande forma.

Pra mim, isso é muito forte, sempre foi assim... Mas eu tenho isso muito

forte na minha formação, eu sou um educando que preciso de afetividade

para conseguir aprender, senão não funciona. Se eu não consigo um

vinculo afetivo, esquece, eu não vou, preciso procurar outro professor. Na

faculdade eu cheguei a mudar de curso por conta de empatia. Como pra

mim, isso sempre foi muito forte, eu levo isso para a sala de aula.

(professora Gina)

Casassus (2009), em pesquisas realizadas em escolas de países latinoamericanos,

evidenciou recentemente, que o clima emocional possibilita uma melhor aprendizagem das

crianças e neste, o plano relacional é o que mais importa, isto é, o tipo de relação e o tipo de

interação entre as pessoas. Sendo assim, torna-se de fundamental importância o vinculo que se

estabelece entre o professor e seus alunos, assim como, o vinculo entre os alunos e o resultado

da interação desses dois vínculos.

Embora a professora Adriana tenha mostrado em seu discurso que reconhece a

importância do vinculo afetivo entre o educando e o educador em seu dia-a-dia com as

crianças, esta dimensão parece estar distante, uma vez que ao relatar um dia típico de trabalho

82

pouco se percebe uma relação com o afeto, no sentido de se mostrar afetada pelo mundo de

seus alunos.

Retomando o titulo deste eixo temático, o cuidar e o educar para fazerem parte de um

mesmo processo, é necessário que o educador tenha em sua concepção uma criança completa,

isto é, constituída pelas dimensões afetiva, motora e cognitiva. Mesmo que a integração

dessas dimensões se configurem de maneiras diferentes de acordo com o desenvolvimento, a

construção da pessoa será constituída com a integração das mesmas com o meio social.

Segundo Dantas (1992, p. 90) “Ao longo do trajeto, elas alternam preponderâncias, e a

afetividade reflui para dar espaço à intensa atividade cognitiva assim que a maturação põe

em ação o equipamento sensório-motor necessário à exploração da realidade.”

5.3.2 O meio escolar como meio de ação

Via de regra, ao pensar em meio, a atenção se volta para o espaço físico. Para a teoria

walloniana, no entanto, envolve mais que isto, deve-se considerar tanto o meio-ambiente

(campo de sobrevivência), quanto o meio de ação (campo de aplicação das atividades). O

meio-social na perspectiva walloniana se sobrepõe e transforma o meio físico, revelando uma

relação entre o meio físico e a função exercida pelo homem. Já o meio de ação se refere às

possibilidades que o meio ambiente oferece para desenvolver as funções cognitivas, afetivas e

motoras em função dos diferentes estágios do desenvolvimento.

Inicio este eixo com a afirmação acima, por conta do olhar da minha experiência com

muitos profissionais de educação, não só os educadores, mas aqueles que administram a

escola. Fica-se com a impressão de que o espaço físico é suficiente para as crianças se

desenvolverem. Basta visitarmos as escolas, para observarmos que o espaço recebe grande

atenção. A fala das professoras, nos mostram o quanto isto é realidade:

A nossa unidade ela tem três parques então a gente pode variar com as

crianças, né! A gente tem um parque com trepa-trepa, com balanços. Nós

temos outro parque que tem as casinhas, um escorregador, um espaço que

eles vão explorando, subindo depois descendo. Muito interessante esse

espaço que tem lá, também a gente chama de trepa-trepa, eles vão

trepando, vão subindo, vão entrando, um brinquedo, um brinquedo bem

grande. E existe outro espaço que tem mais arvores, então eles gostam, que

tem frutas, tem amora, um pé de amora. Então a gente pega amora, amora

83

já foi motivo de varias coisas, além de provar, até para pintar, roxinho, né,

então eles exploram. As folha secas, também explora. (professora Gina)

Nesta colocação, Gina nos transmite um olhar para as diferentes possibilidades que

seus alunos vivenciam neste espaço, tais como: explorar o movimento exercitando-o no trepa-

trepa, no balanço; vivenciar os costumes de uma casa ao brincar de faz de conta, no qual a

imitação envolve tanto a dimensão motora quanto a dimensão cognitiva.

Já o olhar de Ana para o meio como campo de aplicação de atividades, inclui desafios,

com diferentes graus para exercitar o aparelho motor.

O que acho interessante falar sobre os parques propriamente dito, porque

assim, tem a questão espacial deles, o parque da ponte a gente consegue

ter estímulos diferentes do parque de bolinhas. Os dois tem areia, só que

assim, no parque da ponte, só para descrever um pouco, tem essa ponte,

que ela cria um maior desafio motor. Eles tem que escalar um morro ou

escalar tipo um trepa-trepa para poder chegar a ele e as crianças que

começam elas ainda estão saindo da questão do equilíbrio motor

propriamente dito [...] Já o parque de bolinhas, a gente tem as bolinhas,

uma piscina de bolinhas, assim, como a gente vê em vários outros lugares,

a gente tem um túnel que dá acesso à outro escorregador gigante e a areia

em si é um espaço menor. (professora Ana)

Nesta fala, a professora Ana identifica espaços que propiciam o movimento corporal

em variadas situações, por exemplo, o morro que requer um equilíbrio diferente de quem esta

acostumado a andar em locais planos e mostra-se preocupada com a ampliação dos desafios

motores, oferecidos por exemplo com o trepa-trepa e com o túnel.

Este meio envolve os aspectos físicos transformados pelo grupo humano, entretanto o

espaço não é o único fator importante na determinação do meio. A variabilidade conforme o

ambiente aumentam as possibilidades de evolução e diferenciação individual, a medida que

frente a diferentes recursos a criança poderá executar e exercitar ações, sejam elas novas ou

não.

Pensando no oposto, isto é na falta do espaço físico, acabamos por impedir a

movimentação corporal das crianças. No decorrer das entrevistas, as professoras pontuam a

falta de espaço, seja por ter uma sala pequena, seja por ser um dia atípico.

Infelizmente, eu tenho uma sala que o espaço é muito pequeno. É

minúscula, não sei nem descrever o tamanho dela, mas é a menor sala, o

84

que é um paradoxo, porque são crianças pequenas, teoricamente precisam

de mais espaço e é a sala que tem o menor espaço físico. (professora Ana)

Ao pontuar o paradoxo mostra preocupação de que o espaço sala dificilmente

possibilitará as condições necessárias para o desenvolvimento motor das crianças, sem levar

em conta que se pode oferecer possibilidades de atividades diferentes, mesmo em uma sala

pequena, como por exemplo, utilizar as mesas e cadeiras à favor de diferentes

movimentações, passando por baixo, seja rastejando, seja engatinhando, ou por cima ao subir

e descer da cadeira. Por outro lado, a gestão escolar deveria oferecer escolas mais

acolhedoras, considerando as necessidades de cada estagio de desenvolvimento.

Ao referir-se ao dia atípico, foram pontuadas três razões: por causa do frio e da chuva, a

ausência da professora e eventos escolares (festas). Estas razões provocam alterações na grade

horária e com isso o que se deixa de fazer é o uso dos parques, isto é, as crianças não

conseguem utilizar o meio físico amplo, no qual poderiam se movimentar corporalmente,

permanecendo quase que todo o horário escolar em um espaço ocupado por mobiliários,

muitas vezes restringindo o movimento.

[...] você não tem um espaço aberto para ficar, automaticamente você tem

que ficar naquele lugar fechado e propor neste espaço fechado uma

atividade tão prazerosa quanto, o que é bastante difícil, porque é mais

legal brincar no parque, mais legal brincar na quadra. (professora

Adriana)

Nesta fala, Adriana reconhece que as crianças tem grande necessidade de se

movimentar corporalmente e entende o ato motor como parte do desenvolvimento infantil.

Por outro lado, não consegue reconhecer o espaço sala de aula como meio de aplicação de

atividades.

Nós não temos parque coberto, então dias de chuva ou dias de muito frio,

que a gente não consegue sair, eles ficam muito presos naquele espaço

muito pequeno. O que a gente sente, eles ficam muito agitado, o tempo não

passa nem pra mim nem pra eles. (professora Ana)

A professora parece não reconhecer as necessidades de seus alunos, pois acredita que a

falta de espaço acarreta agitação corporal. Entretanto esta agitação é inerente a faixa etária,

85

uma vez que seus alunos encontram-se no estagio sensório motor, voltado para a exploração

do espaço. A preocupação deveria estar relacionada ao espaço ou à falta de oportunidades?

Segundo Almeida (2012), a atividade motora exige um meio espacial adequado para sua

expressão e também, um meio de ação rico em possibilidades.

Na realidade, eu deixo de brincar, por exemplo, quando estou sozinha, no

espaço em que eu preciso de outra pessoa para ficar por exemplo, são dois

brinquedos, o trepa-trepa e o escorregador. Eu não consigo ficar nos dois

ao mesmo tempo, então quando estou sozinha eu tento fazer atividade no

solário, que são brinquedos mais baixos, que eu posso coordenar, eu posso

ver a criança em todo o seu processo, porque os brinquedos são baixos.

(professora Gina)

O dia da chuva, parques ficam impossibilitados porque lama, chuva a

criança não pode pegar. Então, o que a gente faz? A gente tenta criar

outras atividades que possa também, a criança explorar o movimento. A

gente brinca de cambalhota, a gente trabalha com DVD. (professora Gina)

Nestas duas falas a professora se coloca no papel de mediador. Na primeira, seu papel

está relacionado ao cuidar e na segunda fala, procura atender as necessidades dos alunos,

neste caso a movimentação corporal.

Observa-se que Gina procura em outros espaços fazer com que as crianças possam

vivenciar, experimentar o próprio corpo. No entanto, como faria Adriana que pela faixa etária

das crianças tem mesas, cadeiras e armários no espaço da sala! Para esta, em sua visão só lhe

restam jogos de mesa:

[...] às vezes acontece, vira um grande rodízio de jogos, daí são propostas

diversificadas dentro desses jogos. (pesquisadora) São jogos mais

cognitivos? (Adriana) Sim ou não, mas também, jogos mais prazerosos.

Apesar de eles terem crescidos, eles adoram ainda brincar de quebra gelo,

o jogo da pizza. E um momento mais livre e fica para oferecer o que eles

têm vontade de fazer. (professora Adriana)

A professora indica respeito aos alunos, procurando identificar as necessidades dos

mesmos deixando-os escolher as atividades que gostam, porem oferece-lhes poucas

alternativas de escolha

Segundo Wallon (2007), as incitações do meio são indispensáveis para que as

revoluções de idade em idade se manifestem e quanto maior for o nível da função, mais a

86

criança sofre as determinações do meio. Esta afirmação, se fosse do conhecimento de

Adriana, levaria a pensar em diferentes recursos que pudessem se juntar aos jogos de mesa.

Ao ser questionada sobre o significado de meio e qual dos meios: o meio ambiente ou o

meio de ação interfere mais no desenvolvimento infantil a professora Ana respondeu:

Eu acho que os dois têm fatores preponderantes. Agora se você me

pergunta, eu tenho só um meio, meio ambiente e coloco uma criança lá,

sem exercer nenhuma ação, sem exercer nenhuma interferência, eu acho

que aquilo se esgota. Agora se é só o educador sem ação do meio, os

recursos também se esgotam. Um complementa o outro. Acho que as

ferramentas que o meio me traz com a minha ação enquanto mediadora

completam o eixo do que eu desejo para essa criança, para esse educando.

... Não consigo dizer que sou plena sem o meio que me favorece e o meio

sozinho, ele não dá plenitude sozinho sem a ação do educador ou o adulto

que seja. (professora Ana)

O depoimento de Ana diverge à descrição que faz de alguns momentos do seu dia

atípico. A fala da professora nos remete a função da escola, que segundo Wallon (1986), é um

meio funcional, com a função de ensinar, sendo que, neste mesmo meio existem ou melhor,

coexistem profissionais e alunos de diferentes meios, com marcas dos seus próprios meios em

suas constituições. E estes, por sua vez, cada qual com suas marcas, oferecem recursos para o

desenvolvimento da imaginação e criatividade, uma vez que podem apresentar um acervo

cultural maior e assim, marcar o meio imaginado, representado e sonhado do aluno. Devemos

considerar que a criança pode escolher tanto o meio concreto quanto o meio sonhado e cabe

ao professor, em seu papel de mediador apresentar o acervo cultural, para que o aluno diante

dos diferentes meios possa desenvolver sua criatividade e sua imaginação.

Ao tratar das possibilidades de escolha, Wallon pontua que o hábito precede a escolha

(Almeida, 2012), sendo assim, o professor diante de atividades em que percebe a escolha feita

por hábito, deve encontrar maneiras de quebra-las introduzindo novas rotinas.

Eles estão muito acostumados com a rotina, de eles sentarem em formação

de cadeiras e se você desestabiliza, eles não conseguem... Se a gente mexe

muito com essa rotina eles se ficam um pouco perdidos. Acho que crianças

maiores, eles conseguem compreender, por que assim, a rotina eu digo que

a gente usa elementos concretos, que pra eles isso surte efeito. Para os

maiores, existem outros recursos. Eu acho que quando você mexe com

crianças um pouco maiores, eles conseguem elaborar de uma forma mais

tranquila. Eu já tive crianças que choraram quando você o desestabiliza.

(professora Ana)

87

A afirmação apresentada pela professora Ana indica que sua posição é contraria a da

teoria wallonaiana, uma vez que procura não desestabilizar seus alunos. Ana se refere não a

organização do dia, ao falar em rotina, mas à mudança de habito para uma mesma atividade,

por exemplo, todos os dias puxar a cadeira para ouvir a história. Poderia manter na rotina do

dia o ler histórias, mas oferecendo novas alternativas de como fazê-lo, isto é, algumas vezes,

sentado na cadeira, outras vezes no chão, em outras ao ar livre, embaixo de uma arvore...

Quanto aos meios de ação, sto é, que oferecem experiências e oportunidades, Wallon

(2007) pontua que as crianças só aprendem a aproveitá-los progressivamente. Cabe, então ao

professor oferecer propostas compatíveis com o estágio de desenvolvimento, providenciando

um ambiente rico para que as crianças exercitem suas funções, melhorando o seu

desenvolvimento e suas energias para a aprendizagem.

A criança que se apropria do movimento é logico que ela vai explorar

sozinha, ela vai ter a maior facilidade para, não só explorar aquilo que lhe

é proposto, mas de construir até mesmo objetos para sua exploração. A

perninha dela vai leva-la, ela vai poder levantar e, por exemplo, quando a

gente arruma as prateleiras na altura dela para que ela mesma pegue os

objetos, que ela já pode colocar sobre, é logico que essa criança vai crescer

mais, vai conseguir, não só explorar, mas construir o seu objeto de

exploração. (professora Gina)

Ao se posicionar desta maneira a professora mostra que as relações da criança com o

meio são de dependência e de transformações mútuas, assim como, um respeito em atender as

possibilidades da criança, sem exigir dela algo além de seus limites.

5.3.3 As oportunidades ofertadas

Segundo Wallon, a psicogênese do indivíduo depende de duas espécies de condições, a

orgânica e as relativas ao meio do qual a criança recebe os motivos de suas reações.

(MAHONEY; ALMEIDA, 2011)

No eixo anterior, tratamos do meio como campo das aplicações das atividades. Neste

eixo, pretendo identificar as possibilidades que as professoras oferecem às crianças, isto é,

vamos investigar o que está sendo oferecido aos alunos que proporcione um desenvolvimento

88

harmônico das funções, em especial as voltadas para a dimensão motora, considerando que

estas oportunidades ofertadas são alguns dos motivos das reações nas crianças.

O foco na dimensão motora baseia-se na compreensão de que esta dimensão se

desenvolve de maneira integrada as outras dimensões da pessoa. Durante os depoimentos foi

possível encontrar algumas nuances sobre a dimensão motora, embora as professoras não

tenham conhecimento de que as situações citadas envolvem também esta dimensão.

De acordo com o discurso e com o apoio dos quadros foi possível levantar atividades

que segundo Wallon (2007) favorecem a evolução mental da criança. Por esta razão as

propostas foram agrupadas, de acordo com o olhar walloniano em: o brincar, a imitação, o

simulacro e as atividades corporais intencionadas pelo educador. Esta ultima, tendo como

base a psicomotricidade.

A primeira constatação foi que as oportunidades ofertadas são diferentes conforme as

idades, a instituição e a formação do professor. No entanto, todas as oportunidades são

planejadas com o intuito de ampliar as habilidades das crianças.

A atividade própria da criança é o brincar e a cada brincadeira ou atividade que a

criança se dedica, se torna um fator de sua evolução mental, uma vez que a cada proposta,

diferentes sistemas de comportamento entram em jogo. (WALLON, 2007) Portanto, ao

professor compete criar condições para que a brincadeira aconteça.

Segundo a professora Gina, costuma deixar preparado o espaço para a brincadeira, na

hora da entrada, como forma de acolher as crianças que chegam à escola.

Como nós acolhemos:... Nada como você preparar esse espaço. Então a

gente arruma bonecas com mamadeira, a gente arruma mesinha com

panelinhas, tem outro dia que você arruma carrinhos e quando ela chega,

ela olha pra mãe e diz assim: tchau mãe. [...] Temos outra proposta que

são os carrinhos. A gente faz com fita, às vezes, as pistas e eles se

apropriam dessas pistas de corrida. A gente arruma as bonecas com

mamadeiras, a gente pega a bonequinha e coloca a mamadeira.

Dependendo desse material, dessa logística que a escola vai nos oferecer,

você cria diferentes espaços. (professora Gina)

A professora Ana, deixa que as crianças ao entrar na sala escolham o brinquedo que

mais lhe interessar. Segundo ela, as crianças fazem a escolha segundo os critérios de cor,

tamanho e forma, além do interesse pelo brinquedo do amigo, isto é:

89

[...] vendo a escolha do outro, que é diferente da sua, eles abandonam o

brinquedo inicial e vão à busca do outro. [...] Na verdade, antigamente a

gente trabalhava com rodizio de brinquedos. A gente estabelecia alguns

brinquedos seguindo nossos critérios e vendo o que eles mais desejavam.

Ai a gente percebeu que esse inicio que vão chegando um a cada vez, eles

tem os brinquedos de fácil acesso, então eles mesmos escolhem, então eles

pegam os brinquedos de encaixe, os brinquedos gerais, como telefone,

bichinhos, carrinhos. Às vezes eles abrem o meu armário e pedem

massinha, que eles adoram é que são crianças muito pequenas,

respeitando a faixa etária deles. Alguns deles já pedem giz, eles querem

pintar, mas isso é uma minoria. (professora Ana)

Podemos verificar que pela descrição dos brinquedos disponíveis, os mesmos estão

relacionados à brincadeiras de fabricação e brincadeiras de aquisição, todos voltados para a

função sensório-motora.

Quanto à professora Adriana, esta também oferece no inicio da manhã os cantos de

atividade, sendo que dois deles são voltados um para jogos diversos e o outro para jogo

simbólico. Atendo-se aos jogos diversos, as crianças têm disponíveis aqueles com a função de

sociabilidade, assim como a função sensório motora.

[...] Às vezes acontece, vira um grande rodízio de jogos, daí são propostas

diversificadas dentro desses jogos. São jogos mais cognitivos, mas também,

jogos mais prazerosos. Apesar de eles terem crescidos, eles adoram ainda

brincar de quebra gelo, o jogo da pizza. E um momento mais livre e fica

para oferecer o que eles têm vontade de fazer. (professora Adriana)

As brincadeiras de ficção ou faz de conta faz parte de todas as faixas etárias, cada qual

com suas diferenças. A criança sempre alterna entre a ficção e observação. Elas não as

confundem e não as dissociam, podem estar absortas em uma ou na outra, mas nunca se

desprendem completamente de uma na presença da outra.

Para os pequenos a imitação é a regra da brincadeira, enquanto não tem acesso à

instrução abstrata. Inicialmente, sua compreensão é apenas uma assimilação do outro em si e

de si no outro. (WALLON, 2007)

No depoimento da professora Gina, temos um bom exemplo da imitação na faixa etária

dos pequenos, ao participar do cantinho da casa, independente da criança ter ou não a

linguagem oral como meio de comunicação, ela participa da brincadeira, fazendo uso da

imitação.

90

[...] O cantinho da casa, a gente põe as panelinhas, algumas cadeiras, a

gente forra com toalhas a mesinha e eles sentam. A criança que já se

apropria da fala, da linguagem, ela chega e diz assim: olha, café e oferece

à professora. Então a gente senta, toma café junto com ela, no faz de conta

é claro. A criança que ainda não se apropria da fala, ela imita, ela põe lá o

açúcar, ela põe a canequinha e oferece pra vc. Isso quando a proposta é o

canto envolvendo a casa a família. (professora Gina)

No depoimento da professora Ana a brincadeira do faz de conta não aparece, ou melhor,

a única referencia que trouxe, foi ao falar dos parques em que comenta que algumas crianças

fazem bolo na areia.

[...] a gente consegue perceber que tem crianças que mesmo com tantos

recursos, tantas ofertas, eles ainda ficam só sentados brincando, fazendo,

elaborando seus bolos, enquanto outros não sentam em momento nenhum

e ficam indo de um lado para outro, procurando, assim, suados, né?!

(professora Ana)

A professora Adriana refere-se a brincadeira de ficção, como sendo jogo simbólico, para

o qual se tem kits com brinquedos que imitam o cotidiano adulto. A escolha desses é feita ora

pelas crianças, ora pelos adultos.

[...] temos o canto destinado ao jogo simbólico onde ficam dispostos os

brinquedos que imitam o cotidiano adulto (ferramentas de brinquedo,

panelinhas e bonecas, materiais de escritório, utensílios médicos de

brinquedo, entre outros) [...]. (professora Adriana)

Ainda falando sobre o jogo simbólico, professora Adriana comenta que vem

conseguindo fazer uma proposta muito grande com a hora do brincar quando chove ou esta

frio, ocasiões em que as crianças deixam de brincar no parque e na quadra.

[...] a gente tem feito com esse grupo, tem tido uma proposta muito grande

com essa hora do brincar, então a gente promove quando chove, esse ano

não aconteceu, mas quando o dia esta muito mais frio, enfim. O que a

gente tem feito, eles elencam o tema de brincadeira e a gente estrutura a

sala para a brincadeira, a sala vira um grande consultório medico.

(professora Adriana)

Segundo Wallon (2007), os brinquedos que mais agradam a criança não são os que mais

se parecem com o real, mas com os quais sua fantasia, sua vontade de invenção de criação

91

entram em jogo. Em se tratando de Educação Infantil, isso explica a fascinação que as

crianças têm com as sucatas, ou melhor, com as embalagens em que estava o brinquedo.

Se nós tivermos muitos materiais, mas mesmo quando a escola não tem

esse material, a gente também, trabalha com sucatas... Só com sucatas,

caixas de papelão. Eles entram, um puxa o outro. Eles pegam a caixa,

transformam em mesa. Nós estamos trabalhando, por exemplo, este ano

música, então eles pegam, a gente coloca as garrafa com objetos dentro

para fazer som então eles se apropriam daquilo. Eles, como a gente canta

muito com eles e se apropria desses instrumentos que são feitos com

sucata, eles também, quando recebem sozinhos, eles se utilizam dessa

forma. (professora Gina)

As palavras da professora Gina nos fazem pensar que as crianças deixariam de

experimentar, vivenciar as sucatas caso tivessem bastante material.

Analisando o depoimento das outras duas professoras, é inexistente qualquer referencia

ao uso da sucata, ou até mesmo o uso de algum material no lugar de outro que poderia dar

inicio ao simulacro.

O simulacro é a descoberta e o exercício de uma função que antecede a representação,

nenhuma das entrevistadas apontou exemplos a respeito.

5.3.4 As atividades corporais intencionadas pelo educador

“O ato motor é um recurso privilegiado para a construção do conhecimento. As

sensações só são retidas, discriminadas, identificadas no momento em que a criança é capaz

de reproduzi-las por meio de gestos apropriados.” (MAHONEY; ALMEIDA, 2010, p.17)

Sendo assim, torna-se importante oferecer o maior numero de situações em que as crianças

possam vivenciar corporalmente, ampliando e ajustando sua ação motora.

Uma das questões feitas às professoras estava relacionada especificamente a essa

questão: Em que medida o planejamento contempla a dimensão motora? A professora Gina

comentou sobre duas situações planejadas envolvendo movimento corporal: a dança e a

atividade com bola para ensinar as crianças a darem cambalhota. Esta ultima é desenvolvida

em etapas ao longo do ano.

92

[...] na dança, a gente dança muito com eles. A gente faz movimentos,

quando a gente vira cambalhota... Eu tenho uma bola de fisioterapia

grande, logo assim no primeiro semestre, eles não sabiam virar

cambalhota, então o meu objetivo era que eles se apropriassem da bola e

fazer aquele movimento e eu segurando o pezinho deles, né!

Automaticamente, o movimento da bola, o colchão já estava aguardando e

ele virava cambalhota. Então esse movimento foi um movimento

planejado, tá!...Foi uma atividade planejada, para trabalhar o movimento

do corpo. Só que depois eu tiro a bola, eu brinco com todos, todos viram a

cambalhota com bola, porque a bola auxilia, aquela bola é grande, né!

Quase do tamanho deles. Tiro a bola e deixo os colchões e fico

observando, eles virando a cambalhota, ou tentando virar a cambalhota.

Então esse movimento, foi um movimento planejado. (professora Gina)

Seu olhar para a dimensão motora está atrelado a situações do dia a dia, em que as

crianças precisam se movimentar adequando seus gestos à demanda da realidade.

Um movimento planejado que eu considero é o sentar na cadeira, não é

fácil. Sentar em uma cadeira, mesmo pequenina, não é fácil e a gente

observa que tem uns que primeiro se ajoelha na cadeira, depois estica a

perninha. Depois eles se apropriam da cadeira e põe a perninha num outro

espaço que não o da frente. E tem o descer da cadeira. E tem o depois,

brincar embaixo da cadeira e da mesa. Então existem atividades que você

planeja com movimento, seja com uma bola, seja no balanço. O balançar,

enquanto você empurra é uma coisa, depois a criança passa a ter o

movimento, a perninha, né! (professora Gina)

Gina tem também um olhar para as atividades de vida diária, na qual costuma incentivar

seus alunos a terem autonomia, deixando-os comerem sozinhos, fazer a higiene das mãos e

dos dentinhos, sempre com a supervisão do adulto.

A comida já vem num pratinho... Eles não escolhem. Tem tudo no prato e

a gente explica o que tem. Os que já comem sozinhos, já se apropriam, os

que não, a gente pega outra colher, a gente deixa uma colherzinha na

mão dele, a gente pega uma outra, pra tentar aquele que tem dificuldade. (professora Gina)

Em seu depoimento, acredita ser considerado movimento o cuidar de seus pertences,

isto é, pegar sua mochila, tirar a agenda.

Uma criança quando consegue tirar a mochilinha que está na altura dela,

isso faz parte do meu planejamento. Quando ele identifica qual é a

mochila dele, ele vai até a mochila dele, faz parte do meu planejamento.

Quando ele já pega a agenda dele e coloca na mesa, tem criança que não

93

quer pegar a agenda e colocar na mesa. Mas tem criança que já e

reconhece sua agenda. Todo o movimento que a criança faz na sala, ele

está inserido dentro de um contexto. (professora Gina)

Quanto à professora Ana, ao responder sobre o planejamento contemplar a dimensão

motora deteve-se ao fato de planejar atividades relacionadas sem ter uma formação apropriada

sobre esta dimensão.

Eu já vivenciei curricularmente algo muito mais intenso na questão

motora. Hoje, nos delegam enquanto coordenação, que a gente contemple

a coordenação motora como a gente julgar pertinente a faixa etária...

Então cabe a eu promover essas ações. Eu acredito que eu tento o máximo

possível, não sou graduada em psicomotricidade. Vejo nos parâmetros

curriculares o que essa criança tem que atender, dentro dessa faixa etária

e entendendo isso, promovo essas atividades, mas eu acho que ainda falta.

Acho que é deficitário. (professora Ana)

Quando questionada sobre o planejamento em si, afirmou que planeja atividades

corporais, mas que acredita não ser o suficiente para o desenvolvimento dos alunos.

O que eu vou pensar do motor, eu vou na quadra, com bolas. Paramos

para pensar diariamente, desafios, materiais, o uso do corpo, propriamente

dito, como corpo. Mas eu acho que não paramos como a gente deveria. A

gente não contempla como deveria ser. (professora Ana)

Por outro lado, ao falar dos parques, fez questão de explicar cada um deles, não só

descrevendo-os, mas também, contando cada um dos desafios motores que seus alunos

costumam enfrentar.

[...] nesses desafios motores que a gente acaba promovendo, nos parques, a

gente consegue entender muito a demanda de cada um, a necessidade de

cada um, os desafios e propriamente dito os ganhos que eles vão tendo...

Nos parques eles pedem ajuda, por que esse primeiro parque da ponte que

eu falei o que delimita o espaço dele é um murinho, eles pedem a sua mão

para entrar e a gente vai conseguindo ensina-los e dando ferramentas para

que eles sintam-se mais seguros. Então a gente ensina que tem que sentar

para trazer o corpo para dentro do espaço. Na primeira vez, eles não

conseguem, na segunda vez eles só te observam e na terceira ele vai e você

aplaude, eles se sente seguro e vai. (professora Ana)

94

O relato da professora Adriana sobre abarcar a dimensão motora no planejamento, ficou

muito próximo da professora Ana, uma vez que com a sua faixa etária não existe um

planejamento voltado para esta área, quem costuma trabalhar com as crianças são os

professores de área, isto é, professor de educação física, de musica e de cultura judaica.

Eu acho que o meu planejamento não contempla. O planejamento dos

especialistas mais: musica, movimento, até mesmo as aulas de cultura

judaica, inglês envolvem às vezes, rodas cantadas. Mas eu consigo propor

situações em que o corpo aparece, não formalizada em planejamento, mas

nas situações que ofereço de brincadeiras.” Contudo, sabendo da

importância desta dimensão, procura garantir vivencias corporais da

melhor maneira possível, brincando. [...] Na hora do brincar é que o

movimento aparece. Aparece, como disse agora pouco, informalmente,

uma coisa mais natural, mas não uma coisa pensada, estruturada.

(professora Adriana)

5.3.5 A dimensão motora na perspectiva das entrevistadas...

Neste eixo, tentaremos mostrar o que as professoras conhecem a respeito da dimensão

motora, isto é, o quanto sabem sobre esta dimensão. Esta analise será baseada nos

depoimentos, em especial na resposta que as professoras deram para a seguinte questão: Em

sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

Este levantamento será baseado nos depoimentos, em especial na resposta que as

professoras deram para a seguinte questão: Em sua opinião, a dimensão motora afeta a

aprendizagem?

O olhar que a professora Gina tem para a dimensão motora envolve a possibilidade do

movimento, que fará ou não com que a criança explore aquilo que lhe é oferecido. Em se

tratando de poder se movimentar, acredita que a criança com necessidades especiais:

[...] também chegará lá, só que ela vai depender de outros ou de uma

cadeira de rodas ou um objeto, mas ela vai chegar por outros meios.” A

criança que já se movimenta, fará uso disso como ferramenta de

exploração de novos espaços. (professora Gina)

95

Ao falar sobre a dimensão motora, a professora Ana coloca o corpo como forma de

comunicação. Segundo ela, a maneira como a criança anda (corpo projetado para frente ou

para dentro de si; criança mais quieta ou mais expansiva) demonstra o que querem, o que

precisam e quem são. Ao ser questionada, onde entraria a aprendizagem, pontuou a questão da

mediação como sendo um dos papeis do professor, dando a entender que o professor deve

observar o que o aluno esta dizendo através do seu corpo e tentar auxilia-lo da melhor

maneira.

Na opinião da professora Adriana, a dimensão motora esta relacionada a coordenação

motora. Quanto afetar a aprendizagem, acredita que o cognitivo estando intacto, não é a

coordenação motora que vai atrapalhar, uma vez que existem muitos recursos que poderão

auxiliar na coordenação motora. Para exemplificar, contou que já tivera alunos com

problemas de coordenação motora fina, que o impossibilitava de escrever e para auxilia-lo,

ofereceu letras em etiquetas para que ele pudesse montar as palavras de acordo com sua

hipótese de escrita.

A teoria de desenvolvimento de Wallon não apresenta um método educacional,

tampouco uma teoria pedagógica. Contudo contribui para uma reflexão sobre o

desenvolvimento integral da pessoa, desde o inicio ao final da vida.

Por esta razão, serviu de apoio para a reflexão, assim como para a discussão dos eixos

levantados nesta pesquisa. A análise dos eixos trouxe várias informações que certamente

provocam muitas indagações. Indagações estas que serão apresentadas no capitulo das

considerações finais.

96

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A criança só sabe viver a sua infância. Conhecê-la pertence ao

adulto. Mas o que vai prevalecer nesse conhecimento: o ponto de vista

do adulto ou da criança?” (Wallon, 2007, p.9)

Vivemos hoje em uma sociedade competitiva, fazendo com que os pais, em sua maioria,

trabalhem cada vez mais. A urbanização e a segurança modificaram os nossos costumes, em

especial os costumes infantis. Essas mudanças ocasionaram, dentre outras, uma diminuição

dos espaços e da liberdade, principalmente da liberdade do brincar, gerando uma certa

passividade corporal em nossas crianças.

Com a entrada das crianças cada vez mais cedo nas instituições de ensino, estas se

tornaram, para muitos, a grande responsável pelo desenvolvimento dos pequenos, uma vez

que eles passam de 4 a 7 horas por dia e 200 dias por ano na escola.

Sendo assim, o nosso desafio, como educadores, é ter um olhar para a criança de

maneira integral, para todas as dimensões do seu desenvolvimento, motor, afetivo e cognitivo,

garantindo a experimentação de novas vivencias de acordo com suas necessidades,

fortalecendo-a, à medida que amplia suas experiências de base, que são os alicerces

determinantes para novas aprendizagens dentro e fora da escola.

Em seu conjunto, as nossas professoras Gina, Ana e Adriana, trouxeram uma visão

otimista em relação ao desenvolvimento das crianças, pois foi possível observar que as

dimensões afetivas e cognitivas estão asseguradas em suas praticas pedagógicas.

No decorrer dos depoimentos, essas duas dimensões são as que permeiam mais

fortemente o trabalho pedagógico, em se tratando da Educação Infantil.

Para a professora Gina, que atua com os pequenos, embora tenha consciência da

importância das três dimensões, ao relatar sua prática o que prevalece é a dimensão afetiva.

Para Ana, que também trabalha com esta faixa etária, encontramos um olhar para a dimensão

afetiva, embora o que se sobressai seja a dimensão cognitiva. A professora Adriana, que atua

com a última idade da Educação Infantil, afirma que procura cuidar da dimensão afetiva, no

entanto o enfoque ao descrever sua pratica é a dimensão cognitiva.

Quando mencionei uma visão otimista, referia-me também a dimensão motora, uma vez

que foi possível identificar no discurso das professoras um certo conhecimento teórico á

97

respeito da importância desta dimensão. O que esta pesquisa revela é que precisamos ampliar

esse conhecimento e transformá-lo em pratica pedagógica. Para tanto, torna-se importante

conhecer as necessidades que envolvem a dimensão motora no âmbito educacional, tanto para

crianças como para as professoras.

Com a análise da rotina, é possível perceber que as situações e as propostas relacionadas

a esta dimensão, são insuficientes para garantir o desenvolvimento integral da criança.

A concepção da dimensão motora demonstrada pelas professoras está fundamentada na

concepção de criança que frequenta a educação infantil como um preparo para o ensino

fundamental. Alguns pontos podem ser destacados:

A preocupação com o meio físico, revelando uma concepção fragmentada de criança ao

entender que o espaço físico do parque e/ou da quadra são os únicos que privilegiam a

dimensão motora, separando-o da dimensão cognitiva que fica para o espaço da sala de

aula.

Nenhuma das três professoras abordou a questão de que a aprendizagem acontece através

do corpo e que para a criança, este corpo é o ponto de referencia a partir do qual organiza

as informações que recebe, construindo assim suas impressões (BAZYLEWSKI, 2006).

Neste sentido, aparecem em seus depoimentos poucas situações de atividades para

aproveitar as sensações proprioceptivas e exteroceptivas que auxiliariam na construção da

noção do corpo, permitindo a pessoa reconhecer as condições e necessidades do seu

próprio corpo e do mundo exterior a ele.

A imobilização corporal por um período, às vezes longo, por demanda das atividades

intelectuais, isto também, representa uma concepção fragmentada da pessoa, tentando

excluir das atividades de ensino-aprendizagem as dimensões afetiva e motora. Parece-nos

uma dificuldade em reconhecer que as necessidades de movimento, assim como as

manifestações corporais dos sentimentos e emoções, podem ser provocadas e mobilizadas

a favor da aprendizagem.

As minhas considerações como pesquisadora, baseada nos depoimentos das professoras,

são que estas sentem dificuldades de trabalhar a dimensão motora por duas razões, que estão

interligadas: falta de conhecimento teórico e apoio da equipe gestora.

Para suprir a falta de conhecimento teórico, seria necessário repensar a formação inicial,

assim como, a formação continuada. Esta ultima, está intimamente ligada ao apoio da equipe

gestora, uma vez que via de regra, nas escolas, sejam elas particulares ou publicas, existem

98

propostas de formação continuada com foco na dimensão cognitiva. E por que não se tem a

formação com foco nas outras dimensões?

Na teoria walloniana, um dos papeis do professor é auxiliar a criança a utilizar seus

próprios recursos e para isso deve conhecer o processo de desenvolvimento e aprendizagem,

considerando a pessoa com um ser indivisível, instigando-a em todas as dimensões, na

sucessão de suas idades, considerando-a um ser único e sujeito a metamorfoses. Sendo assim,

o professor representa um elemento privilegiado do meio constituinte do seu aluno.

(MAHONEY; ALMEIDA, 2004)

A teoria walloniana permite á nós, professores (as), não apenas repensar o

sentido do movimento de nossos alunos nas diferentes situações pedagógicas

vivenciadas, mas principalmente, instiga-nos a repensar nossos próprios

processos de construção de conhecimento e formação docente. (Limongelli,

2006).

Pensando assim, a realização desta pesquisa contribuiu para que o meu conhecimento

sobre a teoria de Wallon fosse ampliada, isto é, veio agregar aos saberes decorrentes de meu

conhecimento sobre a psicomotricidade, o conhecimento dos aspectos pedagógicos, sem a

pretensão de que se esgotem por aqui.

Embora os resultados da pesquisa tenham sido a meu ver, satisfatórios, no sentido de

procurar esclarecer o problema levantado, trouxeram novos questionamentos relacionados aos

afazeres da Educação Infantil, voltados para a formação do professor, assim como,

questionamentos voltados para como trabalhar com as quatro dimensões.

É preciso, na Educação Infantil e em todos os demais segmentos, estar atento à

afirmação de Wallon (2007, p.198):

[...] É contrario à natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada

idade, ela é um todo indissociável e original. Na sucessão de suas idades, é

um só e mesmo ser sujeito a metamorfoses. Feita de contrastes e de

conflitos, sua unidade é por isso mesmo mais suscetível de ampliações e

novidades.

99

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103

APÊNDICES

Apêndice I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)

Termo de consentimento livre esclarecido - Autorização

Título do projeto: Um olhar para a dimensão motora...

Pesquisadora Responsável: Sandra Bazylewski

Orientadora Responsável: Profa. Dra. Laurinda Ramalho de Almeida

Prezado(a) estamos solicitando sua autorização para participar da pesquisa de

responsabilidade da pesquisadora Sandra Bazylewski, que é mestranda em Educação:

Psicologia da Educação, PUCSP. Informamos que a participação não é obrigatória, no

entanto, espera-se que os resultados contribuam para a população dos alunos da educação

infantil e na formação dos professores desse segmento.

Declaramos que não há nenhum tipo de risco (físico, emocional ou mental) e que todas

as informações pessoais ficarão em sigilo. A sua autorização pode ser retirada a qualquer

momento e se tiver dúvidas pode esclarecê-las com a pesquisadora nos dados de identificação

que estão no topo deste termo. Gostaríamos de agradecer pela atenção e pedimos que, caso

concorde com a participação, preencha os dados abaixo e assine as duas vias deste termo.

O(A) senhor(a) receberá de volta uma das cópias assinada pela pesquisadora.

Eu, __________________________________________, RG ________________________,

disponho-me a participar pesquisa e autorizo a utilização das informações no projeto de

pesquisa acima descrito.

São Paulo, ______ de _________ de 2015.

____________________________________________________________________

Nome e Assinatura do Responsável

____________________________________________________________________

Nome e Assinatura da Pesquisadora

104

Apêndice II – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA GINA

1ª. Etapa da entrevista

Entrevistada: Gina (nome fictício) / Faixa etária com a qual trabalha: 1ano e meio a 2 anos e meio

Descreva um dia típico de atuação: Chegada 7h (Reunião Pedagógica - três dias na semana) e (

Atividade individual – dois dias na semana) / 8h – Acolhimento das crianças em sala / 8:30 – Café / 9:

00 – atividade em roda com as crianças / 9:30 - Suco / 9:40 – Brincadeiras no solário/parque /

Higienização das crianças/ atividade ( enquanto uma professora faz a troca a outra está em atividade) /

10:00 – pintura/artes/cantos / 10:40 – Almoço / 11:30 - Soninho

Descreva um dia atípico de atuação: (Na falta da segunda professora ou chuva) / As atividades são

na sala – Restringimos os parques, solário e adaptamos, com: jogos, giz de cera, DVDs, danças,

fantasias, cantos diversos em sala.

Transcrição da entrevista: Iniciamos preenchendo a ficha de categorização. Ao preencher a ficha

com os dados da formação, Gina explicou que não fez a especialização pois havia feito inscrição para

o mestrado juntamente com a especialização em psicopedagogia. Embora tenha passado nos dois

optou por fazer o mestrado.

Pesquisadora Explicação sobre o berçário um.

Entrevistada

Gina

Muitos professores não se sentem, eles não têm confiança neles mesmos. Eles têm medo de

uma criança engasgar, da criança passar por algum problema. Eles não têm condições, muitos

não são pais, não são mães, então eles ficam achando que (pausa).

Pesquisadora Será que, de repente, tem a ver com o fato de acharem que isso é coisa de baba, com aquele

conceito que tinha...

Entrevistada

Gina

Trabalhar na educação infantil de 0 a 3, queira, ou não queira ainda existe essa ideia, porque...

Vou te dar um exemplo: Eu dava aula num curso de pedagogia da Uniban e houve uma

discussão quando fomos falar sobre legislação e a mudança da assistência social para educação.

A creche, ela tinha toda uma infraestrutura, porque naquela época havia essa necessidade de

alimentar mesmo. Essas crianças precisavam de alimentação, estavam correndo risco de

perderem a vida. Naquele contexto a assistência social assumiu.

A partir de 2002, aqui na prefeitura de São Paulo, quando passou para educação, começou a se

discutir quem iria cuidar porque havia uma dicotomia entre cuidar e educar... Na assistência

social havia as pessoas que apenas cuidavam, trocava fralda, dava comida e aquela que

educava. Então havia um status realmente, aquela que cuida é a pajem, é a auxiliar, é a baba.

Aquela que educa esta sim é a pedagoga, essa vai educar. Como se nós pudéssemos pegar

aquela criança dividi-la ao meio... Olha neste momento você esta sendo cuidada, ai tá.. A partir

do momento que eu for educar aquela criança é outra. E na realidade, percebe-se claramente

que o cuidar e o educar estão juntos. É o professor que cuida, tem que ter concepções porque

até no momento de cuidar, o que você fala para uma criança, por exemplo, na fase do desfralde,

que ela já faz no vaso sanitário ela já vai, mas naquele dia escapuliu.

Pesquisadora Dependendo de como o professor reagir, ou ele trava ou...

Entrevistada

Gina

Exatamente, o controle dos esfíncteres. Então, você vê claramente que quando se tinha essa

visão da separação do educar e do cuidar, eu creio que a criança perdia muito, não é. Porque ela

muitas das vezes era educada nesse momento da higiene, no momento do controle dos

esfíncteres, no momento da própria reação daquela criança. No momento da troca, por

exemplo, você quando vai trocar você está olhando para uma criança, ela tá olhando pra você.

105

Pesquisadora O contato, o contato físico.

Entrevistada

Gina

Eu estou tocando, estou sorrindo, estou conversando com ela, ela olha pra mim e conversa

comigo. Então essas concepções elas são bem claras quando você tem o olhar de educador que

está cuidando. (sorriso). São dois momentos importantes.

Pesquisadora

Você colocou aqui quando escreveu o dia típico de atuação. Então, queria que você contasse

um pouquinho essa chegada às 7 horas da manhã, o que acontece na reunião pedagógica... e o

que acontece na atividade individual.

Entrevistada

Gina

Antes de responder isso eu preciso falar um pouquinho de que esse desenho dessa rotina, isso é

agora. Assim que entrei na Prefeitura de São Paulo, em 2004, as crianças entravam a partir das

7 horas. Então não havia esse momento pedagógico que nós chamamos hoje de PEA (projeto

especial em ação) que os professores discutem o projeto pedagógico o PPP (Projeto Politico

Pedagógico) e a partir desse projeto politico discute-se o tema que vai ser trabalhado nesse

programa que se chama PEA... Então em 2004, quando entrei na Prefeitura de São Paulo, isso

não havia, isso foi uma construção. Tanto é que as reuniões eram no horário do soninho.

Horário esse, que o professor também precisa ficar em sala. Uma criança que está dormindo,

ela pode ter um momento de choro, pode passar mal, enfim. Então digo pra você que isso é

agora, tá... diria uns cinco anos.

Mas de qualquer maneira, como é essa rotina. Nós temos três dias na semana em que os

professores costumam ir para essa reunião pedagógica discutir o PEA que é de 7h as 8h. As

crianças, elas então de 8 horas em diante até umas 8h e meia, tá.

Então vamos dizer como seria uma rotina: tivemos a reunião pedagógica de 7h as 8h. A partir

das 8h as crianças estão entrando no centro de educação infantil e nós acolhemos essas

crianças. Como nós acolhemos: Nós entendemos que essa criança está saindo da casinha dela.

Ela acordou, nem todas tomam café, tomam o seu leitinho e elas estão entrando num espaço

que é chamado centro de educação infantil. Nada como você preparar esse espaço. Então a

gente arruma bonecas com mamadeira, a gente arruma mesinha com panelinhas, tem outro dia

que você arruma carrinhos e quando ela chega, ela olha pra mãe e diz assim: tchau mãe

(fazendo a movimentação da mão, imitando a criança).

Pesquisadora Para cada dia vocês arrumam esse acolhimento de uma maneira diferente.

Entrevistada

Gina Exatamente.

Pesquisadora Com objetos diferentes.

Entrevistada

Gina

E com propostas diferentes. O cantinho da casa, a gente coloca panelinhas, algumas cadeiras, a

gente forra com toalhas a mesinha e eles sentam. A criança que já se apropria da fala, da

linguagem, ela chega e diz assim: olha, café e oferece à professora (gesticulando, fazendo da

mesma maneira que a criança faz). Então a gente senta, toma café junto com ela, no faz de

conta é claro. A criança que ainda não se apropria da fala, ela imita, ela põe lá o açúcar, ela põe

a canequinha e oferece pra vc. Isso quando a proposta é o canto envolvendo a casa a família.

Pesquisadora Quais são as propostas que acontecem?

Entrevistada

Gina

A gente tem o cantinho da casa, da leitura. A gente põe as almofadinhas, quando a gente tem,

quando a gente não tem forramos com colchões, a gente coloca os livros a disposição deles.

Então eles pegam os livrinhos. Muitos se aproximam de você, para você contar a história e a

maioria, que já. Ele consegue diferencia quando eu estou contando a história e quando estou

lendo a história. Então ele pega o livrinho e começa a imitar o professor, começa a ver as

figuras. Temos outra proposta que são os carrinhos. A gente faz com fita, às vezes, as pistas e

eles se apropriam dessas pistas de corrida. A gente arruma as bonecas com mamadeiras, a gente

pega a bonequinha e coloca a mamadeira (imitando com os braços). Dependendo desse

material, dessa logística que a escola vai nos oferecer, você cria diferentes espaços. Isso

106

depende, também, da estrutura que a escola, que o centro de educação infantil vai te oferecer.

Se nós tivermos muitos materiais, mas mesmo quando a escola não tem esse material, a gente

também trabalha com sucatas.

Pesquisadora Tem de repente um dia só com sucata

Entrevistada

Gina

Só com sucatas, caixas de papelão. Eles entram, um puxa o outro. Eles pegam a caixa,

transformam em mesa. Nós estamos trabalhando, por exemplo, este ano música, então eles

pegam, (corporalmente, estava fazendo o movimento de batucar na caixa) a gente coloca as

garrafas com objetos dentro para fazer som (movimentando o braço como se estivesse com

chocalho na mão) então eles se apropriam daquilo. Como a gente canta muito eles apropriam

desses instrumentos (continua fazendo a movimentação como se estivesse com os objetos

instrumentos em mãos) que são feitos com sucata, eles também, quando recebem sozinhos, eles

se utilizam dessa forma.

Pesquisadora

O cantinho da casa e o cantinho do carrinho, assim como, as bonecas com mamadeira, tanto os

meninos quanto as meninas se envolvem com essas brincadeiras ou, quando é boneca com

mamadeira, os meninos não...

Entrevistada

Gina

A faixa etária que eles se encontram, eles não tem ainda essa percepção. Nós adultos que

colocamos.

Pesquisadora Eu sei, na verdade.

Entrevistada

Gina

Todos se envolvem, o menino pega a boneca, dá a mamadeira a menina também. Como a

menina também pega o carrinho. Mas a sua pergunta, ela tem uma característica muito legal,

sabe porquê? Muita das vezes os pais, quando deparam com essa situação, eles às vezes tem

esse estranhamento. Meu filho é menino, dando mamadeira? Ou quando a gente faz, por

exemplo, o canto da beleza, que os meninos pintam sua unha de rosa. E o que a gente faz

(pausa) eu pelo menos, com o trabalho que desenvolvo, eu trago o pai em parceria e quando o

pai coloca essas questões de gênero, o que é de menina e o que é de menino (pausa) Na reunião

que a gente tem de pais, eu trabalho com eles que no faz de conta, os personagens, assim como

são bichinhos, eles podem ser um leão, eles podem ser um tigre, eles podem ser um elefante;

eles podem ser uma menina, eles podem ser um menino. No faz de conta.

Pesquisadora Papel de pai.

Entrevistada

Gina

Papel da mãe, papel do tio e ai, o que eu tenho observado, que quando você faz esse trabalho

com a família, de parceria, desconstrói um pouco esses mitos, né. E a gente trabalha de uma

forma mais.

Pesquisadora E a criança sai ganhando.

Entrevistada

Gina A criança ganha.

Pesquisadora Como é a hora do café?

Entrevistada

Gina

Acolhemos as crianças. Eles se apropriaram daquele canto. Tem o momento da higienização.

Tem o objetivo da formação de hábitos. No inverno, eles estão muito agasalhados e levá-los

sempre à torneira é motivo deles ficarem ensopados, então a gente usa muito gel. E eles já se

apropriam do gel, tem a toalhinha, eles limpam com papelzinho, né. E depois desse momento

eles vão para o refeitório. No refeitório...

Pesquisadora Esse café, é café das crianças, não é dos professores?

Entrevistada

Gina

É o café das crianças, tanto é que é 08h30min, eu fiz a rotina das crianças. Existe um

momentozinho em que o professor, ele toma o seu café, mas enquanto esse professor toma esse

café, a outra professora com uma ajudante está fazendo uma atividade e vice-versa, a gente não

para. O trabalhar com a educação infantil, essa questão do tempo e do espaço, existe uma

107

sequencia, uma logística, que a criança se apropria dessa logística e se você a deixa sozinha

sem uma proposta, mesmo que seja livre, se a proposta é livre, é livre, então eles vão brincar

com os carrinhos, né!. Mesmo que a proposta seja partindo da criança, você tem que oferecer

algo, para que ela também possa trabalhar, que ela possa brincar. Então, o lúdico permeia a

todo o momento. Então se o momento é brincadeira livre, tem as motocas, tem...

Pesquisadora O material para a brincadeira livre.

Entrevistada

Gina

Tem o material da brincadeira livre. E se a proposta for em um parque, em que não vai ter as

motocas, mas tem o trepa-trepa, tem escorregador, tem a casinha. Então eles estão sempre

criando a partir do espaço que você construiu, eles mesmos vão trabalhar e vão construir a sua

própria brincadeira. Que é a brincadeira livre, a gente deixa eles a vontade. Então esse horário

de café é o café da criança, né! Eles vão para o refeitório, lá eles têm café com leite, às vezes é

chocolate, às vezes é bolacha, às vezes é pão com manteiga e todos nós vamos juntos.

Pesquisadora Eles comem sozinhos? Como é?

Entrevistada

Gina

Eles já tomam, é todo aquele processo. No inicio, assim que nós chegamos, o berçário dois, eles

já usam aquela caneca com aquele canudinho, porque eles não tem ainda o controle de tomar

com a canequinha.

Pesquisadora Com o copo?

Entrevistada

Gina

É o copo que tem aquele canudinho já do lado, que ele consegue sugar melhor, vira a

canequinha e não se molha (enquanto falava, fazia o gesto com as mãos, levando o copo à boca

e virando-o). Mas esse processo é gradual.

Pesquisadora É um copo com as duas alças?

Entrevistada

Gina

Com as duas alças. Por que no berçário um, eles saem da mamadeira para esse copo. No ultimo

semestre,

Pesquisadora Na verdade não é um canudo, é um biquinho, é o copo de transição.

Entrevistada

Gina

É um biquinho. O pai traz aquele que parece um canudinho, a gente, a própria instituição

compra essa caneca. A gente via que cada criança trazia de um jeito e havia briga. Uma queria

o copo do outro, então a escola agora padronizou todas as canecas com esse biquinho porque

eles ainda. Agora, em alguns momentos a gente também dá a caneca, por exemplo, sem a

tampa. Por que tem momentos assim que a agua já dá, só que a gente fica ali pertinho,

esperando eles tomarem e depois eles criam atividades encima da caneca, ou seja, eles pegam

aquela caneca e joga agua no amiguinho. Eles são muito criativos, eles colocam objetos ali

dentro, peles percebem a diferença, são criativos, são inteligentes.

Pesquisadora Ai, vocês seguem para atividade de roda?

Entrevistada

Gina

Isso. Nós estamos trabalhando nesse mês sobre frutas. Trouxemos uma caixa, a gente chama de

caixa surpresa e nessa caixa surpresa a gente trabalha a fruta que vai ser servida no almoço.

Então a gente pergunta qual a fruta, sacode, deixa eles mexerem na caixa. Tem sempre um que

abre e vê qual é a fruta, maçã!, banana! E a gente deixa que eles manuseiem a fruta, ai a gente

pergunta que cor é a fruta. Tem um que não dá tempo, que já dá uma mordida, isso faz parte.

Eu lembro que a gente foi apresentar a manga e depois de lavar a manga, já estava lavada, não

deu tempo, porque eles não resistiram e deram uma mordida na manga. Foi muito legal! Né,

mas a gente sabe que é fase.

Pesquisadora Quem escolhe esses temas?

Entrevistada

Gina

É de acordo com a proposta pedagógica que a gente montou. A gente tem, por exemplo, este

mês agora, que nós vamos entrar no mês de setembro, a gente vai entrar com flores, com

verduras. Porque o mês de agosto nós trabalhamos as frutas porque é o tema do nosso próprio

108

planejamento, nós temos o nosso planejamento e nesse planejamento a gente definiu que no

mês de agosto a gente iria trabalhar as frutas, até porque nós percebemos a dificuldade que eles

tinham de comer essas frutas. Então partindo dessa necessidade deles, nós inserimos no nosso

planejamento a fruta. Então a gente trabalha a fruta, a cor da fruta e depois cada um vai comer

um pedacinho da fruta.

Pesquisadora Suco?

Entrevistada

Gina

O suco, ele vem já (pausa) existe uma, um planejamento junto com a nutricionista da prefeitura

com cardápio pré-estabelecido, então o suco é variado. Um dia é da laranja, outro dia é

maracujá, outro dia é abacate, outro dia eles fazem um suco misto, mamão com laranja,

beterraba com laranja. Eu já vou te adiantando, eles gostam muito da laranja, do limão, às vezes

do abacaxi, mas a beterraba com a laranja (pausa). Então, a gente já está ligada que a beterraba

vai ser então, legumes que a gente vai ter que trabalhar, a gente vai ter que brincar, vamos

pintar com a beterraba, vamos, pra motivar, pelo menos para eles provarem isso.

Pesquisadora Depois vocês seguem para brincadeiras no solário?

Entrevistada

Gina

É, eu entendo que o espaço dentro da sala ele tem que ser trabalhado, porque é o momento da

roda, é o momento que eles vão estar conversando, para poder ouvi-los melhor, mas sempre que

possível, a gente prioriza mais a atividade externa. Eu digo a você que nesse espaço que é o

solário, a gente usa tanto o solário, quanto outro espaço. A nossa unidade ela tem três parques

então à gente pode variar com as crianças, né! A gente tem um parque com trepa-trepa, com

balanços. Nós temos outro parque que tem as casinhas, um escorregador, um espaço que eles

vão explorando, subindo depois descendo. Muito interessante esse espaço que tem lá, também a

gente chama de trepa-trepa, eles vão trepando, vão subindo, vão entrando, um brinquedo, um

brinquedo bem grande. E existe outro espaço que tem mais arvores então eles gostam, que tem

frutas, tem amora, um pé de amora. Então a gente pega amora, amora já foi motivo de varias

coisas, além de provar, até para pintar, roxinho, né, então eles exploram. As folha secas,

também explora. Então só voltando, o solário é um espaço cimentado, mais, vamos dizer assim,

é um espaço que eles não se sujam tanto. Aberto, porem, como é lavado todo dia, as meninas da

limpeza elas lavam. É um espaço que a gente trabalha com eles no primeiro semestre, tendo em

vista que eles põem tudo na boca, eles estão na fase de provar, na fase oral, eles põem tudo na

boca. A gente deixa os seis primeiros meses do ano ali, para que depois, a gente vai pros outros

parques, porque eles vão pegar mesmo, mas eles já entendem um pouquinho mais, né. Então a

gente explora outros parques, mas a gente entende que o externo favorece bastante porque a

gente brinca de roda, a gente brinca de bola, a gente trabalha com eles é (pausa). Agora a gente

está envolvendo em duplas, brincadeira em duplas, quando um joga bola, porque a tendência é

segurarem a bola, não percebe o outro. Tem que jogar bola pro outro. A gente usa esse espaço.

Quando a gente vai pro espaço maior, a gente explora não só os brinquedos mas o que o espaço

também oferece, né! Nós temos também lá, um tanque de areia. Esse tanque de areia, também,

a gente vai num rodizio, cada sala tem um dia, linha do tempo, um horário.

Pesquisadora

Todos esses espaços, os parques diferentes, o solário, o tanque de areia, as crianças sempre

fazem atividades dirigidas, ou tem momentos que vocês só deixam eles ali, para ver o que

acontece?

Entrevistada

Gina

A atividade ela é basicamente, no solário, a gente deixa eles a vontade. Saímos do espaço das

quatro paredes, que também, a gente faz proposta deles ficarem brincando sozinhos. Quando a

gente vai para um espaço maior, a gente deixa que eles brinquem, explorem bastante os

brinquedos. Quando você percebe que aquela brincadeira já não esta mais atendendo as

necessidades de exploração deles, cabe ao professor então, perceber que naquela linha do

tempo ele tem que fazer outra proposta. Então o que fazemos, colocamos ali a cesta de bolas.

Então eles vão se apropriar daquelas bolas, vão brincar. Você viu que aquela bola que até então

você brincava tranquilamente, ela se torna, de repente, um brinquedo de jogar encima do outro.

Então a própria criança sinaliza o momento que você, é, como se diz , transforma aquele

espaço, mesmo que você não direcione. Você não vai direcionar, brinque desse jeito ou

daquele, mas você direciona, vamos dizer assim, o objeto que ele vai explorar. Então naquele

momento, a bola já não tem mais interesse, então a gente tira aquele, a gente pede, inclusive

que eles nos ajudem, eles vão nos ajudando a colocar a bolas lá dentro. E ai, a gente faz a

109

propostas, por exemplo, dos instrumentos musicais. Então a gente joga os instrumentos

musicais, só que existe um momento que a gente canta com eles, então nesse momento, cada

um pega o seu instrumento, quem quiser ficar ali, a gente tá fazendo aquilo, cantigas de roda e a

gente pensa que não, mas aquele que está lá no finalzinho do solário, tá cantando a sua

musiquinha, mesmo não estando perto de você. Então na realidade, o que a gente faz é a gente

deixa eles livres, eles tem a oportunidade de explorar como eles querem, mas você como

professora cria o ambiente.

Pesquisadora Quando você diz que eles dão sinais de que aquele material já foi super explorado. Que tipo de

sinais você costuma ver? Como eles mostram isso?

Entrevistada

Gina

Primeira coisa, eles às vezes largam o brinquedo, eles não querem mais, eles deixam em um

canto. O segundo, quando eles pegam aquele brinquedo, que por exemplo é um chocalho que é

pra ouvir o som e que ouvir o som, mas usando no próprio corpo do amigo, né, então ele pega o

chocalho que já explorou, ele quer ver se no corpo do amigo que barulho. A gente sabe que isso

vai machucar o amigo. Então a gente percebe, ele dá indícios quando ele explora o suficiente e

utiliza aquele instrumento de uma forma que vai ferir o amigo e ele próprio. Então a gente,

percebe, os indícios são esses. Eles avisam a gente que aquele instrumento ali já esgotou a

exploração. Mesmo que você recolha aquele brinquedo, e depois você traz em outro momento

eles vão se apropriar de uma outra forma.

Pesquisadora Tudo bem, já explorou e você troca de material. Em algum outro momento, você traz de volta

o material que já se esgotou?

Entrevistada

Gina

Quando a gente trabalha, o nosso planejamento é assim: os cantos, eles tem o objetivo de

trabalhar determinados temas que a gente queira ou deixar que eles explorem sozinhos. Quando

você trabalhou esses três objetos, vamos dizer assim, bola, eu trabalhei sucatas, eu trabalhei

digamos os brinquedos que o próprio solário tem. A gente organiza os cantos e deixa que cada

um depois explore aquilo que mais chamou atenção. Então tem criança que prefere ficar no

cantinho de leitura, a gente deixa. Tem criança, por exemplo, que prefere ficar com a bola.

Então, esse momento de resumo do dia, com a conclusão que já está perto do horário dele

almoçar, a gente deixa que os espaços, sejam reorganizados de novo, para que cada um escolha.

Pesquisadora Então na verdade, esses cantos um pouco antes do almoço, você coloca de volta tudo aquilo que

ele usou no dia e ai.

Entrevistada

Gina

Cada um vai lá e se apropria do canto que quiser. Que tem vontade. Porque é o momento da

higiene, eles estarão limpando as mãozinhas para o almoço. Então nesse momento, é o

momento que já esta fechando aquele horário da manhã e estamos nos preparando para o

almoço. Então, a gente deixa aqueles cantinhos.

Pesquisadora Os cantos também envolvem pintura e artes?

Entrevistada

Gina

Nesse momento não. Na pintura, a gente não tem como deixar de forma que eles possam

explorar sozinhos, nesse momento do resumo. Porque, para você usar pintura, você vai

necessitar de um paninho, vai necessitar de toda uma infraestrutura.

Pesquisadora Na verdade você colocou aqui: 10hs pode ser pintura, artes ou cantos.

Entrevistada

Gina

Então, o dia que eu trabalho pintura, não tem os cantos, porque a gente está pintando. Porque

são atividades que você explora de acordo com. Mas o que você faz, você pode não usar pincel,

você põe o giz de cera e uma folha. Eles ficam fazendo as garatujas deles.

Pesquisadora As artes envolve o que?

Entrevistada

Gina

Olha nos começamos com gelatina, antes de começar a tinta mesmo, porque eles levavam tudo

à boca. Nós começamos pintando com gelatina, depois nos trabalhamos com anilina de bolo, tá,

para depois chegarmos na tintura a dedo e com tinta guache. Eles agora eles exploram, não

levam mais a boca porque, de inicio a gente sabia que eles iam levar à boca, mas agora eles já

110

entendem. Temos uma criança só que entrou agora, ela ainda leva à tinta a boca, tinta guache,

mas os demais não. Eles já sabem que é um material que a gente pode estar usando pincel.

Pesquisadora E o almoço, como funciona?

Entrevistada

Gina

Assim, eu falei pra você que no café da manhã eles fazem a higienização com gel, porque eles

estão muito agasalhados. No decorrer do dia, as roupinhas já estão mais a vontade, estão em

condições, então a gente deixa que eles, é (pausa) É muito gostoso, quando eles se apropriam

disso. Eles já têm autonomia de apertar o sabão, já sente o sabão. Eles já sabem lavar sozinhos,

então a gente só fica ali, como que dando uma cobertura para evitar que aquele sabão todo, um

pote, para lavar uma mão. Mas eles já sabem apertar, já sabem lavar a mãozinha, né! A gente dá

o papelzinho, eles já sabem.

Pesquisadora Fazem isso com autonomia

Entrevistada

Gina Eles já fazem

Pesquisadora Ai vão para o almoço

Entrevistada

Gina

Que é o refeitório. Esse refeitório é (pausa) a comida (pausa) o pratinho deles já vem pronto e

ai que entra o detalhe, né, na nossa unidade já teve um trabalho de self service, que a criança

podia escolher. Atualmente, não! A comida já vem num pratinho. O que nós fazemos é

descrever o que tem no prato e a criança que quer comer só o arroz e feijão e a carninha, come.

A gente faz aquelas brincadeiras tradicionais e parte do principio que aquele alimento que ele

ainda não conhece, a gente vai trabalhar em sala. A gente pega o cardápio. Agora por exemplo,

no mês de setembro a gente trabalhou as frutas, agora nós vamos trabalhar os legumes. Então

esses legumes a gente vai trabalhar o legume que vai ser servido no dia, mas o pratinho já vem

pronto. Eles não se servem.

Pesquisadora Eles não escolhem. Tem tudo no prato.

Entrevistada

Gina

E a gente explica o que tem. Os que já comem sozinhos, já se apropriam, os que não, a gente

pega outra colher, a gente deixa uma colherzinha na mão dele, a gente pega uma outra, pra

tentar aquele que tem dificuldade.

Pesquisadora E o soninho, como acontece?

Entrevistada

Gina

Bom, tem escovação. Essa escovação quem faz são as meninas, auxiliar técnico da educação,

que se chama ATE, são elas que nos ajudam. Eles escovam cada um tem sua escova. Elas

prestam uma ajuda para quem ainda não, berçário um e berçário dois, ainda é o adulto que

ajuda nesse momento. Mini grupo um, mini grupo dois, eles já sabem sozinhos, escovam

sozinhos. A minha faixa etária tem ajuda das auxiliares. Eles escovam o dentinho. A gente já, o

colchão já está arrumado com lençol. A gente põe uma musica de relaxamento e deitamos. Tem

sempre um que não gosta de dormir, a gente deixa esses que não querem dormir, esperar o

momentozinho do sono, mas fica sentadinho, porque se eles começam correr, acorda os outros.

Não leva 20 minutos, estão todos dormindo.

Pesquisadora Eles ficam sentados onde, no colchonete?

Entrevistada

Gina

No próprio colchonete. Às vezes eles pegam um livrinho, dá uma lidinha e daqui a pouquinho,

mesmo lendo livrinho, acabam cochilando. (risada)

Pesquisadora Agora, todo esse momento que você descreveu, você está sempre junto das crianças ou tem

algum momento que ficam uma de vocês duas na sala.

Entrevistada

Gina

São duas professoras na sala e às vezes, temos uma auxiliar. Como é feito: existe o momento da

troca, os nossos ainda usam fralda, temos na nossa sala três desfraldados, os demais, são 18 na

minha sala. Então, enquanto estou eu fazendo uma atividade, seja contar história, seja uma

atividade de artes, seja uma brincadeira, a outra está trocando a metade. Depois a gente

111

destroca, eu fico com um grupo, que ainda falta trocar as suas fraldas e ela fica fazendo a

atividade. Então o momento que a gente tem de divisão eu continuo com a criança, porque é

aquele grupinho que precisa da troca da fralda daqueles que não são desfraldados.

Pesquisadora Quando você fala do dia atípico, na verdade o dia atípico é quando falta a segunda professora

ou num dia de chuva.

Entrevistada

Gina

Pode ser um dia de chuva e pode ser um dia que falta a outra professora de sala. Na nossa

unidade, neste ano, nós estamos com quase 50% dos professores aposentados, estão entrando

em fase de aposentadoria e com isso, a professoras que eram professoras volantes, auxiliares

estão em sala. Então quando, por exemplo, a minha professora fica doente e a gente não tem

como ter uma auxiliar, os professores e os pais, em reunião pedagógica foi discutido isso, que

não há condições de uma professora assumir 18 crianças. Então, os próprios pais,

principalmente aqueles que não trabalham, eles levam seus filhos, vem, isso quando você não

pode avisar previamente, geralmente é feito antes. O combinado antes, a professora adoeceu,

deu tempo para ela avisar, antes da tarde a pessoa avisa que não há condições. Então eu digo,

dia atípico é quando você esta sozinha e um dia quando chove.

Pesquisadora E o que acontece no dia que você está sozinha? O que você deixa de fazer?

Entrevistada

Gina

Na realidade, eu deixo de brincar, por exemplo, quando estou sozinha, no espaço em que

eu preciso de outra pessoa para ficar, por exemplo, são dois brinquedos, o trepa-trepa e o

escorregador. Eu não consigo ficar nos dois ao mesmo tempo, então quando estou sozinha

eu tento fazer atividade no solário, que são brinquedos mais baixos, que eu posso

coordenar, eu posso ver a criança em todo o seu processo, porque os brinquedos são

baixos. Então eu digo que é um dia atípico. Outra coisa, na hora da troca eu não posso trocar e

olhar as crianças ao mesmo tempo, então digo que é um dia atípico. Então esse meio tempo em

que eu tenho que trocar essa criança eu preciso de alguém ali, uma auxiliar vem. Essa auxiliar

nem sempre vai fazer aquilo que outra professora faria. Ela até nos ajuda, canta uma musica, eu

coloco os cantos. As crianças ficam com uma atividade. Eu digo que é atípico nesse sentido,

porque ai, esse olhar que seria do outro professor, estar observando a interação das crianças,

isso nós não vamos ter.

Pesquisadora E o dia da chuva?

Entrevistada

Gina

O dia da chuva, parques ficam impossibilitados porque lama, chuva a criança não pode

pegar. Então, o que a gente faz? A gente tenta criar outras atividades que possa também,

a criança explorar o movimento. A gente brinca de cambalhota, a gente trabalha com

DVD.

Pesquisadora O que é o trabalho com DVD?

Entrevistada

Gina

Nós temos DVD da palavra cantada, a gente tem DVD do, tem um grupo que as crianças

gostam muito, esse grupo foi na escola, acho que é Tique quê. Esse grupo, é um grupo que foi

lá, um grupo musical, que eles usam objetos para fazer barulho. E as crianças já tiveram uma

empatia com esse grupo musical, então a escola adquiriu os CDs e os DVDs. Muitos pais

compraram também, mas não teve a intenção de vendas, aqueles pais que se interessaram.

Então, são DVDs que não só assistem, mas interagem, eles dançam. E outros mais que tem

lá na escola.

Pesquisadora Agora vou lhe fazer algumas perguntas especificas. Como você como professora percebe o

corpo dos seus pequenos?

Entrevistada

Gina

Um largo sorriso... O corpo dos nossos pequenininhos traduz, eu diria que traduz até mais,

porque o corpo dele está em movimento a todo o momento, né! Seja na hora que ele chega, com

um abraço no professor (cruzando os braços como se estivesse abraçando) então o corpinho, no

carinho. Esse mesmo corpo, ele, ao mesmo tempo em que acaricia ele bate no outro, faz o

movimento de defesa. Esse mesmo corpo.

112

Pesquisadora Você acha que o b ater é só como um momento de defesa?

Entrevistada

Gina

Às vezes defesa porque o outro pegou o brinquedo, porque o outro bateu, mas às vezes, ele vai

buscar algo que ele tem interesse. Por exemplo, o amiguinho pegou um brinquedo que ele

também queria, então, às vezes, na disputa de um brinquedo, ele quis se apropriar daquele

brinquedo e o amigo não ia dar, ele bate, porque ele quer aquele brinquedo, ou então, se você

quer dar as vezes, um outro brinquedo para ele, ele arremessa aquele brinquedo porque, no

momento da emoção, nem sempre.

Pesquisadora Em algum momento esse bater pode ser só para colocar uma emoção para fora, um sentimento

para fora?

Entrevistada

Gina

Sim, ele está dizendo, olha não gostei o que você fez comigo. Nós temos lá um acordo, eu e

eles, as crianças, a gente tem um acordo. Quando um bate no outro, a gente chama os dois, os

dois estão chorando, e a gente tenta trabalhar com eles a questão do amigo, de ser amigo do

outro, de emprestar o brinquedo. Naquele momento que você conversa assim com eles, eles até

entendem, não a questão da disputa do brinquedo, mas ele entende que naquele momento é

amigo. Ele usa essa mesma mãozinha para fazer carinho. Nós temos a boneca que faz carinho

na outra. Então existem momentos que o levantar a mão é buscar aquilo que ele tem interesse, o

levantar a mão é defender um amigo, já percebi isso, quando alguém esta tentando tirar o

brinquedo do outro, é muito bonito. Ele vai, ele puxa o amigo, tira o brinquedo que estava e

entrega. Então, nesse momento que ele puxa o brinquedo do outro, ele quis demonstrar afeto

para o outro. Gente é uma coisa assim que (sorriso enorme seguido de pausa) Há uma coisa

assim que precisaria até de filmar, todo esse contexto. E às vezes, uma disputa de brinquedo e

depois desiste e não quer mais saber daquele brinquedo.

Pesquisadora Como você lida com a movimentação das crianças dentro da sala de aula, por exemplo, na

atividade em roda?

Entrevistada

Gina Olha, nem todos brincam na roda, viu, nem todos.

Pesquisadora Como eles se comportam na roda?

Entrevistada

Gina

Tem grupo que entra na roda, brinca, mas tem criança que não quer entrar na roda. Essa criança

que não quer entrar na roda, ela vai ter a oportunidade de explorar um brinquedo que já está ali.

Ou o cantinho de leitura, mas geralmente, quando a gente põe uma musica e essa musica,

estimula esse movimento, automaticamente ele já vem para brincar. Às vezes, ele não quer dá a

mão, a gente respeita, porque tem o outro que quer dar a mão. Tem criança que para atender o

comando da roda, puxa aquela criança e a gente observa a reação. Às vezes ele não quer dar a

mão aquela criança, ele quer dar a mão a outra criança.

Pesquisadora Mas quando eles estão sentados na roda, por exemplo, vocês estão conversando sobre as frutas.

Como eles.

Entrevistada

Gina Já entendi, é a roda de conversa e a roda da história. Como é que eu (pausa).

Pesquisadora Como você lida com a movimentação das crianças nesse momento?

Entrevistada

Gina

Esse momento, é um momento assim, muito (pausa) Acontecem tantas coisas em tão pouco

tempo que eu confesso a você que a gente não consegue pegar todas as falas, pegar todos os

momentos. Então como ficamos em duas, a gente procura focalizar aquela criança que está

falando de um lado e a minha amiga também pegar mais ou menos as falas deles na roda da

conversa. Por exemplo, nos fomos mostrar uma fruta que foi o melão (pausa) então cada um

pegou, um disse assim é duro. Gente isso pra mim foi o máximo! Eu não disse que o melão era

duro, saiu da conversa. É duro (criança), É duro? Porque é duro?(Prof.ª) ai ele bateu no melão,

é duro. Ai o outro repetiu é duro. Ai eu joguei e disse: parece uma bola. Então na roda eu sei

que muitos se movimentam, às vezes, não querem ficar sentadinhos, mas eles estão atentos ao

que você está trabalhando. Então em uma roda, o meu ponto maior ali é tentar escutar esse

momento da exploração seja da fruta, seja da bonequinha que esta ali cantando com eles, seja o

113

objeto que eu dei para explorar.

Pesquisadora E aquela criança que está se movimentando, e senta e levanta e se mexe para cá, cutuca o

amigo, o que você faz?

Entrevistada

Gina

Bom, pra começar a gente tenta coloca-lo na roda. Se agente não consegue coloca-lo na roda eu

tento dar a fruta na mão dele. Geralmente esse que se mexe, ele quer ficar com a fruta sozinho.

Então para essas crianças a gente procura dar outra fruta, outra não, aquela que a gente está

trabalhando, para ela ficar explorando sozinha. Mas na maioria das vezes, aquela criança, ela

começa brincar, ele olha fruta e ela se levanta. O que ela se levanta a gente tenta trazê-la pra

roda, seja de uma maneira carinhosa, seja de uma maneira assim, até "adultocentrica", né! Mas

a gente entende que aquela criança que levanta muita das vezes, aquela exploração ali, já

encerrou pra ela. O tempo dela é muito curtinho, outras crianças ficam mais tempo explorando.

Então aquela criança que está explorando mais não pense que aquela pequenininha que saiu não

está ouvindo o que o colega esta falando, está explorando. Então a gente deixa que aquela

criança explore outros espaços e a gente trabalha mais com aquela que está observando com

isso a outra professora vai trabalhar com aquela que se levantou. Por que? Porque eu vou te dar

um exemplo, trabalhamos muito a questão da roda da história, vou te dar um exemplo. Tem

criança que diz: “ota históia, Gina, ota históia”, tem criança que se você ficar ali, você conta 5,

6, 7 , há uma necessidade.

Pesquisadora Vezes a mesma história?

Entrevistada

Gina

Não, outras histórias, porque a gente traz mais de uma história, traz duas, três, quatro. Existe

um grupo que se você contar 5, 6 ele vão estar ali, mas existe outro grupo que a atenção deles

já acabou, ele quer explorar outra coisa. E o professor precisa perceber isso, tá?!

Pesquisadora Em que medida o planejamento que vocês elaboram contempla o trabalho corporal?

Entrevistada

Gina

Olha, na dança, a gente dança muito com eles. A gente faz movimentos, quando a gente vira

cambalhota. Quando eles vão pegar a caneca, quando eles vão pegar o brinquedo, quando eles

se sentam na cadeira. (pausa) quando eles vão se deitar, quando eles vão pegar a mochila,

quando eles colocam a agenda.

Pesquisadora Isso não faz parte do planejamento, faz parte da rotina.

Entrevistada

Gina

E essa rotina, todo o meu trabalho, está atrelado ao meu planejamento. Uma criança quando

consegue tirar a mochilinha que está na altura dele, isso faz parte do meu planejamento (largo

sorriso). Quando ele identifica qual é a mochila dele, ele vai até a mochila dele, faz parte do

meu planejamento. Quando ele já pega a agenda dele e coloca na mesa, tem criança que não

quer pegar a agenda e colocar na mesa. Mas tem criança que já e reconhece sua agenda. Todo o

movimento que a criança faz na sala, ele está inserido dentro de um contexto. Nós fazemos os

trenzinhos, eles mesmos tiveram essa ideia de pegar as cadeirinhas. Na nossa sala tem uma

mesa com quatro cadeiras, duas mesas com oito cadeiras, então eles nos veem encaixar. Eles

criaram uma atividade de enfileirar as cadeiras.

Pesquisadora Duas mesas e oito cadeiras, mas não são dezoito crianças?

Entrevistada

Gina

Mas só temos oito cadeiras, porque a proposta é dividir mesmo, né! Enquanto uma metade está

em uma atividade a outra metade faz outra. Até porque, para você dar uma atenção, né! Como

você vai perceber dezoito no mesmo espaço? Então a gente divide. Enquanto uns estão no

solário fazendo uma atividade, os outros estão fazendo pintura. Então eles construíram o

trenzinho, enfileirando as cadeiras. De repente, eu vejo uma criança pegar a cadeira e colocar

uma sobre a outra. Eu não pedi para fazer isso, mas eles já viram a gente fazendo. Falei gente o

que interessante. Ela conseguiu colocar uma cadeira sobre a outra. Outro fato que marcou muito

essa questão do movimento estava no planejamento isso? Não. Foi uma construção deles, eles

construíram o trenzinho e depois eles foram colocar, até tudo bem, eles estavam nos imitando.

Vou te contar outro exemplo, que foi o movimento que marcou muito. O M. A. no momento

que a gente foi para o refeitório tomar o café o leitinho, ele queria que aquele brinquedo ficasse

114

com ele e tem o momento do café que cada um, as crianças precisam deixar os brinquedos na

sala para ir para o refeitório. A chupeta, também, eles vão lá e guardam a chupetinha na

mochila. E ele não queria que aquele brinquedo fosse para outro amiguinho. Eu observei o M.

A. Ele voltou, pegou aquele brinquedo, ele arrastou uma cadeira ele subiu. Olha o movimento!

Ele subiu naquela cadeira e escondeu o brinquedo na prateleira, bem alto, porque tinha a

debaixo, mas ele quis colocar ali. Por quê? Porque ele sabia que quando chegasse, ele saberia

onde estava o brinquedo. Olha o movimento! Olha a capacidade que essa criança teve.

Pesquisadora De elaborar, de planejar.

Entrevistada

Gina

Ele arrastou a cadeira, ele colocou ali. Eu fiquei observando. Só que eu fiquei curiosa (pausa)

Ver se o M. A. vai lembrar-se daquele brinquedo que ele escondeu ali. Assim que chegamos à

sala, o M. A. pegou a cadeira e pegou o brinquedo. Olha o movimento! E olha a capacidade

desse movimento que está atrelado a toda uma construção. Eu vou dizer para você assim, era

objetivo daquela manhã que a criança leva, NÃO! O movimento foi uma construção dele.

Pesquisadora Agora, mas vocês elaboram no planejamento, atividades voltadas ao movimento?

Entrevistada

Gina

Sim. Eu tenho uma bola de fisioterapia grande, logo assim no primeiro semestre, eles não

sabiam virar cambalhota, então o meu objetivo era que eles se apropriassem da bola e fazer

aquele movimento (demonstrando com as mãos) e eu segurando o pezinho deles, né!

Automaticamente, o movimento da bola, o colchão já estava aguardando e ele virava

cambalhota. Então esse movimento foi um movimento planejado, tá!

Pesquisadora Atividades planejadas.

Entrevistada

Gina

Foi uma atividade planejada, para trabalhar o movimento do corpo. Só que depois eu tiro a

bola, eu brinco com todos, todos viram a cambalhota com bola, porque a bola auxilia, aquela

bola é grande, né! Quase do tamanho deles. Tiro a bola e deixo os colchões e fico observando,

eles virando a cambalhota, ou tentando virar a cambalhota. Então esse movimento, foi um

movimento planejado. Um movimento planejado que eu considero é o sentar na cadeira, não é

fácil. Sentar em uma cadeira, mesmo pequenina, não é fácil e a gente observa que tem uns que

primeiro se ajoelha na cadeira, depois estica a perninha. Depois eles se apropriam da cadeira e

põe a perninha num outro espaço que não o da frente. E tem o descer da cadeira. E tem o

depois, brincar embaixo da cadeira e da mesa. Então existem atividades que você planeja com

movimento, seja com uma bola, seja no balanço. O balançar, enquanto você empurra é uma

coisa, depois a criança passa a ter o movimento, a perninha, né!

Pesquisadora Houve alguma situação em que a percepção de indicadores corporais levou você a redirecionar

o rumo da aula?

Entrevistada

Gina

Sim. Principalmente quando você imaginou, vou dar um exemplo simples, que aconteceu hoje

mesmo: Nós levamos os objetos de sucata, as garrafas e qual era o movimento que eu esperava

deles? Levantar os bracinhos para tocar o instrumento, o chocalho, diferentes movimentos, ok?!

Então eu percebi que aquelas garrafas muito grandes, rapidinho eles criaram outra forma de

trabalho, era um movimento que seria feito ou no tambor, ou no, eles começaram a fazer o

movimento um em cima do outro, né! Podia machucar. Então eu tive que mudar um pouco

naquele momento. Ao invés da gente direcionar, no sentido de bater na caixa, vamos mudar um

pouquinho esse movimento. Vamos jogar no chão, vamos fazer um movimento apontando para

baixo, não mais para cima, sim a gente muda quando percebe que esse movimento não atingiu

seu objetivo, tá!

Pesquisadora

Você já trabalhou com outras faixas etárias, certo?! Você percebe alguma diferença no que diz

respeito à questão corporal entre as crianças de diferentes idades, com as quais você já

trabalhou?

Entrevistada

Gina

Muita! Pra começar, no berçário um eles entram sem andar. Então qual o movimento que você

tem? Eles começam a levantar a cabecinha, eles começam a sentar, eles começam a tentar pegar

os objetos que estão em cima, começam a engatinhar e ai você vai vendo claramente que o

115

corpo, ele vai, a medida que ele vai se apoderando do espaço e o corpo, ele consegue fazer

esses movimentos. Uma criança de berçário um, quando ela começa a andar, quando ela se

apropria do movimento, que ela levanta e dá os primeiros passos (expressão facial e corporal

demonstrando empolgação), depois ela vem, gente é uma coisa assim, mágica! E ai, aquele

corpo já não depende mais do professor para pegar o objeto. Ele vai até, não precisa chorar

mais, né?! Então berçário um é uma construção do sentar-se, mexer-se, a cabeça, engatinhar, o

andar, se apropriar dos espaços. Berçário dois já anda, mas muitas das vezes, não se apropria,

vamos dizer assim, daquilo que o movimento lhe oferece, como subir, descer, pegar o objeto,

criar movimentos diferentes. No berçário um, a brincadeira da bola eu não viro cambalhota, até

porque, estão ainda no inicio, o corpo ainda está muito mole, mas eles se apropriam do

movimento. No berçário dois, eu já viro cambalhota, né! E no segundo semestre do berçário

dois, eles já viram cambalhota sozinhos (largo sorriso, acompanhado de risada) É muito legal

ver essa apropriação do um e do dois.

Pesquisadora Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

Entrevistada

Gina

(pausa... pensativa) Se você está com uma criança, ai a gente tem que trabalhar, você esta se

referindo uma criança que faz um movimento dentro da sua faixa etária e daquela criança, que,

por exemplo, ela está impossibilitada de fazer o movimento, então são duas coisas diferentes. A

criança que se apropria do movimento é logico que ela vai explorar sozinha, ela vai ter a maior

facilidade para, não só explorar aquilo que lhe é proposto, mas de construir até mesmo objetos

para sua exploração. A perninha dela vai leva-la, ela vai poder levantar e, por exemplo, quando

a gente arruma as prateleiras na altura dela para que ela mesma pegue os objetos, que ela já

pode colocar sobre, é logico que essa criança vai crescer mais, vai conseguir , não só explorar

mas construir o seu objeto de exploração. Como foi o caso do menino que subiu, guardou ali,

gravou e voltou. Agora, vamos imaginar uma criança que ela tenha necessidade especiais, essa

criança também vai chegar lá, só que ela vai depender de outros, ou uma cadeira de rodas ou

um objeto, mas ela vai chegar por outros meios. Mas essa criança que já faz o seu movimento e

que ela se apropria disso como uma ferramenta, como um instrumento mesmo para poder

explorar os demais espaços e mais eles já exploram inclusive as outras salas. Na hora do

refeitório, eles iam certinho para o refeitório, agora eu tenho que procurar (risos) eles entram

nas outras salas eles já vão para outros parques sozinhos.

Pesquisadora Como você percebe a ligação afetiva, cognitiva, motora no seu trabalho com as crianças?

Entrevistada

Gina

Eu acho que há uma ligação muito grande entre eles. Hoje mesmo na nossa aula a gente estava

discutindo isso. A criança quando ela chega, por exemplo, com algum probleminha, tristinha e

que você dá um abraço nela, que você acolhe, ela dá uma olhada, um sorriso para você, é como

se você tivesse alimentado aquele momento, aquela carga emocional que ela precisava. Quando

uma criança chega chorando.

Pesquisadora Então, mas ai é o emocional. Mas cadê o corpo, o motor? Onde está o

Entrevistada

Gina

Se eu não preencho aquele momento, se eu não vou acolher aquela criança com carinho. Se eu

deixo aquela criança chorando, sem dar o meu acolhimento, aquela criança vai ficar chorando.

Então a partir do momento que eu estou acolhendo, eu sei que ela está tristinha porque o papai

foi embora, mas naquele momento ela se levanta e vai brincar e ela vai se movimentar e ela vai

brincar. Porque, naquele momento que eu acolhi, eu dei para ela o que ela estava necessitando.

Pesquisadora Eu vou lhe dizer uma coisa, seu acolhimento de abraçar, de conter, de passar a mão na parte

física, isso também é da dimensão motora.

Entrevistada

Gina

Como você mesma está afirmando, o fato de eu acolher, abraçar, você está afirmando que é um

movimento. Estamos analisando, então duas perspectivas, o movimento do corpo enquanto

você abraça e o resultado desse abraço, enquanto afeto, enquanto emoção. Muito legal!

(sorriso).

Pesquisadora Considerando a afetividade, a cognição e o movimento, em sua opinião, no trabalho pedagógico

existe a prevalência de uma dessas dimensões?

116

Entrevistada

Gina

Eu acho que uma está ligada a outra. Porque a criança, o adulto, ele necessita de todas essas

áreas serem preenchidas. Existem crianças, por exemplo, que elas sentem mais necessidades do

toque, do que a outra. Já existem outras que no olhar tem uma criança que eu olho assim, ela já

dá um sorriso. Enfim, eu entendo que para cada criança, você vai, até porque você vai entender

um pouco essa criança no seu dia. O vinculo, a construção desse vinculo com a criança é, você

vai percebendo aquela que necessita mais de uma área do que a outra. Nós temos uma criança,

por exemplo, que a mãe acidentalmente, ela esta assim sem ver a mãe. Então nós já sabemos

disso e ela automaticamente tem me buscado mais. Por que ela tem me buscado mais? Porque

ela tem sentido essa necessidade e é uma menina que ela sozinha, você olhava para ela dava

um beijo no acolhimento, era o suficiente. Hoje já não é mais, porque ela está passando por um

probleminha em casa e esse probleminha fez com que ela necessitasse mais. Por isso, é

importante o vinculo, conhecer a história das crianças e o cotidiano.

Pesquisadora

Isso você está falando do seu trabalho. O que você me diz da instituição na qual você trabalha?

Você acha que existe uma predominância de uma dessas três dimensões? Se existe, em qual

faixa etária?

Entrevistada

Gina

Existe mas não da instituição. Acho que a instituição ela faz o discurso enquanto politicamente

correto. Trabalhar o lúdico, trabalhar o toque, trabalhar o afeto, isso até na pratica. O discurso é

esse. Na prática mesmo, na reunião que a gente tem. O que o professor precisa. O discurso, ele

é politicamente correto. Está lá, nos temos as orientações curriculares, que fala disso, que fala

do brincar, do tocar. Mas eu percebo que existe distinção, de professor para professor, de

concepção, para concepção. Para você ter uma ideia, a hora do soninho eu entendo que é um

movimento muito importante e que eu percebia em algumas salas era um silencio e a criança

não podia nem expressar emoção nenhuma porque aquele professor ficava sentado na sua

cadeira e a criança dormia do jeito que conseguisse dormir. Então, eu acho que você tem a

instituição e você tem as concepções de cada professor. Existe sim essa diferença. Pessoas que

não valorizam a questão do movimento, pessoas que não valorizam, por exemplo, o choro. O

que o choro quer dizer? O choro diz muita coisa. O choro pode ser desde uma fome,

necessidades físicas.

Pesquisadora Para essas professoras qual dimensão tem mais importância?

Entrevistada

Gina

Com relação a motricidade, ao afeto e o cognitivo, eu acredito que esse professor, ele é o

controle mesmo, é o controle da criança, ou através de uma fala de autoridade, porque você tem

que obedecer. Então independente do movimento que a criança esteja expressando, o manter a

criança sobre controle de outras formas que não seja uma variação desse movimento do corpo

dela, que pode estar te falando muita coisa. Tem professor que parte do principio que o que está

acontecendo fora é o que vai exercer, né, o estimulo externo que vai fazer com que essa criança

vai mudar o seu movimento o seu sentimento. Eu tenho visto, assim, um bom grupo desses

professores está se aposentando com essa concepção, mas estão entrando novos professores e a

gente está avaliando um pouco essa percepção. Tem professores que ainda trabalham nesta

perspectiva, nesse movimento, nessa avaliação e preza mesmo para esse lado emotivo, da

emoção, do afeto, do sentimento. Mas também, está entrando professores que enquanto a

criança está chorando, infelizmente está com celular vendo “WhatsApp”.

Pesquisadora Você diria que esse professor que não está atento para a dimensão afetiva, ele valoriza mais a

dimensão cognitiva ou a dimensão motora?

Entrevistada

Gina

Eu não sei. Não sei te dizer, as coisas estão tão juntas. Eu não consigo separar as coisas,

principalmente na educação infantil. Na educação infantil as coisas estão, não só na educação

infantil (expressão de indignação) a educação como um todo, ela é um conjunto, você não

consegue. Se você entende que aquela criança, vou te dar um exemplo, um controle. Estávamos

no refeitório e mais uma vez o M. A. Ele saiu correndo da mesa e eu ia chamar a atenção do

M., mas eu parei para observar: o M. estava jogando no lixo uma fruta que caiu no chão. Olha

o cognitivo! Eu fui chamar a atenção do M., fui observar primeiro, ele abriu a lixeira, colocou a

maçã que caiu no chão e sentou no seu lugar. Percebe! Naquele momento, se eu não tenho a

percepção do todo, naquele momento eu tinha dado um berro, gritado ali, pego o M. sentado,

mas eu achei melhor observar. Qual era o objetivo do movimento dele? Gente, ele foi jogar no

117

lixo o objeto que caiu no chão.

Pesquisadora Olha G eu só tenho uma coisa para lhe dizer: eu queria muito que todos os professores tivessem

a sua formação, o seu conhecimento!

Entrevistada

Gina

Eu estou aprendendo. Eu sempre fui professora de professor de criança. Eu lancei um desafio a

mim mesmo, vamos sair do discurso teórico apenas, ali na formação, vamos vivenciar isso na

prática.

Pesquisadora Você primeiro foi professora de formação para depois ser professora dos pequenos?

Entrevistada

Gina

Sim. Eu nunca trabalhei. Eu me formei em 81, trabalhei com o ensino fundamental, ensino

médio. E trabalhar com criança dessa faixa etária, de educação infantil de 0 a 3, eu estou tendo

assim, uma experiência maravilhosa. Que é você conseguir vislumbrar esses teóricos que

permeiam o trabalho pedagógico numa vivencia, numa reflexão. Estou me apaixonando!!!

Apêndice III - TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA ANA

1ª. Etapa da entrevista

Entrevistada: Ana (nome fictício) / Faixa etária com a qual trabalha: crianças, completando dois anos.

Descreva um dia típico de atuação: As crianças vão chegando a partir das 7h30 e se dirigem para

sala de aula, onde as recepciono. Nesse momento, tem a possibilidade de escolha dos brinquedos da

sala. As 8h, vamos para um dos parques da escola (alternamos diariamente) e lá brincam livremente,

ate as 8h45, onde o grupo todo já esta formado. Nós dirigimos a sala de aula e nesse momento meus

10 alunos, sentam em roda, cada qual em um tapete, pra delimitar seu espaço e damos inicio a roda de

conversa. Lá apresentamos a rotina, projetos, ausência e presença dos integrantes do grupo, festas

judaicas e assuntos pertinentes, como: novidades, combinados do grupo e outros. Após a roda sempre

ha uma atividade artística, que pode ser com tinta ou outras fontes (colagens, pinturas e outros) e

podem ser feitas dentro ou fora da sala de aula, bem como de forma individual ou coletiva

Após o momento artístico é a hora do lanche, este é coletivo e fornecido pela escola. Cada um se serve

sozinho, favorecendo a autonomia e independência. Apenas os ajudamos com os líquidos. O término

deste culmina onde cada um é responsável pela limpeza de seu prato e o guardando no local correto.

Cada um que termina, escolhe um livro para folhear da classe e aguarda, até que todos se alimentem

e aí nos dirigimos ao outro parque. Permanecemos nele até às 11h. Retornamos á classe e nesse

momento, sinto como as crianças estão, mas geralmente oferecemos algo tranquilo, já que respeitando

a faixa etária entendemos que estão cansados. As opções são: massinha, jogos de encaixe, brinquedos

da sala. Por volta das 11h30 ha a higiene, com a troca de fraldas. Cantamos a música do ritual da

contação de historias, sentam nas cadeiras em formação de semicirculo, oferecemos água, penteamos

os cabelos e ha a escolha do livro do dia, para a leitura feita por mim. Fazemos algumas brincadeiras

como: macaquinho mandou, puxa- puxa cabelinho, cantamos musicas em geral, do repertório deles e

chega a hora de ir embora. Vestimos as mochilas e nos dirigimos juntos a saída da escola.

Descreva um dia atípico de atuação: Quando na rotina há festas: aniversários, festas judaicas.

Quando alguma criança se machuca ou adoece. Chuva ou muito frio, tendo menos opções de

espaço cobertos e permanecendo muito tempo em sala de aula.

Transcrição da entrevista

Pesquisadora

Eu tenho aqui em mãos a descrição do seu trabalho de um dia típico. Tenho só algumas

perguntinhas. Quando você diz assim: “Nesse momento tem a possibilidade da escolha dos

brinquedos de sala”. Quais são os brinquedos que você costuma oferecer para as crianças na

entrada?

118

Entrevistada

Ana

Na verdade, antigamente a gente trabalhava com rodizio de brinquedos. A gente estabelecia

alguns brinquedos seguindo nossos critérios e vendo o que eles mais desejavam. Ai a gente

percebeu que esse inicio, que eles vão chegando um a cada vez, eles tem os brinquedos de fácil

acesso, então eles mesmos escolhem, então eles pegam os brinquedos de encaixe, os brinquedos

gerais, como telefone, bichinhos, carrinhos. Às vezes eles abrem o meu armário e pedem

massinha, que eles adoram é que são crianças muito pequenas, respeitando a faixa etária deles.

Alguns deles já pedem giz, eles querem pintar, mas isso é uma minoria. Na maioria das vezes,

eles veem o que mais chama atenção pela característica de cor, de interesse, pelo tamanho, pela

forma e ai trazem para si. Mas, mesmo que é uma minoria que chega logo nesse momento

de entrada, já que a partir dai a gente vai para o parque, eles escolhem o brinquedo,

vendo a escolha do outro, que é diferente da sua, eles abandonam o brinquedo inicial e

vão em buscado outro.

Pesquisadora Às 8hs vocês costumam ir ao parque. Você escreveu que costumam alternar. Qual a diferença

entre os parques?

Entrevistada

Ana

A gente tem dois parques na escola, diariamente nós vamos aos dois. Um dia, por exemplo, 2ª.

Feira, a gente começa pelo parque da ponte, que a gente chama porque ele tem uma ponte

grande, que é o que mais chama atenção e no segundo momento, a gente vai ao parque de

bolinha e nos dias seguintes, vamos alternando a entrada, então um dia o parque da ponte,

depois o de bolinha, porque tem uma piscina de bolinha e depois a gente inverte. O que acho

interessante falar sobre os parques propriamente dito, porque assim, tem a questão

espacial deles, o parque da ponte a gente consegue ter estímulos diferentes do parque de

bolinhas. Os dois tem areia, só que assim, no parque da ponte, só para descrever um

pouco, tem essa ponte, que ela cria um maior desafio motor. Eles tem que escalar um

morro ou escalar tipo um trepa-trepa para poder chegar a ele e as crianças que começam

elas ainda estão saindo da questão do equilíbrio motor propriamente dito. Eles estão

começando a andar, então até que eles cheguem a isso é um desafio enorme. Já o parque

de bolinhas ele é mais linear, então sempre foi mais fácil o uso dele. E esse parque da

ponte, voltando um pouco, então a gente tem a ponte, o parque de areia mesmo, com os

baldes e os acessórios afins e a gente tem atrás dele, um carrinho de madeira que eles não

há muito interesse para eles, tem balança. E o que é mais rico, isso em ambos os parques,

a gente tem arvores frutíferas, então as crianças vão subindo nos morros e tentando pegar

as frutas dessas arvores, dependendo da época elas estão dando mais frutos ou não. Já o

parque de bolinhas, a gente tem as bolinhas, uma piscina de bolinhas, assim, como a gente

vê em vários outros lugares, a gente tem um túnel que dá acesso à outro escorregador

gigante e a areia em si é um espaço menor. Então assim, tem a questão do controle, porque

assim, são crianças pequenas, eles precisam de controle. O parque de bolinhas a gente consegue

ter um controle visual melhor do que o parque da ponte onde eles fogem mais (risos). Eles se

espalham mais, mas a gente consegue perceber que tem crianças que mesmo com tantos

recursos, tantas ofertas, eles ainda ficam só sentados brincando, fazendo, elaborando seus

bolos, enquanto outros não sentam em momento nenhum e ficam indo de um lado para outro,

procurando, assim, suados, né?!

Pesquisadora Você falou da motoca, motoca de madeira, carrinho de madeira, o que é?

Entrevistada

Ana

O carrinho de madeira no parque da ponte é um carrinho fixo que tem, eles só na

verdade, a direção se move, ele não sai. A gente tem as motocas mesmo, mas a gente faz

pouco uso nessa idade, só quando assim, para limpeza da sala, para circulação para

algum outro, uma outra atividade, mas a gente ainda não faz muito uso das motocas,

geralmente do infantil 2 para cima é quem fazem uso.

Pesquisadora

Quando você fala da apresentação da rotina, que vocês falam dos projetos, das presenças,

contam as novidades, combinados. Quanto tempo dura mais ou menos? É um momento que

eles estão sentados em roda?

Entrevistada

Ana

Sentados em roda, sim. A gente estabelece até o espaço deles por um tapetinho de EVA, a

critério deles, eles sentam como eles querem, ao lado de amigo, logicamente que aqueles

amigos que causam muita interferência sonora e física, propriamente dita, a gente acaba, às

119

vezes deixando, às vezes sentando no meio. Então assim, primeiro o mais importante é falar

porque ela costuma demorar de 30 a 40 minutos, é um tempo grande para essa faixa

etária, mas é um tempo que... O porquê de formato circular, primeiro, eles conseguem se

entre olhar, então eles conseguem ver o que um fala, ouvir melhor, prestar mais atenção

não só em mim, querendo ou não acabo sendo mais a mediadora, a maior interlocutora de

tudo e acho que isso é muito significativo. Em alguns outros momentos a gente até senta em

outras formações, reta, semicircular, mas nesse momento a formação é completamente circular,

é uma roda. O que eu acho mais interessante da formação da rotina, a gente desde o inicio

do ano vamos pegando elementos de tudo que é feito, por exemplo, do parque de bolinhas,

a gente pega uma bolinha e leva para uma caixa, do parque da ponte, a gente pega um

instrumento, um elemento alias não é instrumento, que é utilizado nesse parque, da aula

de musicalização, a gente pega um instrumento musical e leva para essa caixa. Então

quando a gente constrói a caixa, a gente constrói elementos visualmente, por que eles precisam

da questão concreta e vai trazendo para eles o que acontece naquele dia. Então assim, a questão

deles se sentirem seguros, a questão temporal que eles ainda não têm e não é nossa intenção,

mas com o tempo a gente vai fazendo o inverso. Hoje como foi a minha roda, eu cheguei, já

eram mais ou menos nove, nove e pouco, a gente já tinha feito duas movimentações: a entrada e

o parque de bolinhas. Eu pergunto pra eles: O que a gente já fez hoje? Eles vão me ajudando

construir, ai eles perguntam: Hoje tem mora Gê? (que é a professora de musicalização) Ai eu

falo: sim. Ai eu trago o objeto. Ai eles falam, eles cantam a musica do lanche, eles não falam

vamos comer, eles cantam. Ai eu falo: A gente vai comer, o que será que vamos comer? Então

hoje, a construção não só eu que faço, eles ajudam, eles elaboram. Geralmente é de 30 a 40

minutos. Mas essa roda sempre culmina com uma atividade de artes. Então, na verdade

só a roda eu não sei precisar quanto.

Pesquisadora Então esse tempo é incluindo a atividade de artes?

Entrevistada

Ana

Às vezes sim, as vezes não. Depende muito de como eles estão no dia. Tem dia que eles estão

mais agitados, por exemplo, ultimamente é raro, mas quando chove, eles já perderam o

parque, ou seja, já estão com uma energia mais canalizada, não extravasaram tudo isso, a

gente não consegue fazer uma roda enorme. Enorme na questão de tempo, de tempo.

Então a gente acaba tendo que diminuir. Alguma criança se machuca naquele momento,

dispersou, já era, a roda já era. Então, existe uma flexibilidade, eu digo o horário, não existe um

rigor que eu tenho que seguir o tempo de execução da roda, eu quem falo quanto tempo que eu

acho. Alguma criança que trouxe uma novidade grande, que tirou a fralda, o dia do aniversário

dela, até vai um pouco de acordo com o que é mais atípico, mas ainda assim a gente tem de

relevar. Às vezes as mães falam: mora olha o Dudu vai ganhar um irmão. A gente traz para a

roda, então a roda tem suas variantes, eu não posso dizer que tem uma rigidez no horário.

Mas de maneira geral, acho que 30 minutos.

Pesquisadora Aqui quando você fala do final do dia que tem a roda de história, a organização da roda é

sempre essa, na cadeirinha?

Entrevistada

Ana

Normalmente sim, eles mesmos já se alinham quando começam a cantar, por que assim, a gente

hoje canta muitas musicas que são rituais ou de passagem ou que dão a chamada para a

atividade em si. Quando eu canto a musica da roda de história, eles sozinhos vão fazendo essa

formação de cadeiras. Quando quero fazer uma contação diferente usando um recurso de está

escuro, usando uma luz de velas, ai a gente senta no chão. Mas de forma geral é essa formação.

Às vezes eu faço a contação com elementos, com objetos, não com o livro propriamente dito,

então os sento no chão com os elementos, desestabiliza um pouco eles, mas eles atendem, eles

vão. Essa classe que eu tenho esse ano é uma classe que recebe muito bem as novidades.

Pesquisadora Por que você diz que desestabiliza, o que acontece?

Entrevistada

Ana

Eles estão muito acostumados com a rotina, deles sentarem em formação de cadeiras e se

você desestabiliza eles não conseguem.

Pesquisadora Mas como você sabe que eles não conseguem? O que eles mostram para você que

desestabilizou?

120

Entrevistada

Ana

Se eu sento no chão para contar uma história e não trago as cadeiras, eles vão puxando as

cadeiras, eles sozinhos conseguem e eu sinto isso com alguns sinais. Por exemplo, teve um

dia que a gente saiu do parque e geralmente, 99% das vezes, a gente sai do parque e vai

para a classe e faz a formação circular da roda. Uma vez, eu falei assim: “podem pegar

brinquedos”, eles ficaram me olhando e mostrando o tapete. Então assim, eles já estão

vinculados com essa questão e para eles, a gente pode mudar a rotina, não só pode como

deve, mas a segurança para eles é tão importante neste momento, que eles sentem falta.

Pesquisadora Você acha que é bom essa questão de seguir sempre? Você acha que é bom ficar sempre

na zona de conforto? Não passar por momentos que desestabilizam?

Entrevistada

Ana

Eu já me questionei muito sobre isso. Eu acho que, assim, eles são muito pequenos e acho que a

escola promove muitas coisas. É a inserção deles no mundo escolar, vem do micro, da casinha

deles, mamãe cuidando, para o macro que é uma coisa muito grande. Se a gente mexe muito

com essa rotina eles se ficam um pouco perdidos. Acho que crianças maiores, eles

conseguem compreender, por que assim, a rotina eu digo que a gente usa elementos

concretos, que pra eles isso surte efeito. Para os maiores, existem outros recursos. Eu acho

que quando você mexe com crianças um pouco maiores, eles conseguem elaborar de uma

forma mais tranquila. Eu já tive crianças que choraram quando você o desestabiliza. Logico que se começa chover e iamos para o parque, mas não dá pra ir, ok. Mas quanto mais

tranquilos e serenos você os mantiver dentro de uma flexibilidade possível, esta tudo bem. Se

eu dou uma atividade, vê que não deu certo, a gente pode recorrer e voltar atrás e está tudo

bem, mas de um modo geral eles sentem e muito.

Pesquisadora Quando você coloca o dia atípico, tem a ver com festas, aniversários, criança se machuca, com

a chuva. O que muda na rotina do dia? O que se deixa de fazer, o que se troca?

Entrevistada

Ana

Nós não temos parque coberto, então dias de chuva ou dias de muito frio, que a gente não

consegue sair, eles ficam muito presos naquele espaço muito pequeno. O que a gente sente,

eles ficam muito agitado, o tempo não passa nem pra mim nem pra eles. Por que assim,

você vai tirando várias atividades da cartola, você vai oferecendo o tempo todo, por que as

atividades para esta faixa etária não podem e não devem durar mais do que 20, 30

minutos por que eles têm o tempo que é deles, que inerente a essa faixa etária mesmo, não

dá pra você ir além. Tem uma hora que parece que você esgota, eles se esgotam, eles

olham super cansados, então a gente começa a procurar espaços dentro da escola, é uma

que tem espaços fechados que a gente até pode recorrer, mas que é de uso coletivo da

escola. Então não necessariamente eu consigo ter naquele momento para meu uso e a gente tem

que saber também, entender isso. Então o que acontece, mais imediato que eu posso imaginar é

que eles ficam muito cansados, começam a se tornar mais agressivos, eles começam a se tornar

mais cansados.

Pesquisadora Na verdade, nesses dias atípicos a primeira coisa que se deixa de fazer é o uso coletivo dos

parques. Tem mais alguma coisa que...

Entrevistada

Ana

Acho que não. Em dias de festa, a gente acaba abrindo mão de uma coisa dentro da nossa

rotina, por exemplo, uma festa judaica. Tivemos a pouco tempo uma comemoração e eles

marcaram justamente no dia que tem aula de musicalização, então eu perdi aquilo e como eles

são pequenos, diferente de outras faixas etárias que eles já tem muitas outras aulas especificas

com professores especialistas. Os meus só tem isso e que bom, por que eles não precisam ter

mais nada além disso. Então eles só tinham aquilo naquele dia e perderam e não tem como

substituir e eu canto minhas musicas do meu jeito, mas não sou especialista nisso e não há

substituição, eu perdi aula naquele dia, acabou. Nos aniversários, na verdade, eu não deixo de

fazer nada, só é um dia diferente porque a gente celebra e está muito focado naquela criança

no dia. Por que é atípico? Porque a gente prepara um presente para ele, a classe toda se

mobiliza, a gente pega uma camiseta Hering e todos carimbam as mãos, então fica um presente

que vai ser dele. A gente se mobiliza para o aniversariante do dia, mas não deixamos de fazer

nada.

Pesquisadora Como você vê a dimensão motora na escola, de uma maneira geral na Educação Infantil?

121

Entrevistada

Ana

Eu já vivenciei curricularmente algo muito mais intenso na questão motora. Hoje, nos

delegam enquanto coordenação, que a gente contemple a coordenação motora como a

gente julgar pertinente a faixa etária. Então a gente entende o que é o projeto politico

pedagógico que a escola se propõe, os pilares da educação, o próprio desenvolvimento, mas não

é nada que eu escreva em um planejamento ou em um projeto: Vamos contemplar isso, isso,

isso. Por que eu acredito que a escola tem deixado muito de lado isso? Antes a gente tinha

uma professora de movimento para as crianças desde o ingresso escolar e eles estão

deixando cada vez mais para frente. Então aquela professora de movimento que tinha um

olhar muito mais de especialista, hoje ela só trabalha com crianças de Infantil 2. Então

cabe a eu promover essas ações. Eu acredito que eu tento o máximo possível, não sou graduada

em psicomotricidade. Vejo nos parâmetros curriculares o que essa criança tem que

atender, dentro dessa faixa etária e entendendo isso, promovo essas atividades, mas eu

acho que ainda falta. Acho que é deficitário.

Pesquisadora Eles não têm aula de educação física? Essa professora de movimento que você diz é professora

de Educação Física?

Entrevistada

Ana

Isso e ela só atende a partir de crianças de três anos. É uma queixa nossa, mas por questão

financeira, a escola não promove.

Pesquisadora Como você professora percebe o corpo dos seus alunos?

Entrevistada

Ana

Então, eu acho que é assim, o corpo propriamente dito, nesses desafios motores que a gente

acaba promovendo, nos parques, a gente consegue entender muito a demanda de cada um, a

necessidade de cada um, os desafios e propriamente dito os ganhos que eles vão tendo. São

crianças, na sua maioria, que entram no inicio do caminhar e a gente só aceita crianças que

estão andando. Então assim, muito deles a mãe espera andar e já coloca na escola. Então alguns

ainda precisam de um dedo seu para caminhar e para se deslocar. Alguns ainda engatinham, até

para conseguir um controle maior e uma rapidez no seu movimento. A partir desse momento, a

gente consegue perceber que eles não conseguem subir e descer degraus, subir e descer rampas

que a gente tem muitas rampas de acesso. Nos parques eles pedem ajuda, por que esse

primeiro parque da ponte que eu falei o que delimita o espaço dele é um murinho, eles

pedem a sua mão para entrar e a gente vai conseguindo ensina-los e dando ferramentas

para que eles sintam-se mais seguros. Então a gente ensina que tem que sentar para

trazer o corpo para dentro do espaço. Na primeira vez, eles não conseguem, na segunda

vez eles só te observam e na terceira ele vai e você aplaude, eles se sente seguro e vai.

Então assim, como a gente consegue perceber isso? Acho que são com os ganhos deles, mas

tem crianças que ainda necessitam de uma ajuda sua. Essa ajuda, seja com um braço, com um

dedo e depois com um olhar e finalmente em um aplauso.

Pesquisadora E na sala, como você vê o corpo deles na sala, dentro do espaço sala de aula?

Entrevistada

Ana

Infelizmente, eu tenho uma sala que o espaço é muito pequeno. É minúscula, não sei nem

descrever o tamanho dela, mas é a menor sala, o que é um paradoxo, porque são crianças

pequenas, teoricamente elas precisam de mais espaço e é a sala que tem o menor espaço

físico. Então como eu o percebo, acho que é no se deslocar, mesmo em um espaço tão pequeno

e o que é mais interessante, crianças muito pequenas elas não enxergam o outro. Elas pisam

uma em cima da outra, elas não pedem o famoso “dá licença”, elas se atropelam. Se elas

querem alguma coisa, elas realmente, não só puxam, como elas empurram, como elas sobem

em cima, elas não pedem realmente. Elas ainda não têm a noção corporal nem de si

próprios, nem dela no espaço, o que dirá do outro. Elas estão lá começando a entender

quem são elas dentro desse espaço, para poder compreender quem é o outro dentro do espaço.

E o elemento do outro, além do amigo que ela não enxerga, ela não enxerga nem o elemento, o

desvio de obstáculos ainda não acontece.

Pesquisadora Como você lida com a movimentação das crianças dentro da sala de aula? Por exemplo, em

uma roda da rotina, durante a brincadeira, durante a aula de musica.

Entrevistada

Ana Tem alguns momentos que a gente consegue que eles tenham livre arbítrio, por exemplo, eles

122

escolhem cada um o seu lugar, então eles tem essa movimentação. Em alguns momentos eles

têm que ficar mais atentos ao que a gente fala, então a questão corporal é que seja pelo menos o

olhar né?! Hoje eu já consegui entender que tudo bem, se uma criança ficar deitada me

olhando, é um exercício difícil, porque quem olha de fora imagina que aquele que está

deitado presta menos atenção e a gente sabe que isso não é verdade. Mas eu que tenho uma

formação muito tradicional, levei muito tempo para me desequilibrar e entender que está tudo

bem. É verdade, porque a gente em sala de aula quer ter muito controle de todos. Então em

uma roda, eles têm essa movimentação de poder, não existe muita circulação, na aula de

musica, existe uma circulação muito maior, até porque a aula promove isso. Só que a

professora de musica fala, agora vamos sentar e pegar os instrumentos, agora vamos

pegar os instrumentos e passear e cantar e dançar. Ela vai dando os comandos, só que

algumas vezes a criança precisa levantar, existem crianças que tudo bem ficar sentada, outras

não.

Pesquisadora O que acontece com essa criança que levanta no meio da roda de história?

Entrevistada

Ana

Então, a gente tem que interpretar a leitura de sinais dessa criança. Essa criança alguma vez ela

não está com vontade, não está a fim. Então a gente tem que chegar para ela e falar assim, você

não quer ouvir, está tudo bem, mas desde que não atrapalhe o seu amigo. Porque quando ela

contamina de levar todos, acaba desequilibrando a sua ação dentro de sala. Mas eu acho que

hoje a gente consegue entender e respeitar muito mais o tempo de cada um. Difícil, porque você

acaba em detrimento do respeito de outro acaba podendo desestruturar toda a sua atividade,

mas eu acho que você tem que ter o olhar. Esse olhar é um olhar muito do tempo de cada

um, do momento de cada um, do seu momento de como você recebe isso, porque a

consigna não é só para ele, é pra você também, porque essa, quando uma criança, ela não

está com vontade, você acha que é só ela, mas quando muitos não estão com vontade e

começam a circular, a sua atividade, o seu momento ou o que você promoveu, não é para

eles naquele momento. Então, hello vamos mudar aquilo tudo, então assim, eu acho que a

evolução do tempo, me trouxe uma segurança maior de entender que você pode interromper ou

diminuir ou aumentar a atividade de acordo com o interesse deles.

Pesquisadora Então, essa evolução do tempo que você diz, é do seu tempo de magistério?

Entrevistada

Ana Do meu tempo de aprendizado em sala de aula.

Pesquisadora A pergunta seguinte, você já mencionou, se existe alguma situação em que a percepção de

indicadores corporais levou você a redirecionar o rumo da aula?

Entrevistada

Ana

Sim. Existe e é frequente. Quando eu falo, lá atrás, que a gente tem rodas de conversa, aquilo

tudo muito fragmentado, eu não acredito que a educação se dê tão fragmentada. Ela tem vários

momentos que ela se interliga e a movimentação corporal, ela diz muito isso. Porque assim,

você pode permear o próprio corpo para o sim e para o não, para o eu posso e eu não posso,

aquele sim, aquele não.

Pesquisadora Você percebe alguma diferença a respeito da questão corporal entre as diferentes idades da

educação infantil?

Entrevistada

Ana

Sim. Pelo menos, assim, nunca trabalhei com faixas etárias muito distintas, mas eu acho que

sim. Numero 1:crianças muito pequenas, o que favorece? Tudo o que você dá eles recebem de

uma forma muito mais evoluída. Assim, curiosidade a criança tem, isso é inerente ao mundo, à

idade, acho que todas as idades têm e assim, dizer que você está aguçando a curiosidade, acho

que é uma redundância, porque todos eles estão ávidos por querer ver, querer aprender. Mas eu

acho que crianças menores, elas conseguem atender mais de imediato o pedido de quem vem de

fora. As maiores, elas já começam a te questionar mais, a ousar mais, a te surpreender mais, ou

talvez, por que eu sempre gostei muito mais de trabalhar com crianças menores, talvez a forma

que eu chegue para crianças pequenas seja de uma forma mais efetiva.

Pesquisadora Você está se referindo ao fato de tudo que você oferece eles participam? No sentido de se

envolver.

123

Entrevistada

Ana

Muito mais, muito mais. Já os maiores te questionam, a mora tem que fazer isso agora? Eles

questionam mais e essa é uma escola que promove muito essa reflexão, o tempo todo, eles

ficarem questionando, perguntando. Eles são muito os protagonistas, então eles podem,

elaborar e reestruturar, lógico dentro de um... Já os pequenos eles não tem essa condição de se

elaborar, então tudo que eu dou, é mais fácil deles aceitarem. Mas eu não tenho muito recurso

para dar, porque as faixas etárias que eu trabalho, que eu trabalhei na minha vida, são é muito

pequena, é muito tênue. Eu trabalhei há muitos anos com o primeiro ano, então não tenho como

relembrar.

Pesquisadora Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem?

Entrevistada

Ana

Sim, com certeza. Eu acho que o corpo, ele dita muitas regras, a criança começa falando pelo

corpo. Então aquela criança que anda com o corpo mais projetado para dentro de si, aquela

criança que fala menos, a criança mais quieta, ela já diz a proposta dela. É assim, não quero

tanto, fico mais no meu canto. A criança mais expansiva e ela usa isso como o próprio corpo.

Vou dar um exemplo, crianças minhas pequenas que não falam muito ainda, estão começando

a adquirir o repertório, a fala o vocabulário e propriamente dito a comunicação, né?! Por que

uma coisa é você falar e outra coisa é você se comunicar. Mas tem crianças que chegam

correndo e abraçam um amigo, ela não disse nada, ela já falou com seu próprio corpo. Agora

existem crianças que chegam mais cabisbaixas, elas procuram o brinquedo, levam para o canto

o seu brinquedo, elas já estão dizendo com o seu próprio corpo quem eu sou e o que eu quero.

Pesquisadora E o que isso tem a ver com a aprendizagem?

Entrevistada

Ana

Acho que ai entra muito eu enquanto mediadora. A criança que fala mais, é mais expansiva, eu

consigo fazer, primeiro, com que ela ajude aquela que é mais introvertida a trazer para o mundo

de maiores, arriscar mais, ousar mais. Então a gente acaba trazendo, fazendo com que ela seja

mediadora dessa ação. Então eu acho que o papel nosso é de olhar, entender e fazer com que a

gente. Mas também, aquela criança que está quieta, brincando com o brinquedo, não quer falar,

não quer ousar, criança que sentou no parque e ficou fazendo bolinho de areia, ela está feliz.

Então, será que o tempo todo eu tenho que trazê-la, vamos agora escorregar, vamos agora

escorregar, vamos ver que fruta, olha o fruto da carambola. Eu também tenho que respeitar essa

criança que é mais introvertida. É difícil a nossa ação em mediar, aquela que extremamente

expansiva que também não para em nenhum momento e aquela que diz com o próprio corpo

que está tudo bem eu brincar sozinha, eu sei que tem o outro lado, mas eu tô olhando pra ele,

me deixa. Eu acho que é ai que entra o nosso, é uma batalha nossa, porque a gente quer o tempo

todo, está tentando atenuar as ações daquele super expansivo que tem uma hora que e como

eles são muito pequenos eles não sabem a hora de parar, não sabem o limite do próprio corpo,

que a gente tem. Você esta falando da questão do corpo, que a criança que sobe quer

descer correndo o morrinho, só que eles ainda não têm como graduar essa ação. E aquela

que nunca subiu no morro, preciso o tempo todo levar ela para usar? Qual é o limite

nosso, enquanto educador?

Pesquisadora Qual é o seu limite?

Entrevistada

Ana

Eu reflito muito sobre isso, acho que a nossa ação como educador, passando por todas as

filosofias, por tudo que eu já li e todas as teorias, acho que é um movimento. Até a gente

estava lendo na escola Morran, ele diz assim, que o professor tem que se autodestruir para

poder entender até onde ele pode chegar e é muito difícil isso....

Pesquisadora Como você percebe a integração entre o afetivo, o cognitivo e o motor no seu trabalho com as

crianças? Existe essa integração?

Entrevistada

Ana

Olha, eu acho que você consegue desmembrar uma coisa da outra. Pensando na minha faixa

etária, na tua linha de raciocínio, afetividade, eu trabalhando com essa faixa etária, tem que

ficar mais latente de todos eles, desta tríade aqui, o afetivo, o cognitivo e o motor, é o afetivo.

Eu não tenho e nem devo substituir o papel de mãe, mas é muito maternal o trabalho com

uma criança pequena. A gente tem que traze-la muito para o laço afetivo, conquistar essa

criança, trazê-la para a compreensão de que está tudo bem se você não está com sua mãe,

124

eu estou aqui do seu lado, eu vou ser sua parceira. Então o afetivo é sempre o que rege a

criança tão pequena. O cognitivo é o que a gente trabalha para a educação, estamos sempre

promovendo desafios. E esses desafios eles entram nos motores, nas habilidades motoras. Eu

acredito que seja um dos desafios. O cognitivo é só motor, não é intelectual, ele pode trabalhar

com todas as formas. Agora o que eu acho que prevalece mais, eu falei que é tudo junto, mas eu

acho que o que rege mesmo é o afeto. Se você tirar o afeto, vai ter cognitivo motor? Eu acho

que ai, vai ficar um ato mecânico. Agora se eu tenho afeto, se eu tenho essa criança

garantida como bem-estar, como zelo, como cuidado, ela vai sentir-se segura em estar

comigo, estar com os amigos, estar nos espaços e tudo que eu trabalhar e oferecer, ela vai

fazer de forma mais tranquila, mais efetiva.

Pesquisadora Pensando no seu dia, na sua manhã, o que sobressai?

Entrevistada

Ana

Então uma vez que eu os tenho garantidos na questão afetiva, eu acho que é o cognitivo,

muito mais que o motor. A gente se preocupa muito mais oferecendo projetos, grandes

elaborações. O meu projeto pode ser, pode incluir a questão motora, por exemplo. O projeto

hoje que eu estou trabalhando com as crianças são ritmos do Brasil. Então, querendo ou não, a

gente trabalhou com musicas, vamos correr agora, a gente trabalhou com capoeira, a gente

trouxe um professor que dançou capoeira com eles, a gente também promove, é uma coisa

interligada, não fragmentada. Mas se você me perguntar o que prevalece, é o cognitivo.

Pesquisadora Considerando afetividade, cognição e movimento, em sua opinião, no seu trabalho pedagógico,

nos seus planejamentos existe a prevalência de uma dessas dimensões?

Entrevistada

Ana

Foi o que eu falei, acho que assim, quando eu paro para pensar no planejamento, vou ser

redundante, o afetivo já tenho garantido e acho que é uma questão não só garantido, como

alimentar o tempo todo, pela faixa etária mesmo. É o cognitivo, não tem jeito. Tanto que assim,

a gente faz o planejamento pensando em tudo que a gente tem de desafios cognitivos para essa

criança. O motor entra como algo fragmentado. O que eu vou pensar do motor, eu vou na

quadra, com bolas.

Pesquisadora Vocês param para pensar? Vocês planejam?

Entrevistada

Ana

Paramos para pensar diariamente, desafios, materiais, o uso do corpo, propriamente dito,

como corpo. Mas eu acho que não paramos como a gente deveria. A gente não contempla

como deveria ser. Até por que a gente sabe que o nosso corpo é o que nos leva e nos conduz.

Hoje eu entendo que a questão de lateralidade, de como você se localiza dentro de um espaço é

fruto do sucesso e do fracasso do inicio. Como pessoa física sinto isso, eu faço muita atividade

e o meu professor sempre fala que isso tudo teve uma defasagem lá atrás. Eu tenho dificuldade

de achar o equilíbrio no meu corpo. Talvez, por isso, eu pense um pouco mais, de uma forma

mais efetiva, com os alunos. Mas a escola não solicita.

Pesquisadora O que você entende por meio? Ao ouvir: o meio humano tem duplo sentido, meio ambiente e o

meio de ação. Qual deles você acha que interfere mais no desenvolvimento da criança?

Entrevistada

Ana

Eu acho que os dois têm fatores preponderantes. Agora se você me pergunta, eu tenho só um

meio, meio ambiente e coloco uma criança lá, sem exercer nenhuma ação, sem exercer

nenhuma interferência, eu acho que aquilo se esgota. Agora se é só o educador sem ação do

meio, os recursos também se esgotam. Um complementa o outro. Acho que as ferramentas que

o meio me traz com a minha ação enquanto mediadora completam o eixo do que eu desejo para

essa criança, para esse educando. ... Não consigo dizer que sou plena sem o meio que me

favorece e o meio sozinho, ele não dá plenitude sozinho sem a ação do educador ou o adulto

que seja.

125

Apêndice IV - TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA ADRIANA

1ª. Etapa da entrevista

Entrevistada: Adriana (nome fictício) / Faixa etária com a qual trabalha: 5 a 6 anos

Descreva um dia típico de atuação: Nossa rotina é composta por algumas propostas diárias

(permanentes) e por outras que variam ao longo da semana. Nesta perspectiva, todos os dias as

crianças são recebidas nos cantos de atividades, lancham, vão para o parque, desenham e escutam

a leitura de uma história; além de realizarem as atividades correspondentes às áreas de

conhecimento (Natureza e Sociedade, Movimento, Linguagem Oral e Escrita, Matemática e

Artes) e outras referentes à Cultura Judaica, a Língua Inglesa e Computação nos seus respectivos

dias. No início do período as crianças são recebidas nos cantos de atividades, nos quais

brinquedos e diferentes materiais pedagógicos são agrupados segundo diversos objetivos e

afinidades o que propicia a experimentação de quatro situações variadas. Assim, temos o canto

destinado ao jogo simbólico onde ficam dispostos os brinquedos que imitam o cotidiano adulto

(ferramentas de brinquedo, panelinhas e bonecas, materiais de escritório, utensílios médicos de

brinquedo, entre outros); o canto de desenho onde existem os materiais gráficos (canetinha, giz

de cera, giz de lousa, etc.) e papéis; o canto da Linguagem escrita constituído por livros ou por

textos informativos (jornais, revistas, livros de projetos desenvolvidos com o grupo, entre outros)

e o canto dos jogos (quebra-cabeça, memória, corridas, blocos lógicos). Os cantos ora são

definidos pelas crianças, ora pelos adultos e sua durabilidade é de cerca de 15 minutos. Depois

dos cantos organizamos as crianças em roda para tratarmos de assuntos diversos: a marcação do

calendário e a apresentação da rotina. Seguimos o dia com duas atividades referentes a duas

Áreas de Conhecimento e uma proposta vinculada a Cultura Judaica ou a Língua Inglesa ou

Computação. Em um dia normal às propostas são dadas com tranquilidade. A rotina transcorre

desta forma quando o grupo está disposto e tranquilo. Em um dia mais agitado a rotina é

quebrada e reorganizada segundo o interesse e concentração do grupo. Desta forma, os cantos

podem ser ampliados e as atividades podem ser substituídas.

Transcrição da entrevista:

Pesquisadora

A sua rotina esta muito bem explicada, por isso vou direto para as perguntas. Vou passar para o

dia atípico. Quando você diz assim, quando é um dia mais agitado, o que transforma o dia em

atípico?

Entrevistada

Adriana

O perfil das crianças naquele momento, que mostram quando elas chegam, né. As vezes as

segundas feiras são dias atípicos, a agitação do fim de semana; ao do retorno do fim de semana,

as vezes as sextas, eles ficam cansados da semana.

Pesquisadora Você reorganiza segundo o grupo. Por exemplo, dia de chuva é um dia atípico muda alguma

coisa na rotina das crianças?

Entrevistada

Adriana

Muda, você não tem um espaço aberto para ficar, automaticamente você tem que ficar

naquele lugar fechado e propor neste espaço fechado uma atividade tão prazerosa quanto,

o que e bastante difícil, porque e mais legal brincar no parque, mais legal brincar na

quadra. Mas a gente tem feito com esse grupo, tem tido uma proposta muito grande com

essa hora do brincar, então a gente promove quando chove, esse ano não aconteceu mas,

quando o dia esta muito mais frio, enfim. O que a gente tem feito, eles elencam o tema de

brincadeira e a gente estrutura a sala para a brincadeira, a sala vira um grande

consultório medico.

Pesquisadora Na verdade a brincadeira envolve mais o faz de conta, ne?

Entrevistada

Adriana Sim, e voltada para o jogo simbólico, ou se a vontade deles não é essa e às vezes acontece,

126

vira um grande rodízio de jogos, daí são propostas diversificadas dentro desses jogos.

Pesquisadora São jogos mais cognitivos?

Entrevistada

Adriana

Sim ou não, mas também, jogos mais prazerosos. Apesar deles terem crescidos, eles

adoram ainda brincar de quebra gelo, o jogo da pizza. E um momento mais livre e fica

para oferecer o que eles têm vontade de fazer.

Pesquisadora Eventos da escola torna o dia mais...

Entrevistada

Adriana

Atrapalha a rotina, quebra a rotina, quando esses eventos acontecem isso fica minimizado, as

atividades que são oferecidas, você tem que reorganizar o que e proposta para aquele dia sem a

atividade em si.

Pesquisadora Quando você esta no dia atípico, por conta dos eventos da escola, quais as áreas que se deixam

de fazer, você acaba tendo que escolher dentro da rotina o que da ou não para fazer?

Entrevistada

Adriana

Eles já chegam muito impulsivos para a festa, então não adianta quere que eles trabalhem

de acordo com, segundo uma atividade que exige muito raciocínio, que vai exigir muita

concentração, então eu pego o que eu planejei para a semana tento jogar para aquele

momento atividades que são mais tranquilas.

Pesquisadora Tipo?

Entrevistada

Adriana

Tipo artes, por exemplo, que e mais prazeroso ou de novo um jogo e deixo uma atividade

de escrita, de registro, para outro dia que não seja aquele da festa, uma roda de historia,

muito bem vista pelo grupo.

Pesquisadora Em uma roda de historia, eles estão com 5 para 6 anos, como eles se comportam?

Entrevistada

Adriana

Depende da historia, depende do tema que a envolve. Esse grupo, em especial, aprecia muito a

historia e a gente tem varias formulações de roda de historia. Uma é explorar os livros da

biblioteca de sala, dai eles vão revisitando de acordo com o interesse deles. Outra e oferecer um

livro que esta sendo trabalhado em uma sequencia didática, como a gente fez com o livro de

poesia, recentemente. Outra que eu trouxe para o grupo, que eles ficaram encantados, um livro

gigantesco só de contos de fada, quando ele vem para a roda a gente lê. Outro que eu trabalhei

bastante, que eles adoraram, foi o Camara Cascudo, tive que selecionar bastante e eles também

voltam para a roda. E agora neste final de ano, a gente lê para eles um livro em capítulos,

recentemente o suspense é que prevalece, na hora x essa roda para, para ser resgatado. Mas é

um grupo que responde muito bem.

Pesquisadora Gostaria de saber como você como professora de sala percebe o corpo dos seus alunos? O que é

o corpo, o que o corpo dele traz pra você, como você vê essa questão?

Entrevistada

Adriana

Acho que não só as crianças, mas o ser humano, quando se comunica, não se comunica só

através da fala, mas de gestos e a linguagem corporal se torna fundamental. Aquela carinha de

que não estou entendendo nada, aquele corpo caído na cadeira, de que não estou a fim de

fazer a atividade, então enfim, tudo isso, sendo observado com muito cuidado, traz uma

referencia gigantesca para você conseguir fazer até grandes intervenções. Isso de uma

forma mais ampla, né, do corpo como um todo. Tem uma outra questão que é a habilidade e

maturação que esse corpo precisa ter para realizar um percurso ai, no motor mais fino não só no

amplo. O que nessa faixa etária final é bastante interessante observar nas crianças. Eu sempre

tive muitas questões com a psicomotricidade, filha de Emilia Ferreiro, Escola da Vila, né!

Pesquisadora Que tipos de questões você...

Entrevistada

Adriana

Eu fica muito revoltada com as atividades de prontidão, os planejamentos de psico que

eram oferecidos pela escola. Eu falava, mas pra que, a criança se desenvolve

naturalmente. Algumas se desenvolvem, nem todas, algumas tem muitas questões a esse

127

respeito e precisam ser trabalhadas, precisam ser preparadas. Então o dia a dia de sala de

aula me mostrou o quanto era importante. Eu tinha uma visão muito restrita, pensando

só no motor fino, esquecia dessa amplitude toda, que é perceber “n” questões, ai volta a

questão do corpo, né! Referencia a lateralidade, o espaço que ocupa. Tudo bem, você

constrói o senso critico, a experimentação faz isso, mas o professor pode ser um facilitador.

Pesquisadora Em que momento você se deu conta disso? Você mesmo falou que você era contra os

exercícios de prontidão.

Entrevistada

Adriana Não sei se eu era contra, mas eu tinha um pezinho atrás.

Pesquisadora Em que momento você percebeu que , tudo bem, não deve ser focado só nisso, mas que o outro

lado também é importante?

Entrevistada

Adriana

Porque eu tinha ali um planejamento para cumprir, sempre fui caxias com algumas coisas então

não conseguia fingir que aquilo não existia. Fui percebendo diferenças em algumas crianças,

crianças que tinham muitas questões, desde o equilíbrio até o posicionamento de um lápis. Dai

eu fui abaixando a guarda, fui olhando com menos preconceito, fui ler um pouco mais a

respeito, conversar com pessoas que trabalhavam na área. Ai, fui aceitando com mais

tranquilidade e usufruindo mais desse processo. Mas é claro que ele se torna... eu acho que a

psicomotricidade é muito importante para aquelas crianças que tem alguma questão de

formação intelectual, físico, se torna fundamental.

Pesquisadora No ambiente escolar, você acha que aquelas crianças que se desenvolvem no decorrer, ai é uma

questão minha, você acha que deveria ter, uma área que deveria ser trabalhada?

Entrevistada

Adriana

Eu acho que ela precisa ser trabalhada, desde que não seja um treinamento. Eu acho que nem

todo profissional de educação consegue olhar para a psicomotricidade sem ser treinamento. E é

ai que me pegava, ai que me incomodava. Era muito funcional.

Pesquisadora Fazer por fazer.

Entrevistada

Adriana

É, não é assim, né! Aquela coisa fechada, contida. Como a gente olha para a educação com uma

outra visão, fica meio complicado você olhar para isso e falar não é isso mesmo, isso é legal,

vou fazer dessa forma. Por outro lado, minha filha do meio, ela tem desordem de

processamento auditivo. Meu olhar também mudou através dela, porque ela precisa de auxilio,

muitas questões no desenvolvimento dela. Hoje a gente percebe, ela tem distúrbio de

aprendizagem, precisa de apoio na aprendizagem dela, mas de qualquer maneira, a Julia

precisou de treinamento, então volto a dizer, existem casos e casos.

Pesquisadora Como você lida com a movimentação dos alunos dentro da sala de aula?

Entrevistada

Adriana

Parei até para pensar...(risos) Por que em alguns momentos, se não tomar cuidado, a gente

enxerga a movimentação como ausência de disciplina. A movimentação nem sempre é

ausência de disciplina, é uma necessidade, em se tratando de Educação Infantil é uma

necessidade absurda. Quando eles são mais velhos, eu sou um pouco mais rígida com a

movimentação em alguns momentos. Eu sei que a grande maioria que esta ali para qual escola

vai, como são as cobranças dessa escola, então eu procuro sempre estruturar um pouco: tá na

roda, tá na roda, não dá para deitar agora, não dá pra ficar jogado; tá na cadeira, tá na cadeira,

se posiciona, não dá para ficar levantando de 5 em5 minutos para bater papo com o amigo. Eles

irão para o primeiro ano, vão sentar em cadeiras individuais. Eu fico muito assustada que essa

quebra e essa cobrança sejam exageradas.

Pesquisadora Hoje eles têm cadeira individual?

Entrevistada

Adriana

Não, não. São grupos, mesa de 4, como o restante da Educação Infantil da escola. Então como

que essa movimentação acontece com mais tranquilidade? Hoje eles têm isso internalizado e é

muito tranquilo. Se esta sentado na roda, senta na roda, se esta sentado na cadeirinha,

senta na cadeirinha, realiza a proposta que é para ser elaborada, mas eles tem toda

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condição , todo o direito de ir em busca de uma borracha que esta faltando no estojo, no

achados e perdidos ou pedir para o colega. Eles têm uma autonomia de não ter a total

compreensão do que é para ser feito e buscar essa informação se não conseguir na própria

mesa, em outra, eles trocam bastante entre eles. Isso é uma coisa que a gente também

ofereceu para esse grupo. Só que tem hora que não tem como, a gente tem que impedir, você

tem que lanchar, tem que lanchar; você tem que participar da roda, tem que participar da roda;

tem que fazer atividade, tem que fazer atividade. Olha se eu for pensar no momento que eu fui

professora de crianças bem menorzinhas, ai é outra história, né!? Impossível você exigir que

crianças de um ano e meio a três permaneçam quietinhas e tranquilas nas funções que

você pede a todo instante. Não! Pelo contrario, elas precisam se movimentar e muito, elas

precisam imitar o que o colega esta fazendo, elas precisam ir buscar, fuçar na caixa que

está no canto da sala, é outra estrutura, outra proposta. Esse movimento se torna

fundamental para o desenvolvimento delas, né!? Como eu trabalhei... a faixa etária que eu

mais trabalhei na Educação Infantil foi essa de três anos, é uma sala de muito movimento,

sempre foi de muito movimento, que até incomodava um pouco quem passava ali por fora e

observasse. Mas que eu não via problema algum, porque não era uma desordem, era uma

necessidade, uma necessidade respeitada. Uma forma também de comunicação, claro, mas de

buscar informação.

Pesquisadora Você disse que supervisiona as turmas de um ano, né?

Entrevistada

Adriana

Faço um trabalho de construção de planejamento. Agora um olhar para essas professoras e um

olhar para o grupo, eu não tenho, porque também estou em sala de aula.

Pesquisadora Você senta com elas para ver planejamento?

Entrevistada

Adriana Existem trocas teóricas sobre a construção do planejamento...

Pesquisadora Em que medida o planejamento contempla o trabalho corporal, das suas crianças de 5 anos?

Entrevistada

Adriana

Eu acho que o meu planejamento não contempla. O planejamento dos especialistas mais:

musica, movimento, até mesmo as aulas de cultura judaica, inglês envolvem as vezes, rodas

cantadas. Mas eu consigo propor situações em que o corpo aparece, não formalizada em

planejamento, mas nas situações que ofereço de brincadeiras. Na hora do brincar é que o

movimento aparece. Aparece, como disse agora pouco, informalmente, uma coisa mais

natural, mas não uma coisa pensada, estruturada.

Pesquisadora Na verdade, não existe um planejamento para cuidar do movimento, pelo professor de sala?

Entrevistada

Adriana Não existe, no meu caso com essa faixa etária.

Pesquisadora Agora com as outras turmas com as quais você já trabalhou?

Entrevistada

Adriana

Existe! Professores de Maternal 1, maternal 2 e infantil 1 planejam, até maternal 2, aulas de

movimento. E além das aulas de movimento, tem o trabalho com a psicomotricidade também,

que proporciona em algumas situações o trabalho mais corporal do que do registro ou do jogo,

mas é raro. No maternal 1, acho que, com as crianças de um ano e meio a dois é mais

evidente... o movimento está sempre presente, formal ou informalmente. Informalmente, da

forma que citei, no dia a dia, no cotidiano e formalmente, ele vinha, principalmente, nessa faixa

etária, voltada ao movimento. Eu brincava muito, quando fui professora dessa faixa etária, com

24, 25 anos a gente tem energia de sobra para gastar. Eu era Madrichá nessa época, muito dessa

experiência de recreação, estava presente no meu cotidiano. Eu brincava muito, na hora de

brincar, de novo, o movimento ia, fazia jogos cooperativos.

Pesquisadora Mas essas brincadeiras eram planejadas, tinham objetivo?

Entrevistada

Adriana

Tinham dentro da área de movimento. Tinha o momento que elas não eram planejadas mas

acontecia... aconteciam movimentos importantes. Sem planejar, eu fazia roda cantada,

trabalhava agacha, senta, levanta, coisas relacionadas a imitação , como macaquinho mandou,

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isso acontecia informalmente. Dentro do planejamento de movimento aconteciam outras

situações mais voltadas para a coordenação mais ampla, correr, pular, saltar, os movimentos

básicos apareciam incorporados nas atividades.

Pesquisadora Isso com a idade de 1 ano e meio?

Entrevistada

Adriana

Com dois anos a mesma coisa, muito similar. Só que com dois, já entra o professor especifico,

especialista, entra com as atividades de movimento e ai esses movimentos ficam mais

vinculados mais ao parque. Só que tinha um trabalho na época de formar as crianças um

repertório de jogos tradicionais. A gente construía isso ao longo do ano com as crianças, para

elas saírem do maternal 2 para o infantil 1 aptos a participarem dessas atividades. Nisso de

novo, o movimento era estruturado, era pensado e também, tinha o trabalho, não sei se

ainda existe, mas acredito que sim, com os circuitos, que era com o intuito de trabalhar

espaço e forma, era voltado para matemática, mas era totalmente corporal. Também era

bem interessante, porque existia toda uma estruturação, tinham etapas, desafios que eram

ampliados gradativamente, novamente pensados no movimento. No infantil 1, vou fazer um

esforço para lembrar , entrava o professor especialista para dar as atividades de movimento, não

tinha uma estruturação de planejamento relacionados ao brincar como tinha no maternal 2. Eu

acho que mais informalmente, não formalmente. Não aparecia uma preocupação com o

trabalho... Apesar de que no infantil 1 , até hoje tem, o projeto pessoas. Quando eu trabalhava

com essa sequencia, fazíamos uma exploração corporal bastante interessante com o espelho.

Pesquisadora Mas isso estava no planejamento ou você que fazia isso com os seus?

Entrevistada

Adriana

Estava no planejamento. Era o meu planejamento, a sequencia não era minha, havia sido

estruturada por outra professora, mas eu me lembro de ter organizado, em alguns momentos,

algumas aulas de exploração corporal, mais fácil. E fora isso, informalmente, nas brincadeiras.

No infantil 2, aí... aí praticamente se perde. Por que o infantil 2 é um grau com excesso de

conteúdo, sobra pouco tempo para as crianças conseguirem espaço até para essa ação do

brincar. O que é uma coisa que a escola esta revendo, graças ao bom D’us, esta tendo um

cuidado maior nesse sentido. Quando eu aceitei a proposta de trabalhar no infantil 3, eu

já recebi com esse olhar , como eu tive o prazer de conseguir estruturar os conteúdos,

então eu me preocupei em não abarrota-los demais, para que as crianças tivessem espaço

para o jogo simbólico , tivessem um espaço para o movimento. Dai as coisas conseguiram

ser um pouco mais suave. Agora eu não sei se o infantil 2, principalmente no 2º. Semestre, o

que não deixa de ser movimento, os ensaios para a festa, as aulas de dança com o Moré

Marcelo, isso é estruturado, de novo, pelo especialista e o movimento aparece, aparece com

ênfase nesse sentido. Mas não tinha espaço para coisas muito maiores no infantil 2. No infantil

3 eu consegui fazer um pouco desse resgate.

Pesquisadora Houve alguma situação que a percepção de indicadores corporais levou você a redirecionar o

rumo da aula?

Entrevistada

Adriana

Acho que no sentido daquela colocação que eu fiz inicialmente, né! Do corpo me avisar que a

proposta não estava agradando. Estávamos em uma roda oferecendo a atividade, daqui a pouco,

meia dúzia já deitou, a outra metade estava olhando para o teto, por que persistir na proposta?

Pesquisadora Neste sentido você costuma...

Entrevistada

Adriana Neste sentido, costumo, eu respeito bastante o ritmo das crianças.

Pesquisadora Você percebe alguma diferença, no que diz respeito à dimensão motora entre as crianças das

diferentes idades com qual você trabalhou?

Entrevistada

Adriana Tem sim, em termos de desenvolvimento?

Pesquisadora Na verdade, até na questão do que fazer, o que exigir, a maneira como exigir.

Entrevistada

Adriana Com certeza! O que a criança sabe, o que pode oferecer e os recursos para auxiliar aquelas que

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não dão conta. Até borrachinha no lápis eu coloco para aquela criança que não consegue

segurar o lápis corretamente. Um olhar focado para isso. A gente vai ajudando, dai sim, eu abri

mão dos preconceitos, passei a usar recursos mais tradicionais que se tornaram facilitadores, na

escrita por exemplo. Usar letras móveis, usar decalque até. Fui me abrindo neste sentido, de

acordo com a necessidade deles.

Pesquisadora Em sua opinião, a dimensão motora afeta a aprendizagem, influencia?

Entrevistada

Adriana

Depende muito da criança. Eu já tive crianças com problemas de coordenação motora fina

enorme, gigantesco, mas que tinha um cognitivo intacto. Na hora de uma hipótese de escrita,

por exemplo, se eu desse para essa criança o alfabeto escrito na etiqueta de bolinha, ela escrevia

as palavras em dois segundos e depois ela fazia uma cópia com a letra dela. Agora se eu desse

para ela só o lápis e a borracha, era tão dificultoso para ela traçar a letra que ela se perdia na

hipótese e acabava não chegando ao potencial cognitivo. Então você tem que ter na manga

recursos, para ver se a questão é cognitiva ou não.

Pesquisadora Como você percebe a integração afetiva, cognitiva, motora no seu trabalho com os alunos?

Entrevistada

Adriana

O professor tem que ter um “feeling” absurdo. Olhar a diferença, a diversidade que existe,

mesmo porque depois de todas as dificuldades que passei em casa, se eu não olhasse para as

inteligências múltiplas, eu seria uma imbecil. Eu acho que o meu olhar foi ampliando nesse

sentido, para perceber esse ser humano quanto individuo, para poder ofertar, de acordo com a

necessidade dele, respeitando evidentemente o momento dele, que não é igual ao restante, seja

ele emocional ou cognitivo e acima de tudo, apesar das pessoas acharem as vezes um absurdo,

não existe aprendizagem sem amor. Se você não ama o que você faz, você não cria um

vinculo afetivo com o seu educando o tempo todo... Na educação Infantil essa é a grande

forma. Pra mim, isso é muito forte, sempre foi assim... Mas eu tenho isso muito forte na

minha formação, eu sou um educando que preciso de afetividade para conseguir

aprender, senão não funciona. Se eu não consigo um vinculo afetivo, esquece, eu não vou,

preciso procurar outro professor. Na faculdade eu cheguei a mudar de curso por conta de

empatia. Como pra mim, isso sempre foi muito forte, eu levo isso para a sala de aula. E

por isso também, que nunca mudei de faixa etária, tentei trabalhar com adolescente e foi

um horror. Eu preciso, eu preciso de abraço, beijo, eu preciso dar também.

Pesquisadora Considerando afetividade, cognição e movimento em sua opinião no trabalho pedagógico existe

a prevalência de uma dessas dimensões?

Entrevistada

Adriana

Minha experiência na Educação Infantil é na mesma instituição. Eu tive essa experiência

informal em outros espaços, mas só posso falar da instituição que eu trabalho. Eu acho....

(parou para pensar...), existe uma reflexão para resposta, eu acho que o corporal não existe tão

forte, existe se o professor tiver o olhar, se não tiver o olhar não existe. Nesta instituição existe

uma proposta muito grande para a cognição, voltado ao conteúdo. Os outros espaços que

eu trabalhei, pela minha forma de enxergar a construção do pensamento é que a afetividade

estava ali, embasando tudo isso. Mas eu não sei te dizer se isso existe tão equilibrado nas

escolas de Educação Infantil, eu acho que não existe.