um olhar da prática do ensino de história sobre a questão...

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1 PLURALIDADE CULTURAL: Um olhar da Prática do Ensino de História sobre a Questão Indígena Contemporânea 1 . Jeanne Silva 2 O objetivo deste artigo é oferecer algumas reflexões teórico-metodológicas de como o professor pode trabalhar em sala de aula com a temática indígena, perpassando uma visão proposta pelos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (no que se refere à pluralidade cultural), mas pensando também análises conceituais e valorativas, que envolvem debates educacionais e jurídicos não somente quanto à uma legislação educacional específica, mas uma legislação indigenista atual e dos problemas e conflitos envolvidos na questão indígena contemporânea. A construção dessa proposta circunscreve-se, portanto, à discussão da legislação educacional que define sobre o ensino obrigatório da cultura e história dos povos indígenas (lei nº 11.645 de 10 de março de 2008), a questão da pluralidade cultural mencionada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, com os chamados temas transversais dos ciclos de Ensino Fundamental, e da articulação de fatos ocorridos atualmente com o envolvimento dos grupos indígenas em diversas situações, como por exemplo, na questão crucial das demarcações de terra; e de como o professor pode estimular em sala de aula, reflexões sobre conceitos, práticas e valores como cidadania, democracia, alteridade, solidariedade, justiça social, dignidade da pessoa humana, igualdade de direitos, participação política em situações em que os educandos se percebam e se construam como agentes históricos, buscando análises mais refletidas, mais conscientes e críticas no entendimento da realidade que os cercam. Assim sendo, o artigo divide-se, em três momentos específicos: um primeiro de análise legislativa – indígena e educacional. Um segundo momento de avaliação dos PCNs no que se refere à Pluralidade Cultural, com análises conceituais e valorativas, exemplificando fatos como os índios envolvidos nas lutas pela demarcação de terras, o episódio do índio Galdino (1997) e recentemente o índio retirado do Supremo Tribunal Federal na votação das cotas raciais para afro-descendentes (26/04/2012). Episódios que marcam os conflitos e desafios enfrentados pela população indígena atual. E, num 1 Artigo produzido como roteiro de trabalho para o Renafor 2 – Rede Nacional de formação de professores da Educação Básica – MEC. Desafios Educacionais Contemporâneos. 2012. Pólo Ituiutaba/MG. 2 Professora de História e Direito da UFG - Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão.

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PLURALIDADE CULTURAL:

Um olhar da Prática do Ensino de História sobre a Questão Indígena Contemporânea1.

Jeanne Silva2

O objetivo deste artigo é oferecer algumas reflexões teórico-metodológicas de

como o professor pode trabalhar em sala de aula com a temática indígena, perpassando

uma visão proposta pelos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (no que se refere à

pluralidade cultural), mas pensando também análises conceituais e valorativas, que

envolvem debates educacionais e jurídicos não somente quanto à uma legislação

educacional específica, mas uma legislação indigenista atual e dos problemas e conflitos

envolvidos na questão indígena contemporânea. A construção dessa proposta

circunscreve-se, portanto, à discussão da legislação educacional que define sobre o

ensino obrigatório da cultura e história dos povos indígenas (lei nº 11.645 de 10 de

março de 2008), a questão da pluralidade cultural mencionada nos Parâmetros

Curriculares Nacionais, com os chamados temas transversais dos ciclos de Ensino

Fundamental, e da articulação de fatos ocorridos atualmente com o envolvimento dos

grupos indígenas em diversas situações, como por exemplo, na questão crucial das

demarcações de terra; e de como o professor pode estimular em sala de aula, reflexões

sobre conceitos, práticas e valores como cidadania, democracia, alteridade,

solidariedade, justiça social, dignidade da pessoa humana, igualdade de direitos,

participação política em situações em que os educandos se percebam e se construam

como agentes históricos, buscando análises mais refletidas, mais conscientes e críticas

no entendimento da realidade que os cercam.

Assim sendo, o artigo divide-se, em três momentos específicos: um primeiro de

análise legislativa – indígena e educacional. Um segundo momento de avaliação dos

PCNs no que se refere à Pluralidade Cultural, com análises conceituais e valorativas,

exemplificando fatos como os índios envolvidos nas lutas pela demarcação de terras, o

episódio do índio Galdino (1997) e recentemente o índio retirado do Supremo Tribunal

Federal na votação das cotas raciais para afro-descendentes (26/04/2012). Episódios que

marcam os conflitos e desafios enfrentados pela população indígena atual. E, num

1Artigo produzido como roteiro de trabalho para o Renafor 2 – Rede Nacional de formação de professores da Educação Básica – MEC. Desafios Educacionais Contemporâneos. 2012. Pólo Ituiutaba/MG. 2Professora de História e Direito da UFG - Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão.

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terceiro momento, pensar em como o professor pode utilizar os diversos materiais e

informações para articular trabalhos e propostas reflexivas junto aos educandos.

Breve considerações legislativas:

A primeira Constituição Brasileira foi a de 1824, quando o Brasil ainda era

regido pelo sistema imperial. Todavia, somente 110 anos após esta publicação, na

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934, é que,

pela primeira vez, foi abordada a questão indígena. Contudo, apenas dois artigos foram

reservados para tratar deste tema, sendo um deles referente à integração do índio à

comunhão nacional, no qual era disposto que competia privativamente à União legislar

sobre a incorporação dos silvícolas à comunhão nacional (artigo 5º) e o artigo 129 que

estabelecia “a posse de terras de silvícolas que nelas se achem permanentemente, sendo-

lhes, no entanto, vedado aliená-las.”

As duas Constituições seguintes, de 1937 e 1946 tratavam também da questão

indígena, porém sem inovações em referência à Constituição de 1934.

Somente em 1967 a Constituição da República Federativa do Brasil incluiu as

terras ocupadas pelos índios, entre os bens da União e garantiu aos índios usufruto

exclusivo dos recursos naturais”. Entretanto, ainda era regulada constitucionalmente a

incorporação do índio à comunhão nacional.

Em 19 de dezembro de 1973 foi promulgada a Lei 6001, denominada de

Estatuto do Índio. A finalidade desta lei está disposta em seu artigo primeiro:

Art.1º Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmonicamente, à comunhão nacional. Parágrafo único. Aos índios e às comunidades indígenas se estende a proteção das leis do País, nos mesmos termos em que se aplicam os demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta Lei.

De forma inédita, os indígenas passaram a ser protegidos por lei específica. Mas,

embora esta lei tenha como uma de suas premissas a proteção da cultura indígena, ela dá

maior ênfase à integração dos indígenas à comunhão nacional.

O Estatuto do Índio, em seu artigo 4º, classificava os índios em isolados, em vias

de integração e integrados. Os isolados são aqueles que não tiveram contato com o não

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índio ou tiveram pouco contato. Os índios em via de integração são aqueles que viviam

“em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservam menor ou

maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de

existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão necessitando

cada vez mais para o próprio sustento”. Os integrados são aqueles que estavam

“incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos

civis, ainda que conservem seus usos, costumes e tradições característicos de sua

cultura”.

Esta lei regulava ainda, em seus 68 artigos, acerca da questão fundiária,

patrimônio cultural, educação bilíngue, assistência à saúde, normas penais, bem como

dos bens e renda do patrimônio indígena.

O Estatuto do Índio tinha, portanto, uma noção integracionista. Esse estatuto foi

baseado no velho Código Civil brasileiro de 1916: Os índios sendo considerados como

“relativamente incapazes” tinham que ser tutelados por um órgão (que atualmente é a

Fundação Nacional do Índio), até que eles tivessem integrados totalmente às leis e

costumes da sociedade brasileira.

Entretanto, a Constituição Federal de 1988 trouxe para a questão indígena uma

nova visão, onde o Estado deixou de ser integracionista, passando a admitir o

multiculturalismo. Desta forma, o Estatuto do Índio passou a ser incompatível com a

nova Carta Magna.

Quando iniciaram-se os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, numa

atmosfera de manifestações de diversos movimentos sociais organizados, os

movimentos indigenistas começaram a pleitear direitos para serem colocados na nova

Constituição, para que esta pudesse ser mais desenvolvida no tocante aos direitos dos

índios. Conforme Andreza Pierin3, diversos integrantes destes movimentos participaram

não somente de discussões, “mas assessoraram parlamentares na elaboração de

propostas e emendas constitucionais, mobilizando a opinião pública em favor dos

direitos indígenas.”

3PIERIN, A. diversidade biológica e cultural das comunidades indígenas a partir do estudo do Direito Socioambiental e do Etnodesenvolvimento. Monografia do Curso de Direito do Centro Universitário de Curitiba, com premiação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção às comunidades indígenas. Julho de 2009.

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Neste contexto, em 05 de outubro de 1988, quando promulgada a nova

Constituição Federal do Brasil, o direito indígena passou a ser reconhecido

constitucionalmente, tendo em vista a existência de um capítulo específico para tratar

dos direitos indígenas e outros oito artigos referentes aos direitos destes povos,

distribuídos em diferentes títulos.

A Constituição lhes reservou um Capítulo próprio (o VIII), composto por dois

artigos, o 231 e o 232. Este último prevê-lhes a garantia da intervenção do Ministério

Público em todos os atos do processo em que, isoladamente ou por suas comunidades e

organizações estejam pleiteando interesses ou direitos em juízo.

Portanto, a Constituição de 1988 ampliou o espaço reservado para tratar dos

direitos destes povos, que tiveram por tantos anos seus direitos violados ou até mesmo

inexistentes, numa visão que reacionária de que eles deveriam ser integrados à

civilização.

Todavia, conforme José Afonso da Silva, esta Constituição “não alcançou um

nível de proteção inteiramente satisfatório”, tendo em vista que diversos outros

dispositivos referentes à proteção destas comunidades poderiam ter sido colocados e

não obstante não foram regulamentados.

Mesmo com falhas, esta Carta Magna foi inovadora, posto que, a partir de então

foi reconhecida a multietnicidade e a pluralidade cultural do País. Reconheceu ao índio

o direito à diferença, vale dizer, o direito de serem índios e de serem tratados como tais.

O artigo 231, caput, da Constituição Federal dispõe que:

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Entretanto, esta Constituição continuou a estabelecer que as terras

tradicionalmente ocupadas pelos indígenas pertencem à União e prevê como dever da

União demarcar as terras indígenas e protegê-las, fazendo respeitar todos os seus bens.

A Constituição define como terras tradicionalmente ocupadas pelos índios

“as por eles habitadas em caráter permanente, bem como as utilizadas para suas atividades produtivas e as imprescindíveis à proteção dos recursos

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ambientais necessários a seu bem estar e a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”4.

Dispõe ainda que tais terras são inalienáveis e indisponíveis, e seus direitos

imprescritíveis, destinando-se à posse permanente dos índios que tiveram garantido o

usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes.

Sendo tais glebas de terras “inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas

imprescritíveis”, consoante o disposto no artigo 231, § 4º da Constituição Federal e

embora os índios detenham a posse permanente e o “usufruto exclusivo das riquezas do

solo, dos rios e dos lagos”, segundo o artigo 231, §2º da CF, são de patrimônio da

União, conforme o artigo 20, inciso XI do mesmo diploma legal.

Pode-se então concluir que a Constituição garante aos indígenas o uso de suas

terras para fins de subsistência e de reprodução física e cultural e, garantindo acima de

tudo, o direito de ser índio.

A Organização Internacional do Trabalho, também estabeleceu algumas

diretrizes sobre a questão indígena, tendo em vista que estes representavam parte da

força de trabalho. Em 1926 foi criada uma Comissão de Peritos em Trabalho Indígena

para que fossem adotadas medidas para regular essa mão de obra em caráter

internacional.

Todavia, em razão da falta de condições de trabalho durante a 2ª Guerra

Mundial, somente em 1957 foi originada a Convenção nº 107, sendo que esta foi a

primeira Convenção de maior relevância a tratar acerca de populações indígenas e

tribais, principalmente no que se refere aos direitos à terra, condições de trabalho,

educação e saúde. Mas esta codificação passou a ser criticada por ainda conter

resquícios de política integracionista.

Assim, durante a pauta das Conferências Internacionais do Trabalho de 1988 e

1989, foi proposta revisão da Convenção nº 107 “com vista à preservação e

sobrevivência dos sistemas de vida dos povos indígenas e tribais”. Desta forma, foi

adotada na 76ª Conferência Internacional do Trabalho a Convenção nº 169, a qual revê a

Convenção anterior, sendo o primeiro documento internacional que visa proteger e

regular os Povos Indígenas.

4Artigo 231, §1º da Constituição Federal de 1988.

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Entretanto, no Brasil, esta Convenção tramitou no Congresso Nacional durante

11 anos, sendo ratificada por meio do Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de

2002. E, como ainda não foi aprovado o novo Estatuto dos Povos Indígenas, esta

Convenção é atualmente a legislação no Brasil que regula a situação indígena em

conformidade com a Constituição Federal de 1988.

A partir desta nova legislação, os indígenas passaram a ter direitos mais

específicos em relação à proteção de sua cultura. Esta Convenção defende o

multiculturalismo e preceitua em seu artigo 5º, alínea “a”:

“Deverão ser reconhecidos e protegidos os valores e práticas sociais, culturais, religiosos e espirituais próprios dos povos mencionados e dever-se-á levar na devida consideração a natureza dos problemas que lhes sejam apresentados, tanto coletiva como individualmente”.

Portanto, a Convenção 169 da OIT, juntamente com a Constituição Federal de

1988, marcaram o fim de uma política voltada à integração do indígena à sociedade

brasileira, passando, assim, a solidificar uma política defensora das comunidades

tradicionais, respeitando as diferentes culturas existentes no País.

Para reforçar a ideia de que devem ser respeitados os direitos sobre os povos

indígenas no tocante ao multiculturalismo, a Declaração das Nações Unidas sobre os

Direitos dos Povos Indígenas, que foi aprovada pela ONU em 13 de setembro de 2007,

em que vários países votaram a favor, inclusive o Brasil, em seu artigo 5º, dispõe que:

“Os povos indígenas têm o direito de conservar e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais, mantendo ao mesmo tempo seu direito de participar plenamente, caso o desejem, da vida política, econômica, social e cultural do Estado”5.

Esta Declaração possui 46 artigos, os quais dispõem acerca dos direitos dos

povos indígenas em relação à terra, à participação política, aos territórios, aos recursos

naturais e “ao consentimento prévio, livre e informado; às normas não escritas que

regem internamente a vida das comunidades indígenas; o direito à propriedade

intelectual.” Em concordância com a UNESCO, esta Declaração é:

“um documento abrangente que aborda os direitos dos povos indígenas. Ela não estabelece novos direitos, mas reconhece e afirma direitos fundamentais universais no contexto das culturas, realidades e necessidades indígenas. A

5Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Rio de Janeiro: UNIC; Cuiabá: Entrelinhas, 2009. 56 p

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Declaração constitui um instrumento internacional importante de direitos humanos em relação a povos indígenas porque contribui para a conscientização sobre a opressão histórica impetrada contra os povos indígenas, além de promover a tolerância, a compreensão e as boas relações entre os povos indígenas e os demais segmentos da sociedade”6.

Então, o indígena, nos dias atuais, possui direitos expressos em documentos

legais que garantem a proteção de sua cultura e a participação em atos ligados à

sociedade brasileira, se assim o desejarem. A luta é para que tais direitos sejam não

apenas vigentes, mas de fato, eficazes.

Em face dessa legislação indigenista, também se alterou as legislações

educacionais referentes ao tema. A lei 10.639 de 09 de Janeiro de 2003 alterou a Lei no

9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da

temática "História e Cultura Afro-Brasileira” e a Lei 11.645 de 10 de março de 2008.

Esta última veio para corrigir a distorção da anterior, que mencionava única e

exclusivamente os afro-descendentes, e incluir no currículo oficial da rede de ensino a

obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

A questão que nos preocupa a todos, enquanto professores, está centrada

portanto, em como exercer essa obrigatoriedade educacional. O que ensinar? Como

ensinar? Como romper práticas integracionistas que foram sedimentadas durante anos

ao longo da história do Brasil? A resposta pode parecer simples: conhecendo o índio,

suas trajetórias históricas, suas aspirações, seus conflitos e resistências, sua diversidade

cultural. Reconhecendo em seus antepassados de luta e nos índios de hoje, a

legitimidade de suas reivindicações, tanto de pertencimento e agregação, quanto de

isolamento.

Umas das possibilidades, então vislumbrada, são as reflexões sugeridas nos

próprios parâmetros curriculares nacionais, quando da abordagem dos temas

transversais, mais detidamente neste caso, da Pluralidade Cultural:

“A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e

6Idem.

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excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal”7

A Constituição Federal de 1988 é considerada como marco divisório da visão

indígena, e, ainda que a aplicação e o aperfeiçoamento da legislação sejam decisivos,

sozinhos são insuficientes. Para construir uma “sociedade justa, livre e fraterna”,

processo educacional terá de tratar do campo ético, de como se desenvolvem no

cotidiano atitudes e valores voltados para a formação de novos comportamentos, novos

vínculos em relação àqueles que historicamente foram alvo de injustiças. É no espaço

escolar que os educandos podem conviver de forma diversificada. A escola permite a

convivência de diversas alteridades, local onde são trabalhados regras de espaço público

para o convívio democrático com as diferenças. O tema da pluralidade cultural busca

contribuir para a construção da cidadania na sociedade pluriétnica e pluricultural. Tendo

esse objetivo em vista é que se pode pensar algumas capacidades a serem desenvolvidas

pelos educandos, como, por exemplo: o de valorizar as diversas culturas presentes na

constituição do Brasil, reconhecendo suas contribuições no processo de constituição das

identidades brasileiras, desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com

aqueles que sofrem discriminação, exigir respeito para si e para o outro, denunciando

qualquer atitude de discriminação que sofra, ou qualquer violação dos direitos humanos,

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade

passível de mudanças, analisar com discernimento as atitudes e situações fomentadoras

de todo tipo de discriminação e injustiça.

O tema transversal da pluralidade cultural, ainda apresenta de forma mais

específica a formação do Brasil. Este conteúdo trata de como se constituiu, por sua

permanente reelaboração, e se apresenta a face cultural complexa e cheia de potencial

do país, com sobreposição de tempos, no social, no cultural e no individual. Trata,

também, de como se têm entrelaçado, historicamente, características culturais,

organização política e inserção econômica de diferentes grupos humanos presentes na

formação do Brasil.

Todos os grupos sociais e étnicos têm histórias. Essas histórias são distintas

entre si e também distintas do que se convencionou como história do Brasil, no singular.

Embora as trajetórias das culturas e etnias no Brasil já façam parte dos conteúdos 7Parâmetros Curriculares Nacionais – temas transversais.

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trabalhados pela escola, com referência aos índios, aos negros, aos imigrantes, o que se

propõe são novos conteúdos, que buscam narrar a história do ponto de vista dos grupos

sociais que a produziram.

Para conhecer a situação das diferentes populações que aqui vivem, entender a

dinâmica de sua inserção na História do Brasil e valorizá-las é necessário trabalhar, em

relação a cada grupo, aspectos ligados à forma de sua organização social desde suas

origens continentais. Será indispensável estudar dados sobre a presença e diferentes

formas de organização social dos indígenas, em sua diversidade, no continente e em

território nacional anterior a chegada dos europeus, assim como a presença de outras

culturas pré-colombianas na América Latina. O conhecimento das origens continentais

das diferentes populações do Brasil inclui também a análise das influências históricas

do mercado de trabalho e na mobilidade dos diferentes grupos humanos que formam o

Brasil e o levantamento de dados populacionais. No caso dos indígenas, aldeias inteiras

foram removidas de seus territórios tradicionais e as crianças submetidas à

catequização, desrespeitando-se a sua organização sociocultural. Esse desmantelamento

da estrutura familiar e dos vínculos comunitários enfraqueceu o sentido de identidade

dos indígenas. Entretanto, isso não impediu que se disseminasse, ainda que

precariamente e de forma frágil por todo o território, influências de sua cultura,

constituindo uma população caracterizada pela diversidade. O estudo desse tópico

permite compreender certa estratificação orientada por estereótipos que fomentam

preconceitos e discriminação. Diante da homogeneização cultural que se tentou impor

aos diferentes grupos no Brasil, estes tiveram de resistir, recolocar-se, recriar-se, de

forma ativa em diferentes momentos da história. O conhecimento desses mecanismos de

resistência permitem entender, também, como a formação econômica do Brasil tem-se

feito com a contribuição de diferentes grupos etnoculturais, em situações muitas vezes

adversas para tais comunidades. Trata-se, também, de valorizar a ação de grupos,

comunidades e movimentos como mediadores da ação do cidadão na sociedade e na

constituição do Estado, como se verifica na história. A compreensão da sua diversidade,

assim como a complexidade que envolve a interação entre grupos, comunidades e

movimentos, tal como expressa na formação do Brasil propicia a percepção da

importância da participação de cada cidadão em diferentes momentos e processos da

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cidadania, seja diretamente, seja como partícipe de uma comunidade que media essa

presença ativa.

Recuperar as origens das diversas influências é valorizar os povos que as

trouxeram e seus descendentes, reconhecendo suas lutas pela defesa da dignidade e da

liberdade, atuando na construção cotidiana da democracia no Brasil, dando voz a um

passado que se faz presente em seres humanos que afirmam e reafirmam sua dignidade

na herança cultural que carregam. Trata-se de ampliar o horizonte de referência do

aluno, despertando sua curiosidade para o mundo que o cerca. Será a possibilidade de

desenvolver um novo olhar sobre fatos e relações que os meios de comunicação

aproximam da criança, vinculando-os à sua superação do preconceito e da

estigmatização, trabalhando a valorização da história de povos que, tendo construído o

Brasil, foram injustiçados, como os índios e negros. Para sustentar a opressão indígena e

africana, inúmeras teorias e justificativas inaceitáveis foram construídas e disseminadas

como senso comum, consolidando-se ao gerar, ao término da escravidão, racismo,

discriminação e exclusão. Esse processo significou o alerta para que se perceba que a

escravidão é sempre inaceitável e que a liberdade é fundamental no estabelecimento da

justiça. Na valorização do ponto de vista dos grupos sociais para a compreensão dos

processos culturais envolvidos na formação da população brasileira há perguntas que

podem direcionar o trabalho na escola para uma atitude de atenção ao ponto de vista dos

grupos sociais. Assim, por exemplo, o que significou a experiência da escravidão para a

população de índios e negros? Como se desdobraram, e variadamente, as práticas de

resistência? Qual o sentido do deslocamento interno vivido ainda hoje por uma parte

considerável da população, incorrendo no abandono de parentes, territórios, hábitos e

culturas, de técnicas de trabalho eficientes e tradicionais? Como famílias organizam-se,

segundo suas características culturais, em termos econômicos de forma que garanta sua

sobrevivência? A atitude que a escola pode desenvolver, tomando como um de seus

fundamentos esse conhecimento, é o compromisso com a justiça como base para o

desenvolvimento para todos, e o direito à diversidade, onde se permita ao índio, ser

índio.

Noções de Dignidade e Justiça Social presentes na luta indígena:

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Uma das preocupações que se interpõe nas políticas afirmativas é o problema de

se pensar as lutas de grupos indígenas de forma estática e setorizada, sem nos

questionarmos o que de fato significa noções de cidadania, e quem de fato somos nós

povo brasileiro8. Argumentamos que,

“tudo se passa no Brasil como se fosse possível estabelecer uma ruptura radical entre política, sempre recortada pelo pressuposto do nacional, ciência, cuja isenção e objetividade lhe daria caráter universal e acrescentamos o princípio da justiça social, cuja ambigüidade conceitual não gera, mas dissimula os conflitos entre os agentes sociais que a exercem”.

Segundo Yves Déloye, “por detrás das palavras e das lutas, o que se está em

jogo é a capacidade de acolher a alteridade que está colocada. O respeito à diferença.9

De forma similar, os critérios que definem o papel da lei na sociedade brasileira também

são construções políticas, e se de um lado molda a forma social, de outro, é moldada

pelas ideias que lhe são impressas nas relações sociais entre esses mesmos agentes que a

constroem.

Assim, ao pensarmos a questão de autonomia, dignidade e justiça social para os

povos indígenas e demais grupos considerados “minorias”, não basta pensarmos em

critérios apenas particulares.

Segundo Paul Ricouer, em sua obra “o justo”10, o autor não nega a instituição do

Estado, nem as suas leis, mas insiste no respeito à pessoa em sua vida e dignidade

humana. Em nome de um determinado direito o Estado realiza expulsões e massacres, e

o que, parece ser um discurso de racionalidade toma caráter de violência. Em sua visão

a transparência dos conflitos e o direito de expressão pelo que intitula “identidades

narrativas” é o que possibilita que as pessoas e grupos possam se expressar. O “falar” e

o “interpretar” marcam a existência da comunidade política e permitem que os conflitos

sejam resolvidos de forma pacífica, sendo que as narrativas desses próprios grupos são

essenciais para que possam exprimir suas identidades.

8SILVA, J. Artigo intitulado “O papel da lei na formação da Identidade Nacional brasileira”, publicado na revista Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo, v. 04, n. n4, p. 117-134, 2005. 9DÉLOYE, Yves. A nação entre identidade e alteridade: fragmentos da identidade nacional. In: SEIXAS, Jacy- BRESCIANI, Maria Stella, e BREPOHL, Marion (orgs.) Razão e paixão na Política. Brasília: Editora UNB, 2002. p 111 e 112. 10RICOUER, P. O justo: a justiça como regra moral e como instituição. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo, Martins Fontes, 2008.

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No Estado Democrático de Direito brasileiro, não existe nenhum direito

absoluto, mesmo o consagrado direito à vida, por exemplo, embora seja o mais

fundamental de todos os direitos, não é intocável. Ele existe, como todos os outros, para

a realização de um valor: não é um fim em si mesmo11.

Entretanto, não se pode olvidar que o entendimento do que seja “dignidade

humana” e seu enquadramento conceitual seja polêmico, não em situações práticas

onde é simples verificar quando a dignidade é desrespeitada, mas a confusão que há

entre o processo de conceitualização, normatividade e valoração. Por se tratar de um

princípio aberto, não taxativo, histórico, possui múltiplos significados e efeitos. A

própria doutrina nacional “ora o vê como valor absoluto, ora como critério

interpretativo; ora como um direito fundamental em si mesmo; ora como direito ao

livre desenvolvimento da personalidade humana; ora como mera referência filosófica

desprovida de maior normatividade”12. Na verdade, muitas vezes a doutrina adota dois

ou mais destes sentidos sem, contudo, precisar quaisquer relação entre eles, o que pode

gerar grande confusão.

Mas acima de tais dificuldades conceituais é importante salientar que o princípio

da dignidade, enquanto princípio histórico, ganhou nos últimos anos importância ímpar.

A Constituição Federal brasileira, por exemplo, consagrou no artigo 1º, inciso III, o

princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de

Direito. Nesse sentido reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função

da pessoa, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não

meio da atividade estatal. Isso assume particular importância, por exemplo, na questão

das terras indígenas, pois, embora os indígenas tenham a posse permanente da terra,

cabendo-lhes usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existente, tais

terras são bens da União, destinando-se apenas à posse permanente dos índios, sendo

terras inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. Nesse

contexto, a terra adquire um particular significado como instrumento de consagração do

direito fundamental da moradia (art 6º da Constituição Federal de 1988), e, assim, da

dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º,

III). Sendo que o Estado também assume poderes plenos, sendo o responsável pela 11SILVA, JR. E. M. No Estado Democrático de direito não existe nenhum direito absoluto. http://www.conjur.com.br/2007 12MARTINS, F. J. B. Dignidade da pessoa humana. Curitiba: Juruá. 2003

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demarcação das terras indígenas. Por exemplo, destacou o Supremo Tribunal Federal

que “a importância jurídica da demarcação administrativa homologada pelo presidente

da república reside na circunstância de que as terras tradicionalmente ocupadas pelos

índios, embora pertencentes ao patrimônio da União (CF, art. 20,XI), acham-se

afetadas, por efeito de destinação constitucional, a fins específicos voltados,

unicamente, à proteção jurídica, social, antropológica, econômica e cultural dos índios,

dos grupos indígenas e das comunidades tribais” (RE 183.188, relator Ministro Celso de

Mello, j. 10.12.96, DJ14.02.97)

Aliás, é importante mencionar que é de Immanuel Kant13 a concepção de

dignidade que prevalece até os dias atuais impregnada no pensamento filosófico-

constitucional. O homem é concebido como sujeito do conhecimento e, por isso, é

capaz de ser responsável por seus próprios atos e de ter consciência de seus deveres.

Assim, mais do que respeitar um dever, tem o homem que se tornar um ser moral. Kant,

então elaborou o imperativo categórico de que “age apenas segundo uma máxima tal

que possas querer que ela se torne uma lei universal”. Desta fórmula Kant concluiu que

“o homem existe como fim em si mesmo ,nunca como meio para realização das

vontades”. Afirmando também que “qualquer ação é justa se for capaz de coexistir com

a liberdade de todos de acordo com uma lei universal, ou se na sua máxima a liberdade

de escolha de cada um puder coexistir com a liberdade de todos de acordo com uma lei

universal”. Desta forma, a autonomia é uma característica fundamental e necessária do

agente racional, “a autonomia é, portanto, o solo indispensável da dignidade da

natureza humana ou de qualquer natureza racional”, que, no entanto, só seria

verdadeira, se estivesse em conformidade com o imperativo categórico da consciência

moral.

Embora também não seja objetivo desse estudo aprofundar a distinção entre

valores, princípios e regras, é válido lembrar que os princípios constituem expressão dos

valores fundamentais que informam o sistema jurídico conferindo harmonia e unidade

às normas que o compõem. Os valores são dotados de menor normatividade que os

princípios e as regras, não se pode, porém, negar que possam também ser utilizados

como fontes de interpretação, ainda que de forma mediata ou reflexa, principalmente

13KANT. I. A metafísica dos Costumes. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2003.

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quando se procede à análise de situações concretas14. O sistema constitucional constitui

instrumento de realização de valores reconhecidos pela sociedade, e esse caráter

instrumental do sistema jurídico constitucional permite que valores como a dignidade da

pessoa humana ganhem, ao menos indiretamente, certo grau de normatividade. O

princípio da dignidade da pessoa humana possui inquestionável componente axiológico-

normativo e, por isso, a doutrina, de maneira geral, ao se referir a ele o faz sem

distinguir se princípio ou valor. Para Ingo Sarlet: “em se levando em conta que a

dignidade, acima de tudo, diz com a condição humana do ser humano, cuida-se de

assunto de perene relevância e atualidade, tão perene e atual quanto a própria

existência humana”15.

Para Ernest Bloch, a dignidade da pessoa humana possui duas dimensões que lhe

são constitutivas: a) a negativa, que significa que a pessoa não pode ser objeto de

ofensas ou humilhações; b) a positiva, que presume o pleno desenvolvimento e

autodeterminação de cada pessoa. Por ser incerto o conceito jurídico do princípio da

dignidade da pessoa humana, o intérprete assume importante valor na sua construção

como valor fonte do sistema constitucional brasileiro e reflexo da sociedade em que está

inserido, uma vez que o ordenamento jurídico não concede a dignidade, pois esta é

inerente ao ser humano, mas reconhece-a e compromete-se a promovê-la e protegê-la.

Dessa maneira demonstra-se que a unidade do sistema constitucional brasileiro

repousa em uma ordem de valores e princípios que possui, entre o mais expressivo de

todos, o da dignidade da pessoa humana e que a legitimidade substancial do Estado

brasileiro se afere a partir da efetiva e concreta realização deste princípio.

A dignidade da pessoa humana não é o único parâmetro de interpretação e

sequer pode ser considerado absoluto, mas por força de sua proeminência axiológica-

normativa deve ser considerada a principal fonte da hermenêutica constitucional. Assim,

para uma correta interpretação do texto é necessário que o intérprete reconheça todo o

sistema constitucional aplicado a uma realidade histórica e cultural (o contexto histórico

de dinamização social) em que a sociedade se insere.

Assim sendo, vemos que a luta social pela construção e pela disputa de um

conceito tal qual o de “dignidade humana” ainda se faz presente e premente em

14RIVABEN, F. S. A dignidade da pessoa humana como valor fonte do sistema constitucional brasileiro. 15SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

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sociedades tais como a brasileira, onde a desigualdade social permite a existência de um

sentimento de in-justiça que atinge milhões de brasileiros. Pois, se o direito passa a se

identificar com o poder econômico, esquece de direitos básicos que são os garantidores

da tal “dignidade humana”, tais como direito à vida, direito ao trabalho, direito à

moradia, direito à terra16, direito à saúde, direito à educação. Como falar em dignidade

humana sem fazer referência a essas questões?

No tocante, ao direito à educação, o art 210, §2, da Constituição Federal de

1988, assegura que o ensino fundamental será ministrado em língua portuguesa,

assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e

processos próprios de aprendizagem. Todo esse processo de conquistas legais

contribuem para assegurar no texto da lei, as especificidades culturais das comunidades

indígenas, garantindo a preservação das comunidades e a valorização dessa cultura,

como se ratifica no Plano Nacional de Educação, aprovado pela lei nº 10.172/2001, que

trouxe seguinte texto:

“no Brasil, desde o século XVI, a oferta de programas educacionais escolares às comunidades indígenas esteve pautada na catequização, civilização e integração forçada dos índios à sociedade nacional. Dos missionários jesuítas aos positivistas do Serviço de Proteção aos Índios, do ensino catequético ao ensino bilíngüe, a tônica foi uma só: negar a diferença, assimilar os índios, fazer com que eles se transformassem em algo diferente do que eram. Nesse processo, a instituição da escola entre grupos indígenas serviu de instrumento de imposição de valores alheios e negação de identidades e culturas diferenciadas. Só nos anos recentes esse quadro começou a mudar. Grupos organizados da sociedade civil passaram a trabalhar junto com comunidades indígenas, buscando alternativas à submissão desses grupos, como a garantia de seus territórios e formas menos violentas de relacionamento e convivência entre essas populações e outros segmentos da sociedade nacional. A escola entre grupos indígenas ganhou, então, um novo significado e um novo sentido, como meio para assegurar o acesso a conhecimentos gerais sem precisar negar as especificidades culturais e a identidade daqueles grupos. Diferentes experiências surgiram em várias regiões do Brasil, construindo projetos educacionais específicos à realidade sociocultural e histórica de determinados grupos indígenas, praticando a interculturalidade e o bilingüismo e adequando-se ao seu projeto de futuro”17

Essa tendência educacional está adequada à Constituição Federal de 1988, que

delega ao Estado o dever de proteger as manifestações das culturas populares, indígenas

e afro-brasileiras, de das de outros grupos participantes do processo “civilizatório”

nacional. Por fim, resta-nos questionar em que medida essa tutela legal tem sido

efetivamente realizada por esse Estado Democrático de Direito?

16SILVA. J. Sob o jugo/jogo da lei. Confronto Histórico entre Direito e Justiça. EDUFU. 2006 17Plano Nacional de Educação, aprovado pela lei nº 10.172/2001

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Como parte do terceiro momento, as discussões acima serão efetuadas através

da análise de diversos materiais midiáticos e episódios que envolvem algumas questões

indígenas da atualidade.

O primeiro deles através de uma leitura (adaptada) do Processo do Índio

Galdino. Tal leitura permitirá o confronto de argumentos os mais diversos que

abrangem preconceitos contra os índios, violência contra a pessoa humana, desrespeito

e humilhação. Trechos de algumas peças processuais trazem argumentos que indicam

que “os réus fizeram apenas uma brincadeira com um mendigo”, “se inspiraram nas

chamadas pegadinhas”, “não tiveram a intenção de matar”, o que fez a juíza do caso

proferir uma sentença em que afirmava que,

“por mais ignóbil que tenha sido a conduta irresponsável dos acusados, não queriam eles, nem eventualmente, a morte de Galdino Jesus dos Santos. A emoção e a indignação causadas pelo trágico resultado não podem afastar a razão. Assim, os réus devem ser julgados e punidos unicamente pelo crime cometido que, é o de lesões corporais seguidas de morte. Inexistente o animus necandi (por não terem os acusados querido o trágico resultado ou assumido o risco de produzi-lo)”18

O episódio da votação do sistema de cotas para afro-descendentes na

Universidade, ocorrida no Supremo Tribunal Federal também é de significativa menção,

pois, um índio que estava no plenário reivindicava as cotas também para os índios19.

Seu gesto e o fato de ter sido retirado à força pelos seguranças do STF deu visibilidade

às reivindicações indígenas.

Também será importante mencionar questões que demonstram a luta dos índios

pela garantia da posse da terra e os conflitos que envolvem a demarcação de glebas pelo

Estado em favor/desfavor dos índios. Casos emblemáticos como, por exemplo, o de

Raposa Serra do Sol20 e a recente nulidade de títulos de propriedade na reserva Pataxó

na Bahia21.

18Sentença proferida pela juíza Sandra de Santis F. de Melo, em 09/08/1997. Processo nº 17901. Acusados os jovens: Max Rogério Alves, Antônio Novély Cardoso de Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida. 19O indígena Araju Sepete Guarani foi retirado à força do plenário pelos seguranças do Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde desta quinta-feira (26), ao protestar pelo direito de cotas para indígenas em universidades. http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2012/04/26/indio-tumultua-sessao-do-stf-e-e-expulso/acesso 27/05/2012. e http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/04/indio-e-retirado-forca-do-stf-apos-protestar-por-cotas-em-universidades.html. Acesso em 27/05/2012. 20A Raposa Serra do Sol foi demarcada pelo Ministério da Justiça, através da Portaria Nº 820/98, posteriormente modificada pela Portaria 534/2005. A demarcação foi homologada por decreto de 15 de abril de 2005, da Presidência da Republica. É uma das maiores terras indígenas do país, com

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Também é possível questionar junto aos professores as produções midiáticas

sobre os indígenas como vídeos produzidos pelo MEC- Ministério da Educação e

Cultura, a exemplo do vídeo “índios quem são eles” disponibilizados nas Escolas

através da coleção de História do MEC22. A coleção Pluralidade Cultural é

particularmente interessante e traz entrevistas que estabelecem diversos olhares sobre os

grupos indígenas e os problemas enfrentados pelos índios atualmente.

No vídeo “Quem são eles”23 há uma intencionalidade de se analisar a questão

indígena de um ponto de vista mais humano, vendo o índio como um brasileiro em luta

pelos seus direitos como todos os demais brasileiros, como sujeitos em busca de

direitos: de direito à vida, à moradia, à escola. Evidencia como a sociedade atual tem

dificuldade em aceitar o índio com suas peculiaridades e os inúmeros preconceitos e

discriminações contra o indígena. São vídeos curtos de variadas temáticas, que podem

ser usados como materiais de incentivo à discussão em sala de aula pelos alunos.

Por fim, vale também ressaltar a importância dos relatos e experiências com os

chamados projetos interdisciplinares. Embora ainda haja muita resistência por parte de

inúmeros docentes, e dificuldades de se saber e agir com o que se intitula

“interdisciplinaridade”, o que não discutiremos conceitualmente neste artigo, projetos

maiores que envolvam a comunidade escolar como um todo, podem surtir bons

resultados. Cito o exemplo do projeto intitulado “Quem Somos Nós, povo

Brasileiro?”24. Os trabalhos teóricos foram inspirados em obras como Casa Grande e

aproximadamente 1.743.089 hectares, ocupada por índios Pemons e Capons, povos de filiação Caribes, que habitam tradicionalmente uma vasta região na fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana. 21Em 02/05/2012 o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, declarar a nulidade de todos os títulos de propriedade de fazendeiros não índios cujas respectivas glebas estevam dentro da área demarcada — embora até hoje não homologada — da terra indígena Caramuru-Catarina-Paraguassu, no sul da Bahia, de 54 mil hectares, que a Fundação Nacional do Índio quer destinar, apenas, aos cerca de 3 mil índios pataxós hã-hã-hãe que vivem ou circulam na região. http://www.jb.com.br/pais/noticias/2012/05/02/stf-declara-nulos-titulos-de-terra-dentro-da-reserva-pataxo-na-bahia/ 22A coleção Salto para o futuro, destinada a jovens e adultos, também traz alguns vídeos sobre a educação escolar indígena (salto para o futuro nº30), escolas e povos indígenas no Brasil (salto para o futuro nº48 e nº47). Os vídeos da coleção são destinados aos professores. Os vídeos mais interessantes são o que fazem parte do projeto Pluralidade Cultural – “Índios: Quem são eles?” destinados aos alunos. Disponível vários trechos na internet em http://www.youtube.com/watch?v=VOLy04zEeK8 e parte II http://www.youtube.com/watch?v=03X-Tjyg2PM&feature=relmfu, e http://www.youtube.com/watch?v=HA_0X2gCfLs&feature=related 23A série Pluralidade Cultural – nº22 da coleção MEC – TV escola - traz diversos vídeos sobre Indígenas no Brasil: quem são eles? Nossas línguas; boa viagem, quando Deus visita a aldeia, uma outra história, primeiros contatos, nossas terras, filhos da terra, do outro lado do céu e nossos direitos. 24Cito como exemplo o projeto de 2007, realizado na IFTM - Instituto Federal Tecnológico, intitulado “Quem somos nós, povo brasileiro?” os trabalhos envolveram análises teóricas, vídeos, filmes, palestras e

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Senzala de Gilberto Freyre25 e O povo brasileiro de Darcy Ribeiro26, sendo que a

parceria de leituras permitiu o trabalho junto aos alunos, para o vestibular, do livro

“Cronistas do Descobrimento”27, explorado em parceria pelos professores de História e

Literatura: os alunos foram divididos em grupos e cada grupo apresentou uma crônica

do livro, de maneira livre. Os alunos produziram cartazes, vídeos amadores, jograis,

análises críticas de acordo com o interesse de cada grupo.

Também serviu de apoio para construção do projeto interdisciplinar, o vídeo das

discussões Pátria Amada Esquartejada28, apresentado por Marilena Chauí, o projeto foi

desenvolvido pelo Departamento como parte da programação: "500 anos: Caminhos da

memória, trilhas do futuro", realizado de abril a setembro de 1992 em São Paulo.

Embora realizado como questionamento aos 500 anos, o vídeo continua sendo bastante

atual ao questionar sobre a legião de pessoas e grupos que se sentem oprimidos e

excluídos do processo democrático brasileiro. O vídeo mostra a realidade de grupos

indígenas, afro-descendentes, presidiários, mulheres, jovens drogados, crianças,

desempregados, idosos, sem terra, sem teto, etc. Reflete o mosaico do

“esquartejamento” de um povo na luta por melhores condições de vida mesmo depois

de 500 anos de história. O vídeo serviu de referência para pensarmos os grupos e suas

diversidades e particularidades de luta, entretanto, “todos”, como brasileiros. Ainda

associados ao filme de Milton Santos, intitulado O mundo global visto do lado de cá29.

De uma maneira bem atualizada, o professor pode se utilizar do confronto entre

passado e presente no entendimento das dificuldades e problemas que enfrentam as

ao final os alunos produziram peças teatrais sobre o cotidiano das discriminações sociais, painéis e portifólios sobre “a cara do Brasil”, estórias e músicas de autoria próprias e participaram da feira gastronômica com comidas típicas e alimentos próprios de cada cultura (afro, indígena e européia) ainda enfatizando diferenças regionais do próprio Brasil. Os debates foram no sentido de discutir preconceitos e convivência na diversidade da sala de aula cada vez mais multicultural, não fugindo de nossos preconceitos de cada dia. Contou com o envolvimento de professores das áreas de História, Sociologia, Geografia, Filosofia, Psicologia, Portugues-Literatura. O projeto abordou tanto as questões do negro quanto do índio, não privilegiando uma temática em detrimento da outra. 25FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio Editora FREYRE, Gilberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1947. (pp.139-175) 26RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: círculo do livro. 1995. 27OLIVIERI, Antonio Carlos & VILLA, Marco Antonio [org]. Cronistas do Descobrimento. Série bom livro. Editora Atica. 2006. 28Patria amada esquartejada / Departamento do Patrimônio Histórico; [coordenação Julio Assis Simões, Laura Antunes Maciel]. ISBN : 8571760039. 1992 29Milton Santos. Documentário: o mundo global visto do lado de cá. 2007. Direção de Silvio Tendler.

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comunidades indígenas, tanto do passado quanto do presente, e também confrontando

suas lutas com as de outros grupos de brasileiros, buscando ferramentas que discutam

criticamente as imagens, os vídeos, os fatos recentes, o livro didático, as músicas, a

legislação e suas finalidades, entre tantos outros materiais que podem ser apropriados

para uma discussão crítica de valorização e entendimento das culturas indígenas, e

também com posturas críticas diante de tais materiais, sempre procurando criar

situações onde os alunos possam se “ver” e se construir enquanto seres históricos,

participativos, com capacidade de interferir no curso da história.

Referências Bibliográficas:

Legislativas:

• Brasil Lei 6001 de 19 de dezembro de 1973 – estatuto do índio. • Brasil Constituição Federal de 1988. Artigo 231 e 232 • Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de 2002. • Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Rio de Janeiro: UNIC;

Cuiabá : Entrelinhas, 2009. • Brasil A lei 10.639 de 09 de Janeiro de 2003 • Brasil Lei 11.645 de 10 de março de 2008. • Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. • Parâmetros curriculares nacionais : introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria

de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997.126p. Volume 5 História e Geografia, volume 8 apresentação dos temas transversais e ética, volume 10 pluralidade cultural.

• Plano Nacional de Educação, aprovado pela lei nº 10.172/2001

o Pierin, A. diversidade biológica e cultural das comunidades indígenas a partir do estudo do Direito Socioambiental e do Etnodesenvolvimento. Monografia do Curso de Direito do Centro Universitário de Curitiba, com premiação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção às comunidades indígenas. Julho de 2009

Noções valorativas: dignidade e justiça social

• DÉLOYE, Yves. A nação entre identidade e alteridade: fragmentos da identidade nacional. In: SEIXAS, Jacy- BRESCIANI, Maria Stella, e BREPOHL, Marion (orgs.) Razão e paixão na Política. Brasília: Editora UNB, 2002. p 111 e 112

• KANT. I. A metafísica dos Costumes. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2003. • SILVA, J. Artigo intitulado “O papel da lei na formação da Identidade Nacional brasileira”, publicado na

revista Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo, v. 04, n. n4, p. 117-134, 2005. • ________ Sob o jugo/jogo da lei. Confronto Histórico entre Direito e Justiça. EDUFU. 2006 • SILVA, JR. E. M. No Estado Democrático de direito não existe nenhum direito absoluto.

http://www.conjur.com.br/2007 • MARTINS, F. J. B. Dignidade da pessoa humana. Curitiba: Juruá. 2003 • RICOUER, P. O justo : a justiça como regra moral e como instituição. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo,

Martins Fontes, 2008 • RIVABEN, F. S. A dignidade da pessoa humana como valor fonte do sistema constitucional brasileiro. • SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

Sobre materiais e vídeos temáticos utilizados em sala de aula:

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• A coleção Salto para o futuro, do MEC- Ministério da Educação e Cultura, destinada a jovens e adultos, também traz alguns vídeos sobre a educação escolar indígena (salto para o futuro nº30), escolas e povos indígenas no Brasil (salto para o futuro nº48 e nº47). Os vídeos da coleção são destinados aos professores. Disponível vários trechos na internet em http://www.youtube.com/watch?v=VOLy04zEeK8 e parte II http://www.youtube.com/watch?v=03X-Tjyg2PM&feature=relmfu, e http://www.youtube.com/watch?v=HA_0X2gCfLs&feature=related

• A série Pluralidade Cultural – nº22 da coleção MEC – TV escola - traz diversos vídeos sobre Indígenas no Brasil: quem são eles? Nossas línguas; boa viagem, quando Deus visita a aldeia, uma outra história, primeiros contatos, nossas terras, filhos da terra, do outro lado do céu e nossos direitos.

• Projeto Interdisciplinar de 2007, realizado no IFTM - Instituto Federal Tecnológico, Campus Uberlândia, intitulado “Quem somos nós, povo brasileiro?”:

� FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio Editora � _______________. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira como

processo de amalgamento de raças e culturas. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1947. (pp.139-175)

� Milton Santos. Documentário: o mundo global visto do lado de cá. 2007. Direção de Silvio Tendler.

� OLIVIERI, Antonio Carlos & VILLA, Marco Antonio [org]. Cronistas do Descobrimento. Série bom livro. Editora Atica. 2006.

� Patria amada esquartejada / Departamento do Patrimônio Histórico; [coordenação Julio Assis Simões, Laura Antunes Maciel]. ISBN : 8571760039. 1992

� PRADO. Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira. São Paulo. Companhia das Letras, 1998. Parte III – a tristeza do brasileiro. p. 130-163.

� RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: círculo do livro. 1995.

� SOUZA, Octavio. Fantasia de Brasil: “as identificações na busca da Identidade Nacional. São Paulo: Ed. Escuta, 1994. Capítulo 1. Identidade e afirmação da diferença.

Sites de consulta na internet: (vídeos e documentos) http://www.iteia.org.br/jornal/15-anos-apos-morte-do-indio-galdino-documentario-aborda-retomadas-de-terras-indigenas http://www.papodepm.com/2009/04/12-anos-da-morte-do-indio-pataxo.html http://noticias.r7.com/brasil/noticias/assassinos-do-indio-galdino-tiveram-tratamento-diferenciado-diz-promotora-20120420.html http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=4935 http://www.iteia.org.br/busca_resultado.php?id1=8if4ud4ul46w2o8zei6y&id3=ng8tlc2tprdv1q106tge http://www.iteia.org.br/videos/indigenas-digitais-teaser http://www.iteia.org.br/videos/hino-nacional-cantado-na-lingua guaranyhttp://www.iteia.org.br/videos/video-oca-digital http://www.iteia.org.br/videos/oca-digital-videolog-1 http://www.iteia.org.br/videos/pintura-corporal-tupinamba http://www.iteia.org.br/videos/kre-o-balaio-indigena-do-rio-grande-do-sul filme Indio tudo ok: http://www.indiosonline.net/filme-pataxo-hahaha%E1%BA%BD/ http://vimeo.com/38804907 http://www.jb.com.br/pais/noticias/2012/05/02/stf-declara-nulos-titulos-de-terra-dentro-da-reserva-pataxo-na-bahia/ http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pataxos-ganham-direito-a-terras-de-reserva-no-sul-da-ba http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/nordeste/noticia/2012/05/02/pataxos-ganham-direito-a-terras-de-reserva-no-sul-da-bahia-340531.php http://br.noticias.yahoo.com/stf-muda-pauta-julga-demarca%C3%A7%C3%A3o-reservas-ind%C3%ADgenas-192436615.html http://www.dgabc.com.br/News/5955526/pataxos-ganham-direito-a-terras-de-reserva-no-sul-da-ba.aspx http://br.noticias.yahoo.com/dilma-dificulta-demarca%C3%A7%C3%A3o-terras-ind%C3%ADgenas-021700340.html http://www.indigena.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73

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http://indigena.unemat.br/publicacoes/declaracao/Declaracao_Direitos_Povos_Indigenas_web.pdf http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12640%3Aparametros-curriculares-nacionais1o-a-4o-series&catid=195%3Aseb-educacao-basica&Itemid=859 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamazonia/blog/2012/05/28/midia-olha-os-indios-do-seculo-xxi-mas-nao-os-ve/