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UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NO CONTEXTO DE SALA DE AULA

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UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

NO CONTEXTO DE SALA DE AULA

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LOURDES FÁTIMA GONÇALVES PEREIRA

UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

NO CONTEXTO DE SALA DE AULA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª Drª IVANILDE ALVES MONTEIRO

RECIFE 2008

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Pereira, Lourdes Fátima Gonçalves

Um olhar sobre a prática pedagógica do professordo curso de administração no contexto de sala de aula / Lourdes Fátima Gonçalves Pereira. – Recife : O Autor, 2008.

209 f. : il., quad., fig.,

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CE. Educação, 2008.

Inclui anexos 1. Ensino superior. 2. Prática docente. 3.

Formação docente. 4. Saberes docentes I. Título.

37 CDU (2.ed.) UFPE 378 CDD (22.ed.) CE2008-0061

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O saber alicerçante da travessia na busca

da diminuição da distância entre mim e a perversa realidade dos explorados é o saber

fundado na ética de que nada legitima a exploração dos homens e das mulheres pelos

homens mesmos ou pelas mulheres.

(Paulo FREIRE)

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AGRADECIMENTOS

Somos seres inclusos,

inacabados, limitados, finitos. Vamos nos construindo, fazendo-nos

seres humanos, através do espaço e do tempo, na relação com os outros seres

humanos e com os seres da natureza e da cultura, bem como o criador.

(João Francisco de SOUZA)

A Deus, que me possibilitou mais uma experiência singular, e me deu forças nos meus momentos mais difíceis.

A meus pais, Lauro e Yara (in memoriam), minhas maiores referências, pelo

incentivo na priorização em relação aos estudos e pelas lições de vida deixadas. A meu filho, João Victor, que, apesar da tenra idade, sempre estimulou o meu

crescimento profissional, os meus sonhos e os meus desejos incontidos de aprender constantemente.

Aos(às) professores(as) deste curso, os quais estiveram conosco nos momentos

de ensino-aprendizagem; aprendizagem essa não só de conteúdos, mas na relação com o outro.

À minha orientadora, Profª Drª Ivanilde Monteiro, pela valiosa contribuição e

estímulo. À Profª Telma de Santa Clara, que, em alguns momentos, quando o meu

trabalho se encontrava ainda em fase inicial, me ajudou a prosseguir. Aos colegas de curso, pela ajuda e pelos momentos compartilhados. Aos funcionários do Mestrado, em especial João e Shirley, sempre disponíveis

quando procurávamos. Às pessoas que, de uma forma ou de outra, estiveram presentes durante esta

trajetória e sempre se dispuseram a incentivar-nos. A todos, muito obrigada!

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento

CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas

CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CNPq – Centro Nacional de Pesquisas

CRE – Conselho Regional de Educação

FACEPE – Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

IES – Instituição de Ensino Superior

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MBA – Máster Business Administracion

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MEC – Ministério da Educação

PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A.

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco

UPE – Universidade de Pernambuco

USA – United States of American

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Caracterização dos Professores Participantes da Pesquisa...........................................................................

104

Quadro 2 – Referente às subcategorias Planejamento/Avaliação...... 111

Quadro 3 – Processo de Avaliação do Professor P1......................... 114

Quadro 4 – Processo de Avaliação do Professor P2.......................... 123

Quadro 5 – Processo de Avaliação do Professor P3.......................... 129

Quadro 6 _ Análise quanto Subcategorias Planejamento/Avaliação 135

Quadro 7 – Referente à Subcategoria Relação Professor-Aluno....... 136

Quadro 8 _ Análise quanto Subcategoria Relação Professor-Aluno 153

Quadro 9 Análise quanto à subcategoria saberes mobilizados na prática docente (TARDIF, 2005)

153

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1

– Gráfico para Behrens – Paradigma Inovador.................. 40

Figura 2 – Gráfico dos Saberes....................................................... 59

Figura 3 – Mapa do Campus Universitário da UFPE Recife.......... 95

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTA DE QUADROS

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

CAPÍTULO 1 – A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA CONTEXTUALIDADE SÓCIO-CULTURAL DE SUA CONSTRUÇÃO.....................

24

1.1 – Contextualidade e mudanças...................................... 26

1.2 – A prática pedagógica: do paradigma conservador aos novos paradigmas.................................................

35

1.2.1 – A prática docente e a abordagem progressista..............................................

43

1.3 – Os saberes mobilizados na prática docente................ 56

1.3.1 – A construção dos saberes na prática docente.......................................................

60

CAPÍTULO 2 – UNIVERSIDADE: docência e desafios................................. 70

2.1 – Universidade: crise e mudança................................... 73

2.2 – Universidade e docência............................................. 78

2.2.1 – Cursos de graduação formadores de profissionais na contemporaneidade..........

82

2.2.2 – Qual o papel do professor universitário nessa nova conjuntura?..............................

84

CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO 88

3.1 – Campo de pesquisa: realidade sócio-dinâmica e ambiente sócio-profissional........................................

93

3.1.1 – A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).......................................................

93

3.1.2 – O Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA).......................................................

96

3.1.3 – O Curso de Administração......................... 99

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3.2 – Sujeitos da Pesquisa.................................................... 101

3.2.1 – Caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa........................................................

103

3.3 – Instrumentos de Coleta de Dados............................... 105

3.4 – Observando a sala de aula.............................................. 106

3.4.1 – Primeiros contatos......................................... 106

3.5 – Análise dos Dados...................................................... 108

3.5.1 – A prática docente: planejamento, avaliação e relação professor/aluno na articulação com os saberes.........................

108 3.5.1.1 – Planejamento/avaliação e

plasticidade na ação docente

109 3.5.2 – Relação professor-aluno-saber na ação

docente.......................................................

136CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 154

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 157

ANEXOS.................................................................................................................. 165

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RESUMO

Nas últimas décadas estamos vivenciando no Brasil um movimento e um debate em expansão, em torno da docência universitária, especificamente a formação pedagógica e profissional do docente do ensino superior. Tentando contribuir com tal movimento este estudo visa compreender como os(as) professores(as) do curso de Administração - UFPE desenvolvem sua prática pedagógica docente, tendo como cenário o contexto da sala de aula. Nesse sentido, procura responder a seguinte questão: Como os professores do curso de Administração - UFPE desenvolvem sua prática docente e que saberes são mobilizados por eles no contexto de sala, de modo a promover o aprendizado dos (as) alunos (as)? Teve como objetivos: investigar como os professores organizam a sua prática pedagógica no contexto de sala de aula, analisar a concepção que o professor tem da sua prática docente e identificar que saberes são mobilizados na sala de aula de modo a promover o aprendizado do(a) aluno(a). Como categorias estruturadoras foram selecionadas: a prática pedagógica docente, identificada como prática social, e os saberes, ponderando que o saber docente é um saber social, plural e temporal e subcategorias, como: planejamento, relação professor-aluno-saber, avaliação e saberes disciplinares, profissionais, experienciais e curriculares. Tais categorias são assim compreendidas a partir dos estudos de Giroux (1992; 1997; 1999), McLaren (1997), Freire (1992; 1986; 1987; 2007), Behrens (1998; 2005), Cunha (1997; 1998; 1999; 2005), Tardif (2005), Pimenta e Anastasiou (2005), Masetto (2003; 2006), entre outros. A metodologia adotada priorizou a abordagem qualitativa utilizando-se observações presenciais na sala de aula, entrevista semi-estruturada e análise de documentos dos professores como: planos de disciplina, controle e textos em complementação a bibliografia na disciplina de marketing 1 e 2. Os sujeitos escolhidos foram três professores do Curso de Administração da Universidade Federal de Pernambuco. A partir dos resultados pode-se constatar que os sujeitos pesquisados, ao mesmo tempo em que demonstram uma relação professor-aluno-saber baseada na dialogicidade e na busca da produção dos saberes, valorizam os conhecimentos prévios dos alunos, planejam as aulas, considerando as necessidades dos(as) alunos(as) e interagem com eles, favorecendo a construção do conhecimento. Por outro lado, apresentam carência no processo de elaboração do planejamento e na avaliação da aprendizagem. No estudo dos documentos, o plano da disciplina não apresenta mudanças significativas, ou seja, não explicita em detalhes o que será realizado, mas, consiste a princípio na exigência das normas legais. As reflexões aqui apresentadas apontam o professor do curso de administração – UFPE como articulador no processo de ensinar e aprender na universidade, sendo que este processo de ensinar e aprender ainda transita entre o antigo e novo paradigma, embora os professores manifestem na sua prática docente, novas alternativas de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: ensino superior; prática pedagógica docente; saberes docentes.

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ABSTRACT

There has been a movement and a debate in Brazil for the past several decades about professors at the university level, specifically their pedagogic and professional training. In order to make a contribution to the discussion, this study aims to understand how professors of the Business Administration courses at the Federal University of Pernambuco (UFPE) develop their pedagogic skills in a classroom context and environment. In this sense, it attempts to answer the following question: How do business administration professors at UFPE develop their teaching skills and what knowledge is used by them in the classroom context in order to promote learning among their students? This work has the following goals: To investigate how the professors organize their pedagogic practice in a classroom context, to analyze how a professor views his or hers teaching practices and to identify what knowledge is drawn upon in order to promote learning among their students. The following were chosen as structuring categories: faculty pedagogic background identified as social skills and knowledge taking into consideration the fact that faculty knowledge background is social, plural and temporal; it also includes sub-categories such as planning, the teacher-student-knowledge relationship, subject evaluation and knowledge, as well as professional and curricular knowledge as well as experience. Such categories were derived from studies by Giroux (1992; 1997; 1999), McLaren (1997), Freire (1992; 1986; 1987; 2007), Behrens (1998; 2005), Cunha (1997; 1998; 1999; 2005), Tardif (2005), Pimenta and Anastasiou (2005), Masetto (2003; 2006), among others. The adopted methodology prioritized a qualitative approach using classroom observations, semi-structured interviews and analysis of teachers’ documents such as subject teaching planning and control records as well as additional texts added to the bibliography of the Marketing 1 and Marketing 2 courses. Chosen subjects were three professors from the Business Administration course taught at UFPE. From the results, it can be seen that the studied subjects have a teacher-student-knowledge relationship based on dialog and on producing knowledge; they value their students´ previously acquired knowledge; they plan their classes according to students´ needs and interact with them in order to increase their skills building. On the other hand, they lack planning and student learning evaluation skills. From the documents studied, subject classroom planning does not show significant changes, i.e., the documents do not detail what is to be performed; they consist mostly of information to meet legal requirements. The thoughts presented here show the UFPE Business Administration professor as an articulator in the teaching and learning processes at the university. These teaching and learning processes still moves between old and new paradigms despite the fact that the professors include new teaching-learning alternatives in their teaching practices. . Keywords: university teaching, pedagogic practice faculty; faculty knowledge.

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INTRODUÇÃO

O ofício de ensinar não é para aventureiros, é para profissionais, homens e mulheres que, além

dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e

da cidadania do outro como condição mesma de realização de sua própria liberdade e cidadania.

(Ildeu Moreira COELHO)

O presente trabalho tem suas origens na nossa caminhada pessoal e profissional

como docente de Educação Superior, com intento de localizar algumas inquietações que

fizeram com que repensasse nossa prática como professora do Curso de Graduação em

Administração.

Começamos nossa vida profissional não como docente, mas como Bacharel em

Desenho Industrial (Designer), sendo esta a nossa primeira graduação, cursada na

UFPE. Mais tarde, graduamo-nos também em Administração de Empresas pela

UNICAP. No ínterim entre a conclusão do curso de Desenho Industrial e o início do

curso de Administração de Empresas, recebemos convite para lecionar. Mas, o fato de

não possuir a preparação pedagógica para a docência muito nos inquietava e, por isso,

resolvemos não aceitar o chamamento.

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Mais tarde, com uma maior experiência profissional em Administração de

Empresas e, após cursar uma Pós-Graduação em Administração de Marketing, na UPE,

resolvemos aceitar o convite, mas, para uma outra Instituição de Ensino Superior. É

importante salientar que apenas a Pós-Graduação Latu Sensu independente de conter, ou

não, disciplinas do âmbito pedagógico, tornou-se a exigência mínima para a formação

do professor de ensino superior, em diversos cursos universitários, mas não suficiente, a

meu ver, para se exercer o trabalho docente.

Sendo assim, as nossas primeiras experiências na docência foram embasadas nas

observações acerca da prática docente dos professores, quando aluna do ensino

fundamental e médio, da educação superior e da pós-graduação. As atitudes que

considerávamos não favoráveis ao desempenho de um trabalho efetivo como docente,

não eram adotadas na nossa prática como professora.

Começamos a lecionar no curso de Administração e, em seguida, também no

curso de Licenciatura em Comércio e Administração. O fato de o curso de licenciatura

possuir disciplinas da área pedagógica fez com que passássemos a conviver com

professores tanto da área da Administração como da área da Educação. O convívio com

os professores da área da Educação, a experiência como docente no ensino superior e o

despertar pelo gosto da leitura na área pedagógica, nos despertou para a importância de

nós, profissionais do ensino universitário mesmo não sendo da área pedagógica,

possuirmos uma formação específica para tal. Compreendemos também que a docência

superior exige do professor o domínio não só dos saberes disciplinares, mas, também,

dos saberes pedagógicos, de modo a mobilizar o(a) aluno(a) no seu aprendizado.

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O percurso nessas IES foi um ir e vir, um processo de descobertas e

ambigüidades: ao mesmo tempo em que trocávamos experiências com os nossos pares

refletíamos acerca das questões pedagógicas e, assim, começávamos compreender os

desafios, exigências e habilidades necessárias para o exercício da docência. Apesar de

compreendermos em parte essas questões, ainda assim, continuávamos a privilegiar os

conteúdos disciplinares, acreditando que só eles eram suficientes, esquecendo-nos, pois,

que o docente deverá refletir sobre o que se pretende desenvolver, o cidadão que se

deseja formar, a sociedade que se pretende ajudar a construir e não somente formar o

profissional da Administração.

Inquietávamos cada vez mais com o fato de não possuirmos uma formação

pedagógica, por isso, resolvemos cursar na UFRPE a pós-graduação latu sensu em

Metodologia do Ensino Superior. A partir daí, começamos ter uma compreensão mais

ampla dos aspectos relacionados à docência. Com as noções adquiridas nos estudos

realizados e trabalhos de formação continuada desenvolvido por essas IES foi

desenvolvida a nossa visão didático-pedagógica, agora diferenciada da anterior e

ressignificada a partir das nossas experiências como docente.

Compreendemos que, de fato, o conhecimento pedagógico é inseparável da

atividade docente, sendo, portanto, inconcebível isolá-lo do processo ensino-

aprendizagem.

É importante salientar que, segundo alguns autores, como Perrenoud (2002),

Anastasiou e Alves (2006), Rays (2003), afirmam que parte dos(as) professores(as)

continua acreditando que ensinar se aprende na prática, com a experiência, e que os

conhecimentos apropriados para o encaminhamento do processo ensino-aprendizagem

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são desnecessários, bastando, apenas, o professor transmitir os conteúdos. Sendo assim,

o domínio do saber específico da disciplina é a condição suficiente para o ensino,

esquecendo-se o docente da intermediação como necessária à apropriação do

conhecimento e a uma formação crítica e cidadã do(a) aluno(a).

Muitos(as) dos(as) professores(as) possuem saberes adquiridos na experiência da

docência, os quais são identificados por Tardif (2005) como saberes experienciais. Mas,

o fato de os docentes possuírem tais saberes não os qualifica para ensinar. Faz-se

necessária a capacidade de refletir na e sobre a ação que, entre outros saberes, geram

autonomia e responsabilidade do profissional de ensino. Essa capacidade está centrada

no seu desenvolvimento permanente, em função da experiência, da competência e dos

saberes profissionais, isto é, ação-reflexão-ação. (TARDIF, 2005). Sendo assim, os

saberes experienciais só terão significado se ressignificados e reestruturados em novos

saberes pedagógicos. Caso contrário, para que servirão os saberes advindos da

experiência? E como ressignificá-los se muitos professores podem desconhecer sua

importância?

No processo ensino-aprendizagem, autores(as), como Cunha (2005), Pimenta

(2005), Anastasiou e Alves (2006), Charlot (2000) e outros, têm evidenciado a

necessidade de o profissional da educação, na sua prática docente, posicionar-se como

agente mediador e estimulador do desenvolvimento intelectual e emocional do aluno. O

professor deverá ser aquele que aproxima, cria pontes, problematiza o conhecimento,

analisa o erro, dialoga, facilitando, dessa forma, o processo de ressignificação

conceitual e construção do saber. Então, como os professores que não possuem uma

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formação pedagógica para o exercício da docência podem utilizar tais saberes

articulados com sua prática docente?

Já há algum tempo nossas atividades profissionais estavam voltadas para a

educação em experiências diversificadas como professora, chefe de departamento e

coordenadora pedagógica etc. A partir de tais experiências, temos mais do que

experimentado e vivenciado dificuldades dos professores da área da Administração no

que tange ao processo ensino-aprendizagem, quando se trata de contribuir com o

aprendizado dos(as) seus(suas) alunos(as). Muito nos inquieta o fato de os professores,

em particular os da educação superior, não possuírem conhecimentos suficientes para o

exercício da docência. De fato, entendemos que a formação pedagógica para a educação

superior o professor se encontre adequadamente preparado para lidar com as novas

mudanças e desafios, preparando os futuros profissionais para o mundo do trabalho sem

esquecermos que o(a) aluno(a) é um ser incluso e inacabado, demandando, além de

tudo, uma formação crítica, ética e cidadã.

É importante também salientar que o docente, inclusive o docente universitário,

tem importante papel na busca de uma transformação social. Nesse sentido, o professor,

além de produtor de conhecimento, juntamente com os(as) alunos(as), contribui para a

formação de um cidadão crítico, isto é, esclarecido, ativo, auto-reflexivo, plenamente

desenvolvido, emancipado e auto-responsável por suas condutas e ações no mundo e na

história. Educar o indivíduo esclarecido é qualidade desejada pelo intelectual

transformador (GIROUX, 1999), formando sujeitos conscientes do seu real papel no

mundo, e, principalmente, que pensem de forma mais ampla acerca de si próprios e das

relações sociais.

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Dessa forma, a nossa preocupação está voltada para a investigação, em especial

a docência superior dos professores que, segundo Behrens (2005), demonstra uma

prática pedagógica assentada no paradigma conservador, influenciada fortemente pelo

pensamento newtoniano-cartesiano, caracterizando, assim, o ensino superior como

fragmentado e conservador, em muitas de nossas escolas.

A partir de nossas observações, vemos que muitos de nossos docentes, sejam

eles engenheiros, físicos, médicos, administradores, economistas etc., exercem a

docência e outras atividades, dentro de sua profissão, de forma simultânea. Eles pensam

que o fato de o indivíduo possuir experiência profissional, juntamente com o

conhecimento técnico-científico, seja suficiente para o exercício da docência. Quando

assim acontece, o professor aprende a ser professor de forma intuitiva, autodidata ou,

mesmo, se espelhando em outros colegas e na sua vida pregressa quando aluno (a).

“Desde sua origem a Universidade parece aceitar que aquele que sabe, sabe ensinar”

(SURGHI, 1999, p. 153). No entanto, essas iniciativas não constituem regra geral, mas

o fato é que não há uma formação profissional que responda às necessidades da

população como um todo, e que seja capaz de superar o modelo neoliberal, pautado pela

racionalidade de mercado, hoje, muitas vezes, dominante nas agências formadoras. Isso

provoca, cada vez mais, um viés da carreira docente, que “está ligado à ordem da

organização econômica e social e define o que é valor nas relações de poder” (CUNHA,

LEITE, VEIGA e LUCARELLI, 1999, p. 8).

Então, com o objetivo de cooperarmos para ampliar o leque das reflexões sobre

a docência superior, de colaborarmos com os docentes no alcance de novas propostas

metodológicas e de contribuirmos para um repensar sobre a qualidade de ensino nas

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universidades brasileiras, a partir do redimensionamento da prática docente de seus

professores, é que resolvemos nos debruçar sobre o tema “Um olhar sobre a prática

pedagógica do professor do curso de Administração no contexto da sala de aula”, tendo

como foco investigar, a começar pela seguinte questão: Como os professores do Curso

de Administração desenvolvem sua prática docente e que saberes são mobilizados por

eles no contexto da sala de aula, de modo a promover o aprendizado dos(as) alunos(as)?

Nesse sentido, este nosso estudo busca compreender e analisar como os

professores do curso de Administração desenvolvem a prática pedagógica, tomando

como cenário o contexto das suas salas de aula. Para tal, consideramos os seguintes

caminhos: a) investigar como os professores organizam a sua prática pedagógica no

contexto da sala de aula; b) analisar a concepção que o professor tem da sua prática

docente; c) identificar que saberes os professores mobilizam na sala de aula, de modo a

promover o aprendizado do(a) aluno(a).

Este nosso trabalho está dividido em 03 (três) capítulos, quais sejam: Capítulo 1

– A prática pedagógica na contextualidade sócio-cultural de sua construção; Capítulo 2

– Universidade: docência e desafios; e Capítulo 3 – A construção do percurso

metodológico.

No Capítulo 1, trataremos dos aspectos que estão alicerçados à prática docente

dos professores da educação superior e quais as repercussões no processo ensino-

aprendizagem.

A ação docente dos nossos professores universitários, de uma forma geral,

encontra-se assentada nas idéias do antigo paradigma que sofre influência do

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pensamento newtoniano-cartesiano (BEHRENS, 2005). Nesta visão paradigmática, o

ensino tem se caracterizado por fragmentado e conservador, destacando-se, dessa forma,

a reprodução do conhecimento.

A verdade é que as ações pedagógicas estão sujeitas às influências do contexto

sócio-cultural e às influências da modernidade, o que, por sua vez, favorece uma

sociedade capitalista, que se caracteriza pela competitividade de mercado, incentivando

incessantemente eficiência e eficácia em favor de um produto e capital e, embora

demonstre alto grau de desenvolvimento tecnológico, apresenta-se em crise

(BEHRENS, 2005).

Essa forma de fazer e viver a ciência tem articulado o projeto epistemológico do

mundo moderno. Segundo Behrens (2005), o tecnicismo e o positivismo têm conduzido

a um desenvolvimento científico-tecnológico do mundo atual, na busca incessante de

lucro, domínio e poder. Na realidade, essa forma não domina, em sua totalidade, o

modo de saber atual. A literatura tem indicado que transformações têm acontecido: são

as chamadas mudanças paradigmáticas. Com o advento da passagem do antigo para o

novo paradigma, na ciência, surgiram, assim, novas abordagens na educação.

Há, portanto, continuidades e descontinuidades num processo de transição entre

o antigo e o novo paradigma. É, pois, nessa transição de padrões que emergem novas

maneiras de se lidar com a prática pedagógica e saberes. Considerando tais mudanças,

elas se apresentam nas práticas sociais, culturais e político-econômicas. É a partir de

uma nova perspectiva que Giroux (1997, p. 11) nos fala, contra argumentando acerca da

“visão tradicional de ensino-aprendizagem escolar como um processo neutro ou

transparente afastado da conjuntura de poder, história e contexto social”. Com isso, o

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referido autor tem conseguido apresentar bases geradoras de uma teoria social crítica da

aprendizagem escolar, na busca das transformações sociais. Ainda, segundo ele, “o

principal objetivo da pedagogia crítica é autorizar junto aos estudantes em sua própria

autoformatação e transformarem as características opressivas da sociedade mais ampla

que tornam tal intenção necessária” (GIROUX, 1997, p. 13).

Hoje, a prática pedagógica, proporcionada pelos professores nas nossas

universidades, tem preocupado os pesquisadores voltados para os problemas da

educação, contribuindo para uma ação pedagógica que busque produzir conhecimento e,

em vez de reproduzir, formar um sujeito crítico e inovador, além de focalizar o

conhecimento como provisório e relativo, enfatizando a localização histórica de sua

produção.

É necessário, ainda, estimular a análise, a capacidade de compor e recompor

dados, informações e argumentos com a valorização da ação reflexiva do professor e

dos alunos, reconhecendo a realidade e refletindo sobre ela (CUNHA, 1997). A prática

pedagógica numa abordagem progressista tem, como pressuposto central, a

transformação social, sendo o aluno sujeito e produtor do seu conhecimento.

No Capítulo 2, trataremos sobre o ensino superior e os seus desafios,

contribuindo para ampliar nossas discussões nas questões da docência no ensino

superior, que julgamos necessárias para uma análise, compreendendo melhor o contexto

atual do cenário da nossa pesquisa.

A universidade, durante toda sua trajetória, se estabelece como uma instituição

social. Com mais de sete séculos de existência está alicerçada no reconhecimento

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público e na legitimidade de suas atribuições. Como instituição social, a princípio, foi

elitista, isto é, direcionada para um grupo diferenciado da sociedade. Só mais tarde, com

o avanço das forças democráticas, ela começou a direcionar-se para outras categorias

sociais.

Hoje, a universidade, assim como o sistema educacional como um todo, sofre

influências da modernidade, passando de instituição social à organização social e sofre

influências de uma sociedade capitalista. Segundo Chauí (1999), a universidade vem

sofrendo influências da nova forma de capital e passou de universidade funcional para

operacional, caracterizando uma nova fase na sua história. No primeiro momento,

adaptando-se às exigências do mercado, adequou currículos, programas e atividades, em

nome de uma inserção profissional dos estudantes no mercado de trabalho, separando

docência e pesquisa, ao passo em que a universidade operacional volta-se para si mesma

enquanto estrutura de gestão e arbitragem de contratos.

No Brasil a crise que acomete a universidade se caracteriza, particularmente, nos

diferentes discursos acadêmicos, ou não, com intenção de defendê-la das ameaçadoras

políticas neoliberais de privatização das instituições públicas.

Nos últimos anos, o ensino superior está sendo medido pela avaliação

institucional, recebendo pontuação adequada e implementando ações de formação

continuada, dentro de programas de melhoria do ensino na graduação. Outras ações

envolvem os docentes de diversas áreas do conhecimento, que buscam aperfeiçoar sua

prática pedagógica.

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Masetto (2006) destaca, entre a exigência para a docência no ensino superior, a

competência em uma área do conhecimento, experiência profissional e de ensino, além

da atualização do professor em cursos de aperfeiçoamento, congressos etc, e a pesquisa,

considerando estudos e reflexões, pesquisas pessoais na área profissional e de ensino,

além da produção de artigos científicos.

Outro domínio necessário, segundo ainda o autor, se faz necessário na área

pedagógica: processo ensino-aprendizagem, concepção e gestão de currículo,

compreensão das inter-relações professor-aluno, aluno-aluno e uso da tecnologia

educacional. A dimensão política é salientada, pois o docente, como cidadão, necessita

participar da construção social e estar atento para as mudanças que afetam a docência, a

profissão e a sociedade como um todo.

No Capítulo 3 apresentaremos o percurso metodológico da pesquisa. Para tal,

descreveremos os campos, os sujeitos, os instrumentos e as categorias estruturais e

subcategorias, além da análise de dados.

A prática pedagógica docente, assim como os saberes, e todo o seu processo de

construção são constituídos de objetividades e subjetividades, propriedades inerentes às

relações sociais.

No nosso caso, procuramos compreender como os professores do curso de

Administração desenvolvem a prática pedagógica docente (nosso objeto de pesquisa), e

que saberes esses docentes mobilizam na sua prática.

Tendo em vista tal objetivo, optamos pela abordagem qualitativa, embasada nas

concepções de Lüdke e André (1986), Triviños (1987), Minayo (2001) e outros. Essa

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abordagem define-se na contribuição resultante de uma maior interação entre o

pesquisador e o colaborador. Através da utilização de tal abordagem, o cotidiano escolar

poderá ser bem mais retratado em toda a sua complexidade.

Os critérios da seleção dos sujeitos participantes da pesquisa e os procedimentos

metodológicos para a coleta e tratamento dos dados são outra preocupação desse

capítulo. Esclarecemos os critérios da seleção dos sujeitos, os professores, sua principal

escuta, mas isso, por compreendermos o ambiente escolar como espaço de construção

coletiva.

Os procedimentos da pesquisa foram se constituindo no decorrer do percurso,

mas as entrevistas e as observações da sala de aula foram centrais na nossa investigação.

Quanto à análise dos dados coletados, estes foram separados pelas categorias

prática docente e saberes, as quais foram dadas a priori. Posteriormente, a partir das

nossas observações, surgiram as seguintes subcategorias: planejamento, avaliação,

relação professor-aluno e saberes disciplinares, saberes profissionais, saberes

experienciais e saberes curriculares (citados por TARDIF, 2005), todos articulados na

prática.

É importante salientarmos que, frente aos limites da nossa observação

decorrentes de sujeitarmos apenas a esta subjetividade, ou seja, interação do

investigador e o objeto pesquisado, entendemos que guardados os cuidados exigidos

pela investigação, nos foi possível assumirmos este risco de forma consciente.

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CAPÍTULO I – A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA CONTEXTUALIDADE SÓCIO-CULTURAL DE SUA CONSTRUÇÃO

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Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício

educativo: o seu caráter formador.

(Paulo FREIRE)

As abordagens, que serão o cerne deste capítulo, tratarão acerca da prática

pedagógica a partir do embate existente entre as culturas de dominação e emancipação,

que repercute na prática docente do professor. Quanto aos saberes docentes e suas

mobilidades na prática se dão a partir das relações do homem com esses saberes que,

por sua vez, ocorrem a partir das relações epistemológicas, sociais e outras.

Destarte, as ações pedagógicas estão sujeitas às influências do contexto sócio-

cultural, sofrendo influências da modernidade, referência paradigmática cartesiana, a

qual tem articulado o projeto epistemológico do mundo moderno, que deixa ranços,

como podemos observar nas práticas pedagógicas de muitos(as) dos(as) nossos(as)

professores(as). A verdade é que apresentam continuidades e descontinuidades, ou seja,

elas não dominam, na sua totalidade, o modo de saber atual.

A literatura tem apontado que essas mudanças têm acontecido de modo

inquestionável: são as chamadas mudanças paradigmáticas. Existem, portanto,

continuidades e descontinuidades num processo de transição entre o antigo e o novo

paradigma. É, pois, nessa transição de paradigmas que surgem novas maneiras de se

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lidar com a prática pedagógica e saberes. Considerando tais mudanças, elas se

apresentam nas práticas sociais, culturais e político-econômicas.

1.1 – Contextualidade e mudanças

A crise mundial repercute em todas as dimensões e, dessa maneira, vem

atingindo a educação, de forma acentuada. Nesse momento histórico, muitos dos nossos

docentes ainda apresentam uma prática pedagógica assentada na ação paradigmática

conservadora. Esta por sua vez sofre forte influência do pensamento newtoniano

cartesiano (BEHRENS, 2005).

O conhecimento científico proposto nos séculos XIX e XX fez com que o

homem perdesse a referência do todo, fragmentando as partes. Em conseqüência, foi,

muitas vezes, alienado do seu papel criativo, de si mesmo e dos outros, em nome de

aspectos, como: lucro, domínio e poder. Assim, a sociedade atual passou a ser

caracterizada pela competitividade de mercado, que busca, incessantemente, eficiência e

eficácia em favor de um produto e capital. Todavia, apesar do seu alto grau de

desenvolvimento tecnológico, encontra-se em crise (BEHRENS, 2005).

Nesse sentido, a ciência foi assim legitimada, por sua eficácia operatória, e a

técnica serviu de base para a indústria e para a revolução industrial. O homem passou a

ver o mundo de forma compartimentalizada: ciência e ética, razão e sentimento, ciência

e fé foram desassociadas e, principalmente, separou-se mente e corpo (BEHRENS,

2005).

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De um lado, as rápidas e variadas convulsões sociais, entre as quais, ocorre a

expansão da indústria cultural1 e o Estado passou a intervir, crescentemente nos

aspectos da vida diária, concentrando o poder nas mãos de grupos hegemônicos, cada

vez menores. Por outro lado, existiam indivíduos e grupos, embora desgastados, que

lutavam para conseguir determinação individual e social. Esses grupos, interessados nas

Ciências Humanas, não aceitavam que o paradigma das Ciências Exatas fosse aplicado

às Ciências Humanas.

Sendo assim, com o objetivo de resgatar o pensamento marxista não dogmático,

um grupo de filósofos e cientistas sociais de tendências marxistas, se encontraram no

final dos anos 1920 e fundaram a Escola de Frankfurt, da Universidade de Frankfurt-

am-main, na Alemanha. Esses cientistas, interessados em rejeitar a civilização moderna,

não aceitaram o cientismo marxista, como em geral acha inaceitável qualquer um.

Rejeitaram, pois, o ideal cientista aplicado ao domínio humano, que, em contrapartida,

se definiria por uma prática teórica eclética, interessada em discernir, nas chamadas

ciências humanas (psicologia, sociologia, história, etc.), o potencial crítico, não

dogmático e dialético (GIROUX, 1997).

Todavia, posteriormente, com a chegada de Hitler ao poder, houve a dispersão

de seus membros, os quais migraram para Genebra, Paris, New York. Agora dispersos,

mas unidos na defesa dos seus ideais, desenvolveram um diagnóstico acerca da

1 Deve-se à Escola de Frankfurt a criação dos conceitos como “indústria cultural” e “cultura de massa” como veremos adiante.

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estabilidade social e cultural2 das sociedades burguesas contemporâneas (DIOGO,

2008).

A Escola de Frankfurt (pensadores da Teoria Crítica) tem feito de interpretar e transformar esta sociedade dentro de uma dimensão dialética na sua vertente negativa, pois, para alguma coisa ser alguma coisa, ela precisa vir a ser o que não é, isto é, buscar além dos fatos, descortinar a realidade dada, clarear a ignorância, combater a barbárie, a manipulação ideológica, afirmar a autonomia do homem e sua individualidade (MONTEIRO, 2005, p. 228).

Para os pensadores críticos da época – Walter Benjamin, Theodor Adorno, Max

Horkheimer, Herbert Marcuse – a capacidade das classes trabalhadoras em efetivar as

transformações sociais importantes é questionada. Neste sentido, o campo da educação

pública passou a ter importante papel, no que tange a oferecer espaços pedagógicos,

“onde a democracia como movimento social foi incorporada por grupos subordinados e

de resistência, em uma luta continuada para produzir forma emancipatória de

conhecimento e relações sociais” (GIROUX, 1992).

De acordo com uma nova perspectiva, surgiram na esfera pública, intelectuais

educados e sensíveis às experiências e discursos que constituíam o capital cultural de

grupos populares, dos quais eram membros ativos (GIROUX, 1992). Segundo o autor, a

pedagogia radical despontava “com todo vigor como parte da nova sociedade da

educação na Inglaterra e nos Estados Unidos há mais de uma década, como resposta

crítica ao que pode ser chamado de maneira geral de ideologia da prática educacional

tradicional”. Os educadores resistentes às práticas com discursos e idéias liberais foram

denominados de “educadores radicais”. Freire (2007) identifica-os como educadores

2 A estabilidade social e cultural desencadeia reações que se caracterizam por um sistema estático, reprodutivista e permanente.

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progressistas, cuja abordagem é caracterizada por uma prática educativa

transformadora3 a qual será o foco central do nosso trabalho.

Segundo Monteiro (2005), a Teoria Crítica focaliza os processos culturais

através dos quais os sujeitos das relações educativas percebem e transformam seus

significados e fins.

Ainda, de acordo com a referida autora, muitos são os cientistas que têm se

dedicado ao estudo nessa direção, entre os quais: Freire (1986), Saviani (1985 e 1992),

Giroux (1992; 1997 e 1999), e Estevão (2004)

que dentre tantos, são os que conseguem expressar tanto a realidade brasileira como de outros países em que a população convive com os graves problemas de uma sociedade excludente, sem, no entanto, ignorar o suporte de outros autores, que também são importantes nessa nossa construção4 (MONTEIRO, 2005, p. 230).

Esses educadores, predominantemente transformadores, traduzem uma escola

como esfera de contraposição; a pedagogia radical como prática cultural. Giroux (1992,

p. 58) nos fala que

(…) a pedagogia como forma de política cultural deve ser compreendida como um conjunto concreto de práticas que produzem formas sociais através das quais diferentes tipos de conhecimento, conjuntos de experiências e subjetividades são construídas.

3 Para Freire (2007, p. 10), é a “pedagogia fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando”. 4 Nomeadamente as contribuições de Apple e McLaren.

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E que, segundo Frigotto (1995, p. 11), se opõe a “... enfoques economicistas que

reduzem a educação a um mero fator de produção a “capital humano” 5 cuja situação se

reflete em nossas escolas em especial nas escolas do ensino superior.

Para Giroux (1999), embora a escola seja um local crucial para se trabalhar e

mobilizar a educação dos alunos, sendo estes sujeitos políticos com competência para

desempenhar sua democracia, esta luta não deve ser reduzida unicamente à escola e à

pedagogia como forma de produção política, moral e social, ou mesmo ser atribuída

como problema, unicamente, da escola e sim um problema de amplitude macro, por isso

se estende por toda a sociedade.

Novos discursos de cunho neoliberal têm sido proferidos, não só na escola como

também em outros meios acadêmicos. Do mesmo modo McLaren (1997) afirma

também que, com os avanços na sociologia do conhecimento, as escolas passaram de

simples locais de instrução para arenas culturais, onde as diversas formas ideológicas e

sociais colidem, como uma luta incessante de poder e isso se reflete na prática

pedagógica docente dos nossos professores da Educação Superior.

Referindo-se ao Ocidente, em particular, aos Estados Unidos, por exemplo,

Giroux (1999) nos fala dos estragos causados na educação durante os governos de

Reagan e George Bush, sem esquecermos das articulações políticas no alcance extinguir

nossas universidades públicas em nome da privatização total do Ensino Superior. Além

das articulações acima citadas, houve a perda de poder dos professores em todos os

níveis da educação pública, limitando suas condições básicas de trabalho, e,

conseqüentemente, gerando uma percepção diferente de seu papel na prática escolar e

5 Grifo do autor.

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na reflexão sobre esta prática. É importante salientar que a ideologia, que orienta a atual

racionalidade6 na maioria das escolas, se encontra pautada em reproduzir

conhecimentos, consenso moral e modos de escolarização que não passam de

reprodutoras da sociedade existente (GIROUX, 1997). Giroux nos diz que a ideologia é

“um constructo que se refere às formas nas quais os significados são produzidos,

mediados e incorporados em formas de conhecimento, práticas sociais e experiências

culturais” (GIROUX, 1997, p. 36).

De acordo com o discurso neoliberal, o ensino vem sendo subordinado à divisão

técnica e social do trabalho que segundo Giroux, isso significa dizer que;

(…) os professores são reduzidos a “servidores do império”, cujos sonhos, desejos e vozes são geralmente silenciados de forma a remover quaisquer desvios á necessidade da indústria por servidores mais “empreendedores” entre seus futuros trabalhadores, e o desejo por uma mão-de-obra mais obediente, devota e eficiente (GIROUX, 1997, p. 11).

Como especialistas, os docentes passam a servir a um novo contexto sócio-

cultural e, com isso, ocorre um maior distanciamento político entre professor,

estudantes e currículos7.

Dessa maneira, a pedagogia, para Giroux, se reduz à implementação sistemática

que subordina o conhecimento a formas de reificação metodológica (GIROUX, 1992).

Vale a pena notar que segundo Freire (2007), “transformar a experiência educativa em

6 A racionalidade, segundo Giroux (1997, p. 35), a princípio, “refere-se a um conjunto de suposições e práticas que permitem que as pessoas compreendam e moldem suas próprias experiências e as dos outros”. Em um segundo momento, para ele, ela também se “refere aos interesses que definem e qualificam a forma como estruturamos e empregamos os problemas confrontados na experiência vivida” (GIROUX, 1997, p. 35). 7 Currículo é tratado pelo autor a partir de uma visão mais ampla, não “quanto à limitação que o conservadorismo julga a composição de currículo” (GIROUX, 1997, p. 11).

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puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no

exercício educativo: o seu caráter formador” (FREIRE, 2007, p. 33). Em outras

palavras, tornar o conhecimento técnico como única medida e valor exclusivo da

experiência de aprendizagem é fortalecer a legitimação ideológica para promover

práticas hegemônicas de sala de aula. Em outras palavras é continuar legitimando o

paradigma conservador em nome de uma prática pedagógica docente que busca em vez

de uma produção de conhecimento a reprodução em nome do fortalecimento de classe

dominante.

Podemos salientar que, nessas perspectivas de cunho liberal, o ensino passa a ser

técnico e padronizado, no interesse da eficiência e eficácia, gerando, por sua vez,

formas limitadas de conhecimento. Há uma mudança caracterizada pelo

desaparecimento do trabalho intelectual de importância primordial para o campo da

pedagogia crítica. É importante lembrar que nas sociedades ocidentais, por vezes, as

atividades intelectuais do professor são reduzidas a tarefas meramente técnicas, no

cumprimento de ordens burocráticas (GIROUX, 1997) e, dessa forma, caracterizando-se

os professores como simples extensões da lógica do capital.

A partir do século XX, os efeitos do economicismo na política educacional estão

expressos negativamente de várias maneiras, tanto nas formas limitadas de

conhecimento como, também, no tocante à própria administração e organização escolar

pública, sendo essas submetidas à ordem de interesses corporativos capitalistas. Decorre

dessa dimensão uma relação de conhecimento e poder8, invertendo-se os papéis dos

8 Para Foucault (1985), o poder não apenas produz o conhecimento que distorce a realidade, mas também produz uma versão particular da verdade. “O poder não mistifica ou distorce simplesmente. Seu impacto mais perigoso é sua relação definitiva com a verdade, os efeitos de verdade que ele produz” (FOUCAULT, Apud WELCH, 1985, p. 63).

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cientistas sociais, ou seja, em vez de trabalharem na busca da emancipação humana

passaram a fortalecer práticas sociais e ideológicas de uma sociedade de mercado

(GIROUX, 1992). Ampliando a argumentação acima, entre os séculos XIX e XX, as

ciências sociais acadêmicas contribuíram, em larga escala, para que o conhecimento e as

habilidades dos cientistas fossem empenhados na resolução de problemas econômicos e

sociais, preservando, assim, os interesses corporativos neoliberais emergentes, em

detrimento dos interesses sociais democráticos, em especial, respeito pela dignidade

humana.

De acordo com os interesses corporativos neoliberais, a abordagem tradicional

de ensino, paradigma conservador para Behrens (2005), oferece uma mobilidade

individual, limitada àqueles pertencentes às classes trabalhadoras e aos demais grupos

oprimidos, sendo assim um instrumento poderoso para a reprodução das relações

capitalistas de produção e ideologias legitimadoras dominantes dos grupos governantes.

Sendo assim, segundo Giroux (1997, p. 37), “as escolas não são locais apenas de

instruções, mas local onde a cultura da sociedade dominante é apreendida e onde os

estudantes experimentam a diferença entre aquelas distinções de status e classe que

existem na sociedade mais ampla”.

De acordo, também, com o McLaren (1997), a escola deve ser um espaço de

construção, mesmo sabendo-se que ela reproduz a cultura dominante, deve educar os

estudantes para torná-los cidadãos ativos e críticos, não só trabalhadores apenas

detentores de uma força de trabalho que venha contribuir, principalmente, na

reprodução da sociedade capitalista, mas desvendar suas potencialidades formativas e

transformativas dos sujeitos e da realidade social através da busca da autonomia e

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valorização do aluno. Alongando a nossa discussão, aqui adotamos Monteiro, quando

ela nos fala da importância da cultura enquanto força política empenhada em resgatar a

autonomia do sujeito:

Alguns elementos são essenciais na proposta da Teoria crítica. Um deles que merece destaque é o resgate da cultura enquanto força política, que atua como elemento poderoso no processo de dominação; o outro é a luta constante por meio da escola com sua função de reeducação (desbarbarização), como restabelecer as condições de autonomia, de consciência e de liberdade do indivíduo, do sujeito, do ambiente social (MONTEIRO, 2005, p. 231).

Enquanto que no contexto neoliberal há uma mudança de um pensamento crítico

para as dimensões técnicas, tendo como objeto a prática educativa neutra; na

compreensão crítica, o professor deve se opor às desigualdades e injustiças sociais,

considerando-se que o educador, enquanto cientista social, deve educar as massas no

alcance do progresso moral e social.

Adicionalmente, segundo Freire (2007, p. 99), “do ponto de vista dos interesses

dominantes, não há dúvida de que a educação deve ser prática imobilizadora e ocultora

de verdades”, como tem sido fortalecida e fortalecedora do sistema econômico,

predominante na busca da sua reprodução e perpetuação.

No entanto, entendemos que a educação deva valorizar uma aprendizagem com

autonomia e a formação de um homem consciente do seu papel histórico e social, capaz

de construir saberes, como forma de legitimar sua cultura, mas, estando aberto às

diversidades dos outros saberes, que são necessários na construção de uma sociedade

democrática, em torno do projeto pedagógico de ajudar os alunos a se tornarem

cidadãos críticos e ativos, no resgate da autonomia do aluno.

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1.2 – A prática pedagógica: do paradigma conservador aos novos paradigmas

Com os novos meios de produção ocorreram novas exigências da sociedade

industrial e com ela surgiram marcas incisivas introduzidas no sistema pedagógico e

alicerçadas na neutralidade científica. O conhecimento científico lógico-dedutivo tem

características mecanicistas e passa ser a única forma legítima de fazer ciência. O

pensamento newtoniano cartesiano fragmentou tanto nossa realidade externa como

interna, ou seja, a dimensão interpessoal e psíquica, concebendo o universo e o homem

como se fosse uma máquina.

Segundo Behrens (2005), a ciência, agora alicerçada sob os pressupostos do

pensamento newtoniano e cartesiano, contaminou a educação com um pensamento

racional, fragmentado e reducionista e adotou a técnica como forma de manipular o

mundo: “A técnica serviu de base para a indústria, para a revolução industrial, o que

ampliou, sobremaneira, o poder do homem em manipular a natureza” (SEVERINO,

1992, p. 125).

No sentido tradicional cartesiano, como tem se manifestado nas ciências

especializadas, este por sua vez, organiza a experiência na base da formulação de

questões que surgem juntamente com a reprodução da vida na moderna sociedade

industrial. Os conhecimentos estão contidos nos sistemas das disciplinas, de tal forma

que são aplicáveis a diversas situações, independentemente das suas peculiaridades. Os

problemas, com sua gênese social, situações reais, que constituem a ciência são, dessa

forma, desconsiderados por ela.

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Adorno (1986b, p. 155) nos chama a atenção acerca do comportamento da

ciência no antigo paradigma, quando desconsidera a atividade humana e seu poder sobre

o que é da natureza:

As situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não é para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ela. Os objetos e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido da resposta dão provas da atividade humana e do grau do seu poder.

Complementando a idéia anterior, o autor nos diz ainda que, “o pensamento

especulativo faz parte do processo de conhecimento e, portanto, não significa não-saber

social” (ADORNO 1983a, p. 57), pois o pensamento que apregoa a ciência moderna

tem tendência tecnizante de forma acentuada. Isso explica a forma utilitarista, técnica e

científica que se apresentam na educação, na pedagogia e na escola. Esse paradigma é

considerado como unidimensional, monocultural e compartimentalizado,

disciplinarmente científico, fundado na especialização, na atomização e na

racionalidade instrumental. Podemos melhor refletir essa racionalidade instrumental a

exemplo da reflexão de Behrens (1998, p. 82), que tem propósito quando nos fala:

A primeira impressão que se tem ao percorrer os corredores das universidades, salvaguardando as exceções, é que o paradigma tradicional de ensino nunca abandonou a sala de aula. Observa-se o professor expondo o conteúdo e os alunos em silêncio, copiando receitas e modelos propostos. Com alguma habilidade, os alunos conseguem fazer questionamentos sobre os conteúdos, mas nem sempre encontram respostas que venham estabelecer um resultado significativo para a sua formação.

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Apesar de o discurso dos professores apontar para novas metodologias, parece

não transponível quanto ao paradigma conservador, quando o docente fecha sua porta e

começa a dar aulas.

Dessa forma, muitos dos nossos professores têm mantido uma ação docente

assentada em pressupostos paradigmáticos conservadores, que visam à reprodução, à

repetição e à visão mecanicista da prática educativa. De acordo com este contexto estão

as abordagens pedagógicas que buscavam a reprodução, a repetição e a visão

mecanicista da prática educativa. São elas: abordagem tradicional, abordagem

escolanovista e abordagem tecnicista9. Apesar de se apresentar em épocas diferentes,

têm como característica fundamental a reprodução do conhecimento. Dessa forma, o

paradigma conservador só contribui para fortalecer o modelo civilizacional

contemporâneo neoliberal, além de ampliar as desigualdades e exclusões sociais

(BEHRENS, 2005).

A crise gerada, decorrente dos problemas e incongruências de pensamentos

movidos pelo pressuposto newtoniano cartesiano, não consegue soluções para tais, por

isso a resistência e a manutenção do velho paradigma tendem a ser temporárias. Os

momentos de transição paradigmática têm causado turbulências e manifestações de

apoio ou repúdio acerca das novas concepções e abordagens da ciência. Neste momento

histórico, a transição de um paradigma para outro influencia a sociedade, a educação e,

em particular, o ensino oferecido pelas universidades. O que nós observamos é que

muitos de nossos professores se encontram numa transição paradigmática entre o antigo

9 Não cabe aqui retornar esta análise porque é abundante a literatura no campo da educação: Libâneo (1986), Saviani (1992) e outros fazem este resgate.

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e novo paradigma ora é se identifica com uma pedagogia conservadora, ora crítica

(CUNHA, 2005).

Brandão fala (2005) sobre a crise paradigmática caracterizada por uma mudança

conceitual, ou uma mudança de visão de mundo, em conseqüência da insatisfação com

os modelos de explicação antes aplicados. Sendo assim, a crise conduz à mudança

desses paradigmas. Utilizando as idéias de Kuhn (1994)10, acredita-se que as mudanças

radicais consistem em revoluções científicas.

Apesar de nos encontrarmos entre a transição do paradigma conservador e o

novo paradigma, há uma quebra paradigmática acentuada: a ciência proporciona novas

abordagens na educação, e com ela surge a necessidade de se ultrapassar o pensamento

newtoniano-cartesiano e repensar a prática pedagógica oferecida aos alunos nas

universidades. De fato, embora o conhecimento humano ainda se alimente das visões

“modernas”, com olhares e fazeres que transitam entre o paradigma dominante da

ciência moderna e o emergente da pós-modernidade. O paradigma emergente é situado

por Santos (1989) e Pimentel (1993) como sendo um paradigma de transição, onde há

momentos de rupturas e descontinuidades entre a modernidade e a pós-modernidade.

Com a mudança paradigmática da ciência, encontramos novas abordagens na educação

caracterizada como inovadora, possuindo como eixo central a produção do

conhecimento denominado paradigma emergente (BEHRENS, 2005) ou o novo

paradigma.

10 Kuhn introduz o termo paradigma em sua obra A Estrutura das Revoluções Científicas: “a constelação de crenças, valores e técnicas partilhados pelos membros de uma comunidade científica” (KUHN, 1994, p. 225).

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Na realidade, o novo paradigma passa a incorporar, dessa forma, alguns

referenciais significativos do antigo paradigma, sem esquecer que o velho paradigma

atende aos anseios históricos da época, como Cardoso (1995, p. 17) afirma: “A

formação de um novo paradigma ocorre nas entranhas do anterior. E este, por sua vez,

nunca desaparecerá totalmente”. No novo paradigma, levado por efeito à teoria crítica,

tem como objeto os homens como produtores de todas as suas histórias de vida. Sendo

assim, a sociedade é entendida como um todo. Decorre, daí, a polêmica contra as

disciplinas setoriais (HORKHEIMER, 1968).

A partir dessa nova dimensão, a base fundamental da prática pedagógica deve

considerar as diversas contribuições significativas e relevantes do paradigma emergente

com as várias correntes pedagógicas inovadoras, que se apresentam neste momento

histórico. São elas: a abordagem progressista, a abordagem sistêmica e a abordagem do

ensino com pesquisa. Sendo assim, o ponto comum entre os autores que contribuem

com seus estudos sobre o paradigma emergente é a questão da visão de totalidade e o

desafio de busca da superação da reprodução para a produção do conhecimento,

demandando uma prática pedagógica que atenda aos desafios que a sociedade moderna

apresenta, isto é, que haja uma inter-relação dessas abordagens e a sua

instrumentalização com a tecnologia inovadora (BEHRENS, 2005).

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Figura I11

Neste sentido, a pedagogia, a partir do paradigma emergente, é caracterizada por

um processo de busca de transformação social, fazendo-se necessária uma educação que

proporcione uma prática pedagógica crítica, de diálogo, de inter-relação, de

transformação cultural: “Esta nova cultura – weltanschauung – deve ser desenvolvida

pela classe oprimida e, através de seus intelectuais orgânicos, partindo do seio da

sociedade capitalista” (TORRES, 1996, p. 146).

Para Freire (1987), há duas formas de organização cultural: a) antidialógica, que

existe para garantir o status-quo, apresentando, como características básicas: a

necessidade da conquista; a manipulação exercida pelas elites, de modo a assegurar que

as massas cumpram os objetivos desejados; e a invasão cultural; b) dialógica, que

garante a transformação revolucionária e tem como núcleo o diálogo, tendo, como

características, a co-laboração, a união, a organização e a síntese cultural. 11 O gráfico para Behrens representa de forma simplificada o ensino e aprendizagem no paradigma inovador, tendo como foco central a produção do conhecimento (BEHRENS, 2005, p.57).

Produção do Conhecimento

Abordagem Progressista

Abordagem do Ensino com Pesquisa

Abordagem Holística

Tecnologia Inovadora

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Segundo Freire (2007), a prática pedagógica progressista é caracterizada por um

estudo sistemático, de caráter investigativo, orientada de modo a ultrapassar a visão de

que o aluno é objeto e torná-lo sujeito e produtor do seu conhecimento, isto é, uma

educação em que o indivíduo é capaz de construir sua própria história. O indivíduo,

como construtor e transformador da sociedade, que, segundo Freire (1987), poderia se

concretizar, trazendo a vida para dentro das escolas e a exigência da transformação e do

saber como arma para mudar o mundo. Sem conhecermos a vida como poderemos

transformar o mundo? “O movimento dialético entre conversão da ação transformadora

em conhecimento e a conversão do conhecimento em ação transformadora” (BOFF,

1997, p. 13) acontecem pelo diálogo.

De acordo com o novo paradigma, a escola está situada no tempo e espaço,

inserida num contexto sócio-econômico-cultural-político; enfim, num contexto histórico

que tem o homem como sujeito, tem o ambiente como foco e reflete sobre ele, de forma

concreta. É importante salientar que quanto mais os professores e alunos refletem sobre

sua situação concreta mais se tornam progressistas, conscientes e comprometidos,

podendo intervir na realidade para mudá-la, porque agora compreende esta realidade

(FREIRE, 2007).

Para Monteiro (2005),

A escola deve ter compromisso com a formação de sujeitos epistêmicos como condição básica para o processo de crítica e embora algumas propostas chamadas pedagogias progressistas sejam pensadas, são obstaculizadas na prática por interesses reacionários e falta de investigação sistemática (MONTEIRO, 2005, p. 238).

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Com uma escola mais fortalecida, que busca a compreensão da realidade, pode-

se identificar melhor a ideologia dominante, clarificando a verdade científica, através de

suas visões que examinam o conhecimento, a natureza humana, valores e sociedade,

medidos a partir das suposições de “senso comum”, estruturando, dessa forma, suas

experiências na sala de aula. Assim, as suposições sobre a aprendizagem, realização,

relações professor-aluno-saber, objetividade, necessitam serem criticamente avaliadas e

medidas pelos educadores (GIROUX, 1997).

Por isso, o novo paradigma caracteriza-se por racionalidade crítica

emancipatória dos sujeitos e das instituições, decorrendo, daí, conseqüentemente, um

sujeito dotado de uma nova racionalidade (ALARCÃO, 2001), isto é, a ação-reflexão-

ação favorecendo, neste ir e vir, uma prática educativo-progressista (FREIRE, 2007),

mobilizando, assim, “os estudantes a pensarem criticamente, a aprenderem como

afirmar suas próprias experiências, e compreenderem a necessidade de lutar individual e

coletivamente por uma sociedade mais justa” (GIROUX, 1997, p. 40). Essa é a resposta

mais plausível ao sentimento de impotência diante de uma sociedade moderna que se

apresenta. É a partir da reflexão que se coloca o homem como ser pensante seja ele o

profissional da educação, o investigador, o dirigente institucional e o próprio aluno.

O desafio significativo desta mudança paradigmática provoca a busca da

aproximação entre o sujeito e o objeto, num processo que recupera a emoção e a

intuição aliadas à razão. “A exigência de tornar o sujeito cognoscente valoriza a

reflexão, a ação, a curiosidade, o espírito crítico, a certeza, a provisoriedade, o

questionamento, e exige reconstruir a prática educativa proposta em sala de aula”

(BEHRENS, 2005, p. 55).

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Para a autora acima citada, “O desenvolvimento intelectual se apresenta por

meio de compartilhamento de idéias, informações, responsabilidades, decisões e

cooperações entre os indivíduos” (BEHRENS, 2005, p. 71). Sendo assim, o paradigma

emergente alicerça uma educação que considera o indivíduo como construtor de sua

própria história, o que é defendido também por Freire (2007), quando nos fala que o

homem é o sujeito da educação e, neste sentido, constrói seu próprio saber a partir das

novas exigências históricas, sem necessariamente desprezar o que há de verdadeiro nos

paradigmas conservadores.

1.2.1 – A prática docente e a abordagem progressista

Para analisarmos a prática docente na abordagem progressista, designada como

novo paradigma, ou paradigma emergente12, optamos por apresentá-la nas categorias

prática pedagógica docente e saberes – concluídas quando da análise dos professores

observados, e que se encontram inseridas no Capítulo 3: A Construção do Percurso

Metodológico – e nas subcategorias planejamento, avaliação, relação professor-aluno-

saber e saberes experienciais, disciplinares, profissionais, curriculares. Para efeito

didático optamos por abordar a prática pedagógica docente, partindo de uma visão mais

ampla até alcançarmos as nossas subcategorias.

Educação: De acordo com a abordagem progressista, já citada, a educação é

uma atividade essencialmente humana, sendo a transformação social o seu pressuposto

central (FREIRE, 2007). “Instiga o diálogo e a discussão coletiva como forças

propulsoras de uma aprendizagem significativa e contempla os trabalhos coletivos, as

12 Aqui, adotamos Santos (1989) e Pimentel (1993), como enfatizado anteriormente.

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parcerias e a participação crítica e reflexiva dos alunos e dos professores” (BEHRENS,

2005, p. 56).

Nesse sentido, a educação tem como foco central o indivíduo como produtor de

sua história. Trata-se de um projeto metodológico próprio, que busca produzir

conhecimento – alunos(as) e professor(a), num processo coletivo.

Azzi (2005) refere que a ação docente é considerada trabalho, desde a sua

profissionalização e sua estrutura de funcionamento:

(...) caracteriza-se como práxis, na qual a teoria e prática se determinam, gerando juntamente com o objeto-sujeito desse processo – o aluno – um saber próprio da atividade docente que, ao incorporar-se àquele que exerce sua ação sobre um determinado objeto visando a sua transformação, transforma também esse sujeito – no caso o professor, que se enriquece durante o processo (AZZI, 2005, p. 47).

Para esta autora, mesmo que esse trabalho se construa no cotidiano, ele objetiva

a transformação de uma determinada realidade, considerando-se as necessidades

oriundas da sociedade.

Para McLaren (1997), a educação dentro de uma visão crítica está longe de ser

um processo apolítico e neutro, por isso, qualquer prática docente verdadeira deve ter

compromisso com a transformação social, em solidariedade com grupos subordinados e

marginalizados.

Pedagogia: Segundo Giroux (1999) para que a pedagogia, como prática cultural,

possa se desenvolver, necessário se faz “explorar como a pedagogia funciona como

prática cultural para produzir – em vez de meramente transmitir – conhecimento dentro

das relações de poder assimétricas que estruturam as relações entre professor e aluno”

(GIROUX, 1997, p.117).

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Segundo ainda McLaren (1997):

Os teóricos críticos vêem a escolarização como uma forma de política cultural; a escolarização sempre representa uma introdução, preparação e legitimação de formas particulares de vida social. Está sempre implicada em relações de poder, práticas sociais e favorecimento de formas de conhecimento que suportam uma visão específica do passado, presente e futuro. Em geral, os teóricos críticos argumentam que as escolas sempre racionalizam a indústria do conhecimento em divisões de classe, que reproduzem desigualdades, racismo e sexismo; e que fragmentam relações sociais democráticas através de uma ênfase na competitividade e no etnocentrismo cultural (MCLAREN, 1997, p. 193).

Sendo assim, a pedagogia como prática cultural se opõe ao ensino em que o

professor se preocupe apenas com técnicas, habilidades e objetivos instrumentais, pois,

segundo o autor, centrar o ensino a partir das referidas preocupações é abolir questões

como poder, história, ética, auto-identidade.

Escola: Na abordagem progressista, a escola estabelece com o aluno um clima

de troca, de diálogo, de inter-relação, de transformação, de enriquecimento mútuo, e

tudo é relacional, transitório, indeterminado e se encontra em processo. A escola tem,

portanto, função social que instiga a participação, não só do aluno, mas do professor,

também, refletindo o contexto histórico e intervindo para provocar a transformação

social (GIROUX, 1997).

Dessa forma, a escola é considerada como instituição social e é essencial no

processo de reconstrução da sociedade. A escola e a sociedade se encontram imbricadas,

por isso, a primeira deve basear-se na realidade cotidiana. Boff (1997) afirma que a vida

deve ser levada para dentro das escolas:

a vida com sua dinâmica e suas contradições, com sua base econômica e daí com sua dimensão de classe, com seu suporte político e daí com sua referência a relações de poder, com sua marca de gênero e daí com todas as singularidades e conflitos ligados ao masculino e ao

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feminino, com sua ideologia subjacente e daí com o sentido de vida e de mundo que se esconde por detrás dos vários estilos de vida (BOFF, 1997, p. 9).

Assim, a escola não é apenas uma arena de doutrinação ou socialização ou um

local de instrução, mas, um terreno cultural que confere poder e promove

autotransformação a partir do trabalho dos professores, de suas interações concretas

com os alunos, com os docentes assumindo as principais missões dessa instituição

(GIROUX, 1997).

Prática: A prática pedagógica docente numa visão progressista se caracteriza

por um processo de busca de transformação social. Demanda, prioritariamente, uma

prática docente crítica, reflexiva e transformadora. No seu texto, Freire argumenta

inteligentemente, quando defende que

Uma das tarefas mais importante da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. É a “outredade” do “não eu” ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu (FREIRE, 2007, p. 41).

É no desempenho do professor na prática cognoscente que os alunos se tornam

sujeitos de suas aprendizagens e, conseqüentemente, sujeitos críticos. A reflexão de

Freire (1992, p. 112), tem propósito quando nos diz que “uns ensinam e, ao fazê-lo,

aprendem. Outros aprendem e, ao fazê-lo, ensinam”. Há, portanto, um encontro

dialógico de grande significado entre professor e alunos. Portanto, a prática pedagógica

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docente dentro de uma abordagem progressista tem o indivíduo como um ser histórico,

e sua abordagem é dialética (ação/reflexão/ação).

Complementamos com Saviani (1985), quando ele propõe uma prática que

qualifica como prática social, pois sua produção se dá no contexto social, “passando à

problematização, desencadeada a instrumentalização, provocando a catarse e retornando

à prática social considerado o ponto culminante do processo educativo, realizada na

mediação da análise” (SAVIANI, 1985, p. 74).

O debate nos diz que o ensino deve estar essencialmente voltado para a produção

do conhecimento, sendo seu ato de conhecer fundamentado no processo libertador

(BEHRENS, 2005). Enquanto que a reflexão de Giroux (1997) tem propósito e reforça a

idéia de Behrens (Idem) quando afirma:

(…) as escolas como instituições essenciais para a manutenção e desenvolvimento de uma democracia crítica, e também para a defesa dos professores como intelectuais transformadores que combinam a reflexão e prática acadêmica a serviço da educação dos estudantes para serem cidadãos reflexivos e ativos (GIROUX, 1997, p. 158).

E, assim, professores e alunos possam construir uma sociedade mais justa e

igualitária.

Professor: Para Freire (1992, p. 81),

Ensinar é assim a forma que toma o ato do conhecimento que o (a) professor (a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos o seu ato de conhecimento também. Por isso ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico.

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Nesse sentido, o docente, o educador, tem respeito por seus alunos e acredita na

capacidade deles no processo de construção de suas próprias histórias, de fazer escolhas

e de trilhar caminhos reflexivos, críticos e criativos.

De acordo com Behrens (2005), o professor, como educador, sujeito do

processo, é aquele que em sala de aula estabelece uma relação horizontal com os seus

alunos, buscando um diálogo como função propulsora na construção do conhecimento.

Apesar de intervir no processo, o docente não impõe suas idéias e concepções, mas se

coloca a serviço do aluno. Nega a visão do aluno objeto, possibilitando a vivência

grupal. Seu papel será de mediador entre o saber elaborado e o conhecimento

produzido. Valoriza, portanto, a cultura do aluno, possibilitando-lhe analisar seu

contexto e, dessa forma, produzir cultura. Portanto, o docente é co-responsável,

dinâmico e, acima de tudo, participativo do processo junto com os alunos (BEHRENS,

2005).

Aluno: Nesse sentido, o docente tem no aluno um co-responsável no processo

de aprendizagem, lembrando que o discente é um ser incluso, inacabado e, desse modo,

necessitando, educar-se de forma permanente. De acordo com Moraes (1997), o aluno é

sujeito de sua práxis:

De ação e reflexão sobre o mundo, que não pode ser compreendido fora de sua relação dialética com o mundo. Alguém que é sujeito e não objeto, que constrói o conhecimento na sua interação com o mundo, com os outros que organiza a sua própria experiência e aprende de um jeito que lhe é original e específico (MORAES, 1997, p. 138).

Como refere Behrens (2005, p. 74), o aluno, na abordagem progressista, “é um

partícipe da ação educativa”. Isto quer dizer que, juntamente com o professor, ele atua e

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se envolve num processo contínuo, na busca de investigar e discutir coletivamente, no

alcance da produção do conhecimento. De acordo com Zabala (2007), o discente

compreende o que faz e porque faz, configurando-se um grau de autonomia por parte

dele. Sendo assim, o aluno desenvolve e participa das atividades planejadas, em

conjunto (professores e alunos) com satisfação, e não porque é obrigado a fazê-las.

Relação professor-aluno: A relação professor/aluno é caracterizada pelas

relações que se estabelecem entre o professor, o aluno e o conteúdo.

Segundo Zabala (2007), é importante salientar que as seqüências didáticas,

assim como o conjunto de atividades oferecidas, não consiste na chave de todo o ensino:

as atividades, promovidas pelo professor e vivenciadas pelos alunos “são o meio para

mobilizar a trama de comunicações que pode se estabelecer em classe, às relações que

ali se estabelecem definem os diferentes papéis dos professores e dos alunos”

(ZABALA, 2007, p. 89). Assim, as atividades desenvolvidas apresentam efeitos

diferenciados em função das suas características e das relações que promovem na sala

de aula. Quando o professor ensina, ele estabelece com seus alunos uma série de

relações. Estas, por sua vez, devem permitir aos discentes que eles elaborem

representações pessoais acerca do conteúdo – objeto da aprendizagem. A forma que o

docente tem de entender a aprendizagem é representada pela postura assumida por ele e

a relação que mantém com os alunos em sala de aula.

Zabala (2007, p. 90) adverte que:

A pessoa, no processo de aproximação aos objetos da cultura, utiliza sua experiência e os instrumentos que lhe permitem construir uma interpretação pessoal e subjetiva do que é tratado. Não é necessário insistir no fato de que em cada pessoa o resultado deste processo será diferente, trará coisas diferentes, e a interpretação que irá fazendo da

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realidade também será diferente, apesar de possuir elementos compartilhados com os outros, terá determinadas características únicas e pessoais.

Em função dessa realidade, o docente considera a diversidade da natureza

humana e ajuda o aluno a compreender o que faz e porque faz e, com isso, ele atinge a

consciência do processo que está seguindo.

Essa relação entre o professor e os alunos se realiza de forma dialógica,

caracterizada pelo diálogo amoroso, horizontal, de parceria, gerando um processo de

confiança e educando-se mutuamente (FREIRE, 1992). Neste caso, o professor se

esforça, juntamente com seus alunos, no ato de conhecer e, assim, lidera o processo pela

competência com diálogo, supera o autoritarismo e busca uma prática transformadora.

Ainda, de acordo com Freire (2005), o fato de o professor adotar uma postura

dialógica não exclui momentos narrativos, onde o docente expõe ou fala do objeto. O

fundamental está intimamente relacionado com a postura assumida pelo professor e

pelos alunos, de forma dialógica, aberta, curiosa, indagadora. Tanto no ouvir, quanto no

falar, o docente e os discentes se colocam epistemologicamente curiosos, de tal forma

que o professor, enquanto estiver falando, consiga trazer o aluno à intimidade do seu

pensamento. Com isso, ele possibilita gerar um ambiente propício à aprendizagem,

mobilizando os alunos a se tornarem receptivos ao diálogo e à participação.

Sendo assim, o seu processo pedagógico não se reduz ao treinamento técnico,

tornando possível uma ação integrada, baseada no diálogo e trabalho coletivo. Há uma

coerência entre a fala do(a) professor(a) e sua ação docente, de modo que “o próprio

discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que

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quase se confunda com a prática” (FREIRE, 1992, p. 44). Por exemplo, o professor faz

uma explanação teórica introdutória do assunto e, em seguida, lança aos alunos

perguntas para aprofundar e desdobrar o conteúdo exposto.

Embora a teoria seja indispensável à compreensão e transformação do mundo,

não pode ser separada da prática, por isso, toda reflexão teórica tem que,

necessariamente, conduzir a ação transformadora, isto é, a práxis autêntica. Para Azzi

(2005) “é práxis, porque esta, como atividade humana, pressupõe a intervenção, a

transformação da realidade. Para isso, necessita conhecer essa realidade e negá-la.

Negar significa transformar em outra realidade” (AZZI, 2005, p. 46).

Comungamos do mesmo pensamento de Charlot (2000) quando este assinala

que:

Adquirir saber permite assegurar-se um certo domínio do mundo no qual se vive, comunicar-se com outros seres e partilhar o mundo com eles, viver certas experiências e, assim, tornar-se maior, mais seguro de si, mais independente (CHARLOT, 2000, p. 60),

Isto porque o homem se torna sujeito do seu saber quando o saber se encontra

em confronto com a pluralidade das relações que ele mantém com o mundo.

Nesse sentido, os questionamentos, problematizações, enfim, o desvendar

daquilo que está oculto acontece em nível da ação educativa e se concretiza a partir da

prática, voltando-se ao contexto teórico e, posteriormente, ao concreto (prática) para que

se possam experimentar novas práxis (FERNANDES, 2001). Dessa forma, na sua ação

docente, o professor visa à produção do conhecimento e assim, provoca a reflexão

crítica do aluno na e para a ação (BEHRENS, 2005). Seu papel será de mediador entre o

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sujeito (aluno) e o objeto (conhecimento); democratiza o saber a partir do

questionamento da realidade e, assim sendo, proporciona processos interativos que vão

facilitar o encontro do indivíduo consigo mesmo, com a realidade e com os outros.

Nesse processo crítico e reflexivo, Giroux (1999, p. 117) nos fala que,

A pedagogia crítica refere-se a uma tentativa deliberada para construir condições específicas através das quais os educadores e os alunos podem pensar criticamente sobre o modo como conhecimento é produzido e transformado em relação à construção de experiências sociais informadas por um relacionamento particular entre o self, os outros e o mundo em geral.

O educador-educando tem o papel dinâmico, isto é, a função de propor situação-

problema e desafios; de desencadear reflexões, estabelecer conexões entre o

conhecimento novo e o conhecimento adquirido antes, ajustadas, dessa forma, às

condições intelectuais e emocionais do aluno de acordo com o contexto (MORAES,

1997).

Vygotsky (1987) chamou de zona de desenvolvimento real o ponto onde estão

os conhecimentos aprendidos pelo aluno. Mais tarde, essa mesma concepção foi

defendida por Ausubel (1980) como fator que mais contribui para a aprendizagem do

aluno, ou seja, começar daquilo que ele já sabe. É na zona de desenvolvimento proximal

que o docente irá intervir de modo a mobilizar o aprendizado do discente (VIGOTSKY,

1987).

Isto no remete à valorização dos conhecimentos prévios dos alunos, isto é,

começar do que o aluno já sabe e mobilizá-lo na direção desejada, ou seja, partir deste

conhecimento e conduzi-lo a novos conhecimentos, novas habilidades e novas posturas.

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Sendo assim, o debate nos diz que a atuação do professor em sala de aula está

primordialmente voltada para a utilização daquelas estratégias que facilitem a aquisição

de uma estrutura cognitiva adequada, na qual os conceitos mais amplos das diversas

disciplinas estejam claramente estabelecidos (POZO, 1998).

Planejamento: Do ponto de vista educacional, o planejamento é considerado um

ato político-pedagógico, porque revela intenções e intencionalidade: expõe o que deseja

realizar e o que se pretende atingir. O planejamento deverá ser um instrumento que o

professor poderá utilizar para prever o que deverá acontecer, refletir, sobre a prática

docente, sobre os seus objetivos, sobre o que está acontecendo e sobre o que aconteceu.

É essencial enfatizar que o planejamento de ensino implica, especialmente, uma ação

refletida: o professor elabora uma reflexão permanente de sua prática educativa

(ALARCÃO, 2001). Assim, o planejamento requer do professor uma atitude científica

do ponto de vista do fazer didático-pedagógico no trato com os saberes (LEAL, 2005).

Sabendo-se que os processos educativos são complexos, fica difícil prever,

exatamente, o que acontecerá na aula. Para auxiliar o professor nesse processo,

podemos lançar mão de estratégias capazes de ajudá-lo a superar dificuldades e atender

as diversas demandas que surgirão no processo ensino/aprendizagem (ZABALA, 2007).

A prática educativa nos coloca diferentes problemas que jamais poderão ser

resolvidos à luz da improvisação. Daí, a necessidade do professor disponibilizar uma

série de atividades que ajudem os alunos a se relacionarem e interagirem, de modo que

favoreça uma multiplicidade de situações comunicativas e de inter-relação que o(a)

professor(a) possa se utilizar educativamente. Segundo Masetto (2006), o(a)

professor(a) universitário(a), no idear por uma prática docente transformadora, deve

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buscar novas técnicas, desbravar novos caminhos, considerando a natureza didática de

sua prática educativa. Quando o docente utiliza preferencialmente uma técnica em

relação às demais, ele poderá privilegiar alguns alunos em detrimento de outros,

deixando também de realizar experiências didáticas singulares, que podem ajudá-lo a

aperfeiçoar sua prática docente e, ainda, possibilitar, ao aluno, variadas formas de

aprender (GARCIA, 1994). Por isso, o professor deverá adotar ações diversificadas, de

modo a atender as diversas preferências dos discentes, considerando o conteúdo a ser

trabalhado.

Concordamos com Zabala (2007), quando consideramos que o planejamento

deve ser flexível, de modo a se adaptar às diferentes situações da aula, bem como contar

com as contribuições dos(as) aluno(as) durante todo o processo:

Quer dizer, um planejamento como previsão das intenções e como plano de intervenção, entendido como um marco flexível para orientação do ensino, que permita introduzir modificações e adaptações, tanto no planejamento mais a longo prazo como na aplicação pontual, segundo o conhecimento que se vá adquirindo através das manifestações e produções dos alunos, seu acompanhamento constante e a avaliação continuada de seu processo (ZABALA, 2007, p. 94).

O professor, portanto, deverá organizar atividades que o(a) aluno(a) possa

generalizar, diferenciar, abstrair, e simbolizar os conceitos trabalhados. O docente

deverá refletir sobre o que se pretende desenvolver, o cidadão que se deseja formar, a

sociedade que se pretende ajudar a construir.

Esse processo deve considerar as fases, os passos, as etapas, as escolhas que

implicam situações diversas, presentes no contexto da sala de aula, no desenrolar dos

acontecimentos nas suas idas e vindas.

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Para que os professores compreendam melhor o contexto em que atuam, torna-se

necessário realizar um diagnóstico como uma situação de análise, de reflexão sobre o

que se encontra a sua volta, o local e o global; considerar: quantidade de alunos, os

novos desafios impostos pela sociedade, as condições físicas da instituição, os recursos

disponíveis, o nível, as possíveis estratégias de inovação, as expectativas do aluno, o

nível intelectual, as condições sócio-econômicas (retrato sócio-cultural do aluno), a

cultura institucional, a filosofia da universidade e/ou da instituição de ensino superior,

enfim, as condições objetivas e subjetivas em que o processo de ensino irá acontecer

(LEAL, 2005).

Não podemos esquecer que o aluno deverá ser o partícipe desse planejamento.

Nesse processo participativo, o professor deixa claras suas possibilidades didáticas, e o

que ele pensa e o que espera do aluno como sujeito que aprende. Quais são as suas

possibilidades, sua capacidade para aprender e sua individualidade (FREIRE, 2005).

Avaliação: Ela é contínua, processual e transformadora, não se apresentando

punitiva e considerando que o processo é participativo, individual e coletivo, isto é, há

momentos de avaliação individual e momentos de avaliação coletiva (BEHRENS,

2005). Considerando-se que neste processo o aluno é um ser responsável, criativo,

reflexivo, participa com o professor da composição dos critérios para avaliação. Não se

pode esquecer que os critérios, como exigência, rigorosidade e competência, são pilares

que sustentam a avaliação, e o desempenho individual é diretamente proporcional ao

desempenho do grupo. Em outras palavras, existe uma parceria entre os alunos, de

forma que eles sejam responsáveis pelo fracasso ou sucesso do grupo.

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A avaliação é uma etapa presente no cotidiano da sala de aula. O professor

deverá: acolher as dificuldades do aluno, no sentido de tentar ajudá-lo a superá-las,

vencê-las; evitar a função classificatória, comparando sujeitos entre sujeitos. A

avaliação, diz o debate, considera o avanço que aquele aluno obteve durante o curso. O

professor pode realizar articulações necessárias para promover testes, exercícios,

relatórios e outros instrumentos, a partir de uma concepção de avaliação que diz

respeito ao aluno como sujeito de sua aprendizagem (FREIRE, 2007), uma vez que

planejar é uma ação dinâmica, interativa e que acontece antes de iniciar o processo de

ensino, durante e depois dele (VASCONCELOS, 1996). O professor neste processo de

avaliação avalia-se e avalia sua prática. É uma ação reflexiva que exige do professor

investigação e atualização didático-pedagógica permanentes, ou seja, ação-reflexão-

ação.

Assim, este profissional da educação necessita de elementos que possam servir

de base para realizarem seu trabalho, fomentado pelos saberes que, segundo Tardif

(2005), não existem em separados de outras realidades sociais, organizacionais e

humanas, nas quais os professores se encontram inseridos.

1.3 – Os saberes mobilizados na prática docente

O trabalho docente requer dos professores saberes, conhecimentos,

competências e habilidades, com o objetivo de realizarem, de forma concreta, as tarefas

do cotidiano escolar (TARDIF, 2005).

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Tanto os saberes docentes quanto o trabalho docente devem ser considerados

distintamente; ambos têm características que lhe são peculiares e são construídos na

mobilidade da prática. Assim, ganham sentido quando articulados entre si, isto é,

tornam-se efetivos na relação de um com o outro.

Sendo assim, fica difícil compreender os saberes mobilizados, utilizados ou

mesmo produzidos pelo docente, sendo analisados fora do contexto no qual eles

acontecem. É difícil, também, se pensar no trabalho docente sem mobilizar saberes que

vão lhe dar sentido e, assim, torná-lo materializado.

Os autores aproximam-se ao destacarem o aspecto dinâmico, articulado e relacional do saber, pressupondo que ele se constitui a partir das relações entre sujeitos e destes com o próprio saber e com o mundo, atribuindo-lhes sentido e ressignificando-os. Assim o conhecimento está ligado à produção sistematizada e reconhecido cientificamente na sociedade, enquanto que o saber é visto como produção ligada ao domínio das atividades, que depende da relação dos sujeitos com a realidade (GUIMARÃES, 2004, p. 27).

No que se refere aos saberes docentes mobilizados na prática pedagógica,

adotamos aqui os estudos de Tardif (2005), de Pimenta (1996a, 1996b) e de Houssaye

(1995) entre outros.

Para Tardif (2005), os saberes do professor não são algo aleatório ao contexto de

vida do docente, mas se relacionam com sua identidade, sua experiência de vida, sua

história profissional, com a relação do professor e alunos, enfim, com os demais

elementos concernentes à escola. Daí, a necessidade de estudá-los relacionando-os com

os elementos que constituem o trabalho docente, levando-se em consideração a prática

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pedagógica docente como nosso objeto de análise e quais os saberes articulados nessa

prática.

Nos últimos anos, estudos realizados por Francisco (2006), Franco (1984),

Guimarães (2004), e outros, têm evidenciado a importância de estudar tais saberes, de

estudar os conhecimentos, o saber-fazer e o saber-ser, suas competências e as

habilidades que os professores mobilizam diariamente na sala de aula. Por exemplo:

para Freire (2007), existem saberes que são indispensáveis à prática pedagógica docente

dos(as) educadores(as) críticos(as) progressistas, ao mesmo tempo em que são

necessários aos(às) educadores(as) conservadores(as).

De acordo com Houssaye (1995), Pimenta (1996b) e Tardif (2005), os saberes

mobilizados pelo docente são necessários e é através deles que os professores

desenvolvem sua capacidade de investigar a própria atividade, transformando seus

saberes-fazeres docentes. Os educadores constroem, assim, de forma dialética, suas

atividades educacionais e identidades. Esse caráter dinâmico da profissão docente se

traduz como prática social que busca leituras críticas diante das realidades sociais. E é a

partir dessas leituras que encontramos referenciais para poder modificá-las (TARDIF,

2005).

Para Tardif (2005), os saberes são sociais. Eles provêm dos processos de

formação e aprendizagem e são elaborados no contexto social. É o que se pode chamar

de saberes sociais, sendo fruto de um processo dialético, já enfatizado, e de uma

construção coletiva, direta ou indiretamente constituída, e incorporada à prática do

educador.

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A ação docente demanda que, na prática, sejam articulados vários

conhecimentos e habilidades, no alcance de uma preparação específica. A

profissionalização docente refere-se à forma de como lidar com os alunos, a fim de que,

realmente, aprendam o que se propõe ensinar-lhes. A princípio, nos parece simples, mas

é de grande complexidade e importância identificar como ocorre esse processo,

definindo os diferentes saberes, presentes na prática docente, assim como as relações

ocorridas entre eles (alunos) e os professores.

Figura 2

O gráfico apresentado na Figura 2 enumera os saberes que se configuram na

docência, segundo Tardif (2005), Pimenta (1996b) e Houssaye (1995).

Sendo assim, a verdade é que o saber docente se compõe de vários saberes e

estes, por sua vez, são provenientes de diversas fontes. Por isso, o saber docente é um

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saber plural, pois é formado a partir de diversos saberes como os provenientes das

instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana.

Sendo assim, ele é heterogêneo (TARDIF, 2005).

De acordo com estes três autores dentre outros, os saberes são: a) saberes

profissionais, b) saberes disciplinares, c) saberes experienciais e d) saberes curriculares,

sendo que este último é citado, em especial, por Tardif (2005) e não compõe o leque de

saberes, a princípio, referenciados por Houssaye e Pimenta (Idem).

Tanto os saberes da formação pedagógica como os saberes de um campo

específico de conhecimento e da própria experiência vão fazer parte da competência do

docente, favorecendo sua habilidade de agir de forma criativa, em situações novas e

únicas que requeiram respostas apropriadas a serem aprendidas em cada situação

específica, e não simplesmente com aplicação dos conhecimentos específicos.

1.3.1 – A construção dos saberes na prática docente

Como já foi dito, os saberes dos professores, segundo Tardif (2005), não podem

ser vistos em separado de outras dimensões do ensino, ou mesmo, separados da prática

docente. É necessário analisá-los sob diversos olhares de acordo com sua natureza,

como são adquiridos, seus papéis, como são incorporados nos programas da escola, etc.

Em seguida, apresentaremos os diversos saberes da forma como estão

constituídos à luz dos estudos de Pimenta (1996), Tardif (2005) e Houssaye (1995):

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A) O saber pedagógico: Pimenta (1996b) nos fala da existência deste saber,

afirmando que, para se ter a competência para ensinar, não bastam experiência e

conhecimentos específicos; necessário se faz ao educador que ele possua os saberes

pedagógicos e didáticos. De acordo com Masetto (2006), a docência no nível

superior exige do professor que ele tenha domínio também na área pedagógica.

Segundo Cunha (2005), quando se trata de nossos professores universitários, este é

um ponto ainda carente. De acordo com a autora, eles podem desconhecer a

importância desse saber porque nunca tiveram a oportunidade de entrar em contato

com a área pedagógica ou, mesmo, porque consideram algo supérfluo ou

desnecessário para o exercício da docência.

Assim, para Pimenta (1996a), esse saber é considerado saber pedagógico,

enquanto para Tardif (2005), trata-se do saber profissional, o que leva a denominar o

conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores,

como escolas normais ou faculdades de ciências da educação. O professor e o ensino

são objetos de saber para as ciências da educação. Muitas delas não só produzem

conhecimento, mas incorporam esses conhecimentos à prática do professor. São

destinados à formação científica ou erudita dos docentes, transformando-se em

prática científica ou tecnologia da aprendizagem.

É, sobretudo, na sua formação profissional que os professores passam a ter

contato com as ciências da educação e assim mobilizam diversos saberes, entre eles,

os chamados saberes pedagógicos:

Os saberes pedagógicos apresentam-se como doutrinas ou concepções provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido mais amplo do termo, reflexões racionais e normativas que conduzem a

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sistemas mais ou menos coerentes de representação e de orientação da atividade educativa (TARDIF, 2005, p. 37).

Para Houssaye (1995), nós, professores, devemos nos empenhar na

construção dos saberes pedagógicos a partir das necessidades pedagógicas, postas

no real para além dos esquemas apriorísticos das ciências da educação. Em outras

palavras, reinventar os saberes pedagógicos a partir da prática social da educação.

Diante dos novos desafios colocados pela revolução da informação, compete

ao professor proceder a uma leitura crítica da prática social de ensinar e propor uma

renovação didática articulada à realidade escolar e à formação contínua dos

docentes.

A didática fornece técnicas aplicadas em toda ou qualquer situação e, ao

mesmo tempo, revela que para saber ensinar não são necessários somente a

experiência e os conhecimentos, mas os saberes didáticos e pedagógicos. “A

especificidade da formação pedagógica, tanto inicial como a contínua, não é refletir

sobre o que se vai fazer, nem sobre o que se deve fazer, mas sobre o que se faz”

(HOUSSAYE, 1995, p. 28). Pimenta (1996a) afirma ainda que a base para a

formação docente é o próprio saber profissional e que “os saberes sobre educação e

sobre a pedagogia não geram os saberes pedagógicos. Estes só se constituem a partir

da prática, que os confronta e reelabora” (PIMENTA, 1996a, p. 44).

O estudo e a investigação sistemática, realizados pelos docentes e

confrontados na prática, constituem-se em saberes pedagógicos que irão embasar a

teoria pedagógica (PIMENTA, 1996a). Por isso, não devemos esquecer que a prática

docente é rica de possibilidades para se construir a própria teoria, pois ela engloba

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novas práticas, tomadas na sua concreticidade imediata, e busca refletir acerca das

teorias que se praticam (PIMENTA e ANASTASIOU 2005). Portanto, os saberes

pedagógicos são construções cognitivas, feitas pelos educadores que têm como

origem sua prática docente (conhecimentos pedagógicos prévios), que se organizam

como concepções e pressupostos, no que diz respeito em ser e estar professor.

B) O conhecimento: Muitos dos nossos professores não atentaram para o significado

dos conhecimentos na sociedade contemporânea e reduzem-no à mera informação.

Acerca do conhecimento, o próprio Morin (1993) declara:

Conhecimento não se reduz à informação. Esta é o primeiro estágio daquele. Conhecer implica um segundo estágio: o de trabalhar com informações classificando-as, analisando-as e contextualizando-as. O terceiro estágio tem a ver com a inteligência, a consciência ou sabedoria. Inteligência tem a ver com a arte de vincular conhecimento de maneira útil e pertinente, isto é, de produzir novas formas de progresso e desenvolvimento; consciência e sabedoria envolvem reflexão, isto é, capacidade de produzir novas formas de existência, de humanização. E é nessa trama que se pode entender as relações entre conhecimento e poder” (MORIN, apud PIMENTA, 2005, p. 21).

Segundo Pimenta e Anastasiou (2005, p. 22), não basta produzir

conhecimento simplesmente: “É preciso produzir as condições de produção do

conhecimento, ou seja, conhecer significa estar consciente do poder do

conhecimento para produção da vida material, social e existencial da humanidade”.

Sendo assim, a escola se fundamenta no trabalho do professor com os alunos,

contribuindo para o processo de humanização, tanto do docente como dos discentes,

num trabalho de inserção social crítica e transformadora.

Nesse sentido, a autora entende que,

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A educação é um processo de humanização; que ocorre na sociedade humana com finalidade explícita de tornar os indivíduos participantes do processo civilizatório e responsáveis por levá-lo adiante. (...) Por isso, a finalidade da educação escolar na sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, é possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos, desenvolvendo habilidades para operá-los, revê-los e reconstruí-los com sabedoria. O que implica analisá-los, confrontá-los, contextualizá-los. Para isso, há que os articular em totalidades que permitam aos alunos irem construindo a noção de Cidadania mundial13 (PIMENTA, 2005, p. 23).

Assim como Pimenta (1996a) considera esses saberes como conhecimento,

para Tardif (2005), são os saberes disciplinares e, para Houssaye (1995), é o saber

científico. Este último autor diz que o saber científico é construído e articulado com

os saberes da experiência e com os desafios que a prática cotidiana escolar lhe

coloca, sem falar que os professores fundamentam seu saber ser articulando com os

saberes das áreas específicas.

Os saberes disciplinares, segundo Tardif (2005), compõem a prática docente

através da formação inicial e contínua dos professores nas diversas disciplinas

oferecidas nas universidades e correspondem a diversos campos distintos, como, por

exemplo, no campo da Administração, as disciplinas de Teoria Geral da

Administração, Administração e Análise Mercadológica, Economia I, etc. Segundo

o autor, esses saberes disciplinares manifestam-se a partir da tradição cultural e dos

grupos sociais, produtores de saberes.

Embora, sem dúvida, os conteúdos disciplinares tenham sua importância, “o

professor deve ensinar bem e certo os conteúdos da sua disciplina, mas não poderá

reduzir sua prática ao puro ensino daqueles conteúdos” (FREIRE, 2007, p. 103), 13 Parafraseando expressão utilizada por Morin (1993) de que o “desafio do século 21 será de gerar uma cidadania”.

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produzindo com o aluno o conhecimento e as condições de produção desse

conhecimento, isto é, estar consciente do poder do conhecimento para a produção da

vida material, social e existencial da humanidade. Nesse sentido, o docente poderá

possibilitar aos seus alunos, transformar-se em sujeitos críticos e reflexivos,

adquirindo conhecimento necessário à permanente construção do humano.

C) Os saberes experienciais: São aqueles que os docentes desenvolvem durante o seu

trabalho cotidiano e no conhecimento do seu meio. Eles são formados ao longo de

suas experiências, seja ela individual e coletiva, sob forma de habitus14 e de

habilidades, de saber-fazer e de saber-ser (TARDIF 2005). Em outras palavras, “o

saber profissional está, de certo modo, na confluência entre várias fontes de saberes

provenientes da história de vida individual, da sociedade, da instituição escolar, dos

outros atores educativos, dos lugares de formação etc.” (TARDIF, 2005, p.64).

Para Pimenta e Anastasiou (2005):

Os saberes da experiência são também aqueles que os professores produzem no seu cotidiano docente, num processo permanente de reflexão sobre sua prática, mediatizada pela de outrem – seus colegas de trabalho, os textos produzidos por outros educadores (PIMENTA e ANASTASIOU 2005, p. 20).

Sendo assim, os processos de reflexão sobre a própria prática ganham

importância no que diz respeito à formação dos professores, segundo Schon (1990),

Zeichner (1993) Alarcão (2001) e outros.

14 Por habitus entendam-se os esquemas de ação e de pensamento interiorizados durante a história escolar e familiar e no âmbito da socialização profissional (BATISTA, 2005, p. 66).

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É, então, através da reflexão crítica sobre a prática que o professor melhora

sua própria prática. E nesse movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar

sobre o fazer, produz rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade

epistemológica do sujeito (FREIRE, 2005).

Os saberes experienciais têm origem, portanto, na prática cotidiana do

docente e nas experiências compartilhadas com os pares quanto ao modo de fazer,

os modos de organizar a sala de aula na prática etc. Só a experiência limita a ação do

docente. Mesmo assim, a prática do dia a dia desse profissional fortalece as certezas

experienciais como também permite avaliar outros saberes a partir da reflexão na e

sobre a prática. A experiência poderá se transformar numa maneira pessoal de

ensinar, recursos profissionais, em habitus, constituindo traços da personalidade

profissional (Tardif, 2005).

Nóvoa (1992, p. 25) diz que:

(...) é forçoso reconhecer que a profissionalização na área das Ciências da Educação tem contribuído para desvalorizar os saberes da experiência e as práticas dos professores. A pedagogia científica tende a legitimar a razão instrumental: os esforços de racionalização do ensino não se concretizam a partir de uma valorização dos saberes de que os professores são portadores, mas sim através de um esforço para impor novos saberes ditos científicos. A lógica da racionalidade técnica opõe-se sempre ao desenvolvimento de uma práxis reflexiva.

Assim, se desconhece ou pouco se valoriza o saber experiencial em função

dessa racionalidade técnica, embotando, por sua vez, a forma espontânea de se

produzir saberes a partir do exercício da atividade de ensino. Sabe-se que se aprende

a ensinar ensinando.

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É mister salientar que os saberes da experiência caracterizam-se como núcleo

vital do saber docente que, segundo Tardif (2005, p. 54), “não são saberes como os

demais; são, ao contrário, formados de todos os demais, mas traduzidos, ‘polidos’ e

submetidos às certezas construídas na prática e na experiência” (TARDIF, 2005, p.

48). Estes são saberes práticos e não teóricos: eles não se superpõem à prática, mas

se integram a ela e dela são partes constituintes enquanto prática docente. Juntos,

eles formam referência para que o professor oriente sua prática cotidiana e sua

profissão, constituindo a cultura docente em ação (TARDIF, 2005).

D) Os saberes curriculares. Assim, ressaltados por Tardif (2005), correspondem,

segundo ele, aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos, de acordo com os

saberes sociais categorizados pela instituição escolar em conformidade com a

cultura erudita e de formação para a cultura erudita. Eles se apresentam de forma

concreta ao modo de programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos), que

devem ser aplicados por seus professores.

Em suma, estes saberes contemplam a seleção que os sistemas de ensino, a

escola, o professor e demais sujeitos realizam na cultura e compõe programas de ensino

e textos didáticos (BATISTA, 2006).

De acordo com Anastasiou e Alves (2006), de um lado, em muitas de nossas

instituições de ensino superior, os currículos seguem configuração em grade, proposta

há dois séculos, vale salientar. Segundo os autores, o modelo é baseado na

racionalidade, separa teoria da prática e distingue as disciplinas do básico e do

profissionalizante, com pré-requisitos, requisitos e outros, não proporcionando

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articulação entre os conteúdos disciplinares, que seguem um ordenamento puro e

simples.

Muitas das nossas escolas vêm buscando integrar os saberes curriculares sem

alterar sua lógica e muitos professores universitários têm se esforçado no sentido de

integrar o processo de ensino entre si. Segundo Anastasiou e Alves (2006, p. 44), são

ações integrativas “Auxiliam o aluno a construir um quadro teórico-prático global mais

significativo e mais próximo dos desafios presentes na realidade profissional dinâmica e

uma, na qual atuará depois de concluída a graduação”.

Isto decorre de uma visão diferenciada do paradigma conservador, numa

transição entre a modernidade e a pós-modernidade15, acrescida agora de uma

valorização da ação reflexiva. O aluno estuda, reflete e sistematiza o conhecimento.

Dessa forma, o discente é instigado a reconhecer a realidade e a refletir sobre ela

(CUNHA, 1997).

Por fim, os saberes dos professores são saberes sociais porque surgem num

contexto social em que os professores estão inseridos: na sala de aula, nas experiências

adquiridas a partir da relação com outros profissionais do ensino, na administração

escolar, nas associações profissionais, nos grupos científicos, nas instituições de ensino,

etc. (TARDIF, 2005).

Em suma, um profissional do ensino não define de forma solitária, e em si

mesmo, o seu saber profissional. Nesse sentido, para o autor “o que um professor deve

ensinar não constitui, acima de tudo, um problema cognitivo ou epistemológico, mas

15 A visão pós-moderna de ciência vem sendo discutida por vários autores. Sugerimos consultar SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1999.

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sim uma questão social” (TARDIF, 2005, p. 13), porque tudo gravita num contexto de

uma socialização profissional que, por sua vez, é incorporado, ou mesmo, modificado,

durante sua trajetória como professor, o qual aprende a ser este profissional realizando o

seu trabalho numa construção constante e progressiva. Isso exige do profissional de

ensino centrar seu trabalho no contexto real e em situações concretas de ação, exigindo

dele o domínio dos saberes necessários à realização do seu trabalho.

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CAPÍTULO 2 – UNIVERSIDADE: docência e desafios

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A educação será tão mais plena quanto mais esteja sendo um ato de conhecimento,

um ato político, um compromisso ético e uma experiência estética.

(Paulo FREIRE)

A universidade teve sua origem há mais de sete séculos, período esse que

testemunhou o prestígio e o estatuto, mas, também, o carinho e a dedicação que lhe

foram reservados pela sociedade como instância de produção e reprodução social de

saber avançado e, por conseguinte, como instância de produção sócio-cultural por

excelência. Guardar e proteger o saber já adquirido, reconhecido como um dos mais

importantes tesouros da humanidade, e reproduzir esse saber e por ele formar

mentalidades e práticas sociais, produzir, distribuir e redistribuir o saber são ações que

caracterizam a universidade como escola especial e especializada, que traduz o seu

poder social e cultural na história da cultura.

É uma das mais antigas instituições vigentes no mundo ocidental. Fiel a muitas

de suas tradições inaugurais, a universidade conserva ritos e mitos, cujo sentido é

possível compreender retornando às suas origens, para iluminar os sentidos que diversas

práticas têm hoje. Ao mesmo tempo, a história da universidade, em cada país, e de cada

universidade local proporciona matrizes diferenciais a cada instituição universitária, em

particular.

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Ao longo do século XIX, a universidade transformou-se em conseqüência do

surgimento da ciência racional como um novo saber legítimo. Assim como as escolas

restantes sofreram influências das promessas da modernidade (CASTANHO, 2004),

entre as quais se destacam as de um saber como bem social e de todos. Como nos

esclarece Giroux (1997), os professores universitários abandonaram a visão da sua

prática como instituinte de um novo espaço público, onde “o diálogo é orientado para o

desenvolvimento de formas de solidariedade políticas” (GIROUX, 1997, p. 201), para

se encerrarem numa linguagem científica hermética que funciona por si mesma e para si

mesma.

Com efeito, a universidade que conhecemos, hoje, deve a sua configuração

essencial à emergência e progressiva hegemonia da ciência racional, a partir do século

XVII e até meados do século XIX e está profundamente ligada à ascensão da burguesia,

à emergência da classe média e à profissionalização da sociedade e, também,

simultaneamente, à separação profunda entre o trabalho manual e o trabalho intelectual,

à teoria e à prática, às Ciências e às Humanidades, à Filosofia e à Técnica

(WALLERSTEIN, 1996).

No momento, a universidade vive novas tensões e mudanças. Ao longo do

século XX e, sobretudo a partir das suas últimas décadas, a universidade, desvanecendo-

se progressivamente dos dualismos ideológicos, políticos e sociais que caracterizam a

primeira metade do século e tornadas imperiosamente presentes às novas necessidades

econômico-sociais relacionadas com a educação de massas, por um lado, e, por outro

lado, com a formação tecnológica, foi sendo cada vez mais confrontada com exigências

de utilidade social e técnica dos saberes produzidos (SANTOS, 2004).

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Essa tendência, que questiona o saber formal do passado (à qual a própria

ciência racional aderiu através da sua academização) de modo considerável e inevitável,

empurra também a universidade para a reconciliação entre democratização e

eficientização. O contexto é confuso e, na maior parte das vezes, paradoxal. Porém,

apesar do contexto que se apresenta dicotômico, a universidade permanece, para dentro

e para fora de seus limites, um lugar de produção avançada de mais e melhores bens

culturais da sociedade, onde o saber reservado a poucos e instrumental se une à

sabedoria quotidiana mais refletida e sentida.

2.1 – Universidade: crise e mudança

A crise mundial, levada a cabo pelo processo de globalização, atinge, de forma

acentuada, a educação como um todo e, conseqüentemente, a universidade.

Santos (2004) identifica três crises com as quais a Universidade se defronta: a) a

crise de hegemonia; b) a crise de legitimidade; c) a crise institucional.

A primeira é resultado das contradições entre funções tradicionais da

universidade e aquelas colocadas ao longo do século XX: por um lado, a produção de

alta cultura, pensamento crítico e conhecimentos exemplares, científicos e humanísticos

necessários à formação das elites, desde a Idade Média européia. Por outro lado, a

formação de padrões culturais médios e de conhecimentos instrumentais, necessários

para a formação de mão de obra qualificada, exigida pelo desenvolvimento capitalista.

Decorrente dessa dicotomia de pensamento, o Estado procura, fora da universidade,

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outros meios para alcançar seus objetivos. Com isso, a universidade, segundo Santos

(2004), entrou numa crise de hegemonia.

Na segunda crise, a universidade deixa de ser instituição consensual em virtude

da contradição entre a hierarquização dos saberes especializados, decorrentes, por sua

vez das restrições do acesso e da credenciação das competências, ao mesmo tempo em

que as exigências sociais e políticas da democratização da universidade oportunizam

aos filhos das classes menos abastadas terem acesso a essa instituição.

E, por fim, a reivindicação da sua autonomia, quando da definição de valores e

objetivos da universidade, submetendo-a a critérios de eficácia e produtividade, ora de

natureza empresarial, ora de natureza de responsabilidade social.

É importante salientar que a crise dessa instituição acontece há pelo menos dois

séculos, sendo, segundo Santos (2004), o elo mais fraco da universidade pública. Isto se

deve ao fato de sua autonomia pedagógica e científica consistir na dependência

financeira do Estado. Com a perda da prioridade nas políticas públicas do Estado, a

universidade pública tornou-se debilitada e aberta à exploração comercial, induzida pelo

modelo de desenvolvimento econômico – o neoliberalismo ou a globalização neoliberal.

Com efeito, as mudanças que ocorrem na universidade fazem parte da

transformação global, que tende a alterar as relações da formação com as profissões e o

trabalho em geral e que reconfigura o padrão das bases materiais da economia, da

sociedade e da cultura (LEITE e FERNANDES, 2006). Nas mudanças conjuga-se a

revolução dos serviços que suplantaram a revolução industrial (BELL, 1973) e a

revolução da informação, que tendo por base as tecnologias de informação,

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processamento e comunicação, deram lugar à sociedade da informação e dos

conhecimentos, que se caracteriza pelo fato de as ocupações estarem cada vez mais

envolvidas na gestão, distribuição e criação do conhecimento (TARDIF e LESSARD,

2005). É mister salientarmos que não se trata apenas de o conhecimento ocupar um

lugar central, trata-se, sobretudo, da sua aplicação na geração de dispositivos de

conhecimento e de comunicação, num ciclo de realimentação cumulativo entre inovação

e uso (CASTELLS, 1999).

É esta transformação profunda que tem conseqüências muito fortes na educação

e na formação, quer seja pela necessidade de se formar na construção de competências

cognitivas superiores e de relacionamento, quer seja porque é preciso formar para

transformar a organização taylorista/fordista, baseada na divisão de tarefas, cadeias de

produção e na distinção entre concepção e execução, agora tornadas um obstáculo.

Como defende Kuenzer (2004, p. 18), o próprio capital se envolve na questão educativa

e pedagógica, passando,

a defender o desenvolvimento de competências, para o que deve propiciar formação flexível e continuada de modo a atender às demandas de um mercado em permanente movimento, em substituição à formação conteudista especializada e pouco dinâmica para um mercado relativamente estável.

Note-se que, como frisa a mesma autora, todo este movimento tem por pano de

fundo um novo regime de acumulação, flexível, que se caracteriza por uma,

ampliação desmedida da contradição entre capital e trabalho no capitalismo, que se materializa na relação entre concentração crescente do capital e geração igualmente crescente da exclusão por meio da mundialização do capital, da reestruturação produtiva e do neoliberalismo” (KUENZER, 2004, p. 15).

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Castanho (2004, p. 35) alerta para o fato de estas mudanças possuírem um

sentido profundamente original e serem apoiadas e sustentadas por forças sociais

situadas ideologicamente em campos opostos:

Esse sentido vai além da educação medieval, pouco tem a ver com a escolarização moderna, ultrapassa os limites e as ambições do ensino da modernidade, no sentido instrucional, e está a ser gerado, queiramos ou não, pela realidade e pelas discussões e práticas que envolvem, dentro e fora das instituições do ensino superior, educadores comprometidos com o progresso social e neoliberais com o avanço do capital.

Enquanto lugar eleito de formação de quadros especializados, ou profissionais,

para uma dinâmica econômica estável e de emprego certo, o ensino superior, até agora

mantido relativamente protegido das reformas efetuadas noutros níveis dos sistemas

educativos, não poderia permanecer estereotipado. As transformações projetaram-se em

várias dimensões relacionadas, ainda que nem sempre convergentes ou de sentido único,

dentre as quais destacamos a organizativa e a epistemológica.

Do ponto de vista organizativo, passou a distinguir-se entre uma formação geral

mais curta, de base sólida e interdisciplinar, e uma formação mais diferenciada e

sofisticada. Se a primeira corresponderá, cada vez mais, à última etapa da formação

básica, a segunda incidirá na formação de um profissional autônomo e intelectual, com

perfil de empregabilidade, ou seja, adequado aos postos de trabalho ainda existentes. Na

primeira etapa, enfatizam-se a formação generalista e as diretrizes curriculares amplas;

na segunda, realçam-se as diversificações de percursos, de cuja flexibilização depende

agora a empregabilidade.

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É importante salientarmos que às agências empregadoras, agora, interessam mais

as competências de tipo comportamental que os indivíduos demonstrem possuir do que

o conteúdo a que corresponde uma determinada formação inicial. Mas, o fato de, nesse

nível, os diplomas perderem o seu valor de troca, não quer dizer que o mercado não

estabeleça os seus próprios mecanismos de controle.

Em relação à vertente epistemológica são os processos formativos na

universidade que representam as mudanças mais profundas. Em geral, a memorização

de conhecimento tem sido substituída pela capacidade de resolver problemas, de modo

original, o que não põe à parte os conteúdos, mas, antes os incorpora aos processos,

através da ênfase dada às metodologias da formação e às formas multidisciplinares de

trabalho intelectual.

Enfatizando a perspectiva do progresso social, duas vertentes, também presentes

nos apelos transformadores, devem ser destacadas: a que inclui a formação de uma

competência ética, enquanto compromisso político com a qualidade da vida social e

produtiva; e a que enfatiza os procedimentos coletivos de partilha de responsabilidades,

informações, conhecimentos e formas de controle, que agora podem estar, cada vez,

mais dependentes dos trabalhadores e grupos profissionais. Com efeito, as mudanças em

curso contêm uma ambigüidade fundamental: promovem a autonomia pessoal e a

responsabilização coletiva como valores de lucro e, ao fazê-lo, aumentam,

simultaneamente, o potencial emancipatório. O nível superior de formação, em qualquer

dos modelos que assumiu ao longo da sua história, se reservou sempre a uma área de

criticidade e pela indissolubilidade, investigação e ensino, poderemos acreditar na

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possibilidade de a universidade reverter as transformações em que se encontra em uma

oportunidade maior de desenvolvimento.

2.2 – Universidade e docência

Como diz Guinzbury (1983), compreender as instituições universitárias, que se

refletem no fazer ou nas atitudes dos seus profissionais, demanda complexidade de

tarefa não linear, cronológica e acumulativa, ou parcial, e fragmentada, mais do que um

olhar tributário dos paradigmas indiciários. Estas instituições de nível superior são

consideradas palco de atuação de seus docentes, determinando diferenças nos perfis

desses profissionais em função de diversas variáveis: dedicação, número de instituições

em que leciona, tempo de magistério, habilidades comunicativas, além de características

específicas do curso e da instituição e suas influências na formação cultural do sujeito e

sua prática-pedagógica (CUNHA, 1998).

Avançando em nossas reflexões poderíamos nos ater a seguinte pergunta: Como

os cursos superiores estão formando os profissionais? Quem são esses profissionais do

ensino?

Adotamos aqui Masetto (2006, p. 10), que aponta:

A resposta é razoavelmente simples e óbvia: por um processo de ensino no qual conhecimentos e experiências profissionais são transmitidos de um professor que sabe e conhece para um aluno que não sabe e não conhece, seguido por uma avaliação que diz se o aluno está apto ou não para exercer aquela profissão. Em caso positivo, é-lhe outorgado o diploma ou certificado de competência que permite o exercício profissional. Em caso negativo repete o curso.

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Esse autor refere, também, que são profissionais, de início, formados pelas

universidades da Europa. Remetendo-nos um pouco à história da universidade no

Brasil, logo percebemos que ela foi instituída dentro de um padrão francês de

universidade napoleônica (RIBEIRO, 1995), mas não totalmente transplantado. Assim

sendo, prevaleceram características de autarquia, valorizando as ciências exatas e

tecnológicas e desvalorizando, por sua vez, a filosofia, a teologia e as ciências humanas,

com a departamentalização estanque dos cursos voltados à profissionalização. Ainda,

segundo Masetto (2006), não foi adotada uma postura centralizadora, “de órgão

monopolizador da educação geral destinado a unificar culturalmente o país e integrá-lo

na civilização industrial emergente” (MASETTO, 2006, p. 10).

Destarte, as faculdades que foram criadas e aqui se instalaram voltaram-se para a

formação de profissionais que iriam exercer uma profissão determinada: “Currículos

seriados, programas fechados, que constavam unicamente das disciplinas que

interessavam imediata e diretamente ao exercício daquela profissão e procuravam

formar profissionais competentes em uma determinada área ou especificidade”

(MASETTO, 2006, p. 10).

Com o crescimento e a expansão dos cursos superiores, passou-se, então, a

buscar professores renomados nas diferentes áreas de conhecimento, com exercício

competente de sua profissão, para compor o corpo docente faculdades e universidades

de nosso país.

Dessa forma, durante muito tempo tomou-se como verdadeira a crença de que

quem sabe, sabe ensinar. Em conseqüência desse fato histórico, que hoje ainda se

reflete, não há uma formação profissional que responda às necessidades da população,

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como um todo, e que seja capaz de superar o modelo neoliberal pautado pela

racionalidade de mercado, hoje dominante nas agências formadoras. Cada vez mais,

isso provoca um viés da carreira docente, “que está ligado à ordem da organização

econômica e social e define o que é valor nas relações de poder” (CUNHA, LEITE,

VEIGA e LUCARELLI, 1999, p. 8). Complementando esta nossa reflexão, Pimenta e

Anastasiou (2005) nos dizem que muitos dos nossos professores “dormem profissionais

e pesquisadores e acordam professores!” (PIMENTA E ANASTASIOU, 2005, p. 104),

embora ainda não se encontrem devidamente preparados para tal. Segundo Masetto

(2006, p. 11) de acordo com esta concepção “ensinar significava ministrar grandes aulas

expositivas ou palestras sobre um determinado assunto dominado pelo conferencista,

mostrar, na prática, como se fazia, e isso um profissional saberia fazer”.

É importante salientarmos que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n.°

9.394/96 – no seu artigo 65, diz que: “a formação docente, exceto para educação

superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas”. Sendo assim,

exclui-se a necessidade de uma formação prévia para os profissionais deste nível ensino.

Ainda no seu artigo 66: “a preparação docente superior para o exercício desse

magistério se faz em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de

mestrado e doutorado”. O que acontece, na realidade, é que essas formações referentes à

pós-graduação strictu sensu não trazem, no bojo da sua matriz curricular, disciplinas

pedagógicas e, quando isso ocorre, ela apresenta um caráter optativo, não obrigatório,

sem esquecermos que a maior parte da demanda é composta de professores ou

profissionais que aspiram à carreira docente.

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Esse é um fato curioso, pois, pode alguém ensinar quando ainda não sabe sobre

o que terá que ensinar? Que valor se atribui às matérias pedagógicas e para que se

acredita que elas servem?

Somente, recentemente, os professores do ensino superior começam a refletir

que a docência, como a pesquisa e o exercício de qualquer profissão, exige capacitação

que lhe é própria e específica. Segundo Masetto (2006, p. 11), “O exercício docente no

ensino superior exige competências específicas, que não se restringem a ter um diploma

de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda, apenas o exercício de uma

profissão”. Tudo isso exige competências que lhes são próprias, além de outras mais.

Em outras palavras, ainda segundo Masetto (2006, p. 13) “um profissionalismo

semelhante àquele exigido para o exercício de qualquer profissão. (...) A docência nas

universidades e faculdades precisa ser encarada de forma profissional e, não

amadoristicamente”.

Devemos ressaltar, também, que, no Brasil, o aluno universitário, de uma

maneira geral, não era visto como sujeito do processo ensino-aprendizagem. Este

destaque era concedido apenas ao professor, que, por sua vez, se preocupava em ser

competente no exercício de sua profissão, atualizado em conhecimentos e experiências,

especializado, pesquisador, produtor de ciência e, nas aulas, apenas um transmissor

desses conhecimentos e avaliador do aprendizado do aluno. Em outras palavras,

aprender significava apenas repetir o que o professor tinha ensinado nas suas aulas, em

função, muitas vezes de questões paradigmáticas, já vistas anteriormente.

Por outro lado, não havia preocupação com a boa transmissão da matéria, se as

explicações foram claras, se havia interação do professor com os alunos, se o programa

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estava adaptado às necessidades do aluno, se o professor comunicava-se bem em sala de

aula. Enfim, tudo isso era considerado supérfluo, sendo importante apenas o professor

dominar o conteúdo a ser transmitido.

Segundo Masetto (2006, p. 12), o objetivo central do ensino nos cursos de

graduação é a aprendizagem dos alunos: “nosso trabalho de docentes deve privilegiar

não apenas o ensino, mas o processo de ensino-aprendizagem, em que a ênfase esteja

presente na aprendizagem dos alunos e não na transmissão de conhecimentos por parte

dos professores”.

2.2.1 – Cursos de graduação formadores de profissionais na contemporaneidade

Como já enfatizamos anteriormente, os cursos de graduação no Brasil

caracterizam-se pela formação de profissionais nas diversas áreas do saber e nos muitos

serviços que se fazem necessários à sociedade.

Não se sabe ao certo o por quê, mas a verdade é que os cursos do ensino superior

fecharam-se na formação específica de seus profissionais. Muitas são as verdadeiras

razões para que acontecesse dessa forma. Masetto (2006, p. 13) nos aponta algumas

causas pelas quais ocorre esse comportamento. Diz ele: “pela marca de seu paradigma

inicial... seja pelo desenvolvimento das ciências e sua conseqüente necessidade de

especialização, seja ainda pela fragmentação do saber e das qualificações profissionais

cada vez mais bem delimitadas”.

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Na verdade, tem-se observado que os planos de ensino apresentam uma série de

conteúdos de caráter mais específico, de forma atual e prática, que irão permitir ao

discente o desenvolvimento de algumas habilidades profissionais.

Diante do cenário que se apresenta, atualmente, diferenciado do anterior, com

tantas exigências do mundo do trabalho no que se refere a esses futuros profissionais, é

importante lembrarmos que as instituições de nível superior como instituições de

educação, na sua essência elas são, co-responsáveis pela formação dos seus alunos

como cidadãos (seres humanos e sociais) e profissionais de competência (MASETTO,

2006).

Segundo o autor acima citado, sabe-se que a universidade “deverá ser o lugar

marcado pela prática intencional, voltada para aprendizagens definidas em seus

objetivos educacionais e planejadas para serem conseguidas nas melhores condições

possíveis” (MASETTO, 2006, p. 14).

Para fazer frente às novas exigências colocadas pelo contexto social, alguns

direcionamentos foram adotados em relação à formação de profissionais e à prática

docente: a) desenvolvimento na área do conhecimento (desenvolver um saber integrado

aos conhecimentos da área específica e outras áreas, respeitando a interdisciplinaridade,

considerando-se os compromissos sociais e comunitários); b) desenvolvimento no

aspecto afetivo-emocional (um relacionamento adequado ao ambiente externo: trabalhar

o respeito, a solidariedade e a competitividade, de forma sadia (a segurança pessoal,

inseguranças etc); c) desenvolvimento de habilidades (trabalhar em equipe, comunicar-

se não só com os colegas, mas, também, com outros profissionais, fazer relatórios,

realizar pesquisas, usar a tecnologia etc); d) desenvolvimento de atitudes e valores

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(Masetto, 2006), trabalhando no sentido de que os educandos valorizem o

conhecimento, a sua atualização contínua, a pesquisa etc., sem esquecer de considerar o

impacto da revolução tecnológica sobre a formação dos profissionais, procurando

utilizá-los de forma a beneficiar a sociedade no desenvolvimento humano, social,

político e econômico do país.

2.2.2 – Qual o papel do professor universitário nessa nova conjuntura?

A docência implica desafios e exigências. Por um lado são necessários

conhecimentos específicos para exercê-la, mas também se requisita habilidades

apropriadas à atividade docente.

Na maioria das vezes, muitos docentes do ensino superior se dedicam à

pesquisa, deixando de lado o trabalho docente. Eles acreditam que sendo bons

pesquisadores serão bons professores. Concordamos aqui com Kaurganoff (1983, p.

146) quando nos fala que:

(...) a pesquisa e ensino são indissociáveis na atividade do professor do ensino superior, mas critica ao “carreirismo” universitário naquelas instituições que privilegiam a pesquisa: Desta forma os pesquisadores em tempo integral são levados ao ensino superior, não por sentirem atraídos pela atividade pedagógica – pois em geral eles detestam os “encargos de ensino” – mas unicamente pela perspectiva de continuarem suas pesquisas em um ritmo menos estafante na segurança material que proporciona a posição de um docente – pesquisador.

Na conjuntura do ensino superior, o docente dedica-se a múltiplas atividades de

ensino, pesquisa e extensão, dependendo da natureza da instituição à qual esteja

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engajado (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005), e não apenas à pesquisa, embora o

ensino e a pesquisa sejam indissociáveis, como já foi citado.

Portanto, a docência em nível superior exige do profissional que se apresente

competente em uma área específica de conhecimento, que deve se apresentar pela

experiência profissional de campo, conhecimentos adquiridos nos cursos de

bacharelado, nas universidades, somados à experiência profissional, além de dominar a

área do conhecimento específico pela pesquisa. É importante salientar que ter o domínio

do conteúdo específico da disciplina é condição básica do ensino, mas não suficiente.

Diversos autores discutem que ações devem ser levadas a cabo pelo professor

universitário. Marcelo (1992, p. 244) menciona nove características que se baseiam na

interação professor aluno na sala de aula:

Capacidade de comunicação, atitudes favoráveis aos alunos, conhecimento do conteúdo, boa organização do conteúdo e do curso, entusiasmo com a matéria, justo nos exames, disposição para inovação, estímulo ao pensamento dos alunos, capacidade de reflexão.

É importante salientar que esses são alguns aspectos que contemplam a atuação

do professor na sala de aula, lembrando que o profissional se atualize constantemente

em sua área, participando de congressos, simpósios, encontros de pesquisa, cursos de

aperfeiçoamento etc.

Consideramos também que o professor possua o domínio na área pedagógica. A

profissionalização docente refere-se à forma de como lidar com os alunos, a fim de que,

realmente, aprendam o que se propõe ensinar-lhes. Entretanto, a questão básica do

ensino não é explicar bem o conteúdo, mas encaminhar o ensino de modo que seja

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integrado a um conjunto significativo de conhecimentos, de habilidades e de atitudes,

por parte do aluno (PEREIRA e PEREIRA, 2008).

Masetto (2006, p. 20-21) declara que:

Preocupamo-nos com que o nosso aluno aprenda conhecimentos, informações, desenvolva-se intelectualmente, pouco nos importamos com o desenvolvimento de suas habilidades humanas e profissionais e de seus valores como profissionais e cidadãos comprometidos com os problemas e a evolução de sua sociedade.

Uma prática docente desprovida de uma compreensão filosófica do mundo e do

educando seja por desconhecer uma teoria de ensino e de aprendizagem norteadoras da

prática educativa, seja pela falta de compreensão dos recursos ou dos métodos e

técnicas de ensino, pode levar o docente a um projeto pedagógico desvirtuado dos fins

que se pretende alcançar: A formação inicial tem que preparar o futuro professor para

refletir sobre sua prática, para criar modelos e, para exercer cognição e

metacomunicação.

Somente através dessa formação é que o professor poderá superar a visão

intuitiva do ensino, fortalecida pelas bases científica e filosófica dos problemas do

ensino-aprendizagem.

Não poderíamos esquecer que, segundo Masetto (2006), o exercício da dimensão

política é imprescindível no exercício da docência universitária. Uma sólida formação

pedagógica se faz com uma prática educativa não neutra, mas, ideologizada. Formar o

educador nesta perspectiva “seria criar condições para que o sujeito se prepare

filosófica, científica, técnica e afetivamente para o tipo de ação que irá exercer”

(LUCKSI, 1987, p. 30).

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O professor deverá estar aberto às discussões acerca do que se passa na

sociedade – mudanças, transformações, valores emergentes, novas descobertas, enfim

aberto a novas formas que podem afetar de uma maneira ou de outra a sua formação e o

seu exercício profissional e de seus alunos.

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CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO

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... e a evolução de nossa época é exatamente essa possibilidade de sintetizarmos o que

vemos olhando as coisas de fora com o que podemos saber olhando-as de dentro.

(CAPRA)

A realidade social é dinâmica. Sendo assim, consideramos esta realidade em

todo percurso do caminho metodológico. No desenrolar da pesquisa foram despontando

elementos que constituíram a pesquisa e atenderam a inquietações, direcionando o

estudo sobre a prática pedagógica dos professores do Curso de Administração da UFPE,

no contexto da sala de aula.

Segundo Cordeiro (2007), o ambiente de sala de aula “da universidade, esse é o

lugar privilegiado da formação, do exercício e da intervenção pedagógica; espaço

culturalmente construído, em que os significados são marcados pelas práticas e pelos

saberes dos sujeitos que os constroem” (CORDEIRO, 2007, p. 116).

Dessa forma, é possível compreender, à luz da dinâmica da sala de aula, essa

prática, seu dinamismo e complexidade, que poderá ser demarcada por diferentes

trajetórias formativas, por experiências pessoais, profissionais e por diferentes

interações vivenciadas pelo docente no dia-a-dia de sua prática profissional. É

importante salientar que, na sua prática, o professor constrói habilidades profissionais,

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de esquemas de ação e de saberes, dentre outros, necessários ao trabalho docente

(BRITO, 2007).

Durante a nossa investigação, um dos aspectos revelados na análise dos dados

refere-se à compreensão de que a prática docente é um espaço singular de criação,

articulada no contexto social, sendo nele (o contexto) que o professor edifica e

fundamenta seu saber ser, a partir da articulação dos saberes das áreas específicas, os

saberes pedagógicos e os saberes da experiência com os desafios que a prática cotidiana

nas escolas lhe coloca (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005).

Dessa forma, o nosso objeto de estudo é um elemento social – a prática

pedagógica docente, pois nela está contido objetividades e subjetividades que estão

presentes nas relações sociais estabelecidas e, por sua vez, não pode ser considerado

apenas numa perspectiva reducionista do seu universo de significados, esquecendo-se

da sua subjetividade, mas, considerando a compreensão tanto das subjetividades como

dos significados que, desse modo, constituem o objeto social.

Compreendida a natureza do estudo, optamos por uma abordagem qualitativa. A

partir das concepções de Lüdke e André (1986), Triviños (1987), Minayo (2001) e

outros. Por ser mais adequada ao objeto estudado: a prática pedagógica docente dos

professores do Curso de Administração no contexto da sala de aula, sabendo-se que esta

abordagem não está limitada à quantificação da realidade, mas se ocupa com a relação

dinâmica entre a realidade vivenciada e o objeto em questão. É importante salientar que

esta realidade deva ser considerada como um todo que, embora faça parte da totalidade,

se apresenta com características próprias. De acordo com André (2005), a abordagem

qualitativa contempla dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador e a

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situação estudada, pois, de preferência, enfatiza mais o processo do que o produto e os

resultados finais.

Segundo ainda Minayo (1992, p. 22), a abordagem qualitativa “trabalha com o

mundo dos significados, das ações e relações humanas; uma realidade social ‘não

perceptível’ e não captável em equações, médias e estatísticas”. Dessa forma,

buscaremos entender a prática pedagógica dos docentes do Curso de Administração,

carregada de emoções, motivos, atitudes, crenças, que podem ser compreendidas e

descritas, considerando-se o contexto social da sala de aula, sendo esta realidade que o

docente vive.

Essa prática adquire sentido e significado a partir do contexto social. É

importante salientar que o modo dinâmico no qual está caracterizado o cotidiano da

prática escolar será mais bem retratado, em toda a sua complexidade, se o analisarmos à

luz da realidade do docente, realidade esta que não deve ser considerada como algo

externo ao sujeito, pois, segundo André (2005, p. 17) “a corrente idealista-subjetivista

valoriza a maneira própria de entendimento da realidade pelo indivíduo” isto quer dizer

que assume acima de tudo que fatos e os valores são intrínsecos ao contexto social e se

relacionam entre si”.

(...) o estudo de como os indivíduos compreendem e estruturam o seu dia-a-dia, isto é, procura descobrir “os métodos” que as pessoas usam no seu dia-a-dia para entender e construir a realidade que as cerca. Seus principais focos de interesse são, portanto, os conhecimentos tácitos, as formas de entendimento do senso comum, as práticas cotidianas e as atividades rotineiras que forjam as condutas dos atores sociais (ANDRÉ, 2005, p. 19).

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Em concordância com a autora, afirmamos que o objeto de estudo poderá ser

mais bem retratado em toda a sua complexidade quando da utilização da pesquisa

qualitativa, em particular o estudo etnográfico de sala de aula:

A pesquisa etnográfica busca a formulação de hipóteses, conceitos, abstrações, teorias e não sua testagem. Para isso faz uso de um plano de trabalho aberto e flexível, em que os focos da investigação vão sendo constantemente revistos, as técnicas de coleta, reavaliadas, os instrumentos, reformados e os fundamentos teóricos, repensados. O que esse tipo de pesquisa visa é a descoberta de novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade (ANDRÉ, 2005, p. 40).

Ela responde às nossas inquietações e nos proporciona retratar as questões da

prática escolar cotidiana, visto que os fenômenos sociais são muito complexos e

dinâmicos no que se refere ao redimensionamento do saber e do fazer docentes,

considerando-se os componentes de cada situação quanto as suas interações e suas

influências recíprocas.

O pensamento de Wolcott, citado por Lück e André (1986) quando nos fala que

“a pesquisa etnográfica em educação deve envolver uma preocupação em pensar o

ensino e a aprendizagem dentro de um contexto cultural amplo” (LÜCK e ANDRÉ,

1986, p. 14). De acordo com esta conceituação, a pesquisa faz parte da atividade do

educador, identificando o seu fazer pedagógico no contexto que ele exerce sua

atividade, assumindo seu papel de sujeito da pesquisa sem neutralidade e junto ao

campo em que atua. Para Lücke e André (1986, p. 5) “o papel do investigador é

justamente servir como veículo inteligente e ativo entre o conhecimento acumulado na

área e as novas evidências que serão estabelecidas a partir da pesquisa”. O estudo

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etnográfico tem no seu pressuposto de que o que é dito e feito está moldado, consciente

ou inconscientemente, pela situação social.

3.1 – Campo de pesquisa: realidade sócio-dinâmica e ambiente sócio-profissional

O campo que selecionamos para a realização do estudo foi a Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE), em particular o Centro de Ciências Sociais Aplicadas,

composto por 4 (quatro) departamentos, entre eles o departamento de Ciências

Administrativas, foco da nossa pesquisa.

3.1.1 – A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

O campus universitário da UFPE está localizado no bairro Cidade Universitária,

situado na zona oeste do Recife. A sua área é de 149 hectares, na qual estão distribuídos

nove centros acadêmicos. No campus também estão situados o Centro de Convenções, a

Concha Acústica, o Colégio de Aplicação – que conta com 401 (quatrocentos e um)

alunos nos Ensinos Fundamental e Médio – e sete dos oito órgãos suplementares

(Editora Universitária, Hospital das Clínicas, Laboratório de Imunopatologia Keizo

Asami - LIKA, Núcleo de Tecnologia da Informação, Núcleo de Educação Física e

Desportos e Prefeitura). No centro do Recife e bairros próximos, estão localizados a

Faculdade de Direito (Centro de Ciências Jurídicas), a antiga Escola de Engenharia, o

Departamento Cultural, o Núcleo de TV e Rádio universitários e o Memorial da

Medicina.

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A UFPE, além do Campus Recife, possui, no interior, o Centro Acadêmico do

Agreste, em Caruaru, onde estão sendo ministrados, inicialmente, cinco cursos de

graduação: Administração, Ciências Econômicas, Design, Pedagogia e Engenharia Civil

e o Centro Acadêmico de Vitória, o mais recente. O referido Centro é a segunda

unidade acadêmica da UFPE no interior e está localizado na cidade de Vitória de Santo

Antão, na Zona da Mata, a 55 quilômetros do Recife. Esta unidade oferece os cursos de

Nutrição (60 vagas), Enfermagem (70) e Licenciatura em Ciências Biológicas (120),

nos três turnos de ensino.

A UFPE possui hoje 12 (doze) centros acadêmicos, 84 (oitenta e quatro) cursos

de graduação oferecidos no vestibular 2008, sendo 72 (setenta e dois) no Campus

Recife, 9 (nove) no Campus do Agreste e 3 (três) no Campus de Vitória de Santo Antão,

além do curso de graduação a distância (Licenciatura em Letras, para professores da

rede pública).

Oferece também 98 (noventa e oito) cursos de Pós-Graduação Strictu Sensu: 51

(cinqüenta e um) Mestrados Acadêmicos, 5 (cinco) Mestrados Profissionalizantes e 42

(quarenta e dois) Doutorados. Também são oferecidos 40 (quarenta) cursos de Pós-

Graduação Lato Sensu (especializações). São 2.725 (dois mil setecentos e vinte e cinco)

alunos nos cursos de mestrado acadêmico, 361(trezentos e sessenta e um) em mestrados

profissionais, 1.631(mil seiscentos e trinta e um) em doutorados e 1.311 (mil trezentos e

onze) dos cursos de especialização oferecidos no Campus Recife.

Quanto aos seus professores são em número de 1.735 (mil setecentos e trinta e

cinco) professores, dos quais 71% com título de Doutor; 52 (cinqüenta e dois)

professores são do Colégio de Aplicação, 75% com mestrado ou doutorado.

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Por fim, a UFPE possui cerca de 3.327 (três mil trezentos e vinte e sete)

servidores técnico-administrativos, nos 3 (três) campus, incluindo o Hospital das

Clínicas16.

FIGURA 317

É importante salientar que, segundo avaliações dos Ministérios da Educação

(MEC) e da Ciência e Tecnologia (MCT), a Universidade Federal de Pernambuco, em

termos de referência universitária, está entre uma das melhores universidades do país,

em ensino (graduação e pós-graduação) e pesquisa científica, portanto, referência entre

as demais universidades federais do país18.

16 Dados de maio/2008. 17 Mapa do campus universitário da UFPE Recife. 18 Fonte: Site UFPE (www.ufpe.br).

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3.1.2 – O Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA)

O CCSA foi fundado em 1974 com a junção da Faculdade de Ciências

Econômicas e da Escola de Serviço Social. Hoje, concentra suas atividades no turno da

noite, desenvolve pesquisas e trabalhos de extensão relacionados com os problemas

sociais do estado e da região. Entre as áreas pesquisadas estão: política social, custos

para instituições públicas e privadas, marketing, finanças, recursos humanos,

administração, comunicação rural, economia do setor público, do trabalho, agrícola e

industrial.

O CCSA é formado por quatro departamentos acadêmicos: Ciências

Administrativas, Ciências Contábeis, Economia e Serviço Social, oferecendo seis cursos

de graduação, quatro de mestrado e três de doutorado.

Atualmente, esse centro tem cerca de 4.000 (quatro mil) alunos. Seus estudantes

de graduação realizam intercâmbio com outras universidades brasileiras e com

universidades da América Latina (Panamá, Peru e Colômbia), dos Estados Unidos e da

Europa. O corpo docente é formado por 135 (cento e trinta e cinco) professores,

aproximadamente. Em relação à graduação, os referidos departamentos são as unidades

responsáveis pelos 06 (seis) cursos: Administração, Ciências Contábeis, Ciências

Econômicas, Hotelaria, Secretariado e Serviço Social.

Em atendimento à demanda de instituições públicas e privadas, o CCSA

desenvolve pesquisas nas áreas de Planejamento e Política Social, nas áreas de Custos,

Marketing e Finanças, Administração Geral, Recursos Humanos, Administração

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Pública, Administração de Operações e Sistemas de Informações e, ainda, nas áreas de

Economia do Setor Público, do Trabalho, Agrícola e Industrial.

No Campo da extensão, executa cursos diversificados nas áreas de cada

Departamento. Atualmente, o Centro oferece cursos de especialização nas diversas áreas

de cada departamento, projetos técnicos para outras instituições, encarregando-se,

também, de projetos de consultoria e capacitação técnica junto a prefeituras municipais

e assessoria a órgãos prestadores de serviços sociais.

O Centro de Ciências Sociais Aplicadas mantém convênios com universidades

de Londres, Geórgia (USA), Illinois (USA), Cornell (USA), Nova de Lisboa, Beira

Interior e Porto; com instituições públicas, como o Banco do Brasil, Petrobrás, Chesf,

Eletrobrás e órgãos de apoio financeiro como o CNPq, FACEPE, FINEP, BIRD e

CAPES.

A área física disponível aos alunos, no CCSA, é constituída por: 3 (três)

laboratórios de informática, com computadores interligados à rede da UFPE, dando

acesso à Internet de alta velocidade para pesquisa; 42 (quarenta e duas) salas, com

capacidade para 50 (cinqüenta) a 120 (cento e vinte) alunos; sala de multimídia, com

aparelhos eletrônicos; 1 anfiteatro, com 100 (cem) lugares; 1 (um) auditório, com 250

(duzentos) lugares; 1 (uma) biblioteca informatizada, medindo 1.500 m², constituída de

sala de leitura informal, setor circulante, salão de estudo, áreas do acervo de livros e

periódicos, setor de referência, setor de periódicos, salas para estudo em grupo; apoio

pedagógico, ouvidoria (reclamações, sugestões de alunos, servidores e professores);

serviços de xerox, cantina e restaurante.

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A biblioteca é espaçosa e possui um acervo atualizado, atendendo aos três

turnos, sendo o turno da noite o mais movimentado. Observamos que ela é bem

freqüentada pelos alunos dos cursos supracitados. O atendimento é feito por 15 (quinze)

funcionários(as), que se mostram sempre solícitos quando procurados pelos alunos.

Desse total, 11 (onze) são auxiliares e 4 (quatro) são bibliotecárias.

Observamos que a praça de alimentação (cantina e restaurante) está localizada

em uma área espaçosa, cercada de verde, convidativa a reflexões individuais ou em

grupo. É um ambiente, onde, informalmente, alunos e professores costumam se

encontrar e onde acontece esta interação saudável entre eles (alunos(as)/alunos(as),

alunos(as)/professores(as) e professores(as)/professores(as)). Essa área de convivência é

propícia para esta aproximação e, de certa forma, mobiliza uma melhor interação do

grupo, fortalecendo a relação professor-aluno-saber, pois observamos em diversos

momentos professores e alunos(as) trocarem idéias sobre diversos aspectos no que tange

ao conhecimento. Verificamos, ainda, que a referida área encontra-se próxima às salas

de aula. Algumas, mais próximas da praça de alimentação do que outras, as primeiras

ficam mais vulneráveis ao barulho das conversas, o que, em momentos de movimento,

interfere no ambiente das salas de aula e, segundo um dos professores pesquisados, só

há condição de ministrar aula com a climatização da sala, pois a porta da sala

permanece fechada todo o tempo. Gostaríamos de frisar que isso foi em uma das salas

que observamos.

As salas de aula, no geral, elas são amplas, de aspecto conservado, possuem

quadro branco e retro-projetor. Quanto às carteiras, em algumas salas elas são antigas e

desconfortáveis, já em outras, embora sejam antigas, elas são mais confortáveis.

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Muitas das salas de aula são climatizadas, outras não. Uma das salas observadas

não era climatizada e, por estarmos no verão, apesar dos ventiladores de teto, o calor era

insuportável. Isso provocava nos alunos uma certa dispersão em relação à aula e, em

virtude dessa falta de concentração, ocasionada pelo calor, os alunos, em alguns

momentos, se mostravam pouco receptivos e até mantinham conversação paralela, entre

si, durante a aula. Quanto à iluminação, observamos que as salas se apresentavam bem

iluminadas.

Durante todo o momento em que estivemos no nosso campo de pesquisa,

procuramos examinar e observar, ao máximo, pois acreditamos que outras variáveis

podem interferir direta ou indiretamente no contexto da sala de aula.

3.1.3 – O Curso de Administração

O Departamento de Ciências Administrativas é a unidade da Universidade

Federal de Pernambuco responsável pelo ensino, pesquisa e atividades de extensão

relacionados à área de Administração. É composto por um grupo de 45 professores

(75% com doutorado ou mestrado), 30 alunos bolsistas de pesquisa ou monitores e 8

funcionários de apoio administrativo.

O Departamento foi criado em 1975, pouco mais de dez anos após o início do

curso de graduação em Administração, a partir da reforma universitária que o instituiu

para atender a todas as disciplinas do Curso de Administração na UFPE, bem como

desenvolver pesquisa e extensão.

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100

Nas atividades de ensino, o Departamento ministra disciplinas em 14 cursos de

graduação da UFPE. Criou e aloca professores para os cursos de Especialização MBA-

Executivo e para os cursos de mestrado e doutorado em Administração. As atividades

de pesquisa envolvem grupos de professores, bolsistas de iniciação à pesquisa,

mestrandos, doutorandos e outras pessoas interessadas, que se aprofundam na pesquisa

dos problemas da Administração, de hoje.

O Curso de Administração tem como objetivo formar profissionais competentes

em gestão, em sintonia com o ambiente empresarial e social da região e do país. Além

de ministrar, mediante matérias e conteúdos, os conhecimentos teóricos e práticos

associados à atividade administrativa, visando a desenvolver habilidades e técnicas

gerenciais, buscando estimular a capacidade de reflexão sobre problemas da esfera

organizacional.

O profissional administrador desejado deverá possuir uma visão multidisciplinar

capaz de gerir eficientemente recursos, pessoas e processos, visando à eficácia das

organizações, além de ter as habilidades gerencial, decisória, lógico-analítica,

capacidade para resolver conflitos e proatividade.

Quanto às suas áreas funcionais, este administrador deverá atuar em segmentos

inerentes à atividade de um administrador, onde as habilidades específicas são mais

requisitadas. Definem os ramos nos quais é possível condensar técnicas, procedimentos

e processos de gestão típica de matérias administrativas, como: Recursos Humanos,

Operações (Produção), Finanças, Marketing, Informação, Estratégia e Organizações,

que são contempladas na matriz curricular, apresentada no Anexo 3.

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101

O Curso é reconhecido pelo MEC, desde março de 1970, de acordo com a

Portaria nº 66.38619.

3.2 – Sujeitos da Pesquisa

No primeiro momento, ao chegarmos ao CCSA procuramos a coordenadora do

Curso de Administração para que pudéssemos solicitar o acesso, junto ao departamento

de Ciências Administrativas e, em particular, a seus professores, às informações

necessárias ao nosso estudo. Após o contato pessoal, apresentamos-lhe, formalmente, o

nosso projeto de pesquisa, pelo qual ela se mostrou bastante interessada, na medida em

que vislumbrou a oportunidade de uma contribuição significativa que tal investigação

poderia oferecer no sentido de minimizar problemas didático-pedagógicos do Curso em

tela. A partir disso, definimos a escolha dos docentes que seriam os sujeitos desta

investigação: os professores das disciplinas de Marketing 1 e 2.

A preferência quanto à escolha pela disciplina de Marketing se deveu ao fato de

que, como pesquisadora e co-participante da pesquisa, temos mais do que nos

relacionado com a referida disciplina e seu objeto de estudo, sendo docente nesta área.

O Marketing tem seu foco no estudo do consumidor a partir de uma visão de mercado.

É a atividade humana direcionada para a satisfação das necessidades e desejos do

consumidor na busca da fidelização dos seus clientes e, alcançando assim, a

lucratividade da empresa, sendo as trocas o seu objeto (KOTLER e AMSTRONG,

2000).

19 Fonte: Site da UFPE (www.ufpe.br).

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102

O conhecimento científico mais aprofundado acerca dos conteúdos ministrados

nas aulas facilitou o nosso entendimento sobre determinados procedimentos

metodológicos e didáticos que os professores utilizam durante suas aulas.

A vastíssima matriz curricular e a impossibilidade de uma interação com todos

os docentes de forma simultânea nos dificultou uma seleção dos sujeitos de forma tão

espontânea quanto pensávamos.

Os professores escolhidos foram contatados através de e-mails para que

pudéssemos formalizar nossos primeiros encontros. Assim, tal investigação foi realizada

com professores do curso de Administração, em especial da disciplina de Administração

em Marketing, escolhidos segundo alguns critérios:

1-Não possuir Licenciatura.

2- Estar no exercício da carreira docente no Curso de Administração.

3- Ser administrador por formação acadêmica (Graduação e/ou Pós-Graduação).

4- Demonstrar interesse em participar da investigação.

A escolha do primeiro critério deveu-se ao fato de acreditarmos que os estudos

pedagógicos vistos nas licenciaturas são prioritários para o profissional do ensino. É

imperativo notar que, segundo Francisco (2006), a Pedagogia é concebida enquanto

ciência da e para a práxis educativa, produzindo, dessa forma, conhecimentos que irão

permear a prática docente, esboçados a partir dos saberes pedagógicos, estruturados

pelos professores. Era nosso desejo observar, em particular, aqueles que não são

licenciados, ou seja, observarmos a prática pedagógica docente dos professores

permeada pelos saberes por eles mobilizados, sabendo-se que podem ou não estar

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embasados no conhecimento pedagógico-teórico-científico. É importante salientarmos

que o professor possui o saber experiencial, mas, a nosso ver, pode não ser suficiente

para fundamentar sua prática pedagógica docente.

Quanto a ser administrador de formação e estar no exercício da carreira docente

em Administração, se deve ao fato de que, como professora universitária e

coordenadora na área de administração, temos observado, empiricamente, a falta de uma

formação pedagógica voltada para a docência do ensino superior.

Quanto ao interesse em participar da investigação, entendemos que, em função

dos instrumentos escolhidos para a coleta de dados, é condição sin ne qua non a

disponibilidade e a aquiescência dos sujeitos.

3.2.1 – Caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa

A partir dos critérios acima expostos foram escolhidos três professores, sendo 1

(um) professor da disciplina de Marketing 1 e 2 (dois) professores da disciplina de

Marketing 2 (ver Anexo 3). É importante salientar que durante todo o trabalho de

levantamento dos dados, os docentes se encontravam muito à vontade e solícitos no

sentido de prestarem as informações necessárias.

A caracterização dos sujeitos foi feita a partir de entrevistas e sistematizada de

acordo com o Quadro 1.

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104

Quadro 1: Caracterização dos Professores Participantes da Pesquisa

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Tem

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Disc

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na

P1 17 anos 17 anos Professor

efetivo

-Graduação em

Engenharia (não

concluído).

-Graduação em

Administração.

-Pós-Graduação:

· Mestrado em

Marketing (UFPB).

· Doutorado em

Marketing (City

University de

Londres)

Não

licenciado -Analista de

Suporte

(BANDEPE).

-Professor da

UFPE.

-Consultoria às

Organizações

(convênio

UFPE)..

Marketing II

(Departamento de

Ciências

Administrativas).

P2 4 anos 1 ano Professor

substituto

-Graduação

Administração.

- Pós-Graduação:

· Mestrado em

Administração

· Marketing e

Tecnologia

(concluindo).

Não

licenciado -Função

administrativa

(empresa).

-Professor da

UFPE.

Marketing II

Estratégia

-T G A I

(Departamento de

Ciências

Administrativas).

P3 17 anos 17 anos Professor

efetivo

-Graduação em

Administração

(UFPE).

-Pós-Graduação:

· Mestrado em

Planejamento

Estratégico.

· Doutorado em

Novas Tecnologias

gerenciais (UFMG).

Não

licenciado

-Professor da Graduação

(UFPE).

-Professor do

Mestrado

(Políticas Públicas

– Ciências Administrativas).

Marketing I (Dep.

de Ciências

Administrativas).

Metodologia da

Pesquisa

(Mestrado em

Políticas Públicas)

No quadro acima estão descritos os perfis dos professores estudados, segundo

alguns critérios analisados. Durante as nossas análises, eles nos auxiliaram a tirarmos

20 Nos códigos dos docentes, a letra P refere-se ao termo professor e o numeral nomina cada um deles.

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algumas conclusões acerca da prática dos professores, considerando-se sua formação e

experiência docentes. O fato de os professores apresentarem determinadas

características poderá, ou não, ter influência direta ou indireta na prática apresentada por

eles.

3.3 – Instrumentos de Coleta de Dados

A coleta de dados é um processo complexo quando se trata do trabalho humano.

Uma das formas de obtenção desses dados é mediante a informação, a partir dos

próprios sujeitos, neste caso, os professores que escolhemos como foco das nossas

investigações. Nesse sentido, em função do nosso objeto de estudo, a prática pedagógica

docente, optamos por três instrumentos de coleta de dados que, trabalhados

simultaneamente nos permitiu uma leitura mais consistente do problema: a entrevista, as

observações presenciais, com diário etnográfico, e o estudo de alguns documentos

como: plano de disciplina e alguns textos complementares a bibliografia das disciplinas

de Marketing 1 e 2.

Para a obtenção das informações as entrevistas foram importantes, pois nos

permitiu recolher dados descritos na linguagem do próprio sujeito, o que torna possível

ao investigador desenvolver inteiramente uma idéia sobre como esses sujeitos

interpretam aspectos do mundo (ANDRÉ, 2005).

O tipo de entrevista escolhida foi a semi-estruturada escrita, com um roteiro de

questões abertas, onde o informante discorre sobre o tema21. Neste caso, o entrevistador

21 Ver, no Anexo 2, as questões referentes à entrevista.

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tem a possibilidade de acrescer ou omitir questões no decorrer da entrevista, no sentido

de aprofundador das dimensões (CANTANDRIOPOULUS, 1997).

As observações aconteceram na sala de aula, levando-se em consideração o

roteiro de informações (Anexo 1).

Foram feitas dezoito observações junto aos professores (P1, P2 e P3), durante

suas aulas, ou seja, 36h/a no período de 29/10/2007 a 03/01/08.

Conforme previstas nesta investigação, as aulas desenvolvidas pelos professores

constituíram-se num excelente espaço de estudo. Por isso, procuramos observar, ao

máximo, tudo que acontecia durante as aulas dos professores observados.

3.4 – Observando a sala de aula

3.4.1 – Primeiros contatos

A partir das nossas observações desde os primeiros contatos com os professores

e durante a nossa presença nas salas de aula, percebemos que os professores se

encontravam muito à vontade. Apesar de adotarmos um procedimento enquanto

pesquisadora, procuramos deixá-los bem confortáveis de modo a não se sentirem

constrangidos com a nossa presença, em momento algum.

Professor P1:

Este docente ministra a disciplina de Marketing 2, em uma turma com 42 alunos,

no curso de Administração.

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O primeiro contato com o referido professor se deu na sua sala, onde tecemos

algumas conversas e combinamos o nosso primeiro encontro para o dia seguinte, pela

manhã, no horário das suas aulas. Ele nos descreveu acerca das suas aulas, de forma

aligeirada, e disse que a aula do dia seguinte já estava preparada em transparências.

Além disso, o referido professor faz uso de materiais pluri-sensoriais – retro projetor e

quadro branco –, alegando que dispõe apenas desses recursos.

Professor P2:

Para contatar com este professor, nos dirigimos à sala de aula onde ele iria

ministrar o conteúdo de Administração de Marketing 2 e aí ficamos aguardando a sua

chegada, o que aconteceu logo a seguir. Fizemos a nossa apresentação, e lhe falamos,

mais detalhadamente, sobre esta nossa pesquisa, tendo ele se mostrado solícito em

colaborar com a investigação. Nesse momento, demos início às nossas observações.

Suas aulas de Marketing 2 são ministradas na turma da noite, com uma média de

30 alunos.

Professor P3:

Primeiramente marcamos com o professor na sua sala de estudo e, em seguida,

nos encaminhamos à sala de aula.

Suas aulas aconteciam no horário da manhã, para uma turma de 50 alunos.

Nas aulas observadas foram utilizados os seguintes materiais plurisensoriais:

quadro branco (faz pouco uso, só para roteiros e algumas observações necessárias) e o

datashow (utilizado nas suas aulas expositivas e seminários apresentados pelos alunos).

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O professor, desde nossos primeiros contatos, se mostrou solícito e procurou

sempre fazer com que nos sentíssemos também partícipes das suas aulas. É importante

salientar que, em nenhum momento, ele demonstrou constrangimento com a nossa

presença, tanto que nos apresentou à turma, não só como professora de Marketing, mas

como pesquisadora, esclarecendo ao alunado o motivo pelo qual nós iríamos ficar com

eles por algum período.

3.5 – Análise dos Dados

A partir dos dados coletados realizamos uma separação de categorias que, a

nosso ver, dão conta do imbricado processo da prática docente e os saberes mobilizados

nesta prática pelo professor. Tais categorias foram dadas a priori. A partir do processo

de coleta de dados, surgiram, também, subcategorias. A prática pedagógica docente foi

analisada à luz das seguintes subcategorias: planejamento, relação professor/aluno,

avaliação e saberes, saberes disciplinares, saberes profissionais e saberes experienciais e

saberes curriculares todos articulados na prática.

3.5.1 – A prática pedagógica docente: planejamento, avaliação e relação professor /aluno na articulação com os saberes.

A sala de aula constitui o espaço privilegiado à ação docente. É no seu cotidiano

que se desvela o exercício da docência. A observação, em diversos momentos das

práticas dos docentes, permitiu-nos enriquecer o nosso trabalho a partir desse cotidiano

e das características próprias de cada professor observado.

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Como já citado, anteriormente, nossas observações foram feitas a partir das

categorias estruturadoras (prática e saberes), previamente determinadas. No entanto, a

partir das nossas observações, registradas no diário de campo, surgiram as

subcategorias, que foram sendo estabelecidas no sentido de compreendermos e

analisarmos como os professores do curso de Administração desenvolvem a prática

docente, tomando como cenário o contexto das suas salas de aula. As categorias

organizadas são separadas para efeito de escrita, mas, na prática, elas são inseparáveis,

pois uma permeia as outras, que, por elas são também permeadas.

Durante as nossas observações procuramos captar, ao máximo, tudo que se

passava nas aulas: atividades propostas, diálogos, interferências e outros.

Os limites dessas observações têm haver com o fato de não se gravar as aulas

observadas, nem em áudio e nem em vídeo. Com isso, o trabalho ficou sujeito à

subjetividade da observação, isto é, a interação do investigador e o objeto pesquisado.

Mesmo diante de tais limitações, entendemos que guardados os cuidados próprios

exigidos pela investigação, nos foi possível assumirmos este risco, de forma consciente.

3.5.1.1 – Planejamento/avaliação e plasticidade na ação docente.

Em virtude de sua complexidade, os processos educativos não podem prever o

que acontecerá na sala de aula. Por esse motivo, os docentes podem dispor de meios e

estratégias que possam atender às diferentes situações vivenciadas no transcurso do

processo ensino/aprendizagem. Segundo Zabala (2007), algumas atuações, como: 1)

contar com uma proposta de intervenção suficientemente elaborada e 2) uma aplicação

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prática e livre de rigidez, ambas articuladas, simultaneamente, podem ser

recomendadas. Para facilitar a aprendizagem há uma série de funções dos professores,

que tem, como ponto de partida, o planejamento (ZABALA, 2007). São os

conhecimentos tácitos que, articulados na prática, se tornam saberes pedagógicos, que

permitem ao professor elaborar uma forma própria de intervir.

Portanto, ao docente é indispensável que ele disponha de propostas que estejam

articuladas a situações favoráveis à forma de se relacionar e interagir:

Distribuições grupais, com organizações internas convenientemente estruturadas através de equipes fixas e móveis com atribuições de responsabilidades claramente definidas; espaços de debate e comunicação espontâneos e regrados, como resultado da resolução de um conflito determinado nas assembléias periódicas; trabalhos de campo, excursões e visitas que situem os alunos frente à necessidade de resolver situações de conveniência diferentes das que habitualmente lhes oferece a escola, a família ou o grupo de amigos; conjunto de atividades e tarefas que geram e favoreçam uma multiplicidade de situações comunicativas e de inter-relação que possam ser orientadas e utilizadas educativamente por parte dos professores (ZABALA, 2007, p. 93).

Para melhor compreendermos a análise das subcategorias

planejamento/avaliação, consideremos os seguintes pontos que estão contidos no

Quadro 2, a seguir, lembrando que procuramos enfatizar os alunos como sujeitos do

processo planejamento/avaliação, operacionalizado no contexto do cotidiano escolar.

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Quadro 2: Referente às Subcategorias Planejamento/Avaliação.

Pontos Categóricos analisados acerca do Planejamento/Avaliação

1. Se o professor planeja suas aulas.

2. Se o planejamento é submetido à apreciação dos alunos.

3. Se o planejamento é uma ação coletiva (professor/aluno).

4. Se as metodologias utilizadas no processo ensino/aprendizagem são

diversificadas e articulam teoria e prática.

5. Se o planejamento/avaliação estão articulados com o plano político-

social mais amplo.

6. Se há participação dos alunos no processo de avaliação.

O professor P1 nos fala que planeja suas aulas antes do início do semestre letivo;

nesse caso, o plano de ensino (ver Anexo 4) é elaborado pelo professor, com

antecedência.

Em um dado momento, durante o momento de observação, o professor P1 nos

diz que ele submete o plano de ensino à apreciação dos alunos para que possam dar

sugestões. Caso seja necessário, será procedida a sua modificação de acordo com as

exigências dos discentes. Segundo Zabala (2007), a atuação planejada não deverá ser

rígida, mas suficientemente flexível para que se respeitem as necessidades dos alunos

em todo processo ensino/aprendizagem.

Por outro lado, ao ser indagado durante a entrevista, podemos perceber que o

professor P1 não demonstra preocupação com um planejamento coletivo (professor e

alunos).

Ao ser perguntado sobre o conteúdo ministrado durante o semestre letivo quanto

à sua elaboração, ele nos diz:

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“Sou eu quem elabora o conteúdo. Quanto às referências bibliográficas eu

penso que, além de outras sugestões, é importante o professor adotar um

livro para apoio” (Trecho da entrevista de P1).

De acordo com Leal (2005, p. 1) “O planejamento de ensino está vinculado ao

contexto global e articulado com outras áreas do conhecimento, numa visão complexa e

interdisciplinar. É uma ação reflexiva que exige do professor permanente investigação e

atualização didática”. Em nenhum momento o professor demonstrou articular o seu

planejamento de ensino com outros planejamentos no que tange às outras áreas do

conhecimento e, em particular, no campo da Administração.

A princípio, isso evidencia que o professor não identifica a importância dos

saberes pedagógicos para o exercício da docência, quando demonstra não valorizar o

planejamento, levando em consideração a não participação dos alunos na elaboração do

plano da disciplina. Aqui, adotamos Francisco (2006, p. 33), quando ele afirma que “a

prática docente que produz saberes precisa ser epistemologicamente assumida e isso se

faz pelo exercício enquanto práxis, permeada por sustentação teórica, que fundamenta o

exercício crítico-reflexivo de tais práticas”.

É claro que os saberes para a docência não poderão se organizar no vazio

teórico. Caso assim fosse, seria uma aplicação tecnológica de fazeres; eles, no entanto,

se organizam num processo transformador das práticas e das teorias, isto é,

teoria/prática versus prática/teoria, sendo, assim, um processo de transformação das

práticas e das teorias; processo este construtor dos saberes pedagógicos.

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O plano da disciplina (ver Anexo 4) Marketing 1, do professor P1, não apresenta

diversificação quanto à sua metodologia, o que pode dificultar a inclusão dos alunos, em

sua totalidade, no processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, de acordo com o

plano da disciplina apresentado pelo professor P1 e conforme as nossas observações da

sala de aula, ele utilizou apenas exposições teóricas e seminários, não permitindo uma

diversificação de atividades. Planejar a atuação do professor de forma flexível é permitir

a adaptação às necessidades dos alunos em todo processo de ensino/aprendizagem.

Zabala (2007) alerta que o planejamento deverá se apresentar suficientemente

diversificado:

É preciso propor aos alunos exercícios e atividades que ofereçam o maior número de produções e condutas para que sejam processadas, a fim de que oportunizem todo tipo de dados sobre as ações a empreender. Mover-se nos parâmetros de referências metodológicas extremamente abertas à participação do aluno para conhecer o processo que cada um segue. (...) o planejamento estruturado de atividades em pequenos grupos ou individualmente (...) já que nem todos aprendem da mesma forma nem no mesmo ritmo e, portanto, tampouco o fazem com as mesmas atividades (ZABALA, 2005, p. 93-94).

Nas nossas observações, reforçando o que foi dito no início desta análise, o

professor P1 demonstra que planeja suas aulas, quando fala aos alunos sobre o que irá

argumentar:

“A aula de hoje será sobre a cultura da mercadoria e o livro baseado para

foi Cultura e Consumo de Grant McCraken” (Fala de P1).

Com isso, o docente situa o aluno no conteúdo a ser trabalhado, o que pode

funcionar como um elemento mobilizador do interesse discente pelo assunto,

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integrando-se nesse processo. Embora o objeto do trabalho docente não trate somente

do conteúdo, mas de um processo onde um grupo de pessoas esteja envolvido,

construindo saberes nas indas e vindas quanto à discordância e à concordância, de

forma dialética (ANASTASIOU e ALVES, 2006).

No que se refere à avaliação, esta se apresenta contínua, processual e

transformadora, abandonando o caráter punitivo, considerando a participação do aluno,

de forma individual e coletiva (BEHRENS, 2005) e deve ser coerente com a proposta de

ensino. Segundo Zabala (2007), para educadores inquietos a avaliação deve envolver o

progresso pessoal dentro do processo coletivo de ensino/aprendizagem. De acordo com

este autor, o processo avaliativo tem hábitos e costumes arraigados nos modelos de

ensino centrado na seleção dos alunos mais preparados para serem universitários, cuja

função básica foi seletiva e propedêutica no que tange ao triunfo na carreira até a

universidade. Dessa forma, a avaliação não é um fim em si mesma, mas um processo

que ajude o docente situar a realidade de cada aluno, direcionando melhor suas ações,

mobilizando-os no alcance de maior grau de competências, conforme suas reais

possibilidades.

Quadro 3: Processo de Avaliação do Professor P1

1º Exercício Escolar 2º Exercício Escolar

Exercício individual, com valor de 0 a

10,0.

Trabalhos em grupo (peso 7).

Apresentação de seminários (peso 3).

Avaliação de 0 a 10,0.

Trabalhos de pesquisa∗

*Servem apenas de reforço ao aprendizado, somente em casos excepcionais eles podem ser complemento de avaliação.

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No primeiro momento, o professor utiliza a avaliação individual, que classificou

como prova - 1ª avaliação; trabalhos em grupo e seminários para compor a 2ª avaliação.

Quando lhe perguntamos acerca do processo de avaliação, a sua fala foi a seguinte:

“Eu não consigo me dar por nenhum processo de avaliação. É a grande

chaga da educação. Um dos grandes problemas é a avaliação. Os sistemas

de avaliação acabam culminando no mesmismo” (Trecho da entrevista de

P1).

E continua:

“Eu penso que o processo de avaliação deverá ser interativo. Por exemplo,

na Pós-Graduação ele acontece mais próximo e, assim, temos uma idéia

mais real do aluno. O aprendizado é uma mensuração. O aprendizado é do

aluno, mas podemos aprender juntos. Os sistemas não são justos. Tento

mesclar esse processo para não ser injusto: 1ª avaliação individual e

escrita e no segundo momento – 2ª avaliação, seminários e trabalhos

escritos” (Trecho da entrevista de P1).

No âmbito das instituições escolares, os professores, as administrações, os pais e

alunos aludem à avaliação como instrumento ou o processo para avaliar o grau de cada

aluno em relação a determinados objetivos pré-estabelecidos, os quais os discentes

alcançarão. Nesse sentido, a avaliação é vista como um instrumento sancionador e

qualificador, e o sujeito da avaliação será somente o aluno; o seu objeto, as

aprendizagens realizadas a partir de objetivos mínimos para todos (ZABALA, 2007).

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Segundo Zabala (2007), quando o docente tem em mente a formação integral,

isto é, quando visa à formação do aluno como um todo – desenvolvimento de todas as

suas capacidades e não somente as cognitivas, muitos dos pressupostos da avaliação

mudam. Nesse processo, não devem ser considerados apenas os conteúdos associados às

necessidades do profissional, no aspecto técnico, mas levar em consideração os

conteúdos: factuais (conhecimentos de fatos, acontecimentos, situações, fenômenos

concretos e singulares etc, cuja aprendizagem é verificada pela reprodução literal),

conceituais (conjunto de fatos objetos ou símbolos e princípios – leis e regras que se

produz um fato, objeto ou situação), procedimentais (conjunto de ações ordenadas e

com fim, incluindo regras, técnicas, métodos, destrezas e habilidades, estratégias e

procedimentos) e atitudinais (valores, atitudes e normas). De acordo com Anastasiou &

Alves (2006),

(...) cabe ao professor planejar e conduzir esse processo contínuo de ações que possibilitem aos estudantes, inclusive aos que têm maiores dificuldades ir construindo, agarrando, aprendendo o quadro teórico-prático pretendido, em momentos seqüenciais e de complexidade crescente (ANASTASIOU e ALVES, 2006, p. 18).

Para cada tipo de conceito trabalhado deverá ser utilizado um de tipo de

instrumento avaliativo, por exemplo, “As provas denominadas objetivas podem ser

bastante úteis para a avaliação do domínio ou do conhecimento dos fatos, mas se as

provas não são exaustivas não nos permitirão saber que tipo de ajuda necessita cada

aluno” (ZABALA, 2007, p. 203). O professor P1 utiliza uma avaliação subjetiva

coerente com sua proposta de ensino, tendo como foco em destaque levar o aluno a

refletir (ver Anexo 4).

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As provas objetivas, quando bem elaboradas, permitirão verificar se o aluno sabe

relacionar e utilizar os conceitos, mas somente em algumas situações muito específicas.

Em muitos casos, elas não indicam o grau de dificuldade que cada aluno possui

(ZABALA, 2007, p. 203).

O professor P1, em uma das aulas que observamos, fala à turma acerca dos

seminários que serão realizados para compor a segunda avaliação:

“Os seminários serão apresentados por equipes de cinco componentes e

terão os seguintes temas a serem abordados: gastronomia pernambucana –

tapioca, representação cultural e patrimônio imaterial; Carnaval – galo da

madrugada; Turismo – Porto de Galinhas; Frevo; Xilogravura de J.

Borges; Literatura Armorial de Ariano Suassuna e Maracatu Cabra Alada.

Levar em consideração dados entre 2000 a 2007, confrontar com o

referencial teórico (textos científicos) desenvolvido na sala de aula e o tema

escolhido pela equipe” (ver Anexo 4).

Trata-se, portanto, de construir os saberes pedagógicos a partir da prática social

da educação, isto é, considerando uma leitura crítica do universo social para refletir o

conhecimento científico e repensar novas formas de viver e ser para si e para a

sociedade. Com isso, o professor trabalha com seus alunos não só os aspectos teóricos

da disciplina (saber disciplinar), como também aspectos críticos dos sujeitos:

“epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de

sua construção” (FREIRE, 2007), a partir de suas experiências como professor, advindo

da prática, dos conhecimentos teórico-científicos, de sua experiência quando aluno etc.

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Está aí o valor do saber experiencial adquirido por este professor e utilizado na sua

prática docente.

O professor P1 nos falou sobre as aulas e nos revelou que ele prefere expor o

conteúdo, enquanto os alunos escutam e emitem, em contra partida, suas opiniões. A

despeito do compromisso em trazer à tona as realidades sociais, ele procura despertar no

aluno a criticidade e a reflexão. Por isso, ele lhes fala:

“(…) as relações de consumo na sociedade moderna têm acontecido em

circunstâncias diferentes, em decorrência das mudanças tecnológicas,

levando ao aumento das ofertas e, também, à necessidade de produtos e

serviços” (Fala de P1).

A princípio, o professor demonstra uma preocupação com a formação do aluno

para a vida e não só para o mundo do trabalho. A formação do aluno objetiva a

formação do cidadão, do profissional, do sujeito enquanto pessoa, enfim, uma formação

para o trabalho e para a vida (LEAL, 2005). Isto nos faz entender que o professor não

prioriza apenas os saberes disciplinares em detrimento dos problemas que afetam

diariamente os estudantes e suas vidas. Ao professor do ensino superior é exigido que,

além de competente na sua área de conhecimento, ele desempenhe sua atividade

docente de forma contextualizada e criticizada.

Na entrevista quando indagamos acerca dos aspectos importantes na formação

do profissional da Administração ele nos fala que:

“Não podemos perder de vista que o profissional de Administração seja

menos humano. Há diferença entre culturas, não profissão, embora a base

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não possa se desvincular de características essenciais. Apesar dos

princípios que regem a Administração, como eficiência, eficácia,

lucratividade etc, deve ser buscado na medida certa de modo a não

corromper a humanidade, esvaziando-se dos valores humanos” (Fala de

P1).

O professor P1, ao planejar e avaliar, utiliza alguns instrumentos diferenciados

(exercício individual escrito e trabalhos de grupo). Mesmo assim, na avaliação ele não

consegue identificar as reais necessidades do seu alunado. Mais uma vez desconhece os

saberes pedagógicos que poderiam ser articulados aos saberes experienciais e

ressignificados a partir de sua reflexão, ou seja, ação/reflexão/ação, reconstruindo o

teórico a partir da prática, voltando a embasar-se no teórico e, assim, ir construindo uma

nova teoria para planejar e avaliar.

É mister considerar, também, os saberes da experiência, pois cabe ao professor

conduzir esse processo contínuo de ações a partir da sua vivência como profissional do

ensino, que ajudem aos alunos, mesmo os que têm maior dificuldade, ir se apropriando

do quadro teórico-prático. Sendo assim, as atividades de ensino-aprendizagem deverão

atender às características do plano político-social mais amplo, cuja realidade, o aluno,

como futuro profissional, terá que dar conta, como por exemplo, recursos ambientais,

tecnológicos, sociais, culturais, etc realidade que se reflete na área de estudo dos

sujeitos. (ANASTASIOU e ALVES, 2006).

Freire chama a nossa atenção, de forma significativa, para o seguinte:

Como educador preciso de ir “lendo” cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos populares com quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior de que o seu é parte. (...) Não posso de

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maneira alguma, nas minhas relações político-pedagógicas com os grupos populares, desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua explicação do mundo de que faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo (FREIRE, 2005, p. 81).

Não se trata de ideologizar, simplesmente, o nosso discurso, mas vivenciar com

os alunos sua concepção de mundo, dando-lhes liberdade para a construção das suas

próprias convicções.

Na questão relação planejamento/avaliação, não há, portanto, uma analogia com

o plano político-social mais amplo. Quando nos referimos ao plano de curso este não

apresenta tal preocupação. Isto caracteriza o desconhecimento da importância de um

saber curricular que, segundo Tardif (2005, p. 38), é através dele que “a instituição

escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como

modelos da cultura erudita e de formação para cultura erudita”. Embora não esteja

explícito no plano formal apresentado pelo docente este aspecto se manifesta durante as

aulas observadas e durante a atividade realizada (ver Anexo 4), ou seja, apresentações

de seminários, citada anteriormente.

Para Anastasiou e Alves (2006), esses saberes se encontram ainda distantes de

serem trabalhados a partir de um modelo globalizante que, segundo ela, “adota

diferentes formas de processar o conhecimento em parceria estabelecida entre alunos e

professores envolvidos” (ANASTASIOU e ALVES 2006, p. 50).

Outro ponto a destacar, quanto às nossas observações em sala de aula, refere-se à

questão do professor, não demonstrar e nem falar em ter o aluno como partícipe do

processo avaliativo. Para Behrens (2005, p. 78), a avaliação, na abordagem progressista

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“contempla momentos de auto-avaliação e de avaliação grupal. A avaliação mútua no

grupo gera um enriquecimento significativo no processo educativo”.

O professor P2 também elabora o plano de ensino (ver Anexo 5),

disponibilizando-o na copiadora do CCSA, para que os alunos possam ter acesso.

Porém, observamos que, em nenhum momento, ele demonstra que conhece a

importância desse planejamento. É importante salientarmos como ferramenta que o

professor poderá utilizar para prever o que deverá acontecer, refletir na e sobre a prática

docente, sobre os seus objetivos, sobre o que está acontecendo e sobre o que aconteceu.

Isto requer do professor uma atitude científica, do ponto de vista do fazer didático-

pedagógico, no trato com estes saberes docentes.

Em sendo assim, o docente em tela desconhece a importância dos saberes

pedagógicos para o exercício da docência. Tardif (2005, p. 119), alerta sobre este tema,

quando nos diz que “não existe trabalho sem técnica, também não existe processo de

ensino-aprendizagem sem pedagogia, embora se manifeste com freqüência uma

pedagogia sem reflexão pedagógica”.

Além disso, nas nossas observações, o professor P2 demonstra não construir o

plano de ensino em conjunto com os seus alunos. Esse é um projeto a ser discutido antes

e ajustado às necessidades dos discentes. Por exemplo, durante as aulas, o professor

argumenta e faz a seguinte pergunta:

“O que mais gostariam de saber sobre o serviço?” (Fala de P2).

Se o professor pergunta aos alunos o que mais poderia acrescer acerca da aula

sobre o produto serviço, a princípio, isto significa que o plano de disciplina, no início do

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semestre, não foi adequado à necessidade da turma, ou seja, não foi submetido à

apreciação do aluno, muito menos foi uma construção coletiva. Ainda, durante a

entrevista, quando inquirimos se o conteúdo ministrado é elaborado por ele, responde:

“Sim. Respeito apenas à ementa da disciplina. Discuto com os alunos, no

final do semestre, para que eu possa saber como adaptar melhor para a

próxima turma” (Trecho da entrevista de P2).

Se por um lado, o professor P2 não adapta o conteúdo ministrado a partir das

reais necessidades de cada turma e passa a utilizá-lo na próxima turma, poderá

acontecer que esta turma não possua as mesmas necessidades da turma anterior. Por

outro lado, o conteúdo poderá ser o mesmo, mas cada ano a turma é diferente e a

experiência é nova em seu processo (CUNHA, 2005). Sendo assim, é importante,

primeiramente, um diagnóstico no início do semestre para, em seguida, traçar o

planejamento de acordo com as necessidades específicas de cada turma.

De acordo com Anastasiou e Alves (2006), o professor não deixa de pensar

coletivamente e demonstrar abertura para a escuta do outro num processo de construção

coletiva, uma vez que, segundo esta autora, pensá-lo coletivamente conduz, como já se

enfatizou, a autoconstrução profissional do aluno deixa de ser objeto e passa a ser

sujeito de sua história (FREIRE, 2007). Quando perguntamos acerca do planejamento

ele respondeu:

“Planejo as aulas e vejo a docência sempre como um grande aprendizado

para o aluno e para o professor. Estou na fase de aprendiz” (Trecho da

entrevista de P2).

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Embora, hoje, o plano da disciplina não deva ser o foco da ação docente,

propostas didáticas apontam a importância da construção de um processo de parceria

em sala de aula. Segundo Anastasiou e Alves (2006, p. 58), o aluno, apesar de menos

maduro que o professor, necessita de participar dessa construção: “(...) a aprendizagem

é uma ação intencional, direcionada e deliberada por parte do aluno, exigindo esforços

conjuntos com o professor para o domínio do conhecimento”.

Outro ponto a destacar é quanto à individualidade da ação docente de cada

professor estudado, inclusive a do professor P2. A disciplina, segundo nossas

observações, é pensada e planejada de forma individual. No entanto, o docente

privilegiará o coletivo, isto é, “em relação a um aluno histórico e contextualizado, que

deverá assumir o rumo de sua autoconstrução profissional, colocando-se como sujeito

de seu processo de aprendiz” (ANASTASIOU e ALVES, 2006, p. 58), sendo que o

professor, também, é partícipe desse processo.

Quadro 4: Processo de Avaliação do Professor P2.

1º Exercício Escolar 2º Exercício Escolar

Exercício individual com valor de 0 a 10,0

(100%)

Exercício individual (30%)

Seminários temáticos (70%), considerando

nota individual e coletiva.

O professor P2 ressalta, ao final de cada apresentação, os pontos positivos e

negativos referentes às apresentações. Dois pontos são atribuídos às perguntas sorteadas

no momento de cada apresentação, de acordo com o assunto argumentado: um ponto de

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apresentação; o restante refere-se ao conteúdo abordado, desenvolvimento, perfazendo o

somatório final (Ver Quadro 4)

Segundo Zabala (2007), se faz necessário que os alunos se apropriem dos

critérios e instrumentos utilizados para avaliá-los e diz, ainda, que, neste sentido,

“ganha importância crucial à integração de atividades que promovam a auto-avaliação

dos alunos” (ZABALA, 2007, p. 104). Se, por um lado, o professor P2 ressalta que

critérios positivos e negativos os alunos apresentaram durante os seminários, por outro

lado, os alunos não participam desse processo.

Durante as apresentações dos seminários temáticos, observamos que P2 procura

avaliar os alunos de modo individual e coletivo. Perguntas são dirigidas ao grupo e P2

observa, de forma individual, como o grupo se coloca. Por exemplo:

“O produto em lançamento é um creme dental. Então, o que devo destacar

no referido creme dental para chamar a atenção dos clientes, além de fazer

sua função básica de higiene bucal? Terá apenas a função de refrescar?”

(Fala de P2).

O professor dirige a pergunta ao grupo e os alunos se colocam, um de cada vez,

respondendo sempre a novas perguntas.

Apesar de não possuir os conhecimentos pedagógicos do licenciado

(informações ressaltadas no Quadro 1: Caracterização dos Professores Participantes da

Pesquisa). O professor P2 procura utilizar o saber experiencial, isto é, aquele saber

constituído pelo profissional a partir de diversas fontes sociais de conhecimentos que,

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segundo Tardif (2005), conduz o docente a posicionar-se diante de outros

conhecimentos e priorizá-los em função do seu trabalho.

Cunha (2005, p. 41) adverte que “O professor constrói sua performance a partir

de inúmeras referências. Entre elas estão sua história familiar, sua trajetória escolar e

acadêmica, sua convivência com o ambiente de trabalho, sua inserção cultural no tempo

e no espaço”. Tudo isso se reflete no saber-fazer, ou não, do professor.

De acordo com nossas observações, o professor P2 também não utiliza uma

metodologia diversificada, de modo a atender as diversas necessidades do grupo de

alunos, privilegiando uns em detrimento de outros. Aqui, aderimos a Zabala (2007),

como citado a priori, quando enfatiza a necessidade de atender os alunos nas suas

diversas formas de aprender, como também considerar a natureza dos diferentes

conteúdos e suas especificidades, que permitirão propostas didáticas diferenciadas.

Além disso, o professor não contempla momentos de auto-avaliação e de

avaliação grupal. Quando assim acontece, o aluno poderá participar, de maneira ativa e

dinâmica e, também, se pronunciar acerca do seu progresso e sobre o progresso do

grupo, uma vez que, segundo Behrens (2005, p. 78), o grupo passa adotar “um

relacionamento fraterno, solidário e amoroso”. Na avaliação, o aluno é sujeito desse

processo e reconhece que ela tem caráter provisório e sua determinação poderá conduzi-

lo à transformação de si e da sociedade: “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que

sou um ser condicionado, mas além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser

condicionado e o ser determinado” (FREIRE, 2007, p. 59).

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A avaliação, portanto, é um processo, e o erro pode ser visto como uma etapa da

aprendizagem, colaborando, assim, para o crescimento do aluno. De acordo com o

conteúdo trabalhado utiliza-se um tipo de avaliação. Já argumentado antes do professor

P1. Sendo assim, o professor P2 utiliza o tipo de avaliação objetiva quando nos

referimos a 1ª avaliação (ver Anexo 5). Dessa forma, não lhe permite nesse primeiro

momento saber o tipo real de ajuda que cada aluno necessita, flexibilizando a partir das

necessidades dos alunos o seu planejamento.

Cumpre salientar outro aspecto importante relacionado com o planejamento: é

necessário considerar que o planejamento da disciplina se articula com o plano político-

social mais amplo e reflete assim, o compromisso institucionalmente assumido que

envolve a todos. Isto não foi observado, pois em quase nenhum momento o professor

demonstrou vincular os conteúdos das disciplinas com o contexto mais amplo. É um

saber do professor que lhe confere relacionar o que ensinam e como se apresentam essas

concepções, na comunidade em que os alunos se encontram inseridos. O comprometer-

se com as mudanças sociais pode se apresentar de outras formas, como, por exemplo:

nas ações do professor, nos textos utilizados por ele e na forma como ele produz o

conhecimento (CUNHA, 2005). É importante ressaltarmos alguns textos utilizados pelo

professor P2 (ver Anexo 5).

Em relação aos seus objetivos, explicitados no plano de ensino, P2 não coloca o

objetivo a ser alcançado (ver Anexo 6). Com isso, demonstra, mais uma vez, não

conhecer a importância do planejamento, no alcance, pelos alunos, das metas

previamente estabelecidas pelo professor. Sendo assim, o docente demonstra

desconhecer os saberes pedagógicos.

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Quanto ao professor P3 demonstra que planeja suas aulas. Durante a entrevista,

indagamos se o conteúdo é elaborado por ele, o professor, e que elementos são

considerados nesse processo. Ele respondeu da seguinte forma

“Sim. Inclusive defino os textos que serão utilizados na disciplina.

Apresento uma proposta aos alunos e eles completam, se for o caso”

(Trecho da entrevista de P3).

E continua:

“Peço para que os alunos dêem sugestões de acordo com suas

necessidades. Assuntos que sejam do interesse deles. Trouxe um estudo

acerca de uma empresa, sugestão de uma aluna. Inclusive a referida

empresa era dessa aluna. Os conteúdos estabelecidos são baseados também

nos conteúdos anteriores e repensados no semestre seguinte, a partir das

minhas leituras também. Disponho o conteúdo na copiadora do CCSA para

que todos tenham acesso” (Trecho da entrevista de P3).

O professor procura adaptar o programa às necessidades e aos interesses dos

alunos, não só em relação às questões referentes ao conteúdo, mas concernentes às

metodologias aplicadas no processo ensino/aprendizagem e na avaliação (ver Anexo 6).

Durante muito tempo, esses planos eram construídos individualmente pelo professor e

apresentado aos alunos no início do semestre. Hoje, os programas de aprendizagem

constituem-se de documentos: o contrato didático. Segundo ainda autores como Zabala

(2007), Anastasiou e Pimenta (2005) Cunha (2005) e outros, trata-se de um projeto-

compromisso, que contém as marcas do professor. Para Masetto (2003) é denominado

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contrato didático os aspectos dos elementos norteadores do programa de aprendizagem.

São combinados no início do semestre, sobre formas de atuação de professor e

estudantes: objetivos a serem alcançados, metodologias, formas de avaliação, datas de

entrega de trabalhos, enfim, os papéis de cada um.

Deverá ser objetivo, verdadeiro, crítico e comprometido, sendo, assim, um

planejar e um construir de conhecimentos para alunos partícipes dessa tarefa. Podemos

dizer que o conteúdo pode ser o mesmo, mas, a cada ano, a turma é diferente e a

experiência é nova em seu processo, como já citamos anteriormente (CUNHA, 2005).

É importante salientar que, na primeira aula do semestre letivo, o docente faz um

pequeno diagnóstico acerca do aluno, para melhor adaptar o planejamento da disciplina

à realidade do grupo. Aqui estão algumas das questões que foram respondidas pelos

alunos, segundo o professor P3:

1. Qual a sua compreensão sobre o marketing?

2. Que relação este conhecimento tem com minha formação profissional e

pessoal?

3. Como a comunidade poderia ser beneficiada com este conhecimento?

O papel do professor é planejar, orientar, acompanhar, mediar esse processo

dialético de ações, que torna possível aos discentes, mesmo aqueles que apresentam

maiores dificuldades, irem construindo seu quadro teórico-prático, paulatinamente, de

uma menor para uma crescente complexidade. Além disso, neste momento, o professor

demonstra alguma preocupação, ainda que tímida, frente às mudanças sociais.

Quanto às metodologias utilizadas pelo professor, nós podemos considerar

diversificadas, atendendo às preferências apresentadas pelo grupo: aulas expositivas

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dialogadas, palestras dadas por profissional da área, visitas à empresa, seminários e

debates. Como já citado acima, atende às expectativas da grande maioria e mobiliza o

interesse dos alunos pelas aulas. Na medida em que num processo, às vezes repetido,

mas necessário para vencer as dificuldades, o aluno reflete, ele se apropria do quadro

teórico-prático pensado pelo docente e em acordo com a proposta curricular.

A avaliação do professor P3 foi elaborada considerando-se as seguintes

atividades, que estão sistematizadas de acordo com o Quadro 5, situado na página

seguinte.

Quadro 5: Processo de Avaliação do Professor P3.

1º Exercício Escolar (atividades)

2º Exercício Escolar (atividades)

Avaliação escrita individual (ver Anexo 6) Avaliação escrita individual (Anexo 6)

-Diagnóstico acerca dos conhecimentos prévios de

Marketing mobilizados pelos alunos.

-Criação de um plano de negócio simplificado (1).

-Resenha.

-Desenhar desafios do marketing.

-Criação de um plano de negócios (2)

-Trabalho de posicionamento de produto.

-Reflexões sobre algumas questões sobre o Marketing.

-Trabalho sobre posicionamento de marca – criação e

gestão de marcas.

-Trabalho sobre segmentação e estabelecimento de alvo.

-Estudo sobre estratégia impulsionadora de mercado.

-Trabalho sobre gerenciamento de novos produtos.

-Trabalho sobre Pesquisa de Marketing (investigação

qualitativa).

-Trabalho sobre Comunicação de Marketing.

-Trabalho acerca do comportamento dos consumidores.

-Seminários sobre empresas,

considerando-se apresentação individual e

coletiva dos alunos.

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De acordo com esta nossa pesquisa e remetendo-se ao quadro acima exposto, P3

desenvolveu 14 exercícios durante todo o semestre letivo, os quais lhe serviram como

parâmetro para a sua avaliação semestral. Durante as apresentações dos seminários,

pelos grupos, havia participação dos demais alunos: eles avaliavam uns aos outros.

Assim, sua avaliação caracteriza-se como processual e coletiva. Por parte do professor

há um acompanhamento do aluno em todo o processo e a oportunidade dele participar

também dessa avaliação.

É interessante, também, observar que para o professor P3 o processo de

avaliação é

“(...) um estágio de reflexão acerca dos conteúdos discutidos. Momento de

aprendizagem. Verificação como os alunos articulam os conteúdos. É um

momento de se trabalhar os conteúdos, de forma a se verificar como eles

são abordados” (Trecho da entrevista de P3).

Em uma de suas aulas, observamos que ele é interrogado pelos alunos acerca da

avaliação, a qual aconteceria na próxima semana. O professor respondeu indagando se

isso os preocupava, e disse:

“A avaliação é necessária, pois é um elemento detector no que tange como

vocês trabalham os conceitos na prática” (Fala de P3).

Se cruzarmos o trecho da entrevista e a fala do professor P3, citadas por último,

e considerarmos sua avaliação individual (ver Anexo 6) aplicada aos alunos,

verificamos que a avaliação para o docente, na realidade, é a aplicação prática dos

conceitos abordados durante o processo ensino/aprendizagem. Ele reconhece que a

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avaliação é indispensável ao planejamento e importante quanto ao processo de

crescimento do aluno.

Por este motivo, o professor não apresenta preocupações quanto se trata de

avaliar os alunos. A avaliação nesta perspectiva é vista como um processo, sendo o erro

considerado como uma etapa da aprendizagem. Esse avanço se dá com as reflexões que

orientam o trabalho pedagógico.

De acordo com Cunha (2005), Masetto (2006) e outros, conseguir mudar a

forma de avaliar o processo de ensinar e aprender tem sido das mais difíceis e

necessárias questões. Apesar dos limites muitas vezes colocados pela própria instituição

no que tange à avaliação, como notas, conceitos, tipos de prova, critérios etc, muitos

professores não ignoram o quanto ela é indispensável ao planejamento e necessária

quando se refere ao processo de crescimento dos alunos. Seria muita incoerência do

docente mobilizar os alunos a participarem, considerarem suas experiências,

trabalharem com o erro e, no final, avaliá-los somente quantitativamente, por uma única

atividade. Na realidade, com o professor P3 isto não acontece.

Na disciplina Marketing 1, ministrada por P3 os alunos deveriam escolher uma

empresa, analisá-la quanto às suas ações estratégicas de Marketing, levando em

consideração o ambiente de mercado que a mesma se encontra inserida: variáveis micro

e macro que interferem nas suas decisões estratégicas. Em seguida, levantar suas ações

estratégicas, adequadas, a partir da realidade na qual a empresa estava inserida,

relacionando com o conhecimento científico discutido nas aulas e recomendado nas

referências bibliográficas (atividade citada no Quadro 5). Por fim, propor ações

estratégicas, caso não existissem ou não fossem adequadas à realidade da organização.

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Assim, o aluno parte da realidade empresarial (prática), busca o aporte teórico

(conhecimento científico) e volta à prática, produzindo novos conhecimentos.

O resultado avaliativo, nesse caso, é mais coerente com o desempenho do aluno,

embora Cunha (2005) nos fale que a avaliação é um processo complexo e poderá

revelar uma certa incompreensão dos objetivos da proposta, por parte dos alunos e/ou

uma certa indefinição quanto à forma e ao modo de avaliar, numa proposta diferente em

relação àquela do professor. Podem ocorrer ambas as situações quando a proposta é a

construção do novo.

Observamos outro ponto importante em relação a este professor, no que tange à

sua avaliação, tendo em vista que ele apresenta um mapa dos discentes, onde considera

diversos aspectos deles durante todo o processo ensino/aprendizagem: presença e

participação nas aulas, desenvoltura do aluno durante as apresentações de trabalhos etc,

caracterizando-se uma avaliação processual. Nos seminários apresentados, os alunos

avaliam os colegas segundo alguns critérios propostos pelo docente, evidenciando uma

ação coletiva, já conferida anteriormente e comprovada, mais uma vez, durante as

nossas observações.

Cumpre salientar outro aspecto importante relacionado com o planejamento. O

planejamento da disciplina quando articulado com o plano político-social mais amplo e

reflete o compromisso institucionalmente assumido que envolve a todos. Quanto a este

aspecto foi observado, que o professor demonstrou vincular os conteúdos das

disciplinas com o contexto mais amplo de forma pouco enfática. É um saber do

professor que lhe confere relacionar o que ensinam e como se apresentam essas

concepções, na comunidade em que os alunos se encontram inseridos. O comprometer-

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se com as mudanças sociais pode se apresentar de outras formas, como, por exemplo:

nas ações do professor, nos textos utilizados por ele e na forma como ele produz o

conhecimento (CUNHA, 2005). É importante ressaltarmos alguns textos utilizados pelo

professor P3 (ver Anexo 6). Um deles, por exemplo, nos fala sobre um lançamento de

um produto ecologicamente correto, enfatizando assim, que é possível alinhar os

interesses empresariais à preservação do meio ambiente. Segundo Cunha (2005)

explorar a vertente social é importante na contribuição de uma leitura de mundo. Giroux

e McLaren nos dizem que:

(...) ensinar aos estudantes a ler criticamente tanto a palavra quanto o mundo, com uma consciência da codificação cultural e da produção ideológica envolvida nas várias dimensões da vida social (...). Ler o mundo e a palavra significa compreender os códigos culturais e genéricos que nos permitem construir palavras para formar uma história (GIROUX e MCLAREN, 1993, p. 33).

Outro ponto importante, segundo Cunha (2005), é estabelecer os critérios de

avaliação a partir de uma construção coletiva. Portanto, algo que deverá ser construído

pelos professores e alunos. O professor P3 propõe avaliação coletiva a partir de um

quadro com alguns critérios (ver anexo 4 – pág. 172) e durante as apresentações os

alunos analisam uns aos outros, conforme os critérios contidos no quadro.

Observamos que durante tais apresentações o docente faz sua avaliação,

anotando sobre como se deu a participação do aluno no grupo e individualmente. Ao

final de cada uma delas, o professor tece comentários acerca da apresentação por grupo

e comenta acerca das propostas de cada um deles.

“A princípio, é necessário ter uma visão ampla do setor (refere-se à

abordagem da empresa apresentada pelos alunos) e, assim, partir para as

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análises. Ficou faltando a melhor compreensão do aspecto teórico para

embasar o prático” (Fala de P3).

Voltando à teorização, que procura conferir sustentação aos achados desta

pesquisa, concordamos com Zabala (2007), quando ele afirma que o objeto da avaliação

deixa de ser centrado somente nos resultados obtidos e passa seu foco para o grupo,

classe, para o aluno.

Lucarelli (1994, p. 14) chama a atenção de que “se a manutenção das formas

tradicionais de ensino evitam a ansiedade das mudanças, o preço dessa tranqüilidade

constitui um bloqueio para o ensino-aprendizagem”. É preciso considerar a ansiedade

como um elemento novo e, portanto, desejável, no alcance dos objetivos propostos,

tanto pelo professor como pelos alunos.

Sendo assim, “as características da avaliação dependem das finalidades que

atribuímos ao ensino” (ZABALA, 2007, p. 216), priorizando a diversidade e a busca da

formação integral da pessoa.

Concluindo esta primeira parte da nossa análise quanto à subcategoria

planejamento/avaliação, apresentamos o seguinte quadro:

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Quadro 6: Análise quanto às Subcategorias Planejamento/Avaliação

Pontos Categóricos referentes ao Planejamento e à

Avaliação

P1 P2 P3

1. O professor demonstra planejar suas aulas. X X X

2. O planejamento é submetido à apreciação do aluno. - - X

3. O planejamento é uma ação coletiva. - - X

4. O professor utiliza metodologias diversificadas. - - X

5. O planejamento é articulado com o plano político-

social.

X - parte

6. A avaliação é processual e coletiva. - - X

Por um lado, os professores estudados comportaram-se de forma diferenciada

quanto à compreensão da importância acerca do planejamento na ação docente e às

relações interativas adotadas em sala. Apenas um deles demonstrou melhor

compreensão da importância desses refletir, repensar e refazer docentes, na construção

das suas metodologias de ensino articuladas aos saberes docentes. Enquanto que os

demais apresentaram, em parte, ações educativas mais favoráveis ao processo ensino-

aprendizagem.

Por outro lado, de acordo com nossa amostra de professores, eles demonstram

formas de avaliação muito similares e suas variações têm ocorrido em função de uma

maior ou menor experiência do docente no ensino. Se observarmos as atividades como

seminários, trabalhos em grupo e individuais e as provas dissertativas são as mais

comuns entre a amostra analisada.

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3.5.2 – Relação professor-aluno-saber na ação docente

Nessa subcategoria procuramos analisar como acontecem as relações

professor/aluno/saber, de modo que o professor tenha o aluno como sujeito capaz de

construir o seu conhecimento. A partir dessa perspectiva, apresentamos o quadro, a

seguir:

Quadro 7: Referente à Subcategoria Relação Professor-Aluno

Pontos categóricos analisados quanto à relação professor-aluno

1. Se os alunos são sujeitos do processo ensino-aprendizagem.

2. Se o professor valoriza os conhecimentos prévios do aluno.

3. Se é menos vertical a relação professor-aluno.

4. Se há preocupação de construir a autonomia do aluno.

5. Se o professor é provocador.

6. Se há satisfação em ensinar e em aprender.

Em uma das aulas observadas, durante a exposição do conteúdo, o professor P1

procurou criar analogias, mostrando, por exemplo, a diferença entre individualismo e

individualidade. Nesse momento, um aluno interfere, fazendo a seguinte pergunta:

“Qual a diferença entre o individualismo e a individualidade?” (Fala do

aluno).

P1 responde:

“… o individualismo é fruto do neoliberalismo e o neoliberalismo tenta

destruir a individualidade, gerando a fragilidade do indivíduo e

fortalecendo o individualismo” (Fala de P1).

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Por um lado, temos observado que o professor P1, durante as suas aulas,

consegue despertar o interesse de seus alunos, articulando o assunto estudado com a

realidade deles, esclarecendo as suas dúvidas. Enfim, o professor é aberto ao diálogo. O

aluno é respeitado quanto aos seus conhecimentos prévios.

Por outro lado, não consegue mobilizá-los de modo a tornar as suas aulas mais

dialógicas. Falta-lhe saber criar condições para que essa mobilização se dê nas suas

aulas expositivas, ou seja, o professor não demonstra ser provocador. Quando o docente

desenvolve a curiosidade crítica do aluno, ele instiga essa curiosidade, no dizer de

Freire (2005), indócil, e se torna partícipe desse processo na construção do

conhecimento e mobiliza o aluno à aprendizagem.

Concordamos com Charlot (2000) quando ele fala sobre a aprendizagem do

aluno: “Toda pessoa tem uma atividade intelectual, mas o fato de mobilizar ou não essa

potencialidade depende do sentido que ela confere àquilo que está ouvindo e à situação

que está vivenciando” (FÓRUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO – CRE). Cada pessoa

tem uma forma de aprender, uma história diferente de vida. Em outras palavras, os

motivos que despertam o interesse em um, pode não ter efeito para outra. Carece o

professor está atento a essas situações, de forma a atender às necessidades dos seus

alunos.

Parece que falta ao professor conhecer os saberes que são necessários a uma

prática pedagógica epistemológica. É importante ele conhecer que o saber pedagógico é

construído no cotidiano do trabalho docente, a partir das experiências vividas na sala de

aula (saber experiencial), fundamentadas pelos saberes pedagógicos e ressignificados

posteriormente nas ações docentes do professor. Segundo Pereira e Pereira (2007, p.

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11), “A formação pedagógica, em especial, vai propiciar subsídios teórico-

metodológicos que lhe permitam incrementar a atividade educativa de maneira

adequada”. Para melhor compreendermos o que pretendemos expressar, fazemos nossas

as palavras de Pérez Gómez (1992, p. 102):

A vida quotidiana de qualquer profissional prático depende do conhecimento tácito que mobiliza e elabora durante a sua própria ação. ... o professor activa os seus recursos intelectuais, no mais amplo sentido da palavra (conceitos, teorias,crenças, dados, procedimentos, técnicas), para elaborar um diagnóstico rápido da situação, desenhar estratégias de intervenção e prever o curso futuro dos acontecimentos

Dessa forma, o professor, ao se defrontar com problemas na sala de aula, que, na

realidade, nem sempre são fáceis de resolver, ele lança mão dos conhecimentos que

possui e adequa-os à situação desejada de forma original, criativa, alcançando, assim, a

sua própria forma de intervenção na sala de aula. Com isso, ele utiliza o seu saber

pedagógico construído na práxis22 docente, articulado com seu saber experiencial. Em

outras palavras, esses saberes da experiência são transformados e materializados pelos

docentes e vão se constituir em referenciais que serão incorporadas à sua identidade

profissional, gerando novas formas de encaminhamento da ação educativa.

Entretanto, em outro momento observado, por exemplo, durante os seminários

temáticos apresentados pelos alunos do professor P1, em específico sobre Carnaval - o

Galo da Madrugada, o docente permanece atento enquanto os alunos falam sobre o

frevo como representação de cultura:

22 “É a práxis, porque esta, como atividade humana, pressupõe a idealização consciente por parte do sujeito que se propõe a interferir, a transformar a realidade” (AZZI, 2005, p. 30).

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“Com o galo há resgate do carnaval de rua, pois Recife estava, e como

ainda está, influenciado por outras culturas, como o próprio axé da Bahia”

(Fala do aluno).

Neste momento, o professor recorda os antigos carnavais e estabelece um

diálogo com o grupo que está apresentando o tema, e faz os seguintes comentários:

“Antigamente existia o corso na rua da concórdia, mas com a violência do

mela-mela foi extinto e apareceram os carnavais de clube, que se

mantiveram em alta, por algum tempo. Dessa forma, houve uma

oportunidade histórica para o galo aparecer, posteriormente” (Fala de P1).

Os alunos complementam:

“No galo, o povo se vê lá. Como diz o Prefeito João Paulo: ‘Aqui a maior

celebridade é o povo” (Fala do aluno).

P1 complementa:

“Tudo é fruto de um momento histórico. É o reconhecimento das

oportunidades com os olhos do empreendedor. Vai aí a primeira

mensagem” (Fala de P1).

Parece que, realmente, o professor em estudo traz “nova” forma de relação com

os alunos. Nas aulas observadas, ele demonstra respeito, aceitação e valorização dos

conhecimentos trazidos pelos discentes e, assim, estimulam os alunos à participação

durante as aulas.

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Além disso, o docente demonstra que sua posição durante a relação professor e

alunos é menos verticalizada, conseqüentemente, menos “tradicional”. Segundo Freire

(2007), o professor, assim como os alunos, adotam uma postura dialógica, aberta,

curiosa, indagadora e não passiva no ouvir e falar, ou seja, epistemologicamente

curiosos.

A consideração das experiências trazidas pelo aluno, assim como conhecimentos

do senso comum, estimulam a palavra e a ação, mobilizando, dessa forma, a autonomia

do docente, resgatando, de certa forma, o prazer de ensinar e aprender. A seguir, temos

exemplo de acordo, descrito na fala do professor e, na seqüência, na fala do aluno:

“A Psicologia é especializada em manipular a massa. Em toda a multidão

há condutores e conduzidos, que são hipnotizados através da sugestão...

Por exemplo: Freud questiona a psicologia das massas, a tirania da

sugestão como explicação mágica para a transformação do indivíduo...”

(Fala de P1).

E, assim, prossegue. Na seqüência, uma aluna interveio e mostrou o aspecto da

alienação:

“Existem pessoas que são alienadas, embora existam outras que não o são.

A sociedade encontra-se mergulhada na alienação, vulnerável à

comunicação de massa. Por isso, devemos ser mais reflexivos” (Fala da

aluna).

O professor escuta a aluna e demonstra concordar com sua fala. e complementa:

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“Há três graus de alienação: os alienados, não alienados e aqueles que

deixam de ser, mas continuam a manter esta alienação” (Fala de P1).

Em seguida, volta-se para ouvir outro aluno. De acordo com Behrens (2005),

agindo dessa forma, o professor estabelece com o aluno uma relação horizontal,

buscando o diálogo como fonte empreendedora na produção do conhecimento. Como

possui maior experiência das realidades sociais, assume a postura de mediador entre o

saber elaborado e o conhecimento produzido, construindo, dessa forma, a autonomia do

aluno.

Além disso, pelas nossas observações em sala de aula, o professor demonstra

não experimentar uma relação de satisfação no ensinar e aprender. Com isso, não

queremos dizer que o docente demonstre insatisfação no ensinar, tampouco os alunos no

aprender. Mas, a verdade é que, em nenhum momento, essa satisfação é demonstrada

claramente, nem por parte dos alunos e nem do professor.

Quanto ao professor P2, durante as aulas observadas ele se apresenta de forma a

valorizar o que os seus alunos colocam e os ouve, considerando a bagagem de

conhecimentos trazida por eles. Exemplificando: o professor diz:

“Hoje, nós vamos estudar sobre o produto serviço” (Fala de P2).

Em seguida, instiga os alunos a falarem sobre o tema, e pergunta:

“Quais as diferenças entre o produto (bem físico) e o serviço?” (Fala de

P2)

E o aluno responde:

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“Um é tangível e o outro é intangível” (Fala do aluno).

Na continuação o professor pergunta, novamente:

“O celular é um produto serviço?” (Fala de P2).

Um aluno responde:

“Depende, se é o aparelho ou a telefonia celular que está se referindo. Se

for o aparelho é um bem físico, se for à telefonia é um serviço” (Fala do

aluno).

O professor P2 volta a perguntar:

“Passagem aérea é produto ou serviço?” (Fala de P2).

Neste diálogo com os alunos o professor demonstra respeito e aceitação dos

conhecimentos que eles trazem bem como suas dúvidas e hipóteses.

Durante a entrevista o professor diz:

“Procuro valorizar os conhecimentos prévios dos alunos. Com isso, espero

que eles tragam algo para poder melhor desenvolver o conteúdo. Não sigo

muito o aspecto teórico e sim aquilo que o aluno traz para gerar

conhecimento” (Trecho da entrevista do P2).

Assim, o professor P2 demonstra valorizar o seu saber experiencial,

considerando a importância dele ao mobilizar estratégias de aprendizagem. Por

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exemplo, parte daquilo que o aluno já sabe e, com eles constrói novos conhecimentos,

considerando a experiência vivenciada pelos mesmos.

De acordo com a abordagem progressista, segundo Freire (2007), o professor

tem o papel de mediador entre o sujeito (o aluno) e o objeto (o conhecimento).

A seguir, transcrevemos uma demonstração de como o professor dialoga com os

alunos, durante uma de suas aulas, enquanto argumenta sobre o produto serviço:

“Na fila de banco é diferente dos supermercados, principalmente, na fila do

caixa rápido; o cliente é abordado por uma série de bens, como: bombons,

revistas, pilhas e outros que chamam a atenção do cliente e acaba

distraindo e esquecendo do tempo em pé” (Fala de P2).

Nesse momento o aluno comenta:

“Cria-se um cenário e os clientes são envolvidos, de forma a não gerar

tumultos, diferentemente da fila do banco, que eles se encontram sempre

reclamando” (Fala do aluno).

É a partir de uma relação assimétrica na sala de aula que o professor democratiza

esse saber, levando em consideração a realidade social na qual os alunos se acham

inseridos e estabelece com eles uma relação interativa. Ao adotar tal procedimento, o

docente facilita o encontro do sujeito consigo mesmo, com o mundo e com os outros

(CHARLOT, 2000).

Observamos que os discentes, além se interessarem pelas aulas, dialogam com o

professor P2. Ele demonstra interagir com os alunos, partindo das experiências deles, ou

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seja, daquilo que os alunos já sabem. Segundo Ausubel (1980), este é o fator que mais

contribui para mobilizar as aprendizagens dos discentes. Em outras palavras, o professor

valoriza os conhecimentos prévios dos alunos.

É importante salientar, também, que, embora a sala de aula do professor P2 não

ofereça condições adequadas no verão, em vista do calor, e, em sua grande maioria, os

alunos vêm do trabalho cansados, mesmo assim demonstram interesse em participar da

aula. Isto comprova que o ambiente é propício à aprendizagem. É através do diálogo e

da participação que o discente é partícipe da ação educativa (BEHRENS, 2005),

despertando interesse e mobilizando os alunos à aprendizagem.

Quanto ao professor P3, ele demonstra sempre que, em suas aulas os alunos são

sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Há, por parte do docente, uma preocupação

constante em atender as necessidades dos seus alunos. Em uma das suas falas ele diz

que:

“… muito dos alunos que estudam pela manhã não trabalhavam e isso

dificultava a relação teoria e prática. Conseqüentemente, urge a

necessidade de trabalhar mais praticamente a disciplina de Marketing 1”

(Fala de P3).

Como isso, o docente demonstra preocupar-se com seus alunos e procura

favorecê-los no que tange aos seus aprendizados.

Em outro momento observado durante as aulas, o conteúdo abordado foi sobre a

estratégia de propaganda. O professor coloca o roteiro de aula no quadro branco e fala:

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“A aula será sobre o conteúdo já citado, mas pretendo passar a vivência de

alguém, dando uma oportunidade de vocês observarem mais praticamente

esta realidade” (Fala de P3).

Para esta aula foi convidado um profissional do ramo empresarial, que explicou

aos alunos como a empresa desenvolveu sua comunicação, o que fortaleceu sua marca e

como ela superou os concorrentes e se manteve nesse mercado. Neste momento, houve

interferência, tanto do professor como dos alunos, numa construção coletiva do

conhecimento. Um dos alunos perguntou:

“De onde vem o nome da empresa?” (Fala do aluno).

O expositor esclareceu que a empresa teve todo um trabalho de pesquisa junto ao

público alvo, antes da escolha do nome. Observamos que, durante a aula, os alunos

demonstravam interesse e participação e se sentiam à vontade para perguntar, pois

existe respeito, aceitação e valorização dos conhecimentos dos alunos e isso lhes serve

de estímulo à participação.

Não poderíamos deixar de lembrar que, segundo Behrens (2005) e Freire (2007),

o aluno é partícipe dessa ação educativa. Por isso, juntamente com o professor,

investigam e discutem, coletivamente, na busca da produção do conhecimento.

Essa forma de ensinar e aprender, tendo o professor como mediador do processo,

nos leva a refletir que a prática docente desse professor apresenta-se calcada por saberes

pedagógicos adquiridos, epistemologicamente falando, e ressignificados no contexto de

sala de aula, embora no quadro apresentado (Quadro 1: Caracterização dos Professores

Participantes da Pesquisa), não consta que este professor seja licenciado. Ainda que as

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evidências nos confirmem tal coisa, muitos dos nossos professores, para desenvolver

uma prática docente de modo a mobilizar o aprendizado dos alunos necessitam da

capacidade de refletir sobre sua ação. Dessa forma, essa capacidade encontra-se

centrada no seu desenvolvimento permanente, em função da experiência, da

competência e dos saberes profissionais (TARDIF, 2005).

Com a trilogia ação-reflexão-ação, o professor dispõe do instrumento mais

poderoso na construção da prática de um professor. Em especial, os saberes

pedagógicos (HOUSSAYE, 1995) propiciam ao docente subsídio teórico-metodológico

que vai lhe permitir incrementar a atividade, de maneira adequada. Adotamos aqui

Feldens (1996, p. 125): “Professores têm que ter certos saberes, mas, sobretudo, têm

que compreendê-los de modo a poder intervir sobre eles, desestruturando-os e

reorganizando-os”. É, portanto, a formação pedagógica que irá alicerçar a prática do

professor, sendo reconstruída diariamente, a partir das experiências vivenciadas na sala

de aula e respaldados pelos fundamentos epistemológicos da educação.

Um demonstrativo de que o paradigma conservador (BEHRENS, 2005) foi em

parte superado por este professor são as relações professor/aluno, quando se apresentam

menos verticais e mais assimétricas. Isto pode ser percebido durante as aulas em que o

docente requisita dos seus alunos um estudo sobre uma empresa conhecida, analisando

seus aspectos estratégicos, pontos positivos e negativos quanto às ações de marketing,

além de as ações propositivas necessárias ao negócio serem apresentadas pelo grupo de

alunos. Com isso, o professor valoriza a iniciativa do aluno, sua ação quanto às

propostas estratégicas para a organização, redimensionando o aprendizado dos

discentes.

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Zabala nos diz que: “... o melhor incentivo ao interesse é experimentar que se

está aprendendo e que se pode aprender” (ZABALA, 2007, p. 96). Sendo assim, o

professor facilita, uma atitude favorável à aprendizagem, gerando confiança por parte

dos alunos, num clima de participação e coesão.

Percebemos também que a construção da autonomia do aluno é uma

preocupação presente do professor P3, quando os grupos que se apresentam debatem

entre si e demonstram, durante as discussões, que conhecem o conteúdo com uma certa

segurança. Segundo Zabala (2007), se faz necessário serem articuladas as

(...) ações formativas, nas quais estes conteúdos sejam “vividos” pelos alunos, obriga a integrar em aula não apenas tarefas concretas, como principalmente formas específicas de desenvolvê-las em um clima e em relações adequadas entre professores e alunos e entre os próprios alunos (ZABALA, 2007, p. 105).

Observamos que o professor P3 demonstra também que mobiliza o aprendizado

a partir da reflexão e discute com os alunos os problemas reais. Sobre esse assunto,

Fernandes (2001, p. 25), assim, se pronuncia:

O questionamento, a problematização e desocultação da realidade faz-se, ao nível da prática educativa, através dum movimento do contexto concreto ao concreto teórico, voltando ao contexto concreto, para experimentar novas formas de práxis. Sendo a teoria indispensável à compreensão e a transformação do mundo, é, para Freire, indicotomizável da prática, pelo que toda reflexão teórica tem, necessariamente, de conduzir a uma acção transformadora que designa por práxis autêntica (FERNANDES, 2001, p. 25).

O professor deverá desempenhar um papel mediático entre o teórico-científico e

o conhecimento prático na busca da construção de novos conhecimentos. Os conteúdos

têm que ser bem estruturados e articulados, de modo a relacionar teoria e prática. Deve

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ser valorizado o conhecimento do senso comum, que o aluno apresenta a partir das suas

experiências vividas no âmbito das empresas e da convivência social, integrando ciência

e tecnologia e este conhecimento.

Daí, a necessidade de o professor ter o domínio dos saberes disciplinares

(TARDIF, 2005), mas sem esquecer de considerar os demais saberes.

Na entrevista, ao perguntarmos ao professor como a relação professor/aluno

deve se acontecer ele responde:

“O aluno deverá refletir sobre os diversos aspectos. (…) o aprendizado

deverá ser mais prático e menos teorizado. (…) o aluno irá assumir um

papel clínico de leitura reflexivo-dialógica, com inovação e, acima de tudo,

que ajude o aluno a resolver os problemas no âmbito empresarial” (Fala do

professor).

A abordagem do conteúdo tomado, a partir dos problemas trazidos da realidade,

proporciona um trabalho mais dinâmico. Entrementes, por sua vez, há o rompimento

das barreiras criadas pela especificidade de cada disciplina. Com isso, os alunos são

estimulados à reflexão e à construção de hipóteses, mobilizando-os à criatividade.

Dissipa-se, por seu turno, a idéia do paradigma conservador (BEHRENS, 2005) isso é, o

professor como centro do processo ensino-aprendizagem; apenas dele emanam os

conhecimentos válidos que os alunos devem absorver. Agora, assume-se nova forma de

ensinar e aprender, onde o aluno passa a ser sujeito de sua aprendizagem e partícipe na

construção do conhecimento.

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Segundo Behrens (2005), na abordagem progressista, o discente é mediador do

conhecimento e “engaja-se com o aluno no ato de conhecer e lidera o processo pela

competência. Pelo diálogo, evita o autoritarismo e busca uma prática pedagógica

transformadora” (BEHRENS, 2005, p. 74). Escutando e respeitando os alunos no direito

de intervirem nas discussões e nos debates.

Outro indicador importante, e que nos diz respeito, versa sobre o papel do

professor P3 em sala de aula. Durante a nossa observação enquanto o grupo se

apresenta, um aluno demonstrou a preocupação de a empresa apresentada não possuir

um trabalho de marketing mais apropriado. Houve a interferência do grande grupo e se

instalou um grande debate entre o grupo, os demais alunos e o professor. Naquele

momento, configurou-se o papel mediador desse professor, na busca da superação da

reprodução para a produção do conhecimento.

Observamos, portanto, que a satisfação encontra-se presente no processo

ensinar-aprender, tanto por parte dos alunos como por parte do professor. Observamos,

também, que todos, docente e discente, encontravam-se envolvidos na perspectiva da

produção do conhecimento, justificando o processo ensino-aprendizagem, o que fica

muito claro, quando das aulas observadas, os alunos, por mais de uma vez, lamentaram

o término da aula.

Nas aulas deste professor, os alunos se sentem à vontade e ele consegue

estabelecer um diálogo entre eles e mobilizá-los à participação e ao aprendizado. Ao

final de cada apresentação, o docente está sempre atento às lacunas deixadas pelos

alunos e procura levá-los à reflexão:

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“Por que vocês não mexeram com a estratégia de marca, quanto à empresa

fortalecer a marca para garantir um certo espaço no mercado? Quero ver.

Como especialista em Marketing, vocês propõem estratégias para o caso

em estudo? A ação propositiva deve ficar mais clara” (Fala do professor)

Com isso, sempre que possível, o professor mobiliza o aprendizado dos alunos, e

junto com eles cria uma proposta de trabalho em que todos se envolvam na perspectiva

da produção do conhecimento.

Em nossas observações ficou claro, também, que o professor é provocador. Ele

sempre está atento e não é omisso no exercício de suas funções. É importante lembrar

que o fato de o docente mobilizar os alunos à participação em sala de aula, fazendo

interferências, não quer dizer que somente ele produza conhecimento, como podemos

verificar no exemplo, a seguir, quando o professor, ao iniciar uma das aulas observadas,

diz:

“A temática que vamos estudar hoje é importante e complexa para o estudo

da Administração de Marketing e compreensão da lógica do cliente” (Fala

de P)

E, ao dar prosseguimento ao assunto, ele retomou a questão do Mix de

Marketing, relembrando aos alunos:

“Quais são os 4Ps do Marketing?” (Fala de P3).

Em outro momento, o docente procurou trazer os alunos para o contexto, e

perguntou:

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“Como se dá a interação dos consumidores com os canais de distribuição e

quais são os canais?” (Fala do professor).

Mais adiante, ele procura estabelecer comparações com relação à realidade

brasileira e a de outros países, ao se referir ao trabalho de distribuição. Neste momento,

ele chama a atenção sobre importância do canal de distribuição para fidelização dos

clientes. A aluna interferiu, exemplificando:

“É a questão do cartão fidelidade da livraria Cultura que, a partir do

cartão, eles mantêm relação com o cliente, oportunizando vendas de livros,

de acordo com as preferências do cliente”.

O que podemos perceber é que o professor, durante este momento de aula,

vinculou os conteúdos da disciplina com o contexto mais amplo, quando se referiu

como esta distribuição se dava no Brasil e em outros países. Aproximou-se da realidade

do aluno, valorizando suas colocações e procurando sempre resgatar o aluno durante o

processo ensino-aprendizado, mobilizando-o ao diálogo.

Ele demonstra mobilizar os saberes da experiência. Mais uma vez, observamos

que, pela sua conduta nas aulas, apresenta ter conhecimentos da área pedagógica,

embora não seja licenciado, de acordo com o quadro, apresentado anteriormente, sobre

a caracterização dos professores.

Concluindo esta segunda parte do nosso estudo, apresentamos um quadro

referente à subcategoria relação professor-aluno:

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Quadro 8: Análise quanto à Subcategoria Relação Professor-Aluno

Pontos Categóricos referentes à relação professor-aluno-saber

P1 P2 P3

1. Alunos como sujeitos do processo ensino-aprendizagem. X X X

2. Se é menos vertical a relação professor-aluno. X X X

3. Se há preocupação em construir a autonomia do aluno X - X

4. Se o professor é provocador. - X X

5. Se há satisfação no ensinar e no aprender. - - X

De acordo com as nossas observações, os professores estudados consideram o

aluno como centro do processo ensino-aprendizagem. Os conhecimentos válidos não

fluem somente dos professores. Por parte dos docentes há respeito, aceitação e a

valorização do que o aluno traz. No geral, os professores (P1, P2 e P3) enfatizam, contra

argumentando, sempre com os alunos e se mostram solícitos a escutá-los.

Quanto aos saberes, todos os professores observados denotam, na prática,

mobilizar os saberes disciplinares, sendo que apenas P1 demonstra preocupação no que

tange aos saberes curriculares quando, em alguns momentos na sala de aula, apresenta

preocupação com a articulação do conteúdo e objetivos mais amplos categorizados pela

instituição escolar. Nas nossas observações, percebemos que os experienciais são

mobilizados proporcionalmente ao tempo de docência.

Quadro 9: Análise quanto à subcategoria saberes mobilizados na prática docente (TARDIF, 2005)

Saberes P1 P2 P3 Experienciais X em parte X Disciplinares X X X Profissionais - - X Curriculares X - em parte

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A referida travessia se faz de idas e vindas no confronto e no diálogo entre

intenções, saberes e prática.

(Telma de Santa Clara CORDEIRO)

Chegarmos a esta parte do nosso trabalho pressupõe uma série de etapas

vivenciadas, que nos fazem refletir acerca dos possíveis achados e, em especial, revisar

o nosso percurso. Com certeza, isso nos traz uma grande alegria permeada de muita

responsabilidade, aqui entendida como uma curiosidade epistemológica para além do

conhecimento aprendido e vivenciado nas experiências e ressignificado a partir das

nossas reflexões.

Nesta perspectiva, procuramos compreender a prática pedagógica do professor

do curso de Administração, tomando, como cenário para tal, a observação em sala de

aula.

Apesar de partirmos do pressuposto de que a docência no ensino superior exige

não apenas o domínio de uma área do conhecimento, mas, também o profissionalismo

necessário ao exercício de qualquer profissão, como nos ensina Masetto (2006), a ótica

da totalidade. Totalidade esta que nos é traduzida pela formação dos seus membros

como cidadãos e profissionais competentes.

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As faculdades e universidades surgem, portanto, como locais de convivência

onde se encontram educador e educandos, com o objetivo de favorecer o

desenvolvimento dos alunos nos diversos campos do conhecimento, no aspecto afetivo-

emocional, nas habilidades e nas atitudes e valores.

Essas instituições são marcadas por uma prática pedagógica intencional que

devem refletir objetivos educacionais e planejamento no alcance das melhores

condições de aprendizagens. Urge, portanto, uma proposta pedagógica de ensino-

aprendizagem para os docentes universitários que atendam aos anseios exigidos pela

sociedade do conhecimento.

É importante salientar que estas instituições estão inseridas na realidade social

que, por sua vez, sofrem influência desta realidade exterior, refletida na situação

político-econômico-social da população e, até, nas políticas governamentais, recebendo,

além disso, influências de perspectivas políticas e ideológicas dos grupos que nela

atuam.

Avançando em nossa reflexão, procuramos analisar esse profissional e sua

prática que, apesar de sofrer influências de forças externas, se reflete no fazer docente

de cada professor. Os docentes do curso de Administração da Universidade Federal de

Pernambuco, aqui observados, em relação aos aspectos analisados, têm demonstrado

responsabilidade e comprometimento profissional, que se refletem nas atitudes

observadas.

Apesar de não serem licenciados, os professores observados demonstram

atitudes favoráveis no que se refere à mobilização do aprendizado dos seus alunos.

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Mesmo sendo manifestado este comportamento em geral, sem sombra de dúvidas, trata-

se do ponto mais carente da grande maioria dos professores universitários: domínio dos

saberes profissionais (TARDIF, 2005). Sabemos que é necessário ao professor, como

se mostram os estudos desenvolvidos por Marcos Masetto (2006), conhecer o próprio

conceito de processo de ensino-aprendizagem: o professor como conceptor e gestor de

currículo, a relação professor-aluno e aluno-aluno no processo de aprendizagem, o

domínio da tecnologia educacional e o exercício da dimensão política.

Os achados aqui referidos propõem somar-se ao conhecimento acumulado sobre

a temática, além de contribuir com o esforço de muitos profissionais que se preocupam

com uma teoria e uma prática educacional e que buscam trabalhar, de acordo com o

paradigma que articula ensinar e aprender, na construção de conhecimentos, instituindo

a interface com a percepção política da sociedade. Sendo assim, podemos verificar, de

forma clara, a transição paradigmática referendada por Behrens (2005) e Santos (1989),

onde é observado o transitar desses docentes entre o antigo e o novo paradigma, sendo

que na relação professor-aluno-saber, ora se identifica com uma pedagogia

conservadora, ora crítica. De acordo com as nossas observações tais professores

consideram o aluno como centro do processo ensino-aprendizagem, valorizam os

conhecimentos prévios, sendo menos verticalizada a relação professor-aluno-saber.

No que concerne aos aspectos que foram observados na prática dos sujeitos,

percebemos que havia uma preocupação em elaborar um planejamento para o trabalho

didático com os conteúdos da disciplina de marketing.

A avaliação, embora não fosse concebida da mesma forma por todos os

professores, era vista como um dos elementos necessários à construção do processo de

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aprendizagem, pois, na perspectiva progressista ela pode ser considerada um

diagnóstico do que o aluno já sabe para, diante disso, elaborar estratégias, de forma que

o discente se aproprie do que precisa ser aprendido.

Os dados revelam que os saberes mobilizados na prática docente dos professores

do curso de administração pesquisados são os saberes disciplinares, os saberes

experienciais e curriculares, em parte. Notamos que os saberes pedagógicos apresentam

inconsistência, uma vez que a prática pedagógica dos docentes indica a necessidade

deles em aprofundarem os conhecimentos pedagógicos.

Assim, esta pesquisa nos revelou como o professor do curso de graduação em

Administração da UFPE desenvolve sua prática pedagógica, sua concepção de prática e

os saberes docentes mobilizados nesta prática. Para tal, consideramos as relações

epistemológicas, sociais e outras, sabendo-se que, no que tange à produção do

conhecimento e dos saberes, de acordo com os vários momentos históricos que

vivemos, inclusive na atualidade, o social e o político estão imbricados. Entendemos

que os textos trabalhados nas aulas pelos docentes e as ementas das disciplinas se

constituem em dados que podem ser estudados em outra pesquisa que busque identificar

como o professor de administração constrói sua fonte de trabalho pedagógico docente.

Cônscios, entretanto, do nosso inacabamento, contemplamos os espaços de sala

de aula como espaços de socialização de práticas pedagógicas, a forma como esses

saberes são articulados e mobilizados na prática docente, os quais demandam maior

investigação para que, efetivamente, se tornem elementos da construção da identidade

docente e contribuam nos processos de formação pessoal e profissional desses

professores.

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ANEXOS

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ANEXO 1: Roteiro de informações para as observações

Questões Comuns a) O professor demonstra que planeja a aula?

b) Como ele introduz o conteúdo?

c) O professor avalia a própria aula?

d) Como se dá seu processo de avaliação?

e) Como acontece a relação professor/aluno?

f) Que saberes são mobilizados na prática?

ANEXO 2: Roteiro da Entrevista

Questões Comuns

1. O senhor foi sempre professor?

2. Qual a sua formação inicial e continuada?

3. Trabalha em outra instituição de ensino?

4. Como pensa que deve se dar a relação professor/aluno no Ensino Superior?

5. Como vê o processo de avaliação e o que ele significa para o senhor?

6. O conteúdo ministrado no semestre é elaborado pelo senhor e a partir de que

elementos o senhor elabora?

7 Quais aspectos são importantes na formação do profissional do curso de

Administração?

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ANEXO 3: Estrutura Curricular do Curso de Administração (UFPE):

ÀREA DISCIPLINA NOME AE AE AE AE AE AE AE

AD240 AD350 AD351 AD352 AD353 AD354 AD355

Administração Hospitalar Administração Imobiliária Administração Hoteleira Administração do Turismo Administração de Empresas Rurais Administração de Pequenas Empresas Administração Bancária

AP AP AP AP AP AP

AD196 AD209 AD356 AD357 CT226 PE200

Administração de Políticas Públicas Introdução à Administração Pública Estruturas e Relações Governamentais Tópicos Especiais em Administração Pública Finanças e Orçamentos Públicos Direito Administrativo

FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG FG

AD005 AD113 AD114 AD192 AD400 CS004 CT220 CT221 EC217 EC270 EC360 ED001 ET230 MA471 PG100 PS001

Fundamentos de Filosofia para o Administrador Administração Tributária Relações Trabalhistas Metodologia de Pesquisa em Administração Estatística Aplicada à Administração Fundamentos de Sociologia Contabilidade Geral e Custos Contabilidade Gerencial Economia das Empresas Matemática Financeira Economia Brasileira Educação Física Pesquisa Operacional Matemática para Administração Fundamentos de Direito para o Administrador Psicologia 1

FI FI FI FI FI FI

AD197 AD198 AD368 AD369 AD370 AD371

Administração Financeira 1 Administração Financeira 2 Mercados Financeiros Orçamento Empresarial Análise e Estratégia de Investimentos Tópicos Especiais em Finanças

MK MK MK MK MK MK MK MK

AD301 AD302 AD372 AD373 AD375 AD376 AD377 AD378

Administração de Marketing 1 Administração de Marketing 2 Administração de Vendas Marketing de Serviços Marketing Internacional Marketing Turístico Pesquisa Mercadológica Tópicos Especiais em Marketing

OP AD226 Administração de Material Continua

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ANEXO 3: Estrutura Curricular do Curso de Administração (UFPE): Continuação:

ÀREA DISCIPLINA NOME OP OP OP OP OP OP OP OP

AD235 AD280 AD299 AD309 AD364 AD365 AD366 AD367

Planejamento e Controle da Produção 2 Administração de Operações Administração da Qualidade Condições de Trabalho e Meio Ambiente Técnicas Avançadas em Manufatura Logística Empresarial Política e Gestão de Ciência e Tecnologia Tópicos Especiais em Administração e Operações

OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR OR

AD001 AD190 AD191 AD193 AD194 AD195 AD224 AD278 AD289 AD295 AD304 AD306 AD307 AD379 AD380 AD386 AD387 PE220

Introdução à Administração Teoria Geral da Administração 1 Teoria Geral da Administração 2 Comportamento Organizacional Macroanálise das Organizações Microanálise das Organizações Novos Negócios Comunicação Administrativa Estratégia Empresarial Ética Profissional e Empresarial Inovação Organizacional Estágio Supervisionado Seminário de Atualização em Administração Relações Estado-Empresa Análise Administrativa Cultura Organizacional Tópicos Especiais em Organizações Legislação Social

RH RH RH RH RH RH RH RH RH RH

AD236 AD297 AD298 AD303 AD358 AD359 AD360 AD361 AD362 AD363

Administração de Cargos e Salários Administração de Recursos Humanos 1 Administração de Recursos Humanos 2 Gerência e Consultoria Organizacional Treinamento e Desenvolvimento de RH Relações Sindicais Recrutamento e Seleção Avaliação de Desempenho Planejamento de Recursos Humanos Tópicos Especiais em Recursos Humanos

SI SI SI SI SI SI SI SI

AD230 AD260 AD290 AD388 AD389 AD390 AD391 AD392

Noções Básicas de Computação Processo Decisório Sistemas de Informação Sistemas de Informações Gerenciais Análise Estruturada de Sistemas Gestão da Informação Administração da Informação Tópicos Especiais em Sistemas de Informação

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ANEXO 9: DOCUMENTOS DO PROFESSOR P3

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Critérios de avaliação pelos alunos (proposta docente – P3)

Critérios/Equipes Equipe 1 Equipe 2 Equipe 3 (e

assim por diante)

Articulação teórica

Integração do grupo

Ações propositivas

Avaliação global