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Orientação: Prof. Sandra Regina Chalela Ayub Instituição: União das Faculdades dos Grandes Lagos - Unilago / S. J. Rio Preto/SP Esse Artigo participou no 7o. Conic-Semesp/2007, na cidade de Sorocaba. Classificado em 3o. lugar na Categoria Ciências Sociais Aplicadas.

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UM MITO PARA AS RELAÇÕES PÚBLICAS

RESUMOAs profissões, nos dias de hoje, são representadas e identificadas por

um símbolo e este, normalmente está associado a um mito. No entanto, na profissão

de Relações Públicas encontramos apenas o símbolo, golfinho, que não está

associado a um mito.

Assim, o presente artigo tem como objetivo encontrar um mito com

características que propiciem uma compreensão das responsabilidades e

experiências relacionadas à profissão de Relações Públicas.

Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico para comparação do

mito proposto com as funções e perfil requerido aos profissionais de Relações

Públicas.

INTRODUÇÃO

Após uma extensa pesquisa, informal, foi observado que a maioria das

profissões possui um símbolo e/ou um mito (seja através dos santos católicos ou

deuses gregos-romanos) que as identificam, protegem e guiam. Atena, por exemplo,

é a deusa grega que simboliza a sabedoria e a justiça e, conseqüentemente, protege

os Advogados. Há santos protetores para os jornalistas, publicitários, médicos,

lavadeiras, enfim, para tantas profissões quanto se possa imaginar.

O fato curioso é que para as Relações Públicas, encontramos apenas

um símbolo, que não está ligado ao mito. O golfinho, por ser considerado uma das

espécies mais comunicativas, além de terem a sabedoria de prosperar em

ambientes difíceis e estarem sempre vigilantes é o símbolo das Relações Públicas.

Tais características estão ligadas a descobertas científicas, sem nenhuma relação

mítica, lendária ou histórica.

Diante do problema, procurou-se encontrar para a profissão de

Relações Públicas, uma personagem que pudesse cumprir com as quatro funções

básicas do mito, segundo Campbell (1990, p. 32):

a) Função Mística: abrir o mundo para a dimensão do mistério, para a

consciência do mistério;

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b) Função Cosmológica: mostrar qual é a forma do universo, de

maneira que o mistério se manifeste;

c) Função Sociológica: dando suporte e validação de determinada

ordem social;

d) Função Pedagógica: ensinando a viver a vida sob qualquer

circunstancia.

OBJETIVOS

Encontrar e associar um mito que, por suas características, propiciem

uma compreensão das responsabilidades e experiências relacionadas à profissão de

Relações Públicas.

METODOLOGIA

O presente artigo foi elaborado através da revisão bibliográfica, pois

tem por base resumir as referências relacionadas com o tema proposto e revelar a

situação atual dos conhecimentos sobre o assunto. Para tanto, foram utilizados

livros e meios eletrônicos com credibilidade e suficiência de dados.

Conforme explicam Barros e Lehfeld (2000), esse tipo de pesquisa

pode levar à construção de trabalhos inéditos daqueles que pretendem rever,

reanalisar, interpretar e criticar considerações teóricas, paradigmas e mesmo criar

novas proposições de explicação de compreensão de fenômenos das mais

diferentes áreas do conhecimento.

Para desenvolver este artigo, foram utilizadas as Cartas do Jogo de

Tarô, mais especificamente o Tarô Mitológico, o qual possui uma abordagem

psicológica, arquetípica e, portanto, cheia de significados. Através do estudo dessas

Cartas, buscou-se um mito que traduzisse na sua essência a função das Relações

Públicas. Em alguns momentos, também utilizamos alguns fundamentos do Tarô de

Marselha.

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1. DEFINIÇÃO DE MITO

“O mito é capaz de capturá-lo”, afirma Campbell (1990, p. 3) quando

questionado sobre o porque damos valor aos mitos. E prosseguia, sabiamente,

explicando esse valor:[...] não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. [...] Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer. [...] Muitas histórias se conservava, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzí-los por sua conta. Mas assim que for apanhado pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele (CAMPBELL, 1990, p. 3-4).

Para Campbell (1990, p. 6) os “mitos são pistas para as

potencialidades espirituais da vida humana” e podem ensinar ao homem a “se voltar

para dentro”, a “captar a mensagem dos símbolos”, “a colocar sua mente em contato

com essa experiência de estar vivo”.

Para Sharman-Burke e Greene (1988, p. 12) “as imagens míticas são

na realidade quadros, figuras ou representações espontâneas, provenientes da

imaginação do homem, que descreve em linguagem poética as experiências

fundamentais e padrões do seu desenvolvimento”.

Estamos cercados pelo mito: mitos do cinema, da música, da arte, da

política, na religião. Mitos por todos os lados.

Mas afinal, o que é um mito? Segundo o Dicionário Aurélio, o mito pode

ser: 1.Narrativa dos tempos fabulosos ou heróicos. 2.Narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc. 3.Representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela tradição, etc. 4.Pessoa ou fato assim representado ou concebido: Para muitos, Rui Barbosa é um mito. [Sin. (relativo a pessoa), nesta acepç.: monstro sagrado (q. v.).] 5.Idéia falsa, sem correspondente na realidade: As dívidas surgidas no inventário demonstram que a sua fortuna era um mito. 6.Representação (passada ou futura) de um estádio ideal da humanidade: O mito da Idade do Ouro. 7.Imagem simplificada de pessoa ou de

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acontecimento, não raro ilusória, elaborada ou aceita pelos grupos humanos, e que representa significativo papel em seu comportamento. 8.Coisa inacreditável, fantasiosa, irreal; utopia: A perfeição absoluta é um mito. 9.Antrop. Narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração e considerada verdadeira ou autêntica dentro de um grupo, tendo ger. a forma de um relato sobre a origem de determinado fenômeno, instituição, etc., e pelo qual se formula uma explicação da ordem natural e social e de aspectos da condição humana. 10.Filos. Forma de pensamento oposta à do pensamento lógico e científico.

Campbell (1990, p. 24-26) nos dá a definição que mais se adequa aos

propósitos desse trabalho:[...] Um deus é a personificação de um poder motivador ou de um sistema de valores que funciona para a vida humana e para o universo – os poderes do seu próprio corpo e da natureza. Os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que animam nossa vida animam a vida do mundo. Mas há também mitos e deuses que têm a ver com sociedades específicas ou com as deidades tutelares da sociedade. [...] Precisamos de mitos que identifiquem o indivíduo, não com seu grupo regional, mas com o planeta.

Para Sharman-Burke e Greene (1988, p. 13) “o mito descreve padrões

da vida por meio de parábolas, estórias e representações iconográficas”

2 MITO E TARÔPorque utilizar o Tarô para encontrar um arquétipo ideal para as

Relações Públicas? Porque suas cartas possuem os três tipos de simbolismos

necessários para essa “viagem”, segundo explica Mebes (1980): o simbolismo das

cores; simbolismo dos quadros e figuras geométricas; simbolismo dos números. Isso

se fez necessário para ir além do estudo do mito puro e simples.

As Cartas de Tarô são compostas de 78 cartas, sendo 22 conhecidas

por Arcanos Maiores e 56, denominadas Arcanos Menores. Para Mebes (1980, p.

11) “Arcanum é um mistério cujo conhecimento é indispensável para compreender

um grupo determinado de fatos, leis ou princípios”. E é por isso que a nossa busca

inicia-se nos Arcanos do Tarô.

De acordo com Sharman-Burke e Greene (1988), a origem do Tarô é

desconhecida, mas muitas pessoas o ligam aos mistérios ocultos, dando-lhe muitas

vezes uma imagem caricatural errônea. Na realidade não possuem nada de

sobrenaturais, misteriosas ou de exclusividade esotérica. Acredita-se que originaram

em rituais religiosos e dos símbolos do antigo Egito ou, ainda, de cultos misteriosos

dos mitras, nas primeiros séculos cristãos, bem como de crenças célticas pagãs

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durante a Idade Média na Europa oriental. Porém, as evidências históricas, através

do Baralho de Carlos VI e do Baralho Visconti-Sforza, revelam que as cartas do Tarô

foram pintadas na metade do século XV na Europa, mais especificamente na Itália, e

eram de livre acesso a todos aqueles que as pudessem comprar.

Segundo Mebes (1989, p. 12) “o Tarô é considerado um esquema da

cosmovisão dos iniciados da antiguidade”.

Conforme explica Lerrer (2007), existem diversos tipos de Tarôs, sendo

o de Marselha, datado do final do século XV, na França, o que possui a simbologia

mais próxima da cultura ocidental. [...] pouquíssimo se sabe a respeito da história das cartas do Tarô ou a respeito da origem e da evolução das designações de naipe e do simbolismo dos vinte e dois Trunfos. Mas as muitas hipóteses imagiativas que se referem ao advento das cartas e às numerosas visões e revisões inspiradas pela sua simbologia pictórica constituem uma prova da sua atração universal e demonstram o seu poder de ativar a imaginação humana. [...] Parece evidente que essas velhas cartas foram concebidas no mais profundo das entranhas da experiência humana, no nível mais profundo da psique humana. [...] As figuras nos Trunfos do Tarô contam uma história simbólica. [...] Podemos fazer melhor a conexão com o seu significado através da analogia com mitos, contos de fadas, dramas, quadros, acontecimentos históricos, ou qualquer outro material com motivos similares, que evocam universalmente grupos de sentimentos, instituições, pensamentos ou sensações. [...] As figuras do Tarô estão sempre presentes em nossa vida de várias maneiras (NICHOLS, 1980, p. 21-24).

No presente artigo foi utilizado o Tarô Mitológico, criado por Sharman-

Burke e Greene em 1998, redesenhado por Tricia Newell, com inspiração nos

deuses gregos ambivalentes e símbolos perfeitos da natureza humana e buscando

uma abordagem histórica e psicológica.

O Tarô pode ser considerado um “livro” de mensagens, já que cada

carta possui uma simbologia muito profunda. Sendo assim, ele é evidentemente um

instrumento da comunicação.

2.1 UM ESTUDO SOBRE O ARCANO 14 DO TARÔ MITOLÓGICODe acordo com Mebes (1980, p. 282), “Os três títulos do Arcano XIV

são: ‘Deductio’, ‘Harmonia mixtorum’ e ‘Reversibilitas’. Na linguagem erudita esta

imagem é chamada ‘Ingenium Solare’, e na linguagem comum – ‘A Temperança’.

Portanto, o domínio desse Arcano, seu fruto é a capacidade de sintetizar”.

Mebes (1980, p. 283) também faz uma análise aritmética do Arcano:14= 1+ 13. Hermes Trismegisto (1), possuidor do princípio da imortalidade (13) apresenta um grandioso quadro geral da dedução (14). Um ser humano

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tridimensional (1), utilizando com sabedoria suas encanarções (13), acaba realizando a harmonia hermética (14).

Mebes (1980, p. 283), destaca que “a finalidade da dedução é

equilibrar a racionalidade de todas as nossas conclusões, estabelecer um sistema

completo de associações, dispensando a necessidade de procurar as causalidades

isoladas”.

O Arcano 14 é intitulado “A Temperança” que, além de ser uma virtude,

significa equilibrar, colocar sob limites.

Segundo Nichols (1980, p. 32; 34), “A Temperança” é uma figura

prestimosa, um anjo que se ocupa incansavelmente do trabalho de “deitar o líquido

de um vaso em outro”, “absorta em criar uma interação equilibrada”, fazendo com

que o “herói” volte a ter energia e esperança “numa nova direção”.

Para Nichols (1980), ela é um alquimista capaz de romper com as

velhas formas e desatar os nós mais rígidos.

No Tarô Mitológico, o Arcano 14 (fig. 1) é representada pela deusa

Grega Íris, que, incansavelmente, busca o equilíbrio, o saber lidar com os conflitos

dos relacionamentos e as possibilidades de unir o que está teoricamente separado.

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Figura 1 – Arcano 14, A Temperança, do Tarô Mitológico de Sharman-Burke e Greene (1998)

Analisando as cores e imagens presentes na Carta acima ilustrada, de

acordo com as características descritas por Sharman-Burke e Greene (1998, p. 52),

tomando por base os textos encontrados em meio eletrônico de Porto (2007) e

Sakall (2007), podemos entender o seguinte:

“Uma jovem de fartos cabelos pretos, soltos ao vento”: simbolicamente,

cabelos representam principalmente força e poder. Cabelos soltos sugerem

liberdade e soltura, o que vai de encontro com a figura alada, livre para voar e

transitar por todos os reinos.

“A Temperança usa um “lindo” vestido branco com as cores do arco-íris. Suas asas acompanham também a mesma escala de cores”: roupas brancas

são associadas à limpeza, à pureza e à inocência. Nos países orientais, o branco

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é usado como uma cor adequada para a morte e o pesar, aceitando que a

pessoa morta partiu do mundo físico para um plano espiritual mais puro. É a cor

do desprendimento. Assim, o branco tem uma forte relação com a Temperança,

seja pela pureza que lhe é associada (e para poder lidar com os conflitos do

relacionamento há que se convir que é necessário ter certa pureza de coração)

quanto pela relação da transição do mundo físico para o espiritual.

Está de pé, às margens de um rio e um dos pés toca a água enquanto o outro está em terra firme: tal atitude demonstra perfeito equilíbrio, a união entre

forças e naturezas opostas: a terra e a água, o masculino e o feminino.

“Em primeiro plano, à esquerda, vemos uma íris de cor púrpura”: a cor

violeta (mais próxima do púrpura) gera sentimentos como respeito próprio,

dignidade e auto-estima; também pode refletir santidade, humildade e

criatividade. A cor colocada em primeiro plano, pode sugerir que para lidar com a

temperança, com o equilíbrio, com as situações conflitantes, faz-se necessário

ter antes de mais nada as características sugeridas pelo significado da cor.

“No horizonte, o arco-íris dá colorido especial à paisagem verdejante”:

Novamente a cor verde que também compõe a imagem relaciona-se fortemente

com o significado da Carta: equilíbrio, suavidade, calma, harmonia. Para que Íris

alcance seu objetivo ela deverá estar envolta por um ambiente calmo, equilibrado

e harmônico. Vale lembrar que o azul também compõe o ambiente onde Íris se

encontra. O azul pode simbolizar a entrada nos domínios mais profundos do

espírito. Possui um aspecto frio e, por sua quietude e confiança, promove a

devoção e a fé. O azul é uma cor popular associada ao dever, à beleza e à

habilidade. Relacionando-a a Íris, entendemos que trata-se justamente do dever

de transportar as mensagens e à habilidade em promover a conciliação onde

existir o conflito. Mais de uma vez, as sete cores que formam o arco-íris surgem

no Arcano 14 e, como a própria descrição da Carta sugere, este é o símbolo da

ligação entre o céu e a terra e, portanto, da promessa de renovação de

relacionamentos.

“Segura nas mãos duas taças, uma de ouro e outra de prata e está despejando água de uma para outra”: segundo Sharman-Burke e Greene

(1980), o ouro simboliza o sol, o masculino, o consciente; a prata, a lua, o

feminino e o inconsciente. A presença das duas cores na Carta sugerem fluxo

dos sentimentos. A água é o princípio da vida. Representa a purificação, a

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regeneração, a profundeza e o infinito. Em quase todas as culturas, a água

aparece como símbolo da força feminina e da emoção, associada à fertilidade e

à vida. Fluir a água de uma taça para outra é buscar a harmonia através dos

sentimentos, função principal de Íris.

“O arco-íris”: por simbolizar uma ponte existente entre o céu e a terra, o arco-

íris também sugere a idéia de relacionamento. O arco íris também simboliza algo

bom que vem depois da tormenta, trazendo sorte e felicidade. Neste caso, sua

presença pode apontar para a finalização do conflito, desde que ocorra a

mediação entre os opostos.

2.2 UM ESTUDO SOBRE O ARCANO 14 DO TARÔ MITOLÓGICOPassamos agora a descrever a deusa Íris, de acordo com Sharman-

Burke e Greene (1988, p. 52-55)

Íris, a deusa grega do Arco-Íris, mensageira de Hera, representa o lado

feminino de Hermes, emissário de Zeus.

Era adorada pelos deuses e pelos mortais, por seu amor e bondade.

Quando Hera ou Zeus desejavam transmitir seus desejos aos homens,

Íris descia à terra pelo arco-íris, na forma humana ou surgia como uma linda mulher

alada.

Por poder caminhar pelas águas e pelo arco-íris (que ligava o céu e a

terra), até o mundo das trevas se abria para ela.

Era Íris quem recepcionava os deuses com néctar e ambrósia, quando

estes voltavam ao Olímpo depois de suas viagens.

Além de levar as mensagens de Hera, também tinha a missão de ser o

agente cumpridor de suas vinganças e, ainda, consolar e pacificar os povos.

Íris representa o coração equilibrado, a temperança, a misericórdia,

sem ser piegas ou sentimental. Seu sentimento está relacionado à escolha refletida

de um afeto. Seu principal propósito é a cooperação, a harmonia e a busca de um

relacionamento melhor, fazendo com que as reações de conflito ou raiva encontrem

uma melhor maneira para fluir. Assim, o sentimento é inteligente, racional como o

pensamento.

Íris era uma deusa que não tinha inimigos e nos leva a refletir que

precisamos conduzir com mais delicadeza o julgamento dos sentimentos –

esquecendo a emoção racional ou o sentimentalismo piegas e hipócrita.

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Seu grande ensinamento é a necessidade que o ser humano tem de

redirecionar o fluxo dos sentimentos e dos relacionamentos através da harmonia e

da cooperação.

3 RESULTADO: ESTABELECENDO UMA COMPARAÇÃOPodemos verificar que Íris e a sua Temperança pode ser o mito que

procuramos para ser patrono das Relações Públicas.

A análise foi feita apenas sobre os Arcanos Maiores, pois, segundo

Sharman-Burke e Greene (1988, p. 15; 17), estes estão centrados em uma “viagem

arquetípica da vida, que na realidade é a nossa grande viagem interior” e

“descrevem tanto o momento interior do indivíduo num determinado trecho da vida,

bem como a espécie de experiência que ele poderá encontrar na vida a nível

externo”.As imagens das cartas do Tarô são símbolos antigos e evocam experiências de vida, pertencentes à condição humana e ao nosso próprio destino. E esses símbolos dão mais sentido e dignidade à vida, pois por meio deles é que nos damos conta de que muitos outros antes de nós já estiveram aqui nesse mundo e que, de um modo ou de outro, conseguiram atingir seus objetivos, à medida em que ultrapassaram todos os obstáculos no processo de crescimento e conseqüente enriquecimento como seres humanos. [...] Todas as cartas dos Arcanos Maiores são ritos de passagem. São estágios e processos dinâmicos e não simplesmente resultados ou quadros estáticos que permanecem inalteraldos (SHARMAN-BURKE; GREENE, 1988, p. 18)

A análise das 22 cartas dos Arcanos Maiores (Trunfos), nos levou a

identificar o Arcano 14 – A Temperança e o mito relacionado a ela, como a legítima

representante da profissão de Relações Públicas.[...] as personalidades do Tarô introduziram-se em nossa auto-satisfação a fim de trazer-nos mensagens de grande importância; mas o homem moderno, imerso como está numa cultura verbal, acha a linguagem pictórica não-verbal do Tarô difícil de decifrar. [...] Uma viagem pelas cartas do Tarô, primeiro que tudo, é uma viagem às nossas próprias profundezas. [...] uma nova sabedoria é a grande necessidade do nosso tempo – sabedoria para resolver nossos problemas pessoais e sabedoria para encontrar respostas criativas às perguntas universais que a todos nos confrontam. (NICHOLS, 1980, p. 18).

Tomamos por base as explicações de Sallie Nichols (1980, p. 247-257)

para explicar as múltiplas facetas do inconsciente coletivo contidas nas cartas do

Tarô e compará-las com as funções e características existentes no profissional de

Relações Públicas.

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O líquido que flui dos jarros é pura essência, energia, dois opostos que

não podem confrontar-se diretamente, pois a situação decorrente poderia ser

catastrófica. Assim, Íris ou a Temperança, exercem a perfeita função de árbitro,

fazendo que as correntes fluam em harmonia, não apenas de forma lógica e

racional, mas pela experiência, pelo conhecimento interior.

É isso que um bom Relações Públicas deve fazer: diante do conflito,

agir como um árbitro, buscar soluções baseadas no conhecimento, na experiência,

que leve dois opostos a se entenderem: o chefe que se comunica com seus

funcionários, a empresa que mostra uma nova imagem ao cliente. É a interação dos

opostos.

De acordo com Nichols (1980, p. 248), “O Anjo da Temperança não se

anuncia com um fulgor de luzes ofuscantes nem com um fragor de címbalos. [...]

posta-se diante de nós tranqüilamente, como uma presença permanente. [...] não

encena entrada alguma. Limita-se a estar ali, entretido no afã de verter”.

É dessa forma que o Relações Públicas age: nos bastidores, sem o

brilho da fama, sem a ambição do reconhecimento público.

Para Íris ou para a Temperança, a integração se dá através de ritos:

verter a água de um jarro para outro.

O profissional de Relações Públicas também realiza seu rito: as

pesquisas, as avaliações, as estratégias de comunicação, os planejamentos.

Íris ou a Temperança oferecem ao homem um auxílio vital, seja para

sua realidade externa ou para sua jornada interior: leva o homem a reconciliar dois

aspectos antagônicos de sua vida.

E não é exatamente isso o que um Relações Públicas faz: reconcilia

dois grupos diferentes através da comunicação, harmoniza públicos diferentes?

Se Íris ou a Temperança não interferirem nos universos do homem, a

sua vida se tornará desorganizada e confusa, com resultados desastrosos.

O mesmo não ocorre quando a tarefa de Relações Públicas é relegada

a segundo plano? As empresas necessitam de um “anjo” que cuide de suas relações

e dos conflitos originados a fim de regular o fluxo de suas ações.

Conforme Nichols (1980, p. 254), embora ela seja alada, “está

solidamente postada na realidade; [...] compartilha tanto do reino celeste quanto do

terrestre, ligando-os”.

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E assim trabalha um Relações Públicas, ligando e unindo os diversos

públicos, utilizando de sua habilidade e perspicácia para interagir com os públicos

alvos de suas ações.

“Temperar significa trazer a um estado adequado ou desejado pela

combinação ou pela mistura. Temperamos o aço para torná-lo forte, porém flexível”

(NICHOLS, 1980, p. 253).

Íris, o Anjo da Temperança e o Relações Públicas, nada mais são do

que alquimistas capazes de reduzir toda a matéria ou qualquer outra substância a tal

ponto que ela se torne pura e incorruptível – o ouro dos filósofos.

Além disso, o estudo sobre o Arcano 14 nos mostra que a sua palavra-

chave é harmonia hermética, ou seja, uma qualidade fundamental para um

profissional de Relações Públicas. A temperança deve ser a sua virtude e todas as

suas ações devem buscar sempre o equilíbrio através da racionalidade e das

associações.

Por fim, destacamos as principais características de Íris apontadas por

Sharman-Burke e Greene (1988):

- sua principal função era ser mensageira e, para tanto, a

comunicação fazia parte de sua essência;

- bondosa e amorosa no lidar com o conflito e com os envolvidos;

- seu perfil de mensageira e excelente comunicadora é destacada

pelo fato dela poder transitar tanto na terra, como céu e nas trevas em qualquer

momento;

- além da função de mensageira, também tinha como incumbências

recepcionar e atender os deuses;

- era consoladora e pacificadora;

- era equilibrada e buscava constantemente a harmonia, através da

racionalidade;

- redirecionava o fluxo dos sentimentos e dos relacionamentos.

Como podemos notar, todas as características acima descritas vão de

encontro ao perfil necessário para um Relações Públicas no exercício de seu

trabalho.

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CONCLUSÃO

Responder objetivo: Encontrar e associar um mito que, por suas características, propiciem uma compreensão das responsabilidades e

experiências relacionadas à profissão de Relações Públicas.

Analisar a mitologia nos permite perceber que a comunicação é um fato

presente e de grande importância desde os primórdios da humanidade. Até os

deuses precisavam de alguém que intermediasse suas relações com os mortais, de

maneira rápida e eficaz para que estes pudessem interpretar e entender as

mensagens adequadamente.

Os deuses gregos possuíam uma natureza humana e é essa

humanidade que os aproxima dos homens em todos os sentidos.

Embora as Relações Públicas já possuam seu símbolo, o golfinho, este

não tem o mesmo poder que um mito teria. É necessário buscar construir um

arquétipo que trabalhe a psique dos profissionais, pois “as projeções são

instrumentos úteis à conquista do autoconhecimento”, como afirma Nichols (1980,

p., 26).

Associar a profissão das Relações Públicas a um mito, possibilita uma

compreensão quase que divina das responsabilidades que serão impostas pela

consciência daqueles que pretendem ingressar nessa área.

O mito da deusa Íris traduz muito bem, de maneira poética e

arquetípica, o universo das Relações Públicas. Apontam o caminho que estes

profissionais devem seguir no seu cotidiano: mediando conflitos, buscando harmonia

e melhorando os relacionamentos, utilizando-se para isso não de uma fórmula

mágica, mas de estratégias inteligentes e racionais que levem à cooperação e,

conseqüentemente, à dissolução dos conflitos. Além disso, ao associar a imagem à

profissão ocorrerá a possibilidade de um mergulho mais profundo às experiências

que serão vividas por esses profissionais.

O arquétipo encontrado tanto no mito quanto nas simbologias

encontradas na análise do Arcano 14, nos leva a afirmar que a deusa Íris dá

significado, representação e, ainda, atua diretamente na psique dos profissionais de

Relações Públicas. Nichols (1980, p. 34) ressalta muito bem essa importância ao

afirmar que “[...]quando um ser humano adquire determinado grau de

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autopercepção, é capaz de fazer escolhas diferentes das da multidão e de

expressar-se de um jeito só seu. [...] Será capaz de examinar costumes sociais e

idéias correntes e adotá-los ou não, como bem entender. Estará livre para agir

conforme as necessidades mais profundas e o mais verdadeiro eu”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, A. J. S; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia científica - um guia para a iniciação científica. 2 ed. São Paulo.: Makron Books, 2000, p. 24.

CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.

LERRER, D. O jogo que virou oráculo. Disponível em: <http://www.terra.com.br/planetanaweb/flash/335/guiacosmico/oraculos/jogo.htm>. Acesso em 02 ago.2007.

NICHOLS, S. Jung e o Tarô. Uma jornada arquetípica. São Paulo: Cultrix, 1980.

PORTO, A.; DIAS, C. O efeito de cada cor. Disponível em: <http://www.tci.art.br/cor/efeito.htm>. Acesso em 10 mai.2007.

SAKALL, S. E. Simbologia. Símbolos. Disponível em: <http://www.sergiosakall.com.br/montagem/simbolos.htm>. Acesso em 10 mai.2007.

SHARMAN-BURKE, J.; GREENE, L. O Tarô mitológico. Uma nova abordagem para a leitura do Tarô. São Paulo: Siciliano, 1988.

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