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951 UM ESQUEMA DE BIDOCÊNCIA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: EM BUSCA DA APROPRIAÇÃO DA METODOLOGIA INVESTIGATIVA NO ENSINO Alice Maria Figueira Reis da Costa 13 . Faetec/RJ. Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Pôster [email protected] INTRODUÇÃO: O CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DO ESQUEMA DE BIDOCÊNCIA Em atendimento às determinações legais no que tange a educação inclusiva, conforme a Constituição e as leis, a Fundação de Apoio a Escola Técnica - Faetec/RJ, através do CAEP Escola Especial Favo de Mel e da Escola Estadual de Ensino Fundamental República, se propôs a realizar uma pesquisa investigativa com um esquema de bidocência numa classe especial. Estes alunos predominantemente residentes da periferia do Estado do Rio de Janeiro, contemplados por benefícios governamentais para pessoas com deficiência intelectual. Através da análise dos instrumentos pedagógicos integrantes do Plano de Ensino Individualizado (PEI) do Ciclo II Ano 2 foram identificados os alunos que apresentavam comportamento autônomo e adequado em diferentes situações de aprendizagem, considerando principalmente os aspectos psicossociais e cognitivos, estes foram indicados para inclusões em classes regulares nos dois últimos trimestres do ano letivo de 2012 pela docência especializada. Contudo, os relatórios de desempenho não foram suficientes para oferecer segurança e confiança no trabalho sócio-educacional que poderia ser realizado em outra escola sob a 13 Professora Especialista em Educação Especial e pesquisadora voluntária do Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP/NIL) da Faetec/Escola Especial Favo de Mel. Pesquisadora voluntária do Grupo de Pesquisa Docência na Cibercultura (GPDOC/UERJ), liderado pela Profa. Dra. Edméa Santos.

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UM ESQUEMA DE BIDOCÊNCIA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: EM BUSCA DA APROPRIAÇÃO DA METODOLOGIA

INVESTIGATIVA NO ENSINO

Alice Maria Figueira Reis da Costa13. Faetec/RJ. Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação

Categoria: Pôster [email protected]

INTRODUÇÃO: O CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DO ESQUEMA DE

BIDOCÊNCIA

Em atendimento às determinações legais no que tange a educação inclusiva, conforme a

Constituição e as leis, a Fundação de Apoio a Escola Técnica - Faetec/RJ, através do

CAEP Escola Especial Favo de Mel e da Escola Estadual de Ensino Fundamental

República, se propôs a realizar uma pesquisa investigativa com um esquema de bidocência

numa classe especial. Estes alunos predominantemente residentes da periferia do Estado do

Rio de Janeiro, contemplados por benefícios governamentais para pessoas com deficiência

intelectual.

Através da análise dos instrumentos pedagógicos integrantes do Plano de Ensino

Individualizado (PEI) do Ciclo II Ano 2 foram identificados os alunos que apresentavam

comportamento autônomo e adequado em diferentes situações de aprendizagem,

considerando principalmente os aspectos psicossociais e cognitivos, estes foram indicados

para inclusões em classes regulares nos dois últimos trimestres do ano letivo de 2012 pela

docência especializada.

Contudo, os relatórios de desempenho não foram suficientes para oferecer segurança e

confiança no trabalho sócio-educacional que poderia ser realizado em outra escola sob a

13 Professora Especialista em Educação Especial e pesquisadora voluntária do Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP/NIL) da Faetec/Escola Especial Favo de Mel. Pesquisadora voluntária do Grupo de Pesquisa Docência na Cibercultura (GPDOC/UERJ), liderado pela Profa. Dra. Edméa Santos.

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perspectiva da educação inclusiva, pois, os responsáveis que já contavam com histórias de

insucessos, baixo desempenho escolar e exclusão na história de vida de seus filhos pela

itinerância em algumas classes regulares. Desta forma, a E. E. Favo de Mel encontrava-se

no impasse da inclusão desta clientela, também pleiteada pelo Ministério Público do

Estado do Rio de Janeiro. Quais estratégias legais e de ensinoaprendizagem poderiam dar

conta das inclusões destes alunos com deficiência intelectual?

NORTE TEÓRICO METODOLÓGICO

A apropriação dos termos inclusão/exclusão de diferentes ordens presentes nas políticas

públicas brasileiras tem sido uma prática frequente no Brasil e em diversos países.

Sabemos que a apropriação política dos termos denota discussões problemáticas, segundo

os estudos de Castel (1997), Ferreira (2002) entre outros autores. Entretanto, neste breve

estudo trataremos de inclusões educacionais, pois, implicam em sucessivas transformações

às situações de vida social, profissional, educacional, econômica, digital entre outras áreas.

O quadro teórico que sustenta a dinâmica metodológica foi baseado nos conceitos de

interatividade (SILVA, 2000), concebida como “intencionalidade comunicacional que

extrapola a mera interação entre emissores e receptores de mensagens”, nos/com os

espaçostempos, e conhecimentos que se conectam pelas infovias da educação, concebendo

ainda a coerência lógica empírica e política das interpretações propostas nos diferentes

momentos do ato educativo (MACEDO, 2011); a interdisciplinaridade, a pesquisa e a

transformação crítica da informação mapeada em conhecimento, baseada na prática da

pesquisa-ação (BARBIER, 2002) que envolve discussões de grupo, desempenho de papéis,

conversas aprofundadas visando o planejamento, ação, observação e reflexão, novo

planejamento da experiência em curso entre alunos e professores e à pesquisa-formação

(NÓVOA, 2004; SANTOS, 2005) que todas essas interlocuções constituem espaçostempos

de reflexão, (co)criação de etnométodos e formação docente.

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Para tal, adotamos o diário de itinerância, os registros audiovisuais e a análise de conteúdo

como instrumentos de registros dos acontecimentos, avanços, estagnações, retrocessos, e

das problemáticas cotidianas orientadas pelos estudos de Barbier (2002).

REFLEXÃO SOBRE AS PRÁXIS PEDAGÓGICAS

A escola especial tem seu ano letivo organizado em quatro trimestres. Suas avaliações são

registradas por trimestres nos documentos: Relatório Descritivo de Desempenho Escolar

organizado de forma disciplinar.

A formação das professoras que participam do esquema de bidocência no Ensino

Fundamental é a seguinte: uma graduada em pedagogia, especialista em Educação

Especial, Psicopedagogia e Educação Tecnológica e a outra formada em Letras e Espanhol

e especialista em Psicopedagogia.

As turmas são formadas com o número máximo de quinze alunos em fase de

desenvolvimento similar sob os aspectos de faixa etária, desenvolvimento psíquico e

cognitivo, essas (re)organizações foram possíveis pelos estudos das práticas já

estabelecidas nos estudos que consideraram a “dificuldade mental de origem orgânica e/ou

hereditária”, a “organização homogênea das classes”, as “influências das condições

sociais” (ANTIPOFF; CUNHA, 1932), a “psicometria” (GALTON, 1880; BINET, 1900) ,

uma “funcionalidade adaptativa nas atividades comuns do dia a dia”, um “déficit no

processamento da informação” (FIERRO, 2004 apud AMARO, 2007).

Nesta turma do Ciclo II ano 3 haviam 9 alunos: 7 alunos vindos de uma turma do Ciclo II

ano 2 entre 12 e 15 anos de idade; e dois alunos de outra turma do mesmo Ciclo de15 a 18

anos. Uma das alunas da primeira turma foi incluída no ensino regular oferecido pelo

governo municipal por opção da responsável.

Cada professor (re)organiza sua turma e sala com autonomia. Predominam os círculos de

aprendizagem, da partilha de informações com o outro visando fomentar o desejo de

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pesquisa e favorecer o acesso à diversidade de fontes na interatividade das hipermídias

(hipertextos com multimídias, multilinguagens), vivendo o que Vygotsky (1994) chamou

de “relação dialética entre o indivíduo, a sociedade e a natureza”, em ampla interação

social nas situações de aprendizagem que compreendiam o uso da memória associativa,

flexibilidade cognitiva, estratégia e planejamento, atenção, organização e integração de

informações complexas articuladas com o desenvolvimento de habilidades manuais, ou

seja, estimulando o desenvolvimento do pensamento abstrato na constituição das zonas de

desenvolvimento proximal (ZPD).

Os usos de diferentes abordagens pedagógicas nitidamente contribuíram para a

ressignificação do papel dos atores no processo educativo, nas formas de pensar as

adaptações curriculares, na percepção dos estilos de aprendizagem a partir das mediações

com diferentes hipermídias, linguagens, ambiências, nas relações interpessoais, do ritmo

de aprendizagem, das “reações mais lentas, mais inertes e mais viscosas” (LURIA, 1964

apud AMARO, 2007), considerando a viscosidade genética (INHELDER; PIAGET, 1998;

BEYER, 2006) entre outros conceitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este breve estudo colabora para o que Maciel (2007) identificou em sua pesquisa sobre a

possibilidade de adoção do esquema de bidocência no Ensino Fundamental em uma

proposta alemã, considerando a importância de mobilização da comunidade escolar para o

desenvolvimento de uma práxis inclusiva que articule de forma interativa as adaptações e a

acessibilidade necessárias à dinâmica Política, Antropo-social, Econômica e Filosófica dos

indivíduos conectados em rede, bem como a tentativa de englobar os desdobramentos que

este comportamento requisita ao contexto da sociedade contemporânea.

Neste sentido, há a convergência das ações educacionais para propiciar às condições

necessárias as inclusões, constituindo uma cultura institucional inclusiva (SILVA, 2010),

onde a responsabilidade e a solução de problemas da instituição são compartilhadas com a

comunidade escolar.

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NÓVOA, A. Prefácio. In: JOSSO, Marie-Christine. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez Editora, 2004. (p.11-34).

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SILVA, M. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000. VYGOTSKY, Lev Semyonovich. A formação social da mente. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1991.