um contraponto à tese da argentinização do desenvolvimento … · 2014-07-28 · o mundo rural...
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Um contraponto à tese da “argentinização” do
desenvolvimento rural no Brasil
Texto a ser publicado em Buainain et al. (orgs.). O mundo rural no Brasil do século XXI – a
formação de um novo padrão agrário e agrícola. Campinas/Brasília: IE-Unicamp/Embrapa.
Versão em revisão
Arilson Favareto
Introdução1
No início de 2013 a Revista Política Agrícola publicou um polêmico texto intitulado Sete teses
sobre o mundo rural brasileiro (Buainain et al., 2013). Entre as proposições dos autores, há
algumas com as quais poucos apresentariam discordâncias – este é o caso, por exemplo, da
afirmação de que desde meados dos anos noventa o país assiste a uma nova etapa da sua
trajetória, tendo como uma das marcas distintivas o significativo patamar de produtividade
alcançado pelo setor agropecuário. Outras teses são mais polêmicas, como aquela que associa
a este novo momento o “apagar do passado” e de certos temas a ele associados, como a
reforma agrária. Perpassando todas as teses, há um fio condutor que poderia ser assim
resumido: a nova etapa do desenvolvimento agrícola brasileiro muda substantivamente o
conteúdo dos processos sociais agrários e exige uma atualização dos quadros cognitivos
necessários para interpretá-los. Esta é a grande virtude do texto: propor um debate de enorme
relevância entre os interessados pelo chamado “mundo rural” brasileiro, chamando a atenção
para as novidades que lhe dão as feições contemporâneas, em vez da simples reprise de
argumentos passados. Ao fazê-lo, entretanto, parece ser correto afirmar que os autores, em
certos momentos, incorrem em algumas extrapolações indutivas. Isto é, formulam afirmações
que não poderiam ser feitas como mera inferência dos resultados alcançados pela dinâmica do
setor primário, em seu agregado, e de suas articulações com os processos de transformação.
Tal consideração nem de longe esvazia a importância da iniciativa intelectual dos autores das
“sete teses”, mas abre a porta para que sejam feitas ponderações e tentativas de reequilibrar
argumentos. Este é o intuito das próximas páginas.
De partida, é preciso dizer que o presente artigo não tem a pretensão de discutir o conjunto
das sete teses apresentadas, dada sua amplitude. O foco, aqui, é bem mais modesto e se
concentra em apenas uma delas, a sétima tese, que é, de certo modo, formulada como um 1 Este texto é uma versão escrita de exposição proferida no Seminário Sete Teses sobre o Mundo Rural
Brasileiro, realizado na Unicamp em 2013, e retoma trechos e ideias já apresentados em outros artigos publicados anteriormente. Cabe registrar um agradecimento especial aos organizadores daquele seminário pelo convite para o evento e para a elaboração deste artigo, e também pelas sugestões e críticas recebidas naquela ocasião. A responsabilidade pelo conteúdo, como de praxe, cabe exclusivamente ao autor.
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corolário das demais. Nela, afirmam Buainain et al (2013), que “(...) jamais ocorreu no Brasil
uma política de desenvolvimento rural. Inexistindo tal ação governamental, o desenvolvimento
agrário brasileiro vai impondo uma ´via argentina´ - o esvaziamento demográfico do campo, o
predomínio da agricultura de larga escala, a alta eficiência produtiva e tecnológica, e o
posicionamento, no caso brasileiro, como o maior produtor mundial de alimentos”.
A ideia central que se pretende demonstrar é que esta sétima tese não se sustenta, e isto
provavelmente decorre de uma dupla imperfeição: conceitual e empírica. O equívoco
conceitual consiste em tomar em conta que o desenvolvimento rural só ocorre como objeto de
política governamental. É verdade que o Brasil não tem, nem nunca teve, uma política explícita
de desenvolvimento rural. Mas ainda assim o país experimentou uma trajetória de
desenvolvimento de seus espaços rurais, em larga medida influenciada por feixes de políticas
públicas. Trajetória esta que precisa ser reconhecida, assim como seus condicionantes, pois é
ela quem molda as grandes tendências, mas também os impactos diferenciados que estas
mesmas tendências exercem sobre regiões e grupos sociais específicos. E aqui vem o equívoco
empírico: ver uma dinâmica homogênea num país cuja configuração dos espaços rurais é
marcada justamente por uma forte heterogeneidade. Talvez em parte expressiva dos Cerrados
brasileiros esteja ocorrendo uma dinâmica de desenvolvimento marcada pelas características
associadas ao que os autores denominaram “modelo argentino” (grandes propriedades
altamente tecnificadas e esvaziamento demográfico dos campos). Mas nem de longe se pode
afirmar que tal configuração se faz igualmente presente em outras regiões ou espaços
intraregionais, ou mesmo que isto seja uma tendência generalizada. Em síntese, em vez de um
padrão único, pretende-se sustentar que qualquer política de desenvolvimento rural precisa,
em primeiro lugar, reconhecer a diversidade do rural brasileiro e os condicionantes que
respondem por esta situação. Do contrário, corre-se o risco de fazer tabula rasa das diferenças
existentes e, pois, de perder eficiência em investimentos feitos e na aderência destes aos
processos que se pretende reverter ou emular.
Este argumento central é apresentado nas quatro seções que compõem o artigo. Na primeira
delas, após esta introdução, são apresentadas algumas evidências que permitem ao menos pôr
em dúvida a validade da “sétima tese” de Buainain et al. (2013). Na segunda seção há um
esclarecimento conceitual sobre a natureza dos processos de desenvolvimento rural. O intuito
das duas primeiras seções é mostrar que não se pode inferir o sentido do desenvolvimento
rural daquilo que se passa exclusivamente no âmbito do desenvolvimento agrário, nem
tampouco se pode entendê-lo como exclusivo reflexo das políticas públicas, seja sob o ângulo
empírico, seja pelo ângulo teórico. Na terceira seção é apresentada uma hipótese alternativa,
baseada em outros estudos recentes sobre dinâmicas de desenvolvimento rural. A quarta e
ultima seção arrisca formular um conjunto de temas e questões que deveriam ser objeto de
uma verdadeira política de desenvolvimento para as regiões rurais brasileiras.
1. Evidências
Há uma enorme dificuldade, presente tanto no senso comum como entre cientistas e gestores
públicos, em admitir que o futuro dos espaços rurais depende cada vez menos do que
acontece na agricultura, exclusivamente.
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No senso comum esta dificuldade pode ser atribuída ao fato de que, efetivamente, durante
muito tempo a agricultura foi a atividade econômica principal nestas áreas, e que a maior
parte das pessoas se ocupavam neste setor. Mas isto não é mais assim: o emprego agrícola é
francamente minoritário em todas as grandes regiões brasileiras, e em nenhuma delas a
agricultura responde pela parte mais expressiva do produto bruto. Claro que se pode
argumentar que as demais atividades econômicas dependem da riqueza gerada na agricultura
(o comércio, a indústria de transformação). Mas isto só é válido para umas poucas regiões,
sobretudo aquelas de ocupação recente ou nas mais empobrecidas. Nas demais, após o
impulso inicial dado pela exploração de atividades primárias, há uma tendência de
diversificação da estrutura produtiva, com um crescimento da importância relativa do
secundário e, sobretudo, do terciário. Este tipo de dinâmica encontra forte respaldo tanto na
realidade americana (Galston&Baehler, 1995) como europeia (Kayser, 1993; Veiga, 2004). No
caso brasileiro, em particular, tanto por conta das políticas sociais como em razão das
transferências de receitas previstas no pacto federativo, há uma expressiva massa de recursos
que circula nestas regiões interioranas e que contribui para a dinamização e para certa
diversificação das economias locais. Pode não ser um exagero dizer que há, sem negar sua
importância efetiva, uma sobrevalorização do peso do setor primário na vida econômica
nacional, resultado de uma construção ideológica bem sucedida segundo a qual o Brasil seria
um país de vocação agrícola e aí se concentraria o dinamismo da trajetória econômica recente
do país. Sabe-se que, ao longo da década passada o setor primário e seus encadeamentos
cresceram em importância na composição da pauta de exportações brasileira. Porém, os
mapas abaixo permitem que se coloque ao menos um grão de sal nesta afirmação,
particularmente quando se trata de entender a manifestação territorial destes indicadores.
Sobre os empregos na agropecuária e pesca, nota-se a importância que eles ainda
representam para boa parte dos municípios do Norte e Nordeste em 2010, em muitos deles
com percentuais acima de 60%, de participação, como mostra o mapa 1. O mapa aponta
também para a importância desses empregos em parte expressiva da região Sul e mostra que
o Sudeste era a região com menor percentual de empregos no setor agropecuário em 2010. O
Centro-Oeste apresentava menores percentuais de emprego agrícola do que as regiões Norte
e Nordeste, mas apresentava maior participação do PIB do setor na composição total do PIB,
também em 2010. O mapa 2 mostra que a distribuição do PIB do setor agropecuário não
acompanha a distribuição dos empregos. A maior parte dos municípios com maiores
percentuais de PIB agropecuário encontram-se na região Centro-Oeste (que não é a região
onde estão localizados os municípios com maior percentual de empregos no setor), e
pequenas manchas no Norte, Nordeste e Sudeste com municípios que apresentam mais de
35% do PIB total composto pelo setor agropecuário. Entre 2002 e 2010, o mapa 3 aponta uma
redução importante da participação do PIB agropecuário em quase todo o país, principalmente
em grandes manchas de municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com redução
de mais de 20% no período, e pequenas manchas no Sul e Sudeste. O aumento expressivo da
participação do PIB agropecuário pôde ser observado, principalmente, em pequenas manchas
de municípios do Norte, Nordeste e Sudeste.
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MAPA 1 Percentual de empregos no setor agropecuário e pesca em 2010
Fonte: Favareto et al (2014), com base nos dados do IBGE e Ministério do Trabalho
MAPA 2 Participação do PIB agropecuário na composição total do PIB em 2010
Fonte: Favareto et al (2014), com base nos dados do IBGE e IPEA
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MAPA 3 Variação da participação do PIB agropecuário no PIB total 2000/2010
Fonte: Favareto et al (2014), com base nos dados do IBGE e IPEA
Sob o ângulo das dinâmicas populacionais, o mapa 4 apresentado a seguir reforça a
constatação já apontada por outros trabalhos publicados durante os últimos dez anos (como
em Veiga et al., 2001) de que o país não passa mais por um forte movimento de êxodo rural.
Diferente disso, há uma heterogeneização dos fluxos populacionais com grandes manchas de
adensamento demográfico, ao lado de outros bolsões nos quais a população vem se tornando
mais rarefeita. É curioso observar que esta diferenciação parece não se explicar por um padrão
regional ou relativo ao tipo de produção ou atividade econômica ali predominante.
Independente disso, pode-se dizer que não há uma correspondência direta entre a ocorrência
de um esvaziamento populacional e a ocorrência das mais modernas e tecnificadas formas de
produção na agricultura.
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MAPA 4 Taxa de crescimento populacional entre 2000-2010
Fonte: IBGE, com base nos Censos 2000/2010
Em oposição ao que evidencia o mapa anterior, alguém poderia lembrar que os dados do
ultimo Censo Demográfico indicam uma redução de 6% da população rural brasileira no
decorrer da década passada, situando-se hoje na casa dos 16%, portanto, francamente
minoritária. É importante registrar que as considerações feitas aqui não vão na direção de
contestar que a população rural brasileira é minoritária e encontra-se em declínio, e sim
concentra-se em dois aspectos: a) de que sua proporção atual pode ser considerada bem
maior do que aquilo que é apontado nas estatísticas oficiais; b) de que o declínio não é
generalizado, inclusive com outras áreas rurais que atraem população.
Quanto aos problemas existentes na forma oficial de classificação do que é rural e do que é
urbano no Brasil, já foram publicados vários trabalhos a respeito, entre os quais cabe
mencionar Veiga (2004a), Wanderley e Favareto (2014) e Valadares (2014), nos quais são,
inclusive, apresentadas outras formas de classificação, mas aceitas na experiência
internacional. Para os efeitos deste texto, vale lembrar que as estatísticas oficiais, por
exemplo, trazem uma dificuldade para entender a situação tão presente nos dias atuais de
pessoas que residem em estabelecimentos agropecuários mas tem toda sua vida social e seu
emprego nos núcleos urbanos próximos. Ou a situação inversa, na qual as pessoas passam a
residir nos núcleos urbanos, mas continuam a manter seus estabelecimentos agropecuários
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tirando deles a renda familiar e ali ocupando a força de trabalho de parte ou de todos os
membros da família. Sem falar nas situações em que a redução da população rural ou o
estatuto de pertencimento a regiões metropolitanas se fazem por atos administrativos, como
a criação de regiões com este estatuto ou a expansão dos limites do perímetro urbano dos
municípios.
É por isso que Veiga (2004a) propõe uma tipologia alternativa, considerando que seriam rurais
as microrregiões compostas somente por municípios com menos de 50 mil habitantes, com
densidade demográfica inferior a 80 habitantes por quilômetro quadrado, e sem a presença de
grandes centros urbanos ou sem fazer parte de regiões metropolitanas. No extremo oposto,
aquele autor considerou como essencialmente urbanas as microrregiões marcadas pela
presença de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas não-metropolitanas ou pela
presença de grandes centros urbanos associados a alta densidade populacional. E como
intermediárias aquelas formadas por pequenos municípios, com menos de 50 mil habitantes,
mas com densidade populacional superior a 80 habitantes por quilômetro quadrado, ou então
com densidade mais baixa, porém com a presença de ao menos um centro urbano de médio
porte. Aplicando esta metodologia aos dados do Censo de 2000, Veiga chegou a constatação
de que 34% da população brasileira poderia ser considerada residente em regiões de
características rurais (os campos e suas pequenas cidades).
Favareto et al. (2014) e Valadares (2014), em diferentes trabalhos aplicaram a mesma tipologia
de Veiga aos dados do Censo de 2010 e constataram que a população residente em regiões
rurais, no final da década estava na casa dos 25%. Esta redução de um terço para um quarto
da população deve-se tanto a movimentos propriamente demográficos como, em forte
medida, à criação de novas regiões metropolitanas, mudando, portanto, o estatuto de vários
municípios, sem necessariamente ter havido deslocamento populacional ou alteração
expressiva na população dos mesmos.
Algumas críticas foram feitas à tipologia de Veiga, que é fortemente inspirada na classificação
usada pela OCDE, mas adaptando-a e complexificando-a. Entre os objetos de crítica estão os
critérios de corte utilizados para o tamanho dos municípios ou para a densidade populacional,
considerados altos demais e inadequados. O autor responde a estas críticas e justifica as
escolhas em seus trabalhos. Independente disso, visando refinar esta tipologia Valadares
(2014) adotou outros dois critérios. E uma de suas principais constatações é que,
extratificando os municípios das regiões rurais por um conjunto de critérios ocupacionais e
demográficos, a faixa onde se observa maior redução populacional é aquela formada pelos
municípios com menos de 50 mil habitantes e nos quais mais de 50% das ocupações estão no
setor agropecuário. Neste grupo a redução foi de 24 milhões de habitantes em 2000 para 15
milhões de habitantes em 2010. Mas em outras faixas, há, inclusive, crescimento populacional.
Isto é, só se pode falar em esvaziamento demográfico naquelas regiões rurais de
características essencialmente agrícolas. Porém, não se pode extrapolar esta constatação para
o conjunto das regiões de características essencialmente rurais.
2 - Teorias
Na seção anterior foram apresentadas algumas evidências que servem de contraponto – talvez
menos do que uma clara refutação, portanto – à ideia de “argentinização do desenvolvimento
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rural brasileiro”. Para além destas evidências, caberia perguntar agora que bases teóricas
sustentariam tal visão, porque ela é falha, e qual seria uma abordagem mais consistente e que
poderia ser mobilizada em seu lugar2.
Tanto a sociologia como a economia rural nasceram num contexto em que a agricultura tinha
predominância. Este tema já foi suficientemente explorado em trabalho anterior (Favareto,
2007). Basta aqui relembrar que, na economia rural, a tradição sempre foi pensar seu objeto
como algo relacionado à produção primária, incluindo assim, além da agricultura, a exploração
florestal e outras atividades extrativas, mas tendo sempre por universo as famílias ou
empresas ligadas a este setor. É evidente que isto teve, durante determinado período, uma
base histórica, uma correspondência no real que lhe sustentava, mesmo que como visão
distorcida ou parcial: o peso determinante da agropecuária e do extrativismo na vida rural. Na
sociologia, a própria criação do ramo dedicado ao rural veio apoiada na oposição comunidade-
sociedade, restringindo seu objeto ao estudo das várias dimensões da vida social dos
pequenos lugarejos, também com forte presença da agricultura na determinação dos rumos
dos indivíduos ou das economias locais, e sempre pensando esta esfera com uma relativa
autonomia e em aberto contraste com a sociedade envolvente. A clássica definição de Sorokin
elenca os seguintes traços marcantes: as diferenças ocupacionais entre os dois espaços, com
maior peso das atividades primárias no caso dos espaços rurais; as diferenças ambientais, com
maior dependência da natureza no rural; o tamanho da população; a densidade demográfica;
o grau de diferenciação social e de complexidade; as características de mobilidade social; e as
diferenças de sentido da migração. São traços que claramente falam mais da condição rural
nos anos 30 do século XX, quando tal definição foi formulada, do que exatamente de
caracteres fundamentais da ruralidade contemporânea.
Se o rural não pode ser compreendido apenas pelo que se passa no setor primário da
economia, por onde seria possível fazê-lo, então? De acordo com a teoria social (Abramovay,
2003), três são as dimensões definidoras fundamentais da ruralidade: a proximidade com a
natureza, a ligação com as cidades, e as relações interpessoais derivadas da baixa densidade
populacional e do tamanho reduzido de suas populações. O que muda na nova etapa é o
conteúdo social e a qualidade da articulação entre estas instâncias (Favareto, 2007). No que
diz respeito à proximidade com a natureza, os recursos naturais, antes voltados para a
produção de bens primários, são agora crescentemente objeto de novas formas de uso social,
com destaque para a conservação da biodiversidade, o aproveitamento do potencial
paisagístico disto derivado, e a busca de fontes renováveis de energia. Quanto à relação com
as cidades, os espaços rurais têm deixado de ser meros exportadores de bens primários para
dar lugar a uma maior diversificação e integração intersetorial de suas economias, com isso
arrefecendo, e em alguns casos mesmo invertendo, o sentido demográfico e de transferência
de rendas que vigorava no momento anterior. As relações interpessoais, por fim, deixam de
apoiar-se numa relativa homogeneidade e isolamento. Elas passam a se estruturar a partir de
uma crescente individuação e heterogeneização. Um movimento compatível com a maior
mobilidade física, com o novo perfil populacional, e com a crescente integração entre
mercados que antes eram mais claramente autônomos no rural e no urbano - mercados de
bens e serviços, mas também o mercado de trabalho e o mercado de bens simbólicos.
2 Esta seção traz uma reedição de trechos originalmente publicados no capítulo 5 de Favareto (2007).
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A afirmação acima sustenta que há uma disjunção crucial entre o desenvolvimento agrário e o
desenvolvimento rural. Isto é, o desenvolvimento agrário diz respeito às formas pelas quais as
diferentes modalidades de acesso e uso da terra engendram processos sociais e econômicos
na agricultura, e nos encadeamentos entre a agricultura (ou mais amplamente a agropecuária)
e os demais setores econômicos. Enquanto o desenvolvimento rural amplia o foco para um
conjunto de instâncias empíricas necessárias a explicar por que razões os processos de
desenvolvimento agrário não são unívocos e adquirem diferentes feições nos vários espaços.
Em síntese, desenvolvimento agrário é uma noção setorial, enquanto desenvolvimento rural é
uma noção espacial.
Uma objeção a este tipo de enfoque aqui defendido reside na afirmação de que haveria uma
teoria a respeito dos processos sociais agrários, mas que não há algo equivalente para o
desenvolvimento rural. Daí a confusão em se afirmar que o desenvolvimento rural é uma
noção normativa, enquanto o desenvolvimento agrário seria algo cientificamente fundado.
Para desfazer esta confusão, é preciso considerar que a literatura científica sobre o
desenvolvimento agrário, especialmente a sua vertente crítica, se baseia fortemente em obras
clássicas da tradição marxista. Mas Abramovay (1992) começa seu conhecido livro destacando
justamente ser impossível encontrar uma questão agrária formulada explicitamente obra de
Karl Marx. Há várias passagens de seus mais importantes textos dedicados às condições
políticas do campesinato, como em O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte, ou às
particularidades que envolvem a renda da terra, como em polêmicos trechos de O capital e
nas Teorias da Mais-Valia. E também é certo que em trechos de Formações Econômicas Pré-
Capitalistas ou em A ideologia Alemã o tema da relação entre as cidades e os campos aparece,
embora tratado nos quadros da divisão social e espacial do trabalho típica da emergência do
capitalismo. Mas não será possível encontrar nos escritos do pensador alemão conceitos e
articulações teóricas que permitam dar conta, nem da especificidade que cerca a produção
familiar e o lugar que ela vai ocupar no desenvolvimento capitalista, nem das manifestações
espaciais diferenciadas do desenvolvimento rural.
Tanto o já citado Abramomvay, como também Malagodi (1993) e Hegedus (1986), entre
outros, procuram mostrar em seus trabalhos como o campesinato e a questão agrária não
ocupam um “lugar”, propriamente falando, no esquema teórico de Marx. Mais que isso,
destacam que há uma espécie de impossibilidade lógica em compreender ontológica e
epistemologicamente aquela forma social de produção dentro de seus quadros cognitivos. Isto
porque a oposição capital-trabalho adquiria um estatuto fundante na base da dialética do
desenvolvimento capitalista, a qual, com seu caráter progressivo e envolvente, acabaria por
subsumir todas as outras formas, tidas como pretéritas. Esta dinâmica e o problema lógico e
teórico que ela traz são tratados com clareza e propriedade por aqueles autores e, por isso,
foge aos propósitos destas linhas reproduzi-lo. Basta destacar que, não obstante esta ausência,
ou este lugar meramente subsidiário nos esquemas teóricos marxianos, toda uma retórica e
um amplo repertório de escritos científicos e políticos foram construídos em torno da
especificidade do desenvolvimento capitalista na agricultura e das articulações econômicas e
de classe a que ela dá origem.
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Uma primeira vertente se constituiu a partir da obra de dois importantes teóricos marxistas:
Lenin e Kautsky. Do primeiro, destacam-se os livros O Programa agrário da Social-Democracia
e, principalmente, O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Do segundo, seu mais famoso
texto: A questão Agrária. Em Kautsky, a ênfase vai no sentido de demonstrar como, com o
progresso das forças produtivas, os pequenos estabelecimentos não teriam como incorporar
as inovações tecnológicas, organizacionais e econômicas em igualdade de condições com a
produção capitalista. Como decorrência, a integração com a indústria estaria reservada aos
capitalistas, restando aos camponeses a subordinação crescente, até a inviabilidade de sua
reprodução social. Em Lenin, há uma tentativa em classificar a heterogeneidade dos
segmentos agricultores de sua época. Mas estas diferenças serviram, sobretudo, para divisar a
porção de estabelecimentos que poderia evoluir em direção ao polo capitalista, daqueles que
deveriam crescentemente passar a viver em condições que os aproximariam mais e mais do
proletariado, inicialmente através de uma cada vez maior dependência da venda de sua mão-
de-obra, ainda que preservando a posse da terra, e definitivamente através da perda completa
da autonomia e sua redução à condição de mero proprietário de sua força de trabalho. Essas
ideias se materializaram nos conceitos de “diferenciação social”, em Lenin, e de
“industrialização da agricultura”, em Kautsky. Comum a ambos é esta visão geral de que a
agricultura e o mundo rural devem ser vistos como parte do desenvolvimento capitalista. Mas
parte da fragilidade destas teses está no fato de que elas tinham mais a ver com os embates
políticos e com os dilemas que precisavam ser teoricamente equacionados à época, do que,
propriamente, com análises econômicas e sociológicas.
O que nem estes autores nem seu maior inspirador, Karl Marx, poderiam prever, é que a
realidade dos países do capitalismo avançado - sem falar, portanto, nas formações periféricas
– iria apresentar um forte desmentido histórico às suas teses. As formas familiares de
produção não só negaram a inevitabilidade de sua mera transformação em proletariado como
firmaram-se mesmo como a forma predominante na maior parte dos principais países
capitalistas3. A plena integração da agricultura à indústria não trouxe consigo a artificialização
de todas as etapas do processo produtivo nem mostrou qualquer inaptidão das formas
familiares à incorporação do progresso técnico.
Embora se trate de formas sociais de produção, tais concepções tiveram repercussão para as
manifestações espaciais do desenvolvimento capitalista. Se há, nos clássicos, esta
impossibilidade em compreender a especificidade destas formas de produção não associadas
ao grande empreendimento empresarial agropecuário, também as articulações destas formas
em termos de processos territoriais não poderiam estar presentes em seus trabalhos. Todas as
análises que derivam daí pecam ou por exagerar no caráter envolvente das dinâmicas
emanadas do universo industrial e urbano, como locus privilegiado das tocas e da localização
das empresas dos setores secundário e terciário, ou por analisar o rural como espaço dotado
de características próprias, mas cuja logica é sempre reativa ou dependente do que se passa
na grande empresa agrícola ou nos espaços urbanos.
3 Este texto não ignora a enorme polêmica sobre a pertinência ou não de se falar em formas familiares
de produção na agricultura. Contudo, entrar neste debate abriria uma outra frente de argumentação que não cabe nestas páginas e tiraria o foco da argumentação em curso.
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Há uma segunda vertente, formada por aqueles estudos que buscaram suprir esta lacuna e
construir um modelo explicativo fundado na especificidade das formas camponesas e nos
traços distintivos da ruralidade. Sobre uma economia camponesa, os principais nomes são,
como se sabe, Alexander Chayanov e Jerzy Tepicht. O tipo de questões postas por eles difere
daquelas postas por Lenin e Kautsky, entre outras razões porque era diferente o contexto de
suas obras. Aqui já se tratava de tentar interpretar as condições de permanência do
campesinato sob o desenvolvimento das forças produtivas e não apesar delas ou contra elas.
Da mesma forma, nos vários escritos das teorias que tratam das sociedades camponesas, o
que está em jogo é explicar um sistema de oposições sociais onde este personagem ocupa o
papel central, complexificando, portanto, a polarização entre operários e capitalistas. Se nos
desdobramentos da primeira vertente têm origem as teorias do continuum entre o rural e o
urbano, neste caso a afirmação da especificidade vai influenciar a origem de várias teorias que
passarão a enfatizar a dicotomia entre o rural e o urbano. Mas também aqui a história se
encarregou de solapar as bases de tais edifícios teóricos. Primeiro, abalando as condições da
autonomia camponesa, como retratado em Abramovay (1992). Segundo, e como que por
extensão, implodindo os alicerces das sociedades agrárias.
Assim é que no primeiro terço do século passado se deu a institucionalização dos estudos
rurais, ao menos como ramo específico da sociologia. Os anos que se seguiram foram palco de
desdobramentos das perspectivas inicialmente adotadas. Para o caso dos Estados Unidos,
tanto quanto na França, por exemplo, o primeiro momento foi fortemente marcado pela
adesão aos marcos gerais da sociologia clássica, com definições claramente apoiadas na
perspectiva dicotômica. Posteriormente, no caso da sociologia americana, as análises
passaram a sofrer influências decisivas do ambiente vivido com o auge da modernização
agrícola, numa tendência que viria a se consolidar, posteriormente, na chamada sociologia da
agricultura, onde o rural perde importância para a agricultura e a estrutura agrária (Friedland,
1982). Na França, por sua vez, as perspectivas marcadas pela influência dos clássicos vão
sendo seguidas por abordagens que, também influenciadas pelas mudanças do pós-guerra,
irão passar a tomar para análise as contradições entre a chamada sociedade camponesa e os
efeitos da modernização, até desembocar nos anos 70 na temática que envolvia a chamada
urbanização dos campos e, com isso, um deslocamento para as abordagens apoiadas na ideia
de um continuum entre os dois espaços. E no final da década passada, emerge toda uma
literatura voltada a dar conta do que alguns autores, como Kayser (1993) chamaram de
renascimento dos campos, com novas atividades econômicas, um novo perfil populacional,
uma nova forma de interdependência com os espaços urbanos.
A emergência desta chamada nova ruralidade, em oposição a uma ruralidade constituída
exclusivamente a partir da dinâmica produtiva emanada do setor primário, não substituiu
caracteres marcantes do que se poderia chamar de velha ruralidade. Ao contrário, o traço
marcante da ruralidade europeia, por exemplo, é justamente sua heterogeneidade, com
regiões fortemente marcadas pelo esvaziamento populacional decorrente da modernização
agrícola, e outras marcadas por uma vitalidade decorrente das novas possibilidades de relação
com o mundo urbano, tornada possível pela maior conectividade física e virtual destas áreas
ou pela existência de amenidades naturais capazes de sustentar atividades de turismo ou
novas residências. Mas, de toda forma, do que foi dito aqui, cabe destacar duas coisas: a) se é
verdade que não há uma teoria do desenvolvimento rural, tampouco se pode (por razões
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teóricas e históricas), afirmar que a dinâmica dos espaços rurais contemporâneos se explica
pelas teorias sociais consagradas e apoiadas no desenvolvimento agrário; e b) uma teoria dos
processos de desenvolvimento rural teria que, no mínimo, superar as perspectivas da
dicotomia ou do continuum em direção a uma abordagem relacional e baseada nas
interdependências entre o rural e o urbano, em vez de entender a dinâmica destes espaços
como resultante do mero transbordamento dos efeitos do segundo sobre o primeiro, ou de
uma clara e antagônica oposição entre eles. Isto seria mais condizente com a estrutura e o
sentido dos processos sociais contemporâneos.
3 – Uma abordagem relacional do desenvolvimento rural
Se não há uma teoria específica sobre o desenvolvimento rural, um ponto de partida válido é
tomar por referência as teorias sobre desenvolvimento. Não é possível nos marcos deste texto
retomar o amplo painel de abordagens sobre este tema (ver a respeito, por exemplo, o
primeiro capítulo de Favareto, 2007). Por isso, parte-se da consagrada definição do
economista indiano e Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen (1998), que define
desenvolvimento como o processo de expansão das liberdades substantivas dos indivíduos.
Esta definição, a um só tempo simples e bela, traz consigo, porém, um problema: como
entender as razões e os bloqueios à expansão destas liberdades substantivas? Para Sen, a
expansão das capacitações fundamentais a participar da vida social e de nela fazer escolhas é
tanto o fim como o meio pelo qual se fazem os processos de desenvolvimento. E se
associamos a esta definição o rural, tratar-se-ia, portanto de tentar explicar qual é a
especificidade dos bloqueios ou do favorecimento à constituição de liberdades substantivas
dos indivíduos nestes espaços.
Quando fala em capacitações, Sen elenca algumas fundamentais: ter um mínimo de renda
monetária para participar da vida econômica e adquirir os bens necessários a uma existência
digna, escapar à morbidez precoce e ter condições de participar da vida social, poder de atuar
nos meios pelos quais as sociedades fazem suas escolhas, acesso a informação e aos requisitos
para interpretar o mundo. A pergunta, portanto, consiste em saber como estas capacitações
estão sendo viabilizadas nos espaços rurais e como explicar a dinâmica que envolve sua
expansão os ou bloqueios a que elas se concretizem.
Esta foi justamente a questão geral que orientou a realização de um amplo projeto de
pesquisa, abrangendo onze países da América Latina (Rimisp, 2012) onde o tema das
desigualdades territoriais ocupava lugar central – o Programa Dinámicas Territoriales Rurales4.
Aquele projeto buscou responder a duas perguntas. A primeira delas tomava em conta que
nos anos noventa a marca predominante nas dinâmicas de desenvolvimento da América Latina
era a persistência da pobreza, agravada por um contexto em que muitos países passavam por
4 O Projeto Dinámicas Territoriales Rurales foi desenvolvimento entre 2008 e 2012 sob coordenação do Centro Latinoamericano para o Desenvolvimento Rural – Rimisp (Chile), com financiamento do International Development Research Centre (Canadá). Ao todo foram publicados mais de cem textos para discussão (ver série Documentos de Trabajo em www.rimisp.org/dtr). Dois livros com a síntese das etapas quantitativa e qualitativa da pesquisa estão sendo publicados, entre eles Berdegué&Modrego (2012). Vários artigos foram publicados em revistas e apresentados em congressos como a Anpocs e a Sober, e um dossiê em revista internacional encontra-se em preparação.
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um momento de estagnação econômica e com crescente desigualdade. Por isso, uma
interrogação crucial consistia em saber se, nesta parte do continente, e neste contexto
adverso, havia municípios ou localidades que estavam conseguindo, simultaneamente, reduzir
a pobreza e a desigualdade e experimentar crescimento econômico significativo. A segunda
pergunta era justamente saber que fatores poderiam explicar esta performance positiva ali,
naqueles locais onde isto eventualmente estivesse ocorrendo.
Sobre a primeira pergunta a resposta foi positiva. Havia, mesmo no contexto dos anos noventa
localidades (municípios ou equivalentes, a depender da estrutura administrativa adotada em
cada país), onde se podia encontrar uma convergência positiva na evolução dos indicadores de
renda, pobreza e desigualdade (Berdegué&Modrego, 2012). E isto também valia para o caso
brasileiro: dois em cada dez municípios haviam experimentado esta evolução positiva de
indicadores (Favareto&Abramovay, 2012). Com a divulgação dos dados do Censo de 2010,
Favareto et al. (2014) atualizaram este número para nove em cada dez. Mas como se pode ver,
tratava-se, nos anos 90, de situações excepcionais, que estavam longe de ser a regra. O que
tornava mais importante ainda a segunda pergunta.
Sobre a segunda pergunta, acerca das razões desta performance positiva, o Programa lançou
uma hipótese inovadora, confirmada em uma base de dezenove casos de territórios
analisados nos onze países. Certamente há vantagens comparativas (localização, custo de
fatores de produção) ou fatores exógenos aos territórios, como investimentos ou choques
externos, que impactam a performance dos indicadores locais. Porém, viu-se que não havia
nenhuma homogeneidade quanto ao que acontece nesses territórios onde há vantagens
comparativas, de localização ou efeitos de aglomeração, fatores geralmente destacados pelos
velhos e novos clássicos da literatura especializa. Diferente disso, diante de um mesmo tipo de
estímulos originados desde fora do território, ou diante de um mesmo tipo de vantagem
comparativa, alguns deles reagiam de maneira distinta quanto à forma de absorver estes
investimentos ou influências externas, ou quanto à forma de aproveitar as vantagens
instaladas e traduzir isto em dinâmicas locais virtuosas. A explicação se desloca para o terreno
das instituições distintas nestes territórios. Ou, em outros termos, para as regras (formais e,
sobretudo, informais) que governam o comportamento dos agentes e, pois, o uso dos
recursos.
A explicação mais usual sobre mudanças institucionais também realça forças exógenas, que
seriam as responsáveis por alterar o status quo impulsionando novos arranjos, mais coerentes
com o aproveitamento das oportunidades colocadas. Mas esta é uma explicação incompleta
porque não permite identificar o que leva a mudanças numa direção determinada - neste caso,
em mudanças compatíveis com maior coesão social (menores índices de pobreza e de
desigualdade) e crescimento econômico. Por isso a literatura ensina que pode haver mudanças
institucionais endógenas e graduais, que envolvem a formação de coalizões sociais e outras
formas de ação social que atuam sobre as oportunidades abertas por tensões e contradições
nas instituições existentes, ou entre as instituições existentes e os choques exógenos (Pierson,
2003; Mahoney&Thelen, 2009). Em resumo, o fator chave a explicar estas capacidades
distintas dos territórios estaria na existência de coalizões capazes de direcionar estas
mudanças, criando instituições e formas de coordenação que seriam, então, as responsáveis
por determinar os rumos do desenvolvimento destas regiões.
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Esta é uma explicação já conhecida na literatura sobre desenvolvimento na escala das nações,
e pode ser encontrada, com nuances, em trabalhos recentes e de amplo impacto como North
(2009) ou Acemoglu&Robinson (2012). A novidade trazida pelo Programa DTR foi identificar
quatro temas sensíveis, ou quatro instâncias empíricas fundamentais, típicas de regiões rurais
ou interioranas, cujas diferentes combinações podem facilitar a emergência de coalizões mais
favoráveis a engendrar trajetórias de desenvolvimento marcadas por maior ou menor
possibilidade de crescimento com coesão social; e que, por sua vez, são também afetadas por
estas coalizões num processo de path dependence. Estes temas ou instâncias empíricas podem
ser esquematicamente assim apresentados.
a) Estrutura de acesso e uso de recursos naturais: Naqueles territórios onde há formas
abertas (North, 2009), vale dizer menos concentradas, de acesso a estes recursos, há
maior probabilidade de que os níveis de desigualdade sejam menores. Mas esta não é uma
condição para que haja crescimento econômico. O que ocorre é que o crescimento
econômico tende a ser mais includente ali onde o acesso à terra, à água e aos recursos
florestais seja menos concentrada.
b) Acesso a mercados dinâmicos: Independente da forma como se dá a estrutura do acesso e
uso dos recursos naturais, par que haja dinamismo econômico é preciso que se acessem
mercados promissores. Aquelas regiões que, mesmo com uma estrutura de acesso e uso
dos recursos naturais desconcentrada, não acessam mercados dinâmicos, tendem a
apresentar baixo grau de desigualdade, mas também altos índices de pobreza, porque é
restrita a base de riquezas circulando no território. Já onde se acessam mercados
dinâmicos, a pobreza tende a ser menor. Porém, ela pode ou não vir acompanhada de
redução da desigualdade. Onde os mercados dinâmicos são alcançados numa combinação
com estrutura de acesso e uso dos recursos naturais desconcentrada, isto tende a
contribuir para um desenvolvimento mais equitativo. Mas a manutenção desta dinâmica
depende da forma como se constitui a estrutura produtiva do território no passar do
tempo, conforme se explica a seguir.
c) Estrutura produtiva: Naqueles territórios onde a estrutura produtiva que se constitui ao
longo do tempo é mais especializada e mais concentrada, é mais comum encontrar
trajetórias de desenvolvimento marcadas por crescimento econômico, mas com alta
desigualdade e mais vulneráveis a choques externos (crises setoriais ou fatores
ambientais, por exemplo). E, por sua vez, é mais fácil que isso ocorra ali onde a estrutura
de acesso e uso dos recursos naturais original do território também era mais concentrada.
Por outro lado, naqueles territórios onde a estrutura produtiva é mais desconcentrada e
diversificada, ocorrem maiores possibilidades de participação social dos pequenos
produtores rurais ou urbanos nos nexos dos sistemas produtivos locais. E isto tende a
ocorrer ali onde a estrutura de acesso e uso dos recursos naturais foi menos concentrada
historicamente. Mas a relação entre estes dois primeiros temas (recursos naturais e
estrutura produtiva), não é linear. Ela depende da relação que se estabelece entre áreas
rurais e centros urbanos, item mencionado a seguir.
d) Relações com as cidades: Os territórios que lograram constituir um importante centro
urbano no seu interior têm maiores chances de diversificar sua estrutura produtiva. Isto
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porque este centro urbano passa a funcionar como um local de disponibilidade de serviços
e outras estruturas e amenidades que não tornam obrigatória a migração de setores
intermediários e da elite local. Com isto, estes setores fazem do próprio território um
espaço onde investir seus diferentes capitais (econômico, mas também político, simbólico,
cultural), em vez de direcioná-los permanentemente para fora. Onde não se constituem
cidades, ou onde a relação do território se dá prioritariamente com um centro urbano
localizado fora dos seus contornos, há uma constante evasão de excedentes e capitais de
diferentes tipos, limitando as possibilidades de reinvestimento e, com isso, de ampliação
de oportunidades no território original.
e) As políticas públicas: As políticas e investimentos governamentais sempre atuam nos
territórios. Mas eu sentido não é unívoco. Elas podem alterar ou reforçar as dinâmicas
anteriores. Portanto, trata-se de uma variável não desprezível, mas também condicionada
pelas anteriores, marcadamente pelo poder das coalizões em direcionar estes recursos.
Como corolário, num tipo extremo, quanto mais desconcentrado e quanto mais diversificado é
um território – algo que ocorre tendencialmente ali onde a forma de acesso aos recursos
naturais foi mais desconcentrada -, e onde se constituíram centros urbanos que favoreceram
a endogeneização dos excedentes produzidos com o processo de acumulação tornada possível
pelo acesso a mercados dinâmicos, maiores são as chances de que se constituam coalizões
amplas e que tenham na valorização do território uma base importante para sua reprodução
social. Enquanto que, no outro extremo, naqueles territórios com estrutura mais concentrada
e especializada, sem a proximidade de centros urbanos, as coalizões tendem a se formar
reunindo um leque mais estreito de atores e a orientar-se, sobretudo, para as modalidades de
inserção externa, com menor preocupação com a coesão territorial. Ente os dois extremos
outras combinações entre os quatro fatores são possíveis, e a elas correspondem distintas
composições do desempenho dos territórios em termos de desigualdade, pobreza e
crescimento econômico.
A identificação destas trajetórias exemplares não implica que exista qualquer tipo de
condenação do território a um determinado tipo de desempenho em crescimento, pobreza e
desigualdade em função de suas condições iniciais. O que se ressalta é que há uma
dependência de caminho que começa com as formas de apropriação dos recursos naturais na
longa trajetória dos territórios, que passa pelo acesso ou não a mercados dinâmicos. Isto
repercute sobre a estrutura produtiva e a relação com centros urbanos. E isto, finalmente,
oferece um quadro de estruturas sociais que, associada às políticas públicas, pesa sobre a
formação de coalizões. Resta, contudo, um espaço aberto a que coalizões que desafiem as
forças sociais dominantes. E isto é possível, como foi dito, pelo fato de que as instituições não
são totais e sempre há contradições entre as instituições e entre elas e o contexto externo que
podem ser exploradas pela ação social.
Embora seja difícil apreender as conexões entre estas instâncias empíricas aqui mencionadas a
partir de uma exposição tão rápida, o que importa destacar é que sua grande vantagem está
em que ela fornece uma chave de compreensão para a heterogeneidade dos territórios latino-
americanos, destacadamente para suas regiões rurais ou interioranas, sobre as quais há uma
lacuna de elaboração. E o faz ao construir uma narrativa analítica que mostra que papel jogam
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na trajetória dos territórios as estruturas típicas destas regiões como as formas de acesso e
uso dos recursos naturais ou as relações entre o rural e os centros urbanos. Além disso, trata-
se de um framework que, em vez das explicações baseadas em variáveis específicas e com
baixa aderência à realidade das áreas interioranas latino-americanas, como já mencionado
anteriormente, combina elementos inspirados por abordagens recentes e raramente postas
em diálogo com a abordagem das capacitações (Sen, 1998; Nussbaum, 2012), do
institucionalismo (North), com abordagens que exploram as interdependências entre atores,
ativos e instituições e seus resultados em termos de performance social e econômica (Ostrom,
2005; Bourdieu, 2012; Acemoglu&Robinson, 2012). Há, contudo, lacunas que não foram
respondidas e que pedem esforços adicionais e complementares de pesquisa (Favareto, 2014).
Para os propósitos deste artigo deve-se sublinhar que a abordagem aqui apresentada mostra
que, para explicar a dinâmica de desenvolvimento das regiões rurais, é necessário muito mais
do que olhar exclusivamente para o que se passa no seu setor primário.
4 - Que políticas para que desenvolvimento rural?
A visão sobre como ocorre o desenvolvimento de regiões rurais esboçada na seção anterior
não é suficiente para que dela emerja um receituário claro a respeito de políticas públicas. Mas
pode-se dizer concretamente que um novo ciclo de políticas voltadas para valorizar as regiões
rurais e o conjunto de contribuições que elas podem dar a um estilo de desenvolvimento com
maior coesão social e sustentabilidade, associadas à competitividade econômica, precisaria se
orientar por ao menos duas referências: a) superar os limites de uma política setorial e
produtiva em direção a um conjunto articulado de iniciativas voltadas ao desenvolvimento
destas regiões, no qual a atividade agropecuária é um dos vetores, mas não o único; b) o
reconhecimento da heterogeneidade das regiões rurais brasileiras e, decorrente disto, a
necessidade de adaptar este conjunto de políticas a cada contexto e aos bloqueios econômicos
e políticos a eles inerentes.
Estas duas referências iniciais precisariam se desdobrar em, ao menos, seis eixos de
intervenção, a seguir brevemente esboçados.
a) Diminuir as bases espúrias da competitividade do setor patronal da agropecuária e
fortalecer os meios e mecanismos coerentes com os requisitos econômicos, mas também
sociais e ambientais da exploração da terra e dos recursos naturais – Aquilo que se
convencionou chamar por agronegócio esconde na verdade dois segmentos bem distintos.
Um que precisa ser valorizado e outro que deve ser penalizado, pois seus custos sociais
recaem sobre toda a sociedade brasileira. O primeiro é um segmento efetivamente
produtivo. É correto fazer ponderações a respeito dos efeitos deletérios derivados da
concentração fundiária e de renda que nele se produz. Deve-se fazer objeções a efeitos
ambientais negativos decorrentes da forma como ocorre sua expansão. Mas é inegável
que há, nele, uma contribuição econômica significativa. A competitividade da moderna
agropecuária brasileira não pode ser desprezada ou diminuída. No atual momento da
história e da evolução econômica brasileira ela precisa ser favorecida. Faz parte disso a
estabilidade dos mecanismos de suporte, como o financiamento e o enfrentamento de
gargalos de infraestrutura, bem como a valorização das inovações. Na falta de um
verdadeiro Zoneamento Ecológico e Econômico, é preciso aqui, ao menos criar
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mecanismos de fiscalização e de incentivo à incorporação de práticas mais sustentáveis
sob o ângulo ambiental. E é preciso estabelecer formas de compensação social pela
concentração fundiária e de renda. Instrumentos importantes para isso seriam uma bem
sucedida realização do Cadastro Ambiental Rural, recentemente regulamentado, e uma
revisão das formas de cálculo e cobrança do Imposto Territorial Rural. Mas há um outro
segmento no que se convencionou chamar por agronegócio que faz da posse da terra um
mero instrumento de valorização patrimonial, distinção social e exercício de formas
espúrias de dominação. Este segundo segmento não deveria ser colocado na mesma chave
de compreensão dos setores produtores e exportadores. Aqui os instrumentos de política
pública deveriam onerar pesadamente a propriedade fundiária, levando à reconversão das
formas de posse e uso do solo.
b) Ampliar a valorização da agricultura familiar – Este segmento precisa continuar sendo
objeto de políticas diferenciadas. A experiência das ultimas duas décadas mostra que
ações como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar),
associado a um conjunto de outros instrumentos que contribuíram para melhorar as
condições dos produtores familiares (o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o
Programa de Aquisição de Alimentos, entre outros) têm resultados importantes, tanto
para a produção agropecuária como, talvez principalmente, para a manutenção do tecido
social das regiões rurais. Particularmente no caso do Pronaf é preciso rever procedimentos
que estão associados ao alto grau de endividamento em partes do país e a uma
concentração do crédito nos segmentos mais capitalizados. Mas não se trata de diluir estes
desafios nos mesmos instrumentos de políticas voltados aos grandes produtores, como
querem alguns. Ao contrário. Trata-se de inaugurar uma nova geração de politicas e de
introduzir aperfeiçoamentos na trajetória de quase duas décadas.
c) Valorização de novas formas de uso social dos recursos naturais – Um país que faz parte
das nações de renda média e com a enorme diversidade paisagística e, sobretudo, com a
biodiversidade do Brasil não pode restringir sua estratégia de desenvolvimento das regiões
rurais à produção de commodities. O Brasil deveria preparar uma nova e significativa
geração de políticas voltada para a produção e disseminação de inovações apoiadas em
novas formas de uso social da paisagem, da biomassa e da biodiversidade. A recente (e de
resultados ambíguos) experiência do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel,
num mero e pontual exemplo, traz importantes lições que podem ser aproveitadas a
respeito das formas de incorporação dos agricultores mais pobres nestas novas
tecnologias e mercados. O que se quer destacar aqui é que neste campo está um enorme
potencial de alavancagem de um virtuoso ciclo de expansão econômica com inclusão social
e sustentabilidade ambiental que não pode ser sacrificado em nome de vantagens de curto
prazo como a perda de biodiversidade ou de amenidades naturais por conta da expansão
das áreas agricultáveis dedicadas à produção de commodities.
d) Adoção de uma verdadeira política de desenvolvimento territorial para as regiões rurais
– Uma novidade da ultima década foi a ascensão da chamada abordagem territorial do
desenvolvimento rural. Contudo, os instrumentos de políticas públicas neste terreno, no
caso brasileiro, foram mal desenhados e não serviram como base a uma reestruturação
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produtiva das regiões rurais envolvidas em programas como Territórios de Identidade ou
Territórios da Cidadania. Seria preciso aprofundar e remodelar profundamente estas
iniciativas de forma a favorecer a elaboração de pactos territoriais consistentes e capazes
de conduzir a um horizonte de mudanças nestas regiões.
e) Ampliar a conectividade física e virtual das regiões rurais – Uma condição tanto para a
competitividade do setor primário como para a expansão das possibilidades das pessoas
que vivem nas regiões rurais passa pela ampliação dos meios físicos e virtuais de romper o
isolamento ou os altos custos de conexão entre estas áreas e os centros mais dinâmicos,
integrando-as.
f) Um Pacto pela paridade em um conjunto de indicadores sociais – Num país como o Brasil,
em pleno século XXI, a sociedade não pode mais se conformar com a ideia de que a
população tenha que arcar com um déficit de anos de estudo ou uma significativa
diminuição na expectativa de vida, a depender das regiões onde as pessoas nascem e
crescem. É preciso estabelecer metas e direcionar investimentos para que, no intervalo de
uma geração, os habitantes das áreas rurais e urbanas, do Norte e Nordeste ou do Sul e
Sudeste do país tenham as mesmas condições num conjunto específico de indicadores
sociais como escolaridade ou expectativa de vida. Só assim as regiões rurais deixarão de
ser vistas como espaços de segunda categoria. Só assim o Brasil deixará de ver somente
nas grandes metrópoles a imagem de um futuro realizado.
Conclusão
O que se tentou demonstrar nas páginas anteriores é que a redução da trajetória recente do
desenvolvimento rural brasileiro a uma imagem de esvaziamento demográfico, predomínio da
agricultura de larga escala e alta eficiência produtiva e tecnológica, é algo que mais oculta do
que ilumina o que se passa no chamado “mundo rural” do país. Tal imagem, que por certo
pode ser encontrada em partes do Brasil, quando tomada como retrato bastante do rural
brasileiro, não apenas encobre uma diversidade de situações, que precisariam justamente ser
desveladas para que se pudesse entender a unidade contraditória de formas de produção e de
manifestação territorial do desenvolvimento que elas conformam, como, ao fazê-lo, desvia o
foco da atenção para uma única dimensão, a produtiva e tecnológica, como se dela derivasse o
destino das regiões rurais. Diferente disso, este artigo buscou estabelecer um contraponto,
mobilizando evidências que, se não desmontam, ao menos problematizam a tese da
“argentinização do desenvolvimento rural brasileiro”. E em seu lugar, sugerem as seções aqui
esboçadas que se deve dar atenção a um conjunto de outras dimensões que vão desde as
distintas formas de acesso e uso dos recursos naturais, passando pelo acesso a mercados,
relações entre áreas rurais e centros urbanos, entre outros. Somente assim se pode identificar
os bloqueios, os interesses, os atores e os ativos a serem mobilizados na construção de um
Brasil rural coerente com os requisitos de um modelo de desenvolvimento que seja voltado ao
bem-estar social e à sustentabilidade ambiental, para além da simples, ainda que importante,
competitividade do setor primário.
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