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UNIVERSIDADE DE LISBOA Faculdade de Belas-Artes O Design em Portugal, um Tempo e um Modo A institucionalização do Design Português entre 1959 e 1974 v Victor Manuel Marinho de Almeida DOUTORAMENTO EM BELAS-ARTES (Especialidade de Design de Comunicação) ANEXOS 2009

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  • Universidade de LisboaFaculdade de belas-artes

    O Design em Portugal, um Tempo e um Modo

    a institucionalizao do design Portugus entre 1959 e 1974

    v

    Victor Manuel Marinho de Almeida

    doUtoramento em beLas-artes(especialidade de design de Comunicao)

    ANEXOS

    2009

  • ANEXOS

    ndice

    Anexo 1 Lista de dados biogrficos dos entrevistados 5Anexo 2.1 Lista de documentos utilizados na anlise documental relativa dimenso institucionalizao, assim como os critrios que esto subjacentes sua seleco 9Anexo 2.2 Lista de documentos utilizados na anlise documental relativa dimenso profissionalizao, assim como os critrios que esto subjacentes sua seleco 11Anexo 2.3 Lista de documentos utilizados na anlise documental relativa dimenso educao, assim como os critrios que esto subjacentes sua seleco 13Anexo 3.1 LISBOA cidade triste e alegre 15Anexo 3.2 Almanaque 19Anexo 4.1 As linhas de mobilirio Cortez e Prestgio 23Anexo 4.2 A linha de mobilirio TL 25Anexo 5.1 Guio de entrevistas exploratrias 29Anexo 5.2 Guio de entrevista: caso INII 31Anexo 5.2.1 Guio de entrevista: caso Longra/Daciano da Costa (1) 35Anexo 5.2.2 Guio de entrevista: caso Longra/Daciano da Costa (2) 39Anexo 5.2.3 Guio de entrevista: caso Longra/Daciano da Costa (3) 43Anexo 5.3 Guio de entrevista: caso criao dos cursos de design na FBAUL 45Anexo 6.1 Entrevista a Maria Helena Matos 47Anexo 6.2 Entrevista a Antnio Amaro de Matos 63Anexo 6.3 Entrevista a Jos Torres Campos 75Anexo 6.4 Entrevista a Alda Rosa 89Anexo 6.5 Entrevista a Joo Paulo Martins 111Anexo 6.6 Entrevista a Deodato Martins 127Anexo 6.7 Entrevista a Ablio Moreira 141Anexo 6.8 Entrevista a Ablio Pedro 147Anexo 6.9 Entrevista a Jos Afonso Matos 149Anexo 6.10 Entrevista a Antnio Costa 155Anexo 6.11 Entrevista a Domingos Teixeira 161Anexo 6.12 Entrevista a Fernando Pinto 169Anexo 6.13 Entrevista a Lus Goes 175Anexo 6.14 Entrevista a Maria Otlia Lage 179Anexo 6.15 Entrevista a Carlos Rocha 187Anexo 6.16 Entrevista a Jorge Pacheco 199Anexo 6.17 Entrevista a Jos Brando 215Anexo 6.18 Entrevista a Vtor da Silva 237Anexo 6.19 Entrevista a Jos Cndido 249Anexo 6.20 Entrevista a Rogrio Ribeiro 259Anexo 7.1 Quadro de perguntas para as questes problemticas 271

  • ANEXOS

    Anexo 1LISTA DE DADOS BIOGRFICOS DOS ENTREVISTADOS

    Provenincia Nome e dados curriculares

    Instituto Nacional de Investigao Industrial / Ncleos de Design

    Maria Helena Matos (n. 1924), Directora do Ncleo de Arte e Arquitectura Industrial e do Ncleo de Arte Industrial. Formada em Escultura pela Escola de Belas-Artes de Lisboa (EBAL), revelou uma apetncia pelo rea do vidro de que a longa colaborao com a Fbrica Escola Irmos Stephens, na Marinha Grande, constitui prova.Jos de Melo Torres Campos (n. 19) foi director do INII entre 1969 e 1972. Formado em Engenharia Electrotcnica, teve oportunidade de contactar com o sector txtil no perodo em que o INII tentava explicar aos industriais as vantagens da modernizao.

    Alda Rosa (n. 196), funcionria do NAAI e profunda conhecedora da actividade do INII no que respeita ao design. formao em Pintura (ESBAL) acrescentou o curso de design grfico tirado na Ravensbourne College of Art and Design, em Londres, na dcada de 1960.

    Secretaria de Estado da Indstria

    Rogrio Martins (n. 1928) foi Secretrio de Estado da Indstria na 1 fase do Governo presidido por Marcelo Caetano. engenheiro eletrotcnico de formao.

    Fundo de Fomento e Exportao

    Amaro de Matos (n. 19) foi responsvel pelo FFE quando o Fundo participava em diversas aces de fomento do design em Portugal e no estrangeiro.

    Designers Jos Cruz de Carvalho (n. 190) participou, na qualidade de curador (juntamente com Joo Constantino), na 1 Exposio de Design Portugus, em 1971.

    Lus Carrlo integrou a Cooperativa PRAXIS quando esta participou na organizao e montagem da 2 Exposio de Design Portugus, em 197.

    Investigadores Maria Otlia Lage (n. 1948), historiadora de formao, Directora de Servios de Documentao e Publicaes do Instituto Politcnico do Porto e Professora na Universidade do Minho. Desenvolveu uma dissertao de Mestrado sobre a Metalrgica da Longra Comunidade e Fbrica na Linha de Fronteira. Tradio, Inovao. Um Caso no Modo Portugus de Industrializao (199).

    Joo Paulo Martins arquitecto e trabalhou com Daciano da Costa em diversos projectos. Na qualidade de investigador em design organizou a exposio (FCG) e o livro Daciano da Costa. Designer, de 2001.

  • ANEXOS6

    Metalrgica da Longra Ablio Moreira, tcnico cronometrista.

    Ablio Pedro, contabilista da Longra desde 1970 (foi para a fbrica em 1966).

    Antnio Costa, chefe do gabinete de cronometristas e de mtodos.Domingos Teixeira, chefe da seco de cunhos, cortantes e ferramentas.

    Fernando Pinto, chefe da oficina-piloto.

    Jos Antnio Afonso Matos, tcnico da sala de desenho.

    Jos Afonso Matos, tcnico da sala de desenho.

    Lus Goes, chefe da seco de desenho.

    Deodato Martins, filho de Jlio Martins e neto de Amrico Martins, fundador da Longra.

    Designers Antnio Garcia (n. 1928) um designer autodidacta.

    Carlos Rocha (n. 1943) comeou o seu percurso profissional na MARCA. Mais tarde funda a Estdio Tcnico de Comunicao Visual (LETRA) qual viria a juntar a sigla ETP em homenagem ao tio Jos Rocha.

    Jorge Alves (n. 192) licenciado em Design de Equipamento pela ESBAL onde integra, neste momento, o grupo respectivo de docncia. Em 200 apresentou a tese de doutoramento com o seguinte ttulo: Contributos para o estudo da prtica do design industrial no contexto do desenvolvimento em Portugal.

    Jorge Pacheco (n. 1941) licenciado em Design Tridimensional pela Ravensbourne College of Art and Design de Londres. Depois de 1976 foi assistente no Curso de Design de Equipamento da ESBAL e, mais tarde, convidado por Daciano da Costa para leccionar na FAUTL.

    Jos Brando (n. 1944) licenciado em Design Grfico (1970) pela Ravensbourne College of Art and Design de Londres. Foi professor do Curso de Design de Comunicao na ESBAL/FBAUL donde saiu para a FAUTL.

    Jos Santa-Brbara (n. 194) escultor de formao. Durante vrias dcadas foi responsvel pela seco de design da CP Comboios de Portugal , onde projectou, alm de outros objectos, o logtipo e algumas composies ferrovirias ainda em circulao.

    Miguel Arruda (n. 194), escultor e arquitecto de formao, Professor Catedrtico do Curso de Design de Equipamento da FBAUL.

  • ANEXOS 7

    Robin Fior (n. 19) estudou Ingls na Universidade de Oxford. O seu envolvimento nas causas de esquerda levou-o tipografia. Em 1955, integrou as aulas nocturnas de tipo-grafia de Edward Wright na Central School of Arts and Crafts, mas , sobretudo, um designer auto-didacta. Em 1960, foi para a Sua para se familiarizar com o design suo, fazendo uso dessa tipografia modernista de cartazes na Campaign for Nuclear Disarmament Comitee of 100. Projectou o semanrio Peace News, tornou-se editor artstico da Pluto Press e um dos signatrios, em 1964, do primeiro manifesto First Things First da autoria de Ken Garland.Em 1972, Fior mudou-se para Lisboa, convidado pela co-operativa PRAXIS para formar os seus colaboradores. A sugesto partiu de Alda Rosa. Acabou por ficar c a viver permanentemente. Produziu propaganda poltica durante o perodo revolucionrio portugus (1974-197). Foi membro fundador da Associao Portuguesa de Design, e colaborou na criao do Centro de Arte e Comunicao Visual (Ar.Co), onde leccionou durante alguns anos. (Cf. POYNOR, Rick (ed.) (2004), Communicate: Independent British Graphic Design since the Sixties, Yale University Press)

    Vtor Manaas (n. 194) foi professor de Projecto e de Teoria e Histria do Design na ESBAL e na FBAUL. Em 2006 apre-sentou uma tese de doutoramento com o ttulo de Percursos do design em Portugal.

    Vtor da Silva (n. 192) foi professor na Escola de Artes Deco-rativas Antnio Arroio, em Lisboa. Desenvolveu intensa activi-dade nas reas do design grfico e do design tipogrfico.

    Cursos de Design na Escola Superior de Be-las-Artes de Lisboa

    Jos Cndido (n. 192) pintor de formao. At 1996 co-ordenou o Curso de Design de Comunicao na ESBAL e na FBAUL onde foi professor do ano.

    Rogrio Ribeiro (190-2008) era pintor de formao. Desde a impantao dos cursos de design na ESBAL, processo que integrou, foi o coordenador do Curso de Design de Equipa-mento da referida escola.

  • ANEXOS 9

    Anexo 2.1LISTA DE DOCUMENTOS UTILIZADOS NA ANLISE DOCUMENTAL RELATIVA DIMEN-SO INSTITUCIONALIZAO, ASSIM COMO OS CRITRIOS QUE ESTO SUBJACEN-TES SUA SELECO

    1) Necessita o pais de preparar tcnicos actualizados para os problemas da vida moderna uma troca de impresses com o Eng. Magalhes Ramalho sobre o Ins-tituto Nacional de Investigao Industrial, em Dirio da Manh, de 14 de Dezembro de 1959, Lisboa.

    Trata-se de uma entrevista realizada ao primeiro director do INII no momento em que o Instituto iniciava as suas funes. Estamos na presena de um discurso ins-titucional e, simultaneamente institucionalizado, onde so detectados os traos do poder regulador do Estado Novo.

    2) ___________________, Tema para uma campanha A esttica industrial, em In-dstria Portuguesa, Ano 37, N 431, Janeiro de 1964, AIP, Lisboa.

    Maria Helena Matos, directora do NAAI e do NDI, no INII, publicou durante a d-cada de 1960 vrios textos em jornais e em revistas das profisses. Escolhemos um grupo de trs textos publicado no jornal Dirio de Lisboa e outro publicado na revista da AIP Indstria Portuguesa. Os artigos do jornal revelam uma primeira viso institucional da esttica industrial. Confront-la-emos com aquela que veiculada no texto publicado na Indstria Portuguesa.

    3) Seleco de alguns textos das conferncias da I Quinzena de Esttica Industrial, INII/NAAI, Junho de 1965:

    VIENOT, Henri, Rentabilidade do industrial design. Nesta comunicao, Vienot, na altura director da revista Design Industrie e vice-presidente do Institut dEsthtique Industrielle de Paris, procurou apresentar o campo conceptual relativo a uma nova prtica projectual e s suas relaes com a sociedade. O papel do designer na in-dstria constituiu-se como um ponto forte da sua lio.

    ASTI, Srgio, A problemtica do design. Esta comunicao reflecte o pensamen-to do design italiano. Asti foi professor na Escola Politcnica de Milo e um proemi-nente designer. Temos oportunidade de verificar que, na sua acepo, o design era uma actividade integrativa dos aspectos sociais, tecnolgicos, polticos e educa-tivos.

    Estes textos, posteriormente policopiados e distrubudos, constituram-se como um acervo importante na discusso e sedimentao do campo conceptual ligado ao design.

    4) MATOS, Maria Helena, A esttica industrial e o turismo 1, 2 e concluso, arti-gos publicados na seco Tribuna Livre do Dirio de Lisboa, em 27, 28 e 30 de Dezembro de 1965.

    5) MALDONADO, Toms, A nova funo do industrial design, em Binrio, N 110, Novembro de 1967, Lisboa.

    Trata-se de um texto com a assinatura de uma figura relevante na rea do design

  • ANEXOS10

    industrial. Por isso tende a ser visto como um statement do design. Alm disso, o facto de ser publicado numa revista de referncia para arquitectos, designers e outros profissionais da rea do desenho urbano, confere-lhe uma projeco digna de relevo no panorama nacional.

    6) SEIXAS, Fernando (1970), A experincia de uma empresa portuguesa no domnio do design industrial, em Conferncias proferidas durante o Colquio Sobre Design Industrial, realizado em 1971, pp. 29-38. Texto tambm publicado em livros e revis-tas, desde 1973, com o ttulo de Indstria e Design.

    Texto assinado por um industrial portugus com um vasto conhecimento da pro-blemtica do design em Portugal. Desconhecemos a existncia de outros textos com estas caractersticas. O texto escolhido, tambm por nos facultar um olhar em perspectiva da relao de um industrial (Fernando Seixas) com um designer (Daciano da Costa).

    7) Dois textos dos catlogos da I e II Exposies de Design Portugus, de 1971 e 1973 respectivamente, INII, Lisboa e Porto.

    GEORGE, Frederico, Introduo, em Catlogo da I Exposio de Design Portu-gus, pp. 9-11, 1971.

    Foi escolhido por ser o nico texto do catlogo da I Exposio ( excepo da aber-tura de Torres Campos) e por ser assinado por uma pessoa que deu incio, no seu atelier e nas suas aulas, problemtica do design. Alem disso, o texto de Frederico George elabora uma sntese da natureza da actividade do design.

    PORTAS, Nuno, Duas ou trs consideraes pessimistas sobre o designer e os seus produtos em Catlogo da II Exposio de Design Portugus, pp. 14-17, 1973.

    De todos os textos que lemos publicados em Portugal e escritos por portugueses neste periodo (que no so todos os textos que existem) este aquele que melhor estrutura um pensamento em design. Por isso, e por ter sido escrito na fase final do perodo determinado para esta investigao, constitui uma pea fundamental para anlise discursiva.

  • ANEXOS 11

    Anexo 2.2LISTA DE DOCUMENTOS UTILIZADOS NA ANLISE DOCUMENTAL RELATIVA DIMEN-SO PROFISSIONALIZAO, ASSIM COMO OS CRITRIOS QUE ESTO SUBJACEN-TES SUA SELECO

    1) Entrevista a Daciano da Costa, em Arquitectura, N 129, de Abril de 1974, pp. 4-11.

    Escolhemos esta entrevista por ter sido realizada a um profissional reconhecido e por fazer um estado da arte do design desenvolvido em Portugal at 1974. Alm disso, ao longo da entrevista nota-se um certo mal-estar no design que Daciano da Costa atribui a deficincias no processo de institucionalizao e ao amadorismo dos empresrios portugueses, assim como, ao atraso na abertura de cursos de design na Universidade.

    2) Os textos que integram o livro AA.VV(1989), Falando do Ofcio, SOCTIP, Lisboa. A escolha recai sobre o conjunto de depoimentos escritos na primeira pessoa por

    Thomaz de Mello, Fernando de Azevedo, Victor Palla, Lima de Freitas, Octvio Cl-rigo e Sebastio Rodrigues. um grupo heterogneo no modo de fazer, mas onde se reconhecem uma homogeneidade nas formas de pensar o design grfico ou as artes grficas, como lhe chamavam.

  • ANEXOS 1

    Anexo 2.3LISTA DE DOCUMENTOS UTILIZADOS NA ANLISE DOCUMENTAL RELATIVA DIMEN-SO EDUCAO, ASSIM COMO OS CRITRIOS QUE ESTO SUBJACENTES SUA SELECO

    1) [s.n.], Escola Superior de Belas-Artes Boletim 1974: Para uma nova escola, Lisboa, 1974.

    Este documento uma reflexo interna (ESBAL) sobre a necessidade de mudan-a no ensino superior artstico. Desse contexto emerge a abertura dos cursos de design, pensados, inicialmente, para integrarem um possvel Instituto Superior de Ensino Artstico.

    2) RAFAEL, Snia, Entrevista ao professor Rocha de Sousa, em Sociodinmica da emergncia de um curso superior: o estudo de caso do curso de Design de Comu-nicao da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, Tese de Mestrado em Comu-nicao, Cultura e Tecnologias da Comunicao, ISCTE, 2006.

    Escolhemos esta entrevista porque no foi possvel efectuarmos uma a Rocha de Sousa. Apesar de no haver nenhuma correspondncia de objectivos entre o guio desta entrevista e aqueles que pretendamos aplicar caso a entrevista fosse conce-dida, h dados que esclarecem alguns temas da problemtica em anlise.

  • ANEXOS 1

    Anexo 3.1LISBOA cidade triste e alegre

    PUBLICAO: [Lisboa]

    Costa Martins; Victor Palla, [1959]

    DESCR. FSIC: XI, 152, [22] p. : il. ; 30 cm

    NOTAS: Ed. dos autores. Obra impressa em cartolina off-set de 160 gr., em folhas soltas [fascculos].

    Contm 18 pginas de ndice/notas.

    FOTOGRAFIAS: Costa Martins e Victor Palla

    POEMAS: Eugnio de Andrade, Antnio Botto, lvaro de Campos, Orlando da Costa, Jos Gomes

    Ferreira, Sebastio da Gama, David Mouro-Ferreira, Sidnio Muralha, Almada Negreiros, Alexandre

    ONeill, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Ricardo Reis, Armindo Rodrigues, Mrio de S-Carnei-

    ro, D. Sancho I, Jorge de Sena, Alberto de Serpa, Cesrio Verde, Gil Vicente.

    Passaram 0 anos sobre a edio nica de LISBOA cidade triste e alegre. Na poca pouco se disse sobre este livro. Apenas a revista de cinema Imagem dedicou num dos seus nme-ros, em 1960, uma crtica assinada por Jos Borrgo. Os livros de fotografia so [eram] pouco prestigiados porque se tratam de compilaes de imagens de imagens, como dizia Susan Sontag. No este o caso. A Biblioteca de Paris considerou-o um dos livros esquecidos do milnio passado.LISBOA cidade triste e alegre conta-nos as histrias da cidade numa deambulao fre-ntica impossvel de apreender fora do contexto da edio grfica. O livro foi editado em 7 fascculos mensais para que os custos fossem suportados atravs de assinaturas e, tambm, para que pudessem ser adquiridos mais facilmente pelos leitores. Esta era uma prtica cor-rente na altura.Victor Palla e Costa Martins eram personagens sombrios, como a cidade o era na altura leia-se Angstia para o Jantar de Sttau Monteiro , e desenvolvem este projecto de mapeamento fotogrfico da cidade tendo por referncia os costumes [bairristas] da classe operria. As fotografias, captadas de forma voluntariosa num registo de cerca de 6000 ima-gens, revelam o esprito ordinrio, do quotidiano, das pessoas a serem elas prprias (e no transformadas pelo excepcional)1. A edio fotogrfica, enquanto rea de projecto, chegou a Victor Palla atravs do Curso de Publicao e Produo de Livros que tirou no Arts Council of England, em 192, e cuja estada em Londres ter proporcionado o contacto com o cinema, com a possibilidade de ver filmes. Por sua vez, Costa Martins, depois do curso de arquitectura (1948) comeou a trabalhar no Ministrio das Obras Pblicas como projectista. Simultaneamente dedicava-se fotografia. O livro est repleto de citaes cinematogrficas e fotogrficas, desde o conceito de mon-tagem de Fellini nas pginas 68 e 69, assim como a liberdade de Robert Flaherty; a recusa da tecnologia em Jean Renoir todos os refinamentos tcnicos me desencorajam ; a

    Pedro Miguel Frade no texto de apresentao da exposio Victor Palla, lisboa, FCG, 1992, p..

  • ANEXOS16

    montagem de Carl Dreyer em A Paixo de Joana dArc sugeridas nas pginas 7-76; as referncias candid camera de Naked City de Weegee, na pgina 142; e at a polmica independncia de Elia Kazan est presente nas pginas 10, 11 e 12. As afinidades com o neo-realismo italiano esto visveis quer na linguagem fotogrfica e roto-grfica utilizadas, quer na composio/montagem no plano da folha de papel, procurando os autores regressar ao naturalismo mais documental, como afirmam no livro.A maioria dos poemas foi escolhida posteriormente, medida que era feita a seleco de imagens, havendo, no entanto, a excepo das pginas 116 e 117 onde a dupla Palla/Martins partiu do poema de Mouro-Ferreira para realizarem as fotografias. Outro pormenor impor-tante a obsesso pelos relatos tcnicos colocada no ndice: tornando-os uma realidade especfica e, ao mesmo tempo, uma realidade que querem desprezar2.

    Ao longo do livro sentimos a influncia de Henri Cartier-Bresson e do momento decisivo e de Robert Frank no modo de realizar o ensaio sociolgico do tema, assim como a experincia grfica da edio que se sugere como alternativa ao cinema (ensaio foto+grfico). Esta ideia torna-se mais presente nas duas exposies efectuadas na galeria do Dirio de Notcias, em Lisboa, e na Livraria Divulgao, no Porto.Para os autores, tal como Richard Avedon afirmava, o que lhes interessava era o povo, as pessoas, nunca ou quase nunca as ideias. Quando vemos LISBOA cidade triste e ale-gre o que sobressai a silhueta dos gatos vadios de Sebastio Rodrigues.

    Victor Almeida, Victor Palla: Um caso portugus, FBAUL, 2001.

  • ANEXOS 17

    Reproduo da capa de LiISBOA cidade triste e alegre deCosta Martins e Victor Palla

  • ANEXOS 19

    Anexo 3.2Almanaque

    O universo do capismo, da edio de livros e de revistas, constitui-se como uma janela de oportunidade para artistas e designers que, nos anos de 190 e 1960, em resultado da sada de muitos deles para o estrangeiro, souberam aproveitar. Sobressaem as aces de alguns editores, poucos, como Joaquim Figueiredo Magalhes da Ulisseia que, alm de marcarem o panorama editorial com a qualidade grfica dos livros, ajudaram a divulgar outras leituras, como o caso exemplar da edio em portugus do On The Road de Jack Kerouac, edita-do em 1960 (197, em Nova Iorque).

    Nesta altura Figueiredo Magalhes decide publicar a revista Almanaque. A direco de Jos Cardoso Pires era apoiada por Lus de Sttau Monteiro, a que se juntavam Jos Cutileiro, Augusto Abelaira, Alexandre ONeill e Baptista-Bastos. Na revista apareciam as intervenes de outros colaboradores, como Vasco Pulido Valente, Sophia de Mello Breyner e Antnio Ge-deo, alm dos contributos fotogrficos de Antnio Sena e de Eduardo Gageiro e os ensaios grficos de Sebastio Rodrigues e de Joo Abel Manta (ltimos quatro nmeros).

    O programa da revista estava orientado para uma estrutura caracterstica dos almanaques e estrutura-se com os seguintes artigos e seces: Calendrio Mensal em grelha de colunas sem margens; Efemrides do ms em texto de 2 colunas com ilustraes; A Mulher do ms com o mesmo arranjo grfico; de seguida vem um artigo de cunho religioso (!?) com vrias pginas Flos Sanctorum., filme do ms, previses astrolgicas, etc.; assim como artigos de interesse cultural que, atravs da stira dos poemas e do sarcasmo da prosa, expunham a situao portuguesa.

    Separadores de vrias pginas com poemas ou excertos de contos publicados ou a publi-car. Por exemplo, no 1 nmero sai o poema de Alexandre ONeill Sigamos o Cherne! (De-pois de ver o filme O Mundo do Silncio de Yves Costeau) do livro No Reino da Dinamarca; Actualidades com imagens organizadas como se se tratasse de um lbum fotogrfico com legendas. Algumas aparecem destacadas em bicromia; Os Destinos do Ms com as sec-es de Astrologia, de Quirologia, de Morfo-Fisionomia, de Caa, de Pesca, de Floricultura e o Antiquarium, apresentadas em 2 colunas de texto e imagem; Um animal por ms antecede a Divulgao Cientfica tudo com as mesmas caractersticas de paginao, ou seja, texto e imagem sobre grelha de 2 colunas. Aqui e ali vo aparecendo inseres de publicidade, a meia-pgina ou pgina inteira, mas sempre integradas no perfil grfico da revista. Assim como os excertos de textos literrios (editados ou a editar pela Ulisseia). H textos histricos que por vezes vo entremeando a revista.

    Uma rubrica muito curiosa Um Filme por ms onde Sebastio Rodrigues explora uma narrativa visual do tipo fotonovela com cenas do filme escolhido. apresentado sob a forma de tiras de imagem com legendas. E a palavra Fim a terminar como no cinema! H O Conto do ms, que no n 1 de Urbano Tavares Rodrigues com o ttulo sugestivo de Dois Burgue-ses e um Cadver. E O Livro do ms e as Publicaes Recentes editadas pela Ulisseia. No Reino de Pacheco Lus Sttau Monteiro e Alexandre ONeill exploram o lado satrico da

  • ANEXOS20

    nossa cultura ( de referir que, nesta fase, a maioria dos textos no vm assinados, supe-se que por questes de sobrevivncia do projecto).

    H artigos e pginas mais diletantes e descontradas como Os Trs Amores da BB, cartoons, Saber Intil, O Livro do ms, Leia, Medite e Responda, O Jogo da Ca-nasta, Ilusionismo, O Jogo do Minotauro, tudo isto sempre integrado no perfil grfico da restante revista, ou seja, o texto e as imagens dispostas numa grelha de 2 colunas. Seguem-se artigos sobre vrios gneros musicais, desde o rockn roll at msica cls-sica, entremeados com pginas ldicas como por exemplo, O Crime ao Alcance de To-dos (Outubro, 1959, p.176). No fim de tudo segue-se uma pr-publicao de um texto com vrias pginas. Com uma dinmica editorial em redor da revista caracterizada por um esprito contra-cultural detectvel na postura dos autores, de manh [iam] diluir o lcool da vspera e, no fim da tarde, se encontravam, como num caf, para pr em dia os boatos e as conspiraes correntes (Valente, 1990), e que transbordava para o interior da revista atravs da variedade de situaes que vo desde as pginas de cultura vernacular at s da designada alta cultura.

    Sebastio confere a este caldo cultural um rigor grfico as capas so exemplares fruto do tempo passado nas oficinas da Casa Portuguesa no contacto com a composio manu-al e com a impresso, em tarefas mensalmente rotinadas, e que se constituem como uma aprendizagem nas reas da composio e da impresso.

  • ANEXOS 21

    Reproduo da capa de Almanaque comorientao grfica de Sebastio Rodrigues

  • ANEXOS 2

    Anexo 4.1As linhas de mobilirio Cortez e Prestgio

    As linhas Prestgio e Cortez, projectadas por Daciano da Costa em 1962, vm en-contrar um mercado carenciado de mobilirio de escritrio moderno o que fez com que todos os prescritores [adoptassem] aqueles modelos que so aquilo que eles queriam. A ideia de ligeireza, de leveza, de conforto com materiais modernos, de um certo requin-te, dos contrastes formais correspondia a uma aspirao cultural de uma sociedade que estava a mudar os seus hbitos. Alm disso, a Cortez, correspondia ao arqutipo de mobilirio que democratizava os espaos de escritrio, ou seja, tratava a secret-ria de um escriturrio com a mesma elegncia de uma secretria direccional (Ferro, 2006: 4). As inseres publicitrias diziam que era uma linha de mobilirio para es-critrio moderno e funcional para proporcionar um ambiente de trabalho harmonioso e confortvel.

    Enquanto a linha Prestgio o resultado de parcerias tcnicas com as empresas estran-geiras de mobilirio, sobretudo a Hille e a cadeira Armchair (1951) de Robin Day, a pesquisa formal da linha Cortez foi no sentido de conferir originalidade ao mobilirio projectado. Da-ciano procurou que o projecto correspondesse necessidade de equipar um ambiente de escritrio depurado onde os vrios elementos formais se pautassem pela leveza e, simultane-amente, fossem resistentes utilizao intensiva. A conjugao de resistncia mecnica com ausncia de massa (Martins, 2001) era obtida atravs de ps e apoios verticais recolhidos em relao aos restantes componentes; os blocos de gavetas estavam suspensos dos tampos

    Entrevista a Joo Paulo Martins.

  • ANEXOS24

    por delicados elementos lineares. (Idem: 22) Os apoios no solo, em estruturas do tipo p de galinha, eram pontuais, o que, acrescido o facto de no haver componentes assentes no cho, acentuava o sentido geral de um conjunto leve. Este tronco era rematado com painis laterais e um tampo que o designer disponibilizou em vrias referncias de acordo com as caractersticas do utilizador. Podiam ser revestidos em madeira de pau-santo (jacarand) ou teca, ou ainda, em pele e pergamide, de acordo com a produo artesanal e com gosto tradicional (Art Dco) que perdurava.

  • ANEXOS 2

    Anexo 4.2A linha de mobilirio TL

    O sucesso comercial da linha Cortez e da srie Prestgio abrem o caminho TL (1964-196), um sistema de assentos e mesas para salas de espera, cujos componentes modula-vam os espaos atravs das combinaes que a variedade de modelos permitia. Enquantos as linhas anteriores se destinavam ao espao de trabalho, a TL confere aos espaos reser-vados ao pblico uma modernidade sem precedentes. Isso reflecte um avano no trabalho de Daciano da Costa na medida que, atravs das possibilidades ortogonais do desenho, o de-signer desenvolve um sistema de geometria varivel de acordo com as solues pretendidas. Nesse contexto h um regresso Bauhaus e aos seus princpios racionalistas, mas aquilo que determinante no pensamento de Daciano da Costa a preocupao em desenvolver um projecto integrado na arquitectura e que a dotasse de melhor habitabilidade.

  • ANEXOS 27

    Anexo 5.1GUIO DE ENTREVISTAS EXPLORATRIAS

    Nome: Contacto: Local da entrevista: Durao prevista: Introduo: Estou a fazer um doutoramento em Design de Comunicao sobre o percurso de institu-cionalizao do design em Portugal, de 1959 a 1974.- Tem conscincia de que participou no processo de institucionalizao do design em Portugal? - Gostava que me falasse dessas actividades

    A - O ambiente/enquadramento social e econmico do pas na dcada de sessenta.O pas, a partir dos anos cinquenta, vivia um tempo de mudana. O design portugus foi apanhado nessa onda e envolveu-se na mar da modernidade portuguesa que entretanto se tinha iniciado e in-crementado atravs de reformas estruturais na economia portuguesa. Internamente, os I, II e III Planos de Fomento Nacional assumiram particular nfase e, externamente, a adeso EFTA em Dezembro de 1959, em consequncia da necessidade de encontrar um mercado alternativo criao do Mercado Comum europeu (Comunidade Econmica Europeia) por parte de alguns pases, d o derradeiro im-pulso no sentido da alterao do paradigma econmico e social.Na dcada de 50, apesar de haver sinais de mudana, o pas estava muito atrasado, em todos os aspec-tos, em relao aos pases industrializados.Em que medida o atraso estrutural do pas afectou o seu perfil scio-profissional dos designers portugueses?O que o levou a ser designer?Lembra-se dos anos sessenta? Como se caracterizava o seu ambiente familiar e escolar?O que mais o interessava na altura?Nesse perodo tinha alguma actividade cvica?O pas nesse perodo tinha nveis de analfabetismo muito elevados havendo uma discrepncia muito acentuada entre o litoral mais desenvolvido e o interior sub-desenvolvido. Em que medida a origem geogrfica dos designers afectou o seu perfil scio-profissional?Costumava vir a Lisboa? Onde passavam as frias?Costumava passear pelo pas? O que mais o entusiasmava?A ideia que construa do pas na escola e em casa correspondia quela que observava nessas via-gens?Em que medida o empenhamento poltico dos designers influiu na participao dos mesmos na prtica e institucionalizao do design?

    No incio da dcada de 60 do sculo XX emerge a profisso de designer.Quando comea a ouvir falar em design?

  • ANEXOS28

    Onde e como tomou contacto com a profisso? Se foi num atelier, em qual? Porque escolheu esse atelier? No seu caso pessoal como se processou a aprendizagem do design?Quem eram os clientes do atelier? Havia, na altura, uma noo de classe entre os designers?Como se organizava o atelier? E a relao dos designers com outros profissionais do atelier, como se desenhava?Quando se deslocava s fbricas ou s tipografias como era a relao com os operrios e com os tipgrafos, por exemplo? Era respeitado enquanto profissional?

    A indstria em Portugal entrada da dcada de 60 do sculo XX dependia da manufactura, da mo-de-obra barata e da utilizao intensiva de matria-prima nacional. A exemplo do que acontecia nos pases desenvolvidos, h em Portugal um despertar para a necessidade de incorporar o design na indstria. As circunstncias fizeram com que o design enquanto actividade projectual tenha aparecido primeiro nos ateliers de arquitectura e artes decorativas e, alguns anos de-pois, enquanto problemtica, no ensino superior.A relao do design com a indstria acelerou o processo de institucionalizao do design em Portugal?Que ideia tinha do estado de desenvolvimento do pas no final da dcada de 50 e incio da dcada de 60 do sculo XX?Como caracteriza a indstria portuguesa nesse perodo?Em traos gerais o que contribua para esse estado?Quando comea a ouvir falar na necessidade de modernizar a indstria portuguesa?Na sua perspectiva o que era necessrio fazer e no foi feito?Como que os industriais viam os designers? Quais as razes?A indstria estava preparada para lidar com o design?Como reagiram os industriais? Lembra-se de algum caso concreto onde o casamento indstria/design tivesse resultado de acordo com as expectativas?Como que os industriais incorporavam o design nos seus produtos?Com a queda do regime fascista h ou no continuidade no campo do design apesar de haver uma ruptura grande na sociedade portuguesa?Em 1974 que conscincia havia da actividade do designer? Era uma actividade reconhecida e identificada como sendo fundamental para a modernizao do pas?O que significava ser designer?Qual a responsabilidade social do designer?

    B - A Institucionalizao do design em PortugalA institucionalizao do design em Portugal foi um processo sistmico com mltiplas dimenses e com variados actores. Apesar do papel do Ncleo de Design do INII ser reconhecido por todos como funda-mental nesse processo, ocorrem noutras dimenses a actividade profissional dos designers e a dinmica que da subjaz e, tambm, a actividade de ensino do design iniciada, de uma forma sistemtica, em 1969.

  • ANEXOS 29

    A institucionalizao do design est ligada ao programa desenvolvimentista do Estado Novo que come-a a institucionalizar o design atravs da sua ligao ao sector industrial. Para o efeito criado em 1959 o INII - Instituto Nacional de Investigao Industrial.Ouviu falar no INII Instituto Nacional de Investigao Industrial? Em caso afirmativo, como o via? Tinha conhecimento das actividades do INII? Lembra-se de alguma em que tenha participado?Porque houve necessidade de encontrar um organismo que levasse ou ajudasse a levar o de-sign aos industriais?Das actividades do INII relacionadas com o design qual foi a mais eficaz junto de pblico e dos industriais?Participou na Quinzena de Esttica Industrial, em 1965?Participou noutras actividades institucionalizadas, por exemplo, exposies, seminrios, cursos, etc.At que ponto o facto do Estado, atravs do INII, cumprir quase em exclusivo a formao na rea do design no ter contribudo para determinados desencontros no programa de institucionali-zao do design em Portugal?As exposies de design portugus foram iniciativas de alguma projeco interna.At que ponto representaram um ciclo de actividade industrial com significado para a institucio-nalizao do design portugus?

    C - O ensino do design.Apesar do ensino do design ter comeado de forma informal em alguns ateliers de arquitectura, nome-adamente, no de Frederico George, a sua oficializao/institucionalizao s aconteceu em 1969 com a abertura do IADE, em Lisboa. E mesmo nessa altura a conviver despudoradamente com as artes deco-rativas. Por sua vez, o curso ps-laboral na SNBA constitui o primeiro encontro com o ensino do design em Portugal e foi, a par de algumas graduaes feitas no estrangeiro financiadas pela FCG, responsvel pela formao dos primeiros designers portugueses.Porque o auto-didactismo e a formao em arquitectura e artes plsticas bastavam para resolver os problemas que se colocavam? Por que o design era uma sub-actividade dos arquitectos e ar-tistas plsticos?Uma das questes que podemos colocar por que o Estado Novo no optou por institucionalizar o design apoiando a abertura de um curso superior de design?Porque que o ensino estava desfasado da prtica e da institucionalizao do design em Portu-gal?Como interpreta esta situao?

    Finalizao: - H algo mais que queira referir? A sua opinio sobre a entrevista?Indagar da disponibilidade do entrevistado saber de outras pessoas cuja opinio seja relevante para este estudo.- Dados biogrficos: idade, profisso, habilitaes, naturalidade, percurso artstico- Contexto situacional: informaes sobre o decurso da entrevista/relao entrevistado/entrevistador.

  • ANEXOS 1

    Anexo 5.2GUIO DE ENTREVISTA: CASO INII

    Caso INII: Entrevista a elementos de ligao institucional (dirigentes/planeadores/ formadores/de-signers/artistas)Nome: Local: Durao prevista: Sinopse: Caso constitudo pelo grupo de pessoas que no perodo a que se refere o estudo (1959-1974) tinham ligaes institucionais com o Ncleo de Design do Instituto Nacional de Investigao Industrial (INII).Introduo: Estou a fazer um doutoramento em Belas-Artes sobre o percurso de institucionalizao do design em Portugal, de 1959 a 1974.- Tem conscincia de que participou no processo de institucionalizao do design em Portugal atravs das aces do Ncleo de Design Industrial do INII? - Gostava que me falasse dessas actividades

    A - A Institucionalizao do design em PortugalA institucionalizao do design em Portugal foi um processo sistmico com mltiplas dimenses e com variados actores. Apesar do papel do Ncleo de Design do INII ser reconhecido por todos como funda-mental nesse processo, ocorrem noutras dimenses a actividade profissional dos designers e a dinmica que da subjaz e, tambm, a actividade de ensino do design iniciada, de uma forma sistemtica, em 1969. Em Portugal demorou a haver uma formao acadmica na rea do design - a primeira foi no ensino particular - IADE. (Seria porque o auto-didactismo e a formao em arquitectura e artes pls-ticas bastavam para resolver os problemas que se colocavam?) Procurar saber qual era a percepo que tinha da realidade do design portugus.Procurar saber como se interessou pelo design.- Quando comea a ter contacto com essa nova disciplina a que chamavam design? Apesar do Estado reconhecer a importncia do design, este foi durante muito tempo entendido como uma esttica, como uma dimenso particular, chegando inclusivamente a designar-se por esttica in-dustrial.- Como e quando se apercebeu que o seu futuro profissional passava pelo design? - Em que atelier ou empresa estagiou? E com quem? Lembra-se de outros colegas na mesma si-tuao?- Em meados dos anos 60, em Portugal, no se falava de Design, mas sim de Esttica Industrial. Isto no lhe parecia uma tentativa para isolar o design industrial da arquitectura e das artes gr-ficas? Ou era uma discusso incua?- Como explica que medida que avanamos na institucionalizao do design e j prximo das duas Exposies de Design, a designao Esttica Industrial comea a cair em desuso?

  • ANEXOS2

    - Qual era a realidade empresarial em Portugal neste perodo? Havia conscincia da necessidade de sistematizar a produo, ou seja, de introduzir o design na fbrica?- Quais os casos mais significativos no panorama nacional?

    B - A actividade geral do Ncleo de Design do INIIO INII inicia a sua actividade em 1959 tendo como objectivo ajudar a indstria portuguesa a moder-nizar-se. Procurar saber qual o seu envolvimento nas aces do Ncleo de Design do INII. - Quais eram os objectivos do Ncleo de Design Industrial do INII? - Como foram implementados esses objectivos? Como se desenvolviam as aces Ncleo de De-sign do INII?- Houve adeso dos industriais? E de outros sectores?- Como eram formadas as equipas do Ncleo de Design do INII? - Qual a formao base dos seus elementos? Noto que muitos tm formao em Pintura e Escultura e com interesses na rea do design grfico. Alguns dos elementos do Ncleo de Design tiveram formao no estrangeiro, nomeadamente em Inglaterra. - Como explica que o Ncleo de Design Industrial tivesse nas suas fileiras mais tcnicos com ape-tncias para o design grfico do que para o industrial? Como era feito o recrutamento do pessoal? No havia interesse em ter um tcnico com formao em design industrial?Procurar saber como que o Ncleo de Design Industrial lidava com o facto de alguns elemen-tos trazerem do exterior algumas ideias e percepes diferentes da integrao do design e do designer nas empresas e na sociedade.- Como e quando entrou no INII? O que lhe pediram para fazer?- Como foi o seu envolvimento nas aces do Ncleo de Design do INII? Achava-se preparado(a) para essa misso?- Havia espao para introduzir mudanas? - Como que a direco do Ncleo olhava para o seu trabalho? E com se relacionava com os di-rigentes? E com os colegas?

    C - As duas Exposies de Design Portugus organizadas pelo Ncleo de Design do INIIO Ncleo de Design do INII organizou a I e II Exposio de Design Portugus, em 1971 e 1973 respec-tivamente. As duas exposies desenvolvem-se sob o mesmo paradigma mas em contextos nacionais e internacionais ligeiramente diferentes.Procurar saber quais as expectativas do Ncleo de Design em relao s duas exposies.Procurar saber quais as expectativas dos designers visto que tambm esteve representada.- Quais os objectivos de cada uma das exposies? E os resultados finais?- O que mudou entretanto no design portugus? (Procurar saber se se mantinha a posio insti-tucional do Ncleo de Design do INII em relao ao design portugus ou, caso contrrio, j havia mudanas de paradigma)- Nessa altura o que pensavam as outras instituies? E os industriais?- Como se desenrolava a relao dos designers entre si, com os industriais, com os poderes pbli-cos, com a sociedade civil, etc.?

  • ANEXOS

    Finalizao: - H algo mais que queira referir? A sua opinio sobre a entrevista?Indagar da disponibilidade do(a) entrevistado(a) saber de outras pessoas cuja opinio seja relevante para este estudo.- Dados biogrficos: idade, profisso, habilitaes, naturalidade, percurso artstico- Contexto situacional: informaes sobre o decurso da entrevista/relao entrevistada-entrevistador.

  • ANEXOS

    Anexo 5.2.1GUIO DE ENTREVISTA: CASO LONGRA/DACIANO DA COSTA (1)

    Caso Longra//Daciano da Costa: Entrevista a especialista em Histria do Design Portugus.Nome:Local: Contacto: Durao prevista: Sinopse: Caso constitudo pelo actividade desenvolvida por Daciano da Costa na Metalrgica da Longra desde 1962 a 1974.Introduo: Estou a fazer um doutoramento em Design de Comunicao sobre o percurso de institu-cionalizao do design em Portugal, de 1959 a 1974.- De que forma a actividade da Metalrgica da Longra foi determinante no processo de institucional-izao do design em Portugal? - Gostava que me falasse dessa actividade

    A - O ambiente/enquadramento social e econmico do pas nas dcadas de cinquenta e de ses-sentaProcurar saber de que forma a Metalrgica da Longra (Longra) integrava as estratgias de de-senvolvimento preconizadas pelo Estado Novo. - Qual o panorama da industrializao do pais entrada da dcada de 1960? - O que proporcionou o convite de Fernando Seixas (Laboratrio Sanitas) a Daciano da Costa para colaborar na Longra? Qual o papel de Frederico George nesse contacto?- Quais eram os objectivos comerciais da MIT/Longra? - Como se adapta a Longra ao condicionamento e ao proteccionismo industriais impostos pelo Estado Novo? - Podemos afirmar que a Longra era uma empresa privilegiada pelo Estado Novo?

    B - O design funcionalista de Daciano da CostaA influncia de Frederico George conduziu Daciano da Costa por uma esttica elementarista geom-trica na tradio das vanguardas histricas (Martins, 2001). Alm disso o seu trabalho caracteriza-do por uma enorme capacidade em encontrar solues prticas e engenhosas, de resolver problemas concretos com os recursos disponveis (Barata, 2001) ao servio de um objectivo preciso: o design em contexto (Martins, 2001; Spencer, 2001).- Podemos afirmar que com Daciano da Costa se cumpre um estdio sui generis do modernismo portugus?- Como definia essa capacidade de Daciano da Costa integrar todos os elementos formais naquilo que se pode designar por obra total? Neste aspecto haver alguma similitude com outros mo-dernistas?

  • ANEXOS6

    C - A Institucionalizao do design em PortugalA cultura de projecto aliada pedagogia levou Daciano da Costa, em 1962, a criar no seu atelier em Belm um curso de Desenho de Esttua para preparao de candidatos s Belas-Artes. Este curso, que teve a colaborao de Frederico George, de Roberto Arajo e de Lagoa Henriques (e tambm de Fer-nando Seixas que forneceu a logstica necessria), foi determinante no percurso de formao de base de alguns dos designers mais destacados do panorama portugus (Souto, 2001).- Em que medida a dimenso pedaggica da actividade de Daciano da Costa, aliada ao projecto, contribuiu para a institucionalizao do design portugus?A institucionalizao do design em Portugal foi um processo sistmico com mltiplas dimenses e com variados actores. Apesar do papel do Ncleo de Design do INII ser reconhecido por todos como funda-mental nesse processo, ocorrem noutras dimenses a actividade profissional dos designers e a dinmica que da subjaz e, tambm, a actividade de ensino do design iniciada, de uma forma sistemtica, em 1969. Em Portugal demorou a haver uma formao acadmica na rea do design - a primeira foi no ensino particular - IADE. (Seria porque o auto-didactismo e a formao em arquitectura e artes pls-ticas bastavam para resolver os problemas que se colocavam?) Procurar saber porque a Longra e o administrador Fernando Seixas despertaram para o de-sign.Supe-se que Fernando Seixas comea a ter contacto com essa nova disciplina a que chamavam design atravs das viagens ao estrangeiro, das conversas que ter tido com Daciano da Costa, Frederico Geor-ge, e outros designers e, tambm, pela necessidade de melhorar a produo, no s dos produtos, como dos meios e dos modos de produo na Longra. No incio essa era a vocao do designer industrial, ou seja, uma actividade sisuda como dizia Daciano da Costa.- Quando Daciano da Costa chega Longra (depois das novas instalaes terem sido construdas) como desenha o novo sistema de organizar o trabalho dentro da fbrica? Havia algum modelo prvio? Houve participao dos tcnicos do INII - Instituto Nacional de Investigao Industrial?- Temos ouvido falar da oficina-piloto como uma unidade fundamental nessa metodologia orga-nizativa. Como se desenvolviam a as tarefas? Qual o papel de Daciano da Costa?- O facto da Longra estar no Concelho de Felgueiras e a actividade de Daciano da Costa estar em Lisboa criou algum constrangimento? Que tipo de relacionamento mantinha Daciano da Costa com o pessoal da Longra?Procurar saber qual a relao do INII com a Longra. No incio da dcada de 1960, a Longra contacta o INII (ou vice-versa), nomeadamente o seu sector de produtividade para que este apoiasse o desenvolvimento da empresa design como gostava de dizer Fernando Seixas. H registo de que a Longra tinha neste perodo, quando comparada sectorialmente, uma elevada taxa de produtividade (tese de mestrado de Maria Otlia Lage) fruto de algumas altera-es introduzidas nos processos de fabricao.- Como v o relacionamento de uma instituio vocacionada para a modernizao da indstria portuguesa e uma empresa com vontade de se adaptar o melhor possvel s circunstncias? A seu ver qual deveria ser o papel do INII?- O INII contribuiu para que algumas empresas e alguns industriais passassem a interessar-se pelo design industrial? Os empresrios estavam preparados para essa necessidade? De que forma? - O facto da Longra se desenvolver com base num sector de mercado emergente o equipa-

  • ANEXOS 7

    mento de servios, de hotis, de aeroportos, etc. no ter sido usado pelo INII como modelo de desenvolvimento industrial? - E quando o filo se esgotou o que ficou? Por que se diz que no existe uma verdadeira industria-lizao em Portugal? Lage fala de fabrilizao.D - A actividade de Daciano da Costa na LongraAs estratgias de Fernando Seixas para a Longra integravam a colaborao com o designer Daciano da Costa. semelhana do que acontecia com Jos Espinho na Olaio, Cruz de Carvalho na Altamira e na Interforma, para citar os nomes mais importantes ligados ao mobilirio, Daciano da Costa procurou conciliar os aspectos mais relevantes existentes na metalurgia da Longra com a introduo de outras tecnologias, como a madeira e os tecidos, que conferiam ao objecto uma melhor relao com a sua funcionalidade. Para isso disps de estruturas fabris pioneiras em Portugal, como um laboratrio de materiais e de ensaio de prottipos (oficina-piloto) e, sobretudo, de estruturas de gesto e de marketing preparadas para colocar os produtos no mercado. - Como era possvel em Portugal, no incio da dcada de 1960, estar apetrechado com estes meios?-DacianodaCostafalava em pequeno artesanato quando se referia ao processo de design indus-trial em que estava envolvido na altura. Porqu?O panorama industrial nacional em matria de produo de produtos para comercializao, salvo raras excepes, era de cpia de modelos estrangeiros e de compra de direitos de produo de peas es-trangeiras. Mesmo a Longra com o sucesso da linha Cortez continua a comprar licenas de produo no estrangeiro. - O que significava ter um designer a colaborar para uma empresa como a Longra?- O que leva a Longra, em meados da dcada de 1960, a no apostar totalmente no projecto por-tugus, ou seja, a altern-lo com outras linhas copiadas (e depois legalizadas) do estrangeiro? - Na sua perspectiva por que se d o declnio e encerramento da Longra, em 1995? No que diz respeito ao design industrial o que ter corrido mal? Era possvel antecipar esse mal-estar na d-cada de 1960, quando a empresa estava no auge?

    Finalizao: - H algo mais que queira referir? A sua opinio sobre a entrevista?Indagar da disponibilidade da entrevistada saber de outras pessoas cuja opinio seja relevante para este estudo.- Dados biogrficos: idade, profisso, habilitaes, naturalidade, percurso artstico- Contexto situacional: informaes sobre o decurso da entrevista/relao entrevistada-entrevistador.

  • ANEXOS 9

    Anexo 5.2.2GUIO DE ENTREVISTA: CASO LONGRA/DACIANO DA COSTA (2)

    Caso Longra//Daciano da Costa: Entrevista a especialista em Histria de Empresas.Nome: Local: Contacto: Durao prevista: Sinopse: Caso constitudo pelo actividade desenvolvida por Daciano da Costa na Metalrgica da Longra desde 1962 a 1974.Introduo:

    A - O ambiente/enquadramento social e econmico do pas na dcada de sessenta.Procurar saber de que forma a Metalrgica da Longra (Longra) integrava as estratgias de de-senvolvimento preconizadas pelo Estado Novo. - Porque se interessou pela Longra?- Qual o panorama da industrializao do pais entrada da dcada de 1960? Falar de outras metalrgicas, como a MDF (Metalrgica Duarte Ferreira no Tramagal) e da sua importncia na economia nacional.- Qual foram os propsitos da entrada dos Laboratrios Sanitas no capital da MIT? Porque se cria uma unidade fabril com estas dimenses e caractersticas numa regio eminentemente agrcola, como era Felgueiras? O que representava para a regio a existncia de uma metalurgia?- Quais eram os objectivos comerciais da MIT/ Longra? - Como se adapta a Longra ao condicionamento e ao proteccionismo industriais impostos pelo Estado Novo? Podemos afirmar que a Longra era uma empresa privilegiada pelo Estado Novo?

    B - A Institucionalizao do design em PortugalA institucionalizao do design em Portugal foi um processo sistmico com mltiplas dimenses e com variados actores. Apesar do papel do Ncleo de Design do INII ser reconhecido por todos como fundamental nesse processo, ocorrem noutras dimenses a actividade profissional dos de-signers e a dinmica que da subjaz e, tambm, a actividade de ensino do design iniciada, de uma forma sistemtica, em 1969. Procurar saber porque a Longra e o administrador Fernando Seixas despertaram para o de-sign.Quando Fernando Seixas comea a ter contacto com essa nova disciplina a que chamavam design, su-pe-se que atravs das suas viagens ao estrangeiro e das conversas que ter tido com Daciano da Costa e Frederico George, decide, no incio da dcada de 1960, contactar o INII, nomeadamente o seu sector de produtividade para que este o apoiasse no desenvolvimento de uma empresa design como gostava de dizer. Nota-se neste pormenor um entendimento diferente daquele que o Ncleo de Arte e Arquitectura

  • ANEXOS40

    Industrial (sector especializado em design industrial do INII) faziam do design, ao qual designavam por esttica industrial. - Como interpreta este desfasamento dentro de uma instituio vocacionada para a moderniza-o da indstria portuguesa? A seu ver qual deveria ser o papel do INII?- Como se processou a entrada do INII na Longra? Traduziu-se em que resultados?- No panorama nacional, entrada da dcada de 1960, o que poder representar a incluso da esttica industrial e do design nas estratgias das empresas, nomeadamente das metalrgicas? Os empresrios estavam preparados para essa necessidade? O que mudou nas empresas para que alguns industriais passassem a interessar-se pelo design industrial?- A Longra ter contribudo para a institucionalizao do design portugus? De que forma?

    C - A actividade da Metalrgica da Longra.O MIT inicia a sua actividade no perodo entre as duas Guerras Mundiais numa rea que foi ganhando dimenso e importncia na indstria portuguesa. Quando comea a atingir maiores propores a empresa faz uma reestruturao das instalaes e do modo de produo. Apesar do modelo de desenvolvimento industrial (o fordismo) j no ser aquele que perdurava nos pases mais desenvolvidos tal correspondia s necessidades suscitadas pela particularidade do nosso desenvolvimento no perodo a seguir 2 Guerra Mundial. Procurar saber se o fordismo correspondia s aspiraes de desenvolvimento e de investimento na MIT/Longra. - Na transio da dcada de 1950 para a de 1960 como se desenvolviam as tarefas dentro da fbri-ca? Que modelo de gesto era utilizado? Qual a formao base dos seus elementos?- Como se passa de um paradigma pr-industrial onde a manufactura tinha um peso considervel para o paradigma industrial onde a produo manual tinha um peso menor?- Depois do filo do mobilirio hospitalar como foram implementados outros objectivos? - Como se introduziu o design na empresa? Como reagiram os operrios? E os quadros mdios? E os dirigentes?A fbrica tinha uma importncia cultural considervel na regio. Como se traduzia essa impor-tncia?

    Procurar saber como que a Longra lidava com o facto de virem do exterior (de Lisboa) algumas ideias e percepes revolucionrias da integrao do design e do designer na empresas e na sociedade.- Como reagiram os operrios s transformaes operadas na linha?- O forte incremento de formao profissional bastou para que a empresa mudasse de rumo? Como reagiram os funcionrios ligados ao sector comercial?- A passagem da sede social da empresa para Lisboa, mantendo a unidade fabril na Longra, tinha que objectivos?

    D - A actividade de Daciano da Costa.As estratgias de Fernando Seixas para a Longra integravam a colaborao com o designer Da-ciano da Costa. semelhana do que acontecia com Jos Espinho na Olaio, Cruz de Carvalho na

  • ANEXOS 41

    Altamira e na Interforma, para citar os nomes mais importantes ligados ao mobilirio, Daciano da Costa procurou conciliar os aspectos mais relevantes existentes na metalurgia da Longra com a introduo de outras tecnologias, como a madeira e os tecidos, que conferiam ao objecto uma melhor relao com a sua funcionalidade. Para isso disps de estruturas fabris pioneiras em Por-tugal, como um laboratrio de materiais e de ensaio de prottipos e, sobretudo, de estruturas de gesto e de marketing preparadas para colocar os produtos no mercado. - Como era possvel em Portugal, no incio da dcada de 1960, estar apetrechado com estes meios?- O que significava ter um designer a colaborar para uma empresa como a Longra? O panora-ma industrial nacional em matria de produo de produtos para comercializao, salvo raras excepes, era de cpia de modelos estrangeiros e de compra de direitos de produo de peas estrangeiras. Mesmo a Longra com o sucesso da linha Cortez continua a comprar licenas de produo no estrangeiro. - O que leva a Longra, em meados da dcada de 1960, a no apostar totalmente no projecto por-tugus? - Quando entrevistou Daciano da Costa (para a tese de Estrada) qual foi a percepo com que ficou da colaborao do designer com a Longra? Houve criticas ao funcionamento da empresa?- Na sua perspectiva por que se d o declnio e encerramento da Longra, em 1995? No que diz respeito ao design industrial o que ter corrido mal? Era possvel antecipar esse mal-estar na d-cada de 1960, quando a empresa estava no auge?

    Finalizao: - H algo mais que queira referir? A sua opinio sobre a entrevista?Indagar da disponibilidade do entrevistado saber de outras pessoas cuja opinio seja rel-evante para este estudo.- Dados biogrficos: idade, profisso, habilitaes, naturalidade, percurso artstico- Contexto situacional: informaes sobre o decurso da entrevista/relao entrevistada-entrev-istador.

  • ANEXOS 4

    Anexo 5.2.3GUIO DE ENTREVISTA: CASO LONGRA/DACIANO DA COSTA (3)

    Caso Longra//Daciano da Costa: Operrios.Nome: Local: Contacto: Durao prevista: Sinopse: Caso constitudo pelo actividade desenvolvida por Daciano da Costa na Metalrgica da Longra desde 1962 a 1974.Introduo:

    A - O ambiente e as redes sociais em redor da Metalrgica da Longra. Procurar saber de que forma a Metalrgica da Longra (Longra) integrava as expectativas indivi-duais e colectivas dos operrios. - Conte a histria da sua entrada na Longra?- Qual a sua formao escolar?- O que representava a Longra na regio? Havia outras empresas com a mesma importncia?- Como se organizava o trabalho na Longra?

    B A Longra era uma fbrica-escola.Procurar saber como se reproduziam os conhecimentos dentro da fbrica.- Como se transmitiam os conhecimentos tcnicos dentro da fbrica?- Quando dizem que a Longra era uma escola referem-se a qu? - Entre os operrios havia laos familiares?- Numa regio fortemente ligada agricultura o que representva trabalhar na Longra?

    C A entrada de Daciano da Costa na Longra.Procurar saber qual o impacto social, no contexto da fbrica, da entrada do designer.- Quando comea a ouvir falar de design? - O que significou a chegada de Daciano da Costa Longra? Houve alteraes de que se lembre, por exemplo, a Oficina Piloto?- Como se relacionava com Daciano da Costa? (Se houver uma relao de trabalho mais prxima verficar a sua dimenso).- No seu caso pessoal sentiu que o seu trabalho se alterou? Em que aspectos?- Como se relacionava Daciano da Costa com os operrios da fbrica? Como viam isso os ou-tros?- O que distingui a Longra das outras empresas de produo de mobilirio?

    Impresses da entrevista:

  • ANEXOS 4

    Anexo 5.3GUIO DE ENTREVISTA: CASO CRIAO DOS CURSOS DE DESIGN NA FBAUL

    Caso INII: Entrevista a elementos ligados criao dos cursos de design na ESBAL.Nome: Local: Durao prevista: Sinopse: Grupo de professores da ESBAL que despoletram o processo de criao dos cursos de design no ensino superior artstico em Portugal.Introduo: Estou a fazer um doutoramento em Belas-Artes sobre o percurso de institucionalizao do design em Portugal, de 1959 a 1974.- Tem conscincia de que participou no processo de institucionalizao do design em Portugal atravs das aces do Ncleo de Design Industrial do INII? - Gostava que me falasse dessas actividades

    A - A Institucionalizao do design em Portugal na vertente de ensino.A institucionalizao do design em Portugal foi um processo sistmico com mltiplas dimenses e com variados actores. Em Portugal demorou a haver uma formao acadmica na rea do design - a pri-meira foi no ensino particular - IADE. Em 1974/75 so implementados os cursos de design na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. um processo que resulta do perodo conturbado por que passou a Escola, com a tentativa do Departamento de Arquitectura de se separar dos de Pintura e Escultura, e da necessidade de se acrescentar outra rea disciplinar ao corpus artstico da Escola. A criao dos cursos de design constituiu-se um momento charneira no processo de institucionalizao do design por-tugus.Procurar saber qual era a percepo que tinha da realidade do design portugus.Procurar saber como se interessou pelo design.- Antes de falar sobre a criao dos cursos de design da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa gostava que fizesse um resumo da sua actividade profissional visto coincidir com o perodo que estou a investigar. - Como e quando se apercebeu que o seu futuro profissional passava pelo design e pelo ensino? - Qual a sua formao base? Sente-se mais artista do que designer?- Em meados dos anos 60, em Portugal, no se falava de Design, mas sim de Esttica Industrial. Isto no lhe parecia uma tentativa para isolar o design industrial da arquitectura e das artes grficas? Ou era uma discusso incua?- Qual o panorama das artes em geral, e do design em particular, neste pas, nos anos 60. E o pano-rama das artes grficas e do design de equipamento?- Como era a formao em design nesse perodo?

    B Os cursos de design na ESBAL.Procurar saber qual o envolvimento do entrevistado(a) na criao dos cursos.

  • ANEXOS46

    - Como surgiram os cursos de design na Escola de Belas-Artes? Qual foi o modelo estrangeiro?- Houve adeso dos outros sectores da ESBAL? Como foram formadas as equipas que negocia-ram com o Ministrio da Educao? Qual a recepo s pretenes da Escola?- O que mudou com a implementao dos cursos de design? Qual foi a reaco dos profissio-nais?Entretanto tinham chegado vrios designers que se formaram no estrangeiro, nomeadamente em Ingla-terra. A perspectiva do ensino tornava-se atraente para alguns deles.- Como se processou a entrada de alguns professores formados em Inglaterra? Como reagiu o restante corpo docente?Procurar saber se houve alteraes no programa definido inicialmente.- No que respeita ao ensino do design, o que se alterou com a entrada de novos elementos?

    C - Depois de se criarem os cursos, em 1976 constituiu-se a Associao Portuguesa de Desig-ners.Procurar saber quais as expectativas dos designers visto que APD arranca com grande consenso e entusiasmo.- Quais os objectivos da APD? O que estava a mudar para que houvesse necessidade de criao da APD? Os cursos tiveram alguma importncia nessas orientaes?- Nessa altura o que pensavam as outras instituies? E os industriais?- Como se desenrolava a relao dos designers entre si, com os industriais, com os poderes pbli-cos, com a sociedade civil, etc.?- Visto a esta distncia, o que mudou com a criao da APD?

    Finalizao: - H algo mais que queira referir? A sua opinio sobre a entrevista?Indagar da disponibilidade do(a) entrevistado(a) saber de outras pessoas cuja opinio seja relevante para este estudo.- Dados biogrficos: idade, profisso, habilitaes, naturalidade, percurso artstico- Contexto situacional: informaes sobre o decurso da entrevista/relao entrevistada-entrevistador.

  • ANEXOS 47

    Anexo 6.1ENTREVISTA A MARIA HELENA MATOS

    Caso INII: Entrevista a elementos com ligaes institucionais (dirigente)

    MARIA HELENA MATOS (fez parte da Direco do Ncleo de Arte e Arquitectura e do Ncleo de Design Indus-trial do INII - Instituto Nacional de Investigao Industrial)

    Local: Na residncia da entrevistada.

    Momento: 29-10-2007, das 15:15H. s 17:30H.

    Gravado em DVR e Mini-DV

    Tempo de gravao: 1:37H.

    Victor Almeida - O tema da minha investigao prende-se com os percursos de institucionalizao do design portugus e, nessa perspectiva, a actividade do INII entra como um caso fundamental. A investigao baseada em estudo de casos onde o INII um deles, no lado institucional, depois temos no aspecto profissional do design os casos de duas obras importantes e que so o ALMANA-QUE de Sebastio Rodrigues e LISBOA: Cidade triste e alegre de Victor Palla e Costa Martins.

    O ltimo caso diz respeito aos cursos de design que se iniciaram no perodo do meu estudo (1959-

    1974). Primeiro o IADE, depois o Ar.Co e no fim os cursos de design das Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto.

    MariaHelenaMatos-OIADEteveumsubsdiodoINIIdurantealgumtempo.NaalturaoAntnioQuadrossolicitouanossaajuda.VA - Perante isto, o INII enquanto estudo de caso leva-me a falar consigo, a escultora M. H. Matos.

    Gostava de comear pelo enquadramento do pas. Que pas era este nos anos 50 quando Portugal

    adere EFTA (no final dos anos 50) e surge o I Plano de Fomento Nacional? Que pas era este que

    subitamente sentiu necessidade de se modernizar?

    MHM-NareadoDesign?VA - Sim.MHM-EutinhafeitoumaviagemgrandepelaEuropaavisitarfbricasdevidroeaproveiteiparaentraremcontactocomoutrossectoresindustriaisligadossartesdedecoraodeinteriores(louas,mveis, tecidos, etc). e na realidade verifiquei que aqui, em Portugal, ns no tnhamos essa preo-cupaoanosernumcasoexcepcionalcomoaLONGRA (que no servia de exemplo, ou melhor, podia servir mas as outras indstrias estavam-se nas tintas). Porque aqui a indstria vivia essencial-mente da cpia. Comprava as peas fabricadas aqui e alm, depois copiava e vendia. e com alguns

    disparates,comoporexemplonaFbrica Escola Irmos Stephens, virem clientes americanos (que eram quem sustentava a fbrica) e traziam da Sucia e da Finlndia copos que eram feitos mquina

    e que aqui eram todos feitos mo, todos artesanais, o que dava uma srie muito grande de peas

    que no prestavam (que no ficavam boas) e mesmo assim ficava-lhes mais barato. No havia aqui

    ningum que tivesse a iniciativa. O que se fazia era sempre a cpia.

  • ANEXOS48

    Comecei por trabalhar na FEIS como lhe disse e nessa altura no fazia peas para grandes sries por-que eles no me levavam a srio. Faziam uma peazinhas como de resto fazia a Carmo Valente ou o

    Jlio Pomar ou o Vespeira ou a Alice Jorge, mas eram peas nicas, alis muito bonitas. Eles no me

    levavam a srio realmente. Mas como eu estava, nessa altura como funcionria do Ncleo de Arte e

    Arquitectura Industrial do INII comecei a colaborar com eles. At houve um americano que comprou

    uma grande quantidade de copos (como s os americanos compram) de um copo que tinha feito.

    Bem, mas foi difcil a integrao naquela fbrica. e entretanto no INII procurava chamar a ateno de

    outrossectoresindustriais.Nofoinadafcil.VA - Ainda antes de falarmos do INII quando que a Maria Helena tem conscincia de que h um

    processo de modernizao e uma tentativa de alterar a situao? s quando entra para o INII?

    MHM - . quando comeo a ter contacto com a indstria e constatar que no havia uma tendncia

    de modernizao, excepo de uma ou outra. Vivia-se base de cpias. O que eu pensei que era

    preciso mudar isso se quisssemos competir. No havia outra hiptese seno mudar toda esta filosofia

    decpiaecomearateroutraatitude.VA - Essa alterao foi pensada no INII ou foi um rasgo de iniciativa individual? Havia uma estra-tgia oficial?

    MHM - s tantas no NAAI estava s eu e portanto fui eu que tomei essa iniciativa. O Instituto era

    constitudopor vrios ncleos, havia este, havia umde economia, havia outro de produtividade,havia os laboratrios de qumica, havia vrios ncleos, e trabalhava comigo no mesmo edifcio um

    engenheiro que dirigia a parte de documentao que se lembrou (ele trabalhava tambm na Associa-o Industrial Portuguesa) de publicar na revista Indstria Portuguesa alguma coisa sobre design.

    e foi a que eu comecei a fazer qualquer coisa.

    VA - Quem era o engenheiro?

    MHM - Qualquer coisa Silva no me lembro.

    Depois surgiu a ideia de fazer a 1 Quinzena de Esttica Industrial. Mas antes disso tinha havido a

    tal colaborao com o Toms de Mello que quiz fazer qualquer coisa que apelasse ao design indus-trial e fez uma sala durante uma feira industrial de Lisboa, ainda ali na Junqueira. Fez uma sala com

    peas deste e daquele e que tinham sido feitas a pensar no no design mas para uma determinada

    empresa que tinha pedido uma encomenda a um senhor que fazia desenhos ou projectos. Uma das

    coisas curiosas, que at era dele, eram uns encaixes para a construo de estantes. Bom, e havia mais

    coisas que eu me esqueci completamente que tnhamos colaborado com ele e que s me vim a lem-brar depois quando li a Histria da Arte em Portugal. e depois surgiu a ideia da Quinzena de Esttica

    Industrial.VA - Mas antes disso como se desperta em si o interesse pelo design? A algum que vem da escultura

    e das artes tradicionais.MHM - Foi o querer trabalhar em vidro. Eu s tantas quis tentar a escultura em vidro. Experimentar

    um material que ainda no tivesse sido experimentado. e fui para a fbrica da Marinha Grande. Ainda

    fiz umas experincias na fbrica dos Galos que era uma fbrica de vidro em tanques para garrafas e

    embalagensdevidro,maseramuitocomplicadoeossenhoresnoestavaminteressadosemgastardinheiro comigo e ento fixei-me na Stephens e foi a que vi que no podia fazer esculturas em vidro

  • ANEXOS 49

    mas podia fazer outras coisas. Depois acabei por fazer escultura, com vidro em chapa e coisas assim.

    Mas aquilo que eu queria que era a forma, a modelao, no consegui. Era possvel porque vi noutros

    pases, mas c nunca consegui ter contacto com a tcnica. e foi a que comecei a ver que era interes-sante arranjar novas expresses, novos modelos para o vidro. Porque o vidro que me apaixonou.

    VA - Com esse diagnstico quais eram os objectivos para a FEIS e para a introduo de uma esttica

    industrial?

    MHM - O objectivo era divulgar a necessidade dessa esttica industrial nos vrios sectores indus-triais. O sector do mobilirio, por exemplo, que vivia de cpias.

    VA - Na sua perspectiva dever-se-ia fazer o qu? S alterar o desenho pura e simplesmente ou en-volvia essa dinmica de alterao de modo a mudar tudo?

    MHM - Isso exigia a colaborao de engenheiros, de tcnicos de economia, de marketing, de no-

    sei-o-qu. Todo esse conjunto que faz o design. Depois comeou a chamar-se (que at me irritava)

    aquilo design a propsito de uma pea. Queriam dizer desenho mas diziam design. Era mais

    fino.

    VA - Houve no incio, e penso que ter durado bastantes anos, um equvoco em relao palavra. Os

    industrias e todos os que rodeavam os produtos, os consumidores, achavam o design uma esttica e

    uma possibilidade de tornar a pea mais cara.MHM - Para mim isso est errado porque o design deve torn-la mais barata, mais acessvel, mais

    funcional, para mim essa a filosofia do design.

    VA - Nos anos cinquenta e sessenta o que que os industriais pensavam sobre isto? De algum que

    chega fbrica e lhe prope alteraes.

    MHM - Achavam que era um disparate. Eu lembro-me de estar a conversar com alguns empresrios

    e os tipos discretamente olhavam para o relgio de pulso, como quem diz, esta chata nunca mais se

    vai embora, isto no me interessa nada No, no entendiam.

    VA - Qual era o perfil dos empresrios?

    MHM - Havia dois tipos. Havia aqueles que continuavam o trabalho do paizinho e do avozinho e

    continuavam a fazer exactamente a mesma coisa. Havia o outro tipo que tinha pensado que era inte-ressanteinvestirnumadeterminadaindstriaeabriaasuafbricacomotantosoutrosecontinuavaa viver custa de cpias. Vivia-se de cpias na indstria portuguesa. e nesta perspectiva havia que

    chamar a ateno se ns j estvamos num mercado comum como que amos competir com o resto

    da Europa? Com pases como a Inglaterra que tinha comeado a desenvolver, em relao ao design,

    muito rapidamente aps a 2 Guerra Mundial porque tinha a concorrncia da qualidade alem, o que

    era alemo era de muita qualidade e as pessoas preferiam e, eles pensaram que havia outra maneira

    de fugir a essa concorrncia e que era dar aspectos bonitos e preocuparem-se com a funcionalidade

    dos objectos. No meu entender deram um arranque muito grande ao design embora na Escandin-via aqueles pases todos j vivessem rodeados de design por todos os lados, peas belssimas muito

    acessveis, muito funcionais, tudo aquilo muito bem estudado, mas estavam muito l para cima, para

    o Norte. e foi a Inglaterra, no meu entender, que deu um impulso grande ao design na Europa da

    Escandinviaparabaixo.VA - Num dos seus textos de 1964, aquele que se chama Problemas no Artesanato fala da possibi-

  • ANEXOS0

    lidade de se conciliar o artesanato com o design. Ou seja, os aspectos culturais e locais podem ser

    conciliveis com a modernidade. Em que aspecto isso foi respeitado ou implementado? Alis como

    acontecia com o design escandinavo.MHM - No foi. Eu escrevia essas coisas mas elas resultavam em coisa nenhuma a no ser que eu

    estava ali assim, pagavam-me para eu fazer qualquer coisa e ia fazendo aquilo que podia. Depois pas-smos a tirar, quando as coisas eram publicadas, separatas e a enviar milhares porque no INII havia

    os ficheiros todos das indstrias, pelo menos da maior parte.

    VA - A partir da sada destes seus textos (o primeiro sai em Agosto de 1964) nota-se uma acelerao

    do trabalho do INII. Uma incrementao da sua actividade.MHM - Sim. Em consequncia das exposies de design, da 1 que foi em 71 e da 2 que foi em

    73

    VA - Estou a falar de 1964 e da 1 Quinzena de Esttica Industrial, em 1965.

    MHM - Em 1965? Eu j no sei datas

    VA - e com ela os cursos do Srgio Asti, em 1966, e do Xaviar Auer, em 1967. Eu fao coincidir isso

    com os preparativos para a sada do III Plano de Fomento Nacional. No sei se o poderemos afirmar

    ou no?

    MHM - Recordo-me que durante as conferncias que organizmos para a Quinzena o director do Ins-tituto pedia por favor aos tcnicos de todos os outros ncleos que fossem assistir seno no tnhamos

    ningum. e no entanto eram enviados convites. No era uma coisa que as pessoas desconhecessem. e

    recordo-me, tambm, que mais tarde tivemos um stand numa feira em Viseu, na Feira de S. Mateus,

    onde fizemos conferncias sobre isto, aquilo e aqueloutro e eram as meninas de uma escola de freiras

    de l que enchiam a plateia. Industriais se passou algum no dei por isso.

    VA - Tem alguma explicao para esse fenmeno?

    MHM - Eles no entendiam. Pois se tinham vivido at ali sem problemas porque nessa altura no

    havia problemas de concorrncia chinesa nem de coisa nenhuma. Eles iam desenvolvendo os seus

    negcios e iam ganhando o seu dinheiro. Tostes. Porque haviam de se meter em sarilhos que nem

    sequer percebiam o que era. No percebiam, no se interessavam. Eu andei pelo Norte a visitar in-dstria e ia conversar com eles, e tudo isso, no era necessrio alterar nada que estavam habituados

    a fazer. No sentiam essa necessidade. Enquanto que agora o industrial sabe que tem que competir

    e para competir precisa de ter qualidade e de ter inovao, nessa altura o industrial no sentia essa

    necessidade.VA - Disse-me que a sua entrada para o INII se faz pela FEIS

    MHM - No. O contrrio. Eu entrei para o INII e a partir de l fui parar FEIS.

    VA - Isso ainda nos anos cinquenta, no final.

    MHM - Pois Eu acabei o curso na Ebal em 1948, se no me engano, e passados um ano ou dois,

    ainda estive no ensino uns anos mas detestei. Detestava estar naquele famoso ciclo preparatrio e

    comeou a falar-se do Instituto e consegui uma apresentao ao director e fui l dizer-lhe olhe sou

    escultora, estou aqui e ele tinha em criao o Ncleo de Arte e Arquitectura Industrial

    VA - Era um ncleo que dependia do departamento de Produtividade?

  • ANEXOS 1

    MHM-No.EraindependentecomotodososncleosdoINII.Cadaumtinhaassuasactividadesno seu sector. e esse ncleo foi originado pelo arquitecto Rui Guerra que era filho do embaixador de

    Portugal na Sua e era amigo do director do INII e lhe sugeriu a criao do NAAI, j que tinha tantos

    que criasse mais um. e foi para esse ncleo que eu entrei.

    VA - engraado pois o atelier de Frederico George (por onde passaram alguns designers conhe-cidos) designava-se atelier de arte e arquitectura. Era um nome que englobava todas as reas

    ligadas ao projecto. No se falava em design.

    MHM - De maneira nenhuma. Falava-se de Esttica Industrial. De resto em Frana tambm se come-ou por falar em esttica Industrial.

    VA - Isso no suscitou nenhuma dvida?

    MHM - Suscitou muitas. Agora no suscita dvidas mas mal entendido. Continua a verificar-se que

    o design entendido como a forma exterior.

    VA - Esse mal entendido no de alguma maneira responsvel por uma menor adeso disciplina

    e sua prtica?

    MHM - Acho que sim porque se no os designers concerteza que estariam todos empregados e muito

    bem nos vrios sectores industriais. Ou teriam o seu atelier cheio de encomendas. Eu penso que o

    designer deve estar a funcionar junto da fbrica com os tcnicos. Com os tcnicos de marketing, essa

    coisa toda. Tem que ter muito trabalho em conjunto. evidente que pode ter o seu atelier e colaborar

    mesma com os tais tcnicos da fbrica.

    VA - Isso independentemente da dimenso da fbrica. No caso portugus proliferam empresas de

    pequena dimenso. Algumas no tm estrutura para empregar um designer.

    MHM - Isso no mas podem fazer as tais encomendas aos tais ateliers de design. Sobretudo num

    produto ou outro que queiram lanar. Mas claro que no tm estrutura para manter um designer.

    VA - Quando a M. H. Matos estava em contacto com os industriais atravs das iniciativas promovi-das pelo INII o que lhes dizia?

    MHM - Punha-lhes o problema sobretudo da competitividade e da possibilidade do produto sair mais

    baratoepodervendermais.Mascomolhedigoissonoeraouvido.VA - e a classe poltica como olhava para esse trabalho?

    MHM - No olhava. Eu estava l no INII, o director sabia o que se passava e pronto. e mesmo assim

    dificultava-me muito a vida porque os oramentos foram sempre muito curtos. Diziam-me que havia

    problemas de oramento e este ano no se pode admitir ningum, no se pode fazer isto, aquilo

    e aqueloutro. Sempre foi assim. Foi com Torres Campos que consegui fazer a 1 Exposio e a 2 e

    estava a preparar-se para fazer a 3 em 75 quando houve a Revoluo e tudo aquilo

    VA - Mas conseguiu trabalhar com outros directores como o Magalhes Ramalho.

    MHM - O Magalhes Ramalho era o que mandava. O senhor absoluto. S se fazia aquilo que ele

    achava sim senhora. O que no achava no se fazia. Era assim.

    VA - e a opinio dele era divergente da sua em relao a estas matrias?

    MHM - Em relao FEIS ele achava sim senhora que devia ser. Eu fui Fbrica (ainda no estava

    no INII como funcionria) com conhecimento do INII fazer uma verso de peas e depois vim fazer

  • ANEXOS2

    uma exposio em Lisboa ali no Palcio Foz. e o director do INII levou l o Ministro da Indstria

    nessaaltura.VA - Que era quem?

    MHM - Era um economista muito famoso a quem chamavam o mestre. e cujo nome no recordo. e

    foi a partir da que entrei definitivamente para o INII. Porque para isso eles deram-me uma bolsa de

    estudo para ir para a Marinha Grande fazer as tais peas e depois entrei no INII.

    VA - Em conversa com o Dr. Rogrio Martins (secretrio de estado da Indstria entre 69 e 71) ele

    afirmou que o INII era uma estrutura auto-suficiente, que apesar de terem pouco dinheiro faziam o

    que queriam com o dinheiro que tinham. Na altura era o responsvel mximo e no interferia em

    nada.MHM - e antes dele o INII era assim. Tinha muita independncia.

    VA - Disse-me tambm que estava muito ocupado com o condicionamento industrial. Gostaria de

    saber o que achava sobre esse assunto. Disse-me pouco que os empresrios estavam num certo

    atavismo motivado, talvez, pelo proteccionismo industrial por parte do regime.MHM - Muito. Eu penso que era um problema de mentalidades porque eles iam s feiras internacio-nais (como eu fui a algumas) mas iam comprar peas para trazer para c e copiar. Em alguns casos

    depois faziam umas pequenas modificaes para no terem problemas, mas era assim. A mentalidade

    noestavaevoluda,tinhasidosempreassimeassimcontinuava.VA - J me falou dos objectivos gerais do Ncleo de Design que no fundo eram promover

    MHM - Promover a ideia do design. No sei se teve conhecimento de que ns tambm fomentmos

    um pouco o Ncleo de Design de Guimares. Que era dirigido por Amrico Santos, irmo do pintor

    Antnio Santos, e que se interessava por design, especialmente design grfico. Tinha um pequeno

    atelier que estava entupido e que durante uns meses ns subsidimos de alguma maneira esse atelier.

    O que nos interessava fundamentalmente era o design para a indstria txtil, como era lgico visto

    estar localizada nessa regio.

    VA - Est a dizer-me tinha a sua actividade focalizada em alguns aspectos industriais.

    MHM-No.VA - No vidro, no txtil,

    MHM - O vidro era um caso especial porque a fbrica dependia do INII. A fbrica tinha um director

    que s actuava de acordo com o director do INII. Portanto a Fbrica Stephen era um caso especial.

    Quando havia um caso como este ncleo de Guimares fazamos os possveis para ajudar, para

    que a coisa se desenvolvesse e se promovesse. Eu, por exemplo, fui visitar uma poro de fbricas

    de cutelaria, que era uma coisa desastrosa. Cheguei c e fiz um relatrio da maneira como aquela

    gente trabalhava, era impressionante. No ganhei nada com isso. O relatrio foi para o Ministrio e

    devem t-lo deitado fora para o cesto dos papis! e a tambm no havia design. Eles viviam muito

    felizes da vida porque exportavam imenso para Espanha que tinha muito pouca indstria cutelaria e

    precisava de talheres e vinha comprar a Portugal, ali ao norte. Ainda havia uma crena de que todas

    aquelas peas tinham que passar pelo cho. As peas eram feitas e atiradas para o cho e depois eram

    apanhadas e levadas para acabamento. Porque era assim. A tradio. O cho produzia qualquer coisa

    naquele ao inox.

  • ANEXOS

    VA - Est a falar de que fbrica? Ainda existe?

    MHM - De todas. Eu visitei umas trs ou quatro.

    VA - O INII colaborava com outras instituies como o Fundo de Fomento e Exportao e a Asso-ciao Industrial Portuguesa.

    MHM - Com o FFE eles percebiam o problema e achavam realmente que era preciso que a nossa

    indstria encarasse o design a srio e decidiram fazer concursos. Fizeram um concurso de vidros, de

    sapatos, de txteis, e faziam isso com a nossa colaborao, ou seja, o regulamento era estudado com

    base no regulamento que ns tnhamos e como ns achvamos que a coisa deveria ser orientada e as

    exigncias que deveria ter.

    VA - Esses concursos eram orientados para que tipo de profissionais?

    MHM - Para designers industriais. Cada concurso era para um sector e a pessoa que concorria era

    naquele sector que focava o seu trabalho.

    VA - Qual foi a adeso e a qualidade das propostas apresentadas?

    MHM - Havia coisas curiosas. Lembro-me do vidro em que havia coisas interessantes e outras que

    comercialmentenodeviamresultar.VA - H registo do Joo Constantino na revista Binrio em que nem tudo ter corrido bem nesses

    concursos. Alguns deles tinham um nvel muito fraco.

    MHM - Mas na verdade eram tentativas que se faziam. Porque, repare, nessa altura no havia pro-fissionais e quem se apresentava Recordo-me que numa ocasio no INII publicmos um anncio

    para pessoas que desenhassem vidros para a Fbrica. e a maior parte das coisas no eram realizveis

    porque no se pode desenhar para uma indstria sem se conhecer a tecnologia.

    VA - Tambm colaboraram com a AIP

    MHM - A Associao Industrial Portuguesa publicava coisas e depois ns tirvamos as separatas.

    Elesconsentiam.VA - Mas era uma colaborao pequena.

    MHM - Era acidental. O meu ncleo era muito pequeno e s tantas aquilo era mais carolice minha

    que outra coisa. Pouca repercusso tinha.

    VA - Isso suscita-me outra questo. Mais tarde na relao com a FEIS os laboratrios do INII tm

    uma actividade muito mais desenvolvida. Inclusivamente chegam a testar as cores dos vidros. Foi uma actividade que nunca desenvolveram com outras reas industriais?

    MHM - No porque aquela fbrica dependia do INII. Nas outras fbricas dos outros sectores no ti-nham maneira de penetrar s se fossem solicitados: Havia nos laboratrios, no Poo do Bispo, anlise

    dos produtos quando as empresas o solicitavam. Lembro-me de um trabalho sobre queijos, anlises

    de gua, Era preciso que as empresas fossem solicitar ao laboratrio esse trabalho. O INII no

    podia penetrar numa indstria que o senhor estava l, que era dono daquilo e era ele que mandava.

    Fazia-se o que ele queria.

    VA - e na sua perspectiva a FEIS acaba por corresponder, j numa fase tardia, quilo que poderiam

    ser as boas prticas do relacionamento institucional com a industria.

    MHM - Exactamente. Na fbrica passei a desenhar peas de grande srie (fazia peas nicas para

  • ANEXOS4

    exposies e fazia peas de grande srie) de acordo com o que os vendedores sentiam que o mercado

    estava apto a comprar. Ou era apetecvel para o mercado. Mas foi curioso porque a prpria fbrica

    quando foi o 25 de Abril entre os tcnicos que dispensou dispensou-me a mim. Quando os operrios

    subiram ao poder designers para qu se ns temos aqui os nossos desenhadores que faziam as coisas

    desempre.Copiavamascoisasdesempre.VA - O seu estatuto na fbrica era de colaboradora. Mantinha o seu vnculo ao INII.

    MHM - Sim. L era colaboradora e eles pagavam-me cada modelo individualmente.

    VA - O que ter corrido mal na fbrica? A certa altura a fbrica entrou num declnio acelerado.

    MHM - A fbrica nunca chegou a ser independente monetariamente. Vivia sempre de um subsdio

    que o Ministrio da Economia lhe dava. Tinha que sobreviver com isso e outra das razes, que j

    lhe falei bocado, eles traziam peas que eram feitas mquina no Norte da Europa e que c eram

    feitasmo.Depoisdavaumrefugoenorme,bementendido.Elesnoentendiamanecessidadedeexistir.VA - Cheguei a visitar a fbrica enquanto estudante e aquilo era um modelo da 1 industrializao.

    MHM - Pois era. Era tudo manual. Penso que havia um erro base naquela fbrica. A fbrica tinha

    realmentevocaoparaaproduomanual.Tinhaoperriosextremamenteartistas,comimensaha-bilidade, e o raison da fbrica para produzir era do tipo de peas de srie. A fbrica deveria ter sido

    aproveitada para peas de pequena srie, muito elaboradas, peas ricas e de qualidade que tm sem-pre mercado. Porque vemos as grande fbricas francesas de vidro e as peas caras vendem-se. Tm

    qualidade, vendem-se. H mercado para isso. e era essa a vocao da FEIS e nunca foi explorada

    comercialmente. Depois h aqueles lobis dos industriais americanos que vinham c s para peas de

    grandes sries.

    VA - No INII chegaram a apresentar algum estudo de viabilidade para a fbrica?

    MHM - Isso j no sei. No tive conhecimento. S comeou a haver uma actividade de tentativa de

    colaboraodosvriosncleosdoINIIapso5deAbril.Masnoresultou.VA - Entretanto podemos falar da 1 Quinzena de Esttica Industrial que , na minha perspectiva, o

    acontecimento que marca o arranque da institucionalizao do design em Portugal. Sobretudo pela

    quantidade e qualidade de conferencista que vieram c.

    MHM - Mas como lhe digo eram os tcnicos do INII que iam assistir seno a sala ficava vazia.

    VA - Esse pormenor era sintomtico Enquanto desenhadora da Quinzena quais eram os propsitos

    da iniciativa?

    MHM - Era necessrio chamar a ateno para o problema atravs dos exemplos das peas estrangei-ras que tnhamos l. Tnhamos peas italianas, inglesas,

    VA - Quinzena est associada a uma exposio de objectos internacionais.

    MHM - Sim senhora. Havia uma exposio na parte de cima nos sales do Palcio Foz.

    VA - Como reagiram os industriais e os designers?

    MHM - Foram alguns designers que eu conhecia. Nessa altura os designers ou eram pintores, ou ar-quitectos que se interessavam ou mais pela arte grfica ou mais pelo mobilirio. No havia designers

    profissionais. Eram curiosos no captulo do design.

  • ANEXOS

    VA - A exposio j vinha montada?

    MHM-Nsconvidmosalgunspasesaapresentarempeasdedesign.VA - Quem organizou a exposio?

    MHM - Fomos ns no INII. Foi um arquitecto que trabalhava para o INII que fez o programa, o

    circuito. Tnhamos peas finlandesas, italianas, inglesas e tnhamos, tambm, portuguesas, entre as

    quais uma grande grua da Mague que at era curiosa porque se ligava a electricidade e aquilo movia-

    se. Foi uma grua feita especialmente.

    VA - Como decorreram as conferncia da Quinzena? Imagino que algumas das ideias ali apresenta-das eram bastante arrojadas. Para vocs tero servido quase de manifesto.

    MHM-Claro.Eles(osconferencistas)vinhamdepasesondejseencaravaodesign.eportantofalavam assim livremente. Com conscincia do que estavam a dizer. Mas aqui os ouvidos estavam

    aindamuitotapados.VA - Depois acabam por fazer convites a alguns dos conferencista para virem c dar uns cursos de

    design (Srgio Asti e Xavier Auer).

    MHM - O Srgio Asti lembro-me mas havia outro

    VA - O Xavier Auer.

    MHM - Sim o suo com o problema da cor.

    VA - Porqu o Srgio Asti?

    MHM - Nessa altura assinvamos muitas revistas de design entre as quais uma italiana que tinha

    muitas coisas do Srgio Asti. Nessa altura estava muito na berra mesmo como designer. fazia muita

    coisa.VA - Como correram os cursos?

    MHM - Duma maneira geral correram bem. Tinham frequncia.

    VA - Que tipo de frequncia?

    MHM-Normalmentepessoascomocursodebelas-artes.Ouentopessoas(nessaalturajhaviauma meia dzia) como o Brando que tinham vindo de Inglaterra. No sei se estou a fazer confu-so

    VA - Est a fazer confuso porque o Jos Brando chega mais tarde

    MHM - Ento isso. J se passou muito tempo e eu sou muito velha. A memria j no o que

    era.VA - O curso do Srgio Asti de 66 e coincide, mais ou menos, como o arranque do curso na Socie-dade de Belas-Artes. O Curso de Formao Artstica por onde passaram algumas pessoas conhe-cidas como o Vtor Manaas. Que possivelmente tambm frequentariam os c