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U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES
I�STITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”
ÉTICA TRIBUTÁRIA
Prof.ª Ana Claudia Morrissy
Rio de Janeiro 2010
U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”
I�STITUTO A VEZ DO MESTRE
ÉTICA TRIBUTÁRIA
OBJETIVOS: Esta monografia atende demonstrar o
grande impacto que os tributos causam na economia mundial, principalmente brasileira, proveniente de um histórico poluído com leis e normas más constituídas.
“Ética é justiça, portanto ética tributária é justiça tributária, e ser justo é ser proporcional, e ser injusto é violar a proporcionalidade, o meio-termo entre os dois, é o igual.”
ARISTÓTELES (LIVRO V)
SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 05 Capítulo I. SISTEMA TRIBUTÁRIO: CONCEITO GERAL .......................................... 08 1.1. Tributação no Período de 1500 a 1890 ........................................................ 08 1.2. Tributação no Período de 1891 a 1933 ........................................................ 12 1.3. Tributação em 1934 ..................................................................................... 13 1.4. Tributação em 1937 ..................................................................................... 13 1.5. Tributação em 1946 ..................................................................................... 14 1.6. Tributação em 1967 ..................................................................................... 14 1.7. Tributação em 1969 ..................................................................................... 15 1.8. Tributação em 1988 ..................................................................................... 16 1.9. Histórico do Sistema Tributário e a Tributação nos Anos 90 ......................17 Capítulo II. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS ............................ 20 2.1. Princípio da Legalidade .............................................................................. 21 2.2. Princípio da Anterioridade .......................................................................... 21 2.3. Princípio da Capacidade Contributiva ........................................................ 23 2.4. Princípio da Irretroatividade ....................................................................... 24 2.5. Princípio da Isonomia ................................................................................. 25 2.6. Princípio da Progressividade ...................................................................... 26 Capítulo III. A CULTURA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI .......................................................................................................................... 28 3.1. Um Breve Comentário Sobre: Elisão e Evasão Fiscal .............................. 28 3.2. Realidade Tributária no Brasil .................................................................. 31 3.3. Justiça Tributária ...................................................................................... 34 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 38 BIBLIOGRAFIA ............................................................................ ................................ 41
I�TRODUÇÃO
Ao estudarmos a história da evolução humana, sob os mais diversos aspectos,
percebemos quanto mais fácil se torna o entendimento dos fatos presentes, e como os fatores que
levam às mudanças comportamentais da sociedade se repetem ao longo dos anos. Na área
tributária não seria diferente, pois o que nós vemos é um sistema que remonta aos mais
primórdios dos tempos, o qual nos mostra que a retirada de recursos das pessoas, por parte dos
governantes, existe desde as primeiras civilizações que se organizaram em sociedade, onde tais
recursos eram obtidos inicialmente por ataques a outros povos saqueando-os e escravizando-os.
Com o avanço da sociedade a cobrança passou a ser através da tributação,
porém sem nenhum critério para sua instituição, criando dessa forma um sistema, longe de ser
tributário, que era instituído à medida da necessidade dos governantes, seja de interesse público
ou particular, como era o caso da instituição de imposto para fazer face às despesas com
membros da família real na época do Brasil Colônia.
A partir da constituição de 1891, o Brasil começou a esboçar o seu sistema
tributário separando a competência tributária entre a União e os Estados, deixando de fora os
Municípios, discriminando assim as bases de tributação, bem como, atribuindo algumas garantias
dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, dentre outros, os
princípios da estrita legalidade tributária e o da uniformidade do imposto federal.
O presente trabalho tem o objetivo de analisar a evolução do sistema tributário
nacional ao longo dos anos, destacando as reformas que ocorreram a cada constituição e que
provocaram diversas mudanças na forma de tributação. Sendo necessário conhecer os princípios
constitucionais tributários, e os conceitos de elisão e evasão fiscal que regem este sistema,
identificando a importância de cada um no momento de efetuar a tributação. E apresentar de
forma reflexiva a cultura tributária nacional nos dias de hoje após tantas alterações. O trabalho
será dividido em três capítulos.
No primeiro capítulo abordaremos o conceito e histórico do sistema tributário,
destacando a forma utilizada de tributação por período. De 1500, ano do descobrimento do Brasil,
até o ano de 1890, em que o sistema de instituição e cobrança de tributação não respeitava
nenhum critério; De 1891, quando é promulgada a primeira constituição até 1933. Nesse período
se inicia a divisão de competência tributária; De 1934 a 1946, quando ocorre a promulgação de
duas constituições, ocasionando em retirar dos legisladores a competência de criar impostos; E
por fim um apanhado geral da tributação do ano de 1967 até os anos 90.
No segundo capítulo analisaremos as definições de alguns princípios
constitucionais tributários, dentre os quais: princípio da legalidade; princípio da anterioridade;
princípio da capacidade contributiva; princípio da irretroatividade; princípio da isonomia;
princípio da progressividade. Evidencia a importância do seu papel na constituição tributária
quando protege os contribuintes dos abusos do poder tributante, sabendo que os limites ao poder
de tributar não se resumem aos princípios em referência, mas há em vários pontos da constituição
normas que têm como efeito a limitação em relação à tributação.
No terceiro capítulo a abordagem inicia com um breve comentário sobre os
conceitos de elisão e evasão fiscal, evidencia a forma como o contribuinte se utiliza destes
conceitos para diminuir o impacto tributário, seja pelo meio legal (permitida pela legislação) ou
ilegalmente (omitindo o verdadeiro ato ocorrido).
Analisaremos também o sistema tributário atual, em que a carga tributária
atinge cerca de 35% do PIB, ocasionando um crescimento econômico lento e uma crise fiscal no
país. O que se observa atualmente é uma tributação ante ao desenvolvimento, pois com isso
facilita ou mesmo estimula a evasão, gerando iniquidade e competição desigual. Portanto, em
nossa situação atual, a ciência do direito tributário se acha vinculada às exigências éticas da
construção de uma sociedade justa do ponto de vista da tributação, pois praticar a ética tributária
neste contexto é e será um decisivo princípio mediador, entre a necessidade de recursos por parte
do fisco e a liberdade de cada cidadão em seu auto-organizar.
CAPÍTULO I
SISTEMA TRIBUTÁRIO: CO�CEITO GERAL
1.1 – Tributação no Período de 1500 a 1890
Sem dúvida alguma não se pode falar na existência de um sistema tributário
organizado no Brasil no período de 1500 a 1933. O que existia era um emaranhado de taxação, de
forma não uniforme, em virtude de não vigorar nas colônias a legislação tributária da metrópole e
nas próprias colônias não eram cobrados os mesmos impostos. Em função do grande número de
tributos cobrados, difícil se faz dividir os impostos sobre produção e consumo, de comércio
exterior, de renda e patrimônio, importação ou exportação.
Outro grande problema do “sistema tributário” era a inexistência absoluta da
separação da competência fiscal trazendo como conseqüência inevitável a cobrança pelos
diversos entes tributantes, do mesmo imposto ou de impostos semelhantes acarretando uma
cumulatividade sem precedentes.
Logo após o descobrimento, o pau-brasil foi considerado monopólio real, sendo
assim, o primeiro produto a ser tributado. Para a sua extração havia a necessidade de pagamento
do chamado quinto do pau-brasil, que correspondia a quinta parte do produto da venda da
madeira.
Posteriormente, entre 1532 e 1762, foram criados diversos impostos sem
nenhum critério econômico, tais como:
a) Rendas do Real Erário (Portugal): monopólio do comércio do pau-brasil;
especiarias e drogas; direitos régios cobrados nas alfândegas reais sobre importação e exportação
de mercadorias; o quinto (20%) dos metais e pedras preciosas; dízimo (10%) do pescado e das
colheitas de todos os produtos da terra, colhido ou fabricado;
b) Rendas do Donatário (Capitão-Mor e Governador): monopólio das
explorações de moendas d’água e de quaisquer outros engenhos; direitos de passagem dos rios
(barcagem); quinto (20%) do pau-brasil, especiarias e drogas; dízimo do quinto (2%) dos metais e
pedras preciosas que se encontrassem na Capitania; redízima (10% da dízima) de todas as rendas
da Coroa.
Neste período havia, ainda, os tributos extraordinários que eram exigidos para
fazer face, por exemplo, às despesas de pagamento de indenizações de guerra, com a manutenção
de tropas e fortalezas e com casamento de membros da família real. Cessados os motivos de sua
criação, tal como vemos hoje em dia, na maioria dos casos os impostos se transformavam de
extraordinários em definitivos.
A juntar aos diversos tributos existentes, no período de 1763 a 1808, foram criados:
a) o subsídio literário, para custeio dos mestres-escolas, percebidos sobre cada
rês abatida, aguardente destilada ou carne verde (Alvará de 23 de novembro 1772);
b) mestrado das ordens militares (Alvará de 2 de junho de 1774);
c) direitos de 10%, 20%, 24% ou 40% da pólvora estrangeira (Alvará de 13 de
julho de 1778);
d) subsídios do açúcar e algodão (Alvará de 18 de setembro de 1779);
e) subsídios do tabaco em pó (Alvará de 18 de setembro e 1779);
f) imposto sobre o ouro; botequins e tabernas; e sobre aguardente (Alvará de 18
de março de 1801).
Em 1808 o Brasil passa a ser sede da monarquia portuguesa com a chegada da
Família Real e com ela o aumento das despesas para os cofres públicos, que deveriam ser
cobertos com a única fonte de recurso que eram os tributos. Em 28 de janeiro de 1808, é editado a
Carta Régia, abrindo os portos brasileiros aos navios estrangeiros das nações aliadas à Coroa,
permitindo assim o ingresso de produtos estrangeiros cuja importação, até então, era proibida,
majorando alguns tributos existentes e criando outros dos quais se destacam:
a) direitos de importação, exigidos em virtude da entrada de produtos
importados no país (Carta Régia de 28 de janeiro de 1808);
b) direito de guindaste (Alvará de 25 de abril de 1808);
c) décima dos períodos urbanos, cobrada sobre o rendimento líquido (10%) dos
imóveis localizados no litoral e lugares mais populosos do interior (Alvará de 27 de junho de
1808);
d) pensão para a Capela Imperial (Alvará de 20 de agosto de 1808);
e) imposto de 10% sobre compra, venda e arrematação de imóvel urbano, o
chamado imposto de sisa dos bens de raiz (Alvará de 3 de junho de 1809);
f) meia sisa dos escravos, onerando toda venda de escravo que fosse “negro
ladino” (Alvará de 3 de junho de 1809);
g) imposto de selo sobre papel (Alvará de 17 de junho de 1809);
h) direito de entrada de escravos novos (Alvará de 22 de junho de 1810);
i) imposto de banco, onerando as carruagens, lojas, armazéns ou sobrados e
navios (Alvará de 20 de outubro de 1812);
j) subsídio real, correspondente aos direitos sobre a carne e as lãs grosseiras
manufaturadas no país.
Apesar da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, tal fato político
não produziu uma ruptura no sistema tributário brasileiro, pois permaneciam em pleno vigor no
país as leis portuguesas da Corte de Lisboa e do Príncipe Regente.
No período que compreende de 1823 a 1891, quase nenhuma alteração ocorreu
no sistema tributário, continuando a exigência dos tributos anteriormente cobrados com
acréscimo de mais outros tantos. O sistema continuou com um grande número de tributos como
percebemos através do relatório do Ministro da Fazenda, Bernardo Pereira de Vasconcellos,
apresentado à Assembléia Geral Legislativa, em 1832, onde constam 155 fontes de receitas, com
as seguintes considerações:
...Em geral o nosso sistema de impostos é consideravelmente vicioso, constando de uma multidão de minuciosas taxas trazidas de Portugal nos malfadados tempos coloniais, ou lançadas aqui sem conhecimentos dos princípios da ciência, quando aparecia ou se fingia aparecer necessidade de aumento de renda. A penúria atual do Tesouro deve-se muito mais atribuir às dificuldades que sofre a sua cobrança, do que à falta de meios dos contribuintes. Para que não acuseis de apaixonadamente partidárias as apreciações dos primeiros ministros da Fazenda da Regência,
submeterei ao vosso exame um quadro completo todas as receitas públicas do Império, ao terminar 1º Reinado. 1
Nesse período é difícil estabelecer uma diretriz econômica para a cobrança dos
tributos. Como a principal fonte de arrecadação do País era oriunda da cobrança sobre a
importação de produtos do exterior, claramente se vê o critério político em detrimento do
econômico na fixação da alíquota quando os produtos oriundos de Portugal eram taxados a uma
alíquota de 16%, os oriundos da Inglaterra sofriam uma incidência de 15%, enquanto de outras
origens a alíquota era de 24%.
1.2 – Tributação no Período de 1891 a 1933
A República brasileira herdou do Império boa parte da estrutura tributária que
esteve em vigor até a década de 30. Sendo a economia eminentemente agrícola e extremamente
aberta, a principal fonte de receitas públicas durante o Império era o comércio exterior,
particularmente o imposto de importação que, em alguns exercícios, chegou a corresponder a
cerca de 2/3 da receita pública. Às vésperas da proclamação da República este imposto era
responsável por aproximadamente metade da receita total do governo. Com o surgimento da
República, em 1889, ocorreu pouco depois a promulgação da Constituição da República dos
Estados Unidos do Brasil, em 24 de fevereiro de 1891, adotando o regime federativo. Na carta,
vislumbrou-se a necessidade de dotar os estados e municípios de receita que lhes permitissem a
autonomia financeira, com definição dos impostos de competência exclusiva da União e dos
Estados, cabendo a estes a fixação dos impostos municipais, dando início a um sistema tributário
mais organizado.
1.3 – Tributação em 1934
1 OLYMPIO, Augusto; CASTRO, Viveiros em História Tributária do Brasil: Ministério da Fazenda, Escola de Administração Fazendária;
A partir de 16 de julho de 1934, com a promulgação da segunda Constituição
da República e com diversas leis da época, foram promovidas importantes alterações na estrutura
tributária nacional. As principais mudanças ocorreram nas esferas estadual e municipal. Os
estados passaram a ter competência privativa para decretar o imposto sobre vendas e
consignações, ao mesmo tempo que impedia a cobrança do imposto sobre exportação nas
transações interestaduais. Os municípios foram dotados de competência, até então inexistente,
para decretar alguns tributos.
Outra grande novidade, advinda com o novo sistema, foi a sua natureza rígida
impedindo o legislador ordinário de dispor sobre matéria tributária, inclusive e especialmente
sobre a criação de tributos.
1.4 – Tributação em 1937
A Constituição de 10 de novembro de 1937 pouco modificou o sistema
tributário estabelecido pela Constituição anterior. Em relação a esta, os estados perderam a
competência privativa para tributar o consumo de combustíveis de motor de explosão e aos
municípios foi retirada a competência para tributar a renda das propriedades rurais. Por outro
lado, o campo residual passou a pertencer somente aos estados, sem qualquer repartição da
arrecadação. Em 1940, a Lei Constitucional nº. 3 vedou aos estados o lançamento de tributos
sobre o carvão mineral nacional e sobre combustíveis e lubrificantes líquidos e a nº. 4 incluiu na
competência privativa da União o imposto único sobre a produção, o comércio, a distribuição, o
consumo, a importação e a exportação de carvão mineral e dos combustíveis e lubrificantes
líquidos de qualquer origem.
1.5 – Tributação em 1946
A Constituição de 18 de setembro de 1946 trouxe poucas modificações no que
concerne ao elenco de tributos utilizados no país. Ela mostra, entretanto, a intenção de aumentar a
dotação de recursos dos municípios. Dois novos impostos são adicionados à sua área de
competência: o imposto sobre atos de sua economia ou assuntos de sua competência (imposto do
selo municipal) e o imposto de indústrias e profissões, o último pertencente anteriormente aos
estados mas já arrecadado em parte pelos municípios. Embora não tenha promovido uma reforma
da estrutura tributária, esta Constituição modificou profundamente a discriminação de rendas
entre as esferas do governo, institucionalizando um sistema de transferências de impostos.
1.6 – Tributação em 1967
Em 24 de Janeiro de 1967, foi promulgada nova Constituição sem, porém,
trazer grandes novidades sobre o sistema tributário.
A grande novidade foi a competência da União em conceder, mediante lei
complementar, isenção do ICM, que até então eram concedidos mediante acordo entre os
Estados. Tal dispositivo reflete a centralização do poder pelo governo central em virtude do
regime autoritário sob o qual foi concebida a Constituição de 1967.
Assim, em 30 de Janeiro de 1967, foi editado o Ato Complementar nº 34, tendo
sido ouvidos os secretários de fazenda dos Estados e Municípios das capitais em reunião
realizada no Ministério da Fazenda, nos dias 23 e 25 de Janeiro de 1967, estabelecendo:
a) que os Estados e Territórios situados numa região geo-econômica, dentro de
30 dias da publicação do Ato 34, deveriam celebrar convênios estabelecendo uma política
comum em matéria de benefícios fiscais relativamente ao imposto sobre circulação de
mercadorias;
b) a revogação, a partir de 1º de março de 1967, para todos os efeitos legais, de
quaisquer disposições de leis, decretos e outros atos que tenham outorgado isenções, reduções e
outros favores fiscais, relativamente ao imposto sobre vendas, consignações e sobre circulação de
mercadorias, não previstos nos convênios e protocolos firmados na forma estabelecida pelo
citado Ato.
c) em cumprimento às normas do Ato Complementar nº 34, os Estados
integrantes da região geo-econômica Centro-Sul, formada por Distrito Federal, Espírito Santo,
Goiás, Guanabara, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, reunidos em 27 de fevereiro de 1967, na cidade do Rio de Janeiro, celebram
o I Convênio do Rio de Janeiro, estabelecendo diversas situações de benefícios fiscais.
1.7 – Tributação em 1969
A nova Constituição manteve a competência privativa dos Estados, para a
instituição e cobrança do ICM, porém não lhes atribuiu a competência privativa de exonerá-lo,
visto que foi mantida a competência da União em conceder isenções de impostos estaduais e
municipais, nos termos do § 2º do art. 19. A grande inovação introduzida, relativamente à
exoneração do ICM, foi a possibilidade de serem concedidas isenções do ICM nos termos fixados
em convênios celebrados e ratificados pelos estados.
Com a Constituição de 1969, o disciplinamento implementado pelo Decreto-lei
nº 406/68, e levando em conta a experiência dos estados com o novo tributo, o ICM firmou-se, no
sistema tributário nacional, como um imposto que recai sobre o fato econômico da circulação de
mercadorias.
Razão importante na criação do ICM foi a sua característica de neutralidade. A
implementação de um imposto com essa característica, de competência dos Estados, num país de
regime federativo traz, contudo, distorções criando a possibilidade destes concederem,
unilateralmente, benefícios de natureza exonerativa do imposto, anulando o efeito da
neutralidade, especialmente na localização da atividade econômica.
Convém lembrar que a comissão da reforma tributária de 1965 já afirmava que
as vendas e consignações estava se constituindo numa verdadeira “arma de guerra” entre os
Estados. A história começava a se repetir com o ICM, apesar da proibição do Ato Complementar
nº. 34 de os Estados concederem isenções, reduções ou favores fiscais isoladamente, estes
continuavam a concedê-los, cada vez com mais frequência.
Os inúmeros benefícios fiscais, concedidos unilateralmente, com o passar do
tempo acarretaram problemas de natureza econômica, pela localização inadequada e distorcida de
atividades econômicas e problemas financeiros com escassez de recursos por parte do ente
concedente. Diante disso, de acordo com o § 6º do art. 23 da Constituição, em 7 de janeiro de
1975 é aprovada a Lei Complementar nº. 24, dispondo sob a forma que os Estados firmariam
convênios para a concessão de isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias.
1.8 – Tributação em 1988
A partir de 1970, em função dos inúmeros benefícios concedidos, já era
evidente para o governo a corrosão no nível da receita. Para recuperar suas finanças, o governo
federal criou o Programa de Integração Social (PIS), financiado por uma contribuição mensal
sobre o faturamento das empresas. Com essa medida ressurge no sistema tributário, um dos
elementos motivadores da reforma tributária, a cumulatividade de tributos.
A década de 80 foi marcada por excessos de alterações na legislação tributária
na tentativa de impedir uma queda drástica no nível da arrecadação. A partir de 1984, observa-se
um processo de desconcentração de rendas por meio da elevação dos percentuais do Fundo de
Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios. Essa desconcentração
também foi resultado da perda do poder de arrecadar da União, fenômeno que não se reproduziu
no nível estadual. Assim, a participação da União no total da receita tributária teve uma queda de
quase 10% entre 1983 e 1988, enquanto sua participação na arrecadação dos três níveis de
governo de 5% no mesmo período.
Na Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, a Assembléia Nacional
Constituinte, a despeito da amplitude do debate que promoveu, ao fracionar a discussão do papel
do Estado por quase todas as comissões, enquanto em uma delas se desenhava, isoladamente, o
sistema tributário, criou um sistema de financiamento insuficiente para o tamanho do Estado
implicitamente definido nas diversas comissões. Este, por sua vez, não se fundamentou em uma
previsão realista da disponibilidade de recursos para o financiamento de suas ações. A situação de
desequilíbrio orçamentário que já existia, ao invés de ser eliminada, consolidou-se. O caráter
eminentemente político do processo de reforma e a deficiência de informação a respeito das
condições mais recentes das finanças públicas impediram que a recuperação da carga tributária
fosse listada entre os objetivos da reforma.
1.9 – Histórico do Sistema Tributário e a Tributação nos Anos 90
Ao longo do período que vai desde a proclamação da República até a
promulgação da constituição de 1934 a principal receita tributária brasileira advinha do imposto
sobre a importação. A partir dos anos 30, houve um maior direcionamento para os impostos
internos. A principal receita dos estados passou a ser o imposto sobre vendas e consignações; dos
municípios; os impostos sobre indústrias e profissões e o imposto predial.
Tivemos consideráveis mudanças no sistema tributário com a constituição de
1946. Através da criação de impostos e de um sistema de transferências, elevou-se a receita dos
municípios. Até 1966 observou-se uma participação crescente dos impostos internos, destacando-
se os impostos sobre consumo, vendas e consignações.
A reforma tributária da década de 1960 tinha dois grandes objetivos: a elevação
da receita para solucionar o problema do déficit fiscal e a implementação de um sistema tributário
que estimulasse o investimento. Pode-se dizer que o resultado foi extraordinário. Com a reforma,
obtivemos uma melhor alocação dos recursos, a priorização da tributação sobre o valor agregado,
uma redução do número de tributos, dentre outras vantagens. Costuma-se dizer que, naquela
época, o Brasil passou a contar com um dos sistemas tributários mais modernos do mundo.
Já no início dos anos 90, o sistema tributário brasileiro, caracterizava-se por
uma alta taxação sobre o consumo e o trabalho, com o capital suportando uma pressão fiscal
significativamente menor. Como não se observou, nos últimos anos, alterações expressivas na
estrutura tributária, é de se esperar que tal assimetria persista atualmente.
A tributação sobre o trabalho dá-se por intermédio do imposto de renda das
pessoas físicas e da contribuição para a previdência social, que incide sobre a folha de
pagamento. A tributação progressiva da renda e a incidência proporcional da contribuição para a
previdência apresentam relativa transparência quanto à pressão fiscal que exercem sobre os
salários.
Embora a lei que institua o tributo defina, entre outras coisas, o fato gerador e o
sujeito passivo da obrigação tributária, persiste o problema da identificação do real receptor da
carga tributária.
Em relação ao trabalhador assalariado, essa análise permite situá-lo quanto a
sua efetiva contribuição aos cofres públicos, posto que, freqüentemente, as receitas tributárias
percorrem vias tortuosas, dificultando não apenas sua identificação como a determinação do
fluxo real. O conhecimento por parte do contribuinte do seu real desembolso em favor do erário é
condição básica para o pleno exercício da cidadania. Trata-se, portanto, de referência adicional
para uma análise mais profunda que procure traçar horizontes alternativos ao atual modelo de
financiamento das ações do Estado. A princípio é importante considerar os seguintes fatos:
a) a arrecadação do imposto de renda relativo ao trabalho assalariado em 1997
foi superior a R$ 12 bilhões (5% da carga fiscal bruta), sendo que o mecanismo de retenção na
fonte faz com que essa receita tenha características únicas de controle, previsibilidade e baixa
evasão.
b) o trabalhador tem parcela de seu salário descontada com o objetivo de
custear as ações de seguridade social, mediante contribuição compulsória ao Fundo de
Previdência e Assistência Social (FPAS), que posteriormente era repassado aos diversos
programas do Sistema Nacional de Previdência e Assistência social (SINPAS). Dada a
vinculação ao nível de assalariamento, o ônus da arrecadação recai fortemente sobre as empresas
e os setores intensivos em mão-de-obra. Esta contribuição tem caráter regressivo porque as
alíquotas reais de contribuição do empregado, na prática, decrescem à medida que aumenta o
nível de renda, ou seja, quem ganha menos tem um maior percentual do seu salário descontado.
c) as contribuições sociais devidas pelos empregadores (FPAS e FGTS) podem
provocar significativas distorções sobre o mercado de trabalho, em prejuízo do salário real
acordado com os empregados.
d) por fim, o trabalhador assalariado, bem como os demais consumidores, são
indiretamente tributados quando aplicam suas rendas na aquisição de bens e serviços. Os
impostos incidentes na cadeia produtiva são, geralmente, agregados aos preços e repassados aos
consumidores finais.
Portanto, pretende-se determinar, dada a estrutura normativa vigente, a fração
do salário bruto que, potencialmente, é destinada ao financiamento das ações do Estado a título
de tributo (impostos e contribuições).
CAPÍTULO II
OS PRI�CÍPIOS CO�STITUCIO�AIS TRIBUTÁRIOS
A constituição tributária, com os seus princípios constitucionais tributários,
desempenha um papel de grandiosa importância para o contribuinte, pois os protege dos abusos
do poder tributante, uma vez que, quando o poder tributante ofende o conjunto principiológico
esposado pelo texto constitucional é capaz de feri-lo de modo inaceitável.
A competência tributária concedida pela constituição aos entes tributantes
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios), não é ilimitada, encontra limites no próprio texto
da Carta Magna. O constituinte, ao eleger determinados valores como mais relevantes dentro do
texto constitucional, como por exemplo, os direitos e garantias individuais, estabeleceram,
principalmente no capítulo relativo ao Sistema Tributário Nacional, uma série de princípios e
normas que visam assegurar o respeito ao cidadão - contribuinte, fazendo com que o Estado não
extrapole na sua função de exigir e arrecadar tributos.
É bom salientar que os limites ao poder de tributar não se resumem aos
princípios encontrados na seção "Das Limitações do Poder de Tributar" do Sistema Tributário
Nacional, no próprio capítulo e em outros pontos da constituição encontramos várias normas que
têm como efeito a limitação do poder do Estado no campo da tributação. Os limites impostos pela
constituição ao poder de tributar, ora aparecem como vedações absolutas, que constituem as
imunidades tributárias, ora aparecem como garantia de proteção aos direitos individuais dos
contribuintes, os chamados princípios constitucionais tributários:
2.1 – Princípio da Legalidade
O texto do referido art. 150, I da Constituição estabelece que "é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o
estabeleça". É o princípio da legalidade tributária, que limita a atuação do poder tributante em
prol da justiça e da segurança jurídica dos contribuintes. Seria temeroso permitir que a
administração pública tivesse total liberdade na criação e aumento dos tributos, sem garantia
alguma que protegesse os cidadãos contra os excessos cometidos.
O princípio da legalidade tributária nada mais é que uma reverberação do
princípio encontrado no art. 5º, II da Constituição onde lemos que "ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei", o constituinte quis deixar bem claro a
total submissão dos entes tributantes ao referido princípio, para que não restasse dúvida de
natureza alguma. A lei a que se refere o texto constitucional é lei em sentido estrito, entendida
como norma jurídica aprovada pelo legislativo e sancionada pelo executivo, ao contrário da lei
em sentido amplo que se entende como qualquer norma jurídica emanada do Estado que obriga a
coletividade, assim os tributos só podem ser criados ou aumentados através de lei strictu sensu.
Na própria Constituição encontramos algumas exceções em relação ao princípio
da legalidade, o poder executivo tem liberdade de alterar as alíquotas dos impostos sobre
exportação, importação, produtos industrializados e sobre operações financeiras através de
decreto. É importante frisar que em relação à criação de tributos não existem exceções, ou seja,
todos os tributos devem ser criados por lei (em sentido estrito).
2.2 – Princípio da Anterioridade
De acordo com o princípio da anterioridade, nenhum tributo será cobrado sem
que a lei que o instituiu ou aumentou tenha sido publicada no exercício financeiro anterior (que,
no Brasil, tem seu início e fim coincidente com o ano civil). Ele veda a tributação de surpresa não
permitindo, em teoria, que da noite para o dia o contribuinte se veja compelido a pagar tributo
que não conhecia ou em valor maior àquele que estava acostumado. Assim, em 31 de dezembro
de cada exercício, o Estado esgota o seu poder tributário em potencial para criar ou aumentar
tributos a serem cobrados a partir do primeiro dia do exercício seguinte. Este fato possibilitará ao
contribuinte planejar sua vida econômica a partir de zero hora do dia 1º de janeiro de cada
exercício, sem que se veja surpreendido por exigências tributárias imprevistas. Com a mesma
razão, uma lei não pode alterar num mesmo exercício os prazos e as formas de pagamento de um
tributo, pois, tais alterações, em geral, afetam ou influenciam indiretamente o valor do tributo.
Antes da publicação da Emenda Constitucional n° 42/03 o princípio da anterioridade estava
enfraquecendo, pois não se via o efetivo cumprimento das finalidades acima resumidas no atual
panorama nacional, pois, era corriqueira em nosso país a reforma da legislação tributária ao
apagar das luzes dos exercícios financeiros.
O princípio da anterioridade admite exceções, não sendo, assim, absoluto.
Existem casos em que a própria Carta, objetivando dar maior flexibilidade a determinados tipos
de impostos, que recebem a denominação de "extra-fiscais", afastou a aplicação do princípio sob
enfoque. Outros em que, pela urgência da situação, excepciona-se o princípio (instituição de
empréstimos compulsórios em caso de guerra externa ou calamidade pública). Mas é bom que se
frise que são situações excepcionais, específicas e exaustivamente disciplinadas no texto
constitucional. Para além delas todos os demais tributos estão submetidos ao princípio da
anterioridade.
A Constituição estabelece as exceções ao princípio da anterioridade da lei
fiscal, tornando possível a cobrança de tributos como os impostos extraordinários de guerra, os
empréstimos compulsórios por motivo de guerra ou em razão de calamidade pública, dada a
urgência da situação a exigir imediatos recursos (art.148, I) e a concessão emitida ao poder
executivo para alterar as alíquotas, dentro dos limites impostos pela lei, do imposto de
importação e exportação, imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre operações de
crédito, câmbio, seguros, títulos e valores mobiliários (art.153, §1º).
2.3 – Princípio da Capacidade Contributiva
O princípio da capacidade contributiva, que se entrelaça com o princípio da
vedação de confisco, representa um dos fundamentos basilares da tributação, como corolário do
princípio da isonomia, verdadeiro sinônimo da justiça fiscal. Constitui o elemento básico de onde
defluem as garantias materiais diretas, de âmbito constitucional, como a generalidade, igualdade
e proporcionalidade. De acordo com o § 1º do artigo 145 da Constituição Federal, "sempre que
possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte".
O princípio é elementar e inspira-se na ordem natural das coisas: onde não
houver riqueza é inútil instituir imposto, do mesmo modo que em terra seca não adianta abrir
poço à busca de água. Porém, na formulação jurídica do princípio, não se quer apenas preservar a
eficácia da lei de incidência (no sentido de que esta não caia no vazio, por falta de riqueza que
suporte o imposto); além disso, quer-se preservar o contribuinte, buscando-se evitar que uma
tributação excessiva (inadequada à sua capacidade contributiva) comprometa os seus meios de
subsistência, ou o livre exercício de sua profissão, ou a livre exploração de sua empresa, ou o
exercício de outros direitos fundamentais, já que tudo isso relativiza sua capacidade econômica.
A finalidade do princípio é garantir a justiça fiscal e, não gera direito subjetivo
para o contribuinte, que não poderá bater às portas do judiciário pleiteando que determinado
imposto ajuste-se ao seu perfil econômico, de outro, esse preceito produz efeito pelo seu aspecto
negativo, à medida que confere ao contribuinte a faculdade de exigir que o poder tributante não
pratique atos que o contravenha. Pode-se dizer que atualmente é universal a consciência do
princípio da capacidade contributiva, como norma de justiça. Aliás, pode-se mesmo entender que
independentemente de previsão constitucional explícita, o princípio da capacidade contributiva
deve ser visto como um princípio de justiça, e assim deve ser seguido pelo intérprete das normas
tributárias em geral. O imposto justo deverá atender o princípio da capacidade contributiva para
ser legal, isto é deve observar a capacidade econômica do contribuinte.
A capacidade contributiva é o atributo que deve qualificar alguém aos olhos do
legislador para sujeito passivo da relação tributária. O "fato-condição" apenas exterioriza esse
atributo, revelando-o ao fisco.
2.4 – Princípio da Irretroatividade
O princípio da irretroatividade da lei tributária deflui da necessidade de
assegurar-se às pessoas segurança e certeza quanto a seus atos pretéritos em face da lei. Assim,
toda vez que a lei pretender agravar, ou criar encargos, ônus, dever ou obrigação, só poderá
atingir situações futuras. Para dar segurança jurídica, erigiu-se este princípio em norma da Lei
Maior, segundo a qual é vedada a cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos
antes do início da lei que os houver instituído ou aumentado.
O princípio da legalidade tributária, um dos mais importantes princípios
constitucionais limitadores da tributação, perderia sentido, se fosse possível fazer retroagir a lei
para apanhar fatos a ela anteriores. Apenas a lei mais benéfica é que pode retroagir. Estabelece o
Código Tributário Nacional, em seu art. 106, II, que a irretroatividade benigna tem como
pressuposto que o ato não esteja definitivamente julgado. São três casos de retroatividade da lei
mais benigna aos contribuintes e responsáveis, desde que se trate de ato ainda não
definitivamente julgado. Assim, o direito positivo brasileiro permitiu que algumas leis tributárias
podem retroagir, desde que assim queira o legislador. São as que, de alguma forma, beneficiam o
contribuinte.
O princípio da irretroatividade, estabelece que a lei deve anteceder ao fato por
ela escolhido para dar nascimento ao tributo; o princípio da anterioridade exige a anterioridade da
lei em relação à data inicial do exercício para cobrança do tributo. Muitas vezes, tais princípios
são utilizados pelos tribunais e pela doutrina, como sinônimos, ou ainda colocados numa relação
de complementaridade.
O princípio da anterioridade qualifica a irretroatividade da lei tributária: se a lei
tributária cria ou majora tributo não sujeito àquele princípio, a irretroatividade é simples, se cria
ou majora tributo por ele acobertado, a irretroatividade é qualificada, pois não basta a
antecedência da lei em relação ao fato, exigindo-se essa antecedência da lei em relação ao ano ou
exercício da realização do fato.
Assim, o princípio da irretroatividade consiste no tempo passado e da
anterioridade num tempo futuro, ambas as visões voltadas sempre para a lei tributária que gera ou
majora tributos. Como mantém laços com o princípio da legalidade, a anterioridade tributária
conecta-se plenamente com a irretroatividade, pois estes princípios têm a mesma finalidade:
conceder a maior segurança possível ao cidadão contribuinte, para que ele possa ter certa
previsibilidade da ação estatal no que concerne a tributação.
2.5 – Princípio da Isonomia
A idéia de que todos os homens nascem iguais em direitos e obrigações e assim
permanecem ao longo de suas vidas, enquanto seres humanos já completou muitos anos de vida.
A igualdade de todos, não só perante a lei, como dentro dela, é postulado básico dos modernos
estados, que se revela nas suas Constituições. A par de se revestir em princípio constitucional
consolidado, como já observado a cada reforma do sistema constitucional o legislador sente a
necessidade de reescrevê-lo, vale dizer, com maior abrangência, atento a que a idade avançada da
isonomia não tem garantido suficientemente a igualdade de tratamento a que se propõe. Constata-
se ao fazermos a leitura da Constituição, que a igualdade se molda como a base estrutural do
nosso sistema normativo, e isso já observamos no preâmbulo da Constituição, ao atribuí-la como
valor constitucional básico.
A compreensão deste dispositivo não deve se estreitar apenas ao sentido formal
da isonomia, mas, deve ser interpretado com outras normas constitucionais e com as exigências
da justiça social que conformam o sentido da ordem política do nosso Estado.
A igualdade como valor, encontra sentidos diferentes de acordo com o
respectivo momento histórico, o sentido valorativo de um modo geral varia no tempo, isto é, se
condicionam pela evolução sócio-cultural de um povo num dado território.
A isonomia como princípio constitucional, é norma que se dirige quer para o
aplicador da lei quer para o próprio legislador, corresponde à obrigação de aplicar as normas
jurídicas gerais aos casos concretos, na conformidade com o que elas estabelecem mesmo se
delas resultar uma discriminação, o que caracteriza a isonomia puramente formal, enquanto a
igualdade na lei exige que, nas normas jurídicas, não haja distinções que não sejam autorizadas
pela própria Constituição.
O sentido relevante do princípio isonômico está na obrigação da igualdade na
própria lei, vale dizer, entendida como limite para a lei. Temos que a aplicação da lei
indistintamente a todos é um mero aspecto da isonomia. Há que ficar patente que, o princípio da
isonomia com residência constitucional, implica que a lei em si considere todos os homens
igualmente, ressalvadas as desigualdades que devem ser sopesadas para o prevalecimento da
igualdade material em detrimento da obtusa igualdade formal, conforme já asseverado.
2.6 – Princípio da Progressividade
A progressividade fiscal é determinada em função da capacidade econômica do
contribuinte, dando assim vida à máxima de tratar os desiguais de forma desigual na medida de
suas desigualdades. Em outras palavras, tal progressividade é aplicação pratica do princípio da
igualdade e do princípio da isonomia, que confere tratamento equânime somente aqueles que se
encontram na mesma situação. A função da progressividade fiscal é meramente abastecer os
cofres públicos retirando parcelas no patrimônio do contribuinte, sendo que aquele que pode mais
deve contribuir de forma mais vultosa.
A progressividade extra-fiscal usa um parâmetro externo ao direito tributário,
assim, utiliza-se uma alíquota maior não com efeitos arrecadatórios, mas sim com outros fins,
como por exemplo, forçar o adequado uso da propriedade urbana pelo proprietário do imóvel.
Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos
individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do
contribuinte.
Há dois tipos de progressividade a fiscal e a extra-fiscal. A primeira com fins de
arrecadação tem como fundamento o art. 145, § 1° da Constituição Federal e está autorizada a ser
instituída sempre que possível. A segunda tem fins extra-fiscais, ou melhor, outros que não a
arrecadação, motivo pelo qual deve estar expressa a possibilidade de sua instituição no texto
constitucional, sob pena de ferir a lei que a institua com a mácula da inconstitucionalidade.
Tal princípio visa a dar tratamento desigual aos desiguais, busca dar vida ao
princípio da isonomia, tributando de forma mais gravosa aqueles que demonstram um sinal
provável de riqueza de maior vulto.
CAPÍTULO III
A CULTURA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA �O I�ÍCIO DO SÉCULO XXI
3.1– Um Breve Comentário Sobre: Elisão e Evasão Fiscal
Desde a constatação de que o homem necessitava viver harmoniosamente em
sociedade, e que para manter o bem estar e o convívio social demandado por esta, a importância e
essencialidade de cobrança do tributo foi notada. Amado por uns e odiado por outros, o tributo
vem ao longo dos tempos sobrevivendo às diversas mudanças que estão submetidas à sociedade.
Entretanto, ressalta-se que os argumentos que justificam sua existência e manutenção
permanecem de certa forma incompreendida por aqueles que compulsoriamente são levados a
recolhê-lo ao Tesouro Público.
As diversas cobranças da sociedade requerem ação imediata e demandam
recursos para a elaboração de projetos no âmbito social, educacional, de saúde, cultural e em
outras áreas básicas. Entretanto, o gestor responsável por esta implementação necessita de
recursos e os consegue através da cobrança de tributos. Pelo fato novamente mencionado, muitas
questões pouco técnicas passam pela cabeça do contribuinte tais como: Será que terei de pagá-lo
? Poderia deixar de pagá-lo sem ser penalizado? Será realmente empregado para o objetivo que
foi criado?
E é por não ficar transparente e evidente o emprego do tributo que o
contribuinte é levado a enganar o fisco pelos mais diferentes modos, seja pela sonegação, pela
simulação, pelo conluio, fraude ou elisão fiscal. Não faltam meios, nem profissionais, para
proporcionarem formas de promover prejuízos no Tesouro Público. Atualmente, em âmbito
nacional, a evasão fiscal se avoluma como um gigante e que cresce ininterruptamente.
Ao contribuinte cabe o dever de pagar o tributo, conforme a lei, que é um texto,
que para ser aplicado merece interpretação. Elisão é um expediente utilizado pelo contribuinte
para atingir um impacto tributário menor, em que se recorre a um ato ou negócio jurídico real,
verdadeiro, sem vício no suporte fático, nem na manifestação de vontade, o qual é lícito e
admitido pelo sistema jurídico brasileiro.
É um proceder legalmente autorizado, que ajuda a lei tributária a atingir a sua
finalidade extrafiscal, quando presente. Diferentes da evasão fiscal são utilizados meios legais na
busca da descaracterização do fato gerador do tributo. Pressupõe a licitude do comportamento do
contribuinte. É uma forma honesta de evitar a submissão a uma hipótese tributária desfavorável.
Na evasão fiscal, o contribuinte busca, antes ou depois da submissão a uma
hipótese tributária desfavorável, um modo de mascarar seu comportamento de forma ilícita. Aí é
diferente e cabe a Receita utilizar todas as suas prerrogativas de função administrativa para evitar
o ilícito.
O ponto em que o tributo se torna devido consiste no momento da ocorrência
do fato imponível. Somente haverá dever tributário após este ponto, sendo que nunca ocorrerá
antes. Este elemento subjetivo, de natureza temporal, seria o único apto a fundamentar um
critério jurídico para se distinguir a elisão da evasão tributária. Há um roteiro simples e seguro
para aplicar a solução a cada caso concreto:
a) se os atos praticados desde que, como foi dito, sejam objetivamente lícitos,
são anteriores à ocorrência do fato gerador, a hipótese é de elisão;
b) se os atos praticados, ainda que objetivamente lícitos, são posteriores à
ocorrência do fato gerador, a hipótese é de evasão; ou seja, o resultado (obtido ou não) de evitar,
reduzir ou diferir o imposto, ainda que por atos objetivamente lícitos, será ilegítimo.
Elisão tributária, a qual tem por objetivo evitar o aparecimento da obrigação
tributária, é coisa de contribuinte esperto. São encontrados na doutrina inúmeros sinônimos para
designar este instituto: economia de imposto, economia fiscal, poupança fiscal, evasão legítima,
evasão lícita, negócio fiscalmente menos oneroso, elisão induzida, permitida ou organizada pela
lei, elisão resultante da lei, transação tributariamente favorecida e outros menos comuns.
Evasão tributária é definida, como sendo aquela modalidade, que é executada
de forma ilícita, intencional com o único objetivo de enganar o fisco não cumprindo com o
pagamento da obrigação tributária.
Na evasão denominada como comissiva, predomina a ação voluntária e
consciente do indivíduo tendente por meios ilícitos, eliminar, reduzir ou retardar o pagamento de
tributo efetivamente devido, havendo a presença sempre da intencionalidade. Divide-se em ilícita
e lícita: Na primeira atinge-se o resultado econômico visto uma vez que o contribuinte se vale de
artifício ilícito para afastar a ocorrência do fato gerador. Na segunda, pelo contrário, o
contribuinte procurará por processos lícitos afastar, reduzir ou retardar a ocorrência do fato
gerador.
Atualmente o contribuinte está demandando em postura diferente do fisco, bem
como de outros órgãos da Administração Pública. No passado, aquela postura feudal e absoluta
muitas vezes não-esclarecida, que era do “eu cobro e você paga”, está completamente
ultrapassada. O contribuinte nos dias de hoje deseja saber onde e como está sendo aplicado o
tributo que recolhe ao Tesouro. No entanto, ainda estamos muito atrasados, seja do ponto de vista
de termos órgãos bem estruturados com pessoal qualificado e em número adequado às suas
atividades cotidianas.
Daí então, decorre todas as formas possíveis de enganar o fisco seja de maneira
lícita ou ilícita. Ademais, o foco principal da Administração Pública em termos de arrecadação
se ampara excessivamente nas pessoas jurídicas onerando-as demasiadamente ou muitas vezes
inviabilizando sua existência e dificultando a entrada de capitais para novos investimentos ou
então nas pessoas físicas em atividade laboral, pois qualquer medida nas alíquotas ou base de
cálculo tem efetividade imediata.
Por fim, a adoção de cláusulas geral antielisivas usando a interpretação
econômica, deve obrigatoriamente vislumbrar seu objetivo principal, não exclusivamente
arrecadatórios levando em conta os princípios da igualdade ou solidariedade social. Com isto,
evitar impor ônus excessivo aos contribuintes.
Conclui-se que os esforços emanados pelo legislador são em vão, se não
aplicados sistematicamente, isto é, não permitindo que se legisle por bateladas ou por motivos
eleitoreiros ou ainda, se de forma bem intencionada, deixe lacunas nas leis tributárias, apesar de
estarem dispostos em vários instrumentos legais requisitos que coíbam atividades que lesem o
Tesouro Público, ainda assim, esses eventos indesejáveis continuam ocorrendo. A necessidade de
possuirmos normas jurídicas bem elaboradas, isto é, criteriosas e de acordo com a ocorrência dos
casos concretos, fundadas em princípios constitucionais tributários e nos principais valores da
sociedade, é de grande importância.
3.2 – Realidade Tributária no Brasil
O sistema tributário vigente em um dado momento é fruto de um processo de
evolução que, na maior parte do tempo, é contínuo. Com efeito, uma vez fixada sua estrutura
básica, ele é capaz de adaptar-se, mediante alterações tópicas nas normas legais e administrativas,
à modificações nas condições econômicas e sociais reinantes e, assim, operar satisfatoriamente
durante períodos relativamente longos. Mas, análogo nesse aspecto a uma máquina, o sistema
tributário sofre desgaste ao longo do tempo, tendo sua capacidade de adaptação reduzida. Além
disso, alterações profundas no ambiente econômico podem exigir ajustes que transcendem a
capacidade de adaptação da estrutura tributária básica, requerendo sua modificação. Por isso, vez
por outra, a tributação precisa sofrer importantes alterações concentradas em um curto espaço de
tempo. Não obstante revisões ocorrerem cotidianamente, o costume reservou a expressão
“reforma tributária” para fazer referência a tais descontinuidades do processo de evolução.
O sistema tributário brasileiro passou por profunda reforma na década de 60,
desde então, ressalvada a reforma realizada no âmbito da Assembléia Nacional Constituinte, em
1987/88, o sistema evoluiu continuamente, sem alterações em sua estrutura básica. Embora a
Constituição de 1988 tenha eliminado alguns tributos e introduzido modificações nas
características de outros, notadamente do principal tributo estadual, a reforma de então teve como
principal motivação a desconcentração dos recursos públicos, privilegiando especialmente os
municípios. Desse modo, a estrutura básica da tributação brasileira vigente ainda é, em essência,
aquela construída em 1964/67.
A deterioração da qualidade do sistema tributário se fez mais sentida após
ocorrerem no país, ainda na primeira metade da década de 90, duas importantíssimas mudanças
no plano macroeconômico. Promoveu-se ampla abertura da economia, que incluiu a criação do
Mercosul, e conseguiu-se, com o Plano Real, redução quase instantânea da inflação de um
patamar mensal de dois dígitos para um anual inferior a 10%. Esses dois choques mudaram
completamente o ambiente econômico em que o setor produtivo opera. Neste novo ambiente
econômico, a questão-chave para a sobrevivência do setor produtivo, que era o ganho financeiro,
passa a ser a competitividade. A boa qualidade da tributação torna-se essencial para evitar
prejuízos ao crescimento econômico.
Com a abertura econômica, as decisões de produção e investimento passam a
ser processadas em escala mundial, implicando estreitos limites à soberania fiscal do país: fica
eliminada a possibilidade de utilizar exportações como base para a obtenção de receita; e a
tributação de movimentos de capital, que são a ela extremamente sensíveis, precisa ser
cuidadosamente concebida, mais ainda no caso de investimentos na produção, que são sensíveis
não só à tributação dos fluxos, como também à dos negócios.
A formação de blocos regionais, Mercosul, no caso do Brasil, reduz
drasticamente a autonomia da política comercial. A adoção de tarifa externa comum e a supressão
do imposto de importação nas transações entre membros do bloco impedem a compensação
através deste tributo, feita no passado, de desvantagens competitivas impostas pela tributação
interna a produtores nacionais. Com a estabilidade, distorções impostas pela tributação de má
qualidade, antes pouco importantes em face das enormes disfunções causadas pela inflação,
ganham vulto e tornam-se intoleráveis, precisando, por isso, ser eliminadas. Nessas
circunstâncias, minimizar os efeitos perversos dos tributos sobre a competitividade é fundamental
para a retomada do crescimento econômico de forma sustentada.
Importa que a tributação interna não iniba a exportação, o investimento e a
criação de emprego; assegure igualdade de competição no mercado doméstico entre produtores
nacionais e entre esses e os estrangeiros; seja o mais neutra possível com respeito à escolha de
local e método de produção, para não induzir decisões que aumentem o custo do que é produzido;
e seja passível de harmonização com os sistemas tributários de nossos principais parceiros
comerciais.
No atual sistema tributário brasileiro, o que se observa é uma tributação
antagônica ao desenvolvimento, pois que:
a) impõe desvantagem competitiva ao setor produtivo nacional, tanto no
mercado externo como no nosso próprio mercado;
b) distorce fortemente as decisões de alocação de recursos, prejudicando a
eficiência econômica;
c) onera bens de capital, desestimulando o investimento;
d) é complexa, a ponto de dificultar a harmonização tributária internacional;
e) facilita ou mesmo estimula a evasão, gerando iniqüidade e competição
desigual;
f) e propicia guerras fiscais, criando conflito na federação, enquanto o
desenvolvimento requer cooperação e harmonia entre os entes federados.
Mudar esse quadro, mediante ampla reforma tributária, é uma condição
necessária, embora não a única, para que o Brasil retome uma trajetória de crescimento
econômico mais rápido, propícia ao investimento e à criação de emprego, bem como facilitadora
do equilíbrio das contas públicas.
Este sistema impõe custos administrativos elevados para as empresas e o
governo. É composto por impostos em cascata, contribuições sociais que funcionam como
impostos, alíquotas elevadas, incentivos e isenções, o que provoca evasão e sonegação fiscais.
Nesse ambiente, predominam, contribuições proibitivas sobre a folha de salários, sobreposição de
dois ou mais impostos sobre a mesma base e alíquotas muito elevadas. Parte das exportações e os
bens de capital ainda são tributados indiretamente, em flagrante contradição com o resto do
mundo. Essa situação gera ineficiências econômicas, afeta a competitividade dos produtos
nacionais e tem impacto negativo sobre os níveis de produção e emprego. Por isso é necessário
adaptar a tributação à nova realidade nacional e ao novo padrão econômico internacional imposto
pelo processo de globalização.
3.3 – Justiça Tributária
Ética é Justiça. Portanto, a justiça está no centro de qualquer discussão ética.
Viver eticamente é viver conforme a justiça. Tributar e gastar de forma ética é tributar e gastar
conforme a justiça tributária. Em outras palavras, o princípio da justiça tributária encontra vida,
alma e impulso na virtude da justiça. Esta leva o contribuinte virtuoso a viver como cidadão que
luta por uma ordem tributária socialmente mais justa. Somos éticos, justos e virtuosos, no espaço
social, ninguém é ético para si mesmo, somos éticos em relação aos outros , neste sentido, ética
tributária é a prática da justiça tributária, ou, comportamento ético tributário é, antes de tudo,
comportamento segundo a justiça tributária, e conforme já sabemos, a ética tributária é fiscal
privada (contribuinte) e fiscal pública (Estado), ambos, com deveres e direitos na relação
jurídico-tributária.
Pensar a ética na tributação é saber que a ética se preocupa com as formas
humanas de resolver as contradições entre necessidade e possibilidade, entre o individual e o
social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e psíquico, entre o natural e o cultural, e
entre a inteligência e a vontade. Solucionar estas aparentes dualidades é uma missão para ética,
em especial, para ética tributária que é o meio-termo necessário para superação destas
contradições que em síntese, são as contradições do próprio homem. Justiça é algo que quando
realizada produz no ser humano uma mudança interior, uma transformação. Então, saber discernir
o direito tributário do excesso tributário, é evitar o excesso e a falta, buscando e preferindo o
meio-termo, o meio-termo não em relação ao objeto, mas em relação a nós mesmos, só assim
estaremos transformando e fazendo justiça tributária, portanto, a virtude da justiça tributária é
uma disposição de caráter relacionada com uma escolha transformadora, uma escolha entre dois
vícios, um por excesso (excesso de tributação e desconhecimento do justo gasto do tributo
afetado) e outro por falta (aplicação positivista exonerativa da tributação).
O novo século inicia-se fundado na percepção de que o direito é um sistema
aberto de valores, e o direito tributário não escapa a tal visão. O sistema tributário não é fechado,
mas antes aberto. A idéia de abertura percute no direito financeiro e tributário ao se comunicar
com a constituição tributária, e revelar a sua permeabilidade a elementos externos e a renúncia de
que o texto constitucional possa, por meio de regras específicas disciplinar o infinito conjunto de
possibilidades apresentadas no mundo real.
Neste sentido é patente e cristalino que a ética tem dificuldades de legitimação
diante de uma sociedade até então marcada pelo individualismo, onde as pessoas aparecem
prisioneiras num círculo infinito de seus próprios interesses e impulsos, e a vida social não passa
de uma associação mecânica de indivíduos perseguindo fins individuais.
Sem uma racionalização ética da atividade destinada a resolver o problema da
satisfação das necessidades, torna-se impossível a constituição de uma sociedade política. O
Estado de direito é incompatível com o Estado de miséria, uma vez que a exigência ética básica é
incondicional e abrange todas as dimensões do ser-homem. No Brasil, cuja eticidade é
profundamente marcada pela injustiça, vivemos frente a uma inafastável exigência de que, para
tornarmos um verdadeiro Estado de direito democrático, precisamos antes de qualquer coisa,
integrarmos no processo de desenvolvimento uma imensa massa de excluídos. Essa é a exigência
central de nossa epocalidade, é a forma específica de efetivação, em nossa contemporaneidade,
da exigência ética fundamental de respeito e proteção à dignidade da pessoa humana.
A ética tributária neste contexto é e será um decisivo princípio mediador, entre
a necessidade de recursos por parte do fisco e a liberdade de cada cidadão em seu auto-organizar.
Viver eticamente é viver conforme a justiça, onde a ética tributária se revela numa profunda
dialética entre a individualidade (microética) e a comunidade (macroética), um equilíbrio entre lei
e liberdade, neste sentido, ética tributária é justiça, ou comportamento ético tributário é, antes de
tudo, comportamento segundo a justiça tributária.
A ética privada é uma ética de condutas que norteia o cidadão-contribuinte que
tem o dever fundamental de pagar tributos, segundo a sua capacidade contributiva. Ao cidadão-
contribuinte não é ético contribuir a menos para o montante da riqueza social, em proporção ao
que suas faculdades lhe permitiam pagar. Já a ética fiscal pública é informada por quatro valores
superiores, a saber:
a) a liberdade, que consiste na aceitação da opção fiscal a ser adotada pelo
contribuinte, desde que respeitada a sua capacidade contributiva;
b) a igualdade, no sentido de que todos que estiverem na mesma situação
haverão de sofrer a mesma tributação;
c) a segurança, que pugna pela não tributação de surpresa, irracional etc.;
d) a solidariedade, ápice da efetivação da ética fiscal pública.
A ética tributária é a teoria que estuda a moralidade das atuações em matéria
tributária desenvolvidas pelos poderes públicos: legislativo, executivo e judiciário e pelos
cidadãos contribuintes. Se é verdade que o Estado fundado na propriedade privada e nos meios de
produção, é obrigado a sobreviver mediante tributos, não é menos verdade que sem tributos e
contribuintes não se pode construir nenhum Estado, nem Estado de Direito, nem muito menos um
Estado Social, portanto, é princípio de justiça tributária que todos devam pagar tributos com base
em sua capacidade contributiva, capacidade que começa ali onde a sua renda exceda o mínimo
existencial, razão pela qual este mesmo Estado Social está eticamente obrigado a preservar as
fontes tributárias (patrimônio dos contribuintes) ao invés de esgotá-las por prática de tributação
excessiva, o que implicará em postura moralmente a ética do ponto de vista tributário.
CO�CLUSÃO
Nesses 500 anos de Brasil, o que se observa é como foi lenta a evolução do
sistema tributário nacional, foram necessários 391 anos, com a promulgação da primeira
Constituição do período republicano, para a existência de um sistema onde se tentou organizar de
uma forma sistemática os tributos a serem cobrados sobre diversas atividades.
Fato interessante observado é que a partir de 1891, apesar do tempo
transcorrido entre as reformas tributárias ter sido reduzido substancialmente, o mesmo não
acontece com o tempo que vai entre os primeiros reclamos por nova reforma e a sua
implementação. Isto é reflexo da resistência da sociedade e do próprio Estado às mudanças.
Já no início dos anos 50, dá-se início as discussões sobre a necessidade de uma
nova reforma tributária. Assim, em 1965, cujas discussões iniciariam no início dos anos 50, é
implementada a mais radical das reformas tributárias realizadas no Brasil que vigorou
efetivamente a partir de 1967.
Outro fato interessante observado é que após a proclamação da República o
sistema tributário vem passando por centralização e descentralização por parte do governo
central. Entre 1891 a 1930, período pós república, houve uma descentralização do poder seguido
de uma centralização que inicia-se em 1930, com a chamada era Vargas, que se estende até 1946.
Com a volta do regime democrático, o sistema tributário, sofre nova descentralização que estende
até 1964, quando o golpe militar instituiu novamente o regime ditatorial ocorrendo nova
centralização do poder que perdura até 1988. Com a volta da democracia o sistema tributário
passa por período de descentralização nos anos 90 que permanece até os dias de hoje.
Conforme já visto a tributação deve ser instrumento de aprimoramento da
democracia e deve tratar igualmente os iguais e contribuir para o alcance dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, especialmente os de construir uma sociedade
livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Portanto foi abordado os princípios constitucionais tributários que são a base
que sustentam o sistema tributário constitucional e também analisamos os limites impostos pela
Constituição Federal ao poder de tributar, os mesmos encontrados em cada um dos seguintes
princípios: Princípio da Legalidade; Princípio da Anterioridade; Princípio da Capacidade
Contributiva; Princípio da Irretroatividade; Princípio da Isonomia; Princípio da Progressividade.
Destacamos os conceitos de elisão e evasão fiscal, onde a primeira tem por base
um proceder legalmente autorizado que é utilizado pelo contribuinte para atingir um impacto
tributário menor, enquanto que a evasão predomina a ação voluntária consciente do indivíduo por
meios ilícitos, para reduzir ou retardar o pagamento de tributo efetivamente devido.
Além disso, comentamos sobre o sistema tributário brasileiro, o mesmo que
hoje passa por um processo evolutivo e contínuo, sofrendo alterações ao longo do tempo nas
condições econômicas e sociais. Desse modo, a estrutura básica da tributação brasileira vigente
ainda é, em essência a constituída em 1964/67, mesmo que a Constituição de 1988 tenha
eliminado alguns tributos e introduzido modificações nas características de outros.
Por fim concluímos que tributar e gastar de forma ética é tributar e gastar
conforme a justiça tributária, levando o contribuinte virtuoso a viver como cidadão que luta por
uma ordem tributária social mais justa. Comentamos também sobre a ética tributária fiscal
privada representada pelo contribuinte e a ética fiscal pública que representa o Estado, ambos
com direitos e deveres na relação jurídica tributária. Nesse sentido, ética tributária é a prática da
justiça na cobrança dos impostos. Sendo seu principal objetivo solucionar as contradições
humanas e suas formas de resolver o que é necessário e possível, o social, o individual,
econômico e moral, a inteligência e a vontade, entre outros fatores. Buscar soluções para essas
dualidades é o papel da ética, em especial para a ética tributária.
BIBLIOGRAFIA _________ A Evolução do Sistema Tributário Brasileiro ao Longo do Século: Anotações e Reflexões para Futuras Reformas. Brasília: IPEA, janeiro de 1996. BALEEIRO, Aliomar. In.: Direito Tributário Brasileiro. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1976. DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Elisão e Evasão Fiscal. 2a. ed. São Paulo, Ed. Bushatsky, 1977, ps 45-46. OLYMPIO, Augusto. CASTRO, Viveiros de. In.: História Tributária do Brasil. Coleção Memória Fazendária. Ministério da Fazenda. Escola de Administração Fazendária. Brasília, DF. 1989. ULHÔA CANTO, Gilberto de. Elisão e Evasão Fiscal, Caderno de Pesquisas Tributárias n°13. Elisão e Evasão Fiscal. São Paulo: Resenha Tributária, 1988. ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. CONTI, José Maurício. Sistema Constitucional Tributário. 2. ed. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998.