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UFRRJ INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE MONOGRAFIA “O TURISMO RURAL COMO ALTERNATIVA DE RENDA À AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE QUINZE DE NOVEMBRO” ANTÔNIO ALTÍSSIMO 2002

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UFRRJ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E

SOCIEDADE

MONOGRAFIA

“O TURISMO RURAL COMO ALTERNATIVA

DE RENDA À AGRICULTURA FAMILIAR DO

MUNICÍPIO DE QUINZE DE NOVEMBRO”

ANTÔNIO ALTÍSSIMO

2002

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO,

AGRICULTURA E SOCIEDADE

“O TURISMO RURAL COMO ALTERNATIVA DE RENDA À

AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE QUINZE DE

NOVEMBRO”

ANTÔNIO ALTÍSSIMO

Sob a Orientação do Professor

John Wilkinson

Monografia submetida como requisito

parcial para obtenção do diploma de

Pós-graduação Lato Sensu em Desenvolvimento,

Agricultura e Sociedade

Seropédica, RJ

Novembro de 2002

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA

E SOCIEDADE

ANTÔNIO ALTÍSSIMO

Monografia submetida ao Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura

e Sociedade como requisito parcial para obtenção do diploma de Pós-graduação Lato

Sensu em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade

MONOGRAFIA APROVADA EM / /

John Wilkinson (Dr., Ph.D.) CPDA/UFRRJ

(Orientador)

Nelson Giordano Delgado (Ph.D.) CPDA/UFRRJ

Silvana de Paula (Ph.D.) CPDA/UFRRJ

Nora Beatriz Presno Amodeo (Ph.D.) REDCAPA

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RESUMO

ALTISSIMO, Antônio. O turismo rural como alternativa de renda à Agricultura

Familiar do Município de Quinze de Novembro – Quinze de Novembro, RS.

Seropédica:UFRRJ,2002. 27p. ( Monografia, Pós-graduação lato sensu em

Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade)

Este trabalho foi realizado no Município de Quinze de Novembro, para observar a

relação entre a pluriatividade, o turismo rural e a Agricultura Familiar, suas interações,

suas influências, relações e resultados financeiros e sociais. Objetiva-se fazer uma

análise de mais uma atividade do setor rural, dentro da pluriatividade que

historicamente desenvolve sua influência econômica e social sobre as famílias e a

sociedade. Para este estudo, a metodologia iniciou pela delimitação do universo de

estudo, espaço geográfico, população e entidades envolvidas, públicas e privadas; a

seguir definiu-se os instrumentos de coleta de informações e dados baseado em

entrevistas semi-estruturadas, a compilação de relatórios, atas, balanços, além de

entrevistas sem pré estruturação. Definiu-se o perfil das pessoas que compunham o

universo de trabalho: agricultoras e agricultores, empresários voltados ao setor,

administração pública municipal e serviço público estadual (Emater). Partiu-se para a

estruturação do plano de coleta de dados, passando pelo agendamento das entrevistas e a

efetivação das mesmas com a busca dos relatórios das entidades dos atores envolvidos.

A análise das informações e finalmente a análise dos resultados demonstrados nos

gráficos e tabela. Nesta análise os resultados financeiros dos grupos estudados são

salientes chegando a atingir valores superiores a 1 salário mínimo mensal por família.

Há problemas de quedas drásticas de faturamento no período de inverno quando o fluxo

turístico cai. Há casos em que a receita é a principal fonte de recursos de algumas

famílias, principalmente no período de verão. As mulheres têm sido as principais

agentes deste processo dentro das famílias sendo responsáveis, na maior parte dos casos,

pela elaboração dos produtos e sua comercialização junto aos pontos de vendas. Neste

ínterim, há um caso em que o marido proibiu a mulher de fazer a comercialização para

não expô-la ao público. Nesta tarefa contínua as mulheres elevaram sua auto-estima

expondo um nível de satisfação que extrapola o espaço familiar. O associativismo

tomou outro perfil para os envolvidos acostumados ao associativismo de grande número

de associados que não trouxe bons frutos para a região. A formação dos grupos

fortaleceu as famílias na busca da satisfação de suas necessidades para produção e

conforto familiar, ganhando respeito nas suas comunidades. Com o amadurecimento do

sistema, social e financeiro, há ainda um longo caminho a percorrer potencializando

outros possíveis mercados engajando nisto um árduo trabalho regional da administração

pública municipal aliados ás entidades representativas dos produtores.

Palavras chave: Pluriatividade, associativismo, resultados econômicos e sociais.

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 07

2 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................... 10

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 12

3.1 A revolução na agricultura ...................................................................................... 12

3.2 A pluriatividade na agricultura familiar .................................................................. 13

3.3 A agricultura familiar .............................................................................................. 15

3.4 O turismo rural ........................................................................................................ 18

3.5 O setor informal ....................................................................................................... 22

4 A RELEVÂNCIA DO TEMA .................................................................................... 24

4.1 O tema inserido no ambiente de estudo ................................................................... 24

4.2 O potencial do espaço em estudo ............................................................................ 24

4.3 A agricultura familiar e a relação com o turismo rural............................................ 24

4.3.1 O fator associativo e a pluriatividade ................................................................... 26

4.4 O turismo na visão do setor público ........................................................................ 26

5 METODOLOGIA ....................................................................................................... 28

5.1 Delimitação do universo de estudo .......................................................................... 28

5.2 Instrumento de coleta de dados ............................................................................... 28

5.3 Perfil das pessoas do universo do trabalho .............................................................. 28

5.4 Plano de coleta de dados .......................................................................................... 28

5.5 Análise dos dados .................................................................................................... 28

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................... 29

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 32

8 BIBLIOGRAFIA CITADA ........................................................................................ 33

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AGRADECIMENTOS

Nesta empreitada, inúmeras pessoas contribuíram para que “O turismo Rural

como alternativa de renda a Agricultura Familiar do Município de Quinze de

Novembro”, ganhasse espaço e vida e quem sabe, perenidade.

Gratidão:

À ASCAR/EMATER-RS, que me proporcionou a oportunidade de voltar à

estudar e a debater conteúdos com pessoas de nível invejável.

Ao mestre, Professor Dr. John Wilkinson, pelo seu brilhantismo nas aulas

presenciais, nos contatos eletrônicos e como orientador desta monografia.

À equipe do Escritório Central que orientou e coordenou o desenvolvimento do

curso prestando todas as informações e auxílio.

A equipe do Escritório Municipal da EMATER/RS de Catuípe, pela

compreensão nas minhas ausências e colaboração nos trabalhos.

À Auxiliar Administrativa do Escritório Regional da EMATER/RS de Ijuí,

Gládis Garbinatto Bresolin. A ela coube a digitação.

À Gerência Regional do Escritório Regional da EMATER/RS de Ijuí, pela

compreensão e estímulo.

À minha esposa Carolina, que sempre compreendeu e incentivou, dando

coragem e força para levar a tarefa até o fim.

À equipe do Escritório Municipal da EMATER/RS de Quinze de Novembro,

Lorna L. Schweig, Lacide Lui e Carolina F. Hagemann, pela atenção, colaboração e

acompanhamento no trabalho de campo, prestando e buscando as informações

necessárias.

Ao Secretário Municipal de Turismo de Quinze de Novembro, Arno Ricardo

Gaelzer, entusiasta e construtor do turismo regional, pela colaboração na gentil

entrevista.

À todos os colegas de curso em especial João Schommer, Luiz Carlos Leal de Ávila,

Ancila H. Altmann, Gilmar F. Vione e Ivar José Kreutz parceiros do grupo “Os

Missioneiros”, pela interação nos debates semanais acontecidos.

À todos os atores anônimos, protagonistas desta realidade, pelos momentos

oportunizados de vasculhar suas vidas e organizações, abrindo portas e dialogando sem

medo e sem temores, sem sonegar palavras, interagiram com este trabalho.

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho denominado “O Turismo rural como alternativa de renda a

agricultura familiar do município de Quinze de Novembro1, foca como centro da

discussão: o turismo rural, a pluriatividade e a agricultura familiar no município

focado.

O espaço territorial do estudo é o município de Quinze de Novembro¹,

emancipado do município de Ibirubá no ano de 1989 e localizado na região do Alto

Jacuí, Centro – Norte do RS entre o Planalto e Planalto Médio. No entanto, extrapola os

limites expostos e analisa a influência da região sobre a área em estudo.

O objetivo geral da monografia concentra-se na análise de mais uma atividade

do setor rural, dentro da pluriatividade que historicamente desenvolve, nativamente ou

vinda com os imigrantes europeus, principalmente descendentes de Italianos que

consigo trouxeram múltiplos ofícios e mais uma função, o turismo, dentro da vasta

multifuncionalidade2. Especificamente objetiva analisar o acréscimo de renda nas

propriedades que usufruem do turismo rural diretamente (possuem produtos turísticos)

ou indiretamente (que vendem produtos elaborados ou não para turistas), o nível de

satisfação das pessoas envolvidas, conhecer a visão dos empresários do setor, e a visão

do setor público a respeito do tema.

Trabalhando por 17 anos na Extensão Rural do Paraná e do RS, conhecendo as

potencialidades da agricultura familiar, e do seu ambiente natural, procurando

aprofundar conhecimento sobre o turismo rural, via cursos, seminários, viagens,

despertou em mim a curiosidade de vasculhar o quanto o turismo no ambiente rural

pode modificar o cotidiano de uma família que vive numa região onde o turismo é

emissivo3 e normalmente “de praia”. Quase todos, na região, quando se fala em turismo

pensam em praias, grandes obras, cachoeiras e canyons poucos estão olhando ao redor e

visualizando o potencial existente.

Para realização deste trabalho foi empregado a seguinte metodologia: 1 - A

leitura de textos e literatura pertinentes. 2 - A elaboração de um roteiro para entrevistas

e logo a seguir as entrevistas, com extensionistas4

, Secretários Municipais, Agricultores

(as) e empresários, todos ligados ao tema.

O presente trabalho abordará o tema turismo rural dentro de um contexto de

turismo geral, centrando sua análise no período a partir de 1989, ano de emancipação do

município até os dias de hoje período que houve um aporte de propostas e projetos para

incrementar o turismo aproveitando principalmente o potencial de águas existente5

, o

interesse privado e o engajamento da comunidade e lideranças locais e regionais,

inclusive inserindo o município na ROTA DAS TERRAS6

que envolve 28 municípios

da região do Alto Jacuí.

1 População atual de 3.500 habitantes, destes 1.715 pessoas na cidade e 1.785 pessoas na zona rural.

2 A multifuncionalidade será abordada de forma detalhada ainda neste trabalho.

3 Tipo de turismo normalmente encontrado na região que envia turista para outros lugares.

4 Funcionários do Escritório Municipal da ASCAR-EMATER/RS, do município de Quinze de Novembro,

inaugurado em julho de 1992, com atuação em Extensão Rural e Assistência Técnica em todo o

município. 5 Formação do Lago da Hidrelétrica de Passo Real, construída em 1971, pelo Companhia Estadual de

Energia Elétrica (CEEE), para geração de energia e servir de reservatório de água para as hidrelétricas

Maia Filho e Itaúba. 6Consórcio Regional de Desenvolvimento do Turismo.

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O turismo e o turismo rural por si só despontam como itens de estudo, e quando

olhado com suas relações, como: com o comércio e as indústrias locais, a agricultura

familiar, o processamento artesanal de produtos, a agregação de valor a estes produtos,

o lazer, a recreação, a qualidade de vida, as relações humanas, a auto-estima, etc..., e

ainda, por influenciar a economia e a política local e regional, a sua importância ganha

expressão.

O espaço em foco, situa-se num contexto onde temos a massiva preponderância

das monoculturas capitaneada pela soja, depois milho, além do trigo no inverno. A

monocultura da soja se coloca como um vício, por pior que a safra se desenvolva, o

agricultor não larga, por fatores que devem ser considerados: - a estrutura existente, a

liquidez do produto no mercado, a comodidade tecnológica disponível, as alternativas

apresentadas pouco abrangentes e as vezes com viabilidade duvidosa.

A região também emprega um nível tecnológico “moderno” na produção

agrícola e pecuária de fazer inveja à muitas regiões desenvolvidas .

Com altas produtividades em soja, milho, trigo, aveia, suínos, aves e leite.

No entanto, é crescente o aumento da pobreza urbana e rural, não diferindo de

outras regiões que também sofreram o impacto da “modernização” da agricultura.

Afora isto, em 1971, a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) inaugura a

usina hidrelétrica de Passo Real, no município de Salto do Jacuí, para geração de

energia, suprindo uma demanda do crescimento da agricultura e do estado. Com isto

27.000 ha de férteis terras foram inundadas e mais de 1.200 famílias desalojadas de suas

propriedades rurais.

O alagado inicialmente, provocou inúmeros problemas sociais, com o passar do

tempo os municípios e a população remanescente foi se adaptando e transformando as

águas do lago em fonte de recursos.

E neste ínterim que com a emancipação de Quinze de Novembro, impulso forte

foi dado ao turismo, e o rural não escapou deste incremento.

O turismo no município foi incentivado, inicialmente contra a vontade de parte

da população que entendia o turismo como algo supérfluo, contra uma conjuntura de

mercado regional (cooperativas de produção e outros) que trabalha exclusivamente com

grãos e leite não abrindo espaço para outros processos produtivos e reprodutivos.

Neste contexto cooperativista tradicional7

(cooperativas de produção) os

“excluídos estão sempre à margem do processo produtivo, longe do mercado, crédito,

qualificação profissional, etc.

É por isto que o estudo é desafiante na medida que o turismo tem potencial para

inserir parcela destas famílias que estão fora de qualquer processo social.

Por ser a região essencialmente agrícola com visão produtivista, é que a criação do

Consórcio Regional de Turismo Rota das Terras, trouxe a possibilidade e a alternativa

para buscar “válvulas de escape” para uma significativa parcela da população.

No contexto regional também está fortemente demarcado o nível de

investimento em tecnologia tanto na área da produção de grãos (soja e milho) como na

pecuária (leite e suínos). Por outro lado ainda é significativo o número de produtores

com baixo nível tecnológico convivendo neste ambiente. Com um relevo que favorece,

toda as atividades sofrem mecanização (agrícola e pecuária), alta inversão de divisas em

insumos, instalações e equipamentos. Predominantemente os incentivos para a adoção

destes sistemas de produção vem das cooperativas de produção, espalhadas e

abrangentes e de influencia política e econômico.

7 Considera-se aquelas cooperativas fundadas na década de 50, e inicialmente formadas com tritícolas,

apoiando a Revolução verde.

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A massa de excluídos que vive neste ambiente e que predominantemente se

dedica à outras atividades por ter sobra de mão-de-obra na família e/ou para auferir

recursos e complementar a receita familiar, ficou enfraquecida nas últimas décadas.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO

O estudo em questão, trabalhará na discussão da relação da Agricultura Familiar

com o Turismo Rural e outras na área em foco, passando pela pluriatividade,

multifuncionalidade, pequena agroindústria familiar ou colonial, e atividades do setor

informal. Tudo isto inserido num contexto regional agrário, produtivo, social, ambiental

e cultural.

Todas estas abordagens confrontadas com a opinião do público alvo: família

rural, setor público e empresário rural e de turismo.

A história contemporânea tem assistido a mudanças quase inacreditáveis, como a

revolução da informática, a robótica, da biotecnologia, a degradação ambiental, o efeito

estufa, o fim da guerra fria, o surgimento de organismos supranacionais controlando os

estados nacionais, a superpopulação aliada a miséria, a dificuldade na distribuição dos

alimentos, a situação financeira internacional e particularmente nos blocos econômicos,

o fortalecimento das empresas transnacionais, a crise do modelo econômico, as crise

políticas, a eclosão de conflitos e atentados contundentes, as transformações nas

relações de poder. Todas estas relações estão produzindo profundas alterações nas

relações de produção e comércio entre os povos.

Novos comportamentos são exigidos dentro de uma visão de modernidade, onde

a própria modernidade é questionada. Pede-se espaço para participação das pessoas. Os

modelos são divulgados e difundidos criando e aumentando o anseio dos povos, tanto

em pequenos agrupamentos, como em organizações ampliando para os acontecimentos

que determinam os rumos da sociedade globalizada.

O avanço tecnológico dos últimos decênios aumentou a expectativa de vida e

gerou melhor conforto material. As tensões nas relações humanas elevaram-se a níveis

alarmantes. O consumo de drogas cresce assustadoramente trazendo consigo um rol de

outros problemas.

Tornou-se quase normal a angústia a ansiedade, a depressão. A psiquiatria tem

sido o ramo da medicina importante e as pessoas encaram com a maior normalidade,

tendo que adaptar-se ou fugir para ambientes que amenizem ou curem os males

neurológicos. Tem sido comum o tratamento de doença fisiológicas isoladamente, sem

considerar a interferência neurológica nestes casos.

As camadas mais carentes da população apresentam um quadro mais instável e

caótico. Quadro este que espalha-se e atinge duramente a classe média, elevando o nível

de desesperança que leva as pessoas à busca de ilusões e não comprometimento com a

responsabilidade social e ética, e encobrindo os traços culturais que sustentam e

entrelaçam as comunidades, enfraquecendo os laços de solidariedade humana. Esses

desligamentos aprofundam as dificuldades nas relações interpessoais e provoca a perda

de potencial criativo e dos diversos talentos pessoais.

As crises do fim do milênio atingem os segmentos e instituições socioculturais.

O desemprego, a violência urbana (certas áreas rurais não estão mais seguras) e a

desestruturação dos organismos sociais são alguns dos fatores responsáveis pelos

desequilíbrios no estado de espírito ou do desânimo das pessoas de nossa época.

É neste contexto de perplexidade é que teremos que repensar a produção de

bens, a vivência, os ambientes, o consumo, os males, os lucros, as comunidades e

pessoas que são as protagonistas deste universo.

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Protagonistas estes com poucas perspectivas, com desgastes emocionais,

estresses, com inúmeras disfunções (úlceras, hipertensão, problemas de ordem

psicológica e outros tantos), resultado desse processo de desarmonizarão das relações

interpessoais por esta nova ordem.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3. 1. A revolução na agricultura

Nas últimas décadas, principalmente após 1950, com o incremento da Revolução

Verde”8, o mundo viu-se perante o fato do meio rural ser palco de transformações mais

rápidas que a velocidade do raciocínio do homem rural. O atropelamento tecnológico,

sob forma de pacotes é algo assustador. Na esteira da produtividade da agricultura, veio

a industrialização, o incremento da adubação química, a venda de volumosas

quantidades de máquina agrícolas e equipamentos, a disseminação de agroquímicos, o

crédito rural fácil e barato, para poucos e grandes no começo, sob a “cortina de fumaça”

da produção de alimentos para o mundo.

Neste espaço encobriu-se o interesse da indústria farmacêutica e suas

ramificações, de outras transacionais com fins concentradores e potencializadores de

poucos países e empresas. Além disso:

“A Revolução Verde levou à expansão do cultivo das variedades híbridas e de

alto rendimento, ameaçando a conservação dos recursos genéticos provenientes dos

centros de diversidade das espécies alimentares. O surgimento das novas biotecnologias

gerou uma tendência ao fortalecimento dos direitos de propriedade industrial e

intelectual no âmbito internacional, que podem gerar o controle monopólico sobre o

genoma e os processos tecnológicos fundamentais ao desenvolvimento de novas

variedades alimentares, colocando em risco o livre acesso à matéria-prima do

melhoramento vegetal. Isto faz com que a preocupação com a conservação e o controle

da base genética se inserir como um elemento indispensável da noção de segurança

alimentar”. (PESSANHA:1998).

A base genética é importante no contexto da Segurança Alimentar na medida

que possibilita uma série de avanços tecnológicos voltados também ao produtor rural e

não só tecnologias voltadas e implementadas por transnacionais. Nesta linha o setor

tecnológico segue no rumo do atendimento de preceitos desinteressados da segurança

alimentar.

Ainda temos como situação agravante, o caso das dívidas externas dos países do

3º mundo que precipitam ajustes internos na economia, recaindo sobre nós

conseqüências nefastas, principalmente com a retomada da hegemonia norte-americana

no cenário político e econômico mundial (Delgado:1998).

E o caso dos forçados ajustes econômicos em nome do pagamento de dívidas

externas em detrimento de benefícios sociais de parcela significativa da população dos

países do terceiro mundo.

A Política Agrária também influenciou decisivamente na implantação do modelo

de desenvolvimento rural como cita Delgado: 1990:

“- A Política Agrária por sua vez tem como objetivo tradicional intervir na

estrutura da propriedade e da posse da terra prevalecente no meio rural, através de sua

transformação ou regularização nas regiões onde a terra já foi historicamente apropriada

privadamente (política de reforma agrária) e de sua influência no processo de ocupação

de novas terras consideradas pelas agência estaduais ou pelos autores privados – como a

8 - Programa desencadeado no Brasil com o intuito de “produzir alimentos para o mundo”, que viabilizou

a industrialização, a geração de mão-de-obra barata, o incremento de uso de insumos químicos sintéticos,

o êxodo rural, o inchaço dos centros urbanos, o empobrecimento do campo e da cidade.

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fronteira agrícola (política de colonização). Isto significa que a política agrária é

eminentemente uma política estrutural – de intervenção direta em estruturas existentes,

tendo em vista sua alteração ou consolidação e de longo prazo, pois seus efeitos serão

plenamente percebidos apenas passado algum tempo após a sua implementação.

Ademais, a política agrária está assentada na concepção de que a propriedade e a posse

da terra – especialmente em economias e sociedades como as latino americanas – são

fatores especiais que condicionam a estrutura da produção agrícola, as condições de

produção de grupos sociais distintos e as relações de poder no campo, e determinam a

distribuição da riqueza e da renda entre os diferentes tipos de agricultores que coexistem

no meio rural. Neste sentido, a política agrária é considerada um instrumento

indispensável para que desencadeie num país com as características do nosso, um

autêntico processo de desenvolvimento rural sustentado e não apenas de

desenvolvimento agrícola”.

Nos últimos tempos a produção familiar tem tomado uma maior importância em

vários setores: literatura e política agrícola muito em função da falência do modelo

vigente e a luz de uma nova ordem economia.

Se a política de colonização assim como a política agrária priorizam a posse da

terra em detrimento de uma política de viabilização de propriedades novas, das famílias

e por conseqüência a viabilização de um ambiente social que irá privilegiar ou

beneficiar muitos. O processo de expansão de fronteiras e o processo de assentar sem

bases técnicas , políticas e assistênciais sólidas incorrerão em erros que terão

desdobramentos a curto prazo, normalmente negativos.

3.2. A pluriatividade na agricultura familiar

Dentre todos os debates fortemente tem aparecido a pluriatividade do meio rural.

As crises econômicas e sociais tem forçado os integrantes da família rural a buscar

outras formas de sustentação econômica e revivendo velhas profissões desempenhadas

nas comunidades rurais na era pré-revolução verde pois a pluriatividade sempre existiu,

agora só ganhou importância no contexto, tendo resposta para determinadas situações

não para outras, podendo combinar com a reforma agrária. A pluriatividade ressurge

com força e com nova roupagem , a ser encarada como um novo fenômeno. Ela é nova

na relação com o sistema econômico. Antes, a pluriatividade, caracterizava-se pela

autonomia dos processos e o domínio por parte dos agricultores. Hoje na pluriatividade

o agricultor é parte do processo em que a exploração capitalista da mão-de-obra é a

principal motivação. O termo pluriatividade esconde, portanto, uma diversidade de

fenômenos, que normalmente não leva em conta na análise o conjunto da família, suas

estratégias reprodutivas e sua inserção na economia e na sociedade mais abrangente.

A pluriatividade estaria assim apontando para novas formas de exploração

agrícola, não exclusivamente agrícola, e cuja atividade agrícola pode assumir diferentes

pesos para a renda familiar. Assim pensando algumas unidades agrícolas podem perder

parte ou toda a exploração agrícola e em outras reforçá-las.

A pluriatividade também pode ser um elemento de reforço na relação campo-

cidade que traz novos elementos para as famílias rurais contribuindo para a melhoria da

qualidade de vida não apenas pela renda complementar mas, diria, da aquisição cultural

que advém desta relação com a cidade.

Na pluriatividade, a mulher (questão de gênero) também exige uma nova

inserção social além de mãe e esposa. O jovem ter sua renda vinda de fora da unidade

agrícola, provocando uma remuneração ou uma individualização da remuneração sem

no entanto provocar a desestruturação da unidade .familiar.

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Por outro lado, a pluriatividade pode ser um fator de aumento da jornada de

trabalho e/ou se constituir na diminuição da penosidade da atividade agrícola pela

compra de equipamentos, fruto do aumento da renda que vem da atividade paralela e

que por conseqüência vem melhorar as condições de trabalho dentro da propriedade.

Por ser uma prática que se enquadra na cultura das comunidades, e por encaixar-se

numa economia que tende a informalização das relações de trabalho, a pluriatividade

atravessou décadas, sofreu com as mudanças estruturais e políticas; foi rotulada de

atrasada , pouco produtiva, pouco econômica, com práticas contrárias ou que não

acompanhavam a velocidade da tecnologia, etc. A organização da família de

agricultores com propriedade de terra oferece uma segurança a esse trabalhador

pluriativo que é a produção de alimentos, a moradia e a solidariedade familiar. Não se

pode generalizar a pluriatividade a toda agricultura familiar, as situações são distintas,

os significados são múltiplos e, logicamente, a dinâmica de exercer a pluriatividade

também é múltipla.

Com certeza a forma como está se desenvolvendo a pluriatividade no pós

Revolução Verde tende a formar novos tipos de famílias rurais pluriativas com base na

propriedade onde esta pode ser explorada de outras formas que não a exclusivamente

agrícola.

É durante a década de 90 que o conceito de pluriatividade toma força no debate,

após a difusão de conceitos trabalhados na década anterior nos países desenvolvidos,

sobretudo na Europa. No Brasil está ligado a evolução da Agricultura familiar e na

modernização da agricultura (Wilkinson, 2000:10).

Em Wilkinson; 2000 – são colocadas 3 questões que são levantadas quanto à

análise e propostas política desenvolvidas nos estudos de pluriatividade: “Em primeiro

lugar, a separação de agricultura e agroindústria em distintos tipos de ocupação muitas

vezes não corresponde à realidade e onde ela existe pode ser parcialmente revertida.

Analisamos em outro lugar, a importância de agroindústrias rurais onde o próprio

agricultor processa seu produto agrícola. Esta estratégia de verticalização ou de

agregação de valor tem sido responsável pela elaboração de política como PRONAF

Agroindústria a nível nacional, e PROVE no Distrito Federal, agora reduplicado em

vários municípios. A miniaturização de tecnologias, a segmentação dos mercados e a

persistência de mercados de proximidade abrem oportunidades para manter e fortalecer

tendências de agroindustrialização integrada a atividade agrícola. A valorização de

produtos “naturais”, também age no mesmo sentido a medida em que promove uma

agroindustrialização light (produtos preparados e embalados) integrada à atividade

agrícola.

Segundo, os novos mercados de nicho não precisam ser ocupados,

prioritariamente, por “chacaristas” ou “neo-rurais”. Se os recursos para programas

visando o setor de PMEs (Sebrae, Programa de Crédito Agregar) fossem dirigidos a

reconversão de atores tradicionais e se fossem acompanhados de programas de

capacitação uma parte importante destes mercados de nicho, poderia ser contestada por

produtores agora sendo excluídos dos mercados tradicionais de commodities. Nestes

novos mercados a barreira mercadológica parece mais forte que a tecnológica o que

favorece os “neo-ruralistas”. Por outro lado, muitas vezes existe importantes elementos

de continuidade entre os mercados de proximidade ocupados por produtores tradicionais

e os novos mercados de nicho. Não é indiferente que categoria social ocupa estes novos

espaços de mercado, tanto do ponto de vista do êxodo rural quanto da dinâmica social

do meio rural. Políticas de aprendizagem dos atores tradicionais nas áreas críticas de

mercados, tecnologia e gestão podem influenciar fortemente o resultado.

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Em terceiro lugar, o enfoque de pluriatividade, tende a aceitar a irreversibilidade

da modernização agrícola, evidente na referencia a uma agricultura de duas velocidades

e também na maneira de interpretar as tendências de declínio das ocupações agrícolas.

Novas exigências dos atores econômicos ligados ao mercado de produtos que usam

menos insumos químicos, bem como a exploração do mercado para produtos orgânicos

e a campanha contra transgênicos colocou em questão o futuro do modelo produtivista.

Nada exclui que estas tendências sejam reapropriados pela agricultura em escala, mas

no momento elas criam um ambiente propício a uma revalorização da produção familiar

sobretudo se acrescentamos as preocupações em torno do meio ambiente. Esta

conjunção de fatores aponta para promover a multifuncionalidade da propriedade

agrícola que complementaria a pluriatividade do produtor rural e cujo eixo natural seria

a agricultura familiar”.

É nesta conjugação de mercados agrícolas, (artesanais, orgânicos coloniais),

novas atividades rurais (agroturismo, lazer) é que surgiu perspectivas de inserção de

parcela de excluídos, de modificação de políticas públicas e de integração rural - urbana

de forma a propiciar condições de ampliar relações de mercados.

3.3. A agricultura familiar

Segundo Abramonay, 1999 “o padrão de crescimento urbano que o Brasil vem

experimentando nos últimos quinze anos pode tornar-se um trunfo para a revitalização

de seu meio rural. As políticas voltadas para o fortalecimento e para criação de novas

unidades familiares no meio rural terão tanto mais sucesso quanto mais importantes

forem as oportunidades de intensificação de suas ligações dinâmicas e diversificadas

com as cidades”.

As cidades tendem a alastrar o seu dinamismo às comunidades e população ao

seu redor, no entanto, para que estas populações possam usufruir disto, é necessário que

as mesmas estejam dotadas de prerrogativas e dos meios suficientes. Tanto canais de

transportes como de comunicação são fundamentais para o incremento do

desenvolvimento rural do país. Além disto a mobilização das forças sociais do país

interessadas na valorização do meio rural é de fundamental importância para que se

desenvolvam aquelas regiões condenadas ao atraso e ao abandono.

Se uma nova dinâmica territorial fosse implementada certamente, como afirma

Abromonay : “O papel das unidades familiares pode ser decisivo”. Para as políticas de

desenvolvimento descentralizadas valorizando os atributos locais e regionais são

decisivos, só a dinâmica do mercado certamente não será suficiente podendo inclusive

acirrar a exclusão social.

É com certeza que o custo de uma oportunidade de trabalho no setor rural é

inferior a qualquer outro setor, isto deve ser visto como um trunfo. Baixos

investimentos podem gerar emprego e renda, viabilizando não só um emprego, mas uma

unidade familiar viabilizando a sobrevivência de um grupo de pessoas.

Nesse ínterim, das organizações locais dependem a capacidade de alterar a

maneira como os benefícios se relacionam com a sociedade. Com certeza não é o

volume de investimentos mas a forma como são aplicados é que propiciará a inversão.

Cada vez menos a sociedade vê o espaço.rural como estritamente produtivo. A

multifuncionalidade é crescente e presente e a pluriatividade cada vez mais ocupa os

espaços espontaneamente, motivado ou impulsionado por políticas locais, nacionais e

estaduais.

A pluriatividade e a multifuncionalidade cada vez mais afloram no seio da

agricultura familiar que se caracteriza no Brasil sob 3 formas:

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a) A gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são

executados por indivíduos que mantém entre si laços de parentesco ou de matrimonio;

b) A maior parte do trabalho é igualmente proporcionado pelos membros da

família;

c) A propriedade dos meios de produção (embora nem sempre a terra) pertence a

família, e é no seu interior que se efetua sua transmissão em caso de falecimento ou

aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva (FAO/INCRA, 1996, in Brose,

1999:36).

Apesar da existência destas características comuns, não podemos perder de vista

a enorme heterogeneidade existente no seio da agricultura familiar brasileira.

Conforme sugere o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA, 1996, in Brose, 1999:38) esta se divide em 3 grandes categorias, segundo seu

estágio de desenvolvimento tecnológico e perfil sócio-econômico:

a) Agricultura familiar consolidadas, constituída por estabelecimentos familiares

integrados ao mercado e com acesso a inovações tecnológicas e a políticas públicas. A

maioria funciona em padrões empresariais, alguns chegando até a integrar o chamado

agribusines.

b) Agricultura familiar em transição, constituída por estabelecimentos que tem

acesso apenas parcial aos circuitos da inovação tecnológica e do mercado, sem acesso a

maioria das políticas e programas governamentais; embora não estejam consolidadas

como empresas, possuem amplo potencial para sua viabilização econômica.

c) Agricultura familiar periférica, constituída por estabelecimentos rurais

geralmente inadequados em termos de infra-estrutura e cujo integração produtiva à

economia nacional depende de fortes e bem estruturados programas de reforma agrária,

crédito, pesquisa, assistência técnica e extensão rural, agro-industrialização, dentre

outros.

d) Esta classificação é usada por órgãos de extensão e formação por facilitar

didaticamente o seu entendimento e aprendizado. Hoje questiona-se também esta

classificação principalmente pela tênue divisão existente e pela interpretação que cada

cidadão, entidade ou setor dá a cada categoria.

A FAO9 também faz uma tabela comparativa entre os modelos de agricultura

patronal e agricultura familiar.

MODELO PATRONAL MODELO FAMILIAR

Completa separação entre gestão e trabalho. Trabalho e gestão intimamente ligados.

Organização centralizada. Direção do processo assegurada pelos

proprietários.

- Ênfase na especialização. Ênfase na diversificação

Ênfase em práticas agrícolas padronizáveis. Ênfase na durabilidade dos recursos e na

qualidade de vida

- Predominância no trabalho assalariado Trabalho assalariado como complementação.

- Tecnologias dirigidas a eliminação das

decisões “de terreno” e “de momento”.

Decisões imediatas, adequadas ao alto grau

de imprevisibilidade do processo produtivo..

Fonte: FAO/INCRA, 1994

Segundo os estudos da FAO/INCRA 1994 e 199611

, enquanto a agricultura

patronal se caracteriza por contratar um número limitado de trabalhadores residentes e

fomentar forte concentração de renda e exclusão social, a agricultura familiar, ao

9 - Material citado por Brose.

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contrário, apresenta um perfil essencialmente distributivo e possibilita maior eqüidade

sócio cultural. As vantagens apresentadas pela agricultura familiar são muito maiores no

que diz respeito à estabilidade e capacidade de adaptação, devido à sua ênfase na

diversificação é a maior maleabilidade de seu processo decisório.

A Agricultura Familiar não é um bloco homogêneo, dividida em diferentes

segmentos, anteriormente citados, exige tratamentos diferentes e específicos por parte

das políticas públicas.

É neste contexto que a agricultura familiar tem se revelado extremamente forte

e constrói provas suficientes para contrapor teorias de décadas passadas que indicavam

sua eliminação no início deste século. Adaptando-se e fazendo do espaço que ocupa um

cenário de produção, de organização e de formulação de propostas. Isto não implica

dizer que o êxodo rural não existe; pelo contrário, ele existe e acontece cotidianamente,

o que mudou foi o destino das famílias que saem. Na região de estudo, o principal

destino tem sido as cidades de médio porte, com população urbana superior a trinta mil

habitantes

Além disso temos as disparidades regionais que induzem à parâmetros mais

flexíveis para estas categorias, como a utilização da Renda Monetária Bruta, conforme

indicado pelos estudos da FAO/INCRA 1990;

- Extrato A, com renda entre a média da unidade geográfica (consolidados)

- Extrato B, com renda entre a média e a mediana da unidade geográfica

(transição)

- Extrato C, com renda abaixo da mediana da unidade geográfica (periféricos).

Ainda segundo dados da FAO, por falta de capacidade de outro financiamento,

pela exigüidade e fraqueza das terras, pela baixa capacitação dos recursos humanos ou

por serem vítimas do forte viés urbano das políticas públicas, as unidades de

subsistência tendem à dissolução levando consigo algumas em transição, motivados

pela migração ou pela pulverização mini-fundiária que gera estabelecimentos inviáveis,

por localização, forma de exploração ou sistemas de produção. Não existe precisão na

delimitação entre os estabelecimentos de subsistência e os em transição sugerindo zonas

de sobreposição.

Ampliando o enfoque analítico, Baiardi (1998) citado por Brose (1999:40)

elaborou uma tipologia na qual identifica cinco tipos de Agricultura Familiar:

- Tipo A, as unidades familiares de grande extensão: “farmerizados”,

principalmente no cerrado, intensivamente mecanizada e com uso de insumos químicos.

- Tipo B, as unidades integradas verticalmente com agroindústrias: em geral até

50 ha com intensiva tecnologia para homogeneizar a matéria prima.

Tipo C, a agricultura tipicamente colonial no Planalto do RS, no sul de MG, nas serras

do ES e certas regiões do PR e SC.

- Tipo D, a agricultura familiar semi mercantil: que se reproduziu na “brecha

camponesa”, predominante no interior do Nordeste do Centro-Oeste e do Norte, que

vem de longe sendo alvo de uma série de iniciativas públicas.

- Tipo E: as unidades familiares completamente desassistidas: em áreas de

poucos recursos naturais, com grande carência de infra-estrutura, à margem dos

processos de diferenciação dos demais segmentos.

No RS, a agricultura familiar, composta por cerca de 400.000 estabelecimentos é

classificado em: de mercado, de transição e de subsistência.

O Departamento de Estudos Agrários da UNIJUÍ, Deag (1997) citado por Brose,

sobre a estratificação da agricultura familiar no município de Ijuí aprofundou o

diagnóstico técnico-econômico dos estabelecimentos e identificou novo sistema de

produção no que diz respeito à combinação entre Superfície Agrícola Útil, o tipo de

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tração, as combinações de produções (soja + leite; leite + suínos + soja), e a intensidade

da produção de leite; as nove tipologias foram:

- Tração animal leite subsistência (Talsub)

- Tracão Animal Leite comercial (TALcom)

- Tração Simples Leite subsistência menor área de terra (TSLsub A)

- Tração Simples Leite subsistência maior área de terra (TSL Lsub AA)

- Tração Simples Leite comercial (TSL com)

- Tração Simples Leite intensivo (TSL int)

- Tração Mecanizada Completa Leite Grãos menor área de terra (TML

GrA)

- Tração Mecanizada Completa Leite Grãos maior área de terra

(TMLGrAA)

- Tração Mecanizada Completa Suínos (TM sui)

Esta classificação detalhada das unidades familiares de produção com base na

disponibilidade dos fatores de produção, na combinação das produções e características

do meio agroecológico, permitiu demonstrar e caracterizar as diferentes formas de

organização da produção acatadas pelas famílias e, principalmente, analisar o impacto

destas diferentes estratégias do nível de reprodução econômica e social dos

estabelecimentos ao longo do tempo.

A classificação por dinâmica de desenvolvimento elaborado pelo Departamento

Sindical de Estudos Rurais (DESER) 1997 citado por BROSE, 1999:45) coloca quatro

tipologias para o RS:

1. Tipo “Cintura Verde”: Região metropolitana

2. Tipo “Terceira Itália: Encosta da serra nos eixos Porto Alegre- Caxias e Porto

Alegre- Santa Cruz.

3. Tipo “Agro-industrial exportador: Engloba a mesorregião Planalto e Noroeste

do RS

4. Tipo “Malboro”: Compreende as regiões Sul, Litoral e Nordeste do estado.

É importante ressaltar que assim como foi construída ao longo dos últimos anos

uma classificação que permite diferenciar com maior acuidade as unidades de produção

familiar, antes reunidas sob a denominação genérica e indiferenciada de “pequena

produção”, para fim de discussão de políticas públicas e aferição de seus impactos

também é necessário construir uma classificação para diferenciação dos municípios no

meio rural. Os municípios tem limitações e potenciais diferentes entre si, o que irá

definir o quadro referencial para as ações possíveis de serem executadas e delinear o

potencial de desenvolvimento existente.

3.4. O turismo rural

A importância crescente adquirida nos nossos anos pelo turismo como prática

social e, principalmente, como atividade econômica tem contribuído para o surgimento

de diversas iniciativas direcionadas para seu desenvolvimento. Boa parte das ações está

dirigida para a promoção do turismo pelos benefícios econômicos que pode gerar, como

divisas para os governos, novos investimentos privados em emprego e renda para a

população, objetivo de inúmeros programas governamentais elaborados e executados

principalmente na última década.

Não resta dúvida que o mundo da produção e do trabalho passa por

transformações, tornam-se importantes as iniciativas que visam criar mercados,

dinamizar economias locais e gerar emprego e renda para as populações por meio de

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incentivos a setores como o turismo por ser um dos mais dinâmicos da economia

mundial e está em franca expansão na chamada “indústria de serviços”.

Diz Silveira (2001:134) que o turismo, por conta do fluxo de pessoas, infra-

estrutura e equipamentos de que necessita pode provocar danos ambientais, por isso,

não deve ser visto como uma panacéia, mas com realismo e prevenção. Qualquer plano

de desenvolvimento do turismo deve ser pensado e planejado. Por outro lado Silveira

(2001:134) entende que o turismo só pode ter sustentação com a plena participação das

comunidades locais envolvidas desde o planejamento a gestão.

Segundo informe recente da Organização Mundial do Turismo (OMT: 1999)10

novas tendências estão surgindo na prática do turismo e do lazer determinadas por

fatores como: interesse crescente por questões relativas ao meio ambiente, em particular

pela qualidade ambiental do lugar nos destinos turísticos; aumento por parte dos turistas

na procura de experiências mais autênticas e de convívio com o modo de vida e

costumes locais; necessidade emergente de práticas de lazer mais saudáveis; demanda

crescente por tranqüilidade e relaxamento que a vida no campo oferece em contraste

com o estresse da vida urbana; interesse maior em cuidar da saúde física e mental, e

portanto, de férias mais ativas; e, principalmente, aumento no volume de ofertas e no

marketing de produtos turísticos ligados ao meio rural e à natureza, por parte de

operadoras e agências de turismo.

O turismo até 1980 era formado por um público que queria ver algo, de massa,

tipo excursões, colônia de férias, etc. Após este período, o público turista busca viver

experiências novas e emocionantes em viagens individuais ou pequenos grupos. Este

turista quer participar, viver as atividades a que se propôs . Nisto o turismo rural tem

sido saliente, exigindo um turista mais educado e orientado para a preservação dos

locais de lazer e entretenimento, buscando a sustentabilidade e a perenidade dos

ambientes.

Ainda Silveira (2001:135) cita: o recente interesse pelos chamados “turismo de

interior” também agrupados sob o rótulo de “turismo alternativo” e que inclui

modalidades como turismo rural, turismo cultural, turismo ambiental, ecoturismo,

turismo de aventura e outros. A procura por lugares com qualidade ambiental e pouco

saturados, por férias ativas, pelo contato com a natureza e a integração com a cultura e

os costumes locais tem feito com que os espaços rurais e naturais tornem-se destinos

privilegiados dos fluxos turísticos de caráter alternativo. Nas palavras de Cavaco, citado

por Silveira (2001:136): “A concentração espacial da demanda a homogeneização da

oferta turística fizeram sentir a necessidade de formar alternativas e diferentes de

turismo, mais harmoniosas nos seus aspectos naturais, sociais e locais: contatos e

partilhas de experiências e saberes entre visitantes e populações autóctones. Perante os

custos ambientais e sociais do turismo de massa, convencional, gregário, próprio de

uma sociedade de consumo, organizado “industrialmente”, afirmam-se procuras

diferenciadas, novas, responsáveis e sustentáveis, seletivas em termos econômicos e em

valores e comportamentos pessoais, seja no próprio interior do país, seja em regiões

mais distantes, desenhando talvez o turismo do futuro, isto é, mais integrado

culturalmente e ambientalmente (1996:104)”.

Economicamente, as formas alternativas de turismo são vistas como

possibilidades para o desenvolvimento de regiões e localidades cujas características as

identificam como espaços rurais ou espaços naturais protegidos, ou simplesmente

lugares que possuem recursos naturais e culturais não degradados e potencialmente

exploráveis para fins turísticos. Outro aspecto que diferencia este tipo de turismo do

10

- Citado por Silveira, 2001.

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produto convencional é seu planejamento como turismo especializado, e, em geral,

praticado em pequena escala. Seu desenvolvimento, além de ser economicamente

viável, deve ter como princípios a preservação do meio ambiente e a promoção do bem-

estar das populações locais.

A apropriação do espaço rural para satisfazer as necessidades de ócio e lazer da

sociedade urbana tem potencializado enormemente as suas aptidões turísticas, não para

a prática do turismo massificado, como foi dito antes, mas de formas alternativas de

turismo, de baixa densidade, adaptados as características do espaço rural.

Muitas atividades estão sendo implantadas e desenvolvidas no espaço rural,

colaborando para torná-lo cada vez mais multifuncional e com papel fundamental e

crescente na vida urbana. A complexação desta configuração fortalece a conexão

urbano-rural.

No que se refere ao turismo rural, dada a relevância que tem adquirido em

matéria de oferta e demanda há uma certa profusão de termos empregados para designá-

lo, os quais trataremos neste trabalho.

Podemos salientar que Silveira destaca que em alguns trabalhos na Europa

definem o turismo rural com base em três fatos:

1. O turismo rural é um conceito amplo que engloba não apenas o gozo das

férias em fazendas, mas qualquer outra atividade turística que ocorre no campo;

2. O turismo rural recobre, igualmente, toda atividade turística no interior do

país.

3. Turismo rural é um conceito que abarca toda atividade turística endógena

suportada pelo ambiente humano e natural. (Comision de Las Comunidades Europeas,

1990, in Silveira. 2001:137)

No Brasil, a Embratur, o órgão oficial responsável pela formulação da política

de turismo no país, adotou um conceito de caráter mercadológico ao definir turismo

rural como “um conjunto de atividades turísticas comprometidas com a produção

agropecuária, agregando valor ao produto do meio rural, resgatando e promovendo o

patrimônio cultural e natural das comunidades do campo” (Embratur: 1998, in Silveira

(2001:137). Alguns autores adotam uma concepção mais ligada aos aspectos culturais a

exemplo de VAZ (1999) in: Silveira (2001:138) para quem “o turismo rural diz respeito

ao conjunto de atividades que compõe a vida no campo, envolvendo a experiência do

dia a dia nas fazendas, o convívio com camponeses, a montaria de cavalos, as

plantações, as pastagens, o sabor dos alimentos comidos diretamente da fonte. “E, ainda

existe autores que levam em conta a dimensão espacial, da atividade, Beni (1998) citado

por Silveira (2001: 138), que conceitua o turismo rural como “o deslocamento de

pessoas à espaços rurais, em roteiros programados ou expontâneos com ou sem

pernoite, para fruição dos cenários e instalações agrícolas”.

Baseado no exposto, podemos dizer que existem diferentes termos para se referir

ao turismo rural assim como são dadas diversas conceituações para essa atividade. Isto

porque trata-se de uma atividade multifacetada que ocorre no ambiente rural ou em

espaços similares.

A principal motivação para o turismo rural está baseada na procura por atrativos

associados a recreação, descanso, desfrute da paisagem, contato com a natureza, contato

com a cultura local, consumo e/ou compra de produtos locais típicos, passeios (a pé, a

cavalo ou de bicicleta) até a prática de esportes, aventura, pesca, viagens educativas, etc.

Cabe ressaltar a importância do turismo rural no desenvolvimento de localidades

onde ele ocorre. Como diz Vera et al, citado por Silveira (2001:138): “ O turismo rural e

o turismo em espaços naturais são concebidos como fatores de desenvolvimento das

áreas rurais e naturais e, em conseqüência, este tipo de atividade constitui um

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componente básico do desenvolvimento local a partir do respeito ao patrimônio cultural

e natural e da participação direta da população rural (1997:122)”.

Como em outros países, no Brasil o turismo rural também vem sendo adotado como um

dos instrumentos da política de desenvolvimento de localidades rurais, conforme

demonstra a atividade do governo federal ao incluí-lo nas Diretrizes, Estratégias e

Programas da Política Nacional de Turismo, como uma das atividades estratégicas a

serem usadas para diversificar o produto turístico nacional (Embratur, 1995).

Também no Brasil o turismo rural está sendo colocado no contexto do

desenvolvimento sustentável, assim conceituado pela OMT: “Aquele que satisfaz ou

necessidades presentes dos turistas, ao mesmo tempo que preserva as regiões de destino

e incrementa novas oportunidades para o futuro. Ele deve ser concebido de modo a

conduzir à gestão de todos os recursos existentes, tanto do ponto de vista da satisfação

das necessidades econômicas, sociais e estéticas quanto da manutenção da integridade

cultural, dos processos ecológicos essenciais, da atividade biológica e dos sistemas de

suporte a vida (OMT, 1998:21, in: Silveira, (2001:139).

Em outros termos, o turismo rural sustentável é um enfoque que se propõe

reduzir as tensões surgidas à partir das complexas interações existentes, entre a indústria

do turismo, os visitantes, o meio ambiente e as comunidades locais que são os anfitriões

do mercado do lazer e da viagem. Um enfoque que visa manter a longo prazo a

viabilidade e a qualidade, tanto dos recursos naturais quanto culturais.

Visa harmonizar, o produto turístico, o visitante e a população local.

Há que se ter o cuidado para que o turismo sustentável não fique só na

expressão, dando-se à ela pouca importância como opção real para a política turística, a

medida que as idéias não se transformem em ação, portanto, o planejamento estratégico

integrado deve ser uma das principais metas.

O turismo rural, preliminarmente, sugere-se dois grandes grupos para fins de

classificação, conforme Rodrigues (2001):

1. Turismo rural tradicional: Com diferentes modalidades:

1.1. De origem agrícola: Inclui propriedades que historicamente se constituíram

como unidades de produção agrária durante os diferentes ciclos econômicos do país: do

café, da cana-de-açúcar, do ouro, do gado, da imigração, etc.

1.2. De origem pecuarista: Considerando equipamentos de hospedagem que se

originaram pela pecuária tradicional, principalmente onde a criação de gado funcionou

como instrumento de ocupação territorial no início da colonização.

1.3. De colonização européia: Cuja origem está relacionada à colonização

européia, no sul e sudeste, com propriedade de instalações suntuosas que hoje servem

de hospedaria requintada aos turistas.

2. Turismo rural contemporâneo: Opõe-se à primeira categoria por englobar

equipamentos implantados mais recentemente, notadamente à partir dos anos 70.

Caracteriza-se como alternativa ao turismo de “sol e praias”, predominante como

variante desta modalidade destacamos:

2.1. Hotéis – fazenda: Localizados na zona rural, implantados deliberadamente

para exploração desse turismo específico, valorizando a cultura rural, como o folclore, a

gastronomia, as atividades, de cavalgadas, esporte rural dos mais apreciados.

2.2. Pousadas rurais: De menor porte e de menor luxo procuram oferecer aos

visitantes a fruição da vida no campo, sem muita sofisticação.

2.3. Spas rurais: Enquadrados também na categoria de turismo de saúde,

versão moderna das antigas estações termais, oferece o bucolismo da vida campestre,

associando caminhadas para queima de calorias, esportes aquáticos, banhos de

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cachoeira para produzir ionização negativa, com a liberação de serotonina no fluxo

sangüíneo, responsável pelo bem-estar dos hóspedes.

2.4. Segunda residência campestre: Localizadas em áreas rurais próximo a

grandes centros urbanos

2.5. Campings e acampamentos rurais: Representam importante meio de

hospedagem no país, para jovem e famílias com crianças, localizadas em vales de rios,

áreas com expressiva cobertura vegetal, como as matas ciliares.

2.6. Turismo de caça e pesca: Presente no pantanal matogrossense,

representado pelos ranchos de pesca. Há casos em que os animais são criados para a

caça.

2.7. Turismo rural místico ou religioso: Em crescente expansão em vários

pontos do país. Em centros religiosos ou de vivência comunitária, e ainda tentativa de

contato com objetos voadores não identificados (OVNI)

2.8. Turismo rural cientifico-pedagógico: Para recepção de alunos e

estagiários. Visitas à escolas agrícolas de nível médio e superior, aliado ensino, lazer e

turismo.

2.9. Turismo rural etnográfico: Reprodução de aldeias indígenas para receber

grupos de estudantes.

Com certeza entre rol de modalidades não se esgota por aqui outros poderão ser

encontrados na rica experiência de turismo rural no Brasil, talvez até se chegar à uma

tipologia mais genérica, com menos tipos e que expresse grandes grupos em que toda a

experiência possa ser enquadrada.

3.5. O setor informal

No contexto da agricultura e do setor rural como um todo e em especial na

agricultura familiar as atividades não agrícola cada vez mais ganham força no lado

econômico da família rural, e normalmente esta adição financeira tem ocorrido por

desempenho de atividades não regulares ou seja na informalidade. Portanto o setor

informal cresce com as mudanças econômicas e as relações de trabalho, e o rural tem

acompanhado esta tendência.

Wilkinson (1998:31) diz que: “Junto com as estratégias não agrícolas e

artesanais do “novo mundo rural”, fica claro pelo tamanho do setor informal, que ainda

existem mercados importantes já ocupados pela produção familiar nas cadeias de

produtos alimentares tradicionais que precisam ser mantidos, bem como novos

mercados conquistados. De fato a fronteira entre commodities e produtos artesanais na

pequena agroindústria é bastante fluída. Muitas vezes, a mesma agroindústria oferece os

dois tipos de produtos simultaneamente ou evolui de um para outro. O mesmo pode ser

dito sobre a relação entre a pequena agroindústria e o turismo rural, onde o consumo

cultural que serve como atração passa, em grande parte, pelas tradições alimentares

locais. No caso brasileiro, portanto, o novo mundo rural se constitui num continuum

abrangendo a inserção mais autônoma nas cadeias tradicionais, a produção artesanal e o

turismo rural dentro de estratégias locais e regionais de reconversão”.

Estar no setor informal não significa estar na clandestinidade, na sonegação, por

outro lado pode significar uma reação criativa à burocracia estatal e as inadequações dos

serviços públicos e privados.

O setor informal pode ser definido “como uma atividade que não adota as

normas e as regulamentações que prevalecem num determinado momento no setor em

que opera. Estas normas e regulamentações, no limite, podem representar a imposição

de interesses específicos dentro do setor e a simples criação de barreiras a entrada. Por

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outro lado, eles podem expressar valores ou objetivos compartilhados, mas para os quais

existiram opções alternativas de normas e regulamentações. E, finalmente, estas normas

e regulamentações podem representar um “ideal”, refletindo valores e conhecimentos

consensuais, tanto do lado da produção quanto do consumo, mas cuja adoção implica

custos proibitivos”. (Wilkinson, 1998:33).

Uma parte significativa do setor informal se constituiu à partir de esforços de

burlar leis e regulamentações, sejam fiscais (tributos), trabalhistas (contribuições

sociais, salário mínimo, trabalho infantil) ou sanitárias (abate de animais contaminados),

ferindo os direitos do cidadão/trabalhador/consumidor. Nestes casos, não existe defesa,

muito embora seja importante reconhecer as ambigüidades que cercam cada uma destas

categorias: burocracia excessiva e corrupção podem motivar evasão fiscal; a linha

divisória entre a exploração do trabalho infantil e a unidade familiar de produção pode

ser fina; o desconhecimento pode ser a causa de falhas sanitárias. (Wilkinson;1998:33)

Tem sido muito atraente aos empreendedores o setor informal, mesmo correndo

os risco inerentes à atitude. Os motivos e justificativas saem pelo lado do alto

percentual de lucros (não há pagamento de tributos), pois é corriqueiro a produção

informal ser comercializada por valores aproximados ao de produtos com produção

legalizada; como a carga de tributos é elevada , no setor informal o produtor está

ficando com esta parte; e, ainda o descompromisso com o setor de produção e até para

aplicar o “jeitinho brasileiro11

” . Por outro lado as regras, leis e regulamentações rígidas

inatingíveis por grande parcela da produção informal tem desestimulado a continuidade

de inúmeros “iniciantes”.

O estrato da pequena agroindústria que se encontra na informalidade é

responsável pela movimentação de recursos de montante significativo e relevante um

qualquer economia do capitalismo, contudo é complicado sua determinação correta,

justamente por estar obscuro, alheia à qualquer fiscalização e registro de dados de

qualquer pesquisa ou instituição. No setor de turismo a informalidade sempre foi

preponderante, inclusive em locais que viabilizaria o registro oficial destas empresas.

Portanto, onde o turismo é incipiente e fora das principais rotas fica ainda mais

marcante a ação do setor informal.

A diversidade de mercados do setor informal é outra peculiaridade (hotéis,

lanchonetes, pequenos armazéns, quiosques de beira de estrada, pizzarias, balneários e

eventos diversos). Individualmente, são pequenos mercados mas fundamentais a

produção familiar. Este setor em grande parte dos casos é uma extensão das atividades

da cozinha da casa, confundindo-se no início. Atividade informal tem a vantagem de

otimizar a mão-de-obra da família, normalmente começa por um membro e a medida

que a atividade cresce outros membros vão sendo incorporados.

O trabalho informal, apesar de estar à margem das normas busca

incessantemente a formação profissional formal, demonstrando a vontade de “chegar

lá”, como dizem estes atores, que correm em busca de atender as regulamentações

demonstrando que não são aventureiros e oportunistas e sim atores dentro de um

processo concreto e contínuo e financeiramente importante para a família, a comunidade

local e o Estado. Hoje, a luta e a busca pela regularização da produção e

comercialização tem sido incessante nas classes menos beneficiadas da agricultura

familiar para evitar a total exclusão, a busca da cidadania e eqüidade (Wilkinson) destes

atores que enfrentam uma legislação não construída para eles.

11

- Citação popular referente a maneira com que, criativamente, o povo brasileiro contorne as barreiras

legais para se inserir em determinados setores, ambientes, ou mercados.

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4. A RELEVÂNCIA DO TEMA

4.1. O tema inserido no ambiente em estudo

Observa-se que esta relação intima entre a agricultura familiar, o turismo, o

turismo rural, e a conseqüente pluriatividade e a informalidade da produção acontecem

de certa forma harmônica após os devidos e inevitáveis confrontos, desencontros e os

mais diversos problemas locais e regionais públicos e privados, familiares e

comunitários. É um assunto importante no contexto regional perante a estagnação da

monocultura e os setores envolvidos, o distanciamento dos centros consumidores de

grande parte dos produtos alternativos ou da pequena agroindústria familiar, o

afastamento da grande agroindústria e a possibilidade de alavancar o desenvolvimento

de uma microrregião em função de um potencial latente, carente de investimentos, de

uma organização básica, da quebra de visão monocultural, da quebra de traços culturais

construídos para destruir tudo o que é pequeno nos mais diversos setores (grãos, carnes,

comércio e indústria, turismo, etc.).

4.2. O potencial do espaço de estudo

O turismo rural no município de Quinze de Novembro está qualificado como

“início de um empreendimento”, mas que possui forte potencial de crescimento e

desenvolvimento. Em primeiro lugar pela existência do alagado da Barragem do Passo

Real, que atinge 25.000 ha em 7 municípios e que está próximo da sede municipal com

fácil acesso. Em segundo lugar pela existência de uma população que tomou para si a

idéia de desenvolver o turismo em todos as suas variantes, vendo-o como fator de

arrecadação financeira, contribuição cultural e social ao município. Em terceiro lugar

pela participação, incentivo e promoção que o serviço público tem dado a este setor.

Todas as administrações municipais, desde a emancipação de Ibirubá em 1989,

tem apresentado propostas e programas e realizado ações de colocar o turismo como um

dos primeiros à receber atenção e investimentos públicos diretos ou através de

investimentos privados que olham o município como possível centro de retorno à

investimentos. Por outro lado a fértil experiência está se revelando modelo para outros

locais.

4.3. A agricultura familiar e a relação com o turismo rural

Neste contexto monocultural de alta tecnologia tanto na produção de grãos

quanto na pecuária comercial incentivado pelas, cooperativas tradicionais (tritícolas da

década de 50), encontra-se uma agricultura familiar que luta para não abandonar a

produção e busca meios outros para melhorar o orçamento das famílias e dos

componentes da família.

A busca de outras atividades urbanas ou rurais é uma constante. Quando a outra

atividade é urbana o risco da migração rural – urbana é grande por motivos já vistos

anteriormente. Quando a outra atividade é rural, agrícola ou não o risco de migração é

menor, fortemente influenciado pela moradia, presença da família e participação na

comunidade.

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Foi unânime nas conversas e entrevistas com o público alvo do trabalho frases

como essa dita por D. Lidia, da Tenda Rural12

Amingaí: “As vendas nas tendas dos

nossos produtos é mais uma renda para a família, por menor que seja”. Ela mesma

apresentou outra vantagem psicológica relativo à auto-estima feminina, quando diz: “É

positivo sair de casa, conversar com gente diferente, não cansa e o tempo passa rápido, a

gente nem vê e ainda ganha dinheiro”.

As tendas rurais, que são em número de 5 no município, abriga um universo de

30 famílias associadas, cada grupo é composto por 3 a 11 famílias. Antes da formação

dos grupos, a comercialização dos produtos era feita de forma individual,

desorganizada, sem padrão, sem qualidade, sem uma base de preços e com produção

descontinuada. Em um primeiro momento foi trabalhado um grupo pequeno composto

por 6 famílias e que acabou, por problemas de higiene principalmente, reduzido a 3

integrantes, mas que foi o alicerce de um trabalho integrado que evoluiu para todo o

município. A administração pública foi sensibilizada, cursos de qualificação

aconteceram para os feirantes. Junto a isto os grupos se mobilizaram e formaram listas

de possíveis produtos que poderiam ser comercializados. Cabe ressaltar o envolvimento

e a visão do setor público, EMATER e Prefeitura Municipal, apoiando e alavancando

esta iniciativa e ainda potencializando o mercado consumidor pelo incentivo ao turismo

de eventos , de aventura, de competição, de trilhas, do rural, principalmente, e inserindo

forte e agressivamente o nome do município na Rota das Terras.

Caso interessante é constatado na tenda do Sr. Ernesto e D. Vendila Schneider,

cujas vendas são a principal renda da família que explora ainda outras 7 ha com

produção de grãos (soja, milho, trigo). Sua venda dominante é composta de pão e cuca

coloniais.

Um dos entraves à regularização das agroindústrias foi resumido numa frase do

Sr. Ernesto: “Procuramos ampliar nossa produção de pão e cuca, mas nos exigiram

estrutura de fazer inveja à qualquer padaria da cidade, ia morrer de velho sem pagar a

conta”, analisa, corroborando a análise feita no texto anteriormente.

Citações dos entrevistados, foram observadas “in loco” durante o trabalho que

são qualidades materiais concretas ou subjetivas como o que diz Lorna, da

EMATER/RS local: “O trabalho nas tendas rurais despertou o espírito de grupo, a

organização no grupo e nas atividades em casa, na propriedade, a mulher conseguir uma

renda dela (melhorando a auto confiança), melhorou a qualidade dos utensílios dentro

da casa, facilitando os trabalhos, dando qualidade de vida e a auto-estima (se arruma o

dia que vai atender na tenda), desliga da casa, da rotina diária”.

Quanto às perspectivas dos grupos Lorna diz que: “Ensinamos à pescar agora é

acompanhar e motivar”. Neste sentido o Sr. Paulo Wilke diz: “O pior já passou agora é

caprichar, que no mínimo ficará igual hoje”.

O turismo tem surgido como formador de campo de trabalho absorvendo mão-

de-obra ociosa existente, ou forçando a racionalização de outras atividades relativas ao

turismo, ou substituindo atividades tradicionais por outras novas.

Estas outras atividades (artesanatos, produtos derivados de leite e carnes, confeitos,

panifícios, hortaliças, frutas in natura ou transformados), tem sido relegados em 80%

dos casos às mulheres; culturalmente os machistas dizem que “isto é coisa de mulher”.

Estas tem que produzir, processar, transportar e vender os produtos, normalmente nas

12

- Espaço construído pela associação de produtores de produtos coloniais revidentes na proximidade.

São em número de 5 no município. Servem para a exposição e vendas da produção. (pães, cucas,

hortigranjeiros, frutas, doces, compotas, conservas, embutidos, derivados do leite, açúcar mascavo,

rapadura, confeitos, artesanatos, galinha colonial (caipira), flores, feijão, melado, entre outros).

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“tendas rurais”. Há casos em que o marido não deixa a esposa vender, pois acha e diz

que “minha mulher não é de exposição prá andar por aí vendendo coisas”.

4.3.1. O fator associativismo e a pluriatividade

A pluriatividade desencadeada descrita anteriormente impulsiona a formação de

grupos em associações ou cooperativas. É o caso da tenda Municipal na rede do

município e das tendas Rurais, que são em número de cinco e em torno de 30 famílias

associadas. Esta associações possuem e seguem todos as prerrogativas do

associativismo. Há uma tenda que comercializa o ano todo, todos os dias com controle

financeiro e gerenciamento totalmente feito pelas famílias associadas.

É neste controle financeiro e rateios que observa-se os valores que cada família

arrecada mensalmente, na semana ou por ano, conforme a periodicidade com que são

fechados os balanços dos grupos. É através dos grupos que recebem capacitação relativa

à produção transformação e comercialização dos seus produtos, além de formular

projetos e buscar recursos para investimentos, buscar melhor infra-estrutura de

produção, transporte e comunicação. É na associação que são discutidos e definidos os

próximos passos do grupo. Como vão trabalhar, e a escala de trabalho nas tendas, e é

avaliado o quê e como foi feito.

4.4. O turismo na visão do setor público

Apesar do setor de turismo rural e tudo o que envolveu o tema estar na

informalidade, a administração pública entende que: “Aqui são gerados produtos, aqui

são vendidos, numa relação de confiança, e aqui fica o dinheiro”, afirma Arno Goelzer,

Secretário Municipal de Turismo, Indústria e Comércio.

A administração pública tem dado o primeiro impulso e proposto iniciativas em

atividades e ações voltadas a incrementar o setor, inclusive viabilizando mercados

temporários, eventuais ou permanentes.

A administração municipal elaborou projeto de lei, que está na Câmara

Municipal de Vereadores, onde destaca em seu conteúdo a proibição do uso e

comercialização de produtos formulados com o princípio ativo. 2,4-D13

, herbicida

dessecante largamente usado nas lavouras da região e que enormes prejuízos ambientais

trás. O projeto tem por objetivo qualificar o ambiente ao turismo rural e à produção de

produtos livres de agroquímicos.

Segundo Arno: “O crescimento do turismo deve-se à conjunção de fatores:

marketing, qualificação da mão-de-obra, trabalho conjunto e envolvimento da

comunidade”.

Neste momento, o município, segundo Arno Goelzer contra ataca o marketing

do turismo convencional de “praia e sol” com o potencial do município e região, que

são: “Não temos água salgada, mas temos:

- Segurança,

- Meio ambiente,

- Visualização e tendência agroecológica,

- Atendimento diferenciado,

13

- Princípio ativo de inúmeros produtos comerciais. É um herbicida de uso liberado por registro no

Ministério da Agricultura e proibido pelo Ministério da Saúde por ser comprovadamente cancerígeno. É

produto volátil em dias quentes espalhando seu efeito danoso à plantas e animais à distâncias superior a 2

km. Na região tem sido alvo de protestos, principalmente de produtos de frutas e hortaliças, com ações

judiciais em andamento e com ganho de causa, em primeira instância, aos reclamantes.

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- Potabilidade da água,

- Sossego,

- Cuidados com o meio ambiente (lei ambiental e lixo)”.

Isto mostra a disposição reinante na comunidade de colocar o turismo rural nas

primeiras prioridades de investimentos, tanto orçamentário, quando em recursos

humanos, na tentativa de alterar a rota natural ou induzida do processo de

desenvolvimento implantado na região.

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5. METODOLOGIA

5.1. Delimitação do universo de estudo

Levando-se em consideração que há uma certa homogeneidade do contexto

regional, se observarmos de uma forma geral, optou-se por trabalhar, no município de

Quinze de Novembro o conjunto de propriedades familiares, balneários públicos e

privados, serviço público que se localizam numa larga faixa que margeia o Lago da

Barragem do Passo Real.

Este é o público que constitui o universo deste trabalho.

5.2. Instrumentos de coleta de dados

As entrevistas semi-estruturadas foram aplicados para orientar o diálogo com os

interlocutores.

A compilação de relatórios, atas, balanças dos grupos de produtos foi

considerado. Inclui-se também os controles e relatório da EMATER/RS local.

A visita e o diálogo sem pré-orientação também foi usado para sentir a situação

in loco.

5.3. Perfil das pessoas do universo de trabalho

a) Agricultoras, agricultores e jovens rurais da Agricultura Familiar.

b) Empresários do setor (balneários).

c) Administração pública municipal (Secretaria Municipal de Turismo).

d) Serviço Público Estadual (Funcionários da EMATER-RS local).

5.4. Plano de coleta dos dados

- A primeira tarefa foi agendar as entrevistas com as pessoas protagonistas.

- Em seguida, efetivação das entrevistas e transcrição das mesmas, e visita aos

locais de turismo.

- O passo seguinte foi buscar as informações de relatórios, balanços e controles

das associações de produtores, através do escritório da EMATER/RS local.

5.5. Análise dos dados

Os dados foram ordenados em gráficos para análise. Os resultados das

entrevistas foram utilizados ao longo do trabalho e em especial nas considerações finais.

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6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Serão demonstrados através de gráficos os resultados financeiros de um grupo de

produtores que tem comercialização diária e contínua o ano inteiro e de outra tenda de

dois produtores que tem comercialização contínua, mas somente em finais de semana.

Observação: Alguns prejuízos à qualidade do trabalho foi constatado em função de

perda de informações pelos produtores, prejudicando parcialmente a elaboração e

análise dos gráficos.

- A leitura do gráfico 1, evidencia média de arrecadação pelo grupo no período

compreendido entre outubro de 2000 e abril de 2001 de R$ 986,23 e média de

faturamento de R$ 1.013,00 no período entre maio de 2001 e julho 2002.

- A análise, evidencia evolução positiva no faturamento considerando as médias

de faturamento nos dois períodos.

- A análise evidencia pico de vendas no verão de 2001/2002 e a queda no período

de inverno, explicado pela região possuir turismo de verão (águas).

- Observação: No período entre outubro de 2000 e abril de 2001, o grupo perdeu

as anotações, restando o volume de vendas o qual foi dividido pelo número de meses

resultando uma média mensal de vendas.

- A análise mostra ainda que o faturamento médio por família no 2º. Período de

maio de 2001 a julho de 2002, foi de R$ 112,44.

Gráfico nº 1 Tenda Rural - Grupo Amingaí

986,23 986,23 986,23 986,23 986,23 986,23 986,23

1 .1 93,96

983,1 6

1 .1 49,30

1 .022,24

669,97

1 .008,45

777,1

1 .1 25,62

1 .01 7,36

1 .523,1 6

1 .1 1 7,67

1 .01 2,89

1 .047,75

791 ,95

759,65

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

1000,00

1100,00

1200,00

1300,00

1400,00

1500,00

1600,00

Ou

t

No

v

De

z

Jan

Fe

v

Ma

r

Ab

r

Ma

i

Jun

Jul

Ag

o

Se

t

Ou

t

No

v

De

z

Jan

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v

Ma

r

Ab

r

Ma

i

Jun

Jul

M eses

( V alo r V endas)

R $

A no

Renda Mensal

(R$)

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Gráfico-2: Tenda Rural Del’Aurora – Verão 2001/2002

- A análise mostra que o faturamento médio por fim de semana foi de R$ 54,74,

dividido entre as 2 famílias. A tenda não funciona no período de inverno.

- Verificou-se queda acentuada em 3 fins de semana de janeiro, que segundo

relato dos produtores foram os três fins de semana com chuvas ou com eventos

paralelos na região, que restringe o público no local.

- Verifica-se razoável diferença de vendas de um fim de semana para outro, e

forte queda na 2ª quinzena de fevereiro de 2002. Os entrevistados não souberam

precisar o motivo, mas depreende-se que seja em função da existência de eventos

regionais nesta época, que desviaram o público, combinando com o final de temporada

de férias e feriado de carnaval (2ª. Quinzena de fevereiro).

- A forte oscilação das vendas mostra a instabilidade deste tipo de mercado. Uma

alternativa para evitar perdas maiores de produtos é a venda sob encomenda para

aqueles clientes já tradicionais (regulares).

TABELA – 1 – Tenda da Vendila – Ano: 2001

Mês Valor comercializado ( R$)

Janeiro 938,00

Fevereiro 1040,00

Março 810,00

Abril 231,00

Maio 320,00

Junho 377,00

Julho 404,00

Agosto 620,00

Setembro 681,00

Outubro 525,00

Novembro 390,00

Dezembro 848,00

- A localização no caminho dos turistas e a qualidade dos produtos e do

atendimento faz o diferencial desta tenda rural, possuindo inclusive clientes cativos que

repetem as compras com freqüência.

- Na tabela nota-se a elevação das vendas no período de verão, tendo forte

impacto na receita destas famílias num período de pouca comercialização de outros

produtos da agropecuária. Em uma das propriedades que compõe o grupo as vendas da

tenda é a principal fonte de renda.

75

55 5360

50

80

52

90

18

35

9

42

87

49

28

100

20

40

60

80

100

01/0

1/00

03/0

1/00

05/0

1/00

07/0

1/00

09/0

1/00

11/0

1/00

13/0

1/00

15/0

1/00

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- As quedas inesperadas que acontecem são geralmente ocasionadas por fatores

climáticos adversos nos fins de semana ou de eventos de âmbito regional que desviam

os consumidores; como é o caso do mês de Outubro de 2001.

- É marcante a elevada auto estima dos componentes do grupo ,principalmente das

mulheres, maiores responsáveis pelo sucesso deste tipo empreendimento.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a análise dos gráficos, depreende-se que a agricultura familiar

obtém resultados financeiros positivos, contribuindo com as receitas da família rural

envolvendo, em alguns casos todos os seus membros. A evolução da arrecadação

financeira é crescente (gráfico 1), corroborando análise verbal dos empreendedores

privados (balneários).

Há benefícios não materiais nas atividades não diretamente relacionada à

produção de grãos e pecuária, na transformação para venda, trazendo benefícios à auto-

estima das pessoas envolvidas.

O apoio dado à formação de associações de produtores e o produtor acreditando

nesta idéia certamente impulsionara as atividades.

A pluriatividade é uma realidade reavivada e fortalecida com incremento de

renda e com resgate cultural.

Os órgãos públicos tem uma clara visualização da realidade e das possibilidades,

o que facilita o processo de desenvolvimento local construído pela população local.

A inserção do município em programas e rotas regionais abrirá portas para a

agricultura familiar local e suas atividades.

As atividades turísticas, dentre estas o turismo rural, é reconhecido em toda a

região pelo ambiente de cordialidade reinante , pelas opções de lazer existentes, pelos

produtos oferecidos pela agricultura familiar em suas tendas. Por isto o nome do

município na região é sinônimo de descanso, lazer , opções de atividades diferentes, etc.

As famílias rurais envolvidas com os diversos tipos de turismo existentes

sofreram impacto econômico significativo, impacto social considerável e mudança de

hábitos que alteraram a rotina familiar acostumada à monocultura.

A população local beneficiou-se da qualificação dos produtos das agroindústrias

familiares, capacitadas por inúmeros cursos de qualificação.

O envolvimento e o apoio dado por este município aos seus produtores

facilmente poderia servir de modelo a outros que queiram implementar idéia semelhante

com perspectivas concretas de sucesso nas comunidades envolvidas. Isto também

fundamentou-se na idéia de desenvolvimento local enraizado nas lideranças e

comunidades: “Compramos e vendemos aqui tudo aquilo que for possível” – afirmam

com veemência. È forte também a estima pelo que é do local , ” O que é nosso é bom”,

junto, a auto-estima se eleva e se renova.

Problemas como a contaminação ambiental por agroquímicos é presente e

preocupante para lideranças e comunidade, assim como os acessos aos diversos pontos

do município, assim como a maior qualificação dos produtos e dos produtores

necessários pela incipiência do programa.

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8. BIBLIOGRAFIA CITADA

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mimeo 1999, in: Apostila do curso Agricultura familiar e Desenvolvimento rural,

módulo II, organizado pela ASCAR-EMATER/RS.

BROSE, Markus. “Marco conceitual”, in: Apostila do curso Agricultura

Familiar e Desenvolvimento Rural, Módulo II, organizado pela ASCAR-EMATER/RS.

DELGADO, Nelson G. “As relações entre a Macroeconomia e a política

agrícola. Provocações para um debate interrompido”. REDCAPA – CPDA, 1998, in:

Curso Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, Módulo I, organizado pela

ASCAR - EMATER/RS.

PESSANHA, Lavinia D. R., “Segurança Alimentar como um princípio

orientador de políticas públicas: Implicações e conexões para o caso brasileiro”. Tese de

Doutorado, 1998, UFRRJ, ICHS – CPDA, in: Curso Agricultura Familiar e

Desenvolvimento Rural, módulo I, organizado pela ASCAR-EMATER/RS.

RIEDL, Mário. “Turismo Rural: Tendências e Sustentabilidade”, 2002

RODRIGUES, Adyr B. “Turismo Rural”, contexto, 2001. (organizado).

SILVEIRA, Marcos “Política de Turismo: oportunidades ao Desenvolvimento

local”, in: Turismo Rural, contexto, 2001.

WILKINSON, John. “Distintos enfoques e debates sobre a produção familiar no

meio rural”, ABRIL 2000. CPDA/DAS/UFRRG, in: Curso Agricultura Familiar e

Desenvolvimento Rural, módulo II, organizado pela ASCAR-EMATER/RS.

WILKINSON, John & MIOR, L. C. “Setor informal, produção familiar e

pequena agroindústria: Interfaces”, 2000.