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TURISMO SUSTENTÁVEL E INFÂNCIAEXPERIÊNCIA EM CAMPINAS

Organizadores:Kelly Vanessa Kirner

Campinas, São Paulo1a. Edição

2010

Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro de Estado do Turismo Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho

Realização TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente

Apoio Programa Iluminar Campinas Movimento Vida Melhor – Disque Denúncia Campinas Vara da Infância e da Juventude de Campinas PEESCCA - Programa de Enfrentamento a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes Comissão de Enfrentamento a Exploração Sexual Comercial Contra Crianças e Adolescentes – CMDCA Campinas Secretaria Municipal de Educação

Equipe de execução do projeto Coordenadora Geral: Kelly Vanessa Kirner Coordenador Pedagógico: Ricardo de Castro e Silva Consultora: Rosana A. Borges de Carvalho Consultor: Lincoln César Moreira Coordenador de Produção do Livro: Luiz Henrique Pereira Mendes Educadora e Coordenadora de Trabalhos: Maria Beatriz Ribeiro Gandra Educadora: Caroline Cruz Educadora: Luciana Bittencourt

Texto e Edição: Kelly Vanessa Kirner

Assessoria de Comunicação: Mendes & Nader Comunicação e Responsabilidade Social

Projeto Gráfico e Editoração: Karine Alessandra Kirner

Revisão: Maria Lúcia Carneseca Montoro

Foto da Capa: LABORATÓRIO METUIA. DEPARTAMENTO DE TERAPIA OCUPACIONAL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Projeto “Rotas Recriadas: Enfrentamento à violência e exploração sexual infanto-juvenil em Campinas, SP”.

Os desenhos que ilustram esse livro foram criados por adolescentes durante o “II Concurso Reprove a Violência Sexual contra crianças e adolescentes: toda criança e todo adolescente tem o direito de não sofrer violência” realizado nos anos de 2009 e 2010 pela TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente com a rede de rede municipal de ensino de Campinas.

Impresso no Brasil

Tiragem desta edição: 1.000 exemplares

Este material faz parte das atividades realizadas pelo projeto “Turismo Sustentável e Infância em Campinas” realizado pelo convênio do Ministério do Turismo junto à TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescentes / Número 702071/2008.

A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida para fins não lucrativos desde que citada à fonte

Turismo Sustentável e Infância – Experiência em Campinas/Kelly Vanessa Kirner. Campinas/SP: TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente, 2010.

155 páginas; color.; 22 x 21cm

1. Turismo. 2. Enfrentamento a Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. 3. Responsabilidade Social. 4. Garantia de Direitos.

Enfrentar de forma eficiente a exploração se-

xual de crianças e adolescentes é um grande de-

safio, abraçado pelo governo federal em 2004.

Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos com o

apoio do Ministério do Turismo, para ajudar a

elevar o país a um patamar mais alto e justo, na

escala do respeito aos direitos humanos, princi-

palmente dentro do setor produtivo do turismo.

Entre esses projetos, o da TABA defende crian-

ças e adolescentes de Campinas – um dos muni-

cípios que mais crescem no estado de São Paulo

e desponta como um importante pólo de turis-

mo de eventos. No rastro do desenvolvimento

econômico, científico e tecnológico da região

metropolitana, a periferia cresce, inflada pela

imigração de famílias de baixa renda. Crianças

e jovens são lançadas todos os dias em situação

de risco. Por causa da pobreza, enfrentam uma

realidade de vulnerabilidades e violências.

Mais do que acolher essas crianças e adolescen-

tes, a TABA usa estratégias que colaboram para

transformar as vítimas de abusos em protago-

nistas de estórias recontadas de cidadania – gra-

ças à articulação social, sensibilidade, coragem,

criatividade e ao fortalecimento da autoestima

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por meio da qualificação profissional.

O Ministério do Turismo tem orgulho em dar

suporte a ações como essa. Desde 2004, o

Turismo Sustentável e Infância (TSI) investiu cer-

ca de R$ 27 milhões. Os recursos patrocinaram

cursos de capacitação, seminários e campanhas

de sensibilização. A parceria com as secretarias

municipais e estaduais, organizações não-gover-

namentais e empresas do setor é fundamental

para garantir capilaridade às ações.

Alguns números ajudam a retratar a importân-

cia do TSI. Ele mobilizou 110 mil pessoas, dis-

tribuiu 4 milhões de peças de comunicação,

produziu uma teleconferência em 2,3 mil salas

em todo o país, promoveu 163 seminários de

sensibilização, veiculou em 800 municípios uma

novela para rádio.

Metade dos 1.200 jovens capacitados conquis-

tou um espaço no mercado formal de trabalho.

Atualmente, outros 600 estão em formação.

Para garantir a manutenção e continuidade do

programa, 530 agentes locais passaram por um

curso de formação. São multiplicadores que aju-

dam a disseminar o conteúdo.

Além da prevenção, o TSI atua no combate

direto à exploração sexual com o Disque 100.

Uma central telefônica estruturada para receber

denúncias. De maio de 2003 a maio de 2010,

ela atendeu a 2 milhões de chamadas e encami-

nhou mais de 125 mil denúncias em todo o país.

O instituto TABA, espaço de vivência e convivên-

cia, funciona em sintonia com a política desen-

volvida pelo Ministério do Turismo para erradi-

car a exploração sexual do jovem e adolescente,

oferecendo, mais que esperança, a perspectiva

de uma vida muito melhor.

Ministro do Turismo

Luiz Barretto

Sumár

ioAberturA

Ministério do Turismo........................................................................................................

CApítulo 1 1 - O Projeto.......................................................................................................................1.1 - A TABA..........................................................................................................................1.2 - Parceiros do Projeto...................................................................................................

CApítulo 22 - Onde estamos: Campinas - Cenários e desafios no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes.....................................................................................2.1 - PEESCCA - Programa de Enfrentamento à Exploração Sexual e Comercial de Crianças e Adolescentes.....................................................................................................2.2 - Programa Iluminar Campinas - Cuidando das Vítimas de Violência Sexual..................................................................................................................................2.3 - Movimento Vida Melhor - Disque Denúncia Campinas............................................2.4 - Vara da Infância e Juventude.....................................................................................

CApítulo 33 - Diagnóstico para Embasar Ações do Projeto: “O Imaginário da Cadeia Produtiva de Turismo de Campinas a Respeito da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”......................................................................................................................

CApítulo 44 - Ampliar Conhecimento da Realidade para Gerar Compromisso: Mobilização do Trade Turístico e do Sistema de Garantia de Direitos......................................................4.1 - Mobilização e Capacitação do Trade de Turismo......................................................4.2 - Capacitação e Realinhamento do Sistema de Garantia de Direitos..........................

CApítulo 55 - Envolver os Jovens e Gerar Atitude: Estratégias de Participação Juvenil no Enfrentamento à ESCA........................................................................................................5.1 - Uma Parceria Construída Também com Adolescentes..............................................5.2 - Uma Ação Educativa Diferenciada: A Produção do Livro: “Que tal dizer não: Uma conversa de adolescente para adolescente”.....................................................................

CApítulo 66 - Disseminar a Causa Junto à Sociedade: Campanha Publicitária..................................

CApítulo 77 - Resultados e Desafios....................................................................................................

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A TABA – espaço de vivência e convivência

do Adolescente, Organização da Sociedade

Civil de Campinas, desde sua fundação atua

na defesa dos direitos da criança e do adoles-

cente. Participou desde o início das ações de

enfrentamento à violência sexual de crianças e

adolescentes na cidade de Campinas-SP. No fi-

nal de 2008, deixa de atuar no eixo de atendi-

mento integral e especializado às crianças e aos

adolescentes em situação de Exploração Sexual

Comercial e passa a se dedicar exclusivamente

à mobilização e à articulação do enfrentamento

ao fenômeno. Nesse mesmo ano, inicia a procu-

ra por parceiros, programas e ações que pudes-

sem apoiar sua atuação e fortalecer ainda mais

a rede já constituída em Campinas.

A cidade de Campinas, estado de São Paulo, é

sede da Região Metropolitana de Campinas,

composta por 19 municípios. A cidade possui

uma área de 801 km² e uma população que já

ultrapassa 1 milhão de habitantes. Apresenta

números que a colocam como uma das mais

importantes do Brasil: é a terceira cidade mais

populosa do estado de São Paulo; ocupa a 10ª

posição como cidade mais rica do Brasil, com

PIB de 27,1 bilhões de reais em

2007 – 1,2 % do PIB

brasileiro.

É pólo de pesquisa

e desenvolvimento

tecnológico do

país, princi-

palmente em

setores dinâ-

micos e de alto input científico/

tecnológico. Constitui-se uma re-

gião que apresenta um dos maiores volumes de

negócios realizados e experimenta um aumento

significativo do turismo de negócios e eventos

nos anos mais recentes.

A cidade encontra-se localizada entre as princi-

pais rodovias brasileiras: SP 348 - Rodovia dos

Bandeirantes, SP 330 - Rodovia Anhanguera

e SP 65 - Rodovia Dom Pedro I. Em Campinas

localiza-se também o Aeroporto Internacional

de Viracopos, o mais importante aeroporto bra-

sileiro em volume de carga aérea: 720 mil to-

neladas por ano. Atualmente esse aeroporto

tem capacidade para movimentar dois milhões

Idealizando o Projeto

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de passageiros por ano, e o plano diretor de de-

senvolvimento do Aeroporto de Viracopos, da

INFRAERO, prevê que este receberá até nove

milhões de passageiros por ano até o ano 2014,

ano da copa do mundo no Brasil. Campinas tam-

bém será sede do Trem de Alta velocidade – TAV

Brasil. As obras devem começar em 2011 e se-

rem concluídas em 2016 – ano das Olimpíadas

com sede no Rio de Janeiro.

Campinas realiza cerca de 6,5 mil eventos em-

presariais e associativos por ano, com a geração

de receita da ordem de R$ 850 milhões (exceto

aéreo) e projeção de crescimento de 18% a 20%

até o final de 2010. Trata-se de uma indústria

efervescente que movimenta outros 52 segmen-

tos, incluindo restaurantes, lojas, táxis, presta-

dores de serviços, etc. Campinas também figura

no ranking da ICCA (Associação Internacional

de Congressos e Convenções) entre as cidades

que mais receberam eventos internacionais em

2009: é a oitava da lista, com sete eventos, o

que coloca a cidade entre os 55 municípios das

Américas e na 231ª posição no ranking mundial.

Diante desse panorama de contínua amplia-

ção da rede de transporte aéreo, ferroviário

e rodoviário, encontramos a especialização e

a qualificação cada vez maior do turismo de

Campinas focado no segmento de negócios e

eventos.

No entanto a cidade convive com a perversa

contradição das grandes metrópoles, apresen-

tando significativo crescimento do movimento

migratório de famílias de baixa renda que ocu-

pam os bairros marcados pela pobreza, o que

agrava os processos de exclusão social pela

convivência com precariedade territorial e vul-

nerabilidades sociais. Os dados do Mapa da

Exclusão/Inclusão Social de Campinas1 revelam

altos índices de desigualdade/diferenças, mos-

trando uma distância social de 491 vezes, no in-

dicador de responsáveis com renda superior a

20 salários mínimos, entre o bairro com o pior

e o melhor índice de qualidade de vida. A pro-

liferação da exploração sexual infanto-juvenil

na região também acontece nas extensões das

rodovias, principalmente com a participação

de caminhoneiros de todo o país que acessam

a região. Embora as ocorrências ainda sejam

subnotificadas, só no município de Campinas

estatísticas2 indicam um total de 182 crianças 1 Mapa da Exclusão / Inclusão Social de Campinas. Campinas, 2003.2 Dados do programa de enfrentamento a ESCCA/Rua - CREAS/SMCAIS. Campinas, 2010.

12

e adolescentes no ano de 2010 identificadas

em situação de Exploração Sexual Comercial de

Crianças e Adolescentes.

Esse cenário levou a TABA a propor ao Programa

Turismo Sustentável e Infância, do Ministério

do Turismo, o desenvolvimento do projeto em

Campinas.

O projeto Turismo Sustentável e Infância

em Campinas foi planejado com base nas di-

retrizes do Plano Nacional de Enfrentamento

da Violência Sexual Infanto-Juvenil3 e do Plano

Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual

Infanto-Juvenil4 e trabalhou com cinco eixos:

Análise da Situação, Protagonismo Infanto-

Juvenil, Mobilização e Articulação, Defesa e

Responsabilização e Capacitação.

Através do eixo Análise da Situação, planeja-

mos, como uma primeira etapa deste projeto,

uma pesquisa em parceira com o CEMICAMP

- Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva

de Campinas5: Papel da cadeia produtiva de

turismo na exploração sexual de crianças

3 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS – DE-PARTAMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Infanto-Juvenil. Brasília, 20014 CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Municipal de Enfrentamento da Vio-lência Sexual Infanto-Juvenil. Campinas, 20035 Cemicamp - Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas. Campinas, Brasil.

e adolescentes em uma cidade com turis-

mo prioritariamente de negócios e eventos.

Essa pesquisa teve como objetivo identificar

causas e fatores de vulnerabilidade do segmen-

to do turismo no enfrentamento ao fenômeno.

Os resultados desse estudo apontaram diversas

situações que foram fundamentais para a to-

mada de decisões e a implantação de ações em

direção à prevenção e ao combate da explora-

ção sexual de crianças e adolescentes no pro-

jeto. Também houve uma busca pela equipe do

projeto para a sistematização de informações e

dados, quantitativos e qualitativos, disponíveis

em órgãos que atuam nessa área em Campinas.

O eixo Participação Juvenil se destaca pe-

los excelentes resultados que nos apresenta. A

TABA executou uma campanha junto às escolas

municipais de Campinas, abordando 4.450 ado-

lescentes de

12 a 18 anos,

com pales-

tras de sen-

sibilização e

informação a

respeito das

violências sexuais contra crianças e adolescentes Evento: “Adolescências: da vulnerabilidade á participação”

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e às formas de denúncia e enfrentamento. Esses

adolescentes foram convidados a inscrever tra-

balhos de histórias em quadrinhos sobre o tema

“Toda criança e todo adolescente tem o direi-

to de não sofrer violência, sobretudo a sexual”

no II Concurso reprove a Violência Sexual.

Foram inscritas 151 histórias em quadrinhos

produzidas por 450 alu-

nos organizados em gru-

pos de 4 a 5 por cada his-

tória em quadrinhos. Em

seguida, os alunos que

participaram do concurso

foram convidados a par-

ticipar da produção do

livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-

lescente para adolescente”, por meio de ofici-

nas de desenho e escrita. Como resultado dessa

ação, temos um livro escrito totalmente de ado-

lescente para adolescente que aborda o tema

de forma completa e mobilizadora. Além dessa

ação, também pudemos facilitar diversos espa-

ços e momentos em que os jovens participaram

efetivamente enquanto protagonistas das ações

de enfrentamento à exploração sexual de crian-

ças e adolescentes. Em 2010, a Semana do dia

18 de maio contou especialmente com a partici-

pação juvenil por conta das ações desse projeto.

Os adolescentes foram convidados a organizar

um evento de discussão da temática para outros

adolescentes. Toda a organização do evento foi

realizada por esse grupo de adolescentes, com o

apoio da equipe do projeto. Dois eventos foram

organizados com essa participação efetiva:

1. No dia 15 de maio de 2010, o evento

“Adolescências: da vulnerabilidade à partici-

pação” abriu a semana de ações de mobili-

zação e sensibilização e contou com a par-

ticipação de 180 adolescentes debatendo e

apresentando ações temáticas;

2. No dia 18 de maio de 2010, Dia Nacional do

enfrentamento ao abuso e à exploração se-

xual de crianças e adolescentes, através de

uma ação de sensibilização na região central

de Campinas, os adolescentes participaram,

junto a uma rede que se organizou para a

realização desse evento, de atividades cul-

turais e da distribuição de panfletos, bem

como do lançamento do livro “Que tal di-

zer não: uma conversa de adolescente para

adolescente”.

livro: Que tal dizer não? uma conversa de adolescente para adolescente

14

É importante ressaltar que essa ação incentivou

a participação dos adolescentes na comissão de

EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da

Criança e do Adolescente de Campinas.

Trabalhamos o eixo Mobilização e Articulação

e o eixo Defesa e responsabilização conjunta-

mente, por meio de ações de fortalecimento

do Sistema de Garantia de Direitos local (SGD).

Com o intuito de fortalecimento do SGD, reali-

zamos uma capacitação com carga horária de

44 horas e a participação do CREAS – Centro

de Referência Especializada da Assistência

Social, Conselho Tutelar, Vara da Infância e da

Juventude, Delegacia de Defesa da Mulher,

Disque Denúncia Municipal/ Movimento Vida

Melhor, Secretaria Municipal de Educação,

Secretaria Municipal de Cidadania, Inclusão

e Assistência Social, Conselho Regional de

Psicologia, Programa Indicando Caminhos,

Programa Iluminar, Comissão EESCCA/ CMDCA,

Câmara Municipal e ONGs integrantes da rede

de atendimento especializado a crianças e ado-

lescentes em situação de ESCCA. Criou-se, como

resultado dessa ação, uma comissão de avaliação

dos fluxos de denúncia e atendimento às crian-

ças e adolescentes em situação de exploração

sexual em Campinas. Deste livro consta um ca-

pítulo, escrito em conjunto com alguns atores

dessa rede, que apresenta essa experiência

piloto de qualificação da rede de atenção aos

direitos da criança e do adolescente. Além des-

sas ações, a realização desse projeto promoveu

também a criação de uma nova rede: o Grupo

de Trabalho para organização de ações do dia 18

de maio - Dia Nacional de Enfrentamento à ex-

ploração sexual de crianças e adolescentes - que

envolve, além das instituições descritas acima,

outras instituições que não faziam até então

ações com esse foco, fortalecendo, portanto, as

ações de enfrentamento a esse fenômeno.

Por conta das reuniões de articulação para a

assinatura do acordo de cooperação, também

movimentamos o debate municipal de revisão

do plano municipal de enfrentamento à explo-

ração sexual de crianças e adolescentes, criado

em 2003 e ainda não avaliado. Será realizado

um seminário no segundo semestre de 2010

em parceria com a comissão EESCCA do CMDCA

para avaliação e reescrita do plano municipal.

O eixo Capacitação é o principal objetivo deste

projeto - através da promoção da capacitação

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de diversos profissionais que atuam no segmen-

to do turismo, a realização de um seminário com

a temática “Turismo Sustentável e Infância”, a

assinatura de um termo de compromisso e a

distribuição de materiais de sensibilização.

No entanto, algumas ações foram replanejadas

no decorrer do projeto, baseadas nos levanta-

mentos realizados e em experiências vivencia-

das, de forma a sempre manter o objetivo prin-

cipal: a sensibilização e a mobilização da rede de

turismo na garantia dos direitos da criança e do

adolescente.

O processo de mobilização da cadeia produ-

tiva de turismo contou com ações envolven-

do os seguintes equipamentos e empresas:

Administração da Rodoviária Municipal -

SOCICAM (concessionária administradora do ter-

minal rodoviário municipal), EMDEC (Empresa

Municipal de Desenvolvimento de Campinas),

Grupo CCR (Administradora da Concessão

das Rodovias Anhanguera e Bandeirantes);

ECOFROTAS; SENAC Campinas; Consulting

27; Cooperativas de taxistas: Camptáxi,

Coopercamp e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis:

Confort Suites, Rede de Hotéis Vitória, Rede

Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn Hotéis, Shelton

Inn Viracopos, Monreale Classic Campinas,

Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel Vila Rica;

Secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão

Social, Secretário Municipal de Comércio,

Indústria, Serviços e Turismo, Secretária

Municipal de Educação; Campinas e Região

Conventions & Visitors Bureau; Sindicato de

Hotéis, Restaurantes, Bares e afins.

O Seminário “Turismo Sustentável e Infância”

foi realizado no dia 30 de agosto de 2010, em

parceria com o SENAC-Campinas e a Rede de

Integração Social, quando ocorreu o lançamen-

to deste livro.

“Para Nietzsche, não há um eu real e escondido a descobrir. Atrás de um véu sempre há outro véu; atrás de uma máscara, outra máscara; atrás de uma pele, outra pele. O eu que impor-ta é aquele que há sempre além daquele que se toma habitu-almente por sujeito: não está por descobrir, mas por inventar; não por realizar, mas por conquistar; não por explorar, mas por criar da mesma maneira que um artista cria uma obra. Para chegar a ser o que se é, tem que ser artista de si mesmo.” (lArOSSA, 2005:76)

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A TABA é uma

O r g a n i z a ç ã o

Social sem fins

lucrativos, cria-

da em 1996,

que dá origem

a projetos relacionados a: participação social

juvenil, direitos humanos, direitos sexuais e re-

produtivos, mobilização social e capacitação de

profissionais. Os projetos contemplaram mais

de 30 mil pessoas entre adolescentes, jovens,

educadores/as e profissionais que compõem

a rede do Sistema de Garantia de Direitos em

Campinas.

Desenvolvemos projetos e programas por meio

de ações educativas com temas das áreas da

saúde, cultura, assistência social e participação

política.

Nossa missão é promover espaços de vivência

e convivência entre adolescentes e jovens, pro-

vocando novas e diferentes formas de partici-

pação social, dando prioridade àqueles(as) em

situação de risco pessoal e social.

Desde 1996, a TABA de-

senvolve projetos com

adolescentes e jovens

a partir de temas como

gravidez na adoles-

cência, masculinidades, prevenção de doenças

sexualmente transmissíveis - DSTs/AIDS, parti-

cipação juvenil, prevenção ao uso indevido de

drogas e violência. Em parceria com o Ministério

da Saúde e por meio de políticas públicas mu-

nicipais, os programas já atingiram mais de 30

mil pessoas, e a ONG se tornou referência, em

Campinas, no trabalho com essa temática.

• Foi criado,

em 1998, o MAB

- Movimento dos

Adolescentes Brasileiros

www.redemab.org.br em

parceria com o Programa Municipal de

A organização

Histórico

TABA - espaço de vivência e [con]vivência do adolescente

Endereço: rua Barreto leme, 820 – Centro – Campinas

Telefone: +55 19 3232.0817 | +55 19 3305.0817

Fax +55 19 3327.1706

18

Orientação Sexual das Escolas Municipais.

• Em 2004, profissionais da TABA fo-

ram contratados pelo projeto rotas

recriadas (Enfrentamento da ESCCA –

Exploração Sexual Comercial de Crianças e

Adolescentes).

• Em 2006, a convite da Comissão do CMDCA de

Enfrentamento

da ESCCA, as

ações foram am-

pliadas e a ONG

passou a com-

por o Sistema

de Garantia de Direitos, executando o

Programa ESCCA a partir da implementa-

ção do PrOJETO COM_VIVEr, co-financiado

pela Prefeitura de Campinas. O principal ob-

jetivo do Projeto é garantir atendimento a

adolescentes e jovens em situações de vul-

nerabilidade ou envolvidos (as) diretamente

em ESCCA, possibilitando-lhes um novo pa-

pel social por meio da participação juvenil,

tendo, como base, o conhecimento e o exer-

cício de seus direitos humanos e sexuais a

partir de uma cultura de paz.

• Em dezembro de 2006, a TABA realizou

o I Seminário: Construindo Políticas

Públicas para o Enfrentamento à

Exploração Sexual Comercial Infanto

Juvenil, com o objetivo de proporcionar re-

flexões sobre as políticas públicas existentes

no Município de Campinas relacionadas ao

enfrentamento da exploração sexual comer-

cial de crianças e adolescentes e de sociali-

zar diferentes saberes e pensares sobre esse

fenômeno. Das mesas de debate participa-

ram: Dr. Richard P. Pae Kim - Juiz da Vara da

Infância e Juventude de Campinas, Vereador

Paulo Búfalo - Representante da Câmara

Municipal de Campinas, Dr. Hélio de Oliveira

Santos - Prefeito de Campinas e outros con-

vidados.

• Em 2007, a iniciativa da TABA com ações

educativas em saúde e mobilização social

foi reconhecida internacionalmente, quan-

do recebeu, da Fundação Merck Sharp &

Dohme, o Prêmio Neighbors of Choice

(NOC Grants) pelo desenvolvimento do

Projeto Saúde na Comunidade junto à co-

munidade rural de Joaquim Egidio e Sousas.

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• De 2007 a 2010, executamos o Programa

JOVEM.COM - Parceria com Programa

Municipal de Cidadania e Inclusão Digital,

pelo qual oferecemos oficinas sócio-cultu-

rais e de reflexão para 320 jovens de 14 a 24

anos encaminhados pela Rede Intersetorial

de Assistência Social.

• Em 2008, fomos

Instituição sede

da Conferência

lúdica Municipal

dos Direitos

da Criança e

Adolescente, sendo responsável pela ges-

tão dos recursos financeiros aprovados pelo

CMDCA e pela articulação em parceria com

o Fórum DCA e outras instituições pela exe-

cução das atividades.

• Em 2008 e

2009, Instituição

sede do Bloco

Carnavalesco

“EurECA” – Eu

reconheço o

Estatuto da Criança e Adolescente, com

o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e

a Coordenação Nacional e Estadual de DST/

AIDS e demais parceiros que compõem a

rede de atendimento a crianças e adoles-

centes do município e o apoio financeiro da

Secretaria do Estado da Saúde / Centro de

Referência e Treinamento DST/Aids. Foi re-

alizado, na cidade de Campinas, no período

de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009,

simultaneamente aos municípios de São

Bernardo do Campo, Guarulhos e Baixada

Santista. O projeto é engajado a temas re-

lacionados à garantia dos direitos sexuais e

humanos de crianças e adolescentes e tem

como principal objetivo diminuir as vulnera-

bilidades às DSTs/Aids e promover a divulga-

ção do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O desfile do bloco ocorreu no dia 13 de fe-

vereiro de 2009, com 45 instituições e 3.000

participantes.

• Em 2010 realizamos, em parceria com o

Centro Camará de Pesquisa e Apoio à Infância

e Adolescência, o evento “Adolescências: da

vulnerabilidade à participação”, com o apoio

da Secretaria do Estado da Saúde / Centro

de Referencia e Treinamento DST/Aids.

20

Adolescentes de Campinas e São Vicente

participaram de encontros formativos e or-

ganizaram o evento, desde a infraestrutura

até as temáticas discutidas. Em diversos mo-

mentos, os adolescentes realizaram inter-

câmbios entre as duas cidades para integra-

rem suas ações. O primeiro evento realizado

deu-se no dia 15 de maio de 2010, na Escola

Clotilde Barraquet, em Campinas, marcando

a abertura da Semana

de enfrentamento à

exploração sexual de

crianças e adolescen-

tes. O evento contou

com a participação de 180 adolescentes

que, em salas temáticas e mesas de debate

discutiram: participação juvenil, exploração

sexual de crianças e adolescentes, cidada-

nia, violência e gravidez na adolescência.

Os adolescentes foram os principais atores

de debates, apresentações e discussões

do dia. No dia 18 de maio, Dia Nacional de

Enfrentamento ao Abuso e à Exploração

Sexual de Crianças e Adolescentes, o projeto

contou com um grande evento, que mobili-

zou a sociedade em geral, organizado ativa-

mente pelos adolescentes em São Vicente.

PrOJETO rEVIr@VOlTA

Voluntários da TABA

buscam, desde 2006,

contribuir para o aten-

dimento de adoles-

centes autores de violência sexual. Com uma

metodologia educativa, inclusiva e lúdica bus-

cam favorecer o senso critico dessas pessoas e

a construção de políticas públicas adequadas ao

fenômeno, desenvolvendo oficinas de sexuali-

dade (direitos sexuais e reprodutivos, violência,

gênero, vulnerabilidades, prevenção DST/AIDS)

e cidadania (participação, direitos e compromis-

sos sociais).

Desde o início do projeto, somente com recur-

sos humanos voluntários, já foram atendidos

17 adolescentes identificados como autores

de violência sexual, na faixa etária de 11 a 18

anos , e suas famílias. Inicialmente participaram

de atendimentos individuais com Psicólogo e

Assistente Social; posteriormente foram intro-

duzidos em grupos de participação juvenil com

Nossos Projetos

21

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1.1

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outros adolescentes. Atualmente todos os ado-

lescentes já estão inseridos em ações de educa-

ção e capacitação para o mercado de trabalho

em outras instituições que compõem a rede,

sendo acompanhados pelo Sistema de Garantia

de Direitos – Vara da Infância e Conselho Tutelar.

As atividades desenvolvidas pela TABA com es-

ses adolescentes já foram reconhecidas como

Tecnologia Social Inovadora pela Vara da Infância

de Campinas, CONANDA, e por outras institui-

ções. Nenhuma outra instituição em Campinas

oferece esse atendimento, embora o atendi-

mento ao autor de violências sexuais tenha sido

uma das diretrizes propostas no III Congresso

Mundial de Enfrentamento à Violência e à

Exploração Sexual – Rio de Janeiro, 2009.

PrOJETO CIDADANIAS PArTICIPAÇÃO JuVENIl

O projeto é co-finan-

ciado pela Prefeitura

Municipal de Campinas e teve início em 2007

com o objetivo de possibilitar o desenvolvi-

mento de um novo papel social na vida do e da

adolescente e jovem, pela participação juvenil

ante a necessidade de mudança da realidade

de seus pares. O projeto desenvolve a formação

de adolescentes e jovens para uma participação

social mais positiva e efetiva, os quais realizam

ações educativas de prevenção e intervenção

para outros adolescentes e jovens. Participam,

ainda, de espaços de discussões, construções e

controle social das políticas públicas não apenas

PARA, mas COM os adolescentes e jovens en-

quanto sujeitos de direitos.

A TABA atende diretamente, desde 2008, gru-

pos de 60 adolescentes por meio de oficinas te-

máticas (sexualidade, cidadania, ECA, participa-

ção juvenil) voltadas à formação de re-editores

sociais para ações de prevenção. Esse grupo de

adolescentes participou ativamente da constru-

ção do Encontro Municipal de Adolescentes de

Campinas em 2010.

FOrMA-AÇÃO: JuVENTuDE CIDADÃ CONTrIBuINDO PArA uMA NOVA rEAlIDADE

Este projeto, que é co-financiado pelo

Conselho Municipal de Direitos da Criança e

do Adolescente – CMDCA, propõe-se formar

22

adolescentes e jovens da rede de atendimento à

criança e ao adolescente da cidade de Campinas

para participação

juvenil política e so-

cial.

O Projeto FormAção

é uma conquista dos

e das adolescentes

que propuseram, nas conferências dos direitos

da criança e do adolescente nos anos de 2007 e

2009, um espaço para a preparação dos adoles-

centes para as conferências e os encontros de

adolescentes.

A TABA é a entidade executora do projeto,

acompanhado por um grupo de trabalho do

Conselho Municipal dos Direitos da Criança

e do Adolescente. O projeto abrange todas as

regiões da cidade de Campinas representadas

por instituições, serviços e movimentos sociais

reconhecidas no sistema de garantia de direi-

tos, priorizando os eixos de Cidadania, Direitos

Humanos e Participação Juvenil.

Dessa forma, espera-se que a preparação dos

adolescentes para participação política e social

seja capaz de concretizar que, nas conferências,

os adolescentes possam ter mais independência

nas suas reflexões e exercitar sua participação

de forma cidadã e, assim, efetiva.

NÚClEO DE PrEVENÇÃO DE VIOlÊNCIA – SAÚDE DO ADOlESCENTE

Por meio de uma parceria em 2008 com o

Centro de Saúde Florence II do Distrito Noroeste

de Campinas, iniciamos a implementação de

um “Núcleo Inter-geracional de Prevenção

de Violência”. Iniciamos essa parceria com a

Secretaria Municipal de Saúde nesta região –

bairro Jardim Florence - por ela ter sido iden-

tificada com o maior índice de violência com e

contra o adolescente.

Um primeiro desafio atual no campo da saúde e

prevenção das vulnerabilidades na adolescência

é a construção da parceria de confiança entre

os profissionais do serviço de saúde e os e as

adolescentes. Um segundo desafio é promover

a melhoria da qualidade de vida desses adoles-

centes para que isso possa contribuir para mu-

danças em suas vidas. Dessa forma iniciamos

ações de sensibilização e capacitação para os

profissionais de quatro unidades de saúde da

23

CAPI

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1.1

A T

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A

região. No bairro Jardim Florence, uma casa foi

estruturada para receber atividades de grupos

de adolescentes e espaços de convivência para

o desenvolvimento local e, sobretudo, o envol-

vimento dos jovens no enfrentamento ao pro-

blema e à promoção de uma cultura de paz. Por

esse projeto, conquistamos o fortalecimento do

centro de saúde como um espaço comunitário e

o estreitamento da relação do adolescente com

a sua saúde. Assim acreditamos conseguir esta-

belecer ações concretas que visem a saúde do

adolescente.

Em 2010 iniciamos essas ações também no

Jardim São Marcos, distrito norte de Campinas.

Hoje temos um grupo de adolescentes que

se reúne semanalmente no Centro de Saúde.

Além dessa ação, o mesmo grupo participa na

TABA de ações com outros grupos de adoles-

centes. Atualmente contamos com a parceria

da UNICAMP que favorece o encaminhamento

de estudantes de diversas faculdades, como

Medicina, Educação Física, Artes e Música, para

compor a equipe de estagiários que realizarão

oficinas de arte e saúde para esse mesmo gru-

po, contribuindo para a melhoria de sua quali-

dade de vida.

ADOlESCENTES DIFErENTES, POrÉM IGuAIS NA PrEVENÇÃO

O Projeto “Adolescentes Diferentes, Porém

Iguais na Prevenção” tem como objetivo princi-

pal criar, dentro das Unidades de Internação da

Fundação CASA/Campinas, a atenção e o aten-

dimento sobre Prevenção às DST/Aids junto aos

adolescentes que estão cumprindo medidas só-

cio educativas de internação.

Para isso a TABA promove a capacitação dos

profissionais das Unidades de Internação da

Fundação CASA/Campinas sobre diversos te-

mas, que envolvem as temáticas de prevenção

DST/Aids, adolescências, vulnerabilidades, se-

xualidade do adolescente, violência, masculini-

dades, direitos humanos, redes sociais, sistema

de garantia de direitos e o papel do educador

. Também oferecemos aos profissionais da

Fundação Casa uma formação sobre KITs temá-

ticos sobre sexualidade, gravidez e prevenção

às DTS/Aids, de forma que esses profissionais

possam atuar como educadores no desenvolvi-

mento dessas temáticas junto aos adolescentes.

Com os adolescentes utilizamos as oficinas de

24

arte-educação com as linguagens de aerografia,

hip-hop e teatro e produção de contos eróticos.

Os educadores desenvolvem ações educativas,

elaborando produtos sobre a temática de pre-

venção DST/Aids que podem ser apresentados a

outros adolescentes.

Esse projeto conta com o apoio financeiro

da Secretaria do Estado da Saúde / Centro de

Referência e Treinamento DST/Aids.

I e II CONCurSO rEPrOVE A VIOlÊNCIA SEXuAl

Esta é uma ação que a

TABA realiza anualmente

em escolas de ensino fundamental, com alunos

e alunas da rede de educação pública municipal

de Campinas, na faixa etária de 12 a 18 anos,

e seus professores e professoras. Em três anos

de desenvolvimento desse projeto, alcançamos

cerca de 10.000 alunos da rede municipal de

educação.

O projeto tem como uma de suas principais

estratégias o desenvolvimento de ações de en-

frentamento à exploração sexual de crianças

e adolescentes para chamar a atenção para o

problema, com a

disseminação de

informações jun-

to à sociedade e,

principalmente,

com a participa-

ção social juvenil no enfrentamento às violên-

cias e vulnerabilidades.

Para a realização dessas ações, contamos com

o apoio financeiro do Ministério do Turismo

- Programa Turismo Sustentável e Infância;

da Petrobrás - Programa Desenvolvimento &

Cidadania; e da CPFL Energia. Também conta-

mos com a parceria da FACAMP, por intermédio

da agência júnior de comunicação, e da Mendes

& Nader, pela assessoria de comunicação.

MArIAS CHEIAS DE GrAÇA

A TABA iniciou em 2006 um

grupo de geração de renda e

desenvolvimento familiar, ca-

rinhosamente chamado de

“Marias Cheias de Graça”.

Iniciou-se com a proposta de

oferecer atividades artesanais

e de restabelecer vínculos familiares de mães

25

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1.1

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com seus filhos que se encontravam em situa-

ção de rua e/ou exploração sexual comercial. Ao

longo dos encontros, essa proposta se desenvol-

veu para o cuidado com a família, de si mesmas

enquanto mulheres; discussões sobre a cultura

popular, o olhar para sua comunidade; conver-

sas sobre vulnerabilidades, violência, desigual-

dades e participação social; sempre por meio

da produção artesanal, motivada pela peque-

na geração de renda proporcionada por meio

de bazares e feiras de artesanato. Desde 2009

o grupo caminhou para o empreendedorismo

como forma de sustentabilidade familiar, co-

mercializando seus produtos em feiras, bazares

e em suas comunidades. São almofadas, tape-

tes, agendas e cadernos personalizados, sacolas

sustentáveis, pingentes decorativos, presilhas,

chaveiros, camisetas customizadas entre ou-

tros. Com o recurso obtido pela venda de suas

produções, o grupo, além de gerar renda fami-

liar, consegue proporcionar a sustentabilidade

financeira das oficinas.

Atualmente 12 mulheres participam das ofici-

nas de produção e venda.

O GruPO DE CrIANÇAS

O grupo de crianças é o resultado de uma de-

manda do grupo “Marias Cheias de Graça”. As

mulheres, para frequentarem as oficinas, tra-

ziam seus filhos/as, netos/as e demais familia-

res. Por conta dessa demanda, a TABA se orga-

nizou constituindo grupos de estágio do curso

de Psicologia da PUC, Campinas, que desenvol-

vem atividades recreativas e pedagógicas além

de vivências como passeios, cinemas, teatros

e outras atividades. Essas ações promovem o

desenvolvimento social das crianças, bem estar

e prevenção às vulnerabilidades em que se en-

contram.

26

Além da realização dos

projetos acima descri-

tos, a TABA tem partici-

pado de/e promovido

diversas atividades de

promoção dos direitos atendendo às prerroga-

tivas do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Realizamos campanhas e projetos de enfren-

tamento à exploração sexual de crianças e

adolescentes na perspectiva de prevenção ao

fenômeno e atuamos de forma precursora no

atendimento ao adolescente identificado como

autor de violências sexuais. Promovemos e par-

ticipamos de debates, conferências, seminá-

rios e discussões sobre os direitos da criança

e do adolescente. Participamos de comissões

e ações do Conselho de Direitos da Criança e

do Adolescente e somos membro atuante nas

atividades do Fórum Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente, exercendo assim nos-

so papel de controle social. Promovemos cursos

regulares de formação e grupos de estudos no

campo das adolescências e seus temas decor-

rentes como sexualidade, participação política

e prevenção às vulnerabilidades. Fomentamos

o estudo, a pesquisa e o desenvolvimento de

tecnologias alternativas e criativas no campo

da ação educativa a partir da oferta de forma-

ção de jovens, universitários, profissionais e por

meio de convênios e parcerias com universida-

des e centros de pesquisa.

Considerações Finais

“Saber organizar-se e associar-se é a ciência mestra de uma sociedade porque assim se reproduz auto-regulação e asse-gura-se proteção aos Direitos. O primeiro passo para superar a pobreza em uma cidade, região ou sociedade é criar e for-talecer as organizações. um dos indicadores de pobreza mais graves é não estar organizado... uma sociedade é tanto mais sólida quanto maior for o número de organizações ou associa-ções produtivas, ou seja, organizações que gerem transações políticas, econômicas, sociais e culturais úteis.”1

1 BErNArDO TOrO J. A Construção Do Público: Cidadania, Democracia E Participação. Coleção: editora Senac rio, 2005. Pg 22, 23 e 24

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1.2

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Pro

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28

O projeto que este livro apresenta é sobre-

tudo uma ação de proteção aos direitos huma-

nos. E o exercício pleno de proteção aos direitos

humanos depende da capacidade da socieda-

de de associação e organização. Dessa forma,

buscamos mobilizar uma rede inédita de atores

buscando comprometimento na defesa dos di-

reitos da criança e do adolescente.

Ponto a ponto, fomos contribuindo para o for-

talecimento de uma rede que em Campinas é

construída por várias mãos, sobretudo por orga-

nizações do terceiro setor, voltadas à defesa dos

direitos humanos.

Nosso desafio foi ampliar esse tecido social.

Quanto maior o número de organizações com-

prometidas e atuantes mais dinâmica, forte e

autorregulada será a sociedade.

Assim, como parte natural desse processo bus-

camos, a todo momento, o envolvimento do se-

tor público e empresarial nesse compromisso,

entrelaçando ainda mais essa rede.

O fortalecimento dessa rede de defesa pela

garantia dos direitos da criança e do adolescen-

te ocorreu já na fase inicial da proposta. Tão logo

a TABA vislumbrou a possibilidade de desenvol-

ver ações do programa Turismo Sustentável e

Infância em Campinas, procurou seus parceiros

mais próximos para a contribuição na redação

do Projeto - unir competências diversas, com

valores comuns num mesmo objetivo.

Dessa etapa participaram o Programa Iluminar

(Dra. Verônica Alencar), o Fórum DCA (Lincoln

César Moreira), o Disque Denúncia de

Campinas/Movimento Vida Melhor (Verônica

Rosa) e Mendes & Nader Comunicação e

Responsabilidade Social (Silvana Nader).

Ao iniciar a execução do projeto, fomos em bus-

ca de novos parceiros, atores estratégicos que

pudessem potencializar as ações e mobilizar

outros parceiros.

Nesse sentido agregamos ao grupo institui-

ções e órgãos representantes do segmento do

Turismo: Secretaria Municipal de Comércio,

Indústria, Serviços e Turismo; Campinas e

Região, Convention & Visitors Bureau; e dos

Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e

Similares de Campinas.

Parceiros do Projeto

29

CAPI

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1.2

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Essa estratégia foi particularmente importante

na apresentação do projeto para a rede de tu-

rismo e na definição de outros atores que pode-

riam ser convidados a darem sua contribuição e

resultou em uma série de novos contatos.

Ao mesmo tempo que iniciávamos nossa imer-

são no segmento do turismo, orientados por es-

ses parceiros, voltamos também o olhar para a

rede que já se constituía no enfrentamento á ex-

ploração sexual de crianças e adolescentes, com

representatividade sobretudo do primeiro e do

terceiro setor. A intenção era que pudéssemos

fortalecer e clarear a importância do funciona-

mento pleno e alinhado dessa rede, de forma

a esclarecer objetivos e papéis de cada um no

processo como um todo.

Entendemos que um bom caminho seria reunir,

para uma formação técnica na TABA, atores des-

sa rede que já conhecíamos, além daqueles que

ainda não estavam tão próximos. Verificamos

que, apesar do movimento orgânico que essa

rede já possui, era necessário promover e am-

pliar momentos conjuntos de aproximação e

reflexão. Outro movimento importante de in-

clusão de novos atores nessa rede se deu no

campo onde a TABA luta e defende historica-

mente, desde sua fundação: a participação dos

adolescentes, não apenas como público das

ações, mas também como ator de mobilização,

de organização, de produção. Ator efetivo na

construção de ações e diretrizes para políticas

públicas voltadas à defesa de seus direitos.

Nos próximos capítulos teremos a oportunidade

de descrever de forma detalhada a participação

e a colaboração desse sólido tecido social e a

importância dessa rede nos resultados e impac-

to deste projeto.

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O Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é O

Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é um con-

junto articulado de pessoas e instituições que

atuam para efetivar os direitos da criança e do

adolescente. Fazem parte desse sistema: a famí-

lia, as organizações da sociedade (instituições

sociais, associações comunitárias, sindicatos,

escolas, empresas), os Conselhos de Direitos,

Conselhos Tutelares e as diferentes instâncias

do poder público (Ministério Público, Vara da

Infância e da Juventude, Defensoria Pública,

Secretarias). É organizado em torno de três ei-

xos fundamentais: pROMOÇÃO, CONTROlE e

DEFESA. Cada eixo acontece através de espaços

públicos, Atores Sociais específicos que utilizam

determinados instrumentos de ação. Os Atores

Sociais de cada eixo agem (ou devem agir) de

forma articulada, integrada e interativa, dentro

de cada eixo e dos eixos entre si, garantindo a

complementaridade operacional, formando

uma rede de relações que se constitui nesse re-

ferido sistema. O artigo 88º do ECA orienta as

diretrizes de natureza político-administrativa

para a construção do sistema de garantia de di-

reitos, orientando as ações a serem adotadas

pela administração pública e pela sociedade

civil organizada.

Para a articulação e capacitação do Sistema de

Garantia de Direitos de Campinas, enquanto

ações previstas no projeto, procuramos iden-

tificar e nos aproximar ainda mais dos atores

de cada eixo: promoção, controle e defesa do

SGD do município. Este capítulo apresenta esses

atores ao mesmo tempo que apresenta qual a

situação do fenômeno da exploração sexual de

crianças e adolescentes em Campinas e quais

ações são realizadas por esses atores.

Um ator importante do Sistema de Garantia

de Direitos que constatamos foi o Conselho

Tutelar, órgão de fundamental importância na

proteção dos direitos de crianças e adolescen-

tes, vítimas de violência sexual. Sua criação na

cidade de Campinas deu-se somente em 1996.

Hoje o município conta com quatro Conselhos

Tutelares, escolhidos em processo democrático

e aprimorando a participação da sociedade ci-

vil, seja na escolha dos conselheiros ou na fis-

calização de suas ações. Atualmente a gestão

2009/2012 atua no município regionalmente,

definida a responsabilidade territorial da se-

guinte maneira: Conselho Tutelar 1- Regiões

32

Leste e Norte; Conselho Tutelar 2- Região Sul;

Conselho Tutelar 3- Região Sudoeste e Conselho

Tutelar 4- Regiões Noroeste e Norte, conforme

Decreto Municipal 16.732/2009.

Mesmo reconhecendo a importância desse

órgão, tivemos muitas dificuldades na partici-

pação dos Conselhos Tutelares nas ações do

projeto. Uma destas foi a pouca representa-

tividade dos conselhos nas reuniões de fluxo

e capacitação, uma vez que essa participação

era importantíssima devido as competências

e atribuições desse órgão no funcionamento

do fluxo de encaminhamentos. Dois conselhos

estiveram representados. A falta de comuni-

cação entre os conselhos gera ações fragmen-

tadas, pois apesar de se reunirem em algumas

reuniões gerais, não conseguem alinhar suas

ações. Por conta disso a participação de al-

guns representantes não contemplava todo o

conselho, pois as informações só retornavam à

sua região. Outra dificuldade que encontram

é a manutenção das informações passadas de

uma gestão a outra. Isso se reflete na aborda-

gem sobre a atuação do Conselho Tutelar nes-

se artigo, pois não conseguimos recuperar sua

história no enfrentamento á exploração sexual

de crianças e adolescente por falta de registros

no próprio órgão. O histórico da participação do

Conselho Tutelar no enfrentamento a esse fe-

nômeno é prejudicado por conta do banco de

dados do Conselho Tutelar. Atualmente utilizam

o sistema SIPIA, embora alguns conselheiros já

tenham se posicionado em relação à ineficiên-

cia do mesmo. O SIPIA é um sistema comple-

xo que não facilita o diálogo entre os próprios

conselhos, Assim, quando uma família migra de

uma região para outra, as notificações podem

ser geradas em duplicidade, além de outras fa-

lhas de registro. No momento o SIPIA está sen-

do aperfeiçoado (SIPIA Web) para um modelo

pelo qual todos os Conselhos Tutelares do Brasil

terão comunicação entre si via internet, porém

esse novo sistema ainda não foi implantado em

Campinas. De qualquer forma não consegui-

mos obter um mapa dos dados coletados pelo

Conselho Tutelar com relação à ESCA, o que foi

dificultado ainda mais por essas mudanças dos

sistemas. Os dados dos sistemas anteriores não

migram para o sistema atual, e isso aconteceu

durante as várias mudanças dos sistemas uti-

lizados pelo Conselho Tutelar ao longo dos 14

anos de existência em Campinas. Outros fatores

33

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também prejudicam esse levantamento, como,

por exemplo, as terminologias utilizadas nos sis-

temas: não consta em seu sistema de notifica-

ção o fenômeno exploração sexual. Certamente

esses entraves prejudicam muito a atuação dos

Conselhos Tutelares no controle e cumprimento

dos direitos da criança e do adolescente.

Outro ator importante do Sistema de Garantia

de Direitos é o Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente de Campinas,

sobretudo por intermédio da Comissão de

Enfrentamento a Exploração Sexual contra

Crianças e Adolescentes.

Criado no início da década de 90, logo após

a promulgação do Estatuto da Criança e do

Adolescente, o Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente de Campinas-

CMDCA tem na sua trajetória importantes mo-

mentos no enfrentamento à violência e explora-

ção sexual contra crianças e adolescentes.

Os primeiros anos de funcionamento do CMDCA

foram dedicados mais à implementação, organi-

zação e ao reconhecimento pelo executivo mu-

nicipal da época de qual seria seu papel e que

lugar ocuparia na nova estrutura administrativa.

Prevista no artigo 90º do ECA, sua principal atri-

buição é discutir o que fazer em relação à polí-

tica de atendimento à criança e ao adolescente

do município de Campinas, de forma coletiva,

com maior participação possível da população,

tirando da figura do prefeito os poderes em re-

lação à política para a criança e o adolescente.

Inverter a “lógica” dos poderes não era tare-

fa fácil, por isso, logo na primeira gestão do

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente de Campinas- CMDCA, em 1993,

parte dos conselheiros da sociedade civil renun-

ciaram e protestaram contra a falta de respeito

às decisões do conselho.

Em 1997, o Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente de Campinas- CMDCA,

depois de alguns anos de funcionamento e com

status administrativo definido, se estrutura em

espaço próprio, e sua vinculação é na Secretaria

de Assistência Social. Tem nas comissões temá-

ticas internas seus principais espaços de discus-

são, sempre marcados por embates entre po-

der público e sociedade civil, o que, em vários

momentos, resultava em propostas e delibera-

ções importantes para a defesa dos direitos da

34

criança e do adolescente.

Destacamos neste período a implementação

do primeiro Conselho Tutelar e a inclusão nas

pautas do conselho de temas como trabalho

infantil, abrigos, crianças desaparecidas, medi-

das sócio educativas, uso de drogas e crianças e

adolescentes em situação de rua.

Paralelamente, o movimento de conferências

dos direitos da criança e do adolescente acon-

tecia no Brasil e, em 1997, Campinas sedia a 1º

Conferência Regional DCA, embora estivesse na

2º Conferência DCA a nível municipal.

Nos anos 90, o município não reconhecia a vio-

lência e a exploração sexual contra crianças e

adolescentes. Podemos afirmar que a discussão

de ESCCA teve origem nas discussões de violên-

cia doméstica, e que foi a partir dos debates da

comissão de VDDCA que o município começou

a verificar que esse não era um fenômenos de

outros estados, mas uma realidade também da

cidade de Campinas. É importante destacar que

a entidade CRAMI, em meados da década de 90,

realizava o atendimento de casos de violência

sexual, na época rotulados como abuso.

Mas foi no início dos anos 2000, com enorme

aumento das denúncias de casos e exploração

sexual, que o Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente de Campinas|CMDCA

incluiu na sua pauta como enfrentar o fenôme-

no da violência e exploração sexual contra crian-

ças e adolescentes.

É importante dizer que, em 2002, com a desti-

nação de volumosos recursos para o Fundo da

criança pela PETROBRÁS, o poder público apre-

senta o projeto de criação do programa munici-

pal de enfrentamento à violência e exploração

sexual contra crianças e adolescentes, aprovado

pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança

e do Adolescente de Campinas|CMDCA. O

CMDCA institui então a comissão temática de

enfrentamento à violência e exploração sexual

contra crianças e adolescentes.

Com a criação do programa, o CMDCA passa a

discutir e deliberar importantes propostas para

o enfrentamento do fenômeno na cidade de

Campinas.

Em 2003 o CMDCA, a Câmara Municipal, o

Fórum DCA, a Vara da Infância e Juventude, a

FEAC e os Conselhos Tutelares em conjunto ela-

boraram o Plano Municipal de Enfrentamento a

35

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Violência e Exploração Sexual Contra Crianças e

Adolescentes de Campinas.

Por fim, o Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente de Campinas- CMDCA,

através da comissão ESCCA, têm atuado ativa-

mente no enfrentamento à exploração sexual

de crianças e adolescentes. Coordenou as ações

da semana de 18 de maio, promovendo a cons-

tituição de um grupo de trabalho. Também es-

teve presente em todas as ações que este proje-

to promoveu, através de apoio e influência nas

ações propostas. Destaca-se como a principal

participação deste ator a revisão do plano mu-

nicipal de enfrentamento à exploração sexual

contra crianças e adolescentes.

Nos próximos capítulos, apresenta-se os outros

importantes atores pertencentes ao Sistema

de Garantia de Direitos que participaram deste

projeto.

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Campinas apresenta uma longa caminhada

no enfrentamento as violências sexuais contra

crianças e adolescentes.

Em julho de 1985, foi inaugurado o CRAMI -

Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na

Infância, pioneiro no país no atendimento à vio-

lência doméstica contra crianças e adolescen-

tes, com destaque a violência sexual.

Campinas na década de 80, estava muito envol-

vida na causa da criança e do adolescente e en-

viou representantes que ajudaram diretamente

na elaboração da Constituição Federal de 1988,

mudando os olhares sobre a infância e adoles-

cência.

Durante o final da década, participou da cons-

trução do Estatuto da Criança e do Adolescente

e comemorou com muito orgulho a promulga-

ção do mesmo em 13 de julho de 1990.

O Brasil, juntamente com Estocolmo (Suécia),

1996, Yokohama (Japão), 2001 é signatário

da Convenção Internacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente e demais Normativas

e Protocolos Internacionais.

Em 2002, Governo e Sociedade Civil, construí-

ram juntos o “plano Nacional de Enfrentamento

à Violência Sexual infanto-Juvenil”.

Campinas, em compasso com todo esse movi-

mento, intensificou o debate para as questões

de Enfrentamento à Exploração Comercial de

Crianças e Adolescentes (ESCCA) e fruto dis-

to, construiu em 2003, o “plano Municipal de

Enfrentamento à Violência Sexual infanto-

Juvenil”, uma ação conjunta com representan-

tes do poder executivo, legislativo, judiciário e

sociedade civil.

Em 2004, com destinação de recursos pela

Petrobrás ao Fundo Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente (FMDCA), o município

iniciou ações articuladas para o enfrentamen-

to ao fenômeno, com o desenvolvimento do

Projeto Rotas Recriadas.

O Projeto “Rotas Recriadas” foi uma ação da

empresa Petrobras que nesta época, entre

os seus programas, desenvolvia o “Siga Bem

Criança”, apoiando políticas sociais voltadas

para crianças, adolescentes e suas famílias em

todo o território nacional. Os executores consta-

taram o envolvimento dos caminhoneiros como

38

exploradores sexuais com rotas de exploração

em todo o país. O mapeamento destas rotas

apontou Campinas como um local de grande

incidência da ESCCA. Fizeram parte do projeto

“Rotas Recriadas” as secretarias municipais de

Assistência Social, Educação, Cultura-Esporte

e Turismo, Saúde, O Conselho Municipal dos

Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e

as entidades: Associação Promocional Oração e

Trabalho (APOT), Casa Betel, Centro Regional de

Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMI),

Centros de Estudos e Promoção da Mulher

Marginalizada(CEPROMM) e Obra Social São

João Bosco.

De 2004 a 2006, houve relevante estruturação

das ações, especialmente com o fortalecimen-

to da rede de atendimento e a constituição em

2006, do Programa Municipal de Enfrentamento

à Exploração Sexual Comercial de Crianças e

Adolescentes (PEESCCA).

A partir de fevereiro de 2008, com a implanta-

ção do Centro de Referência Especializado da

Assistência Social (CREAS), um centro de aten-

dimento articulador, mobilizador e gestor de

ações de enfrentamento, o referido Programa

passou a integrá-lo. Esta adequação buscou o

cumprimento das diretrizes do Sistema Único

da Assistência Social ( SUAS ), assim como a

garantia dos direitos econômicos, sociais, cul-

turais e outros, desta população, na perspectiva

da indivisibilidade e interdependência de todos

os direitos humanos.

A Viii Conferência Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente realizada em

Campinas em 1, 2 e 3 de julho de 2009, discutiu

entre inúmeros temas, a violência em geral que

vitima crianças e adolescentes em nosso muni-

cípio e tirou como uma das propostas a criação/

fortalecimento de mecanismos para o enfrenta-

mento da mesma, entre elas a violência sexual,

incluindo-se a ESCCA.

Neste mesmo ano a Câmara Municipal de

Campinas aprovou a Lei 13.780/09, que ins-

tituiu a semana de 18 a 22 de maio, como a

de “Enfrentamento a Violência Sexual contra

Crianças e Adolescentes “e também foi im-

plantada a Comissão de Estudos da Pedofilia/

Violências Sexuais, levando esta temática para

os criadores de Leis Municipais, o que compõem

para a construção de políticas públicas para o

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enfrentamento da questão.

No Diário Oficial da União de 25 de novembro

de 2009, é publicada a resolução nº 109 que

versa sobre a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais, com a diretriz para o funcio-

namento de todos os serviços da proteção social

básica e da proteção social especial de média e

alta complexidade.

Na proteção social especial de média comple-

xidade a diretiva é para o atendimento a ca-

sos de ESCCa em dois serviços sendo o CREAS

PAIF (Proteção e Atendimento Especializado a

Indivíduos e Famílias) e o serviço especializado

em abordagem social.

As ONGs e o poder público tem que readequar

seus serviços para atenderem as normativas na-

cionais.

Estamos desde 2004 com o apoio da Petrobras

para o desenvolvimento de nossas ações.

O Programa de Enfrentamento a Exploração

Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes

(PEESCCA) tem por objetivo avançar na redu-

ção dos riscos a que estão expostos crianças e

adolescentes em situação de exploração sexu-

al comercial e em situação de rua, ampliando e

implementando ações complementares às que

estão em desenvolvimento, trabalhando nos

seis eixos das diretrizes do plano nacional: análi-

se da situação, mobilização e articulação, defesa

e responsabilização; atendimento; prevenção e

protagonismo infanto-juvenil.

Procuramos a partir das ações deste programa,

promover a igualdade e inclusão desta popula-

ção, buscando assegurar diversas oportunida-

des mais equitativas a quem historicamente, foi

e vem sendo vítima de discriminação, exclusão e

violências das mais variadas formas.

O Programa PESSCA tem responsabilidade na

gestão das redes constituídas por organizações

não governamentais - ONGs, que compõem a

rede sócio-assistencial e são co-financiadas pelo

município, para execução das ações.

A partir deste novo modelo, o gestor consegue

analisar, subsidiar e monitorar o planejamento

e execução dos serviços, com a finalidade de

O pEESCCA - programa de Enfrentamento a Exploração

Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes

40

garantir o atendimento especializado, as ações

de prevenção, de articulação e o fortalecimento

do sistema de defesa, responsabilização e pre-

venção.

Esse processo de gestão vem sendo aprimorado

com inovações de métodos e estratégias na or-

ganização e articulação da rede executora e da

rede intersetorial, saúde, educação, habitação,

esportes, cultura, lazer, turismo, segurança, tra-

balho e renda, entre outras.

A partir de 2005, o CMDCA1 junto ao gestor

público municipal, estabeleceu que a gestão

do Programa passaria a ser da Secretaria de

Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão

Social - SMCTAIS2 e as suas ações seriam execu-

tadas pela rede de OG’s e ONG’s parceiras.

Em 2006, definiu-se que esse programa atingi-

ria, gradativamente, o seguinte público alvo:

1. Crianças e adolescentes em situação de rua;

2. Crianças e adolescentes em situação de rua

e exploração sexual comercial;

3. Crianças e adolescentes em situação de

exploração sexual comercial em ambiente 1 Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente2 Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão Social

fechado;

4. Crianças e adolescentes em situação de ex-

ploração sexual comercial que residem em

seus domicílios.

No relatório de atividades do programa de

Enfrentamento à Exploração Sexual Comercial

de Crianças e Adolescentes e Crianças e

Adolescentes em Situação de Rua - ESCCA / RUA

de 2007, o texto coloca que o programa con-

seguiu atingir os três primeiros públicos alvos,

situados em maior número na região central

da cidade e bairros adjacentes. Já, com rela-

ção às crianças e adolescentes em situação de

ESCCA residindo com familiares, o programa

não conseguiu atingir. O foco ficava no trabalho

com as crianças e adolescentes mais expostos

e nos pontos de ESCCA mapeados pelo “Rotas

Recriadas”3. As ações concentravam-se no

Jardim Itatinga (bairro de casas de prostituição),

na região sul com destaque a região do “Campo

Belo”, local próximo ao aeroporto e a grandes

rodovias, com pontos de ESCCA também mape-

ados pelo Rotas Recriadas e na região do Padre

Anchieta - região de entroncamento de três ro-

dovias. 3 Programa Rotas Recriadas - crianças e adolescentes livres da exploração sexual, patrocinado pela Petrobras.

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Compunham a rede em 2007: APOT - Casa

Guadalupana e Abrigo para crianças e adoles-

centes do sexo masculino em situação de rua;

Instituto Souza Novaes - Pernoite Protegido e

Abrigo para crianças e adolescentes do sexo fe-

minino, em situação de rua; TABA - Espaço de

Vivência e Convivência do Adolescente; Centro

de Estudo e Promoção da Mulher Marginalizada

(CEPROMM) Itatinga e Cidade Singer; Casa Betel;

Programa Convivência e Cidadania; Centro de

Educação e Assessoria Popular (CEDAP) e Centro

Promocional Tia Ileide (CPTI).

Durante o primeiro trimestre de 2007, o pro-

grama seguiu o mesmo modelo de 2006, com a

articulação do gestor visando potencializar no-

vas ações .

A partir de abril/2007, iniciaram-se efetivamen-

te as novas ações do programa para 2007 e du-

rante o ano foram atingidos os seguintes resul-

tados:

1. Os educadores sociais de rua abordaram

mensalmente uma média de 90 crianças e

adolescentes em situação de ESCCA/RUA,

em 750 atendimentos mensais, sendo 60%

pelos educadores da Casa Guadalupana

com o público de crianças e adolescentes

em situação de rua, com ou sem ESCCA e

30% pelo CEDAP no atendimento em situa-

ção de rua com ESCCA já instalado e ou situ-

ação de ESCCA em casas especializadas para

esse fim.

2. As crianças e adolescentes abordadas fo-

ram encaminhados para oficinas de arte

educação e acompanhamento psicossocial

da TABA, Guadalupana, Pernoite Protegido,

CEDAP.

3. Com o progresso da vinculação aos progra-

mas, essas crianças e adolescentes constru-

íram seus projetos de vida, que vão desde o

retorno à escola e a família, até a inclusão

em abrigos especializados e, ou, tratamento

para dependência química.

4. O Pernoite Protegido, além de acolher a

demanda dos educadores sociais de rua,

acolheu também demanda espontânea que

chegou ao serviço, além de casos encami-

nhados pelo Conselho Tutelar. Esse serviço

atendeu aproximadamente 30 crianças e

adolescentes mensalmente, sendo 20% com

suspeita ou confirmação de ESCCA, num

42

total de 360 atendimentos mensais.

5. A TABA atendeu, nas oficinas de arte edu-

cação e no apoio psicossocial, uma média

mensal de 55 adolescentes e jovens, totali-

zando 198 atendimentos mensais.

6. Com o início das oficinas de arte educação

da Casa Guadalupana em 2007, a popula-

ção atendida aumentou, devido a demanda

espontânea que chegou na casa, entendida

como referência para esses adolescentes,

sendo atendidos mensalmente, somente

nas oficinas de arte educação, 50 adolescen-

tes por mês.

7. O CEPROMM, que está situado em área con-

finada de prostituição, atendeu aproximada-

mente 30 crianças e adolescentes mensais,

e 39 crianças e adolescentes/mês na região

do Campo Belo, nas oficinas de arte educa-

ção e atendimento psicossocial, num total

de 203 atendimentos mensais.

8. Os abrigos especializados para crianças e

adolescentes em situação de rua e ESCCA,

atuaram como retaguarda oferecendo inclu-

são e proteção. O Instituto Souza Novaes,

com atendimento médio mensal de 6

adolescentes do sexo feminino e a Casa

Jimmy - APOT, com atendimento médio

mensal de 15 crianças e adolescentes do

sexo masculino

9. A Casa Betel, que está nessa rede desde

2004, como abrigo (Casa de Passagem) de

curta permanência para o referenciamento

de crianças e adolescentes que não são de

Campinas.Atuou como apoio para a rede,

com atendimento médio mensal de 12

crianças e adolescentes de ambos os sexos.

10. A participação do Programa Convivência

e Cidadania foi fundamental pois, além de

contribuir para a identificação e diferencia-

ção das crianças e adolescentes abordados,

uma vez que reconhece seu público alvo,

atuou também na prevenção a ESCCA.

Em 2007 a rede apresentou a seguinte compo-

sição: APOT com a Casa Guadalupana e abri-

go especializado masculino; Instituto Souza

Novaes com o Pernoite Protegido e o abrigo es-

pecializado feminino; CEPROMM; CEDAP; CPTI;

Casa Betel; TABA; Convivência e Cidadania;

Obra Social São João Bosco com o Indicando

Caminhos; Serviço de Saúde Cândido Ferreira

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com a República Assistida.

De acordo com os resultados apresentados pelo

trabalho até 2007, verificamos um grande nú-

mero de casos de ESCCA em ambientes fecha-

dos, compreendendo casas de cafetinagem,

saunas, boates, chácaras, casas das próprias

famílias (os exploradores são os próprios pais,

parentes ou responsáveis legais), locais de di-

fícil atuação por envolver redes de aliciadores

e exploradores sexuais mais estruturadas, com

forte ligações com tráficos de drogas e outras

ações ilícitas.

Para conhecermos este universo e elaborarmos

estratégias de proteção a estas vítimas, im-

plantamos o projeto denominado “indicando

Caminhos” com o apoio institucional da Vara da

Infância e Juventude, no que compete as ações

de verificação, mapeamento dos locais fecha-

dos e abertos, desenvolvimento de um plano de

atendimento para o local, envolvendo atuações

de responsabilização e de proteção em situa-

ções que se constatam crianças e adolescentes

em situação de ESCCA, ESCCA/Rua.

O referido projeto teve inicio em junho de 2008

e até outubro, mapeou 131 pontos de ESCCA,

ESCCA/Rua, obtendo a confirmação de 42 pon-

tos. Foram notificados, 19% das situações à

Vara da Infância e Juventude, 20% ao Ministério

Público da Infância e Juventude e os restantes

ao Conselho Tutelar, casos esses com identifi-

cação das vítimas, ou não confirmação da ocor-

rência dos fenômenos.

Em agosto de 2008, implantou-se o Serviço de

“República Assistida”, buscando o objetivo de

proporcionar atendimento à adolescentes que

são moradores de rua e fazem o uso abusivo de

substâncias psicoativas, com ou sem ESCCA e

principalmente apresentando agravos na saúde

mental.

Os dados de 2008 foram coletados a partir dos

relatórios mensais enviados pelas instituições e

apresentados por semestre, uma vez que ocor-

reram mudanças na forma da coleta de dados.

Os dados dos abrigos Casa Betel, Pernoite e

Abrigo especializados da APOT e Instituto Souza

Novaes não foram computados no primeiro se-

mestre.

Foram atendidos 379 crianças, adolescentes e

jovens, entre 02 a 24 anos, sendo que 54 destes,

foram atendidos por mais de uma instituição,

44

devido as especificidades do fenômeno.

Foram 173 meninas, 180 meninos e 26 travestis.

Com relação as idades foram 31 crianças entre

02 e 11 anos, 236 adolescentes, sendo 25 de 12

anos, 21 de 13 anos, 39 de 14 anos, 40 de 15

anos, 56 de 16 anos e 35 de 17 anos. Atendemos

41 jovens entre 18 e 24 anos e 71 outros sem

informações precisas de idade.

Evidenciou-se que a maioria do público atendi-

do foi de adolescentes entre 14 e 17 anos.

Dentre os atendidos encontramos 72 adolescen-

tes e jovens em situação de Exploração Sexual

Comercial, 75 em situação de Rua e 26 em situ-

ação de Rua e Exploração Sexual Comercial.

Tivemos 04 casos confirmados de superação da

situação de ESCCA, 06 de Rua e 03 da situação

de ESCCA/Rua. As instituições prestaram neste

primeiro semestre de 2008 7.738 atendimentos.

Entre julho a dezembro de 2008, foram reali-

zados 9.423 atendimentos/atividades com as

crianças, adolescentes e jovens atendidas pelo

programa, com uma média de 190 crianças,

adolescentes e jovens por mês.

Em 2009 fizeram parte do atendimento dire-

to da rede CPTI, CEDAP, CEPROMM, Indicando

Caminhos (OSSJB) e Casa Guadalupana (APOT)

Foram atendidos pelos programas CPTI, CEDAP e

CEPROMM 152 crianças e adolescentes, destas

124 do sexo feminino e 28 do masculino, além

de 44 travestis pelo CEDAP, que não entraram

na análise de dados por não conseguirmos con-

firmar as idades, mas alguns eram adolescentes.

Atendemos 27 crianças entre 2 e 11 anos, 118

adolescentes entre 12 e 17 anos e 7 jovens en-

tre 18 e 21 anos.

A Casa Guadalupana atendeu a 175 crianças e

adolescentes no ano de 2009, sendo 41 meninas

e 134 meninos. Com relação as idades foram 6

crianças entre 9 e 11 anos, 82 adolescentes, 4

jovens entre 18 e 19 anos e 83 não informaram

a idade precisamente.

É interessante destacar o tempo de atendimen-

to no programa, sendo 18 atendidos até 6 me-

ses, 15 de 7 a 12 meses, 41 de 13 a 24 meses

e 5 sem informação. Verificamos que a maioria

estão sendo acompanhados de 2 a 3 anos, refle-

tindo a complexidade do fenômeno que requer

um acompanhamento longo e sistemático para

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o rompimento do ciclo da ESCCA.

Campinas conta desde 2005 com um sistema

institucional informatizado de notificação de

violências denominado SISNOV (Sistema de

Notificação de Violências), de acesso restrito

aos profissionais integrantes das redes de saúde

e assistência social principalmente, que foi uti-

lizado como modelo pelo Ministério da Saúde

para a criação do SINAN (Sistema Nacional de

Notificação de Violências), onde se destacam os

dados :

Entre 01/07/2005 a 31/12/2008 foram 2.442

notificações, sendo doméstica – 1.705 e urbana

– 737. Dentre estas 1.070 são de cunho sexual,

destacando-se 470 domésticas e 600 urbanas.

Destas urbanas, são 46 casos de ESCCA notifi-

cados. A Violência Doméstica contra Crianças e

Adolescentes corresponde a 62,3 % destas tipi-

ficadas como sexuais.

Em 2010, estão compondo esta rede do

PEESCCA: CPTI, CEDAP, CEPROMM e APOT,

com os Casa Guadalupana, Pernoite Protegido,

Abrigo Especializado Feminino e Masculino.

Componentes desta rede participam ativa-

mente da comissão de enfrentamento a ESCCA

do CMDCA, da Comissão Criando Redes de

Esperança que trata de políticas para crian-

ças e adolescentes em situação de rua e se

faz representar nas discussões do colegiado.

Participamos também dos Conselhos de clas-

ses, com destaque no CRP (Conselho Regional

de Psicologia) e CRESS (Conselho Regional de

Serviço Social) e do CMAS (Conselho municipal

da Assistência Social).

A Instituição TABA, que não esta atualmente

sendo co-financiada pela SMCAIS, trabalha com

o enfrentamento a ESCCA e participa ativamen-

te destas ações, levando a discussão para o seg-

mento do Turismo, Comércio , Lazer e Negócios.

Estas participações são imprescindíveis para le-

var as questões da infância e adolescência e da

ESCCA/Rua nos espaços de formulação de políti-

cas públicas e para o gestores públicos nas mais

diferentes àreas.

Entendemos a ESCCA, a partir do seguinte con-

ceito: “Exploração sexual comercial define-se

como uma violência contra crianças e adoles-

centes, que contextualiza em função da cultura

Entendendo e Conceituando o Fenômeno

46

(do uso do corpo), do padrão ético e legal, do

trabalho e do mercado. A exploração sexual co-

mercial de crianças e adolescentes é uma rela-

ção de poder e de sexualidade, mercantilizada,

que visa a obtenção de proveitos por adultos,

que causa danos biopsicossociais aos explora-

dos, que são pessoas em processo de desenvol-

vimento. Implica o envolvimento de crianças e

adolescentes em práticas sexuais, coercitivos ou

persuasivos, o que configura uma transgressão

legal e a violação de direitos à liberdade indivi-

duais da população infanto-juvenil”4.

A ESCCA se caracteriza pela ocorrência de uma

relação sexual/sexualizada entre uma criança ou

adolescente e um “adulto”, mediada pela troca

de favores ou dinheiro. A pornografia, as trocas

sexuais, o trabalho sexual infanto juvenil agen-

ciado, o turismo sexual, o tráfico de crianças e

adolescentes para fins de exploração sexual e a

prostituição são entendidos como formas deste

fenômeno, onde está sempre presente a figura

do explorador (aquele que detêm o poder), e o

da criança/adolescente explorado (o objeto de

desejo e consumo).

A ESCCA se apresenta de diferentes formas, 4 A Exploração Sexual de meninos e meninas na América Latina e no Caribe, relató-rio final- Brasil, dezembro, 1998, p.72

didaticamente expostas a seguir5:

ExplORAÇÃO SExuAl COMERCiAl NOS

MOlDES DA pROSTiTuiÇÃO: Entendemos a

prostituição como a atividade na qual atos se-

xuais são negociados em troca de dinheiro, da

satisfação de necessidades básicas (alimenta-

ção, vestuário, abrigo) ou do acesso ao consumo

de bens e serviços. A prostituição tem diferen-

tes formas, serviços e preços. O trabalho pode

ocorrer em espaços fechados (saunas, bordéis,

casas de cafetinagem, motéis, hotéis, boates,

bares, entre outros) ou espaços abertos como

ruas, estradas e praças. Muitas vezes, atuam

em regime de escravidão e geralmente estão

envolvidos com o crime organizado. Os clien-

tes, os empregadores e os intermediários, que

induzem, facilitam ou obrigam crianças e ado-

lescentes a se prostituir, são todos considerados

exploradores sexuais.

pORNOGRAFiA: Envolve a produção, exibição

(divulgação), distribuição, venda, compra, posse

e utilização de material pornográfico. A porno-

grafia encontra-se presente não só em material

5 Fonte: Cartilha da Campanha de Combate à Violência Sexual Contra crianças e Adolescentes. FETEC-CUTSP- Federação dos Trabalhadores em Empresas de crédito de São Pau-lo/Sindicato dos Bancários de São Paulo/ CONTRAF – Confederação Nacional dos Trabalhadores do ramo Financeiro/ AFUBESP- Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Ba-neprev e Cabesp, Brasil, maio, 2009.

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normalmente considerado pornográfico (fotos,

vídeos, revistas, espetáculos), mas também

na literatura, fotografia, publicidade, cinema,

quando apresentam ou descrevem com claro

caráter pedófilo situações envolvendo crianças

e adolescentes, expostas e usadas sexualmen-

te por adultos. A pornografia infanto-juvenil na

Internet constitui atualmente um dos mais gra-

ves problemas a ser enfrentado pela sociedade,

em nível nacional e internacional.

TuRiSMO pARA FiNS DE ExplORAÇÃO SExuAl:

Envolve a utilização de equipamentos do turis-

mo para a exploração sexual de crianças e de

adolescentes. O chamado “turismo sexual” não

é turismo. É, sim, um tipo de violência que vai

contra os princípios do Código Mundial de Ética

do Turismo, além de ser uma violação inaceitá-

vel dos direitos humanos.

TRÁFiCO DE pESSOAS pARA FiNS SExuAiS: De

acordo com as Nações Unidas tráfico de pesso-

as significa: “recrutamento, transporte, trans-

ferência, abrigo e guarda de pessoas por meio

de ameaças, uso de força ou outras formas de

coerção, abdução, fraude, enganação ou abuso

de poder e vulnerabilidade, com pagamentos ou

recebimento de benefícios que facilitem o con-

sentimento de uma pessoa que tenha controle

sobre outra, com propósitos de exploração”.

Segundo normativas nacionais e internacionais,

o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes

para fins de exploração sexual comercial é cri-

me, e uma violação dos direitos humanos.

Com relação às crianças e adolescentes em si-

tuação de rua, para o nosso projeto, são con-

sideradas aquelas que perderam seus laços fa-

miliares e fazem das ruas, principalmente as da

região central, seus locais de moradia e sobrevi-

vência. Todos estes meninos e meninas saíram

de suas casas por terem sido vítimas de violên-

cia doméstica gravíssima ao ponto de optarem

pela violência e regras rígidas que imperam nas

ruas. Costumam se submeter a programas se-

xuais como forma de sobrevivência e obtenção

principalmente de drogas. A ação devastadora

da situação de rua na vida destas crianças e ado-

lescentes é presenciada por todos nós, quando

somos confrontados nas ruas por meninos e

meninas sujos, mal vestidos, magros, sob efeito

de drogas, fazendo “ponto” nas esquinas, dor-

mindo pelas calçadas, mocós e marquises de

nossa cidade.

48

Atualmente já atendemos a todas formas de

ESCCA.

Em nossas ações e a partir da leitura de nossos

dados quali-quantitativos, de estudo de nossos

casos atendidos e apoio da literatura científica

sobre o assunto, levantamos os seguintes fato-

res prediponentes a ocorrência de ESCCA, en-

tendendo que os fatores desencadeantes são

multicausais:

• Quadros de violência doméstica contra

criança e adolescente, destacando-se a se-

xual;

• Ambiente doméstico com violência de gêne-

ro;

• Precárias condições financeiras;

• Uso e/ou abuso de substâncias psicoativas

(lícitas e/ou ilícitas);

• Agravos na saúde mental e/ou física;

• Vivência de exclusão social e familiar, com

ênfase para os travestis;

• Envolvimento com o tráfico de entorpe-

centes seja na venda das substâncias como

única fonte de renda, seja para sustento do

vício, ou, inclusive, por coação e obrigatorie-

dade (imposta pelo traficante);

• Reprodução do ciclo de violência e explo-

ração que acontece na família. Portanto, se

desenvolvem dentro de contexto onde tais

comportamentos são usuais e passam a in-

ternalizar este modelo;

• Residência em locais com infra-estrutura de-

ficiente;

• Escassez de políticas públicas voltadas para

a criança/adolescente/jovem: falta de in-

centivo em cultura, educação, lazer, esporte,

não oferecendo para essas pessoas oportu-

nidades para ocupar-se e desenvolver-se de

modo saudável;

• Inserção em contexto social violento;

• Evasão escolar ou baixa escolaridade; anal-

fabetismo e analfabetismo funcional;

• Envolvimento em atos infracionais, crimina-

lidade;

• Mídia estimuladora da sexualidade precoce

e incentivadora do consumo, contribuin-

do para que muitas crianças desenvolvam

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prematuramente sua sexualidade e encon-

trem nela uma oportunidade para obtenção

de renda e aquisição dos produtos anuncia-

dos;

• Mídia acrítica, permissiva, que apresenta

programas colocando a exploração sexual

de modo banalizado, superficial, sensacio-

nalista, romantizado e irreal;

• Famílias acompanhadas pela rede de ser-

viços dos diferentes níveis de proteção do

território há muito tempo (saúde, educa-

ção, ONGs, etc.). Muitas vezes, essa rede

de atendimento está saturada e apresenta

dificuldades para realizar um acompanha-

mento individualizado e desenvolver novas

estratégias de vinculação aos programas e

atendimentos. Outras vezes, a integração

entre os serviços da rede é falha permitin-

do assim, que as famílias ou as pessoas em

situação de ESCCA não consigam aderir às

propostas;

• Diversas famílias migram de outras cidades/

estados e não estabelecem vínculo ou iden-

tificação com o local onde se inseriu, não

zelando, assim, pela manutenção do espaço

social e apresentando dificuldade de adesão

aos dispositivos da rede. Tais pessoas não se

sentem pertencentes àquele local, mesmo

residindo há anos na cidade.

Para enfrentar a complexidade dos fenômenos,

essas diferentes ações se desenvolvem de ma-

neira articulada e dinâmica, atendendo as es-

pecificidades dos mesmos, que exigem um pro-

cesso estreito e sistemático de monitoramento,

nos baseamos nos seguintes princípios metodo-

lógicos: gestão participativa; monitoramento e

avaliação sistemática; trabalho em rede; inter-

setorialidade; transdisciplinaridade;

Nos utilizamos das seguintes técnicas e instru-

mentos: relatórios mensais qualiquantitativos;

Reuniões semanais com a rede executora/equi-

pe técnica; Reuniões semanais/mensais para

capacitação e supervisão; Registros em diários

de campo; Registros em prontuários individuais;

Banco de dados; Visitas de monitoramento do

gestor a rede executora; Reuniões periódicas

com os dirigentes das instituições.

Oferecemos os seguintes atendimentos com os

pressupostos de Nosso Trabalho

50

seguintes princípios:

• Educação Social de Rua; Oficinas de Arte

Educação; Pernoite Protegido; Atendimento

Psicossocial; Formação continuada das equi-

pes;

• Atendimento jurídico social; Verificação e

mapeamento dos locais de ESCCA/Rua;

Buscamos como resultado de nosso trabalho:

• Melhora do número de acessos ao público

alvo;

• Aumento no número de crianças reinseridas

no ensino formal;

• Reaproximação e/ou fortalecimento do vín-

culo entre o atendido e sua família;

• Aumento da procura espontânea pelas

crianças, adolescentes, jovens e suas famí-

lias nos serviços desta rede;

• Aumento da divulgação entre os pares da

existência do programa pelos próprios aten-

didos, atraindo assim outras crianças e ado-

lescentes;

• Maior coesão nos trabalhos entre os

parceiros desta rede;

• Desenvolvimento de novas metodologias

para mapeamento, abordagem, acolhimen-

to, atendimento, referenciamento e contra-

-referenciamento, adequando-as constante-

mente à população alvo;

• Melhora no número de atendimentos em

geral;

• Aumento no número de participantes nas

oficinas sócio educativas e de arte educação;

• Aumento do número de participantes nas

comemorações do dia 18 de maio;

• Melhora do envolvimento dos atendidos em

diversas atividades e ações oferecidas pela

rede, concretizando o protagonismo infanto

juvenil;

• Aumento no número de busca por serviços

tais como escola, equipamentos da saúde,

retirada de documentos da vida civil, com

acompanhamento presencial dos profissio-

nais;

• Maior acesso e melhora no número de

adesões do público GLTTB (Gays, Lésbicas,

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Travestis, Transexuais e Bissexuais) aos ser-

viços da rede;

• Melhora no número de adesões dos atendi-

dos ao número de encaminhamentos pro-

postos;

• Melhora e aumento do número de ações no

trabalho com as famílias dos atendidos;

• Fortalecimento dos vínculos entre os atendi-

dos e os profissionais da rede;

• Aumento do número de discussões conjun-

tas de casos e situações entre os parceiros

da rede;

• Aquisição de repertório teórico e prático so-

bre os fenômenos ESCCA/Rua;

• Maior número de acesso e participações dos

atendidos, em eventos de cultura, esporte e

lazer;

• Melhora no número de adolescentes que

saíram da situação de ESCCA;

• Aumento no número de crianças e adoles-

centes que saíram da situação de rua e fo-

ram para abrigos, comunidades terapêuti-

cas ou voltaram para suas famílias;

• Aumento no número das ações voltadas

aos cuidados com a saúde, principalmente

à saúde sexual e reprodutiva e tratamento

para situações de uso e abuso de substân-

cias psicoativas;

• Maior número de ações de prevenção à

ocorrência do fenômeno de ESCCA;

• Melhora no número de casos referencia-

dos ao programa pelos Conselhos Tutelares,

Vara da Infância e Juventude, CREAS e de

outros serviços que compõem a rede de

atendimento à criança e ao adolescente em

nosso município;

• Ocorrência de supervisão continuada a pro-

fissionais desta rede;

• Melhora no número de participações dos

profissionais desta rede em eventos tais

como cursos, seminários, congressos, ofici-

nas, com temáticas pertinentes ao trabalho.

Para atingirmos nossos objetivos atualmente

contamos com os parceiros: CMAS, CMDCA,

Conselhos de Classe destacando-se CRP, CRESS e

CRM, Fórum dos Direitos da Criança e Adolescente

(FDCA), Centros de Defesa (CEDECA), Fundação

52

das Entidades Assistenciais de Campinas

(FEAC), Comissões de Direitos Humanos e da

OAB, Câmara Municipal, Conselhos Tutelares,

Vara da Infância e Juventude, Disque Denúncia

Municipal, Ministério Público da Infância

e Juventude,Prefeitura Municipal, Câmara

Municipal, Defensoria Pública, Universidades

destacando-se UNICAMP e PUCCAMP, mídia lo-

cal.

O objetivo da Prefeitura Municipal de Campinas,

através da SMCAIS (Secretaria Municipal de

Cidadania, Assistência e Inclusão Social) é en-

frentar a situação de Exploração Sexual de

Crianças e Adolescentes, buscando a execução

de ações da política municipal para esta ques-

tão.

As principais ações da secretaria acima mencio-

nadas são executadas pelas organizações go-

vernamentais e não governamentais parceiras

integrantes da rede de atendimento, atuantes

nas áreas:

• Defesa do direito da criança crianças de 0

a 6 anos com ênfase no fortalecimento dos

vínculos familiares, direito de brincar , socia-

lização e sensibilização;

• Crianças e adolescentes de 06 a 14 anos,

visando sua proteção, socialização e o for-

talecimento dos vínculos familiares e comu-

nitários;

• Programa de incentivo ao protagonismo ju-

venil e de fortalecimento dos vínculos fami-

liares e comunitários;

• Programas de aprendizagem profissional;

• Centro de Referência a Lésbicas, Gays,

Bissexuais, Travestis e Transexuais

• Ações de combate à violência doméstica

contra crianças e adolescente - VDCCA;

• Abordagem de rua para crianças e adoles-

centes;

• Medidas sócias educativas em meio aberto

- prestação de serviços à comunidade e li-

berdade assistida;

• Programa de erradicação do trabalho infan-

til;

• Família acolhedora;

• Abrigos de proteção às crianças e adoles-

centes violados em seus direitos;

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• Abrigos especializados para crianças e ado-

lescentes em situação de rua, usuários ou

não,de substancias psicoativas;

• Pernoite Protegido;

• Abrigo de apoio à saúde;

• Comunidade Terapêutica para adolescentes;

e

• Programa de atenção e apoio a adolescente

grávida.

Os critérios para a inclusão no programa são:

• Diagnóstico de ESCCA e ou Rua;

• Vulnerabilidade para ESCCA e histórico ante-

rior de ESCCA.

Os casos são encaminhados através do Disque

Denúncia, Conselho Tutelar, Vara da Infância e

Juventude ao CREAS, que faz a distribuição dos

casos nos programas, levando-se em conta o

território e o histórico apresentado. Existe uma

demanda espontânea derivada dos próprios

atendidos que levam outros em situação de

ESCCA ou ESCCa/Rua.

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Campinas, o terceiro maior município do es-

tado de São Paulo, tem como um dos principais

problemas de Saúde Pública, a violência em suas

diversas manifestações. Em 2001 a Secretaria

de Saúde detectou a necessidade do cuidado

as vítimas de violência sexual para prevenção

de DST/AIDS, e gravidez proveniente de estu-

pro, porém não existiam dados para aperfeiçoar

o diagnóstico e elaborar uma política eficaz, e

os serviços que prestavam assistência funciona-

vam independentes causando revitimização da

vítima e perda da maioria dos casos.

Para enfrentar o problema da violência sexual a

prefeitura de Campinas criou a rede Iluminar. A

rede trabalha com o conceito de que a violência

é um problema de saúde pública e não somente

um problema policial. Por isso, o foco está no

acolhimento da pessoa fragilizada pela situa-

ção de violência e no atendimento de qualida-

de a todas as vítimas de violência sexual urba-

na e doméstica da cidade. A formação da rede

teve início a partir de um seminário, em 2001,

que envolveu diversos órgãos governamentais,

municipais e estaduais, das áreas de Saúde,

Assistência Social, Educação, Segurança Pública

e também Organizações da sociedade civil en-

volvidas na luta contra a violência. Elaborou-se

então uma carta de intenções, dirigida ao pre-

feito, norteando a criação da Rede Iluminar.

A articulação da rede começou com a organiza-

ção do fluxo de atendimento das vitimas de vio-

lência, que instituiu oficialmente os caminhos a

serem seguidos pelas vítimas de violência den-

tro da rede. A rede articula conselhos comuni-

tários, instituições de saúde, de educação e de

segurança pública, tanto municipal quanto es-

taduais.

As ações mais importantes da rede são a huma-

nização do atendimento, a atenção integral às

vítimas e a criação do sistema de Notificação

SISNOV. Até hoje já foram capacitados mais de

3.000 profissionais da rede pública e de institui-

ções parceiras.

Em relação à notificação compulsória, foi insti-

tuído o sistema informatizado de notificação de

casos de violência – SISNOV, para a sistematiza-

ção dos dados e dar visibilidade aos números

da violência doméstica e sexual. Neste sistema

foram integrados inicialmente, três programas

voltados ao combate da violência na cidade:

56

Assistência às crianças e adolescentes vítimas

de violência doméstica; ESCA dirigido às crian-

ças e adolescentes vítimas de exploração sexu-

al (SUAS) e o “Iluminar Campinas”, dirigido ao

cuidado às vitimas de violência sexual urbana e

doméstica de ambos os sexos e todas as idades.

Cuidar da saúde das crianças mulheres, ado-

lescentes e homens vítimas de violência sexual

urbana ou doméstica aguda, antes de 72hs, pos-

sibilitando a prevenção da gravidez por estupro,

DST/AIDS, Hepatite.

Cuidar da saúde de todas as vítimas de violência

sexual doméstica crônica, e das suas famílias.

Identificar, Capacitar, Integrar e Monitorar a

Rede de cuidados para evitar a REVITIMIZAÇÃO,

qualificar e humanizar os serviços.

Elaborar e implantar sistema de notificação para

construção de banco de dados, monitoramento

da rede de serviços, possibilitarem implementa-

ção de políticas públicas mais eficientes

Cuidar das pessoas autoras de violência em am-

biente não policial para intervir na cadeia de

violência.

Desde sua implantação, em 2001, o Programa

Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de

Violência Sexual, vem mudando o tratamen-

to dispensado às mulheres, homens, adultos,

crianças e adolescentes vítimas da violência se-

xual no município, por meio de um trabalho in-

tersetorial de interface com todas as secretarias

municipais e participação efetiva de diferentes

serviços públicos, Sociedade Civil organizada,

Universidades, entre outros.

O Programa envolve duas redes de trabalho:

uma de cuidados diretos e outra de cuidados

indiretos. Na que se refere ao apoio indireto

estão incluídos os equipamentos da Secretaria

de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão

Social, como os Núcleos Comunitários de

Crianças e Adolescentes, o Centro Municipal

de Proteção à Criança e Adolescente (CMPCA),

Casa Abrigo da Mulher Sara M e o Centro de

Referência e Apoio à Mulher (Ceamo).

Nesta rede também estão incluídas as Escolas

Municipais (Cemeis, Emeis e Emef’s), Guarda

Objetivos

processo de Trabalho Adotado

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Municipal, Conselhos Municipais da Criança e

do Adolescente (CMDCA), da Mulher (CMDM)

do Idoso (CMI) e das Pessoas com Deficiência

(Cmadene), Conselhos Tutelares, Vara da

Infância e da adolescência, ONGs que traba-

lham com estes segmentos da população, e

Delegacias de Polícias e da Mulher e os servi-

ços de assistência jurídica e psicológica da PUC

Campinas e da Universidade Paulista (UNIP).

Centros de Saúde, Prontos-Socorros munici-

pais, Centro de Referência de DST/AIDS, Serviço

Municipal de Atendimento Médico de Urgência

(Samu), Centro de Assistência Integral a Saúde

da Mulher (Caism/Unicamp), Pronto-Socorro

Infantil do HC da Unicamp, e Instituto Médico

Legal (IML) trabalham com a rede de cuidados

diretos.

Todos estes serviços estão autorizados a no-

tificar os casos de crianças e adolescentes ao

Conselho Tutelar e ao Sistema de Notificação

de Violência via Internet (SISNOV/SINAM). Um

colegiado da rede que se reúne bimestralmente

acompanha e coordena as ações.

Ao ser recebido em um dos serviços, a vítima é

acolhida e orientada, a queixa é identificada e

o paciente é imediatamente encaminhado para

atendimento médico e assistência psicológica.

O atendimento para as mulheres inclui anticon-

cepção de emergência. Em todos os casos é fei-

ta a imunização contra hepatite e aplicação do

coquetel contra o vírus HIV. A vítima também é

orientada para fazer Boletim de Ocorrência (BO)

e a agendar exame de corpo de delito.

A rede realiza várias ações de gestão: - Através

de planilhas de monitoramento (anexas) para

avaliar as dificuldades entender os problemas e

desenvolver processos de trabalho para melho-

rar o cuidado as vítimas.

Reuniões bimensais para apresentação das pla-

nilhas e definição das ações de resolução dos

problemas com metas e prazos.

Casos sentinelas: A rede realiza capacitação dos

serviços através da discussão de casos graves

com resolutividade inadequada.

A partir da implantação do SISNOV, os dados

são apresentados através de boletins (ane-

xos) aos gestores e autoridades locais para o

Gestão

58

desenvolvimento de ações de prevenção e de

políticas públicas relacionadas ao enfrentamen-

to as violência sexual. Faz parte da gestão das

informações um colegiado gestor do SISNOV,

com objetivo de melhorar a qualidade da noti-

ficação, avaliar quais informações devem ser di-

vulgadas e qual a melhor forma de divulgação, o

entrada de novos serviços notificadores, elabo-

rar o boletim anual.

Com a criação do Núcleo de prevenção de aci-

dentes e violências e a entradas das demais re-

des de cuidados de outras violências foi criado

um Grupo de trabalho para avaliar a qualidade

das notificações e realizar capacitação dos servi-

ços que apresentam problemas na notificação.

Valores epidemiológicos e estatísticos.

Possibilitar as vítimas de ambos os sexos e de to-

das as idades assistência á saúde física e psicos-

social prioritariamente às questões de polícia

(antes da implantação do programa apenas 20%

das vítimas chegavam aos serviços de saúde em

tempo hábil para a prevenção, pois a primeira

ação das vítimas e das famílias era se encami-

nhar a uma delegacia de polícia.) prevenindo

a gravidez por estupro, as DST/AIDS/hepatite e

garantindo o direito ao abortamento legal, evi-

tando a REVITIMIZAÇÃO através do trabalho em

rede e quebrando a corrente de violência, cui-

dando das crianças, adolescente e dos homens.

A diminuição do abortamento legal em 90%.

100% dos casos que realizaram todo o trata-

mento não tiveram sorologias positivas para

HIV/Hepatite

A criação do serviço de cuidado aos adolescen-

tes autores de violência em ambiente não poli-

cial junto as suas famílias.

A consciência dos serviços da rede de que as ví-

timas de violência sexual são da nossa respon-

sabilidade e devem ser tratadas com competên-

cia e humanização.

O envolvimento da comunidade e da mídia ele-

varam o nº de atendimento nos anos após a

implantação do programa, possibilitando às ví-

timas o cuidado com sua saúde.

A partir da divulgação dos dados SISNOV aos

principais Resultados Alcançados

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Secretários Municipais e aos gestores das redes

várias ações de prevenção e promoção da saúde

foram realizadas:

Iluminação dos espaços públicos com índices

alto de ocorrência;

Ronda escolar à noite pela Guarda Municipal;

Capacitação dos seguranças dos Shoppings

Center;

Capacitação dos observadores das câmeras nos

espaços monitorados nos terminais de ônibus,

ruas de pedestres, escolas;

Capacitação de toda rede de cuidados –

05/2009.

Alguns dados sobre Violência Sexual:

Violência Sexual por local de notificação e anoDados: Boletim SiSNOV No3

2005 2006 2007 2008 Total

CAISM/UNICAMP 77 158 134 186 555

SMCAIS / ONGs 173 88 261

PSI / HC / UNICAMP 12 22 30 25 89

SMCAIS / OGs 8 12 19 15 54

SMS / PSI / HM Mário Gatti 1 16 14 15 46

SMS 3 22 22 47

GUARDA MUNICIPAL 4 9 4 17

OUTROS 1 1

TOTAl 98 216 401 355 1.070

Violência Sexual, ambos os sexos todas as idades por tipo de violência sexual

Dados: Boletim SiSNOV No3

Estupro Atentado Assédio Exploração

0 a 4 anos 4 67 6

5 a 9 19 107 13

10 a 14 anos 73 126 32 11

15 a 19 anos 160 91 17 29

20-29 anos 174 84 6 6

30-39 anos 80 37 1

40 a 49 anos 35 15

50 anos e + 21 10 1

Desconhecido 3 6 3

TOTAl 569 543 79 46

Violência Sexual, tempo para a realização do cuidadoDados: Boletim SiSNOV No3

2000 - 80% após 72h

2009 - 90% após 12h

violência sexual, contaminação dst/aids, hepatite bDados: Boletim SiSNOV No3

100% das vítimas que encerraram o tratamento não apresentaram reversão nas sorologias

Apenas 30% não completaram o tratamento

Violência Sexual, ambos os sexos todas as idadespor causador

Dados: Boletim SiSNOV No 3

Local da Ocorrência TOTAL

Estabelecimento Público 1

Festa 5

Ignorado 110

Local de Trabalho 6

Matagal / Terreno 5

Ponto de ônibus / Terminal 43

Residência / Chácara 88

Via pública 302

Via pública próximo à escola 12

Via pública próximo a um estabelecimento comercial 28

TOTAl 600

60

A ação coletiva que foi proposta pelo programa

Iluminar na construção do cuidado a violência

articulando os serviços em rede buscou pro-

mover a conscientização das pessoas através

da ressignificação de novos eixos conceituais

para uma realidade que antes não era percebi-

da como tal. Sabemos que os dados notificados

ainda não conseguem mapear a totalidade das

ocorrências, mas com aqueles disponíveis estão

dando visibilidade ao problema e instrumentali-

zando ações e políticas.

O SISNOV tem sido uma ferramenta catalisa-

dora da consolidação de política pública e ino-

vação nas ações de vigilância enfrentamento

e cuidados as vítimas de violência sexual, pois

além de sistematizar as violências, o sistema

tem permitido ampliar a noção da situação no

município, através da divulgação dos boletins

periódicos com os dados coletados. O SISNOV

acaba articulando diferentes setores de rede de

cuidados, e se estabelece como um facilitador

na construção de ações e projetos terapêuti-

cos, assim como na organização de capacitação

técnica. O SISNOV contribui para uma impor-

tante discussão no cenário atual do Brasil, do

desafio de efetivar a notificação compulsória

da violência nos serviços, pois em alguns casos,

argumenta-se que o despreparo dos serviços e

profissionais para o acolhimento da demanda,

somado a precariedade da rede de cuidados,

pode trazer efeitos contrários a promoção dos

direitos e cidadania. Nos últimos anos a gestão

das informações trouxeram avanços significati-

vos nas políticas de prevenção como:Iluminação

de locais com altos índices de violência sexual

urbana.Capacitação dos observadores das câ-

meras de monitoramentos de ruas, terminais de

transporte coletivos para intervenção preventi-

va em casos suspeitos.Capacitação dos seguran-

ças privados de shopping Center da cidade.Tese

de doutorado defendida pela Dra. em psicologia

Claudia Pedrosa Programa Iluminar Campinas:

Da gestão inovadora do cuidado ao desafio da

incorporação da categoria gênero nas práticas.A

criação do Ambulatório de cuidado as crianças e

adolescentes vítimas de violência sexual.

Um desafio constante para a gestão da rede de

cuidados é o cuidado ao cuidador, ainda sem

ações especificas para as equipes dos serviços.

Conclusões

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Recomendações para a saúde pública

Os municípios tem hoje a possibilidade de im-

plantar, implementar e desenvolver ações de

cuidado e enfrentamento as violências sexuais

devido aos instrumentos disponibilizados pelo

ministério da saúde através da área técnica de

saúde da Mulher e da criança e adolescentes

e da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de

Violências e Acidentes/Coordenação Geral de

Doenças e Agravos Não Transmissíveis, a ela-

boração da Norma técnica de atendimento as

mulheres e adolescentes vítimas de violências

sexual, a norma técnica para atendimento do

abortamento, a implantação da Política Nacional

de prevenção de acidentes e violências com a

implantação da ficha de notificação compulsó-

ria de violências. A possibilidade de construção

das redes com o SUAS, a seguranças pública e

os conselhos tutelares também existentes em

quase totalidade dos municípios.Dentro desse

cenário as ações do Iluminar campinas trazem

algumas sugestões que podem contribuir para a

construção das redes de cuidados as vítimas de

violência sexual.Realização de visitas técnicas

monitoradas aos serviços da rede para municí-

pios, estados e instituições. Já foram realizadas

em torno de 20.Capacitações para implantação

de ações e de organização das redes de cuida-

dos. Realizadas em 12 municípios.As ações de

cuidado, prevenção e enfrentamento a violên-

cia sexual urbana e doméstica passa a fazer

parte do Programa de Saúde da Família , com

interface com SUAS ,os operadores do Direito,

conselhos de direitos e tutelares, agentes de

segurança pública.O cumprimento das ações de

enfrentamento a exploração sexual de crianças

e adolescentes contidas no Plano Municipal de

Enfrentamento a exploração sexual de crianças

e adolescentes.A implantação do sistema de no-

tificação unificado ao SINAM transformando o

nosso SISNOV em SISNOV/SINAM contribuindo

para formulação de políticas de maior abran-

gência , estadual e federal.A disponibilização do

cuidado as crianças, adolescentes e homens e o

cuidado aos adolescentes autores de violência

sexual como ações para romper com o ciclo da

violência sexual.

Com o objetivo de Cuidar da saúde das crian-

ças mulheres, adolescentes e homens vítimas

de violência sexual urbana ou doméstica aguda,

Resumo

62

antes de 72hs, possibilitando a prevenção da

gravidez por estupro, DST/AIDS, Hepatite das

vítimas de violência sexual doméstica crônica,

e das suas famílias, Elaborar e implantar siste-

ma de notificação para construção de banco

de dados, monitoramento da rede de serviços,

possibilitarem implementação de políticas pú-

blicas mais eficientes, o município de Campinas

SP. Cria a rede Iluminar de cuidados as vítimas

de violência sexual, ancorado num trabalho em

rede com o SUAS, a Segurança Pública, os ope-

radores do direito, os conselhos tutelares, uni-

versidades e a sociedade civil organizada, que

através de fluxos definidos e protocolos estrutu-

rados para o atendimento de urgência e segui-

mento dos casos, diminuiu substancialmente o

tempo de atendimento das vítimas desde a hora

do ocorrido até o atendimento à saúde (norma

técnica), diminuindo em 90% o número de abor-

tos em caso de estupro, e através da implanta-

ção de um sistema de notificação ,on line hoje

SISNOV/SINAM desenvolve ações de prevenção

a violência sexual urbana, o monitoramento das

ações da rede, e a avaliação da qualidade da

notificação e a capacitação dos profissionais da

rede de cuidados.

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64

O crescimento desordenado das cidades e a

decorrente situação de exclusão social gerada

favoreceu o estabelecimento de diversas for-

mas de violência e criminalidade instaladas nos

vazios deixados pelo poder publico.

A Região Metropolitana de Campinas não fugiu

a essa regra, tendo experimentado, nas últimas

décadas do século passado e nos primeiros anos

dois mil, períodos em que os índices de violên-

cia e criminalidade atingiram patamares inacei-

táveis, levando o município e a RMC a serem

incluídos na agenda policial da mídia nacional.

Ao final de 2001, com o assassinato do Prefeito

Municipal de Campinas, dentro de um quadro

de quase anomia no Estado de São Paulo, poder

público e sociedade entenderam como inadiá-

vel a adoção de iniciativas contundentes que se

mostrassem capazes de reverter a realidade en-

tão vivida e se constituissem em sinalização in-

questionável, para criminosos e coletividade de

que não se toleraria continuar convivendo com

aquele estado de coisas.

É nesse contexto que se cria o Movimento Vida

Melhor (MVM) e se implanta o Disque Denúncia

de Campinas (DD Campinas), em solenidade

em que estavam presentes o Governador do

Estado de São Paulo, acompanhado das figuras

mais representativas de seu governo com res-

ponsabilidade na área de Segurança Pública e a

Prefeita Municipal de Campinas com todos os

seus assessores, além das mais siginificativas

personalidades da sociedade civil organizada

do Município e Região. Vale dizer, o MVM-DD

Campinas nasce apadrinhado por todos os seto-

res do Poder Público e da sociedade local, com

a tarefa de apoiar, assessorar, colaborar com o

Poder Público e a iniciativa privada no enfrenta-

mento das causas geradoras da insegurança na

Região e de seus efeitos.

O MVM, que foi declarado pelo Poder Público

Municipal de Campinas “Örgão de utilidade

pública”, pela lei N° 12.309, de 06 de julho

de 2005, explicita em seu Estatuto, ser uma

associação de direito privado, constituída por

tempo indeterminado, sem fins econômicos,

de caráter organizacional, assistencial, sem

cunho político ou partidário, com a finalidade

de atender a todos que a ela se dirigirem, inde-

pendente de classe social, nacionalidade, sexo,

raça, cor ou crença religiosa, com âmbito de

65

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atuação no município de Campinas e sua Região

Metropolitana.

Dentre os seus diversos objetivos, igualmente,

estatutários, merecem destaque:

- Criar condições concretas para viabilizar um

MOVIMENTO que conjugará os esforços da so-

ciedade civil no combate à violência e à crimi-

nalidade no município de Campinas e sua região

metropolitana;

- Colaborar com os poderes públicos, prestando

serviços, coordenando o esforço de conscienti-

zação e cooperação da sociedade civil, para o

combate, pelos órgãos legalmente competen-

tes, aos ilícitos penais;

- Desenvolver, por si ou mediante prestação de

serviços, protocolo ou convênio entre os órgãos

púbicos e entidades particulares, esforços para

o engajamento de amplo espectro, visando am-

pliar a consciência dos cidadãos e de outros

segmentos da sociedade para a necessidade de

combate à criminalidade, estimulando a socie-

dade a participar das soluções que não depen-

dam exclusivamente da atuação policial e judi-

cial.

O DD Campinas, braço operacional do MVM, é

uma central comunitária de atendimento tele-

fônico, que funciona ininterruptamente duran-

te as vinte e quatro horas do dia, destinada a

receber informações da população sobre ativi-

dades criminosas de toda ordem e a transmiti-

-las aos órgãos públicos com responsabilidade

para enfrentá-los e solucioná-los, assegurando

o anonimato do denunciante. Suas atividades

são mantidas, hoje, com recursos prove-

nientes das parcerias estabelecidas entre a

entidade e os diversos setores da sociedade

civil organizada, estando, no entanto, igual-

mente aberta a possibilidade do recebimento

de recursos do Poder Público, em qualquer de

suas esferas.

Atualmente, o Disque Denúncia de Campinas,

devido à credibilidade conquistada e reconhe-

cida pela população, passou a ser um elemento

importante de atuação efetiva do terceiro

setor, com clara conotação de serviço so-

cial, uma vez que a população utiliza este ser-

viço não só para denunciar atividades crimino-

sas, como também como forma de comunicar

fatos que atingem crianças, adolescentes, ido-

sos, o meio ambiente, o uso correto do espaço

66

público, etc.

O reconhecimento da população

à eficácia desse instrumento pode

ser constatado nos picos de denún-

cias ocorridos nos horários subse-

qüentes aos noticiários regionais,

o que permite constatar que a po-

pulação interage indignada com

os fatos, usando o DD Campinas

como instrumento para se fazer

ouvir pelos órgãos públicos.

O MVM, presentemente, conduz

significativo esforço no sentido de

aprimorar a gestão dos seus servi-

ços, assim como de ampliar o es-

pectro de suas ações operacionais,

tudo com o intuito de colaborar

de forma mais intensa com os di-

versos órgãos do Poder Público,

contribuindo para que se busque

assegurar benefícios progressivamente maiores

à população, reduzindo, conseqüentemente,

os níveis de violência e criminalidade no seio

da sociedade e colaborando para a construção,

igualmente progressiva, de uma cultura de paz.

Recebimento e Encaminhamento de

Denúncias de Maus Tratos Contra Crianças

e Adolescentes

As denúncias são recebidas pela nossa central

do Disque Denúncia, através do telefone 3236-

3040, que funciona 24 horas ininterruptamente.

Desde o inicio do Disque Denúncia de Campinas, em fevereiro de

2002, e até o ano de 2007, o tipo de assunto mais denunciado sem-

pre foi o Tráfico de Drogas, seguido por crimes contra o patrimônio.

A partir de 2008 o assunto mais denunciado é o crime contra criança

e adolescentes, sendo: abandono, maus tratos, violência sexual ,

exploração sexual infantil.

Cabe-nos ressaltar que não foi apenas a violência que aumentou,

mas sim a credibilidade da população no serviço Disque Denúncia

de Campinas, bem como nos parceiros que recebem a denúncia e

tomam as providências (Ex: CT, DDM, Vara da Infância e as várias

secretarias do município, como a Sec. Assistência Social).

Esclareço que as campanhas e eventos que são realizados em parce-

ria com os diversos órgãos e instituições, a exemplo da TABA, são de

fundamental importância para a conscientização da população em

denunciar a violência contra crianças e adolescentes, como ocorreu

esse ano no evento 18 de maio.

Percebemos que o aumento das denúncias deve-se a esse trabalho

realizado em parceria.

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As denúncias são realizadas anonimamente, e o

denunciante recebe uma senha, para acompa-

nhamento, bem como para o caso de precisar

acrescentar novos dados.

Após o recebimento da denúncia, é realizada

uma análise pelo setor de difusão com referên-

cia a informação, ou seja, quanto ao relato da

denúncia, para que a mesma seja encaminhada

para o devido órgão competente, para as provi-

dências cabíveis.

As denúncias de maus tratos contra criança e

adolescente são encaminhadas para diversos

órgãos, dependendo como comentado acima

do teor da denúncia.

As denúncias são encaminhadas para: O

Conselho tutelar, Vara da Infância, Delegacia de

Defesa da Mulher, bem como algumas coorde-

nadorias da Secretarias de Assistência Social.

Essas denúncias são encaminhadas aos órgãos

via fax e via Oficio.

MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DENÚNCIA CAMPINAS

DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE

PERÍODO DE 01/05/2009 a 20/07/2010 período de execução do projeto Turismo Sustentável e

Infância e Campinas

CIDADE: CAMPINAS

DENÚNCIA QTD. DENÚNCIAS

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

21

ESTUPRO 56

PEDOFILIA 27

PROSTITUIÇÃO INFANTIL 72

TOTAl 176

MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DENÚNCIA CAMPINAS

DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE

PERÍODO DE FEVEREIRO DE 2002 A JULHO DE 2010 Período de atuação do serviço Disque Denúncia

em Campinas

CIDADE: CAMPINAS

DENÚNCIA QTD. DENÚNCIAS

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

11

ESTUPRO 259

PEDOFILIA 283

PROSTITUIÇÃO INFANTIL 621

TOTAl 1174

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A Vara da infância e da Juventude de

Campinas é especializada, sendo uma das pou-

cas no Estado de São Paulo que não é cumu-

lativa, é composta por um cartório, Equipe

Interprofissional e Corpo de Voluntários, e a fi-

gura responsável é o Juiz de Direito que além

da condução do processo é o corregedor per-

manente.

O trabalho da Vara da Infância e da Juventude

é dar resolução jurídica às questões apresenta-

das. Cabe ao Juiz de Direito, ouvido o Ministério

Público dar sentença nos casos apresentados à

Vara da Infância e da Juventude, nos mais varia-

dos temas ligados à infância e juventude.

Cabe ao Cartório fazer o processamento dos

documentos (juntada de petições, relatórios,

confecção de ofícios, etc...) de acordo com a

determinação judicial, assim como encaminha-

mento para conclusão (juiz), vistas ao Ministério

Público, à Equipe Interprofissional, publicações.

Ao Corpo de Voluntários cabem verificações de

presença de crianças e adolescentes em bares,

eventos, festas, hotéis, motéis, que contrariem

seu bem estar e ou sua integridade física.

Os voluntários fazem verificações em casos de

denúncias de maus tratos, exploração sexual.

A Equipe Interprofissional é composta por

Assistentes Sociais e Psicólogos e têm como

função precípua fornecer subsídio as decisões

judiciais (art. 151 ECA).

Além de atender os processos da Vara da Infância

e da Juventude a Equipe Interprofissional aten-

de a processos das Varas de Família e Sucessões,

processos de Varas Criminais referentes a Lei

Maria da Penha, processos de varas criminais

onde crianças e adolescentes aparecem como

vítimas.

Os casos chegam a Equipe Interprofissional

por determinação judicial. Considerando sua

demanda as profissionais realizam sistematica-

mente diversas ações:

Adoção

• Reunião informativa para pretendentes a

adoção e avaliação psicossocial do casal⁄

pessoa do pretendente a adoção;

• Acolhimento a mulher que procura a Vara

da Infância e da Juventude para abrir

mão do seu bebê, reflexão sobre sua ação

70

esclarecimentos e orientações;

• Preparação da criança para adoção – verifi-

cação da referencia de família, possibilidade

de abertura para novas experiências, despe-

dida dos amigos e cuidadores do abrigo;

• Verificação do pretendente que melhor

atenda as necessidades da criança, dentro

da ordem cronológica de cadastramento;

• Preparação da casal⁄pessoa para adoção;

• Aproximação da criança e casal⁄pessoa, le-

vando em conta a necessidade de tempo

para estabelecimento de relação de confian-

ça;

• Acompanhamento do estágio de convivên-

cia.

Abrigo

• Acolhimento à família que tem sua criança

abrigada;

• Avaliação da família quando a sua possibili-

dade de receber de volta sua criança (geni-

tores e família extensa);

• Reflexão, estímulo e encaminhamento da

família para serviços, com objetivo de que

consiga se organizar e se preparar para o re-

torno de sua criança;

• Avaliação da família nos casos de abertura

de contraditório (destituição do poder fami-

liar).

Guarda, Tutela

• Avaliação da família⁄pessoa requeren-

te a guarda⁄tutela quanto a sua condição

de se responsabilizar pelos cuidados da

criança⁄adolescente.

Situações de Violência

• Avaliar as possibilidades da família

em ser continente as necessidades da

criança⁄adolescente;

• Avaliar como uma possível ocorrência reper-

cutiu para a criança⁄adolescente, e a conse-

qüente necessidade de cuidado;

• Avaliar a possibilidade de risco e sugerir me-

dida de proteção.

Casos de Vara de família e Sucessões

• Avaliação nos casos de disputa de guarda

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buscando conhecer qual dos pais oferece

melhores condições para os filhos, naquele

momento, orientando sobre a importância

de se manter a parentalidade e de se buscar

manter a imagem do outro genitor;

• Avaliar, as condições daquele antigo casal de

manter um relacionamento amigável com

relação aos interesses do filho, buscando

seu bem estar, evitando que ele seja objeto

de disputa ou que se veja com a incumbên-

cia de resolver os conflitos dos pais;

• Avaliação nos casos de regulamentação de

visitas, buscando atender os interesses da

criança e manutenção dos laços com as fa-

mílias materna e paterna.

infração

• Avaliação do adolescente e seu contexto

familiar buscando conhecer se há envolvi-

mento com práticas delituosas com vistas a

encaminhamentos e ou sugestão de medida

sócio educativa;

• Avaliação nos casos de suspeita de abuso se-

xual, pelo adolescente, com posterior enca-

minhamento do mesmo e da vítima.

Justiça Restaurativa

• Implantação da Justiça Restaurativa em ca-

sos de atos infracionais.

Além das ações já citadas o juiz e profissionais

da Vara da Infância e da Juventude participam

no município e no Estado das discussões sobre

o tema da infância que busca o estabelecimento

da política pública, o melhor ordenamento das

ações, buscando a proteção integral e garantia

dos direitos de crianças e adolescentes.

A Vara da Infância e da Juventude de Campinas

participou da Capacitação promovida pela TABA

para o Sistema de Garantia de Direitos. Também

esteve presente na formulação do fluxo de en-

caminhamentos e denúncia das situações de

violência sexual contra crianças e adolescentes,

apresentado nesse livro.

parceria com a TABA

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A problemática da exploração sexual de

crianças e adolescentes vêm sendo tratada com

sério rigor por diversos organismos internacio-

nais. O Brasil, seguindo a mesma trajetória in-

ternacional, elaborou um Plano Nacional de en-

frentamento da violência sexual infanto-juvenil,

incluindo inúmeras ações para a prevenção e

combate dessa forma de violência (Brasil, 2002).

Na área do turismo, a criação do Programa

Turismo Sustentável e Infância é uma das ações

que visam contribuir com o enfrentamento des-

sa problemática no país (Knopp, 2008).

Apesar de se tratar de crime previsto na

Constituição Brasileira, Cap VII, artigo 227, in-

ciso 40 (Brasil, 1988) e estar focada no artigo

50 do Estatuto da Criança e do Adolescente -

ECA, onde: “nenhuma criança ou adolescente

será objeto de qualquer forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade

e opressão, punido na forma da lei qualquer

atentado, por ação ou omissão, aos seus direi-

tos fundamentais” (Brasil, 2005), a exploração

sexual de menores continua se disseminan-

do amplamente em todo o território nacional.

Pesquisas apontam a pobreza, o abandono, as

desigualdades de gênero, de cor e raça, a vio-

lência familiar, o consumo de drogas, além das

disparidades regionais, como aspectos determi-

nantes para a existência e manutenção desse

fenômeno (Libório, 2005; Andi, 2007; Morais et

al., 2007).

Com os mesmos parâmetros do Plano Nacional

e considerando as especificidades de Campinas

e de sua região metropolitana, foi elaborado o

Plano Municipal de enfrentamento da violência

sexual infanto-juvenil, tendo como objetivos a

implantação e o fortalecimento de um conjunto

articulado de ações e metas fundamentais para

assegurar a proteção integral à criança e ao ado-

lescente em situação ou risco de violência sexu-

al (Câmara Municipal de Campinas, 2003).

A cidade de Campinas, SP, possui uma área de

aproximadamente 796 km² e uma população de

1.039.297 habitantes, segundo a contagem da

população de 2007 (IBGE, 2007). Apresenta nú-

meros que a colocam como uma das mais impor-

tantes do Brasil e terceira cidade mais populosa

do Estado de São Paulo. Situada em uma região

reconhecida como terceira praça econômica e

o maior pólo de pesquisa e desenvolvimento

74

tecnológico do país, principalmente em setores

dinâmicos e de alto input científico e tecnológi-

co. Constitui-se uma região que apresenta um

dos maiores volumes de negócios realizados e

experimenta um aumento significativo do turis-

mo de negócios e lazer nos anos mais recentes.

Esta região convive com a perversa contradição

das grandes metrópoles, apresentando signi-

ficativo crescimento do movimento migratório

de famílias de baixa renda que ocupam os bair-

ros marcados pela pobreza, agravando os pro-

cessos de exclusão social, pela convivência com

precariedade territorial e vulnerabilidades so-

ciais. Essas características têm contribuído para

a proliferação da exploração sexual comercial

infanto-juvenil na região, envolvendo os diver-

sos setores do segmento turístico e de negócios,

como, hotéis, agências de eventos e de turismo,

casas noturnas, além de taxistas. Outra ques-

tão importante na região é o crescimento do

aeroporto Internacional de Viracopos que hoje

é um dos maiores centros de investimento da

Infraero.

Uma das medidas preventivas que deveriam es-

tar sendo adotadas na região refere-se à LEI Nº

12.305 de 22 de junho de 2005, da Secretaria

Municipal de Assuntos Jurídicos (SMAJ), que

dispõe sobre a obrigatoriedade de determina-

dos estabelecimentos afixarem o número te-

lefônico do “DISQUE DENÚNCIA” de Campinas

para denúncia de exploração, abuso e violências

sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-

tras Providências (SMAJ, 2005).

Com o objetivo de conhecer a situação de ex-

ploração sexual de crianças e adolescentes as-

sociada à cadeia produtiva de turismo - que é

prioritariamente de negócios e eventos - na ci-

dade de Campinas, São Paulo, foi desenvolvido

o estudo sobre o qual trata este capítulo.

O Cemicamp – Centro de Pesquisas em Saúde

Reprodutiva de Campinas foi procurado pela

TABA a fim de desenhar um estudo para obter

um diagnóstico da situação da exploração sexu-

al de crianças e adolescentes associada à cadeia

produtiva do turismo, em Campinas. Desenhou-

se, então, um estudo exploratório, qualitativo,

em que foram utilizados dois tipos de técnicas:

entrevistas semiestruturadas (Patton, 1990) e

metodologia

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observação direta (Ulin et al., 2002) realizada

em ambientes ofertados ao turismo na cidade.

A primeira etapa do estudo consistiu em en-

trevistar algumas pessoas-chave no município

quanto à questão da exploração sexual de crian-

ças e adolescentes previamente à realização da

pesquisa. Esses contatos foram feitos com re-

presentantes da Vara da Infância e Juventude,

da Coordenação do Programa de Saúde da

Mulher da Prefeitura Municipal de Campinas

e da Coordenação do Centro de Referência

Especializada em Assistência Social - CREAS do

município, com o objetivo de levantar informa-

ções sobre locais estratégicos a serem observa-

dos na cidade e pessoas a serem entrevistadas.

Também se solicitou a essas pessoas sugestões

sobre o que se deveria perguntar especifica-

mente às pessoas que participariam da pesqui-

sa.

A partir desse levantamento inicial, seleciona-

ram-se intencionalmente (Patton, 1990) cinco

regiões do município, por serem distintas em

suas características gerais e consideradas vulne-

ráveis às questões relacionadas ao tema a ser

estudado. Em cada uma dessas regiões foram

selecionados diferentes tipos de estabelecimen-

tos: dois hotéis e uma casa noturna. Também

foram identificados frotas de táxi e taxistas que

operavam nas proximidades desses locais. Além

disso, no município foram selecionadas duas

empresas de eventos e duas agências de turis-

mo. Também foram convidados a participar do

estudo autoridades e funcionários da rodoviá-

ria de Campinas e do aeroporto de Viracopos.

Os hotéis, casas noturnas, empresas de even-

tos e agências de turismo foram selecionados

a partir de cadastros obtidos junto aos órgãos

de classe dessas categorias de serviço e tam-

bém através de guias de serviços on-line. Em

cada estabelecimento selecionado foi feito um

contato inicial por telefone por uma auxiliar de

pesquisa em que se explicava a pesquisa, seus

objetivos, no que consistiria a participação e se

pedia a colaboração. Alguns desses estabele-

cimentos solicitaram que a carta convite fosse

enviada também por e-mail ou fax. Quando o

estabelecimento aceitava participar era agen-

dado o melhor dia e horário para a realização

das entrevistas. Os que não aceitaram foram

substituídos por outros estabelecimentos que

estavam nos cadastros, sempre utilizando os

76

critérios estabelecidos anteriormente.

Em cada um dos estabelecimentos visitados fo-

ram convidados a participar os seguintes sujei-

tos para participarem da pesquisa:

• Hotéis: gerente, porteiro, recepcionista, ca-

mareira e taxista.

• Casas noturnas: gerente, barman, porteiro,

segurança, funcionário do caixa e taxista.

• Empresas de eventos: gerente, agente e fun-

cionário.

• Agências de turismo: gerente, agente e fun-

cionário.

• Rodoviária: autoridade local, administrador/

gerente e taxista.

• Aeroporto: autoridade local, Infraero e ta-

xista.

No total foram realizadas 81 entrevistas: 33

com funcionários de hotéis, 18 de casas notur-

nas, 5 de agências de turismo, 3 de agências de

viagem, 3 do aeroporto e 2 da rodoviária e 17

taxistas. Para obter as informações necessárias

foi utilizado um roteiro semiestruturado de en-

trevista para cada categoria de sujeito, que foi

pré-testado com pessoas de características se-

melhantes aos que fizeram parte do estudo.

Também se realizaram 20 observações diretas

nos estabelecimentos, utilizando um formulá-

rio em que constavam os itens que deveriam

ser observados em cada ambiente visitado.

Verificava-se se havia placa de advertência so-

bre exploração sexual de crianças e adolescen-

tes, local onde a placa estava afixada e existên-

cia de folder explicativo sobre o assunto.

A coleta de dados foi realizada por nove entre-

vistadores especialmente treinados para essas

atividades, sendo seis mulheres e três homens.

O treinamento foi realizado no período de 5 a

9 de outubro de 2009, com uma carga horária

de 20 horas. Esse treinamento foi composto de

parte teórica e prática sobre técnica de entre-

vista e de observação de ambiente, tendo como

referência um manual especificamente prepa-

rado para isto. Os entrevistadores também fo-

ram capacitados cuidadosamente em relação ao

tema abordado nas entrevistas.

Coleta de Dados

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Cada estabelecimento selecionado foi visitado

por uma equipe de, pelo menos, dois entrevis-

tadores, sendo um homem e uma mulher, para

a realização das entrevistas e da observação do

ambiente. Essas visitas estavam pré-agendadas,

entretanto, algumas vezes houve a necessidade

de um retorno da equipe a alguns desses lo-

cais, para entrevistar uma ou outra pessoa que

não estava presente na ocasião da primeira vi-

sita. Nessas visitas, a equipe de campo contou

também com a presença de um motorista, que

acompanhou o grupo para melhorar as condi-

ções de segurança, caso fosse necessário.

Para as pessoas que aceitaram participar da

pesquisa foi pedida autorização para que as en-

trevistas fossem gravadas e garantiu-se o sigilo

quanto à sua identidade, pois as entrevistas fo-

ram identificadas apenas por números. Alguns

participantes não aceitaram que a entrevista

fosse gravada, mas eles foram entrevistados

mesmo assim e todas as respostas dadas foram

registradas em um caderno de notas do traba-

lho de campo. Esses registros foram revisados

após o término de cada entrevista e, posterior-

mente, digitados em arquivo apropriado.

Em cada estabelecimento visitado, um dos en-

trevistadores também era responsável por fazer

a observação do ambiente. A princípio, o entre-

vistador explicava ao gerente do estabelecimen-

to que precisaria observar alguns ambientes

para verificar a existência de placas de advertên-

cia sobre exploração sexual de crianças e ado-

lescentes e solicitava sua autorização. Mediante

a autorização, a observação era realizada e os

itens observados eram registrados no formulá-

rio específico. Todos os gerentes autorizaram.

Para a análise das entrevistas semiestrutura-

das foi adotada uma técnica de análise rápida

(Mello et al. 2005; Krueger, 1998), que consiste

em definir, a priori, um conjunto de categorias

de análise a partir dos objetivos do estudo e dos

roteiros utilizados para as entrevistas. Em segui-

da, procede-se à escuta das entrevistas grava-

das em sua íntegra, para verificar a existência de

unidades de significado que possam ser agrupa-

das nas categorias de análise propostas, bem

como identificar a existência de outras unida-

des que impliquem na criação de novas catego-

rias. Uma segunda escuta foi feita com pausas,

Processamento e Análise dos Dados

78

re-escutando trechos da entrevista, quantas ve-

zes foi necessário, para registrar um resumo das

informações de cada um dos entrevistados para

cada categoria de análise. A partir desse resu-

mo (cross-interview analysis) foi desenvolvida a

análise do conjunto das entrevistas (cross-case),

com base nas categorias propostas e nos objeti-

vos do estudo.

Em consonância com a técnica acima descrita,

para esta pesquisa a primeira escuta das entre-

vistas e os respectivos resumos das mesmas fo-

ram realizados pelos próprios entrevistadores.

Para isso, eles recebiam um arquivo com um

quadro contendo todas as categorias de análise

pré-definidas, no qual inseriam o resumo das in-

formações escutadas em cada entrevista. Esses

quadros foram revisados e corrigidos numa se-

gunda escuta das entrevistas. Após a revisão, o

conteúdo das entrevistas foi agrupado segundo

o tipo de estabelecimento visitado e de sujei-

tos entrevistados. Os dados obtidos através da

observação de ambientes foram agrupados de

acordo com os diferentes itens investigados, por

categoria de estabelecimento visitado. Neste

capítulo será apresentado um resumo dos re-

sultados observados nas seguintes categorias

de análise:

1. Percepção sobre a infância e adolescência;

2. Percepção sobre os direitos da criança e do

adolescente;

3. Informação sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), leis de proteção e leis de cri-

minalização;

4. Percepção sobre o que é exploração sexual de

crianças e adolescentes;

5. Percepção e informação sobre ocorrência e

freqüência de exploração sexual na cidade e no

local de trabalho;

6. Percepção sobre quem é o explorador e quem

é o explorado;

7. Informação sobre rede de proteção e garantia

dos direitos das crianças e adolescentes e sobre

ações de combate à exploração sexual de crian-

ças e adolescentes;

8. Informação sobre ações de prevenção no lo-

cal de trabalho.

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Para a realização desta pesquisa foram seguidas

as normas da Resolução 196/96 sobre pesqui-

sa envolvendo seres humanos no Brasil (Brasil,

1996). O protocolo da pesquisa foi submetido

à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual de Campinas (CEP/UNICAMP), parecer

no 766/2009. Somente participaram as pesso-

as que assim o desejaram e demonstraram sua

anuência após terem sido informadas sobre a

pesquisa e esclarecidas todas as suas dúvidas.

Por se tratar de um tema polêmico, delicado

e sensível, solicitou-se ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) autorização para que o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

não fosse assinado, para não causar constran-

gimentos, nem provocar situações que dificul-

tassem a obtenção das informações necessárias

ao estudo. O CEP autorizou. Foi preparado um

TCLE, com explicações sobre a pesquisa, seus

objetivos e no consistia a participação da pes-

soa. Nesse documento constava o nome, assi-

natura e telefone da pesquisadora responsável,

bem como o telefone do CEP. Esse documento

foi lido para os participantes, foram esclarecidas

as dúvidas e quando eles aceitavam participar

da pesquisa recebiam uma cópia do TCLE.

a) Dificuldades encontradas para realizar a

pesquisa

O acesso aos locais e pessoas a serem entre-

vistadas nesta pesquisa foi difícil e trabalhoso,

assim como em algumas outras experiências

relatadas em pesquisas do gênero (Libório e

Sousa, 2004; Machado et al., 2006). Isso ocor-

reu, principalmente por ser a exploração sexual

de crianças e adolescentes ato ilícito, criminoso

e assunto delicado. Observou-se que os primei-

ros contatos com as pessoas responsáveis pelos

locais selecionados foram obtidos com certa fa-

cilidade, entretanto, quando se explicava sobre

o tema a ser abordado, tornava-se mais difícil

o acesso, resultando em várias recusas, tanto

de hotéis (três), como de casas noturnas (seis),

agências de turismo (duas) e taxistas (vários). A

maior dificuldade foi encontrar casas noturnas

que aceitassem participar da pesquisa. Em uma

das regiões, por exemplo, não foi possível incluir

Resultados

Considerações Éticas

80

nenhuma casa noturna no estudo, porque as

cinco existentes se recusaram a participar, não

havendo mais opções a serem tentadas nas

proximidades. Os motoristas de táxi também

não aceitaram facilmente participar, alegando

falta de tempo e de interesse, e, muitas vezes,

quando aceitavam, alguns desistiam antes do

término das perguntas. Também alguns hotéis,

principalmente na região central, se recusaram

a participar.

Em geral, os entrevistadores observaram que as

pessoas que aceitaram participar da entrevista

estavam receosas, temerosas em responder as

perguntas do roteiro. Em vários estabelecimen-

tos foi observado que os participantes haviam

conversado antes sobre o assunto e combinado

algumas coisas que deveriam falar. Alguns par-

ticipantes não aceitaram que a entrevista fosse

gravada, outros interromperam a entrevista em

algum momento, antes de concluir. Dos dezes-

sete taxistas entrevistados, sete não aceitaram

que a entrevista fosse gravada, dois interrom-

peram para atender chamadas telefônicas e

as entrevistas, em geral, foram mais rápidas

porque eles tinham que sair quando recebiam

chamadas. Observou-se também que alguns

entrevistados demonstraram que sabiam mais

sobre o assunto do que estavam falando. De

acordo com um entrevistador, um dos partici-

pantes, quando percebia que ia falar algo que

poderia comprometê-lo, colocava as mãos na

boca. Também em uma das casas noturnas, foi

observado que a maioria dos funcionários não

estava disposta a participar, mas estava sendo

coagida pelo proprietário, que ficava à distân-

cia, observando as entrevistas serem realizadas.

Nesse local, três dos cinco participantes não

aceitaram que a entrevista fosse gravada e um

deles se recusou a continuá-la antes do término

das perguntas.

b) Principais unidades de conteúdo identifi-

cadas nas falas dos participantes

No Quadro 1 da página seguinte, apresenta-se

um resumo com as principais unidades de con-

teúdo que foram identificadas nas falas das pes-

soas entrevistadas, agrupadas nas respectivas

categorias de análise.

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Quadro 1 – Resumo segundo categorias de análise

1. Percepção sobre infância e adoles-cência

- Houve dificuldades em descrever o que se en-

tendia por infância e adolescência.

- O período da infância foi referido como uma

época em que a criança deve brincar, ser feliz,

não ter responsabilidade e ser inocente.

- A adolescência foi descrita como época da

transição da infância para a juventude, mudan-

ças no corpo, de rebeldia, de ter mais respon-

sabilidade.

-

Não souberam informar a idade quando começa

e termina a infância e a adolescência. As idades

mencionadas pelos participantes muitas vezes

se sobrepunham.

2. Percepção sobre os direitos da criança e do adolescente

- Quase todos os participantes já tinham ouvido

falar sobre os direitos da criança e do adoles-

cente através da mídia (TV, jornais, rádio), atra-

vés do ECA, cartilha sobre o direito das crianças,

treinamentos realizados.

- Houve concordância com esses direitos e as

pessoas acreditavam que deveriam ser respeita-

dos. Eles ouviram falar / entendiam que era di-

reito da criança e do adolescente: saúde, educa-

ção, ter uma família, ter moradia, alimentação,

brincar, ser protegido da violência doméstica,

não ser maltratado.

“Ser criança é ter o direito de brincar, ter o direi-

to ao estudo, ter o direito, acima de tudo, à imaginação

pra poder trabalhar essa questão da imaginação, de

desenvolver coisas que vão ser necessárias depois dessa

formação da criança, né, capacidades físicas, capacida-

des psicológicas, ter o direito de crescer”(Casa Noturna)

“...‘aborrecência’ no caso... Adolescência é uma

mudança né, da infância para a juventude, que começa

os conflitos entre pai e mãe,, eu posso fazer aquilo, eu

não posso, vou e faço, faz coisa errada né, eu acho que

é isso”(Casa Noturna)

“Concordo, porque a criança desde

cedo pode ser explorada e se ela não tiver esses direitos,

talvez os pais ou alguém que possa maltratar queira que ela

trabalhe”(Agência de Turismo)

82

3. informação sobre ECA, leis de pro-teção e leis de criminalização

Os participantes, em geral, não tinham conhe-

cimento de nenhuma lei de proteção e defesa

dos direitos e bem poucos sabiam algo sobre o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

- Grande parte dos participantes entendia que

a responsabilidade de defender os direitos das

crianças e dos adolescentes cabia aos pais; al-

guns achavam que também o governo e a so-

ciedade como um todo tinham essa responsa-

bilidade.

4. Percepção sobre o que é explora-ção sexual de crianças e adolescentes

- A exploração sexual de crianças e adolescen-

tes foi relacionada, principalmente, à pobreza,

a desvios de conduta do explorador e ao tráfico

de drogas. Chama a atenção que as atividades

de turismo, e nem as pessoas envolvidas nessas

atividades, foram relacionadas à possibilidade

de exploração sexual de crianças e adolescen-

tes.

- Os participantes achavam que a exploração se-

xual é crime e merece punição severa, mas não

conheciam leis federais, estaduais ou munici-

pais de criminalização.

- A maioria deles acreditava que este tipo de cri-

me não era punido.

- Foi comum entre os entrevistados a percepção

de que a situação de exploração sexual de crian-

ças era mais grave, porque elas eram inocentes

e não tinham maturidade para se defender, en-

quanto os adolescentes já entendiam a situação

e poderiam optar por não se deixarem explorar.

Talvez por este motivo, a exploração sexual de

crianças esteve mais relacionada à pobreza do

“...acho que são três vertentes, acho que pri-

meiramente a tarefa de defender e proteger se inicia

dentro do lar, depois ela tramita pelos órgãos de gover-

nância, no governo e se estende pela sociedade como um

todo”(Aeroporto)

“...do Estado, do Estado. Porque é obrigação,

lógico obrigação da comunidade, mas o Estado tem

como opção a policia, ele tem a policia a disposição

dele...”(Casa Noturna)

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que ao tráfico de drogas, ao contrário do que

ocorreu com a percepção sobre a exploração de

adolescentes.

5. Percepção e informação sobre ocorrência e freqüência de explo-ração sexual na cidade e no local de trabalho

- Na opinião de quase todas as pessoas entre-

vistadas, existia exploração sexual de crianças

e adolescentes em Campinas, assim como em

qualquer grande cidade, mas ninguém sabia di-

zer exatamente onde essa exploração ocorria.

- Os participantes achavam que a exploração

acontecia nas próprias casas, pelos pais, padras-

tos, familiares e vizinhos; nas ruas, por aliciado-

res e traficantes de drogas; nas escolas, bares,

casas noturnas, restaurantes, hotéis, pousadas,

praças públicas, em ONG, em lugares escu-

ros e sem fiscalização e também pela Internet.

Suspeitavam que ocorria com freqüência em al-

gumas regiões centrais da cidade, onde podiam

ver pessoas em atitudes suspeitas. Também foi

bastante citado um bairro conhecido por abri-

gar uma zona de prostituição.

6. Percepção sobre quem é o explora-dor e quem é o explorado

- Os participantes referiram que as pessoas que

exploram crianças e adolescentes são pessoas

más, sem escrúpulos, sem ética, sem valores,

que não têm amor à vida, marginais, sem ver-

gonha, pessoas que não têm cabeça, e que só

consideram o fato de ganhar dinheiro de modo

fácil.

- Referiu-se que as pessoas que exploram sexu-

almente crianças e adolescentes são familiares

(pais, tios), amigos, vizinhos, traficantes, cafe-

tões, pessoas que já foram exploradas quando

eram crianças, coordenadores de ONG, políti-

cos, empresários, pessoas “normais”, pais de

família e executivos, portadoras de problemas

mentais e distúrbios psicológicos, que geral-

mente fazem isso por prazer.

“São pessoas que não têm ética, não têm

valor nenhum, são pessoas que enxergam na situação

a oportunidade de fazer dinheiro, não levando nada mais

em consideração a não ser o benefício próprio de ganhar

dinheiro, seja dinheiro para a sobrevivência, seja dinheiro

a mais do que elas precisariam para sobreviver” (Hotel)

84

- Alguns participantes referiram que não existe

um padrão definido que caracterize as pessoas

que exploram sexualmente crianças e adoles-

centes. Um explorador pode ser qualquer pes-

soa, e de qualquer classe social.

- Quanto às crianças e adolescentes que são ex-

plorados, a grande maioria dos participantes re-

feriu que, em geral, são pessoas de baixa renda,

que possuem baixa escolaridade, não têm es-

trutura familiar, pessoas carentes afetivamente,

que moram em favelas e periferias, que ficam

mais tempo nas ruas, carentes de dinheiro e de

atenção dos pais.

- Quando perguntados sobre os motivos pelos

quais as crianças e adolescentes se deixam ex-

plorar, em geral, os entrevistados responderam

que era por causa de dinheiro. Entretanto, al-

guns expressaram outras razões como: por que

são inocentes, para obter drogas, para ganhar

balas ou doces e por opção própria.

“Os exploradores são os traficantes, pessoas

em geral, não considero muito o turista, mas dos trafi-

cantes se aproveitarem dos usuários”(Casa Noturna)

“...são pessoas que têm problemas psicológi-

cos, mentais, falta de estruturação durante a vida para

que esses problemas fossem resolvidos e acompanhados,

e que fazem do sofrimento do outro um prazer” (Hotel)

“...o que mais se ouve falar é que são pessoas

de dentro de casa, são padrastos, vizinhos, colegas de

região, chegando ao cúmulo de pais, tios e avós” (Hotel)

“...são psicopatas, pais, padrastos, irmãos, pesso-

as que usam drogas, que bebem”(Hotel)

“...é a própria família, as pessoas da rua, os pró-

prios vizinhos, até os próprios amigos”(Hotel)

“...acho que essas [crianças e adoles-

centes] que não têm acesso a um monte de coisas, por

exemplo, a família não cuida, não dá carinho, não pro-

tege nada. Aí eles ficam abandonados e eles têm acesso

porque, ‘‘ah, eu vi que ali tem um negocinho”, aí vai uma

pessoa e oferece isso, aquilo e eles vêem que é de bom

grado pra eles, mas [daí a pessoa diz], “por causa disso

você, em troca disso faz isso”, entendeu? E acaba que vi-

rando uma coisa pela outra. Acho que na verdade falta

uma base, né, tipo, se é cuidado em casa não vai fazer

nada de errado lá fora...”(Casa Noturna)

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7. informação sobre rede de proteção e garantia dos direitos das crianças e adolescentes e sobre as ações de com-bate à exploração sexual de crianças e adolescentes

- A maioria dos participantes nunca tinha ou-

vido falar sobre a rede de proteção e garantia

dos direitos da criança e do adolescente em

Campinas.

- Não sabiam para onde encaminhar as vítimas

de exploração sexual e nem onde denunciar os

casos.

- Os que já tinham ouvido falar de uma rede de

proteção citaram como fonte da informação a

mídia (televisão, jornal), propaganda em vá-

rios lugares (ônibus, supermercados, correio,

poupa-tempo, cartazes espalhados pela cidade,

outdoors). Alguns funcionários de hotéis referi-

ram que no local onde trabalhavam havia dis-

tribuído folhetos e havia anúncio no balcão da

recepção que fazia menção a esse assunto. Em

geral, os participantes não sabiam informar o

que era e nem como funcionava essa rede.

- Em geral, os entrevistados mencionaram

que as delegacias de polícia, Conselho Tutelar,

Juizado de Menores, Delegacia da Mulher, Vara

da Infância e Juventude, Polícia Federal e FEBEM

são os possíveis locais para o encaminhamento

das vítimas e denúncia dos casos de exploração

sexual de crianças e adolescentes.

- Os participantes sabiam da existência do

Disque Denúncia, mas não conheciam o núme-

ro do telefone e sugeriram que ele fosse mais

divulgado. Poucos entrevistados mencionaram

um número específico de telefone, e, em geral,

não houve coincidência quanto aos números

mencionados.

- Foram mencionadas algumas atividades que

deveriam ser realizadas como forma de preven-

ção da exploração sexual de crianças e adoles-

centes. Foi enfatizado que, na prática, deveria se

tirar os adolescentes da rua, propiciar melhores

“...por necessidade, mesmo, que leva uma

criança a ter uma atitude desse tipo, sei lá, às vezes é

espancada em casa, a família não ajuda, a pessoa quer

buscar outro nível de vida e acaba achando que assim

é mais fácil. Isso é um pouco decorrente da família e do

ambiente que está inserido... porque, para chegar neste

ponto, o problema está na família”(Hotel)

86

condições de lazer e qualidade de vida para as

pessoas carentes; deveria haver mais rigor nas

investigações e prender pessoas que realizam

a exploração sexual; fechar hotéis e casas

noturnas que cometem esse ato ilícito. Por ou-

tro lado, deveria se proporcionar mais educa-

ção nas escolas sobre esse assunto; oferecer

informações na rodoviária, aeroporto, agência

de viagens, para as famílias nas comunidades;

realizar palestras em locais públicos e em em-

presas, fazer campanhas informativas, divulgar

o número do disque denúncia.

- Foi referido que essas ações deveriam ser fei-

tas pelo governo, pelas escolas e pela sociedade

como um todo. Alguns participantes referiram

que essas ações deveriam ser feitas pela polícia

e pela guarda municipal. Disseram também que

deveria ter mais fiscalização em relação a esse

assunto nas periferias das cidades, favelas, ba-

res, casas noturnas e hotéis. Essas pessoas en-

tendiam que todas essas ações não irão surtir

efeito se não houver uma fiscalização efetiva e

punição.

8. informação sobre ações de preven-ção no local de trabalho

Os entrevistados tiveram o cuidado de dizer

que em seu local de trabalho não ocorria ex-

ploração sexual de crianças e adolescentes. Nos

hotéis e casas noturnas, a justificativa foi que o

os procedimentos seguidos por eles eram cor-

retos e tudo era feito de acordo a não permi-

tir a entrada de menores de idade. Os taxistas

também referiram que só faziam o transporte

de crianças e adolescentes por solicitação dos

pais. Nas agências de turismo e eventos referi-

ram que não lidavam diretamente com crianças

ou adolescentes. No aeroporto e na rodoviária

declararam que havia fiscalização e não tinham

tido nenhum tipo de anormalidade envolvendo

esse tipo de exploração sexual.

c) Resultados da observação direta

Dos vinte locais visitados, apenas cinco hotéis e

a Estação Rodoviária possuíam essas placas afi-

xadas.

- Apenas em um hotel a placa de advertência

possuía o texto e o tamanho de acordo com o

determinado pela lei municipal 12.305 de 22 de

junho de 2005. Nos seis hotéis visitados as pla-

cas advertiam que exploração sexual de crianças

e adolescentes é crime e deve ser denunciada,

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no entanto, em um deles não havia o número

do telefone do Disque Denúncia.

- Em todos os hotéis e na rodoviária as placas es-

tavam afixadas em local visível, de acordo com

a lei municipal.

- Apenas em um dos hotéis e na rodoviária havia

placas de advertência afixadas em vários luga-

res.

- Em dois hotéis havia também folhetos infor-

mativos sobre exploração sexual de crianças e

adolescentes disponíveis para funcionários e

hóspedes.

A repercussão que o tema desta pesquisa al-

cançou nos estabelecimentos selecionados e

a insegurança que causou nas pessoas convi-

dadas para as entrevistas merecem ser breve-

mente comentadas, por refletir sentimentos

envolvidos quando se trata do tema proposto.

Isso foi observado desde os primeiros contatos,

pela dificuldade enfrentada para que as pessoas

atendessem as ligações e pelas recusas em par-

ticipar, até o momento da chegada dos entre-

vistadores aos locais, salvo algumas exceções,

pela impressão que os funcionários passavam

de estarem instruídos a não levantar qualquer

suspeita sobre o local de trabalho ou sobre atos

ilícitos envolvendo o público infanto-juvenil.

Nesse contexto, qualquer pesquisa que se vol-

te a esse tema deve planejar cuidadosamente a

abordagem dos possíveis sujeitos para que se-

jam coletados dados fidedignos. Isso implica em

investir bastante na seleção e capacitação das

pessoas que irão realizar entrevistas e observa-

ções, que foi o que ocorreu na preparação deste

estudo.

A análise dos dados apresentados permitiu

identificar, ao mesmo tempo, o desconhecimen-

to das pessoas envolvidas na cadeia produtiva

do turismo de negócios acerca do que é e como

se dá a exploração sexual de crianças e adoles-

centes, bem como o desconhecimento da exis-

tência de legislação sobre o tema e de uma rede

de proteção às vítimas.

Chamou atenção a associação entre exploração

sexual de crianças e adolescentes com pobreza

e tráfico de drogas, que foi bastante enfatizada

pelos participantes. Ao lado disso apareceu o

não reconhecimento da ocorrência desse tipo

Comentários Finais

88

de exploração nos ambientes ofertados ao tu-

rismo, o que pareceu lógico aos participantes,

uma vez que não se trata, aos olhos deles, de

ambientes marcados pela pobreza e pelo tráfico

de drogas. Se essa visão não for desconstruída

não se conseguirá que a população e os diversos

setores da sociedade fiquem atentos a esse tipo

de ocorrência fora de ambientes de pobreza e

criminalidade explícita, como é o caso da cadeia

produtiva do turismo. Verifica-se, portanto, a

necessidade de trabalhar junto às pessoas liga-

das a essa cadeia, não apenas para transmitir in-

formação, mas também para discutir e descons-

truir conceitos e preconceitos envolvidos nessa

questão.

Por outro lado, os resultados da pesquisa reite-

ram que o fato de existirem leis de proteção e

criminalização da exploração sexual de crianças

e adolescentes não é suficiente para prevenir

nem para reprimir a ocorrência desses casos. É

necessário que tais leis sejam conhecidas, que

haja fiscalização e punição aos que as desres-

peitam. Por isso é preciso que essas leis sejam

divulgadas, que a população esteja informada,

possa discutir o assunto e que a fiscalização

seja efetiva de forma que as punições previstas

sejam aplicadas frente às ocorrências denun-

ciadas. Essas medidas possibilitarão também

que as pessoas não sintam mais tanto medo de

denunciar esses crimes, o que, provavelmente,

facilitará a quebra desse círculo vicioso de des-

conhecimento e impunidade.

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Este capítulo procura contribuir tecnicamen-

te para que municípios e regiões que possuam

turismo de negócios, bem como o aumento do

trânsito de pessoas por conta do desenvolvi-

mento das rodovias, aerovias e ferrovias, se em-

penhem no desenvolvimento responsável do

turismo, e possam ter referenciais práticos para

a mobilização do trade do turismo na defesa

aos direitos da criança e adolescente, procedi-

mentos essenciais para a manutenção da saúde

social, e conseqüentemente, manutenção dos

atrativos genuinamente turísticos. O fenôme-

no atual do rápido crescimento do turismo no

Brasil vem trazendo algumas importantes refle-

xões para governos, mercados, pesquisadores e

terceiro setor. Sabe-se que o turismo pode con-

tribuir sensivelmente para o desenvolvimento

sócio-econômico e cultural, ou, em poucos

anos, pode degradar o ambiente social.

Por conta disso entendemos necessário o envol-

vimento dos três setores no desenvolvimento

sustentado do turismo: o papel do setor pú-

blico, do setor empresarial e da sociedade civil

organizada. Dessa forma a equipe do projeto

planejou e desenvolveu ações articuladas entre

esses setores, através de capacitações e mobi-

lizações, sempre focando no papel social que

cada um possui.

Apresentamos a seguir as experiências desse

projeto na mobilização do sistema de garan-

tia de direitos e do Segmento do Turismo nas

ações de enfrentamento á exploração sexual de

Crianças e Adolescentes.

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O grande desenvolvimento do turismo de

negócios em Campinas, bem como o de outros

setores produtivos da cidade, provoca aumento

da circulação das pessoas, facilitada pela infra-

estrutura de acesso (rodovias, aerovias e ferro-

vias), contribuindo com o aumento de situações

de vulnerabilidade e degradação social e am-

biental quando realizado de forma desordenada

e sem planejamento.

O olhar das organizações hoje vai além-muros.

Não dá mais para promover a gestão de ne-

gócios sem que haja uma preocupação com o

restante da sociedade e com o impacto do seu

negócio nessa sociedade.

A responsabilidade social corporativa é uma for-

ma de responder e de atuar nas principais de-

mandas sócio-ambientais

Como forma de demonstrar a responsabili-

dade do trade do turismo no enfrentamento

da exploração sexual da criança e do adoles-

cente na região, com a orientação técnica da

Coordenação do Programa Turismo Sustentável

e Infância – TSI, a TABA realizou ações de sen-

sibilização, mobilização e capacitação de

agentes multiplicadores na cadeia de turismo

visando uma reflexão acerca do importante

papel e da influência que exercem nesse con-

texto. Algumas dessas ações foram planejadas

durante a elaboração da proposta de convênio

com o Ministério do Turismo. Outras ações fo-

ram pautadas nos levantamentos encontrados

na pesquisa realizada pela CEMICAMP sobre o

imaginário da cadeia produtiva de turismo em

Campinas acerca da exploração sexual de crian-

ças e adolescentes.

O planejamento envolveu basicamente quatro

etapas que foram realizadas simultaneamente

com os outros eixos do projeto: promoção da

participação juvenil no enfrentamento ao fenô-

meno, capacitação do sistema de garantia de

direitos e campanha de sensibilização, conside-

rando que, neste momento, o eixo diagnóstico

já havia sido realizado.

Abaixo consta como se deram cada uma das

ações planejadas:

Contato com o trade de turismo para apresen-

tação do projeto e sensibilização para a causa.

• Distribuição do material de sensibilização;

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• Oferecimento de cursos de capacitação cus-

tomizados, respeitando a especificidade dos

diferentes setores e segmentos;

• Realização de um seminário para amplo al-

cance da sensibilização;

• Assinatura de um Acordo de Cooperação.

Contato com o trade de turismo para apre-

sentação do projeto e sensibilização para a

causa.

Iniciou-se esta ação do projeto com o levanta-

mento de órgãos, instituições e empresas es-

tratégicas para a mobilização do trade. A partir

desse levantamento, optou-se por um contato

inicial com três representantes do trade de tu-

rismo, importantes pelo seu potencial de mobi-

lização e capilaridade. Contatou-se o Sindicato

de Hotéis, restaurantes, bares e afins (SHBRA), o

Campinas e Região Convention & Visitors Bureau

(CRCVB) e a Secretaria Municipal de Comércio,

Indústria, Serviços e Turismo (SMCIST).

Em reuniões inicialmente individuais com esses

equipamentos sociais, o projeto foi apresenta-

do, sendo solicitado que os materiais de apre-

sentação do projeto fossem encaminhados para

suas redes.

Nesse primeiro material de apresentação, fo-

ram divulgados o objetivo do projeto, a deman-

da a qual atenderia e as ações a serem execu-

tadas, com ênfase ao convite para participarem

das capacitações, as orientações para inscrições

e a disponibilidade de capacitações na própria

empresa.

Promoveu-se, em outros momentos, outras reu-

niões conjuntas, sobretudo o CRCVB e a SMCIST,

com o objetivo de fazê-los permanecerem pre-

sentes nas ações do projeto. O então Secretário

Municipal de Turismo, Sinval Dorigon, manifes-

tou amplo apoio ao projeto.

Após essa primeira apresentação ao trade, aces-

sada indiretamente por meio das redes desses

equipamentos, deu-se início a uma série de

agendamentos com atores estratégicos para

convidá-los a participar de ações do projeto, so-

bretudo das capacitações. Esses contatos ocor-

reram por telefone e/ou e-mail. Inicialmente

pretendeu-se participar das reuniões com os as-

sociados do CRCVB, porém nos foi apresentado

que não seria adequado, já que as reuniões são

pouco freqüentes e possuem outras pautas de

96

interesse dos associados.

Ao início de cada ação, eram enviados, por meio

do mailing formulado com os contatos realiza-

dos, os informativos e convites, além de serem

realizados novos contatos telefônicos com o pú-

blico foco da ação.

Capacitações, palestras e reuniões de qua-

lificação sobre temas identificados na pes-

quisa aos segmentos de hotéis, taxistas,

aeroporto e rodoviária do município de

Campinas:

O Trade de Turismo recebeu o primei-

ro convite para participar da capacitação

“Responsabilidade Social no Turismo”, em agos-

to de 2010, com a seguinte chamada: “A TABA –

Espaço de Vivência e Convivência está oferecen-

do uma capacitação para a rede de turismo de

Campinas sobre responsabilidade social empre-

sarial, demandas sociais da região de Campinas

e desenvolvimento de projetos alinhados ao

Programa Turismo Sustentável e Infância do

Ministério do Turismo. Nosso objetivo é disse-

minar informações técnicas para sua equipe

bem como contribuir para o desenvolvimento e

a disseminação de boas práticas sociais na rede

de turismo em nossa cidade.” Esse convite foi

enviado pelo SHBRA, pelo CRCVB e pelo SMCIST

a todos os seus associados. Nessa primeira di-

vulgação houve apenas um retorno espontâneo,

da gerente de um hotel da região do Aeroporto

de Viracopos. Por conta dessa baixa deman-

da espontânea, a TABA procurou comunicar-se

com todos os estabelecimentos associados ao

CRCVB, seguindo uma lista de contatos forneci-

da pelo próprio Convention & Visitors Bureau.

Nesse contato procurava-se sempre falar com

o gerente do estabelecimento ou o gerente de

recursos humanos. Alguns deles, sobretudo de

hotéis, manifestaram interesse em encaminhar

representantes de suas equipes à capacitação,

outros sinalizavam dificuldade em disponibilizar

horários de seus funcionários para a capacita-

ção. Em alguns hotéis houve dificuldade no con-

tato e, mesmo depois de repetidas tentativas, o

que sucedia era um direcionamento direto aos

secretários que apenas anotavam os recados

e não retornavam nenhum posicionamento, o

que se entendia como recusa. Em alguns casos,

o hotel já se posicionava, no contato telefônico

ou por e-mail, não interessado em participar da

capacitação e, em algumas vezes, chegava-se

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o

a receber retornos de que uma capacitação

com esse foco não era de interesse do hotel.

Percebeu-se que ora era manifestada certa in-

diferença em receber informações ou participar

de reuniões do projeto, ora existia o discurso de

interesse em colaborar, mas a impossibilidade

de dedicar tempo ao projeto.

Diversas turmas foram abertas e divulgadas. No

entanto, pela falta de inscritos, decidiu-se reto-

mar os contatos para levantar qual era a maior

dificuldade apontada para participação. Por

telefone e por e-mail, foi realizado um levan-

tamento com esses estabelecimentos quando

então era perguntado: qual o horário de maior

facilidade, qual dia da semana, qual período

do ano e qual a carga horária possível de par-

ticipação. Constatou-se que o período de me-

nor ocupação dos serviços em Campinas e do

turismo de negócios é de novembro a feverei-

ro, programando-se, portanto, as capacitações

para esse período, dando início a uma turma no

dia 30 de novembro. O formato da capacitação

também foi reformulado, passando de 20 para 4

horas, para garantir a participação de um maior

número de pessoas, pois a carga horária inicial

era inviável para grande parte dos interessados.

Por conta disso, a capacitação foi planejada com

4 horas, além de serem ofertadas reuniões indi-

viduais nos estabelecimentos participantes para

fazer um plano individual de responsabilidade

social.

No entanto, mesmo com esse modelo reformu-

lado, não se obteve a adesão esperada. Apenas

três hotéis enviaram seus funcionários para a

capacitação. Foram oferecidas outras turmas e

procedeu-se ao retorno dos contatos para refor-

çar a possibilidade de sensibilizações nos pró-

prios estabelecimentos, mas ainda assim houve

dificuldade de adesão, principalmente por pro-

blemas de agenda e disponibilidade de pessoal

desses hotéis

Novamente, nos meses de janeiro a agosto de

2010, outros convites foram enviados, mas ain-

da sem adesão.

A partir dessa avaliação da dificuldade de ade-

são às capacitações, foram planejadas outras

ações que contemplassem o objetivo de sensi-

bilização. Diversas reuniões foram realizadas.

Para essas reuniões foram contatadas: admi-

nistração da rodoviária municipal - SOCICAM

(concessionária administradora do terminal

98

rodoviário municipal), EMDEC (Empresa muni-

cipal de Desenvolvimento de Campinas), Grupo

CCR (Administradora da concessão das Rodovias

Anhanguera e Bandeirantes), ECOFROTAS;

SENAC Campinas – Cursos de Turismo, Hotelaria,

Gastronomia e cursos livres; Consulting 27;

Cooperativa de taxistas: Camptáxi, Coopercamp

e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis: Confort Suites,

Hotéis Vitória, Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn

Hotéis, Sehlton Inn Viracopos, Monreale Classic

Campinas, Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel

Vila Rica.

Todas as empresas visitadas receberam o mate-

rial de sensibilização formulado para a capacita-

ção com uma apresentação do cenário de ESCA

e convite para aderir a outras ações do projeto,

como divulgação dos materiais de sensibiliza-

ção à sociedade em geral e atendimento às leis

municipais, federais e ao Estatuto da Criança e

do Adolescente. Entre eles: afixação de cartazes

e placas com os dizeres “EXPLORAÇÃO SEXUAL

DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME!

DENUNCIE! Ligue para 3236.3040” (Lei Federal

nº 11.577 e Lei Municipal n°12.305) e “Hospedar

criança ou adolescente, desacompanhado

dos pais ou responsável ou sem autorização

escrita destes ou da autoridade judiciária, em

hotel, pensão, motel ou congênere.” (Art. 250

do Estatuto da Criança e do Adolescente).

Nos contatos realizados com os hotéis, por meio

das capacitações, reuniões ou mesmo por meio

das conversas telefônicas, era comum a surpre-

sa quando apresentados os dados municipais de

ESCA. Muitos diziam não saber que existia ex-

ploração sexual de crianças e adolescentes em

Campinas ou que a situação possuía dados tão

significativos.

No entanto, no decorrer da conversa e com a

conceituação do que é exploração sexual entre

outras informações, os próprios participantes

começaram a relatar casos que identificariam

como ESCA, principalmente na região central da

cidade e no entorno dos hotéis.

Também era comum citarem a situação de cida-

des do nordeste do Brasil, onde, segundo esses

participantes, é grave a situação da exploração

sexual de crianças e adolescentes, sobretudo re-

lacionada ao turismo.

Todos os hotéis foram veementes ao relatar que

seguem as orientações de não hospedar crian-

ças e adolescentes menores de 18 anos sem a

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presença do responsável ou de um documento

registrado, conforme orienta o artigo 250 do

ECA.

Com relação aos taxistas, os contatos foram re-

alizados por meio de cooperativas de taxistas.

Solicitou-se que as cooperativas distribuíssem

os convites a seus cooperados e propôs-se a re-

alização de palestras nos próprios espaços das

cooperativas.

Houve retorno por parte dos presidentes das

cooperativas dizendo que seus associados com-

põem um público com baixa adesão às capaci-

tações, que já tinham tentando oferecer cursos

e capacitações, mas sempre sem sucesso. As

cooperativas divulgaram o convite, mas não foi

obtido nenhum retorno, apesar da insistência

da equipe do projeto nessa tentativa.

Em função de a pesquisa realizada pelo instituto

de pesquisa CEMICAMP ter identificado os ta-

xistas como o público de maior dificuldade de

abordagem e de serem apontados muitas ve-

zes como agentes facilitadores da exploração

sexual de crianças e adolescentes, a equipe do

projeto dispensou especial atenção a esse seg-

mento. De acordo com as declarações feitas nas

entrevistas realizadas pela pesquisa, os próprios

taxistas sugerem a oferta de capacitações: “Com

relação a terem recebido alguma orientação ou

treinamento sobre como evitar ou combater a

exploração sexual de crianças e adolescentes,

apenas um participante respondeu que sim,

que havia participado de um curso oferecido

por uma empresa de transportes da cidade de

São Paulo. Os demais entrevistados afirmaram

que nunca haviam recebido qualquer orienta-

ção ou treinamento sobre o assunto.

Entretanto, todos achavam necessário que os

taxistas recebessem esse tipo de orientação,

porque, além de ajudá-los a observar e identi-

ficar casos de exploração, também permitiria

que soubessem sobre as providências a serem

tomadas ante situações desse tipo, como, por

exemplo, onde ligar, a quem recorrer, onde levar

a vítima ou denunciar o caso.

Essa orientação, na opinião de um dos parti-

cipantes, poderia ser passada pelo sindicato,

pela prefeitura, pelos órgãos públicos, Estado

e Município, pela polícia e por todos os meios

de comunicação, por meio de uma cartilha que

eles poderiam ler e levar no carro para consultar

100

quando necessário.

Outra sugestão é que essa orientação poderia

ser dada pela EMDEC para todos os taxistas e,

caso vissem alguma situação suspeita, algo que

chamasse a atenção, os taxistas pudessem ligar

para a EMDEC, ou passar um rádio para um ou-

tro táxi, alertando. Um outro sugeriu também

que a Unicamp poderia fazer uma reunião com

os taxistas a fim de orientá-los sobre como agir

nesse tipo de situação.”

A TABA procu-

rou a EMDEC

- Empresa

Municipal de

Desenvolvimento

de Campinas S/A

para conversar a

respeito da reali-

zação de ações de capacitação e sensibilização

dos taxistas. Reuniu-se com o setor de educação

da EMDEC e apresentou a proposta de capacita-

ção e a abordagem dos taxistas utilizando outras

metodologias, como a formação dos agentes de

mobilidade urbana, a inserção de conteúdos re-

lacionados ao fenômeno da ESCA e a proposta

de alteração de procedimentos e decretos que

regulamentam o alvará de funcionamento para

permissionários e auxiliares. Uma sensibilização

com cerca de 560 taxistas foi realizada, e todos

receberam uma cartilha com as definições de

violência sexual, leis e penas, como denunciar

e como

se tor-

nar um

a g e n t e

protetor

da crian-

ça e do

adolescente. Outras propostas de capacitações

e sensibilizações estão sendo planejadas junto

à EMDEC.

O Superintendente do Aeroporto de Viracopos

e Representantes da SOCICAM (concessionária

administradora do terminal rodoviário munici-

pal) participaram de reuniões com a equipe do

projeto.

Tanto o Aeroporto quanto o Terminal

Rodoviário receberão uma grande campanha

de comunicação, lançada no dia do Seminário

Responsabilidade Social Empresarial no

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segmento de turismo na Região Metropolitana

de Campinas.

Importante também foi o fato de se comprome-

terem a participar do acordo de cooperação e

reformulação do plano municipal de enfrenta-

mento à exploração sexual de crianças e adoles-

centes.

Sensibilizar a Cadeia

produtiva de Turismo

do município de

Campinas por meio de

ações informativas

Foi distribuída uma car-

tilha junto à rede do

trade de turismo abordada contendo:

- Apresentação do Programa Turismo Sustentável

e Infância e das ações do projeto em Campinas

- Dados nacionais e municipais oficiais de explo-

ração sexual de crianças e adolescentes

-O que é exploração sexual de crianças e ado-

lescentes, especificamente ESCA, relacionada

ao turismo. O sistema de garantia de direitos

em Campinas, denúncia e responsabilização,

as leis municipais, Estatuto da Criança e do

Adolescente e Código Penal.

- Apresentação do Código de Conduta da

Organização Mundial do Turismo

- Responsabilidade Social: conceituação, inicia-

tivas de responsabilidade social no turismo em

outros municípios e como dar início a um proje-

to de responsabilidade social.

o que é Violência?A violência é quando uma pessoa é impedida

de se desenvolver, viver bem e ser feliz. Uma

das bases da violência é a relação de dominação

(por exemplo, de um adulto sobre uma criança,

o mais rico sobre o pobre, o mais forte sobre o

mais fraco).

A violência pode serFísica

Psicológica (Emocional)Verbal

NeglicengialSexualFatal

o QuE É VIolÊNCIA SEXuAl?É todo o ato de sexualidade que é forçado através de diferentes formas de violência como:

ABuSo

usar a criança ou adolescente para obter prazer sexual com ou sem violência. O abuso é geralmente cometido por pessoas da família ou próximas.

102

ESTupRo

uso da força física ou grave ameaça com a intenção de obter relação sexual ou outros atos libidinosos.

ASSÉDIo SEXuAl

propostas ou conversas obscenas vindas de alguém que está em posição superior de poder, que fazem pressão para ter relações sexuais que o outro não deseja.

EXploRAÇÃo SEXuAl

é a relação sexual de crianças e adolescentes com adultos em troca de dinheiro, bens ou troca de favores.

TRÁFICo DE pESSoAS pARA FINS SEXuAIS

é quando crianças e adolescentes, ou até adultos são induzidos a ir a outro território, através de coação, seqüestro ou engano e é explorado sexualmente.

poRNoGRAFIA INFANTIl

é quando se usa imagens – fotos ou filmes – com cenas que induzem ao sexo envolvendo crianças ou adolescentes.

TuRISMo pARA FINS DE EXploRAÇÃo

SEXuAl

é a exploração sexual de crianças e adolescentes através de oferta à turistas.

Atendimentos e Resultados de 2008

Exploração

Sexual de

Crianças e

Adolescentes

365

Retornou à família 32

Abrigados 20

Em acompanhamento 313

Situação de

Rua157

Retornou à família 17

Abrigados 19

Medida socioeducativa meio fechado

11

Em acompanhamento 110

Enfrentar a exploração sexual de crianças e de adolescentes no turismo é

missão de todos.Governo, agentes do setor turístico e

sociedade devem se comprometer e tomar medidas eficazes para evitar esse tipo de

violência.

Fenômenos x Turismo

REGIÃoDESTINoS

TuRISTICoS

N. DE DENÚNCIAS DE CASo DE EXploRAÇÃo

SEXuAl CoMERCIAl

Norte 120 585

Nordeste 436 2.226

Sudeste 317 1.714

Centro-Oeste 188 682

Sul 453 756Fonte: Serviço Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Novembro/2008

DADoS DA REDE MuNICIpAl DE ATENDIMENTo

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Como sua empresa pode ajudar a proteger nossas Crianças e

AdolescentesAs empresas que adotam o Código de

Conduta para a proteção de Crianças e

Adolescentes contra a Exploração Sexual

no Turismo (The Code), comprometem-se

a implementar ações contra a exploração

sexual de crianças e adolescentes:• Estabelecer uma política corporativa ética

contra a exploração sexual de crianças e de

adolescentes;

• Treinar funcionários para aplicar a política

da empresa no que diz respeito à exploração

sexual de crianças e adolescentes;

• Inserir cláusulas nos contratos para que os

fornecedores da empresa adotem o código

de conduta contra a exploração sexual de

crianças e de adolescentes;

• Informar turistas – por meio de catálogos,

brochuras, pôsteres, vídeos, páginas

na internet e outros meios – sobre o

posicionamento da empresa contra

a exploração sexual de crianças e de

adolescentes;

• Informar sobre o assunto a pessoas-chave

das relações e contatos da empresa.

DEN

ÚN

CIA

Disque Denúncia Municipal - 3236 3040

Disque Denúncia Nacional - 100

Centro de Referência Especializado em Assistência

Social – CREAS – 0800 777 8080

Conselho Tutelar – 0800 770 1085

Delegacia de Defesa da Mulher – 3242 5003

Conselho Tutelar – 3236 3378

Vara da Infância e Juventude – 3756 3528

Delegacia de Defesa da Mulher – 3242 5003

Ministério Público – 3256 1796

RESp

oN

SABI

lIZA

ÇÃo

Quadro de Crimes penais

CRIMEESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE

Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual.(Vale a pena comentar que a rede de enfretamento á exploração sexual de crianças e adolescentes não utiliza o termo prostituição infantil, pois prostituição se refere a uma atividade lícita de adultos,homens e mulheres. No que se refere á criança e ao adolescente é necessariamente exploração sexual, um ato considerado ilícito)

Art. 244-A Reclusão de quatro a dez anos, e multa.§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

104

CRIME CóDIGO PENAL BRASILEIRO

Hospedar criança ou adolescente,desacompanhado dos pais ou responsável ou sem autorização escrita destes ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motelou congênere.

Art. 250Multa de 10 a 50 salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 dias

Promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoas para exercê-la no estrangeiro.

Art. 231Pena - Pena de 4 a 10 anos – Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de reclusão de 5 a 12 anos e multa, além da pena correspondente à violência.

Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de catorze e menor de dezoito anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo.

Art. 218Pena: reclusão, de um a quatro anos.

Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.

Art. 218-B.Reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.§ 2º Incorre nas mesmas penas:I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo;§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

CRIME CóDIGO PENAL BRASILEIRO

Mediação para servir àlascívia de outrem.

Art. 227Pena - Reclusão de 1 a 3 anos.

Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.

Art. 216-A Pena - Detenção, de 1 (um) a 2 (dois) ano § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Art. 217-APena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos

Favorecimento da prostituiçãoArt. 228Pena - Reclusão de 2 a 5 anos

Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Art. 213Pena - Reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos§1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

Manter por conta própria ou de terceiros casa de prostituição ou lugar destinado a encontros libidinosos, haja ou não a intenção de lucros.

Art. 229Pena - Reclusão de 2 a 5 anos

Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.

Art. 230Pena - Reclusão de 1 a 4 anos e multa.

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lEI FEDERAl Nº 11.577, DE 22 NoVEMBRo DE 2007

Torna obrigatória a divulgação pelos meios que especifica de mensagem relativa à exploração sexual e tráfico de

crianças e adolescentes apontando formas para efetuar denúncias.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação de mensagem relativa à exploração sexual e trá-

fico de crianças e adolescentes indicando como proceder à denúncia.

Art. 2o É obrigatória a afixação de letreiro, nos termos dispostos nesta Lei, nos seguintes estabelecimentos:

I – hotéis, motéis, pousadas e outros que prestem serviços de hospedagem;

II – bares, restaurantes, lanchonetes e similares;

III – casas noturnas de qualquer natureza;

IV – clubes sociais e associações recreativas ou desportivas cujo quadro de associados seja de livre acesso ou

que promovam eventos com entrada paga;

V – salões de beleza, agências de modelos, casas de massagem, saunas, academias de fisiculturismo, dança,

ginástica e atividades físicas correlatas;

VI – outros estabelecimentos comerciais que, mesmo sem fins lucrativos, ofereçam serviços, mediante paga-

mento, voltados ao mercado ou ao culto da estética pessoal;

VII – postos de gasolina e demais locais de acesso público que se localizem junto às rodovias.

§ 1o O letreiro de que trata o caput deste artigo deverá:

I – ser afixado em local que permita sua observação desimpedida pelos usuários do respectivo estabelecimento;

II – conter versões idênticas aos dizeres nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola;

106

III – informar os números telefônicos por meio dos quais qualquer pessoa, sem necessidade de identificação,

poderá fazer denúncias acerca das práticas consideradas crimes pela legislação brasileira;

IV- estar apresentado com caracteres de tamanho que permita a leitura à distância.

§ 2o O texto contido no letreiro será EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO

CRIMES: DENUNCIE JÁ!

§ 3o O poder público, por meio do serviço público competente, poderá fornecer aos estabelecimentos o ma-

terial de que trata este artigo.

Art. 3o Os materiais de propaganda e informação turística publicados ou exibidos por qualquer via eletrônica,

inclusive internet, deverão conter menção, nos termos que explicitará o Ministério da Justiça, aos crimes tipifi-

cados no Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, sobre-

tudo àqueles cometidos contra crianças e adolescentes.

Art. 4o (VETADO)

Art. 5o Esta Lei entra em vigor no prazo de 30 (trinta) dias contados de sua publicação.

Brasília, 22 de novembro de 2007;

186o da Independência e 119o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

José Antonio Dias Toffoli

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lEI MuNICIpAl Nº 12.305 DE 22 DE JuNHo DE 2005

DISPÕE SOBRE A OBRIGATORIEDADE DE DETERMINADOS ESTABELECIMENTOS AFIXAREM O NÚMERO

TELEFÔNICO DO “DISQUE DENÚNCIA” DE CAMPINAS PARA DENÚNCIA DE EXPLORAÇÃO, ABUSO E VIOLÊNCIAS

SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS

Autoria: Vereador Petterson Prado

A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:

Art. 1º - Ficam as empresas destinadas à realização e promoção de eventos artísticos e/ou musicais (boates,

casas de shows e assemelhados), bem como os hotéis, motéis, pensões ou estabelecimentos congêneres, no

âmbito do Município de Campinas, obrigadas a afixar, em local visível, na porta de entrada de seus estabeleci-

mentos, a seguinte advertência: “EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME! DENUNCIE!

Ligue para 3236.3040 (Disque Denúncia)”.

§ 1º - Os dizeres e o número telefônico mencionados no caput deste artigo deverão constar, de maneira destaca-

da e legível, numa placa, com dimensões de 50 (cinqüenta) centímetros de altura por 60 (sessenta) centímetros

de largura.

§ 2º - Caso o número telefônico de que trata este artigo sofra alteração, as empresas farão as respectivas modi-

ficações nas placas.

§ 3º - O aviso de que trata este artigo deverá ficar afixado em local visível, de forma permanente, mesmo que

não haja evento ou qualquer atividade nos estabelecimentos.

Art. 2º - Os estabelecimentos descritos no art. 1º terão 60 (sessenta) dias, contados a partir da publicação desta

Lei, para providenciar a fixação do aviso previsto nesta lei.

Art. 3º - O não cumprimento desta lei acarretará as seguintes penalidades aplicadas, conforme decreto regula-

mentador, sucessivamente na ocorrência de reincidências:

108

I - Notificação para normalização no prazo de 30 (trinta) dias;

II - Multa de 100 (cem) UFIC (Unidades Fiscais de Campinas);

III - Suspensão das atividades e do funcionamento, pelo período de 30 (trinta) dias;

IV - Cancelamento definitivo do Alvará de Funcionamento.

Parágrafo Único - Os valores arrecadados com a aplicação das multas previstas neste artigo será revertido ao

Fundo Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Campinas, 22 de junho de 2005

GUILHERME CAMPOS JÚNIOR

Prefeito Municipal em Exercício

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LEI Nº 13.502, de 22 de dezembro de 2008

DISPÕE SOBRE A PUBLICAÇÃO, NOS CLASSIFICADOS DOS JORNAIS LOCAIS DA CIDADE DE CAMPINAS, DE

ADVERTÊNCIA QUANTO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

AUTORIA: Vereador PAULO BUFALO

A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º - Os jornais da cidade de Campinas, que publicam diariamente colunas de classificados com anúncios

de acompanhantes, saunas, massagistas e profissionais do sexo ficam obrigados a publicar, na mesma página

destes anúncios, a seguinte advertência:

“EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME. DISQUE 32363040”.

Parágrafo Único - VETADO.

Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Campinas, 22 de dezembro de 2008.

DR. HÉLIO DE OLIVEIRA SANTOS

Prefeito Municipal

110

lEI Nº 11.720 DE 20 DE ouTuBRo DE 2003

INSTITUI O DIA 18 DE MAIO COMO O DIA MUNICIPAL DE ENFRENTAMENTO AO ABUSO SUXUAL E À EXPLORAÇÃO

SEXUAL INFANTO-JUVENIL.

A Câmara Municipal aprovou e eu Prefeita do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:

Art. 1º - Fica instituído o dia 18 de maio como o Dia Municipal de Enfrentamento ao Abuso Sexual e à Exploração

Sexual Infanto-Juvenil.

Art. 2º - Entre as atividades realizadas por ocasião deste dia fica incluída a avaliação do Plano Municipal de

Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.

Parágrafo único - A realização da atividade citada no caput deste artigo ficará sob responsabilidade da Comissão

de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal em conjunto com órgãos públicos,

conselhos e entidades da área.

Art. 3º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Campinas 20 de outubro de 2003.

IZALENE TIENE

Prefeita Municipal

Autoria: Vereador Paulo Bufalo

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Seminário Técnico para promover ações de

qualificação e sensibilização sobre Turismo

Sustentável e infância

Houve ainda, na data de lançamento deste li-

vro - 30 de agosto de 2010 – a realização de um

Seminário sobre “RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL NO SEGMENTO DE TURISMO

NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS”.

Esse seminário foi realizado em parceria com o

SENAC Campinas.

Assinatura do Termo de Cooperação

Desde janeiro de 2010 desenvolve-se o proces-

so de mobilização da cadeia produtiva de tu-

rismo e de outros parceiros para a assinatura

de um termo de cooperação. O objetivo desse

acordo é oferecer um ponto de partida para que

o poder público municipal e o setor produtivo,

mediante um amplo processo de diálogo com as

comunidades e com os demais agentes locais,

possam estabelecer ou aprimorar os instrumen-

tos legais que darão sustentação e estímulo à

atividade turística socialmente responsável, so-

bretudo no enfrentamento à exploração sexual

de crianças e adolescentes.

Com essa proposta, agrupada ao sistema de

garantia de direitos, deu-se início à redação do

termo de cooperação, que foi encaminhado à

Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos de

Campinas. Esse termo de cooperação enviado

tem como fundamentação o Plano Municipal de

Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças

e Adolescentes redigido em 2003.

A TABA há muito tempo tem interesse na revi-

são e na avaliação desse Plano Municipal.

Assim, fomentou-se o debate com os principais

atores envolvidos com a assinatura do termo

de cooperação: Vara da Infância e Juventude,

PEESCA, Comissão ESCA do CMDCA, Disque

Denúncia de Campinas e Secretaria Municipal

112

de Educação.

A conclusão desse movimento foi de que é im-

prescindível e urgente a avaliação e a reformu-

lação do Plano Municipal e que o termo de coo-

peração deveria indicar esse processo.

Um grupo de trabalho foi estabelecido o para a

organização das ações indicadas para a efetivi-

dade desse processo: realização de um seminá-

rio de avaliação do plano municipal, formação

de um grupo de estudos para revisão do plano

com a ampla participação de todos os setores

sociais, envolvimento do trade de turismo, que

já sinalizou interesse em participar dessas ações.

Vale ressaltar a demonstração de interesse de

três atores estratégicos nesse termo de coope-

ração: o Aeroporto Internacional de Viracopos,

a SOCICAM (concessionária administradora

do terminal rodoviário municipal) e a EMDEC

(Empresa municipal de Desenvolvimento de

Campinas).

A Câmara Municipal de Campinas, por inter-

médio do vereador Élcio Batista, presidente da

Comissão de Estudos de Pedofilia, tem partici-

pado desse processo e fornecerá a reimpressão

dos planos municipais para as atividades de

avaliação a serem realizadas.

Outro importante passo foi a revisão da Lei

Municipal nº 12.305, de 22 de junho de 2005,

que dispõe sobre a obrigatoriedade de deter-

minados estabelecimentos afixarem o número

telefônico do “disque denúncia” de Campinas

para denúncia de exploração, abuso e violências

sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-

tras providências.

A lei possuía detalhes em sua redação que difi-

cultavam o cumprimento da mesma, não apre-

sentava decreto regulamentador que orientasse

o seu cumprimento. Assim, foram feitos os devi-

dos encaminhamentos à Câmara de Vereadores,

a lei foi reescrita e está em tramitação.

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O processo de capacitação do Sistema de

Garantia de Direitos como uma das ações do

Projeto Turismo Sustentável em Campinas/SP

iniciou-se em setembro de 2009 com a rede do

SGD (Sistema de Garantia de Direitos) durante

reuniões realizadas para oficializar o convite à

participação nas capacitações bem como para

identificar necessidades e interesses.

O primeiro equipamento consultado foi o

Disque Denúncia de Campinas/Movimento Vida

Melhor. Seus dirigentes apontaram a necessida-

de de possuir uma escuta mais qualificada das

denúncias, o que favoreceria encaminhamentos

mais assertivos – por isso todos os atendentes

do Disque Denúncia participariam dessa capaci-

tação. Questões como um melhor entendimen-

to dos conceitos utilizados na problemática da

exploração e/ou violência sexual de crianças e

adolescentes e o fluxograma das denúncias são

necessidades específicas do grupo.

Outro equipamento, a Delegacia da Mulher,

considerou muito importante a capacitação e

demonstrou interesse em que toda equipe par-

ticipasse, principalmente no que diz respeito

aos marcos teóricos da violência sexual, ponto

em que há muitas dúvidas. No entanto, devido

ao número reduzido, insuficiente, de profissio-

nais para as demandas de trabalho da Delegacia

da Mulher, essa ampla participação não foi pos-

sível. A Delegacia da Mulher também conside-

rou importante a discussão do fluxograma.

O Projeto Indicando Caminhos do Programa de

Enfrentamento à Exploração Sexual de Criança

e Adolescente de Campinas foi convidado a

participar como parceiro na capacitação, apre-

sentando dados quantitativos atualizados e o

mapeamento dos pontos de vulnerabilidade da

violência sexual em Campinas.

Outros atores do SGD que participariam des-

ta capacitação: Vara da Infância e Juventude

de Campinas, Conselhos Tutelares, CREAS e

Comissão Especial da Câmara Municipal de

Campinas.

A Capacitação do Sistema de Garantia de

Direitos apresentou uma carga horária de 24

horas, em seis encontros de 4 horas. Para pos-

sibilitar uma maior participação, a capacitação

foi subdividida em dois grupos: um às sextas-

-feiras de manhã e o outro às terças-feiras à tar-

de. A capacitação teve início em 27 de outubro

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e encerrou-se em 4 de dezembro de 2009, na

Sala Barreto Leme do Espaço Arcadas - Rua José

Paulino, 1359 - Centro - Campinas.

Com o objetivo de promover a capacitação e a

sensibilização da rede de atendimento a crian-

ças e adolescentes (SGD), foram relacionados os

seguintes temas:

• Marcos conceituais da violência sexual con-

tra crianças e adolescentes

• Intervenções básicas de atendimento em si-

tuações de violência sexual

• Conceito de adolescências

• Direitos Sexuais Reprodutivos

• Plano Municipal e Nacional de Enfrentamento

à Violência Sexual

• Panorama do Fenômeno

• Intervenções em Rede

• Fluxograma

• Defesa e responsabilização

o desenvolvimento da Capacitação do

Sistema de Garantia de Direitos

As atividades planejadas e realizadas nesta ca-

pacitação constaram da aplicação de um pré e

pós-teste, dinâmicas de grupo (de integração,

resolução de problemas, de construção, de sen-

sibilização), técnicas expositivas e de construção

coletiva, exibição filmográfica, avaliação, distri-

buição dos certificados e materiais dos conteú-

dos e referências bibliográficos da capacitação

impressos e via web.

Participaram desta capacitação 20 pessoas, em-

bora 48 pessoas tenham se inscrito, mas que,

devido à demanda da rede de atendimento e ao

número reduzido de profissionais nos equipa-

mentos, muitos não puderam ser liberados para

frequentá-la semanalmente. Estiveram presen-

tes nove atendentes do Disque Denúncia; uma

técnica da Vara da Infância e Juventude; duas

técnicas e uma delegada da Delegacia de Defesa

da Mulher; dois técnicos e uma coordenadora

do Projeto Indicando Caminhos do Programa

Municipal de Enfrentamento a Exploração Sexual

de Crianças e Adolescentes de Campinas; uma

técnica da Região Metropolitana de Campinas/

Hortolândia/CADEFI; dois Conselheiros Tutelares

de Campinas; uma Gestora do Programa

Municipal de Enfrentamento a Exploração

116

Sexual de Crianças e Adolescentes de Campinas

e uma pesquisadora da Comissão Especial da

Câmara Municipal de Campinas.

Um dos temas discutidos que os atores presen-

tes consideraram muito importante foi a melho-

ria do fluxograma do SGD de criança e adoles-

cente de Campinas. Algumas reflexões do grupo

resultaram na construção de um painel sobre os

avanços, a identificação dos problemas da rede

do SGD e algumas propostas para a mesma:

AVANÇoS

• Criação do site do disque denúncia;

• Provável avanço na relação do Conselho

Tutelar com a rede de serviços;

• Número de conselhos e conselheiros para

atender a população de campinas, antes

três conselhos, agora quatro conselhos;

• Lei Maria da Penha;

• Parcerias;

• Maior visibilidade do fenômeno;

• Processo de sistematização da metodologia

da rede EESCCA;

• Amadurecimento da equipe;

• Reformulação do ECA (estatuto da criança e

do adolescente);

• Comunicação entre os órgãos;

• Saber da existência de uma rede de atendi-

mento do SGD;

• Fluxo semidefinido;

• Centralização das informações no CREAS;

• Rede interinstitucional fortalecida;

• Articulação entre os serviços;

• Seriedade;

• Equipes;

• Financiamento com recursos do FMAS – po-

lítica pública;

• Maior integração entre os atores da rede;

• Eficiência no tratamento das informações e

também dos casos;

• Padronização dos encaminhamentos.

IDENTIFICAÇÃo DE pRoBlEMAS

• Falta de recursos humanos e materiais para

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atender a demanda;

• Fluxo de diferentes disques denúncias;

• Troca de gestão dos Conselhos Tutelares;

• Rotatividade de profissionais nas equipes;

• Demora de anos no retorno sobre andamen-

to dos casos, soluções e informações;

• Dificuldades na articulação das diferentes

áreas (saúde, educação, assistência social,

cultura e outras);

• Demora nos encaminhamentos;

• Inflexibilidade das leis;

• Ações desarticuladas entre os serviços;

• Falta de atendimento aos agressores de vio-

lência sexual como política pública;

• Estrutura do CREAS – somente co-financia-

mento;

• Tráfico de drogas/violência;

• Tempo de espera para avaliação técnica dos

casos;

• SIPIA (programa do Conselhos Tutelar) em

rede;

• Falta de programas para atendimento das

crianças e adolescentes, conforme necessi-

dade;

• Burocracia.

pRopoSTAS

• Reunião agendada para 10 de dezembro

sobre a reordenação do fluxo de encami-

nhamento das denúncias: Disque Denúncia,

Delegacia de Defesa da mulher, conselho tu-

telar, vara da infância e juventude e CREAS;

• Criação de comunidade terapêutica para

adolescentes femininas;

• Internação compulsória para adolescentes

que estejam em uso abusivo de drogas;

• Centro de referencia para atendimento aos

autores de violência sexual;

• Convidar a saúde para discussões e partici-

pação nas reuniões;

• Criação de um banco de dados (intranet) en-

tre os órgãos;

• Aumento da equipe técnica do CREAS;

• Contratação de uma dupla psicossocial nas

118

escolas e na delegacia da mulher;

• Diálogo com o Disque Denúncia Estadual e

Nacional;

• Reconhecer os fóruns que possibilitem ofi-

cializar os fluxos construídos a partir do diá-

logo das diferentes políticas;

• Feed back e acompanhamento sistemático

dos casos;

• Envio de relatórios ao disque denúncia;

• Mudança na lei municipal que disciplina os

conselhos tutelares.

Desdobramentos das discussões sobre o flu-

xo de denúncias. A capacitação proporcionou

o desdobramento das atividades, possibilitando

reunir a VIJ - Vara da Infância e Juventude, a DDM

- Delegacia de Defesa da Mulher, o Indicando

Caminhos e o Disque Denúncia Campinas para

discutir e propor melhores formas de direciona-

mento no fluxograma do atendimento de crian-

ça e adolescente em Campinas. Aconteceram

duas reuniões, sendo uma delas com a presen-

ça do Juiz da Vara da Infância de Campinas, Dr.

Richard Paulo Pae Kim. A principal discussão

foi sobre as dificuldades de cada equipamento

na operacionalização das ações. Por exemplo, a

Vara da Infância e Juventude e a Delegacia de

Defesa da Mulher freqüentemente recebem

informativos do Disque Denúncia do município

sobre “suspeitas de violência sexual ou qualquer

outro tipo de violação de direitos”. E, neste caso

de “suspeita de”, a Vara da Infância e Juventude

ou a Delegacia de Defesa da Mulher têm dificul-

dades para iniciar qualquer ação, pois fazer uma

intervenção de averiguação para confirmar ou

não o fato está fora do seu papel, cabendo a ou-

tros equipamentos da rede realizar essa ação,

como os serviços especializados e de média

complexidade. Assim, foi proposto que o Disque

Denúncia de Campinas, enquanto um dos ca-

nais de entrada de denúncias, observe o relato

das denúncias e que encaminhe para a Vara da

Infância e Juventude ou à Delegacia de Defesa

da Mulher somente as informativas que tenham

coerência de operacionalização a fim de agilizar

os trabalhos. Então foi sugerido que caberia ao

equipamento do SGD, o Conselho Tutelar, o en-

caminhamento das denúncias, o qual seguiria o

fluxo como discriminado:

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Esse capítulo apresenta as ações realizadas

sob o Eixo Participação Juvenil através da con-

cepção da participação efetiva dos adolescen-

tes, não apenas como público das ações, mas

também como atores de mobilização, de organi-

zação, de produção. Atores efetivos na constru-

ção de ações e diretrizes para políticas públicas

voltadas à defesa de seus direitos.

Para isso a TABA realizou uma grande campanha

nas escolas municipais de Campinas com pales-

tras de sensibilização e informação a respeito

das violências sexuais contra crianças e adoles-

centes e as formas de denúncia e enfrentamen-

to. Essa campanha resultou em um livro escrito

pelos adolescentes participantes: “Que tal dizer

não: uma conversa de adolescente para ado-

lescente”. Além dessas ações, também pôde

facilitar diversos espaços e momentos em que

os jovens participaram efetivamente enquanto

protagonistas das ações de enfrentamento à

exploração sexual de crianças e adolescentes,

como nos eventos realizados no dia 15 de maio

de 2010, “Adolescências: da vulnerabilidade

à participação”, que abriu a Semana de Ações

de Mobilização e Sensibilização, e no dia 18 de

maio de 2010, Dia Nacional do Enfrentamento

ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e

Adolescentes, através de uma ação de sensi-

bilização na região central de Campinas. É im-

portante ressaltar que essa ação incentivou a

participação dos adolescentes na comissão de

EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da

Criança e do Adolescente de Campinas.

Abaixo estão registradas em detalhes essas

ações.

lançamento da Campanha - 14 de Maio de

2009

A tABA realizou no dia 14 de maio um evento

que objetivou o lançamento da ii Campanha

e Concurso “reprove a violência sexual” na

rede Municipal

de Educação de

Campinas, para

uma população

entre 12 anos

completos a 18

anos incompletos, o que corresponde ao pú-

blico dos 7º aos 9° anos escolares. o evento

também promoveu a divulgação das ações pla-

nejadas pela rede municipal de atendimento

122

à EsCA, bem como as ações planejadas pela

tABA que visavam, principalmente, a partici-

pação juvenil no dia 18 de maio.

o evento do dia 14 de maio contou com os pa-

lestrantes: Maria luiza Moura oliveira, repre-

sentando o Comitê nacional de Enfrentamento

à Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

e ConAndA, João Carlos Guilhermino de

Franca, da onG Camará de são vicente, e

verônica rosa, do disque denúncia Municipal.

Cerca de 210

pessoas parti-

ciparam desse

evento, durante

o qual foram dis-

tribuídos à população escolar os seguintes ma-

teriais: 4.200 folders, 2.000 fichas de inscrição

para o concurso, 500 cartazes, 1 banner.

1° Fase da Campanha: o ii Concurso reprove

a violência sexual

Durante a 1° fase da campanha, foram profe-

ridas palestras de sensibilização em 31 escolas

que aderiram ao projeto e se organizaram para

receber as exposições. Foram realizadas 28 reu-

niões com professores, diretores, orientadores

pedagógicos e responsáveis pelos NAEDS para

a capacitação dos mesmos a respeito da temáti-

ca proposta pelo projeto. Ao todo, 4.450 alunos

participaram das sensibilizações. Após esse pro-

cesso, abriu-se a inscrição para trabalhos e 16

escolas inscreveram seus alunos no concurso,

o que contabilizou 151 produções e 450 alunos

responsáveis por essas produções. Ao final des-

se processo, uma banca composta por profissio-

nais da área de comunicação, parceiros do pro-

jeto, e adolescentes escolheram seis desenhos

finalistas de seis escolas diferentes.

No dia 21 de dezembro de 2009, realizou-se a

cerimônia de premia-

ção dos adolescentes

participantes dos gru-

pos que inscreveram

as histórias em qua-

drinhos premiadas.

Foram distribuídas 470 camisetas com os dese-

nhos do concurso entre os adolescentes autores

dos desenhos premiados, as escolas e os NAEDs.

Como estratégia do projeto, foram realiza-

das reuniões com os NAEDs (Núcleos de Ação

Educativa Descentralizados) com o objetivo de

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formar os profissionais que atuam na educação

municipal por meio dos retornos das ações re-

alizadas nas escolas. Alguns casos de denúncia

foram identificados durante as palestras e enca-

minhados aos NAEDs. Foi proposto pela TABA

um acompanhamento desses encaminhamen-

tos para que essas experiências se transformem

em procedimentos de proteção à criança e ao

adolescente no universo escolar, através de me-

todologias e fluxos de denúncia específicos à es-

trutura da educação municipal.

ESCOLAS PREMIADAS:

• EMEF Zeferino Vaz

• EMEF Domingos Zatti

• EMEF Clotilde Barraquet Von Zuben

• EMEF Maria Pavanatti

• EMEF Violeta Doria Lins

• EMEF Virgínia Mendes de Vasconcelos

2° Fase da Campanha: livro “Que tal dizer

não: uma conversa de adolescente para

adolescente”

Iniciou-se em janeiro de 2010 a segunda fase da

Campanha Reprove a violência sexual - a produ-

ção do livro “Que tal dizer não: uma conversa de

adolescente para adolescente”.

Para tanto realizou-se o contato com as 17

Escolas Municipais de Ensino Fundamental de

Campinas que participaram do concurso com

a inscrição de histórias em quadrinhos. Foi so-

licitado a cada escola que encaminhasse 2 ado-

lescentes, sendo um para o Grupo de Escrita e

um para o Grupo de Desenho. A adesão de 11

EMEFs gerou o encaminhamento de 33 adoles-

centes. Dos inscritos, 32 participaram dos 4 me-

ses de atividade e completaram o período.

O livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-

lescente para adolescente” é composto pelo

produto gerado pelo curso, isto é, as ilustrações

e textos produzidos pelos alunos participantes.

Uma produção que apresenta criatividade, de-

dicação e cuidado, mostrando o quanto esses

meninos e essas meninas desejam compartilhar

com a sociedade, principalmente com outros

adolescentes e outras adolescentes, o quanto

é importante enfrentar o abuso e a exploração

sexual de crianças e adolescentes.

Foram impressos 9.150 exemplares do livro

124

“Que tal dizer não: uma conversa de adolescen-

te para adolescente” e 17.200 cartões postais

com os desenhos produzidos pelo concurso.

A equipe de trabalho da TABA observou que

esta segunda fase da Campanha tornou-se um

momento de descobertas para os adolescentes.

Como 83% dos participantes tinham entre 12 e

14 anos, a vinda até o centro de Campinas foi

uma grande experiência de ampliação de espa-

ços sociais.

Outro ponto importante foi a participação dos

adolescentes na reflexão e no registro da te-

mática da exploração sexual. Para tanto, foram

organizados encontros com dinâmicas, leitura

de textos, acesso ao Estatuto da Criança e do

Adolescente, apresentação em mídias, respei-

tado o conhecimento dos adolescentes e traba-

lhando com as dúvidas. A participação juvenil

vem ocupando parte da agenda das políticas

públicas e da sociedade civil organizada; porém,

apesar dos grandes debates e das iniciativas a

respeito, ainda encontramos poucos momentos

em que os jovens tenham espaço para sua par-

ticipação efetiva. Nesse projeto a participação

juvenil conseguiu ir além: os jovens foram os

próprios organizadores das ações, escolhendo

quais atividades eram pertinentes e produzin-

do materiais educativos com uma linguagem

própria de adolescente para adolescente, o que

certamente promove um maior impacto na co-

municação promovida pelo livro. Esse material

tem sido muito bem avaliado por gestores pú-

blicos e profissionais da área.

Eventos de Mobilização social e lançamento

do livro: “Que tal dizer não: Uma conversa de

adolescente para adolescente”

No dia 15 de maio de 2010, foi realizado, na Escola

Clotilde Barraquet, o evento “Adolescências:

das vulnerabilidades à participação”, que

marcou a abertura da Semana Nacional de

Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças

e Adolescentes de Campinas. A organização

desse evento contou com a participação, no pe-

ríodo de fevereiro a maio, de 17 adolescentes

que se responsabilizaram por coordenar des-

de a logística de espaço até os convidados e os

temas a serem discutidos. Contou ainda com a

participação de 180 adolescentes que, em sa-

las temáticas e mesas de debate, discutiram:

Adolescência e Sexualidade, Violências Contra

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Crianças e Adolescentes, Exploração Sexual de

Crianças e Adolescentes, Prevenção as DST/

AIDS e Cidadania. Entre esses participantes,

estavam adolescentes de São Vicente-SP que,

por meio de intercâmbio de projetos, vieram

contribuir com as discussões. Como convida-

dos compareceram representantes do Conselho

Tutelar, da Secretaria Municipal de Educação e

da Comissão de ESCCA do Conselho Municipal

de Direitos da Criança e do Adolescente.

Ao final do evento, realizou-se a cerimônia de

pré-lançamento do livro “Que tal dizer não: uma

conversa de adolescente para adolescente”,

com a presença dos adolescentes que participa-

ram de sua produção.

No dia 18 de maio, realizou-se um evento organi-

zado por uma rede gestora de ações, composta

por 27 ONGs e órgãos públicos, e que envolveu

também outras instituições que não promoviam

até então ações com esse foco, o que veio a for-

talecer, sem dúvida, as ações de enfrentamento

a esse fenômeno. Essa rede deu início ao pro-

cesso preparativo para as ações do dia 18 de

maio em março de 2010. Reuniões quinzenais,

que passaram a ser semanais no mês de abril,

e comissões de trabalho foram criadas para a

organização desse acontecimento, com ações

integradas para o fortalecimento da causa.

O evento de sensibilização do dia 18 de maio

– Dia Nacional de Enfrentamento à Exploração

Sexual de Crianças e Adolescentes – , realizado

na Praça Rui Barbosa, teve início às 9 horas e tér-

mino às 17 horas, e contabilizou cerca de 30 mil

pessoas. O evento foi aberto pela Secretária Darci

Silva, da Secretaria de Cidadania, Assistência e

Inclusão Social; pela Coordenadora da Equipe

Interprofissional da Vara da Infância e da

Juventude, Márcia Silva; pelo Superintendente

Executivo do Disque Denúncia de Campinas/

Movimento Vida Melhor, General Seixas;

pelo Diretor do Departamento Pedagógico da

Secretaria Municipal de educação, Prof. Márcio

Rogério Silveira de Andrade; por Maria Ivone

Aranha, da Comissão de ESCCA do CMDCA; e re-

presentantes do Conselho Tutelar e da Câmara

Municipal.

Durante esse evento tivemos o lançamento ofi-

cial do livro “Que tal dizer não: uma conversa de

adolescente para adolescente”, com a presença,

ainda, do Diretor do Departamento Pedagógico

126

da Secretaria Municipal de Educação e dos 28

adolescentes que participaram da produção da

obra.

Esses 28 adolescentes além de outros 31 adoles-

centes participantes de outros projetos da TABA

colaboraram na distribuição de livros, postais e

fitinhas de pulso, além dos folhetos de sensibili-

zação produzidos para o evento.

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Este capítulo apresenta as ações realizadas

sob o experiência de construção de parceria e

suas inúmeras produções. Parcerias estabeleci-

das pela TABA-Espaço de Vivência e Convivência

do Adolescente com os e as adolescentes e jo-

vensparticipantesdosprojetosrealizados,bem

como a parceria, já de alguns anos, exatamente

15 anos, portanto adolescente sem crise, com a

Secretaria Municipal de Educação de Campinas

(SME) envolvendo suas escolas, os educadores,

as educadoras, especialistas, coordenação e

alunos(as).

Pode-se dizer que essas duas parcerias foram

sendo construídas eticamente, durante esses

anos de adolescência, isto é, nos 14 anos de

convivência. Faz-se referência a uma parce-

riaéticanosentidodagarantiadasdiferenças,

das diversidades nas opiniões, nas propostas

e nas ações. Durante todos esses anos, nessas

parcerias os membros da TABA sempre se sen-

tiram acolhidos e respeitados como profissio-

nais e também como um grupo de vanguarda

que sempre propôs o novo e o ousado, a pró-

xima etapa a ser construída num processo que

sempre podia avançar um pouco mais. A SME

sempre possibilitou “linha” que deixasse esse

vôo mais alto e assim alcançar outros limites. O

respeito mútuo e o reconhecimento de ambas

aspartesdesuascompetênciasespecíficas,éo

quesepodechamardeumaparceriaética.

Essaéticaeesserespeitojáhaviamproporcio-

nado importantes realizações, tais como: um

programa municipal no campo da orientação

sexual (hoje nomeada como educação sexual)

inovador, que permanece até os dias de hoje e

que nos anos 90 foi referência para outras ini-

ciativaspúblicas;aconstruçãodaformaçãocon-

tínuadeumgrupodeeducadoreseeducadoras

quesemprese renovoue,porfim,a ideiaea

realização de encontros de adolescentes que

chegaram a congregar milhares deles e que de-

pois se transformaram nos Encontros Nacionais

de Adolescentes (ENA), que geraram o MAB (

Movimento de Adolescentes do Brasil). Quando

é falado da “linha” que foi dada, fala-se da garan-

tidaparaosgrandesvoos,fala-sedasrealizações

que não ficaram no passado, pois, neste ano,

2010, em Campinas, aconteceu o VII Encontro

Municipal de Adolescentes de Campinas e, no

ano passado, em Santa Bárbara D’Oeste, o XIV

Encontro Nacional de Adolescentes. Por essas

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produções, é possível então falar dos resultados

do ideal da TABA.

É sempre importante relembrar e recontar a

história da TABA, pois é nela que é encontrada

e reconhecida a própria missão. Ela, enquanto

grupo, temorigemnodesejo de continuidade

dos adolescentes de algumas das escolas mu-

nicipais, os quais participaram durante alguns

anos como agentes educativos do programa

municipal de Orientação Sexual das escolas da

RedeMunicipaldeCampinas,dedar continui-

dade às atividades que desenvolviam.Umde-

sejodecontinuidade,umdesejodenãoromper

com os vínculos construídos e com algumas

açõesjádesenvolvidas.ATABAéacontinuidade

de um projeto que se desenvolve no espaço da

rede pública e que extrapola os muros da escola

e alcança as ruas e a cidade de Campinas. A von-

tadededarcontinuidadeaalgoimparnavida

de um grupo de adolescentes, que era a possibi-

lidade de encontrar-se, conversar, trocar idéias,

realizar oficinas para e comoutros adolescen-

tes, crescer juntos e sair do lugar de isolamento

e afastamento no qual a adolescência muitas

vezes é colocada.

Com esse anseio, o grupo se transforma em

umainstituiçãoquecolocaemseunomeara-

zão de sua existência: espaço de vivência e con-

vivência do adolescente e da adolescente. E por

que TABA? Esse nome não é nenhuma sigla. Ele

representa a idéia da diversidade e da diferença.

TABA, como local de encontros das várias tribos

jovens, que, na diversidade, se encontram esta-

belecendo possibilidades de convivência e de

vivência.

Essa parceria com as pessoas nomeadas como

adolescentes e jovens tem sido o “referencial

teórico”, a bússola, que indica à organização

novose,àsvezes,difíceiscaminhosapercorrer.

Sempreproporepromoveraparticipaçãodose

das adolescentes nos diversos lugares possíveis,

quer seja nos projetos, quer seja em espaços de

participação,resgatandocomissoumtrabalho

deformaçãopolíticanocampodasadolescên-

cias.

Além dessa central e norteadora parceria com

os e as adolescentes, desde o início foi possível

contar com a Secretaria Municipal de Educação

de Campinas como grande e fiel parceira, já

que foi nesse lugar que nasceu a idéia da TABA.

130

Num primeiro momento, dessa parceria foram

criados cursos de formação para educadores, e

educadoras não só do ensino fundamental, mas

tambémosqueatuavamnaeducação infantil.

Posteriormente, sem deixar de realizar ações de

formação, a atenção voltou-se diretamente para

os e as adolescentes das escolas municipais.

Antes de apresentar as ações direcionadas

aos adolescentes, é importante dizer do lugar

ocupado pela TABA, cada vez mais, no cená-

rio do trabalho com adolescentes e jovens em

Campinas. É necessário ainda falar da sua atu-

ação, como referência que é, também no cam-

po das violências sexuais que afetam direta ou

indiretamente adolescentes e jovens. Nesse

período passado, ocupou diferentes postos de

atuação, como quando fez parte parte da rede

de atendimento referenciado a adolescentes

envolvidos diretamente com a exploração sexu-

al. Outras etapas desse percurso foram o acolhi-

mento e o acompanhamento feitos a um grupo

de adolescentes nomeados como autores de

violência sexual. Hoje está centrada muito mais

no lugar de ações de prevenção e fortalecimen-

to da rede de proteção de crianças e adolescen-

tes de Campinas.

É deste lugar, do campo das violências sexuais

contra crianças e adolescentes, numa perspec-

tivadetrabalhomaispreventivo,queforamex-

traídas as ações a relatar.

O ano 2008 marcou o início da atuação da

TABA nas escolas municipais, levando à rede

a campanha: REPROVE A VIOLÊNCIA SEXUAL

CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. A chama-

da nas escolas foi: “ADOLESCENTES PELO FIM

DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL” e a

idéia central a ser divulgada sempre foi: TODA

CRIANÇA E TODO ADOLESCENTE TÊM O DIREITO

DE NÃO SOFRER NENHUMA VIOLÊNCIA,

INCLUSIVE A VIOLÊNCIA SEXUAL.

No primeiro ano estabeleceu-se a comunicação

por meio de conversas com os alunos e alu-

nas de 42 escolas, das quais 25 enviaram 386

desenhos(feitosemumafolhasulfite)sobreo

tema proposto, resultado da produção direta

de 1.544 alunos(as) adolescentes. Um das de-

corrência dessa etapa foi o aumento significa-

tivo de denúncias feitas pelo disque denúncia

de Campinas/Movimento Vida Melhor, já que

passaram a ter acesso a esta forma de proteção:

a denúncia. Apesar do pouco tempo disponível

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nesse primeiro ano para estabelecer contato di-

reto com as turmas de alunos(as), muitos efei-

tossurtiram,representadosnoníveldosdese-

nhosenviados,na formacomoa temática foi

apresentada, mostrando o papel de proteção da

família e da escola e as consequências concretas

na vida das e dos adolescentes diante de uma

situação de violência sexual. Há de se registrar

o espanto da equipe organizadora diante do nú-

mero de trabalhos recebidos e de sua qualida-

de. Isso significa omuito que estes homens e

estasmulheres,osadolescentes,tinhamafalar

sobre o tema das violências.

Umadificuldadeencontradapelosorganizado-

resfoiaseleçãodosseisfinalistase,destes,do

desenho vencedor, cuja equipe foi premiada,

bem como os professores que os acompanha-

ram. É importante dizer do trabalho desenvol-

vido pelos professores e professoras das 25

escolas que participaram e que receberam da

TABAumkitdematerialeducativosobreotema

como subsídio para o acompanhamento feito

aos grupos que se formaram para produzirem

os desenhos e participarem da campanha. Os

grupos eram formados por cinco adolescentes

que poderiam escolher-se entre si seguindo o

único critério de desejarem formar um grupo,

não precisando respeitar turma e nem turno, o

quegarantiaumalivreescolha.

Foi realizado um evento final durante o qual

as seis escolas finalistas apresentaram seus

desenhos e defenderam seu trabalho, o que

produziu uma grande movimentação entre os

grupos de autores dos desenhos, tendo a de-

fesa do desenho “campeão” sido o ponto alto

de sua pontuação, pois o grupo apresentou

a questão de o autor da violência, central em

sua produção, ser alguém desconhecido, sem

rosto, uma vez que se poderia supor o rosto de

qualquer pessoa , inclusive da própria família.

DesenhofinalistadoanoI

132

No ano seguinte – 2009 - , ano II da campanha,

foidadacontinuidadeaomesmotemaeàsmes-

mas chamadas centrais.

Participaramcomoenviodedesenhos,17es-

colas das 45 visitadas pela equipe da TABA, que

eraformadapordoisprofissionaiseumajovem

educadora. Desta vez, pôde-se conversar du-

rante uma hora com grupos de, no máximo 30

alunos/as, o que resultou num processo mais

intenso ao possibilitar maior contato e tempo

para perguntas, trocas de idéia e alguns pedi-

dos de ajuda que foram surgindo em algumas

escolas, incluindo-se a denúncia de um grupo

de alunos e alunas de uma determinada escola

sobreasatitudesinadequadasdeumprofessor

dopróprioinstituto.

A proposta de produção desse segundo ano foi

a criação de uma história em quadrinhos com-

postaporcincocenas,emqueaúltimanecessa-

riamente deveria apresentar a solução do pro-

blema. Muitas vezes a solução apresentada foi

amorteouagravidezdo/daadolescentevítima

da violência sexual, o que aponta na direção da

necessidadedeum trabalhomaisefetivopara

o desenvolvimento de atitudes de denúncia e

autoproteção por parte dos e das adolescentes.

Outras situaçõesmuito significativasencontra-

das nos desenhos foram: a da responsabilidade

do autor da violência estar diretamente rela-

cionada à denúncia por meios de comunicação,

principalmente os jornais; a referência a novos

meios de relacionamento, como por exemplo a

internet, como um ambiente de vulnerabilida-

de; e a denúncia realizada quase sempre por

amigos e outros adolescentes, mostrando a in-

corporaçãopositivadadenúnciacomoumins-

trumento de proteção dos e pelos adolescentes,

mas também mostrando que o adulto falha no

seu papel de denúncia e proteção ao adolescen-

te e à criança.

Outra mudança estabelecida no ano II foi a am-

pliação da premiação, o que resultou em seis

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escolas premiadas. Os prêmios foram camisetas

estampadas com o desenho apresentado pela

escola para os adolescentes autores dos dese-

nhosfinalistaseparaasescolas.Numprimeiro

momento, a própria equipe organizadora ques-

tionouovalordesseprêmio,masoefeitocau-

sado pelas camisetas foi constatado no sorriso e

naalegriadosedasparticipantesaoveremsua

produção nas camisetas.

Esperava-se que haveria um número baixo de

produção dos alunos/as por causa do aumen-

todograudedificuldadeparaaelaboraçãodo

trabalho (uma história em quadrinhos) em rela-

çãoaoanoIedeumasériededificuldadespe-

las quais as escolas haviam passado durante o

ano – pandemia da gripe H1N1 e greve na rede

municipal de ensino. Mais uma vez a previsão

falhou e foram elaboradas 151 histórias em qua-

drinhos que representavam 450 adolescentes,

dos 4.450 com os quais foi estabelecido conta-

to. A seleção dos seis desenhos ganhadores foi

umprocesso que contou comprofissionais de

diversas áreas como: comunicação, educação,

psicologia e representantes das empresas par-

ceiras. Depois de uma pré-seleção de 50 das 151

histórias, um grupo de jovens e adolescentes

chegouaofinal.

Essas pessoas, nomeadas como adolescentes

nasconversasmantidas,trouxerammuitasper-

guntas, dúvidas, receios, desinformação sobre

direitos ou formas de proteção, desproteção ex-

pressa em reações como o abaixar de cabeças,

o parar de falar, de sorrir, deitar na carteira com

olhar distante. Estas reações chamaram muito

a atenção da equipe, demonstrando uma inci-

dência de casos de violência na vida daquelas

pessoas.

Essa reação direta, vinda dos/as adolescentes,

quer por meio de suas produções, quer nas per-

guntasfeitaseemsuasreações,confirmouaim-

portância e o valor de se ter realizado uma atua-

ção mais direta com o adolescente e não apenas

via professores/as. O que se pôde apreender foi

que muito há para ser denunciado, muitas per-

guntas a serem feitas, um falar e pensar intenso

por parte dos e das adolescentes que hoje so-

frem diretamente os efeitos das violências sexu-

ais em suas vidas.

Uma segunda etapa do ano II da campanha

(2010)foiumaexperiênciaricaeprodutiva.

No primeiro semestre de 2010 foi formado um

134

grupo de alunos (as) representantes das 17 es-

colas que enviaram as suas histórias em quadri-

nhos, e que era composto por alunos e alunas

que gostavam de escrever e de alunos e alunas

que gostavam de desenhar. Esse grupo produ-

ziuemquatromesesumlivrointitulado:“QUE

TAL DIZER NÃO? Uma conversa de adolescentes

para adolescentes”.

Ogrupofoiacompanhadoporumaprofissional

e uma educadora jovem da TABA e produziu um

texto que fala sobre as formas de violência e

formas de proteção, bem como de temas cor-

relatos como direitos humanos, direitos sexuais

e reprodutivos, sexualidade e adolescência. O

processo de produção da escrita pelos alunos

redatores aconteceu paralelo ao da produção

de desenhos pelo grupo de alunos/as dese-

nhistas.Ambosnumritmotalque houvedifi-

culdade para selecionar o possível diante das

delimitações de espaço para publicação dada

aqualidadeeaquantidadedasproduçõesfei-

tas pelos dois subgrupos: escrita e desenho.

Foiobtidootriplodaproduçãodedesenhosdo

queerapossívelserutilizado,mostrando,com

isso, o talento, a vontade, a responsabilidade

desses adolescentes desenhistas que vieram

representando suas escolas.

“O projeto TABA foi muito bom, gostaria que

você estivesse aqui para passar o tempo fazen-

do o que você gosta, desenhando.

Até mais, Valter”

“Bom, hoje é o penúltimo encontro de

um curso que marcou a minha vida: primeiro

porque conheci gente nova, e depois porque

quem escreve um livro, deixa sua marca no

mundo. E a minha marca foi essa. Qualquer

pessoa daqui a 80 anos pode ler o livro e ver

que o nosso nome está lá, não importa o que

aconteça. Sem falar, que esse livro pode ajudar

muita gente em muitos lugares.

Beijos, Maria Gabriela”

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O lançamento

dessa produ-

ção aconteceu

em dois mo-

mentos. O pri-

meiro, no dia

15 de maio, na

EMEF Clotilde

B a r r a q u e t ,

por ocasião do encontro: “Adolescentes: das

vulnerabilidades à participação”, realizado

pelaTABAemparceriacomoutrasinstituições.

Esse evento marcou a abertura da Semana de

Enfrentamento á Exploração Sexual de Crianças

e Adolescentes, que também realizou, no dia

18 de maio, na praça Rui Barbosa, no centro de

Campinas, uma ação maior, contando com 27

ONGs da cidade e representantes de órgãos pú-

blicos. Nesta oportunidade, os e as adolescen-

testambémfizeramolançamentodeseulivro

e a distribuição entre os adolescentes e adultos

presentes, durante todo o dia.

Nofinaldoano2010,serãodistribuídos8.000

exemplares desse livro nas 17 escolas que par-

ticiparamenasdemaisqueseinteressaremem

receber o material, para que os professores e

professoras possam trabalhar com seus alunos

atemáticapropostautilizandoummaterialfeito

de adolescente para adolescente.

Uma exposição de toda a produção das campa-

nhas - ano I e ano II - será realizada nas depen-

dências do Cefortep, local de formação da rede

municipal de educação, no intuito de apresen-

tarosresultadosobtidoseconvidararedepara

o ano III da campanha.

No ano III o tema será: MASCULINIDADE E

VIOLÊNCIAS,dandocontinuidadeaeste traba-

lhoemqueaparticipaçãosocial juvenilécen-

tral, por se reconhecerque os adolescentes, su-

jeitos de direito, têm o direito à fala, também

pormeiodesuaproduçãoartística.

Finalizando este texto sobre parcerias, quer–se

ressaltar o valor das parcerias aqui apresenta-

das: com os e as adolescentes e com a SME, nas

pessoas envolvidas direta e indiretamente. Os

membros da TABA reafirmamo grande prazer

que é poder estar na escola com adolescentes e

garantirsuafalaquesempreédireta,honesta,

clara e se expressa pela arte de suas mãos, no

seu desenho e na sua escrita.

No próximo ano, serão redigidos e

136

apresentados os resultados desta segunda te-

mática: Masculinidades e Violências. Esta in-

terface entre relações de gênero e violência é

urgente no campo das adolescências hoje, prin-

cipalmente no que se refere à discussão das

formas de ser homem e também de ser mulher,

podendo encontrar novas possibilidades que

promovam a cultura da não violência.

Sabe-se teoricamente que as questões das ado-

lescências são demarcadas por uma história e

por uma sociedade. Este momento e esta socie-

dadedaépocaprecisamencontrarsoluçõesefi-

cientes que diminuam o genocídio juvenil que

ocorre nos dias atuais, mostrando parte das di-

ficuldadesencontradaspelasociedadeenquan-

to educadores que visam promover a vida e o

prazer de viver nesta geração que esta sob sua

responsabilidade. Na verdade não está haven-

doéticaosuficientecomessaspessoasnomea-

das como adolescentes. E reforça-se o fato mais

importante: que antes de serem adolescentes,

eles e elas são pessoas.

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138

A todoomomentoestamos sujeitos apartici-

pação direta e/ou indireta de um processo edu-

cativo, da aprendizagem, da aquisição de um

conhecimento, tanto para ensinar, quanto para

aprender.Esseprocessoeducativo,sejaelefor-

mal ou informal, possibilita ao ser humano seu

desenvolvimento a partir do contexto emque

está inserido,permitindoacomunicação,a lo-

comoção, entre outras ações que possibilitam a

convivência social.

Aesseatodeensinareaprenderidentificamos

comoaçãoeducativa.Muitomaisqueumpro-

cessoeducativo,aaçãoeducativavai alémdo

espaço formal de ensino, está presente em to-

das as atividades que realizamos no cotidiano

denossasvidas.Aaçãoeducativapossibilitaaos

indivíduos envolvidos o acesso ao conhecimen-

to, desenvolvimento pessoal e aperfeiçoamento

de suas habilidades. Pode-se dizer que o ato de

aprender e ensinar não possui um período, um

tempo determinado, a todos os momentos es-

tamos desenvolvendo tais ações.

Conforme destaca Brandão: “Ninguém esca-

pa da educação. Em casa, na rua, na igreja

ou na escola, de um modo ou de muitos todos

nós envolvemos pedaços da vida com ela: para

aprender, para ensinar, para aprender-e-en-

sinar. Para saber, para fazer, para ser ou para

conviver, todos os dias misturamos a vida com a

educação“ (1981, p. 7).

Seja qual for o aprendizado ou ensinamento que

estamos vivenciando, contamos com o apoio de

outros indivíduos para executar essa ação. Em

todos os espaços que freqüentamos, não esta-

mos isolados e inertes a aprender, a ensinar e

a aprender-e-ensinar (BRANDÃO, 1981, p. 7).

Contudo, Freire adverte que “...ninguém educa

ninguém, como tampouco se educa a si mesmo:

oshomensseeducamemcomunhão,mediati-

zados pelo mundo” (1987, p. 69).

Neste contexto, não podemos considerar a ação

educativasemainfluênciadomundo,dasocie-

dade a qual estamos inseridos. É impensável

supor que possamos estar no mundo sem vi-

venciar tudo aquilo que é ofertado, sem passar

porconflitos internoseexternosesemapren-

der com o conhecido e o desconhecido. Não

vivemos distante dos acontecimentos sociais,

já que culturalmente a vida em sociedade exige

minimamente o contato com outros indivíduos,

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gruposemembroscoletivamenteorganizados.

Comoexemplodeumaaçãoeducativadiferen-

ciada destacamos o livro “Que tal dizer não?

(uma conversa de adolescente para adolescen-

te)” produzidos por 32 adolescentes, com idade

entre 12 e 17 anos, de 16 Escolas Municipais de

Ensino Fundamental de Campinas. Convidados

a participarem da segunda etapa do Projeto

“Reprove a Violência Sexual Contra Crianças e

Adolescentes” esses adolescentes deram uma

liçãodecriatividade,conhecimentoeparticipa-

ção.

Com apenas 04 meses para se conhecerem, se

aprofundaremnatemáticasugerida,produzire

finalizarolivro,essesadolescentesdemonstra-

ramcomoépossívelrealizarumaaçãoeducativa

juntoaosadolescentes,fomentandoareflexão

eparticipação,essencialparaodesenvolvimen-

to humano.

Após 03 encontros de integração, introdução e

estudo do tema a ser trabalhado, os adolescen-

tes,apartirdeseuinteresseesuashabilidades,

foram divididos em 02 grupos, um de escrita e

um de desenho. Com o apoio de 02 educadoras,

01 arte-educador e 01 jornalista iniciaram a fase

de produção dos desenhos e dos textos para o

livro.

Fundamentados por 05 temas: violência, direi-

tos, cidadania, vida e sexualidade, os adoles-

centes e as adolescentes foram municiados com

materiaisdereferênciaeconsulta,eatividades

dedebateereflexão,paracriaratravésdeum

processo de valorização do conhecimento e

formadeexpressãodosparticipantes,eassim

apresentar à sociedade, especialmente para ou-

tros e outras adolescentes, “um livro que tem

comoobjetivo fazer você refletire saberdizer

não!”.

Estimuladosaconcluirolivroemtempodedi-

vulgá-lo no evento do Dia Nacional de Combate

ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e

Adolescentes, os e as adolescentes não desani-

maramemnenhummomento.Incentivadospe-

los educadores, produziram os textos e diversos

desenhos que descreveram e ilustraram a carac-

terísticadecadaumeadeseradolescente.

A produção do II Concurso demonstrou o quanto

àparticipação,oenvolvimentoeaaçãoeduca-

tiva,sãoresultadosefetivosnotrabalhodeen-

frentamento a violência sexual contra crianças

140

e adolescentes. Mais que histórias em quadri-

nhos, a produção dos adolescentes destaca a

importânciadagarantiadosdireitoseproteção

integral.

Asreflexõespautadascomosgrupos,aliberda-

de para serem eles mesmos, foi um grande dife-

rencial, principalmente por tratar de um assun-

to tão polêmico e velado em nossa sociedade.

Quando possibilitado o acesso a materiais, re-

cursospedagógicosemomentosparareflexões,

os e as adolescentes vivenciaram uma oportuni-

dade para fazer a diferença na família, na escola

e na sociedade.

Como nos diz um dos adolescentes, em um dos

depoimentos que coletamos: “Queria comuni-

car-lhequeoprojetoTABAfoimuitogratificante

e felizmente um sucesso. Informará muitos jo-

vens possivelmente em dúvidas e alertará eles

de certos perigos. A combinação de várias men-

tes espontâneas, com sede de informação, pos-

sibilitouumapossívelperspectivaparaaqueles

que precisem de informação. Adolescentes uni-

dos, quem diria, jovens que podem fazer a dife-

rença e assim tocar a mente das pessoas, assim

proporcionando uma mudança ideológica na

sociedade. Talvez abrir portas para projetos des-

sa natureza, mude o Brasil, destrua o preconcei-

to e construa novos conceitos. Prazer e cultura,

a um futuro melhor. Rafael Vicente.”

A responsabilidade de produzir um livro que

trouxesse informações e possibilitasse uma lin-

guagem de adolescente para adolescente foi

outrodesafio,vistoquecomumenteespera-se

pouco de nossos adolescentes. Assumir esse

compromissodeconfirmarquetodaaçãoedu-

cativa garanta e celebre a autonomia do ado-

lescente, resultam em conquista, satisfação e

mudança. Conforme destaca Trassi “a conduta

do adolescente sinaliza acontecimentos de seu

meio social e de seu tempo que produzem efei-

tos,reverberamemseucotidianoeemsuainti-

midade. Dito de outra forma, a conduta sempre

revela algo do indivíduo e de seu ambiente so-

cial”. (2006, p. 428)

Mesmocomtodososdesafiosqueencontramos

duranteaaçãoeducativa,énecessárioacreditar

quetodooprocessoeducativoémediadopor

conquistas, tensões e frustrações.

Olharoresultadodestaaçãoeducativademons-

tra que somente com o reconhecimento e a

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participaçãoativadosedasadolescentespode-

remos realizar mudanças e dizer não á violência.

A importância desse material produzido pode

ser bem reproduzido pelo depoimento da

EducadoraFláviaFerreiraCabral,queutilizouo

livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-

lescente para adolescente” como material pe-

dagógico emoficinas de educação não formal

com pré-adolescentes de 10 a 13 anos.

“A experiência de utilizar os livrinhos com o

grupoJuvenis(10a13anos)foimuitopositiva,

ainda mais por se tratar de um material que foi

escrito por adolescentes.

Na pagina 6 do livro, há espaços para escrever

(nome, idade, escola, medos, coragens e pai-

xões)eelesadoraramestaatividade,ummos-

trava para o outro e houve um momento que

cada um pôde falar mais sobre si mesmo!

Eles também pintavam os desenhos que eram

possíveis colorir.

Na leitura do livro, as ilustrações ajudavam a en-

tender sobre o assunto, ou seja, além da leitura,

falávamossobreosignificadoesentidodosde-

senhos.

Apaginamaisdiscutidafoiapagina23,naqual

tem uma historia em quadrinho sobre abuso se-

xual, eles pediam para ler, aliás, todos queriam

ler, até disputavam quem iria ler, liam de novo.

Enfim,estematerialfoideextremaimportância

para tratar sobre os diversos assuntos do uni-

verso da adolescência, ainda mais considerando

que esta faixa etária precisa de elementos sim-

bólicos para melhor entenderem seu contexto

pessoal e social.”

ReferênciasBibliográficas

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação.

26ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: sabe-

resnecessáriosàpráticaeducativa.30ª.ed.São

Paulo: Paz e Terra, 1996.

_____________. Pedagogia do oprimido. 27ª.

ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

TRASSI, Maria de Lourdes. Adolescência-

violência: desperdício de vidas. São Paulo:

Cortez, 2006.

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A exploração sexual de crianças e adolescentes

é uma triste realidade em Campinas e região.

Fechar os olhos para o que acontece em nossas

ruas é fechar os olhos para o amanhã. É deixar

de lado sorrisos infantis, brincadeiras nas pra-

ças, bonecas nas mãos, bolas nos campos e pi-

pas no céu. Quem liga para a vida não pode fi-

car calado vendo tudo isso acontecer. É por isso

que a Saviezza fez questão de participar da nova

campanha da TABA. Como uma empresa de co-

municação, não poderíamos deixar de divulgar

esse alerta.

O conceito elaborado para a campanha trans-

formou em anjos aqueles que denunciam a ex-

ploração sexual. Desenhos infantis deram asas

a fotos reais representando de uma maneira lú-

dica e criativa essa transformação. Com apenas

uma ligação, pessoas comuns poderiam tornar-

-se verdadeiros heróis ao proporcionar a crian-

ças e adolescentes a oportunidade de uma vida

mais cheia de vida. A indignação e a coragem

para denunciar são as sementes da esperança

para inúmeros pequenos indefesos.

Todas as peças foram criadas com o coração e

com a certeza de estarmos colaborando para

um futuro melhor para crianças e adolescen-

tes. Participar desse projeto foi uma maneira de

mostrar o nosso lado mais humano e de exercer

cidadania. Agradecemos à TABA por essa opor-

tunidade, mas esperamos que esta seja a últi-

ma vez que um grupo de pessoas precise se unir

para divulgar e combater a exploração sexual.

Um sonho? Com certeza, mas é disso que a vida

é feita. Pode perguntar para as crianças.

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O projeto turismo sustentável e infância re-

alizado em Campinas é uma proposta focada es-

pecialmente em prevenção.

Campinas ainda não se situa como uma cidade

com forte envolvimento da exploração sexual

relacionada ao turismo. Mas há indicadores que

demonstram que a rede deve se preparar para

um possível agravamento desse cenário princi-

palmente pelo rápido crescimento do turismo

previsto para a região que comprovadamente

anda lado a lado com o aumento da vulnerabili-

dade social de crianças e adolescentes.

É fundamental planejar o desenvolvimento eco-

nômico atrelado ao desenvolvimento social e

ambiental, o chamado desenvolvimento susten-

tável.

Assim verificamos que o trabalho apresenta

uma série de desafios, pois é comum que não

haja preocupação com problemas que ainda es-

tão surgindo ou que não nos afetam diretamen-

te.

Durante o projeto nos deparamos com diver-

sas situações que confirmaram essa percepção.

Como se esse cuidado pela garantia dos direitos

da criança e do adolescente pudesse ser deixa-

do para outro momento.

Por isso as ações de sensibilização e dissemina-

ção de informações à todos os públicos envolvi-

dos foi um processo importantíssimo.

Da mesma forma, reiteramos a relevância do

envolvimento do poder público municipal, so-

bretudo a Secretaria de Comércio, Serviços,

Indústria e Turismo. São as políticas públicas

que garantem o cumprimento do Estatuto da

Criança e do Adolescente e os aos gestores pú-

blicos em parceria com toda a sociedade cabe

a responsabilidade de promover o desenvolvi-

mento da cidade com sustentabilidade, assegu-

rando os direitos da criança e do adolescente

em todas as frentes previstas em lei.

Vivenciar essa experiência no projeto não foi

simples. A equipe muitas vezes foi tomada pelo

desânimo, com a sensação de remar contra a

corrente. Mas ao mesmo a caminhada nos pro-

porcionou novos encontros, parceiros e apoios

importantes que nos mostraram que apesar

das dificuldades, era o caminho a ser percorrido

O Sistema de Garantia de Direitos se apresenta

como uma rede consistente e ativa, capaz de se

146

articular e promover ações de enfrentamento,

embora ainda precise de contínuas capacita-

ções para uma melhor atenção ao fenômeno.

Indicamos ações continuadas de capacitações

e debates, sobretudo com o envolvimento do

Conselho Tutelar, para melhor conhecimento,

acompanhamento e controle das ações voltadas

para a garantia dos direitos das crianças e dos

adolescentes.

Mas sem dúvida a maior conquista desse pro-

jeto foi o modo como crianças e adolescentes

envolvidos se apropriaram do tema e da causa

resultando na produção de um material que

traduz a essência de suas realidades, valores

com a linguagem deles.Conteúdo produzido

e disseminado baseado nessas vivências e não

construído somente em cima teorias padrão.

Ocupamos este espaço central entre o discurso

acadêmico sobre a adolescência e a realidade

vivida por estas pessoas nomeadas como ado-

lescentes.

Hoje podemos afirmar da existência da crian-

ça e do(a) adolescente sujeito de direito que

conseguem dialogar entre si e produzir ações

concretas em busca da garantia destes direitos.

Paralela a esta realidade atual e pulsante, ainda

encontramos o imaginário do mundo adulto in-

vadido por imagens e pré conceitos em relação

à estas pessoas, o que dificulta a aproximação

e um trabalho em conjunto que produza ações

políticas como foi o caso da publicação “Que tal

Dizer Não”( uma conversa de adolescentes para

adolescente).

Muito poucos são os espaços de escuta dos e

das adolescentes A política de participação ju-

venil ainda trabalha para o adolescente e não

com ele, deixando de contribuir de modo efeti-

vo na transformação, impacto para que desen-

volvam projetos de vida.

Nossa melhor experiência!

O prazer de produzir, compartilhar e dialogar de

forma prazeroza e estimulante com esses nos-

sos parceiros crianças, adolescentes e jovens,

pessoas, como todos nós, que acreditam , lutam

e desejam que a garantia de seus direitos seja

uma realidade de fato em nossa cidade.

A caminhada continua.