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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em
Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. 272-283
D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052
TURISMO RURAL PEDAGÓGICO: UMA FUNÇÃO
ALTERNATIVA PARA O ESPAÇO RURAL
DANIELE LIMA GELBCKE
ROSANI LIDIA FINGER
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Programa de Pós Graduação em Geografia
RESUMO - O turismo rural ou Turismo Rural na Agricultura Familiar cresce nos últimos anos tanto em
decorrência das transformações do mercado turístico, como da crise do rural, em função das quais novas
perspectivas se configuram. A necessidade de repensar o desenvolvimento rural, principalmente nas
médias e pequenas propriedades, levou as alternativas no sentido de aproveitar as potencialidades do rural
enquanto espaço social e econômico, de diversificar as atividades, gerar emprego e renda, e valorizar os
recursos naturais, legitimando formas de agricultura diferentes daquelas do modelo dominante. Novas
atividades e usos dos espaços rurais se delineiam, como os de lazer, turismo, moradia e produção de
produtos agroecológicos. Neste contexto sócio espacial, a Associação de Agroturismo Acolhida na
Colônia localizada no Estado de Santa Catarina – BRA se constitui como experiência e oportunidade
estratégica de desenvolvimento rural e construção social, permeada pela relação rural/urbano. No âmbito
do turismo em propriedades rurais, o turismo rural pedagógico se constituiu em uma estratégia de
conscientização e fortalecimento da agricultura familiar, e ao mesmo tempo se mostra como uma
metodologia alternativa para a educação básica por trabalhar conceitos e conteúdos, através de atividades
interdisciplinares e o tema transversal meio ambiente. Destaca-se a observação, leitura e interpretação das
paisagens para a compreensão do espaço geográfico.
Palavras chave: Agroturismo; Turismo Rural Pedagógico; Acolhida na Colônia;
Desenvolvimento Rural.
ABSTRACT - The rural tourism or Rural Tourism in Family Agriculture is growing in recent years due to
changes in the tourism market and the crisis of rural market, thus setting up new perspectives. The need
about rethinking the rural development, especially in medium and small properties, led to seek
alternatives in order to take advantage of the potential of the rural market as a social and economic space,
diversify activities, generate employment and income, and enhance natural resources, legitimating
agriculture forms, different from the dominant model. New activities and uses of rural areas are
delineated, such as leisure, tourism, habitation and the production of agroecological products. In this
socio-spatial context, the Agritourism Association “Welcomed in the Colony” in the State of Santa
Catarina – Brazil, constitutes an experience and strategic opportunity for rural development and social
construction, permeated by the relations rural / urban. In the context of tourism in rural properties,
pedagogical rural tourism has become strategy awareness and strengthening of family agriculture, and at
the same time shows itself as an alternative methodology for basic education, by working concepts and
content through interdisciplinary activities and the environment transversal theme. It is emphasized the
observation, reading and interpretation of landscapes for understanding the geographic space.
Keywords: Agritourism, Pedagogic Rural Tourism; Welcomed in the Colony; Rural Development.
Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço
Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000
D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052
1 INTRODUÇÃO
O turismo em espaços rurais enquanto atividade
econômica é relativamente recente, e se deve a dois
motivos principais: às transformações do mercado
turístico, que entre outros, buscou expandir a atividade
para vários espaços e diversificar a oferta e, à crise do
rural, em função da qual a atividade turística surge como
estratégia de desenvolvimento.
Hoje consolidado e em expansão, o turismo nos
espaços rurais diversifica suas ofertas e motivações,
criando um conjunto de novas modalidades, das quais,
destacaremos o agroturismo ou TRAF (Turismo Rural na
Agricultura Familiar). No Brasil, assim como em outros
países, esta atividade vem sendo difundida entre os
agricultores como alternativa de renda e estratégia de
valorização da agricultura familiar.
Das experiências brasileiras, o artigo se propõe a
discutir a experiência da “Associação de Agroturismo
Acolhida na Colônia”, inserida na rede internacional
“Accueil Paysan”, presente hoje em mais de 30 países do
mundo.
Dentre os diversos trabalhos que a Acolhida na
Colônia vem desenvolvendo para dinamizar o turismo nas
propriedades rurais, destacaremos o turismo pedagógico,
que aproxima os objetivos da associação àqueles das
escolas. Através de saídas de campo, alunos e professores
vivenciam a realidade das propriedades rurais, utilizando-
se destas vivências como ferramenta do processo ensino-
aprendizagem. Vale ressaltar que o espaço rural é um
campo riquíssimo, pois confronta os alunos com uma
realidade diferente daquela encontrada nos centros
urbanos, realidade esta percebida e analisada através da
paisagem rural.
O presente artigo tem por objetivo, analisar o papel
do turismo rural no processo ensino-aprendizagem,
através da superação da tradição didática de sala de aula,
que trabalha a memorização de conteúdos em detrimento
da construção coletiva do conhecimento, e também, o
significado que esta aproximação com as escolas
representa para a agricultura familiar e o espaço rural.
2. TURISMO E DESENVOLVIMENTO
RURAL
Os espaços rurais por muito tempo tiveram suas
atividades econômicas voltadas basicamente para a
produção agrícola e pecuária, entretanto, o rural está em
constante transformação e acompanha as mudanças
socioeconômicas do global ao local, sendo o processo de
modernização da agricultura o melhor exemplo.
Este processo a que foram submetidas as
atividades agrícolas, se caracterizou, apesar das
peculiaridades de cada lugar, pelo uso intensivo de capital
na agricultura sob a forma de pacote tecnológico
(motomecanização, uso de insumos químicos, utilização
de sementes melhoradas, etc.), pela integração às
indústrias, a especialização da produção agrícola, entre
outros (GELBCKE, 2006).
Segundo diferentes condicionantes, a integração
dos territórios e dos agricultores à modernização se deu
de forma mais ou menos intensa. “À margem do processo
ficaram as pequenas e médias empresas e as unidades
artesanais de produção de bens e serviços, dispersas
territorialmente; as regiões menos dotadas em fatores de
produção, menos centrais e menos acessíveis e equipadas,
acentuando-se consequentemente as desigualdades e as
oportunidades territoriais, os desequilíbrios espaciais, o
abandono de recursos locais, a desertificação humana, os
problemas de preservação ambiental e paisagística e o
sentido de incerteza quanto ao futuro destes espaços e das
suas populações, na ausência de perspectivas de
desenvolvimento a curto e médio prazo” (CAVACO,
1996, p. 95).
Seja nos países desenvolvidos ou no Brasil,
independente da escala de modernização, os impactos
negativos foram importantes tanto no campo econômico
como no social, espacial e ambiental, despertando nas
sociedades, em geral, a necessidade de repensar o
desenvolvimento rural. As consequências do processo
despertaram discussões à cerca de quais alternativas
poderiam ser pensadas e desenvolvidas no sentido de
aproveitar as potencialidades do rural enquanto espaço
social e econômico, legitimando formas de agricultura
que não se enquadram no modelo dominante, mas que
através de diferentes estratégias, lutam para superar
dificuldades e se reproduzir (GELBCKE, 2006).
Para a autora, surge daí um novo modo de pensar o
desenvolvimento rural, alicerçado em: mobilização de
recursos disponíveis e endógenos; envolvimento de atores
locais na busca de soluções para as necessidades das
comunidades; diversificação de atividades; valorização do
saber-fazer e das riquezas socioculturais das regiões;
valorização e preservação dos recursos naturais; criação
de emprego e renda, entre outros.
Desta forma, desde a década de 1970, sobretudo na
Europa, as políticas públicas voltadas aos espaços rurais
passaram a focar não apenas no setor agropecuário, mas
na integração com outros segmentos produtivos. Neste
sentido, Silva (2001, p.62-63) coloca que “as novas
iniciativas se destinam a estimular modificações nos
sistemas produtivos e na estrutura dos mercados, apoiar a
urbanização para primeira e segunda residência, fomentar
a industrialização em zonas rurais - vinculadas aos
complexos agroindustriais ou à economia agroalimentar -
e a incentivar o turismo rural em todas as suas expressões
(agroturismo, turismo ambiental, turismo de aventura,
esportes radicais, esportes de inverno, etc.)”. É assim que
surge o incentivo ao turismo rural enquanto dinamizador
dos espaços rurais, gerador de emprego e renda para as
populações locais, e que acabou inspirando outros países,
entre eles o Brasil.
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As ações em prol do desenvolvimento rural vieram
associadas a uma dinâmica própria dos espaços rurais
onde, a pluriatividadei dos agricultores e a
multifuncionalidadeii vêm ao encontro das novas
demandas da sociedade, principalmente as de origem
urbana. Diante deste contexto, se percebe o aparecimento
de uma série de novas atividades e usos dos espaços
rurais, entre eles, os de lazer, turismo e moradia.
É importante ressaltar que estas demandas também
são consequência de uma mudança no padrão de
consumo. O modelo de massificação do turismo inspirado
na produção industrial, que gerou produtos padronizados,
simplificados, concentrados em polos turísticos,
acessíveis a um grande número de pessoas, mas pouco
individualizados, passou a ser criticado por uma parcela
da população.
O novo comportamento, focado na
sustentabilidade ambiental e social dos destinos turísticos,
resulta em estratégias diferenciadas do setor, cujo
discurso volta-se para o atendimento personalizado, o
fornecimento de equipamentos e serviços especializados,
a proposta de espaços diferenciados e o comprometimento
com a sustentabilidade ambiental. Este discurso reforça a
procura por espaços onde a natureza encontra-se menos
modificada, entre eles, o rural.
Neste cenário, cabe ressaltar que o turismo rural
foge em parte aos padrões da hotelaria, oferecendo um
clima de informalidade e familiaridade. De acordo com
Cavaco, (1996, p. 111), “o contato com a natureza e a
cultura local funciona como uma fuga para os turistas, que
desejam sair de suas realidades estressantes da vida
cotidiana urbana, motivados por uma opção de lazer,
proporcionando a interação com o modus vivendi rural, incorporando elementos carregados da simplicidade
peculiar deste meio inseridos em um contexto de
paisagem cênica, remetendo o indivíduo a exercer um
olhar contemplativo”.
Segundo Gelbcke (2006), o desenvolvimento do
turismo em espaços rurais é facilitado por uma relação já
existente entre o rural e o urbano, mantida por uma
população de origem rural que habita os centros urbanos
e, reforçada pela urbanização das grandes cidades e as
consequências dela advindas, tais como: poluição (visual,
sonora e atmosférica), insegurança, trânsito, tensões e
principalmente uma crescente impessoalidade.
2.1 Turismo nos espaços rurais e agroturismo
Apesar das diversas experiências, interesses e
contextos em que estão inseridas as experiências de
Turismo no Espaço Rural (TER), existe um discurso
generalizado sobre o desenvolvimento de um turismo
sustentável e de base local, que venha ao encontro das
estratégias de desenvolvimento rural através da sua
valorização. Neste contexto surge o termo agroturismo
como parte integrante do TER, mas que se diferencia pela
ligação mais estreita com a agricultura, sobretudo a de
base familiar.
Mesmo não havendo um conceito único de
agroturismo, noções e princípios norteiam as experiências
em diversos países. A título de exemplo, o agroturismo na
Itália, França e Alemanha é uma modalidade restrita às
propriedades agrícolas familiares e produtivas, já nos
EUA, pode ser desenvolvido em qualquer
empreendimento rural. Essas noções são causa e efeito de
políticas e programas de apoio ao TER, e estão
diretamente relacionadas ao modelo de desenvolvimento
econômico adotado em cada país, tendo consequências
importantes sobre a interação do turismo com a
agricultura e com as comunidades locais.
No Brasil, a discussão sobre os rumos do turismo
rural se inicia em 1998 durante o CITURDS (Congresso
Internacional de Turismo Rural e Desenvolvimento
Sustentável), realizado em Santa Maria – RS. A discussão
se estende através de encontros e reuniões entre entidades
públicas, privadas e setores organizados até 2003, quando
é finalmente elaborado o documento “Diretrizes para o
Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil”,
incorporado na Política Nacional de Turismo. Este
documento define as diretrizes e estratégias para o
desenvolvimento da atividade no país.
Embora tenha incorporado o turismo rural na
Política Nacional de Turismo, o Ministério do Turismo o
faz de forma bem abrangente quanto ao público
beneficiado, ficando explícito que as diretrizes
contemplarão tanto o Turismo Rural como o Agroturismo.
Quem acaba diferenciando o publico beneficiário é o
Ministério do Desenvolvimento Agrário que cria o termo
“TRAF” – Turismo Rural na Agricultura Familiar e o
define como “a atividade turística que ocorre no âmbito
da propriedade dos agricultores familiares que mantém as
atividades econômicas típicas da agricultura familiar,
dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo
de vida, o patrimônio cultural e natural, ofertando
produtos e serviços de qualidade e proporcionando bem
estar aos envolvidos” (MDA 2006, p.4).
Desta forma, o agroturismo no Brasil é
conceituado como Turismo Rural na Agricultura Familiar
para distingui-lo de qualquer outra modalidade de turismo
desenvolvida no espaço rural e, garantir que os
beneficiários das políticas públicas voltadas ao setor
sejam os agricultores familiares.
2.2 Da crise na agricultura à Associação de
Agroturismo Acolhida na Colônia
A Acolhida na Colônia é uma organização
de agricultores familiares do Estado de Santa Catarina,
que assim como em outras experiências de agroturismo,
surge como oportunidade e estratégia de desenvolvimento
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rural, e deve ser compreendida como parte do processo de
construção social do espaço rural em que está inserida.
Esta construção social é em parte, reflexo das mudanças
ocorridas na agricultura brasileira e, mais recentemente,
do surgimento da AGRECO - Associação dos
Agricultores Agroecológicos das Encostas da Serra Geral,
cuja intervenção é permeada por uma forte relação rural-
urbano.
O território onde surge esta experiência está
localizado no sul do Estado de Santa Catarina – Brasil.
Conhecido como Encostas da Serra Geral, é considerado
um corredor ecológico por estar situado entre o Parque
Estadual da Serra do Tabuleiro e o Parque Nacional de
São Joaquim. A agricultura de subsistência, que atendeu
as necessidades de reprodução familiar através do
consumo e venda de excedentes foi a base da economia da
região até a década de 1960. Após esse período, as
mudanças decorrentes do processo de modernização da
agricultura que atingiu o Brasil, também tiveram reflexos
na agricultura e no modo de vida tradicional da região.
Um processo de crise se instaurou, motivado
principalmente pela redução do mercado e do preço do
porco Macau, principal produto comercializável nesta
época (MULLER, 2001).
A primeira alternativa frente à crise do porco foi a
comercialização do excedente da produção (vegetal e
animal), sendo que algumas culturas antes produzidas
apenas para subsistência como a mandioca, o feijão e o
leite, passam a ser intensificadas para fins comerciais.
Mas é na produção de carvão e principalmente na
fumicultura, através da integração às agroindústrias
fumageiras, que os agricultores encontraram uma “saída”
para a crise.
Esta alternativa, que se tornou a principal fonte de
renda da maioria das famílias, promoveu mudanças
importantes tanto na base técnica e produtiva, como na
forma de organizar o trabalho. “A grande exigência em
mão de obra na cultura do fumo levou muitos agricultores
a abandonarem suas hortas, pomares e lavouras de
subsistências, criando uma dependência do mercado,
quanto aos produtos de subsistência” (GELBCKE, 2006).
Em meados dos anos 1990, o sistema começa
novamente a expressar sinais de estagnação e crise. A
produção crescente de fumo e a maior exigência na
classificação do mesmo levaram a uma queda no preço do
produto. A perda da renda e do poder aquisitivo dos
agricultores familiares levou-os ao dilema de
abandonarem a terra ou de encontrarem alternativas de
reprodução econômica. Surge a partir daí um novo
período de mudanças, principalmente no município de
Santa Rosa de Lima, onde nasce a primeira iniciativa. É
importante ressaltar que esta já surge a partir de uma
relação entre o meio rural e urbano, ou seja, entre pessoas
do lugar e outras naturais da região que moravam em
centros urbanos maiores.
Assim, a primeira proposta efetiva foi apresentada
por um supermercadista de Florianópolis (natural de
Santa Rosa de Lima), que após uma viagem à Europa e
Estados Unidos, viu na produção de base ecológica uma
nova oportunidade de mercado. Mobilizando um pequeno
número de agricultores no início, os esforços centraram-se
na produção de verduras sem o uso de agrotóxicos e
adubos químicos. A adesão de outras famílias se deu de
forma tímida, entretanto, o objetivo era ampliar esse
quadro e trabalhar com uma proposta que possibilitasse o
desenvolvimento não apenas do município, mas de toda a
região.
A partir do envolvimento efetivo de doze famílias,
foi fundada em 1996, a Associação dos Agricultores
Agroecológicos das Encostas da Serra Geral (AGRECO).
O número de associados foi se ampliando, a associação
foi ganhando visibilidade e conquistando novos
municípios da região, assim como, estabelecendo novos
apoios. Assim, se em 1998 a AGRECO contava com mais
de duzentos associados, este número de elevou para
aproximadamente quinhentos em dezembro de 1999,
envolvendo mais de 200 famílias de agricultores
pertencentes a vários municípios da região. É importante
ressaltar, entretanto, que, “o crescimento numérico e
espacial foi condicionado à implementação do Projeto
Intermunicipal de Agroindústrias Modulares em Rede,
com financiamento do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)”
(SCHMIDT et al, 2002 p.86).
A AGRECO passou por conflitos e desafios que
não cabe a este artigo analisar, mas apresentá-los é
fundamental para contextualizar sua importância nas
discussões e ações em prol do desenvolvimento daquele
território e sua relação com o agroturismo. Foi em função
da visibilidade do trabalho efetuado pela AGRECO e
parceiros, que a região passou a ser constantemente
visitada por consumidores dos produtos orgânicos,
agricultores, técnicos e estudantes que buscavam
conhecer a experiência. Não tendo onde se hospedar em
função da pequena infraestrutura hoteleira dos
municípios, os visitantes eram recebidos nas casas dos
agricultores.
Como a discussão entre os atores envolvidos já
focava no fomento de atividades agrícolas e não agrícolas
que pudessem contribuir para o desenvolvimento
sustentável do território, o turismo surge como uma
oportunidade. Através de uma parceria com o Centro de
Apoio à Agricultura Familiar em Grupo de Santa Catarina
(Cepagro), os agricultores da região tomaram
conhecimento de uma experiência iniciada na França pela
Associação Accueil Paysan, cujo foco é valorizar e
viabilizar a agricultura familiar através do agroturismo. A
experiência francesa se mostrou condizente com o que
vinha sendo proposto nas encostas da Serra Geral e uma
parceria foi estabelecida para auxiliar no desenvolvimento
da atividade.
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A Associação Acolhida na Colônia foi então
fundada em 1999, como a primeira parceira na América
Latina a fazer parte da rede internacional Accueil Paysan.
No início, com 30 famílias distribuídas em cinco
municípios da região das Encostas, a rede catarinense se
estendeu para outras regiões do estado, estando presente
hoje em 26 municípios e contemplando aproximadamente
180 famílias de agricultores.
Pelo seu histórico, a Acolhida na Colônia nasceu
com um perfil pedagógico amplo, pois os sujeitos ativos
do processo, os agricultores, passaram também a ser os
fomentadores e atores ao dialogar e explicar sobre seus
saberes práticos.
Com o passar dos anos, o número e o perfil de
visitantes se ampliou. A (re) estruturação e adequação das
propriedades contribuíram para redimensionar o projeto
que também criou visibilidade, passando a atrair mais
pessoas, sobretudo, famílias interessadas em usufruir de
lugares tranquilos, meios de hospedagem autênticos e
alimentação saudável. Mesmo com a ampliação e
mudança do público consumidor, a troca de
conhecimentos continuou sendo um grande atrativo,
principalmente em função da experiência em torno da
produção orgânica de alimentos.
Cientes da importância do seu conhecimento para
a formação/conscientização de pessoas, e visualizando
nisso uma oportunidade, os agricultores da Acolhida na
Colônia assumiram o desafio de desenvolver uma
proposta de turismo pedagógico para trabalhar com as
escolas.
3. A FUNÇÃO PEDAGÓGICA DO
AGROTURISMO
Quando as primeiras experiências de turismo nas
propriedades rurais aconteceram, a dimensão pedagógica
já estava presente, principalmente numa perspectiva de
educação não formal, envolvendo os agricultores e
visitantes. Ao justificar, argumentar e explicar as práticas
de agricultura orgânica, sustentabilidade e suas
implicações econômicas, sociais e ambientais, os
agricultores, com auxílio de uma equipe técnica, se
prepararam para inserir e desenvolver esta dimensão
pedagógica em suas atividades. A análise do conjunto do
rural, estabelecendo unidades de estudos, partindo do
empírico, utilizando categorias de análise têm se
constituído como ferramenta na educação formal,
complementando estudos e atividades da educação básica
e pesquisas de universidades.
3.1 Desafios do processo ensino-aprendizagem
A construção pedagógica do saber por muito
tempo esteve e ainda está centrada no discurso oral de
aulas expositivas, ou em leitura de textos de livros
didáticos. Com a incorporação dos recursos midiáticos no
fazer pedagógico, pouca coisa mudou, do quadro negro
passou-se para o quadro branco ou para a lousa digital,
utilizando-se os recursos da internet. Entretanto, o
professor e seu saber continuam no centro do processo.
Este fato é acentuado pela prática da memorização, que
leva ao esvaziamento da construção de significados,
provocando a falta de interesse dos alunos.
O grande desafio de todo professor ao concluir a
formação acadêmica é a articulação entre o conhecimento
adquirido na graduação e as necessidades dos alunos da
educação básica. A dificuldade da transposição didática
do conhecimento acadêmico para o cotidiano escolar é um
gargalo da educação. A formação profissional deve ser
contínua, exigindo constante atualização. Neste processo
de profissionalidade, de construção de saberes
pedagógicos e metodológicos, sobre como transpor
conhecimentos para a sala de aula, são vivenciadas e
experimentadas metodologias de ensino que possam
contribuir para a prática docente diferenciada.
A construção de conceitos e significados de forma
autônoma por parte dos alunos é fundamental para que os
mesmos compreendam e estabeleçam relações entre a
sociedade e a natureza. Para alcançar tal objetivo é
preciso aproximar os conteúdos trabalhados em sala de
aula, com informações e significados dos espaços vividos
dos alunos, reduzindo o distanciamento da realidade com
os conteúdos trabalhados no ambiente escolar
(FIGUEIREDO, 2012).
Trabalho de campo, viagens de estudo e/ou o
turismo pedagógico são ferramentas importantes para
alcançar tais objetivos, pois confrontam os alunos com a
realidade, embora “nem sempre a realidade visível
esclarece completamente o que de fato acontece no
espaço” (SERPA apud Figueiredo, 2012, p 16). Desta
forma, o trabalho de campo precisa ser previamente
planejado, levando em consideração a teoria que lhe
servirá de base.
O turismo rural pedagógico vem se mostrando uma
ferramenta importante e uma opção de atividade
curricular e extracurricular em expansão neste início do
século XXI, tanto nas escolas da educação básica, como
nas universidades. Segundo a ABRATURR/ECA (2005,
p.5) “o turismo rural pedagógico se caracteriza como o
conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio
rural, comprometido com o meio ambiente e a produção
agropecuária e/ou com os valores históricos de produção
no universo rural, agregando valor a produtos e serviços,
resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural
da comunidade que fundamentalmente tem um
acompanhamento didático pedagógico com o objetivo de
aquisição de conhecimento”.
Para Klein et al. (2011), o turismo rural
pedagógico é bastante abrangente, mas contempla
diferentes funções, dentre as quais, a função educativa e a
função ambiental. No primeiro caso, o aprendizado é
proveniente de vivências práticas nas propriedades rurais,
favorecendo a ampliação do universo cultural e a
aquisição de novas habilidades e novos conhecimentos.
No segundo, está associado à preservação e ao cuidado
com o ambiente, viabilizado pelo contato direto com os
elementos da natureza.
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É na paisagem que se observa em primeira
instância este processo de relação entre a natureza e a
sociedade, sendo sem dúvida a paisagem um verdadeiro
laboratório. Para Milton Santos (1996) a paisagem é mais
do que um conjunto de elementos, ela compreende e
expressa todas as relações que se desenvolvem no espaço
geográfico, exprimindo as heranças que representam as
sucessivas relações existentes entre o homem e a
natureza, possuindo dinamicidade. Assim o trabalho de
campo, através do turismo rural pedagógico, é capaz de
aguçar o olhar para a paisagem, permitindo ao aluno
comparar, identificar semelhanças, diferenças e formular
análises do espaço visitado.
A paisagem é tudo o que se vê, o que a vista
alcança, mas esta visão depende da localização do
observador (CALLAI, 2000). Neste sentido, cada ser
humano possui maneiras diferentes de perceber o mundo
à sua volta, utilizando os sentidos da visão, audição,
olfato, paladar e tato. Na observação e estudo das
paisagens a visão é o sentido mais utilizado, sendo que
cada espectador poderá observar e descrever elementos
diferentes, explicar a paisagem de acordo com um olhar
particular sobre a mesma, identificando elementos com os
quais se identifica.
Os elementos que constituem esta paisagem são
um universo de objetos com vários signos, e a visão,
quase na sua totalidade consegue decifrar seus
significados e funções (NASCIMENTO, 2009). Assim, à
medida que se processa o desenvolvimento mental, as
informações recebidas pela percepção e pela imagem
mental servem de subsídios às operações mentais, as
quais, por conseguinte influenciam direta ou
indiretamente a percepção. A imagem por sua vez é o
símbolo do objeto e pode ser formada como uma imitação
interiorizada dele.
De acordo com Cavalcanti (2008), uma
característica importante quando se trabalha com a
categoria de paisagem é sua dinâmica, pois as paisagens
revelam como a sociedade desenvolve suas atividades,
suas relações de produção, ou seja, o que as pessoas estão
fazendo em determinado momento e como se relacionam
entre si e com a natureza no lugar onde vivem.
Nos espaços rurais onde a natureza não está tão
artificializada, o ser humano dotado de sentidos, capta as
informações usando sensores além da visão. O aluno,
numa prática de turismo rural pedagógico, pode ver,
cheirar, tocar, ouvir e degustar.
Nesta metodologia de ensino que é o turismo
pedagógico, não existe certo ou errado, mas sim a
oportunidade de trabalhar sobre o que é o modo de vida
urbano e rural, representado nas suas paisagens e na
relação com os atores que vivem e constroem estes
espaços. Para isso, professores e alunos precisam ter
objetivos claros, evitando determinados rótulos e
estereótipos. Boligian (2004) explica que a percepção de
uma paisagem depende da intenção do observador, ou
seja, varia conforme seu objetivo e sua relação com o
lugar observado. Será, portanto, função da postura do
professor para direcionar o olhar das crianças de forma
científica e pedagógica.
3.2 A proposta de turismo rural pedagógico da
Acolhida na Colônia
O objetivo principal da proposta pedagógica da
Acolhida na Colônia é contribuir para a construção do
conhecimento das crianças - futuras formadoras de
opinião - a partir do real, fazendo relações do contexto
vivido na agricultura familiar com a preservação dos
recursos naturais, a manutenção das paisagens, a
promoção da segurança alimentar e nutricional. A
articulação dos alunos com a realidade rural possibilita
sua inserção enquanto sujeitos na sociedade, promovendo
uma reflexão sobre sua prática social.
Na construção da proposta pedagógica da Acolhida
na Colônia, dois elementos metodológicos foram levados
em consideração: a observação, a partir da qual os alunos
estabelecem as relações entre o ser humano e seu entorno;
e, a interação entre alunos e agricultores, que através dos
seus saberes garantem a troca de conhecimentos e a
autenticidade da proposta. É através desta relação que os
alunos superam a ação puramente contemplativa da
paisagem, interagindo com o seu objeto de estudo.
As experiências oferecidas nas propriedades rurais
são as mais diversas: plantio na horta, trato dos animais,
adestramento racional de cavalos, recolhimento de ovos,
trilhas em meio à mata, banho de rio e cachoeira, até a
observação das construções como as rodas d’água, os
engenhos, moinhos, atafonas... Estas permitem confrontar
os alunos com espaços e elementos geográficos
diferentes, que por sua vez, através das percepções
cognitivas, motoras, afetivas e cênicas, percebem que o
som é outro, o ar é outro, o sabor é outro, assim como os
lugares e construções são outros, identificando assim
elementos que constituem aquela paisagem em sua
complexidade, totalidade e interdependência.
O que caracteriza a paisagem rural das Encostas da
Serra Geral é a presença da Mata Atlântica, topografia
acidentada formando vales, hidrografia extremamente
rica, com nascentes de rios importantes da região como os
rios Cubatão, Capivari, Tijucas, Braço do Norte e Itajaí do
Sul e a presença de águas termo minerais. A paisagem
humanizada é percebida através da arquitetura típica, dos
utensílios utilizados, da culinária, da língua, da pequena e
pouco adensada população demográfica, e também, das
atividades econômicas como a agricultura baseada na
diversificação de cultivos, queima de carvão, pequenas
indústrias de processamento e o reflorestamento com
espécies exóticas como pinus e eucalipto. A paisagem é
então observada através da interação entre os elementos
natureza, economia, população e cultura.
Entre observação e atividades, vários temas podem
ser trabalhados nas propriedades rurais. Das atividades
realizadas com maior frequência, destacam-se as trilhas
em meio à mata e as caminhadas para conhecer a
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produção agropecuária. Nas trilhas (figura 1) os
agricultores mostram e falam da diversidade de espécies
de plantas e animais que caracterizam a mata atlântica, a
importância de tais espécies, seu uso, época de floração,
etc. Através de uma linguagem simples, conduzem os
alunos a observar as árvores, o solo, os rios, permitindo
várias reflexões sobre o papel deste ecossistema. Temas
como a qualidade do ar, a permeabilidade do solo e sua
relação com as enchentes, a importância da mata ciliar
para a manutenção dos rios, são abordados.
Figura 1 - Atividade de turismo rural pedagógico em
trilha.
Fonte: Acolhida na Colônia
A compreensão da realidade não se dá apenas pela
observação do ambiente e pelas informações recebidas,
mas através dos mais diversos sentidos, quando os alunos
são incitados a sentir o frescor, a umidade do ar, os
odores, aromas e texturas.
Estimulados pelos professores, que devem ser os
mediadores do processo, os alunos vão confrontando a
realidade rural com aquela vivenciada nos centros
urbanos, estabelecendo - através de indagações e
curiosidades - as conexões entre a teoria e a experiência
vivenciada, num processo de construção do
conhecimento. É importante ressaltar o papel do
professor neste processo, já que ao agricultor cabe
desenvolver os temas através do seu saber fazer e
conhecimento empíricos. Portanto, é do professor a tarefa
de problematizar para que os alunos possam transformar
as observações em conhecimento científico.
Para complementar as observações realizadas
durante a caminhada, alguns agricultores optam por
desenvolver atividades com apoio de materiais
pedagógicos, geralmente jogos e brincadeiras elaboradas
nas propriedades, trabalhando determinados temas de
forma lúdica e divertidas (Figura 2).
Figura 2 – Crianças em atividade pedagógica.
Fonte: Acolhida na Colônia.
Dando continuidade à visão interdisciplinar e
transversal das temáticas trabalhadas nas propriedades,
outro exemplo de atividade desenvolvida é a de plantio de
hortaliças (Figura 3). Enquanto as crianças colocam às
mãos na terra, o agricultor que conduz a atividade leva os
alunos a refletirem sobre as diferenças entre produção
convencional e orgânica dos alimentos, desde o preparo
do solo, adubos e produtos utilizados, até os cuidados
com as plantas e a qualidade do que é produzido.
Discutem sobre a produção familiar, relacionando-a e
comparando-a a produção convencional, uniformizada e
em grande escala, voltada às commoditiesiii, como por
exemplo, soja, milho, trigo. Além das diferenças na forma
de produzir, os alunos são levados a refletir sobre as
diferenças do ponto de vista ambiental, social e de
segurança alimentar e nutricional destas duas formas de
fazer agricultura.
Figura 3 – Atividade de plantio. Fonte: Acolhida
na Colônia.
A dimensão ambiental é observada através da
produção diversificada desenvolvida nas propriedades
familiares, que resulta num maior equilíbrio do
ecossistema (ALTIERI, 1999), se comparada à paisagem
de reflorestamento com espécies exóticas, que coexiste de
forma bastante proeminente na região das Encostas da
Serra Geral. A produção orgânica e a sustentabilidade,
enquanto diferenciais e princípios da Acolhida na
Colônia, são temas abordados com frequência nas
atividades pedagógicas propostas.
Do ponto de vista do processo ensino-
aprendizagem, o turismo pedagógico através das
vivências nas propriedades agrícolas permite aos alunos
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estabelecer as relações entre as realidades rural e urbana.
As reflexões propostas pelos associados da Acolhida na
Colônia buscam trabalhar o reconhecimento da
agricultura familiar, não apenas na produção de alimentos
em si, mas na garantia de produtos de qualidade e
comprometidos com o meio ambiente, assim como, o bem
estar de quem consome e de quem produz.
Sobre a amplitude do aprendizado, cabe ressaltar
que o mesmo vai além dos temas abordados. A
importância destes atores que vivem e constroem a
história da região é percebida na forma de acolhimento,
conforme o depoimento de uma professora que participou
da ação de divulgação do turismo pedagógico, realizado
pela Acolhida na Colônia, através de um famtouriv, e no
qual ela diz: “Houve acolhimento, afeto no que faziam e o que aprendi foi muito mais do que sobre cavalos ou culinária orgânica tradicional. Aprendi que encontramos em nós meios de transformar o que não está bom e devolver ao mundo algo bem melhor” (Professora 1).
Com relação à percepção dos alunos sobre o
espaço rural em si, outra professora acompanhando seus
alunos fez a seguinte avaliação: “A vivência no meio rural foi fundamental para realizarmos uma reflexão sobre os esteriótipos acerca do homem do campo, bem como para a aprendizagem do valor de suas atividades na vida de cada criança” (Professora 2). Cabe, portanto,
destacar que a proposta de trabalho da Acolhida na
Colônia promove a reflexão dos alunos sobre sua prática
social, enquanto sujeitos da sociedade.
3.3 O turismo pedagógico sobre o ponto de vista
do espaço rural
O turismo pedagógico desenvolvido nas
propriedades agrícolas familiares, como é o caso da
Acolhida na Colônia, vem ao encontro de uma abordagem
bastante difundida na atualidade, que é a
multifuncionalidade da agricultura. Esta abordagem surge
para repensar o papel da agricultura e a sua relação com
outros componentes da sociedade, examinando o aspecto
multidimensional das atividades humanas e o que elas
trazem para o desenvolvimento social e econômico.
Partindo desta premissa, a agricultura deixa de ser
compreendida apenas como produtora de bens
agropecuários e assume outras funções como a
conservação dos recursos naturais (água, solo,
biodiversidade, etc.), do patrimônio cultural e natural
(paisagens) e da qualidade dos alimentos.
A discussão sobre multifuncionalidade da
agricultura deve, entretanto, incorporar a complexidade
do espaço rural, formado por diversas formas de fazer
agricultura, pela diversificação de atividades e de atores
onde a relação rural/urbano, a expansão das oportunidades
de trabalho para além da agricultura, a preservação
ambiental e a valorização do rural como espaço de vida e
de lazer são elementos fundamentais (CAZELLA e
MATTEI, 2002).
O turismo pedagógico, assim como o próprio
agroturismo, são ferramentas através das quais esta
multifuncionalidade se concretiza na região. Entretanto, é
importante ressaltar que funções como preservação e
valorização dos recursos naturais, formação do olhar
interpretativo da paisagem, produção agroecológica e
espaço de vida e lazer, afetam direta e indiretamente
outras funções, disputando o uso do espaço.
Esse fenômeno não ocorre sem conflitos, no caso
das Encostas da Serra Geral. Por exemplo, os agricultores
vinculados à Acolhida na Colônia e AGRECO, que têm
um trabalho focado na sustentabilidade e no
desenvolvimento, não compartilham da visão de
crescimento econômico de outros atores igualmente
presentes e influentes.
Assim, a possibilidade de vivenciar o que é
realizado nas propriedades da Acolhida na Colônia tem
como resultado significativo, a conscientização de turistas
e alunos. O caráter pedagógico incorporado naturalmente
pelos associados transforma o agroturismo em uma
ferramenta de divulgação e difusão das ideologias
pautadas na agricultura orgânica e familiar.
Outro resultado do turismo pedagógico é a
possibilidade de melhoria de renda das famílias. Além de
oferecer a alimentação e a hospedagem, os agricultores
também são remunerados pelas atividades pedagógicas
realizadas, expandindo os serviços oferecidos. Sob este
ponto de vista, o turismo pedagógico também foi proposto
para ampliar a taxa de ocupação das propriedades, pois as
escolas usufruem destas estruturas durante a semana,
período pouco procurado pelos turistas.
Para finalizar, o turismo pedagógico também vem
se mostrando responsável por envolver alguns jovens
agricultores, tornado-se uma alternativa a mais de mantê-
los no campo. Este é um resultado, que embora tímido, é
importante já que o envelhecimento, assim como, a
masculinização no campo tem sido um problema
recorrente nas zonas rurais.
Sobre o assunto, Stropasola (2011 p. 27) coloca
que, “as renovadas funções demandadas pela sociedade às
famílias rurais – entre as quais a produção de alimentos de
qualidade; a preservação dos recursos ambientais e do
patrimônio histórico e cultural rural; a
agroindustrialização em unidades familiares; o turismo
rural, etc – podem se constituir em alicerces para o
fortalecimento das comunidades, contrapondo-se à
tendência de masculinização e envelhecimento da
população rural verificada em muitas localidades”, sendo
estas, escolhas sociais para definir o sentido do
desenvolvimento destas localidades.
O desenvolvimento de atividades que despertem o
interesse dos jovens, como o caso do turismo pedagógico,
faz parte das estratégias para manter os jovens ocupados,
remunerados, valorizados e interessados pelas atividades
desenvolvidas no meio rural, ajudando a fortalecer a
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agricultura familiar, por meio da consolidação desses
jovens no campo.
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
A Acolhida na Colônia a partir do momento que
planejou atividades pedagógicas nas propriedades rurais,
preparando e instrumentalizando os agricultores para esta
atividade, sentiu a necessidade de realizar um teste piloto
para avaliar e divulgar as possibilidades de integração
entre o turismo rural e a prática docente.
Através do Projeto "Desenvolvimento de
Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da
Acolhida na Colônia", Convênio 736532/2010 firmado
entre a Associação e o Ministério do Turismo, foi
realizado durante o ano de 2011 uma fase experimental
da proposta. Desta forma alunos, professores,
coordenadores pedagógicos, diretores e nutricionistas de
escolas públicas dos municípios Santa Rosa de Lima,
Anitápolis e Urubici foram convidados para visitarem as
propriedades envolvidas no projeto pedagógico, e
vivenciarem algumas experiências e atividades.
Participaram desta ação 63 turmas de primeira à quinta
série do ensino básico de 11 escolas públicas. As escolas
foram escolhidas pela proximidade dos roteiros
municipais da Acolhida na Colônia, já que a proposta
visava que as crianças passassem apenas o dia nas
propriedades rurais.
No total foram 609 alunos e 77 profissionais de
ensino a visitarem as propriedades rurais, onde foram
recebidos pelas famílias agricultoras que lhes ofereceram
refeições com produtos cultivados e preparados na
propriedade, assim como, com as atividades pedagógicas.
Caminhadas, trilhas, atividades de plantio e com os
animais foram as formas escolhidas para mostrar e
abordar assuntos a cerca da produção agrícola e de sua
relação com a preservação ambiental. A presença de
nutricionistas em alguns grupos ajudou a reforçar as
explicações abordadas pelos agricultores sobre segurança
alimentar e nutricional, aproximando os assuntos
abordados na saída de campo com aqueles de sala de aula.
Após a realização das atividades, alunos e
profissionais do ensino responderam um questionário de
avaliação através de alguns indicadores, cujos resultados
quantitativos estão apresentados na tabela 1 e 2. A tabela
1 reflete a percepção dos profissionais de ensino,
enquanto a tabela 2 a percepção dos alunos.
Indicadores Ótimo Bom Regular Ruim
Atendimento 69 8
Infraestrutura 48 28 1
Material de
apoio lúdico-
pedagógico
45 31 1
Didática do (a)
agricultor (a)
57 20
Inter-relação 65 12
agricultores e
Alunos
Conhecimento
sociocultural
transmitido
56 21
Refeições 65 11 1
Tabela 01: Avaliação dos Profissionais
Fonte: Relatório do Projeto "Desenvolvimento de
Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da
Acolhida na Colônia". Convênio 736532/2010 com
Ministério do Turismo, 2011.
Quando os profissionais responderam aos
questionários (por escrito), foram unânimes em afirmar a
importância das atividades pedagógicas e lúdico-
pedagógicas para a qualidade das vivências. Através de
uma questão aberta, justificaram esta afirmação,
elencando diversos motivos que se repetiram com maior
ou menor freqüência na opinião dos entrevistados
(repetições colocadas entre parênteses), entre elas: a
oportunidade de trabalhar com a realidade das crianças,
despertando interesse e curiosidade (3); a interação das
crianças com o meio rural e com o agricultor (13); a
oportunidade de vivenciar (15); o modo de vida rural e a
preocupação com o meio ambiente (9); a produção
orgânico como elemento diferenciador (7); a
metodologia e as estratégias utilizadas pelos agricultores
auxiliam nas atividades em sala; a possibilidade de
mostrar na prática o que acontece na natureza (11);
permite diálogo sobre o conhecimento (8); permite a
construção do conhecimento através da experiência
vivenciada no rural (4); contato com a natureza (5);
permite a interação com os animais (3); respeito aos
animais; permite conhecer a história (13).
Percebe-se que na opinião e parecer dos
profissionais de ensino, os indicadores foram avaliados
positivamente, dando-se destaque para o atendimento e
didática dos agricultores. Neste sentido, é possível
afirmar que a proposta pedagógica da Acolhida na
Colônia alcança o objetivo proposto de, através do
diálogo, da transmissão do conhecimento empírico e das
interações socioculturais contribuir para o processo
ensino e aprendizagem..
Os alunos também fizeram avaliação da
experiência nas propriedades rurais, respondendo
oralmente, aos seguintes indicadores: atendimento;
atividades pedagógicas; inter-relação entre
agricultores/alunos; refeições. Os resultados
quantitativos encontram-se na tabela 2.
Indicadores Ótim
o
Bom Regul
ar
Ruim Não
res
Atendimento 562 47
Material de
apoio lúdico
pedagógico
417 82 110
Inter-relação
agricultores/
alunos
527 72 10
Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço
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D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052
Refeições 554 41 14
Tabela 02: Avaliação dos alunos
Fonte: Relatório do Projeto "Desenvolvimento de
Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da
Acolhida na Colônia". Convênio 736532/2010 com
Ministério do Turismo, 2011.
Quando questionados sobre o que gostaram durante
o dia na “Acolhida na Colônia”, os alunos responderam
entre outros: as atividades de plantio na horta; explicação
sobre polinização; explicações sobre os animais e contato
com os mesmos; visualização/observação do engenho;
passeio de trator. Entretanto, dentre os pontos fortes das
atividades propostas, as respostas que apareceram com
maior frequência incluíram: o contato com os animais,
explicações sobre a preservação da natureza;
brincadeiras (na verdade eram atividades lúdico-
pedagógicas); produção orgânica; visita à cachoeira; e
por fim a própria saída da sala de aula e a realização de
uma atividade/aula diferente.
5. CONCLUSÕES
As crises que se sucederam em torno da produção
agrícola e pecuária tiveram muitas consequências
negativas do ponto de vista ambiental e social. A
necessidade de repensar o desenvolvimento rural, somada
às demandas provenientes do mundo urbano, suscitaram
novas perspectivas, resultando em uma tendência inversa
e um crescente interesse de retorno ao rural.
Dentre as atividades propostas no sentido de
revitalização e uso diferenciado dos espaços rurais, surge
o turismo. Das modalidades de turismo no espaço rural, o
agroturismo é aquela que se apresenta como estratégia de
complementação da renda, procurando não comprometer
as atividades produtivas tradicionais, mas procurando
valorizá-las e promovê-las.
O turismo pedagógico surge no sentido de
aumentar o valor agregado a esta proposta, e no caso da
Acolhida na Colônia, atende a dois interesses, o das
escolas e aqueles próprios do território. Do pondo de vista
das escolas, esta experiência visa oferecer à comunidade
escolar a possibilidade de realizar projetos de ensino-
aprendizagem que possibilitem integrar de forma
interdisciplinar e multidisciplinar um conjunto de
conceitos e/ou conteúdos. Como pontua Braun (2005), a
proposta procura romper com o caráter descritivo do
trabalho de campo e enfatiza a presença de objetivos
sociais nessa prática educativa.
A saída da sala da aula, através do contato com a
área rural e acolhimento nas propriedades, proporciona
aos alunos a experiência de viajar, entrar em relação com
um espaço diferente daquele do cotidiano. Leva-se em
consideração o princípio de que qualquer modalidade de
interação social, quando integrada num contexto voltado
para aprendizagem, pode ser utilizada numa situação
pedagógica, porque é nas interações sociais que se
processa a construção do conhecimento.
Neste sentido, a observação ocupa lugar de
destaque, segundo Cavalcanti (1998) “ligada a funções
psíquicas de um plano mais sensorial, a observação é
fundamental para produzir motivações, com base na
problematização do real observado e, consequentemente,
possibilitar a construção do conhecimento”.
Vindo ao encontro desta prática alternativa de
ensino que é o trabalho de campo, a proposta de turismo
rural pedagógico se destaca pela autenticidade na
disseminação do conhecimento, garantida através: a) do
atendimento familiar personalizado e informal que está
imbuído de uma valorização social que o qualifica; b) do
comprometimento dos agricultores com os recursos
naturais da região; c) da valorização dos recursos técnicos
e patrimoniais que abrangem desde os processos e
instrumentos de trabalho alocados no sistema de produção
orgânica, na adequação das estruturas existentes
(aproveitamento de antigas estufas e paióis), valorização
de rodas d’água, engenhos e costumes (culinária, língua,
etc.).
Do ponto de vista da paisagem e do território, o
turismo pedagógico se propõe a contribuir para a
conscientização dos alunos com relação ao que vem sendo
construído pelos associados e seus parceiros regionais. O
objetivo é que este conhecimento seja discutido em sala
de aula e disseminado pelos alunos, já que o trabalho de
campo deve servir como um motivador e um
complemento aos assuntos abordados pelos professores
nas escolas.
Além da conscientização, vale ressaltar que a
manutenção desta agricultura familiar viva, comprometida
com o ambiente e com a qualidade dos alimentos, passa
também pela melhoria das condições de vida, que podem
ser garantidas em parte pela renda do agroturismo e do
turismo pedagógico, assim como, do envolvimento dos
jovens.
Os desafios deste tipo de iniciativa não são poucos.
Além do envolvimento dos agricultores, é preciso difundir
a proposta entre as escolas, romper com resistências e
preconceitos de professores e alunos com relação ao
espaço rural e, sobretudo, é preciso contar com o apoio de
políticas públicas e planejamento prévio, para garantir que
estas alternativas produtivas resultem na manutenção do
homem no campo, com uma qualidade de vida que
justifique sua permanência.
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STROPASOLA, V.L. Os desafios da sucessão
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–n 1. Março de 2011
i Pluriatividade refere-se à unidade produtiva
multidimensional, onde se pratica a agricultura e outras
atividades, tanto dentro como fora da propriedade, pelas
quais são recebidos diferentes tipos de remuneração e
receitas como rendimentos, rendas em espécie e
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Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000
D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052
ii Multifuncionalidade é uma noção recente e visa
ampliar o campo das funções sociais atribuídas à
agricultura, que deixa de ser entendida apenas como
produtora de bens agropecuários e assume funções como
a conservação dos recursos naturais (água, solo,
biodiversidade, etc.), do patrimônio cultural e natural
(paisagens), e da qualidade dos alimentos (GELBCKE,
2006).
iii Commoditie: significa mercadoria em inglês, sendo
representada, sobretudo por minérios e gêneros agrícolas,
que são produzidos em larga escala e comercializados
em nível mundial.
iv A palavra famtour, deriva da expressão em inglês
“familiarization tour” e significa passeio de familização.
O termo é constantemente utilizado pelos profissionais
de turismo para denominar os tours feitos por grupos de
agentes de viagens e outros interessados para conhecer
cidades e seus maiores atrativos.