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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. - D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN TURISMO RURAL PEDAGÓGICO: UMA FUNÇÃO ALTERNATIVA PARA O ESPAÇO RURAL DANIELE LIMA GELBCKE ROSANI LIDIA FINGER Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Programa de Pós Graduação em Geografia [email protected] [email protected] RESUMO - O turismo rural ou Turismo Rural na Agricultura Familiar cresce nos últimos anos tanto em decorrência das transformações do mercado turístico, como da crise do rural, em função das quais novas perspectivas se configuram. A necessidade de repensar o desenvolvimento rural, principalmente nas médias e pequenas propriedades, levou as alternativas no sentido de aproveitar as potencialidades do rural enquanto espaço social e econômico, de diversificar as atividades, gerar emprego e renda, e valorizar os recursos naturais, legitimando formas de agricultura diferentes daquelas do modelo dominante. Novas atividades e usos dos espaços rurais se delineiam, como os de lazer, turismo, moradia e produção de produtos agroecológicos. Neste contexto sócio espacial, a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia localizada no Estado de Santa Catarina BRA se constitui como experiência e oportunidade estratégica de desenvolvimento rural e construção social, permeada pela relação rural/urbano. No âmbito do turismo em propriedades rurais, o turismo rural pedagógico se constituiu em uma estratégia de conscientização e fortalecimento da agricultura familiar, e ao mesmo tempo se mostra como uma metodologia alternativa para a educação básica por trabalhar conceitos e conteúdos, através de atividades interdisciplinares e o tema transversal meio ambiente. Destaca-se a observação, leitura e interpretação das paisagens para a compreensão do espaço geográfico. Palavras chave: Agroturismo; Turismo Rural Pedagógico; Acolhida na Colônia; Desenvolvimento Rural. ABSTRACT - The rural tourism or Rural Tourism in Family Agriculture is growing in recent years due to changes in the tourism market and the crisis of rural market, thus setting up new perspectives. The need about rethinking the rural development, especially in medium and small properties, led to seek alternatives in order to take advantage of the potential of the rural market as a social and economic space, diversify activities, generate employment and income, and enhance natural resources, legitimating agriculture forms, different from the dominant model. New activities and uses of rural areas are delineated, such as leisure, tourism, habitation and the production of agroecological products. In this socio-spatial context, the Agritourism Association “Welcomed in the Colony” in the State of Santa Catarina Brazil, constitutes an experience and strategic opportunity for rural development and social construction, permeated by the relations rural / urban. In the context of tourism in rural properties, pedagogical rural tourism has become strategy awareness and strengthening of family agriculture, and at the same time shows itself as an alternative methodology for basic education, by working concepts and content through interdisciplinary activities and the environment transversal theme. It is emphasized the observation, reading and interpretation of landscapes for understanding the geographic space. Keywords: Agritourism, Pedagogic Rural Tourism; Welcomed in the Colony; Rural Development.

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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em

Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. 272-283

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

TURISMO RURAL PEDAGÓGICO: UMA FUNÇÃO

ALTERNATIVA PARA O ESPAÇO RURAL

DANIELE LIMA GELBCKE

ROSANI LIDIA FINGER

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Programa de Pós Graduação em Geografia

[email protected]

[email protected]

RESUMO - O turismo rural ou Turismo Rural na Agricultura Familiar cresce nos últimos anos tanto em

decorrência das transformações do mercado turístico, como da crise do rural, em função das quais novas

perspectivas se configuram. A necessidade de repensar o desenvolvimento rural, principalmente nas

médias e pequenas propriedades, levou as alternativas no sentido de aproveitar as potencialidades do rural

enquanto espaço social e econômico, de diversificar as atividades, gerar emprego e renda, e valorizar os

recursos naturais, legitimando formas de agricultura diferentes daquelas do modelo dominante. Novas

atividades e usos dos espaços rurais se delineiam, como os de lazer, turismo, moradia e produção de

produtos agroecológicos. Neste contexto sócio espacial, a Associação de Agroturismo Acolhida na

Colônia localizada no Estado de Santa Catarina – BRA se constitui como experiência e oportunidade

estratégica de desenvolvimento rural e construção social, permeada pela relação rural/urbano. No âmbito

do turismo em propriedades rurais, o turismo rural pedagógico se constituiu em uma estratégia de

conscientização e fortalecimento da agricultura familiar, e ao mesmo tempo se mostra como uma

metodologia alternativa para a educação básica por trabalhar conceitos e conteúdos, através de atividades

interdisciplinares e o tema transversal meio ambiente. Destaca-se a observação, leitura e interpretação das

paisagens para a compreensão do espaço geográfico.

Palavras chave: Agroturismo; Turismo Rural Pedagógico; Acolhida na Colônia;

Desenvolvimento Rural.

ABSTRACT - The rural tourism or Rural Tourism in Family Agriculture is growing in recent years due to

changes in the tourism market and the crisis of rural market, thus setting up new perspectives. The need

about rethinking the rural development, especially in medium and small properties, led to seek

alternatives in order to take advantage of the potential of the rural market as a social and economic space,

diversify activities, generate employment and income, and enhance natural resources, legitimating

agriculture forms, different from the dominant model. New activities and uses of rural areas are

delineated, such as leisure, tourism, habitation and the production of agroecological products. In this

socio-spatial context, the Agritourism Association “Welcomed in the Colony” in the State of Santa

Catarina – Brazil, constitutes an experience and strategic opportunity for rural development and social

construction, permeated by the relations rural / urban. In the context of tourism in rural properties,

pedagogical rural tourism has become strategy awareness and strengthening of family agriculture, and at

the same time shows itself as an alternative methodology for basic education, by working concepts and

content through interdisciplinary activities and the environment transversal theme. It is emphasized the

observation, reading and interpretation of landscapes for understanding the geographic space.

Keywords: Agritourism, Pedagogic Rural Tourism; Welcomed in the Colony; Rural Development.

Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço

Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

1 INTRODUÇÃO

O turismo em espaços rurais enquanto atividade

econômica é relativamente recente, e se deve a dois

motivos principais: às transformações do mercado

turístico, que entre outros, buscou expandir a atividade

para vários espaços e diversificar a oferta e, à crise do

rural, em função da qual a atividade turística surge como

estratégia de desenvolvimento.

Hoje consolidado e em expansão, o turismo nos

espaços rurais diversifica suas ofertas e motivações,

criando um conjunto de novas modalidades, das quais,

destacaremos o agroturismo ou TRAF (Turismo Rural na

Agricultura Familiar). No Brasil, assim como em outros

países, esta atividade vem sendo difundida entre os

agricultores como alternativa de renda e estratégia de

valorização da agricultura familiar.

Das experiências brasileiras, o artigo se propõe a

discutir a experiência da “Associação de Agroturismo

Acolhida na Colônia”, inserida na rede internacional

“Accueil Paysan”, presente hoje em mais de 30 países do

mundo.

Dentre os diversos trabalhos que a Acolhida na

Colônia vem desenvolvendo para dinamizar o turismo nas

propriedades rurais, destacaremos o turismo pedagógico,

que aproxima os objetivos da associação àqueles das

escolas. Através de saídas de campo, alunos e professores

vivenciam a realidade das propriedades rurais, utilizando-

se destas vivências como ferramenta do processo ensino-

aprendizagem. Vale ressaltar que o espaço rural é um

campo riquíssimo, pois confronta os alunos com uma

realidade diferente daquela encontrada nos centros

urbanos, realidade esta percebida e analisada através da

paisagem rural.

O presente artigo tem por objetivo, analisar o papel

do turismo rural no processo ensino-aprendizagem,

através da superação da tradição didática de sala de aula,

que trabalha a memorização de conteúdos em detrimento

da construção coletiva do conhecimento, e também, o

significado que esta aproximação com as escolas

representa para a agricultura familiar e o espaço rural.

2. TURISMO E DESENVOLVIMENTO

RURAL

Os espaços rurais por muito tempo tiveram suas

atividades econômicas voltadas basicamente para a

produção agrícola e pecuária, entretanto, o rural está em

constante transformação e acompanha as mudanças

socioeconômicas do global ao local, sendo o processo de

modernização da agricultura o melhor exemplo.

Este processo a que foram submetidas as

atividades agrícolas, se caracterizou, apesar das

peculiaridades de cada lugar, pelo uso intensivo de capital

na agricultura sob a forma de pacote tecnológico

(motomecanização, uso de insumos químicos, utilização

de sementes melhoradas, etc.), pela integração às

indústrias, a especialização da produção agrícola, entre

outros (GELBCKE, 2006).

Segundo diferentes condicionantes, a integração

dos territórios e dos agricultores à modernização se deu

de forma mais ou menos intensa. “À margem do processo

ficaram as pequenas e médias empresas e as unidades

artesanais de produção de bens e serviços, dispersas

territorialmente; as regiões menos dotadas em fatores de

produção, menos centrais e menos acessíveis e equipadas,

acentuando-se consequentemente as desigualdades e as

oportunidades territoriais, os desequilíbrios espaciais, o

abandono de recursos locais, a desertificação humana, os

problemas de preservação ambiental e paisagística e o

sentido de incerteza quanto ao futuro destes espaços e das

suas populações, na ausência de perspectivas de

desenvolvimento a curto e médio prazo” (CAVACO,

1996, p. 95).

Seja nos países desenvolvidos ou no Brasil,

independente da escala de modernização, os impactos

negativos foram importantes tanto no campo econômico

como no social, espacial e ambiental, despertando nas

sociedades, em geral, a necessidade de repensar o

desenvolvimento rural. As consequências do processo

despertaram discussões à cerca de quais alternativas

poderiam ser pensadas e desenvolvidas no sentido de

aproveitar as potencialidades do rural enquanto espaço

social e econômico, legitimando formas de agricultura

que não se enquadram no modelo dominante, mas que

através de diferentes estratégias, lutam para superar

dificuldades e se reproduzir (GELBCKE, 2006).

Para a autora, surge daí um novo modo de pensar o

desenvolvimento rural, alicerçado em: mobilização de

recursos disponíveis e endógenos; envolvimento de atores

locais na busca de soluções para as necessidades das

comunidades; diversificação de atividades; valorização do

saber-fazer e das riquezas socioculturais das regiões;

valorização e preservação dos recursos naturais; criação

de emprego e renda, entre outros.

Desta forma, desde a década de 1970, sobretudo na

Europa, as políticas públicas voltadas aos espaços rurais

passaram a focar não apenas no setor agropecuário, mas

na integração com outros segmentos produtivos. Neste

sentido, Silva (2001, p.62-63) coloca que “as novas

iniciativas se destinam a estimular modificações nos

sistemas produtivos e na estrutura dos mercados, apoiar a

urbanização para primeira e segunda residência, fomentar

a industrialização em zonas rurais - vinculadas aos

complexos agroindustriais ou à economia agroalimentar -

e a incentivar o turismo rural em todas as suas expressões

(agroturismo, turismo ambiental, turismo de aventura,

esportes radicais, esportes de inverno, etc.)”. É assim que

surge o incentivo ao turismo rural enquanto dinamizador

dos espaços rurais, gerador de emprego e renda para as

populações locais, e que acabou inspirando outros países,

entre eles o Brasil.

Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço

Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

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As ações em prol do desenvolvimento rural vieram

associadas a uma dinâmica própria dos espaços rurais

onde, a pluriatividadei dos agricultores e a

multifuncionalidadeii vêm ao encontro das novas

demandas da sociedade, principalmente as de origem

urbana. Diante deste contexto, se percebe o aparecimento

de uma série de novas atividades e usos dos espaços

rurais, entre eles, os de lazer, turismo e moradia.

É importante ressaltar que estas demandas também

são consequência de uma mudança no padrão de

consumo. O modelo de massificação do turismo inspirado

na produção industrial, que gerou produtos padronizados,

simplificados, concentrados em polos turísticos,

acessíveis a um grande número de pessoas, mas pouco

individualizados, passou a ser criticado por uma parcela

da população.

O novo comportamento, focado na

sustentabilidade ambiental e social dos destinos turísticos,

resulta em estratégias diferenciadas do setor, cujo

discurso volta-se para o atendimento personalizado, o

fornecimento de equipamentos e serviços especializados,

a proposta de espaços diferenciados e o comprometimento

com a sustentabilidade ambiental. Este discurso reforça a

procura por espaços onde a natureza encontra-se menos

modificada, entre eles, o rural.

Neste cenário, cabe ressaltar que o turismo rural

foge em parte aos padrões da hotelaria, oferecendo um

clima de informalidade e familiaridade. De acordo com

Cavaco, (1996, p. 111), “o contato com a natureza e a

cultura local funciona como uma fuga para os turistas, que

desejam sair de suas realidades estressantes da vida

cotidiana urbana, motivados por uma opção de lazer,

proporcionando a interação com o modus vivendi rural, incorporando elementos carregados da simplicidade

peculiar deste meio inseridos em um contexto de

paisagem cênica, remetendo o indivíduo a exercer um

olhar contemplativo”.

Segundo Gelbcke (2006), o desenvolvimento do

turismo em espaços rurais é facilitado por uma relação já

existente entre o rural e o urbano, mantida por uma

população de origem rural que habita os centros urbanos

e, reforçada pela urbanização das grandes cidades e as

consequências dela advindas, tais como: poluição (visual,

sonora e atmosférica), insegurança, trânsito, tensões e

principalmente uma crescente impessoalidade.

2.1 Turismo nos espaços rurais e agroturismo

Apesar das diversas experiências, interesses e

contextos em que estão inseridas as experiências de

Turismo no Espaço Rural (TER), existe um discurso

generalizado sobre o desenvolvimento de um turismo

sustentável e de base local, que venha ao encontro das

estratégias de desenvolvimento rural através da sua

valorização. Neste contexto surge o termo agroturismo

como parte integrante do TER, mas que se diferencia pela

ligação mais estreita com a agricultura, sobretudo a de

base familiar.

Mesmo não havendo um conceito único de

agroturismo, noções e princípios norteiam as experiências

em diversos países. A título de exemplo, o agroturismo na

Itália, França e Alemanha é uma modalidade restrita às

propriedades agrícolas familiares e produtivas, já nos

EUA, pode ser desenvolvido em qualquer

empreendimento rural. Essas noções são causa e efeito de

políticas e programas de apoio ao TER, e estão

diretamente relacionadas ao modelo de desenvolvimento

econômico adotado em cada país, tendo consequências

importantes sobre a interação do turismo com a

agricultura e com as comunidades locais.

No Brasil, a discussão sobre os rumos do turismo

rural se inicia em 1998 durante o CITURDS (Congresso

Internacional de Turismo Rural e Desenvolvimento

Sustentável), realizado em Santa Maria – RS. A discussão

se estende através de encontros e reuniões entre entidades

públicas, privadas e setores organizados até 2003, quando

é finalmente elaborado o documento “Diretrizes para o

Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil”,

incorporado na Política Nacional de Turismo. Este

documento define as diretrizes e estratégias para o

desenvolvimento da atividade no país.

Embora tenha incorporado o turismo rural na

Política Nacional de Turismo, o Ministério do Turismo o

faz de forma bem abrangente quanto ao público

beneficiado, ficando explícito que as diretrizes

contemplarão tanto o Turismo Rural como o Agroturismo.

Quem acaba diferenciando o publico beneficiário é o

Ministério do Desenvolvimento Agrário que cria o termo

“TRAF” – Turismo Rural na Agricultura Familiar e o

define como “a atividade turística que ocorre no âmbito

da propriedade dos agricultores familiares que mantém as

atividades econômicas típicas da agricultura familiar,

dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo

de vida, o patrimônio cultural e natural, ofertando

produtos e serviços de qualidade e proporcionando bem

estar aos envolvidos” (MDA 2006, p.4).

Desta forma, o agroturismo no Brasil é

conceituado como Turismo Rural na Agricultura Familiar

para distingui-lo de qualquer outra modalidade de turismo

desenvolvida no espaço rural e, garantir que os

beneficiários das políticas públicas voltadas ao setor

sejam os agricultores familiares.

2.2 Da crise na agricultura à Associação de

Agroturismo Acolhida na Colônia

A Acolhida na Colônia é uma organização

de agricultores familiares do Estado de Santa Catarina,

que assim como em outras experiências de agroturismo,

surge como oportunidade e estratégia de desenvolvimento

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rural, e deve ser compreendida como parte do processo de

construção social do espaço rural em que está inserida.

Esta construção social é em parte, reflexo das mudanças

ocorridas na agricultura brasileira e, mais recentemente,

do surgimento da AGRECO - Associação dos

Agricultores Agroecológicos das Encostas da Serra Geral,

cuja intervenção é permeada por uma forte relação rural-

urbano.

O território onde surge esta experiência está

localizado no sul do Estado de Santa Catarina – Brasil.

Conhecido como Encostas da Serra Geral, é considerado

um corredor ecológico por estar situado entre o Parque

Estadual da Serra do Tabuleiro e o Parque Nacional de

São Joaquim. A agricultura de subsistência, que atendeu

as necessidades de reprodução familiar através do

consumo e venda de excedentes foi a base da economia da

região até a década de 1960. Após esse período, as

mudanças decorrentes do processo de modernização da

agricultura que atingiu o Brasil, também tiveram reflexos

na agricultura e no modo de vida tradicional da região.

Um processo de crise se instaurou, motivado

principalmente pela redução do mercado e do preço do

porco Macau, principal produto comercializável nesta

época (MULLER, 2001).

A primeira alternativa frente à crise do porco foi a

comercialização do excedente da produção (vegetal e

animal), sendo que algumas culturas antes produzidas

apenas para subsistência como a mandioca, o feijão e o

leite, passam a ser intensificadas para fins comerciais.

Mas é na produção de carvão e principalmente na

fumicultura, através da integração às agroindústrias

fumageiras, que os agricultores encontraram uma “saída”

para a crise.

Esta alternativa, que se tornou a principal fonte de

renda da maioria das famílias, promoveu mudanças

importantes tanto na base técnica e produtiva, como na

forma de organizar o trabalho. “A grande exigência em

mão de obra na cultura do fumo levou muitos agricultores

a abandonarem suas hortas, pomares e lavouras de

subsistências, criando uma dependência do mercado,

quanto aos produtos de subsistência” (GELBCKE, 2006).

Em meados dos anos 1990, o sistema começa

novamente a expressar sinais de estagnação e crise. A

produção crescente de fumo e a maior exigência na

classificação do mesmo levaram a uma queda no preço do

produto. A perda da renda e do poder aquisitivo dos

agricultores familiares levou-os ao dilema de

abandonarem a terra ou de encontrarem alternativas de

reprodução econômica. Surge a partir daí um novo

período de mudanças, principalmente no município de

Santa Rosa de Lima, onde nasce a primeira iniciativa. É

importante ressaltar que esta já surge a partir de uma

relação entre o meio rural e urbano, ou seja, entre pessoas

do lugar e outras naturais da região que moravam em

centros urbanos maiores.

Assim, a primeira proposta efetiva foi apresentada

por um supermercadista de Florianópolis (natural de

Santa Rosa de Lima), que após uma viagem à Europa e

Estados Unidos, viu na produção de base ecológica uma

nova oportunidade de mercado. Mobilizando um pequeno

número de agricultores no início, os esforços centraram-se

na produção de verduras sem o uso de agrotóxicos e

adubos químicos. A adesão de outras famílias se deu de

forma tímida, entretanto, o objetivo era ampliar esse

quadro e trabalhar com uma proposta que possibilitasse o

desenvolvimento não apenas do município, mas de toda a

região.

A partir do envolvimento efetivo de doze famílias,

foi fundada em 1996, a Associação dos Agricultores

Agroecológicos das Encostas da Serra Geral (AGRECO).

O número de associados foi se ampliando, a associação

foi ganhando visibilidade e conquistando novos

municípios da região, assim como, estabelecendo novos

apoios. Assim, se em 1998 a AGRECO contava com mais

de duzentos associados, este número de elevou para

aproximadamente quinhentos em dezembro de 1999,

envolvendo mais de 200 famílias de agricultores

pertencentes a vários municípios da região. É importante

ressaltar, entretanto, que, “o crescimento numérico e

espacial foi condicionado à implementação do Projeto

Intermunicipal de Agroindústrias Modulares em Rede,

com financiamento do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)”

(SCHMIDT et al, 2002 p.86).

A AGRECO passou por conflitos e desafios que

não cabe a este artigo analisar, mas apresentá-los é

fundamental para contextualizar sua importância nas

discussões e ações em prol do desenvolvimento daquele

território e sua relação com o agroturismo. Foi em função

da visibilidade do trabalho efetuado pela AGRECO e

parceiros, que a região passou a ser constantemente

visitada por consumidores dos produtos orgânicos,

agricultores, técnicos e estudantes que buscavam

conhecer a experiência. Não tendo onde se hospedar em

função da pequena infraestrutura hoteleira dos

municípios, os visitantes eram recebidos nas casas dos

agricultores.

Como a discussão entre os atores envolvidos já

focava no fomento de atividades agrícolas e não agrícolas

que pudessem contribuir para o desenvolvimento

sustentável do território, o turismo surge como uma

oportunidade. Através de uma parceria com o Centro de

Apoio à Agricultura Familiar em Grupo de Santa Catarina

(Cepagro), os agricultores da região tomaram

conhecimento de uma experiência iniciada na França pela

Associação Accueil Paysan, cujo foco é valorizar e

viabilizar a agricultura familiar através do agroturismo. A

experiência francesa se mostrou condizente com o que

vinha sendo proposto nas encostas da Serra Geral e uma

parceria foi estabelecida para auxiliar no desenvolvimento

da atividade.

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Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

A Associação Acolhida na Colônia foi então

fundada em 1999, como a primeira parceira na América

Latina a fazer parte da rede internacional Accueil Paysan.

No início, com 30 famílias distribuídas em cinco

municípios da região das Encostas, a rede catarinense se

estendeu para outras regiões do estado, estando presente

hoje em 26 municípios e contemplando aproximadamente

180 famílias de agricultores.

Pelo seu histórico, a Acolhida na Colônia nasceu

com um perfil pedagógico amplo, pois os sujeitos ativos

do processo, os agricultores, passaram também a ser os

fomentadores e atores ao dialogar e explicar sobre seus

saberes práticos.

Com o passar dos anos, o número e o perfil de

visitantes se ampliou. A (re) estruturação e adequação das

propriedades contribuíram para redimensionar o projeto

que também criou visibilidade, passando a atrair mais

pessoas, sobretudo, famílias interessadas em usufruir de

lugares tranquilos, meios de hospedagem autênticos e

alimentação saudável. Mesmo com a ampliação e

mudança do público consumidor, a troca de

conhecimentos continuou sendo um grande atrativo,

principalmente em função da experiência em torno da

produção orgânica de alimentos.

Cientes da importância do seu conhecimento para

a formação/conscientização de pessoas, e visualizando

nisso uma oportunidade, os agricultores da Acolhida na

Colônia assumiram o desafio de desenvolver uma

proposta de turismo pedagógico para trabalhar com as

escolas.

3. A FUNÇÃO PEDAGÓGICA DO

AGROTURISMO

Quando as primeiras experiências de turismo nas

propriedades rurais aconteceram, a dimensão pedagógica

já estava presente, principalmente numa perspectiva de

educação não formal, envolvendo os agricultores e

visitantes. Ao justificar, argumentar e explicar as práticas

de agricultura orgânica, sustentabilidade e suas

implicações econômicas, sociais e ambientais, os

agricultores, com auxílio de uma equipe técnica, se

prepararam para inserir e desenvolver esta dimensão

pedagógica em suas atividades. A análise do conjunto do

rural, estabelecendo unidades de estudos, partindo do

empírico, utilizando categorias de análise têm se

constituído como ferramenta na educação formal,

complementando estudos e atividades da educação básica

e pesquisas de universidades.

3.1 Desafios do processo ensino-aprendizagem

A construção pedagógica do saber por muito

tempo esteve e ainda está centrada no discurso oral de

aulas expositivas, ou em leitura de textos de livros

didáticos. Com a incorporação dos recursos midiáticos no

fazer pedagógico, pouca coisa mudou, do quadro negro

passou-se para o quadro branco ou para a lousa digital,

utilizando-se os recursos da internet. Entretanto, o

professor e seu saber continuam no centro do processo.

Este fato é acentuado pela prática da memorização, que

leva ao esvaziamento da construção de significados,

provocando a falta de interesse dos alunos.

O grande desafio de todo professor ao concluir a

formação acadêmica é a articulação entre o conhecimento

adquirido na graduação e as necessidades dos alunos da

educação básica. A dificuldade da transposição didática

do conhecimento acadêmico para o cotidiano escolar é um

gargalo da educação. A formação profissional deve ser

contínua, exigindo constante atualização. Neste processo

de profissionalidade, de construção de saberes

pedagógicos e metodológicos, sobre como transpor

conhecimentos para a sala de aula, são vivenciadas e

experimentadas metodologias de ensino que possam

contribuir para a prática docente diferenciada.

A construção de conceitos e significados de forma

autônoma por parte dos alunos é fundamental para que os

mesmos compreendam e estabeleçam relações entre a

sociedade e a natureza. Para alcançar tal objetivo é

preciso aproximar os conteúdos trabalhados em sala de

aula, com informações e significados dos espaços vividos

dos alunos, reduzindo o distanciamento da realidade com

os conteúdos trabalhados no ambiente escolar

(FIGUEIREDO, 2012).

Trabalho de campo, viagens de estudo e/ou o

turismo pedagógico são ferramentas importantes para

alcançar tais objetivos, pois confrontam os alunos com a

realidade, embora “nem sempre a realidade visível

esclarece completamente o que de fato acontece no

espaço” (SERPA apud Figueiredo, 2012, p 16). Desta

forma, o trabalho de campo precisa ser previamente

planejado, levando em consideração a teoria que lhe

servirá de base.

O turismo rural pedagógico vem se mostrando uma

ferramenta importante e uma opção de atividade

curricular e extracurricular em expansão neste início do

século XXI, tanto nas escolas da educação básica, como

nas universidades. Segundo a ABRATURR/ECA (2005,

p.5) “o turismo rural pedagógico se caracteriza como o

conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio

rural, comprometido com o meio ambiente e a produção

agropecuária e/ou com os valores históricos de produção

no universo rural, agregando valor a produtos e serviços,

resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural

da comunidade que fundamentalmente tem um

acompanhamento didático pedagógico com o objetivo de

aquisição de conhecimento”.

Para Klein et al. (2011), o turismo rural

pedagógico é bastante abrangente, mas contempla

diferentes funções, dentre as quais, a função educativa e a

função ambiental. No primeiro caso, o aprendizado é

proveniente de vivências práticas nas propriedades rurais,

favorecendo a ampliação do universo cultural e a

aquisição de novas habilidades e novos conhecimentos.

No segundo, está associado à preservação e ao cuidado

com o ambiente, viabilizado pelo contato direto com os

elementos da natureza.

Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço

Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

É na paisagem que se observa em primeira

instância este processo de relação entre a natureza e a

sociedade, sendo sem dúvida a paisagem um verdadeiro

laboratório. Para Milton Santos (1996) a paisagem é mais

do que um conjunto de elementos, ela compreende e

expressa todas as relações que se desenvolvem no espaço

geográfico, exprimindo as heranças que representam as

sucessivas relações existentes entre o homem e a

natureza, possuindo dinamicidade. Assim o trabalho de

campo, através do turismo rural pedagógico, é capaz de

aguçar o olhar para a paisagem, permitindo ao aluno

comparar, identificar semelhanças, diferenças e formular

análises do espaço visitado.

A paisagem é tudo o que se vê, o que a vista

alcança, mas esta visão depende da localização do

observador (CALLAI, 2000). Neste sentido, cada ser

humano possui maneiras diferentes de perceber o mundo

à sua volta, utilizando os sentidos da visão, audição,

olfato, paladar e tato. Na observação e estudo das

paisagens a visão é o sentido mais utilizado, sendo que

cada espectador poderá observar e descrever elementos

diferentes, explicar a paisagem de acordo com um olhar

particular sobre a mesma, identificando elementos com os

quais se identifica.

Os elementos que constituem esta paisagem são

um universo de objetos com vários signos, e a visão,

quase na sua totalidade consegue decifrar seus

significados e funções (NASCIMENTO, 2009). Assim, à

medida que se processa o desenvolvimento mental, as

informações recebidas pela percepção e pela imagem

mental servem de subsídios às operações mentais, as

quais, por conseguinte influenciam direta ou

indiretamente a percepção. A imagem por sua vez é o

símbolo do objeto e pode ser formada como uma imitação

interiorizada dele.

De acordo com Cavalcanti (2008), uma

característica importante quando se trabalha com a

categoria de paisagem é sua dinâmica, pois as paisagens

revelam como a sociedade desenvolve suas atividades,

suas relações de produção, ou seja, o que as pessoas estão

fazendo em determinado momento e como se relacionam

entre si e com a natureza no lugar onde vivem.

Nos espaços rurais onde a natureza não está tão

artificializada, o ser humano dotado de sentidos, capta as

informações usando sensores além da visão. O aluno,

numa prática de turismo rural pedagógico, pode ver,

cheirar, tocar, ouvir e degustar.

Nesta metodologia de ensino que é o turismo

pedagógico, não existe certo ou errado, mas sim a

oportunidade de trabalhar sobre o que é o modo de vida

urbano e rural, representado nas suas paisagens e na

relação com os atores que vivem e constroem estes

espaços. Para isso, professores e alunos precisam ter

objetivos claros, evitando determinados rótulos e

estereótipos. Boligian (2004) explica que a percepção de

uma paisagem depende da intenção do observador, ou

seja, varia conforme seu objetivo e sua relação com o

lugar observado. Será, portanto, função da postura do

professor para direcionar o olhar das crianças de forma

científica e pedagógica.

3.2 A proposta de turismo rural pedagógico da

Acolhida na Colônia

O objetivo principal da proposta pedagógica da

Acolhida na Colônia é contribuir para a construção do

conhecimento das crianças - futuras formadoras de

opinião - a partir do real, fazendo relações do contexto

vivido na agricultura familiar com a preservação dos

recursos naturais, a manutenção das paisagens, a

promoção da segurança alimentar e nutricional. A

articulação dos alunos com a realidade rural possibilita

sua inserção enquanto sujeitos na sociedade, promovendo

uma reflexão sobre sua prática social.

Na construção da proposta pedagógica da Acolhida

na Colônia, dois elementos metodológicos foram levados

em consideração: a observação, a partir da qual os alunos

estabelecem as relações entre o ser humano e seu entorno;

e, a interação entre alunos e agricultores, que através dos

seus saberes garantem a troca de conhecimentos e a

autenticidade da proposta. É através desta relação que os

alunos superam a ação puramente contemplativa da

paisagem, interagindo com o seu objeto de estudo.

As experiências oferecidas nas propriedades rurais

são as mais diversas: plantio na horta, trato dos animais,

adestramento racional de cavalos, recolhimento de ovos,

trilhas em meio à mata, banho de rio e cachoeira, até a

observação das construções como as rodas d’água, os

engenhos, moinhos, atafonas... Estas permitem confrontar

os alunos com espaços e elementos geográficos

diferentes, que por sua vez, através das percepções

cognitivas, motoras, afetivas e cênicas, percebem que o

som é outro, o ar é outro, o sabor é outro, assim como os

lugares e construções são outros, identificando assim

elementos que constituem aquela paisagem em sua

complexidade, totalidade e interdependência.

O que caracteriza a paisagem rural das Encostas da

Serra Geral é a presença da Mata Atlântica, topografia

acidentada formando vales, hidrografia extremamente

rica, com nascentes de rios importantes da região como os

rios Cubatão, Capivari, Tijucas, Braço do Norte e Itajaí do

Sul e a presença de águas termo minerais. A paisagem

humanizada é percebida através da arquitetura típica, dos

utensílios utilizados, da culinária, da língua, da pequena e

pouco adensada população demográfica, e também, das

atividades econômicas como a agricultura baseada na

diversificação de cultivos, queima de carvão, pequenas

indústrias de processamento e o reflorestamento com

espécies exóticas como pinus e eucalipto. A paisagem é

então observada através da interação entre os elementos

natureza, economia, população e cultura.

Entre observação e atividades, vários temas podem

ser trabalhados nas propriedades rurais. Das atividades

realizadas com maior frequência, destacam-se as trilhas

em meio à mata e as caminhadas para conhecer a

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produção agropecuária. Nas trilhas (figura 1) os

agricultores mostram e falam da diversidade de espécies

de plantas e animais que caracterizam a mata atlântica, a

importância de tais espécies, seu uso, época de floração,

etc. Através de uma linguagem simples, conduzem os

alunos a observar as árvores, o solo, os rios, permitindo

várias reflexões sobre o papel deste ecossistema. Temas

como a qualidade do ar, a permeabilidade do solo e sua

relação com as enchentes, a importância da mata ciliar

para a manutenção dos rios, são abordados.

Figura 1 - Atividade de turismo rural pedagógico em

trilha.

Fonte: Acolhida na Colônia

A compreensão da realidade não se dá apenas pela

observação do ambiente e pelas informações recebidas,

mas através dos mais diversos sentidos, quando os alunos

são incitados a sentir o frescor, a umidade do ar, os

odores, aromas e texturas.

Estimulados pelos professores, que devem ser os

mediadores do processo, os alunos vão confrontando a

realidade rural com aquela vivenciada nos centros

urbanos, estabelecendo - através de indagações e

curiosidades - as conexões entre a teoria e a experiência

vivenciada, num processo de construção do

conhecimento. É importante ressaltar o papel do

professor neste processo, já que ao agricultor cabe

desenvolver os temas através do seu saber fazer e

conhecimento empíricos. Portanto, é do professor a tarefa

de problematizar para que os alunos possam transformar

as observações em conhecimento científico.

Para complementar as observações realizadas

durante a caminhada, alguns agricultores optam por

desenvolver atividades com apoio de materiais

pedagógicos, geralmente jogos e brincadeiras elaboradas

nas propriedades, trabalhando determinados temas de

forma lúdica e divertidas (Figura 2).

Figura 2 – Crianças em atividade pedagógica.

Fonte: Acolhida na Colônia.

Dando continuidade à visão interdisciplinar e

transversal das temáticas trabalhadas nas propriedades,

outro exemplo de atividade desenvolvida é a de plantio de

hortaliças (Figura 3). Enquanto as crianças colocam às

mãos na terra, o agricultor que conduz a atividade leva os

alunos a refletirem sobre as diferenças entre produção

convencional e orgânica dos alimentos, desde o preparo

do solo, adubos e produtos utilizados, até os cuidados

com as plantas e a qualidade do que é produzido.

Discutem sobre a produção familiar, relacionando-a e

comparando-a a produção convencional, uniformizada e

em grande escala, voltada às commoditiesiii, como por

exemplo, soja, milho, trigo. Além das diferenças na forma

de produzir, os alunos são levados a refletir sobre as

diferenças do ponto de vista ambiental, social e de

segurança alimentar e nutricional destas duas formas de

fazer agricultura.

Figura 3 – Atividade de plantio. Fonte: Acolhida

na Colônia.

A dimensão ambiental é observada através da

produção diversificada desenvolvida nas propriedades

familiares, que resulta num maior equilíbrio do

ecossistema (ALTIERI, 1999), se comparada à paisagem

de reflorestamento com espécies exóticas, que coexiste de

forma bastante proeminente na região das Encostas da

Serra Geral. A produção orgânica e a sustentabilidade,

enquanto diferenciais e princípios da Acolhida na

Colônia, são temas abordados com frequência nas

atividades pedagógicas propostas.

Do ponto de vista do processo ensino-

aprendizagem, o turismo pedagógico através das

vivências nas propriedades agrícolas permite aos alunos

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estabelecer as relações entre as realidades rural e urbana.

As reflexões propostas pelos associados da Acolhida na

Colônia buscam trabalhar o reconhecimento da

agricultura familiar, não apenas na produção de alimentos

em si, mas na garantia de produtos de qualidade e

comprometidos com o meio ambiente, assim como, o bem

estar de quem consome e de quem produz.

Sobre a amplitude do aprendizado, cabe ressaltar

que o mesmo vai além dos temas abordados. A

importância destes atores que vivem e constroem a

história da região é percebida na forma de acolhimento,

conforme o depoimento de uma professora que participou

da ação de divulgação do turismo pedagógico, realizado

pela Acolhida na Colônia, através de um famtouriv, e no

qual ela diz: “Houve acolhimento, afeto no que faziam e o que aprendi foi muito mais do que sobre cavalos ou culinária orgânica tradicional. Aprendi que encontramos em nós meios de transformar o que não está bom e devolver ao mundo algo bem melhor” (Professora 1).

Com relação à percepção dos alunos sobre o

espaço rural em si, outra professora acompanhando seus

alunos fez a seguinte avaliação: “A vivência no meio rural foi fundamental para realizarmos uma reflexão sobre os esteriótipos acerca do homem do campo, bem como para a aprendizagem do valor de suas atividades na vida de cada criança” (Professora 2). Cabe, portanto,

destacar que a proposta de trabalho da Acolhida na

Colônia promove a reflexão dos alunos sobre sua prática

social, enquanto sujeitos da sociedade.

3.3 O turismo pedagógico sobre o ponto de vista

do espaço rural

O turismo pedagógico desenvolvido nas

propriedades agrícolas familiares, como é o caso da

Acolhida na Colônia, vem ao encontro de uma abordagem

bastante difundida na atualidade, que é a

multifuncionalidade da agricultura. Esta abordagem surge

para repensar o papel da agricultura e a sua relação com

outros componentes da sociedade, examinando o aspecto

multidimensional das atividades humanas e o que elas

trazem para o desenvolvimento social e econômico.

Partindo desta premissa, a agricultura deixa de ser

compreendida apenas como produtora de bens

agropecuários e assume outras funções como a

conservação dos recursos naturais (água, solo,

biodiversidade, etc.), do patrimônio cultural e natural

(paisagens) e da qualidade dos alimentos.

A discussão sobre multifuncionalidade da

agricultura deve, entretanto, incorporar a complexidade

do espaço rural, formado por diversas formas de fazer

agricultura, pela diversificação de atividades e de atores

onde a relação rural/urbano, a expansão das oportunidades

de trabalho para além da agricultura, a preservação

ambiental e a valorização do rural como espaço de vida e

de lazer são elementos fundamentais (CAZELLA e

MATTEI, 2002).

O turismo pedagógico, assim como o próprio

agroturismo, são ferramentas através das quais esta

multifuncionalidade se concretiza na região. Entretanto, é

importante ressaltar que funções como preservação e

valorização dos recursos naturais, formação do olhar

interpretativo da paisagem, produção agroecológica e

espaço de vida e lazer, afetam direta e indiretamente

outras funções, disputando o uso do espaço.

Esse fenômeno não ocorre sem conflitos, no caso

das Encostas da Serra Geral. Por exemplo, os agricultores

vinculados à Acolhida na Colônia e AGRECO, que têm

um trabalho focado na sustentabilidade e no

desenvolvimento, não compartilham da visão de

crescimento econômico de outros atores igualmente

presentes e influentes.

Assim, a possibilidade de vivenciar o que é

realizado nas propriedades da Acolhida na Colônia tem

como resultado significativo, a conscientização de turistas

e alunos. O caráter pedagógico incorporado naturalmente

pelos associados transforma o agroturismo em uma

ferramenta de divulgação e difusão das ideologias

pautadas na agricultura orgânica e familiar.

Outro resultado do turismo pedagógico é a

possibilidade de melhoria de renda das famílias. Além de

oferecer a alimentação e a hospedagem, os agricultores

também são remunerados pelas atividades pedagógicas

realizadas, expandindo os serviços oferecidos. Sob este

ponto de vista, o turismo pedagógico também foi proposto

para ampliar a taxa de ocupação das propriedades, pois as

escolas usufruem destas estruturas durante a semana,

período pouco procurado pelos turistas.

Para finalizar, o turismo pedagógico também vem

se mostrando responsável por envolver alguns jovens

agricultores, tornado-se uma alternativa a mais de mantê-

los no campo. Este é um resultado, que embora tímido, é

importante já que o envelhecimento, assim como, a

masculinização no campo tem sido um problema

recorrente nas zonas rurais.

Sobre o assunto, Stropasola (2011 p. 27) coloca

que, “as renovadas funções demandadas pela sociedade às

famílias rurais – entre as quais a produção de alimentos de

qualidade; a preservação dos recursos ambientais e do

patrimônio histórico e cultural rural; a

agroindustrialização em unidades familiares; o turismo

rural, etc – podem se constituir em alicerces para o

fortalecimento das comunidades, contrapondo-se à

tendência de masculinização e envelhecimento da

população rural verificada em muitas localidades”, sendo

estas, escolhas sociais para definir o sentido do

desenvolvimento destas localidades.

O desenvolvimento de atividades que despertem o

interesse dos jovens, como o caso do turismo pedagógico,

faz parte das estratégias para manter os jovens ocupados,

remunerados, valorizados e interessados pelas atividades

desenvolvidas no meio rural, ajudando a fortalecer a

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agricultura familiar, por meio da consolidação desses

jovens no campo.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

A Acolhida na Colônia a partir do momento que

planejou atividades pedagógicas nas propriedades rurais,

preparando e instrumentalizando os agricultores para esta

atividade, sentiu a necessidade de realizar um teste piloto

para avaliar e divulgar as possibilidades de integração

entre o turismo rural e a prática docente.

Através do Projeto "Desenvolvimento de

Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da

Acolhida na Colônia", Convênio 736532/2010 firmado

entre a Associação e o Ministério do Turismo, foi

realizado durante o ano de 2011 uma fase experimental

da proposta. Desta forma alunos, professores,

coordenadores pedagógicos, diretores e nutricionistas de

escolas públicas dos municípios Santa Rosa de Lima,

Anitápolis e Urubici foram convidados para visitarem as

propriedades envolvidas no projeto pedagógico, e

vivenciarem algumas experiências e atividades.

Participaram desta ação 63 turmas de primeira à quinta

série do ensino básico de 11 escolas públicas. As escolas

foram escolhidas pela proximidade dos roteiros

municipais da Acolhida na Colônia, já que a proposta

visava que as crianças passassem apenas o dia nas

propriedades rurais.

No total foram 609 alunos e 77 profissionais de

ensino a visitarem as propriedades rurais, onde foram

recebidos pelas famílias agricultoras que lhes ofereceram

refeições com produtos cultivados e preparados na

propriedade, assim como, com as atividades pedagógicas.

Caminhadas, trilhas, atividades de plantio e com os

animais foram as formas escolhidas para mostrar e

abordar assuntos a cerca da produção agrícola e de sua

relação com a preservação ambiental. A presença de

nutricionistas em alguns grupos ajudou a reforçar as

explicações abordadas pelos agricultores sobre segurança

alimentar e nutricional, aproximando os assuntos

abordados na saída de campo com aqueles de sala de aula.

Após a realização das atividades, alunos e

profissionais do ensino responderam um questionário de

avaliação através de alguns indicadores, cujos resultados

quantitativos estão apresentados na tabela 1 e 2. A tabela

1 reflete a percepção dos profissionais de ensino,

enquanto a tabela 2 a percepção dos alunos.

Indicadores Ótimo Bom Regular Ruim

Atendimento 69 8

Infraestrutura 48 28 1

Material de

apoio lúdico-

pedagógico

45 31 1

Didática do (a)

agricultor (a)

57 20

Inter-relação 65 12

agricultores e

Alunos

Conhecimento

sociocultural

transmitido

56 21

Refeições 65 11 1

Tabela 01: Avaliação dos Profissionais

Fonte: Relatório do Projeto "Desenvolvimento de

Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da

Acolhida na Colônia". Convênio 736532/2010 com

Ministério do Turismo, 2011.

Quando os profissionais responderam aos

questionários (por escrito), foram unânimes em afirmar a

importância das atividades pedagógicas e lúdico-

pedagógicas para a qualidade das vivências. Através de

uma questão aberta, justificaram esta afirmação,

elencando diversos motivos que se repetiram com maior

ou menor freqüência na opinião dos entrevistados

(repetições colocadas entre parênteses), entre elas: a

oportunidade de trabalhar com a realidade das crianças,

despertando interesse e curiosidade (3); a interação das

crianças com o meio rural e com o agricultor (13); a

oportunidade de vivenciar (15); o modo de vida rural e a

preocupação com o meio ambiente (9); a produção

orgânico como elemento diferenciador (7); a

metodologia e as estratégias utilizadas pelos agricultores

auxiliam nas atividades em sala; a possibilidade de

mostrar na prática o que acontece na natureza (11);

permite diálogo sobre o conhecimento (8); permite a

construção do conhecimento através da experiência

vivenciada no rural (4); contato com a natureza (5);

permite a interação com os animais (3); respeito aos

animais; permite conhecer a história (13).

Percebe-se que na opinião e parecer dos

profissionais de ensino, os indicadores foram avaliados

positivamente, dando-se destaque para o atendimento e

didática dos agricultores. Neste sentido, é possível

afirmar que a proposta pedagógica da Acolhida na

Colônia alcança o objetivo proposto de, através do

diálogo, da transmissão do conhecimento empírico e das

interações socioculturais contribuir para o processo

ensino e aprendizagem..

Os alunos também fizeram avaliação da

experiência nas propriedades rurais, respondendo

oralmente, aos seguintes indicadores: atendimento;

atividades pedagógicas; inter-relação entre

agricultores/alunos; refeições. Os resultados

quantitativos encontram-se na tabela 2.

Indicadores Ótim

o

Bom Regul

ar

Ruim Não

res

Atendimento 562 47

Material de

apoio lúdico

pedagógico

417 82 110

Inter-relação

agricultores/

alunos

527 72 10

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Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

Refeições 554 41 14

Tabela 02: Avaliação dos alunos

Fonte: Relatório do Projeto "Desenvolvimento de

Conteúdos Pedagógicos para as Propriedades Rurais da

Acolhida na Colônia". Convênio 736532/2010 com

Ministério do Turismo, 2011.

Quando questionados sobre o que gostaram durante

o dia na “Acolhida na Colônia”, os alunos responderam

entre outros: as atividades de plantio na horta; explicação

sobre polinização; explicações sobre os animais e contato

com os mesmos; visualização/observação do engenho;

passeio de trator. Entretanto, dentre os pontos fortes das

atividades propostas, as respostas que apareceram com

maior frequência incluíram: o contato com os animais,

explicações sobre a preservação da natureza;

brincadeiras (na verdade eram atividades lúdico-

pedagógicas); produção orgânica; visita à cachoeira; e

por fim a própria saída da sala de aula e a realização de

uma atividade/aula diferente.

5. CONCLUSÕES

As crises que se sucederam em torno da produção

agrícola e pecuária tiveram muitas consequências

negativas do ponto de vista ambiental e social. A

necessidade de repensar o desenvolvimento rural, somada

às demandas provenientes do mundo urbano, suscitaram

novas perspectivas, resultando em uma tendência inversa

e um crescente interesse de retorno ao rural.

Dentre as atividades propostas no sentido de

revitalização e uso diferenciado dos espaços rurais, surge

o turismo. Das modalidades de turismo no espaço rural, o

agroturismo é aquela que se apresenta como estratégia de

complementação da renda, procurando não comprometer

as atividades produtivas tradicionais, mas procurando

valorizá-las e promovê-las.

O turismo pedagógico surge no sentido de

aumentar o valor agregado a esta proposta, e no caso da

Acolhida na Colônia, atende a dois interesses, o das

escolas e aqueles próprios do território. Do pondo de vista

das escolas, esta experiência visa oferecer à comunidade

escolar a possibilidade de realizar projetos de ensino-

aprendizagem que possibilitem integrar de forma

interdisciplinar e multidisciplinar um conjunto de

conceitos e/ou conteúdos. Como pontua Braun (2005), a

proposta procura romper com o caráter descritivo do

trabalho de campo e enfatiza a presença de objetivos

sociais nessa prática educativa.

A saída da sala da aula, através do contato com a

área rural e acolhimento nas propriedades, proporciona

aos alunos a experiência de viajar, entrar em relação com

um espaço diferente daquele do cotidiano. Leva-se em

consideração o princípio de que qualquer modalidade de

interação social, quando integrada num contexto voltado

para aprendizagem, pode ser utilizada numa situação

pedagógica, porque é nas interações sociais que se

processa a construção do conhecimento.

Neste sentido, a observação ocupa lugar de

destaque, segundo Cavalcanti (1998) “ligada a funções

psíquicas de um plano mais sensorial, a observação é

fundamental para produzir motivações, com base na

problematização do real observado e, consequentemente,

possibilitar a construção do conhecimento”.

Vindo ao encontro desta prática alternativa de

ensino que é o trabalho de campo, a proposta de turismo

rural pedagógico se destaca pela autenticidade na

disseminação do conhecimento, garantida através: a) do

atendimento familiar personalizado e informal que está

imbuído de uma valorização social que o qualifica; b) do

comprometimento dos agricultores com os recursos

naturais da região; c) da valorização dos recursos técnicos

e patrimoniais que abrangem desde os processos e

instrumentos de trabalho alocados no sistema de produção

orgânica, na adequação das estruturas existentes

(aproveitamento de antigas estufas e paióis), valorização

de rodas d’água, engenhos e costumes (culinária, língua,

etc.).

Do ponto de vista da paisagem e do território, o

turismo pedagógico se propõe a contribuir para a

conscientização dos alunos com relação ao que vem sendo

construído pelos associados e seus parceiros regionais. O

objetivo é que este conhecimento seja discutido em sala

de aula e disseminado pelos alunos, já que o trabalho de

campo deve servir como um motivador e um

complemento aos assuntos abordados pelos professores

nas escolas.

Além da conscientização, vale ressaltar que a

manutenção desta agricultura familiar viva, comprometida

com o ambiente e com a qualidade dos alimentos, passa

também pela melhoria das condições de vida, que podem

ser garantidas em parte pela renda do agroturismo e do

turismo pedagógico, assim como, do envolvimento dos

jovens.

Os desafios deste tipo de iniciativa não são poucos.

Além do envolvimento dos agricultores, é preciso difundir

a proposta entre as escolas, romper com resistências e

preconceitos de professores e alunos com relação ao

espaço rural e, sobretudo, é preciso contar com o apoio de

políticas públicas e planejamento prévio, para garantir que

estas alternativas produtivas resultem na manutenção do

homem no campo, com uma qualidade de vida que

justifique sua permanência.

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STROPASOLA, V.L. Os desafios da sucessão

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–n 1. Março de 2011

i Pluriatividade refere-se à unidade produtiva

multidimensional, onde se pratica a agricultura e outras

atividades, tanto dentro como fora da propriedade, pelas

quais são recebidos diferentes tipos de remuneração e

receitas como rendimentos, rendas em espécie e

transferências (SCHNEIDER, 2003).

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Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1. P 000-000

D.L. Gelbcke; R.L. Finger ISSN 2176-9052

ii Multifuncionalidade é uma noção recente e visa

ampliar o campo das funções sociais atribuídas à

agricultura, que deixa de ser entendida apenas como

produtora de bens agropecuários e assume funções como

a conservação dos recursos naturais (água, solo,

biodiversidade, etc.), do patrimônio cultural e natural

(paisagens), e da qualidade dos alimentos (GELBCKE,

2006).

iii Commoditie: significa mercadoria em inglês, sendo

representada, sobretudo por minérios e gêneros agrícolas,

que são produzidos em larga escala e comercializados

em nível mundial.

iv A palavra famtour, deriva da expressão em inglês

“familiarization tour” e significa passeio de familização.

O termo é constantemente utilizado pelos profissionais

de turismo para denominar os tours feitos por grupos de

agentes de viagens e outros interessados para conhecer

cidades e seus maiores atrativos.