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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, DIREITO E CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO José Júnior Matos Moreira e Souza A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL: As Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente. Governador Valadares MG 2010

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Page 1: A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL: As …€¦ · O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos. A Função Social da Propriedade é obrigação

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, DIREITO E CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

José Júnior Matos Moreira e Souza

A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL:

As Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente.

Governador Valadares – MG

2010

Page 2: A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL: As …€¦ · O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos. A Função Social da Propriedade é obrigação

JOSÉ JÚNIOR MATOS MOREIRA E SOUZA

A FUNÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL:

As Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente.

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE como

requisito para a obtenção do título de Bacharel em

Direito.

Orientador: Prof. Glaydson Sarcinelli Fabri.

Governador Valadares – MG

2010

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JOSÉ JÚNIOR MATOS MOREIRA E SOUZA

A FUNÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL:

As Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente.

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE como

requisito para a obtenção do título de Bacharel em

Direito.

Orientador: Prof. Glaydson Sarcinelli Fabri.

Governador Valadares, 21 de agosto de 2010.

Banca Examinadora:

__________________________________________________

Professor orientador: Glaydson Sarcinelli Fabri

__________________________________________________

Professor(a) convidado(a):

__________________________________________________

Professor(a) convidado(a):

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À Deus: criador da maior obra que é a vida e dono

de todos os mistérios que contemplam o universo.

Ao seres humanos, na esperança de os verem cada

vez mais conscientes de que viver de forma

sustentável, não agredindo o meio-ambiente, é o

melhor caminho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, quem me concedeu o bem mais precioso que é a vida.

Obrigado.

Aos meus pais, José e Maura, exemplo de persistência e dedicação, que mesmo distantes não

mediram forças; sempre me acompanhando nesta caminhada para que eu chegasse aqui e que,

com certeza, continuam torcendo por mais vitórias que virão. Às minhas irmãs e demais

familiares, sempre presentes na minha vida, me trazendo muita felicidade. Incluindo a

“Baiana”, minha babá que dedicou a mim alguns anos de sua vida.

A Tanielle, pessoa que a cada dia torna-se mais especial para mim.

Ao meu orientador, Glaydson Sarcinelli Fabri, pela confiança em mim depositada, para a

elaboração deste trabalho.

Aos colegas de faculdade que convivi por estes cinco anos de dedicação e estudo. Podem ter

certeza que vou sentir saudades.

A Samira, que com seus conhecimentos me ajudou muito na construção deste trabalho.

Ao Sr. Milvernes, pessoa que posso considerar um amigo, sempre me incentivando com suas

palavras e exemplos de vida.

Aos meus professores de ensino fundamental e médio, em especial, tia Selma, Júcia, Rísia,

Goretti, Mura, Marcio, Candido, Ronoel, Weber, Marina, o ”Teacher Tunico”, mestres, que

desde muito cedo me ensinaram que pra ser alguém é preciso estudar.

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RESUMO

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos. A Função Social da

Propriedade é obrigação e está regida por norma de proteção ambiental. A Constituição

Federal de 1988 veio com as normas de proteção do meio ambiente para as presentes e futuras

gerações. As áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente foram instituídas para

tentar cumprir a norma constitucional; a primeira preservando a vegetação existente no local,

e se esta não existir que seja plantada ou reflorestada e a segunda com o objetivo de proteger a

flora e a fauna da propriedade, assim exercendo a sua função sócio-ambiental. A propriedade

que cumpre sua função social merece proteção constitucional, sendo elemento integrante do

conteúdo do direito de propriedade, devendo sempre ser direcionado à sua utilidade social. A

Reserva Legal objetiva preservar parte de uma propriedade particular, visando à proteção da

vegetação, o que é imprescindível ao uso sustentável dos recursos naturais.

Palavras-chave: Função Sócio-ambiental da Propriedade; Meio Ambiente; preservação;

Proteção.

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ABSTRACT

The environment ecologically balanced is a right of all. The Social Function of the Property is

obligation and is conducted by norm of ambient protection. The Federal Constitution of 1988

came with the norms of protection of the environment for the gifts and future generations. The

areas of Legal Reserve and Permanent Preservation had been instituted to try to fulfill the

constitutional rules; the first one preserving the existing vegetation in the place, and if this not

to exist that it is planted or reforested and second with the objective to protect the flora and

the fauna of the property, thus exerting its partner-ambient function. The property that fulfills

its function social, deserves constitutional protection, being integrant element of the content

of the property right, having always to be directed its social utility. The objective Legal

Reserve to preserve part of a private property, aiming at to the protection of the vegetation,

what it is essential to the sustainable use of the natural resources.

Keywords: Socio-environmental function of property, environmental, conservation,

protection.

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SUMÁRIO

1. INTRODUCÃO 8

2. A FUNÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL 10

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 11

2.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PROPRIEDADE NO BRASIL 16

2.3 CONCEITO DE PROPRIEDADE 19

3. A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO BRASIL 23

3.1 OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 23

3.2 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E A ORDEM ECONÔMICA.

(ART. 170 DA CF/88) 25

4. O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE

E O TRATAMENTO DONOVO CÓDIGO CIVIL 28

5. A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E A PROTEÇÃO DO MEIO

AMBIENTE 33

5.1 PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE 33

5.1.1 Das Infrações e Sanções Administrativas ao Meio Ambiente 36

6. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 38

6.1 CONCEITO 38

6.2 A PROTEÇÃO DAS ÁGUAS, ENCOSTAS E DAS ELEVAÇÕES 41

7. RESERVA LEGAL 44

8. A REFORMA DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO 51

CONCLUSÃO 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 56

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8

1 INTRODUCÃO

Este trabalho contempla o tema da função sócio-ambiental da propriedade rural,

de forma delimitada abordam-se os aspectos gerais e jurídicos que envolvem o assunto.

O homem vislumbrando a geração de riquezas explora a natureza como se esta

fosse fonte inesgotável de recursos, não respeitando os seus limites e sem consciência de que

está acabando com o primordial elemento de garantia de sua vida.

O ser humano é predatório na utilização dos recursos naturais, não se

sensibilizando com as desigualdades sociais, sendo culturalmente alienado em relação aos

seus próprios valores, censurando o respeito aos Direitos Humanos e aos das demais espécies.

O que se deve buscar é um desenvolvimento sustentável, ou seja, um modelo

econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das

gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas

próprias necessidades.

Neste contexto, as questões problemas que orientam a pesquisa são as seguintes:

A propriedade rural tem função sócio-ambiental? Quais as leis que norteiam a questão da

função sócio-ambiental da propriedade rural?

Dessa forma, o estudo trabalha com as hipóteses de que a Magna Carta trata da

propriedade como um direito de todos, desde que seja exercida a sua função social, assim

elaborando normas de caráter social, econômico e punitivo para os seus transgressores. O

interesse coletivo se sobressaiu sobre o privado.

É com base no Principio da Função Sócio-ambiental da Propriedade que

possibilita a criação de obrigações impostas ao proprietário rural, para que ele preserve e

recomponha, quando necessário, a vegetação em áreas de reserva legal e de preservação

permanente, mesmo não sendo ele o causador dos danos ao meio ambiente.

Sendo assim, o objetivo geral do trabalho é examinar algumas questões

relacionadas à função sócio-ambiental da propriedade imóvel rural, onde é denominada, na

ótica do direito ambiental, prevista na Constituição Federal e na Lei Ambiental.

Especificamente, pretende-se verificar os meios efetivos que garantem a preservação do meio-

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ambiente na propriedade rural, determinando as Áreas de Reserva Legal e as Áreas de

Preservação Permanente, obrigando, desta forma, o proprietário rural a recomposição da

vegetação nas áreas destruídas, mesmo que não tenha sido o causador do desmatamento.

A importância do tema se justifica, pois a proteção da propriedade, nos últimos

anos tem sido motivo de grande discussão e preocupação, intensificando a sua proteção com o

objetivo de atender ao interesse da coletividade. Deve-se ressaltar que essas percepção e

dedicação à proteção ambiental surgiram um pouco tardia, uma vez que já existem a extinção

de inúmeras espécies vegetais e animais.

A proteção do meio ambiente, atualmente, é rigorosa, regida por normas que

quando desatendidas, o infrator estará sujeito a sofrer sanções penais, civis e administrativas,

concomitantemente, uma sem prejuízo da outra.

Nesse passo, como procedimento metodológico, utilizou-se a pesquisa

bibliográfica com a finalidade de proporcionar melhores e mais precisas informações sobre o

tema.

O texto está dividido em quatro partes, além desta introdução. O capítulo dois

descreve função sócio-ambiental da propriedade rural, conceituando a propriedade e sua

evolução histórica, bem como a evolução do conceito no Brasil. O terceiro expõe a função

social da propriedade no Brasil, frisando os direitos e garantias fundamentais e a função social

da propriedade e a Ordem Econômica (art. 170, Constituição Federal/88).

O capítulo quatro apresenta o tratamento destinado à propriedade pelo novo

Código Civil e o princípio da função sócio-ambiental da propriedade. No quinto capítulo

tratar-se-á da função social da propriedade e a proteção do meio ambiente, informando quais

são as proteções jurídicas do meio ambiente e as questões das infrações de sanções

administrativas ao meio ambiente.

O sexto capítulo verificará o assunto das áreas de preservação permanente e a

proteção das águas, encostas e elevações. No sétimo observará o quesito da reserva legal e os

tipos de vegetação que a compõem. No oitavo capítulo examinar-se-á a reforma do Código

Florestal Brasileiro. Finalmente, as conclusões são feitas no capítulo nono.

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2 A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE RURAL

Relevância fundada em um dos princípios no Artigo 5º da Carta Política1 em que

se garante a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, sem distinção de qualquer

natureza, a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a

propriedade, esta que, deverá exercer a sua função social, assim beneficiando a sociedade,

titular do direito difuso ao meio ambiente.

De acordo com a Magna Carta de 19882, em seus artigos 5º, inciso XXIII; 170,

inciso III e 186, a função social da propriedade é cumprida quando atenda os critérios

estabelecidos em Lei, como o aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos

recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições

que regulam as relações de trabalho; e por fim, a exploração que favoreça o bem-estar dos

proprietários e dos trabalhadores.

O artigo 186 da Constituição Federal/883 cita os quatro requisitos para que a

propriedade exerça a sua função social:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,

simultaneamente, segundo critérios e graus de existência estabelecidos em lei, aos

seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio

ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

O proprietário tem o dever de exercer o seu direito de propriedade, contudo, não

deve deixar de beneficiar a coletividade. Ante a preocupação em garantir a proteção do meio

ambiente, a propriedade é a principal fonte para se exercer a função sócio-ambiental. O futuro

é a grande preocupação da legislação ambiental que visa um ambiente saudável, para que

todos possam ter uma boa qualidade de vida.

1 Disponível em: <http:/www.presidencia gov.br/legislação.htm.> Acesso em: 12 de maio de 2010.

2 Ob. cit.

3 Ob. cit.

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11

Segundo o artigo 225, da Constituição Federal4, todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para “as presentes e futuras gerações”.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Desde a época pretérita, a propriedade em sido objeto de estudo de historiadores

juristas, sociólogos, filósofos, economistas e políticos, com o objetivo de determinar sua

origem, caracterizando os seus elementos e distinguindo suas modalidades e acompanhando

sua evolução, dando-lhe função individual ou social.

Segundo RODRIGUES5 o direito de propriedade sempre existiu nas sociedades

ocidentais, ainda que de forma distinta. A propriedade privada raramente deixou de existir.

Desde as sociedades primitivas a noção de domínio se apresenta e vem se evoluindo com a

sociedade a cada dia.

Note-se que a primeira ideia que se formou sobre propriedade teve início na

antiguidade clássica greco-romana, na qual o conceito de propriedade fundava-se no palpável,

naquilo que se tinha como legitimamente detido por alguém.

Na Grécia a pessoa que detinha um bem, tinha a posse dele, na qual a propriedade

era um instituto que tinha na posse, sua origem.

A história do instituto da propriedade pode ser considerada como marco inicial

por volta do ano 450 a.C., época que era concedido aos pebleus uma espécie de direito de

propriedade sobre as terras a eles arrendadas, as quais foram se formando pequenas

populações rurais.

Deve-se frisar que a maior parte das terras do Estado, naquela época, estava em

mãos das famílias patrícias (gens) que formavam grandes propriedades coletivas. A divisão

das terras ocorriam da seguinte forma: a) saltus, que compreendiam os pastos e os bosques, e

4 Ob. cit.

5 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Direito das Coisas. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 47,

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b) fundus6 ou villa7,

que eram os terrenos cultiváveis. Era comum os patrícios aumentarem

suas propriedades apropriando-se de res nullius (coisa de ninguém), passando a ter sobre elas

o jus utendi (direito de usar).

Desse modo, verifica-se que o instituto da propriedade é um dos mais antigos. Em

Roma, a propriedade era um direito absoluto, pois o titular podia usar, gozar e dispor da coisa.

Na visão de Jean-Philipe Lévy8

Muitos povos antigos tiveram, antes dos Romanos, uma civilização Brilhante. A

noção de propriedade desses povos permaneceu, contudo, bastante fruste. Em

compensação a sua experiência é rica de ensinamentos do ponto de vista social.

Em outro momento, o mesmo autor9, informa que:

Para a antiga Mesopotâmia, onde a evolução parece ter-se processado em sentido

contrário, não é válido o esquema estabelecido 'a priori' que defendia a anterioridade

constante da propriedade familiar em relação à individual.

Assim sendo, os juristas romanos consideravam a propriedade sobre os três

aspectos: usus (o poder de utilizar-se da coisa); o fructus (o poder de perceber frutos ou

produtos do bem); e o abusus (o poder de consumir ou alienar a coisa).

A Lei das Doze Tábuas (450 a.C) previa a proteção contra os atos considerados

atentatórios à existência deste poder sobre as coisas.

Diante da propriedade quiritária (que decorre da constituição da cidade de Roma)

a propriedade não mais se constituía como um direito absoluto, ela passa a ser desmembrada

em dois prismas: o directum e o utile.

O Império Romano Ocidental (por volta de 476 d. C) entrou em decadência, foi

invadido pelos bárbaros, os quais deram fim à era da antiguidade clássica. Por esse motivo, os

germânicos e romanos passaram a conviver com diferentes civilizações que tinham formas

6 Fundus (Latin para o “fundo”) é um termo anatômico genérico que consulta à parcela de um órgão oposto de sua abertura. Disponível em: < http://www.worldlingo.com/ma/enwiki/pt/Fundus > Acesso em: 12 de julho de 2010.

7 vila (vi-la) Povoação de categoria inferior à de cidade, mas superior à de aldeia. Casa de campo nos

arredores das cidades italianas. Disponível em: < http://www.worldlingo.com/ma/enwiki/pt/Fundus > Acesso em: 12 de julho de 2010.

8 LÉVY, Jean-Philippe. História da Propriedade, Editorial Estampa - Lisboa, 1973, p. 20.

9 Ob. cit., p. 21.

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inovadoras de propriedade. Já havia o feudalismo como sistema de propriedade e a enfiteuse

como forma de regulá-la, por seu marcos norteadores.

Rogério Gesta Leal10

anota que

Entre os germanos, no tempo das invasões, ela apresenta ainda características

arcaicas. Estes povos, estão fortemente propensos ao nomadismo, passam de um

território a outro, que exploram coletivamente, enquanto se mantém fértil, depois

emigram. As tribos é que são titulares desta propriedade coletiva (Marka, Allmende, Volkland). As terras confiscadas aos proprietários romanos ou provinciais tornam-

se, por conseguinte, propriedade coletiva dos grupos gentílicos (sippen, fare) ou por

vezes, de comunidades de soldados (arimannie). Mais tarde, em contato com o

direito romano e por necessidade de salvaguardar o caráter intensivo das culturas,

começa a desenvolver-se entre os germanos a propriedade privada das terras.

Passa, portanto, a existir a comunal11

, como sobrevivência da antiga mark12

germânica; a alodial13

, considerada como livre; a beneficiária, surgida da concessão feita

pelos reis e pelos nobres, ou por estes aos plebeus; a censual, modalidade intermediária entre

a beneficiária e a servil, que implicava a fruição dos imóveis mediante o pagamento de

valores determinados; e a servil, atribuída aos servos que possuíam a terra, porém se

mantinham ligados a ela como seu acessório.

Na idade média, pelos anos de 500 e 600 d.c., com a miscigenação romano-

bárbara, surgem os Estados que passam a dominar, a ter poder, a ser senhorio, que se impõe,

domina o direito imanente da propriedade sobre as terras, as quais domina diretamente por

meio dos suseranos.

10

LEAL, Rogério Gesta, A Função Social da Propriedade e da Cidade no Brasil, aspectos jurídicos e políticos, 1998, Editora da Universidade de Santa Cruz do Sul, p. 40.

11 sf (fr comune) Sociol 1 Agrupamento de estrangeiros, especialmente judeus e mouros, que eram

obrigados a viver em arruamentos determinados. 2 Povoação que, na Idade Média, se emancipava do feudalismo, governando-se autonomicamente. 3 Na França, subdivisão territorial

correspondente a município ou concelho. 4 Administração de concelho. 5 Reg (Pernambuco) V súcia. 6 Corpo político ou governamental que adota princípios revolucionários ou comunistas, tal

como o que dominou em Paris de 18 de março a 28 de maio de 1871. s m+f pop Comunista. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=comuna> Acesso em: 10 jun. de 2010.

12 Os anglo-saxões - tribos germânicas que viveram nos atuais Alemanha, norte da Holanda e

Dinamarca - invadiram a Grã-Bretanha em 450 d.C., depois da queda do Império Romano. Eles conquistaram a Inglaterra, mas não conseguiram penetrar as franjas celtas onde hoje se situam Gales e Escócia. Coincidentemente, incitaram um êxodo de bretões para onde hoje é a Bretanha, na França.

13 adj m+f (lat med allodiale) Dir 1 Dizia-se, na época feudal, daquilo que era livre de encargos e direitos senhoriais. 2 Diz-se do imóvel livre de encargos, foros, pensões, vínculos ou gravames. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=comuna> Acesso em: 10 jun. de 2010.

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Neste contexto, pode-se afirmar que o conceito de propriedade nasce do Estado

como um direito inerente a ela e aos que organizam o Estado (Reino).

Nota-se que na Idade Moderna, dos anos 1500 a 1700, o Estado continua

concedendo terras (direito divino) ao domínio dos nobres, os quais recebem títulos de nobreza

que lhes concediam o domínio útil da terra aos que nela trabalhavam.

Na fase dos descobrimentos das Américas, nas camadas menos favorecidas passa

a existir o vassalo (cessionários da terra através do instituto jurídico da enfiteuse), bem como

passa a surgir a burguesia (comerciantes - detentores dos meios de produção). A locação da

terra tinha um sentido de posse.

A partir do final do século XV e o início do século XVI, os burgueses começam a

comprar as terras pertencentes aos nobres europeus. Com isso, o comprador burguês adquiria

ambos os domínios, em dinheiro, ou sob a forma de aluguel perpétuo da terra.

Outros burgueses compravam somente o domínio direto a dinheiro ou sob a forma

de aluguel e, às vezes, adquiria mesmo o título de nobreza do senhor, o que o colocava em seu

lugar no sistema feudal.

Nos fins do século XVI fazem surgir a Revolução Francesa que buscava os ideais

de liberdade, igualdade e fraternidade, ou seja, o liberalismo, em que todo homem pode ter o

que quiser independente do poder divino.

Inicia-se, portanto, a Idade Contemporânea, e o conceito de propriedade tomou

um caráter egoístico com um fim em si mesmo que tem o sentido de adquirir poder, posse,

que se usa, se goza, se dispõe. Passa a existir o direito pessoal.

Com a Revolução Francesa (1789-1798) criou-se a Declaração dos Direitos do

Homem e do Cidadão (1789), alicerçado em Locke, que previa que a propriedade possa ser

"uma barreira intransponível para o Estado: um direito natural".

Ainda, hoje, o direito de propriedade continua com seu cunho individualista,

muito embora, haja limitações que buscam adequá-lo ao bem-estar social.

Assim, em 1.789, na França, com marco da história da humanidade, que visa

valorizar os direitos inerentes ao homem, ou seja, a "Declaração dos Direitos do Homem"

coloca a propriedade como um bem do homem e os frutos dela provindos, como atributos da

pessoa humana.

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Ressalta-se, também, o Código de Napoleão (1804 - França) que definiu o direito

de propriedade nos moldes do Direito Romano, como o direito de usar, gozar e dispor da

coisa de forma absoluta, no que foi seguido pelas demais nações da Europa e de todo o mundo

civilizado.

A Constituição Francesa de 1.891 segue o mesmo ideário, bem como as

Constituições de todos os Estados que priorizam a concentração excessiva ao poder de

propriedade, que fica nas mãos de uns poucos, onde o Estado tem a obrigação de defender.

Assim, o detentor da propriedade passa a utilizar-se da coisa (res), segundo os

princípios do jus utendi (direito de usar), jus fruendi (direito de gozar) e jus abutendi (direito

de abusar)14

do Direito Romano.

Diante do exposto, BOBBIO15

, ensina que os direitos do homem são direitos

históricos que nascem e se modificam de acordo com as condições históricas e com o

contexto social, político e jurídico em que se inserem. A propriedade, como direito do

homem, se modifica e evolui a cada dia com a evolução do próprio homem e da organização

social por ele criada, podendo ser considerada como o núcleo de muita destas etapas de

evolução.

Verifica-se, portanto, que desde muito cedo, havia a necessidade de delimitação

de uma área. Isso acontecia quando uma tribo, família ou grupo de pessoas reivindicava o

direito sobre essa área para pescar, caçar ou para colheita, fosse através de guerras entre

grupos, acordos entre si ou pela aplicação de leis criadas pelos mesmos.

Diante disso, vale ressaltar o ensinamento de Venosa16

ao relatar que:

[...] nas sociedades primitivas, somente exista propriedade para as coisas móveis. O

solo pertencia a toda a coletividade. Isso acontecia porque esses homens viviam

exclusivamente da caça, da pesca e de frutos silvestres e quando esses recursos se

tornavam escassos ou desapareciam, o grupo social tinha que se deslocar para outras

terras. Não estava o homem preso ao solo, porque essa constante movimentação não

o permita. Destarte, não havia noção de utilização privativa do bem imóvel.

Apesar da dificuldade de se saber o momento do surgimento da primeira forma de

propriedade territorial, existem registros históricos17

de que foi Hamurabi (1728-1686 a.c) o

14

Disponível em: <http://jurisdictio.tripod.com/exprlat.htm>. Acesso em: 12 de julho de 2010. 15

BOBBIO, Noberto (1995). Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução: SANTOS, Maria Celeste

Cordeiro dos. 6 ed. Brasília: UnB, 2000. 16

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Reais. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 48.

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precursor no que tange á codificação de legislação escrita. O Código de Hamurábi, como é

denominado, refletia além de outros princípios, o de disciplinar a vida econômica e garantir o

regime de propriedade privada da terra.

No Código de Hamurábi, há dispositivos a respeito de praticamente todos os

aspectos da vida da sociedade babilônica: comercio, família, propriedade, herança,

escravidão, sendo os delitos acompanhados da respectiva punção, mas variando de acordo

com a categoria social do infrator e da vitima18

.

2.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PROPRIEDADE NO BRASIL

A partir da análise da propriedade no Ordenamento Jurídico Brasileiro, importa a

sua configuração atual, no âmbito do Direito positivo nacional, bem como determinar o

significado, conteúdo e extensão da Função Social da Propriedade, elemento característico

deste instituto no direito contemporâneo.

A evolução da propriedade territorial no Brasil resume-se em quatro fases

distintas: as “sesmarias”, as “posses”, da “lei das terras” e a “republicana”.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, todo o seu território era de

propriedade dos nativos das diversas tribos que nele habitavam, sendo que a conquista do

território se deu aos poucos, com a colonização portuguesa.

Assim, no Brasil, de 22 de abril de 1.500, até a Independência (1822), toda a

posse sobre o território do país pertencia ao Rei de Portugal, a título de domínio original do

Estado que em 1.532, determinou a divisão administrativa do território em quinze capitanias

aos beneficiários através das Cartas de Sesmarias, que dividia o domínio original do Estado,

iniciando o domínio privado sobre as terras, cujos quinhões foram delimitados e as

prerrogativas previstas nas respectivas cartas.

17

MELLO, L. I. A.; COSTA, Luís César Amad. História Antiga e Medieval. São Paulo: Scipione, 1993, p. 98.

18 Exercício para Terceirão. Disponível em: <http://profcarmo.blog.terra.com.br/2008/03/09/exercicio-para-terceirao/> Acesso em: 13 março 2010.

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17

Nota-se que da independência do Brasil até o ano de 1.850 houve ocupação do

solo pela tomada da posse sem qualquer título.

Fausto19

, relata o regime inicial do destino das terras no Brasil:

Donatários receberam uma doação da coroa, pela qual se tornavam possuidores, mas

não proprietários da terra. Isso significava, entre outras coisas, que não podiam

vender ou dividir a capitania, cabendo ao rei o direito de modificá-la ou mesmo

extingui-la. A posse dava aos donatários extensos poderes, tanto na esfera econômica, como na esfera administrativa. [...] do ponto de vista administrativo, eles

tinham monopólio da justiça, autorização para fundar vilas, doar sesmarias, alistar

colonos para fins militares e formar milícias sob seu comando. [...] A atribuição de

doar sesmarias é importante, pois se deu origem a formação de vastos latifúndios. A

sesmaria foi conceituada no Brasil como uma extensão de terra virgem cuja

propriedade era doada a um sesmeiro, com a obrigação – raramente cumprida – de

cultivá-la no prazo de cinco anos e de pagar o tributo devido à coroa. Houve em toda

colônia imensas sesmarias, de limites mal definidos, como o de Brás Cubas, que

abrangia parte dos atuais municípios de Santos, Cubatão e São Bernardo.

Como a devastação das florestas brasileiras era eminente, para tentar protegê-las,

o rei, a conselho de José Bonifácio, extinguiu as sesmarias em 1822, criando por causa desta

decisão um novo problema fundiário na colônia, já que o titulo de propriedade perdera o seu

significado, abrindo portas para a posse que era caracterizada pela efetiva “ocupação”, com

cultura definitiva e moradia habitual onde o fogo era o principal aliado do pequeno produtor

para limpar a sua área. Diante desse quadro o país amadureceu, no preparo da 1ª e grande Lei

das Terras, a Lei 601, de 18 de setembro de 1850.

A lei das terras que se iniciou em 1850, definia a compra como único meio de

aquisição de terras, tirando dos índios qualquer direito sobre a terra que ocupavam há muitos

séculos. Foi uma lei feita especialmente para beneficiar os fazendeiros, que além de um

grande poder econômico, influenciavam no sistema do direito e definiam as políticas.

Assim, a Lei das Terras (Dec. 601 de 18 de setembro de 1850), e seu

Regulamento nº 1.218 de 30 de janeiro de 1.854, que além de regulamentar as posses já

existentes, até aquela data, conferia aos posseiros o domínio, bem como tornava públicos os

atos que tinham por objeto a declaração de transferência de terras, passando a ser de

responsabilidade do Vigário da Igreja Católica o seu reconhecimento, ficando a lei conhecida

como "Registro do Vigário".

Deve-se ressaltar que o respectivo registro não tinha por efeito a transmissão da

propriedade, apenas dava o direito de posse.

19

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994, p. 86.

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18

A constituição alemã de Weimar (1919) deu um grande passo para a socialização

do direito de propriedade, proclamando a função social da propriedade.

Já no Século XX, ocorreram duas Grandes Guerras (1ª Guerra, 1914-1918; 2ª

Guerra 1939-1945), e algumas reflexões começaram a tomar forma, cor e força, pois as

Constituições no mundo começam a buscar um cunho mais social ou Estado de Bem-estar, na

qual a propriedade é agregada ao conceito de função social, no intuito de diminuir as

desigualdades sociais, e atingir o tão sonhado bem-estar da coletividade.

Nas Constituições brasileiras de 1824 (imperial) e de 1891 (republicana) havia

uma impregnação do pensamento liberalista, “plenitude do direito de propriedade”, bem como

no Código Civil de 1916. Já nas Constituições de 1934 e 1937, passa a ter as intervenções do

governo no direito de propriedade, que “alteraram os dispositivos do Código Civil que

garantiam o caráter absoluto ao direito de propriedade”20

.

Na Constituição de 1946 o exercício do direito de propriedade estava vinculado ao

bem-estar social, pois passa a ter a desapropriação por interesse social, utilidade e necessidade

públicas, com indenização prévia e justa, em dinheiro.

Em 1964 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 10 que estabelece o direito

de desapropriação da propriedade rural para fins de Reforma Agrária, que juntamente com o

Estatuto da Terra/1964, representam marcos ao surgimento do Direito Agrário no Brasil.

Quanto às Constituições de 1967 e de 1969, estas passam a preverem a expressão

“função social da propriedade” como princípio de fundamentação da ordem econômica e

social, a qual tinha por fim realizar o desenvolvimento nacional e a justiça social.

Na Constituição Federal de 1988 (CF/88), há a inclusão da propriedade e sua

função social no rol dos direitos e garantias fundamentais, tendo natureza de cláusula pétrea e

as sanções em caso de descumprimento das normas. O Código Civil de 2002 também tem

essa previsão.

Atualmente, a propriedade é uma situação jurídica fundada numa relação entre a

sociedade e um particular, o dono e uma coisa corpórea ou não, podendo ser um imóvel, um

móvel ou um direito, em virtude da qual são assegurados ao proprietário os poderes sobre a

coisa de usar, fruir, dispor e reivindicar, respeitando os direitos da coletividade e que os

integrantes da sociedade devem, também, respeitar.

20

TORRES, Paulo Rosa. Direito Agrário e reforma agrária. Revista Jurídica dos Formandos em

Direito da UFBA. Salvador, a.4, v.5, p.1. já/jun.1999.ISSN 1414-0101.

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19

2.3 CONCEITO DE PROPRIEDADE

Diante do contexto histórico, cabe afirmar que a propriedade é a relação

fundamental do direito das coisas, sendo ela um direito real sobre coisas alheias, seja um

direito real limitado de gozo ou fruição, seja o de garantia ou de aquisição, conferindo ao

titular de tal direito a prerrogativa de usar, gozar e dispor da coisa, bem como de reivindicá-la

de quem quer que injustamente a detenha.

Deve-se, portanto, deixar claro que o termo propriedade vem do latim, proprietas,

de proprius (particular, peculiar, próprio),

genericamente designa a qualidade que é inseparável de uma coisa, ou que a ela

pertence em caráter permanente, no sentido jurídico, propriedade seria a condição

em que se encontra a coisa, que pertence, em caráter próprio e exclusivo a

determinada pessoa.21

Desta forma, propriedade significaria toda relação jurídica de apropriação de certo

bem corpóreo ou incorpóreo.

Verifica-se que a partir do século XVIII

a propriedade foi alçada à condição de direito subjetivo paradigmático, absoluto,

funcionalizado basicamente ao atendimento dos interesses individuais e egoísticos

do homem-proprietário”, tendo John Locke como um dos grandes pensadores da

propriedade moderna, individualista e liberal, o qual “organizou a defesa teórica da propriedade burguesa”.

22

O direito de propriedade é o conjunto de condições necessárias para o nascimento

da relação entre o homem e a natureza, a subsistência e o desenvolvimento dessa relação. A

propriedade é uma relação que o homem mantém com a natureza, a fim de fazer que esta lhe

sirva para a satisfação de suas necessidades.

21

Thelma Araújo Esteves Fraga in BARROS, Ana Lucia Porto et alli. O Novo Código Civil

Comentado. vol. 3. Freitas Bastos Editora, 2002, p. 1151. 22

Guilherme da Gama e Andrea de Oliveira, Função Social da Propriedade e da Posse, In GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da (coord.). Função Social no Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2007. p. 127.

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20

Como se pode verificar, o direito de propriedade é transitório e se modifica

através da história. Assim, para Hobbes23

, o direito de propriedade é uma concessão do

Estado, numa economia liberal. Não é, portanto, um direito inato ou natural.

Há de se ressaltar que, a partir dos moldes constitucionais a propriedade privada

foi concebida como um direito humano que tem a função de garantir a subsistência e a

liberdade individual contra as intromissões do Poder Público e da sociedade.

Atualmente, o direito passou a reconhecer que todo proprietário tem o dever

fundamental de atender à destinação social dos bens que lhe pertencem, caso não cumpra o

dever social, o Poder Público pode expropriá-lo sem as garantias constitucionais e as garantias

possessórias que cercam, normalmente, o domínio, que protegem a propriedade como direito

humano.

O instituto da propriedade é um sistema normativo proposto pelo direito a fim de

estabelecer padrões de comportamento exequíveis para as relações que se desenvolvem em

torno do patrimônio.

A Constituição brasileira contempla dois sistemas de propriedade: a) o da

propriedade comum, b) e propriedades especiais com normas de exercício e tutela especiais

que se orientam que se orientam pelo coletivo e pela função social. Em ambas as categorias há

titular, objeto, exercício e tutela diferenciados, que se harmonizam num sistema.

A propriedade comum é a de caráter dominial, que é regida pelo Código Civil (art.

1228). Estrutura-se e classifica-se pelas categorias tradicionais: móvel e imóvel, plena e

restrita, perpétua e resolúvel. Esta espécie tem na posse um instrumento avançado de defesa

(interditos) e nas ações petitórias (reivindicatória, negatória).

A propriedade comum restringe os bens jurídicos às duas categorias: públicos e

privados. Tem efeito erga omnes, com as limitações da lei. Há plena liberdade ao proprietário

para que faça tudo o que a lei não proíbe.

Na propriedade especial o indivíduo é o interlocutor, mediante titularidades

coletivas que abrange os bens corpóreos, entidades ou complexos de situações jurídicas

partilhadas coletivamente, inclusive com órgãos públicos ou interesses privados concorrentes,

como se observa na reserva extrativista.

23

GOUGH, J. W. A teoria de Locke sobre a propriedade. O pensamento político clássico (Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau). Organização, introdução e notas de Célia Galvão Quirino. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992, p. 230.

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21

A forma legal da propriedade especial destaca-se pela origem constitucional,

pela(s) lei(s) especial(is), ente estatal de apoio e mediação (INCRA, FUNAI, ou Agência

reguladora).

Note-se que a propriedade especial particular é a que tem dimensão própria de

função social, como a urbana e a rural, ou regime jurídico diferenciado, como a intelectual, e

a público-privada, que é empresária.

A propriedade urbana é aquela destinada à moradia, ao comércio e à indústria,

regra geral situada na zona urbana, ou mesmo na zona rural.

A única diferença é a função social, nesse caso a função social é cumprida quando

atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (CRFB,

art. 182, § 2º).

A propriedade especial rural assemelha-se à propriedade urbana no que tange à

dimensão de direito comum; mas o regime jurídico e a função social são diferentes pelo art. 4º

da Lei n. 8.629/93, rural é o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua

localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativo-

vegetal, florestal ou agroindustrial.

Pelo critério topográfico ou geográfico do Código Tributário Nacional, Lei n.

5.172/66, art. 29 e 32 §§ 1º e 2º, é o imóvel que se situa fora do perímetro urbano, tem

cadastro rural32 e recolhe imposto territorial rural. (Lei n. 9.393/96).

O imóvel rural cumpre a função social (art. 186 da CRFB), quando tem

aproveitamento racional e adequado, respeita o meio ambiente e as disposições que regulam

as relações de trabalho e favorecem o bem-estar de proprietários e trabalhadores.

As normas constam do Estatuto da Terra (n. 4.504/1964) e da Lei n. 8.629/93. Sua

tributação é orientada aos fins constitucionais (Lei n. 9.393/96 sobre Imposto Territorial Rural

– ITR), e à política agrícola (Leis n. 8.171/91 e 8.174/91) preconizando: propriedade familiar,

crédito, renovação tecnológica, assistência técnica e extensão rural, seguro agrícola,

cooperativismo, irrigação, eletrificação rural.

A Lei n. 9.985/2000, por exemplo, consagra uma variante de propriedade rural,

que é a Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN. O imóvel pode ser total ou

parcialmente incluído no Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, com o

objetivo de conservar a diversidade biológica.

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22

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em sua sistemática, fala em

“propriedades” e não apenas em propriedade. A Carta Magna garante o direito de propriedade

em geral (artigo 5 ,XXII), dotado de um conteúdo mínimo essencial e sem direito a

indenização, mas, fazendo distinção entre as propriedades urbanas e rurais disciplinadas, a

primeira pelo art. 182, 2 e a ultima pelos artigos 184, 185 e 186, com SS respectivos regimes

jurídicos.

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23

3 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO BRASIL

3.1 OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS AO MEIO AMBIENTE.

O art. 225 da Constituição Federal estabeleceu pela primeira vez na história do

direito constitucional brasileiro o direito ao meio ambiente, regrando, pois, no plano

normativo mais elevado, os fundamentos do direito ambiental constitucional. Com efeito, são

fixados no Direto Brasileiro os direitos da natureza, da seguinte forma:

Art. 225. Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e á coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

§1. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies ecossistemas;

II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético de País e

fiscalizar as entidades dedicadas a pesquisa e manipulação de material genético;

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, a forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substancias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco a sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

§ 2. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio

ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público

competente, na forma da lei.

§3. as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sansões penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

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24

§4. a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal

Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,

na forma d lei dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,

inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§.5. são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas, pelos Estados, por ações

discriminatórias, necessárias a proteção dos ecossistemas naturais.

§6. as usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em

lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Diante da proteção acima exposta, o ser humano tem assegurado um meio

ambiente ecologicamente equilibrado e a sua diversidade protegida que é o patrimônio

genético do país. Trata-se também de dever dos três níveis federativos do Poder Público, cuja

proteção é imediata para a natureza e mediata para o ser humano.

Portanto, se faz necessário destacar que o Direito Ambiental não está ligado

somente ao agora. Sua maior preocupação é a vida tanto do presente como a futura, tornando

a legislação ambiental cada vez mais ampla, visando da melhor forma possível, um ambiente

saudável e com condições de uma vida digna e equilibrada com o meio ambiente.

A função social da propriedade deve ser observada em correlação ao proveito do

detentor do domínio. A propriedade só existe o direito sobre ela, enquanto respeitada a sua

função social. Desatendido os requisitos de preservação e proteção não mais existe o direito.

O direito de propriedade nos dias atuais, não tem mais o caráter absoluto de outros tempos,

sendo o seu uso condicionado a sua função social.

Ao analisar a Declaração das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano, Luís

Paulo Sirvinskas24

ensina que:

O homem tem um direito fundamental á liberdade, á igualdade e a condições de vida

satisfatória, num ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-

estar. Ele tem o dever solene de proteger e melhorar o meio ambiente para as

gerações presentes e futuras.

Deve-se, ainda, afirmar que há a existência de um direito material constitucional

caracterizado como “direito ao meio ambiente”, cujos destinatários são todos. Em face da

relevância do bem ambiental, a Constituição Federal determinou de forma impositiva tanto ao

Poder Público como à coletividade não só o dever de defender os bens ambientais como

também de preservá-los.

24

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual do Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 37.

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25

3.2 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E A ORDEM ECONÔMICA (Art. 170 da

CF/88).

A propriedade conforme o Texto Constitucional é trabalhada em duas acepções:

como direito fundamental e como elemento de ordem econômica. No artigo 5º, onde se fala

dos diretos fundamentais do cidadão e da coletividade, a Constituição, ao mesmo tempo em

que garante o direito de propriedade, atribui a este uma função social. O Artigo 170, inciso II,

como Princípio de Ordem Econômica.

A propriedade que cumpre sua função social merece proteção constitucional,

sendo elemento integrante do conteúdo do direito de propriedade, devendo sempre ser

direcionado à sua utilidade social.

Na visão de RABAHIE25

:

Hoje é imperioso que, antes de mais nada, acatemos a necessária predominância de

nossas normas constitucionais sobre o regramento constitucional. É necessário que

interpretemos as disposições do Código Civil, lembrando-nos, sempre, que

anteriores e superiores á lei ordinária (Código Civil) são os prescritivos

constitucionais.

Face ao que se refere o Código Civil Brasileiro em relação à propriedade, não

poderá ser interpretado isoladamente no tratamento da propriedade. É necessário que

prevaleçam as orientações constitucionais, pois a Constituição é hierarquicamente superior às

demais normas infraconstitucionais, orientando todo o Ordenamento Jurídico Brasileiro.

A questão ambiental esta ligada à justiça social. Tanto é que, o legislador

constitucional fez previsão expressa no artigo 170 da nossa Carta Política. A ordem

econômica e a justiça social procuram da melhor forma assegurar a todos, uma existência

digna, observando alguns princípios:

a) a função social da propriedade;

b) defesa do meio ambiente.

25

RABAHIE, Marina Mariani de Macedo. Função Social da Propriedade p. 22, apud CAVEDON, Fernanda de Salles.

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26

Uma boa qualidade de vida é direito de todos, mas para que esta seja assegurada,

primeiramente a qualidade do meio ambiente é essencial, fazendo com que qualquer atitude

nociva ao meio ambiente conspira contra os princípios fundamentais da nossa constituição

federal.

Uma sociedade livre, justa e solidária, depende de requisitos para que tenha

efetivamente seus efeitos e se insiram no seu meio. Um ambiente sadio, a valorização do

trabalho humano são alguns dos seus elementos.

Não poderia haver uma proteção constitucional à Ordem Econômica que

sacrifique o meio ambiente, até porque esse princípio é reitor daquela.

É desta forma que a propriedade rural deve atuar garantindo uma adequada

utilização de seus recursos naturais, sempre respeitando e protegendo o meio ambiente.

Enfim, o meio ambiente se mostra como um dos principais bens a ser tutelado.

Dele se extrai a saudável qualidade de vida que dependemos para sobreviver, garantido a

nossa saúde, bem-estar e segurança da sociedade. Desta forma, podemos observar que sem a

preservação do meio ambiente, não podemos ter uma boa qualidade de vida. As futuras

gerações vão depender do que somos e o que fazemos pela natureza agora. O mundo depende

de nossa conscientização e bom senso.

Deve-se ressaltar que “a palavra função vem do latim functio, functionis, que quer

dizer trabalho, exercício, cumprimento, execução”26.

Como já se disse anteriormente, a função social, no Brasil, da propriedade foi

positivada, na Constituição Federal de 1988, em seu art.5º, inciso XXIII, bem como em seu

art. 170, inciso III, que determina que a ordem econômica deverá observar a função da

propriedade e impõe freios à atividade Empresarial, transformando, pois, o instituto da

propriedade em um direito de finalidade social.

No posicionamento de Gama e Oliveira27

:

O que não se pode admitir, no entanto, é que a função social da propriedade

continue sendo caracterizada como uma limitação do direito à propriedade ou, ainda,

que a norma que a reconhece não seja dotada de qualquer efetividade. (...) deve-se

reconhecer que a função social integra a propriedade; a função social é a

propriedade, e não algo exterior (...). E, uma vez não cumprida a função social, o

direito de propriedade será esvaziado.

26

GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da (coord.). Função social no Direito Civil. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2007, p. 44.

27 GAMA, op, cit., p.47.

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27

Na visão de Benedito Ferreira Marques28

há um exagero em afirmar que a

propriedade é a função social, que em razão disso,

o processo expropriatório previsto no ordenamento jurídico pátrio seria

questionável, na medida em que ele pressupõe indenização, e esta não deveria existir

em favor do proprietário que não faz a terra cumprir o sei papel como bem de

produção.

Para Miguel Reale29,

afirma que “a propriedade é como Janus bifronte: tem uma

face voltada para o indivíduo e outra para a sociedade. Sua função é individual e social”.

A função social da propriedade requer que o uso do bem seja compatível à sua

destinação socioeconômica, que sua utilização respeite o meio ambiente, as relações de

trabalho, o bem-estar social e a utilidade da exploração.

De fato, acredita-se que o núcleo essencial da propriedade, em toda a evolução do

Direito privado ocidental, sempre foi o de um poder jurídico soberano e exclusivo de um

sujeito de direito sobre uma coisa determinada.

Com a garantia da liberdade individual, a propriedade passou a ser protegida,

constitucionalmente, em sua dupla natureza de direito subjetivo e de instituto jurídico.

A questão do direito de todo indivíduo à propriedade, o direito à aquisição dos

bens indispensáveis à sua subsistência, de acordo com os padrões de dignidade passa a

adquirir o caráter de direito fundamental da pessoa humana, previsto, também, na

Constituição Federal/88.

Desse modo, deve-se observar que tanto a propriedade quanto a função social, são

direitos consagrados no Texto Constitucional de outubro de 1988 e possuem as diretrizes

irradiando para toda árvore jurídica, no entanto, quando são segregados, esta garantia deixa de

ser absoluta acerca da propriedade para evitar prejuízo em face da função social.

O texto do artigo 5º da Carta de 1988 determina a garantia do direito de

propriedade e condiciona o atendimento à função social e logo adiante o estabelecimento do

instituto da desapropriação para os casos de necessidade, utilidade pública ou interesse social.

A previsão está no art. 5º, XXII, XXIII, XXIV e seguintes da Carta Magna.

28

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2007, p. 34. 29

Apud DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Vol. 4: direito das coisas. 23 ed. rev.,

atual. e ampl. de acordo com a Reforma do CPC e com o Projeto de Lei n.276/2007. São Paulo: Saraiva, 2008.

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28

4 O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE E O

TRATAMENTO DESTINADO A PROPRIEDADE PELO NOVO CÓDIGO CIVIL

Com a Magna Carta de 1988, a propriedade imóvel rural mudou na medida em

que foi imposto o cumprimento da sua função social. Se por um lado o Código civil não tratou

com maior profundidade a função social e ambiental da propriedade, o que é até

compreensível, pela longa tramitação de seu projeto que perdurou por décadas, o Novo

Código Civil (Lei 10.406, de 11-01-2002) modificou de uma forma substancial a norma

definidora de propriedade, quando acrescentou a obrigatoriedade de cumprir uma função

sócio-ambiental, conforme o art. 1.228, 1º, que diz:

[...] o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas

finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade

com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio

ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e

das águas.

Com o Novo Código Civil, instituído pela Lei 10.406, de 10/01/2002, a questão

da função social da propriedade, no Brasil, recebe importantes contribuições e institutos,

começando com as disposições preliminares do título relativo à propriedade (Seção I do

Capitulo I do Titulo III do Livro III da Parte Especial), logo após o seu respectivo conceito

(caput do artigo 1.228).

O Novo Código Civil expressou os pressupostos para a utilização do direito de

propriedade, sendo que seu exercício deverá fazer-se “em consonância com as suas

finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, a fauna, a flora, as belezas

naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a

poluição do ar e das águas” (do artigo 1.228 do CC).

O proprietário tem a faculdade de gozar e dispor da propriedade, desde que exerça

a sua função social, ou seja, utilizando-a de forma consciente sem agredir o meio ambiente.

No caso de descumprimento dessas obrigações poderá ser sofrer sanções administrativas,

civis.

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29

O Código Civil de 200230

traz expressamente no art. 1.228:

o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-

la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”, e segue no § 1º, “o

direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o

estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio

ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e

das águas.

O texto constitucional e o Código Civil conferem o bem estar coletivo, uma vez

que este está no cerne das exigências supracitadas acerca da garantia da propriedade. No

entanto, é sabido que na prática não é assim que ocorre.

Aqui vale guardar que o regime jurídico da propriedade abrange as normas de

direito civil, um complexo de normas administrativas, ambientais, urbanísticas, empresariais,

civis, todas com base nas normas constitucionais.

O direito civil é aquele que disciplina as relações jurídicas civis decorrentes do

direito de propriedade.

Quando se diz que a propriedade privada tem uma função social, significa que ao

proprietário se impõe o dever de exercer o seu direito de propriedade, não somente em seu

único e exclusivo interesse, mas em beneficio da coletividade, sendo esse efetivo

cumprimento que legitima o exercício do direito de propriedade pelo seu titular. A

preservação do meio ambiente, entre outros, é um requisito para que a propriedade exerça a

sua função social, e a Constituição impõe esse dever ao proprietário.

Nesse contexto, GRAU31

, informa que:

[...] a admissão do principio da função social (e ambiental) da propriedade tem como

conseqüência básica fazer com que a propriedade seja afetivamente exercida para

beneficiar a coletividade e o meio ambiente (aspecto positivo), não bastando apenas

que não seja exercida em prejuízo de terceiros ou da qualidade ambiental (aspecto

negativo). Por outras palavras, a função social e ambiental não constitui um simples

limite ao exercício do direito de propriedade, como aquela restrição tradicional, por

meio da qual se permite ao proprietário, no exercício de seu direito, fazer tudo o que

não prejudique a coletividade e o meio ambiente. Diversamente a função social e ambiental vai mais longe e autoriza ate que se imponha ao proprietário

comportamentos positivos, no exercício de seu direito, para que a sua propriedade

concretamente se adéque á preservação do meio ambiente.

30

BRASIL. CÓDIGO CIVIL DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_68/ > Acesso em: 12 de maio de 2010.

31 GRAU, Eros. Princípios Fundamentais de Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 2, 1997, p. 130.

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30

A Constituição da República de 198832

, em seu art. 186, elenca o pressupostos

para que se possa chegar à função social da propriedade. Mas, para que se possa adequar á

essa função social, devem ser atendidos, cumulativamente os requisitos do presente artigo.

São eles:

Art. 186 da CF: a função social da propriedade é cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos

em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado da propriedade

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio

ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores

Embora não explicitamente, o inciso I do art. 186 da CF ao estabelecer o

aproveitamento racional e adequado envolve a questão da produtividade.

Para não haver conflitos entre o principio da função social da propriedade e o

principio do desenvolvimento econômico, a nossa Carta Política aliou esses dois fundamentos

no art. 170, buscando um melhor entendimento em relação à proteção do meio ambiente, sem

prejudicar o desenvolvimento agropecuário de nosso País.

Assim dispõe o art. 170 da CF33

:

Art. 170. a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios:

I – soberania nacional;

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;

IV – livre concorrência;

V – defesa do consumidor;

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme

o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração prestação;

VII – redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII – busca do pleno emprego;

32

CONSTITUIÇÃO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Disponível em: <http:/www.presidencia

gov.br/legislacao/CF88>. Acesso em: 22 de mai. 2010. 33

Ob. cit.

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31

IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as

leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.

Como bem acentua Pontes de Miranda34

:

propriedade privada, é instituição, a que as Constituições dão o broquel da garantia

institucional. Inexiste um conceito fixo da propriedade e nem seria possível

enumerar todos os direitos particulares em que se pode decompor, ou de que

transcendentemente se compõe, porque da instituição apenas fica, quando reduzida,

a simples e pura patrimonialidade. Está vedado apenas ao legislador extinguir o

instituto jurídico, com o direito de propriedade. (...) o direito de propriedade é garantido quanto ao sujeito, que o tem, já que assegura, em caso de desapropriação

por necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, a pretensão à indenização

prévia; sendo o seu conteúdo e os seus limites suscetíveis de mudança em virtude de

legislação, assim como o seu exercício.

Assim, deve-se dizer que a Constituição prevê a propriedade entre o domínio

privado e limita a sua tutela no campo econômico, pois a apropriação particular dos bens

econômicos não pode ser sacrificada.

A pequena e a média propriedade rural são insuscetíveis de desapropriação para

fins de reforma agrária e tem garantido tratamento especial. Dessa forma, a pequena

propriedade rural, definida em lei como sendo aquela que é trabalhada pela família do

proprietário, não pode ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua

atividade produtiva, além de gozar, por lei, de condições favorecidas de financiamento (art.

5º, inc. XXVI).

O direito de propriedade configura-se como um direito fundamental à

propriedade, consagrado no art. 5º, caput, da nossa Constituição. A Constituição preserva o

acesso do indivíduo à propriedade, como instrumento de manutenção de sua sobrevivência

mínima, bem como reconhece a garantia institucional da propriedade.

Note-se que sem o atendimento da função social que é imposta pela Constituição,

a propriedade perde sua legitimidade jurídica e o seu titular não pode mais arguir em seu

favor o direito individual de propriedade, devendo se submeter às sanções do ordenamento

jurídico para ressocializar a propriedade.

Nesse passo, é forçoso admitir que o princípio fundamental da função social da

propriedade constitui o alicerce constitucional do regime jurídico-constitucional da

propriedade, no qual todos os demais princípios e regras constitucionais a ele submetidos,

inclusive o princípio da propriedade privada estabelecido no art. 170, II, da Lei Maior.

34

PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti (1980). A Naturalidade do Fenômeno Jurídico. In: FALCÃO, Joaquim. & SOUTO, Cláudio (orgs.). Sociologia e direito - leituras básicas de sociologia jurídica. São Paulo: Pioneira, 1987, p.396-397.

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32

Na visão do renomado Celso Ribeiro Bastos35

a função social da propriedade nada mais é do que o conjunto de normas da

Constituição que visa, por vezes até com medidas de grande gravidade jurídica, a

recolocar a propriedade na sua trilha normal. Há o predomínio do critério econômico no conteúdo da função social da propriedade, abrangendo a mesma as sanções

determinadas e aceitas na Constituição ao uso deturpado e degenerado, no que vai de

encontro à Ordem Jurídica. Tais sanções referem-se às decorrentes do atentado das

normas do poder de polícia, ou então à perda da propriedade na forma da

Constituição Federal. A função social da propriedade careceria de um regime único

haja vista a diversidade de domínios nos quais se manifesta a propriedade,

dependendo sua eficácia de uma rígida e expressa regulamentação constitucional e

infraconstitucional.

Pode-se arguir que a função social da propriedade é um elemento acessório,

expresso e corretor.

35

BASTOS, Celson Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 194.

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33

5 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

5.1 PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE

Cabe trazer à baila a inserção da instituição da propriedade insculpida no art. 5º da

Carta Magna brasileira, uma vez que reflete as várias peculiaridades desse instituto. Assim, o

referido artigo constitui a propriedade como garantia inviolável e prevê-lhe a condição de

garantia fundamental, tanto na esfera privada como na pública. Assim prevê o art. 5º da

Constituição Federal/8836

, quando diz respeito à propriedade:

TÍTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

(...)

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem

consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para

prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou

utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em

dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de

propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver

dano;

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada

pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu

desenvolvimento;

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou

reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

(...)

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação

imediata.

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

(...)

36

CONSTITUIÇÃO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Disponível em: <http:/www.presidencia

gov.br/legislacao/CF88>. Acesso em: 22 de mai. 2010.

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34

Desse modo, no inciso XXII, do dispositivo 5º, declara que "é garantido do direito

de propriedade", bem como o XIII prevê que "a propriedade atenderá a sua função social".

Assim, a propriedade abrange não só o direito privado, mas toda a esfera pública.

No mesmo ordenamento jurídico constitucional, o art. 170, determina os

"princípios gerais da atividade econômica", no sentido de que:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios: I - omissis

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

(...)

Assim, muitos são os conceitos existentes para uma única palavra: ambiente é

tudo aquilo que nos cerca; a vida em nossa volta.

O meio ambiente pode ser considerado como o “conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida

em todas as suas formas”37

.

O Direito Ambiental é definido por MUKAI38

, como:

O Direito Ambiental (no estágio atual de sua evolução no Brasil) é um conjunto de

normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do direito reunidos por sua

função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao seu

meio ambiente.

Nesse sentido, entende-se que o Direito Ambiental procura normatizar a

apropriação econômica dos bens ambientais, garantindo ao ser humano um direito

fundamental que é a saudável qualidade de vida. Portanto, pelo fato do meio ambiente ser

essencial para todo ser vivo, pode ser explorado pelo homem de uma forma econômica, mas,

sempre de forma ecológica, respeitando os limites de exploração, para que, também, ele seja

preservado para as futuras gerações.

A Organização das Nações Unidas (ONU), com a Resolução 3717 de 28/10/1982,

proclamada pela Assembléia Geral, afirmou que: “Toda forma de vida é única e merece ser

respeitada, qualquer que seja a sua utilidade para o homem, e, com a finalidade de reconhecer

37

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 954.

38 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994, p. 191.

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35

aos outros organismos vivos este direito, o homem deve se guiar por um código moral de

ação”.

O Direito Ambiental, desta forma, busca o reconhecimento do homem como parte

integrante da natureza, assim como todos os outros seres com vida, gerando uma igualdade

entre o racional e o irracional, o que no passado não era assim.

Quando se fala em função social da propriedade não se indicam as restrições ao

uso e gozo dos bens próprios, mas a noção de função, o que significa poder, mais

especificamente, o poder de dar ao objeto da propriedade destino determinado de vinculá-lo a

certo objetivo.

A função ambiental da propriedade é a própria definição do direito de

propriedade, impondo ao proprietário comportamentos condizentes com o objetivo de

preservação da natureza para que desta forma possa exercer o seu direito no que está em seu

domínio.

É perceptível que alguns elementos da natureza, pouco a pouco vão

desaparecendo em função da atividade que o homem vem causando sobre ela praticamente

por todo o tempo de existência da vida no nosso planeta. O pensamento ocidental acredita que

Platão constatou as primeiras mudanças negativas do ser humano em relação ao meio

ambiente, em seu célebre diálogo Criton39, onde lamenta acidamente o estado de degradação

ambiental do mundo.

Os problemas atuais relativos à perda da diversidade biológica são gerados pela

arrogância do homem que mesmo tendo noção dos danos irreversíveis que causam não se

importam desde que, com isso, adquiram riquezas.

O bem jurídico considera a existência do interesse de um sujeito, que se transmite

na utilidade e satisfação na necessidade de usufruir algo revestido de significado à luz do

Direito.

Assim deve-se entender por bem jurídico:

é toda coisa que pode ser objeto do Direito. Bem é tudo quanto pode proporcionar ao

homem qualquer satisfação. Nesse sentido se diz que a saúde é um bem, que a

amizade é um bem e etc. Mas juridicamente falando, bens são os valores materiais

ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de direito. Para que seja objeto

de uma relação jurídica é preciso que o bem tenha idoneidade para satisfazer um

39

Disponível em: <div dir='ltr'><font size='6'><b>Críton</b></font><br /><br /><strong>Resumo. Acesso em: 12 de maio de 2010.

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36

interesse econômico - portanto, que tenha valor econômico - e, que subordine-se

juridicamente a um titular40

.

Já o bem jurídico protegido aqui, é o meio ambiente equilibrado, seja público ou

privado, para que possa satisfazer as necessidades do ser humano que é uma boa qualidade de

vida.

5.1.1 Das Infrações e Sanções Administrativas ao Meio Ambiente

O Decreto nº 6.514 de 22 de Julho de 2008, dispõe sobre infrações e sansões

administrativas relacionadas ao meio ambiente, observando sempre os princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla

defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência, onde se considera

infração ambiental, toda ação ou omissão, que viole as regras jurídicas de uso, gozo,

promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, onde são punidas com advertência,

multa simples e multa diária, restritiva de direitos, entre outras.

As multas sempre aplicadas por agentes de órgãos ambientais que, serão

trimestralmente publicadas pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA levará em

conta situação econômica do transgressor, para a aplicação do valor da multa, sempre

dependendo da gravidade dos fatos. Uma forma de punir sem excesso, para que não fique

impossível o cumprimento da obrigação, levando em conta a situação econômica do infrator.

Em se tratando de reincidência do infrator, este será aplicada uma multa em triplo,

quando cometida a mesma infração e em dobro, no caso de cometimento de infração distinta.

Prescreve em cinco anos a ação da administração objetivando apurar a pratica de

infrações contra o meio ambiente, contada da data do ato ou, no caso de infração permanente

ou continuada, do dia em que esta tiver cessado. Também os autos de infrações paralisados

por mais de três anos, pendentes de julgamento ou despacho, poderão ser arquivados de oficio

ou mediante requerimento do interessado, sem prejuízo da apuração da responsabilidade

40

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Jurídico. 7 ed. São Paulo: Rideel, 2004. pp. 175.

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37

funcional decorrente da paralisação, salvo em caso de que o ato tenha constituído crime, o que

o levará a prescrever no prazo previsto em lei penal.

A natureza precisa da proteção legal, mesmo assim alguns não se preocupam com

a saudável qualidade de vida que depende do meio ambiente. O que se deve é buscar um

equilíbrio entre economia e natureza, formando o que se chama de sustentabilidade, o

essencial para um planeta convivendo harmoniosamente entre os seres vivos.

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38

6 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

6.1 CONCEITO

Conforme diz o artigo 1º, incisos I e II, do Código Florestal, Lei nº 4.771/1965:

Art. 1 As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação,

reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a

todos os habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedade, com as

limitações que a legislação em geral e especialmente esta lei estabelecem.

(...)

II – área de preservação permanente: área protegida nos termos dos artigos 2º e 3º

desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar

os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo

gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações

humanas;

III – Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,

excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos

naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da

biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

A área de preservação permanente não está inserida na mesma área que é

destinada a Reserva Legal, o que nem sempre foi desta forma. Antigamente não existia uma

distinção dos objetivos a que as duas áreas representavam. Enquanto a argumentação jurídica

no sentido de que as áreas de preservação permanente visavam uma boa qualidade do meio

ambiente, as reservas legais eram mero interesse quantitativo, devendo a qualidade preencher

a quantidade.

Hoje o entendimento é unânime conforme o respaldo legal destinando a reserva

legal maior atenção onde se justifica que a reserva legal é a preservação da fauna e flora, bem

como do equilíbrio ecológico da região. Já a área de preservação permanente se fundamenta

na proteção destinada às águas e ao solo, impedindo a erosão, o assoreamento dos rios, o

deslizamento dos morros, alagamentos, entre outras causas.

O meio ambiente do nosso país, desde o seu descobrimento, tem sido importante

para a produção de material economicamente rentável para o ser humano. Com o objetivo de

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39

proteção e regeneração do meio ambiente, o Poder Público vem conscientizando da

importância que ele é para os seres vivos, pautando sempre o seu uso racional e de seus

recursos naturais.

Deve-se mencionar o posicionamento de Osny Duarte Pereira41

sobre as Áreas de

Preservação Permanente:

Sua conservação não é apenas por interesse público, mas por interesse direto e

imediato do próprio dono. Assim como ninguém escava o terreno dos alicerces de

sua casa, porque poderá comprometer a segurança das nascentes, das margens dos rios, das encostas das montanhas, ao longo das estradas, porque poderá vir a ficar

sem água, sujeito a inundações, sem vias de comunicação, pelas barreiras e outros

males conhecidamente resultantes de sua insensatez. As árvores nesses lugares estão

para as respectivas terras, como o vestuário está para o corpo humano. Proibindo a

devastação, o Estado nada mais faz do que auxiliar o próprio particular a bem

administrar os seus bens individuais, abrindo-lhes os olhos contra os danos que

poderia inadvertidamente cometer contra si mesmo.

O artigo 2º e 3º do Código Florestal42

determina o que se pode chamar de área de

preservação permanente:

Art. 2º – Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as

florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em

faixa marginal cuja largura mínima será: (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de

largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50

(cinquenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de

18.7.1989)

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200

(duzentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a

600 (seiscentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a

600 (seiscentos) metros; (Incluído pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

41

PEREIRA, Osny Duarte. Áreas de Preservação Permanente. In: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 67.

42 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm > Acesso em: 23 de maio de 2010.

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40

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer

que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de

largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100%

na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em

faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a

vegetação. (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

i) nas áreas metropolitanas definidas em lei. (Incluído pela Lei nº 6.535, de 1978) (Vide Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos

perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e

aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos

respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites

a que se refere este artigo.(Incluído pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas

por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural

destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;

b) a fixar as dunas;

c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares;

e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;

f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;

g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;

h) a assegurar condições de bem-estar público.

§ 1° A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária

à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse

social.

§ 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de

preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.

Art. 3o-A. A exploração dos recursos florestais em terras indígenas somente poderá ser realizada pelas comunidades indígenas em regime de manejo florestal

sustentável, para atender a sua subsistência, respeitados os arts. 2o e 3o deste

Código. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

Podemos observar que a flora mencionada na presente Lei Federal tem a

preservação permanente, sendo obrigação do proprietário, sendo a propriedade privada, ou do

Poder Público, na propriedade pública, impedir qualquer ameaça dentro dessas propriedades

ao bem aqui protegido.

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41

As áreas de preservação permanente, elencadas no art. 2º do Código Florestal,

uma vez criadas por lei, só podem ser modificadas com base em nova lei. São áreas

indisponíveis para a exploração, sendo consideradas bens de interesse comum da sociedade.

São verdadeiras reservas de tesouros que a cada dia que se passa se tornam mais importantes

não só para o nosso país, mas para o mundo que respira o mesmo oxigênio.

6.2 A PROTEÇÃO DAS ÁGUAS, ENCOSTAS E ELEVAÇÕES

A água é o elemento essencial na vida de todo ser vivo, nada podendo substituí-la.

É elemento constitutivo da vida.

No texto legal pode-se verificar a grande preocupação na preservação da

vegetação ao redor dos cursos d’água, conhecida como mata ciliar que é de extrema

importância para alimentar rios e lagos e até os lençóis freáticos com as águas que recebem

das chuvas. A retirada dessa cobertura vegetal aumentaria o risco de erosão do solo causando

a poluição dos cursos d’água com sedimentos, o que diminuiria a capacidade de retenção de

água nas bacias hidrográficas e aumentando as enxurradas.

A Lei 4771 de 15 de setembro de 1965, em seu artigo 1º, estabelece que nas

nascentes dos rios deva ser constituída uma área em forma de paralelogramo, denominado

paralelogramo de cobertura florestal, onde se veda qualquer forma de desmatamento nesta

área.

No caso de descumprimento da obrigação de reflorestar essas áreas com a

utilização de espécies nativas, serão impostas sanções pecuniárias ao proprietário ou

possuidor, com o objetivo de forçá-lo a cumprir a obrigação.

Apesar de 3/4 da superfície do planeta ser cobertos de água, apenas um percentual

mínimo é formado por água doce, de 2,5%. Disso somente pode-se aproveitar 20%, pois 80%

restantes estão contidos em geleiras nos pólos do planeta. Por esse motivo, o Código Florestal

destina uma grande importância aos cursos da água almejando a sua primordial proteção.

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42

Nos países chamados de terceiro mundo, a água potável é de qualidade precária,

onde mais de 80% das doenças e mais de 1/3 da taxa de mortalidade são decorrência da má

qualidade da água utilizada pela população para satisfazer suas diversas necessidades. Para se

ter uma ideia, a água consumida por um cidadão europeu é setenta vezes maior que a de um

habitante de Gana, país africano.

Portanto, a água é um elemento finito e escasso e devido a isso, vem-se tornando

um dos recursos mais caros do nosso planeta. Sem ela seria impossível existir vida. Mas

mesmo diante de tal afirmação, muitas pessoas não se importam em dedicar um pouco em sua

preservação e proteção, e com o grande interesse econômico que a natureza oferece não

medem esforços para conseguirem enriquecer cada vez mais, não se importando com o mal

que causam às nossas águas poluindo e destruindo a flora aquática dos nossos rios e lagos.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 22, IV, determina que as águas

caracterizadas como recurso econômico de grande importância, são domínio da União e só a

ela compete legislar sobre as águas. Quanto ao combate à poluição e a defesa do meio

ambiente são competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, sendo necessário a cada um deles criar normas e regulamentos para que sejam

exercidas tais atribuições.

Os lagos são, geralmente, uma extensão de águas cercada por terras. Os rios

também gozam de uma proteção importante, uma vez que recebem proteção legal desde as

suas nascentes até onde desembocam no mar, cabendo a cada Estado aumentar as faixas de

proteção e desta forma, as florestas de proteção permanente. As demais correntes de água,

bem como as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países, as praias

marítimas, gozam de proteção legal.

As terras úmidas, nas quais estão abrigadas muitas das nascentes dos rios e que

são consideradas áreas de preservação permanente pela alínea “c” do art. 2º do Código

Florestal, agem como barreiras de controle à erosão, servem de berçários para peixes e

anfíbios, além de serem áreas de repouso para aves em rotas migratórias. Os banhados são

ecossistemas de extrema importância, os quais se definem como áreas alagadas permanente

ou temporariamente, conhecidos na maior parte do país como brejos, são também

denominados de pântanos, pantanal, charcos, varjões e alagados, entre outros.

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43

Ao adquirir uma área contendo mananciais, o investidor fica ciente de sua

responsabilidade social, pois ainda que o curso d’água já esteja poluído, até mesmo a

montante, sempre há a perspectiva de recuperá-lo.

As encostas são todos os tipos de vegetação que estejam no topo dos morros,

montes, montanhas e serras. São também conhecidas por chapada e tabuleiro.

Estas áreas sendo estabelecidas como de preservação permanente, busca impedir a

erosão e a destruição desses terrenos. Vale lembrar que, com a proteção dessas áreas se evita

as enchentes e inundações nos terrenos mais baixos, pelo fato de as vegetações do alto dos

topos, ajudar na retenção da água das chuvas no solo, se tornando uma barreira natural.

Morro é definido pelo dicionário geológico-geomorfológico como monte pouco

elevado, cuja altitude é de aproximadamente 100 a 200 metros.

De acordo com o mesmo dicionário, monte é grande elevação do terreno, sem se

considerar a sua origem. Apenas se leva em conta o aspecto topográfico, ao descrever-se a

região onde aparece este tipo de acidente de relevo. O termo genérico de monte se aplica, de

ordinário, às elevações que surgem na paisagem como forma isolada.

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44

7. RESERVA LEGAL

As normas de proteção da Reserva Legal estão previstas no Código Florestal, em

seus artigos 16 e 44 (Lei nº 4.771/65).

A área destinada a Reserva Legal varia de acordo com cada região e bioma do

país. Não podem ser confundidas com as áreas de preservação permanente, uma vez que

possuem uma destinação ecológica diferente.

Paulo de Bessa Antunes43

conceitua Reserva Legal:

Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de

preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à

conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da

biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

A Reserva Legal objetiva preservar parte de uma propriedade particular, visando à

proteção da vegetação, o que é imprescindível ao uso sustentável dos recursos naturais.

Paulo de Bessa Antunes44

, ainda, menciona:

Recursos naturais são elementos da flora e da fauna utilizáveis economicamente

como fatores essenciais para o ciclo produtivo de riquezas e sem os quais a atividade

econômica não pode ser desenvolvida.

A Reserva Legal deve ser averbada na margem da matrícula do imóvel, no

cartório de registro de imóveis competente, tornando proibida a alteração de sua destinação,

mesmo em caso de transmissão ou desmembramento da área da propriedade, se tornando

imutável.

As regiões leste meridional, sul, parte do sul da região centro-oeste, 20% da área

de cada propriedade com cobertura arbórea, é destinada a Reserva Legal. Na região norte e no

norte da região centro-oeste, 50% das propriedades é proibido o corte raso da vegetação, ou

seja, não podem ser derrubadas todas as árvores deixando o terreno sem cobertura arbórea.

43

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 10 ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, p. 2007, p. 988.

44 Ob. cit. p. 990.

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45

O artigo 24, VI, par. 2 e 3 da Constituição Federal dá o devido fundamento em

relação a Reserva Legal:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos

recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição.

(...)

P2º - a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a

competência suplementar dos Estados.

P3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a

competência legislativa plena, para atender as suas peculiaridades.

Tem sido pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a respeito dos

assuntos referentes à faixa ciliar, e à área de Reserva Legal, a proibição da utilização das áreas

protegidas, para fins de exploração econômica, inclusive com vedação a utilização como

pastagens e a responsabilização daqueles que perpetuam a lesão ao meio ambiente, mesmo

que iniciada ou cometida por outrem, assim como a transmissão das obrigações de

conservação e recuperação ambiental daqueles que adquirirem o imóvel rural.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO PROFERIDO EM

AGRAVO REGIMENTAL DANOS AMBIENTAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

RESPONSABILIDADE. ADQUIRENTE. TERRAS RURAIS. RECOMPOSIÇÃO.

MATAS.

1. A Medida Provisória 1.736-33 de 11/02/99, que revogou o art. 99 da lei 8.171/99,

foi revogada pela MP 2.080-58, de 17/12/2000.

2. Em matéria de dano ambiental a responsabilidade é objetiva. O adquirente das

terras rurais é responsável pela recomposição das matas nativas.

3. A Constituição Federal consagra em seu art. 186 que a função social da

propriedade rural é cumprida quando atende, seguindo critérios e graus de exigência

estabelecidos em lei, a requisitos certos, entre os quais o de "utilização adequada dos

recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente"

4. A lei 8.171/91 vigora para todos os proprietários rurais, ainda que não sejam eles

os responsáveis por eventuais desmatamentos anteriores. Na verdade, a referida

norma referendou o próprio Código Florestal (lei 4.771/65) que estabelecia uma

limitação administrativa às propriedades rurais, obrigando os seus proprietários a

instituírem áreas de reservas legais, de no mínimo 20% de cada propriedade, em prol do interesse coletivo.

5. Embargos de Declaração parcialmente acolhidos para negar provimento ao

Recurso Especial.

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46

(Embargos de Declaração no Agravo Regimental no REsp n 255170-SP (2000-

0036627-7) 1ª Turma do STJ, Rel. Min. Luiz Fux)45

.

Em princípio, a área de Reserva Legal é uma limitação administrativa, onde o

proprietário/possuidor somente pode operar se seguir determinadas regras. Essa limitação foi

o meio encontrado para estimular a preservação ambiental, portanto, foi inserido no texto da

lei um novo instituto jurídico, através da MP 2.166-67, de 24 de agosto de 2.001: a servidão

florestal, podendo esta ser representada por um título: cota de reserva florestal.

A área destinada à criação da reserva legal, deve ter sua vegetação original e caso

não haja vegetação no local, o proprietário deverá providenciar o seu reflorestamento. No

caso de omissão do particular, poderá o Poder Público realizar a referida tarefa, podendo

posteriormente, reaver do proprietário os valores a que foram gastos.

Cada propriedade deve ser constituída por uma área destinada à reserva legal. O

fato de uma pessoa ter várias propriedades e querer descontar todas as áreas em uma só

configura uma forma de vantagem econômica para o proprietário, desvirtuando a finalidade

da reserva legal.

O Código Florestal em seu artigo 16 limita as formas de vegetação suscetíveis de

supressão, a quantidade a ser preservada, bem como incumbiu a autoridade competente a

identificar as áreas de maior relevância para o meio ambiente, impedindo desta forma, que a

escolha da área da reserva legal fosse inadequada, não chegando ao fim desejado que é a

proteção ambiental:

Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em

área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de

utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão,

desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: (Redação dada pela

Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001) (Regulamento)

I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na

Amazônia Legal; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado

localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja

localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7o deste artigo;

(Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras

formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e (Incluído pela

Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em

qualquer região do País. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

45

Disponível em: <http:/www.presidencia gov.br/jurisprudencia/>. Acesso em: 22 de mai. 2010.

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47

§ 1.º O percentual de reserva legal na propriedade situada em área de floresta e

cerrado será definido considerando separadamente os índices contidos nos incisos I

e II deste artigo. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 2.º A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e

critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as

hipóteses previstas no § 3o deste artigo, sem prejuízo das demais legislações

específicas. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 3.º Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de

árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas,

cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. (Redação

dada pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 4.º A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual

competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra

instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de

aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes critérios e instrumentos,

quando houver: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

I - o plano de bacia hidrográfica; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de

2001)

II - o plano diretor municipal; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de

2001)

III - o zoneamento ecológico-econômico; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-

67, de 2001)

IV - outras categorias de zoneamento ambiental; e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

V - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente,

unidade de conservação ou outra área legalmente protegida. (Incluído pela Medida

Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 5.º O Poder Executivo, se for indicado pelo Zoneamento Ecológico Econômico -

ZEE e pelo Zoneamento Agrícola, ouvidos o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, poderá: (Incluído pela

Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

I - reduzir, para fins de recomposição, a reserva legal, na Amazônia Legal, para até

cinqüenta por cento da propriedade, excluídas, em qualquer caso, as Áreas de

Preservação Permanente, os ecótonos, os sítios e ecossistemas especialmente

protegidos, os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecológicos; e

(Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

II - ampliar as áreas de reserva legal, em até cinqüenta por cento dos índices

previstos neste Código, em todo o território nacional. (Incluído pela Medida

Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 6.º Será admitido, pelo órgão ambiental competente, o cômputo das áreas relativas

à vegetação nativa existente em área de preservação permanente no cálculo do

percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas

para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de

preservação permanente e reserva legal exceder a: (Incluído pela Medida Provisória

nº 2.166-67, de 2001)

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; (Incluído

pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

II - cinqüenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do País; e

(Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

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48

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas alíneas "b" e "c"

do inciso I do § 2o do art. 1o. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de

2001)

§ 7.º O regime de uso da área de preservação permanente não se altera na hipótese

prevista no § 6o. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 8.º A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula

do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua

destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de

retificação da área, com as exceções previstas neste Código. (Incluído pela Medida

Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 9.º A averbação da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar é

gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando

necessário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 10. Na posse, a reserva legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta,

firmado pelo possuidor com o órgão ambiental estadual ou federal competente, com

força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da reserva legal, as

suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação,

aplicando-se, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a

propriedade rural. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

§ 11. Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de

uma propriedade, respeitado o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a

aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações

referentes a todos os imóveis envolvidos. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-

67, de 2001)

A Reserva Legal é uma obrigação incumbida diretamente ao proprietário do

imóvel rural, e seu direito de domínio depende da existência da referida área de proteção,

podendo exonerar-se da obrigação somente se renunciar ao direito de proprietário,

transferindo a outrem.

Em caso de transferência do imóvel, o adquirente é parte legítima para responder

por ação de dano ambiental, pois assumindo a propriedade, assume também a

responsabilidade que é imposta por Lei Federal.

A obrigação de reflorestar a área de Reserva Legal, quando inexistente sua

vegetação, é do atual proprietário do imóvel, ainda que não tenha sido ele o promotor do

desmatamento. Isto porque o reflorestamento de Reserva Legal, assim como o de Área de

Preservação Permanente, afigura-se obrigação propter rem, ou seja, obrigação que acompanha

a coisa independente de quem seja o seu titular e do fato de este titular ter, ou não contraído,

ele mesmo a obrigação. Dessa forma, o adquirente de propriedade sem Reserva Legal ou cuja

esta tenha sido desmatada, fica obrigado a praticar a sua recomposição e a ressarcir-se,

posteriormente, os gastos com o autor do desmatamento, muito embora não possa ser punido

criminalmente pelo fato, já que a responsabilidade criminal é pessoal e intransferível.

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Portanto, não se trata de obrigação pessoal. É obrigação real, vinculando-se á

coisa e não a pessoa, cuidando de uma norma geral a todos imposta, por imposição do Estado,

constituindo uma limitação administrativa.

A Reserva Legal deverá ser averbada no registro do imóvel, para que terceiros

tomem conhecimento. Mas o seu registro é mera formalidade que deve ser exigida pelas

autoridades competentes quando necessário. A lei delimita a forma e a quantidade mínima a

ser constituída para a reserva.

O ato de reflorestar não depende da administração pública, mas sim do

proprietário, que deve fazê-lo de sua livre e espontânea vontade.

A obrigação de instituir e manter a reserva grava um proprietário somente, mas

todas as propriedades rurais privadas.

Aplicam-se, concretamente, dois princípios constitucionais: "a propriedade

atenderá a sua função social" (art. 5.º, XXIII) e "a função social é cumprida quando a

propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigências

estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: utilização adequada dos recursos naturais

disponíveis e preservação do meio ambiente" (art. 186 da CF).

Se o proprietário se omitir de averbar a Reserva Legal ou constituí-la sem a

observação devida das normas, estará se sujeitando como sujeito passivo de Ação Civil

Pública, que poderá ser proposta pelo Ministério Público, União, Estados, Municípios,

Autarquias, Fundações, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista ou Associações,

bem como de Ação Popular, proposta por qualquer cidadão, ou seja, aquele que esteja em

gozo de seus direitos políticos.

Nesse sentido, se posiciona a jurisprudência:

conquanto seja objetiva a responsabilidade por dano ambiental, não se pode

dispensar o nexo de causalidade, que decorre do fato e da conduta considerada

lesiva, não podendo ser responsabilizado quem já adquiriu o imóvel totalmente

desmatado e não assumiu nenhum risco pela degradação existente, pois é da norma

constitucional que ninguém será obrigado a fazer ou não fazer alguma coisa senão

em virtude de Lei nos casos desta ordem devem ser punidos os infratores. (CF/88,

arts.5, Inc.II, e 225, P 3ª). Embargos Infringentes Cível (GR) nª 0089897301,

Acórdão 995, 3ª Grupo de Câmaras Cíveis do TJPR, Rel. Cordeiro Cleve. J.

20.12.200146

.

46

Disponível em: <http:/www.presidencia gov.br/jurisprudencia/>. Acesso em: 22 de mai. 2010.

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50

Hely Lopes Meirelles47

diz:

A limitação administrativa é uma das formas pelas quais o Estado, no uso de sua

Soberania Interna, intervém na propriedade e nas atividades particulares. É toda

imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionadora do exercício

de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-estar social.

Para que a propriedade exerça a sua função social, é importante constituir e

preservar a Reserva Legal, dando a propriedade uma utilização adequada e de seus recursos

naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente.

A simples posse obriga o possuidor, nas mesmas condições que o proprietário, a

observar a Reserva Legal, o que se afirma que, tanto o possuidor quanto o proprietário,

poderão ser acionados judicialmente, a fim de cumprir obrigações relativas à sua constituição.

Ocorre que o tratamento dado ao possuidor e ao proprietário é diferenciado. Ao

primeiro, o órgão ambiental impõe que seja firmado entre eles um Termo de Ajustamento de

Conduta, em que se compromete a dar fiel cumprimento às normas legais que estavam sendo

descumpridas, ajustando, pois, a conduta às exigências da norma reguladora ambiental.

No Termo de Ajustamento de Conduta deverão constar com precisão, a

localização da Reserva Legal, suas características ecológicas básicas, e a proibição de sua

supressão.

Com relação ao proprietário, a norma ambiental não impõe a assinatura de TAC,

mas apenas que seja averbada a Reserva Legal.

47

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27 ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 68

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8. A REFORMA DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP)48

, apresentou à Câmara dos deputados, um

Projeto de Lei, nº 1.876/1999, dispondo sobre novas normas gerais de proteção da vegetação,

estabelecendo limites para as áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal.

Define regras gerais sobre a exploração florestal, o suprimento da matéria-prima florestal, o

controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais,

alem de prever instrumentos econômicos e financeiros para o alcance desse objetivo.

No relatório, as pequenas propriedades são desobrigadas de constituírem as

reservas para a conservação da biodiversidade e exclui os topos de morros das chamadas áreas

de Preservação Permanente. Agricultores também sugestionaram que fosse feita a

compensação florestal em áreas do mesmo bioma, mas, não necessariamente no mesmo

Estado, por causa da falta de espaço para recompor as áreas degradadas em alguns deles.

Outro tema bastante discutido é a delegação a estados e municípios para legislarem sobre

Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal.

A polêmica da Reforma do Código Florestal é defendida pela bancada ruralista e

criticada por entidades ambientalistas e pelo Ministério Público. Na concepção dos críticos, a

mudança do Código Florestal de acordo com as normas apresentadas no projeto, seria um

retrocesso na proteção ambiental.

Sustentabilidade é a palavra do século. No mundo em que se vive, sabe-se que a

atividade humana fatalmente, produz resíduos que são atirados ao meio ambiente. Devem-se

buscar formas de aproveitamento desses resíduos, assim, poderia se conseguir viver mais

pacificamente com a natureza.

De um lado, ruralistas, grandes latifundiários de terras que sustentam parte da

economia do País, não se conscientizando de que é importante a preservação da fauna e flora.

De outro, os ambientalistas preocupados em zelar pelo bem das vidas humanas. E porque não

falar em sustentabilidade quando são criadas leis absurdas. As reservas ecológicas do País já

não são tão respeitadas. Agora criar normas que vão agredi-las mais, visando economia é uma

insanidade de dos legisladores brasileiros.

48

Disponível em: < http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=49194.> Acesso em 25 de junho de 2010.

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Um planeta sustentável quer significar uma sociedade harmoniosa convivendo

com as indústrias que representam a economia de um País e que buscam cada vez mais,

formas de aquisição de matéria-prima para produção de seus bens, sem que, para isso seja

necessária a devastação do meio ambiente.

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53

CONCLUSÃO

Neste trabalho abordou-se o que vem a ser propriedade e logo em seguida

evidenciou-se o seu contexto histórico. O direito de propriedade vem expresso na Carta

Magna em seu art. 5º, inciso XXII. O direito individual fundamental não é absoluto, uma vez

que no inciso XXIII, do mesmo dispositivo constitucional, prevê que “a propriedade atenderá

a sua função social”.

No artigo 170, inciso II, da Constituição da República brasileira garante o direito

à propriedade privada, já no inciso III, prevê que sua função é social. Dessa forma, entendeu-

se que os referidos dispositivos conduzem, inevitavelmente, à conclusão de que, no direito

brasileiro, a garantia da propriedade não pode ser compreendida sem atenção à sua função

social.

Assim, a ideia de função social vem romper com a concepção individualista e

liberal do direito de propriedade.

Dentro do contexto histórico brasileiro, observou-se que foi somente na

Constituição de 1946 que se adotou a preocupação com a funcionalização da propriedade ao

interesse social.

Na Constituição de 1967 adotou-se a mesma concepção de função social da

propriedade e elevou a propriedade à categoria de princípio da ordem econômica e social.

Mas somente na atual Carta Magna que houve a ampliação da função social da propriedade,

sendo que se esta não cumprir sua função social, não há que se falar em garantia

constitucional.

Verificou-se que a proteção da propriedade geram direitos e deveres, os quais

estão sujeitos à limitação e mesmo a extinção. Com isso, a Constituição assegura a todo e

qualquer direito, proteção contra arbitrariedade, inclusive do próprio Estado e a legislação

infraconstitucional deve permear sua direção na construção da ideia que não basta a proteção

constitucional, mas a efetivação destes direitos, que por sua vez, dependem de arrazoada

busca pelas diretrizes de cada um dos princípios elencados na Constituição.

A relativa proteção da propriedade privada é um subsídio que vai ao encontro da

necessidade primeira de fazer cumprir a função social dentro do ordenamento. Dessa forma, a

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função social deve ser a premissa de que todos os demais princípios cumpram com seu papel

de desempenhar um “dever ser” jurídico em nome do objetivo maior da Constituição.

Nesse âmbito, a proteção do meio ambiente é o meio mais fácil de reconhecer a

sua importância para os seres vivos. Mas, mesmo diante de tal relevância muitos ainda não se

conscientizam do papel importante que deve exercer sobre o meio ambiente que é a sua

preservação. O homem vivendo em sociedade muitas das vezes se esquece que depende da

natureza saudável para uma sadia qualidade de vida e só se sensibiliza quando acontecem

fenômenos da natureza que se tornam mais inevitáveis por causa da forma que o homem trata

o meio ambiente.

A degradação do meio ambiente pelo homem está gerando diversas

consequências, a pior delas é o aquecimento global, o qual é resultado das ações das gerações

anteriores. Por essas e outras causas, a Magna Carta Política, veio com a preocupação de

preservar e defender o meio ambiente para “as presentes e futuras gerações”.

Para a boa qualidade de vida do ser humano é necessário preservar. A função

sócio-ambiental da propriedade é de grande importância para se garantir uma boa qualidade

de vida.

Com a criação do Estatuto da Terra, do Código Florestal e da Constituição Federal

de 1988, a propriedade passou a ter uma finalidade social, com a criação das áreas de reserva

legal e as de preservação permanente, eficazes armas para a preservação. A primeira busca

preservar a diversidade biológica de uma determinada área delimitada dentro da propriedade

particular, proibindo a exploração econômica dessas áreas protegidas, mesmo a utilização

dessas áreas como pastagem. Já as áreas de preservação permanente, fitam a proteção da

fauna e flora, dos rios, dos morros e todos os elementos vegetais dispostos na natureza, não só

das propriedades privadas, mas também nas públicas.

O grande problema que se enfrenta, é que a maioria dos proprietários rurais

ignoram a importância e a obrigatoriedade que são as áreas de reserva legal e preservação

permanente, optando viver com ilegalidade, chegando a responder por processos judiciais

civil, criminal e administrativo, pois o dano ambiental repercute nas três esferas, uma

independente da outra.

Dessa forma, percebeu-se que a Constituição Federal, nos Direitos e Garantias

Fundamentais, ao mesmo tempo em que a propriedade é tida como direito fundamental –

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artigo 5, XXII, o seu inciso XXIII, determina que “a propriedade atenderá a sua função

social”.

Por fim, ressalte-se que haver um ambiente saudável e equilibrado, para que

presentes e futuras gerações tenham uma excelente qualidade de vida, é necessário que a

sociedade busque cada vez mais se adequar às normas de proteção ambiental. É preciso que se

busque a sustentabilidade. Do contrário, ficará cada vez mais difícil reparar os danos

ambientais que o homem vem causando, e o meio ambiente saudável, cada vez mais distante e

inevitável seu fim.

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