turismo de base comunitÁria no territÓrio da bocaina

94
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA BRASIL: tecendo parcerias e redes em busca da sustentabilidade NICK KANTOROWICZ BUCK SÃO PAULO 2020

Upload: others

Post on 24-Jul-2022

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA – BRASIL:

tecendo parcerias e redes em busca da sustentabilidade

NICK KANTOROWICZ BUCK

SÃO PAULO

2020

Page 2: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

NICK KANTOROWICZ BUCK

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA – BRASIL:

tecendo parcerias e redes em busca da sustentabilidade

Trabalho Aplicado apresentado à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da

Fundação Getulio Vargas, como requisito para a

obtenção do título de Mestre em Gestão para a

Competitividade.

Linha de pesquisa: Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. Mario Monzoni

SÃO PAULO

2020

Page 3: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

Buck, Nick Kantorowicz.

Turismo de base comunitária no território da Bocaina – Brasil : tecendo parcerias e redes em busca da sustentabilidade / Nick Kantorowicz Buck. - 2020.

92 f.

Orientador: Mario Monzoni.

Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Turismo - Aspectos sociais. 2. Comunidade - Desenvolvimento - Bocaina (SP). 3. Grupos etnicos. 4. Sustentabilidade. 5. Cooperação. I. Monzoni, Mario. II. Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Título.

CDU 379.85

Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-010191/O

Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP

Page 4: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

NICK KANTOROWICZ BUCK

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA – BRASIL:

tecendo parcerias e redes em busca da sustentabilidade

Trabalho Aplicado apresentado à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da

Fundação Getulio Vargas, como requisito para

a obtenção do título de Mestre em Gestão para

a Competitividade.

Linha de pesquisa: Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. Mario Monzoni

Data de aprovação:

_____ / _____ / ________

Banca Examinadora:

_____________________________________

Prof. Dr. Mario Monzoni – FGV EAESP

_____________________________________

Prof. Dr. André Pereira de Carvalho – FGV

EAESP

_____________________________________

Profa. Dra. Edilaine Albertino de Moraes -

UFJF

Page 5: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

RESUMO

Diante dos inúmeros impactos negativos causados pelo turismo convencional, o turismo de base

comunitária surge como uma importante alternativa para que comunidades tradicionais

protagonizem formas mais sustentáveis de se fazer turismo, fortalecendo a coesão social ao

estimular o empoderamento e o protagonismo dos indivíduos, além de promover a valorização

da história e da cultura local. Nessa direção, o presente trabalho procurou analisar, a partir de

um estudo de caso, as estratégias que estão sendo implementadas pela parceria entre o Fórum

de Comunidades Tradicionais (FCT), um movimento da sociedade civil e a Fundação Oswaldo

Cruz (Fiocruz), para promover o turismo de base comunitária nas comunidades tradicionais

caiçaras, quilombolas e indígenas, pertencentes ao território da Bocaina. Através da construção

do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), um espaço de

gestão compartilhada, implantou-se uma agenda territorializada, pautada na ecologia de

saberes, que reconhece todas as formas de conhecimento, inclusive os saberes tradicionais. A

cooperação horizontal entre pesquisadores acadêmicos e pesquisadores comunitários,

estabelecida no processo de gestão do OTSS, legitima o trabalho realizado ao dar voz às

comunidades tradicionais do território. Para promover e consolidar as iniciativas de TBC na

região concebeu-se a Rede Nhandereko de Turismo de Base Comunitária, que atualmente busca

desenvolver uma central de comercialização para os roteiros de TBC. Algumas das conclusões

deste trabalho permitem reafirmar: (a) Em um território complexo, do ponto de vista da

governança ambiental, o TBC, para as comunidades tradicionais da Bocaina, é visto como uma

prática social de extrema importância para a manutenção de seus modos de vida e para fortalecer

a luta na defesa de seus territórios; (b) a parceria entre o FCT e a Fiocruz, através do OTSS,

criou condições relevantes e necessárias para a o sucesso de iniciativas de TBC tais como: um

capital social com maior consciência política, mais participativo e colaborativo e com maior

coesão social; (c) a construção da Rede Nhandereko de Turismo de Base Comunitária vem

permitindo uma extensa troca de saberes entre as três etnias do território (caiçaras, quilombolas

e indígenas), inspirando comunidades que buscam implementar iniciativas de TBC, ao mesmo

tempo em que procura garantir, um modelo de negócios comunitários para o funcionamento da

central de comercialização que ainda está em fase de construção; (d) o trabalho realizado pela

parceria, mesmo em um momento político adverso, está sendo capaz de fortalecer os vínculos

das comunidades com seu território e sua identidade, através das práticas de TBC que se tornou

uma importante ferramenta de luta para assegurar a manutenção da cultura local e a defesa de

seus territórios.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária, Comunidades tradicionais, Parceria,

Redes, Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), Observatório dos Territórios Sustentáveis

e Saudáveis da Bocaina (OTSS), Rede Nhandereko.

Page 6: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

ABSTRACT

In the face of the numerous negative impacts of conventional tourism, community-based

tourism (CBT) is an important alternative for traditional communities to develop more

sustainable forms of tourism. Such approach may reinforce social unity by stimulating the

empowerment and the protagonism of those involved with it, besides highlighting local history

and culture.

The present work presents a case study of the strategies that are currently being implemented

by the cooperation among the Forum of Traditional Communities (FTC), a civil society

movement and the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz), in which they promote community-

based tourism in the traditional communities of caiçaras, quilombolas and native Indians from

the Bocaina territory.

The construction of the Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina

(OTSS), a shared management project, was followed by the creation of a territory agenda based

on the ecology of knowledge, which recognizes all forms of knowledge, including traditional

ones. Horizontal cooperation among academic and community researches was established at

the OTSS management, to give voice to the traditional communities of the territory. To promote

and consolidate the CBT initiatives in the area, the Nhandereko Network of Community-based

Tourism was created to develop the market for CBT routes.

Some conclusions of this study are: 1) in a hypercomplex territory, from the environmental

governance perspective, CBT for the traditional communities of Bocaina is perceived as an

extremely important social practice for the maintenance of their lifestyle and also to support

their fight for their territory; 2) the cooperation between FTC and Fiocruz, through OTSS, has

created important and much-needed conditions for the success of the CBT initiatives, such as:

human capital with greater political awareness, commitment and also with greater social

cohesion; 3) the creation of the Nhandereko Network of Community-based tourism has enabled

a rich knowledge exchange among the three ethnic groups of the territory (caiçaras, quilombolas

and Indians), inspiring communities that are willing to start CBT initiatives, while ensuring a

common business ground model for the trading system that is currently being developed; 4) the

job performed by the partnership, even though in a troublesome political scenario, has been

able to strengthen the link between the communities and their territories and identities, through

the CBT practices that have become an important tool for the struggle to maintain local culture

and in their territory defense.

KEYWORDS: community-based tourism, traditional communities, cooperation, networks,

Forum of Traditional Communities (FTC), Observatory of Healthy and Sustainable Territories

of Bocaina (OHSTB), Nhandereko Network.

Page 7: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

LISTA DE ABREVIATURAS

APA – Área de Proteção Ambiental

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

ENTBL – Encontro Nacional de Turismo de Base Local

ESEC – Estação Ecológica

FCT – Fórum de Comunidades Tradicionais

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

GT – Grupo de Trabalho

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ITS – Incubadora de Tecnologias Sociais

MPF – Ministério Público Federal

MTur – Ministério do Turismo

NTT – Núcleo de Transição Tecnológica

NUGES – Núcleo de Gestão dos Saberes

ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMT – Organização Mundial do Turismo

ONG – Organizações Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OTSS – Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina

REDTURS – Rede de Turismo Comunitário da América Latina

PESM – Parque Estadual da Serra do Mar

PLANTUR – Plano Nacional de Turismo

PNSB – Parque Nacional da Serra da Bocaina

PNUD – Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento

PPP – Parceria Público Privada

PRODETUR - Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste Brasileiro

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

TBC – Turismo de Base Comunitária

UC – Unidades de Conservação

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Page 8: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mosaico da Bocaina e suas Unidades de Conservação .....................................38

Figura 2: Guia de Bolso da Rede Nhandereko .................................................................51

Figura 3: Restaurante do Quilombo do Campinho ...........................................................55

Figura 4: Bacia de evapotranspiração construída na comunidade do Sono ......................65

Figura 5: Diagrama representando a relação do TBC com os três pilares

centrais do OTSS ..............................................................................................................68

Page 9: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Perfis dos/das entrevistados/as.................................................................................34

Page 10: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 23

2.1 Turismo de Base Comunitária: definições e princípios ................................... 23

2.2 O Turismo de Base Comunitária no Brasil .................................................... 26

2.3 As redes de TBC ........................................................................................... 29

3. METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................................... 32

3.1 Justificativa para a escolha do método ........................................................... 32

3.2 Critérios para a seleção do caso ..................................................................... 33

3.3 Técnicas para a coleta de dados ..................................................................... 33

3.4 Elaboração e execução das entrevistas ........................................................... 33

4. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO: A PARCERIA ENTRE O FÓRUM DAS

COMUNIDADES TRADICIONAIS E A FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ .............. 36

4.1 O contexto para a criação do fórum de comunidades tradicionais .................. 36

4.2 As pressões geradas pela criação das Unidades de Conservação no território da

bocaina .................................................................................................................... 39

4.3 A parceria com a Fiocruz e a criação do Observatório dos Territórios Sustentáveis e

Saudáveis da Bocaina .............................................................................................. 42

4.4 O OTSS e seus princípios.............................................................................. 44

4.5 Governança e gestão do OTSS ...................................................................... 46

4.6 A criação da incubadora de tecnologias sociais e o nascimento da Rede Nhandereko

de Turismo de Base Comunitária ............................................................................. 48

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................... 52

5.1 Entendimento do que é o Turismo de Base Comunitária ................................ 52

5.2 A necessidade de recursos e infraestrutura para o desenvolvimento do TBC.. 54

5.3 A geração de empregos e renda no território.................................................. 56

5.4 As partilhas de vivência de TBC e o papel da Rede Nhandereko ................... 58

5.5 A relação da Rede Nhandereko com as agências e operadoras de turismo...... 61

5.6 A atuação da parceria no território: a relação da agroecologia, do saneamento

ecológico e da educação diferenciada com o TBC.................................................... 63

5.7 A importância do Fórum de Comunidades Tradicionais para as comunidades no

atual contexto político brasileiro: a agenda política e a ocupação dos espaços como

estratégia de luta ...................................................................................................... 69

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 74

7. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 78

8. APÊNDICES.............................................................................................................90

Page 11: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

9

1. INTRODUÇÃO

O turismo vem se expandindo globalmente, desde o início da década de 1950, com uma

acentuada aceleração na última década. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT),

as receitas de exportação geradas pelo turismo internacional atingiram, em 2018, a marca de

U$1,7 trilhões, 4% acima das receitas obtidas no ano anterior. O setor registrou, no mesmo ano,

a marca de 1,4 bilhão de chegadas internacionais, um aumento de 6% em relação a 2017.

Atualmente, o turismo representa 7% das exportações globais, crescendo a uma taxa mais

elevada do que as exportações de mercadorias (WTO, 2019).

Instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), enfatizam

a importância de fomento ao turismo para a redução da pobreza global. Segundo a Organização

Mundial do Turismo (OMT), para que, de fato, o turismo seja capaz de estimular o

desenvolvimento de uma determinada localidade, é necessária uma sólida compreensão de

como o turismo poderá impactá-la, positivamente e negativamente. A depender da forma como

o projeto é planejado e implementado, os impactos gerados podem variar enormemente, por

isso, a importância de se tomar todo o cuidado possível durante o seu planejamento, de forma

a torná-lo o menos agressivo possível para o local (GALDINO; COSTA, 2011).

A noção de turismo pode diferir dependendo da abordagem dada ao tema. Em um

mesmo momento histórico, diferentes concepções podem ser encontradas. Noções mais

simplistas apresentam o turismo como uma atividade econômica capaz de induzir o

desenvolvimento, ao promover a entrada de recursos através da geração de empregos no local

visitado. Para Irving, Lima e Moraes (2016), o turismo, na realidade, representa um fenômeno

global complexo capaz de abarcar distintas dimensões, dentre elas, a econômica, a social, a

ambiental, a política e a ética, salientando ainda que, “a leitura simplificada e reducionista

deste fenômeno de alcance global pelo viés estritamente econômico restringe claramente a

possibilidade de uma real ‘radiografia’ dos processos envolvidos e limita inúmeras

potencialidades em planejamento dirigido ao setor” (p.16).

A epistemologia do turismo, apesar de um tema teórico, complexo e com pouca

aplicabilidade, apresenta sua relevância para este trabalho acadêmico na medida em que traduz

a forma como o autor pensa o turismo: fenômeno de elevada complexidade, capaz de influenciar

a vida de todos os envolvidos, especialmente dos que são visitados, influenciando os seus

modos de vida e interferindo diretamente na construção dos territórios (IRVING; LIMA;

MORAES, 2016; PANOSSO NETTO; NECHAR, 2014).

Page 12: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

10

O fenômeno do turismo tal qual conhecemos hoje é recente, inaugurado com a

industrialização e a internacionalização do capital promovidos pelas revoluções burguesas dos

séculos XVIII e XIX (MAGALHÃES, 2008). Após a Segunda Guerra Mundial, o turismo

passou a ocupar lugar cada vez mais central na economia global, a partir de um contexto social

com elevados níveis de consumo, especialmente, no continente europeu e nos Estados Unidos.

Nestes mercados, a expansão do turismo ocorreu de maneira acelerada, devido ao

desenvolvimento das grandes cadeias hoteleiras, das diversas operadoras de turismo e

companhias aéreas, levando ao estabelecimento da infraestrutura necessária, além da redução

nos custos de transporte. Impulsionada pelo marketing focado no cliente e nas vendas, a

atividade turística rapidamente ganhou escala, iniciando-se um processo de massificação da

mesma (SEZGIN; YOLAL, 2012).

O termo ‘turismo de massa’ vem sendo utilizado há décadas e com diferentes

interpretações. Esta pesquisa adotará a perspectiva que entende o turismo de massa como uma

atividade eminentemente econômica, realizada em larga escala e que busca o maior retorno

financeiro no menor prazo de tempo, privatizando os lucros e, ao mesmo tempo, socializando

os prejuízos decorrentes da atividade (SAMPAIO, 2005; ZAOUAL, 2008).

Turismo de negócios e turismo rural são alguns exemplos de distintos segmentos da

atividade turística, que variam de acordo com a atividade a ser realizada. No turismo de

negócios, que, geralmente, ocorre em grandes centros urbanos, por exemplo, os visitantes estão

interessados em atividades comerciais ou industriais focando, portanto, em atividades

profissionais. Para os diferentes segmentos do turismo existe uma complexa rede de apoio

responsável por ofertar os serviços procurados pelos visitantes como: rede de hotéis, pousadas,

hostels, campings, restaurantes, lojas, locadoras de automóveis entre outros. Estes serviços são,

em geral, prestados por agentes independentes que, geralmente, empregam a mão de obra do

local. Este complexo sistema tem como finalidade o lucro e a apropriação individual dos

benefícios gerados pela atividade, baseado na acumulação do capital.

Este modelo de turismo será tratado, nesta pesquisa, como ‘turismo convencional’, o

qual vem sendo estimulado por governos e instituições que justificam os investimentos e os

benefícios concedidos aos empreendedores na geração de empregos diretos e indiretos.

Algumas pesquisas apontam que, em grande parte dos casos, a população local, que

constitui a maior parte da mão de obra empregada no setor turístico, acaba recebendo uma

quantia desproporcional da renda gerada, aumentando significativamente as desigualdades de

Page 13: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

11

renda (ALAM; PARAMATI, 2016; BOTELHO; RODRIGUES, 2016; RIBEIRO, 2005;

THOMPSON et al., 2014).

Uma pesquisa realizada no Delta do Okavango, em Botswana, evidencia de forma

bastante clara este tipo de situação. Thompson et al. (2014), ao analisar 20 diferentes

concessões na região, notou que 90,6% da mão de obra era realizada por residentes locais que,

por sua vez, ficavam com apenas 58,3% da remuneração.

O turismo de massa, inserido nesta mesma lógica de produção, ao privilegiar o lucro

imediato e a atuação em grandes escalas, acaba gerando inúmeros problemas nos locais onde

se desenvolve, não somente aqueles associados à distribuição da renda (MALDONADO, 2009;

ZAOUAL, 2009). Na literatura sobre o tema, inúmeras pesquisas que abordam as

externalidades negativas geradas por esta forma de se fazer turismo. Muitos autores consideram

nocivo o modelo vigente de crescimento do turismo global, devido à forte tendência de focar

nos aspectos econômicos da atividade em detrimento das outras dimensões envolvidas. Como

resultado desta abordagem estão os inúmeros impactos negativos gerados, que muitas vezes

acabam superando os positivos (ALAM; PARAMATI, 2016; BURGOS; MERTENS, 2015b;

BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009; CORIOLANO, 2009; DUARTE, 2013;

MALDONADO, 2009; MENDONÇA, 2009; MENDONÇA; IRVING, 2004; OLIVEIRA,

2009; PINHEIRO, 2014; SILVA; RAMIRO; TEIXEIRA, 2009; ZAOUAL, 2009).

Segundo Pinheiro (2014), “o modelo predatório de crescimento do turismo que valoriza

apenas aspectos econômicos em detrimento da preservação do local e de seus receptores,

esgota os recursos naturais, colocando em risco as comunidades locais” (p. 63). Silva, Ramiro

e Teixeira (2009) vão além, ao analisarem os principais impactos negativos gerados pelas

pressões mundiais do mercado turístico, associando-os às dimensões social, ambiental e

cultural:

A prioridade para a dimensão estritamente mercadológica, em detrimento dos

princípios da sustentabilidade social, cultural, ambiental, provoca a

desestruturação da cultura local, eleva os índices de vazamentos de renda, descaracteriza ambientes naturais, estimula a especulação imobiliária e

exclusão territorial de residentes. Esses impactos são ainda mais deletérios nas

localidades mais pobres onde a expansão do turismo é apresentada como alternativa de melhoria das condições sociais, mas se transforma em fator de

agravamento da situação social. (SILVA; RAMIRO; TEIXERA, 2009, p.

362).

Para Moraes, Irving e Mendonça (2018), no contexto da América Latina, o turismo

convencional pode ser “entendido como um turismo agressivo e excludente (que gera

potencialmente ameaças ao equilíbrio sociocultural e ambiental dos lugares)” (p. 261).

Page 14: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

12

Zaoual (2009, p.58) destaca o respeito que deve existir com as qualidades naturais e

culturais do local visitado, enfatizando que “uma exploração sem limite e sem respeito destas

últimas impulsiona irremediavelmente um esgotamento e consequentemente, uma repulsa da

demanda, logo, de investimentos. A procura da rentabilidade máxima destrói, a longo prazo,

as bases dessa mesma rentabilidade”.

Ainda na década de 1990, com o agravamento na intensidade dos impactos gerados pelo

turismo nas esferas social, ambiental, cultural e econômica, a atividade turística passou a

incorporar o paradigma da sustentabilidade no seu debate, nascendo daí o termo turismo

sustentável1 (BURGOS; MERTENS, 2015b).

Desde a concepção do conceito de “desenvolvimento sustentável”, no ano de 1987,

mediante a publicação do relatório Nosso Futuro Comum, pela Comissão Mundial sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento da ONU, o termo passou a integrar diferentes campos do

conhecimento, principalmente devido à sua grande flexibilidade. Inúmeras definições

alternativas foram propostas ao longo das últimas décadas para se adequar a diferentes

propósitos (KATES; PARRIS; LEISEROWITZ; 2005; HANAI, 2012).

A incorporação do conceito de sustentabilidade pelo turismo permitiu que a

multidimensionalidade deste fenômeno fosse incorporada no planejamento turístico em busca

de uma maior integração com os territórios onde ocorre. Esta abordagem procura garantir a

“consolidação de melhores condições na qualidade de vida de comunidades locais, na

organização econômica e na conservação do meio ambiente” (HANAI, 2012).

O turismo como estratégia para o desenvolvimento sempre esteve presente nas

principais agendas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2000, com

a realização da Cúpula do Milênio, foram adotados os Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio (ODM) para nortear as agendas internacionais, nacionais e locais em busca de um

melhor desenvolvimento das sociedades até o ano de 2015. O turismo, naquele momento, era

apontado como uma importante estratégia para alcançar o principal dos objetivos apresentados

no documento: a erradicação da pobreza extrema e da fome no mundo.

1 O conceito de turismo sustentável foi definido pela Organização Mundial de Turismo, no ano de 2003,

como aquele que “atende às necessidades dos turistas de hoje e das regiões receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro”. Apesar da complexidade envolvendo o tema,

dois importantes documentos de referência global ressaltam as intenções e os princípios relacionados ao

turismo sustentável, a saber: a Carta do Turismo Sustentável de Lanzarote (CONFERÊNCIA MUNDIAL DE TURISMO SOSTENIBLE, 1995) e a Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo

(WTO, 1997).

Page 15: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

13

Após 15 anos, apesar dos esforços nacionais e internacionais, os resultados ainda eram

bastante tímidos diante dos dados referentes à intensificação nas mudanças do clima, ao

aumento da taxa de perda da biodiversidade e ao aumento da pobreza e das desigualdades

sociais. Realizou-se então, uma nova Assembleia Geral, a “Cúpula das Nações Unidas para o

Desenvolvimento Sustentável”, em 25 de setembro de 2015, na qual foi aprovada a Agenda

2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)2.

A comunidade global, como um todo, passou a se atentar mais para o turismo conforme

os seus efeitos nocivos foram ganhando escala: ONGs, pesquisadores, acadêmicos, instituições

envolvidas com o tema, além de parte das populações diretamente impactadas pelo turismo de

massa, passaram a buscar alternativas que possibilitassem reduzir significativamente as

externalidades negativas e, ao mesmo tempo, amplificar os efeitos positivos que podem ser

gerados por um turismo mais sustentável.

Segundo Irving (2009), no final do século XX e início do século XXI, em decorrência

da convergência de uma série de fatores, o turismo começa a ser “ressignificado”, não só em

território nacional, mas também internacionalmente. A possibilidade de promoção da inclusão

social, a partir do turismo, ganhou corpo nas discussões sobre o tema, com base na adoção, em

1992, da Agenda 21, pelas Nações Unidas. Desde então, a inserção das temáticas sociais e

ambientais nas conversas sobre turismo em ONGs internacionais; o reconhecimento da

importância do capital social e do compromisso e envolvimento dos stakeholders (‘stakeholder

engagement’) associado a uma mudança sutil no perfil dos turistas através de uma maior

conscientização à respeito dos impactos que o turismo gera para as populações locais, são

algumas tendências que começaram a despontar no início da década passada, diante do

crescente interesse sobre o tema da sustentabilidade. (IRVING, 2009).

Neste contexto, começaram a emergir as primeiras iniciativas de turismo de base

comunitária ou turismo comunitário como um novo modo de se fazer turismo de modo mais

sustentável. O Turismo de Base Comunitária (TBC) pode ser entendido como uma forma de se

fazer turismo, diferenciando-se, portanto, do turismo convencional. Apesar de ser associado a

alguns segmentos do turismo como o ecoturismo e o turismo rural, o TBC não se configura

como mais um segmento do turismo (SAMPAIO et al., 2014; SANSOLO; BURSZTYN, 2009).

2 A Agenda 2030 representa uma agenda global contendo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

(ODS) ou Sustainable Development Goals (SDGs), além de 169 metas a fim de estimular ações globais que orientem os países-membros rumo a um desenvolvimento mais sustentável até o ano de 2030

(PNUD, 2019). Disponível em: <http://www.estrategiaods.org.br/o-que-sao-os-ods/ >.

Page 16: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

14

Na literatura especializada, o TBC ainda pode ter outras denominações tais como: turismo

comunitário, turismo de base local, turismo solidário, entre outras (CORIOLANO, 2012).

No documento assinado por representantes comunitários de diversos países da América

Latina, no II Encontro Latino-Americano de Turismo Comunitário, ocorrido na Costa Rica, em

outubro de 2003, identificam-se alguns princípios e valores associados ao turismo para

contribuir com o desenvolvimento sustentável:

2. Nós esperamos que nossas comunidades possam prosperar e viver com dignidade, melhorando as condições de vida e de trabalho de seus membros.

O turismo pode contribuir na concretização desta aspiração na medida em que

fizermos dele uma atividade socialmente solidária, ambientalmente responsável, culturalmente enriquecedora e economicamente viável. Com

esta finalidade, exigimos uma distribuição justa dos benefícios que gera o

turismo entre todos os atores que participam de seu desenvolvimento. (OIT, 2003; grifo do autor).

Chama a atenção o destaque dado pela declaração à importância do turismo para a

melhoria da qualidade de vida das populações receptoras, desde que consideradas quatro

dimensões no seu planejamento: a dimensão social (‘atividade socialmente solidária’),

ambiental (‘ambientalmente responsável’), econômica (‘economicamente viável’) e cultural

(‘culturalmente enriquecedora’). Somente quando todas estas dimensões são, de fato, levadas

em conta na elaboração e no desenvolvimento de um projeto de turismo comunitário é que os

frutos poderão ser colhidos pelas comunidades envolvidas.

Para entender melhor os elementos em comum existentes entre a grande diversidade de

iniciativas de TBC, é importante considerar a fundo os contextos em que tais projetos se

desenvolvem. Nos países considerados da periferia do capitalismo (especialmente na América

Latina, Caribe, na África subsaariana e no sudeste Asiático), as pressões mundiais do mercado

turístico se intensificaram rapidamente, devido às belíssimas paisagens naturais ainda

preservadas (savanas, florestas tropicais, recifes de coral, praias intocadas, etc) associadas a

uma riqueza cultural singular (comunidades tradicionais que ainda mantém seus hábitos de vida

como pescadores, indígenas, artesãos, caçadores e quilombolas). É, neste contexto, que surgem

muitas das iniciativas de TBC, como uma nova forma de se fazer turismo diante dos graves

impactos decorrentes do turismo convencional (BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO,

2009).

Segundo Burgos e Mertens (2015b), o turismo de base comunitária “emerge como uma

resposta de resistência às pressões mundiais do mercado turístico que, além de excluir as

populações locais dos potenciais benefícios do turismo, também ameaçam sua coesão social,

Page 17: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

15

cultural e seu hábitat natural” (p.58). Para alguns especialistas no tema, as iniciativas de TBC

surgem como uma contraposição ao turismo de massa, como uma estratégia de resistência ao

turismo convencional (BURGOS; MERTENS, 2015b; CORIOLANO, 2009; FABRINO;

NASCIMENTO; COSTA, 2016; MORAES, IRVING, MENDONÇA, 2018; ZAPATA et al.,

2011).

Bursztyn, Bartholo e Delamaro (2009) defendem que:

O turismo alternativo de base comunitária busca se contrapor ao turismo massificado [...]. Não se trata, apenas, de percorrer rotas exóticas,

diferenciadas daquelas do turismo de massa. Trata-se de um outro modo de

visita e hospitalidade, diferenciado em relação ao turismo massificado, ainda que porventura se dirija a um mesmo destino. (BURSZTYN; BARTHOLO;

DELAMARO, 2009, p.85; grifos do autor).

A pobreza crônica em muitos países seria um outro fator explicativo para a busca de

fontes alternativas de renda através de projetos de TBC, principalmente por comunidades rurais

de origem indígena (BURSZTYN, 2012). Nestes países, não apenas devido à voracidade do

mercado, mas também à ausência ou ineficiência do Estado, importantes contra movimentos

têm surgido a partir da reação da sociedade civil organizada (CRUZ, 2009).

Além disso, a procura pelo TBC pode também estar relacionada a uma estratégia política

de movimentos associados a comunidades tradicionais, que buscam preservar seus territórios e

fortalecer sua identidade cultural frente à violação histórica aos direitos de propriedade destas

comunidades em benefício de atividades diversas, como a especulação imobiliária do turismo

de resorts e dos condomínios de alto padrão, a extração de recursos por grandes multinacionais,

além da exploração agrícola e pecuarista. (BURSZTYN, 2012).

Fica claro, portanto, que o turismo comunitário surge em contextos diversos,

especialmente a partir de críticas, reflexões e respostas ao modelo hegemônico de

desenvolvimento, que privilegia uma pequena minoria envolvida, capaz de usufruir do capital

acumulado, deixando para trás um rastro de prejuízos para a maior parcela da população.

No entanto, há um consenso entre os pesquisadores deste tema de que grande parte dos

projetos de TBC apresenta fragilidades e pode acabar se tornando insustentáveis se tais

vulnerabilidades não forem supridas (BURGOS; MERTENS, 2015b; BUYRTZIN, 2012;

BURSZTYN; BARTHOLO, 2012; MALDONADO, 2009; MIELKE, 2009; MIELKE,

PEGAS, 2013; MENDONÇA, 2009; MENDONÇA; IRVING, 2004).

Para Mielke (2009), esse número chegaria a mais de três quartos dos projetos de TBC

no Brasil. Para o autor, existiriam três principais deficiências que ajudariam a explicar a

Page 18: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

16

fragilidade e/ou insustentabilidade das iniciativas de turismo de base comunitária no longo

prazo: (i), o acesso ao mercado; (ii), a governança interna; e, (iii), a gestão das parcerias

estratégicas de interesse.

Na literatura, algumas iniciativas de TBC, criadas na década de 1990, são apontadas

como exemplos de sucesso em território brasileiro. A Prainha do Canto Verde no Ceará, a

Associação Acolhida na Colônia em Santa Catarina e a Pousada Aldeia dos Lagos, em Silves,

na Amazônia são alguns destes exemplos (BURGOS; MERTENS, 2015a; CORIOLANO,

2009; GOODWIN; SANTILLI, 2009; MENDONÇA, 2009; MENDONÇA; IRVING, 2004).

A partir de uma análise realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em

2006, com 30 diferentes projetos de turismo comunitário na América Latina, Maldonado (2009)

aponta as principais deficiências que foram identificadas. A análise buscou identificar os

principais motivos por trás da fragilidade e da baixa competitividade destes projetos no mercado

do turismo. As oito deficiências estão descritas abaixo:

1. Oferta é dispersa e fragmentada;

2. A diversificação dos produtos turísticos é escassa, normalmente baseada em fatores

naturais;

3. Gestão profissional é limitada (desconhecimento do mercado de turismo);

4. Baixa qualidade do produto ofertado;

5. Deficiência nos mecanismos de informação e comunicação comercial (baixa capacidade

para negociação);

6. Dificuldade de divulgação do turismo comunitário em meios mais dinâmicos;

7. Déficit de serviços públicos nas comunidades (infraestrutura em geral);

8. Participação marginal ou subordinada das mulheres na concepção e gestão dos projetos

(OIT, 2019).

Para Botelho e Rodrigues (2016), os principais desafios para a realização do TBC em

áreas de Parques Nacionais seriam: (i), a falta de qualificação profissional; (ii), a ausência de

recursos financeiros para investimentos e manutenção dos serviços ofertados; e, (iii), a

dificuldade de formalização dos empreendimentos.

Considerando os desafios apontados pelas pesquisas anteriores, é possível identificar a

existência de um déficit em inúmeros fatores envolvidos nas práticas de TBC que contribuem

para a fragilidade dos projetos dentro e fora do país. A dificuldade na comercialização do

produto turístico, a carência na qualidade dos produtos ofertados e a restrita capacidade de

gestão e de planejamento das atividades, seriam os fatores mais relevantes para o fracasso de

Page 19: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

17

muitas destas iniciativas (BRASIL, 2010; BOTELHO; RODRIGUES, 2016; BURSZTYN;

BARTHOLO, 2012; MALDONADO, 2009; MIELKE, 2009).

Diante desta diversidade de diagnósticos relacionados ao TBC, Holanda (2016) faz uma

importante reflexão acerca dos diferentes olhares sobre esta prática social. A autora aponta que

alguns destes diagnósticos têm levado pesquisadores da área a aplicar modelos de organização

empresarial como solução para as deficiências apontadas, sugerindo, por exemplo, a

profissionalização das comunidades envolvidas. Dessa forma, essas medidas seguem uma

lógica, na qual práticas de gestão empresarial estariam sendo impostas aos mais diferentes tipos

de organização, da administração pública ao terceiro setor, resultando em possíveis riscos para

o funcionamento do TBC. Isso porque,

[...] ao transplantar os métodos e procedimentos de gestão empresarial, de

forma acrítica, para o âmbito de organizações que cultivam objetivos

estranhos à lógica do mercado, há o perigo potencial de gerar distorções na natureza das organizações substantivas e desvirtuar suas ligações com

transformações sociais mais amplas visto que as técnicas e ferramentas

gerenciais, calcadas na razão instrumental, carregam em si pressupostos como pragmatismo, produtividade, cálculo constante entre meios e fins, eficiência,

competitividade, individualismo, etc. (HOLANDA, 2011, p.24).

Neste contexto, a autora apresenta uma série de reflexões e críticas sobre a adoção, de

forma acrítica e indiscriminada do modo de organização empresarial nas práticas de TBC que,

em geral, possuem pressupostos muito distintos e distantes dos objetivos de uma empresa.

Reforça a importância de se deixar em aberto as possibilidades para se pensar em outros modos

de organização para as práticas do turismo comunitário (HOLANDA, 2016).

Para Bursztyn e Bartholo (2012), é fundamental que as iniciativas de TBC consolidem

suas estratégias de comercialização para garantir a viabilidade econômica dos seus

empreendimentos, pois, somente assim os turistas interessados nessa prática poderão ter acesso

às informações sobre estes projetos, concretizando a sua intenção de viagem. Os autores

apontam ainda possíveis meios para atingir este objetivo, como o uso de e-mail e redes sociais,

destacando, porém, que, neste processo de consolidação das estratégias de comercialização,

uma série de cuidados deva ser tomada pelas comunidades, para que não percam os valores e

as crenças identitárias que constroem as suas práticas (BURSZTYN, 2012; BURSZTYN;

BARTHOLO, 2012).

Em sua tese de doutorado, Bursztyn (2012) defende ainda a necessidade de apoio

governamental para que as comunidades sejam capazes de realizar todo o seu potencial e, assim,

gerar os benefícios esperados. Indica para tal duas ações que poderiam ser executadas

concomitantemente. A primeira delas, de forma ativa, por meio da oferta de cursos para

Page 20: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

18

qualificação profissional dos comunitários, a fim de suprir as carências na qualidade dos

serviços oferecidos e no processo de gestão. A segunda ação de apoio, desta vez indireta, seria

aquela que visa suprir as carências de infraestrutura comumente encontradas nos territórios

onde o TBC ocorre, por meio, por exemplo, da implementação de sistemas de coleta de

resíduos, melhorias na oferta de transporte público, na iluminação, entre outros. O autor ainda

aponta como papel do setor público, oferecer acesso ao mercado, bem como linhas de crédito

para estimular os investimentos nos empreendimentos comunitários (BUYRTZIN, 2012).

O apoio do poder público no desenvolvimento do turismo comunitário é de fundamental

importância, mas, no cenário brasileiro, esta não é uma realidade para a maioria dos municípios,

onde a falta de verbas e/ou de iniciativas dificulta a implementação de projetos de turismo

comunitário. Como já discutido anteriormente, a ausência ou a ineficiência do Estado tem sido

um ‘gatilho’ para a mobilização da sociedade civil (CRUZ, 2009).

É neste contexto que nascem os diferentes arranjos institucionais, formais e informais,

entre o Estado e/ou autarquias com a sociedade civil e as comunidades tradicionais envolvidas

com práticas de TBC. Por ser um fenômeno recente na América Latina, muitos desafios que

emergem das práticas de TBC estão sendo expostos pelas diferentes experiências das redes e

de iniciativas independentes, contribuindo assim para aprofundar a discussão sobre o tema.

Neste cenário, novas iniciativas que buscam articular diferentes projetos comunitários,

em território nacional, estão em prática ou em fase de construção, adotando novas estratégias

de planejamento e gestão, levando em conta o contexto de seus territórios.

A primeira década do século XXI marca o início da criação das primeiras redes para

articular diferentes iniciativas de turismo comunitário. A primeira delas foi criada no ano de

2001 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), intitulada: Rede de Turismo

Comunitário da América Latina (REDTURS). Sua missão: articular as iniciativas de TBC nos

níveis local e nacional, através do intercâmbio de experiências, apoiando os processos de

formação e promoção destes destinos na América Latina, potencializando seus pontos fortes e

superando suas carências (MALDONADO, 2009).

A partir de então, novas redes de TBC se consolidaram na América Latina, articuladas

pela REDTURS. Segundo pesquisa realizada em 2017, 16 experiências autodenominadas de

‘rede’ podem ser identificadas na América Latina, presentes na maioria dos países da América

do Sul e Central (MORAES; IRVING; MENDONÇA, 2018). Mesmo com a desativação oficial

da REDTURS pela OIT, em 2011, estas redes continuam ativas, mas sem uma articulação mais

Page 21: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

19

ampla. As autoras da pesquisa, à luz da teoria sobre redes, analisaram e interpretaram cada uma

das 16 experiências e chegaram a algumas conclusões acerca destas organizações:

1. O modo de organização de uma rede pode variar de acordo com os interesses envolvidos

e a sua constituição pode envolver, além dos empreendimentos comunitários,

cooperativas sociais, ONGs, agências e operadoras de viagens;

2. A constituição destas redes está destinada, principalmente, a desenvolver estratégias

para a comercialização dos roteiros de TBC no mercado de viagens e para fortalecer a

gestão e operacionalização das iniciativas comunitárias;

3. É comum a presença de intercâmbio de experiências entre as comunidades envolvidas

além do compartilhamento de recursos materiais, serviços e conhecimentos;

4. Buscam também fortalecer as capacidades locais e mobilizar os grupos envolvidos em

busca de influenciar a elaboração de políticas públicas para o setor (MORAES;

IRVING; MENDONÇA, 2018).

Das 16 experiências que foram analisadas, apenas duas estavam relacionadas a

experiências de TBC no território brasileiro até aquele momento: a Rede Cearense de Turismo

Comunitário (Rede TUCUM) e a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário

(TURISOL).

A Rede TUCUM representa uma articulação regional formada, desde 2008, por 14

comunidades do estado do Ceará além de ONGs que oferecem apoio institucional. Tem como

objetivos:

- Promover formas de oferta turística locais para garantir às populações

tradicionais a permanência em seu território e possibilitar a continuidade das

atividades econômicas tradicionais (em particular a pesca e a agricultura), dando visibilidade às lutas sociais para reconhecimento das comunidades

participantes;

- Oferecer aos viajantes responsáveis de todo o mundo a oportunidade de

conhecer e vivenciar experiências de Turismo comunitário junto às

populações tradicionais (TUCUM, 2013, p. 8).

A maioria das comunidades integrantes da Rede, que se concentra no litoral do estado,

começaram a se organizar, ainda em 2001, com o apoio da ONG Instituto Terramar frente à

pressão exercida pela instalação de megaprojetos como parques eólicos e empresas de

carcinicultura. Alguns anos depois nascia a Rede TUCUM (FREIRE, 2012).

Através do site da Rede, a principal forma de oferta turística das comunidades, o turista

é capaz não apenas de conhecer mais sobre as comunidades integrantes da Rede, como pode

Page 22: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

20

também montar o seu roteiro escolhendo, por exemplo, quais comunidades deseja visitar e quais

as opções de serviços que deseja (passeios, trilhas, alimentação, hospedagem e transporte).

A Rede TUCUM se organiza de maneira descentralizada e está pautada nos princípios

da democracia direta, transparência e igualdade de gênero, raça e etnia (TUCUM, 2013). O

desenvolvimento de um ‘Caderno de Normas e Procedimento Internos’ representa um

instrumento de fundamental importância para apoiar e orientar as ações a serem desenvolvidas

pela Rede. O documento não apenas ajudou a fortalecer a Rede como também contribuiu para

qualificar o serviço turístico oferecido pelas comunidades e a divulgar o TBC para outras

comunidades possivelmente interessadas (FREIRE, 2012).

A outra rede identificada pelas pesquisadoras, a Rede TURISOL, foi criada no ano de

2003, através da articulação de um pequeno grupo de iniciativas de TBC de diferentes estados

da federação - Prainha do Canto Verde (Ceará), Acolhida na Colônia (Santa Catarina), Ecoporé

(Rondônia), Palmatur (Ceará), Parque Regional do Pantanal (Mato Grosso do Sul), Aldeia dos

Lagos (Amazonas) e Bordados da Caatinga (Piauí) - que, com o apoio da Embaixada da França

no Brasil, participou do Fórum Internacional de Turismo Solidário que ocorreu em Marselha-

FRA naquele mesmo ano. Organizações que atuam em projetos de turismo solidário acabaram

se juntando à Rede, não apenas para trocar experiências, mas também para fortalecer as

iniciativas de base comunitária já existentes, através da formação e da capacitação dos seus

integrantes (MORAES; IRVING; MENDONÇA, 2018).

O Projeto Bagagem, uma ONG que tem como objetivo fomentar o TBC no Brasil

tornou-se responsável por impulsionar a Rede, no âmbito do Edital MTUR/2008, para o

fomento do TBC, angariando recursos para a realização do primeiro encontro próprio da Rede,

que só veio a ocorrer em 2010, na Bahia (PROJETO BAGAGEM, 2017).

Ao longo de sua história, a Rede passou por alguns momentos de inatividade, devido à

falta de equipe e dificuldades no processo de gestão, já que as organizações vinculadas à rede

tinham muito trabalho na gestão dos seus próprios projetos. No ano de 2015, a ONG Projeto

Bagagem reassume a coordenação da Rede TURISOL em busca de dar um novo impulso às

iniciativas participantes, promovendo o II Encontro Nacional da Rede, no ano de 2015, em

Brasília (BARTHOLO et al., 2016). Atualmente, a Rede está ativa e em articulação apenas por

meios digitais.

Uma nova rede de TBC no Brasil se apresenta em construção, desta vez, na região

costeira da Bocaina, divisa entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A Rede Nhandereko

de Turismo de Base Comunitária é fruto de uma parceria inovadora entre um movimento da

Page 23: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

21

sociedade civil, o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e uma instituição de pesquisa

pública, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Esse é o contexto geral de investigação deste trabalho, que busca responder à seguinte

questão de pesquisa: de que forma se configura a parceria/relação entre o Fórum de

Comunidades Tradicionais (FCT) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para promover o

turismo de base comunitária nas comunidades tradicionais caiçaras, quilombolas e indígenas,

pertencentes ao território da Bocaina?

Tendo como ponto de partida essa pergunta, o objetivo central desta pesquisa é analisar

as estratégias desenvolvidas pela parceria entre o Fórum de Comunidades Tradicionais e a

Fiocruz, para promover e consolidar as iniciativas de TBC nas comunidades tradicionais do

território da Bocaina. O trabalho busca também compreender qual será o papel da Rede

Nhandereko de Turismo de Base Comunitária na articulação e na comercialização destas

iniciativas.

O ponto de partida para a escolha deste projeto de pesquisa se deu no ano de 2014

quando, o autor deste trabalho teve o seu primeiro contato com o movimento através de uma

cartilha do FCT que apresentava as suas ações, dentre elas o Turismo de Base Comunitária.

Como viajante, sempre esteve à procura de experiências mais autênticas, buscando conhecer os

locais visitados a partir de uma ótica distinta, uma ótica que permitisse conhecer não apenas as

belezas naturais do local, mas também a riqueza cultural e o dia-a-dia dos visitados.

Como biólogo de formação, o autor deste trabalho apreendeu muito da ciência, através

do método científico, que pouco valoriza as outras formas do conhecimento. Durante a sua

formação e suas viagens, deparou-se com pessoas dotadas de muito conhecimento, mas que não

compartilhavam a mesma visão de mundo produzida pela ciência. O contato direto com estes

saberes (ditos tradicionais) foi de extrema importância para entender a sua relevância para a

ciência e, assim, colocar em cheque o seu monopólio como detentora dos saberes.

As experiências pessoais com o TBC na Amazônia e no sul do continente africano, em

Botswana e na Namíbia mais especificamente, despertaram um interesse genuíno nessa prática

social tão distinta do turismo convencional. Ao saber, por um dos integrantes desta parceria,

que a produção de conhecimento se dava através da combinação do conhecimento tradicional,

oriundo do FCT, juntamente com a ciência, ficou ainda mais interessado.

O autor deste trabalho reconhece, portanto, a importância desta parceria para um

território historicamente invadido pelo turismo de massa e permeado por uma série de conflitos

de distintas origens, que serão explorados mais adiante.

Page 24: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

22

Para isso, esse trabalho apresenta a seguinte estrutura: na seção 2, o autor apresenta uma

revisão teórica da literatura sobre o turismo de base comunitária, apresentando suas definições

e princípios, além de contextualizar o tema em território nacional; a seção 3 descreve a

metodologia e os procedimentos que foram utilizados nesta pesquisa; a seção 4 apresenta o caso

estudado; a seção 5 faz uma análise dos resultados obtidos e, por fim, a última sessão desta

pesquisa traz as considerações finais, com o objetivo de consolidar as análises desenvolvidas e

responder à questão deste trabalho.

Page 25: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

23

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Turismo de Base Comunitária: definições e princípios

Após analisar os possíveis contextos nos quais iniciativas de turismo de base

comunitária podem ocorrer, assim como seus desafios de implementação, cabe discutir o que

venha a ser esta prática turística. Em primeiro lugar, deve-se levar em conta que cada iniciativa

de TBC é única já que cada comunidade possui a sua própria história e ocupa o seu próprio

território, tornando complexa a tarefa de criar um conceito unificador. Apesar da inexistência

de uma definição amplamente aceita, pode-se encontrar na literatura alguns princípios em

comum sobre o tema que ajudam a compreender melhor esta prática tão heterogênea

(BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2009; HOLANDA, 2016).

Para Irving (2009), o TBC representa uma “nova filosofia de se fazer e de se pensar o

turismo” (p. 115). Para a autora, a base endógena no planejamento e desenvolvimento do TBC

é a premissa fundamental desta prática, ou seja, “se os protagonistas deste destino forem

sujeitos e não objetos do processo” (IRVING, 2009, p. 111). A justificativa que a autora utiliza

está no fato do turismo, de qualquer natureza, ser capaz de interferir na dinâmica socioambiental

de qualquer destino. Destaca ainda a possibilidade que o TBC possui, em tese, de favorecer “a

coesão e o laço social e o sentido coletivo de vida em sociedade, e que por esta via, promove a

qualidade de vida, o sentido de inclusão, a valorização da cultura local e o sentimento de

pertencimento” (p. 111).

Nesta mesma linha, Coriolano (2009) destaca o protagonismo e o controle das

comunidades não só sobre o território em que vivem, mas também das atividades econômicas

que desempenham, através de arranjos produtivos locais. Para a autora, estes projetos permitem

o desenvolvimento de um forte senso de associação e envolvimento participativo capaz de

facilitar enfrentamentos futuros que possam surgir naquela localidade.

A participação da comunidade em todas as etapas que envolvem desde a construção, até

a execução dos projetos, contribui diretamente para o “empoderamento” da comunidade como

um todo, colaborando com o sentimento de pertencimento e com a apropriação dos meios de

produção e de consumo (HIWASAKI, 2006; MALDONADO, 2009).

Burgos e Mertens (2015b) reforçam o princípio de envolvimento ativo dos atores sociais

no desenvolvimento do TBC apontando o processo de gestão participativa como um

Page 26: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

24

‘instrumento dinamizador’, capaz de viabilizar um projeto com um objetivo comum, mas que,

ao mesmo tempo, respeite os interesses pessoais dos envolvidos.

Maldonado (2009) defende que todo projeto de TBC é na verdade uma forma de

organização empresarial, porém baseada em princípios como: cooperação, autogestão

sustentável, equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela atividade. Para

o autor, o grande diferencial estaria na sua “dimensão humana e cultural, vale dizer

antropológica, com objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de

qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos

modos de vida” (MALDONADO, 2009, p. 31).

Há um outro importante elemento a ser considerado nas práticas de TBC que envolve o

encontro entre o ‘visitante’ e o ‘visitado’. No turismo de massa, oferecido como um produto

padrão, muitas vezes, o diálogo entre as diferentes culturas não ocorre, e as populações visitadas

acabam sendo interpretadas segundo uma visão estereotipada, reduzindo-as muitas vezes a um

folclore (ZAOUAL, 2009; IRVING, 2009). O que de fato se caracteriza como principal atrativo

do TBC, responsável por cativar os visitantes, seria exatamente o fator humano e cultural (os

modos de vida, de produção e os conhecimentos) das populações autóctones (BRASIL, 2010;

GRIMM; SAMPAIO; GARCIA, 2017; MALDONADO, 2009).

No Brasil, iniciativas de TBC são desenvolvidas por diferentes comunidades, dentre

elas, comunidades de áreas rurais, de áreas periféricas urbanas e, principalmente, por

comunidades tradicionais3. As populações tradicionais, segundo Diegues e Arruda (2001),

podem ser classificadas em: indígenas, caiçaras, quilombolas, caipiras, pantaneiros,

caboclos/ribeirinhos, sertanejos/vaqueiros, jangadeiros, pescadores, babaçueiros, varjeiros e

açorianos.

Independentemente de sua origem, o TBC está fundado no patrimônio comunitário

único, existente em cada uma das inúmeras comunidades que o praticam:

O patrimônio comunitário é formado por um conjunto de valores e crenças,

conhecimentos e práticas, técnicas e habilidades, instrumentos e artefatos,

lugares e representações, terras e territórios, assim como todos os tipos de manifestações tangíveis e intangíveis existentes em um povo. Através disso,

se expressam seu modo de vida e organização social, sua identidade cultural

e suas relações com a natureza (MALDONADO, 2009, p. 29).

3 Segundo o Decreto n°6.040, de 07 de fevereiro de 2007, comunidades tradicionais são "grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de

organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua

reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos por tradição". Fonte: Decreto n° 6.040, de 07 de fevereiro de 2007 que

institui a Política Nacional do Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

Page 27: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

25

Baseado nestas premissas, o turismo comunitário pode ser considerado um instrumento

de fundamental importância para a manutenção das tradições locais na medida em que, além de

respeitá-las, pode contribuir para o seu fortalecimento em comunidades que já sofreram algum

grau de descaracterização cultural (BLANCO, 2009; BURSZTYN; BARTHOLO;

DELAMARO, 2009; MALDONADO, 2009; PINHEIRO, 2014; SAMPAIO et al., 2014).

A dimensão cultural do TBC é, portanto, um elemento chave para o sucesso dos projetos

a serem desenvolvidos, o que explica a ênfase dada a este aspecto pelos autores desta seara

(BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009; IRVING, 2009; MALDONADO, 2009;

PINHEIRO, 2014; PINTO; CASTRO, 2013; SAMPAIO, 2008; SAMPAIO et al., 2014;

SILVA; RAMIRO; TEIXERA, 2009; ZAOUAL, 2009).

Outra importante premissa no desenvolvimento de projetos de TBC está relacionada à

sua escala, que deve ser baseada nas potencialidades e restrições identificadas no local com o

objetivo de controlar os possíveis impactos ambientais e sociais gerados (IRVING, 2009). Se

comparado ao turismo de massa, o TBC dirige-se a um outro público, formado por pequenos

grupos ou indivíduos que estejam em busca de experiências culturais únicas a partir do contato

direto com as populações tradicionais e o seu entorno, dispostos a remunerar de forma adequada

as comunidades visitadas (MALDONADO, 2009). A lógica desta modalidade de turismo difere

radicalmente da lógica do turismo convencional, por isto, “seria um equívoco imaginar este

tipo de turismo como uma alternativa em substituição ao turismo de massa em termos de

geração de receita, pois este não é o objetivo de iniciativas desta natureza” (IRVING, 2009,

p.115).

Para Coriolano (2009), as demandas para o desenvolvimento de projetos de TBC devem

surgir a partir das necessidades sentidas pela própria comunidade e não impostas por pessoas

externas a ela, por melhores que sejam suas intenções. Este princípio, denominado pela autora

de ‘princípio das necessidades sentidas’, reforça ainda mais o reconhecimento de que no

turismo comunitário as comunidades detêm o poder para desenvolver ou não projetos de TBC

da forma que entenderem ser a mais relevante para atender aos interesses coletivos do grupo.

Uma importante contribuição para este tema foi apresentada pelo Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no ano de 2017, através da publicação

do documento intitulado “Turismo de Base Comunitária em Unidades de Conservação4

4 Unidade de Conservação, segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

(SNUC), Lei n°9.985, de 18 de julho de 2000 é: “um espaço territorial e seus recursos ambientais,

incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo

Page 28: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

26

Federais. Princípios e Diretrizes” em que foram apresentados 11 princípios relacionados ao

TBC: 1. conservação da sociobiodiversidade, 2. valorização da história e da cultura, 3.

protagonismo comunitário, 4. equidade social, 5. bem comum, 6. transparência, 7. partilha

cultural, 8. atividade complementar, 9. educação, 10. dinamismo cultural, 11. continuidade

(ICMBIO, 2018).

De acordo com o exposto anteriormente, alguns princípios poderiam ser considerados

comuns às práticas de TBC tais como: a adoção de modelos de gestão participativa, a

cooperação, a valorização da história e da cultura local, a conservação do patrimônio natural,

a democratização das oportunidades, a equidade social, e, principalmente, o protagonismo das

comunidades locais na gestão das atividades (BOTELHO; RODRIGUES, 2016; BURGOS;

MERTENS, 2015b; CORIOLANO, 2009; FABRINO; NASCIMENTO; COSTA, 2016;

GRIMM; SAMPAIO; GARCIA, 2017; IRVING, 2009; MALDONADO, 2009; MENDONÇA;

IRVING, 2004; PINTO; CASTRO, 2013; SANSOLO; BURSZTYN, 2009; SILVA; RAMIRO;

TEIXERA, 2009).

2.2 O Turismo de Base Comunitária no Brasil

No Brasil, as experiências de turismo de base comunitária se iniciam em meados dos

anos 1990, sem o apoio de políticas públicas. No âmbito do turismo convencional, a década de

1990 é marcada por um forte movimento de implantação de um modelo turístico baseado em

investimentos de grandes grupos transnacionais para o desenvolvimento de grandes polos

turísticos, especialmente na faixa litorânea da região Nordeste do Brasil. O Programa de Ação

para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste Brasileiro (Prodetur- NE), implantado no ano

1992, através do Plano Nacional de Turismo (PLANTUR), garantiu a execução do plano através

do suporte financeiro proveniente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Megacomplexos hoteleiros como Marriot, Accord e Holliday Inn se instalaram no país

que passou a experimentar os primeiros impactos desestruturantes do turismo de massa. São

inúmeros os exemplos de comunidades tradicionais que tiveram que deixar suas terras frente à

forte pressão da especulação imobiliária gerada pelos novos empreendimentos turísticos. A alta

competitividade e exigência do mercado internacional, além da falta de apoio do setor público

para capacitar a população local, acabaram impedindo que esta pudesse ser utilizada como mão

Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,

ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (BRASIL, 2000).

Page 29: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

27

de obra na maioria dos empreendimentos instalados (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN,

2009).

Este modelo de desenvolvimento turístico, que não mantém nenhum tipo de vínculo

com as comunidades existentes continua ativo, não só no Brasil, mas em diversos países do

mundo. Além das grandes redes hoteleiras instaladas, com a diversificação e o barateamento

dos meios de hospedagem através da proliferação dos hostels e a criação de plataformas on-line

como o Airbnb, as viagens se tornaram mais acessíveis para uma população crescente e ávida

pelo consumo. As estratégias de marketing também foram se modificando neste período e,

atualmente, uma simples postagem de determinada localidade pode se tornar viral gerando

consequências inesperadas para o local visitado.

Um exemplo recente pode ser observado no município de Ubatuba, litoral norte do

Estado de São Paulo, onde uma das mais belas paisagens, a Ilha das Couves, se tornou foco de

intensas discussões acerca da superlotação que vem enfrentando durante o verão. Em apenas 3

anos, com a divulgação massiva da ilha nas redes sociais, o número de turistas aumentou

exponencialmente, tornando a atividade caótica e predatória, ao ponto de chamar a atenção

inclusive do Ministério Público Federal que teve de intervir na região (MOTTA, 2018).

As políticas públicas para o fomento do turismo no Brasil costumam ser reduzidas a

meras ações de marketing, prevalecendo uma certa racionalidade hegemônica e utilitarista que

busca resultados econômicos através do aumento no fluxo de visitantes, desconsiderando os

impactos decorrentes e sem envolver as populações locais nas discussões de planejamento e

execução (CORIOLANO, 2009; MENDONÇA, 2009; SAMPAIO, 2008).

Ainda na década de 1990, uma das primeiras iniciativas acadêmicas para se pensar em

um modelo mais sustentável de turismo frente ao modelo vigente ocorreu na Universidade de

São Paulo – USP, em 1997. Capaz de mobilizar pesquisadores e políticas públicas, o primeiro

Encontro Nacional de Turismo de Base Local (ENTBL) contou com a participação de diferentes

pesquisadores das mais diversas áreas (Geografia, Ciências Sociais, Biologia, História) e

regiões do país, em busca de aprofundar o entendimento em torno do turismo e do território, da

prática turística e suas correlações com a cultura (IRVING, 2009). Atualmente, na sua XV

edição, o encontro debateu as mais recentes tendências sobre o turismo de base local, centrado

em uma linguagem puramente acadêmica e buscando contribuir para a produção científica e

elaboração de políticas públicas mais eficazes para o setor com esse enfoque (ENTBL, 2018).

O início do século XXI, mais especificamente o ano de 2003, apresenta dois importantes

acontecimentos para o turismo: a criação do Ministério do Turismo (MTur) e a ocorrência do I

Page 30: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

28

Seminário Internacional de Turismo Sustentável com foco na redução da pobreza, realizado em

Fortaleza – CE. As discussões que ocorreram durante o seminário contaram com a participação

não apenas de acadêmicos, mas também das comunidades, trazendo um outro tipo de olhar e

saber para as discussões, fortalecendo ainda mais as articulações entre os diferentes atores

envolvidos.

Com a criação do MTur, em 2003, foi elaborado o primeiro Plano Nacional de Turismo

(2003-2007) que estabeleceu as diretrizes e estratégias para a implementação da Política

Nacional de Turismo. O turismo de base comunitária, pela primeira vez, passou a ser

reconhecido pelo governo federal como um modelo alternativo para o turismo e um possível

indutor do desenvolvimento local (BRASIL, 2010; PINHEIRO, 2014).

No Plano Nacional de Turismo para o quadriênio 2007-2010, a importância do

desenvolvimento local e da inclusão social nos projetos de turismo passou a ser ainda mais

destacada. No início deste período, intensificou-se o diálogo entre o MTur, o governo federal e

o meio acadêmico, resultando no lançamento do primeiro Edital de Chamada Pública de

Projetos de Turismo de Base Comunitária (06/2008), com o objetivo de apoiar e incentivar

iniciativas por todo o território nacional.

Os projetos selecionados poderiam solicitar apoio financeiro em um valor entre R$

100.000,00 e R$150.000,00, com prazo de execução de até 18 meses, devendo contemplar pelo

menos uma das cinco linhas temáticas: qualificação profissional, produção associada ao

turismo, planejamento estratégico e organização comunitária, promoção e comercialização e

fomento às práticas de economia solidária (BRASIL, 2010).

Apesar de não poder ser definido como uma política pública de fato, o edital representou

a primeira forma de apoio do governo federal a esta prática de turismo (BARTHOLO;

SANSOLO; BURSZTYN, 2009). Para a surpresa dos organizadores, mais de 500 propostas

foram recebidas o que forçou os organizadores a ampliarem de 20 para 50 o número de projetos

a serem selecionados (BRASIL, 2010).

Neste mesmo contexto, uma importante contribuição para o debate veio com a

publicação do livro intitulado ‘Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e

experiências brasileiras’, lançado no ano de 2008 a pedidos do MTur que, segundo os próprios

autores, buscou contribuir com o tema expondo a existência desta nova forma de se fazer

turismo ao apresentar sua diversidade no território nacional. O livro contou com a participação

dos mais importantes pesquisadores nesta área, apresentando seus olhares e ideias sobre o

Page 31: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

29

turismo de base comunitária, especialmente no Brasil (BARTHOLO; SANSOLO;

BURSZTYN, 2009).

Apesar do indício de possível inclusão do TBC na pauta da agenda do governo federal

e consequente construção de um arcabouço legal para estimular as práticas em todo o território

nacional, o TBC acabou perdendo espaço, voltando a ocupar um lugar marginal na agenda do

turismo nacional (BARTHOLO et al., 2016). Dos 50 projetos apoiados pelo MTur no edital de

2008, muitos não foram bem-sucedidos uma vez que muitas das comunidades eram de baixa

renda e não tiveram o apoio necessário para colocar seus produtos no mercado, levando,

inclusive, a uma certa descrença por parte dos comunitários (MIELKE, 2009).

A descontinuidade da política pública brasileira somado ao atual contexto político

resultam em um quadro de extremo cepticismo a respeito da possibilidade de novos fomentos

para o setor. O impeachement da ex-presidente Dilma Roussef, no final do ano de 2015, criou

um novo cenário político no Brasil. Uma agenda conservadora e reacionária passou a dominar

as discussões no congresso nacional com a ajuda da rápida ascensão de partidos conservadores,

trazendo uma série de incertezas e preocupações, especialmente para as populações menos

favorecidas (BRAZ, 2017; ALMEIDA, 2019).

A eleição do presidente Jair Bolsonaro, no fim de 2018, representou um duro golpe para

as comunidades tradicionais, especialmente indígenas e quilombolas, duramente atacados pelo

então presidente, denunciado por incitação de genocídio e de lesa-humanidade (STOCHERO,

2019). Não apenas sem o apoio do governo federal, mas, vendo-se diante de um governo

claramente contrário às minorias e às mulheres, comunidades de todo o país buscam se articular

com outros atores, seja no âmbito local, regional ou nacional na busca pela preservação de suas

culturas e de seus territórios.

Nessa perspectiva, os debates sobre o TBC no país têm sido impulsionados por lideranças

comunitárias, representantes de movimentos sociais, das universidades e de organizações não

governamentais e outros diversos atores que estão construindo, permanentemente, discursos, práticas,

políticas e conexões em rede, para além da lógica hegemônica (MORAES, 2019).

2.3 As redes de TBC

Uma rede social pode ser entendida como um conjunto finito de atores ou nós que

estabelecem entre si vínculos sociais específicos. Cada ator ou nó desta rede pode ser

Page 32: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

30

representado por diferentes entidades como empreendedores, comunidades, instituições

públicas e privadas ou até mesmo indivíduos, se considerarmos, por exemplo, uma rede

relacionada ao turismo (BURGOS; MERTENS, 2015a; SCOTT et al., 2008; URANO;

SIQUEIRA; NÓBREGA, 2016).

Apesar da ênfase dada ao protagonismo das comunidades no desenvolvimento do

turismo de base comunitária, a participação de agentes externos ao longo do processo é um

evento bastante comum frente aos desafios encontrados. Estes agentes podem ser de naturezas

distintas sendo as ONGs e as universidades, os agentes mais comuns encontrados em práticas

comunitárias (CORIOLANO, 2009; SANSOLO; BURSTZYN, 2009).

Quanto maior é o número de nós, mais complexa se torna a rede, podendo emergir de

sua estrutura não- linear, diferentes padrões de organização. Dentro de uma rede, os atores

podem desempenhar diferentes papéis, alguns de forma mais ativa, outros de forma mais

passiva, o que influenciará diretamente na forma como o turismo de desenvolverá.

No turismo convencional, as redes costumam ser controladas pelos agentes detentores

do poder (o estado e o mercado) que excluirão os possíveis atores que não apresentam vantagens

competitivas do ponto de vista econômico-financeiro. Diversas comunidades tradicionais se

enquadram nesta perspectiva e, portanto, não são incluídas nestas redes. Nos casos em que

comunidades são inseridas nas redes de turismo convencional, redes estas marcadas por um

padrão de organização verticalizado e com vínculos estritamente comerciais, acabam se

submetendo às relações de poder existentes, desempenhando o papel esperado pelos atores

posicionados em níveis hierárquicos mais elevados (URANO; SIQUEIRA; NÓBREGA, 2016).

Redes sociais construídas a partir de práticas de TBC obedecem a padrões de

organização mais horizontalizados, permitindo que o processo de comunicação se dissemine

por todos os membros da rede. As relações de poder que se estabelecem são distintas daquelas

do turismo convencional e os vínculos que se formam também, baseando-se não em aspectos

puramente comerciais, mas sim em aspectos ligados à solidariedade, equidade e justiça

(URANO; SIQUEIRA; NÓBREGA, 2016)

Resultados mostram que as características das redes de turismo comunitário contribuem

para que as comunidades e seus integrantes desempenhem um papel mais ativo no processo de

planejamento e execução dos projetos de turismo, contribuindo para um maior grau de

engajamento e empoderamento que, por sua vez, aumentará as chances de atingir os objetivos

estabelecidos em coletividade (BURGOS; MERTENS, 2015a; MORAES; IRVING;

MENDONÇA, 2018; SCOTT et al., 2008; URANO; SIQUEIRA; NÓBREGA, 2016).

Page 33: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

31

Outra importante contribuição no desenvolvimento destas redes está relacionada ao

modelo de gestão que é normalmente adotado nas práticas de turismo comunitário: a gestão

participativa. Considerado um dos aspectos constituintes do TBC e diferenciadores de outras

práticas de turismo, este modelo de gestão é estimulado e até mesmo fortalecido pelas conexões

e colaborações estabelecidas entre os diferentes atores envolvidos (BURGOS; MERTENS,

2015a; URANO; SIQUEIRA; NÓBREGA, 2016).

A visão de mundo dos distintos agentes que compõe uma rede comunitária é

determinante no sucesso destas iniciativas, como destacam Gallo e Nascimento (2019):

A articulação de diferentes atores que compartilham da mesma visão de

mundo é crucial para um projeto contra hegemônico de construção de uma

agenda de desenvolvimento e de um novo modo de produção e organização

social, mais cooperativo e solidário, capaz de promover a justiça socioambiental (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p.32).

Justiça socioambiental, neste contexto, pode ser entendida como um mecanismo de

combate às desigualdades sociais históricas no qual, todos os grupos sociais de um determinado

território devem participar das decisões sobre sua ocupação e uso dos recursos naturais que ali

existem. Para Gallo e Setti (2012), “o conceito [...] refere-se a um processo de empoderamento

e produção de autonomia, equidade e sustentabilidade, especialmente para as populações

excluídas e/ou vulneráveis” (p. 1437).

Page 34: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

32

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Este trabalho parte de uma pesquisa de interpretação do turismo como fenômeno social

e da análise, especificamente, da prática de turismo de base comunitária. Com o objetivo de

investigar esse fenômeno, utilizou-se o método qualitativo, de caráter exploratório, ancorado

em um estudo de caso.

3.1 Justificativa para a escolha do método

Entendendo o turismo como um fenômeno contemporâneo complexo, esta pesquisa

procurou explorar uma metodologia capaz de produzir uma maior riqueza de dados com um

aprofundamento analítico diferenciado, permitindo ao pesquisador entender a dinâmica do

TBC, através do ponto de vista dos envolvidos. Por este motivo, a escolha metodológica se deu

pela pesquisa qualitativa, mais adequada para se estudar fenômenos envolvendo indivíduos em

suas intrincadas relações sociais (GODOY, 1995).

A opção pelo método de pesquisa de estudo de caso levou em consideração três

condições, a saber:

a) O tipo de pergunta de pesquisa;

b) O grau de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais;

c) O grau de enfoque da pesquisa (eventos contemporâneos ou históricos) (YIN, 2015).

Estas três condições, segundo Yin (2015), podem ser relacionadas aos cinco principais

métodos de pesquisa: (a) experimentos, (b) levantamentos, (c) análise de arquivos, (d) pesquisas

históricas e (e) estudo de caso.

Como a questão a ser respondida por este trabalho representa um tipo de questão mais

explanatória, os métodos de experimento, estudo de caso e pesquisa histórica, seriam as

principais possibilidades para a pesquisa (YIN, 2015). Levando em conta que a parceria a ser

estudada é um acontecimento contemporâneo e que o pesquisador possui acesso a atores de

relevância, descartou-se o método de pesquisa histórica que, em geral, se baseia em

acontecimentos que já ocorreram. Por último, considerando que o pesquisador não pode

manipular comportamentos relevantes, excluiu-se o método da experimentação e adotou-se

assim o estudo de caso.

Page 35: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

33

3.2 Critérios para a seleção do caso

Para a seleção do caso a ser estudado, optou-se pela parceria entre o Fórum de

Comunidades Tradicionais e a instituição Fiocruz por diversas razões, dentre elas:

a) Por ser uma parceria inovadora entre um movimento social e uma instituição de

pesquisa em saúde pública;

b) Pelo destaque que a parceria vem obtendo através das conquistas obtidas nos mais de

10 anos de sua existência;

c) No último dia 05/07/2019, Paraty e Ilha Grande receberam o título de Patrimônio

Cultural e Natural Mundial pela Unesco, revelando a importância deste território pela

sua sociobiodiversidade única e a rica interação existente entre o ser humano e o meio

ambiente.

d) Pela grande quantidade de dados disponíveis para a pesquisa;

e) Pela proximidade do autor deste trabalho com o território onde a parceria acontece,

facilitando o contato com os principais atores envolvidos.

3.3 Técnicas para a coleta de dados

Para a coleta dos dados foram adotadas duas técnicas distintas. Primeiramente, recorreu-

se ao método bibliográfico com a realização de uma extensa análise da literatura pertinente

sobre o tema para identificar e comparar diferentes fontes. Neste sentido, foram utilizados

livros, artigos científicos, relatórios, reportagens e sites relevantes ao assunto. Apesar de

questionado por alguns membros da academia, a utilização de fontes publicadas em mídias

(jornais, sites, entre outros), trouxe acesso às informações e fatos de grande relevância para a

pesquisa que seriam de difícil acesso sem sua existência.

A outra técnica envolveu a aplicação de entrevistas presenciais semiestruturadas. A

escolha por este tipo de entrevista buscou dar maior liberdade ao entrevistado para que este

pudesse expor suas percepções e experiências sobre os assuntos tratados.

3.4 Elaboração e execução das entrevistas

A base de dados contou com 15 entrevistas sendo a maioria realizada durante os meses

de julho e agosto de 2019 e duas realizadas em janeiro de 2020. Os entrevistados neste trabalho

apresentavam algum grau de envolvimento com a parceria ou com o território onde a parceria

acontece. A escolha dos primeiros entrevistados ocorreu com base na análise dos documentos

Page 36: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

34

e na identificação dos envolvidos no caso analisado. Durante as entrevistas, alguns

entrevistados sugeriram outros atores de relevância que poderiam contribuir sobre o tema e

estes nomes foram registrados para futuras entrevistas.

Todos os entrevistados assinaram um termo de consentimento (Apêndice C) e as

entrevistas foram gravadas para posterior análise. Houve o cuidado de informar os participantes

sobre os objetivos da pesquisa e como os dados seriam utilizados. Para a segurança dos

entrevistados e seguindo o Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos, decidiu-se por

não identificá-los. Para isso, utilizaram-se as seguintes siglas: Entrevistado 1 (E1), Entrevistado

2 (E2), Entrevistado 3 (E3) e assim por diante.

A maior parte das entrevistas foi realizada em campo com comunitários de diferentes

comunidades tradicionais. Algumas dificuldades surgiram ao longo do processo, sendo a mais

comum, a dificuldade para conseguir marcar um encontro presencial para a realização da

entrevista, principalmente devido ao fraco sinal ou à inexistência de sinal de internet no interior

das comunidades, o que dificultou ainda mais o processo.

Optou-se por realizar as entrevistas no interior das comunidades para buscar um maior

aprofundamento na investigação do fenômeno estudado em seu contexto natural (YIN, 2015).

Apenas uma das entrevistas foi realizada à distância, utilizando-se o Skype, e outra que contou

com duas entrevistadas simultaneamente.

A lista com todos os entrevistados/as juntamente com informações relevantes sobre seus

perfis encontra-se na tabela a seguir.

Tabela 1: Perfis dos/das entrevistados/as.

Nome Idade Ocupação Local / Duração da

entrevista

Entrevistado 1 57 anos Quilombola e funcionária do PESM

- Sede do Núcleo

Picinguaba

- 35 minutos

Entrevistado 2 30 anos

Quilombola, monitor ambiental e condutor

de TBC

- Sede do PESM

- 47 minutos

Entrevistado 3

43 anos

Caiçara da Vila de Picinguaba, secretária da Associação de Moradores do Bairro de

Picinguaba e membro do conselho

consultivo do PESM

- Vila de Picinguaba

- 70 minutos

Entrevistado 4

55 anos Caiçara e dona de quiosque

- Vila de

Pincinguaba

- 70 minutos

Page 37: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

35

Entrevistado 5 42 anos Diretor de agência de turismo no município

de Ubatuba

- Centro de Ubatuba

- 60 minutos

Entrevistado 6 41 anos Biólogo, escrito, caiçara e articulador do

FCT em Ubatuba

- Centro de Ubatuba

- 60 minutos

Entrevistado 7 42 anos Gestor de uma Unidade de Conservação no

território da Bocaina

- Centro de Ubatuba

- 60 minutos

Entrevistado 8 54 anos Ex-Secretário de meio ambiente do

município de Ubatuba

- Centro de Ubatuba

- 61 minutos

Entrevistado 9 25 anos Quilombola, Bolsista do OTSS e condutor

de TBC

- Quilombo da

Fazenda

- 64 minutos

Entrevistado 10 43 anos Liderança caiçara e membro da Rede

Nhandereko

- Centro de Ubatuba

- 75 minutos

Entrevistado 11 52 anos Professora do Departamento de Administração e Turismo da Universidade

Federal do Rio de Janeiro

- Realizada via

Skype

- 68 minutos

Entrevistado 12 24 anos Caiçara, membro do FCT e guia de turismo

regional

- Comunidade da

Lagoinha

- 58 minutos

Entrevistado 13 25 anos Indígena da Aldeia Boa Vista - Ubatuba

- Aldeia Boa Vista

- 45 minutos

Entrevistado 14 50 anos Monitor Ambiental do PESM há 26 anos

- Núcleo Picinguaba

- 50 minutos

Entrevistado 15 46 anos Funcionário da Secretaria de Turismo de

Ubatuba

- SETUR

- 54 minutos

Fonte: elaborado pelo autor.

Previamente à elaboração das entrevistas, foram elencadas as categorias de análise e, a

partir delas, as perguntas foram sendo elaboradas de acordo com o papel ou o grau de

envolvimento do entrevistado na parceria. Desta forma, diferentes roteiros foram estruturados

(Apêndice A). Mesmo com o roteiro em mãos, as entrevistas não necessariamente seguiram a

ordem das perguntas, uma vez que alguns entrevistados respondiam antecipadamente algumas

perguntas e, em algumas situações, outras perguntas acabaram sendo incluídas conforme novas

informações surgiam durante a conversa.

Page 38: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

36

4. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO: A PARCERIA ENTRE O FÓRUM

DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E A FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

Esta seção descreve a parceria realizada entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o

Fórum de Comunidades Tradicionais da Bocaina como estudo de caso orientador deste trabalho

aplicado, por meio da análise de documentos e das informações obtidas em campo através das

entrevistas. As falas dos entrevistados se apresentam em destaque com a utilização de aspas

sendo mantidas as marcas de oralidade mesmo estando em desacordo com a norma culta da

língua portuguesa.

4.1 O contexto para a criação do Fórum de Comunidades Tradicionais

O Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), criado no ano de 2007, de acordo com

os próprios membros, pode ser definido como um movimento social organizado a partir da

convergência de três etnias distintas: comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras,

pertencentes ao território conhecido como Mosaico da Bocaina (FCT, 2014). Este território,

localizado na região da Costa Verde (faixa de terra que se estende pelo litoral sul do Rio de

Janeiro até o litoral norte de São Paulo), abriga um dos mais importantes biomas do Brasil, a

Mata Atlântica, considerada atualmente uma área de hotspot, ou seja, uma área prioritária para

a conservação pelo alto grau de endemismo (espécies que só existem naquele bioma) e por já

ter perdido mais de 75% da sua vegetação natural (GALLO; SETTI, 2012).

O mosaico da Bocaina abrange importantes municípios como Angra dos Reis e Paraty,

no litoral do Rio de Janeiro, e o município de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo e abarca

64 comunidades tradicionais sendo 48 delas de caiçaras, 8 quilombolas e 8 indígenas, além de

um mosaico composto por 15 diferentes unidades de conservação (SETTI et al., 2016).

A área focada nesta pesquisa pertence ao mosaico da Bocaina e abarca 24 comunidades

tradicionais sendo 12 de caiçaras, 7 de indígenas e 5 de quilombolas5. A região contém 15

5 A população tradicional mais abundante na bocaina é constituída por caiçaras: oriundos da mescla

entre indígenas com colonizadores portugueses e, em menor grau, com escravos africanos, esta cultura

atualmente ocupa a região litorânea dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro

e apresentam um modo de vida baseado não apenas na pesca artesanal, mas também na agricultura itinerante, no extrativismo e no artesanato (DIEGUES; ARRUDA, 2001). Os quilombolas, outra

população presente no território estudado, “são descendentes dos escravos negros que sobrevivem em

enclaves comunitários, muitas vezes antigas fazendas deixadas pelos antigos grandes proprietários” (DIEGUES; ARRUDA, 2001, p. 57). Dependendo da região em que vivem, os quilombolas podem

apresentar diferentes hábitos de vida. Na região da Bocaina, alguns quilombos, localizados em zonas

Page 39: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

37

unidades de conservação (UC) com restrições de uso público diferenciadas6. Deste total, 5 delas

influenciam diretamente as comunidades da região: a Área de Proteção Ambiental (APA) de

Cairuçu, uma UC Federal de uso sustentável; a Estação Ecológica (ESEC) de Tamoios, também

de nível federal, porém de proteção integral; o Parque Nacional (PARNA) da Serra da Bocaina;

a APA Marinha do Litoral Norte, uma UC Estadual de uso sustentável; e o Parque Estadual da

Serra do Mar (PESM). Estas são as principais UC do território analisado com a presença de

áreas de sobreposição, como pode ser observado na Figura 1 (GALLO; SETTI, 2012).

mais afastadas da zona costeira, garantem sua subsistência principalmente com o extrativismo e a

pequena agricultura. Quilombos mais próximos do mar, realizam também a pesca e coleta de moluscos, não apenas para consumo como também para a venda nos centros urbanos. Devido às restrições impostas

pelos órgãos gestores das unidades de conservação que se sobrepõe a muitos dos territórios tradicionais,

muitos quilombolas e caiçaras acabam indo trabalhar nas cidades seja na construção civil, no setor turístico, como também em casas de veraneio, como caseiros. Por último, encontram-se na Bocaina

algumas comunidades indígenas de origem guarani que realizam a agricultura e eventualmente a caça

para subsistência. A venda do artesanato e do palmito extraído da floresta, muito comum na região, estão entre as principais fontes de renda destas comunidades juntamente com o turismo. 6 As Unidades de Conservação (UC) podem ser divididas em 2 grupos, de acordo com a possibilidade

de uso dos recursos naturais existentes. As UC de Proteção Integral, que permitem apenas o uso indireto

dos recursos naturais, não permitindo, portanto, a coleta ou o consumo dos mesmos e, as UC de Uso Sustentável, que visam conciliar conservação com o uso sustentável dos recursos, permitindo atividades

de coleta e uso de maneira a garantir a perpetuidade dos recursos ali existentes (BRASIL, 2000). Tanto

a Estação Ecológica (ESEC) de Tamoios como o Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) e o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) são UC de proteção integral, resultando assim na perda de

direitos por parte das comunidades tradicionais lá existentes.

Page 40: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

38

Figura 1: Mosaico da Bocaina e suas Unidades de Conservação.

Fonte: Salvati (2012).

A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais, instituída através do decreto federal 6.040/2007, reconhece povos e comunidades

tradicionais como grupos culturalmente diferenciados, que se reconhecem como tais e que

possuem suas próprias formas de organização social. Tal política prevê fóruns regionais como

instrumento de sua implementação e teve influência direta na consolidação do FCT quando os

diferentes atores das três etnias entenderam ser de extrema importância ocupar os espaços de

tomada de decisão, ao reconhecerem que estavam às margens deste processo, correndo um sério

risco de perderem os seus territórios (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

Segundo Gallo e Nascimento (2019),

O FCT é um espaço de fortalecimento e articulação das comunidades

tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras para a defesa do seu território e da sua identidade cultural. Promove soluções tecnológicas e políticas voltadas

Page 41: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

39

à educação diferenciada, cultura, pesca, agricultura familiar, agroecologia,

economia solidária e ao turismo de base comunitária, entre outros (p.32).

Sendo uma região tão rica em biodiversidade e com a presença de centenas de praias

pouco exploradas pelo turismo, a região se tornou uma área de relevante importância ambiental,

com a criação das inúmeras unidades de conservação e, ao mesmo tempo, um território muito

requisitado pelo segmento turístico “sol e de praia”. Sem ordenamento territorial e turístico, o

resultado foi a massificação do turismo durante os meses de verão e feriados, além da

especulação imobiliária que, historicamente, expulsou e ainda expulsa inúmeras comunidades

tradicionais de seus territórios originais (MENDONÇA; MORAES; CATARCIONE, 2016).

O movimento crescente por uma reflexão crítica sobre o turismo na Região da Costa

Verde resultou na realização do I Encontro de Turismo de Base Comunitária da Costa Verde,

em 2015, no distrito de Tarituba (Paraty), considerando um marco para a discussão pública

sobre um turismo que se tem e um turismo que se deseja para essa região (MENDONÇA;

MORAES; CATARCIONE, 2016).

4.2 As pressões geradas pela criação das Unidades de Conservação no território da

Bocaina

A criação das primeiras áreas de preservação no Brasil, iniciou-se ainda na década de

1930, com a instituição do Parque Nacional de Itatiaia, em 1937. Baseado no modelo adotado

pelos Estados Unidos, o processo de criação de áreas protegidas no Brasil incorporou a premissa

básica de que a presença humana não deveria ser tolerada nestas áreas, pois a espécie humana

era tida como destruidora da natureza. Esta era a concepção dos primeiros conservacionistas

norte-americanos. Assim, as unidades de conservação deveriam representar ilhas onde a

natureza selvagem poderia florescer e ser apreciada pela população (DIEGUES, 1994). O

grande problema nesta abordagem consiste na profunda diferença que existe entre o contexto

norte americano e o contexto brasileiro.

No Brasil, a presença de populações tradicionais é um fenômeno comum não apenas em

áreas rurais, mas também no interior de biomas complexos como o da Mata Atlântica e da

Floresta Amazônica. Desta maneira, o processo de gestão de um território contendo residentes

deve ser distinto daquele que ocorreu em áreas desabitadas nos Estados Unidos. As autoridades

que estariam por detrás dos projetos de implementação das primeiras UC no Brasil enxergavam

estes residentes como qualquer outro grupo humano, necessariamente gerador de impactos

Page 42: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

40

capazes de destruir o meio natural, o que reforçou o caráter antidemocrático no processo de

implementação (DIEGUES, 1994).

Muitas destas populações viviam em certo grau de isolamento, com um considerável

grau de analfabetismo, especialmente da parcela mais idosa da população, com baixa

participação e poder político além de não possuírem os títulos de suas terras. Esse conjunto de

fatores as tornou ainda mais vulneráveis frente ao possível processo de desapropriação de terras

que viria a ocorrer, seja para a criação de áreas protegidas ou para a construção de

empreendimentos como hidrelétricas e mineradoras (DIEGUES, 1994).

O processo que se instalou, em plena ditadura militar, se deu de forma antidemocrática

já que não se preocupou em consultar previamente as comunidades locais, ocorrendo através

de uma abordagem top-down (“de cima para baixo”). Com a sobreposição de territórios oficiais

(UC) e tradicionais, uma série de restrições a estas populações foram impostas. De um dia para

o outro viram-se como clandestinas em suas próprias terras (CALVIMONTES; FERREIRA;

RAIMUNDO, 2016; DIEGUES, 1994; SIMÕES, 2010).

Outro tipo de sobreposição acabou agravando ainda mais a situação das comunidades

tradicionais na região Bocaina, gerando novos problemas relacionados à gestão das áreas

ocupadas. O conflito de poderes resultante da sobreposição de competências entre diferentes

órgãos da administração pública localizados em diferentes esferas (municipal, estadual e

federal) (COSTA, 2015). No município de Ubatuba, por exemplo, 80% do território é ocupado

pelo Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) sendo, portanto, administrado por um gestor

designado por órgãos do estado. Apenas 20% do território, que se localiza fora da área do PESM

é, de fato, administrada pelo poder público municipal, eleito pela população (SANSOLO,

2009).

Na entrevista realizada com o entrevistado 8, ex-secretário da pasta de Meio Ambiente

do município de Ubatuba, esse fato foi destacado quando perguntado sobre o papel do

município em assegurar o direito aos territórios pertencentes às populações tradicionais. Para

ele, a presença desta duplicidade de jurisdição acaba “gerando uma situação de descaso do

município que, muitas vezes, acaba se omitindo da gestão de certas comunidades por estarem

em áreas sob jurisdição também do PESM”.

Apesar da relação das comunidades com o PESM ter mudado ao longo das últimas

décadas, quando perguntado sobre o papel dos gestores na preservação dos direitos ligados às

comunidades tradicionais, o entrevistado 8 respondeu: “a relação entre o estado e as

comunidades passou da agressividade à tolerância, nunca ao apoio. O apoio pode existir, talvez

Page 43: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

41

no nível local (referindo-se ao gestor da UC), mas ele não é respaldado pelas burocracias

superiores, pelas entidades superiores. E daí acaba havendo um desgaste muito grande pois esse

gestor pode se comprometer a coisas que não conseguirá realizar”.

A criação do Mosaico da Bocaina, que se iniciou entre os anos de 2003 e 2004, foi uma

tentativa de alguns gestores de UC para a construção de consensos e resolução de conflitos

administrativos relacionados, não apenas a problemas de sobreposição entre áreas protegidas

como também entre áreas habitadas por populações tradicionais e áreas destinadas à proteção

integral. A adoção de um modelo de governança híbrida, não foi capaz de cumprir com os

objetivos de funcionar como um instrumento de gestão participativa e integrada neste território

com tamanha complexidade (COSTA, 2015).

É nesse contexto, de insegurança fundiária, que as comunidades do território da Bocaina

vivenciaram a implementação das inúmeras áreas protegidas e ainda sofrem diferentes graus de

impacto, convivendo com inúmeros conflitos fundiários, sociais e ambientais (COSTA, 2015).

As comunidades quilombolas e caiçaras, sem um arcabouço legal para a defesa de seus

territórios, acabaram sofrendo ainda mais com essas imposições, se comparado às populações

indígenas, que mantiveram o direito de preservar o seu modo de vida dentro de seus territórios.

A entrevistada E1, uma das lideranças do Quilombo da Fazenda comentou, durante entrevista,

que ao chegar na região do quilombo, com 6 anos de idade, não haviam estradas, meios de

comunicação, transporte público nem escolas: “não tinha nada, mas nós vivia feliz pois a gente

era livre [...] de repente o meio ambiente era tudo do governo, e a gente não tem mais nada” se

referindo à implementação do Parque (PESM) em 1979. “Eu tava no varal, grávida do meu

filho e com 5 filhos pequenos quando chegaram homens armados da polícia ambiental na minha

porta, juntamente com o gestor na época dizendo, você vai sair daí agora porque essa casa

agora é do governo”. Ao afirmar que não sairia de sua casa, recebeu uma ameaça de prisão e,

no dia seguinte teve sua roça toda cortada. Naquela mesma semana foi obrigada a deixar sua

casa: “me deixaram na rua e passaram com o trator em cima da casa”. Afirmou que, naquele

momento, sua luta havia começado. Essa é uma das incontáveis histórias de abuso contra

comunidades tradicionais espalhadas por todo território nacional7.

7 Em pesquisa realizada pela 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (6CCR/MPF), responsável por coordenar e revisar a atuação ministerial em questões relacionadas a

povos e comunidades tradicionais, entre 01 de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2019, investigaram-

se 390 casos de violência. De acordo com a pesquisa, a maior parte dos casos, 64%, estão associados à disputa pela terra. O levantamento da 6CCR também revela que a violência contra estas populações vem

aumentando na última década. Disponível em:

Page 44: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

42

Apesar dos problemas associados à implementação das unidades de conservação em

território brasileiro, é preciso salientar o importante papel que estas áreas vêm exercendo ao

impedir o avanço de empreendimentos industriais, agrários e/ou turísticos sobre ecossistemas

importantes onde residem inúmeras comunidades tradicionais (SANSOLO, 2009). O próprio

mosaico da Bocaina representa um importante exemplo de preservação do bioma Mata

Atlântica, levando-se em conta que a área preservada está localizada entre três das maiores

regiões metropolitanas do país (São Paulo, Vale do Paraíba e Rio de Janeiro) onde vivem mais

de 20 milhões de pessoas.

As populações tradicionais, antes vistas como um empecilho à preservação dos

ecossistemas, atualmente vem sendo apontadas como organizações potencialmente

conservacionistas. Pesquisas revelam que estas populações, que há séculos residem em meio à

natureza, desenvolveram suas próprias técnicas de convivência harmoniosa com o meio natural

(DIEGUES, 1994; DIEGUES; ARRUDA, 2001; SIMÕES, 2010). Por conseguinte, a existência

de populações tradicionais no interior das UC pode ser considerada compatível com o propósito

de preservação da biodiversidade8.

No Brasil, assim como em diversos países da América Latina, a questão fundiária ainda

está no cerne dos inúmeros conflitos envolvendo comunidades e governos, tornando-se cada

vez mais comum a associação de iniciativas de práticas de TBC às estratégias políticas de

movimentos sociais organizados em busca da preservação dos modos de vida de suas

populações (cultura local) e de seus territórios (MORAES; IRVING; MENDONÇA, 2018). O

Fórum de Comunidades Tradicionais, que nasce a partir do capital humano existente nas

comunidades da Bocaina, representa um desses importantes movimentos sociais em atividade

no Brasil.

4.3 A parceria com a Fiocruz e a criação do Observatório dos Territórios Sustentáveis

e Saudáveis da Bocaina

As diversas comunidades do mosaico da Bocaina que participam do Fórum de

Comunidades Tradicionais buscavam construir parcerias que gerassem resultados mais efetivos

<http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/6CCR_PecaInformacao_ViolenciaMinorias.pdf>. Acesso

em: 5 fev. 2020

8 Diegues e Arruda (2001) realizam uma interessante análise sobre a importância destas populações para

a manutenção da diversidade biológica nas florestas tropicais.

Page 45: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

43

na melhoria de vida das comunidades. No ano de 2009, ocorreu a aproximação do movimento

com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma das instituições públicas de pesquisa e

desenvolvimento em ciência e tecnologia mais destacadas do mundo. Atuando diretamente na

área da saúde pública, a Fiocruz busca promover a saúde e o desenvolvimento social, gerando

e difundindo conhecimento científico e tecnológico relevantes para a população (FIOCRUZ,

2019).

Edmundo Gallo, um dos pesquisadores titulares da Fiocruz, procurou o FCT buscando

desenvolver projetos que afirmassem o papel estratégico da instituição no auxílio ao

desenvolvimento local. Após identificar, por meio da análise de documentos e reuniões com o

próprio FCT, a necessidade de apoiar a agenda já existente no território, nasceu, no ano de 2009,

a parceria entre o FCT e a Fiocruz (GALLO; SETTI, 2012).

Inicialmente focada na área de saneamento ecológico, duas comunidades caiçaras da

região, praia do Sono e Pouso da Cajaíba, ambas em Paraty, foram escolhidas por representarem

as comunidades mais carentes da região, naquele momento. Após atendê-las, a área de atuação

seria então expandida com o propósito de contemplar o conjunto das comunidades daquele

território.

No ano de 2013, após 4 anos de parceria, estabeleceu-se que era necessário um

planejamento mais estratégico das ações do FCT e, durante este processo, iniciou-se a

construção de um espaço de gestão compartilhada que facilitasse a estruturação dos projetos do

FCT. Por meio de um termo de cooperação com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA),

nascia o Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). A

FUNASA, agora parceira no projeto, tornou-se a principal responsável pelo financiamento do

mesmo (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

Em junho de 2018, três anos após a publicação da Agenda 2030 pela ONU, a Fundação

Oswaldo Cruz (Fiocruz) estabeleceu, durante o seu VIII Congresso Interno, intitulado A Fiocruz

e o futuro do SUS, onze teses que refletem os anseios desta instituição e os possíveis caminhos

para atingir a sua principal meta: contribuir com o bem-estar de todos os cidadãos do país

(FIOCRUZ, 2018).

A tese de número 6 ressalta a importância da Agenda 2030 para a consolidação do papel

da Instituição:

A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas é a mais abrangente

referência internacional do período contemporâneo para a mobilização de valores, direcionamento de modelos de desenvolvimento inclusivos e

sustentáveis, justiça social e construção de alianças para a realização desse

Page 46: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

44

ideário. Constitui-se, portanto, importante marco de referência para a Fiocruz

construir sua nova agenda e perspectivas de médio e longo prazos (FIOCRUZ,

2018, p. 45).

Para a Fiocruz, a Agenda 2030 reflete uma série de valores que integram parte de seus

princípios, e destaca ainda o importante poder integrador da agenda em virtude de seu caráter

transversal, capaz de agregar as dimensões social, ambiental e econômica. Embora reconheça

a agenda como uma referência internacional para o desenvolvimento de projetos pelas nações

participantes, a instituição ressalta a necessidade de se utilizar referenciais teóricos próprios

para o desenvolvimento das agendas nacionais que devem ser coerentes com os contextos locais

(FIOCRUZ, 2018).

As parcerias realizadas com o FCT e a FUNASA para a criação do OTSS representam

a possibilidade de implantação da Agenda 2030 no território da Bocaina, em busca da promoção

de um território mais saudável e mais sustentável. Para tal, em julho de 2016, realizou-se uma

oficina que contou com a participação de integrantes do OTSS, do FCT e da Fiocruz, como

também de uma consultora do Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento

(PNUD), com o objetivo de:

Discutir e definir a “imagem-objetivo” para os próximos 15 anos,

considerando a Agenda 2030 no território; identificar diretrizes para a

elaboração de projetos estratégicos; identificar os atores-chave para a

implementação de projetos estratégicos; e identificar diretrizes para a atuação do OTSS na gestão e implementação de projetos estratégicos (GALLO;

NASCIMENTO, 2019, p. 64-65).

Os resultados obtidos com os trabalhos da oficina permitiram a elaboração de uma

matriz com as estratégias que devem ser utilizadas para que os objetivos almejados para 2030

possam ser atingidos pelas comunidades da Bocaina. O TBC, nesta matriz, representa uma das

estratégias para “assegurar trabalho e renda, com maior participação social, fortalecendo a

educação diferenciada, e garantir a permanência das pessoas em suas comunidades”

(GALLO; NASCIMENTO, 2019, p.66).

4.4 O OTSS e seus princípios

A construção do OTSS configura a busca pelo desenvolvimento de uma agenda

estratégica local focada na sustentabilidade socioambiental, na promoção da saúde, no

Page 47: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

45

empoderamento da população e na expansão da autonomia das comunidades do território

(GALLO; SETTI, 2012).

O Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina pode ser

considerado:

Um espaço tecnopolítico para o desenvolvimento de soluções territorializadas,

articuladas a outras escalas (regional, estadual, nacional e global), baseada na ecologia de saberes e que tem potencial para se tornarem estratégias regionais

e alternativas de políticas públicas, visando a garantia dos direitos das

comunidades tradicionais, especialmente os direitos relacionados ao território, à cultura, às atividades tradicionais, à saúde e à qualidade de vida. (GALLO;

NASCIMENTO, 2019, p.27, grifo nosso).

A Ecologia de saberes, conceito criado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa

Santos, reconhece a existência de uma pluralidade de conhecimentos que devem ser

considerados e valorizados, partindo-se do princípio de que todos os conhecimentos são

incompletos (SANTOS, 2007). Segundo o autor, o pensamento moderno ocidental concedeu

“à ciência moderna, o monopólio da distinção universal entre o verdadeiro e o falso”,

colocando as formas científicas e não-científicas no centro da disputa epistemológica

(SANTOS, 2007, p. 5). A exclusão de algumas dessas formas de conhecimento como

possibilidades de realidade transformou o conhecimento das populações tradicionais em meras

crenças.

A ecologia de saberes, um dos princípios do OTSS, não pretende negar a ciência

moderna, mas sim considerá-la como mais uma forma de conhecimento relevante para a

sociedade e, ao mesmo tempo, valorizar o conhecimento popular/tradicional/nativo (SANTOS,

2007). A parceria estabelecida entre o FCT e a Fiocruz representa de forma clara esta

proposição: de um lado, o conhecimento popular/tradicional/nativo oriundo das populações

tradicionais que compõe o FCT e do outro, a Fiocruz, com seu viés de pesquisa acadêmica,

ambos interagindo em uma relação simétrica e produtiva (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

A valorização do conhecimento tradicional no processo de construção dos projetos,

dentro do OTSS, pode trazer importantes contribuições que estimulem a permanência das

comunidades no seu território. Pode, por exemplo, contribuir com o fortalecimento desse

conhecimento pelas gerações mais jovens que possam estar interessadas em dar continuidade

às práticas culturais que constituem a identidade coletiva de sua comunidade (GALLO;

NASCIMENTO, 2019).

Além disso, pode contribuir diretamente com as práticas de TBC que venham a ocorrer

ou que já ocorrem, pois, valorizando-se o conhecimento tradicional, fortalece-se a identidade

Page 48: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

46

das comunidades, garantindo que os turistas interessados em experimentar vivências únicas

com populações tradicionais possam usufruir desses conhecimentos singulares.

O outro princípio adotado na ação do OTSS baseia-se na pedagogia da autonomia,

conceito este estabelecido pelo educador e filósofo brasileiro Paulo Freire que, em seu livro

intitulado “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa”, defende uma

pedagogia que esteja fundada no respeito, na ética e, principalmente, na autonomia do

educando. Parte do princípio de que cada indivíduo, um sujeito social e histórico,

independentemente de sua classe social, possui conhecimentos que devem ser respeitados e

destaca que o processo pedagógico deve criar as possibilidades para a construção e produção

do saber, desmistificando a ideia de que o educador é o sujeito e o educando é o objeto

(FREIRE, 2003).

A escolha destes dois princípios, a ecologia de saberes e a pedagogia da autonomia

reflete a preocupação existente em assegurar o respeito às comunidades tradicionais e a real

possibilidade de estabelecer um diálogo horizontal entre a ciência moderna e os saberes

tradicionais na construção de novos saberes.

Vagner do Nascimento, coordenador do FCT e coordenador geral do OTSS ressalta:

Somos do movimento social de comunidades tradicionais, que tem seus princípios e formas de se organizar, de se auto identificar e lutar por seus

direitos. A Fiocruz é uma instituição pública, que trabalha focada na saúde e

na pesquisa científica. Então temos diferenças, e nosso desafio é trabalhar

essas diferenças e avançar naquilo que nos une, que é a busca de soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável territorial, de modo a

possibilitar a permanência das comunidades tradicionais em seus territórios.

Fizemos isso com sabedoria, e o desafio continua (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p.16).

A próxima seção explorará as características do modelo de governança, adotado pelo

OTSS, para a construção e implementação da agenda estratégica no território da Bocaina

considerando a complexidade existente na natureza dos agentes envolvidos.

4.5 Governança e gestão do OTSS

O modelo de governança e gestão adotado pelo OTSS é denominado comunicativo-

estratégico:

Comunicativo, por instituir espaços colegiados de gestão autônomos e

articulados onde se tomam as decisões estratégicas baseadas na legitimidade; e estratégico, por implementar mecanismos de alinhamento estratégico,

Page 49: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

47

monitoramento do planejamento estratégico e avaliação de efetividade de sua

ação (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p. 37).

O processo se dá de maneira participativa, fundado no diálogo e na

intercomunicabilidade entre os diferentes saberes, “assume a prática deliberativa e o

desenvolvimento como processo de ampliação das liberdades e das capacidades individuais e

coletivas, ou seja, deve ser estruturada e operar para promover autonomia e equidade”

(GALLO; NASCIMENTO, 2019, p. 28).

O incentivo à autonomia e a ampliação das liberdades estão profundamente conectadas

com a visão de desenvolvimento do economista Amartya Sen. Para o autor, a questão

relacionada ao desenvolvimento das sociedades está mais associada a aspectos sociais do que

econômicos sendo necessário agir no sentido de expandir as liberdades individuais –

participação política, liberdade de expressão, direito à educação, saúde, habitação e saneamento

– e permitir que que os indivíduos, especialmente os que são privados de tais liberdades, possam

exercer todas as suas potencialidades como construir suas próprias identidades, conduzir suas

próprias escolhas, participar da vida em sociedade, entre outras (SEN, 2018).

A estrutura de governança da parceria sofreu algumas alterações ao longo dos anos com

o intuito de se adequar às demandas que surgiam, conforme o projeto se tornava cada vez mais

complexo. No livro intitulado O Território Pulsa – Territórios sustentáveis e saudáveis da

Bocaina: soluções para a promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável

territorializado, são descritos todos os arranjos que já foram adotados até o presente momento

(GALLO; NASCIMENTO, 2019).

O processo de gestão ocorre de modo compartilhado, envolvendo dois tipos de

pesquisadores: os pesquisadores acadêmicos e os pesquisadores comunitários. Apesar de em

menor número, os pesquisadores comunitários, membros das comunidades envolvidas, estão

presentes nos principais espaços de tomada de decisão, representando uma oportunidade única

para o empoderamento dos mesmos dado que, ao participarem diretamente do processo de

gestão, acabam assimilando conhecimentos técnicos relacionados aos procedimentos

administrativos, financeiros e políticos que constituirão ferramentas de grande utilidade para o

fortalecimento de suas lutas políticas (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

A estrutura de governança, no início do OTSS, era composta por inúmeras

coordenações, cada uma responsável por um tema a ser trabalhado pela parceria.

Posteriormente, estas coordenações passaram a ser chamadas de núcleos, destacando-se, para

esta pesquisa, o Núcleo de Gestão dos Saberes (NUGES) e o Núcleo de Transição Tecnológica

(NTT).

Page 50: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

48

O NUGES ficou responsável pela organização, pela sistematização e difusão dos

saberes acumulados pela parceria. Através do NUGES diferentes experiências de ensino e

aprendizagem são proporcionadas aos comunitários e a outros atores importantes do território,

baseadas na ecologia de saberes e na pedagogia da autonomia. O programa “CASALivre-

comunidades autônomas e Saberes Livres: Programa de Formação para Territórios Sustentáveis

e Saudáveis da Bocaina” é um exemplo de experiência proporcionada pelo NUGES que busca

sistematizar todas atividades de formação do OTSS (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

O NTT, por sua vez, é o núcleo responsável por apoiar a implantação de tecnologias

ecossanitárias, as práticas de agroecologia e do turismo de base comunitária, tudo isto através

da implantação de uma incubadora denominada ‘Incubadora de Tecnologias Sociais’ que será

melhor descrita na próxima seção (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

4.6 A criação da incubadora de tecnologias sociais e o nascimento da Rede

Nhandereko de Turismo de Base Comunitária

O território da Bocaina, com toda a sua riqueza sociocultural proveniente das diferentes

origens de seus diferentes povos (quilombolas, caiçaras e indígenas), paulatinamente, vem

‘perdendo’ parte da sua tradição perante a racionalidade dominante que “colonizou em diversos

graus a organização da produção e do consumo nas comunidades tradicionais, levando à

diminuição da utilização de seus conhecimentos e práticas tradicionais” (GALLO;

NASCIMENTO, 2019, p. 145).

Neste cenário, o OTSS se associou ao FCT buscando “gerar conhecimento crítico e

tecnologias inovadoras” através da construção da Incubadora de Tecnologias Sociais (ITS) sob

a alçada do NTT. A incubadora atua como uma pesquisa-ação, implementando ações baseadas

na ecologia de saberes e na reflexão crítica, através de metodologias participativas que

propiciam um diálogo horizontal entre os diferentes conhecimentos adotados e que incluem os

diversos sujeitos do território (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

A partir do resgate dos saberes e das tecnologias tradicionais, associando-os ao

conhecimento e tecnologias científicos, a ITS tem como missão promover esta transição

tecnológica e:

Atua para articular, qualificar e consolidar os empreendimentos comunitários,

assim como as iniciativas coletivas e familiares, desenvolvendo ações que dinamizam a organização comunitária nos focos de ação do Núcleo de

Transição Tecnológica do OTSS (NTT/OTSS): agroecologia, turismo de base

Page 51: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

49

comunitária e saneamento ecológico (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p.

149).

O turismo de base comunitária, portanto, destaca-se como um dos focos de atuação do

OTSS nas comunidades tradicionais da Bocaina através da ITS. A demanda para o

desenvolvimento de iniciativas de TBC no território vem crescendo nos últimos anos com um

maior número de comunidades mostrando interesse. A partir do II Encontro Nacional da Rede

Turisol em 2015, o FCT atuou no desenvolvimento de um projeto que articulasse melhor a

operacionalização das práticas de TBC já existentes. A Rede Nhandereko (o nosso jeito de ser,

na língua guarani) de Turismo de Base Comunitária, representa o fruto deste trabalho. Criada

para fortalecer as práticas que já ocorrem no território, a rede tem como principal objetivo:

Promover e consolidar o turismo de base comunitária, aprimorando serviços

e fomentando uma nova lógica turística que possibilite, ao mesmo tempo,

geração de renda, respeito ao modo de vida, ao meio ambiente e a

consolidação da luta em defesa do território tradicional (OTSS, 2019).

Até o presente momento, a rede conta com a participação de mais de 15 comunidades

pertencentes aos municípios de Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba. A sua presença neste

território propicia o compartilhamento de experiências entre as três diferentes etnias na

construção das iniciativas de TBC, além de fortalecer o processo de comercialização destas

iniciativas, um dos grandes desafios já identificados.

Dentre seus valores, destacam-se:

1. O protagonismo das comunidades tradicionais;

2. O resgate e a valorização das práticas e manifestações culturais tradicionais;

3. A utilização do turismo como instrumento para o fortalecimento comunitário e

associativo;

4. Proporcionar aos turistas contatos culturais autênticos e vivências que lhes permitam

dar valor e importância as contribuições das comunidades à sociedade e a natureza;

5. O estabelecimento de acordos baseados na distribuição equilibrada de custos entre

produtos, serviços e roteiros;

6. Promover participação, equidade e solidariedade;

7. Promover auto-gestão, a autonomia e o respeito aos acordos;

8. Promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais

(Fonte:guia de bolso da Rede Nhandereko de Turismo de Base Comunitária).

Page 52: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

50

No ano de 2017, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio), responsável pela gestão das unidades de conservação de nível federal, lançou um

edital com o objetivo de elaborar, implementar e até mesmo promover iniciativas de TBC em

UC Federais que tivessem o potencial para gerar expertise para a instituição replicá-la em outras

UC. O Edital intitulado Chamada de Propostas para Fortalecimento de Iniciativas de Turismo

de Base Comunitária, fora lançado pouco tempo após a publicação do caderno Turismo de Base

comunitária: princípios e diretrizes que teve como objetivo estabelecer um marco legal para a

atividade dentro das Unidades de Conservação (UC) Federais.

Neste contexto de crescente interesse pelo TBC, o Fórum de Comunidades Tradicionais,

em parceria com a APA Cairuçu, localizada no município de Paraty, apresentaram a sua

proposta ao edital do ICMBio, dado que parte do território da Bocaina está localizado no interior

de uma UC federal, o Parque Nacional da Bocaina. A proposta, que visava o fortalecimento da

Rede Nhandereko, acabou sendo uma das quatro propostas selecionadas pelo ICMBio.

Com o valor de R$ 40.000, oriundos do PNUD, os organizadores da Rede fizeram a

impressão de um guia de bolso com as comunidades que naquele momento faziam parte da

rede. Neste guia, destacado na Figura 2 abaixo, o turista é capaz de visualizar a localização da

comunidade de interesse, bem como os principais atrativos turísticos que são oferecidos.

Através de um número de telefone ou de um e-mail, o turista pode acessar diretamente o

comunitário responsável pelo agendamento das visitas.

Page 53: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

51

Figura 2: Guia de bolso representando as comunidades participante da Rede Nhandereko.

Fonte: Fórum de Comunidades Tradicionais (2015).

Além do guia de bolso, o FCT, juntamente com o OTSS, utilizou parte da verba do edital

para organizar uma série de encontros entre diferentes comunidades das três etnias

denominados ‘partilhas de vivência de TBC’. Estas partilhas buscam reunir as diferentes

comunidades para vivenciar um roteiro de TBC organizado pela comunidade receptora.

Page 54: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

52

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta seção examinará os resultados obtidos com as entrevistas e com a análise dos

documentos, relacionando-os com o objetivo deste trabalho aplicado que é: analisar as

estratégias desenvolvidas pela parceria entre o Fórum de Comunidades Tradicionais e a

Fiocruz, para promover as iniciativas de TBC nas comunidades tradicionais do território da

Bocaina.

Analisando-se as entrevistas realizadas, puderam ser encontrados 7 grandes grupos de

conversa que mostram a importância da parceria no território: (i), o entendimento sobre a

importância do TBC para as comunidades; (ii), a necessidade de recursos e infraestrutura para

o desenvolvimento do TBC.; (iii), a geração de emprego e renda através do TBC; (iv), o papel

da Rede Nhandereko; (v), a relação da Rede Nhandereko com as agências e operadoras de

turismo da região; (vi) a relação entre a agroecologia, o saneamento ecológico e a educação

diferenciada com o TBC e (vii), a importância da presença do FCT para as lutas comunitárias.

5.1 Entendimento do que é o Turismo de Base Comunitária

As entrevistas em campo evidenciaram a existência de um entendimento bastante

alinhado do que tem sido compreendido como turismo de base comunitária. Com a criação do

OTSS, através da parceria com a Fiocruz, o TBC, um dos temas demandados pelo território,

tornou-se ainda mais relevante para o futuro das comunidades nos últimos anos.

Apesar das diferentes definições apresentadas pela literatura, chamou a atenção o

destaque dado, por todos os entrevistados comunitários, ao protagonismo das comunidades no

processo de construção dos projetos de TBC. Esse princípio é recorrente na literatura e visto

como primordial para que uma iniciativa possa ser denominada de base comunitária e venha a

ser exitosa.

O entrevistado 13, indígena da Aldeia Boa Vista, afirmou que o TBC é “o turismo feito

pela comunidade”. Essa fala se repetiu em outras entrevistas com comunitários pertencentes às

outras etnias. O entrevistado 10, reforça esta visão afirmando que: “o TBC nasce de dentro pra

fora e não de fora pra dentro”. Para a entrevistada 1, o TBC representa uma prática

extremamente valiosa para sua comunidade, o quilombo da Fazenda em Ubatuba: “a principal

fonte de renda hoje, pro Quilombo, é o turismo. A gente quer ter um turismo bacana um turismo

especial, sem alta e nem baixa, um turismo onde somos protagonistas”.

Page 55: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

53

A percepção do turismo comunitário como uma forma de se fazer turismo de maneira

distinta da convencional, se mostra presente nas falas dos comunitários da região, em parte pois,

há décadas, algumas destas comunidades convivem com o turismo de massa durante a alta

temporada e feriados e os impactos, sejam eles positivos ou negativos, já são do conhecimento

de todos. Para a entrevistada 4, moradora da Vila de Picinguaba, o turismo que ocorre na Vila

e na Ilha das Couves, “não tem nada de base comunitária, o turismo pra ser de base é uma rede

que vai ser dividida pra todos. A gente aqui recebe mais um grupo de turistas, explorando nosso

lugar, que paga e depois vai embora, mas a comunidade como um todo não é contemplada”. A

fala desta entrevistada revela a preocupação com a distribuição da renda arrecadada com o

turismo que, para alguns autores e para os idealizadores da Rede Nhandereko, representa um

ponto importante do TBC. A equidade na distribuição dos benefícios será um grande desafio

para as comunidades que, há anos, estabeleceram uma relação menos igualitária com a renda

advinda do turismo existente.

Para o entrevistado 9, um dos envolvidos no projeto de TBC do Quilombo da Fazenda,

o TBC não serviria apenas para atrair grupos e recursos para a comunidade, mas também para

ajudar na formação dos moradores, através de cursos de capacitação e para mostrar aos

visitantes o que é um quilombo: “TBC é passar a história da comunidade, não é só servir um

almoço, fazer uma trilha e acabou. É mostrar as dificuldades que um comunitário passa que é

diferente da pessoa da cidade”. E ainda complementou, enfatizando a importância do TBC para

trazer um novo olhar para o visitante: “recebemos até filho de juiz, advogado, estudantes de

faculdade e a galera sai daqui com outra mente, desconstruída”.

Para a entrevistada 12, caiçara da comunidade da Lagoinha, “o TBC é uma ferramenta

fundamental para proteção do nosso território e da nossa cultura. Eu acredito que esse roteiro

(se referindo ao roteiro de TBC que está sendo implementado na sua comunidade), vai também

organizar o turismo que tá vindo pra cá”. A comunidade da Lagoinha, localizada na parte sul

de Ubatuba, faz parte de uma das mais famosas trilhas do município, a trilha das sete praias,

muito procurada pelos turistas durante o verão. Por esse motivo, os impactos negativos na

comunidade são significativos e vem se intensificando ano após ano. O entrevistado 13 reforça

esta visão do TBC como uma ferramenta para organizar o turismo já existente, “um turismo

que dever ser feito sem agressão pois o nosso olhar lá dentro é diferente do turista que vem de

fora”.

A experiência de vivenciar o turismo comunitário como uma possibilidade de terem

suas vozes ouvidas e suas histórias conhecidas por aqueles que tem o poder de influenciar

Page 56: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

54

diretamente as suas vidas é uma oportunidade única para estas comunidades que, há muitas

décadas, reivindicam maior visibilidade e espaço no turismo da região. A Rede Nhandereko

revela um novo mapa do turismo no estado do Rio de Janeiro, que coloca em relevo a memória

e o patrimônio de indígenas, caiçaras e quilombolas. (MENDONCA; SANTOS; MORAES,

2019)

5.2 A necessidade de recursos e infraestrutura para o desenvolvimento do TBC

Nas entrevistas com os comunitários explorou-se quais seriam as principais

necessidades e dificuldades das comunidades em relação ao TBC. A infraestrutura e o

acesso às comunidades foram citados em todas as entrevistas. A necessidade de capacitação

dos comunitários e a falta de união entre eles também apareceram, porém em menor

proporção.

Com um dos maiores índices pluviométricos do país e com muitas vias ainda por

asfaltar, trechos das estradas que dão acesso a algumas das comunidades nestes municípios

podem ficar intransitáveis, como é o caso da aldeia Boa Vista no município de Ubatuba, o

que acaba obrigando o visitante a caminhar até o seu destino. Vans e ônibus têm ainda mais

dificuldades para acessá-las, o que pode resultar no cancelamento de visitações, como

relatou o entrevistado 13.

A infraestrutura para o recebimento dos visitantes também foi mencionada nas

entrevistas realizadas. Pousadas domiciliares, além de cozinhas e restaurantes mais

apropriados para o recebimento dos turistas, são demandas frequentes para o fortalecimento

das iniciativas, considerando que a culinária típica das três etnias é um dos principais

atrativos para o TBC.

O restaurante comunitário do Quilombo do Campinho da Independência (Figura 3),

em Paraty, foi citado por mais de um comunitário como uma referência para outras

comunidades: “a gente sempre pensa naquilo (se referindo à cozinha do Campinho), é

referência pra gente, foi aonde que deu a alavanca pra eles lá”, afirmou o entrevistado 9.

Este quilombo é visto como um exemplo de sucesso nas práticas de TBC na região por

estar mais bem consolidado do ponto de vista de gestão, organização, visibilidade e

reconhecimento pelo poder público (BRASIL, 2010).

Esse sucesso, em parte, se deve ao fato de que o Quilombo tem submetido muitos

projetos a editais públicos e com isso conseguiu angariar recursos para sua construção. O

Page 57: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

55

restaurante comunitário é resultado de uma iniciativa do Governo Federal, no ano de 2005,

de apoiar comunidades quilombolas com recursos da Petrobrás.

Figura 3: Restaurante do Quilombo do Campinho.

Fonte: fotografia tirada em campo, pelo autor.

As verbas para as ações do OTSS, provenientes da FUNASA, não são suficientes

para atender todos os projetos em andamento e, diante disso, os editais públicos têm sido

fundamentais para a obtenção de recursos que atendam às necessidades financeiras dos

projetos desenvolvidos pela parceria. Apesar da parceria com a Fiocruz ter garantido maior

visibilidade ao FCT, o que, em tese, facilitaria a angariação de verbas através de editais

públicos, a preocupação atual do coordenador da Rede é de que esses editais se tornem

cada vez mais raros, diante do atual cenário político, dificultando assim a arrecadação de

recursos para a realização dos programas.

Se os recursos não entrarem no território via editais, outras fontes deverão ser

procuradas para dar fôlego às comunidades. Na área do saneamento ecológico, a agenda

mais antiga do OTSS, outros parceiros já disponibilizaram recursos, como o poder público

local (prefeitura de Paraty). As prefeituras podem ser atores importantes e necessários, não

apenas para os investimentos obrigatórios, como na infraestrutura de acesso às

comunidades, mas como um stakeholder interessado na divulgação do TBC para o

mercado.

De acordo com o entrevistado 15, funcionário da Secretaria de Turismo do

muncípio de Ubatuba, apesar do baixo orçamento que a secretaria recebe, apenas R$

Page 58: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

56

647.000,00 no ano de 2019, parcerias com outras instituições devem ser prioridade para

alavancar projetos que interessem ao município.

Segundo os entrevistados 2, 3, 9 e 12, a prefeitura de Ubatuba nunca ofereceu o

apoio necessário às suas respectivas comunidades. Por outro lado, apesar dos escassos

recursos do município, os investimentos realizados na cidade para a atração do turismo

convencional ocorrem todos os anos, meses antes do início da temporada. Aos poucos, a

especulação imobiliária gerada por este turismo, vem descaracterizando a cidade de

Ubatuba que vê sua orla cada vez mais ocupada por grandes casas de veraneio e

condomínios fechados, com a proliferação de subempregos na área do setor turístico

(BARBOSA; FORMAGIO; BARBOSA, 2010). Comunidades caiçaras são invadidas por

turistas que se aproveitam dos baixos custos dos imóveis e da falta de escritura para adquirir

as casas da população local, como vem ocorrendo na Vila de Picinguaba, já há alguns anos.

O turismo, dessa forma, tem provocado o deslocamento do caiçara que passa a se instalar

em locais mais distantes da praia, provocando uma desestruturação das formas de cultura

caiçara da comunidade como um todo.

As entrevistadas 3 e 4 destacaram, durante a entrevista, que as relações sociais na

sua comunidade deterioraram rapidamente com a chegada do turismo de massa apesar da

melhora econômica na vida dos moradores. Revelaram uma preocupação com o aumento

do número de imóveis nas mãos de turistas: “a maior parte dos restaurantes e das pousadas

aqui pertencem a pessoas que vieram de fora” e, na alta temporada, muitas das casas

compradas por turistas acabam sendo alugadas via Airbnb, dificultando a implementação

de uma iniciativa de TBC na Vila.

Um turismo mais sustentável se mostra cada vez mais imprescindível para a

sobrevivência da atividade no longo prazo e, por este motivo, os municípios da região focal

desta pesquisa deveriam observar atentamente para os aspectos positivos que um turismo

de maior qualidade traria para o território, incluindo-se as práticas de TBC que podem

garantir a permanência das populações tradicionais no seu território.

5.3 A geração de empregos e renda no território

Apesar da geração de empregos e renda não serem os principais objetivos nas práticas

de TBC, existe um consenso de que a renda, neste território, é muito importante para que os

comunitários possam permanecer em suas comunidades.

Page 59: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

57

Esta questão vem se tornando cada vez mais relevante diante da situação de crescente

violência, especialmente nos municípios de Paraty e Angra dos Reis, no estado do Rio de

Janeiro. A produção de artesanato realizada pelos indígenas da aldeia Sapukai, na região sul de

Angra dos Reis, acaba sendo comercializada nas ruas da cidade de Paraty, onde o fluxo de

turistas é intenso. As mulheres e crianças da aldeia são as responsáveis pela venda do artesanato,

o que significa que devem se deslocar até Paraty, correndo uma série de riscos nestes trajetos

de ida e volta da aldeia. Segundo relato da entrevistada 11, pesquisadora e professora da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que já esteve na aldeia Sapukai como

pesquisadora, o TBC é visto como um importante meio para a proteção das mulheres e crianças

que poderiam assim permanecer na aldeia vendendo ali o artesanato produzido.

Na entrevista realizada com o entrevistado 13, constatou-se que a situação em Ubatuba

é semelhante. A principal fonte de renda da Aldeia Boa Vista provém da venda de artesanato e

dos palmitos pupunha e juçara, cultivados na própria aldeia. O principal ponto de venda é o

centro da cidade de Ubatuba. Os deslocamentos, assim como em Paraty, são realizados

principalmente pelas mulheres que costumam chegar no começo da tarde e retornam à aldeia

no último ônibus, que sai da cidade às 23:40 da noite, retornando por volta de uma hora da

manhã, contou o entrevistado. O TBC, para ele, representa uma possibilidade de permanência

da população na sua aldeia.

No Quilombo da Fazenda, em Ubatuba, o entrevistado 9 reforçou a importância do TBC

para a permanência dos moradores no quilombo: “a gente precisa fazer um trabalho mais

aprimorado pra que a gente consiga tirar daqui mesmo a nossa própria renda e não precisar ir

pra outro lugar”. Muitos de seus familiares acabaram indo morar no centro de Ubatuba para

trabalhar no comércio, ou no turismo, porém, segundo ele, prefeririam estar morando no

Quilombo, mais próximos de seus familiares.

Essa situação se repete em outras comunidades da região, onde moradores se deslocam

para os centros urbanos de Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis para trabalhar, muitas vezes em

subempregos. O fortalecimento dos empreendimentos comunitários na Bocaina, através da

criação da Incubadora de Tecnologias Sociais pelo OTSS, poderá contribuir para a permanência

dos comunitários em seus locais de origem. Mas, para isso, devem receber um fluxo de turistas,

ao longo de todo o ano, que possibilite gerar a renda necessária para todos os envolvidos e que,

ao mesmo tempo, respeite o modo de vida local, o que revela o grau do desafio que a Rede e as

comunidades participantes terão nos próximos anos.

Page 60: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

58

5.4 As partilhas de vivência de TBC e o papel da Rede Nhandereko

De acordo com o entrevistado 10, caiçara e membro da Rede Nhandereko, a ideia por

trás das partilhas de TBC é a de reunir comunidades das três etnias para vivenciar um roteiro

de TBC organizado pela comunidade receptora. As comunidades escolhidas para as partilhas

foram aquelas que estavam em um estágio mais avançado em relação ao TBC: Quilombo do

Campinho, comunidades caiçaras de Trindade, de São Gonçalo e da Praia do Sono.

Para cada um dos encontros, que ocorrem desde o ano de 2016, é escolhido um tema

que seja prioritário para ser discutido naquele momento, segundo os organizadores da partilha.

Na primeira partilha, ocorrida no Quilombo do Campinho, no município de Paraty,

estabeleceram-se os princípios comuns do TBC na comunidade através do compartilhamento

das ideias acerca do TBC entre os participantes presentes (FCT, 2016a).

Na segunda partilha, realizada em outubro de 2017, na comunidade caiçara de Trindade,

foram definidos os princípios, conceitos e diretrizes da futura Rede Nhandereko. Os membros

do FCT e do OTSS vivenciaram um roteiro de turismo de base comunitária disponibilizado

pelos próprios comunitários da Trindade. A vivência envolveu ainda caiçaras, indígenas e

quilombolas de outras comunidades de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba9.

Na oficina seguinte, realizada na comunidade de São Gonçalo, além da vivência, o grupo

que estava presente discutiu qual seria o modelo de negócios mais adequado à criação de uma

central única de comercialização da Rede, considerando para isso aspectos relacionados à

governança local, como à democracia interna, à comunicação e à participação.

O entrevistado 10 explicou que esta central única para comercialização dos roteiros de

TBC envolverá a criação de um site que deve conter um portfólio online dos produtos e serviços

oferecidos pelas comunidades que estão mais adiantadas no processo. O site deverá ser lançado

ainda no final de 2020. A ideia é que o turista interessado seja capaz de montar o seu roteiro, a

partir desta central que contará com um funcionário/a responsável pelo contato com as

comunidades de interesse.

Na partilha realizada na praia do Sono, em Paraty, sob o título “Empreendedorismo

Comunitário – ideias para desenvolver negócios locais”, as mais de 50 lideranças e juventudes

9 Matéria disponível em: <https://envolverde.cartacapital.com.br/nhandereko-o-turismo-de-base-

comunitaria-do-forum-de-comunidades-tradicionais/>. Acesso em: 28 jul. 2019.

Page 61: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

59

caiçaras discutiram aspectos ligado à comercialização dos roteiros como a precificação e as

formas para se cobrar pelos serviços e produtos do TBC10.

Até o presente momento, a Rede Nhandereko vem priorizando as comunidades mais

bem estruturadas para o TBC, oferecendo a elas assessoria técnica para o desenvolvimento de

plano de negócios comunitários, plano de sustentabilidade, plano de viabilidade, entre outros.

A ideia, segundo o entrevistado 10, é que estas comunidades sejam capazes de bancar a

estruturação da central única para a comercialização dos roteiros.

Essa troca de experiências entre comunidades vem chamando a atenção de outras

comunidades e a demanda vem aumentando ano após ano. Com isto, o FCT, que sempre esteve

mais presente no município de Paraty, vem intensificando suas ações no município de Ubatuba,

onde a procura também vem aumentando. Comunidades como Prumirim, Picinguaba,

Ubatumirim e Caçandoca estão iniciando suas práticas de TBC e a ideia, segundo os

coordenadores da rede, é iniciar novas partilhas de vivência com estas comunidades para que

seja realizado um nivelamento dos conceitos, princípios e capacitação para as práticas de TBC

em todo o território.

No início deste ano, as 12 comunidades que atualmente compõe o coletivo de trabalho

da Rede Nhandereko, se reuniram no quilombo da Fazenda, em Ubatuba, com o intuito de

qualificar os roteiros de TBC e dar mais um passo rumo à construção da central de

comercialização. Com o apoio da ONG Capina (Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração

Alternativa), que atua como uma consultoria focada em apoiar os empreendimentos da

economia dos setores populares11, foi construído um formulário para ser aplicado em uma

pesquisa de mercado que será conduzida pelos próprios comunitários com setores estratégicos

da região, dentre eles, agências, escolas, universidades, secretarias de turismo, turistas entre

outros12.

Partilhas de vivência, oficinas e outros encontros, retratam o processo de construção da

Rede Nhandereko que está em andamento. Para a entrevistada 11, pesquisadora e professora da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, convidada pelo FCT a participar das vivências

que discutiram o TBC, as partilhas são de extrema importância, pois permitem, em um primeiro

10 Matéria disponível em: <https://www.preservareresistir.org/single-post/comunidade-caicara-sono-

recebe-partilha-rede-nhandereko-tbc>. Acesso em: 10 ago. 2019. 11 A ONG Capina considera a “economia dos setores populares” como toda e qualquer atividade

econômica de resistência à falta dos meios de sustentação da vida. Disponível em:

<https://www.capina.org.br/institucional>. 12 Matéria disponível em: <https://www.otss.org.br/post/rede-nhandereko-caminha-na-construcao-da-

central-de-turismo-de-base-comunitaria-tbc>. Acesso em: 5 fev. 2020.

Page 62: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

60

momento, que as comunidades pensem nos atrativos que possuem e que gostariam de mostrar

aos visitantes. Permitem também que os visitados pratiquem o ato de receber e que, após a

visita, sejam avaliados pelos visitantes, gerando um importante feedback, que pode ser utilizado

para futuras melhorias.

As partilhas de TBC propiciam uma profunda troca de saberes entre as três etnias e

garantem a oportunidade para que possam construir juntas o futuro da Rede. Participando do

processo de organização e execução das partilhas, o E10 destaca: “o processo de vivências de

TBC vem trazendo inspiração para as comunidades que estão ainda na fase inicial do processo

e isso é muito importante para nós”. Ao conhecer um empreendimento comunitário durante

uma partilha, outros comunitários estão se inspirando e buscando realizar algo parecido na sua

comunidade.

No presente momento, a Rede Nhandereko, ainda em fase de construção, configura uma

rede constituída por comunidades pertencentes às três etnias que reconhecem sua origem

vinculada ao FCT e apoiam as lutas pela preservação e garantia de permanência no território,

porém, ainda busca a melhor maneira de atuação. Sem um papel ainda claramente definido, a

rede procura ser algo a mais do que as redes de TBC existentes através de um modelo de

negócios comunitário que as diferencie de uma agência de turismo.

O processo de construção da Rede que está em andamento se assemelha àquilo que

Irving (2009) chamou de “laboratório de construção de novas realidades e transformação

social, [...], se for interpretado como alternativa ética, duradoura e humanizante” (p.119). As

possibilidades para se pensar em novos modelos de organização estão em aberto.

A observação de experiências que estão em andamento em outras partes do país e nos

países vizinhos é uma estratégia interessante, assim como a economia solidária e popular, já

realidade em outras iniciativas e um dos objetivos a ser alcançado pela Agenda Territórios

Sustentáveis e Saudáveis do OTSS, que representa uma possibilidade para a Rede Nhandereko,

porém, depende de um processo de transição tecnológica que demandará tempo e esforço, além

do apoio de parceiros e parceiras.

A concepção de uma central única para a comercialização dos roteiros de TBC deverá

agilizar a montagem dos roteiros pelos visitantes, além de garantir maior eficiência na

comercialização. Pretendem, desta maneira, suplantar uma das mais comuns dificuldades

apresentadas por iniciativas de TBC que é: a dificuldade para a comercialização do produto

turístico.

Page 63: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

61

A maior parte dos turistas que procura experiências de turismo comunitário, organizam

suas viagens por conta própria, sem utilizar o serviço de agências ou operadoras. Optam pelos

sites de busca como o Google e outras mídias como Facebook e Instagram para se informarem

(SANCHO; MALTA, 2015). Esse é um caminho que talvez a Rede Nhandereko terá de seguir

já que, até o momento, conta apenas com um site, ainda em fase de construção.

Considero importante a atuação da Rede em diversas frentes, realizando parcerias com

agências e operadoras, bem como investindo na divulgação via plataformas online mas, sem

deixar de se atentar para as potencialidade e restrições de cada comunidade. Deve-se ter em

mente que o TBC não representa uma alternativa turística para substituir o turismo de massa e

sim uma outra forma de se fazer turismo. Garantir a sustentabilidade dos projetos de TBC é

fundamental para não comprometer a qualidade de vida dessas populações.

5.5 A relação da Rede Nhandereko com as agências e operadoras de turismo

A entrevistado 14, caiçara da comunidade da Lagoinha e, o entrevistado 6, caiçara do

Camburi, ambos membros do FCT, criticam a forma como as operadoras e agências de turismo

da região lidam com as iniciativas de TBC no município de Ubatuba. “Da mesma forma que o

capitalismo se apropria do termo Eco, o trade turístico se apropria do termo TBC. Muita gente

do município se apropria do termo TBC sem compreender e sem aceitar o que é TBC. Não

aceitam o protagonismo das comunidades”, afirmou a entrevistada 12, ao se referir às muitas

agências e operadoras que não estão de acordo com a presença de um guia comunitário ao

realizarem uma visita a uma comunidade tradicional. Tal fato foi corroborado pelo entrevistado

9, coordenador do TBC na comunidade. O quilombola faz uma forte crítica aos guias de fora

que falam sobre a história do Quilombo. O lugar de fala, segundo ele, deve ser daquele que

pertence ao local e, por esse motivo, qualquer grupo que queira visitar o quilombo deve

contratar um guia da comunidade. Para o entrevistado 6, a apropriação do nome é bastante

comum pois muitas agências chamam de TBC uma simples visita a determinada comunidade

quando, na prática, estão distantes daquilo que venha a ser um verdadeiro turismo comunitário.

Para o diretor de uma das mais conceituadas agências do município de Ubatuba, o

entrevistado 5, o turismo comunitário deve ser incentivado na região, pois existe um público

interessado, porém, reclama da falta de profissionalismo que, segundo ele, é muito comum nas

comunidades de Ubatuba e Paraty, municípios em que opera. O entrevistado defende que o

turismo, seja qual for sua modalidade, é uma atividade comercial que exige qualidade: “não é

porque você é um TBC que você pode se ausentar disso. Não é aceitável, no mundo de hoje,

Page 64: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

62

que você demore uma semana pra responder um e-mail, você perde o cliente. Parece até que

existe esse censo de que ‘ah é assim mesmo’”.

Outro ponto interessante levantado pelo E5, é que a alta temporada não é a melhor época

para os seus negócios. Existe uma grande mudança no perfil do turista da alta para a baixa

temporada, a ponto de a empresa não operar do dia 25/12 ao dia 10/01: “o verão atrapalha a

gente, não é o cara de chinelo na praia a nossa prioridade”. O mesmo ocorre com a visitação no

Parque Estadual da Serra do Mar e outras UC da região. Segundo o entrevistado 14, monitor

ambiental do Núcleo Picinguaba do PESM, a visitação ao Parque também é mais intensa

durante a baixa temporada quando universidades e escolas interessadas procuram o parque para

os agendamentos.

Neste sentido, cabe pensar a respeito de como a sazonalidade do turismo na região

poderá impactar as iniciativas de TBC. Conforme o E5, o público da baixa estação, que procura

pelos roteiros de sua agência, está mais interessado em conhecer a vida nas comunidades. Para

as comunidades que vivem mais afastadas das praias e acabam não recebendo o mesmo fluxo

de turistas que as outras comunidades, esta informação é crucial pois possibilita que a Rede

Nhandereko possa desenvolver parcerias com as agências que atendem a estes públicos.

Cientes desta realidade, os coordenadores da Rede pretendem realizar, ainda em 2020,

um Famtour13, com o intuito de alinhar a atuação das operadoras e agências da região.

Juntamente ao famtour, pretendem também elaborar um seminário para promover o TBC e

consolidar parcerias que respeitem as comunidades. De acordo com o entrevistado 10, seria

“um evento de nivelamento regional para realmente conectar os povos tradicionais nas

atividades, valorizando-os economicamente”. O membro da Rede afirma ainda que, apesar do

contexto favorável, será um grande desafio ‘amarrar’ com as comunidades que constituem a

rede a realizarem uma cobrança justa evitando que ocorram negociações paralelas em busca do

fechamento de negócios através do barateando dos serviços. O desafio é ainda maior

considerando que a autonomia de cada comunidade deverá ser sempre respeitada ao longo do

processo.

13 Famtour, oriundo do nome em inglês, familiarization tour, é o nome dado ao tour de familiarização a um determinado sítio turístico para que as agências de viagem possam conhecer os atrativos turísticos

e com isso facilitar a sua venda.

Page 65: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

63

5.6 A atuação da parceria no território: a relação da agroecologia, do saneamento

ecológico e da educação diferenciada com o TBC

A presença do FCT, e sua parceria com a Fiocruz, trouxe um novo modo de olhar para

o território. Pensar o desenvolvimento territorial de forma sistêmica, a partir da própria

comunidade, configura o modo de atuação do OTSS no território da Bocaina. O TBC, neste

contexto, é visto como parte integrante da agenda estratégica e está diretamente relacionado aos

três pilares centrais da agenda no território: o meio ambiente (com adoção e expansão da

agroecologia), a saúde (com a implementação do saneamento ecológico) e a educação (com a

adoção da educação diferenciada). Conforme o entrevistado 10, o turismo de base comunitária

representa, para estas comunidades, não apenas uma importante ferramenta de luta, de

resistência, de permanência no território e de geração de renda, mas também a possibilidade de

fortalecer outras ações estratégicas como a agroecologia, a educação diferenciada além de

contribuir com o saneamento ecológico.

A agroecologia14 representa uma importante prática dentro da agenda estratégica para

o território da Bocaina. O foco na promoção da transição agroecológica visa a implementação

de sistemas agroflorestais, reflorestamento, além do manejo agroecológico da palmeira juçara

e de produtos para o artesanato dentro das comunidades. O tema, segundo os membros da

Fiocruz, é fundamental para lidar com a questão da fome e também da posse de terra15.

Apesar das restrições determinadas pelo poder púbico da implementação das unidades

de conservação, a agroecologia representa uma importante ferramenta capaz de viabilizar a

produção de alimentos mais saudáveis, atuando desta maneira na promoção da saúde no

território e também fora do território caso esses alimentos acabem sendo comercializados. Este

é o caso da polpa da palmeira juçara que, quase extinta pela extração do seu palmito na Mata

Atlântica, hoje é comercializada e consumida como o açaí.

Na região da Bocaina, a agroecologia está se fortalecendo nas comunidades caiçaras,

indígenas e caiçaras, seja através de agroflorestas, de viveiros de ervas medicinais, entre outros.

14 A agroecologia representa um modo de produção que se contrapõe ao modelo industrial de agricultura baseado nas monoculturas e no uso de insumos químicos como fertilizantes e agrotóxicos. Baseia-se em

modelos ecológicos fundamentados na diversidade natural dos ecossistemas onde natureza e ser humano

constituem relações de maneira integrada. A agroecologia alia produtividade à conservação da

biodiversidade através de uma agricultura que busca o equilíbrio natural entre os componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas, não necessitando assim da utilização de agroquímicos. Tem como

premissas ser viável economicamente, ser socialmente justa e culturalmente compatível (CALDART,

2016). 15 Matéria disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/agroecologia-em-evidencia-na-fiocruz>.

Acesso em: 15 ago. 2019.

Page 66: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

64

Para o entrevistado 2, “a agroecologia é uma maneira de manter a nossa terra viva e pra gente

é uma ferramenta de luta para manter nosso território”. “Devemos cuidar da nossa Mãe, que é

a terra, e a agroecologia é um jeito de cuidar”, comentou o entrevistado 13.

A agroecologia praticada nas comunidades, acaba se tornando mais um atrativo turístico

para o TBC. Isto vem possibilitando que os visitantes interessados possam conhecer, através de

práticas e oficinas, o sistema produtivo adotado pela comunidade. Estas experiências são muito

enriquecedoras, pois possibilitam a troca de saberes entre comunitários e visitantes. Além de

promover a saúde no território, através da produção de alimentos mais saudáveis e de um maior

cuidado com a terra, enriquece a diversidade dos produtos turísticos ofertados pelas

comunidades que adotam as práticas de TBC.

Outro tema chave para o OTSS, o saneamento básico representa um dos principais

indicadores de qualidade de vida de uma população e sua falta está diretamente relacionada a

elevados níveis de mortalidade infantil por doenças parasitárias e infecciosas, principalmente

em países pobres (PRÜSS et al., 2002). No Brasil, a falta de saneamento básico ainda representa

uma das principais causas de mortalidade infantil dado que mais de 100 milhões de brasileiros

ainda não possui acesso à coleta de esgoto (AMORIM; NEDER, 2019).

Em comunidades litorâneas do Brasil, é comum a contaminação de corpos d´água por

resíduos domésticos que acabam contaminando as praias, tornando-as impróprias para o banho.

A situação se agrava ainda mais no período da alta estação (verão e feriados) com a chegada

dos turistas e o aumento na geração de resíduos humanos.

O saneamento ecológico16, foi então escolhido como o foco de ação inicial para a

abertura da parceria entre a Fiocruz e o FCT. A consolidação, bem como a disseminação desta

tecnologia depende de alguns fatores, dentre eles da elaboração de políticas públicas que as

incorpore no seu planejamento. Por esse motivo, o OTSS participa de importantes espaços de

tomada de decisão como a Comissão de Saneamento do município de Paraty, bem como do

Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía de Ilha Grande. A Prefeitura de Paraty aderiu a esta causa

assinando um convênio formal com a Fiocruz para a implementação de saneamento nas

comunidades rurais do município, dentre elas as comunidades tradicionais, além de criar um

16 O saneamento ecológico, diferentemente do saneamento tradicional, funciona de maneira cíclica e

fechada, onde os resíduos humanos (fezes e urina) são tratados pela degradação microbiana da matéria

orgânica e convertidos em nutrientes para o crescimento de plantas. A água, que entra no sistema contaminada, acaba evaporando para a atmosfera através da absorção feita pelas bananeiras que estão

livres de organismos patogênicos (FIGUEIREDO et al., 2019).

Page 67: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

65

núcleo para discutir o saneamento no município, em que o saneamento ecológico é parte

importante da agenda (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

Com a implantação do OTSS, definiu-se que o projeto piloto ocorreria dentro da

comunidade do Sono, em Paraty. A primeira fossa ecológica foi construída, em 2015, na escola

Martim de Sá, utilizando conceitos relacionados à permacultura, bioconstrução e outros saberes

procurando considerar o contexto dos povos tradicionais da região (GALLO; NASCIMENTO,

2019). A adoção de bacias de evapotranspiração (BETs)17 com a utilização de bananeiras, muito

comuns na região, mostrou-se a escolha mais adequada para o local (Figura 4). Foram

construídos 11 módulos com a participação de mão de obra local para promover uma real

apropriação dos conceitos a partir da prática e também reforçar o protagonismo da comunidade

durante todo o processo (PIUBEL et al., 2018).

Figura 4: bacia de evapotranspiração construída na comunidade do Sono. 18.

Com a construção das bacias de evapotranspiração, espera-se que haja uma profunda

melhora na qualidade de vida das comunidades, que agora passam a tratar seu esgoto, reduzindo

os casos de contaminação. A presença das BETs, trouxe a oportunidade de apresentá-las como

17 Popularmente conhecida como fossa de bananeiras, as BETs são utilizadas para o tratamento das águas negras, aquelas que carregam as fezes e urina humanas. Os resíduos humanos são transformados

em nutrientes que são utilizados pelas bananeiras. A água, por sua vez, acaba evaporando para a

atmosfera através da absorção feita pelas bananeiras). 18 Disponível em: <https://www.preservareresistir.org/single-post/2016/10/26/Tecnologia-social-e-

sustent%C3%A1vel-saiba-mais-sobre-a-obra-do-Saneamento-Ecol%C3%B3gico-da-praia-do-Sono>.

Page 68: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

66

mais um atrativo turístico da comunidade. A visita a uma BET se tornou parte do roteiro de

turismo de base nas comunidades, que já adotaram tais sistemas. Além de fortalecer o TBC, a

melhoria na qualidade das águas proporcionada pelo tratamento do esgoto contribui também

para o turismo já que, muitas vezes, condições impróprias para o banho acabam afugentando

muitos turistas.

A educação diferenciada, outro tema chave para o OTSS, representa para o FCT uma

das mais importantes bandeiras de luta, sendo considerada um dos elementos imprescindíveis

para garantir a autonomia e a sustentabilidade das comunidades tradicionais. O OTSS

reconhece a necessidade de uma educação diferenciada no território perante duas grandes

exclusões a que as comunidades estão sujeitas, “a primeira delas, mais urgente, é a simples

impossibilidade de acesso à educação escolar. A segunda exclusão, mais profunda, é a negação

dos saberes e valores tradicionais pelo modelo político-pedagógico das escolas existentes

nesses territórios” (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p. 256).

Quando perguntado sobre a implementação da educação diferenciada no território, o

entrevistado 10 afirmou: “não deixam de aprender o que está no livro mas tem um aprendizado

a partir de sua vivência valorizando o que tem localmente. São coisas que ficam à margem no

dia a dia se a escola não leva o jovem pra conhecer. E tem ainda uma questão: dependendo do

professor que vem, faz falas que diminuem tudo o que a gente tá construindo” Como exemplo

de fala, o E10 citou o exemplo de professores da rede convencional que já menosprezaram as

atividades tradicionais: “vai ser pescador igual o seu pai?”.

Buscando implementar esta agenda no território, inúmeros encontros entre caiçaras,

quilombolas e indígenas passaram a ocorrer a partir de 2013, com a criação do OTSS, para que

se estabelecessem os pontos em comum para um projeto de educação diferenciada que fizesse

sentido a cada uma das três etnias. Para isto, importantes centros de pesquisa, como a

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-

Rio), também participaram (GALLO; NASCIMENTO, 2019).

Em 2015, formalizou-se o “Coletivo de Apoio à Educação Diferenciada” com a meta de

implementar uma educação que respeitasse a diversidade cultural presente no município de

Paraty. A expansão gradual do ensino nas escolas do campo, aquelas que atendem as

comunidades mais distantes dos centros urbanos, representou uma das frentes de atuação do

coletivo que apresentou um projeto piloto com o objetivo de implementar o ensino fundamental

II, baseado numa educação diferenciada, em duas comunidades caiçaras: comunidade da praia

Page 69: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

67

do Sono e comunidade do Pouso da Cajaíba, ambas localizadas na península da Juatinga, no

município de Paraty.

Foram realizados inúmeros encontros e reuniões envolvendo as comunidades e os

professores locais para a definição da proposta curricular. Para as práticas de turismo na região,

elaborou-se um projeto próprio de natureza interdisciplinar denominado “Guia Turístico” em

que os alunos (entre 6° e 9° ano) participaram de atividades no campo para levantar os principais

atrativos turísticos da região para, em seguida, elaborar informações textuais para a composição

do guia. Para a elaboração dos mapas e trilhas para os pontos de visitação, foram realizadas

oficinas de fotografia e cartografia social, com os alunos voltando a campo para fotografar os

principais elementos da paisagem e da cultura presentes na sua comunidade. Com a ajuda dos

professores, elaboraram, de forma crítica e participativa, mapas do território que ocupam

(BARROS; RODRIGUES, 2019).

A cartografia social, desenvolvida na Amazônia Legal ainda na década de 1990, tornou-

se um instrumento de defesa dos direitos que passou a fazer parte da realidade de muitas

localidades envolvendo populações tradicionais (extrativistas, ribeirinhos, quilombolas,

agricultores familiares, caiçaras) devido às ameaças decorrentes de grandes projetos como

usinas hidrelétricas e de mineração além da grilagem de terras, da especulação imobiliária, entre

outros. A cartografia social pode, portanto, propiciar o empoderamento do conhecimento

territorial destas comunidades já que busca representar a identidade do grupo social através da

valorização do conhecimento tradicional e cultural no processo de mapeamento dos seus

territórios (NETO; DA SILVA; DA COSTA, 2016).

A proposta de se trabalhar a cartografia social com os alunos do ensino fundamental II

nas duas comunidades caiçaras, segundo uma das professoras, surgiu com o objetivo de

impulsionar o desenvolvimento do TBC pois, há anos, estas comunidades sofrem com os

impactos negativos gerados pelo turismo de massa que ocorre durante a alta temporada e

feriados. No processo de elaboração do conteúdo relacionado ao tema do turismo, o

protagonismo construído com as crianças ajudou a estimular a afirmação das suas identidades

além de aumentar a autoestima dos estudantes, contribuindo para uma possível participação nos

projetos da comunidade (BARROS; RODRIGUES, 2019).

A pesquisa realizada por Barros e Rodrigues (2019) nas duas comunidades procurou

compreender as principais diferenças entre a educação escolar diferenciada e o modelo de

educação convencional, buscando entender quais eram os principais elementos presentes na

proposta pedagógica das duas escolas caiçaras que poderiam estimular o desenvolvimento do

Page 70: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

68

TBC. Para os autores, diversas características presentes na concepção de iniciativas de TBC

estariam sendo trabalhadas nas escolas caiçaras dentre elas: a interculturalidade, a valorização

dos aspectos culturais e históricos, além do protagonismo comunitário (BARROS;

RODRIGUES, 2019).

As primeiras turmas dos dois colégios a receberem o modelo de educação diferenciada

acabaram se formando no ano de 2019 e, naquele mesmo ano, o município de Paraty assinou o

decreto n°103/2019, no dia 13 de dezembro de 2019, criando a categoria “Escola do Campo”

no sistema municipal de ensino, regulamentando a educação diferenciada para as comunidades

caiçaras e quilombolas de Paraty.

A região da Bocaina apresenta uma grande diversificação de produtos turísticos com

suas florestas úmidas, mangues, restingas, cachoeiras, trilhas, praias e suas dezenas de

comunidades caiçaras, quilombolas e indígenas, cada uma com seus repertórios socioculturais

únicos. A agroecologia, o saneamento ecológico e a educação diferenciada acabam agregando

ainda mais ao território, permitindo que grupos de visitantes interessados possam passar alguns

dias na região, visitando diferentes comunidades e conhecendo suas singularidades.

O turismo de base comunitária, neste sentido, pode ser incorporado na confluência dos

três pilares centrais, como representado na figura 5. Da mesma maneira, as ações nas áreas de

educação diferenciada, saneamento ecológico e agroecologia acabam fortalecendo o TBC,

podendo considerar que essas dimensões são interdependentes para o alcance da

sustentabilidade. As comunidades interessadas no turismo de base comunitária podem

implementar sistemas de saneamento ecológico para melhorar as condições sanitárias e/ou

implementar sistemas agrícolas sustentáveis para aumentar a oferta atrativos turísticos.

Figura 5: diagrama representando a relação do TBC com os três pilares centrais do OTSS.

Fonte: elaborado pelo autor.

Page 71: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

69

5.7 A importância do Fórum de Comunidades Tradicionais para as comunidades no

atual contexto político brasileiro: a agenda política e a ocupação de espaços como

estratégia de luta

As estruturas de governança baseadas em redes e parcerias contribuem para a criação

de elementos importantes para o desenvolvimento do TBC (BEZERRA; CHAGAS; LOPES,

2008). O modelo de governança adotado pela parceria com a Fiocruz, através do OTSS,

associado ao modo de atuação do FCT e da criação de parcerias estratégicas com ONGs e outras

instituições, acabou criando as condições necessárias para que esses elementos se

desenvolvessem ao longo dos anos: um capital social consolidado e em expansão, com maior

consciência política, mais participativo, mais colaborativo e com maior coesão social.

Fortalecendo-se o capital social, criam-se condições para que as comunidades sejam capazes

de responder às pressões do mercado, sempre presentes neste território tão rico e disputado.

Um caso de significativa importância para o território da Bocaina e que demostra o

importante papel da parceria, ocorreu recentemente no município de Ubatuba, envolvendo um

importante atrativo turístico: a Ilha das Couves. Localizada próximo à Vila de Picinguaba,

região norte do litoral de Ubatuba, a ilha se tornou uma das principais atrações turísticas do

município, o que acabou gerando uma série de consequências negativas que levaram até à

intervenção do Ministério Público Federal de Caraguatatuba, município vizinho.

O MPF então sugeriu três diferentes cenários para o futuro da ilha: cenário 1. a ilha

permaneceria sob gestão da comunidade que, para isso teria de desenvolver um plano de TBC;

cenário 2. a ilha seria cedida para a gestão do município; cenário 3. a ilha seria concedida para

uma parceria público-privada (PPP). Os moradores, então, preocupados diante da possibilidade

de perderem o usufruto da ilha, iniciaram a organização de um grupo de trabalho (GT) no

primeiro semestre de 2019, intitulado “GT TBC Picinguaba/ Ilha das Couves”, que tinha como

objetivo planejar de maneira coletiva o plano de ordenamento e gestão do turismo na ilha. O

GT envolveu membros das três associações presentes na vila caiçara19, além do Fórum de

Comunidades Tradicionais em parceria com a Rede Nhandereko (BERNARDES, 2020).

Na visita à vila caiçara de Picinguaba, a entrevista realizada com as duas moradoras,

entrevistadas 3 e 4, ocorreu em julho de 2019, quando os moradores começavam a organizar o

19 São elas: a Associação de Moradores do Bairro de Picinguaba (AMBP) e as duas associações de barqueiros da vila (Associação de Barqueiros e Pescadores da Comunidade Tradicional da Picinguaba

– ABPP e a Associação de Barqueiros e Pescadores Tradicionais da Picinguaba – ABPTP).

Page 72: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

70

GT. Além de ressaltarem os problemas envolvendo o tecido social da comunidade, que,

segundo elas havia se deteriorado com o turismo de massa, destacaram que as famílias

envolvidas com o transporte dos turistas para a ilha foram capazes de se apropriar da maior

parte da renda que entrava na comunidade. Para a E4, quando perguntada qual seria a principal

dificuldade para a elaboração do plano de TBC, respondeu que o empoderamento da

comunidade era o fator chave, destacando a desunião entre os integrantes das três associações.

Ambas deixaram claro que achavam muito difícil que o plano saísse do papel: “ eu acho

um pouco difícil rolar o turismo de base comunitária na ilha” disse a entrevistada 4. O atrito

existente entre os moradores da vila é conhecido na região e foi citado em outras entrevistas

realizadas para este trabalho.

Apesar das inúmeras dificuldades existentes e o curto prazo dado pelo MPF, no final do

ano de 2019, os comunitários da Vila de Picinguaba apresentaram uma proposta de Termo de

Autorização de Uso Sustentável (TAUS)20 ao MPF com os passos a serem seguidos para

gerirem a ilha, não apenas cumprindo as condicionantes estabelecidas pelo MPF, mas também

implementando outras ações relacionadas ao TBC.

A comunidade celebrou o lançamento da Portaria Normativa21 da Fundação Florestal22

que regulamentou a visitação e o uso público da ilha por parte de um projeto de TBC

desenvolvido pela própria comunidade de Picinguaba (BERNARDES, 2020).

Após um novo contato realizado com a E3, em janeiro de 2020, pouco tempo após o

lançamento da portaria que regulamentou o TBC na ilha, quando perguntada sobre quais foram

os principais elementos que garantiram o sucesso da comunidade, ela destacou o papel que o

FCT e a Rede Nhandereko tiveram ao longo do processo, enfatizando que esses atores haviam

sido fundamentais no processo de construção de um diálogo para o alinhamento dos interesses

entre a grande diversidade de atores envolvidos.

20 Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS) é um dispositivo concedido pela Secretaria do

Patrimônio da União (SPU) para “disciplinar a utilização e o aproveitamento dos imóveis da União em

favor das comunidades tradicionais, com o objetivo de possibilitar a ordenação do uso racional e sustentável dos recursos naturais disponíveis na orla marítima e fluvial, voltados à subsistência dessa

população, mediante a outorga do TAUS, a ser conferida em caráter transitório e precário pelos

Superintendentes do Patrimônio da União” (BRASIL, 2010). 21 Portaria Normativa FF/DE n°315/2019, disponível em: <https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal/2019/12/portaria-normativa-ff-

de-315-2019/ >. 22 A Fundação Florestal é o órgão estadual (SP) responsável pela gestão das 94 Unidades de Conservação de proteção integral e de uso sustentável do estado de São Paulo. Dentre elas a APA marinha do Litoral

Norte, onde se encontra a Ilha das Couves.

Page 73: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

71

Outro ponto chave para o fortalecimento das iniciativas de TBC no território da Bocaina

tem relação direta com a participação de comunitários das três etnias nos processos de partilha

de TBC, o que tem garantido um maior contato entre as etnias e o reconhecimento de que muitas

das lutas são comuns, dentre elas a luta pelo respeito e pelo reconhecimento do território em

que vivem. O laço social acabou se estendendo pelo território, bem como o sentimento de

pertencimento e de inclusão.

As entrevistas confirmaram que, apesar do contexto político ser extremamente

desfavorável para as comunidades tradicionais, há um sentimento de maior segurança com a

ação que o FCT, juntamente com a Fiocruz, vem realizando há mais de uma década. Para o

entrevistado 2, morador do Quilombo da Fazenda, o FCT foi, e é essencial pois, “o fórum coloca

na cabeça da galera a importância de lutar pelo território”. Para o entrevistado 13 da Aldeia Boa

Vista, o FCT foi um divisor de águas para a aldeia: “hoje com o FCT a gente tem voz né,

fortalecendo muito pra nós, hoje nós estamos fortalecidos!”.

Com a atual conjuntura política, tanto na esfera federal quanto na esfera estadual, mais

especificamente nos estados de São Paulo e Rio de janeiro e, diante da possível perda de

direitos, as comunidades tradicionais entendem ser essencial intensificar ainda mais o processo

de luta através do turismo de base comunitária. “Eu vi o TBC como a maior ferramenta de luta

que a gente tem. Tem até aquela fala do coiso (se referindo ao presidente Bolsonaro) –‘Preto

não serve nem pra trabalhar, não sei nem pra que preto quer terra’ - é pra isso que a gente quer,

pra manter a nossa cultura!”, afirmou o E9. A preocupação com o atual contexto da política

brasileira também foi enfatizada na fala do E6: “hoje em dia, num momento de pressão é um

momento de fazer muita rede colaborativa, muita parceria com quem quer nos apoiar”.

Ocupar espaços de relevância e aprofundar as relações de parceria mostraram-se ações

estratégicas acertadas por parte do FCT, que tem ampliado a sua representatividade no território

e garantido o fortalecimento das lutas defendidas. Para a pesquisadora E11, o TBC é uma peça

chave para ampliar as conquistas da parceria: “o turismo de base coloca eles em evidência pois

de alguma forma estão mascarados nesse território. A maioria dos visitantes não sabe que tem

indígena nessa região. As pessoas não sabem que tem Quilombo! O guia (se referindo ao guia

de bolso da Rede Nhandereko) deu uma visibilidade pra eles, o que é fundamental para a luta

que defendem”.

Está em construção uma agenda política que se mostra capaz de influenciar a criação de

políticas públicas na esfera dos municípios. Como destacou o E6, um dos representantes do

FCT no município de Ubatuba: “o Fórum é propositivo e não só espera do setor público mas

Page 74: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

72

busca a construção juntamente dele”. Desde sua concepção, o FCT busca ocupar espaços de

relevância para a luta do movimento que está em andamento:

O FCT surgiu então de um consenso entre essas comunidades, as quais

reconheceram que estavam sendo colocadas à margem do processo de tomada

de decisão e que era importante ocupar esses espaços, lutando para fazer valer os direitos ao território. Uma luta contra uma visão preconceituosa que se tem

desses grupos étnicos. Por isso, caiçaras, indígenas e quilombolas se juntaram

em torno do objetivo desse movimento: fortalecer a luta pela permanência no

território (GALLO; NASCIMENTO, 2019, p. 26).

Principalmente no município de Paraty, onde o FCT atua há mais tempo, algumas

conquistas já foram legitimadas pelo poder público, como o decreto n°103/2019 que

regulamenta a educação diferenciada nas comunidades caiçaras e quilombolas do município,

demonstrando a significância do movimento para a luta destas populações.

Em entrevista realizada com o E7, gestor de uma unidade de conservação no território

da Bocaina, perguntou-se sobre o apoio dado pela UC às iniciativas de TBC. O gestor afirmou

que, quando procurado para ajudar determinada comunidade na sua capacitação, por exemplo,

oferece o apoio necessário. Quando perguntado sobre a sua relação com o FCT, afirmou que

possui um bom diálogo com a organização. Relatou que o FCT começou a participar das

reuniões do conselho gestor da UC para dar apoio às comunidades e que, atualmente, trabalham

juntos através de reuniões e pautas. Enfatizou que determinadas pautas devem ser trabalhadas

conjuntamente por não serem pautas do atual governo, como meio ambiente, conservação e luta

social. Expressou respeitar o trabalho que o FCT realiza e revelou ainda que gostaria que o

tivessem ainda mais integrantes para poder abraçar todo o território.

Esta fala do gestor demostra, de um lado, a necessidade do FCT perante as demandas

que existem por parte das comunidades, quando afirma a insuficiência de capital humano e, do

outro lado, o respeito que o FCT vem ganhando no território. Respaldado por uma instituição

renomada como a Fiocruz, a organização ganha ainda mais prestígio para poder assumir um

papel de maior influência entre os atores que compõe a intrincada rede de interesses da região,

podendo assim auxiliar na proposição de políticas públicas municipais em prol das populações

tradicionais.

A atuação do FCT junto às unidades de conservação, que compõe o território da

Bocaina, tem trazido importantes avanços na questão que envolve o relacionamento das

comunidades com as mesmas, especialmente as UC de Proteção Integral, responsáveis por

inúmeros conflitos nas décadas passadas. Cada vez mais a relação tem mudado, de acordo com

o gestor. Tal afirmação pode ser corroborada com a fala da entrevistada 1, moradora do

Page 75: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

73

Quilombo da Fazenda, que afirmou: “a atual gestora chegou para somar, ela é parceira, a gente

tem um diálogo limpo e aberto, ela abraçou a comunidade, o TBC”. No entanto, esta visão não

é unanimidade na região pois cada comunidade, com sua própria história, possui sua própria

relação com o atual gestor.

Além da participação nas reuniões de conselhos gestores, o FCT vem participando em

diversas outras frentes nos três municípios em que atua. Um exemplo disto apareceu na fala da

entrevistada 12, quando destacou a importância do FCT para a sua formação como guia de

turismo. A entrevistada teve a oportunidade de conhecer pessoalmente alguns membros do FCT

quando realizava o curso para a formação de guias regionais de turismo que ocorre anualmente

no município. “No meio do curso, assistimos uma palestra dada por três integrantes do FCT

que vieram apresentar pra gente o FCT e divulgar o turismo de base comunitária no território.

Destacaram as diferenças com o turismo convencional e a importância do TBC na luta pela

permanência das comunidades no território”. A partir de então, começou a se envolver cada vez

mais com as causas defendidas pelo FCT, que, conta a entrevistada, faziam todo o sentido para

ela naquele momento de sua vida. Atualmente, se sentindo muito mais empoderada, ela

conseguiu uma vaga na Universidade Federal de Viçosa onde iniciará seus estudos em

Geografia. Afirmou que seu principal objetivo é o de aumentar o seu repertório para fortalecer

a luta em seu território de origem.

Page 76: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

74

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em uma região tão valorizada, contendo um dos últimos grandes redutos de Mata

Atlântica do país, lar de centenas de espécies endêmicas e de culturas singulares, a região da

Bocaina tem papel fundamental para a preservação de todo esse patrimônio cultural e biológico

que ainda é, em grande parte, desconhecido, e que possui um valor inestimável para o ser

humano, diante da crise climática que ameaça sua espécie.

Local de violentas disputas de terra e alvo de um turismo predatório e excludente, a

presença das comunidades tradicionais, em parte, garantiu que a floresta permanecesse em pé.

Sua existência, que ainda está ameaçada, depende da titulação de suas terras, além do respeito

e do reconhecimento pelo poder público.

Este trabalho buscou, através de um estudo de caso, lançar luz sobre a parceria entre um

movimento social, o Fórum de Comunidades Tradicionais, com uma instituição de pesquisa

pública federal, a Fundação Oswaldo Cruz, através da criação de um espaço tecnopolítico de

geração de conhecimento crítico, o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da

Bocaina (OTSS), baseado em uma agenda territorializada por meio de um processo de

governança e de gestão alicerçados no princípio da Ecologia dos Saberes, que reconhece todas

as formas de conhecimento e garante um diálogo horizontalizado entre pesquisadores

comunitários e acadêmicos. De fundamental importância para legitimar o trabalho que vem

sendo realizado, esse intercâmbio entre saberes tem possibilitado que as vozes das comunidades

que vivem no território da Bocaina sejam, de fato, ouvidas e que as verdadeiras necessidades e

demandas do território estejam sendo entendidas e atendidas.

Em um território hipercomplexo do ponto de vista da governança ambiental, com

sobreposições de territórios oficiais (unidades de conservação) e tradicionais (comunidades),

de competências entre distintos órgãos da administração pública, permeado por conflitos

fundiários, sociais, ambientais, e frente a um governo que flerta com o fascismo, comunidades

caiçaras, quilombolas e indígenas veem o turismo de base comunitária como uma prática social

importante não apenas pela renda que pode ser gerada, mas também para a manutenção de seus

modos de vida tradicionais e para fortalecer a luta na defesa de seus territórios.

O turismo comunitário na região da Bocaina se apresenta como uma proposta alternativa

e de contestação ao turismo de massa, não como um substituto a ele, mas sim como uma nova

maneira de se fazer turismo. Mais do que uma atividade, representa uma prática social devido

a sua natureza multidimensional e complexa, que tem o potencial de influenciar diretamente o

Page 77: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

75

modo de vida e trabalho das populações visitadas. Por este motivo, o TBC neste território, deve

ser levado a sério por todos os envolvidos, uma vez que lida diretamente com a sobrevivência

destas populações.

A escolha pela construção de uma rede de TBC visa consolidar e organizar as práticas

de TBC, a partir de uma nova lógica de turismo que garanta, além da geração de renda, o

respeito pelo modo de vida das populações tradicionais. Inúmeros são os desafios que a Rede

Nhandereko de Turismo de Base Comunitária está enfrentando e irá enfrentar em um futuro

próximo para a implementação e sustentabilidade das práticas de TBC. Colocar as comunidades

em evidência, definir o melhor modelo de negócios comunitários, facilitar os meios de

comercialização são alguns destes desafios que estão sendo considerados no momento.

Também dar maior visibilidade à diversidade de iniciativas existentes no território da Bocaina,

identificando as necessidades essenciais e entendendo as problemáticas envolvidas, a Rede

juntamente ao FCT, estarão mais aptos a propor políticas públicas específicas para as práticas

de TBC nos municípios em que atuam.

Com o intuito de encontrar turistas que buscam por práticas mais autênticas, pesquisas

de demanda direcionada ao perfil dos turistas devem ser mais exploradas pela Rede Nhandereko

para que possam ser rastreados. No entanto, caberá aos integrantes da Rede e comunidades

associadas estabelecer uma clara definição de quais serão os benefícios esperados com estas

práticas, pois, logo que os meios de divulgação estiverem ativos, corre-se o risco de alcançar

uma demanda superior à capacidade de recepção dessas comunidades, gerando assim uma série

de impactos não previstos.

No sentido de facilitar a comercialização das práticas de TBC, outro grande desafio

apontado pela literatura sobre o tema constitui na Rede estar construindo uma central única de

comercialização dos roteiros turísticos, que deverá ser lançada ainda no final de 2020. A

preocupação sobre qual será o modelo de negócios mais apropriado para o seu funcionamento

foi apontada nas entrevistas como um ponto bastante sensível para o sucesso da Rede. A

parceria realizada com a ONG Capina, através de oficinas práticas em torno de processos de

cooperação e apoio a empreendimentos sociais, permitirão a escolha do formato jurídico, de

gestão e de governança desta central de comercialização.

Em relação a restrita capacidade de gestão e de planejamento em práticas de TBC, uma

deficiência apontada em muitos estudos sobre o tema, as comunidades da Bocaina estão

recebendo capacitação através da articulação estabelecida entre as comunidades participantes

da Rede Nhandereko e a intensa troca de saberes nas partilhas de vivência, além das inúmeras

Page 78: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

76

reuniões de planejamento envolvendo o OTSS com todo o seu conhecimento sobre gestão e

governança e a participação de técnicos especialistas de parceiros como universidades e ONGs,

dispostos a contribuir.

É importante considerar que a formação de recursos humanos, além de ser um processo

lento, envolve muito investimento e o aporte financeiro proveniente da parceria com a Fiocruz,

via Funasa, não está sendo suficiente para contemplar todos os projetos que estão em execução.

Por isso, a busca por novos parceiros e por novos editais parecem ser estratégias necessárias

para dar continuidade aos programas. A falta de recursos também acaba se tornando um

obstáculo para que algumas comunidades possam suprir a baixa qualidade de alguns produtos

ofertados e consigam melhorar a infraestrutura para o recebimento dos visitantes, como a

construção de cozinhas e restaurantes ou até mesmo de pousadas domiciliares.

Esta parceria firmada entre um movimento social e uma instituição pública de pesquisa

deve se tornar um marco de referência para outras iniciativas que buscam objetivos

semelhantes. Territórios ricos em comunidades tradicionais e que procuram desenvolver redes

de TBC, podem utilizar elementos adotados pela parceria, considerando, é claro, suas

particularidades, para a construção de práticas emancipatórias focadas no empoderamento dos

indivíduos.

Retornando à pergunta de pesquisa orientadora deste trabalho, através da análise

realizada das estratégias utilizadas pela parceria entre o Fórum e a Fiocruz, por meio do OTSS,

para a promoção do turismo de base comunitária nas comunidades tradicionais da Bocaina,

revelou-se uma forte preocupação no fortalecimento do capital social e humano existente

mediante o respeito à história e aos conhecimentos tradicionais além da ocupação de espaços

de relevância para dar maior visibilidade a essas populações; adotou-se a construção de uma

rede de TBC baseado em um processo de troca de experiências e saberes entre as etnias

presentes no território para o alinhamento dos conceitos, princípios e expectativas que nortearão

a sua atuação na região. Este processo vem colaborando com a emancipação e com um maior

protagonismo dos comunitários. As entrevistas também revelaram que a parceria está sendo

capaz fortalecer os vínculos entre as comunidades na medida em que o sentimento de

pertencimento das três etnias é reforçado não apenas dentro de suas próprias culturas locais,

mas também, entre elas, promovendo relações interétnicas.

O sentimento de pertencimento associado à emancipação e ao protagonismo dos

comunitários é um ponto chave para que as iniciativas de TBC possam, futuramente, trazer os

benefícios esperados pelas populações da Bocaina, na medida em que, do outro lado, a ameaça

Page 79: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

77

de um turismo excludente que coloca em risco a coesão social e cultural das populações

tradicionais continuará existindo.

É importante ressaltar, ainda, que esta pesquisa foi realizada em pleno processo de

construção da Rede, não sendo possível conhecer o modelo de negócios que será adotado e nem

analisar o seu funcionamento no território da Bocaina. Esta pode ser uma investigação para

pesquisas futuras, assim como, sobre as possíveis mudanças na forma como agências e

operadoras da região se relacionam com as comunidades, após os encontros que serão

realizados em 2020 no sentido de alinhar a atuação destas empresas no território. Outra possível

linha de investigação que poderá ser explorada diz respeito à forma como a Rede, o OTSS e as

comunidades envolvidas irão avaliar as práticas de TBC para diagnosticar o grau de

sustentabilidades das iniciativas.

Por fim, este trabalho conclui que a busca pela sustentabilidade do turismo de base

comunitária no território da Bocaina, representa uma tarefa que dependerá de múltiplos atores,

através das parcerias e redes que estão sendo criadas, para que as reflexões e ações sejam

capazes de incorporar definitivamente as populações tradicionais no mapa turístico da costa

verde, beneficiando o território visitado, garantindo a conservação do meio natural e

fortalecendo e valorizando a cultura local.

Page 80: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

78

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAM, M.; PARAMATI, S. The impact of tourism on income inequality in developing

economies: Does Kuznets curve hypothesis exist? Annals of Tourism Research, v.

61, p. 111–126, nov. 2016.

ALMEIDA, R. Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira. Novos

Estudos Cebrap, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 185-213, jan./abr. 2019.

AMORIM, D; NEDER V. IBGE: 35,7% dos brasileiros vivem sem esgoto, mas 79, 9% da

população já tem acesso à internet. O Estado de São Paulo, São Paulo, 06 nov. 2019.

Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,ibge-35-7-dos-

brasileiros-vive-sem-esgoto-mas-79-9-da-populacao-ja-tem-acesso-a-

internet,70003077941>. Acesso em: 10 dez. 2019.

BARBOSA, S. R. C. S.; FORMAGIO, C. C.; BARBOSA, R. V. Áreas Protegidas, Uso e

Ocupação do Solo, Qualidade de Vida e Turismo no Litoral Norte Paulista: Algumas

Reflexões sobre o Município de Ubatuba. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro,

v. 10, n. 2, p.121-137, ago. 2010. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/439/252> Acesso

em: 10 set. 2019.

BARROS, A. L. R; RODRIGUES, C. G. O. Educação diferenciada e turismo de base

comunitária nos territórios caiçaras de Paraty (RJ). Ambiente & Sociedade, São

Paulo, v.22, e02951, 2019. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-

753X2019000100304&script=sci_arttext&tlng=pt >. Acesso em: 5 dez. 2020.

BARTHOLO, R. et al. Turismo de base comunitária em foco. Caderno Virtual de Turismo,

Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p.6-8, ago. 2016. Disponível em:

<https://www.redalyc.org/pdf/1154/115448575001.pdf> Acesso em: 10 set. 2019.

BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. (Org.). Turismo de base comunitária:

diversidade de olhares e experiências brasileiras. Brasília: Letra & Imagem, 2009. 501

p.

BERNARDES, S. Comunidade Caiçara de Picinguaba preserva Ilha das Couves com

Turismo de Base Comunitária. Preservar é Resistir. Paraty, 20 de janeiro de 2020.

Disponível em: <https://www.preservareresistir.org/single-

post/2020/01/20/Comunidade-caicara-de-Picinguaba-preserva-Ilha-das-Couves-com-

Turismo-de-Base-Comunitaria> Acesso em: 22 jan. 2020.

Page 81: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

79

BEZERRA, K. A. C.; CHAGAS, M. M.; LOPES, F. D. Redes e alianças em turismo:

contribuições para o desenvolvimento do turismo comunitário e para o fortalecimento de

imagem de destino. In: V Seminário da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-

Graduação em Turismo-ANPTUR. Anais, Belo Horizonte, 2008.

BLANCO E.S. O turismo rural em áreas de agricultura familiar: as ‘novas ruralidades’ e a

sustentabilidade do desenvolvimento local. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.;

BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências

brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 348-355.

BOTELHO, E.S.; RODRIGUES, C.G.O. Inserção das iniciativas de base comunitária no

desenvolvimento do turismo em parques nacionais. Caderno Virtual de Turismo, Rio

de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 280-295, ago. 2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1202>. Acesso

em: 05 set. 2019.

BRASIL. Ministério do Turismo. Dinâmica e Diversidade do Turismo de Base

Comunitária: desafio para a formulação de política pública. Brasília: Ministério do

Turismo, 2010. 88 p.

______. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza (SNUC). Brasília: IBAMA, Diretoria de Ecossistemas, 2000,

Brasília, 18 jul. 2000.

______. Lei nº 2.892, de 15 de dezembro de 2006. Institui o Plano Diretor Participativo e o

processo de planejamento e gestão do desenvolvimento urbano do Município de Ubatuba,

Ubatuba, 15 dez. 2006.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria do Patrimônio da União.

Portaria 89, de 15 de abril de 2010. Disciplina a utilização e o aproveitamento dos

imóveis da União em favor das comunidades tradicionais, com o objetivo de possibilitar

a ordenação do uso racional e sustentável dos recursos naturais disponíveis na orla

marítima e fluvial, voltados à subsistência dessa população, mediante a outorga de Termo

de Autorização de Uso Sustentável – TAUS, 2010.

BRAZ, M. O golpe nas ilusões democráticas e a ascensão do conservadorismo reacionário.

Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 128, p. 85-103, jan./abr. 2017.

BURGOS, A.; MERTENS, F. A perspectiva relacional na gestão do turismo de base

comunitária: o caso da Prainha do Canto Verde. Caderno Virtual de Turismo, Rio de

Janeiro, v.15, n.1, p.81-98, abr. 2015a. Disponível em:

Page 82: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

80

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/955>. Acesso em:

5 set. 2019.

BURGOS, A.; MERTENS, F. Os desafios do turismo no contexto da sustentabilidade: as

contribuições do turismo de base comunitária. Pasos – Revista de Turismo y

Patrimonio Cultural, v. 13, n. 1, p. 57-71. 2015b. Disponível em:

<https://riull.ull.es/xmlui/bitstream/handle/915/15088/PS_13_1%20_%282015%29_04.

pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 5 jun. 2019.

BURSZTYN, I. Desatando um nó na rede: sobre um projeto de facilitação do comércio

direto do turismo de base comunitária na Amazônia. 2012. 243 f. Tese (Doutorado

em Engenharia de Produção), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,

2012.

BURSZTYN, I.; BARTHOLO, R. O processo de comercialização do turismo de base

comunitária no Brasil: desafios, potencialidades e perspectivas. Sustentabilidade em

Debate, v.3, n.1, p. 97‑116. Jan./Jun. 2012. Disponível em:

<https://periodicos.unb.br/index.php/sust/issue/view/758/Edi%C3%A7%C3%A3o%20

Completa_v.%203%2C%20n.%201%20%282012%29>. Acesso em: 5 jul. 2019.

BURSZTYN, I.; BARTHOLO, R.; DELAMARO, M. Turismo para quem? Sobre caminhos de

desenvolvimento e alternativas para o Brasil. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.;

BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências

brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 76-91.

CALDART, R. S. Escolas do Campo e Agroecologia: uma agenda de trabalho com a vida e

pela vida. Porto Alegre: setor de educação do MST, fev. 2016.

CALVIMONTES, J.; FERREIRA, L.C. Bandidos na Serra do Mar? Conflitos, estratégias e

usos múltiplos dos recursos naturais na Mata Atlântica de São Paulo. Desenvolvimento

e Meio Ambiente, v. 38, p. 77-99, ago./2016. Disponível em:

<https://revistas.ufpr.br/made/article/view/45358> Acesso em: 05 ago. 2019.

COSTA, A. J. F. Mosaicos de áreas protegidas e unidades de conservação. Dificuldades e

desafios num arranjo de governança híbrida: o caso do Mosaico Bocaina. 2015. 237f.

Tese (Doutorado em Administração Pública e Governo) - Fundação Getúlio Vargas, São

Paulo. 2015.

CORIOLANO, L. N. M. T. O turismo comunitário no nordeste brasileiro. In: BARTHOLO, R.;

SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de

olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 277-288.

Page 83: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

81

CORIOLANO, L. N. M. T. Turismo comunitário no contexto da globalização. In:

CORIOLANO, L. N. M. T.; VASCONCELOS, F. P. (Org.) Turismo, território e

conflitos imobiliários. Fortaleza: Eduece, 2012. p. 11- 26.

CRUZ, R. C. A. Turismo, produção do espaço e desenvolvimento desigual: para pensar a

realidade brasileira. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo

de Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro:

Letra & Imagem, 2009. p. 92-107

DIEGUES, A.C.S. O mito da natureza intocada. Hucitec, São Paulo, 1994.

DIEGUES, A.C.; ARRUDA, R.S.V. (Orgs.) Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.

Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 2001.

DUARTE, L.R.R. Os fundamentos e o fortalecimento do turismo comunitário a partir da rede

tucum-CE. Revista Gestão & Desenvolvimento. v.1, n.1, 2013. Disponível em:

<http://institutoateneu.com.br/ojs/index.php/RGD/article/view/73>. Acesso em: 10 jul.

2019.

ENTBL. Encontro Nacional de Turismo de Base Local (ENTBL), 15 edição, Recife, 2018.

Disponível em: <http://xventbl.blogspot.com/p/historico.html>. Acesso em: 17 jul. 2019.

FABRINO, N. H.; NASCIMENTO, E. P.; COSTA, H. A. Turismo de Base Comunitária: uma

reflexão sobre seus conceitos e práticas. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro,

v. 16, n. 3, p. 172- 190, dez. 2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1178>. Acesso

em: 10 set. 2019.

FERREIRA, P. T. A; RAIMUNDO, S. Conflitos e possibilidades para um desenvolvimento do

turismo de base comunitária na Vila de Barra do Una em Peruíbe (SP). Caderno Virtual

de Turismo, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 150-167, ago. 2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1167>. Acesso

em: 10 set. 2019.

FIGUEIREDO, I.C.S. et al. Bacia de evapotranspiração (BET): uma forma segura e ecológica

de tratar o esgoto de vaso sanitário. Revista DAE, v.67, n. 220, p.100-114, nov. 2019.

FIOCRUZ. A Fiocruz e o futuro do SUS e da Democracia. Relatório Final. Rio de Janeiro,

2018. Disponível em:

<https://congressointerno.fiocruz.br/sites/congressointerno.fiocruz.br/files/documentos/

VIII%20Congresso%20Interno%20-%20Relat%C3%B3rio%20Final.pdf> Acesso em: 9

set. 2019.

Page 84: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

82

FIOCRUZ. Perfil Institucional. Rio de Janeiro. 2019. Disponível em:

<https://portal.fiocruz.br/perfil-institucional>. Acesso em: 9 jul. 2019.

FÓRUM DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS (FCT). Campanha Preservar é Resistir:

em defesa dos territórios tradicionais. 2014. Disponível em:

<https://www.preservareresistir.org/> Acesso em junho de 2019.

FCT. Quilombo do Campinho e FCT promovem partilha para inovação do roteiro de

Turismo de Base Comunitária. Preservar é Resistir, em defesa dos territórios

tradicionais. Paraty, 05 de setembro de 2016a. Disponível em:

<https://www.preservareresistir.org/single-post/2016/09/05/Quilombo-do-Campinho-e-

FCT-promovem-Partilha-para-inova%C3%A7%C3%A3o-do-roteiro-de-Turismo-de-

Base-Comunit%C3%A1ria>. Acesso em: 15 ago. 2019.

FCT. Mulheres protagonizam o Turismo de Base Comunitária (TBC) do Fórum de

Comunidades Tradicionais. Preservar é Resistir, em defesa dos territórios tradicionais.

Paraty, 15 de dezembro de 2016b. Disponível em:

<https://www.preservareresistir.org/single-post/2016/12/15/Mulheres-protagonizam-o-

Turismo-de-Base-Comunit%C3%A1ria-TBC-do-F%C3%B3rum-de-Comunidades-

Tradicionais>. Acesso em: 10 ago. 2019.

FREIRE, S. L. Caderno de Normas e Procedimentos Internos para o Turismo de Base

Comunitária: experiência da Rede Tucum. In: VII CONNEPI-Congresso Norte

Nordeste de Pesquisa e Inovação, Palmas. Abr. 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz

e Terra, 2003.

GALDINO, L. C. F.; COSTA, M. L. Análise das principais políticas públicas de turismo no

Brasil, da década de 1990 à atualidade. Observatório de Inovação do Turismo - Revista

Acadêmica, v. 4, n. 4, Rio de Janeiro, 2011.

GALLO, E.; NASCIMENTO, V. (Org.). O território pulsa - territórios sustentáveis e

saudáveis da Bocaina: soluções para a promoção da saúde e do desenvolvimento

sustentável territorializados. Paraty, Rio de Janeiro: Fiocruz, 2019. 332 p.

GALLO E.; SETTI, A.F.F. Abordagens Ecossistêmica e Comunicativa na Implantação de

Agendas Territorializadas de Desenvolvimento Sustentável e Promoção da

Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n.6, p. 1433-1446, jun. 2012.

GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de

Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, Mai./Jun. 1995.

Page 85: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

83

GÓMEZ, C. P. et al. A participação da comunidade no Turismo de Base Comunitária: um

estudo de múltiplos casos. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p.

263-279, ago. 2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1190>. Acesso

em: 9 set. 2019.

GRIMM, I.J.; SAMPAIO, C.C.; GARCIA, M. Estratégias de desenvolvimento: a pesquisa

científica no campo do turismo de base comunitária. Gestión turística, n.27, p. 44 – 65,

jun. 2017.

HANAI, F. Y. Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade do Turismo: conceitos,

reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional,

Taubaté - SP, v. 8, n. 1, p. 198-231 jan-abr. 2012.

HIWASAKI, L. Comunity-based tourism: A pathway to sustainability for Japan`s protected

areas. Society and Natural Resources, v. 19, n.8, p.675-692. 2006.

HOLANDA, L. A. Resistência e apropriação de práticas do management no organizar de

coletivos da cultura popular. 2011. 246 f. Tese (Doutorado em Administração) –

Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2011.

HOLANDA, L. A. A empresarização do turismo de base comunitária. Caderno Virtual de

Turismo, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 249-262, ago. 2016. Disponível em: <

http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1189 > Acesso

em: 3 ago. 2019.

ICMBio. Turismo de Base Comunitária em Unidades de Conservação Federais. Princípios

e Diretrizes. Brasília, 2018. Disponível em:

<http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/turismo_de_

base_comunitaria_em_uc_2017.pdf >. Acesso em: 10 jul. 2019.

IRVING, M. A. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária. In: BARTHOLO,

R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de

olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 108-121.

IRVING, M. A.; LIMA, M. A. G.; MORAES, E. A. Turismos, naturezas e culturas: para se

pensar políticas públicas e interdisciplinaridade em pesquisa. In: IRVING, M. A., et al.

Turismo, natureza e cultura: interdisciplinaridade e políticas públicas. Rio de Janeiro:

Fundação Casa de Rui Barbosa. 2016. 165 p.

Page 86: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

84

KATES, R.W.; PARRIS, T.H.; LEISEROWITZ, A.A. What is sustainable development?

Goals, indicators, values and practice. Environment: Science and Policy for

Sustainable Development, St. Louis, v. 47, n. 3, p.8-21, apr. 2005.

MAGALHÃES, L. H. Discussão crítica acerca do turismo numa perspectiva materialista

histórica. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 08, n. 02, 2008. Disponível

em: < http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/268> Acesso

em: 11 set. 2019.

MALDONADO, C. O turismo rural comunitário na América Latina: gênesis, características e

políticas. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de base

comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra &

Imagem, 2009. p. 25-44.

MENDONÇA, T. C. M.; IRVING, M. A. Turismo de base comunitária: a participação como

prática no desenvolvimento de projetos turístico no Brasil - Prainha Do Canto Verde,

Beberibe (CE). Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, p. 12-22, 2004.

Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/66>. Acesso em:

6 set. 2019.

MENDONÇA, T.C.M. Turismo socialmente responsável da Prainha do Canto Verde: uma

solução em defesa do local herdado. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.;

BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências

brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 289-302.

MENDONÇA, T. C. M.; MORAES, E. A. de.; CATARCIONE, F. L. C. Turismo de base

comunitária na Região da Costa Verde (Rio de Janeiro): refletindo sobre um turismo que

se tem e um turismo que se quer. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 16, n.

2, p. 232-248, ago. 2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1185>

Acesso em: 13 jul. 2019.

MENDONCA, T. C. M. ; SANTOS, R. O. ; MORAES, E. A. de. Turismo de base comunitária

e povos e comunidades tradicionais: as memórias e histórias de luta tecem roteiros e

vivências na Rede Nhandereko. In: II Congresso Internacional CICOP Centro

Internacional para la Conservación del Patrimonio, 2019, Montevideo. II Congresso

Internacional CICOP Patrimônio Imaterial Intangible: Idetificación, salvaguarda y puesta

e valor. Una perspectiva a la reflexión.. Montevideo: Mosca, 2019. v. 1. p. 155-155.

Page 87: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

85

MIELKE, E. J. C. Desenvolvimento Turístico de Base Comunitária: uma abordagem

prática e sustentável. Campinas: Alínea, 2009. 192 p.

MIELKE, E. J.; PEGAS, F. V. Turismo de base comunitária no Brasil. Insustentabilidade é uma

questão de gestão. Revista Turismo em análise, v. 24, n. 1, p. 170-189, abr. 2013.

MORAES, E. A. de. Siga os atores e as suas próprias ações: nos rastros das controvérsias

sociotécnicas do Turismo de Base Comunitária na Rede TUCUM – Ceará – Brasil.. Tese de

Doutorado. 2019. 348 p. Programa de Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e

Ecologia Social, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,

Brasil, 2019.

MORAES, E. A.; IRVING, M. A.; MENDONÇA, T. C. M. Turismo de base comunitária na

América Latina: uma estratégia em rede. Turismo-Visão e Ação, v. 20, n. 2, p.249-265,

mai/ago, 2018. Disponível em:

<https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/13161>. Acesso em: 5 ago.

2019.

MOTTA, C. ‘Superlotação’ de turistas gera risco de degradação para a Ilha das Couves

em Ubatuba. G1, Vale do Paraíba e Região. 15 de janeiro de 2018. Disponível em:

<https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/superlotacao-de-turistas-gera-

risco-de-degradacao-para-a-ilha-das-couves-em-ubatuba.ghtml>. Acesso em: 5 abr.

2019.

NETO, F. O. L.; DA SILVA, E. V.; DA COSTA, N. O. Cartografia social instrumento de

construção do conhecimento territorial: reflexões e proposições acerca dos procedimentos

metodológicos do mapeamento participativo. Revista da Casa da Geografia de Sobral

(RCGS), v. 18, n. 2, p. 56-70, 2016. Disponível em:

<http://rcgs.uvanet.br/index.php/RCGS/article/view/302>. Acesso em: 3 set. 2019.

OBSERVATÓRIO DE TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS DA BOCAINA

(OTSS). Turismo de Base Comunitária – TBC. Disponível em:

<https://www.otss.org.br/turismo-de-base-comunitaria>. Acesso em: 10 ago. 2019.

OLIVEIRA, A.C. Turismo e população dos destinos turísticos: um estudo de caso do

desenvolvimento e planejamento turístico na Vila de Trindade – Paraty-RJ. In:

BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária:

diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009.

p. 319-333.

OIT. Declaração de San José: sobre Turismo Rural Comunitário. San José, Costa Rica, 2003.

Page 88: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

86

PANOSSO NETTO, A.; NECHAR, M. C. Epistemologia do turismo: escolas teóricas e

proposta crítica. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 8, n. 1, p. 120, 2014.

PINHEIRO, T. R. Indicadores para o desenvolvimento sustentável do Turismo de Base

Comunitária: um estudo de caso da comunidade do Quilombo do Campinho da

Independência, Paraty, Rio de Janeiro. Anais Brasileiros de Estudos Turísticos-ABET,

Juiz de Fora, v.4, n.1, p. 61-71. Jan./Abr. 2014.

PINTO, R.; CASTRO, L.L.C. Sustentabilidade e turismo comunitário: aspectos teórico-

conceituais. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v.13, n.2, p.213-226, ago.

2013. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/737> Acesso em:

5 set. 2019.

PIUBEL, F. M. et al. Saneamento ecológico e permanência nos territórios de comunidades

caiçaras da Península da Juatinga, Paraty-RJ. Cadernos de Agroecologia, v.13, n.1,

2018.

PNUD. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:

<https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/sustainable-development-goals.html>.

Acesso em: 5 maio 2019.

PROJETO BAGAGEM. 2017. Disponível em: <https://www.projetobagagem.org/home>.

Acesso em: 10 set. 2019.

PRÜSS, A. et al. Estimating the global burden of disease from water, sanitation, and hygiene

at the global level. Environmental Health Perspectives, v. 110, n. 5, p.537-542, mai.

2002.

RIBEIRO, R. L. M. Políticas Públicas de Turismo e o Processo de Inclusão/Exclusão Social.

2005. Dissertação (Mestrado em Planejamento e Gestão Estratégica em Hospitalidade),

Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2005.

SALVATI, S. Gestão de Mosaicos: A experiência do Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas. II

Curso de Gestão de Mosaicos (ICMBIO). Iperó, 2012.

SAMPAIO, C. A. C. Turismo como fenômeno humano: princípios para pensar a

Ecossocioeconomia e sua prática sob a denominação turismo comunitário. Revista

Turismo em Análise, São Paulo, v.18, n.2, p.148- 165, nov. 2007. Disponível em: <

http://www.revistas.usp.br/rta/article/view/62595 >. Acesso em: 05 set. 2019.

Page 89: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

87

SAMPAIO, C. A. C. Pensando o conceito de turismo comunitário. In: V Seminário da

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo-ANPTUR. Anais,

Belo Horizonte, 2008.

SAMPAIO, C.A.C.; et al. Turismo comunitário a partir de experiências brasileiras, chilenas e

costarriquenha. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, v.8, n.1, p.42-

58, jan./mar. 2014. Disponível em: <https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/575 >. Acesso

em julho de 2019.

SANCHO, A.; MALTA, G. Pesquisa de demanda para Turismo de Base Comunitária: desafios

à promoção do encontro entre comunidades e viajantes. Revista Turismo em

Análise, v.26, n.1, p.38-67, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1984-

4867.v26i1p38-67>. Acesso em: 5 set. 2019.

SANSOLO, D. G. Centralismo e Participação na proteção de natureza e desenvolvimento do

turismo no Brasil. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de

Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro:

Letra & Imagem, 2009. p. 122-141.

SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de base comunitária: potencialidade no espaço

rural brasileiro. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de

Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro:

Letra & Imagem, 2009. p. 142-161.

SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de

saberes. Novos estudos - CEBRAP, São Paulo , n. 79, p. 71-94, Nov. 2007. Disponível

em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010133002007000300004 >.

Acesso em: 5 ago. 2019.

SCOTT, N.; COOPER, C.; BAGGIO, R. Network Analysis and Tourism: From Theory to

Practice. Clevedon: Channel View Publications, 2008.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. Editora Companhia das Letras. 2018.

SETTI, A. F. F. et al. Governance and the promotion of sustainable and healthy territories: the

experience of Bocaina, Brazil. Revista de Gestão Costeira

Integrada, Lisboa, v.16, n.1, p.57-69, 2016. Disponível em:

<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-

88722016000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Page 90: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

88

SEZGIN, E.; YOLAL, M. Golden age of mass tourism: Its history and development. Visions

for Global Tourism Industry-Creating and Sustaining Competitive Strategies, p. 73-90.

2012.

SILVA, K.T.P.; RAMIRO, R.C.; TEIXEIRA, B.S. Fomento ao turismo de base comunitária: a

experiência do ministério do turismo. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.;

BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências

de turismo. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 359-373.

SIMÕES, E. O dilema das decisões sobre populações humanas em parques: jogo

compartilhado entre técnicos e residentes no Núcleo Picinguaba. 2010. 389 f. Tese

(Doutorado em Ambiente e Sociedade) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da

UNICAMP, Campinas, 2010.

STOCHERO, T. Comissão denuncia Bolsonaro ao Tribunal Penal Internacional por

supostamente promover ataques contra povos indígenas. G1, São Paulo, 28 de nov.

2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/11/28/comissao-

denuncia-bolsonaro-ao-tribunal-penal-internacional-por-supostamente-promover-

ataques-contra-os-povos-indigenas.ghtml>. Acesso em: 2 nov. 2019.

THOMPSON A. et al. Tourism Concessions in Protected Natural Areas: guidelines for

managers. United Nations Development Programme. 2014. Disponível em:

<https://www.cbd.int/financial/privatesector/undp-tourismconcessions.pdf>. Acesso em:

10 jul. 2019.

TUCUM. Caderno de Normas da Rede Tucum – Rede Cearense de Turismo Comunitário.

Rosa Martins (Org.). Fortaleza: Instituto Terramar, 2013.

URANO, D. G.; SIQUEIRA, F. S.; NÓBREGA, W. R. M. Articulação em redes como um

processo de construção de significado para o fortalecimento do turismo de base

comunitária. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 200-210, ago.

2016. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1173>. Acesso

em: 15 jul. 2019.

WORLD TOURISM ORGANIZATION (WTO). Agenda 21 for the travel and tourism

industry: towards environmentally sustainable development. Madrid: WTO, 1997. 78p.

Page 91: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

89

WORLD TOURISM ORGANISATION (WTO). Exports from international tourism hit usd

1.7 trillion. 6 jun. 2019 Disponível em: <https://www.unwto.org/global/press-

release/2019-06-06/exports-international-tourism-hit-usd-17-trillion>. Acesso em: 20

set. 2019.

YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.

ZAOUAL, H. Do turismo de massa ao turismo situado: quais as transições? Caderno Virtual

de Turismo, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 1-14, 2008. Disponível em:

<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/341>. Acesso em:

10 ago. 2019.

ZAOUAL, H. Do turismo de massa ao turismo situado. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D.

G.; BURSZTYN, I. Turismo de Base Comunitária: diversidades de olhares e

experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra & Imagem, 2009. p. 55-75.

ZAPATA, M. J. et al. Can community-based tourism contribute to development and poverty

alleviation? Lessons from Nicaragua. Current Issues in Tourism, v. 14, n. 8, p. 725-

749, 2011. Disponível em:

<www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13683500.2011.559200#tabModule>. Acesso

em: 20 mai. 2019.

Page 92: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

90

APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro de perguntas orientadoras para as entrevistas com os

comunitários

Nome:

Trabalho/Cargo:

Idade:

1. Você trabalha com turismo? De que maneira?

2. Você exerce alguma outra atividade remunerada? Quando (alta e baixa temporada)?

3. É filiado a alguma instituição? Quais?

4. Qual a importância do turismo para a sua comunidade?

5. Quais são os principais impactos do turismo na sua comunidade? (positivamente e

negativamente)?

6. Se for de Picingiuaba: você participa do GT da Ilha das Couves? Qual é a idéia, montar um

TBC? Quais são as principais dificuldades que vocês encontram hoje na elaboração do plano de

gestão para a Ilha?

7. Você já ouviu falar em Turismo de Base Comunitária (TBC)? O que você entende sobre esse

modelo de turismo?

8. Existe alguma iniciativa de TBC na sua comunidade? Como se deu esta iniciativa?

9. Quais são os atrativos turísticos (socioambientais) que pretendem mostrar?

10. Como você acha que o TBC pode contribuir para a melhoria da vida dos moradores?

Em primeiro lugar: Em segundo lugar:

Em terceiro lugar:

11. Na sua opinião quais são (foram) as principais dificuldades para o desenvolvimento do TBC na

sua comunidade?

12. Qual o papel que o Fórum tem ou teve na comunidade?

13. Dentre as operadoras que operam na comunidade existem muitas diferenças em relação aos

valores pagos e o respeito que com a comunidade? Poderia dar exemplos?

14. O que, na sua opinião, teria que ser melhorado na sua comunidade para receber melhor os

turistas? (Hospedaria, transporte, estrada, coleta de lixo, esgotamento sanitário, atrativos turísticos...).

15. Qual a importância da agroecologia e do saneamento ecológico para a comunidade?

Page 93: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

91

APÊNDICE B – Roteiro de perguntas orientadoras para as entrevistas com os

comunitários

Trabalho/Cargo:

Nome da Operadora:

Idade:

Escolaridade:

Local de nascimento:

1. Você participa de alguma associação? Qual?

2. Você possui operadora? Qual?

3. Sua agência opera em outros municípios? Quais?

4. Quais os veículos de divulgação que possui?

5. Qual a importância das unidades de conservação (PESM, Ilha Anchieta e APAMLN) em

Ubatuba para o turismo? Por quê?

6. Você acha importante que os guias e monitores ambientais sejam caiçaras e/ou residentes de

comunidades tradicionais? Por quê?

7. Para você, o turismo que existe hoje nos parques de Ubatuba traz que tipos de impactos

socioambientais?

8. Diante deste canário, qual a importância do ecoturismo para a região de Ubatuba?

9. A comunidade do Sertão da Fazenda oferece um programa de TBC. O que você acha deste

modelo de turismo no contexto da região? Um roteiro de visita a uma comunidade pode ser considerado

um roteiro TBC?

10. Na sua agência, além dos passeios tradicionais do ecoturismo, vocês oferecem roteiros de TBC?

Se sim, quais?

11. Qual é a demanda por estes roteiros em comparação com os roteiros de ecoturismo tradicionais?

Se a resposta for “baixa”: por que você acha que é baixa?

12. Como a operadora realiza a divisão dos recursos financeiros arrecadados com as comunidades

visitadas?

13. Levando em conta o contexto local - tipo de UC (de proteção integral), o tipo de turista que o

município atrai (turista de massa) e a grande sazonalidade da atividade turística - você considera o TBC

um modelo viável de turismo em Ubatuba?

14. Na sua opinião, quais são os principais problemas encontrados, relacionados à recepção dos

turistas, nas visitas às comunidades? (Esperar falarem e depois pedir para elencar!)

Page 94: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO DA BOCAINA

92

APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido utilizado nas entrevistas

Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) referente à pesquisa

intitulada “Turismo de Base Comunitária no território da bocaina – Brasil: tecendo parcerias e

redes em busca da sustentabilidade”, desenvolvida por Nick Kantorowicz Buck.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo

financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da

pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas

gerais é analisar as alternativas para o uso público no interior do Núcleo Picinguaba do PESM

que possam fomentar diferentes formas de turismo, garantindo a conservação e preservação

dos recursos naturais além de possibilitar maior participação comunitária nas atividades

turísticas do território.

Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista semi-estruturada. O

acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo(a) pesquisador e/ou seu orientador.

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudo / pesquisa / programa a qualquer

momento, sem prejuízo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou

constrangimentos.

Ubatuba, ____ de _________________ de _____

Assinatura do(a) participante: ______________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a): ____________________________