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FAMÍLIA, TERRITÓRIO E INTERGERACIONALIDADE NO TRABALHO DO CENTRO DE CONVIVÊNCIA RITA DE CÁSSIA EM TERESINA (PI) Gabrielle Tainá Araújo Xavier 1 Sâmia Alves de Farias 2 RESUMO: O presente trabalho analisa como o Centro de Convivência Rita de Cássia executa o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) no contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e como este articula a relação família, território e intergeracionalidade junto aos usuários. O marco teórico tem como base, dentre outros, Brasil (2005), Mioto (2000), Neres; Bomfim (2013) e Teixeira (2010). A metodologia consistiu na pesquisa-ação, sendo que os resultados mostraram que ao articular as referidas categorias o SCFV apresenta-se como importante estratégia na garantia do direito à convivência familiar e comunitária dos diferentes ciclos de vida e grupos sociais. Palavras-Chave: Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Família. Território e Intergeracionalidade. ABSTRACT: The present work aims to analyze how the Rita de Cássia Cohabitation Center executes the Service of Coexistence and Strengthening of Links (SCFV) in the context of the Unified Social Assistance System (SUAS) and how it articulates the family, territory and intergenerational relationship in the Your users. The theoretical framework is based on, among others, Brazil (2005), Mioto (2000), Neres; Bomfim (2013) and Teixeira (2010). The methodology used consisted of action research, and the results showed that in articulating these categories, the SCFV presents itself as an important strategy in the sense of guaranteeing the right to family and community coexistence of different life cycles and social groups. Keywords: service of coexistence and strengthening of links; family. territory and intergenerationality. 1 Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Discente do Projeto de extensão “Família, território e intergeracionalidade”. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Discente do Projeto de extensão “Família, território e intergeracionalidade”. E-mail: [email protected]

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1 FAMÍLIA, TERRITÓRIO E INTERGERACIONALIDADE NO TRABALHO DO CENTRO DE

CONVIVÊNCIA RITA DE CÁSSIA EM TERESINA (PI)

Gabrielle Tainá Araújo Xavier1

Sâmia Alves de Farias2

RESUMO: O presente trabalho analisa como o Centro de Convivência Rita de Cássia executa o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) no contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e como este articula a relação família, território e intergeracionalidade junto aos usuários. O marco teórico tem como base, dentre outros, Brasil (2005), Mioto (2000), Neres; Bomfim (2013) e Teixeira (2010). A metodologia consistiu na pesquisa-ação, sendo que os resultados mostraram que ao articular as referidas categorias o SCFV apresenta-se como importante estratégia na garantia do direito à convivência familiar e comunitária dos diferentes ciclos de vida e grupos sociais.

Palavras-Chave: Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Família. Território e Intergeracionalidade. ABSTRACT: The present work aims to analyze how the Rita de Cássia Cohabitation Center executes the Service of Coexistence and Strengthening of Links (SCFV) in the context of the Unified Social Assistance System (SUAS) and how it articulates the family, territory and intergenerational relationship in the Your users. The theoretical framework is based on, among others, Brazil (2005), Mioto (2000), Neres; Bomfim (2013) and Teixeira (2010). The methodology used consisted of action research, and the results showed that in articulating these categories, the SCFV presents itself as an important strategy in the sense of guaranteeing the right to family and community coexistence of different life cycles and social groups.

Keywords: service of coexistence and strengthening of links; family. territory and intergenerationality.

1 Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Discente do

Projeto de extensão “Família, território e intergeracionalidade”. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Discente do

Projeto de extensão “Família, território e intergeracionalidade”. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), criado em 2005, corresponde a

um modelo único de gestão pública, descentralizado, participativo e não contributivo, que

tem por base o território e a família, tendo como função a gestão de um conteúdo específico

da Assistência Social no que se refere à proteção social brasileira. Desse modo, esse

sistema consolida a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), tendo como base os

níveis de oferta de serviços no âmbito da proteção social básica e especial (BRASIL, 2005).

Com base nisso, cabe destacar que o Serviço de Convivência e Fortalecimento

de Vínculos (SCFV) é ofertado de forma complementar ao trabalho social com famílias,

desenvolvido pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias (PAIF), na

Proteção Social Básica (SIMÕES, 2014), e ao Serviço de Proteção e Atendimento

Especializado às Famílias e Indivíduos (PAEFI), na proteção social especial, visando,

respectivamente, fortalecer e restaurar os vínculos familiares e comunitárias (BRASIL,

2015).

É nesse contexto que está inserido o Centro de Convivência Rita de Cássia,

situado no bairro São Joaquim, na cidade de Teresina, Piauí. Este, articulado ao Centro de

Referência da Assistência Social Norte II, oferta o Serviço de Convivência e Fortalecimento

de Vínculos, por meio de encontros e oficinas socioeducativas, informacionais e culturais,

voltadas para diversos ciclos de vida.

Este artigo tem como finalidade analisar como o Centro de Convivência Rita de

Cássia executa o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) no contexto

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e como este articula a relação família,

território e intergeracionalidade no atendimento a seus usuários. Nessa produção, utilizou-se

o método dialético, tendo como base a técnica da pesquisa-ação, no contexto de

desenvolvimento das ações do Projeto de extensão “Família, Território e

Intergeracionalidade” do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí.

Nessa perspectiva, o artigo está estruturado em duas partes, a primeira, discute

a relação família, território e intergeracionalidade a partir do trabalho desenvolvido pelo

Centro de Convivência Rita de Cássia em Teresina (PI). E, a segunda, apresenta a

experiência do referido projeto de extensão, estabelecendo-se uma problematização da

realidade social no contexto de desenvolvimento das ações socioeducativas.

3

2 A RELAÇÃO FAMÍLIA, TERRITÓRIO E INTERGERACIONALIDADE NO CENTRO DE

CONVIVÊNCIA RITA DE CÁSSIA EM TERESINA (PI)

O Centro de Convivência Rita de Cássia, unidade da política de assistência

social, é gerido pela Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social

(SEMTCAS). Localizado à Rua Presidente Lincoln, nº 4791, Bairro São Joaquim, Teresina,

Piauí, o trabalho desenvolvido pela referida unidade é resultado de um processo histórico

que vem desde o Projeto de Ações Integradas (PAI) na região das olarias, na zona norte de

Teresina3.

O referido trabalho socioeducativo se fundamenta nas diretrizes do Sistema

Único da Assistência Social (SUAS), tendo como base, dentre outros, a PNAS (2004 e

2012) e a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009), que apontam para a

construção e a materialização de espaços públicos a partir de processos socioeducativos e

de um trabalho em rede, com relações e aprendizagens com base na convivência

geracional e intergeracional.

Em 2014, a SEMTCAS geria 82 Centros de Convivência de pequeno porte I e II,

bem como de médio e grande porte (TERESINA, 2014). Nesse contexto, o Centro de

Convivência Rita de Cássia (médio porte)4, oferta encontros e oficinas em grupos, voltadas

para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, tendo como base um caráter

informacional, lúdico, socioeducativo, esportivo e cultural.

3 A partir de 2014, o Centro de Convivência - Projeto de Ações Integradas (PAI), passou a se chamar

Centro de Convivência Rita de Cássia, com ações executadas em parceria com a Fundação Padre Antônio Dante Civiero (FUNACI), Organização Não Governamental (ONG), sem fins lucrativos, criada pelo padre Humberto Pietrogrande em 12 de outubro de 1989 em Teresina (PI). 4 “Padrão de nomenclatura das unidades com oferta de SCFV para crianças, adolescentes, jovens,

adultos e idosos, com serviço executado pelo poder público, por entidades da rede socioassistencial, com capacidade de oferta de até 04 grupos por turno, simultâneos ou não, de forma geracional ou intergeracional, em espaços próprios, alugados ou cedidos” (TERESINA, 2014, p. 03).

4

Gráfico 1 - Usuários do Centro de Convivência Rita de Cássia por oficina

- Ano 2016.

Gráfico 2 – Percentual das famílias beneficiárias do Programa Bolsa

Família - Ano 2016.

Fonte: Usuários do Centro de Convivência Rita de Cássia por oficina, 2016.

O gráfico 1 mostra que o trabalho socioeducativo desenvolvido pelo Centro de

Convivência Rita de Cássia tem como base uma concepção de família considerando-a em

sua perspectiva de diversidade e de heterogeneidade, com a organização dos grupos

etários, geracionais e intergeracionais, com prevalência do atendimento continuado a

crianças e adolescentes de 06 a 09 anos (54), de 10 a 12 anos (46); e de 13 a 17 (33); com

menor incidência do atendimento a jovens de 19 a 29 anos e de adultos de 30 a 59 anos

(24) e a pessoas idosas5.

Nessa perspectiva, o trabalho socioeducativo contribui para a desconstrução das

desigualdades etárias, geracionais e de gênero, com significativos desdobramentos na

construção e exercício da cidadania, com ênfase nos valores da pluralidade e da

diversidade, enquanto direito de todos os ciclos de vida e grupos sociais (BORGES;

MAGALHÃES, 2011; NERES, 2013).

No ano de 2016, das 113.912 famílias cadastradas no Cadastro Único do

Governo Federal (CADÚNICO) no município de Teresina, apenas 62,58 mil eram

beneficiárias do Programa Bolsa Família, sendo que destas, 125 são famílias de usuários do

5 O atendimento a pessoas idosas no Centro de Convivência Rita de Cássia ocorre ainda de forma

pontual, com a participação no contexto das atividades comunitárias (a exemplo da ginástica laboral, da aeróbica e da estação digital, existentes na unidade). A ginástica laboral e a aeróbica ofertadas uma vez por semana, permitem o estabelecimento de relações intergeracionais entre os diversos ciclos de vida e grupos sociais, assim como a estação digital, operacionalizada com a participação do Estado do Piauí, que oferta cursos de inclusão digital, com a participação das famílias dos usuários atendidos na unidade, bem como da comunidade local.

5

Gráfico 3 - Configurações das famílias dos usuários Centro de Convivência Rita de Cássia – Ano 2016

Centro de Convivência Rita de Cássia, contexto que nos leva a refletir sobre os processos

que precisam ser articulados no sentido da inclusão social desses segmentos sociais.

Fonte: Usuários do Centro de Convivência Rita de Cássia por oficina, 2016.

O gráfico 3 mostra que em significativa parcela das famílias dos usuários do

Centro de Convivência Rita de Cássia predomina a configuração nuclear simples,

constituída por um casal e filhos. Contudo, os resultados da análise revelam que as

configurações monoparentais chefiadas por mulheres tem significativa incidência, mostrando

que o conceito de família vem sofrendo profundas mudanças, no que se refere às normas

internas e externas de sociabilidade, o que resulta em um caráter dinâmico da relação

familiar (OLIVEIRA, 2009).

Nesse sentido, a família não deve ser analisada como uma instituição natural, e

sim social e histórica, já que assume diversas configurações na sociedade atual, numa

perspectiva de classe e de grupos sociais heterogêneos (TEXEIRA,2010). Diante disso, o

trabalho socioeducativo do centro de convivência, precisa se articular efetivamente com a

perspectiva assistencial e socioeducativa exercida pelo CRAS, a partir do conhecimento e

da análise das multifaces da questão social que afeta a família em seus territórios de

vivência (ANDREATTA, 2013).

Nessa perspectiva, o trabalho assistencial e socioeducativo no âmbito do PAIF e

complementarmente, no campo socioeducativo pelo SCFV, precisa conceber a família não

somente como um aglomerado de pessoas unidas por laços afetivos, de consanguinidade

6

Gráfico 4 - Local de moradia dos Usuários do Centro de Convivência Rita de Cássia

.

ou por meio de relações de dependência, mas, como uma unidade composta por indivíduos

que apresentam relações etárias, geracionais e de gênero, com posições sociais

diferenciadas e que cotidianamente convivem a partir de relações de poder, que se

materializam por meio da distribuição das funções entre seus membros, muitas vezes

pautadas por desigualdades, conflitos, segregações ou violências (ROCHA-COUTINHO,

Fonte: Google maps; Prontuários do CC Rita de Cássia.

O gráfico 4 mostra que a maior parcela dos usuários do Centro de Convivência

Rita de Cássia reside no bairro São Joaquim, apresentando-se com menor incidência nos

bairros adjacentes (Nova Brasília, Poty Velho, Mafrense e Santa Maria da Codipi), cujo

diagnóstico territorial aponta a existência vulnerabilidades e riscos sociais enquanto

expressões da questão social, relacionadas a pobreza, trabalho infantil, drogas, violências,

entre outras (TERESINA, 2012).

O fortalecimento de vínculos promovido pelo serviço socioeducativo impacta

diretamente nos processos de enraizamento de indivíduos e famílias no território. Nesse

contexto, o planejamento urbanístico desenvolvido pelo Programa Lagoas do Norte, que

vem sendo executado desde 2008 na região, tem repercutido nas territorialidades,

considerando as relações espaço-intersubjetividade e espaço-sociedade. Desse modo, o

território-rede, com seu conjunto de serviços públicos (saúde, educação, assistência social,

esporte e lazer, dentre outros), se apresenta como importante espaço de materialização

dessas relações societárias.

7 Gráfico 5 - Escolas que os usuários do Centro de Convivência Rita de Cássia estudam - Ano 2016

Fonte: Prontuários do Centro de Convivência Rita de Cássia, 2016.

A análise do trabalho socioeducativo do Rita de Cássia na relação com o

território-rede mostrou que o referido centro de convivência atende a crianças inseridas nos

Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIE’s) Padre Eduardo, Tia Alice, Tia Jane e Tia

Mônica, bem como a crianças e adolescentes que frequentam, dentre outras, as escolas

Antônio Dilson Fernandes, Joel Ribeiro, José Nelson de Carvalho, Bezerra de Meneses,

Iolanda Raulino, Antonio Gayoso, Edgar Tito, Domingos Afonso Mafrense, James Azevedo e

Robert Carvalho Freitas (gráfico 5).

Ao se relacionar com usuários/famílias e órgãos/instituições, o trabalho

socioeducativo do Centro de Convivência Rita de Cássia, articulado ao CRAS/PAIF no

território-rede, perpassa a construção de uma esfera pública com a discussão de questões,

sobretudo, relativas a inclusão social e direitos, com significativos impactos na democracia e

na cidadania, que, ao tempo em que fortalecem os múltiplos saberes e fazeres que

perpassam as territorialidades enquanto relações de poder, também se articulam com a

dinâmica protetiva da família, considerando a natureza dos serviços ofertados: a escola,

buscando assegurar o direito a educação, e, o trabalho socioeducativo, a convivência

familiar e comunitária (ASSIS, 2014).

Essas relações no território-rede são perpassadas pelas modificações nos

8 papéis familiares e pelo acirramento da questão social no contexto do capitalismo,

ressaltando-se novos aspectos, dentre eles, está a necessidade de políticas destinadas à

família considerando-a como um todo e não somente a focalização de políticas para cada

segmento social. Desse modo, Mioto (2000) defende que as intervenções voltadas para a

família não devem estar evidenciadas apenas na sua definição de ambiente de cuidado,

mas também, como um espaço a ser cuidado e protegido.

É nesse sentido que Teixeira (2010) discute o trabalho social com famílias, com

foco nas ações socioassistenciais e socioeducativas, visando a garantia dos direitos de

cidadania, tendo como base as ofertas, a intersetorialidade e a articulação das políticas

públicas, visando a efetivação de serviços de apoio familiar.

Tendo como referência esses conceitos, a análise mostrou que o trabalho do

Centro de Convivência Rita de Cássia, se articula com o trabalho social com famílias

desenvolvido pelo Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Norte II de Teresina,

notadamente em seu caráter socioeducativo, articulando os referidos aspectos geográficos,

econômicos políticos, sociais e culturais (BRAGA, 2010). Dessa forma, apresenta-se como

um instrumento relevante da ação pública do Estado no sentido da promoção da inclusão

social e defesa dos direitos humanos, por meio da implementação de estratégias de trabalho

que visam assegurar a convivência familiar e comunitária.

3 A EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE EXTENSÃO “FAMÍLIA, TERRITÓRIO E

INTERGERACIONALIDADE” NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA RITA DE CÁSSIA

Os dados do diagnóstico territorial realizado pela SEMTCAS em 2012 apontam

para a importância do trabalho socioeducativo do Centro de Convivência Rita de Cássia com

os diversos ciclos de vida no bairro São Joaquim, considerando que este possuía em 2010

uma população total de 10.558 habitantes, sendo 7,6% 0 a 4 anos; 24,8% de 0 a 14 anos;

71,3% de 15 a 64 anos e 3,9% idosos(as) com idade superior a 65 anos, sendo 714 e 1.522

famílias chefiadas por mulheres.

As ações extensionistas desenvolvidas no âmbito do Projeto “Família, Território

e Intergeracionalidade” durante o ano de 2016 junto ao referido Centro de Convivência

(seminário, oficinas com profissionais e famílias, bem como análise de prontuários),

objetivaram refletir sobre a articulação das referidas categorias no contexto de execução das

ações do SCFV, sendo que as oficinas com os profissionais e as lideranças tiveram como

9 objetivo analisar como estes apreendem a relação das categorias família, território e

intergeracionalidade e como o trabalho socioeducativo pode contribuir para uma ação em

rede.

A primeira oficina realizada no dia 18 de novembro de 2016, no horário das

8:00h às 12:00h, teve como público alvo os profissionais do Centro de Convivência Rita de

Cássia, oportunidade em que foram abordadas as seguintes questões: Quais os principais

problemas identificados na realidade social? O que se quer alcançar com o serviço? Por

quê? Com quais ações?

Os resultados do trabalho mostraram que o Centro de Convivência Rita de

Cássia quer alcançar, dentre outros, o fortalecimento das relações familiares por meio de

um trabalho em rede, diante dos problemas que afetam as famílias no território (drogadição,

gravidez na adolescência, vínculos familiares fragilizados, abuso e exploração sexual,

violência doméstica, desemprego, etc.), tendo sido destacado como importante para a

prevenção do agravamento dessas situações o empoderamento das famílias e o

desenvolvimento das potencialidades do território.

No que tange a categoria intergeracionalidade, destacou-se a importância do

fortalecimento dos vínculos entre as gerações, de forma a favorecer a participação de todos

os grupos etários, tendo sido apontada a qualificação dos espaços de convivência e de um

trabalho em rede, com a participação do Centro de Convivência Rita de Cássia articulado ao

CRAS Norte II, do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), da

Unidade Básica de Saúde (UBS), das escolas, dentre outros.

A segunda oficina foi desenvolvida no dia 25 de novembro de 2016, no horário

de 8:00h as 12:00h, tendo como público alvo as famílias dos usuários do Centro de

Convivência Rita de Cássia, oportunidade em que as famílias relataram que os fatores que

mais as tem afetado são a violência, as drogas, o desemprego e a gravidez na

adolescência, destacando-se ainda que a mulher historicamente tem sofrido estigmas, tendo

sido sobrecarregada com as tarefas domésticas, o cuidado com os filhos e com as

responsabilidades de trabalho. Dessa forma, ressaltou-se a importância da desconstrução

dos preconceitos e das discriminações, sobretudo, em relação ao conceito de família, bem

como do conhecimento da realidade social que o território apresenta, para a superação dos

estigmas, discriminações e violências.

A problematização da relação família, território e intergeracionalidade junto aos

profissionais e famílias do Centro de Convivência Rita de Cássia apontou a importância de

trabalhar com os processos de enraizamento dos indivíduos e famílias no território,

enquanto lugar de construção de vínculos e de relações de poder, que se estabelecem por

10 meio da mediatização das relações sociais e da construção de experiências, onde são

vivenciados “os eventos mais expressivos de nossa seleta vida, ou seja, o viver e o habitar,

o uso e o consumo, o trabalho, o entretenimento, o lazer, o prazer e etc.” (LOPES, 2012, p.

26).

Nesse contexto, a experiência extensionista do Projeto “Família, Território e

Intergeracionalidade” mostrou a importância do Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos em sua dimensão socioeducativa, articulado ao trabalho socioeducativo e

assistencial do CRAS/ PAIF no âmbito do território-rede, tendo como base o espaço-

intersubjetividade, o espaço-sociedade e o espaço-mundo, abrangendo uma interrelação

entre o individual/coletivo e o local/global, de forma a favorecer o fortalecimento das

relações societárias no sentido da construção de espaços públicos e privados pautados na

pluralidade, diversidade e heterogeneidade.

4 CONCLUSÃO

O Centro de Convivência Rita de Cássia resulta das mudanças no desenho

institucional do Projeto de Ações Integradas (PAI), que foi transformado em Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos a partir da implantação do SUAS em 2005.

Os resultados mostraram que o trabalho do Centro de Convivência Rita de

Cássia é desenvolvido em consonância com o CRAS Norte II, se constituindo em importante

referência da ação pública, no sentido da promoção da inclusão social e da defesa de

direitos humanos.

Especificamente, no que tange as atividades realizadas no Centro de

Convivência Rita de Cássia pode-se concluir que os profissionais e as famílias que

participaram das atividades apresentaram um olhar sobre o território, apresentando o seu

caráter diverso e relacional, principalmente no que diz respeito aos problemas que a

comunidade enfrenta.

Os profissionais do Centro de Convivência e as famílias concordam que as

principais problemáticas que estão presentes naquele território são a drogadição e a

violência, afetando toda a comunidade. Além disso, enfatizam a importância do

fortalecimento do trabalho social com as famílias e do trabalho em rede.

Nesse sentido, a execução do Projeto de extensão “Família, Território e

Intergeracionalidade” contribuiu com a disseminação de informações em relação às

especificidades que a região apresenta, tendo como base as relações políticas, econômicas,

11 sociais e culturais que perpassam os diversos saberes e fazeres, demonstrando ainda a

importância do Centro de Convivência Rita de Cássia para a promoção da inclusão social e

o exercício da cidadania, a partir de um processo de integração entre famílias e a

comunidade.

REFERÊNCIAS

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12 ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Transmissão Geracional e Família na Contemporaneidade. In.: Família e Gerações. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. SIMÕES, C. Curso de direito do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 7ª ed. v.3. 2014. TEIXEIRA, S. M. Trabalho social com famílias na Política de Assistência Social: elementos para sua reconstrução em bases críticas. Serv. Soc. Rev. Londrina, v.13, p. 4-23, jul/dez, 2010. TERESINA. Prefeitura Municipal de. Plano Municipal de Assistência Social do período 2014-2017, Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social, Teresina: SEMTCAS, 2014.