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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO
TRABALHO DE PÓS GRADUAÇÃO – MESTRADO EM GEOGRAFIA
TERRITÓRIO E PODER: A PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA COMO
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
ELAINE FABIANE GAIOVICZ
Francisco Beltrão
MARÇO - 2011.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO
TRABALHO DE PÓS GRADUAÇÃO – MESTRADO EM GEOGRAFIA
ELAINE FABIANE GAIOVICZ
TERRITÓRIO E PODER: A PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA COMO
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Geografia.
Área de Concentração: Produção do Espaço e Meio
Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet.
Francisco Beltrão
Março – 2011
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DEDICATÓRIA
A Deus, meu companheiro de todas as horas, que além de me dar calma, sabedoria,
paciência, me deu principalmente força, para continuar desenvolvendo cada linha desse
trabalho. E, ao meu esposo, Eduardo Gaiovicz, pela força, apoio, amor e compreensão.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus pela graça da vida, da serenidade e da sabedoria.
A meus pais, Rubi e Marilene Fabiane, que nos momentos difíceis me apoiaram e
incentivaram dando a mim amor e muito zelo.
A toda minha família, em especial ao meu primo-irmão Bruno de Souza e ao meu esposo
Eduardo Gaiovicz.
A UNIOESTE – pelas oportunidades de graduação e mestrado.
Aos funcionários pelo desenvolver de seu trabalho construindo com as brincadeiras e
incentivos uma verdadeira família acadêmica.
Ao meu orientador Marcos Aurélio Saquet, pelo apoio, incentivo, amizade e principalmente
compreensão.
A todos os Geterrianos que de uma forma ou outra contribuíram para realização deste
trabalho.
Aos colegas do projeto do programa Universidade Sem Fronteiras, os quais foram de extrema
importância para mim enquanto pesquisadora.
A Suzana, a Michele e a Poliane, pela paciência, amizade e momentos de descontração.
A Valentina, querida amiga pelos auxílios, pela força e pela amizade.
Aos amigos Felipe e Rafael, que nas brincadeiras muito me ensinaram.
Aos professores Luciano Candiotto e Roseli Alves dos Santos, pelo apoio e pelos debates.
A Andréia, secretária do mestrado, que me orientou, e muito contribuiu com sua amizade.
Enfim, a todos aqueles que de alguma forma me incentivaram, seja em pensamento ou
efetivamente.
Muito obrigada.
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Aprendi que se aprende errando; que crescer não significa fazer aniversário; que o silêncio é a melhor resposta, quando se ouve uma bobagem; que trabalhar significa não só ganhar dinheiro; que amigos a gente conquista mostrando o que somos; que os verdadeiros amigos sempre ficam com você até o fim; que a maldade se esconde atrás de uma bela face; que não se espera a felicidade chegar, mas se procura por ela; que quando penso saber de tudo ainda não aprendi nada; que a Natureza é a coisa mais bela na Vida; que amar significa se dar por inteiro; que um só dia pode ser mais importante que muitos anos; que se pode conversar com estrelas; que se pode confessar com a Lua; que se pode viajar além do infinito; que ouvir uma palavra de carinho faz bem à saúde; que dar um carinho também faz; que sonhar é preciso; que se deve ser criança a vida toda; que nosso ser é livre; que Deus não proíbe nada em nome do amor; que o julgamento alheio não é importante; que o que realmente importa é a Paz interior. "Não podemos viver apenas para nós mesmos. Mil fibras nos conectam com outras pessoas e por essas fibras nossas ações vão como causas e voltam pra nós como efeitos." (Herman Melville, 2010)
vii
Resumo
A chamada modernização da agricultura representou um período de intensificação do processo de
degradação ambiental e modificações profundas nas relações de trabalho. Um dos movimentos de
resistência a essa padronização de produção é a agricultura agroecológica emergente, que vem gerando
em alguns municípios do Sudoeste do Paraná, como Verê, resultados importantes. A agroecologia
baseia-se na produção de alimentos saudáveis, na preocupação com a saúde humana e na preservação
do ambiente; além disso, vem criando novas redes com ritmos e tempos diferenciados, organizando
elementos do espaço geográfico de acordo com um padrão particular, construído coletivamente, com
respeito à diversidade cultural, política, ambiental e econômica local. Dessa maneira, novas redes,
fluxos e fixos foram inseridos no processo de territorialização da agroecologia, que se desenvolve
amparada por associações como a APAV e a APROVIVE, com ONGs como a ASSESOAR e o
CAPA, além das instituições certificadoras como a REDE ECOVIDA, as quais desempenham um
importante papel junto aos agricultores. Por esses motivos, buscamos compreender a dinâmica de
produção agrícola familiar agroecológica no município de Verê, como uma forma alternativa ao modo
de produção apregoado pela Revolução Verde; além de verificar uma forma de submissão do
agricultor familiar, de mecanismos de controle, através da integração avícola, representada pela Sadia
– Unidade de Dois Vizinhos; ainda procuramos analisar as condições de organização política e mapear
os agricultores agroecológicos de Verê. Para isso, lançamos mão de uma revisão bibliográfica, de
trabalho de campo nas propriedades agroecológicas de Verê, em uma integrada à Sadia e em todas as
entidades parceiras da produção agroecológica, realizando entrevistas com agricultores, avicultor
integrado e com representantes e responsáveis por cada entidade. A partir dos dados coletados
elaboramos o mapa de localização das propriedades, os quadros sínteses quantitativos e qualitativos,
os croquis de representação de cinco propriedades e conclusões teóricas a respeito da agricultura
agroecológica como movimento territorial de resistência no município de Verê. A produção
agroecológica ainda possui muitas dificuldades, que podem e precisam ser superadas, para que a
agroecologia seja dinamizada em favor do desenvolvimento local, da autonomia e da qualidade de
vida.
Palavras-chaves: agroecologia, agricultura familiar, território, desenvolvimento, Verê.
viii
Abstract
The so-called modernization of agriculture constituted a period of intensification of the
process of environmental degradation and significant changes in labor relations. Among the
movements of resistance to the standardization of production, it emerged the agroecology,
which in some municipalities of the Southwest of Paraná, such as Verê, progressively
generated considerable results. The agroecology is concerned with the production of healthy
food, human health and the preservation of the environment. It promotes the creation of new
networks characterized by different rhythms and times, it organises the elements of the
geographic space accordingly to a specific pattern, based on the inputs of the collectivity,
while respecting the local culture, policy, environment and economy. In this way, new
networks, flows and assets were included in the process of territorialization of the
agroecology, which gradually develops with the support of associations such as the APAV
and APROVIVE, ngos, namely CAPA and ASSESOAR, and certification bodies as REDE
ECOVIDA, who play an important role together with local farmers. For these reasons, we aim
to understand the agroecological approach adopted by some family farms in Verê, as a way of
producing that establishes alternative systems to the ones claimed by the Green Revolution;
moreover, we prove the existence of forms of submission and mechanisms of control of
family farmers, throughout an integrated farming system where poultry are raised, which is
backed by the enterprise Sadia – Unit of Dois Vizinhos; and finally, we intend to analyze the
existence of a political organization and to produce a map of the agrocological family farms
existing in Vere. With this purpose, we started with a literature review, and followed up with
field work in the agroecological farms in the municipality of Verê and in a farm integrated to
the Sadia, calling for the support of all partner agencies involved with organic production, and
conducting interviews with farmers, integrated poultry raisers, representatives and managers
of each institution. After collecting data, we drew a map illustrating the farms, the
quantitative and qualitative synthetic frameworks, the sketches representing five farms and
the theoretical conclusions with regard to the territorial resistance movement promoting
agroecology, specifically in Verê. Finally, we conclude that this production system still faces
many challenges, however these can and have to be overcome, in order to contribute to local
development, sustainability and quality of life.
Keywords: agroecology, family agriculture, territory, development, Verê.
ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA - 1 Histórico da Sadia: Sociedade Anônima Concórdia....................... 44
FIGURA - 2 Organograma das entidades parceiras vinculadas à agroecologia
no município de Verê...................................................................... 78
FIGURA - 3 Propriedade integrada à Sadia......................................................... 107
FIGURA - 4 Propriedade de Aldair Alberton...................................................... 111
FIGURA - 5 Propriedade de Décio Cagnini........................................................ 118
FIGURA - 6 Propriedade de Darci Cassol........................................................... 125
FIGURA - 7 Propriedade de Baldoino Berns...................................................... 132
FOTO - 1 Construção do complexo agroindustrial da Sadia – 1978............... 45
FOTO – 2 Parque Industrial Sadia – Unidade de Dois Vizinhos 2010............ 46
FOTO – 3 Fachada do CAPA - núcleo de Verê............................................... 89
FOTO – 4 Mercado da APAV, na cidade de Verê........................................... 92
FOTO – 5 Mulheres sócias da APAV produzindo geleia de uva..................... 93
FOTO – 6 Produção de sucos dentro da fábrica de sucos Viry........................ 94
FOTO – 7 Propriedade integrada à Sadia – Dois Vizinhos.............................. 104
FOTO – 8 Parreiral da propriedade de Aldair Alberton................................... 110
FOTO – 9 Parreiral na propriedade de Miguel Thomé.................................... 113
FOTO - 10 Produção de vinhos e geleias da família Thomé............................. 114
FOTO - 11 Estufa de alface............................................................................... 115
FOTO - 12 Produção de mudas na propriedade de Décio Cagnini................... 116
FOTO - 13 Cobertura verde na propriedade de Décio Cagnini......................... 117
FOTO – 14 Estufa com plantação de pepinos da família Lang.......................... 120
FOTO – 15 Produção própria de mudas – Lang................................................ 121
FOTO – 16 Estufa de hortaliças da propriedade de Darci Cassol...................... 123
FOTO – 17 Estufas e canteiros da propriedade de Lídia Ferreira...................... 127
FOTO – 18 Lídia com um pé de alface produzido em sua estufa...................... 129
FOTO – 19 Canteiros de alho, cenoura, beterraba e parte do terreno em
pousio.............................................................................................. 129
FOTO – 20 Plantação de mandioca e barreira verde da propriedade da 130
x
Família Berns..................................................................................
FOTO - 21
Aos fundos, área de reflorestamento da propriedade da família
Berns...............................................................................................
133
GRÁFICO - 1 Conjunto das propriedades estudadas do município de Verê....... 18
GRÁFICO - 2 Objetivos ao aderir a agroecologia................................................. 144
MAPA - 1 Localização dos municípios de Verê e Dois Vizinhos no
Sudoeste do Paraná......................................................................... 39
MAPA - 2 Distribuição das Unidades Industriais da Sadia no Brasil.............. 42
MAPA - 3 Distribuição de aviários da Sadia Dois Vizinhos – Paraná............. 48
MAPA - 4 Territorialização da ECOVIDA: localização dos núcleos
regionais.......................................................................................... 80
MAPA – 5 Núcleos do CAPA........................................................................... 88
MAPA - 6 Localização das propriedades agroecológicas de Verê................... 103
QUADRO - 1 Dados quantitativos da produção parcialmente agroecológica do
município de Verê...................................................................... 136
QUADRO - 2 Dados quantitativos da produção agroecológica no município de
Verê................................................................................................. 139
QUADRO - 3 Dados qualitativos dos produtores parcialmente agroecológicos
do município de Verê...................................................................... 141
QUADRO - 4 Dados qualitativos da produção totalmente agroecológica............. 143
xi
LISTA DE SIGLAS
AAO: Associação da Agricultura Orgânica
ACEMPRE: Associação Central dos Mini-Produtores Rurais Evangélicos
ANA: Associação Nacional de Agroecologia
APAV: Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê
APROVIVE: Associação dos Produtores Vitivinicultores de Verê
ASSESOAR: Associação de Estudos Orientação e Assistência Técnica
BRF: Brasil Foods
CAIs: Complexos AgroIndustriais
CAPA: Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor
C-E-P-A: Cultural, Econômica, Políticas e Ambientais
COASUL: Cooperativa Agroindustrial
CONTAG: Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais
CRESOL: Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária
DAP: Declaração de Aptidão ao PRONAF
DOC: Denominação de Origem Controlada
ECO-92: Conferência para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente
EMATER: Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
E-P-C-N: Econômicos, Políticos, Culturais e Naturais
FAO: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
FCR: Fundo de Crédito Rotativo
FGV: Fundação Getúlio Vargas
GSPs: Grupos de Planejamento e Sustentabilidade
IBD: Instituto Biodinâmico
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFOAM: Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica
IGP: Indicação Geográfica Protegida
IGP-M: Índice Geral de Preço de Mercado
INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MDA: Ministério de Desenvolvimento Agrário
xii
MMA: Ministério do Meio Ambiente
MST: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
ONGs: Organizações Não-Governamentais
PAA: Programa de Aquisição de Alimentos
PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento a Agricultura Familiar
SADIA: Sociedade Anônima Concórdia
S.A.: Sociedade Anônima
SETI: Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
SIF: Sistema de Inspeção Federal
SISCLAF: Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar com Interação
Solidária
SLOT: Sistema Local Territorial
SPG: Sistema Participativo de Garantia de Conformidade
SSP: Sistema Sadia de Produção
STR: Sindicato dos Trabalhadores Rurais
TDR: Territorialização, Desterritorialização e Reterritorialização
TECPAR: Instituto de Tecnologia do Paraná
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela - 1 Número de aviários por município atendido pela Sadia – Unidade de
Dois Vizinhos.......................................................................................... 47
Tabela – 2 Tipos de certificação de produtos e marcas de conformidade................. 81
Tabela - 3 Evoluções da Cooperativa CRESOL....................................................... 97
Tabela - 4 População urbana e rural de Verê............................................................ 145
Tabela - 5 Composição das família por unidade produtiva agroecológica de Verê
– 2009...................................................................................................... 146
xiv
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 16
CAPÍTULO I – PAISAGEM E TERRITÓRIO: RELAÇÕES DE PODER................. 20
1.1– CONCEPÇÕES DE PAISAGEM....................................................................... 20
1.2 - CONCEITO DE TERRITÓRIO: O PROCESSO DE TERRITORILIZAÇÃO,
DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO........................................... 25
1.3 - DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL, TERRITORIAL E
RELAÇÕES DE PODER...................................................................................................... 32
CAPÍTULO II - INTEGRAÇÃO: A SADIA DOIS VIZINHOS E VERÊ..................... 39
2.1 – SADIA, DOIS VIZINHOS E VERÊ: O HISTÓRICO....................................... 39
2.1.1 – A Sadia de Dois Vizinhos........................................................................ 45
2.2 – A INTEGRAÇÃO OU SUBORDINAÇÃO?..................................................... 51
2.2.1 – Mecanismos e Impactos da Integração..................................................... 51
2.2.2 – A integração e os mecanismos de articulação e amarramento da
produção mediante contrato.................................................................................................. 54
CAPÍTULO III - AGRICULTURA FAMILIAR: A PRODUÇÃO
AGROECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL................................................................................................................... 61
3.1 – AGRICULTURA FAMILIAR........................................................................... 61
3.2 – AGROECOLOGIA: UMA ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL............................................................................ 68
CAPÍTULO IV – ENTIDADES PARCEIRAS DA AGROECOLOGIA EM VERÊ –
PR.......................................................................................................................................... 77
4.1 – REDE SOLIDÁRIA DE COMERCIALIZAÇÃO E CERTIFICAÇÃO
PARTICIPATIVA: REDE ECOVIDA................................................................................. 79
4.2 – ASSESOAR: ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS, ORIENTAÇÃO E
ASSISTÊNCIA RURAL....................................................................................................... 83
4.3 – CAPA: CENTRO DE APOIO AO PEQUENO AGRICULTOR....................... 87
4.4 – APAV: ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES AGROECOLÓGICOS DE
VERÊ..................................................................................................................................... 91
4.5 – APROVIVE: ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES VITIVINICULTORES 94
xv
DE VERÊ..............................................................................................................................
4.6 – CRESOL: COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL E INTERAÇÃO
SOLIDÁRIA.......................................................................................................................... 96
4.7 – CONSIDERAAÇÕES SOBRE AS ENTIDADES LOCAIS DA
AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE VERÊ................................................................. 99
CAPÍTULO V – AGROECOLOGIA: UMA ALTERNATIVA DE
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL......................................................... 101
5.1 – PROPRIEDADE INTEGRADA À SADIA....................................................... 104
5.2 – PRODUTORES PARCIALMENTE AGROECOLÓGICOS............................ 109
5.3 – PRODUTORES TOTALMENTE AGROECOLÓGICOS................................ 122
5.4 – SÍNTESE DA PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE
VERÊ..................................................................................................................................... 135
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 149
REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 152
ENTREVISTAS................................................................................................................... 160
16
INTRODUÇÃO
Com a finalidade de explicar as características fundamentais no processo de integração
dos trabalhadores familiares rurais e de apresentar - baseada na autonomia - destes a
agroecologia como uma forma alternativa de produção, descrevemos no presente texto, os
resultados da pesquisa sobre a territorialização do capital através da integração em espaços
que pertencem à agricultura familiar, mais minuciosamente sobre as atividades da Sadia –
unidade de Dois Vizinhos. E contrapondo-se a este processo, a agroecologia, - no município
de Verê, - que se baseia no cultivo de alimentos saudáveis, na preocupação com a saúde
humana e na preservação do ambiente.
O motivo de escolha da Sadia - unidade de Dois Vizinhos foi devido ao considerável
aumento de aviários integrados à empresa no Sudoeste do Paraná e pelo crescimento da
produção, a qual tornou o município a ―Capital Nacional do Frango‖; a produção
agroecológica no município de Verê, por ser um dos municípios do Sudoeste do Paraná com
mais organização em termos de produção, comercialização, assistência técnica e associações
de agricultores agroecológicos.
Ambos os municípios são formados por pequenas propriedades. Dos 23 municípios
atendidos pela Sadia, Dois Vizinhos é o que possui o maior número de integrados, 299, já
Verê é o terceiro, com 78. O processo de territorialização da Sadia em tais municípios é
recente, aproximadamente 30 anos, mas é intenso. Atualmente, abrange 23 municípios do
Paraná, com 1031 avicultores que ingressaram na produção integrada de frangos, levando esta
unidade a um abate diário de 500.000 aves, com uma produção mensal de aproximadamente
14.000 toneladas de carne, segundo dados do departamento de fomento Sadia – Dois Vizinhos
(2010).
As modificações ocorridas na paisagem de algumas ―comunidades rurais‖ dos dois
municípios são perceptíveis e, na maioria das vezes, descaracterizam as atividades da
agricultura familiar, pois esta perde seus princípios fundamentais de autonomia, a utilização
de técnicas menos degradantes, a policultura e o uso da mão-de-obra familiar. Por tais
motivos apresentamos uma alternativa recente e emergente, que está gerando resultados
importantes no município de Verê, a agroecologia.
A produção agroecológica do município de Verê é bem significativa. Das 19
propriedades estudadas, todas apresentam alguns produtos agroecológicos. Entre elas, 7 são
17
totalmente convertidas a esta forma de produção, ou seja, toda a propriedade é voltada para a
produção de alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos ou qualquer insumo químico, com
quais a utilização das técnicas tradicionais de produção e o uso da força de trabalho familiar.
Além disso, o município possui duas associações voltadas à comercialização e
organização da produção, - a APAV (Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê) e a
APROVIVE (Associação dos Produtores Vitivinicultores de Verê), - e um Centro de Apoio
ao Pequeno Agricultor (CAPA), que atua através da assistência técnica e incentivo à produção
agroecológica, oferecendo oficinas, cursos e palestras voltadas à prática agroecológica como
alternativa à produção convencional de alimentos e como forma do agricultor familiar se
manter no campo.
Assim, temos como principal objetivo compreender a dinâmica de uma forma
alternativa de produção agrícola familiar agroecológica. Além disso, verificamos os
mecanismos utilizados pela Sadia para subordinar os agricultores familiares; analisamos as
condições de organização política e mapeamos os agricultores agroecológicos de Verê.
Os procedimentos utilizados nesta pesquisa são: a) pesquisa bibliográfica buscando
compreender as concepções de paisagem e território, de agricultura familiar e agroecologia, e
de sistemas de integração; b) trabalho de campo por meio de entrevistas com os 19 produtores
estudados, com os responsáveis por entidades e pelo setor de fomento e logística da empresa
Sadia, além de um avicultor integrado para ter uma visão do que é a integração; e, c) análise
documental do Contrato de Produção Avícola Integrada ao Sistema Sadia de Produção.
A participação no projeto Agricultura Familiar Agroecológica nos municípios de Verê,
Salto do Lontra e Itapejara d‘Oeste como estratégia de inclusão social e desenvolvimento
territorial, através do Programa Universidade Sem Fronteiras, financiado pela Secretaria de
Ciência e Tecnologia Ensino Superior (SETI) do Governo do Paraná, muito contribuiu para a
realização desta pesquisa.
A partir disso, construímos cinco capítulos: no primeiro, analisamos as concepções de
paisagem e território, o processo de territorialização, desterritorialização e reterritorialização,
a formação de nós, redes e malhas a partir da circulação de pessoas, informações e produtos e,
por fim, o desenvolvimento territorial atrelado às relações de poder.
No segundo capítulo, apresentamos um breve histórico da territorialização da Sadia no
Brasil e sua instalação no município de Dois Vizinhos com abrangência em Verê. Analisamos
as implicações ocorridas a partir da implantação de um sistema tecnológico de produção
integrada de frangos e os mecanismos de subordinação, ao Sistema Sadia de Produção,
18
considerando o contrato, através do qual se estabelece uma relação de amarramento do
avicultor, que deve cumprir inúmeras obrigações e deveres, respeitando os interesses da
integradora.
No terceiro, tratamos dos conceitos de agricultura familiar e de sua perda de
identidade a partir da modernização da agricultura e da consequente dependência por parte
das indústrias de tecnologias e insumos químicos. Como alternativa para o desenvolvimento
territorial, apresentamos a agroecologia, um contraponto ao processo de perda de autonomia e
de identidade, através do qual se amenizam os problemas ambientais e se proporciona a
inclusão social dos agricultores familiares.
No quarto capítulo, desenvolvemos um breve histórico da atuação e da
responsabilidade das entidades parceiras dos produtores agroecológicos de Verê: o CAPA, a
APAV, a REDE ECOVIDA, a CRESOL, a APROVIVE, e a ASSESOAR, todas com um
papel fundamental no incentivo aos produtores, e na organização da produção e da
comercialização. Ademais, todos os agricultores atribuem a estas entidades o mérito pelo
desenvolvimento da agroecologia no município de Verê.
No quinto e último capítulo, descrevemos algumas propriedades agroecológicas do
município de Verê, divididas em dois grupos: dos agricultores parcialmente agroecológicos e
dos produtores totalmente agroecológicos. Cabe ressaltar que essa divisão faz-se necessária
porque algumas propriedades têm, juntamente com a produção agroecológica, a produção
convencional, às vezes como agricultor ou, ainda, como arrendador. Dessa maneira,
exemplificamos através da descrição de 4 propriedades parcialmente e de 3 totalmente
agroecológicas. Apresentamos, ainda,um mapa com a localização de cada produtor do
município, evidenciando a formação de um centro de produtores na Vila Colonial e a relação
existente entre alguns agricultores que pertencem à mesma família, como os irmãos Moreschi
que, através de cursos ofertados pelo CAPA, produzem agrecologicamente nas suas
propriedades.
Num segundo momento, realizamos uma síntese da produção nas propriedades, em
que os dados qualitativos e quantitativos foram divididos em quadros que mostram
sucintamente parte da organização, da produção e da comercialização agroecológica em Verê.
Esperamos, com esta pesquisa, contribuir para a discussão acadêmica sobre a
paisagem, o território, o desenvolvimento e as suas relações identitárias e de poder e, ainda,
apresentamos a agroecologia como forma de produção alternativa, em relação à agricultura
19
familiar, com o intuito de colaborar na reflexão e encontros de resistência ao modo de
produção agrícola convencional.
Além da análise científica realizada, buscamos através da sistematização das
informações, elaboração dos croquis, disponibilização de dados da produção agroecológica do
município de Verê, trabalhar com as entidades parceiras da agroecologia e agricultores
agroecológicos, contribuindo com o processo de organização e divulgação da agroecologia,
pautada no desenvolvimento socioespacial.
20
CAPÍTULO I – PAISAGEM E TERRITÓRIO: RELAÇÕES DE PODER
1.1 – CONCEPÇÕES DE PAISAGEM
Desde o século XI, há discussões sobre a paisagem, que era dividida entre a paisagem
natural e a cultural; atualmente, essas discussões são realizadas para entender as relações
sociais e naturais num determinado espaço. O conceito de paisagem tem-se constituído num
conceito-chave da geografia, capaz de possibilitar unidade num contexto de afirmação da
ciência.
A paisagem foi importante em várias vertentes epistemológicas como na geografia
alemã, por exemplo, que a introduziu como categoria científica; os autores franceses
caracterizam a ―paysage” (paisagem) como resultado do relacionamento do homem com o
seu espaço físico; após os anos 1940, com a Revolução Quantitativa, nos Estados Unidos,
surge a “Human Ecology” (Ecologia Humana), substituindo o termo ―landscape” (paisagem),
deixando de ser um conjunto de variáveis deduzidas da realidade (ação humana) para ser
entendida como um sistema ecológico, cujas características são destacadas por Schier (2003).
Na geografia alemã, introduziu-se o conceito de paisagem compreendida até os anos
1940, como um conjunto de fatores humanos e naturais. Conforme Claval (2004), a paisagem
foi considerada interface de processos naturais e sociais, podendo ser analisada a partir de
representações cartográficas e de análise geográfica. Para o autor, o papel do geógrafo é
multiplicar os pontos de vista, olhar o relevo, de perto e de longe, e construir, a partir daí, uma
imagem sintética da região que analisa.
Entre os autores citados por Paul Claval está Humboldt. Este considerava as palavras
insuficientes para descrever as paisagens visualizadas e representava a paisagem da América
Latina com gravuras, originando a Vues dês cordillères et Monuments dês Peuples Indigènes
de l’Amèrique (Vistas de Cordilheiras e Monumentos de povos indígenas da América) que,
segundo Claval (2004), permitiu compreender o que eram as paisagens naturais e as formas de
ocupação do solo de alguns países da América, além de demonstrar aspectos da paisagem
vista a partir da linguagem comum. Além disso, Humboldt tinha uma visão holística da
paisagem, associando elementos diversos da natureza e da ação humana.
21
Em 1880/90, outro geógrafo também contribuiu para a concepção de paisagem,
Friederich Ratzel, que, por meio de sua obra Antropogeografia, buscou compreender a
influência do meio sobre os indivíduos e grupos, procurando explicar as transformações que a
atividade humana desencadeava no ambiente. Segundo Claval (2004), Ratzel via a paisagem
de uma forma antropogênica, demonstrando ser ela o resultado do distanciamento do espírito
humano do meio natural, descrevendo uma dialética entre os elementos fixos da paisagem
natural, ― como solos e rios ― com elementos móveis, comumente humanos.
Analisando as formas com que Claval (2004) descreve as concepções de paisagem de
Humboldt e Ratzel, percebemos que Humboldt observava mais os objetos naturais da
paisagem tais como o solo, as montanhas e a vegetação; já Ratzel não deixava as questões
naturais de lado, porém destacava fatores como as transformações ocorridas no ambiente
através da ação humana.
Mais tarde, no século XX, Sauer (1925) afirma que o termo paisagem é apresentado
para definir o conceito de unidade da geografia, para caracterizar a associação peculiarmente
geográfica dos fatos. Pode ser definida ―como uma área composta por uma associação
distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais”. (p. 23)
Para Sauer, a existência da paisagem não está ligada à necessidade de interação entre
os elementos naturais e antrópicos, pois as características anteriores às ações humanas são
morfológicas; com a ação humana, o mesmo espaço passa a formar um novo conjunto: há,
então, uma paisagem anterior à ação humana e outra posterior a ela.
Claval (2004) afirma que, na geografia posterior a 1900, a leitura da paisagem deixa
de ser horizontal — quando partes importantes ficavam escondidas — e passa a ser vertical,
pois, a partir de mapas da vegetação, da utilização do solo, das formas de habitat, tornam-se
perceptíveis os contrastes e características importantes nas paisagens.
Segundo Claval (2004), a partir da visão vertical,
O geógrafo aprende, a multiplicar os pontos de vista. Também procura
aproveitar-se da visão oblíqua para dar à paisagem a dimensão vertical que a
visão horizontal esmaga: vistos do solo, os traços da topografia são lidos
diretamente; as colinas, as montanhas dominam a cena. (p. 26)
Por alguns anos, o conceito de paisagem foi deixado de lado, dando lugar a outros
conceitos — como o de território, lugar, região e espaço — considerados mais relevantes na
ciência geográfica. Porém, o conceito não desapareceu e passou a ser novamente discutido,
merecendo mais atenção, passando a depender da cultura das pessoas que o constroem, pois
22
ele é um produto cultural resultado do meio ambiente sob ação da atividade humana.
(SCHIER, 2003).
Segundo Corrêa (2004), a partir de 1970, a retomada do conceito de paisagem ocorreu
com novos sentidos fundados em outras matrizes epistemológicas. Assim, apresenta as
dimensões que cada matriz epistemológica privilegia.
[...] tem uma dimensão morfológica, ou seja, é um conjunto de formas
criadas pela natureza e pela ação humana, e uma dimensão funcional, isto é,
apresenta relações entre as suas diversas partes. Produto da ação humana ao
longo do tempo, a paisagem apresenta uma dimensão histórica. Na medida
em que uma mesma paisagem ocorre em certa área da superfície terrestre,
apresenta uma dimensão espacial. Mas a paisagem é portadora de
significados, expressando valores, crenças, mitos e utopias: tem assim uma
dimensão simbólica. (CORRÊA, 2004, p. 8)
A complexidade do conceito de paisagem, assim como outros conceitos, permite aos
geógrafos concebê-la diferentemente e estudar vários tipos de paisagens, o que torna as
discussões mais diversificadas, conforme cita Schier (2003):
Tradicionalmente, os geógrafos diferenciam entre a paisagem natural e a
paisagem cultural. A paisagem natural refere-se aos elementos combinados
de terreno, vegetação, solo, rios e lagos, enquanto a paisagem cultural,
humanizada, inclui todas as modificações feitas pelo homem, como nos
espaços urbanos e rurais. De modo geral, o estudo da paisagem exige um
enfoque, do qual se pretende fazer uma avaliação definindo o conjunto dos
elementos envolvidos, a escala a ser considerada e a temporalidade na
paisagem. Enfim, trata-se da apresentação do objeto em seu contexto
geográfico e histórico, levando em conta a configuração social e os
processos naturais e humanos. (p. 80).
A citação de Schier (2003) faz referência a uma visão tradicional e clássica da
geografia em relação à paisagem. Essa visão de separação entre paisagem natural e cultural
foi predominante até o início da década de 1970, quando surgem trabalhos propondo
perspectivas integradoras como as de Augustin Berque, Claude Bertrand e Paul Claval.
Para Bertrand apud Schier (2003), a paisagem não é a simples adição de elementos
geográficos. É uma determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica de
elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros,
fazem da paisagem um conjunto indissociável. Com esse autor, percebemos a valorização da
paisagem de forma homogênea, entendendo que a sociedade e a natureza têm uma relação
íntima, pois juntas conseguem formar uma só entidade.
23
Berque apud Schier (2003), descreve a sua concepção, comentando que a paisagem
tem um papel duplo, pois, ao mesmo tempo, ela é marca/grafia e matriz. Grafia que o próprio
homem imprime na superfície terrestre; marcas constituem matrizes, isto é, condições para a
existência e ação humana. Como ele mesmo afirma, a paisagem é plurimodal, assim como os
sujeitos que nela existem; é conjunto unitário que se autoproduz e se autorreproduz.
Dessa forma, a paisagem existe na sua relação com a sociedade que a produziu e está
em constante transformação; isso indica a ação cultural de transformação da sociedade.
Assim, Machado (2009) destaca que a paisagem é o resultado da ação humana no espaço, ou
seja, o resultado das transformações do espaço provocadas pela ação humana.
Segundo Claval (2004), nesse ―novo período‖, surge uma discussão sobre a paisagem
agrária, que exprime as ações do homem no solo a partir da produção agrícola. Assim, a
paisagem agrária é definida como uma combinação de fatores como o habitat, as parcelas de
terra que intervêm na organização do espaço rural, revelando que o aspecto cultural teve um
papel relevante na concepção de paisagem. Esta, segundo Schier (2003), é resultado da
determinação do comportamento das pessoas em relação ao ambiente.
Claval (2004) afirma que o homem é responsável pelas transformações das paisagens e
que os diferentes grupos culturais são capazes de provocar nelas diferentes transformações.
Segundo Schier (2003), a ação humana é a materialização das ideias dentro de
determinados sistemas de significação. Assim, ela [paisagem] é humanizada não apenas pela
ação humana, mas igualmente pelo pensar. Cria-se a paisagem como uma representação
cultural (p. 81).
Quando falamos em humanização da paisagem, não podemos esquecer as
consequências das ações, pois, muitas vezes, o enfrentamento do homem em relação à sua
natureza exterior é tão forte que chega a ser degradante.
Segundo Machado (2009), as forças produtivas variam de acordo com o tempo e com
a evolução da sociedade, o que causa diferentes impactos no ambiente.
A transformação da paisagem pelas atividades humanas está intimamente
ligada à relação sociedade-natureza, apresentando um caráter dialético e
complexo. É por isso, que a busca do elo entre os aspectos naturais e sociais
formadores da paisagem tem sido realizada por pesquisadores que
apresentem um viés materialista (materialismo histórico dialético)
(MACHADO, 2009, p. 45).
24
Quando há apropriação, demarcação, ocupação, cultivo e transformação na paisagem,
a impressão do homem nela é inevitável, porém, antes disso acontecer, a paisagem já existe,
pois ela é anterior e posterior ao homem.
A concepção de paisagem de Milton Santos é diferente de outras como as de Paul
Claval e Raul Schier, pois Santos (1996), em suas contribuições sobre o conceito de paisagem
segue um posicionamento materialista, definindo a paisagem como “conjunto de formas que,
num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações
localizadas entre o homem e a natureza” (p. 102). Para esse autor, a paisagem é tudo aquilo
que é possível alcançar com a visão. Porém, devemos lembrar que a paisagem não está
parada, mas em constante transformação; é formada por fixos e fluxos naturais e sociais que,
muitas vezes, ficam como herança de diferentes períodos históricos.
Para Turri apud Saquet (2007), a paisagem é compreendida como materialidade
resultante do processo histórico de formação de certo território, ―(...) a paisagem é a
vestimenta histórica do território, mas este e as mudanças diacrônicas nele inscritas
permanecem, como dados, incorporados no tecido territorial‖ (p. 8). Para Saquet (2007), a
paisagem pode ser compreendida como o aparente, o observado, o percebido, o representado,
todavia não está separada do território.
Hoje, podemos perceber a existência de várias concepções de paisagem; Discutir a
pluralidade conceitual é, para a Geografia, um grande desafio bem como relacionar a
paisagem com outros conceitos, como o de território. Dessa forma, analisaremos também o
conceito de território, que é onde os sujeitos e objetos transformadores da paisagem
encontram-se e constroem novas paisagens através de um processo de ocupação, apropriação
e modificação do espaço geográfico.
Santos (1996) considera o espaço geográfico como conjuntos indissociáveis de
sistemas de objetos e sistemas de ações, definição que permite pensar uma multiplicidade de
combinações entre ações e materialidade. Tal conceituação de espaço geográfico condicionou
Santos (2000) a propor que a categoria de análise seja a de ―território usado‖.
O território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece uma
trama de relações complementares e conflitantes. Daí o vigor do conceito,
convidado a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar,
a formação socioespacial e o mundo [...] O território usado, visto como uma
totalidade, é campo privilegiado para a análise, [...], da própria
complexidade do seu uso. (SANTOS, 2000, p. 3 e 12)
25
1.2 – CONCEITO DE TERRITÓRIO: O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO,
DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO
Os diferentes conceitos de território são abordados, por autores de grande importância
na formação da ciência geográfica e de outras ciências sociais como Jean Gottmann, Félix
Guatarri, Milton Santos, Manuel Corrêa de Andrade, Rogério Haesbaert, Claude Raffestin,
Marcelo Lopes de Souza, que definem o território evidenciando as vertentes epistemológicas,
explicitando suas concepções teórico-metodológicas e as dimensões políticas, culturais ou
econômicas, ou mesmo interligando todas elas para explicar a formação e a construção de um
território que está sempre em movimento espacial e temporal (histórico).
O conceito de território, na geografia, foi deixado de lado durante boa parte do século
XX, quando outros conceitos, como o de região, eram discutidos. Foi, então, resgatado e
integrado, nas décadas de 1960/1970, subjacente ao movimento de renovação do pensamento
geográfico, segundo Cazella (2009), com base metodológica marxista, que propõe uma
reflexão essencialmente econômica e política e resulta numa concepção que define o território
pelo seu uso social.
Ratzel apud Machado (2009), desenvolveu a noção de território a partir da concepção
de habitat, ou ―área de domínio‖ de uma espécie, muito utilizado pelas ciências biológicas.
Dessa forma, o território surge como sinônimo de ambiente, solo, recursos naturais. De
acordo com Ratzel, as relações entre a sociedade e o território ocupado por ela são
determinadas pelas necessidades de habitação e alimentação. E é ele que dá possibilidade de
desenvolvimento da vida humana, sendo ou não habitado.
Segundo Machado (2009), a palavra território, do latim, territorium, é derivado da
palavra ―terra‖. No sentido ontológico, é entendido como o ambiente de um grupo social e
também como o ambiente de uma pessoa. No ―Dicionário de Língua Portuguesa‖ organizado
por Bueno (1996), o território é descrito como ―extensão de terra, área de um país ou
província, área de uma jurisdição‖; o ―Dicionário de Geografia Humana‖, organizado por
Johnson apud Machado (2009), mostra que o território pode ser entendido como um termo
para descrever uma porção do espaço ocupado por uma pessoa, um grupo ou um Estado.
Um dos pioneiros na conceituação renovada de território na geografia foi Claude
Raffestin, que pauta suas ponderações nas dimensões políticas e econômicas do uso do espaço
e da efetivação da territorialidade. Assim, nas palavras do autor:
26
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O
território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida
por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível.
Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator
‗territorializa‘ o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
O território é tratado por Raffestin (1993) com uma visão reticular, ou seja, relacional,
pois o espaço deixa de ser território quando há trabalho humano que o delimita e transforma-o
em Estado onde o poder é expresso sobre tal espaço. O território, para esse autor, é ―um
espaço onde se projetou um trabalho, e por conseqüência (sic) revela relações de poder, ele se
apóia no espaço, mas ao mesmo tempo não é espaço, é uma produção a partir do espaço‖
(Raffestin, 1993, p. 144).
O território, segundo Raffestin (1993), surge a partir da apropriação do espaço pelas
relações nele estabelecidas, relações estas que se inscrevem no campo do poder. Os indivíduos
ou grupos ocupam pontos no espaço e se distribuem de acordo com modelos que podem ser
aleatórios, regulares ou concentrados (p. 150). Nesse processo, o fator distância é
fundamental, pois refere-se à interação entre os diferentes locais. As interações política,
econômica e cultural conduzem a sistemas de malhas, nós e redes que se imprimem no espaço
e constituem o território.
Esse sistema de malhas, nós e redes organizados hierarquicamente, asseguram o
controle sobre aquilo que se movimenta de um território para outro. As malhas, nós e redes
não são iguais em todas as sociedades, porém sempre estão presentes.
A tessitura territorial pode comportar níveis que são determinados pelas funções que
devem realizar-se em cada uma das malhas. Conforme Raffestin (1993), uma tessitura pode
assegurar à população um conjunto de atividades; dessa forma, existem dois tipos de
tessituras (malhas) que precisam ser diferenciadas: a “desejada” e a “suportada”; a primeira,
aquela que tenta aproveitar da melhor forma possível o campo operatório do grupo; a
segunda, aquela que tenta aumentar o controle do grupo. Nos dois casos, a malha é a projeção
de limites, no entanto, ela é sempre o enquadramento de poder, expressando a área de
exercício dos poderes. Enfim, as malhas superpõem-se, cortam-se e recortam-se sem parar.
Segundo Saquet (2007), a dimensão de uma malha cristaliza todo um conjunto de
fatores, que podem ser físicos e/ou humanos (E-P-C-N)1. Conforme já citamos, as malhas não
são idênticas nem uniformes, todavia sempre estão presentes; assim, além da população,
1 Segundo Saquet (2007), os fatores Econômico, Político, Cultural e Natural (E-P-C-N) cristalizam a referida
malha.
27
acolhem elementos como agroindústrias, indústrias e bancos, que revelam nós ou marcos
territoriais.
Segundo Raffestin (1993) os nós podem modificar não somente a imagem como
também as malhas onde se encontram. Os nós expressam os locais de poder e, ao mesmo
tempo, locais de referência, cuja disposição determina independência ou relações, pois
representam a localização dos atores. Como exemplo disso, podemos citar a APAV, no
município de Verê, ponto determinante das relações dos produtores agroecológicos e dos
consumidores.
Mas esses atores não se opõem; agem e, em conseqüência, procuram manter
relações, assegurar funções, se influenciar, se controlar, se interditar, se
permitir, se distanciar ou se aproximar e, assim, criar redes entre eles. Uma
rede é um sistema de linhas que desenham tramas. Uma rede pode ser
abstrata ou concreta, visível ou invisível (RAFFESTIN, 1993, p. 156).
As redes são as ―linhas‖ que ligam um território a outro, através da movimentação de
mercadorias, pessoas, comunicações e ideias; dessa forma, podemos vê-las ou não, mas
percebemos que estão presentes. Conforme Raffestin (1993), as redes asseguram a
comunicação entre os diferentes pontos que desempenham o papel de comunicação e podem
impedir outras comunicações como, por exemplo, redes rodoviárias, ferroviárias e de
navegação que, muitas vezes, arruínam o tráfego entre pontos importantes ou não. Para
finalizar, Raffestin (1993) enfatiza que toda rede é uma imagem de poder, ou mais
exatamente, do poder ou dos atores dominantes (p. 158). Isso pode ser observado na empresa
Sadia, que estabelece uma rede, ligação com os produtores integrados e, ao mesmo tempo,
exerce seu poder de integradora sobre eles, através do contrato ou das normas impostas para o
produtor conseguir integrar-se, conforme abordaremos no capítulo 2.
A organização do território é marcada pelas redes de comunicação que influenciam na
formação da estrutura social do grupo. O sistema é tanto um meio como um fim (p. 158).
Como meio, demonstra o território, e como fim, conota a ideia de organização, que se objetiva
na paisagem.
Para Raffestin (1993), o sistema territorial pode ser compreendido a partir de
combinações estratégicas realizadas pelos atores; como meio pode ser interpretado por
mediação dos ganhos auferidos e dos custos pagos por esses atores. O sistema territorial é,
portanto, produto e meio de produção (p.158).
28
Como o território é composto por atores, que realizam ações e relações onde o poder é
usado e representado, para Raffestin (1993), a territorialidade pode ser entendida como um
conjunto de relações que são produzidas num sistema tridimensional (sociedade-espaço-
tempo), buscando sempre autonomia.
A territorialidade aparece então como constituída de relações mediatizadas,
simétricas ou dissimétricas com a exterioridade [...]
A territorialidade se inscreve no quadro da produção, da troca e do consumo
de coisas [...]
A territorialidade se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais, ela é
consubstancial a todas as relações (RAFFESTIN, 1993, p. 161-162).
Percebemos, então, que o território, para Raffestin (1993), é formado pelas relações
multidimensionais e a territorialidade é o produto dessas relações; portanto, cada território
possui sua territorialidade, que pode ser potencializada para a conquista de autonomia, como
ocorre em Verê por meio das ações do CAPA ( a ser trabalhado mais adiante, no capítulo 4).
Em outro momento, além do território, Raffestin descreve o processo TDR
(territorialização, desterritorialização e reterritorialização), relacionado a fatores econômicos.
Conforme Saquet (2007), o processo de TDR gera um espaço temporalizado por causa das
informações, comunicações que circulam e comunicam; ao mesmo tempo, há também o
condicionamento do TDR por fatores culturais numa relação economia-cultura.
[...] a territorialização implica [...] um conjunto codificado de relações [...], a
desterritorialização é, em primeiro lugar, o abandono do território, mas
também pode ser interpretada como a superação de limites das fronteiras [...]
A reterritorialização [...], pode ocorrer sobre qualquer coisa, através do
espaço, a propriedade, o dinheiro etc. (RAFFESTIN 1984, apud SAQUET
2007, p. 78)
Conforme Saquet (2007), esse processo corresponde à perda e reconstrução de
relações sociais. Na territorialização, há limites, enquadramento e distinção; já as inovações e
sua difusão provocam a desterritorialização e novas relações. A territorialidade é dinâmica e
é caracterizada por continuidades e descontinuidades (SAQUET, 2007, p. 79).
Consoante Meo (1998), para ocorrer a construção do território, são necessárias quatro
dinâmicas particulares: a) o poder político como tecido administrativo; b) as dinâmicas sócio-
econômicas ligadas ao sistema produtivo (como os distritos industriais); c) os
comportamentos e aspectos identitários e de pertencimento, que dão origem à
dominação/apropriação do território como forma de demonstração do exercício do poder; d)
29
as dinâmicas naturais, ligadas à dominação de determinado grupo social sobre a natureza,
transformando-a e apropriando-se dela.
Assim como em Raffestin e Méo, a ideia de poder entra na discussão de território feita
por Saquet. Este autor faz um resgate das diferentes interpretações de território, considerando
a territorialidade e evidenciando as dimensões sociais fundamentais de sua compreensão e
constituição no real, ou seja, a economia, a política, a cultura e as relações do homem vivendo
em sociedade com a sua natureza exterior:
O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder
engendradas por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser
temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas, portanto, não
apenas naquela convencionalmente conhecida como o ‗território nacional‘,
sob gestão do Estado-Nação (SAQUET, 2004, p.81).
Em obra anterior, Saquet (2003/2001) dá sua contribuição ao citar que o território é
uma construção coletiva e multidimensional, com múltiplas territorialidades, diferenciando o
território do espaço geográfico através de três características principais: as relações de poder,
as redes e as identidades.
Para Saquet (2007), a identidade pode ser individual, quando uma pessoa adapta-se e
identifica-se com um novo contexto social, e coletiva, quando um grupo social constrói sua
identidade com relações de afetividade, confiança e reconhecimento. A identidade se refere à
vida em sociedade, a um campo simbólico e envolve a reciprocidade. (idem)
A identidade pode sofrer modificações como, por exemplo, em seu caráter político,
que dá possíveis condições de transformação social, todavia a conservação da forma de vida é
fundamental para a reprodução dessa identidade, que também pode ser entendida como
unidade na diferencialidade tanto econômica como política e cultural.
Conforme Saquet (2007), a identidade é entendida como produto histórico e unidade
entre as relações transescalares. Unidade de contradições, lugares, pessoas na circulação e
comunicação, histórica e simultaneamente constituída econômica, cultural e politicamente.
(idem)
A circulação e comunicação, citadas por Saquet, são possíveis através de redes, vias
para os fluxos, mediações e articulações entre os territórios e lugares. As redes são
construídas a partir da ligação, circulação e comunicação entre um território ou vários
territórios.
Outro fator presente no território descrito por Saquet (2007) é o poder inerente às
relações sociais, relações estas que são estabelecidas e, juntamente com outros fatores (E-P-C-
30
N), dão origem ao território, substantivando o campo de poder. Este, presente nas ações do
Estado, das instituições, das empresas, enfim, nas relações sociais que se efetivam na vida
cotidiana visando do controle e à dominação de homens e coisas.
Assim como o poder e a identidade, a natureza, para Saquet (2007), também faz parte
do território, onde ocorre uma interação interdisciplinar e significante, sobre a qual há outras
discussões referentes ao ambiente natural, à natureza e à sustentabilidade. Assim, o território é
condição para o desenvolvimento; é natureza e sociedade manifestando-se de forma específica
em diferentes lugares.
Por fim, a natureza é compreendida pelo autor como corpo inorgânico do homem,
como algo exterior ao homem, pois este significa natureza e sociedade ao mesmo tempo, e o
território é produto histórico da relação sociedade-natureza, multiescalar e condição para a
vida (idem). Tanto na natureza como na sociedade, o homem vive relações construindo um
mundo material e imaterial.
O homem, por ser natureza e sociedade ao mesmo tempo, estabelece relações, ligações
e mudanças entre vários territórios. Segundo Saquet (2007), a territorialização é resultado e
condição dos processos sociais e espaciais, efetivando-se nessa relação, sociedade-natureza,
mediada pelas territorialidades. A territorialização cria enraizamentos e identidades que
podem ser transformadas, modificadas com a desterritorialização, processo que leva à perda
do território, de raízes, ao mesmo tempo ocorrendo a reterritorialização, que corresponde à
constituição de novos territórios com uma nova apropriação política e/ou simbólica do espaço.
Portanto, para Saquet (2007), a desterritorialização num lugar significa a
reterritorialização em outro lugar, pois os processos TDR são concomitantes e
complementares, ou seja, os processos de mobilidade dos indivíduos e as mudanças-
permanências sociais e territoriais que estão presentes em qualquer arranjo e apropriação
espacial (p. 89-90).
Desse modo, concordamos com Saquet (2007) quando ele afirma que
O território é produto social e condição. A territorialidade também significa
condição e resultado da territorialização. O território é o conteúdo das
formas e relações materiais e imateriais, do movimento, e significa
apropriação e dominação, também material e imaterial (p. 90).
Posteriormente, Saquet (2008) afirma que as redes, poderes, territórios, apropriações,
territorialidades, atores, trabalhos, produções são elementos e movimentos presentes na
territorialização, desterritorialização e reterritorialização. Para compreender tais fatores, é
31
necessário levar em consideração alguns aspectos como: a) os atores sociais e suas ações
cotidianas em forma de redes; b) as formas de apropriação simbólica e materiais do espaço,
isto é, econômicas, políticas e culturais; c) as técnicas e tecnologias, os instrumentos e
máquinas, o saber popular como mediações entre o homem e o espaço; d) as relações de poder
e de trabalho; e) os objetivos, as metas e as finalidades de cada grupo social ou conjunto de
atividades; f) as diferentes relações do homem com sua natureza exterior; g) as identidades; i)
os processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização, todos elementos que
servem de orientação para esta pesquisa.
É mister considerar o território como espaço habitado por determinada classe ou grupo
social que, através de suas ações, dão identidade e forma ao território; nele, as relações de
poder, de trabalho, de trocas, de movimento e transformação ocorrem, pois está sempre apto a
modificações, transformações e tornam-se indispensáveis os processos de territorialização,
desterritorialização e reterritorialização (TDR), pois o mesmo território recebe/perde/recebe
grupos sociais, identidades e características, propícios a alterações.
Desse modo, a territorialização é a construção/apropriação do espaço a partir do
trabalho de classes ou grupos sociais que imprimem uma dimensão simbólica e cultural,
dando origem e caracterizando particularmente cada território, dando identidade e
estabelecendo relações sociais e de poder.
A territorialização, para Turco (1988), significa um processo de complexificação que
ocorre sobre o espaço com componentes e relações sociais, isto é, um cenário plural que deve
ser compreendido contemplando-se uma pluralidade escalar. Ao mesmo tempo que o processo
de territorialização significa enraizamento de um determinado grupo social num território, o
processo de desterritorialização corresponde ao desarraigamento que ocorre no território, pois
há um constante movimento de informações, pessoas e mercadorias, presentes na sua
(re)construção e efetivação, o que também dá origem a uma nova identidade — que é
reterritorializada — criando novas territorialidades.
O processo de desterritorialização, conforme Saquet (2007), significa a destruição de
antigos territórios e/ou desintegração de novos espaços em redes promovidas especialmente
pelas redes nacionais - globais dos complexos agroindustriais capitalistas.
Um exemplo claro é o que ocorre com alguns trabalhadores da fábrica de produção de
aves da Sadia, pois vários se deslocam dos seus municípios (Verê, Salto do Lontra, Cruzeiro
do Iguaçu) para trabalhar em Dois Vizinhos e, em muitos casos, passam a residir neste
município perdendo suas raízes e estabelecendo outras num novo território.
32
Mesmo com o processo de mundialização de informações, mercadorias e pessoas
ocasionado pelo capital, ainda há experiências de enraizamento e fixação com relações
afetivas e políticas reproduzidas na construção do território. Com o processo de
reterritorialização, podemos considerar que as informações, mercadorias e pessoas vão criar
um novo enraizamento no território.
Para Deleuze e Guatarri (1976), a reterritorialização é como a reconstituição, a
restituição do poder: ―As sociedades modernas civilizadas se definem por procedimentos de
decodificação e de desterritorialização. Mas, o que elas desterritorializam de um lado, se
reterritorializam de outro” (p. 327). São novas territorialidades complexas e variadas
constituídas na reterritorialização.
Assim, concluímos que o território é um espaço habitado, construído, transformado e
apropriado por uma classe ou grupo social que imprime, através do trabalho, características
particulares na economia, política e cultura. A identidade do território é, portanto, uma
consequência do processo de territorialização estabelecida pelas relações de poder e contendo
diferentes significados de desenvolvimento.
1.3 - DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E RELAÇÕES DE PODER
Para Furtado (1980), a idéia corrente de desenvolvimento refere-se a um processo de
transformação que engloba o conjunto da sociedade. Essa transformação está ligada à
introdução de métodos produtivos mais eficazes e manifesta-se sob a forma de aumento do
fluxo de bens e serviços finais à disposição da coletividade. O desenvolvimento vai em
direção da eficiência e da satisfação plena das necessidades humanas.
[...] O comportamento racional do homem tem sua origem na prática da
produção dos meios de subsistência. Essa prática conduz o homem a fixar
objetivos e a adequar meios para consecução desses objetivos [...] Traduzir
essa percepção em regras, em informação transferível mediante símbolos, é
criar uma técnica. Portanto, a técnica é uma forma de ação programada em
um código. Seu ponto de partida é a ação, [...] O comportamento é tanto
mais racional, quanto mais se obtém os fins almejados, dados os meios
disponíveis. Comportamento racional corresponde, portanto, a
comportamento eficiente, e maior eficiência significa progresso técnico. Ora,
o progresso técnico é fruto da criatividade humana, da faculdade do homem
para inovar. Portanto, é essa faculdade que possibilita o avanço da
33
racionalidade no comportamento que cria o desenvolvimento (FURTADO,
1980, p. 43).
Entendemos que o desenvolvimento e a eficiência estão ligados, pois há uso da
racionalidade no comportamento humano; como a técnica é um complemento dos meios
naturais de que dispõe o homem para agir, com essa racionalidade ele dá origem aos métodos
que satisfazem às suas necessidades, sejam elas naturais ou criadas. Portanto, o
desenvolvimento da capacidade do homem para agir e para produzir funda-se num misto de
inventividade e acumulação (Idem, p. 46).
Quando falamos em acumulação, surge outra discussão em torno do desenvolvimento
econômico, visto como processo de difusão da civilização industrial, que Furtado (1980)
chama de “adoção dos padrões de modernidade”, que não exprime o desenvolvimento
referido anteriormente, pois não permite o desenvolvimento hegemônico e, ao mesmo tempo,
monopoliza a criatividade em benefício de alguns países.
A aceleração do processo de acumulação na organização das forças de produção
provoca rápida transformação nas estruturas sociais; segundo Furtado (1980), entre as
transformações podemos citar: a urbanização desigual, a desorganização da vida comunitária,
o desemprego, a venda da força de trabalho. Tais resultados estão presentes na sociedade atual
como subordinação da mão-de-obra dos trabalhadores assalariados aos donos dos meios de
produção; muitos assalariados vivem em condições precárias aumentando o banditismo, o
tráfico de drogas e outros processos que expõem a diferenciação da sociedade em classes
sociais.
Para Souza (2008), mais do que a concepção de desenvolvimento econômico,
devemos considerar as estratégias de desenvolvimento sócio-espacial, voltadas diretamente
para a justiça social e não somente para o desenvolvimento do capitalismo e modernização
tecnológica. O autor compreende o crescimento através da satisfação das necessidades
humanas como liberdade, acesso à cultura, alimentação, vestuário, infra-estrutura de serviços
públicos, habitação e outros.
Segundo Souza (2008), não se pode confundir crescimento com desenvolvimento, pois
o crescimento não traz justiça social e o desenvolvimento tem como base a autonomia; é um
processo de auto-instituição da sociedade em direção à liberdade, à justiça social com menos
desigualdades, com discussão livre e racional por parte de cada um dos membros da
coletividade acerca do sentido e dos fins do viver em sociedade.
34
Para o autor, a sociedade autônoma possui identidade cultural, contém recursos que
estão disponíveis à acessibilidade igual para todos; é uma sociedade com relações de poder,
não o poder do Estado separado da sociedade, mas uma sociedade que formule as suas
próprias leis. Essa autonomia é a base do desenvolvimento, isto é, da transformação e da
autocrítica na direção de uma justiça social cada vez maior (Souza, 2008, p. 106).
Quando falamos sobre desenvolvimento, englobamos todos os desenvolvimentos, ou
seja, o econômico, o social, o regional e o territorial, porquanto todos estão interligados e
aparecem no mesmo espaço dominado por relações de poder, o que dá origem ao território.
Consoante Saquet (2007), o desenvolvimento territorial supera o desenvolvimento
econômico, pois o primeiro é mais amplo e complexo; o próprio desenvolvimento econômico
é, ao mesmo tempo, social e territorial, pois resulta dos processos sociais. Para Dematteis
apud Saquet (2007), o desenvolvimento está ligado à dimensão local do território, sem ser
somente local, isto é, efetiva-se na relação entre o local e o global.
Para entender a questão de desenvolvimento territorial e do próprio território,
Dematteis (2008) faz duas abordagens da territorialidade: a ativa, ―positiva‖, que deriva das
ações coletivas territorializadas dos sujeitos locais e objetiva a construção de estratégias de
inclusão; nela, a territorialidade corresponde às mediações simbólicas, cognitivas e práticas
entre a materialidade dos lugares e o agir social nos processos de transformação territorial; e a
passiva, ―negativa‖ que, com estratégias de controle e com o sistema normativo associado,
objetiva excluir os sujeitos dos recursos.
Para que a concepção ativa possa estar presente nos processos de desenvolvimento, é
necessário explicá-la para servir de análise à descrição da realidade e das potencialidades
territoriais já existentes, para construir os sistemas territoriais e sociais destinados a se
configurarem em atores de desenvolvimento local no âmbito das políticas municipais,
estaduais e nacionais.
Dessa maneira, Dematteis (2008) cita um modelo simplificado de Sistema Local
Territorial (SLOT), ao mesmo tempo, analítico e meio para o planejamento e concretização
de projetos de desenvolvimento. Um SLOT é construído a partir do que já existe e isso pode
garantir a eficácia da projeção do que será edificado (p.27).
Dessa forma, Dematteis (2001) propõe os seguintes componentes analíticos
para o SLOT: a) a rede local de sujeitos, que corresponde às interações entre
indivíduos em um território local, onde há relações de proximidade e
reciprocidade entre os sujeitos do local e de outros lugares. Há a construção
de um ator coletivo; b) o milieu local, entendido como um conjunto de
35
condições ambientais locais nas quais operam os sujeitos coletiva e
historicamente; c) a interação da rede local com milieu local e com o
ecossistema, de forma tanto cognitiva (simbólica) quanto material. Há
interações entre os domínios do social e do ambiente; d) a relação interativa
da rede local com redes extralocais, em distintas escalas: regional, nacional e
global. (SAQUET e SPÓSITO, 2008, p. 27).
Segundo Dematteis (2008), através do SLOT indicamos uma potencialidade realizável
na relação entre certos componentes objetivos e subjetivos que são analisados caso a caso.
Esta análise indica possibilidades de articulação do território, sendo a governança direcionada
ao desenvolvimento territorial mais eficaz em relação a outros encaminhamentos que não
consideram a distribuição territorial das capacidades auto-organizativas dos sujeitos e suas
interações com o ―capital territorial‖ local.
Cada um desses sistemas, para Giuseppe Dematteis, tem aspectos ambientais além da
construção social histórica, na qual se dá uma organização política no sentido da coesão e da
projeção do futuro. E, como há preocupação e intencionalidade com a projeção e com o
planejamento, é importante que cada SLOT tenha capacidade de se autoprojetar, consistindo o
estudo num meio para a conquista de autonomia que, como em Souza (1995), significa a
capacidade de controle e gestão de determinados processos políticos, econômicos, culturais e
ambientais. Ser autônomo significa ter liberdade para criar e dar-se a sua própria lei, ao invés
de recebê-la por imposição, tomar nas mãos o próprio destino.
Segundo Souza (2006), a autonomia, além de ser individual, quando o sujeito toma em
suas mãos seu próprio destino, pode também ser coletiva, quando existe a presença de
instituições que garantam igualdade efetiva de oportunidades aos indivíduos, para que estes
possam satisfazer suas necessidades, e para que os sujeitos envolvidos definam os planos e
projetos a serem desenvolvidos juntamente com atores e processos de outros lugares,
relevantes para a regulação da vida coletiva, assim criam-se indivíduos autônomos e
indivíduos educados para a liberdade. Uma relação de unidade na diversidade que precisa ser
gerida com vistas ao desenvolvimento com mais justiça social (DEMATTEIS, 2008, p. 28).
Nas propriedades agroecológicas pesquisadas, a autonomia significa a autogestão, ou
seja, uma resistência ao modo de produção capitalista, pois, segundo Viana (2003), a
autogestão significa que os próprios produtores dirigem sua atividade e o produto dela
derivado. Enquanto no capitalismo há domínio do trabalho morto sobre o trabalho vivo, na
autogestão é diferente, o trabalho vivo predomina, ou seja, a força de trabalho agricultora é
predominante diante dos investimentos em maquinários, (capital fixo).
36
A partir disso e dos componentes analíticos do SLOT, será observada e analisada a
organização da produção e das propriedades agroecológicas no município de Verê, pois tal
sistema permite, segundo Dematteis (2008): i) delinear a geografia da projeção e do agir
coletivo num território com base nas relações territoriais existentes; ii) individuar o estado
atual dessas relações; iii) avaliar as possibilidades de ativar as relações que faltam e os
processos de desenvolvimento autocentrados; iv) avaliar a existência e as características dos
valores territoriais produzidos; v) avaliar a sustentabilidade territorial do desenvolvimento,
compreendida como capacidade de produzir o capital territorial sem empobrecer o de outros
territórios; vi) oferecer uma sustentação cognitiva para planos e políticas de vastas áreas
baseada na articulação dos sistemas locais territoriais em rede. Enfim, com o uso do SLOT, o
desenvolvimento territorial torna-se mais acessível, pois permite verificar as dificuldades, as
necessidades e, as características do local onde o plano será realizado.
Para reconhecer o desenvolvimento territorial, de acordo com Saquet e Spósito (2008),
é necessário compreender e conhecer os componentes de cada território como, por exemplo,
os econômicos, os políticos, os culturais e ambientais. Dessa maneira, buscamos entender o
desenvolvimento territorial no município de Verê a partir da agroecologia, seguindo os
elementos e processos que Saquet e Spósito (2008) apontam como necessários: a) a
articulação de classes e construção de redes e tramas locais e extralocais, que significam
relações de poder; b) o caráter (i)material, relacionado com fatores e elementos culturais,
econômicos, políticos e ambientais; c) a produção de mercadorias, a recuperação e
preservação da natureza exterior ao homem; d) a valorização das pequenas e médias
iniciativas produtivas; e) a valorização dos saberes locais e das identidades; f) a consideração
do patrimônio de cada local; g) a produção ecológica de alimentos; h) a organização política
local, visando à conquista de autonomia; i) a diminuição das injustiças e das desigualdades
sociais e outros.
Segundo Saquet e Spósito (2008), para refletir, debater e constituir ações de
desenvolvimento territorial, é necessário, primeiramente, ter uma compreensão renovada e
crítica do território, da territorialidade e do desenvolvimento; é fundamental considerar os
componentes de cada território e também os sujeitos que concretizam esse território, as
necessidades, os valores identitários e patrimoniais, as condições naturais e, finalmente, as
relações e os lugares da vida cotidiana desses sujeitos. É necessário adaptar as técnicas a cada
tipo de território no intuito de realmente concretizar formas de desenvolvimento territorial
com a autonomia que, como diz Souza (1995), é a base do desenvolvimento. Desse modo,
37
compreendemos “o desenvolvimento territorial como a organização e a luta pela liberdade,
pela justiça e pelo conhecimento. Quanto mais conhecimento mais condições de organização
política e luta por autonomia”.
Segundo Bonnal e Maluf (2009), no Brasil, a concepção atual para a base das políticas
públicas é a de desenvolvimento territorial, isto é, essas políticas estão enquadradas no
processo de reforma político-administrativa que houve no início, nos anos 1980, e continuou
com a implementação de políticas de ordenamento territorial e desenvolvimento regional dos
anos 1990, voltadas principalmente para o espaço rural e a agricultura familiar.
Foram alguns acontecimentos, conforme Bonnal e Maluf (2009), que influenciaram
diretamente na elaboração dessas políticas públicas, entre eles, a reorganização dos
movimentos sociais agrícolas e rurais, a emergência da agricultura familiar como categoria
sociopolítica e a multiplicação de iniciativas coletivas realizadas pelos movimentos sociais
que definiram políticas específicas para cada modelo de agricultura como, por exemplo, a
ANA – Associação Nacional de Agroecologia. Por fim, por meio dessas políticas públicas,
procura-se fortalecer os agricultores familiares, através de créditos rurais (PRONAF-
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), da reforma agrária e de
transferências sociais.
Assim como é importante compreender o território, a territorialidade e o
desenvolvimento para a implantação e manutenção das técnicas de desenvolvimento
territorial, é também necessário conhecer as relações de poder estabelecidas dentro e entre os
territórios. E, para que o desenvolvimento territorial seja efetivado, é indispensável que as
relações sejam estabelecidas não só pelo Estado, mas entre todos os sujeitos que buscam
benefícios coletivos, para que todos tenham acesso aos recursos disponíveis no território.
Então, para Saquet (2007), há necessidade de reordenamento das relações de poder. O
poder está presente em todas as ações realizadas em um território, sejam elas feitas pelo
Estado, pela Igreja, por empresas, sindicatos ou associações.
O campo da relação é um campo do poder que organiza os elementos e as
configurações [...] Toda relação é o ponto de surgimento do poder, e isso
fundamenta sua multidimensionalidade [...] Toda relação é um lugar de
poder, isso significa que o poder está ligado muito intimamente à
manipulação dos fluxos que atravessam e desligam a relação, a saber, a
energia e a informação (RAFFESTIN, 1993, p. 53-54).
O importante dessa discussão sobre o desenvolvimento e as relações de poder é que
ambos se completam, cada um tem papel fundamental na construção do território. Para que
38
essa construção se efetive, é necessário que ocorra a apropriação de um espaço por um grupo
social, tornando-o território com base nas relações coletivas e o desenvolvimento deve
diminuir as desigualdades e aumentar a justiça social e a autonomia em cada território.
39
CAPÍTULO II – A INTEGRAÇÃO: A SADIA DOIS VIZINHOS E VERÊ
2.1 – SADIA, DOIS VIZINHOS E VERÊ: O HISTÓRICO.
Os municípios de Dois Vizinhos e Verê estão localizados na mesorregião Sudoeste do
Paraná. A população de Dois Vizinhos, segundo a contagem da população do IBGE, em 2007,
é de 34.001 habitantes para uma área de 418,320 km²; já a de Verê, no mesmo ano, é de 8.002
habitantes para uma área de 312,495 km². Ambos os municípios destacam-se pela sua
economia voltada significativamente para a produção agropecuária.
0 30 60 90 Km
Escala aproximada
PARANÁ
Verê
Dois Vizinhos
Base digital: SUDERHSA/IBGE.
Fonte: Sadia de Dois Vizinhos, 2010.Org: BRISKIEVICZ, M.(2010).
MAPA 1 – Localização dos municípios de Verê e Dois Vizinhos no Sudoeste do
Paraná
40
A história da Sadia iniciou em Santa Catarina, a partir de Atílio Fontana, lavrador e
descendente de colonos do Rio Grande do Sul que migraram para o Oeste de Santa Catarina.
Segundo Alba (2002), Atílio Fontana instalou-se no Vale do Rio do Peixe, em 1920, e,
em 1925, iniciou uma venda (estabelecimento comercial) de artigos de primeira necessidade
que abastecia as propriedades locais e agia ainda na compra de excedentes agrícolas e suínos
que eram revendidos em São Paulo. A estrada de ferro que se instalou nos anos 1930 foi
importante para seu comércio, pois, em 1936, Fontana administrava seis casas de comércio
distribuídas ao longo da ferrovia, e cada estação era receptora de suínos da região. Em 1940,
adquiriu o Frigorífico Concórdia, reativou-o e em 1944, passou a se chamar Sadia.
A década de 60 foi marco para a Sadia em termos de expansão. Em 1951
adquiriu o moinho da Lapa em São Paulo. Em 1964, inaugurou a Frigobrás
(SP) e criou a Sadia Comercial no Rio de Janeiro. Em 1966 a Sadia adquiriu
o Frigorífico em Toledo no Paraná. Os anos que se seguiram foram
igualmente de grande expansão. Em 1970 foi instalada em Chapecó a Sadia
Avícola S.A., e, em 1974, foi inaugurada a Sadia Oeste S.A., em Várzea
Grande – Mato Grosso (ALBA, 2002, p. 72).
Consoante vimos, a empresa teve sua origem, em 1944, quando Atílio Fontana
reativava o Frigorífico Concórdia, juntamente com o funcionamento do moinho de trigo que,
na época, tinha capacidade de produzir 6 toneladas por dia. Segundo Alba (2002), no mesmo
ano, adquiriram máquinas suíças que passaram a moer 24 toneladas de grãos por dia.
Conforme Kurtz (2009), o abatedouro da Sadia começou a funcionar, em 20 de
novembro de 1944, com o abate de 30 suínos/dia e com 50 funcionários. Naquele ano,
adquiriram maquinários para o frigorífico que passou a abater cerca de 100 animais por dia.
Com a matéria-prima eram produzidos banha, toucinho, carnes salgadas, pernil, presunto,
salame, lombo e linguiça. Já nos anos 1950, a região de Concórdia era a mais desenvolvida do
país na criação e industrialização de suínos.
Nos anos de implementação da Sadia, as dificuldades no transporte eram imensas;
estradas precárias, distâncias enormes, a única maneira de vencê-las era garantir a qualidade
do produto da indústria até o consumidor; então, surgiram as primeiras câmaras frias,
utilizando-se, na época, de geradores de energia elétrica. Conforme Alba (2002), preparam-se
os caminhões isotérmicos e contrataram-se os primeiros técnicos no setor. A empresa possuía
postos de armazenamento de frangos em São Paulo, Bauru, Londrina, Campinas e Ribeirão
Preto e uma representação no Rio de Janeiro.
41
Alba (2002) afirma, ainda, que as dificuldades com o transporte obrigaram a Sadia a
buscar alternativas investindo também nos transportes aéreos, criando, em 1955, a Sadia S.A.
Transporte Aéreos, que funcionou até 1972, quando deu lugar à Transbrasil S.A. Linhas
Aéreas, com sede em Brasília.
A década de 1960 foi a de maior expansão da Sadia, pois, em 1961, iniciou o trabalho
com avicultura, com um abate inicial de 90.000 aves. Naquele mesmo ano construíram um
frigorífico em São Paulo; em 1967 foi criada a Sadia Comercial – Sadial, em São Paulo, por
meio da Frigobrás. Até a metade da década de 1960, a Sadia era dona de 8 filiais que faziam
parte da rede comercial da empresa e já concentrava 70% do mercado nacional.
Em 1970, aumentaram ainda mais suas fábricas, partindo para o ramo de grãos, ou
seja, transformação de soja, com a construção de duas fábricas, uma em Paranaguá e a outra
em Rondonópolis, responsáveis pelo refino e envasamento do óleo de soja.
Segundo Alba (2002), essa década marcou o início do projeto da Sadia para entrarem
no ramo de produção e industrialização de perus. Chapecó foi escolhida para a implantação
dessa atividade e, em 1973, foram realizados os primeiros abates – 550.000 perus/ano. Esse
ramo de avicultura foi muito incentivado pelo poder público local, estadual e federal.
Em 1978, foi inaugurada uma unidade de abate e industrialização de frangos em Dois
Vizinhos, no Sudoeste do Paraná, e, assim, seguiu-se a ampliação no ramo de bovinos, suínos
e aves, construindo novos frigoríficos. Em 1989, a ampliação do potencial de abate deu-se
com a aquisição das unidades de Andradina e Araçatuba no Oeste Paulista. Nesse mesmo ano,
foi incorporado um abatedouro de suínos em Frederico Westphalen/RS e foi construído
também uma nova fábrica de presunto cozido em Concórdia. Em 1971, a Sadia passou a se
chamar Sadia Concórdia S.A..
Os anos 1980/90 são marcados pela compra de mais frigoríficos de aves, em Francisco
Beltrão/ PR, e a entrada no setor de margarinas e massas com as unidades em Paranaguá e
Itapetininga. Segundo Alba (2002), há também a operação da fábrica de salsichas em Duque
de Caxias, o lançamento da linha Califórnia de Chapecó e a inauguração da Sadia
Agroavícola S.A. em Várzea Grande-MT. E, em 1997, a inauguração da fábrica de
empanados junto à unidade industrial de Chapecó. (Mapa 02)
42
MAPA 2 – Distribuição das Unidades Industriais da Sadia no Brasil
Em 1967, foi assinado o primeiro contrato de exportação, composto pela venda de
carne bovina e suína in natura para o Mercado Comum Europeu e a Suíça, mais tarde
ampliado para o Oriente Médio e a América do Norte. Atualmente, a Sadia continua
comercializando carnes em vários países do mundo.
Conforme Alba (2002), a Sadia Trading S.A. Exportação e Importação a partir de
1980, passou a se responsabilizar pelo setor de exportações, ampliando e melhorando tal
empreendimento para o mercado do Extremo Oriente, Hong Kong e Japão.
43
Atualmente a Sadia Trading S.A. possui filiais em Tóquio, Milão, Buenos
Aires, EUA e Taiwan, abrindo com isso novas possibilidades de mercado,
como é o caso dos países do Mercosul. A exportação é feita para mais de 40
países e o principal produto exportado é a carne in natura de frango, peru,
suínos e gado. Dos produtos industrializados, a linha Califórnia de carne de
peru e os empanados são os mais exportados (ALBA, 2002, p. 92).
Conforme verificamos nessa afirmação, a rede de exportação assim como a rede de
distribuição da Sadia são bem extensas, as quais, através da Sadia Comercial, possuem 24
postos de revenda dos produtos para os supermercados e outras redes. Alba (2002) cita que as
vendas diretas são realizadas apenas para grandes pedidos, como redes de fast food. No Brasil
e em vários países, a Sadia constitui-se de uma vasta rede de postos de produção,
industrialização, marketing e comercialização.
No início do ano de 2010, surgiram rumores de que a Sadia estava em crise, mas o que
aconteceu foi uma fusão entre a Sadia S.A. e a Perdigão S.A. através de trocas de ações,
resultando na Brasil Foods. Segundo Landim (2010), o objetivo é identificar os melhores
processos de Sadia e Perdigão e trazer novas idéias do exterior através do estudo da
McKinsey2.
A governança da BRF terá a marca da Perdigão. A estrutura da empresa, definida
pelos acionistas, é composta por 10 vice-presidências: seis da Perdigão (finanças, fusões e
aquisições, operações e tecnologia); duas da Sadia (mercado interno e food service) e duas em
aberto.
A marca Sadia foi escolhida para liderar o esforço internacional porque já é
bem conhecida na Rússia e no Oriente Médio, onde alcança a liderança em
alguns produtos. Sob o comando da Perdigão, a Sadia deve chegar a cada
vez mais consumidores ao redor do globo (Landim, 2010, p. 01).
2 A McKinsey é a firma de consultoria de gestão de topo, líder em nível mundial; assessora as principais
instituições líderes em nível global, tanto do setor público como do setor privado e do setor social, ajudando-as a
alcançar um desempenho de nível superior através da identificação de novas oportunidades e da resolução de
problemas críticos nas áreas de estratégia, operações, organização, e tecnologia.
44
45
2.1.1 – A Sadia de Dois Vizinhos
Conforme entrevista com o supervisor do setor de logística (2010), a Sadia, unidade
de Dois Vizinhos, não era para ser instalada nesse município, e sim em Pato Branco, mas
devido à falta de incentivo público acabou instalando-se em Dois Vizinhos.
Para a implantação, em 1977, juntaram-se algumas autoridades do município e Atílio
Fontana para acertar pontos importantes como a escolha do lote e políticas públicas de
parceria com a Prefeitura Municipal para implementação e construção do parque industrial da
Sadia, cuja instalação iniciou em 1978 (foto 1).
Foto 1 – Construção do complexo agroindustrial da Sadia – 1978 Fonte: http://www.portaldoisvizinhos.com.br/municipio_sobre_ampliafoto.asp?img=45
Atualmente, o parque industrial da Sadia de Dois Vizinhos tem 64.270,38 m², (foto 2),
distribuídos em escritórios, fábrica de ração, produção de aves, departamento técnico
operacional, sala de garantia de qualidade, departamento de Recursos Humanos,
controladoria, suprimentos, e logística. Além disso, a empresa possui, no município,
126.516,11m², distribuídos em granjas, e 748 hectares de áreas de reflorestamento,
distribuídos em Dois Vizinhos, Cruzeiro do Iguaçu, Boa Esperança, Salto do Lontra e Enéas
Marques.
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Segundo o departamento de logística da Sadia – Unidade de Dois Vizinhos (2010), o
lote, onde hoje se localiza a empresa, foi doado pela Prefeitura Municipal num processo foi
iniciado no final do governo de Ervelino Colleti (1973 a 1976) e finalizado no governo de
José Ramuski Jr. (1977 a 1982). Além do lote, receberam como incentivo a isenção de
impostos municipais por 30 anos e a construção das estradas para os integrados, para as quais
a Sadia e a Prefeitura Municipal estabeleceram uma parceira, em que a primeira auxiliava
com o combustível e o restante era por conta da prefeitura.
Em 12 de agosto de 1980, o frigorífico de Dois Vizinhos começou a funcionar e
produzir as primeiras aves, mas, estas foram abatidas na unidade de Toledo, pois o frigorífico
ainda não estava pronto. A produção e industrialização da carne de frango na Sadia unidade
de Dois Vizinhos teve suas primeiras atividades no ano de 1981, com aproximadamente 500
funcionários.
Segundo o departamento de logística da Sadia – unidade de Dois Vizinhos (2010),
atualmente, a empresa conta com 2.737 funcionários. Os trabalhadores estão distribuídos por
toda produção dentro da fábrica, divididos em três turnos: o primeiro, das 05h00min às
13h00min; o segundo das 13h00min às 22h00min; e o terceiro, das 22h00min às 05h00min.
Os salários são bem variáveis. Quando o funcionário entra na produção, começa recebendo
R$588,95, passando por três meses de experiência, depois passa a receber R$625,16 e
Foto 2 – Parque Industrial da Sadia – Unidade de Dois Vizinhos em 2010 Fonte: Departamento de Logística Sadia – Dois Vizinhos, 2010.
47
dependendo do desempenho, vai acrescentando ao salário; além disso, em todo mês de
novembro, é reposta a inflação anual, o Dissídio Coletivo de Trabalho.
Conforme o departamento de logística da Sadia – Unidade de Dois Vizinhos (2010),
em 1980, quando a Sadia iniciou suas atividades tinham poucos integrados; atualmente, são
843 propriedades integradas, com 1031 aviários de frango de corte, distribuídas em 23
municípios do Estado do Paraná. (tabela 01 e mapa 03)
Considerando a quantidade de aviários integrados à Sadia – Unidade de Dois
Vizinhos, verificamos com o departamento de logística (2010), que o abate está no limite da
capacidade, 500.000 frangos/dia, com uma produção mensal de aproximadamente 18 mil
toneladas de carne de frango. Dessa produção, 90% é exportada para os países árabes como:
Catar, Bahrain, Omã, Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes; o restante, 10% da
produção, permanece no mercado interno na forma dos cortes de frango.
Tabela 1 – Número de aviários por município atendido pela Sadia – Unidade de Dois Vizinhos
Município Integrados
Boa Esperança do Iguaçu 34
Campo Bonito 23
Catanduvas 8
Chopinzinho 5
Cruzeiro do Iguaçu 48
Diamante do Sul 1
Dois Vizinhos 299
Enéas Marques 14
Espigão Alto do Iguaçu 19
Guaraniaçu 71
Ibema 5
Nova Esperança do Sudoeste 23
Nova Laranjeiras 15
Nova Prata do Iguaçu 31
Quedas do Iguaçu 31
Salto do Lontra 128
São João 41
São Jorge d’Oeste 71
Saudade do Iguaçu 26
Santa Izabel do Oeste 10
Sulina 47
Três Barras do Paraná 3
Verê 78
TOTAL 1031
Fonte: Dados: Sadia-Unidade de Dois Vizinhos, Departamento de Logística, 2010
48
MAPA 3 – Distribuição de aviários da Sadia de Dois Vizinhos - Paraná
Em relação à criação de matrizes, segundo o departamento de Avicultura Matrizes
(março de 2010), atualmente, há 4 integrados com 20 aviários voltados para a recria e 58
integrados com 156 aviários voltados para a produção. Além disso, a Sadia possui 28 aviários
de matrizes próprios.
O preço do kg de frango depende de algumas variáveis, que podem ser diferentes em
cada região, como a distância da indústria em relação ao mercado. Quanto maior a distância,
maior o preço do frete e isso vai caracterizando o aumento de preço do produto, ou então, o
tipo do produto, pois o frango inteiro recebe um valor e os cortes outro.
Conforme o supervisor do departamento de logística da Sadia – Unidade de Dois
Vizinhos, o maior problema encontrado na produção de carne de frango é a falta de mão-de-
obra, além de outros como a falta de água na época de estiagem e inadequações da
49
propriedade em relação às leis ambientais. Entre as facilidades para a produção de frango está
a aquisição de grãos para a fábrica de ração; o transporte, devido às boas condições da maioria
das estradas na área rural; e a disponibilidade de água na maioria das propriedades, quando
não há estiagem.
Hoje, para se tornar um integrado, produtor avícola, são necessários vários requisitos
adotados pela empresa a partir de 2009.
Por meados de 2009, os requisitos para tornar-se um integrado ficaram mais
criteriosos, pois agora é necessário fazer um estudo da viabilidade e da
sustentabilidade do negócio na propriedade, como: ter a licença ambiental;
possuir o terreno onde será instalado o aviário, a matrícula; estar no padrão
Sadia: tamanho 100x12, equipamentos aprovados pela Sadia. (Supervisor do
departamento de logística, Sadia – Unidade de Dois Vizinhos, março de
2010).
Conforme o Supervisor do departamento de logística, Sadia – Unidade de Dois
Vizinhos, (março de 2010), a integração, para a Sadia, é uma parceria com os agricultores,
pois um interdepende do outro, ou seja, a Sadia necessita da matéria-prima para industrializar
e o produtor precisa vendê-la, então, a integradora entra com a transformação,
industrialização da matéria-prima e sua inclusão no mercado e o produtor entra com o produto
bruto, o frango pronto para o abate; assim, estabelecem uma relação, na qual a Sadia fornece
os pintainhos, a ração, os remédios, a assistência técnica, a transformação e comercialização
do produto; o produtor integrado fornece a mão-de-obra, as instalações, a água e a energia,
mas não tem o poder de verificar a pesagem nem a quantidade de frangos que chegam até a
unidade de transformação.
Percebemos, nessa relação, a existência de uma hierarquia de poder bastante visível,
ou seja, a Sadia ―fornece‖ o frango, estabelece as normas para criá-los, o integrador trabalha
obedecendo às normas impostas pela Sadia por intermédio de um contrato muito bem
elaborado pela integradora e, por fim, não pode verificar se seu trabalho foi rentável ou não,
pois, depois de alguns dias, ele simplesmente recebe uma notificação que seu lote deu um
valor x, no qual já estão descontados os gastos com ração e pintainhos. Além disso,
dependendo da ―obediência‖ do integrado às leis da integradora, ele recebe um ―gancho‖ e
pode ficar mais de 30 dias com o aviário parado, sem produzir, e, consequentemente, sem
receber.
50
Conforme Paulilo (1990), o pagamento da integradora ao integrado é feito de acordo
com indicadores técnicos constantes do contrato de integração celebrado entre as partes. A
integradora, portanto, terceiriza a engorda das aves junto aos produtores integrados.
Segundo o departamento de fomento da Sadia – Unidade de Dois Vizinhos (2010), a
equipe que presta assistência técnica aos integrados é formada por 2 supervisores, 1 staff
sanidade, 2 coordenadores, 12 veterinários, 1 zootecnista e 14 técnicos agrícolas. Eles prestam
assistência através de 4 visitas à propriedade do agricultor; a primeira visita, no pré-
alojamento, é feita entre 24 e 2 horas antes do alojamento; a segunda é a visita de alojamento,
de 24 a 72 horas após o alojamento dos pintainhos; a terceira, de 12 a 15 dias após o
alojamento, para fazer uma verificação geral da produção; a quarta e última visita, no pré-
abate, entre 24 e 26 dias após o alojamento, quando é verificado o peso e se há doenças nos
frangos. Por fim, são realizadas as considerações finais, de limpeza do aviário, nota de
produtor e carregamento.
Nessa perspectiva, segundo Alves (2005), em muitos casos, o técnico torna-se o
administrador da propriedade, pois, além de disponibilizar assistência técnica em relação à
produção integrada, e partindo das exigências e interesses da empresa, orienta para a produção
de determinados tipos de cultivos agropecuários; nesse sentido, o agricultor integrado, além
de perder sua autonomia em relação à produção integrada, perde também a capacidade de
tomar decisões em relação às outras atividades em sua propriedade.
Além das exigências técnicas e operacionais, a empresa é quem define o
preço do frango pago ao produtor rural, não cabendo questionamentos ou
discussões em relação às determinações da indústria. [...] Enquanto os
agricultores aumentam sua escala de produção, o valor unitário recebido
recua. [...] Para piorar a situação dos agricultores integrados, as empresas
têm poder para determinar os instrumentos e produtos necessários para
criação e engorda dos animais, como rações, vacinas, aquecedores,
ventiladores, entre outros. Enquanto os preços pagos pela indústria vêm
caindo vertiginosamente, os preços dos insumos – que são comprados da
própria integradora – vêm aumentando, fazendo com que os lucros do
agricultor integrado sejam significativamente reduzidos. (ALVES, 2005, p.
148/149)
Outro fator interessante na integração é que segundo Alves (2005), a empresa não
responde por nenhum ônus que a produção venha acarretar no ambiente, em relação à
legislação ambiental, que é de inteira responsabilidade do avicultor integrado, além da mão-
de-obra familiar, treinada pela empresa, passando a desempenhar os exaustivos trabalhos para
que a produção seja entregue conforme o exigido. Dessa maneira, os técnicos avaliam os
51
integrados e selecionam as famílias que permanecerão no sistema, sendo elas preparadas
tecnicamente para corresponder às exigências do mercado integrado, cada vez mais
competitivo.
E, ainda, percebemos que está ocorrendo, atualmente, um processo de concentração
espacial da produção avícola integrada, pois, conforme veremos a seguir, os impactos são
significativos num sistema de produção presente na agricultura familiar. A presença de um
contrato de “parceria avícola” entre a integradora, Sadia, e o integrado, avicultor, bem como
o conceito de integração serão analisados nos próximos itens deste capítulo.
2.2 – INTEGRAÇÃO OU SUBORDINAÇÃO?
2.2.1 – Mecanismos e impactos da integração
Segundo Alves et. al. (2005), o processo de integração iniciou-se nos Estados Unidos
da América na década de 1950; desde então, realizaram-se estudos para discutir a questão da
integração de agricultores no sistema agroalimentar. Já no Brasil, essas discussões iniciaram-
se mais tarde, até porque as primeiras atividades integradoras iniciaram-se por volta de
1960/70.
O sistema de integração é consequência do processo de expansão do capital. Segundo
Ferreira (1995), a ideia central é que a agricultura torna-se integrada aos circuitos industriais e
elos do sistema agro-alimentar, passando então, a ser subordinada, recebendo diretrizes e
ordens.
Vários estudos apresentam a integração como subordinadora dos agricultores, pois
estes são vistos como agentes passivos, subordinados, comandados por uma empresa de
produção que, além de extrair o valor de trabalho dos produtores, organiza e dirige a produção
agrícola para atender as necessidades mercantis. Segundo Alves et. al. (2005), no centro deste
debate, está a capacidade de organização industrial e financeira para gerir amplos espaços
territoriais amparados pela ideia do contrato e por um aparato tecnológico que começa e
termina na indústria.
52
Segundo Filho e Queiroz (2010), no modelo tradicional de integração da avicultura de
corte brasileira, os aviários eram manuais; atualmente, utilizam inovações tecnológicas com
alto nível de automação, alto volume de aves confinadas por aviário/produtor integrado,
redução significativa do número de produtores integrados para cada planta industrial e, ao
mesmo tempo, do número de contratos estabelecidos pela firma integradora, integrados com
maior capacidade de alavancagem de financiamento em função do aumento significativo dos
custos de instalação de novos aviários, uso predominante de mão-de-obra assalariada.
Há também uma nova territorialização das agroindústrias integradoras devido à
necessidade de se localizarem em regiões com abundância de matérias-primas e insumos ―
como hoje ocorre, no Brasil, o deslocamento dessas empresas para a região Centro-Oeste ―,
além da existência de incentivos fiscais necessários para a redução do risco de possíveis
perdas financeiras com o investimento.
Cabe ressaltar que a essência do que é a integração não muda com o passar dos anos,
seja o integrado pequeno, médio/grande produtor. Em qualquer um dos modelos, tradicional
ou tecnológico, a integradora fornece ao integrado: a ave de um dia, a ração para alimentação,
os medicamentos e a assistência técnica. Compete ao integrado a responsabilidade pela
construção dos aviários, instalação dos respectivos equipamentos, de acordo com as
determinações da integradora, mão-de-obra principalmente familiar, água de boa qualidade,
energia e entrega das aves para a integradora quando a mesma estiver com o peso apropriado
para o abate.
O sistema de integração constitui uma estratégia cada vez mais
implementada pelas grandes agroindústrias, que vêm conquistando novos
mercados e ampliando sua produção e, conseqüentemente, seus lucros. A
integração com os agricultores garante uma produção com qualidade e com
baixos custos, pois a empresa não precisa comprar terras, ampliar a
contratação de mão-de-obra, nem se preocupar com questões trabalhistas.
(ALVES, 2005, p.145)
Para Belato (1985), a integração indica sempre a ação do capital sobre a agricultura e
seu movimento de concentração. O capital busca destruir as formas históricas de organização
do trabalho e do excedente camponês mediante uma estratégia concentrada no sentido de
eliminar os mecanismos de autonomia e identidade camponesa. Outro fator que consideramos
importante descrever, é que a empresa integradora domina o processo de integração a partir da
assinatura do contrato com os agricultores, ditando as normas e o agricultor é obrigado a
cumpri-las para permanecer como integrado, pois aqueles que não se adaptam e não atingem a
53
produtividade satisfatória para a empresa correm riscos de serem excluídos do sistema de
integração.
Assim, percebemos o uso do poder da integradora sobre o integrado, quando este é
―obrigado‖ a instalar equipamentos de alta tecnologia. Porém, conforme afirma Evilásio de
Justina, ex-integrado da Sadia,
[...] na maioria das vezes, os agricultores não têm condições de adquirir os
equipamentos para adaptar-se às normas impostas pela integradora ou,
quando adquirem, acabam contraindo dívidas substantivas, através de altos
juros pagos por financiamentos3.
Além disso, segundo Filho e Queiroz (2010), ocorrem outros impactos, devido às
transformações do sistema de produção integrada tradicional e a reestruturação da produção
de frangos de corte, os quais podem ser observados em quatro grandes áreas:
social, a disseminação do modelo de integração baseado no médio/grande produtor,
provoca a exclusão do pequeno produtor da condição de integrado se mantidas as condições
institucionais referentes às exigências para concessão de empréstimos bancários; a redução do
número de pessoas que trabalham nos aviários, devido ao elevado nível de automatização; o
aumento da concentração de renda e ausência de políticas compensatórias.
regional, com a localização dos novos projetos em regiões onde há médios e grandes
produtores interessados na integração, acarretando uma regionalização da avicultura de corte
nas áreas propícias ao desenvolvimento desta atividade.
econômica, com a redução dos custos de transação, de produção e de logística; com o
crescimento da competitividade e aumento das exportações de frango; com o
desenvolvimento expressivo da produção interna, diminuindo os impactos sociais em termos
de emprego;
ambiental, a concentração da produção de aves em poucas unidades ou numa
determinada região faz com que o potencial de poluição dos dejetos produzidos nos aviários
seja ainda maior, aumentando as dificuldades de manejo, o odor e a poluição da água,
causando danos à natureza.
Nesse sentido, percebemos os impactos causados pela modernização de equipamentos
que, aos poucos, vão excluindo e substituindo os pequenos agricultores do sistema de
produção integrada. Isso se efetiva quando as exigências de padronização típicas de um
3 Informação oral: Testemunho de Evilásio de Justina, na 8ª Jornada de Agroecologia, em maio de 2009 em
Francisco Beltrão.
54
modelo modernizante intensificam-se e os ganhos com a produção diminuem, dificultando a
permanência do agricultor e de sua família no campo e mais ainda como avicultor integrado.
Tudo isso, segundo Alves (2005), obedece a uma rigorosa engenharia projetada pelos
interesses da empresa integradora, visando à diminuição de custos e de tempo de assistência
técnica, além de diminuir, através da genética, o tempo de produção de frangos intensificando
a produção, aumentando a quantidade, diminuído o tempo e ampliando o abastecimento de
produtos no mercado.
2.2.2 – A integração e os mecanismos de articulação e amarramento da produção mediante
contrato
Segundo Espíndola (1999), o sistema de integração começou a ser implantado no
Brasil pela empresa Sadia, em meados da década de 1950, primeiramente no estado de Santa
Catarina, de onde se disseminou pelo resto do país, provocando transformações na base
técnica da produção, bem como na organização das unidades familiares, que foram [...] de
mudanças, forçadas a adotar estratégias de reprodução de suínos e aves baseadas no sistema
de integração (Espíndola, 1999, p. 104).
Dessa maneira, Espíndola (1999) afirma que, com a integração, os laços tradicionais
mantidos entre os comerciantes e agricultores são substituídos por relações de capital, entre o
industrial e o bancário, com o aval do Estado através da Política Nacional de Crédito Agrícola
e a Política Fundiária, e o agricultor que, neste caso, aparece apenas como o produtor de
matérias-primas.
Percebemos que a adoção do sistema de integração é de interesse dos agentes do
capital, voltado para o aumento da produção em menor tempo, gerando concentração de
capital nos segmentos que dominam o sistema, neste caso, as agroindústrias.
Conforme Belato (1985), integração, para os teóricos do agribusiness, significa
exatamente essa concentração de alto grau de capital no segmento industrial que passa a
comandar o processo produtivo, ou seja, nos Complexos AgroIndustriais (CAI‘s) como a
Sadia. Para Dinarte Belato, o grau e a forma [em] que se dá a subordinação da agricultura
em relação aos segmentos agroindustriais é o que determina a forma e o grau em que se dá a
integração. (p. 265).
55
Assim, com a difusão da integração na agricultura, esta passa a receber
desdobramentos impostos pelas ações do capital, adquirindo novas formas e intensidades.
Segundo Belato (1985), esses desdobramentos determinam as formas de integração e os
mecanismos de articulação e amarramento da produção de matérias-primas, mediante
contrato, cada vez mais presentes na produção integrada de frangos de corte, tal como ocorre
na Sadia. Para Belato (1985), o contrato de produção é o componente básico do processo de
integração.
É importante ressaltar que, de acordo com Belato (1985), a integradora (Sadia) e os
integrados (avicultores) possuem interesses distintos no processo de integração: a primeira
entende a integração como forma de controle dos mercados rurais e redução de mão-de-obra;
para os avicultores, a integração é vista como uma oportunidade, uma garantia de produção,
de preço, de renda eliminação de riscos e acesso ao capital.
Os contratos de produção, ou de integração, estabelecem relações entre duas partes
como se estivessem em condições de igualdade, definem os deveres, as responsabilidades e os
direitos entre a integradora (Sadia) e do integrado (avicultor). Para Belato (1985), o contrato
serve como uma ―ordem de serviço‖, uma forma de subordinar, obrigar o avicultor a cumprir
com seus deveres enquanto contratado, pois o contrato não passa de uma forma de
―aprisionar‖ o integrado.
O modelo de contrato utilizado pela Sadia é o contrato de transferência plena que,
segundo Ferreira (1995), é caracterizado por cláusulas de comercialização, de produção e de
transferência de uma parte importante ou de todas as funções de gestão da empresa como o
risco e o controle dos métodos de produção. É o comprador que detém a propriedade dos
produtos, o agricultor restringe-se a fornecer as instalações e o trabalho. Além disso, este
processo de integração ―representado pelo contrato― caracteriza a integração vertical.
Dessa maneira, observamos que, com o contrato, o agricultor tem pouco poder de
decisão sobre o processo produtivo, perdendo sua autonomia em relação às atividades
desenvolvidas em suas propriedades. Ainda, segundo Alves (2005), tais contratos são
propostos por grandes agroindústrias que dominam o mercado brasileiro, com uma
participação crescente no que tange às exportações, como exemplo, a Sadia e a Perdigão,
atualmente Brasil Foods.
Podemos verificar isso melhor, ao observarmos o contrato para produção avícola
integrada, utilizado pela Sadia – Dois Vizinhos, em 2006, com um integrado: ―o integrado
56
declara não ter firmado, com nenhuma outra empresa, qualquer contrato para integração
avícola no imóvel‖. (p. 01)
Entre as obrigações dos integrados estão: a) cuidados necessários e indispensáveis
para a criação e terminação das aves; b) serviço de manuseio das aves; c) desenvolver a
criação e terminação das aves conforme normas técnicas impostas pela Sadia; d) proibido
utilizar insumos, medicamentos e vacinas que não sejam prescritas pela Sadia; e) não permite
a criação de quaisquer outras aves ao redor do imóvel onde será executada a criação e
terminação das aves fornecidas pela integradora; f) manter as instalações, a propriedade e os
equipamentos em boas condições de acordo com a recomendação técnica da Sadia; g)
concordar com a suspensão do novo lote de aves, por tempo indeterminado, sem ônus para
a Sadia, caso ocorram restrições de ordem ambiental; h) concordar com o sacrifício das
aves, sem ônus para a integradora, caso ocorram restrições de biossegurança ou de ordem
sanitária; i) cuidar das aves de um dia até que as mesmas atinjam o peso programado para
devolução; j) adequar as instalações para que se previnam possíveis acidentes com aves ou
insumos fornecidos pela Sadia; k) fornecer água de boa qualidade, energia elétrica,
combustível para aquecimento das aves, material para formação da cama com qualidade
assegurada; l) garantir condições de tráfego nas vias de acesso ao aviário; m) assegurar
para a integradora a preferência na compra de parte de aves que lhe couber em razão do
contrato feito; o) comunicar à Sadia antes do alojamento do lote a sua intenção de não vender
a parte das aves vivas que lhe será cabível quando da partilha; p) facilitar para a Sadia o
acompanhamento da criação de aves, assegurando-lhe livre e permanente acesso à
propriedade e instalações onde o plantel está sendo criado; q) proibido dar outro destino aos
insumos fornecidos pela Sadia, que não seja a criação e terminação das aves da integradora; r)
obrigado a obter a produtividade mínima, ou seja, produção de, no mínimo, 65% calculado
sobre o percentual básico cabível ao integrado, definido pela integradora e, nos últimos doze
meses de produção, resultados superiores a 30%, média prevista para o integrado; s) deixar o
aviário preparado para apanha das aves, antes da chegada do caminhão, de acordo com as
instruções da Sadia; t) o integrado é responsável pelo equipamento e mão-de-obra para
carregamento das aves de acordo com recomendação técnica; u) o integrado poderá
contratar terceiros para apanha das aves, cabendo a si todos os critérios que atendam as
exigências legais e em especial que possam atender as exigências técnicas quanto aos modos
preventivos de lesões das aves, garantindo o bem-estar e o conforto das mesmas; v) cabe ao
integrado, além de pagar 50% do custo da contratação de terceiros para execução dos
57
serviços de apanha, fornecer as informações técnicas necessárias, energia elétrica e
iluminação adequada, água e estrutura adequada, os meios necessários ao carregamento, as
vias de acesso em boas condições, as cercas para facilitar apanha; supervisionar o
carregamento de acordo com as normas técnicas da Sadia; disponibilizar a documentação
fiscal necessária para transporte das aves; proceder às devidas anotações na planilha de
controle do carregamento; manter as aves em jejum tempo determinado pela integradora; x) o
integrado autoriza a Sadia, no momento em que realizar o pagamento de sua parte pelos
serviços de apanha executada pelas empresas prestadoras de serviços a pagar também a sua
parte; z) o integrado concorda com a realização de deduções do lote entregue, considerando-
se o número de animais que não atendam as exigências do Serviço de Inspeção Federal – SIF;
aa) a Sadia não fornecerá aves para quem suceder na posse do imóvel onde será realizado a
criação e terminação das aves (grifos do Contrato de Integração).
Observamos as inúmeras obrigações que os avicultores têm ao se tornarem integrados
do Sistema Sadia de Produção (SSP). Com vistas à subordinação, verificamos, claramente, a
sua existência na maioria dos itens descritos, mas principalmente naqueles que tratam da
assistência técnica e dos investimentos, ou seja, quando o avicultor é obrigado a cumprir
normas técnicas impostas e fiscalizadas pela Sadia; a investir em tecnologias mesmo sem
condições, contraindo dívidas que, muitas vezes, não são compensadas pela produção; a
facilitar o acesso da empresa à propriedade em qualquer momento que aquela julgue
necessário; a concordar com o atraso da entrega das aves de um dia, retardando assim a
produção e a renda; a vender a produção somente para a integradora; a alcançar a
produtividade mínima exigida pela integradora; a concordar com deduções no valor do lote,
caso as aves não alcançarem as exigências mínimas da Sadia, mesmo sem saber se isso
realmente ocorre.
Como a produção é dividida em etapas, os avicultores são donos do seu negócio,
todavia, ao mesmo tempo, constroem com a empresa um sistema de dependência que se
estende a vários aspectos como o fornecimento das matrizes, o rigoroso cumprimento dos
horários de alimentação das aves, a exposição à luz, os níveis de calor e umidade. Assim, a
Sadia repassa normas aos avicultores e obriga-os a submeterem-se a trabalhos exaustivos,
com grande dispêndio de energia, já que possuem estimativas de produção a alcançar, prazo
de entrega da produção para cumprir, padrões de qualidade a conseguir, tornando rotineiras as
atividades diárias do avicultor integrado e sua família.
58
[...] considera-se como AVES DE QUALIDADE, quando alcançarem os
seguintes resultados, por ocasião da entrega das aves na plataforma do
abatedouro da Sadia:
a) Se o lote de aves entregue, não ultrapassar o limite de 15% das aves, com
―calo de pés‖, na avaliação realizada por profissional da empresa no
abatedouro;
b) Se o lote de aves entregue, não ultrapassar 1,2 vezes o valor da média
obtida no mês anterior de perdas por condenações, para o mesmo tipo de
ave, por causas agropecuárias, na avaliação realizada pelo Serviço de
Inspeção Federal, por ocasião do abate dos respectivos lotes de aves.
(Contrato de Produção Avícola Integrada, 2006, p. 12)
Na produção de frango, as relações de poder da empresa são desempenhadas de forma
direta através da assistência técnica, através da qual o trabalho do avicultor é averiguado em
média 5 vezes durante o lote, observando se as etapas de produção impostas pela empresa
estão sendo cumpridas e se a infra-estrutura está sendo utilizada do modo que a empresa
deseja.
De acordo com o contrato de produção avícola integrada, para o integrado adotar o
Sistema Sadia de Produção, ele precisa atender as várias exigências da empresa, entre elas
destacamos:
4.2.1 Instalações e equipamentos
Adequar, dispor e fornecer a propriedade, instalações e todos os
equipamentos necessários para a atividade, de modo a atender as normas de
biosseguridade, segurança alimentar, bem estar animal, rastreabilidade,
ambiental e sanitária, conforme necessidades técnicas exigidas pelo
mercado, variações climáticas, nutricionais e genéticas, orientadas pela Sadia
[...]
4.3 Normas de Qualidade
Dispensar todos os cuidados necessários e indispensáveis para a criação e
terminação das aves, observando normas técnicas, bem como as normas de
biosseguridade, segurança alimentar, bem estar animal, rastreabilidade,
ambiental e sanitárias. (Contrato de Produção Avícola Integrada, 2006, p. 8)
No contrato, verificamos também as premissas da fórmula de calcular a renda, o que
nos permite observar melhor o poder exercido por parte da Sadia quando ela afirma custear
93% dos gastos para produzir um lote de frango, enquanto o integrado suporta apenas 7%.
Com isso, podemos perceber que o contrato é uma forma de subordinação do avicultor, pois,
apesar da empresa fornecer as aves de um dia, a assistência técnica, os remédios e a ração, o
integrado paga por esses produtos, os quais são descontados antes do valor final do lote ser
depositado pela empresa na conta do integrado e, além disso, a manutenção dos aviários, o
59
exaustivo trabalho do avicultor e seus familiares, os gastos com energia e água só
correspondem a 7% dos gastos com a produção de um lote?
Essa pergunta fica difícil de ser respondida, pois a Sadia mantém em sigilo os gastos
com os produtos fornecidos ao integrado que, por não ter acesso aos valores cobrados pela
ração, medicamentos, aves e assistência técnica, fica sabendo apenas o valor do lote quando
as aves já estão no frigorífico.
Ao analisar o contrato, o que chama atenção é a quantidade de obrigações que os
agricultores têm para tornar-se um integrado; no entanto para deixar de ser integrado ao
sistema Sadia de Produção basta, como está no contrato, no subitem i, do item 7.1, na página
14, basta o não cumprimento de qualquer cláusula do contrato.
O integrado pode deixar de sê-lo sem ônus somente em casos em que a integradora
não forneça as rações, vacinas, medicamentos ou deixar de prestar assistência técnica e
veterinária necessária, e pelo não cumprimento de qualquer cláusula do contrato ou pela
decretação de falência.
Qualquer descumprimento por parte do integrado ou da integradora das cláusulas do
contrato, acarreta multa de 10% calculada sobre o somatório da renda dos 6 últimos lotes,
obtidos pelo integrado, devidamente corrigidos, de acordo com variação do IGP-M (Índice
Geral de Preço de Mercado) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), para obter ressarcimento por
perdas e danos.
Por fim, a integradora e os integrados obrigam-se a tratar como confidenciais as
informações relacionadas aos produtos e assuntos que vierem a ter conhecimento em razão do
contrato e das condições deste durante sua vigência. Talvez seja esse o principal motivo que
condiciona muitos agricultores a serem integrados, entendendo a integração como um bom
investimento, antes de conhecer suas exigências.
Ao analisarmos o caso da Sadia - Dois Vizinhos, percebemos que as exigências da
empresa aos produtores, ―assinatura de contratos em que são descritas as obrigações do
integrado e do integrador, condições de higiene e manejo, adequação da criação e o tipo de
galpão, equipamentos utilizados nas granjas― são todas padronizadas pela empresa. Desse
modo, segundo Alves (2005), o agricultor faz altos investimentos ultrapassando os
R$100.000,00 por aviário e, a partir disso, o agricultor fica ―amarrado‖ à empresa, pois, para
compensar o investimento inicial, são necessários anos de trabalho intenso.
Além desses fatores, segundo Alves (2005), é importante também salientar que a
maioria dos avicultores integrados são agricultores familiares, e o sistema de integração vem
60
transformando tanto a unidade familiar nas divisões do trabalho e nas tomadas de decisões,
como as unidades de produção, nas atividades agropecuárias, nas técnicas de manejo
utilizadas e na organização da propriedade. Através disso o agricultor vai perdendo sua
autonomia e identidade. Assim, no próximo capítulo descreveremos a agricultura familiar
seus conceitos e diretrizes a fim de observarmos as modificações ocasionadas pela produção
avícola integrada e, ainda, apontaremos uma das alternativas para o desenvolvimento
territorial local, baseada na autonomia, na preservação ambiental e na qualidade de vida: a
agroecologia.
61
CAPÍTULO III – AGRICULTURA FAMILIAR: A PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA
COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
3.1 – AGRICULTURA FAMILIAR
Como pudemos verificar no capítulo II, a principal forma de trabalho empregada no
processo de integração é a mão-de-obra familiar, pois conforme Moreira (1999), o que sucede
nos contratos de serviços e produções ocorre também no contrato de produção integrada da
Sadia. O que realmente se torna mais relevante é o fato do agricultor exercer o trabalho na sua
propriedade e em seu aviário, sendo, assim, proprietário e trabalhador para terceiros.
Segundo Moreira (1999), é nesse sentido que os agentes do capital agem sobre a
produção organizada de forma familiar, caracterizando a possibilidade de captação de lucros
como norma de operação do sistema proprietário/trabalhador, implicando a subordinação do
trabalho ao capital.
Contudo, observamos que, nas propriedades pesquisadas no município de Verê, há
características de uma agricultura familiar com bases camponesas, como a resistência e a
valorização do saber fazer, reproduzidas de geração em geração combinando produção de
subsistência com produção de mercadorias. O camponês, detém tanto a propriedade privada
da terra quanto a dos instrumentos de seu trabalho e a posse dos meios de vida necessários a
sua manutenção.
Segundo Wanderley (1996), os traços característicos das sociedades camponesas são a
autonomia face à sociedade global, a importância estrutural dos grupos domésticos e um
sistema econômico de autonomia relativa da vida social, pautado na coletividade, na
diversidade e na homogeneidade. Esses fatores, segundo palavras da autora, fazem com que a
agricultura camponesa tradicional venha a ser uma das formas sociais de agricultura
familiar, uma vez que ela se funda sobre a relação entre propriedade, trabalho e família
(1996, p.03).
Assim, segundo Wanderley (2004), as sociedades camponesas definem-se pelo fato de
manterem, com a sociedade globalizante, laços de integração, entre os quais os vínculos
mercantis têm significativa importância. Desse modo, o agricultor familiar é um agente social
do mundo moderno, mas mantém, em si, um camponês, uma tradição adaptada às condições
62
modernas de produzir e de viver em sociedade, tendo capacidade de resistência e adaptação
aos novos contextos econômicos e sociais, fato que dá condição para que esse agricultor
mantenha-se como agente social. Esse agricultor familiar, de certa forma, permanece
camponês na medida em que a família continua sendo o objetivo principal que define as
estratégias de produção e reprodução e a instância imediata de decisão (WANDERLEY,
2004, p. 48).
O fato de ocorrerem transformações na base do sistema de produção camponês é
inegável, mas, segundo Wanderley (2004, p. 51):
[...] para muitos agricultores familiares, a força do passado não se
enfraqueceu e permanece como uma referência que determina as práticas e
as representações das famílias. Assim, apesar da crescente influência da
escolarização, os agricultores nunca renunciaram à socialização dos filhos
pela própria família.
[...] A terra trabalhada por uma família não é apenas um espaço técnico, é
também o espaço de uma certa concepção de liberdade individual
conquistada sobre a sociedade e, mais ainda, contra o Estado. Em todo lugar,
os trabalhadores desenvolvem suas iniciativas em continuidade com seus
pertencimentos antigos e em luta contra as formas de dominação política ou
econômica.
Além disso, é na agricultura familiar que se desvenda um rural diversificado, com
estratégias de sobrevivências específicas, conforme afirma Wanderley (2004). Em alguns
países onde a agricultura familiar é reconhecida há mais tempo, os próprios agricultores
definem-se como camponeses, defendendo uma concepção diferente de agricultura moderna,
pautada num modelo fundado na qualidade dos produtos, na relação afetiva dos agricultores
com os consumidores, dispondo de competência profissional que é resultado da influência do
saber técnico aprendido com o conhecimento da terra e da atividade agrícola herdado, das
tradições camponesas.
Dessa maneira, a tradição camponesa, diante do processo de modernização da
agricultura, torna-se uma qualidade positiva, pois o agricultor familiar conhece de modo
detalhado a terra, as plantas e os animais que possui. Assim, sente-se responsável pelo
respeito e preservação da natureza, possuindo, segundo Brandão (1999), afeto à terra e amor à
profissão. Concordamos com Wanderley (2004), quando ela afirma que os agricultores
familiares, em sua grande maioria, têm a sua história vinculada a uma história camponesa e
não correspondem a uma invenção moderna do Estado, no entanto esses agricultores precisam
adaptar-se às condições modernas da produção agrícola e da vida social.
63
Atualmente, os agricultores familiares recebem várias denominações como pequenos
produtores, trabalhadores rurais, colonos, camponeses etc, muitas delas equivocadas, pois por
ser um agricultor familiar não quer dizer que ele seja um pequeno produtor; em geral, ele
pode ser pequeno porque dispõe de poucos recursos e tem restrições para potencializar suas
forças produtivas, porém, não é a sua dimensão que determina sua natureza e sim as relações
internas e externas que realiza cotidianamente.
Efetivamente, a expressão ―agricultura familiar‖ é ainda recente no Brasil, pois surgiu
nos anos 1990, fortaleceu-se em 1995 com o PRONAF – Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar. A discussão teórica em torno dessa temática avança
em virtude da sua importância e do seu papel no desenvolvimento local e na segurança
alimentar.
Segundo Moreira (1999), a agricultura familiar refere-se a formas já constituídas,
presentes desde o campesinato que, assim como a agricultura familiar, possui seus elementos
baseados no trabalho familiar, nas práticas de ajuda mútua, na propriedade da terra, dos meios
de produção e na autonomia.
Para análise do conceito de agricultura familiar, temos que considerar o estudo
realizado, no âmbito de um convênio de cooperação técnica entre a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), que considera a agricultura familiar a partir de três características
centrais:
a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos
por indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou casamento; b) a
maior parte do trabalho é igualmente realizada pelos membros da família; c)
a propriedade dos meios de produção pertence à família e é em seu interior
que se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou aposentadoria dos
responsáveis pela unidade produtiva. (INCRA/FAO, 1996, p. 4)
Na legislação brasileira, a definição de propriedade familiar consta no inciso II do
artigo 4º do Estatuto da Terra, estabelecido pela Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964,
com a seguinte redação:
[...] propriedade familiar: o imóvel que, direta e pessoalmente explorado
pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho,
garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área
máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente
trabalhado com a ajuda de terceiros.
64
Na definição da área máxima, a lei nº 8629, de 25 de fevereiro de 1993, estabelece
como pequeno os imóveis rurais com até 4 módulos fiscais e como média propriedade,
aqueles entre 4 e 15 módulos fiscais.
Lei 11.326, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da
República, em 24 de junho de 2006, define o agricultor familiar, o empreendedor familiar
rural, aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo aos seguintes requisitos:
I- não detenha área maior que 4 módulos fiscais; II- utiliza
predominantemente a mão-de-obra da família nas atividades econômicas do
seu estabelecimento ou empreendimento; III- tenha renda familiar
predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao
próprio estabelecimento ou empreendimento; IV- dirija seu estabelecimento
ou empreendimento com sua família. (Brasil, 2006)
Também para a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), a
agricultura familiar é praticada em menos de quatro módulos rurais e com mão-de-obra
permanente. Já para o PRONAF, é formada por proprietários, posseiros, arrendatários,
parceiros ou concessionários da Reforma Agrária que residam na propriedade ou em local
próximo; detenham, sob qualquer forma, no máximo 4 (quatro) módulos fiscais de terra,
quantificados conforme a legislação em vigor, ou, no máximo, 6 (seis) módulos quando se
tratar de pecuarista familiar; com 80% da renda bruta anual familiar advinda da exploração
agropecuária ou não agropecuária do estabelecimento e mantenham até 2 (dois) empregados
permanentes – sendo admitida a ajuda eventual de terceiros.
Segundo o documento, Novo Retrato da Agricultura Familiar, do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (1995), no Brasil, existem duas formas de
produção agrícola, o patronal e o familiar. A agricultura patronal tem como características: o
processo produtivo com organização centralizada, ênfase na produção em escala, práticas
agrícolas padronizadas, mão-de-obra contratada e utilização de tecnologia de ponta. Já a
agricultura familiar é aquela com mão-de-obra basicamente familiar, contratando
trabalhadores quando necessário, a organização do processo de produção é feita pela família,
a produção é diversificada, há melhor ocupação da área de produção e cuidados com a
preservação dos recursos naturais.
Devido ao trabalho familiar numa unidade de produção agrícola onde propriedade e
trabalho estão intimamente ligados à família, consideramos que a mais importante
característica dessa produção é a fusão entre a família e a propriedade, partes do mesmo
sistema de produção de alimentos.
65
Segundo Taschetto e Walkowicz (2007), os agricultores familiares produziam, até
1970, alimentos para o consumo e só o excedente era comercializado para poder comprar
itens que não eram produzidos na propriedade. Algumas vezes, devido ao afastamento das
cidades, os agricultores montavam pequenas agroindústrias artesanais para suprir as
necessidades domésticas e da ―comunidade‖. Muitas vezes, quanto mais distante a
propriedade estava da cidade, mais diversificada era a produção, garantindo a sobrevivência
da família.
A partir dos anos 1960-1970, intensificou-se no Brasil o processo de modernização da
agricultura, com a introdução de máquinas, insumos, adubos químicos, créditos rurais e a
criação de um sistema de armazenamento, comercialização e transporte. E isso transformou
também a forma de vida de muitos agricultores familiares, pois existiam diferenças entre eles,
como por exemplo, o tamanho da propriedade, as relações de trabalho, os produtos cultivados
etc.
É importante destacar também que, no Brasil, a agricultura familiar é constituída por
pequenos e médios produtores representando a maioria dos produtores rurais. De acordo com
o censo agropecuário (2006/07), dos 5.175.489 estabelecimentos da agricultura familiar
presentes no Brasil, a região que apresenta o maior número é o Nordeste, com 2.187.295
estabelecimentos, seguido do Sul, com 849.997; do Sudeste, com 699.978; do Norte, com
413.101 e do Centro-Oeste, com 217.531. Na Região Sul, o estado com o maior número é o
Rio Grande do Sul, com 378.546 estabelecimentos, seguido pelo Paraná, com 302.907, e
Santa Catarina, com 168.544.
O Sudoeste do Paraná possui 39.532 estabelecimentos, o que representa
aproximadamente 14% dos estabelecimentos agropecuários da agricultura familiar do
estado; no entanto ocupam 566.635 hectares, com uma média de 14 hectares, enquanto os
estabelecimentos não familiares ocupam uma área de 403.316 hectares, totalizando uma
média aproximada de 82 hectares por estabelecimento. Dessa maneira, podemos concluir
que na mesorregião Sudoeste paranaense há predominância da agricultura familiar, com
muitas pequenas propriedades (menores de 20 hectares), com uso da mão-de-obra familiar,
de donos dos meios de produção e gestão familiar.
Isso também pode ser verificado no município de Verê, em que, segundo o censo
agropecuário (2006/2007), há 1301 estabelecimentos agropecuários; destes, mais de 90% são
estabelecimentos da agricultura familiar, ocupando uma área de 18.855 hectares, com uma
média de 16 hectares. Por sua vez, as propriedades não familiares representam 9% dos
66
estabelecimentos agropecuários e o tamanho das propriedades atingem uma média de 80
hectares por estabelecimento. O fato é que as propriedades analisadas nesta pesquisa, além
de agroecológicas, são também familiares, pois, das 19 estudadas apenas 5 possuem mais
que 20 hectares; todas possuem gestão familiar; a principal mão-de-obra utilizada em 17
delas é familiar e os agricultores são donos das terras e dos meios de trabalho produzindo
alimentos saudáveis, preservando o ambiente e a saúde humana, fatores que caracterizam as
propriedades da agricultura familiar agroecológica.
Muitas transformações continuam ocorrendo no espaço rural, evidenciando a
construção de novos arranjos sociais e produtivos. Existem muitos desafios a serem
enfrentados. Segundo Portugal (2002), os principais limitantes do desenvolvimento da
agricultura familiar são a inserção no mercado ou no processo de desenvolvimento, que vai
depender da tecnologia e das condições político-institucionais, representadas pelo acesso ao
crédito, informações organizadas, canais de comercialização, transporte, energia, além de
outros fatores. O principal desafio é adaptar e organizar a produção a partir das tecnologias
disponíveis e das condições financeiras de cada agricultor.
Para Sauer (1998), uma forma de superar tais problemas é a reforma agrária, pois
através dela, dá-se o desenvolvimento combinado com distribuição de riqueza e renda,
consolidando a produção familiar e promovendo a interiorização do desenvolvimento.
Segundo Portugal (2002), cabe ressaltar que os desafios apresentados não são da
mesma intensidade em todas as regiões, estados e municípios do Brasil, pois as diferenças são
significativas e cada local requer um plano diferenciado de acordo com suas dificuldades e
com as características de cada território.
Além disso, conforme Portugal (2002), a agricultura familiar tem um papel crucial na
economia das pequenas cidades, pois, no Brasil, 4.928 municípios têm menos de 50 mil
habitantes; destes, mais de quatro mil têm menos de 20 mil habitantes. Os produtores
agropecuários e seus familiares atuam em alguns empregos no comércio e nos serviços
prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda por meio de sua inserção no mercado
tem impacto importante no interior do país e por consequência, nas metrópoles.
Para Nazzari (2007), o fortalecimento da agricultura familiar pode contribuir para a
inclusão social, desenvolvimento econômico e elevação dos índices de capital social, que tem
como variáveis a confiança, a cooperação e a participação política dos cidadãos. O capital
social é processo e instrumento de cidadania que pode mudar as relações pessoais e produzir
intercâmbios que gerem redes de cooperação e solidariedade, conforme demonstra Dematteis
67
(2008), por meio do SLOT (Sistema Local Territorial), através do qual, há a construção de um
ator coletivo.
Para Altafin (s/d), a diversidade das situações em que a agricultura familiar está
inserida reflete-se também nas reações da dinâmica econômico-social dos territórios, as quais
já faziam parte das práticas camponesas bloqueadas pelo modelo produtivista. Para a autora,
há sete contribuições da agricultura familiar para a sociedade:
a) a primeira é o seu papel original de garantir a segurança alimentar, fornecendo alimentos e
possibilitando o acesso eles.
b) a segunda é a função de gerar emprego no espaço rural;
c) a terceira é a preservação ambiental;
d) a quarta é a relação com os recursos naturais, fator ligado à sua capacidade de respeitar e
conviver, de forma harmônica, com os ecossistemas naturais, tidos pelos agricultores como
patrimônio familiar;
e) a quinta é a sua ―vocação‖ para produzir e consumir valorizando a diversidade, essencial à
preservação ambiental, além de a gestão da propriedade propiciar a realização de atividades
que requerem maior cuidado no manejo dos recursos;
f) a sexta é a função sócio-cultural, o resgate de um modo de vida que associa conceitos de
cultura, tradição e identidade;
g) a sétima e última é a valorização de desenvolvimento local, baseado em processos
endógenos, com o aproveitamento racional dos recursos disponíveis em unidades territoriais
delimitadas pela identidade cultural.
Conforme observamos, são variadas as concepções em relação à agricultura familiar,
assim como existem agricultores familiares em diferentes estágios de reprodução social,
generalizados a uma única concepção, a de agricultor familiar. Assim, percebemos a
importância da agricultura familiar em várias discussões, no entanto, verificamos também os
limites para o desenvolvimento dessa forma de produção. É preciso melhorar as condições
para a diversificação na produção, proporcionando renda, melhorias sociais, ambientais e das
condições de vida, da valorização do espaço rural e da relação afetiva do agricultor com o
consumidor.
E é desse modo que a agricultura familiar é reconhecida como responsável por parte
significativa das dinâmicas rurais e de grande relevância na articulação rural-urbana. Além
disso, estamos convencidos de que o agricultor familiar não é apenas um ―personagem‖
passivo diante da modernização e da produtividade; ao contrário, ele é um ser construtor que
68
escreve a sua própria história no emaranhado campo de poder que é a agricultura, atuando
com a experiência herdada do campesinato e com as adaptações aos novos desafios da
modernização agrícola.
Por isso, os agricultores familiares agroecológicos do município de Verê têm muito
interesse em permanecer no campo ―conforme mostraremos no capítulo 5― produzindo para
consumir e comercializar, buscando, cada vez mais, formas alternativas de produção, entre
elas, a agroecologia, uma prática agrícola baseada no uso racional dos recursos naturais, na
produção de alimentos saudáveis e na valorização da qualidade da vida do homem do campo,
da sua família, do seu trabalho e da sua cultura. Produzem alimentos sem o uso de agrotóxicos
e de forma artesanal, utilizando técnicas e tecnologias que não geram impactos significativos
na natureza.
Nessa perspectiva, segundo Saquet (2009), a natureza é um patrimônio territorial e
precisa ser gerida pela sociedade local, articulada a outros grupos sociais, com capacidade de
autogestão, valorizando a natureza, a ajuda mútua, o pequeno comércio, a autonomia, o
trabalho manual do agricultor, os saberes populares, a cooperação, o patrimônio cultural-
identitário, a biodiversidade, as microempresas, enfim, a vida.
3.2 – AGROECOLOGIA: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL
Primeiramente, cabe destacar que a agricultura alternativa é distinta da agricultura
baseada nos princípios agroecológicos, pois a agricultura alternativa pode meramente ser vista
como conotação da aplicação de práticas que visam atender requisitos sociais e ambientais e
não necessariamente atendem às orientações mais amplas emanadas da agroecologia,
conforme veremos adiante.
As discussões em relação aos impactos sócio-ambientais provindos do processo de
modernização da agricultura iniciado nos anos de 1960 vem-se expandindo tanto no Brasil
como em vários países do mundo devido aos impactos ambientais e à concentração de terra e
riqueza nas mãos de poucos. Segundo Saquet et. al. (2009), o modelo de desenvolvimento
econômico, pautado no pacote tecnológico exposto pela revolução verde, ampliou a
quantidade de alimentos produzidos, porém, ao mesmo tempo, intensificou tanto a agressão
69
ao ambiente como as desigualdades sociais fazendo-nos pensar num modelo de
desenvolvimento que considere as dimensões sociais (economia, cultura e política) e naturais,
conforme descrevemos no capítulo 1.
Dessa forma, como contraponto à revolução verde, novos métodos e técnicas agrícolas
denominados alternativos desenvolveram-se, buscando adaptação à dinâmica dos
ecossistemas e, ao mesmo tempo, empregar seus elementos (animais, vegetais, minerais,
hídricos, solos etc) buscando a sustentabilidade. Segundo Saquet et. al. (2009), uma das
correntes dessa possibilidade alternativa traduz-se na agroecologia. Esta compreende a
utilização de uma agricultura menos agressiva ao ambiente, que promova a inclusão social,
proporcionando melhores condições econômicas para os agricultores e favorecendo a
segurança alimentar.
Segundo Miklós (1998), a produção agroecológica e suas diversas modalidades ou
escolas tiveram início na Europa, na década de 1920, com a experiência de pequenos grupos
de agricultores e o acompanhamento de especialistas, pesquisadores e filósofos que, na época,
não encontraram recepção fácil às suas ideias.
Conforme Adriano Saquet et. al.(2005), em novembro de 1972, na França, cria-se a
IFOAM - Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica - hoje com sede
na Alemanha. A IFOAM passou a reunir centenas de entidades e pessoas físicas ligadas à
agricultura ecológica e a agroecologia começou a se fortalecer. No entanto, com a necessidade
de produção de alimentos rápida em grande escala, criou-se, há algumas décadas, um sistema
de produção agrícola baseado na aplicação de agroquímicos, chamado de agricultura
convencional, implantada a partir da modernização da agricultura.
Todavia, após a Conferência para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, a ECO-92,
no Rio de Janeiro, chegou-se à conclusão de que os padrões de produção e atividades
humanas em geral teriam que ser modificados. Isso propiciou a procura de alternativas de
produção, inclusive nas atividades agrícolas. Os movimentos ocorridos no sentido da
implantação de maior qualidade dos produtos agrícolas desenvolveram-se de forma ímpar.
Segundo Miklós (1998), a evolução da agroecologia foi gradual, iniciando-se no fim
da 1ª Guerra Mundial, quando surgiam, na Europa, as primeiras preocupações com a
qualidade dos alimentos consumidos pela população. Após a 2° Guerra Mundial, a agricultura
sofreu um novo incremento, uma vez que o conhecimento humano avançava nas áreas da
química industrial e farmacêutica. Logo depois dessa fase, com o objetivo de reconstruir
70
países destruídos e dar base a um crescente aumento populacional, surgiram os adubos
sintéticos e agrotóxicos seguidos, posteriormente, das sementes geneticamente melhoradas.
A produção cresceu e houve grande euforia em todo o setor agrícola mundial,
que passou a ser conhecido como Revolução Verde. Por outro lado, duvidava-
se que esse modelo de desenvolvimento fosse perdurar, pois ele negava as leis
naturais. Neste contexto, surgiram em todas as partes do mundo movimentos
que visavam resgatar os princípios naturais, a exemplo da agricultura natural
(Japão), da agricultura regenerativa (França), da agricultura biológica
(Estados Unidos), além das formas de produção já existentes, como a
biodinâmica e a orgânica (MIKLÓS, 1998, p.4).
Alguns movimentos tinham princípios semelhantes e passaram a ser conhecidos como
agricultura orgânica. Segundo a Associação da Agricultura Orgânica (2008), o conceito de
agricultura orgânica surge com o inglês Albert Howard, entre os anos de 1925 e 1930, quando
pesquisou o tipo de agricultura praticada pelos camponeses na Índia. Howard ressaltava a
importância da utilização da matéria orgânica e da manutenção da vida biológica do solo. Já
nos anos de 1990, tal conceito ampliou-se e trouxe uma visão mais integrada e sustentável
entre as áreas de produção e preservação, procurando resgatar o valor social da agricultura e
passando a ser conhecido como agroecologia. A agroecologia torna-se, dessa forma, uma
alternativa em potencial ao sistema tradicional de produção agrícola (SAQUET, 2008).
Da mesma maneira, em obra anterior, Altieri (2004, p. 204) trata a agroecologia como
[...] uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e
socioeconômicos, a compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre
os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo [...] O objetivo é trabalhar
com e alimentar sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e
sinergismo entre os componentes biológicos criem, eles próprios, a fertilidade
do solo, a produtividade e a proteção das culturas.
Segundo Saquet et al.(2005), a agricultura ecológica, envolvida pela agroecologia, tem
como principal objetivo a produção de alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos, de boa
qualidade, bom sabor, aroma e valor nutricional. Ao mesmo tempo, devem ser preservados os
recursos e as paisagens naturais, assegurar o trabalho e servir como fonte de renda para a
subsistência das famílias agricultoras. Segundo os autores, a entidade mais antiga nos
movimentos favoráveis à agricultura ecológica, ou agroecologia, no Brasil, é a Estância
Deméter, de Botucatu, São Paulo, instalada em 1934, originando o Instituto Biodinâmico
(IBD), fundado em 1981. A primeira Organização Não governamental (ONG) de agricultura
ecológica no Brasil foi a Mokiti Okada.
71
Benthien (2007) afirma que a história da formação de movimentos ecológicos, no
Brasil, culminando no que hoje conhecemos como agroecologia, conflui com o
fortalecimento, em nível mundial, da luta das organizações não-governamentais (ONGs) e
com a discussão sobre o meio ambiente e desenvolvimento desde a década de 1970.
A agroecologia, mesmo restrita a espaços específicos e incipientes em várias regiões
do Brasil, representa a formação de uma base concreta de contestação à lógica da
racionalidade econômica empregada pelo modo de produção capitalista, além de concretizar a
manutenção do modo de vida de agricultores familiares sugerindo perspectivas alternativas de
reprodução social. Algumas ONGs brasileiras, como a ASSESOAR, no Sudoeste do Paraná,
têm um papel importante no estabelecimento de práticas agroecológicas, principalmente pela
formação de grupos de assessoramento e acompanhamento rural que levam aos agricultores
informações sobre a melhor forma de trato com a terra, além de auxílio no escoamento da
produção, evitando perdas.
Segundo Benthien (2007), a Conferência de Estocolmo, ocorrida no início da década
de 1970, provocou grandes avanços de ordem jurídica e social, expondo ao mundo a constante
ocorrência de catástrofes ambientais tais como: o surgimento de nuvens tóxicas devido a
vazamentos químicos, chuvas ácidas e derramamento de petróleo no mar. A contribuição
principal de tal conferência foi de fazer com que as preocupações ambientais internacionais
ocupassem um lugar de destaque na agenda de negociações dos países, com o intuito de
cooperação internacional.
Um pouco antes, em 2003, Silva-Sánchez afirmou que:
[...] o meio ambiente, compreendido em sua concepção mais ampla, que
envolve as relações políticas, econômicas e sócio-culturais, passou a ocupar
um lugar central nas relações e políticas internacionais e se, por um lado, os
problemas ambientais podem levar a conflitos e enfrentamentos entre os
Estados-Nação podem também, ou pelo menos têm potencial para isto, forçar
uma cooperação entre os Estados (p.16).
Assim, segundo Benthien (2007) vinte anos após a Conferência de Estocolmo, com a
Eco-92 destaca-se a necessidade de cooperação internacional em favor do desenvolvimento
sustentável4. Porém, isso não provocou resultados significativos para os problemas
encontrados em sua agenda, a Agenda 21 que, conforme o MMA (2010) (Ministério do Meio
4 Segundo Almeida a noção de desenvolvimento sustentável vem sendo utilizada como portadora de um novo
projeto para a sociedade, capaz de garantir, no presente e no futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da
natureza. Ideia que teve origem a partir do Relatório de Brundtland (1987), conhecido no Brasil por ―Nosso
Futuro Comum‖, a ideia de desenvolvimento sustentável aparece nos seguintes termos: é aquele ―capaz de
garantir as necessidades das gerações futuras‖. (1997, p. 20-21)
72
Ambiente), é um programa de ação, (...), que se constituí na mais ousada e abrangente
tentativa já realizada, em promover, em escala planetária, um novo padrão de
desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência
econômica (p.01). A discussão e internalização político-legislativa da problemática ambiental
no Brasil são percebidas nesse período, mesmo já existindo, desde meados da década de 1980,
as raízes do movimento ambientalista.
Na década de 1980, o ambientalismo no país ainda era incipiente; as ONGs existentes
até então tinham poucos militantes, baixo orçamento e atuação local:
Eram um conjunto de organizações desarticuladas, amadoras, que viviam do
heroísmo de seus militantes e de campanhas pontuais. Faziam muito barulho,
causavam comoção, mas ainda tinham muito pouca efetividade na
formulação de políticas públicas, situação que mudou radicalmente após a
Rio-92 (CRESPO, 2003, p.62).
Conforme Benthien (2007), nas últimas quatro décadas de conferências internacionais
sobre o meio ambiente e através das manifestações contra as ideologias dominantes presentes
em muitas ONGs no Brasil, a agroecologia começa a se desenvolver como uma forma de
resistência à lógica do mercado imposta pelo capitalismo, incorporando aspectos da
sustentabilidade ambiental em suas práticas, além de ser uma alternativa de sobrevivência aos
agricultores agroecológicos, como descreveremos no capítulo 5, por meio do estudo da
agricultura familiar agroecológica no município de Verê
No Brasil, a agroecologia começa a apresentar raízes na década de 1970, segundo
Brandenburg (2002), passando a ser construída através do auxílio de instituições da sociedade
civil organizada, de segmentos da Igreja (como a Pastoral da Terra) e por entidades estatais
como a EMATER. Por ser uma prática alternativa, sua participação no mercado também
atende a um viés alternativo na medida em que há, por parte de grupos de agricultores
ecológicos, a intenção de formação de organizações sociais autogestionáveis, que atinjam um
mercado consumidor, gerando a valorização e preferência por seus produtos.
A agroecologia envolve várias correntes da produção agrícola como alternativa aos
métodos técnico-econômicos de produção ou agricultura convencional, e é a partir dessa
lógica que buscamos apresentar essa alternativa para contrapor ao modelo de produção
integrada efetivada pela Sadia.
73
Para Saquet et al. (2005, p.13), o objetivo principal da agricultura alternativa é a
formação e manutenção de um equilíbrio ecológico nas áreas agrícolas produtivas e gerar
uma independência dos recursos externos de produção.
Quando o autor se refere à independência dos recursos externos é porque as formas de
produção convencional utilizam tecnologias, máquinas e toneladas de insumos químicos que
fazem com que o agricultor passe a depender do mercado e da indústria. Então, a agroecologia
significa uma forma de substituir a produção agrícola convencional, além de produzir
alimentos mais saudáveis, proteger e conservar os recursos naturais, socializar a mão-de-obra
do agricultor e buscar autonomia.
Em Altieri (2004), a agroecologia é definida como ciência ou disciplina científica que
apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir e
avaliar agroecossistemas, com o objetivo de favorecer a implantação e o desenvolvimento de
sistemas de produção com maiores níveis de sustentabilidade, ou seja, para esse autor, a
agroecologia não é a forma agrícola de produzir, mas sim, a ciência que procura compreender
os processos produtivos de uma maneira mais ampla, principalmente as formas de agricultura
como a orgânica e a ecológica.
Para Gliessman (2001), a agroecologia é uma fusão da agronomia com a ecologia e
constitui-se numa ciência. ―A agroecologia proporciona o conhecimento e a metodologia
necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente
produtiva e economicamente viável (p.54). Seguindo a mesma linha, para Caporal e
Costabeber (2002, p.16), a agroecologia é um conjunto de conhecimentos que vem orientar o
correto redesenho e o adequado manejo de agroecossistemas na perspectiva da
sustentabilidade. Além disso, na agroecologia, apóia-se a transição dos atuais modelos de
desenvolvimento rural baseados na agricultura convencional para estilos de desenvolvimento
rural baseados na agricultura sustentável.
Conforme Caporal e Costabeber (2004), a agroecologia, vista a partir de um enfoque
sistêmico, adota o agroecossitema5, cujos objetivos não são a maximização da produção de
uma atividade particular, mas a otimização do agroecossistema como um todo, enfatizando o
conhecimento das relações entre as pessoas, dos cultivos, do solo, da água e dos animais.
Portanto, para Caporal e Costabeber (2004, p. 12):
5 Segundo Altieri (1989), agroecossistema é a unidade fundamental de estudo, no qual os ciclos minerais, as
transformações energéticas, os processos biológicos e as relações sócio-econômicas são vistas e analisadas em
seu conjunto.
74
Na agroecologia, é central o conceito de transição agroecológica, entendida
como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do
tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas, que, na agricultura, tem
como meta a passagem de um modelo agroquímico de produção [...] a estilos
de agriculturas que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica
[...] a transição agroecológica implica na busca de uma maior racionalização
econômico-produtiva e numa mudança nas atitudes e valores dos atores
sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.
Para Gliessmán (2001), o processo de transição ocorre através de três fases: a primeira
concretiza-se com a diminuição das práticas convencionais para reduzir o uso de insumos
externos caros, escassos e daninhos ao ambiente; a segunda é a substituição de insumos e
práticas convencionais por práticas alternativas; e, por fim, a terceira, e mais complexa, é o
redesenho dos agroecossistemas para que estes funcionem com base em novos conjuntos de
processos ecológicos, por isso consideramos o processo de transição agroecológica difícil,
levando alguns agricultores a desistirem de produzir alimentos agroecologicamente.
Contudo, chegamos à conclusão de que, como afirma Gliessman (2001), a
agroecologia é uma ciência que orienta uma agricultura ambientalmente sustentável e
economicamente produtiva, utilizando tecnologias ecologicamente viáveis, incorporando-as a
um novo padrão produtivo que garanta produção satisfatória sem pôr em risco o ambiente
natural e a saúde humana.
Candiotto (2008), por sua vez, concorda que cabe à agroecologia pensar na
produtividade agrícola a partir da dinâmica de cada ecossistema e de sua transformação em
agroecossistemas sustentáveis, buscando compatibilizar benefícios ambientais, econômicos e
sociais, sobretudo para os agricultores familiares envolvidos. A partir de seus princípios
elementares, é possível menor agressão ao ambiente, produção de alimentos mais saudáveis e
geração de recursos para a autossustentação dos produtores. (SAQUET, 2008)
A dinâmica da chamada Revolução Verde implantou um modelo agrícola baseado na
utilização de algumas técnicas de manejo do solo que desencadearam problemas de ordem
econômica, natural e social. Contaminação das águas pelo uso excessivo de agrotóxicos,
consequentemente, causando danos ao ambiente. Economicamente a manutenção do produtor
familiar no espaço rural torna-se inviável, contribuindo para a desintegração da agricultura
familiar e ocasionado uma leva de despossuídos de terras.
Portando, a agroecologia surge como uma alternativa para amenizar os problemas
ambientais e sociais ocasionados pela intensa modernização agrícola e proporcionar a
inclusão dos pequenos produtores agrícolas no processo socioeconômico.
75
A concretização da agroecologia não se dará com facilidade, visto que ela
pressupõe a construção de uma nova ciência comprometida com os interesses
sociais e ecológicos dos movimentos populares e com a articulação entre
ciências sociais e naturais na compreensão dos problemas socioambientais da
atualidade, buscando cada vez mais soluções realmente sustentáveis.
Pressupõe, ainda, um enfrentamento político com os interesses econômicos
que dominaram o desenvolvimento do capitalismo industrial na agricultura
durante os últimos 130 anos (MOREIRA, p.128, 2004).
Pressupomos, então, para a agroecologia um elevado caráter social, pois pode
promover melhores condições de vida para o produtor que, além de praticar uma agricultura
familiar consolidada, evita a contaminação por produtos químicos, contribuindo com a
conservação do ambiente e possibilitando mais autonomia ao agricultor, conforme
descrevemos no capítulo 1.
A agricultura orgânica fundamentada na agroecologia é um sistema de produção
viável em pequenas áreas e permite a produção em pequena escala (SAQUET, 2008); desse
modo, praticar a agricultura orgânica requer uma detalhada organização da propriedade.
Referente ao desenvolvimento que se busca através da agricultura orgânica, não podemos
deixar de apontar que é um equívoco a afirmação de que o desenvolvimento está ligado
somente ao fator econômico. O desenvolvimento desejado tem que aliar processos
econômicos, sociais, culturais e naturais, conforme descrevemos no item 1.3 desta pesquisa.
Pensar em desenvolvimento aliando economia e sociedade é pensar em
desenvolvimento territorial. A agricultura familiar baseada no conceito de agroecologia pode
ser um viés ―apoiado nas noções de sustentabilidade― para a construção de um
desenvolvimento para o local. O acesso à agroecologia exige transformações nas esferas
políticas, sociais e econômicas, ou seja, o Estado enquanto provedor de políticas públicas
deve aliar-se às instituições que têm interesse nessa forma de produção e criar mecanismos
que tornem possível aos agricultores familiares à sua integração na agricultura sustentável.
Esta, por sua vez, usada na promoção da agricultura familiar, tem capacidade de assegurar
uma produção voltada para a subsistência, podendo também ser comercializada, gerando
outras fontes de renda para o produtor. Altieri (2004) ratifica que, novos agroecossistemas
sustentáveis não podem ser implementados sem uma mudança dos determinantes
socioeconômicos (p. 21).
De acordo com essa configuração, a agricultura familiar carece de ser estruturada
através da elaboração de políticas adequadas à sua produção, que atendam ao
desenvolvimento socioeconômico através de uma perspectiva cultural e política, como uma
76
proposta para a diminuição da pobreza e da exclusão social. Segundo Saquet (2008), a
agricultura familiar possibilita a inclusão social das pessoas no campo e melhora a saúde do
produtor e do consumidor.
A agricultura familiar baseada na produção agroecológica, pode dar certo desde que
haja pré-disposição de todos os interessados na melhoria da condição humana e ambiental
como ocorre em algumas propriedades do município de Verê – Sudoeste do Paraná, que
possuem várias culturas agrícolas agroecológicas. Sabemos que, em pequenas propriedades,
torna-se difícil a manutenção econômica baseada apenas na agricultura convencional. Assim,
conforme demonstraremos no capítulo 4, as pequenas famílias que vivem da produção de
alimentos, encontraram na agricultura agroecológica uma alternativa para a subsistência da
família e geração de renda.
Entretanto, em virtude dos elevados cuidados e do não uso de produtos químicos na
produção de alimentos agroecológicos, dependendo do número de
atravessadores/intermediários (mercados e associações), tornam-se mais caros para o
consumidor, já que o poder de compra da maioria dos brasileiros não possibilita o consumo
desses produtos, no entanto, se a comercialização é realizada in loco, na venda direta ou em
feiras, os preços ficam mais baixos. Antes de calcular o valor econômico destes produtos,
porém, devemos lembrar-nos dos inúmeros benefícios que eles oferecem à saúde humana e ao
ambiente.
Os estudos segundo a ciência agroecológica permitem alternativas pensadas em prol
do agricultor familiar, em que este, através da agricultura familiar, consiga as condições
necessárias para se manter no campo colaborando com a recuperação e preservação do
ambiente.
Por fim, a agroecologia promove uma concepção de que é possível fazer uma
agricultura familiar estruturada na produção orgânica de alimentos, voltada para a
subsistência da família e para o mercado consumidor. A agricultura que utiliza recursos
naturais em sua produção precisa ser incentivada pelo Estado, pelos Movimentos Sociais,
pelas instituições privadas e pelo próprio mercado consumidor.
A agroecologia, além de proporcionar rendimentos ao produtor, contribui também para
a preservação do ambiente e produção de alimentos saudáveis. Isso significa pensar em um
desenvolvimento territorial que não leva em conta apenas o crescimento econômico, mas,
possibilita avanços e conquistas ambientais, políticas e culturais.
77
CAPÍTULO IV – ENTIDADES PARCEIRAS DA AGROECOLOGIA EM VERÊ-PR.
A produção agroecológica, como forma alternativa, está sendo implementada para
substituir o uso excessivo do pacote tecnológico disseminado pela ―revolução verde‖. O fato é
que muitas ONGs, associações de produtores e agricultores familiares estão assumindo um
compromisso em defesa da saúde humana e da preservação e conservação ambiental, aliando
a isso o desenvolvimento econômico e social, facilitando a inclusão social, buscando justiça
social e autonomia.
Exemplos delas são o CAPA e a ASSESOAR, preocupados com a permanência do
agricultor familiar no campo, buscando informá-lo e conscientizá-lo da importância de
produzir agroecologicamente, mostrando que a sua estabilidade no campo é possível,
utilizando a mão-de-obra da família e diminuindo os custos de produção se comparados com
o cultivo convencional. Os ganhos com a venda da produção agroecológica podem ser mais
significativos e, ao mesmo tempo, cuida-se da saúde da família, do consumidor e da
preservação e manutenção dos ecossistemas.
As associações de produtores, como a APAV e APROVIVE, em Verê, atuam
incentivando a produção agroecológica e a permanência dos agricultores familiares no campo,
através do planejamento, organização e comercialização da produção.
Além disso, um papel importante também é desempenhado pelas instituições
certificadoras como a REDE ECOVIDA, que preocupadas com a garantia da qualidade da
produção, vêm atuando na região Sul do Brasil, facilitando as trocas de informações e a
certificação participativa.
De acordo com as normas da Rede Ecovida (2010), a certificação participativa é um
sistema solidário de geração de credibilidade, no qual a elaboração das normas de produção
ecológica é realizada com a participação efetiva dos agricultores, buscando o
aperfeiçoamento, com respeito à realidade de cada produtor. A certificação, além de garantir a
qualidade do produto, respeita e valoriza a cultura local, buscando aproximar os agricultores e
consumidores para a construção de uma rede que congregue iniciativas de diferentes regiões.
Outra entidade que desempenha um papel fundamental é a CRESOL (Cooperativas de
Crédito Rural com Interação Solidária), atuando nos estados do Paraná e Santa Catarina, com
facilidades de acesso a financiamentos custeio/investimento, disponibilizando uma linha de
78
crédito específica para agricultura orgânica ou agroecológica. Além disso, todos os seus
cooperados são exclusivamente agricultores familiares.
As entidades parceiras como o CAPA, a APAV e a APROVIVE possuem o papel mais
importante, pois são as principais incentivadoras e responsáveis pela evolução da produção
agroecológica no município de Verê, atuando com assistência técnica especializada, na
organização e comercialização da produção, oferencendo alternativas de comercialização que
atendam à realidade do produtor e às exigências do consumidor, conforme apresentaremos a
seguir.
Figura 2- Organograma das entidades parceiras vinculadas à agroecologia no município de Verê
Org.: GAIOVICZ, E. F. 2010.
79
4.1 - REDE SOLIDÁRIA DE COMERCIALIZAÇÃO E DE CERTIFICAÇÃO
PARTICIPATIVA: REDE ECOVIDA
Segundo Santos (2003), ao final do ano de 1998, iniciaram-se os debates para a
formação da Rede Ecovida. Em 2000, uniram-se organizações de todo Sul do Brasil e iniciou-
se a reunião dos primeiros documentos sobre o funcionamento e o processo de certificação. A
Rede Ecovida é formada por agricultores familiares, técnicos e consumidores reunidos em
associações, cooperativas e grupos informais, juntamente com pequenas agroindústrias,
comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia.
Atualmente, a Rede Ecovida conta com 21 núcleos regionais, abrangendo em torno de
170 municípios. Seu trabalho congrega, aproximadamente, 200 grupos de agricultores, 20
ONGs e 10 cooperativas de consumidores. Em toda a área de atuação da Ecovida, são mais de
100 feiras livres ecológicas e outras formas de comercialização.
Nesse processo, ocorre a constituição de um território, pois, de fato, as interações
política, econômica e social são efetivadas pela Rede Ecovida, através dos núcleos regionais e
da certificação participativa, concretizando malhas, nós e redes. A malha é a conexão entre as
diversas instituições, os nós são a Ecovida e as demais entidades e a rede são as ligações entre
os diversos nós – entidades e associações. Esse sistema está organizado hierarquicamente,
assegurando o controle sobre tudo o que se movimenta dentro e fora do território abrangido
pelos núcleos.
O funcionamento da Rede é descentralizado e está baseado na criação de núcleos
regionais (mapa 4) que reúnem membros de uma região com características semelhantes,
facilitando a troca de informações e a certificação participativa. Dessa maneira, em cada
núcleo regional, todos os atores têm papel fundamental, podendo participar para melhorar a
qualidade dos produtos e a forma de produzir. Para tanto, a Rede Ecovida faz reuniões e
visitas para conhecer as propriedades com iniciativas de produção e transformação
agroecológica, de forma transparente, construindo relações de confiança. Desse modo, ocorre
a certificação participativa, a obtenção das informações, a verificação do cumprimento das
normas e o aperfeiçoamento dos sistemas produtivos são realizados com o envolvimento dos
produtores, técnicos e das organizações de assessoria, como a ASSESOAR, no Sudoeste do
Paraná.
80
MAPA 4 – Territorialização da Ecovida: localização dos núcleos regionais
Fonte: http://www.ecovida.org.br/?sc=SA003, acesso em 05/11/2010; Org.: GAIOVICZ, E.F., 2010.
No Sudoeste do Paraná, no município de Francisco Beltrão, existe um núcleo da Rede
Ecovida, parceiro da ASSESOAR e do CAPA, chamado Grupo Sudoeste, que contribui na
conversão de algumas propriedades, na produção, comercialização e certificação dos produtos
orgânicos produzidos a partir da agroecologia; isso, pode ser verificado nas 19 propriedades
estudadas, pois todas possuem certificação da Rede em algum produto.
Os objetivos da Rede Ecovida são: a) desenvolver e multiplicar as iniciativas em
agroecologia; b) estimular o trabalho associativo na produção e no consumo de produtos
ecológicos; c) articular e disponibilizar informações entre as organizações e pessoas; d)
aproximar, de forma solidária, agricultores e consumidores; e) estimular o intercâmbio, o
81
resgate e a valorização do saber popular; f) possuir uma marca e um selo que expressam o
processo, o compromisso e a qualidade, isto é, a certificação.
Segundo Santos e Oliveira (2004), a certificação teve início no começo do século XX
na França, onde pequenos produtores de vinho pretendiam diferenciar suas bebidas daquelas
produzidas em maior escala através de processos industriais. Assim, criaram critérios que,
hoje, são parte da certificação de produto conhecidas como Marcas de Conformidade. Como
exemplos, citamos: Denominação de Origem Controlada (DOC), Indicação Geográfica
Protegida (IGP).
Segundo os mesmos autores, a certificação pode ser facultativa ou voluntária em
alguns casos, compulsória ou obrigatória em outros. Isso depende do país, do produto em
questão, do processo envolvido e, por fim, da legislação pertinente. Conforme a tabela abaixo,
veremos as diferenças:
TABELA 2 – Tipos de certificação de produtos e marcas de conformidade.
TIPO DE CERTIFICAÇÃO DIFERENCIAL DO PRODUTO
Especialidade Tradicional
Garantida
Matéria-prima e modo de preparo
característicos.
Denominação de Origem
Controlada
Forte influência do clima, solo, raças,
variedades e saber fazer sobre o produto.
Indicação Geográfica Protegida Influência parcial do clima, solo, raças,
variedades e saber fazer sobre o produto.
Orgânica Produção de acordo com as normas da
agricultura orgânica. Fonte: Rede Ecovida, 2004. Org.: GAIOVICZ, E.F. 2010.
A finalidade da certificação é atribuir um diferencial ao produto, processo ou serviço, a
fim de obter vantagens para os produtores, tais como agregar valor; permitir a entrada em
novos mercados; diminuir a concorrência de produtos, processos ou serviços de menor
qualidade; e estimular a melhoria contínua da qualidade. Possibilitar, ainda, vantagens aos
consumidores como: facilidade de distinção pela marca, economia de tempo e esforço,
segurança e garantia (compromisso público de qualidade e diversificação da oferta de
produtos de qualidade).
A certificação participativa é um sistema solidário de geração de credibilidade e o selo
Ecovida é obtido após uma série de procedimentos realizados dentro de cada núcleo regional,
onde ocorre a filiação à Rede, a troca de experiências e a verificação do Conselho de Ética.
82
Assim, segundo Santos e Oliveira (2004), para conseguir o selo da Rede Ecovida, são
necessários: a integração na Rede e a solicitação da certificação, o preenchimento e
encaminhamento do formulário para requerimento da certificação ao conselho de ética do
núcleo, o qual analisa os formulários, visita a propriedade ou agroindústria, apresenta um
parecer e o núcleo regional (des)aprova a certificação.
Em relação à agroecologia, Santos e Oliveira (2004) afirmam que é uma estratégia de
fortalecimento da agricultura familiar e, ao mesmo tempo, o começo de um processo de
grandes mudanças na base produtiva das propriedades, com incorporação de técnicas
diferenciadas para correção dos solos, para o controle de "pragas", doenças e ervas
"daninhas". Ocorrerão, ainda, modificações nas formas de organização dos agricultores para
que possam superar e avançar contra as barreiras da industrialização e comercialização. Para a
Rede (2010 s/d), não podemos:
[...] repetir os erros do passado recente, ou seja, sair da ditadura dos
químicos para outra ditadura, dos orgânicos e nos deixarmos conduzir,
apenas pela ótica do mercado. Dessa forma, os mesmos que exploram
poluindo e contaminando com os agrotóxicos, continuarão explorando com a
venda de insumos orgânicos e comprando produtos em nome do
desenvolvimento sustentável. Sair dessa ciranda significa construir um
caminho próprio e fazer dele um projeto de vida para agora e para as
próximas gerações.
Dessa maneira, não caem novamente na ciranda de exploração imposta pela
comercialização capitalista, pois além de comercializarem alimentos saudáveis, valorizam a
cultura, o meio ambiente, o produtor e seu saber popular, a propriedade, a autonomia e as
organizações associativas.
Percebemos que, através da agroecologia, com a Rede Ecovida, outras associações,
grupos e cooperativas que apóiam a produção de alimentos saudáveis, aproximamo-nos do
desenvolvimento territorial sustentável, com autonomia na agricultura familiar, produção e
comercialização de alimentos saudáveis e preservação ambiental, mas, para atingirmos
proporções de equilíbrio com outras formas de produção, ainda há muito que trabalhar.
83
4.2 – ASSESOAR: ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS, ORIENTAÇÃO E ASSISTÊNCIA
RURAL
Conforme a direção da ASSESOAR (2010), no início dos anos 1960, um grupo de
padres da Bélgica chegou ao Sudoeste do Paraná com algumas idéias, animados pelo Concílio
Vaticano II. Esse Concílio reuniu os bispos de todo o mundo e motivou uma grande
renovação na Igreja Católica. Movidos por esse espírito de renovação, os padres chegaram e
encontraram muito trabalho na região Sudoeste, na qual havia ocorrido, recentemente, a
Revolta dos Posseiros, em 1957, quando os posseiros enfrentaram e expulsaram jagunços e
companhias de terras, conquistando o direito definitivo sobre as terras. Os eventos foram
organizados pelas comunidades populares, com apoio de diferentes setores da sociedade
regional.
Havia muito para fazer nestas terras, novas para os padres recém-chegados e para os
colonos que vinham chegando, sobretudo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Como
transformar a fé em compromisso concreto em defesa da vida era o grande desafio da época.
Algumas ações não eram funções da igreja, mas eram necessárias, para isso, surge a
ASSESOAR.
A ASSESOAR teve seus Estatutos inscritos no Registro de Imóveis da 1ª
Circunscrição, 1º Ofício de Registro de Títulos e Documentos, Curitiba, aos 17 de outubro de
1966. No dia 10 de fevereiro de 1966, foi realizada a assembléia de fundação da ASSESOAR.
Fundada por 33 jovens rurais, com o apoio de um grupo de padres, religiosos e leigos,
empenhados no bem-estar da família do agricultor familiar, devido à necessidade de se
estabelecer um serviço autônomo e organizado para diferentes iniciativas em
desenvolvimento na região, implantado, desde 1962, pelos Missionários do Sagrado Coração
de Jesus. Cabe aos agricultores associados assumirem sua direção, cuidar de seu destino e do
trabalho que devem realizar. Os associados cumprem sua função através das Miniassembleias
Municipais, da Assembléia Geral, do Conselho Diretor, do Conselho Administrativo e da
Diretoria Executiva. O Conselho Diretor é composto por 24 sócios, o Conselho
Administrativo por 10 e a Diretoria Executiva por 3 sócios.
A ASSESOAR "tem por fins fundamentais, promover melhores condições de vida aos
agricultores na lavoura e na pecuária e um maior desenvolvimento rural, de acordo com a
doutrina Social Cristã" (Estatutos, cap. I, art. 1º). Tais fins serão atingidos "pela direta
84
participação dos agricultores na associação através dos meios por ela promovidos" (Idem,
art. 2º). "A educação e formação do homem do campo procurará atingir a todas as faces que
dizem respeito à sua personalidade moral, religiosa e social e principalmente quando
relacionada com as atividades profissionais propriamente ditas..." (Idem art. 3º)
Segundo Tonini (2008), engenheira agrônoma da entidade, a ASSESOAR foi fundada
com o propósito de trabalhar com os agricultores familiares, com o foco na preservação do
ambiente, na educação popular, na formação de sujeitos capazes de trilhar os caminhos de
suas vidas e se organizarem.
Inicialmente, os serviços eram prestados considerando as necessidades pastorais e
organizativas (sindicalismo e cooperativismo), pois os agricultores, recém-vindos de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, enfrentavam graves problemas de legalização da propriedade,
de escoamento e comercialização da produção.
O atendimento aos agricultores é feito por educadores e técnicos, que vai desde
encontros de estudos, reflexões e debates da prática até a execução de determinadas práticas
ligadas à vida profissional do agricultor.
Eram princípios iniciais da ASSESOAR: a coletividade, a solidariedade, a união e o
incentivo para que os agricultores se organizassem de forma autônoma, (princípios que ainda
hoje são referência na entidade).
Embasada nesses princípios, a ASSESOAR foi desenvolvendo programas de ações
pastorais, sindicais e cooperativas, além de realizar capacitação técnica (1967),
experimentação agrícola (1976), monitorias agrícolas (1977), monitorias domésticas (1977) e
banco de sementes nativas (1984), buscando com isso tecnologias alternativas. Apoiou a luta
pela terra (1981) e o associativismo (1985). Formou o quadro social (1984 e 1994), fez
adequação tecnológica e educação rural através da Escola Comunitária de Agricultores
(1991), da gestão de sistemas produtivos (1995), produção orgânica (1996) e desenvolveu um
Projeto Vida na Roça (1996).
Implantou o crédito rural, com o Fundo de Crédito Rotativo (1989), e apoiou a
implantação do Sistema Cre$ol-Baser (1995), uma cooperativa central do sistema CRESOL.
Buscando sempre a comunicação popular através da cartilha Cambota (1973) e de recursos
áudios-visuais.
Atualmente, a ASSESOAR localiza-se em Francisco Beltrão, no Sudoeste paranaense,
atuando de forma direta em 12 municípios e indireta em mais de 30. Para tanto, mantém
relações de parceria e cooperação com outras entidades públicas, privadas e populares
85
estaduais, nacionais e internacionais, atendendo aos seguintes municípios: Ampére, Barracão,
Capanema, Coronel Vivida, Cruzeiro do Iguaçu, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Itapejara
d´Oeste, Marmeleiro, Planalto, São Jorge d´Oeste e Verê.
Segundo Tonini, em 2008, iniciou-se um novo triênio, o plano para três anos de
trabalhos da ASSESOAR, dividido em três eixos: Agroecologia, gênero e sustentabilidade,
envolvendo basicamente a organização da produção agroecológica e organização das
mulheres nos municípios, uma ação local.
No centro de educação popular, trabalham com processos formativos ligados às
Universidades e com cursos e encontros realizados em outros espaços. A gestão e articulação
institucional garantem a relação com outras entidades,tais como os sindicatos, as
cooperativas de crédito e de produção, e também outras instituições estaduais, regionais e
nacionais como, por exemplo, a Articulação Nacional de Agroecologia, a Rede Ecovida, as
articulações de educação do campo, e a Abong (Associação Brasileira das ONGs).
Tonini (2008) afirma que, desde a fundação da ASSESOAR, procura-se trabalhar com
a preservação ambiental, no início era mais formativa, mas, vai-se fortalecendo com a criação
de vários grupos de agricultores que trabalham com sementes, adubação, agro-
industrialização, e outros.
Quando a ASSESOAR foi fundada, havia uma equipe maior trabalhando,
conseguindo, assim, acompanhar os grupos que, nos anos 1980, chamavam-se GSPs, (Grupos
de Planejamento e Sustentabilidade), trabalhando com diversas áreas da produção, desde as
sementes, a adubação verde, o enleramento de pedras, técnicas voltadas à proteção e
conservação dos solos.
Segundo Tonini (2008), a preocupação com a agroecologia vem desde a fundação;
antes, mais voltada à produção orgânica, levando até a constituição de uma certificadora da
ASSESOAR, com um selo de produtos orgânicos. Com o tempo, percebeu-se que, além do
produto, era necessário dar atenção especial às unidades de produção como um todo, passando
a trabalhar para o fortalecimento da agroecologia, associando outras redes de nível regional e
nacional que possuem a mesma linha de produção, visando compreender o conjunto de
relações da unidade de produção e o bem estar da família.
Ainda, segundo a agrônoma mencionada, os principais objetivos em apoiar a produção
agroecológica são possibilitar autonomia ao agricultor e às regiões, preservar o ambiente,
produzir alimentos saudáveis e de qualidade, além de gerar saúde e bem estar aos produtores e
consumidores.
86
É preciso ter alimentos saudáveis não só para os agricultores mas, para quem
está na cidade, pois estes também necessitam de qualidade de vida, é isso
que a ASESSOAR incentiva para toda região e não só para os agricultores
(Entrevista com Fábia Tonini, 2008).
Atualmente, a ASSESOAR possui aproximadamente 250 associados, todos têm
alguma prática agroecológica, mas destes, pouco menos de 70 são totalmente agroecológicos.
Porém, o trabalho da ASESSOAR não é voltado apenas para os sócios, pois a maioria dos
agricultores atendidos não são associados e dentre eles também há produtores agroecológicos.
Em relação à comercialização, a ASSESOAR não visa à exportação, pois a produção
orgânica presente na agricultura familiar é bem diversificada e em pequena escala. O que é
produzido em excedente como a soja e a pipoca do Assentamento Missões é exportado
através de uma empresa privada, porém, a ASSESOAR não trabalha diretamente com esse
tipo de produção.
Segundo Fabro (2008), também engenheira agrônoma da ASSESOAR, há muito
tempo esta entidade vem incentivando o processo de certificação participativa, ―para que os
agricultores garantam produtos livres de agrotóxicos― através de uma certificação complexa,
pois a entidade está inserida no Sistema Participativo de Garantia de Conformidade (SPG),
cujo objetivo central não é o lucro.
Para Tonini (2008), o que fortaleceu ainda mais a certificação participativa foi a Lei
dos Orgânicos, no entanto, é necessário o registro das instituições certificadoras no Ministério
da Agricultura e, ainda, um técnico que se responsabilize pela questão jurídica, pois, de
acordo com a lei, apenas o sistema de certificação participativa não é suficiente.
Para Fabro (2008), as perspectivas para a agroecologia no Sudoeste são favoráveis,
pois existe um movimento para resgate de sementes crioulas; para melhoramento genético de
galinhas (crioulas), para produção de frutíferas agroecológicas, além do aumento na procura
por alimentos saudáveis por parte dos consumidores. Há também turmas que debatem a
agroecologia e o sistema de produção de leite (SISCLAF), buscando sempre uma produção
mais sustentável.
87
4.3 - CAPA: CENTRO DE APOIO AO PEQUENO AGRICULTOR
Conforme Vanderlinde (2002), o CAPA é uma organização não-governamental, ligada
à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Foi criado em maio de 1978, em uma
conferência dos pastores regionais, como Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor,
financiado por entidades da Alemanha e iniciou suas atividades em junho de 1978, na cidade
de Santa Rosa/RS. Seu objetivo inicial era orientar, conscientizar, apoiar e acompanhar os
pequenos agricultores através de reuniões, seminários de lideranças, seminários com jovens,
palestras, cursos práticos, oferecendo alternativas e procurando manter o homem no campo.
Segundo Brose (2000), apud Vanderlinde (2002), em 1979, passou a se chamar Centro
de Apoio ao Pequeno Agricultor e atuou em Santa Rosa até 1987, prioritariamente na
realização de seminários regionais para o diagnóstico e discussão da realidade no espaço rural
e iniciativas piloto em algumas propriedades. Em 1988, foram criados mais dois núcleos, um
em Erechim e outro em Três de Maio, também no Rio Grande do Sul. Em 1994, fechou-se o
núcleo de Três de Maio e ampliou-se a equipe técnica de Erechim, passando a atender o Norte
do estado e o Oeste de Santa Catarina. A partir disso, redirecionou o seu enfoque para
trabalhar com a “organização dos produtores em grupos, associações e cooperativas, na
agregação de valor à produção familiar e no fomento à agroecologia”. (VENDERLINDE,
2002, p. 80)
Os objetivos do CAPA são: apoiar o fortalecimento e união das famílias de
agricultores para que eles, junto com outros segmentos da sociedade, participem no
desenvolvimento baseado nos princípios de agroecologia e de cooperação através de
experiências com produção, beneficiamento, industrialização e comercialização; desenvolver
tecnologias viáveis, que sirvam de sinais de que o meio rural pode ser um espaço de vida
saudável, de realizações e de viabilidade econômica para todos. Segundo o CAPA (2009),
―[...] a luta é pela afirmação da agricultura familiar como parte de uma estratégia de
desenvolvimento rural sustentável”.
Os objetivos do CAPA são: apoiar o fortalecimento e união das famílias de
agricultores para que eles, junto com outros segmentos da sociedade, participem no
desenvolvimento baseado nos princípios de agroecologia e de cooperação através de
experiências com produção, beneficiamento, industrialização e comercialização; desenvolver
tecnologias viáveis, que sirvam de sinais de que o meio rural pode ser um espaço de vida
88
saudável, de realizações e de viabilidade econômica para todos. Segundo o CAPA (2009),
―[...] a luta é pela afirmação da agricultura familiar como parte de uma estratégia de
desenvolvimento rural sustentável”.
Atualmente, o CAPA conta com 5 núcleos (mapa 5), Erechim, Pelotas e Santa Cruz do
Sul, no Rio Grande do Sul e, Marechal Cândido Rondon e Verê, no Paraná, através dos quais
são atendidas aproximadamente 5.400 famílias, incluindo agricultores familiares, indígenas,
quilombolas e pescadores artesanais, tudo isso financiado pela Central Evangélica de
Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha.
MAPA 5 – Núcleos do CAPA
Fonte: http://www.capa.org.br/site/content/nucleos/index.php; Org.: GAIOVICZ, E.F. 2010.
No município de Verê (foto 3), o CAPA iniciou suas atividades em setembro de 1997,
atendendo, no Sudoeste do Paraná, os municípios de Ampére, Itapejara d‘Oeste, Marmeleiro,
89
São Jorge d‘Oeste, e Verê. Os trabalhos da entidade estão concentrados em Verê, enquanto,
que nos demais municípios, o apoio dá-se de forma indireta, através de associações e de
cooperativas, principalmente na construção da rede solidária de comercialização e de
certificação participativa (Rede Ecovida).
Foto 3 – Fachada do CAPA núcleo de Verê
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ E.F. 2010.
De acordo com o CAPA, hoje, a agricultura familiar continua a enfrentar desafios.
Para haver viabilidade na pequena propriedade necessário se fez que haja organização,
preparo e persistência, além do
[...] respeito à diversidade – biológica, cultural, étnica e religiosa – ser
fundamental para a manutenção da vida e para a construção de
independência e de autonomia. Atualmente, o trabalho do CAPA atende
agricultores familiares, agricultores assentados, quilombolas, indígenas e
pescadores profissionais artesanais, organizados em grupos, associações
comunitárias e cooperativas. Sua atuação se dá em diferentes regiões dos
estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, por meio de cinco
núcleos ligados em rede. As equipes técnicas, formadas por profissionais das
áreas da agricultura, saúde, administração e comunicação, prestam assessoria
90
na organização social e política, na formação e na produção econômica das
famílias beneficiadas (CAPA, 2009, s/p).
Desde o início, o CAPA tentou contribuir para a prática social e de serviço junto às
famílias agricultoras, como estratégia de desenvolvimento sustentável. Por isso, Vanderlinde
(2002, p. 77) diz que,
[...] é possível concluir que o CAPA está empenhado em construir uma nova
paisagem no meio rural. Uma paisagem que inclua a inserção responsável do
homem sem necessariamente deteriorar este ambiente onde ele está inserido.
Esta tarefa não é fácil e exige considerável esforço e sabedoria de todos os
envolvidos nesta empreitada.
A revolução verde não resolveu o problema da alimentação, além de deteriorar o
ambiente com o uso excessivo de agrotóxicos e substituiu a mão-de-obra humana por
máquinas, inserindo o agricultor familiar numa dependência constante da indústria e do
capitalismo, inviabilizando a sua sobrevivência no campo. O êxodo rural é a principal
preocupação da ONG, pois, segundo Décio (2009), técnico agrícola do núcleo de Verê,
“ficam no meio rural apenas os idosos, que já não têm a mesma força para trabalhar, os
jovens estão estudando e indo embora das propriedades, vendendo sua força de trabalho nas
cidades”.
É por esse motivo que a entidade oferece cursos de formação para produtores,
realizados nas propriedades agroecológicas, buscando conciliar teoria e prática; após o curso
os agricultores passam a receber visitas, para realização de diagnósticos da propriedade, de
orientação e de implantação de atividades; a propriedade torna-se integrada, passando a
receber assessoria permanente do Centro, com a única exigência de que participem das
reuniões e das práticas em dias de campo.
A equipe técnica do CAPA é multidisciplinar, formada por técnicos e profissionais de
várias áreas, prestando apoio aos agricultores familiares. Segundo Luchman (2008),
ultimamente os trabalhos estão mais concentrados no município de Verê, onde as atividades
de assessoria são realizadas diretamente com os produtores, enquanto, nos demais municípios,
o apoio é de forma indireta, através de associações e de cooperativas, principalmente nas
atividades de construção e fortalecimento da Rede EcoVida.
Além disso, o CAPA, através da assistência, acumulando experiências vivenciadas
com as famílias acompanhadas, pretende ensinar e estimular o agricultor a ―desintoxicar a
terra‖, preocupado que está com a garantia do sustento da família, com a saúde de quem
91
produz e consome os alimentos; pretende auxiliar de diversas outras formas, tais como: na
produção e incremento tecnológico, entendendo que é necessário fazer frente ao mercado
consumidor exigente e à ansiedade de retorno financeiro por parte dos agricultores; no
planejamento para que haja regularidade de ofertas exigidas pelo mercado consumidor; na
comercialização, buscando atender as necessidades do produtor e as exigências dos
consumidores, estabelecendo uma ligação entre agricultor-consumidor; na organização de
grupos e formação de associações, assim como ocorre, em Verê, com a APAV.
No ano de 2000, o CAPA, atendia 5 famílias que produziam hortaliças agroecológicas,
comercializadas diretamente com consumidores da cidade, mas como houve um aumento
considerável da produção e esses consumidores não conseguiam absorver toda a produção, os
produtores sentiram a necessidade de se organizar a produção e de espaço para
comercialização. Assim, em parceria com o CAPA, fundaram a APAV.
4.4 – APAV: ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES AGROECOLÓGICOS DE VERÊ
A APAV foi fundada com o apoio do CAPA, em agosto de 2001. Surgiu devido à
necessidade de um espaço de comercialização de seus produtos sem agrotóxicos, diretamente
ao consumidor. A APAV, atualmente, mantém um mercado na cidade de Verê, atendendo
diretamente um grande número de consumidores conscientes, os quais têm um bom
relacionamento com os produtores, pondo em prática a essência da agroecologia, que envolve
a sociedade preocupada com a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental.
Segundo Fritz (2008), com a assessoria do CAPA no município de Verê e com a
APAV como um espaço de comercialização(foto 4), além do apoio de outras entidades, a
produção agroecológica do município fortaleceu-se, principalmente a hortifruti, que passou a
ter destaque. Hoje, os principais produtos comercializados são hortaliças, frutas, grãos, doces,
conservas, embutidos e derivados de leite; estes possuem certificação participativa, fornecida
pela Rede Ecovida, por intermédio do CAPA.
92
Foto 4 – Mercado da APAV- na cidade de Verê
Fonte: Arquivo CAPA, 2008.
Segundo Luchman (2008), a APAV, montou um sistema de comercialização em
supermercados de Verê e municípios vizinhos (Dois Vizinhos e Francisco Beltrão), com
bancas próprias onde expõe seus produtos cujos preços definidos pela própria associação. O
supermercado apenas pratica a sua margem de lucro, o que é um avanço dentro desse tipo de
estabelecimentos, pois, muitas vezes, os produtores isolados são tratados de forma bruta e
desumana. Outro fator importante é a participação em feiras da região e a montagem de
sacolas as quais são entregues a domicílio. Outro canal de comercialização é o envio de
hortaliças para a Feira Orgânica de Curitiba. Além da participação no Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA)6, fornecendo alimentos saudáveis para várias entidades, a associação
possui uma cozinha (foto 5) no parque industrial do município, onde os produtos não
comercializados in natura, no mercado da APAV, são transformados em geleias e conservas,
e vendidos na própria associação.
6 Segundo o MDA (2010), o PAA foi criado em 2003, é uma das ações do fome Zero e tem como objetivo
garantir o acesso a alimentos em quantidade e regularidade necessárias às populações em situação de
insegurança alimentar e nutricional . visa também contribuir para a formação de estoques estratégicos e permitir
aos agricultores familiares que armazenem seus produtos para que sejam comercializados a preços mais justos,
além de promover a inclusão social no campo.
93
Foto 5 – Mulheres sócias da APAV Produzindo geleia de uva
Fonte: Arquivo pessoal, 2010.
Atualmente, a associação conta com aproximadamente 70 sócios, dos quais, apenas 25
entregam produtos agroecológicos com regularidade; e os demais são sócios interessados em
manter o mercado, pagando uma taxa no valor de uma saca de milho por ano; além disso, das
famílias associadas, 30 produzem de forma agroecológica; a maioria delas, além de produzir
hortaliças e frutas, têm como principal produto a uva agroecológica, com a qual fabricam
vinho, vinagre, sucos e geleias, comercializados na APAV, com a venda direta ao consumidor
e para a fábrica de sucos Viry da APROVIVE.
O intercâmbio entre produtores de associações regionais, estaduais e interestaduais,
que há muito vem sendo estimulado nos grandes encontros da agroecologia, finalmente
começa a ser praticado. É uma operação que ajuda a escoar a produção e proporciona maior
variabilidade na oferta ao consumidor. Assim, as constantes experiências e tentativas de ajuste
são necessárias para buscar o equilíbrio entre redução de custos de operacionalização sem
perder o vínculo entre produtor e consumidor.
Quando observamos a APAV, percebemos que, além do respeito ao consumidor, há
valorização cultural e ambiental, facilitando o contato direto com os produtos e também com
os produtores. Isso permite estabelecer uma relação afetiva entre os envolvidos; pois os
interesses dos consumidores e dos produtores são atendidos através da garantia do consumo
de alimentos saudáveis.
94
4.5 – APROVIVE: ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES VITIVINICULTORES DE VERÊ
Em 2000, a empresa Sucoeste surgiu, em Verê, com o projeto de implantação de
parreirais em algumas propriedades do município, comprometendo-se com a compra da uva e
transformação desta em suco, mas, pouco tempo depois, a empresa faliu e os produtores
ficaram sem apoio e sem ter para quem vender a produção. Como os investimentos nos
parreirais já haviam sido realizados, os vitivinicultores foram forçados a construir uma
alternativa e, com o apoio do CAPA e da APAV, instituiram outra associação. Assim, em
2002, surge a APROVIVE com o objetivo de utilizar a uva produzida.
Dois anos mais tarde, tendo como parceira a Prefeitura Municipal, foi construído o
barracão e instalada a fábrica de Sucos Viry (foto 6), para a qual é destinada a maior parte da
produção de uva do município, cerca de 80%, transformada em suco de uva orgânico. O
restante é comercializado in loco, na venda direta ao consumidor e na APAV, e/ou produzem
derivados como geleia, vinho e vinagre para consumo próprio e para comercialização.
Foto 6 – Produção de suco dentro da fábrica de sucos Viry
Fonte: Arquivo pessoal,GAIOVICZ E.F. 2010.
95
Inicialmente, em 2002, havia 25 famílias associadas dos municípios de Verê, Itapejara
d‘Oeste e São Jorge d‘Oeste; atualmente, a associação conta com 17 famílias, destas, apenas
11 estão produzindo, 7 de Verê e 4 de Itapejara d‘Oeste, fornecendo uva orgânica à fábrica.
Em 2010, 6 famílias estavam em processo de conversão.
Durante o funcionamento (janeiro/fevereiro de 2010), a fábrica contava com
aproximadamente 28 funcionários, distribuídos em três turnos, entre 05h30min da manhã e
14h00min e entre 14h00min e 23h00min. Os funcionários eram divididos nas atividades de
produção e transporte, recebendo R$40,00 por dia. Havia também alguns associados da
APAV e do CAPA, atuarem na organização e administração da fábrica.
Na APROVIVE, o produtor é responsável pelo transporte da sua produção, pela
classificação da uva, obedecendo aos padrões de qualidade previamente indicados pela
associação, Dessa maneira, em 2010, 04 produtores desistiram de entregar a produção devido
à baixa qualidade. O pagamento da uva ao produtor é feito por Kg, R$0,90 a francesa e
R$1,30 a bordô; já o pagamento do transporte é por km percorrido. Quando chega à fábrica a
uva é armazenada em câmara fria até o processamento.
O processamento da uva é feito em várias etapas: a colheita, transformação em suco,
engarrafamento, lacre da tampa, colocação do rótulo com data de validade e número de lote e,
por fim, a comercialização, em geral a R$3,00 a garrafa, com exceção da APAV que paga
R$2,00.
As sobras da uva (casca e semente) também são utilizadas na cozinha da APAV,
acrescentando-se 1 kg de açúcar a cada quilo de casca e produzida a geleia, que é envasada e
lacrada. O mesmo ocorre com a produção da polpa para suco, a qual é colocada em saquinhos
e lacrada. Além disso, os produtos que não são comercializados na APAV também são
transformados por uma equipe especializada, mantendo o padrão e a qualidade dos produtos
transformados, os quais são conhecidos pelos consumidores e comercializados na associação,
em alguns mercados fora do município, como Curitiba, e para a merenda escolar.
Na última safra, 2009/2010, Décio, técnico agrícola do CAPA, que auxilia na
organização da produção na fábrica, informou que a previsão de produção era de 50 toneladas
de uva, o que originaria 70 mil garrafas de sucos com 500 ml, mas a grande quantidade de
chuvas atrasou o amadurecimento e a incidência de abelhas ocasionou perda de mais de 60%
da produção. No entanto, a previsão para a safra 2010/2011 é muito boa, pois os parreirais
estão bem carregados e em condições climáticas favoráveis.
96
Apesar de o suco ter mercado garantido, a principal dificuldade enfrentada pela
associação é a falta de colaboração por parte dos produtores, além da falta de matéria-prima
em algumas safras. O que percebemos é que essas dificuldades podem ser superada; como
garante Décio (2010), a fábrica está bem equipada e instalada e, a partir do ano de 2011,
começarão a comprar uva de outros produtores, que serão apenas fornecedores e não-sócios,
desde que garantam que a produção seja agroecológica, o que é necessário para manter o
padrão de qualidade.
4.6 – CRESOL: COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL E INTERAÇÃO SOLIDÁRIA
Segundo Schröder (2005), as fontes externas de recursos financeiros provindos das
cooperativas de crédito contribuem de forma decisiva no padrão de desenvolvimento rural,
definindo as condições de manutenção do agricultor familiar em seu espaço de vida. Dessa
maneira, o Sistema CRESOL é fruto da luta dos agricultores familiares por acesso ao crédito
e, por uma vida digna e sustentável no campo.
Conforme a CRESOL (2010), as cooperativas nasceram das experiências do Fundo de
Crédito Rotativo (FCR). Esse fundo, financiado pela cooperação internacional
(MISEREOR7), foi criado na década de 1980 e início dos anos 1990, no Sudoeste do Paraná,
por um conselho de entidades populares da região. Na mesma época, na região Centro-Oeste
do Paraná, pequenos investimentos também eram financiados para grupos de agricultores
familiares.
Dessas experiências com o crédito rotativo e com o propósito de difundir a utilização
do crédito, surgem, em 1996, as primeiras Cooperativas CRESOL, sendo três no Sudoeste
(Dois Vizinhos, Marmeleiro e Capanema) e duas no Centro-Oeste (Pinhão e Laranjeiras do
Sul) do estado do Paraná.
Segundo a CRESOL (2010), neste ano, a cooperativa possuía 78 filiais espalhadas
pelos estados do Paraná e Santa Catarina, contando com 80.281 cooperados. Na tabela 03,
observamos a evolução da cooperativa desde 1996, ano de sua fundação, até 2010.
7 MISEREOR foi fundada em 1958 como organização contra "a fome e a doença no mundo". Na sua função de
agência de desenvolvimento da Igreja Católica da Alemanha MISEREOR oferece uma cooperação em espírito
de parceria a todos os homens de boa vontade para combater a pobreza a nível mundial, abolir estruturas de
injustiça, promover a solidariedade com os pobres e perseguidos e contribuir para a construção de "UM
MUNDO".
97
Tabela 3 – Evoluções da Cooperativa CRESOL
Anos de análise Números de cooperativas Números de cooperados
1996 5 1.639
1999 28 11.316
2002 71 29.990
2005 59 34.340
2008 75 62.474
2009 76 76.375
2010 78 80.281
Fonte: Central Cresol Baser, 2010.
Conforme percebemos na tabela 03, o número de cooperativas aumentou 15 vezes e,
aproximadamente, 49 vezes o número de cooperados registrados nos 13 anos de
funcionamento. A partir disso, podemos averiguar a importância da agricultura familiar na
região Sul do Brasil que, até 1996, estava excluída do sistema financeiro tradicional.
Segundo a CRESOL (2010), as modalidades de crédito com recursos próprios da
cooperativa buscam atender as demandas do quadro social, tanto na implantação e
desenvolvimento de atividades financiadas ou não com recursos oficiais. Entre as
modalidades de crédito com recursos próprios da CRESOL estão: a)Crédito investimento;
b)Crédito Custeio Agropecuário; c)Crédito pessoal; d)Créditos sociais ou conveniados. Em
cada modalidade de crédito, existem linhas específicas de financiamentos, como:
- Investimento na produção orgânica ou agroecológica:
(...) modalidade de crédito criada para estimular investimentos (mais de um
ciclo produtivo) em atividades de produção que visam progressivamente à
consolidação ou à (re)conversão de sistemas produtivos convencionais para
base tecnológica agroecológica, visando dar maior sustentabilidade às
unidades produtivas familiares
(CRESOL, 2010, disponível em http://www.cresol.com.br/site/, acesso em
20 de novembro de 2010).
- Custeio na produção orgânica e agroecológica:
...criado para estimular a produção agroecológica, através de financiamentos
em condições diferenciadas. Ao disponibilizar créditos para custeio de
atividades agropecuárias visa-se à progressiva consolidação ou a
(re)conversão de sistemas produtivos convencionais para base tecnológica
agroecológica, visando dar maior sustentabilidade às unidades produtivas
familiares. (...) Podem ser financiados produtos e serviços necessários ao
98
custeio da produção animal e/ou vegetal, de acordo com proposta técnica
simplificada apresentada junto a cooperativa, observando critérios de
produção orgânica/agroecológica (CRESOL, 2010, disponível em
http://www.cresol.com.br/site/, acesso em 20 de novembro de 2010).
No entanto, segundo a CRESOL (2010), para um agricultor familiar ter acesso a essas
linhas de crédito, é necessário que possua algum tipo de certificação de produção orgânica ou
agroecológica, ou então, que participe de algum programa (governamental ou não) de
produção orgânica ou agroecológica.
De acordo com a entrevista realizada com o gerente da CRESOL de Verê (2010),
primeiramente, para que um agricultor possa ter acesso aos financiamentos da CRESOL, ele
necessita ser agricultor familiar comprovadamente, através de uma DAP (Declaração de
Aptidão ao PRONAF) que é fornecida pelo STR ou pela EMATER e, a partir disso, tornar-se
um cooperado e requerer financiamento.
Na cooperativa de Verê, os agricultores são todos conhecidos, assim como suas
propriedades, dessa maneira, quando o crédito requerido provém de recurso próprio da
CRESOL, o agricultor não necessariamente precisa ter certificação. No entanto, quando o
crédito é de recursos oficiais, é exigido certificação, que pode ser o selo da Rede Ecovida,
mas são necessários outros requisitos como: área para comprovar onde será investido; atender
as especificações da linha de crédito; possuir capacidade de endividamento.
De acordo com os agricultores entrevistados do município de Verê, o acesso ao crédito
não é facilitado como afirma o gerente; pelo contrário, por utilizarem insumos naturais na
produção agroecológica, não obtêm nota fiscal de gastos com produtos, assim, o crédito não é
liberado, buscando outras formas de financiamentos, principalmente aqueles que são
parcialmente agroecológicos, utilizando-se da produção convencional para adquirirem
financiamentos, porquanto, pagam juros mais altos para investimento agrícola e pecuário e/ou
custeio agrícola e pecuário.
Ao analisar a função da CRESOL em relação à produção agroecológica, verificamos
que há uma contradição entre o que é proposto pela cooperativa e o que realmente ocorre com
os agricultores. O fato é que, os agricultores têm acesso ao crédito, mas não à linha voltada
para produção orgânica/agroecológica, e sim, ao PRONAF, que todo agricultor familiar tem
direito desde que comprove os requisitos anteriormente descritos. Por esse motivo, a
cooperativa é citada como entidade parceira pela maioria dos agricultores agroecológicos
estudados, embora façam críticas
99
4.7 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ENTIDADES LOCAIS DA AGROECOLOGIA NO
MUNICÍPIO DE VERÊ
Com a ação das entidades parceiras da agroecologia citadas, podemos concluir que o
que ocorre com elas é o que Dematteis (2008) chamou de territorialidade ativa, ou seja, há
relações derivadas de ações dos sujeitos locais, o que objetiva a construção de estratégias de
inclusão, na qual a territorialidade corresponde às mediações simbólicas, cognitivas e práticas
entre a materialidade dos lugares e o agir social nos processos de transformação/adaptação
territorial que se inscrevem no quadro da produção, da troca e do consumo. A partir disso, as
relações estabelecidas ocorrem dentro de um campo de poder, neste caso, no município de
Verê, entre a CRESOL, a EMATER, o CAPA, a APROVIVE, a APAV e a Prefeitura
Municipal, criando condições favoráveis à expansão da agroecologia no município.
Segundo Dematteis (2008), a territorialidade ativa é utilizada na construção de
sistemas territoriais cooperativos, que se configuram como atores do desenvolvimento
territorial local. Este sistema permite analisar a rede local de sujeitos que corresponde às
interações entre os indivíduos em um território local, bem dispostos em Verê pelas relações
entre os agricultores, a APAV e a APROVIVE, que servem de mediadores para a
comercialização de seus produtos, além de construírem atores coletivos que influenciam
tendências na produção.
A metodologia proposta por Dematteis (2008) permite analisar o milieu local, ou seja,
o conjunto de condições locais em que os agricultores agroecológicos trabalham individuais,
coletiva e historicamente, interagindo com a rede local e com o ecossistema. Tudo isso
comporta, ainda, que os agricultores estabeleçam relações extralocais, sejam estas realizadas
individualmente, como acontece em Verê, com Iraci Zanin que comercializa vinhos, geleias e
compotas de fabricação caseira em supermercados de Curitiba e Porto Alegre; ou,
coletivamente, como fazem a APAV e a APROVIVE, que comercializam os produtos dos
agricultores agroecológicos na Feira da Agricultura Familiar de Curitiba e nos supermercados
de municípios vizinhos como Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, agindo, assim, como
mediadores de comercialização, o que é valorizado pelos agricultores como algo positivo,
pois mesmo que estabeleçam relações de poder, fortalecem a sua organização política.
Nas relações de poder são instituídas hierarquias, nas quais as malhas, nós e redes
estão presentes. A malha, segundo Raffestin (1993), demarca e expressa limites de poder. No
100
caso de Verê, os agricultores e as entidades são os nós locais de poder; a ligação
visível/invisível entre eles dá origem às redes que podem ser locais e extralocais; a junção dos
nós e redes origina a malha: isso pode ser exemplificado ao analisarmos o papel do CAPA,
entidade que possui ligação com os agricultores bem como com a APAV e APROVIVE, mas,
ao mesmo tempo, atende outros agricultores de outros municípios, como podemos observar
no item 4.1.3 deste capítulo. A formação de malhas, nós e redes que ocorre em Verê, dá
origem a um campo de relações de poder, no qual, através da agroecologia, criam-se
condições para o desenvolvimento territorial/local.
Compreendemos o desenvolvimento territorial no município, a partir da agroecologia,
por meio de alguns elementos e processos expostos por Saquet e Spósito (2008), tais como: a)
a articulação de classes e construção de redes locais e extralocais, como ocorre com os
agricultores agroecológicos, através da produção e venda de sua mercadoria, efetivada nas
ações da APAV dentro e fora do município; b) o caráter (i)material, relacionado com
elementos sociais (C-E-P-A)8, o que acontece através do respeito ao saber popular e do
manejo do solo de maneira adequada para não degradar o ambiente; c) a produção de
mercadorias (alimentos saudáveis) e a preservação da natureza com o uso de técnicas de
conservação do solo sem insumos químicos; d) a valorização de pequenas e médias iniciativas
produtivas, pois todos que produzem agroecologicamente tem seu lugar garantido no mercado
consumidor e na APAV; e) valorização das identidades de cada agricultor familiar; f) a
consideração do patrimônio de cada local; g) a organização política dos agricultores
agroecológicos através da APAV e da APROVIVE, com auxílio do CAPA, buscando sempre
autonomia; h) a diminuição das injustiças e desigualdades sociais, tornada possível através da
agroecologia, pois além de proporcionar a inclusão social também permite o desenvolvimento
territorial/local.
A partir da análise das entidades parceiras da agroecologia, em Verê, e de suas ações
para com os agricultores agroecológicos, percebemos a importância e a preocupação dessas
entidades com o fortalecimento da agroecologia, pois, além de proporcionar a produção de
alimentos saudáveis, preserva a natureza com uso de técnicas alternativas de produção e,
como veremos no próximo capítulo, isso permite ao agricultor familiar, autonomia, qualidade
de vida e inclusão social.
8 Culturais, Econômicos, Políticos e Ambientais
101
CAPÍTULO V – AGROECOLOGIA: UMA ALTERNATIVA DE
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL
Os agricultores familiares são os membros mais importantes na luta pela efetivação da
produção agroecológica como processo alternativo e rentável não só econômica, mas também
ambiental e culturalmente. Para entendermos melhor esse processo em pequenas
propriedades, descreveremos a seguir os produtores que fazem da produção agroecológica
uma forma de subsistência e fonte de renda, os que apresentam uma propriedade integrada à
Sadia, demonstrando sua organização, e também a insatisfação do avicultor integrado.
Compreendemos a produção agroecológica envolvendo a produção diversificada de
alimentos, a preservação e conservação do ambiente e o cuidado com a saúde da família do
agricultor e dos consumidores em geral, garantindo autonomia e inclusão social do produtor
agroecológico.
Em Verê/PR, há 19 agricultores que produzem agroecologicamente; porém, alguns
destes possuem renda de outras atividades, tais como arrendamento de terras para terceiros,
cultivo de produtos convencionais, e, ainda, venda de seu trabalho na cidade como
trabalhador assalariado. Para compreender melhor esta análise, dividimos os produtores em
parcialmente agroecológicos e agroecológicos, pois entre os 19, 12 são parcialmente
agroecológicos, associando a produção orgânica ao cultivo convencional na mesma
propriedade, porém em terras diferentes, seja como agricultor ou como arrendador. Os outros
7 têm a propriedade totalmente agroecológica.
A integração é consequência do processo de expansão do capital; é a ação do capital
sobre a agricultura em seu movimento de concentração, causando impactos sociais, regionais,
econômicos e ambientais. O número de aviários integrados à Sadia, no município, é
considerável; são 78, mas isso não quer dizer que há 78 propriedades integradas, pois, em
algumas delas, há mais de um aviário. No próximo item deste capítulo, descrevemos a
organização de uma propriedade integrada que possui dois aviários, registrando a insatisfação
do proprietário, o qual garante que “se fosse hoje, eu não investiria em produção avícola
integrada...”.
O município de Verê é pequeno se comparado a outros municípios como Francisco
Beltrão e Dois Vizinhos, pois possui uma área de 312Km². O fato que nos chama a atenção é
que, em 10 das 36 comunidades, os agricultores agroecológicos estão presentes. Em uma
102
delas, com maior destaque, na comunidade de Vila Colonial formando um núcleo de 6
produtores agroecológicos, entre os 19, destes, 4 são parcialmente - Décio Cagnini, Francisco
Carniel, Irinaldo Calgarotto, e Associação Santo Antônio - e 2 são totalmente agroecológicos,
Darci Cassol e Baldoino Berns.
É importante comentar que, em duas comunidades, - Boa Esperança e Águas do Verê -
os agricultores agroecológicos encontrados pertencem à mesma família como Dirceu, Nelson
e Alcides Moreschi, de Boa Esperança, que aprenderam a cultivar agorecológicos em cursos
oferecidos pelo CAPA; já Armindo Lang e seu genro Valmir Jahn, de Águas do Verê,
afirmam que aprenderam a cultivar com base na ―Tradição Familiar‖ e, dessa maneira,
buscam passar adiante para seus filhos e netos.
Os outros produtores, conforme observamos no Mapa 6, estão distribuídos por outras
comunidades como: Janete e Lídia Ferreira que, apesar de possuírem os mesmos sobrenomes,
não possuem grau de parentesco e residem na comunidade de Vila Rural São Luiz; a
propriedade de Valdemar Betiollo encontra-se em Colônia Nova; Aldair Alberton – Planalto;
Aldoino Colpani – Sede Progresso; Iraci Zanin – Plano Azul/Vista Alegre; Miguel Thomé –
Barra do Marrecas e Rudi Castagna, na comunidade de Linha Belé. Mostramos também no
mapa, o tipo de produto que cada agricultor cultiva e, a partir disso, verificamos que o produto
com maior destaque é a uva, encontrada em 15 dos 19 produtores, além das hortaliças
cultivadas em 14 propriedades.
Verificamos a territorialização da produção agroecológica em Verê; nele há nós
distribuídos de Norte a Sul e de Leste a Oeste, formando entre eles redes de ligação, que se
dão pelas trocas de experiências, de mudas, de sementes ou, até mesmo, por eles próprios;
através disso, forma-se a malha da produção agroecológica, um conjunto de relações
econômicas, políticas, sociais e ambientais uma vez que, segundo Raffestin (1993), são
produzidas tridimensionalmente (sociedade-espaço-tempo).
Além disso, todos os produtores agroecológicos fazem parte de um mesmo território,
da agroecologia, mas cada um possui sua identidade, expressa individualmente quando cada
produtor adapta-se ao seu contexto social ou coletivamente, construída por meio da APAV,
com relações econômicas, mas também de reconhecimento, afetividade e confiança.
Ademais, a agroecologia, além de ser uma forma de identificação do agricultor, serve
também, como alternativa de produção, viabilizando a pequena propriedade, produzindo
alimentos saudáveis, protegendo o ambiente ensejando parcerias entre pessoas do mesmo
território, ou não, estabelecendo novas relações de troca.
103
Pitangueiras
Bananal
Pres. Kennedy
Linha Pastro
Alto Alegre
Vila Colonial
União da Barra
Barra
Barra do Marrécas
Piloneto
Barra
CurvaFlor da Serra
Plano Azul
Vista Alegre
Sede
Boa Vista
São Luiz
Boa
Maracajá
Alto Lajeado
Lambedor
Serra do
Alto
Nova
N.Sª Salete
L. Brasilia
Planalto
ColôniaBarra Verde
Linha Bellé
Verezinho
Progresso
Esperança
Linha
FONTE: MAPA VIÁRIO MUNICIPAL/2005Adaptação: SOUZA,P. Geterr 2010
VERÊ - PARANÁ
PRODUTORES AGROECOLÓGICOS
01 - Alcides Moreschi
02 - Aldair Alberton
03 - Adoino Colpani
04 - Armindo Lang05 - Ass. Santo Antonio
06 - Baldoino Berns
07 - Darci Cassol
08 - Décio Cagnini
09 - Dirceu Moreschi
10 - Francisco Carniel
11 - Iraci Zanin
12 - Irinaldo Calgarotto
13 - Janete F. Da Silva
14 - Lídia Ferreira
15 - Miguel Thomé
16- Nelson Moreschi
17 - Rudi Castagna
18 - Valdemar Bettiolo
19 - Valmir Jang
Comunidades/Localidades
Perímetro Urbano
Rodovias Estaduais/Asfalto
Hortaliças
Frutas
PRODUTORES
Grãos
PRODUÇÃO
Animal e derivadosEstradas Municipais
Limite do municipio
Doces/Conservas
Legenda
VERÊ
0 4,51,5 3,0 6 km
L. Farroupilha
Alto Verê
N. Sª.Saúde
dos crentes
Grande
União
Lambedor
Nova
Lambedor
do Santana
do Cerne
Escala aproximada
Localização
Sudoeste do Paraná Francisco Beltrão
VerêFonte: SUDERHSA/IBGE
Org: SOUZA, P. Geterr 2010Mapa de localização sem escala
Núcleo de produtores
da Vila Colonial
MAPA 6 – Localização das propriedades agroecológicas de Verê
104
Para conhecermos a organização das propriedades estudadas, elaboramos cinco
croquis, um de uma integrada, dois das parcialmente agroecológicas e dois das totalmente
agroecológicas. Eles permitem analisar aspectos da paisagem de cada propriedade. Convém
esclarecer que a paisagem é compreendida como o resultado de elementos biológicos e
antrópicos, que imprimem suas características produzindo, reproduzindo e continuamente
transformando a paisagem. Ressaltamos que, em algumas propriedades, as ações humanas são
mais visíveis, enquanto em outras a natureza tem o papel central e fundamental. Iniciamos
nossa discussão com a integração contratual realizada pela Sadia.
5.1 – PROPRIEDADE INTEGRADA À SADIA – DOIS VIZINHOS
A propriedade estudada integrada à Sadia localiza-se na comunidade de Planalto,
município de Verê; nela trabalha um casal contratado e, em alguns finais de semana, o
proprietário. Com 4,42 hectares, apenas a produção de frangos é para comercialização, as
ovelhas, hortaliças e frutas são para consumo da família.
Foto 7 – Propriedade Integrada à Sadia – Dois Vizinhos
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F. Agosto de 2010.
105
A base dos dados a seguir é referenciada por uma entrevista realizada com um
avicultor integrado (2010). Atualmente, para construir um aviário nos padrões 24x100,
exigidos pela Sadia, são necessários aproximadamente R$500.000; destes, R$80.000 são para
terraplenagem e terreno, e R$420.000 para implantação, construção e automatização
(equipamentos) do aviário, um investimento alto para quem sobrevive somente disso. E é este
fator que, na maioria das vezes, impede os avicultores de ―abandonarem‖ este tipo de
produção.
Em um aviário de 12x100, é possível uma produção de 18.000 aves por lote.
Dependendo da qualidade do frango (avaliada pela integradora) recebem de 0,52 a 0,56
centavos por cabeça, aproximadamente R$19.500 por lote. É um valor considerável, se não
contar com os descontos (ração, frangos de um dia, assistência técnica, medicamentos,
carregamento...) e com os custos de produção (maravalha, lenha, luz, manutenção, mão-de-
obra), que variam de 70% a 85% do total, originando um ganho de 30% a 15% quando o lote
é considerado bom, gera em torno de 25% ou R$4.875 que, durante 7 anos, foram todos
investidos na propriedade.
As atividades realizadas, durante o desenvolvimento de um lote de frangos, são
cansativas e desgastantes; nos primeiros cinco dias, são necessários atenção e cuidados
especiais, inclusive à noite, observando o acesso à água, comida e o controle da temperatura,
que são os mais importantes; é a fase de adaptação da ave de um dia, após esses dias, os
espaços de tempo de averiguação e cuidados ficam mais extensos. É preciso tomar cuidado
para não faltar água nem ração e para não criar casca na cama de aviário, para garantir
qualidade da produção. A assistência técnica é exigente e acompanha a produção desde a ave
de um dia até sua saída para o abate, são aproximadamente 6 visitas por lote.
No final do lote, a Sadia permite que o avicultor acompanhe a produção até a balança,
com carro próprio, no entanto, dentro da empresa nada é permitido, nem mesmo a entrada, por
isso, o avicultor não acompanha a avaliação da sua produção, e, na maioria das vezes, não
sabe de onde vêm tantos descontos, e se conhece alguns problemas ― calo de patas, baixo
peso, ― não tem certeza de que isso ocorreu, pois não é permitido o acompanhamento da
avaliação.
Dentre as exigências da empresa integradora, estão metas de produção,
manejo adequado e sanidade. Eu nunca deixei de cumpri-las, mas soube
através de alguns avicultores, que se o integrado não atingir a média (peso e
qualidade), pode receber gancho de até 60 dias, ou seja, ele fica sem
produzir e conseqüentemente sem receber. Se fosse hoje, eu não investiria na
produção avícola integrada, mas sim, em outros ramos, mas como na época,
106
2003, eu já trabalhava com a comercialização de equipamentos avícolas,
facilitou. (Entrevista do avicultor integrado, realizada por GAIOVICZ, E.F.,
2010).
Entre os pontos positivos e negativos, os últimos são mais consideráveis, pois os
resultados sempre surpreendem; a comercialização da cama não é garantida, ficando
depositada na propriedade ocupando os pequenos espaços que restam; os investimentos,
muito altos e constantes devido à rigidez das exigências da integradora e há um cálculo de
renda média, utilizando a renda de outros avicultores através de conversões ilusórias,
dificultando o cálculo preciso por parte dos avicultores. Apesar de poucos, os aspectos
positivos são investimentos a longo prazo e experiência de uma forma diferente de produção.
Na propriedade (figura 3), há dois aviários de 100x12, construídos no ano de 1990; na
época, com pouca automatização, os bebedouros e comedouros eram limpos e preenchidos
manualmente assim como o controle da temperatura; eram necessárias duas pessoas para dar
conta de um aviário.
Desde 2003, quando o avicultor adquiriu a propriedade, até 2010, todo o ganho e ainda
alguns financiamentos realizados nos bancos Itaú e Bradesco foram investidos na
propriedade, aproximadamente R$90.000 por aviário. Além de não utilizar os ganhos da
produção em outros investimentos, o avicultor ainda pagou 8,75% ao ano de juros ao banco
Itaú, por um financiamento de 5 anos, e 6,75% ao Bradesco por um financiamento de 8 anos.
Por esse motivo, paralelamente à produção avícola integrada, mantém outra atividade, o
comércio de equipamentos para produção avícola, para ordenha mecânica e para proteção de
fontes.
De acordo com o avicultor, é desanimador trabalhar com uma empresa integradora
como a Sadia, pois há um descaso com os avicultores, principalmente na parte de logística da
empresa, a qual controla a distribuição de insumos nas propriedades, pois ―a empresa deixou
a minha propriedade quatro lotes sem ração”. Apesar desses contratempos, afirma que a
Sadia é uma empresa séria, que não engana os avicultores no peso da produção, mas as
técnicas utilizadas para contabilizar os ganhos, empregando a média de alguns avicultores,
desvaloriza o trabalho e a produção de outros, diminuindo a renda, dificultando a permanência
como avicultor integrado.
107
Figura 3 – Propriedade Integrada à Sadia
108
A técnica de produção integrada organiza a paisagem da propriedade de forma
simplificada, como podemos observar na figura 3. Não existe diversificação de cultivos, toda
a propriedade é organizada a partir do centro, que são os aviários, separando-os das demais
dependências através de cercados. O pomar, o parreiral, a estufa, a horta e o espaço de criação
das ovelhas ficam separados, ao Sul da propriedade. As casas do proprietário e do caseiro, o
espaço de lazer localizam-se ao Norte e, a Oeste, está a produção de eucaliptos para uso na
caldeira dos aviários. Conforme o avicultor, a produção de eucaliptos em propriedades
avícolas integradas é comum, pois é a forma que o avicultor encontra para diminuir os custos
de produção por um período determinado, utilizando-as nos aviários, evitando o gasto com a
compra de lenha.
O que observamos, na figura 3, é uma paisagem humanizada, definida por Sauer
(1925) como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo
físicas e culturais, chamada de paisagem posterior à ação humana. Assim, podemos afirmar
que a paisagem da propriedade integrada é uma paisagem cultural, ou seja, humanizada, inclui
todas as modificações feitas pelo homem no espaço rural. Além da cultura, verificamos
também elementos econômicos como, por exemplo, a localização ― próxima à rodovia
principal― facilitando o transporte das mercadorias.
Observamos que o sistema de produção avícola integrada é um interesse dos agentes
do capital que buscam aumentar a produção em menor tempo, concentrando o capital nos
elementos dominantes do processo, neste caso, as agroindústrias.
Percebemos que integradora e integrado possuem interesses diferentes, pois, a
primeira, entende a integração como uma estratégia de controle dos mercados rurais e redução
da mão-de-obra; já para os integrados é uma oportunidade, garantia de produção, de preço e
de renda, facilitando seu acesso ao capital, mas, não é exatamente isso que encontramos na
prática; o que notamos é o distanciamento do avicultor integrado de sua autonomia financeira;
é a presença de mecanismos de subordinação e um deles é o contrato, no qual são
estabelecidas ―normas‖, obrigações e deveres dos avicultores; ao mesmo tempo, são
esclarecidos significativamente os interesses e direitos da integradora. Através do contrato o
integrado perde autonomia e identidade, vivendo um processo de subordinação, dominação de
sua força de trabalho e de sua propriedade, conforme descrevemos no capítulo 2.
109
5.2- PRODUTORES PARCIALMENTE AGROECOLÓGICOS
Entre os produtores parcialmente agroecológicos do município de Verê estão: Aldair
Alberton, Armindo Lang, Associação Santo Antônio9, Décio Cagnini, Dirceu Moreschi,
Francisco Carniel, Iraci Zanin, Irinaldo Calgarotto, Miguel Thomé, Nelson Moreschi, Valmir
Jahn e Valdemar Betiollo. Apresentamos a seguir quatro sínteses dos dados coletados em
trabalho de campo, em 2009 e 2010, em algumas propriedades dos produtores do município.
Essas quatro propriedades foram escolhidas, devido ao seu tamanho e à relação existente entre
a produção agroecológica e a convencional.
De acordo com entrevista realizada em trabalho de campo (2009), a família Alberton
reside em Verê, na comunidade de Planalto, e na propriedade há 40 anos; atualmente,
trabalham permanentemente 5 pessoas; destas, duas são empregados e os outros pessoas da
família.
A família trabalha com a produção agroecológica desde 2000, devido a uma
intoxicação do proprietário. Aprenderam a cultivar através de cursos oferecidos pelo CAPA,
CRESOL e Prefeitura Municipal. A certificação da uva é fornecida pela Rede Ecovida, que
faz a certificação participativa, conforme o Art.3, parágrafo 1º da Lei 10.831 de 23 de
dezembro de 2003, por intermédio da indústria de sucos Viry, da APROVIVE, em Verê.
A área total da propriedade é de 39,72 hectares (figura 4), distribuídos da seguinte
forma: 24,24 de culturas temporárias como soja e milho convencionais; 4,80 são
agroecológicos, com produção de hortaliças como alface, rúcula, beterraba, cenoura, pepino,
tomate e outros; 1 de parreiral com uvas concórdia e bordô agroecológicas (foto 8); 7,26 de
pastagem permanente e, 2,42 de mata nativa.
Na área agroecológica da propriedade, o combate às pragas é feito através de insticidas
naturais, que servem como repelentes e a fertilidade do solo é mantida com uso de adubação
verde, que serve como cobertura e proteção do solo. As mudas de parreira foram compradas
em Bento Gonçalves-RS, através do CAPA, uma das entidades parceiras do produtor, que
fornece assistência técnica juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais; além da
APROVIVE, que transforma a uva e comercializa o suco e a geleia, por fim, a CRESOL com
os financiamentos. Quando há disponibilidade, Aldair Alberton participa de feiras em outros
9 Associação formada por 6 agricultores que produzem uva na propriedade de um dos sócios, que trabalha
permanentemente na propriedade juntamente com a esposa.
110
municípios como Curitiba – Feira dos Sabores; e, no Rio de Janeiro – Alfoque, onde
comercializa parte da sua produção.
Foto 8 – Parreiral da Propriedade de Aldair Alberton
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E.F. Agosto de 2009.
Segundo Aldair, para incentivar os produtores a aumentarem a produção, é necessário
valorização do produto no mercado, diferenciando-o; organização por parte dos produtores de
outras associações, como a APAV, que servem para fortalecer a produção e a permanência do
agricultor como agroecológico; e, por fim, é importante a divulgação: informar ao consumidor
a importância de consumir produtos agroecológicos, mais saudáveis e sem agrotóxicos em sua
produção.
Outro fato interessante, comentado pelo nosso entrevistado, é que a agroecologia, além
de produzir alimentos saudáveis, ainda preserva o ambiente, com solos, água e ar de
qualidade. Na propriedade de Aldair, a captação de água é realizada através de um poço de 90
metros de profundidade que a família construiu, não ocorrendo problemas como falta de água
ou má qualidade desta, além da propriedade possuir SISLEG. Os lixos orgânicos produzidos
pela família são utilizados na compostagem na horta, os dejetos animais servem como adubo e
o reciclável é acumulado num galpão e levado à cidade onde os catadores o recolhem.
111
Figura 4 – Propriedade de Aldair Alberton
112
Na figura 1, observamos que, na área com práticas convencionais ― a maior da
propriedade ―, há monocultura, formando uma paisagem homogênea, constante quando
falamos de cultivos convencionais, diferente da área do parreiral, das hortaliças e do
mandiocal, relativamente pequena, mas com diversidade vegetal; ademais, é a área
agroecológica da propriedade. Desse modo, coexistem duas paisagens dentro de uma mesma
propriedade, a Leste, homogeneidade e simplificação da paisagem no cultivo convencional; a
Oeste, uma heterogeneidade, com a presença de elementos naturais e antrópicos associados,
através da produção agroecológica. Por isso, essa propriedade é considerada parcialmente
agroecológica, pois apenas parte dela é agroecológica.
Enquanto na área com produção convencional há produção de duas variedades de
produtos (milho e soja) ao longo do ano, em diferentes épocas, comercializadas com a
COASUL, na área de práticas agroecológicas, a diversificação é mais intensa: 5 a 10 produtos
diferentes, além da uva, da qual, 80% é entregue para a indústria de sucos Viry e, 20%
comercializados em duas partes: uma diretamente com os consumidores e a outra
transformada em vinho artesanal para consumo da família. Há também a produção de leite
agroecológico, com 25 animais (vacas holandesas) e uma produção de 10 a 12 mil litros/mês
comercializados com o Laticínio Lambedor, de Verê, embora o produto não receba valor
diferenciado.
Outro aspecto importante dessa figura é que, na área de práticas convencionais, não há
presença de mata nativa, pois esse espaço é todo ―aproveitado‖ para a produção; já na porção
Oeste da propriedade, há mata nativa, utilizada como área de pastagem para o gado leiteiro,
além da mata ciliar que protege o rio que passa pela propriedade. Ademais, a área de
produção convencional, além de diminuir a diversidade, agrega elementos que eliminam o
trabalho e facilitam o acesso das máquinas e insumos necessários ao cultivo.
Entre as vantagens em produzir agroecologicamente, Aldair aponta: a) menos contato
com agrotóxicos; b) menores custos de produção; c) facilidade de financiamentos através da
CRESOL com menores juros. Em relação às desvantagens, ele relaciona: a) falta de mão-de-
obra; b) dificuldade na conversão do solo.
A paisagem encontrada nessa propriedade é aquela compreendida, neste trabalho,
como uma relação entre elementos físicos, biológicos e antrópicos, que dão formas
diferenciadas à paisagem. É, ao mesmo tempo, natural e cultural; é o que Berque (2004)
chama de grafia e matriz, grafia efetivada pela ação humana impressa na paisagem e matriz,
pois a natureza é quem possibilita condições para a concretização das ações humanas.
113
Outra propriedade similar à da família Alberton é a de Miguel Thomé, proveniente do
Rio Grande do Sul e residente em Verê há 45 anos. A gestão da propriedade é familiar,
alitrabalham duas pessoas da família, além de 5 ou 6 empregados temporários, no período da
colheita da uva. A área total da propriedade é de 14,7 ha: 7 ha para culturas temporárias
convencionais (milho, soja, feijão); 1 ha para culturas permanentes, parreiral, (foto 9); 3 ha de
pastagem permanente; 3 ha de mata nativa e 500 pés de silvicultura e reflorestamento, o
restante são para benfeitorias em geral.
Foto 9 – Parreiral na propriedade de Miguel Thomé Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F./Agosto de 2009
O que torna essa propriedade similar à de Aldair Alberton é o fato de possuir uma área
destinada à produção agroecológica de uvas, hortaliças e tubérculos em geral, divididas por
uma barreira verde, e também outra área designada à produção convencional de alimentos, a
mesma condição visualizada na figura 4 da propriedade anterior, mas numa proporção menor,
pois a propriedade da família Thomé é menor que a da família Alberton.
Miguel Thomé trabalha com a agroecologia há 5 anos, graças às atividades realizadas
pelo CAPA, aprendendo através de cursos, reuniões e intercâmbios com produtores do Rio
114
Grande do Sul. Inicialmente, essa uva era transformada em suco pela empresa catarinense
Sucoeste; quando essa empresa deixou de comprar a uva em Verê, os produtores tiveram que
construir uma alternativa, então, juntos com a prefeitura de Verê e o CAPA escreveram um
projeto solicitando financiamento para fazer uma construção/edificação e para comprar
equipamentos de uma fábrica de sucos ― APROVIVE.
A família optou pela agroecologia com a intenção de produzir uva saudável para eles e
para os filhos, num contexto de produção dominado por agrotóxicos. As mudas são
compradas em Santa Catarina. Como a uva é um produto de pouca durabilidade, a
comercialização precisa de cuidados especiais. A família utiliza boa parte para
comercialização in loco, em feiras e, outra parte para transformação em suco através da
Associação APROVIVE; e o restante da uva (Concórdia e Bordô) (foto 10), 12.000 kg na
última safra, transformada em vinho para consumo da família e para comercialização na
APAV.
Foto 10 – Produção de vinhos e geleias da família Thomé
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F./Agosto de 2009.
Além do parreiral, a família possui uma produção agroecológica considerável para
subsistência e vende apenas os excedentes: feijão (2 ou 3 sacas por ano), mandioca, hortaliças,
leite, suínos e frutas, as três primeiras produzidas embaixo do parreiral nas entressafras e
comercializadas na APAV, o restante é para consumo da família. As principais vantagens
destacadas pelo agricultor consistem no valor diferenciado recebido pelo produto, superior ao
115
convencional; baixo custo de produção; venda fácil e garantida. Como desvantagem,
evidenciou a falta de assistência técnica contínua.
A propriedade de Décio Cagnini é diferente das anteriores, pois, além de produtor
agroecológico, é técnico agrícola especializado nessa produção e trabalha no CAPA. Assim,
sua unidade produtiva está muito bem organizada e serve de referência no município e região.
O que a define como parcialmente agroecológica é o fato de haver, na propriedade, plantação
de eucaliptos, não considerada produção alternativa sustentável, pois, além de degradar o
solo, consome grande quantidade de água, eliminando nascentes, portanto contrariando os
objetivos da agroecologia.
A família Cagnini é originária do Rio Grande do Sul e mora no município desde 1951.
Como ele se ocupa das atividades do CAPA, em algumas épocas, contratam um casal como
empregados temporários, ou diaristas, para auxiliarem nas tarefas de sua propriedade. A
gestão da propriedade é familiar, com área total de 13,6ha (figura 5); nos 3 ha que eram
cultivados convencionalmente, agora há eucaliptos; 1 ha de pastagens permanentes, 20% da
área total da propriedade é de mata nativa e o restante dedicado à fruticultura [uvas (niágra,
bordô e francesa), maçã, pêra, pêssego e laranja], erva-mate (5.000 pés) e hortaliças em
estufas (foto 11) (alface, tomate, vagem, pepino, cenoura, beterraba, brócolis...), além da
produção própria de mudas em estufa (foto 12). A produção é certificada pela Rede Ecovida.
Foto 11 – Estufa de alface
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E.F./Maio de 2010.
116
Foto 12 – Produção de mudas na propriedade do Décio Cagnini
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E.F./Maio de 2010.
Décio trabalha agroecologicamente há 10 anos. Fez essa escolha para cuidar das
crianças, pois sua filha havia-se intoxicado com ―o veneno dos tomates‖. Foram os primeiros,
em Verê, a optar pela agroecologia, graças ao trabalho no CAPA. “Foi um desafio naquela
época”, comenta Décio. ―Como funcionário do CAPA, tive que dar o bom exemplo e o
experimento deu certo‖. Para comercialização, vende uma parcela da produção in loco,
participa de feiras a cada 15 dias (Foz do Iguaçu e Curitiba), entrega as hortaliças na APAV e
a uva na fábrica de sucos Viry da APROVIVE.
A propriedade de Décio Cagnini é bem diversificada, com cultivo variado de produtos;
isso se deve aos métodos utilizados pelo técnico; como fertilizante e protetor do solo, utiliza
cobertura verde (foto 13); como inseticidas, usa repelentes e predadores naturais mantendo o
equilíbrio ecológico e preservando as espécies. Além disso, a água captada na propriedade de
Décio é proveniente de um poço protegido, que ele próprio construiu, e o lixo orgânico,
utilizado diretamente como adubo nas hortas.
117
Foto 13 – Cobertura Verde na propriedade do Décio Cagnini
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E.F./Maio de 2010.
Ao falar sobre as vantagens da produção agroecológica, Décio destaca: a) os preços
obtidos pela produção; b) venda garantida dos produtos; c) saúde familiar e dos consumidores
através da produção de alimentos saudáveis. ―A comercialização sempre dá certo e há
garantia de que tudo será vendido. Além disso, é o produtor que estabelece o preço, sem ter
que contratar grandes empresas‖, afirma. Como desvantagem, menciona a falta de força de
trabalho, ou seja, de pessoas disponíveis para fazer o trabalho braçal que a prática
agroecológica exige: ―Os jovens saem do campo e deixam o trabalho rural. O mercado
também é frágil, é difícil criar um mercado regular e ainda falta organização dos produtores
em um sistema coeso‖. Além disso, faltam técnicos especializados em agroecologia.
Apesar de destacar a fragilidade do mercado, Décio afirma que há consumidores para
a produção, vendem tudo que cultivam e faltam produtos. Assim, é necessário ampliar a
produção criando redes de comercialização envolvendo o território de Verê e outros vizinhos,
como Francisco Beltrão. Na opinião do entrevistado, isso pode ocorrer através da criação de
uma central, um ponto de referência que articule os produtores agroecológicos de diferentes
municípios numa comercialização em rede, formada a partir de nós estratégicos de território.
118
Figura 5 – Propriedade de Décio Cagnini
119
Ao analisarmos a figura 5, observamos que a propriedade possui uma paisagem bem
diversificada, pois vemos homogeneidade apenas em 20% da propriedade, na área destinada
para a produção de eucaliptos; a maior parte é utilizada para a produção agroecológica de
alimentos, com mais de 20 variedades de produtos, cada qual com um planejamento
específico para cada época de produção.
Outro aspecto importante é a presença significativa de mata ciliar e reserva legal, um
ponto positivo para a propriedade, pois na maioria das propriedades parcialmente
agroecológicas, tal área é destinada também para pastagem, ou para plantio de forrageiras, ou,
até mesmo, vista como sujeira e, assim, destruída. Ademais, há também a agrofloresta, com
plantação de erva-mate, através da qual o produtor consegue uma renda extra, pela colheita
anual.
Uma propriedade semelhante à da Família Cagnini é a de Armindo Lang, que reside
no município de Verê há 60 anos e, na propriedade, há 40. Trabalham na propriedade apenas
o casal, que tem 5 filhos.
Armindo faz parte do Conselho do CAPA, possui um sítio parcialmente agroecológico
e recebe visitas de turistas (turismo rural) que vêm até o Termas Águas de Verê. Armindo já
realizou intercâmbio através do CAPA para a Alemanha e também recebeu grupos de
intercambistas deste país em sua propriedade.
A propriedade tem 19,90ha, dos quais, aproximadamente, 7,00ha são utilizados para
culturas temporárias convencionais, através do arrendamento para terceiros; 3,98 ha compõem
a área de reserva legal; possui 03 estufas onde produz hortaliças agroecológicas, com 210m2
cada, totalizando 630m2, o restante da área - isolada com barreira verde - compreende
pastagens permanentes, área de pomar e área construída.
Armindo trabalha com agroecologia há 10 anos. As hortaliças produzidas são:
cenoura, alface, feijão de vagem, tomate, cenoura, pepino (foto 14), couve e temperos. Iniciou
a produção de agroecológicos por questões de saúde; comercializar e consumir alimentos
saudáveis. Na opinião deste produtor, a renda não se diferencia dos outros tipos de produção,
mas optou por questões de saúde. Na produção animal possuem uma vaca para produção de
leite e queijo para consumo e, ainda, coelhos, galinhas caipiras e ovos comercializados na
APAV, quando há excedente. Aprendeu a cultivar com a família, ――tradição familiar‖―,
através de cursos e palestras oferecidos pelo CAPA e com intercâmbios.
120
Foto 14 – Estufa com plantação de pepinos da família Lang
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F./Setembro de 2009.
A certificação é feita pela Rede Ecovida, através da APAV, sendo esta última quem
fabrica e cola o selo no produto na hora da venda. Entre as vantagens da produção
agroecológica, o produtor destaca: maior valor do produto; como utilizam estufas podem
produzir mais safras durante o ano (no inverno, por exemplo) obtendo melhor preço nas safras
fora de época.
As sementes e mudas utilizadas na propriedade são de criação própria (foto 15), mas a
maioria são adquiridas com o técnico do CAPA, Décio, que presta assistência técnica e
também é produtor agroecológico, conforme já mencionamos. Para combater pragas e pestes
utilizam produtos naturais como calda de pimenta, chá de arruda, calda de cinza, super-magro,
com a intenção de repelir e não de matar, pois a própria natureza se encarrega de fazer o
equilíbrio.
121
Foto 15 – Produção própria de mudas – Lang
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F./Setembro de 2009.
Na área arrendada é plantado feijão, milho e soja. Pelo arrendamento recebem 20% do
total gerado na safra segundo o produtor, pediu-se ao arrendatário para que não utilizasse
sementes transgênicas. Além disso, Armindo diz que arrendou porque ele e a esposa não dão
conta de cuidar de toda a propriedade, pois a agroecologia exige muita mão-de-obra e esta é
difícil de encontrar.
Ademais, o produtor não abandonou nenhuma atividade para iniciar a produção
agroecológica. Não participa de feiras, pois toda produção agroecológica é comercializada
com a APAV mensalmente, além de auxiliar na comercialização, atua organizando a
produção (entrega, certifica, embala etc). Inicialmente, para transportar os produtos até a
APAV, utilizava carro fretado, atualmente adquiriu um veículo para transporte particular e
dos produtos.
Entre as desvantagens destacam: a produção exige mais mão-de-obra, o consumidor
compra pela aparência do produto, e isso, algumas vezes, prejudica a venda; a presença de
intermediários atrapalha na comercialização, pois o produtor preferia vender direto ao
consumidor.
Além da APAV, a família Lang é sócia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e fazia
financiamentos através da CRESOL para plantar a lavoura convencional, mas, atualmente,
122
não o faz. O capital investido na produção agroecológica é retirado da própria venda das
hortaliças ou das duas aposentadorias que o casal recebe mensalmente. Acreditam que se
houvesse maiores incentivos a produção agroecológica melhoraria, por exemplo, se não fosse
o CAPA e a APAV, já teriam desistido.
O que torna esta propriedade semelhante à propriedade de Décio é o fato de boa parte
da unidade produtiva ser destinada à produção não agroecológica, e, outra porção, à produção
agroecológica; ambos produzem hortaliças e frutas, além de destacarem a falta de mão-de-
obra como principal empecilho para o desenvolvimento da produção agroecológica no
município.
Ao estudarmos estas propriedades, verificamos que há consciência dos produtores em
relação aos benefícios trazidos pela produção agroecológica, porém, ao mesmo tempo,
pensam na rentabilidade imediata e no pouco uso de mão-de-obra da produção convencional,
já que esta é mecanizada. Alegam, ainda que não há incentivo por parte do governo e falta de
mão-de-obra na propriedade agroecológica, resultando na busca por uma renda rápida,
disponibilizada pela produção convencional ou pelo arrendamento. No entanto, a maioria
deles têm como objetivo principal, a longo prazo, a conversão total da propriedade em
agroecológica, sabendo que esta forma de produção exige muito tempo de trabalho e cuidados
especiais.
5.3 – PRODUTORES TOTALMENTE AGROECOLÓGICOS
Para enfatizar ainda mais a importância de produzir e consumir alimentos saudáveis,
em preservar e conservar o ambiente, apresentaremos os produtores totalmente
agroecológicos do município de Verê-PR, que veem na agroecologia uma forma alternativa de
sobreviver e manter-se na pequena propriedade rural. Estes produtores são os que possuem
toda propriedade voltada para a produção de alimentos saudáveis, entre eles estão: Alcides
Moreschi, Aldoino Colpani, Baldoino Berns, Darci Cassol, Janete Ferreira, Lídia Ferreira e
Rudi Castagna, representados pelas três propriedades apresentadas a seguir.
A primeira é a da Família Cassol, que mora no município de Verê há 56 anos e na
propriedade atual desde 1973. Nela trabalha o produtor e, na época de produção, contrata
alguns empregados temporários. A área total da propriedade é de 2,4 hectares, toda destinada
123
às culturas agroecológicas temporárias, com estufas de hortaliças (foto 16), frutas e 20% da
propriedade é destinada à mata nativa e capoeira. Além disso, as hortaliças são irrigadas à
noite para diminuir os gastos com energia elétrica, através de um projeto de irrigação noturna
do governo estadual.
Foto 16 – Estufa de hortaliças na propriedade de Darci Cassol
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ, E. F./Agosto de 2010.
Fátima, a esposa, mora na propriedade, mas trabalha no mercado dos produtores da
APAV, na área central da cidade de Verê. O casal tem duas filhas: uma mora no Rio Grande
do Sul e a outra é aluna do curso de Fruticulturas da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, campus de Dois Vizinhos.
Darci trabalha com agroecologia há 13 anos. Antes, a família produzia
convencionalmente; foi Fátima quem incentivou a conversão para a produção agroecológica.
O CAPA, com Décio como técnico, e o STR, que organizou uma lista dos produtos que os
consumidores gostariam de ter no mercado, tiveram papéis fundamentais, ensinando técnicas
de cultivo, organizando e planejando a produção agroecológica.
124
Além do CAPA, que auxilia com assistência técnica, outras entidades também são
parceiras de Darci na produção agroecológica, entre elas, a CRESOL, que, apesar de cobrar
juros por seus financiamentos, tem uma linha de crédito específica para os produtores
agroecológicos, para investimento na construção das estufas, e/ou custeio para a compra de
mudas. No entanto, conforme afirma Darci (2009):
...a CRESOL não acreditava na produção orgânica, dava maior prioridade às
produções transgênicas (convencionais), pois faltavam linhas de crédito aos
produtores agroecológicos. Graças ao Governo do Paraná que está
trabalhando muito nos incentivos à agroecologia, principalmente com o
programa Fome Zero. Parece que a CRESOL não aprendeu ainda trabalhar
com os produtores familiares. As entidades se acomodam: têm muito
dinheiro que chega, porém, não usam em atividades, deixam o dinheiro
parado.
A família Cassol comprou as primeiras sementes de Décio e agora compra no
mercado. Para combater as pragas usam super-magro, dipel (inseticida biológico), óleo de nim
(extrato de sementes de uma espécie de árvore meliaceae) e calda bordalesa. Darci abandonou
a produção de suínos após a inserção na agroecologia, pois como o produtor afirma ao Jornal
de Beltrão (06/03/2010) ―com a crise na suinocultura, eu chegava a ter R$100,00 de prejuízo
por dia...‖.
A comercialização dos produtos acontece diretamente in loco com consumidores
(sobretudo vizinhos). Mas a maior parte é comercializada na APAV e o meio de transporte
utilizado para entregar os produtos é a camionete da associação, pela qual paga R$2 por
viagem.
Em entrevista ao Jornal de Beltrão, em março de 2010, o agricultor afirmou que, com
a produção agroecológica, consegue uma renda significativa, suficiente para se manter no
campo em sua pequena propriedade. Diz ainda que, se fosse plantar produtos convencionais,
não daria nem para pagar os gastos com a produção, mas, a agroecologia viabiliza a pequena
propriedade e a produção em pequena escala, desde que haja grande variedade, pois o
mercado para tais produtos é garantido, principalmente para aqueles produzidos fora de
época, como o tomate, que, em estufa, pode ser produzido também no inverno.
Além da produção agroecológica de hortaliças, há produção de leite, carne suína e
peixe para consumo da família e, na cozinha da APAV, produzem conservas e sucos. Ao
mesmo tempo em que o produtor cuida da saúde da família e dos consumidores, cuida
também do ambiente; a captação de água de boa qualidade é feita através de um poço e uma
fonte protegida.
125
Figura 6 – Propriedade de Darci Cassol
126
Na figura 6, observamos claramente a paisagem da propriedade totalmente
agroecológica, uma diversidade considerável de produtos, em uma pequena área se
comparada com outras propriedades estudadas. Há variedade de produtos em seis estufas,
além de vários canteiros de hortaliças entremeando as estufas e, ao lado delas, um espaço
destinado ao pomar recentemente ― em janeiro de 2010 ― plantado.
Outro aspecto interessante a barreira verde feita com carreiras de capim elefante e
cana-de-açúcar. Segundo o agricultor, a barreira verde é importante para evitar a entrada de
agrotóxicos de outras propriedades convencionais, trazidos pelo vento e pela água. É
relevante comparar a propriedade de Darci Cassol com a de Aldair Alberton, em apenas 2,4
hectare; aquele consegue produzir maior variedade de produto que na propriedade da família
deste que tem quase 40 hectares; isso é possível devido à produção agroecológica de
alimentos. A organização planejada de toda propriedade revela muito bem os princípios
adotados pela família em seu lugar e território de vida.
As principais vantagens da produção são a venda garantida e a geração de um ganho
semanal, que pode ser verificado na produção de rúcula e agrião, comercializadas a R$1,50 ao
maço, e na alface R$0,75 ao pé. Conforme diz Darci em entrevista ao Jornal de Beltrão
(06/03/2010), ―a gente vai juntando esses pequenos valores e conseguimos um bom
montante‖. Além disso, o aspecto fundamental é a saúde da família e dos consumidores: ―Não
estou no meio do veneno!‖, diz Darci. Tem um mercado garantido para os produtos, embora
falte produção: ―no começo de julho, por exemplo, faltou muita alface‖. A produção desta
necessita de mais cuidado e mão-de-obra, por isto, é limitada ao manejo nas estufas.
Segundo o produtor, para melhorar a produção e a comercialização dos produtos
agroecológicos é necessário maior envolvimento dos produtores, organização de cursos,
―porque as pessoas envelhecem e não aprendem mais novas técnicas para cultivar
agroecologicamente‖, assistência técnica para acompanhar durante toda a produção, pois o
CAPA não consegue assessorar a todos.
Enfim, é uma propriedade pequena, mas com aspectos diversificados, uma relação
íntima entre o homem e a natureza, consolidando a criação de uma paisagem
natural/cultural/agrária e transformada.
A propriedade de Lídia Ferreira é bem semelhante à da família Cassol, o que as
diferencia é apenas o tamanho, pois a primeira possui apenas 0,5 hectare, mas é bem
diversificada com grande variedade de produtos, principalmente hortaliças e frutas.
127
A família Ferreira mora no município de Verê há 20 e, na propriedade, há 12 anos.
Como Dinarte, esposo de Lídia, tem problemas de saúde, trabalham na propriedade ela e o
filho, quando necessário. A área total da propriedade é de 0,5 ha, subdividida em: 0,2 ha de
horta e 1 estufa (foto 17); 0,1 ha de pastagens permanente (pasto-potreiro); 0,1 ha de mata
nativa; 0,05 ha de capoeira; 0,05 ha de reflorestamento e a moradia.
Foto 17 – Estufas e canteiros da propriedade de Lídia Ferreira
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ E. F./Setembro de 2009.
A propriedade de Lídia, assim como a de Janete Ferreira, é resultado do Programa Vila
Rural10
, que atendeu, no Paraná, 16 mil famílias em 411 vilas rurais. O programa era uma
tentativa de dar ao trabalhador rural volante e ao bóia-fria um sentido de vida com maior
dignidade, beneficiando famílias que não tinham onde morar.
10
Segundo a Revista Eletrônica Cidades do Brasil (2001), o programa era desenvolvido pelo Governo do
Paraná, - Jaime Lerner era o governador - iniciado em 1995 e executado pela Cohapar (Companhia de Habitação
do Paraná). As famílias são selecionadas a partir de seu vínculo com a terra e ter morado, pelo menos 5 anos, na
cidade. Durante 30 meses, a família recebia todo apoio necessário: moradia, um galinheiro, um depósito para
produtos, instrumentos de trabalho e cursos de capacitação; por isso, a família teria que pagar R$40 por 25 anos.
O financiamento para esse programa veio de outro Programa maior, ―Paraná 12 meses‖ e uma grande parte de
financiamentos junto ao Banco Mundial.
128
A família começou produzir produtos agroecológicos a partir de 2001, optando por
esse tipo de produção porque é mais saudável e rentável. A agroecologia, segundo Lídia, em
entrevista (2009), viabiliza economicamente a pequena propriedade, pois, ―cultivos como
milho e soja convencionais, por exemplo, não renderiam muito numa propriedade tão
pequena, enquanto através das hortaliças conseguimos uma renda de R$ 1.000 a cada
produção da estufa (4/6 meses), quando nós tínhamos 3 estufas, tirava quase R$ 2.000 por
plantio‖.
Lídia aprendeu a cultivar agroecologicamente devido aos cursos, às palestras e à
assistência técnica do CAPA, através de seus técnicos Décio e Rome; depois, ela passou a
visitar outras propriedades para trocar experiências.
Quem forneceu as mudas utilizadas para a produção das hortaliças foi Décio. O
controle de pragas é feito com uso de calda bordaleza, óleo de nim e spray contra formigas;
para conservação do solo e utiliza adubação verde. Em relação ao controle de pragas, a
produtora teve, no passado, um problema com manchas brancas nos tomates, isso ocasionou
perda total das mudas e da produção.
A comercialização da produção é toda realizada na APAV, que disponibiliza um
motorista para apanhar os produtos (verduras e frutas) na propriedade; por esse serviço o
produtor paga uma taxa de R$2,00 por viagem, segundo Lídia, um valor bem inferior ao que
pagaria se fosse fretar um carro para essa tarefa.
As únicas entidades parceiras da família são o CAPA, que atua por meio da assistência
técnica, e a APAV, associação que comercializa os produtos, emitindo um extrato que permite
contabilizar os gastos e ganhos da produção, que é certificada pela Rede Ecovida.
A família de Lídia e alguns vizinhos fizeram um financiamento, o PRONAF
investimento, para construção de uma estufa, porém, Lídia afirma que
O financiamento foi feito junto com o vizinho, seu José, e mais 3 produtores
do Distrito de Sede Progresso, porém esse, só piorou a situação econômica
da família, porque agora tem que pagar regularmente parcelas, e a produção
não é regular, às vezes produz bastante, às vezes não; e, desse jeito, nunca
mais na vida vou fazer um financiamento. (Entrevista realizada com Lídia
Ferreira, setembro de 2009)
Na produção agroecológica, os produtos de maior destaque são: milho, feijão,
mandioca para consumo da família, hortaliças e mais uma horta onde são produzidas alface,
vagem, repolho, rabanete, cenoura, beterraba, pepino e tomate (fotos 18 e 19) comercializados
na APAV, juntamente com outros produtos, como frutas que, quando não comercializadas são
129
transformadas em geleias e sucos na cozinha da associação. A produção animal também é
considerável, usada principalmente para o consumo da família: aves caipiras, aves de granja, e
ovos dos quais, parte é consumido e parte comercializada na APAV.
Foto 18 (esquerda)– Lídia com um pé de alface produzido em sua estufa
Foto 19 (direita)– Canteiros de alho, cenoura, beterraba e parte do terreno em pousio Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ E.F./Setembro de 2009.
A principal vantagem da produção agroecológica destacada por Lídia é a possibilidade
de produzir sem uso de agrotóxicos e ter um produto mais saudável. Quanto às desvantagens,
a produtora alega que há dificuldade em combater doenças e pragas; além disso, falta
assistência pública que assegure, no mínimo, as despesas em casos de perda total da produção
como, por exemplo, na safra de tomates citada anteriormente.
A propriedade de Baldoino Berns é diferente em relação às demais propriedades
estudadas, pois, além de possuir o selo do IBD (Instituto Biodinâmico) e da Rede Ecovida, é a
única propriedade do município a produzir soja e milho para exportação, comercializados com
uma empresa privada de Capanema, a Tozan.
A família Berns veio de Angelina - Santa Catarina mora em Verê, desde 1957 e na
propriedade desde 1972. A gestão da propriedade é familiar e nela moram 12 pessoas, todas
da família e por isso não contrata empregados. O cuidado com a plantação é feito por todos,
principalmente pelos filhos, que cuidam da metade da área de cultivo, isto é, a parte da
propriedade que lhes pertence.
130
A propriedade possui 26 hectares (figura 7) dedicados exclusivamente à agricultura
agroecológica desde 2000, quando passaram a produzir agroecologicamente devido a duas
intoxicações na família, causadas por agrotóxicos empregados no cultivo convencional.
Atualmente, as principais produções agrícolas, para comercialização são soja, mandioca,
milho e feijão (foto 20); produzem, ainda, trigo, batata-doce, linhaça, pipoca, frutas e verduras
estas últimas para consumo da família.
Foto 20 – Plantação de mandioca e barreiras verdes da propriedade da família Berns
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ E.F./Janeiro de 2011.
Baldoino demonstra cuidado muito grande com o ambiente e interesse nos assuntos de
conservação ambiental. Comentando sobre o processo de colonização da região, diz que,
quando vieram morar em Verê, só havia mata (pinhal e eucaliptos), tudo era terra que
pertencia aos caboclos. O Governo já havia realizado a divisão dos lotes e, desde 1968, a
madeira era vendida, sob financiamentos públicos e incentivos ao desmatamento ― antes era
simplesmente queimada para deixar espaço para a produção, vendida por baixo preço devido
ao excesso de oferta ―. “A lei do Brasil veio muito atrasada em relação ao meio ambiente.
Quem destruiu foi o governo mesmo, com financiamentos; os moradores não queriam
desmatar, e agora falam de aquecimento global e poluição. A gente não vê mais tucanos e
passarinhos como naquela época, foi uma destruição louca‖, diz Baldoino, em entrevista.
131
Baldoino afirma que boa parte dos produtos consumidos pela família são produzidos
na própria propriedade, e isso só é possível, graças a agroecologia, que permite a plantação de
vários produtos ao mesmo tempo, sem degradar o solo, preservando as águas e o ar, pois não
utilizam agrotóxicos.
Conforme a lei do programa Fome Zero, em Verê, os produtos agroecológicos
garantem 30% acima do valor do convencional, pois deriva da agricultura familiar, a APAV e
o Fome Zero são os intermediários das vendas. A orientação e a assistência técnica é realizada
pelo CAPA.
A principal vantagem da agroecologia, segundo o produtor, é o baixo preço da
produção; no entanto, produzem em menor quantidade, no máximo, 150 sacas de soja e milho
em 7,26 hectares. Conforme Baldoino, em entrevista em julho de 2009,
[...] com o uso de veneno, a gente sabe que a produção é maior. Se fosse só
pelo dinheiro e pelas lógicas do capitalismo, nóis já teria parado com a
produção agroecológica, mas esse não é nosso objetivo, ficamos na canoa e
temos que remar contra as correntes. O nosso objetivo é a saúde e o cuidado
com o meio ambiente.
As desvantagens, citadas por Baldoino, são a falta de produtos para abastecer o
mercado; de financiamentos para auxiliar no aumento da produção em pequenas propriedades,
de união dos produtores, pois sozinhos não alcançam seus objetivos, dificultando a
valorização da produção agroecológica. ―Sem dinheiro não é possível aumentar a produção
na pequena propriedade e, assim, é a grande propriedade que vai conseguir abastecer o
mercado, mas aí, com produtos convencionais, cheios de veneno‖. A esperança de Baldoino e
da maioria dos entrevistados de Verê é uma diferenciação nos financiamentos
governamentais, com menores juros, que auxiliem e incentivem a produção agroecológica de
alimentos.
Conforme apresentamos na figura 7, a família Berns, não utiliza grandes áreas com o
mesmo cultivo, realiza rotação de culturas, nem sempre os mesmos produtos estão plantados
sobre as mesmas áreas, diferente da produção convencional de alimentos, na qual se cultiva
uma grande extensão de terra com o mesmo produto, gerando uma monotonia na paisagem
com esse tipo de produção.
132
Figura 7 – Propriedade de Baldoino Berns e família
133
Além disso, são respeitadas as épocas do ano para cada tipo de cultivo. Quando há
poucos produtos, em determinada época do ano, grande parte das terras cultiváveis da
propriedade são deixadas em pousio, para que a cobertura verde venha, por conta própria,
revigorando as forças e a fertilidade do solo.
Na figura 7, percebemos com maior clareza a diversidade de produtos que são
possíveis numa produção agroecológica, uma paisagem diferenciada, heterogênea e
diversificada. Outro aspecto que observamos é a presença de áreas de mata nativa,
reflorestamento (foto 21), grande quantidade de mata ciliar no entorno do rio que passa pela
propriedade. Isso nos remete ao fato de que desmatar completamente a propriedade, como se
faz no cultivo convencional, não é alcançar a eficiência produtiva, como se anunciava na
modernização da agricultura. Essa propriedade é um exemplo de que, para se ter organização
não é necessário desmatar, eliminar a diversidade, significa integrar cada espécie de forma a
gerar complementaridade, a fim de produzir alimentos saudáveis, preservar o ambiente e
viabilizar economicamente a permanência do agricultor no campo, conquistando autonomia e
qualidade de vida.
Foto 21 – Aos fundos, área de reflorestamento da propriedade da família Berns.
Fonte: Arquivo pessoal, GAIOVICZ E.F./ Janeiro de 2011.
134
Ao estudar as propriedades agroecológicas, verificamos que todos os produtores
buscam melhorar, a saúde familiar e dos consumidores, a viabilização econômica e cultural de
sua permanência no campo, na pequena propriedade e a preservação ambiental, mas, ao
mesmo tempo, encontram muitos desafios, como um grande dispêndio de energia no trabalho,
falta de mão-de-obra temporária para auxiliar na limpeza ou na colheita dos produtos e falta
de incentivos financeiros por parte do governo. No entanto, os produtores alegam que esses
desafios podem ser superados, quando há união, força de vontade, preocupação com o
ambiente e com a saúde e, principalmente, quando se acredita que é na agroecologia que a
melhoria da qualidade de vida se torna possível.
Ao findar a apresentação e análise da organização das propriedades estudadas,
observamos a presença de um elemento fundamental na construção/transformação da
paisagem: o homem. Ao mesmo tempo, ele consegue criar várias paisagens culturais,
humanizadas e agrárias, mas tudo isso é possível pela relação existente com as características
naturais (clima, relevo, vegetação) já presentes em determinado espaço, ou seja, a paisagem
natural é anterior à ação humana, mas é ela quem dá condições para a concretização das ações
dos humanos que se territorializam constantemente, em cada propriedade, cada safra, todos os
dias.
Em todas as propriedades, há paisagem; todavia, algumas mais humanizadas, outras
mais naturais, o que encontramos são paisagens naturais e culturais juntas, indissociáveis,
uma é parte da outra. Neste estudo, percebemos que todas são o que Claval (2004) chamou de
paisagem agrária, com diferentes ações do homem no solo, buscando a produção agrícola
necessário, e/ou desejada, agroecológica e/ou convencional. A paisagem agrária é a
combinação de fatores como o habitat e as parcelas de terra que intervêm na organização do
espaço rural e na territorialização.
Neste momento, vale lembrar que, muitas vezes, as transformações ocorridas na
paisagem, pelas atividades humanas ou pelo próprio avanço da sociedade, são tão fortes que
chegam a ser degradantes, e é também por este motivo que os objetivos da agroecologia
devem ser divulgados e adotados, para termos paisagens transformadas, porém, a favor da
qualidade de vida e da preservação do ambiente.
135
5.4 – SÍNTESE DA PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE VERÊ
Todos os dados foram coletados durante trabalho de campo realizado, em 2009,
juntamente com as demais atividades do projeto ―Agricultura Familiar Agroecológica, nos
município de Itapejara d‘Oeste, Salto do Lontra e Verê (Sudoeste do Paraná), como estratégia
de inclusão social e desenvolvimento territorial‖, financiado pela SETI – Secretaria de
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná, através do Programa
Universidade Sem Fronteiras.
Nos quadros a seguir, apresentamos algumas sínteses dos dados qualitativos e
quantitativos da produção agroecológica do município de Verê, dividindo os agricultores de
acordo com o tipo de produção. Assim, dividimos os produtores entre parcialmente
agroecológicos e totalmente agroecológicos, elaboramos dois quadros quantitativos e dois
qualitativos. O primeiro quadro (Nº1) mostra os 12 produtores parcialmente agroecológicos,
pois, juntamente com a agroecologia, atuam como agricultores de produtos convencionais, ou
como arrendadores que alugam parte da terra para terceiros plantarem produtos convencionais
não transgênicos.
O segundo quadro (N°2), também quantitativo, apresenta os 7 produtores totalmente
agroecológicos que encontraram neste tipo de produção uma alternativa de cultivo sem o uso
de agrotóxicos, sem dependência da indústria, ou seja, uma forma de preservar e conservar o
ambiente, de produzir e consumir alimentos saudáveis e, dessa maneira, cuidar da saúde da
família e dos consumidores.
136
Agricultor Tamanho da
propriedade
Nº de
trabalhadores
Principais produtos agroecológicos Certificação Comercialização
Comercialização Consumo familiar
Aldair
Alberton
24,24 ha/conv.
15,48 ha/agroe. 5 (2 p*)
1- milho, frutas (uva), leite.
2 – vinho
1 – hortaliças e frutas Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry e in loco
Armindo
Langue
7 ha/conv.
12,9 ha/agroe. 2
1 – hortaliças, frutas e leite
2 - Conservas
1 – hortaliças e frutas
2- queijo Rede Ecovida APAV
Ass. Santo
Antonio
5ha/conv.
9ha/agroe. (2 p*) e 5 t*
1- Frutas (uva) e leite.
2- queijo
1- mandioca, leite e
hortaliças. 2- queijo
Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry e APAV
Décio
Cagnini
3 ha/conv.
10,6 ha/agroe. 3 (1 t*)
1- hortaliças, frutas, feijão, mudas,
leite e cana-de-açúcar
2- queijo, açúcar-mascavo e geleias.
Tudo que é produzido é
também consumido pela
família.
Rede Ecovida APAV
Dirceu
Moreschi
14,56ha/conv.
8,42ha/agroe. 2 1– uva 1- uva
Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry
Francisco
Carniel
2,42ha/conv.
21,05ha/agroe. 2
1 – leite, mandioca, e frutas
2 - queijo e conservas
1 – mandioca, frutas.
2 - queijo e conservas Rede Ecovida APAV
Iraci Zanin 10,89ha/conv.
10,89ha/agroe. 3 (1 t*)
1- frutas (uva), milho, feijão,
mandioca, hortaliças, e leite
2-vinho, queijo, geleias e conservas
1 – milho, feijão,
mandioca, hortaliças,
frutas e leite.
2 – queijo e conservas
Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry, APAV e in loco
Irinaldo
Calgarotto
2,42ha/conv.
2,42ha/agroe. 2 (1 t*)
1- frutas (uva) e hortaliças
2- vinho e geleias
1 – leite e carnes;
2 - queijo Rede Ecovida
Indústria de Sucos
Viry e APAV
Miguel
Thomé
7 ha/conv.
7,7 ha/agroe. 2 (6 t*)
1 – frutas (uva), feijão, mandioca e
hortaliças
2 – vinho e geleias
1 – uvas, feijão, frutas,
carnes, hortaliças e
mandioca;
2 - vinho
Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry e APAV
Nelson
Moreschi
2,42ha/conv.
4,84ha/agroe. 2
1- uva, feijão, e hortaliças
1 – feijão e hortaliças
2 - vinho
Rede Ecovida
(uva)
Indústria de Sucos
Viry e APAV
Valdemar
Betiollo
4,84ha/conv.
7,26ha/agroe. 2
1- frutas, hortaliças, feijão, mandioca,
pipoca, moranga e leite
2- queijo
1 – feijão, frutas e
hortaliças;
2- queijo
Rede Ecovida APAV
Valmir
Jahn
7,68ha/conv.
9,98 há/agroe. 4
1 – hortaliças, feijão, mandioca, e
frutas.
1 – feijão, mandioca,
hortaliças e frutas. Rede Ecovida APAV
Quadro 1 - Dados quantitativos da produção parcialmente agroecológica do município de Verê Fonte: Trabalho de campo, programa USF/SETI, entrevista com agricultores, 2009.
No Quadro: conv.: área destinada a produção convencional e agroe.: corresponde a área destinada a produção agroecológica, mata nativa, pastagem permanente, reserva legal
e área construída; t* equivale a temporários e p* equivale a permanentes; 1 – produto in natura e 2 produto transformado;.
137
Ao avaliar o quadro 01, observamos que o tamanho das 12 propriedades varia de 3 a
39,72 hectares, alcançando uma média de aproximadamente 17,67 hectares e, considerando
que, nelas trabalham 49 pessoas, permanente e temporariamente, a média é de 4 trabalhadores
por propriedade com uma área de aproximadamente 4,28 ha por trabalhador.
Além disso, constatamos que cinco produtores possuem empregados temporários,
contratados na época de limpeza da produção, ou poda de parreiras e colheita da uva. Isso
ocorre porque a maioria dos produtores parcialmente agroecológicos têm como principal
produto para comercialização a uva, sendo, nas 19 unidades estudadas, produzidos
aproximadamente 50.000 kg por ano, dos quais a maior parte, cerca de 80%, é transformada
em suco orgânico na fábrica de sucos Viry da APROVIVE e o restante (20%),
comercializados in natura, nas propriedades, através da venda direta ao consumidor ou na
APAV.
Além da uva, outros produtos são cultivados nas propriedades: hortaliças, mandioca,
feijão e frutas para o consumo da família e o excedente é comercializado na APAV ou
diretamente aos consumidores. Isso não ocorre com Armindo Langue, Décio Cagnini,
Francisco Carniel, Valdemar Betiollo e Valmir Jahn; eles utilizam basicamente a mão-de-obra
familiar e produzem hortaliças, mandioca e feijão para comercialização na APAV.
Alguns agricultores possuem pequenas agroindústrias domésticas, onde produzem
vinhos, queijos, embutidos, geleias e conservas para o consumo próprio. Os produtos que
permanecem no mercado da APAV também são transformados; a associação possui uma
cozinha, no parque industrial do município, onde produzem conservas e geleias e as
comercializam.
De acordo com o quadro 01, a maior parte dos produtos é comercializada na APAV e
na Indústria de sucos Viry da APROVIVE, ambas conveniadas à certificadora Rede Ecovida,
a qual fornece certificação aos 12 agricultores; no entanto, nos casos de Aldair Alberton, da
Associação Santo Antônio, de Dirceu Moreschi, de Iraci Zanin, de Miguel Thomé e de Nelson
Moreschi, a certificação é somente de um produto, da uva, e, nas propriedades dos outros
agricultores, é fornecida à maioria dos produtos agroecológicos.
No gráfico 01, apresentamos a distribuição por tamanho das 19 propriedades
estudadas, dessa forma, verificamos que 74% das propriedades são menores de 20 hectares, e
associamos esse fato à divisão do Sudoeste do Paraná em colônias agrícolas. De acordo com o
quadro 02, observamos que algumas dessas propriedades são classificadas como totalmente
agroecológicas, como a de Darci Cassol (1), Lídia Ferreira (0,5) e Janete Ferreira (0,5),
(t*) temporários, (p*) permanentes; 1 – in natura, 2 – transformados; Fonte: Trabalho de campo, entrevista com os produtores, 2009.
138
completamente vinculadas à produção de alimentos saudáveis e, ainda, apenas 1 das 7
propriedades necessitam contratar mão-de-obra temporária.
Gráfico 1 - Conjunto das propriedades estudadas do município de Verê Fonte: Trabalho de campo, 2009.
As maiores unidades de produção têm suas atividades vinculadas às produções
convencional e agroecológica, como o caso da propriedade de Aldair Alberton (38,72), de
Dirceu Moreschi (28), de Francisco Carniel (23,5) e de Iraci Zanin (21,8), mas, em meio a
estas com mais de 20 hectares, há uma totalmente agroecológica, a de Baldoino Berns, com
26 hectares, com a produção certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD), através da Tozan,
uma empresa privada de produtos alimentícios orgânicos, que compra parte da soja e do milho
agroecológicos. A outra parte é comercializada com a empresa Gralha Azul, para
transformação em ração, a qual, segundo Fritz (2008), trabalha com a produção de ovos
orgânicos em Francisco Beltrão, com 12 famílias, sendo 6 certificadas pelo sistema orgânico
da Tecpar11
e as demais como produto colonial. Além da soja e do milho, a família Berns
produz feijão, mandioca, linhaça, frutas e hortaliças para o consumo próprio.
11 O Instituto de Tecnologia do Paraná, com sede em Curitiba, é uma instituição de certificação de qualidade.
139
Quadro 2 - Dados quantitativos da produção agroecológica no município de Verê.12
12
(t*) temporários; 1 – in natura, 2 – transformados;
Fonte: Trabalho de campo /Programa USF/SETI, entrevista com os produtores, 2009.
Agricultor Tamanho da
propriedade
Nº de
trabalhadores
Produtos agroecológicos Certificação Comercialização
Comercialização Consumo próprio
Alcides
Moreschi 7,2 ha 2
1- frutas (uva) e
hortaliças 1 - hortaliças Rede Ecovida APAV
Aldoino
Colpani 13,7 ha 2
1- hortaliças, frutas (uva)
e leite;
2- vinhos, geleias e
conservas
1- Milho, feijão,
mandioca;
2 – queijo e
embutidos;
Rede Ecovida
Indústria de Sucos
Viry, APAV e
Laticínio Progresso
Baldoino
Berns 26 ha 4
1- milho, feijão, soja,
trigo, mandioca, linhaça;
1 – hortaliças e leite;
2 – queijo;
IBD/Tozan e
Rede Ecovida
APAV, Tozan e
Gralha Azul
Darci Cassol 2,42 ha 1 1- hortaliças e frutas
1 – hortaliças e
frutas;
2- conservas
Rede Ecovida APAV
Janete Ferreira
da Silva 0,5 ha 2 (1 t*)
1- hortaliças, feijão,
mandioca, e frutas
1 – feijão, mandioca,
hortaliças e frutas;
2- conservas
Rede Ecovida APAV
Lídia Ferreira 0,5 ha 2
1- hortaliças, milho,
feijão, mandioca e frutas
1 – milho, feijão,
mandioca, hortaliças
e frutas;
2- conservas
Rede Ecovida APAV
Rudimar
Castagna 2,42 ha 1
1-frutas e aveia
2- vinho
1 – frutas
2 – vinho
Rede Ecovida Indústria de Sucos
Viry e in loco
140
Em relação à produção, - quadro 2, - observamos que os produtos com participação
significativa são as hortaliças, frutas, mandioca, feijão e leite, além dos produtos
transformados a partir destes, como geleias, salames, queijos, conservas e compotas, alguns
produzidos na propriedade do agricultor para seu consumo e, outros, na cozinha da APAV,
por uma equipe especializada, para comercialização no mercado da associação.
Outro fato importante é que todos os produtores possuem algum produto com
certificação; Baldoino Berns, além de possuir a certificação do milho, da soja e do trigo pelo
Instituto Biodinâmico, através da Tozan, ainda possui certificação da Rede Ecovida nos
outros produtos – hortaliças, feijão e mandioca, através da APAV. Os outros 5 produtores,
possuem o selo de certificação participativa da Rede Ecovida também por intemédio da
APAV.
A comercialização do excedente desses produtos é realizada na APAV, na Indústria de
sucos Viry, no caso do suco de uva, in loco e diretamente ao consumidor. Dois dos sete
produtores comercializam com outras empresas. Aldoino Colpani comercializa o leite com o
Latícinio Progresso, não recebendo valor diferenciado pelo produto; Baldoino Berns vende a
soja, o milho e o trigo para a Tozan e, algumas vezes, com a Gralha Azul de Francisco
Beltrão.
Contudo, verificamos em entrevista com os responsáveis pela APAV, que boa parte
do excedente dos produtos entregues para comercialização na associação são também
transferidos para outros municípios como Dois Vizinhos, São Jorge d´Oeste e Marechal
Cândido Rondon, onde são comercializados nos supermercados, nas associações
(ACEMPRE) e no mercado do produtor, além de Curitiba, onde são revendidos nas Feiras da
Agricultura Familiar da cidade.
Os quadros 3 e 4 apresentam os dados qualitativos dos produtores parcialmente
agroecológicos e dos totalmente agroecológicos; neles, são apresentadas as entidades
parceiras dos produtores agroecológicos, os objetivos, as dificuldades, as vantagens e as
possibilidades de cada agricultor produzir agroecologicamente. Cabe-nos ressaltar que a
divisão é de acordo com a descrita anteriormente.
141
Agricultor Entidades
parceiras Objetivos com agroecologia Dificuldades (limites) Vantagens
Aldair
Alberton
Prefeitura,
CAPA,
CRESOL e
APROVIVE
- Não usar insumos
químicos.
Dificuldades de adaptação e altos custos no
início da conversão;
falta de mão-de-obra e de reconhecimento
do produto orgânico.
- Diminuição dos custos;
- acesso aos financiamentos da CRESOL.
Armindo
Langue
CAPA,
APAV
- Preservar a saúde com
produtos naturais e
saudáveis;
A produção é trabalhosa;
o consumidor é influenciado pela aparência
dos produtos convencionais.
- Produtos melhores, saudáveis e com bom
preço.
Associação
Santo
Antonio
CAPA -Cuidar da saúde A produção é mais trabalhosa e falta mão-
de-obra;
- Maior venda e melhor preço;
- oferta de produtos mais saborosos e
saudáveis.
Décio
Cagnini
CAPA,
CRESOL e
Prefeitura
-Cuidar da saúde da família;
-seguir as exigências dos
consumidores e do mercado
atual.
Falta de mão-de-obra;
a produção é trabalhosa;
o mercado consumidor ainda é frágil;
faltam organizações por parte dos
produtores.
- Maior valor econômico;
- autonomia para estabelecer o preço dos
produtos;
- cuidar da saúde da família;
- venda garantida da produção.
Dirceu
Moreschi
CAPA e
Prefeitura
- Adquirir financiamento,
para construção do parreiral.
Falta de incentivos e financiamentos.
- Preço melhor e saudável;
- a produção agroecológica é menos trabalhosa
que a convencional.
Francisco
Carniel
APAV,
APROVIVE
E CAPA
- Produtos de qualidade;
- agradar os familiares.
Falta assistência técnica;
a necessidade de barreiras verdes para
proteção dificulta a produção
agroecológica.
- Melhorar a saúde da família;
- redução de gastos com remédios e vantagens
econômicas.
Iraci Zanin
STR (Enéas
Marques),
CAPA e
APAV
- Baixo custo da produção;
- produto saudável;
- maior lucro;
- obter apoio do CAPA;
- saúde da família.
Dificuldade em conseguir a certificação o
que atrapalha a comercialização;
perda da produção;
falta de mão-de-obra e divulgação dos
produtos.
- Maior lucro com a produção;
- autonomia para vender os produtos in loco.
Irinaldo
Calgarotto
CRESOL
CAPA e
Prefeitura
- Viver com saúde. Dificuldades com o transporte da produção.
- Maior renda;
- venda garantida dos produtos;
- viabiliza a pequena propriedade.
142
Miguel
Thomé
CAPA,
APROVIVE
e CRESOL
- Saúde da família;
- produção saudável.
Falta de mão-de-obra, de assistência técnica
e de uma feira de produtos agroecológicos;
irregularidade da produção.
- Menores custos;
- venda garantida do produto saudável;
- maior preço dos produtos;
- espaço garantido no mercado popular.
Nelson
Moreschi
CAPA,
CRESOL,
STR e
Prefeitura
- Cuidar da saúde e da
natureza;
- preservar os valores éticos.
Falta de auxílio financeiro, de mão-de-obra,
de assistência técnica;
irregularidade de oferta dos produtos.
- Garantia de um alimento mais saudável;
- preço melhor para o produto.
Valdemar
Bettiolo
CAPA E
APAV
- Cuidar da natureza;
- ter sustentabilidade na
propriedade para a família ter
um lugar digno;
- produzir alimentação
diferenciada;
- maiores lucros.
Produção trabalhosa;
falta mão-de-obra e assistencialismo por
parte do governo;
faltam produtos para abastecer o mercado;
faltam famílias que trabalhem
agroecologicamente;
insuficiência de reuniões entre os
produtores e entidades.
- Saúde para a família;
- maiores lucros;
- baixos custos da produção.
Valmir
Jang
CAPA,
CRESOL e
STR
- Geração de emprego;
- maior renda a agroecologia
viabiliza a pequena
propriedade;
- saúde da família;
- alimento saudável.
Faltam incentivos governamentais; faltam
reuniões entre os associados da APAV e
responsáveis.
- Renda maior;
- saúde da família;
- alimento saudável.
Quadro 3 – Dados qualitativos dos produtores parcialmente agroecológicos do município de Verê. Fonte: Trabalho de campo, Programa USF/SETI, entrevista com os produtores, 2009.
143
Agricultor Entidades
parceiras
Objetivos com a
agroecologia Dificuldades (limites) Vantagens
Alcides
Moreschi
CAPA,
CRESOL e
STR
Preservar a saúde e
a natureza,
mantendo os
valores éticos.
Falta de auxílio financeiro, de mão-de-obra, e de
assistência técnica;
falta de produtos.
- Garantia de um alimento saudável e de preço
diferenciado dos produtos;
- disponibilidade de produtos fora da época.
Aldoino
Colpani
CAPA,
CRESOL e
EMATER
- Garantir a saúde
da família e dos
consumidores.
Faltam incentivos;
insuficiência de cursos e informações sobre as
vantagens da agroecologia.
- Produtos aceitos no mercado, pois são
reconhecidos como mais saudáveis;
Baldoino
Berns
CAPA e
APAV
-Cuidar da saúde e
evitar intoxicações.
Dificuldades financeiras;
faltam incentivos do governo;
falta diferenciação e valorização do produto.
- Qualidade de vida;
- oferta de produtos mais saudáveis;
- preservação ambiental.
Darci Cassol CAPA e
CRESOL
-Não usar
agrotóxicos.
Falta de produção, de mão-de-obra e de incentivo
por parte da Prefeitura Municipal.
- Venda e renda garantidos;
- saúde da família e dos consumidores.
Janete F. Da
Silva CAPA
- Saúde da família e
garantia de
consumir produtos
saudáveis.
Faltam trocas de experiências;
a produção exige maiores cuidados, tornando-se
mais trabalhosa.
- A agroecologia permite ao agricultor familiar
permanecer no campo;
- maior independência na produção e nos
valores dos produtos;
- menores custos e melhor renda.
Lídia
Ferreira CAPA
- Produto saudável
e viabilização da
pequena
propriedade.
Difícil combater pragas e doenças;
falta de um seguro para a produção, nos casos de
perdas.
- Produtos saudáveis;
- procura de alimentos saudáveis por parte do
consumidor;
- assistência pública.
Rudi
Castagna CAPA
- Não utilizar
agrotóxicos.
Falta de mão-de-obra;
faltam trocas de experiências entre os produtores.
- A produção é menos trabalhosa (apenas 3
meses por ano).
Quadro 4 – Dados qualitativos da produção totalmente agroecológica Fonte: Trabalho de campo, Programa USF/SETI, entrevista com os produtores, 2009.
144
Com referência nos dados dos quadros 3 e 4, observamos que todos os agricultores
apontam o CAPA como a principal entidade parceira e incentivadora da produção
agroecológica, através da assistência técnica e dos cursos de técnicas de produção
agroecológica. Outra entidade importante é a APAV, que, além de comercializar os produtos,
auxilia na organização e no planejamento da produção.
São citadas também a CRESOL, vista pelos agricultores como parceira, pois esta
cooperativa tem uma linha de crédito voltada para os produtores agroecológicos; a Prefeitura
Municipal, com projetos de auxílio a agroecologia; a APROVIVE, através da fábrica de sucos
Viry, a qual transforma e comercializa suco orgânico de uva; o Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, que representa os agricultores e auxilia com assistência técnica e, por fim, a
EMATER.
Gráfico 2 – Objetivos ao aderir à agroecologia.
Fonte: Trabalho de campo, entrevista com os agricultores, 2009.
Conforme verificamos no gráfico 2, 53% dos agricultores estudados têm como
principal objetivo produzir agroecológicos, melhorar a saúde da família e dos consumidores.
Em segundo lugar, com 27%, está a preocupação com a preservação ambiental,
através do uso de insumos naturais que evitam a contaminação dos trabalhadores, das águas,
do solo e do ar, aumentando as chances de uma vida saudável. Em terceiro, com 17%, a
geração de renda, pois com a venda dos produtos agroecológicos, os lucros são maiores e os
Fonte: Trabalho de campo do projeto, entrevista com os produtores, 2009.
145
custos menores devido ao uso de insumos naturais e mais baratos, da adubação verde e da
utilização de mão-de-obra familiar. Por último, mas não menos importante, a geração de
emprego, com 3%, pois esta permite ao agricultor e sua família permanecerem no campo,
viabilizando a pequena propriedade e a mão-de-obra familiar empregada na produção.
No entanto, os produtores, encontram várias dificuldades como a falta de assistência
técnica, de diferenciação na valorização dos produtos, na falta de incentivos financeiros por
parte do governo, de divulgação e de um seguro, pois há com frequência perda de parte ou de
toda a produção, devido ao ataque de pragas ou doenças e fatores climáticos, dificultando-lhes
a permanência como produtores agroecológicos.
Além disso, a falta de mão-de-obra também é uma dificuldade, pois está associada à
redução da população rural, conforme dados dos censos demográficos de 1996, 2000 e 2007:
de 6.246 habitantes no primeiro, diminui para 5.692 no segundo e, por fim, para 4.765 no
terceiro. A população urbana aumenta gradativamente nesses períodos enquanto a população
total diminui, conforme podemos verificar na tabela 4.
Tabela 4 – População urbana e rural de Verê
DISTRIBUIÇÃO DA
POPULAÇÃO 1996 2000 2007
População Rural 6246 5692 4765
População Urbana 2735 3029 3204
TOTAL 8.981 8721 7969
Fonte: Dados IBGE, Censos Demográficos 1996, 2000 e 2007. Org. Gaiovicz, 2010
Constatamos, no município, que, das 19 propriedades estudadas, mais de 50%
possuem crianças e adolescentes, totalizando 16: 8 menores de 12 anos e 8 entre 12 e 18 anos,
sendo 7 destes últimos (Tabela 5), auxiliares na produção agroecológica, na propriedade dos
pais, [Baldoino Berns (2), Valmir Jahn (2), Iraci Zanin(1), Lídia Ferreira (1) e Aldair
Alberton(1)]; essa mão-de-obra auxiliar tem significativa importância, pois, na maioria das
propriedades estudadas, os produtores apresentam a falta dela como maior dificuldade,
embora a produção agroecológica seja baseada no trabalho familiar.
146
Tabela 5 - Composição das famílias por unidade produtiva agroecológica de Verê – 2009
Filha Filho Trabalhadores
Unidade de Produção
Agroecológica Casal
De 0 a 12
anos
12 anos
e mais
De 0 a
12 anos
12 anos e
mais Temp. Perm.
Alcides Moreschi 2
Aldair Alberton 2 1 2
Aldoino Colpani 2
Ass. Stº Antonio 2 5
Armindo Lang 2
Baldoino Berns 2 1 1
Darci Cassol 1
Décio Cagnini 2 1
Dirceu Moreschi 2
Francisco Carniel 2
Iraci Zanin 2 1 1
Irinaldo Calgarotto 1 1
Janete Ferreira 2 1
Lídia Ferreira 1 1
Miguel Thomé 2 6
Nelson Moreschi 2
Rudimar Castagna 1
Valdemar Betiollo 2
Valmir Jahn 2 1 1 Fonte: Trabalho de campo, 2009. Org.: GAIOVICZ, E. F. 2010.
Por fim, observamos que essas dificuldades estão condicionadas a fatores
econômicos e políticos que influenciam diretamente e limitam a produção agroecológica em
Verê.
Doutra forma, os produtores encontram na agroecologia, muitas vantagens e
possibilidades, principalmente em Verê, considerando um município organizado em se
tratando de produção e comercialização, com associações que apoiam, incentivam e
organizam a produção agroecológica, e entidades que auxiliam na manutenção e conservação
dessa forma alternativa de produção que, segundo os agricultores, viabiliza a pequena
propriedade gerando renda e emprego, preservando a saúde e o ambiente, diminuindo os
custos da produção, gerando produtos saudáveis e conquistando autonomia da/na produção.
Além das vantagens, há também as possibilidades econômicas, políticas e culturais,
que melhorariam a produção agroecológica no município, tais como: aumento de mão-de-obra
especializada através de cursos para formação de profissionais; venda direta ao consumidor
melhorando a comercialização e a relação produtor/consumidor; criação de uma cooperativa
dos produtores agroecológicos entre os municípios da região Sudoeste do Paraná; maiores
incentivos públicos para financiamentos, construções de benfeitorias e seguros da produção;
147
criação de uma feira de produtos agroecológicos no município; execução do projeto da
Prefeitura Municipal para ampliação da fábrica de suco de uva orgânico para produzir
também sucos de frutas cítricas; planejamento da produção, melhorando a diversificação de
produtos no mercado em diferentes períodos do ano e disponibilização, por parte da Prefeitura
Municipal, de um carro, para recolher a produção nas propriedades.
A partir dessas informações, percebemos vantagens e possibilidades em produzir
agroecologicamente, mas, como ocorre em outras atividades, há dificuldades que vão
surgindo em cada fase de conversão da propriedade, que podem ser superadas quando há
esforço em prol da saúde e da preservação ambiental, quando o agricultor decide o que
plantara e para quem venderá, conquistando autonomia e sobrevivendo na pequena
propriedade rural, utilizando a força de trabalho da família, obtendo melhor renda, saúde e
qualidade de vida.
A qualidade de vida13
é um dos pontos positivos observados no decorrer de nossa
pesquisa, pois, segundo os agricultores, com a agroecologia é possível manter-se no campo,
com saúde física e mental, porquanto com a produção convencional ocorreram intoxicações
de familiares que levaram muitas pessoas a desistirem de trabalhar no campo; ao mesmo
tempo, conseguiram ter acesso a saúde, educação, lazer, além de obter melhoria na renda,
tendo acesso às tecnologias disponíveis no mercado (internet, TV, rádio), além de condições
de adquirirem seus automóveis, melhorarem a qualidade de suas moradias, e, ainda, o melhor,
considerado por eles, consumirem alimentos com segurança de que são saudáveis e farão bem
a sua saúde, ademais mais utilizam o trabalho familiar, deixando uma herança cultural para
seus filhos e parentes, substantivando princípios de um desenvolvimento territorial com
participação e solidariedade, conforme descrevemos no capítulo 1.
Outro ponto positivo é a autonomia. Segundo os agricultores, a agroecologia dá
condições do agricultor ser autônomo. Neste caso, ela é individual e coletiva; ― individual,
pois cada agricultor tem em suas ―mãos‖ o poder de decisão; e coletiva, quando há uma
insituição como a APAV, capaz de garantir igualdade de oportunidades aos indivíduos para
que estes satisfaçam suas necessidades. A autonomia dá condições para que o agricultor tenha
capacidade de gestionar e controlar os processos econômicos, políticos, culturais e ambientais
em sua propriedade. Além disso, ele tem liberdade de produzir o que deseja, de vender para
13
Segundo a Associação Brasileira de Qualidade de Vida, está envolve o bem físico, mental, psicológico e
emocional, além de relacionamentos sociais, saúde, educação, lazer, poder de compra e outras circunstâncias, é o
equilíbrio entre corpo/mente/sociedade/ ambiente. Disponível em www.abqv.org.br, acesso em 15 de janeiro de
2011.
148
quem quiser e ao preço que achar necessário; estes são os fatores definidos pelos agricultores
estudados que determinam a autonomia, através da agroecologia, pois com a produção
convencional ―através da compra do pacote tecnológico― e/ou com a integração, o
produtor é obrigado a seguir padrões de produção impostos pelas empresas.
O ponto positivo mais evidenciado pelos agricultores é a possibilidade de plantar para
consumir. Não é uma volta ao passado, é uma forma de utilizar mecanismos de produção
atuais que dão origem a produtos tão saudáveis como na agricultura tradicional. ―A gente
consome sem medo de comer veneno, pois sabemos de onde tá vindo, de como foi produzido”,
diz Armindo Lang (2009).
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a modernização da agricultura, vários atores passaram a modificar o espaço
geográfico, imprimindo, no território, elementos que caracterizam intensas modificações a
partir da incorporação de novas tecnologias. Mesmo com pouca participação, as relações
capitalistas globais influenciaram no local e as estruturas territoriais que vinham sendo
construídas voltaram-se para a classe social dominante. Muitos agricultores que possuíam
pouca terra eram obrigados a vender o que possuíam e tornar-se trabalhadores assalariados
marginalizados nas cidades.
Se, por um lado, a modernização da agricultura é fruto da territorialização das relações
capitalistas, por outro, criou condições para que se iniciasse a percepção dos problemas ―
ambientais, sociais e culturais ― ocasionados por esses novos padrões. É com o
desenvolvimento da agricultura convencional que a agricultura alternativa emergente
consolida-se. Entre as práticas alternativas, a que se destacou no município de Verê foi a
agroecologia.
Em Verê, a constituição da agricultura agroecológica foi condicionada por relações
culturais, econômicas, políticas e ambientais histórica e tradicionalmente constituídas. Essa
dinâmica vem-se caracterizando, há cerca de 10 anos, como um movimento territorial
justamente porque essa forma de produção estabelece novas relações de organização social,
formando redes em novas estruturas territoriais. É um movimento de resistência aos padrões
de produção impostos pela modernização centrada no pacote tecnológico.
Alcançamos os objetivos desta pesquisa quando percebemos que além da agricultura
convencional, que condiciona o agricultor a um padrão de produção e a uma dependência da
indústria, existem outras formas de subordinação, a integração, vista a partir do processo de
produção avícola integrada, realizada pela Sadia - Dois Vizinhos. Compreendemos que há
uma subordinação do agricultor familiar em relação à indústria, através de mecanismos de
subordinação como um contrato de integração muito bem elaborado para atender as
necessidades e requisições da integradora; exigentes investimentos em aviários,
automatizações, em construções, organização da propriedade e em relação às leis ambientais.
Os investimentos nos aviários tornam-se tão altos, que não há como o avicultor simplesmente
abandonar esse tipo de produção e, cada vez mais, contrai dívidas substanciais que, muitas
150
vezes, se não tiver outra atividade paralela, como vacas de leite, produção de grãos, ou outro
trabalho fora da propriedade, não consegue pagá-las.
Outro objetivo que atingimos foi a descrição e análise de uma forma alternativa de
produção, como contraponto à produção avícola integrada, como alternativa à produção
convencional. Todos os agricultores estudados, já tiveram suas propriedades completamente
voltadas para a produção convencional de alimentos e eles garantem que a produção
agroecológica é melhor, pois oferece boa renda, autonomia e qualidade de vida.
A dinâmica de produção agroecológica de alimentos encontrada no município de Verê
é diversificada e muito bem organizada. São 19 propriedades, 12 parcialmente, pois possuem
parte da propriedade agroecológica e outra parte com produção convencional, arrendamento
ou, ainda, com silvicultura (eucaliptos), mas com previsão, a longo prazo, de se tornar
totalmente agroecológicas; e 7 propriedades totalmente agroecológicas, todas as atividades
agrícolas realizadas dentro delas são voltadas a agroecologia.
Ademais, os agricultores possuem duas organizações políticas, APROVIVE e APAV,
que organizam e comercializam a produção, além de um Centro de Apoio ao Pequeno
Agricultor (CAPA), que disponibiliza assistência técnica aos agricultores agroecológicos do
município e região. Todas as propriedades possuem certificação fornecida pela REDE
ECOVIDA, entidade, cuja certificação é participativa, num sistema solidário de geração de
credibilidade que, por sua vez, elabora as normas com a participação efetiva dos agricultores.
Há ainda, a ASSESOAR, que desempenha o papel de incentivadora e promove cursos
voltados para a produção de alimentos agroecológicos, e a CRESOL, que disponibiliza
financiamentos aos agricultores familiares. Todas juntas, essas entidades formam um campo
de forças em favor da agroecologia, da sua autonomia e dos agricultores.
Outro fato importante é que, com a agroecologia, além da relação homem/natureza ser
amistosa, há também as relações estabelecidas entre os próprios agricultores; há uma
experiência de afetividade singular nesta forma de produção. E, a partir dessa proximidade e
força, a resistência da agricultura agroecológica de Verê, fortalece-se constantemente,
absorvendo demandas e resultando em novas formas de interação entre os agricultores e
consumidores.
Isso se reflete também na forma de organização das propriedades agroecológicas,
exemplo disso, é a propriedade de Décio, que, apesar de ser parcialmente agroecológica, é
modelo no município e na região, buscando, cada vez mais, atrair o consumidor até ela,
através do Colhe e Pague Cagnini, onde o consumidor pode escolher e colher o produto que
151
quer levar para casa, sem pagar um valor diferenciado, o preço é o mesmo encontrado no
mercado da APAV.
Verificamos também que a produção agroecológica exige um cuidado especial, com
trabalho diferenciado, com cultivos diversificados, com a natureza, com a água, com a
biodiversidade em geral, o que antes ―na modernização da agricultura― era prejuízo e
demandou investimentos para extermínio, ―insetos e vegetação verde― hoje, são utilizados
como auxílio, de forma proveitosa para o desenvolvimento de cada propriedade. Porém, isso é
possível quando há financiamentos favoráveis para investimento e mão-de-obra disponível
para lidar com a terra, pois a produção agroecológica não é tão simples, há dificuldades.
Principalmente falta mão-de-obra, valorização da produção e financiamentos que sejam
disponibilizados aos agricultores para que haja melhores investimentos na propriedade.
Todas as características citadas são da agricultura familiar brasileira, diferenciada pela
agroecologia, mas que continua sendo mediada por Ongs, organizações sociais e pelas
associações fundadas pelos agricultores, revelando que as relações estabelecidas no(s)
território(s) podem e precisam ser dinamizadas em favor do desenvolvimento local e, a partir
da organização dos agricultores agroecológicos de Verê, das associações, das Ongs e de todas
as entidades envolvidas, apresentam um bom potencial para ampliar a produção, melhorar
ainda mais a renda e a qualidade de vida das famílias envolvidas na pesquisa.
152
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ots=VTlDha9Zsf&sig=TdmkxX6J5wdpcefu2J5WNL45GsU#v=onepage&q=agricultura%20f
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ENTREVISTAS
ALBERTON, Aldair. Produção Agroecológica.. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz e Valentina Bianco, Verê, 25 de agosto de 2009.
AVICULTOR INTEGRADO À SADIA. Sistema Sadia de Integração. Entrevista
Concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz, Dois Vizinhos, 13 de setembro de 2010.
BERNS, Baldoino. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Carolina Bonelli,
Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 21 de julho de 2009.
BETIOLLO, Valdemar. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 05 de agosto de 2009.
CAGNINI, Décio. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Verê, 05 de agosto de 2009.
CAGNINI, Dirceu. Produção Agroecológica na Associação Santo Antônio. Entrevista
concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz, Valentina Bianco e Marcos Aurelio Saquet, Verê, 01 de
setembro de 2009.
CALGAROTTO, Irinaldo. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Valentina
Bianco, Marcos Aurelio Saquet e Carolina Bonelli, Verê, 18 de agosto de 2009.
CARNIEL, Francisco. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Marcos Aurelio Saquet, Verê, 25 de agosto de 2009.
CASSOL, Darci. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz,
Valentina Bianco e Camila Casiraghi, Verê, 05 de agosto de 2009.
CASSOL, Fátima. APAV: Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê. Entrevista
concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz, Valentina Bianco e Carolina Bonelli, Verê, 17 de
outubro de 2009.
CASTAGNA, Rudimar. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco, Marcos Aurelio Saquet e Poliane de Souza, Verê, 07 de agosto
de 2009.
COLPANI, Aldoino. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 10 de outubro de 2009.
FERREIRA Janete. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco, Marcos Aurelio Saquet e Poliane de Souza, Verê, 01 de setembro
de 2009.
FERREIRA, Lídia, Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco, Marcos Aurelio Saquet e Poliane de Souza, Verê, 01 de setembro
de 2009.
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GARBOSSA, Fábio. APROVIVE: Associação dos Produtores Vitivinicultores de Verê.
Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz, Verê, 15 de janeiro de 2010.
JAHN, Valmir. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz,
Valentina Bianco e Carolina Bonelli, Verê, 10 de setembro de 2009.
LANG, Armindo. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz,
Valentina Bianco e Carolina Bonelli, Verê, 11 de setembro de 2009.
MARTINS, Maria Odete. Setor de Fomento da Sadia: Produção e integração. Entrevista
concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz, Dois Vizinhos, 19 de março de 2010.
MORESCHI, Alcides. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 02 de setembro de 2009.
MORESCHI, Dirceu. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 02 de setembro de 2009.
MORESCHI, Nelson. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane
Gaiovicz, Valentina Bianco e Poliane de Souza, Verê, 02 de setembro de 2009.
SANTOS, Adão dos. CRESOL: linhas de crédito para agreocologia. Entrevista concedida
a Elaine Fabiane Gaiovicz, Verê, 17 de novembro de 2010.
SCARIOT Ronaldo – O sistema Sadia de Produção e Integração. Entrevista concedida a
Elaine Fabiane Gaiovicz, Dois Vizinhos, 19 de março de 2010.
SCHNEIDER, Romi. CAPA: Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor. Entrevista
concedida a Roseli Alves dos Santos, Valentina Bianco e Camila Casiraghi, Verê, 14 de
outubro de 2009.
THOMÉ, Miguel. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz,
Valentina Bianco, Carolina Bonelli e Poliane de Souza, Verê, 01 de setembro de 2009.
TONINI, Fábia; FABRO, Janete Rosane. A ASSESOAR. Entrevista concedida a Suzana
Gotardo de Meira. Francisco Beltrão, 05 de novembro de 2008.
ZANIN, Iraci. Produção Agroecológica. Entrevista concedida a Elaine Fabiane Gaiovicz,
Valentina Bianco, Poliane de Souza e Carolina Bonelli, Verê, 07 de agosto de 2009.