tropa de elite em sala de aula

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www.cinemaparatodos.rj.gov.br Elaboração: SEC / SEEDUC / Equipe Pedagogica ICEM (Denise Espírito Santo - Marcelo Lins - Vanessa Castro) Caderno pedagógico Rio de Janeiro, 2010

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Page 1: Tropa de Elite em sala de aula

www.cinemaparatodos.rj.gov.br

Elaboração:SEC / SEEDUC / Equipe Pedagogica ICEM (Denise Espírito Santo - Marcelo Lins - Vanessa Castro)

Caderno pedagógico

Rio de Janeiro, 2010

Page 2: Tropa de Elite em sala de aula

1

Elaboração

SEC

SEEDUC

EQUIPE PEDAGÓGICA - ICEM Denise Espírito Santo

Marcelo Lins Vanessa Castro

Apoio

Zazen Produções

Rio de Janeiro, novembro de 2010

www.cinemaparatodos.rj.gov.br

Page 3: Tropa de Elite em sala de aula

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................3

O FILME ..................................................................................6

REALIDADE E FICÇÃO .....................................................................6

FILME DE FICÇÃO OU DOCUMENTÁRIO? ....................................................7

O MITO DO HERÓI .......................................................................10

A GEOGRAFIA DA CIDADE ................................................................12

GRAMÁTICA POPULAR....................................................................13

PRODUÇÃO E LINGUAGEM AUDIOVISUAL...................................................16

DIREITOS HUMANOS ......................................................................20

AGORA O INIMIGO É OUTRO ..............................................................26

REFERÊNCIAS ............................................................................28

Page 4: Tropa de Elite em sala de aula

3

INTRODUÇÃO

Fábula de humor negro; filme político de ação e suspense; fronteira

entre ficção e documentário: difícil classificar Tropa de Elite 2. Após

as suas quase duas horas de duração, nos perguntamos: Que

possibilidades o filme oferece a nós, educadores, para abordar e

contextualizar conteúdos em sala de aula? Como aproveitar estas

possibilidades?

Misto de fábula contemporânea sobre as mazelas da política

brasileira, o filme trata da segurança pública e das relações entre

criminalidade e poder público constituído, de relações de poder e de

tensões sociais que emergem da cidade convulsionada pelo caos e

pela violência. A narrativa é apresentada do ponto de vista do seu

protagonista, o Coronel Nascimento, interpretado por Wagner Moura.

O professor Diogo Fraga (interpretado por Irandhir Santos) desponta

como antagonista de Nascimento ao defender direitos humanos de

presos e, ao longo da trama, se elege deputado, desempenhando

importante papel no desenrolar do filme ao questionar as ações do

Batalhão de Operações Especiais (BOPE) sob o comando do Coronel

Nascimento e as metodologias utilizadas pela polícia e políticos

retratados no filme.

Numa explosão de imagens, cores, movimentos, efeitos especiais e

personagens contraditórias, o filme traz à tona temas como a

doença presente na política brasileira, as relações entre a

criminalidade e o jogo do poder, fazendo uma costura entre o que

está exposto na tela e as tensões sociais que vivemos e

entrelaçando, assim, ficção e realidade.

Com suas cenas de ação, o filme é entretenimento, mas ao mesmo

tempo provoca reflexões sobre a nossa sociedade, sobre o sistema

político-social e a violência que nos rodeia, contribuindo assim para o

pensamento e construção de princípios éticos que queremos

compartilhar e de um sistema social coletivamente desejado. E o que

podemos fazer para concretizar esta realidade que desejamos, que

atitudes e ações é preciso desenvolver para concretizar este desejo?

Page 5: Tropa de Elite em sala de aula

4

Algumas idéias desenvolvidas neste caderno:

- Realidade e ficção

Na abertura do primeiro Tropa de Elite, uma legenda informa que a

sua narrativa se baseou em relatos de fatos reais, levantados nos

depoimentos de 12 oficiais e de um psiquiatra da força policial do Rio

de Janeiro. A legenda também informa que o registro dessas

entrevistas foi destruído. Agora, em Tropa de Elite 2, uma legenda

de abertura avisa que, apesar de possíveis coincidências com a

realidade, o filme é uma obra de ficção. Ao ver o filme, que

coincidências saltam entre a ficção apresentada na tela do cinema

e a realidade vivida?

- A geografia da cidade

O filme apresenta locações no Rio de Janeiro e em Brasília; espaços

da vida cotidiana, como a favela, o presídio; de representação

política, e espaços psicológicos onde os conflitos humanos se

desenrolam, como as relações familiares. E tudo isso a partir de um

enfoque voltado para os “dias de hoje”, o que proporciona quase um

choque de atualidade. Quais dos lugares que aparecem em Tropa

de Elite 2 você conhece?

Page 6: Tropa de Elite em sala de aula

5

- O mito do herói

Um herói é o protagonista de uma narrativa dramática ou de um

mito. É chamado de herói porque descobre ou realiza coisas acima do

normal, é alguém que arrisca ou sacrifica a própria vida por uma

causa ou motivo maior do que ele mesmo. Também podem existir

anti-heróis numa narrativa, que apresentam atitude oposta à de um

herói. Há personagens do Tropa de Elite 2 que poderiam ser

identificados como heróis ou anti-heróis? Se sim, quais e por que?

- A linguagem cinematográfica

Um filme se constrói pela sua história. Mas, além da estrutura

narrativa, há outros elementos como a linguagem e a gramática

fílmica, que envolvem o ponto de vista do narrador e a atuação do

elenco; a trilha sonora; luz e fotografia, enquadramento e

movimentos de câmera; a contribuição de cada pessoa que está na

frente e por detrás das câmeras. Na linguagem do Tropa de Elite 2,

o que se destacou para você?

- Gramática popular

Desde o primeiro filme, Tropa de Elite traz ditos espirituosos que

acabam caindo na boca do povo, como “pede para sair” e “faca na

caveira”. Você gravou, ou já ouviu alguém falando alguma das

expressões usadas pelas personagens de Tropa de Elite 2?

- A existência e o conhecimento de direitos e deveres

A bandeira dos direitos humanos levantada pelo professor que se

elege deputado no filme é um gancho para abordar a questão dos

princípios éticos e do direito universal, regras básicas que norteiam a

convivência social. Você já leu algo sobre a Declaração dos Direitos

Humanos, os direitos e garantias fundamentais da nossa

Constituição Federal, ou o Estatuto da Criança e do Adolescente?

Conhecer nossos direitos e deveres é fundamental para o exercício da

cidadania!

Outros caminhos – a motivação dos conteúdos este caderno:

Tropa de Elite aborda várias temáticas que podem ser exploradas

pelos educadores: a política brasileira, a violência urbana e a

segurança pública; a problemática do tráfico e do consumo de

drogas; as relações entre criminalidade e poder público

constituído; as tensões sociais que emergem da desigualdade;

trazendo caos e violência ao cotidiano da cidade.

Mas, para cada educador e aluno haverá ainda várias outras questões

e possibilidades temáticas que podem ser trabalhadas a partir do

Page 7: Tropa de Elite em sala de aula

6

Tropa de Elite 2. Traga a questão que mais toca o seu universo,

descubra o que está mais carregado de sentido para seus alunos e

experimente atividades em sala de aula que aproveitem o conteúdo

do filme. Incentive os alunos a produzirem materiais sobre o tema

em pauta, seja por meio de uma redação ou resenha, ou utilizando

outras linguagens criativas além da escrita, como imagens e

dramatizações.

Esta apostila tem a intenção de inspirar possibilidades de abordagem

pedagógica deste filme e do cinema como um todo: idéias para, a

partir de um filme qualquer, convidar o espectador a repensar e

discutir a sociedade brasileira e sua inserção no contexto global e,

assim, buscar uma proposta viável de País e de modo de vida no

Planeta. Sem apresentar soluções, claro, pois elas não estão prontas,

apenas fazendo provocações com base na ficção que espelha a

realidade.

Bom proveito!

Anotações

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Page 8: Tropa de Elite em sala de aula

7

O FILME

Tropa de Elite 2 é um marco no cinema brasileiro por conta de todo

o sucesso e recorde de bilheteria que obteve em diversas salas de

cinema de todo o Brasil: distribuído de forma independente, apenas

no seu primeiro final de semana de lançamento (de 08 a

10/10/2010), o filme teve mais de um milhão de espectadores.

Com o peso de fazer jus ao primeiro longa, Tropa de Elite 2 vem

com vigor para cumprir a missão dada. Por ser narrado do ponto de

vista dos policiais, o filme pode ser visto como um “thriller” de

ação, mas provoca surpresa pela crítica social contundente e instiga

reflexões sobre a nossa sociedade, o sistema político-social e a

violência que cerca o nosso cotidiano. A violência e a corrupção na

polícia continuam em pauta, mas desta vez a trama elabora assuntos

mais ambiciosos e complexos, indo mais a fundo em problemáticas

sociais do nosso País.

Wagner Moura retoma o personagem do primeiro Tropa de Elite. Dez

anos mais velho, neste segundo filme o Capitão Nascimento foi

promovido a Comandante Geral do BOPE. Em suas novas funções, o

Coronel Nascimento faz o BOPE crescer e coloca o tráfico de drogas

de joelhos. Como resultado das ações executadas sob o seu

comando, ele é nomeado Subsecretário de Inteligência e demora a

perceber que seu verdadeiro inimigo é outro. “E numa guerra isso

pode ser fatal”, diz o próprio Nascimento.

Page 9: Tropa de Elite em sala de aula

8

REALIDADE E FICÇÃO

Repleta de referências a locais, personagens e situações reais da

conjuntura social fluminense (como o roubo do arsenal de armas de

uma delegacia de polícia; pessoas executadas por um sargento em

uma lancha e a instauração de uma CPI das Milícias), a trama é

narrada pelo protagonista – o ex-comandante do BOPE que se torna

Subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do

Rio de Janeiro - e, apesar de refletir o seu ponto de vista

particular, traz uma visão ampla do sistema que envolve policiais,

traficantes, autoridades e moradores da cidade.

Em uma cena do Tropa de Elite 2, esse protagonista, o Coronel

Nascimento, interpretado por Wagner Moura, entra em um

restaurante e, por conta de uma ação realizada sob seu Comando, é

aplaudido de pé pelas pessoas do recinto. Há nesta situação um

misto de interesses diversos por parte dos grupos ali presentes.

Sentimentos distintos e controversos, percepções positivas, irônicas

e críticas. Que grupos, interesses e percepções contraditórias

você identificou nesta cena?

FILME DE FICÇÃO OU DOCUMENTÁRIO?

Costumamos pensar filmes de ficção como aqueles que são

estruturados por uma narrativa inventada, uma história construída a

partir da imaginação. E o documentário é geralmente definido como

um gênero cinematográfico que se caracteriza por explorar aspectos

da realidade a partir de registros fílmicos. Mas, Tropa de Elite, à

primeira vista, parece escapar a essas classificações. Por que?

Para responder a esta questão, voltemos ao primeiro filme: seu

roteiro se baseou em depoimentos dados por oficiais do BOPE,

relatando situações reais, vividas por eles no ofício policial. Nesta

nova versão, as coincidências da narrativa de Tropa de Elite 2 com a

realidade lhe renderam a inusitada classificação de “documentário

rodado com atores1”.

1 Crítica sobre o filme feita por Francisco Russo no site Adoro Cinema: http://www.adorocinema.com/colunas/tropa-de-elite-2-919/

Page 10: Tropa de Elite em sala de aula

9

Interessante notar que o primeiro longa-metragem do diretor de

Tropa de Elite, José Padilha, foi um documentário, Ônibus 174, em

2002. Neste filme, em que o tema da violência urbana já estava

presente, o diretor utilizou imagens de arquivo do seqüestro do

ônibus 174, que aconteceu na zona sul do Rio de Janeiro em junho

de 2000, intercaladas com depoimentos que narravam a vida de

Sandro, o seqüestrador, para mostrar o processo de transformação

de uma criança de rua em bandido.

No roteiro do primeiro e no argumento para o segundo Tropa de

Elite, Padilha contou com a participação do real Capitão Rodrigo

Pimentel, que já fora do BOPE, escreveu em parceria com Luiz

Eduardo Soares e André Batista o livro Elite da Tropa, publicação

que serviu de ponto de partida para Tropa de Elite. Tanto no

primeiro, como no segundo, Padilha e Pimentel interagiram com o

roteirista Bráulio Mantovani, que também elaborou os roteiros de

Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles e lançado em 2002;

e de Última Parada 174, versão ficcional sobre a história de Sandro,

lançada em 2008, com direção de Bruno Barreto.

Um diretor oriundo dos documentários – José Padilha - e a

participação de um ex-oficial do BOPE – Rodrigo Pimentel -, com

seus relatos para a elaboração do roteiro, são ingredientes que

conferem um ar de realidade a Tropa de Elite. O roteiro

arquitetado sob a ótica de um policial, com personagens envolventes

e contraditórias, que vivem situações de tirar o fôlego, dá o toque

de filme de suspense, no estilo “thriller hollywoodiano”. E

Mantovani, o roteirista, em recente entrevista ao Jornal O Globo (Rio

Show de 8/10/2010), disse que não se preocupa muito com a

realidade, pois sente mais prazer em inventar: “gosto de ler sobre os

temas com os quais trabalho, mas de maneira informal. A informação

e os fatos são apenas nutrientes para um processo mental cujo

centro de gravidade é a imaginação.”

Com todos esses componentes que misturam realidade e ficção, por

mais que existam pontos de contato entre o contexto real e a trama

do filme, Tropa de Elite é, de fato, um filme de ficção, pois seu

roteiro foi criado, inventado e esquematizado para contar uma

história – mesmo que tomando por base fatos e personagens da

realidade.

Há uma série de cenas e personagens do filme que aproveitam essa

“ponte” com a realidade: há a representação de PMs, deputados,

representantes de governo, jornalistas e outros personagens

inspirados na vida real; há também a representação de pessoas

comuns da população, como moradores de favela, universitários,

presidiários, entre outros. Mas é preciso lembrar, como o próprio

diretor do filme já afirmou: personagens do filme que fazem alusão

Page 11: Tropa de Elite em sala de aula

10

a personalidades da vida real representam, ao mesmo tempo,

todos e nenhum dos que os inspiraram: se referem a um modo de

agir no mundo, refletem padrões psicológicos que re-

conhecemos.

Além das alusões aos personagens, existem ainda referências diretas

a acontecimentos, lugares e símbolos visuais que fazem parte da

paisagem do Rio de Janeiro e do Brasil. Em uma das cenas, o

ativista dos direitos humanos, Diogo Fraga, questiona: por que a

população confia numa polícia que tem uma caveira como símbolo?

De fato, esse é um questionamento contundente, que reflete um

dos principais pontos do filme: é correto, ou não, aplaudirmos e

compactuarmos com uma polícia e um sistema que atua com

violência? Como é hoje a reação da sociedade em relação a essa

prática? O que pensam sobre isto educadores, alunos, cidadãos e

o que podem fazer diante desta prática?

Assim como Tropa de Elite 2, Tropa de Elite 1, ônibus 174, e

Notícias de uma Guerra Particular são filmes que se destacam por

questionarem a política de segurança pública e os próprios valores

de nossa sociedade quanto a atuação de sua polícia, pondo em

xeque valores e costumes que norteiam a nossa vida.

Sugestão de Atividades:

Relembre um fato marcante que tenha ocorrido na escola,

uma festa, um final de campeonato, uma aula externa, ou

outro qualquer. Peça aos estudantes para produzirem textos

ou desenhos narrando este fato, como se fosse um storyboard

– roteiro apresentado em imagens –, ou uma crônica do fato

ocorrido no ambiente escolar. Com o material produzido,

monte uma exposição e aborde os textos e desenhos junto

com o grupo, identifique as distintas representações e os

elementos, visuais ou textuais, mais significativos. Provoque

o grupo a perceber as diferentes versões de um mesmo fato.

Faça uma votação para eleger uma das versões apresentadas

como a mais significativa para todo o grupo e proponha a

elaboração de um filme para representá-la. Apresente

alternativas: realizar um documentário, através de

entrevistas com quem tomou parte no evento e uso de

material de arquivo, como fotos ou vídeos realizados na

ocasião; ou uma obra de ficção, em que o grupo dramatizaria

o evento? Se possível, providencie as condições para

transformar essa idéia num produto audiovisual. Promova

uma sessão de exibição do vídeo e/ou de apresentação de

todo o material produzido, seguida de debate com a

Page 12: Tropa de Elite em sala de aula

11

comunidade escolar, evidenciando a diversidade de olhares

sobre um mesmo fato.

O MITO DO HERÓI

Mito é uma palavra derivada do grego mythos e significa narração,

discurso. Um mito é uma narrativa que trata de situações típicas da

vida humana que povoam o nosso cotidiano e que, por refletir

padrões psicológicos que habitam o nosso imaginário, tem forte

significado simbólico. E o que é um herói?

Herói é o protagonista de uma narrativa dramática, ou de um mito.

É chamado de herói porque descobre ou realiza coisas acima do

normal, é alguém que arrisca ou sacrifica a própria vida por uma

causa ou motivo maior do que ele mesmo, superando de forma

excepcional um determinado problema de dimensão épica.

Há dois tipos de proeza que um herói pode realizar: a física, numa

competição ou batalha, em atos de coragem, ao salvar vidas, por

exemplo. E a espiritual, em que o herói, diante da adversidade,

precisa aprender a lidar com a vida de uma nova maneira, tirando

daquela situação um aprendizado.

Numa narrativa mítica também podem existir antiheróis, que

apresentam atitudes opostas às de um herói. Mas por que são

chamados de antiheróis? Um antiherói também pretende realizar

grandes feitos, mas o termo grego “anti” – que denota oposição - lhe

é conferido por que toma iniciativa com base em motivações

egoístas, como a vaidade, por exemplo, ou pelo fato dele não possuir

as qualidades físicas ou morais requeridas para realizar a façanha a

que se propõe de forma digna e bem-sucedida.

Em Tropa de Elite 2 existem personagens que poderiam ser

identificadas como heróis ou antiheróis? Se sim, quais e por que?2

No filme, as ações do Capitão Nascimento, especialmente na

rebelião do presídio, são duramente criticadas por Diogo Fraga e por

alguns setores da sociedade. Mas uma parcela da população e do

poder público reconhecia na figura do Capitão uma espécie de herói.

Na sua opinião, o filme o apresenta como herói, como antiherói, ou

existe indefinição quanto a esta sua posição?

2 No blog oficial do filme (www.tropa2.com.br/blog), consulte o resultado

da promoção “Vilões X Nascimento: Conheça as batalhas vencedoras”.

Page 13: Tropa de Elite em sala de aula

12

Não só no que diz respeito aos aplausos, ou vaias, ao Capitão

Nascimento, certos acontecimentos do filme causam distintas

impressões e/ou sentimentos ambíguos. O ator Milhem Cortaz, no

blog oficial do filme3, faz a seguinte afirmação: “Fábio é meu

Macunaíma, meu herói politicamente incorreto”. Na relação entre o

que projetamos em indivíduos e o que eles podem ser, muitas vezes

há um grande abismo. Ou uma linha tênue. Assim, na medida em

que um filme faz uma ficção da realidade, de acontecimentos

passados no cotidiano das ruas, das comunidades e dos noticiários,

podemos indagar se reconhecemos como legítimas estas

representações.

Sugestões de Atividades

Peça a cada aluno que identifique alguém da sua convivência

como herói ou antiherói e solicite que relate, de forma oral

ou escrita, a história dessa pessoa. Organize uma contação

de histórias ou um varal de livros com esses relatos da

turma. Convide alguns desses escolhidos para uma roda de

conversa.

Organize um jogo sobre heróis e antiheróis apresentados

pelos alunos. Convoque-os para organizar um mural coletivo

com informações e observações relevantes sobre a vida de

3 http: www.tropa2.com.br/blog

seus escolhidos. Crie uma dinâmica para que todos leiam o

que está no mural. Depois, retire-o da vista e elabore

perguntas sobre essas personalidades. Peça que qualquer

membro do grupo, a não ser o que apresentou aquela pessoa,

responda.

Na cena do presídio, quando o defensor dos direitos humanos

entra para negociar com os presos, o Capitão Nascimento se

refere a ele como “Che Guevara”, por que? O mesmo jogo

também pode ser feito com heróis e antiheróis do Brasil e do

mundo: divida a turma em grupos e peça para selecionarem

pessoas que consideram como heróis ou antiheróis (uma

alternativa é pedir a cada grupo que apresente um número de

personalidades equivalente ao número de seus membros). Os

alunos irão levantar informações sobre essas pessoas e sobre

fatos de suas vidas. Promova a socialização dos

conhecimentos na turma: quem foram as personalidades

escolhidas e quais foram os seus feitos? Alguém discorda da

classificação de algum deles como herói ou antiherói? Por

que? Depois da troca de ideias, cada grupo elabora perguntas

sobre as personalidades que destacou e se realiza, então, o

jogo de perguntas entre os grupos. Conferir pontos às

questões corretamente respondidas é um opcional, que dá um

tom competitivo à atividade.

Page 14: Tropa de Elite em sala de aula

13

Com a turma dividida em grupos, peça aos alunos que

identifiquem exemplos de heróis e de antiheróis do cinema

(também podem ser personagens da literatura, de novelas

ou de filmes de TV). Depois, cada grupo encena os destaques

que selecionou para que o resto da turma adivinhe quem

está representando. Aqui, a ênfase do jogo é cooperativa:

todos contribuem com idéias para adivinhar o que está sendo

representado pelo grupo em cena.

A GEOGRAFIA DA CIDADE

É interessante notarmos como o desenho do mapa da cidade se

materializa, ganha existência e força, a partir de um filme. De fato,

um dos elementos que determina a cena é o espaço da produção

cinematográfica; o espaço filmado. E a dimensão espacial

representada condiciona a ação das personagens em um filme, seja

este espaço um lugar amplo ou confinado, um espaço sem limites ou

com fronteiras, um lugar de passagem e trânsito, ou mesmo um

espaço institucional, simbólico e até mesmo psicológico.

Um filme apresenta imagens de espaços, que podem ser locações

existentes ou cenários criados para representar um lugar. Em Tropa

de Elite reconhecemos diversas locações no Rio de Janeiro e em

Brasília; espaços da vida cotidiana, como a favela, o presídio;

espaços de convívio, como as festas comunitárias e a universidade; a

paisagem carioca e os lugares de representação política, como a

Assembléia dos Deputados e o Congresso.

Destes espaços relatados acima, apenas o Congresso e Bangu I foram

cenários criados para o filme, todas as outras cenas foram realizadas

em espaços reais.

Para além da objetividade destes espaços específicos retratados no

filme, devemos ter em conta que o cinema é uma produção de

sentido que lida com a subjetividade. E isso quer dizer que

Page 15: Tropa de Elite em sala de aula

14

emprestamos sentido à geografia onde os conflitos humanos se

desenrolam, que de algum modo interpretamos espacialmente uma

obra cinematográfica. Em linhas gerais, o conhecimento que

elaboramos a partir de um filme não está simplesmente nas coisas

que são mostradas, mas na ressonância destas coisas, que

mobilizam elementos que já trazemos em nossos repertórios. Todo

filme traz em sua narrativa pequenos detalhes culturais que

possibilitam ao público apreender informações sobre localidades em

determinado momento histórico; linguagem e comportamento de

grupos sociais.

Por outro lado, o cenário escolar é espaço privilegiado para

exercitar a sensibilidade do olhar na leitura das imagens e da

geografia da cidade, das ilustrações dos livros didáticos e dos

conteúdos assistidos nas telas de TV e de cinema. Desenvolver este

olhar crítico é uma forma do professor promover o diálogo e atuar

como agente potencializador de sentidos e afetos diante desses

conteúdos, enredando-se junto com os alunos na ampliação de

possibilidades de compreender e de intervir no mundo. Aguçar o

olhar crítico e exercitar a leitura de imagens nesta sociedade

midiática é pertinente, pois uma imagem jamais é neutra ou

inocente, ainda que seja portadora de inúmeras relações, ela é

sempre um discurso e marca um posicionamento.

Convém então provocar: como seriam as representações espaciais

neste filme? Você, professor/estudante, já viveu alguma situação

semelhante às que são apresentadas nos lugares do filme? Quais?

Conhece a história dos lugares que aparecem em Tropa de Elite 2?

Que tal utilizar um mapa da cidade do Rio de Janeiro para marcar a

localização destes espaços?

Sugestão de atividade:

Proponha aos alunos que façam coletivamente (em uma

folha de papel de grande formato) um mapa da região em

que está situada a escola. Solicite que marquem com

canetas e/ou lápis de cor as principais vias, bem como os

pontos de referência mais significativos, de acordo com as

impressões trocadas pelo grupo. Estimule o discurso

acerca destes lugares referenciais que foram

identificados. Pergunte qual é a razão de determinada

localidade ter um nome, ou se tal lugar identificado

possui uma história. Colete estas impressões e escreva-as

no mapa, ao lado dos pontos identificados.

Page 16: Tropa de Elite em sala de aula

15

A GRAMÁTICA POPULAR

“Para certas pessoas a guerra é a cura; a guerra funciona como uma

válvula de escape”, diz o Coronel Nascimento em Tropa de Elite 2.

Algumas expressões características utilizadas pelo Capitão

Nascimento em Tropa de Elite passaram a fazer parte do linguajar

popular, como “pede pra sair” e “missão dada é missão cumprida”.

No Tropa de Elite 2 estas e outras expressões deste tipo

reaparecem, utilizadas por ele e por outras personagens do filme,

como: “nunca serão”; “você é moleque”; “taxa do eu sei”;

“pombagirice“; “quem quer rir tem que fazer rir”.

Você conhece ou usa algumas destas expressões? Os seus alunos

utilizam estas ou outras expressões desse tipo? Muitas vezes, no

cenário escolar, as linguagens usadas por professores e estudantes

parecem pertencer a universos distantes. Seria esta uma questão

para ser trabalhada em sala de aula? Se tomarmos como ponto de

partida as expressões usadas no filme, poderíamos pensar uma série

de articulações e invenções com os estudantes. Por exemplo:

“Imagine um professor que só esculacha os aspiras, que diz que eles

nunca serão, que quer vê-los pedir pra sair. Mas vai que um dia a

sala vira, e os alunos tomam o professor como um fanfarrão, ele é

que vai ser o zero um. Talvez o ideal seria ficar tudo fifty-fifty, na

taxa do eu sei, você sabe também, sem pombagirice”.

Se fosse reescrever esta história utilizando a gramática formal, como

se fosse um aluno contando uma situação, como ela ficaria? Se, por

um lado, estas expressões e ditos populares remetem a um modo

informal de se expressar, em que o compromisso com a correção

gramatical está ausente, o que há de criativo, de recurso expressivo

nessa linguagem? Alguém sabe dizer o que quer dizer papa-maique?

Quem é alemão? Ou como proceder na operação pneumático?

Sugestões de Atividades:

Identifique expressões de grupos representados em Tropa de

Elite e Tropa de Elite 2: gente que mora na cidade, policiais,

malandros, autoridades etc.

Promova uma dramatização com o grupo, um diálogo que

faça uso destas gírias do cotidiano.

Seria possível escrever uma carta de amor com esta

linguagem? Proponha este exercício para o grupo.

Incentive uma pesquisa sobre expressões deste tipo utilizadas

no universo de cada aluno, peça para que cada um selecione

e apresente palavras com seus significados para os colegas.

Page 17: Tropa de Elite em sala de aula

16

Desafie-os a escreverem textos com estas expressões que

foram levantadas.

Proponha que os alunos conversem com pessoas mais velhas

para colherem gírias que já que tenham caído em desuso.

Também pode ser realizada uma busca de exemplos em

músicas antigas. Na próxima página você vai encontrar uma

amostra disso em expressões da antiga malandragem em

músicas de Noel Rosa e Wilson Batista. Há nelas alguma

palavra cujo sentido seja desconhecido? Se sim, onde se

pode buscar este significado? O que quer dizer o lenço no

pescoço e o tamanco a que os dois fazem referência? Um se

orgulha de usar o lenço branco, outro diz para tirá-lo do

pescoço, por que?

Lenço no Pescoço De Wilson Batista Meu chapéu do lado Tamanco arrastando Lenço no pescoço Navalha no bolso Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho em ser tão vadio Sei que eles falam Deste meu proceder

Eu vejo quem trabalha Andar no miserê Eu sou vadio porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão E eles tocam E você canta E eu não dou Rapaz Folgado De Noel Rosa Deixa de arrastar o teu tamanco Pois tamanco nunca foi sandália E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata Joga fora esta navalha que te atrapalha Com chapéu do lado deste rata Da polícia quero que escapes Fazendo um samba-canção Já te dei papel e lápis Arranja um amor e um violão Malandro é palavra derrotista Que só serve pra tirar Todo o valor do sambista Proponho ao povo civilizado Não te chamar de malandro E sim de rapaz folgado

Page 18: Tropa de Elite em sala de aula

17

Pesquise também a linguagem atual: Incentive a busca por

músicas contemporâneas que atraiam os alunos. Peça para a

eles para transcrevê-las para uma linguagem mais formal,

numa redação por exemplo. Músicas sugeridas:

Na Intimidade, Meu Preto De Nei Lopes Ouça em: http://search.4shared.com/q/1/na%20intimidade%20meu%20preto

Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto

Quando eu saio pra gandaia Ela faz um escarcéu Gritando que eu não valho nada E que a grande culpada é a Princesa Isabel

Mas quando eu volto pra caxanga Pra descansar o esqueleto Aí ela me beija todo Me faz chá de boldo E me chama, meu preto

Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro

E na intimidade, meu preto

Se eu amarro uma pretinha Ela apronta um bololô E diz que negro quando pinta Tem três vezes trinta e que eu sou seu avô

Porém quando eu chego inspirado E lhe declamo um soneto Aí ela posa de musa Me usa e lambuza Me chama, meu preto

Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto

Ela diz pra todo mundo Que eu atraso a sua vida E quando eu não sujo na entrada É fava contada eu sujar na saída

Porém quando eu danço gostoso A dança do minueto Aí ela ajoelha e chora Jura que me adora E me chama, meu preto

Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto

Page 19: Tropa de Elite em sala de aula

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Linguagem do morro

Composição: Padeirinho / Ferreira Dos Santos

Tudo lá no morro é diferente Daquela gente não se pode duvidar Começando pelo samba quente Que até um inocente Sabe o que é sambar Outro fato muito importante E também interessante É a linguagem de lá Baile lá no morro é fandango Nome de carro é carango Discussão é bafafá Briga de uns e outros Dizem que é burburim Velório no morro é gurufim Erro lá no morro chamam de vacilação Grupo do cachorro em dinheiro é um cão Papagaio é rádio

Grinfa é mulher Nome de otário é Zé Mané (2x)

Produção e Linguagem Audiovisual

Depois do nascimento da idéia, ou da elaboração de um argumento,

a realização de um produto audiovisual se divide basicamente em

três etapas: a pré-produção (voltada para o planejamento da

filmagem); a filmagem; e a pós-produção. Todas essas etapas são

fundamentais para a concretização desse produto e para a escolha

de seus elementos de linguagem, essenciais para construir o “clima”

do filme e provocar sentimentos e reações nos espectadores. Todas

essas etapas envolvem o trabalho de uma grande equipe em que

cada um tem a sua fundamental importância!

Page 20: Tropa de Elite em sala de aula

19

Chamamos a atenção para a ultima etapa, da pós-produção, que

compreende todo o processo de organização do material filmado;

edição das imagens e do som; e finalização. O material registrado

para a realização de um filme não é apresentado na íntegra, passa

por uma formatação, que é a montagem, ou edição. “No Brasil, o

termo edição geralmente é usado para se referir aos trabalhos em

vídeo e montagem em relação ao cinema” (VIDOR, 2004, p.8). Mas

aqui esses dois termos serão empregados como sinônimos. O fato é

que um filme tem muito mais horas de material gravado do que o

tempo da montagem final e, por isso, a edição desse material, ou

seja, a análise e escolha dos trechos de imagens a serem utilizadas;

sua ordenação; a definição dos cortes; tem grande importância na

criação artística de uma obra, pois é o que irá imprimir a ordem e o

ritmo do produto audiovisual final.

A edição começa na preparação do material bruto, que vai ser

identificado, sincronizado com o som e agrupado de acordo com as

cenas. Esse material segue para o editor, que fará os cortes entre

os planos de sequências. Essa sucessão de sequências segue uma

estrutura narrativa, definida no roteiro. Quando a edição é

concluída, o material vai para a equipe de finalização, que inclui

efeitos visuais e créditos, faz ajustes de imagem e de som para a

exibição.

Pode-se, então, perceber que a edição, ou montagem, tem uma

função semântica: “A primeira função da montagem é a construção

narrativa” (VIDOR, op.cit, p. 9). Mas, ela também pode ter uma

função expressiva, transmitindo ideias e sentimentos através da

transição das imagens e sons, de forma que os espectadores possam

apreender algo que as imagens, em si, não mostram. “A combinação

das funções narrativa e expressiva na montagem é responsável pelo

movimento, ritmo e ideias de uma obra”. (VIDOR, op.cit., p.8).

Semântica é o estudo dos significados. Enquanto a sintaxe se ocupa das

estruturas formais da comunicação, a semântica se debruça sobre os

sentidos despertados por uma mensagem.

Page 21: Tropa de Elite em sala de aula

20

Alguns exemplos de elementos utilizados na linguagem fílmica:

1 - A estrutura narrativa de um filme é a sua trajetória, o fio que

conduz o espectador. Pode-se perceber como a estrutura narrativa

é determinante para um filme fazendo um contraponto entre dois

filmes, comparando, por exemplo, a estrutura narrativa de Tropa

de Elite 2 e do documentário Notícias de uma Guerra Particular,

dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund. “Notícias” trata da

violência urbana decorrente do tráfico de drogas no Rio de Janeiro,

com foco no embate violento entre policiais e traficantes,

particularmente na comunidade do Morro Dona Marta. Enquanto a

narrativa de Tropa de Elite segue a ordem cronológica da vida do

Capitão Nascimento – protagonista e narrador, que aparece dez

anos mais velho em relação ao primeiro Tropa de Elite, vivendo

outra etapa de sua vida, em que outras questões o mobilizam -, o

documentário segue uma apresentação por blocos, marcados por

letreiros que entram em quadro, como uma projeção de slides. A

escolha por uma divisão em blocos, além de ter uma função

narrativa, também tem função expressiva, pois indica o caminho

que os diretores seguiram. Isabel Vidor observa que: “Se

considerarmos que todo documentário é a interpretação de seus

realizadores sobre determinado tema, será sempre possível

identificar um posicionamento” (VIDOR, op.cit., p. 16).

Enquanto Tropa de Elite é narrado do ponto de vista do policial, do

seu modo de ver as coisas, no documentário, o fato de vários lados

serem ouvidos para se chegar a uma visão geral do problema põe em

pauta a suposta “neutralidade” do jornalista na apuração de

matérias, o mito da imparcialidade - dizemos mito porque todo

discurso produzido parte de uma seleção de elementos para

apresentar uma idéia e isto é sempre subjetivo. Em todo e qualquer

discurso sempre estará implícita, na forma como as idéias são

apresentadas, a versão do seu autor (seja ele um sujeito qualquer

que fala, jornalista ou diretor de filme). Não existe verdade

absoluta, apenas possíveis interpretações da realidade. Por isso, é

importante que o público perceba o que pensa e como se posiciona

quem disponibiliza as informações que recebe para, então, poder

formar suas próprias opiniões. E isso é algo que acontece tanto no

documentário, quanto na ficção.

2 - O uso de narração em um filme é uma escolha que pode ter

funções diversas. A narração pode alterar o significado de imagens,

incluindo dados que transformam a percepção daquilo que é visto,

ou pode sustentar as imagens, interpretando-as para o público.

Tanto o primeiro quanto o segundo Tropa de Elite são narrados pelo

protagonista, Beto Nascimento. No primeiro filme, uma de suas

afirmações é que o objetivo do BOPE “não é prender traficantes, é

capturar armas”. Quando, ao invés de narração, se opta pelo uso de

Page 22: Tropa de Elite em sala de aula

21

legendas, a mensagem ganha um tom mais impessoal. Exemplo disto

são as legendas utilizadas na abertura do Tropa 1, falando do uso de

relatos verídicos como base para elaboração do roteiro, e no Tropa

2, informando que apesar das coincidências entre algumas situações

apresentadas no filme e a realidade, trata-se de uma obra de

ficção.

3 – Num filme é o roteiro que norteia a montagem, definindo uma

sequência de imagens para desenvolver a narrativa, assim como

numa redação preparamos os argumentos para introduzir,

desenvolver e concluir uma ideia. Apresentar as contradições e

antagonismos entre personagens é uma forma de dinamizar uma

narrativa. Desta forma, no Tropa 2 o antagonismo inicial entre o

Coronel Nascimento e o Deputado Diogo Fraga acaba resultado

numa união de forças. Já em Notícias, a sequência de imagens no

documentário intercala as vozes do policial e do traficante, dando-

lhes o mesmo espaço e o mesmo peso, de modo que não haja

indicação de que um ou outro está certo ou errado. Esta estrutura

faz com que ora se concorde com o policial, ora com o traficante;

em outro momento, com os moradores. A montagem é pensada de

modo a deixar lacunas a serem preenchidas pelo próprio

espectador: assim, a partir da sua própria interpretação, ele monta

a sua versão particular.

4 – A fotografia e o enquadramento são importantes elementos da

gramática de um filme. “Em Notícias de uma Guerra Particular a

fotografia é „suja‟ (...)”, diz Vidor; “as imagens causam mais

impacto pela composição dos quadros. O enquadramento nas

entrevistas é fixo, próximo, sem ser íntimo. Em outras situações, a

câmera na mão conduz o espectador para dentro da ação,

contribuindo para o clima de reportagem do programa” (VIDOR,

op.cit., p.21). Em Tropa de Elite, a velocidade nas cenas de ação

tem o intuito de nos transportar para o meio do conflito armado e,

ao contrário do documentário comentado, a fotografia do filme

apresenta imagens nítidas, refletindo o claro e firme posicionamento

de seu protagonista e narrador.

5 - A trilha sonora, assim como a fotografia e o enquadramento de

um filme também produz sentidos: auxilia na assimilação de idéias

e desperta emoções, cria tensões e/ou propicia um maior

envolvimento do espectador. No blog do Tropa 24 há um vídeo sobre

a origem do “Pa pa pa ra”, ou o “Rap das Armas”, funk carioca da

década de 90 que foi tema de abertura de Tropa de Elite,

relacionando-o, ao mesmo tempo, ao ruído de balas e ao som d´A

Flauta Mágica, de Mozart.

4 Consulte: http://www.tropa2.com.br/blog/?p=1184

Page 23: Tropa de Elite em sala de aula

22

Sugestão de atividade:

Proponha aos alunos que assistam Tropa de Elite 2, ou

que revejam Tropa de Elite, analisando elementos da

gramática fílmica (pode ser de um trecho ou de uma

cena que lhes pareça mais significativa): estrutura

narrativa; caracterização de personagens; diálogos e

narração; trilha sonora; ambientação e cenários; luz e

enquadramento das imagens. Troque idéias sobre

análises e interpretações feitas, confronte opiniões e

destaque pontos de vista e percepções diversas. Sugira

que cada um elabore um storyboard da sua cena e

exponha os trabalhos.

Fazer um estudo comparado entre documentário e filme

de ficção pode ser um bom exercício de análise da

linguagem cinematográfica. Notícias de uma Guerra

Particular aborda temas semelhantes aos enfocados em

Tropa de Elite, de um ponto de vista bem diverso.

Se a turma fosse escolher um assunto de cunho social

para produzir um audiovisual, qual seria o tema

selecionado? Proponha que cada aluno selecione um

tema e apresente sua campanha para os colegas. Depois,

promova uma votação.

Solicite que a turma elabore um plano para realizar um

vídeo sobre o tema mais votado. Primeiro, peça que cada

aluno escreva uma proposta de argumento para aquele

tema e promova um intercâmbio de idéias. Depois,

oriente o grupo na elaboração de um roteiro coletivo.

Auxilie-os a montar um vídeo ou uma peça teatral

encenando a idéia elaborada.

Anotações

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Page 24: Tropa de Elite em sala de aula

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DIREITOS HUMANOS

A Declaração Universal é um marco na história porque, pela

primeira vez na humanidade, todos, independente de cor, credo,

etnia, nacionalidade, sexo ou idade, têm direitos. Ela serve como

um princípio moral de como deveríamos viver. Os 30 artigos que a

compõem começam com a expressão “todos tem direito”, ou seja,

ninguém está de fora deste contrato social. Mas, será que sempre

foi assim? E nos últimos 60 anos, desde que a Declaração foi

assinada, ainda persistem as violações aos direitos humanos?

Segundo o relatório da Anistia Internacional, 60 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adotada pelas Nações Unidas, pessoas ainda são torturadas ou mal tratadas em pelo menos 81 países, são submetidas a julgamentos injustos em pelo menos 54 países e não têm direito de se manifestar livremente em pelo menos 77.

No filme Tropa de Elite 2, quando explode uma rebelião no presídio

de Bangu I, o professor Diogo Fraga, envolvido com a questão dos

direitos humanos de presidiários, é chamado pelos presos para

mediar a situação junto à polícia. Ele aceita a missão por acreditar

estar fazendo o bem, mas também percebe ali que a bandeira dos

direitos humanos pode lhe render alguns “dividendos” na política e

ajudá-lo a eleger-se deputado. Fraga insiste na visibilidade que o

tema lhe dá, passando a atuar como um legislador que defende as

populações marginais e que passa a atacar a corrupção do sistema.

O tema dos direitos humanos no Brasil vem servindo muitas vezes

para posições ambíguas por parte da sociedade. Ora se toma o

partido de uma pessoa que está sendo acusada de algum delito, mas

que por ter dinheiro e posição social, se vale dos seus direitos para

Page 25: Tropa de Elite em sala de aula

24

livrar-se da condenação (vejamos a esse respeito o exemplo de

vários deputados que por terem imunidade parlamentar nunca são

presos pelos seus crimes), ora se condena aqueles indivíduos que

também cometeram delitos, talvez pela própria situação de

marginalidade e de exclusão social, mas que, por não contarem com

as mesmas condições materiais, são vistos pela opinião publica

como indivíduos que não merecem ter seus direitos humanos

respeitados. Ora, se o próprio nome já diz - direitos humanos -, não

é a todos que deveriam salvaguardar?

No filme Notícias de uma guerra particular, o chefe da polícia civil

na época, Hélio Luz, afirma em seu depoimento que a polícia

corrupta é um reflexo da sociedade que protege suas elites e

reprime os excluídos, numa espécie de “apartheid” sem as cercas

de arame. Uma polícia honesta age igualmente na favela ou na

Avenida Delfim Moreira e ele acha que isso a sociedade não quer.

O filme Tropa de Elite 2 pode contribuir em sala de aula para uma

grande discussão sobre direitos humanos e até sobre a importância

da conscientização política. E não só discussão, mas inclusão deste

tema no conteúdo curricular, como uma proposta pedagógica que

também desenvolve cidadania. Tomando como base notícias de

jornais, relatos dos próprios alunos, e, identificando este tema dos

direitos humanos no filme, o professor pode promover uma

discussão sobre os direitos humanos e relacionar a situação brasileira

com a de outros países.

Você conhece ou já teve notícia de algum país que viole os

direitos humanos?

Sugestão de atividade:

Convoque para a montagem de um painel. O painel é uma

importante ferramenta didática de compilação e

apresentação de conteúdos relacionados ao tema da aula.

Proponha uma pesquisa sobre a situação dos direitos humanos

no mundo. O professor pode explorar episódios mais recentes

onde há situações de violação. Um exemplo é a iraniana que

foi condenada por adultério, cuja pena por apedrejamento,

foi rechaçada por vários países. A reação internacional

obrigou o regime iraniano a rever sua sentença; outro

exemplo recente, no Pará, foi o de uma adolescente presa

por furto que foi obrigada a permanecer numa cela com mais

de 30 homens, todos adultos, e ter sofrido abusos sexuais. A

notícia chocou todo o país, obrigando a Governadora do

Estado a afastar a cúpula da polícia daquele estado. Por outro

lado, como exemplo positivo de valorização de direitos, há o

episódio recente dos esforços e investimentos feitos para

Page 26: Tropa de Elite em sala de aula

25

resgatar 33 mineiros no Chile. Este evento terá impacto

sobre a segurança de trabalhadores e sobre a atividade de

mineração em outros países?

Direitos humanos no Brasil

Houve avanços em nosso País nos últimos anos. O governo criou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, e a tortura foi tipificada na lei como crime hediondo (inafiançável). Mas perdura uma grande distância entre as estruturas constitucionais de defesa dos direitos humanos e os persistentes abusos, assim como a ausência de garantias para protegê-los em certas áreas do país, sobretudo na Região Norte.5

Novamente nos reportamos ao filme Tropa de Elite 2 para

identificar passagens em que assistimos a procedimentos

considerados criminosos utilizados pela própria polícia no exercício

do seu trabalho, sendo a tortura o principal deles. Sabe-se,

também, que entre facções criminosas este é um procedimento

comum para a obtenção de confissão ou delação. E no filme há uma

cena em que uma repórter e seu assistente são atacados por

agentes da milícia, sendo que seus corpos são queimados e a

dentição retirada para “queima dos arquivos”. O objetivo de

5 http://www.objetivosdomilenio.org.br/

levantar estas questões não é “demonizar”, nem “endeusar” a

polícia ou quem quer que seja por se valer de táticas hediondas para

obter informações, mas sim questionar e discutir: a lei que proíbe

tais procedimentos deve, ou não, ter dois pesos e duas medidas? Que

valores a nossa sociedade destaca hoje em relação a esses assuntos?

Teoria e prática andam juntas quando se trata destes temas?

Sugestões de atividade:

O jogo de júri popular é ideal para discutir situações

polêmicas. Para começar apresente informações divergentes

sobre o assunto a ser trabalhado. Depois, peça que os

participantes se dividam em três grupos. O professor irá

designar dois deles para defenderem ideias opostas entre si

(esta oposição de ideias pode surgir espontaneamente no

grupo, mas é preciso estar preparado para oferecer

informações e indicar posicionamentos divergentes para cada

grupo, caso isto não ocorra). O terceiro grupo, que faz o

papel de júri, ficará responsável pela mediação: ao júri cabe

marcar o tempo para uma divisão justa dos espaços de fala

(inclusive entre os membros de seu próprio grupo); conceder,

ou negar, pedidos de protesto ou direito de resposta entre

grupos opositores.

Page 27: Tropa de Elite em sala de aula

26

Fórum popular: proponha, ainda, entre os alunos um debate

a partir da seleção de algumas passagens do filme Tropa de

Elite 2 em que agentes de diferentes grupos, se valem da

tortura como meio de obter alguma vantagem pessoal

(observe que o professor, aqui, atua como mediador, não

deve tomar partido prévio sobre a atitude deste ou daquele

personagem). Este debate deve ser subsidiado com

informações precisas e textos com os artigos da nossa

Constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente que

condenam a tortura e os maus tratos.

Os direitos humanos e os objetivos do milênio

Em 2000, os países signatários da ONU – Organização das Nações

Unidas -, analisaram os maiores problemas mundiais e estabeleceram

8 Objetivos do Milênio, conhecidos pela sigla ODM, que

representariam oito formas de Mudar o Mundo. Quais você acha que

são?

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Page 28: Tropa de Elite em sala de aula

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1. Acabar com a fome e a miséria.

2. Educação básica de qualidade para todos.

3. Igualdade entre sexos e valorização da mulher.

4. Reduzir a mortalidade infantil.

5. Melhorar a saúde das gestantes.

6. Combater a Aids, a malária e outras doenças.

7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.

8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.

Você sabia que no Brasil há alimentos suficientes para alimentar toda sua população?

Apesar disso, no nosso país, 29% das pessoas estão abaixo da linha da pobreza e apresentam deficiência

alimentar.

O Brasil é o sétimo país do mundo em número de analfabetos, sendo que 18 milhões de pessoas deste

grupo nunca passaram pela escola.

A história do mundo nos mostra que durante muito tempo homens e mulheres não tiveram

os mesmos direitos e deveres. Em alguns países isso ainda acontece. Em

outros, as mulheres conquistaram direitos que

antes lhes eram negados.

Em nosso País muitas crianças morrem antes de completar o primeiro ano de vida. As

causas são inúmeras, como a desnutrição, a falta de acompanhamento pré-natal e durante o parto. No Brasil, a mortalidade no primeiro ano de vida é, em média, de 27,8 para cada

1.000.

Mobilizar pessoas para questões importantes: - Como as vacinas protegem o bebê?

- Como a higiene pode evitar algumas doenças? - Qual a nutrição adequada para o bebê?

- Qual a importância do aleitamento materno?

Um dos maiores problemas mundiais são as doenças que

atingem grande número de pessoas – e sabemos que a prevenção é a melhor maneira de combatê-las.

Apesar do Brasil ter aproximadamente 12% de toda a água doce do planeta, 22 milhões de pessoas não têm acesso a água de boa qualidade. A água é um

recurso natural renovável: rios, lagos e lençóis subterrâneos são capazes de repor seus

suprimentos, desde que a humanidade não os

esvazie rápido demais ou os contamine.

O trabalho voluntário é quase sempre realizado em parceria. Um bom exemplo de parcerias são as realizadas entre escolas, em

que professores e alunos compartilham idéias, espaço e muita criatividade em

projetos de voluntariado educativo.

Page 29: Tropa de Elite em sala de aula

28

Atividade pedagógica inspirada nos Direitos Humanos e nos

Objetivos do Milênio

Caracterização da proposta: projeto integrado de pesquisa a

partir dos artigos que compõem a Declaração dos Direitos

Humanos e sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Um projeto integrado se caracteriza como um somatório de

esforços: da parte dos docentes interessados em fazer com que

os conteúdos de suas disciplinas se comuniquem entre si,

intensificando os canais de produção e assimilação do

conhecimento; da coordenação pedagógica que entende a

importância de incentivar esta comunicação e de providenciar

os recursos necessários para a realização de tais projetos; e

também dos alunos e seus responsáveis, que devem estar

mobilizados para construir um amplo painel que terá forte

impacto na consciência dos direitos sociais das populações, e no

exercício da cidadania.

Sugestões de atividade:

Exemplos de atividades curriculares: trabalhos de artes

inspirados nos artigos da Declaração; construção de painéis

ilustrativos contendo infográficos e mapas; produção

editorial: jornal e fanzines; experimentos científicos.

Construção de blog e compartilhamento nas redes sociais e no

site Faça parte – Instituto Brasil Voluntário.

Fomos pesquisar na Internet alguns projetos que seguem os

Objetivos do Milênio. Um deles, em especial, nos chamou a

atenção: trata-se do blog Palco digital – catraca livre, que

identifica espaços potenciais para o cultivo de atividades de

lazer, cidadania, arte e cultura. Nos inspiramos neste blog e

propomos algo similar, sugerindo aos alunos e professores a

construção de um espaço virtual – o blog MAIS PERTO DE VOCÊ...

que buscará identificar os lugares mais próximos de você e de

sua escola, que ofereçam serviços comunitários e/ou

oportunidades de serviço voluntário, assim como atividades de

arte, cultura e lazer. Para isso, propomos um passo a passo...

Reúna um grupo de alunos interessados em participar e

chame-os para desenhar uma planta da região do entorno da

escola. Neste mapa, o grupo irá localizar e marcar todas as

instituições que podem participar da rede MAIS PERTO DE

VOCÊ...

Page 30: Tropa de Elite em sala de aula

29

Descubra o entorno da escola, do bairro para

identificar os lugares de

arte e cultura.

Faça fotos e entrevistas, descubra a

programação. Alimente seu

blog com essas fontes.

Identifique os participantes do projeto e os papéis de

cada um nesta gestão.

Estabeleça um local de encontro e

uma agenda de trabalho.

Então:

Depois é só acessar e disponibilizar o endereço para seus

amigos na Internet e nas redes sociais. O blog Palco digital –

catraca livre, associado ao site Faça parte – Instituto Brasil

Voluntário, pode contribuir para compartilhar experiências e

ideias.

Algumas dicas importantes para a criação de um blog:

1. Reúna o seu grupo e escolha um nome para o blog.

2. Combinem a aparência e o layout do blog, essa etapa envolve

muita criatividade.

3. Determinem os conteúdos (textos e imagens) e a

periodicidade do blog.

4. Distribuam as tarefas: quem ficará responsável por escrever

as notícias? E por colocá-las no ar? Haverá entrevistas?

5. Façam um mural com o cronograma do que foi planejado. Isto

permitirá acompanhar as atividades realizadas e fazer

ajustes, quando necessário.

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AGORA O INIMIGO É OUTRO

Na época em que o primeiro Tropa de Elite esteve em cartaz, o

debate acerca da questão criminalização/descriminalização das

drogas ganhou mais uma vez corpo. No primeiro filme, o discurso do

Capitão Nascimento apontava o tráfico e o consumidor de drogas

como o grande mal social no Rio de Janeiro. A postura desta

personagem policial rendia tanto os aplausos no fim da sessão,

como acusações de que o filme tendia para o lado fascista, pela

violência opressora e a representação reducionista de questões

como a militância de direitos humanos e o próprio consumo de

drogas.

O tema das drogas, em âmbito público, ainda é recente no país e

apenas começa a ser discutido na política, na imprensa, em redes

sociais na internet e ONGs, entre outros setores. São inúmeros os

pontos de apoio dos prós e dos contras em relação à questão.

Aqueles que são contra baseiam-se, por exemplo, em argumentos

de que o consumidor alimenta uma indústria do crime e que

qualquer movimento em direção à descriminalização seria legitimar

e anistiar com status de empresa os grandes chefões do tráfico. Já

aqueles que defendem a legalização acreditam que isto colocaria

um fim à violência nas comunidades, que comercializar substâncias

que alteram a percepção é diferente de roubar e matar. Além disso,

questionam por quais razões outras substâncias, como o álcool, são

liberadas para o consumo, enquanto outras são proibidas.

O fato é que esta questão não é mais central neste segundo Tropa de

Elite. “Eu demorei muito a perceber quem eram meus verdadeiros

inimigos”, declara o Coronel Nascimento em Tropa de Elite 2. O

discurso do Coronel Nascimento toma outra direção neste filme pois,

ao longo da trama, ele vai se dando conta de coisas que antes não

percebia. O ator Wagner Moura empresta um tom mais maduro ao

ex-Capitão do BOPE. Seria esta postura uma antítese da personagem

no primeiro filme? Nascimento, na continuação da saga, parece

reivindicar para si um lugar na civilidade, inclusive pra ser ouvido em

uma sessão pública, como na cena final da CPI instaurada.

Seu inimigo agora é outro: o alvo de sua denúncia é a promiscuidade

entre o poder público e os setores corrompidos da polícia, do

sistema. O traficante do primeiro filme perde espaço para a entrada

das milícias armadas no palco do conflito narrado. Esta discussão é

recente e o filme extrai força da atualidade destes acontecimentos

no Rio de Janeiro. A milícia, que era vista com bons olhos por

proteger a comunidade do tráfico, impõe suas próprias regras e

submete os moradores a um regime severo e a altas tributações.

Através do enredamento com alguns membros do poder público,

Page 32: Tropa de Elite em sala de aula

31

estes grupos armados tornaram-se capazes de cometer todo o tipo

de arbitrariedade: assassinatos, extorsões e cobrança de inúmeros

serviços e taxas.

Em uma das cenas finais do filme, temos um vôo panorâmico sobre

um prédio público de Brasília. Para o Coronel Nascimento deste

Tropa de Elite 2, seria este um dos territórios de uma atuação social

mais contundente? Vale ressaltar que este novo filme enfatiza

outros aspectos que configuram a violência urbana. Nele estão

presentes algumas temáticas significativas, como a vida carcerária e

os direitos humanos. E a própria fala acusatória do Capitão

Nascimento parece ter sido transformada em um discurso capaz de

relativizar algumas das declarações do filme anterior - diante da

indagação do filho: “Por que você mata gente, papai?”, ele

responde: “Eu não sei.” A personagem, neste instante, parece

impactada por suas próprias ações. O primeiro filme foi taxado de

fascista por parte da opinião pública, será esta sequência uma obra

humanista, capaz de uma reflexão mais profunda sobre os papéis

sociais que exercemos na vida pública? Qual a sua opinião?

Sugestão de atividade:

Construção de cenários. A principal razão de construir

cenários é exercitar a agilidade de pensamento para reagir

da melhor maneira possível em qualquer circunstância, ver a

realidade sob pontos-de-vista diversos e enxergar

perspectivas de atuação. Quando construímos diferentes

cenários e pensamos possíveis desdobramentos da realidade

vivida, ampliamos a nossa percepção e identificamos passos

necessários para um futuro desejado.

A construção de cenários começa com uma pergunta-chave,

do tipo: como queremos que esteja o mundo daqui a um

determinado período de tempo (5 anos, por exemplo). O que

precisamos considerar para visualizar esta situação?

Vamos buscar resposta em 2 fontes de informação: o mundo

dos fatos e o mundo das percepções. De um lado, vamos

identificar fatos que tenham impacto sobre a realidade que

vamos analisar – acontecimentos atuais, ou considerados

como muito prováveis de acontecer num futuro próximo. De

outro lado, vamos acrescentar nossa visão particular de

mundo. E reunimos a esses fatos que levantamos, indicações

sobre o que acreditamos que irá acontecer, acrescentando

aspectos do futuro que ainda não estão aparentes na

realidade, no mundo concreto. Na montagem de cenários

vamos associar informações que garimpamos do exterior com

as que extraímos dentro de nós mesmos.

Page 33: Tropa de Elite em sala de aula

32

Então, vamos construir um cenário possível para o Rio de

Janeiro que queremos?

Proponha ao grupo que levante aspectos que considerem

relevantes para pensar a nossa realidade dentro de um

determinado horizonte de tempo. Delimite uma média de tempo

para os cenários que irão montar. Se forem planejar ações para

construir um futuro coletivamente desejado, é bom começar

com um horizonte de 1 ano, para poder conferir os resultados

das ações realizadas e perceber ajustes necessários ao longo do

caminho. Com base no horizonte de tempo definido, chame o

grupo para delinear um cenário local, considerando a

participação social de seus habitantes. Monte 1 painel de papel

pardo e peça aos participantes que escrevam ou desenhem

imagens dos aspectos que considerarem importantes para pensa

essa conjuntura. Instigue o grupo a visualizar formas de agir

para realizar o futuro que deseja; identifique com os

participantes os fatores-chave para o sucesso e os principais

obstáculos que o grupo deverá superar para concretizar a visão

delineada nesse cenário.

Visão sem ação é sonho.

Ação sem visão não tem sentido.

Ação com visão tem o poder de mudar a realidade.

Bom trabalho!

Page 34: Tropa de Elite em sala de aula

33

REFERÊNCIAS

Sites:

www.tropa2.com.br – site oficial do Tropa de Elite 2;

www.adorocinema.com – portal de cinema com sinopses,

trailers, fichas técnicas e críticas

http://www.facaparte.org.br/palcodigital/duvidas.asp -

portal Palco Digital que constitui uma rede social formada

por blogs criados por escolas de todo o Brasil.

Bibliográficas:

QUEIROZ FILHO, A. Carlos. Cinema, Geografia e a Pesquisa

com Imagens. ISSN: 1676-2924 - B5. Morpheus (UNIRIO.

Online), v. 07, p. 01-12, 2008.

VIDOR, Isabel. O Discurso Audiovisual: A montagem em

Notícias de uma Guerra Particular. RJ: ECO/UFRJ, 2004.

Fotos:

Banco multimídia do site www.belemcom.com.br - Fotografo

Alexandre Lima

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