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Page 1: Trigo - Grupo Cultivar · Trigo ferrugem A ferrugem é uma doença des-trutiva que reduz a qualidade e o rendimento de grãos. No Brasil, as mais importantes áre-as de cultivo de

TTTTTrigorigorigorigorigoferrugem

A ferrugem é uma doença des-trutiva que reduz a qualidade

e o rendimento de grãos.No Brasil, as mais importantes áre-

as de cultivo de trigo constituem ambi-ente favorável ao desenvolvimento daferrugem da folha.

Além da alta pressão de inóculo naépoca de cultivo, as condições não-ad-versas ao fungo nas entressafras permi-tem que o inóculo se mantenha emplantas voluntárias. A “ponte verde”que se estende na região do Cone Sulda América do Sul, com plantio do ce-real durante todo o ano, torna a ferru-gem um problema regional.

Embora muitas das raças que ocor-rem nos diferentes países da região se-jam também encontradas no Chile, osAndes constituem a única barreira físi-ca ao transporte de esporos. A falta dediversificação da resistência de plantas,com concentração de uma cultivar emextensas áreas, agrava a situação.

Variabilidadedo fungoPuccinia triticina, agente causador

da ferrugem da folha, se diferencia emraças, cuja distinção não é perceptívelpor meio de sintomas ou sinais nasplantas.

As raças se distinguem por suas re-ações diferenciais em cultivares de tri-go selecionadas.

O levantamento das raças que ocor-rem nas regiões tritícolas brasileiras érealizado anualmente na Embrapa Tri-go, em Passo Fundo (RS). A coleta deamostras (folhas de trigo infectadas) éfeita no campo: em parcelas experi-mentais, em coleções especiais e emlavouras. Em casa-de-vegetação, iso-lam-se pústulas de ferrugem da amos-tra, para separar raças distintas quemuitas vezes coexistem na mesma fo-lha. A partir de um isolado, multipli-ca-se o inóculo para obter quantidadesuficiente para infectar a série diferen-

cial. Esta é constituída de 19 linhagensde trigo portadoras, cada uma, de umgene diferente que confere resistênci-as distintas, específicas a determina-das raças.

Os genes que compõem a série di-ferencial de raças são: Lr1, 2a, 2c, 3,3ka, 9, 10, 11, 14a, 14b, 16, 17, 18, 20,21, 23, 24, 26 e 30. Inocula-se na pri-meira folha totalmente expandida, cer-ca de sete dias após a semeadura. Araça é determinada conforme a identi-ficação dos genes Lr efetivos e não efe-tivos, que conferem, respectivamente,resistência e suscetibilidade da linha-gem de trigo diferencial a cada raça dofungo. Exemplifica-se com as raçasB34 e B35, descritas a seguir, as quaissão diferentes apenas com relação aogene Lr10. Plantas de trigo que possu-em em sua constituição apenas o geneLr10 de resistência à ferrugem da fo-lha serão suscetíveis se infectadas coma raça B34 e resistentes à B35.

Foto

s E.

M. R

eis

Ameaça ao trigoAmeaça ao trigoAmeaça ao trigoAmeaça ao trigoAmeaça ao trigoNova raça de ferrugem gera apreensão entre os produtores

Resistente Resistente Suscetível

Page 2: Trigo - Grupo Cultivar · Trigo ferrugem A ferrugem é uma doença des-trutiva que reduz a qualidade e o rendimento de grãos. No Brasil, as mais importantes áre-as de cultivo de

PopulaçãodinâmicaComo a população do fungo é dinâ-

mica, o conhecimento das alteraçõesinflui na escolha da cultivar a ser plan-tada, na identificação e uso dos genes aserem combinados nos programas demelhoramento para resistência e nas es-tratégias de controle químico. Os da-dos da Embrapa Trigo, obtidos desde1975, têm sido usados em programasde outras instituições de pesquisa, pú-blicas e privadas, no Brasil e em outrospaíses do Cone Sul.

O levantamento indica como as ra-ças se distribuem geograficamente e emque freqüência, além da detecção de no-vas raças.

NovasraçasNas áreas de produção de trigo, con-

forme as cultivares novas resistentes àferrugem da folha aumentam em exten-são de cultivo, a pressão de seleção re-sulta em rápida disseminação de nova

raça do fungo.Os melhoristas de trigo produzem

cultivares melhoradas, os produtores ascultivam e a população do fungo nocampo se adapta.

Com relação à ferrugem da folha dotrigo, nos últimos 9 anos, no Brasil, 11raças “novas´´ foram detectadas, con-forme a tabela.

A raça identificada pela primeira vezem 1999 foi designada B48. É capaz deinfectar trigos com os seguintes genesLr : 1, 3, 10, 11, 14a, 14b, 20, 23 e 26.Cultivares com os genes Lr2a, Lr2c, Lr9,Lr16, Lr18, Lr21 e Lr24 são resistentes aessa raça. A reação à B48, produzidapelos genes Lr3ka, Lr17 e Lr30, variadevido provavelmente à sensibilidadeà temperatura. Conforme o sistema nor-te-americano de nomenclatura de raças,o código da B48 é MC.

Cultivares eresistênciaCultivares de trigo com maior ou

menor grau de resistência à ferrugem

da folha têm sido recomendadas paracultivo comercial. Contudo, as constan-tes alterações no fungo têm resultadoem resistência de curta duração.

Apesar da atenção à ferrugem dafolha nos programas de melhoramentode trigo conduzidos no Brasil e da cria-ção de cultivares resistentes, tem havi-do freqüentemente superação da re-sistência pelo fungo.

A resistência não tem sido durável,principalmente quando controlada porgene(s) que confere(m) imunidade, ouseja, ausência de sintomas da doençafacilmente visíveis. Por outro lado, cul-tivares que apresentam resistênciaparcial, de planta adulta, têm se carac-terizado por resistência durável no cam-po.

Resistência durável é identificadaquando uma cultivar é cultivada emuma grande extensão, por longo perío-do de tempo.

A cultivar Frontana, que foi lançadano Brasil em 1940, continua a ser reco-nhecida no mundo inteiro como fonte

Page 3: Trigo - Grupo Cultivar · Trigo ferrugem A ferrugem é uma doença des-trutiva que reduz a qualidade e o rendimento de grãos. No Brasil, as mais importantes áre-as de cultivo de

Amarilis Labes Barcellos,Embrapa Trigo

de resistência durável, de resistência deplanta adulta às raças do fungo da fer-rugem da folha do trigo.

Desafio paramelhoristasO atual desafio aos melhoristas de tri-

go para resistência à doença é aumentaro período em que a cultivar permaneceresistente. A resistência de planta adul-ta, que se expressa próximo ao espiga-mento, geralmente com pústulas de sus-cetibilidade, mas em pouca quantidade,é freqüentemente associada à durabili-dade da resistência. Esta é, atualmente,a principal estratégia de controle.

Apesar da dificuldade em manter aresistência de trigo à ferrugem da folha,especialmente nas regiões brasileirasonde as condições são muito favoráveisao desenvolvimento do fungo, o contro-le genético em outros países tem sidoeficiente. As cultivares usadas na Amé-rica do Norte, com base na resistênciade planta adulta de Frontana, não têmsido danificadas pela enfermidade hámuitas décadas. Na Austrália, trigos comresistência durável, também descenden-tes de Frontana e de outras cultivares sul-americanas, embora desenvolvam níveisaltos de ferrugem no fim do ciclo, nãodesfolham devido à doença. Essa é a es-tratégia usada também no Centro Inter-nacional de Melhoramento de Milho eTrigo – CIMMYT.

CultivaresresistentesEntre os trigos recomendados para

cultivo em 2000, no Rio Grande do Sul

e em Santa Catarina, os seguintes têm,provavelmente, resistência de plantaadulta (suscetíveis na 1a folha em casa-de-vegetação e com bom comportamen-to no campo): BRS 49, BRS 177, Embra-pa 40, Granito, RS 1-Fênix, RS 8-Wes-tphalen, Trigo BR 23 e Trigo BR 35. Aresistência de planta adulta tem se man-tido por mais tempo e é menos específi-ca às raças, não havendo “quebras” drás-ticas de resistência. Os danos que a novaraça B48 possa causar nas lavouras detrigo, na próxima safra, deverão ser me-nos severos nas cultivares com esse tipode resistência.

O comportamento do trigo BR 23 àferrugem da folha, nas lavouras do suldo Brasil, é típico de cultivares com re-

sistência de planta adulta: as folhas apre-sentam pústulas, mas, em comparaçãocom cultivares suscetíveis, a quantida-de de lesões é muito menor e estas nãoprogridem tão rapidamente.

ControlequímicoPara o controle por meio de fungici-

da, o produtor deve acompanhar o de-senvolvimento da doença e pulverizarsomente em situações especiais, muitofavoráveis ao desenvolvimento do fun-go. Na maioria dos anos, o nível de fer-rugem aumenta quando os grãos já es-tão formados, dispensando o uso de fun-gicida.

A ferrugem da folha não tem causa-do prejuízos importantes em BR 23, queestá em cultivo há 13 anos em área ex-pressiva. BR 23 foi a cultivar de trigo commaior quantidade de sementes produ-zidas em 1992 e 1993, no Paraná, emSanta Catarina e no Rio Grande do Sul.Neste Estado, por 5 anos consecutivos,foi o destaque em produção de semen-tes. Na mesma região, várias cultivares,que não possuem resistência de plantaadulta e eram resistentes durante todo ociclo da planta, tornaram-se altamentesuscetíveis, já no ano seguinte ao de lan-çamento.

Já as cultivares Fundacep 30 e Rubisão resistentes a todas as raças, inclusi-ve à B48, dispensando o uso de fungici-das para o controle de ferrugem da fo-lha. Como o fungo é dinâmico, quantoao mecanismo de produção de novas ra-ças, é impossível prever se alteraçõesfuturas tornarão essas cultivares susce-tíveis.

Em BRS 119, que apresentava bomcomportamento à ferrugem, houve ní-vel alto de infecção, em algumas lavou-ras, em 1999. Essa cultivar é suscetívelà B48.

O triticultor deverá estar atento a pos-síveis alterações de raças, que ocorremfreqüentemente, em quase todas as sa-fras, no Sul e Centro-Sul do Brasil. Ocor-rendo ferrugem, em cultivares que eramresistentes, devido ao aparecimento denova(s) raça(s) poderá haver necessida-de de controle químico.

Amarilis fala sobre a nova raça de ferrugem

Cultivar