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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 0 8 4 f) AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104 a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO) Relator: Juiz Hélio David Vieira Figueira dos Santos Revisor: Juiz Rodrigo Brandeburgo Curi Réus: Luiz Carlos Alves de Freitas, Antonio Coelho Lopes Junior AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA - CRIME ELEITORAL - COMPRA DE VOTOS - ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL - PREFEITO E VICE-PREFEITO - COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS - DESPACHO SEM FUNDAMENTAÇÃO - DESNECESSIDADE - INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA QUE APRESENTA DIÁLOGOS CONTUNDENTES DA PRÁTICA DO DELITO DO ART. 299, DO CÓDIGO ELEITORAL C/C ART. 71, DO CP - ELEMENTOS COM VEROSSIMILHANÇA SUFICIENTE PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA O despacho que autoriza compartilhamento de informações sigilosas obtidas regularmente em inquérito policial pelo Ministério Público Estadual podem ser compartilhadas com a Procuradoria Regional Eleitoral para o fim de embasar denúncia contra candidato a prefeito eleito, sem necessidade de fundamentação, em razão de ser medida perfeitamente natural e evidente e o que é evidente não precisa ser fundamentado. O áudio telefônico obtido dos telefones do Prefeito e candidato a Prefeito, com regular autorização judicial, envolvendo diálogos entre ambos e entre vários eleitores, e que menciona expressamente a compra e votos, é prova com verossimilhança e seriedade suficientes para autorizar o recebimento de denúncia pelo crime do art. 299, do Código Eleitoral, c/c art. 71, do Código Penal. Denúncia recebida. Vistos etc. ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em receber a denúncia em relação a Luiz Carlos Alves de" Freitas e Antonio Coelho Lopes Junior, determinando a expedição de carta de ordem ao Juízo da 104 a Zona Eleitoral para que promova a citação dos réus pará' apresentarem, querendo, defesa prévia no prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão. /

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 0 8 4 f)

AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO) Relator: Juiz Hélio David Vieira Figueira dos Santos Revisor: Juiz Rodrigo Brandeburgo Curi Réus: Luiz Carlos Alves de Freitas, Antonio Coelho Lopes Junior

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA - CRIME ELEITORAL -COMPRA DE VOTOS - ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL - PREFEITO E VICE-PREFEITO -COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS - DESPACHO SEM FUNDAMENTAÇÃO -DESNECESSIDADE - INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA QUE APRESENTA DIÁLOGOS CONTUNDENTES DA PRÁTICA DO DELITO DO ART. 299, DO CÓDIGO ELEITORAL C/C ART. 71, DO CP - ELEMENTOS COM VEROSSIMILHANÇA SUFICIENTE PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

O despacho que autoriza compartilhamento de informações sigilosas obtidas regularmente em inquérito policial pelo Ministério Público Estadual podem ser compartilhadas com a Procuradoria Regional Eleitoral para o fim de embasar denúncia contra candidato a prefeito eleito, sem necessidade de fundamentação, em razão de ser medida perfeitamente natural e evidente e o que é evidente não precisa ser fundamentado.

O áudio telefônico obtido dos telefones do Prefeito e candidato a Prefeito, com regular autorização judicial, envolvendo diálogos entre ambos e entre vários eleitores, e que menciona expressamente a compra e votos, é prova com verossimilhança e seriedade suficientes para autorizar o recebimento de denúncia pelo crime do art. 299, do Código Eleitoral, c/c art. 71, do Código Penal.

Denúncia recebida.

Vistos etc.

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em receber a denúncia em relação a Luiz Carlos Alves d e " Freitas e Antonio Coelho Lopes Junior, determinando a expedição de carta de ordem ao Juízo da 104a Zona Eleitoral para que promova a citação dos réus pará' apresentarem, querendo, defesa prévia no prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão.

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO)

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 13 de julho de 2015.

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Juiz HÉLIO © A » VIEIRA FIGUEIRA DOS SANTOS Relator

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO)

R E L A T Ó R I O

O Ministério Público ofereceu denúncia em relação Antônio Coelho Lopes Júnior e Luiz Carlos Alves de Freitas, imputando-lhes a prática do crime eleitoral previsto no art. 299 do Código Eleitoral c/c art. 71 do Código Penal (fls. I-X).

Mais precisamente, o representante ministerial atribui aos réus a prática delituosa do oferecimento de combustíveis e dinheiro em espécie a alguns eleitores em troca do voto nas eleições 2012.

Segundo o Procurador Regional Eleitoral, tais informações vieram à tona pelas investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às organizações Criminosas de Lages - GAECO/Lages, após a devida autorizçaão judicial para proceder à interceptação telefônica dos investigados, no Procedimento Criminal n. 06.2012.00001679-3.

Acompanham a presente denúncia o Inquérito Policial n. 38/2014 (fls. 2-149), bem como o Apenso I do respectivo Inquérito (fls. 2-43 do apenso), onde está acostado o acervo probatório produzido na fase investigativa.

Os acusados foram notificados (fls.99-102) e apresentaram resposta (fls. 118-147), sustentando, preliminarmente, a nulidade absoluta da denúncia ante a ausência de fundamentação da decisão que autorizou o compartilhamento de informação sigilosa, o que violaria o art. 93, IX, da Constituição Federal.

Quanto ao mérito, argumentaram que em momento algum houve por parte dos acusados violação ao art. 299 do Código Eleitoral.

Disseram que os supostos áudios mencionados na denúncia - que estariam sendo objeto da solicitação de vantagem econômica - não dizem respeito ao oferecimento ou promessa de vantagem em troca de votos.

Aduziram, para tanto, que todas as testemunhas ouvidas negaram ter recebido qualquer benefício em troca de voto, transcrevendo trechos dos depoimentos colhidos na fase de investigação.

Ao final, pugnaram pelo acolhimento da prefaciai de nulidade e, no mérito, pela rejeição ou improcedência da denúncia em razão da não ocorrência do crime noticiado.

É o relatório.

V O T O

O SENHOR JUIZ HÉLIO DAVID VIEIRA FIGUEIRA DOS^SANTOS (Relator):

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO)

1. Senhor Presidente, quanto à preliminar de nulidade da prova obtida por meio de compartilhamento das informações sigilosas com a Procuradoria Regional Eleitoral em despacho sem fundamentação, é de se ver que as gravações resultantes das interceptações telefônicas foram regularmente deferidas e não há reclamação relativa a isso.

O compartilhamento delas para instruir processo criminal no âmbito da Justiça Eleitoral é uma medida natural, evidente por si mesma, e tudo aquilo que é evidente se transforma em uma das coisas mais difíceis do mundo de fundamentar.

Afasto, assim, a nulidade arguida.

2. No mérito, sustenta a defesa que não há provas de que os réus tenham, em comunhão de desígnios, oferecido ou prometido vantagens econômicas em troca de votos. Há, sim; há inclusive um diálogo entre os dois acusados que fala especificamente em comprar um borracheiro que não quer votar em um deles e permito-me ler essa passagem (fl. VIII).

" ( • • • )

LUIZ: É (ininteligível) não deu certo lá, (ininteligível) lá deu certo. Home do céu. Cheguei cedo, tomei carmargo e vim de lá agora, mas, faceiro. BOTA: Aonde? LUIZ: Lá, no ARMANDO. Vai até pedir voto pra nóis. Sobra um dinheirinho. BOTA: É, coisa séria. LUIZ: É, mas tem que ser assim, né Bota? Você foi lá, falou bem; ele ficou com dó de você; que você tratou ele bem; eu fui lá. Só disse pra mim ficar quieto que ele vai falar com o BORRACHA ali; pro borracheiro, que não quer muito votar em mim; vai comprar o borracheiro lá. E daí, vai marca esse semana pra eu ir lá no BORRACHA. BOTA: O BORRACHA... LUIZ: Que trabalha com o (ininteligível) ali, o borracheiro, (ininteligível) lá no JUCA. Mas saí de lá faceiro home; mas home do céu! É um peso das costas que a gente tira, né? Quanto uma pessoa ta contra a gente né? BOTA: Nossa Senhora! LUIZ: Ah, daqui a pouco vai dar certo. ( - . ) " E, logo em seguida: "LUIZ: Viu, não fale nada, mas o ARMANDO tá...ficou faceiro: 'Olha seu Luiz, não fale nada pra ninguém; vou comprar uns votinho pra7 você aqui; do Juca aqui, do borracheiro. Só fale, só pro Fernandinho. Só pro Fernandinho, que eu to junto, e diga pro Fernandinho que, se ele quiser vim aqui ou , se quiser que eu vá lá

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1/

TRESC

Fl.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

AÇÃO PENAL N. 57-21.2015.6.24.0000 - 104a ZONA - LAGES (CAPÃO ALTO)

depois. E vamo votar, e vão, e tamo junto, e não é agora que nós não vamo deixar de ta junto' (...)" [grifos do original]

Por outro lado, insiste a defesa em que, no transcorrer do inquérito policial, todas as testemunhas envolvidas negaram os fatos, o que, de certa forma, é perfeitamente compreensível na hipótese.

Contudo, o que interessa, para efeito de admissibilidade da denúncia, é que as provas obtidas nas interceptações telefônicas são meio hábil para emprestar verossimilhança à acusação e todas essas testemunhas, no decorrer da instrução criminal, poderão ser confrontadas com os diálogos de que, presumidamente, foram parte.

Dessa forma, entendo presentes elementos suficientes que autorizam o recebimento da denúncia.

3. Voto no sentido de receber a denúncia em relação a Luiz Carlos Alves de Freitas e Antonio Coelho Lopes Junior, determinando a expedição de carta de ordem ao Juízo da 104a Zona Eleitoral - Lages (Capão Alto), para que ; se

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

TRESC

Fl.

EXTRATO DE ATA

AÇÃO PENAL N° 57-21.2015.6.24.0000 - AÇÃO PENAL - INQUÉRITO - CRIME ELEITORAL -PREFEITO - CORRUPÇÃO ELEITORAL - ART. 299, DO CE C/C ART. 71 DO CP - PEDIDO DE CONDENAÇÃO CRIMINAL - INQ N. 81-83.2014.6.24.0000 - 104a ZONA ELEITORAL - LAGES (CAPÃO ALTO) RELATOR: JUIZ HÉLIO DAVID VIEIRA FIGUEIRA DOS SANTOS REVISOR: JUIZ RODRIGO BRANDEBURGO CURI

AUTOR(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RÉU(S): LUIZ CARLOS ALVES DE FREITAS; ANTONIO COELHO LOPES JÚNIOR ADVOGADO(S): GIANCARLO CASTELAN; PAULO CESAR SCHMITT; AMAURI DOS SANTOS MAIA; RAQUEL MAZZUCO SANTANA

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ VANDERLEI ROMER PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: MARCELO DA MOTA

Decisão: à unanimidade, afastar a preliminar de nulidade da prova, receber a denúncia em relação a Luiz Carlos Alves de Freitas e Antonio Coelho Lopes Júnior e determinar a expedição de carta de ordem ao Juízo da 104a Zona Eleitoral para que promova a citação dos réus para apresentarem, querendo, defesa prévia no prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do voto do Relator. Apresentou sustentação oral o Advogado Giancarlo Castelan. Foi assinado o Acórdão n. 30945. Presentes os Juízes Vanderlei Romer, Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Vilson Fontana, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, João Batista Lazzari, Hélio David Vieira Figueira dos Santos e Rodrigo Brandeburgo Curi.

SESSÃO DE 13.07.2015.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2015 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações e Processuais - CRIP. Eu,

, Coordenador de Sessões, lavrei o presente termo.