tribunal regiona eleitoral del santa catarin a - tre-sc.jus.br · tribunal regiona eleitoral dle...

24
Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76* ZONA ELEITORAL - JOINVILLE Relator: Juiz Stephan Klaus Radloff Recorrentes: Antonio Luis Pereira; Maycon Cesar Rocher da Rosa Recorrido: Natanael Jordão - ELEIÇÕES 2016 - RECURSOS ELEITORAIS - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - JULGAMENTO SIMULTÂNEO, POR ESTRITA IDENTIDADE FÁTICA, DAS AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL N. 693-16.2016.6.24.0076 E N. 728- 73.2016.6.24.0076 - PRELIMINAR DE JULGAMENTO CITRA PETITA - INSUBSISTÊNCIA - REJEIÇÃO - MÉRITO CORRUPÇÃO (CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO), ABUSO DE PODER ECONÔMICO E FRAUDE - SUPOSTA BOCA DE URNA E COMPRA DE VOTOS NO DIA DAS ELEIÇÕES - PROVA INCONCLUSIVA - IMPROCEDÊNCIA NA ORIGEM - CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA - DESPROVIMENTO DOS RECURSOS. Vistos etc. ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer dos recursos e, afastada a preliminar, no mérito, a eles negar provimento, nos termos do voto do Relator, que integra a decisão. ACÓRDÃO N. 3 3 0 6 5 Relator

Upload: duongthu

Post on 14-Dec-2018

235 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76* ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

Relator: Juiz Stephan Klaus Radloff Recorrentes: Antonio Luis Pereira; Maycon Cesar Rocher da Rosa Recorrido: Natanael Jordão

- ELEIÇÕES 2016 - RECURSOS ELEITORAIS - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO -JULGAMENTO SIMULTÂNEO, POR ESTRITA IDENTIDADE FÁTICA, DAS AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL N. 693-16.2016.6.24.0076 E N. 728-73.2016.6.24.0076 - PRELIMINAR DE JULGAMENTO CITRA PETITA - INSUBSISTÊNCIA - REJEIÇÃO - MÉRITO CORRUPÇÃO (CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO), ABUSO DE PODER ECONÔMICO E FRAUDE - SUPOSTA BOCA DE URNA E COMPRA DE VOTOS NO DIA DAS ELEIÇÕES - PROVA INCONCLUSIVA - IMPROCEDÊNCIA NA ORIGEM - CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA -DESPROVIMENTO DOS RECURSOS.

Vistos etc.

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer dos recursos e, afastada a preliminar, no mérito, a eles negar provimento, nos termos do voto do Relator, que integra a decisão.

ACÓRDÃO N. 3 3 0 6 5

Relator

Page 2: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76a ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

R E L A T Ó R I O

Trata-se de dois recursos interpostos por Maycon César Rocher da Rosa e Antonio Luis Pereira, candidatos ao cargo de vereador nas eleições de 2016, contra a sentença do Juízo da 76a Zona Eleitoral de Joinville que julgou improcedentes os pedidos formulados na ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) n. 1-80.2017.6.24.0076 (autos principais) e na ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) n. 728-73.2016.6.24.0076 (apenso n. 2), propostas pelo primeiro recorrente, bem como na ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) n. 693-16.2016.6.24.0076 (apenso n. 1), proposta pelo segundo recorrente, em face de Natanael Jordão, vereador eleito no pleito transato, por não entender comprovada a prática dos ilícitos descritos nas iniciais dessas três ações (corrupção por captação ilícita de sufrágio, abuso de poder econômico e fraude).

O dispositivo da decisão recorrida, no que interessa, possui a seguinte redação:

Ante o exposto, REJEITO o pedido inicial deduzido por Maycon César Rocher da Rosa e Antônio Luiz Pereira na ação de impugnação de mandado eletivo n. 1-80.2017.6.24.0076, ação de investigação judicial eleitoral n. 728-73.2016.6.24.0076 e ação de investigação judicial eleitoral n. 693-16.2016.6.24.0076, todas propostas em face de Natanael Jordão.

Em consequência, JULGO extinto o processo com resolução de mérito [fls. 693-724 - grifou-se].

Em suas razões, o recorrente Maycon César Rocher da Rosa principia com um breve resumo da contenda, aventando desde logo que, conquanto os fatos ("causa de pedir remota") subjacentes à AIME n. 1-80.2017.6.24.0076 e à AIJE n. 728-73.2016.6.24.0076 sejam os mesmos, isto é, a suposta realização de boca de urna e cooptação de eleitores pelo recorrido e seus cabos eleitorais no dia das eleições (2.10.2016), diversos e autônomos são os fundamentos jurídicos ("causa de pedir próxima") pelos quais "formula pretensão em juízo". Após pormenorizar essa distinção, suscita preliminar de cerceamento de defesa, ao fundamento de que "a sentença não decidiu sobre o abuso de poder e a fraude, alegados como causa de pedir, limitando-se a apreciar a alegação de captação ilícita de sufrágio", reconhecendo, no entanto, a possibilidade do imediato julgamento do mérito nesta instância recursal, nos termos do art. 1.013, §. 1o, do Código de Processo Civil. Em seguida, discorre sobre a análise da prova realizada pelo juízo a quo, sustentando, no tocante à questão de fundo, que a conclusão pela insuficiência de provas da captação ilícita de sufrágio e da corrupção não merece prevalecer. Advoga, no

2

Page 3: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE ponto, a absoluta falta de credibilidade dos depoimentos prestados por Gilmar Antunes da Costa, Daniel dos Santos e Valdemiro Francisco Voltolini, reconhecidos "colaboradores de campanha" do recorrido que foram presos em flagrante com base em filmagem policial no dia das eleições pela prática de boca de urna, acrescentando ser necessário "desfazer o equívoco cometido pela respeitável sentença de desprezar o gravíssimo fato das prisões apenas por ter havido uma transação penal, como se isso servisse a apagar consequências no âmbito e leitora f'. Aduz que, "arredadas essas premissas equivocadas em que se baseou a sentença, o que resta é a inequívoca entrega de dinheiro a eleitor, filmada pela Polícia Militar, proximamente a local de votação, diante dos colaboradores eleitorais e do próprio candidato recorrido", não se coadunando com o princípio da preservação da lisura do pleito o acolhimento da tese defensiva de que o dinheiro entregue na oportunidade era "troco de compra de cerveja". Insiste que a entrega de dinheiro nos arredores de local de votação "por pessoa que trabalhava na campanha do réu e que, juntamente com outros, passou boa parte do dia, até ser preso, aliciando eleitores de todas as formas possíveis" satisfaz todos os requisitos exigidos pelo 41-A da Lei das Eleições, revelando-se imperioso, ante as peculiaridades do caso concreto e até mesmo em consideração ao que corriqueiramente acontece, o reconhecimento da captação ilícita de sufrágio, "que é também corrupção para o fim de cassação de mandato". Assinala, outrossim, que o abuso de poder e a fraude residem na prática, "pelos cabos eleitorais do réu, em benefício deste, de inequívoco ato ilícito, consubstanciado em propaganda eleitoral vedada e de aliciamento de eleitores, realizados no dia da eleição durante largo período de tempo", cuja gravidade, decorrente do manifesto prejuízo à igualdade de chances entre os candidatos, é revelada pela expressiva votação obtida pelo recorrido Natanael Jordão nas seções eleitorais próximas ao local dos fatos. Insta, ao final, pelo conhecimento e provimento do recurso, "a fim de se julgar procedentes os pedidos formulados na ação de investigação judicial eleitoral e na ação de impugnação de mandado eletivo" (fls. 734-754).

Igualmente irresignado, Antonio Luis Pereira, autor da AIJE n. 693-16.2016.6.24.0076, interpôs recurso às fls. 781-796 destes autos. Tece considerações genéricas sobre a dificuldade da comprovação da prática de boca de urna e compra de votos, enfatizando que no caso concreto há prova robusta dos ilícitos cometidos, consubstanciada na própria confissão do acusado, bem como nas filmagens realizadas pela Polícia Militar e nas posteriores prisões em flagrante de três cabos eleitorais que portavam material de campanha do recorrido (Daniel dos Santos, Valdemiro Francisco Voltolini e Gilmar Antunes da Costa). Assevera que há filmagem do recorrido Natanael Jordão "ao lado de seu cabo eleitoral, minutos antes deste ser preso em flagrante, em uma operação envolvendo troca de dinheiro e santinhos", o que teria se repetido o dia inteiro, cessando tão somente em virtude da

Page 4: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76ã ZONA ELEITORAL - JOINVILLE ação policial. Insurge-se contra o que denomina "equívoco técnico jurídico" contido na sentença, a qual, muito embora tenha reconhecido a existência de provas da realização de boca de urna, entendeu que os fatos não se revestem de gravidade suficiente para abalar a normalidade e a legitimidade do pleito eleitoral, desconsiderando, assim, que o inciso XVI do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, introduzido pela Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar n. 135/2010), dispensa o requisito da potencialidade para a configuração do ato abusivo. Afirma, ainda, ser impossível que o recorrido não tivesse conhecimento dos fatos, "pois as imagens mostram ele vendo o seu cabo eleitoral entregar santinho a eleitor". Explicita a reprovabilidade da conduta mencionando o significativo número de votos obtidos pelo recorrido nas seções eleitorais adjacentes ao local dos fatos, aduzindo, de resto, que a sentença é citra petita, porquanto omissa na análise do alegado abuso de poder econômico. Anota que o recorrido e algumas das testemunhas de defesa mantêm laços de proximidade com parentes do Magistrado sentenciante, pugnando, derradeiramente, pelo conhecimento e provimento do recurso, para que "todos os pedidos formulados na AIJE n. 693-16.2016.6.24.0076 sejam julgados improcedentes" (fls. 781-796).

Em contrarrazões, o recorrido Natanael Jordão postula a confirmação integral do decisum, sustentando, na síntese do essencial, estar provado que não participou ou teve qualquer envolvimento com as ilicitudes narradas nas iniciais das ações que lhe são movidas pelos recorrentes Antonio Luiz Pereira e Maycon Cesar Rocher da Rosa, "tudo não passando de esquema, de trama política, comportamento que mina os princípios que norteiam a justiça eleitoraf'. Esclarece que seu comitê de campanha foi montado a 3 (três) metros de distância das câmeras de monitoramento instaladas pela Polícia Militar, o que, aliás, teria sido uma conquista sua enquanto líder comunitário, soando ilógico que, ciente dessa circunstância, se dispusesse a "cometer ilicitudes" no local. Afirma ter recebido com surpresa a notícia de que três pessoas conhecidas foram detidas sob a acusação de boca de urna, um deles "por estar entregando 'santinhos' no bairro" (Daniel dos Santos) e os outros dois por razões que desconhece (Valdemiro Francisco Voltoline e Gilmar Antunes da Costa), referindo, de todo modo, que aceitação de proposta de transação penal formulada pelo Ministério Público não implica em confissão de culpa. Argumenta, na sequência, que o fato de o candidato cumprimentar eleitores no dia das eleições não configura a prática de boca de urna, pois a figura típica descrita no art. 39, § 5o, inciso II, da Lei das Eleições, de natureza sancionatória, incide apenas nas hipóteses de "abordagem direta ao eleitor, com a distribuição de propaganda impressa (vulgo santinho) na entrada do local de votação ('boca de urna'), como forma de realizar um último apelo ao votante para apoiar determinada candidatura". Especificamente quanto às imagens captadas pela Polícia Militar, diz que não aparece entregando santinhos ou praticando qualquer ato ilícito, sequer

Page 5: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76* ZONA ELEITORAL - JOINVILLE tendo os recorrentes declinado o nome das pessoas que teriam recebido valores em troca de voto. Destaca que a prova testemunhal deixa claro "que o dinheiro que se observa sendo repassado no grupo de três pessoas (Anderson, Wilson e Eduardo) nada tem a ver com compra de votos", tratando-se, em verdade, da devolução do "troco da compra de cervejas" que fora repassado de Eduardo para Wilson. Ressalta ainda que, como as gravações focaram "uma confluência de ruas movimentadas, por onde circulam diariamente milhares de pessoas", não é difícil a captação de cenas "que possam ser aproveitadas por pessoas capciosas, mal intencionadas, com o ânimo de distorcerem os fatos como foi exatamente o que aconteceu". Discorre acerca do art. 41-A da Lei das Eleições, salientando que o colaborador de campanha Daniel dos Santos "foi o único pego entregando um único 'santinho', a pessoa que já tinha votado, isto a 230 metros de distância do local de votação", santinho esse, ademais, que não se comprovou ser seu, não tendo a acusação se desincumbido do ônus de demonstrar "que as práticas teriam capacidade ou potencial para influenciar o eleitorado", menos ainda que delas tenha participado ou a elas tenha anuído. Reporta-se novamente à prova oral, que entende lhe ser favorável, requerendo, em arremate, a manutenção a sentença (fls. 803-860).

Às fls. 862-865, o representante do Ministério Público Eleitoral na origem manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento dos recursos.

Os autos então ascenderam e, ato contínuo, vieram conclusos, oportunidade em que se determinou a intimação do procurador do recorrido Natanael Jordão para que regularizasse a representação processual (fl. 868), o que restou atendido às fls. 870-871.

No parecer de fls. 873-930, a Procuradoria Regional Eleitoral manifesta-se pelo conhecimento e desprovimento dos recursos.

É o relatório.

V O T O

O SENHOR JUIZ STEPHAN KLAUS RADLOFF (Relator):

1. Sr. Presidente, os recursos são tempestivos e preenchem os demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual deles conheço.

2. Antes de passar ao exame da matéria controvertida, registro que a decisão ora recorrida enfrentou o mérito de três ações distintas, que são: a AIME n. 1-80.2017.6.24.0076 (autos principais), movida por Maycon Cesar Rocher da Rosa em face de Natanael Jordão, pela suposta prática de abuso do poder econômico,

Page 6: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE corrupção e fraude; a AIJE n. 693-16.2016.6.24.0076 (apenso 1), movida por Antonio Luis Pereira em face de Natanael Jordão, pela suposta prática de captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico; e, enfim, a AIJE n. 728-73.2016.6.24.0076 (apenso 2), movida por Maycon Cesar Rocher da Rosa em face de Natanael Jordão, pela suposta prática de captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico.

A reunião dos processos foi determinada pelo ilustre Juiz da 76 a Zona Eleitoral, Dr. Uziel Nunes de Oliveira, durante a audiência de instrução e julgamento realizada no bojo desta AIME, consoante se depara, in verbis:

Nos termos do art. 96-B da Lei n. 9.504/97 determino que se proceda a reunião da presente Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (n. 1-80.2017.6.24.0076) com as Ações de Investigação Judicial Eleitoral n. 693-16.2016.6.24.0076 e 728-73.2016.6.24.0076, vez que todas as ações referem-se aos mesmos fatos. Desta sorte, considerando a posição constitucional e preferencial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, os atos processuais subsequentes (alegações finais, sentença e eventuais recursos) devem ser aqui concentrados, para evitar atos processuais repetidos. O autor da Ação de Investigação Judicial n. 693-16.2016.6.24.0076 deve prosseguir como litisconsorte na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, nos termos do art. 96-B, § 2o da Lei 9.504/97. As Ações de Investigação Judicial Eleitoral devem ser aqui apensadas e as provas e documentos produzidos nos apensos serão igualmente valorados por ocasião da sentença. Como consequência, diante da previsão expressa de segredo de justiça da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, todos os apensos também são albergados pelo sigilo [...] [fls. 573-574].

Efetivamente, os fatos subjacentes às três demandas são exatamente os mesmos, circunscrevendo-se à suposta compra de voto e realização de propaganda de boca de urna pelo recorrido Natanael Jordão e seus cabos eleitorais no dia das eleições. Não houve, de resto, qualquer insurgência das partes contra a referida decisão, tendo a sentença, conforme adiante será demonstrado, enfrentado todas as alegações formuladas pelos recorrentes.

3. Considerações feitas, os recorrentes alegam, preliminarmente, a ocorrência de julgamento citra petita, ao argumento de que a sentença teria se limitado à análise da alegação de captação ilícita de sufrágio, omitindo-se da valoração dos fatos sob a ótica de abuso de poder econômico (objeto tanto da AIME quanto das duas AIJE) e fraude (objeto da AIME).

Razão, contudo, não lhes assiste, haja vista que todas essas questões foram examinadas de maneira clara e objetiva, consoante facilmente se depara dos

6

Page 7: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE excertos que a seguir transcrevo:

A ação de impugnação de mandato eletivo possui supedâneo constitucional previsto no art. 14, § 10, da Constituição Federal de 1988, abaixo transcrito, e tem como fim a proteção da normalidade e legitimidade das eleições ante à perpetração do abuso do poder econômico, da corrupção ou de fraude:

"Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

"[...] "§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude".

A ação de investigação judicial eleitoral, por sua vez, encontra amparo no art. 22 da Lei Complementar 64/90, abaixo elencado, e visa apurar o uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social:

"Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:"

No caso em apreço, em todas as ações há similitude dos fatos que embasam a alegação de captação ilícita de sufrágio supostamente perpetrada pelo impugnado/requerido, em ofensa aos artigos 39, §5°, II e III e 14-A, ambos da Lei 9.504/90, na sequência colacionados, que, segundo alega o impugnante, é suficiente para configurar o abuso de poder econômico, a corrupção e a fraude:

"Art. 39. A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, em recinto aberto ou fechado, não depende de licença da polícia.

"[...]

"§ 5o Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR:

Page 8: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

"II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna; (Redação dada pela Lei n° 11.300, de 2006)

"III - a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus candidatos. (Redação dada pela Lei n° 12.034, de 2009).

"Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990 . (Incluído pela Lei n° 9.840, de 1999)"

Não há dúvidas que a alegação de captação ilícita de sufrágio pode ser utilizada como fundamento para caracterização de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, a depender do caso, e, portanto, municiar a ação de impugnação de mandado eletivo, como também a ação de investigação judicial eleitoral.

Desta senda, em um primeiro momento passa-se à análise dos fatos e sua respectiva comprovação, para que, caso devidamente comprovados, em um segundo momento proceda-se a subsunção à norma invocada, sendo que, tão somente após, e se presente a violação, possa-se concluir, em silogismo, acerca dos intentos iniciais [fls. 709-710-gr i fe i ] ,

O raciocínio esposado pelo Juiz Eleitoral, como se vê, apresenta-se bastante lógico: analisa-se, primeiramente, se há prova ou não dos fatos supostamente ilícitos, para, em um segundo e necessário momento, sopesá-los à luz dos dispositivos normativos tidos por violados.

Mais adiante, convencido de que não restara configurada a alegada captação ilícita de sufrágio, o douto Magistrado tratou de explicitar os motivos pelos quais igualmente não constatou a ocorrência dos demais ilícitos ventilados nas iniciais das três ações sob julgamento, nestes termos:

Não há nos autos prova da captação ilícita de sufrágio.

Inegável a presença dos colaboradores do impugnado/requerido no dia das

[...]

[...]

8

Page 9: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76* ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

eleições nas imediações do local de votação situado na Escola Municipal Professora Ada Santana da Silveira, mantendo contato com inúmeras pessoas que por ali transitavam. Assim como do próprio impugnado/requerido por um determinado período de tempo.

Não há como se descartar, igualmente, a apreensão de material de propaganda de posse de alguns colaboradores do impugnado/requerido no momento da mencionada prisão em flagrante.

Evidentemente, tais fatos podem caracterizar o tipo penal disposto no art. 39, § 5o, II e III, da Lei 9.504/97, popularmente conhecido como "boca de urna", o que aliás já restou superado, em relação aos cooperadores eleitorais do impugnado/requerido, pelo processado junto aos autos 562-41.2016.6.24.0076 (fls. 62/63).

Todavia, com a devida vénia, ao ver deste Juízo, tais fatos não se revestem de potencialidade suficiente ao ponto de abalar a legitimidade e normalidade do pleito.

Quer-se dizer que os fatos incontroversos não possuem o condão de municiar a ação de impugnação de mandato eletivo ao ponto de alcançar a procedência com a cassação do mandato, já que não se prestam a consubstanciar cabal abuso de poder econômico, corrupção ou fraude (art. 14, § 10, CF/88).

De igual sorte, em relação à ação de investigação judicial eleitoral, os fatos comprovados não são suficientes para sagrar vencedores os requerentes com o reconhecimento da inelegibilidade e a cassação do diploma do requerido, pois não representam uso indevido, desvio ou abuso de poder econômico, do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social (art. 22, XIV, LC 64/90).

Como último argumento vale frisar que, por todo exposto, também não restou comprovada a conduta direta do impugnado/requerido condizente com o art. 39, § 5o, II e III da Lei 9.504/90 ("boca de uma") [fls. 720-721 - grifei],

Houve, portanto, expressa referência a todas as alegações formuladas na presente ação de impugnação de mandato eletivo e nas duas ações de investigação judicial eleitoral em apenso, impondo-se, inexoravelmente, a rejeição da preliminar de julgamento citra petita suscitada pelos recorrentes.

4. Ultrapassada essa questão, no mérito, acusa-se Natanael Jordão, vereador eleito no Município de Joinville, da prática de abuso do poder econômico,

9

Page 10: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE corrupção (captação ilícita de sufrágio) e fraude, com base no art. 14, § 10, da Constituição Federal n. 1988, art. 22, caput, da Lei Complementar n. 64/1990 e art. 41-A, caput, da Lei n. 9.504/1997, que assim dispõem:

[Constituição Federal de 1988]

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

[Lei Complementar n. 64/1990]

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:

[Lei n. 9.504/1997]

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil UFIR, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22, da Lei Complementar n. 64/90.

Como se observa, as normas de regência encerram gravíssimas sanções em caso de procedência do pedido, exigindo-se do julgador, por conseguinte, redobrado cuidado na valoração da prova.

Na espécie, narra-se, precisamente, que o recorrido Natanael Jordão teria sido responsável, juntamente com seus cabos eleitorais, pela realização de boca de urna e compra de votos em frente às seções eleitorais instaladas na escola

[...]

10

Page 11: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE municipal "Professora Ada Santana da Silveira", tendo inclusive presenciado a entrega de valores em espécie e santinhos a eleitor por Daniel dos Santos, um dos seus colaboradores de campanha. Alega-se ainda que a conduta teria se repetido ao longo de todo o dia das eleições, cessando tão somente após a operação da Polícia Militar que resultou na prisão em flagrante de Daniel e de outras duas pessoas que também estariam trabalhando para angariar votos de maneira ilícita.

Na r. sentença, o Magistrado a quo, amparado no parecer do representante do Ministério Público Eleitoral, houve por bem em julgar improcedentes os pedidos formulados nas três ações movidas contra o recorrido, por considerar que não restou comprovada a captação ilícita de sufrágio, havendo tão somente indícios da prática do crime de boca de urna (art. 39, § 5o, incisos II e III, da Lei n. 9.504/1997) por parte do cabo eleitoral Daniel dos Santos ("Minhoca"), único dos presos em flagrante em posse de material de campanha (santinhos e adesivos), conduta essa, todavia, que, na dicção de Sua Excelência, não se reveste "de potencialidade suficiente ao ponto de abalar a legitimidade e normalidade do pleito" (fl. 720), razão pela qual igualmente restaram afastadas as alegações de abuso de poder e fraude.

As teses recursais, em sua essência, dizem sobre a existência de provas suficientes à condenação, insistindo os recorrentes que os elementos constantes dos autos, em especial as gravações realizadas pelas câmeras de monitoramento da Polícia Militar, são eloquentes, não deixando qualquer dúvida, quando cotejadas com o restante do conjunto probatório, da necessidade de se responsabilizar pessoalmente o recorrido Natanael Jordão pelos ilícitos cometidos.

A rigor, contudo, a confirmação integral do decisum, defendida inclusive pelos próprios representantes do Ministério Público Eleitoral de primeira e segunda instância, é medida que se impõe.

Diversamente do que alegam os recorrentes, as filmagens realizadas pela Polícia Militar, embora lícitas, não se prestam, por si só, à comprovação da prática de captação ilícita de sufrágio, abuso do poder econômico ou fraude.

Nas mais de dez horas de gravação que acompanham as iniciais das três ações movidas contra o recorrido Natanael Jordão, o que se vê é a movimentação normal de um dia de eleição, o fluxo de pedestres e veículos aumentando ao longo do dia, pessoas conversando, tudo dentro do que sói ocorrer.

É bem verdade que o recorrido, vez ou outra, aparece nas filmagens cumprimentando pessoas e conversando, em especial no momento específico da gravação que, segundo os recorrentes, comprovaria de maneira cabal a entrega de

l i

Page 12: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE dinheiro em troca de voto.

Entretanto, a prova testemunhal descortinou que a pessoa que aparece na imagem entregando a quantia em espécie não estava a serviço da candidatura do recorrido, tratando-se, ademais, da devolução do troco da aquisição de cervejas entre pessoas de uma mesma família, as quais inclusive já haviam votado, conforme esclareceram em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, os próprios personagens que participaram da dita transação.

A dinâmica dos acontecimentos foi sintetizada com perspicácia e riqueza de detalhes pelo ilustre Juiz Eleitoral, Dr. Uziel Nunes de Oliveira, mais próximo dos fatos e das provas, valendo transcrever da sua bem lançada decisão o seguinte excerto, que, para não ser repetitivo, adoto subsidiariamente como razão de decidir:

A cena que se observa à fl. 137 dos autos da impugnação de mandato eletivo representa com clareza o fato ocorrido no dia 02.10.2016 às 14 horas, 46 minutos e 28 segundos, alegado pelos autores como a efetiva entrega de valores atinente à compra de votos em favor do impugnado/requerido.

Não obstante, pelo que se pode observar do depoimento dos envolvidos no episódio, a conclusão é outra.

Este juízo encontra-se convicto, em relação aos fatos narrados, de que os três indivíduos flagrados no canto inferior esquerdo da imagem de fl. 137 (AIME), não possuem qualquer relação com o impugnado/requerido, muito menos com acusação de "compra de votos".

Os três figurantes são Anderson Neri Liz dos Santos (camisa azul clara, em pé sobre objeto amarelo), Eduardo Silvestre da Veiga (camisa preta, com a sacola na mão - cunhado de Anderson) e Wilson Martins dos Santos (camisa azul clara listrada - pai de Anderson).

Os outros dois indivíduos do lado inferior direito da imagem são Daniel dos Santos (camisa branca - vulgo minhoca) e o impugnado/requerido Natanael Jordão (camisa azul).

Segundo colhe-se do testemunho prestado por Anderson Neri Liz dos Santos, documento audiovisual de fl. 575, este, no dia das eleições, votou no primeiro horário da manhã e após dirigiu-se à casa de seu pai, onde realizaram um almoço em família. Próximo das 14h todos dirigiram-se às zonas de votação para que Wilson Martins dos Santos (pai de Anderson), Eduardo Silvestre da Veiga (Cunhado de Anderson) e sua esposa (também cunhada de Anderson) votassem. No caminho, Wilson entregou R$50,00 (cinquenta reais) a

12

Page 13: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

Eduardo para a aquisição de uma caixa de cerveja (lata) e dirigiu-se à sua zona de votação. Os demais (Anderson, Eduardo e as respectivas esposas) dirigiam-se à zona de votação da esposa de Eduardo. Concluída a votação, já em retorno, Anderson e os demais avistaram seu pai Wilson, oportunidade em que as mulheres (esposas de Anderson e Eduardo) dirigiram-se à panificadora e Eduardo à distribuidora de bebidas comprar a mencionada caixa de cerveja e Anderson seguiu em direção a Wilson. Após, Eduardo encontrou Anderson e Wilson no local da filmagem, ocasião em que entregou a Wilson o restante dos valores utilizados para compra da bebida, segundo alega R$25,00 (2'00"/4'01").

A imagem de fl. 137, retrata o exato momento em que Eduardo entrega a Wilson a quantia restante dos valores.

A versão testemunhada deveras é crível, não só pelos bem lançados argumentos da testemunha que se encaixam perfeitamente com as descrições da imagem, já que Eduardo (camisa preta) aparece com a caixa de cerveja na mão (fl. 137).

Não bastasse o relato apresentado por Anderson, pode ser acompanhado junto à gravação fornecida pela Polícia Militar constante à fl. 24 (DVD 04 -período das 13h as 15h).

Note-se da gravação a seguinte sequência de fatos:

14'43"37 - No canto superior direito do vídeo aparecem Anderson, Eduardo e suas respectivas esposas. Conforme alega em seu depoimento, estavam retornando da zona de votação da esposa de Eduardo. Note-se que neste momento Eduardo (camisa preta) não possui nada em suas mãos;

14'43"52 - Anderson e Eduardo separam-se de suas esposas, oportunidade em que aquele entrega, presumidamente à sua esposa, um cartão de crédito. O que confere exatamente com descrição narrada por Anderson, suas esposas dirigem-se à panificadora;

14'44"46 - Neste momento Anderson e Eduardo separam-se. Segundo Anderson, Eduardo neste momento foi comprar a caixa de cerveja. Anderson dirige-se ao encontro de seu pai, o que se confirma no episódio posterior;

14'46"22 - Observa-se Anderson juntamente com seu pai, Wilson, assim como é possível observar a chegada de Eduardo, junto ao canto superior direito do vídeo, já com a caixa de cerveja em mãos;

Page 14: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

14'46"28 - Exato momento em que Eduardo direciona a entrega dos valores restantes da compra da caixa de cerveja a Anderson, que por sua vez remete a seu pai Wilson, este então os recebe e os guarda no bolso traseiro esquerdo (14'46"38).

Não bastasse, em que pese a baixa resolução do vídeo, é possível observar, pelos movimentos de Wilson, que os valores entregues não eram de grande monta, inclusive transparecendo apenas duas notas. Ao ver deste juízo, considerando as cores, uma de cédula de R$20,00 (vinte reais) e outra de R$5,00 (cinco reais).

O argumento não só enaltece o depoimento da testemunha no sentido de que os valores entregues por Eduardo a Wilson, tratavam-se de R$25,00 (vinte e cinco reais), já que segundo menciona Anderson, tinha conhecimento de que a caixa de cerveja custava R$25,00 (vinte e cinco reais) e que seu pai entregou a Eduardo R$50,00 (cinquenta reais), mas também enaltece a tese defensiva de que não se trata de captação de sufrágio.

Os fatos narrados por Anderson são confirmados pelos depoimentos de Wilson e Eduardo (documento audiovisual - fl. 370 - AIJE 693-16. 2016.6.24.0076).

O fato de estarem presentes no mesmo local o impugnado/requerido Natanael Jordão e Daniel dos Santos, seu colaborador eleitoral, e que posteriormente o Sr. Daniel chegou a conversar com o Sr. Wilson, não muda em absolutamente nada o fato de que os valores que circularam na gravação não possuem qualquer nexo etiológico com suposta compra de votos por quem quer que seja.

O episódio ocorrido às 14h46min28s do dia 02.10.2016, flagrado pelo sistema de monitoramento da Polícia Militar, envolvendo Anderson Neri Liz dos Santos, Eduardo Silvestre da Veiga e Wilson Martins dos Santos, repita-se, não possui qualquer conotação eleitoral além do comparecimento às zonas de votação para exercício do sufrágio.

Quer-se dizer que o mencionado fato até então utilizado como um dos argumentos a embasar as presentes ações não se prestou senão para injustamente denigrir a imagem de Anderson Neri Liz dos Santos, Eduardo Silvestre da Veiga e Wilson Martins dos Santos, que certamente foram alvos de toda sorte de comentários. Sobretudo considerando a circulação do vídeo pelas redes sociais.

Por fim, em análise às imagens constante nas mais de dez horas de gravação realizada pela Polícia Militar, associado a todo o exposto até o presente

14

Page 15: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fis.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76* ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

momento, não há qualquer comprovação cabal, estreme de dúvidas, de que houve dispêndio ou oferta de valores pelo requerido ou seus colaboradores visando a compra de votos [fls. 717-720].

Não há, efetivamente, como acolher a versão acusatória.

As únicas duas testemunhas de acusação (Sedemir Cardoso e Rivail Kailer) que, conforme adiante será demonstrado, relataram ter presenciado a entrega de dinheiro e santinho no dia das eleições não se reportaram especificamente a este fato.

Em sentido oposto, conforme bem anotou Sua Excelência, o Juiz Eleitoral, os testemunhos prestados pelas próprias pessoas que aparecem neste momento específico da gravação, as quais não guardavam qualquer vínculo com a campanha do recorrido Natanael Jordão, são harmoniosos e fidedignos, revelando de maneira inconteste que de captação ilícita de sufrágio não se tratava.

É bem verdade que, logo em seguida à devolução do troco em questão, o cabo eleitoral Daniel dos Santos ("Minhoca") aproxima-se de Wilson dos Santos e, após encetar breve conversa, entrega-lhe um santinho, havendo, pois, forte indício da prática de crime de boca de urna previsto no art. 39 da Lei das Eleições. Entretanto, o recorrido Natanael Jordão já havia se retirado do local na oportunidade, não se podendo afirmar com a necessária convicção e certeza, à míngua de outras provas acerca deste fato específico, que o então candidato houvesse determinado que ele assim agisse.

De resto, há, na própria versão acusatória, certa distorção dos acontecimentos, pois, diversamente do que constou da inicial das três ações ora sob julgamento, restou provado que o dinheiro entregue na oportunidade não guardava relação alguma com a posterior entrega do santinho, um único santinho.

Outra, aliás, não foi a conclusão do douto Procurador Regional Eleitoral, Dr. Marcelo da Mota, consoante se depara, in verbis:

[...] os apelantes afirmam que o dito vereador recorrido, junto com seu colaborador de campanha, Daniel dos Santos, captou ilicitamente, às 14 h 46 min do dia das eleições, o voto de determinado eleitor no cenário anteriormente descrito, o que também foi filmado pela apontada câmera da polícia militar, conforme acima dito, sendo esse fato objeto dos "frames" ns. 43 a 54 do CD de fl. 30 da AIME n. 1-80, os quais abrangem os horários de 14 h 44 min 59 s a 14 h 47 min 41 s de 2.10.2016.

Das imagens desses frames, no entanto, podem ser visualizados, às 14 h 46 15

Page 16: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

min 21 s de 2.10.2016, os eleitores Anderson Neri Liz dos Santos e seu pai, Wilson Martins dos Santos, parados, na frente dos quais estão o colaborador da campanha do vereador recorrido, Daniel dos Santos (vulgo "Minhoca'), conversando por telefone e, ao lado deste, aquele vereador, Natanael Jordão; de igual modo, o eleitor Eduardo Silvestre da Veiga se aproxima daqueles eleitores com um fardo de cerveja e entrega dinheiro para Wilson dos Santos ("frames" ns. 46 a 49 do arquivo 'FRAMES 7H AS 17H.pdf n. 46 da mídia de fl. 30 da AIME n. 1-80).

Na sequência, às 14 h 46 min 31 s de 2.10.2016, há início de uma conversa entre tais eleitores com o referido cabo eleitoral, "Minhoca", e o vereador recorrido; em seguida, "Minhoca" se aproxima do eleitor Wilson dos Santos e aquele vereador se retira desse local às 14 h 46 min 53 s ("frames" ns. 50 a 53 do arquivo "FRAMES 7H AS 17H.pdf" n. 46 do CD de fl. 30 da AIME n. 1-80).

Pouto tempo depois, às 14 h 47 min 21 s de 2.10.2016, o cabo eleitoral "Minhoca" aparece entregando um santinho da candidatura do vereador apelado para o eleitor Wilson dos Santos ("frame 54 do aquivo "FRAMES 7H AS 17H.pdf" n. 46 da AIME n. 1-80), sendo pouco tempo depois preso em flagrante pela prática do crime eleitoral de "boca de urna", conforme dito anteriormente (frise-se que tal crime eleitoral resta justamente tipificado pela entrega de santinho na data da eleição, conforme ocorrido na espécie e visualizado naquele "frame" de n. 54).

Frise-se que a presença do edil apelado pouco tempo antes no local da entrega de tal santinho efetuada por "Minhoca" ao eleitor Wilson dos Santos não comprova, igualmente, que tal edil tenha anuído ou participado, ainda que indiretamente, desse fato, já que, efetivamente, este não visualizou nem presenciou a dita entrega criminosa, sendo eventual imputação da prática de crime de "boca de urna" àquele edil mera presunção inadmissível dentro do contexto em que ocorrido o fato em questão.

E isso é reforçado especialmente pelos testemunhos de Wilson Martins dos Santos, Eduardo Silvestre da Veiga e Anderson Neri Liz dos Santos (mídia de fl. 371 da AIJE n. 693-16 - Apenso n. 1), bem como houve novo depoimento judicial prestado por Anderson Neri Liz dos Santos (CD de fl. 575 da AIME n. 1-80), os quais são parentes e esclareceram que, em linhas gerais, naquela oportunidade, Eduardo Silvestre da Veiga apenas entregou o troco da compra de uma caixa de cerveja pra Wilson dos Santos, pai de sua namorada que lhe havia dado dinheiro para essa compra, os quais já haviam votado e estavam indo para a residência de Anderson dos Santos confraternizar em família, sendo a entrega de tal santinho efetuada por "Minhoca" feita de modo casual pelo fato de este conhecer Wilson dos Santos.

16

Page 17: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76s ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

Tais testemunhos são consonantes entre si e corroborados pelas demais circunstâncias táticas pertinentes, tais quais a caixa de cerveja visualizada na filmagem sendo carregada por Eduardo Silvestre da Veiga, a existência de um bar próximo àquele iocal e detalhes afins, ostentando verossimilhança em face disso, o que afasta o cometimento de eventual ilícito eleitoral por parte do vereador recorrido decorrente de tal fato, remanescendo tão somente a prática do crime eleitoral de "boca de urna" pelo qual seu colaborador de campanha, "Minhoca", foi logo em seguida preso, o qual não foi presenciado por tal vereador, conforme pode ser inferido da imagem especialmente constante do referido frame n. 54, que sequer foi preso naquela ocasião por tal prática, na linha já anteriormente declinada.

Frise-se que os recorrentes distorcem sobremaneira esse fato ao afirmarem que o vereador recorrido teria presenciado essa entrega de dinheiro para o eleitor Wilson dos Santos em troca de voto para sua candidatura, quando, efetivamente, esse dinheiro, que era o troco da cerveja, foi entregue a Wilson por seu genro, e não pelo cabo eleitoral "Minhoca".

Assim, aproveitando-se dessa circunstância e do fato de "Minhoca" ter, logo em seguida da entrega desse troco feita pelo genro do eleitor Wilson dos Santos, ter dado um santinho para esse mesmo eleitor, os apelantes tentaram fazer crer que tal santinho seria o próprio dinheiro (troco) entregue pouco antes pelo genro de Wilson, Eduardo Silvestre da Veiga, o que deve ser esclarecido para que não remanesça dúvida a esse respeito.

Assim sendo, nesse cenário, torna-se completamente despropositado o requerimento do apelante Maycon da Rosa quanto à aplicação do "quod plerurnque accidit' (aquilo que geralmente acontece) "para reconhecer que a entrega do dinheiro em tais circunstâncias, à vista do candidato, configura indício bastante, nos termos do artigo 23 da Lei das Inelegibilidades, para a configuração da captação ilícita de sufrágio, que é também corrupção para o fim de cassação de mandato" (fl. 767), uma vez que, frise-se, esse dinheiro era troco da cerveja entregue ao eleitor Wilson dos Santos por seu genro, conforme os testemunhos anteriormente referidos, os quais não foram informados por nenhuma outra prova e, além disso, não havendo indício mínimo, por outro lado, de que tal dinheiro tenha sido entregue àquele eleitor, direta ou indiretamente, pelo vereador apelado para obter votos para sua candidatura [fls. 926-929 - grifei].

Não há como olvidar que os recorrentes sugerem, em um contexto mais amplo, que a conduta ilícita não teria se resumido a este fato específico,

17

Page 18: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76a ZONA ELEITORAL - JOINVILLE aventando que o recorrido Natanael Jordão e seus colaboradores de campanha teriam passado o dia inteiro realizando propaganda eleitoral de boca de urna e aliciando eleitores, pelo que impor-se-ia o reconhecimento do abuso de poder econômico e também da fraude ensejadora da cassação do seu diploma de vereador.

Nada obstante, como afirmado anteriormente, as imagens captadas pelas câmeras de monitoramento da Polícia Militar não se mostram conclusivas a esse respeito. Quanto muito, os registros ali contidos seriam meros adminículos probatórios, dependentes de posterior confirmação por meio de elementos concretos que atestassem a realização de propaganda ou a entrega de valores em troca de voto, o que, contudo, não se verificou na hipótese telada.

Com efeito, as declarações por instrumento público apresentadas com a inicial pelo recorrente Maycon Cesar Rocher da Rosa, porquanto unilaterais, não se prestam para esse fim, sobretudo porque, com exceção de Sedenir Cardoso e Rivail Kailer, os demais subscritores não foram arrolados como testemunhas para ratificar a veracidade de suas afirmações.

Por outro lado, conquanto Sedenir Cardoso, compromissado, tenha confirmado em parte o teor da declaração de fl. 165, causa espécie não ter sabido precisar uma única pessoa sequer que teria sido beneficiada ou aliciada pelo candidato em questão ou por algum correligionário seu. Como se não bastasse, seu depoimento é marcado por sérias contradições, captadas pelo diligente representante do Parquet Eleitoral e encampadas na sentença - tendo inclusive o digno Magistrado determinado o encaminhamento de cópias do processado para que o órgão ministerial avaliasse a ocorrência de possível crime de falso testemunho - , o que enfraquece sobremaneira o poder de convencimento de suas declarações.

Já o depoimento da testemunha Rivail Kailer mostrou-se deveras vago e impreciso, a ponto de ter declarado ter visto santinhos de outros candidatos, dentre os quais do recorrente Maycon Cesar Rocher da Rosa.

Outrossim, é preciso convir que o fato de Daniel dos Santos, Gilmar Antunes da Costa e Valdemiro Francisco Voltolini terem sido presos em flagrante no dia das eleições pela suposta prática de boca de urna e posteriormente aceitado proposta de transação penal formulada pelo Ministério Público Eleitoral não equivale, naturalmente, a qualquer espécie de admissão de culpa, até mesmo porque, com exceção de Daniel, os outros dois (Gilmar e Valdemiro) negam veemente a prática de qualquer ilicitude, declarando-se, inclusive, injustiçados pelo ocorrido.

Page 19: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

Ademais, a testemunha de acusação Roberto Marcelo Velho, policial militar que participou da operação que culminou na prisão dessas três pessoas, foi enfático ao afirmar que não presenciou qualquer ato de boca de urna ou compra de voto, tendo apenas procedido à captura em conformidade com as informações que haviam lhe sido passadas pela "sala de situação" daquela corporação (Polícia Militar), destacamento responsável pelo monitoramento das câmeras de vigilância.

Todos estes aspectos foram muito bem explorados na r. sentença recorrida, senão vejamos:

[...] passa-se a análise da prova testemunhal, iniciando-se pelo depoimento de Sedenir, testemunha arrolada pelos autores.

Na solenidade o depoente declarou que no dia das eleições foi votar na parte da manhã próximo das 8h e 30min e que no momento em que saiu do local de votação observou o impugnado/requerido na companhia de "seu cabo eleitoral" e que o impugnado/requerido efetuava a entrega de "santinhos" e dinheiro, mas que não conseguiu identificar quanto dinheiro era entregue. Esclareceu que estava em torno de 30 ou 50 metros de distância do impugnado/requerido (1'2874'42" - documento audiovisual - fl. 575 - AIME).

Em relação ao depoimento elencado, com a devida vénia, faz-se menção as bem lançadas manifestações do Ministério Público em seu parecer final: "a testemunha do demandante, identificada como Sedenir Cardoso, apresentou versão pouco crível, margeando até mesmo o falso testemunho, quando disse ter visto, à distância de aproximadamente 30-50 metros, o réu entregando dinheiro junto com santinhos para terceiros. Essa afirmação se faz com base, pelo menos, em quatro situações: 1a) como poderia enxergar uma nota de dinheiro dobrada a tal distância, sendo que sequer soube dizer que valores eram; 2a) o autor da AIME em momento algum alegou, na inicial, que o próprio requerido entregou, diretamente, a terceiros, quantia em espécie; 3a) apesar de ser morador do bairro e ter visto (alegadamente) entrega de dinheiro, não identificou nenhuma pessoa que pudesse ter recebido papel-moeda das mãos do impugnado; e, finalmente, 4a) na escritura pública de declaração de fl. 165, Sedenir Cardoso não disse que o candidato entregou diretamente dinheiro para quem quer que seja, o que conflita com o que disse na audiência" (fl. 690).

Este juízo adere na íntegra aos argumentos ministeriais, para assim desconsiderar o depoimento da testemunha Sedenir Cardoso.

Por sua vez a testemunha Roberto Marcelo Velho, policial militar que estava em serviço no dia das eleições, alegou em seu depoimento que

19

Page 20: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

recebeu informação da "sala de situação", através do Sargento Élton, que pelas câmeras de monitoramento teria sido avistado três masculinos efetivando a prática de "boca de urna". Ainda, que pela "sala de situação" foram repassadas as características dos envolvidos e restou efetuada a prisão em flagrante dos três. Na ocasião foram encontrados com os detidos "santinhos" e "bótons", atinentes ao prefeito "Marco Tebaldi", mas não lembra a qual vereador se referiam. Esclareceu que não presenciou a prática da "boca de urna" e que no momento do flagrante os detidos não estavam desenvolvendo a prática. Que não sabe precisar exatamente com qual/quais dos detidos estava o material aprendido, bem como que na ocasião do flagrante não foi abordado nenhum dos eleitores envolvidos. (1 '37"/8'26" - documento audiovisual - fl. 575 - AIME).

O depoimento do policial militar de igual forma não se presta a comprovação os fatos alegados, uma vez que quando da prisão em flagrante de Valdemiro Francisco Voltolini, Daniel dos Santos e Gilmar Antunes da Costa, apenas atuou como espécie de "longa manus" em relação às determinações da "sala de situação". O depoente asseverou que não presenciou qualquer ato de captação ilícita de sufrágio pelos detidos ou qualquer outra pessoa naquele dia.

Não bastasse, o depoente não soube esclarecer com quem foi encontrado o material apreendido, bem como a qual vereador se referia, apenas mencionando que eram relacionados ao candidato a prefeito "Marco Tebaldi".

Das testemunhas de acusação ouvidas na solenidade do dia 28.07.2017, há ainda o depoimento do Sr. Revail Kailer, que na oportunidade disse ter trabalhado como fiscal no dia das eleições junto ao Bairro Paranaguamirim e que presenciou a ocorrência de "boca de urna", mas que não viu manuseio de dinheiro e não identificou com precisão os "santinhos", apenas relatando que eram de vários candidatos, inclusive do impugnante Maycon César Rocher da Rosa. (1'2374'42" - documento audiovisual - fl. 575 - AIME)

Evidentemente o depoimento não auxilia na comprovação dos fatos narrados, dispensando maiores digressões.

Os colaboradores da campanha do impugnado/requerido, presos em flagrante diante da suposta prática do delito de "boca de urna", também foram ouvidos como testemunhas.

Gilmar Antunes da Costa foi inquirido novamente na audiência do dia 28.07.2017 em razão de problemas no áudio da primeira gravação. Considerando o envolvimento com o caso foi ouvido como informante. Nesta condição aventou que não possui qualquer ligação com o requerido/impugnado, que mora das imediações de onde ocorreram os fatos

20

Page 21: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Fls.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

e que no dia das eleições estava apenas caminhando pelo local como de costume, quando foi abordado e preso pela polícia. Que na ocasião não sabia por que estava sendo preso. Que a prisão lhe resultou inúmeros percalços de ordem moral (documento audiovisual - fl. 575 - AIME).

Daniel dos Santos ouvido na audiência ocorrida dia 14.12.2016 na ação de investigação eleitoral judicial n.° 693-16.2016.6.24.0076, alegou que mora nas imediações do local onde ocorreram os fatos e que tem o costume de caminhar pelo local. Ainda, que os "santinhos" que possuía não recebeu do impugnado/requerido, mas possuía já há uma semana e que no dia das eleições recebeu orientações do impugnado/requerido para não circular pelo local. Que não tem conhecimento de compra de votos realizada pelo impugnado/requerido. Esclareceu que contribuiu em dinheiro para a campanha do impugnado/requerido. Que a prisão lhe resultou inúmeros percalços de ordem moral (documento audiovisual - fl. 370 - AIJE 693-16).

Valdemiro Francisco Voltolini ouvido na audiência ocorrida dia 14.12.2016 na ação de investigação eleitoral judicial n.° 693-16.2016.6.24.0076, alegou que possui um comércio bem próximo de onde se encontra instalada a câmera da polícia militar e que nos finais de semana é costume ficar na frente da loja. Que no dia das eleições não distribuiu "santinho" e não sabe o motivo da sua prisão. Que recebeu orientações do impugnado/requerido para não fazer "boca de urna". Que no momento da prisão não possuía nenhum "santinho" (documento audiovisual - fl. 370 - AIJE 693-16).

O depoimento das testemunhas Anderson Neri Liz dos Santos, Eduardo Silvestre da Veiga e Wilson Martins dos Santos será apreciado no tópico abaixo (Dá análise da gravação realizada pela polícia militar), já que dizem respeito à fato específico da gravação que será enfrentado na oportunidade.

As demais testemunhas ouvidas na ação de impugnação de mandado eletivo (Romeu de Oliveira e Lioilson Márcio Correa) não contribuem para comprovação dos fatos alegados pelos autores ou apresentam-se meramente como abonatórias.

Detalhe especial em relação à testemunha Clarikenedy Nunes, arrolada pelo impugnado/requerido e ouvida junto à investigação judicial eleitoral n.° 693-16.2016.6.24.0076.

Na audiência de instrução ocorrida na ação de impugnação de mandato eletivo (28.07.2017) o procurador do impugnante apresentou irresignação à oitiva já que o procurador do impugnado, Dr. Marco Antônio Santos Schettert, é assessor parlamentar da testemunha.

Entretanto, a insurgência fica prejudicada, porquanto, como já mencionado, o 21

Page 22: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE

depoimento não compôs a ratio decidendi que orienta a presente decisão.

Da análise da prova testemunhal denota-se que tão somente uma testemunha, Sedenir Cardoso, apresentou depoimento capaz de confirmar as alegações dos autores que, entretanto, como já exposto, restou desconsiderado.

Contudo, se de outra forma fosse, ainda assim o depoimento guerreado seria recebido com ressalvas dada a barreira imposta pelo art. 368-A do Código Eleitoral:

"Art. 368-A. A prova testemunhal singular, quando exclusiva, não será aceita nos processos que possam levar à perda do mandato".

O argumento é válido, sobretudo se considerarmos que até o presente momento seria a única prova existente em relação à captação ilícita de sufrágio mediante compra de votos.

O dispositivo em questão visa evitar que apenas uma testemunha seja capaz de comprovar a prática de captação ilícita de sufrágio (art. 41-A, 9.504/90), aventando por exemplo a compra do seu voto (uma testemunha, nenhuma testemunha) [fls. 712-716 — grifou-se].

Como se observa, a decisão recorrida apresentou de maneira suficientemente clara e objetiva os motivos pelos quais entendeu não haver provas da configuração dos atos ilícitos descritos na inicial, conclusão à qual, sem reservas, faço coro, já que, efetivamente, não existem elementos concretos mínimos que apontem para a responsabilidade pessoal do recorrido Natanael Jordão.

À toda evidência, a prática de boca de urna em caso isolado por um colaborador seu, fato censurável e, porque não dizer, lamentável, não se presta, ante a sua diminuta extensão, à caracterização do aspecto qualitativo (gravidade) da conduta tida por abusiva ou fraudulenta para fins de cassação do mandato.

Ademais, há de se ter em conta que um conjunto colateral de prova indiretas somente terá valor quando analisadas em um bojo coletivo. O que houve neste processo é justamente o contrário, ou seja, uma prova apresentada em feição que foi tecnicamente descontruída eis que incapaz, por si só e à vista dos demais elementos probantes, de sustentar um decreto de procedência calcado em critério, acerto e segurança.

De resto, o que sobressai nestes autos são presunções sobre os acontecimentos, ilações recíprocas sobre a inidoneidade dos recorrentes e do

22

Page 23: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N. 1-80.2017.6.24.0076 - CLASSE 30 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DO DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76^ ZONA ELEITORAL - JOINVILLE recorrido, conjecturas sobre o resultado da votação e também sobre a parcialidade de testemunhas que tangenciam inclusive à suspeição - absolutamente infundada -do Magistrado, nada disso, contudo, relacionado diretamente ao objeto propriamente dito da questão controvertida, ou seja, o cometimento ou não da prática de boca de urna e compra de voto em larga escala no dia das eleições, pelo que a confirmação da sentença que julgou improcedente os pedidos formulados nas três ações movidas em face do recorrido Natanael Jordão é medida que se impõe.

Afinal, "Nos termos do escólio do Professor Ministro LUIZ FUX, a retirada de determinado candidato investido em mandato, de forma legítima, pelo batismo popular, somente deve ocorrer em bases excepcionalíssimas, notadamente em casos gravosos de abuso do poder econômico e captação ilícita de sufrágio manifestamente comprovados nos autos. (Novos Paradigmas do Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 115-116). Esta lição doutrinária leva à conclusão de que meras alegações, alvitres ou suposições de ilícitos, se não lastreados em dados concretos e empíricos, coerentes e firmes, não bastam à formação de juízo de condenação capaz de elidir a legitimidade do mandato popular obtido nas urnas" (TSE. Ac. n. 45449, de 9.2.2017, Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho - grifei).

Esse critério norteador de prudência é necessária na medida em que a cassação de um mandato conferido democraticamente não afetaria somente o eleito em si, mas todos os eleitores joinvilenses (de origem ou coração!) que nele depositaram suas esperanças através do voto confiado.

Destarte, convicto do acerto da decisão recorrida, concluo, com esteio nas judiciosas manifestações do Ministério Público Eleitoral e da Procuradoria Regional Eleitoral, que as razões recursais não merecem prosperar.

5. Ante o exposto, conheço dos recursos interpostos por Maycon Cesar Rocher da Rosa e Antonio Luis Pereira e, afastada a preliminar de julgamento citra petita, no mérito, a eles nego provimento, confirmando integralmente a sentença que julgou improcedentes os pedidos formulados na ação de impugnação de mandato eletivo n. 1-80.2017.6.24.0076 (autos principais) e nas ações de investigação judicial eleitoral n. 693-16.2016.6.24.0076 (apenso n. 1) e n. 728-73.2016.6.24.0076 (apenso n. 2).

Page 24: Tribunal Regiona Eleitoral del Santa Catarin a - tre-sc.jus.br · Tribunal Regiona Eleitoral dle Santa Catarina RECURSO ELEITORA N 1-80.2017.6.24.007. L - CLASS 3E -0 AÇÃ6 DO E

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 1-80.2017.6.24.0076 - RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO - ARREGIMENTAÇÃO DE ELEITOR OU BOCA DE URNA - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CORRUPÇÃO OU FRAUDE - ABUSO - DE PODER ECONÔMICO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA - PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 76a ZONA ELEITORAL - JOINVILLE RELATOR: JUIZ STEPHAN KLAUS RADLOFF

RECORRENTE(S): MAYCON CESAR ROCHER DA ROSA ADVOGADO(S): MÁRCIO LUIZ FOGAÇA VICARI RECORRENTE(S): ANTONIO LUIS PEREIRA ADVOGADO(S): EVELYN ELVIRA MATTEI; JULIANA ROSA DOS SANTOS; GUSTAVO PEREIRA DA SILVA; MARIANNE HUFEN SALOMONE; ÉDELOS FRUHSTUCK RECORRIDO(S): NATANAEL JORDÃO ADVOGADO(S): MARCO ANTÔNIO SANTOS SCHETTERT; ALVARO CAUDURO DE OLIVEIRA

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ RICARDO JOSÉ ROESLER PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: MARCELO DA MOTA

Decisão: à unanimidade, conhecer dos recursos, afastar a preliminar de julgamento citra petita e, no mérito, a eles negar provimento, nos termos do voto do Relator. Apresentaram sustentação oral os Advogados Édelos Fruhstuck, Márcio Luiz Fogaça Vicari e Alvaro Cauduro de Oliveira. Foi assinado o Acórdão n. 33065. Participaram do julgamento os Juízes Ricardo José Roesler, Cid José Goulart Júnior, Luísa Hickel Gamba, Wilson Pereira Júnior, Antônio Zoldan da Veiga, Fernando Luz da Gama Lobo d" Eça e Stephan Klaus Radloff.

PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE 11.04.2018.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2018 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,

, servidor da Seção de Preparação, Acompanhamento e Registro das Sessões Plenárias, lavrei o presente termo.