tribuna livre - edição iii ano i

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>> A batalha do Plano Diretor, p.10 >> AS CONTRADIÇÕES DE MARINA SILVA, p.3 Tribuna Livre Uma publicação do Centro Acadêmico XI de Agosto >> CAMPO DO XI, p.14 >> Entrevista com Gilberto Maringoni, p.8 >>E ainda: A luta contra os vagões exclusivos, p. 7 u u por Guilherme Boulos Ano I Edição III CRISE NA

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Pessoal,segue anexo a terceira edição do jornal do Centro Acadêmico XI de Agosto - Gestão Coletivo Contraponto, intitulado Tribuna Livre. A presente edição conta com matéria a respeito da crise vivida pela Universidade de São Paulo, texto tratando da candidatura de Marina Silva à Presidência da República, entrevista com o candidato ao Governo de São Paulo Gilberto Maringoni (PSOL), dentre outros.Vale a pena dar uma olhada!Ademais, as próximas edições terão 50% do seu conteúdo destinado a textos da comunidade discente, de movimentos sociais e de intelectuais da sociedade civil. Envie seu texto para o e-mail [email protected] até o dia 19/05 e seu texto já será publicado na próxima edição do Tribuna Livre!

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  • >> A batalha do Plano Diretor, p.10>> AS CONTRADIES DE MARINA SILVA, p.3

    Tribuna Livre Uma publicao do Centro Acadmico XI de Agosto

    >> CAMPO DO XI, p.14

    >> Entrevista com Gilberto Maringoni, p.8

    >>E ainda: A luta contra os vages exclusivos, p. 7

    u u

    por Guilherme Boulos

    Ano I Edio III

    CRISE NA

  • 2 quinzena de maro de 20xi | O Onze de Agosto

    A SO FRANCISCO QUE QUEREMOSNo dia 29 de Agosto, come-moramos o Dia da Visibili-dade Lsbica, data em que ocorreu o primeiro Seminrio Nacional de Lsbicas no Bra-sil, em 1996. A imensa im-portncia desse marco para o movimento feminista implica em reconhecermos a opresso e o apagamento sofrido pelas lsbicas e bissexuais na socie-dade e, at mesmo, dentro do movimento LGBTT. Na ltima Cervejada re-alizada pelo Centro Acadmi-co XI de Agosto, mais um caso de violncia contra mulheres lsbicas aconteceu. Sabemos que agresses desse tipo se reproduzem numa lastimvel frequncia em nossos espaos

    de festa, convivncia e inte-grao e que no mais pode-mos tolerar agressores nesses locais. Em resposta a isso, o Centro Acadmico XI de Agos-to Gesto Coletivo Contra-ponto, lana sua campanha contra a homo/lesbo/trans-fobia e se compromete a apre-sentar em todas as prximas festas medidas mais efetivas no combate a esse tipo de vio-lncia. Neste mesmo dia 29, realizaremos nosso tradicio-nal Baile do XI, com o tema de mscaras, na avenida Paulista, e garantimos nosso compromisso com as mulhe-res e minorias oprimidas.

    Como medidas de com-bate s opresses, haver a distribuio de adesivos con-tra a homo/lesbo/transfobia, reforo na segurana - que estar pronta para lidar com essas situaes-, bem como a gesto estar facilmente iden-tificvel pelas mscaras, caso seja necessrio qualquer tipo de contato durante a festa e, por fim, haver um ponto de apoio para informao, su-porte, ajuda e eventuais ne-cessidades que surgirem.

    Reiteramos nosso compromisso com a pauta e pretendemos com tais me-didas tornar cada vez menos opressores nossos ambientes de integrao, massificando campanhas e no permitin-

    Participe!Envie seu texto para o

    nosso mural:

    Os textos da seo mural so de responsabiliadade exclusiva de seus autores e no refletem a opinio do centro acadmico. Para enviar tex-tos, escreva para endereo:[email protected]

    u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu A So Francisco que queremos u2

    do agresses de gnero ou de orientao, assdio sexual e qualquer tipo de violncia. u

  • As contradies de Marina SilvaNo ltimo dia 12 de agosto morreu

    em um acidente areo o governador pernambucano e lder do Partido Socia-lista Brasileiro Eduardo Campos, cau-sando enorme comoo popular. Ainda que o candidato estivesse estagnado nas pesquisas eleitorais com 8% de in-tenes de votos, trazendo um discurso vazio de nova poltica e defendendo bandeiras historicamente combatidas por seu partido - como a autonomia do Banco Central e maior poder ao sistema financeiro -, a morte de Campos lanou ao cenrio poltico um legado em in-tensa disputa. Tambm com sua mor-te, emergiu disputa pela Presidncia a vice de sua chapa, Marina Silva.

    Aps obter quase 20 milhes de votos em 2010 - votaes muito ex-pressivas, quanto mais se considerada a estrutura humilde do Partido Ver-de, ao qual era filiada -, Marina Silva, desde ento, se lanou candidata ao pleito presidencial de 2014. Reconhe-cendo o grande capital poltico herda-do de 2010, a ex-senadora se desligou do Partido Verde com o horizonte de criar um novo partido sobre o qual po-deria estabelecer suas diretrizes sem se submeter a uma direo partidria. Em fevereiro de 2013, enfim, liderou o Encontro Nacional da Rede Pr Parti-do, embrio do que se tornaria a Rede Sustentabilidade.

    H muito o que se problemati-zar em torno dos ideais que nortearam a Rede Sustentabilidade. Primeiramen-te, o carter personalista desse partido criado em torno da figura de Marina re-vela uma grande fragilidade program-tica. Tambm, a constante criminaliza-o da militncia partidria revelada pela prpria opo de negar o nome de partido e diretrios, por exemplo, traz outra preocupao: o enfraque-cimento dessa que uma instituio essencial a todo sistema democrtico. Igualmente temerrio a fundamen-tao de todo o seu projeto poltico so-bre a tica e a moralidade, usualmente perfumadas com ares ambientalistas. Trata-se de uma escolha extremamente equivocada, na medida em que enxerga todos os males do sistema poltico sob uma ptica meramente moral, ignoran-

    do todos os aspectos estruturais que os condicionam. Sintomtico disso a ir-relevncia que o debate da reforma po-ltica representa para a Rede.

    Todas essas debilidades fazem da Rede uma mera agremiao de no-mes polticos sem qualquer direo programtica e ideolgica, o que se enxerga pela prpria heterogeneidade de quadros advindos das mais diversas vertentes: Walter Feldman (PSDB-SP), Helosa Helena (PSOL-AL), Domingos Dutra (PT-MA), Ricardo Young (PPS--SP), Alfredo Sirkis (PV-RJ) et alli. Essa pluralidade no interior de um partido nitidamente privilegia o status quo, na medida em que impede qualquer cons-truo poltica alicerada em um pro-jeto comum. Trata-se da maneira mais simples de se negar a poltica.

    A partir de fevereiro de 2013, pois, a direo da Rede passou a colher assinaturas para obter o registro par-tidrio no Tribunal Superior Eleitoral dentro do prazo exigido para concor-rer s eleies de 2014. Esse objetivo, porm, fracassou, e os sonhticos - como passaram a ser chamados pela grande mdia - no conseguiram atin-gir o apoio popular necessrio medido

    pelo nmero de subscries. A invalida-o de diversas assinaturas pelos cart-rios devido a aspectos formais levou Marina a apontar uma perseguio poltica por parte do governo federal a seu projeto poltico, acusando-o de cometer chavismo - seja l o que a ex--senadora entenda pela poltica popu-lar do lder venezuelano Hugo Chvez.

    Com o fracasso na criao da Rede Sustentabilidade a tempo de se candidatar em 2014, restavam duas alternativas a Marina Silva: a desistn-cia do pleito presidencial em nome da construo da Rede ou a filiao a algu-ma legenda existente na condio de se lanar candidata Presidncia - e no lhe faltavam convites do PPS, do PTB, do PEN, entre outros. Foi ento que a ex-senadora surpreendeu todos os ana-listas polticos e se filiou ao PSB - par-tido que j se colocava na disputa pela Presidncia sob liderana de Eduardo Campos -, propondo fortalecer a tercei-ra via polarizao entre PT e PSDB e se colocando desde logo na posio de candidata Vice-Presidncia.

    Essa fuso entre PSB e Rede gerou efeitos positivos e negativos ao projeto presidencial de Eduardo Cam-

    pos. Como positivo, o governador de Pernambuco ganhou o apoio de um grande cabo eleitoral - o terceiro maior do pas de acordo com o Datafolha, atrs apenas de Lula e Joaquim Bar-bosa e frente de FHC. Ainda, estabe-leceu no discurso moralista da nova poltica a grande bandeira de sua can-didatura e o diferencial a tudo o que est a, representado na retrica pelo PT e pelo PSDB. Como negativo, por outro lado, exps contradies nevrl-gicas desse discurso a partir de alianas constrangedoras com nomes da velha poltica como Jorge Bornhausen e Ronaldo Caiado, ambos da extrema--direita brasileira. Tambm, limitou em grande medida o programa de Campos, produzindo um texto final repleto de abstraes e carente de propostas con-cretas para a conduo do pas.

    Estabelecia-se, portanto, um cenrio eleitoral em que Dilma Rousse-ff (PT) liderava com folga a disputa pela Presidncia e com alta probabilidade de vitria no primeiro turno, seguida de Acio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - este estagnado com menos da metade das intenes de voto de Acio. A grande aposta de Eduardo era, com

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u AS CONTRADIES DE MARINA SILVA u 3

  • o andamento da campanha e incio do programa eleitoral, conquistar os 20 milhes de eleitores de Marina e ex-pandir enquanto terceira via, enfren-tando Dilma num segundo turno.

    O trgico acidente areo de 12 de agosto, porm, impactou fortemen-te essa conjuntura. Com a morte de Campos, Marina tornou-se a candidata natural Presidncia. Mesmo no sen-do propriamente uma representante do PSB - Marina sempre deixou clara a pretenso de construir sua Rede Sus-tentabilidade, de maneira que se filiara ao partido apenas de forma moment-nea -, a direo do partido de Miguel Arraes viu na ex-senadora uma possibi-lidade real de chegar pela primeira vez Presidncia da Repblica. Assim, em 20 de agosto oficializou a sua candida-tura, indicando o senador gacho Beto Albuquerque para vice.

    Enquanto candidata a presi-denta, Marina se ps direita de Cam-pos e assumiu sua linha caracterstica baseada sobretudo na defesa da nova poltica; agora, porm, carregada de um elemento messinico temerrio. Sintomtica foi uma das primeiras de-claraes que a agora candidata deu aps o anncio da morte de Campos: disse que, por uma providncia divi-na, no embarcou no avio junto com o companheiro de chapa. Logo, no en-

    tendimento da ex-senadora sua candi-datura era o cumprimento da vontade de Deus.

    necessrio que se compreen-da a candidatura de Marina Silva para alm da nova poltica que a candidata promete. Em primeiro plano, seu as-pecto marcante o fundamentalismo religioso, que rende posicionamentos regressivos como a defesa contrria legalizao do aborto, legalizao do uso de drogas e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Vale lembrar que Marina defendeu o deputado fede-ral Marco Feliciano (PSC-SP) quando do auge da polmica de suas declara-es e prticas racistas e homofbicas, sustentando que o pastor vinha sendo alvo de preconceito religioso. Todas essas posturas mostram que a candi-data no est junto com os movimen-tos populares por mais direitos para populaes historicamente oprimidas. Pelo contrrio, Marina se alia a setores ultraconservadores que ofendem a lai-cidade do Estado brasileiro.

    Alm do fundamentalismo re-ligioso, Marina esconde por trs de sua candidatura aspectos igualmente com-prometedores: a defesa do neoliberalis-mo e da supremacia do mercado. Basta analisar o perfil de sua equipe, que con-ta com nomes como Eduardo Gianneti, Andr Lara Rezende, Maria Alice Set-

    bal, entre outros - todos defensores da desregulao de mercados. Prova disso que a candidata j se comprometeu com a autonomia formal do Banco Central, medida defendida pelos neoli-berais que reduz ainda mais o controle do Estado sobre temas fulcrais para a economia e a sociedade, como cmbio e inflao. Vislumbra-se, sob Marina, o regresso aos anos FHC de arrocho sa-larial, aumento do desemprego, desin-dustrializao da economia, desnacio-nalizao etc.

    A conduo poltica de um eventual governo Marina Silva tam-bm preocupante. Primeiramente, a negao apriorstica do pragmatismo poltico coloca em dvida a capacidade de articulao e coordenao da ex-se-nadora, o que comprometeria a apro-vao de qualquer projeto de mudan-a. Tambm, a ausncia de uma base social slida e o discurso arquitetado exclusivamente sobre o moralismo co-locam em xeque a prpria estabilidade institucional do Estado brasileiro, na medida em que Marina teria poucas ferramentas a dispor diante de um es-cndalo poltico, repetindo o histrico de Fernando Collor de Mello.

    No mais, a construo perso-nalista e messinica criada em torno da figura de Marina gera grande receio quanto ao enfraquecimento de nossas

    u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu O XI com os Movimentos Sociais u4

    instituies representativas. O apro-fundamento da democracia perpassa pelo fortalecimento dos partidos pol-ticos, e, logo, pelo debate de projetos e ideias. Marina representa a supresso dessa lgica, na medida em que se colo-ca acima das agremiaes partidrias e valoriza sobretudo aspectos subjetivos de tica e moralidade. Ironicamente, essa postura populista no traz nada de novo; pelo contrrio, repete uma srie de velhos erros.

    preciso que se faa um de-bate crtico muito profundo para es-miuar e expor as contradies que envolvem a candidatura de Marina Silva Presidncia da Repblica. Obra trgica do acaso, no possvel que os movimentos progressistas da socieda-de assistam calados a esse filme muito comum na literatura poltica brasileira, em que o discurso vazio e moralista do novo ganha adeses de parcelas signi-ficativas do eleitorado brasileiro.

    A prtica populista encampada por Marina Silva, atrs da qual se es-condem o fundamentalismo religioso e o pensamento econmico neoliberal, sobretudo antipopular e representa o que h de mais arcaico na poltica bra-sileira. u

    A reaproximao do XI com os movimentos sociaisNo ano passado, o Coletivo Contrapon-to, criticava o distanciamento da enti-dade representativa dos estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo dos movimentos popula-res e das manifestaes de rua e pro-metia que, se eleito, reataria os laos do movimento estudantil franciscano com a sociedade civil organizada. O prest-gio que o XI de Agosto adquiriu perante o conjunto da sociedade foi conquista-do justamente pela participao ativa nas lutas pelas causas populares, como os emblemticos casos da luta pelo Pe-trolo Nosso nos anos 50 e as Dire-tas J! nos anos 80.

    Na nossa avaliao, este esp-rito que marcou a trajetria da nossa associao havia sido perdido pelas lti-mas gestes frente dela. O XI de Agos-to se isolara para dentro das Arcadas, priorizando meramente a prestao de

    servios, em detrimento integrao da luta poltica dos estudantes com as reivindicaes democrticas e populares apresentadas por aqueles que escolhem as ruas como palco principal de atuao poltica. Mesmo quando ocasionalmen-te saa da apatia e organizava campa-nhas e atos polticos, os movimentos sociais eram escanteados. Caso smbolo foi o ato pelo Crcere Cidado, no qual movimentos sociais fundamentais na luta contra as condies brbaras dos presdios brasileiros, como o Movimen-to Mes de Maio e a Rede 2 de Outubro, no estiveram presentes. Procurou-se priorizar sempre os grandes nomes de celebridades miditicas, esquecendo--se daqueles que se mobilizam coleti-vamente em torno das reivindicaes populares.

    Neste ano, indiscutivelmente, houve uma mudana de paradigma no modo

    de atuao da entidade. Vrios even-tos da Calourada do XI, da Semana do XI, ou esparsos durante o ano, coloca-ram em relevo as vocalizaes dos sin-dicatos, dos movimentos de moradia urbana, de camponeses, de mulheres, de LGBTT, de negros, de defesa do di-retos humanos, de desmilitarizao das polcias e de democratizao dos meios de comunicao. Assim, grupos orga-nizados de inegvel importncia para o processo ainda inconcluso de demo-cratizao do pas, iniciado no final da ditadura militar, puderam se comunicar diretamente com as e os estudantes do Largo So Francisco: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Movimento Negro Unificado (MNU), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento Mulheres em Luta (MML), Central nica dos Trabalhadores (CUT), a Unio de Ncleos de Educao Popu-lar para Negros e Classe Trabalhadora

    (Uneafro Brasil), Central de Movimen-tos Populares (CMP), Unio Nacional dos Estudantes (UNE), Unio de Movi-mentos de Moradia (UMM), Frum Na-cional de Democratizao da Comunica-o (FNDC), Movimento Mes de Maio, Rede 2 de Outubro, ABGLT (Associao Brasileira de Gays, Lsbicas e Transg-neros) so algumas das entidades que compuseram mesas e atividades do XI de Agosto durante este ano.

    A Semana Luiz Gama, englo-bando uma srie de atividades e debates sobre @ negr@ brasileir@, ocorrida na semana do dia 13 de maio (data da Lei urea), e a semana de eventos voltadas para o debate de sindicalismo, aps o dia internacional do trabalhador (1 de maio), so exemplos contundentes da atual orientao poltica que vertebra as aes da atual gesto frente do centro acadmico mais tradicional do pas. No

  • u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u O XI com os Movimentos Sociais u 5

    entanto, consideramos que o exemplo mais marcante de reaproximao de la-os com o movimento popular, tenho sido, talvez, a construo do Ato em Memria dos 50 anos do Golpe Militar, no dia 1 de abril, com o subttulo Re-presso Ontem e Hoje, conjuntamente com entidades populares como o Mo-vimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Unio de Ncleos de Educao Popular para Negros e Classe Trabalha-dora (Uneafro Brasil) e a Central de Mo-vimentos Populares (CMP). Militantes histricos da luta contra a represso da ditadura militar, como o Milton Barbo-sa (o Milto, fundador do Movimento Negro Unificado) puderam apresentar seus depoimentos com fatos e histrias emocionantes envolvendo a militncia pela democracia.

    Atualmente, o Centro Acadmi-co XI de Agosto, participa de dois fruns propulsores de lutas democrticas. Um deles se chama Por que o Senhor Atirou em Mim?, grande referncia no debate sobre desmilitarizao das polcias e o fim da cultura de violncia e racismo dos aparatos de segurana pblica. Convida-mos todxs a estudantxs a comparecem nas reunies semanais na Praa Roo-sevelt e s atividades poltico-culturais organizadas por ele. O outro espao o Comit Centro do Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva do Sistema Poltico. Com reunies semanais ocor-rendo na Ocupao Marconi, no centro de So Paulo, envolvendo movimentos de moradia da capital, sindicatos e gru-pos estudantis, a articulao poltica que nos permite ser grande referncia da Faculdade na construo da campa-nha pelo Plebiscito Popular, a ocorrer entre os dias 1 e 7 de setembro. O XI de Agosto, a ttulo de ilustrao, no s esteve presente no Ato Estadual pela Constituinte Exclusiva, no dia 12 de agosto, como convocou toda a Faculda-de a fazer parte desta mobilizao ful-cral para o aprofundamento da demo-cracia brasileira.

    A PRESENA DO XI DE AGOSTO NO ATO DE SOLIDARIEDADE AO MTST E LUTA POR MORADIA

    O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) vem, recentemente, ga-nhando destaque nas pginas dos no-ticirios devido s suas crescentes mo-bilizaes sociais em defesa do fim do dficit habitacional e de uma reforma democrtica e ampla que garanta o direi-to moradia digna e de qualidade. Um recente exemplo foram as duas mobili-

    zaes de centenas de pessoas em fren-te Cmara dos Vereador, organizadas pelo movimento, as quais permitiram que o novo Plano Diretor do municpio de So Paulo fosse aprovado, a despei-to da resistncia dos representantes da especulao imobiliria presentes no Legislativo.

    A presena do nosso Centro Acadmico em fruns de coletivos que visam a desmilitarizao das polcias, principalmente o Por que o Senhor ati-rou em mim?, e a tentativa de realizar atividades estudantis que contassem com a participao dos porta-vozes dos sem-teto permitiram que conquistsse-mos uma excelente relao de confiana poltica com o MTST. Exemplos de ativi-dades que contaram com a participao do movimento foram a discusso sobre A Violao de Direitos Humanos na Copa ocorrida na Calourada do XI e, mais recentemente, a discusso sobre o novo Plano Diretor, organizada em par-ceria com o Saju-Cidades e o Ncleo de Direito Cidade (NDC), durante a Se-mana do XI.

    Esta relao de proximidade, conquista pelo interesse em quebramos o ciclo de isolamento e nos reaproxi-marmos dos movimentos sociais, foi manifestada abertamente com o convite que nossa entidade estudantil recebeu para participar do mais recente ato do MTST, do qual nos orgulhamos muito. O convite vindo diretamente do coorde-nador nacional do MTST e colunista da Folha de So Paulo, Guilherme Boulos, fazia referncia nossa presena em uma mesa a ocorrer no mesmo horrio

    e local de um Ato em Solidariedade ao MTST e Luta por Moradia no dia 20 de Agosto. Vale destacar que fomos a nica entidade estudantil presente na mesa, composta majoritariamente por juristas, lideranas da sociedade civil organizada, parlamentares e outras per-sonalidades polticas.

    A fala do XI de Agosto, no re-ferido ato, no qual mais de 12 mil pes-soas estavam presentes, mencionou o nosso interesse em somarmos foras s lutas por moradia na cidade de So Paulo. Tambm fez referncia ausn-cia de neutralidade do Poder Judicirio, que privilegia interesses de minorias poderosas (como o setor imobilirio) em detrimento da garantia do direito moradia, assegurado pela Constituio de 1988 e representao distorcida que fazem os grande oligoplios de co-municao do pas em relao s lutas de massas encabeadas pelos historica-mente excludos do poder e do acesso aos servios pblicos. Por fim, mencio-namos a importncia da implementao de cotas raciais e sociais na USP, como medidas afirmativas fundamentais para que a nossa Universidade seja mais po-rosa entrada da populao de baixa renda e negra, ao mesmo tempo grande maioria demogrfica do Estado de So Paulo e minoria poltica no que se refere presena nos rgos de poder e acesso ao bem-estar social.

    Nossa atuao no parou por aqui!

    Vamos seguir dando continui-dade, ao longo do ano, aproximao

    com as lutas populares. A mais recente luta aquela organizada por mais de cem movimentos populares do Brasil inteiro de grupos populares da Igreja, passan-do pelos sindicatos, at os movimentos de moradia e sem-teto urbanos e rurais em torno do Plebiscito Popular para uma Constituinte Exclusiva do Sistema Poltica. A aprovao de uma reforma poltica que democratize o acesso ao poder, atravs do fim dos mecanismos que os grandes grupos econmicos se utilizam para sobrepor seus interesses aos da soberania popular, e que garanta o fortalecimento dos partidos polticos programticos e a maior representao de minorias sociais no Congresso, com o consequente enfraquecimento do fi-siologismo, do clientelismo e do paro-quialismo marcas histricas da nossa cultura poltica de enorme interesse do Coletivo Contraponto, como j afir-mado em textos, documentos e inter-venes pblicas inmeras vezes duran-te estes dois anos de existncia

    Por isso, durante a semana do dia 1 a 7 de setembro, organizaremos urnas na Faculdade para coletar votos em defesa da realizao de uma Consti-tuinte Exclusiva soberana para tratar da reforma poltica. A Constituinte Exclusi-va , hoje, prioridade mxima da grande maioria das entidades e personalidades que compem o rico movimento popu-lar brasileiro. Estaremos, mais uma vez, junto eles para garantir a consolidao e o aprofundamento da nossa democra-cia! Constituinte Exclusiva j! u

  • u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu Plano Nacional de Educao u6

    Um Plano, Muitos Sonhospor Virgnia Barros*

    28 de maio de 2014. Essa a data em que a Cmara dos De-putados concluiu a votao do PL 8.035/2010, aprovando o Plano Nacional de Educao no Brasil, o PNE. Esse foi o dia de uma das mais importantes vi-trias da sociedade brasileira nos nossos tempos: a conquista de 10% do PIB para a educao no pas. Aps trs anos e meio de tramitao no Congresso Nacional, o que parecia sonho transformou-se em realidade, entrando para a histria do mo-vimento estudantil brasileiro assim como outras efemrides, tais quais o impeachment de Collor, em 1992; a Marcha dos 100 mil, em 1968 ou a vitria da campanha O Petrleo Nosso, em 1953. Em linhas gerais, a par-tir de agora, o Brasil tem uma poltica educacional de Estado para enfrentar problemas crni-cos. Isso significa garantir edu-cao integral para pelo menos

    um tero dos alunos do ensino fundamental, melhorar as con-dies dos profissionais de edu-cao - com remunerao, em clculos atuais, na casa dos R$ 3.650 - erradicar o analfabetis-mo, universalizar o acesso ao ensino bsico, qualificar o en-sino mdio e profissionalizan-te, criar mais vagas no ensino superior e infantil, promover a gesto democrtica da educa-o e criar o Custo-Aluno-Qua-lidade como parmetro para as polticas educacionais. Ao todo, 20 metas e 253 estratgias para o pas nos prximos dez anos (2014-2024). A luta pela aprovao do PNE foi longa e repleta de de-safios. Em 2009, a UNE convo-cou seu 12 Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB), e os estudantes aprovaram o financiamento de 10% do PIB para a educao como a princi-pal luta da entidade. Em 2010, passeatas em todo o Brasil co-mearam a crescer em nmero

    e volume, os 10% se transfor-maram em uma marca e a UNE criou a campanha Educao tem que ser 10. Esse foi o mes-mo ano em que a Conferncia Nacional de Educao (CONAE) ratificou o apoio dos movimen-tos educacionais mesma luta e quando o projeto de lei do PNE foi enviado pelo governo Lula ao Congresso. Em 2011, os estudantes realizaram o Agosto Verde e Amarelo, reunindo 15 mil jo-vens na Marcha dos Estudan-tes, em Braslia, e ocuparam um trecho no Planalto Central, com o movimento Ocupa Bras-lia, em um acampamento com jovens de 24 estados. Todas es-sas iniciativas tiveram, como bandeira principal, a defesa dos 10%. No dia 26 de junho de 2012, o PNE teve sua primeira aprovao no Cmara dos Depu-tados, sob presso do movimen-to estudantil, aps uma gran-de passeata na Esplanada dos Ministrios. No ano de 2013,

    no calor das manifestaes que tiveram incio do ms de ju-nho, foi aprovada a destinao dos royalties do petrleo para a Educao, medida fundamen-tal para garantir a aprovao do PNE no ano seguinte. Foi uma batalha extensa, rdua, que contou com o pro-tagonismo de uma gerao va-liosa do movimento estudantil. So jovens que entraro para a histria por terem ajudado a re-definir o curso do seu pas, com personalidade e ousadia na de-fesa da educao. A histria agora nos leva a outras obrigaes. Devemos acompanhar e debater o desti-no desses recursos, construindo o projeto de uma nova escola e uma nova universidade para o Brasil. A educao deve estar a servio do seu povo, promoven-do o bem estar social, construin-do uma sociedade mais justa e igualitria em todas as esferas. Estaremos novamente nas ruas para garantir esse modelo po-pular de educao, acreditando que ele ir capitanear a trans-formao e o desenvolvimento do Brasil. Foram quatro anos de luta e uma vitria sem preceden-tes para a juventude do nosso pas. Misso dada aos estudan-tes brasileiros misso cumpri-da. Que venham as prximas! u

    *Virgnia Barros Presidenta da Unio Nacional dos Estudantes (UNE).

  • No incio de julho deste ano, a As-sembleia Legislativa de So Paulo aprovou a criao dos vages exclu-sivos para mulheres nos metrs e trens da capital e regio metropoli-tana. A medida que, aparentemente, visa proteger as mulheres de assedio sexual e estupro , na realidade, um retrocesso no que diz respeito s polticas de igualdade de gnero no Brasil.

    Os vages exclusivos para mulheres j existem em outros lo-cais do mundo, como Japo, Egito, ndia, Ir, Indonsia, Filipinas, M-xico, Malsia, Dubai. No Brasil, fun-ciona no Rio de Janeiro e em Bras-lia, operando nos horrios de pico. O Projeto de Lei aprovado (175/13 ) de autoria do Deputado Jorge Caru-so (PMDB) e determina que as em-presas de transporte pblico ferro-virio criem vages exclusivos para passageiras do sexo feminino.

    As mulheres representam 55% do total de usurios do trans-porte pblico em So Paulo, o que por si s j torna a medida invivel - j que seriam necessrios ao menos metade dos vages em operaes somente para mulheres. Mas, para alm disso, a problematizao dos vages perpassa sobre as questes de gnero que orientam tal segrega-o.

    O assdio sexual muito fre-quente na vida de qualquer mulher. Seja no trabalho, na rua, na escola ou na universidade, a sexualizao e a objetificao dos corpos femini-nos so ferramentas da reproduo ideolgica da subordinao. Ou seja, o assdio e o estupro nada mais so do que resultados de uma relao de poder, pela qual o homem subjuga a mulher.

    Ao longo de toda a histria, a estrutura patriarcal se desenvolveu e se aprofundou de tal maneira que a culpabilizao da vtima mais do que natural. As mulheres aprendem sobre bons modos e a relao de po-der se justifica sob o argumento da natureza animalesca e incontrolvel do homem. O que vemos, de fato,

    a completa deformao da realidade em benefcio do grupo opressor.

    Essa deformao na rea-lidade evidencia-se, por exemplo, em polticas de suposta busca pela igualdade de gnero, como os va-ges. A segregao por gnero causa a falsa impresso de tranquilidade nos trajetos feitos pelas mulheres, mas na verdade apenas corrobora com a ideia de que o homem assedia e estupra por natureza. bvio que a desconstruo do machismo no se dar de um dia para o outro. Mas, at a, existem diversas outras me-didas e polticas pblicas que podem ser desenvolvidas sem retirar as mu-lheres do convvio com os homens, sem as escantear, responsabilizan-do-as pelo que sofrem.

    O preparo dos funcionrios do metr e dos trens nos horrios de pico, as campanhas massivas den-tro do transporte que suportem a ideia de que a vtima no tem culpa e o empoderamento das mulheres atravs da facilitao de denncias so, apenas como exemplo, formas de evitar e de diminuir o nmero de abusos que as mulheres sofrem coti-

    dianamente. Alm de tudo isso, de-vemos abordar a questo das e dos transsexuais, vtimas de preconceito e opresso de uma sociedade binria e machista.

    Os vages exclusivos so mais uma das polticas pblicas que reafirmam os gneros como mani-festaes estanques e, mais uma vez, causam o apagamento de gru-pos minoritrios. Ainda, vrias mu-lheres no tero como entrar nos va-ges exclusivos, ocupando os mistos e reafirmando a possibilidade de ser assediada, j que entrou no vago dos homens. Os vages exclusivos so objeto de crtica de diferentes frentes e abordagens feministas. Visto que promovem a segregao espacial, reafirmam o binarismo e legitimam a atitude de assediadores e estupradores, encontram na maior parte das correntes e coletivos femi-nistas brasileiros o total repdio. As Blogueiras Negras, a Marcha Mun-dial das Mulheres, as mulheres da CUT, do Levante Popular da Juven-tude e da Unio das Juventudes So-cialistas so grupos feministas que se posicionaram contra, por exem-

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u Vages Exclusivos para Mulheres u 7

    Ocupar Dever: a Luta Contra os Vages Exclusivos

    plo. Por outro lado, o movimento Mulheres em Luta foi favorvel medida, afirmando ser uma poltica necessria s mulheres trabalhado-ras (usurias majoritrias do trans-porte pblico).

    Acreditamos que a luta das mulheres no pode regredir. No podemos abrir mo daquilo que j conquistamos, preciso avanar-mos, exigirmos medidas coerentes de incluso e de segurana, seja no transporte, no caminho de casa, no trabalho ou em qualquer ambien-te privado. A histria da mulher j a histria da segregao, da im-possibilidade, da invisibilidade. No podemos perder aquilo que conquistamos.u

    E que nada nos sujeite, que

    nada nos defina. Que a liberdade seja a nossa

    prpria substncia. Simone de Beauvoir

  • Entrevista: Gilberto MaringoniXI - Qual sua opinio sobre o pluripar-

    tidarismo brasileiro, o qual forma legen-das ideologicamente contraditrias?

    Maringoni Olha, eu no acho que

    fato das legendas serem heterclitas seja um problema da estrutura, acho que um problema de como se forma a vida polti-ca, a correlao de foras, o financiamen-to de campanha, a disputa por poder e as coalises no Congresso Nacional. Ento voc faz com que as coalises permitam que um partido como o PMDB seja go-verno desde que samos da ditadura, foi governo no Sarney, no foi governo no Collor, mas vrios integrantes do PMDB hoje estavam naquela coligao, conti-nuam bordejando no governo do Itamar, com FHC eles fizeram parte da coligao, tendo inclusive o Renan Calheiros como ministro da justia, com o governo Lula isso continua. No um problema da organizao, um problema da maneira de como voc monta maiorias no Brasil. Isso vem do tempo do Imprio, a ma-neira de como um pas continental se integra e realiza seu pacto nacional para que as disputas regionais fiquem apenas no mbito local. O nosso problema so-bretudo o financiamento de campanha, que faz com que os partidos menores nem cheguem perto de sentir o cheiro da possibilidade de serem eleitos.

    XI Esse justamente nossa segunda pergunta, o que voc acha do atual fi-nanciamento de campanha com grande influncia do poder econmico nas elei-es?

    Maringoni Eu sou pelo financia-mento pblico de campanha, que cada partido tenha seu fundo garantido pelo

    Estado, com uma superviso legal mui-to rgida para que no haja abuso de poder econmico. Obviamente que os partidos maiores vo ter mais dinheiro e

    mais participao nesse bolo partidrio, mas nada que seja prximo a disparida-de que temos hoje. Hoje uma campanha para presidente da repblica est orada em mais ou menos 150, 180 milhes, a campanha do Plnio de Arruda Sampaio em 2010, salvo engano, estava orada em 200, 250 mil reais. quase cem vezes menos! Porque existem empresas que so fornecedoras do Estado, esse candi-dato se elege e vai devolver o favor na forma de obras, licitaes dirigias e ou-tras coisas mais. O financiamento pbli-co seria o ideal, porm eu acho que hoje, 2014, ele ser aprovado em prazo imedia-to. Por isso eu estou com a proposta da OAB de proibio de financiamento por parte de empresas, pois a pessoa jurdi-ca um ente estranho a cidadania e no deve ter um papel maior que esta no pro-cesso democrtico.

    XI Falando em voto, o que voc acha do sistema atual e das alternativas em debate, como a lista fechada e o voto dis-trital?

    Maringoni - Eu acho que o voto em lista o melhor para fortalecer os par-tidos, essa uma medida que pode for-talecer as legendas e dar mais homoge-neidade ideolgica e poltica. Porque os partidos escolhem quem so seus prin-cipais quadros e no tem mais aquela histria de quem tem mais dinheiro leva. Tudo bem que isso pode levar a um pro-cesso de que as maiores figuras ditem quem sero os candidatos, os caciques,

    mas eles existem com os sem lista fecha-da, ou voc acha que hoje os caciques no so os mais votados na eleio? Eles so. Mas voc passa a votar em um conjunto de ideias que est corporificada no par-tido poltico. Isso no s um problema da democracia brasileira, as democracias ocidentais cada vez mais se regem pelas leis do mercado, o voto uma mercado-ria, o mandato uma mercadoria valiosa e eu compro esse mandato com dinheiro na campanha eleitoral. No sou a favor do voto distrital, embora ele parea mais democrtico, j existe virtualmente uma regionalizao porque o indivduo vai votar no candidato de sua regio. Ago-ra, voc deve dar espao para o voto de opinio, quer dizer, eu acho que ningum aqui na minha cidade tem minha linha poltica e por isso vou votar em um can-didato de outra regio. Esse o voto de opinio que cresceu muito no perodo da redemocratizao.

    XI O que voc acha da baixa repre-sentatividade de mulheres na poltica, apesar da exigncia de um tero das re-presentantes?

    Maringoni - Eu no sei hoje quanto esse nmero, mas tenho certeza que muito abaixo do que as mulheres re-presentam na sociedade como um todo. Isso no s uma expresso do sistema poltico, mas do peso que mulher tem na sociedade. Apesar de termos uma presi-denta, mais duas lderes na Amrica do Sul e algumas governadoras, a presena da mulher na poltica muito menor do que o necessrio. Eu acho que essa pro-poro tem que aumentar, assim como a proporo de negros, indgenas tantas outras minorias da populao brasileira. A eleio expressa o que a sociedade, um peso de machismo muito grande e enorme preconceito.

    XI Falando em polticas afirmativas, o que voc acha de as trs universida-des estaduais paulistas no terem cotas raciais, visto que a universidade em que voc leciona j tem cotas?

    Maringoni Sim, eu dou aulas de Re-laes Internacionais na Universidade Federal do ABC, e a UFABC uma univer-sidade que j nasceu com sistema de co-tas, que no apenas tnico-racial, mas

    tambm socioeconmico. O que muito interessante, porque atende no s o real problema da populao negra e indgena, mas tambm o dos pobres, que devido ao ensino pblico so forados a estudar nessas arapucas privadas que pululam por a e se expandiram muito no gover-no FHC e Lula, em que se aumentou o nmero de vagas com cursos de pssima qualidade. Ento temos que aumentar as cotas sociais e tnico-raciais, na UFABC de 50 a 60 por cento dos alunos estuda-ram ou integramente ou parcialmente na escola pblica. O fato de isso no aconte-cer na USP, na qual eu fiz minha gradua-o, um escndalo, um elitismo que a universidade brasileira no pode man-ter, precisamos de um ensino superior de massas. Temos que corrigir a escola pblica para que ela seja competitiva. mito que os cotistas no acompanham o curso, na UERJ agora completaram 20 anos de cotas e o desempenho dos alu-nos beneficiados maior ou igual m-dia dos alunos no cotistas.

    XI - Isso nos leva a pensar em polticas de permanncia estudantil. No entanto, passamos por uma enorme crise ora-mentria nas trs grandes universidades paulistas. Como voc enxerga o geren-ciamento dessa crise pela reitoria e pelo Estado de So Paulo?

    Maringoni - Existe uma crise nas trs universidade, mas ele ficou mais clamo-roso na USP porque ela concentra 30% ou mais da pesquisa do pas em todas as reas, seja nas reas tecnolgicas, biom-dicas ou humanas. Ento, um corte ora-mentrio tanto na UNICAMP, quanto na UNESP, e mais especificamente na USP compromete o desenvolvimento da pes-quisa. Claro que se deve faz uma audito-ria de como foram geridas essas contas. Eu, por exemplo, estou partindo da ideia de que existam na universidade marajs. Eu vi recentemente uma lista de super-salrios, no h supersalrio algum! A apenas profissionais de ponta, que es-to a 30, 35 anos na profisso e tem um salrio compatvel a suas competncias. Alas, muito abaixo de qualquer pesqui-sador da iniciativa privada, as vezes 5, 6 vezes menor.

    XI - Por outro lado, temos setores da

    u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu ENTREVISTA COM MARINGONI u8

  • universidade que foram precarizados com a terceirizao.

    Maringoni - Com certeza, colocam um trabalhador sem vnculo, que penali-za o trabalhador, e mesmo assim isso fica mais caro, mas no entra na rubrica de pessoal. Parece que temos uma lei de res-ponsabilidade fiscal dentro das universi-dades. Mas o que tem que ser feito au-mentar a alquota do ICMS destinadas s universidades e tirar de cena essas ideias que no levam a nada de cobrar mensa-lidade. Isso querer jogar a responsa-bilidade pra cima da universidade, que no dela e sim de seus gestores, de que pobres no entram nos cursos mais con-corridos. Cobrando mensalidades, voc elitiza ainda mais e no resolve problema algum, porque a a universidade vai ficar a merc do mercado mais do que j .

    XI - Mudando um pouco de foco, como voc tem visto a represso policial ma-nifestaes? Sejam elas estudantis, de movimentos sociais ou de sindicatos?

    Maringoni - A formao das foras de segurana brasileiras, que vem do tempo do Imprio com as Guardas Nacionais, foram estruturadas basicamente para ca-ar escravos. A polcia no Brasil foi feita pra reprimir o escra-vo, o pobre, os setores vulnerveis da socie-dade brasileira. Temos represso principal-mente nos anos 1880, represso greves, a manifestaes anti-es-cravido muito violen-tas, especificamente no Rio de Janeiro, no norte fluminense, nas reas do caf. Isso se consolidou na repbli-ca, tendo inclusive ma-tadores profissionais dentro da polcia, como o Tenente Galinha. Era uma coisa brutal con-tra os pobres, a repres-so contra Canudos, o Contestado. Se apro-funda no Estado Novo, se aprofunda mais ain-da na ditadura, porque no fundo, quando voc reprime os pobres, voc reprime tambm os movimentos de emancipao dos po-

    bres e os movimentos sociais. Isso que a gente tem em So Paulo uma herana exacerbada de uma cultura que ns te-mos. Mas qual o diferencial agora? Essa poltica repressiva encontra um grande respaldo na opinio pblica. uma dis-puta que precisamos fazer na sociedade, porque no podemos ficar dependendo dos meios de comunicao insistindo e investindo nesse tipo de ao violenta. Claro que a polcia necessria em qual-quer Estado, no vamos abolir a polcia, mas no se pode ter uma polcia que est s para resolver o problema em seu l-timo grau que o confronto armado, quando a violncia j endmica e temos um nvel de descontrole social absurdo. No a pobreza que gera a violncia, mas sim a desigualdade.

    XI - Sobre a poltica de drogas, como voc enxerga essa questo?

    Maringoni - A violncia afasta a fre-guesia. Voc no vai beber cachaa em um bar, se l tem briga toda hora, quebra pau. Se voc que beber, assistir seu jogo, jogar seu bilhar tem que ser em um am-biente tranquilo. A mesma coisa so as drogas, mas como a droga ilegal e existe uma disputa desse mercado que envolve

    vrios agentes, inclusive uma parcela das foras de segurana, esse conflito acaba sendo permanente. A legalizao um dos meios de resolver esse problema, agora isso deve ser pensado. Deve-se fa-zer uma pesquisa na sociedade para ava-liar as drogas de maior incidncia e libe-ralizar algumas das mais leves, isso que dizer que no acho que devemos liberali-zar o crack, por exemplo. Agora a maco-nha no tem porque ser ilegal e a mais difundida entre parcelas da juventude, alm de causar menos dano fsico que o lcool. A legalizao no tem que ser ge-ral, o exemplo o Uruguai, com o Estado controlando a venda, tendo um cadastro regularizado para os compradores, uma cota de consumo mensal. O Estado pode controlar o comrcio, ficando muito me-lhor do que hoje, uma guerra.

    XI - O que voc acha da atual poltica externa brasileira, que abre dilogos com os pases latino americanos, africanos e asiticos?

    Maringoni - Eu acho que ns tivemos uma inflexo na poltica externa desde 2002 na qual o Brasil procurou novos parceiros devido a conjuntura de crise da poca. Em vez de ter 2 ou 3 grandes par-

    ceiros, Unio Europeia e EUA, a poltica do Lula e do Celso Amorim foi de pul-verizar os parceiros na frica, na sia, Oriente Mdio e na Amrica Latina. E nesse ciclo de alta das commodities foi muito interessante, porque esses pases estavam com capacidade de compra dei-xando nossa balana superavitria, em-bora o superavit tenha cado. Essa pol-tica foi muito importante, necessitando de uma integrao maior para investir no desenvolvimento dos nossos parcei-ros.Investir em Cuba e na Venezuela aumentar o poder de compra desses pa-ses para que importem produtos brasi-leiros. A fazem um grita sobre o porto de Mariel em Cuba, o Brasil no deu um tosto para Cuba. O porto foi financiado via emprstimo do BNDES e construdo por empresas brasileiras. Da vem alguns colunistas picaretas da grande mdia fa-lar que o Brasil est dando um porto pra Cuba, o governo est ganhando duas vezes! Com o investimento e a venda de produtos.Financiar obras no Equador, Venezuela, Cuba um golao que a diplo-macia brasileira faz! u

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u ENTREVISTA COM MARINGONI u 9

  • 2 quinzena de maro de 20xi | O Onze de Agostou Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu Parceria: o Plano Diretor u10

    Depois de mais de nove me-ses do envio do projeto o Plano Diretor Estratgico (PDE) de So Paulo foi fi-nalmente aprovado na ltima segunda--feira (30). O Plano estabelece diretrizes para o desenvolvimento da cidade nos prximos 16 anos e trouxe importantes avanos em relao ao anterior, de 2002. A tentativa de estabelecer al-gum freio para o predomnio do merca-do imobilirio sobre o crescimento da cidade se concretizou na definio dos Eixos Estruturantes, que so regies onde haver maior estmulo ao adensa-mento em funo da oferta de transpor-te pblico. a busca de um respiro para uma cidade que j colapsou por conta do incentivo ao transporte individual e pela lgica da periferizao, que afasta cada vez mais os trabalhadores de seu local de trabalho.O desafio da moradia popular tambm foi enfrentado. E que desafio! So Paulo tem um dficit habitacional de mais de 700 mil famlias; cerca de 1,3 milho de pessoas vivendo em favelas; e outras 2,5 milhes que moram em loteamentos ir-regulares. Se somarmos, quase metade

    da populao paulistana afetada pelo problema da moradia precria ou irre-gular. O novo PDE praticamente du-plicou a quantidade de reas destina-das moradia popular: as ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) passaram de 17 km para 33 km. Esta reserva de rea representa um importante passo, principalmente se considerarmos que o apetite do mercado tornou a falta ou va-lor excessivo do solo o maior problema para construo de moradias populares na cidade.Alm disso, a presso popular deu con-dies para que o Plano definisse que 60% das habitaes construdas nas ZEIS tm que ser destinadas a famlias com renda mensal inferior a trs salrios mnimos. Tendo em conta que mais de 70% do dficit habitacional brasileiro refere-se a esta faixa percebemos o quo importante foi esta limitao para en-frentar de fato o problema de moradia em So Paulo.Houve ainda outros avanos. O fortale-cimento das regras de aplicao da fun-o social da propriedade para combater

    reas utilizadas para especulao imo-biliria, com mecanismos como IPTU progressivo e desapropriao sano, foi um deles. Outro foi o estabelecimento de uma poltica municipal de preveno de despejos forados, seguindo passos j indicados - tambm sob presso - pelos governos federal e estadual. De todos os avanos talvez o mais inovador seja a Cota de Solidarie-dade. Mas ela tambm expressa os limi-tes do PDE. A proposta original da Cota era - ao estabelecer uma doao de 10% da rea de empreendimentos com mais de 20 mil m para habitao popular - um enfrentamento segregao urbana. Os condomnios de alto padro teriam que aprender a conviver com gente diferenciada ao seu lado, muro a muro. Mas a a presso do mercado entrou em campo e a Cota foi relativi-zada. Na forma final, o empreendedor no precisa mais repassar parte da rea, podendo fazer a contrapartida em di-nheiro. E se optar por terra no precisa ser mais na mesma rea, podendo ser na Macrozona. Prevaleceu neste caso a lgi-ca da segregao.

    A Batalha do Plano Diretorpor Guilherme Boulos

    Muito se falou das presses para a aprovao do Plano. verdade, os avanos obtidos no teriam sido poss-veis se no fosse a intensa presso popu-lar. Mas esta foi apenas a presso mais visvel. Foram inmeras mobilizaes dos movimentos e uma participao am-pla nas audincias pblicas de debate do PDE. O MTST (Movimento dos Traba-lhadores Sem Teto) permaneceu acam-pado em frente Cmara durante sete dias at a aprovao do Plano. Nem sempre porm a maior presso a mais visvel. Em sua discus-so o Plano foi objeto de uma presso muito mais violenta por parte dos lobis-tas do mercado imobilirio. A presso silenciosa de um engravatado pode ter mais efeito que o barulho dos descami-sados. A presso de bastidores dos em-presrios foi pesada e tambm incidiu no resultado final do Plano, como vimos no caso da Cota de Solidariedade. Ou al-gum se atreveria a subestimar um setor que investiu que investiu mais de R$22 milhes em doao de campanha para os

    atuais vereadores de So Paulo? O PDE de 2014, apesar dos ex-pressivos avanos, no reverte a lgi-ca excludente de desenvolvimento da cidade. Nas atuais relaes de fora e com o atual sistema poltico nenhum Plano poderia faz-lo. Enquanto as em-preiteiras controlarem valiosos espaos no Estado atravs do financiamento privado de campanhas eleitorais no conseguiremos mudanas estruturais no sentido de uma verdadeira Reforma Urbana. E mais. Estaremos sempre su-jeitos a que mesmo os avanos pon-tuais no sejam implementados. O Plano de 2002 foi praticamente en-gavetado pelas gestes municipais anteriores. Seus pontos mais avan-ados foram solenemente ignorados. Por isso, passada a batalha da apro-vao do PDE, teremos agora a bata-lha por sua implementao efetiva.u *Guilherme Boulos, 32, formado em fi-losofia pela USP, professor de psicanlise e membro da coordenao nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Tambm atua na Frente de Resistncia Urbana e autor do livro Por que Ocupamos: uma Introduo Luta dos Sem-Teto

  • Por que os EUA perdem e temem o avano dos BRICS O Brasil e os Es-

    tados Unidos, cada um por suas razes, acabam de retirar seu pessoal di-plomtico de Trpoli, na esteira da desastrada in-terveno dos EUA e da OTAN na Lbia, que teve como consequncia a en-trega de uma das mais desenvolvidas naes do continente africano a uma matilha de quadri-lhas radicais islmicas, aps a derrubada e o assassinato de Muamar Kadafi, em 2011.

    Braslia est fe-chando sua embaixada para proteger seus fun-cionrios. Os EUA, por-que, assim como ocor-reu no Iraque, foram taticamente derrotados e falharam em colocar no poder governos fan-toches, apesar de terem destroado poltica e socialmente esses pa-ses, deixando, como est acontecendo na Sria, como rastro de sua in-terferncia, direta ou indireta, centenas de milhares de mortos e milhes de re-fugiados.

    nico pas do mundo a possuir, sem necessidade de lastro, uma impres-sora de dinheiro em casa, e a contar com gigantesca mquina de inteligncia, es-pionagem e propaganda, os EUA teriam tudo para, se quisessem, como diria o terico da auto-ajuda Dale Carnegie, ganhar amigos e influenciar as pesso-as, incentivando a paz e o desenvolvi-mento nos pases mais pobres, por meio de soft power.

    Cinco principais razes, no en-tanto, impedem a repblica norte-ame-ricana de fazer isso:

    Em primeiro lugar, o grande business do medo, tocado, protegido, ir-rigado como frondosa e delicada rvore, todos os dias, por milhares de pseudo--intelectuais, filsofos, acadmicos, pesquisadores e jornalistas, que vivem

    de provocar, induzir e realimentar as indstrias do anticomunismo, do anti--islamismo, do anti-chinesismo, do anti-russismo, do anti-castrismo, do anti-bolivarianismo, etc.

    Em segundo lugar, o complexo impe-rial da direita fundamentalista norte--americana, que acredita, piamente, ter herdado, dos pais fundadores, exclusivo e expresso mandato recebido como as Tbuas da Lei diretamente das mos de Deus, para conduzir o mundo e o des-tino da Humanidade.

    Em terceiro lugar, a poltica interna, na qual democratas e republicanos, e concorrentes a indicaes e a candida-turas, s vezes at do mesmo partido, se acusam mutuamente de desdenhar a se-gurana, o que coloca a questo da defe-sa sempre em primeiro plano no embate poltico, partidrio e eleitoral.

    Em quarto lugar, os interesses de um imenso complexo industrial-militar que

    movimenta milhes de pessoas e centenas de bi-lhes de dlares na pes-quisa, desenvolvimento e fabricao de novas armas, que precisam ter sua existncia justificada e ser usadas de alguma forma.

    E, finalmente, em quinto lugar, uma pol-tica externa e uma di-plomacia que no con-seguem sobreviver sem a desconfiana e a ar-rogncia. Em seu trato com o resto do mundo, principalmente as na-es menos favorecidas, os Estados Unidos pode-riam usar a cenoura, mas preferem, como qual-quer valento de bairro, brandir o porrete, por-que isso lhes d prazer e a iluso de fora.

    Com base em menti-ras, como a existncia de armas de destruio em massa, os EUA mataram Saddam Hussein e der-

    rubaram Muammar Kadafi, armando um bando de psicopatas que linchou, no meio da rua, a socos e pontaps, o lder lbio, transformando seu rosto em uma espcie de hambrguer.

    Era Kadafi um tirano? Quando convi-nha, a Europa e os EUA no se aliaram e fizeram negcios com ele, assim como com outros ditadores que so ou foram apoiados pelo ocidente, em estados como a Arbia Saudita ou os Emirados rabes, ou em pases como o Chile de Pinochet e a Indonsia de Suharto ?

    Sob a liderana de Saddam Hussein, o Iraque chegou a ser um dos pases mais prsperos do Oriente Mdio, com uma infraestrutura invejvel, boa parte dela construda por brasileiros nos anos 1970 e 1980; e a Lbia, sob Muamar Ka-dafi, tinha o maior IDH africano.

    Hoje, depois de guerras fomentadas e promovidas pelo ocidente, os dois pases esto entregues a rebeldes isl-

    micos radicais, perto dos quais Kadafi e Saddam Hussein pareceriam anjos. E os Estados Unidos, depois de um custo financeiro e humano incalculvel, esto saindo de Trpoli e de Bagd escorraa-dos, como saram do Vietnam e da So-mlia.

    Em Von Kriege, Clausewitz escreveu que a guerra a continuao da poltica por outros meios, querendo afirmar a primazia da razo poltica sobre a for-a das armas. Para os Estados Unidos, a poltica a continuao da guerra.

    De uma guerra permanente que os ope como podemos ver pela espiona-gem contra seus prprios aliados, entre eles a Alemanha ao resto do mundo.

    No por acaso, as nicas vezes em que os EUA foram efetivamente bem sucedi-dos, do ponto de vista blico, foi quando lutaram claramente no em defesa de suas empresas e de sua elite, mas pela li-berdade, no conflito contra a Inglaterra pela independncia de seu territrio, e na Primeira e na Segunda guerras mun-diais.

    A Guerra Fria no passou de uma es-tratgia contnua e paranoide de isolar e enfraquecer a Unio Sovitica, que sara da Segunda Guerra Mundial e da Bata-lha de Berlim como uma nao vitorio-sa, sem a qual o nazismo no teria sido derrotado.

    Hoje, embora no o admita, a direita norte-americana est extremamente preocupada com o avano do BRICS e mais especialmente da China.

    Nos prximos anos, se os EUA no mudarem, esse avano ser cada vez mais eficaz e inexorvel.

    No pelo fato de que Pequim esteja se armando militarmente, assim como os outros BRICS. Mas porque, na maioria dos lugares em que chegam, pases como o Brasil e a China o fazem por meio de obras, comrcio, investimentos, portos, estradas, pontes, ferrovias. E os Esta-dos Unidos, a OTAN, e seus aliados, por meio de mentiras, intrigas e discrdia, bombardeios, drones e porta-avies.u

    *Mauro Santayana jornalista brasileiro.

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u Parceria: Poltica Internacional u 11

    por Mauro Santayana*

  • 2 quinzena de maro de 20xi | O Onze de Agosto

    Aps revisitar a tesouraria:Em nome da Transparncia

    Na ltima edio do jornal Tribuna Livre, a gesto do Centro Acadmico XI de Agosto publicou um texto ex-plicativo acerca da tesouraria da en-tidade, intitulado Nossa tesouraria revisitada: esclarecimento e transpa-rncia. Essa matria buscou enfati-zar dois aspectos: como funcionam as finanas da associao em que pro-curamos deixar clara a problemtica estrutura que torna o balano mensal naturalmente deficitrio, obrigando a diretoria a arrecadar recursos extras capazes de suprir os impostos, os sa-lrio dos trabalhadores, os repasses das entidades etc. e como a atual gesto recebeu o caixa quando de sua posse, no fim de 2013. Este ltimo aspecto, porm, gerou uma srie de especulaes a respeito da conduta da diretoria, ao que cabe um importante esclarecimento. Primeiramente, o fato que gerou maior turbulncia diz respeito divulgao de uma nota fiscal data-da de 6 de novembro de 2013 emitida pela empresa Tesouro Laser Cpias e Comrcio LTDA do ramo de xerox e fotografia , em que constava o nome de um membro da antiga diretoria. A anexao de tal documento ao texto, todavia, evidentemente no visava

    a expor qualquer antigo diretor que fosse; tratava-se to somente de pu-blicizar uma pendncia da gesto Mo-vimento Resgate Arcadas e cobrar-lhe esclarecimentos. Entretanto, necessrio que se faa a autocrtica. Reconhecemos que, muito embora se trate de um documento pblico acessvel em sua integralidade por qualquer associado ao Centro Acadmico XI de Agosto, a ocultao do nome do referido mem-bro da antiga gesto teria sido uma medida mais apropriada inclusive do ponto de vista de a que cumpria tal texto, uma vez que se desviou a ateno de fatos e nmeros muito im-portantes para uma questo de menor relevncia. Afinal, o pedido de escla-recimento no se direcionava a essa pessoa que, como a prpria nota evi-dencia, exercia apenas o contato com a empresa , mas, sim, a toda a dire-toria de 2013. Dessa forma, qualquer associao direta entre o respectivo membro e os fatos ali narrados inde-vida, de maneira que nos retratamos espontaneamente por uma especula-o que poderia ter sido por ns evita-da. O fato em questo correspon-de a uma dvida de R$343,70 do XI

    de Agosto empresa Tesouro Laser datada da vspera do primeiro dia de votao do segundo turno da eleio ao Centro Acadmico, em que dispu-tavam o Movimento Resgate Arcadas pela reeleio e o Coletivo Contrapon-to. No primeiro dia de votao, como se sabe, apareceram vrios materiais artsticos, em geral de folha A3, cola-dos ao cho em toda rea que se esten-de da escada do trreo at a Sala dos Estudantes. Tratava-se de materiais de divulgao de eventos realizados pelo XI de Agosto ao longo das lti-mas gestes Resgate, de maneira que, obviamente, foram usados como obje-tos de campanha pela reeleio. A associao entre a dvida descoberta na Tesouro Laser e a uti-lizao de tais materiais de campanha eleitoral surgiu a partir da coincidn-cia de datas e do fato de a referida em-presa ser o estabelecimento em que o XI de Agosto comumente produz seus materiais de divulgao. No mais, o que o texto publicado na ltima edi-o desta Tribuna Livre objetivou foi o levantamento desta hiptese e o pedido pblico de esclarecimento para a antiga diretoria. Cabe, aqui, fazer al-gumas observaes. Em primeiro lugar, necess-

    rio ficar claro que a principal razo de se ter pedido tal esclarecimento consiste em, at a presente data, a an-tiga gesto do XI de Agosto (Movimen-to Resgate Arcadas) no haver realiza-do a prestao de contas da entidade referente ao ltimo perodo de 2013. Essa injustificvel falta de transpa-rncia no pode ser naturalizada, afinal todas e todos estudantes tm o direito de conhecer as movimentaes dos recursos da as-

    sociao, evidenciando suas origens e fins; cabe diretoria, portanto, dispo-nibilizar essas informaes por meio de reunies abertas. Alm disso, importante res-saltar que, quando da transio da an-tiga gesto (2013) para a atual (2014), a nova diretoria sequer foi comunica-da da existncia dessa dvida. Certa vez no incio deste ano, quando foi en-comendada Tesouro Laser a pro-duo de determinado material grfi-co de divulgao, fomos impedidos de faz-lo em razo dessa pendncia. A dificuldade encontrada no se limita impossibilidade de se produzir tal ma-terial, mas sobretudo necessidade de se quitar uma dvida de R$809,77 (que inclui o valor j mencionado, bem como outros). Isso porque alm de a tesouraria naturalmente enfren-tar dificuldades, o comeo do ano a poca de maior adversidade financeira haja vista do pagamento legtimo de 13o salrio aos trabalhadores, do re-cesso do Centro de Idiomas etc. Dessa maneira, o surgimento inesperado de uma dvida dessa monta foi algo que complicou ainda mais o planejamento financeiro da atual gesto no incio de 2014. Ademais, como detalhado na ltima edio desta Tribuna Livre, a dvida na Tesouro Laser no se tra-tou de caso isolado. Juntamente com ela, apareceram inesperadamente d-vidas com a empresa CTC do ramo de xerox , com a Atltica e com a or-ganizao da Peruada de 2013, alm de repasses atrasados a diversas en-tidades. At mesmo o recurso do or-amento participativo que em 2013 deveria se destinar, conforme votao realizada, Academia de Letraz e ao Arcadas Vestibulares no havia sido regularmente repassado. O caso mais grave foi o inadimplemento dos repasses para a Casa do Estudante, que ficou meses sem receber quantia alguma em 2013. Devido a isso, acumulou-se uma dvi-da de mais de R$40.000,00 do XI de Agosto com essa entidade, cujo papel no que se refere permanncia estu-dantil da mais absoluta importn-

    u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu Transparncia u12

  • cia. Como se v, as questes colo-cadas na matria do ltimo Tribuna Livre vo muito alm do pedido de esclarecimento antiga diretoria so-bre a dvida com a Tesouro Laser. Dessa maneira, no mnimo lamen-tvel que a resposta do Movimento Resgate Arcadas tenha se limitado a uma nota de repdio ao que chamou de inverdades presentes no texto, destinadas a uma desonesta acusa-o da gesto Contraponto com o objetivo de diminuir seus adversrios polticos, para satisfazer sua nsia

    pela reeleio [trechos copiados lite-ralmente da nota divulgada em seu blog]. No se sabe a que exatamente correspondem tais inverdades, haja vista de que essa nota de repdio no contestou um nmero ou fato sequer do que foi apresentado. Caso se refi-ra pendncia com a Tesouro Laser a partir da hiptese efetivamente levantada no texto infelizmente o repdio no veio acompanhado do de-vido esclarecimento, de modo que se mantm desconhecido o objeto dessa dvida

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u Transparncia u 13 Qualquer postura vitimizan-te diante de um legtimo pedido de esclarecimento no compatvel com uma instituio da grandeza do Cen-tro Acadmico XI de Agosto. No mais, reagir a esse pedido com agressivos ataques em que se colocam em sus-peio at mesmo a boa-f e a digni-dade dos atuais diretores e diretoras da entidade corre na contramo de um debate de mrito, em que se discu-tem materialmente fatos e verses e em que se deve admitir, com absoluta proeminncia, a autocrtica. O objetivo da referida matria

    na ltima Tribuna Livre era cumprir a transparncia que o XI de Agosto exige. Pedidos pblicos de esclareci-mentos, portanto, no devem ser con-fundidos com tentativas sorrateiras de diminuir adversrios polticos, pois, a sim, tenderamos a esvaziar o debate de contedo poltico.Isto posto, em nome da transparn-cia mantm-se o convite para a antiga diretoria apresentar suas explicaes sobre os nmeros e fatos discutidos, alm da devida prestao de contas cuja pendncia se encontra prestes a completar um ano.u

  • 2 quinzena de maro de 20xi | O Onze de Agosto

    Em maio, o Conselho de reitores das Universidades Estaduais de So Paulo (Cruesp) anunciou o congelamento dos salrios de professores e servidores das trs universidades do Estado: USP, Uni-camp e Unesp. A justificativa seria o peso que as folhas de pagamento representa-riam aos oramentos das instituies, que tm o repasse de 9,57% do ICMS ar-recadado pelo governo do Estado. O gasto com pessoal consumiria 105% dos recur-sos da USP, 97,33% da Unicamp e 95,42% da Unesp. O Frum das Seis, rgo que re-ne os sindicatos de professores e trabalha-dores das trs universidades, rebate com o fato de que houve uma ampliao de 93% das vagas nas faculdades que no foi acompanhado pelo aumento de verba des-tinada a elas. Ainda, h grandes problemas no que se refere correo do clculo, por

    CRISE INSTITUCIONAL DA USPexemplo, pois a ADUSP diz que no houve o repasse de 2 bilhes no perodo de 2008 a 2011, que seriam devidos autarquia de ensino superior paulista. Agora, a nova gesto quer trans-ferir a conta para os trabalhadores, reali-zando o congelamento dos salrios que, considerando o fator inflao, trata-se de arrocho, com reduo do poder de compra dos trabalhadores e consequente precari-zao de sua condio, inclusive chegando ao absurdo de culpabiliz-los pela crise financeira das universidades, ao afirmar que supostamente se gasta demais com a folha salarial. Se h desequilbrio de vencimentos indevidos ou supersalrios, cabe administrao apurar e demonstrar caso a caso, fazendo as devidas correes. Impor perda a toda categoria em virtude de m gesto e falta de transparncia, es-sas sim as reais responsveis pela situao

    calamitosa das contas e do prprio ensino dessas universidades. Contra essa medida entraram em greve professores e trabalhadores das trs instituies: USP, Unesp e Unicamp. Aps muita negociao e presso, profes-sores da Unicamp aceitaram, no dia 31 de agosto, ltima quinta-feira, a proposta da reitoria de receber um abono de 21% so-bre o salrio de julho, suspendendo a gre-ve, mas no as mobilizaes e nem o apoio aos trabalhadores da USP e UNESP. A greve dos trabalhadores da Universidade de So Paulo j perdura por trs meses, mostrando um cenrio crtico para toda a comunidade acadmica. No dia 4 de agosto, a reitoria efe-tivou os descontos nos salrios dos gre-vistas aps se furtar a novas negociaes, em contraste postura da UNICAMP que concedeu abono aos professores e com

    isso conseguiu a suspenso da greve.A USP, porm, manteve postura diferente e empregou dos meios tradicionalmente utilizados pelo poder pblico do Estado de So Paulo no trato das reivindicaes trabalhistas, como se observou na greve dos metrovirios ocorrida este ano na ca-pital.Sem entrar em qualquer espcie de acor-do, a administrao da universidade de-terminou a dissoluo dos piquetes na Ci-dade Universitria atravs do uso da fora policial, nos dias 03 e 20 de agosto. Tais expedientes, cumpre notar, no se tratam de autoritarismo gratuito, suposta sanha belicosa ou fetiche pelo militarismo. Andam, a bem da verda-de, de mos atadas com outra forma de controle, a econmica. Ao mesmo tempo em que a USP aciona o aparato repressor do Estado, recurso que no avana em

    u Agosto de 2014 u Tribuna Livre uu Crise na USP u14

  • Participe enviando seu texto para [email protected]!

    nada nas negociaes, foi determinada a contabilizao dos dias em greve como faltosos, o que acarreta no corte dos sa-lrios que seria devido a esses dias. Logo aps, foi elaborado um plano de demis-ses em massa. Ou seja, os trabalhadores alm de terem seus vencimentos corta-dos, ficam na insegurana de poderem ter sua situao ainda mais agravada, merc de sofrerem a mesma sano que os me-trovirios paulistas sofreram: demisso em massa como forma de encerrar a gre-ve. Claramente, esse o planejamento da administrao da USP, que, disfarando--o com o manto de voluntria, objetiva acabar com a greve sem o reajuste devido aos funcionrios.Direito de Greve Sob Ameaa A grande questo que se pode muito bem utilizar tal plano como falso pretexto para afirmar que houve tentati-va de negociao, e, com isso, proceder estratgia de judicializao da greve para decret-la como abusiva, e ento aumen-tar ainda mais a represso ao movimento paredista. O parecer elaborado pelo Dire-tor e professores da Faculdade de Direito da USP, que, ironicamente, argumentam contra a greve da prpria categoria da qual fazem parte e procuram embasar com argumentos jurdicos o corte salarial. Quando as negociaes falham, o que frequentemente ocorre, em vista da disparidade econmica que permeia as

    relaes de trabalho, ao trabalhador resta a ferramenta de greve, que, importante notar, no surgiu quando da sua positi-vao jurdica, mas se trata antes de um fato social, tanto um meio de presso por melhorias como uma manifestao da co-letividade trabalhadora em interromper o trabalho em condies insustentveis, visando sua prpria sobrevivncia e dig-nidade. Como surge no conflito, e sendo a greve conflito garantido constitucional-mente, h de se observar no direito de greve elemento essencial da garantia do trabalho digno, sendo portanto parte da prpria esfera do trabalho. E durante a greve o momento em que as relaes de trabalho, as relaes produtivas e de capital evidenciam suas prprias crises, contradies e limites da capacidade de promover princpios ditos constitucionais, como dignidade, funo social do trabalho e iniciativa privada. Tal conflito mostra como a produo econ-mica e a propriedade no so direitos na-turais que se estabelecem por si, por meio de supostas trocas mercadolgicas natu-rais, fluidas, contnuas e tranquilas, mas se assentam em bases de represso e uso de fora toda vez que esse aparente equil-brio desafiado. Um equilbrio que, portanto, pende para o lado de quem tem a seu fa-vor foras policiais e o domnio da pro-priedade (que se baseia justamente nes-

    sas foras policiais), organizando sob seu julgo a produo, se constituindo a massa trabalhadora em parte dessa cadeia pro-dutiva e, portanto, sujeita tambm a ser dominada e reprimida, historicamente, sempre que se prope a diminuir esse de-sequilbrio que mantido pelo sistema de propriedade atravs do aparato repressi-vo. O Desmanche da Universidade A Greve de nossa Universidade segue e, prestes a completar 100 dias de durao, vive um cenrio muito complica-do. Dentre as propostas de reestruturao da USP apresentadas pelo reitor, alm do acima exposto PDV (Plano de Demisso Voluntria), encontramos outros claros pontos de um projeto ainda maior, o de privatizar a Universidade de So Paulo. Dentre eles importante citar a tentativa de desvincular o Hospital Universitrio da USP (HU) e o Hospital de Anomalias Craniofaciais (HRAC).

    Na tera-feira (26/08) ocorreu a reunio do Conselho Universitrio (CO): em pauta (i) a desvinculao do HU e do HRAC; (ii) o PDV. Contrrios baixa representao de estudantes e trabalhadores no rgo, estudantes se somaram Comando de Gre-ve dos Trabalhadores no ato em frente ao Instituto de Pesquisas Tecnolgicas, onde era realizado o CO. Aps presso, a desvinculao dos hospitais foi retirada da pauta para avaliao em 30 dias. Contudo, aps o esvaziamento do ato, que entrava no pe-rodo noturno, em manobra posterior, a desvinculao do HRAC foi recolocada em discusso e aprovada pelo CO. Pretende-se reproduzir o mo-delo privatista do Hospital das Clnicas, gerido por uma Organizao Social de Sude, sem transparncia e contrria l-gica democratizante do Sistema nico de Sade.u

    u Tribuna Livre u Agosto de 2014 u u C rise na USP u 15

  • de 2014 eram apenas os do intervalo de 1999 at 2007. Sabendo disso, a atual gesto organizou duas aes: a primeira delas foi a de regularizar os livros de 2008 a 2012, que j se encontravam no Centro Acadmico. Para isso, era necessrio (i) contatar todxs xs ex-presidentes do XI nos respectivos anos para que eles as-

    sinassem os livros de suas gestes e (ii) registrar os livros em cartrio, para que pudessem ser apreciados pelo juiz. Tal medida foi bem sucedida pois hoje con-tamos com todo o intervalo formalmen-te regular. A segunda delas: encontrar os livros anteriores a 1999, para conseguir as assinaturas e reconhece-los nos cart-rios. Nesse sentido, a gesto revirou os arquivo do XI e os arquivos da Faculdade de Direito, obtendo uma vitria parcial. Os livros dos anos de 1994 a 1998 foram recuperados e esto em processo de re-gularizao, o que nos deixa mais otimis-

    ta em relao ao processo de imunidade. Segundo informao do presidente de 1994, tambm contatado por ns, os li-vros anteriores ao ano de 1994 no exis-tem, tendo sua gesto contratado pri-meiramente o servio de contabilidade. A deciso do processo de imu-nidade foi publicada no Dirio Oficial da Cidade de So Paulo no dia 8 de agosto.

    Por no ter os livros contbeis dispo-sio, o juiz sequer analisou o mrito do pedido e exigiu a apresentao dos docu-mentos comprobatrios. Portanto, cabe ainda a apresentao dos livros de 1994 a 1998 e 2008 a 2012, aumentando a probabilidade da manuteno do proces-so de imunidade do XI de Agosto.

    Processo de Execuo Fiscal Importante notar que a dvida do XI pode alcanar a sifra de 29 milhes de reais e, caso executada, cair sobre a propriedade do XI (p. ex. Fundo do XI, Casa do Estudante, Campo do XI, contas

    Informes sobre a regularizao tributriado Campo do XI

    Em 1955, Jnio Quadros, ento Governador de So Paulo, mediante a Lei 3093, faz a doao do terreno localizado na Avenida Doutor Dante Pazzanese ao Centro Acadmico XI de Agosto. Atual-mente, este terreno conhecido como Campo do XI, um dos espaos francisca-nos onde realizamos atividades esporti-vas e de integrao estudantil. Contudo, a iseno fiscal, que beneficiava o XI desde a doao do terre-no, foi removida em 1987, recaindo so-bre a entidade, desde ento, a cobrana do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) do terreno. Tendo em vista as enormes di-ficuldades que o pagamento de mais de 200 mil reais anuais, acumulados des-de 1987, com multas e juros, as dire-torias comearam a se mobilizar e, em 2005, entraram, com ajuda da Advoca-cia Krakowiak, com um pedido de imu-nidade tributria. O processo pleiteia imunidade no s para o Campo do XI, mas tambm para a Casa do Estudante e imveis onde est localizado o Departa-mento Jurdico. Importante notar que, ao mes-mo tempo, corriam dois processos: (i) pedido de imunidade, movido pelo XI na esfera administrativa; (ii) execuo fiscal, movido pela Prefeitura, com o in-tuito de executar a dvida do IPTU, que no vinha sendo paga desde que a imu-nidade foi revogada, no qual pedimos o reconhecimento de prescries de parte das cobranas.

    Processo de Imunidade e os Livros Contbeis O XI, desde ento, vem acom-panhando o processo que no mostrava grandes evolues. Entretanto, no ms de maio, a atual gesto recebeu a infor-mao de que o processo de imunidade poderia ser julgado. Para obter o reconhecimento do direito imunidade, o XI deve provar o exerccio de atividades de assistncia so-cial ou educao e apresentar seus livros contbeis, onde se encontram as receitas e despesas da entidade. Porm, o XI no possui tais li-vros em em sua totalidade. Os livros que se encontravam disponveis e devi-damente regularizados no XI no incio

    do DJ).

    E Agora? O que Fazer? Antes de tudo, importante destacar que a imunidade pleiteada, ape-sar de difcil, no est descartada. Alm disso, os entraves de uma possvel exe-cuo nos do alguns anos para buscar-mos outras solues. Logo, a perda do campo do XI, no atual cenrio, est fora do horizonte a curto prazo. Isso, porm, no pode ser usado para empurrar o pro-blema com a barriga, como recorrente-mente vem sendo feito. O que est em questo o financiamento, ou mesmo a prpria existncia, de entidades como o Departamento Jurdico, a Casa do Estu-dante, dentre outras vinculdas s recei-tas do XI de Agosto. Sabendo de sua responsabi-lidade, a atual gesto, alm de tocar o processo de imunidade, vem buscando solues alternativas para a resoluo do problema. Em atuao conjunta com o Departamento Jurdico do C. A. XI de Agosto, consultamos uma srie de pro-fessores tributaristas e administrativis-tas da Faculdade e iniciamos o contato com o Secretrio de Negcios Jurdicos da Prefeitura de So Paulo. Destacamos a necessidade de melhor utilizarmos o Campo, reduzindo seu tempo ocioso. Para tanto, avaliamos possibilidades de parcerias com o Poder Pblico em matrias como esporte, pro-postas que caminharam pouco pelo re-cuo na intensidade das negociaes por parte da Prefeitura.

    Reunies Abertas Sabendo, por fim, que o proble-ma em questo grave e afeta o patrim-nio do XI, buscamos esclarecer e massi-ficar as discusses mediante Reunies Abertas. Nelas foram criadas a Fora Tarefa Situao Tributria do XI - es-pao para discusso dos andamentos do caso - e uma Comisso com membros das entidades imediatamente afetadas. As reunies so abertas e con-vidamos a todxs interessados em ajudar para estarem presentes na prxima Reu-nio, que, conforme acordado na Reu-nio Aberta de 25 de agosto ser realiza-da na semana do dia 15 de setembro. u