tribuna livre da luta de classes o militante socialista · c aros colegas, o mote ... hoje é 557...

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CATALUNHA 1 o militante socialista Tribuna Livre da luta de classes Publicação Mensal 02 Um Orçamento do estado na continuidade dos anteriores… 03 editorial: A unidade foi possível. ela é necessária para vermos reposto o que nos foi tirado! 04 Pinhal de Leiria: em defesa de um património que é de todos 05 Um olhar sobre a luta dos professores e educadores 06 Reunião preparatória da CMA de 11 de Novembro em Lisboa 07 Moção adoptada sobre a Catalunha 08 entrevistas a delegadas portuguesas à CMA 09 entrevista a José Casimiro (dirigente do be) 10 Objectivos da Conferência Mundial Aberta contra a Guerra e a exploração 11 Centenário da Revolução de Outubro na Rússia: intervenções no comício de 18 de Novembro em Paris (Anton Poustovoy e Alberto Salcedo) 12 balanço da Revolução de Outubro (feito por Trotsky, em 1932) Indice DIReCTOR: JOAQUIM PAGAReTe ANO XIX (II SéRIe) 131 11 De DeZeMbRO De 2017 1 eURO Ao apelo de todos os seus sindicatos, os professores: - aderiram em massa à greve; - manifestaram-se na AR para exigir aos deputados e ao governo “Respeito e Justiça !” O Governo diz que não tem 600 milhões de euros para os professores. A CGTP faz as contas de outra forma. (ver pg 2) "Queremos a contagem integral e imediata do tempo de serviço e uma carreira que a contemple => 9 anos, 4 meses e 2 dias !"

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Page 1: Tribuna Livre da luta de classes o militante socialista · C aros colegas, o mote ... Hoje é 557 euros, ou seja, menos de metade. ... como tribuna livre da luta de classes, aberta

CATALUNHA

1

o militantesocialista

Tribuna Livre da luta de classes

Publicação Mensal

02 um Orçamento do estado na

continuidade dos anteriores…

03 editorial: A unidade foi possível. ela é

necessária para vermos reposto o que

nos foi tirado!

04 Pinhal de Leiria: em defesa de um

património que é de todos

05 um olhar sobre a luta dos professores e

educadores

06 Reunião preparatória da CmA de 11 de

novembro em Lisboa

07 moção adoptada sobre a Catalunha

08 entrevistas a delegadas portuguesas

à CmA

09 entrevista a José Casimiro

(dirigente do be)

10 Objectivos da Conferência mundial

Aberta contra a Guerra e a exploração

11 Centenário da Revolução de Outubro

na Rússia: intervenções no comício de

18 de novembro em Paris (Anton

Poustovoy e Alberto salcedo)

12 balanço da Revolução de Outubro (feito

por Trotsky, em 1932)

indice

DiReCTOR: JOAQuim PAGAReTe AnO XiX (ii séRie) nº 131 11 De DezembRO De 2017 1 euRO

Ao apelo de todos os seus sindicatos, os professores:

- aderiram em massa à greve;- manifestaram-se na AR para exigir aos deputados e ao governo“Respeito e Justiça !”

O Governo diz que não tem 600 milhões de euros para os professores.A CGTP faz as contas de outra forma. (ver pg 2)

"Queremos a contagem integral e imediata do tempo de serviço euma carreira que a contemple => 9 anos, 4 meses e 2 dias !"

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2 actualidade nacional >>>Um Orçamento do Estado na continuidade dos anteriores…no passado dia 21 denovembro, teve lugar a 2ªConferência nacional deProfessores Aposentados daFenPROF, cujo lema era«Afirmar direitos, valorizarpensões, dignificar aaposentação».

no debate realizado sobre aforma como os aposentadospodem conseguir estesobjectivos, em conjunto como movimento sindical, onosso camarada JoaquimPagarete fez a intervençãoque transcrevemos abaixo.As questões que ela abordarespeitam a todos ostrabalhadores e às suasorganizações de classe.Trata-se da resposta a dar aum Governo cujas escolhaspolíticas fundamentais sãocontraditórias com asatisfação das reivindicaçõesda maioria social existenteem Portugal

Caros colegas, o motepara esta minhaintervenção é aresposta à questão:“O dinheiro não

chega para tudo”, ou afinal oque existe continua a sermuito mal distribuído?Será que o valor das nossaspensões de aposentação “é opossível”, como nos dizemtodos os dias?

Porque não são pagas, aosreformados e aposentados, aspensões dignas a que todostemos direito?

Em relação à reivindicação

actual mais sentida pelosnossos colegas do activo – anão contabilização do seutempo de serviço para efeitosde progressão na carreira – oSr. 1º ministro afirmou que “odinheiro não chega paratudo”.

Há um conjunto de dadosoficiais, alguns constantes daprópria proposta deOrçamento do Estado para2018, que demonstram afalsidade desta afirmação.

1º exemplo: Ponhamos delado os mais de 7 mil milhõesde euros (m€) referentes aosjuros da dívida pública, ecentremo-nos no que é daestrita responsabilidade doGoverno. Segundo o Público,do passado dia 3 de Outubro –jornal que não é reconhecidocolocar em primeiro plano adefesa dos interesses dostrabalhadores, bem pelocontrário – “O Estado deuquase 2500 milhões embenefícios fiscais em 2016,valor que representa umaumento de 600 milhões deeuros face a 2015. A EDP(com 35,8 milhões de euros) éa empresa que mais beneficioudesta receita de que o Estadoabdicou.”

Andam aqui a mendigarmeia dúzia de tostões edepois esbanjam milhões emilhões para os bolsos doscapitalistas…nomeadamente os chinesesda EDP! Enquanto a Justiçaem Portugal continua apermitir que JardimGonçalves e quejandospermaneçam a ganharpensões milionárias!

Note-se que o BancoComercial Português (BCP)– que paga a JardimGonçalves essa chorudareforma – tambémbeneficiou, em 2016, de umaextraordinária isenção fiscal(16,6 m€).

2º exemplo (este constante deuma Resolução recente daCGTP): Os encargos com asparcerias público-privadas,cujas taxas de juro usuráriaschegam a 8%,correspondendo a umadespesa líquida inscrita no OEpara 2018 de 1171 m€.

um último exemplo: a verbaorçamentada de 850 m€ parao Fundo de Resolução dosbancos – a qual, diz ainda aCGTP, “deveria sercanalizada para oinvestimento público, e estadespesa ser suportada pelosaccionistas dessas instituiçõesfinanceiras”.

Então, “o dinheiro nãochega” ou, pelo contrário, hádois pesos e duas medidas nasua distribuição? Será que osdireitos dos banqueiros ou dosespeculadores das parceriaspúblico-privadas sãosuperiores aos dos outroscidadãos portugueses – tantoos que são trabalhadores noactivo como os que estão jáaposentados como nós? AConstituição da Repúblicaportuguesa diz exactamente ocontrário!

Há décadas que os rendimentos dotrabalho sedegradam emrelação aos docapitalArménio Carlos, Secretário-geral da CGTP, disse ontemque se o salário mínimonacional tivesse sidoaumentado desde 1974,tendo em conta a inflação ea produtividade, atingiria nopróximo ano cerca de 1270euros. Hoje é 557 euros, ouseja, menos de metade.

Também sabemos que,segundo o Instituto Nacionalde Estatística, a repartiçãoprimária do rendimentoentre o Trabalho e o Capitalem Portugal é cada vez maisdesfavorável ao Trabalho.Em 2008, os “Ordenados esalários” representavam36,6% do PIB e, em 2016,essa percentagem tinhadiminuído para apenas34,2%, enquanto a parteapropriada pelo Patronato,aumentou, no mesmoperíodo, de 40,6% para42,8% do PIB (1).

Note-se que, em 1970, os“Ordenados e salários”representavam 49% do PIB,tendo atingindo o máximode 59% em 1975! A partirdaí tem havido uma descidapraticamente sistemáticadesta percentagem, queactualmente está quase emmetade do valor dessaépoca.

É claro que tanto o montanteactual das nossas pensõescomo das pensões dosfuturos aposentados temigualmente sofrido estadegradação.

E depois continuam a dizer-nos que para nós não hádinheiro, que não hádinheiro para salários,pensões e investimentopúblico.

O Governo pode ir buscar odinheiro onde ele está ounão abdicar de o cobrar, masnão o quer fazer. Porquê?

Então, em unidade com asnossas organizações declasse, vamos obrigá-lo afazer aquilo que ele não querfazer. n

(1) Citado por Eugénio Rosa, numestudo sobre o Sistema fiscal,publicado em 23/7/2017.

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ANO XIX ( II Série ) nº 131 de 11 de Dezembro de 2017 / Publicação do

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E d i t o r i a lFicha Técnica

Tribuna livre impulsionada pelo POUS

o militantesocialista

Proprietário: Carmelinda PereiraNIF: 149281919

editor: POUS - Partido Operário de Unidade SocialistaNIPC: 504211269

sede: Rua de Sto António da Glória, 52-B / cave C 1250-217 LISBOA

Isenta de registo na ERC, ao abrigodo Dec. regulamentar 8/99 de 9/6(artigo 12º, nº 1 a)

Director: Joaquim Pagarete

Comissão de redacção:Aires RodriguesCarlos MeloCarmelinda PereiraJoaquim Pagarete

impressão: Imaginação ImpressaRua Braancamp, 15A 1250-049 Lisboa

edição: 100 Exemplares

A nossa história:

O jornal “O militante socialista”nasceu em 1975, sob aresponsabilidade de militantes doPartido Socialista (PS), pertencentesàs Coordenadoras dos núcleos deempresa, organizados na suaComissão de Trabalho.Nasceu identificado com os ideais da Revolução do 25 de Abril, do socialismo e da democracia.Esses mesmos ideais continuaram aser assumidos pela corrente desocialistas afastados do PS, quefundaram o Partido Operário deUnidade Socialista (POUS), emconjunto com a Secção portuguesa da IVª Internacional.Em continuidade com os ideais quepresidiram à publicação dos primeiros “Militantes Socialistas”, o POUSimpulsiona actualmente estejornal, como tribuna livre da luta declasses, aberta a todas as correntes emilitantes que intervêmdemocraticamente para defender as conquistas do 25de Abril.A defesa destas conquistas exige o desenvolvimento de uma acção política totalmenteindependente das instituiçõesligadas aos Estados, às religiões ouao capital – e, por isso, a orientação de “O MilitanteSocialista” identifica-se com a doAcordo Internacional dosTrabalhadores e dos Povos.

A unidade foi possível. Ela é necessáriapara vermos reposto o que nos foi tirado!

(realizado a 28 de Novembro),apelando para que se evitem“aventuras em termos decompromissos plurianuais,projectados para além dalegislatura”.Ao mesmo tempo o PR disse aesses gestores que “o ruído, asperplexidades e asdesmotivações” que lhe têmsido manifestadas “decorremde decisões ou medidasinseparáveis do equilíbriopolítico-institucional vigente”,que “tem sido o preço de umaestabilidade…” conseguidacom a actual soluçãogovernativa.O PR está a lembrar ascondições que estiveram nabase da formação do Governodo PS, assente em acordoscom o BE e o PCP. De facto, a resistência e amobilização dos trabalhadorese das populações nãopermitiam, nessa altura, acontinuação do PSD e doCDS no Governo. O que todosperceberam, incluindo aDirecção do PS. É por isso que o capitalfinanceiro considerou (econtinua a considerar) comosolução a actual forma deGoverno como a soluçãopossível, apesar das“perplexidades edesmotivações” que isso lheacarreta, desde que “oequilíbrio orçamental” sejaassegurado, isto é, desde queas suas medidas defensorasdos seus interesses possamcontinuar a ser aplicadas.

Amobilizaçãonacional dosprofessores eeducadores,realizada em

unidade com os seussindicatos e com o apoio dasduas Centrais sindicais – quefizeram questão de estarpresentes na concentraçãodiante da Assembleia daRepública, no dia em quedeputados e Governodiscutiam o Orçamento para aEducação – pode serinterpretada como um passo,qualitativamente superior, nodesenvolvimento dosacontecimentos no nosso país.Os professores assumiram aluta em defesa da sua carreiraprofissional, plasmada no seuEstatuto da Carreira Docente,estatuto incompatível com oscritérios orçamentais(definidos pelas instituições eTratados da União Europeia eadoptados pelo Governo), osquais põem em causa asustentabilidade das funçõessociais do Estado.O Governo aceitou reconhecero tempo de serviço de formaintegral, tal como osprofessores o exigiam, porquequeria ver aprovado o seuOrçamento. Para isso, assinouuma “Acta de compromisso”com os dirigentes dasorganizações sindicais, masrelegando a concretizaçãocompleta daquele direito parao final da próxima legislatura(Outubro de 2023). Outrossectores da Função Pública(nomeadamente forças desegurança e médicos) tambémexigem que os seus direitossejam repostos, enquanto oPrimeiro-ministro afirma que“o dinheiro não chega paratudo”.Esta afirmação foi reforçadapelo Presidente da República(PR), no 1º Congresso dosgestores portugueses

A Direcção da CGTP afirmouque era possível e necessárioum outro Orçamento doEstado para 2018, que setratava de escolhas políticas,as tais escolhas que amobilização dos professores edos outros trabalhadoresmostraram ser antagónicascom as do Orçamento agoraaprovado.Mas como conseguir que sejaposta em prática uma outrapolítica? Como impor acanalização da riquezaproduzida para o investimentopúblico, para as instituiçõesresponsáveis por assegurar asfunções sociais do Estado,…?Há dirigentes sindicais queafirmam não haver condiçõespara desenvolver esta luta. Oque fazer para que elasexistam? Como fazer para seconseguir ultrapassar asdificuldades e inverter aspolíticas de ataque àsconquistas dos trabalhadores?Esta é a discussão queatravessa as fileiras domovimento operário emPortugal e nos outros países daEuropa.É um debate que esteve nocentro da ConferênciaMundial Aberta (CMA) contraa guerra e a exploração, queteve lugar em Argel, entre 8 e10 de Dezembro, na qual participou umadelegação de cinco militantesportugueses. n

Carmelinda Pereira

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actualidade nacional >>>4Após o últimoincêndio quedevastou mais de80% da MataNacional de Leiria

(MNL), aterrorizandopessoas e roubando bens ehaveres em algumaslocalidades contíguas, apopulação do concelho temmanifestado publicamenteum sentimento de revolta e avontade de que sejamtomadas medidas imediatas,que impeçam que a mesmasituação de catástrofe sevolte a repetir.Esta vontade e estesentimento exprimiram-sede várias formas: aconstituição de umaComissão Popular “o Pinhalé nosso”, formadaimediatamente a seguir aoincêndio, por iniciativa deum grupo de cidadãos que,“ama o concelho daMarinha Grande e estádisposto a lutar por eleincondicionalmente”,segundo as suas própriasdeclarações. Grupo quepromoveu um Fórum dediscussão pública, do qualsaiu uma petição aapresentar ao Presidente daAssembleia da República,exigindo ao Estado as suasresponsabilidades e umaacção rápida em defesa doPinhal, mantido na esferapública.A Assembleia Municipalorganizou também umaConferência subordinada aotema “Reerguer das cinzas oPinhal do Rei”, com aparticipação de especialistasna matéria.Nela foi proposta eaprovada, por unanimidade,a constituição de umaComissão deAcompanhamento eFiscalização das acçõesurgentes para a reflorestaçãodo Pinhal, integrando osórgãos autárquicos e

associações locais. Nesta Conferência, atravésdas intervenções do públicopresente, mais uma vez semanifestou a indignaçãoperante as medidas dossucessivos governos que,desde 1993, foramdesmantelando a estruturaque administrava as MatasNacionais.Também se questionou se épossível preservar edefender a Mata Nacional,mantendo esta mesmaestrutura (ICNF)emagrecida, sem autonomiae sem recursos humanos efinanceiros.E, uma vez mais, se pôdeverificar que a populaçãoestá presente e firme nadefesa do seu Pinhal,exigindo a tomada demedidas urgentes para umareflorestação planificada eordenada, com base emcritérios técnicos quepermitam prevenir tragédiascomo esta.E, não menos importante,foi ainda posta a questãosobre a dotação financeira ainscrever no Orçamento doEstado para execução destasmedidas.Não bastam os discursos deboas intenções, proferidosaquando das visitas dosmembros do Governo aoslocais de incêndio.É preciso que as verbasnecessárias estejam inscritasno Orçamento do Estado. n

Em defesa de um património que é de todos

Vista de conjunto da sala onde foi realizada a Conferência “Reerguer das Cinzaso Pinhal do Rei”, na Marinha Grande, no passado dia 18 de Novembro.

extractos da intervençãode Aires Rodrigues naConferência “Reerguerdas Cinzas o Pinhal doRei” na marinha Grande

Hoje, quando mais de80% do Pinhal doRei foi destruído,importa conhecer asrazões que poderiam

ter impedido esta catástrofe.O texto publicado no Jornalda Marinha Grande, pelo EngºOctávio Ferreira, homemqualificado do sector públicoflorestal, dá um certo númerode elementos que permitemcolocar de imediatodeterminadas questões, asquais exigem, naturalmente,as respectivas respostas.Assim é referida no texto adata de 1993 e a extinção daCircunscrição Florestal daMarinha Grande, como oinício da“ desvalorização emenorização da MNL”.Segundo Octávio Ferreira,“até 1993 a MNL dispunhade verbas atribuídas pelaCircunscrição Florestal daMarinha Grande paralimpeza de matos, de 5técnicos, de 30 guardasflorestais e de 100trabalhadores rurais. Destepessoal restam 1 técnico e 10trabalhadores rurais. Não háguardas, nem orçamento.”Situada agora esta data de1993 e esta política deextinção da CircunscriçãoFlorestal da Marinha Grande,

no último dos governos deCavaco Silva, enquantoprimeiro-ministro – como umexemplo da política deredução e desmantelamentodas funções sociais do Estadonos diferentes sectores –,importa sublinhar que oGoverno que lhe sucede em1995, dois anos depois, é umGoverno presidido porAntónio Guterres, cujoministro da Agricultura é oactual ministro desteGoverno, Capoulas Santos.A pergunta que eu coloco, apergunta que todosnaturalmente colocamos, sópode ser esta: inverteu naaltura o ministro CapoulasSantos as medidas tomadaspelo precedente governo deCavaco Silva, sobre aextinção da CircunscriçãoFlorestal da Marinha Grandee o desmantelamento dosrespectivos serviços?Ou, pelo contrário, estapolítica foi prosseguida, entreoutras pela decisão tomadaem 1997, por esse mesmoministro, de colocar a MataNacional sob aresponsabilidade da DirecçãoRegional de Agricultura daBeira Litoral?As respostas a estas duasquestões saltam, infelizmente,à vista de todos e preocupamos que verdadeiramentequerem reerguer o pinhal dascinzas. O plano que todosaspiramos e necessitamospara a recuperação rápida doPinhal de Leiria implica, porparte das entidadesresponsáveis, uma tomada deposição clara face às políticasde “economia de meios” e depoupar nas “gorduras doEstado”, que levaram àstrágicas consequências com que estamosconfrontados. Temos o direitode exigi-la. n

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Um olhar sobre a luta dos professores e educadores

Professores e militantes reflectem

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Longe vai o tempo emque cada docente,após as suas aulas,preparava o trabalhodo dia seguinte,

programava – de forma livre eresponsável, com os seuspares – a organização dosplanos calendarizados,combinava e articulava asiniciativas envolvendo outrosgrupos disciplinares, discutiaas dificuldades deaprendizagem de algunsalunos, fazia os testes,corrigia-os e entregava asavaliações dos alunos emprazos adequados.Longe vai o tempo em que apalavra do professor sobre osseus alunos era respeitada,debatendo com os seus parese tomando as decisõesconsideradas mais assertivaspara cada aluno, sobre a suapassagem ao ano seguinte oua sua retenção.

Tudo isto mudou. Osprofessores estão agora cadavez mais reduzidos atarefeiros (realizando emcontra-relógio múltiplastarefas burocráticas, actas,reuniões, relatórios eavaliações), sempre em ritmosque os obrigam a consumir oseu próprio tempo destinado àfamília e ao descanso.«Deixem-nos serprofessores», dizem muitos.

Para além destas desgastantescondições de trabalho, osprofessores sofreram – comoo resto da Função Pública –os cortes salariais (alguns de10%) e o congelamento daprogressão na sua carreira,desde há 10 anos. Progressãoque – ao contrário dacampanha de intoxicação daopinião pública contra osprofessores – exige umaavaliação (1).

E agora, quando o Governoanunciou que vai descongelaras carreiras da Função

Pública, discriminou osprofessores declarando osseus últimos 10 anos destetempo de serviço não iriamser contabilizados para aprogressão na sua carreiraprofissional.

Ao fazê-lo, o Governo pôs emcausa o Estatuto dosprofessores; em resposta,estes paralisaram – de norte asul do país – e manifestaram-se em unidade, em frente àAssembleia da República, aoapelo das suas organizaçõessindicais, forçando o Governoa um compromisso assinado,no qual todo o tempodevidamente avaliado seráintegralmente contado, aoabrigo do actual Estatuto daCarreira Docente (ECD).Deste modo garantiram apreservação da estrutura doseu ECD, que corresponde aocontrato colectivo de trabalhono sector privado.

A força da sua mobilização –que integrou o apoio explícitodas duas Centrais sindicais –impôs uma Mesa negocialúnica, entre os representantesde todos os sindicatos e oGoverno.

No entanto, os professoresainda não ganharam.Conseguiram umcompromisso assinado, com agarantia de que todo o seutempo de serviço será contado,mas o pagamento do saláriofeito de acordo com arespectiva progressão seráespaçado no tempo até ao finalda próxima legislatura (queterminará em Outubro de2023).

O prejuízo dos professoresnão pára de crescer, já que setrata de diferenças no saláriode centenas de euros.Diferenças que irão traduzir-se na reforma de cada um. Talcomo se traduziram nasreformas daqueles que seaposentaram com a carreira

congelada e o salário cortado,no tempo do Governoanterior.

O Governo assinou ocompromisso – que osprofessores consideramidêntico a uma declaração dedívida – porque queria veraprovada a sua proposta deOrçamento do Estado. UmOrçamento que já se viu serincompatível com asatisfação dos direitos dosprofessores.

E os dirigentes sindicais

Docentes ligados naComissão de Defesa daEscola Pública (CDEP), numcomunicado publicado a 15de Novembro, afirmam:

«(…) Cairia? Ou não? Éuma discussão que existe noseio dos trabalhadores, dosmilitantes sindicais, dosdefensores da EscolaPública e das funçõessociais do Estado, que nãoquerem, de modo algum,voltar atrás, em termos deataques sistemáticos aosseus salários e direitos.Aquilo que determina e queune os docentes ligados na

abandonaram a exigência dedescongelamento totaldurante 2018 e 2019, sob oargumento de que se não ofizessem não haveriaOrçamento e o Governocairia. (ver caixa) n

(1) A avaliação dos docentesenvolve vários itens, de que resultauma classificação. Esta aindadepende do Director da escola,porque só pode progredir na carreiraquem tenha a nota de Bom ou Muitobom, havendo uma quota que cadaescola não pode ultrapassar.

CDEP é a defesaincondicional de uma EscolaPública de qualidade,democrática, com respostaspara todas os alunos, umaEscola assente nos valoresdo 25 de Abril, tal comoainda está consignado naConstituição da República ena Lei de Bases do SistemaEducativo, valores cada vezmais incompatíveis com asexigências do capitalfinanceiro, venham elasatravés de banqueiros, demultinacionais, ou dasinstituições defensoras dosseus interesses (UniãoEuropeia, FMI,…).»

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6Preparação da CMA em Portugal

No nosso paísrealizaram-se váriasreuniões para apreparação daConferência Mundial

Aberta (CMA) contra a Guerrae a Exploração. A última tevelugar a 11 de Novembro, emLisboa. Nela participarammilitantes sindicalistas epolíticos, assim como umsindicalista e militante políticofrancês (convidado, quetambém já tinha participado napassada reunião de 8 de Julho).A reunião de 11 de Novembroteve como tema central um dosproblemas cruciais domovimento operário portuguêse comum aos trabalhadoresdos outros países da Europa –a destruição do trabalhoefectivo e o enfraquecimentodas organizações sindicais,através da Lei da caducidadedos contratos colectivos detrabalho.Sobre este tema, Sérgio Monte– que é Secretário-adjunto daUGT e membro da ComissãoNacional do PS – depois de terfeito uma referência à formacomo foi imposto no nossopaís o Código do Trabalho de2003, afirmou que a partir daío seu conteúdo nunca deixoude se agravar. Nomeadamenteatravés de “um mau Acordo deConcertação Social, assinadoem 2012 pela própria UGT, eque agora é preciso reverter”.De facto, até 2003 havia umalegislação “consolidada emjurisprudência”. “O entãogoverno do PS, chefiado por

conferência mundial aberta >>>

Guterres, realizou umtrabalho de compilação detoda esta legislação, que oGoverno seguinte (chefiadopor Durão Barroso) deitoutodo para o lixo impondo esseCódigo. Até então nenhumsindicato podia negociarabaixo da Lei Geral doTrabalho, o que constitui o«princípio mais favorável».Com o Código do Trabalho,este princípio saltou e foiinstituída a caducidade doscontratos colectivos detrabalho. E é porque existe acaducidade e a eliminação doprincípio mais favorável queos sindicatos ficam sobpressão, aquando danegociação de um contrato.Negoceiam em estado denecessidade. Isto tem de serrevertido.” E Sérgio Montecomentou: «O Governo actualnem quer acabar com acaducidade dos contratoscolectivos, nem restabelecer oprincípio mais favorável. […]Muitas das vezes a Direita põeem prática políticasmalévolas, e a seguir aEsquerda não as elimina!».Referiu-se também ao LivroVerde sobre as RelaçõesLaborais, publicado peloactual Governo, onde autilização do termo«segmentação do trabalho» éum palavrão para iludir aprecariedade, que em algunscasos chega a ser trabalhoescravo. Os contratos a termotornaram-se a regra, pois 80%

dos contratos ultimamentenegociados são a termo, comos respectivos trabalhadores areceberem 30% menos queum trabalhador efectivo.A difícil situação dostrabalhadores portuguesesdecorrente desta legislação foiexplicitada por outrointerveniente no debate, JoséCasimiro (BE), que além dereferir as limitações impostasao direito à greve, citou aresistência em grandesempresas (como a Altice), oataque que está a serpreparado nos CTT e osdespedimentos na Efacec.Falou também da situaçãointernacional (citandonomeadamente os EUA e asua política de guerrasobretudo na Ásia e emÁfrica).Foi colocada a questão:existindo a CES e a FSM, paraque serve esta Conferênciamundial? Uma camarada daFunção Pública respondeu:são necessárias iniciativasdeste tipo porque ossindicatos, em particular osdos funcionários públicos anível da Europa, não têmagenda para responder aosproblemas da Função Públicae dos serviços públicos.Pegando nestas palavras, JoãoVasconcelos, deputado do BE,disse que: «A ConferênciaMundial Aberta seráenriquecedora para todos nós,pois a luta de classes émundial, colocando-se aquestão dos esforços a fazer

para nos unirmos eorganizarmos […].»Acrescentou que o capitalismoestá globalmente condenado,embora a situação de cada paístenha a sua própriaespecificidade. Sobre Portugalexpressou as seguintes ideias:«Os quatro anos de governoda Direita foram terríveis,uma guerra terrorista contraos trabalhadores […]. Oacordo para a formação dogoverno do PS não é estasolução que eu queria, é umacordo mínimo […]. OGoverno não tem tomado asmedidas que são necessárias eque nós queremos. Por isso, épreciso aumentar a pressãosobre ele; neste sentido, ossindicatos têm um papelimportante a desempenhar, emligação com todos osmovimentos sociais […]. Simnós estamos lá noParlamento, mas odeterminante é a rua; aAssembleia da República éapenas um complemento…»Outro camarada declarou:«Sim, o movimento na ruapode representar uma rupturaque leve as Direcçõessindicais a tomarem posiçõesdiferentes. A exigência deveser a revogação da legislaçãolaboral. […] Depois de, pelaprimeira vez, ter sidorealizada a unidade CGTP-UGT na empresa Altice, estácolocada a questão daunidade em todos os outrossectores, para conseguir todasas reivindicações».O camarada francês sublinhouque em todo o lado – noBrasil, na Venezuela,… – ospovos procuram as vias daresistência e que tudo continuaem aberto. No final, foi discutida umamoção sobre a situação naCatalunha, exigindo alibertação dos presos políticose em defesa das liberdadesdemocráticas (ver pg 7).Também foi aceite a propostade uma reunião de balanço daConferência Mundial Aberta,a agendar para o próximo mêsde Janeiro. n

Participantes na reuniãopreparatória da Conferência

Mundial Aberta (CMA) contra aGuerra e a Exploração,

realizada a 8 de Julho de 2017,na Sede do Sindicato dos

Professores da Grande Lisboa.

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ANO XIX ( II Série ) nº 131 de 11 de Dezembro de 2017 / Publicação do

Moção adoptada sobre a Catalunhana reuniãopreparatória daCmA, realizada a11 de novembroem Lisboa, foiadoptada umamoção sobre asituação naCatalunha,exigindo: «Fim àrepressão!Libertação dospresos políticos daCatalunha!Restabelecimentodas liberdadesdemocráticas noEstado espanhol!»

Militantesportuguesessubscritores doApelo para aConferência

Mundial Aberta, contraGuerra e Exploração – arealizar no próximo mês deDezembro, na Argélia –reunidos em Lisboa, paradebater duas reivindicaçõescentrais dos trabalhadores edos sindicatos portugueses:a revogação da caducidadeda contratação colectiva ede serviços “mínimos” quesão utilizados como arma dearremesso contra oexercício do livre direito àgreve.Estas são reivindicaçõesque constituem alicercesdas organizações sindicais ede todo o movimentooperário, e por issotransversais a todas as lutaspelo trabalho com direitos epela defesa das funçõessociais do Estado –substância da democracia.

Trata-se de um combate quediz respeito aos

trabalhadores de todos ospaíses do mundo e, emparticular, aos do continenteeuropeu. Por isso, estenosso Encontro contou coma presença de um dirigentesindical de França, queaceitou o nosso convite paratestemunhar, de viva-voz,os combates dostrabalhadores franceses paraderrotar os decretos dogoverno de Macron contra oCódigo do Trabalho e osdireitos sociais.

E é neste contexto deprocura dos meios queajudem a realizar a frenteunida dos trabalhadorescom as suas organizaçõescapaz de abrir uma saídapositiva aos povos de toda aEuropa, que estamos agoraconfrontados com umataque de grauqualitativamente superior –a prisão dos ministros dogoverno da Catalunha, bemcomo dos deputados eleitose o mandato de captura parao chefe desse Governo,Puidegmont, refugiado naBélgica.

Seja qual for a opinião quese possa ter sobre esteGoverno, jamais osmilitantes operários e oscidadãos membros deorganizações democráticaspoderão aceitar um golpecontra as liberdades, jamaispoderão aceitar a prisão dedeputados e ministroslivremente eleitos pelo povodo seu país.

Por isso, as Centraissindicais da Catalunha(UGT e CCOO) exigem alibertação destesprisioneiros políticos.Centrais sindicais das quaisfazem parte dirigentes quedeclaram: “Este golpeprepara o consumar denovos golpes contra osdireitos laborais e contra a

Segurança social dostrabalhadores e dos povosde todo o Estado espanhol enão só da Catalunha.”

Estes acontecimentoslevantam a preocupação e aindignação dostrabalhadores e dasorganizações democráticasem todos os países daEuropa, em particularPortugal, dados os laçoshistóricos com todos ospovos do Estado espanhol.

Perante isto, os militantesportugueses reunidos emLisboa, no quadro docontexto referido no iníciodesta Declaração,subscrevem a seguinteposição:

1. Saúdam as iniciativas dasforças sociais e políticasque, em Portugal,associando-se aos apelosinternacionais, afirmamque: «Mais até do que olegítimo direito àautodeterminação doscatalães, o que está hoje emcausa na Catalunha é ademocracia e a liberdade.Dos catalães e dosespanhóis, e de todos nós.(…) É inútil esgrimir com alegalidade, porque sãoilegítimas as formas de

legalidade que ofendamdireitos universais.»

2. Reconhecem a dignidadee coragem cívica dosdeputados do BE e doPCP/VERDES que – emconjunto com algunsdeputados do PS e odeputado do PAN –impuseram, na Assembleiada República, o debatesobre a situação naCatalunha e votaram a favorda exigência da libertaçãodos presos políticoscatalães.

3. Associam-se a uns e aoutros nestas tomadas deposição, e dirigem-se àsDirecções das organizaçõesoperárias e democráticasportuguesas, bem como aoseleitos municipais, para queassumam a mesmaexigência.

4. Propõem à ConferênciaMundial Aberta, contraGuerra e Exploração queaborde esta questão eadopte as medidas queentender mais adequadaspara exigir a libertação dospresos políticos daCatalunha. n

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8 actualidade nacional >>>Entrevistas a delegadas portuguesas à CMA

qual for a área. Tomamoscomo exemplo um professorou um enfermeiro, que paraexercerem a sua profissãosão muitas vezes arrancadosdo seio familiar ouimpedidos de veremreconhecidas as suascompetências profissionais.No geral, os cidadãoscontinuam a sentir “na pele”a elevada carga direta eindirecta dos impostos a queacresce o elevado custo daenergia. É uma situaçãoinsustentável de vida! Se osgovernos não incluírem nassuas políticas uma estratégiaeconómica e socialmentesustentável, que tambéminclua os jovens, podemoscorrer sérios riscos de não terfuturo. É comum ouvir-se narua o comentário “viver umdia de cada vez”. Nenhumasociedade pode ter futuro,vivendo-se um dia de cadavez.

2. As dramáticasconsequências das guerras,que têm na sua génese ohomem motivado pelodomínio da propriedade edos interesses económicos efinanceiros chegou ao limiteda sua dignidade e sãoprofundamente impactantesquer na Europa, quer noResto do Mundo. Há fomenos países pobres edegradação de vida para osque têm menos recursos epara os que são arrancadosaos seus países. Háexploração do homem pelopróprio homem, e homem amatar o seu semelhante.

A participação nestaConferênca é umaoportunidade única de sereunirem homens e mulheresda Europa e do resto doMundo. É um privilégioestar entre os convidados econtribuir para a partilha daexperiência dos diversospaíses participantes. Emconjunto, podemos trabalhar

O MS fez umapequena entrevista aduas das delegadasportuguesas à CmA.As questões colocadasforam as seguintes:

1. Como analisas a actualsituação política emPortugal?

2. Que expectativas tenssobre a Conferênciamundial Aberta contra aGuerra e a exploração, aque és delegada?

As respostas de editeCarvalho, funcionária daempresa intermunicipalde Leiria

1. Com o “arranjo” damaioria no Parlamento queparece ter condições paracumprir a legislatura e apolítica do governo que jáincluiu reposição de saláriose reformas, parece que tudovai de “vento em popa” e atémereceu elogios da UniãoEuropeia, feitos com base deque se terá contribuído paraa diminuição da diferençaentre ricos e pobres. É umelogio assente num aparentebalão de oxigénio, querapidamente se esgotará. Apolítica continua focada nocumprimento das metasorçamentais impostas aPortugal e os cidadãos estãocada vez mais afastados,empurrados pela classedominante. Este é umafastamento estrutural,porque vai até ao que éessencial às suas vidas – osdireitos e as suas condiçõescondignas de trabalho, seja

política, temos a eleição doministro das Finanças parapresidente do Eurogrupo.

Como o próprio disse hojeapós a eleição, serápresidente de todos, o queindicia desde já que osinteresses do povo portuguêsnão serão a sua prioridade.

Julgo que é hora de asCentrais sindicais e ostrabalhadores em geralreclamarem o ”pagamento dafactura” a que têm direito.

E este “pagamento” não émais do que a reposição dedireitos laborais que foramconquistados, a pulso, após o25 de Abril de 1974.

2. Relativamente às minhasexpectativas para aConferência de Argel, o queespero e procuro numainiciativa desta natureza éque – através da cooperaçãoentre os trabalhadores detodo o mundo – seja possívelencontrar formas de inter-venção e de luta capazes delevar os poderes políticos eeconómicos a alterarem aforma como olham para otrabalho e para o custo domesmo.

Na realidade, sem otrabalho o que existe é odeserto.

O dinheiro (papel-moeda)deixou de ser uma realidade,substituído que tem vindo aser por meios de pagamentovirtuais como os cartões dedébito e de crédito.

A única realidade palpável éo trabalho. A produção. Sejaesta mecânica ou intelectual.

Neste sentido, espero porparte dos intervenientes naConferência a definição deuma estratégia capaz defazer alterar a relação deforças entre o capital e aforça-de-trabalho. n

em propostas de orientaçõespolíticas capazes de ajudaras classes trabalhadoras, nosdiferentes países de origem,a criarem motivações deforma organizada paraquestionarem e alevantarem-se contraqualquer forma de guerra ede exploração do homem.Que sejam envolvidos osjovens, profissõesemergentes e que se deixelegado para as geraçõesvindouras. n

As respostas de mariaLuísa Patrício, professorado ensino secundário

1. Do meu ponto de vista,vivemos o período maiscomplicado da“geringonça” (governo doPS e os seus apoios).

O recuo do Governo naaplicação da taxa propostapelo BE às energiasrenováveis foi o grandedesvio no acordo firmadocom os partidos quesuportam o Governo PS.

Vive-se uma situação deagrilhoamento dasesquerdas.

As Direcções partidáriasmantêm a posição de apoioao Governo, para afastarem apossibilidade de a Direitachegar novamente ao poder.

Parece-me que esta posição éposta em risco pela práticadiária do senhor Presidenteda República que, paulatinae subtilmente, começa a seroposição à maioria.

Agravando a situação

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ANO XIX ( II Série ) nº 130 de 11 de Novembro de 2017 / Publicação do

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democracia, o governo PS –com apoio dos partidos àesquerda (BE e PCP) – temvindo muito lentamente acortar o caminho daausteridade, comrecuperação de algunsrendimentos, como arecuperação fiscal, daspensões e do salário mínimo.

2 - Quais os obstáculos oudificuldades políticas quevês para a luta da nossaclasse?

JC - O problema é que asmedidas do governo PS nãocortam com o garrote dadívida, com as medidas doTratado da U.E. e da suagovernação económica epolítica. O desenvolvimentodo País e o investimentopúblico ficam assimhipotecados. O governoassumiu, com os patrões, ocompromisso de não“destroikar” a legislaçãolaboral, os salárioscontinuam baixos, oemprego criado éessencialmente precário. Asmultinacionais aceleram ocaminho para a disputa ecompetitividade global, àcusta do trabalho vivo e dasua substituição por trabalhomorto, enfraquecendo efragmentando os coletivosdos trabalhadores,aumentaram a exploração dotrabalho e diminuíram opoder sindical.

O governo PS, como todosos outros, só compreendem oargumento da «força» noterreno da luta de classes –ou seja, o da manifestação deunidade do trabalho e da suaexpressão pública de cortecom as políticas anti-sociaise laborais e a imposição,com os sindicatos e asesquerdas, de políticaspúblicas dedesenvolvimento, depolíticas sociais e dotrabalho, em afirmação depolíticas alternativas a favordo trabalho e dostrabalhadores.

Casimiro que escrevesse umdepoimento com a sua visãosobre a luta dostrabalhadores portugueses,no momento em que nosencontramos, bem comosobre as suas expectativasem relação à CMA.

1 - Qual o quadro geral daluta das classestrabalhadoras emPortugal? O queconsideras de maiorrelevância?

JC - Vivemos num quadroem que a direita foi afastadado Governo e se temrevertido algumas dasmedidas da intervenção daTroika em Portugal, queimpôs medidas austeritáriascuja consequência foi afinanciarização da economiae o seu empobrecimento, umamplo processo deprivatizações de setoresestratégicos, os bancosreceberam mais de 20 milMilhões de €, e os ricosficaram mais ricos, enquantoas pessoas e os trabalhadoresempobreceram, foi atacado osalário direto e indireto,engrossaram o desemprego eviram as leis do trabalhoprofundamente“flexibilizadas”, nosdespedimentos e nacontratação coletiva,atacando ao mesmo tempoos sindicatos.

No quadro de falênciageneralizada da social-

Impõe-se a revisão doCódigo do Trabalho, nosentido de combate a todasas formas de precariedade(no público e no privado);Incrementar e dinamizar acontratação coletiva, pelofim da caducidade dasconvenções coletivas; areposição do princípio dotratamento mais favorável;combater a facilidade emdespedir, individualmente ecoletivamente, repondo asegurança no emprego e opleno emprego, porindemnizaçõesdesincentivadoras dosdespedimentos; pelas 35horas/semanais para todos etodas, sem redução desalários.

3 - Quais as tuasespectativas em relação àCmA? em que sentidopensas que ela poderácontribuir para iniciativasconcretas e unificadoras,por parte dostrabalhadores dos paíseseuropeus e das suasorganizações? emPortugal, que tradução éque elas poderiam ter?

JC - Unir o trabalho eafirmar, à esquerda,alternativas políticas paramelhor enfrentar as políticasneoliberais e o crescimentoda direita e da extrema-direita, é o caminho quetemos que trilhar. Ocontributo a dar pela CMA,com as suas políticas, emcada um dos países e naEuropa, deve ser colocadoao nível da construção dealternativas políticas dotrabalho e da sua unidade,agindo para unir forças, parareforçar os sindicatos e osmovimentos sociais e dostrabalhadores e das suasorganizações políticas. n

É fundador do Bloco deEsquerda, onde desempenhaas funções de Coordenaçãoda Coordenadora Nacionaldo Trabalho (CNT),continuando a desempenharum papel importante namobilização e organizaçãodos trabalhadores, na lutaconcreta para defender ospostos de trabalho e osdireitos contratuais, emvárias empresas – de que éexemplo paradigmático ocombate pela mobilizaçãounida dos trabalhadores daAltice/TELECOM, emconjunto com as suasorganizações sindicais eComissão de Trabalhadores.

E é nesta condição queintegra o grupo de quadrosdo movimento operáriosubscritores e animadores,em Portugal, da preparaçãoda CMA.

Carmelinda Pereira –militante do POUS, Secçãoportuguesa da IVªInternacional – que integraigualmente esta comissão demilitantes animadores daCMA, propôs a José

Entrevista a José CasimiroJosé Casimiro é um militante que tem empenhado todaa sua vida na luta organizada da classe operáriaportuguesa. Foi membro da Comissão deTrabalhadores da INDEP/Fábrica de Material deGuerra em Braço de Prata, da Coordenadora das CT’sda Região de Lisboa (CIL) e do Sindicato dosMetalúrgicos. Foi também um quadro político daUnião Democrática Popular (UDP), organização queteve um papel relevante na revolução proletáriainiciada em Portugal a 25 de Abril de 1974.

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10 o acontecimentoConferência Mundial Aberta, contra a Guerra e a Exploração

A8, 9 e 10 deDezembro tevelugar, na cidade deArgel, a 9ªConferência

Mundial Aberta (CMA)contra a guerra e aexploração.A iniciativa partiu doAcordo Internacional dosTrabalhadores e dos Povos(AIT) – uma associação demilitantes e organizações,fundada em Barcelona em1991, numa Conferênciaonde participaram delegadosde 55 países, quando estavaiminente o rebentar daprimeira guerra contra opovo e nação iraquiana.

O apelo à 9ª CMA dirige-seàs organizações e militantesque se reivindiquem domovimento operário e anti-imperialista, afirmandonomeadamente:

«Os orçamentos para oarmamento têm aumentosexponenciais enquanto aprodução estagna, ocomércio mundial regride ea miséria cresce em todos oscontinentes, lançando, coma guerra e as suasdevastações, milhões de

refugiados e migrantes doMédio-Oriente, da África etambém da Ásia e da Europado Leste, para as rotas doêxodo.

Ninguém sabe onde isto iráparar. A incerteza aumenta.

Trata-se do pesado tributoque o poder ilimitado docapital financeiro e dos seusagentes – para assegurar asua sobrevivência – pretendeque a humanidade pague,até ao infinito.»

O texto do Apelo evoca osprocessos de resistência e demobilização contra asconsequências das políticasde devastação, por parte doconjunto das classestrabalhadoras e daspopulações, e a acção dosvelhos partidos políticosque, reclamando-se dadefesa dos interesses daclasse explorada, assumempor completo a políticanecessária à sobrevivênciado capitalismo. Práticas queos colocam«inexoravelmente em vias dedesagregação. Abandonadosou sancionados nas eleições,eles invocam uma pretensa“viragem à direita” daspopulações, sendodesmentidos pelos númerosque traduzem uma rejeiçãounânime do sistemacapitalista e de todos osgovernos ao seu serviço.»

trabalhadores, os povos e asnações.

É neste contexto que vospropomos discutir na 9ªCMA sobre as formas e osmeios de organizar a defesae a reconquista dos direitos edas conquistas dostrabalhadores, dastrabalhadoras e dajuventude, consignados naslegislações laborais; sobre odireito à Saúde ameaçado dedestruição; sobre o combatecontra as privatizações;sobre a defesa dasliberdades democráticas;sobre a defesa da soberaniados povos e das nações, esobre o direito àautodeterminação.

Como é que – para lá daslegítimas diferenças oudesacordos, das abordagensparticulares e das condiçõespróprias de cada um, dasexperiências vividas e dosreagrupamentos já efetuados– será possível juntarmo-nose unirmo-nos para resistir,para construir oureconstruir? Isto sem quequalquer um se consideredetentor de soluções ou deverdades imutáveis quebastaria aplicar. Cada umterá total liberdade para seexprimir como entender.» n

É neste quadro que ostrabalhadores procuram, emmuitos países, agarrar-se aosseus sindicatos parapoderem defender os direitosconquistados – contratoscoletivos, estatutos e asfunções sociais do Estado.

O Apelo refere também asituação dos povos de paísesoprimidos, onde estácolocada como exigênciapremente a ruptura com asforças imperialistas, porparte dos partidos operáriose dos movimentos que seconstituíram na luta pelaindependência nacional.

A 9ª CMA não pode ter umasolução ou respostasacabadas para a tarefagigantesca que está colocadaàs classes trabalhadoras eaos povos de todos os paísesdo Mundo. Mas ela poderáconstituir um ponto de apoionas acções concretas adesenvolver em cada país.

Como é dito pelaCoordenadora do AIT,responsável pela suaorganização: «Estamosconvencidos que aindependência domovimento operário emrelação ao patronato, aosEstados e as instituiçõesinternacionais, bem como asua acção e a suaorganização no seu próprioplano, são a chave dasolução para os

Delegação autofinanciada de Portugal à CmA

Carmelinda Pereira - Deputada à Assembleia Constituinte pelo PS, em 1975-76; dirigente do POUS; edite Carvalho - Funcionáriada Empresa Intermunicipal (Leiria); João Vasconcelos - Deputado pelo Bloco de Esquerda (BE) na Assembleia da República; JoséCasimiro - Membro da Coordenadora Nacional de Trabalho (CNT) do BE; maria Luísa Patrício - Professora do Ensino Secundário.

Lista dos 59 países com subscritores (660) do Apelo à CMAÁfrica do Sul (Azânia), Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Bahrein, Bélgica, Benim, Bielorrússia, Brasil, Burkina Faso,Camarões, Chade, Chile, Congo, Coreia do Sul, Costa do Marfim, Egipto, Equador, Eslovénia, Estado Espanhol, EUA, Federaçãoda Rússia, França, Gabão, Guiana (Francesa), Guiné (francesa), Haiti, Ilha de Guadalupe, Ilha Maurícia, Ilha da Reunião, Ilha deSanta Luzia, Índia, Irão, Jordânia, Líbano, Madagáscar, Mali, Marrocos, Martinica, Mauritânia, México, Níger, Palestina, Perú,Polónia, Portugal, Reino Unido, República Dominicana, Roménia, Ruanda, Senegal, Síria, Suécia, Suíça, Togo, Tunísia, Ucrânia eVenezuela. Entre os subscritores há 60 portugueses.

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Centenário da Revolução de Outubro na Rússia

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Anton Poustovoy, do PartidoRevolucionário dosTrabalhadores da Rússia.

Nas reuniões sobreOutubro em queparticipei com outrosmilitantes houvediscussões: os

camaradas da ex-URSSquestionam a possibilidade delibertação actual das classesoperárias. É uma discussão e,pela minha parte, respondoque passaram cem anos desdea grande Revolução deOutubro, e parece que a Rússiarevolucionária foi vencidapelos assaltos da reacçãointerior e exterior, e que, comela, toda a possibilidade derevolução através do mundofoi enterrada… Parece, masesse não é o caso! Nem tudo étão negro como parece! Umabatalha foi perdida, mas aHistória não pára.Tal como a Grande Revoluçãofrancesa – que extirpou aFrança e os povos europeusdas garras do feudalismo – aRevolução de Outubropermitiu aos povos da Eurásiae do mundo fazerem umimenso progresso. Outubro é omovimento dos povos daEurásia que se levantaramcontra o Império czarista.Outubro é o movimento dosproletários e dos oprimidos detodos os países, através domundo. Outubro é uma vaga

de fundo de libertação dospovos (…).

É de longe esta a maisimportante das conquistas:Outubro expropriou o capitalsobre todo o território russo.Nessa altura fez-se justiça!Todas as riquezas pilhadas econfiscadas aos povos daRússia e aos povos dascolónias do Império russo,riquezas acumuladas durantecentenas de anos, se tornarampropriedade dos povos paraeles próprios disporem delas.Isto abriu a via dodesenvolvimento económicodo país e, com ele, a melhoriadas condições de vida e detrabalho. É tudo isto, as“conquistas de Outubro” (…).

Foi a coberto das privatizaçõesque o próprio Governocomeçou a desmantelar apropriedade do povo e aencher os bolsos da burocraciasoviética. É assim que o direitoà habitação é posto em causa,tal como a propriedadecolectiva. A Rússiaactualmente é um Estadooligárquico (…).

Hoje em dia, Outubro é umsímbolo: da democracia (querdizer, do poder do povo), dasgarantias sociais, da igualdade.

Por isso, apesar da propagandae da experiência negativa doestalinismo, Outubro continuaa ser um belo exemplo do queé preciso fazer quando asautoridades não ouvem asmassas, uma imagem defuturo, através da qual passamtodas as nações na via dademocracia e da igualdade.

Alberto salcedo, responsávelpelo boletim El trabalhador(Venezuela). n

Transmito a todos umasaudaçãorevolucionária dostrabalhadoresvenezuelanos e dos

militantes da IVª Internacionaldo ColectivoTrabalho/Juventude. Para nós,celebrar o centenário darevolução bolchevique não éum acto académico-histórico;pelo contrário, é tirar as liçõesdo combate da primeira classeoperária a conquistar o poder.Na Venezuela, assistimos hojea um processo de intervençãoaberta por parte doimperialismo.Até agora, estas políticasforam bloqueadas graças àresistência do povotrabalhador. A convocatória daeleição de uma AssembleiaNacional Constituinte, pelopresidente Maduro, tinha apeculiaridade dos membrosdesta Assembleiarepresentarem os sectoresoprimidos da sociedadevenezuelana. Os trabalhadoresparticiparam nessa Assembleiacom 69 deputados,sindicalistas, entre os quais seconta um dos nossoscompanheiros do Colectivo, naComissão sobre trabalho.Um dos pontos essenciais emque queremos insistir é que,em 2012, a revolução

bolivariana – produto damobilização dos trabalhadorese dos sindicatos – levou opresidente Chávez aapresentar uma nova Lei sobreo trabalho, um Código laboral,que para nós, sindicalistas,representa a maior conquistados últimos 18 anos.Este Código laboral estipula aestabilidade absoluta doemprego, a redução daduração semanal de trabalhopara 40 horas, os contratoscolectivos por ramo deprodução, a ampliação dalicença de maternidade, aeliminação da terceirização(subcontratação fraudulenta) –o que situa a nossa naçãonuma dinâmica totalmentecontrária ao que acontece naEuropa, onde o capital destróios Códigos laborais.Sobre isto, o nossoposicionamento de militantes– perante a ofensiva doimperialismo e da direitapatronal – é cerrar fileiras emdefesa da nação, pois nãohaverá nenhuma possibilidadede defender as nossasconquistas e os nossos direitosse não derrotarmos oimperialismo. Se não, será eleque nos derrotará. Mastambém compreendemos quea mobilização unitáriaindependente da classeoperária e das suasorganizações é necessária,porque – para derrotar a classeoperária – o imperialismonecessita de derrubar ogoverno de Maduro.Pensamos ainda que ogoverno de Maduro devetomar uma série de medidas,tanto em defesa da naçãocomo dos sectores da classeoperária e trabalhadora. n

ANO XIX ( II Série ) nº 131 de 11 de Dezembro de 2017 / Publicação do

A 18 de novembro, Informations ouvrières (informações Operárias, semanário do Partido Operárioindependente, de França) organizou um comício internacional, em Paris, sobre o centenário da Revoluçãorussa, com uma tribuna onde estiveram militantes de diversos países (França, Venezuela, espanha e Rússia).Transcrevemos excertos de duas das intervenções.

“são isto, as conquistas de Outubro!” A mobilização da classe operária é indispensávelpara derrotar o imperialismo

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valor de 300 – ou seja, trêsvezes mais do que emvésperas da Guerra.

O quadro é ainda maisgritante à luz do índiceinternacional. De 1925 a1932, a produção industrialda Alemanha diminuiu umavez e meia, a dos EUA duasvezes; enquanto, na UniãoSoviética, aumentou quatrovezes. Estes números falampor si próprios.

Não tenho a intenção denegar ou de esconder oslados escuros da economiasoviética. Os resultados doíndice industrial são muitofortemente influenciadospelo desenvolvimentodesfavorável da agricultura– a qual ainda não seelevou, no essencial, aosmétodos socialistas, masque, ao mesmo tempo, foiarrastada para acolectivização sempreparação suficiente, demaneira mais burocrática doque técnica e económica.Trata-se de uma questãomuito vasta, mas que, dequalquer modo, ultrapassaos limites da minhaconferência.

Os números que acabei decitar devem ser submetidos auma outra reservaimportante. Os resultadosindiscutíveis – e, em certosentido, esplêndidos – daindustrialização soviéticanecessitam de umaverificação económicaulterior, do ponto de vista daharmonia recíproca dosdiversos elementos daeconomia, do seu equilíbriodinâmico e, por conseguinte,da sua capacidade produtiva.Grandes dificuldades – emesmo recuos – são aquiinevitáveis. O socialismonão sai sob uma forma

perfeita do Plano quinquenal,como Minerva da cabeça deJúpiter ou Vénus da espumado mar. Primeiramente, sãonecessários decénios detrabalho obstinado, de erros,de correcções e dereorganizações. Por outrolado, não esqueçamos que osocialismo – pela sua próprianatureza – não pode atingir aperfeição senão à escalainternacional. Mas, mesmo obalanço económico maisfavorável dos resultadosobtidos até agora poderia serapenas revelador dainexactidão dos cálculospreliminares, dos enganos deplaneamento e dos erros daDirecção. Como quer queseja, ele não poderá pôr emcausa, de modo nenhum, ofacto estabelecido, empírica efirmemente: a possibilidade,com a ajuda dos métodossocialistas, de elevar aprodutividade do trabalhocolectivo a um nível semprecedentes. Esta conquista –de importância históricamundial – nada nem ninguémnos poderá tirar.

Após tudo o que acabei dedizer, é quase desnecessárioconsagrar tempo às queixassegundo as quais a Revoluçãode Outubro levou a Rússia àbeira do afundamento dacivilização. É a linguagem queusam, na sua angústia, ossalões e as camadas dirigentes.A “civilização” feudal-burguesa – derrubada peloproletariado – era apenas umabarbárie recoberta porornamentos de várias cores.Ao mesmo tempo que ela erainacessível ao povo russo,trouxe bem poucas novidadesao tesouro da humanidade.

Mas, mesmo em relação aesta civilização tão choradapelos emigrantes brancos,nós devemos colocar mais

precisamente a questão: emque sentido foi ela destruída?Num único sentido: foiabolido o monopólio de umapequena minoria sobre ostesouros da civilização. Mastudo aquilo que – na velhacivilização russa – tinha umvalor cultural, permaneceuintacto. Os hunos dobolchevismo não esmagaramnem as conquistas doespírito nem as criações daarte. Pelo contrário, elesjuntaram cuidadosamente osmonumentos criados pelahumanidade e deram-lhesuma ordem perfeita. Acultura da monarquia, danobreza e da burguesiatornou-se agora a cultura dosmuseus históricos.

O povo visita estes museuscom paixão. Mas não vivedentro deles. Aprende.Constrói. O simples facto deque a Revolução de Outubrotenha ensinado a ler eescrever ao povo russo,situa-se a um nívelincomparavelmente maiselevado do que toda a culturarussa anterior, em estufaquente.

A Revolução de Outubrolançou as bases de uma novacivilização, destinada a todose não só a alguns eleitos.Este facto é ressentido pelasmassas de todo o mundo.Daí a simpatia pela UniãoSoviética, simpatia que é tãoapaixonada como o haviasido o seu ódio à Rússiaczarista. n

(1) Conferência pronunciada porLeão Trotsky na Universidade deCopenhaga, em Novembro de 1932,a convite da Associação dosEstudantes, no 15º aniversário deOutubro de 1917.

O balanço de Outubro

Afim de apreciar onovo regime, doponto de vista dodesenvolvimentoda humanidade, é

preciso, em primeiro lugar,responder à questão: “Comoé que o progresso mundialse exprime e como pode sermedido?”.O critério mais profundo,mais objectivo e maisindiscutível é o seguinte: oprogresso pode ser medidopelo crescimento daprodutividade do trabalhosocial. Sob este ângulo, aexperiência já permite fazeruma avaliação da Revoluçãode Outubro. O princípio daorganização socialistamostrou, pela primeira vez, asua capacidade para atingirresultados sem precedentes,num curto período de tempo.

Tomando como base 100,em 1913 (último ano antesda Guerra), a curva dodesenvolvimento industrialda Rússia, expressa emíndices globais, é a seguinte:o ano de 1920, o ponto maisalto da guerra civil, étambém o ponto mais baixopara a indústria – o índicetem apenas o valor 25, ouseja, um quarto da produçãoque havia antes da Guerra;em 1925, ele eleva-se a 75 –isto é, a três quartos daprodução de antes daGuerra; em 1929, está pertode 200; e, em 1932, tem o

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Leão Trotsky

Centenário da Revolução de Outubro na Rússia 12