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SECRETARIA DA CASA CIVIL 1 TRANSCRIÇÃO DA SESSÃO PÚBLICA REALIZADA EM 27/07/2013 LOCAL : AUDITÓRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE GARANHUNS ATO EM HOMENAGEM À RANUZIA ALVES RODRIGUES RILDETE RODRIGUES (representando a família de Ranúzia) DEPOENTES: PADRE GABRIEL HOFSTEDE IVAN RODRIGUES MARGARIDA CARDOSO

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SECRETARIA DA CASA CIVIL

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TRANSCRIÇÃO DA SESSÃO PÚBLICA REALIZADA EM 27/07/2013

LOCAL : AUDITÓRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE GARANHUNS

ATO EM HOMENAGEM À RANUZIA ALVES RODRIGUES

RILDETE RODRIGUES (representando a família de Ranúzia)

DEPOENTES:

PADRE GABRIEL HOFSTEDE

IVAN RODRIGUES

MARGARIDA CARDOSO

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Padre Gabriel Hofstede

Ivan Rodrigues

Margarida Cardoso

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00:00:00 – Audálio Ramos – Garanhuns, Casa Raimundo de Moraes, sente-se honrada em receber a sessão pública da Comissão da Verdade Estadual Dom Hélder Câmara. Essa honra é compartilhada por todos os vereadores dessa casa, aqui representados por mim vereador Audálio Ramos Machado Filho, vereadora Luzia Cordeiro, vereador Paulo Leal, vereadora Nelma Carvalho, vereador Gil PM. Então nós, aqui, representando todos os demais vereadores, queremos saudar a Comissão da Verdade Estadual, a FUNDARPE que também teve a sensibilidade de colocar na programação, oficial, do festival de inverno essa sessão pública. Nós pediríamos nesse momento que todos os presentes que pudessem ficassem de pé para nós fazermos, pedimos essa, vamos dizer assim, essa permissão à Comissão, pra fazermos um tempo de silêncio, um pouco de silêncio em memória do nosso conterrâneo Dominguinhos, falecido essa semana, e também pela morte, há poucas horas, do nosso amigo Roberto Cardoso, filho do ex-deputado José Cardoso, que faleceu em Recife agora à tarde. E também uma pessoa que vai ser lembrada nessa sessão de hoje o ex-deputado José Cardoso. Então a gente pede um pouco de silêncio e em seguida será tocado o hino de Pernambuco em memória de todos aqueles pernambucanos, em Garanhuns, que participaram e que sofreram nesses momentos difíceis da história da nossa pátria.

00:01:54 – Começa o silêncio.

00:03:06 – Hino de Pernambuco.

(Aplausos)

00:06:41 – Audálio Ramos – Queremos convidar Dr. Manoel Moraes para ocupar a tribuna, presidindo a sessão.

00:07:07 – Manoel Moraes – Amigos e amigas, companheiros e companheiras, declaro aberto essa sessão da Comissão Estadual Dom Hélder Câmara da qual nós temos a honra de estar presente nessa casa legislativa, no município de Garanhuns. Nós queremos convidar algumas autoridades, presentes, para compor esse espaço de honra dessa casa, que nos foi cedida, para que possamos realizar esse evento tão

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representativo de nossa sociedade pernambucana. Gostaríamos de convidar Wanderley Gomes, Secretário de Governo, representando o senhor Prefeito de Garanhuns; professor José Cláudio Gonçalves, presidente do Instituto Histórico Geográfico de Garanhuns; Dr. Paulo Couto Soares, presidente da OAB de Garanhuns; Capitão Ribeiro, representando o 9º Batalhão PM de Garanhuns. Gostaríamos de convidar, com muita honra, um companheiro combativo de toda essa luta da memória e verdade, o deputado federal Fernando Ferro, que é parte dessa história e como vereador, na época, de Recife, foi o primeiro parlamentar que colocou nomes de ruas de mortos e desaparecidos da cidade do Recife e é filho de Garanhuns. Gostaríamos de convidar a família de Ranúsia, Renilza Alves, Rildete Alves, Hilda Rodrigues e Ramilson Alves, pra também fazer parte dessa tribuna de honra. A Comissão Dom Hélder Câmara foi criada por projeto de lei espelhada na luta dos movimentos sociais, a nível nacional, pelo direito, pela luta e cumprimento de direitos humanos. O Brasil, hoje, é signatário de uma série de tratados internacionais que fazem com que as entidades de direitos humanos, reunidas na 11º conferência, em Brasília, permitissem uma pactuação de um Plano Nacional de Direitos Humanos e nesse plano foi criada a Comissão Nacional da Verdade. Em Pernambuco a pedido, e por força, da sociedade civil, reunida no Comitê da Memória e Verdade e Justiça, que aqui está sendo representado por Dr. Marcelo Santa Cruz, foi criada a Comissão Dom Hélder Câmara. É uma Comissão criada por lei, similar a Comissão Nacional da Verdade. A diferença é sua amplitude, é sua atuação do ponto de vista do papel que ela cumpre de investigar os crimes praticados dentro do estado de Pernambuco por pessoas, em função do estado praticando o crime, ou fora de Pernambuco, e por isso nós temos o Estado de Pernambuco dando todo apoio pra que pudéssemos realizar esse evento. E gostaríamos, então, de convidar, pra fazer parte desse lugar de honra, o presidente da FUNDARPE, Severino Pessoa. Que como ele disse “Cultura também é memória.” Essa frase dele marcou a Comissão Dom Hélder Câmara. E nós queremos, então, também, convidar, no mesmo nível, como a FUNDARPE está dando apoio, a origem de toda essa luta que é a luta dos familiares, a luta do Comitê da Memória e Verdade e Justiça, Marcelo Santa Cruz, aqui presente. E nós temos dentro do âmbito da Prefeitura o Pedro Pessoa, Secretário de Direito Humanos, que também nós gostaríamos de convidá-lo. Pedro Passos, perdão! Bem, como eu dizia, as sessões da Comissão são públicas. Elas representam uma missão de um legado histórico de cumprir sua tarefa, agora por lei, de revelar, de trazer luzes a tudo que produzido pela ditadura militar. Segregações, seqüestros, torturas, estão sendo investigadas pela Comissão através de um trabalho minucioso formado por especialistas e técnicos que estão aqui dando suporte. Então, queria saudar, também, a todos os companheiros da assessoria da Comissão, Lilia, Joelma, Teresa, Jacqueline, todos que estão compondo, Rafael que é

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historiador, doutorando em história; todos os companheiros da Comissão que estão presentes. É, pra nós, motivo de honra ter todos aqui. E especialmente nós gostaríamos de chamar Dr. Áureo Bradley, ex-deputado que também faz parte da Comissão, para compor a mesa, e Dr. Roberto Franca que é o relator do caso Ranúsia. Então, nós vamos em seguida, seguindo o que foi planejado, passar a palavra para Dr. Roberto Franca que vai fazer uma breve palavra sobre o caso Ranúsia no contexto da relatoria do qual a Comissão Dom Hélder compõe. A nossa Comissão é formada de relatores e relatoras, e os casos são os emblemáticos e todos aqueles que cheguem a Comissão. A nossa lista foi publicada em Diário Oficial, está disponível pra todos que quiserem ter acesso e nós estamos em plena campanha publicitária para que a sociedade possa contribuir com informações acerca de qualquer desaparecido político. Nós, inclusive, acreditamos que no campo, no interior, a quantidade de pessoas que foram, digamos assim, mortas e desaparecidas pode ser muito maior do que nós temos notícias. Então nos ajudem! A idéia dessa sessão no interior, aqui em Garanhuns, é uma forma de não só interiorizar os trabalhos da Comissão, mas, também, de mostrar que esses graves crimes de violação de direitos humanos foram praticados em todo o estado e de forma sistêmica durante os 21 anos de ditadura militar, civil-militar, isso um dos períodos que nós estamos investigando, porque a Comissão pega de 45 até 1988. Com a palavra Dr. Roberto Franca.

00:14:06 – Roberto Franca – Boa tarde a todos os senhores e senhoras. Nós queremos, inicialmente, informar algumas normas da Comissão, a Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, se compõem de nove membros, hoje estamos presentes três, o Manoel Moraes, José Áureo Bradley e eu. Mas, temos mais seis membros, o nosso coordenador Fernando de Vasconcelos Coelho, advogado; Gilberto Marques, que é advogado; Henrique Mariano, que foi presidente da OAB; Humberto Vieira de Melo, procurador da Prefeitura do Recife e ex-Secretário da Justiça; Manoel Moraes, já mencionei; Nadja Brayner advogada e historiadora; e, Socorro Ferraz, também, hstoriadora. Somos nove membros, criados, como Manoel falou, por uma lei estadual, o que tem um caráter muito importante para o funcionamento desta Comissão e temos realizado audiências e sessões públicas, algumas em menor número, reservadas, sem a presença do público. E estamos concentrando as nossas atividades em 51 casos de mortos e desaparecidos. Esse não é o objetivo único da Comissão, mas ela se fixou nessa prioridade que é identificar mais informações que já foram prestadas pelas famílias, pelos ex-presos políticos, onde e as circunstâncias em que ocorreram as mortes desses 51 brasileiros, muitos pernambucanos ou que foram mortos em Pernambuco. Nós fizemos esse corte porque há outras Comissões da Verdade sendo constituídas em todo o Brasil, a Comissão Nacional, mas nós estamos... E a

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competência legal desta Comissão é apurar os casos de pernambucanos mortos em qualquer lugar do Brasil ou de qualquer brasileiro ou estrangeiro morto em Pernambuco durante aquele período do regime militar. Nesse sentido, fizemos no primeiro ano, 51... 26 audiências públicas e 43 depoimentos, além de documentos que estão sendo recolhidos pela nossa equipe de pesquisa, pelos historiadores, nos arquivos de Pernambuco, do DOPS, de outras fontes e também agora já estamos em Brasília e no Rio de Janeiro, vamos procurar investigação e documentos complementares. E essa sessão ela tem um caráter especial porque é a primeira sessão que a Comissão realiza fora da cidade do Recife, já havia desde o inicio essa decisão da Comissão de realizar algumas sessões públicas fora do Recife, no intuito de obter maiores informações. Muitas vezes há pessoas que tomam conhecimento com essas sessões e podem prestar depoimentos e informações, de forma que há a idéia de nós fazermos outras também fora do Recife, e essa é a primeira. E o que nos levou a iniciar pela cidade de Garanhuns? Foi a circunstância de que um desses casos de mortos é de uma cidadã de Garanhuns. Então, nós hoje, nesta sessão, além de ouvirmos alguns depoimentos, nós queremos fazer uma homenagem a memória de Ranúsia Alves Rodrigues. Aqui estão presentes parentes, familiares, nós já ouvimos em sessões públicas alguns parentes de Ranúsia e entre tantas atribuições que a Comissão... Funções que tem a Comissão da Verdade, uma delas é resgatar a memória dos combatentes do regime militar. Isso para muitos pode ser uma coisa secundária, mas para muitos familiares resgatar a memória dos militantes por um órgão do estado, nós somos, aqui, um órgão criado por lei do Estado de Pernambuco, o que portanto, representa o Estado Brasileiro também. Quando se faz um reconhecimento pelo Estado é diferente o significado que tem o reconhecimento já feito, há muitos anos, pela sociedade, pelos amigos, pelos partidos políticos; mas quando é o Estado que reconhece o papel e a importância que tiveram os militantes durante o regime militar... Eu me lembro de um dos depoimentos que nós tivemos, de José Nivaldo, também um homem do interior, de Surubim, e no depoimento José Nivaldo fez questão de realçar quando ele, que foi preso, torturado, quando o acusavam de que ele tinha preso, que era um terrorista e ele fez questão de realçar que ele não foi preso, a prisão dele ocorreu depois, dias depois. Ele foi seqüestrado! E mantido em local incerto e não sabido; e que os terroristas foram aqueles que quebraram a legalidade democrática. Se a gente não entender a luta política, e em alguns casos a luta armada, contra o regime militar, nós precisamos compreender que a ruptura democrática, o uso de armas e da força foi pelo os que instituíram a ditadura militar. De forma que os opositores de diversas formas e como no caso de Ranúsia vocês vão ver muitos desses – e ela é um exemplo – foram à clandestinidade por uma imposição do próprio regime. Além de Ranúsia, morreu, no mesmo dia que ela, um conhecido

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militante, amigo meu, Ramires. Ramires foi como estudante secundarista, já estava sendo caçado para ser executado e teve que passar à clandestinidade e que posteriormente foi morto e assassinado e cremado, no mesmo dia da morte de Ranúsia, no Rio de Janeiro. Então, veja, muitos jovens de 22, 18, 30, 25, eram todos jovens, excessivamente jovens, eram empurrados para a vida clandestina porque já estavam sendo caçados e houve um momento que o regime militar determinou a execução sumária de todos aqueles que estavam sendo investigados. Na fase inicial prevaleceram prisões e torturas, mas numa determinada fase, sobretudo no período do governo Médici, houve a decisão política de executar todos aqueles que eram presos. Então, esta Comissão e as Comissões de Memória e Verdade, elas tem esse sentido de, ao analisar esses fatos, chamar a atenção da sociedade do que significam os regimes militares para que isso não venha a ocorrer nunca mais. Esse é o sentido pedagógico que a gente pretende. Não é vingança, revanche, é no sentido pedagógico de mostrar que todos os regimes autoritários cometem esse tipo de barbaridade e todo mundo, e que nós tivemos essa experiência. No caso, veja, a Ranúsia que era nascida, filha de Moisés Rodrigues Vilela e Áurea Alves Rodrigues, nascida aqui em Garanhuns em 18 de junho de 1944, foi estudante de enfermagem da Universidade Federal. Participou como estudante, na época, do diretório acadêmico de enfermagem, foi eleita delegada da UNE para o 30º congresso de Ibiúna, onde houve uma prisão de mais de mil estudantes. Vejam, os estudantes, na época, é que eram eleitos para serem os delegados do Congresso de Ibiúna. Teve... O seu direito a estudar foi cassado pelo 477, um instrumento autoritário que afastava os estudantes, por três anos, da universidade, aqueles que tinham o compromisso de militância, e ela teve o seu direito cassado ficando impossibilitada de colar grau como enfermeira, em 1969. Trabalhou no IMIP como auxiliar de enfermagem e no dia 27 de outubro, num dia como hoje 27, dia 27 de outubro de 1973 ela é assassinada. E veja, as circunstâncias que foram divulgadas era de que num tiroteio, com outros terroristas, ela havia sido morta numa rua na cidade do Rio de Janeiro. Só que com o passar do tempo, depois, e recentemente, foram sendo descobertos documentos, vários documentos, muita coisa foi incinerada, destruída, mas nós temos percebido uma quantidade enorme de documentos que começam a surgir e alguns documentos secretos, à época, secretos como esse que eu tenho, aqui, uma cópia, um documento com um carimbo de secreto do serviço nacional de informações. É uma informação número 07916 de 73, veja, todas as características de documento secreto do órgão de informação, à época, o Serviço Nacional de Informações. Esse documento ele tem o seguinte... Tem um trecho que ele fala: “Extraído do depoimento de Ranúsia Alves de Oliveira”, como ela ficou conhecida ou era conhecida: não Rodrigues, mas Oliveira. “Ranúsia Alves de Oliveira destacada militantes do PCBR, da Guanabara, presa pelo DOI-CODI do 1º Exército, no

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dia 27 de outubro de 73” e eles citam algumas informações do depoimento da Ranúsia. Portanto, é um dos documentos, porque houve outro do SISA, do Serviço Interno, também, da Aeronáutica. As forças militares tinham os jogos políticos, não foi da Aeronáutica, mas as informações eram tidas por armas, por cada setor, e também constou de documentos secretos a respeito da sua prisão. E qual é a importância desse fato? É que esses fatos demonstram que o Estado, através do DOI-CODI, que era o órgão de repressão, havia prendido a Ranúsia como ocorreu com vários outros mortos e desaparecidos, anteriormente a sua morte. Ela foi presa, prestou depoimento, na verdade não foi presa legalmente porque não foi apresentada a autoridade judicial, mas, ela foi seqüestrada, torturada e morta, portanto, não naquele teatro encenado na rua, no tiroteio com outros membros. E nesse caso a morte dela foi associada, também, a três outros militantes o Almir Custódio de Lima, o Ramires Maranhão aqui Pernambucano, e o Vitorino Alves, e houve... Jogaram uma granada dentro do fusquinha no Rio e foram cremados, os corpos foram cremados, certamente para encobrir as torturas que foram cometidas. Então, essa sessão de hoje, ela não tem o sentido de colher informações como nós temos feito em vários depoimentos, colher informações nas pesquisas, nas investigações. Mas, ela tem de prestar uma homenagem a uma pernambucana, de Garanhuns, que foi morta e tida como morta em circunstâncias que não foram verdadeiras, porque na verdade ela foi morta pelo Estado Brasileiro, foi presa, seqüestrada e torturada. De forma que é uma sessão especial de memória, que faz parte dos objetivos da nossa Comissão. Por isso eu, Manoel, eu quero perguntar, convidar, se a Ranúsia, a sua irmã que já prestou depoimento, gostaria de em nome da família, Rildete, fazer um depoimento para os membros que se encontram aqui hoje.

00:28:40 – Rildete – Antes de tudo, em nome da minha família eu quero agradecer a Comissão por nos haver dado a possibilidade de prestarmos, hoje, uma homenagem à nossa irmã. Quero, como é que se diz, saudar a todas as autoridades aqui presentes. Ao prestar essa homenagem à Ranúsia, a nossa intenção aqui não é de lançar um olhar, ter um olhar nostálgico sobre a nossa irmã, mas é um ato de dizer aqui, a todos, que nós estamos orgulhosos da nossa irmã por ter tido a coragem de naquele momento tão difícil, aqui no Brasil, ela ter sido conseqüente na sua forma de pensar, no que ela acreditava. Ranúsia era uma pessoa muito sensível, eu me criei com ela aqui em Garanhuns e conheço todos os seus sentimentos de adolescente e sua dedicação à sociedade menos privilegiada. Ela sempre teve e demonstrou uma sensibilidade muito grande sobre as questões como miséria, pobreza, e a questão cultural também, entre outras. Ela alfabetizou alguns adultos aqui na cidade. Creio que seria a luz dessa visão que a história de Ranúsia deveria ser recontada. E em nome da

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minha família, eu tentei fazer aqui um texto coletivo, querendo transmitir para o público presente, nosso sentimento em relação à Ranúsia, conversei com os meus irmãos que estão aqui, e há alguns pontos de convergências sobre nosso sentimento em relação a ela. O primeiro é o de amor que nós tínhamos a nossa irmã, que era um amor realmente muito grande, porque como vocês veem ali era uma família grande, de nove filhos, Ranúsia era a número cinco, mas era uma família muito unida apesar de sermos tão diversos. Então, um outro ponto de convergência em relação à Ranúsia foi, assim, a saudade que ela nos deixou, realmente ela nos fez falta, porque nós a queríamos muito e queremos está aqui presente dizendo “Temos orgulho da nossa irmã e temos saudade dela”, ela nos fez falta. O outro ponto que eu quero levantar, hoje, é a nossa indignação pela forma brutal como a nossa irmã foi assassinada, porque como já foi dito aqui Ranúsia tinha um projeto de vida profissional. Quando ela, aluna do Colégio 15 de Novembro, durante a semana de vocação profissional optou por fazer enfermagem a partir de uma palestra de uma Ana Nery chamada Valdeci Bahia e Ranúsia saiu dali convencida de que enfermagem seria a forma, para ela, como se diz, para ela ajudar as pessoas mais necessitadas. E como foi dito, hoje, esse projeto de Ranúsia foi impedido, ela foi impedida de exercer sua profissão de uma forma estúpida, porque como uma estudante sendo eleita por sua escola para representar a UNE, no Congresso de Ibiúna, é presa, incluída no 477, e que opção Ranúsia teria naquele momento? Então, ela a partir daí faz uma reflexão sobre sua vida profissional, ela percebe que enfermagem não seria um fim, mas que outra sociedade, outro mundo novo poderia ser construído. E essa nova sociedade, esse novo mundo, em projeto, ela optou junto aos seus companheiros que eram os militantes do PCBR, na época. E Ranúsia é, como se diz, obrigada a entrar na clandestinidade. Entrando na clandestinidade Ranúsia tem – como eu digo – ironias do destino, porque naquele momento a ditadura militar fascista, equivocadamente, assassina uma pessoa e se equivoca da identidade. Então, é publicado o nome de Ranúsia como sendo Regina Lobo Leite Pereira, naquele momento Ranúsia tornou-se uma inimiga porque ela já estava classificada como terrorista quando Ranúsia não era conhecida nos meios da repressão. Nesse momento eu, Rosane, sua irmã e Rubem, exilados no Chile, já previam uma caça atroz a nossa irmã, porque já num período de tanta repressão, ela não tinha muita possibilidade de se defender. E foi exatamente o que aconteceu e esse fato já é conhecido de todos, e nossa irmã foi violentamente assassinada, nos deixando a impossibilidade de sequer contestar esse crime à época, pois todos os meus irmãos foram perseguidos, visitados por policiais, entre outros um policial daqui da cidade de Garanhuns, que se chama Ordolito. E isso para nós foi muito difícil porque a minha família tinha medo, muito medo pelas visitas, pelas buscas desse período. Eu quero encerrar aqui nossa homenagem à minha irmã,

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agradecendo a Comissão porque pela primeira vez nós conseguimos, publicamente, externar nosso sentimento e é como se a ditadura nos impusesse, não nos restou alternativa, de fazer aqui, hoje, um enterro simbólico. Que é uma herança da ditadura enterrar simbolicamente uma pessoa, já que o corpo nunca foi entregue, inclusive a própria história da morte de Ranúsia ainda é uma incógnita, porque os cães da ditadura mataram e nunca assumiram publicamente os crimes cometidos. Então, minha posição, aqui nesse momento, é de que – como a nossa ministra diz – a nossa luta é unilateral, acho que muita gente já foi condenada, julgada, assassinada, e eu acho que sobre Ranúsia nos cabe pedir à justiça e os verdadeiros criminosos sejam condenados. E é com essas palavras que eu quero encerrar essa homenagem. Muito obrigado a todos.

(APLAUSOS)

00:37:44 – Pessoa não identificada – Ranúsia Alves Rodrigues!

00:37:46 – Todos – Presente!

00:37:48 – Pessoa não identificada – Almir Custódio de Lima!

00:37:51 – Todos – Presente!

00:37:52 – Pessoa não identificada – Ramires Maranhão!

00:37:54 – Todos – Presente!

00:37:55 – Pessoa não identificada – Agora e para sempre! Obrigado.

00:38:01 – Manoel Moraes – Amigos, amigas, dando sequência a esse ato nós não poderíamos deixar de citar uma força, fundamental, naquele período de repressão de auxílio às famílias que foi o arcebispo Dom Hélder Câmara. E com ele todos aqueles que ao seu lado colocaram suas vidas em risco como foi o próprio caso do padre Henrique. Mas, nós estamos aqui, hoje, com duas pessoas muito especiais, pra essa comissão, Padre Francisco que escreveu um brilhante livro sobre Dom Hélder – eu diria que um dos livros pastorais mais bem escrito, quem não conhece passe a conhecê-lo. Padre Francisco é redentorista. E nós temos aqui um padre que foi um esteio na vida de muitas pessoas presas políticas e nós temos a saudosa lembrança, Ferro, de Custódio que foi menino das pastorais de Padre Gabriel. Eu queria convidá-lo para que aqui à frente o Padre Gabriel, de 80 anos, ainda na sua militância pastoral possa fazer uma entrega simbólica de um singelo livro, de 80 contos, sobre a sua vida e um deles é o conto sobre o Padre Henrique.

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00:40:08 – Padre Gabriel – Gostei muito de escutá-lo dizer que quer resgatar a memória de gente muito importante e que nunca devemos esquecer. Porque esses homens, como de fato Dom Hélder, Padre Henrique, eu queria também porque dediquei uma história a Carlúcio Castanha que, na época de 67/68, era um dos líderes da juventude, lá no Recife, eu também escrevi sobre ele, porque claro que Dom Hélder todo mundo já conhece bastante bem e eu me honro de ter estado ao lado dele muitas vezes, principalmente nas horas mais difíceis. Vocês sabem que quando se torturava psicologicamente a Dom Hélder, a gente nos sábados às seis horas da manhã ia concelebrar com ele lá na catedral das Fronteiras para dar apoio a ele, porque era uma época difícil também para ele. E aí a gente ia, eu com Padre Humberto, Padre Reginaldo Veloso, Edivaldo Gomes, e outros, que a gente ia ajudar a apoiar Dom Hélder. Padre Henrique – eu tenho uma história aí que não está publicada por aí, mas é importante a gente também saber - uns dizem que é por acaso, eu digo que foi a Providência, que exatamente nos dias que Padre Henrique foi morto estavam na cidade do Recife dois jornalistas holandeses, de uma revista Panorama da Holanda, e eles estavam no hotel e eles tinham combinado que no dia 28 de maio eles iam almoçar conosco lá na Madalena. Na hora o escritor Hans Smulders apareceu, mas o fotógrafo não apareceu. Apareceu no meio do almoço e ele contou que de manhã ele tinha pegado um táxi e foi para o cemitério da Várzea para tirar algum retrato, talvez, de uma criança que faleceu, sei lá. Em todo caso, ele achou que devia ir lá. Perto do cemitério da Várzea ele viu um corpo, ao lado da estrada, e gente ao redor, aí ele mandou o táxi parar e foi tirar os retratos. O corpo estava de bruços, agarrando capim e ele tirou retrato e para ele viraram o corpo e ele pode tirar mais retratos. Mas, ele ficou lá porque ele queria saber – não sei por que – mas, em todo caso queria saber, de quem se tratava ali. Ele passou duas horas, três horas para conseguir isso, até que alguém escreveu para ele, num papelzinho, “Padre Henrique, sociólogo.” Com esse papelzinho é que ele chegou lá em casa, na hora do almoço, aí eu sabendo que Padre Henrique trabalhava no colégio Marista, telefonei para irmão Orlando que era diretor e perguntei: “Padre Henrique está aí?”, ele disse “Não. Nós esperamos por ele a manhã toda, porque ele tinha compromisso aqui, mas não apareceu.” Aí eu contei a ele o que é que o fotógrafo tinha dito à gente. Aí irmão Orlando disse: “Deixe pra mim que eu vou atrás.” De fato ele foi, pouco tempo depois, umas duas horas depois, eu liguei de novo para irmão Orlando, aí irmão Orlando disse “Olha, eu fui para a rádio e para o jornal, mas tanto o rádio como o jornal foram proibidos de publicar qualquer coisa.” O que para mim era um sinal de que era o culpado do assassinato, porque quando vão proibir publicar, então fica claro. Certo é que os retratos que existem de Padre Henrique no local onde ele foi morto são daquele fotógrafo, Peter Mokveld, que eu conheço e que eu recebi os retratos dele e são esses retratos que existem de Padre

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Henrique no local onde ele foi morto. Depois, ele, sabe que o corpo foi levado para o velório, lá em Santo Amaro, e queriam enterrar como indigente, mas aí Dom Hélder e alias Dom Penido, o Abade, chegam na hora para receber o corpo e foi esse o resto da história, todo o enterro que houve. Mas, é que eu escrevi isso no livro, como também escrevi, como tenho o retrato, também, de Peter Mokveld que está ai, também, no livro o retrato que eu recebi. Eu também – bom, não vou falar muito porque tem outros que vão falar – mas, é que, também, gosto de lembrar o Carlúcio, muito amigo meu, que também tenho o retrato dele, que já faleceu. Ele não quis cursar faculdade...(emocionado).

(APLAUSOS)

00:47:07 – Roberto Franca – Muito obrigado, Padre Gabriel. Eu queria aproveitar, só pra comunicar, que o estudo do caso e da morte de Padre Henrique recebeu uma prioridade, assim, especial da Comissão até porque atendendo a um pedido do bispo Dom Fernando Saburido para que nós déssemos uma atenção especial e isso foi feito, e nós temos hoje, praticamente, esse caso já bastante esclarecido. Até porque houve um documento, que foi também descoberto nos arquivos, me parece de Brasília, do SNI, que à época o SNI teve conhecimento dos autores da morte de Padre Henrique, mas que por razões políticas ordenou que o caso não fosse divulgado. E entre os documentos, recentemente, encontrados tem um do Ministro da Justiça, na época, mandando um emissário à Pernambuco para tratar com as autoridades judiciais e o ministério público para que o fato não fosse investigado adequadamente e é por isso que passaram esses anos todos, mas que recentemente nós tivemos cópia desse documento encontrado... Foi por Fonteles, membro da Comissão?

00:48:50 – Manoel Moraes – Foi por Cláudio Fonteles!

00:48:51 – Roberto Franca – Por Fonteles, um membro da Comissão da Verdade – ex-membro que ele pediu, agora, pra sair – mas o fato é que foi um documento extremamente importante que cita nomes de autores do homicídio do Padre Henrique. Não é, Manoel?! Passo a palavra para o nosso...

00:49:07 – Manoel Moraes – Muito obrigado. Nós queríamos anunciar, também, que estão presentes dois autores deste livro que é uma das obras mais importantes desse período, como tantos outros autores que fizeram com essa literatura, de época, a resistência sobre o desaparecimento forçado de Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier. Estão aqui presentes Chico de Assis e Jodeval Duarte do qual nós também saudamos a presença de vocês. (aplausos) Nesse momento nós queremos ouvir um depoimento de um dos momentos mais emblemáticos da história de Pernambuco, a

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prisão de um governador eleito pelo voto democrático. E esse processo de seqüestro, de um governador, foi presenciado por duas pessoas. Uma pessoa já não está entre nós que é Waldir Ximenes, que foi torturado em seguida, mas, era, digamos assim, umas das pessoas de confiança do Dr. Miguel Arraes; e a outra pessoa é o Dr. Ivan, está presente, Ivan Rodrigues (aplausos). Nós gostaríamos que o Dr. Ivan Rodrigues viesse à tribuna pra dar o seu depoimento desse momento tão importante da história, de Pernambuco, e naturalmente o conhecimento que o senhor tem de todo esse período da repressão. Como filho de Garanhuns o seu depoimento muito nos enriquecerá nesta tarde. Ex- vereador dessa casa.

00:51:24 – Ivan Rodrigues – Dirijo-me, especialmente, à mesa desses três ilustres membros da Comissão da Verdade que nos proporcionaram a realização da primeira Comissão, da primeira reunião, como eles mesmos citaram, realizada no interior do estado. As autoridades aqui presentes, as minhas homenagens e queria representá-las pelo meu querido amigo deputado Fernando Ferro, também que é menino de Garanhuns, embora não tivesse nascido. Lembro com especial atenção quando eu avisto, aqui, nosso companheiro Marcelo Santa Cruz e queria fazer a referência maravilhosa que foi objeto do e-mail que eu dirigi a ele, exaltando a mãe mais sublime e representativa de todos os que foram atingidos pela ditadura. (aplausos) Companheiro Chico Assis que está acolá, faz um bocado de tempo que não o via; amigos todos que estão aqui eu queria fazer uma referência especial que essa também é minha casa. Fui vereador por duas legislaturas aqui em Garanhuns, guardo um carinho todo especial e isso é um fato que me orgulha. E, sobre tudo, e aí nós vamos chegar na verdadeira razão da minha visita é ter sido honrosamente convidado para dar um depoimento aqui. Primeiro eu peço perdão a vocês porque eu não sei falar que não seja utilizando alguns chistes, gosto muito de contar historinhas pra reforçar o que eu digo. E me lembrei muito, quando entrei aqui que vi a Comissão muito bem postada de paletó e gravata, bonitas figuras e eu em mangas de camisa me lembrei do filósofo do futebol Neném Prancha que dizia que o pênalti no futebol era uma coisa tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube. Eu devia estar aqui, amigos, não de paletó e gravata, diante da majestade do objetivo dessa Comissão eu devia estar aqui de casaca, no maior rigor possível, porque até que enfim começa a realizar justiça, o descobrimento da verdade, não vai aqui nenhum revanchismo, não vai aqui nenhum ódio. E aí eu invoco o Padre Gabriel de que ódio é uma coisa que não constrói que só faz mal a quem o tem. E eu quero confirmar, pra vocês, com muito pesar, a coisa de 60 dias atrás morreu o nosso companheiro Garibaldi Otávio, que era junto comigo os dois últimos – que eu me lembro – das últimas pessoas que estavam presentes no dia 1º de abril de 64 no palácio do governo. Garibaldi se foi! Me dá agora

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a convicção que a pedra da vez sou eu, mas, vejam bem, me lembrei depois que existe ainda Aluísio Falcão que está vivo, lá em São Paulo, que também estava presente no dia 1º de abril. Pensei depois, no 1º de abril, eu pensei em escrever, em registrar, mas era um perigo, na época, qualquer anotação. Eu tinha receio de que aquilo fosse utilizado como instrumento do mal, dos donos da situação. Não registrei nada, não escrevi nada. Tenho muito medo de falar nas pessoas que estavam presentes lá e cometer injustiças com a omissão de alguns. Então, vejam vocês, eu estava lá, assisti todos aqueles momentos, sou testemunha de um fato muito mais curioso ainda e quero deixar o registro aqui. Eu estava junto do governador Miguel Arraes – e queria deixar esse registro porque isso aí é história – quando à tarde por trás do palácio, que já estava todo ocupado pelo exército, os ninhos de metralhadores voltados para o palácio, e é coisa ruim a gente avistar boca de arma voltada contra a gente. É muito desagradável! Não queiram não! Mas, o coronel Dutra de Castilho entrou por trás do palácio, manifestou intenção de falar com Dr. Arraes. Dr. Arraes desceu do 1º andar, foi esperá-lo na margem daquele terraço, que vocês conhecem, atrás do palácio e lá se iniciou um dialogo que eu reproduzo pra vocês aqui – não literalmente porque é impossível, não gravei palavra por palavra – mas, que inclusive ainda com Dr. Arraes vivo, nas noites de conversas de papo e de prosa, conferimos a história e foi mais ou menos assim. O coronel Dutra de Castilho – que, ressalte-se, em nenhum momento deixou de tratar Dr. Arraes por Excelência – disse: “Vim comunicar, a Vossa Excelência, que está deposto”. Conferi com Dr. Arraes, também, uma circunstância, é que Dr. Arraes com toda serenidade e o Coronel Dutra de Castilho estava tomado, vivamente, por emoção porque o lábio dele tremia. Quando ele disse que o Dr. Arraes tava deposto, Dr. Arraes disse: “O senhor está enganado! Porque o senhor não tem autoridade pra me depor. O senhor pode dizer que eu estou preso!” - “Não, em absoluto, excelência. Nós daremos toda a garantia.” Ele disse: “Não preciso da sua garantia. Eu sou o governador de Pernambuco, eleito pelo povo de Pernambuco, e vou cumprir o meu mandato até o último dia dele, esteja onde estiver.” Deu meia volta: “Dá licença!” deu meia volta e deixou o Coronel lá. Isso é um fato que eu registro pra vocês porque eu estava junto e eu vi, assisti de perto, mais muito de perto mesmo. Não tenho na minha vida, a registrar pra vocês, qualquer violência física cometida contra mim. Tenho apenas a registrar – e você conhece essa história e meu sobrinho querido, Zé Áureo, sabe disso – tenho apenas a registrar o que aconteceu com meu irmão caçula que foi preso na OBAN, da rua Tutóia. A OBAN, da rua Tutóia, pra quem não sabe foi a genetriz dos DOI-CODIs que estabeleceram, depois, no Brasil inteiro. Eu consegui um acesso, fazer um acesso lá, a OBAN da Tutóia, e aí minha homenagem, nesse instante, e as ressalvas que a gente também precisa fazer, e isso é importante para o estabelecimento da verdade. Com a interferência, intervenção de Dr. Eraldo

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Gueiros, que na época era Ministro do Supremo Tribunal Militar, eu consegui fazer uma aproximação lá na OBAN da Tutóia. Eu fui atendido por um daqueles carcereiros, que constam lá no Tortura Nunca Mais, naquele livro do Tortura Nunca Mais. Um capitão Roberto que de dia distribuía bíblias – e eu recebi uma bíblia da mão dele – e de noite ia torturar os presos. Meu irmão e a mulher dele, na época grávida do primeiro filho, foram submetidos a todo tipo de tortura, comprovadamente verificado depois que eles foram transferidos e graças a Deus foram transferidos para o DOPS onde se fez o processo regular. E quando ia pra o DOPS era processo regular, lá pelo menos sabia que não desaparecer e não ia ser assassinado. E eu digo isso a vocês – pra que fique bem claro – isso em 1968, imaginem vocês que é possível, face à coincidência cronológica do evento, Roberto, porque isso eu fui chamado aqui, num domingo me avisaram os companheiros, eu corri pra São Paulo, estabeleci contatos com outros amigos e na terça feira seguinte quando eu apanhei o jornal embaixo da porta, no hotel, anunciava a morte de Marighella. Pronto. Foi naquela semana. Então, eu queria dizer a vocês que meu irmão e minha cunhada foram impiedosamente torturados. Eu não sofri, consegui sobreviver, mas o meu irmão foi. Eu consegui ultrapassar, passei alguns tempos em Recife, não podia voltar pra Garanhuns. Porque aqui, em Garanhuns, tinha um Sargento que prendia gente todo dia, era ele que decidia da vida do povo aqui em Garanhuns. Eu fiquei impossibilitado de voltar pra Garanhuns e não tinha condições de procurar emprego em Pernambuco porque auxiliar de Miguel Arraes virou leproso. As pessoas trocavam de calçada para não cumprimentar a gente, as pessoas deixaram de visitar minha casa e eu deixei de visitar a deles pra não constrangê-los. Passei algum tempo vivendo, exatamente, da solidariedade da minha família, que ainda bem que eu tenho uma família extraordinariamente solidária. Abrigado eu, minha mulher e meus dois filhos – que um ta ali, Dr. Pedro Leonardo – na casa, em um apartamento de uma irmã da mãe de Zé Áureo e meu segundo pai, meu pai Bida, toda semana mandando a feira pra eu comer – eu, a mulher e os dois filhos. E quem levava a feira era meu querido primo Valdemar Branco, caminhoneiro, que toda segunda feira amanhecia o dia na porta da minha casa, levando comida pra eu sobreviver. Até que eu arrumei um emprego e fui embora pra São Paulo. Queria dizer a vocês com muita honra, e sem nenhum desdoro dos demais companheiros que receberam, eu e meu irmão – e descobrimos isso em um dia, numa prosa, num papo – nunca requeremos os benefícios que nos foram concedidos por lei, a todo o pessoal atingido. Nunca! E meu irmão me deu uma razão muito importante, ele disse a mim – ele brincava me chamava de baixinho – “Ô Baixinho, eu nunca requeri porque se voltasse o tempo eu faria tudo exatamente o que fiz. (aplausos) Porque fiz por desencargo de consciência pra defesa dos meus princípios”. Eu, que depois aqui, em Garanhuns, se instalou o 71BI. O 71BI aqui, em

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Garanhuns, virou delegacia de polícia com o comandante resolvendo até briga de marido e mulher – e as pessoas mais antigas de Garanhuns se lembram disso. Quando o marido brigava com a mulher, a mulher dizia “Eu vou no 71, viu!”. E o comandante do 71 resolvia, administrava. Então, isso era uma coisa impiedosa, insuportável, dentro de uma vida comum de uma cidade. Eu cheguei a dizer, depois, a um coronel que sucedeu depois, ele chegou aqui em Garanhuns, Coronel Clóvis Batista, que era um homem sério e teve trabalho pra botar ordem na casa. E uma vez ele me pediu, se encontrou comigo e pediu que queria conversar comigo a respeito dos programas da AGISA que estavam fechados, tinha quebrado. E na conversa ele disse: “Eu sei que o senhor tem alguma experiência ou tem experiência disso.” Porque eu tinha sido presidente da CILPE; eu disse: “Foi, Coronel! Agora, deixe eu lhe dizer logo uma coisa pra poder a conversa entre nós ser franca, direta e límpida. A minha origem, eu fui, eu venho pedindo há Deus todo dia Coronel, pra que eu não morra antes, nem Dr. Arraes, pra gente se reencontrar e eu agradecer a ele a confiança que eu recebi do governo dele. Os erros que eu cometi na empresa, que eu dirigia, são meus. Não tenho a quem transferir porque ele manteve, sustentou toda a minha administração. E eu, Coronel, fui tão inexpressivo que não consegui ser catalogado nem como subversivo, nem como corrupto. Eu fui uma porcaria!” Então, realmente não teve a menor importância. E consegui sobreviver atravessando todos esses males, mas existe ainda um dado que eu queria registrar, aqui, como fato histórico, isso nunca transpirou. No dia 1º de abril recolhido lá no QG da 7ª Região Militar, eu e mais alguns companheiros – e eu faço referência, especialmente, porque Roberto se lembra, deve se lembrar dele, de Augusto Vanderley que era presidente do CONDEPE, na ocasião – nós recebemos voz de prisão do Coronel Bandeira, lá no QG, e dizendo que ia nos remover: “Os senhores estão detidos!” Havia essa forma de dizer, suavemente, que a gente estava preso “Estão detidos e serão encaminhados para o 7º RO.” Até ai nada demais, até ai tudo bem. Havia, eu acho que tem um fato que constatei nesse dia, que quando eu escuto aquelas lideranças da ditadura, aqueles militares contando a história da trama, eu fico rindo e achando graça, porque isso é uma grossa pilheria, aquilo foi tramado fora do Brasil. E na hora que nós estávamos sendo presos pelo Coronel Bandeira, que depois virou general e depois virou membro do alto comando que era quem comandava e dirigia o país, Augusto Vanderley interpelou e disse: “Coronel, você me dá licença? Aqui tem dois contínuos do palácio, que não tem nada a ver com isso. Não tem nada a ver! Nós tudo bem, mas esses dois...” Ele vacilou. Juro a vocês que ele vacilou. “Ah! Um momentinho, vocês esperem aí, que eu vou consultar o General Justino.” Ai foi consultar o General Justino pra saber se realmente prendia, também, os contínuos. Então, o que eu digo a vocês é que isso era um sinal de que eles não tinham nada acertado, não tinha nada planejado, as coisas aconteceram ao sabor das ocorrências, a

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medida que os fatos iam surgindo é que ia se decidindo. Mas, até aí – não é isso que eu quero destacar pra vocês – quando nós fomos encaminhados, desceu uma tropa conduzindo a gente, o Major comandando, e estavam dois carros preparados pra nos remover, dois carros particulares, preparados pra nos remover do QG da 7ª Região para o 7º RO. E vocês sabem quem comandou a operação? – é isso que eu queria fazer essa revelação pra vocês – quem comandou essa operação, com metralhadora – como é o nome aqui, eu gostaria que me ajudasse – à bandoleira! Com metralhadora, aqui à bandoleira, dando ordens aos militares: “Bote aqui! Acomode aqui! Meus cabos aqui!”. Comandou a operação de remoção o usineiro José Lopes Siqueira Santos, que poucos meses antes tinha trucidado oito camponeses na esplanada da usina e que era ex-deputado federal pelo PTB, pelo partido de João Goulart. Foi esse homem que comandou a operação. Aí eu confesso a vocês que eu morri de medo. Aí eu morri de medo porque nunca imaginei que chegasse, lá, na unidade militar. Eu só imaginei que ia pra mata de Dois Irmãos, tanto que quando eu cheguei lá que nós fomos enfileirados no corpo da guarda “Graças a Deus tô preso!” Porque eu nunca imaginei que chegasse lá. Então, isso é um fato que eu considero e reputo, sempre considerei da maior gravidade. Essa foi a gente, na verdade, que comandou, que implantou, comandou e tocou, foi quem governou esse país. Foi esse tipo de gente que ficou o tempo todinho governando e dirigindo esse país. Eu morro de rir, hoje, me divirto, que eu não sei guardar mágoa de ninguém. Eu fui, eu sou assim. Eu me divirto quando vejo os democratas de hoje fazendo fé de posição democrática, batendo nos peitos. Eu me lembro que eles passaram o tempo todinho servindo a ditadura, batendo palma e defendendo os absurdos e as torturas e as violências que eram praticadas. Hoje posam de democratas e eu me divirto. Vou fazer o que? Eu vou dizer: “Deixa de história, de potoca, tás mentindo!” Não. Vou perder tempo com isso?! Gente dessa medida, desse tipo, não perco tempo. Então, eu queria dizer a vocês que eu como sou, como fui, tão inexpressivo e não pegou em mim nome de subversivo, nem de corrupto, então, tenho pouca coisa pra informar a vocês. Pouquíssima coisa! Depois fui liberado. Na empresa que eu dirigi, realmente, não houve indiciados, do presidente até o mais humilde lavador de latão, e eu toquei a minha vida e até hoje venho tocando. Essa história – meu filho já me disse que tudo eu tenho mania, agora, de falar que sou velho, que to velho – mas, é porque realmente a velhice tem poucos confortos, muito poucos, mas asseguro – como asseguraram a mim – poder vim aqui falar a vocês com tranqüilidade, até brincando um pouco, fazendo um pouco de chiste, porque eu acho que vocês todos me consideram muito. Eu construí ao logo desses 85 anos, não digo, não digo sans reproche, mas sem merecer reparo nem desfeita de quem quer que seja. As pessoas me consideram e eu me orgulho muito disso, meus amigos. Era só o que eu tinha pra explicar pra vocês.

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(APLAUSOS)

01:15:05 – Roberto Franca – Ivan, eu queria dizer que conforme a prática que a Comissão tem adotado, depois da exposição do relator, os membros fazem algumas perguntas. Apenas os membros da Comissão. Então, se você se dispuser. Primeiro eu gostaria de fazer a primeira, se os demais depois quiserem. Dizer que entre os objetivos da Comissão um deles está em reconstruir as estruturas da repressão, como agia a repressão. De forma que seu depoimento não está direcionado a esclarecer sobre algum daqueles mortos e desaparecidos, mas é um depoimento de como funcionou, como foi o primeiro momento. Esses fatos fazem parte, também, do cenário que nós devemos incluir no relatório final. Mas, feita essa consideração eu queria fazer uma seguinte pergunta. Nós temos conhecimento porque estamos analisando, também, a prisão e a brutal tortura que sofreu Dr. Ximenes e que foi levado, também, para o quartel do 7º RO, em Olinda, aquele quartel tem, aqui e ali, aparecido informações muito sérias sobre o ocorreu naquele quartel. E como foi no período bem imediatamente posterior, eu pergunto: Você falou que foi ao quartel com mais de uma pessoa, foram dois que estavam sendo levados, teve conhecido da prisão de Ximenes e que foi levado para o quartel? Ximenes era um assessor.

01:16:44 – Ivan Rodrigues – Nesse dia não! Ele deve ter sido depois. Como depois, também – eu quero registrar pra vocês – que eu tenho conhecimento, é que lá permaneceu preso também o Dr. Pelópidas Silveira, está ali dona Hebe, a filha dele pra comprovar isso. Dr. Pelópidas esteve preso, também, no 7º RO. Mas, não foi do meu tempo, não foi nessa época.

01:17:13 – Roberto Franca – Foi em 64?

01:17:14 – Ivan Rodrigues – Não. Foi no dia 1º de abril. Agora Ximenes, que depois eu tive muito contato – nós éramos muito amigos, mas muito amigos mesmo – Ximenes quando conseguiu escapar, quando Ximenes escapou – graças, e eu conheço e tenho um testemunho pra dar pra vocês sobre essa questão de Ximenes – Ximenes escapou porque foi levado para o Hospital do Exército – não sei se vocês já conferiram isso – foi levado pra o Hospital do Exército em estado lastimável, já aos frangalhos, despedaçado, espatifado de tortura. E quem salvou Ximenes foi um cidadão que se chamava Dr. Cesar Montezuma, que era oficial médico do exército e que disse: “Não recebo. Vocês estão trazendo aqui um cidadão pra eu dar atestado de óbito e eu não recebo. Esse rapaz só entra aqui se eu tiver assegurado que nunca mais vocês tocam nele, não pegam mais ele; aí eu vou cuidar dele.” E foi quem salvou Ximenes, foi o Cesar Montezuma, médico maravilhoso que já morreu. Então, depois eu me encontrei várias vezes com Ximenes, porque quando ele conseguiu ser solto e curado – curado não, que a seqüela ele levou até a morte – então, ele foi embora pra o Ceará, pra

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Fortaleza, e eu arrumei um emprego na Mercedes Benz. Eu quase todo mês estava lá em Fortaleza. Chegava, telefonava e a gente ia jantar juntos e curtir a saudade, o banzo de a gente estar fora da atividade da gente. Ele lá em Fortaleza e eu rodando esse país todinho trabalhando pra Mercedes Benz. Nessa época eu estava estudando ainda e sabe o que me custou né?! Foi terrível! Então, Ximenes... Não sei dizer a vocês se ele foi preso lá no RO, porque justamente eu consegui ser solto logo. Eu até que meu estágio foi pequeno, foi curto. Então, é a única informação que eu posso dar, Ximenes disse depois nas conversas comigo – nós conversávamos sempre e longamente – eu tenho todo esse testemunho pra dar da questão dele no hospital.

01:19:56 – Roberto Franca – Dr. Ivan, nós queremos agradecer a sua disposição, o seu depoimento, a sua presença e dizer que apesar da grande amizade que nós temos, eu acho que falo por todos os membros dessa Comissão, que você é um personagem de uma parte da história de Garanhuns e de Pernambuco. E nós nos sentimos muito honrados com o seu depoimento. Muito obrigado.

01:20:22 – Ivan Rodrigues – Eu queria, fazendo a deixa, eu queria dizer que eu li em Dom Quixote, Cervantes é que quem criou aquele expressão que “Elogio em boca própria é vitupério.” Então, elogio entre nós dois, Franca, não tem sentido e deve ser um vitupério. Está certo? Eu é quem queria agradecer, antes de sair daqui, agradecer a Comissão, agradecer ao meu querido amigo presidente da Câmara, que gentilmente aqui a cedeu, e lamentar apenas que o dia foi inconveniente porque realmente era importante que as reuniões dessa Comissão tivesse o máximo de assistência, gente freqüentando aqui, muita gente, pra conhecer a história do que foi a miséria dos anos de chumbo que o Brasil passou. E que de vez em quando ainda aparece uns idiotas saudosistas, lamentando, querendo voltar ao regime militar por aqui. Não sabe o que é o esforço de uma democracia, quanto custa uma democracia que exige, também, esforço, tarefa, sangue, suor e lágrima.

(aplausos)

01:21:45 – Manoel Moraes – Dr. Ivan muito obrigado pelo seu testemunho. É a grandeza do seu espírito que faz com que o senhor esteja sendo ouvido nessa tarde, aqui, pela Comissão da Verdade, em Garanhuns. Rildete, ela quer fazer uso da palavra, só por um minuto, pra dar um aviso a todos que estão presentes.

01:22:03 – Rildete – Quero agradecer, sobretudo, à Comissão pela possibilidade da nossa família poder estar presente nessa homenagem à Ranúsia. E quero dizer que, infelizmente, nós não podemos demorar por motivo de viagem. Então, estamos

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explicando a vocês a nossa saída aqui, agora. Mas, que gostaríamos muitíssimo de ficar até o final. Infelizmente não vai ser possível. Obrigada.

01:22:27 – Maonel Moraes – Muito obrigado.

01:22:33 – Manoel Moraes – Agradecer a Rildete, inclusive, porque ela mora fora do país. Veio de fora, de outro continente pra estar conosco nessa tarde. Muito obrigado. Boa viagem pra o retorno a Recife. Bem, nós temos só mais um ato pra então franquearmos a palavra. Nós gostaríamos de convidar Margarida Cardoso que, aqui, representa a memória do deputado José Cardoso, na condição de viúva. Ela gostaria de fazer uso da tribuna!

01:23:30 – Margarida Cardoso – Boa tarde, senhor presidente da Comissão da Verdade, presidente da Câmara Municipal, senhor Vereadores. Senhores, olhem, estou aqui pra entregar um currículo do meu marido, José Cardoso, que na época foi torturado, perseguido, principalmente aqui na cidade de Garanhuns. Foi expulso de órgãos, de casas de comércio, de igreja – de uma igreja que ele foi ser testemunha num casamento – o padre Vitor expulsou ele da igreja que não aceitava ele como testemunha e nem freqüentando a igreja. Na época, essa casa era um café, era o seu Davi, expulsaram ele chamando-o de comunista. Não sabiam eles que essas pessoas, companheiros dessa época, estavam fazendo História, tinham um ideal. Porque eles tinham um ideal. Hoje em dia eu me envergonho em falar em política porque hoje a gente vê os ladrões, roubam o dinheiro do povo, são condenados e tomam posse como deputado. Na época do meu marido, na época dos companheiros que estão aqui, dessa cidade em que foi morta, ela defendia o direito do povo humilde. Hoje em dia os políticos defendem o ideal deles. E to aqui pra entregar a vocês, a Comissão, com muito orgulho em ter feito parte da vida desse cidadão. (aplausos) Obrigada por vocês estarem fazendo esse trabalho porque a história desses companheiros que foram torturados, mortos e humilhados, tem que todo o brasileiro conhecer, a partir dos meus netos, meus bisnetos, a minha quarta geração tem que conhecer a vergonha que esse país passou maltratando os seus filhos. Obrigada.

(APLAUSOS)

01:26:24 – Manoel Moraes – Queremos anunciar, também, a presença de Lincoln Santa Cruz, Luzanira Santa Cruz, de todos os familiares – Chico eu já falei – de todos os companheiros que acompanham essa sessão. Então, nós queremos, já que nós terminamos tudo que havia sido previsto, das homenagens e solenidades, abrir naturalmente, em curto intervalo de tempo a palavra para que se alguém que esteja presente gostaria de usar a palavra. Inclusive, claro, os vereadores, os membros aqui

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de Garanhuns, as autoridades ou quem nos assiste, nós gostaríamos de franquear a palavra. Se alguma autoridade desejar usar. Pois não! O Presidente da Casa.

01:27:20 – Audálio Ramos – A História, ela tem esse processo fantástico de que a verdade sempre prevalece. Eu tenho um lema na minha vida que é o evangelho de São João 8:32 “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” E eu acredito muito, eu acho que nós precisamos, realmente, ter sempre a nossa frente a verdade. E foi interessante que há poucos dias eu tomei conhecimento – através do nosso conterrâneo, primo do presidente da OAB, Paulo Couto, Marcos Galindo que é arqueólogo, é da Universidade Federal de Pernambuco, filho de seu Mauro Lima, também ex-vereador dessa casa – desse livro “Relatos do Medo – a ameaça comunista em Pernambuco (Garanhuns – 1958/1964) ” é do historiador Erinaldo Cavalcanti, recentemente publicado pela editora da Universidade Federal de Pernambuco. Foi muito interessante a leitura desse livro porque eu tomei conhecimento de fatos que mesmo sendo garanhuense e tendo acompanhado desde de 1997, praticamente, o funcionamento aqui da Câmara de Garanhuns – quando meu pai foi vereador e depois na primeira legislatura e agora na segunda legislatura – fatos que dizem respeito a esse momento que estamos presenciando. Como a participação, importante, da legislatura de 59, de 63, que até diziam que a Câmara de Garanhuns, na época – naturalmente não era nesse prédio – mas, era chamada de uma pequena Assembléia Legislativa, de tão grande o potencial de vereadores, como Ivan Rodrigues, Uzzae Canuto, José Cardoso, e Aluísio Souto Pinto e tantos outros. Interessante, aqui, um trecho do livro – deixa eu botar o óculos – se me permitem é muito pequeno o trecho, o autor diz assim “Ao discursar naquela sessão” – é uma sessão pré 64, em 61 exatamente, foi justamente quando Jânio Quadros renunciou – “ao discursar naquela sessão Ivan Rodrigues apresentou dois requerimentos à mesa. O primeiro a que se telegrafasse a Raniere Mazzilli e João Goulart” – isso está nos anais, está nas atas da Câmara – “nos seguintes termos : Câmara Municipal de Garanhuns, ante o impacto inesperado da renuncia do Dr. Jânio Quadros, renova a sua fé nos altos destinos democráticos da nação, confiante que serão respeitados os anseios populares, integridades, nossas instituições. Prestando vossência solidariedade, poder deliberativo de Garanhuns asseguramos modesta, porém categórica afirmação, acatamento das autoridades, poderes constituídos. Desejando seja vossência inspirada na condução dos supremos interesses da pátria dentro dos princípios da liberdade.” Então, era dessa Câmara de Vereadores de Garanhuns que o vereador, então, Ivan Rodrigues, parece que já preconizava o que ia acontecer alguns anos depois, que esses princípios de liberdade foram perdidos. E também eu queria deixar, registrar também, é importante e se a Comissão não pode deixar também, eu não sei se Ivan Rodrigues tem esse

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contato com seu Amaro Costa. Seu Amaro Costa tem uma grande importância, ele foi o líder mais perseguido, em Garanhuns, foi preso também, foi vereador, era sapateiro, um homem de bem. Ele não mora mais em Garanhuns. Ele escreveu, recentemente, um livro autobiográfico, também, seu Amaro. E eu não consegui contato com ele pra tentar convidá-lo pra estar aqui. Outra situação que eu descobri nesse livro e aí a Câmara de Garanhuns vai ter uma tarefa de casa, em relação a Comissão da Verdade, é que já adiante, já após o golpe militar no dia 1º de abril, então, o que acontece é que – alguns vereadores eu não vou citar o nome, apesar de estar aqui no livro, por que um deles inclusive ainda está vivo e mora em Garanhuns – eles apresentaram um requerimento porque teve eleição em agosto de 63 e os vereadores ditos comunistas não foram eleitos, ficaram três suplentes segundo o que diz o livro. E interessante é que um vereador solicitou a cassação dos direitos políticos dos suplentes, pra que eles não tomassem nem viessem tomar posse posteriormente. Infelizmente o livro não diz o nome desses três suplentes. Foi uma falha, talvez, da pesquisa. Mas, o mais grave é que foi convocada a sessão para o dia 13 de abril de 1964 e diz aqui, o autor, “Não encontrei nos arquivos da Câmara a ata dos trabalhos do dia 13 de abril de 64. Aquele não foi mais um dia de trabalho, mesmo que assim o tenham encarado. Naquele dia 13, em caráter extraordinário, foi votado o projeto que defendia a cassação dos direitos políticos dos suplentes vereadores, representantes do comunismo naquele poder – eram suplentes não estavam representando – A política de construção de um conjunto de práticas resultantes de embates políticos. O fato de não se encontrar a ata, daquele dia, é indicativo de atividade seletiva na prática de arquivamento e revela que alguém que transitava naquele poder não quis que aqueles acontecimentos ficassem registrados nos anais da Câmara. Mas, como os acontecimentos vivenciados podem ultrapassar as barreiras do tempo e serem periciados em outros dias, encontramos menções aos trabalhos do dia 13 em outras fontes.” Ou seja, deram fim na ata da Câmara do dia 13 de abril, mas nós vamos procurar junto ao plenário da Câmara de Vereadores de Garanhuns, nos comprometendo com a Comissão da Verdade de tentar descobrir, também, quem eram esses três suplentes e de maneira simbólica nós resgatarmos os direitos políticos deles, já que eles tiraram a gente vai devolver. Muito obrigado.

(aplausos)

01:34:23 – Manoel Moraes – Somos gratos ao presidente dessa casa, Audálio Ramos, pela não só contribuição efetiva dessa sessão, como esse encaminhamento tão importante e essa informação que Vossa Excelência trás à essa Comissão. Gostaríamos

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de ouvir agora a palavra do deputado Fernando Ferro, do Congresso Nacional, aqui da casa, filho dessa terra de Garanhuns.

01:34:52 – Dep. Fernando Ferro – Boa tarde a todos. Eu queria saudar as figuras dos membros da Comissão, Zé Áureo, Manoel e Roberto, todos aqui presentes, presidente da Câmara. O eclesiastes diz que “Nada de escondido que não apareça, nada de mistério que não se revele” e a gente tem aqui um momento, e aqui tem alguns jovens, que provavelmente daqui a 30 ou 40 anos vão lembrar que nessa câmara de vereadores alguém sentou pra discutir sobre tortura, desaparecidos, por conta de suas opções políticas. Nós estamos num processo de construção de democracia, que eu acho que é sempre a gente lembrar e não perder o sentido de que isso pra que a gente esteja hoje, aqui, foi preciso que Ranúsia lutasse lá atrás, Fernando Santa Cruz e outros, e que a gente tenta dar segmento à isso. E essa memória faz parte de uma construção de uma nação e nós não podemos por conta de qualquer retrocesso, de qualquer decepção na política esquecer que isso é uma conquista da democracia e da sociedade brasileira. E como disse a irmã de Ranúsia não se trata de uma questão de nostalgia ou de apenas homenagem, mas é de uma construção política que o depoimento do nosso amigo Ivan – eu me lembro aqui, jovem, aqui em Garanhuns e naquela afoiteza nossa pra encontrar instrumentos mais ousados pra tentar dar fim a ditadura – e uma noite conversando, aqui, ele dizia, naquele tom, assim otimista “Nenhuma ditadura, nesse país, durou mais de 15 anos” e lembrava que a ditadura de Getúlio Vargas tinha durado 15 anos. A gente agoniado querendo tomar algumas providências, algumas ações, ele dizia: “Esse processo não vai ser objeto apenas de alguns, isso é uma construção da sociedade.” E a gente vê, hoje, que o que acontece com a Comissão da Verdade, no Brasil, é de certa maneira uma repetição, muito tardia, mas ainda importante, do que aconteceu em vários países aqui da América Latina, que foram se encontrar com a sua História trazendo essas verdades e trazendo essa história para o conhecimento público. Porque, hoje, é muito importante que a nossa juventude ganhe as ruas, faça, fale e faça política, mas é importante que isso é feito dentro de um ambiente de liberdade, o que não foi permitida à Ranúsia, o que não foi permitido a Fernando Santa Cruz. Nós estamos vivendo momentos de construção da democracia. Eu acho que esse é o aprendizado e essa memória, o resgate dessa memória, deve ser sempre vista como processo de evolução política, de construção da democracia e de afirmação dos direitos humanos, dos valores mais decisivos pra que uma nação, efetivamente, se construa enquanto sociedade democrática. Nosso testemunho, é portanto, um testemunho de esperança, pelo que nós ouvimos aqui, dos familiares que tiram do fundo da dor, da sua alma, a força pra acreditar que um outro mundo é possível, uma outra sociedade é possível. E a gente, que muitas vezes,

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é movido pelo sentimento da raiva não pode ser contagiado. O direito a ira é o direito sagrado de qualquer pessoa que se rebela contra a injustiça. Não o sentimento de vingança, mas a ira e a necessidade do reparo da verdade, essa tem que nós estarmos garantidos e permanentemente imbuídos disso. A sagrada ira pelo direito a justiça e a memória desses brasileiros e brasileiras, que permitira que hoje, que nós pudéssemos aqui falar livremente. Parabéns a todos que fazem a Comissão.

01:39:33 – Manoel Moraes – Agora a palavra do presidente da FUDARPE, Severino Pessoa.

01:39:41 – Severino Pessoa – Boa tarde Dr. Roberto Franca, Dr. Manoel Moraes, Dr. José Áureo Bradley. Eu tive o prazer de durante algum tempo dividir uma sala com ele, na assessoria do Secretários das Finanças do Recife, Eduardo, boas recordações daqueles momentos que nós trabalhamos juntos. Eu venho aqui dizer... Sim! Saudar a todos. Boa tarde a todos, muitos dos quais já foram citados por pessoas importantes nessa luta por direitos humanos, em nosso estado. Pernambuco que é um estado que sempre esteve na vanguarda das lutas libertárias desse país. E eu venho aqui, assim, emocionado porque ficar aqui ouvindo dona Rildete falando da nossa querida Ranúsia, depois o Dr. Ivan – me desculpe a outra senhora que esteve aqui agora, que eu não gravei o nome. A última – dona Margarida Cardoso. Realmente pra gente é um aprendizado, é uma lição de vida, dessas pessoas e tantas outras que marcaram a história de Pernambuco, Brasil, lutando pela liberdade e pela democracia. E aí eu queria dizer a mesa e já agradecer em nome dos nossos companheiros que hoje compõe a mesa, agradecer a Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, às pessoas que estão aqui trabalhando, aos colegas e às colegas da equipe de apoio, agradecer desde já ao Presidente da Câmara – eu não estou encerrando a sessão não, pelo amor de Deus, quem sou eu? – estou só aqui ressaltando isso pra dizer o seguinte: foi uma grande felicidade pra nós, do Governo do Estado, poder inserir na programação do 23º FIG esse momento histórico pra cidade de Garanhuns e pra Pernambuco, que é a primeira sessão pública da Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara fora da capital. E naquele momento que nós estávamos na casa civil com nosso colega e amigo Marcelo Canuto e tendo a honra de receber o doutor, coordenador da Comissão, Dr. Fernando Coelho, Manoel Moraes, o Dr. Henrique Mariano – eu não lembro se o nosso querido Roberto estava naquela ocasião – mas, quando se falou nessa possibilidade a gente não pensou, nem pestanejou. E, realmente, este é um momento especial pra o Festival de Inverno de Garanhuns. E como dizia Manoel Moraes, a gente tem um eixo de atuação na FUNDARPE que é a preservação da cultura – a preservação da cultura material e imaterial. E o eixo desse

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trabalho é a memória, a história do nosso povo, então, esse momento aqui ele está, assim, muito por dentro da nossa atuação enquanto órgão gestor da cultura. E eu direi aqui o seguinte, sem dúvida nenhum esta iniciativa que é esta grandiosa, honrosa, Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, hoje, nós estamos em 2013, mas sem dúvida nenhuma será uma das maiores iniciativas desse século. Porque vem resgatar essa História, não vingar como foi dito aqui, mas fazer com que a juventude de hoje e muitas pessoas que não conhece bem essa história de luta libertária desses bravos pernambucanos e de outros estados que aqui também passaram durante essas décadas, que estão sendo retratadas, que estão sendo pesquisadas por essa Comissão de notáveis, sem dúvida nenhuma será um grande aprendizado, um grande conteúdo de cultura pra que nós, nossos filhos e futuramente nosso netos e as gerações que virão conheça a verdadeira história de quem lutou pela liberdade, pela democracia, e pelo direito dos menos favorecidos em nosso estado. Eu queria pedir permissão à mesa, e à todos, já que é uma sessão de memória e verdade – eu não sei se vou quebrar, aqui, todo um protocolo – mas, eu queria, já que estamos na casa do povo de Garanhuns, só noticiar um fato aqui e que é um fato de hoje, não é um fato que muitos aqui narraram que contribui para o trabalho da Comissão. Mas, eu queria noticiar que no Diário Oficial do dia 24 agora, presidente Audálio, meu irmão de fé em Francisco de Assis. No Diário Oficial, do dia 24, foi publicado um ato pela FUNDARPE de abertura de aprovação do início do processo de tombamento, aqui em Garanhuns, do Palácio Celso Galvão que é a sede oficial da Prefeitura do Poder Executivo de Garanhuns. Este ato que formaliza o início do tombamento do Palácio do Executivo Municipal, ele decorre da aprovação pelo Secretário de Cultura de um pedido feito pela Câmara de Vereadores daqui de Garanhuns, onde nós estamos – e vem pra FUNDARPE pra iniciar todo um processo de pesquisa, de estudo, de fundamentação para lá, em breve, o Conselho Estadual de Cultura tomar a decisão final, a quem cabe deliberar sobre a decisão final do tombamento, e o governador Eduardo Campo fazer a homologação. Mas, desde já, pelas leis do estado, o Palácio Celso Galvão já tem assegurado, até a resolução final, pelo Conselho Estadual de Cultura o mesmo regime de preservação dos bens efetivamente tombados, conforme estabelecem todos os dispositivos que norteiam a matéria e passa a ter a proteção do estado. Então, eu peço desculpa porque é um momento importante, aqui na Câmara, e também o tombamento das nossas edificações de valor histórico, e também, em relação ao patrimônio imaterial onde se preserva, se protege, também, os saberes dos mestres, as manifestações que fazem parte das raízes da nossa história. Então, tudo isso tem a ver, dialoga com essa brilhante Comissão, e repito, daqui a não sei quantos anos, a não sei quantas décadas, certamente, nossos netos e gerações irão aplaudir, irão se orgulhar do trabalho desta Comissão que surge de muitos outros que o governo de Pernambuco tornou lei, como

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já foi dito aqui, mas toda esse iniciativa está conformada comna luta pelos direitos humanos, que vem de muitos movimentos que, digamos assim, pelas iniciativas desses movimentos e alguns representantes que aqui já foram citados propiciaram pra que o governo tornasse lei e a gente estivesse aqui vivenciando esta audiência e que é algo que merece o respeito e o orgulho de todos nós Pernambucanos. Então, um abraço a Comissão da Memória; um abraço ao vereador, presidente Audálio, que prontamente, também entrou nessa parceria; e agradecer a todos que colaboraram direta ou indiretamente e direi aqui novamente, nós fazemos festivais em todas as micro-regiões do estado e a gente terá o maior prazer de poder noutras micro-regiões, nós estaremos futuramente em Pesqueira, estaremos em Gravatá, estaremos outras regiões onde iremos levar a caravana da cultura de Pernambuco, e teremos o prazer de continuar contribuindo nessa parceria pra que todos os pernambucanos, em suas regiões, tenham a oportunidade que a gente teve aqui, de vivenciar uma tarde tão especial. Um abraço a todos. E que viva a memória, a História e a cultura de Pernambuco! Eu vou entregar ao presidente a cópia do Diário Oficial com a publicação do início do tombamento do prédio da Prefeitura.

01:49:26 – Manoel Moraes – Muito obrigado, presidente! Temos dois inscritos, Dr. Marcelo Santa Cruz, representando o Comitê Memória, Verdade e Justiça; e Vanderley Gomes, Secretário de Governo. Após essas duas inscrições nós teremos uma apresentação cultural de uma poesia, feita pelo poeta Milton.

01:49:58 – Marcelo Santa Cruz – Boa tarde a todos e a todas. Eu saúdo a Comissão da Verdade, nas pessoas dos comissários, José Áureo Bradley, Manoel Moraes, Roberto Franca e também os assessores que estão aqui da Comissão da Verdade. Essa talvez tenha sido, de todos os trabalhos das comissões – que eu tenho acompanhado – essa, com um simbolismo muito grande, aqui ocorrido em Garanhuns. Ranúsia participou comigo, Chico que está aqui presente, Rildete, no movimento estudantil. E Rildete, também, toda a família, tinha uma grande participação e em Garanhuns essa homenagem a Ranúsia, é como ela disse, é como se fosse hoje encerrando um ciclo. Estivesse ocorrendo aqui as homenagens que todos os familiares de desaparecidos gostariam de fazer, que é um direito consagrado nas mais antigas civilizações, que é enterrar os seus mortos. A questão da repressão, de todos os crimes que foram cometidos, é difícil a gente dizer o que seja mais grave. Todos eles foram! Os banimentos, perdia-se a nacionalidade; o exílio; as torturas; as prisões; os assassinatos, mas o desaparecido político, talvez, seja aquele que traga uma dor maior porque a pessoa fica por muito tempo na expectativa de que a pessoa retorne. É, a questão é que você não consegue materializar a morte porque você não fez o sepultamento,

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você não fez o choro, você não fez aquela última homenagem da pessoa que acabou de falecer. Porque quando a pessoa morre as pessoas, geralmente, vão lá e olham pra guardar a lembrança que está vendo aquela pessoa pela última vez. É diferente a pessoa que sai para fazer uma atividade qualquer e é seqüestrado e a família passa muito tempo pensando que a pessoa está presa, num corre corre muito grande achando que cada momento é importante para salvar aquela pessoa que está presa. E não materializa nunca a morte. Então, esse é o drama dos familiares. Agora, o drama maior é que essa luta nossa que vem desde que as pessoas desapareceram, em 71/72, as pessoas não conseguem, era uma luta muito pequena, ficava entre os familiares e não tinha nenhuma ressonância na sociedade. E a gente via a luta que foi dos comitês de anistia, depois se viu a luta que foi nos outros países que foram infelicitados com ditaduras tão violentas, como o Brasil, na América Latina, e todos criando as suas Comissões da Verdade, se organizando, e o nosso país não chegava a esse momento. Mas, felizmente, houve um avanço nos últimos, podemos falar, 20 anos, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso quando criou a lei 9.140, e considerou que aquelas pessoas que estavam desaparecidas estavam presumidamente mortas; foram mortas por decreto. A partir daí foi criada a Comissão dos familiares no Ministério da Justiça. Depois avançou, veio o governo Lula e criou um Ministério dos Direitos Humanos – que antes era uma secretaria – e nesse Ministério de Direitos Humanos houveram os vários programas de direitos humanos; o terceiro programa que foi o PNH3, foi muito questionado pelos grupos conservadores na última campanha, mas estava lá no PNH3 a questão da criação da Comissão da Memória, da Verdade e da Justiça, e também, a Lei da Transparência que é a lei que garante o acesso as informações, inclusive, aos arquivos da ditadura. Então, com essas duas leis foi criada a Comissão da Verdade, mas antes da Comissão, criaram-se os comitês da memória, verdade e justiça, o qual eu represento, hoje aqui. Mas, a Câmara de Vereadores não podia ter escolhido um local melhor para ocorrer, aqui, neste local essa homenagem e em Garanhuns. E eu gostaria, aqui, de fazer mais uma homenagem a todas as homenagens que aqui ocorreram, que é a nossa ex-deputada Cristina Tavares, que foi quem organizou esse livro “Onde está meu filho!”. Quando fazia 10 anos do desaparecimento de Fernando, meu irmão, a gente se reuniu com alguns amigos de Fernando, ou contemporâneos, entre eles Chico de Assis; o nosso amigo Jodeval Duarte, que é aqui também de Garanhuns; Glória Brandão; Nagib Jorge Neto; Gilvandro Filho; e resolvemos fazer uma homenagem pra marcar os 10 anos do desaparecimento de Fernando. E a idéia surgiu e foi a seguinte: pegar o dossiê, tudo que tinha sido feito até aquele momento e fazer a análise da conjuntura, fazer a análise da atuação da imprensa naquela época em relação aos desaparecidos, do parlamento brasileiro e surgiu justamente esse livro feito por várias mãos, sobre a

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coordenação da deputada Cristina Tavares. Que conseguiu, inclusive, a primeira edição, com o financiamento, e a publicação pela Paz e Terra, e agora, a gente resolveu, quando surgiu a Comissão da Verdade, a gente resolveu fazer uma nova edição mantendo o miolo do livro e trazendo até a Comissão da Verdade o que foi feito após 85. Tem aqui uma homenagem a Cristina, mas basicamente trazendo até a Comissão da Verdade. E esse livro tem sido um instrumento importante – e eu estava conversando com Jodeval – os fatos que ocorreram, cartas que tem aqui de Juarez Távora, a carta que foi feito ao Golbery, cartas ameaçando a família feita pelo Coronel Horus Azambuja, que agora é general, a mando do comandante do 2º exército, toda a documentação encaminhada a época denunciando o caso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Tudo está aqui, registrado e agora quando se abrem os arquivos da repressão muitos dos fatos que estão nos arquivos, que estão chegando à comissão, estão retratados no livro. E mais ainda, está aqui no livro, dos arquivos da repressão, um documento que chegou do SISA, dizendo que havia uma ordem dos órgãos de segurança – muito antes de Fernando ser preso – que precisava “neutralizar” – que significa eliminar – Jair Ferreira de Sá, que era dirigente nacional da Ação Popular. E diz o documento que a forma de chegar a Jair Ferreira de Sá era através de Fernando Santa Cruz, que era o contato com a direção da organização, tendo em vista, que Jair tinha cortado toda a ligação com organização porque já tinham sido mortos vários militantes de Ação Popular e ele sabia que estava sendo procurado, e era o companheiro de Doralina Rodrigues que também estava procurada, e na carta dela, aqui, diz que essa pessoa tinha cortado todo o contato e o contato era por Fernando. E Fernando já estava, antes da prisão, monitorado. E ninguém tinha conhecimento. Um fato importante, a colocar, é que Fernando foi preso no dia 23 de fevereiro, foi seqüestrado, e eu sabia de um encontro que Fernando tinha, de um ponto que Fernando tinha com Doralina, que era companheira de Jair. Dois dias depois da prisão de Fernando, eu fui ao encontro e Doralina foi ao encontro; foi quando eu dei a notícia da prisão de Fernando. E ela diz, aqui, no documento, que deve a ele a vida dela e a vida de Jair, porque Fernando se sacrificou, sacrificou a sua própria vida para defender a vida dos companheiros. Muito obrigado. (aplausos)

02:00:18 – Manoel Moraes – Vamos ouvir, então, o representante do Prefeito aqui, nesse ato, Vanderley Gomes, Secretário de Governo da Prefeitura de Garanhuns.

02:00:30 – Vanderley Gomes – Boa tarde a todos. Primeiro falar da minha satisfação de fazer parte desse momento, representando o Governo Municipal e agradecer a FUNDARPE por ter presenteado não só colocando dentro da grade do Festival de Inverno, mas trazendo e fazendo com que desde forma Garanhuns fizesse parte da

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História mais uma vez. Eu tava sentado e observando, escutando atentamente tudo que foi dito aqui, o que foi falado a respeito da violência com a qual as pessoas foram tratadas na época, e fiquei pensando e trazendo pra o momento atual que nós vivemos em democracia. Alguém aqui falou que, acho que foi Ivan, seu Ivan Rodrigues, ele disse que alguém falou que deveria voltar – eu espero que essa pessoa morda a língua sempre que diga isso. Eu fui presidente de Diretório Acadêmico, assim como foi falado aqui pela irmã da homenageada e eu fiquei pensando, imagine se fosse naquela época. Fui presidente duas vezes, até militei no movimento estudantil, hoje estou um pouco mais acima, na política, adentrando nesse meio, buscando conhecimento pra isso e eu pude perceber a grande diferença porque eu nada fiz até o presente momento. Eu não tinha, em nenhum momento, a consciência ou a ciência dos meus atos e atitudes, lá atrás, há vinte anos, quinze anos; e pensando no que essas pessoas representaram no passado, que seus atos no passado, talvez, ali foi uma discussão, foi uma situação ou outra. E hoje a História mostra que foram absurdos. Hoje, eu me sinto sim, fazendo parte, agora, de um ato que virará História, a partir daqui a alguns minutos, ou daqui a alguns anos, talvez. A satisfação, aqui, em representar o governo do município e passar pra vocês dessa satisfação do município mais uma vez fazer, sim, parte da História do Brasil com os depoimentos, com essa participação. Sinto por não ter essa casa cheia, nesse momento, mas o Festival de Inverno ele é grandioso e infelizmente as pessoas não veem a grandiosidade, também, na História enquanto cultura. Estive ontem no lançamento de um jornal, A Palavra, e estava semelhante ao que está aqui hoje. Espero que a geração, a minha geração e a nova geração tenha uma visão diferenciada para os fatos históricos e pra cultura de uma forma geral, porque hoje a cultura é festa e não é História, infelizmente, pra alguns. Mas, vou aproveitar - como o Severino Pessoa disse aqui “quebrar o protocolo” – agradecer a ele pela publicação e pela iniciativa do tombamento pelo Governo do Estado, pelo tombamento do Palácio Celso Galvão que é um prédio que representa a História da nossa cidade. Mas, aí eu vou fazer um pedido – aproveitando, também – da celeridade do tombamento do Centro Cultural que foi iniciado no ano de 95. Então, gostaria que agora, na sua presença e na presença de todos aqui, fazer esse pedido porque nós devemos também a História, esse tombamento o mais rápido possível pra que as ações possam acontecer, também, naquele prédio. Então, senhoras e senhores agradeço à Comissão por ter vindo até Garanhuns; agradeço à FUNDARPE por ter possibilitado a Garanhuns esse momento; agradeço à Câmara de Vereadores, na pessoa do presidente Audálio que tem se empenhado nessa Casa pra tornar, de fato, ela atrativa, histórica e politicamente, e este ato mostra toda essa situação. Obrigado a todos. Muito obrigado. (aplausos)

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02:05:32 – Manoel Moraes – Amigos, só alguns informações pra então darmos o encerramento. Pra vocês terem uma idéia a importância desse ato, dos 51 mortos e desaparecidos nós temos alguns deles que foram mortos, inclusive, fora do estado, o Edgar Aquino Duarte morto na OBAN em São Paulo, que é um dos processo, inclusive, do campo penal que mais prospera no Brasil e que incrimina Brilhante Ustra, entre outros da alta cúpula do comando da ditadura militar no Brasil, mas é um desaparecido político. Ele é do interior do estado. Dos 51 mortos e desaparecidos 15 são do interior do estado. Então nós não podemos deixar de fazer sessões como essa em todo o estado porque essas sessões, nos municípios, representam a possibilidade de que a sociedade, quer dizer, todo o estado de Pernambuco, a Comissão é estadual, ela não é da capital e, portanto, toda a sociedade pernambucana que se engajou na luta por democracia e naturalmente as pessoas, os filhos dessas cidades, acabaram morrendo e tombando em função de sua militância, como disse Fernando Ferro. Queremos anunciar, também, que foi publicado, recentemente, o primeiro número dos cadernos periódicos da Comissão Dom Hélder Câmara. A importância desse material é que ele traz o marco legal da nossa atuação. E o que significa o marco legal? É o regimento, a recomendação de como estruturar uma sessão como essa. Pra vocês terem idéia uma sessão, como essa, é planejada baseada no Protocolo de Istambul para todos os regimes e todos os trabalhos de Comissão da Verdade no mundo. Então, essa sessão, como vocês viram aqui, ela foi igual a sessão na África do Sul, na Argentina, no Peru ou no Chile. Então, isso é uma forma de entendermos que nesse processo o Brasil entrou tardio. A Argentina, aqui do lado, conseguiu prender os militares, inclusive ex-presidentes da república de períodos ditatoriais. Outro dado importante é, Severino, que um dos eixos do nosso planejamento são os Centros de Memória e Verdade, os lugares de memória, isso também ta na tradição desse trabalho de justiça de transição. Então, pra nós a FUNDARPE é um parceiro fundamental no sentido de resgatar e os vereadores, ou seja, o poder municipal, como fez Ferro na cidade do Recife dando nomes às ruas, trazendo ao dia a dia da sociedade, o nome dessas pessoas que tão bem representaram a luta da democracia. Então, nós queremos convidar o poeta Hamilton para poder usar da tribuna, com, então, a presença cultural dessa tarde.

02:08:49 – Hamilton – Boa tarde a todos. Gostaria de saudar essa Comissão que, na verdade, tem evoluído como o companheiro deputado federal Fernando Ferro disse “A evolução da busca, e da memória e da verdade.” Isso que a gente tem que buscar. Então eu quero...

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02:09:15 – Manoel Moraes – Lembrar que Hamilton é metalúrgico e atuou conjuntamente com Carlúcio, não é isso?

02:09:20 – Hamilton – Isso mesmo que eu estava querendo, justamente, quando o Padre lembrou, aqui, o nosso querido, saudoso Carlúcio Castanha, maravilhoso. Ele conversava muito comigo, eu aprendi muito com ele. Ele falava no meio do caminho sobre a história verdadeira no Brasil. E eu aprendi muito com, eu fiquei muito emocionado ali, meus olhos encheram de lágrimas porque Carlúcio Castanha nos faz falta, como Fernando Santa Cruz, Ranúsia etc., padre Henrique e tantos outros que por aqui passaram, fizeram o seu papel da verdade do que significa o Brasil. Então, em homenagem a essa evolução, deputado Fernando Ferro, e ativista, eu sou ativista, não sou terrorista. (aplausos) Eu quero recitar esse poema que eu escrevi no meio do caminho, dentro da metalurgia, quando escutava, aquele sentimento batia na gente e aflorava, chamado:

“Busca”.

“Homens que gritam

E movimentos

Idéias infinitas ecoando no ar

Outros calados contemplam

A forma de luta para se encostar

Cabeças profundas em buscas reais

De um dia serem livres

Dos tempos fatais

Silêncio que toca

Em gestos imortais

Na história de luta dos ancestrais”.

Todos presentes, companheiros, avante companheiros! Deus abençoe.

(APLAUSOS)

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02:11:14 – Manoel Moraes – Com as palavras do poeta, queremos agradecer encerrando essa sessão, dizendo que essa tarde nós terminamos essa nossa reunião, mas as atividades da Comissão continuam e pedimos a todos que possam não só multiplicar o que foi dito aqui, mas, também, nos ajudem a contar a História de Pernambuco. Quem tiver algum documento, algum relato, alguma informação importante sobre um morto ou um desaparecido, ou algo que não tenha sido ainda contado na História de Pernambuco, entre em contato com a Comissão e contribua com a História do nosso estado, nosso Brasil. Muito obrigado a todos. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------