trabalho saúde - acesso
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UNIVERSIDADE PAULISTA
B4314G-3 Camila de M. C. Teixeira
T557FJ0 Juliana Marques Malvino
B51IJI5 Nicolino Polisio Junior
B369CG-5 Roberta dos Anjos Rodrigues
B369CH-3 Vinicius A. O. Fiorese Rugeri
SAÚDE - ACESSO
SÃO PAULO
2012
B4314G-3 Camila de M. C. Teixeira
T557FJ0 Juliana Marques Malvino
B51IJI5 Nicolino Polisio Junior
B369CG-5 Roberta dos Anjos Rodrigues
B369CH-3 Vinicius A. O. Fiorese Rugeri
SAÚDE - ACESSO
Trabalho de direito fundamental, apresentadoà Universidade Paulista – UNIP, pelos alunos
do curso de direito acima mencionados.
Profª Carla Noura Teixeira
SÃO PAULO
2012
SUMÁRIO
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1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................3
2. O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988......................................................................................................................................5
2.1 A Saúde como um Direito Fundamental Social..................................................5
2.2 O Dever do Estado.............................................................................................8
2.3 As Políticas Sociais e Econômicas...................................................................11
2.4 A Redução de doenças e outros agravos - As ações preventivas..................15
2.5 Regulamentação, fiscalização e controle.........................................................17
3. O PROBLEMA DA EFETIVAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NO BRASIL...............20
3.1 Mazelas e Descasos........................................................................................20
3.2. Alternativas para efetivação do direito à saúde...............................................22
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................26
5. BIBLIOGRAFIA...................................................................................................28
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1. INTRODUÇÃO
O objetivo do presente estudo versou sobre o direito à saúde como obrigação
do Estado, buscando externar toda sua relevância na sociedade como um todo e no
campo jurídico-constitucional.
A Constituição Brasileira de 1988, garante a todos os cidadãos o direito à
saúde, por força de vários dispositivos constitucionais, onde está prescrito em vários
deles, que a saúde é um direito de todos e dever do Estado (art. 196).
Entretanto, o que se pode analisar, é de que após todo o tempo decorrido da
promulgação da nossa Lei Maior de 1988, a saúde padece de enfermidades
profundas, fazendo com que o direito à saúde, enquanto direito fundamental não
tenha a total efetivação conforme os ditames constitucionais.
A saúde, como premissa básica no exercício da cidadania do ser humano,
constitui-se de extrema relevância para a sociedade, pois a saúde diz respeito a
qualidade de vida, escopo de todo cidadão, no exercício de seus direitos. Isto posto,
na esfera jurídica, o direito à saúde se consubstancia como forma indispensável no
âmbito dos direitos fundamentais sociais.
Assim, a presente pesquisa, procura externar o tema de forma clara e
concisa, de modo que se diminua a complexidade do mesmo, fazendo com que os
dispositivos constitucionais que a permeiam, sejam interpretados com certa
sistemática, buscando a racionalização do problema, externando uma perspectiva
hermenêutica adequada do texto constitucional.
Trata-se efetivamente do direito à saúde, desde o seu surgimento e conceitos,
demonstrando toda a sua máxima importância dentro da sociedade. Analisou-se o
direito a saúde enquanto um direito fundamental social, buscando demonstrar o
dever do Estado, as políticas sociais e econômicas que visem a redução de doenças
e outros agravos. Também, versa-se a regulamentação, fiscalização e controle da
saúde, tanto por parte do Poder Público, bem como da sociedade, delimitando as
ações preventivas para consecução do mesmo.
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Já, em um segundo plano, trata-se de demonstrar as mazelas e descasos
para com o direito à saúde no Brasil, externando toda problemática que envolve o
tema, bem como designando algumas soluções e alternativas para a efetiva
concretização do direito à saúde.
Diante disto, é essencial que a descrição do problema, seja de sinalizar se os
elementos constitucionais dão a devida guarida ao direito à saúde enquanto um
direito fundamental, na repressão das mazelas e descasos da saúde no Brasil, bem
como a atuação do Poder Público, como agente promotor da saúde, dentro de um
Estado Social e democrático de Direito.
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2. O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
2.1 A Saúde como um Direito Fundamental Social
Como análise preliminar do presente estudo, é essencial delinearmos
principalmente um conceito de saúde, haja vista que esta discussão perdurou por
vários séculos.
O primeiro conceito de saúde, provavelmente foi externado pelos pensadores
da Grécia Antiga, através do qual já dizia o brocardo "Mens Sana In Corpore Sano",
que pode-se dizer que foi um marco da definição de saúde. Entretanto, o termo
"saúde" designa pensamentos diversos, pois de um lado "o entendimento de que a
saúde relacionava-se como o meio ambiente e as condições de vida dos homens; do
outro lado, o conceito de saúde como ausência de doenças."
A partir do século XX com surgimento da Organização Mundial as Saúde
(OMS) em 1946, a saúde foi definida como o completo bem-estar físico, mental e
social e não somente a ausência de doenças ou agravos, bem como, reconhecida
como um dos direitos fundamentais de todo ser humano, seja qual sua condição
social ou econômica e sua crença religiosa ou política. Diante disto, pode-se dizer
que a saúde é uma incessante busca pelo equilíbrio entre influências ambientais,
modos de vida e vários componentes.
Contudo, a conceituação de saúde dada pela OMS sofreu várias críticas, haja
vista que as verbas públicas podem correr o risco de não serem suficientes para e
efetivação de um completo bem-estar físico, mental e social.
O conceito de saúde é, também, uma questão de o cidadão ter direito a uma
vida saudável, levando a construção de uma qualidade de vida, que deve objetivar a
democracia, igualdade, respeito ecológico e o desenvolvimento tecnológico, tudo
isso procurando livrar o homem de seus males e proporcionando-lhe benefícios.
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Logo, a partir da definição de saúde, poder-se-á externar a afirmativa de que
a saúde correlacionada com o direito designa um direito social, ou seja, o direito à
saúde. Assim, o direito à saúde está presente em diversos artigos de nossa
Constituição Federal de 1988 a saber: arts. 5 º, 6 º, 7 º, 21, 22, 23, 24, 30, 127, 129,
133, 134, 170, 182, 184, 194, 195, 197, 198, 199, 200, 216, 218, 220, 225, 227 e
230.
A moderna doutrina jurídica desperta na sua mais pura hermenêutica, bem
como, nas legislações atuais, que o direito à saúde está interligado com vários
outros direitos como por exemplo: direito ao saneamento, direito à moradia, direito à
educação, direito ao bem-estar social, direito da seguridade social, direito à
assistência social, direito de acesso aos serviços médicos e direito à saúde física e
psíquica.
Então, existem vários direitos afins com o direito a saúde, pois na legislação
infraconstitucional, a Lei n º 8.080/90, que trata do assunto, no seu art. 3 º, caput, já
faz menção que a saúde possui características determinantes correlacionadas como
a educação, a moradia, o trabalho, o saneamento básico, a renda, o meio ambiente,
o transporte, o lazer e o acesso a serviços essenciais.
A saúde está relacionada com a educação, posto que, se o indivíduo recebe
uma correta educação evitará muitos problemas devido a informação e
entendimento no assunto. Isto posto, a saúde também é correlata com o trabalho,
uma vez que o trabalho possui uma função também primordial na vida dos seres
humanos e diante deste aspecto a saúde é pressuposto para o cidadão realizar suas
tarefas, bem como a segurança na questão das doenças e acidentes no trabalho.
Por se externar uma Carta eminentemente social, nossa Constituição Federal
de 1988, no seu art. 6 º, reconhece a saúde como um direito social. Partindo deste
pressuposto, o direito à saúde "passa a ser um direito que exige do Estado
prestações positivas no sentido de garantia/efetividade da saúde, pena de ineficácia
de tal direito."
Os direito sociais localizam-se no Capítulo II do Título II da nossa CF de 1988.
O Título II da nossa CF elenca os direitos e garantias fundamentais. Nesta
sistemática, "se os direitos sociais estão insculpidos em um capítulo que se situa e
que está sob a égide dos direitos e garantias fundamentais, é óbvio que os direitos
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sociais (como a saúde) são direitos fundamentais do homem e que possuem os
mesmos atributos e garantia destes direitos."
Deste modo, é inegável que o tratamento constitucional aos direitos sociais
possui assento no Título II, entre os direitos fundamentais.
Diante de que esta vasta clareza e coerência ainda causasse certa dúvida ou
não fosse entendida, a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90), no disposto do art.
2 º, "responde de forma cabal, escorreita e induvidosa qual a natureza dos direitos
sociais, ao assinalar expressamente que a saúde é um direito fundamental do ser
humano, devendo o Estado prover de condições indispensáveis ao seu pleno
exercício."
A nova Hermenêutica constitucional se desataria de seus vínculos com os
fundamentos e princípios do Estado Democrático de Direito se os relegasse ao
território das chamadas normas programáticas, recusando-lhes concretude negativa
sem a qual, ilusória a dignidade da pessoa humana não passaria também de mera
abstração.
Assim, o art. 196 da CF/88 que trata a saúde como um direito de todos e
dever do Estado, não pode ser interpretado como uma norma programática, e
conseqüentemente de eficácia limitada, posto que a saúde para efeitos de aplicação
do art. 196 deve ser conceituado.
Um processo sistêmico que objetiva a prevenção e cura de doenças, ao
mesmo tempo que visa a melhor qualidade de vida possível, tendo como
instrumento de aferição a realidade de cada indivíduo e pressuposto de efetivação a
possibilidade de esse mesmo indivíduo ter acesso aos meios indispensáveis ao seu
particular estado de bem-estar.
Por derradeiro, o direito à saúde perante os dispositivos de nossa CF de
1988, deve ser entendido como um direito social fundamental, que na sua essência
deve ser buscado na maior otimização possível, haja vista que a preservação da
vida e ao respeito a dignidade humana em consonância com a justiça social a ser
alcançada, externam o direito à saúde como um verdadeiro direito público subjetivo
com toda sua fundamentalidade.
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Isto posto, é essencial designar que quando o cidadão na situação de não ter
condições pecuniárias para fruir a saúde deste e de sua família, ocorrer-se-á um elo
jurídico criador de obrigações entre o Estado (devedor) e o cidadão (credor) no que
tange seu direito à saúde.
De outra banda, "a causa de inefetividade dos direitos sociais está na
ausência de vontade política para materializar sua principal forma de garantia
(prestações positivas estatais), e não nas dificuldades de acionar tais direitos."
Diante disto, a não atuação do Estado na prestação sanitária, revela uma afronta ao
nosso bem maior, que é a vida. Pois o direito à saúde, neste aspecto é eivado de
aplicabilidade imediata e eficácia plena, e deve ser respeitado como tal, eis que se
consubstancia como um direito público subjetivo, tendo posição de destaque na
Constituição como um direito fundamental social.
2.2 O Dever do Estado
O art. 196 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer que a
saúde é um direito de todos e dever do Estado. Assim, o dever do Estado é
pressuposto basilar na efetivação da saúde, uma vez que vivemos em um Estado
Democrático de Direito.
Quando se fala em um Estado Democrático de Direito, se fala em "superar
desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize
justiça social". Seguindo a corrente de pensamento, é oportuno externar que a
justiça social está ligado à qualidade de vida. Logo, a saúde é um apêndice da
qualidade de vida, escopo de todo cidadão.
Diante disso, o Estado Democrático de Direito está em evidente conexão com
o Direito à saúde, visto que a nossa Lei Maior de 1988 o encerra como um direito
fundamental social, ou seja, um direito inerente ao ser humano, no sentido de o
Estado – devedor realizar a efetivação do direito à saúde para com o cidadão –
credor, ao qual, este direito lhe é pertinente.
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Isto posto, o Brasil "está obrigado a realizar mudanças na procura de que a
saúde seja efetivamente aplicada e de que seja ela (saúde) um real instrumento de
justiça social."
Na nossa CF, através do art. 6 º, bem como do art. 196, impõe ao Estado o
dever de atuar na efetivação e aplicação da saúde, seja esta preventiva ou curativa.
E, como foi externado no tópico anterior, esta aplicação deve ser imediata, eis que
os ditames da nossa Constituição nos leva a tal compreensão.
Devido a CF/88 não ser uma Constituição dirigente, posto que suas
características revelam um Estado Democrático de Direito, o dever do Estado no
que concerne a saúde, exprime "evidente caráter vinculativo em relação ao
legislador, ao poder público, aos órgãos administrativos, ao Poder Executivo, aos
juízes, aos Tribunais, e, também no âmbito das relações jurídico-privadas."
Devido a saúde ser um dever do Estado, este tem a obrigação de estabelecer
as ações e serviços públicos de saúde, uma vez que para efetivação e
concretização da saúde, o art. 198 da CF/88 estabelece que estas ações e serviços
públicos concernentes à saúde, sejam designados, através de uma ação integrada,
em um sistema único, de forma regionalizada e hierarquizada.
Nesta óptica, a promoção da saúde é um dever do Estado, e este dever do
Estado para com a saúde externar-se-á através de um sistema único. Este sistema
único é realizado através da Lei infraconstitucional 8.080/90, que estabelece o SUS
– Sistema Único de Saúde. Assim, a Administração Pública está diretamente ligada
a promoção e efetivação do direito à saúde. Pois o art. 4 º do ordenamento
infraconstitucional ( Lei 8.080/90) é claro ao estabelecer que as ações e serviços de
saúde serão prestados por todas as instituições públicas federais, estaduais e
municipais do Poder Público, que da mesma forma constituem o SUS.
Outra característica inerente ao dever do Estado no que tange a saúde, é a
sua gratuidade, pois o Estado é obrigado a promover a saúde para os cidadãos de
forma gratuita, haja vista que o Estado, "quando investe recursos públicos no
sistema de saúde, não visa explorar economicamente essa atividade, mas visa
prestar um serviço público básico ao direito fundamental da dignidade da pessoas
humana."
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Outra tangente a ser analisada, é de que o direito à saúde é um direito público
subjetivo, e isto constitui também um dever do Estado. Não é à toa que novamente
nos referimos ao art. 196 da CF/88, pois o já tantas vezes citado dispositivo
constitucional exprime um direito público subjetivo.
Assim sendo, o direito à saúde é reconhecidamente um direito originário a
prestações, haja vista a sua característica de direito público subjetivo exprimindo
prestações materiais para proteção da qualidade de vida. Isto posto, é decorrente
diretamente da Constituição, consubstanciando em uma exigência inderrogável de
qualquer Estado que exprima nos seus pilares valorações básicas a dignidade
humana e à justiça social.
No direito comparado, a doutrina também expressa o entendimento de que a
saúde é um direito público subjetivo no sentido de o Estado propiciar a sua
garantia/efetividade e reconhecer o seu dever de atuação na saúde
. Por derradeiro, a não atuação do Estado para com o direito à saúde,
importar-se-á numa eventual ação judicial e/ou administrativa quando o Estado não
desempenhar o seu dever de promover e garantir a saúde. A jurisprudência é clara
neste sentido:
MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE EXAMES E
MEDICAMENTOS ESSENCIAIS À SAÚDE E VIDA DO IMPETRANTE.
RESPONSABILIDADE DO ESTADO. É dever e responsabilidade do Estado, por
força constitucional e infraconstitucional, o fornecimento de exames, medicamentos
e aparelhos essenciais e indispensáveis à saúde e à própria vida do impetrante.
Preliminar de ilegitimidade afastada. O direito à saúde, pela nova ordem
constitucional foi elevado ao nível dos direitos e garantias fundamentais, sendo
direitos de todos e dever do Estado. Aplicabilidade imediata dos princípios e normas
que regem a matéria. Segurança concedida." (9 fls.) (MSE n º 597258359, Primeiro
Grupo de Câmaras Cíveis, TJRS, Relator: Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick,
julgado em 17/03/2000).
DIREITO CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO À SAÚDE. Internação hospitalar.
Apoiando-se a internação em direito subjetivo constitucional, que alcança como
devedor qualquer dos entes federativos, ofensivo a direito líquido e certo do
impetrante e a negativa. Mandado de Segurança concedido. (Mandado de
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Segurança n º 597267608, Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, TJRS, Relator:
Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Julgado em 18/06/19990.
MANDADO DE SEGURANÇA. SAÚDE PÚBLICA. MEDICAMENTOS. É
direito do cidadão exigir, e dever do Estado fornecer, medicamentos excepcionais e
indispensáveis à sobrevivência quando não puder prover o sustento próprio sem
privações. Segurança concedida. ( 7 fls.) (Mandado de segurança n º 70000696104,
Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis, TJRS, Relator: Desembargador Arno Werlang,
Julgado em 05/05/2000).
Tanto por força da Constituição Federal, quanto pelo ordenamento
infraconstitucional da Lei 8.080/90, é reconhecido o dever do Estado para com o
direito à saúde, uma vez que, o cidadão, por intermédio do direito público subjetivo,
está legitimado para "o exercício das prerrogativas estabelecidas nas legislação
correlata, tanto na instância administrativa como na instância judicial."
Ante o novo arranjo constitucional brasileiro, pode-se sustentar, com apoio
jurídico expresso, o seguinte: a qualquer interessado cabe pleitear, em ação comum
própria, perante o Juiz Natural, o acesso imediato e concreto a algum direito
fundamental (isto é: individual, coletivo, social, trabalhista ou político.
O dever do Estado no que tange o direito à saúde, é impreterivelmente o pólo
passivo da relação com o cidadão possuidor de direitos, e diante disto, O Estado
tem a obrigação de efetivar o direito à saúde, seja através da prevenção ou
recuperação da mesma.
2.3 As Políticas Sociais e Econômicas
Para a efetivação do direito à saúde, é essencial que o Estado designe uma
sistemática para tal, e, isto posto, esta efetivação dar-se-á mediante políticas sociais
e econômicas.
Assim sendo, recorremo-nos mais uma vez ao art. 196 da CF de 1988, que de
inovador que foi, colocou o direito à saúde como um dever do Estado, e esse dever 11
do Estado dar-se-á através da intervenção do mesmo na consecução do direito à
saúde, sempre com ações positivas em prol da saúde e nunca pela sua inação.
Isto posto, essas ações positivas estatais são concretizadas mediante
políticas sociais e econômicas, dever constitucionalmente imposto pela Constituição
e Legislação correlata.
Pois o direito à saúde é um direito fundamental social e para que a saúde
realmente faça parte da qualidade de vida do cidadão e da dignidade humana, é
necessário que o Estado atue no sentido de dar maior otimização para o direito
sanitário.
Dissecando o art. 196 da CF, este externa que as políticas sociais e
econômicas tem como escopo a redução do risco de doenças e de outros agravos.
Então, isto delineia uma atuação estatal no sentido de prevenção, haja vista que a
redução de doenças dar-se-á através da saúde preventiva.
Outra aspecto a ser analisado, é de que também reduzam outros agravos,
estes outros agravos, expressos no referido dispositivo constitucional "significa a
impossibilidade de tudo se prever em relação à saúde, o que reforça a ideia de
excessiva contingência sanitária, que poderá ser reduzida através da adoção da
matriz pragmático-sistêmica de direito."
As políticas sociais e econômicas, devem também exprimir um acesso
igualitário e universal para qualquer ser humano, independente de raça, credo, cor,
religião etc. Assim, todo e qualquer cidadão, inclusive o estrangeiro tem o direito à
saúde, direito de ser atendido pelo sistema Único de Saúde, justamente por ser um
cidadão com direitos fundamentais inerentes a sua pessoa.
Por sua vez, o dever do Estado para com a saúde, é de realizar implementos
e acessos significativos para as pessoas terem o direito à saúde efetivado, e diante
disto, o Estado também tem a imposição constitucional de promover a saúde, não
somente curando e prevenindo doenças, mas também modificando o sistema social,
através de uma construção mutante, que eleva cada vez mais a qualidade de vida,
que está muito bem expressa nos direitos equivalentes do art. 3 º da Lei n º
8.080/90.
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Contudo, não é só a promoção, acesso igualitário e universal, e redução de
doenças e outros agravos que externam o papel das políticas sociais e econômicas
como dever do Estado na efetivação do direito à saúde. Pois há que se ter em
mente, também a proteção, bem como a recuperação da saúde como uma política
social e econômica.
De outra banda, o art. 197 da Constituição Federal, revela que as políticas
sociais e econômicas, proferidas através de ações e serviços devem ser de
relevância pública.
Talvez enunciar a saúde como um estado de bem-estar prioritário, fora do
qual o indivíduo não tem condições de gozar outras oportunidades proporcionadas
pelo Estado, como educação, antecipando-se, assim, à qualificação de ‘relevância’
que a legislação infraconstitucional deverá outorgar a outros serviços públicos e
privados, para o efeito no art. 129, II da Constituição.
O art. 197 da CF/88, ao expressar relevância pública às ações e serviços de
saúde, vinculam o Poder Público na consecução do mesmo.
No presente caso, a caracterização da relevância pública dos serviços e
ações de saúde, o reconhecimento da saúde como um direito social e individual e o
fato de a saúde ser o resultado de políticas sociais e econômicas que reduzem o
risco de doença são os princípios essenciais que vão informar todas as ações e
serviços de saúde.
A conclusão que podemos chegar é de que a defesa da saúde, é dever do
Estado em todas as suas esferas ( União, Estados-membros, e Municípios), eis que
as ações e serviços para efetivação da saúde são de relevância pública, pois diante
disto, o Poder Público está vinculado para promover as políticas sociais e
econômicas para a consecução da saúde.
A competência para o direito sanitário, na sua efetivação, é do Estado como
um todo, posto que "a Constituição vigente não isentou qualquer esfera de poder
político na obrigação de proteger, defender e cuidar da saúde. (...) é de
responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios."
13
Por derradeiro, o art. 197 da Carta Constitucional de 1988, não exclui a
participação de terceiros e também, pessoas físicas ou jurídicas de direito privado na
execução de ações e serviços para com a saúde.
Assim, as políticas sociais e econômicas, garantidas mediante ações e
serviços de saúde, conforme versa o art. 198 da CF/88, serão através de uma rede
hierarquizada e regionalizada, constituindo um sistema único, conforme "os
princípios de integralidade, igualdade e participação comunitária, que são
vinculativos tanto aos serviços executados diretamente pela Administração Pública,
como aqueles efetuados através de contratações, convênios, terceiros e
particulares."
As políticas sociais e econômicas, tem por objetivo, organizar o sistema único
de saúde, fazendo com que o mesmo seja acessível e igualitário, através de uma
sistemática de interligação de princípios, diretrizes e normas.
O art. 5 º da Lei n º 8.080/90, trata dos objetivos e atribuições do SUS. Estes
objetivos e atribuições não deixa de ser formado por uma série de ações e serviços
através de políticas sociais e econômicas, sempre com o escopo de alcançar a
efetivação da saúde como meio para uma qualidade de vida.
No entanto, tal atribuições são de responsabilidade do Estado, haja vista seu
dever, e diante disto, cumpre salientar que esta responsabilidade sobre a saúde é
dividida em todos os escalões do governo, para desta forma, cada esfera atuar
dentro de suas diretrizes e atribuições.
O art. 16 da Lei Orgânica da Saúde, elenca de forma explícita as
competências para implementação de políticas, descentralizando as ações e
serviços paras Unidades Federadas e para os Municípios, no caso, a esfera
estadual e respectivamente municipal.
Da mesma forma, o art. 17 da Lei n º 8.080/90 promove a descentralização de
ações e serviços para os Municípios. Por conseguinte, o art. 18 da mesma Lei, trata
de exprimir a forma de organização, planejamento e programação de como dar-se-á
a execução de ações e serviços do Sistema Único de Saúde.
Isto posto, revela uma nova hermenêutica constitucional para com os
Municípios perante sua posição na Federação. A municipalização da saúde externa
14
um claro liame com a descentralização, conforme o art. 198, I, da CF/88. Os
municípios passam a ter mais destaque com a descentralização da saúde, posto
que, evidencia antes de tudo as necessidades locais, buscando melhor efetividade e
execução do direito à saúde a partir da realidade local, designando desta maneira
maior democratização na busca da dignidade humana e da qualidade de vida.
Logo, a descentralização, através da municipalização da saúde traz muitas
vantagens, haja vista que o interesse maior é do local onde designa-se as mazelas
de descasos no acesso à saúde, respeitando as particularidades de cada região,
bem como a vigilância dos sistemas, minimizando as distâncias e deixando os
cidadãos em maior de ligação com o SUS.
2.4 A Redução de doenças e outros agravos - As ações preventivas
A sociedade contemporânea observa estarrecida a enorme propagação e
surgimento de doenças que assolam todos os seres humanos. O Estado, como
defensor da saúde de todos os cidadãos tem a imposição constitucional, de atuar
positivamente no sentido da redução de doenças e agravos pertinentes ao meio em
que vivemos.
Este paradoxo, releva que mesmo que esgotem-se todas as possibilidades no
sentido técnico e avanço de meios para a redução de doenças e outros agravos,
através de processos científicos, há que se ter em mente a complexidade para
concretizar o direito sanitário no sentido externado pelo art. 196 da Constituição
Federal.
É essencial que todas as políticas sociais e econômicas no sentido de
redução de doenças e outros agravos, se designem, de certa forma, na direção da
prevenção. Pois prevenir contra prováveis males que venham a atingir o ser humano
na questão da saúde, é preservar a vida.
Correlacionado com o enfoque da redução de doenças e outros agravos, está
o risco, que exprime-se basicamente em possíveis danos futuros a saúde. Então, o 15
risco e saúde estão interligados no sentido de prevenção e também no objetivo de
pressupor o futuro, uma vez que a redução de doenças está vinculado à prevenção,
bem como outros agravos está para com o prever o futuro.
O conhecimento e a comunicação são atributos pertinentes na redução de
doenças e agravos, bem como funciona também como uma ação preventiva. Neste
aspecto, a saúde deve ser pensada como um núcleo de risco, uma vez que, leve-se
em ponderação os conhecimentos existentes para que o dano iminente seja
eliminado ou reduzido.
Deve-se estar atento para a conservação individual e coletiva da saúde, pois
esta deriva de uma estratégia condicionante para redução de enfermidades, pois
seus propósitos nos levam a uma condição de adotar medidas apropriadas para
evitar a produção do dano.
As ações preventivas para a redução de doenças e outros agravos, devem
ser também ações curativas, bem como a combinação coerente de reorientação dos
serviços de saúde, no sentido de eliminar ou reduzir efetivamente o risco de males
atinentes à saúde.
Por derradeiro, o direito está interligado com a saúde e o risco, na medida em
que o Estado tem o dever de tentar imunizar o cidadão de possíveis danos
sanitários. Isto posto, o Estado, por força do art. 196 da CF/88, deve concretizar
políticas sociais para redução e/ou eliminação do risco de doenças.
De outra banda, a saúde tem características holísticas e não estáticas, assim,
o risco está sempre onipresente, e diante disto, o Estado deve promover ações
preventivas para redução do risco de doenças e agravos futuros.
16
2.5 Regulamentação, fiscalização e controle
O art. 197 da Constituição Federal disciplina que as ações e serviços de
saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da
lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle.
Isto revela um grau de competência, sob duas formas, a primeira é de quem
poder-se-á legislar sobre a saúde, a segunda é de verificar quais os órgãos que
devem cuidar da saúde.
Conforme o art. 24, VI, VIII e XII da Constituição Federal de 1988, a União é
incumbida de legislar sobre a defesa da saúde, bem como sua proteção, incluindo o
meio ambiente, através de diretrizes que designam princípios e normas sobre o
direito sanitário, e, as quais, devem ser respeitadas em todo território nacional.
Ainda neste aspecto, os Estados-membros também podem suplementar os
dispositivos federais, tornando específicos as generalidades da legislação federal,
contudo, nunca se opor aos mesmos, conforme o art. 24, § 1 º e 2 º, e art. 30, II da
CF/88.
A norma geral, deve ser, portanto, um lei-quadro, uma moldura legislativa. A
lei estadual suplementar introduzirá a lei de normas gerais no ordenamento do
Estado, mediante o preenchimento dos claros deixados por esta, de forma a afeiçoa-
la às peculiaridades locais.
Assim, a legislação federal através de normas gerais se externa como uma
legislação a ser completada pela legislação estadual, designando exigências e
atendendo as peculiaridades regionais.
O Município também pode legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I
CF/88), e suplementar a legislação federal e estadual no que couber, dentre outras
atribuições (art. 30, II ao IX da CF/88).
Diante do exposto, Município na matéria sanitária, é de suma importância,
devido o processo de municipalização dos serviços de saúde. Os Municípios
constituem a instância mais próxima do cidadão e base do Sistema Único de Saúde
(Lei n º 8.080/90), possuindo a tarefa de execução, proteção e defesa da saúde.
17
Então, à direção nacional do SUS, no que tange ao Ministério da Saúde, por
seu representante, o Ministro da Saúde, tem a competência de regulamentar as
matérias externadas no art. 16 da Lei n º 8.080/90. À direção estadual do Sistema
Único de Saúde, por seu representante, o Secretário de Saúde do Estado, compete
o designado no art. 17 da Lei do SUS. Por fim, à direção municipal do SUS, através
da Secretaria Municipal de Saúde, por representante, ou seja, o Prefeito ou o
Secretário de Saúde, incide na regulamentação de acordo com o art. 18 da Lei n º
8.080/90.
Isto posto, externa-se toda a hierarquização do sistema único de saúde, ao
qual, cada esfera do Poder Público, designa a regulamentação, fiscalização e
controle da saúde, nunca contrariando o mandamento superior, por isso, o sistema
de saúde é de forma hierárquico e regionalizado.
A descentralização do Sistema Único de Saúde, traz muitas vantagens para a
fiscalização e o controle do mesmo.
A fiscalização e o controle da área da saúde podem ser exercidas com mais
eficiência e vigor pelo fato de serem executadas de forma descentralizada, estando
seus agentes (secretários de saúde, vereadores, prefeitos, deputados, etc.) mais
próximos da comunidade, ao mesmo tempo essas ações se interligam num sistema
nacional, mantendo, assim a unicidade do SUS.
Há que se ater ainda para a participação da comunidade no controle e
fiscalização na área da saúde conforme o disposto no art. 198, III da CF. Esta
participação é feita através de duas instâncias colegiadas a saber:
1) A Conferência de Saúde, que avalia a situação da saúde e propõe a
formulação da política de saúde no nível correspondente – art. 1 º, § 1 º, da Lei n º
8.142/90;
2) O Conselho de Saúde, que formula estratégias e atua no controle da
execução da política de saúde na instância correspondente – art. 1 º, § 2 º, da Lei n º
8.142/90.
Constata-se que o legislador constituinte, de certa forma, quis a participação
da comunidade na criação de políticas sociais para com a saúde, bem como, no
controle de sua implementação.
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Por derradeiro, a emenda Constitucional n º 29, acrescentou no art. 198 da
CF/88 e seus parágrafos, referências aos recursos mínimos a serem aplicados nas
ações e serviços de saúde, valendo destacar no que tange a fiscalização e controle,
o parágrafo 3 º, III, que designa as normas de fiscalização, avaliação e controle das
despesas com saúde na esfera federal, estadual e municipal.
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3. O PROBLEMA DA EFETIVAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NO BRASIL.
3.1 Mazelas e Descasos
Existem várias garantias no que tange ao direito à saúde, contudo, se estas
garantias fossem hipoteticamente efetivadas, o problema da efetivação do direito à
saúde estaria sanado.
Dentre uma série de outros casos, ocorre um flagrante desrespeito à nossa
CF de 1988, especialmente ao art. 196, devido a sua não aplicação. Ora, se o direito
à saúde é um direito de todos e dever do Estado, externado como um direito social,
público e subjetivo, qual o porque da violação deste direito constitucionalmente
garantido e inerente a todo cidadão.
O fato é de que o Estado deve atuar positivamente na consecução de
políticas que visem a efetivação do direito à saúde, no entanto, há uma gama de
barreiras burocráticas, econômicas e políticas que emperram a efetiva aplicação do
direito à saúde.
É notório que os recursos destinados a saúde são insuficientes para a sua
demanda, e, além disso, o governo faz a opção de reajustar as contas públicas em
detrimento aos gastos sociais.
Os gastos públicos com saúde no período 1980-1990, em relação ao PIB,
atingiram o valor máximo de 3,3% em 1989. Essa participação reduziu-se fortemente
nos anos seguintes, voltando a aumentar em 1994 e atingindo 2,7% em 1995.
Acrescentando-se os gastos privados das pessoas físicas – estimados em 34% dos
gastos totais com saúde, em 1995, corresponderiam a cerca de 4,1% do PIB. Esse
valor pode estar subestimado, pois a forte redução dos gastos públicos com saúde,
ocorrida entre 1990 e 1993, certamente conduziu a um aumento dos gastos direitos
das pessoas com o pagamento de serviços privados. O gasto federal com atividades
promovidas pelo Ministério da Saúde representaram, em 1996, cerca de 10,4% da
arrecadação da União, valor inferior ao atingido em 1989, calculado em 19%.
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Assim, o descaso com a saúde é explicitamente notado, visto que a aplicação
de recursos públicos na área da saúde não evolui desde 1989, pois "o Brasil, ainda
hoje, é o país que menos investe em saúde: apenas 4% do seu Produto Interno
Bruto/PIB, contra a média de 13% verificada nos demais países da região."
Conforme alguns dados da Associação Brasileira de Medicina de Grupo
(ABRAMGE – 2000), a grande maioria da população brasileira ainda depende do
SUS. Pois 115 milhões de pessoas, cerca de 75 % da população, enquanto 48,5
milhões de pessoas, cerca de 25 % da população é atendido pela medicina privada.
As internações em hospitais públicos feitas pelo SUS, é uma realidade que
condiz com o que o Governo Federal gasta, em torno de R$ 4,50 (quatro reais e
cinquenta centavos) por internação, desde 1995, designando a antepenúltima pior
do mundo.
A poluição do meio ambiente, contaminando alimentos e pessoas, bem como
a poluição atmosférica também contribuem para o baixo desempenho da saúde no
Brasil, haja vista o descaso com o controle de emissão de monóxido de carbono (94
% são provenientes das descargas de veículos automotores).
Não obstante a isto, o não esclarecimento por parte da população, devido as
mazelas no sistema de educação, com a falta de informação, também ajudam para
este desempenho regular da saúde brasileira. Diante disto, há que se ter uma
prestação sanitária efetiva nos centros educacionais, como escolas e Universidades.
Outra questão, é a da subnutrição e da fome no Brasil, especialmente na
região Nordeste, que revela um elevado índice de mortalidade infantil. Pois "a
possibilidade de uma criança não ultrapassar o primeiro ano de vida é quatro vezes
maior no Piauí do que em São Paulo."
Poderíamos, aqui, ainda citar os mais variados índices de descasos com a
saúde, como mortalidade infantil, poluição do meio ambiente, efetuação errada na
coleta de lixo, falta de leitos hospitalares, falta de disponibilidade de remédios, baixo
grau de recursos financeiros no investimento na área sanitária, o atendimento
público da saúde, que mais parece um favor do que um direito do ser humano, tudo
o que gera para a não efetivação da saúde como um direito e consequentemente
para má qualidade de vida e da dignidade humana.
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Não obstante o direito à saúde ser previsto constitucionalmente, os números
mostram o descaso, e diante disto, nossos governantes e o Estado não resolvem o
problema da saúde, que é, portanto, "muito mais do que direito de todos. É
principalmente, a solução de todos."
3.2. Alternativas para efetivação do direito à saúde
A primeira questão, é novamente a interpretação do art. 196 da Constituição
Federal, que revela que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, mediante
políticas sociais e econômicas.
As políticas sociais e econômicas exprimem a primeira forma de efetivação da
saúde, visto que se as políticas impostas pelo Estado na área da saúde fossem
suficientes para efetivação e consequente aplicação da prestação sanitária,
desnecessário seria outras organizações, atividades como função de reparar a
inércia estatal para com a saúde.
No entanto, diante dos vários números apresentados à saúde brasileira, é
quase que óbvio que o dinheiro não está sendo destinado à saúde ou sendo
insuficiente.
Outra questão a ser analisada é de que, falta "vontade de Constituição",
vontade política de fazer valer os ditames constitucionais. Assim, ou se realiza o
direito à saúde, designando todo o Estado Democrático de direito para com o
cidadão, ou se desrespeita a dignidade humana, a Constituição e a vida.
Como a hermenêutica Constitucional externa o direito à saúde como um
direito social, eivado de garantias pela Constituição, é essencial que o Estado tenha
uma efetiva atuação na consecução da saúde, exprimindo a justiça social também
na prestação sanitária.
Mesmo que o direito à saúde necessite dos meios materiais necessários para
sua efetivação, a Constituição Federal, através de inúmeros artigos que tratam da
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matéria, determina que os Poderes Públicos têm responsabilidade na área da
saúde, e que nenhum dos entes federados componentes da República Brasileira
pode eximir-se de tal obrigação. A saúde não pode estar condicionada a discursos
vago, promessas políticas e ideologias cambaleantes. A condição primordial para o
desenvolvimento de qualquer regime democrático é a vida do ser humano, que não
pode ser colocada em segundo plano por distorções ideológicas que têm como
grande objetivo disfarçar os reais e egoísticos interesses implícitos em ditas falas.
Basta que se tenha vontade política para promoção, recuperação e defesa da
saúde, não atuando e investindo somente nos interesses econômicos em detrimento
aos direitos sociais.
De outra banda, o Poder Judiciário, em segundo plano tem a função basilar
de "corrigir as eventuais desigualdades ocorridas no campo sanitário, desde que
provocado. Isto porque é o órgão com competência para tal."
O Poder Judiciário atua posteriormente a não atuação estatal para com a
saúde. Busca-se efetivar através deste a efetivação do direito à saúde, uma vez que
o Poder Judiciário tem condições, dentro dos próprios ditames da Constituição de
buscar soluções para garantir o direito à saúde. Primeiro, deve agir o Estado no
cumprimento de seu papel, mediante as políticas sociais e econômicas para
efetivação e aplicação do direito à saúde. Em um segundo momento, o Poder
Judiciário tem prerrogativa constitucional para a consecução do direito sanitário,
devido a não atuação estatal.
O Ministério Público, também tem a prerrogativa de zelar defesa dos
interesses sociais e individuais indisponíveis. E no que tange ao direito à saúde,
encontramos previsão legal dispostos nos arts. 127 e 129, II e III da CF/88,
conferindo legitimidade para tutela dos direitos difusos e coletivos. Além disso, o
Ministério Público também é competente para cuidar dos serviços de relevância
pública, no caso a saúde, conforme o art. 197 da Lei Fundamental.
A busca da efetivação dos direitos sociais, pela via processual ou
extraprocessual, deve levar o Ministério Público à realização do acesso dos direitos
fundamentais às milhões de pessoas que vivem à margem do direito. O caminho do
Ministério Público, como instituição da sociedade, deve também, o de efetivação da
saúde pública.
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A jurisprudência também demostra o papel do MP na busca pelo direito à
saúde, pois a ação ministerial encontra respaldo para propor ação civil pública e
promover inquéritos policiais na defesa do direito à saúde, haja vista o interesse
difuso e coletivo.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LEGITIMIDADE - MINISTÉRIO PÚBLICO - SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE - DIREITO COLETIVO. Tem o Ministério Público legitimidade
para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público e social visando à
verificação da situação do Sistema Único de Saúde e sua operacionalização.
"Recurso improvido". (Resp 124.236, STJ, Primeira Turma, Relator Min. Garcia
Vieira, 31/03/1998, DJU 04/05/1998, p. 84).
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -
LEGITIMIDADE - MPF E UNIÃO FEDERAL. O Ministério Público Federal está
autorizado a ajuizar ação civil pública na defesa da moralidade pública e também
para preservar a saúde pública (CF, art. 129, III). Ilegitimidade da União que não
integrou a relação processual porque não é titular de direito algum. Recurso
improvido. (AG 1997.01.00.050034-5, TRF1, Quarta Truma, Relatora Juíza Eliana
Calmon, 04/02/1998, DJU 12/03/1998, p. 125.
A sociedade, através da participação popular, também pode agir e influenciar
nos órgãos competentes, "no sentido de tutelar seus interesses, pois a saúde é um
problema cuja solução não se restringe a um único agente."
Diante disto, a sociedade organizada "pode assumir a tarefa de defesa e
proteção da saúde, utilizando-se dos meios processuais, como a ação civil pública
ou ações civis coletivas, ou, caso necessite, representar ao órgão ministerial."
Por derradeiro, saúde é uma constante busca com o escopo primordial de
realização da dignidade humana, externando-se como uma necessidade básica no
exercício da cidadania e da qualidade de vida.
Vivemos em um Estado Democrático de Direito, e a saúde, neste aspecto,
funciona como pressuposto da vida, "a saúde como qualidade de vida passa a ser
necessidade primeira da democracia, como é o ar e a alimentação para
sobrevivência do ser humano.”.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho, dentro do limite a que se propôs, tratou de demostrar o
problema do direito à saúde no Brasil, buscando designar algumas alternativas para
consecução do mesmo,
Partindo do pressuposto dos direitos fundamentais, tratou-se de externar toda
a teoria e desencadeamento do mesmo, para por conseguinte chegar a uma
definição de saúde.
Tomando por base, vários referenciais teóricos acerca dos direitos
fundamentais, chegou-se a conclusão de que o direito à saúde, verdadeiro direito
fundamental social e direito público subjetivo, tendo posição de destaque em nossa
Constituição Federal, ao qual, não vem recebendo o devido tratamento que merece,
fazendo com que seja desrespeitado os dispositivos constitucionais garantidores de
tal direito.
O direito á saúde é dever do Estado, conforme versa o art. 196 da nossa CF,
e diante disto, a saúde é elevada como um princípio constitucional de justiça social.
Entretanto, a sua não-efetivação acarreta enormes disparates na sociedade, pois o
estado não vem cumprindo o seu papel de prestador de serviços básicos e
fundamentais a população na área da saúde, fazendo com que a dignidade humana
e a qualidade de vida tenha baixos índices.
No Brasil, a saúde é externada de forma descentralizada, ou seja, todas as
esferas do Estado tem a responsabilidade e o dever de promover e garantir a
mesma, assim, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios tem o dever
constitucional de garantir a saúde para os cidadãos. Nesse, sentido, Sistema Único
de Saúde - SUS, haja vista a s leis infraconstitucionais que o exprimem. É o
processo adotado para a consecução da saúde, todavia, este não vem conseguindo
alcançar seu escopo, devido a uma série de descasos do Poder Público para com a
saúde. Isto evidencia a inércia do Estado e a proliferação da não qualidade de vida
dos cidadãos, fazendo com que a saúde se torne um direito de difícil concretização.
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Entretanto, os dispositivos constitucionais que dão guarida ao direito à saúde
são claros ao estabelecer os parâmetros para garantia/eficácia da saúde, contudo,
não vem sendo respeitados pelo Estado, que ao não atuar de forma efetiva, faz com
que a saúde seja mais um dos problemas enfrentados pela população.
Por derradeiro, a presente pesquisa buscou demostrar conceitos e dados
sobre o direito à saúde, externando como se dá o mesmo, de que forma é
organizado pelo Estado, e quais os dispositivos constitucionais que a garantem
como um direito fundamental social. Diante disto, chegou-se a conclusão de que,
após uma série de análises e estudos dos direitos fundamentais, tomando por base
o seio da melhor doutrina constitucional, exprimindo como se dá as garantias,
eficácias e positivação dos mesmos, bem como toda a interpretação histórica e
filosófica no âmbito do direito constitucional, os direitos fundamentais, dotados de
enorme qualificação na nossa Carta Magna, externa a posição de destaque do
direito à saúde.
Isto posto, o direito à saúde se consubstancia como um verdadeiro direito
fundamental social, dotado de características prestacionais por parte do Estado,
revelando seu caráter de direito público subjetivo.
Assim, o Brasil tem vastas sequelas da não efetivação do direito à saúde,
revelando todo descaso e para com o mesmo, haja vista a base de dados externada
na presente pesquisa.
Nos resta concluir que deve o Poder Público, a sociedade organizada e em
última instância, o Poder Judiciário, na prerrogativa de fazer valer os dispositivos
constitucionais, efetivar o direito à saúde e designar ao mesmo todo seu caráter de
direito fundamental, dando ao direito sanitário seu referido valor dentro da Lei Maior
de 1988.
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5. BIBLIOGRAFIA
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1995.
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Ferraz Jr. Brasília: Ministério as Justiça co-edição com EdUNB, 1979.
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