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Impresso Especial 7317236901/2001-DR/MG Sind. dos Médicos Estado MG ...CORREIOS... Trabalho MÉDICO Trabalho MÉDICO apresentação Sindicato já tem pauta de reivindicações e começa mobilização para a campanha salarial/2005 dos médicos da Prefeitura de Belo Horizonte, como os que trabalham nas Unidades de Pronto Atendimento – UPAs (foto) Em campanha página 3 Departamento Jurídico do Sinmed-MG amplia serviços para atender principais demandas dos médicos filiados seus direitos dia-a-dia página 6 O psiquiatra e presidente do CRMMG Maurício Leão aborda o trabalho médico sob a ótica das transformações sociais entrevista página 8 página 4 Jornal do Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais - Sinmed-MG - Ano 1 - nº 1 - março/abril 2005 Reconhecida recentemente como especialidade médica, a Medicina de Família e Comunidade traz uma nova abordagem para a saúde Suscitar a reflexão, fomentar o debate, sem pretensão do consenso ou da verdade infalível. É com esse pensamento que trazemos até você, caro leitor e colega médico, a primeira edição do “Trabalho Médico”. O jornal, com quatro edições anuais, cumpre também o papel de informar sobre as atividades do sindicato, os serviços que oferecemos nas diversas áreas, a prestação de contas, as campanhas salariais e as nossas lutas e conquistas, que são de todos. Nessa edição enfocamos o Departamento de Assuntos Jurídicos, que ganha novos serviços, e destacamos a campanha salarial da PBH. As principais mudanças no cenário político e econômico que afetam diretamente a categoria, entrevistas e opiniões sobre a condição do médico na sociedade atual, o trabalho do profissional médico nas diversas formas e vertentes, tudo isso faz parte da nossa pauta editorial. São exemplos as matérias sobre a reforma sindical, a entrevista do psiquiatra Maurício Leão e a abordagem do trabalho dos médicos do Programa de Saúde da Família. Vocês é que vão dizer se estamos no caminho certo, com sugestões, críticas, colaborações para o “Trabalho Médico” e para a nossa homepage, instrumentos à disposição dos nossos filiados. Boa leitura!

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Page 1: Trabalho M.dico N1 - sinmedmg.org.br · campanha salarial da PBH. As principais mudanças no cenário político e econômico que afetam diretamente a categoria, entrevistas e opiniões

ImpressoEspecial

7317236901/2001-DR/MGSind. dos Médicos Estado MG

...CORREIOS...

TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOOapresentação

Sindicato já tem pauta de reivindicações e começa mobilização para a campanha salarial/2005 dos médicos da Prefeitura de Belo Horizonte,

como os que trabalham nas Unidades de Pronto Atendimento – UPAs (foto)

Em campanha

página 3

Departamento Jurídico do Sinmed-MG amplia serviços para atender principais demandas dos médicos filiados

seus direitos dia-a-dia

página 6

O psiquiatra e presidente do CRMMG Maurício Leão aborda otrabalho médico sob a ótica dastransformações sociais

entrevista

página 8

página 4

Jornal do Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais - Sinmed-MG - Ano 1 - nº 1 - março/abril 2005

Reconhecida recentemente comoespecialidade médica, a Medicina de Família e Comunidade traz umanova abordagem para a saúde

Suscitar a reflexão, fomentar odebate, sem pretensão doconsenso ou da verdade infalível.É com esse pensamento quetrazemos até você, caro leitor ecolega médico, a primeira ediçãodo “Trabalho Médico”.

O jornal, com quatro ediçõesanuais, cumpre também o papel deinformar sobre as atividades dosindicato, os serviços queoferecemos nas diversas áreas, aprestação de contas, as campanhassalariais e as nossas lutas econquistas, que são de todos. Nessaedição enfocamos o Departamentode Assuntos Jurídicos, que ganhanovos serviços, e destacamos acampanha salarial da PBH.

As principais mudanças nocenário político e econômico queafetam diretamente a categoria,entrevistas e opiniões sobre acondição do médico na sociedadeatual, o trabalho do profissionalmédico nas diversas formas evertentes, tudo isso faz parte danossa pauta editorial. São exemplosas matérias sobre a reformasindical, a entrevista do psiquiatraMaurício Leão e a abordagem dotrabalho dos médicos do Programade Saúde da Família.

Vocês é que vão dizer se estamosno caminho certo, com sugestões,críticas, colaborações para o“Trabalho Médico” e para a nossahomepage, instrumentos àdisposição dos nossos filiados.Boa leitura!

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expediente

Publicação do Sinmed-MGSindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais

Rua Padre Rolim, 120 - São Lucas 30130 090 - BH - MGFone: (31) 3241-2811

E-mail: [email protected] Site: www.sinmedmg.org.br

Diretoria - Alessandra Nara Korres,Aloísio Prado Marra, Amélia MariaFernandes Pessôa, André Kiyomitsu,Andréa Aparecida B. Alves, AripuanãCobério Terena, Aroldo Gonçalves de

Carvalho, Carlos Romero F. de A.Lemos, Cristiano Gonzaga da Matta

Machado, David dos Santos Schmidt,Eduardo Almeida C. Filgueiras, ÉlsonViolante, Fernando Luiz Mendonça,

Geórgia C. B. Medrado, Geraldo JoséCoelho Ribeiro, Henrique Leonardo

Guerra, Jacó Lampert, José AlvarengaCaldeira, Jules Jésus Ayoub, Márcio

Costa Bichara, Marco Antônio Torres,Margarida C. Sofal Delgado, Maria

Cristina R. V. Coelho, Maria Madalenados S. Souza, Nagib Neves Abdo,Oswaldo Cruz Júnior, Paulo César

Machado Pereira, Wagner Alexandre Ezequiel.

Jornalista ResponsávelRegina Perillo - MT 11.697/SP

Textos e EdiçãoRegina Perillo ComunicaçãoProjeto gráfico, editoração

eletrônica e ilustrações - GeninFotos - Gláucia Rodrigues

Impressão - Imprimaset LtdaTiragem - 21 mil exemplares

Mais de 70 médicosparticiparam da

votação. Ao lado, mesa de trabalho com

representantes deentidades médicas

TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO2notícias do Sinmed

Curso “Livro-Caixa” para médicos

Anão publicação de umnovo edital quandohouve a mudança da datada eleição para 7 de ju-

lho/2004 – decisão tomada em As-sembléia dos Médicos realizada noauditório da Escola de Medicina daUFMG no dia 20 de maio passado –foi um fato questionado pelo oficialdo cartório no momento do registroda ata de posse da nova diretoria.

Para sanar a falta, a diretoria atualconvocou uma Assembléia Geral Ex-traordinária (AGE), realizada na sededo Sinmed, dia 24 de fevereiro, paradeliberar sobre a “convalidação doprocesso eleitoral e ratificação do atossubseqüentes praticados até a presentedata”.

Depois da publicação do edital deconvocação da AGE, o presidente do

Assembléia convalida processo eleitoralsindicato, Cristiano Gonzaga da MattaMachado, foi surpreendido, inicialmente,com uma notificação extra-judicial, as-sinada pelos médicos João Batista GomesSoares e Herman Alexandre Von Tie-senhause, questionando a sua legi-timidade para convocar o encontro, emuma tentativa de evitar que a assem-bléia acontecesse.

Não satisfeitos com a tentativa deintimidação, entre a primeira provi-dência e o dia da assembléia, ajuizaramação cautelar também com o objetivode impedir a realização da AGE. Con-tudo, o juiz negou a medida liminarrequerida, decisão que foi lida na ín-tegra durante a assembléia. Mesmodiante do ocorrido, Cristiano pediu queos presentes votassem pela legitimi-dade ou não da assembléia, recebendoaprovação por unanimidade.

Depois dessa nova ação para desunira classe médica e conturbar um pro-cesso já consolidado, a vitória teve umsabor ainda melhor. A assembléia foium sucesso, com a presença de 75 mé-dicos, que lotaram o auditório do sin-dicato das 19h30 às 21h.

A assembléia comprovou o que a urnajá havia mostrado. Os pontos de votaçãotiveram aprovação por unanimidade dospresentes, sem nenhuma abstenção. Outraprova do prestígio da atual diretoria foi acomposição da mesa, que reuniu, além dopresidente e da secretária-geral do Sin-

med-MG, Amélia Pessôa, o presidente daAssociação Médica de Minas Gerais,Castinaldo Santos; Maria Helena AraujoTeixeira, conselheira do CRMMG, re-presentando o presidente Maurício Leão;Maria Luiza Viana, diretora adminis-trativa da Fencom, e Cid Célio Carva-lhaes, diretor do Sindicato dos Médicosde São Paulo e da Fenam – FederaçãoNacional dos Médicos. Todos os dis-cursos destacaram a importância da uniãodas entidades para o movimento médico.

Também prestaram sua solidarie-

dade o atual presidente do CRMMG,Maurício Leão, e seu antecessor, Ge-raldo Guedes, que não fizeram parte damesa por terem chegado após o inícioda reunião.

Estavam presentes na assembléiavários outros representantes de enti-dades médicas. Alguns médicos fize-ram questão de se manifestar a favorda união da categoria e da confiançadepositada na atual gestão, entre elesJairo Câmara, da Academia Mineira deMedicina, emocionando a todos.

Quando chega a hora doLeão, é sempre aquela“mordida”. O pior éque, muitas vezes, o

mé-dico paga mais do que deveriapor desorganização financeira edes-conhecimento das despesasque po-dem ser deduzidas da suadecla-ração de Imposto de RendaPessoa Física (IRPF).

A principal forma de manter esse con-trole é a escrituração do livro-caixa, noqual são relacionadas, mensalmente, asreceitas e despesas relativas à prestaçãode serviços sem vínculo empregatício(médicos, dentistas, psicólogos e demaisprofissionais liberais). Com a era da infor-mática, esse procedimento ficou aindamais fácil. A própria Receita Federaldisponibiliza na internet um programabastante prático e didático para escri-turação do livro-caixa – o Carnê-Leão.

Para esclarecer o médico sobre isso, oSinmed-MG realiza em sua sede, dia 23

de março, o curso “Livro-Caixa”. Comcerca de três horas de duração (19h às22h), o curso será ministrado gratuita-mente pela contadora Adriane da Silva,da Fencom, aos médicos sindicalizadosem dia com suas contribuições.

Como 29 de abril é o prazo final paraentrega da declaração de Imposto deRenda (IR), o curso é uma excelenteoportunidade de atualização para os mé-dicos que usam o livro-caixa. Quem aindanão o faz pode começar a utilizar o pro-cedimento para a declaração do ano quevem. Além de informar sobre o que é ounão dedutível, a contadora explica asvantagens de usar o procedimento nasdiversas situações de trabalho e dá váriasdicas para a elaboração da declaraçãodo imposto.

Segundo Adriane, somente com aescrituração do livro-caixa é possível de-duzir a grande maioria de despesas efe-tivamente realizadas pelos médicoscontribuintes. O benefício de redução do

IR será proporcional ao montante de des-pesas realizadas.

Para serem dedutíveis, as despesasprecisam ser devidamente comprova-das e escrituradas. Por isso, lembre-se,sempre, de solicitar notas fiscais oucupons fiscais em suas compras. Vejaalgumas despesas que podem ser de-duzidas do livro-caixa: custeios indis-pensáveis à atividade profissional;compra de roupas; contribuições a sin-dicatos/associações/conselhos quandorelacionadas à atividade do profissionalautônomo (CRM, AMMB, Sinmed-MG); propaganda, quando escrituradasem livro-caixa e comprovadas; des-pesas para comparecimento a en-contros científicos, como congressos eseminários.

ANOTE NA AGENDA: Curso “Li-vro-Caixa”. Data: 23/março/2005.Local: Auditório Sinmed-MG. Vagas:25. Inscrições: (31) 3241-2811.

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Diretores: Aripuanã CobérioTerena e Eduardo AlmeidaCunha Filgueiras (Sinmed-MG) e Maurício CavalieirMachado (AMMG); Advoga-dos: Fernando Mitraud, Fran-cisco Gaudereto e Auro Cal-deira Valadares; Assessora deImprensa: jornalista FabíolaSanches (AMMG).

Podem utilizar os serviçosos médicos filiados ao Sin-med-MG e à AMMG quitescom as entidades. As consul-tas devem ser agendadas an-tecipadamente, por telefone,na AMMG (de fevereiro ajulho) e no Sinmed-MG(agosto a janeiro). No in-terior, o serviço é prestadopor uma rede de represen-tantes em hospitais e clíni-cas de todas as regiões do

estado. Para obter essa relação,ligue (31) 3247-1618.

Convênios com escritórios de advocacia

O Sindicato dos Médicos de Mi-nas Gerais acaba de fazer convêniocom dois escritórios de advocaciapara consultas jurídicas. O escritórioAndréa Vasconcellos Advogados As-sociados está apto a propor ações efazer defesas nas áreas trabalhista, defamilia e comercial; acompanhamentode contratos; cobranças; recursos pa-ra multa de trânsito; e administraçãode locação de imóveis; entre outros.

Já o escritório para causas pre-videnciárias prestará os seguintesserviços: inscrição de contribuinte,enquadramento salário-base, débitos,certificados negativos de débito,contagem de tempo para aposen-tadoria, pensão por morte, auxílio-reclusão, auxílio-doença, entre outros.

Para utilizar os serviços doDepartamento de Assuntos Jurídicosdo Sinmed-MG ou dos escritóriosconveniados, contatar a diretoraGeórgia Medrado ou a secretáriaLuciana Carvalho, no próprio sin-dicato.

TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO3seus direitos

OS i n m e d - M Gestá ampliando em e - l h o r a n d ocada vez mais o

leque dos serviços jurídicosofereci-dos aos seusfiliados. O objetivo,segundo Geórgia Medrado,diretora de As-suntosJurídicos do sindi-cato, éapoiar integral-mente omédico não só nas questõesrelativas ao tra-balho mastambém nas áreas do direitocivil, pre-videnciário, defamília e co-mercial.

O trabalho é realizado emtrês frentes – advogados dopróprio sindicato, convênioscom escritórios de advocacia eComissão Estadual de Defesado Médico (CEDM). Para uti-lizar os serviços, os médicosprecisam ser sindicalizados (ou sesindicalizarem) e estarem em dia comas contribuições social e sindical.

Empenhada em tornar o sindicatoum grande prestador de serviçosnessa área, Geórgia pede aos médicosque tiverem dúvidas sobre contratosde trabalho ou qualquer outro assuntoligado a demandas jurídicas para en-trarem em contato com o Sinmed-MG, pelo telefone (31) 3241-2811, desegunda a sexta-feira, das 8h às 12h edas 14h às 19h. Sugestões tambémsão muito bem-vindas, avisa adiretora.

Atendimento no próprio sindicato

O Sinmed-MG disponibiliza paraos associados, por meio de umadvogado locado em sua sede (RuaPadre Rolim, 120, São Lucas), das14h às 18h, consultas e encaminha-mentos judiciais na área trabalhista.As principais demandas dizem res-peito a contratos administrativos econdições de trabalho.

O sindicato recebe a denúncia,visita o local de trabalho para do-cumentar a situação e emite umrelatório para o órgão empregador so-licitando providências. Se o pro-

Sindicato amplia atendimento na área jurídica

EM ANDAMENTOAdicional de Insalubridade

Os médicos que não recebem oadicional de insalubridade devemligar para o Sinmed-MG, a fim deobter orientação sobre o assunto.O sindicato já tem um modelo derequerimento para ser preenchidopelo médico e entregue em seulocal de trabalho. Após o proto-colo, o sindicato presta as orien-tações sobre a propositura de açãojudicial.

Prejuízos da URVO Sinmed-MG também presta

orientação jurídica sobre os pre-juízos gerados pela implantaçãoda URV. Se você é sindicalizado etrabalhava como servidor esta-dual em Minas Gerais na época daconversão do Cruzeiro em URV,em 1994, entre em contato com osindicato.

Desconto sobre 13º Os médicos que sofreram des-

conto previdenciário (INSS) sobreo mês de dezembro pelo tetomáximo e também sobre o 13º sa-lário podem procurar o sindicatopara ajudá-los a pleitear judici-almente a restituição do valor des-contado nos últimos dez anos.

Pagamento do ISSQN O Sinmed-MG facilita a vida

do médico fazendo o pagamentodo ISSQN – Imposto sobre Ser-viços de Qualquer Natureza – naPrefeitura de Belo Horizonte.Basta solicitar o serviço que umfuncionário do sindicato irá atévocê pegar os documentos e ocheque para realizar o paga-mento.

Ações da Fhemig e da Funed O sindicato está efetivando os

pagamentos das ações trabalhistasrelativas a recomposições sa-lariais dos médicos da FundaçãoEzequiel Dias (Funed) e Funda-ção Hospitalar do Estado de Mi-nas Gerais (Fhemig).

O Sinmed-MG solicita aos mé-dicos que trabalharam no períodocoberto pelas ações (1987 a 1990)para entrarem em contato. Muitosmédicos não estão sendo locali-zados por falta de Cadastro dePessoas Físicas (CPF) ou te-lefone.

Geórgia Medrado, diretora de Assuntos Jurídicos

blema não for resolvido, o sindicatotoma as providências cabíveis, acom-panhando todo o processo.

Os médicos devem registrar asirregularidades que acontecem nodia-a-dia de trabalho no Livro dePlantão, importante documento parasubsidiar, no futuro, o ajuizamentode uma ação.

Comissão Estadual de Defesa do Médico – CEDM

A Comissão Estadual de Defesado Médico é uma parceria entre oSindicato dos Médicos do Estado deMinas Gerais e a Associação Médicade Minas Gerais (AMMG) paraorientar profissionais que se sintamameaçados de denúncias, e prestarassessoria jurídica e de imprensa aosmédicos mineiros nos casos deacusação injusta e precipitada deerro. A comissão também atua deforma preventiva, com realização depalestras e seminários sobre a rela-ção médico-paciente.

Confira quem compõe a atualcomissão. Presidentes: Cristiano Gon-zaga da Matta Machado (Sinmed-MG) e Castinaldo Bastos Santos(AMMG); Coordenadores: JoséAlvarenga Caldeira (Sinmed-MG) eMaria Ester Massara Café (AMMG);

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OSinmed-MG já definiu osprincipais eixos da cam-panha salarial dos médi-cos da Prefeitura de Belo

Horizonte (PBH), cuja database éagora em maio. As reivindicaçõesacontecem em três campos: eco-nômico, relacionamento e condiçõesde trabalho. A pauta proposta pelosindicato será discutida com osmédicos em assembléia, para queeles decidam o caminho das nego-ciações. Será realizada também umapesquisa com médicos da PBH, para

conhecer melhor a realidade dessesservidores, abordando aspectos co-mo tipo de vínculo empregatício,carga horária, salário e prioridadesda campanha.

No aspecto econômico, a proposta se-gue as seguintes linhas: * Recomposição salarial, considerando asperdas de novembro/1996 a abril/2005, deacordo com índices divulgados pelo De-partamento Intersindical de Estatística eEstudos Sócio-Econômicos (Dieese); * Correção do quadro de carreira, comincorporação de todos os abonos, e re-

TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO4em campanha

Estudos do Dieese comparando aevolução dos salários dos médicos coma evolução do ICV-Dieese e do INPC-IBGE de 1º/maio/1996 a 31/dezem-bro/2004 mostram que esses índicesapresentaram uma variação no períodode respectivamente 92,13% e 88,95%.No mesmo período, os salários dosmédicos tiveram apenas 25,40% de

reajuste. Isso significa que a categoriaperdeu, em oito anos, grande parte dasua renda.

Segundo o mesmo levantamento,para que os salários retomassem emdezembro último o mesmo poder decompras de maio/96 seria necessárioum reajuste de 53,22% pelo ICV e de50,68% de acordo com o INPC.

O TAMANHO DO BURACO

Sindicato e entidades co-irmãsdiscutem Plano de Carreira

Começa a mobilização paracampanha da Prefeitura

OSinmed-MG está com ins-crições abertas, de 29 demarço a 1º de abril, paraeleição de delegados sin-

dicais. As eleições acontecem, nesteprimeiro momento, nas unidades desaúde da Prefeitura de Belo Horizonte eda Fhemig, e no Hemominas, no pe-ríodo de 11 a 29 de abril.

Os delegados sindicais são de grandeimportância neste momento de mobilização,na medida em que tornam o sindicatopresente em cada local de trabalho eaproximam os médicos da entidade. Umsindicato forte é fundamental para melhorara difícil situação atual dos médicos.

Conforme explicitado em Regimento, osdelegados sindicais eleitos em Belo Ho-rizonte/MG terão a atribuição de re-presentarem o Sinmed-MG em seus locaisde trabalho, assumindo tarefas como mo-bilizar os médicos em época de campanhasalarial ou em outras lutas, levantar asreivindicações dos médicos, avaliar ascondições de trabalho e manter o pessoalinformado sobre as atividades do sindicato.

Para ser candidato, basta estar quite como Sinmed-MG, ou se sindicalizar até a datafinal de inscrição. Todos os médicos estãoaptos a votar, independentemente de seremsindicalizados ou não. O mandato do de-legado sindical é de dois anos.

Eleição dedelegados em abril

Tratar em conjunto questõesrelativas às tabelas salariaisa serem implantadas nonovo Plano de Carreira para

os trabalhadores da saúde no estado.Com esse objetivo, o Sindicato dosMédicos, na pessoa do presidenteCristiano Gonzaga da Matta Ma-chado e dos diretores Jacó Lampert eÉlson Violante, recebeu em sua sede,dia 3 de março, os servidores RogériaTrajano e Carlos Augusto dos PassosMartins, representantes da Asso-ciação Sindical dos Trabalhadores emHospitais do Estado de Minas Gerais(Asthemg), e Renato Barros, doSindicato dos Servidores do Sistemade Saúde do Estado de Minas Ge-rais (Sind-Saúde).

Sancionado em janeiro último pelogovernador Aécio Neves, o Plano deCarreira propõe a adesão do tra-balhador do estado a uma das 18 car-

reiras constituídas na área de saúde,englobando SES-MG, Hemominas, Fu-ned e Fhemig, agora compreendidos noSistema Estadual de Gestão da Saúde.

Entre outras deliberações, os repre-sentantes consideram de fundamentalimportância conhecer a fundo a reali-dade salarial das diferentes categorias,para poderem avaliar as propostas dogoverno e propor soluções que atendama todos. Para auxiliar nesse trabalho, oDieese será contatado, assim como asentidades que compõem o SistemaEstadual de Gestão da Saúde.

Os representantes informaram sobre areunião, dia 8 de março, da Intersindical(entidade que congrega diferentes sin-dicatos e associações do setor público)com lideranças políticas na AssembléiaLegislativa para estabelecer a data de 30de junho como o limite máximo para queo governo faça o encaminhamento dastabelas das categorias.

constitução dos níveis de progressão, comreposição das perdas salariais;* Correção do adicional de urgência;* Correção do adicional de fixação;* Criação de adicional para trabalho emfinais de semana e feriados; * Estabelecimento por lei da adoção dopiso nacional dos médicos (Fenam),atualmente R$3.313,24, como salárioinicial da PBH.

Na questão do relacionamento com aPrefeitura, a luta é por um tratamentomais respeitoso e menos subjetivo, quecontemple, inclusive, uma revisão dométodo de avaliação de desempenho,hoje utilizado para promoção e apro-vação do estágio probatório.

No item melhoria de condições detrabalho, o sindicato busca garantir umaestrutura adequada para que os profis-sionais possam realizar o seu trabalho:mais segurança; local próprio para des-canso e alimentação; aquisição de equi-pamentos, instrumentos e medicamentos.

Nos aspectos relacionados ao aper-feiçoamento dos vínculos trabalhistas, osindicato reivindica a realização de con-curso público como a forma ideal de pren-cher as lacunas existentes no sistema, arevisão dos contratos administrativos, coma retirada de cláusulas injustas e ilegais, e aisonomia de salários com os efetivos.

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TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO5em pauta

Os ministros Ricardo Ber-zoini (Trabalho) e AldoRebelo (Articulação Polí-tica) entregaram ao Con-

gresso, no último dia 2 março, aproposta de reforma sindical.

Apesar de o documento ser o resultadode dois anos de debate no FórumNacional do Trabalho (FNT) – instânciaformada por governo, trabalhadores epatrões –, seu teor não é consenso entreas entidades sindicais, segundo o di-retor de Relações Sindicais do Sinmed-MG, Élson Violante.

Ele explica que a proposta do governo

mexe fundamentalmente em dois pontosdo 8º artigo da Constituição Federal, quetrata de unicidade sindical e de con-tribuição sindical. Na questão da uni-cidade, o projeto estabelece que podehaver mais de um sindicato da mesmacategoria em uma mesma base – porexemplo, mais de um sindicato dosmédicos em Belo Horizonte –, desde quecada um deles abrigue pelo menos 20%da categoria. A medida, segundo Élson,dividiria as lutas dos trabalhadores.

O outro ponto questionado é o fimda contribuição sindical obrigatória,iniciativa em princípio simpática, mas que

coloca em risco a sobrevivência dasentidades sindicais. O documento propõesubstituir o imposto por uma contribuiçãodenominada negocial, a ser definida pelostrabalhadores nas negociações salariais.Assim, se não houver ganho salarial, acontribuição também não existirá.

Élson questiona também o poder que odocumento dá às centrais sindicais denegociar – e fechar acordos – pelos tra-balhadores, independentemente das basessindicais. As questões relativas ao direitode greve dos funcionários públicos, con-sideradas desfavoráveis ao trabalhador,são outro ponto de discórdia.

O diretor conta que, além da propostado governo, na forma de emenda cons-titucional, foi elaborado um Projeto de Leialternativo, resultado do Fórum Social doTrabalho (FST), assinado pelo depu-tado federal Sérgio Miranda.

O documento, que propõe regulamen-tar o artigo 8º da Constituição e não alterá-lo como quer o governo, tem o apoio daFederação Nacional dos Médicos (Fenam).A proposta mantém a unicidade, oimposto sindical, e, apesar de tambémregulamentar a existência das centrais,não dá a elas o mesmo poder de nego-ciação do projeto governamental.

Garantir o cumprimentodos acordos firmados aolongo do ano passado edos contratos em anda-

mento, e manter as entidades e osmédicos unidos para as futuras lutasse mostraram como os grandesdesafios no VIII Encontro das Co-missões Estaduais da CBHPM(Classificação Brasileira Hierarqui-zada de Procedimentos Médicos),realizado na sede do Sinmed-MG,dia 18 de fevereiro.

Participaram do encontro represen-tantes de Minas Gerais, do Distrito Fe-deral e de outras nove unidades daFederação – Alagoas, Bahia, Ceará,Espírito Santo, Pará, Pernambuco, Riode Janeiro, Rio Grande do Norte e SãoPaulo.

Compuseram a mesa, juntamentecom Cristiano Gonzaga da Matta Ma-chado, presidente do Sinmed-MG, eMárcio Bichara, vice-presidente da en-

tidade e membro da Comissão Nacionalde Honorários Médicos, Márcia Rosa deAraújo, presidente do Conselho Re-gional de Medicina do Rio de Janeiro(Cremerj) e Waldir Cardoso, presidenteda Federação Nacional dos Médicos(Fenam).

Balanço

Durante o encontro, cada repre-sentante fez um breve relato de comoestá a implantação da CBHPM em seuestado. As notícias, na maioria dasvezes, foram boas. O último balançonacional mostra que 89 planos de saúdeligados à Associação Brasileira deMedicina de Grupo (Abramge) jáassinaram contratos tendo como base aCBHPM; 31 singulares da Unimedaceitaram a implantação; e, na UniãoNacional das Instituições de Autogestãoem Saúde (Unidas), já fecharam acordos20 estados, sete regionais paulistas e

Sinmed-MG sedia VIII Encontro das ComissõesEstaduais para implantação da CBHPM

Reforma sindical na pauta do Congresso

Encontro reuniu representantes de onze unidades da Federação

Amélia Pessôa e Cristiano da Matta Machado (ao centro) receberam os representantes

uma gaúcha. O atendimento continuasuspenso às seguradoras em 19 estados.

Amélia Pessôa, secretária-geral doSinmed-MG, disse que 2004 foi denegociações, e que este ano duas etapascaminham juntas – a conclusão daassinatura dos acordos e a implantaçãodos novos valores.

Em Minas Gerais, além da Unidas, osmédicos já fecharam acordos de implan-tação com os planos Blue Life, GoldenCross, Good Life, Medservice, MinasCentermed, Promed, Qualimed, Samp,Santa Casa de Saúde de Belo Horizonte,Saúde Med, Unihosp e Vitallis Saúde. Játeve início o processo de descreden-ciamento das operadoras Amil, As-médica, Medial e Só Saúde. O atendi-mento por reembolso às seguradorasestá mantido. As Unimeds Belo Hori-zonte, Divinópolis, Uberlândia e Viçosajá decidiram implantar gradativamente aCBHPM.

Outro ponto da pauta foi o subs-

titutivo do Projeto de Lei 3466/04, dodeputado Rafael Guerra, consideradofavorável à causa da CBHPM, porestabelecer em Lei parâmetros para aedição anual de um rol de proce-dimentos e serviços médicos, e seusrespectivos valores. Os representantesavaliaram os aspectos positivos e ne-gativos do projeto e apresentaram suassugestões.

União das entidades

Durante o encontro, foi elaborada umacarta com ênfase na importância dotrabalho conjunto para a manutenção e ofortalecimento do movimento, poste-riormente enviada às entidades médicasnacionais envolvidas no processo. Devidoàs diferentes realidades, foi ressaltada aimportância do contato das liderançasregionais com a classe médica parapossibilitar a agilidade de informações ecolaborar na eficácia do movimento.

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algumas vezes, os médicos a terem quesuprir as carências de atendimento forada atenção básica e a trabalhar em locaisonde o modelo continua sendo o de“apagar incêndio”.

No entanto, Flávio acredita que omédico de família, embora ainda seja umposto de trabalho precário em relação aosdireitos trabalhistas, está em franca ex-pansão, representando novas oportuni-dades para profissionais que ingressamna medicina.

Segundo ele, o crescimento donúmero de PSFs trouxe à tona a ne-cessidade de oferecer formação ade-quada a esses profissionais: “O exercícioda Medicina de Família exige umamudança de paradigmas que começa nopróprio processo educacional, até entãofocado na formação de especialistas enão de generalistas capazes de resolveros problemas surgidos na atenção pri-mária de uma forma continuada e abran-gente”, acredita.

Os cursos de atualização, aperfeiço-amento e especialização em Saúde da Fa-mília ainda acontecem de forma insu-ficiente, principalmente em relação à Re-sidência Médica. A afirmação da identi-dade da Medicina de Família como espe-cialidade médica passa necessariamentepor sua progressiva inserção universi-tária como disciplina acadêmica.

Flávio informa que em maio próximo

TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO6dia-a-dia

Instituído pelo governo em 1994,com o principal objetivo de atendera um projeto de interiorização dasaúde, o Programa de Saúde da

Família (PSF) foi aos poucos se con-solidando como uma estratégia para aorganização do Sistema Único de Saú-de (SUS) em todo o Brasil e hoje estápresente em 4.500 municípios, cobrin-do 38,9% da população do país.

Desse novo modelo, baseado emuma medicina mais generalista e hu-manitária, que privilegia a prevenção ea promoção da saúde, nasceu, ofici-almente, uma nova forma de trabalhomédico – a “Medicina de Família eComunidade” –, especialidade reco-nhecida em 2002 pelo Conselho Fe-deral de Medicina (CFM), a Asso-ciação Médica Brasileira (AMB) e aComissão Nacional de Residência Mé-dica (CNRM).

Para Flávio Lúcio Gonçalves Coelho,presidente da Associação Mineira deMedicina de Família e Comunidade(AMMFC), vencida a batalha pela cons-trução da especialidade, é chegado omomento de avançar nas lutas salariais,por melhores condições de trabalho equalificação dos profissionais que atuamna área.

Salário e formação

Embora as prefeituras de Belo Ho-rizonte e Contagem tenham realizadoconcursos para médicos de família, oscontratos administrativos ainda são ogrande problema nos PSFs. Sem vínculoempregatício, os médicos se tornam ví-timas fáceis de acontecimentos políti-cos, como a troca de prefeitos, e de con-tratos precários.

SAÚDE DA FAMÍLIA EM NÚMEROS

A médica homeopata Maria Fran-cisca Vieira integra uma das mais de500 equipes de Saúde da Família deBelo Horizonte. Condizente com suavocação para uma medicina decunho mais social e voltada para asaúde integral, ela prestou o con-curso da Prefeitura para a espe-cialidade e desde julho passado tra-balha no PSF São Francisco. Para seaperfeiçoar, diz que vai cursar pós-graduação em Saúde da Família naEscola de Medicina da UFMG.

A jornada de oito horas não aassusta: “Apesar de cansativo, é mui-to mais gratificante poder ofereceruma atenção mais individualizada aopaciente, além de ser menosestressante do que atender umaconsulta a cada 15 minutos no SUS.As condições não são ideais.Existem muitos problemas que nãoconseguimos resolver e o própriopaciente ainda precisa ser educadopara valorizar o PSF, mas mesmoassim vale a pena”, afirma.

Especialidade: Médico de Família e Comunidade

Na campanha salarial deste ano, Fláviodiz que os colegas da especialidade estãoafinados com os médicos da Prefeitura, porsofrerem os mesmos arrochos salariais e,no caso dos não concursados, as mesmasprecariedades nos contratos. Ele lembra, noentanto, que o trabalho do médico defamília se difere das outras especialidadesda Prefeitura pela carga horária de 40 horassemanais, ao invés de 20: “As carac-terísticas do trabalho exigem dedicaçãoexclusiva, mas isso não é diferenciado sobo ponto de vista salarial”, afirma opresidente da AMMFC.

As condições de trabalho nos PSFssofrem também o reflexo da realidade daestrutura de saúde do país, levando,

O número de equipes de Saúde da Famíliano Brasil é de 21.180, cobrindo 38,9% dapopulação, em 4.500 municípios. A metapara daqui a quatro anos é que o PSFatenda 100 milhões de pessoas.

Desde 1998, o orçamento destinado ao PSFevoluiu de R$ 201 milhões para R$ 2 bilhões e 71 mil.

Minas é o estado com maior atuação doPrograma de Saúde da Família no Brasil.

Atualmente, cerca de 46% da populaçãomineira tem sido beneficiada com as ações voltadas para a atenção básica. São mais de 2.700 equipes, espalhadas em mais de 700 municípios. Em 2006, a intenção é chegar a cerca de 70% dapopulação atendida pelo programa, querecebeu o nome Saúde em Casa.

Em Belo Horizonte, são 503 equipes, queatendem cerca de 1 milhão e 700 milpessoas, em 136 postos de saúde.

AFINIDADE E VOCAÇÃO

acontece em Belo Horizonte a segundaprova de título de especialista em Me-dicina de Família e Comunidade re-alizada no país. A iniciativa integra asatividades do VII Congresso Brasileirode Medicina de Família e Comunidade edo II Congresso Mineiro de Medicina deFamília e Comunidade, que acontecemno Minascentro, em Belo Horizonte, de25 a 29 de maio, com expectativa de 3mil participantes. (Informações: 31-3222-7266.)

Maria Francisca Vieira

Francisca e equipe em atendimento domiciliar

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TrabalhoMMÉÉDDIICCOOTrabalhoMMÉÉDDIICCOO7espaço opinião

Quase trinta anos se pas-saram desde a criaçãoda Residência Médicano Brasil e até hoje as

ameaças fazem parte de seucotidiano. Atualmente, existem vá-rias, e entre elas destacamos a“Residência multiprofissional”, aabertura indiscriminada de facul-dades de Medicina e o baixo valorda bolsa mensal. Esses três pontoselucidam grande parte do programade desvalorização da RM e dosmédicos.

O primeiro fator citado – Residênciamultiprofissional – promove a forma-ção conjunta de vários profissionais daárea de saúde, para terem uma atuaçãofutura igual. Por que um médico, apósseis anos de graduação árdua, em umainstituição séria, faria uma provaextremamente concorrida para cursardois anos de Clínica Médica e dis-putaria mercado com outro profissionalde saúde que não investiu, nem mo-netária nem pessoalmente, o mesmo nasua formação?

A maioria das novas instituições deensino de Medicina recém-criadasestão localizadas em regiões comnúmero excessivo de médicos e nãopossuem programas para suprir ademanda de Residência Médica. Por-tanto, demonstram somente o intuito daformação desenfreada de médicos,quando a Residência é consideradapadrão ouro para a especializaçãoconforme o MEC. É de suma im-

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FotoDaniel Silva Pereira

Agrande questão da Resi-dência Médica hoje é afalta de vagas. Com ocrescente número de novas

escolas médicas no país e oscurrículos cada vez mais vagos evoltados para o atendimento geral, omédico tem que buscar uma maneirade manter sua qualidade profis-sional. Esse caminho é a ResidênciaMédica (RM), que acredito de fun-damental importância para o recém-formado.

Um dos problemas enfrentados é abaixa remuneração e, por outro lado, aalta carga de trabalho. Nesse aspecto,estamos no limite do tolerável, tra-

balhamos 60 horas por semana e re-cebemos cerca de 30% do que recebeum trainee de engenharia.

Outro problema grave é a formacomo os hospitais são administrados: oresidente existe para substituir outrosprofissionais. Isso acaba prejudicando atodos, pacientes e médicos: o pacientemuitas vezes é atendido por residentesmal-orientados; o preceptor não é re-munerado pelo seu trabalho; e o médico,em geral, perde postos de trabalho pararesidentes ainda em formação.

Na realidade, a Residência Médicanão é para qualquer hospital. É umprograma para hospitais de excelênciaem sua área, com corpo clínico com-

pleto, que agrega a presença de re-sidentes.

A política em relação aos residentesreflete a realidade da saúde no país. Sópara dar um exemplo: estão sendocriadas casas de parto, sem médicos,para a população sem convênio e quenão pode pagar pelo atendimentoparticular. A grávida é obrigada a ter seufilho sem assistência médica, um sériorisco, que pode levar à morte de mães ecrianças. Postos de saúde sem médicos ereceitas indevidamente prescritas tam-bém fazem parte dessa realidade tãoperigosa para a população.

É nosso dever alertar os políticos e ajustiça sobre tudo isso. Para minimizar

Residência Médica:desafios atuais

André Sediyama – Presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR)

Daniel Silva Pereira – Presidente da Associação Mineira de Médicos Residentes (AMIMER)

portância a avaliação criteriosa danecessidade da abertura de novasescolas médicas e, automaticamente, acriação de programas de RM asso-ciados a ela.

A bolsa mensal tem um cálculocomplexo, mas com resultado simples:remuneração vergonhosa. O valor dovencimento do residente faz com queeste, muitas vezes, procure fontes derenda complementares, o que preju-dica, obviamente, seu aproveitamentonas atividades teórico-práticas e o leva,muitas vezes, a abandonar o programade Residência para ter como se sus-tentar dignamente.

Urge a mobilização dos médicosresidentes em torno de bandeiras comoo ato médico, a CBHPM e o fim daabertura inescrupulosa de faculdadesde Medicina, para a moralização da

essa situação, estamos criando até o meiodo ano um programa de intercâmbio deserviços, o que vai permitir ao residentefazer uma parte da Residência em umhospital de referência. É uma forma detentar homogeneizar a formação comqualidade.

classe médica. É importante aproveitaresse momento em que podemos contarcom o apoio incondicional das enti-dades que nos representam regional e

nacionalmente. Realizar os nossos ide-ais e vencer esses desafios são ini-ciativas essenciais para o bem da saúdepública de Minas e do Brasil.

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Como o sr. acha que a sociedade per-cebe o médico? Essa percepção está mu-dando?

Essa percepção varia com o local, acultura e o tipo de medicina que é feito,mas, fazendo uma leitura mais geral,acho que a forma de a sociedade ver omédico tem mudado de uma maneiramuito rápida, intensa e profunda. Naminha trajetória de atuação nas entidadesde classes, convivendo com todo tipo demédicos e com aqueles que utilizam osserviços, percebemos que a sociedadecobra do médico respostas para neces-sidades que vão além da saúde, envol-vendo desde aspectos sociais e econô-micos até a busca da vida eterna. Na me-dida em que o médico, enquanto pessoafísica ou categoria, não tem conseguidoresponder a todas essas demandas, issocausa uma frustração coletiva, o que temfeito com que a sociedade tenha serelacionado com a categoria de umaforma mais exigente, mais hostil, rei-vindicante.

Como era essa relação antes?Era, digamos assim, mais romântica.

A expectativa da sociedade era menor epodia ser suprida pelo médico, principal-mente com uma postura mais humanista.Isso hoje já não basta. Além de a soci-edade continuar exigindo essa postura, aevolução da tecnologia tem passado afalsa impressão de que a medicina temresposta para tudo. É o mito da infalibi-lidade da ciência, que recai sobre o mé-dico. Acrescente-se também a cobrançacada vez maior de resultados com asnovas formas de trabalho. A questão daexigência não satisfeita, levando muitasvezes a denúncias de supostos erros mé-dicos, produz uma relação quase que deantagonismo da sociedade com o médico.

Como o médico tem lidado com isso?Percebo que ele não tem sabido lidar

com isso de forma satisfatória. A neces-sidade de praticar uma medicina maisatualizada tem feito com que o médicose apegue mais à tecnologia, à ciência,

esquecendo-se do principal, que é a rela-ção entre médico e paciente. Na falênciadessa relação, como em qualquer rela-cionamento humano, o que sobrevive éa irritação e o descontentamento. Entãose pode dizer que nós vivemos hoje umarelação de turbulência com a sociedade.Por outro lado, acho que essa situaçãoreflete um pouco da contemporaneidade,reproduzindo o modelo individualista,competitivo, que faz com que as pessoasnão se aprofundem nas relações. Issojustifica um pouco dessa turbulência, ameu ver, com prejuízo para ambos oslados.

E como o senhor analisa a relaçãomédico-paciente? Os pacientes-clientestambém estão mu-dando?

Não tem comodescontextualizaressa relação da for-ma como a socieda-de vê o médico. Se,por um lado, o mé-dico não tem cuida-do dessa relação, opaciente, tambémpersonagem dessacontemporaneida-de, tem se relaci-onado de forma diferente com o médico,cobrando mais do que ele pode dar, porexemplo. Então não se pode atribuir essafalência a uma questão só médica, porquea relação é dual; se há falência, é dosdois lados.

Como o sr. vê a condição do médicodiante dessa nova realidade?

O médico está em busca de uma novaidentidade, na medida em que ele se vêdestituído daquele lugar que ocupava, dedestaque, de credibilidade, de respeito, desuposto saber, para se transformar em umprestador de serviço do qual se cobramresultados. Eu penso que essa nova iden-tidade – que compatibilize as funções hu-manitárias, de relacionamento transfe-rencial, amoroso, afetivo, de confiabi-

lidade naquela imagem de ser um profis-sional do qual se exigem um grandesaber e resultados – ainda está para seconstruir, e é ela que trará mais confortoe menos frustração para o médico e parasociedade.

Como o sr. insere as condições detrabalho nesse contexto?

Essas certamente é que sofreram amaior transformação. Adentrando nessaótica, vinte anos atrás, a medicina erauma profissão liberal. Hoje, nós temosum mercado de trabalho extremamenteconcentrado – 70% nas mãos do estado,do SUS; em torno de 30% na saúde su-plementar; e menos de 1% em atividadesliberais. Além do aumento do volume de

trabalho, com osmédicos tendo vá-rios vínculos em-pregatícios, as con-dições desse traba-lho, antes realizadonos consultóriosparticulares, tam-bém são as maisadversas.

Qual o resulta-do de toda essapressão nas condi-

ções mentais e físicas dos médicos?Eu não tenho dados disponíveis ago-

ra, mas certamente a incidência dereação aguda ao estresse, nas suas váriasmanifestações, inclusive a dependênciaquímica e o suicídio, é estatisticamentemaior do que na média da sociedade.Querendo ou não o médico tem que darconta de uma sociedade em trans-formação, na qual as relações estão mu-dando, o nível de exigência está au-mentando; tem que dar conta dessa per-da de identidade e isso faz com que onível de ansiedade seja muito grande. Seformos acrescer o sofrimento, a pers-pectiva da finitude, com a qual lidamoso tempo todo, isso tudo faz com que amedicina seja uma profissão altamenteinsalubre.

Diante desse novo cenário, comtransformações em todos os níveis,como o sr. vê o papel do CRMMG e dasentidades médicas?

Normalmente a gente não para muitopara pensar nas transformações que oBrasil viveu nos últimos anos, mas semdúvida elas foram intensas. Há 50 anos, opaís tinha 54 milhões de habitantes, com90% da população vivendo na área rural.Hoje, tem 170 milhões. Sob outro as-pecto, assistimos, nos últimos 15 anos, àabertura para a globalização com umapenetração maciça do capitalismo e dacultura da competição e do consumo nasociedade. Nesses mesmos 15, 20 anos, omercado de trabalho médico, e a relaçãodo médico com a sociedade e com aclientela sofreram mudanças radicais.

Da mesma forma que ele está embusca de uma identidade nova, também arelação com as entidades mudou. Há 50anos a relação do médico com a so-ciedade médica era pautada mais nabusca de opções de cultura e lazer e derelacionamento entre colegas, além doconhecimento científico. Hoje, dentrodessa nova realidade individualista,competitiva, as relações entre médicos jánão são tão amistosas, tão solidárias,fraternas. Isso repercute, sem dúvida, nasua capacidade associativista. As asso-ciações, sindicatos, conselhos passam aser vistos de forma diferente. O médicocomeçou a buscar nas entidades, namaioria das vezes, respostas para suasangústias, suas necessidades, relaciona-das principalmente às condições detrabalho.

Para se moldar a essa nova demandados médicos, as entidades estão revendoseu papel. Eu vejo que hoje a expectativada categoria médica em relação aoCRMMG é que a entidade tenha um perfilautarquista, que garanta condições maisdignas de trabalho, de formação, deremuneração; seja capaz de intermediaressas relações de competições marcadaspelo individualismo e proporcionar ummínimo de harmonia no convívio entremédicos, pacientes, entidades e sociedade.

Maurício Leão

Em busca de uma nova identidade

O psiquiatra Maurício Leão, graduado em 1980 pela UFMG, com formação também em Psicanálise e Filosofia; atual presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas

Gerais (CRMMG) e diretor do Instituto Raul Soares, fala sobre as relações do médico com asociedade, os pacientes e o trabalho, sob a ótica das transformações sociais.

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“A sociedade cobra do médicorespostas paranecessidades que vão além da saúde”

Arquivo CRMMG