trabalho final de gestão ambiental - ecoeficiência

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS ENGENHARIA DE PRODUO PRO 200 GESTO AMBIENTAL PROF.: JOS FRANCISCO DO PRADO FILHO

Ecoeficincia

Aurlio Batista Soares (Escola de Minas/UFOP) [email protected] Cleiton Nazar Silva (Escola de Minas/UFOP) [email protected] Danilo Cuzzuol Pedrini (Escola de Minas/UFOP) [email protected]

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Aurlio Batista Soares Cleiton Nazar Silva Danilo Cuzzuol Pedrini

Ecoeficincia

Trabalho apresentado ao curso de graduao em Engenharia de Produo da Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto para obteno da aprovao na disciplina Gesto Ambiental (PRO-200). Orientador: Prof.: Jos Francisco do Prado Filho

Ouro Preto Escola de Minas UFOP Abril 2006 2

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo definir o conceito de Ecoeficincia, apresentando os seus aspectos gerais e ressaltando a sua importncia para a busca da sustentabilidade por parte das empresas em todo o mundo. Sero tambm demonstrados, de forma genrica, os principais princpios de mensurao da ecoeficincia no universo empresarial e as crticas emergentes acerca deste termo. Por fim sero exemplificados os conceitos apresentados, demonstrando como uma empresa do setor industrial tem buscado ecoeficincia em seus produtos e processos.

Palavras Chave: Ecoeficincia, Indicadores de ecoeficincia, sustentabilidade.

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Sumrio 1. Introduo................................................................................................................. 5 2. O que Ecoeficincia?.............................................................................................. 5 3. Produo Mais Limpa ............................................................................................... 7 4. Medindo a Ecoeficincia ........................................................................................... 8 5. Crticas Ecoeficincia........................................................................................... 11 6. Aplicando a Ecoeficincia....................................................................................... 12 6.1 Gesto Energtica.............................................................................................. 12 6.2 Gesto de gua ................................................................................................. 14 6.3 Gesto de resduos............................................................................................. 15 6.4 Gesto Atmosfrica ........................................................................................... 16 7. Concluso....................................................................................................................17 8. Referncias ............................................................................................................. 18

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1. Introduo A Ecoeficincia um termo relativamente novo: foi utilizado pela primeira vez pelos pesquisadores suos Schaltegger e Sturm, em 1990 (Salgado, 2004). Ao ler pela primeira vez a palavra, logo pensa-se que a Ecoeficincia seja somente eficincia ecolgica, causando a impresso de que sejam apenas gastos para diminuir os impactos ambientais. Porm, isso no totalmente verdade, j que a Ecoeficincia busca, segundo a definio feita pelo World Business Council for Sustainable Development WBCSD (LEHNI, 2000), a oferta de bens e servios a preos competitivos que satisfaam as necessidades dos clientes e ao mesmo tempo reduzam os impactos ambientais causados pela sua produo e utilizao em todo o seu ciclo de vida, respeitando a capacidade de sustentao estimada para o planeta Terra. A ecoeficincia muito importante estrategicamente para uma empresa, j que permite que sejam reduzidos gastos com matrias-prima, energia e gua, permite tambm a preveno de acidentes ambientais e suas conseqentes sanes, alm de conquistar mais consumidores. Uma prtica muito comum para a obteno da ecoeficincia a adoo da Produo Mais Limpa, que j vem sendo aplicada no Brasil e est ganhando cada vez mais adeptos. Ainda importante lembrar que a questo da adoo de indicadores de ecoeficincia muito importante para a melhoria da ecoeficincia das empresas, alm de facilitar a divulgao dos resultados obtidos (SALGADO, 2004).

2. O que Ecoeficincia? Como falado anteriormente, a Ecoeficincia uma estratgia aplicada por diversas empresas visando aumentar a qualidade de seus produtos e diminuir as perdas de matrias-prima, energia e gua, diminuindo assim os seus impactos ambientais, possibilitando uma diminuio dos custos de produo e levando melhoria do desempenho econmico das empresas. Pode-se definir a Ecoeficincia de uma forma geral com a seguinte sentena: criao de mais valor causando menos impacto ambiental. A poluio industrial uma forma de desperdcio e ineficincia dos processos produtivos. Os resduos industriais representam, na maioria dos casos, perdas de matrias-primas e insumos (ABM, 1997 apud RODRIGUES et al, 2003). Na busca pela 5

Ecoeficincia, so necessrias algumas investigaes nos processos produtivos, de forma a detectar ineficincias e falhas para diminuir os desperdcios. Os principais elementos a serem utilizados pelas empresas com vistas a melhorar seu grau de ecoeficincia so: reduo do consumo de energia, reduo do consumo de matrias-prima, reduo da emisso de substncias txicas, otimizao do uso sustentvel de recursos renovveis e aumento da reciclabilidade, prolongamento do ciclo de vida dos produtos, aumento da intensidade de servio (reduo de desperdcios) e agregao de valor aos bens e servios (Michelini et al., 2004 e Lehni, 2000). Esses elementos podem ser agrupados em trs objetivos principais: - reduo do consumo de insumos a ecoeficincia permite a utilizao de um valor timo de matrias-prima, energia e gua. Assim, mais produtos so produzidos utilizando-se menos insumos; - reduo dos impactos ambientais a ecoeficincia estimula o aumento da qualidade dos produtos e a diminuio dos desperdcios ao longo de toda cadeia de valor; - aumento do valor do produto ou servio alm de estimular os dois objetivos citados acima, a ecoeficincia tambm estimula criatividade, inovao e procura por novos caminhos para a produo. Muitas empresas podem apresentar um quarto objetivo: a implementao se um Sistema de Gesto Ambiental (SGA). Assim, a Ecoeficincia caracterizada como um importante fator de vantagem competitiva para as empresas, j que permite a melhoria dos processos produtivos pela aplicao de tecnologias limpas, modificaes do processo, adoo de novas prticas gerenciais, reduo de custos, diminuio de desperdcios, aumento da qualidade dos produtos, melhor aproveitamento do capital investido, melhoria contnua do processo e estmulo ao crescimento (Cagno et al., 2005 e Mosovsky et al., 2000). A Ecoeficincia, tambm permite a conquista de uma importante fatia do mercado consumidor, sendo um critrio de escolha de produtos dentre os semelhantes, j que a preocupao com os impactos ambientais cada vez mais constante entre os consumidores. De acordo com HONKASALO (2005), os fatores essenciais para promover a ecoeficincia em uma empresa so: foco em melhorias do processo a curto e longo prazo, exigncias consistentes, flexibilidade no desenvolvimento de solues, direcionadores de aprendizado e identificao de oportunidades. 6

Segundo o Business Council for Sustainable Development (LEHNI, 2000), as certificaes ISO 14000 e EMAS so as abordagens mais recentes para obteno da ecoeficincia, tambm foram identificadas algumas ferramentas estratgicas como o Balanced Scorecard (Carto de Pontuao Equilibrado) e Value Based Management (Gesto Baseada no Valor). No Brasil, a abordagem mais utilizada chama-se Produo Mais Limpa.

3. Produo Mais Limpa No Brasil, grandes empresas como CSN, CST e Petrobras j esto colhendo as vantagens da implantao da ecoeficincia. O grande problema a adoo da ecoeficincia em mdias, pequenas e microempresas. Para solucionar este problema, segundo a reportagem Produo Mais Limpa e Lucratividade da Gazeta Mercantil de 12 de agosto de 2005, um passo importante j foi dado: a criao da Rede Brasileira de Produo Mais Limpa, com apoio do Sebrae e coordenao do Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel (CBEDS), que tem por objetivo a difuso do conceito de ecoeficincia e a metodologia de aplicao da Produo Mais Limpa. A Produo Mais Limpa (P+L) um conjunto de tcnicas produtivas, que significam a aplicao contnua de uma estratgia econmica, ambiental e tecnolgica integrada aos processos e produtos, fortalecendo economicamente a indstria atravs da preveno da poluio. Explicando melhor, a P+L uma ferramenta completa para a otimizao do processo produtivo e melhoria contnua do processo, englobando: qualidade, planejamento, segurana, meio ambiente, design, sade ocupacional e eficincia do sistema produtivo (Elias et al., 2004). Em termos quantitativos, segundo a reportagem Produo Mais Limpa e Lucratividade da Gazeta Mercantil de 12/08/05, na fase experimental de implementao da Rede Brasileira de Produo Mais Limpa em cerca de 200 empresas, obteve-se uma reduo de R$18 milhes por ano nos gastos com matria-prima, gua e energia. Os benefcios ambientais foram: reduo de consumo de 6 milhes de toneladas de matrias-prima por ano; economias de: 350 mil m3/ano de gua, 3 milhes de Kwh/ano de energia eltrica e 1 milho de m3/ano de gs natural. As redues de poluio foram: 5,5 toneladas de gases, 167 mil m3/ano de efluentes lquidos industriais,

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911 toneladas/ano de resduos slidos e 3,5 toneladas/ano de resduos perigosos, alm da reciclagem de 230 toneladas/ano de resduos diversos.

4. Medindo a Ecoeficincia Segundo MICKWITZ et al. (2005) a ecoeficincia, como conceito utilizado no universo empresarial, tem suas razes no mundo dos negcios, onde tem sido descrita como uma combinao entre a eficincia econmica e ambiental combinadas genericamente pela razo: Ecoeficincia = Valor econmico (agregado ao produto) Impacto ambiental (causado) Essa simples frmula apresenta condies para que as empresas calculem seu grau de ecoeficincia. Atravs da anlise da frmula, possvel perceber que a Ecoeficincia pode ser alcanada atravs da reduo dos impactos ambientais causados pela atividade enquanto se mantm ou se aumenta o valor do produto ou servio produzido (ERKKO et al., 2005). A grande questo a ser respondida ento, tem sido como determinar os ndices que apontam o coeficiente de ecoeficincia das empresas. A preocupao relativamente recente acerca do tema, aliada s especificidades de cada setor econmico tende a complicar a busca por uma padronizao da forma de se abordar o conceito e a medida da ecoeficincia. Mesmo assim, a definio dos indicadores de ecoeficincia se faz necessria para que a avaliao e o controle da ecoeficincia na empresa sejam possveis. Segundo SALGADO (2004), estes indicadores so valores que nos indicam ou fornecem informaes acerca de um fato ambiental especfico. A partir de um conjunto destes indicadores possvel se fazer uma avaliao efetiva da razo de ecoeficincia de um determinado empreendimento ou empresa. Em ultima anlise pode-se considerar os indicadores de ecoeficincia como ferramentas de tomada de deciso, que norteiam as aes focadas na busca da ecoeficincia. Dessa forma se faz necessrio um mecanismo de monitoramento ambiental eficaz, capaz de identificar os ndices que funcionaro como indicadores de eficincia ambiental por parte de determinada empresa e/ou processo. Muitas vezes isso se d pela existncia e devida formalizao dos procedimentos de um sistema de gesto ambiental 8

eficiente. Em conseqncia da busca de padronizao na forma de se medir ecoeficincia surgiram regras relacionadas aos indicadores ambientais. Como exemplo, podemos citar a norma ISO 14031 que regula a aplicao de sistemas de avaliao de desempenho ambiental. Dentro da norma ISO 14031 so definidas as metodologias para a obteno de indicadores de desempenho ambiental que so divididos as seguintes categorias: - IDA (Indicadores de desempenho ambiental): Estes se dividem em indicadores de desempenho operacional (IDO) e indicadores de desempenho gerencial (IDG); - ICA (indicadores de condies ambientais). Ainda assim, MLER & STURM (2001) afirmam que difcil estabelecer padres de comparabilidade na hora de avaliar o comportamento voltado para a ecoeficincia no ambiente empresarial. E sem parmetros de comparao fica impossvel avaliar precisamente a evoluo da eficincia ambiental no decorrer do tempo e determinar padres competitivos destes ndices. Nas poucas reas onde metodologias j foram desenvolvidas e aplicadas, seus conhecimentos ainda no tm sido amplamente divulgados. Cada vez mais, vem sendo dada importncia ao conceito de ecoeficincia, por parte das empresas, como forma de obter ganhos estratgicos e econmicos em processo. Indicadores de ecoeficincia vem sendo progressivamente incorporados pelas empresas, medida que lideres empresariais ficam conscientes de que o comportamento ecoeficiente, alm de diminuir os impactos das atividades empresariais no meio-ambiente, pode aumentar o progresso produtivo (SALGADO, 2004). Existe um consenso na literatura relacionada de que, apesar das diferentes abordagens para a mensurao da ecoeficincia por parte das empresas, em geral estas cobrem essencialmente os seguintes aspectos: consumo de energia, consumo de gua, emisso de gases de efeito estufa, uso de substncias nocivas camada de oznio, consumo de materiais e volume de resduos gerados. O que difere em muitos casos os resultados obtidos a importncia dada por determinada empresa a cada uma desses aspectos dentro de sua rea de atuao. Dessa maneira, os indicadores de ecoeficincia so calculados combinando-se as variveis econmicas e ambientais. Mesmo assim, segundo BEN & LIMA (2004) informaes sobre a gesto de custo no so, na maioria das vezes, utilizadas para apoiar as decises tomadas no mbito ambiental. Freqentemente, decises ambientais 9

so tomadas apenas para cumprir os regulamentos ambientais e no com vistas a melhorias genunas a esse respeito dentro do prprio processo produtivo. A implantao de instrumentos de mensurao dos custos ambientais tm apresentado resultados considerveis em empresas de diversos setores do mundo (BEN & LIMA: 2004). Sendo assim, apenas atravs da atribuio de custos ambientais aos produtos e processos possvel revelar as fontes desses custos e ajudar a identificar suas causas fundamentais, de maneira que possam ser otimizados e controlados. dessa maneira que se pode obter numa avaliao mais aprofundada valores que exprimem ndices de desempenho ambiental que se aproximam da realidade da empresa. Em pases em vias de desenvolvimento, a eficincia na utilizao dos recursos na produo industrial geralmente mais baixa do que em pases industrializados. Mesmo assim nestes pases, seja em funo de legislaes, rgos fiscalizadores ou em decorrncia de uma conscientizao por parte dos gestores, os custos relativos a questes ambientais apresentam um crescimento na estrutura de gastos das organizaes (BEN & LIMA, 2004). Para as informaes obtidas atravs dos indicadores de desempenho ambiental resultem em aes efetivas, os indicadores de ecoeficincia devem ser incorporados, primeiramente, nos relatrios ambientais da prpria empresa e, posteriormente, serem parte dos relatrios financeiros (ERKKO et al., 2003). S assim eles representaro efetivamente a combinao de variveis econmicas e ambientais resultando em um instrumento de auxlio de tomada de deciso no campo ambiental que trar ganhos reais para a empresa. Apesar dos aspectos sociais serem parte essencial do conceito de desenvolvimento sustentvel, eles se inserem necessariamente no conceito de ecoeficincia. O foco est concentrado principalmente em obter ganhos em processo por parte das empresas, resultando em ganhos financeiros e possveis ganhos estratgicos. Mesmo assim reflexos sociais podem ser alcanados a partir da racionalizao da utilizao de recursos e na emisso de resduos, trazendo benefcios maiores do que aqueles objetivados a priori pela busca da ecoeficincia. Mesmo evidenciada as vantagens da adoo de uma estratgia voltada para a busca da ecoeficincia por parte das empresas, seus princpios ainda configuram uma rea pouco divulgada do conhecimento. ERKKO et al. (2003), atravs de um estudo que envolveu os balanos de atividades de controle ambiental de 40 empresas da Finlndia, 10

identificou ainda um incipiente conhecimento das questes relacionadas ecoeficincia. O objetivo do estudo era identificar se as empresas pesquisadas apresentavam o termo ecoeficincia em seus relatrios de controle e divulgao de dados ambientais e se os indicadores relevantes na medio da ecoeficincia eram realmente apresentados e como eram apresentados. Fica assim evidente que mesmo em pases com sistemas de legislao ambiental avanados, muito se tem a progredir na busca pela ecoeficincia.

5. Crticas Ecoeficincia Ao mesmo tempo em que o conceito de ecoeficincia vem sendo amplamente divulgado, ele tambm sofre diversas crticas. Existem correntes de pensamento, incentivadas principalmente por economistas, que apontam diversas falhas no conceito vigente de ecoeficincia e questionam sua efetividade. Muitas vezes iniciativas voltadas para a ecoeficincia so consideradas meramente armas publicitrias, se desvirtuando de seu propsito original. Economistas tm sido, nos ltimos anos, impertinentes o suficiente a ponto de apontar que para cada ganho em eficincia energtica adquirido, maior vai ser o uso das fontes de energia (SANNE, 2000). No fim, ao invs de racionalizar o uso de recursos e a gerao de resduos por parte das empresas com vistas a poupar os recursos naturais do planeta, os ganhos obtidos vem representar uma forma de gerar maior eficincia produtiva, sem ganhos reais para o ambiente. Ao mesmo tempo, a sociedade tambm se v as voltas com informaes difusas acerca do tema. Por um lado os cidados so pressionados a mostrar prudncia no consumo de bens como forma de no forar os limites da natureza. Por outro lado rgos governamentais fazem diversos esforos para expandir a produo e garantir o crescimento econmico. Esse conflito de interesses est aliado, muitas vezes, falta de uma postura bem definida por parte das empresas sobre os objetivos a serem atingidos com a adoo de prticas ecoeficientes o que gera tanta desconfiana acerca do tema. Dessa forma ocorre o que ficou conhecido como o efeito rebote (rebound effect) que atesta que o uso de maior eficincia tecnolgica no uso de recursos (naturais, energticos, etc.), correspondendo a uma queda de preos desses recursos/servios, ir criar uma demanda crescente de tais recursos/servios. Isso pode, ento, anular o ganho inicial. nessa particularidade do efeito rebote que os crticos da utilizao do termo ecoeficincia como diferenciais estratgicos, encontram argumento para contestar sua 11

efetividade em dar ao meioambiente uma margem de segurana no decorrer da busca pelo desenvolvimento sustentvel por parte das empresas. Uma das justificativas para isso est na evoluo tecnolgica acumulada no decorrer dos sculos. Enquanto as melhorias em eficincia/produtividade em termos anuais ocorrem de forma moderada, os efeitos acumulados por elas no decorrer de dcadas so surpreendentes. Sendo assim, so estes efeitos que impedem que o ambiente seja poupado atravs da busca pela ecoeficincia. Em respostas ao ceticismo que cerca o conceito de ecoeficincia, empresrios afirmam que so as diferentes interpretaes dadas definio apresentada pelo WBCSD (Conselho empresarial mundial para o desenvolvimento sustentvel) que geram tal confuso. CT et al. (2005) afirma que conveniente aos crticos considerar apenas as conseqncias do efeito rebote sobre os recursos naturais, sem mencionar que dentro dos objetivos primordiais da ecoeficincia est proporcionar aos seres humanos qualidade de vida reduzindo os impactos ambientais. Ficam assim alheios ao aumento de consumo gerado pela idia dos consumidores de que a partir do momento que consomem produtos mais eficientes estes podem ser consumidos em maiores quantidades.

6. Aplicando a Ecoeficincia A CST, localizada na cidade de Serra ES, a maior fornecedora de placas de ao do mundo. Detm 12% do mercado internacional desse produto e, em 2005, foi a quarta maior exportadora do Brasil. A empresa certificada pela ISO-14001 e apresenta indicadores ambientais entre os melhores do mundo, sendo auto-suficiente em energia eltrica (CST, 2006). O estudo de caso da Companhia Siderrgica Tubaro (CST) est baseado nos estudos feitos por RODRIGUES et al (2003) e informaes disponveis no prprio site da empresa (CST, 2006). 6.1 Gesto Energtica O trabalho de RODRIGUES et al (2003) analisou o aproveitamento da energia potencial existente no gs BFG gerado no Alto Forno I. Basicamente este aproveitamento consiste na transformao da energia potencial remanescente no gs transferido, onde so aproveitados a presso e velocidade do volume do gs. 12

Na Companhia Siderrgica de Tubaro as centrais termoeltricas utilizam-se de gases oriundos dos processos de fabricao do ao (coqueria, aciaria, CDQ e alto forno), que, ao invs de serem lanados para atmosfera provocando poluio ambiental, so queimados em caldeiras, gerando de energia eltrica. Uma parte significativa desta gerao destaca-se por no advir da queima do gs e sim do aproveitamento de caractersticas fsicas do gs de Alto-Forno para a gerao de energia eltrica. O BFG produzido no Alto-Forno utilizado no prprio Alto-Forno para pr-aquecer o ar nos regeneradores, e o excedente utilizado para gerao de energia. A CST investiu 13,5 milhes de dlares para a instalao de uma TRT (Turbina de Topo de Alto-Forno) no Alto-Forno I, para gerar energia eltrica atravs do gs BFG, se aproveitando de caractersticas termodinmicas como: temperatura, presso e volume. Anteriormente esta energia era desperdiada na necessria reduo da presso do gs BFG para armazenamento e distribuio, gerando rudo e aquecimento na vlvula responsvel pela funo de controlar a presso no topo do Alto-Forno I, denominada Septum Valve. Este processo de recuperao de energia o primeiro a ser utilizado nas Amricas, e pode atingir valores prximos a 20,2 MW (RODRIGUES et al, 2003). A CST considera a TRT como um item estratgico de eficincia energtica, j que a empresa conseguiu auto-suficincia em energia eltrica. Nos grficos a seguir, temos a gerao de energia eltrica da CST, de 2000 a 2004:

Graf. 1 Gerao Interna de Energia Eltrica (CST, 2006).

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Observa-se do grfico 1, que no perodo em questo, com exceo de 2003 e da suave queda em 2002, em todos os anos foram registrados elevao da gerao de energia eltrica na empresa. Analisando o grfico 2, possvel observar que, entre 2000 e 2002, a CST vendeu energia a ESCELSA (Esprito Santo Centrais Eltricas) e, em 2004, conseguiu ser auto-suficiente em energia eltrica:

Graf. 2 Razo entre Gerao e Consumo de energia (CST, 2006) Na Gesto energtica, a empresa obteve os seguintes resultados: auto-suficincia em energia eltrica e possibilidade de venda do excedente, reduzindo assim os custos de produo e pagando o investimento inicial em 3,3 anos, relao entre investimento realizado e a reduo de consumo (US$ 794.117,00/MW); reduo do nvel de rudo e emisso de resduos, melhor controle operacional da presso de topo do Alto-Forno 1; 6.2 Gesto de gua A localizao litornea privilegiada da empresa permite ter o mar como fonte de 96% de toda a gua captada pela Companhia. So captadas mais de 46 mil m/h de gua, que utilizada para o resfriamento dos equipamentos (CST, 2006). De acordo com o grfico 3, por ter conseguido aumentar o seu ndice de recirculao de gua, que era de 94,1% em 2000 para 97,4% em 2004, a empresa teve seu consumo especfico de gua doce reduzido em 0,2 m/ tonelada de ao, neste mesmo perodo. Tal desempenho levou a CST, em 2004, ser declarada vencedora nacional categoria Indstria, em

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reconhecimento da Gesto do Uso Racional de guas na CST, englobando as polticas de conservao e o uso racional da gua na Companhia.

Graf. 3 ndices de Recirculao e Consumo Especfico de gua Doce (CST, 2006) 6.3 Gesto de resduos A CST destaca-se mundialmente pelos seus altos ndices de reaproveitamento dos resduos industriais: a empresa adota a reciclagem para uso interno e a venda dos chamados co-produtos (escria, acerita e ferro gusa de formato irregular), utilizados para diversas aplicaes industriais (CST, 2006). Em 2004, a empresa obteve um lucro adicional de US$ 28 milhes de dlares com a venda de co-produtos, obtendo um ndice de comercializao e reciclagem de 96%. Assim, dado ao bom desempenho que tem obtido nos ltimos anos, a empresa recebeu vrios prmios, dentre eles, na categoria Prmio Findes Consuma (2004) obteve o primeiro Lugar Gesto de Resduos atravs do trabalho "Gesto de Resduos e Coprodutos como garantia do Desempenho Ambiental da CST", grficos 4 e 5..

Graf. 4 Destinos dos Resduos Industriais (CST, 2006).

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Graf. 5 ndices de Reciclagem e comercializao (CST, 2006). 6.4 Gesto Atmosfrica A CST consolidou os bons resultados de Desempenho Ambiental relativo ao controle de suas emisses atmosfricas, obtendo ndices de taxas de emisso comparveis s Os ndices obtidos pela empresa foram devido a: equipamentos de controle ambiental (Sistemas End of Pipe), investimentos em novas tecnologias e sistemas, o aperfeioamento da performance dos sistemas de monitoramento contnuo de chamins, em conjunto com o elevado grau de conscientizao e comprometimento de todos os empregados e parceiros da Companhia. Em 2004, a empresa manteve a taxa especfica de emisso de material particulado obtida em 2003 (0,35 kg/tonelada de ao lquido), ndices cerca de 35% menores que o registrado em 2000. Em funo da visvel melhora quanto a emisso especfica no perodo que vai de 2000 a 2003, bem como pela manuteno desse ndice em 2004, a CST obteve as seguintes premiaes: PRMIO SAMARCO ABM (Trabalho: Caracterizao das Fontes Contribuintes de Material Particulado na Atmosfera da Regio da Grande Vitria, 2002); Prmio Findes/Consuma 2003 (1 Lugar Qualidade do Ar: Aplicao de Modelo Matemtico para Reduo de Emisses Atmosfricas na Aciaria da CST e 1 Lugar Conservao dos Insumos de Produo: Modernas Tecnologias Aplicadas na Determinao de Emisses Fugitivas de Material Particulado da CST); Prmio Ecologia 2003 - Categoria Empresarial (Aplicao de Modelo Matemtico para Reduo de Emisses Atmosfricas nos Convertedores da Aciaria da CST); Prmio Findes Consuma 2004 (1 Lugar Qualidade do Ar: "A Eficincia dos Monitores Contnuos da CST no Controle de Emisses Atmosfricas"). melhores usinas siderrgicas da Europa e sia.

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Graf. 6 Taxa de Emisso Especfica de Material Particulado x Produo Ao Lquido (CST, 2006) No grfico 7, nota-se que a taxa de emisso especfica de dixido de carbono oscilou de 2000 a 2003 sempre abaixo da taxa de 1999, porm, a partir de 2003 observase um aumento que tornou-se mais significante em 2004, quando chegou a ultrapassar a marca 1999 que era de 1840, saltando para 1850 kg de dixido de carbono/ tonelada de ao lquido. Assim, da anlise dos ltimos dois anos dos grficos 6 e 7, pode-se afirmar que a empresa registrou um ligeiro aumento na emisso de CO2, em relao ao aumento da produo, j que a emisso de CO2 aumentou em 5%, ao passo que a produo lquida aumentou 3,2%:

Graf. 7 Taxa de Emisso Especfica de Dixido de Carbono - CO2 (CST, 2006) No difcil notar, que mesmo muito distante da ecoeficincia no sentido literal, a CST possui uma orientao estratgica de reforar seu compromisso com os princpios de melhores prticas de desenvolvimento sustentvel como diferencial competitivo, e, para tanto, apia-se na eco-eficincia e na responsabilidade social. Neste ponto, dada a significativa elevao no que se refere taxa de emisso especfica de CO2 - dentre os 17

gases que devem ser controlados segundo o protocolo de kyoto (CO2, CH4, N2O, HFC, PFC e SF6), o CO2 o principal causador do efeito estufa - em 2003 e 2004, importante que a empresa se aperceba que dentre as estratgias estabelecidas no Protocolo de Kyoto para a reduo mundial das emisses de CO2, est o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), instrumento que permite uma interao entre os pases desenvolvidos e os pases em desenvolvimento para a obteno de Crditos Carbono, gerados em funo da reduo dos gases responsveis pelo efeito estufa. Desse modo, a CST precisa continuar a buscar o desenvolvimento de aes que empregam tecnologias limpas voltadas para a reduo das emisses de CO2, participando do esforo mundial de minimizar a tendncia de aquecimento global decorrente do aumento do efeito estufa. 7. Concluso A ecoeficincia estrategicamente importante para as empresas, j que permite um aumento da eficincia do sistema produtivo e do uso dos recursos, o que leva reduo dos custos de produo e dos impactos ambientais, agregando valor aos produtos e aumentando o mercado da empresa. Todos esses aspectos levam a um conseqente aumento dos lucros da empresa. O uso dos indicadores representa um passo importante para medir e estabelecer metas a serem atingidas no sentido de se tornar uma empresa ecoeficiente. Somente atravs do estabelecimento de uma estratgia corporativa focada na melhor utilizao de recursos que ser possvel obter o comprometimento necessrio, por parte de todos os nveis das organizaes, para o controle de desperdcios que realmente poupe o ambiente dos impactos da utilizao de seus recursos e da gerao de resduos diversos. Com o estudo de caso, foi possvel perceber as vantagens da ecoeficincia para uma empresa, nesse caso a CST, j que a empresa conseguiu diminuir seus impactos ambientais, alm de diminuir os custos de produo (auto-suficincia em energia eltrica, reduo de suas emisses de resduos, aumento da reciclagem e da venda de coprodutos). Destaca-se ainda que pela venda de co-produtos e a possibilidade de venda de energia eltrica, a CST tem um lucro adicional em suas operaes.

8. Referncias 18

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