ecoeficiÊncia em operaÇÕes de empresas pelo uso …

110
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO FELIPE AUGUSTO TORRES ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA São Paulo 2019

Upload: others

Post on 20-Oct-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

FELIPE AUGUSTO TORRES

ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO

DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA

São Paulo

2019

Page 2: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

FELIPE AUGUSTO TORRES

ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO

DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA

Trabalho Aplicado apresentado à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação

Getulio Vargas, como requisito para a obtenção do título

de Mestre em Gestão para a Competitividade.

Linha de pesquisa: Sustentabilidade

Orientadora: Profa. Dra. Annelise Vendramini

São Paulo

2019

Page 3: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

Torres, Felipe Augusto.

Ecoeficiência em operações de empresas pelo uso de geração distribuída fotovoltaica / Felipe Augusto Torres. - 2019.

110 f.

Orientador: Annelise Vendramini Felsberg.

Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Empresas - Aspectos ambientais. 2. Energia - Fontes alternativas. 3. Geração de energia fotovoltaica. 4. Desenvolvimento sustentável. I. Felsberg, Annelise Vendramini. II. Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Título.

CDU 620.91(81)

Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-

010191/O

Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP

Page 4: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

FELIPE AUGUSTO TORRES

ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO

DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA

Trabalho Aplicado apresentado à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação

Getulio Vargas, como requisito para a obtenção do título

de Mestre em Gestão para a Competitividade.

Linha de pesquisa: Sustentabilidade

Data da aprovação

28/08/2019

Banca examinadora:

________________________________

Profa. Dra. Annelise Vendramini (Orientadora)

FGV-EAESP

________________________________

Profa. Dra. Katia Silene de Oliveira Maia

Universidade Paulista

________________________________

Prof. Dr. Jorge Juan Soto Delgado

FGV-EAESP

Page 5: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

Dedico este trabalho à Natália e à Lorena.

Page 6: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

AGRADECIMENTOS

Agradeço profundamente à minha esposa e à minha filha, por terem seguido comigo

nesta jornada. Obrigado por suportarem as constantes ausências e por conseguirem, sempre, me

apoiar quando precisava. Era no carinho de vocês duas que eu recobrava as forças.

A minha mãe que, por meio do pedido de “atenção, disciplina e capricho” todos os dias

na porta da escola, me moldou e me faz alcançar tudo. Serei sempre grato por tudo o que fez e

continua fazendo por mim.

Ao Álvaro, por ser sempre um grande amigo, dando suporte e incentivando para os

passos neste mestrado, desde a opção até o final do trabalho. Obrigado pelas inúmeras conversas

e por sempre me falar: “Você aguenta!”.

Aos Seis, o grupo de amigos que eu me ausentei pelo período de todo o mestrado, espero

poder recompensar esta ausência. Em especial ao Wladimir, por me emprestar inúmeras vezes

sua casa para eu produzir este trabalho.

À Profa. Dra. Annelise, minha orientadora, que sempre que eu estava em uma

encruzilhada do trabalho, me injetava ânimo e me propunha ótimas soluções.

Aos professores que tive ao longo dessa jornada, as discussões foram engrandecedoras

em todos os sentidos!

A Anita, Marina e Caroline, a trinca de damas com ímpeto para tocar as inúmeras

reuniões e discussões sobre geração distribuída.

Aos entrevistados, todos com conhecimento e dedicação pelo tema de energias

renováveis, que sabem como viabilizá-las dentro de um ambiente de incertezas e instabilidades,

vocês fazem a diferença neste tema em contexto nacional.

À T2, um agradecimento especial. Não há palavras para descrever a honra e a

experiência transformadora que foi poder compartilhar esse período de minha vida com vocês.

A sintonia, o respeito e o carinho mútuo e quase instantâneo de toda a turma foram uma dádiva

que perdurou por todo o curso e que levarei para o resto da vida.

Page 7: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

“O sucesso consegue-se com decisão,

confiança, persistência e não, com desânimo,

indecisão e lamúrias.”

(Ignacy Jan Paderewski)

“Os melhores presentes não vêm em caixas.”

(Bill Watterson, 1988)

Page 8: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

RESUMO

O trabalho tem por objetivo identificar os motivadores e as barreiras para a adoção da geração

distribuída fotovoltaica por empresas que atuam com unidades de negócio descentralizadas no

Brasil, como forma de aumentar a ecoeficiência de suas operações e a contribuição que as

empresas podem gerar para a expansão das energias renováveis na matriz energética pela

adoção da modalidade. Por meio do referencial teórico dos conceitos de ecoeficiência, pretende-

se analisar qual o papel da geração distribuída fotovoltaica com as práticas de empresas com a

ecoeficiência e como a modalidade converge com compromissos para a redução dos impactos

de suas operações no meio ambiente, além da obtenção de benefícios financeiros pelo uso de

fontes renováveis de energia. Pelo lado da participação das empresas na modalidade, pretende-

se explorar qual a relevância e as contribuições que as empresas que já se utilizam a geração

distribuída fotovoltaica desempenham no cenário energético do Brasil e o que as motivou a

buscar a modalidade. Da mesma forma, analisa-se as barreiras que foram encontradas para a

utilização. Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, por meio do uso de entrevistas

semiabertas, conduzidas junto a três empresas que utilizam de maneira relevante a geração

distribuída fotovoltaica e uma empresa que pretende utilizar a modalidade ainda em 2019.

Identificou-se quatro barreiras e seis motivadores principais para a adoção da modalidade,

sendo que a legislação e a regulação aplicáveis à modalidade figura como a principal força para

a expansão ou estagnação da geração distribuída fotovoltaica, seja por meio da regulação da

atuação e obrigações das concessionárias de energia, seja por incertezas quanto ao futuro do

sistema de regulação, custos e incentivos ao net-metering no país.

Palavras-chave: Ecoeficiência. Energias renováveis. Geração distribuída. Energia

fotovoltaica. Motivadores e barreiras.

Page 9: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

ABSTRACT

The objective of this paper is to identify the motivators and barriers for the adoption of

photovoltaic distributed generation by companies that operate with decentralized business units

in Brazil, as a way to increase the eco-efficiency of their operations and the contribution that

companies can generate to the expansion of renewable energies in the Brazilian energy matrix

by adopting the modality. Through the theoretical framework of the concepts of ecoefficiency,

the paper aimed to analyze the role of distributed photovoltaic generation with the practices of

companies with ecoefficiency and how the modality converges with the commitments to reduce

the impacts of their operations on the environment and achieve financial benefits from the use

of renewable energy sources. Regarding the participation of companies in the modality, it was

intended to explore what is the relevance and contributions that companies that already use

photovoltaic distributed generation play in the energy scenario in Brazil, what motivated them

to seek the modality and the barriers that were found. A qualitative research was developed

through the use of semi-open interviews conducted with three companies that use photovoltaic

distributed generation in a relevant way and one company that intends to use the modality still

in 2019. Four barriers and six main motivators for the adoption of the modality were identified,

and the legislation and regulation applicable to the modality appears as the main force for the

expansion or stagnation of photovoltaic distributed generation, either by regulating the

operation and obligations of the concessionaires or because of the uncertainty about the future

of the net metering regulatory system, costs and incentives in the country.

Keywords: Ecoefficiency. Renewable energy. Distributed generation. Photovoltaics.

Motivators and barriers.

Page 10: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACR .......................................... 31

Figura 2 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL ........................................... 31

Figura 3 – Fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída ......................................... 33

Figura 4 – Exemplo de painéis fotovoltaicos ........................................................................... 37

Page 11: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Conexões em geração distribuída .......................................................................... 34

Gráfico 2 – Potência instalada por classe de consumidor (kW) ............................................... 38

Gráfico 3 – Número de conexões em geração distribuída fotovoltaicas por classe de consumo

.................................................................................................................................................. 39

Gráfico 4 – Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe de consumo (kW)

.................................................................................................................................................. 40

Page 12: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Motivadores para a adoção de ecoeficiência ......................................................... 26

Quadro 2 – Barreiras para a adoção de ecoeficiência ............................................................... 27

Quadro 3 – Comparação entre grandes usinas e usinas de geração distribuída fotovoltaicas .. 38

Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração

distribuída por empresas ........................................................................................................... 44

Quadro 5 – Investigação empírica ............................................................................................ 46

Quadro 6 – Itens abordados na pesquisa .................................................................................. 47

Quadro 7 – Documentos utilizados na análise.......................................................................... 48

Quadro 8 – Empresas e entrevistados ....................................................................................... 49

Quadro 9 – Síntese do estudo de temas da empresa ................................................................. 53

Quadro 10 – Síntese do estudo de temas da empresa Império ................................................. 63

Quadro 11 – Síntese do estudo de temas da empresa Cárpatos ................................................ 72

Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única .......................................... 81

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria ................... 94

Page 13: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Conexões por tipo de consumo ............................................................................... 34

Tabela 2 – Conexões e potência instalada por fonte ................................................................ 35

Tabela 3 – Projeção de crescimento anual de mercado em potência ........................................ 41

Tabela 4 – Potência instalada por trimestre (kW) .................................................................... 41

Tabela 5 – Evolução de potência instalada (kW) por classe de acesso ao sistema de geração

distribuída fotovoltaica de clientes comerciais ......................................................................... 42

Tabela 6 – Empresas com maior potência instalada em geração distribuída fotovoltaica

comercial .................................................................................................................................. 42

Page 14: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ACL Ambiente de Contratação Livre

ACR Ambiente de Contratação Regulado

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

B3 Brasil Bolsa Balcão

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais

DJSI Dow Jones Sustainability Index (Índice Dow Jones de Sustentabilidade)

EPE Empresa de Pesquisas Elétricas

ESG Environmental, social, and governance

GWh Gigawatt-hora

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial

kWh Quilowatt-hora

kWh/m² Quilowatt-hora por metro quadrado

MG Minas Gerais

MMA Ministério do Meio Ambiente

MW Megawatt-hora

ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

ONU Organização das Nações Unidas

PRSA Política de Responsabilidade Socioambiental

SGA Sistema de Gestão Ambiental

SIN Sistema Interligado Nacional

UC Unidade de Consumo

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

Page 15: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 17

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 23

2.1 EFICIÊNCIA, COMPETITIVIDADE E ECOEFICIÊNCIA ....................................... 23

2.1.1 Barreiras para adoção de ecoeficiência por empresas ............................................ 27

2.1.2 A ecoeficiência em empresas no Brasil ..................................................................... 28

2.1.3 Motivadores e barreiras para a adoção de ecoeficiência em energia por empresas .

...................................................................................................................................... 29

2.2 O CONTEXTO BRASILEIRO DE ENERGIA ........................................................... 30

2.2.1 Geração distribuída no Brasil .................................................................................... 32

2.2.2 Geração distribuída de energia solar no Brasil ....................................................... 36

2.3 BARREIRAS PARA A ADOÇÃO DE ENERGIA SOLAR ....................................... 39

2.3.1 O uso de energia solar por empresas ........................................................................ 39

2.4 QUADRO RESUMO DA REVISÃO DE LITERATURA .......................................... 42

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 46

3.1 FORMULAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................... 47

3.2 SELEÇÃO DOS CASOS ............................................................................................. 49

4 ESTUDO DE CASO DAS EMPRESAS ................................................................... 50

4.1 EMPRESA: AMÉRICA ............................................................................................... 50

4.1.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 50

4.1.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 50

4.1.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 51

4.1.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 51

4.1.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 52

4.1.2 Análise do estudo de caso da empresa América ....................................................... 54

4.1.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 54

4.1.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 54

4.1.2.3 Cadeia de Suprimentos ................................................................................................. 56

4.1.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 56

4.1.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 56

4.1.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 57

4.1.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa América ...................................................... 58

4.2 EMPRESA: IMPÉRIO ................................................................................................. 59

Page 16: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

4.2.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 59

4.2.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 59

4.2.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 61

4.2.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 61

4.2.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 62

4.2.2 Análise do estudo de caso empresa Império ............................................................. 63

4.2.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 64

4.2.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 64

4.2.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 65

4.2.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 66

4.2.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 66

4.2.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 67

4.2.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Império ....................................................... 68

4.3 EMPRESA: CÁRPATOS ............................................................................................. 69

4.3.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 69

4.3.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 69

4.3.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 70

4.3.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 70

4.3.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 71

4.3.2 Análise do estudo de caso empresa Cárpatos ........................................................... 73

4.3.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 73

4.3.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 73

4.3.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 74

4.3.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 74

4.3.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 75

4.3.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 75

4.3.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Cárpatos ...................................................... 76

4.4 EMPRESA: PEDRA ÚNICA ....................................................................................... 77

4.4.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 77

4.4.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 78

4.4.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 78

4.4.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 79

4.4.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 80

4.4.2 Análise do estudo de caso empresa Pedra Única ..................................................... 82

Page 17: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

4.4.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 82

4.4.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 83

4.4.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 83

4.4.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 84

4.4.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 84

4.4.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 85

4.4.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Pedra Única ................................................ 85

5 RESULTADOS ........................................................................................................... 88

5.1 POLÍTICA REGULATÓRIA OU PÚBLICA .............................................................. 88

5.2 CONDIÇÕES DE MERCADO .................................................................................... 89

5.3 DISPONIBILIDADE DE FORNECEDORES ESPECIALIZADOS ........................... 90

5.4 EFICIÊNCIA DE OPERAÇÕES ................................................................................. 90

5.5 VENDAS ...................................................................................................................... 91

5.6 ORGANIZACIONAL .................................................................................................. 91

5.7 QUADRO RESUMO DOS MOTIVADORES E DAS BARREIAS ........................... 93

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 99

7 CONTRIBUIÇÃO, LIMITAÇÃO E SUGESTÃO PARA ESTUDOS FUTUROS ..

.................................................................................................................................... 102

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 103

APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas .................................................................. 109

Page 18: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

17

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a deterioração do meio ambiente e dos recursos naturais, e seus

impactos para o desenvolvimento econômico e social, relatada em 1987 por meio do relatório

Nosso Futuro Comum da Organização das Nações Unidas (ONU) (UNITED NATIONS,

1987a), trouxe o conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público. Neste

documento, é descrito como: “o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem

comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”

(UNITED NATIONS, 1987b, p. 41, tradução nossa). Este desenvolvimento sustentável é algo

que pode ser utilizado para orientar a tomada de decisões e a atuação, permitindo que as pessoas

e as empresas possam aplicar seus conceitos, sendo responsabilizadas nos campos social,

ambiental e econômico como práticas de negócio legitimadas pela sociedade (KOPLIN;

SEURING; MESTERHARM, 2007).

Este tema é visto como latente também no âmbito empresarial. Com mais de 9.900

empresas signatárias, o Pacto Global da ONU visa orientar e definir características que

permitem a operação de empresas sob aspectos da Sustentabilidade Corporativa. As cinco

características são (1) negócios baseados em princípios, (2) o fortalecimento da sociedade, (3)

o comprometimento da liderança das empresas, (4) os reportes de informações não financeiras

e (5) a ação local nos territórios em que a empresa desempenha suas atividades. Estas

características visam abranger os dez princípios defendidos pelo pacto, permitindo uma linha

de conduta de negócios em prol da busca de entrega de valor a longo prazo em termos

financeiros, ambientais, sociais e éticos (UNITED NATIONS, 2014). São os dez princípios

(UNITED NATIONS, 2014, p. 8, tradução nossa):

Direitos humanos: (1) As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos

humanos reconhecidos internacionalmente; e (2) Assegurar-se de sua não participação

em violações destes direitos. Trabalho: (3) As empresas devem apoiar a liberdade

de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; (4) A

eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; (5) A abolição

efetiva do trabalho infantil; e (6) Eliminar a discriminação no emprego. Ambiente: (7)

As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; (8)

Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e (9)

Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.

Anticorrupção: (10) As empresas devem combater a corrupção em todas as suas

formas, inclusive extorsão e propina.

Porém, não só o Pacto Global fomenta tal interesse das empresas em Sustentabilidade

Corporativa. Lozano (2015) define que existem motivadores internos e externos que direcionam

a busca das empresas por este tema. Os motivadores internos, baseado na literatura analisada

por Lozano (2015), são a busca de valores compartilhados, a redução do uso de recursos e dos

custos, a cultura empresarial, o reportes de sustentabilidade, as demandas de clientes, as

Page 19: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

18

obrigações morais e éticas e o protagonismo. Já os motivadores externos são as políticas

públicas de regulação, legislação e incentivo; o aumento de conhecimento científico; o acesso

a recursos; as crises ambientais; o aumento de preocupação da sociedade e a colaboração com

organizações externas (LOZANO, 2015).

O tema do meio ambiente presente no pacto e na literatura sobre sustentabilidade

empresarial (FIGGE; HAHN, 2013; LOZANO, 2015; MAHDILOO; SAEN; LEE, 2015;

PASSETTI; TENUCCI, 2016; RAVI, 2015) visa sensibilizar as empresas a gerenciar, de

maneira ativa, os riscos e as oportunidades ambientais, reconhecendo a relevância de seu papel

em um mundo com desafios nas áreas de mudanças climáticas, água, energia, biodiversidade e

agricultura (UNITED NATIONS, 2014).

Um dos meios para avaliar se as melhores práticas das empresas estão sendo adotadas

em prol do desenvolvimento sustentável é a aplicação dos conceitos de ecoeficiência (CAIADO

et al., 2017; FIGGE; HAHN, 2013), que são definidos, segundo o World Business Council for

Sustainable Development (WBCSD) como “a entrega de serviços e bens a preços competitivos

que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida enquanto reduzem

progressivamente os impactos ecológicos e intensidade de uso de recursos”, criando mais valor

com menos impacto (MADDEN et al., 2005, p. 6, tradução nossa). A ecoeficiência, definida

em termos relativos, pode ser considerada a maneira de fazer e/ou desempenhar a mesma

atividade, usar o mesmo recurso ou prestar o mesmo serviço utilizando menos recursos ou

gerando impactos menores, sendo um instrumento para o alcance do desenvolvimento

sustentável com qualidade ecológica e renda razoável para todos, interligando a sociedade e a

natureza (HUPPES; ISHIKAWA, 2009).

Identificando que a eletricidade é um meio crucial para o desenvolvimento sustentável,

a ONU enfatiza, ainda, que mudanças na matriz energética são necessárias, dada a finitude de

alguns recursos utilizados para a obtenção de eletricidade no mundo. Isso não seria algo a ser

atingido apenas por meio de pressões do mercado, demandando que os governos também

fomentem meios favoráveis para tal mudança (UNITED NATIONS, 1987b). Além disso, em

2015, foi publicado pela ONU os Objetivos do desenvolvimento sustentável, documento este

que novamente trouxe a necessidade de aumentar a participação de energias renováveis na

matriz energética mundial e assegurar o acesso universal, confiável e moderno a preços

acessíveis desta energia, além da busca da promoção de investimentos neste setor1 (ONU,

2015). O envolvimento dos governos para a promoção de tal mudança pode se dar por meio de

1 De acordo com o Objetivo 7.

Page 20: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

19

estratégias de investimentos em infraestrutura, como a construção de grandes

empreendimentos, ou por políticas que incentivem os consumidores a prover meios de geração

e consumo de fontes renováveis de energia, que trazem imbuídas uma velocidade de

implantação superior às fontes convencionais (FERREIRA; PATAH, 2017).

No mundo, as fontes alternativas de energia correspondem a 12% da capacidade de

geração de energia. No Brasil, no ano de 2019, o país conta com o volume de 73% da oferta

baseada em fontes renováveis. Porém, a participação de fontes hídricas ainda representa a

grande parte de tal volume, com 64%, e outras fontes estão divididas entre eólica (8,2%) e solar

(0,8%) e excluindo-se a biomassa (ANEEL, 2018a).

Conforme projeções nacionais, o consumo de energia elétrica no Brasil aumentará, em

média, 3,9% ao ano, de 2018 a 2022, representando um aumento absoluto de 77.983 Gigawatt-

hora (GWh) (EPE, 2015). Este aumento de consumo, previsto nas projeções nacionais feitas

pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia do Brasil, pode

ser absorvido pela matriz energética do país através de outros meios além da construção de

grandes empreendimentos de geração de energia, tais como hidrelétricas de grande porte. Esse

tipo de empreendimento demanda investimentos e gera impactos ambientais significativos,

além do longo prazo para construção. Segundo Ansar et al. (2014), são menos efetivos que

políticas de incentivo a alternativas no abastecimento de energia.

Além do aumento de consumo, outro ponto relevante sobre a energia no Brasil é o seu

custo. Do ano de 2013 a 2017, as tarifas de energia aumentaram, em média, 65,6% (EPE, 2018).

Este aumento das tarifas sensibiliza o ambiente em que as empresas estão inseridas para fazer

negócios. Dados do Banco Mundial (2019) interpretam o ambiente em que as empresas estão

inseridas ao mensurar as facilidades e as regulações as quais elas estão sujeitas em seus países

de atuação. Utilizando uma classificação chamada Doing Business, são classificadas 190

economias. A classificação mais próxima de 1 é mais propícia às atividades de uma empresa

local e, 190, significa uma maior dificuldade em se fazer negócios. Esta metodologia abrange

os seguintes indicadores: abertura de empresas, obtenção de alvarás de construção, obtenção de

eletricidade, registro de propriedades, obtenção de crédito, proteção de investidores

minoritários, pagamento de impostos, comércio internacional, execução de contratos e

resolução de insolvência. Nesta classificação, o Brasil ocupa a posição 109, sendo que, na

obtenção de eletricidade, o país está na posição 40 (THE WORLD BANK GROUP, 2019).

O setor comercial ocupa o segundo lugar em consumo de energia no mercado cativo de

energia do Brasil, com 22,8% de participação, atrás somente dos consumidores residenciais,

com 42% de participação (EPE, 2018). Conforme Stucki (2019), como forma de as empresas

Page 21: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

20

mitigarem os impactos de custos de energia associados ao consumo de energia e, por

consequência, aumentarem a ecoeficiência de suas operações, existem duas possíveis

alternativas: a adoção de tecnologia para economia de energia e o uso de energia de fontes

renováveis. Em empresas com baixa intensidade de consumo de energia em suas unidades de

negócio, como o setor de comércio e serviços, as opções de investimentos voltados para a

redução de consumo são restritas quando comparadas com medidas que indústrias podem adotar

e, em alguns casos, estes investimentos são limitados frente aos benefícios alcançados

(STUCKI, 2019).

Com a adoção de tecnologias de energias renováveis, os consumidores de energia

podem reduzir os impactos dos custos das tarifas de energia (ROSAS LUNA et al., 2019). Há,

no Brasil, um movimento de incentivo à geração de energia oriunda de fontes renováveis. Por

meio das Resoluções Normativas nº 482 (ANEEL, 2012) e nº 687 (ANEEL, 2015) da Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), foram criadas possibilidades regulatórias de acesso à

minigeração e à microgeração de energia elétrica pelos consumidores finais, por meio da

compensação da energia consumida pela energia gerada. O mecanismo para a compensação de

energia pelos consumidores adotado no Brasil foi o sistema de net-metering, onde toda a energia

gerada pelo consumidor, seja ela na própria unidade que gera a energia ou em locais diferentes,

porém da mesma titularidade do consumidor, é abatida de seu consumo por unidade de energia

medida em quilowatt-hora (kWh) (ANEEL, 2012; AQUILA et al., 2017; VAZQUEZ;

HALLACK, 2018).

Estas regulações beneficiaram os setores com baixa intensidade de consumo e baixa

tensão de fornecimento de energia em suas unidades, especialmente o setor residencial e

comercial, pelo fato do consumo e das modalidades tarifárias a que estes consumidores estão

sujeitos não permitirem alternativas de compra direta de energia e manterem estes

consumidores sujeitos às tarifas das distribuidoras locais. Nesta configuração, a geração da

própria energia se mostra uma alternativa viável para a redução dos impactos de custo dado

que, pelo modelo, a energia injetada é contabilizada como energia e abatida do consumo das

unidades, não sujeita às tarifas praticadas pelas distribuidoras de energia. Além disso, também

contribui para o aumento de uso de energias renováveis (BROWN; SAPPINGTON, 2017;

HOLDERMANN; KISSEL; BEIGEL, 2014; ROSAS LUNA et al., 2019; VAZQUEZ;

HALLACK, 2018).

Tais incentivos permitiram a expansão da geração distribuída e, também, a diminuição

de incertezas sobre o abastecimento de energia e sobre o aumento da eficiência dos sistemas de

distribuição (VAZQUEZ; HALLACK, 2018; WRIGHT; CARVALHO; SPERS, 2009). A

Page 22: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

21

opção por esta modalidade de abastecimento deve levar em consideração, por parte dos

consumidores/geradores, a localização de tais unidades geradoras, o volume de energia gerado

e consumido, os custos e incentivos para sua aplicação e a legislação aplicável (COMELLO;

REICHELSTEIN, 2017; GOLDEMBERG; COELHO; LUCON, 2004; MACIEL et al., 2012).

Também pode ser verificado que o movimento de expansão de uso de energias renováveis

costuma incentivar a tecnologia para a obtenção da mesma, aumentando a oferta de mão de

obra e, por consequência, diminuindo os custos que viabilizam sua adoção (DA SILVA;

BRANCO, 2018; GOLDEMBERG; COELHO; LUCON, 2004).

Adicionalmente, com diversos países utilizando sistemas de precificação de emissões

de carbono, a opção de uso de energias renováveis por geração distribuída, que naturalmente

promove a descarbonização do consumo de energia dos consumidores, pode representar

também a possibilidade de uma fonte adicional de receitas ou de redução de custos, caso sejam

implementadas medidas de comercialização de créditos de carbono e/ou definição de limites

para emissão (BEST; BURKE, 2018; PASSETTI; TENUCCI, 2016). Também permite, às

empresas, aumentarem a ecoeficiência de seus negócios, agregada à redução da intensidade de

emissão de carbono proveniente da composição da matriz de abastecimento de energia a qual o

consumidor está consumindo e/ou compensando (PASSETTI; TENUCCI, 2016).

No Brasil, nota-se que a adoção pela geração distribuída é uma realidade. Dados da

ANEEL indicam um crescimento do número de conexões desta modalidade, de 13.912 vezes

do período de 2012 a 2019, sendo a fonte fotovoltaica a que mais cresceu em número de

conexões, passando de 5 para 69.273 no mesmo período (ANEEL, 2019a). Sob o ponto de vista

das empresas, enquadradas na modalidade de fornecimento comercial, o número de conexões

de fontes fotovoltaicas passou de 2 para 11.839 (ANEEL, 2019a).

Este ambiente de falta de opções de compra direta, altas tarifas, limites de benefícios

em investimentos em tecnologias para a redução de consumo e possibilidade de uso de fontes

alternativas para a geração da própria energia levou a um crescimento acima do previsto no uso

da geração distribuída (ANEEL, 2017), especialmente pelas empresas. Porém, este número de

conexões de sistemas fotovoltaicos comerciais é muito reduzido frente ao número total de

conexões desta classe no sistema elétrico brasileiro, que é de 5.754.000 unidades consumidoras

(EPE, 2018).

Para tanto, este estudo visa compreender os motivadores que levam as empresas a adotar

a geração distribuída fotovoltaica como estratégia de aumento da ecoeficiência no Brasil face

seu potencial, assim como as barreiras que impedem a adoção. Assim, a pergunta de pesquisa

Page 23: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

22

que o presente estudo propõe é: Quais são os motivadores e as barreiras para o uso da

geração distribuída de fonte fotovoltaica por empresas no Brasil?

A fim de responder a pergunta, o referencial teórico abrange os conceitos de

ecoeficiência – com os motivadores e as barreiras para a aplicação do conceito nas empresas –

, a relevância do recurso da energia elétrica em operações, o contexto da energia elétrica no

Brasil, as possibilidades que a regulação no setor abre para o uso da geração distribuída e a

utilização da modalidade pelas empresas com o uso da fonte fotovoltaica, assim como a sua

aderência às estratégias de competitividade das empresas.

Como método, foi elaborado um questionário semiestruturado, aplicado em entrevistas

feitas em quatro empresas de relevância nacional nos setores em que atuam e que utilizam desta

modalidade e/ou também sinalizam a adoção desta modalidade para os próximos anos. Foram

entrevistados os executivos responsáveis pela implementação dos projetos para a composição

de estudos de caso para cada empresa e para o cruzamento dos resultados com o apresentado

no referencial teórico.

Este estudo visa contribuir para que a modalidade da geração distribuída possa ser

compreendida pelas empresas do setor comercial, ao estabelecer sua ligação com a

possibilidade de aumento de ações de ecoeficiência e pela redução de incertezas e custos com

energia elétrica. Assim, também poderá haver uma participação empresarial que contribuirá

para o aumento da oferta de energia renovável no Brasil.

Page 24: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

23

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 EFICIÊNCIA, COMPETITIVIDADE E ECOEFICIÊNCIA

Conforme Peter Drucker (1963, p. 1, tradução nossa) definiu, em 1963, os dirigentes de

uma empresa devem: “esforçar-se pelos melhores resultados econômicos possíveis dos recursos

atualmente empregados ou disponíveis”. Esta afirmação considera que as empresas e seus

dirigentes devem aplicar seus esforços no direcionamento de seus negócios para que possam

trazer resultados economicamente mais significativos. Para tanto, Drucker (1963) sugere que

seja feita uma análise dos custos, contribuições e oportunidades dos negócios, da alocação de

recursos e da projeção futura destes recursos, visando uma oportunidade de negócios. Também

devem ser analisadas quais atividades, produtos e recursos devem ser abandonados, mantidos

ou transformados para que possam se tornar uma opção de atuação.

Esta oportunidade para os negócios culmina em vantagem competitiva, que é a busca

constante de empresas por apresentar produtos e serviços que aumentem sua posição no

mercado que ocupam, melhorando seu desempenho a partir do ponto em que estes recursos

permitam que a empresa seja mais eficiente e efetiva (BARNEY, 1991). A busca pela vantagem

competitiva leva as empresas a inovar em suas atividades e nos meios de obtenção de insumos

para suas operações. Carvalho et al. (2017) afirmam que as inovações chamadas green

innovations podem auxiliar as empresas a conservarem seus recursos aplicados às atividades

que desenvolvem. As primeiras empresas que optam pelas green innovations podem se

beneficiar também da melhora da imagem da empresa junto aos stakeholders, do

desenvolvimento de novos mercados e do aumento dos preços de seus produtos e serviços

(CARVALHO et al., 2017).

Uma das maneiras de conjugar a busca por vantagem competitiva, eficiência e

desenvolvimento sustentável é a aplicação da ecoeficiência, que pode abarcar conceitos de

meios de produção mais limpos, com redução de resíduos, gestão do ciclo de vida, diminuição

de uso de recursos, prevenção de poluição e gerenciamento de sistemas ambientais

(KOSKELA; VEHMAS, 2012). Koskela e Vehmas (2012) separam a ecoeficiência em cinco

grupos de definições que auxiliam a entender a abrangência do termo, fazendo uma revisão de

autores que escrevem sobre o tema. O primeiro grupo de definição é Produzir mais com menos,

gerar mais entregas físicas com menor uso de recursos, ou mais valor econômico com menor

uso de recursos. O segundo grupo é Relação entre resultado econômico e resultado ambiental,

demonstrada por meio da fórmula (KOSKELA; VEHMAS, 2012):

Page 25: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

24

Ecoeficiência =Valor dos produtos ou serviços

Impactos ambientais

O terceiro grupo é Gerar mais valor econômico com menor impacto ambiental.

Alterando-se as variáveis, a performance econômica é relacionada com os impactos ambientais

(KOSKELA; VEHMAS, 2012):

Ecoeficiência =Influência ambiental

Desempenho econômico

O quarto grupo é Estratégia de gerenciamento de empresas. De maneira a aprimorar a

performance econômica e ambiental conjuntamente, Koskela e Vehmas (2012) afirmam que as

empresas podem revisar seus processos e aumentar a inovação ao considerar a exploração de

aspectos de ecoeficiência. Por fim, o quinto grupo é Motivador para ajuste de estratégias

gerenciais. Com base na exploração das definições acima, a depender do enfoque das empresas,

a ecoeficiência pode ajustar a definir a estratégia de gerenciamento de empresas.

Sob tal aspecto, a adoção de ecoeficiência para o alcance do desenvolvimento

sustentável é tema de inúmeros artigos. A associação entre os dois assuntos foi profundamente

revisada por Caiado et al. (2017), que concluem que há uma convergência entre o aumento da

performance ambiental das empresas e a criação de uma economia sustentável, além de geração

de valor sustentável (CAIADO et al., 2017; FIGGE; HAHN, 2013). Estes autores reforçam que

a ecoeficiência deve ser tomada como um conceito para a medição integrada de desempenho

ambiental e financeiro e, com a definição de parâmetros de ecoeficiência, as empresas podem

realizar uma melhor gestão de recursos e amparar suas decisões sobre investimento, melhoria

na cadeia de valor, desenvolvimento de produtos, processos e serviços, além da avaliação de

impactos ambientais, econômicos e sociais de sua operação (CAIADO et al., 2017; FIGGE;

HAHN, 2013; SALING et al., 2002). Esses pontos reafirmam o que foi apresentado na revisão

de Koskela e Vehmas (2012).

Desdobramentos deste conceito visam aprofundar esta exploração do tema. Figge e

Hahn (2013) propõem uma mensuração mais abrangente de resultados de uma empresa

associada ao seu retorno. Ao analisar o aspecto de uso de recursos naturais com o resultado

financeiro das operações de uma empresa, a mensuração permite uma melhor análise da opção

e do montante de uso de recursos naturais nas operações, além da comparação de seu

desempenho e da geração de valor econômico e sustentável com outras empresas e

Page 26: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

25

benchmarkings de seu setor para a tomada de decisões em ecoeficiência (FIGGE; HAHN,

2013). Nesse sentido, Figge e Hahn (2013) uma equação para medição de ecoeficiência:

Ecoeficiência =Retorno

Vendas*

Vendas

Capital*

Capital

Recursos Naturais

Considerando-se que esta abordagem faz uma relação direta da performance ambiental

por meio do paralelo entre o gerenciamento de recursos e a performance de uma empresa, pode-

se analisar a geração de Valor Sustentável de uma empresa por meio da comparação de

operações internas da empresa e de benchmarkings do mercado, a relação entre diferentes

formas de recursos aplicados na operação de uma empresa na criação de valor, permitindo o

nivelamento de criação de valor dentro dos componentes da fórmula apresentada. Desta

maneira, os autores permitem uma abordagem complementar sobre desempenho e

competitividade das empresas sob a ótica da ecoeficiência (FIGGE; HAHN, 2013). Estes

resultados são corroborados por estudos que afirmam que a adoção de práticas de ecoeficiência

pelas empresas alcançam custos reduzidos e permitem o aumento de lucros em comparação a

empresas que não adotam tais práticas, aumentando, assim, a competitividade das empresas

(CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013).

Apesar destas exposições e interpretações do tema dialogarem diretamente com o dia a

dia de empresas e serem aderentes ao contexto de busca de competitividade com base na

eficiência, sustentabilidade dos negócios e inovação, há autores que também ressaltam que esta

prática só gera estes benefícios se, de alguma maneira, eles permeiem o meio empresarial e

alcancem a percepção dos consumidores daqueles bens e serviços (QUAIREL-LANOIZELEE,

2016). Tal visão pode ser contraposta por autores que realizam estudos demonstrando que a

adoção de tais práticas alcança perenidade de resultados ao longo do tempo, como redução de

uso de materiais, redução de consumo de recursos como água e energia, aumento de reciclagem

de materiais e insumos, aumento de tempo de vida de produtos, e aumento no nível de serviços

e produtos (ALVES; DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-

NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013).

Utilizando-se da definição dada por Koskela e Vehmas (2012) como base comum e com

a exploração do tema, artigos posteriores sintetizam o entendimento e os drivers que afetam o

tema, tanto de maneira interna quanto externa. Neri et al. (2018) realizam um estudo sobre a

adoção de práticas sustentáveis, por meio de uma extensa revisão de dezessete artigos, tanto

teóricos quanto empíricos. Os autores concluem que os principais drivers que figuram na

Page 27: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

26

literatura sobre o tema e motivam a adoção de ecoeficiência para empresas podem abranger

aspectos como regulação, mercado e fornecedores. Também podem ser motivados por

eficiência, vendas e por origem organizacional, conforme demonstrados no Quadro 1,

construído com base no exposto por Neri et al. (2018).

Quadro 1 – Motivadores para a adoção de ecoeficiência

Tipo Origem Motivador

Externo

Regulatória ou pública

Pressão regulatória

Prevenção de sanções

Presença de benefícios públicos

Incentivos financeiros

Mercado

Aumento no preço de insumos

Escassez de recursos

Aumento de competitividade

Novas oportunidades de mercado

Pressões e demandas de mercado

Cadeia de suprimentos

Pressões da cadeia de suprimentos

Envolvimento da cadeia de suprimentos

Colaboração da cadeia de suprimentos

Presença de especialistas na cadeia

Internos

Eficiência de operações Redução de custos

Redução do uso de recursos

Vendas

Aumento no volume de vendas

Aumento de parcela de mercado

Melhoria de imagem

Organizacional

Comprometimento organizacional

Estratégia

Competências internas

Preocupação de executivos

Demanda de empregados

Compromisso voluntário

Certificações

Inovações

Mitigação de riscos

Aumento de qualidade

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

A adoção de tais práticas também permite que as empresas sejam mais bem valoradas

pelo mercado. O artigo de Fatemi, Glaum e Kaiser (2018) analisa que ações tomadas nas

empresas em termos de meio ambiente, questões sociais e questões de governança

(environmental, social, and governance – ESG) são reconhecidas pelo mercado na valoração

das empresas. Porém, em termos de divulgação, um alto desempenho na área ambiental é o

fator que mais aumenta a valoração de uma empresa no mercado em que atua. Também, a

avaliação da performance de uma empresa é utilizada por investidores para a alocação de seus

investimentos ao considerar empresas que observem requisitos da legislação ambiental vigentes

nos mercados em que atuam evitando penalidades futuras, bem como associando a eficiência

Page 28: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

27

dos recursos utilizados a uma boa performance econômica (NIKOLAOU; MATRAKOUKAS,

2016).

2.1.1 Barreiras para adoção de ecoeficiência por empresas

As barreiras para a adoção de estratégias de eficiência em recursos por parte das

empresas foi alvo de uma revisão feita por Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019). Conforme

Quadro 2, podem ser atribuídas a cinco fatores.

Quadro 2 – Barreiras para a adoção de ecoeficiência

Tipo Definição

Institucionais Causadas por regulações, leis ou condições de investimento.

Mercadológicas Condições de mercado, condição da cadeia de valor, monopólios, custo de força de

trabalho, energia ou materiais.

Organizacionais Influenciados por metas empresariais, rotinas, estruturas, falta de recursos, falta de

foco.

Comportamentais Valores e atitudes de indivíduos dentro das empresas que culminam na falta de

atenção, falta de informação, aversão a riscos ou percepção equivocada de controle.

Tecnológicos Falta de tecnologia para o mercado, custo de tecnologia disponível, falta de

conhecimento das empresas.

Fonte: Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019, p. 24).

Os principais impeditivos para implantação da ecoeficiência são falta de visão de longo

prazo, custos para a implantação de soluções, falta ou falhas em legislação e políticas públicas,

falta de educação ambiental e de sustentabilidade, falta de suporte público e privado para a

inovação e falta de sensibilidade ao tema por parte de cargos executivos das empresas

(CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013;

QUAIREL-LANOIZELEE, 2016; RAVI, 2015; ZHANG et al., 2008).

A transposição destas barreiras, conforme Fernández-Viñé et al. (2013), Caiado et al.

(2017) e Ravi (2015) pode ser feita, por parte das empresas, com uma visão estratégica de

negócios de longo prazo e comprometimento da alta direção das empresas com a busca de tais

soluções e, externamente, com influência de legislações, incentivos de preços, educação

ambiental e até mesmo pressões do mercado. Porém, o papel decisivo recai sobre a decisão das

empresas (CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO,

2013; FIGGE; HAHN, 2013; RAVI, 2015).

O mercado em que a empresa atua também tem uma influência em sua escolha por ações

de ecoeficiência. Em muitos casos, um alto investimento na área ambiental pode levar os

acionistas a concluírem que o capital destinado a programas ambientais esteja concorrendo com

Page 29: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

28

uma melhor alocação do capital em atividades que possam elevar o lucro das empresas

(FATEMI; GLAUM; KAISER, 2018).

2.1.2 A ecoeficiência em empresas no Brasil

No Brasil, a ecoeficiência iniciou-se como tema relevante para as empresas quando, em

1997, e derivado do WBCSD, foi criado o Conselho Empresarial Brasileiro para o

Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), orientado pelos riscos e oportunidades que a

sustentabilidade poderia trazer aos negócios (COSTA; SILVA; MATTOS, 2012). Ainda em

1997, o CEBDS publica o primeiro Relatório de Sustentabilidade Empresarial no Brasil

apresentando as atividades já desenvolvidas por empresas associadas à entidade (CEBDS,

2019).

Em 2002, foi concluída a Agenda 21 brasileira, que foi coordenada pelo Ministério do

Meio Ambiente (MMA) e baseada na Agenda 21 Global. Este documento é definido pelo MMA

como: “um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a conservação

ambiental, a justiça social e o crescimento econômico” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,

2003). Este documento é um compêndio das ações de desenvolvimento sustentável que

permeiam tanto pequenas comunidades rurais, quanto as organizações empresariais.

A Agenda 21 questiona a ética do resultado ao expor os resultados sobre a intensidade

e o modo de exploração de recursos naturais, renováveis e não-renováveis, para atender às

exigências da nova divisão internacional do trabalho. Além disso, sugere a possibilidade de que

venha a se aprofundar a reprodução das desigualdades sociais e os desequilíbrios regionais de

desenvolvimento, reconhecendo seu impacto sobre as empresas e o papel do Estado, que deve

ser “apoiar, técnica e financeiramente, segmentos seletivos da economia brasileira para ampliar

sua capacidade competitiva ou estabilizar sua renda” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,

2003, p. 29).

Um dos objetivos da Agenda 21 versa especificamente sobre a ecoeficiência e a

responsabilidade social das empresas. Neste objetivo, são recordados os compromissos

assumidos na Rio-92 e recomenda-se que as empresas brasileiras adotem os princípios da

ecoeficiência como forma de aumentar a competitividade e a produtividade, além de melhorar

sua imagem. Ainda, há a recomendação que as empresas promovam a difusão do conceito de

ecoeficiência como “sinônimo de aumento da rentabilidade, para a redução de gastos de

energia, água e outros recursos e insumos de produção” (MINISTÉRIO DO MEIO

Page 30: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

29

AMBIENTE, 2003, p. 35). Complementarmente, resgata os compromissos assumidos pelo

Protocolo de Quioto, para que as empresas possam se beneficiar com recursos de projetos de

redução de emissões de gases de efeito estufa e de sequestro de carbono. Assim, integra as

empresas brasileiras ao desenvolvimento sustentável, criando oportunidades de negócios

favoráveis ao crescimento e à inovação (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2003).

2.1.3 Motivadores e barreiras para a adoção de ecoeficiência em energia por empresas

A ecoeficiência tem diversas facetas para sua definição e conta com diferentes

abordagens (RASHIDI; FARZIPOOR SAEN, 2015). Um de seus aspectos é o consumo de

energia elétrica, que figura em estudos como sendo um dos aspectos transversais para a

avaliação da ecoeficiência de uma empresa. A energia elétrica é tida como recurso essencial

para as operações de uma empresa e permeia tanto o uso de recursos escassos, como a geração

de resultados indesejáveis, quanto emissões de gases de efeito estufa e necessidade de grandes

investimentos em infraestrutura de geração e distribuição para atendimento de uma demanda

crescente por suprimento de energia (ANSAR et al., 2014; NERI et al., 2018; ZHANG et al.,

2008).

A adoção de ecoeficiência em energia nas empresas pode se dar por dois caminhos,

conforme definido por Stucki (2019): a utilização de práticas e tecnologias de economia de

energia ou o uso de energias renováveis, como eólica, hidroelétrica e solar. Porém, estas

escolhas são identificadas na literatura como feitas com base nos custos que as empresas têm

com a energia.

Apesar do custo com energia ser o motivador para a busca por ecoeficiência, outros

pontos também são levados em conta na adoção de tais práticas. As empresas também podem

aprimorar sua performance econômica com o aumento de sua receita, caso a melhoria em sua

performance ambiental se refletir positivamente na imagem da empresa. Isso pode gerar

fidelização dos clientes atuais e atrair novos clientes, reduzindo a pressão de stakeholders, além

de reduzir as ineficiências dos processos e as externalidades causadas pelo uso inadequado de

recursos advindos do consumo desperdiçado (STUCKI, 2019).

Há de se ressaltar que se o custo é um influenciador para a adoção, os investimentos

também contrabalanceiam as decisões. Empresas de serviço ou que não tenham processos

industriais eletrointensivos tendem a adotar medidas que demandem menor investimento para

implementação de ações relacionadas ao uso de energia, se comparadas às empresas com

processos eletrointensivos, como as indústrias. Isto leva à comparação do desempenho e a ações

Page 31: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

30

de ecoeficiência limitada entre as empresas que atuam no mesmo segmento. Porém, geram

impacto positivo na lucratividade das empresas que as adotam (REXHÄUSER; RAMMER,

2014; STUCKI, 2019).

2.2 O CONTEXTO BRASILEIRO DE ENERGIA

Ao se focar na situação nacional e nos motivadores para um possível direcionamento

das empresas na adoção de processos de ecoeficiência no Brasil, cabe explanar como o país

está posicionado e qual a influência deste posicionamento para as empresas. O Brasil conta com

uma matriz energética baseada em energias renováveis devido ao seu alto potencial geográfico,

que permite tal arranjo (GUERRA et al., 2015). Em seu início, no ano de 1883, e devido à

inexistência de infraestrutura, as primeiras usinas implantadas atendiam basicamente alguns

serviços dos municípios em que estavam instaladas. Nos anos seguintes, foram implantadas

para autoprodução usinas hidroelétricas pela Companhia Fiação e Tecidos São Silvestre em

Viçosa, Minas Gerais (MG), e pela Compagnie des Mines d’Or du Faria, em Nova Lima/MG

(GOMES et al., 2002).

Segundo Guerra et al. (2015), após a Segunda Guerra Mundial, houve um grande

aumento na demanda por energia elétrica no Brasil, ocasionado pelo crescimento demográfico

e pela urbanização, pelo aumento do número de indústrias e pela expansão da malha rodoviária

do país. Este aumento na demanda por energia elétrica fomentou a criação de empresas estatais

que passaram a controlar e deter toda a cadeia de energia no país. Ao longo dos anos 1970 e

1980, estas empresas estatais foram afetadas por crises e acabaram perdendo eficiência

financeira. Assim, não haviam reais incentivos para ganhos de capacidade de produção

(GUERRA et al., 2015). Ao longo do tempo, tais empresas precisaram recorrer também a

financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

para manterem a expansão da geração de energia no país (GOMES et al., 2002). Nas décadas

de 1990 e 2000, o país instituiu leis específicas para a privatização de tais companhias, o que

permitiu a entrada de recursos privados para investimentos no setor, além de instituir o Mercado

Atacadista de Energia e a regulação dos Autoprodutores e Produtores independentes de energia

(GUERRA et al., 2015).

Com a crise de suprimento de energia vivenciada pelo país em 2001, tornou-se urgente

a criação de um arranjo que permitisse um novo modelo que geraria lastro para o crescente

consumo do país (FERREIRA; PATAH, 2017). Em 2004, com a criação de um novo modelo

Page 32: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

31

de comercialização de energia no país, estabeleceu-se dois ambientes para tal comercialização,

o Ambiente de Contratação Regulado (ACR), onde as concessionárias detêm como um

monopólio o fornecimento de energia em sua área de concessão, e o Ambiente de Contratação

Livre (ACL), que permite ao cliente comercial realizar a compra de energia de maneira direta

dos geradores (AQUILA et al., 2016; HOLDERMANN; KISSEL; BEIGEL, 2014), mantendo

a estratégia de expansão da oferta de energias renováveis e da promoção de uma economia de

baixo carbono (PEREIRA et al., 2012). A Figura 1 apresenta um exemplo de fluxo de energia

e pagamentos pelo ACR.

Figura 1 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACR

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

A Figura 2 apresenta um exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL.

Figura 2 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Este modelo oferece garantias de suprimento ao sistema elétrico e permite uma maior

diversificação aos riscos associados a um controle único do Estado brasileiro. Com isto, o

modelo também propõe alternativas sustentáveis aos impactos do suprimento de carvão e óleo

utilizado em termoelétricas e de secas e impactos sociais e ambientais associados à dependência

do país de fontes hídricas (AQUILA et al., 2016).

Tal ênfase à energia proveniente de fontes hídricas também deixa o preço da energia

influenciado por tais riscos, gerando uma instabilidade econômica (GUERRA et al., 2015) e

Page 33: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

32

influenciando, também, os indicadores macroeconômicos do país, dado que as tarifas de

energia, invariavelmente, compõem a cesta de produtos utilizada. Em 2019, o país conta com o

volume de 73% da oferta baseada em fontes renováveis. Porém, a participação de fontes

hídricas ainda representa a grande parte de tal volume, com 64%, e outras fontes estão divididas

entre eólica (8,2%) e solar (0,8%) (ANEEL, 2018a).

Segundo Gomes et al. (2018), a influência do Estado nas políticas de energia do país

trouxe situações adversas para o setor elétrico no Brasil, principalmente pelos crescentes

aumentos dos custos de energia e pelos riscos de não suprimento de energia demandada. As

causas que Gomes et al. (2018) elencam são a obrigatoriedade de redução de tarifas de energia

que causaram déficit junto às distribuidoras, atrasos na entrega de projetos de novas unidades

de geração e de linhas de transmissão, quantidade de leilões de fornecimento de energia que

resultaram em preços baixos para as geradoras e secas que, conforme mencionado

anteriormente, fragilizam o suprimento da demanda de energia.

2.2.1 Geração distribuída no Brasil

Em 2012, houve a publicação da Resolução Normativa nº 482 da ANEEL (2012) e que

foi revisada posteriormente na Resolução Normativa nº 687 de 2015, que permitiu aos

consumidores enquadrados no ACR o acesso à minigeração e à microgeração distribuída de

energia e o sistema de compensação. O sistema de minigeração de energia permite ao

consumidor de energia interligar à rede de distribuição das concessionárias centrais geradoras

de uma faixa de até 3 Megawatt-hora (MW) para fontes hídricas e 5 MW para demais fontes.

Por meio do sistema de compensação de energia, também estabelecido pela Resolução

Normativa n° 482 (ANEEL, 2012, p. 2), a compensação de seu consumo por meio de um

instrumento denominado net-metering ou “empréstimo gratuito da energia ativa gerada”, com

posterior compensação do consumo também por energia ativa (ANEEL, 2015). Este sistema é

baseado em um mecanismo de geração de créditos de energia ativa que podem ser utilizados

em até 60 meses após seu faturamento, passando a ser absorvido pela concessionária caso não

utilizado (BRADSHAW, 2017; ROSAS LUNA et al., 2019; VILAÇA GOMES et al., 2018).

Há algumas possibilidades de acesso ao sistema de compensação. Os consumidores optantes

podem ser enquadrados em modalidades de geração e consumo de energia que diferem entre si,

conforme definições da Resolução n° 482 da ANEEL (2012, p. 2):

1 - Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras: caracterizado pela

utilização da energia elétrica de forma independente, no qual cada fração com uso

individualizado constitua uma unidade consumidora e as instalações para atendimento

Page 34: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

33

das áreas de uso comum constituam uma unidade consumidora distinta, de

responsabilidade do condomínio, da administração ou do proprietário do

empreendimento, com microgeração ou minigeração distribuída, e desde que as

unidades consumidoras estejam localizadas em uma mesma propriedade ou em

propriedades contíguas, sendo vedada a utilização de vias públicas, de passagem aérea

ou subterrânea e de propriedades de terceiros não integrantes do empreendimento;

2 - Geração compartilhada: caracterizada pela reunião de consumidores, dentro da

mesma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa,

composta por pessoa física ou jurídica, que possua unidade consumidora com

microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades

consumidoras nas quais a energia excedente será compensada;

3 - Autoconsumo remoto: caracterizado por unidades consumidoras de titularidade de

uma mesma Pessoa Jurídica, incluídas matriz e filial, ou Pessoa Física que possua

unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local

diferente das unidades consumidoras, dentro da mesma área de concessão ou

permissão, nas quais a energia excedente será compensada.

4 - Geração na própria Unidade Consumidora: caracterizado por unidades

consumidoras que possua microgeração ou minigeração distribuída instalado no

mesmo endereço, e no mesmo ponto de conexão com a rede da distribuidora, não

sendo possível a compensação em outra unidade consumidora.

Este arranjo elimina algumas barreiras para a integração de pequenos sistemas de

geração ao Sistema Interligado Nacional (SIN), além de incentivar a busca dos consumidores

inseridos neste contexto por tal modalidade, dado que há instrumentos para exploração e

benefícios ao sistema elétrico do país de maneira abrangente, como o adiamento de

investimentos na expansão dos sistemas de geração, transmissão e distribuição; redução de

impactos ambientais associados a grandes obras de usinas; redução de demanda de energia;

redução de perdas de transmissão e diversificação da matriz (VILAÇA GOMES et al., 2018).

A Figura 3 apresenta o fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída.

Figura 3 – Fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Do outro lado, este arranjo é visto como um impacto às distribuidoras, que argumentam

que o uso desta modalidade permite que os consumidores utilizem a rede de distribuição para

Page 35: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

34

injetar a energia para a localidade em que ela será consumida sem nenhuma contrapartida,

onerando os custos da rede às distribuidoras, inclusive os custos de conexão destes

consumidores (BRADSHAW, 2017; VAZQUEZ; HALLACK, 2018).

Em 2019, o país conta com 69.561 unidades consumidoras registradas na modalidade

de geração distribuída, que geram energia e que provém créditos para 93.356 outras unidades

consumidoras, e uma potência instalada de 836 MW (ANEEL, 2019a). Este crescimento do

número de conexões é tido como consequência do modelo proposto pela Resolução Normativa

n° 482 (BRADSHAW, 2017; LACCHINI; RÜTHER, 2015). O Gráfico 1 apresenta as conexões

em geração distribuída.

Gráfico 1 – Conexões em geração distribuída

Fonte: ANEEL (2019a).

O principal uso da geração distribuída no Brasil está concentrado no residencial, em

número de conexões, e no setor comercial, em potência instalada, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Conexões por tipo de consumo

Tipo de

Consumidor

Número de

Conexões

Número de

Conexões (%)

Potência Instalada

(kW)

Potência Instalada

(%)

Comercial 11.839 17% 361.167 43%

Residencial 51.556 74% 256.736 31%

Industrial 1.934 3% 113.118 14%

Rural 3.754 5% 85.528 10%

Poder Público 410 1% 18.130 2%

Serviço Público 62 0,09% 1.950 0,23%

Iluminação pública 6 0,01% 58 0,01%

Total geral 69.561 100% 836.686 100%

Fonte: ANEEL (2019a).

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

2007 2008 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Hidro Eólica Fotovoltaica Térmica

Page 36: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

35

Também é possível a análise dos dados por tipo de fonte, conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Conexões e potência instalada por fonte

Fonte Número de

Conexões

Número de Conexões

(%)

Potência Instalada

(kW)

Potência Instalada

(%)

Hidro 79 0,1% 73.777 8,8%

Eólica 57 0,1% 10.314 1,2%

Térmica 152 0,2% 43.112 5,2%

Fotovoltaica 69.273 99,6% 709.482 84,8%

Total geral 69.561 100,0% 836.686 100,0%

Fonte: ANEEL (2019a).

O aumento no número de conexões ao longo dos anos é proveniente também dos

incentivos fiscais para o sistema. A isenção de incidência do Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS) passou a vigorar conforme o Convênio 16 do Conselho

Nacional de Política Fazendária, datado de 22 de abril de 2015 (CONFAZ, 2015). Este convênio

autoriza os Estados signatários a conceder isenção nas operações relativas à circulação de

energia elétrica, sujeitas à faturamento sob o Sistema de Compensação de Energia Elétrica de

que trata a Resolução Normativa nº 482 (ANEEL, 2012). Este convênio foi considerado como

um dos fatores de aceleração da implementação do sistema e do aumento do número de

conexões no país (FERREIRA et al., 2018; ROCHA et al., 2018; VILAÇA GOMES et al.,

2018).

Em contrapartida, é verificado por autores que este modelo permanece em expansão

devido às políticas de incentivo que os optantes se beneficiam financeiramente e que tais

incentivos deveriam ser, inclusive, aprimorados para a continuidade de sua expansão (FARIA

JR; TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; ROSAS LUNA et al., 2019; VILAÇA GOMES et al.,

2018). Um paralelo deve ser feito com o já mencionado sistema de compensação de energia e

o incentivo feito com a Resolução n° 482 da ANEEL (2012), onde a concessionária é a

responsável pelos custos de conexão e de transmissão do sistema, deixando apenas aos

consumidores os custos com a geração. Isso impacta diretamente em ter uma rede de

distribuição que comporte a energia que será injetada (BRADSHAW, 2017; FARIA JR;

TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; FRATE; BRANNSTROM, 2017; VAZQUEZ;

HALLACK, 2018).

Por outro lado, esta falta de incentivos concedidos às distribuidoras para a conexão dos

optantes à geração distribuída exerce uma força contrária ao acesso e à conexão dos clientes ao

sistema de distribuição, por meio de atrasos na conexão das unidades geradoras à rede

(BRADSHAW, 2017). Em estudo encaminhado à ANEEL, a concessionária do estado de Minas

Gerais, a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), afirma que os investimentos

Page 37: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

36

necessários para o atendimento das solicitações de conexão de 100 estudos de acesso de geração

distribuída impactam a distribuidora em R$ 73.945.684,00 e que tais investimentos não haviam

sido previstos em seu planejamento no horizonte de 5 anos (ANEEL, 2018a).

Em dezembro de 2018, foi publicado pela ANEEL o Relatório de Análise de Impacto

Regulatório 0004/2018-SRD/SCG/SMA/ANEEL (ANEEL, 2018b), que visa apresentar o

cenário criado pela Resolução Normativa n° 482 (ANEEL, 2012) em dois lados distintos. Por

um lado, os instaladores e consumidores geradores e, por outro, as concessionárias e

consumidores não optantes. Este documento tem como objetivo apresentar os benefícios e os

impactos do sistema destes dois lados (ANEEL, 2018a). O documento propõe alternativas para

o modelo atual de net-metering e faz a sugestão de uma alternativa que foi submetida a uma

consulta pública ao longo do ano de 2019 (ANEEL, 2019b). Esta alternativa reconhece que o

modelo atual, se mantido indefinidamente, pode acarretar em impactos tarifários e custos para

os consumidores não optantes e propõe um mecanismo de associação de marcos de datas e

potências do sistema para o acionamento de gatilhos de alteração de políticas, que poderiam

ser implantados até o início do ano 2020 (ANEEL, 2018a). Até o término do presente trabalho,

ainda não havia sido publicado nem o texto normativo nem a alteração da norma.

Esta insegurança com relação ao formato final da atualizada da norma tem impactos na

opção dos optantes em investir na modalidade. Conforme Polzin et al. (2019), para o

investimento em energias renováveis, objeto da Resolução nº 482 (ANEEL, 2012), a redução

de riscos e as inseguranças regulatórias implicam diretamente na precificação do investimento

dos optantes, além de ser recomendado que os reguladores levem isto em consideração a fim

de não restringir ou perder os investimentos nesta área.

2.2.2 Geração distribuída de energia solar no Brasil

A população brasileira percebe o sol como sendo uma fonte limpa, confiável e

praticamente inesgotável de energia, com impactos irrelevantes do ponto de vista

socioambiental e em franca expansão nos planos e leilões de energia promovidos pelo governo

(FRATE; BRANNSTROM, 2017). O Brasil se beneficia por ser um país que, geograficamente,

é favorecido com uma radiação solar incidente de 1900 a 2150 Quilowatt-hora por metro

quadrado (kWh/m²) por ano (VILAÇA GOMES et al., 2018). Esta propensão ao sol, aliada aos

benefícios promovidos pela legislação, permite uma possibilidade de expansão deste modelo e

exploração dos benefícios pelos consumidores. Adicionalmente, esse tipo de energia é

considerado como um poderoso meio para a redução da pobreza e das desigualdade no Brasil

Page 38: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

37

devido, principalmente, pelo programa Luz para Todos, que visa prover eletricidade por meio

de energia solar em comunidades rurais que estão fora das redes de distribuição (BRADSHAW,

2017).

Do ponto de vista dos consumidores, a geração distribuída de energia solar pode prover

acesso à energia em localidades anteriormente isoladas e melhorias na eficiência energética da

rede de distribuição, ao diminuir as perdas de energia na transmissão, além da reconfiguração

da relação de concessionárias e consumidores, dado que o cliente que opta por este regime se

torna um consumidor que produz parte ou toda sua energia. Outro aspecto positivo é a maneira

que o cliente tem de mitigar os impactos financeiros nas tarifas de energia oriundos das

bandeiras tarifárias aplicadas às contas dos consumidores em períodos que há um uso de

tecnologias baseadas em combustíveis fósseis para a complementação da oferta de energia, caso

haja redução na produção de fontes renováveis (BRADSHAW, 2017). Artigos como o de

Jannuzzi e Melo (2013), Lacchini e Rüther (2015), e Holdermann et al. (2014) concordam que

a expansão do sistema fotovoltaico no Brasil demanda maiores incentivos que os até agora

verificados para o sistema. Estes incentivos devem ser direcionados, basicamente, para o

financiamento dos equipamentos e aos incentivos fiscais que subsidiem os preços, a fim de

fazerem frente aos valores praticados nos leilões. A Figura 4 apresenta um exemplo de painéis

fotovoltaicos.

Figura 4 – Exemplo de painéis fotovoltaicos

Fonte: O autor (2019).

Page 39: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

38

O Quadro 3 apresenta uma comparação entre as grandes usinas e as usinas de geração

distribuída fotovoltaicas.

Quadro 3 – Comparação entre grandes usinas e usinas de geração distribuída fotovoltaicas

Grandes usinas Geração distribuída fotovoltaica

Planejamento

Parte dos estudos ambientais são feitos pelo

governo e os custos são repassados aos

consumidores finais.

Não demandam análise ambiental e os

custos com a análise do projeto são pagos

pelos geradores, não afetando o preço final

da energia.

Todos os requisitos na fase de implantação

são de responsabilidade dos geradores.

Parte dos custos são compartilhados com as

distribuidoras de energia e impacta o

planejamento de investimento delas.

A Empresa de Planejamento Energético é

focada na participação de grandes usinas

nos leilões de energia.

-

Suprimento

Garantido por leilões públicos, onde a

transação acontece sob a supervisão do

órgão regulador.

Apenas sistema de compensação direto na

rede das distribuidoras na forma de

desconto.

Energia remunerada por contratos de longo

prazo a preços pré-definidos, com baixo

risco para os geradores.

Risco atrelado à volatilidade das tarifas de

energia das distribuidoras.

Comercialização Possibilidade de venda de energia no

varejo, com baixa liquidez.

Possível, porém, não viável para pequenos

geradores dada à exposição das tarifas

reguladas que são baixas.

Financiamento Todos os projetos contam com

financiamento subsidiado pelo BNDES.

Não há linha específica no BNDES para o

sistema, forçando os geradores a buscar

financiamento por meios próprios.

Fonte: Vazquez e Hallack (2018).

Ao se associar os dados de tipo de uso e potência instalada, percebe-se que a grande

concentração do uso da geração distribuída, no Brasil, está no uso de energia gerada por fontes

fotovoltaicas em todos os segmentos de alimentação regulados pela ANEEL, conforme Gráfico

2.

Gráfico 2 – Potência instalada por classe de consumidor (kW)

Fonte: ANEEL (2019a).

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

Comercial Residencial Industrial Rural Poder Público Serviço

Público

Iluminação

pública

Hidro Eólica Térmica Fotovoltaica

Page 40: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

39

2.3 BARREIRAS PARA A ADOÇÃO DE ENERGIA SOLAR

Conforme Frate e Brannstrom (FRATE; BRANNSTROM, 2017) analisam em seu

artigo, existem barreiras concretas e subjetivas para a adoção de grandes empreendimentos de

energias renováveis. Em primeiro lugar, a falta de infraestrutura, a baixa percepção dos

benefícios pela população e a falta de planejamento são as principais barreiras para esta

expansão. Existem, segundo os autores, aspectos que auxiliam a entender estas barreiras, como

a falta de atratividade quanto aos preços dos leilões de energia promovidos pelo governo, o que

afasta a perspectiva de migração para esta fonte e reforça a influência econômica para a

promoção destes empreendimentos, deixando os aspectos socioambientais em uma posição de

relevância inferior (FRATE; BRANNSTROM, 2017). Ao passo que o aspecto socioambiental

é relegado, a população não identifica os reais benefícios desta fonte de energia, o que pode

acarretar reações negativas da população, como visto em grandes empreendimentos

hidroelétricos.

Também contribui como barreira a falta de infraestrutura para a transmissão da energia

solar gerada, que dialoga diretamente com os baixos preços dos leilões. Para se recapacitar uma

rede de distribuição para o escoamento de energia, são necessários grandes investimentos por

parte dos proponentes e das distribuidoras pelo planejamento de expansão não ter sido

corretamente executado (FRATE; BRANNSTROM, 2017).

2.3.1 O uso de energia solar por empresas

Apesar de não ser o setor com maior número de conexões, o uso da geração distribuída

solar pelo setor comercial é o que mais contribui para a potência instalada desta modalidade

(ANEEL, 2019a). O Gráfico 3 mostra o número de conexões em geração distribuída

fotovoltaicas por classe de consumo.

Gráfico 3 – Número de conexões em geração distribuída fotovoltaicas por classe de consumo

Page 41: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

40

Fonte: ANEEL (2019a).

O Gráfico 4 apresenta a potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe

de consumo.

Gráfico 4 – Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe de consumo (kW)

Fonte: ANEEL (2019a).

Em uma projeção feita pela ANEEL em 2017, estimava-se que o número de unidades

consumidoras comerciais que receberiam créditos em geração distribuída fotovoltaica

alcançaria a marca de 5.917 Unidades de Consumo (UCs) e a potência instalada seria de 59

MW (ANEEL, 2017). Estes números, em 2019, alcançaram a marca de 9.718 UCs que recebem

créditos e uma potência instalada de 161 MW (ANEEL, 2019a). Este descolamento da projeção

para os números apurados se deve, segundo autores, à insegurança quanto aos aumentos de

17%

74%

3%

5%

1% 0% 0%

Comercial

Residencial

Industrial

Rural

Poder Público

Serviço Público

Iluminação pública

42%

36%

10%

9%

3% 0% 0%

Comercial

Residencial

Industrial

Rural

Poder Público

Serviço Público

Iluminação pública

Page 42: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

41

tarifas e ao mecanismo de compensação por net-metering (DA SILVA et al., 2018; JANNUZZI;

DE MELO, 2013).

Estudos se focam no mercado residencial, como o de Vilaça Gomes et al. (2018), e no

potencial geral do Brasil para uso do sistema, como o de Pereira et al. (2012). Porém, a própria

ANEEL estimou, em 2017, que o crescimento do uso do sistema pelos consumidores comerciais

expandiria a uma taxa 12,5% superior que a residencial anualmente (ANEEL, 2017), conforme

Tabela 3.

Tabela 3 – Projeção de crescimento anual de mercado em potência

Região Residencial Comercial Total

Norte 6,4% 6,0% 5,0%

Nordeste 4,6% 5,1% 4,1%

Sudeste 3,4% 4,2% 3,6%

Sul 4,3% 4,7% 3,8%

Centro-oeste 3,4% 4,2% 3,6%

Brasil 4,0% 4,5% 3,8%

Fonte: ANEEL (2017, p. 23).

Conforme Rosas Luna et al. (2019) descrevem, o crescimento do setor comercial de

geração distribuída é mais atrativo onde as tarifas são mais elevadas, como os setores

residencial e comercial alimentados em baixa tensão, onde o retorno se dá de maneira mais

célere. Quando confrontado com os dados obtidos junto à ANEEL, as projeções não refletem a

realidade verificada em 2019. O crescimento da potência instalada para o setor comercial,

comparado aos primeiros trimestres dos anos de 2017, 2018 e 2019, foi de 496% entre 2017 e

2018, e de 67% entre 2018 e 2019 (ANEEL, 2019a). A Tabela 4 apresenta a potência instalada

por trimestre.

Tabela 4 – Potência instalada por trimestre (kW)

Tipo de Consumidor Potência instalada (kW)

1° Trimestre 2017 1° Trimestre 2018 1° Trimestre 2019

Comercial 5.615 33.452 55.870

Fonte: ANEEL (2019a).

O volume de novas conexões também pode ser analisado sob o ponto das modalidades

de conexão procuradas pelos clientes. Os consumidores comerciais que optam pelo sistema

promovem o maior crescimento proporcional ao longo dos anos no autoconsumo remoto, que

preconiza a geração de energia em um local e distribuição desta energia em unidades

consumidoras de localidades distintas da geração (ANEEL, 2019a). A Tabela 5 apresenta a

evolução de potência instalada por classe de acesso ao sistema de geração distribuída

fotovoltaica de clientes comerciais.

Page 43: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

42

Tabela 5 – Evolução de potência instalada (kW) por classe de acesso ao sistema de geração distribuída fotovoltaica

de clientes comerciais

Classe de acesso Potência instalada (kW)

2015 2016 2017 2018

Autoconsumo remoto 262 3.432 11.642 42.372

Geração compartilhada 37 1.416 947

Geração na própria UC 2.919 17.150 39.792 118.578

Múltiplas UC 10

Fonte: ANEEL (2019a).

Ao se analisar os dados das empresas com maior potência instalada na modalidade, as

empresas com operações capilarizadas contribuíram para o volume de potência observado. As

cinco empresas com maior potência instalada, de um total de 11.104, concentram 8,6% da

potência (ANEEL, 2019a). A Tabela 6 apresenta as empresas com maior potência instalada em

geração distribuída fotovoltaica comercial.

Tabela 6 – Empresas com maior potência instalada em geração distribuída fotovoltaica comercial

Empresa Setor Potência Instalada (kW) Representatividade (%)

Claro S.A. Serviços 13.600 4,6

Via Varejo S.A. Comércio 4.260 1,4

Caixa Econômica Federal Serviços 4.079 1,4

Alsol Energias Renováveis Serviços 1.860 0,6

Pague Menos Comércio 1.800 0,6

Fonte: ANEEL (2019a).

2.4 QUADRO RESUMO DA REVISÃO DE LITERATURA

De maneira a sintetizar os dados verificados na revisão de literatura com as questões

inerentes ao uso da geração distribuída de fonte fotovoltaica, o trabalho propõe um quadro que

enumera os motivadores e as barreiras para a aplicação do modelo. Estes pontos servirão como

balizadores para o roteiro das entrevistas. Porém, poderão ser revisados de acordo com os

resultados obtidos. O

Page 44: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

43

Quadro 4 apresenta essas informações.

Não foram encontrados artigos que tratavam especificamente de ecoeficiência em

empresas pelo uso da geração distribuída fotovoltaica. Adicionalmente, não foram encontrados

artigos que tratam da geração distribuída fotovoltaica por empresas sob a luz do modelo de

arrendamento de usinas, como também não foram encontrados estudos que se aprofundam nos

impactos para a expansão ou retração da modalidade ante alguma alteração na legislação

vigente.

Page 45: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

44

Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração distribuída por empresas

(Continua) Tema Item Tipo Subtema Referência

1

Política

regulatória ou

pública

1.1 Motivador

Existência de legislação ou

políticas públicas que promovam a

adoção de uso de energias

renováveis no modelo de geração

distribuída

(BRADSHAW, 2017;

NERI et al., 2018; VILAÇA

GOMES et al., 2018)

1.2 Motivador

Existência de incentivos tributários

que promovam o uso da geração

distribuída para a ecoeficiência

(NERI et al., 2018;

ROCHA et al., 2017)

1.3 Barreira

Insegurança de regulações

específicas para geração

distribuída

(ANEEL, 2018a; POLZIN

et al., 2019)

2 Condições de

mercado

2.1 Motivador Custos com energia e escassez de

recursos

(NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et al.,

2018)

2.2 Motivador

Aumento de competitividade e

percepção de valor de mercado por

práticas de ecoeficiência

(CAIADO et al., 2017;

CARVALHO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ;

GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013; NERI

et al., 2018)

2.3 Motivador Pressões e demandas do mercado

por ecoeficiência das operações (NERI et al., 2018)

2.4 Barreira Existência de monopólio das

distribuidoras de energia

(FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017;

NERI et al., 2018)

2.4 Barreira Falta de capacidade de distribuição

das distribuidoras de energia

(FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017;

NERI et al., 2018)

2.5 Barreira Custo da tecnologia disponível

(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;

TUKKER, 2019; NERI et

al., 2018)

2.6 Barreira

Condições de acesso a fontes

renováveis de energia pelas

empresas

(NERI et al., 2018)

3 Cadeia de

suprimentos 3.1 Motivador

Disponibilidade de fornecedores

especializados (NERI et al., 2018)

4 Eficiência de

operações

4.1 Motivador Redução de custos operacionais e

uso de recursos

(BRADSHAW, 2017;

DRUCKER, 1963; NERI et

al., 2018)

4.2 Motivador Redução do uso de recursos e/ou

externalidades

(KOSKELA; VEHMAS,

2012; NERI et al., 2018)

4.3 Barreira Concorrência com outras formas

de economia de energia

(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;

TUKKER, 2019; STUCKI,

2019)

5 Vendas

5.1 Motivador Aumento de parcela de mercado (KOSKELA; VEHMAS,

2012; NERI et al., 2018)

5.2 Motivador

Melhoria de imagem, aumento da

percepção de qualidade dos

serviços

(ALVES; DUMKE DE

MEDEIROS, 2015;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ;

GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013; NERI

et al., 2018)

5.3 Motivador

Acesso a certificações, novos

mercados e aumento da

participação em mercados

estabelecidos por diferenciação de

desempenho

(CARVALHO et al., 2017;

NERI et al., 2018;

REXHÄUSER; RAMMER,

2014; STUCKI, 2019)

Page 46: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

45

Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração distribuída por empresas

(Conclusão) Tema Item Tipo Subtema Referência

6 Organizacional

6.1 Motivador Existência de comprometimento e

estratégia organizacional

(CAIADO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ;

GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013;

FIGGE; HAHN, 2013;

NERI et al., 2018; RAVI,

2015)

6.2 Motivador

Existência de competências

internas para condução dos

projetos de ecoeficiência

(NERI et al., 2018)

6.3 Motivador Aplicação de medidas para a

mitigação de riscos operacionais

(CAIADO et al., 2017;

FIGGE; HAHN, 2013;

NERI et al., 2018; SALING

et al., 2002; STUCKI,

2019)

6.4 Motivador Criação de inovações nas

operações

(CARVALHO et al., 2017;

NERI et al., 2018)

6.5 Motivador Valores e atitudes de indivíduos

dentro das empresas (NERI et al., 2018)

6.6 Motivador Melhoria da eficiência das

operações

(BARNEY, 1991; NERI et

al., 2018)

6.7 Barreira Metas/orientações do negócio aos

resultados financeiros

(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;

TUKKER, 2019)

6.8 Barreira

Disponibilidade de estrutura e

recursos internos para

investimento e percepção externa

(FATEMI; GLAUM;

KAISER, 2018; NERI et

al., 2018)

6.9 Barreira Aversão a riscos das empresas em

novas modalidades (STUCKI, 2019)

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Page 47: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

46

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Com base nas suposições iniciais, o estudo buscará uma análise da questão de pesquisa

que é: “Quais são os motivadores e barreiras para o uso da geração distribuída de fonte

fotovoltaica por empresas no Brasil?”, por meio da metodologia qualitativa, dado seu teor

exploratório. Pretende-se a exploração da experiência, do entendimento, da visão e da

percepção de realidade dos entrevistados.

Citando Gil (2008), a ciência tem como objetivo chegar à veracidade dos fatos por meio

de sua verificabilidade. Portanto, o conhecimento científico que é gerado deve identificar as

operações mentais e técnicas que possibilitam sua verificação pela determinação do método que

foi utilizado. O método científico pode ser determinado pelo conjunto de procedimentos

intelectuais e técnicos que foram adotados para o atingimento de tal conhecimento (GIL, 2008).

A ontologia da pesquisa foi definida junto a empresas reais, que operam na modalidade

objeto de estudo. A premissa é que sujeito e objeto são separados e podem ser compreendidos

sem a influência do pesquisador no conhecimento gerado, conforme Ruiz (2012). A

epistemologia, ou estudo do conhecimento, adotada foi o método positivista, que entende que

a realidade é única e pode ser compreendida de fora da situação, sem influência do pesquisador

no conhecimento gerado, permitindo a definição de leis que são impostas aos atores, em uma

reação de causa e efeito (RUIZ, 2012).

Quanto às teorias, este trabalho visa abordar as teorias de ecoeficiência e sua aplicação

no tema de geração distribuída fotovoltaica em empresas. O método de investigação empírica

escolhido é baseado em estudo de casos, conforme Yin (2001) classifica, devido ao fato do

pouco controle e da contemporaneidade dos fenômenos estudados em um contexto real,

permitindo assim um estudo mais aprofundado e com maior detalhamento. Além disso, o estudo

de caso permite que dados possam ser obtidos por meio da observação direta e de entrevistas

sistemáticas (YIN, 2001). OQuadro 5 apresenta as principais informações que embasaram essa

decisão.

Quadro 5 – Investigação empírica

Estratégia Forma de questão de

pesquisa

Exige controle sobre

eventos comportamentais?

Focaliza eventos

contemporâneos?

Experimento Como, por quê? Sim Sim

Levantamento Quem, o quê, onde,

quantos, quanto? Não Sim

Análise de arquivos Quem, o quê, onde,

quantos, quanto? Não Sim/Não

Pesquisa histórica Como, por quê? Não Não

Page 48: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

47

Estudo de caso Como, por quê? Não Sim

Fonte: Yin (2001, p. 15).

3.1 FORMULAÇÃO DA PESQUISA

Segundo Yin (2001), um estudo de casos múltiplos visa gerar uma explicação que

abranja todos os casos e que possam variar em seus detalhes, pelo fato da unidade de análise

estar relacionada com a maneira em que a pesquisa foi formulada. Para tanto, com base na

revisão de literatura, foram identificados os itens que são o objeto do tema da presente pesquisa,

de modo a traçar um encadeamento de sua aderência às práticas das empresas selecionadas.

Estes temas são identificados no Quadro 6.

Quadro 6 – Itens abordados na pesquisa

Itens Objeto de análise Referências bibliográficas

Ecoeficiência

Adoção de práticas de ecoeficiência

como meio de diferenciação e vantagem

competitiva no ambiente em que a

empresa se insere.

(ANSAR et al., 2014; CAIADO et al., 2017;

FATEMI; GLAUM; KAISER, 2018;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE; HAHN, 2013;

MOUTINHO et al., 2018; NERI et al., 2018;

NIKOLAOU; MATRAKOUKAS, 2016;

QUAIREL-LANOIZELEE, 2016; RAVI, 2015;

SALING et al., 2002; ZHANG et al., 2008)

Energia

Relevância do consumo de energia

dentro das operações das empresas,

programas de ecoeficiência utilizados e

gestão aplicada sobre o recurso.

(ANSAR et al., 2014; NERI et al., 2018; ZHANG

et al., 2008)

Energias renováveis

Motivação do uso de energia renovável e

aderência às estratégias de ecoeficiência

das empresas.

(ANSAR et al., 2014; CAIADO et al., 2017;

FIGGE; HAHN, 2013; GUERRA et al., 2015;

MOUTINHO et al., 2018; NERI et al., 2018;

REXHÄUSER; RAMMER, 2014; SALING et

al., 2002; STUCKI, 2019; ZHANG et al., 2008)

Geração distribuída

fotovoltaica

Oportunidades encontradas pelas

empresas para o uso da modalidade e

fonte.

(BRADSHAW, 2017; VAZQUEZ; HALLACK,

2018; VILAÇA GOMES et al., 2018)

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Dentro dos itens abordados, a pesquisa se baseou no proposto por Yin (2001) em obter

os dados sob a perspectiva de Como o item é tratado nas empresas e no Por quê da adoção das

práticas sobre os itens. Adicionalmente, a análise foi complementada pela ótica dos motivadores

e das barreiras encontradas em cada um dos itens, a fim de identificar os limites de atuação em

cada um deles.

A escolha por entrevistas semiestruturadas para a condução da pesquisa visa o

complemento do cenário verificado na revisão da literatura, como meio de diagnosticar o real

momento que a modalidade de geração distribuída com autoconsumo remoto enquadra-se no

país e como esta modalidade é aplicada para clientes comerciais. Foram conduzidas por meio

Page 49: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

48

de perguntas abertas e fechadas, focadas no desenvolvimento do tema e no atendimento das

pretensões do roteiro. Para a pesquisa, foram selecionados os representantes das empresas que

permitam o acesso ao ambiente e às informações necessárias, com agendamento prévio e

espaçado para melhor aproveitamento das entrevistas, com duração aproximada de uma hora.

As perguntas foram elaboradas de forma a traduzir os objetivos da pesquisa em questões

específicas (GIL, 2008). Os critérios de seleção dos entrevistados foram baseados no perfil dos

participantes, onde foram observadas:

a) A prontidão do entrevistado quanto às informações desejadas;

b) Possibilidade de resposta sem recusas ou negativas;

c) Uma pergunta de cada vez;

d) Perguntas com possibilidade de respostas explícitas; e

e) Relevância das perguntas frente às informações pretendidas.

O esboço do questionário aplicado encontra-se em apêndice neste trabalho (APÊNDICE

A – Roteiro de entrevistas).

Para a análise de documentos, foram confrontados dados públicos de bases acessíveis e

que não tiveram o tratamento científico analítico, permitindo a verificação dos conteúdos, além

de dados publicados e relatórios anuais das empresas entrevistadas, como forma de confirmação

das informações concedidas. O Quadro 7 apresenta um resumo dos documentos utilizados.

Quadro 7 – Documentos utilizados na análise

Documento Empresa Tipo de documento

Documento 1 América Relatório de sustentabilidade

Documento 2a Império Relatório anual

Documento 2b Império Divulgação de informações ao mercado

Documento 3 Cárpatos Relatório anual

Documento 4a Pedra Única Relatório anual

Documento 4b Pedra Única Relatório de sustentabilidade

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

O problema de pesquisa desse estudo é: Quais são os motivadores e barreiras para o

uso da geração distribuída de fonte fotovoltaica por empresas no Brasil? Buscando-se a

especificidade, foi analisado o que pode aproximar e distanciar os dois temas, com base na

proposição de estudo de caso associando o como e o por que a eventos contemporâneos,

conforme Yin (2001). Limitações do estudo são inerentes a um trabalho como este e cabe

ressaltar aspectos de legislação para o tema e o foco em fontes solares de geração de energia.

Page 50: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

49

3.2 SELEÇÃO DOS CASOS

Segundo Yin (2001), as unidades de análise de um estudo de casos devem dar

preferência aos casos que não deixariam as questões da pesquisa vagas ou que não as

responderiam. Também como definido por Yin (2001), a delimitação do limite do tempo deve

ser utilizada de maneira a definir o início e o fim dos casos.

Os procedimentos da pesquisa adotados visam a viabilidade ampla, dado que foram

englobadas empresas com as maiores aplicações comprovadas, segundo a ANEEL, ou

aspirações públicas declaradas voltadas ao uso da energia proveniente de fontes solares

aplicadas em geração distribuída e que adotam ou já têm projetos contratados para o uso do

autoconsumo remoto conforme dados da ANEEL. Portanto, a seleção das empresas abrange

uma parcela satisfatória dos agentes que partilham do mesmo mercado ou que se enquadram na

condição descrita. Esta escolha foi feita como forma de garantir a relevância do estudo, ao se

comparar empresas que se destacam no tema e podem contribuir para a teoria que será

construída.

Foram selecionados para entrevista pessoas de níveis estratégicos nas organizações e

que são responsáveis pela estruturação e/ou implantação dos projetos nas empresas. Pelo fato

de as empresas solicitarem sigilo das informações, os nomes das empresas e dos entrevistados

foram ocultados. O Quadro 8 descreve o perfil dos entrevistados.

Quadro 8 – Empresas e entrevistados

Empresa Cargo do Entrevistado Data da entrevista

América Diretor de Suporte Financeiro ao Negócio 13/05/2019

Império Assessora Master de Patrimônio, Infraestrutura e Suprimentos 09/05/2019

Pedra Única Superintendente de Infraestrutura 27/06/2019

Cárpatos Diretor de Expansão e Infraestrutura 24/05/2019

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Page 51: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

50

4 ESTUDO DE CASO DAS EMPRESAS

Os maiores consumidores comerciais que utilizam o sistema de geração distribuída

ultrapassam a barreira dos 1.500 kW de capacidade instalada e de maneira aplicada em

autoconsumo remoto. Foram selecionadas três empresas que já operam acima desta capacidade

e uma empresa que finalizou uma licitação pública para a construção de uma usina com

capacidade superior a 1.500 kW.

4.1 EMPRESA: AMÉRICA

4.1.1 Atuação da empresa

A empresa América atua no setor de telecomunicações e serviços e foi constituída no

ano de 2004, controlada por um grupo de telecomunicações estrangeiro. Foram utilizados,

primeiramente, os dados secundários da empresa, obtidos no relatório de sustentabilidade de

2018, onde a empresa consolida suas informações de sustentabilidade de maneira unificada com

as demais unidades de negócio da controladora, além de dados disponíveis no website da

empresa. Adicionalmente, a empresa também é signatária do Pacto Global e, em 2018, ratificou

sua adesão e de suas subsidiárias ao Pacto (DOCUMENTO 1).

4.1.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa

Em 2018, a empresa lançou uma nova estratégia de sustentabilidade embasada nos

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde a ecoeficiência é tratada, em seu relatório

anual, com o uso eficiente de recursos e o manejo adequado de resíduos (DOCUMENTO 1). O

Entrevistado 1 confirmou tais informações relatando que, para o caso do Brasil, o foco se dá

tanto nos benefícios financeiros do uso eficiente destes recursos quanto nos benefícios de

transparência, imagem e agregação de valor à empresa.

De maneira complementar, o Entrevistado 1 declara que os projetos que visam a

ecoeficiência da empresa devem estar alinhados com os resultados financeiros agregados a eles,

sendo factíveis de serem alcançados e mensurados. Tais iniciativas também enfrentam

dificuldades de implementação quando propõem modelos não usuais de operação, como o caso

da Geração Distribuída.

Page 52: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

51

4.1.1.2 Estratégias de energia da empresa

A empresa declara que a energia é o centro de seus esforços para o uso eficiente deste

recurso, dado que o uso deste recurso é intenso e ininterrupto. O foco da empresa sobre o tema,

em seu relatório de sustentabilidade, visa a redução do consumo pela racionalização de suas

operações e pelo uso de energias renováveis como forma de reduzir as emissões e os custos

com o recurso. Tais estratégias são customizadas em cada país de acordo com as características

dos mercados locais (DOCUMENTO 1).

De acordo com o Entrevistado 1, a estratégia de energia se iniciou com foco na gestão

do recurso e na eficiência energética de operações e equipamentos, primeiro pela racionalização

do consumo em suas unidades de negócio por meio de automações de equipamentos,

substituição de aparelhos de ar-condicionado, substituição de sistemas de iluminação em

imóveis por LED e acompanhamento de consumo com base em comparações de clusters de

consumo (DOCUMENTO 1). Estas iniciativas já se encontram maturadas nas operações da

empresa, sendo revistas periodicamente. A empresa mantém as iniciativas, mesmo que

maturadas, pois ainda provém os resultados esperados.

De maneira paralela, a empresa buscou meios para a obtenção do recurso de maneira

mais atrativa financeiramente, migrando suas unidades consumidoras cabíveis para o ACL.

Para as demais unidades, a empresa buscou formas alternativas de abastecimento de energia

que convergissem ao propósito do tema, sendo a geração distribuída o meio escolhido.

4.1.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades

Em 2018, a empresa publicou, em seu relatório de sustentabilidade, como sua meta

número um, o uso de pelo menos 50% de energia renovável em suas atividades. No relatório de

sustentabilidade de 2018, a empresa reporta que 31% de seu consumo já era proveniente de

fontes renováveis. Para as operações do Brasil, a empresa não declara qual é a atual cobertura

de energia renovável de suas operações. Porém, em seu relatório de sustentabilidade, declara

que contempla duas iniciativas para o tema, com a compra de energia no mercado livre e o uso

de geração distribuída (DOCUMENTO 1).

Para a compra de energia no mercado livre, a empresa adquire no ACL de fontes

totalmente certificadas como renováveis, como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. Conforme

o Entrevistado 1, isto permitiu às operações do Brasil contemplar a meta traçada para as

Page 53: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

52

unidades que contam com grande consumo e viabilidade para o acesso ao mercado livre, e não

contam com mais espaço para a expansão nesta direção.

Para as unidades com baixa concentração de consumo, a empresa não priorizou o

abastecimento local com tecnologias de autoprodução, como instalação de geradores de fontes

renováveis nos imóveis. Foram citados como barreiras os custos envolvidos e a baixa

capacidade de produção. A empresa optou pela concentração de ações em geração distribuída

de fontes renováveis, conforme explicado pelo Entrevistado 1.

4.1.1.4 Estratégia para geração distribuída

Em 2018, a empresa América declarou que, no Brasil, conta com dez usinas de geração

distribuída de fontes solares, eólicas, biogás, hidrelétrica e cogeração, complementando

também que esta foi a estratégia para o suprimento de energia de unidades de negócio com

baixa concentração de consumo. O Entrevistado 1 ratifica estas informações mencionando que

os maiores motivadores para esta opção foram a observância das metas definidas pela empresa,

a possibilidade de redução dos custos financeiros e a imagem da empresa junto aos

stakeholders.

A empresa, segundo o Entrevistado 1, optou por uma atuação em geração distribuída

para o abastecimento, prioritariamente, de suas unidades de baixa tensão, como torres de

transmissão, armários de distribuição de links e unidades de negócio descentralizadas. Em um

primeiro momento, a empresa não distinguiu a fonte prioritária para a geração. Porém, ao longo

da evolução dos projetos, avaliou a fonte solar como a mais competitiva para suas operações,

dada a previsibilidade de geração e a evolução dos custos associados à fonte. De maneira

complementar, o Entrevistado 1 também relatou que os incentivos tributários, como o convênio

de ICMS e as legislações específicas de estados que concederam maior atratividade à fonte

solar direcionaram a expansão nesta direção.

A possibilidade de redução de custos foi declarada pelo Entrevistado 1 como sendo o

motivador para a adoção da modalidade, visto que, além do benefício financeiro, permitiu o

alinhamento com a meta estabelecida pela empresa. A empresa também entende que já alcançou

o limite de expansão neste modelo, conforme mencionado pelo Entrevistado 1, e pretende

concluir a implantação das usinas já contratadas. Dados do relatório de sustentabilidade da

empresa informam que existem 10 usinas de fontes solares, eólicas, biogás, cogeração e hídrica

em operação e a meta, para o ano de 2019, é iniciar a operação das 52 restantes, também de

diversas fontes.

Page 54: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

53

Por outro lado, a empresa também reporta, como risco para a implementação de fontes

renováveis de energia, mudanças em regulações aplicáveis que impliquem em impactos para a

meta estabelecida. O Entrevistado 1 confirma esta informação e entende que a regulação tem

pontos ainda incertos de sua evolução, que podem realmente impactar este modelo de negócio.

Em seu relatório de sustentabilidade, a empresa não identifica barreiras por parte de

fornecedores associados aos projetos de geração distribuída, informações confirmadas com o

Entrevistado 1. Além disso, o Entrevistado 1 informa que a maior barreira para o uso desta

modalidade está vinculada às concessionárias de energia, evidenciando que há muitos

problemas com itens essenciais, como reforço de redes de distribuição, atendimento dos prazos

e avaliação dos projetos. O Quadro 9 apresenta a síntese do estudo de temas da empresa.

Quadro 9 – Síntese do estudo de temas da empresa

Tema Objeto de análise Análise Documental Entrevista

Ecoeficiência

Adoção de práticas de

ecoeficiência como meio

de diferenciação e

vantagem competitiva no

ambiente em que a

empresa se insere.

- Associa a sustentabilidade como

meio de manter a liderança dos

mercados em que atua; e

- Baseia a gestão ambiental em

eficiência no uso de recursos,

proteção ao meio ambiente e

biodiversidade.

- Utiliza a ecoeficiência

como meio de se obter

mitigação de riscos,

diminuição de custos,

melhoria da imagem da

empresa e aumento de

valor.

Energia

Relevância do consumo de

energia dentro das

operações das empresas e

gestão aplicada sobre o

recurso.

- Centraliza esforços para a

racionalização do uso, dada a

dependência do recurso para as

operações; e

- Avalia os projetos em curso e os

novos projetos para implantação,

dado seu retorno.

- A implementação de

projetos de redução de

consumo deve ser

mensurada, dado seu

retorno financeiro.

Energias

renováveis

Motivação do uso de

energia renovável e

aderência às estratégias de

ecoeficiência das

empresas.

- Determina metas para o uso de

energias renováveis como um dos

pontos centrais de sua atuação; e

- Utiliza abastecimento no ACL

para consumos intensivos e geração

distribuída para consumos pouco

intensivos.

- Utiliza abastecimento

no ACL para consumos

intensivos e geração

distribuída para

consumos pouco

intensivos; e

- O uso de fontes

renováveis é visto como

meio de gerar

previsibilidade e redução

de custos com o insumo.

Geração

distribuída

fotovoltaica

Oportunidades

encontradas pelas

empresas para o uso da

modalidade e fonte.

- Não dá relevância especial à

modalidade em seu relatório.

- Concentra os projetos

na modalidade por

considerar a fonte mais

competitiva no

momento, dada a

segurança de

abastecimento e

previsibilidade de

geração.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Page 55: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

54

4.1.2 Análise do estudo de caso da empresa América

Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e

as barreiras identificadas neste estudo de caso.

4.1.2.1 Políticas públicas ou regulatórias

A existência de legislação específica para a geração distribuída foi uma condicionante

para a opção pela modalidade. A Resolução nº 482 (ANEEL, 2012) permitiu, à empresa, iniciar

seus estudos e, após o aprimoramento dado pela Resolução nº 687 (ANEEL, 2015), foi possível

a execução de projetos maiores e com a cobertura necessária para as unidades de negócio

passíveis de aplicação, conforme o Entrevistado 1. Isso está de acordo com o mencionado como

motivadores por Bradshaw (2017), Neri et al. (2018) e Vilaça Gomes et al. (2018).

Os incentivos tributários também foram considerados como facilitadores para a empresa

realizar a modelagem dos projetos, de uma forma a aprimorar os benefícios do sistema de

geração distribuída e obter mais benefícios fiscais. Como a empresa América é uma empresa

de serviços de telecomunicações no Brasil, naturalmente se beneficia da recuperação de créditos

de ICMS pela compra de energia, pelo fato de serem consideradas empresas de indústria básica

pelo Decreto n° 640 de 1962 (BRASIL, 1962) e passíveis de recuperação destes créditos pela

Lei Complementar nº 87 de 1996 (BRASIL, 1996).

A insegurança com as alterações da regulação, que está prevista para o ano de 2020,

levou a empresa a uma paralisação de novos projetos. Pelo fato de a empresa ser uma das

maiores usuárias da modalidade, e por motivos que serão discutidos posteriormente, houve uma

interrupção da estratégia de expansão em geração distribuída. Porém, foi considerada como

uma barreira apenas temporária, confirmando o exposto por Polzin et al. (2019).

4.1.2.2 Condições de mercado

A mitigação de custos com energia elétrica da empresa América foi o principal

motivador para a adoção da modalidade, segundo o Entrevistado 1. Com unidades de negócio

por todo o Brasil, a geração distribuída permitiu, à empresa, abranger muitas unidades, com

previsibilidade de custos e com proteção de alterações significativas de tarifas aplicadas pelas

concessionárias.

Page 56: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

55

Com a redução dos custos operacionais, o Entrevistado 1 também menciona que a

utilização da modalidade permite, à empresa, aliar os benefícios financeiros com o uso de

energias renováveis, o que resulta na ecoeficiência de suas operações. Adicionalmente, esta é

uma ação da empresa que recebe destaque em seu relatório anual global, como forma de gerar

uma melhor percepção de valor para os stakeholders e uma diferenciação no setor em que atua,

confirmando o exposto por Caiado et al. (2017), Carvalho et al. (2017), Fernández-Viñé,

Gómez-Navarro e Capuz-rizo (2013) e Neri et al. (2018).

O Entrevistado 1 também deixa claro que as concessionárias representam uma barreira

significativa para a adoção e a consolidação do modelo pela empresa. Em seus projetos, o

Entrevistado 1 menciona que muitos tiveram seu prazo de operação prolongado, tanto por

procedimentos e atrasos na análise dos processos administrativos das concessionárias quanto

por falta de capacidade de absorção da energia que as usinas injetariam em uma rede que não

comportaria todo o montante da energia.

Pelo fato de as concessionárias deterem o controle das redes de distribuição, a injeção

da energia fica condicionada totalmente aos trâmites e à infraestrutura das concessionárias para

entrarem em operação e, efetivamente, proverem os benefícios que a empresa espera. Esse fato

está alinhado com as barreiras mencionadas por Faria Jr., Trigoso e Cavalcanti (2017) e Neri et

al. (2018).

Os custos da tecnologia disponível não afetam de maneira direta a opção pela

modalidade na empresa América, mas de maneira indireta. A modelagem dos projetos pela

empresa levou em consideração uma opção que este mercado fomentou, com base na Resolução

n° 687 (ANEEL, 2015), onde é permitido o arrendamento de empreendimentos construídos por

terceiros. Com este arrendamento, a empresa que opta pela geração distribuída não tem a

necessidade de construir ou realizar a operação e a manutenção da usina, sendo apenas a

detentora da posse da usina pelo período de arrendamento acordado com o efetivo proprietário

dos ativos e, por consequência, da energia que a usina gerar e injetar na rede da concessionária.

Com isso, os custos da tecnologia impactam diretamente os fornecedores das usinas a serem

arrendadas e o preço pelo qual a empresa que optar, neste caso a América, remunerará o

fornecedor pelo arrendamento proposto.

O acesso a outras formas de abastecimento das unidades por fontes renováveis de

energia não representa uma barreira para a adoção da modalidade pela empresa América, mas

uma condicionante. Com a estratégia de abastecimento das unidades que são passíveis de

acessar o ACL, as demais unidades que não têm a infraestrutura compatível para acessar o ACL

são diretamente consideradas para o uso da geração distribuída pela empresa América. Com

Page 57: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

56

esta posição, o item se converte em um motivador para o uso da geração distribuída, em

desacordo com o exposto por Neri et al. (2018).

4.1.2.3 Cadeia de Suprimentos

No caso da América, a existência de fornecedores especializados foi um motivador para

a adoção da modalidade, segundo o Entrevistado 1. Conforme exposto anteriormente, a empresa

utilizou o modelo de arrendamento de ativos para o uso do modelo sem a necessidade de

construção das usinas, contratando fornecedores especializados na gestão destes ativos.

4.1.2.4 Eficiência de operações

Conforme mencionado anteriormente, o principal motivador para a empresa adotar a

geração distribuída foi a possibilidade de redução de custos com energia e redução das despesas

operacionais aliada à redução das externalidades. Como a energia que é gerada pelas usinas que

a empresa detém o controle operacional é totalmente abatida, em kWh, da energia consumida

de suas unidades designadas para tal, há a mitigação do impacto dos reajustes tarifários, além

da incidência das bandeiras tarifárias nos custos com energia.

Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019) e Stucki (2019) declaram que a adoção da

estratégia de geração distribuída concorre diretamente com outras formas de redução de

consumo de energia, podendo tornar-se uma barreira (DIAZ LOPEZ et al., 2018; STUCKI,

2019). Este fato se dá pelo esforço das empresas em buscar ações de redução de consumo

preliminarmente à adoção da geração distribuída. Isso foi observado no caso da empresa

América.

De acordo com o Entrevistado 1, a adoção da geração distribuída apenas foi considerada

na estratégia de redução de custos da empresa após a aplicação de outras formas de redução de

consumo de energia. A empresa havia dedicado esforços anteriores para a modernização das

instalações de iluminação e ar-condicionado, além do monitoramento do consumo das unidades

para, então, implantar a geração distribuída em suas unidades.

4.1.2.5 Vendas

Page 58: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

57

A empresa América faz uma divulgação específica de suas ações em energias

renováveis com destaque para o uso de geração distribuída no Brasil (DOCUMENTO 1). Esta

ação da empresa, segundo o Entrevistado 1, visa também transparecer aos mercados em que a

empresa atua uma posição de alinhamento com os desafios ambientais atuais. O Entrevistado 1

ainda afirma que o uso de fontes renováveis de energia é também motivado pela possibilidade

de melhoria da imagem da empresa e como uma forma de beneficiar a sociedade com a redução

de fontes não renováveis na matriz energética do país.

Conforme o Entrevistado 1, a empresa América declara que o uso da geração distribuída,

principalmente de fonte fotovoltaica, permite uma diferenciação entre as demais empresas que

atuam no mesmo setor e permite, aos stakeholders, uma melhor percepção da qualidade dos

serviços ao agregar a ecoeficiência em suas operações.

4.1.2.6 Organizacional

Em seu relatório anual, a empresa América assume o compromisso de utilizar 50% de

energias renováveis em suas operações, aliada com a redução do consumo de energia de suas

operações, como forma de redução dos impactos ambientais de suas atividades. No ano de 2018,

a empresa reportou que 31% da energia utilizada era proveniente de fontes renováveis

(DOCUMENTO 1)

Este compromisso global assumido pela empresa fica presente, também, nas declarações

do Entrevistado 1, que afirma que o uso da geração distribuída converge diretamente para as

metas e para os compromissos ambientais que a empresa assumiu, ainda que não tenha feito

menção direta ao relatório anual. Isto pode, eventualmente, ser considerado como forma de

confirmação que a assunção deste compromisso pela empresa é algo já incorporado nos projetos

de geração distribuída da América. Conforme Caiado et al. (2017), Fernández-Viñé, Gómez-

Navarro e Capuz-Rizo (2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018) e Ravi (2015), isso pode

ser considerado um motivador para a implantação.

As competências internas foram desenvolvidas para a condução da estratégia de geração

distribuída. O Entrevistado 1, como Diretor de Suporte Financeiro ao Negócio, é o responsável

pela gestão de recursos de infraestrutura na América e menciona que este item foi relevante

para a adoção da modalidade.

Por se tratar de uma nova modalidade que não contava com optantes no volume de

projetos e na capacidade que a América decidiu implantar, houve a necessidade de se direcionar

as estruturas internas para a capacitação na compreensão e na modelagem dos projetos, além

Page 59: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

58

de esforços internos para o convencimento da direção da empresa para a adoção da modalidade.

Estes pontos se alinham com os motivadores de existência de competências internas para

condução dos projetos de ecoeficiência (NERI et al., 2018), criação de inovações nas operações

(CARVALHO et al., 2017; NERI et al., 2018), valores e atitudes de indivíduos dentro das

empresas (NERI et al., 2018) e barreira de aversão a riscos das empresas em novas modalidades

(STUCKI, 2019). Verifica-se que a equipe capacitada para tais desafios foi crucial para sua

implantação.

A modalidade da geração distribuída, principalmente de fonte fotovoltaica, permitiu à

América, conforme o Entrevistado 1, ter ganhos financeiros pela redução dos custos com

energia além de uma mitigação de geração dada a previsibilidade inerente à fonte fotovoltaica.

Na composição de custos e riscos que concerna a esta fonte, a empresa identificou-a a melhor

forma de atender as suas necessidades e concentrou as implantações em tal, tornando-a a

principal fonte para a modalidade. Isso está em alinhamento ao verificado como motivador por

Caiado et al. (2017), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018), Saling et al. (2002) e Stucki

(2019).

4.1.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa América

O tratamento dado à racionalização de consumo e à obtenção de eletricidade proveniente

de fontes renováveis está alinhado aos compromissos e às metas que a empresa assumiu de

maneira global. A geração distribuída foi verificada como uma das estratégias da empresa para

atingir esta meta no Brasil.

Como principais motivadores, foram identificados para a adoção da modalidade pela

empresa:

• A existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de

energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI

et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);

• A Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et al., 2018);

• A Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al.,

2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013;

FIGGE; HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015); e

Page 60: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

59

• A existência de competências internas para condução dos projetos de ecoeficiência

(NERI et al., 2018).

As barreiras identificadas foram:

• A insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;

POLZIN et al., 2019);

• A existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);

• A falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;

TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e

• A aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).

4.2 EMPRESA: IMPÉRIO

4.2.1 Atuação da empresa

A empresa Império atua no setor de serviços financeiros e é de origem brasileira. É uma

empresa mista, controlada também pela União. Participa do Índice de Sustentabilidade

Empresarial (ISE) da Brasil Bolsa Balcão (B3) e da carteira de mercados emergentes do Índice

Dow Jones de Sustentabilidade (Dow Jones Sustainability Index – DJSI) (DOCUMENTO 2a e

2b). Foram utilizados, como dados secundários, as informações contidas no relatório anual de

2018 (DOCUMENTO 2a), onde a empresa consolida suas informações de sustentabilidade.

Também foi realizada uma entrevista com a Assessora Master da área de Patrimônio,

Infraestrutura e Suprimentos.

4.2.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa

O atendimento dos critérios e a participação nos índices de sustentabilidade (ISE e DJSI)

é mencionado pela Entrevistada 2 como uma das prioridades da empresa no tocante à política

de sustentabilidade e ecoeficiência. O ISE é, conforme descrito pela B3 (2019), “uma

ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na B3 sob o aspecto

da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça

social e governança corporativa”. Este índice visa selecionar empresas para a composição de

uma carteira de ações que atendem aos critérios de seleção e de avaliação instituídos pela B3.

Page 61: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

60

Em 2019, conta com 28 empresas, sendo uma delas a Império. As empresas que compõem a

carteira de 2019 apresentaram rentabilidade de +203,8%, contra +175,38% do índice Ibovespa,

e menor volatilidade: 24,67% em relação a 27,46% do Ibovespa, no período de 2005 a 2018

(B3, 2019).

Em sua composição, o questionário do ISE conta com uma dimensão de avaliação

ambiental, onde são avaliados o uso eficiente de recursos, por meio do monitoramento do uso,

e os programas baseados em ecoeficiência e produção mais limpa (B3, 2019). Com a avaliação

das ações e dos programas conduzidos pelas empresas, especificamente para ecoeficiência, a

empresa Império declarou, no último questionário, possuir programas estruturados de

ecoeficiência e metas específicas de redução de consumo para água e energia, além de metas e

monitoramento para água de reuso e energias renováveis (B3, 2019).

Já o DJSI é um índice criado em 1999 voltado a investidores que valorizam as práticas

de sustentabilidade empresarial. Avalia as empresas que se submetem ao questionário e à

auditoria do índice, a fim de selecionar apenas as empresas com as melhores práticas entre as

empresas avaliadas (ROBECOSAM AG, 2019). O questionário do índice conta com uma seção

específica de ecoeficiência operacional, onde é avaliado o comportamento do uso de recursos

naturais e geração de resíduos, além de emissões de gases de efeito estufa. Não foram

encontrados dados públicos das respostas da empresa Império ao índice. Em alinhamento aos

índices, a empresa adota indicadores de sustentabilidade para a composição da avaliação do

desempenho dos funcionários e este desempenho impacta diretamente na remuneração variável

dos funcionários, desde o nível estratégico até o nível operacional das unidades de negócios.

Por meio de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), a Império determina os objetivos,

as responsabilidades e as iniciativas de gestão no tema. A Entrevistada 2 ratifica as informações,

complementando que o SGA é a base para a avaliação da ecoeficiência das unidades e ele é

utilizado para o acompanhamento dos indicadores que compõem a avaliação do desempenho

dos funcionários.

O desempenho socioambiental da empresa é declarado em seu relatório anual como

passível de constante revisão e tem seu foco na ecoeficiência das operações com a minimização

de consumo de recursos naturais, geração de resíduos e emissões de gases de efeito estufa. Para

tanto, a empresa declara ter como premissa o aprimoramento de seu SGA, o envolvimento das

partes interessadas na gestão ambiental, a disseminação de conhecimento para o uso eficiente

de recursos, a disseminação da cultura de responsabilidade socioambiental da empresa e a

capacitação do público externo e interno para o aprimoramento das competências em gestão

ambiental.

Page 62: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

61

A empresa englobou os temas de ecoeficiência de geração de resíduos, consumo de água

e energia e de redução de emissões de gases de efeito estufa em um índice interno, que tem

como objetivo normatizar a mensuração dos resultados nestes quesitos. A Entrevistada 2 ainda

ressalta que estas iniciativas da empresa são entendidas internamente como um meio de

diferenciação dos demais concorrentes pois, ao envolver os funcionários com remuneração

variável, permitem o alinhamento às metas estabelecidas pela empresa em todos os níveis

envolvidos e contribuem para a transparência do processo.

Ainda é relatado pela Entrevistada 2 que, com as metas estabelecidas e os esforços

voltados ao atingimento delas, a empresa reduz seus custos operacionais e os riscos das

operações, bem como aprimora a imagem da empresa junto aos investidores. Também é

relatado pela Entrevistada 2 que alguns programas de ecoeficiência foram descontinuados pela

empresa, por não apresentarem viabilidade financeira de se manterem ou por serem programas

que, porventura, representassem riscos para as operações, como o recolhimento de resíduos por

cooperativas locais em praças afastadas.

4.2.1.2 Estratégias de energia da empresa

Em conjunto com a mensuração, o estabelecimento de metas e a comparação entre as

unidades de negócio por meio de seu SGA, a empresa pôde também avaliar a contribuição das

iniciativas voltadas à redução de consumo e os custos com energia elétrica, conforme explica a

Entrevistada 2. A empresa relata, em seu relatório anual, as iniciativas de substituição de

sistemas de iluminação, de ar-condicionado e uma campanha para o uso racional de energia,

como forma de atingir tanto o consumo de energia como os custos. Informações do relatório

anual ainda relatam a gestão automatizada das faturas de energia como meio para a geração de

indicadores e como aumento da eficiência operacional.

4.2.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades

Em seu relatório anual, a empresa relata o início do uso de energia proveniente do ACL

no ano de 2018. Porém, não deixa clara a origem da energia que é adquirida. A Entrevistada 2

confirma que a energia adquirida do ACL é proveniente de fontes 100% renováveis porém, não

especifica a fonte. Este movimento foi orientado, principalmente, pela redução dos custos com

Page 63: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

62

a energia. A empresa também relata que há planos para a expansão da modalidade até o ano de

2020.

Também foi relatada a inauguração de uma usina de geração fotovoltaica, que tem

previsão de início de atividades para junho de 2019. Porém, a Entrevistada 2 menciona que o

projeto poderá sofrer atrasos. A empresa não relata demais aplicações de energias renováveis

para suas operações.

A Entrevistada 2 explica que o uso de energia proveniente de fontes renováveis pela

empresa é entendido como meio de redução dos custos e melhoria da imagem da empresa, além

de atender aos requisitos dos índices em que a empresa reporta seus resultados. Portanto, pode

influenciar o seu valor de mercado.

As barreiras descritas pela Entrevistada 2, à luz do problema de pesquisa para o uso de

energias renováveis, foram a infraestrutura das unidades, que não permitem o uso de outras

maneiras de abastecimento como painéis solares instalados para autoprodução, e o fato dos

painéis não apresentarem a viabilidade econômica esperada pela empresa. Ainda

complementando o tema das barreiras, a Entrevistada 2 menciona que nem todas as unidades

se enquadram em termos de infraestrutura para a participação no ACL.

4.2.1.4 Estratégia para geração distribuída

O relatório anual da empresa demonstra que há o interesse no uso desta modalidade e

na expansão do modelo em MG. A Entrevistada 2 relata que a empresa optou pelo uso da fonte

fotovoltaica para a geração distribuída por se tratar, no entendimento da empresa, de uma fonte

confiável, já consolidada no mercado, que conta com uma grande oferta de fornecedores,

oferece baixos riscos operacionais e possui abrangência nacional. Estes fatores permitem que a

empresa possa realizar o entendimento da operação desta modalidade e prever, de maneira

prática, a expansão para as demais localidades, se viável. Ainda, a Entrevistada 2 declara que,

em casos de unidades não passíveis de participação no ACL, esta é a única maneira viável

financeiramente de aplicação de energias renováveis em suas unidades.

Por outro lado, a Entrevistada 2 menciona que a principal dificuldade de aplicação da

modalidade foi gerada pela concessionária da região onde o projeto foi concebido, que impactou

a data de início da usina declarada no relatório anual. Ainda sobre as concessionárias, é relatado

que não há infraestrutura da rede de distribuição adequada para a operação do modelo, além de

falta de padronização e observância dos procedimentos e prazos descritos nas regulações da

ANEEL. A falta de transparência dos processos junto às concessionárias também é mencionada

Page 64: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

63

pela Entrevistada 2 como um impeditivo ao acesso ao modelo, dado que não há um diagnóstico

conciso sobre o andamento de cada processo. Do ponto de vista da regulação, a Entrevistada 2

entende que o modelo de net-metering é o ideal para continuar a fomentar a opção por esta

modalidade no país, dada a facilidade de implantação e acompanhamento dos resultados pelos

consumidores.

Conforme relatado pela Entrevistada 2, o projeto de geração distribuída contratado

deverá entrar em operação e a empresa realizará o acompanhamento dos resultados e a

consolidação do modelo internamente, avaliando os riscos e as intercorrências que possam

acontecer antes de realizar qualquer expansão além da já declarada em seu relatório anual. Não

foram relatados problemas com os fornecedores para a adoção do modelo. O Quadro 10

apresenta a síntese do estudo de temas da empresa Império.

Quadro 10 – Síntese do estudo de temas da empresa Império

Tema Objeto de análise Análise Documental Entrevista

Ecoeficiência

Adoção de práticas de

ecoeficiência como meio

de diferenciação e

vantagem competitiva no

ambiente em que a empresa

se insere.

- Gerencia os pontos elencados

por meio de um SGA;

- Engloba o tema em um

indicador integrativo para as

unidades de negócio; e

- Estabelece metas de

ecoeficiência para as unidades

de negócio e remuneração

variável dos funcionários.

- Utiliza para a redução de

despesas; e

- Entende o tema como uma

maneira de aumentar a

transparência, um meio de

diferenciação e um aumento de

valor da marca.

Energia

Relevância do consumo de

energia dentro das

operações das empresas e

gestão aplicada sobre o

recurso.

- Mensura o desempenho por

meio do SGA;

- Utiliza projetos para a redução

de consumo, desde que sejam

financeiramente viáveis; e

- Realiza treinamentos para o

uso racional dos recursos.

- Utiliza controle de consumo

para estabelecimento de

padrões; e

- Aplica projetos de redução de

consumo, se financeiramente

viáveis.

Energias

renováveis

Motivação do uso de

energia renovável e

aderência às estratégias de

ecoeficiência das empresas.

- Compra de energia no ACL; e

- Projeto em execução em

geração distribuída.

- Compra de energia no ACL

nas unidades passíveis; e

- Operação em geração

distribuída como teste nas

unidades que não se enquadram

no ACL.

Geração

distribuída

fotovoltaica

Oportunidades encontradas

pelas empresas para o uso

da modalidade e fonte.

- Menciona o projeto como

redução de despesas com

energia.

- Declara a tecnologia como

consolidada, com oferta de

fornecedores, abrangência

nacional e de baixo risco

operacional.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

4.2.2 Análise do estudo de caso empresa Império

Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e

as barreiras identificadas neste estudo de caso.

Page 65: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

64

4.2.2.1 Políticas públicas ou regulatórias

Por se tratar de uma empresa de economia mista, a empresa Império teve especial

atenção à observação da legislação do setor em que atua, bem como às possibilidades da

Resolução nº 482 (ANEEL, 2012) para o desenvolvimento do projeto de geração distribuída de

fonte fotovoltaica. Adicionalmente, a Entrevistada 2 relata que o setor financeiro no qual a

empresa Império atua deve observar a Resolução nº 4.327 de 2014 (BANCO CENTRAL DO

BRASIL, 2014), que demanda que as empresas do setor financeiro tenham definidas e

implantem a Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA), que demanda a estes

agentes declarar e aplicar suas ações de natureza socioambiental em seus negócios e junto às

partes interessadas (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014).

A existência de benefícios tributários na modalidade agiu como um facilitador para a

adoção pela empresa. Porém, não foi considerado como critério para a modalidade dada a

instabilidade das legislações. Pelo fato de a empresa ainda não ter implantado seu projeto de

geração distribuída, que está em desenvolvimento, a empresa não relatou que a instabilidade

com a regulação do setor exerceu uma barreira relevante para o atual projeto. Entretanto, esta

alteração pode influenciar a modelagem dos demais projetos que a empresa pretende implantar,

conforme explica a Entrevistada 2.

4.2.2.2 Condições de mercado

A empresa relata que os custos com energia e escassez de recursos foram os principais

motivadores para a adoção da modalidade. Em seu relatório anual, a empresa Império deixa

esta informação muito clara ao associar o benefício financeiro que a adoção da modalidade

agrega aos seus compromissos com ecoeficiência assumidos.

Em paralelo, a Entrevistada 2 também relata que o uso da modalidade permitirá à

empresa aumentar a percepção de valor nos mercados em que atua, ao levar esta ação de

ecoeficiência em conjunto com as demais ações que a empresa desenvolve. Ela também explica

que a empresa vai alinhar os ganhos financeiros pretendidos com a mitigação de impactos

ambientais de suas operações.

As pressões do mercado em que a empresa atua agem como um motivador significativo

para a adoção da geração distribuída. Por participar de índices de sustentabilidade evolutivos,

como o ISE e DJSI, a empresa busca e é impelida a buscar constantemente novas formas de

gerar ecoeficiência em suas operações. Conforme apresentado pela Entrevistada 2, a empresa e

Page 66: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

65

percebeu na modalidade uma oportunidade de tratar o tema de energias renováveis exigidas por

estes índices.

No caso da empresa Império, a Entrevistada 2 comenta que a concessionária que detém

a distribuição da região em que o projeto será implantado é, no momento, uma barreira

significativa para seu projeto. Na área inicialmente definida para o projeto, a concessionária

não tem capacidade para a absorção da energia que será gerada pela usina fotovoltaica, o que

causou atrasos concretos no projeto, inclusive com desalinhamento com o prazo previsto e

divulgado em seu relatório anual. Este impacto influencia de maneira direta os compromissos

que a empresa assumiu para o uso de energias renováveis.

Adicionalmente, a Entrevistada 2 declara que é importante para a continuidade da

expansão do modelo no país, sob seu ponto de vista, que não haja a alteração do modelo de net-

metering e que haja maior padronização e alinhamento dos procedimentos da concessionária

com os procedimentos determinados pela ANEEL. Tal desalinhamento prejudica os acessantes

ao sistema.

Os custos com a tecnologia não influenciam a decisão da empresa em adotar a

modalidade. A empresa realizou uma licitação pública para a construção da usina por

intermédio de uma empresa terceirizada, levando o custo com a tecnologia para uma posição

indireta de influência no projeto.

A adoção da geração distribuída pela empresa Império causou a conversão da barreira

de condições de acesso à energia renovável em motivador. Pelo fato de a empresa já adotar a

aquisição de energia renovável no mercado livre para o abastecimento das unidades passíveis

de acesso ao ACL, a estratégia da empresa foi considerar a adoção da geração distribuída

fotovoltaica para o abastecimento das demais unidades como forma de expandir o uso de

energias renováveis assumido em seus compromissos, conforme relata a Entrevistada 2.

4.2.2.3 Cadeia de suprimentos

A Entrevistada 2 relata que a existência de fornecedores especializados, conforme Neri

et al. (2018) expõem, exerce grande influência como motivador para a adoção da modalidade.

A empresa Império contou com fornecedores de mercado para parte do desenvolvimento do

projeto e das soluções associadas. A empresa pode utilizar, nas fases preliminares do projeto,

alguns fornecedores que colaboram com a estruturação da solução técnica e contratual, bem

como com o dimensionamento e os critérios para a avaliação dos resultados, conforme a

Entrevistada 2 declara.

Page 67: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

66

4.2.2.4 Eficiência de operações

A empresa Império relata, em seu relatório anual, suas ações de redução do impacto de

suas operações e o uso de recurso em tais atividades. Com base nisso, a Entrevistada 2 ratifica,

durante a entrevista, que a redução de custos e o uso de recursos foi um motivador significativo

para a adoção da geração distribuída fotovoltaica, principalmente pelo viés da ecoeficiência,

conforme observado na teoria por Bradshaw (2017), Drucker (1963) e Neri et al. (2018).

Uma das barreiras que a geração distribuída enfrenta na empresa Império é a

concorrência com demais formas de economia de energia. A empresa adota outras formas de

ecoeficiência em energia, como a modernização dos equipamentos de iluminação e ar-

condicionado, além do monitoramento de desperdícios de consumo de energia. A empresa

consolida estas ações, entre as demais ações de ecoeficiência que não concernem à energia

elétrica, em um índice interno de ecoeficiência das unidades de negócio, denominada Pegada

Ecológica. Este índice classifica e compara as unidades. Um bom desempenho neste índice tem

impacto na composição dos valores de remuneração variável dos funcionários daquelas

unidades.

4.2.2.5 Vendas

Ao associar os motivadores para a adoção de práticas de ecoeficiência, a Entrevistada 2

evidencia que estas práticas são entendidas pela empresa Império como meio de diferenciação

e podem contribuir para o aumento de participação no mercado em que a empresa atua. Isso

está alinhamento à teoria de Koskela e Vehmas (2012) e Neri et al. (2018).

Também mencionado pela Entrevistada 2 foi o fato da redução das despesas

operacionais que são obtidas pelas ações de ecoeficiência, que permite gerar maior valor para

as ações da empresa ao associar o aspecto ambiental a ganhos financeiros, sendo percebido de

maneira positiva junto aos investidores e imprimindo transparência aos processos da empresa.

A participação da empresa em índices de sustentabilidade atua como motivador que permite

que suas ações sejam classificadas de maneira diferenciada das demais empresas do setor e, por

consequência, dá acesso a mercados em que os investidores optam por tais empresas. Esse

posicionamento gera a diferenciação de desempenho positiva que a empresa Império pretende

em sua atuação.

Page 68: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

67

4.2.2.6 Organizacional

A existência de comprometimento e estratégia organizacional é um motivador

significativo para a adoção da geração distribuída fotovoltaica pela empresa Império. Conforme

a Entrevistada 2, a estruturação do projeto foi uma etapa que levou um tempo considerável e

necessitou de uma equipe dedicada para a modelagem. A exemplo do uso de energia

proveniente do ACL, onde a empresa Império foi uma das empresas mistas percursoras no uso

ao contar com as competências internas para a contratação, tais competências também foram

aplicadas para o projeto de geração distribuída.

Estes pontos se relacionam e agem como motivadores nas empresas, em acordo com os

pontos levantados por Caiado et al. (2017), Fernández-Viñé, Gómez-Navarro e Capuz-Rizo

(2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018) e Ravi (2015). O comprometimento

organizacional, as competências internas e os valores e atitudes de indivíduos dentro das

empresas podem prover o suporte necessário para projetos de ecoeficiência, energias

renováveis e geração distribuída.

A opção pela fonte fotovoltaica também foi considerada pela empresa Império como

forma de mitigação de riscos operacionais. Por se tratar de uma modalidade com abrangência

nacional, com grande oferta de fornecedores e já consolidada no mercado, a Entrevistada 2

menciona que a fonte fotovoltaica foi natural para a empresa Império, ao passo que sua

modelagem pode prover o benefício financeiro que a empresa pretende com o projeto.

Foi identificado, no caso da Império, que a barreira identificada na literatura de metas

orientadas apenas ao resultado financeiro (DIAZ LOPEZ; BASTEIN; TUKKER, 2019)

converte-se em motivador ao associar os benefícios financeiros da modalidade às metas de uso

de energias renováveis da empresa. Por se tratar de um projeto que ainda não foi implantado, e

apesar da intenção de expansão da modalidade em suas operações, a empresa determinou que

tal expansão só será implementada após a consolidação do tema dentro da empresa, conforme

relata a Entrevistada 2. Isso remete ao exposto por Stucki (2019), onde as empresas têm uma

aversão a riscos que as novas modalidades podem trazer. Ao mesmo tempo, dialoga com

Carvalho et al. (2017) e Neri et al. (2018), que apontam que as inovações são tidas como

motivadores para a aplicação da modalidade.

Page 69: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

68

4.2.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Império

O alinhamento da Entrevistada 2 com o relatório anual da empresa Império confirma

que o tema da ecoeficiência é levado em consideração para a operação dos negócios, ao estender

as ações aos níveis hierárquicos responsáveis pelo desempenho neste item. As ações voltadas

para a diminuição de consumo e dos custos com energia são avaliadas sob a ótica do retorno

financeiro associado e à possibilidade de aplicação, dada as características das unidades de

negócio, atuando como um passo antecessor à aplicação da geração distribuída pela empresa,

conforme a Entrevistada 2 comenta.

O fato de a empresa ainda não ter iniciado as operações de seu projeto de geração

distribuída gera uma incerteza sobre os rumos que a modalidade pode seguir no futuro. A

empresa não conta com uma estratégia declarada para o uso de energias renováveis. Porém, faz

uso destas fontes por meio da aquisição de energia pelo ACL e por meio do seu projeto de

geração distribuída.

Para a geração distribuída, a empresa entende que o projeto necessita entrar em operação

e seu desempenho deve ser observado antes de possíveis expansões além da já declarada em

seu relatório. Este projeto sofreu atrasos em decorrência dos trâmites da concessionária local.

A cadeia de fornecedores foi um ponto muito relevante para a empresa Império, pois

tais agentes auxiliaram a empresa a modelar e determinar como o projeto seria desenvolvido,

além de trazer expertise e conhecimento que a empresa não tinha internamente para a

implantação da geração distribuída.

Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa

foram:

• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de

energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI

et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;

HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015);

Page 70: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

69

• Melhoria de imagem, aumento da percepção de qualidade dos serviços (ALVES;

DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013; NERI et al., 2018); e

• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).

As barreiras identificadas foram:

• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;

POLZIN et al., 2019);

• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);

• Falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;

TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e

• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).

4.3 EMPRESA: CÁRPATOS

4.3.1 Atuação da empresa

A empresa atua no setor varejista de móveis e eletroeletrônicos, e controla outras sete

marcas. Atualmente, a empresa é signatária do Pacto Global e conta com uma rede com mais

de 1.100 estabelecimentos, entre lojas e centros de distribuição.

Foram utilizados, como dados secundários, o relatório anual da empresa de 2018 e as

bases de dados da ANEEL. Como dados primários, foi feita uma entrevista com o Diretor de

Expansão e Infraestrutura. A orientação da empresa em gestão ambiental, conforme o relatório

anual, é focada no uso de energias renováveis, monitoramento ambiental e reciclagem de

resíduos (DOCUMENTO 3).

4.3.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa

A empresa elenca os temas ambientais que considera relevante em seu relatório anual,

como a ecoeficiência logística, o controle e reciclagem de resíduos sólidos, o consumo

ecoeficiente e o monitoramento ambiental. Com base no relatório anual da empresa, o foco das

ações de ecoeficiência nas unidades de negócio se voltam para a redução do consumo de água

e energia, e para o tratamento dos resíduos sólidos como meios integrativos de redução de

Page 71: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

70

despesas operacionais e mitigadores de externalidades. Além disso, a empresa já incorporou

em projetos de novas lojas os conceitos de ecoeficiência das operações, concebendo-as de

maneira a consumir menos recursos naturais e prevenir gastos financeiros com desperdícios.

Também é relatado que a empresa pretende investir, ao longo do ano de 2019, em um

software de gestão de energia. O Entrevistado 3 explica que, para a implementação dos

programas, são levados em consideração o ganho financeiro que os programas proporcionam,

além do impacto que possam ter no ambiente.

As barreiras elencadas pelo Entrevistado 3 se focam na dependência de modelos de

investimento e no retorno que permitam a expansão das ações. Para tanto, a empresa utiliza-se

de economias provenientes de projetos já estabelecidos e com resultados apurados para prover

recursos para o custeio de outros projetos. Com base nesta opção, a empresa mantém os projetos

que adotou e não relatou nenhuma descontinuidade de projetos que, conforme o Entrevistado

3, são avaliados com cuidado antes de sua implantação a fim de manter resultados continuados.

4.3.1.2 Estratégias de energia da empresa

Elencando o consumo de energia elétrica como um dos temas materiais prioritários de

sua operação, a empresa declara em seu relatório anual que orienta suas ações sobre o tema para

a eficiência energética, visando a redução de consumo e de custos de suas instalações por meio

de programas de substituição de lâmpadas por LED, substituição de aparelhos de ar-

condicionado por modelos mais eficientes, aplicação de cortinas de ar e o uso de fontes

renováveis de energia.

Complementando, o Entrevistado 3 informa que há sistemas de telemetria e controle de

funcionamento de equipamentos a fim de racionalizar o uso da energia nas unidades de negócio.

Ainda na prevenção de desperdícios de consumo, a empresa promoveu, no ano de 2018, um

treinamento com todos os colaboradores orientado para práticas sustentáveis e como tais

práticas impactam na empresa e na percepção dos stakeholders (DOCUMENTO 3). Não ficou

evidente se as unidades de negócio são avaliadas com base em um plano de metas de consumo

ou se são comparadas com as demais unidades.

4.3.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades

Page 72: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

71

A empresa não estabelece metas para a cobertura de suas operações com energias

renováveis em seu relatório anual, mas foca sua atuação no tema de energias renováveis na

compra de energia no ACL proveniente de fontes renováveis e na geração distribuída para as

unidades que contam com infraestrutura compatível para cada modelo. Para a opção de compra

de energia no ACL, a empresa foca seus esforços nos centros de distribuição principais, prédios

administrativos e grandes lojas. Para o ano de 2019, a empresa pretende realizar a migração de

mais unidades de negócio para o modelo com o foco, conforme declarado em seu relatório, no

retorno financeiro em que a modalidade pode trazer para a empresa. O Entrevistado 3 corrobora

a informação relatando que os motivadores para o uso de energias renováveis neste modelo

convergem para a redução de custos e aumento da ecoeficiência das unidades. A empresa não

declara, em seu relatório anual, iniciativas de uso de energias renováveis destinadas à

autoprodução em suas unidades de negócio.

4.3.1.4 Estratégia para geração distribuída

Complementar à estratégia utilizada para unidades de negócio com grandes consumos

concentrados, a empresa optou pelo uso da modalidade de geração distribuída para as unidades

que contam com menor concentração de consumo, como forma de redução de custos com as

operações e aumento da cobertura de fontes renováveis para o consumo de energia, conforme

apresenta o Entrevistado 3.

Em seu relatório anual, a empresa declara que a usina que abastece totalmente as 79

unidades em MG cobertas pelo projeto e, ainda, associa a ação à redução de custos com energia,

além da mitigação da emissão de gases de efeito estufa (DOCUMENTO 3). O Entrevistado 3

ainda informa que o modelo que foi adotado para o uso da geração distribuída fotovoltaica foi

impulsionado pelo modelo de negócios proposto pelos fornecedores ofertantes, que permitiram

uma eficiência operacional imediata e, pelo fato da empresa ter optado pelo arrendamento de

uma usina construída em parceria com um fornecedor, eliminou a necessidade de alocação de

capital para a construção do empreendimento.

Esta estratégia é baseada, segundo o Entrevistado 3, na premissa de ser o mais eficiente

possível com os recursos financeiros disponíveis, a fim de rentabilizar ainda mais os negócios

em que a empresa atua. A opção pela fonte fotovoltaica foi feita pela empresa levando em

consideração sua previsibilidade de geração, a estabilidade ao longo dos anos e os baixos riscos

operacionais. Desta maneira, conforme o Entrevistado 3, a empresa pôde mitigar eventuais

Page 73: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

72

sazonalidades e riscos de insumo para a geração associadas às demais fontes, como hidrelétrica

e de biomassa.

A atual legislação que rege o modelo foi fundamental para sua adoção, segundo o

Entrevistado 3, dado que o sistema de net-metering é entendido como o mais justo para a

promoção e expansão da modalidade. Porém, ainda é ressaltado que uma eventual alteração na

legislação atual pode impactar o modelo para os consumidores, visto que mudanças que

ocasionem reduções no ganho financeiro percebido pelos optantes em contratos de longo prazo

comprometem a atratividade e a expansão da modalidade.

Complementarmente, o Entrevistado 3 ainda reforça que a atual política do ICMS na

modalidade é fundamental para a viabilidade e a pretendida expansão da empresa neste sentido.

A empresa declarou a intenção de implantar mais 5 usinas em outras unidades federativas do

país. Porém, de maneira gradual, dada a incerteza com a legislação.

Do ponto de vista da empresa, o Entrevistado 3 declara, como a principal barreira para

a adoção do sistema. a dificuldade na modelagem dos contratos e das operações, dado que, no

momento da opção, a empresa entendia o assunto como recente e com poucos casos disponíveis

que possibilitassem uma avaliação dos riscos e benefícios associados. O

Quadro 11 apresenta uma síntese do estudo de caso da empresa Cárpatos.

Quadro 11 – Síntese do estudo de temas da empresa Cárpatos

Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista

Ecoeficiência

Adoção de práticas de

ecoeficiência como meio

de diferenciação e

vantagem competitiva

no ambiente em que a

empresa se insere.

- Racionalização do consumo de

recursos naturais visando a

eficiência financeira;

- Programas de treinamento em

ecoeficiência;

- Mitigação de impactos por

regulações; e

- Comunicação dos impactos

percebidos por stakeholders.

- Utilização das premissas de

ecoeficiência para a eficiência

financeira;

- Alocação correta de

recursos; e

- Estudo exaustivo antes de

investir nos projetos permite a

perenidade.

Energia

Relevância do consumo

de energia dentro das

operações das empresas

e gestão aplicada sobre o

recurso.

- Declara o tema como prioritário

em sua matriz de materialidade;

-Dedica esforços na racionalização

do uso do recurso; e

- Orienta os programas para a

redução de consumo e de custos

com a obtenção de energia.

- Aplicação de programas

voltados primeiramente à

redução do consumo e,

posteriormente, à redução dos

custos.

Energias

renováveis

Motivação do uso de

energia renovável e

aderência às estratégias

de ecoeficiência das

empresas.

- Ganhos financeiros associados ao

item.

- Ganhos financeiros

associados aos itens; e

- Possibilidade de

replicabilidade considera a

infraestrutura e os resultados

financeiros anteriores.

Geração

distribuída

fotovoltaica

Oportunidades

encontradas pelas

empresas para o uso da

modalidade e fonte.

- Não demonstra os motivos, além

de financeiros, que levaram à

escolha.

- Informa que a estabilidade, a

previsibilidade e o baixo risco

associado foram

condicionante para a opção.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Page 74: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

73

4.3.2 Análise do estudo de caso empresa Cárpatos

Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e

as barreiras identificadas neste estudo de caso.

4.3.2.1 Políticas públicas ou regulatórias

O fato de a legislação e regulação permitir o uso da geração distribuída foi mais que um

motivador para a empresa Cárpatos optar pela modalidade. O Entrevistado 3 relata que, sem a

existência desta possibilidade, os projetos de energias renováveis da empresa seriam

impactados. Porém, com o atual arranjo das capacidades dadas pelas Resoluções nº 482 e nº

687 (ANEEL, 2012, 2015), a empresa pôde modelar seus projetos de maneira mais abrangente.

A existência de benefícios tributários foi mencionada pelo Entrevistado 3 como um dos

motivadores fundamentais. Com a isenção do ICMS nesta modalidade, os projetos de geração

distribuída oferecem um melhor retorno para a Cárpatos e permitem uma melhor valoração da

expansão que a empresa pretende para os projetos, sendo fundamental para a viabilidade do

modelo.

Como barreira, a empresa ressalta que a incerteza e a insegurança com possíveis

alterações na modalidade podem impactar de maneira negativa os projetos de geração

distribuída e diminuem a atratividade, ao passo que podem diminuir os benefícios financeiros

e atrelar riscos para o modelo. Segundo o Entrevistado 3, a empresa considera que a manutenção

do modelo atual de net-metering ainda é possível e mantém a expansão da participação dos

optantes pela modalidade na expansão da oferta de energia renovável no Brasil.

4.3.2.2 Condições de mercado

Também como motivador central para a adoção da geração distribuída pela Cárpatos, o

Entrevistado 3 relata que os custos com energia elétrica levaram a empresa a buscar a

modalidade. Em suas palavras, a empresa deve: “Ser a mais eficiente possível com o dinheiro

que temos, rentabilizando a venda” (ENTREVISTADO 3). A redução dos custos promovidos

pela geração distribuída converge para este objetivo da empresa e se soma às pressões do

mercado pela ecoeficiência operacional, conforme a declaração do Entrevistado 3.

Page 75: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

74

A empresa utiliza a geração distribuída como forma de diferenciação, conforme

verificado em seu relatório anual. Porém, não foi relatado como um motivador de grande

influência, conforme entrevista.

Os projetos de geração distribuída da empresa foram impactados diretamente pelas

concessionárias, de acordo com o Entrevistado 3. A burocracia nos trâmites administrativos e

técnicos causaram atrasos nos projetos de geração distribuída da Cárpatos e atrasaram a captura

dos benefícios planejados pela empresa.

O custo com a tecnologia disponível não foi uma barreira relatada pelo Entrevistado 3,

dado que a empresa também se utiliza do modelo de arrendamento da usina. Os custos com a

construção da usina ficam a cargo do fornecedor, que provém a solução a Cárpatos e influencia

somente na remuneração que a empresa repassa ao fornecedor.

Novamente foi verificado, conforme a entrevista com o Entrevistado 3, que a

impossibilidade de atendimento às unidades de negócio por meio do ACL acaba convergindo

em um motivador para o uso da geração distribuída pela empresa. A empresa declara que a

geração local nas unidades de negócio de energia renovável não é interessante do ponto de vista

financeiro e de riscos patrimoniais. Portanto, a geração distribuída foi a maneira que a empresa

adotou para a condução de sua estratégia.

4.3.2.3 Cadeia de suprimentos

A empresa se beneficia de uma opção de uso da geração distribuída pelo arrendamento

de usinas de fornecedores. Neste modelo, a empresa reconhece que a existência de fornecedores

especializados no assunto foi um importante motivador para que a empresa pudesse usufruir da

modalidade. Desta maneira, segundo o Entrevistado 3, a empresa pode se alavancar com base

no capital dos terceiros, além de migrar os custos de energia para a prestação de serviços.

Adicionalmente, o Entrevistado 3 declara que o uso dos fornecedores e parceiros nestes projetos

auxilia a empresa a imprimir velocidade nos projetos de ecoeficiência possíveis e libera capital

próprio para investimento em demais projetos de ecoeficiência ou de operações.

4.3.2.4 Eficiência de operações

A conjunção de aspectos econômicos e ambientais, segundo o Entrevistado 3, permitiu

que o projeto da geração distribuída fotovoltaica fosse entendido pela Cárpatos como forma de

Page 76: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

75

mitigação de custos com energia e de uso de recursos, reafirmando o exposto por Bradshaw

(2017) e Neri et al. (2018). Os custos com energia foram o principal motivador para a adoção

da modalidade. Porém, tiveram como barreira outras formas de economia de energia. A empresa

prioriza, em suas operações, um programa de redução de consumo de suas unidades de negócio

por meio da substituição dos sistemas de iluminação e refrigeração das unidades, além do

controle de consumo de energia e de desperdícios por meio de um sistema de monitoramento.

4.3.2.5 Vendas

A empresa utiliza informações sobre o uso de geração distribuída fotovoltaica como

forma de diferenciação e melhoria da percepção de imagem. De maneira complementar, o

Entrevistado 3 afirma que o uso da modalidade é alinhado com os objetivos de eficiência nos

resultados operacionais, pela eficiência e redução dos custos. A empresa não menciona que faz

parte de algum índice ou certificação que preconiza o uso de energias renováveis ou geração

distribuída, o que não evidencia tal item como motivador para a adoção da modalidade.

4.3.2.6 Organizacional

Há um comprometimento da estratégia organizacional com a ampliação da geração

distribuída fotovoltaica, que se torna um motivador para a empresa seguir a estratégia.

Conforme seu relatório anual, confirmado pelo Entrevistado 3, a empresa conseguiu se

beneficiar do modelo e, portanto, pretende realizar a expansão da modalidade em suas

operações. Este movimento converge para o relatado como motivador por Caiado et al. (2017),

Fernández-Viñé, Gómez-Navarro e Capuz-Rizo (2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018)

e Ravi (2015).

Quanto às competências internas, a empresa conseguiu desenvolvê-las com o auxílio de

fornecedores que auxiliaram na modelagem do projeto de geração distribuída, sendo um

motivador que foi aprimorado no decorrer do desenvolvimento do projeto. A empresa utiliza a

geração distribuída como maneira de mitigar seus riscos operacionais por meio da

previsibilidade e da proteção financeira quanto à alteração de tarifas e custos com energia, além

de promover a melhoria da eficiência de suas operações. Além disso, a empresa, segundo o

Entrevistado 3, identifica a fonte como forma de obter previsibilidade na geração de energia,

Page 77: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

76

além de não sofrer com a sazonalidade das demais fontes que podem ser aplicadas para a

geração distribuída.

A criação de inovações dentro da empresa não foi considerada um motivador para a

Cárpatos que, conforme o Entrevistado 3 menciona, houve uma dificuldade na modelagem do

projeto dado seu caráter não convencional. Isso contradiz o motivador dado por Carvalho et al.

(2017) e Neri et al. (2018). Porém, com os valores e atitudes da equipe interna, foi possível a

adoção da modalidade pela empresa, apesar da aversão a riscos inicialmente apresentada como

barreira, conforme Stucki (2019). Novamente, a presença de metas orientadas a resultados

financeiros não foi uma barreira para a Cárpatos, dado que o modelo provém os resultados

financeiros que a empresa espera e se alinha a sua estratégia de negócios.

4.3.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Cárpatos

A empresa Cárpatos foca suas ações de ecoeficiência nos benefícios financeiros que a

implantação delas podem proporcionar ao negócio. Os projetos de ecoeficiência são orientados

pela comparação do benefício ou mitigação de riscos para as operações da empresa. O fato de

a empresa declarar que efetua estudos profundos, segundo o Entrevistado 3, permite a adoção

de práticas que serão perenes às unidades de negócio e que são propagadas de acordo com a

viabilidade.

Considerando a energia um insumo importante para as operações, a empresa realiza

programas específicos de monitoramento e controle de consumo, além da aplicação de

tecnologias que permitam o atendimento das necessidades operacionais com redução de

consumo de energia. A aplicação de energias renováveis é tida como oportunidade de redução

de custos complementar aos projetos de redução de consumo que a empresa utiliza. Barreiras

como a infraestrutura para tal uso foram verificadas na entrevista com o Entrevistado 3.

O uso da geração distribuída foi escolhido como estratégia para a redução dos custos de

unidades com baixa concentração de consumo, por permitir uma abrangência maior de unidades

de negócios. Porém, a empresa, segundo o Entrevistado 3, observa com cuidado possíveis

alterações na legislação que possam comprometer a atratividade do modelo, bem como pontua

que suas principais dificuldades para a implantação residem nas tratativas com as

concessionárias de energia para o atendimento das solicitações de acesso.

Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa

foram:

Page 78: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

77

• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de

energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI

et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Existência de incentivos tributários que promovam o uso da geração distribuída

para a ecoeficiência (NERI et al., 2018; ROCHA et al., 2017);

• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;

HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015); e

• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).

As barreiras identificadas foram:

• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;

POLZIN et al., 2019);

• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e

• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).

4.4 EMPRESA: PEDRA ÚNICA

4.4.1 Atuação da empresa

A Pedra Única atua no setor de serviços financeiros, de origem brasileira e com 95 anos

de existência. É uma empresa fruto da fusão de diversas empresas do setor financeiro, presente

em 19 países, com foco de atuação na América Latina. A empresa destaca, em seu relatório

integrado, participar tanto do ISE quanto do DJSI, além de ser signatária do Pacto Global, entre

outros compromissos voluntários de sustentabilidade (DOCUMENTOS 4a e 4b).

Foram utilizados, como dados secundários, as informações contidas no relatório anual

de 2018, relatório de sustentabilidade de 2018 e respostas ao ISE, onde a empresa consolida e

reporta suas informações. Como dados primários, foi realizada uma entrevista com a

Superintendente de Infraestrutura de Patrimonial.

Page 79: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

78

4.4.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa

Em seu relatório de sustentabilidade de 2018, a empresa reporta suas ações de gestão

ambiental associadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de energia limpa e

acessível, consumo e produção responsáveis e ações de mudança do clima, associando suas

ações aos impactos positivos pela promoção de energias renováveis, redução e uso eficiente de

recursos, redução de resíduos e conscientização e redução de emissões de gases de efeito estufa

(DOCUMENTO 4b). Relata, também, que há a intenção da redução da pressão do uso de

recursos naturais em suas estratégias de operação por meio do gerenciamento dos impactos de

suas atividades (DOCUMENTO 4a).

A empresa também relata que houve, em 2018, a implantação do SGA como maneira

de consolidar e prover a rastreabilidade dos dados das operações (DOCUMENTO 4b). Esta

informação foi verificada como uma das respostas ao questionário do ISE do ano de 2017, de

menor ou igual a 25% de cobertura para maior de 25% até 50% de cobertura (B3, 2019).

Conforme a Entrevistada 4, a expansão do uso do sistema se deu, principalmente, pela maior

maturidade na cobertura das operações capilarizadas da empresa.

Também foi verificado, no relatório de sustentabilidade de 2018, o reporte de

investimentos voltados especificamente para ecoeficiência nos temas de água, energia, resíduos

e emissões (DOCUMENTO 4a). Já em seu relatório integrado, a empresa deixa mais clara sua

orientação para o tema, declarando que as iniciativas de ecoeficiência são desenvolvidas

visando quatro pilares: “custo de implantação, disponibilidade no mercado, desempenho

técnico do sistema e ganhos em eficiência” (DOCUMENTO 4b).

A Entrevistada 4 menciona que o foco da empresa para a sustentabilidade é amparado

pelo o que “é bom para a gente, é bom para a sociedade e é bom para o país”. Ela também

esclarece que na operação de infraestrutura, da qual é responsável, os maiores impactos

positivos são entendidos com a redução na pegada ambiental que a empresa gera com suas

operações.

4.4.1.2 Estratégias de energia da empresa

A Pedra Única relata que o foco de sua atuação em operações é a eliminação de

desperdícios oriundos de equipamentos e iluminação não eficiente e uso incorreto do recurso

(DOCUMENTO 4b). São descritas ações e investimentos focados em manutenção e

substituição de equipamentos de ar-condicionado e sistemas de refrigeração, elevadores,

Page 80: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

79

substituição e racionalização de equipamentos de processamento de dados, como mainframes,

bem como sistemas de automação e monitoramento do uso de energia nos prédios e agências

(DOCUMENTO 4b).

Também foi relatado que a empresa desenvolveu uma instalação modelo em uma de

suas unidades de negócio, onde foi possível à empresa testar as soluções de equipamentos mais

energicamente eficientes e sua propagação para as demais unidades (DOCUMENTO 4b). A

Entrevistada 4 reforça que esta foi uma iniciativa que contou com a aplicação de conceitos

novos de disposição e arquitetura da unidade, visando a maior eficiência possível pela

racionalização e alteração das especificações de equipamentos para infraestrutura das

instalações. A iniciativa permitiu uma rápida avaliação dos conceitos aplicados e uma

replicabilidade para a rede de atendimento.

A Entrevistada 4 afirma, ainda, que as despesas com energia elétrica das unidades

descentralizadas representam uma das maiores contas operacionais que a área de infraestrutura

gerencia, o que leva à orientação constante dos esforços para a redução do consumo e aplicação

de soluções de mitigação de desperdícios. Porém, as unidades descentralizadas são abastecidas

apenas pelo ACR, o que impede a negociação direta dos preços de energia e deixa as unidades

sujeitas aos impactos que as flutuações de tarifas causam.

4.4.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades

A empresa já atingiu quase que a totalidade de abastecimento de suas unidades

administrativas com energia renovável por meio de compra de energia no ACL de fontes

certificadas. Porém, não há a menção do uso de fontes renováveis nas unidades descentralizadas

(DOCUMENTO 4b). A Entrevistada 4 declara que a estratégia de uso de fontes renováveis de

energia deve acompanhar a configuração e as possibilidades dos imóveis ocupados pela

empresa. O uso de fontes certificadas pelo ACL é uma das maneiras de promover e utilizar as

energias renováveis. Porém, nem todas as unidades de negócio podem se enquadrar na

modalidade de fornecimento.

Há iniciativas de abastecimento parcial de unidades por painéis fotovoltaicos, mas o

movimento é experimental para as unidades centralizadas e está em estudo para sua expansão

nas unidades descentralizadas. Segundo a Entrevistada 4, este movimento deve ser bem

estudado, dada a presença capilarizada da empresa e as características de manutenção,

rendimento da solução vigente às tarifas e exposição a vandalismo.

Page 81: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

80

4.4.1.4 Estratégia para geração distribuída

Como forma de aumentar o abastecimento de energia por meio de fontes renováveis, a

empresa iniciou um projeto de geração distribuída em Minas Gerais para abastecimento de suas

unidades descentralizadas (DOCUMENTO 4b). A empresa relata que a cobertura do projeto

alcança 200 unidades de negócio e sua implantação foi faseada, sem evidenciar os motivadores

para tal estratégia. Porém, relata a possibilidade de expansão do modelo (DOCUMENTO 4b).

A Entrevistada 4 explica que o projeto foi desenvolvido no ano de 2016 e os principais pontos

de discussão sobre o projeto eram referentes aos riscos e às inseguranças quanto às regulações,

legislações e tributações que poderiam incidir sobre um modelo ainda não implantado pelo

mercado em larga escala.

No estudo do modelo, a Pedra Única optou pelo uso da fonte fotovoltaica pois a

avaliação de riscos de suprimento e riscos ambientais associados à fonte foram entendidos pela

empresa como significativamente inferiores aos da fonte hidrelétrica. Para esta avaliação, a

empresa utilizou uma consultoria externa que realizou a avaliação de tais riscos

(ENTREVISTADA 4).

Por outro lado, a Entrevistada 4 relata que as pressões por busca de soluções para a

redução das despesas com energia elétrica motivaram o desenvolvimento do projeto em

conjunto com a não possibilidade de aquisição de energia no ACL nas unidades de baixa tensão

e exaustão de projetos de racionalização de consumo que não demandassem investimentos nas

unidades. A empresa optou pelo arrendamento de uma usina fotovoltaica já construída e pelo

desenvolvimento da construção de uma segunda usina, que também foi arrendada pela Pedra

Única. Segundo a Entrevistada 4, o modelo fez sentido para a empresa pois permitiu a redução

dos custos de energia de maneira abreviada dada a disponibilidade de um fornecedor do

mercado, sem a aplicação de investimentos na construção do ativo, abrangendo uma parcela

considerável de seu parque na região e com a garantia de abastecimento em um contrato de

longo prazo. Ainda, a Entrevistada 4 declara que a adoção da geração distribuída também foi

motivada como meio de mitigação dos impactos de reajustes tarifários que as unidades que não

realizavam a compra de energia pelo ACL eram sujeitas.

Outro ponto positivo que a Entrevistada 4 relata é que a Pedra Única foi a primeira

empresa a adotar o modelo de geração distribuída fotovoltaica em seu segmento no país, e que

a ação foi veiculada em jornais e revistas. Este impacto, segundo a Entrevistada 4, é positivo

para a imagem da empresa nos mercados e índices que a empresa participa, além de estar

Page 82: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

81

alinhado ao conceito já mencionado de “bom para nós, bom para a sociedade e bom para o

país”.

É relatado, pela Entrevistada 4, que a implantação da segunda fase do projeto está, em

julho de 2019, atrasada devido a problemas de infraestrutura da concessionária de energia do

estado. A Entrevistada 4 ainda afirma que a insegurança na ativação da segunda fase causou o

atraso dos demais projetos, dado o prazo de apuração dos benefícios da ação, além da alocação

da equipe técnica por um prazo maior que o estimado. Os investimentos próprios da empresa

nesta modalidade, bem como a cobertura plena do consumo de suas unidades passíveis de

utilização da modalidade de geração distribuída, não é considerada como prioridade para o

projeto, segundo a Entrevistada 4, dado o período de transição que as instituições financeiras

estão sujeitas e, um movimento em qualquer destes sentidos, implicaria em uma possível

imobilidade futura.

Adicionalmente, os demais projetos para geração distribuída também estão sujeitos à

falta de clareza quanto à revisão da Resolução nº 482 e os possíveis custos que esta alteração

pode ocasionar, tanto para o projeto implantado quanto para os demais projetos. Este ponto fez

a empresa remodelar alguns projetos na área a fim de compatibilizar os ganhos com eventuais

riscos que possam incidir, ocasionando a reprogramação dos demais projetos

(ENTREVISTADA 4). O Quadro 12 apresenta a síntese do estudo de temas da empresa Pedra

Única.

Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única

(Continua)

Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista

Ecoeficiência

Adoção de práticas de

ecoeficiência como meio de

diferenciação e vantagem

competitiva no ambiente

em que a empresa se insere.

- Declara a sustentabilidade

como maneira de gerar valor

compartilhado;

- Aplica o conceito de

ecoeficiência para orientação das

ações de gestão ambiental das

operações; e

- Determina os pilares de custo

de implantação, disponibilidade

no mercado, desempenho técnico

e ganhos em eficiência para a

implantação de ações.

- Declara que a ecoeficiência

é orientadora da estratégia de

sustentabilidade das

operações; e

- Considera que “Bom para a

empresa, bom para a

sociedade e bom para o país”.

Energia

Relevância do consumo de

energia dentro das

operações das empresas e

gestão aplicada sobre o

recurso.

- Declara atuar na prevenção de

desperdícios por meio de

modernização de instalações e

equipamentos, e gestão do

consumo.

- A despesa que a empresa

tem com energia representa

uma das maiores contas da

área de Infraestrutura, o que

orienta as ações em busca de

redução de desperdícios e

atuação em consumo.

Page 83: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

82

Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única

(Conclusão)

Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista

Energias

renováveis

Motivação do uso de

energia renovável e

aderência às estratégias de

ecoeficiência das empresas.

- Declara investimentos e metas

para a utilização de energias

renováveis em suas operações; e

- Utiliza energias declaradas

renováveis em unidades

centralizadas e realizou estudos

para o abastecimento de unidades

com painéis fotovoltaicos.

- Utiliza abastecimento por

fontes renováveis no ACL

apenas onde a infraestrutura

permite; e

- Iniciou a atuação em

unidades descentralizadas por

meio de uma unidade modelo

para replicar para as demais

unidades passíveis de

aplicação.

Geração

distribuída

fotovoltaica

Oportunidades encontradas

pelas empresas para o uso

da modalidade e fonte.

- Relata o início da operação de

maneira faseada para 200

unidades descentralizadas de

Minas Gerais e declara a intenção

de expandir a modalidade.

- Optou pela modalidade e

fonte por previsibilidade de

custos, riscos operacionais

reduzidos e aumento de

participação de fontes

renováveis no abastecimento

de energia.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

4.4.2 Análise do estudo de caso empresa Pedra Única

Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e

as barreiras identificados neste estudo de caso.

4.4.2.1 Políticas públicas ou regulatórias

A empresa Pedra Única relata que os estudos da modalidade foram motivados pela

publicação da Resolução nº 482 em 2016. Porém, a empresa dedicou esforços e análises por um

longo período para a identificação dos riscos e maneiras de mitigá-los, a fim de poder optar por

ingressar na modalidade.

Os benefícios tributários associados à modalidade são usufruídos pela empresa.

Entretanto, não são critérios para a adoção do modelo dada a instabilidade das legislações que

tratam deste assunto. A empresa modela seus projetos de geração distribuída eliminando a

influência deste benefício para a valoração destes projetos, segundo a Entrevistada 4. Ainda

sobre a instabilidade das regulações, a empresa relata, através da fala da Entrevistada 4, que é

empreendido um tempo maior na modelagem dos demais projetos de expansão do modelo na

empresa, dado os possíveis cenários de comprometimento dos projetos pelos longos prazos que

esta opção demanda, tornando-se uma barreira que influencia a tomada de decisão pela Pedra

Única e a redução da possibilidade de expansão.

Page 84: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

83

4.4.2.2 Condições de mercado

A empresa optou pela modalidade como forma de redução de custos com energia e

expansão do uso de energias renováveis em suas operações, sendo estes um dos principais

motivadores para a adoção da geração distribuída fotovoltaica. Quanto ao aumento da

competitividade, aumento da percepção de valor e pressões e demandas dos mercados em que

atua por ações de ecoeficiência, a Entrevistada 4 ressalta que estes pontos foram também

motivadores significativos para os projetos.

Como empresa de capital aberto e participante de índices de sustentabilidade, a empresa

relata a geração distribuída fotovoltaica como forma de atuação no tema e, adicionalmente,

utiliza canais de comunicação, como revistas e jornais, para relatar que foi a primeira empresa

do setor a implantar um projeto deste porte em geração distribuída, conforme relatado pela

Entrevistada 4.

O monopólio das concessionárias e deficiência da rede de distribuição foram relatadas

como umas das principais barreiras para a Pedra Única utilizar a geração distribuída.

Originalmente, conforme a Entrevistada 4, a empresa havia ingressado em um projeto em uma

cidade de Minas Gerais. Problemas com a concessionária e a rede de distribuição levaram a

empresa a implantar apenas parte do projeto no local original e a iniciar, no ano de 2019, um

outro projeto com a capacidade total pretendida em outro município de Minas Gerais.

A Entrevistada 4 relata, ainda, que este problema causou descolamento nas metas

estabelecidas, tanto para o uso de energias renováveis quanto para as metas financeiras que

estavam associadas ao início pleno da operação. Os custos com a tecnologia disponível não

foram significativos para a Pedra Única pois, conforme outras empresas entrevistadas, a

empresa utiliza uma usina que foi construída por um fornecedor e arrenda para apropriação da

geração de energia do ativo, conforme a Entrevistada 4, sendo essa uma barreira que foi

facilmente transposta pelo projeto.

4.4.2.3 Cadeia de suprimentos

Pelo fato de utilizar arrendamento de ativo, a empresa considera a presença de

fornecedores especializados um motivador significativo para a modalidade. A empresa aplicou

uma parte de seu cronograma do projeto para a avaliação e seleção de fornecedores que

atestaram a capacidade de conduzir um projeto nos moldes que a Pedra Única especificou,

conforme a Entrevistada 4.

Page 85: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

84

Adicionalmente, a Entrevistada 4 relata que o processo do primeiro projeto da Pedra

Única trouxe aprendizados para a empresa e para a equipe envolvida. A seleção dos

fornecedores deve ser modelada levando em consideração itens como a relação dos

fornecedores e a representatividade dos mesmos junto às concessionárias, os trâmites de

importação de equipamentos e a presença local onde as empresas pretendem desenvolver seus

projetos de geração distribuída fotovoltaica.

4.4.2.4 Eficiência de operações

A empresa pôde iniciar a injeção e a compensação de energia desde o final do ano de

2018, podendo se beneficiar do uso de energias renováveis em suas unidades operacionais que

não eram passíveis de outras formas de abastecimento por estas fontes, conforme a Entrevistada

4. Para o caso da empresa, o alinhamento da redução dos custos financeiros com o uso de

energias renováveis permite à empresa empregar a modalidade como forma de atuação em sua

estratégia de ecoeficiência. Isso se alinha aos motivadores relatados por Bradshaw (2017),

Koskela e Vehmas (2012) e Neri et al., (2018).

Foi também identificado que a geração distribuída não concorre diretamente com outras

formas de redução de consumo de energia, mas age de maneira a reduzir os custos com energia

após a exaustão das medidas que a empresa aplica em suas unidades operacionais. A

Entrevistada 4 relata que a empresa realiza estudos de arquitetura voltados para melhor uso e

eficiência energética de suas unidades, além de utilizar programas de redução de consumo e de

desperdício e substituição de equipamentos de ar-condicionado, iluminação e processamento

como padrão em suas atividades.

4.4.2.5 Vendas

A empresa explora seu pioneirismo na utilização da modalidade em seu relatório anual

e nas informações veiculadas na mídia, como forma de aumentar sua percepção de valor e de

qualidade de serviços junto aos stakeholders. Segundo a Entrevistada 4, o acesso a índices de

sustentabilidade é tido como um dos focos de atenção das ações de ecoeficiência da empresa.

Focando esforços anuais na identificação de eventuais pontos que não são bem avaliados por

estes índices, o uso de energias renováveis foi um dos pontos que a empresa decidiu atuar como

forma de melhorar sua pontuação para os anos de 2018 a 2020. Como suas unidades de negócio

Page 86: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

85

descentralizadas representam grande parte do consumo de energia da empresa, a geração

distribuída é uma forma de atuar positivamente neste ponto dos relatórios. Isso também é

identificado como motivador por Carvalho et al., (2017), Neri et al., (2018), Rexhäuser e

Rammer, (2014) e Stucki, (2019).

4.4.2.6 Organizacional

Ao se comprometer com a expansão do modelo em seu relatório anual e junto à mídia,

a empresa acaba se compelindo a manter esta posição, sendo que este comprometimento acaba

gerando um ciclo positivo para a modalidade internamente, conforme a Entrevistada 4. A

empresa, no início dos projetos, contava com uma equipe que havia se capacitado para a

modelagem interna. Porém, dada a complexidade de uma nova forma de atuação com energia

elétrica, teve que desenvolver outras competências internas para a condução dos projetos,

conforme a Entrevistada 4. Adicionalmente, pelas palavras da Entrevistada 4 sobre a

ecoeficiência, “é bom para nós, é bom para o país e é bom para o planeta”, nota-se que há

valores e atitudes internas que exercem uma influência positiva e reforçam os motivadores para

a adoção da modalidade.

A modalidade foi aplicada pela empresa também como forma de mitigação dos impactos

com as alterações de tarifas e previsibilidade dos custos com energia. Por meio da estabilidade

da geração que a fonte fotovoltaica provém, a Pedra Única pode ter mais segurança nos custos

que as unidades descentralizadas têm com a energia consumida (ENTREVISTADA 4).

Metas orientadas aos resultados financeiros não representam barreiras para a adoção do

modelo pela Pedra Única, dado que o projeto provém os benefícios financeiros associados ao

abastecimento por meio de energias renováveis que a empresa determinou para seus projetos,

conforme a Entrevistada 4. A aversão a riscos representa uma barreira significativa no início

dos estudos para a adoção da geração distribuída pela Pedra Única. Com uma equipe

multidisciplinar destacada para o estudo e a identificação dos riscos, e as maneiras de mitigá-

los, a empresa aplicou bastante tempo para chegar ao modelo que atendia as suas expectativas.

4.4.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Pedra Única

Foi verificada a utilização dos conceitos de ecoeficiência como orientadores da

estratégia de gestão ambiental da Pedra Única, tanto pelas evidências documentais quanto pelas

Page 87: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

86

declarações da Entrevistada 4. O tema ainda é reforçado pela declaração da empresa em seu

relatório integrado, pois a gestão ambiental é baseada nos quatro itens determinados pela

empresa como condicionantes para as ações que são orientadas pelo custo, resultado e

desempenho (DOCUMENTO 4a).

Em energia, a empresa orienta suas ações à prevenção de desperdícios e ao

monitoramento e controle, dado os gastos financeiros com o item em suas operações. O uso de

energias renováveis ainda é concentrado nas unidades centralizadas e ocorre por meio da

aquisição de energia no ACL.

Para as unidades descentralizadas, a empresa opta pelo uso de geração distribuída

fotovoltaica, pois pode obter o benefício da redução dos custos de energia de maneira rápida

para uma quantidade de unidades e com a utilização de uma fonte considerada pela empresa

como de baixo risco. As implicações para a expansão das frentes de geração distribuída pela

empresa foram atrasadas devido a problemas com a infraestrutura da concessionária de Minas

Gerais, além da revisão da Resolução nº 482, que gerou novos estudos de viabilidade para os

demais projetos da Pedra Única.

Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa

foram:

• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de

energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI

et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et al., 2018);

• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;

HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015);

• Melhoria de imagem, aumento da percepção de qualidade dos serviços (ALVES;

DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013; NERI et al., 2018); e

• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).

As barreiras identificadas foram:

• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;

POLZIN et al., 2019);

Page 88: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

87

• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;

CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);

• Falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;

TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e

• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).

Page 89: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

88

5 RESULTADOS

Como forma de confrontar a teoria com o observado nas entrevistas, os temas

identificados na literatura foram utilizados como orientadores para a classificação das

declarações obtidas nas entrevistas, que também foram orientadas por meio do questionário

baseado na revisão de literatura. Conforme as declarações dos entrevistados, foi verificada a

relevância do tema e sua influência sobre a opção de adoção da geração distribuída fotovoltaica

pelas empresas. Ao final da seção, é exposto um quadro resumo com os motivadores e as

barreiras verificadas nas respostas das empresas e seus correspondentes com a literatura.

5.1 POLÍTICA REGULATÓRIA OU PÚBLICA

A existência de políticas e programas públicos que fomentam a criação de um ambiente

favorável para a geração distribuída atuaram como reguladores e proveram um caminho para a

adoção da modalidade pelos consumidores (ROSAS LUNA et al., 2019). Após a determinação

das condições de acesso e as regras para a modalidade dadas pela Resolução nº 482, além das

recomendações e esclarecimentos do programa ProGD, as empresas puderam optar pela

modalidade.

Apesar de ser mencionado nas entrevistas estudos para a modalidade desde a Resolução

nº 482, os entrevistados mencionam que a decisão por implantar a modalidade nas operações

ocorreu apenas após a revisão dada pela Resolução nº 687 de 2015. Por se tratarem de empresas

com capital aberto ou misto, é compreensível que, antes de haver uma regulação que possa

gerar mais segurança para as empresas, não haver a possibilidade de utilização da modalidade.

Porém, mesmo com o ambiente mais claro a partir de 2015, verifica-se que houve, por parte de

duas empresas, a dedicação de esforços em avaliar de maneira mais aprofundada os riscos

inerentes à modalidade, gerando dúvidas no momento inicial da opção pela modalidade,

gerando atrasos nas implantações.

Esta insegurança se reflete na principal barreira apontada pelas empresas quanto às

políticas regulatórias, que é a instabilidade das regras atuais e os benefícios concedidos pelo

sistema de net-metering de 2019, que possivelmente irá passar por revisão em 2020. Essa

possível revisão não traz clareza, aos optantes, dos reais impactos que possam, advir tanto para

os projetos implantados, em construção e planejados para o futuro.

Os incentivos tributários, como isenção do ICMS, ocupam uma posição de menor

destaque no discurso dos entrevistados. Apesar do benefício ser um motivador, sua influência

Page 90: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

89

foi declarada mais como um facilitador da modalidade do que como um motivador primário de

adoção. Isso se deve, segundo os entrevistados, à insegurança quanto à manutenção destes

benefícios no longo prazo e sua possível incidência ou descaracterização em caso de alteração

do Convênio 16.

5.2 CONDIÇÕES DE MERCADO

Custos com o uso de energia foi o principal motivador mencionado pelas empresas para

a adoção da geração distribuída fotovoltaica. Todas as empresas entrevistadas contam com

operações parte centralizadas e parte descentralizadas, com diferentes características dos

imóveis que ocupam e com programas já instituídos de redução de consumo e desperdícios de

energia, abrangidos por suas políticas de ecoeficiência.

Conforme as entrevistas, as empresas declaram que o aumento da eficiência das

operações está relacionado com a capacidade de competir nos mercados em que as empresas já

atuam, mais do que atingir novos mercados. Com destaque para a empresa Cárpatos, as ações

desenvolvidas, nas palavras do Entrevistado 3, exemplificam como o tema é encarado: “ser o

mais eficiente possível, com o dinheiro que temos, rentabilizando a venda”.

A gestão eficiente dos recursos foi reportada e mencionada pelos entrevistados como

business as usual2 e que este modo de tratar o assunto é uma exigência, e não uma maneira de

obtenção de novos mercados e/ou aumento de participação nos mercados em que atuam. Esta

orientação dos negócios pode advir do fato que o tema motiva a ecoeficiência de maneira geral

e a redução dos custos com energia impacta na operação e na eficiência dos negócios. A

divulgação de ações voltadas à ecoeficiência foi observada, em todos os relatórios das

empresas, como forma de associar o tema ambiental com a gestão de recursos financeiros.

No que concerne às distribuidoras, as empresas relatam nas entrevistas, de acordo com

o que foi observado na literatura, que são consideradas uma das barreiras para a implantação e

expansão da geração distribuída no Brasil. Todas as empresas entrevistadas relatam que os

prazos regulatórios não são cumpridos e, em complemento, geram grandes impactos nos

projetos de implantação. A posição das empresas quanto às barreiras impostas pelas

distribuidoras abrange tanto a questão do monopólio, ao não deixar alternativas para a injeção

da energia, quanto à infraestrutura para a distribuição da energia gerada.

2 Execução normal das operações dentro de uma empresa.

Page 91: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

90

Este fato é reconhecido inclusive pelas distribuidoras, a exemplo do posicionamento da

CEMIG, como uma barreira para a expansão que não pode ser mitigada apenas pela intenção

dos solicitantes em adotar a modalidade da geração distribuída. Explicitando o fato,

investimento na infraestrutura e redes de distribuição das concessionárias que não estavam

previstos ou que, porventura, não vão gerar o retorno esperado pelas concessionárias dado os

incentivos da legislação ao net-metering são pontos, reconhecidos pela ANEEL, que poderão

gerar impactos nos custos e benefícios percebidos pelas empresas que optam e optarão pela

modalidade no futuro e são temas centrais na revisão da Resolução nº 482 e 687. A

infraestrutura das unidades de negócio das empresas, seja por não terem condições de acesso

ao ACL, seja por não permitirem a adoção de outras modalidades de energias renováveis (como

painéis fotovoltaicos instalados nas unidades), se converte em um motivador para a adoção da

geração distribuída conforme as entrevistas.

5.3 DISPONIBILIDADE DE FORNECEDORES ESPECIALIZADOS

Para as empresas entrevistadas, a existência de fornecedores aptos a proporcionar a

solução para a adoção da modalidade foi um motivador identificado como relevante. Isso se dá

pelo fato de nenhuma das empresas terem, como atividade central, negócios relacionados à

energia elétrica. Ante ao exposto, todas as empresas contaram com fornecedores para o

desenvolvimento dos projetos.

Com maior ou menor participação no desenvolvimento, invariavelmente as empresas

recorreram a fornecedores que atuam no mercado de geração distribuída para a concepção dos

projetos fotovoltaicos e, conforme as empresas América, Cárpatos e Pedra Única, as usinas são

de propriedade dos fornecedores e foram arrendadas pelas empresas para uso e aplicação da

energia nas unidades de negócio. Neste modelo, conforme entrevistas, os fornecedores são

remunerados pelos ativos e serviços de operação e manutenção, e as empresas se beneficiam da

energia que os ativos geram.

5.4 EFICIÊNCIA DE OPERAÇÕES

Conforme já mencionado, a busca por energias renováveis se dá em caráter secundário

junto às empresas entrevistadas, após outras formas de ações de economia no consumo de

energia elétrica. O caminho que foi percorrido pelas empresas entrevistadas iniciou-se pela

identificação do consumo, redução de desperdícios e modernização das estruturas das unidades

Page 92: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

91

de negócio, para então considerar a adoção da geração distribuída. Estas foram identificadas

como medidas que têm maior controle operacional das empresas. Após estas medidas, as tarifas

de energia e reajustes associados motivam a busca das empresas por outras formas de mitigação

destes custos. Entendidas como externalidades, as tarifas aplicadas no mercado cativo de

energia não são controladas pelas empresas e a adoção da geração distribuída auxilia as

empresas a criar um mecanismo de proteção e previsibilidade dos custos da energia que é gerada

pela modalidade.

5.5 VENDAS

Conforme anteriormente mencionado, o benefício da adoção da modalidade para o

aumento da parcela de mercado é considerado de maneira indireta pelas empresas, associada à

possibilidade de melhoria da imagem das empresas junto ao mercado em que atuam. Porém,

esteve presente no discurso de todos os entrevistados.

O fato de as empresas darem relevância ao tema em seus relatórios anuais demonstra

que a ação pode gerar um impacto positivo em seus stakeholders. Além de informações

próprias, a exemplo da empresa Pedra Única, há uma busca para deixar a iniciativa mais

evidente por meio do acesso a meios de comunicação, como revistas e jornais.

Contudo, e de maneira mais isenta, a participação de empresas em índices de

sustentabilidade e, por consequência, carteiras de ações destes índices fomentam a busca de

aumento da aplicação de energias renováveis em suas operações, além de garantir às empresas

uma diferenciação nos mercados em que atuam e permitir o acesso a investidores sensíveis ao

tema. Conforme a Entrevistada 2, a permanência nos índices é tida como prioridade dos

executivos relacionados ao tema. Orientada pela eficiência das operações e, por consequência,

para ecoeficiência, a adoção da geração distribuída também é considerada pelas empresas como

forma de diferenciação de desempenho entre as demais empresas do segmento que não se

utilizam da modalidade.

5.6 ORGANIZACIONAL

As empresas tratam o tema de aumento da participação de energias renováveis com

centralidade em sua estratégia de ecoeficiência e gestão ambiental. Tanto nas entrevistas como

em seus relatórios, o uso da geração distribuída é a iniciativa que compõe a estratégia das

empresas para o uso de energias renováveis. Também de forma declarada, as empresas

Page 93: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

92

mencionam a informação de expansão ou conclusão dos projetos já iniciados como forma de

expansão do uso de energias renováveis com a fonte fotovoltaica sendo predominante no

levantamento. Este comprometimento das empresas pode ser considerado como motivador para

que o uso da modalidade não seja desconsiderado ou suprimido das operações das empresas

pelos próximos exercícios, além de fomentar internamente às empresas a manter as

competências internas para a condução de projetos de ecoeficiência.

Há um alinhamento entre as empresas quanto às competências internas que foram

desenvolvidas para a condução dos projetos internamente e que exerceram influência para a

adoção da modalidade. Apesar de não haver clareza de como este fenômeno aconteceu dentro

das empresas, a continuidade dos projetos denota que estas competências serão aplicadas para

a continuidade dos projetos, conforme declarado pelas empresas, além de permitir a

identificação de novas possibilidades e inovações dentro das empresas.

A modalidade de geração distribuída fotovoltaica, além de contribuir com a redução dos

custos com energia, foi considerada pelas empresas como forma de mitigar os riscos

provenientes das flutuações tarifárias de energia. Esta modalidade é tida pelas empresas como

forma de gerar previsibilidade da geração de energia e, por consequência, dos custos envolvidos

com sua geração, reduzindo a exposição a flutuações inerentes ao sistema elétrico brasileiro.

Foi identificado, nas entrevistas, que o uso da geração distribuída fotovoltaica se alinha

ao direcionamento das empresas, bem como aos valores dos entrevistados. Os quatro

entrevistados declaram que a modalidade é suportada e incentivada nas empresas que integram,

bem como junto às equipes que lideram. Este alinhamento permite um ambiente de

continuidade dos projetos pelas empresas.

A orientação por metas e resultados financeiros não exerceu significativa relevância

como barreira junto às empresas entrevistadas. Pelo fato de as empresas terem considerado a

modalidade como forma de mitigação de custos, houve um alinhamento do uso da geração

distribuída como forma de direcionamento das metas empresariais, conforme observado nos

relatórios e nas entrevistas, tanto para as metas financeiras como para as metas de ecoeficiência

das operações.

Outra barreira identificada na literatura quanto à disponibilidade de estruturas internas

para a condução dos projetos, e percepção externa da aplicação de esforços em projetos que

possam ter o viés de uso incorreto de capacidades, também não foi relevante para ser transposta.

Novamente, o apelo ao uso da modalidade como maneira de gerar resultados tanto financeiros

quanto ambientais é orientado de maneira a gerar uma percepção positiva, conforme as

Page 94: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

93

divulgações que as empresas adotaram. Não foram identificados materiais, notícias ou

publicações que se contrapõe a tal percepção.

Quanto à aversão a riscos em novas modalidades, esta barreira gerou impactos às

empresas. Nas entrevistas, identificou-se que o desconhecimento da modalidade gerou um

prazo maior para a avaliação e busca de fornecedores que pudessem implementar a modalidade

em suas operações. Conforme observado, as empresas aplicaram esforços na fase de avaliação

da modalidade e possíveis riscos inerentes a fim de implementar os projetos de geração

distribuída.

No caso da empresa Império, por se tratar de uma empresa mista, a modelagem da

implementação da solução para a abertura de uma licitação pública gerou impactos negativos

e, portanto, um atraso na implementação da solução. Para o caso da empresa Pedra Única, foi

contratado, inclusive, uma consultoria jurídica externa para a avaliação do modelo e formas de

mitigação de riscos da operação. A empresa Cárpatos diz ter aplicado esforços significativos na

modelagem e opção pelo modelo para a geração distribuída junto aos fornecedores. Na empresa

América, a aversão a riscos exerceu uma barreira. Porém, com menor impacto no

direcionamento para a opção pela modalidade dada a quantidade de projetos que a empresa

implementou e aguarda a implementação de mais projetos que estão em construção.

5.7 QUADRO RESUMO DOS MOTIVADORES E DAS BARREIAS

O Quadro 13 foi construído como forma de sintetizar a influência de cada motivador e

barreira identificado na literatura e sua aderência ao levantado junto às empresas entrevistadas.

Page 95: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

94

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria

(Continua) Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência

1

Política

regulatória ou

pública

1.1 Motivador

Existência de legislação

ou políticas públicas que

promovam a adoção de

uso de energias

renováveis no modelo

de geração distribuída.

(BRADSHAW, 2017;

NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et

al., 2018)

América Permitiu a implementação da modalidade. Porém,

apenas depois da aprimoração do modelo.

Império Fundamental para a implantação.

Cárpatos Fundamental para a implantação.

Pedra Única

Fundamental para a viabilidade. Causou estudo das

legislações a fim de evidenciar todos os riscos da

modalidade e impactou o prazo de implantação.

1.2 Motivador

Existência de incentivos

tributários que

promovam o uso da

geração distribuída para

a ecoeficiência.

(NERI et al., 2018;

ROCHA et al., 2018)

América Foi um facilitador para a adoção da modalidade.

Império Não é classificado como critério para adoção do

modelo dada a instabilidade das legislações.

Cárpatos Foi um facilitador para a adoção da modalidade.

Pedra Única Não é classificado como critério para adoção do

modelo dada a instabilidade das legislações.

1.3 Barreira

Insegurança de

regulações específicas

para geração distribuída.

(ANEEL, 2018a;

POLZIN et al., 2019)

América Causou a conformação da condição de uso de

geração distribuída pela empresa.

Império Não impactou o projeto.

Cárpatos Causou atrasos na implantação da modalidade na

empresa.

Pedra Única Causou atrasos na expansão da modalidade na

empresa.

2

Condições de

mercado

(continua)

2.1 Motivador Custos com energia e

escassez de recursos.

(NERI et al., 2018;

VILAÇA GOMES et

al., 2018)

América Motivador para a adoção da modalidade conforme

entrevista.

Império

Motivador para a adoção da modalidade, conforme

entrevista, e destaque na redução dos custos,

conforme relatório.

Cárpatos Motivador para a adoção da modalidade conforme

entrevista.

Pedra Única Declarado como principal motivador para a adoção

da modalidade.

Page 96: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

95

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria

(Continuação)

Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência

2

Condições de

mercado

(continuação)

2.2 Motivador

Aumento de

competitividade e

percepção de valor de

mercado por práticas de

ecoeficiência.

(CAIADO et al., 2017;

CARVALHO et al.,

2017; FERNÁNDEZ-

VIÑÉ; GÓMEZ-

NAVARRO; CAPUZ-

RIZO, 2013; NERI et

al., 2018)

América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com

destaque para a ação no Brasil.

Império Motivador para a adoção da modalidade conforme

entrevista.

Cárpatos Motivador para a adoção da modalidade conforme

entrevista.

Pedra Única Utilizou a implantação do projeto como forma de

diferenciação no segmento de atuação.

2.3 Motivador

Pressões e demandas do

mercado por

ecoeficiência das

operações.

(NERI et al., 2018)

América Declarado como influenciador da opção.

Império

A participação em índices de sustentabilidade

evolutivos (ISE e DJSI) exercem influência para a

busca e reporte de soluções em energias renováveis.

Cárpatos Declarado como influenciador da opção.

Pedra Única

A participação em índices de sustentabilidade

evolutivos (ISE e DJSI) exercem influência para a

busca e reporte de soluções em energias renováveis.

3 Cadeia de

suprimentos 3.1 Motivador

Disponibilidade de

fornecedores

especializados.

(NERI et al., 2018)

América Não mencionado como motivador. Porém,

fundamental para a implantação.

Império Fundamental para a adoção da modalidade.

Cárpatos Fundamental para a adoção da modalidade.

Pedra Única Fundamental para a adoção da modalidade.

4

Eficiência de

operações

(continua)

4.1 Motivador

Redução de custos

operacionais e uso de

recursos.

(BRADSHAW, 2017;

DRUCKER, 1963;

NERI et al., 2018)

América Motivador pela busca de soluções em energias

renováveis.

Império Motivador pela busca de soluções em energias

renováveis.

Cárpatos Motivador pela busca de soluções em energias

renováveis.

Pedra Única Motivador pela busca de soluções em energias

renováveis.

Page 97: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

96

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria

(Continuação)

Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência

4

Eficiência de

operações

(continuação)

4.2 Motivador

Redução do uso de

recursos e/ou

externalidades.

(KOSKELA;

VEHMAS, 2012;

NERI et al., 2018)

América Orientado pelos compromissos corporativos

assumidos, torna-se motivador.

Império Orientado pelos compromissos corporativos

assumidos, torna-se motivador.

Cárpatos Orientado pelos compromissos corporativos

assumidos, torna-se motivador.

Pedra Única Orientado pelos compromissos corporativos

assumidos, torna-se motivador.

4.3 Barreira

Concorrência com

outras formas de

economia de energia.

(DIAZ LOPEZ;

BASTEIN; TUKKER,

2019; STUCKI, 2019)

América Foi considerado após a implantação de outras ações

de economia de energia.

Império Foi considerado após a implantação de outras ações

de economia de energia.

Cárpatos Foi considerado após a implantação de outras ações

de economia de energia.

Pedra Única Foi considerado após a implantação de outras ações

de economia de energia.

5 Vendas

5.1 Motivador Aumento de parcela de

mercado.

(KOSKELA;

VEHMAS, 2012;

NERI et al., 2018)

América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com

destaque.

Império Explora a informação em seu relatório anual.

Cárpatos Explora a informação em seu relatório anual.

Pedra Única Dada informação do pioneirismo no segmento, foi

explorado em relatórios da empresa.

5.2 Motivador

Melhoria de imagem,

aumento da percepção

de qualidade dos

serviços.

(ALVES; DUMKE

DE MEDEIROS,

2015; FERNÁNDEZ-

VIÑÉ; GÓMEZ-

NAVARRO; CAPUZ-

RIZO, 2013; NERI et

al., 2018)

América Relata como importante para a empresa e reporta,

em seu relatório global, o destaque para a iniciativa.

Império Relata a intenção de implantar a modalidade em seu

relatório anual.

Cárpatos Explora a informação em seu relatório anual.

Pedra Única Divulgou a iniciativa em meios de comunicação,

com intenção de melhoria da imagem.

Page 98: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

97

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria

(Continuação)

Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência

5.3 Motivador

Acesso a certificações,

novos mercados e

aumento da participação

em mercados

estabelecidos por

diferenciação de

desempenho.

(CARVALHO et al.,

2017; NERI et al.,

2018; REXHÄUSER;

RAMMER, 2014;

STUCKI, 2019)

América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com

destaque para a ação no Brasil.

Império

A iniciativa é mensurada nos índices de

sustentabilidade que a empresa participa e para a

manutenção de índices e certificações.

Cárpatos Não mencionado

Pedra Única

A iniciativa é mensurada nos índices de

sustentabilidade que a empresa participa e para a

manutenção de índices e certificações.

6 Organizacional

(continua)

6.1 Motivador

Existência de

comprometimento e

estratégia

organizacional.

(CAIADO et al., 2017;

FERNÁNDEZ-VIÑÉ;

GÓMEZ-NAVARRO;

CAPUZ-RIZO, 2013;

FIGGE; HAHN, 2013;

NERI et al., 2018;

RAVI, 2015)

América Motivado por compromissos internacionais

assumidos pela empresa.

Império Confirmado como motivador em entrevista e

relatório.

Cárpatos Confirmado como motivador em entrevista e

relatório.

Pedra Única Confirmado como motivador em entrevista e

relatório.

6.2 Motivador

Existência de

competências internas

para condução dos

projetos de

ecoeficiência.

(NERI et al., 2018)

América Foi necessário desenvolver a equipe internamente

para a condução.

Império Foi necessário desenvolver a equipe internamente

para a condução.

Cárpatos Foi necessário desenvolver a equipe internamente

para a condução.

Pedra Única Foi necessário desenvolver a equipe internamente

para a condução.

6.3 Motivador

Aplicação de medidas

para a mitigação de

riscos operacionais.

(CAIADO et al., 2017;

FIGGE; HAHN, 2013;

NERI et al., 2018;

SALING et al., 2002;

STUCKI, 2019)

América Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e

custos.

Império Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e

custos.

Cárpatos Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e

custos.

Pedra Única Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e

custos.

Page 99: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

98

Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria

(Conclusão)

Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência

6 Organizacional

(continua)

6.4 Motivador Criação de inovações

nas operações.

(CARVALHO et al.,

2017; NERI et al.,

2018)

América Motivador influente na iniciativa na empresa.

Império Explorada como iniciativa inovadora no setor misto

no Brasil

Cárpatos Explorada a iniciativa como inovação na empresa

Pedra Única Explorada a iniciativa como inovação na empresa

6.5 Motivador

Valores e atitudes de

indivíduos dentro das

empresas.

(NERI et al., 2018)

América Influenciou a opção pela iniciativa.

Império Influenciou a opção pela iniciativa.

Cárpatos Influenciou a opção pela iniciativa.

Pedra Única Influenciou a opção pela iniciativa.

6.6 Motivador Melhoria da eficiência

das operações.

(BARNEY, 1991;

NERI et al., 2018)

América Verificada pela influência dos custos nas operações.

Império Verificada pela influência dos custos nas operações.

Cárpatos Verificada pela influência dos custos nas operações.

Pedra Única Verificada pela influência dos custos nas operações.

6.7 Barreira

Metas/orientações do

negócio aos resultados

financeiros.

(DIAZ LOPEZ;

BASTEIN; TUKKER,

2019)

América Não gerou influência como impeditivo.

Império Não gerou influência como impeditivo.

Cárpatos Não gerou influência como impeditivo.

Pedra Única Não gerou influência como impeditivo.

6.8 Barreira

Disponibilidade de

estrutura e recursos

internos para

investimento e

percepção externa.

(FATEMI; GLAUM;

KAISER, 2018; NERI

et al., 2018)

América Aplicado conhecimentos internos e desenvolvida

equipe para a condução.

Império Utilizado parceiros para a definição e capacitação no

projeto.

Cárpatos Desenvolvida equipe para a condução de parceiros e

para a condução do processo.

Pedra Única Desenvolvida equipe para a condução da

modalidade.

6.9 Barreira

Aversão a riscos das

empresas em novas

modalidades.

(STUCKI, 2019)

América Necessário convencimento interno para a adoção da

modalidade.

Império Causou atrasos na implantação da modalidade na

empresa.

Cárpatos Causou atrasos na implantação da modalidade na

empresa.

Pedra Única Causou atrasos na implantação da modalidade na

empresa.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

Page 100: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

99

6 CONCLUSÃO

O país conta com uma matriz energética majoritariamente renovável e tal característica

remonta desde o início da utilização da eletricidade no Brasil. Porém, com o aumento da

necessidade de energia no país, essa matriz foi complementada por outras fontes de energia não

renováveis, como as termoelétricas, e acabam se desalinhando dos compromissos assumidos

pelo país, como o Acordo de Paris. Em sua essência, a estratégia do governo brasileiro em

estimular a geração distribuída tem por objetivo reduzir os impactos que grandes usinas

geradoras de energia possam causar sob o âmbito financeiro e ambiental, além dos impactos

que possam gerar pela transmissão da energia gerada aos grandes centros de consumo e às

emissões de gases de efeito estufa que o acionamento de usinas suplementares baseadas em

fontes não renováveis causam à matriz energética.

A geração distribuída é uma modalidade que foi estimulada pelas políticas públicas

como forma de aumentar a oferta das energias renováveis no país e abrir a possibilidade de

consumidores participarem da geração da energia que consomem. A existência de programas

governamentais específicos para a expansão do modelo, como as resoluções nº 482 (ANEEL,

2019b) e nº 687 (ANEEL, 2018a), o ProGD e políticas tributárias como o Convênio 16

(CONFAZ, 2015), criaram um ambiente propício para os consumidores optarem e aumentarem

a adoção do modelo e têm foco na fonte fotovoltaica. Estes programas ainda elencam como

benefícios do modelo a geração de empregos e o desenvolvimento econômico que a modalidade

pode trazer ao país.

A busca por ecoeficiência é uma prática presente nas operações das empresas no país.

Isso se deve ao fato de as empresas entenderem que há a possibilidade de realizar suas operações

de maneira menos impactante ao meio ambiente e ainda obter benefícios financeiros que

possam advir desta prática para o planeta.

Em conjunto, o Pacto Global surge como uma forma de trazer às empresas

compromissos e formas de direcionar as ações para a sustentabilidade e desenvolvimento

sustentável na sua forma de operar. Adicionalmente, as empresas se beneficiam do fato de suas

ações serem elencadas em seus relatórios anuais e da possibilita de responder às demandas que

índices de sustentabilidade podem exigir para a composição de suas carteiras de investimento.

Nas operações das empresas entrevistadas, a gestão de consumo de energia, dada sua

necessidade e os custos para as empresas, se mostra como tema transversal e objeto de

dedicação de esforços internos, e busca por soluções que se alinham aos propósitos de

ecoeficiência que cada empresa assumiu.

Page 101: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

100

Neste âmbito, o uso da geração distribuída fotovoltaica se mostra como convergente

tanto aos objetivos do desenvolvimento sustentável, quanto às operações das empresas, que

podem não ser claramente convergentes. Porém, a plena adoção do modelo enfrenta

dificuldades, onde as principais barreiras identificadas na pesquisa foram:

• A influência negativa que as concessionárias exercem para a conexão de novos

projetos por deterem o monopólio de redes sem capacidade de admitir a energia

que os empreendimentos geram;

• A insegurança e instabilidade da regulação e legislação que compete ao tema

impede que as empresas busquem esta modalidade com maior avidez;

• A aversão a riscos de uma nova modalidade de operação, consumo e estrutura de

negócio; e

• Outras formas de economia de energia que são implantadas antes da opção por

geração distribuída fotovoltaica.

Quanto aos motivadores, foram identificados:

• A existência de uma regulação que criou o ambiente para o desenvolvimento do

modelo e adoção pelas empresas entrevistadas;

• A possibilidade de redução de custos com a energia elétrica que a geração

distribuída proporciona;

• A existência de fornecedores aptos a implementar os projetos de geração

distribuída no modelo de arrendamento;

• A impossibilidade de abastecer as unidades de negócio com outras formas de

energias renováveis;

• O aumento da percepção de valor de mercado e imagem pelos stakeholders e

possível expansão de mercado pela percepção de qualidade nos serviços; e

• Pressões exercidas por compromissos organizacionais e índices que as empresas

optaram por assumir e participar por meio de diferenciação de desempenho com

concorrentes.

Foi consensual, entre os casos estudados, que a modalidade é classificada como uma

estratégia para as empresas aumentarem seu desempenho em ecoeficiência e, por consequência,

sua competitividade pela redução dos custos operacionais e pela melhoria da percepção da

imagem das empresas pela adoção da modalidade. O arrendamento das usinas de geração

distribuída, que é o foco da atuação no tema pelas empresas entrevistadas, traz outro panorama

quanto à utilização de energias renováveis por estas empresas. O desenvolvimento de projetos

Page 102: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

101

de construção e gestão de usinas fotovoltaicas não é a atividade fim para estas empresas. Logo,

o arrendamento transfere a alocação de capital e necessidade de gestão do empreendimento

totalmente aos fornecedores que ofertam este serviço, deixando as empresas apenas com a

necessidade de realizar uma contratação de serviços de geração da energia que será compensada

pelas suas unidades de negócio.

Entretanto, há uma limitação na atuação em ecoeficiência das empresas. Os passos que

as empresas optam por seguir, invariavelmente, seguem pelo caminho da redução de consumo

com comando e controle, medidas de economia de energia em grandes quantidades e com

baixos investimentos para então seguir com a busca de fontes renováveis de energia, sendo este

último passo fortemente focado na redução dos custos e não somente na contribuição que as

empresas podem fazer sobre o tema.

Foi verificado que o motivador central para a busca pela ecoeficiência é a eficiência

financeira antes da eficiência ambiental de suas operações. Este fato foi verificado nos quatro

estudos de caso e trata de maneira secundária os benefícios ambientais das ações de

ecoeficiência, como um bônus associado a uma boa maneira de aplicarem seus recursos

financeiros.

Adicionalmente, apesar de todas as empresas terem intenções de expandir o uso do

modelo em suas atividades, foram poucas as que se comprometeram com quantidade ou

cobertura em seus relatórios. Isso se deve ao fato das empresas, apesar de terem chegado à

conclusão que o arranjo é viável, perceberem as barreiras impostas pelas concessionárias que

as impedem de terem metas reais para a expansão em suas operações.

O trabalho alcança então seus objetivos ao identificar os motivadores e as barreiras para

a adoção da geração distribuída fotovoltaica por empresas que atuam com unidades de negócio

descentralizadas no Brasil e como tais fatores se inserem em um ambiente sujeito à

instabilidades em sua regulação.

As empresas poderiam desempenhar um papel de maior relevância auxiliando o país a

alterar de maneira significativa sua matriz energética, fomentando a geração de energias

renováveis por meio da geração distribuída fotovoltaica e suprindo as deficiências de oferta de

energia. Porém, as barreiras verificadas residem justamente no cerne do modelo: Como

distribuir esta energia?

Page 103: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

102

7 CONTRIBUIÇÃO, LIMITAÇÃO E SUGESTÃO PARA ESTUDOS FUTUROS

O presente estudo teve por objetivo trazer luz ao papel que as empresas podem assumir

com a geração distribuída fotovoltaica na conversão da matriz energética do país para uma

matriz mais limpa e quais os benefícios que as empresas que ainda não optaram pela modalidade

podem obter com base nos estudos de caso. O estudo de caso restringe-se a empresas do Brasil,

com unidades de negócio descentralizadas e que divulgam informações em seus relatórios

anuais. A sugestão para o prosseguimento dos estudos deve abranger a evolução da modalidade

da geração distribuída face à mudança prevista na regulação da modalidade para o ano de 2020.

Page 104: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

103

REFERÊNCIAS

ALVES, J. L. S.; DUMKE DE MEDEIROS, D. Eco-efficiency in micro-enterprises and small

firms: A case study in the automotive services sector. Journal of Cleaner Production, v.

108, n. October, p. 595–602, 2015.

ANEEL. Resolução Normativa n° 482. Brasília: ANEEL, 2012.

ANEEL. Resolução Normativa n° 687, de 24 de novembro de 2015. Brasília: ANEEL,

2015.

ANEEL. Nota Técnica n° 0056/2017-SRD/ANEEL. Brasília: ANEEL, 2017.

ANEEL. Revisão das regras aplicáveis à micro e minigeração distribuída - Resolução

Normativa no 482/2012. Brasília: ANEEL, 2018a.

ANEEL. Nota Técnica n° 0108/2018-SRD/SCG/SMA/ANEEL. Brasília: ANEEL, 2018b.

Disponível em: http://www.aneel.gov.br/audiencias-

publicas?p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet&

p_p_lifecycle=2&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_cacheability=cacheLevelPage&

p_p_col_id=column-2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasv. Acesso em: 5 ago. 2019.

ANEEL. Geração distribuída. Brasília: ANEEL, 2019a. Disponível em:

http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/VerGD.asp?pagina=70&acao=buscar&login=&NomPessoa

=&IdAgente=&DatConexaoInicio=&DatConexaoFim=. Acesso em: 13 abr. 2019.

ANEEL. Audiência 001/2019. Brasília: ANEEL, 2019b. Disponível em:

http://www.aneel.gov.br/audiencias-

publicas?p_auth=Fzegtpra&p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsu

ltasPortletportlet&p_p_lifecycle=1&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=colu

mn-2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_. Acesso em: 5 ago. 2019.

ANSAR, A. et al. Should we build more large dams? The actual costs of hydropower

megaproject development. Energy Policy, v. 69, p. 43–56, Jun. 2014.

AQUILA, G. et al. Wind power generation: An impact analysis of incentive strategies for

cleaner energy provision in Brazil. Journal of Cleaner Production, v. 137, p. 1100–1108,

2016.

AQUILA, G. et al. An overview of incentive policies for the expansion of renewable energy

generation in electricity power systems and the Brazilian experience. Renewable and

Sustainable Energy Reviews, v. 70, n. October 2015, p. 1090–1098, 2017.

B3. Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). São Paulo: B3, 2019. Disponível em:

http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-

de-sustentabilidade-empresarial-ise.htm. Acesso em: 5 ago. 2019.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução n° 4.327. Brasília: Banco Central do Brasil,

2014. Disponível em:

https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Norm

ativos/Attachments/48734/Res_4327_v1_O.pdf. Acesso em: 5 ago. 2019.

Page 105: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

104

BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management,

v. 17, n. 1, p. 99–120, 1991.

BEST, R.; BURKE, P. J. Adoption of solar and wind energy: The roles of carbon pricing and

aggregate policy support. Energy Policy, v. 118, n. April, p. 404–417, 2018.

BRADSHAW, A. Regulatory change and innovation in Latin America: The case of renewable

energy in Brazil. Utilities Policy, v. 49, p. 156–164, Dec. 2017.

BRASIL. Decreto do conselho de ministros n° 640, de 2 de março de 1962. Brasília,

Presidência da República, 1962.

BRASIL. Lei Complementar n° 87, de 13 de setembro de 1996. Brasília: Presidência da

República, 1996.

BROWN, D. P.; SAPPINGTON, D. E. M. Designing compensation for distributed solar

generation: Is net metering ever optimal? The Energy Journal, v. 38, n. 3, p. 1–32, 2017.

CAIADO, R. G. G. et al. Towards sustainable development through the perspective of eco-

efficiency: A systematic literature review. Journal of Cleaner Production, v. 165, p. 890–

904, 2017.

CARVALHO, H. et al. Modelling green and lean supply chains: An eco-efficiency

perspective. Resources, Conservation and Recycling, v. 120, p. 75–87, 2017.

CEBDS. Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. [s. l: s.

n.], 2019.

COMELLO, S.; REICHELSTEIN, S. Cost competitiveness of residential solar PV: The

impact of net metering restrictions. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 75, p.

46–57, 2017.

CONFAZ. Convênio ICMS 16, de 22 de abril de 2015. Brasília: CONFAZ, 2015.

Disponível em: https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/convenios/2015/CV016_15.

Acesso em: 5 ago. 2019.

COSTA, M. I. L.; SILVA, E. R.; MATTOS, U. A. O. 20 anos de eco-eficiência no Brasil: De

estratégia de negócios a princípio de política pública. Revista Brasileira de Gestão e

Desenvolvimento Regional, v. 8, n. 1, p. 3–28, 2012.

DA SILVA, G. D. P. et al. Modelling distributed photovoltaic system with and without

battery storage: A case study in Belem, northern Brazil. Journal of Energy Storage, v. 17, p.

11–19, 2018.

DA SILVA, G. D. P.; BRANCO, D. A. C. Modelling distributed photovoltaic system with

and without battery storage: A case study in Belem, northern Brazil. Journal of Energy

Storage, v. 17, p. 11–19, 2018.

DIAZ LOPEZ, F. J.; BASTEIN, T.; TUKKER, A. Business model innovation for resource-

efficiency, circularity and cleaner production: What 143 cases tell us. Ecological Economics,

v. 155, n. March 2017, p. 20–35, 2019.

Page 106: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

105

DRUCKER, P. F. Managing for business effectiveness. Harvard Business Review, v. 41, n.

3, p. 53–60, 1963.

EPE. 2a Revisão Quadrimestral das Projeções da demanda de energia elétrica do

Sistema Interligado Nacional 2015-2019: Nota Técnica DEA 11/15 /ONS 126/2015. Rio de

Janeiro: Empresa de Pesquisas Elétricas, 2015.

EPE. Anuário estatístico de energia elétrica 2018 - Ano base 2017. Rio de Janeiro:

Empresa de Pesquisas Elétricas, 2018.

FARIA JR, H. DE; TRIGOSO, F. B. M.; CAVALCANTI, J. A. M. Review of distributed

generation with photovoltaic grid connected systems in Brazil: Challenges and prospects.

Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 75, n. July 2016, p. 469–475, 2017.

FATEMI, A.; GLAUM, M.; KAISER, S. ESG performance and firm value: The moderating

role of disclosure. Global Finance Journal, v. 38, p. 45–64, 2018.

FERNÁNDEZ-VIÑÉ, M. B.; GÓMEZ-NAVARRO, T.; CAPUZ-RIZO, S. F. Assessment of

the public administration tools for the improvement of the eco-efficiency of Small and

Medium Sized Enterprises. Journal of Cleaner Production, v. 47, p. 265–273, 2013.

FERREIRA, A. et al. Economic overview of the use and production of photovoltaic solar

energy in brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 81, p. 181–191, 2018.

FERREIRA, H. L.; PATAH, L. A. Renewable energy: The role of the auctions of energy in

Brazil and the acting of the sources of biomass. Revista Gestão & Tecnologia, v. 17, n. 2, p.

51–65, 2017.

FIGGE, F.; HAHN, T. Value drivers of corporate eco-efficiency: Management accounting

information for the efficient use of environmental resources. Management Accounting

Research, v. 24, n. 4, p. 387–400, 2013.

FRATE, C. A.; BRANNSTROM, C. Stakeholder subjectivities regarding barriers and drivers

to the introduction of utility-scale solar photovoltaic power in Brazil. Energy Policy, v. 111,

n. October, p. 346–352, 2017.

GIL, A. C. Métodos e ténicas da pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GOLDEMBERG, J.; COELHO, S. T.; LUCON, O. How adequate policies can push

renewables. Energy Policy, v. 32, n. 9, p. 1141–1146, 2004.

GOMES, A. C. S. et al. O setor elétrico. In: SÃO PAULO, E. M. DE; KALACHE FILHO, J.

(Eds.). Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 50 anos: Histórias

setoriais. Rio de Janeiro: DBA, 2002. p. 321–347.

GUERRA, J. B. S. O. D. et al. Future scenarios and trends in energy generation in Brazil:

Supply and demand and mitigation forecasts. Journal of Cleaner Production, v. 103, p.

197–210, 2015.

HOLDERMANN, C.; KISSEL, J.; BEIGEL, J. Distributed photovoltaic generation in Brazil:

An economic viability analysis of small-scale photovoltaic systems in the residential and

commercial sectors. Energy Policy, v. 67, p. 612–617, 2014.

Page 107: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

106

HUPPES, G.; ISHIKAWA, M. Eco-efficiency guiding micro-level actions towards

sustainability: Ten basic steps for analysis. Ecological Economics, v. 68, n. 6, p. 1687–1700,

2009.

JANNUZZI, G. DE M.; DE MELO, C. A. Grid-connected photovoltaic in Brazil: Policies and

potential impacts for 2030. Energy for Sustainable Development, v. 17, n. 1, p. 40–46,

2013.

KOPLIN, J.; SEURING, S.; MESTERHARM, M. Incorporating sustainability into supply

management in the automotive industry – the case of the Volkswagen AG. Journal of

Cleaner Production, v. 15, n. 11–12, p. 1053–1062, 2007.

KOSKELA, M.; VEHMAS, J. Defining eco-efficiency: A case study on the finnish forest

industry. Business Strategy and the Environment, v. 21, n. 8, p. 546–566, 2012.

LACCHINI, C.; RÜTHER, R. The influence of government strategies on the financial return

of capital invested in PV systems located in different climatic zones in Brazil. Renewable

Energy, v. 83, p. 786–798, 2015.

LOZANO, R. A holistic perspective on corporate sustainability drivers. Corporate Social

Responsibility and Environmental Management, v. 22, n. 1, p. 32–44, 2015.

MACIEL, R. S. et al. Multi-objective evolutionary particle swarm optimization in the

assessment of the impact of distributed generation. Electric Power Systems Research, v. 89,

p. 100–108, 2012.

MADDEN, K. et al. Eco-efficiency: Learning module. Genebra: WBCSD, 2005.

MAHDILOO, M.; SAEN, R. F.; LEE, K.-H. Technical, environmental and eco-efficiency

measurement for supplier selection: An extension and application of data envelopment

analysis. International Journal of Production Economics, v. 168, p. 279–289, 2015.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 Brasileira. Brasília: Ministério do Meio

Ambiente, 2003.

MOUTINHO, V. et al. Assessing eco-efficiency through the DEA analysis and decoupling

index in the Latin America countries. Journal of Cleaner Production, v. 205, p. 512–524,

2018.

NERI, A. et al. Industrial sustainability: Modelling drivers and mechanisms with barriers.

Journal of Cleaner Production, v. 194, p. 452–472, 2018.

NIKOLAOU, I. E.; MATRAKOUKAS, S. I. A framework to measure eco-efficiency

performance of firms through EMAS reports. Sustainable Production and Consumption, v.

8, p. 32–44, 2016.

ONU. Transformando nosso mundo: A agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

[s. l.]: ONU, 2015.

PASSETTI, E.; TENUCCI, A. Eco-efficiency measurement and the influence of

organisational factors: Evidence from large Italian companies. Journal of Cleaner

Production, v. 122, p. 228–239, 2016.

Page 108: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

107

PEREIRA, M. G. et al. The renewable energy market in Brazil: Current status and potential.

Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 16, n. 6, p. 3786–3802, 2012.

POLZIN, F. et al. How do policies mobilize private finance for renewable energy? – A

systematic review with an investor perspective. Applied Energy, v. 236, p. 1249–1268, 2019.

QUAIREL-LANOIZELEE, F. Are competition and corporate social responsibility

compatible? Society and Business Review, v. 11, n. 2, p. 130–154, 2016.

RASHIDI, K.; FARZIPOOR SAEN, R. Measuring eco-efficiency based on green indicators

and potentials in energy saving and undesirable output abatement. Energy Economics, v. 50,

p. 18–26, 2015.

RAVI, V. Analysis of interactions among barriers of eco-efficiency in electronics packaging

industry. Journal of Cleaner Production, v. 101, p. 16–25, 2015.

REXHÄUSER, S.; RAMMER, C. Environmental innovations and firm profitability:

Unmasking the Porter hypothesis. Environmental and Resource Economics, v. 57, n. 1, p.

145–167, 2014.

ROBECOSAM AG. DJSI index family. 2019. Disponível em:

https://www.robecosam.com/csa/indices/djsi-index-family.html. Acesso em: 8 jul. 2019.

ROCHA, L. C. S. et al. Photovoltaic electricity production in Brazil: A stochastic economic

viability analysis for small systems in the face of net metering and tax incentives. Journal of

Cleaner Production, v. 168, p. 1448–1462, 2017.

ROCHA, L. C. S. et al. A stochastic economic viability analysis of residential wind power

generation in Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 90, p. 412–419, 2018.

ROSAS LUNA, M. A. et al. Solar photovoltaic distributed generation in Brazil: The case of

Resolution 482/2012. Energy Procedia, v. 159, p. 484–490, 2019.

RUIZ, F. M. Estratégias de internacionalização de organizações não governamentais sem

fins lucrativos: Um estudo multi-método. 2012. Tese (Doutorado em Administração de

Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas,

São Paulo, 2012.

SALING, P. et al. Eco-efficiency analysis by basf: The method. The International Journal

of Life Cycle Assessment, v. 7, n. 4, p. 203–218, 2002.

STUCKI, T. Which firms benefit from investments in green energy technologies? – The effect

of energy costs. Research Policy, v. 48, n. 3, p. 546–555, 2019.

THE WORLD BANK GROUP. Doing business: Medindo a regulamentação do ambiente de

negócios, 2019. Disponível em: https://portugues.doingbusiness.org/pt/rankings. Acesso em:

12 apr. 2019.

UNITED NATIONS. Report of the World Commission on Environment and

Development: 96th Plenary Meeting. New York: Nações Unidas, 1987a.

Page 109: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

108

UNITED NATIONS. Our common future: Report of the World Commission on

Environment and Development. New York: Nações Unidas, 1987b.

UNITED NATIONS. Guide to corporate sustainability: Shaping a sustainable future. [s.l.]:

Nações Unidas, 2014. Disponível em:

https://www.unglobalcompact.org/docs/publications/UN_Global_Compact_Guide_to_Corpor

ate_Sustainability.pdf. Acesso em: 5 ago. 2019.

VAZQUEZ, M.; HALLACK, M. The role of regulatory learning in energy transition: The

case of solar PV in Brazil. Energy Policy, v. 114, p. 465–481, 2018.

VILAÇA GOMES, P. et al. Technical-economic analysis for the integration of PV systems in

Brazil considering policy and regulatory issues. Energy Policy, v. 115, p. 199–206, 2018.

WRIGHT, J. T. C.; CARVALHO, D. E. DE; SPERS, R. G. Tecnologias disruptivas de

geração distribuída e seus impactos futuros sobre empresas de energia. RAI - Revista de

Administração e Inovação, v. 6, n. 1, p. 108–125, 2009.

YIN, R. K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

ZHANG, B. et al. Eco-efficiency analysis of industrial system in China: A data envelopment

analysis approach. Ecological Economics, v. 68, n. 1–2, p. 306–316, 2008.

Page 110: ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO …

109

APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas

Questão

1 A empresa adota ações de ecoeficiência?

2 Quais são os motivadores para a adoção de ecoeficiência por parte da empresa?

3 Quais são as barreiras para a adoção de ecoeficiência?

4 Quais os principais benefícios que a empresa percebe para a adoção de ações de

ecoeficiência?

5 Quais são os programas de ecoeficiência que a empresa desenvolve atualmente?

6 Quais ações de ecoeficiência a empresa deixou de praticar, por quê?

7 Quais ações de ecoeficiência a empresa adota para energia?

8 Quais as ações que a empresa adota para energias renováveis?

9 Como a energia renovável converge aos propósitos de ecoeficiência da empresa?

10 Como a adoção de ações/programas de ecoeficiência voltadas para energias

renováveis podem influenciar a competitividade da empresa?

11 Quais as barreiras para a adoção/aumento de uso de energias renováveis na empresa?

12 Quais foram os motivadores para a adoção de geração distribuída pela empresa?

13 Quais foram os motivadores para a escolha da fonte de energia para geração

distribuída?

14 Quais foram os detratores que não levaram a empresa a escolher as demais fontes?

15 Quais os benefícios do uso de geração distribuída para a rede/unidades alimentadas

em baixa tensão para a empresa?

16 Como a empresa percebe que a legislação auxiliou na opção por geração distribuída?

17 Quais foram/são as barreiras para a implantação/uso de geração distribuída pela

empresa?

18 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista das legislações para

promover a geração distribuída em sua empresa?

19 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista de sua empresa para

promover a geração distribuída em sua empresa?

20 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista dos fornecedores para

promover a geração distribuída em sua empresa?