ecoeficiÊncia em operaÇÕes de empresas pelo uso …
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
FELIPE AUGUSTO TORRES
ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA
São Paulo
2019
FELIPE AUGUSTO TORRES
ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA
Trabalho Aplicado apresentado à Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas, como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Gestão para a Competitividade.
Linha de pesquisa: Sustentabilidade
Orientadora: Profa. Dra. Annelise Vendramini
São Paulo
2019
Torres, Felipe Augusto.
Ecoeficiência em operações de empresas pelo uso de geração distribuída fotovoltaica / Felipe Augusto Torres. - 2019.
110 f.
Orientador: Annelise Vendramini Felsberg.
Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo.
1. Empresas - Aspectos ambientais. 2. Energia - Fontes alternativas. 3. Geração de energia fotovoltaica. 4. Desenvolvimento sustentável. I. Felsberg, Annelise Vendramini. II. Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Título.
CDU 620.91(81)
Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-
010191/O
Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP
FELIPE AUGUSTO TORRES
ECOEFICIÊNCIA EM OPERAÇÕES DE EMPRESAS PELO USO DE GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA
Trabalho Aplicado apresentado à Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas, como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Gestão para a Competitividade.
Linha de pesquisa: Sustentabilidade
Data da aprovação
28/08/2019
Banca examinadora:
________________________________
Profa. Dra. Annelise Vendramini (Orientadora)
FGV-EAESP
________________________________
Profa. Dra. Katia Silene de Oliveira Maia
Universidade Paulista
________________________________
Prof. Dr. Jorge Juan Soto Delgado
FGV-EAESP
Dedico este trabalho à Natália e à Lorena.
AGRADECIMENTOS
Agradeço profundamente à minha esposa e à minha filha, por terem seguido comigo
nesta jornada. Obrigado por suportarem as constantes ausências e por conseguirem, sempre, me
apoiar quando precisava. Era no carinho de vocês duas que eu recobrava as forças.
A minha mãe que, por meio do pedido de “atenção, disciplina e capricho” todos os dias
na porta da escola, me moldou e me faz alcançar tudo. Serei sempre grato por tudo o que fez e
continua fazendo por mim.
Ao Álvaro, por ser sempre um grande amigo, dando suporte e incentivando para os
passos neste mestrado, desde a opção até o final do trabalho. Obrigado pelas inúmeras conversas
e por sempre me falar: “Você aguenta!”.
Aos Seis, o grupo de amigos que eu me ausentei pelo período de todo o mestrado, espero
poder recompensar esta ausência. Em especial ao Wladimir, por me emprestar inúmeras vezes
sua casa para eu produzir este trabalho.
À Profa. Dra. Annelise, minha orientadora, que sempre que eu estava em uma
encruzilhada do trabalho, me injetava ânimo e me propunha ótimas soluções.
Aos professores que tive ao longo dessa jornada, as discussões foram engrandecedoras
em todos os sentidos!
A Anita, Marina e Caroline, a trinca de damas com ímpeto para tocar as inúmeras
reuniões e discussões sobre geração distribuída.
Aos entrevistados, todos com conhecimento e dedicação pelo tema de energias
renováveis, que sabem como viabilizá-las dentro de um ambiente de incertezas e instabilidades,
vocês fazem a diferença neste tema em contexto nacional.
À T2, um agradecimento especial. Não há palavras para descrever a honra e a
experiência transformadora que foi poder compartilhar esse período de minha vida com vocês.
A sintonia, o respeito e o carinho mútuo e quase instantâneo de toda a turma foram uma dádiva
que perdurou por todo o curso e que levarei para o resto da vida.
“O sucesso consegue-se com decisão,
confiança, persistência e não, com desânimo,
indecisão e lamúrias.”
(Ignacy Jan Paderewski)
“Os melhores presentes não vêm em caixas.”
(Bill Watterson, 1988)
RESUMO
O trabalho tem por objetivo identificar os motivadores e as barreiras para a adoção da geração
distribuída fotovoltaica por empresas que atuam com unidades de negócio descentralizadas no
Brasil, como forma de aumentar a ecoeficiência de suas operações e a contribuição que as
empresas podem gerar para a expansão das energias renováveis na matriz energética pela
adoção da modalidade. Por meio do referencial teórico dos conceitos de ecoeficiência, pretende-
se analisar qual o papel da geração distribuída fotovoltaica com as práticas de empresas com a
ecoeficiência e como a modalidade converge com compromissos para a redução dos impactos
de suas operações no meio ambiente, além da obtenção de benefícios financeiros pelo uso de
fontes renováveis de energia. Pelo lado da participação das empresas na modalidade, pretende-
se explorar qual a relevância e as contribuições que as empresas que já se utilizam a geração
distribuída fotovoltaica desempenham no cenário energético do Brasil e o que as motivou a
buscar a modalidade. Da mesma forma, analisa-se as barreiras que foram encontradas para a
utilização. Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, por meio do uso de entrevistas
semiabertas, conduzidas junto a três empresas que utilizam de maneira relevante a geração
distribuída fotovoltaica e uma empresa que pretende utilizar a modalidade ainda em 2019.
Identificou-se quatro barreiras e seis motivadores principais para a adoção da modalidade,
sendo que a legislação e a regulação aplicáveis à modalidade figura como a principal força para
a expansão ou estagnação da geração distribuída fotovoltaica, seja por meio da regulação da
atuação e obrigações das concessionárias de energia, seja por incertezas quanto ao futuro do
sistema de regulação, custos e incentivos ao net-metering no país.
Palavras-chave: Ecoeficiência. Energias renováveis. Geração distribuída. Energia
fotovoltaica. Motivadores e barreiras.
ABSTRACT
The objective of this paper is to identify the motivators and barriers for the adoption of
photovoltaic distributed generation by companies that operate with decentralized business units
in Brazil, as a way to increase the eco-efficiency of their operations and the contribution that
companies can generate to the expansion of renewable energies in the Brazilian energy matrix
by adopting the modality. Through the theoretical framework of the concepts of ecoefficiency,
the paper aimed to analyze the role of distributed photovoltaic generation with the practices of
companies with ecoefficiency and how the modality converges with the commitments to reduce
the impacts of their operations on the environment and achieve financial benefits from the use
of renewable energy sources. Regarding the participation of companies in the modality, it was
intended to explore what is the relevance and contributions that companies that already use
photovoltaic distributed generation play in the energy scenario in Brazil, what motivated them
to seek the modality and the barriers that were found. A qualitative research was developed
through the use of semi-open interviews conducted with three companies that use photovoltaic
distributed generation in a relevant way and one company that intends to use the modality still
in 2019. Four barriers and six main motivators for the adoption of the modality were identified,
and the legislation and regulation applicable to the modality appears as the main force for the
expansion or stagnation of photovoltaic distributed generation, either by regulating the
operation and obligations of the concessionaires or because of the uncertainty about the future
of the net metering regulatory system, costs and incentives in the country.
Keywords: Ecoefficiency. Renewable energy. Distributed generation. Photovoltaics.
Motivators and barriers.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACR .......................................... 31
Figura 2 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL ........................................... 31
Figura 3 – Fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída ......................................... 33
Figura 4 – Exemplo de painéis fotovoltaicos ........................................................................... 37
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Conexões em geração distribuída .......................................................................... 34
Gráfico 2 – Potência instalada por classe de consumidor (kW) ............................................... 38
Gráfico 3 – Número de conexões em geração distribuída fotovoltaicas por classe de consumo
.................................................................................................................................................. 39
Gráfico 4 – Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe de consumo (kW)
.................................................................................................................................................. 40
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Motivadores para a adoção de ecoeficiência ......................................................... 26
Quadro 2 – Barreiras para a adoção de ecoeficiência ............................................................... 27
Quadro 3 – Comparação entre grandes usinas e usinas de geração distribuída fotovoltaicas .. 38
Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração
distribuída por empresas ........................................................................................................... 44
Quadro 5 – Investigação empírica ............................................................................................ 46
Quadro 6 – Itens abordados na pesquisa .................................................................................. 47
Quadro 7 – Documentos utilizados na análise.......................................................................... 48
Quadro 8 – Empresas e entrevistados ....................................................................................... 49
Quadro 9 – Síntese do estudo de temas da empresa ................................................................. 53
Quadro 10 – Síntese do estudo de temas da empresa Império ................................................. 63
Quadro 11 – Síntese do estudo de temas da empresa Cárpatos ................................................ 72
Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única .......................................... 81
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria ................... 94
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Conexões por tipo de consumo ............................................................................... 34
Tabela 2 – Conexões e potência instalada por fonte ................................................................ 35
Tabela 3 – Projeção de crescimento anual de mercado em potência ........................................ 41
Tabela 4 – Potência instalada por trimestre (kW) .................................................................... 41
Tabela 5 – Evolução de potência instalada (kW) por classe de acesso ao sistema de geração
distribuída fotovoltaica de clientes comerciais ......................................................................... 42
Tabela 6 – Empresas com maior potência instalada em geração distribuída fotovoltaica
comercial .................................................................................................................................. 42
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ACL Ambiente de Contratação Livre
ACR Ambiente de Contratação Regulado
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
B3 Brasil Bolsa Balcão
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
DJSI Dow Jones Sustainability Index (Índice Dow Jones de Sustentabilidade)
EPE Empresa de Pesquisas Elétricas
ESG Environmental, social, and governance
GWh Gigawatt-hora
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial
kWh Quilowatt-hora
kWh/m² Quilowatt-hora por metro quadrado
MG Minas Gerais
MMA Ministério do Meio Ambiente
MW Megawatt-hora
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ONU Organização das Nações Unidas
PRSA Política de Responsabilidade Socioambiental
SGA Sistema de Gestão Ambiental
SIN Sistema Interligado Nacional
UC Unidade de Consumo
WBCSD World Business Council for Sustainable Development
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 17
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 23
2.1 EFICIÊNCIA, COMPETITIVIDADE E ECOEFICIÊNCIA ....................................... 23
2.1.1 Barreiras para adoção de ecoeficiência por empresas ............................................ 27
2.1.2 A ecoeficiência em empresas no Brasil ..................................................................... 28
2.1.3 Motivadores e barreiras para a adoção de ecoeficiência em energia por empresas .
...................................................................................................................................... 29
2.2 O CONTEXTO BRASILEIRO DE ENERGIA ........................................................... 30
2.2.1 Geração distribuída no Brasil .................................................................................... 32
2.2.2 Geração distribuída de energia solar no Brasil ....................................................... 36
2.3 BARREIRAS PARA A ADOÇÃO DE ENERGIA SOLAR ....................................... 39
2.3.1 O uso de energia solar por empresas ........................................................................ 39
2.4 QUADRO RESUMO DA REVISÃO DE LITERATURA .......................................... 42
3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 46
3.1 FORMULAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................... 47
3.2 SELEÇÃO DOS CASOS ............................................................................................. 49
4 ESTUDO DE CASO DAS EMPRESAS ................................................................... 50
4.1 EMPRESA: AMÉRICA ............................................................................................... 50
4.1.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 50
4.1.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 50
4.1.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 51
4.1.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 51
4.1.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 52
4.1.2 Análise do estudo de caso da empresa América ....................................................... 54
4.1.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 54
4.1.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 54
4.1.2.3 Cadeia de Suprimentos ................................................................................................. 56
4.1.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 56
4.1.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 56
4.1.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 57
4.1.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa América ...................................................... 58
4.2 EMPRESA: IMPÉRIO ................................................................................................. 59
4.2.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 59
4.2.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 59
4.2.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 61
4.2.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 61
4.2.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 62
4.2.2 Análise do estudo de caso empresa Império ............................................................. 63
4.2.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 64
4.2.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 64
4.2.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 65
4.2.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 66
4.2.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 66
4.2.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 67
4.2.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Império ....................................................... 68
4.3 EMPRESA: CÁRPATOS ............................................................................................. 69
4.3.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 69
4.3.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 69
4.3.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 70
4.3.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 70
4.3.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 71
4.3.2 Análise do estudo de caso empresa Cárpatos ........................................................... 73
4.3.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 73
4.3.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 73
4.3.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 74
4.3.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 74
4.3.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 75
4.3.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 75
4.3.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Cárpatos ...................................................... 76
4.4 EMPRESA: PEDRA ÚNICA ....................................................................................... 77
4.4.1 Atuação da empresa ................................................................................................... 77
4.4.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa ....................................................................... 78
4.4.1.2 Estratégias de energia da empresa ................................................................................ 78
4.4.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades .................................................................. 79
4.4.1.4 Estratégia para geração distribuída ............................................................................... 80
4.4.2 Análise do estudo de caso empresa Pedra Única ..................................................... 82
4.4.2.1 Políticas públicas ou regulatórias ................................................................................. 82
4.4.2.2 Condições de mercado .................................................................................................. 83
4.4.2.3 Cadeia de suprimentos .................................................................................................. 83
4.4.2.4 Eficiência de operações ................................................................................................ 84
4.4.2.5 Vendas .......................................................................................................................... 84
4.4.2.6 Organizacional .............................................................................................................. 85
4.4.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Pedra Única ................................................ 85
5 RESULTADOS ........................................................................................................... 88
5.1 POLÍTICA REGULATÓRIA OU PÚBLICA .............................................................. 88
5.2 CONDIÇÕES DE MERCADO .................................................................................... 89
5.3 DISPONIBILIDADE DE FORNECEDORES ESPECIALIZADOS ........................... 90
5.4 EFICIÊNCIA DE OPERAÇÕES ................................................................................. 90
5.5 VENDAS ...................................................................................................................... 91
5.6 ORGANIZACIONAL .................................................................................................. 91
5.7 QUADRO RESUMO DOS MOTIVADORES E DAS BARREIAS ........................... 93
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 99
7 CONTRIBUIÇÃO, LIMITAÇÃO E SUGESTÃO PARA ESTUDOS FUTUROS ..
.................................................................................................................................... 102
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 103
APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas .................................................................. 109
17
1 INTRODUÇÃO
A preocupação com a deterioração do meio ambiente e dos recursos naturais, e seus
impactos para o desenvolvimento econômico e social, relatada em 1987 por meio do relatório
Nosso Futuro Comum da Organização das Nações Unidas (ONU) (UNITED NATIONS,
1987a), trouxe o conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público. Neste
documento, é descrito como: “o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem
comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”
(UNITED NATIONS, 1987b, p. 41, tradução nossa). Este desenvolvimento sustentável é algo
que pode ser utilizado para orientar a tomada de decisões e a atuação, permitindo que as pessoas
e as empresas possam aplicar seus conceitos, sendo responsabilizadas nos campos social,
ambiental e econômico como práticas de negócio legitimadas pela sociedade (KOPLIN;
SEURING; MESTERHARM, 2007).
Este tema é visto como latente também no âmbito empresarial. Com mais de 9.900
empresas signatárias, o Pacto Global da ONU visa orientar e definir características que
permitem a operação de empresas sob aspectos da Sustentabilidade Corporativa. As cinco
características são (1) negócios baseados em princípios, (2) o fortalecimento da sociedade, (3)
o comprometimento da liderança das empresas, (4) os reportes de informações não financeiras
e (5) a ação local nos territórios em que a empresa desempenha suas atividades. Estas
características visam abranger os dez princípios defendidos pelo pacto, permitindo uma linha
de conduta de negócios em prol da busca de entrega de valor a longo prazo em termos
financeiros, ambientais, sociais e éticos (UNITED NATIONS, 2014). São os dez princípios
(UNITED NATIONS, 2014, p. 8, tradução nossa):
Direitos humanos: (1) As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos
humanos reconhecidos internacionalmente; e (2) Assegurar-se de sua não participação
em violações destes direitos. Trabalho: (3) As empresas devem apoiar a liberdade
de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; (4) A
eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; (5) A abolição
efetiva do trabalho infantil; e (6) Eliminar a discriminação no emprego. Ambiente: (7)
As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; (8)
Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e (9)
Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.
Anticorrupção: (10) As empresas devem combater a corrupção em todas as suas
formas, inclusive extorsão e propina.
Porém, não só o Pacto Global fomenta tal interesse das empresas em Sustentabilidade
Corporativa. Lozano (2015) define que existem motivadores internos e externos que direcionam
a busca das empresas por este tema. Os motivadores internos, baseado na literatura analisada
por Lozano (2015), são a busca de valores compartilhados, a redução do uso de recursos e dos
custos, a cultura empresarial, o reportes de sustentabilidade, as demandas de clientes, as
18
obrigações morais e éticas e o protagonismo. Já os motivadores externos são as políticas
públicas de regulação, legislação e incentivo; o aumento de conhecimento científico; o acesso
a recursos; as crises ambientais; o aumento de preocupação da sociedade e a colaboração com
organizações externas (LOZANO, 2015).
O tema do meio ambiente presente no pacto e na literatura sobre sustentabilidade
empresarial (FIGGE; HAHN, 2013; LOZANO, 2015; MAHDILOO; SAEN; LEE, 2015;
PASSETTI; TENUCCI, 2016; RAVI, 2015) visa sensibilizar as empresas a gerenciar, de
maneira ativa, os riscos e as oportunidades ambientais, reconhecendo a relevância de seu papel
em um mundo com desafios nas áreas de mudanças climáticas, água, energia, biodiversidade e
agricultura (UNITED NATIONS, 2014).
Um dos meios para avaliar se as melhores práticas das empresas estão sendo adotadas
em prol do desenvolvimento sustentável é a aplicação dos conceitos de ecoeficiência (CAIADO
et al., 2017; FIGGE; HAHN, 2013), que são definidos, segundo o World Business Council for
Sustainable Development (WBCSD) como “a entrega de serviços e bens a preços competitivos
que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida enquanto reduzem
progressivamente os impactos ecológicos e intensidade de uso de recursos”, criando mais valor
com menos impacto (MADDEN et al., 2005, p. 6, tradução nossa). A ecoeficiência, definida
em termos relativos, pode ser considerada a maneira de fazer e/ou desempenhar a mesma
atividade, usar o mesmo recurso ou prestar o mesmo serviço utilizando menos recursos ou
gerando impactos menores, sendo um instrumento para o alcance do desenvolvimento
sustentável com qualidade ecológica e renda razoável para todos, interligando a sociedade e a
natureza (HUPPES; ISHIKAWA, 2009).
Identificando que a eletricidade é um meio crucial para o desenvolvimento sustentável,
a ONU enfatiza, ainda, que mudanças na matriz energética são necessárias, dada a finitude de
alguns recursos utilizados para a obtenção de eletricidade no mundo. Isso não seria algo a ser
atingido apenas por meio de pressões do mercado, demandando que os governos também
fomentem meios favoráveis para tal mudança (UNITED NATIONS, 1987b). Além disso, em
2015, foi publicado pela ONU os Objetivos do desenvolvimento sustentável, documento este
que novamente trouxe a necessidade de aumentar a participação de energias renováveis na
matriz energética mundial e assegurar o acesso universal, confiável e moderno a preços
acessíveis desta energia, além da busca da promoção de investimentos neste setor1 (ONU,
2015). O envolvimento dos governos para a promoção de tal mudança pode se dar por meio de
1 De acordo com o Objetivo 7.
19
estratégias de investimentos em infraestrutura, como a construção de grandes
empreendimentos, ou por políticas que incentivem os consumidores a prover meios de geração
e consumo de fontes renováveis de energia, que trazem imbuídas uma velocidade de
implantação superior às fontes convencionais (FERREIRA; PATAH, 2017).
No mundo, as fontes alternativas de energia correspondem a 12% da capacidade de
geração de energia. No Brasil, no ano de 2019, o país conta com o volume de 73% da oferta
baseada em fontes renováveis. Porém, a participação de fontes hídricas ainda representa a
grande parte de tal volume, com 64%, e outras fontes estão divididas entre eólica (8,2%) e solar
(0,8%) e excluindo-se a biomassa (ANEEL, 2018a).
Conforme projeções nacionais, o consumo de energia elétrica no Brasil aumentará, em
média, 3,9% ao ano, de 2018 a 2022, representando um aumento absoluto de 77.983 Gigawatt-
hora (GWh) (EPE, 2015). Este aumento de consumo, previsto nas projeções nacionais feitas
pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia do Brasil, pode
ser absorvido pela matriz energética do país através de outros meios além da construção de
grandes empreendimentos de geração de energia, tais como hidrelétricas de grande porte. Esse
tipo de empreendimento demanda investimentos e gera impactos ambientais significativos,
além do longo prazo para construção. Segundo Ansar et al. (2014), são menos efetivos que
políticas de incentivo a alternativas no abastecimento de energia.
Além do aumento de consumo, outro ponto relevante sobre a energia no Brasil é o seu
custo. Do ano de 2013 a 2017, as tarifas de energia aumentaram, em média, 65,6% (EPE, 2018).
Este aumento das tarifas sensibiliza o ambiente em que as empresas estão inseridas para fazer
negócios. Dados do Banco Mundial (2019) interpretam o ambiente em que as empresas estão
inseridas ao mensurar as facilidades e as regulações as quais elas estão sujeitas em seus países
de atuação. Utilizando uma classificação chamada Doing Business, são classificadas 190
economias. A classificação mais próxima de 1 é mais propícia às atividades de uma empresa
local e, 190, significa uma maior dificuldade em se fazer negócios. Esta metodologia abrange
os seguintes indicadores: abertura de empresas, obtenção de alvarás de construção, obtenção de
eletricidade, registro de propriedades, obtenção de crédito, proteção de investidores
minoritários, pagamento de impostos, comércio internacional, execução de contratos e
resolução de insolvência. Nesta classificação, o Brasil ocupa a posição 109, sendo que, na
obtenção de eletricidade, o país está na posição 40 (THE WORLD BANK GROUP, 2019).
O setor comercial ocupa o segundo lugar em consumo de energia no mercado cativo de
energia do Brasil, com 22,8% de participação, atrás somente dos consumidores residenciais,
com 42% de participação (EPE, 2018). Conforme Stucki (2019), como forma de as empresas
20
mitigarem os impactos de custos de energia associados ao consumo de energia e, por
consequência, aumentarem a ecoeficiência de suas operações, existem duas possíveis
alternativas: a adoção de tecnologia para economia de energia e o uso de energia de fontes
renováveis. Em empresas com baixa intensidade de consumo de energia em suas unidades de
negócio, como o setor de comércio e serviços, as opções de investimentos voltados para a
redução de consumo são restritas quando comparadas com medidas que indústrias podem adotar
e, em alguns casos, estes investimentos são limitados frente aos benefícios alcançados
(STUCKI, 2019).
Com a adoção de tecnologias de energias renováveis, os consumidores de energia
podem reduzir os impactos dos custos das tarifas de energia (ROSAS LUNA et al., 2019). Há,
no Brasil, um movimento de incentivo à geração de energia oriunda de fontes renováveis. Por
meio das Resoluções Normativas nº 482 (ANEEL, 2012) e nº 687 (ANEEL, 2015) da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), foram criadas possibilidades regulatórias de acesso à
minigeração e à microgeração de energia elétrica pelos consumidores finais, por meio da
compensação da energia consumida pela energia gerada. O mecanismo para a compensação de
energia pelos consumidores adotado no Brasil foi o sistema de net-metering, onde toda a energia
gerada pelo consumidor, seja ela na própria unidade que gera a energia ou em locais diferentes,
porém da mesma titularidade do consumidor, é abatida de seu consumo por unidade de energia
medida em quilowatt-hora (kWh) (ANEEL, 2012; AQUILA et al., 2017; VAZQUEZ;
HALLACK, 2018).
Estas regulações beneficiaram os setores com baixa intensidade de consumo e baixa
tensão de fornecimento de energia em suas unidades, especialmente o setor residencial e
comercial, pelo fato do consumo e das modalidades tarifárias a que estes consumidores estão
sujeitos não permitirem alternativas de compra direta de energia e manterem estes
consumidores sujeitos às tarifas das distribuidoras locais. Nesta configuração, a geração da
própria energia se mostra uma alternativa viável para a redução dos impactos de custo dado
que, pelo modelo, a energia injetada é contabilizada como energia e abatida do consumo das
unidades, não sujeita às tarifas praticadas pelas distribuidoras de energia. Além disso, também
contribui para o aumento de uso de energias renováveis (BROWN; SAPPINGTON, 2017;
HOLDERMANN; KISSEL; BEIGEL, 2014; ROSAS LUNA et al., 2019; VAZQUEZ;
HALLACK, 2018).
Tais incentivos permitiram a expansão da geração distribuída e, também, a diminuição
de incertezas sobre o abastecimento de energia e sobre o aumento da eficiência dos sistemas de
distribuição (VAZQUEZ; HALLACK, 2018; WRIGHT; CARVALHO; SPERS, 2009). A
21
opção por esta modalidade de abastecimento deve levar em consideração, por parte dos
consumidores/geradores, a localização de tais unidades geradoras, o volume de energia gerado
e consumido, os custos e incentivos para sua aplicação e a legislação aplicável (COMELLO;
REICHELSTEIN, 2017; GOLDEMBERG; COELHO; LUCON, 2004; MACIEL et al., 2012).
Também pode ser verificado que o movimento de expansão de uso de energias renováveis
costuma incentivar a tecnologia para a obtenção da mesma, aumentando a oferta de mão de
obra e, por consequência, diminuindo os custos que viabilizam sua adoção (DA SILVA;
BRANCO, 2018; GOLDEMBERG; COELHO; LUCON, 2004).
Adicionalmente, com diversos países utilizando sistemas de precificação de emissões
de carbono, a opção de uso de energias renováveis por geração distribuída, que naturalmente
promove a descarbonização do consumo de energia dos consumidores, pode representar
também a possibilidade de uma fonte adicional de receitas ou de redução de custos, caso sejam
implementadas medidas de comercialização de créditos de carbono e/ou definição de limites
para emissão (BEST; BURKE, 2018; PASSETTI; TENUCCI, 2016). Também permite, às
empresas, aumentarem a ecoeficiência de seus negócios, agregada à redução da intensidade de
emissão de carbono proveniente da composição da matriz de abastecimento de energia a qual o
consumidor está consumindo e/ou compensando (PASSETTI; TENUCCI, 2016).
No Brasil, nota-se que a adoção pela geração distribuída é uma realidade. Dados da
ANEEL indicam um crescimento do número de conexões desta modalidade, de 13.912 vezes
do período de 2012 a 2019, sendo a fonte fotovoltaica a que mais cresceu em número de
conexões, passando de 5 para 69.273 no mesmo período (ANEEL, 2019a). Sob o ponto de vista
das empresas, enquadradas na modalidade de fornecimento comercial, o número de conexões
de fontes fotovoltaicas passou de 2 para 11.839 (ANEEL, 2019a).
Este ambiente de falta de opções de compra direta, altas tarifas, limites de benefícios
em investimentos em tecnologias para a redução de consumo e possibilidade de uso de fontes
alternativas para a geração da própria energia levou a um crescimento acima do previsto no uso
da geração distribuída (ANEEL, 2017), especialmente pelas empresas. Porém, este número de
conexões de sistemas fotovoltaicos comerciais é muito reduzido frente ao número total de
conexões desta classe no sistema elétrico brasileiro, que é de 5.754.000 unidades consumidoras
(EPE, 2018).
Para tanto, este estudo visa compreender os motivadores que levam as empresas a adotar
a geração distribuída fotovoltaica como estratégia de aumento da ecoeficiência no Brasil face
seu potencial, assim como as barreiras que impedem a adoção. Assim, a pergunta de pesquisa
22
que o presente estudo propõe é: Quais são os motivadores e as barreiras para o uso da
geração distribuída de fonte fotovoltaica por empresas no Brasil?
A fim de responder a pergunta, o referencial teórico abrange os conceitos de
ecoeficiência – com os motivadores e as barreiras para a aplicação do conceito nas empresas –
, a relevância do recurso da energia elétrica em operações, o contexto da energia elétrica no
Brasil, as possibilidades que a regulação no setor abre para o uso da geração distribuída e a
utilização da modalidade pelas empresas com o uso da fonte fotovoltaica, assim como a sua
aderência às estratégias de competitividade das empresas.
Como método, foi elaborado um questionário semiestruturado, aplicado em entrevistas
feitas em quatro empresas de relevância nacional nos setores em que atuam e que utilizam desta
modalidade e/ou também sinalizam a adoção desta modalidade para os próximos anos. Foram
entrevistados os executivos responsáveis pela implementação dos projetos para a composição
de estudos de caso para cada empresa e para o cruzamento dos resultados com o apresentado
no referencial teórico.
Este estudo visa contribuir para que a modalidade da geração distribuída possa ser
compreendida pelas empresas do setor comercial, ao estabelecer sua ligação com a
possibilidade de aumento de ações de ecoeficiência e pela redução de incertezas e custos com
energia elétrica. Assim, também poderá haver uma participação empresarial que contribuirá
para o aumento da oferta de energia renovável no Brasil.
23
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 EFICIÊNCIA, COMPETITIVIDADE E ECOEFICIÊNCIA
Conforme Peter Drucker (1963, p. 1, tradução nossa) definiu, em 1963, os dirigentes de
uma empresa devem: “esforçar-se pelos melhores resultados econômicos possíveis dos recursos
atualmente empregados ou disponíveis”. Esta afirmação considera que as empresas e seus
dirigentes devem aplicar seus esforços no direcionamento de seus negócios para que possam
trazer resultados economicamente mais significativos. Para tanto, Drucker (1963) sugere que
seja feita uma análise dos custos, contribuições e oportunidades dos negócios, da alocação de
recursos e da projeção futura destes recursos, visando uma oportunidade de negócios. Também
devem ser analisadas quais atividades, produtos e recursos devem ser abandonados, mantidos
ou transformados para que possam se tornar uma opção de atuação.
Esta oportunidade para os negócios culmina em vantagem competitiva, que é a busca
constante de empresas por apresentar produtos e serviços que aumentem sua posição no
mercado que ocupam, melhorando seu desempenho a partir do ponto em que estes recursos
permitam que a empresa seja mais eficiente e efetiva (BARNEY, 1991). A busca pela vantagem
competitiva leva as empresas a inovar em suas atividades e nos meios de obtenção de insumos
para suas operações. Carvalho et al. (2017) afirmam que as inovações chamadas green
innovations podem auxiliar as empresas a conservarem seus recursos aplicados às atividades
que desenvolvem. As primeiras empresas que optam pelas green innovations podem se
beneficiar também da melhora da imagem da empresa junto aos stakeholders, do
desenvolvimento de novos mercados e do aumento dos preços de seus produtos e serviços
(CARVALHO et al., 2017).
Uma das maneiras de conjugar a busca por vantagem competitiva, eficiência e
desenvolvimento sustentável é a aplicação da ecoeficiência, que pode abarcar conceitos de
meios de produção mais limpos, com redução de resíduos, gestão do ciclo de vida, diminuição
de uso de recursos, prevenção de poluição e gerenciamento de sistemas ambientais
(KOSKELA; VEHMAS, 2012). Koskela e Vehmas (2012) separam a ecoeficiência em cinco
grupos de definições que auxiliam a entender a abrangência do termo, fazendo uma revisão de
autores que escrevem sobre o tema. O primeiro grupo de definição é Produzir mais com menos,
gerar mais entregas físicas com menor uso de recursos, ou mais valor econômico com menor
uso de recursos. O segundo grupo é Relação entre resultado econômico e resultado ambiental,
demonstrada por meio da fórmula (KOSKELA; VEHMAS, 2012):
24
Ecoeficiência =Valor dos produtos ou serviços
Impactos ambientais
O terceiro grupo é Gerar mais valor econômico com menor impacto ambiental.
Alterando-se as variáveis, a performance econômica é relacionada com os impactos ambientais
(KOSKELA; VEHMAS, 2012):
Ecoeficiência =Influência ambiental
Desempenho econômico
O quarto grupo é Estratégia de gerenciamento de empresas. De maneira a aprimorar a
performance econômica e ambiental conjuntamente, Koskela e Vehmas (2012) afirmam que as
empresas podem revisar seus processos e aumentar a inovação ao considerar a exploração de
aspectos de ecoeficiência. Por fim, o quinto grupo é Motivador para ajuste de estratégias
gerenciais. Com base na exploração das definições acima, a depender do enfoque das empresas,
a ecoeficiência pode ajustar a definir a estratégia de gerenciamento de empresas.
Sob tal aspecto, a adoção de ecoeficiência para o alcance do desenvolvimento
sustentável é tema de inúmeros artigos. A associação entre os dois assuntos foi profundamente
revisada por Caiado et al. (2017), que concluem que há uma convergência entre o aumento da
performance ambiental das empresas e a criação de uma economia sustentável, além de geração
de valor sustentável (CAIADO et al., 2017; FIGGE; HAHN, 2013). Estes autores reforçam que
a ecoeficiência deve ser tomada como um conceito para a medição integrada de desempenho
ambiental e financeiro e, com a definição de parâmetros de ecoeficiência, as empresas podem
realizar uma melhor gestão de recursos e amparar suas decisões sobre investimento, melhoria
na cadeia de valor, desenvolvimento de produtos, processos e serviços, além da avaliação de
impactos ambientais, econômicos e sociais de sua operação (CAIADO et al., 2017; FIGGE;
HAHN, 2013; SALING et al., 2002). Esses pontos reafirmam o que foi apresentado na revisão
de Koskela e Vehmas (2012).
Desdobramentos deste conceito visam aprofundar esta exploração do tema. Figge e
Hahn (2013) propõem uma mensuração mais abrangente de resultados de uma empresa
associada ao seu retorno. Ao analisar o aspecto de uso de recursos naturais com o resultado
financeiro das operações de uma empresa, a mensuração permite uma melhor análise da opção
e do montante de uso de recursos naturais nas operações, além da comparação de seu
desempenho e da geração de valor econômico e sustentável com outras empresas e
25
benchmarkings de seu setor para a tomada de decisões em ecoeficiência (FIGGE; HAHN,
2013). Nesse sentido, Figge e Hahn (2013) uma equação para medição de ecoeficiência:
Ecoeficiência =Retorno
Vendas*
Vendas
Capital*
Capital
Recursos Naturais
Considerando-se que esta abordagem faz uma relação direta da performance ambiental
por meio do paralelo entre o gerenciamento de recursos e a performance de uma empresa, pode-
se analisar a geração de Valor Sustentável de uma empresa por meio da comparação de
operações internas da empresa e de benchmarkings do mercado, a relação entre diferentes
formas de recursos aplicados na operação de uma empresa na criação de valor, permitindo o
nivelamento de criação de valor dentro dos componentes da fórmula apresentada. Desta
maneira, os autores permitem uma abordagem complementar sobre desempenho e
competitividade das empresas sob a ótica da ecoeficiência (FIGGE; HAHN, 2013). Estes
resultados são corroborados por estudos que afirmam que a adoção de práticas de ecoeficiência
pelas empresas alcançam custos reduzidos e permitem o aumento de lucros em comparação a
empresas que não adotam tais práticas, aumentando, assim, a competitividade das empresas
(CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013).
Apesar destas exposições e interpretações do tema dialogarem diretamente com o dia a
dia de empresas e serem aderentes ao contexto de busca de competitividade com base na
eficiência, sustentabilidade dos negócios e inovação, há autores que também ressaltam que esta
prática só gera estes benefícios se, de alguma maneira, eles permeiem o meio empresarial e
alcancem a percepção dos consumidores daqueles bens e serviços (QUAIREL-LANOIZELEE,
2016). Tal visão pode ser contraposta por autores que realizam estudos demonstrando que a
adoção de tais práticas alcança perenidade de resultados ao longo do tempo, como redução de
uso de materiais, redução de consumo de recursos como água e energia, aumento de reciclagem
de materiais e insumos, aumento de tempo de vida de produtos, e aumento no nível de serviços
e produtos (ALVES; DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-
NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013).
Utilizando-se da definição dada por Koskela e Vehmas (2012) como base comum e com
a exploração do tema, artigos posteriores sintetizam o entendimento e os drivers que afetam o
tema, tanto de maneira interna quanto externa. Neri et al. (2018) realizam um estudo sobre a
adoção de práticas sustentáveis, por meio de uma extensa revisão de dezessete artigos, tanto
teóricos quanto empíricos. Os autores concluem que os principais drivers que figuram na
26
literatura sobre o tema e motivam a adoção de ecoeficiência para empresas podem abranger
aspectos como regulação, mercado e fornecedores. Também podem ser motivados por
eficiência, vendas e por origem organizacional, conforme demonstrados no Quadro 1,
construído com base no exposto por Neri et al. (2018).
Quadro 1 – Motivadores para a adoção de ecoeficiência
Tipo Origem Motivador
Externo
Regulatória ou pública
Pressão regulatória
Prevenção de sanções
Presença de benefícios públicos
Incentivos financeiros
Mercado
Aumento no preço de insumos
Escassez de recursos
Aumento de competitividade
Novas oportunidades de mercado
Pressões e demandas de mercado
Cadeia de suprimentos
Pressões da cadeia de suprimentos
Envolvimento da cadeia de suprimentos
Colaboração da cadeia de suprimentos
Presença de especialistas na cadeia
Internos
Eficiência de operações Redução de custos
Redução do uso de recursos
Vendas
Aumento no volume de vendas
Aumento de parcela de mercado
Melhoria de imagem
Organizacional
Comprometimento organizacional
Estratégia
Competências internas
Preocupação de executivos
Demanda de empregados
Compromisso voluntário
Certificações
Inovações
Mitigação de riscos
Aumento de qualidade
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
A adoção de tais práticas também permite que as empresas sejam mais bem valoradas
pelo mercado. O artigo de Fatemi, Glaum e Kaiser (2018) analisa que ações tomadas nas
empresas em termos de meio ambiente, questões sociais e questões de governança
(environmental, social, and governance – ESG) são reconhecidas pelo mercado na valoração
das empresas. Porém, em termos de divulgação, um alto desempenho na área ambiental é o
fator que mais aumenta a valoração de uma empresa no mercado em que atua. Também, a
avaliação da performance de uma empresa é utilizada por investidores para a alocação de seus
investimentos ao considerar empresas que observem requisitos da legislação ambiental vigentes
nos mercados em que atuam evitando penalidades futuras, bem como associando a eficiência
27
dos recursos utilizados a uma boa performance econômica (NIKOLAOU; MATRAKOUKAS,
2016).
2.1.1 Barreiras para adoção de ecoeficiência por empresas
As barreiras para a adoção de estratégias de eficiência em recursos por parte das
empresas foi alvo de uma revisão feita por Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019). Conforme
Quadro 2, podem ser atribuídas a cinco fatores.
Quadro 2 – Barreiras para a adoção de ecoeficiência
Tipo Definição
Institucionais Causadas por regulações, leis ou condições de investimento.
Mercadológicas Condições de mercado, condição da cadeia de valor, monopólios, custo de força de
trabalho, energia ou materiais.
Organizacionais Influenciados por metas empresariais, rotinas, estruturas, falta de recursos, falta de
foco.
Comportamentais Valores e atitudes de indivíduos dentro das empresas que culminam na falta de
atenção, falta de informação, aversão a riscos ou percepção equivocada de controle.
Tecnológicos Falta de tecnologia para o mercado, custo de tecnologia disponível, falta de
conhecimento das empresas.
Fonte: Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019, p. 24).
Os principais impeditivos para implantação da ecoeficiência são falta de visão de longo
prazo, custos para a implantação de soluções, falta ou falhas em legislação e políticas públicas,
falta de educação ambiental e de sustentabilidade, falta de suporte público e privado para a
inovação e falta de sensibilidade ao tema por parte de cargos executivos das empresas
(CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013;
QUAIREL-LANOIZELEE, 2016; RAVI, 2015; ZHANG et al., 2008).
A transposição destas barreiras, conforme Fernández-Viñé et al. (2013), Caiado et al.
(2017) e Ravi (2015) pode ser feita, por parte das empresas, com uma visão estratégica de
negócios de longo prazo e comprometimento da alta direção das empresas com a busca de tais
soluções e, externamente, com influência de legislações, incentivos de preços, educação
ambiental e até mesmo pressões do mercado. Porém, o papel decisivo recai sobre a decisão das
empresas (CAIADO et al., 2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO,
2013; FIGGE; HAHN, 2013; RAVI, 2015).
O mercado em que a empresa atua também tem uma influência em sua escolha por ações
de ecoeficiência. Em muitos casos, um alto investimento na área ambiental pode levar os
acionistas a concluírem que o capital destinado a programas ambientais esteja concorrendo com
28
uma melhor alocação do capital em atividades que possam elevar o lucro das empresas
(FATEMI; GLAUM; KAISER, 2018).
2.1.2 A ecoeficiência em empresas no Brasil
No Brasil, a ecoeficiência iniciou-se como tema relevante para as empresas quando, em
1997, e derivado do WBCSD, foi criado o Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), orientado pelos riscos e oportunidades que a
sustentabilidade poderia trazer aos negócios (COSTA; SILVA; MATTOS, 2012). Ainda em
1997, o CEBDS publica o primeiro Relatório de Sustentabilidade Empresarial no Brasil
apresentando as atividades já desenvolvidas por empresas associadas à entidade (CEBDS,
2019).
Em 2002, foi concluída a Agenda 21 brasileira, que foi coordenada pelo Ministério do
Meio Ambiente (MMA) e baseada na Agenda 21 Global. Este documento é definido pelo MMA
como: “um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento
sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a conservação
ambiental, a justiça social e o crescimento econômico” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,
2003). Este documento é um compêndio das ações de desenvolvimento sustentável que
permeiam tanto pequenas comunidades rurais, quanto as organizações empresariais.
A Agenda 21 questiona a ética do resultado ao expor os resultados sobre a intensidade
e o modo de exploração de recursos naturais, renováveis e não-renováveis, para atender às
exigências da nova divisão internacional do trabalho. Além disso, sugere a possibilidade de que
venha a se aprofundar a reprodução das desigualdades sociais e os desequilíbrios regionais de
desenvolvimento, reconhecendo seu impacto sobre as empresas e o papel do Estado, que deve
ser “apoiar, técnica e financeiramente, segmentos seletivos da economia brasileira para ampliar
sua capacidade competitiva ou estabilizar sua renda” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,
2003, p. 29).
Um dos objetivos da Agenda 21 versa especificamente sobre a ecoeficiência e a
responsabilidade social das empresas. Neste objetivo, são recordados os compromissos
assumidos na Rio-92 e recomenda-se que as empresas brasileiras adotem os princípios da
ecoeficiência como forma de aumentar a competitividade e a produtividade, além de melhorar
sua imagem. Ainda, há a recomendação que as empresas promovam a difusão do conceito de
ecoeficiência como “sinônimo de aumento da rentabilidade, para a redução de gastos de
energia, água e outros recursos e insumos de produção” (MINISTÉRIO DO MEIO
29
AMBIENTE, 2003, p. 35). Complementarmente, resgata os compromissos assumidos pelo
Protocolo de Quioto, para que as empresas possam se beneficiar com recursos de projetos de
redução de emissões de gases de efeito estufa e de sequestro de carbono. Assim, integra as
empresas brasileiras ao desenvolvimento sustentável, criando oportunidades de negócios
favoráveis ao crescimento e à inovação (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2003).
2.1.3 Motivadores e barreiras para a adoção de ecoeficiência em energia por empresas
A ecoeficiência tem diversas facetas para sua definição e conta com diferentes
abordagens (RASHIDI; FARZIPOOR SAEN, 2015). Um de seus aspectos é o consumo de
energia elétrica, que figura em estudos como sendo um dos aspectos transversais para a
avaliação da ecoeficiência de uma empresa. A energia elétrica é tida como recurso essencial
para as operações de uma empresa e permeia tanto o uso de recursos escassos, como a geração
de resultados indesejáveis, quanto emissões de gases de efeito estufa e necessidade de grandes
investimentos em infraestrutura de geração e distribuição para atendimento de uma demanda
crescente por suprimento de energia (ANSAR et al., 2014; NERI et al., 2018; ZHANG et al.,
2008).
A adoção de ecoeficiência em energia nas empresas pode se dar por dois caminhos,
conforme definido por Stucki (2019): a utilização de práticas e tecnologias de economia de
energia ou o uso de energias renováveis, como eólica, hidroelétrica e solar. Porém, estas
escolhas são identificadas na literatura como feitas com base nos custos que as empresas têm
com a energia.
Apesar do custo com energia ser o motivador para a busca por ecoeficiência, outros
pontos também são levados em conta na adoção de tais práticas. As empresas também podem
aprimorar sua performance econômica com o aumento de sua receita, caso a melhoria em sua
performance ambiental se refletir positivamente na imagem da empresa. Isso pode gerar
fidelização dos clientes atuais e atrair novos clientes, reduzindo a pressão de stakeholders, além
de reduzir as ineficiências dos processos e as externalidades causadas pelo uso inadequado de
recursos advindos do consumo desperdiçado (STUCKI, 2019).
Há de se ressaltar que se o custo é um influenciador para a adoção, os investimentos
também contrabalanceiam as decisões. Empresas de serviço ou que não tenham processos
industriais eletrointensivos tendem a adotar medidas que demandem menor investimento para
implementação de ações relacionadas ao uso de energia, se comparadas às empresas com
processos eletrointensivos, como as indústrias. Isto leva à comparação do desempenho e a ações
30
de ecoeficiência limitada entre as empresas que atuam no mesmo segmento. Porém, geram
impacto positivo na lucratividade das empresas que as adotam (REXHÄUSER; RAMMER,
2014; STUCKI, 2019).
2.2 O CONTEXTO BRASILEIRO DE ENERGIA
Ao se focar na situação nacional e nos motivadores para um possível direcionamento
das empresas na adoção de processos de ecoeficiência no Brasil, cabe explanar como o país
está posicionado e qual a influência deste posicionamento para as empresas. O Brasil conta com
uma matriz energética baseada em energias renováveis devido ao seu alto potencial geográfico,
que permite tal arranjo (GUERRA et al., 2015). Em seu início, no ano de 1883, e devido à
inexistência de infraestrutura, as primeiras usinas implantadas atendiam basicamente alguns
serviços dos municípios em que estavam instaladas. Nos anos seguintes, foram implantadas
para autoprodução usinas hidroelétricas pela Companhia Fiação e Tecidos São Silvestre em
Viçosa, Minas Gerais (MG), e pela Compagnie des Mines d’Or du Faria, em Nova Lima/MG
(GOMES et al., 2002).
Segundo Guerra et al. (2015), após a Segunda Guerra Mundial, houve um grande
aumento na demanda por energia elétrica no Brasil, ocasionado pelo crescimento demográfico
e pela urbanização, pelo aumento do número de indústrias e pela expansão da malha rodoviária
do país. Este aumento na demanda por energia elétrica fomentou a criação de empresas estatais
que passaram a controlar e deter toda a cadeia de energia no país. Ao longo dos anos 1970 e
1980, estas empresas estatais foram afetadas por crises e acabaram perdendo eficiência
financeira. Assim, não haviam reais incentivos para ganhos de capacidade de produção
(GUERRA et al., 2015). Ao longo do tempo, tais empresas precisaram recorrer também a
financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
para manterem a expansão da geração de energia no país (GOMES et al., 2002). Nas décadas
de 1990 e 2000, o país instituiu leis específicas para a privatização de tais companhias, o que
permitiu a entrada de recursos privados para investimentos no setor, além de instituir o Mercado
Atacadista de Energia e a regulação dos Autoprodutores e Produtores independentes de energia
(GUERRA et al., 2015).
Com a crise de suprimento de energia vivenciada pelo país em 2001, tornou-se urgente
a criação de um arranjo que permitisse um novo modelo que geraria lastro para o crescente
consumo do país (FERREIRA; PATAH, 2017). Em 2004, com a criação de um novo modelo
31
de comercialização de energia no país, estabeleceu-se dois ambientes para tal comercialização,
o Ambiente de Contratação Regulado (ACR), onde as concessionárias detêm como um
monopólio o fornecimento de energia em sua área de concessão, e o Ambiente de Contratação
Livre (ACL), que permite ao cliente comercial realizar a compra de energia de maneira direta
dos geradores (AQUILA et al., 2016; HOLDERMANN; KISSEL; BEIGEL, 2014), mantendo
a estratégia de expansão da oferta de energias renováveis e da promoção de uma economia de
baixo carbono (PEREIRA et al., 2012). A Figura 1 apresenta um exemplo de fluxo de energia
e pagamentos pelo ACR.
Figura 1 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACR
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
A Figura 2 apresenta um exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL.
Figura 2 – Exemplo de fluxo de energia e pagamentos pelo ACL
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
Este modelo oferece garantias de suprimento ao sistema elétrico e permite uma maior
diversificação aos riscos associados a um controle único do Estado brasileiro. Com isto, o
modelo também propõe alternativas sustentáveis aos impactos do suprimento de carvão e óleo
utilizado em termoelétricas e de secas e impactos sociais e ambientais associados à dependência
do país de fontes hídricas (AQUILA et al., 2016).
Tal ênfase à energia proveniente de fontes hídricas também deixa o preço da energia
influenciado por tais riscos, gerando uma instabilidade econômica (GUERRA et al., 2015) e
32
influenciando, também, os indicadores macroeconômicos do país, dado que as tarifas de
energia, invariavelmente, compõem a cesta de produtos utilizada. Em 2019, o país conta com o
volume de 73% da oferta baseada em fontes renováveis. Porém, a participação de fontes
hídricas ainda representa a grande parte de tal volume, com 64%, e outras fontes estão divididas
entre eólica (8,2%) e solar (0,8%) (ANEEL, 2018a).
Segundo Gomes et al. (2018), a influência do Estado nas políticas de energia do país
trouxe situações adversas para o setor elétrico no Brasil, principalmente pelos crescentes
aumentos dos custos de energia e pelos riscos de não suprimento de energia demandada. As
causas que Gomes et al. (2018) elencam são a obrigatoriedade de redução de tarifas de energia
que causaram déficit junto às distribuidoras, atrasos na entrega de projetos de novas unidades
de geração e de linhas de transmissão, quantidade de leilões de fornecimento de energia que
resultaram em preços baixos para as geradoras e secas que, conforme mencionado
anteriormente, fragilizam o suprimento da demanda de energia.
2.2.1 Geração distribuída no Brasil
Em 2012, houve a publicação da Resolução Normativa nº 482 da ANEEL (2012) e que
foi revisada posteriormente na Resolução Normativa nº 687 de 2015, que permitiu aos
consumidores enquadrados no ACR o acesso à minigeração e à microgeração distribuída de
energia e o sistema de compensação. O sistema de minigeração de energia permite ao
consumidor de energia interligar à rede de distribuição das concessionárias centrais geradoras
de uma faixa de até 3 Megawatt-hora (MW) para fontes hídricas e 5 MW para demais fontes.
Por meio do sistema de compensação de energia, também estabelecido pela Resolução
Normativa n° 482 (ANEEL, 2012, p. 2), a compensação de seu consumo por meio de um
instrumento denominado net-metering ou “empréstimo gratuito da energia ativa gerada”, com
posterior compensação do consumo também por energia ativa (ANEEL, 2015). Este sistema é
baseado em um mecanismo de geração de créditos de energia ativa que podem ser utilizados
em até 60 meses após seu faturamento, passando a ser absorvido pela concessionária caso não
utilizado (BRADSHAW, 2017; ROSAS LUNA et al., 2019; VILAÇA GOMES et al., 2018).
Há algumas possibilidades de acesso ao sistema de compensação. Os consumidores optantes
podem ser enquadrados em modalidades de geração e consumo de energia que diferem entre si,
conforme definições da Resolução n° 482 da ANEEL (2012, p. 2):
1 - Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras: caracterizado pela
utilização da energia elétrica de forma independente, no qual cada fração com uso
individualizado constitua uma unidade consumidora e as instalações para atendimento
33
das áreas de uso comum constituam uma unidade consumidora distinta, de
responsabilidade do condomínio, da administração ou do proprietário do
empreendimento, com microgeração ou minigeração distribuída, e desde que as
unidades consumidoras estejam localizadas em uma mesma propriedade ou em
propriedades contíguas, sendo vedada a utilização de vias públicas, de passagem aérea
ou subterrânea e de propriedades de terceiros não integrantes do empreendimento;
2 - Geração compartilhada: caracterizada pela reunião de consumidores, dentro da
mesma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa,
composta por pessoa física ou jurídica, que possua unidade consumidora com
microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades
consumidoras nas quais a energia excedente será compensada;
3 - Autoconsumo remoto: caracterizado por unidades consumidoras de titularidade de
uma mesma Pessoa Jurídica, incluídas matriz e filial, ou Pessoa Física que possua
unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local
diferente das unidades consumidoras, dentro da mesma área de concessão ou
permissão, nas quais a energia excedente será compensada.
4 - Geração na própria Unidade Consumidora: caracterizado por unidades
consumidoras que possua microgeração ou minigeração distribuída instalado no
mesmo endereço, e no mesmo ponto de conexão com a rede da distribuidora, não
sendo possível a compensação em outra unidade consumidora.
Este arranjo elimina algumas barreiras para a integração de pequenos sistemas de
geração ao Sistema Interligado Nacional (SIN), além de incentivar a busca dos consumidores
inseridos neste contexto por tal modalidade, dado que há instrumentos para exploração e
benefícios ao sistema elétrico do país de maneira abrangente, como o adiamento de
investimentos na expansão dos sistemas de geração, transmissão e distribuição; redução de
impactos ambientais associados a grandes obras de usinas; redução de demanda de energia;
redução de perdas de transmissão e diversificação da matriz (VILAÇA GOMES et al., 2018).
A Figura 3 apresenta o fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída.
Figura 3 – Fluxo de energia e pagamentos por geração distribuída
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
Do outro lado, este arranjo é visto como um impacto às distribuidoras, que argumentam
que o uso desta modalidade permite que os consumidores utilizem a rede de distribuição para
34
injetar a energia para a localidade em que ela será consumida sem nenhuma contrapartida,
onerando os custos da rede às distribuidoras, inclusive os custos de conexão destes
consumidores (BRADSHAW, 2017; VAZQUEZ; HALLACK, 2018).
Em 2019, o país conta com 69.561 unidades consumidoras registradas na modalidade
de geração distribuída, que geram energia e que provém créditos para 93.356 outras unidades
consumidoras, e uma potência instalada de 836 MW (ANEEL, 2019a). Este crescimento do
número de conexões é tido como consequência do modelo proposto pela Resolução Normativa
n° 482 (BRADSHAW, 2017; LACCHINI; RÜTHER, 2015). O Gráfico 1 apresenta as conexões
em geração distribuída.
Gráfico 1 – Conexões em geração distribuída
Fonte: ANEEL (2019a).
O principal uso da geração distribuída no Brasil está concentrado no residencial, em
número de conexões, e no setor comercial, em potência instalada, conforme Tabela 1.
Tabela 1 – Conexões por tipo de consumo
Tipo de
Consumidor
Número de
Conexões
Número de
Conexões (%)
Potência Instalada
(kW)
Potência Instalada
(%)
Comercial 11.839 17% 361.167 43%
Residencial 51.556 74% 256.736 31%
Industrial 1.934 3% 113.118 14%
Rural 3.754 5% 85.528 10%
Poder Público 410 1% 18.130 2%
Serviço Público 62 0,09% 1.950 0,23%
Iluminação pública 6 0,01% 58 0,01%
Total geral 69.561 100% 836.686 100%
Fonte: ANEEL (2019a).
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
2007 2008 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Hidro Eólica Fotovoltaica Térmica
35
Também é possível a análise dos dados por tipo de fonte, conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Conexões e potência instalada por fonte
Fonte Número de
Conexões
Número de Conexões
(%)
Potência Instalada
(kW)
Potência Instalada
(%)
Hidro 79 0,1% 73.777 8,8%
Eólica 57 0,1% 10.314 1,2%
Térmica 152 0,2% 43.112 5,2%
Fotovoltaica 69.273 99,6% 709.482 84,8%
Total geral 69.561 100,0% 836.686 100,0%
Fonte: ANEEL (2019a).
O aumento no número de conexões ao longo dos anos é proveniente também dos
incentivos fiscais para o sistema. A isenção de incidência do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) passou a vigorar conforme o Convênio 16 do Conselho
Nacional de Política Fazendária, datado de 22 de abril de 2015 (CONFAZ, 2015). Este convênio
autoriza os Estados signatários a conceder isenção nas operações relativas à circulação de
energia elétrica, sujeitas à faturamento sob o Sistema de Compensação de Energia Elétrica de
que trata a Resolução Normativa nº 482 (ANEEL, 2012). Este convênio foi considerado como
um dos fatores de aceleração da implementação do sistema e do aumento do número de
conexões no país (FERREIRA et al., 2018; ROCHA et al., 2018; VILAÇA GOMES et al.,
2018).
Em contrapartida, é verificado por autores que este modelo permanece em expansão
devido às políticas de incentivo que os optantes se beneficiam financeiramente e que tais
incentivos deveriam ser, inclusive, aprimorados para a continuidade de sua expansão (FARIA
JR; TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; ROSAS LUNA et al., 2019; VILAÇA GOMES et al.,
2018). Um paralelo deve ser feito com o já mencionado sistema de compensação de energia e
o incentivo feito com a Resolução n° 482 da ANEEL (2012), onde a concessionária é a
responsável pelos custos de conexão e de transmissão do sistema, deixando apenas aos
consumidores os custos com a geração. Isso impacta diretamente em ter uma rede de
distribuição que comporte a energia que será injetada (BRADSHAW, 2017; FARIA JR;
TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; FRATE; BRANNSTROM, 2017; VAZQUEZ;
HALLACK, 2018).
Por outro lado, esta falta de incentivos concedidos às distribuidoras para a conexão dos
optantes à geração distribuída exerce uma força contrária ao acesso e à conexão dos clientes ao
sistema de distribuição, por meio de atrasos na conexão das unidades geradoras à rede
(BRADSHAW, 2017). Em estudo encaminhado à ANEEL, a concessionária do estado de Minas
Gerais, a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), afirma que os investimentos
36
necessários para o atendimento das solicitações de conexão de 100 estudos de acesso de geração
distribuída impactam a distribuidora em R$ 73.945.684,00 e que tais investimentos não haviam
sido previstos em seu planejamento no horizonte de 5 anos (ANEEL, 2018a).
Em dezembro de 2018, foi publicado pela ANEEL o Relatório de Análise de Impacto
Regulatório 0004/2018-SRD/SCG/SMA/ANEEL (ANEEL, 2018b), que visa apresentar o
cenário criado pela Resolução Normativa n° 482 (ANEEL, 2012) em dois lados distintos. Por
um lado, os instaladores e consumidores geradores e, por outro, as concessionárias e
consumidores não optantes. Este documento tem como objetivo apresentar os benefícios e os
impactos do sistema destes dois lados (ANEEL, 2018a). O documento propõe alternativas para
o modelo atual de net-metering e faz a sugestão de uma alternativa que foi submetida a uma
consulta pública ao longo do ano de 2019 (ANEEL, 2019b). Esta alternativa reconhece que o
modelo atual, se mantido indefinidamente, pode acarretar em impactos tarifários e custos para
os consumidores não optantes e propõe um mecanismo de associação de marcos de datas e
potências do sistema para o acionamento de gatilhos de alteração de políticas, que poderiam
ser implantados até o início do ano 2020 (ANEEL, 2018a). Até o término do presente trabalho,
ainda não havia sido publicado nem o texto normativo nem a alteração da norma.
Esta insegurança com relação ao formato final da atualizada da norma tem impactos na
opção dos optantes em investir na modalidade. Conforme Polzin et al. (2019), para o
investimento em energias renováveis, objeto da Resolução nº 482 (ANEEL, 2012), a redução
de riscos e as inseguranças regulatórias implicam diretamente na precificação do investimento
dos optantes, além de ser recomendado que os reguladores levem isto em consideração a fim
de não restringir ou perder os investimentos nesta área.
2.2.2 Geração distribuída de energia solar no Brasil
A população brasileira percebe o sol como sendo uma fonte limpa, confiável e
praticamente inesgotável de energia, com impactos irrelevantes do ponto de vista
socioambiental e em franca expansão nos planos e leilões de energia promovidos pelo governo
(FRATE; BRANNSTROM, 2017). O Brasil se beneficia por ser um país que, geograficamente,
é favorecido com uma radiação solar incidente de 1900 a 2150 Quilowatt-hora por metro
quadrado (kWh/m²) por ano (VILAÇA GOMES et al., 2018). Esta propensão ao sol, aliada aos
benefícios promovidos pela legislação, permite uma possibilidade de expansão deste modelo e
exploração dos benefícios pelos consumidores. Adicionalmente, esse tipo de energia é
considerado como um poderoso meio para a redução da pobreza e das desigualdade no Brasil
37
devido, principalmente, pelo programa Luz para Todos, que visa prover eletricidade por meio
de energia solar em comunidades rurais que estão fora das redes de distribuição (BRADSHAW,
2017).
Do ponto de vista dos consumidores, a geração distribuída de energia solar pode prover
acesso à energia em localidades anteriormente isoladas e melhorias na eficiência energética da
rede de distribuição, ao diminuir as perdas de energia na transmissão, além da reconfiguração
da relação de concessionárias e consumidores, dado que o cliente que opta por este regime se
torna um consumidor que produz parte ou toda sua energia. Outro aspecto positivo é a maneira
que o cliente tem de mitigar os impactos financeiros nas tarifas de energia oriundos das
bandeiras tarifárias aplicadas às contas dos consumidores em períodos que há um uso de
tecnologias baseadas em combustíveis fósseis para a complementação da oferta de energia, caso
haja redução na produção de fontes renováveis (BRADSHAW, 2017). Artigos como o de
Jannuzzi e Melo (2013), Lacchini e Rüther (2015), e Holdermann et al. (2014) concordam que
a expansão do sistema fotovoltaico no Brasil demanda maiores incentivos que os até agora
verificados para o sistema. Estes incentivos devem ser direcionados, basicamente, para o
financiamento dos equipamentos e aos incentivos fiscais que subsidiem os preços, a fim de
fazerem frente aos valores praticados nos leilões. A Figura 4 apresenta um exemplo de painéis
fotovoltaicos.
Figura 4 – Exemplo de painéis fotovoltaicos
Fonte: O autor (2019).
38
O Quadro 3 apresenta uma comparação entre as grandes usinas e as usinas de geração
distribuída fotovoltaicas.
Quadro 3 – Comparação entre grandes usinas e usinas de geração distribuída fotovoltaicas
Grandes usinas Geração distribuída fotovoltaica
Planejamento
Parte dos estudos ambientais são feitos pelo
governo e os custos são repassados aos
consumidores finais.
Não demandam análise ambiental e os
custos com a análise do projeto são pagos
pelos geradores, não afetando o preço final
da energia.
Todos os requisitos na fase de implantação
são de responsabilidade dos geradores.
Parte dos custos são compartilhados com as
distribuidoras de energia e impacta o
planejamento de investimento delas.
A Empresa de Planejamento Energético é
focada na participação de grandes usinas
nos leilões de energia.
-
Suprimento
Garantido por leilões públicos, onde a
transação acontece sob a supervisão do
órgão regulador.
Apenas sistema de compensação direto na
rede das distribuidoras na forma de
desconto.
Energia remunerada por contratos de longo
prazo a preços pré-definidos, com baixo
risco para os geradores.
Risco atrelado à volatilidade das tarifas de
energia das distribuidoras.
Comercialização Possibilidade de venda de energia no
varejo, com baixa liquidez.
Possível, porém, não viável para pequenos
geradores dada à exposição das tarifas
reguladas que são baixas.
Financiamento Todos os projetos contam com
financiamento subsidiado pelo BNDES.
Não há linha específica no BNDES para o
sistema, forçando os geradores a buscar
financiamento por meios próprios.
Fonte: Vazquez e Hallack (2018).
Ao se associar os dados de tipo de uso e potência instalada, percebe-se que a grande
concentração do uso da geração distribuída, no Brasil, está no uso de energia gerada por fontes
fotovoltaicas em todos os segmentos de alimentação regulados pela ANEEL, conforme Gráfico
2.
Gráfico 2 – Potência instalada por classe de consumidor (kW)
Fonte: ANEEL (2019a).
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
Comercial Residencial Industrial Rural Poder Público Serviço
Público
Iluminação
pública
Hidro Eólica Térmica Fotovoltaica
39
2.3 BARREIRAS PARA A ADOÇÃO DE ENERGIA SOLAR
Conforme Frate e Brannstrom (FRATE; BRANNSTROM, 2017) analisam em seu
artigo, existem barreiras concretas e subjetivas para a adoção de grandes empreendimentos de
energias renováveis. Em primeiro lugar, a falta de infraestrutura, a baixa percepção dos
benefícios pela população e a falta de planejamento são as principais barreiras para esta
expansão. Existem, segundo os autores, aspectos que auxiliam a entender estas barreiras, como
a falta de atratividade quanto aos preços dos leilões de energia promovidos pelo governo, o que
afasta a perspectiva de migração para esta fonte e reforça a influência econômica para a
promoção destes empreendimentos, deixando os aspectos socioambientais em uma posição de
relevância inferior (FRATE; BRANNSTROM, 2017). Ao passo que o aspecto socioambiental
é relegado, a população não identifica os reais benefícios desta fonte de energia, o que pode
acarretar reações negativas da população, como visto em grandes empreendimentos
hidroelétricos.
Também contribui como barreira a falta de infraestrutura para a transmissão da energia
solar gerada, que dialoga diretamente com os baixos preços dos leilões. Para se recapacitar uma
rede de distribuição para o escoamento de energia, são necessários grandes investimentos por
parte dos proponentes e das distribuidoras pelo planejamento de expansão não ter sido
corretamente executado (FRATE; BRANNSTROM, 2017).
2.3.1 O uso de energia solar por empresas
Apesar de não ser o setor com maior número de conexões, o uso da geração distribuída
solar pelo setor comercial é o que mais contribui para a potência instalada desta modalidade
(ANEEL, 2019a). O Gráfico 3 mostra o número de conexões em geração distribuída
fotovoltaicas por classe de consumo.
Gráfico 3 – Número de conexões em geração distribuída fotovoltaicas por classe de consumo
40
Fonte: ANEEL (2019a).
O Gráfico 4 apresenta a potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe
de consumo.
Gráfico 4 – Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica por classe de consumo (kW)
Fonte: ANEEL (2019a).
Em uma projeção feita pela ANEEL em 2017, estimava-se que o número de unidades
consumidoras comerciais que receberiam créditos em geração distribuída fotovoltaica
alcançaria a marca de 5.917 Unidades de Consumo (UCs) e a potência instalada seria de 59
MW (ANEEL, 2017). Estes números, em 2019, alcançaram a marca de 9.718 UCs que recebem
créditos e uma potência instalada de 161 MW (ANEEL, 2019a). Este descolamento da projeção
para os números apurados se deve, segundo autores, à insegurança quanto aos aumentos de
17%
74%
3%
5%
1% 0% 0%
Comercial
Residencial
Industrial
Rural
Poder Público
Serviço Público
Iluminação pública
42%
36%
10%
9%
3% 0% 0%
Comercial
Residencial
Industrial
Rural
Poder Público
Serviço Público
Iluminação pública
41
tarifas e ao mecanismo de compensação por net-metering (DA SILVA et al., 2018; JANNUZZI;
DE MELO, 2013).
Estudos se focam no mercado residencial, como o de Vilaça Gomes et al. (2018), e no
potencial geral do Brasil para uso do sistema, como o de Pereira et al. (2012). Porém, a própria
ANEEL estimou, em 2017, que o crescimento do uso do sistema pelos consumidores comerciais
expandiria a uma taxa 12,5% superior que a residencial anualmente (ANEEL, 2017), conforme
Tabela 3.
Tabela 3 – Projeção de crescimento anual de mercado em potência
Região Residencial Comercial Total
Norte 6,4% 6,0% 5,0%
Nordeste 4,6% 5,1% 4,1%
Sudeste 3,4% 4,2% 3,6%
Sul 4,3% 4,7% 3,8%
Centro-oeste 3,4% 4,2% 3,6%
Brasil 4,0% 4,5% 3,8%
Fonte: ANEEL (2017, p. 23).
Conforme Rosas Luna et al. (2019) descrevem, o crescimento do setor comercial de
geração distribuída é mais atrativo onde as tarifas são mais elevadas, como os setores
residencial e comercial alimentados em baixa tensão, onde o retorno se dá de maneira mais
célere. Quando confrontado com os dados obtidos junto à ANEEL, as projeções não refletem a
realidade verificada em 2019. O crescimento da potência instalada para o setor comercial,
comparado aos primeiros trimestres dos anos de 2017, 2018 e 2019, foi de 496% entre 2017 e
2018, e de 67% entre 2018 e 2019 (ANEEL, 2019a). A Tabela 4 apresenta a potência instalada
por trimestre.
Tabela 4 – Potência instalada por trimestre (kW)
Tipo de Consumidor Potência instalada (kW)
1° Trimestre 2017 1° Trimestre 2018 1° Trimestre 2019
Comercial 5.615 33.452 55.870
Fonte: ANEEL (2019a).
O volume de novas conexões também pode ser analisado sob o ponto das modalidades
de conexão procuradas pelos clientes. Os consumidores comerciais que optam pelo sistema
promovem o maior crescimento proporcional ao longo dos anos no autoconsumo remoto, que
preconiza a geração de energia em um local e distribuição desta energia em unidades
consumidoras de localidades distintas da geração (ANEEL, 2019a). A Tabela 5 apresenta a
evolução de potência instalada por classe de acesso ao sistema de geração distribuída
fotovoltaica de clientes comerciais.
42
Tabela 5 – Evolução de potência instalada (kW) por classe de acesso ao sistema de geração distribuída fotovoltaica
de clientes comerciais
Classe de acesso Potência instalada (kW)
2015 2016 2017 2018
Autoconsumo remoto 262 3.432 11.642 42.372
Geração compartilhada 37 1.416 947
Geração na própria UC 2.919 17.150 39.792 118.578
Múltiplas UC 10
Fonte: ANEEL (2019a).
Ao se analisar os dados das empresas com maior potência instalada na modalidade, as
empresas com operações capilarizadas contribuíram para o volume de potência observado. As
cinco empresas com maior potência instalada, de um total de 11.104, concentram 8,6% da
potência (ANEEL, 2019a). A Tabela 6 apresenta as empresas com maior potência instalada em
geração distribuída fotovoltaica comercial.
Tabela 6 – Empresas com maior potência instalada em geração distribuída fotovoltaica comercial
Empresa Setor Potência Instalada (kW) Representatividade (%)
Claro S.A. Serviços 13.600 4,6
Via Varejo S.A. Comércio 4.260 1,4
Caixa Econômica Federal Serviços 4.079 1,4
Alsol Energias Renováveis Serviços 1.860 0,6
Pague Menos Comércio 1.800 0,6
Fonte: ANEEL (2019a).
2.4 QUADRO RESUMO DA REVISÃO DE LITERATURA
De maneira a sintetizar os dados verificados na revisão de literatura com as questões
inerentes ao uso da geração distribuída de fonte fotovoltaica, o trabalho propõe um quadro que
enumera os motivadores e as barreiras para a aplicação do modelo. Estes pontos servirão como
balizadores para o roteiro das entrevistas. Porém, poderão ser revisados de acordo com os
resultados obtidos. O
43
Quadro 4 apresenta essas informações.
Não foram encontrados artigos que tratavam especificamente de ecoeficiência em
empresas pelo uso da geração distribuída fotovoltaica. Adicionalmente, não foram encontrados
artigos que tratam da geração distribuída fotovoltaica por empresas sob a luz do modelo de
arrendamento de usinas, como também não foram encontrados estudos que se aprofundam nos
impactos para a expansão ou retração da modalidade ante alguma alteração na legislação
vigente.
44
Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração distribuída por empresas
(Continua) Tema Item Tipo Subtema Referência
1
Política
regulatória ou
pública
1.1 Motivador
Existência de legislação ou
políticas públicas que promovam a
adoção de uso de energias
renováveis no modelo de geração
distribuída
(BRADSHAW, 2017;
NERI et al., 2018; VILAÇA
GOMES et al., 2018)
1.2 Motivador
Existência de incentivos tributários
que promovam o uso da geração
distribuída para a ecoeficiência
(NERI et al., 2018;
ROCHA et al., 2017)
1.3 Barreira
Insegurança de regulações
específicas para geração
distribuída
(ANEEL, 2018a; POLZIN
et al., 2019)
2 Condições de
mercado
2.1 Motivador Custos com energia e escassez de
recursos
(NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et al.,
2018)
2.2 Motivador
Aumento de competitividade e
percepção de valor de mercado por
práticas de ecoeficiência
(CAIADO et al., 2017;
CARVALHO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ;
GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013; NERI
et al., 2018)
2.3 Motivador Pressões e demandas do mercado
por ecoeficiência das operações (NERI et al., 2018)
2.4 Barreira Existência de monopólio das
distribuidoras de energia
(FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017;
NERI et al., 2018)
2.4 Barreira Falta de capacidade de distribuição
das distribuidoras de energia
(FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017;
NERI et al., 2018)
2.5 Barreira Custo da tecnologia disponível
(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;
TUKKER, 2019; NERI et
al., 2018)
2.6 Barreira
Condições de acesso a fontes
renováveis de energia pelas
empresas
(NERI et al., 2018)
3 Cadeia de
suprimentos 3.1 Motivador
Disponibilidade de fornecedores
especializados (NERI et al., 2018)
4 Eficiência de
operações
4.1 Motivador Redução de custos operacionais e
uso de recursos
(BRADSHAW, 2017;
DRUCKER, 1963; NERI et
al., 2018)
4.2 Motivador Redução do uso de recursos e/ou
externalidades
(KOSKELA; VEHMAS,
2012; NERI et al., 2018)
4.3 Barreira Concorrência com outras formas
de economia de energia
(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;
TUKKER, 2019; STUCKI,
2019)
5 Vendas
5.1 Motivador Aumento de parcela de mercado (KOSKELA; VEHMAS,
2012; NERI et al., 2018)
5.2 Motivador
Melhoria de imagem, aumento da
percepção de qualidade dos
serviços
(ALVES; DUMKE DE
MEDEIROS, 2015;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ;
GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013; NERI
et al., 2018)
5.3 Motivador
Acesso a certificações, novos
mercados e aumento da
participação em mercados
estabelecidos por diferenciação de
desempenho
(CARVALHO et al., 2017;
NERI et al., 2018;
REXHÄUSER; RAMMER,
2014; STUCKI, 2019)
45
Quadro 4 – Motivadores e barreiras identificados na literatura para a adoção da geração distribuída por empresas
(Conclusão) Tema Item Tipo Subtema Referência
6 Organizacional
6.1 Motivador Existência de comprometimento e
estratégia organizacional
(CAIADO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ;
GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013;
FIGGE; HAHN, 2013;
NERI et al., 2018; RAVI,
2015)
6.2 Motivador
Existência de competências
internas para condução dos
projetos de ecoeficiência
(NERI et al., 2018)
6.3 Motivador Aplicação de medidas para a
mitigação de riscos operacionais
(CAIADO et al., 2017;
FIGGE; HAHN, 2013;
NERI et al., 2018; SALING
et al., 2002; STUCKI,
2019)
6.4 Motivador Criação de inovações nas
operações
(CARVALHO et al., 2017;
NERI et al., 2018)
6.5 Motivador Valores e atitudes de indivíduos
dentro das empresas (NERI et al., 2018)
6.6 Motivador Melhoria da eficiência das
operações
(BARNEY, 1991; NERI et
al., 2018)
6.7 Barreira Metas/orientações do negócio aos
resultados financeiros
(DIAZ LOPEZ; BASTEIN;
TUKKER, 2019)
6.8 Barreira
Disponibilidade de estrutura e
recursos internos para
investimento e percepção externa
(FATEMI; GLAUM;
KAISER, 2018; NERI et
al., 2018)
6.9 Barreira Aversão a riscos das empresas em
novas modalidades (STUCKI, 2019)
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
46
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Com base nas suposições iniciais, o estudo buscará uma análise da questão de pesquisa
que é: “Quais são os motivadores e barreiras para o uso da geração distribuída de fonte
fotovoltaica por empresas no Brasil?”, por meio da metodologia qualitativa, dado seu teor
exploratório. Pretende-se a exploração da experiência, do entendimento, da visão e da
percepção de realidade dos entrevistados.
Citando Gil (2008), a ciência tem como objetivo chegar à veracidade dos fatos por meio
de sua verificabilidade. Portanto, o conhecimento científico que é gerado deve identificar as
operações mentais e técnicas que possibilitam sua verificação pela determinação do método que
foi utilizado. O método científico pode ser determinado pelo conjunto de procedimentos
intelectuais e técnicos que foram adotados para o atingimento de tal conhecimento (GIL, 2008).
A ontologia da pesquisa foi definida junto a empresas reais, que operam na modalidade
objeto de estudo. A premissa é que sujeito e objeto são separados e podem ser compreendidos
sem a influência do pesquisador no conhecimento gerado, conforme Ruiz (2012). A
epistemologia, ou estudo do conhecimento, adotada foi o método positivista, que entende que
a realidade é única e pode ser compreendida de fora da situação, sem influência do pesquisador
no conhecimento gerado, permitindo a definição de leis que são impostas aos atores, em uma
reação de causa e efeito (RUIZ, 2012).
Quanto às teorias, este trabalho visa abordar as teorias de ecoeficiência e sua aplicação
no tema de geração distribuída fotovoltaica em empresas. O método de investigação empírica
escolhido é baseado em estudo de casos, conforme Yin (2001) classifica, devido ao fato do
pouco controle e da contemporaneidade dos fenômenos estudados em um contexto real,
permitindo assim um estudo mais aprofundado e com maior detalhamento. Além disso, o estudo
de caso permite que dados possam ser obtidos por meio da observação direta e de entrevistas
sistemáticas (YIN, 2001). OQuadro 5 apresenta as principais informações que embasaram essa
decisão.
Quadro 5 – Investigação empírica
Estratégia Forma de questão de
pesquisa
Exige controle sobre
eventos comportamentais?
Focaliza eventos
contemporâneos?
Experimento Como, por quê? Sim Sim
Levantamento Quem, o quê, onde,
quantos, quanto? Não Sim
Análise de arquivos Quem, o quê, onde,
quantos, quanto? Não Sim/Não
Pesquisa histórica Como, por quê? Não Não
47
Estudo de caso Como, por quê? Não Sim
Fonte: Yin (2001, p. 15).
3.1 FORMULAÇÃO DA PESQUISA
Segundo Yin (2001), um estudo de casos múltiplos visa gerar uma explicação que
abranja todos os casos e que possam variar em seus detalhes, pelo fato da unidade de análise
estar relacionada com a maneira em que a pesquisa foi formulada. Para tanto, com base na
revisão de literatura, foram identificados os itens que são o objeto do tema da presente pesquisa,
de modo a traçar um encadeamento de sua aderência às práticas das empresas selecionadas.
Estes temas são identificados no Quadro 6.
Quadro 6 – Itens abordados na pesquisa
Itens Objeto de análise Referências bibliográficas
Ecoeficiência
Adoção de práticas de ecoeficiência
como meio de diferenciação e vantagem
competitiva no ambiente em que a
empresa se insere.
(ANSAR et al., 2014; CAIADO et al., 2017;
FATEMI; GLAUM; KAISER, 2018;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE; HAHN, 2013;
MOUTINHO et al., 2018; NERI et al., 2018;
NIKOLAOU; MATRAKOUKAS, 2016;
QUAIREL-LANOIZELEE, 2016; RAVI, 2015;
SALING et al., 2002; ZHANG et al., 2008)
Energia
Relevância do consumo de energia
dentro das operações das empresas,
programas de ecoeficiência utilizados e
gestão aplicada sobre o recurso.
(ANSAR et al., 2014; NERI et al., 2018; ZHANG
et al., 2008)
Energias renováveis
Motivação do uso de energia renovável e
aderência às estratégias de ecoeficiência
das empresas.
(ANSAR et al., 2014; CAIADO et al., 2017;
FIGGE; HAHN, 2013; GUERRA et al., 2015;
MOUTINHO et al., 2018; NERI et al., 2018;
REXHÄUSER; RAMMER, 2014; SALING et
al., 2002; STUCKI, 2019; ZHANG et al., 2008)
Geração distribuída
fotovoltaica
Oportunidades encontradas pelas
empresas para o uso da modalidade e
fonte.
(BRADSHAW, 2017; VAZQUEZ; HALLACK,
2018; VILAÇA GOMES et al., 2018)
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
Dentro dos itens abordados, a pesquisa se baseou no proposto por Yin (2001) em obter
os dados sob a perspectiva de Como o item é tratado nas empresas e no Por quê da adoção das
práticas sobre os itens. Adicionalmente, a análise foi complementada pela ótica dos motivadores
e das barreiras encontradas em cada um dos itens, a fim de identificar os limites de atuação em
cada um deles.
A escolha por entrevistas semiestruturadas para a condução da pesquisa visa o
complemento do cenário verificado na revisão da literatura, como meio de diagnosticar o real
momento que a modalidade de geração distribuída com autoconsumo remoto enquadra-se no
país e como esta modalidade é aplicada para clientes comerciais. Foram conduzidas por meio
48
de perguntas abertas e fechadas, focadas no desenvolvimento do tema e no atendimento das
pretensões do roteiro. Para a pesquisa, foram selecionados os representantes das empresas que
permitam o acesso ao ambiente e às informações necessárias, com agendamento prévio e
espaçado para melhor aproveitamento das entrevistas, com duração aproximada de uma hora.
As perguntas foram elaboradas de forma a traduzir os objetivos da pesquisa em questões
específicas (GIL, 2008). Os critérios de seleção dos entrevistados foram baseados no perfil dos
participantes, onde foram observadas:
a) A prontidão do entrevistado quanto às informações desejadas;
b) Possibilidade de resposta sem recusas ou negativas;
c) Uma pergunta de cada vez;
d) Perguntas com possibilidade de respostas explícitas; e
e) Relevância das perguntas frente às informações pretendidas.
O esboço do questionário aplicado encontra-se em apêndice neste trabalho (APÊNDICE
A – Roteiro de entrevistas).
Para a análise de documentos, foram confrontados dados públicos de bases acessíveis e
que não tiveram o tratamento científico analítico, permitindo a verificação dos conteúdos, além
de dados publicados e relatórios anuais das empresas entrevistadas, como forma de confirmação
das informações concedidas. O Quadro 7 apresenta um resumo dos documentos utilizados.
Quadro 7 – Documentos utilizados na análise
Documento Empresa Tipo de documento
Documento 1 América Relatório de sustentabilidade
Documento 2a Império Relatório anual
Documento 2b Império Divulgação de informações ao mercado
Documento 3 Cárpatos Relatório anual
Documento 4a Pedra Única Relatório anual
Documento 4b Pedra Única Relatório de sustentabilidade
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
O problema de pesquisa desse estudo é: Quais são os motivadores e barreiras para o
uso da geração distribuída de fonte fotovoltaica por empresas no Brasil? Buscando-se a
especificidade, foi analisado o que pode aproximar e distanciar os dois temas, com base na
proposição de estudo de caso associando o como e o por que a eventos contemporâneos,
conforme Yin (2001). Limitações do estudo são inerentes a um trabalho como este e cabe
ressaltar aspectos de legislação para o tema e o foco em fontes solares de geração de energia.
49
3.2 SELEÇÃO DOS CASOS
Segundo Yin (2001), as unidades de análise de um estudo de casos devem dar
preferência aos casos que não deixariam as questões da pesquisa vagas ou que não as
responderiam. Também como definido por Yin (2001), a delimitação do limite do tempo deve
ser utilizada de maneira a definir o início e o fim dos casos.
Os procedimentos da pesquisa adotados visam a viabilidade ampla, dado que foram
englobadas empresas com as maiores aplicações comprovadas, segundo a ANEEL, ou
aspirações públicas declaradas voltadas ao uso da energia proveniente de fontes solares
aplicadas em geração distribuída e que adotam ou já têm projetos contratados para o uso do
autoconsumo remoto conforme dados da ANEEL. Portanto, a seleção das empresas abrange
uma parcela satisfatória dos agentes que partilham do mesmo mercado ou que se enquadram na
condição descrita. Esta escolha foi feita como forma de garantir a relevância do estudo, ao se
comparar empresas que se destacam no tema e podem contribuir para a teoria que será
construída.
Foram selecionados para entrevista pessoas de níveis estratégicos nas organizações e
que são responsáveis pela estruturação e/ou implantação dos projetos nas empresas. Pelo fato
de as empresas solicitarem sigilo das informações, os nomes das empresas e dos entrevistados
foram ocultados. O Quadro 8 descreve o perfil dos entrevistados.
Quadro 8 – Empresas e entrevistados
Empresa Cargo do Entrevistado Data da entrevista
América Diretor de Suporte Financeiro ao Negócio 13/05/2019
Império Assessora Master de Patrimônio, Infraestrutura e Suprimentos 09/05/2019
Pedra Única Superintendente de Infraestrutura 27/06/2019
Cárpatos Diretor de Expansão e Infraestrutura 24/05/2019
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
50
4 ESTUDO DE CASO DAS EMPRESAS
Os maiores consumidores comerciais que utilizam o sistema de geração distribuída
ultrapassam a barreira dos 1.500 kW de capacidade instalada e de maneira aplicada em
autoconsumo remoto. Foram selecionadas três empresas que já operam acima desta capacidade
e uma empresa que finalizou uma licitação pública para a construção de uma usina com
capacidade superior a 1.500 kW.
4.1 EMPRESA: AMÉRICA
4.1.1 Atuação da empresa
A empresa América atua no setor de telecomunicações e serviços e foi constituída no
ano de 2004, controlada por um grupo de telecomunicações estrangeiro. Foram utilizados,
primeiramente, os dados secundários da empresa, obtidos no relatório de sustentabilidade de
2018, onde a empresa consolida suas informações de sustentabilidade de maneira unificada com
as demais unidades de negócio da controladora, além de dados disponíveis no website da
empresa. Adicionalmente, a empresa também é signatária do Pacto Global e, em 2018, ratificou
sua adesão e de suas subsidiárias ao Pacto (DOCUMENTO 1).
4.1.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa
Em 2018, a empresa lançou uma nova estratégia de sustentabilidade embasada nos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde a ecoeficiência é tratada, em seu relatório
anual, com o uso eficiente de recursos e o manejo adequado de resíduos (DOCUMENTO 1). O
Entrevistado 1 confirmou tais informações relatando que, para o caso do Brasil, o foco se dá
tanto nos benefícios financeiros do uso eficiente destes recursos quanto nos benefícios de
transparência, imagem e agregação de valor à empresa.
De maneira complementar, o Entrevistado 1 declara que os projetos que visam a
ecoeficiência da empresa devem estar alinhados com os resultados financeiros agregados a eles,
sendo factíveis de serem alcançados e mensurados. Tais iniciativas também enfrentam
dificuldades de implementação quando propõem modelos não usuais de operação, como o caso
da Geração Distribuída.
51
4.1.1.2 Estratégias de energia da empresa
A empresa declara que a energia é o centro de seus esforços para o uso eficiente deste
recurso, dado que o uso deste recurso é intenso e ininterrupto. O foco da empresa sobre o tema,
em seu relatório de sustentabilidade, visa a redução do consumo pela racionalização de suas
operações e pelo uso de energias renováveis como forma de reduzir as emissões e os custos
com o recurso. Tais estratégias são customizadas em cada país de acordo com as características
dos mercados locais (DOCUMENTO 1).
De acordo com o Entrevistado 1, a estratégia de energia se iniciou com foco na gestão
do recurso e na eficiência energética de operações e equipamentos, primeiro pela racionalização
do consumo em suas unidades de negócio por meio de automações de equipamentos,
substituição de aparelhos de ar-condicionado, substituição de sistemas de iluminação em
imóveis por LED e acompanhamento de consumo com base em comparações de clusters de
consumo (DOCUMENTO 1). Estas iniciativas já se encontram maturadas nas operações da
empresa, sendo revistas periodicamente. A empresa mantém as iniciativas, mesmo que
maturadas, pois ainda provém os resultados esperados.
De maneira paralela, a empresa buscou meios para a obtenção do recurso de maneira
mais atrativa financeiramente, migrando suas unidades consumidoras cabíveis para o ACL.
Para as demais unidades, a empresa buscou formas alternativas de abastecimento de energia
que convergissem ao propósito do tema, sendo a geração distribuída o meio escolhido.
4.1.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades
Em 2018, a empresa publicou, em seu relatório de sustentabilidade, como sua meta
número um, o uso de pelo menos 50% de energia renovável em suas atividades. No relatório de
sustentabilidade de 2018, a empresa reporta que 31% de seu consumo já era proveniente de
fontes renováveis. Para as operações do Brasil, a empresa não declara qual é a atual cobertura
de energia renovável de suas operações. Porém, em seu relatório de sustentabilidade, declara
que contempla duas iniciativas para o tema, com a compra de energia no mercado livre e o uso
de geração distribuída (DOCUMENTO 1).
Para a compra de energia no mercado livre, a empresa adquire no ACL de fontes
totalmente certificadas como renováveis, como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. Conforme
o Entrevistado 1, isto permitiu às operações do Brasil contemplar a meta traçada para as
52
unidades que contam com grande consumo e viabilidade para o acesso ao mercado livre, e não
contam com mais espaço para a expansão nesta direção.
Para as unidades com baixa concentração de consumo, a empresa não priorizou o
abastecimento local com tecnologias de autoprodução, como instalação de geradores de fontes
renováveis nos imóveis. Foram citados como barreiras os custos envolvidos e a baixa
capacidade de produção. A empresa optou pela concentração de ações em geração distribuída
de fontes renováveis, conforme explicado pelo Entrevistado 1.
4.1.1.4 Estratégia para geração distribuída
Em 2018, a empresa América declarou que, no Brasil, conta com dez usinas de geração
distribuída de fontes solares, eólicas, biogás, hidrelétrica e cogeração, complementando
também que esta foi a estratégia para o suprimento de energia de unidades de negócio com
baixa concentração de consumo. O Entrevistado 1 ratifica estas informações mencionando que
os maiores motivadores para esta opção foram a observância das metas definidas pela empresa,
a possibilidade de redução dos custos financeiros e a imagem da empresa junto aos
stakeholders.
A empresa, segundo o Entrevistado 1, optou por uma atuação em geração distribuída
para o abastecimento, prioritariamente, de suas unidades de baixa tensão, como torres de
transmissão, armários de distribuição de links e unidades de negócio descentralizadas. Em um
primeiro momento, a empresa não distinguiu a fonte prioritária para a geração. Porém, ao longo
da evolução dos projetos, avaliou a fonte solar como a mais competitiva para suas operações,
dada a previsibilidade de geração e a evolução dos custos associados à fonte. De maneira
complementar, o Entrevistado 1 também relatou que os incentivos tributários, como o convênio
de ICMS e as legislações específicas de estados que concederam maior atratividade à fonte
solar direcionaram a expansão nesta direção.
A possibilidade de redução de custos foi declarada pelo Entrevistado 1 como sendo o
motivador para a adoção da modalidade, visto que, além do benefício financeiro, permitiu o
alinhamento com a meta estabelecida pela empresa. A empresa também entende que já alcançou
o limite de expansão neste modelo, conforme mencionado pelo Entrevistado 1, e pretende
concluir a implantação das usinas já contratadas. Dados do relatório de sustentabilidade da
empresa informam que existem 10 usinas de fontes solares, eólicas, biogás, cogeração e hídrica
em operação e a meta, para o ano de 2019, é iniciar a operação das 52 restantes, também de
diversas fontes.
53
Por outro lado, a empresa também reporta, como risco para a implementação de fontes
renováveis de energia, mudanças em regulações aplicáveis que impliquem em impactos para a
meta estabelecida. O Entrevistado 1 confirma esta informação e entende que a regulação tem
pontos ainda incertos de sua evolução, que podem realmente impactar este modelo de negócio.
Em seu relatório de sustentabilidade, a empresa não identifica barreiras por parte de
fornecedores associados aos projetos de geração distribuída, informações confirmadas com o
Entrevistado 1. Além disso, o Entrevistado 1 informa que a maior barreira para o uso desta
modalidade está vinculada às concessionárias de energia, evidenciando que há muitos
problemas com itens essenciais, como reforço de redes de distribuição, atendimento dos prazos
e avaliação dos projetos. O Quadro 9 apresenta a síntese do estudo de temas da empresa.
Quadro 9 – Síntese do estudo de temas da empresa
Tema Objeto de análise Análise Documental Entrevista
Ecoeficiência
Adoção de práticas de
ecoeficiência como meio
de diferenciação e
vantagem competitiva no
ambiente em que a
empresa se insere.
- Associa a sustentabilidade como
meio de manter a liderança dos
mercados em que atua; e
- Baseia a gestão ambiental em
eficiência no uso de recursos,
proteção ao meio ambiente e
biodiversidade.
- Utiliza a ecoeficiência
como meio de se obter
mitigação de riscos,
diminuição de custos,
melhoria da imagem da
empresa e aumento de
valor.
Energia
Relevância do consumo de
energia dentro das
operações das empresas e
gestão aplicada sobre o
recurso.
- Centraliza esforços para a
racionalização do uso, dada a
dependência do recurso para as
operações; e
- Avalia os projetos em curso e os
novos projetos para implantação,
dado seu retorno.
- A implementação de
projetos de redução de
consumo deve ser
mensurada, dado seu
retorno financeiro.
Energias
renováveis
Motivação do uso de
energia renovável e
aderência às estratégias de
ecoeficiência das
empresas.
- Determina metas para o uso de
energias renováveis como um dos
pontos centrais de sua atuação; e
- Utiliza abastecimento no ACL
para consumos intensivos e geração
distribuída para consumos pouco
intensivos.
- Utiliza abastecimento
no ACL para consumos
intensivos e geração
distribuída para
consumos pouco
intensivos; e
- O uso de fontes
renováveis é visto como
meio de gerar
previsibilidade e redução
de custos com o insumo.
Geração
distribuída
fotovoltaica
Oportunidades
encontradas pelas
empresas para o uso da
modalidade e fonte.
- Não dá relevância especial à
modalidade em seu relatório.
- Concentra os projetos
na modalidade por
considerar a fonte mais
competitiva no
momento, dada a
segurança de
abastecimento e
previsibilidade de
geração.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
54
4.1.2 Análise do estudo de caso da empresa América
Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e
as barreiras identificadas neste estudo de caso.
4.1.2.1 Políticas públicas ou regulatórias
A existência de legislação específica para a geração distribuída foi uma condicionante
para a opção pela modalidade. A Resolução nº 482 (ANEEL, 2012) permitiu, à empresa, iniciar
seus estudos e, após o aprimoramento dado pela Resolução nº 687 (ANEEL, 2015), foi possível
a execução de projetos maiores e com a cobertura necessária para as unidades de negócio
passíveis de aplicação, conforme o Entrevistado 1. Isso está de acordo com o mencionado como
motivadores por Bradshaw (2017), Neri et al. (2018) e Vilaça Gomes et al. (2018).
Os incentivos tributários também foram considerados como facilitadores para a empresa
realizar a modelagem dos projetos, de uma forma a aprimorar os benefícios do sistema de
geração distribuída e obter mais benefícios fiscais. Como a empresa América é uma empresa
de serviços de telecomunicações no Brasil, naturalmente se beneficia da recuperação de créditos
de ICMS pela compra de energia, pelo fato de serem consideradas empresas de indústria básica
pelo Decreto n° 640 de 1962 (BRASIL, 1962) e passíveis de recuperação destes créditos pela
Lei Complementar nº 87 de 1996 (BRASIL, 1996).
A insegurança com as alterações da regulação, que está prevista para o ano de 2020,
levou a empresa a uma paralisação de novos projetos. Pelo fato de a empresa ser uma das
maiores usuárias da modalidade, e por motivos que serão discutidos posteriormente, houve uma
interrupção da estratégia de expansão em geração distribuída. Porém, foi considerada como
uma barreira apenas temporária, confirmando o exposto por Polzin et al. (2019).
4.1.2.2 Condições de mercado
A mitigação de custos com energia elétrica da empresa América foi o principal
motivador para a adoção da modalidade, segundo o Entrevistado 1. Com unidades de negócio
por todo o Brasil, a geração distribuída permitiu, à empresa, abranger muitas unidades, com
previsibilidade de custos e com proteção de alterações significativas de tarifas aplicadas pelas
concessionárias.
55
Com a redução dos custos operacionais, o Entrevistado 1 também menciona que a
utilização da modalidade permite, à empresa, aliar os benefícios financeiros com o uso de
energias renováveis, o que resulta na ecoeficiência de suas operações. Adicionalmente, esta é
uma ação da empresa que recebe destaque em seu relatório anual global, como forma de gerar
uma melhor percepção de valor para os stakeholders e uma diferenciação no setor em que atua,
confirmando o exposto por Caiado et al. (2017), Carvalho et al. (2017), Fernández-Viñé,
Gómez-Navarro e Capuz-rizo (2013) e Neri et al. (2018).
O Entrevistado 1 também deixa claro que as concessionárias representam uma barreira
significativa para a adoção e a consolidação do modelo pela empresa. Em seus projetos, o
Entrevistado 1 menciona que muitos tiveram seu prazo de operação prolongado, tanto por
procedimentos e atrasos na análise dos processos administrativos das concessionárias quanto
por falta de capacidade de absorção da energia que as usinas injetariam em uma rede que não
comportaria todo o montante da energia.
Pelo fato de as concessionárias deterem o controle das redes de distribuição, a injeção
da energia fica condicionada totalmente aos trâmites e à infraestrutura das concessionárias para
entrarem em operação e, efetivamente, proverem os benefícios que a empresa espera. Esse fato
está alinhado com as barreiras mencionadas por Faria Jr., Trigoso e Cavalcanti (2017) e Neri et
al. (2018).
Os custos da tecnologia disponível não afetam de maneira direta a opção pela
modalidade na empresa América, mas de maneira indireta. A modelagem dos projetos pela
empresa levou em consideração uma opção que este mercado fomentou, com base na Resolução
n° 687 (ANEEL, 2015), onde é permitido o arrendamento de empreendimentos construídos por
terceiros. Com este arrendamento, a empresa que opta pela geração distribuída não tem a
necessidade de construir ou realizar a operação e a manutenção da usina, sendo apenas a
detentora da posse da usina pelo período de arrendamento acordado com o efetivo proprietário
dos ativos e, por consequência, da energia que a usina gerar e injetar na rede da concessionária.
Com isso, os custos da tecnologia impactam diretamente os fornecedores das usinas a serem
arrendadas e o preço pelo qual a empresa que optar, neste caso a América, remunerará o
fornecedor pelo arrendamento proposto.
O acesso a outras formas de abastecimento das unidades por fontes renováveis de
energia não representa uma barreira para a adoção da modalidade pela empresa América, mas
uma condicionante. Com a estratégia de abastecimento das unidades que são passíveis de
acessar o ACL, as demais unidades que não têm a infraestrutura compatível para acessar o ACL
são diretamente consideradas para o uso da geração distribuída pela empresa América. Com
56
esta posição, o item se converte em um motivador para o uso da geração distribuída, em
desacordo com o exposto por Neri et al. (2018).
4.1.2.3 Cadeia de Suprimentos
No caso da América, a existência de fornecedores especializados foi um motivador para
a adoção da modalidade, segundo o Entrevistado 1. Conforme exposto anteriormente, a empresa
utilizou o modelo de arrendamento de ativos para o uso do modelo sem a necessidade de
construção das usinas, contratando fornecedores especializados na gestão destes ativos.
4.1.2.4 Eficiência de operações
Conforme mencionado anteriormente, o principal motivador para a empresa adotar a
geração distribuída foi a possibilidade de redução de custos com energia e redução das despesas
operacionais aliada à redução das externalidades. Como a energia que é gerada pelas usinas que
a empresa detém o controle operacional é totalmente abatida, em kWh, da energia consumida
de suas unidades designadas para tal, há a mitigação do impacto dos reajustes tarifários, além
da incidência das bandeiras tarifárias nos custos com energia.
Diaz Lopez, Bastein e Tukker (2019) e Stucki (2019) declaram que a adoção da
estratégia de geração distribuída concorre diretamente com outras formas de redução de
consumo de energia, podendo tornar-se uma barreira (DIAZ LOPEZ et al., 2018; STUCKI,
2019). Este fato se dá pelo esforço das empresas em buscar ações de redução de consumo
preliminarmente à adoção da geração distribuída. Isso foi observado no caso da empresa
América.
De acordo com o Entrevistado 1, a adoção da geração distribuída apenas foi considerada
na estratégia de redução de custos da empresa após a aplicação de outras formas de redução de
consumo de energia. A empresa havia dedicado esforços anteriores para a modernização das
instalações de iluminação e ar-condicionado, além do monitoramento do consumo das unidades
para, então, implantar a geração distribuída em suas unidades.
4.1.2.5 Vendas
57
A empresa América faz uma divulgação específica de suas ações em energias
renováveis com destaque para o uso de geração distribuída no Brasil (DOCUMENTO 1). Esta
ação da empresa, segundo o Entrevistado 1, visa também transparecer aos mercados em que a
empresa atua uma posição de alinhamento com os desafios ambientais atuais. O Entrevistado 1
ainda afirma que o uso de fontes renováveis de energia é também motivado pela possibilidade
de melhoria da imagem da empresa e como uma forma de beneficiar a sociedade com a redução
de fontes não renováveis na matriz energética do país.
Conforme o Entrevistado 1, a empresa América declara que o uso da geração distribuída,
principalmente de fonte fotovoltaica, permite uma diferenciação entre as demais empresas que
atuam no mesmo setor e permite, aos stakeholders, uma melhor percepção da qualidade dos
serviços ao agregar a ecoeficiência em suas operações.
4.1.2.6 Organizacional
Em seu relatório anual, a empresa América assume o compromisso de utilizar 50% de
energias renováveis em suas operações, aliada com a redução do consumo de energia de suas
operações, como forma de redução dos impactos ambientais de suas atividades. No ano de 2018,
a empresa reportou que 31% da energia utilizada era proveniente de fontes renováveis
(DOCUMENTO 1)
Este compromisso global assumido pela empresa fica presente, também, nas declarações
do Entrevistado 1, que afirma que o uso da geração distribuída converge diretamente para as
metas e para os compromissos ambientais que a empresa assumiu, ainda que não tenha feito
menção direta ao relatório anual. Isto pode, eventualmente, ser considerado como forma de
confirmação que a assunção deste compromisso pela empresa é algo já incorporado nos projetos
de geração distribuída da América. Conforme Caiado et al. (2017), Fernández-Viñé, Gómez-
Navarro e Capuz-Rizo (2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018) e Ravi (2015), isso pode
ser considerado um motivador para a implantação.
As competências internas foram desenvolvidas para a condução da estratégia de geração
distribuída. O Entrevistado 1, como Diretor de Suporte Financeiro ao Negócio, é o responsável
pela gestão de recursos de infraestrutura na América e menciona que este item foi relevante
para a adoção da modalidade.
Por se tratar de uma nova modalidade que não contava com optantes no volume de
projetos e na capacidade que a América decidiu implantar, houve a necessidade de se direcionar
as estruturas internas para a capacitação na compreensão e na modelagem dos projetos, além
58
de esforços internos para o convencimento da direção da empresa para a adoção da modalidade.
Estes pontos se alinham com os motivadores de existência de competências internas para
condução dos projetos de ecoeficiência (NERI et al., 2018), criação de inovações nas operações
(CARVALHO et al., 2017; NERI et al., 2018), valores e atitudes de indivíduos dentro das
empresas (NERI et al., 2018) e barreira de aversão a riscos das empresas em novas modalidades
(STUCKI, 2019). Verifica-se que a equipe capacitada para tais desafios foi crucial para sua
implantação.
A modalidade da geração distribuída, principalmente de fonte fotovoltaica, permitiu à
América, conforme o Entrevistado 1, ter ganhos financeiros pela redução dos custos com
energia além de uma mitigação de geração dada a previsibilidade inerente à fonte fotovoltaica.
Na composição de custos e riscos que concerna a esta fonte, a empresa identificou-a a melhor
forma de atender as suas necessidades e concentrou as implantações em tal, tornando-a a
principal fonte para a modalidade. Isso está em alinhamento ao verificado como motivador por
Caiado et al. (2017), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018), Saling et al. (2002) e Stucki
(2019).
4.1.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa América
O tratamento dado à racionalização de consumo e à obtenção de eletricidade proveniente
de fontes renováveis está alinhado aos compromissos e às metas que a empresa assumiu de
maneira global. A geração distribuída foi verificada como uma das estratégias da empresa para
atingir esta meta no Brasil.
Como principais motivadores, foram identificados para a adoção da modalidade pela
empresa:
• A existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de
energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI
et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);
• A Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et al., 2018);
• A Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al.,
2017; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013;
FIGGE; HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015); e
59
• A existência de competências internas para condução dos projetos de ecoeficiência
(NERI et al., 2018).
As barreiras identificadas foram:
• A insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;
POLZIN et al., 2019);
• A existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);
• A falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;
TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e
• A aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).
4.2 EMPRESA: IMPÉRIO
4.2.1 Atuação da empresa
A empresa Império atua no setor de serviços financeiros e é de origem brasileira. É uma
empresa mista, controlada também pela União. Participa do Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE) da Brasil Bolsa Balcão (B3) e da carteira de mercados emergentes do Índice
Dow Jones de Sustentabilidade (Dow Jones Sustainability Index – DJSI) (DOCUMENTO 2a e
2b). Foram utilizados, como dados secundários, as informações contidas no relatório anual de
2018 (DOCUMENTO 2a), onde a empresa consolida suas informações de sustentabilidade.
Também foi realizada uma entrevista com a Assessora Master da área de Patrimônio,
Infraestrutura e Suprimentos.
4.2.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa
O atendimento dos critérios e a participação nos índices de sustentabilidade (ISE e DJSI)
é mencionado pela Entrevistada 2 como uma das prioridades da empresa no tocante à política
de sustentabilidade e ecoeficiência. O ISE é, conforme descrito pela B3 (2019), “uma
ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na B3 sob o aspecto
da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça
social e governança corporativa”. Este índice visa selecionar empresas para a composição de
uma carteira de ações que atendem aos critérios de seleção e de avaliação instituídos pela B3.
60
Em 2019, conta com 28 empresas, sendo uma delas a Império. As empresas que compõem a
carteira de 2019 apresentaram rentabilidade de +203,8%, contra +175,38% do índice Ibovespa,
e menor volatilidade: 24,67% em relação a 27,46% do Ibovespa, no período de 2005 a 2018
(B3, 2019).
Em sua composição, o questionário do ISE conta com uma dimensão de avaliação
ambiental, onde são avaliados o uso eficiente de recursos, por meio do monitoramento do uso,
e os programas baseados em ecoeficiência e produção mais limpa (B3, 2019). Com a avaliação
das ações e dos programas conduzidos pelas empresas, especificamente para ecoeficiência, a
empresa Império declarou, no último questionário, possuir programas estruturados de
ecoeficiência e metas específicas de redução de consumo para água e energia, além de metas e
monitoramento para água de reuso e energias renováveis (B3, 2019).
Já o DJSI é um índice criado em 1999 voltado a investidores que valorizam as práticas
de sustentabilidade empresarial. Avalia as empresas que se submetem ao questionário e à
auditoria do índice, a fim de selecionar apenas as empresas com as melhores práticas entre as
empresas avaliadas (ROBECOSAM AG, 2019). O questionário do índice conta com uma seção
específica de ecoeficiência operacional, onde é avaliado o comportamento do uso de recursos
naturais e geração de resíduos, além de emissões de gases de efeito estufa. Não foram
encontrados dados públicos das respostas da empresa Império ao índice. Em alinhamento aos
índices, a empresa adota indicadores de sustentabilidade para a composição da avaliação do
desempenho dos funcionários e este desempenho impacta diretamente na remuneração variável
dos funcionários, desde o nível estratégico até o nível operacional das unidades de negócios.
Por meio de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), a Império determina os objetivos,
as responsabilidades e as iniciativas de gestão no tema. A Entrevistada 2 ratifica as informações,
complementando que o SGA é a base para a avaliação da ecoeficiência das unidades e ele é
utilizado para o acompanhamento dos indicadores que compõem a avaliação do desempenho
dos funcionários.
O desempenho socioambiental da empresa é declarado em seu relatório anual como
passível de constante revisão e tem seu foco na ecoeficiência das operações com a minimização
de consumo de recursos naturais, geração de resíduos e emissões de gases de efeito estufa. Para
tanto, a empresa declara ter como premissa o aprimoramento de seu SGA, o envolvimento das
partes interessadas na gestão ambiental, a disseminação de conhecimento para o uso eficiente
de recursos, a disseminação da cultura de responsabilidade socioambiental da empresa e a
capacitação do público externo e interno para o aprimoramento das competências em gestão
ambiental.
61
A empresa englobou os temas de ecoeficiência de geração de resíduos, consumo de água
e energia e de redução de emissões de gases de efeito estufa em um índice interno, que tem
como objetivo normatizar a mensuração dos resultados nestes quesitos. A Entrevistada 2 ainda
ressalta que estas iniciativas da empresa são entendidas internamente como um meio de
diferenciação dos demais concorrentes pois, ao envolver os funcionários com remuneração
variável, permitem o alinhamento às metas estabelecidas pela empresa em todos os níveis
envolvidos e contribuem para a transparência do processo.
Ainda é relatado pela Entrevistada 2 que, com as metas estabelecidas e os esforços
voltados ao atingimento delas, a empresa reduz seus custos operacionais e os riscos das
operações, bem como aprimora a imagem da empresa junto aos investidores. Também é
relatado pela Entrevistada 2 que alguns programas de ecoeficiência foram descontinuados pela
empresa, por não apresentarem viabilidade financeira de se manterem ou por serem programas
que, porventura, representassem riscos para as operações, como o recolhimento de resíduos por
cooperativas locais em praças afastadas.
4.2.1.2 Estratégias de energia da empresa
Em conjunto com a mensuração, o estabelecimento de metas e a comparação entre as
unidades de negócio por meio de seu SGA, a empresa pôde também avaliar a contribuição das
iniciativas voltadas à redução de consumo e os custos com energia elétrica, conforme explica a
Entrevistada 2. A empresa relata, em seu relatório anual, as iniciativas de substituição de
sistemas de iluminação, de ar-condicionado e uma campanha para o uso racional de energia,
como forma de atingir tanto o consumo de energia como os custos. Informações do relatório
anual ainda relatam a gestão automatizada das faturas de energia como meio para a geração de
indicadores e como aumento da eficiência operacional.
4.2.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades
Em seu relatório anual, a empresa relata o início do uso de energia proveniente do ACL
no ano de 2018. Porém, não deixa clara a origem da energia que é adquirida. A Entrevistada 2
confirma que a energia adquirida do ACL é proveniente de fontes 100% renováveis porém, não
especifica a fonte. Este movimento foi orientado, principalmente, pela redução dos custos com
62
a energia. A empresa também relata que há planos para a expansão da modalidade até o ano de
2020.
Também foi relatada a inauguração de uma usina de geração fotovoltaica, que tem
previsão de início de atividades para junho de 2019. Porém, a Entrevistada 2 menciona que o
projeto poderá sofrer atrasos. A empresa não relata demais aplicações de energias renováveis
para suas operações.
A Entrevistada 2 explica que o uso de energia proveniente de fontes renováveis pela
empresa é entendido como meio de redução dos custos e melhoria da imagem da empresa, além
de atender aos requisitos dos índices em que a empresa reporta seus resultados. Portanto, pode
influenciar o seu valor de mercado.
As barreiras descritas pela Entrevistada 2, à luz do problema de pesquisa para o uso de
energias renováveis, foram a infraestrutura das unidades, que não permitem o uso de outras
maneiras de abastecimento como painéis solares instalados para autoprodução, e o fato dos
painéis não apresentarem a viabilidade econômica esperada pela empresa. Ainda
complementando o tema das barreiras, a Entrevistada 2 menciona que nem todas as unidades
se enquadram em termos de infraestrutura para a participação no ACL.
4.2.1.4 Estratégia para geração distribuída
O relatório anual da empresa demonstra que há o interesse no uso desta modalidade e
na expansão do modelo em MG. A Entrevistada 2 relata que a empresa optou pelo uso da fonte
fotovoltaica para a geração distribuída por se tratar, no entendimento da empresa, de uma fonte
confiável, já consolidada no mercado, que conta com uma grande oferta de fornecedores,
oferece baixos riscos operacionais e possui abrangência nacional. Estes fatores permitem que a
empresa possa realizar o entendimento da operação desta modalidade e prever, de maneira
prática, a expansão para as demais localidades, se viável. Ainda, a Entrevistada 2 declara que,
em casos de unidades não passíveis de participação no ACL, esta é a única maneira viável
financeiramente de aplicação de energias renováveis em suas unidades.
Por outro lado, a Entrevistada 2 menciona que a principal dificuldade de aplicação da
modalidade foi gerada pela concessionária da região onde o projeto foi concebido, que impactou
a data de início da usina declarada no relatório anual. Ainda sobre as concessionárias, é relatado
que não há infraestrutura da rede de distribuição adequada para a operação do modelo, além de
falta de padronização e observância dos procedimentos e prazos descritos nas regulações da
ANEEL. A falta de transparência dos processos junto às concessionárias também é mencionada
63
pela Entrevistada 2 como um impeditivo ao acesso ao modelo, dado que não há um diagnóstico
conciso sobre o andamento de cada processo. Do ponto de vista da regulação, a Entrevistada 2
entende que o modelo de net-metering é o ideal para continuar a fomentar a opção por esta
modalidade no país, dada a facilidade de implantação e acompanhamento dos resultados pelos
consumidores.
Conforme relatado pela Entrevistada 2, o projeto de geração distribuída contratado
deverá entrar em operação e a empresa realizará o acompanhamento dos resultados e a
consolidação do modelo internamente, avaliando os riscos e as intercorrências que possam
acontecer antes de realizar qualquer expansão além da já declarada em seu relatório anual. Não
foram relatados problemas com os fornecedores para a adoção do modelo. O Quadro 10
apresenta a síntese do estudo de temas da empresa Império.
Quadro 10 – Síntese do estudo de temas da empresa Império
Tema Objeto de análise Análise Documental Entrevista
Ecoeficiência
Adoção de práticas de
ecoeficiência como meio
de diferenciação e
vantagem competitiva no
ambiente em que a empresa
se insere.
- Gerencia os pontos elencados
por meio de um SGA;
- Engloba o tema em um
indicador integrativo para as
unidades de negócio; e
- Estabelece metas de
ecoeficiência para as unidades
de negócio e remuneração
variável dos funcionários.
- Utiliza para a redução de
despesas; e
- Entende o tema como uma
maneira de aumentar a
transparência, um meio de
diferenciação e um aumento de
valor da marca.
Energia
Relevância do consumo de
energia dentro das
operações das empresas e
gestão aplicada sobre o
recurso.
- Mensura o desempenho por
meio do SGA;
- Utiliza projetos para a redução
de consumo, desde que sejam
financeiramente viáveis; e
- Realiza treinamentos para o
uso racional dos recursos.
- Utiliza controle de consumo
para estabelecimento de
padrões; e
- Aplica projetos de redução de
consumo, se financeiramente
viáveis.
Energias
renováveis
Motivação do uso de
energia renovável e
aderência às estratégias de
ecoeficiência das empresas.
- Compra de energia no ACL; e
- Projeto em execução em
geração distribuída.
- Compra de energia no ACL
nas unidades passíveis; e
- Operação em geração
distribuída como teste nas
unidades que não se enquadram
no ACL.
Geração
distribuída
fotovoltaica
Oportunidades encontradas
pelas empresas para o uso
da modalidade e fonte.
- Menciona o projeto como
redução de despesas com
energia.
- Declara a tecnologia como
consolidada, com oferta de
fornecedores, abrangência
nacional e de baixo risco
operacional.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
4.2.2 Análise do estudo de caso empresa Império
Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e
as barreiras identificadas neste estudo de caso.
64
4.2.2.1 Políticas públicas ou regulatórias
Por se tratar de uma empresa de economia mista, a empresa Império teve especial
atenção à observação da legislação do setor em que atua, bem como às possibilidades da
Resolução nº 482 (ANEEL, 2012) para o desenvolvimento do projeto de geração distribuída de
fonte fotovoltaica. Adicionalmente, a Entrevistada 2 relata que o setor financeiro no qual a
empresa Império atua deve observar a Resolução nº 4.327 de 2014 (BANCO CENTRAL DO
BRASIL, 2014), que demanda que as empresas do setor financeiro tenham definidas e
implantem a Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA), que demanda a estes
agentes declarar e aplicar suas ações de natureza socioambiental em seus negócios e junto às
partes interessadas (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014).
A existência de benefícios tributários na modalidade agiu como um facilitador para a
adoção pela empresa. Porém, não foi considerado como critério para a modalidade dada a
instabilidade das legislações. Pelo fato de a empresa ainda não ter implantado seu projeto de
geração distribuída, que está em desenvolvimento, a empresa não relatou que a instabilidade
com a regulação do setor exerceu uma barreira relevante para o atual projeto. Entretanto, esta
alteração pode influenciar a modelagem dos demais projetos que a empresa pretende implantar,
conforme explica a Entrevistada 2.
4.2.2.2 Condições de mercado
A empresa relata que os custos com energia e escassez de recursos foram os principais
motivadores para a adoção da modalidade. Em seu relatório anual, a empresa Império deixa
esta informação muito clara ao associar o benefício financeiro que a adoção da modalidade
agrega aos seus compromissos com ecoeficiência assumidos.
Em paralelo, a Entrevistada 2 também relata que o uso da modalidade permitirá à
empresa aumentar a percepção de valor nos mercados em que atua, ao levar esta ação de
ecoeficiência em conjunto com as demais ações que a empresa desenvolve. Ela também explica
que a empresa vai alinhar os ganhos financeiros pretendidos com a mitigação de impactos
ambientais de suas operações.
As pressões do mercado em que a empresa atua agem como um motivador significativo
para a adoção da geração distribuída. Por participar de índices de sustentabilidade evolutivos,
como o ISE e DJSI, a empresa busca e é impelida a buscar constantemente novas formas de
gerar ecoeficiência em suas operações. Conforme apresentado pela Entrevistada 2, a empresa e
65
percebeu na modalidade uma oportunidade de tratar o tema de energias renováveis exigidas por
estes índices.
No caso da empresa Império, a Entrevistada 2 comenta que a concessionária que detém
a distribuição da região em que o projeto será implantado é, no momento, uma barreira
significativa para seu projeto. Na área inicialmente definida para o projeto, a concessionária
não tem capacidade para a absorção da energia que será gerada pela usina fotovoltaica, o que
causou atrasos concretos no projeto, inclusive com desalinhamento com o prazo previsto e
divulgado em seu relatório anual. Este impacto influencia de maneira direta os compromissos
que a empresa assumiu para o uso de energias renováveis.
Adicionalmente, a Entrevistada 2 declara que é importante para a continuidade da
expansão do modelo no país, sob seu ponto de vista, que não haja a alteração do modelo de net-
metering e que haja maior padronização e alinhamento dos procedimentos da concessionária
com os procedimentos determinados pela ANEEL. Tal desalinhamento prejudica os acessantes
ao sistema.
Os custos com a tecnologia não influenciam a decisão da empresa em adotar a
modalidade. A empresa realizou uma licitação pública para a construção da usina por
intermédio de uma empresa terceirizada, levando o custo com a tecnologia para uma posição
indireta de influência no projeto.
A adoção da geração distribuída pela empresa Império causou a conversão da barreira
de condições de acesso à energia renovável em motivador. Pelo fato de a empresa já adotar a
aquisição de energia renovável no mercado livre para o abastecimento das unidades passíveis
de acesso ao ACL, a estratégia da empresa foi considerar a adoção da geração distribuída
fotovoltaica para o abastecimento das demais unidades como forma de expandir o uso de
energias renováveis assumido em seus compromissos, conforme relata a Entrevistada 2.
4.2.2.3 Cadeia de suprimentos
A Entrevistada 2 relata que a existência de fornecedores especializados, conforme Neri
et al. (2018) expõem, exerce grande influência como motivador para a adoção da modalidade.
A empresa Império contou com fornecedores de mercado para parte do desenvolvimento do
projeto e das soluções associadas. A empresa pode utilizar, nas fases preliminares do projeto,
alguns fornecedores que colaboram com a estruturação da solução técnica e contratual, bem
como com o dimensionamento e os critérios para a avaliação dos resultados, conforme a
Entrevistada 2 declara.
66
4.2.2.4 Eficiência de operações
A empresa Império relata, em seu relatório anual, suas ações de redução do impacto de
suas operações e o uso de recurso em tais atividades. Com base nisso, a Entrevistada 2 ratifica,
durante a entrevista, que a redução de custos e o uso de recursos foi um motivador significativo
para a adoção da geração distribuída fotovoltaica, principalmente pelo viés da ecoeficiência,
conforme observado na teoria por Bradshaw (2017), Drucker (1963) e Neri et al. (2018).
Uma das barreiras que a geração distribuída enfrenta na empresa Império é a
concorrência com demais formas de economia de energia. A empresa adota outras formas de
ecoeficiência em energia, como a modernização dos equipamentos de iluminação e ar-
condicionado, além do monitoramento de desperdícios de consumo de energia. A empresa
consolida estas ações, entre as demais ações de ecoeficiência que não concernem à energia
elétrica, em um índice interno de ecoeficiência das unidades de negócio, denominada Pegada
Ecológica. Este índice classifica e compara as unidades. Um bom desempenho neste índice tem
impacto na composição dos valores de remuneração variável dos funcionários daquelas
unidades.
4.2.2.5 Vendas
Ao associar os motivadores para a adoção de práticas de ecoeficiência, a Entrevistada 2
evidencia que estas práticas são entendidas pela empresa Império como meio de diferenciação
e podem contribuir para o aumento de participação no mercado em que a empresa atua. Isso
está alinhamento à teoria de Koskela e Vehmas (2012) e Neri et al. (2018).
Também mencionado pela Entrevistada 2 foi o fato da redução das despesas
operacionais que são obtidas pelas ações de ecoeficiência, que permite gerar maior valor para
as ações da empresa ao associar o aspecto ambiental a ganhos financeiros, sendo percebido de
maneira positiva junto aos investidores e imprimindo transparência aos processos da empresa.
A participação da empresa em índices de sustentabilidade atua como motivador que permite
que suas ações sejam classificadas de maneira diferenciada das demais empresas do setor e, por
consequência, dá acesso a mercados em que os investidores optam por tais empresas. Esse
posicionamento gera a diferenciação de desempenho positiva que a empresa Império pretende
em sua atuação.
67
4.2.2.6 Organizacional
A existência de comprometimento e estratégia organizacional é um motivador
significativo para a adoção da geração distribuída fotovoltaica pela empresa Império. Conforme
a Entrevistada 2, a estruturação do projeto foi uma etapa que levou um tempo considerável e
necessitou de uma equipe dedicada para a modelagem. A exemplo do uso de energia
proveniente do ACL, onde a empresa Império foi uma das empresas mistas percursoras no uso
ao contar com as competências internas para a contratação, tais competências também foram
aplicadas para o projeto de geração distribuída.
Estes pontos se relacionam e agem como motivadores nas empresas, em acordo com os
pontos levantados por Caiado et al. (2017), Fernández-Viñé, Gómez-Navarro e Capuz-Rizo
(2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018) e Ravi (2015). O comprometimento
organizacional, as competências internas e os valores e atitudes de indivíduos dentro das
empresas podem prover o suporte necessário para projetos de ecoeficiência, energias
renováveis e geração distribuída.
A opção pela fonte fotovoltaica também foi considerada pela empresa Império como
forma de mitigação de riscos operacionais. Por se tratar de uma modalidade com abrangência
nacional, com grande oferta de fornecedores e já consolidada no mercado, a Entrevistada 2
menciona que a fonte fotovoltaica foi natural para a empresa Império, ao passo que sua
modelagem pode prover o benefício financeiro que a empresa pretende com o projeto.
Foi identificado, no caso da Império, que a barreira identificada na literatura de metas
orientadas apenas ao resultado financeiro (DIAZ LOPEZ; BASTEIN; TUKKER, 2019)
converte-se em motivador ao associar os benefícios financeiros da modalidade às metas de uso
de energias renováveis da empresa. Por se tratar de um projeto que ainda não foi implantado, e
apesar da intenção de expansão da modalidade em suas operações, a empresa determinou que
tal expansão só será implementada após a consolidação do tema dentro da empresa, conforme
relata a Entrevistada 2. Isso remete ao exposto por Stucki (2019), onde as empresas têm uma
aversão a riscos que as novas modalidades podem trazer. Ao mesmo tempo, dialoga com
Carvalho et al. (2017) e Neri et al. (2018), que apontam que as inovações são tidas como
motivadores para a aplicação da modalidade.
68
4.2.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Império
O alinhamento da Entrevistada 2 com o relatório anual da empresa Império confirma
que o tema da ecoeficiência é levado em consideração para a operação dos negócios, ao estender
as ações aos níveis hierárquicos responsáveis pelo desempenho neste item. As ações voltadas
para a diminuição de consumo e dos custos com energia são avaliadas sob a ótica do retorno
financeiro associado e à possibilidade de aplicação, dada as características das unidades de
negócio, atuando como um passo antecessor à aplicação da geração distribuída pela empresa,
conforme a Entrevistada 2 comenta.
O fato de a empresa ainda não ter iniciado as operações de seu projeto de geração
distribuída gera uma incerteza sobre os rumos que a modalidade pode seguir no futuro. A
empresa não conta com uma estratégia declarada para o uso de energias renováveis. Porém, faz
uso destas fontes por meio da aquisição de energia pelo ACL e por meio do seu projeto de
geração distribuída.
Para a geração distribuída, a empresa entende que o projeto necessita entrar em operação
e seu desempenho deve ser observado antes de possíveis expansões além da já declarada em
seu relatório. Este projeto sofreu atrasos em decorrência dos trâmites da concessionária local.
A cadeia de fornecedores foi um ponto muito relevante para a empresa Império, pois
tais agentes auxiliaram a empresa a modelar e determinar como o projeto seria desenvolvido,
além de trazer expertise e conhecimento que a empresa não tinha internamente para a
implantação da geração distribuída.
Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa
foram:
• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de
energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI
et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;
HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015);
69
• Melhoria de imagem, aumento da percepção de qualidade dos serviços (ALVES;
DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013; NERI et al., 2018); e
• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).
As barreiras identificadas foram:
• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;
POLZIN et al., 2019);
• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);
• Falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;
TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e
• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).
4.3 EMPRESA: CÁRPATOS
4.3.1 Atuação da empresa
A empresa atua no setor varejista de móveis e eletroeletrônicos, e controla outras sete
marcas. Atualmente, a empresa é signatária do Pacto Global e conta com uma rede com mais
de 1.100 estabelecimentos, entre lojas e centros de distribuição.
Foram utilizados, como dados secundários, o relatório anual da empresa de 2018 e as
bases de dados da ANEEL. Como dados primários, foi feita uma entrevista com o Diretor de
Expansão e Infraestrutura. A orientação da empresa em gestão ambiental, conforme o relatório
anual, é focada no uso de energias renováveis, monitoramento ambiental e reciclagem de
resíduos (DOCUMENTO 3).
4.3.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa
A empresa elenca os temas ambientais que considera relevante em seu relatório anual,
como a ecoeficiência logística, o controle e reciclagem de resíduos sólidos, o consumo
ecoeficiente e o monitoramento ambiental. Com base no relatório anual da empresa, o foco das
ações de ecoeficiência nas unidades de negócio se voltam para a redução do consumo de água
e energia, e para o tratamento dos resíduos sólidos como meios integrativos de redução de
70
despesas operacionais e mitigadores de externalidades. Além disso, a empresa já incorporou
em projetos de novas lojas os conceitos de ecoeficiência das operações, concebendo-as de
maneira a consumir menos recursos naturais e prevenir gastos financeiros com desperdícios.
Também é relatado que a empresa pretende investir, ao longo do ano de 2019, em um
software de gestão de energia. O Entrevistado 3 explica que, para a implementação dos
programas, são levados em consideração o ganho financeiro que os programas proporcionam,
além do impacto que possam ter no ambiente.
As barreiras elencadas pelo Entrevistado 3 se focam na dependência de modelos de
investimento e no retorno que permitam a expansão das ações. Para tanto, a empresa utiliza-se
de economias provenientes de projetos já estabelecidos e com resultados apurados para prover
recursos para o custeio de outros projetos. Com base nesta opção, a empresa mantém os projetos
que adotou e não relatou nenhuma descontinuidade de projetos que, conforme o Entrevistado
3, são avaliados com cuidado antes de sua implantação a fim de manter resultados continuados.
4.3.1.2 Estratégias de energia da empresa
Elencando o consumo de energia elétrica como um dos temas materiais prioritários de
sua operação, a empresa declara em seu relatório anual que orienta suas ações sobre o tema para
a eficiência energética, visando a redução de consumo e de custos de suas instalações por meio
de programas de substituição de lâmpadas por LED, substituição de aparelhos de ar-
condicionado por modelos mais eficientes, aplicação de cortinas de ar e o uso de fontes
renováveis de energia.
Complementando, o Entrevistado 3 informa que há sistemas de telemetria e controle de
funcionamento de equipamentos a fim de racionalizar o uso da energia nas unidades de negócio.
Ainda na prevenção de desperdícios de consumo, a empresa promoveu, no ano de 2018, um
treinamento com todos os colaboradores orientado para práticas sustentáveis e como tais
práticas impactam na empresa e na percepção dos stakeholders (DOCUMENTO 3). Não ficou
evidente se as unidades de negócio são avaliadas com base em um plano de metas de consumo
ou se são comparadas com as demais unidades.
4.3.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades
71
A empresa não estabelece metas para a cobertura de suas operações com energias
renováveis em seu relatório anual, mas foca sua atuação no tema de energias renováveis na
compra de energia no ACL proveniente de fontes renováveis e na geração distribuída para as
unidades que contam com infraestrutura compatível para cada modelo. Para a opção de compra
de energia no ACL, a empresa foca seus esforços nos centros de distribuição principais, prédios
administrativos e grandes lojas. Para o ano de 2019, a empresa pretende realizar a migração de
mais unidades de negócio para o modelo com o foco, conforme declarado em seu relatório, no
retorno financeiro em que a modalidade pode trazer para a empresa. O Entrevistado 3 corrobora
a informação relatando que os motivadores para o uso de energias renováveis neste modelo
convergem para a redução de custos e aumento da ecoeficiência das unidades. A empresa não
declara, em seu relatório anual, iniciativas de uso de energias renováveis destinadas à
autoprodução em suas unidades de negócio.
4.3.1.4 Estratégia para geração distribuída
Complementar à estratégia utilizada para unidades de negócio com grandes consumos
concentrados, a empresa optou pelo uso da modalidade de geração distribuída para as unidades
que contam com menor concentração de consumo, como forma de redução de custos com as
operações e aumento da cobertura de fontes renováveis para o consumo de energia, conforme
apresenta o Entrevistado 3.
Em seu relatório anual, a empresa declara que a usina que abastece totalmente as 79
unidades em MG cobertas pelo projeto e, ainda, associa a ação à redução de custos com energia,
além da mitigação da emissão de gases de efeito estufa (DOCUMENTO 3). O Entrevistado 3
ainda informa que o modelo que foi adotado para o uso da geração distribuída fotovoltaica foi
impulsionado pelo modelo de negócios proposto pelos fornecedores ofertantes, que permitiram
uma eficiência operacional imediata e, pelo fato da empresa ter optado pelo arrendamento de
uma usina construída em parceria com um fornecedor, eliminou a necessidade de alocação de
capital para a construção do empreendimento.
Esta estratégia é baseada, segundo o Entrevistado 3, na premissa de ser o mais eficiente
possível com os recursos financeiros disponíveis, a fim de rentabilizar ainda mais os negócios
em que a empresa atua. A opção pela fonte fotovoltaica foi feita pela empresa levando em
consideração sua previsibilidade de geração, a estabilidade ao longo dos anos e os baixos riscos
operacionais. Desta maneira, conforme o Entrevistado 3, a empresa pôde mitigar eventuais
72
sazonalidades e riscos de insumo para a geração associadas às demais fontes, como hidrelétrica
e de biomassa.
A atual legislação que rege o modelo foi fundamental para sua adoção, segundo o
Entrevistado 3, dado que o sistema de net-metering é entendido como o mais justo para a
promoção e expansão da modalidade. Porém, ainda é ressaltado que uma eventual alteração na
legislação atual pode impactar o modelo para os consumidores, visto que mudanças que
ocasionem reduções no ganho financeiro percebido pelos optantes em contratos de longo prazo
comprometem a atratividade e a expansão da modalidade.
Complementarmente, o Entrevistado 3 ainda reforça que a atual política do ICMS na
modalidade é fundamental para a viabilidade e a pretendida expansão da empresa neste sentido.
A empresa declarou a intenção de implantar mais 5 usinas em outras unidades federativas do
país. Porém, de maneira gradual, dada a incerteza com a legislação.
Do ponto de vista da empresa, o Entrevistado 3 declara, como a principal barreira para
a adoção do sistema. a dificuldade na modelagem dos contratos e das operações, dado que, no
momento da opção, a empresa entendia o assunto como recente e com poucos casos disponíveis
que possibilitassem uma avaliação dos riscos e benefícios associados. O
Quadro 11 apresenta uma síntese do estudo de caso da empresa Cárpatos.
Quadro 11 – Síntese do estudo de temas da empresa Cárpatos
Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista
Ecoeficiência
Adoção de práticas de
ecoeficiência como meio
de diferenciação e
vantagem competitiva
no ambiente em que a
empresa se insere.
- Racionalização do consumo de
recursos naturais visando a
eficiência financeira;
- Programas de treinamento em
ecoeficiência;
- Mitigação de impactos por
regulações; e
- Comunicação dos impactos
percebidos por stakeholders.
- Utilização das premissas de
ecoeficiência para a eficiência
financeira;
- Alocação correta de
recursos; e
- Estudo exaustivo antes de
investir nos projetos permite a
perenidade.
Energia
Relevância do consumo
de energia dentro das
operações das empresas
e gestão aplicada sobre o
recurso.
- Declara o tema como prioritário
em sua matriz de materialidade;
-Dedica esforços na racionalização
do uso do recurso; e
- Orienta os programas para a
redução de consumo e de custos
com a obtenção de energia.
- Aplicação de programas
voltados primeiramente à
redução do consumo e,
posteriormente, à redução dos
custos.
Energias
renováveis
Motivação do uso de
energia renovável e
aderência às estratégias
de ecoeficiência das
empresas.
- Ganhos financeiros associados ao
item.
- Ganhos financeiros
associados aos itens; e
- Possibilidade de
replicabilidade considera a
infraestrutura e os resultados
financeiros anteriores.
Geração
distribuída
fotovoltaica
Oportunidades
encontradas pelas
empresas para o uso da
modalidade e fonte.
- Não demonstra os motivos, além
de financeiros, que levaram à
escolha.
- Informa que a estabilidade, a
previsibilidade e o baixo risco
associado foram
condicionante para a opção.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
73
4.3.2 Análise do estudo de caso empresa Cárpatos
Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e
as barreiras identificadas neste estudo de caso.
4.3.2.1 Políticas públicas ou regulatórias
O fato de a legislação e regulação permitir o uso da geração distribuída foi mais que um
motivador para a empresa Cárpatos optar pela modalidade. O Entrevistado 3 relata que, sem a
existência desta possibilidade, os projetos de energias renováveis da empresa seriam
impactados. Porém, com o atual arranjo das capacidades dadas pelas Resoluções nº 482 e nº
687 (ANEEL, 2012, 2015), a empresa pôde modelar seus projetos de maneira mais abrangente.
A existência de benefícios tributários foi mencionada pelo Entrevistado 3 como um dos
motivadores fundamentais. Com a isenção do ICMS nesta modalidade, os projetos de geração
distribuída oferecem um melhor retorno para a Cárpatos e permitem uma melhor valoração da
expansão que a empresa pretende para os projetos, sendo fundamental para a viabilidade do
modelo.
Como barreira, a empresa ressalta que a incerteza e a insegurança com possíveis
alterações na modalidade podem impactar de maneira negativa os projetos de geração
distribuída e diminuem a atratividade, ao passo que podem diminuir os benefícios financeiros
e atrelar riscos para o modelo. Segundo o Entrevistado 3, a empresa considera que a manutenção
do modelo atual de net-metering ainda é possível e mantém a expansão da participação dos
optantes pela modalidade na expansão da oferta de energia renovável no Brasil.
4.3.2.2 Condições de mercado
Também como motivador central para a adoção da geração distribuída pela Cárpatos, o
Entrevistado 3 relata que os custos com energia elétrica levaram a empresa a buscar a
modalidade. Em suas palavras, a empresa deve: “Ser a mais eficiente possível com o dinheiro
que temos, rentabilizando a venda” (ENTREVISTADO 3). A redução dos custos promovidos
pela geração distribuída converge para este objetivo da empresa e se soma às pressões do
mercado pela ecoeficiência operacional, conforme a declaração do Entrevistado 3.
74
A empresa utiliza a geração distribuída como forma de diferenciação, conforme
verificado em seu relatório anual. Porém, não foi relatado como um motivador de grande
influência, conforme entrevista.
Os projetos de geração distribuída da empresa foram impactados diretamente pelas
concessionárias, de acordo com o Entrevistado 3. A burocracia nos trâmites administrativos e
técnicos causaram atrasos nos projetos de geração distribuída da Cárpatos e atrasaram a captura
dos benefícios planejados pela empresa.
O custo com a tecnologia disponível não foi uma barreira relatada pelo Entrevistado 3,
dado que a empresa também se utiliza do modelo de arrendamento da usina. Os custos com a
construção da usina ficam a cargo do fornecedor, que provém a solução a Cárpatos e influencia
somente na remuneração que a empresa repassa ao fornecedor.
Novamente foi verificado, conforme a entrevista com o Entrevistado 3, que a
impossibilidade de atendimento às unidades de negócio por meio do ACL acaba convergindo
em um motivador para o uso da geração distribuída pela empresa. A empresa declara que a
geração local nas unidades de negócio de energia renovável não é interessante do ponto de vista
financeiro e de riscos patrimoniais. Portanto, a geração distribuída foi a maneira que a empresa
adotou para a condução de sua estratégia.
4.3.2.3 Cadeia de suprimentos
A empresa se beneficia de uma opção de uso da geração distribuída pelo arrendamento
de usinas de fornecedores. Neste modelo, a empresa reconhece que a existência de fornecedores
especializados no assunto foi um importante motivador para que a empresa pudesse usufruir da
modalidade. Desta maneira, segundo o Entrevistado 3, a empresa pode se alavancar com base
no capital dos terceiros, além de migrar os custos de energia para a prestação de serviços.
Adicionalmente, o Entrevistado 3 declara que o uso dos fornecedores e parceiros nestes projetos
auxilia a empresa a imprimir velocidade nos projetos de ecoeficiência possíveis e libera capital
próprio para investimento em demais projetos de ecoeficiência ou de operações.
4.3.2.4 Eficiência de operações
A conjunção de aspectos econômicos e ambientais, segundo o Entrevistado 3, permitiu
que o projeto da geração distribuída fotovoltaica fosse entendido pela Cárpatos como forma de
75
mitigação de custos com energia e de uso de recursos, reafirmando o exposto por Bradshaw
(2017) e Neri et al. (2018). Os custos com energia foram o principal motivador para a adoção
da modalidade. Porém, tiveram como barreira outras formas de economia de energia. A empresa
prioriza, em suas operações, um programa de redução de consumo de suas unidades de negócio
por meio da substituição dos sistemas de iluminação e refrigeração das unidades, além do
controle de consumo de energia e de desperdícios por meio de um sistema de monitoramento.
4.3.2.5 Vendas
A empresa utiliza informações sobre o uso de geração distribuída fotovoltaica como
forma de diferenciação e melhoria da percepção de imagem. De maneira complementar, o
Entrevistado 3 afirma que o uso da modalidade é alinhado com os objetivos de eficiência nos
resultados operacionais, pela eficiência e redução dos custos. A empresa não menciona que faz
parte de algum índice ou certificação que preconiza o uso de energias renováveis ou geração
distribuída, o que não evidencia tal item como motivador para a adoção da modalidade.
4.3.2.6 Organizacional
Há um comprometimento da estratégia organizacional com a ampliação da geração
distribuída fotovoltaica, que se torna um motivador para a empresa seguir a estratégia.
Conforme seu relatório anual, confirmado pelo Entrevistado 3, a empresa conseguiu se
beneficiar do modelo e, portanto, pretende realizar a expansão da modalidade em suas
operações. Este movimento converge para o relatado como motivador por Caiado et al. (2017),
Fernández-Viñé, Gómez-Navarro e Capuz-Rizo (2013), Figge e Hahn (2013), Neri et al. (2018)
e Ravi (2015).
Quanto às competências internas, a empresa conseguiu desenvolvê-las com o auxílio de
fornecedores que auxiliaram na modelagem do projeto de geração distribuída, sendo um
motivador que foi aprimorado no decorrer do desenvolvimento do projeto. A empresa utiliza a
geração distribuída como maneira de mitigar seus riscos operacionais por meio da
previsibilidade e da proteção financeira quanto à alteração de tarifas e custos com energia, além
de promover a melhoria da eficiência de suas operações. Além disso, a empresa, segundo o
Entrevistado 3, identifica a fonte como forma de obter previsibilidade na geração de energia,
76
além de não sofrer com a sazonalidade das demais fontes que podem ser aplicadas para a
geração distribuída.
A criação de inovações dentro da empresa não foi considerada um motivador para a
Cárpatos que, conforme o Entrevistado 3 menciona, houve uma dificuldade na modelagem do
projeto dado seu caráter não convencional. Isso contradiz o motivador dado por Carvalho et al.
(2017) e Neri et al. (2018). Porém, com os valores e atitudes da equipe interna, foi possível a
adoção da modalidade pela empresa, apesar da aversão a riscos inicialmente apresentada como
barreira, conforme Stucki (2019). Novamente, a presença de metas orientadas a resultados
financeiros não foi uma barreira para a Cárpatos, dado que o modelo provém os resultados
financeiros que a empresa espera e se alinha a sua estratégia de negócios.
4.3.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Cárpatos
A empresa Cárpatos foca suas ações de ecoeficiência nos benefícios financeiros que a
implantação delas podem proporcionar ao negócio. Os projetos de ecoeficiência são orientados
pela comparação do benefício ou mitigação de riscos para as operações da empresa. O fato de
a empresa declarar que efetua estudos profundos, segundo o Entrevistado 3, permite a adoção
de práticas que serão perenes às unidades de negócio e que são propagadas de acordo com a
viabilidade.
Considerando a energia um insumo importante para as operações, a empresa realiza
programas específicos de monitoramento e controle de consumo, além da aplicação de
tecnologias que permitam o atendimento das necessidades operacionais com redução de
consumo de energia. A aplicação de energias renováveis é tida como oportunidade de redução
de custos complementar aos projetos de redução de consumo que a empresa utiliza. Barreiras
como a infraestrutura para tal uso foram verificadas na entrevista com o Entrevistado 3.
O uso da geração distribuída foi escolhido como estratégia para a redução dos custos de
unidades com baixa concentração de consumo, por permitir uma abrangência maior de unidades
de negócios. Porém, a empresa, segundo o Entrevistado 3, observa com cuidado possíveis
alterações na legislação que possam comprometer a atratividade do modelo, bem como pontua
que suas principais dificuldades para a implantação residem nas tratativas com as
concessionárias de energia para o atendimento das solicitações de acesso.
Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa
foram:
77
• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de
energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI
et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Existência de incentivos tributários que promovam o uso da geração distribuída
para a ecoeficiência (NERI et al., 2018; ROCHA et al., 2017);
• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;
HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015); e
• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).
As barreiras identificadas foram:
• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;
POLZIN et al., 2019);
• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e
• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).
4.4 EMPRESA: PEDRA ÚNICA
4.4.1 Atuação da empresa
A Pedra Única atua no setor de serviços financeiros, de origem brasileira e com 95 anos
de existência. É uma empresa fruto da fusão de diversas empresas do setor financeiro, presente
em 19 países, com foco de atuação na América Latina. A empresa destaca, em seu relatório
integrado, participar tanto do ISE quanto do DJSI, além de ser signatária do Pacto Global, entre
outros compromissos voluntários de sustentabilidade (DOCUMENTOS 4a e 4b).
Foram utilizados, como dados secundários, as informações contidas no relatório anual
de 2018, relatório de sustentabilidade de 2018 e respostas ao ISE, onde a empresa consolida e
reporta suas informações. Como dados primários, foi realizada uma entrevista com a
Superintendente de Infraestrutura de Patrimonial.
78
4.4.1.1 Estratégias de ecoeficiência da empresa
Em seu relatório de sustentabilidade de 2018, a empresa reporta suas ações de gestão
ambiental associadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de energia limpa e
acessível, consumo e produção responsáveis e ações de mudança do clima, associando suas
ações aos impactos positivos pela promoção de energias renováveis, redução e uso eficiente de
recursos, redução de resíduos e conscientização e redução de emissões de gases de efeito estufa
(DOCUMENTO 4b). Relata, também, que há a intenção da redução da pressão do uso de
recursos naturais em suas estratégias de operação por meio do gerenciamento dos impactos de
suas atividades (DOCUMENTO 4a).
A empresa também relata que houve, em 2018, a implantação do SGA como maneira
de consolidar e prover a rastreabilidade dos dados das operações (DOCUMENTO 4b). Esta
informação foi verificada como uma das respostas ao questionário do ISE do ano de 2017, de
menor ou igual a 25% de cobertura para maior de 25% até 50% de cobertura (B3, 2019).
Conforme a Entrevistada 4, a expansão do uso do sistema se deu, principalmente, pela maior
maturidade na cobertura das operações capilarizadas da empresa.
Também foi verificado, no relatório de sustentabilidade de 2018, o reporte de
investimentos voltados especificamente para ecoeficiência nos temas de água, energia, resíduos
e emissões (DOCUMENTO 4a). Já em seu relatório integrado, a empresa deixa mais clara sua
orientação para o tema, declarando que as iniciativas de ecoeficiência são desenvolvidas
visando quatro pilares: “custo de implantação, disponibilidade no mercado, desempenho
técnico do sistema e ganhos em eficiência” (DOCUMENTO 4b).
A Entrevistada 4 menciona que o foco da empresa para a sustentabilidade é amparado
pelo o que “é bom para a gente, é bom para a sociedade e é bom para o país”. Ela também
esclarece que na operação de infraestrutura, da qual é responsável, os maiores impactos
positivos são entendidos com a redução na pegada ambiental que a empresa gera com suas
operações.
4.4.1.2 Estratégias de energia da empresa
A Pedra Única relata que o foco de sua atuação em operações é a eliminação de
desperdícios oriundos de equipamentos e iluminação não eficiente e uso incorreto do recurso
(DOCUMENTO 4b). São descritas ações e investimentos focados em manutenção e
substituição de equipamentos de ar-condicionado e sistemas de refrigeração, elevadores,
79
substituição e racionalização de equipamentos de processamento de dados, como mainframes,
bem como sistemas de automação e monitoramento do uso de energia nos prédios e agências
(DOCUMENTO 4b).
Também foi relatado que a empresa desenvolveu uma instalação modelo em uma de
suas unidades de negócio, onde foi possível à empresa testar as soluções de equipamentos mais
energicamente eficientes e sua propagação para as demais unidades (DOCUMENTO 4b). A
Entrevistada 4 reforça que esta foi uma iniciativa que contou com a aplicação de conceitos
novos de disposição e arquitetura da unidade, visando a maior eficiência possível pela
racionalização e alteração das especificações de equipamentos para infraestrutura das
instalações. A iniciativa permitiu uma rápida avaliação dos conceitos aplicados e uma
replicabilidade para a rede de atendimento.
A Entrevistada 4 afirma, ainda, que as despesas com energia elétrica das unidades
descentralizadas representam uma das maiores contas operacionais que a área de infraestrutura
gerencia, o que leva à orientação constante dos esforços para a redução do consumo e aplicação
de soluções de mitigação de desperdícios. Porém, as unidades descentralizadas são abastecidas
apenas pelo ACR, o que impede a negociação direta dos preços de energia e deixa as unidades
sujeitas aos impactos que as flutuações de tarifas causam.
4.4.1.3 Uso de energias renováveis e modalidades
A empresa já atingiu quase que a totalidade de abastecimento de suas unidades
administrativas com energia renovável por meio de compra de energia no ACL de fontes
certificadas. Porém, não há a menção do uso de fontes renováveis nas unidades descentralizadas
(DOCUMENTO 4b). A Entrevistada 4 declara que a estratégia de uso de fontes renováveis de
energia deve acompanhar a configuração e as possibilidades dos imóveis ocupados pela
empresa. O uso de fontes certificadas pelo ACL é uma das maneiras de promover e utilizar as
energias renováveis. Porém, nem todas as unidades de negócio podem se enquadrar na
modalidade de fornecimento.
Há iniciativas de abastecimento parcial de unidades por painéis fotovoltaicos, mas o
movimento é experimental para as unidades centralizadas e está em estudo para sua expansão
nas unidades descentralizadas. Segundo a Entrevistada 4, este movimento deve ser bem
estudado, dada a presença capilarizada da empresa e as características de manutenção,
rendimento da solução vigente às tarifas e exposição a vandalismo.
80
4.4.1.4 Estratégia para geração distribuída
Como forma de aumentar o abastecimento de energia por meio de fontes renováveis, a
empresa iniciou um projeto de geração distribuída em Minas Gerais para abastecimento de suas
unidades descentralizadas (DOCUMENTO 4b). A empresa relata que a cobertura do projeto
alcança 200 unidades de negócio e sua implantação foi faseada, sem evidenciar os motivadores
para tal estratégia. Porém, relata a possibilidade de expansão do modelo (DOCUMENTO 4b).
A Entrevistada 4 explica que o projeto foi desenvolvido no ano de 2016 e os principais pontos
de discussão sobre o projeto eram referentes aos riscos e às inseguranças quanto às regulações,
legislações e tributações que poderiam incidir sobre um modelo ainda não implantado pelo
mercado em larga escala.
No estudo do modelo, a Pedra Única optou pelo uso da fonte fotovoltaica pois a
avaliação de riscos de suprimento e riscos ambientais associados à fonte foram entendidos pela
empresa como significativamente inferiores aos da fonte hidrelétrica. Para esta avaliação, a
empresa utilizou uma consultoria externa que realizou a avaliação de tais riscos
(ENTREVISTADA 4).
Por outro lado, a Entrevistada 4 relata que as pressões por busca de soluções para a
redução das despesas com energia elétrica motivaram o desenvolvimento do projeto em
conjunto com a não possibilidade de aquisição de energia no ACL nas unidades de baixa tensão
e exaustão de projetos de racionalização de consumo que não demandassem investimentos nas
unidades. A empresa optou pelo arrendamento de uma usina fotovoltaica já construída e pelo
desenvolvimento da construção de uma segunda usina, que também foi arrendada pela Pedra
Única. Segundo a Entrevistada 4, o modelo fez sentido para a empresa pois permitiu a redução
dos custos de energia de maneira abreviada dada a disponibilidade de um fornecedor do
mercado, sem a aplicação de investimentos na construção do ativo, abrangendo uma parcela
considerável de seu parque na região e com a garantia de abastecimento em um contrato de
longo prazo. Ainda, a Entrevistada 4 declara que a adoção da geração distribuída também foi
motivada como meio de mitigação dos impactos de reajustes tarifários que as unidades que não
realizavam a compra de energia pelo ACL eram sujeitas.
Outro ponto positivo que a Entrevistada 4 relata é que a Pedra Única foi a primeira
empresa a adotar o modelo de geração distribuída fotovoltaica em seu segmento no país, e que
a ação foi veiculada em jornais e revistas. Este impacto, segundo a Entrevistada 4, é positivo
para a imagem da empresa nos mercados e índices que a empresa participa, além de estar
81
alinhado ao conceito já mencionado de “bom para nós, bom para a sociedade e bom para o
país”.
É relatado, pela Entrevistada 4, que a implantação da segunda fase do projeto está, em
julho de 2019, atrasada devido a problemas de infraestrutura da concessionária de energia do
estado. A Entrevistada 4 ainda afirma que a insegurança na ativação da segunda fase causou o
atraso dos demais projetos, dado o prazo de apuração dos benefícios da ação, além da alocação
da equipe técnica por um prazo maior que o estimado. Os investimentos próprios da empresa
nesta modalidade, bem como a cobertura plena do consumo de suas unidades passíveis de
utilização da modalidade de geração distribuída, não é considerada como prioridade para o
projeto, segundo a Entrevistada 4, dado o período de transição que as instituições financeiras
estão sujeitas e, um movimento em qualquer destes sentidos, implicaria em uma possível
imobilidade futura.
Adicionalmente, os demais projetos para geração distribuída também estão sujeitos à
falta de clareza quanto à revisão da Resolução nº 482 e os possíveis custos que esta alteração
pode ocasionar, tanto para o projeto implantado quanto para os demais projetos. Este ponto fez
a empresa remodelar alguns projetos na área a fim de compatibilizar os ganhos com eventuais
riscos que possam incidir, ocasionando a reprogramação dos demais projetos
(ENTREVISTADA 4). O Quadro 12 apresenta a síntese do estudo de temas da empresa Pedra
Única.
Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única
(Continua)
Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista
Ecoeficiência
Adoção de práticas de
ecoeficiência como meio de
diferenciação e vantagem
competitiva no ambiente
em que a empresa se insere.
- Declara a sustentabilidade
como maneira de gerar valor
compartilhado;
- Aplica o conceito de
ecoeficiência para orientação das
ações de gestão ambiental das
operações; e
- Determina os pilares de custo
de implantação, disponibilidade
no mercado, desempenho técnico
e ganhos em eficiência para a
implantação de ações.
- Declara que a ecoeficiência
é orientadora da estratégia de
sustentabilidade das
operações; e
- Considera que “Bom para a
empresa, bom para a
sociedade e bom para o país”.
Energia
Relevância do consumo de
energia dentro das
operações das empresas e
gestão aplicada sobre o
recurso.
- Declara atuar na prevenção de
desperdícios por meio de
modernização de instalações e
equipamentos, e gestão do
consumo.
- A despesa que a empresa
tem com energia representa
uma das maiores contas da
área de Infraestrutura, o que
orienta as ações em busca de
redução de desperdícios e
atuação em consumo.
82
Quadro 12 – Síntese do estudo de temas da empresa Pedra Única
(Conclusão)
Tema Objeto de análise Análise documental Entrevista
Energias
renováveis
Motivação do uso de
energia renovável e
aderência às estratégias de
ecoeficiência das empresas.
- Declara investimentos e metas
para a utilização de energias
renováveis em suas operações; e
- Utiliza energias declaradas
renováveis em unidades
centralizadas e realizou estudos
para o abastecimento de unidades
com painéis fotovoltaicos.
- Utiliza abastecimento por
fontes renováveis no ACL
apenas onde a infraestrutura
permite; e
- Iniciou a atuação em
unidades descentralizadas por
meio de uma unidade modelo
para replicar para as demais
unidades passíveis de
aplicação.
Geração
distribuída
fotovoltaica
Oportunidades encontradas
pelas empresas para o uso
da modalidade e fonte.
- Relata o início da operação de
maneira faseada para 200
unidades descentralizadas de
Minas Gerais e declara a intenção
de expandir a modalidade.
- Optou pela modalidade e
fonte por previsibilidade de
custos, riscos operacionais
reduzidos e aumento de
participação de fontes
renováveis no abastecimento
de energia.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
4.4.2 Análise do estudo de caso empresa Pedra Única
Com base nas respostas da entrevista, e na literatura, são apresentados os motivadores e
as barreiras identificados neste estudo de caso.
4.4.2.1 Políticas públicas ou regulatórias
A empresa Pedra Única relata que os estudos da modalidade foram motivados pela
publicação da Resolução nº 482 em 2016. Porém, a empresa dedicou esforços e análises por um
longo período para a identificação dos riscos e maneiras de mitigá-los, a fim de poder optar por
ingressar na modalidade.
Os benefícios tributários associados à modalidade são usufruídos pela empresa.
Entretanto, não são critérios para a adoção do modelo dada a instabilidade das legislações que
tratam deste assunto. A empresa modela seus projetos de geração distribuída eliminando a
influência deste benefício para a valoração destes projetos, segundo a Entrevistada 4. Ainda
sobre a instabilidade das regulações, a empresa relata, através da fala da Entrevistada 4, que é
empreendido um tempo maior na modelagem dos demais projetos de expansão do modelo na
empresa, dado os possíveis cenários de comprometimento dos projetos pelos longos prazos que
esta opção demanda, tornando-se uma barreira que influencia a tomada de decisão pela Pedra
Única e a redução da possibilidade de expansão.
83
4.4.2.2 Condições de mercado
A empresa optou pela modalidade como forma de redução de custos com energia e
expansão do uso de energias renováveis em suas operações, sendo estes um dos principais
motivadores para a adoção da geração distribuída fotovoltaica. Quanto ao aumento da
competitividade, aumento da percepção de valor e pressões e demandas dos mercados em que
atua por ações de ecoeficiência, a Entrevistada 4 ressalta que estes pontos foram também
motivadores significativos para os projetos.
Como empresa de capital aberto e participante de índices de sustentabilidade, a empresa
relata a geração distribuída fotovoltaica como forma de atuação no tema e, adicionalmente,
utiliza canais de comunicação, como revistas e jornais, para relatar que foi a primeira empresa
do setor a implantar um projeto deste porte em geração distribuída, conforme relatado pela
Entrevistada 4.
O monopólio das concessionárias e deficiência da rede de distribuição foram relatadas
como umas das principais barreiras para a Pedra Única utilizar a geração distribuída.
Originalmente, conforme a Entrevistada 4, a empresa havia ingressado em um projeto em uma
cidade de Minas Gerais. Problemas com a concessionária e a rede de distribuição levaram a
empresa a implantar apenas parte do projeto no local original e a iniciar, no ano de 2019, um
outro projeto com a capacidade total pretendida em outro município de Minas Gerais.
A Entrevistada 4 relata, ainda, que este problema causou descolamento nas metas
estabelecidas, tanto para o uso de energias renováveis quanto para as metas financeiras que
estavam associadas ao início pleno da operação. Os custos com a tecnologia disponível não
foram significativos para a Pedra Única pois, conforme outras empresas entrevistadas, a
empresa utiliza uma usina que foi construída por um fornecedor e arrenda para apropriação da
geração de energia do ativo, conforme a Entrevistada 4, sendo essa uma barreira que foi
facilmente transposta pelo projeto.
4.4.2.3 Cadeia de suprimentos
Pelo fato de utilizar arrendamento de ativo, a empresa considera a presença de
fornecedores especializados um motivador significativo para a modalidade. A empresa aplicou
uma parte de seu cronograma do projeto para a avaliação e seleção de fornecedores que
atestaram a capacidade de conduzir um projeto nos moldes que a Pedra Única especificou,
conforme a Entrevistada 4.
84
Adicionalmente, a Entrevistada 4 relata que o processo do primeiro projeto da Pedra
Única trouxe aprendizados para a empresa e para a equipe envolvida. A seleção dos
fornecedores deve ser modelada levando em consideração itens como a relação dos
fornecedores e a representatividade dos mesmos junto às concessionárias, os trâmites de
importação de equipamentos e a presença local onde as empresas pretendem desenvolver seus
projetos de geração distribuída fotovoltaica.
4.4.2.4 Eficiência de operações
A empresa pôde iniciar a injeção e a compensação de energia desde o final do ano de
2018, podendo se beneficiar do uso de energias renováveis em suas unidades operacionais que
não eram passíveis de outras formas de abastecimento por estas fontes, conforme a Entrevistada
4. Para o caso da empresa, o alinhamento da redução dos custos financeiros com o uso de
energias renováveis permite à empresa empregar a modalidade como forma de atuação em sua
estratégia de ecoeficiência. Isso se alinha aos motivadores relatados por Bradshaw (2017),
Koskela e Vehmas (2012) e Neri et al., (2018).
Foi também identificado que a geração distribuída não concorre diretamente com outras
formas de redução de consumo de energia, mas age de maneira a reduzir os custos com energia
após a exaustão das medidas que a empresa aplica em suas unidades operacionais. A
Entrevistada 4 relata que a empresa realiza estudos de arquitetura voltados para melhor uso e
eficiência energética de suas unidades, além de utilizar programas de redução de consumo e de
desperdício e substituição de equipamentos de ar-condicionado, iluminação e processamento
como padrão em suas atividades.
4.4.2.5 Vendas
A empresa explora seu pioneirismo na utilização da modalidade em seu relatório anual
e nas informações veiculadas na mídia, como forma de aumentar sua percepção de valor e de
qualidade de serviços junto aos stakeholders. Segundo a Entrevistada 4, o acesso a índices de
sustentabilidade é tido como um dos focos de atenção das ações de ecoeficiência da empresa.
Focando esforços anuais na identificação de eventuais pontos que não são bem avaliados por
estes índices, o uso de energias renováveis foi um dos pontos que a empresa decidiu atuar como
forma de melhorar sua pontuação para os anos de 2018 a 2020. Como suas unidades de negócio
85
descentralizadas representam grande parte do consumo de energia da empresa, a geração
distribuída é uma forma de atuar positivamente neste ponto dos relatórios. Isso também é
identificado como motivador por Carvalho et al., (2017), Neri et al., (2018), Rexhäuser e
Rammer, (2014) e Stucki, (2019).
4.4.2.6 Organizacional
Ao se comprometer com a expansão do modelo em seu relatório anual e junto à mídia,
a empresa acaba se compelindo a manter esta posição, sendo que este comprometimento acaba
gerando um ciclo positivo para a modalidade internamente, conforme a Entrevistada 4. A
empresa, no início dos projetos, contava com uma equipe que havia se capacitado para a
modelagem interna. Porém, dada a complexidade de uma nova forma de atuação com energia
elétrica, teve que desenvolver outras competências internas para a condução dos projetos,
conforme a Entrevistada 4. Adicionalmente, pelas palavras da Entrevistada 4 sobre a
ecoeficiência, “é bom para nós, é bom para o país e é bom para o planeta”, nota-se que há
valores e atitudes internas que exercem uma influência positiva e reforçam os motivadores para
a adoção da modalidade.
A modalidade foi aplicada pela empresa também como forma de mitigação dos impactos
com as alterações de tarifas e previsibilidade dos custos com energia. Por meio da estabilidade
da geração que a fonte fotovoltaica provém, a Pedra Única pode ter mais segurança nos custos
que as unidades descentralizadas têm com a energia consumida (ENTREVISTADA 4).
Metas orientadas aos resultados financeiros não representam barreiras para a adoção do
modelo pela Pedra Única, dado que o projeto provém os benefícios financeiros associados ao
abastecimento por meio de energias renováveis que a empresa determinou para seus projetos,
conforme a Entrevistada 4. A aversão a riscos representa uma barreira significativa no início
dos estudos para a adoção da geração distribuída pela Pedra Única. Com uma equipe
multidisciplinar destacada para o estudo e a identificação dos riscos, e as maneiras de mitigá-
los, a empresa aplicou bastante tempo para chegar ao modelo que atendia as suas expectativas.
4.4.2.7 Conclusão do estudo de caso da empresa Pedra Única
Foi verificada a utilização dos conceitos de ecoeficiência como orientadores da
estratégia de gestão ambiental da Pedra Única, tanto pelas evidências documentais quanto pelas
86
declarações da Entrevistada 4. O tema ainda é reforçado pela declaração da empresa em seu
relatório integrado, pois a gestão ambiental é baseada nos quatro itens determinados pela
empresa como condicionantes para as ações que são orientadas pelo custo, resultado e
desempenho (DOCUMENTO 4a).
Em energia, a empresa orienta suas ações à prevenção de desperdícios e ao
monitoramento e controle, dado os gastos financeiros com o item em suas operações. O uso de
energias renováveis ainda é concentrado nas unidades centralizadas e ocorre por meio da
aquisição de energia no ACL.
Para as unidades descentralizadas, a empresa opta pelo uso de geração distribuída
fotovoltaica, pois pode obter o benefício da redução dos custos de energia de maneira rápida
para uma quantidade de unidades e com a utilização de uma fonte considerada pela empresa
como de baixo risco. As implicações para a expansão das frentes de geração distribuída pela
empresa foram atrasadas devido a problemas com a infraestrutura da concessionária de Minas
Gerais, além da revisão da Resolução nº 482, que gerou novos estudos de viabilidade para os
demais projetos da Pedra Única.
Os principais motivadores identificados para a adoção da modalidade pela empresa
foram:
• Existência de legislação ou políticas públicas que promovam a adoção de uso de
energias renováveis no modelo de geração distribuída (BRADSHAW, 2017; NERI
et al., 2018; VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Relevância dos custos com energia e escassez de recursos (NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et al., 2018);
• Existência de comprometimento e estratégia organizacional (CAIADO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO; CAPUZ-RIZO, 2013; FIGGE;
HAHN, 2013; NERI et al., 2018; RAVI, 2015);
• Melhoria de imagem, aumento da percepção de qualidade dos serviços (ALVES;
DUMKE DE MEDEIROS, 2015; FERNÁNDEZ-VIÑÉ; GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013; NERI et al., 2018); e
• Disponibilidade de fornecedores especializados (NERI et al., 2018).
As barreiras identificadas foram:
• Insegurança de regulações específicas para geração distribuída (ANEEL, 2018a;
POLZIN et al., 2019);
87
• Existência de monopólio das distribuidoras de energia (FARIA JR; TRIGOSO;
CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018);
• Falta de capacidade de distribuição das distribuidoras de energia (FARIA JR;
TRIGOSO; CAVALCANTI, 2017; NERI et al., 2018); e
• Aversão a riscos das empresas em novas modalidades (STUCKI, 2019).
88
5 RESULTADOS
Como forma de confrontar a teoria com o observado nas entrevistas, os temas
identificados na literatura foram utilizados como orientadores para a classificação das
declarações obtidas nas entrevistas, que também foram orientadas por meio do questionário
baseado na revisão de literatura. Conforme as declarações dos entrevistados, foi verificada a
relevância do tema e sua influência sobre a opção de adoção da geração distribuída fotovoltaica
pelas empresas. Ao final da seção, é exposto um quadro resumo com os motivadores e as
barreiras verificadas nas respostas das empresas e seus correspondentes com a literatura.
5.1 POLÍTICA REGULATÓRIA OU PÚBLICA
A existência de políticas e programas públicos que fomentam a criação de um ambiente
favorável para a geração distribuída atuaram como reguladores e proveram um caminho para a
adoção da modalidade pelos consumidores (ROSAS LUNA et al., 2019). Após a determinação
das condições de acesso e as regras para a modalidade dadas pela Resolução nº 482, além das
recomendações e esclarecimentos do programa ProGD, as empresas puderam optar pela
modalidade.
Apesar de ser mencionado nas entrevistas estudos para a modalidade desde a Resolução
nº 482, os entrevistados mencionam que a decisão por implantar a modalidade nas operações
ocorreu apenas após a revisão dada pela Resolução nº 687 de 2015. Por se tratarem de empresas
com capital aberto ou misto, é compreensível que, antes de haver uma regulação que possa
gerar mais segurança para as empresas, não haver a possibilidade de utilização da modalidade.
Porém, mesmo com o ambiente mais claro a partir de 2015, verifica-se que houve, por parte de
duas empresas, a dedicação de esforços em avaliar de maneira mais aprofundada os riscos
inerentes à modalidade, gerando dúvidas no momento inicial da opção pela modalidade,
gerando atrasos nas implantações.
Esta insegurança se reflete na principal barreira apontada pelas empresas quanto às
políticas regulatórias, que é a instabilidade das regras atuais e os benefícios concedidos pelo
sistema de net-metering de 2019, que possivelmente irá passar por revisão em 2020. Essa
possível revisão não traz clareza, aos optantes, dos reais impactos que possam, advir tanto para
os projetos implantados, em construção e planejados para o futuro.
Os incentivos tributários, como isenção do ICMS, ocupam uma posição de menor
destaque no discurso dos entrevistados. Apesar do benefício ser um motivador, sua influência
89
foi declarada mais como um facilitador da modalidade do que como um motivador primário de
adoção. Isso se deve, segundo os entrevistados, à insegurança quanto à manutenção destes
benefícios no longo prazo e sua possível incidência ou descaracterização em caso de alteração
do Convênio 16.
5.2 CONDIÇÕES DE MERCADO
Custos com o uso de energia foi o principal motivador mencionado pelas empresas para
a adoção da geração distribuída fotovoltaica. Todas as empresas entrevistadas contam com
operações parte centralizadas e parte descentralizadas, com diferentes características dos
imóveis que ocupam e com programas já instituídos de redução de consumo e desperdícios de
energia, abrangidos por suas políticas de ecoeficiência.
Conforme as entrevistas, as empresas declaram que o aumento da eficiência das
operações está relacionado com a capacidade de competir nos mercados em que as empresas já
atuam, mais do que atingir novos mercados. Com destaque para a empresa Cárpatos, as ações
desenvolvidas, nas palavras do Entrevistado 3, exemplificam como o tema é encarado: “ser o
mais eficiente possível, com o dinheiro que temos, rentabilizando a venda”.
A gestão eficiente dos recursos foi reportada e mencionada pelos entrevistados como
business as usual2 e que este modo de tratar o assunto é uma exigência, e não uma maneira de
obtenção de novos mercados e/ou aumento de participação nos mercados em que atuam. Esta
orientação dos negócios pode advir do fato que o tema motiva a ecoeficiência de maneira geral
e a redução dos custos com energia impacta na operação e na eficiência dos negócios. A
divulgação de ações voltadas à ecoeficiência foi observada, em todos os relatórios das
empresas, como forma de associar o tema ambiental com a gestão de recursos financeiros.
No que concerne às distribuidoras, as empresas relatam nas entrevistas, de acordo com
o que foi observado na literatura, que são consideradas uma das barreiras para a implantação e
expansão da geração distribuída no Brasil. Todas as empresas entrevistadas relatam que os
prazos regulatórios não são cumpridos e, em complemento, geram grandes impactos nos
projetos de implantação. A posição das empresas quanto às barreiras impostas pelas
distribuidoras abrange tanto a questão do monopólio, ao não deixar alternativas para a injeção
da energia, quanto à infraestrutura para a distribuição da energia gerada.
2 Execução normal das operações dentro de uma empresa.
90
Este fato é reconhecido inclusive pelas distribuidoras, a exemplo do posicionamento da
CEMIG, como uma barreira para a expansão que não pode ser mitigada apenas pela intenção
dos solicitantes em adotar a modalidade da geração distribuída. Explicitando o fato,
investimento na infraestrutura e redes de distribuição das concessionárias que não estavam
previstos ou que, porventura, não vão gerar o retorno esperado pelas concessionárias dado os
incentivos da legislação ao net-metering são pontos, reconhecidos pela ANEEL, que poderão
gerar impactos nos custos e benefícios percebidos pelas empresas que optam e optarão pela
modalidade no futuro e são temas centrais na revisão da Resolução nº 482 e 687. A
infraestrutura das unidades de negócio das empresas, seja por não terem condições de acesso
ao ACL, seja por não permitirem a adoção de outras modalidades de energias renováveis (como
painéis fotovoltaicos instalados nas unidades), se converte em um motivador para a adoção da
geração distribuída conforme as entrevistas.
5.3 DISPONIBILIDADE DE FORNECEDORES ESPECIALIZADOS
Para as empresas entrevistadas, a existência de fornecedores aptos a proporcionar a
solução para a adoção da modalidade foi um motivador identificado como relevante. Isso se dá
pelo fato de nenhuma das empresas terem, como atividade central, negócios relacionados à
energia elétrica. Ante ao exposto, todas as empresas contaram com fornecedores para o
desenvolvimento dos projetos.
Com maior ou menor participação no desenvolvimento, invariavelmente as empresas
recorreram a fornecedores que atuam no mercado de geração distribuída para a concepção dos
projetos fotovoltaicos e, conforme as empresas América, Cárpatos e Pedra Única, as usinas são
de propriedade dos fornecedores e foram arrendadas pelas empresas para uso e aplicação da
energia nas unidades de negócio. Neste modelo, conforme entrevistas, os fornecedores são
remunerados pelos ativos e serviços de operação e manutenção, e as empresas se beneficiam da
energia que os ativos geram.
5.4 EFICIÊNCIA DE OPERAÇÕES
Conforme já mencionado, a busca por energias renováveis se dá em caráter secundário
junto às empresas entrevistadas, após outras formas de ações de economia no consumo de
energia elétrica. O caminho que foi percorrido pelas empresas entrevistadas iniciou-se pela
identificação do consumo, redução de desperdícios e modernização das estruturas das unidades
91
de negócio, para então considerar a adoção da geração distribuída. Estas foram identificadas
como medidas que têm maior controle operacional das empresas. Após estas medidas, as tarifas
de energia e reajustes associados motivam a busca das empresas por outras formas de mitigação
destes custos. Entendidas como externalidades, as tarifas aplicadas no mercado cativo de
energia não são controladas pelas empresas e a adoção da geração distribuída auxilia as
empresas a criar um mecanismo de proteção e previsibilidade dos custos da energia que é gerada
pela modalidade.
5.5 VENDAS
Conforme anteriormente mencionado, o benefício da adoção da modalidade para o
aumento da parcela de mercado é considerado de maneira indireta pelas empresas, associada à
possibilidade de melhoria da imagem das empresas junto ao mercado em que atuam. Porém,
esteve presente no discurso de todos os entrevistados.
O fato de as empresas darem relevância ao tema em seus relatórios anuais demonstra
que a ação pode gerar um impacto positivo em seus stakeholders. Além de informações
próprias, a exemplo da empresa Pedra Única, há uma busca para deixar a iniciativa mais
evidente por meio do acesso a meios de comunicação, como revistas e jornais.
Contudo, e de maneira mais isenta, a participação de empresas em índices de
sustentabilidade e, por consequência, carteiras de ações destes índices fomentam a busca de
aumento da aplicação de energias renováveis em suas operações, além de garantir às empresas
uma diferenciação nos mercados em que atuam e permitir o acesso a investidores sensíveis ao
tema. Conforme a Entrevistada 2, a permanência nos índices é tida como prioridade dos
executivos relacionados ao tema. Orientada pela eficiência das operações e, por consequência,
para ecoeficiência, a adoção da geração distribuída também é considerada pelas empresas como
forma de diferenciação de desempenho entre as demais empresas do segmento que não se
utilizam da modalidade.
5.6 ORGANIZACIONAL
As empresas tratam o tema de aumento da participação de energias renováveis com
centralidade em sua estratégia de ecoeficiência e gestão ambiental. Tanto nas entrevistas como
em seus relatórios, o uso da geração distribuída é a iniciativa que compõe a estratégia das
empresas para o uso de energias renováveis. Também de forma declarada, as empresas
92
mencionam a informação de expansão ou conclusão dos projetos já iniciados como forma de
expansão do uso de energias renováveis com a fonte fotovoltaica sendo predominante no
levantamento. Este comprometimento das empresas pode ser considerado como motivador para
que o uso da modalidade não seja desconsiderado ou suprimido das operações das empresas
pelos próximos exercícios, além de fomentar internamente às empresas a manter as
competências internas para a condução de projetos de ecoeficiência.
Há um alinhamento entre as empresas quanto às competências internas que foram
desenvolvidas para a condução dos projetos internamente e que exerceram influência para a
adoção da modalidade. Apesar de não haver clareza de como este fenômeno aconteceu dentro
das empresas, a continuidade dos projetos denota que estas competências serão aplicadas para
a continuidade dos projetos, conforme declarado pelas empresas, além de permitir a
identificação de novas possibilidades e inovações dentro das empresas.
A modalidade de geração distribuída fotovoltaica, além de contribuir com a redução dos
custos com energia, foi considerada pelas empresas como forma de mitigar os riscos
provenientes das flutuações tarifárias de energia. Esta modalidade é tida pelas empresas como
forma de gerar previsibilidade da geração de energia e, por consequência, dos custos envolvidos
com sua geração, reduzindo a exposição a flutuações inerentes ao sistema elétrico brasileiro.
Foi identificado, nas entrevistas, que o uso da geração distribuída fotovoltaica se alinha
ao direcionamento das empresas, bem como aos valores dos entrevistados. Os quatro
entrevistados declaram que a modalidade é suportada e incentivada nas empresas que integram,
bem como junto às equipes que lideram. Este alinhamento permite um ambiente de
continuidade dos projetos pelas empresas.
A orientação por metas e resultados financeiros não exerceu significativa relevância
como barreira junto às empresas entrevistadas. Pelo fato de as empresas terem considerado a
modalidade como forma de mitigação de custos, houve um alinhamento do uso da geração
distribuída como forma de direcionamento das metas empresariais, conforme observado nos
relatórios e nas entrevistas, tanto para as metas financeiras como para as metas de ecoeficiência
das operações.
Outra barreira identificada na literatura quanto à disponibilidade de estruturas internas
para a condução dos projetos, e percepção externa da aplicação de esforços em projetos que
possam ter o viés de uso incorreto de capacidades, também não foi relevante para ser transposta.
Novamente, o apelo ao uso da modalidade como maneira de gerar resultados tanto financeiros
quanto ambientais é orientado de maneira a gerar uma percepção positiva, conforme as
93
divulgações que as empresas adotaram. Não foram identificados materiais, notícias ou
publicações que se contrapõe a tal percepção.
Quanto à aversão a riscos em novas modalidades, esta barreira gerou impactos às
empresas. Nas entrevistas, identificou-se que o desconhecimento da modalidade gerou um
prazo maior para a avaliação e busca de fornecedores que pudessem implementar a modalidade
em suas operações. Conforme observado, as empresas aplicaram esforços na fase de avaliação
da modalidade e possíveis riscos inerentes a fim de implementar os projetos de geração
distribuída.
No caso da empresa Império, por se tratar de uma empresa mista, a modelagem da
implementação da solução para a abertura de uma licitação pública gerou impactos negativos
e, portanto, um atraso na implementação da solução. Para o caso da empresa Pedra Única, foi
contratado, inclusive, uma consultoria jurídica externa para a avaliação do modelo e formas de
mitigação de riscos da operação. A empresa Cárpatos diz ter aplicado esforços significativos na
modelagem e opção pelo modelo para a geração distribuída junto aos fornecedores. Na empresa
América, a aversão a riscos exerceu uma barreira. Porém, com menor impacto no
direcionamento para a opção pela modalidade dada a quantidade de projetos que a empresa
implementou e aguarda a implementação de mais projetos que estão em construção.
5.7 QUADRO RESUMO DOS MOTIVADORES E DAS BARREIAS
O Quadro 13 foi construído como forma de sintetizar a influência de cada motivador e
barreira identificado na literatura e sua aderência ao levantado junto às empresas entrevistadas.
94
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria
(Continua) Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência
1
Política
regulatória ou
pública
1.1 Motivador
Existência de legislação
ou políticas públicas que
promovam a adoção de
uso de energias
renováveis no modelo
de geração distribuída.
(BRADSHAW, 2017;
NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et
al., 2018)
América Permitiu a implementação da modalidade. Porém,
apenas depois da aprimoração do modelo.
Império Fundamental para a implantação.
Cárpatos Fundamental para a implantação.
Pedra Única
Fundamental para a viabilidade. Causou estudo das
legislações a fim de evidenciar todos os riscos da
modalidade e impactou o prazo de implantação.
1.2 Motivador
Existência de incentivos
tributários que
promovam o uso da
geração distribuída para
a ecoeficiência.
(NERI et al., 2018;
ROCHA et al., 2018)
América Foi um facilitador para a adoção da modalidade.
Império Não é classificado como critério para adoção do
modelo dada a instabilidade das legislações.
Cárpatos Foi um facilitador para a adoção da modalidade.
Pedra Única Não é classificado como critério para adoção do
modelo dada a instabilidade das legislações.
1.3 Barreira
Insegurança de
regulações específicas
para geração distribuída.
(ANEEL, 2018a;
POLZIN et al., 2019)
América Causou a conformação da condição de uso de
geração distribuída pela empresa.
Império Não impactou o projeto.
Cárpatos Causou atrasos na implantação da modalidade na
empresa.
Pedra Única Causou atrasos na expansão da modalidade na
empresa.
2
Condições de
mercado
(continua)
2.1 Motivador Custos com energia e
escassez de recursos.
(NERI et al., 2018;
VILAÇA GOMES et
al., 2018)
América Motivador para a adoção da modalidade conforme
entrevista.
Império
Motivador para a adoção da modalidade, conforme
entrevista, e destaque na redução dos custos,
conforme relatório.
Cárpatos Motivador para a adoção da modalidade conforme
entrevista.
Pedra Única Declarado como principal motivador para a adoção
da modalidade.
95
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria
(Continuação)
Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência
2
Condições de
mercado
(continuação)
2.2 Motivador
Aumento de
competitividade e
percepção de valor de
mercado por práticas de
ecoeficiência.
(CAIADO et al., 2017;
CARVALHO et al.,
2017; FERNÁNDEZ-
VIÑÉ; GÓMEZ-
NAVARRO; CAPUZ-
RIZO, 2013; NERI et
al., 2018)
América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com
destaque para a ação no Brasil.
Império Motivador para a adoção da modalidade conforme
entrevista.
Cárpatos Motivador para a adoção da modalidade conforme
entrevista.
Pedra Única Utilizou a implantação do projeto como forma de
diferenciação no segmento de atuação.
2.3 Motivador
Pressões e demandas do
mercado por
ecoeficiência das
operações.
(NERI et al., 2018)
América Declarado como influenciador da opção.
Império
A participação em índices de sustentabilidade
evolutivos (ISE e DJSI) exercem influência para a
busca e reporte de soluções em energias renováveis.
Cárpatos Declarado como influenciador da opção.
Pedra Única
A participação em índices de sustentabilidade
evolutivos (ISE e DJSI) exercem influência para a
busca e reporte de soluções em energias renováveis.
3 Cadeia de
suprimentos 3.1 Motivador
Disponibilidade de
fornecedores
especializados.
(NERI et al., 2018)
América Não mencionado como motivador. Porém,
fundamental para a implantação.
Império Fundamental para a adoção da modalidade.
Cárpatos Fundamental para a adoção da modalidade.
Pedra Única Fundamental para a adoção da modalidade.
4
Eficiência de
operações
(continua)
4.1 Motivador
Redução de custos
operacionais e uso de
recursos.
(BRADSHAW, 2017;
DRUCKER, 1963;
NERI et al., 2018)
América Motivador pela busca de soluções em energias
renováveis.
Império Motivador pela busca de soluções em energias
renováveis.
Cárpatos Motivador pela busca de soluções em energias
renováveis.
Pedra Única Motivador pela busca de soluções em energias
renováveis.
96
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria
(Continuação)
Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência
4
Eficiência de
operações
(continuação)
4.2 Motivador
Redução do uso de
recursos e/ou
externalidades.
(KOSKELA;
VEHMAS, 2012;
NERI et al., 2018)
América Orientado pelos compromissos corporativos
assumidos, torna-se motivador.
Império Orientado pelos compromissos corporativos
assumidos, torna-se motivador.
Cárpatos Orientado pelos compromissos corporativos
assumidos, torna-se motivador.
Pedra Única Orientado pelos compromissos corporativos
assumidos, torna-se motivador.
4.3 Barreira
Concorrência com
outras formas de
economia de energia.
(DIAZ LOPEZ;
BASTEIN; TUKKER,
2019; STUCKI, 2019)
América Foi considerado após a implantação de outras ações
de economia de energia.
Império Foi considerado após a implantação de outras ações
de economia de energia.
Cárpatos Foi considerado após a implantação de outras ações
de economia de energia.
Pedra Única Foi considerado após a implantação de outras ações
de economia de energia.
5 Vendas
5.1 Motivador Aumento de parcela de
mercado.
(KOSKELA;
VEHMAS, 2012;
NERI et al., 2018)
América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com
destaque.
Império Explora a informação em seu relatório anual.
Cárpatos Explora a informação em seu relatório anual.
Pedra Única Dada informação do pioneirismo no segmento, foi
explorado em relatórios da empresa.
5.2 Motivador
Melhoria de imagem,
aumento da percepção
de qualidade dos
serviços.
(ALVES; DUMKE
DE MEDEIROS,
2015; FERNÁNDEZ-
VIÑÉ; GÓMEZ-
NAVARRO; CAPUZ-
RIZO, 2013; NERI et
al., 2018)
América Relata como importante para a empresa e reporta,
em seu relatório global, o destaque para a iniciativa.
Império Relata a intenção de implantar a modalidade em seu
relatório anual.
Cárpatos Explora a informação em seu relatório anual.
Pedra Única Divulgou a iniciativa em meios de comunicação,
com intenção de melhoria da imagem.
97
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria
(Continuação)
Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência
5.3 Motivador
Acesso a certificações,
novos mercados e
aumento da participação
em mercados
estabelecidos por
diferenciação de
desempenho.
(CARVALHO et al.,
2017; NERI et al.,
2018; REXHÄUSER;
RAMMER, 2014;
STUCKI, 2019)
América Utiliza a iniciativa em seu relatório global com
destaque para a ação no Brasil.
Império
A iniciativa é mensurada nos índices de
sustentabilidade que a empresa participa e para a
manutenção de índices e certificações.
Cárpatos Não mencionado
Pedra Única
A iniciativa é mensurada nos índices de
sustentabilidade que a empresa participa e para a
manutenção de índices e certificações.
6 Organizacional
(continua)
6.1 Motivador
Existência de
comprometimento e
estratégia
organizacional.
(CAIADO et al., 2017;
FERNÁNDEZ-VIÑÉ;
GÓMEZ-NAVARRO;
CAPUZ-RIZO, 2013;
FIGGE; HAHN, 2013;
NERI et al., 2018;
RAVI, 2015)
América Motivado por compromissos internacionais
assumidos pela empresa.
Império Confirmado como motivador em entrevista e
relatório.
Cárpatos Confirmado como motivador em entrevista e
relatório.
Pedra Única Confirmado como motivador em entrevista e
relatório.
6.2 Motivador
Existência de
competências internas
para condução dos
projetos de
ecoeficiência.
(NERI et al., 2018)
América Foi necessário desenvolver a equipe internamente
para a condução.
Império Foi necessário desenvolver a equipe internamente
para a condução.
Cárpatos Foi necessário desenvolver a equipe internamente
para a condução.
Pedra Única Foi necessário desenvolver a equipe internamente
para a condução.
6.3 Motivador
Aplicação de medidas
para a mitigação de
riscos operacionais.
(CAIADO et al., 2017;
FIGGE; HAHN, 2013;
NERI et al., 2018;
SALING et al., 2002;
STUCKI, 2019)
América Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e
custos.
Império Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e
custos.
Cárpatos Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e
custos.
Pedra Única Utilizada para a mitigação de impactos de tarifas e
custos.
98
Quadro 13 – Comparação das respostas em relatórios e entrevistas com a teoria
(Conclusão)
Tema Item Tipo Subtema Referência Empresa Influência
6 Organizacional
(continua)
6.4 Motivador Criação de inovações
nas operações.
(CARVALHO et al.,
2017; NERI et al.,
2018)
América Motivador influente na iniciativa na empresa.
Império Explorada como iniciativa inovadora no setor misto
no Brasil
Cárpatos Explorada a iniciativa como inovação na empresa
Pedra Única Explorada a iniciativa como inovação na empresa
6.5 Motivador
Valores e atitudes de
indivíduos dentro das
empresas.
(NERI et al., 2018)
América Influenciou a opção pela iniciativa.
Império Influenciou a opção pela iniciativa.
Cárpatos Influenciou a opção pela iniciativa.
Pedra Única Influenciou a opção pela iniciativa.
6.6 Motivador Melhoria da eficiência
das operações.
(BARNEY, 1991;
NERI et al., 2018)
América Verificada pela influência dos custos nas operações.
Império Verificada pela influência dos custos nas operações.
Cárpatos Verificada pela influência dos custos nas operações.
Pedra Única Verificada pela influência dos custos nas operações.
6.7 Barreira
Metas/orientações do
negócio aos resultados
financeiros.
(DIAZ LOPEZ;
BASTEIN; TUKKER,
2019)
América Não gerou influência como impeditivo.
Império Não gerou influência como impeditivo.
Cárpatos Não gerou influência como impeditivo.
Pedra Única Não gerou influência como impeditivo.
6.8 Barreira
Disponibilidade de
estrutura e recursos
internos para
investimento e
percepção externa.
(FATEMI; GLAUM;
KAISER, 2018; NERI
et al., 2018)
América Aplicado conhecimentos internos e desenvolvida
equipe para a condução.
Império Utilizado parceiros para a definição e capacitação no
projeto.
Cárpatos Desenvolvida equipe para a condução de parceiros e
para a condução do processo.
Pedra Única Desenvolvida equipe para a condução da
modalidade.
6.9 Barreira
Aversão a riscos das
empresas em novas
modalidades.
(STUCKI, 2019)
América Necessário convencimento interno para a adoção da
modalidade.
Império Causou atrasos na implantação da modalidade na
empresa.
Cárpatos Causou atrasos na implantação da modalidade na
empresa.
Pedra Única Causou atrasos na implantação da modalidade na
empresa.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).
99
6 CONCLUSÃO
O país conta com uma matriz energética majoritariamente renovável e tal característica
remonta desde o início da utilização da eletricidade no Brasil. Porém, com o aumento da
necessidade de energia no país, essa matriz foi complementada por outras fontes de energia não
renováveis, como as termoelétricas, e acabam se desalinhando dos compromissos assumidos
pelo país, como o Acordo de Paris. Em sua essência, a estratégia do governo brasileiro em
estimular a geração distribuída tem por objetivo reduzir os impactos que grandes usinas
geradoras de energia possam causar sob o âmbito financeiro e ambiental, além dos impactos
que possam gerar pela transmissão da energia gerada aos grandes centros de consumo e às
emissões de gases de efeito estufa que o acionamento de usinas suplementares baseadas em
fontes não renováveis causam à matriz energética.
A geração distribuída é uma modalidade que foi estimulada pelas políticas públicas
como forma de aumentar a oferta das energias renováveis no país e abrir a possibilidade de
consumidores participarem da geração da energia que consomem. A existência de programas
governamentais específicos para a expansão do modelo, como as resoluções nº 482 (ANEEL,
2019b) e nº 687 (ANEEL, 2018a), o ProGD e políticas tributárias como o Convênio 16
(CONFAZ, 2015), criaram um ambiente propício para os consumidores optarem e aumentarem
a adoção do modelo e têm foco na fonte fotovoltaica. Estes programas ainda elencam como
benefícios do modelo a geração de empregos e o desenvolvimento econômico que a modalidade
pode trazer ao país.
A busca por ecoeficiência é uma prática presente nas operações das empresas no país.
Isso se deve ao fato de as empresas entenderem que há a possibilidade de realizar suas operações
de maneira menos impactante ao meio ambiente e ainda obter benefícios financeiros que
possam advir desta prática para o planeta.
Em conjunto, o Pacto Global surge como uma forma de trazer às empresas
compromissos e formas de direcionar as ações para a sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável na sua forma de operar. Adicionalmente, as empresas se beneficiam do fato de suas
ações serem elencadas em seus relatórios anuais e da possibilita de responder às demandas que
índices de sustentabilidade podem exigir para a composição de suas carteiras de investimento.
Nas operações das empresas entrevistadas, a gestão de consumo de energia, dada sua
necessidade e os custos para as empresas, se mostra como tema transversal e objeto de
dedicação de esforços internos, e busca por soluções que se alinham aos propósitos de
ecoeficiência que cada empresa assumiu.
100
Neste âmbito, o uso da geração distribuída fotovoltaica se mostra como convergente
tanto aos objetivos do desenvolvimento sustentável, quanto às operações das empresas, que
podem não ser claramente convergentes. Porém, a plena adoção do modelo enfrenta
dificuldades, onde as principais barreiras identificadas na pesquisa foram:
• A influência negativa que as concessionárias exercem para a conexão de novos
projetos por deterem o monopólio de redes sem capacidade de admitir a energia
que os empreendimentos geram;
• A insegurança e instabilidade da regulação e legislação que compete ao tema
impede que as empresas busquem esta modalidade com maior avidez;
• A aversão a riscos de uma nova modalidade de operação, consumo e estrutura de
negócio; e
• Outras formas de economia de energia que são implantadas antes da opção por
geração distribuída fotovoltaica.
Quanto aos motivadores, foram identificados:
• A existência de uma regulação que criou o ambiente para o desenvolvimento do
modelo e adoção pelas empresas entrevistadas;
• A possibilidade de redução de custos com a energia elétrica que a geração
distribuída proporciona;
• A existência de fornecedores aptos a implementar os projetos de geração
distribuída no modelo de arrendamento;
• A impossibilidade de abastecer as unidades de negócio com outras formas de
energias renováveis;
• O aumento da percepção de valor de mercado e imagem pelos stakeholders e
possível expansão de mercado pela percepção de qualidade nos serviços; e
• Pressões exercidas por compromissos organizacionais e índices que as empresas
optaram por assumir e participar por meio de diferenciação de desempenho com
concorrentes.
Foi consensual, entre os casos estudados, que a modalidade é classificada como uma
estratégia para as empresas aumentarem seu desempenho em ecoeficiência e, por consequência,
sua competitividade pela redução dos custos operacionais e pela melhoria da percepção da
imagem das empresas pela adoção da modalidade. O arrendamento das usinas de geração
distribuída, que é o foco da atuação no tema pelas empresas entrevistadas, traz outro panorama
quanto à utilização de energias renováveis por estas empresas. O desenvolvimento de projetos
101
de construção e gestão de usinas fotovoltaicas não é a atividade fim para estas empresas. Logo,
o arrendamento transfere a alocação de capital e necessidade de gestão do empreendimento
totalmente aos fornecedores que ofertam este serviço, deixando as empresas apenas com a
necessidade de realizar uma contratação de serviços de geração da energia que será compensada
pelas suas unidades de negócio.
Entretanto, há uma limitação na atuação em ecoeficiência das empresas. Os passos que
as empresas optam por seguir, invariavelmente, seguem pelo caminho da redução de consumo
com comando e controle, medidas de economia de energia em grandes quantidades e com
baixos investimentos para então seguir com a busca de fontes renováveis de energia, sendo este
último passo fortemente focado na redução dos custos e não somente na contribuição que as
empresas podem fazer sobre o tema.
Foi verificado que o motivador central para a busca pela ecoeficiência é a eficiência
financeira antes da eficiência ambiental de suas operações. Este fato foi verificado nos quatro
estudos de caso e trata de maneira secundária os benefícios ambientais das ações de
ecoeficiência, como um bônus associado a uma boa maneira de aplicarem seus recursos
financeiros.
Adicionalmente, apesar de todas as empresas terem intenções de expandir o uso do
modelo em suas atividades, foram poucas as que se comprometeram com quantidade ou
cobertura em seus relatórios. Isso se deve ao fato das empresas, apesar de terem chegado à
conclusão que o arranjo é viável, perceberem as barreiras impostas pelas concessionárias que
as impedem de terem metas reais para a expansão em suas operações.
O trabalho alcança então seus objetivos ao identificar os motivadores e as barreiras para
a adoção da geração distribuída fotovoltaica por empresas que atuam com unidades de negócio
descentralizadas no Brasil e como tais fatores se inserem em um ambiente sujeito à
instabilidades em sua regulação.
As empresas poderiam desempenhar um papel de maior relevância auxiliando o país a
alterar de maneira significativa sua matriz energética, fomentando a geração de energias
renováveis por meio da geração distribuída fotovoltaica e suprindo as deficiências de oferta de
energia. Porém, as barreiras verificadas residem justamente no cerne do modelo: Como
distribuir esta energia?
102
7 CONTRIBUIÇÃO, LIMITAÇÃO E SUGESTÃO PARA ESTUDOS FUTUROS
O presente estudo teve por objetivo trazer luz ao papel que as empresas podem assumir
com a geração distribuída fotovoltaica na conversão da matriz energética do país para uma
matriz mais limpa e quais os benefícios que as empresas que ainda não optaram pela modalidade
podem obter com base nos estudos de caso. O estudo de caso restringe-se a empresas do Brasil,
com unidades de negócio descentralizadas e que divulgam informações em seus relatórios
anuais. A sugestão para o prosseguimento dos estudos deve abranger a evolução da modalidade
da geração distribuída face à mudança prevista na regulação da modalidade para o ano de 2020.
103
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109
APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas
Questão
1 A empresa adota ações de ecoeficiência?
2 Quais são os motivadores para a adoção de ecoeficiência por parte da empresa?
3 Quais são as barreiras para a adoção de ecoeficiência?
4 Quais os principais benefícios que a empresa percebe para a adoção de ações de
ecoeficiência?
5 Quais são os programas de ecoeficiência que a empresa desenvolve atualmente?
6 Quais ações de ecoeficiência a empresa deixou de praticar, por quê?
7 Quais ações de ecoeficiência a empresa adota para energia?
8 Quais as ações que a empresa adota para energias renováveis?
9 Como a energia renovável converge aos propósitos de ecoeficiência da empresa?
10 Como a adoção de ações/programas de ecoeficiência voltadas para energias
renováveis podem influenciar a competitividade da empresa?
11 Quais as barreiras para a adoção/aumento de uso de energias renováveis na empresa?
12 Quais foram os motivadores para a adoção de geração distribuída pela empresa?
13 Quais foram os motivadores para a escolha da fonte de energia para geração
distribuída?
14 Quais foram os detratores que não levaram a empresa a escolher as demais fontes?
15 Quais os benefícios do uso de geração distribuída para a rede/unidades alimentadas
em baixa tensão para a empresa?
16 Como a empresa percebe que a legislação auxiliou na opção por geração distribuída?
17 Quais foram/são as barreiras para a implantação/uso de geração distribuída pela
empresa?
18 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista das legislações para
promover a geração distribuída em sua empresa?
19 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista de sua empresa para
promover a geração distribuída em sua empresa?
20 Quais barreiras poderiam ser endereçadas do ponto de vista dos fornecedores para
promover a geração distribuída em sua empresa?