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  • 8/6/2019 TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR

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    TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR:PROPOSIES E PERSPECTIVAS

    Claudemir de Quadrosorganizador

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    CENTRO UNIVERSITRIO FRANCISCANO

    IRAN RUPOLOReitora

    CLARCIA TEREZINHA THOMASVice-Reitora

    INACIR PEDERIVAPr-Reitora de Administrao

    VANILDE BISOGNIN

    Pr-Reitora de Graduao

    OSWALDO ALONSO RAYSPr-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    MARA REGINA CAINO MARCHIORIPr-Reitora de Extenso

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    CLAUDEMIR DE QUADROSOrganizador

    TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR:PROPOSIES E PERSPECTIVAS

    Centro Universitrio Franciscano2003

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    Apresentao

    A qualificao do trabalho didtico-pedaggico do corpo docente do Centro

    Universitrio Franciscano uma das prioridades institucionais que tem sido conduzida, com

    ateno, pela Pr-Reitoria de Graduao.

    Nesse sentido, a Pr-Reitoria de Graduao mantm o Programa de Capacitao

    Didtico-Pedaggico que tem por objetivo oportunizar aos docentes momentos de reflexo

    sobre os elementos terico-metodolgicos que subsidiam a prtica pedaggica universitria

    na atualidade; compartilhar, por meio de relatos de experincias, atividades didtico-

    metodolgicas em desenvolvimento nos cursos de graduao; rever questes e prticas

    pedaggicas pertinentes ao campo pedaggico-cientfico voltadas para a educao superior

    e buscar estratgias poltico-pedaggicas para a reviso curricular de qualidade dos cursos

    de graduao.

    O Programa de Capacitao Didtico-Pedaggica visa, enfim, a proporcionar a todosos professores atuantes, em docncia superior, a possibilidade de anlise, reflexo e

    reconstruo das concepes terico-prticas num ambiente propcio dialogicidade e ao

    trabalho coletivo. No mbito deste programa, desenvolvida uma srie de atividades que

    visam efetivao de um processo de profissionalizao continuada dos docentes da

    instituio e criao de um espao educativo em que as diferenas das reas deconhecimento sejam respeitadas e valorizadas.

    nesse contexto que se insere a publicao desta srie de artigos, escritos por

    profissionais de atuao reconhecida na educao superior e que foram convidados para

    oferecer a sua contribuio formao de educadores no Centro Universitrio Franciscano.

    Com isso, a Pr-Reitoria de Graduao espera contribuir, de forma efetiva, para qualificao

    do trabalho docente desenvolvido no mbito dos cursos de graduao.

    Claudemir de Quadros,assessor da Pr-Reitoria de Graduao.

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    Sumrio

    Planejamento no ensino superiorDlcia Enricone ............................................................................... 7

    Aula universitria do futuro: uma arquitetura estratgica entreconhecimento, tica e poltica

    Denise Leite .................................................................................... 13

    Mtodos de ensino: decorrncias para a prtica docente universitriaJussara Margareth de Paula Loch ................................................... 29

    O uso de dinmicas metodolgicas alternativas e criativaspara promover a qualificao do trabalho docente

    Rosane Carneiro Sarturi ................................................................. 35

    Reflexes sobre a prtica docente no ensino superiorMaria Bernadette Castro Rodrigues ................................................ 48

    Fundamentos da filosofia franciscana: relao com as finalidadesdesta instituio e sua prtica educativa

    Iran Rupolo .................................................................................... 58

    Inovao institucional e curricular na formao dos profissionais da

    educao ps LDB/96: vicissitudes e perspectivasLeda Scheibe .................................................................................. 74

    A universidade num ambiente de mudanasRenato Janine Ribeiro ..................................................................... 95

    A gesto do ensino superior: o papel dos coordenadores doscursos de graduao

    Maria Alice Rodrigues ..................................................................... 109

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    Planejamento no ensino superior

    Dlcia EnriconePontifcia Universidade Catlica do

    Rio Grande do Sul

    Introduo

    Planejamento

    "Trabalho de preparao para qualquer

    empreendimento, seguindo roteiro e

    mtodo". (Dicionrio Aurlio).

    "Processo que consiste em preparar um

    conjunto de decises tendo em vista agir,posteriormente, para atingir determinados

    objetivos". (Dror).

    "Conjunto de aes coordenadas entre

    si que concorrem para a obteno de um

    certo resultado desejado"."Previso metdica de uma ao a ser

    desencadeada e a racionalizao dos

    meios para atingir os fins".

    comum dizer-se que planejamento

    um processo de tomar decises. Seu

    campo, porm, muito mais abrangente

    do que o da teoria das decises.

    As aes humanas devem ser

    baseadas nos conhecimentos cientficos,

    mas o planejamento precisa ser encarado

    tambm pela Filosofia. Os modelos e as

    frmulas matemticas podem fornecer

    bases para uma ao racional que existeem todo o processo de tomar decises.

    Entretanto, quando h uma escolha entre

    valores de natureza moral, poltica e social

    no h resoluo por clculo matemtico.

    O planejamento como ao deve estarbaseado no conhecimento cientifico, mas

    tambm tem exigncias axiolgicas,

    sociolgicas e polticas.

    Maurice Blondel, em sua obra L'Action

    (1950), destaca a ambigidade entre o

    conhecimento e a ao. Para ele, agindo

    que a pessoa procura a harmonia entre

    conhecer, desejar e ser. O

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    desenvolvimento do ser e sua formao

    dependem da ao. esta que, sendo

    completa, traz ao ser que a concebeu e adesejou uma nova riqueza que

    anteriormente no existia, nem quando a

    concebe e nem quando a est realizando.

    Blondel faz uma comparao entre a

    clareza de esprito que prepara,acompanha ou segue a ao e suficiente

    para dirigi-la com um leme que colocado

    na popa do navio, sendo to pequeno, guia

    o seu curso na direo desejada.

    No planejamento, a racionalidade nas

    decises torna-se difcil, quando envolve

    heterogeneidade de valores. Parece-nos

    mais fcil falar sobre a ao em si, a

    estratgia do planejamento; muito mais

    difcil encarar o problema do planejamento

    considerando as premissas de natureza

    filosfica, sem deixar de reconhecer

    premissas de outras naturezas polticas e

    sociolgicas.

    Implcita ou explicitamente, o

    planejamento reconhece a existncia deproblemas de escolhas entre valores ou

    objetivos, em qualquer nvel de realizao.

    Celso Vasconcellos (1995) apresenta

    trs dimenses da ao humana que se

    relacionam dialeticamente como funda-mentos da elaborao do planejamento:

    realidade, finalidade e mediao. A cada

    uma destas dimenses corresponde um

    tipo de atividade reflexiva, respectiva-

    mente, cognoscitiva, teleolgica eprojetivo-mediadora.

    A realidade o ponto de partida, pois

    quando se planeja o "para onde ir" e quais

    as maneiras de "chegar l" tem-se em vista

    a situao presente e as possibilidades

    futuras.

    A finalidade trata-se a uma realidade

    futura. " a construo de representaes

    mentais sobre o que se deseja. A

    mediao a previso das aes, do

    movimento"(p. 46).

    O planejamento uma necessidade

    face complexidade da prtica educativa e

    tem entre outras finalidades: tornar a ao

    pedaggica mais eficaz e eficiente,

    racionalizar o tempo, pensar maissistematicamente sobre a realidade.

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    Planejar

    Planejar atividade previsora e reflexiva

    que faz parte do ser humano, voltada paraas mais diversas situaes de vida.

    Considerando que planejar :

    -"elaborar o plano de interveno na

    realidade, aliado exigncia de

    intencionalidade de colocao em ao"(id., p. 43).

    -"antecipar mentalmente uma ao a

    ser realizada"(id., p. 42),evidencia-se que

    planejar implica previso de ao futura

    antes de realiz-la.

    Vasconcellos observa que a elaborao

    no ainda a ao. Entretanto so etapas

    que se sucedem: "so momentos em que

    predomina a reflexo ou a ao, mas

    ambos constituem uma unidade

    indissolvel"(id., p.43). s duas etapas ou

    momentos, junta-se a avaliao do

    conjunto. importante destacar a posio

    de Vasconcellos de que "planejar implica

    acreditar na possibilidade de mudana e

    que planejamento uma mediao terico-metodolgica necessria." (id., p. 26).

    Planejar, portanto, dependendo do

    objeto, das situaes, das atividades, das

    pessoas envolvidas, dos processos e dos

    valores, adquire peculiaridades singulares.

    Plano

    Em Sacristn e Prez Gmes

    (1998), encontramos sobre plano:

    "esquemas flexveis para atuar na

    prtica"(p. 279);"roteiro orientador da prtica do

    professor e do aluno"(p. 279);

    "concretizao da ordem para

    desenvolver atividades"(p. 199);

    esboo de realidades complexas para

    guiar processos cujo desenvolvimento

    se define no prprio curso de realizao

    da prtica."(p. 205.)

    Como constatamos, a idia de

    flexibilidade e o carter de tentativa esto

    presentes nos planos, produtos provisrios

    do planejamento.

    Ao planejar, estamos refletindo e

    deliberando sobre a prtica docente que se

    caracteriza pela multidimensionalidade,

    simultaneidade, rapidez, imprevisibilidade,contextualidade e, ainda, pela experincia

    subjetiva de cada um.

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    Sem dvida apesar destas

    caractersticas da prtica docente, o plano

    tem vrias utilidades como: facilitar aautoformao do professor, por ser um

    momento de reflexo sobre a prtica;

    proporcionar mais confiana para enfrentar

    aspectos imediatos e imprevisveis do

    cotidiano; tornar a ao pedaggica maiseficaz e eficiente ao racionalizar o tempo e

    as experincias de aprendizagem;

    estabelecer a comunicao com outros

    professores visando a compartilhar

    experincias; servir de recurso para a

    avaliao.

    O plano envolve idias, teorias,

    finalidades, experincias prticas e como

    diz Sacristn, "torna-se um momento

    privilegiado de potencial comunicao

    entre o pensamento e a teoria com a ao"

    (p. 279).

    Estrutura do plano de ensino-

    aprendizagem

    Partindo da idia proposta porVasconcellos de que a elaborao do

    plano um processo de construo de

    conhecimento, pode tomar-se a estrutura

    por ele proposta para estudar o esquema

    das trs dimenses de ao humana;

    realidade, finalidade e mediao, e nelas,situar as reflexes de vrios outros

    autores.

    O ponto de partida para elaborao do

    plano de ensino-aprendizagem a anlise

    da realidade que inclui os sujeitos - alunose professores - objetivos, contedos,

    metodologia e recursos.

    Os pressupostos a seguir apresentados

    introduzem reflexes que podem ser e tm

    sido aprofundadas por diversos autores e

    aqui apenas procuram criar novos

    questionamentos e propor inovaes. Eles

    dizem respeito ao modo como o

    planejamento do processo de ensino-

    aprendizagem vivenciado e,

    evidentemente, abrangem apenas alguns

    dos seus aspectos. Estes pressupostos,

    que so amplos, podem ser desdobrados

    em pressupostos instrumentais sendo

    visualizados diferentemente pelos

    educadores, conforme suas teorias eideologias e conforme os momentos de

    elaborao, de realizao interativa e de

    avaliao de conjunto.

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    a) O pressuposto fundamental da

    educao to importante quanto suas

    finalidades, supondo que a pessoa sejaperfectvel e que o mundo seja um

    processo eternamente inacabado de

    potencialidades dialticas.

    b) O estabelecimento de objetivos de

    ensino essencial e o relacionamento comos fins da educao um processo

    dinmico.

    c) O contedo envolve

    conhecimentos, habilidades, atitudes,

    valores, operaes mentais.

    d) O processo de seleo de

    contedos precisa, a partir da realidade do

    aluno e da sociedade, considerar vrios

    critrios.

    e) Os contedos devem ser

    integrados para propiciar experincias

    culturais em espaos mais vastos.

    f) O professor, como pessoa, deve

    ser analisado segundo pontos de vista

    humano, tico, intelectual e profissional.

    g) Ao organizar e dirigir situaes deaprendizagem o professor deve:

    - evidenciar conhecimento dos

    contedos;

    - construir seqncias didticas;

    - trabalhar a partir das representaes

    dos alunos;- envolver os alunos em pesquisa;

    - criar espaos de conhecimentos

    compartilhados;

    - desenvolver competncias

    fundamentadas em uma culturatecnolgica.

    h) Cabe ao professor suscitar o

    desejo de aprender e desenvolver a

    capacidade de auto-avaliao dos seus

    alunos.

    i) O aluno deve construir sua prpria

    aprendizagem, ter autonomia intelectual e

    definir seu projeto pessoal.

    j) A relao interpessoal entre

    professores e alunos deve envolver todas

    as dimenses dos sujeitos.

    k) As atividades pedaggicas devem,

    a partir da localizao histrica de um

    conhecimento percebido interdisciplinar-

    mente, estimular a curiosidade e

    desenvolver a anlise e a criticidade.l) A avaliao tem o carter de

    acompanhamento do processo e est

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    relacionada ao projeto pedaggico da

    instituio.

    Concluso

    Concordando-se que planejar aceitar

    a possibilidade de transformar a realidade

    reformando-se o pensamento e, portanto,

    reformando o ensino, convm registrar osquatro itens bsicos, para que isto

    acontea, que so propostos por Edgar

    Morin:

    1) Conhecer as partes depende do

    conhecimento do todo. Conhecer o todo

    depende do conhecimento das partes.

    2) Os fenmenos multidimensionais

    devem ser reconhecidos e examinados.

    Isol-los em suas respectivas dimenses

    uma forma de mutilar o conhecimento.

    3) A realidade, seja qual for sua

    procedncia (poltica, social, religiosa),

    deve ser reconhecida e tratada,

    simultaneamente, de forma solidria e

    conflituosa.

    4) A diferena deve ser respeitada. Aunicidade, reconhecida.

    nesta linha de reforma do

    pensamento que isola, que deve ser

    pensado o planejamento, buscando-se opensamento que une, que solidariza, que

    favorece o senso de responsabilidade.

    Bibliografia principal

    BLONDEL, Maurice. Laction. Paris: PUF,1995.

    HANNOUN, Hubert. Educao: certezas eapostas. So Paulo: Unesp, 1997.

    MORIN, Edgar. Cabea bem-feita. Rio deJaneiro: Bertrand, 1999.

    PERRENOUD, Philippe. 10 novascompetncias para ensinar. Porto Alegre:Artmed, 2000.

    ____________. Construir as competnciasdesde a escola. Porto Alegre: Artmed,1998.

    SACRISTN, J. Gimeno., PREZ

    GMEZ, A. L. Compreender e transformaro ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.

    VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento:plano de ensino-aprendizagem e Projetoeducativo. So Paulo: Libertad, 1995.

    VEIGA, Ilma P. A., CASTANHO, MariaEugnia L. M. (org.). Pedagogia

    universitria: aula em foco. Campinas:Papirus, 2000.

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    Aula universitria do futuro:uma arquitetura estratgica entre conhecimento,

    tica e poltica

    Denise Leite

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    IntroduoAo falar sobre este tema, devo

    esclarecer o lugar de onde o fao. Minha

    experincia na universidade prende-se ao

    ensino e pesquisa com temas como

    inovao, pedagogia universitria1

    e

    1Na tradio cultural francesa, a pedagogiainiversitria, est voltada para o estudo doconhecimento como matria-prima do ensinar,aprender. No contexto latino-americano, aPedagogia Universitria tem como objeto deestudo o ensino, a aprendizagem e a avaliao

    educativa e institucional na universidade.Preocupa-se com a formao docente para oexerccio pedaggico profissional. No contextobrasileiro, a pedagogia universitria vem sendodesafiada pela diversidade institucional, pelaausncia de programas continuados de formaodocente e pelas constantes presses sobre amodificao de currculos das carreirasprofissionais. A pedagogia universitria, em nossomeio, confronta-se com a Didtica e as

    Metodologias do ensino superior, distanciando-sedestas disciplinas pela especificidade de seuobjeto - a universidade. O conhecimento e oscurrculos das carreiras de formao universitria,o ensino, a aprendizagem e a avaliao em cadaum dos campos cientficos so algumas de suastemticas. Desenvolve tambm, a avaliao

    avaliao institucional. Desta forma, vouabordar o assunto proposto, resumido no

    ttulo, a partir deste perfil. Um olhar

    datado, acrescido com o peso de uma

    bagagem experiencial de trs dcadas;

    um olhar como profissional da educaoque tem seus referenciais em dois sculos

    diferentes, como muitos que aqui esto.

    Vejo como uma responsabilidade, o fato

    de ter vivido em um tempo que, no Brasil,

    conheceu-se a educao clssica e

    humanista dos jesutas, do Alceu de

    Amoroso Lima e do Fernando de

    Azevedo; o progressivismo, de Ansio

    Teixeira; o behaviorismo; a

    epistemologia gentica; o construtivismo;

    institucional das universidades na perspectiva desua contribuio pedaggica para melhoria daqualidade do ensino.

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    a educao dialgica e crtica de Freire e,

    agora, na passagem de sculo, vislumbra

    o desconstrutivismo e as incertezas ps-modernas. Com tal nmero de

    concepes e tendncias, vejo como uma

    responsabilidade a orientao terica e

    prtica do ensino e da aula universitria,

    de hoje e do futuro.

    Ainda me inquieta saber como vou

    ensinar, o que vou ensinar, diante de

    tantas possibilidades e, ao mesmo tempo,

    tantas incertezas. Mas me anima saber

    que no estou s nesta inquietao e na

    caminhada em busca de respostas.

    Aula universitria do futuro

    Se neste momento perguntasse a

    vocs: o que vo ensinar no ano 2010?

    Como vocs vo ensinar no ano 2010?Qual seria a resposta?

    Fiz estas perguntas em uma de minhas

    aulas para docentes universitrios.

    Imediatamente, uma aluna me disse:

    Eu no sei! A cada semestre quereinicia eu no sei como fazer.

    Repeti essa pergunta aos meus

    estudantes de ps, todos professores

    universitrios como ns. Respondeu-meoutra aluna:

    Atualmente sou responsvel peladisciplina Teoria EletromagnticaAplicada, do curso de graduaoem Engenharia Eltrica. Estadisciplina, no campo conceitual,

    repousa sobre as relaes descritaspelas leis de Maxwell divulgadas emmeados do sc. XIX, o magnetismoclssico. Certamente, daqui a dezanos o contedo vai ser o mesmo,pois este conjunto de relaesdescreve os campos eltricos emagnticos de tal forma que at

    hoje no foi contestado (verdadefsica). Alm do mais, estasrelaes conseguem modelar arealidade com que operam osEngenheiros eletricistas combastante preciso. De tal forma quepermitem projetar novas mquinaseltricas, enlaces rdio-eltricos eassim por diante.

    Mais adiante, ela explica o como,

    justificando seu pensamento:

    A inovao nesta rea, deveaparecer nas aplicaes estudadas.Por exemplo, h dez anos atrs seestudavam os projetos de enlacesrdio-eltricos ionosfricos (rdiodifuso em ondas curtas) e hoje

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    estudam-se os enlaces em viradadireta (telefonia mvel). 2

    Ser esta a verdade em todas reas do

    conhecimento?

    Acredito que a resposta seria um no.

    Nas Cincias Matemticas e Fsicas, o

    conhecimento acumulado pela

    humanidade essencial para o avano donovo. Contudo, se pensarmos um pouco

    adiante, veremos que a prpria Fsica,

    uma hard science, trabalha com a

    incerteza, especialmente ao abordar

    grandes campos tericos (teoriasqunticas, por exemplo).

    Nas reas de conhecimento das

    Cincias Humanas e Sociais, acredito

    solenemente que ainda vamos ver muitas

    novidades nos prximos dez anos. Se

    avanarmos nosso pensamento para

    outras reas do conhecimento,

    envolvendo saberes pluri ou

    multidisciplinares, como a Informtica, a

    Microeletrnica, a Gentica, as Cincias

    da Comunicao, ento, teremos maiores,

    mais velozes e profundas mudanas.

    2 Depoimentos escritos Seminrio EDP53-PPGEDU/Ufrgs maio, 2000.

    Estas mudanas e inovaes talvez

    precisem ser captadas por ns,

    professores, com profunda ateno.Mesmo aqueles que, entre ns, no esto

    frente das linhas de pesquisa das reas

    cientficamente avanadas, reconhecem

    que na sala de aula que o conhecimento

    cientfico se transforma em contedos de

    ensino para dinamizar as aprendizagens

    de todos. Precisamos estar atentos.

    A mesma questo vista por outros

    professores d algumas pistas sobre a

    sensibilidade para perceber mudanas:

    Eu no teria a mesma disciplina, diz a

    professora da Pedagogia.

    Haver grande quantidade de

    conhecimento, impossvel de ser

    aprendido, diz outro docente da

    Educao.A certeza de que vamos ter uma

    quantidade imensa de informao, muito

    conhecimento, est delineada hoje.

    Delineia-se igualmente uma certa reflexo

    sobre as condies do exerccio dasprofisses no campo social. A professora

    de tica e Filosofia, por exemplo, afirma

    que os contedos, as formas de ensinar e

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    as concepes do trabalho acadmico

    talvez no mudem muito, mas sero

    profundamente influenciadas pelo camposocial. E, eu acrescentaria, pelo campo

    econmico.

    Avanando um pouco mais, com as

    respostas dadas s perguntas 2010.

    Quais so as caractersticas apontadas

    para o docente, o aluno e as metodologias

    de sala de aula universitria?

    Meus alunos docentes responderam

    que o professor no vai mais ser o dono

    do conhecimento. Eles dizem:

    (O professor) Perde o estatuto depossuidor de conhecimento passando a orientador. Noestar ensinando, mas, interagindocom outros aprendentes naconstruo de conhecimentos; Oprofessor ser um organizador de

    espaos (ateli, projeto) e mediadordos conhecimentos. Ou, dar aulascompartilhadas com outrosdocentes

    O professor do futuro, sintetizando,

    trabalhar com outros docentes em sala

    de aula e ser um orientador de

    aprendizagens de um aluno visto como

    bastante autnomo. No vai encarnar a

    figura do docente-sabedoria com

    respostas ilimitadas a todas s questes.

    Como organizador de espaos, ele vaiprover tecnologias. Vai ser tambm, um

    mediador de conhecimentos. Ou seja,

    parece que, na opinio dos alunos, o

    docente perderia poder no espao ulico,

    sendo organizador; do contexto ensino-

    aprendizagem, ele se tornaria um

    mediador de conhecimentos produzidos

    por outros?.

    Por outro lado, o aluno representado

    como algum que vai fazer o seu

    currculo:

    (O aluno)Define seu currculo em

    funo das necessidades de mercado.

    O aluno ser um gestor do seu prprio

    currculo. Os currculos sero planos de

    estudos organizados pelos grupos.

    Currculo com reas transversais, como

    biotica, espiritualidade e qualidade de

    vida e sistema referencial por regio.

    Os alunos sero: Sujeitos autnomos

    com suas competncias cognitivas;aqueles que aprendem a aprender,

    aprendem a ser, aprendem a conviver.

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    especialmente aqueles vinculados s

    profisses liberais, mas, dizem os

    estudantes, no sabem ensinar, notm didtica. Entre os docentes-

    pesquisadores, full time, estas mesmas

    queixas, com outras justificativas, tambm

    podem ser registradas. (Leite et al, 1998)

    Por outro lado, a pesquisa tem

    mostrado que as pedagogias empregadas

    em sala de aula costumam ser diretivas -

    o professor fala e o aluno escuta e copia,

    ou faz cpia reproduzida do caderno do

    aluno do ano anterior, da central de

    provas armazenada pelos estudantes

    veteranos, das apostilas do professor,

    quando estas existem. Admite-se que o

    professor ensina porque transmite um

    contedo que domina e o aluno aprende,

    porque reproduz na prova ou no trabalhoescrito, aquilo que foi solicitado pelo

    professor. Para Becker (1994), ainda

    estamos diante do empirismo,

    epistemologia que sustenta a doutrina

    pedaggica diretiva que supe o alunocomo tabula rasa sobre a qual o docente

    vai imprimir uma formao, um direo

    educacional. Segundo Becker (1994, p.

    90), o professor acredita no mito da

    transferncia de conhecimento, at

    mesmo porque foi assim que ele aprendeuna universidade.Nessa sala de aula nada

    de novo acontece: velhas perguntas so

    respondidas com velhas respostas. A

    certeza do futuro est na reproduo pura

    e simples do passado.

    O mesmo autor discute pedagogias no

    diretivas, quando o professor um

    mediador do conhecimento, um facilitador,

    aquela posio defendida ou sugerida por

    meus alunos, para o professor do futuro.

    Diz Becker: o professor no-diretivo

    acredita que o aluno aprende por si

    mesmo, ele traz conhecimentos de sua

    prtica, de sua herana gentica. O

    professor deve policiar-se para interferir o

    mnimo possvel. Qualquer semelhanacom a liberdade de mercado do neo-

    liberalismo mais do que coincidncia.

    O apriorismo a epistemologia que

    fundamenta esta viso pedaggica, ou

    seja, o que vem antes, a priori, disciplinao depois.

    Becker, neste texto, sobre modelos

    epistemolgicos e pedaggicos, ainda

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    imagens, seus elementos-chave. Essa

    aproximao, de finalidades didticas, tem

    seu apoio em Bernstein (1986; 1998) paraquem uma teoria deve ser prtica o

    suficiente para permitir integrar os nveis

    micro e macro de anlise, isto , os nveis

    de interao institucionais e macro-

    institucionais e construir linguagens para

    efetuar a integrao desses nveis. Ou

    seja, para o autor, em sala de aula,

    lidamos com trs elementos centrais :

    a) currculo: conhecimento considerado

    vlido;

    b) pedagogia: forma de transmisso de

    conhecimento;

    c) avaliao: realizao adequada do

    conhecimento.

    Usando o recurso da representao

    grfica, encontraramos a seguintesituao, visualizada nas figuras abaixo:

    Maria Isabel Cunha, dentre outros, a respeito dotema.

    a) Conhecimento

    Em sala de aula se trabalha com uma

    fatia do universo dos conhecimentos quecompem o currculo do curso.

    Currculo = conhecimento

    Disciplina = contedo

    Em sala de aula, um contedo apenas,

    uma pequena fatia do universo do

    conhecimento, selecionada e

    organizada, pelomenos, em 3 momentos

    ou etapas, no-concomitantes ou

    necessariamente seqenciais.

    Introduo

    Desenvol- Fechamento

    vimento

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    A pergunta chave que preciso fazer

    para definir esta sequncia responde indagao: o que meus alunos vo

    aprender hoje?

    No desenvolvimento, na introduo ou

    no fechamento, cuja ordem varia, a

    pergunta chave que direciona a escolha,

    passa pela inteno de produzir

    aprendizagem.

    b) Pedagogias e formas de

    transmisso do conhecimento

    Para ensinar, para trabalhar com

    conhecimentos/contedos, selecionam-se

    formas de transmisso, que podem ser

    presenciais e no-presenciais, visveis ou

    invisveis, quer a escolha recaia sobre um

    quer recaia sobre outro formatopedaggico.

    Presencial

    Visvel Invisvel

    no presencial

    Em aula, transmito o que vejo e o que

    no vejo, por meio de pedagogias visveise invisveis. As pedagogias so visveis,

    como ensina Bernstein, porque seus

    critrios de seqncia, tempo e formatos

    ficam claros para alunos e professores.

    So pedagogias invisveis quando os

    critrios empregados para sua seleo,

    ficam implcitos, sendo de conhecimento,

    de domnio do professor. Bernstein coloca

    as pedagogias construtivistas nessa

    ltima possibilidade. Tanto as pedagogias

    visveis quanto as invisveis podem ser

    desenvolvidas por toda e qualquer

    tecnologia de ensino disponvel no

    repertrio do professor: aulas dialogadas,

    aulas expositivas, estudos de textos,

    livros, trabalhos em grupo, pesquisa,estudo de casos, jri simulado, jogos,

    tecnologias da informao e outras.As pedagogias podem ser presenciais e

    no-presenciais, conforme se efetivem em

    classe, com presena de alunos edocentes, ou via rede, correio eletrnico,

    educao distncia e outros formatos

    que dispensam a presena fsica do

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    docente com o aluno, mas no dispensam

    a presena, mesmo que virtual, da

    relao pedaggica.Para Bernstein, aqui reside a fora da

    educao nas formas de transmisso do

    conhecimento aqui que se

    disponibilizam aos alunos, os cdigos de

    acesso ou os mistrios do

    assunto/contedo; que se possibilitam, ao

    maior nmero de pessoas, conhecer,

    construir conhecimentos, relacionar

    saberes e experincias, inferir

    significados, criar ou destruir mitos,

    apropriar-se do universo de sentidos que

    a cultura humana produz. Mas, tambm

    por meio das formas de transmisso e das

    pedagogias, que se fazem

    enquadramentos, classificaes e

    separaes, principalmente com oemprego de:

    - fronteiras fortes - separao entre

    contedos ou entre sujeitos, entre sujeitos

    e conhecimentos

    - cdigos coleo - utilizao decdigos que colocam

    conhecimentos/saberes, um ao lado do

    outro, sem estabelecer ligaes ou

    relaes.

    Por meio das formas de transmisso,ou seja, pelas pedagogias, posso manter

    as coisas separadas, isoladas e, com isto,

    contribuir para que cada sujeito/aluno

    permanea em sua

    classe/categoria/condio. Pelas formas

    de transmisso do conhecimento podem

    ser reproduzidas as relaes de poder e

    controle existentes na sociedade.

    aqui, no espao da aula universitria,

    que se pode construir, a relao

    sujeito/conhecimento/ mundo; a relao

    indivduo-sociedade. entenda-se, em

    princpio, que ao falar em sociedade, no

    se est excluindo dela o setor produtivo, o

    mercado e as empresas.

    Estado

    Sociedade universidade

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    As formas de transmisso se realizam

    nas mais variadas interaes aluno-aluno

    e professor-aluno. Constroem-se,relaes sujeito/sujeito, como atos

    constitutivos da aprendizagem.

    Aluno

    Professor

    Aluno

    Aluno

    Aluno

    Para Fernandes (1999), a interao em

    sala de aula cria uma teia de relaes entre

    o intelecto e o afeto que mobiliza os sujeitos

    para o conhecer. Vrios autores confirmamque reside na interao positiva em sala de

    aula, na convivncia com troca de afetos,

    presencial ou no-presencial, o elo

    fundacional da aprendizagem.

    c) Avaliao

    Em uma aula, tradicionalmente, seja ao

    final do ms, ou do semestre, ou em todasas aulas, a ttulo de fechamento, faz-se

    avaliao, isto , verificam-se as

    aprendizagens do aluno. A avaliao

    revela o elo entre ensino e aprendizagem.

    ensino

    professor currculo

    aprendizagem

    A avaliao revela o elo entre

    conhecimento-formas de transmisso,valores-atitudes. Da mesma forma, como

    as pedagogias carregam cdigos de

    acesso ao conhecer, ou cdigos de no-

    acesso - pelas separaes entre

    contedos, defesa de fronteiras entreconhecimentos- as formas de avaliao

    produzem classificao e enquadramento.

    A avaliao, como as formas de

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    forma, mais do que devolver ao

    professor o que ele ensinou. A avaliao

    resulta ser um elemento-chave da aulauniversitria na medida em que, como

    parte ntegra e integradora da aula

    universitria, ela contribui para

    desenvolver as capacidades de pensar e

    refletir e de ser sujeito do aluno.

    Alm disso, convm lembrar de que a

    aula universitria, ao reunir distintos

    elementos, configura-se como um espao

    complexo onde o conhecimento, a

    pedagogia e avaliao podem ser

    influenciados pelo campo cientfico de

    cada carreira profissional e por sua fora

    na estrutura social, como comprovado em

    estudo anterior (Leite e Cunha, 1996).

    Decorre que no podemos pensar em um

    ensino monoltico ou apenas reprodutivo,no qual, o contedo que serve para uma

    aula, serve para outra, o que foi visto com

    um grupo de alunos, serve para outro com

    distintas caractersticas, o que foi

    ensinado no ano passado serve para osalunos deste ano. Cada aula diferente

    de outra: em cada ano e semestre este

    espao se reconstri dinamicamente.

    Cada espao tem sempre novos

    personagens, novos atores em busca de

    conhecimento. Um conhecimento que,afetado pelo campo cientfico, sem dvida,

    recontextualizado para a sala de aula e

    reconstrudo, transformando-se em um

    conhecimento social4. Ao ser reconstrudo

    no cotidiano dos territrios de sala de

    aula, diferentes racionalidades se

    interpem, influindo nas formas de

    transmisso, por meio de uma complexa

    rede de relaes, chamada por Fernandes

    (1999) de teia de relaes. Teia porque,

    como a construo da aranha, uma

    arquitetura nica, laboriosa. Mas,

    tambm uma teia porque se faz e desfaz

    com qualquer vento contrrio. Emoes e

    afetos, assim como o intelecto, objetivam

    a construo da teia de conhecimentos edas relaes que ajudam a conhecer.

    Revolucionar a sala de aula?

    No so apenas os docentes e

    pedagogos que se preocupam com a sala

    4 Ver a respeito Conhecimento social na sala deaula universitria e auto-formao docente (Leite,2000).

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    de aula. Com o ttulo revolucionar a sala

    de aula? foi publicada, recentemente,

    uma crnica em revista de circulaonacional (a interrogao minha). O autor

    era um consultor e administrador de

    empresas que pede ateno para a aula,

    dizendo que os alunos esto

    desmotivados, intelectualmente passivos,

    ouvem e obedecem, decorando. Tal como

    nosso aluno que descreveu o professor do

    futuro, ele fala em um arquiteto de salas

    de aula aquele que faz a arquitetura

    estratgica dessa complexidade simples

    que a aula. Tal como nossos alunos que

    do ao professor do futuro um papel de

    mediador, pede aos alunos que eles

    revolucionem a sala de aula, olhem para o

    problema da comunidade, da favela, da

    sociedade, sejam criativos, resolvamsituaes. E, acrescenta que se os

    professores quiserem, ser timo. Porm

    a responsabilidade pela revoluo deve

    ser do prprio aluno pois no futuro no vai

    ser o professor que vai aprov-lo, mas avida. Ou seja, tal como meus alunos, o

    professor visto como desnecessrio.

    No entanto, pesquisas recentes

    continuam centrando no professor a

    responsabilidade, quase iluminista, deobteno de sucesso no ensino. Sucesso

    e responsabilidade pelos resultados, pelos

    produtos. O professor chamado de

    prtico-reflexivo, suas memrias so

    resgatadas, seus saberes docentes so

    pesquisados, julga-se que ele possuidor

    de um conhecimento prtico. Sem dvida,

    tudo isto muito importante para agora.

    Mas, e para o futuro? No basta ser um

    mediador, fazer uma arquitetura

    estratgica de sala de aula.

    Se, de dentro e de fora do campo

    educativo, discute-se o quesabe e o para

    quesabe o docente, melhor seria assumir,

    com competncia, nosso espao de

    trabalho o espao da aula universitriacom todas as suas implicaes e

    necessidade de inovao.

    Lembrando de Bernstein, reside na

    Pedagogia, nas formas pelas quais se

    trabalha com o conhecimento, o segredoda produo, do acesso aos cdigos, o

    sentido do uso da tica, a compreenso

    dos princpios e valores humanos. No

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    cotidiano, a meu ver, este ser sempre o

    eterno papel do docente em sala de aula

    universitria, presencial ou no-presencial, pedagogia visvel ou invisvel

    lidar com o humano, demasiado humano,

    da relao educativa. At porque, na

    sala de aula que se constri

    aprendizagem e esta sendo individual na

    existncia dos sujeitos, coletiva na sua

    essncia, ou seja, ningum aprende sem

    o outro.

    No preciso muito para revolucionar a

    sala de aula, de hoje ou do futuro.

    Protagonismo dos atores, sem dvida;

    epistemologias e pedagogias em

    consonncia, sem dvida; criatividade,

    novas tecnologias, sem dvida. Mas, o

    arquiteto de sala de aula, agora e no

    futuro, construir com seus alunos, teias,redes de relaes, entre conhecimento

    social, tica e poltica por meio de

    diferentes e entrelaadas dimenses que

    produzam novas configuraes de

    aprendizagens. Nesse sentido, nenhumatecnologia substituir o professor, pois a

    ele cabe o papel de resgatar, de tornar

    presente, o sentido humano da relao

    educativa na sala de aula universitria,

    sem o qual, qualquer conhecimento, por

    importante que seja, perde a suafinalidade. Cabe o papel, como ensina

    Stenhouse (1987) de valorizar a arte do

    ensino como uma dialtica entre a idia

    e a prtica, que no deve separar-se da

    mudana.

    Referncias bibliogrficas

    BECKER, Fernando. Modelospedaggicos e modelos epistemolgicos.Educao e Realidade. Porto Alegre, 19(1) : 89-96 Jan Jun, 1994.

    BENONI, Ilton. A cincia enquantoinstauradora de uma postura pedaggicainterrelacional. Iju: Uniju, 1997.Dissertao Mestrado.

    BERSTEIN, Basil. A teoria de Berstein emsociologia de educao. (Orgs)DOMINGOS, Ana Maria et al. Lisboa:Gulbenkian, 1986.

    __________. Pedagogia, controlsimblico e identidad. Madrid: Morata,1998.

    CUNHA e LEITE. Decises pedaggicas eestrutura de poder na universidade.

    Campinas, Papirus, 1996.FERNANDES, Cleoni Maria Barbosa. Salade aula universitria: ruptura, memria eterritorialidade. Porto Alegre: Ufrgs/PPGE,1999. (Tese de doutorado).

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    LEITE, Denise (org.). Pedagogiauniversitria: conhecimento, tica epoltica no ensino superior. Porto Alegre:

    Ufrgs, 1999.LEITE, Denise. Conhecimento social nasala de aula universitria e a auto-formao docente. In: MOROSINI, M(Org) Professor do ensino superior.Braslia: Inep, 2000.

    MASETTO, Marcos (org.). Docncia na

    universidade.Campinas: Papirus, 1998.STENHOUSE, L. La investigacin comobase de la enseanza. Madrid: Morata,1987.

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    Mtodos de ensino: decorrncias para a prticadocente universitria

    Jussara Margareth de Paula LochPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Em primeiro lugar quero agradecer o

    convite para estar aqui trabalhando e

    dialogando com os professores desta

    universidade. Cumprimento aos

    integrantes da mesa e a todos aqui

    presentes.

    Inicio minha fala, escrita,

    problematizando algumas questes, logo

    aps busco analisar as concepes de

    educao, ensino e aprendizagem para

    ento ir ao foco deste encontro que a

    metodologia no ensino superior.Convido a todos para refletirmos

    sobre algumas questes: Qual a

    metodologia mais adequada? Existe um

    mtodo? Para respondermos a essas

    questes existem outras questes que seimpem! O que queremos ensinar? Para

    qu? Para quem? O mtodo tambm

    contedo? A forma como ensinamos e

    como aprendemos nos constituem como

    sujeitos? Tambm forma a nossa

    subjetividade?

    Segundo Edgar Morin (2000, p. 11), a

    misso da educao que ele chama de

    ensino educativo, para distingu-la de

    outras formas educativas, transmitir no

    o mero saber, mas uma cultura que

    permita compreender nossa condio e

    nos ajude a viver, e que favorea, ao

    mesmo tempo, um modo de pensar aberto

    e livre.Morin afirma que Kleist tem razo ao

    escrever que o saber no nos torna

    melhores nem mais felizes mas,

    complementa dizendo, que a educao

    pode nos ajudar a sermos mais felizes emelhores, a assumir a parte mais prosaica

    e viver a parte mais potica de nossas

    vidas.

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    Neste sentido podemos refletir sobre o

    pensamento de Brando (2002): a

    educao no muda o mundo, muda oshomens e, os homens mudam o mundo,

    essa idia d finalidade ao ato educativo

    tanto do ponto de vista individual e no

    individualista, como tambm coletivo e

    no competitivo.

    A educao, nessa perspectiva, deve

    contribuir para a autoformao da pessoa,

    isto a ensinar a assumir a condio

    humana, ensinar a viver, vivendo e, a

    ensinar a como se tornar cidado, sendo

    ou exercendo cidadania. Portanto, nesta

    concepo conhecimento meio,

    cidadania o fim.

    Um cidado definido em uma

    democracia, por sua solidariedade e

    responsabilidade com o outro, com a suacomunidade, e em relao a sua ptria. O

    que supe nele o enraizamento de sua

    identidade nacional, continental,

    planetria. Exemplo: as marchas pela paz

    realizadas no mundo inteiro por ocasioda guerra contra o Iraque.

    Nesse sentido Morin coloca um

    desafio importante ao ensino universitrio:

    gerar intelectuais polivalentes, abertos,

    capazes de refletir sobre a cultura em

    sentido amplo. E, considera urgenteencorajar professores de todos os nveis a

    religarem suas disciplinas assim como a

    investir em reformas curriculares que

    propiciem uma reflexo sobre natureza e

    cultura, homem e cosmo rejuntados

    tratados como totalidade e, que edifiquem

    uma aprendizagem cidad capaz de repor

    a dignidade da condio humana.

    Importante para isso compor energia

    cognitiva e poltica suficientes para

    construir uma educao pluralista,

    transgressora, democrtica, que garanta

    s futuras geraes o direito planetrio de

    repensar o mundo de modo mais tico,

    responsvel.

    Portanto, eleger uma metodologiaenvolve fazer opes e ver at onde

    podemos criar o novo ou adaptar, ou

    conservar os paradigmas sociais e

    educacionais existentes. Os mtodos so

    caminhos a serem construdos e noreceitas, que aplicadas mecanicamente

    produzem resultados imediatos. Pode

    dizer-se que no h mtodo ou o mtodo,

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    Prope, portanto, a educao

    universitria como processo de formao

    da competncia humana, com qualidadeformal e poltica, encontrando no

    conhecimento inovador a alavanca

    principal da interveno tica. O critrio

    diferencial da pesquisa o

    questionamento reconstrutivo, que

    engloba teoria e prtica, qualidade formal

    e poltica, inovao e tica. tica da

    competncia que no pode ser reduzida

    competividade. Inovao, por tratar-se do

    conhecimento crtico e criativo.

    A qualidade formal, dos meios, dastcnicas, dos instrumentos, da

    reconstruo do conhecimento precisa vir

    acompanhada da devida qualidade

    poltica. Pois esta o fim, aquela o

    meio. Caractersticamente, o mercadoaprecia apenas a qualidade formal, no

    gosta de cidadania, porque no convive

    bem com o esprito crtico e a busca de

    sociedades alternativas. A politicidade de

    Paulo Freire volta tona: aprender constituir-se num sujeito capaz fazer-se,

    de construir histria prpria. Coloca a

    concientizao como princpio

    metodolgico e para isso reafirma trs

    dimenses do ato educativo: a leitura do

    mundo ou estudo da realidade, tomar aprtica social como ponto de partida;

    realizar um processo de teorizao sobre

    a prtica, quais os contedos /

    conhecimentos que distribuiremos, ou que

    do conta da transformao desta mesma

    prtica? e, a terceira dimenso como se

    dar a criao/ aplicao de inditos

    viveis advindos destes novos

    conhecimentos construdos pelos alunos e

    disponibilizados pelos educadores?

    Vou detalhar um pouco mais esseprocesso. Segundo Martins (2002), h

    conhecimentos desenvolvidos pelo

    aprendiz e h conhecimentos

    desenvolvidos pelo professor. Entre eles,

    esto os saberes, que o segundo deveensinar de forma que o primeiro aprenda e

    transforme em seus conhecimentos. Se

    h conhecimentos do lado dos alunos,

    importa que o professor os descubra, se

    h conhecimento do lado dos professoresimporta tambm que os aprendizes os

    descubram, sendo os saberes os

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    intermedirios para esta descoberta

    mtua.

    Durante muitos anos, os erros dos

    alunos foram considerados dignos de riso,

    s mais recentemente que se passou a

    consider-los como conhecimentos dos

    quais os aprendizes dispem e utilizam

    como meio para apropriarem-se dos

    saberes que os professores trabalham na

    relao didtica. Quaisquer que sejam os

    conhecimentos prvios, com eles que os

    alunos vo estabelecer relaes a

    respeito dos saberes que o professor

    apresenta e quer ensinar. O professor,ento, precisa lanar o debate e deixar

    que os alunos expressem seus

    conhecimentos prvios sobre o que est

    interessado em ensinar, sem impor o

    saber inicialmente de referncia.Esse conhecimento importante

    porque o professor precisa desestabilizar

    a concepo que os alunos apresentam.

    necessrio desempenhar o seu papel de

    mediador, colocando em interao o saberobjeto de ensino, os conhecimentos

    prvios dos alunos e as exigncias da

    situaes( singularidade dos alunos ) para

    que haja o conflito cognitivo e, portanto a

    aprendizagem.

    O debate em sala de aula, onde o

    professor no impe os saberes de

    referncia como ponto de partida, mas

    tenta descobrir os conhecimentos prvios

    dos alunos, introduz na relao didtica a

    metfora da devoluo didtica, isto , o

    professor se recusa, voluntariamente, a

    apresentar atos de ensino com o fim de

    que cada aluno se apresente,

    apresentando assim, conhecimentos e

    atitudes de aprendizagem. Abre-se desse

    modo, a possibilidade de que o alunocomece a se tornar o responsvel por sua

    prpria aprendizagem. Por outro lado isso

    s tem sentido se houver a possibilidade

    da contradevoluo, ou seja, o aluno

    solicitar ao professor que reassuma seupapel de professor.

    Em se tendo um pouco mais claro as

    estratgias metodolgicas a usar para que

    os alunos desenvolvam seus

    conhecimentos, tambm pode ficar umpouco mais claro o ato educativo de

    avaliar. Poderemos perceber se um

    determinado aluno ou grupo de alunos

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    construiu conhecimentos que estavam

    sendo trabalhados em sua relao com os

    saberes codificados, se, a partir de

    situaes prticas criadas, demonstram

    capacidades e habilidades de colocar em

    ao estes conhecimentos na busca de

    solues para as situaes-problema

    enfrentadas.

    Aquele que estuda em uma

    universidade e se forma em um campo de

    saber se torna um especialista neste

    campo. Ele ainda no um professor! Ele

    s se tornar um professor no momento

    em que for capaz de levar em conta os

    conhecimentos de seus alunos para

    adaptar o saber especializado, o saber

    codificado, que deseja ensinar (Jonnaert

    e Borght, 2002, p. 95).

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    O uso de dinmicas metodolgicas alternativas e criativas para

    promover a qualificao do trabalho docente

    Rosane Carneiro Sarturi

    Centro Universitrio Franciscano

    A formao de professores tem se

    configurado em uma preocupao

    permanente no contexto da sociedade

    atual, no apenas nos meios chamados

    educacionais, como tambm na sociedade

    em geral, realidade confirmada a partir do

    estabelecimento da relao entre

    educao e desenvolvimento que, a partir

    da dcada de 1960 (Aranha, 1999),

    comea a fazer parte do cenrio

    educacional.

    Com a primeira Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional, lei n

    4024/61, a educao no Pas assumiu

    uma dimenso pblica, o que abriu apossibilidade de que mais pessoas

    tivessem acesso escola, considerando

    que, naquele momento, consolidavam-se

    os princpios de uma sociedade

    organizada economicamente em uma

    estrutura urbano-industrial, superando a

    forma agro-exportadora que vigorou

    fortemente at os finais da primeira

    repblica.

    Em 1971, com a reforma da LDB,

    surgiu a lei n. 5692/71 que trouxe consigo

    a preocupao em formar tcnicos e torna

    obrigatrio o acesso e a freqncia

    escola, baseada em premissas tecnicistas

    de origem estadunidense, que fortalecem

    a conexo entre desenvolvimento

    econmico e educao, reforma que sofreoutra, em 1984, com a lei n. 7044, tendo

    em vista o no atingimento dos objetivos

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    esperados, mas isso assunto para ser

    tratado em outra oportunidade.

    Depois de quase vinte e cinco anos

    de discusses nos mais diversos

    segmentos da sociedade, chega at a

    comunidade educacional outra lei, que

    traz consigo muitas apropriaes

    discursivas dos professores

    progressistas1, que vinham defendendo a

    qualidade da educao para todos, visto

    que os liberais sempre defenderam a

    dualizao2 da escola, com a inteno de

    atender s leis de mercado que

    atualmente adquiriram uma fora aindamaior no contexto mundial.

    1 Cabe aqui lanar mo da reflexo de Libneo

    (1986) que diz ter tomado emprestado deSnyders o termo progressista, para designar astendncias que partem de uma anlise crtica darealidade social, o que contaria a tendncialiberal, que surgiu para defender os princpios deuma sociedade capitalista centrada noindividualismo e na privatizao dos meios deproduo.

    2 A escola dual vem sendo denunciada por Gramsci(1978), como uma marca acentuada daestratificao social, que trata de uma escola paraos filhos de operrios e outra para os filhos dascastas mais abastadas, uma que prepara para otrabalho, para a vida e outra que prepara paraseguir uma carreira acadmica. Tema quetambm foi objeto de estudo de Willis (1991).

    A lei n. 9394/96 assume uma postura

    dinmico-dialgica3, pois apresenta um

    interesse explicitado na emancipao do

    sujeito, apresenta formas alternativas de

    organizao curricular e defende a

    preocupao com a aprendizagem, porm

    ao adotar como referncia curricular os

    Parmetros Curriculares Nacionais

    (PCNs), recai em uma operacionalizao

    mais tcnico-linear, que denota

    preocupao em controle tcnico. Este

    fato pode ser apreciado por ocasio da

    construo das propostas poltico-

    pedaggicas, dos planos de estudo e dosplanos de trabalhos de muitas escolas

    brasileiras, caracterizando um retrocesso

    ao modelo predominante na dcada de

    1970 e 1980.

    Nesta altura do texto, o leitor deveestar se perguntando o que esta

    3 A expresso dinmico-dialgica utilizada porDomingues (1986), ao realizar o estudo sobre osparadigmas curriculares, a partir dos estudos doamericano James Macdonald para o currculo e deThomas Kuhn para paradigma, ele estabelece arelao entre os interesses humanosclassificados por Habermas (1982) como:tcnico, de consenso e emancipador e osparadigmas de currculo disponveis na literatura:Tcnico linear; Circular consensual e Dinmicodialgico.

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    superficial anlise tem a ver com o ttulo

    deste estudo? Como o uso de dinmicas

    metodolgicas alternativas e criativas para

    promover a qualificao do trabalho

    docente? Qual a soluo para a

    superao de uma prtica bancria4 em

    educao?

    As respostas a estes questionamentos

    vm conectadas diretamente viso de

    totalidade que, segundo Kosik (1995),

    muito mais do que a simples soma das

    partes, porque ao percebermos a

    educao em sua totalidade, no

    possvel falar sem partir da sua essncia,que o currculo5.

    Para Gimeno Sacristn (2000, p. 26),

    toda prtica pedaggica gravita em torno

    do currculo isso significa que, para

    encontrarmos dinmicas metodolgicasalternativas e criativas para promover a

    4 Para Paulo Freire (1999), a educao bancriaacredita que quanto mais se d mais se sabe.

    5 Muitas tm sido as definies atribudas ao termocurrculo, a polissemia do termo assume vriasnuanas, para efeito deste estudo recorro a suaetimologia, que o designa como percurso a serfeito (Veiga Neto, 1996, Pedra, 1997, Gimeno),para defini-lo como construo social quepreenche a escolaridade de contedos eorientaes (Giimeno, 2000, p. 20), que sorealizadas a partir deste percurso.

    qualificao do trabalho docente, faz-se

    necessrio situar estas dinmicas no

    referencial que aqui tomamos para definir o

    como ensinar.

    Csar Coll (1999) estabelece quatro

    componentes do currculo: Que ensinar?

    Ou as necessrias concretizaes das

    intenes educacionais; Quando ensinar?

    ..ou o problema da organizao e

    seqenciao das intenes educativas:

    Como ensinar? Ou o problema da

    metodologia de ensino. O que avaliar?

    Quando avaliar? Como avaliar?

    Para o autor supracitado, se partirmosde uma concepo construtivista de

    conhecimento, impossvel pensar os trs

    primeiros componentes do currculo de

    forma independente, porque eles esto

    inter-relacionados e constituem umatotalidade. Como pensar o como, sem

    pensar o qu ou o quando?

    Ao dividir a Pedagogia da Autonomia:

    saberes necessrios prtica educativa

    (2001b) em trs captulos: No h

    docncia sem discncia; Ensinar no

    transferir conhecimento; e Ensinar uma

    especificidade humana, Freire assume o

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    seu compromisso com uma viso

    construtivista de educao, porque

    relaciona a partir destes pressupostos

    dialticos uma srie de exigncias que

    cobram dos professores e professoras

    uma reflexo sobre a sua epistemologia.

    Gimeno Sacristn (2000) se

    fundamenta nos estudos de oung (1981),

    para dizer que existe uma conexo muito

    especial entre as crenas epistemolgicas

    dos professores e os estilos pedaggicos

    que adotam, o que pode ser percebido

    quando eles desmacaram suas

    concepes epistemolgicas implcitas

    ao relacionar os contedos exigidos com a

    posse por parte de seus alunos.

    Esta ponderao remete para os

    estudos de Becker (1996b, p. 32), quando

    analisou A epistemologia do professor: o

    cotidiano da escola, demonstrando que a

    maioria dos professores e professoras, ao

    encaminhar o processo de aquisio do

    conhecimento ou processo de

    aprendizagem, apresentam basicamente

    trs formas:

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    As formas de encaminhamento da aprendizagem por parte dos professores a partir

    do cotidiano da sala de aula

    Formas

    Relaes

    Empirista Apriorista Construtivista(interacionista ou

    dialtica)Contedos J est pronto. J est pronto. Construdo.

    Mtodos Transmisso deconhecimentos.

    Livre, o aluno escolheo que vai aprender.

    Organizado a partirdas aes de ambos.

    Relaoprofessor/aluno Pedagogia centradano professor- ele um transmissor.

    Pedagogia centradano aluno- o professor um facilitador.

    Relao dialtica.

    Representao S O S O S O

    Aprendizagem Submisso aosestmulos doprofessor, o aluno

    visto como tbularasa, o conhecimento aistrico.

    Aes espontneas,insights perceptivos.

    construda a partirda inter-relao entreos sujeitos e o meio.

    Resultado Alunos passivosrepetidores deconhecimentocientificamentecomprovados.

    Alunos perdidos noexcesso de liberdadeda ao.

    Alunos crticos queinteragem com osconhecimentos combase em uma relaode respeito- equilbrio

    entre liberdade eautoridade.

    As concluses de Becker1, levam-no

    a denunciar que:

    a epistemologia subjacente ao

    trabalho docente a empiristae de que s em condies

    1 Ler Becker, A epistemologia do professor: ocotidiano da escola. Petrpolis: Vozes, 1996a.

    especiais o docente afasta-sedela - para buscarfundamentao naepistemologia apriorista -

    voltando a ela assim que acondio especial tiver sidosuperada. Muito raramentedetectam-se momentos de

    d d i t f d t ti

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    verdadeira construo.(Becker, 1996b, p. 34)

    A concluso a que chega Becker,aps acompanhar o cotidiano da sala de

    aula nos dois nveis da escolaridade no

    Brasil, refora a anlise que Gimeno

    Sacristn apresentou ao citar Young,

    porque a conexo entre as crenas

    epistemolgicas dos professores e os

    estilos pedaggicos que adotam esto

    intimamente relacionadas e demonstram a

    impregnao da postura bancria,

    fundamentada no autoritarismo e na mera

    transmisso de contedos, que concebe o

    conhecimento como verdade acabada e

    no permite a emancipao do sujeito.

    Arroyo (2000), Freire (2000-2001a,

    2001b), Gimeno Sacristn; Pres Gomes

    (1998), entre outros defendem anecessidade da apropriao da teoria por

    parte do professor, porque as mudanas

    preconizadas pelas leis, e pelos modelos

    curriculares s podero ocorrer se os

    professores se apropriarem da teoria queas sustenta e reverem os pressupostos

    que fundamentam a sua prtica

    pedaggica.

    Em busca de conceitos: definindo

    metodologia

    Para Marques (1999, p. 80), o

    mtodo indica quais sero os papis do

    professor e do aluno. Indica, portanto,

    uma postura a ser adotada.

    Freire (2001b) diz que ensinar exige

    rigorosidade metdica. E um dos

    saberes necessrios prtica docente.

    Veiga Neto define metodologia comoa forma na qual os contedos so

    ensinados. Pois:

    Quando se fala em contedos, preciso entender que a esto

    includos tanto os contedospropriamente ditos, isto , asubstncia do que ensinado-quanto a forma como estasubstncia ensinada- o que secostuma referir sob a denominaode metodologia. Portanto, falarsobre currculo falar, ao mesmotempo, sobre os contedos, osmtodos de ensino e a avaliao.(1996. p. 24)

    esgota na leitura de um livro de um texto

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    Dessa forma, a metodologia ocupa um

    espao dentro do currculo escolar que

    carece de uma conexo interativa entre

    contedos e avaliao, pois a definio de

    como trabalhar os contedos ou como

    avali-los pertence a uma rbita muito

    maior. No bastam tcnicas dinmicas,

    criativas, inovadoras, se eu, enquanto

    professor continuo preso a uma

    epistemologia que acredita que o meu

    aluno determinado pelo meio, que ele

    um objeto a ser lapidado, ou se penso que

    ele nasce predeterminado, que nasceugeneticamente determinado.

    A metodologia, os caminhos que eu

    vou escolher para percorrer necessitam

    ter em considerao as premissas que

    orientam a minha postura profissional nomundo e para com o mundo o que, para

    Freire (2001b), significa reconhecer que a

    educao ideolgica, que no posso

    estar de luvas nas mos constatando

    apenas.

    A conscincia do nosso inacabamento

    como pessoas nos possibilita a busca

    permanente pelo aprender, que no se

    esgota na leitura de um livro, de um texto,

    ou do trmino de um curso, a relao

    dialtica entre ensino-aprendizagem, na

    qual, um existe na complementariedade

    do outro, ou seja, s existe ensino se h

    aprendizagem e esta s ocorre se houver

    ensino, uma no existe sem a outra.

    nesta procura permanente que nos

    mantemos em eterno processo de ensino-

    aprendizagem, por isso:

    fundamental que, na prtica daformao docente, o aprendiz deeducador assuma que oindispensvel pensar certo no

    presente dos deuses nem se achanos guias de professores queiluminados intelectuais escrevemdesde o centro do poder, mas, pelocontrrio, o pensar certo que superao ingnuo tem que ser produzidopelo prprio aprendiz em comunhocom o professor formador. (2001b,

    p. 43)

    Neste processo de construo

    entre professor-aluno surge a

    necessidade de reflexo crtica sobre a

    prtica, para que a nossa postura supere

    a ingenuidade de acreditar-nos detentores

    do conhecimento e das suas aplicaes

    prticas. Pois:

    a grande tarefa do sujeito que duplo sentido de ir e vir Assim todas as

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    a grande tarefa do sujeito quepensa certo no transferir,depositar, oferecer ou doar ao outro,tomado como paciente de seupensar, a intelegibilidade dascoisas, dos fatos, dos conceitos. Atarefa coerente do educador quepensa certo , exercendo como serhumano a irrecusvel prtica deinteligir, desafiar o educando comquem se comunica e a quemcomunica, produzir suacompreenso do que vem sendocomunicado. (2001b, p.42)

    Depois de refletirmos sobre a nossa

    prtica e buscarmos diminuir a distncia

    entre o que dizemos e o que fazemos,

    ento poderemos encontrar mtodos que

    contribuam para equacionar o dilogo

    entre professor e aluno.

    Para Arroyo (2000), ao referir-se a

    nossa humana docncia revitaliza a

    importncia do como, um como que

    carece de compromisso, de afetividade,

    de respeito, de criticidade, de tolerncia,

    de tica, de curiosidade, de pesquisa e de

    rigorosidade metdica nas palavras de

    Freire (2001b), mas tambm um comoque encontre um caminho para o dilogo,

    no uma via de mo nica, mas com um

    duplo sentido de ir e vir. Assim, todas as

    tcnicas (dinmicas de grupo), e recursos

    fsicos (ferramentas de apoio), que forem

    utilizadas com o intuito de estabelecer a

    riqueza da comunicao entre professores

    e alunos sero sempre bem-vindos em

    uma pedagogia que busca a construo

    do conhecimento.

    Todavia, dizem as escrituras que no

    podemos atender a dois senhores,

    portanto como professor ou professora,

    faz-se mister definir a minha postura

    poltico-pedaggica.

    A modo de sntese

    Durante todo o texto, que foi

    produzido com base em uma reflexo

    sobre a contextualidade da nossa prticaacadmica ora como aluna ora como

    educadora, cabe tentar sintetizar o

    redemoinho de conceitos e fundamentos

    que percorrem os caminhos da escola,

    seja pblica, privada, de nvel bsico seja

    superior.

    Tendo a histria no como uma

    simples evoluo natural, mas como uma

    construo realizada pela ao de seus constatar por ocasio da pesquisa interna

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    construo realizada pela ao de seus

    sujeitos, o quadro sntese que agora

    apresento no tem a pretenso de

    simplificar a longa discusso que a

    Filosofia, a Psicologia, a Pesquisa, a

    Pedagogia e o Currculo tm desenvolvido

    ao longo desta trajetria histrica. Posso

    afirmar que a pretenso passa pela

    provocao para que mais educadores e

    educadoras parem para estabelecer as

    co-relaes entre estas cincias que ao

    longo dos anos insistiram, por fora

    terica em se manterem separadas. Fala-

    se tanto em interdisciplinaridade2, ou maisem transdisciplinaridade, pois sim, creio

    que este o nosso desafio: transpor as

    barreiras das disciplinas.

    A sistematizao do conhecimento

    humano tem sido uma preocupao demuitos estudiosos, o planejamento, a

    metodologia, as relaes professor-aluno

    e a avaliao so temas que rondam as

    prticas pedaggicas, e isto se pde

    2 Ler Lck, Heloisa. Pedagogia Interdisciplinar,1995. Ela fala da realidade fragmentada e danecessidade de transpor estes limites para chegarna transdisciplinaridade.

    constatar por ocasio da pesquisa interna

    feita entre os professores do Centro

    Universitrio Franciscano, no ano de

    2003, quando foram consultados sobre os

    temas que acreditavam ser importantes

    para a sua qualificao enquanto

    profissionais.

    Penso que a pesquisa realizada

    pode ser objeto para estudos futuros, nos

    quais cada um de ns, professores e

    professoras, poder aprofundar os temas

    em questo. Cabe ressaltar que esta

    preocupao no apenas local, pois

    muitos so os programas e as publicaesque se voltam para este tema.

    Como, segundo este mesmo autor,

    o homem um ser de relaes, apresento

    para reflexo e discusso o quadro que

    segue:

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    Descartes (1637), ao escrever o seu aparecem em forma pura, mas com

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    ( ),

    clssico Discurso do mtodo, dizendo que

    empregaria toda sua vida para cultivar a

    razo e progredir tanto quanto fosse

    possvel, no conhecimento da verdade,

    segundo o mtodo que lhe havia prescrito,

    estabeleceu a direo na busca da

    exatido das cincias que permeou os

    sculos subseqentes, conseguindo

    apenas a partir da metade do sc. XX

    solidificar as crticas a este modelo

    fragmentado e possuidor de verdades

    absolutas.

    A educao como um grande campode conhecimento que recebe a influncia

    da transversalidade das cincias criadas e

    debatidas pelo homem, recebe de todos

    as direes, as informaes que vo

    constituindo a sua forma. Este dadofortalece a indefinio que ns,

    professores e professoras, temos

    vivenciado com relao s pedagogias,

    com a inteno que lhe atribumos na

    prtica educativa, porque:

    As tendncias pedaggicas que se

    firmam nas escolas brasileiras, pblicas e

    privadas, na maioria dos casos, no

    p p ,

    caractersticas particulares, muitas vezes

    mesclando aspectos de mais de uma linha

    pedaggica.(PCNs, vol 1, 1997, p. 39)

    Esta mescla de linhas pedaggicas

    provocada pela apropriao desprovida

    de uma reflexo terica sobre a evoluo

    destas tendncias e os seus fundamentos

    conceituais, no que aqui se defenda a

    mera teorizao, pois a ao deve vir

    acompanhada de um processo de

    reflexo-ao-reflexo sobre a prtica, o

    que evitaria estar sobre o domnio da

    viso pedaggica que acredita que:a ao vem depois que nossamente souber o que fazer e porquefazer. Em realidade, na vida nossade cada dia, e das crianas eadolescentes e at adultosaprendemos antes ou

    concomitantemente a fazer, aintervir do que a entender conceituale mentalmente o que e por queestamos fazendo e intervindo.Matrizes pedaggicas diversas quetemos o direito e o dever deconhecer como docentes-educadores e que podero trazer

    outras sensibilidades nossadocncia. (Arroyo, 2000, p. 117).

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    HABERMAS, J. Conocimiento e inters. SAVIANI, Dermeval. Tendncias e

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    47

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    Reflexes sobre a prtica docente no ensino superior

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    Maria Bernadette Castro RodriguesUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

    Primeiramente meu agradecimento

    a esta instituio pelo convite e a

    confiana na abordagem de temtica

    to instigante - a prtica docente no

    ensino superior. Instigante porque, ao

    refletir com vocs, estarei tambm

    refletindo sobre minha atuao, estarei

    me expondo como professora e

    educadora. Ser inevitvel o resgate

    das experincias que venho

    acumulando no exerccio docente no

    ensino superior. Sem fazer uma

    abordagem pessoal, tento evocarepisdios de minha trajetria para

    apoiar e ilustrar as reflexes aqui

    sistematizadas.

    Um sonho: alegria cultural

    O aluno

    Como comear? Um personagem

    importante - o aluno. O espao

    acadmico preenchido por centenas

    de alunos. So eles a razo do nosso

    fazer pedaggico. A eles desejamos

    que sejam felizes durante os anos em

    que esto na universidade. Compartilho

    do sonho de Georges Snyders (1995,

    p. 10) meu sonho que a universidade

    seja vivida ao mesmo tempo como

    formao profissional e como alegriapresente. Trata-se de uma alegria

    culturalcontemplando o entusiasmo, a

    curiosidade, a disposio para o

    estudo, a investigao, ou seja, trata-se

    de um eixo relevante dodesenvolvimento cultural. Uma

    pergunta a ser feita para cada um de

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    Quem participou (ou participa) de sua empirista, ao conceber o conhecimento

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    elaborao?

    Como vocs, sou professora em

    um curso que forma professores.

    Acredito que defendemos a formao

    de professores crticos, conhecedores

    da rea de atuao, engajados na

    melhoria do (con)viver em coletividade.

    Se concordamos com essas

    finalidades, podemos perguntar-nos

    quais tm sido nossas aes, nossa

    prtica docente em direo a esses

    fins. Isso alia-se seguinte questo:

    Quais nossas concepes sobreconhecimento e aprendizagem? Se

    conhecimento no algo dado, no

    acmulo de informaes e, ainda, se

    aprendizagem no depsito de

    informaes na cabea do outro, comovm sendo concebidos esses

    conceitos? Como um grupo de

    professores, atuando em uma mesma

    instituio, cria espaos para que

    sejam discutidas essas questes?

    Afinal, sabemos que o modo de ensinar

    est vinculado a um modelo

    epistemolgico. A epistemologia

    como aistrico, fundamenta uma

    pedagogia centrada no professor,

    detentor do saber, preocupado com a

    transmisso do conhecimento. Na

    epistemologia apriorista o

    conhecimento se produz porque h no

    indivduo uma capacidade interna inata

    (a priori) e, conseqentemente, recai

    em uma Pedagogia centrada no aluno,

    em suas aes espontneas e seus

    insights. Na epistemologia gentica de

    Jean Piaget o conhecimento no est

    no sujeito nem no objeto e sim, eleresulta da interao do sujeito com o

    objeto. A interao do sujeito, agindo e

    sofrendo a ao do objeto, permitir

    que ele construa e produza seu prprio

    conhecimento. Conseqentemente, aprtica pedaggica ser basicamente

    relacional, exigindo um professor

    problematizador diante da ao do

    aluno. Da a importncia de refletirmos

    acerca de nossas concepes, pois a

    opo (nem sempre consciente) por

    uma determinada epistemologia recair

    no modo de ensinar.

    podem ser feitas de uma smula!

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    O plano de ensino

    importante que o aluno tenha

    conhecimento do plano de ensino.

    Entretanto, pertinente perguntarmo-

    nos se os objetivos da disciplina esto

    compatveis com as finalidades

    expressas no projeto acadmico do

    curso. Quais os vnculos da disciplinacom esse projeto? Quais

    aprendizagens esto sendo

    priorizadas? Pretenses parte, qual o

    contedo programtico proposto? A

    articulao est sendo contemplada? Aproposta est adequada ao tempo?

    Estratgias e recursos esto

    explicitados? A bibliografia adequada

    e atualizada? E a avaliao? Quais os

    critrios explicitados? Por estasperguntas refao os procedimentos que

    adoto para elaborar e revisar,

    semestralmente, os planos das

    disciplinas sob minha responsabilidade.

    A partir da smula (ou ementa) da

    disciplina, cabe a cada professor a

    elaborao do plano. Quantos rumos

    podem ser tomados! Quantas leituras

    Explicitadas as finalidades da proposta

    (o que e para que), a escolha de

    estratgias e recursos tarefa

    facilitada. As referncias bibliogrficas

    so fonte para o reconhecimento de

    quem as l sobre as escolhas, sobre as

    abordagens e, principalmente, acerca

    dos fundamentos que embasam aproposta. Costumo sugerir aos alunos

    que faam a leitura de um plano

    comeando pela bibliografia.

    Entendo que a reside a riqueza

    cultural da academia. A pluralidade deplanos de ensino, a pluralidade de

    professores e suas convices, a

    pluralidade de alunos e suas

    convices geram um ambiente

    efervescente de saberes. Perseguir aformao crtica supe, no meu

    entender, viver esse ambiente

    acadmico.

    A avaliao

    Prioritariamente, como professores,

    precisamos atentar para o desenrolar

    da disciplina, compreendendo a

    avaliao como imprescindvel na ato

    d l j i f M t

    Desde minha primeira experincia

    fi i l i t d

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    52

    de planejar e organizar o fazer. Manter

    um acompanhamento permanente,

    recolhendo nos alunos os indicativos

    dos efeitos do trabalho pedaggico

    proposto. As tarefas propostas aos

    alunos, conseqentemente, serviro

    como material investigativo para o

    professor, podendo detectar asaprendizagens feitas, as necessidades

    de melhoria na proposta de trabalho, as

    necessidades de aprofundamento em

    determinadas abordagens. Por isso

    entendo que, no decorrer da disciplina,o aluno deve receber retornos

    imediatos sobre as tarefas realizadas,

    contendo pequenos pareceres e

    evitando o uso de notas e conceitos.

    Se a divulgao de conceitos ou notas feita ao final da disciplina, no h

    razo para sua emisso no decorrer do

    processo. Entendo que proceder

    emitindo notas e conceitos parciais

    desmerecer a importncia do processo

    avaliativo, tornando-o banal e

    mesquinho em clculos e mdias.

    profissional, com o sistema de

    conceitos como representao do

    aproveitamento ou desempenho dos

    alunos. Difcil reduzir as

    aprendizagens, a complexidade do

    processo de aprender, em um

    arremedo de abecedrio. Resisto e no

    adoto a relao notas e conceitos, poisentendo que tanto o uso de notas como

    o uso de conceitos exige indicadores

    avaliativos. O que pode definir uma

    nota 7 e no 9? Ou ainda, o que define

    um conceito B e no C? Por exemplo,em uma instituio que oferece aulas

    presenciais os indicativos avaliativos

    como freqncia e assiduidade e

    pontualidade podem ser considerados

    para definio de conceitos ou notas.Outro exemplo pode ser o indicativo -

    consistncia terica. Manter registros,

    observar se o aluno em suas

    manifestaes orais e/ou escritas

    apresenta posicionamento crtico,

    argumentao terica, utiliza-se de

    exemplos, estabelece relaes com

    leituras e estudos anteriores e com

    outras disciplinas. Enfim, defendo que

    ns professores no incio da

    O tempo acadmico

    O nmero de crditos de uma

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    ns, professores, no incio da

    disciplina, devamos apresentar para os

    alunos, os critrios de avaliao e

    como esses sero considerados

    indicadores na definio dos conceitos

    e/ou notas. Obviamente, esses critrios

    estaro sintonizados com o projeto

    acadmico do curso.

    O espao acadmico

    Os estudos promovidos em cada

    disciplina devem extrapolar os limites

    da sala de aula. Devem levar os alunos consulta, investigao, procura do

    saber, dos saberes. O espao

    acadmico a sala de aula, o corredor,

    a biblioteca, o auditrio, a cantina, o

    laboratrio, o museu, a escola visitada,

    a internet, enfim, aonde os estudos

    levarem os alunos, o espao

    acadmico estar sendo ampliado. O

    desafio est em extrapolar a sala de

    aula com propostas instigantes,

    desafiadoras.

    O nmero de crditos de uma

    disciplina, resulta em um limitador. H

    tanto a ser trabalhado em to pouco

    tempo! O que fazer? Primeiramente,

    cabe a ns, professores, admitirmos a

    arbitrariedade na seleo de

    contedos, ou seja, admitirmos que o

    recorte, a escolha do que ser ou no

    abordado, consistem em uma

    parcialidade ideolgica. Parece-me que

    a nossa tarefa reside em um estado de

    alerta permanente para que no

    percamos as razes da seleo feita.Cito Raymond Williams (apud Silva,

    1992, p. 80) que denominou tradio

    seletivaquilo que vai, no decorrer do

    tempo sendo cristalizado, tornando-se

    alternativa nica, quilo que no incio

    no passava de uma seleo particular

    e arbitrria de um campo muito mais

    amplo de possibilidades. Esta

    colocao incita algumas questes:

    Quais os fundamentos de nossas

    escolhas? Estamos rompendo com a

    tradio seletiva? De que forma? Em

    suma, relevante reconhecermos que

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    e um espao de aprendizagens e de

    muita alegria cultural Penso que h

    ensinar quanto mais sujeitos e nopuros objetos de processo nos

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    muita alegria cultural. Penso que h

    pistas bsicas para que possamos

    chegar perto (e talvez at concretiz-lo

    em sua plenitude) desse sonho.

    O trabalho em equipe

    O trabalho em equipe uma das

    pistas. Reunies, trocas deexperincias, avaliaes sistemticas.

    preciso que haja uma estrutura que

    permita que cada uma das disciplinas e

    nveis estabeleam canais de

    comunicao, criar espaos quepermitam o trabalho em equipe, que

    tornem possvel levar a efeito um

    trabalho interdisciplinar. Romper com a

    tradiodo trabalho individual.

    O nosso ofcio

    No livro Pedagogia da

    autonomia(1996), Paulo Freire nos diz:

    no tenho dvida nenhuma deque, inacabados e conscientes do

    inacabamento, abertos procura,curiosos, programados, maspara aprender, exercitaremostanto mais e melhor a nossacapacidade de aprender e de

    faamos.

    Parece-me que, enquanto

    continuarmos admitindo nossa

    condio de inacabados, estaremos

    perseguindo o aperfeioamento, a

    capacitao de nossa formao. No

    se trata de mais um ttulo a ser obtido,trata-se sim, de uma necessidade de

    busca. Somos ns, docentes, os

    coordenadores do trabalho pedaggico

    um ofcio complexo e exigente.

    Haver caractersticas/ qualidadesindispensveis para aqueles e aquelas,

    que como ns, optam pela docncia?

    A participao

    Tanto docentes quanto alunos,

    medida em que forem participando de

    propostas curriculares integradoras,

    iro aprendendo a debater, refletir em

    equipe e a negociar,

    democraticamente, tarefas e formas de

    efetiv-las.

    A formao de professores

    Formar professores finalidade Indicada

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    Formar professores finalidade

    primeira do nosso trabalho. Em

    especial, so alunos e alunas do curso

    que j atuam como professores. Pode

    ser chavo, mas acredito na proposta

    de que viver o exemplo ainda uma

    bom caminho.

    Para encerrar, penso serapropriado lembrar de que a maneira

    de formar pessoas democrticas

    propiciar a elas a condio de serem

    partcipes de instituies escolares com

    formas de funcionamento democrtico.

    Bibliografia

    Citada

    FREIRE, Paulo. Pedagogia daautonomia: saberes necessrios prtica educativa. 6. ed. So Paulo:Paz e Terra, 1996.

    SNYDERS, Georges. Feliz nauniversidade: estudos a partir dealgumas bibliografias. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1995.

    SILVA, Tomaz Tadeu da. O que produze o que reproduz em educao:ensaios de sociologia da educao.Porto Alegre: Artes Mdicas, 1992.

    Indicada

    ARROYO, Miguel G. Ofcio de mestre:

    imagens e auto-imagens. 2. ed.Petrpolis: Vozes, 2000.

    CHARLOT, Bernard. Da relao com osaber:elementos para uma teoria. PortoAlegre: Artmed, 2000.

    FREIRE, Paulo. Professora sim tia no:cartas a quem ousa ensinar. So

    Paulo: Olha Dgua, 1993.MOREIRA, Antnio Flvio B. (org.)Conhecimento educacional e formaodo professor. Campinas, SP: Papirus,1994.

    MOREIRA, Antnio Flvio B. (org.)Currculo: questes atuais. Campinas:

    Papirus, 1997.PERRENOUD, Philippe. Avaliao: daexcelncia regulao dasaprendizagens entre duas lgicas.Porto Alegre: Artmed, 1999.

    ___________. Pedagogia diferenciada:das intenes ao. Porto Alegre:

    Artmed, 2000.RODRIGUES, Maria Bernadette Castro.Incluso, humana docncia e alegriacultural como finalidades da prticapedaggica. In: VILA, Ivany Souza.(org.) Escola, sala de aula, mitos e ritos:um olhar pelo avesso do avesso. Porto

    Alegre: Ufrgs. (No prelo).SACRISTN, J. Gimeno. O currculo:uma reflexo sobre a prtica. 3. ed.Porto Alegre: Artes Mdicas, 2000.

    SANTOM, Jurjo Torres. Globalizaoe interdisciplinariedade: o currculointegrado Porto Alegre: Artes Mdicas

  • 8/6/2019 TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR

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    integrado. Porto Alegre: Artes Mdicas,1998.

    VASCONCELLOS, Celso dos S.Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto poltico-pedaggico. 6. ed. So Paulo: Libertad,1999. 205 p. (Cadernos Pedaggicosdo Libertad, 1).

    Fundamentos da filosofia franciscana:relao com as finalidades desta instituio

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    e sua prtica educativa

    Iran Rupolo

    Centro Universitrio Franciscano

    Introduo

    Neste texto pretende-se, de

    maneira concisa, destacar

    componentes bsicos do pensamento

    franciscano, considerando a

    especificidade desta instituio de

    ensino superior e seu carter

    confessional; sua concepo

    antropolgica em vista do compromisso

    tico-social na formao de cidados

    capacitados a exercer em sua profisso

    com dignidade e competncia.Na organizao desses elementos

    fundamentais, pretende partir-se de

    uma reflexo inicial sobre os conceitos

    centrais do tema em epgrafe, sua

    relao com a concepo antropolgicae as implicaes nas relaes

    interpessoais considerando a prtica

    educativa.

    Algumas premissas e questes

    bsicas conduzem a presente reflexo:

    1) O Centro Universitrio

    Franciscano expressa, em seu projeto

    educativo e nas aes institucionais, os

    princpios fundamentais que professa.

    2) Os princpios institucionais

    expressos nos documentos devem ser

    materializados nas relaes

    interpessoais e na sinergia dos diversosrgos e setores da instituio.

    3) As pessoas que compem a

    comunidade universitria so o vetor

    mediante o qual se torna concreta a

    filosofia institucional.4) Como romper com estruturas

    pessoais e institucionais que dificultam

    a relao pensamento e princpios

    institucionais e

    interpessoais guiadas pela simplicidade

    e o respeito. Manifesta uma forma de

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    ambiente/relacionamento franciscano

    entre as pessoas?

    5) Proposies prticas para a

    consecuo das metas propostas.

    Princpios fundamentais da

    filosofia franciscanaA filosofia franciscana tem sua

    origem na concepo da pessoa

    humana a partir de So Francisco de

    Assis. Os aspectos que marcam mais

    fortemente esse entendimento econstituem elementos bsicos da viso

    franciscana so:

    a) Fraternidade: Elemento original

    no contexto da mentalidade medieval

    na qual viveu Franci