trabalho docente na educaÇÃo superior
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TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR:PROPOSIES E PERSPECTIVAS
Claudemir de Quadrosorganizador
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CENTRO UNIVERSITRIO FRANCISCANO
IRAN RUPOLOReitora
CLARCIA TEREZINHA THOMASVice-Reitora
INACIR PEDERIVAPr-Reitora de Administrao
VANILDE BISOGNIN
Pr-Reitora de Graduao
OSWALDO ALONSO RAYSPr-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa
MARA REGINA CAINO MARCHIORIPr-Reitora de Extenso
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CLAUDEMIR DE QUADROSOrganizador
TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO SUPERIOR:PROPOSIES E PERSPECTIVAS
Centro Universitrio Franciscano2003
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Apresentao
A qualificao do trabalho didtico-pedaggico do corpo docente do Centro
Universitrio Franciscano uma das prioridades institucionais que tem sido conduzida, com
ateno, pela Pr-Reitoria de Graduao.
Nesse sentido, a Pr-Reitoria de Graduao mantm o Programa de Capacitao
Didtico-Pedaggico que tem por objetivo oportunizar aos docentes momentos de reflexo
sobre os elementos terico-metodolgicos que subsidiam a prtica pedaggica universitria
na atualidade; compartilhar, por meio de relatos de experincias, atividades didtico-
metodolgicas em desenvolvimento nos cursos de graduao; rever questes e prticas
pedaggicas pertinentes ao campo pedaggico-cientfico voltadas para a educao superior
e buscar estratgias poltico-pedaggicas para a reviso curricular de qualidade dos cursos
de graduao.
O Programa de Capacitao Didtico-Pedaggica visa, enfim, a proporcionar a todosos professores atuantes, em docncia superior, a possibilidade de anlise, reflexo e
reconstruo das concepes terico-prticas num ambiente propcio dialogicidade e ao
trabalho coletivo. No mbito deste programa, desenvolvida uma srie de atividades que
visam efetivao de um processo de profissionalizao continuada dos docentes da
instituio e criao de um espao educativo em que as diferenas das reas deconhecimento sejam respeitadas e valorizadas.
nesse contexto que se insere a publicao desta srie de artigos, escritos por
profissionais de atuao reconhecida na educao superior e que foram convidados para
oferecer a sua contribuio formao de educadores no Centro Universitrio Franciscano.
Com isso, a Pr-Reitoria de Graduao espera contribuir, de forma efetiva, para qualificao
do trabalho docente desenvolvido no mbito dos cursos de graduao.
Claudemir de Quadros,assessor da Pr-Reitoria de Graduao.
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Sumrio
Planejamento no ensino superiorDlcia Enricone ............................................................................... 7
Aula universitria do futuro: uma arquitetura estratgica entreconhecimento, tica e poltica
Denise Leite .................................................................................... 13
Mtodos de ensino: decorrncias para a prtica docente universitriaJussara Margareth de Paula Loch ................................................... 29
O uso de dinmicas metodolgicas alternativas e criativaspara promover a qualificao do trabalho docente
Rosane Carneiro Sarturi ................................................................. 35
Reflexes sobre a prtica docente no ensino superiorMaria Bernadette Castro Rodrigues ................................................ 48
Fundamentos da filosofia franciscana: relao com as finalidadesdesta instituio e sua prtica educativa
Iran Rupolo .................................................................................... 58
Inovao institucional e curricular na formao dos profissionais da
educao ps LDB/96: vicissitudes e perspectivasLeda Scheibe .................................................................................. 74
A universidade num ambiente de mudanasRenato Janine Ribeiro ..................................................................... 95
A gesto do ensino superior: o papel dos coordenadores doscursos de graduao
Maria Alice Rodrigues ..................................................................... 109
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Planejamento no ensino superior
Dlcia EnriconePontifcia Universidade Catlica do
Rio Grande do Sul
Introduo
Planejamento
"Trabalho de preparao para qualquer
empreendimento, seguindo roteiro e
mtodo". (Dicionrio Aurlio).
"Processo que consiste em preparar um
conjunto de decises tendo em vista agir,posteriormente, para atingir determinados
objetivos". (Dror).
"Conjunto de aes coordenadas entre
si que concorrem para a obteno de um
certo resultado desejado"."Previso metdica de uma ao a ser
desencadeada e a racionalizao dos
meios para atingir os fins".
comum dizer-se que planejamento
um processo de tomar decises. Seu
campo, porm, muito mais abrangente
do que o da teoria das decises.
As aes humanas devem ser
baseadas nos conhecimentos cientficos,
mas o planejamento precisa ser encarado
tambm pela Filosofia. Os modelos e as
frmulas matemticas podem fornecer
bases para uma ao racional que existeem todo o processo de tomar decises.
Entretanto, quando h uma escolha entre
valores de natureza moral, poltica e social
no h resoluo por clculo matemtico.
O planejamento como ao deve estarbaseado no conhecimento cientifico, mas
tambm tem exigncias axiolgicas,
sociolgicas e polticas.
Maurice Blondel, em sua obra L'Action
(1950), destaca a ambigidade entre o
conhecimento e a ao. Para ele, agindo
que a pessoa procura a harmonia entre
conhecer, desejar e ser. O
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desenvolvimento do ser e sua formao
dependem da ao. esta que, sendo
completa, traz ao ser que a concebeu e adesejou uma nova riqueza que
anteriormente no existia, nem quando a
concebe e nem quando a est realizando.
Blondel faz uma comparao entre a
clareza de esprito que prepara,acompanha ou segue a ao e suficiente
para dirigi-la com um leme que colocado
na popa do navio, sendo to pequeno, guia
o seu curso na direo desejada.
No planejamento, a racionalidade nas
decises torna-se difcil, quando envolve
heterogeneidade de valores. Parece-nos
mais fcil falar sobre a ao em si, a
estratgia do planejamento; muito mais
difcil encarar o problema do planejamento
considerando as premissas de natureza
filosfica, sem deixar de reconhecer
premissas de outras naturezas polticas e
sociolgicas.
Implcita ou explicitamente, o
planejamento reconhece a existncia deproblemas de escolhas entre valores ou
objetivos, em qualquer nvel de realizao.
Celso Vasconcellos (1995) apresenta
trs dimenses da ao humana que se
relacionam dialeticamente como funda-mentos da elaborao do planejamento:
realidade, finalidade e mediao. A cada
uma destas dimenses corresponde um
tipo de atividade reflexiva, respectiva-
mente, cognoscitiva, teleolgica eprojetivo-mediadora.
A realidade o ponto de partida, pois
quando se planeja o "para onde ir" e quais
as maneiras de "chegar l" tem-se em vista
a situao presente e as possibilidades
futuras.
A finalidade trata-se a uma realidade
futura. " a construo de representaes
mentais sobre o que se deseja. A
mediao a previso das aes, do
movimento"(p. 46).
O planejamento uma necessidade
face complexidade da prtica educativa e
tem entre outras finalidades: tornar a ao
pedaggica mais eficaz e eficiente,
racionalizar o tempo, pensar maissistematicamente sobre a realidade.
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Planejar
Planejar atividade previsora e reflexiva
que faz parte do ser humano, voltada paraas mais diversas situaes de vida.
Considerando que planejar :
-"elaborar o plano de interveno na
realidade, aliado exigncia de
intencionalidade de colocao em ao"(id., p. 43).
-"antecipar mentalmente uma ao a
ser realizada"(id., p. 42),evidencia-se que
planejar implica previso de ao futura
antes de realiz-la.
Vasconcellos observa que a elaborao
no ainda a ao. Entretanto so etapas
que se sucedem: "so momentos em que
predomina a reflexo ou a ao, mas
ambos constituem uma unidade
indissolvel"(id., p.43). s duas etapas ou
momentos, junta-se a avaliao do
conjunto. importante destacar a posio
de Vasconcellos de que "planejar implica
acreditar na possibilidade de mudana e
que planejamento uma mediao terico-metodolgica necessria." (id., p. 26).
Planejar, portanto, dependendo do
objeto, das situaes, das atividades, das
pessoas envolvidas, dos processos e dos
valores, adquire peculiaridades singulares.
Plano
Em Sacristn e Prez Gmes
(1998), encontramos sobre plano:
"esquemas flexveis para atuar na
prtica"(p. 279);"roteiro orientador da prtica do
professor e do aluno"(p. 279);
"concretizao da ordem para
desenvolver atividades"(p. 199);
esboo de realidades complexas para
guiar processos cujo desenvolvimento
se define no prprio curso de realizao
da prtica."(p. 205.)
Como constatamos, a idia de
flexibilidade e o carter de tentativa esto
presentes nos planos, produtos provisrios
do planejamento.
Ao planejar, estamos refletindo e
deliberando sobre a prtica docente que se
caracteriza pela multidimensionalidade,
simultaneidade, rapidez, imprevisibilidade,contextualidade e, ainda, pela experincia
subjetiva de cada um.
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Sem dvida apesar destas
caractersticas da prtica docente, o plano
tem vrias utilidades como: facilitar aautoformao do professor, por ser um
momento de reflexo sobre a prtica;
proporcionar mais confiana para enfrentar
aspectos imediatos e imprevisveis do
cotidiano; tornar a ao pedaggica maiseficaz e eficiente ao racionalizar o tempo e
as experincias de aprendizagem;
estabelecer a comunicao com outros
professores visando a compartilhar
experincias; servir de recurso para a
avaliao.
O plano envolve idias, teorias,
finalidades, experincias prticas e como
diz Sacristn, "torna-se um momento
privilegiado de potencial comunicao
entre o pensamento e a teoria com a ao"
(p. 279).
Estrutura do plano de ensino-
aprendizagem
Partindo da idia proposta porVasconcellos de que a elaborao do
plano um processo de construo de
conhecimento, pode tomar-se a estrutura
por ele proposta para estudar o esquema
das trs dimenses de ao humana;
realidade, finalidade e mediao, e nelas,situar as reflexes de vrios outros
autores.
O ponto de partida para elaborao do
plano de ensino-aprendizagem a anlise
da realidade que inclui os sujeitos - alunose professores - objetivos, contedos,
metodologia e recursos.
Os pressupostos a seguir apresentados
introduzem reflexes que podem ser e tm
sido aprofundadas por diversos autores e
aqui apenas procuram criar novos
questionamentos e propor inovaes. Eles
dizem respeito ao modo como o
planejamento do processo de ensino-
aprendizagem vivenciado e,
evidentemente, abrangem apenas alguns
dos seus aspectos. Estes pressupostos,
que so amplos, podem ser desdobrados
em pressupostos instrumentais sendo
visualizados diferentemente pelos
educadores, conforme suas teorias eideologias e conforme os momentos de
elaborao, de realizao interativa e de
avaliao de conjunto.
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a) O pressuposto fundamental da
educao to importante quanto suas
finalidades, supondo que a pessoa sejaperfectvel e que o mundo seja um
processo eternamente inacabado de
potencialidades dialticas.
b) O estabelecimento de objetivos de
ensino essencial e o relacionamento comos fins da educao um processo
dinmico.
c) O contedo envolve
conhecimentos, habilidades, atitudes,
valores, operaes mentais.
d) O processo de seleo de
contedos precisa, a partir da realidade do
aluno e da sociedade, considerar vrios
critrios.
e) Os contedos devem ser
integrados para propiciar experincias
culturais em espaos mais vastos.
f) O professor, como pessoa, deve
ser analisado segundo pontos de vista
humano, tico, intelectual e profissional.
g) Ao organizar e dirigir situaes deaprendizagem o professor deve:
- evidenciar conhecimento dos
contedos;
- construir seqncias didticas;
- trabalhar a partir das representaes
dos alunos;- envolver os alunos em pesquisa;
- criar espaos de conhecimentos
compartilhados;
- desenvolver competncias
fundamentadas em uma culturatecnolgica.
h) Cabe ao professor suscitar o
desejo de aprender e desenvolver a
capacidade de auto-avaliao dos seus
alunos.
i) O aluno deve construir sua prpria
aprendizagem, ter autonomia intelectual e
definir seu projeto pessoal.
j) A relao interpessoal entre
professores e alunos deve envolver todas
as dimenses dos sujeitos.
k) As atividades pedaggicas devem,
a partir da localizao histrica de um
conhecimento percebido interdisciplinar-
mente, estimular a curiosidade e
desenvolver a anlise e a criticidade.l) A avaliao tem o carter de
acompanhamento do processo e est
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relacionada ao projeto pedaggico da
instituio.
Concluso
Concordando-se que planejar aceitar
a possibilidade de transformar a realidade
reformando-se o pensamento e, portanto,
reformando o ensino, convm registrar osquatro itens bsicos, para que isto
acontea, que so propostos por Edgar
Morin:
1) Conhecer as partes depende do
conhecimento do todo. Conhecer o todo
depende do conhecimento das partes.
2) Os fenmenos multidimensionais
devem ser reconhecidos e examinados.
Isol-los em suas respectivas dimenses
uma forma de mutilar o conhecimento.
3) A realidade, seja qual for sua
procedncia (poltica, social, religiosa),
deve ser reconhecida e tratada,
simultaneamente, de forma solidria e
conflituosa.
4) A diferena deve ser respeitada. Aunicidade, reconhecida.
nesta linha de reforma do
pensamento que isola, que deve ser
pensado o planejamento, buscando-se opensamento que une, que solidariza, que
favorece o senso de responsabilidade.
Bibliografia principal
BLONDEL, Maurice. Laction. Paris: PUF,1995.
HANNOUN, Hubert. Educao: certezas eapostas. So Paulo: Unesp, 1997.
MORIN, Edgar. Cabea bem-feita. Rio deJaneiro: Bertrand, 1999.
PERRENOUD, Philippe. 10 novascompetncias para ensinar. Porto Alegre:Artmed, 2000.
____________. Construir as competnciasdesde a escola. Porto Alegre: Artmed,1998.
SACRISTN, J. Gimeno., PREZ
GMEZ, A. L. Compreender e transformaro ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.
VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento:plano de ensino-aprendizagem e Projetoeducativo. So Paulo: Libertad, 1995.
VEIGA, Ilma P. A., CASTANHO, MariaEugnia L. M. (org.). Pedagogia
universitria: aula em foco. Campinas:Papirus, 2000.
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Aula universitria do futuro:uma arquitetura estratgica entre conhecimento,
tica e poltica
Denise Leite
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IntroduoAo falar sobre este tema, devo
esclarecer o lugar de onde o fao. Minha
experincia na universidade prende-se ao
ensino e pesquisa com temas como
inovao, pedagogia universitria1
e
1Na tradio cultural francesa, a pedagogiainiversitria, est voltada para o estudo doconhecimento como matria-prima do ensinar,aprender. No contexto latino-americano, aPedagogia Universitria tem como objeto deestudo o ensino, a aprendizagem e a avaliao
educativa e institucional na universidade.Preocupa-se com a formao docente para oexerccio pedaggico profissional. No contextobrasileiro, a pedagogia universitria vem sendodesafiada pela diversidade institucional, pelaausncia de programas continuados de formaodocente e pelas constantes presses sobre amodificao de currculos das carreirasprofissionais. A pedagogia universitria, em nossomeio, confronta-se com a Didtica e as
Metodologias do ensino superior, distanciando-sedestas disciplinas pela especificidade de seuobjeto - a universidade. O conhecimento e oscurrculos das carreiras de formao universitria,o ensino, a aprendizagem e a avaliao em cadaum dos campos cientficos so algumas de suastemticas. Desenvolve tambm, a avaliao
avaliao institucional. Desta forma, vouabordar o assunto proposto, resumido no
ttulo, a partir deste perfil. Um olhar
datado, acrescido com o peso de uma
bagagem experiencial de trs dcadas;
um olhar como profissional da educaoque tem seus referenciais em dois sculos
diferentes, como muitos que aqui esto.
Vejo como uma responsabilidade, o fato
de ter vivido em um tempo que, no Brasil,
conheceu-se a educao clssica e
humanista dos jesutas, do Alceu de
Amoroso Lima e do Fernando de
Azevedo; o progressivismo, de Ansio
Teixeira; o behaviorismo; a
epistemologia gentica; o construtivismo;
institucional das universidades na perspectiva desua contribuio pedaggica para melhoria daqualidade do ensino.
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a educao dialgica e crtica de Freire e,
agora, na passagem de sculo, vislumbra
o desconstrutivismo e as incertezas ps-modernas. Com tal nmero de
concepes e tendncias, vejo como uma
responsabilidade a orientao terica e
prtica do ensino e da aula universitria,
de hoje e do futuro.
Ainda me inquieta saber como vou
ensinar, o que vou ensinar, diante de
tantas possibilidades e, ao mesmo tempo,
tantas incertezas. Mas me anima saber
que no estou s nesta inquietao e na
caminhada em busca de respostas.
Aula universitria do futuro
Se neste momento perguntasse a
vocs: o que vo ensinar no ano 2010?
Como vocs vo ensinar no ano 2010?Qual seria a resposta?
Fiz estas perguntas em uma de minhas
aulas para docentes universitrios.
Imediatamente, uma aluna me disse:
Eu no sei! A cada semestre quereinicia eu no sei como fazer.
Repeti essa pergunta aos meus
estudantes de ps, todos professores
universitrios como ns. Respondeu-meoutra aluna:
Atualmente sou responsvel peladisciplina Teoria EletromagnticaAplicada, do curso de graduaoem Engenharia Eltrica. Estadisciplina, no campo conceitual,
repousa sobre as relaes descritaspelas leis de Maxwell divulgadas emmeados do sc. XIX, o magnetismoclssico. Certamente, daqui a dezanos o contedo vai ser o mesmo,pois este conjunto de relaesdescreve os campos eltricos emagnticos de tal forma que at
hoje no foi contestado (verdadefsica). Alm do mais, estasrelaes conseguem modelar arealidade com que operam osEngenheiros eletricistas combastante preciso. De tal forma quepermitem projetar novas mquinaseltricas, enlaces rdio-eltricos eassim por diante.
Mais adiante, ela explica o como,
justificando seu pensamento:
A inovao nesta rea, deveaparecer nas aplicaes estudadas.Por exemplo, h dez anos atrs seestudavam os projetos de enlacesrdio-eltricos ionosfricos (rdiodifuso em ondas curtas) e hoje
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estudam-se os enlaces em viradadireta (telefonia mvel). 2
Ser esta a verdade em todas reas do
conhecimento?
Acredito que a resposta seria um no.
Nas Cincias Matemticas e Fsicas, o
conhecimento acumulado pela
humanidade essencial para o avano donovo. Contudo, se pensarmos um pouco
adiante, veremos que a prpria Fsica,
uma hard science, trabalha com a
incerteza, especialmente ao abordar
grandes campos tericos (teoriasqunticas, por exemplo).
Nas reas de conhecimento das
Cincias Humanas e Sociais, acredito
solenemente que ainda vamos ver muitas
novidades nos prximos dez anos. Se
avanarmos nosso pensamento para
outras reas do conhecimento,
envolvendo saberes pluri ou
multidisciplinares, como a Informtica, a
Microeletrnica, a Gentica, as Cincias
da Comunicao, ento, teremos maiores,
mais velozes e profundas mudanas.
2 Depoimentos escritos Seminrio EDP53-PPGEDU/Ufrgs maio, 2000.
Estas mudanas e inovaes talvez
precisem ser captadas por ns,
professores, com profunda ateno.Mesmo aqueles que, entre ns, no esto
frente das linhas de pesquisa das reas
cientficamente avanadas, reconhecem
que na sala de aula que o conhecimento
cientfico se transforma em contedos de
ensino para dinamizar as aprendizagens
de todos. Precisamos estar atentos.
A mesma questo vista por outros
professores d algumas pistas sobre a
sensibilidade para perceber mudanas:
Eu no teria a mesma disciplina, diz a
professora da Pedagogia.
Haver grande quantidade de
conhecimento, impossvel de ser
aprendido, diz outro docente da
Educao.A certeza de que vamos ter uma
quantidade imensa de informao, muito
conhecimento, est delineada hoje.
Delineia-se igualmente uma certa reflexo
sobre as condies do exerccio dasprofisses no campo social. A professora
de tica e Filosofia, por exemplo, afirma
que os contedos, as formas de ensinar e
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as concepes do trabalho acadmico
talvez no mudem muito, mas sero
profundamente influenciadas pelo camposocial. E, eu acrescentaria, pelo campo
econmico.
Avanando um pouco mais, com as
respostas dadas s perguntas 2010.
Quais so as caractersticas apontadas
para o docente, o aluno e as metodologias
de sala de aula universitria?
Meus alunos docentes responderam
que o professor no vai mais ser o dono
do conhecimento. Eles dizem:
(O professor) Perde o estatuto depossuidor de conhecimento passando a orientador. Noestar ensinando, mas, interagindocom outros aprendentes naconstruo de conhecimentos; Oprofessor ser um organizador de
espaos (ateli, projeto) e mediadordos conhecimentos. Ou, dar aulascompartilhadas com outrosdocentes
O professor do futuro, sintetizando,
trabalhar com outros docentes em sala
de aula e ser um orientador de
aprendizagens de um aluno visto como
bastante autnomo. No vai encarnar a
figura do docente-sabedoria com
respostas ilimitadas a todas s questes.
Como organizador de espaos, ele vaiprover tecnologias. Vai ser tambm, um
mediador de conhecimentos. Ou seja,
parece que, na opinio dos alunos, o
docente perderia poder no espao ulico,
sendo organizador; do contexto ensino-
aprendizagem, ele se tornaria um
mediador de conhecimentos produzidos
por outros?.
Por outro lado, o aluno representado
como algum que vai fazer o seu
currculo:
(O aluno)Define seu currculo em
funo das necessidades de mercado.
O aluno ser um gestor do seu prprio
currculo. Os currculos sero planos de
estudos organizados pelos grupos.
Currculo com reas transversais, como
biotica, espiritualidade e qualidade de
vida e sistema referencial por regio.
Os alunos sero: Sujeitos autnomos
com suas competncias cognitivas;aqueles que aprendem a aprender,
aprendem a ser, aprendem a conviver.
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especialmente aqueles vinculados s
profisses liberais, mas, dizem os
estudantes, no sabem ensinar, notm didtica. Entre os docentes-
pesquisadores, full time, estas mesmas
queixas, com outras justificativas, tambm
podem ser registradas. (Leite et al, 1998)
Por outro lado, a pesquisa tem
mostrado que as pedagogias empregadas
em sala de aula costumam ser diretivas -
o professor fala e o aluno escuta e copia,
ou faz cpia reproduzida do caderno do
aluno do ano anterior, da central de
provas armazenada pelos estudantes
veteranos, das apostilas do professor,
quando estas existem. Admite-se que o
professor ensina porque transmite um
contedo que domina e o aluno aprende,
porque reproduz na prova ou no trabalhoescrito, aquilo que foi solicitado pelo
professor. Para Becker (1994), ainda
estamos diante do empirismo,
epistemologia que sustenta a doutrina
pedaggica diretiva que supe o alunocomo tabula rasa sobre a qual o docente
vai imprimir uma formao, um direo
educacional. Segundo Becker (1994, p.
90), o professor acredita no mito da
transferncia de conhecimento, at
mesmo porque foi assim que ele aprendeuna universidade.Nessa sala de aula nada
de novo acontece: velhas perguntas so
respondidas com velhas respostas. A
certeza do futuro est na reproduo pura
e simples do passado.
O mesmo autor discute pedagogias no
diretivas, quando o professor um
mediador do conhecimento, um facilitador,
aquela posio defendida ou sugerida por
meus alunos, para o professor do futuro.
Diz Becker: o professor no-diretivo
acredita que o aluno aprende por si
mesmo, ele traz conhecimentos de sua
prtica, de sua herana gentica. O
professor deve policiar-se para interferir o
mnimo possvel. Qualquer semelhanacom a liberdade de mercado do neo-
liberalismo mais do que coincidncia.
O apriorismo a epistemologia que
fundamenta esta viso pedaggica, ou
seja, o que vem antes, a priori, disciplinao depois.
Becker, neste texto, sobre modelos
epistemolgicos e pedaggicos, ainda
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imagens, seus elementos-chave. Essa
aproximao, de finalidades didticas, tem
seu apoio em Bernstein (1986; 1998) paraquem uma teoria deve ser prtica o
suficiente para permitir integrar os nveis
micro e macro de anlise, isto , os nveis
de interao institucionais e macro-
institucionais e construir linguagens para
efetuar a integrao desses nveis. Ou
seja, para o autor, em sala de aula,
lidamos com trs elementos centrais :
a) currculo: conhecimento considerado
vlido;
b) pedagogia: forma de transmisso de
conhecimento;
c) avaliao: realizao adequada do
conhecimento.
Usando o recurso da representao
grfica, encontraramos a seguintesituao, visualizada nas figuras abaixo:
Maria Isabel Cunha, dentre outros, a respeito dotema.
a) Conhecimento
Em sala de aula se trabalha com uma
fatia do universo dos conhecimentos quecompem o currculo do curso.
Currculo = conhecimento
Disciplina = contedo
Em sala de aula, um contedo apenas,
uma pequena fatia do universo do
conhecimento, selecionada e
organizada, pelomenos, em 3 momentos
ou etapas, no-concomitantes ou
necessariamente seqenciais.
Introduo
Desenvol- Fechamento
vimento
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A pergunta chave que preciso fazer
para definir esta sequncia responde indagao: o que meus alunos vo
aprender hoje?
No desenvolvimento, na introduo ou
no fechamento, cuja ordem varia, a
pergunta chave que direciona a escolha,
passa pela inteno de produzir
aprendizagem.
b) Pedagogias e formas de
transmisso do conhecimento
Para ensinar, para trabalhar com
conhecimentos/contedos, selecionam-se
formas de transmisso, que podem ser
presenciais e no-presenciais, visveis ou
invisveis, quer a escolha recaia sobre um
quer recaia sobre outro formatopedaggico.
Presencial
Visvel Invisvel
no presencial
Em aula, transmito o que vejo e o que
no vejo, por meio de pedagogias visveise invisveis. As pedagogias so visveis,
como ensina Bernstein, porque seus
critrios de seqncia, tempo e formatos
ficam claros para alunos e professores.
So pedagogias invisveis quando os
critrios empregados para sua seleo,
ficam implcitos, sendo de conhecimento,
de domnio do professor. Bernstein coloca
as pedagogias construtivistas nessa
ltima possibilidade. Tanto as pedagogias
visveis quanto as invisveis podem ser
desenvolvidas por toda e qualquer
tecnologia de ensino disponvel no
repertrio do professor: aulas dialogadas,
aulas expositivas, estudos de textos,
livros, trabalhos em grupo, pesquisa,estudo de casos, jri simulado, jogos,
tecnologias da informao e outras.As pedagogias podem ser presenciais e
no-presenciais, conforme se efetivem em
classe, com presena de alunos edocentes, ou via rede, correio eletrnico,
educao distncia e outros formatos
que dispensam a presena fsica do
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docente com o aluno, mas no dispensam
a presena, mesmo que virtual, da
relao pedaggica.Para Bernstein, aqui reside a fora da
educao nas formas de transmisso do
conhecimento aqui que se
disponibilizam aos alunos, os cdigos de
acesso ou os mistrios do
assunto/contedo; que se possibilitam, ao
maior nmero de pessoas, conhecer,
construir conhecimentos, relacionar
saberes e experincias, inferir
significados, criar ou destruir mitos,
apropriar-se do universo de sentidos que
a cultura humana produz. Mas, tambm
por meio das formas de transmisso e das
pedagogias, que se fazem
enquadramentos, classificaes e
separaes, principalmente com oemprego de:
- fronteiras fortes - separao entre
contedos ou entre sujeitos, entre sujeitos
e conhecimentos
- cdigos coleo - utilizao decdigos que colocam
conhecimentos/saberes, um ao lado do
outro, sem estabelecer ligaes ou
relaes.
Por meio das formas de transmisso,ou seja, pelas pedagogias, posso manter
as coisas separadas, isoladas e, com isto,
contribuir para que cada sujeito/aluno
permanea em sua
classe/categoria/condio. Pelas formas
de transmisso do conhecimento podem
ser reproduzidas as relaes de poder e
controle existentes na sociedade.
aqui, no espao da aula universitria,
que se pode construir, a relao
sujeito/conhecimento/ mundo; a relao
indivduo-sociedade. entenda-se, em
princpio, que ao falar em sociedade, no
se est excluindo dela o setor produtivo, o
mercado e as empresas.
Estado
Sociedade universidade
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As formas de transmisso se realizam
nas mais variadas interaes aluno-aluno
e professor-aluno. Constroem-se,relaes sujeito/sujeito, como atos
constitutivos da aprendizagem.
Aluno
Professor
Aluno
Aluno
Aluno
Para Fernandes (1999), a interao em
sala de aula cria uma teia de relaes entre
o intelecto e o afeto que mobiliza os sujeitos
para o conhecer. Vrios autores confirmamque reside na interao positiva em sala de
aula, na convivncia com troca de afetos,
presencial ou no-presencial, o elo
fundacional da aprendizagem.
c) Avaliao
Em uma aula, tradicionalmente, seja ao
final do ms, ou do semestre, ou em todasas aulas, a ttulo de fechamento, faz-se
avaliao, isto , verificam-se as
aprendizagens do aluno. A avaliao
revela o elo entre ensino e aprendizagem.
ensino
professor currculo
aprendizagem
A avaliao revela o elo entre
conhecimento-formas de transmisso,valores-atitudes. Da mesma forma, como
as pedagogias carregam cdigos de
acesso ao conhecer, ou cdigos de no-
acesso - pelas separaes entre
contedos, defesa de fronteiras entreconhecimentos- as formas de avaliao
produzem classificao e enquadramento.
A avaliao, como as formas de
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forma, mais do que devolver ao
professor o que ele ensinou. A avaliao
resulta ser um elemento-chave da aulauniversitria na medida em que, como
parte ntegra e integradora da aula
universitria, ela contribui para
desenvolver as capacidades de pensar e
refletir e de ser sujeito do aluno.
Alm disso, convm lembrar de que a
aula universitria, ao reunir distintos
elementos, configura-se como um espao
complexo onde o conhecimento, a
pedagogia e avaliao podem ser
influenciados pelo campo cientfico de
cada carreira profissional e por sua fora
na estrutura social, como comprovado em
estudo anterior (Leite e Cunha, 1996).
Decorre que no podemos pensar em um
ensino monoltico ou apenas reprodutivo,no qual, o contedo que serve para uma
aula, serve para outra, o que foi visto com
um grupo de alunos, serve para outro com
distintas caractersticas, o que foi
ensinado no ano passado serve para osalunos deste ano. Cada aula diferente
de outra: em cada ano e semestre este
espao se reconstri dinamicamente.
Cada espao tem sempre novos
personagens, novos atores em busca de
conhecimento. Um conhecimento que,afetado pelo campo cientfico, sem dvida,
recontextualizado para a sala de aula e
reconstrudo, transformando-se em um
conhecimento social4. Ao ser reconstrudo
no cotidiano dos territrios de sala de
aula, diferentes racionalidades se
interpem, influindo nas formas de
transmisso, por meio de uma complexa
rede de relaes, chamada por Fernandes
(1999) de teia de relaes. Teia porque,
como a construo da aranha, uma
arquitetura nica, laboriosa. Mas,
tambm uma teia porque se faz e desfaz
com qualquer vento contrrio. Emoes e
afetos, assim como o intelecto, objetivam
a construo da teia de conhecimentos edas relaes que ajudam a conhecer.
Revolucionar a sala de aula?
No so apenas os docentes e
pedagogos que se preocupam com a sala
4 Ver a respeito Conhecimento social na sala deaula universitria e auto-formao docente (Leite,2000).
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de aula. Com o ttulo revolucionar a sala
de aula? foi publicada, recentemente,
uma crnica em revista de circulaonacional (a interrogao minha). O autor
era um consultor e administrador de
empresas que pede ateno para a aula,
dizendo que os alunos esto
desmotivados, intelectualmente passivos,
ouvem e obedecem, decorando. Tal como
nosso aluno que descreveu o professor do
futuro, ele fala em um arquiteto de salas
de aula aquele que faz a arquitetura
estratgica dessa complexidade simples
que a aula. Tal como nossos alunos que
do ao professor do futuro um papel de
mediador, pede aos alunos que eles
revolucionem a sala de aula, olhem para o
problema da comunidade, da favela, da
sociedade, sejam criativos, resolvamsituaes. E, acrescenta que se os
professores quiserem, ser timo. Porm
a responsabilidade pela revoluo deve
ser do prprio aluno pois no futuro no vai
ser o professor que vai aprov-lo, mas avida. Ou seja, tal como meus alunos, o
professor visto como desnecessrio.
No entanto, pesquisas recentes
continuam centrando no professor a
responsabilidade, quase iluminista, deobteno de sucesso no ensino. Sucesso
e responsabilidade pelos resultados, pelos
produtos. O professor chamado de
prtico-reflexivo, suas memrias so
resgatadas, seus saberes docentes so
pesquisados, julga-se que ele possuidor
de um conhecimento prtico. Sem dvida,
tudo isto muito importante para agora.
Mas, e para o futuro? No basta ser um
mediador, fazer uma arquitetura
estratgica de sala de aula.
Se, de dentro e de fora do campo
educativo, discute-se o quesabe e o para
quesabe o docente, melhor seria assumir,
com competncia, nosso espao de
trabalho o espao da aula universitriacom todas as suas implicaes e
necessidade de inovao.
Lembrando de Bernstein, reside na
Pedagogia, nas formas pelas quais se
trabalha com o conhecimento, o segredoda produo, do acesso aos cdigos, o
sentido do uso da tica, a compreenso
dos princpios e valores humanos. No
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cotidiano, a meu ver, este ser sempre o
eterno papel do docente em sala de aula
universitria, presencial ou no-presencial, pedagogia visvel ou invisvel
lidar com o humano, demasiado humano,
da relao educativa. At porque, na
sala de aula que se constri
aprendizagem e esta sendo individual na
existncia dos sujeitos, coletiva na sua
essncia, ou seja, ningum aprende sem
o outro.
No preciso muito para revolucionar a
sala de aula, de hoje ou do futuro.
Protagonismo dos atores, sem dvida;
epistemologias e pedagogias em
consonncia, sem dvida; criatividade,
novas tecnologias, sem dvida. Mas, o
arquiteto de sala de aula, agora e no
futuro, construir com seus alunos, teias,redes de relaes, entre conhecimento
social, tica e poltica por meio de
diferentes e entrelaadas dimenses que
produzam novas configuraes de
aprendizagens. Nesse sentido, nenhumatecnologia substituir o professor, pois a
ele cabe o papel de resgatar, de tornar
presente, o sentido humano da relao
educativa na sala de aula universitria,
sem o qual, qualquer conhecimento, por
importante que seja, perde a suafinalidade. Cabe o papel, como ensina
Stenhouse (1987) de valorizar a arte do
ensino como uma dialtica entre a idia
e a prtica, que no deve separar-se da
mudana.
Referncias bibliogrficas
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MASETTO, Marcos (org.). Docncia na
universidade.Campinas: Papirus, 1998.STENHOUSE, L. La investigacin comobase de la enseanza. Madrid: Morata,1987.
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Mtodos de ensino: decorrncias para a prticadocente universitria
Jussara Margareth de Paula LochPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul
Em primeiro lugar quero agradecer o
convite para estar aqui trabalhando e
dialogando com os professores desta
universidade. Cumprimento aos
integrantes da mesa e a todos aqui
presentes.
Inicio minha fala, escrita,
problematizando algumas questes, logo
aps busco analisar as concepes de
educao, ensino e aprendizagem para
ento ir ao foco deste encontro que a
metodologia no ensino superior.Convido a todos para refletirmos
sobre algumas questes: Qual a
metodologia mais adequada? Existe um
mtodo? Para respondermos a essas
questes existem outras questes que seimpem! O que queremos ensinar? Para
qu? Para quem? O mtodo tambm
contedo? A forma como ensinamos e
como aprendemos nos constituem como
sujeitos? Tambm forma a nossa
subjetividade?
Segundo Edgar Morin (2000, p. 11), a
misso da educao que ele chama de
ensino educativo, para distingu-la de
outras formas educativas, transmitir no
o mero saber, mas uma cultura que
permita compreender nossa condio e
nos ajude a viver, e que favorea, ao
mesmo tempo, um modo de pensar aberto
e livre.Morin afirma que Kleist tem razo ao
escrever que o saber no nos torna
melhores nem mais felizes mas,
complementa dizendo, que a educao
pode nos ajudar a sermos mais felizes emelhores, a assumir a parte mais prosaica
e viver a parte mais potica de nossas
vidas.
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Neste sentido podemos refletir sobre o
pensamento de Brando (2002): a
educao no muda o mundo, muda oshomens e, os homens mudam o mundo,
essa idia d finalidade ao ato educativo
tanto do ponto de vista individual e no
individualista, como tambm coletivo e
no competitivo.
A educao, nessa perspectiva, deve
contribuir para a autoformao da pessoa,
isto a ensinar a assumir a condio
humana, ensinar a viver, vivendo e, a
ensinar a como se tornar cidado, sendo
ou exercendo cidadania. Portanto, nesta
concepo conhecimento meio,
cidadania o fim.
Um cidado definido em uma
democracia, por sua solidariedade e
responsabilidade com o outro, com a suacomunidade, e em relao a sua ptria. O
que supe nele o enraizamento de sua
identidade nacional, continental,
planetria. Exemplo: as marchas pela paz
realizadas no mundo inteiro por ocasioda guerra contra o Iraque.
Nesse sentido Morin coloca um
desafio importante ao ensino universitrio:
gerar intelectuais polivalentes, abertos,
capazes de refletir sobre a cultura em
sentido amplo. E, considera urgenteencorajar professores de todos os nveis a
religarem suas disciplinas assim como a
investir em reformas curriculares que
propiciem uma reflexo sobre natureza e
cultura, homem e cosmo rejuntados
tratados como totalidade e, que edifiquem
uma aprendizagem cidad capaz de repor
a dignidade da condio humana.
Importante para isso compor energia
cognitiva e poltica suficientes para
construir uma educao pluralista,
transgressora, democrtica, que garanta
s futuras geraes o direito planetrio de
repensar o mundo de modo mais tico,
responsvel.
Portanto, eleger uma metodologiaenvolve fazer opes e ver at onde
podemos criar o novo ou adaptar, ou
conservar os paradigmas sociais e
educacionais existentes. Os mtodos so
caminhos a serem construdos e noreceitas, que aplicadas mecanicamente
produzem resultados imediatos. Pode
dizer-se que no h mtodo ou o mtodo,
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Prope, portanto, a educao
universitria como processo de formao
da competncia humana, com qualidadeformal e poltica, encontrando no
conhecimento inovador a alavanca
principal da interveno tica. O critrio
diferencial da pesquisa o
questionamento reconstrutivo, que
engloba teoria e prtica, qualidade formal
e poltica, inovao e tica. tica da
competncia que no pode ser reduzida
competividade. Inovao, por tratar-se do
conhecimento crtico e criativo.
A qualidade formal, dos meios, dastcnicas, dos instrumentos, da
reconstruo do conhecimento precisa vir
acompanhada da devida qualidade
poltica. Pois esta o fim, aquela o
meio. Caractersticamente, o mercadoaprecia apenas a qualidade formal, no
gosta de cidadania, porque no convive
bem com o esprito crtico e a busca de
sociedades alternativas. A politicidade de
Paulo Freire volta tona: aprender constituir-se num sujeito capaz fazer-se,
de construir histria prpria. Coloca a
concientizao como princpio
metodolgico e para isso reafirma trs
dimenses do ato educativo: a leitura do
mundo ou estudo da realidade, tomar aprtica social como ponto de partida;
realizar um processo de teorizao sobre
a prtica, quais os contedos /
conhecimentos que distribuiremos, ou que
do conta da transformao desta mesma
prtica? e, a terceira dimenso como se
dar a criao/ aplicao de inditos
viveis advindos destes novos
conhecimentos construdos pelos alunos e
disponibilizados pelos educadores?
Vou detalhar um pouco mais esseprocesso. Segundo Martins (2002), h
conhecimentos desenvolvidos pelo
aprendiz e h conhecimentos
desenvolvidos pelo professor. Entre eles,
esto os saberes, que o segundo deveensinar de forma que o primeiro aprenda e
transforme em seus conhecimentos. Se
h conhecimentos do lado dos alunos,
importa que o professor os descubra, se
h conhecimento do lado dos professoresimporta tambm que os aprendizes os
descubram, sendo os saberes os
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intermedirios para esta descoberta
mtua.
Durante muitos anos, os erros dos
alunos foram considerados dignos de riso,
s mais recentemente que se passou a
consider-los como conhecimentos dos
quais os aprendizes dispem e utilizam
como meio para apropriarem-se dos
saberes que os professores trabalham na
relao didtica. Quaisquer que sejam os
conhecimentos prvios, com eles que os
alunos vo estabelecer relaes a
respeito dos saberes que o professor
apresenta e quer ensinar. O professor,ento, precisa lanar o debate e deixar
que os alunos expressem seus
conhecimentos prvios sobre o que est
interessado em ensinar, sem impor o
saber inicialmente de referncia.Esse conhecimento importante
porque o professor precisa desestabilizar
a concepo que os alunos apresentam.
necessrio desempenhar o seu papel de
mediador, colocando em interao o saberobjeto de ensino, os conhecimentos
prvios dos alunos e as exigncias da
situaes( singularidade dos alunos ) para
que haja o conflito cognitivo e, portanto a
aprendizagem.
O debate em sala de aula, onde o
professor no impe os saberes de
referncia como ponto de partida, mas
tenta descobrir os conhecimentos prvios
dos alunos, introduz na relao didtica a
metfora da devoluo didtica, isto , o
professor se recusa, voluntariamente, a
apresentar atos de ensino com o fim de
que cada aluno se apresente,
apresentando assim, conhecimentos e
atitudes de aprendizagem. Abre-se desse
modo, a possibilidade de que o alunocomece a se tornar o responsvel por sua
prpria aprendizagem. Por outro lado isso
s tem sentido se houver a possibilidade
da contradevoluo, ou seja, o aluno
solicitar ao professor que reassuma seupapel de professor.
Em se tendo um pouco mais claro as
estratgias metodolgicas a usar para que
os alunos desenvolvam seus
conhecimentos, tambm pode ficar umpouco mais claro o ato educativo de
avaliar. Poderemos perceber se um
determinado aluno ou grupo de alunos
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construiu conhecimentos que estavam
sendo trabalhados em sua relao com os
saberes codificados, se, a partir de
situaes prticas criadas, demonstram
capacidades e habilidades de colocar em
ao estes conhecimentos na busca de
solues para as situaes-problema
enfrentadas.
Aquele que estuda em uma
universidade e se forma em um campo de
saber se torna um especialista neste
campo. Ele ainda no um professor! Ele
s se tornar um professor no momento
em que for capaz de levar em conta os
conhecimentos de seus alunos para
adaptar o saber especializado, o saber
codificado, que deseja ensinar (Jonnaert
e Borght, 2002, p. 95).
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O uso de dinmicas metodolgicas alternativas e criativas para
promover a qualificao do trabalho docente
Rosane Carneiro Sarturi
Centro Universitrio Franciscano
A formao de professores tem se
configurado em uma preocupao
permanente no contexto da sociedade
atual, no apenas nos meios chamados
educacionais, como tambm na sociedade
em geral, realidade confirmada a partir do
estabelecimento da relao entre
educao e desenvolvimento que, a partir
da dcada de 1960 (Aranha, 1999),
comea a fazer parte do cenrio
educacional.
Com a primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educao Nacional, lei n
4024/61, a educao no Pas assumiu
uma dimenso pblica, o que abriu apossibilidade de que mais pessoas
tivessem acesso escola, considerando
que, naquele momento, consolidavam-se
os princpios de uma sociedade
organizada economicamente em uma
estrutura urbano-industrial, superando a
forma agro-exportadora que vigorou
fortemente at os finais da primeira
repblica.
Em 1971, com a reforma da LDB,
surgiu a lei n. 5692/71 que trouxe consigo
a preocupao em formar tcnicos e torna
obrigatrio o acesso e a freqncia
escola, baseada em premissas tecnicistas
de origem estadunidense, que fortalecem
a conexo entre desenvolvimento
econmico e educao, reforma que sofreoutra, em 1984, com a lei n. 7044, tendo
em vista o no atingimento dos objetivos
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esperados, mas isso assunto para ser
tratado em outra oportunidade.
Depois de quase vinte e cinco anos
de discusses nos mais diversos
segmentos da sociedade, chega at a
comunidade educacional outra lei, que
traz consigo muitas apropriaes
discursivas dos professores
progressistas1, que vinham defendendo a
qualidade da educao para todos, visto
que os liberais sempre defenderam a
dualizao2 da escola, com a inteno de
atender s leis de mercado que
atualmente adquiriram uma fora aindamaior no contexto mundial.
1 Cabe aqui lanar mo da reflexo de Libneo
(1986) que diz ter tomado emprestado deSnyders o termo progressista, para designar astendncias que partem de uma anlise crtica darealidade social, o que contaria a tendncialiberal, que surgiu para defender os princpios deuma sociedade capitalista centrada noindividualismo e na privatizao dos meios deproduo.
2 A escola dual vem sendo denunciada por Gramsci(1978), como uma marca acentuada daestratificao social, que trata de uma escola paraos filhos de operrios e outra para os filhos dascastas mais abastadas, uma que prepara para otrabalho, para a vida e outra que prepara paraseguir uma carreira acadmica. Tema quetambm foi objeto de estudo de Willis (1991).
A lei n. 9394/96 assume uma postura
dinmico-dialgica3, pois apresenta um
interesse explicitado na emancipao do
sujeito, apresenta formas alternativas de
organizao curricular e defende a
preocupao com a aprendizagem, porm
ao adotar como referncia curricular os
Parmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), recai em uma operacionalizao
mais tcnico-linear, que denota
preocupao em controle tcnico. Este
fato pode ser apreciado por ocasio da
construo das propostas poltico-
pedaggicas, dos planos de estudo e dosplanos de trabalhos de muitas escolas
brasileiras, caracterizando um retrocesso
ao modelo predominante na dcada de
1970 e 1980.
Nesta altura do texto, o leitor deveestar se perguntando o que esta
3 A expresso dinmico-dialgica utilizada porDomingues (1986), ao realizar o estudo sobre osparadigmas curriculares, a partir dos estudos doamericano James Macdonald para o currculo e deThomas Kuhn para paradigma, ele estabelece arelao entre os interesses humanosclassificados por Habermas (1982) como:tcnico, de consenso e emancipador e osparadigmas de currculo disponveis na literatura:Tcnico linear; Circular consensual e Dinmicodialgico.
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superficial anlise tem a ver com o ttulo
deste estudo? Como o uso de dinmicas
metodolgicas alternativas e criativas para
promover a qualificao do trabalho
docente? Qual a soluo para a
superao de uma prtica bancria4 em
educao?
As respostas a estes questionamentos
vm conectadas diretamente viso de
totalidade que, segundo Kosik (1995),
muito mais do que a simples soma das
partes, porque ao percebermos a
educao em sua totalidade, no
possvel falar sem partir da sua essncia,que o currculo5.
Para Gimeno Sacristn (2000, p. 26),
toda prtica pedaggica gravita em torno
do currculo isso significa que, para
encontrarmos dinmicas metodolgicasalternativas e criativas para promover a
4 Para Paulo Freire (1999), a educao bancriaacredita que quanto mais se d mais se sabe.
5 Muitas tm sido as definies atribudas ao termocurrculo, a polissemia do termo assume vriasnuanas, para efeito deste estudo recorro a suaetimologia, que o designa como percurso a serfeito (Veiga Neto, 1996, Pedra, 1997, Gimeno),para defini-lo como construo social quepreenche a escolaridade de contedos eorientaes (Giimeno, 2000, p. 20), que sorealizadas a partir deste percurso.
qualificao do trabalho docente, faz-se
necessrio situar estas dinmicas no
referencial que aqui tomamos para definir o
como ensinar.
Csar Coll (1999) estabelece quatro
componentes do currculo: Que ensinar?
Ou as necessrias concretizaes das
intenes educacionais; Quando ensinar?
..ou o problema da organizao e
seqenciao das intenes educativas:
Como ensinar? Ou o problema da
metodologia de ensino. O que avaliar?
Quando avaliar? Como avaliar?
Para o autor supracitado, se partirmosde uma concepo construtivista de
conhecimento, impossvel pensar os trs
primeiros componentes do currculo de
forma independente, porque eles esto
inter-relacionados e constituem umatotalidade. Como pensar o como, sem
pensar o qu ou o quando?
Ao dividir a Pedagogia da Autonomia:
saberes necessrios prtica educativa
(2001b) em trs captulos: No h
docncia sem discncia; Ensinar no
transferir conhecimento; e Ensinar uma
especificidade humana, Freire assume o
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seu compromisso com uma viso
construtivista de educao, porque
relaciona a partir destes pressupostos
dialticos uma srie de exigncias que
cobram dos professores e professoras
uma reflexo sobre a sua epistemologia.
Gimeno Sacristn (2000) se
fundamenta nos estudos de oung (1981),
para dizer que existe uma conexo muito
especial entre as crenas epistemolgicas
dos professores e os estilos pedaggicos
que adotam, o que pode ser percebido
quando eles desmacaram suas
concepes epistemolgicas implcitas
ao relacionar os contedos exigidos com a
posse por parte de seus alunos.
Esta ponderao remete para os
estudos de Becker (1996b, p. 32), quando
analisou A epistemologia do professor: o
cotidiano da escola, demonstrando que a
maioria dos professores e professoras, ao
encaminhar o processo de aquisio do
conhecimento ou processo de
aprendizagem, apresentam basicamente
trs formas:
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As formas de encaminhamento da aprendizagem por parte dos professores a partir
do cotidiano da sala de aula
Formas
Relaes
Empirista Apriorista Construtivista(interacionista ou
dialtica)Contedos J est pronto. J est pronto. Construdo.
Mtodos Transmisso deconhecimentos.
Livre, o aluno escolheo que vai aprender.
Organizado a partirdas aes de ambos.
Relaoprofessor/aluno Pedagogia centradano professor- ele um transmissor.
Pedagogia centradano aluno- o professor um facilitador.
Relao dialtica.
Representao S O S O S O
Aprendizagem Submisso aosestmulos doprofessor, o aluno
visto como tbularasa, o conhecimento aistrico.
Aes espontneas,insights perceptivos.
construda a partirda inter-relao entreos sujeitos e o meio.
Resultado Alunos passivosrepetidores deconhecimentocientificamentecomprovados.
Alunos perdidos noexcesso de liberdadeda ao.
Alunos crticos queinteragem com osconhecimentos combase em uma relaode respeito- equilbrio
entre liberdade eautoridade.
As concluses de Becker1, levam-no
a denunciar que:
a epistemologia subjacente ao
trabalho docente a empiristae de que s em condies
1 Ler Becker, A epistemologia do professor: ocotidiano da escola. Petrpolis: Vozes, 1996a.
especiais o docente afasta-sedela - para buscarfundamentao naepistemologia apriorista -
voltando a ela assim que acondio especial tiver sidosuperada. Muito raramentedetectam-se momentos de
d d i t f d t ti
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verdadeira construo.(Becker, 1996b, p. 34)
A concluso a que chega Becker,aps acompanhar o cotidiano da sala de
aula nos dois nveis da escolaridade no
Brasil, refora a anlise que Gimeno
Sacristn apresentou ao citar Young,
porque a conexo entre as crenas
epistemolgicas dos professores e os
estilos pedaggicos que adotam esto
intimamente relacionadas e demonstram a
impregnao da postura bancria,
fundamentada no autoritarismo e na mera
transmisso de contedos, que concebe o
conhecimento como verdade acabada e
no permite a emancipao do sujeito.
Arroyo (2000), Freire (2000-2001a,
2001b), Gimeno Sacristn; Pres Gomes
(1998), entre outros defendem anecessidade da apropriao da teoria por
parte do professor, porque as mudanas
preconizadas pelas leis, e pelos modelos
curriculares s podero ocorrer se os
professores se apropriarem da teoria queas sustenta e reverem os pressupostos
que fundamentam a sua prtica
pedaggica.
Em busca de conceitos: definindo
metodologia
Para Marques (1999, p. 80), o
mtodo indica quais sero os papis do
professor e do aluno. Indica, portanto,
uma postura a ser adotada.
Freire (2001b) diz que ensinar exige
rigorosidade metdica. E um dos
saberes necessrios prtica docente.
Veiga Neto define metodologia comoa forma na qual os contedos so
ensinados. Pois:
Quando se fala em contedos, preciso entender que a esto
includos tanto os contedospropriamente ditos, isto , asubstncia do que ensinado-quanto a forma como estasubstncia ensinada- o que secostuma referir sob a denominaode metodologia. Portanto, falarsobre currculo falar, ao mesmotempo, sobre os contedos, osmtodos de ensino e a avaliao.(1996. p. 24)
esgota na leitura de um livro de um texto
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Dessa forma, a metodologia ocupa um
espao dentro do currculo escolar que
carece de uma conexo interativa entre
contedos e avaliao, pois a definio de
como trabalhar os contedos ou como
avali-los pertence a uma rbita muito
maior. No bastam tcnicas dinmicas,
criativas, inovadoras, se eu, enquanto
professor continuo preso a uma
epistemologia que acredita que o meu
aluno determinado pelo meio, que ele
um objeto a ser lapidado, ou se penso que
ele nasce predeterminado, que nasceugeneticamente determinado.
A metodologia, os caminhos que eu
vou escolher para percorrer necessitam
ter em considerao as premissas que
orientam a minha postura profissional nomundo e para com o mundo o que, para
Freire (2001b), significa reconhecer que a
educao ideolgica, que no posso
estar de luvas nas mos constatando
apenas.
A conscincia do nosso inacabamento
como pessoas nos possibilita a busca
permanente pelo aprender, que no se
esgota na leitura de um livro, de um texto,
ou do trmino de um curso, a relao
dialtica entre ensino-aprendizagem, na
qual, um existe na complementariedade
do outro, ou seja, s existe ensino se h
aprendizagem e esta s ocorre se houver
ensino, uma no existe sem a outra.
nesta procura permanente que nos
mantemos em eterno processo de ensino-
aprendizagem, por isso:
fundamental que, na prtica daformao docente, o aprendiz deeducador assuma que oindispensvel pensar certo no
presente dos deuses nem se achanos guias de professores queiluminados intelectuais escrevemdesde o centro do poder, mas, pelocontrrio, o pensar certo que superao ingnuo tem que ser produzidopelo prprio aprendiz em comunhocom o professor formador. (2001b,
p. 43)
Neste processo de construo
entre professor-aluno surge a
necessidade de reflexo crtica sobre a
prtica, para que a nossa postura supere
a ingenuidade de acreditar-nos detentores
do conhecimento e das suas aplicaes
prticas. Pois:
a grande tarefa do sujeito que duplo sentido de ir e vir Assim todas as
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a grande tarefa do sujeito quepensa certo no transferir,depositar, oferecer ou doar ao outro,tomado como paciente de seupensar, a intelegibilidade dascoisas, dos fatos, dos conceitos. Atarefa coerente do educador quepensa certo , exercendo como serhumano a irrecusvel prtica deinteligir, desafiar o educando comquem se comunica e a quemcomunica, produzir suacompreenso do que vem sendocomunicado. (2001b, p.42)
Depois de refletirmos sobre a nossa
prtica e buscarmos diminuir a distncia
entre o que dizemos e o que fazemos,
ento poderemos encontrar mtodos que
contribuam para equacionar o dilogo
entre professor e aluno.
Para Arroyo (2000), ao referir-se a
nossa humana docncia revitaliza a
importncia do como, um como que
carece de compromisso, de afetividade,
de respeito, de criticidade, de tolerncia,
de tica, de curiosidade, de pesquisa e de
rigorosidade metdica nas palavras de
Freire (2001b), mas tambm um comoque encontre um caminho para o dilogo,
no uma via de mo nica, mas com um
duplo sentido de ir e vir. Assim, todas as
tcnicas (dinmicas de grupo), e recursos
fsicos (ferramentas de apoio), que forem
utilizadas com o intuito de estabelecer a
riqueza da comunicao entre professores
e alunos sero sempre bem-vindos em
uma pedagogia que busca a construo
do conhecimento.
Todavia, dizem as escrituras que no
podemos atender a dois senhores,
portanto como professor ou professora,
faz-se mister definir a minha postura
poltico-pedaggica.
A modo de sntese
Durante todo o texto, que foi
produzido com base em uma reflexo
sobre a contextualidade da nossa prticaacadmica ora como aluna ora como
educadora, cabe tentar sintetizar o
redemoinho de conceitos e fundamentos
que percorrem os caminhos da escola,
seja pblica, privada, de nvel bsico seja
superior.
Tendo a histria no como uma
simples evoluo natural, mas como uma
construo realizada pela ao de seus constatar por ocasio da pesquisa interna
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construo realizada pela ao de seus
sujeitos, o quadro sntese que agora
apresento no tem a pretenso de
simplificar a longa discusso que a
Filosofia, a Psicologia, a Pesquisa, a
Pedagogia e o Currculo tm desenvolvido
ao longo desta trajetria histrica. Posso
afirmar que a pretenso passa pela
provocao para que mais educadores e
educadoras parem para estabelecer as
co-relaes entre estas cincias que ao
longo dos anos insistiram, por fora
terica em se manterem separadas. Fala-
se tanto em interdisciplinaridade2, ou maisem transdisciplinaridade, pois sim, creio
que este o nosso desafio: transpor as
barreiras das disciplinas.
A sistematizao do conhecimento
humano tem sido uma preocupao demuitos estudiosos, o planejamento, a
metodologia, as relaes professor-aluno
e a avaliao so temas que rondam as
prticas pedaggicas, e isto se pde
2 Ler Lck, Heloisa. Pedagogia Interdisciplinar,1995. Ela fala da realidade fragmentada e danecessidade de transpor estes limites para chegarna transdisciplinaridade.
constatar por ocasio da pesquisa interna
feita entre os professores do Centro
Universitrio Franciscano, no ano de
2003, quando foram consultados sobre os
temas que acreditavam ser importantes
para a sua qualificao enquanto
profissionais.
Penso que a pesquisa realizada
pode ser objeto para estudos futuros, nos
quais cada um de ns, professores e
professoras, poder aprofundar os temas
em questo. Cabe ressaltar que esta
preocupao no apenas local, pois
muitos so os programas e as publicaesque se voltam para este tema.
Como, segundo este mesmo autor,
o homem um ser de relaes, apresento
para reflexo e discusso o quadro que
segue:
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Descartes (1637), ao escrever o seu aparecem em forma pura, mas com
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( ),
clssico Discurso do mtodo, dizendo que
empregaria toda sua vida para cultivar a
razo e progredir tanto quanto fosse
possvel, no conhecimento da verdade,
segundo o mtodo que lhe havia prescrito,
estabeleceu a direo na busca da
exatido das cincias que permeou os
sculos subseqentes, conseguindo
apenas a partir da metade do sc. XX
solidificar as crticas a este modelo
fragmentado e possuidor de verdades
absolutas.
A educao como um grande campode conhecimento que recebe a influncia
da transversalidade das cincias criadas e
debatidas pelo homem, recebe de todos
as direes, as informaes que vo
constituindo a sua forma. Este dadofortalece a indefinio que ns,
professores e professoras, temos
vivenciado com relao s pedagogias,
com a inteno que lhe atribumos na
prtica educativa, porque:
As tendncias pedaggicas que se
firmam nas escolas brasileiras, pblicas e
privadas, na maioria dos casos, no
p p ,
caractersticas particulares, muitas vezes
mesclando aspectos de mais de uma linha
pedaggica.(PCNs, vol 1, 1997, p. 39)
Esta mescla de linhas pedaggicas
provocada pela apropriao desprovida
de uma reflexo terica sobre a evoluo
destas tendncias e os seus fundamentos
conceituais, no que aqui se defenda a
mera teorizao, pois a ao deve vir
acompanhada de um processo de
reflexo-ao-reflexo sobre a prtica, o
que evitaria estar sobre o domnio da
viso pedaggica que acredita que:a ao vem depois que nossamente souber o que fazer e porquefazer. Em realidade, na vida nossade cada dia, e das crianas eadolescentes e at adultosaprendemos antes ou
concomitantemente a fazer, aintervir do que a entender conceituale mentalmente o que e por queestamos fazendo e intervindo.Matrizes pedaggicas diversas quetemos o direito e o dever deconhecer como docentes-educadores e que podero trazer
outras sensibilidades nossadocncia. (Arroyo, 2000, p. 117).
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HABERMAS, J. Conocimiento e inters. SAVIANI, Dermeval. Tendncias e
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Reflexes sobre a prtica docente no ensino superior
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Maria Bernadette Castro RodriguesUniversidade Federal do Rio Grande do Sul
Primeiramente meu agradecimento
a esta instituio pelo convite e a
confiana na abordagem de temtica
to instigante - a prtica docente no
ensino superior. Instigante porque, ao
refletir com vocs, estarei tambm
refletindo sobre minha atuao, estarei
me expondo como professora e
educadora. Ser inevitvel o resgate
das experincias que venho
acumulando no exerccio docente no
ensino superior. Sem fazer uma
abordagem pessoal, tento evocarepisdios de minha trajetria para
apoiar e ilustrar as reflexes aqui
sistematizadas.
Um sonho: alegria cultural
O aluno
Como comear? Um personagem
importante - o aluno. O espao
acadmico preenchido por centenas
de alunos. So eles a razo do nosso
fazer pedaggico. A eles desejamos
que sejam felizes durante os anos em
que esto na universidade. Compartilho
do sonho de Georges Snyders (1995,
p. 10) meu sonho que a universidade
seja vivida ao mesmo tempo como
formao profissional e como alegriapresente. Trata-se de uma alegria
culturalcontemplando o entusiasmo, a
curiosidade, a disposio para o
estudo, a investigao, ou seja, trata-se
de um eixo relevante dodesenvolvimento cultural. Uma
pergunta a ser feita para cada um de
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Quem participou (ou participa) de sua empirista, ao conceber o conhecimento
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elaborao?
Como vocs, sou professora em
um curso que forma professores.
Acredito que defendemos a formao
de professores crticos, conhecedores
da rea de atuao, engajados na
melhoria do (con)viver em coletividade.
Se concordamos com essas
finalidades, podemos perguntar-nos
quais tm sido nossas aes, nossa
prtica docente em direo a esses
fins. Isso alia-se seguinte questo:
Quais nossas concepes sobreconhecimento e aprendizagem? Se
conhecimento no algo dado, no
acmulo de informaes e, ainda, se
aprendizagem no depsito de
informaes na cabea do outro, comovm sendo concebidos esses
conceitos? Como um grupo de
professores, atuando em uma mesma
instituio, cria espaos para que
sejam discutidas essas questes?
Afinal, sabemos que o modo de ensinar
est vinculado a um modelo
epistemolgico. A epistemologia
como aistrico, fundamenta uma
pedagogia centrada no professor,
detentor do saber, preocupado com a
transmisso do conhecimento. Na
epistemologia apriorista o
conhecimento se produz porque h no
indivduo uma capacidade interna inata
(a priori) e, conseqentemente, recai
em uma Pedagogia centrada no aluno,
em suas aes espontneas e seus
insights. Na epistemologia gentica de
Jean Piaget o conhecimento no est
no sujeito nem no objeto e sim, eleresulta da interao do sujeito com o
objeto. A interao do sujeito, agindo e
sofrendo a ao do objeto, permitir
que ele construa e produza seu prprio
conhecimento. Conseqentemente, aprtica pedaggica ser basicamente
relacional, exigindo um professor
problematizador diante da ao do
aluno. Da a importncia de refletirmos
acerca de nossas concepes, pois a
opo (nem sempre consciente) por
uma determinada epistemologia recair
no modo de ensinar.
podem ser feitas de uma smula!
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O plano de ensino
importante que o aluno tenha
conhecimento do plano de ensino.
Entretanto, pertinente perguntarmo-
nos se os objetivos da disciplina esto
compatveis com as finalidades
expressas no projeto acadmico do
curso. Quais os vnculos da disciplinacom esse projeto? Quais
aprendizagens esto sendo
priorizadas? Pretenses parte, qual o
contedo programtico proposto? A
articulao est sendo contemplada? Aproposta est adequada ao tempo?
Estratgias e recursos esto
explicitados? A bibliografia adequada
e atualizada? E a avaliao? Quais os
critrios explicitados? Por estasperguntas refao os procedimentos que
adoto para elaborar e revisar,
semestralmente, os planos das
disciplinas sob minha responsabilidade.
A partir da smula (ou ementa) da
disciplina, cabe a cada professor a
elaborao do plano. Quantos rumos
podem ser tomados! Quantas leituras
Explicitadas as finalidades da proposta
(o que e para que), a escolha de
estratgias e recursos tarefa
facilitada. As referncias bibliogrficas
so fonte para o reconhecimento de
quem as l sobre as escolhas, sobre as
abordagens e, principalmente, acerca
dos fundamentos que embasam aproposta. Costumo sugerir aos alunos
que faam a leitura de um plano
comeando pela bibliografia.
Entendo que a reside a riqueza
cultural da academia. A pluralidade deplanos de ensino, a pluralidade de
professores e suas convices, a
pluralidade de alunos e suas
convices geram um ambiente
efervescente de saberes. Perseguir aformao crtica supe, no meu
entender, viver esse ambiente
acadmico.
A avaliao
Prioritariamente, como professores,
precisamos atentar para o desenrolar
da disciplina, compreendendo a
avaliao como imprescindvel na ato
d l j i f M t
Desde minha primeira experincia
fi i l i t d
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de planejar e organizar o fazer. Manter
um acompanhamento permanente,
recolhendo nos alunos os indicativos
dos efeitos do trabalho pedaggico
proposto. As tarefas propostas aos
alunos, conseqentemente, serviro
como material investigativo para o
professor, podendo detectar asaprendizagens feitas, as necessidades
de melhoria na proposta de trabalho, as
necessidades de aprofundamento em
determinadas abordagens. Por isso
entendo que, no decorrer da disciplina,o aluno deve receber retornos
imediatos sobre as tarefas realizadas,
contendo pequenos pareceres e
evitando o uso de notas e conceitos.
Se a divulgao de conceitos ou notas feita ao final da disciplina, no h
razo para sua emisso no decorrer do
processo. Entendo que proceder
emitindo notas e conceitos parciais
desmerecer a importncia do processo
avaliativo, tornando-o banal e
mesquinho em clculos e mdias.
profissional, com o sistema de
conceitos como representao do
aproveitamento ou desempenho dos
alunos. Difcil reduzir as
aprendizagens, a complexidade do
processo de aprender, em um
arremedo de abecedrio. Resisto e no
adoto a relao notas e conceitos, poisentendo que tanto o uso de notas como
o uso de conceitos exige indicadores
avaliativos. O que pode definir uma
nota 7 e no 9? Ou ainda, o que define
um conceito B e no C? Por exemplo,em uma instituio que oferece aulas
presenciais os indicativos avaliativos
como freqncia e assiduidade e
pontualidade podem ser considerados
para definio de conceitos ou notas.Outro exemplo pode ser o indicativo -
consistncia terica. Manter registros,
observar se o aluno em suas
manifestaes orais e/ou escritas
apresenta posicionamento crtico,
argumentao terica, utiliza-se de
exemplos, estabelece relaes com
leituras e estudos anteriores e com
outras disciplinas. Enfim, defendo que
ns professores no incio da
O tempo acadmico
O nmero de crditos de uma
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ns, professores, no incio da
disciplina, devamos apresentar para os
alunos, os critrios de avaliao e
como esses sero considerados
indicadores na definio dos conceitos
e/ou notas. Obviamente, esses critrios
estaro sintonizados com o projeto
acadmico do curso.
O espao acadmico
Os estudos promovidos em cada
disciplina devem extrapolar os limites
da sala de aula. Devem levar os alunos consulta, investigao, procura do
saber, dos saberes. O espao
acadmico a sala de aula, o corredor,
a biblioteca, o auditrio, a cantina, o
laboratrio, o museu, a escola visitada,
a internet, enfim, aonde os estudos
levarem os alunos, o espao
acadmico estar sendo ampliado. O
desafio est em extrapolar a sala de
aula com propostas instigantes,
desafiadoras.
O nmero de crditos de uma
disciplina, resulta em um limitador. H
tanto a ser trabalhado em to pouco
tempo! O que fazer? Primeiramente,
cabe a ns, professores, admitirmos a
arbitrariedade na seleo de
contedos, ou seja, admitirmos que o
recorte, a escolha do que ser ou no
abordado, consistem em uma
parcialidade ideolgica. Parece-me que
a nossa tarefa reside em um estado de
alerta permanente para que no
percamos as razes da seleo feita.Cito Raymond Williams (apud Silva,
1992, p. 80) que denominou tradio
seletivaquilo que vai, no decorrer do
tempo sendo cristalizado, tornando-se
alternativa nica, quilo que no incio
no passava de uma seleo particular
e arbitrria de um campo muito mais
amplo de possibilidades. Esta
colocao incita algumas questes:
Quais os fundamentos de nossas
escolhas? Estamos rompendo com a
tradio seletiva? De que forma? Em
suma, relevante reconhecermos que
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e um espao de aprendizagens e de
muita alegria cultural Penso que h
ensinar quanto mais sujeitos e nopuros objetos de processo nos
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muita alegria cultural. Penso que h
pistas bsicas para que possamos
chegar perto (e talvez at concretiz-lo
em sua plenitude) desse sonho.
O trabalho em equipe
O trabalho em equipe uma das
pistas. Reunies, trocas deexperincias, avaliaes sistemticas.
preciso que haja uma estrutura que
permita que cada uma das disciplinas e
nveis estabeleam canais de
comunicao, criar espaos quepermitam o trabalho em equipe, que
tornem possvel levar a efeito um
trabalho interdisciplinar. Romper com a
tradiodo trabalho individual.
O nosso ofcio
No livro Pedagogia da
autonomia(1996), Paulo Freire nos diz:
no tenho dvida nenhuma deque, inacabados e conscientes do
inacabamento, abertos procura,curiosos, programados, maspara aprender, exercitaremostanto mais e melhor a nossacapacidade de aprender e de
faamos.
Parece-me que, enquanto
continuarmos admitindo nossa
condio de inacabados, estaremos
perseguindo o aperfeioamento, a
capacitao de nossa formao. No
se trata de mais um ttulo a ser obtido,trata-se sim, de uma necessidade de
busca. Somos ns, docentes, os
coordenadores do trabalho pedaggico
um ofcio complexo e exigente.
Haver caractersticas/ qualidadesindispensveis para aqueles e aquelas,
que como ns, optam pela docncia?
A participao
Tanto docentes quanto alunos,
medida em que forem participando de
propostas curriculares integradoras,
iro aprendendo a debater, refletir em
equipe e a negociar,
democraticamente, tarefas e formas de
efetiv-las.
A formao de professores
Formar professores finalidade Indicada
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Formar professores finalidade
primeira do nosso trabalho. Em
especial, so alunos e alunas do curso
que j atuam como professores. Pode
ser chavo, mas acredito na proposta
de que viver o exemplo ainda uma
bom caminho.
Para encerrar, penso serapropriado lembrar de que a maneira
de formar pessoas democrticas
propiciar a elas a condio de serem
partcipes de instituies escolares com
formas de funcionamento democrtico.
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Fundamentos da filosofia franciscana:relao com as finalidades desta instituio
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e sua prtica educativa
Iran Rupolo
Centro Universitrio Franciscano
Introduo
Neste texto pretende-se, de
maneira concisa, destacar
componentes bsicos do pensamento
franciscano, considerando a
especificidade desta instituio de
ensino superior e seu carter
confessional; sua concepo
antropolgica em vista do compromisso
tico-social na formao de cidados
capacitados a exercer em sua profisso
com dignidade e competncia.Na organizao desses elementos
fundamentais, pretende partir-se de
uma reflexo inicial sobre os conceitos
centrais do tema em epgrafe, sua
relao com a concepo antropolgicae as implicaes nas relaes
interpessoais considerando a prtica
educativa.
Algumas premissas e questes
bsicas conduzem a presente reflexo:
1) O Centro Universitrio
Franciscano expressa, em seu projeto
educativo e nas aes institucionais, os
princpios fundamentais que professa.
2) Os princpios institucionais
expressos nos documentos devem ser
materializados nas relaes
interpessoais e na sinergia dos diversosrgos e setores da instituio.
3) As pessoas que compem a
comunidade universitria so o vetor
mediante o qual se torna concreta a
filosofia institucional.4) Como romper com estruturas
pessoais e institucionais que dificultam
a relao pensamento e princpios
institucionais e
interpessoais guiadas pela simplicidade
e o respeito. Manifesta uma forma de
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ambiente/relacionamento franciscano
entre as pessoas?
5) Proposies prticas para a
consecuo das metas propostas.
Princpios fundamentais da
filosofia franciscanaA filosofia franciscana tem sua
origem na concepo da pessoa
humana a partir de So Francisco de
Assis. Os aspectos que marcam mais
fortemente esse entendimento econstituem elementos bsicos da viso
franciscana so:
a) Fraternidade: Elemento original
no contexto da mentalidade medieval
na qual viveu Franci