trabalho de interpretações do brasil
DESCRIPTION
Trabalho feito por mim para a disciplina interpretações do brasil acerca dos livros Raça e Progresso, de Franz Boas e Casa-grande e Senzala (Prefácio), de Gilberto Freyre, no 1º Período do Curso de Direito.TRANSCRIPT
Trabalho de Interpretações do Brasil149.138.267-86Mat. :151300011
Casa-grande & Senzala (Prefácio)
Gilberto Freyre
O autor apresenta o engenho como um verdadeiro e bem completo sistema
que envolve atividades sociais, econômicas, religiosas, logísticas e políticas,
ressaltando também a brasilidade que havia tanto na arquitetura quanto nos costumes
que foram se criando ao longo do tempo. Os escravos eram os alicerces, os
sustentáculos deste sistema, sendo explorados e se relacionando de várias maneiras
(sexuais, inclusive) com a aristocracia rural da época, onde Freyre busca explorar o
conceito (e os benefícios) da miscigenação, apontando e descrevendo hábitos,
tradições, peculiaridades e características destes dois grupos, das relações entre os
explorados da senzala e os abastados da Casa-grande. Entretanto, tais relações, lembra
o autor, não eram exclusivas dos engenhos nortistas, pois características semelhantes
também ocorriam no sul cafeeiro, tendo resguardadas as suas respectivas
particularidades.
Além disso, Gilberto Freyre contraria a visão eugenista de inferioridade; o que
ocorre para ele na verdade é o fato de que não só negros, mas a população brasileira
não possuía condições favoráveis de saúde, com destaque para a hiponutrição, a
“fome crônica”, que relacionava-se com a diminuição da estatura, do peso e do
perímetro torácico, deformações esqueléticas, descalcificação dentária e com outras
condições que transmitiam a ideia de que quem estava sofrendo destes sintomas fazia
parte de um grupo “inferior”. Para os eugenistas, tais sintomas eram consequências
diretas da raça a qual tal grupo pertencia; para Freyre, as condições absurdas em que o
povo vivia eram a verdadeira razão pela qual os sintomas e a aparência medíocre se
faziam presentes. Ele também ressalta a importância do meio físico e da bioquímica
nas modificações apresentadas em descendentes de imigrantes, lembrando também
que os colonizadores impunham ao meio da colônia formas e acessórios estranhos à
cultura daquele lugar, fazendo-se conservar a exoticidade de algumas culturas trazidas
de fora.
O que o autor busca também com o apoio dos fatores apresentados é estudar e
apresentar um curso histórico conciliando a vida privada colonial brasileira com as
relações públicas que as mesmas mantinham entre si e com outros integrantes
daquela sociedade semi-feudal, desembocando principalmente na interpretação da
formação da família brasileira. Este prefácio foge um pouco ao modelo porque ele já
apresenta certos fatos dignos de constarem nos capítulos subsequentes do livro, mas
ainda assim, é apresentada uma visão abrangente do que será discutido e abordado ao
longo do texto. Casa-grande & senzala de fato é um livro essencial para entendermos a
História do Brasil e da vida privada que aqui se instaurou, se relacionando diretamente
em vários pontos com:
Raça e Progresso
Franz Boas
Franz Boas, que foi mestre de Gilberto Freyre e exerceu grande influência sobre
seu trabalho, foi um dos primeiros estudiosos a contrariar os ideais eugenistas que
predominavam no fim do século XIX e início do XX. Seu texto “Raça e Progresso” é uma
prova disso. Boas primeiramente atenta para o fato de que não se deve confundir os
aspectos biológicos e psicológicos com os econômicos e sociais do grupo a ser
estudado.
O autor apresenta uma visão contrária ao determinismo geográfico,
estabelecendo que as características hereditárias de uma raça frequentemente se
fazem presentes em outras devido a miscigenação, atentando para o fato de que a
diversidade é menor em casos de comunidades que são isoladas e que tem um
histórico de se relacionarem somente entre si, para depois ressaltar que o oposto
ocorre quando várias famílias de raças diferentes estabelecem relações. Ele então
exemplifica o ocorrido na Europa durante vários momentos, dentre eles a queda de
Roma pelos bárbaros e a consequente relação entre os povos invasores e os locais e a
invasão dos mouros à Península Ibérica, local que dominaram durante séculos, em que
houve uma grande miscigenação entre os mouros e os hispânicos. O que Boas tenta
argumentar é que o que ocorreu nos EUA e no Canadá foi exatamente uma repetição
do que já havia ocorrido tantas vezes na História, e até mesmo na Europa. É possível
observar essa mesma lógica em Casa-grande & Senzala, em que Gilberto Freyre
ressalta os benefícios da miscigenação para a formação do povo brasileiro, entre os
escravos e os brancos abastados pertencentes à elite rural.
Seguindo esta linha de raciocínio, Boas então lança a seguinte questão: essa
miscigenação faz com que realmente a prole destas famílias seja menos vigorosa e
saudável do que a de seus ancestrais? Ele então argumenta que não há indícios de tal,
dizendo que até os reis europeus eram prole de famílias misturadas. Boas na verdade
argumenta justamente o contrário (o que, curiosamente, viria a ser comprovado muito
tempo depois com o estudo da genética), que observava-se uma vigorosidade menor
em comunidades endogamicas, mas ele não arrisca aprofundar muito neste assunto,
dizendo que há comunidades desse tipo perfeitamente saudáveis.
As condições externas as quais as diferentes comunidades se submetem
também influenciam na sua saúde, tais como o clima, a alimentação e o regime de
trabalho daquela comunidade específica. Há uma argumentação semelhante no
prefácio de Casa-grande & Senzala, onde Freyre atenta para as condições ruins as
quais o povo brasileiro se submetia, com destaque para a hiponutrição.
Boas brilhantemente expressa sua manifestação contrária a ideia de que a
guerra é um seletor natural dos indivíduos mais fortes, atestando que na verdade a
guerra elimina os mais fortes e beneficia a proliferação de doenças contagiosas, dentre
outras consequências. Além disso, o autor ressalta que a cultura na verdade exerce
uma influência verdadeiramente significativa, diferente da biologia, utilizando-se do
exemplo de que crianças que estudavam e moravam na cidade possuíam resultados
melhores em testes de inteligência do que crianças que residiam em áreas rurais sem
acesso à educação, sendo elas da mesma “raça”. Boas então conclui dizendo que as
diferenças entre as raças são pequenas, que a raça de um indivíduo não chega nem
perto de influenciar a aptidão cognitiva de tal, uma vez que suas condições de vida são
o que de fato é importante para realizar este tipo de teste. Por fim, o autor estabelece
que muitas vezes os indivíduos são generalizados por razões raciais e até mesmo se
fecham em grupos distintos por inúmeros motivos, mas principalmente por questões
de identidade e consciência racial, frequentemente fazendo frente a outros grupos. Ele
ainda contraria a ideia de que a antipatia social é algo inato e natural, estabelecendo
que ela é causada por questões sociais dentro de um certo grupo fechado,
heterogêneo ou não. Já no fim do texto, no ponto de talvez maior convergência entre
as ideias de Boas e Freyre, o autor atesta que uma sociedade que excluiu o
preconceito e que se construiu a partir de várias raças que se miscigenaram será
melhor por ter excluído a luta inter-racial, sendo talvez o maior benefício que a
miscigenação pode trazer: a igualdade entre as raças.