trabalho de antropologia incesto

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROJETO DE GRADUAÇÃO DO BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS AS ESTRUTURAS ELEMENTARES DO PARENTESCO A PROIBIÇÃO DO INCESTO (cap. II) (CLAUDE LÉVI-STRAUSS)

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Page 1: Trabalho de Antropologia INCESTO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

PROJETO DE GRADUAÇÃO DO BACHARELADO EM CIÊNCIAS

SOCIAIS

AS ESTRUTURAS ELEMENTARES DO PARENTESCO

A PROIBIÇÃO DO INCESTO (cap. II)

(CLAUDE LÉVI-STRAUSS)

Page 2: Trabalho de Antropologia INCESTO

Recife, Junho de 2010.

O problema do Incesto - capítulo II.

A presente resenha foi feita na tentativa de dissertar sobre as teses manifestas no

trabalho de Leví-Strauss, e concebida para ser apresentada no Curso de Bacharelado

em Ciências Sociais, do Departamento de Letras e Ciências Humanas da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito parcial das atividades inerentes à segunda

avaliação da disciplina Teorias Antropológicas Contemporâneas.

Alunos: Joel Gomes Pereira, Lucila Ferraz Cornélio, Verônica Roque Batista.

Professor: Juarez Caesar Malta Sobreira.

O PROBLEMA DO INCESTO.

Em seu livro intitulado Estruturas Elementares do Parentesco (ANO), o Antropólogo

francês Claude Leví-Strauss analisa o caráter social proibição do incesto, tendo como

chamariz o fato de tal proibição constituir uma regra respeitada universalmente.

Fundador da Antropologia Estruturalista, Leví-Strauss demonstra a importância de

aspectos antes desconsiderados como os mitos, a variabilidade das línguas humanas e

as práticas culturais e folclóricas. O Livro está dividido em quatro partes. A primeira

parte é a Introdução, esta contém dois capítulos que fala sobre Natureza e Cultura, no

capítulo um, onde é feita uma auto-análise da antropologia política, nesse caso vista

Page 3: Trabalho de Antropologia INCESTO

como revolucionária e ampliadora dos campos de atuação da própria antropologia; e o

Problema do Incesto, capítulo dois, sobre o qual é o objeto de análise deste trabalho.

Em seguida, Clastres vem desmistificar a visão do poder nas tribos, onde o chefe só

tem poder coercitivo em ocasiões de ameaça a segurança. No terceiro capitulo,

discorre sobre a forma da organização social dos habitantes da floresta.

Este trabalho é direcionado aos graduandos, principalmente os iniciantes nas teorias

antropológicas, porém pode ser utilizado por qualquer interessado em estudar o

estruturalismo dentro da antropologia, ou mesmo alguém disposto a entender a real

importância da proibição do incesto para a formação da cultura nas civilizações

modernas.

Claude Leví-Strauss, renomado antropólogo francês, nasceu em Bruxelas (Bélgica),

iniciou seus estudos na Universidade de Paris, foi professor de Sociologia na USP e fez

muitas expedições pelo interior do Brasil, reforçando sua crença de que as

características humanas são as mesmas em toda parte.

É ao segundo capítulo - intitulado O Problema do Incesto - que será analisado a seguir

pelos acadêmicos do terceiro período de Ciências Sociais Joel Gomes Pereira, Lucila

Ferraz Cornélio e Verônica Roque, que esta resenha é dedicada.

Inicialmente, Leví-Strauss analisa o caráter cultural da proibição do incesto,

demonstrando que a atividade sexual é inerente à natureza do homem e é por isso o

seu lado mais instintivo. O sexo visa satisfazer necessidades individuais, mas que para

isso precisa do estímulo alheio. E segue afirmando que:

“(...) a proibição do incesto está ao mesmo tempo no limiar da cultura, na cultura, e em certo sentido – conforme tentaremos mostrar – é a própria cultura.”

Para ele, a explicação para tal fenômeno social pode ser vista de vários aspectos e

dividida em três grupos principais. Na primeira classificação o antropólogo cita as

Page 4: Trabalho de Antropologia INCESTO

colocações de Morgan e de Maine, que consideram que a repressão ao incesto tem

origem na reflexão social sobre o um fenômeno natural, e teria a função de evitar os

filhos nascidos com algum tipo de deficiência. Tese facilmente contestada por Leví-

Strauss, posto que segundo ele, não há nenhum indício desse pensamento nas

sociedades formadas anteriores ao século XVI. Quanto às sociedades mais antigas,

relata Leví-Strauss, há indícios de punições previstas para crimes sexuais, mas o

mesmo rigor é aplicado aos outros crimes. E supondo que o homem pré-histórico

tivesse consciência dos problemas relativos aos filhos nascidos de casamentos entre

parentes, é fato que o inverso já era observado na natureza, em relação aos animais

domésticos e mais tarde com relação os cruzamentos de plantas comestíveis, onde as

melhores plantas se dão entre cruzamentos de plantas da mesma linhagem. Portanto,

do ponto de vista genético a proibição não se justifica e as populações primitivas não

tinham condições de discernir esses dados nem em quantidade suficiente que pudesse

suprimir realmente os casamentos entre parentes.

Na visão do antropólogo, uma outra explicação reside no fato de que atividades

cotidianas enfraquecem a “excitabilidade erótica”, o que deixa margem a outras

interpretações e dúvidas, como o fato desse desencorajamento poder ser tanto de

ordem física, quanto de ordem psicológica. Comparado ao suicídio, o antropólogo

conclui que a repressão ao incesto não possui a mesma função, posto que o incesto é

um ato comum no reino animal, já o suicídio é um fato estranho e mesmo assim, a

maioria das sociedades reconhece a legitimidade do suicídio em circunstancias

especiais.

Em outro ponto, demonstra ainda a teoria de que os casamentos exogâmicos teriam

surgido quando se configurou o hábito, nas tribos guerreiras, de se escolher esposas

pelo rapto de mulheres de outras tribos. Uma grande falha nesse processo seria sua

não universalização.

Page 5: Trabalho de Antropologia INCESTO

No mesmo raciocínio, segue com uma tese atribuída a Émile Durkheim (1898), que ao

observar a vida religiosa das sociedades totêmicas australianas, afirma que a ligação

do totem com o clã de mesmo nome forma um laço consangüíneo entre os seus

membros e desse modo, a mulher, por ter a menstruação e atribuído a esse fato vários

impedimentos e maldições, teria sofrido mais esse da proibição do casamento entre

membros do mesmo clã, afim de que os homens não entrassem em contato com esse

sangue. Portanto, sob a visão durkheimiana a proibição do incesto teria este aspecto

“mágico-religioso” e seria o resultado da sobrevivência desse conjunto complexo de

proibições especiais referente às mulheres. E, também, não só há a impossibilidade da

universalidade dessa teoria totêmica, como também não se justifica a interligação do

horror ao sangue aos atos cerimoniais, uma vez que o próprio casamento é visto como

uma cerimônia. Um outro aspecto seria que há sociedades que penalizam a própria

mulher pelo fato de expor sua própria regra, e não os homens com quem tiver contato.

E desse modo, em sua afirmação final, Leví-Strauss demonstra que a proibição do

incesto não é apenas um aspecto natural, nem mesmo um aspecto puramente social e

cultural do ser humano, mas uma relação complexa entre todos esses fatores e que,

devido a essa complexidade, pode não ter origem única e definida.

A partir das considerações acima, fica evidente que a contribuição de Leví-Strauss para

a antropologia foi essencial, como ratificado dentro da maioria da literatura mundial

sobre o surgimento da cultura e também sobre parentesco. Dessa forma, sobre o

pensamento de Leví-Strauss, escreve o antropólogo brasileiro Marcio Pereira Gomes,

na quarta parte de seu livro de antropologia, intitulada “O Social: Parentesco, Grupos e

Categorias Sociais” sobre o tabu do incesto:

“Uma das grandes descobertas da Antropologia, ainda em seus primórdios, no ultimo terço do século XIX, foi a contestação de que todas as sociedades então conhecidas adotavam como regra básica para a constituição de famílias e para a reprodução social a proibição do relacionamento sexual entre alguns tipos de parentes próximos, em especial entre pai e filha, mãe e filho e entre irmão e

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irmã. (...) No decorrer dos anos e na ampliação do conhecimento empírico de novos povos, com novas culturas e sociedades, essa regra, que passou a ser conhecida como tabu do incesto, mostrou ser generalizada e universal; por conseguinte, necessária a essencialidade só ser humano e da cultura.”

O incesto é uma regra universal e a opinião dos antropólogos sobre sua universalidade

e generalidade também o é. Essa regra de proibição do incesto é apenas contestada

por algumas sociedades como as egípcias e o império inca, onde os imperadores

casavam com suas irmãs a fim de transmitir o poder a seus herdeiros diretos, mas

mantinham várias esposas, e os seus súditos praticavam a proibição ao incesto,

normalmente.

Assim sendo, para todo aquele que desejar conhecer mais profundamente as

diferenças de comportamento entre os homens e animais, seja estudante ou não,

graduado ou não, recomendamos utilizar deste capítulo segundo, inserto na obra

Estruturas Elementares do Parentesco, devido à sua linguagem bastante acessível aos

iniciantes e suas sugestões de leitura paralela indicada aos que necessitem de maior

profundidade.

Page 7: Trabalho de Antropologia INCESTO

Referência:

LÉVI-STRAUSS, Claude. Estruturas Elementares do Parentesco. 2ª ed.

Trad. Mariano Ferreira, Rio de Janeiro, Vozes, 1982.

GOMES, Mércio Pereira. Antropologia – Ciência do Homem: Filosofia da

Cultura. São Paulo, Contexto, 2008.

Disponível em: <http :// books . google . com . br / books ?

id =8 FzRxRzYPbIC & pg = PA 69& dq = antropologia +-+ incesto & cd =1# v = onepage & q = antropologia

%20-%20 incesto & f = false >, acessado em 28 de Maio de 2010.