trabalho antropologia jurídica

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CAMILA CRISTINA PYRAMO ARAÚJO DEBORAH PINHEIRO PIASSA FRANCIELLY GUTIERREZ BALLON THAIS CRISTINA VIEIRA VIANNA OS ROLEZINHOS: ASPECTOS JURÍDICOS E ANTROPOLÓGICOS

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Trabalho de antropologia sobre os rolezinhos

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Page 1: Trabalho Antropologia Jurídica

CAMILA CRISTINA PYRAMO ARAÚJO

DEBORAH PINHEIRO PIASSA

FRANCIELLY GUTIERREZ BALLON

THAIS CRISTINA VIEIRA VIANNA

OS ROLEZINHOS: ASPECTOS JURÍDICOS E ANTROPOLÓGICOS

UFMS/CPAN/Corumbá/MS

2014

Page 2: Trabalho Antropologia Jurídica

CAMILA CRISTINA PYRAMO ARAÚJO

DEBORAH PINHEIRO PIASSA

FRANCIELLY GUTIERREZ BALLON

THAIS CRISTINA VIEIRA VIANNA

OS ROLEZINHOS: ASPECTOS JURÍDICOS E

ANTROPOLÓGICOS

Avaliação apresentada como requisito para

aprovação na disciplina Antropologia Jurídica do

Curso de Direito da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul/CPAN –Corumbá/MS,

ministrada pela profº Thiago Duque

UFMS/CPAN/Corumbá/MS

2014

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Page 3: Trabalho Antropologia Jurídica

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade discutir as questões antropológicas e jurídicas

relacionadas à juventude. Para tanto, utilizaremos um fenômeno atual e que obteve

bastante repercussão, o rolezinho.

Inicialmente elucidaremos alguns aspectos antropológicos da juventude, descritos

principalmente no texto Juventude, de Castro (2009), que compõe o livro Diferenças,

Igualdade, de Almeida e Szwako (2009).

A seguir utilizaremos alguns textos que falam mais propriamente sobre os

rolezinhos para apresentar o tema ao leitor, citando algumas de suas particularidades. O

tema foi escolhido por nós por ser um acontecimento que esteve na mídia a pouco tempo e

que dividiu a opinião pública, inclusive entre os estudantes e profissionais que exercem o

Direito.

Posteriormente o tema será associado a marcadores da diversidade, entre eles,

alteridade e cultura. Para isso utilizaremos o material discutido durante o decorrer do curso

de Antropologia Jurídica.

Será realizada também uma correlação entre a Juventude, os rolezinhos e alguns

aspectos jurídicos, sua relação com algumas normas e também qual a importância dessa

reflexão, como estudantes de Direito e como isso pode nos auxiliar em nossa futura

profissão.

Por ultimo, realizaremos a conclusão do trabalho, com nossas principais

impressões.sobre o que foi desenvolvido.

Page 4: Trabalho Antropologia Jurídica

DESENVOLVIMENTO

Reflexão sobre a Juventude

A classificação social dos jovens leva vários fatores em consideração. A mais usada

é relativa a idade, porém buscando uma maior adequação e homogeneidade são utilizados

também outros parâmetros como a entrada no mercado de trabalho, idade esperada para

que a escolarização formal seja concluída e alguns outros como gravidez, etc.

No Brasil, a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho Nacional de

Juventude (Conjuv) consideram jovens as pessoas entre 15 e 29 anos. Porém, em diversos

casos, a idade utilizada é diferente, o que só demonstra a diversidade de percepções e

fatores dentro da população juvenil.

Uma das principais características desse período da vida é que estudar deve ser a

atividade principal dessas pessoas, porém há problemas graves na situação educacional da

juventude, sendo os principais: falta de acesso, evasão, repetência e permanência em séries

do ensino fundamental. As principais causas da evasão escolar são obtenção de emprego e

gravidez.

Percebe-se que há uma diferença muito grande entre a população jovem, podendo

apontar que os principais marcadores sociais dessa diferença são: classe social, sexo, cor

da pele, local de moradia, etc, e por essa diferença podemos perceber que existem diversas

subdivisões dentro dessa faixa populacional.

É indispensável avaliar tais fatores para entender o fenômeno que será estudado mais

a frente neste trabalho. Quem é o jovem que faz rolezinho? Quais suas características?

De acordo com Pereira (2014), os jovens que originaram os rolezinhos são os que

habitam bairros pobres, na periferia de São Paulo, com uma grande porcentagem de

negros, e esses fatores influenciaram muito para que eles fossem estigmatizados, por serem

jovens, pobres, por apreciarem determinado gênero musical.

Para estudarmos o acontecido mais a fundo é importante ainda entendermos o que é

ser jovem no século 21 e porque tantos movimentos, organizações políticas, culturais e

religiosas são identificadas como de jovens.

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Page 5: Trabalho Antropologia Jurídica

O termo jovem é utilizado em diferentes contextos históricos, sendo difícil utilizá-lo

em diferentes contextos históricos. Antes a juventude era considerada uma preparação para

a idade adulta, porém hoje a definição é bem mais ampla.

Para compreendê-lo é necessário perceber a juventude como classe, moldada em um

contexto histórico e social. Pode-se considerar que o surgimento da juventude se deu com

a formação da sociedade patriarcal burguesa, sendo que os filhos (jovens), junto com a

esposa, ocupariam posição de inferioridade e submissão.

Apesar de hoje em dia não poder ser considerada a mesma dessa época, a crise de

autoridade na relação entre adolescentes e adultos foi um fator importante na forma com

que a sociedade agiu e na criminalização indevida das condutas dos adolescentes do

rolezinho.

Esse contexto histórico e social a que referimos gera um importante questionamento:

como identificar quem é jovem e quem não é?

A primeira resposta a ser dada foi em relação a idade biológica, porém como já foi

discutido, não há nada que justifique uma distinção etária definitiva, mas é interessante

analisar como a concepção da característica ser jovem pode influenciar e determinar o

comportamento social.

Para muitos pesquisadores, utilizar a idade como classificação é uma perspectiva

transitória, que só poderia ser avaliada em um período de longa duração. Outros dizem que

não é possível dissociar idade biológica e idade social e que estas variam de acordo com

cada sociedade, contexto, idade, gênero e classe.

A juventude ainda pode ser avaliada como aqueles que estão em processo de

formação e que ainda não possuem responsabilidades, ou seja, não estão inseridos no

mercado de trabalho, podendo assim se dedicar integralmente aos estudos e ao lazer.

Segundo Castro (2009) “um viés marcante ao se pensar a sociedade de hoje é a

associação de jovens com a violência, seja como vítimas, seja como agressores” . A

preocupação com a violência gerou diversas abordagens em diversos contextos e ela

reforça a imagem de que esta é perigosa.

Essa ideia carrega traços de continuidade com as classificações biológicas de

juventude, nas quais as mudanças biológicas e hormonais seriam uma predisposição a

comportamento impetuoso, inconsequente e impulsivo.

No Brasil também se vincula tais comportamentos a espaços fortemente urbanizados,

formando as “tribos urbanas”, que seriam agrupamentos de jovens ligados à cultura e a

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Page 6: Trabalho Antropologia Jurídica

música, especialmente rock, funk, hip hop e também a formas específicas de expressão,

como modo de se vestir, locais que frequentam, estilo de vida, etc.

Estudos mais recentes mostram que ao serem associados a violência, especialmente

no caso de jovens de classes sociais mais baixas, gera um forte estigma e uma imagem

negativa da juventude.

Tal fato ficou evidente durante os rolezinhos, pois apesar de ser negada a ocorrência

de furtos ou roubos no primeiro rolezinho, a mídia noticiou que adolescentes haviam

realizado um grande arrastão no shopping e houve repressão por parte dos seguranças do

local e da polícia.

Castro (2009) também afirma que diferente dos teóricos que associaram juventude

à delinquência, há outro ponto de vista que a relaciona a conceitos como transformação,

revolução, vanguarda e questionamento, ou seja, à ideia de que a juventude possui

potencial revolucionário, como atores em um processo de contestação cultural e política,

diferindo da imagem dos adultos em suas roupas, movimentos culturais, linguajar, relação

com a sexualidade, música e forma de dançar.

No Brasil, os jovens tiveram papel importante em diversos fenômenos sociais,

como o caso do movimento estudantil, que era um dos mais fortes opositores políticos

contra a ditadura ou com os cara-pintada, dos anos 90.

Porém não há como generalizar a participação política e social dos jovens como

revolucionária, já que havia vários jovens que apoiavam setores ultraconservadores da

sociedade. Também as décadas de 80 e 90 foram marcadas por uma outra “geração” da

juventude, que teria se afastado da política e se tornado alienada, despolitizada e

desinteressada.

O conceito de geração é fundamental para entender o significado de juventude.

Possui duas interpretações, sendo a primeira uma perspectiva relacional, ou seja, em que o

jovem está em oposição ao adulto ou ao velho.

O outro, de acordo com o sociólogo Karl Mannheim, citado por Castro (2009), diz

respeito a abordagem histórico-cultural, sendo definida geração como convivência de

populações que nascem em períodos distintos, em dado momento histórico, utilizando três

definições: o recorte biológico, a unidade geracional e os grupos sociais concretos.

Tais teorias foram muito importantes pois demonstraram que os jovens podem se

sentir bastante diferentes entre si, porém ainda serem vistos coletivamente como jovens e

ao perceberem isso, tornam- se um grupo concreto.

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Page 7: Trabalho Antropologia Jurídica

As variadas características atribuídas à juventude e as associações realizadas devido

a isso refletem em duas questões centrais: a caracterização de padrões comportamentais

dos jovens e a valorização da juventude enquanto período de transição entre a infância e a

vida adulta.

As associações, sejam elas positivas ou negativas, levam a conclusão de que os

jovens devem ser tutelados para que mais tarde se tornem adultos responsáveis pelo rumo

da sociedade, sendo vistos como “em transição”, o que os limita ao papel de subordinados

nas relações sociais, devendo obedecer e escutar os mais velhos, sem muitas vezes ser

escutado ou obedecido.

Não ouvir os jovens em espaços de decisão seria perceber que estes não são sérios

ou que não podem ser levados em consideração em momentos de decisão, seja na família

ou nos espaços coletivos de organização e ao mesmo tempo o jovem é associado ao futuro

e a transformação social.

A juventude é descrita como “período de passagem da infância para a vida adulta,

um período de formação, de consolidação de valores, desejos, percepções de mundo e

projetos para o futuro” Castro (2009, p.29)

A visualização de que a juventude é um período de transição também leva a visão

de que as manifestações associadas à condição juvenil também seriam passageiros,

efêmeros e por isso não deveriam ser reconhecidos como legítimos atores políticos ou

sociais, havendo a possibilidade de não ser adequado trabalhar com a ideia de identidade

social da juventude.

Porém, mais do que nunca, no século 21, a juventude assumiu essa concepção e se

tornou um ator social presente e que exige ser levado em consideração. Os jovens, que

agora se identificam como tal, formam grupos, associações, organizações, manifestações

políticas, culturais e sociais.

Isso influencia os estudos sobre a juventude e principalmente a forma com que a

sociedade percebe o jovem e os espaços a eles dedicados, abrindo discussões sobre o que é

ser jovem nos dias atuais e os problemas específicos dessa “condição”.

Os rolezinhos e suas particularidades.

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Page 8: Trabalho Antropologia Jurídica

Segundo Froes (2014) o rolezinho é um fenômeno juvenil que se originou na cidade

de São Paulo entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, por jovens da periferia, nos

espaços dos shopping centers.

Tais encontros são organizados via internet, geralmente pelo facebook, tendo como

finalidade apenas a interação entre jovens dos bairros pobres da periferia de São Paulo, por

meio da reunião nos shoppings centers para conhecer outras pessoas, fazer amigos,

paquerar, além de animar o evento cantando musicas do estilo funk, por exemplo. Essa

maneira diferente de diversão e interação realizada pela juventude da periferia teve como

pioneiro o rolezinho realizado no dia 7 de dezembro de 2013 no Shopping Metro Itaquera e

que contava com a presença de aproximadamente 6000 participantes.

Sendo uma prática inovadora no cenário juvenil da atualidade, o que era para ser

apenas um simples passeio, logo se tornou um tumulto iniciado pela policia por meio da

sua intervenção no evento, devido a queixas realizadas pelos lojistas que se sentiram

ameaçados pela grande concentração dos jovens a fazer barulho no local.

Contudo, essa repressão e a imagem distorcida do acontecido revelada pela mídia,

não intimidou os demais jovens que passaram a marcar novos rolezinhos em outros

shoppings da cidade.

Alguns outros foram combinados e de acordo com Pereira (2014), que acompanhou

dois deles, ao chegar ao local os jovens eram abordados por seguranças e impedidos de

permanecerem na entrada principal do estabelecimento, muitos até intimidados a se

retirarem.

Sem grandes motivos (um grito de ÊÊÊÊ) os lojistas começaram a fechar as lojas e

a a atuação policial se tornou mais violenta, e em alguns casos, até ridícula, ficando claro

que "apesar do forte discuso criminalizante presente então na mídia, os jovens não

praticaram ali nenhum crime" (PEREIRA, 2014).

Pereira (2014) também afirma Pelo observado nas redes sociais e nos movimentos,

os jovens buscavam fundamentalmente espaços de visibilidade, onde pudessem vem e ser

vistos, se reconhecer, encontrar, se divertir, paquerar e "zoar" e que os shoppings foram

escolhidos pois são locais de prestígio, consumo e diversão.

De acordo com Silva e Krug (2014), parece inaceitável a classe média e a elite que

“esses jovens vindos da periferia, muitas vezes negros”, adentrem “seus” espaços de lazer,

consumo e cultura, frequentando universidades através de cotas, companhias aéreas e os

shoppings, “zoando” o mundo distinto das marcas, grifes, etc.

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Page 9: Trabalho Antropologia Jurídica

Também, Viana (2014) afirma que ocorre um certo conflito social devido ao fato de

os participantes do rolezinhos estarem tentando ocupar um lugar que é reservado às classes

privilegiadas, resultando no preconceito e na repressão de tal prática.

Pereira (2014) afirma ainda que os rolezinhos demonstram vários marcadores

sociais, que frequentemente geram tensão e preconceito em nossa sociedade: a classe, a

raça/cor, a idade/geração. Esses jovens foram estigmatizados não só por serem

adolescentes, mas também por serem jovens pobres, da periferia e em sua maioria negros.

A repressão e as negociações com o poder público acabaram por promover o

esvaziamento do movimento dos rolezinhos, já que estes perderam seu sentido original.

Comentários sobre os rolezinhos: A juventude dos rolezinhos em uma

abordagem jurídica

O tema juventude, abordado neste trabalho, também é um dos objetos de estudo do

direito, principalmente, no que concerne aos direitos humanos dos jovens e a sua

participação, cada vez maior, no cenário sociopolítico da atualidade no intuito de promover

a atenção do Estado para as suas reivindicações.

É necessário informar claramente ao leitor que, para o Estatuto da Juventude, no seu

artigo 1°, “são considerados jovens pessoas com idade entre 15(quinze) e 29(vinte e nove)

anos de idade”.

Desse modo, no decorrer do trabalho, serão relacionados os temas juventude e

direito através da abordagem de um movimento que vem ganhando destaque na mídia

desde o final de 2013 e o inicio de 2014 e remete a uma forma diferente de reivindicar,

mesmo que implicitamente, direitos como “respeito a identidade e a diversidade individual

e coletiva da juventude” (ESTATUTO DA JUVENTUDE; Art. 2° § 6º ou mesmo a

“valorização do dialogo e convívio do jovem com outras gerações”(ESTATUTO DA

JUVENTUDE; Art. 2°; inciso sexto), por exemplo. Tal movimento é o fenômeno que ficou

conhecido como “rolezinho”.

O Brasil é um país que tem os direitos a liberdade, a igualdade, entre outros,

positivados no seu ordenamento jurídico, tal situação fere profundamente diversas

garantias fundamentais estabelecidas em nossa Constituição (BRASIL, 1988), como:

-A dignidade da pessoa humana (Art 1, § III),

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Page 10: Trabalho Antropologia Jurídica

- O bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade (Art 3, §

IV)

- A igualdade perante a lei, descrita no Art 5º e várias outras cláusulas pétreas em

nossa Carta Magna.

Apesar de estarem assegurados esses direitos, ainda ocorrem situações como essa,

em que jovens reunidos pacificamente apenas para se divertir, terminam por ser vítimas da

repressão policial devido a serem considerados ameaçadores e autores de possíveis

arrastões a serem realizados no estabelecimento comercial.

Diante de tal situação, é intrigante o fato de a mídia ter noticiado que, ao invés de ter

ocorrido uma prática inovadora de expressão cultural desses jovens, estes haviam se

reunido no shopping para realizar um arrastão.

Curiosa interpretação do cenário, pois se pergunta: por que aqueles jovens eram

ameaçadores tanto para os frequentadores quanto para os administradores do local? Seria

por eles serem em sua maioria negros? Por estarem cantando funk? Ou apenas por serem

da periferia?

Também descrito no Art 5º, o direito de ir, vir e permanecer foi deixado de lado para

dar lugar ao pensamento preconceituoso de que jovens da periferia não podem frequentar

livremente lugares privilegiados como os shoppings, por exemplo, pois a mídia continuou

com o discurso do arrastão mesmo depois da confirmação dos lojistas de que não havia

ocorrido nem furtos nem roubos.

Embora não tenham registrado furtos, roubos e nenhum dano a seu patrimônio, seis

shoppings recorreram a "Justiça?" e, invocando a tese que os shoppings são espaços

privados, conseguiram liminares que proibiram a reunião dos jovens e isto gerou

confrontos e repressões.

Apesar de a intenção dos jovens ser pacifica de utilizar aqueles recintos comerciais

para seu lazer, de acordo com Viana (2014), representam ameaça para o Estado, e as

classes privilegiadas, pois os rolezinhos podem se tornar motivo para que outros grupos

com outras reivindicações possam realizar a mesma prática, ou mesmo que o abismo

existente entre as classes sociais diminua, isto demonstra que entre o que foi normatizado e

o que tem sido aplicado existe um espaço quase que intransponível, inclusive por parte de

quem deveria assegurar esses direitos.

Essa grande repressão aplicada nos rolezinhos apresenta-se como um fato bastante

contraditório levando-se em consideração que a primeira reunião foi realizada em

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Page 11: Trabalho Antropologia Jurídica

dezembro, isto é, quatro meses após a criação da Lei n° 12.852, de 5 de agosto de 2013,

que dispõe sobre o direito dos jovens mediante o Estatuto da Juventude.

Essa norma jurídica é mais uma reafirmação dos jovens enquanto sujeito de direitos,

sendo um deles o “direito a comunicação e a livre expressão, a produção de conteúdo,

individual e colaborativo e ao acesso as tecnologias de informação e comunicação”.

Conforme diz o Estatuto da Juventude no Cap. 2, Sétima Seção, no Art. 26.

A população juvenil dos rolezinhos não é uma exceção ao que está disposto na lei,

ao contrário, esses jovens são os protagonistas de mais um acontecimento da vida

contemporânea, um fato concreto que chama a atenção da sociedade, do Estado e também

do Direito, ao passo que promove e estimula uma forma inusitada de interação.

“Com relação aos rolezinhos, Estado, policia e cidadãos devem agir de modo a

respeitar o cidadão, independente de raça ou situação econômica, garantindo assim os

direitos humanos, o uso da força deve ser proporcional à ameaça apresentada”. Silva e

Krug (2014, p.11).

O movimento também podem, e devem ser utilizados para outras finalidades como,

por exemplo, reuniões destinadas ao incentivo de uma maior participação política da

juventude, ou mesmo cuidar para que seus direitos e garantias sejam preservados, ou seja,

uma tentativa de desvincular os jovens da delinquência na lógica da globalização e da

apatia na luta pelos seus direitos e fazê-los mais participativos em uma sociedade que, por

direito, também é deles.

O primordial é que os jovens, sejam os participantes de rolezinhos ou não, sejam

tratados como sujeitos de direitos descritos na legislação e não como meros objetos

observação, discussão e intervenção por parte da família, escola, sociedade e do Estado e

que as Leis implementadas sejam efetivas, independente da situação em que necessitem ser

aplicadas.

Juventude, Cultura e os Rolezinhos

É difícil, ao abordar tais temas, utilizar apenas um marcador social ou um conceito

antropológico, isso porque o fenômeno dos rolezinhos envolveu todo um contexto, uma

gama de acontecimentos e características, que não eram "puros".

Os adolescentes do rolezinho eram, obviamente, jovens, porém também eram em sua

maioria negros, em sua maioria pobres. Da mesma forma que os rolezinhos se

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apresentaram como um fenômeno cultural, mas também evidenciaram outras

características como identidade, alteridade, relativismo e etnocentrismo e é impossível

dissociar completamente ao se analisar uma delas.

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Page 13: Trabalho Antropologia Jurídica

CONCLUSÃO

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Page 14: Trabalho Antropologia Jurídica

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 15: Trabalho Antropologia Jurídica

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