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1 Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais Sociologia Contemporânea I Prof. Dr. Carlos Eduardo Fialho Gabriel Guimarães Pinto Entrega: 27/05/2015 Aproximações e correlações entre afinidades eletivas e tipos ideais como instrumentos constitutivos da metodologia weberiana O modelo de compreensão sociológica de Weber teve como base a compreensão da ação social, distanciando-se da visão positivista da ciência (tanto natural quanto social). Dessa forma, a questão do método weberiano transita em torno de algumas noções que motivam diversas de suas obras, a saber: o papel dos valores na formulação da ciência, a objetividade do conhecimento, a neutralidade axiológica, as afinidades eletivas, os tipos ideais, as ações sociais e a formulação de leis gerais. Todos esses conceitos se relacionam no que diz respeito ao eixo pesquisado-pesquisador. Não buscarei destrinchar cada conceito de forma separada ou específica, mas começarei abordando a questão da objetividade do conhecimento para Weber, e de que forma as afinidades eletivas e a construção de tipos ideais auxiliam o cientista em seu “fazer ciência”, na produção de um conhecimento a partir de um objeto selecionado com base em seus valores.

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Page 1: Trabalho Contemporânea 1

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Universidade Federal FluminenseInstituto de Ciências Humanas e FilosofiaDepartamento de Sociologia e Metodologia das Ciências SociaisSociologia Contemporânea IProf. Dr. Carlos Eduardo FialhoGabriel Guimarães PintoEntrega: 27/05/2015

Aproximações e correlações entre afinidades eletivas e tipos ideais como

instrumentos constitutivos da metodologia weberiana

O modelo de compreensão sociológica de Weber teve como base a compreensão da

ação social, distanciando-se da visão positivista da ciência (tanto natural quanto social). Dessa

forma, a questão do método weberiano transita em torno de algumas noções que motivam

diversas de suas obras, a saber: o papel dos valores na formulação da ciência, a objetividade

do conhecimento, a neutralidade axiológica, as afinidades eletivas, os tipos ideais, as ações

sociais e a formulação de leis gerais. Todos esses conceitos se relacionam no que diz respeito

ao eixo pesquisado-pesquisador. Não buscarei destrinchar cada conceito de forma separada ou

específica, mas começarei abordando a questão da objetividade do conhecimento para Weber,

e de que forma as afinidades eletivas e a construção de tipos ideais auxiliam o cientista em seu

“fazer ciência”, na produção de um conhecimento a partir de um objeto selecionado com base

em seus valores.

Para Weber, a sociologia tem como propósito compreender a ação social. A

compreensão, nesse sentido, tem o mesmo caráter que explicar um fenômeno; ou melhor, a

compreensão é o método para explicar o fênomeno. Ela tem esse caráter devido ao objeto

estudado: a ação humana, que é dotada de sentido. Esse objeto (e sua explicação) não são

constituídos e nem podem ser explicados através da relação causal operante nas ciências

naturais. Não é possível explicar o sentido de uma ação social através de uma causa

determinada, mas é possível eleger as afinidades eletivas que constituem ou servem para fazer

emergir determinada relação. Nesse sentido, as afinidades eletivas se opõem a uma simples

relação causal direta. As ciências sociais, então, visam a compreensão de determinados

fenômenos enquanto singulares.

Uma questão importante, articulada por Weber, diz respeito às categorias de “fins” e

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“meios” e suas relações com as ações sociais. Para ele, cabe à ciência determinar se

determinados meios são apropriados visando determinados objetivos. É possível, então,

estabelecer quais são os meios necessários para determinados fins, e mais que isso, a partir

dos meios disponíveis determinar se os fins serão alcanaçados ou não, assim como determinar

as consequências dos meios e fins requeridos e pretendidos. Dessa forma, a ciência permite a

auto-reflexão a partir da definição dos custos para os fins intentados, assim como as possíveis

consequências não-intentadas. Não cabe à ciência, então, determinar o que o agente deve

fazer, mas sim, proporcionar uma conscientização das relações meios-fins e suas possíveis

consequências.

Em seu livro “A ética protestante e o “espírito” do capitalismo”, podemos perceber de

que forma Weber constrói esse modelo de compreensão e os métodos utilizados para tal. No

livro citado, Weber analisa as relações entre a ética protestante e as possíveis influências para

o desenvolvimento de uma ética capitalista. Ele vai além da perspectiva causal em estabelecer

a “origem” ou a “motivação” dessa ética. Mais do que isso, ele busca as atrações e

combinações inerentes a esse processo que puderam desenvolver, em determinadas condições,

tal ética. Ele busca as “afinidades eletivas” entre o movimento religioso e o desenvolvimento

da cultura material.

Gostaria, entretanto, de fazer breves considerações acerca do conceito de afinidade

eletiva. Weber o utiliza apenas três vezes em seu livro “A ética protestante e o “espírito” do

capitalismo”, e nesse mesmo livro, na versão traduzida para o inglês por Talcott Parsons, o

termo Wahlverwandtschaften foi transformado em “certain correlations” ou “those

relationships”, empobrecendo a noção e o sentido construídos por Weber, tomado de

empréstimo de Goethe, que utilizou o termo como título de um de seus livros. Além disso, em

um de seus textos dedicados à sua metodologia, “A objetividade do conhecimento na ciência

social e na ciência política”, ele não utiliza o termo. De fato, muitos dos autores consultados

preferem abordar esse “conceito” de forma abstrata, aludindo mais à sua capacidade

operacional enquanto método do que como um conceito bruto, de fato. O próprio Weber,

pelo que pude perceber, não busca uma conceituação concreta e formal do termo, definindo-o

apenas em termos gerais.

A “construção” das afinidades eletivas, por Weber, permite explicações de eventos

históricos que não caiam em definições materialistas nem espiritualistas, evitando assim o

determinismo de complexas relações históricas. Além disso, o termo carrega a carga ativa das

ações; não se trata de uma simples “afinidade” entre as partes, mas de afinidades eletivas.

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Com esse uso, ele chama atenção para a atração e influência recíprocas entre as partes, uma

convergência mútua entre elas. A utilização do termo permite compreender (no sentido

weberiano da palavra) as convergências entre acontecimentos aparentemente desconexos, de

campos ou esferas sociais distintas, permitindo analisar processos não pela causalidade direta,

nem pela função de uma parte em relação ao todo, mas pelas atrações que se exercem

mutuamente.

Percebe-se, dessa forma, como as afinidades eletivas possuem fundamental

importância na sociologia da compreensão, proposta por Weber. Ela serve como um método

(ou parte de um) que sirva para dar conta de relações aparentemente desconexas, em um

determinado processo ou fenômeno que está sendo analisado. Entretanto, o modelo de

sociologia proposta por Weber buscava analisar, também, as ações sociais e seu sentido. Não

é objetivo, nessa proposta, analisar o sentido das ações, aquilo que motiva ou leva à ação, mas

da ação enquanto estruturada por um sentido. Aqui, podemos perceber o “paradoxo do efeito

diante da vontade”, que desconstroi a ideia de uma relação direta entre a

intenção/vontade/sentido de uma ação e suas consequências.

Como, entretanto, compreender determinados eventos em suas especificidades e

sentidos? Para isso, segundo Weber, o cientista precisar isolar do feixe de fenômenos aqueles

que ele considera relevante, e que são relevantes para a época estudada; a significância que

esses processos possuem tanto para o pesquisador quanto para sua cultura é um critério de

seleção do fenômeno; critério esse, subjetivo. É necessário, também, construir causas

adequadas ou possíveis, construindo relações, buscando melhorar a investigação empírica,

inicialmente intuitiva e imprecisa. Busca-se, dessa forma, não aquilo que é geral ou genérico

em um processo, mas a especificidade dos fenômenos que o constitui. A elaboração dos tipos

ideais surge como resposta para o problema da objetividade do conhecimento e a

compreensão histórica, buscando a particularidade das conexões que se estabelecem

empiricamente.

O que a ciência social, nessa visão, tem como objetivo é compreender uma

particularidade sociocultural, que se formou a partir de determinadas correlações históricas,

buscando no passado explicações para o presente, podendo assim avaliar as possibilidades

futuras. Não se trata aqui de um determinismo, mas de uma avaliação de determinadas

relações e seus possíveis desdobramentos. A construção dos tipos ideais é pautada nos valores

do cientista, que seleciona determinados aspectos que lhe parecem importantes e imputa um

sentido a eles. Os tipos ideais são instrumentos que orientam o cientista em busca de conexões

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causais. Eles são unilaterais, racionais e utópicos, ou seja, acentuam determinados elementos

em detrimentos de outros, a cargo das considerações do pesquisados sobre o que é relevante

acerca do objeto estudado; há uma racionalidade acerca da relação estabelecida pelo cientista;

e são utópicos pois não são um reflexo da realidade, muito menos um modelo do que ele

deveria ser: ele é um modelo simplificado de uma realidade, orientado a partir das

essencialidades definidas pelos valores do cientista. Ele serve, então, para ser comparado com

a realidade empírica examinada.

A meta do conhecimento científico, para Weber, é conhecer a realidade concreta de

acordo com seu significado cultural e suas relações causais. E para tal atividade não é

necessária a construção de um sistema de conceitos de leis, muito menos explicar ou justificar

a significação cultural. O contexto histórico relativo ao pensamento weberiano propôs a

possibilidade da elaboração dos tipos ideais como instrumentos metodológicos, preconizando

o estudo das particularidades e singularidades dos fenômenos observados, opondo seu

pensamento à visão generalista e comparativa presentes em Comte e Durkheim. Os tipos

ideais permitem, então, ver se, particular ou totalmente, os fenômenos reais se aproximam das

abstrações conceituais criadas.

Bibliografia Consultada

BARBOSA, M. L. de O.; QUINTANEIRO, T. Max Weber. In: QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. de O.; OLIVEIRA, M. G. M. de. Um Toque de Clássicos. 2. ed. rev. e amp. Belo Horizonte: UFMG, 2002. pp. 106-149.

LÖWY, M. Sobre o Conceito de Afinidade Eletiva em Max Weber. PLURAL, Revista do Programa de Pós-graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.17 n.2., 2011, pp. 129-142, Traduzido por: OLIVEIRA, L. A.; FERREIRA, M. T.

SELL, C. E. Max Weber In: ______. Sociologia Clássica: Durkheim, Weber e Marx. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010 (Coleção Sociologia)

WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004

______. A “Objetividade” do Conhecimento na Ciência Social e na Ciência Política. In: Metodologia das Ciências Sociais. Parte I. São Paulo: Cortez, 1992, p. 107-154.