trabalho análise de falhas

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UNESP Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá Guaratinguetá 2015

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Trabalho Elementos de Máquinas - Análise de Falhas

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Page 1: Trabalho Análise de Falhas

UNESP

Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá

Guaratinguetá

2015

Page 2: Trabalho Análise de Falhas

BÁRBARA BENATTI

BÁRBARA REZENDE LEITE SILVA

CAUSAS FUNDAMENTAIS DAS FALHAS

Guaratinguetá

2015

Page 3: Trabalho Análise de Falhas

RESUMO

Este trabalho aborda os tipos de falha e avalia as causas fundamentais das mesmas.

Serão apresentados exemplos reais e métodos para a contenção dessas causas que possam

minimizar seus impactos sobre o funcionamento do sistema.

PALAVRAS-CHAVE: Manutenção, falhas, causas.

Page 4: Trabalho Análise de Falhas

ABSTRACT

This paper discusses the types of failure and evaluates the root causes. Real examples

will be presented and methods for containment of these causes that can minimize their impact

on the functioning of the system.

KEY – WORDS: failure, causes, maintenance.

Page 5: Trabalho Análise de Falhas

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Irmãos Wright................................................................................................................. 11

Figura 2 - Avião Wright Flyer após o acidente ............................................................................. 12

Figura 3 - Exemplo de distorção de uma haste de válvula sobrecarregada ................................. 15

Figura 4 - Exemplo de uma fratura frágil do aço estrutural A36, após sofrer fadiga inicialmente

por trincas (setas). ............................................................................................................................ 16

Figura 5 - Diagrama tensãoxdeformação ....................................................................................... 17

Figura 6 - Corrosão microbiológica de um sistema de tubulação de água de resfriamento. ...... 18

Figura 7 - Exemplo de uma falha de desgaste do virabrequim do motor à diesel. ...................... 19

Figura 8 - Material como recebido ................................................................................................. 23

Figura 9 - Detalhe de uma das lâminas .......................................................................................... 23

Figura 10 - Sequência de lâminas, região das fraturas com corrosão e contaminação. .............. 24

Figura 11 - Detalhe de uma das lâminas fraturadas ...................................................................... 24

Figura 12 - Região do orifício de fixação da arruela e parafuso. ................................................. 25

Figura 13 - Região com corrosão (orifício de fixação do parafuso). ........................................... 25

Figura 14 - Superfície de fratura.................................................... Erro! Indicador não definido.

Figura 15 - Superfície de fratura – detalhe da região de pré-trinca .............................................. 26

Figura 16 - Região analisada e gráfico do EDS resultante. .......................................................... 26

Figura 17 - Região analisada e gráfico do EDS resultante. .......................................................... 27

Figura 18 - Trinca iniciada em pite de corrosão. ........................................................................... 27

Figura 19 - Trincas e corrosão intergranular iniciadas em partículas aderidas à superfície. ...... 27

Figura 20 - Região analisada e gráfico do EDS resultante. .......................................................... 28

Figura 21 - Região analisada e gráfico do EDS resultante. .......................................................... 28

Figura 22 - Microestrutura da liga metálica. .................................................................................. 29

Figura 23 - Vista geral da trinca (setas) presente no segmento de trilho. .................................... 32

Figura 24 - Defeito presente na junta soldada pelo processo aluminotérmico. ........................... 33

Figura 25 - Trincas verticais. .......................................................................................................... 33

Figura 26 - Região da junta soldada mostrando o local provável do início da fratura (seta). .... 34

Figura 27 - Zona adjacente ao centro da solda com material com forma “agulha”. Aumento: 6X

.......................................................................................................................................................... 34

Figura 28 - Vista superior da região soldada no boleto................................................................. 35

Figura 29 - Perfil de dureza encontrado para o segmento de trilho analisado. ............................ 35

Figura 30 - (A) Microestrutura perlítica com ferrita pró-eutetóide no contorno de grão

einclusões não metálicas globulizadas; (B) Microestrutura perlítica com inclusões não

metálicas alongadas; (C) Microestrutura perlítica. Aumento: 100X. Ataque: Nital 2%. ........... 36

Figura 31 - Trincas secundárias encontradas no contorno de grão. Superfície de rolamento.

Aumento: 200X. Ataque: Nital 2%. ............................................................................................... 36

Page 6: Trabalho Análise de Falhas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

RCA Root Cause Analysis

SBFS Heliporto São Tomé

EDS Energia Dispersiva de Raio-X

MEV Microscópio Eletrônico de Varredura

CENIPA Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

EFC Estrada de Ferro Carajás

CVRD Companhia Vale do Rio Doce

RE Tipo de Perfil do Trilho

SKV Métodos de Soldagem

SMF Métodos de Soldagem

SOWOS Métodos de Soldagem

ZAC Zona Afetada pelo Calor

Page 7: Trabalho Análise de Falhas

LISTA DE SÍMBOLOS

Fe Ferro

Cr Cromo

NI Níquel

C Carbono

O Oxigênio

Cl Cloro

Si Silício

Cd Cádmio

S Enxofre

Ba Bário

Kg/m Kilograma por metro

Al2O3 Alumina

HV Dureza

HB Dureza

C Celsius

A36 Aço ASTM-A36

Page 8: Trabalho Análise de Falhas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À ORIGEM DAS FALHAS.……………….……………...………11

1.1 DIFERENTES NÍVEIS DE FALHAS............................................................................12

2 ANÁLISE DE CAUSAS FUNDAMENTAIS .............................................................13

2.1 ANÁLISE DA RAIZ DAS CAUSAS (RCA).................................................................13

2.1.1 ANÁLISE FÍSICA PRIMÁRIA DA RAIZ DAS CAUSAS..........................................13

3 CATEGORIAS DAS FALHAS…………………………………………………..…..14

3.1 CATEGORIAS DAS TENSÕES DOS MATERIAIS……………………………....…14

3.2 AS QUATRO CATEGORIAS DAS FALHAS E SUAS CAUSAS……………..…….14

3.2.1 DISTORÇÃO OU DEFORMAÇÃO INDESEJADA…………………………….……15

3.2.2 FRATURA......................................................................................................................15

3.2.3 CORROSÃO ..................................................................................................................17

3.2.4 DESGASTE ...................................................................................................................18

4 EXEMPLOS REAIS DE FALHAS ............................................................................22

4.1 FALHA POR CORROÃO E MANUTENÇÃO INCORRETA....................................22

4.2 ANÁLISE DE FALHA E CARACTERIZAÇÃO METALÚRGICA DE UM

SEGMENTO DE TRILHO SOLDADO POR ALUMINOTERMIA.........................................30

5 CONCLUSÕES.............................................................................................................38

REFERÊNCIAS............................................................................................................39

Page 9: Trabalho Análise de Falhas

11

1 INTRODUÇÃO À ORIGEM DAS FALHAS

Analisar as falhas é um processo fundamental para determinar as causas fisicas do

problema, o processo é complexo e baseia-se em diferentes disciplinas. Um dos fatores

importantes para analisar corretamente a causas das falhas é manter a possibilidade de um

leque de possiveis fatores para promover uma perspectiva clara e imparcial de falhas. É

preciso também que outros especialistas de diferentes disciplinas colaborem em certas

circunstancias para se possa integralizar a análise das evidências quantitativa e também

forneçam informações básicas sobre o projeto, fabricação e histórico do produto.

Assim como Análise de Falhas é uma disciplina utilizada para identificar as causas

físicas das falhas, anásile da raiz das causas (RCA – Root Cause Analysis) possui técnicas que

são eficazes para explorar alguns dos outros contribuintes para falhas, tais como causas

humanas e latentes. A importancia e o valor da análise das falhas para a segurança,

confiabilidade, desempenho e econimia estão bem documentados, por exemplo a importância

da investigação das falhas é vividamente ilustrada nos eforços pioneiros do Irmãos Wright

(Wright Brothers – fig.1) em desenvolvimento do voo motorizado. Após o acidente ocorrido

com o Wright Flyer (fi. 2), Wilbur , um dos irmãos, enviou imediatamente o avião acidentado

para a França para pudesse conduzir uma investigação completa sobre a causa das falhas, isto

foi a decadas antes da disciplina ser formalmente introduzida e chamada de “Análise de

Falhas”.

Figura 1 Irmãos Wright.

Page 10: Trabalho Análise de Falhas

12

Figura 2 Avião Wright Flyer após o acidente.

1.1 DIFERENTES NÍVEIS DE FALHAS

A falha pode ser definida em vários níveis diferentes. A forma mais simples de uma falha

é a de um sistema ou de um componente que opera, mas não executa a sua função. Isto é

considerado uma perda de função. Um motor a jato que funciona, mas pode apenas produzir

impulso parcial (insuficiente para permitir que uma aeronave descole) é um exemplo de uma

perda de função.

O próximo nível de falha envolve um sistema ou componente que desempenha a sua

função, mas não é confiável. Esta forma de falha o sistema ou componente sofreu uma perda

de vida útil. Por exemplo, uma corda de arame de um elevador perdeu a sua vida útil quando

se tem sustentado fraturas de fadiga em algum dos fios. Mesmo que o cabo de aço continua

funcionando, a presença de fraturas de fadiga nos fios resulta em uma condição insegura e,

portanto, é considerado uma falha.

No próximo nível de falha, um sistema ou componente é inoperável, ou seja, como uma

fratura do eixo da bomba que faz com que o rotor pare a apreensão, ou a perda da capacidade

de transporte de carga de um parafuso estrutural durante seu funcionamento devido a fratura.

2. ANÁLISE DE CAUSAS FUNDAMENTAIS

Page 11: Trabalho Análise de Falhas

13

2.1 ANÁLISE DA RAIZ DAS CAUSAS (RCA)

Os três níveis de análise da raiz das causas são: raízes físicas, raízes humanas e raízes

latentes. Raízes Físicas é onde muitos análises de falha param. Estas raízes podem ser

originadas de uma investigação laboratorial ou de uma análise de engenharia e muitas vezes

são achados em nível de componente ou de materiais.

Raízes Humanas é quando envolvem fatores humanos que causam as falha, sendo um

exemplo de um erro humano do que diz respeito ao julgamento das falhas.

Raízes latentes podem nos levar às causas de erro humano e incluem raízes

organizacionais ou processual, bem como raízes ambientais ou outros que estão fora da esfera

do controle.

2.1.1 ANÁLISE FÍSICA PRIMÁRIA DA RAIZ DAS CAUSAS

A categorização das causas de falhas em equipamentos variam entre os praticantes que

analisam as falhas. O agrupamento de causas físicas em apenas algumas categorias

fundamentais é vantajoso e informativo, pois define qual o aspecto de um produto ou sistema

que exige estratégias de ação e prevenção corretivas. A análise sistemática de falhas de

equipamentos revela causas físicas que se enquadram em uma das quatro categorias

fundamentais:

Deficiências de projeto

Defeitos do material

Defeitos de instalação e de fabricação

Anomalias na vida útil

3. CATEGORIAS DAS FALHAS

Page 12: Trabalho Análise de Falhas

14

Há muitas maneiras de categorizar as falhas e danos materiais em termos de formas,

mecanismos, ou causa. Nenhum sistema é necessariamente completo e consistente com a

infinidade de possibilidades. No entanto, as categorias podem ajudar a priorizar ou identificar

meios de investigação, desde que as categorias não limitam a investigação crítica.

3.1 CATEGORIAS DAS TENSÕES DOS MATERIAIS

Para determinar a causa da falha do material, deve-se considerar as tensões ativas. Uma

tensão é uma influência externa que pode ser uma causa direta ou indireta de falhas. A

compreensão dessas influências é importante para uma análise eficaz das falhas e para

determinar a causa raiz. Da mesma forma, o alívio dos fatores de tensão é muitas vezes a

solução mais lógica para reduzir a propensão de falhas. A influência de fatores de tensão é

fortemente dependente da suscetibilidade do componente, dos critérios de desempenho, da

magnitude da tensão e da exposição do material.

Os seis fatores de tensão são:

Mecânicos: Aplicações estáticas, dinâmicas ou cargas cíclicas, pressão, impacto,

tensões residuais de fabricação e tensões de montagem.

Química: exposição aguda ou crônica inadvertida a um ambiente químico agressivo e

problemas de compatibilidade de materiais

Eletroquímica: Um metal suscetível em um ambiente aquoso corrosivo

Térmica: a exposição a temperaturas elevadas, resultando na degradação de materiais

Radiação: iluminação ultravioleta, luz solar, radiação ionizante de usinas nucleares, e

assim por diante

Elétrico: Aplicação de tensão elétrica devido à presença de um campo elétrico

3.2 AS QUATRO CATEGORIAS DAS FALHAS E SUAS CAUSAS

A falha física do material pode ser colocada em uma de várias categorias, dependendo

do sistema de classificação. As quatro categorias seguintes são uma forma conveniente para

Page 13: Trabalho Análise de Falhas

15

categorizar de forma descritiva e discutir as falhas, com o objetivo final de compreender as

causas e como realizar a prevenção das falhas.

3.2.1 DISTORÇÃO OU DEFORMAÇÃO INDESEJADA

Uma distorção ocorre quando as alterações geométricas impedem que um componente

funcione corretamente, como um rolamento de polímero inchado em uma bomba ou ligação

dobrada em uma transmissão. A modificação da geometria será geralmente sob a forma de

alterações de volume (por exemplo, o inchamento ou o encolhimento) ou mudança de formas

(por exemplo, deformação, flexão ou deformação). As causas mais comuns de falhas de

distorção de volume incluem mudanças induzidas pela temperatura de fase do material ou

expansão térmica em metais, absorção de fluidos não metálicos, e retração assim como pode

ocorrer em reajustes. As causas mais comuns de falha induzida por geometria incluem design

inadequado, rigidez à flexão sob a carga, falha induzida pelo material sobrecarregado (Fig. 3)

e aquecimento desigual durante o funcionamento.

Figura 3 - Exemplo de distorção de uma haste de válvula sobrecarregada

3.2.2 FRATURA

Uma fratura é geralmente definida como a separação do material. Existem muitas

causas e formas de fratura incluindo fratura frágil (Fig. 4), fratura dúctil, e muitos

mecanismos de fratura progressiva que podem levar a fratura final. Uma compreensão do

Page 14: Trabalho Análise de Falhas

16

design de componentes, carga de trabalho, meio ambiente, bem como a aplicação de técnicas

laboratoriais de investigação de sons, como a interpretação das superfícies da fratura

(fractografia) são essenciais para uma análise de falhas eficaz no caso de fratura do

componente.

Figura 4 Exemplo de uma fratura frágil do aço estrutural A36, após sofrer fadiga inicialmente por trincas

(setas).

Entender o comportamento de materiais sob carga é importante para a compreensão

dos modos de fratura. O comportamento macroscópico de materiais sob carga é muitas vezes

caracterizada por meio de testes de tração. Costuma-se medir a carga e alongamento durante

estes testes para traçar os resultados sob a forma de um diagrama de tensão-deformação.

Diagramas de tensão-deformação podem variar amplamente entre materiais diferentes e são

grandemente influenciadas por parâmetros tais como a velocidade e a temperatura do ensaio.

A Figura 5 ilustra diagramas de tensão típicos. Uma curva é característica de aço mole e os

outros são características de outros tipos de materiais.

No entanto, de um modo geral, cada um dos materiais tem a sua própria curva.

Materiais dúcteis são aqueles que são capazes de resistir a tensões relativamente grandes antes

da fratura, em oposição a um material frágil. Contração transversal não uniforme e instável

designado por estrangulamento em materiais dúcteis indica uma sobrecarga grave. Ela reduz a

área eficaz e resulta em uma distinção entre a curva tensão-deformação verdadeira e a curva

de tensão-deformação de engenharia, que considera a seção transversal original para o cálculo

do stress. Um estudo realizado sobre a teoria da deslocação explica ainda o comportamento

plástico de metais além da faixa de tensão elástica.

Page 15: Trabalho Análise de Falhas

17

Figura 5 Diagrama tensão x deformação.

3.2.3 CORROSÃO

A corrosão é a degradação dos materiais. Nos metais, o tipo mais comum é corrosão

electroquímica, um fenômeno que ocorre na superfície de ligas de metal ou de metais

sensíveis, quando expostos a um ambiente aquoso corrosivo. Outras formas de corrosão, que

não envolvem a ação electroquímica incluem fragilização do metal líquido, em sais fundidos a

corrosão, oxidação a alta temperatura, e assim por diante. O resultado do ataque corrosivo

pode tomar a forma física de perda da superfície, perda local, corrosão, rachaduras e

fragilização. A perda de material pode, eventualmente, levar a uma falha de sobrecarga ou

através da penetração da superfície. A formação da camada de óxido que tem um aumento

significativo de volume quando comparado com o metal não oxidado, pode também ser um

problema através da aplicação de carga na região onde há união de rachaduras. A atenuação

de ataque corrosivo envolve uma mudança de materiais, a tirada do material do ambiente

corrosivo, proporcionando uma proteção da superfície, tal como um revestimento, ou o

fornecimento de proteção catódica. Um exemplo do sistema de tubagem de corrosão devido

aos efeitos da atividade microbiológica é mostrado na figura 6.

Page 16: Trabalho Análise de Falhas

18

Figura 6 Corrosão microbiológica de um sistema de tubulação de água de resfriamento.

3.2.4 DESGASTE

Desgastes resultam da remoção ou deslocamento do material da superfície de contato

e do movimento relativo com sólido, líquido ou gás. Há uma influência significativa do atrito

e lubrificação sobre a taxa e severidade dos danos do desgaste. Geralmente resulta em perda

de material, capacidade de transporte de carga, a adesão, aumento da fricção e produção de

imperfeições. Desgastes geram a falha de um componente depende dos critérios de

desempenho do mesmo, tal como um rolamento principal do motor diesel que falhou devido

ao desgaste excessivo e uma consequente perda do controlo do movimento do virabrequim

radial (Fig. 7). Desgaste leve em válvulas de metal pode provocar um vazamento inaceitável,

enquanto desgaste grave em uma aplicação menos crítica pode ser antecipado e sem

consequência e, assim, ser perfeitamente aceitável. Desgaste controlado, como é o caso com

pastilhas de freios para automóveis pode ser parte dos critérios de consumo de um

componente. A produção de imperfeições também pode ser uma consideração importante se,

por exemplo, a contaminação de um sistema de água limpa está em risco.

Page 17: Trabalho Análise de Falhas

19

Figura 7 Exemplo de uma falha de desgaste do virabrequim do motor à diesel.

Estas quatro categorias representam as formas gerais de incapacidade. Cada forma de

falha pode ter uma variedade de diferentes mecanismos subjacentes (por exemplo, a

propagação de trincas por fadiga no caso de fratura ou efeitos galvânicos em corrosão do

metal). É importante assinalar que dois ou mais mecanismos podem ocorrer simultaneamente

em algumas falhas. Estas categorias de falha podem integrar-se com as quatro causas

fundamentais das falhas discutidos na seção 2.1.1 "Análise Física Primária da Raiz das

Causas " neste trabalho. Como apresentado na Tabela 1, cada categoria observada de falha

pode ser associada com qualquer um dos quatro principais causas.

Page 18: Trabalho Análise de Falhas

20

Tipos de Falhas Deficiência de Projeto Defeitos do Material Defeitos de Fabricação Anomalias na Vida Útil

Distorção

Espessura de corte

insuficiente de uma

seção resulta em

deformação sob carga

normal.

Encolhimento da

cavidade em uma

área com alta tensão

de um item

estrutural complexo

usado em um motor

de turbina a gás

resulta em

deformações

permanentes em

serviço e

conseqüente perda

de folgas entre o

rotor e o estator

alojados pelo

vazamento.

Rolamento de fio

abusivo provoca

deslizamento pesado

na bandagem no fecho

de titânio, resultando

na tensão localizada de

alongamento do

fixador sobre torque

conforme exigido, e

uma incapacidade

associada para prender

adequadamente a

junta.

A exposição de uma

estrutura de aeronaves

de alumínio em

temperaturas

excessivamente altas

resulta em

deformações

permanentes pela

fluência e flambagem

subseqüente.

Fratura

Chapa de aço carbono

laminado a frio e

galvanizados sustenta

fraturas frágeis sob

cargas normais de

serviço, devido à

fragilização eforço-

vida.

Dobra no

forjamento, com

carregamento cíclico,

cresce uma trinca de

fadiga e,

posteriormente,

falha

catastroficamente.

Soldagem de ligas de

aço contaminada por

umidade resulta em

fios de metal

fragilizados por

hidrogênio e

consequente haverá

trincas.

A furação inadequado

do componente

estrutural de alumínio

faz com que fissuras de

fadiga se iniciam e se

propagam, o que

resulta em fracasso

final do componente.

Corrosão

Ferro fundido de

tubulações

subterrâneas usado

para transportar

materiais perigosos

sustenta rupturas

devido a

"grafitização".

Impurezas de ferro

forjado na suspensão

de liga de alumínio

de carros criam

suscetibilidade,

resultando em perda

de integridade

estrutural.

Tratamento de alivio

de tensão a 650 ° C de

um aço inoxidável 304L

para processamento de

polpa sustenta

corrosão intergranular,

rachaduras e falhas.

Aumento do uso de sal

na estrada no inverno

dos Estados Unidos

resulta em problemas

nos veículos elétricos

causando corrosão nos

contatos elétricos.

Desgaste

O uso de pares de

peças incompatíveis

resultam em

escoriações e

desgastes.

Os processos de

fusão e trabalhos à

quente impróprios

levam a uma má

distribuição de

carbonetos primários

em aços de

ferramenta,

resultando em um

rápido desgaste.

Superfície mal usinada

de um elemento de

máquina de

deslizamento leva a

um desgaste acelerado

e posteriormente uma

avaria mecânica.

Lubrificação

insuficiente durante a

manutenção resulta

em desgaste

prematuro no

rolamento do eixo da

bomba.

Tabela 1 - Exemplos de causas que resultam em 4 tipos de falhas

Para qualquer um destes tipos de falha, o desempenho dos materiais tem um papel

crítico. Assim como o desempenho de um componente ou sistema é dependente do

comportamento dos materiais de construção de acordo com as condições de serviço, o modo

em que um componente ou sistema sustenta uma falha física é fortemente afetado pelo

Page 19: Trabalho Análise de Falhas

21

desempenho dos materiais. Por exemplo, falhas de corrosão de metais diferentes. Em contacto

físico em um ambiente agressivo estão associados com as diferenças no comportamento

electroquímico como resultado das composições químicas dos dois metais. Isso mostra que

um dos princípios mais básicos na ciência dos materiais e da engenharia se aplica a falhas: a

interação da composição, processamento, estrutura e propriedades define desempenho de

materiais, seja satisfatório ou insatisfatório.

Page 20: Trabalho Análise de Falhas

22

4. EXEMPLOS REAIS DE FALHAS

4.1 FALHA EM UM CONJUNTO DE LÂMINAS DE UM ACOPLAMENTO FLEXÍVEL

DE UM HELICÓPTERO DE USO CIVIL

A análise de falha abaixo aplica-se a um conjunto de lâminas de um acoplamento

flexível (“flexible coupling”) de um helicóptero de uso civil. A partir desta analise foi

possível identificar outras aeronaves com o mesmo tipo de problema e assim, a missão final

da análise de falha, de contribuir de forma ativa na proteção de voo foi cumprida.

O caso estudado é um exemplo típico de análise de falha ocorrido no caso da

investigação de um conjunto de lâminas de um acoplamento flexível (“flexible coupling”) de

um helicóptero (BRASIL, 2009a; BRASIL, 2008) O helicóptero decolou às 10h 10min da

Bacia de Campos, com destino ao heliponto de São Tomé (SBFS). Ao iniciar o voo de

cruzeiro, a tripulação percebeu uma vibração e um barulho anormal na aeronave. Os

parâmetros de desempenho da aeronave foram verificados e considerados normais. Contudo, a

tripulação decidiu, por medida de precaução, pousar na plataforma mais próxima e realizar

uma melhor avaliação das condições da aeronave. Por volta de 10h 13min, o helicóptero

realizou com sucesso o pouso na plataforma localizada no través da rota. Após o pouso, a

tripulação abriu a carenagem de acesso "Main Gear Box" e verificou que o componente

"Flexible Coupling", localizado entre o "engine 1 drive shaft" e o "Main Gear Box Input

Flange", estava danificado. Na sequência uma equipe de manutenção foi deslocada para o

local com o objetivo de disponibilizar a aeronave para que a mesma retornasse voando à base

principal. Porém, após a desmontagem do componente "Flexible Coupling", verificou-se que

todas as lâminas do mesmo estavam completamente danificadas e fraturadas. Sendo assim, a

empresa decidiu que a aeronave não retornaria voando e seria transportada via marítima. O

componente "Flexible Coupling" foi então enviado para análise.

O componente, constituído por 15 lâminas metálicas (na forma de anéis), é

apresentado como recebido na Figura 8.

Page 21: Trabalho Análise de Falhas

23

Figura 8 Material como recebido.

Nos exames visuais e com auxílio do microscópio estereoscópio constatou-se que

todas as quinze (15) lâminas, apresentaram fraturas próximas às arruelas e parafusos de

fixação, como mostrado na Figura 9.

Figura 9 Detalhe de uma das lâminas.

Page 22: Trabalho Análise de Falhas

24

Pode-se observar também a presença de corrosão associada a produtos agregados à

superfície de todas as lâminas examinadas como visto na Figura 10 e em maior detalhe na

Figura 11.

Figura 10 Sequência de lâminas, região das fraturas com corrosão e contaminação.

Figura 11 Detalhe de uma das lâminas fraturadas

Entre uma das arruelas e a lâmina, foi observado um produto agregado de cor verde e

aspecto característico de tinta, apresentado na Figura 12.

Page 23: Trabalho Análise de Falhas

25

Figura 12 Região do orifício de fixação da arruela e parafuso.

Todas as lâminas apresentaram áreas com corrosão dos tipos generalizada e/ou por

pites nas regiões próximas às arruelas, como apresentado na Figura 13.

_

Figura 13 Região com corrosão (orifício de fixação do parafuso).

Nos exames por microscopia eletrônica de varredura, realizados na superfície de

fratura de uma lamina selecionada durante o exame por estereoscopia, observa-se uma pré-

trinca (Fig. 14). A pré-trinca iniciou-se em um pite de corrosão e propagou-se por quase toda

a espessura da lâmina.

_

Page 24: Trabalho Análise de Falhas

26

Devido aos amassamentos e corrosão observados, não foi possível determinar o

mecanismo de falha na região da pré-trinca, apresentada em maior destaque na Figura 15.

Figura 14 Superfície de fratura – detalhe da região de pré-trinca

Foi realizada uma análise por energia dispersiva de raios-X (EDS) na superfície de

uma das lâminas que estavam recobertas por produtos agregados (Fig. 12). Neste exame

foram detectados os elementos: Ferro (Fe); Cromo (Cr); Níquel (Ni); Carbono (C); Oxigênio

(O); Cloro (Cl); Silício (Si); Cádmio (Cd); Enxofre(S). Os elementos Fe, Cr e Ni são

componentes de um aço inoxidável, que é o material base das lâminas. Os outros elementos

são componentes do produto agregado à superfície da lâmina.

Figura 15 Região analisada e gráfico do EDS resultante.

Na análise por EDS (Fig. 15) realizada na superfície da lâmina, que apresentou

segregação de um produto com aspecto visual semelhante à tinta (Fig. 12), foram detectados

os seguintes elementos: Carbono (C); Oxigênio (O); Silício (Si); Cádmio (Cd); Bário (Ba).

Page 25: Trabalho Análise de Falhas

27

Figura 16 Região analisada e gráfico do EDS resultante.

Nos exames metalográficos realizados na seção transversal das lâminas examinadas no

microscópio eletrônico de varredura (MEV), observaram-se trincas a partir de pites de

corrosão (Fig. 16). Foram observadas também trincas e corrosão intergranular a partir de

partículas aderidas à superfície (Fig. 18).

_

Figura 17 Trinca iniciada em pite de corrosão.

Figura 18 Trincas e corrosão intergranular iniciadas em partículas aderidas à superfície.

Amostras preparadas metalograficamente foram analisadas por MEV, utilizando-se

EDS para a determinação da composição química das partículas associadas às trincas e

Page 26: Trabalho Análise de Falhas

28

corrosão (Fig. 20). Nessas partículas foram detectados os elementos Carbono (C) e Silício

(Si), componentes do carbeto de silício. O carbeto de silício é utilizado como elemento

abrasivo de lixas.

Figura 19 Região analisada e gráfico do EDS resultante.

Outra região que apresentou uma mistura de elementos agregados à superfície (Fig.

21) foi analisada por EDS. Os elementos detectados estão apresentados na Figura 21.

Observa-se que existe uma mistura de vários elementos, inclusive fragmentos da liga da

própria lâmina, que provavelmente foram arrancados devido à ação abrasiva das partículas de

carbeto de silício durante a operação da aeronave.

_

Figura 20 Região analisada e gráfico do EDS resultante.

A microestrutura da lâmina é constituída de grãos austeníticos, característica de aço

inoxidável austenítico (Fig. 22).

Page 27: Trabalho Análise de Falhas

29

Figura 21 Microestrutura da liga metálica.

De acordo com os resultados obtidos pode-se dizer que algumas lâminas falharam pela

formação de uma pré-trinca, iniciada em regiões que sofreram corrosão por pite e/ou

intergranular devido ao acumulo de produtos contaminantes nas suas superfícies. A falha

dessas lâminas levou a uma redução da resistência do conjunto e à consequente falha da peça

por sobrecarga das lâminas remanescentes.

A presença de agentes abrasivos na superfície das lâminas, como grãos de carbeto de

silício, provavelmente provenientes de algum material abrasivo que ficou depositado na

superfície das lâminas, bem como a presença de recobrimentos por material similar a resina

polimérica, depositados na superfície das lâminas, indicam que houve uma contaminação do

componente que facilitou a ocorrência de processos de corrosão. Esses processos de corrosão,

principalmente a formação pites e a corrosão intergranular, agem como concentradores de

tensão que favorecem a propagação de pré-trincas, que ao alcançarem um tamanho crítico

levam à falha da lâmina. Esse processo é particularmente crítico nas regiões próximas às

arruelas e parafusos de fixação.

Assim, conforme os aspectos observados durante a análise de falha sobre o fator

material fica clara a possibilidade de a falha ter ocorrido devido a más práticas de

manutenção. O pouco cuidado no manuseio e nas operações realizadas no conjunto flexível,

bem como as práticas de limpeza e mesmo operações realizadas no compartimento onde se

encontra o conjunto devem ter sido os principais fatores causadores da falha.

Após a emissão do relatório técnico ao órgão investigador do caso, este repassou a

orientação aos operadores e outros envolvidos na segurança de voo de aeronaves que utilizam

o mesmo conjunto flexível. Segundo o retorno deste órgão ao grupo de análise de falhas, ao

menos seis aeronaves apresentaram o mesmo tipo de problema. Porém, nestes casos, a falha

Page 28: Trabalho Análise de Falhas

30

foi descoberta antes da ocorrência de algum acidente ou incidente, assim riscos de vida foram

evitados, bem como possíveis gastos com danos materiais que poderiam ter vindo a ocorrer

com essas aeronaves. Embora muitos casos tenham sido evitados com a divulgação do

relatório CENIPA (BRASIL, 2009a) baseado nas conclusões da análise de falha

(BRASIL2008), nem todos os operadores e oficinas tomaram ciência ou levaram a cabo as

sugestões. Isto ocasionou a ocorrência de outro caso de falha similar, investigado e

esclarecido no relatório técnico de análise de falhas nº 29-AMR-E/2009 (BRASIL, 2009b).

4.2 ANÁLISE DE FALHA E CARACTERIZAÇÃO METALÚRGICA DE UM

SEGMENTO DE TRILHO SOLDADO POR ALUMINOTERMIA

Neste trabalho é realizada a análise de falha e caracterização metalúrgica de um

segmento de trilho, proveniente da Estrada de Ferro Carajás (EFC) com aproximadamente

1500 milímetros de comprimento contendo uma junta soldada por aluminotermia na qual foi

detectada a existência de trincas verticais no boleto. O processo de soldagem aluminotérmico,

apesar de sua facilidade de execução exige um rígido controle dos parâmetros envolvidos,

entre eles, pré-aquecimento, temperatura de vazamento e pós-aquecimento. Qualquer desvio

nestes pode acarretar defeitos, tais como, crescimento de grão, baixa dureza no metal de

solda, vazios, entre outros, que, aliados as condições severas de carregamento mecânico

impostos ao trilho, devido a passagem da composição, ocasionam o surgimento de pequenas

trincas comprometendo estruturalmente o segmento de trilho. A análise de falha e a

caracterização metalúrgica foram realizadas utilizando-se lupa metalográfica, microscópio

ótico e eletrônico de varredura. A falha foi ocasionada por um superaquecimento ocasionando

a fragilização do material provocando o seu esboroamento, propiciando a nucleação de

pequenas trincas longitudinais e verticais, a partir do metal de adição, que propagaram para

ambos os lados da junta soldada.

Na atual conjuntura o transporte ferroviário é considerado um meio econômico e

eficaz, alcançando destaque no transporte de cargas de alto fluxo de produção como as de

minério de ferro. A Estrada de Ferro Carajás (EFC) pertencente à Companhia Vale do Rio

Doce (CVRD) destaca-se no Brasil e no mundo por sua extensão (900 quilômetros) e

tonelagem bruta trafegada (176.000 toneladas por dia). A montagem da EFC é realizada com

segmentos de trilho (8 a 24 metros de comprimento) de perfil tipo 136 RE (68 Kg/m) que são

soldados via centelhamento elétrico até perfazerem barras com 240 a 396 metros de extensão

Page 29: Trabalho Análise de Falhas

31

formando uma via contínua. As mesmas são então posicionadas na via e unidas através de

soldagem aluminotérmica ou junção mecânica por tala. A soldagem aluminotérmica de trilhos

ferroviários possui a característica de ser simples e confiável, além do aspecto econômico,

tendo-se elevado rendimento, simplicidade de execução, reduzido número de equipamentos e

independência de fonte de energia externa. Oda Silva, Limberger e Reguly 800 processo está

constantemente em evolução, de modo a corresponder às múltiplas demandas impostas por

trilhos de alta resistência ao desgaste, velocidades e cargas axiais sempre crescentes e

intervalos de trens cada vez mais reduzidos. Os trilhos ferroviários são os componentes

férreos mais suscetíveis à falhas devido as altas pressões de contato das rodas em regime de

carregamento cíclico. Aliado a isso, existem tensões residuais, causadas pela deformação

plástica superficial e pelo processo de soldagem, mais a tensão causada pela variação térmica

na linha e ainda a tensão de projeto, que é a necessária para manter os trilhos alinhados,

contribuindo para a elevação da amplitude de carregamento para o regime de tensões trativas

no interior do boleto. As falhas catastróficas em trilhos podem trazer como conseqüência,

desde grandes perdas econômicas e graves prejuízos ambientais até perdas humanas. Por isso

a importância da determinação da causa da falha dos trilhos para poder-se interagir na

produção de um material de melhor qualidade, mas, principalmente atacar o problema através

de inspeções periódicas, providenciando a sua recuperação mediante reparo ou substituição

por um trilho novo.

A aluminotermia é um processo na qual uma mistura adequadamente preparada, de

alumínio e um óxido metálico, após uma ignição inicial, reage exotermicamente. Devido a

esta liberação de calor, a reação propaga-se por si e em curto espaço de tempo, tomando conta

de toda a mistura. Como resultado desta transformação obtém-se um metal limpo e liquefeito,

e escória rica em Al2O3. Este processo foi introduzido primeiramente à comunidade científica

em 1898 pelo Prof. Hans Goldschimidt em um congresso da Sociedade Eletroquímica Alemã

e parte do princípio da grande afinidade do alumínio pelo oxigênio para reduzir óxidos

metálicos, especialmente o óxido de ferro. A equação (1) que descreve esta reação é a

seguinte:

Fe2O3 + 2 Al ® 2 Fe + Al2O3 + 849 kJ (temperatura ~ 24500C) (1)

Três são os métodos mais usados para a soldagem por aluminotermia: SKV, SMF e

SOWOS, sendo diferenciados pelo tempo de preaquecimento e forma de vazamento. A

principal função do preaquecimento é eliminar a umidade das formas, da ponta do trilho e da

Page 30: Trabalho Análise de Falhas

32

areia de vedação. No método SKV é realizado um preaquecimento curto, aproximadamente

um minuto, alcançando-se uma temperatura de 6000 C. A quantidade de mistura neste

processo é cerca de 50% maior que nos outros processos a fim de compensar o

preaquecimento menor. Já os dois outros processos (SMF e SOWOS) o preaquecimento é de

4 a 8 minutos, (dependendo do tipo de perfil de trilho a ser soldado) alcançando uma

temperatura de 10000C. A dureza do metal de adição alcançada com estes processos varia de

450 a 550 HV. Estes valores altos são justificados pela falta de um pós aquecimento realizado

após o processo de soldagem, que além de diminuir o valor da dureza alivia as tensões

residuais provenientes da soldagem. Segundo a Thermit, o valor de dureza no metal de adição

não deve exceder 20HB do valor de dureza do metal base.

O segmento de trilho fraturado continha aproximadamente 2 metros de comprimento e

apresentava uma solda aluminotérmica. Através de uma análise visual pôde-se constatar que a

trinca apresentava 1200 mm de comprimento, sendo 300 mm a partir da junta soldada para

um lado (direito, na figura 23) e 900 mm para o outro lado (esquerdo, na figura 23) e a junta

aluminotérmica apresentava um defeito grosseiro. A figura 23 apresenta uma vista geral do

segmento de trilho e a figura 24 apresenta o defeito encontrado.

Figura 22 Vista geral da trinca (setas) presente no segmento de trilho.

Page 31: Trabalho Análise de Falhas

33

Figura 23 Defeito presente na junta soldada pelo processo aluminotérmico.

A partir da figura 24 observa-se que o defeito mostrado encontra-se na superfície de

rolamento e origem da trinca está a 40 mm em direção à superfície oposta e à 15 mm abaixo

da superfície de rolamento. Após o seccionamento foi possível constatar a existência de duas

trincas verticais paralelas no boleto como mostra a figura 25. Na fissura de menor tamanho

não foi possível constatar nenhuma evidência, visto o amassamento da superfície. Toda a

análise foi então efetuada na trinca de maior tamanho.

Figura 24 Trincas verticais.

Page 32: Trabalho Análise de Falhas

34

Com o auxílio de uma lupa metalográfica pôde-se analisar as superfícies de fratura dos

trilhos e da zona soldada e constatar que o provável ponto de início da fratura localiza-se na

parte central da junta soldada em uma zona subsuperficial à superfície de rolamento,

conforme mostra a figura 5. Observa-se ainda duas zonas, afastadas aproximadamente 35 mm

do centro da solda, em que o material encontra-se sob aspecto grosseiro, com uma forma

“agulhada”, junto a superfície entrando para o interior do boleto como pode ser visto na

figuras 6x.

Figura 25 Região da junta soldada mostrando o local provável do início da fratura (seta).

Figura 26 Zona adjacente ao centro da solda com material com forma “agulha”. Aumento: 6X

Com a análise mais criteriosa da superfície de rolamento foi possível verificar que o

defeito superficial observado na figura 24 ocorreu devido a solicitação mecânica imposta ao

trilho pela passagem da composição. As condições severas do carregamento promovem a

extração do material pois nesta região há uma incidência de pequenas trincas longitudinais e

também de zonas onde o material dos trilhos encontra-se todo esboroado. A figura 28 mostra

a superfície de rolamento na parte central do boleto, entre as duas trincas verticais principais,

onde se observa a extração de material, a região esboroada e as pequenas trincas verticais

secundárias.

Page 33: Trabalho Análise de Falhas

35

Figura 27 Vista superior da região soldada no boleto.

Com o objetivo de identificar os motivos da ocorrência dos defeitos no material dos

trilhos e solda foi realizada a caracterização metalúrgica do segmento de trilho analisado,

onde foi efetuada a determinação da composição química, ensaios de dureza e análise

metalográfica. A determinação da composição química foi realizada tanto no metal de adição

como nos segmentos de trilho 1 e 2. O método utilizado foi o de Espectrometria de Emissão

Ótica.

Foi levantado o perfil de dureza na escala Rockwell C do segmento de trilho em uma

região 20 mm abaixo da superfície de rolamento. A figura 29 apresenta o perfil de dureza

encontrado na região de solda aluminotérmica, sendo possível determinar a localização

aproximada da região do metal de adição, da zona afetada pelo calor (ZAC) e da região com

material base dos trilhos.

Figura 28 Perfil de dureza encontrado para o segmento de trilho analisado.

A figura 30 apresenta a análise microestrutural realizada no material revelando para o

metal de adição, uma estrutura perlítica com ferrita pró-eutetóide no contorno de grão e

inclusões não metálicas globulizadas (figura 30A). Na ZAC a estrutura é perlítica com

inclusões não metálicas alongadas (figura 30B) o detalhe da figura comprova a sua estrutura

perlítica com grande aumento. Para o metal base foi observada uma estrutura perlítica (figura

Page 34: Trabalho Análise de Falhas

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30C) e o detalhe da figura comprova a sua estrutura perlítica com grande aumento.

Figura 29 (A) Microestrutura perlítica com ferrita pró-eutetóide no contorno de grão einclusões não

metálicas globulizadas; (B) Microestrutura perlítica com inclusões não metálicas alongadas; (C)

Microestrutura perlítica. Aumento: 100X. Ataque: Nital 2%.

A fim de determinar o motivo pelo qual o material dos trilhos encontra-se sob forma

“agulhada”, provocando assim o seu esboroamento, foi realizada uma análise metalográfica

nesta região, nos sentidos longitudinal, transversal e na superfície de rolamento. Em todas as

zonas analisadas o material encontra-se com um tamanho de grão grosseiro mesmo tratando-

se de uma ZAC de junta soldada, podendo isto ser explicado por um provável preaquecimento

do local quando da realização da soldagem aluminotérmica. As trincas secundárias

encontradas propagam-se tanto no sentido longitudinal como transversal, em regiões próximas

à zona de transição metal base/ZAC, seguindo o contorno de grão, como pode ser visto na

figura 31.

Figura 30 Trincas secundárias encontradas no contorno de grão. Superfície de rolamento. Aumento:

200X. Ataque: Nital 2%.

Page 35: Trabalho Análise de Falhas

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A partir dos resultados obtidos na análise do material e da superfície de fratura pode-

se concluir que o carregamento severo imposto ao trilho devido a passagem da composição

ocasionou a nucleação de pequenas trincas longitudinais e verticais, a partir do metal de

adição da solda, onde ocorreu o superaquecimento, que propagaram para ambos os lados do

segmento de trilho comprometendo-o estruturalmente. A falha foi ocasionada por problemas

nos parâmetros de soldagem, especificamente superaquecimento que ocasionou o

aparecimento de uma estrutura “agulhada”, fragilizando o material, principalmente nos

contornos de grão, provocando o esboroamento do material dos trilhos analisados.

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5. CONCLUSÕES

A análise de falhas cumpre assim seu papel de investigar as falhas, não só

esclarecendo como ocorreram e desencadearam os fatos que resultaram nos acidentes e/ou

incidentes, mas também servindo como alerta para todos os setores envolvidos na segurança,

prevenindo e evitando novas ocorrências de falhas já esclarecidas. Novamente, o lema inicial

dos que pesquisam e dedicam sua vida a ciência e tecnologia é posto em destaque, baseado

em formação técnica de qualidade e em pessoas dispostas a dar seu melhor pelos outros.

Page 37: Trabalho Análise de Falhas

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REFERÊNCIAS

PASCOLI, ADRIANA S. - Análise de falha de eixo ferroviário de aço SAE 1050 forjado a

quente. Dissertação – FEAU Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo.

WRIGHT BROTHERS AEROPLANE COMPANY – Acessado através de:

http://www.wrightbrothers.org/Information_Desk/Help_with_Homework/Wright_Photos/Wri

ght_Photos.htm em Janeiro de 2015=> Acesso em: 20 jan. 2015.

ASM INTERNATIONAL – Failure Analysis and Prevention – ASM HANDBOOK. v. 11,

p. 2909

FRANCO, LEANDRO A. L.. GRAÇA, MÁRIO L. A.. SILVA, OLIVÉRIO M.M..

LOURENÇO, NICÉLIO J. (08/07/2010). Análise de falhas: salvando vidas em silencio.

Sipaer, v. 1, n. 3, jul. 2010

A.A.M. DA SILVA, I.F. LIMBERGUER e A. REGULY. Análise de falha e caracterização

metalúrgica de m segmento de trilho soldado por aluminotermia. Jornadas SAM 2000 -

IV Coloquio Latinoamericano de Fractura y Fatiga, 799-806, agosto de 2000.