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  • Produo escrita: trabalhando com gneros textuaisMaria da Graa Costa Val

    Else Martins dos SantosLcia Fernanda Pinheiro BarrosLuciana MarizLucinia Cristina RezendeMaria Jos Francisco de Souza

    Caderno do Formador

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  • Reitor da UFMG Ronaldo Tadu PenaVice-reitora da UFMG Helosa Maria Murgel Starling

    Pr-reitora de Extenso ngela Imaculada Loureiro de Freitas DalbenPr-reitora Adjunta de Extenso Paula Cambraia de Mendona Vianna

    Diretora da FaE Antnia Vitria Soares AranhaVice-diretor da FaE Orlando Gomes de Aguiar Jnior

    Diretor do Ceale Antnio Augusto Gomes BatistaVice-diretora Ceris Ribas da Silva

    O Ceale integra a Rede Nacional de Centros de Formao Continuada do Ministrio da Educao.

    Presidente da Repblica - Luiz Incio Lula da Silva Ministro da Educao - Fernando Haddad

    Secretrio de Educao Bsica - Francisco das Chagas FernandesDiretora do Departamento de Polticas da Educao Infantil e Ensino Fundamental - Jeanete Beauchamp

    Coordenadora Geral de Poltica de Formao - Roberta de Oliveira

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  • Produo escrita: trabalhando com gneros textuaisMaria da Graa Costa Val

    Else Martins dos SantosLcia Fernanda Pinheiro BarrosLuciana MarizLucinia Cristina RezendeMaria Jos Francisco de Souza

    Caderno do Professor

    Ceale* Centro de alfabetizao, leitura e escrita FaE / UFMG

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  • FICHA TCNICACoordenao

    Maria da Graa Costa Val

    Reviso

    Ceres Prado

    Leitor Crtico

    Ceres Prado

    Projeto Grfico

    Marco Severo

    Editorao Eletrnica

    Marco Severo

    Ilustrao de capa

    Patrcia De Michelis

    Catalogao da Fonte: Biblioteca da FaE/UFMG

    V135l Val, Maria da Graa Costa.Produo escrita: trabalhando com gneros textuais /

    caderno do professor / Maria da Graa Costa Val et al. Belo Horizonte : Ceale/FaE/UFMG, 2007.68 p. (Coleo Alfabetizao e Letramento)ISBN xxx x x x x x x x

    Nota: As publicaes desta coleo no so numeradas pois podem ser trabalhados em diversas seqncias de acordo com o projeto de formao.

    1. Alfabetizao. 2. Letramento. 3. Lngua portuguesa Escrita Estudo e ensino 4. Texto. 5. Professores Formao continuada I. Ttulo. II. Coleo.

    CDD 372.41

    Copyright 2005-2007 by Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita(Ceale) e Ministrio da Educao

    Direitos reservados ao Ministrio da Educao (MEC) e ao Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita (Ceale)Proibida a reproduo desta obra sem prvia autorizao dos detentores dos direitos

    Foi feito o depsito legal

    Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita (Ceale). Faculdade de Educao da UFMGAv. Antnio Carlos, 6627 - Pampulha

    CEP: 31.270-901 - Contatos - 31 34995333www.fae.ufmg.br/ceale - [email protected]

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  • INTRODUO 7

    1. GNEROS, TIPOS E CONTEXTOS SOCIAIS DE CIRCULAO 11

    1.1. Gneros: formas de ao de linguagem 11

    1.2. Tipos textuais 19

    2. OS GNEROS EM SALA DE AULA 21

    3. O GNERO TEXTO DE OPINIO 35

    3.1. Comeando a conversa 35

    3.2. Um pouco de teoria 41

    A refutao 41

    Articulao do discurso argumentativo 43

    Situao problema e tema polmico 44

    A escolha dos argumentos 46

    Operadores argumentativos 47

    4. FINALIZANDO 51

    REFERNCIAS 57

    SUGESTES BIBLIOGRFICAS PARA O PROFESSOR 59

    APNDICE 61

    Sumrio

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  • 7Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Tem-se falado muito em gneros textuais ultimamente. Os Parmetros CurricularesNacionais mencionam essa noo e se valem dela para tratar das prticas de compreensoe produo de textos orais e escritos. Os critrios de avaliao de livros didticos doPNLD (Programa Nacional do Livro Didtico) enfatizam a importncia da diversidadede gneros textuais nas atividades de compreenso e produo de textos, tanto escritosquanto orais. Os livros didticos, por sua vez, tm se empenhado em apresentarcoletneas que incluam textos de diversos gneros.

    Afinal, o que significa a expresso gneros textuais? Qual a importncia desse conceito parao ensino e a aprendizagem de lngua portuguesa? Como se pode utiliz-lo no trabalho comproduo de textos escritos nas sries ou ciclos iniciais do Ensino Fundamental? EsteCaderno busca responder a essas perguntas.

    Nosso objetivo proporcionar aos professores uma reflexo terica que lhes permita apro-priar-se do conceito de gnero textual, de modo que, a partir da, eles possam construir,com liberdade e segurana, uma prtica pedaggica consistente no campo da produo detextos escritos.

    Para atingir essa meta, na primeira seo, trataremos do conceito central e de outrosque se relacionam a ele, como tipo textual e contexto social de circulao, procurandofaz-lo de forma clara e agradvel (o gnero Caderno de Formao de Professores exigeum texto bom de ler...).

    Na seo 2, vamos tratar especificamente da entrada de um gnero na sala de aula: otexto de opinio. Nesse momento, vamos nos valer de uma experincia enriquecedorade que participamos junto com o CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em

    Introduo

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  • 8Introd

    uo Educao, Cultura e Ao Comunitria da cidade de So Paulo. Trata-se de um con-

    curso de redao de mbito nacional, chamado Escrevendo o Futuro, que promovidopor essa entidade. Esse concurso tem a peculiaridade de investir na formao dos profes-sores das escolas pblicas, por meio da elaborao e divulgao de uma coleo de trslivros com orientaes para a realizao de oficinas de produo de textos em sala deaula. O material aborda trs gneros textuais: texto de opinio, memrias e poesia. Spodem participar do concurso os estudantes de 4 ou 5 srie do Ensino Fundamentalcujos professores tenham se inscrito previamente e se comprometido a trabalhar asoficinas com seus alunos.

    Depois da seleo e premiao do Escrevendo o Futuro 2004, o CEALE encarregou-sede analisar todos os textos produzidos por alunos de escolas mineiras e no-selecionados,para, a partir dessa anlise, redigir uma carta ao professor comentando a redao (suapertinncia ao gnero sob o qual se inscreveu, sua consistncia, a adequao da linguagemadotada) e apresentando sugestes para o trabalho com o gnero em sala de aula. Forammais de 900 textos analisados, mais de 900 cartas redigidas! Com os livros das oficinas dostrs gneros, atuamos tambm na formao presencial de professores da rede pblica emBelo Horizonte e no interior de Minas. Toda essa experincia nos proporcionou uma boaviso das possibilidades do trabalho com gneros textuais na escola, bem como das difi-culdades de alunos e professores em lidar com essa novidade. Da, escolhemos trabalharaqui com o texto de opinio, porque, apesar de trazer algumas dificuldades de elaboraopara as crianas, um gnero que pode contribuir fortemente para o seu desenvolvimentolingstico-discursivo e intelectual.

    Com essa organizao, esperamos que o Caderno se mostre til para os professores ecumpra os objetivos pretendidos.

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  • 9Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    A melhor maneira de comear fazer logo uma atividade...

    ATIVIDADE 1

    Esta atividade tem como objetivo lev-lo(la) a registrar aquilo que voc j sabe sobre atemtica deste Caderno, para que, no final do trabalho, voc e seus colegas, orientadospelo formador, possam retomar essas primeiras respostas e avaliar a aprendizagem desen-volvida durante esse processo. Por isso, necessrio que voc registre por escrito suasrespostas e as entregue ao formador.

    1. Responda de acordo com o que voc pensa, sem recorrer a fontes externas (nem livros, nemInternet, nem colegas ou professores...):a) O que so gneros textuais?b) Existe diferena entre gneros e tipos textuais? Se existe, qual ?c) O que os gneros textuais podem ter a ver com o contexto social de circulao dos textos?d) Qual seria a relao entre o gnero e as condies de produo de um texto?

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  • 111Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    1.1. GNEROS: FORMAS DE AO DE LINGUAGEM

    A melhor maneira de comear fazer logo uma atividade... J que assim, aqui vaimais uma!

    ATIVIDADE 2

    Rena-se em grupo com alguns colegas, para ler os textos a seguir e apontar a que gnero tex-tual pertencem. Anote os elementos que vocs levaram em conta para identificar o gnero decada texto. Depois, os resultados da discusso do grupo sero apresentados ao coletivo daturma e ao formador.

    Texto 1

    DETETIVE 4755-4058SRA ANITA sensibilidade de mulher, alto nvel. BH/Interior

    Texto 2

    Vendo A4 A4, branco, lisinho, nunca foi usado, nem amassado. s me pedir que eu dou de graa! Tem um monte do lado da minha impressora!

    www.humortadela.uol.com.br acessado em 12/02/2006.

    Gneros, tipos e contextos sociais de circulao

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  • 12Gn

    eros, tipo

    s e contextos sociais de

    circulao Texto 3

    Prof.: Porque voc est atrasado?Andr: Por causa da placa, professora.Prof.: Que placa?Andr: A placa que diz Escola - Devagar.

    http://server.bwnet.com.br/~luiz/index2.html, acessado em 12/02/2006.

    Texto 4

    www.terra.com.br Acessado em 25/06/2007

    Texto 5

    E eu quase gritei: A a intimao? Pois, fizerem, eu saio do meio de vs, pra todo onunca. Mais tu h de no me ver!... Diadorim ps a mo em meu brao. Do que meestremeci, de dentro, mas repeli esses alvoroos de doura. Me deu a mo; e eu. Mas eracomo tivesse uma pedra pontuda entre as duas palmas. Voc j paga to escasso entopor Joca Ramiro? Por conta duma bruxa feiticeira, e a m-vida da filha dela, aqui nesteconfim de gerais?

    ROSA, Guimares. Grande Serto: veredas. In: Guimares Rosa Fico completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 30.

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  • 13Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Texto 6

    Ter Arte ter Paixo. No h Paixo sem verso...O Verso a Arte do Verbo o ritmo do som...Existe em toda a parte, ao lu da Vida, aspersoE Msica o modula em gradaes de tom

    LIMA, Jorge de. Jorge de Lima Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 198.

    Jamais confundimos uma bula com uma carta, uma notcia de jornal com uma orao,um poema com uma entrevista. Por qu? Porque reconhecemos as caractersticas dessasespcies de texto, aprendidas na convivncia social ou na escola. Sabemos tambm comocada uma delas funciona socialmente. No entramos no consultrio de um mdico eesperamos que ele nos passe uma receita de bolo, nem entramos no MSN (Messenger programa de conversa pela Internet) esperando encontrar artigos cientficos. Cada espciede texto circula em um determinado portador ou suporte, tem seu formato prprio, usaum estilo de linguagem especfico e funciona em um dado contexto social.

    Essas espcies de texto so o que chamamos gneros textuais. Os PCN de LnguaPortuguesa 5 a 8 sries (1998, p. 22) definem os gneros textuais como famlias detextos que compartilham caractersticas comuns. Que caractersticas seriam essas? As quedizem respeito ao de linguagem que se realiza por meio dessa famlia de textos, aocontexto social em que eles costumam ocorrer, ao suporte ou portador em que circulam, sua estruturao peculiar e ao estilo de linguagem que normalmente adotam, temtica deque costumam tratar e tambm ao modo como costumam abordar essa temtica.

    Como que surge um gnero textual? Um gnero vai-se constituindo no uso coletivoda linguagem oral e escrita. Os membros de uma comunidade lingstica vo estabe -lecendo, no correr de sua histria, modos especficos de se dirigirem a determinadopblico para alcanarem determinados objetivos ou funes. Por exemplo: onde quevoc j ouviu ou leu uma passagem como a famlia de Fulano de Tal cumpre odoloroso dever de comunicar aos parentes e amigos o seu falecimento...? Como quese chama essa espcie de texto? Para que serve? Quem que o manda divulgar? Como que ele continua? Nessa espcie de texto caberia a expresso bateu as botas ouabotoou o palet de madeira? E a palavra fretro? Com certeza voc sabe responder a essasperguntas, ainda que nunca tenha tido aula de redao sobre esse gnero textual voco aprendeu na sua experincia social.

    Isso mostra o que afirmamos acima: as prticas sociais de linguagem, orais e escritas,vo estabelecendo modelos textuais para serem usados em determinadas situaes.

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  • 14Gn

    eros, tipo

    s e contextos sociais de

    circulao Vejamos outros exemplos. Transcrevemos abaixo dois textos publicitrios na poca

    chamados de reclames , muito populares no Brasil nas dcadas de 1930 e 1940, queeram divulgados, sobretudo, em cartazes afixados nos bondes:

    Veja, Ilustre Passageiro, Saco azul, cinta encarnadaO belo tipo faceiro a legenda consagradaQue o senhor tem ao seu lado. Do acar de qualidade.Mas, no entanto, acredite, O Brasil todo proclamaQuase morreu de bronquite. Do Acar Prola a fama.Salvou-o o Rum Creosotado! Eis a toda a verdade.

    Textos de domnio pblico, resgatados de memria por Maria das Mercs Ferreira Reis, 72 anos, Belo Horizonte, MG.

    Transcrevemos tambm, a seguir, os primeiros pargrafos de uma notcia de jornal doano de 1931:

    A cidade est em festa e com ela o Brasil inteiro, pela inaugurao, no piceda mais linda montanha da capital da Repblica, do esplendido monumentoque a nao consagra ao Redentor da Humanidade. No h corao que deixede vibrar da mais pura alegria pela celebrao do acontecimento grandloquo.Cristo, do alto da colina magnfica, abenoa a cidade e abenoa o povo que lheimplora, ungido de f, conduza os homens ao caminho sublime da perfeio.

    Foi um espetculo soberbo, de inesquecvel majestade a bno do monumentoao Cristo Redentor, pela manh de hoje. Estavam presentes, no alto do Corcovado,as altas autoridades eclesisticas e civis, e, enquanto se efetuava a bela cerimnia,uma esquadrilha de avies deslizando, tranqila, pelos ares macios da manhlanava braadas de flores sobre a imagem de Jesus. Os sinos de todas as igrejasbimbalhavam festivamente. Um momento de inenarrvel emoo. (...)

    Dirio da Noite, 12 de outubro de 1931. (http://www.hotbook.com.br/d3040.htm, acessado em 26 set 2006, s 21:03h)

    A leitura desses textos e a comparao deles com exemplares atuais dos mesmos gnerosnos fazem constatar um outro aspecto importante: os gneros, embora atuem comopadres textuais, no so imutveis, no so inalterveis. Como disse Bakhtin, um estu-dioso sovitico pioneiro na formulao desse conceito, os gneros so padres de enunciadorelativamente estveis (1992, p. 277). Para nos servirem como padro e nos orien taremna hora de compreender ou de produzir textos, importante que os gneros sejamestveis. No entanto, como a vida social muda e as prticas de linguagem se modificamcontinuamente, esses padres so apenas relativamente estveis: alteram-se de acordocom as novas possibilidades e necessidades sociais. Por isso, h gneros que caem em desu-

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  • 15Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    so (ex.: telegrama, telex) e gneros novos que aparecem (ex.: fax, e-mail, blog). Por isso tam-bm so inmeros os gneros textuais coexistentes numa sociedade, j que so mltiplasas necessidades comunicativas das coletividades humanas.

    O estudo de Bakhtin sobre os gneros do discurso foi escrito

    em 1952-1953 e publicado em Moscou, em edio pstuma,

    em 1979 (Bakhtin viveu de 1895 a 1975). No Brasil, o texto

    est no livro Esttica da Criao Verbal (1992).

    Antes de prosseguir com a reflexo terica, propomos a realizao de mais uma Atividade.

    ATIVIDADE 3

    Complete o quadro abaixo:

    Carta pessoal

    Texto de opinio

    Panfleto

    Manchete de jornal

    Sacola de loja comercial

    Certido de nascimento

    Artigo cientfico

    Unidade didtica de manual escolar

    Varivel, com elementos recor-rentes: data, local,cumprimento,

    corpo, despedida,assinatura.

    Em geral, linguagemcoloquial, familiar,

    ntima.

    Troca de informaes,

    manifestao de sentimentos etc.

    Folha de papel (dentro de envelope).

    Esfera da vidacotidiana, familiar e

    afetiva.

    Gnero Forma Estilo Funo Suporte Contexto

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  • 16Gn

    eros, tipo

    s e contextos sociais de

    circulao Retomemos Bakhtin. Esse autor considera que os gneros funcionam como uma

    gramtica do discurso, no sentido de que os membros de uma comunidade lings-tica aprendem, na convivncia social, os gneros de que precisam no seu dia-a-dia eacatam razoavelmente os padres apreendidos. No entanto, Bakhtin (1992) explicaque, embora essa gramtica do discurso tenha leis normativas, suas leis so maismaleveis, mais plsticas e mais livres do que as da gramtica da lngua. Isso fcil deentender: se os gneros so padres relativamente estveis, as leis que regulam suaconfigu rao e seu uso tm que ser maleveis e plsticas. As leis so normativas namedida em que s tm razo de ser se forem acatadas por toda a comunidade; mas somaleveis e plsticas na medida em que precisam mudar conforme mudam os usos ecostumes sociais, a tecnologia disponvel para a comunicao (telefone, fax, televiso,rdio, computador com Internet, Skype etc.). Exemplificando: o gnero carta comercialtem constituio e finalidade prprias, que o distinguem, por exemplo, do gnero notade compra. Ningum usa um no lugar do outro, nem pensa em configurar um com as car-actersticas do outro, embora eles circulem no mesmo contexto social. Temos a leisnormativas. Mas o prprio gnero carta comercial admite certa variao quanto a grau deformalidade, forma de tratamento do destinatrio, tamanho, formatao. Por exemp-lo, as cartas que uma empresa manda para a outra para tratar de entrega de encomendas,vendas, pagamentos etc. so bem diferentes das cartas que os bancos nos enviam oferecen-do carto de crdito, seguro de carro, aplicaes especiais etc. . Essa variao possvelporque as leis so maleveis e plsticas: possvel fazer textos menos sisudos e conven-cionais, conforme os objetivos que se tm, sem fugir ao gnero carta comercial.

    Alm disso, lembra Bakhtin (1992, p. 302-303) h sempre a possibilidade de se confundirdeliberadamente os gneros pertencentes a contextos diferentes. Esse um ponto chave, que pre-ciso ressaltar. Muitas vezes nos valemos dessa possibilidade: h propagandas que se disfaramde notcia para dar mais credibilidade ao produto que pretendem vender; h aulas (muito pro-dutivas) que se parecem com shows de auditrio, para envolver os alunos.

    Pode-se tambm, no plano do discurso, confundir deliberadamente os componentes eo estilo dos gneros: a) intercambiando formas e funes (por exemplo, num texto deopinio, pode-se argumentar narrando um episdio ou descrevendo o estado de deter-minado objeto); b) reprocessando a organizao tpica (por exemplo, comeando umeditorial pela concluso, ou ento iniciando um romance pelo desfecho ou pelo meioda histria e recuperar os episdios anteriores desordenadamente, seguindo os movi-

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  • 17Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    mentos da memria de uma personagem); c) buscando efeitos de sentido especiais pelorecurso mistura de estilos ou a um estilo inusitado para determinada situao (porexemplo, num bilhete informal de agradecimento a um amigo por um favor prestado,pode-se lascar um ficar-lhe-ei para sempre penhorado buscando produzir um efeito cmico).

    ATIVIDADE 4

    Pense e registre por escrito, para discutir com seus colegas e com o formador: em que as lti-mas noes discutidas (os gneros como uma gramtica do discurso malevel e plstica)podem ter aplicao na aula de Portugus? E nas aulas das outras disciplinas?

    Um outro estudioso dos gneros textuais, o americano Charles Bazerman, destaca aquesto de que os gneros organizam nossa vida social, porque definem padres paraas aes de linguagem orais e escritas que realizamos nos diferentes contextos sociais:na convivncia cotidiana com a famlia e os amigos, no trabalho, na igreja, na escolaetc. . De fato, as instituies que freqentamos estabelecem modelos de comunicaoorais e escritos que devem ser relativamente respeitados. Alguns modelos nos per-mitem pouca ou nenhuma inovao, como o gnero cheque criado pelos bancos, ognero formulrio de pedido de frias, criado pelas empresas e os rgos pblicos, osgneros Dirio de Classe e Boletim criados pelas escolas. Outros gneros institucionais,como a aula, a conversa com o gerente ou a carta de demisso so mais abertos cria-tividade e ao estilo pessoal do produtor, mas, de qualquer forma, tm padres formaise funcionais a serem observados.

    Nosso conhecimento e reconhecimento dos gneros e de seu funcionamento institucional que nos possibilitam, por exemplo, decidir como devemos comunicar alguma coisa aonosso chefe, no trabalho. Conversa pessoal, telefonema, memorando, e-mail ou bilhetinho a escolha de um desses gneros vai depender das rotinas usuais na empresa, das relaesdo funcionrio com o chefe, da importncia ou gravidade das informaes. Ou seja, aindaque relativamente flexveis, h padres a seguir. E, em determinadas situaes, h riscos acorrer, conseqncias a assumir, quando se decide no seguir os padres.

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  • 18Gn

    eros, tipo

    s e contextos sociais de

    circulao Para Bazerman, a padronizao das aes de linguagem que explica o sentido que

    atribumos a determinados documentos e a submisso sem questionamento queassumi mos diante de certos formulrios ou procedimentos. Por exemplo: por que aceitamosassinar ponto, quando todos sabem que estamos presentes na escola e que demos nossas aulasnormalmente? Essa ao de linguagem padronizada, embora possa parecer sem sentido, umdos elementos que organizam nossa vida social. Ou seja, o gnero ponto um elemento deorganizao coletiva nas instituies de trabalho. O mesmo ocorre com os gneros Dirio deClasse e Lista de Presena nas instituies escolares.

    ATIVIDADE 5

    1. Leia a seguinte afirmao de Faraco (2003, p. 112), citada por Marcuschi (2005, p. 23): Falarno , portanto, apenas utilizar um cdigo gramatical num vazio, mas moldar o nosso dizer s for-mas de um gnero no interior de uma atividade..

    a) Como voc entende essa afirmao?b) Voc concorda com ela?c) Que implicaes e aplicaes ela pode ter no seu modo de trabalhar em sala de aula?

    Discuta essas questes oralmente, em grupo, com alguns colegas. Faa anotaes para, depois,apresentar os resultados da discusso a toda a turma e ao formador.

    2. Carolyn Miller (1994), segundo citao de Marcuschi (2005, p. 24), sugere que se veja gnerocomo um constituinte especfico e importante da sociedade, um aspecto maior de sua estruturacomunicativa, uma de suas estruturas de poder que as instituies controlam..

    a) Explique e exemplifique como os gneros podem constituir estruturas de poder que asinstituies controlam?b) Diante da afirmao de Carolyn Miller, como voc se posiciona com relao s propostasde trabalho com gneros textuais nas aulas de Portugus?c) Que gneros voc considera importante que seus alunos (das sries iniciais do EnsinoFundamental) conheam?d) Na sua opinio, que gneros os alunos deveriam dominar quando conclussem a EducaoBsica (Ensino Fundamental e Ensino Mdio)? Por qu?

    Discuta essas questes oralmente, em grupo, com alguns colegas. Faa anotaes para, depois,apresentar os resultados da discusso a toda a turma e ao formador.

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  • 19Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Fechando esta subseo, recorremos mais uma vez as palavras de Marcuschi (2002, p.20): os gneros textuais so textos materializados que encontramos em nossa vida diriae que apresentam caractersticas sociocomunicativas definidas por contedos, propriedadesfuncionais, estilo e composio caracterstica.

    1.2. TIPOS TEXTUAIS

    Os textos em geral, qualquer que seja seu gnero, so constitudos por segmentos denatureza e caractersticas diferentes. Por exemplo, segmentos de exposio de idias, denarrao, de descrio, de argumentao, de instruo, de dilogo. Esses segmentos,que podem ser reconhecidos pelas regularidades no emprego dos recursos lingsticos, que tm sido chamados de tipos textuais ou tipos de discurso.

    Eles representam atitudes enunciativas diferentes (quero contar uma histria, queroexpor meu pensamento, quero descrever alguma coisa), que podem se articular nummesmo texto. Assim, o gnero romance em que a atitude enunciativa bsica contaruma histria costuma apresentar passagens que descrevem os personagens e o cenrioonde se desenvolve o enredo. Mas tambm possvel que um determinado romanceinclua o discurso em que um personagem, candidato a prefeito da cidade, expe suaplataforma poltica e procura convencer os eleitores a votar nele. Outro romance podeincluir receitas culinrias trocadas por determinados personagens, ou ento a frmulasecreta de um veneno muito perigoso. Da mesma maneira, uma carta pode apresentarpassagens expositivas, argumentativas, narrativas ou descritivas, entre outras. Essesexemplos mostram que, de fato, um texto, de qualquer gnero, pode ser composto deum ou mais tipos textuais: narrativo, expositivo, argumentativo, descritivo, instrucional,dialogal.

    Qual a diferena entre tipos e gneros?

    Os gneros so categorias, padres, modelos de texto que, digamos, tm vida prpria,isto , circulam de fato na vida social. So muito numerosos, porque atendem a neces-sidades comunicativas e organizacionais de muitas reas da atividade humana, e porquese renovam, ao longo do tempo, em razo de novas necessidades, novas tecnologias,novos suportes. Neste Caderno, j foram mencionados muitos gneros bula,romance, carta, anncio classificado, notcia, entre outros.

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  • 20Gn

    eros, tipo

    s e contextos sociais de

    circulao J os tipos no so textos concretos, no tm vida prpria, so atitudes enunciativas

    que acarretam modos caractersticos de emprego dos recursos lingsticos presentes emum texto ou em seqncias de texto. So componentes dos textos e podem aparecer emdiferentes gneros, com exclusividade ou articulados entre si. So poucos e so maisestveis que os gneros. Como enumeramos anteriormente, os mais conhecidos so:narrativo, expositivo, argumentativo, descritivo, instrucional, dialogal.

    Durante muitos anos, a escola ancorou o ensino da escrita no domnio dos tipos nar-rativo, descritivo e dissertativo (expositivo e argumentativo). Mas, fora da escola, ns noencontramos tipos puros, encontramos textos pertencentes a determinados gneros,que se compem de um ou mais tipos. Encontramos, por exemplo, editoriais e artigosde opinio em que predomina a atitude enunciativa argumentativa, embora tambmadmitam passagens narrativas ou descritivas. Encontramos contos, histrias, romances deamor ou de aventura, nos quais a atitude narrativa a fundamental, mas tambm hlugar para a exposio ou a descrio, por exemplo. Encontramos receitas culinrias eregras de jogos, que se organizam a partir do tipo instrucional.

    Os tipos, em geral, se marcam pelo uso caracterstico dos recursos lingsticos. Porexemplo, o tipo narrativo traz os verbos, predominantemente, no tempo passado eprincipalmente articuladores (tambm chamados organizadores textuais) que expres-sam relaes de tempo. Os tipos expositivo e argumentativo se organizam basicamenteem torno do presente verbal e usam sobretudo articuladores que indicam relaes lgi -cas (causa, conseqncia, condio etc.). No tipo instrucional, prevalece o modoimperativo, j que se trata de um tipo que organiza textos cujo objetivo oferecer aoleitor orientao para realizar alguma ao.

    Como veremos mais adiante, neste Caderno, os tipos se relacionam com o estilo dosgneros textuais.

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  • 221Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Tudo que discutimos at agora nos leva a concluir que, na sala de aula, o trabalho comos gneros no deve ser reduzido aos aspectos formais, uma vez que eles so determi-nados no s pela forma, mas tambm pela funo, pelo suporte, pelo contexto em quecirculam e, sobretudo, pela ao de linguagem que efetivam nos contextos sociais emque ocorrem.

    Se os gneros se caracterizam pela sua funo, pela ao de linguagem que concretizam nosdiferentes contextos sociais, outra concluso importante que eles devem ser abordados nasala de aula de maneira funcional. Isso significa trabalhar com o objetivo de que OSALUNOS APRENDAM A US-LOS, isto , que aprendam a:

    1. Ler os gneros presentes na vida social, compreendendo sua funo (sua utilidade, seusobjetivos) e seu alcance (o contexto social em que circulam, que implicaes podem ter navida dos usurios, a que estrutura de poder se vinculam).

    2. Escrever textos em gneros diversos, o que envolve escolher o gnero adequado situaosocial e ao de linguagem e produzir um texto pertinente a esse gnero quanto ao con-tedo, forma e ao estilo de linguagem.

    Portanto, nesse caso no produtivo um ensino orientado na perspectiva formalista eclassificatria, porque no basta que os alunos aprendam a reconhecer gneros diversos,nem interessa muito que eles saibam defini-los ou classific-los. Explicando melhor: notem utilidade fazer os alunos decorarem o nome e a definio de um conjunto degneros, nem ensin-los apenas a reconhecer, por exemplo, isto uma bula, isto umanotcia, isto um convite, isto uma propaganda, isto um editorial. Eles precisam

    Os gneros em sala de aula

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  • 22Os g

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    sala de

    aula saber em que situao uma bula lhes ser til, como encontrar nela as informaes que

    precisam. Precisam saber ler criticamente notcias, editoriais e propagandas. Precisam saber como redigir um convite, um carto de felicitaes, uma argumentao consis-tente nas situaes em que quiserem ou precisarem manifestar sua opinio. Assim, valemais ensinar a ler e escrever gneros diversos do que pedir aos alunos que os definame classifiquem, como se faz, no ensino tradicional de gramtica, com os substantivos,os verbos, as oraes coordenadas e subordinadas...

    ATIVIDADE 6

    Analise com seus colegas de grupo e depois discuta, com toda a turma e o formador, a seguinteproposta de atividade com gneros e o trabalho escolar que dela resultou:

    PROPOSTA

    Pesquisar no dicionrio o significado dos vocbulos: notcia, artigo, resenha, editorial, crnica,conto, fbula.

    TRABALHO PRODUZIDO POR UMA ALUNAnotcia informao, conhecimento, notificao (...);artigo objeto de negcio, mercadoria, diviso de lei (...);resenha descrio minuciosa;editorial relativo a editor ou editora; artigo de jornal que exprime a opinio do rgo;crnica narrao histrica, por ordem cronolgica;conto nmero, contagem;fbula narrao alegrica, cujas personagens so, em regra, animais.

    Como os gneros so padres que organizam nossas aes sociais de linguagem desdeas mais corriqueiras at as mais complexas interagimos com muitos deles no cotidiano,sem a mediao da escola. Alguns exemplos: o telefonema, a fofoca (interpessoal, nosprogramas de rdio e TV ou nas revistas que tratam da vida pessoal de gente famosa),o relato pessoal, a notcia (de rdio, de televiso, de jornal), a letra de msica, o conto defadas, a histria em quadrinhos etc. . Para o trabalho na escola, isso uma vantagem,porque o professor de qualquer matria pode contar com um certo saber intuitivodos alunos sobre muitos gneros.

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  • 23Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    No entanto, no possvel apenas contar com esse saber intuitivo dos estudantes; hsituaes sociais que demandam gneros mais elaborados, no aprendidos espontanea-mente na interao verbal cotidiana. necessrio tomar alguns gneros como objetode ensino sistemtico, levando em conta a complexidade das operaes mentaisenvolvidas em sua leitura e produo. Um caso muito significativo o tratamento que,em geral, se d, na escola, ao de linguagem denominada pesquisa e ao gnero escritotrabalho de pesquisa ou relatrio de pesquisa, que resulta dessa ao. O costume con-sagrado pedir aos alunos que faam uma pesquisa sobre determinado tema, semmaiores explicaes. O que pesquisar? Onde buscar informaes? Como? Quais osprocedimentos adequados para buscar e registrar as informaes desejadas? O que fazercom essas informaes? Como selecionar as mais pertinentes? Como organiz-las earticul-las para compor um trabalho (ou relatrio) escrito ou um esquema para apre-sentao oral? Todas essas etapas do processo de produo do gnero escolar trabalhode pesquisa ou relatrio de pesquisa precisam ser ensinadas na escola, porque a meraintuio textual dos alunos no d conta de tudo isso. Alm disso, h especificidadesque devero ser abordadas pelos professores das diferentes disciplinas: o modo de buscare apresentar os resultados da pesquisa pode ser bem diferente em determinados trabalhosde Histria, de Geografia ou de Cincias, por exemplo.

    ATIVIDADE 7

    Observe as dificuldades reveladas pelo aluno produtor do texto transcrito a seguir e depois dis-cuta com seu grupo em que medida elas se devem maneira como foi apresentada a proposta.Depois, partilhe sua anlise com toda a turma e o formador.O texto foi escrito por um aluno da 5 srie do Ensino Fundamental de uma escola da redeparticular de uma cidade do interior de Minas. A proposta solicitava a realizao de umaentrevista oral e a posterior transformao dessa entrevista em um relato escrito. O texto originalapresenta problemas de ortografia que foram corrigidos na transcrio, para no desviar o foco dadiscusso. A proposta de escrita adequada para orientar a tarefa que os alunos deveriam realizar?

    ENTREVISTANDO UM EX-DROGADO

    Ele em 1 lugar disse que ele viciou no fumo e ficou se matando aos poucos. Ele se chama:Maicom e tem 23 anos hoje em dia e o Maicom falou que se arrependimento matasse elej estava morto. Ele diz que com 18 anos ele estava andando com uns colegas barra pesada eeles moravam no Cascavel e ele tambm o Maicom falou que a amizade dele com esses trsrapazes e eles conversavam sobre mulheres, sexo e em coisas que um jovem de dezoito anospode pensar.

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  • 24Os g

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    aula O Maicom conta que ele era carinhoso com a sua me e seus trs irmos mas uma certa tera-

    feira de 1993 ele saiu com seus colegas e eles comearam a fumar drogas na frente dele e elesfalaram para ele tambm fumar ele falou no e eles ficaram perguntando se ele no erahomem e acabou que ele deu duas tragadas e foi fumando, fumando.At ficar agressivo e todos seus colegas que se dizem colegas sumiram e a sua me que teve quetomar conta dele at ele ficar doente e teve que se internar e l na Santa Casa de Belo Horizonteele se livrou das drogas e voltou para sua casa s que sem vcio e sem fumar qualquer tipo decigarro e veja s: o tempo que ele perdeu em sua vida 4 anos de vida e sade jogado fora por causadas drogas.

    Vamos, ento, destacar alguns pontos importantes da reflexo desenvolvida at esteponto. Trabalhar com gneros textuais em sala de aula nos possibilita:

    ter mo objetos de ensino bem delineados, disponveis, acessveis, j que se trata depadres que circulam na sociedade;contar com saber lingstico intuitivo do aluno;possibilitar ao aluno conhecer e dominar prticas de linguagem reais, que acontecem efetivamente na vida social;possibilitar ao aluno apropriar-se de prticas linguageiras social e politicamente contro-ladas, de instrumentos de poder.

    Por outro lado, vimos tambm que trabalhar com gneros requer um ensino:

    voltado para o uso da linguagem em situaes comunicativas, atento s funes e aos con-textos sociais de produo e circulao dos padres textuais focalizados (e no um ensinoque s atenta para as formas e frmas sua definio, sua classificao);que no impe formas e frmas consagradas como possibilidade nica de concretizao deum gnero, mas que aceita e estimula inovaes pertinentes;sistemtico e cuidadoso, que leva em conta as dificuldades das tarefas propostas e ofereceaos alunos orientaes adequadas e suficientes.

    No caso especfico da aula de Lngua Portuguesa, vale a pena explorar os trs compo-nentes que Bakhtin considera como caracterizadores dos gneros textuais:

    a) a temtica;b) a forma composicional;c) o estilo.

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  • 25Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    a) A temtica

    Como os gneros surgem para atender necessidades comunicativas de uma esfera socialespecfica (por exemplo, a cientfica, a literria, a religiosa, a jornalstica), em geral carac-terizam-se pelos temas de que tratam e pelo modo como os tratam. Por exemplo, a estru-tura do sintagma nominal um tema que pode estar presente na esfera dos estudoslingsticos, nos gneros aula ou artigo cientfico. J o tema morte pode ser tratado emgneros de vrias esferas sociais, mas ser abordado de diferentes maneiras em cada uma.Pensemos, por exemplo, como esse tema aparece no gnero piada, da esfera cotidiana; nognero atestado de bito, na rea da medicina; no gnero sermo, na esfera religiosa.

    Assim, trabalhar com gneros textuais na aula de Lngua Portuguesa deve incluir aateno elaborao temtica do texto a ser produzido, propondo aos alunos reflexoe deciso quanto ao tpico (ou tema) a ser explorado e aos subtpicos em que ele vaise desdobrar. Esse trabalho deve considerar:

    a escolha e delimitao do tema o tema (ou tpico principal) adequado aos objetivos, aosinterlocutores e ao gnero que vai ser produzido? Que aspecto desse tema deve ser focalizado?seleo dos contedos pertinentes em que contedos (informaes, reflexes, argumen-tos, exemplos etc.) dever ser desdobrado o tema?seqenciao dos subtpicos em que ordem os contedos escolhidos sero integrados no texto?organizao lgica e coerente dos subtpicos como os contedos (que so desdobramentos dotpico principal) sero articulados? Que relaes sero estabelecidas entre eles (tempo?Lugar? Causa? Condio? Conseqncia?)?

    b) A forma composicional

    Os gneros textuais costumam se organizar segundo um modelo formal que definequantas partes tero os textos, quais sero essas partes e em que ordem elas aparecero. como um esqueleto, uma frma, que caracteriza, de maneira geral, a composio dostextos de um mesmo gnero.

    Assim, a carta formal, por exemplo, tem como padro de organizao uma estruturaque abrange data, endereamento, vocativo, abertura, tratamento do assunto (ondepodem aparecer seqncias expositivas, argumentativas, narrativas etc.), fechamento,assinatura.

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  • 26Os g

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    sala de

    aula Gneros que compartilham o mesmo tipo textual podem ter formas composicionais

    diferentes. O conto de fadas, a notcia, o relato pessoal, as memrias, por exemplo, sogneros em que predomina a atitude narrativa e que tm modos de organizaoprprios e diferenciados uns dos outros.

    O conto de fadas comporta, basicamente, trs grandes partes, chamadas de orientao(apresentao do cenrio e dos protagonistas), complicao (trama ou enredo, que sedesenvolve a partir de um fato que quebra o equilbrio inicial) e resoluo (final dahistria, com a resoluo dos conflitos e construo de um novo estado de equilbrio).

    A notcia de jornal, por sua vez, de acordo com uma pesquisa feita pelo estudioso holandsvan Dijk, tem a forma composicional apresentada a seguir. Essa pesquisa, realizada entre1982 e 1986, analisou mais de 700 textos noticiosos, de 250 jornais de 100 pases.

    Produo escrita: trabalhando com gneros textuais

    DISCURSO DA NOTCIA

    Sumrio Relato Jornalstico

    Episdio Comentrios

    AvaliaoExpectativaConsequencias/Reaes

    Evento Principal Background

    Circunstncias

    Contexto Eventos anteriores

    Histria

    Eventos

    Manchete Lead

    (Fonte: van DIJK, Teun Adrianus. Estruturas dea notcia na imprensa. In: Cofnio, discurso e interao. So Paulo: Contexto, 1992, p. 147.)

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  • 27Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    O autor chama ateno para o fato de que a estrutura de notcia que sua pesquisa consta-tou no incio da dcada de 1980 diferente da organizao do texto noticioso do incio dosculo XX e que essa diferena se deve s mudanas da vida social e do perfil dos leitoresde jornal. No comeo do sculo XX, a vida andava devagar. Os leitores deveriam ter tempode apreciar com gosto longas introdues e um texto com estilo mais rebuscado. No final domesmo sculo, na correria diria, os leitores j no podiam despender tanto tempo comos jornais e, assim, o texto noticioso teve que se adaptar s expectativas e possi bilidades deseu pblico, tornando-se mais gil, de leitura mais rpida. A nova estruturao da notciapermite que o leitor apressado se inteire dos fatos lendo apenas a manchete e o lead(lide, em portugus), que fornece as informaes bsicas: o que aconteceu (quem fez oqu), onde, quando, como e por qu. Quem tiver mais tempo ou se interessar muito peloassunto, poder ler todo o texto.

    Isso mostra o quanto as condies de produo so determinantes para a construo dosgneros textuais, no s quanto forma composicional, mas quanto a todos os nveis. Asalteraes nas condies sociais e/ou no perfil dos participantes de determinada prticasocial de linguagem tendem a provocar alteraes tambm no padro textual adotadonessa prtica.

    Trabalhar em sala de aula com a forma composicional dos gneros significa levar em conta:

    a frma, o esquema usual;a composio em partes;a ordenao das partes;a funo de cada parte;a articulao das partes entre si.

    Ressaltamos que, alm do esqueleto do gnero, preciso possibilitar aos alunos com-preender que tipo de informao aparece usualmente em cada parte, cumprindo quefuno comunicativa. Por exemplo, o lide da notcia jornalstica uma espcie deresumo inicial que tem a funo de permitir ao leitor tomar conhecimento rapida-mente das informaes bsicas.

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    sala de

    aula Finalizando este item, lembramos dois pontos importantes:

    1. Os gneros no se limitam forma composicional. Caracterizam-se, principalmente, pelasfunes que exercem em determinada esfera social (determinado objetivo, para determina-do pblico). Por isso, ensinar gneros textuais no pode se limitar a ensinar frmas ouesquemas de textos.

    2. A forma composicional um modelo social, sujeito a alteraes decorrentes de mudanasnas condies sociais e da criatividade individual de sujeitos atentos e afinados com essasmudanas. Por isso, a forma composicional no deve ser imposta como possibilidadenica, como camisa-de-fora; pode ser flexibilizada.

    c) O estilo

    O estilo diz respeito maneira mais usual com que so empregados os recursos lings-ticos nos textos de determinado gnero e definido em funo da esfera social de cir-culao desse gnero. Os gneros orais e escritos pertencentes esfera do cotidiano,como a conversa descontrada, o recado, o bilhete, tm um estilo coloquial, informal. Jos gneros orais e escritos que circulam em instncias pblicas e formais, como a con-ferncia, o sermo, o discurso de formatura, o artigo cientfico, o processo judicial, tmum estilo mais cuidado, mais elaborado.

    Um estilo de gnero se caracteriza, por exemplo, pelo emprego caracterstico de:

    vocabulrio mais formal ou mais coloquial, com termos especficos da rea de conhec-imento, da esfera social de circulao;recursos morfossintticos de acordo com a variedade lingstica usada no contexto social decirculao, com preferncia por construes sintticas mais simples ou mais complexas;organizadores textuais (conjunes ou expresses adverbiais que inter-relacionam asgrandes partes do texto, os pargrafos, as oraes) conforme o tipo textual predominanteno texto e/ou em cada passagem do texto;paragrafao e pontuao de acordo com a variedade lingstica usada e com o tipo textual;tempos e modos verbais de acordo com o tipo textual predominante no texto e/ou emcada passagem do texto;elementos da cadeia referencial (ou recursos de coeso nominal, que introduzem ouretomam informaes no texto, sinalizando de que se est falando a cada momento) deacordo com a variedade lingstica usada, o contexto social de circulao e, em algunscasos, com o tipo textual.

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  • 29Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Tomemos um fragmento de texto para exemplificar como se d o emprego dessesrecursos:

    A Terra era uma imensa bola de fogo que, aps milhares de anos, comeou aesfriar, liberando gases que formariam a atmosfera primitiva, muito diferenteda que conhecemos hoje.

    Junto com os gases, era eliminado, tambm, vapor de gua. Nesse momento,ainda no havia gua lquida no planeta, em funo da altssima temperatu-ra existente. O vapor de gua, ao encontrar as camadas mais frias da atmos-fera, formava densas nuvens, que se desmanchavam em chuvas torrenciais.Estas, ao atingir a crosta quentssima, retornavam atmosfera, em forma devapor. Todo o processo se repetiu por milhares e milhares de anos, at que oplaneta se resfriou, o que permitiu a presena de gua lquida, que dariaorigem aos primeiros mares da Terra.

    (COSTA, Eliane J. & FERREIRA, Mnica Tanure L. Cincias: 6 srie Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Quicker/Universidade, 1999,

    Como surgiram as primeiras formas de vida no planeta? fragmento, p. 2. Coleo Pitgoras, Livro 1)

    Esse um fragmento de texto de um livro de Cincias, pertencente ao gnero textodidtico. Seus objetivos e seu contexto ou esfera de circulao definem um estilosbrio, com um grau relativamente alto de formalidade e de acordo com a variedadelingstica de prestgio social. Essa afirmao pode ser ilustrada com a anlise de umperodo:

    (1)O vapor de gua, ao encontrar as camadas mais frias da atmosfera, formavadensas nuvens, que se desmanchavam em chuvas torrenciais.

    Em gneros menos formais, a mesma explicao poderia ser expressa com frases curtas,colocadas uma depois da outra e ligadas por outros conectivos. Nesse caso, certamentetambm seria outro o tom do vocabulrio e outros seriam os recursos de retomada deelementos da cadeia referencial (ou de coeso nominal). Podemos imaginar algo comoo exemplo abaixo, bem diferente da frase original:

    (2)O vapor de gua encontrava camadas de ar mais frias. A ele virava um montede nuvem pesada. As nuvens desmanchavam e viravam uma chuva forte.

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    aula O vocabulrio original se marca por um tom formal, as palavras e expresses utilizadas

    no coincidem com as normalmente presentes no cotidiano informal: liberar e elimi-nar (e no soltar), havia (e no tinha), em funo de (e no por causa de) etc. Alm disso,os termos escolhidos so pertinentes rea de conhecimento de que provm o texto:planeta, atmosfera, crosta. No exemplo (2), temos um vocabulrio mais prximo da falamineira coloquial, com expresses como um monte e virava. A reiterao desse verbo,alis, corresponde a outro recurso muito freqente nos gneros da esfera privada einformal, sobretudo na modalidade oral: a repetio. Entretanto, bom frisar que arepetio no pode ser, a priori, apontada como problema em textos escritos formais;algumas vezes, ela se constitui o melhor recurso coesivo disponvel.

    Quanto aos recursos morfossintticos, a primeira constatao que, no texto origi-nal, as regras de concordncia e regncia previstas na variedade urbana de prestgio soobservadas. Alm disso, a estruturao sinttica dos perodos complexa, com oraessubordinadas em seqncia linear ou intercaladas por outras oraes ou termos deorao. J no exemplo (2) no isso que acontece. O que era um perodo compostopor trs oraes subordinadas, uma delas intercalada no meio da chamada oraoprincipal, aparece na forma de trs frases simples, curtas e sintaticamente indepen-dentes.

    No texto original, que apenas um fragmento, encontramos os seguintes organi-zadores textuais: junto com, nesse momento, em funo de, at que. O primeiro interligadois pargrafos; o segundo interliga duas frases; os outros dois interligam oraes dentrode um mesmo perodo. No exemplo (2), temos organizadores textuais mais freqentes emgneros informais como a fala descontrada: a, e.

    Alterando-se a sintaxe, no exemplo (2), tambm foi alterada a pontuao. Em textosmais elaborados, so muito variados os sinais de pontuao. Neste Caderno, que escrito para circular em contexto pblico e formal, podero ser encontrados alm depontos e vrgulas, dois-pontos, travesses, parnteses etc. Em gneros que favorecem aexpresso subjetiva, como os da esfera literria, o ponto de exclamao e as reticnciaspodem ser mais freqentes do que em gneros que pretendem mostrar objetividade,como os da esfera cientfica.

    O emprego dos tempos e modos verbais tm relao com o tipo textual. O gnerotexto didtico normalmente se marca pela predominncia da atitude expositiva, comverbos preferencialmente no presente. No entanto, o fragmento apresentado, quebusca explicar como teriam se formado os mares da Terra, relata uma seqncia de

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  • 31Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    fenmenos interligados por relaes de temporalidade e causalidade. Assim, constitui,uma passagem narrativa, com verbos no pretrito perfeito (comeou, repetiu, esfriou, per-mitiu), no pretrito imperfeito (era, havia, formava, desmanchavam, retornavam) e nofuturo do pretrito (formariam, daria).

    No texto original, a cadeia referencial se constri por vrios recursos. O nome Terra retomado: a) pelo termo genrico planeta, marcado pelo artigo definido, parasinalizar que a informao j foi dada no texto; b) por elipse, em a crosta (s pode sera crosta da Terra); c) por repetio, no final do fragmento. As expresses gases e vaporde gua aparecem pela primeira vez sem artigo e depois so repetidas, mas marcadas comartigo definido. A expresso chuvas torrenciais retomada pelo pronome estas. Aexpresso todo o processo retoma e sintetiza o conjunto de informaes apresentadas nopargrafo. J no exemplo (2), mais curto, so usados o pronome ele e a repetio marca-da por artigo definido (um monte de nuvem > as nuvens).

    Com esses exemplos e a contraposio entre eles, pretendemos mostrar como que osrecursos lingsticos explorados funcionam e podem caracterizar o estilo de gnerosdiferentes.

    O estilo parece ser o aspecto menos cuidado na escola e, ao mesmo tempo, o que maistraz dificuldades aos alunos. Mesmo que os estudantes entendam qual a funo, opblico e o suporte de um gnero, mesmo que conheam sua forma composicional, nahora de escrever um texto pertencente a esse gnero, podero enfrentar muitos proble-mas com a linguagem a ser utilizada. Para ter fluncia na escrita de gneros formais,que circulam em instncias pblicas, preciso estar familiarizado com o estilo da lin-guagem usada nesses gneros.

    Por isso, importante que os alunos possam conviver com modelos de textos dessesgneros e, mais do que isso, que a linguagem desses modelos seja explorada em aula. preciso mostrar aos alunos, por exemplo, como so compostas as frases dos textos modelo,que organizadores textuais so mais freqentes, com que recursos construda a cadeiareferencial. Na fala cotidiana, os recursos usuais de retomada de informaes dadas notexto so a repetio, os pronomes (ele, dele etc.), a elipse. No entanto, como vimos, osgneros de circulao pblica se valem de recursos mais variados, que preciso ensinar naaula de Portugus.

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    sala de

    aula ATIVIDADE 8

    Retome o texto Entrevistando um ex-drogado, da Atividade 7, e observe os recursos lings-ticos que ele apresenta. Discuta com seus colegas e com o formador: que alteraes no estilodeveriam ser feitas para que o texto correspondesse ao gnero relato de entrevista, como foipedido na proposta escolar. Tente encontrar algum exemplo desse gnero em jornais e revis-tas, para fazer o contraponto.

    Retomando os pontos principais, para finalizar, podemos dizer que, trabalhar comgneros textuais na escola requer:

    atentar para o contexto social em que o gnero circula, qual a sua funo nesse contex-to, quem so seus usurios e qual o seu suporte;levar em conta a temtica pertinente e o modo como ela normalmente apresentada, ori-entando os alunos na construo da coerncia textual (a seqncia e a articulao dos con-tedos);considerar o modelo social de estruturao do gnero (sua forma composicional), toman-do-o como um dos aspectos constitutivos do gnero e no como seu nico componente;cuidar do estilo caracterizador do gnero, dando ateno ao vocabulrio, s construessintticas, aos organizadores textuais, pontuao e paragrafao, ao uso dos tempos emodos verbais, construo referencial.

    importante lembrar que os alunos chegam escola dominando os gneros orais daconvivncia cotidiana e que precisam aprender os gneros escritos, sobretudo os pbli-cos e formais. Para isso, necessrio um ensino sistemtico e participativo, voltadopara as prticas de leitura e escrita, que oferea oportunidades de observar, analisar,realizar, discutir, refletir.

    Concluindo esta parte do Caderno, devemos dizer que, para trabalhar com os alunos,o professor precisa no s conhecer como usurio os gneros textuais a serem aborda-dos em sala de aula, como tambm se preparar, analisando as funes e as caractersti-cas formais de alguns modelos desses gneros.

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    gneros textuais

    ATIVIDADE 9

    Veja o quadro abaixo, proposto por Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz (Gneros orais eescritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p.60-61). Discuta-o com seus colegase o formador. Reflita: algum dos gneros listados poderia ser trabalhado na sua turma dealunos? Que gneros voc considera que poderiam ser tratados em sua sala de aula e que noesto presentes no quadro? Que gneros voc acrescentaria? Em que grupo?

    Cultura literria ficcional

    NARRAR

    Mimeses de ao atravs da criaoda intriga no domnio doverossmil

    Documentao e memorizao dasaes humanas

    RELATAR

    Representao pelo discurso deexperincias vividas, situadas notempo

    Discusso de problemas sociaiscontroversos

    ARGUMENTAR

    Sustentao, refutao e negociaode tomadas de posio

    Transmisso e construo desaberes

    EXPOR

    Apresentao textual de diferentesformas dos saberes

    Instrues e prescries

    DESCREVER AES

    Regulao mtua de comportamentos

    conto maravilhosoconto de fadasfbulalendanarrativa de aventuranarrativa de fico cientficanarrativa de enigmanarrativa mtica

    relato de experinciarelato de viagemdirio ntimotestemunhoanedota ou casoautobiografiacurriculum vitae

    textos de opiniodilogo argumentativocarta de leitorcarta de reclamaocarta de solicitaodeliberao informaldebate regradoassemblia

    texto expositivo (em livro didtico)exposio oralseminrioconfernciacomunicao oralpalestraentrevista de especialista

    instrues de montagemreceitaregulamentoregras de jogo

    sketch ou histria engraadabiografia romanceadaromanceromance histriconovela fantsticacontocrnica literriaadivinhapiada

    notciareportagemcrnica socialcrnica esportivahistricorelato histricoensaio ou perfil biogrficobiografia

    discurso de defesa (advocacia)discurso de acusao (advocacia)resenha crticaartigos de opinio ou assinadoseditorialensaio

    verbeteartigo enciclopdico texto explicativotomada de notasresumo de textos expositivose explicativosresenharelatrio cientficorelatrio oral de experincia

    instrues de usocomandos diversostextos prescritivos

    DOMNIOS SOCIAIS DE COMUNICAOASPECTOS TIPOLGICOS

    CAPACIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTES

    EXEMPLOS DE GNEROS ORAIS E ESCRITOS

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    gneros textuais

    3.1. COMEANDO A CONVERSA

    O que um texto de opinio? Rapidamente podemos responder dizendo que se trata detexto da esfera jornalstica, no qual predominam seqncias argumentativas e que publicado em jornais, revistas, Internet, na forma de gnero editorial, gnero carta doleitor, e, mais especificamente, do chamado gnero artigo de opinio.

    Por que texto de opinio na escola? Esse no um gnero difcil, que s adultos espe-cializados, como os jornalistas, conseguem escrever? Veja como o livro Pontos deVista, do CENPEC, responde a essa pergunta:

    OPINIO NO COTIDIANO

    Como vivemos em conjunto com outras pessoas, estamos sempre dando opinio sobre questes que ocor-rem em nossa vida cotidiana. Muitas vezes, mesmo nos encontros familiares, surgem discusses sobrefatos insignificantes ou importantes que acontecem em nosso crculo mais prximo ou em mbito maisamplo. So exemplos de ocasies em que damos a nossa opinio: discusses sobre um jogo de futebol,programa de um fim de semana, ou algum evento que est para se realizar na cidade.Dar opinio sobre os mais diversos assuntos em situaes informais algo corriqueiro, que faze-mos quase sem sentir ou pensar. H situaes, porm, que se do na esfera pblica e so maisformais, exigindo um planejamento do que se vai dizer. Um exemplo so os debates na televisoentre candidatos, sobre seus projetos de governo, em poca de campanha eleitoral. Esses debatesdevem ser cuidadosamente planejados, pois argumentos mal sustentados podem significar at aperda das eleies.Mas uma opinio no se restringe fala ela tambm pode ser dada por escrito. Jornais e revistas,por exemplo, costumam publicar cartas de leitores, artigos de opinio e editoriais. A seo de cartas

    O gnero texto de opinio

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    o de leitores constitui um veculo para a expresso da opinio dos cidados sobre questes que os afetemde alguma maneira. Editoriais tambm so textos de opinio: eles exprimem a posio do jornal diantede um assunto e seus argumentos, a favor ou contra, e no trazem assinatura. Os artigos de opinio,que formam o tema deste livro, so textos escritos por articulistas, convidados pelo jornal, que tomamposio sobre uma questo e assumem a responsabilidade pelo que escrevem, assinando-os.Os artigos de opinio jornalsticos, entre outros gneros de textos argumentativos, orais e escritos,so importantes instrumentos para a formao do cidado. Aprender a ler e a escrever esse tipo de textona escola contribui para desenvolver a capacidade de participar, com argumentos convincentes, dasdiscusses sobre as questes do lugar onde se vive e, mais do que isso, formar opinio sobre elas econtribuir para resolv-las.Argumentar uma habilidade que se aprende. Com a sua ajuda, professor, seu aluno aprender aler e escrever artigos de opinio, tomando posio e fundamentando-a, a fim de defender seu pontode vista e praticar a cidadania.

    GAGLIARDI, Eliana e AMARAL, Helosa. Pontos de vista: texto de opinio. Prmio Escrevendo o Futuro 2004. So Paulo:

    Peirpolis/CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria. 2004.

    Vamos comear, lendo o texto de Gabriela Aparecida Mendes, uma menina de 10 anos,aluna da 4 srie da Escola Municipal Coqueiro de Espinho, de Campo Belo, MG,vencedora do Prmio Escrevendo o Futuro 2004, de que falamos na Introduo.

    CONSTRUO DA ESCOLA - S PROMESSAS

    Desde meados dos anos 70, os antigos e atuais alunos da Escola Municipal Fazenda Coqueiro doEspinho, localizada na cidade de Campo Belo, esperam pela construo de um prdio prprio paraa escola.At o ano de 1978 a escola funcionava num prdio estadual, na Fazenda Coqueiro do Espinho.Como o prdio estivesse caindo, ia ser fechado. Um fazendeiro cedeu um barraco para que a escolacontinuasse a funcionar.A partir da, a escola, que passou a ser do municpio, foi alvo de vrias promessas. Em poca deeleies, os candidatos falam: Se eu ganhar vou construir uma nova escola, com biblioteca, cincosalas de aula e sala de computador, mas isso nunca foi feito.No ano passado teve uma reforma que melhorou, mas no resolveu todos os problemas.Algumas pessoas no concordam com a construo, pois acham que seria desperdcio de dinheirouma escola nova para poucos alunos.Eu, particularmente, sou totalmente a favor da construo de uma nova escola. O nmero dealunos, cada vez menor, s diminuiu porque muitos acham melhor estudar na cidade, pois h maisestrutura. Ns, os alunos que permanecemos, merecemos condies melhores de estudo e maisrespeito, no importa que sejamos poucos.

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  • 37Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Como se viu, uma garota de 10 anos, aluna de escola pblica, capaz de construir umbom texto argumentativo, correspondente ao gnero texto de opinio, desde que hajaum trabalho bem orientado em sala de aula.

    Compreendamos melhor esse texto.

    ATIVIDADE 10

    Junto com colegas reunidos em pequeno grupo, analise o texto de Gabriela, procurandolocalizar:

    a) O problema apresentado;b) Tese da articulista;c) Opinies contrrias da articulista;d) Argumentos de sustentao da tese.

    As respostas devero ser anotadas para exposio e discusso com toda a classe e com o formador.

    Como voc pde verificar, Gabriela procurou em seu texto expressar toda a sua indig-nao diante de uma realidade vivida. Ao trmino da leitura do texto, tendemos a con-cordar com a menina e a desejar engrossar fileiras em defesa da melhoria da escola emque ela estuda.

    Alis, bom saber o final da histria. Tendo sido vencedora do

    concurso, seu texto foi bastante divulgado, na escola, no

    municpio, no estado e no pas foi publicado no livro Prmio

    Escrevendo o Futuro 2004, que distribudo pelo CENPEC a

    todos os centros participantes. Assim, tomando conhecimento

    das reivindicaes da menina e da repercusso de seu texto,

    o Prefeito da cidade acabou realizando a sonhada reforma da

    escola, dando fim seqncia de falsas promessas.

    O texto construdo por Gabriela um artigo em que ela expressa sua prpria opiniosobre um problema vivido em sua comunidade. Para falar desse problema, a garotaselecionou os argumentos de modo a trazer um histrico do problema, a exporopinies contrrias s suas prprias e, a seguir, refutar as opinies alheias expondo seuponto de vista com argumentos fortes e expressos com clareza.

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    o Esse texto pertence ao gnero texto de opinio, que procura convencer, influenciar,atravs de argumentao a favor de uma determinada posio assumida, mas tambmapresentando e refutando posies divergentes.

    Podemos afirmar que o texto de opinio prev uma operao constante de sustentaode uma tese, por meio de apresentao de dados consistentes, que possam convencer ointerlocutor de um determinado ponto de vista, apresentado de forma a dialogar comos pontos de vista contrrios ao defendido.

    ATIVIDADE 11

    O artigo a seguir foi publicado na seo Opinio do jornal Folha de So Paulo, numa colunachamada Tendncias e Debates. Essa coluna, s vezes, prope uma pergunta como temapara dois artigos que expressam opinies contrrias. Um deles responde SIM e o outroresponde NO. Escolhemos aqui o artigo que respondia NO pergunta As universidadesestatais devem reservar vagas para alunos de escolas pblicas?

    Leia-o e discuta-o, em dupla com um colega, para depois responder s questes propostas aofinal da atividade.

    AS UNIVERSIDADES ESTATAIS DEVEM RESERVAR VAGAS PARA ALUNOS DE ESCOLAS PBLICAS?NO

    A ILUSO DAS COTAS

    O projeto da reserva de vagas aprovado pelo Senado tem tudo para receber a aprovao popular.D a impresso de resolver uma grave injustia social e parece mesmo que equilibra ricos e pobresnas universidades pblicas, que vm sendo descritas ultimamente como um universo de privilegiados.Entretanto ele nada resolve e muito menos equilibra; ao contrrio, multiplica os problemas eamplia, se no aprofunda, as discriminaes.Poderia, neste curto espao, afirmar que o projeto fere a autonomia universitria, garantida emConstituio.Pouco adiantaria esse argumento num pas que deixa a educao superior transformar-se em negcio,e negcio movido pelo nimo exclusivo do lucro. A viso estreita do que seja ensino superior pblicocostuma abolir as diferenas, como se a homogeneizao das universidades, desde o acesso dos estu-dantes, as fortalecesse como provedoras do mercado. Qualquer pessoa medianamente informada sabe qual vai ser, em futuro muito prximo, o custo detamanha estreiteza: o agravamento das assimetrias entre o Brasil e os pases mais avanados, o apro-fundamento da dependncia, a cultura reflexa (que nada tem de cultura) etc. Subdesenvolvimento

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    gneros textuais

    vai ser pouco. O projeto, se consolidado, vai castigar todas as famlias que, a contragosto e, na maiorparte, com sacrifcios, foram compelidas a matricular os filhos em escolas privadas de ensino funda-mental e mdio, por acreditar que, nestas, a instruo de boa qualidade se alia a processos formativosintegrais e totalizantes, desenvolvidos em ambiente saudvel e seguro.Os perfis socioeconmicos dos matriculados em universidades pblicas e disponveis nestas mostramcom clareza essa opo forada que os pais fizeram por saberem ou sentirem que nessas universi-dades o ensino ser de melhor qualidade, porque nelas se cultiva ainda a idia de que devem ser olugar dos melhores alunos. Infelizmente, o projeto demonstra, por vias travessas, a falncia do ensinopblico fundamental e mdio; mais ainda, d sinais de descrena em todos os projetos do governo queformulam a possibilidade de recuperao desses nveis de ensino.Propondo-se a reserva de vagas, confirma-se o desconhecimento que muitos polticos tm das uni-versidades pblicas. Imaginam eles que as universidades so fbricas de profissionais demandadospelo mercado. Esquecem-se das funes que as universidades pblicas desempenham com diferentesgrau e natureza, por razes histricas e geogrficas; esquecem-se principalmente, no quadro dessasfunes, daquela que as centraliza no Brasil: a pesquisa cientfica e tecnolgica. Como abrigaralunos fora das exigncias de qualidade? Fazendo isso, no se estar praticando o inverso do pre-tendido pelo projeto, ou seja, no se estar aumentando o ndice (j elevado) de evaso de alunos?Que tal um projeto de investimento macio e necessariamente prioritrio na qualidade do ensinopblico fundamental e mdio? Se isso ocorresse e estou convicto de que as universidades pblicasse empenhariam na sua concretizao , em pouco tempo teramos estudantes egressos de escolas pbli-cas competindo em p de igualdade com os das escolas privadas nos processos seletivos para o ensinosuperior; e, depois de mais algum tempo, a desvantagem seria do outro lado, a comear do fato de quepoucas escolas privadas subsistiriam. Que famlias iriam procur-las se o ensino pblico gratuito fossede boa ou de melhor qualidade?

    SILVA, Antnio Manoel dos Santos. A iluso das cotas. Folha de S. Paulo. Tendncias e Debates. 25, set. 1999.

    (www1.folha.uol.com.br/fsp/opinio) acesso em 02 de maio de 2006.

    Discuta:

    a) Qual a tese defendida?

    b) Quais os argumentos utilizados inicialmente?

    c) Quais os contra-argumentos presentes com pretenses de desconstruo dos argu-mentos iniciais?

    d) Por que refutar o prprio argumento constitui uma forte estratgia argumentativa?

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    o ATIVIDADE 12

    Leia mais um texto inscrito no Prmio Escrevendo o Futuro 2004, na categoria texto deopinio. Este de autoria de Jossimara, aluna da 4 srie do Ensino Fundamental.

    MORO ONDE NO MORA NINGM...

    Onde moro muito engraado, porque olho pela janela e vejo meus vizinhos. Todos sabem de tudoque acontece com os outros, eles fazem comentrios de tudo que aconteceu com cada um de ns.Na rua, brinco com meus colegas e minhas primas e divirto-me com as coisas engraadas que acon-tecem no meu bairro. Onde moro, no posso reclamar! Porque l muito sossegado e no vejo vio-lncia ao meu redor... legal deitar no sof e assistir televiso perto da minha famlia e noite sair para fora de casa ever as estrelas e a lua!!!Eu adoro meu lar, por tudo isso! Onde moro um reino de felicidade!Ouvi dizer que no campo a vida assim e que aqui na cidade muito diferente. Meus colegas riramde mim quando li minha redao para todos e a foi que expliquei que estava narrando um sonhoque tive.Ah se o lugar onde vivo fosse igual ao dos meus sonhos!

    Agora, responda individualmente, para depois discutir com os colegas e o formador:

    a) Qual a polmica em discusso?b) Qual a tese defendida?c) Quais os argumentos que sustentam a tese?d) Que contra-argumentos so apresentados?e) Tendo em vista o que j foi discutido sobre o gnero texto de opinio, voc considera

    que o texto de Jossimara um texto de opinio? Justifique.

    O que Gabriela j sabe e Jossimara ainda no sabe?

    1. A articulao de um discurso argumentativo supe sempre dois movimentos: umde desconstruo e outro de construo, visando a uma transformao.

    2. Argumenta-se com o objetivo de modificar de alguma maneira o pensamento ouo julgamento de algum. A argumentao contm em si um movimento denegao.

    3. No se argumenta sobre uma evidncia ou sobre o que j est firmado. 4. Na argumentao, busca-se reforar uma posio ou sedimentar o julgamento do

    interlocutor a respeito de um problema tratado.

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  • 41Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    ATIVIDADE 13

    Valendo-se das leituras e discusses feitas at agora, junte-a a seu colega de dupla para redigir umtexto de opinio. Imaginem que vocs foram encarregados(as) de responder SIM pergunta dacoluna Tendncias e Debates da Folha. Portanto, vocs devero produzir um artigo de opinio,nos moldes at aqui estudados, com o objetivo de convencer os leitores do jornal de que as univer -sidades estatais devem, sim, reservar vagas para alunos de escolas pblicas.

    Depois de ter analisado textos de opinio e de ter passado pela experincia de produzirum artigo de opinio, chegou a hora de pensar sobre o trabalho em sala de aula comesse gnero.

    ATIVIDADE 14

    Rena-se em grupo com trs ou quatro colegas, para construir uma boa resposta para aseguinte pergunta: como a professora de Jossimara pode intervir para ajud-la a aprender oque seja um texto tipicamente argumentativo, como o caso do texto de opinio?O trabalho deve ir por partes:

    a) O que exatamente a aluna no sabe?b) O que importante que ela saiba?c) O que ser necessrio que a professora pesquise a fim de ajudar a garota?

    3.2. UM POUCO DE TEORIA

    Agora vamos por partes, para melhor entender a construo de um texto de opinio:

    3.2.1 A refutaoImportante elemento na construo do gnero texto de opinio, a refutao corres -ponde a uma proposio em que o locutor estabelece a falsidade de um estado de fato.Seu contedo negativo traduz o desacordo do enunciador. Segundo Moescher (1982,citado por Brando, 1998), o ato de refutao se realiza atendendo a quatro condies:

    a) a condio de contedo proposicional: para refutar, o enunciador deve partir de umaproposio que est em contradio aparente com o que deseja defender. Trata-se de umato reativo, isto , ope-se a uma assero inicial.

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    o Tomemos como exemplo o texto de Gabriela Aparecida Mendes, vencedora do PrmioEscrevendo o Futuro 2004.

    Algumas pessoas no concordam com a construo [de uma nova escola] poisacham que seria desperdcio de dinheiro.

    Eu, particularmente, sou totalmente a favor da construo de uma nova escola.

    Observemos que a garotinha faz uma declarao para, a seguir, neg-la. Isso exigir que,para haver continuidade do texto, ela apresente argumentos para sustentar sua opinio.

    b) a condio de argumentatividade: coloca o enunciador da refutao na obrigao dejusti ficar, de dar argumentos em favor da refutao. Quem fala responsvel pela busca daadeso do leitor proposta do enunciador, buscando conquist-lo e persuadi-lo.

    Mais um exemplo do texto de Gabriela;

    O nmero de alunos cada vez menor, s diminui porque muitos acham melhorestudar na cidade, pois h mais estrutura. Ns, os alunos que permanecemos,merecemos condies melhores de estudo e mais respeito, no importa quesejamos poucos.

    Nessa passagem, Gabriela d prosseguimento ao texto fundamentando sua opinio.Deixa nas entrelinhas que a construo de uma boa escola manteria os estudantes noprprio local onde moram e que, independente disso, os alunos remanescentes, mere-cem uma boa escola.

    c) a condio de sinceridade reflexiva: o enunciador deve fazer com que o leitor acredite quea proposio apresentada falsa, que apenas um objeto de refutao, ou seja, uma formade apresentar o outro lado da questo, oferecendo ao leitor a possibilidade de acompanharo raciocnio desenvolvido.

    d) a condio interacional: impe ao leitor a avaliao do que percebeu da refutao enca -minhada pelo enunciador. Isso pode se dar de forma positiva, em que o ato definidocomo completo e o leitor acaba por concordar com o enunciador, ou negativa, em que arefutao mal-sucedida.

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  • 3.2.2. Articulao do discurso argumentativo

    Como j afirmamos, a produo de um texto de opinio supe sempre dois movimentos,um de desconstruo e outro de construo, visando a uma transformao. Nunca seargumenta sem o objetivo de modificar de alguma maneira o pensamento ou o julgamentode algum. A argumentao contm em si, portanto, um movimento de negao. No seargumenta sobre evidncia ou sobre o que j est firmado. Da a necessidade de se levantar,para a produo de um texto de opinio, um tema polmico.

    Analisemos o texto que segue, produzido por Thamires Caroline Belentani, que cursa-va a 4 srie do Ensino Fundamental em 2004 e foi uma das finalistas do PrmioEscrevendo o Futuro 2004.

    REFORMA OU NO: EIS A QUESTO

    Moro na cidade de So Sebastio do Paraso. um lugar muito importante paramim, pois aqui aprendi tudo que sei. Tenho uma escola muito legal, alm de lugaresmaravilhosos para passear e relaxar, como a gua Azul e tambm as belas praas.

    No ano passado surgiu um assunto que gerou uma polmica danada. S seouvia falar da reforma que as autoridades queriam fazer no Frum. Para queisso acontecesse, teriam que mexer na famosa Praa Comendador Joo Alves deFigueiredo, conhecida como Praa das Fontes.

    Muitas pessoas amaram a idia, afinal teramos uma cidade bem mais moderna.Outras pessoas no gostaram nadinha. Achavam que as mudanas poderiampreju dicar as lembranas que a populao guarda de l.

    Eu acharia espetacular ter uma cidade com uma aparncia elegante, cheia devida, de progresso. Com a cidade mais bela, teramos mais admiradores e,quanto mais admiradores, mais turistas. Com muitos turistas, nosso municpiocriaria mais empregos e melhoraria a vida de todos.

    43Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuaisTEMA POLMICO

    TRANSFORMAOINFLUNCIA SOBRE O LEITOR.

    DESCONSTRUOOPINIES CONFLITANTES

    CONSTRUOPOSIO DO ARTICULISTA

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    o Anlise das partes integrantes do texto:

    Ttulo Anuncia resumidamente a situao problema.

    1 pargrafo Apresenta a cidade em linhas gerais, localizando o leitor.

    2 pargrafo Apresenta o tema polmico.

    3 pargrafo Apresenta, de maneira breve, opinies favorveis e contrrias ao tema em questo.

    4 pargrafo Posiciona-se favoravelmente frente questo, apresentandoos seguintes argumentos: a cidade ficar mais bela e comaspecto de progresso; cidade bela atrai admiradores; quantomais admiradores mais turistas; quanto mais turistas maisemprego; quanto mais emprego, melhores condies devida para a populao.

    Como se v, Thamires produziu um bom texto de opinio. Mas, para isso, foi importantelevantar uma questo polmica. Falemos um pouco mais sobre isso, pois, na conduo dotrabalho em sala, necessrio que esse conceito esteja bem claro.

    3.2.3. Situaao problema tema polmico

    Nem sempre fcil distinguir situao problema de tema polmico e para se construir umtexto de opinio essa diferena fundamental, uma vez que j afirmamos que, sempolmica, no h texto de opinio que se sustente!

    Uma situao problema pode ser vista como uma questo que no gera opinies contrrias,embora gere muita discusso. Por exemplo:

    a) O aumento do preo da gasolina. (Ningum quer, mas todos conversam sobre a questo.)

    c) A pedofilia no Orkut. (Srio problema a ser enfrentado. Ningum tem coragem de se posi-cionar, em pblico, favoravelmente questo.)

    J um tema polmico pode ser visto como um problema ou situao que no gera uma

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  • 45Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    concordncia geral em torno dele. Por exemplo: a prefeitura da cidade de Itaguara resolveuampliar a linha de nibus para a capital, a preos bem mdicos. Parte da populaomostrou-se favorvel medida e outra parte foi contrria, alegando uma temida expansoda criminalidade, pela facilidade de contato entre a pequena cidade e a capital.

    Veja se voc entendeu a distino entre situao problema e tema polmico fazendoa Atividade 15.

    ATIVIDADE 15

    1. Marque (A) para situaes problema e (B) para situaes polmicas:

    a) Um campeonato de futebol deve ter pontos corridos.

    b) Deve-se revogar a lei que pune diferenciadamente crimes hediondos.

    c) A soluo para o rompimento de infeco por Doenas Sexualmente Transmissveis a fidelidade.

    d) As partidas de futebol deveriam ser monitoradas por juzes eletrnicos.

    e) Cabe ao estado a construo de escolas em todas as comunidades e o apoio ao trabalhodo professor.

    f) Reformar a pracinha da cidade urgente.

    g) Reduzir o nmero de vereadores na Cmara Municipal de sua cidade importante.

    h) A instalao de fbricas em uma pequena cidade, gera emprego mas traz desconfortoe insegurana.

    i) A construo de uma penitenciria em seu bairro.

    j) O trnsito engarrafado de uma grande cidade em funo de uma obra pblica degrande porte.

    k) A reeleio de polticos corruptos.

    l) O desmatamento da Amaznia.

    m) A adoo de uma criana sada para quem no pode gerar.

    n) Toda sala de aula deveria ter uma cmera para monitoramento dos alunos.

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    o 2. Procure, agora, com seu grupo levantar algumas questes polmicas referentes regio emque vocs moram. Apresente-as, acompanhadas de sustentao, ao grupo que decidir sese tratam de questes polmicas ou apenas de situaes problemas.

    3.2.4. A escolha dos argumentos

    Escrever supe planejar. Um texto no planejado pode sofrer de circularidade, ou seja,poder ficar sempre repetindo o mesmo argumento, parecendo que no sai do lugar,no progride, e, afinal, dar ao leitor a impresso de que no diz nada. Assim, tendo emmos um tema polmico, o prximo passo pensar nos argumentos favorveis questo, nos contrrios e, a seguir, considerando o que se levantou, posicionar-se frentea um dos dois.

    A fim de compreendermos melhor esse tpico, leia o texto que segue, de Karla PalomaReis, que cursava a 5 srie, em 2004, quando inscreveu seu texto no concursoEscrevendo o Futuro.

    O LUGAR ONDE VIVO

    Moro em um lugar de beleza natural invejvel, clima bom, povo gentil e hos-pitaleiro. Minha cidade chama-se Cristais e est se desenvolvendo muito comas fbricas de confeces, que trouxeram para a cidade o to sonhado emprego,j que o desemprego um dos problemas mais sofridos pelo povo brasileiro. Asfbricas empregam jovens que ainda no trabalharam, que no tm estudopara conseguir trabalho em outros setores que requerem nvel de escolaridade,pessoas com deficincia fsica, outros que no suportavam o trabalho rural pelopeso da idade.

    Com a carteira de trabalho assinada, muitos conseguem a aposentadoria, oumesmo uma assistncia do INSS, caso tenham algum problema de sade.

    Mas, apesar de tantas dificuldades resolvidas pelas fbricas, hoje enfrentamosoutras, devido ao grande nmero de pessoas desconhecidas vivendo em nossacidade. Cristais no mais uma famlia cristalense. Convivemos com pessoasde outras cidades e de outros estados que esto vindo, atrados pelos empregosdas fbricas. Com isto, estamos enfrentando um custo de vida mais alto, nafarmcia, no mercado e no aluguel, e tambm a falta de segurana, pois acidade no est preparada para receber tanta gente, que, s vezes, se aprovei-ta da situao.

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  • 47Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    Enfim, peamos a Deus que abenoe esta cidade, que agora adota tantos outrosfilhos, e que sejam eles capazes de viver bem nesta pequena Cristais queamamos muito.

    ATIVIDADE 16

    Procure identificar, no texto lido, os itens solicitados no quadro que segue.

    Tema Polmico

    Argumentos favorveis

    Argumentos contrrios

    Posicionamento do enunciador

    Voc deve ter observado que o enunciador do texto primeiramente apresenta a cidade,fala de suas belezas naturais e da chegada das fbricas como algo positivo. Entretanto,no pargrafo seguinte procura discutir os aspectos negativos da instalao das fbricas.No 3 pargrafo, por meio dos operadores argumentativos mas e apesar de, explicitasua opinio sobre o problema da chegada do progresso pequena cidade. Fica claroque o enunciador lamenta o problema que aponta, mas no v soluo para o mesmo.Decorrente desse sentimento de impotncia, a sada foi apelar para a sabedoria e a bondadedivina, o que resultou numa possibilidade de concluso para o texto, mas incorreu emlugar comum.

    3.2.5. Operadores argumentativos

    At agora vimos que o gnero texto de opinio apresenta dois movimentos: um de recusa eoutro de justificao dessa recusa, em torno de um tema polmico. O movimento de recusavem manifestado lingisticamente por meio de uma negativa aplicada a uma afirmativa. Paraimprimir essa negao so usados operadores argumentativos.

    Os operadores argumentativos orientam a seqncia do discurso, os encadeamentospossveis com outros enunciados capazes de continu-lo. Mas sua principal funo sinalizar a posio do enunciador quanto s relaes entre os argumentos, ajudando o

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  • 48O g

    ner

    o te

    xto

    de o

    pini

    o leitor a compreender que o enunciador adere a determinado argumento e exclui outros.Muitos dos operadores argumentativos so classificados pela teoria gramatical tradi-cional como conjunes, como palavras denotativas ou como palavras de difcil clas-sificao. Isso acontece porque a gramtica tradicional tem como objetivo o estudodas palavras e da frase, mas no do texto e do discurso. Assim, quem s conhece a teoriagramatical tradicional, no teve oportunidade de refletir sobre a importncia dessesarticuladores na construo da linha argumentativa dos textos.

    ATIVIDADE 17

    Destacamos com negrito algumas palavras no texto. Retorne a ele e procure interpretar opapel dessas palavras na progresso e na orientao argumentativa do texto.

    a) j que

    b) mas

    c) apesar de

    d) com isto

    e) pois

    f) enfim

    ATIVIDADE 18

    Os marcadores argumentativos mais presentes em artigos de opinio so os que marcamoposio. Voc saberia dizer o porqu disso?

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  • 49Produo escrita: trabalhando com

    gneros textuais

    ATIVIDADE 19

    1. Vamos desenvolver um texto de opinio? Para comear, preencha o quadro que segue:

    Tema Polmico

    Sua tese

    Argumentos contrrios sua tese

    Argumentos favorveis sua tese

    Portador

    Pblico-alvo

    a) Tendo em vista o que j trabalhamos at agora, que elementos novos surgiram nessequadro?

    b) Qual a importncia deles na produo de um texto de opinio?

    2. Faa agora a primeira verso de seu texto. Em seguida, reveja-a e reescreva-a. Em seguida, peaa um colega que faa uma leitura crtica do que voc escreveu. S depois que voc vai reela bora