trabalhando a linguagem 6 ano

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    Trabalhando oralidade e escrita em turmas de 6 ano

    Letcia Martins Feitosa Lopes1- UFPA

    Iracy de Sousa Pereira Arajo2- UFPA

    Resumo:

    Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre como o professor de lnguaportuguesa deve trabalhar, em turmas de 6 ano, as modalidades oral e escrita da lngua.Ressaltamos o quo importante que este esteja atento a tal questo e, assim, trabalhar deforma adequada as duas modalidades, considerando as especificidades de cada uma,ensinando aos alunos que ambas sofrem variaes, dependendo da funo comunicativa queelas assumem, e que, relevante deixar claro que isso ocorre em funo do carterinteracional, peculiar linguagem humana. Abordamos questes como a de que o professorde portugus precisa, acima de tudo, agir como tal, ser um professor que, alm de educador,

    baseia-se em princpios tericos e observa os fatos da lngua para, depois de um processoreflexivo, encontrar os melhores meios de abord-los; que tem discernimento suficiente parasaber, por exemplo, que as palavras separadas das coisas, perdem seu sentido, no sesustentam, precisam de um contexto, um motivo, uma finalidade e deixar, ento, de trabalharapenas com frases soltas (exerccios mecnicos) e focar os contextos de uso da lngua. Comosugesto para o trabalho com oralidade e escrita, nesta perspectiva, propomos que sejatrabalhada a retextualizao. Primeiro, apresentamos o conceito de retextualizao, segundoos estudos realizados por Marcuschi, que, sinteticamente, um processo que parte de umregistro oral (texto em udio) da lngua, passando por transformaes passo a passo at que setorne um texto escrito. Em seguida, damos um exemplo de como trabalhar a retextualizao.A fundamentao terica que embasa este artigo est pautada nos estudos de Antunes (2003),

    Koch & Elias (2010) e Marcuschi (2005).

    Palavras-chave:oralidade, escrita, retextualizao.

    1 Introduo

    Aps alguns anos de trabalho com turmas de 6 ano, constatamos que nas produes

    escritas dos alunos comum identificarmos traos da oralidade. Isto se d porque a escrita

    diretamente influenciada pela oralidade (fala), uma vez que os alunos tendem a considerar que

    aquela uma mera reproduo da fala. Tal fato tem justificativa nas palavras seguintes:

    a criana, quando chega escola, j domina a lngua falada. Ao entrar emcontato com a escrita, precisa adequar-se s exigncias desta (...). por essarazo que seus textos se apresentam eivados de marcas da oralidade, que, aospoucos, devero ser eliminadas. (KOCH & ELIAS, 2010, p.18)

    Por vezes, alunos que j se encontram no 6 ano ainda imprimem as marcas orais na

    escrita. O que pode continuar ocorrendo se o professor no intervir para, com o passar do

    1 Professora de Lngua Portuguesa da Rede Pblica e mestranda do Mestrado Profissional em Letras /PROFLETRAS.2 Professora de Lngua Portuguesa da Rede Pblica e mestranda do Mestrado Profissional em Letras /PROFLETRAS.

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    tempo, construir neles um novo modelo de texto escrito, conscientizando-os dos recursos e

    das peculiares exigncias que so prprias da escrita, bem como daquelas que so prprias da

    oralidade.

    J sabemos que, como a leitura, a escrita muito importante para que as pessoas

    exeram seus direitos, possam trabalhar e participar da sociedade com cidadania, se informar

    e aprender coisas novas ao longo de toda a vida. E ensinar os alunos a ler e a escrever uma

    das principais tarefas da escola que no Brasil tem enfrentado um grave problema: a

    fabricao de analfabetos funcionais e, em maior grau de responsabilidade (sob nosso

    olhar), do professor de portugus. Na escola, crianas e adolescentes precisam ter contato com

    diferentes textos, ouvir histrias, observar adultos lendo e escrevendo. Precisam participar de

    uma rotina de trabalho variada e estimulante e, alm disso, receber muito incentivo dos

    professores e da famlia para que, de acordo com seu desenvolvimento, sejam capazes de dar

    lngua o dinamismo da funo primordial que ela possui: a interao social.

    O professor de portugus precisa, acima de tudo, agir como tal, ser um professor que,

    alm de educador, baseia-se em princpios tericos e observa os fatos da lngua e reflete para

    encontrar os melhores meios de abord-los; que tem discernimento suficiente para saber, por

    exemplo, que as palavras separadas das coisas, perdem seu sentido, no se sustentam,precisam de um contexto, um motivo, uma finalidade e deixar, ento, de trabalhar apenas com

    formao de frases e separao silbica (exerccios mecnicos).

    A leitura e a escrita sero bem sucedidas quando levarem compreenso do leitor e

    do escritor de modo que elas encontrem o xito tambm e, principalmente, no mbito escolar.

    So prticas que exigem determinadas competncias dos alunos no que tange a dar (re)

    significao ao que leem e escrevem no seu dia-a-dia. Sendo a escola o ambiente mais

    importante de construo e apreenso de conhecimentos, cabe a ns professores tomarmos

    frente nesse processo implementando e desenvolvendo mecanismos para alcanar tal

    competncia.

    Considerando os atos de ler e escrever como fontes de crescimento ao conjunto de

    docentes e discentes na sociedade letrada em que estamos inseridos e a grande

    responsabilidade que ns carregamos, enquanto professores, de dar o suporte a essa

    emancipao do aluno, observamos que necessrio aplicar processos organizados

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    metodologicamente para ter xito em nosso trabalho que ser avaliado a partir dos resultados.

    Em outras palavras, precisamos organizar as metodologias com as quais trabalharemos.

    2 Trabalhando a oralidade e a escrita

    A linguagem humana tem uma razo de ser, existir, que s se justifica pela

    comunicao, ou seja, todas as lnguas s existem para promover a interao entre as pessoas.

    Isso nos leva ao fato de que a lngua, seja ela oral ou escrita, tem uma funo social que a de

    promoo da interao.

    Ainda hoje muito comum encontrarmos no meio escolar a concepo equivocada

    de que a lngua escrita melhor e mais privilegiada que a lngua falada; de que a escrita deveseguir a formalidade enquanto a fala mais relaxada e descuidada, portanto, territrio dos

    erros de portugus. Ainda que inmeras iniciativas institucionais j tenham sido

    desenvolvidas, ainda persistente o insucesso escolar, que, devido a tais concepes, acaba

    manifestando em alguns alunos frustrao e a sensao de que no sabem portugus, uma

    matria demasiadamente difcil, na concepo deles.

    Fala e escrita possuem caractersticas prprias e distintas, particulares a cada

    modalidade; apesar de utilizarem o mesmo sistema lingustico tais modalidades no podem

    mais ser vistas como dicotmicas. Ambas precisam ser estudadas como duas modalidades

    discursivas em que diferenas e semelhanas se do ao longo de um continuum tipolgico

    das prticas sociais, em cujas extremidades se situam: de um lado, se encontra o grau mximo

    de naturalidade e, de outro, o grau mximo de formalidade.

    De acordo com Marcuschi (2005), no se pode mais observar de forma satisfatria as

    semelhanas e diferenas entre fala e escrita sem considerar as situaes de uso na vida

    cotidiana. Essa mudana nos permite ver o texto, seja ele escrito ou falado, como objeto

    resultante de prticas sociais. Segundo Koch (2010), o texto um evento sociocomunicativo

    que ganha existncia dentro de um processo interacional. Todo texto resultado de uma

    coproduo entre interlocutores e o que distingue o texto falado e o texto escrito a forma

    como se realizam.

    Percebe-se, ento, que tanto a oralidade quanto a escrita nos permitem construir

    textos coesos e coerentes de acordo com as situaes cotidianas em que esto sendo

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    produzidos. Tanto a fala quanto a escrita so interativas, dialgicas, dinmicas e

    negociveis (ANTUNES, 2003, p.45)

    Em se tratando do trabalho de professores em torno da oralidade, Antunes (2003)enumera algumas constataes como: uma quase omisso da fala como objeto de explorao

    no trabalho escolar; um equvoco de se ver a fala como lugar privilegiado para violao das

    regras gramaticais; enfim, uma generalizada falta de oportunidades de se explicitar em sala de

    aula os padres gerais da conversao incluindo o atendimento a padres textuais mais rgidos

    bem como as convenes sociais do falar em pblico.

    Este um quadro que precisa ser mudado, iniciando pelo reconhecimento por parte

    dos professores e repasse aos alunos das noes peculiares ao relacionamento entre oralidade

    e escrita. Como, por exemplo, o fato de, apesar das especificidades que cada uma tem:

    no existem diferenas essenciais entre oralidade e escrita nem, muitomenos, grandes oposies. Uma e outra servem interao verbal, sob aforma de diferentes gneros textuais, na diversidade dialetal e de registro quequalquer uso da linguagem implica. (...) Tanto a fala quanto a escrita podemvariar, podem estar mais planejadas ou menos planejadas, podem estar mais,ou menos, cuidadas em relao norma-padro, podem ser mais ou menosformais, pois ambas so igualmente dependentes de seus contextos de uso.

    (ANTUNES, 2003, p.99)

    A partir do exposto, verificamos, ento, que recai sobre o professor a

    responsabilidade de apresentar aos alunos os diferentes gneros orais e suas peculiaridades;

    mostrar como so diferentes a conversa, a exposio de ideias e o recado, por exemplo; como

    so diferentes os dialetos e regionalismos enquanto marcas culturais que no devem ser

    discriminados; ajudar a desenvolver a competncia de que precisaro quando da produo e

    recepo dos eventos comunicativos, como tambm do domnio das estratgias

    argumentativas tpicas dos discursos orais, as entonaes, o saber escutar, a polidez, levando-os ao uso consciente da linguagem enquanto seres humanos que precisam saber se expressar e

    interpretar se quiserem ter um bom desempenho da interao.

    No que concerne ao trabalho de docentes com a escrita, Antunes (2003) enumerou o

    que ainda se pode constatar nas escolas. Dentre o que se tem: a prtica de uma escrita

    mecnica e perifrica; a prtica de uma escrita artificial e inexpressiva realizada em exerccios

    de fazer listas de palavras e frases soltas; a prtica, enfim, de uma escrita improvisada, sem

    planejamento e sem reviso.

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    Observa-se, dessa forma, que alguns professores no tm trabalhado com a escrita

    como deveriam. A escrita, como a oralidade, servem interao. E escrever desse modo, sem

    finalidade, sem direo, sem ter em vista o outro, no dar linguagem o seu verdadeiro e

    crucial papel.

    Nesse sentido, ao ensinar prticas de oralidade e escrita em turmas do 6 ano, o

    professor deve estar atento ao fato de que cada modalidade apresenta sua funo social em

    determinado contexto comunicativo e que no se justifica mais que as aulas de Lngua

    Portuguesa estejam totalmente voltadas s questes gramaticais, considerando-se que o

    importante no chegar ao texto ideal pelo uso de formas, mas como chegar a um discurso

    significativo adequado s diversas situaes de uso cotidiano. Deste modo, to importante

    quanto ensinar gramtica deve ser ensinar o carter funcional e interacional da lngua, pois ela

    s existe para promover a interao entre as pessoas que dela fazem uso, seja na modalidade

    oral, seja na modalidade escrita.

    3 Retextualizao

    A atividade de retextualizao sobre a qual tratamos neste artigo tem como base os

    estudos feitos por Marcuschi (2005) e envolve as discusses sobre as relaes entre fala e

    escrita, duas modalidades da lngua.

    De acordo com Marcuschi (2005), a retextualizao um processo que envolve

    operaes complexas que interferem tanto no cdigo como no sentido deste e revelam

    aspectos nem sempre compreendidos na relao entre fala e escrita, o que torna as inferncias,

    dependendo do que tem a ser dito, mais ou menos acentuadas nesse processo de passagem da

    fala para a escrita. Ele defende ainda que a retextualizao:

    no trata de propor a passagem de um texto supostamente descontrolado ecatico (o texto falado), para outro controlado e bem formado (textoescrito). [...] o texto falado est em ordem na sua formulao e no geral noapresenta problemas para a sua compreenso. Sua passagem para a escritavai receber interferncias mais ou menos acentuadas a depender do que setem em vista, mas no pode ser a fala insuficientemente organizada.Portanto, a passagem da fala para a escrita no a passagem do caos para aordem: a passagem de uma ordem para outra ordem. (MARCUSCHI,2005, p. 47)

    Sendo assim, necessrio que se compreenda a fala que se quer retextualizar, para

    que dessa forma no haja problemas de sentido durante esse processo, a to falada coerncia.

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    Em seu livro Da fala para a escrita: atividades de retextualizao, Marcuschi

    apresenta um diagrama cujo objetivo mostrar o fluxo do processo de retextualizao. Como

    podemos observar abaixo:

    Diagrama 1. Fluxo das aes

    PRODUO ORAL TRANSCRIO

    RETEXTUALIZAO

    compreenso operaes

    TEXTO TEXTOBASE FINAL

    TEXTO TRANSCODIFICADO

    Esse diagrama explica o

    fluxo que vai da produo oral original texto base at a produo escritatexto final, passando por dois momentos, sendo o primeiro o da simplestranscrio, que designei textotranscodificado, em que ainda no se d umatransformao com base em operaes mais complexas (que o segundomomento chamado de retextualizao). (MARCUSCHI, 2005, p. 72)

    Nesse processo temos como ponto de partida o texto base, que ser o modelo para a

    produo do texto escrito final; o texto transcodificado inclui a compreenso que repercutir

    no texto final; a adaptao nos leva a perda de elementos entre os quais se evidenciam o da

    entonao e da qualidade da voz; e o texto final o produto da escrita aps as operaes deretextualizao.

    Marcuschi (2005) elaborou um modelo para as operaes de retextualizao, o qual

    denominou de modelo das operaes textuais discursivas na passagem do texto oral para o

    texto escrito, onde se pode perceber a passagem do texto base para o texto final definido pelo

    autor como texto alvo, ou seja, onde se pretende chegar com o processo de retextualizao.

    Esse modelo apresentado por Marcuschi (2005) apresenta nove operaes, que o autor diz

    corresponder a uma escala contnua de estratgias desde os fenmenos mais prximos etpicos da fala at os mais especficos da escrita. O ponto de partida pode ser qualquer

    representao sonora adaptaes e perdas

    representao da escrita

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    operao sugerida, j que, segundo o autor, para uma retextualizao bem sucedida, no

    necessrio que se efetivem todas as operaes, assim como tambm no preciso seguir a

    ordem proposta, pois no se trata de um modelo com operaes hierrquicas e sequenciadas,

    embora nada o impea de ocorrer nesse sentido.

    Apresentamos a seguir, de forma resumida as nove operaes propostas por

    Marcuschi (2005). O autor agrupa essas operaes em dois grandes conjuntos, sendo o

    primeiro grupo classificado com operaes que seguem regras de regularizao e

    idealizao. Esse grupo abrange as operaes 1 a 4 e tratam das estratgias de eliminao e

    insero. O segundo grupo classificado pelo autor como operaes que seguem regras de

    transformao. Esse grupo abrange as operaes 5 a 9, que se fundam em estratgias de

    substituio, seleo, reordenao e condensao. Para Marcuschi, esse segundo grupo o

    que de fato caracteriza o processo de retextualizao, pois envolve mudanas mais acentuadas

    no texto base.

    As operaes de regularizao e idealizaoso:

    1. operao: Eliminao de marcas estritamente interacionais, hesitaes e partes de palavras.

    2. operao: Introduo da pontuao com base na intuio fornecida pela entonao das

    falas.

    3. operao: Retirada de repeties, reduplicaes, redundncias, parfrases e pronomesegticos.

    4 operao: introduo da paragrafao e pontuao detalhada sem modificao da ordemdos tpicos discursivos.

    As operaes de transformaoso:

    5 operao: introduo de marcas metalingusticas para referenciao de aes e verbalizaode contextos expressos por diticos.

    6 operao: reconstruo de estruturas truncadas, concordncias, reordenao sinttica,encadeamentos.

    7 operao: tratamento estilstico com seleo de novas estruturas sintticas e novas opeslxicas.

    8 operao: reordenao tpica do texto e reorganizao da sequencia argumentativa.

    9 operao: agrupamento de argumentos condensando as ideias.

    A partir do exposto sugerimos que sejam exploradas nas aulas de lngua portuguesa

    em turmas de 6 ano, atividades voltadas para a retextualizao, que oferecem ao professor a

    possibilidade de trabalhar conjuntamente as duas modalidades da lngua, respeitando as

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    especificidades de cada uma. Atravs da retextualizao possvel abordar as caractersticas

    peculiares oralidade e escrita, alm de possibilitar ao aluno um novo modelo de

    interpretao e reescrita de textos.

    De acordo com o autor, para que possamos trabalhar a retextualizao, necessrio

    dispormos de textos falados autnticos obtidos a partir de gravaes e transcries. Utilizados

    em contextos educativos, o mtodo serve para que seja avaliado o grau de conscincia

    lingustica e o domnio no que concerne ao texto oral e escrito.

    Antes que se iniciem as atividades de retextualizao, primordial que o docente

    introduza em suas aulas esclarecimentos acerca das variaes lingusticas mostrando as

    diferentes maneiras de que o aluno dispe para se expressar tanto usando a modalidade escritada lngua quanto usando a modalidade falada de modo a conscientiz-lo do uso formal ou

    informal em ambas as modalidades. E o que definir a linguagem que ele dever usar ser a

    situao, isto , situaes formais exigiro que ele faa uso da linguagem formal, enquanto

    que, em situaes informais, ele poder usar tambm variedades no formais da lngua.

    Deste modo, o professor, alm de combater o preconceito lingustico, far com que

    as atividades de retextualizao das quais lanar mo a diante, faam sentido para o aluno,

    porque assim, o discente saber que alguns termos e expresses, bem como alguns

    regionalismos que utiliza na fala informal, no devem ser usados na escrita formal, por

    exemplo (salvo quando intencionalmente).

    Vejamos agora, um exemplo de como trabalhar a retextualizao a partir do seguinte

    texto oral3:

    -Boa note. Meu nome epaminonda gustavo.

    Olha... eu tu aqui...eu mandei...mandaru. mandei essa carta mar nunca responderu, n... e euresovi fal mesmo neste... nesta parte deste zap zap.

    Que eu quero que vocs me explique at pelo amur di deus como que funciona isto, que urmeus filho tudo to inceguerado nisto. J num si istuda...j num si trabalha... j num si far marnada. deste tar de zap zap. I zap zap pra c, zap zap pra li. Eu digo mininu tem termo largadisto co...

    3Antes de apresentar a transcrio do texto oral, deve ser apresentado aos alunos, o udio da referida situao defala.

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    Mar num tem jeito... e foto...e cuisa...e uma utra... e utru... e um zinho...que umen, j num vai mar nem pru culgiu. J pidiu tambm um deste...este negcio du zap zap,n...

    Ento eu queria sab at pelo amur di deus com que se faz um... um desencantamentu distuque eu quero tir meus filho deste mal caminhu... t... se vuc tiv alguma cuisa... algumareza... alguma benzedera... alguma prece que seja....de... de... gua... de la sede... de... de...de... gua benta... um sal grusso... qualqu cuisa que me... me tire deste... desse disjuizo destetal de zap zap

    Eu fico aguardando at pelo Amur de deus que vucs me d uma... uma resposta cumo quesem falta...

    Fonte do udio a partir do qual foi feita a transcrio acima:

    http://www.youtube.com/watch?v=FMxoIoUS8oI

    Se pensarmos, por exemplo, nas 1 e 3 operaes do processo de retextualizao

    criado por Marcuschi, que tratam, respectivamente, da eliminao de marcas estritamente

    interacionais, hesitaes e partes de palavras e da retirada de repeties, o professor deve

    mostrar que tais marcas so tpicas da oralidade e devem ser evitadas no texto escrito, de

    maneira que o aluno consiga alcanar, a partir do processo de retextualizao, o seguinte texto

    escrito.

    Verso oral autntica:

    Ento eu queria sab at pelo amur di deus com que se faz um... um desencantamentu distuque eu quero tir meus filho deste mal caminhu... t... se vuc tiv alguma cuisa... algumareza... alguma benzedera... alguma prece que seja....de... de... gua... de la sede... de... de...de... gua benta... um sal grusso... qualqu cuisa que me... metire deste... desse disjuizo destetal de zap zap

    Verso Escrita (Retextualizao):

    __Ento, eu queria saber, pelo amor de Deus, como se faz o desencantamento de meus filhosem relao a este vcio. Se voc tiver algum mtodo como uma reza, uma benzedeira ou atalguma prece com gua benta ou sal grosso, qualquer coisa que me auxilie com essa situao.

    Se abordarmos a 2 das operaes citadas anteriormente, que se refere introduo

    da pontuao com base na intuio fornecida pela entoao4 das falas, poderemos obter o

    seguinte resultado:

    4 necessrio que o professor trabalhe previamente com a turma noes de pontuao para que o aluno consigaperceber, atravs da entoao do texto oral apresentado, onde e qual pontuao deve utilizar.

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    Verso oral autntica:

    I zap zap pra c, zap zap pra li. Eu digo mininu tem termo larga disto co...

    Verso Escrita (Retextualizao):

    __ whatsapp para c, whatsapp para l. Eu digo Menino, tenha termo! Largue disto, co!.

    Ressaltamos que essas so algumas das diversas atividades que o professor de lngua

    portuguesa pode explorar em suas aulas para tratar da relao entre oralidade e escrita, o que

    no impede que o mesmo possa lanar mo de outras alternativas de acordo com os seus

    interesses e necessidades de sua turma. Cabe a ele analisar e avaliar a realidade para definir os

    procedimentos metodolgicos ou pedaggicos adequados realidade por ele vivenciada.

    4 Concluso

    A aprendizagem da linguagem escrita e oral um processo cognitivo que se

    realiza de diferentes maneiras em cada falante. Sendo assim, responsabilidade do professor

    estar atento ao processo de aquisio da escrita, que contnuo, do mesmo modo que dever

    desenvolver os aspectos pertinentes tambm oralidade, no apenas na formalidade de ambas

    as modalidades, mas em todas as outras formas de realizao destas.

    A iniciativa de se verificar a influncia/presena de marcas orais na escrita no

    deve ser tomada exclusivamente em turmas de 6 ano, uma vez que a ocorrncia verificvel

    por todo o ensino fundamental e ainda no ensino mdio. Portanto, espera-se que este trabalho

    seja til no que tange orientao de profissionais de lngua portuguesa como um fio

    norteador ao tratar do domnio, por parte dos alunos, da linguagem oral e da linguagem

    escrita, sejam elas formais ou informais, contribuindo assim, para a formao de leitores e

    escritores competentes que consigam atingir intimidade com o texto atribuindo-lhe sentido e,

    consequentemente, interagindo com o outro.

    Referncias bibliogrficas:

    ANTUNES, Irand.Aula de portugus: encontro & interao.So Paulo: Parbola editorial,2003.

    KOCH & ELIAS, Ingedore Villaa. Vanda Maria. Ler e escrever: estratgias de produotextual.2 edio. So Paulo: Contexto, 2010.

    MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualizao. 4edio. So Paulo: Cortez, 2005.