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152
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA: UM ESTUDO DE CASO DO BANCO DO BRASIL DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE IVO JOEL BORATTI Rio de Janeiro 2002

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO

TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO EM UMA INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA: UM ESTUDO DE CASO DO BANCO DO BRASIL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

IVO JOEL BORATTI

Rio de Janeiro 2002

E

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRA TO EXECUTIVO

TíTULO TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO EM

UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA: UM ESTUDO DE CASO DO BANCO DO BRASIL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENDADA POR:

Ivo Joel Boratti

APROVADO EM 2i-'MJ)()f),2 PELA COMISSÃO EXAMINADORA

Doutor Engenharia da Produção

IS

INTELA CURY Doutor em Eng nharia da Produção

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRA TO EXECUTIVO

TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA:

UM ESTUDO DE CASO DO BANCO DO BRASIL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

IVO JOEL BORATTI

Rio de Janeiro 2002

lU

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, preciso registrar o apoio incondicional dos meus familiares. Não fosse o

incentivo e a compreensão da minha esposa Rejane e das minhas filhas Juliana e

Larissa, talvez eu não tivesse concluído este mestrado. Grande parte desta conquista se

deve a elas. Que eu possa, oportunamente, recompensá-las pelo sacrificio imposto ao

nosso lazer e convívio e familiar.

Devo, também, registrar meus agradecimentos ao Banco do Brasil, instituição onde

trabalho há 22 anos e que me oportunizou, até este momento, um grande crescimento

pessoal e profissional, além da importante sustentação econômica. Quanto ao tema desta

dissertação, posso dizer que o banco tem sido a minha grande escola, eis que me

possibilita o real exercício da Análise de Crédito. Através da negociação diária com

clientes, estudos de dossiês que contemplam a essência dos conteúdos aqui

apresentados, discussões em comitês de crédito de agências e atuação como instrutor do

curso "Análise Financeira e de Crédito", me é oferecida a oportunidade para perceber a

importância e as necessidades intrínsecas do assunto.

Além desta relação com o tema, agradeço também ao banco pela ajuda financeira a

mim dispensada, através do financiamento de 65% do custo deste curso.

Neste momento, não poderia esquecer de outras pessoas que, da mesma forma, foram

decisivas para a conclusão deste trabalho. Embora muitos colegas do curso, de formas

diversas, tenham me auxiliado, preciso registrar a ajuda incondicional do Fernando

Ben, que, em todos os momentos, me incentivou a ir adiante nesta desafiadora

empreitada.

Não posso esquecer, também, dos colegas do Banco que me forneceram dados,

responderam pesquisas ou que me receberam pessoalmente e foram solícitos em relação

às minhas dúvidas e questionamentos. Quanto a eles, faço um registro especial sobre o

grau de profissionalismo demonstrado. Sempre observando os limites impostos pelas

normas baixadas pela instituição, em nenhum momento se furtaram a partilhar seus

conhecimentos. Mesmo correndo o risco de deixar alguém fora, agradeço de forma

IV

especial ao Marco Túlio de Oliveira Mendonça, ao Carlos Renato Bonetti e ao

Guilherme Altomar, todos da Central de Crédito de Brasília (DF), assim como agradeço

ao José Luiz Mansano e toda sua equipe, estes da Divisão de Crédito de Curitiba (PR).

Por derradeiro, o meu agradecimento maior aos professores José Cezar Castanhar, José

Carlos Franco de Abreu Filho, Istvan Karoly Kasznar e Marcus Vinicius Quintela Cury,

pela orientação e incentivo que me emprestaram. Não fosse a capacidade técnica e

humana dos mesmos, talvez eu tivesse desistido no meio do caminho.

Muito Obrigado a todos.

Ivo Joel Boratti

v

SUMÁRIO

INTRODUÇAO ........................................................................... 1 1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ............................................. 4

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .................................................... 4 1.2 OBJETIVOS ................................................................................... 5

1.2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 5 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .....................................•................................. 5

1.3 JUSTIFICA TIV A ........................................................................... 6 -2 REVISAO DE LITERATURA .............................................. 9 2.1 A MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES ....................................... 9 2.2 A TRANSFORMAÇÃO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ......................................................................... 13

2.2.1 AS TRANSFORMAÇÕES NA TOMADA DE DECISÃO ..................... 13 2.2.2 O PLANEJAMENTO DA DECISÃO ...•..•.....................•....•.............•....... 16 2.2.3 A DECISÃO COM BASE NAS INFORMAÇÕES ................................. 19 2.2.4 A GERAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA DECISÃO ......................... 24

2.3 O PROCESSO DE DECISÃO DE CRÉDITO NA INSTITUIÇÃq FINAN~EIRA .......................................................... 26

2.3.1 A FUNÇAO DO CREDITO .•..................................................................... 27 2.3.2 O CRÉDITO COMO NEGÓCIO ............................................................ 28 2.3.3 RISCO DO CLIENTE OU RISCO INTRÍNSECO ................................ 28 , , 2.3.4 A POLITICA DE CREDITO ••••.•..........•.........•..........•...•..........•............... 29 2.3.5 CULTURA DE CREDITO ........................................................................ 31 , ,

2.4 A ANALISE DE CREDITO ........................................................ 32 2.4.1 MODELOS DE ANÁLISE DO RISCO DE CRÉDITO .......................... 34 2.4.1.1 CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS .•...•.......•...•.....••.••...••....••...•..•....•..... 34

2.5 RELEVÂNCIA DOS MODELOS DE RISCO DE CRÉDITO PARA O TOMADOR DE DECISÕES .............................................. 37

2.5.1 ALGUNS MODELOS DE ANÁLISE DE RISCO ................................... 38 2.5.2 ALGUNS ESTUDOS EMPÍRICOS REALIZADOS NO EXTERIOR. 39 2.5.2.1 ESTUDOS DE PATRICK .•...•...•.........•.........•..•..............••...••.........•...•..•...•...•. 39

2.5.2.2 ESTUDOS DE WINAKOR SMITH ................................................................ 39

2.5.2.3 ESTUDOS DE T AMARI •..••.•...•••........•...••.•....•.•..••..•...•..••...••••....•..••..••.......... 40

2.5.2.4 ESTUDOS DE ALTMAN ....•......................••....•...........•..•.•................•..•......... 40

2.5.2.4.1 O Modelo Score-Z .....•.•...............•.....•........•..•.•••...•.....••................ 40 2.5.2.4.2 O Modelo de Risco de Crédito Zeta ............................................ 42

2.5.2.5 ESTUDOS DE LETÍCIA E. TOPA .•....•...••..•..•.........••..••........••...........••.•....... 44

2.5.3 ALGUNS ESTUDOS EMPÍRICOS REALIZADOS NO BRASIL ....... 45 2.5.3.1 ESTUDOS DE STEPHEN C. KANITZ .......................................................... 46

2.5.3.2 ESTUDOS DE ALTMAN .......................•........................................................ 47

2.5.3.3 ESTUDOS DE ISTV AN ................................................................................... 47

2.5.3.4 ESTUDOS DE ALBERTO MATIAS .............................................................. 50

2.5.3.5 ESTUDOS DE JOSÉ PEREIRA DA SILV A .•...............•..••....................•....... 51

VI

2.5.4 MODELOS COMO AVALIAÇÃO DE CRÉDITO ................................ 53 2.5.5 NECESSIDADE DE ANÁLISE COMPLEMENTAR ............................ 54

2.6 NOVAS ABORDAGENS DE ANÁLISE DO RISCO DE , CREDITO ........................................................................................... 55

2.6.1 MODELO KMV .•.........•.•.........•.....•.........•.•.......•..•...•..•....•......•.•....••.••...... 55 2.6.2 O SISTEMA DE TOMADA DE DECISÃO ATRAVÉS DAS REDES NE URAIS ..••..•..............................•..............•........•...............•....•..•..............•...•..... 59 , 2.6.3 A LOGICA FUZZY .................................................................................... 64 2.6.3.1 O CASO DO SISTEMA ASK •..••...••....•••••.••...•..•.••..•....•••.••....•..•.••...•..••..•....... 65

2.6.3.2 O CASO DA BMW BANK ....•......•......•.•.•......•........................•.•....•..••...•........ 68

2.6.4 TOMADA DE DECISÃO, RISCO E A NEURO-FUZZY ..........•...•....... 71

3 METODOLOGIA ................................................................. 75 3.1 TIPO DE PESQUISA .................................................................. 75 3.2 PLANO DE COLETA DE DADOS ............................................ 75 , 3.3 ANALISE DE DADOS ................................................................. 76 -3.4 POPULAÇA O IJNIVERSO ......................................................... 76 3.5 AMOSTRA ................................................................................... 77 3.6 LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS ......................................... 77

4 TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO NO BANCO DO BRASIL PARA PESSOAS JURÍDICAS DO SETOR MOVELEIRO ............................................................. 78

4.1 A ESTRUTURA HIERÁRQUICA DO PROCESSO , DECISORIO ....................................................................................... 78

4.1.1 DOCUMENTAÇÃO SOLICITADA PARA ANÁLISE - ( A) ......•..•..... 80 4.1.2 O RELATÓRIO DE VISITAS - ( B ) ...................................................... 81 4.1.3 COLETA DE INFORMAÇÕES EFETUADA PELA AGÊNCIA - ( B ) .........................................................................•...................................................... 81 4.1.4 CONFECÇÃO DAS FICHAS CADASTRAIS - (B ) ............................. 82 4.1.5 MANIFESTAÇÃO DO COMITÊ DE CRÉDITO DA AGÊNCIA - ( C) ••.•••••••.•.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 82 4.1.6 O TRABALHO DA DIVISÃO DE CRÉDITO ........................................ 83 4.1.6.1 RECEPÇÃO DO DOSSIÊ PELA DIVISÃO DE CRÉDITO - ( D ) ...•......... 85

4.1.6.2 O ANALISTA DE CRÉDITO ••...••...........••...•.....•.......•...••..................•.....•...... 85

4.1.6.3 O TRABALHO DO ANALISTA - ( E 1,2,3 ) ................................................. 86

4.2 ASPECTOS EXTERNOS DO MODELO DE CRÉDITO ADOTADO PELO BANCO DO BRASIL ......................................... 88

4.2.1 AN;\LISE QUANTITATIVA OU TÉCNICA ......................................... 89 4.2.2 ANALISE QUALITATIV A •...••••••.....•.••...••••••....••.•....•••••...•.••.•.....•.•..•••..•.• 91 4.2.3 A ,PONTUAÇÃO FINAL DO MODELO E A DEFINIÇÃO DO RISCO DE CREDITO DO CLIENTE .....•............•.......................•......•.•.•.....•..........•...... 92

4.3 POSICIONAMENTO DO ANALISTA ...................................... 95 4.4 ASPECTOS INTERNOS DO MODELO DE ANÁLISE DE CRÉDITO DO BANCO DO BRASIL ............................................... 98

4.4.1 DESENVOLVIMENTO DA PARTE QUANTITATIVA DO MODELO ••••.••••••.•••••••••••••.••••••.••••••.•••••••••.••••••.•••••••••••••••••••••••••••••••••.••.••••••.••••••..••••••••..••••••••• 99

Vll

4.4.2 DESENVOLVIMENTO DA PARTE QUALITATIVA DO MODELO .............................................................................................................................. 107 4.4.2.1 CARÁTER ...................................................................................................... 109

4.4.2.2 CAPACIDADE ............................................................................................... 111

4.4.2.3 CONDIÇÕES .................................................................................................. 114

4.4.2.4 DEFINIÇÃO DA PONTUAÇÃO DA PARTE QUALITATIVA DO

MODELO .................................................................................................................... 116

4.4.3 PONTUAÇÃO FINAL E DEFINIÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO ... 118 4.5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS RESULTADOS PRÁTICOS OBTIDOS PELO BANCO DO BRASIL E OS RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DO MODELO DE ANÁLISE DE CRÉDITO AQUI DESENVOLVIDO .................... 120

4.5.1 PONTOS CRÍTICOS DA ANÁLISE DE CRÉDITO PRATICADA PELO BANCO DO BRSASIL ........................................................................... 123

4.6 A FORMA DA DECISÃO NO BANCO DO BRASIL ............. 127 4.7 A LÓGICA NEURAL, FUZZY E NEURO-FUZZY NO BANCO DO BRASIL ...................................................................................... 128

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. 132 BIBLIOGRAFIA ..................................................................... 135

Vll1

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1: Composição do Grupo de Pesquisa .................................................. .

Quadro 4.1: Medianas de índices econômico-financeiros da indústria moveI eira nacional, por faixa de risco ..................................................................................... .

Quadro 4.2: Exemplo de Régua Discriminante do Risco das empresas .............. .

Quadro 4.3: Medianas dos Percentuais Utilizados pelo Banco do Brasil para Calcular os Limites de Crédito a partir da Receita Operacional Líquida (ROL) e do Patrimônio Líquido (PL) das Empresas, por Nível de Risco ............................. .

Quadro 4.4: Limites Calculados e Deferidos para empresas do Rio Grande do Sul, no Período Set/2000 a Ago/200 1, em R$ mil... ............................................... .

Quadro 4.5: Variáveis Independentes Utilizadas no Desenvolvimento do Modelo de Análise de Crédito ................................................................................ .

Quadro 4.6: Distribuição Percentual dos Graus de Risco Calculados pelo Banco do Brasil, por Porte de Empresa ............................................................................. .

Quadro 4.7: Valores Mínimos e Máximos das Variáveis Independentes ............. .

Quadro 4.8: Resultado da Função Discriminante Dl, Aplicada a uma Empresa Hipotética ................................................................................................................ .

Quadro 4.9: Itens a serem Observados na Avaliação do Fator Caráter da Empresa .................................................................................................................. .

Quadro 4.10: Pontuação a ser Observada na Avaliação de Risco do Fator Caráter .................................................................................................................... .

Quadro 4.11: Definição do Nível de Risco do Fator Caráter de uma Indústria Moveleira Hipotética .............................................................................................. .

Quadro 4.12: Itens a serem Observados na Avaliação do Fator Capacidade da Empresa .................................................................................................................. .

Quadro 4.13: Pontuação a ser Observada na Avaliação de Risco do Fator Capacidade ............................................................................................................. .

Quadro 4.14: Definição do Nível de Risco do Fator Capacidade de uma Indústria Moveleira Hipotética ............................................................................... .

Quadro 4.15: Itens a serem Observados na Avaliação do Fator Condições da Empresa .................................................................................................................. .

Quadro 4.16: Pontuação a ser Observada na Avaliação de Risco do Fator Condições ............................................................................................................... .

48

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115

IX

Quadro 4.17: Definição do Nível de Risco do Fator Condições de uma Indústria Moveleira Hipotética............................................................................................... 116

Quadro 4.18: Pontuação Qualitativa Atribuída a uma Empresa Hipotética........... 118

Quadro 4.19: Comparação entre os riscos de crédito definidos pelo Banco do Brasil e aqueles estabelecidos pelo modelo de análise desenvolvido neste trabalho............................... ......... .... ....... ..... ........... ................ ..... ..... ........ ... ..... ....... 121

x

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1: Capital como Opção de Compra sobre uma Empresa ....................... . 57

Gráfico 2.2: Cálculo da Freqüência Esperada de Inadimplência de uma 59 Determinada Empresa .............................................................................................. .

Gráfico 4.1: Percentuais da ROL e do PL, por nível de risco, utilizados pelo 94 Banco do Brasil para calcular o limite de crédito das empresas .............................. .

Gráfico 4.2: Limites de crédito deferidos para empresas do RS no período de 96 Set/2000 a Ago/2001 (valores em R$ mil) .............................................................. .

Xl

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Os Níveis Hierárquicos......................................................................... 14

Figura 2.2: Variáveis do Processo Decisório........................................................... 15

Figura 2.3: Tipos de Decisão................................ ..................................... ... ........... 17

Figura 2.4: Bases da Tomada de Decisão................................................................ 18

Figura 2.5: Importância da Informação................................................................... 20

Figura 2.6: Modelo de Fluxos de Informação em uma Empresa............................. 22

Figura 2.7: Exemplo de escala de classificação de risco, tendo como base as 53 funções "2" de Silva ................................................................................................ .

Figura 2.8: Exemplo de uma Rede Neural Simples................................................. 62

Figura 2.9: Modelo de Decisão Hierárquico........................................................... 66

Figura 2.10: Avaliação do Risco de Leasing para Clientes Privados...................... 69

Figura 2.11: Avaliação do Risco de Leasing para Clientes Corporativos............... 70

Figura 4.1: Estrutura do Processo Decisório........................................................... 79

Figura 4.2: Aspectos Considerados na constituição dos Modelos de Análise de 99 Crédito utilizados pelo Banco do Brasi1. ................................................................. .

XIl

RESUMO

Há uma intensa transfonnação nas empresas, exigindo uma efetividade maior em

seus processos. Neste contexto repleto de incertezas, tem grande importância a

tomada de decisão. O processo decisório de uma organização é o reflexo de como ela

interage com seu ambiente (Simon,1965).

A Tomada de Decisão se toma muito importante para a organização, passando por

diversas variáveis na constituição de um modelo decisório. Esta pesquisa tem como

objetivo o estudo dos modelos adotados por uma instituição financeira, que refletem

sua fonna de decidir. A escolha deste tema justifica-se pela importância que o

mesmo representa para as organizações financeiras e pela necessidade de melhorar a

efetividade decisória.

A empresa estudada é o Banco do Brasil, através de uma análise do processo de

crédito dos clientes "pessoas jurídicas", onde se procura descrever a fonna como as

decisões são tomadas. Há uma descrição da hierarquia do processo decisório,

juntamente com os modelos de análise do risco de crédito como fatores

preponderantes no sucesso do negócio crédito.

No capítulo Metodologia, é caracterizada a empresa, a situação problema e o tema de

estudo. No referencial teórico, foi feita uma análise do processo decisório, onde são

analisados os modelos de análise do risco de crédito e a formação de sistemas de

apoio à decisão nas instituições financeiras.

Os resultados do estudo proposto, respondem o problema da pesqUIsa, onde é

analisada, com aplicação de pesquisa documental e observação empírica, a empresa

pesquisada. Através desta pesquisa, observou-se uma organização com modelo

decisório extremamente planejado, porém não utilizando ainda as práticas modernas

de tomada de decisão com relação ao crédito. A conclusão deste trabalho, além de

trazer várias observações em tomo do tema analisado, também faz algumas sugestões

à empresa pesquisada.

Xlll

ABSTRACT

There has been an intense transformation at compames, demanding in tum, more

effectiveness on their processes. In this envirorunent full of uncertainties, decision­

making is very important. "The decision-making process of a company shows how it

interacts with its environment" (Simon, 1965).

The decision-making tums out to be very important, passing through severa) variabIes

for decision model constitution. This research aims the study of the models adopted by

a financiaI institution that end up reflecting its way of decision. The choice of this

subject justifies itself not onIy by the importance that it represents to the financiaI

institutions, but also by the constant improvement necessity of decision

effectiveness.

The institution under study is Banco do Brasil SI A, through a credit process anaIysis of

Corporative Clients, showing how the decisions are made. There is a description of the

decision-making process hierarchy along with credit risk models analysis, as being

prevailing factors for the credit business success.

In the Methodology chapter are characterized the institution and the study case.

Regarding to theoretical references, an anaIysis of the decision-making process has been

done, with study of credit risk models, as well as the formation of supporting systems

for decision-making on financiaI institutions.

The results of the study case answer the questions proposed, against documental

analysis and empirical observation of the institution under study. Throughout this

research, it has been observed an institution with a decision-making model extremely

planned, nevertheless not using as yet the most modem methods of decision-making,

conceming to credit risk assessment.

The conclusions of this research besides resulting in several remarks about the study

case, also contribute with some suggestions to the institution analyzed.

INTRODUÇÃO

o processo decisório das organizações vem se tomando cada vez mais recheado de

informações, que estão relacionadas à dinamicidade das atividades. Há uma busca cada

vez maior pela eficiência do resultado da ação da decisão.

o aumento da concorrência nas instituições financeiras exige processos mais eficientes,

que atendam a expectativa do ambiente externo e ao mesmo tempo demonstrem

efetividade na apuração dos resultados da organização. É necessário que se alie ao bom

serviço prestado, o resultado financeiro da Instituição.

As instituições financeiras precisam identificar as oportunidades e ameaças do ambiente

externo, pois o mercado fica cada vez mais exigente, havendo um aumento geral da

eficiência das organizações.

Para que uma organização inserida neste ambiente competitivo se destaque, é necessário

que acompanhe a mudança tecnológica, constituindo uma estrutura interna adequada à

realidade de seu mercado.

Existe uma mudança na forma de decidir nas instituições bancárias, com uma

transformação nos modelos decisórios. Estes modelos são extremamente planejados,

passando de uma análise determinística para uma abordagem probabilística.

A tomada de decisão começa a ser estruturada por um planejamento, através do uso das

informações apuradas por sistemas de apoio à decisão. O negócio do crédito começa a

transformar seus modelos, que vêm sendo incorporados por sistemas, com o objetivo de

agilizar a atividade do decisor na organização.

As formas de classificação de clientes, através do uso de modelos que os classificam em

faixas, é de extrema importância nos processos de análise de crédito nas instituições. A

teoria da Análise Discriminante Múltipla de Altman (1968), continua sendo base no

processo decisório do crédito, porém existem hoje teorias capazes de assimilar os

modelos de análise de crédito de forma quantitativa e qualitativa, otimizando o

processo decisório.

2

A decisão, no contexto da análise do risco de crédito, passa a ser estruturada através do

apoio de sistemas de informação à decisão. São os chamados sistemas neurais, capazes

de incorporar as ações decisórias, otimizando o tempo e os resultados da ação da

decisão.

Os sistemas de apoio à decisão, constituídos através das redes neurais, começam a

utilizar a chamada Lógica-Fuzzy, incorporando a ferramenta computacional na prática

diária do decisor.

o tema central deste trabalho é o estudo da tomada de decisão com relação ao crédito

em uma instituição financeira, relacionando os diversos modelos de análise até hoje

utilizados. O Referencial Teórico estuda as tendências no processo decisório,

analisando a estrutura decisória na concessão do crédito no Banco do Brasil, no

segmento estabelecido pelos objetivos da dissertação.

O trabalho é dividido em cinco seções: definição do problema, revisão de literatura,

metodologia, estudo do caso Banco do Brasil e conclusão.

A definição do problema traz a situação problema, os objetivos e a justificativa do

presente estudo.

A revisão de literatura apresenta, a partir da análise de alguns autores, o estudo da

forma da tomada de decisão e sua estruturação. É realizado um estudo do processo

decisório, contemplando-se modelos para análise do crédito, até se chegar nas formas

mais modernas de estruturação das informações para decisão dessa área, através,

inclusive, das chamadas teorias Neuro-Fuzzy.

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa está disposta em um capítulo,

onde se menciona o tipo de pesquisa, o plano de coleta de dados, a análise de dados, a

população-universo, a amostra e limitações metodológicas do estudo.

Os resultados práticos do estudo estão baseados no referencial teórico constituído,

onde é mostrado o modelo da hierarquia decisória, modelos de análise de crédito e

3

características de teorias decisórias do crédito, que estão ou não presentes no Banco

do Brasil.

Por fim, a conclusão apresenta algumas contribuições do estudo e o levantamento de

questões que podem servir de parâmetro para futuros estudos nesta área.

4

1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

o presente estudo busca analisar, e entender, o processo através do qual as instituições

financeiras tomam decisões com o objetivo de conceder ou negar crédito a seus clientes.

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Uma organização possui um sistema próprio de decisão, influenciado pelas variáveis

estabelecidas em seus mercados. Através de sua estrutura pré-definida, se compõe um

modelo de decisão influenciado por variáveis qualitativas e quantitativas.

o processo de decisão está sob uma estrutura organizacional, baseada numa estratégia,

planejamento e controle, sendo realizado através de um sistema de informação. Este

sistema passará a delinear um modelo decisório, que se tomará base para a decisão do

gestor (Bio, 1985).

Na gestão financeira dos bancos comerciais existe uma complexidade e uma pressão

pela análise direta de valores, que favorecem ou prejudicam a instituição de forma

instantânea. São analisados os fluxos monetários derivados das atividades exercidas,

evidenciando o sucesso ou insucesso das operações de crédito. Quando os valores são

significativos, a decisão não é exclusiva de um gestor, mas de um grupo de pessoas que

analisa a concessão do crédito, dividindo a responsabilidade da decisão (Gitman, 1978).

As pessoas que decidem estão preocupadas em maximizar a receita da instituição onde

trabalham, através de decisões corretas, que podem ser verificadas com a análise de

suas atividades operacionais.

Por um determinado período, as instituições financeiras utilizaram modelos de análise

extremamente quantitativos para tomada de decisão em relação ao crédito,

5

desconsiderando boa parte das informações qualitativas sobre o cliente, hoje tão

importantes para a tomada de uma boa decisão.

A preocupação com a maximização da receita, conduziu as instituições financeiras a

uma visão determinística, fazendo com que clientes potenciais fossem até mesmo

ignorados.

No Banco do Brasil ocorreu uma grande reformulação na forma como se tomam as

decisões com relação ao crédito, influenciada, até mesmo, pela mudança havida na

estrutura das instituições bancárias. Surge, assim, o problema da presente pesquisa: de

que forma são tomadas as decisões com relação ao crédito no Banco do Brasil?

1.2 OBJETIVOS

o objetivo geral e os objetivos específicos, a seguir enunciados, buscam delimitar o

tema central do presente estudo.

1.2.1 OBJETIVO GERAL

- Analisar a forma como são tomadas as decisões para concessão de crédito

no Banco do Brasil, levando-se em conta alguns modelos de apoio à decisão, utilizados

pelas instituições financeiras no Brasil e no exterior.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Verificar a transformação que ocorre no processo de decisão com relação

ao crédito no Banco do Brasil;

6

- Descrever as informações utilizadas para concessão de crédito às indústrias

moveI eiras no Banco do Brasil;

- Estudar os cenários utilizados para concessão de crédito à indústria

moveI eira e seus reflexos na tomada de decisão no Banco do Brasil.

1.3 JUSTIFICA TIV A

Ocorre uma mudança cada vez maIor no ambiente das organizações empresanalS,

havendo a produção de novos bens e serviços. Existe uma movimentação dos setores

econômicos e sociais que está mudando as características das organizações

(Drucker, 1999).

A diversidade de estruturas organizacionais, faz com que uma pessoa não consiga tomar

decisões sozinha. Isto envolve um grupo de pessoas que é influenciado pelas regras,

políticas e modelos da organização. A forma como as decisões são tomadas afetam

diretamente as organizações. Há, portanto, por de trás da decisão, uma repercussão de

eficiência no processo, que ao mesmo tempo conduz à ganhos ou perdas (Bretãs

Pereira, 1997).

As empresas tomaram-se mais complexas, sendo facilmente fragmentáveis e tomando o

meio empresarial cada vez mais dinâmico e competitivo. Isto exige que as decisões

sejam tomadas rapidamente, sob a pressão das oportunidades, mas de forma a expor a

organização ao mínimo possível de risco (Motta, 1994).

Os administradores precisam decidir com rapidez e cautela, conduzindo a organização

ao desenvolvimento através da conquista de mais clientes, superando a concorrência e

diminuindo os custos nas operações. Em mercados ágeis, é essencial a rapidez na

tomada de decisão, alcançando resultados satisfatórios. Para aumentar a eficiência é

preciso também aumentar as perguntas e as respostas, refletidas no escopo das

decisões.

7

Na administração financeira, a captação, aplicação e distribuição dos recursos

financeiros, são aspectos que determinam a eficiência da organização. A instituição

financeira opera de acordo com os objetivos e metas, trazendo segurança e credibilidade

em compromissos que assume perante terceiros. É um negócio que envolve a captação

de recursos de terceiros e analise de suas aplicações, devendo manter-se atualizada nas

atividades de crédito que exercita.

o ambiente atual das instituições financeiras toma-se cada vez mais complexo, visto os

cenários apresentados. Existe um declínio das vendas, expansão de algumas

organizações e ao mesmo tempo uma forte retração de outras. Observa-se, também, um

acirramento da concorrência, alterações freqüentes na política governamental dos países

e aumento na inadimplência.

Para conseguIr monitorar as empresas com o objetivo de diminuir o fiSCO, uma

instituição financeira precisa analisar aspectos relativos a estrutura de seus clientes. É

preciso verificar se as empresas às quais a instituição irá conceder crédito possuem um

planejamento financeiro detalhado, verificando o lucro das mesmas, seu faturamento,

custo fixo e variável, liquidez, endividamento do patrimônio, rentabilidade de produtos

e operações, entre outros aspectos. Observando as ações e resultados de seus clientes, as

instituições financeiras podem verificar se os tomadores de crédito estão obtendo

sucesso no que planejaram, gerando uma organização com mais liquidez (Gitman,

1987).

A globalização fez aumentar as responsabilidades das instituições financeiras, pOIS

existem agora diferentes câmbios para serem administrados, tendo, um mesmo produto,

diferentes valores em diferentes países. Aumenta a complexidade na tomada de

decisão, pois a ineficiência é conhecida de maneira rápida, sendo que seus reflexos vão

atingir diretamente os valores monetários da organização.

Admitida a complexidade existente no ambiente das organizações financeiras, em

especial no que se refere à tomada de decisão com relação ao crédito, esta dissertação

8

pretende contribuir para com o desenvolvimento do estudo desta área. Através da

pesquisa da instituição financeira Banco do Brasil, pretende-se estudar como são

aplicados os modelos tradicionais de análise, bem como se pretende verificar o nível de

utilização das novas teorias, a saber, Redes Neurais, Lógica Fuzzy e Neuro-fuzzy.

9

2 REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo analisará a mudança nas organizações, a transformação na estrutura

organizacional com relação a decisão, o processo de decisão do crédito nas instituições

financeiras, a relevância dos modelos de risco de crédito para o tomador de decisões e

as novas abordagens de análise de risco do crédito que começam a ser experimentadas.

2.1 A MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES

A mudança organizacional se toma uma constante nas organizações modernas, sendo

fator de sohrevivência e de adequação aos novos princípios da administração. Há uma

necessidade de compreensão e assimilação das informações num tempo cada vez mais

reduzido, sendo fator determinante para o futuro (Ulrich, 1998).

Ulrich (1998) conceitua mudança como a capacidade da organização de melhorar a

concepção e implementação de iniciativas e de reduzir o tempo de ciclo de todas as

atividades organizacionais.

Urna organização precisa estar sintonizada com o processo de mudança, identificando

seus agentes. Isto ocorre quando a empresa consegue visualizar o ambiente e o espaço

que ocupa. Através de uma visão chamada "sistêmica-organizacional", é posslvel

estabelecer esta relação de harmonia.

Na Visão sistêmica, há um processo de flexibilização, onde o princípio é a adaptação da

estrutura organizacional, verificando se a mesma está de acordo com seu ambiente

interno e externo. Considera-se o sistema social, político e econômico, fazendo relação

com os aspectos internos da organização.

A Idéia de Ulrich (1998), da agilização das iniciativas com relação a mudança, toma-se

efetiva quando a organização começa a obter a visão de seu ambiente. Desta forma, a

10

estrutura se altera de acordo com as mudanças, não permanecendo uma visão interna

extremamente estática, capaz de isolar a organização.

A organização que só adapta sua estrutura organizacional quando percebe ineficiências

quanto à sua estratégia, processos ou planejamentos, está presa a uma estrutura estática.

Esta empresa enxerga através dos problemas que surgem, só conseguindo visualizar, em

sua maior parte, as conseqüências, perdendo a visão do agente causador.

A visão sistêmica é pré-requisito para o processo de adaptação de forma adequada à

mudança, mas deve estar aliada à visão da organização e seus objetivos. A empresa

precisa visualizar as oportunidades, mas tomar para si o que lhe é importante. Nesta

relação, destaca-se a chamada Visão Contingencial (Motta, 1994).

A Visão Contingencial permite uma ampliação da visão organizacional, onde percebe­

se a dependência da organização e os fatores ambientais que a influenciam. A definição

da estrutura organizacional toma-se algo mais dinâmico, pois não existe maneira correta

de organizar uma empresa, mas uma visão de estrutura adaptativa (Argyris, 1992).

Com o passar do tempo vai se intensificando a sensação de insegurança, pois é difícil

para uma organização adaptar sua estrutura organizacional de acordo com seu ambiente,

já que ele vem se tomando cada vez mais instável. O que acontecerá com a tecnologia,

sociologia, valores sociais, movimentos populacionais, ninguém poderá prever. Se algo

pode ser considerado certo, é que os desafios irão convocar a capacidade coletiva para

melhor compreendê-los, onde o repensar das organizações, se conduzido desta forma,

será menos turbulento (Senge, 1999).

O ambiente instável das organizações traz aos gestores mais desafios, havendo maiores

esforços para compreender o ambiente de mudanças. Existe uma busca por modelos

que conduzam a respostas rápidas, que consigam acompanhar a evolução social,

política, econômica, e tecnológica (Oliveira, 1995).

11

A presença de desafios é cada vez maIor no contexto das organizações atuais,

ampliando-se os esforços para compreender as mudanças ocorridas no ambiente. Na

medida em que aumenta a turbulência, cresce a necessidade de flexibilização,

despertando um interesse maior das instituições para compreender as transformações.

Os desafios apresentados às organizações, podem se constituir em excelentes

oportunidades, que, se bem compreendidas e aproveitadas, representam vantagens em

relação à concorrência. Estas oportunidades nem sempre são facilmente percebidas pela

organização. O certo é que ocorrem em situações variadas e até mesmo de formas

imprevistas.

As organizações estão com dificuldades para compreender estas mudanças e analisá-las

de forma adequada, através de uma leitura que identifique oportunidades de

crescimento. Para compreender melhor a mudança, Oliveira (1995) classifica três

maneiras de lidar com a complexidade instalada. Trata-se da mudança linear, caótica e

abrupta.

A mudança linear é gradual, evolucionária ou progreSSIva. Esta pode ser melhor

percebida ao se estudar detalhadamente as alterações de uma organização ao longo do

tempo, pois costuma representar ajustes ou correções de gestores diante das pressões do

dia-a-dia.

A mudança caótica costuma alterar radicalmente o modo operante de uma empresa, uma

vez que pressupõe a revisão dos objetivos e a adoção de novas estratégias

organizacionais. Esta , tende a ser menos freqüente e toma-se maIS comum em

ambientes turbulentos e competitivos. Existe uma certa suposição de que a mudança

caótica compreende um tipo de mudança difícil de ser prevista ou planejada, sendo de

pouco controle gerencial dos seus agentes. Caracteriza-se, assim, por movimentos

decorrentes de práticas ou ações diferenciadas, sem qualquer tipo de padrão de

comportamento previamente identificado.

O tipo de mudança abrupta, ocorre a partir de circunstâncias especiais ou de fatos

esporádicos advindos, por exemplo, de uma inovação de produto ou de processo, de

uma nova legislação, ou mesmo da entrada de novas lideranças ou governantes. Neste

12

caso, a possibilidade de previsão é restrita, pois a mudança tende a estar diretamente

relacionada a um acontecimento totalmente novo ou inusitado, à descoberta de uma

nova tecnologia ou de uma nova tendência no mercado. Esta forma de mudança também

costuma impulsionar alterações radicais no rumo dos negócios.

Para entender cada uma dessas mudanças, é necessário obter uma estrutura

organizacional que consiga lidar com este ambiente mutante. Desta forma, haverá uma

transformação nos principais processos de uma organização, buscando a melhoria

contínua.

É precIso estruturar através de alternativas inovadoras, recriando, dividindo e

suprimindo setores, departamentos ou unidades de negócio. É necessário identificar os

agentes que geram mudança, além de eliminar conflitos presentes na estrutura

organizacional e redefinir funções (Motta, 1994).

A possibilidade de ignorar a mudança, fingindo não enxergar as transformações que

ocorrem no ambiente, é atitude de organizações não comprometidas. Estas empresas

estão escondidas numa forma de alienação, onde a não-decisão as isenta das

conseqüências, pois ficar isolado causa uma sensação momentânea de conforto

(Morgan, 1996).

Uma organização isolada, certamente irá conVIVer com a solidão do não

compartilhamento de fatos novos, significando um comportamento regressivo e

destruidor. Este tipo de comportamento conduz a organização a uma estrutura

organizacional ineficiente.

Administrar um negócio, no ambiente de incertezas e mudanças extremamente rápidas

em que vivemos, é o maior desafio dos gestores. Para sobreviver com sucesso, as

organizações precisam, cada vez mais, oferecer produtos e serviços rapidamente

adaptados às expectativas dos clientes.

13

É preciso buscar um equilíbrio entre o risco de desestabilizar a organização e o risco de

mudar muito devagar. Num ambiente de negócios caracterizado por rápidas mudanças,

o estabelecimento deste equilíbrio depende da habilidade administrativa de cada

organização. Toda escolha implica num risco e num retorno. Não fazer nada,

geralmente leva à estagnação da organização (Burgin e Koss, 1993).

No desenvolvimento desta dissertação, será analisada com mais profundidade a questão

do risco, dando-se ênfase aos processos relacionados com a concessão de crédito nas

instituições financeiras. Na seqüência, o trabalho continua analisando a estrutura

organizacional, além de discutir as transformações no processo de decisão, o

planejamento da decisão, as mudanças nas instituições financeiras, até chegar ao seu

objetivo principal, que é aliar a estrutura organizacional à tomada de decisão, através de

técnicas de análise de crédito com o uso da informação.

2.2 A TRANSFORMAÇÃO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

A estrutura organizacional das empresas sofreu uma grande transformação, pOIS

estruturas rígidas não servem para assimilar as mudanças necessárias para o

desenvolvimento de uma organização. A evolução de uma organização depende da

redução da complexidade da sua estrutura. Estruturas simples e flexíveis representam

um importante recurso estratégico para o desenvolvimento das organizações.

Independente do tamanho de uma empresa, ela deve estar adequada às exigências de seu

ambiente competitivo (Drucker, 1993).

2.2.1 AS TRANSFORMAÇÕES NA TOMADA DE DECISÃO

A decisão é tomada em relação a uma ação a ser implementada, num quadro em que são

descritas as possibilidades futuras, através do uso da interpretação . Deste modo, se

pratica uma ação decisória com caráter de execução. Assim, as decisões são tomadas em

14

função de algum problema a ser resolvido, alguma necessidade a ser satisfeita, ou com

relação a algum objetivo estabelecido (Simon, 1965).

As organizações traçam modelos, possuindo cada qual o seu modelo decisório, através

do qual definem e avaliam previamente os problemas. Chega-se, desta forma, a

possíveis alternativas para solução dos problemas. Existem variáveis chaves que

interferem num processo decisório efetivo, passando por diferentes níveis hierárquicos

numa estratégia organizacional (Freitas, 1993). Estes níveis são devidamente descritos

na figura 2.1 que segue:

Figura 2.1: Os Níveis Hierárquicos

Ianejaml9nto e contrde Adminis1ra1i\lO

Contrde Op;:rradonal

Abran gªncia ~ imp:Jrtància das decisoos

1 Fonte: Macadar,(1998) apud Freitas, Becker, Kladis e Hoppen, (1997)

o nível operacional, descrito na figura 2.1, utiliza, na maior parte das organizações,

regras e procedimentos pré-estabelecidos. As atividades operacionais são programadas,

e seus procedimentos são bastante instáveis, mas que resultam numa ação imediata.

No nível tático, onde as decisões normalmente estão relacionadas com controles

administrativos, o processo decisório gira em tomo de questões do controle das

operações e formulação de novas regras de decisão. Existe, neste nível, a necessidade de

informações sobre o funcionamento do negócio, com destaque para questões de

planejamento.

15

No nível estratégico da organização, as decisões englobam ainda a definição de

objetivos, políticas e critérios gerais para traçar o curso da organização. Neste nível são

definidas as estratégias gerais da organização.

As organizações, no que se refere aos níveis hierárquicos, são analisadas sobre estes três

prismas. Não há uma clara separação entre os níveis, sendo que a abrangência e

importância das decisões aumentam na medida em que as decisões ocorrem nos níveis

superiores da organização.

Quando uma organização visualiza a tomada de decisão nos seus diferentes níveis

organizacionais, ela está orientada para o objetivo. O pensamento e as ações estão

intimamente ligados ao processo decisório, no sentido de definir o problema, avaliar

possíveis alternativas e, finalmente, atingir os resultados almejados pela decisão.

Na tomada de decisão existem variáveis importantes que interferem no processo. A

figura 2.2, que segue, procura ilustrar estas variáveis.

Figura 2.2: Variáveis do Processo Decisório

Fonte: Freitas (1993, p.74)

A figura 2.2 mostra a tomada de decisão, onde os objetivos da organização e os critérios

para decisão estão intimamente relacionados. O decisor, através dos valores, crenças e

16

recursos da organização, faz um balanceamento da ação a ser tomada. Com base nas

informações, ele irá constituir uma situação de certeza ou complexidade, onde o

conteúdo da informação terá influência sobre a decisão (Freitas, 1993).

As decisões tornam-se cada dia mais complexas, em função da intensa movimentação

das variáveis decisórias. Existe uma pressão cada vez maior pela rapidez nas decisões e,

ao mesmo tempo, uma exige-se redução dos riscos financeiros e de imagem das

organizações, sem perda de mercado.

As equipes administrativas são hoje consideradas as geradoras da ação da decisão, pois

a responsabilidade é diluída, diminuindo a pressão causada pelo tempo e eficiência da

decisão. As decisões individuais atuam através de ações diversas, com opiniões e

conclusões muitas vezes pouco coerentes.

A intensificação das ações também produz seus reflexos, com um ambiente de muitas

alternativas a serem consideradas, aumentando ainda mais a complexidade da decisão. É

preciso, por isso, ampliar os conhecimentos e domínios técnicos, que se traduzem em

atitudes positivas para melhorar a identificação do problema. É necessário colher,

classificar e analisar as informações, criando meios de relacionar as alternativas para

melhor decidir (Moreira, 1996).

2.2.2 O PLANEJAMENTO DA DECISÃO

Através de um modelo, é possível criar pré-estrutura que dará maior segurança ao

decisor, classificando-se os tipos de decisão. Algumas são repetitivas, acontecendo em

um ciclo determinado de tempo. São as programadas. Outras acontecem de forma

imprevista, sendo consideradas não-programadas (Simon, 1965).

Nas decisões programadas é possível estabelecer regras e procedimentos antes que se

exija a execução. São tomadas num ambiente de baixa incerteza, sendo facilmente

delegáveis e com riscos insignificantes.

17

Em decisões não-programadas, existem poucas regras a seguir, caracterizando-se por

esquemas programados fracos. Este tipo de decisão é mais arriscado, pois dificilmente

podem ser estabelecidas regras ou esquemas específicos. As decisões programadas e

não-programadas podem ser melhor vistas na figura 2.3, a seguir apresentada.

Figura 2.3 : Tipos de decisão

programadas não pfOJramadas

Fonte: Simon, 1977

A questão chave, para diminuir o nível de incerteza da decisão, está em se estabelecer a

previsibilidade das alternativas colocadas na situação que se vai analisar. Criam-se

alternativas de acontecimentos e o que se fará se elas realmente se concretizarem.

Analisa-se, neste caso, o tipo de risco que se pretende assumir, traçando compensações

para ele.

As decisões não programadas podem ser reduzidas a sub-decisões, ou seja, aplicando

conhecimentos do decisor. Existe a transformação das decisões não estruturadas, em

elementos familiares, onde é feita uma estruturação através de uma teoria que

constituirá um modelo próprio do decisor (Simon, 1965).

Uma questão importante para tomada de decisão é a previsibilidade das alternativas que

cada situação põe à disposição do decisor. Com isto, se constitui a base para o cenário,

onde se consegue visualizar as conseqüências da decisão a ser tomada.

o conhecimento dos resultados da ação constitui um conjunto de alternativas,

avaliando-se a magnitude do risco, mas principalmente o caráter do risco da decisão.

Avaliam-se três condições para avaliação de alternativas: certeza, risco e incerteza.

18

Confonne o nível decisório, as condições se tomam mais próximas de cada situação,

como se pode verificar na figura 2.4 (Turban, 1995)

Figura 2.4 : Bases da Tomada de Decisão

Compldo ('ll/lhêOmento

Certc:La

AlIIucnt{' Ui.! C\Jllheól1lt:ll!u ..

RISCO

Diminuiçào du ('ollhccimentQ

Fonte: Turban, 1995 pág. 96

[gnoLJ.nda Tutal tllt.:t!l'ta:l

A figura 2.4 ilustra as três condições possíveis para avaliação de alternativas, confonne

Turban, 1995. São analisadas certeza, risco e incerteza. Estas três variáveis estão

inseridas na figura 2.4 onde se relacionam, pois não podem ser analisadas

separadamente.

Quando analisamos a figura 2.4, é possível visualizar o que se chama de completo

conhecimento, ou seja, a certeza em relação ao objeto da decisão. Quanto maior o nível

de conhecimento que se tenha em relação ao objeto de decisão, menor tende a ser o

fISCO.

Ao caracterizar-se o desconhecimento em relação ao objeto da decisão, onde não se

consegue estabelecer múltiplas conseqüências da decisão tomada, temos uma situação

de risco maior.

A decisão, com base nas infonnações, é capaz de reduzir a incerteza, conseqüentemente

diminuindo o grau de risco. A infonnação é uma ferramenta de apoio ao decisor, em seu

processo de tomada de decisão, sendo responsável pela agilidade e eficiência do

processo.

19

A seguir será analisada a informação e sua importância para o processo decisório nas

organizações.

2.2.3 A DECISÃO COM BASE NAS INFORMAÇÕES

Conforme visto até o momento, a decisão é tomada com base num objeto estabelecido,

havendo um caráter de execução relacionado com algum problema a ser resolvido. O

objetivo final é chegar a uma boa decisão, que minimize os riscos. Isto ocorre através do

conhecimento do objeto da decisão, que acontece com base em informações (Simon,

1965).

A informação é elemento fundamental que compõe o processo decisório, embasando os

questionamentos e estabelecendo questões alternativas, representadas no caráter de

execução da decisão. Informação reduz a incerteza, tendo elevado valor no processo

decisório, pois amplia as possibilidades positivas associadas aos resultados esperados

(Davis e Olsen, 1987).

o processo decisório só se toma mais eficaz, com base no uso de informações, se elas

forem direcionadas para o objeto da execução da decisão. É preciso portanto observar

que as informações só têm valor se afetarem a decisão, ou curso de sua ação. As

informações orientadas para decisão, possuem, portanto, certas características, conforme

Macadar (1998) apud Davis e Olsen (1987):

A informação tem valor surpresa;

A informação reduz a incerteza;

A informação somente tem valor se altera uma decisão;

À medida que a informação se volta para o objetivo do decisor, seu valor

aumenta;

A informação tem valor maior se está disponível quando ele precisar.

20

Todos estes requisitos fazem com que a informação tenha valor para a decisão, o que

não dispensa a habilidade do decisor para utilizá-la. Se não houver esta habilidade,

estará se incorrendo em desperdício de recursos no investimento com informações que

não são utilizadas, ou não representam qualquer valor para a organização.

A informação exige características de pesquisa, que seja devidamente estudada, que

produza conhecimento e, finalmente, que se transforme em ação efetiva. É preciso,

antes de se tomar a decisão, obter informações a respeito do objeto da decisão, pois

apostar nos resultados que uma decisão errada pode causar, é uma resposta impulsiva ao

problema (Freitas, 1996).

Através de um exemplo sugerido por Freitas (1996), da reflexão sobre o homem-estudo

e o homem-ação, pode-se compreender melhor a ligação existente entre a informação e

a decisão. A necessidade das pessoas em agir, e cada vez com um período de tempo

mais curto, faz com que aumente a tendência por decisões por impulsão, aparecendo,

com destaque, o termo "apostar". A figura que segue é utilizada em Freitas (1996) para

explicar a relação entre a pesquisa e a prática, mas serve bem para a questão do estudo

informação-decisão:

Figura 2.5: Importância da informação

E:\periêl1l:ias. impressücs.crent;as Pen:cr~Úô. conscientes ou nuo

F ontcs do homem de estudo -----. Sistema de infonnaçãu fonnaJizado (SI Adminisu'ati\'o, atividades de pesqui!'.a si!'.temàtica)

Rumo li S,sft:mm de "!Iúrma~'iio /I1(/III/l'os porJmjúrtlwlS

Fonte: Freitas (1996)

Conforme a figura 2.5, o decisor, pela necessidade de agir, pode responder de duas

formas: apostando ou avaliando. Na primeira, utiliza a resposta impulsiva, respondendo

Blet.JOTECA M'.Rr8 tcfJF.;QtE srrt.(J~'SEN FUNDACAo GETULIO VARGAS

21

a ação com ação. Na segunda, antes de agir consulta fontes, percebe desvios entre

relações, faz reflexões, examina informações formais que estão no sistema de

informações da organização.

A decisão tomada através da informação, com sistemas de informação formalizados,

leva a uma decisão com reflexos mais positivos do que a simples reação. A aposta,

utilizada como forma de decidir, leva ao aumento do risco, pois é tomada sob a

incerteza, sem avaliar qualquer conhecimento do decisor (Turban, 1995).

Existe a crença de que os sistemas de informação relacionados com a decisão, partem na

direção da forma intuitiva, porém devidamente formalizados, conforme ilustra a figura

2.5. A maneira como são tomadas as ações, depende muito de como se caracteriza a

forma concreta da decisão no dia a dia de uma organização.

o processo decisório pode se apresentar muito complexo, não permitindo que as

decisões sejam tomadas com base na ação pela ação, através da impulsão. As

organizações procuram diminuir o risco do erro com a decisão através do aumento do

conhecimento do decisor, com a constante utilização das informações chaves em

direção ao objeto da decisão (Turbam, 1995).

As decisões preCIsam ser tomadas rapidamente sem expor a organização ao nsco

financeiro, o que se toma possível através da flexibilização na disponibilização das

informações. Para que isto ocorra, é necessário sintonizar as informações com os vários

níveis hierárquicos, gerando dinamismo através da conquista da flexibilidade na tomada

de decisões (Comella, 1994).

A estrutura hierárquica mostrada anteriormente na figura 2.1, onde se caracteriza a

presença de uma verticalização na adoção das informações, dificulta a decisão tomada

de forma rápida e eficiente. Cada nível hierárquico necessita de informações com suas

características adequadas, mas a capacidade de resposta depende de uma estrutura

organizacional não rígida. Esta estrutura não pode tomar-se complexa para a decisão

com base em informações. Comella (1994) sugere um modelo de fluxo de informações

22

onde existe a substituição dos modelos de estrutura hierárquica tradicionais. É possível

verificar isto na figura que 2.6.

Figura 2.6: Modelo de Fluxos de Informação em uma Empresa

EMPRESA INIlUSTRI!l.L

ORIENI !l.CÃO POR !Í.REAs FUNlION .... 'S

~ f-OPER~C!l.O Z=s,ru.fO MJ\CJ\IO

(

COMP!l.RTLHAMENIO O~ INFORMA.J;íi:o

OfllENl ACÃO POR T.I\REf)l5

Fonte: Marchand (Apud Cornella, 1994)

É necessário que haja a sintonização das informações entre os diversos níveis

hierárquicos da empresa, com o que a complexidade existente na organização é

distribuída entre seus diversos níveis. O achatamento da pirâmide hierárquica faz com

que haja uma sintonização de informações entre a planificação, controle e operações

evitando a mera transição de dados entre os níveis hierárquicos.

É preCISO sempre diferenciar dados, informação e conhecimento, para compreender

melhor o modelo proposto por Cornella (1994). A seguir cada um é devidamente

identificado, com suas características particulares:

Dados

Eles representam o elemento básico a partir do qual percebe-se uma realidade, conjunto

de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos. São os registros estruturados das

transações, feitos pela organização. Pode-se dizer, também, que é toda e qualquer

representação, de um fato ou de uma situação, ainda não submetido à metodologia para

a produção de informação, sendo no entanto sua base.

23

Dados, assim, não têm o objetivo de informar, visto que nem todos têm utilidade para a

organização. Eles podem ser ilimitados, portanto devem ser selecionados para que haja

utilidade em termos de informação.

Informação

Os dados coletados, capazes de diminuir o nível de incerteza na tomada de decisão, se

caracterizam como informação. É extraída através do processamento dos dados obtidos,

com a utilização de uma metodologia, onde há ênfase na avaliação e conclusão sobre os

fatos ou situações. A informação é obtida através da seleção dos dados estabelecidos no

contexto, otimizando assim os resultados a serem alcançados, diminuindo a incerteza e

aumentando a eficiência da tomada de decisão.

Conhecimento

A intensidade da concorrência vivida pelas organizações atuais, faz com que haja uma

busca por diferencial competitivo. Para enfrentar esse desafio, buscam-se cada vez mais

dados, que devem ser transformados em informação relevante num período cada vez

menor de tempo. Através da coleta destes dados, sua análise e transformação, a

organização vai ampliando sua visão sistêmica sobre o comportamento do mercado,

além de identificar suas tendências. Isto se chama conhecimento, que é o conjunto de

informações sobre o ambiente competitivo, adquirido através de informações

diferenciais.

Compreendendo estes três conceitos, consegue-se enxergar a dificuldade presente em

estruturas organizacionais rígidas. Há entre os níveis hierárquicos a passagem de dados,

ou seja, fragmentos da informação. Desta forma não se consegue uma ligação rápida de

informações para decisão entre os níveis de uma organização.

Os agentes da decisão ficam presos ao que anteriormente foi mencionado, ou seja,

responder a uma ação com outra ação, levados pelos aspectos impulsivos, onde não

existe a presença de estrutura que privilegie as tendências das ações intuitivas, através

de um sistema de informações formais (Freitas,1996).

24

Se as infonnações passam entre os níveis organizacionais, onde os decisores a elas têm

acesso, eles provavelmente terão uma visão mais apurada a respeito do objeto da

decisão, não se resumindo, o processo decisório, a um conjunto de dados que transitam

pela alta organização e que após são repassados através de ordens de como fazer.

Com a disponibilidade das infonnações, os decisores terão a seu favor a acumulação do

conhecimento, assim tendo detenninadas situações onde o caminho entre a direção e a

operação se toma mais curto. Havendo o conhecimento a respeito do objeto da decisão,

diminui-se o grau de risco e implanta-se a possibilidade de aumento da eficiência das

decisões planejadas e não planejadas. Existirá, nas ações dos decisores, a orientação

para as tarefas, onde se conseguirá visualizar o todo complexo da organização,

tomando-se decisões de fonna a resolver os problemas e conseguindo visualizar os

reflexos causados na organização (Freitas,1996).

Quando existe uma contextualização da decisão, diminui-se o grau de insegurança da

ação , uma vez que ela estará estruturada a partir de infonnações significativas.

Infonnações que podem ser geradas por todos os níveis da organização. Esta é a

proposta do modelo que segue, onde existe uma estrutura organizacional, que incorpora

diversas áreas de fonna integrada e participativa num processo de geração da

infonnação voltado para a tomada da decisão.

2.2.4 A GERAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA DECISÃO

A infonnação não tem qualquer valor para a organização se não tiver um valor prático,

sendo tão importante quanto a acumulação do conhecimento do decisor. A organização

precisa buscar a infonnação importante para seus processos decisórios através do

estabelecimento de infonnações chaves (McGee & Prusak, 1994).

A busca de infonnações chaves é de extrema importância para o negócio, pois são elas

que direcionam a tomada de decisão. Existe um emaranhado de infonnações a respeito

das empresas, porém, o que interessa é um número reduzido de infonnações críticas.

25

Através destas infonnações é possível estabelecer a situação de uma organização,

encontrando-se um apoio seguro para a decisão.

Existe um modelo de gerenciamento da infonnação abordado por Rockart (1979), onde

se buscam as chamadas infonnações críticas de sucesso. Este modelo leva em conta as

se guintes caracterí sti cas:

- Estrutura da indústria particular. Cada indústria, por sua natureza, tem um jogo de fatores de sucesso crítico que são determinados pelas características dela própria;

- A estratégia competitiva, posição da indústria e localização geográfica. Cada companhia em uma indústria está em uma situação individual determinada por sua história e estratégias competitivas atuais.

Este sistema de infonnações serve para avaliar o desempenho de uma organização,

através da análise dos seus indicadores mais importantes. O objetivo é fazer um

gerenciamento eficaz, com o estabelecimento de controles para o desenvolvimento de

uma organização.

Neste modelo sugerido por Rockart (1979), existe uma coleção de infonnações sobre o

mercado, tecnologia, clientes e concorrentes, tendências externas e políticas sócio­

econômicas. As empresas não devem confiar em infonnações imprecisas, sendo

importante desenvolver mecanismos para infonnações consideradas críticas.

o modelo de Rockart (1979) gera a base para a gestão da infonnação, estabelecida

dentro de uma organização através de seus fatores críticos de sucesso, onde se

estabelece um planejamento da organização a ser seguido. O modelo sugerido por esta

dissertação é um sistema de infonnações que alimente o decisor com relação a análise

de outras organizações.

A seguir serão analisados modelos que servem de ferramenta para concessão do crédito

em instituições financeiras. Através do estudo do processo de concessão de crédito em

uma instituição financeira, poderá observar-se a evolução destes modelos de análise de

risco, que passam de mero sistema de cadastro de dados do cliente para uma análise

mais empírica do decisor, chegando à fonnulação de modelos que usam a inteligência

26

computacional para a tomada de decisão nas instituições financeiras.

2.3 O PROCESSO DE DECISÃO DE CRÉDITO NA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

A instituição financeira capta recursos com o objetivo de, posteriormente, aplica-los de

maneira eficiente. Assim como é importante fazer uma captação de forma adequada, as

instituições financeiras também precisam analisar criteriosamente as oportunidades de

investimento dos recursos a elas confiados, garantindo seus resultados e a segurança do

sistema como um todo.

Este tipo de organização precisa estar atualizado em suas informações, especialmente

em relação ao mercado das linhas de crédito oferecidas. A preocupação, no âmbito do

processo decisório, aumenta ainda quando estas empresas estão inseridas em mercados

onde existem clientes que possuem aumento ou declínio súbito das vendas, expansão ou

retração de mercados, elevação de preços, concorrência acirrada, inflação, alterações na

política governamental e inadimplência (Gitman, 1987).

As instituições financeiras sentem de forma imediata a alteração no faturamento das

empresas, pois isto determina a capacidade de pagamento dos empréstimos que

concedem. Para tentar controlar as variáveis que influenciam, se faz um planejamento

detalhado, buscando monitorar de forma eficiente o lucro, faturamento, custo, fluxo de

operações e liquidez dos clientes. Estes fatores estão diretamente ligados a saúde

econômico-financeira das empresas, sendo imprescindível monitora-Ios como forma de

apoiar as decisões.

Ao se falar em homem-ação, assentado em uma estrutura formal de sistema de

informação, pode-se considerar a possibilidade de o mesmo, através de ações

equivocadas, imputar prejuízos à organização. Quando se trabalha com dinheiro, lida-se

de forma mais direta com o risco. O executivo do mercado financeiro tem, em relação

ao erro com determinado produto em uma indústria, uma pressão maior em tomo do seu

27

objeto, ou ação, da sua decisão, pois, ao conceder ou negar o crédito a algum cliente, o

risco está diretamente relacionado com um valor monetário. (Gitman, 1987).

o processo de decisão e o risco mencionado anteriormente por Turban, (1995), não

dependem somente do conhecimento acumulado pelo decisor, mas principalmente das

informações a respeito do cliente, onde, estas, se prestadas de forma atualizada e

verdadeira, conseguem estabelecer variáveis importantes no processo decisório da

concessão do crédito.

Diante da complexidade do processo decisório nas instituições financeiras, toma-se

muito importante fazer uma análise mais aprofundada do assunto. A seguir será

analisado o crédito como negócio, onde a medida do risco se toma importantíssima para

a boa decisão, juntamente com outras variáveis do processo, até aqui avaliadas. Neste

contexto, os modelos de análise de risco do crédito tomam-se tema principal deste ponto

em diante, uma vez que, quando se fala em concessão de crédito, se constituem no

principal elemento de apoio à tomada de decisão.

2.3.1 A FUNÇÃO DO CRÉDITO

o papel histórico dos bancos tem sido a intermediação entre agentes econômicos com

posição orçamentária superavitária, que podem financiar as necessidades de

investimento e consumo dos agentes com situação orçamentária deficitária. A função

do crédito nestas instituições, consiste em avaliar a capacidade de pagamento do

tomador, visando assegurar a reputação e a solidez do banco. Dar segurança aos

depositantes, sobre os valores confiados ao banco, e garantir o retomo dos acionistas,

são objetivos fundamentais, tudo dependendo de decisões adequadas em relação aos

créditos concedidos, o que envolve uma correta definição do risco oferecido pelos

clientes (Silva, 2000).

28

2.3.2 O CRÉDITO COMO NEGÓCIO

Dado seu significado estratégico para os gerentes de contas verdadeiramente

interessados em realizar negócios rentáveis e seguros, a seguir encontra-se transcrito

mais um trecho do livro de Silva (2000). Segundo o autor:

"áreas de crédito com posturas pró-ativas, avaliando empresas, conhecendo a forma como essas empresas operam, bem como suas necessidades de recursos, podem dar a seus bancos condições de saírem na frente, com vantagem competitiva ...

... muitos gerentes de contas, ao invés de ficarem dizendo que os clientes não gostam de fazer cadastro, deveriam usar sua habilidade de vendas para vender ao cliente a conveniência de fornecer as informações para gerar uma relação de parceria mais clara e mais segura. Para estruturar e fundamentar uma operação, o banco precisará conhecer o cliente, sua forma de operar e suas necessidades. Precisará identificar entre seus produtos aqueles que se ajustem às necessidades do cliente. f;; evidente que precisará também, e principalmente, avaliar o risco de crédito. Então, está claro que Crédito e Marketing precisam estar muito próximos.

2.3.3 RISCO DO CLIENTE OU RISCO INTRÍNSECO

Está diretamente relacionado com o tomador do crédito e decorre de suas

características, envolvendo os chamados "Cs" do Crédito, quais sejam: Capital, Caráter,

Capacidade e Condições. A partir da avaliação desses elementos chega-se ao risco do

cliente (risco intrínseco), que possibilitará a determinação do volume de empréstimos,

sua precificação e respectivas garantias, além de outros elementos integrantes de uma

política de crédito (Silva, 2000).

Em termos genéricos, o Capital está relacionado com a análise financeira e patrimonial

do tomador, o Caráter refere-se à intenção desse tomador em cumprir a promessa de

pagamento, enquanto Capacidade envolve o gerenciamento da empresa e Condições

trata de aspectos externos à organização, envolvendo fatores não controláveis pela

mesma, tais como concorrência, flutuações econômicas e eventos naturais, onde as

inundações e secas aparecem como exemplos desses últimos.

29

o risco do cliente, risco intrínseco, ou rating, é apresentado por meio de um código ou

classificação, que fornece urna graduação de risco, desde o mínimo até o mais elevado.

Do ponto de vista dos bancos, há cada vez maior preocupação com esta questão, uma

vez que as próprias autoridades monetárias, buscando assegurar um funcionamento

saudável da economia e evitar o elevado custo social dos impactos negativos sobre o

chamado risco sistêmico, têm exigido maior rigor na concessão de créditos e respectivas

alavancagens e aprovisionamentos para créditos de liquidação duvidosa, tudo girando

em tomo do risco de crédito apresentado pelos tomadores de empréstimos (Pereira,

2000).

2.3.4 A POLÍTICA DE CRÉDITO

Ainda segundo Silva (2000, pág. 103), "as políticas, em administração de empresas, são

instrumentos que determinam padrões de decisão para resoluções de problemas

semelhantes. Determinado problema que surge ocasionalmente pode exigir uma tornada

de decisão singular, segundo suas peculiaridades, não sendo possível estabelecer-se

políticas. Quando, entretanto, tratar-se de fatos repetitivos, recomenda-se a adoção de

uma política de resolução."

A partir disso, podemos entender que as políticas se constituem em verdadeiros guias

para a tomada de decisão, facilitando o processo, dando uma certa consistência e

padronização aos resultados esperados.

Dada a sua importância, as políticas de crédito devem ser definidas pelos escalões

superiores da organização, tais como Conselho de Administração ou Diretoria.

Ao contrário das empresas comerciais, onde a inadimplência, quando não resolvida pela

devolução da própria mercadoria, limita-se ao custo incorrido pelo comerciante, os

prejuízos de um banco, decorrentes de um não recebimento, alcançam o valor total

emprestado mais o custo do respectivo funding. Tal fato justifica a adoção de critérios

mais rigorosos no processo de concessão de crédito por parte das instituições financeiras

(Richers, 1981).

30

Entre os principais componentes de uma política de crédito, destacam-se as normas

legais, a definição estratégica e os objetivos a serem alcançados pela instituição

financeira e a sua estrutura organizacional.

No que se refere às normas legais, um dos principais parâmetros a ser observado, no

Brasil, é aquele traçado pela Resolução nO 2.099 do Banco Central do Brasil, que

estabelece a necessidade mínima de um Patrimônio Líquido Ajustado de 11% em

relação aos ativos ponderados pelo risco. Tal determinação, dependendo da estrutura de

capital de cada instituição, poderá implicar na retração do oferecimento de empréstimos

por parte dos bancos, ou mesmo re-direcionamento de seus investimentos (Edward, et.

aI, 1995).

Quanto à estratégia e objetivos a serem alcançados pela instituição, registramos que os

critérios de análise e concessão de crédito devem estar ajustados às características do

tomador, sempre contemplando as diferentes performances observadas em cada

segmento de clientes. Assim, os modelos que analisam uma pequena empresa devem ser

diferentes daqueles destinados a analisar uma empresa de grande porte, uma vez que

suas práticas contábeis, comerciais e administrativas, normalmente, são conduzidas de

formas diversas.

As políticas de crédito, por sua vez, serão diferenciadas conforme o volume de negócios

e lucratividade pretendidos pela instituição, apresentando-se mais liberais quando busca

maior participação no mercado, ou mais restritivas quando pretende manter ou reduzir

o seu "market share" atual.

A estrutura organizacional, por sua vez, acaba por definir a delegação de poderes aos

executivos da instituição, num quadro em que as alçadas para decisão de crédito podem

ser individuais, conjuntas ou colegiadas, ou mesmo contar com órgãos de suporte com

competência especializada. O porte da agência também pode determinar o valor de

alçada do seu gerente, uma vez que as agências maiores, com maior complexidade

administrativa e operacional, exigem, em princípio, um gerente tecnicamente mais

qualificado, com formação compatível para atender, inclusive, grandes empresas. Seria

incoerente manter um profissional de alto nível técnico e cultural atendendo a pequenos

31

clientes, assim como seria inadequado colocar um gerente sem o preparo necessário

para administrar negócios de maior amplitude (Ansoff, 1977).

o gerente que detém um grau apurado de conhecimento é colocado em agências

maiores, onde existe a exigência por profissionais mais qualificados. Diminuindo,

portanto, o grau de risco de uma decisão errada, em um objeto de decisão considerado

mais complexo. Ocorre nestes casos, o mencionado por Turban (1995), onde o decisor

que possui um grau de conhecimento maior sobre o objeto da decisão, em função das

informações acumuladas e interação com o objeto, diminui o risco, pois ele consegue

enxergar os reflexos de sua decisão de melhor forma.

2.3.5 CULTURA DE CRÉDITO

Pela importância que toma a cultura do crédito, se faz necessário comentar os

ensinamentos de Caouette (1999, pág. 27-37), listando, a seguir, algumas de suas

colocações a respeito do assunto:

• "A alta administração deve estabelecer uma zona de segurança para a assunção de riscos e garantir que pessoas dentro da organização a entendam e continuem com ela. "

• "A busca pelo crescimento lucrativo comumente põe negócios em um curso de colisão com seus limites de riscos. "

• "Tendo estabelecido uma zona de riscos permissíveis, a alta administração deverá, então, apresentar a dinâmica e os parâmetros dessa zona às pessoas de toda a empresa. "

• "Uma organização pode estabelecer políticas e procedimentos complicados como freios e contrapesos para controlar seus riscos, mas se faltar um núcleo cultural forte, esses serão de pouca utilidade. Instituições geralmente falham, não por falta de sistemas, políticas e procedimentos de crédito, mas porque elas têm uma cultura de crédito prevalente que tira o sentido da aplicação de tais sistemas, políticas e procedimentos. O mais importante é aquilo que está sendo praticado. A administração precisa internalizar o valor da cultura de crédito e repassá-lo ao máximo a seus comandados. "

32

Como é possível observar nas idéias formuladas acima, retiradas de Caouette (1999,

pág. 27-37) , a cultura é fundamental e decisiva para o sucesso de qualquer política de

crédito. É necessário, além de normas e diretrizes bem formuladas, que as pessoas que

as operacionalizam às entendam e com elas se comprometam. Neste contexto, é

necessário entender que as metas de lucros, fundamentais para a sobrevivência de

qualquer organização, devem ser alcançadas através da observância das diretrizes

traçadas pela alta direção da instituição, mesmo diante de pressões contrárias.

Existe, portanto, uma cultura que é inerente ao processo decisório na concessão do

crédito, que deve ser avaliada antes de qualquer decisão. A organização traça, também,

suas políticas no processo de concessão do crédito. As pessoas envolvidas com as

decisões, não às tomam com base em impulsos, apostando nos resultados que a ação em

relação ao objeto da decisão irá causar. Confirma-se, aqui, o fundamento de que as

pessoas tomam como referência um sistema de informações formal, que, aliado ao

conhecimento que possuem, apóia as suas decisões (Freitas, 1996).

2.4 A ANÁLISE DE CRÉDITO

Ao se colocar a decisão relacionada com a concessão do crédito, há a necessidade de

uma análise mais apurada de uma variável importantíssima neste processo decisório. É

necessário estudar o chamado risco de crédito, através de um estudo de como o mesmo

é medido. As novas tecnologias permitem que se analise esta variável de forma mais

adequada, fornecendo mais segurança ao decisor (Saunders, 2000).

A análise de crédito é um processo estruturado, que tem por objetivo definir o risco

oferecido por cada cliente, no que diz respeito ao cumprimento de suas obrigações

financeiras. Trata-se de um trabalho intenso e metódico, sempre voltado para cada

tomador de crédito de forma individual e que, normalmente, segundo Caouette (1999) ,

deve seguir os seguintes passos:

a) - Estabelecimento de interesse negociai recíproco entre banco e cliente;

33

b) -- Estabelecido o interesse, inicia-se a análise de crédito a partir dos demonstrativos econômico-financeiros (balanços e balancetes), cujas contas são criteriosamente criticadas e, se for o caso, ajustadas aos critérios adotados pelo banco;

c) - Analisa-se a estrutura do setor, especialmente tendências emergentes, o posicionamento da empresa e o impacto potencial de medidas regulamentadoras;

d) - Avaliam-se a administração executiva e a estratégia operacional da empresa. A análise estratégica se refere à avaliação das perspectivas de longo pra::o da empresa em seu ambiente setorial, baseando-se em três premissas: a) a empresa deve obter vantagem competitiva para se manter lucrativa; b) os meios para a obtenção de uma vantagem competitiva variam de setor para setor; c) à medida que os setores se desenvolvem, os meios para obtenção de uma vantagem competitiva mudam.

Em síntese, a análise contempla a avaliação ambiental, a avaliação do desempenho da

empresa e de seus administradores, bem como a avaliação das diretrizes estratégicas

observadas, exigindo do profissional do crédito uma boa preparação técnica, perspicácia

e capacidade de articulação de idéias para defesa de suas conclusões.

Ainda segundo Caouette (1999), "uma presunção universal do processo tradicional de

crédito é a de que o executivo de crédito deve examinar as provas como se fosse um

detetive, questionando as informações fornecidas pelo tomador, procurando por

possíveis fraquezas ou imprecisões na história e tentando prever problemas que podem

vir a ocorrer no futuro." Em termos contábeis, por exemplo, o executivo de crédito deve

ir além do valor registrado em dinheiro para determinar o valor real do ativo, já que um

ativo pode valer mais ou menos do que seu valor em balanço.

Embora auxiliadas por técnicas matemáticas e estatísticas, as análises não prescindem

por completo do julgamento subjetivo dos analistas, que continuam se debruçando sobre

os clássicos "Cs" do crédito - Capital, Caráter, Capacidade e Condições - , com o

objetivo de identificar a probabilidade de sucesso das organizações. Trata-se de uma

tarefa que envolve informações exatas, mas também muita subjetividade e julgamento

de valor.

Um aspecto que não pode ser esquecido nos procedimentos de análise, é a importância

representada pelo fluxo de caixa. O fluxo de caixa operacional define a liquidez das

34

empresas, ou seja, informa se elas são capazes ou não de gerar dinheiro suficiente, a

partir de suas operações internas, para fazer frente a seus compromissos financeiros

(Saunders, 2000).

Ao permitir a descoberta da origem e do uso do dinheiro da empresa, a análise de fluxo

de caixa se constitui em uma ferramenta poderosa. "É poderosa porque é quase

inevitavelmente bem-sucedida em expor o mecanismo-chave por meio do qual uma

empresa sobrevive ou morre. Os fluxos de caixa não podem ser manipulados por

convenção contábil e não há como uma empresa possa esconder fluxos relevantes de um

analista que saiba como usar com habilidade a análise de fluxos de caixa, a não ser por

meio de fraude. Por esses motivos, a análise de fluxo de caixa não goza da boa vontade

das empresas ou de seus contadores, havendo considerável hostilidade contra ela na

maioria dos trabalhos publicados sobre finanças corporativas" (Newton, 1993).

2.4.1 MODELOS DE ANÁLISE DO RISCO DE CRÉDITO

Em termos de análise de crédito, cada um dos modelos, normalmente, consiste num

conjunto de índices financeiros, cujo processo de escolha foi baseado em métodos

estatísticos para selecionar, entre os índices existentes, aqueles que, em conjunto, têm

maior representatividade para classificar empresas, com probabilidade de serem boas ou

insolventes. Cada um dos índices, em cada um dos modelos, recebe um peso, que é

decorrência de sua ordem de grandeza e de sua importância relativa no conjunto. Esse

peso é calculado através do uso de uma metodologia estatística denominada análise

discriminante. Nesse processo de cálculo, os pesos são obtidos por um método objetivo

em que não entra a subjetividade do analista (Silva, 2000).

2.4.1.1 CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS

Uma questão importante a ser observada quando da construção de modelos diz respeito

a certas características fundamentais, que acabam determinando a qualidade dos

mesmos. Segundo Silva (2000), as características mais importantes seriam as seguintes:

35

• Setoriais: em face das características operacionais das empresas, os modelos tornam-se mais efica:::es quando desenvolvidos e5pecificamente para a indústria ou comércio, por exemplo;

• Temporais: à medida que uma empresa se aproxima da concordata, muda o conjunto de índices que melhor separa as prováveis de serem insolventes das prováveis de serem boas.

• Regionais: considerando que as diversas regiões geográficas possuem características próprias e diferentes, observa-se que os modelos se tornam mais eficazes à medida que também são regionali:::ados;

• Características dos índices: não podemos ficar restritos aos índices tradicionais. Além da estrutura de capital, liquidez, rentabilidade e prazos médios, precisamos desenvolver e utilizar indicadores capa:::es de medir os aspectos dinâmicos da organização, tais como capacidade de crescimento e geração interna de recursos, por exemplo.

Em que pese todo o esforço até aqui desenvolvido por estudiosos do assunto, segundo

Caouette (1999) "devemos reconhecer que os modelos atuais de risco de crédito estão

mais para esforços pioneiros na busca de melhores soluções do que para o final do

estudo. Neste sentido, todos os nossos modelos são pontes para o futuro."

Muitos elementos diferentes entram na construção de um modelo de risco de crédito.

Primeiramente, devem ser postuladas as relações entre as variáveis que parecem afetar o

risco de inadimplência. É aqui que entra a teoria. Entre inúmeras questões que podem

ser levantadas, poderíamos, por exemplo, perguntar qual a interferência da qualificação

profissional dos administradores no desempenho da empresa? Será que essa relação

apresenta o mesmo grau de importância em qualquer época, atividade ou tipo de

empresa? Só isso nos dá uma visão da dinâmica que deve ser observada na construção e

manutenção dos modelos de análise de crédito. Depois, para derivar um modelo formal,

deve ser empregado um conjunto de ferramentas para estimar ou simular resultados. É

crucial a presença de um corpo de dados neste ponto, porque os modelos não podem ser

criados no vácuo (Silva, 1988).

Catalogar, manipular e concluir sobre dados relacionados com o "capital", através de

modelos matemáticos ou estatísticos, é perfeitamente possível. Mas falar sobre o capital

é, em essência, falar sobre o desempenho passado de uma determinada organização,

36

enquanto a definição do risco de um empréstimo está voltada exclusivamente para os

acontecimentos futuros que envolverão a organização tomadora.

No mundo globalizado que estamos vivendo, caracterizado por mudanças extremamente

velozes e muita competitividade, a capacidade técnica e administrativa da organização

sob análise tornam-se muito mais importantes que o seu desempenho passado, que,

neste contexto, não passa de uma referência que poderá não se repetir. Segundo Santi

Filho (1997), existem estudos que comprovam que a falta de capacidade dos tomadores

está ligada com a pouca experiência empresarial. Há, portanto, confirmação do que foi

mencionado anteriormente por Turban (1995), onde o nível de conhecimento do decisor

está relacionado com o risco da decisão.

Além da capacidade do tomador, precisamos identificar os prováveis caminhos a serem

percorridos pelos futuros cenários econômicos, que poderão favorecer ou dificultar o

desenvolvimento de uma determinada atividade. Estas questões mais amplas, revestidas

de maior grau de incerteza e com sérios problemas de quantificação, passam a desafiar

mais e mais as pessoas e instituições envolvidas com determinação de risco no meio

financeiro.

Tomando Silva (2000)" uma vez mais, confirmamos que "a análise de crédito envolve

variáveis quantitativas e qualitativas, ao mesmo tempo em que há uma tendência de que

as empresas de maior porte apresentem demonstrações financeiras mais informativas.

Essas empresas de grande porte tendem a operar com os bancos em volumes elevados

de recursos, o que determina a necessidade de uma análise de crédito com um maior

nível de profundidade. Daí ser necessário um adequado entendimento dos aspectos

estratégicos e operacionais da empresa, para possibilitar a avaliação de sua capacidade

de pagamento e a estruturação do empréstimo ou financiamento. Na empresa muito

pequena, as informações quantitativas tendem a ser deficientes. Essas deficiências

precisam ser compensadas por informações qualitativas. Daí, tanto na grande quanto na

pequena empresa, a decisão de crédito envolve os fatores quantitativos e qualitativos. O

mundo dos negócios caminha cada vez mais em direção a um maior aprofundamento no

conhecimento das atividades dos clientes e isto faz com que os métodos quantitativos

assumam um papel de instrumentos auxiliares".

37

2.5 RELEVÂNCIA DOS MODELOS DE RISCO DE CRÉDITO PARA O TOMADOR DE DECISÕES

Os modelos têm como objetivo facilitar o trabalho de análise e trazer maior consistência

aos resultados esperados. Segundo Caouette (1999-pág 452), "os modelos de risco de

crédito são importantes, atualmente, porque proporcionam ao tomador de decisões o

insight ou conhecimento que não estaria, de outra maneira, prontamente disponível ou

que só pudesse ser reunido a um custo proibitivo. Em um mercado onde as margens

estão diminuindo rapidamente e a pressão para redução de custos é incessante, os

modelos proporcionam uma vantagem competitiva a seus usuários. Em qualquer grande

instituição financeira que tenha uma grande variedade de exposições, opere em muitas

regiões geográficas e tenha quadros grandes e variados, os modelos quantitativos podem

injetar um grau útil de objetividade."

Os modelos, contudo, exigem uma série de cuidados que vão desde a sua adaptação ao

porte da empresa analisada até a correta avaliação dos aspectos qualitativos, que se

caracterizam por grande subjetividade.

Como já antes enfatizado, outro ponto que merece especial atenção dos responsáveis

pela manutenção e atualização dos modelos, diz respeito à dinâmica que deve ser

emprestada aos mesmos. Ainda segundo Caouette (1999, pág.193)," ... no processo de

engenharia financeira, muda-se o ambiente de forma que ele deixe de ser aquele que foi

reproduzido no modelo.

As novas formas de realizar negócios no mundo financeiro está exigindo novos

modelos, ou adaptações contínuas nos modelos já desenvolvidos. Tome-se o caso do

incremento de negócios com derivativos l, cujos riscos normalmente não se encontram

nos demonstrativos contábeis, mas que devem ser considerados. Os modelos de análise

hoje utilizados, quase invariavelmente, não contemplam essas hipóteses.

Para melhor ilustrar a importância relativa dos modelos, seguem as afirmações de

Caouette (1999):

1 Derivativos: Mercado no qual a fonnação de preços a serem exercidos no futuro deriva dos preços do mercado à vista. Para maiores infonnações, sugerimos a leitura do livro Mercado Financeiro, de Eduardo Fortuna, Editora Qualitymark, Rio de Janeiro, 1999, p. 411.

38

"Não en~ontramos até agora ninguém que esteja diSfosto a comprar ~u vender um emprestlmo exclusivamente com base num KMV ou um Escore-Z . Mesmo os profissionais mais entusiasmados com esses modelos dirão pouco mais que "são uma importante fonte de informação" . ... os praticantes fariam bem em tomar os modelos existentes com um certo ceticismo, e em olhar para todos os modelos ao mesmo tempo, em ve.: de usar apenas um na sua tomada de decisão. "(Pág. 453).

As palavras do autor resumem a importância relativa dos modelos, ao mesmo tempo em

que reafirmam que a cultura do Risco é feita de gente e sistemas, implicando na

valorização da cultura do crédito, sempre impregnado de fatores quantitativos e

qualitativos.

2.5.1 ALGUNS MODELOS DE ANÁLISE DE RISCO

Apesar de os métodos uni variados ainda serem utilizados por muitas instituições, a

maioria dos acadêmicos e um número crescente de profissionais parece reprovar a

análise de índices como meio de avaliação do desempenho das empresas. Embora

muitas vezes não passando de um refinamento da análise tradicional por índices, existe

hoje uma forte inclinação em tomo de técnicas estatísticas mais rigorosas, combinando

diversas medidas (quantitativas e qualitativas) em um modelo de previsão que tenha

significados (Saunders, 2000).

Neste contexto, não basta conhecer, por exemplo, os índices de estrutura, liquidez e

rentabilidade de uma determinada organização. Há que se estabelecer quais índices são

mais representativos para a indicação do futuro da organização, que pesos devem ser

atribuídos a cada índice e como fazer isso de forma objetiva. Este é o desafio dos

responsáveis pela elaboração e manutenção dos modelos de análise de crédito, que,

realmente, não podem mais prescindir do ferramental estatístico.

2 KMV: Modelo de Análise de Crédito baseado no conceito do mercado de opções e que se encontra descrito no item 2.6.1 deste trabalho. 3 Escore-Z: Modelo de Análise de Crédito concebido por Altman (I968) tendo a Análise discriminante como ferramenta principal, e que se encontra descrito no item 2.5.2.4.1 deste trabalho.

39

2.5.2 ALGUNS ESTUDOS EMPÍRICOS REALIZADOS NO EXTERIOR

Neste ponto, apresentamos, de forma sintética, os principais estudos realizados no

exterior, envolvendo análise de crédito, tendo como palco principal o cenário

econômico dos Estados Unidos.

2.5.2.1 ESTUDOS DE PATRICK

Em 1932, Paul J. Fitz Patrick selecionou, aleatoriamente, 19 (dezenove) empresas que

haviam falido no período de 1920 a 1929, com o objetivo de compará-las com 19

(dezenove) outras empresas bem-sucedidas. Tendo como objetivo básico detectar se: " ...

os índices das companhias bem-sucedidas eram satisfatórios, ou não, quando os índices

das empresas falidas eram desfavoráveis .. e se " ... a maioria dos índices das companhias

bem sucedidas eram favoráveis ou desfavoráveis, e em que condições"(Pereira, 2000).

Tendo comparado os índices dos dois grupos de empresas com um padrão mínimo

estabelecido, Fitz Patrick observou que os índices das empresas bem-sucedidas

ultrapassam o padrão mínimo, na maioria dos casos, enquanto as empresas falidas

estiveram abaixo daquele padrão. Entre um conjunto de índices examinados, os mais

significativos foram Patrimônio Líquido sobre Passivo e Lucro Líquido sobre

Patrimônio Líquido.

2.5.2.2 ESTUDOS DE WINAKOR SMITH

o estudo de Winakor foi baseado em 183 empresas que faliram no período de 1923 a

1931. Foram analisados os 10 anos que antecederam as respectivas falências, tendo sido

examinados e computados 21 índices que foram montados com base na padronização

dos demonstrativos financeiros. Foram usados os índices médios, da metade de todas as

empresas, com a finalidade de se compararem as mudanças individuais em todo o

grupo. Foi observado que, à medida que se aproximava o ano da falência, os índices iam

se deteriorando. Para a amostra de 183 empresas, o índice de capital de giro sobre ativo

total foi o melhor preditor.

40

2.5.2.3 ESTUDOS DE TAMARI

o estudo de Tamari (1956 - 1960) é citado como o primeiro a usar uma espécie de

"Composto ponderado" de vários índices, com vistas a prever falência ou insolvência.

Nos seis índices utilizados, foram atribuídos pesos cuja soma foi 100. Para cada um dos

índices, a empresa obtém certos valores que, multiplicados pelos seus respectivos pesos,

levam a uma pontuação para integrar uma escala particular. O maior peso foi dado à

tendência do lucro e capital social mais reservas sobre o passivo total, considerados

como melhores indicadores de falência.

2.5.2.4 ESTUDOS DE ALTMAN

Edward Altman construiu seu modelo com base no uso de instrumentos estatísticos

mais evoluídos, como é o caso da análise discriminante múltipla. Da mesma forma que

o de Tamari, o modelo de Altman (1968) tentou superar as deficiências das análises

baseadas em um único índice. O uso da análise discriminante leva a um grupo de

índices com capacidade de separar empresas boas de empresas ruins e ao mesmo tempo

determina o peso relativo de cada índice, sem que, para determinação desses pesos,

prevaleçam critérios arbitrários (Altman, 1968).

O modelo de Altman se caracteriza por uma abordagem multivariada, constituído

através de medidas univariadas de nível de índice e categóricas. Os valores são

ajustados e combinados com pesos para produzir uma medida que melhor determina as

empresas que quebram e as que não quebram. Tais medidas são bastante diferenciadas,

pois empresas que quebram exigem índices e tendências financeiras muito diferenciadas

daquelas com uma estrutura sólida (Altman, 1968).

2.5.2.4.1 O Modelo Score-Z.

Altman baseou-se num modelo multifacetado de índices, utilizando a análise

discriminante múltipla, que chamou de modelo Score-Z. Este modelo foi construído

com o objetivo de estabelecer uma medida que pudesse separar as empresas com

41

possibilidades de quebra daquelas com boa saúde econômico-financeira. Buscou, assim,

estabelecer o escore de risco de crédito das organizações, possibilitando a melhoria das

decisões em termos de investimentos. No seu estudo, analisou um conjunto de variáveis

para maximizar a variância entre os grupos e ao mesmo tempo minimizando a variância

interna. A função inicial desenvolvida por Altman em 1968 tem a seguinte forma:

g = 0,012(X1) + 0,014(X2) + 0,033(X3) + 0,006(X4) + 0,999(X5~

Sendo:

• Xl = (ativo circulante - passivo circulante)/ativo total

• X2 = lucros retidos/ativo total

• X3 = lucros antes dos juros e impostos/ativo total

• X4 = valor de mercado das ações/exigível total

• X5 = vendas/ativo total

Para essa função inicial, o valor médio de Z obtido por Altman foi de - 0,29 para o

grupo de empresas falidas e de 5,02 para as não falidas.

Conforme se pode observar na função Z de Altman, quatro dos cinco índices utilizados

retratam a relação de contas ou grupo de contas com o ativo total, sendo que apenas X4

trabalha com exigível total no denominador, ao invés de ativo total. O próprio Altman

vem desenvolvendo novos estudos e criando novos modelos.

Embora a pertinência do modelo Escore-Z, observamos que não contempla aspectos

relacionados com Caráter, Capacidade e Condições, restringindo-se ao Capital, o que o

toma um tanto limitado.

Segundo Istvan (1987) a análise fornecida pelo modelo de ADM não tem sido uma

técnica popular para os estudos de falências, sendo utilizado como modelo de análise do

risco. Existem pontos fracos Segundo Istvan (1987) que devem ser ressaltados:

42

o modelo possui um conjunto de características de teor estatístico, que são impostas sobre as propriedades distribucionais dos preditores utilizados.

Existe uma certa arbitrariedade quando se selecionam as amostras, que são um conjunto de empresas sem problemas e com problemas. Se estes grupos escolhidos forem muito pequenos, a representatividade do estudo será baixa.

o modelo ADM, ou Escore-Z, tem um conjunto de coeficientes, que tem pouca representação intuitiva.

Existem problemas referentes a coleta de dados de empresas jàlidas: d~ficuldades para se conseguir variáveis independentes de antes da jàlência; demora ou impossibilidade para obtenção de informações próximas à data da falência; dados contábeis são muito confusos, principalmente na contabilidade das pequenas e médias empresas; itens do balanço podem ser recalculados.

Para corrigir algumas falhas do modelo Score-Z, chegou-se a um novo modelo de

análise de risco do crédito, agora chamado de ZETA (Altman, Haldeman e

Narayanan, 1977).

2.5.2.4.2 O Modelo de Risco de Crédito Zeta

Este modelo apresenta uma série de melhorias em relação a abordagem original do

modelo Score-Z. O modelo Zeta procurou refletir o crescente conhecimento em tomo

dos motivos pelos quais as empresas quebram, tendo se concentrado em organizações

de maior porte, média de $100milhões de ativos, cujos índices de falência haviam

recrudescido. Trabalhou com dados relativos a dois anos antes da falência (Altman,

Haldeman e Narayanan, 1977).

Este novo estudo refletiu as mais recentes mudanças nos padrões das demonstrações

financeiras e nas práticas contábeis, também incorporando refinamentos das técnicas

estatísticas discriminantes.

43

A capitalização dos leases,4 segundo Caouette (1999), foi o ajuste mais importante feito

nos dados publicados pelas empresas estudadas, acrescentando-se valores aos ativos e

passivos das empresas, além de imputar custo de juros a essa nova obrigação. Além

disto foram feitos outros ajustes em relação a reservas, interesses minoritários,

subsidiárias não consolidadas, fundo comercial e bens intangíveis e custos capitalizados

de pesquisa e desenvolvimento.

Com a classificação dos dados de amostragem, o modelo ZET A provou ser o mais

confiável em diversos procedimentos de validação, sendo representado pelas seguintes

variáveis, descritas por Altman (1993), pág. 212:

Xl - Retorno Sobre o Ativo: medido como lucros antes de juros e imposto de renda/ativo total. Esta variável tem significativa importância, pois através de experiências anteriores ficou provada sua utilidade;

X2 - Estabilidade dos ganhos: indicada por uma medida normalizada do erro padrão de estimativa em torno de uma tendência de 5 a 10 anos para Xl. O risco negociai é freqüentemente expresso em termos de flutuações de ganhos.

X3 - Serviços da dívida: medido pelo índice de cobertura de juros, ou seja, lucros antes dos juros e imposto de renda/total de pagamentos de juros.

X4 - Lucratividade acumulada: medida pelos lucros retidos da empresa, ou seja, lucros retidos/ativo total. Tal índice, inclui fatos como idade e a política de dividendos da empresa, além do seu histórico de lucratividade. É considerada a variável mais importante.

X5 - Liquidez: medido pelo índice de liquidez corrente

X6 - Capitalização: é o patrimônio Liquido/capital total. Tanto no numerador quanto no denominador, o Patrimônio Liquido é medido por uma média qüinqüenal do valor total do mercado, em vez do valor escriturai. Esta média é utilizada para compensar as possíveis variações de mercado, acrescentando ao modelo um componente de tendência, juntamente com o X2 já mencionado acima.

X7 - Porte: este é medido pelo logaritmo do ativo total da empresa. Esta variável também foi ajustada em relação a alterações das exigências quanto a demonstrações financeiras.

4 Leases: leasing, arrendamento.

44

o modelo ZET A, empregado como parte do processo de aprovação de crédito, exige

algumas decisões sobre o ponto de corte do resultado da função discriminante, sendo,

abaixo, apresentada uma sugestão.

Onde:

ZETAc = I q\C\ 1/ C

q2 2

• In = logaritimo natural

• q1 = Probabilidade anterior a quebra;

• q2 = Probabilidade anterior de não quebra;

• C1 = custo de erro tipo I (inadimplência);

• C 2 = custo de erro tipo II (perda da oportunidade de

emprestar);

o custo de erro tipo I ocorre quando o analista considera uma empresa "ruim" como

sendo "boa", implicando em quase certeza de inadimplência. De outra parte, o custo de

erro tipo II ocorre quando uma empresa "boa" acaba sendo considerada "ruim", caso em

que estará se perdendo uma oportunidade de emprestar.

Regulando o ponto de corte, conforme proposto por Altman e Narayanan (1977), o

analista ajusta suas decisões levando em conta, inclusive, suas próprias estimativas

anteriores sobre o sucesso ou inadimplência de operações de crédito, podendo refletir,

também, as circunstâncias econômicas vigentes.

2.5.2.5 ESTUDOS DE LETÍCIA E. TOPA

Letícia, em 1979, seguiu uma linha diferente da de Altman, ao trabalhar com o conceito

de probabilidade subjetiva. Topa classificou os fatores a serem analisados para fins de

concessão de crédito em duas categorias:

45

a) Fatores determinantes: aqueles que por si só podem definir a validade ou não do crédito e que são os primeiros a serem observados. São eles:

• Caráter

• Conceito na praça

• Experiência anterior

• Seguros

Segundo Topa, se um desses fatores for negativo, rejeita-se a proposta. Se todos forem

favoráveis, deve-se passar aos fatores complementares.

b) Fatores complementares: são diversos fatores que receberão pesos específicos e que somados deverão atingir uma pontuação que irá quantificar o risco de crédito como aceitável ou não.

Enquanto o instrumento estatístico de análise discriminante é capaz de atribuir os pesos

por processos objetivos, como no caso dos estudos de Altman, Letícia usou critérios

subjetivos. Para Letícia, o peso de cada fator deve ser responsabilidade direta e

indelegável dos dirigentes máximos da área de crédito, que se apóiam não apenas nas

freqüências experimentais, mas também em fatores sociológicos tais como a experiência

passada do indivíduo, sua intuição, seus sentimentos ou qualquer outra informação

ainda que não quantificável. Para seu modelo de probabilidade subjetiva, Topa utilizou­

se do Teorema de Bayes, também conhecido como regra das probabilidades das causas.

Segundo a autora, seu modelo foi submetido a uma comprovação empírica, tendo sido

constatada sua validade num teste com 55 empresas.

2.5.3 ALGUNS ESTUDOS EMPÍRICOS REALIZADOS NO BRASIL

Também de forma sintética, aqui são apresentados os principais estudos desenvolvidos

no Brasil a respeito da definição do Risco de Crédito de empresas.

46

2.5.3.1 ESTUDOS DE STEPHEN C. KANITZ

Kanitz (1978) foi pioneiro no uso da análise discriminante no Brasil e construiu o

chamado termômetro da insolvência, seguindo uma linha semelhante a dos trabalhos de

Altman (1968). A seguir apresenta-se a fórmula de Kanitz, do cálculo do fator de

insolvência:

WI = O,05Xl + 1,65X2 + 3,55X3 - I,06X4 - O,33X51

Sendo:

• FI = fator de insolvência

• Xl = lucro líquido/patrimônio líquido

• X2 = (ativo circulante + realizável a longo prazo)/exigível total

• X3 = (ativo circulante - estoques)/passivo circulante

• X4 = ativo circulante/passivo circulante

• X5 = exigível total/patrimônio líquido

Para o modelo de Kanitz (1978), uma empresa classificada (pelo fator insolvência) entre

° e 7 está na faixa de solvência. Entre ° e -3, estará na região de penumbra, isto é,

indefinida. Quando estiver entre -3 e -7, estará na zona de insolvência.

Analisando os cinco índices utilizados por Kanitz (1978), observamos que três deles são

índices de liquidez, a saber, X2, X3 e X4. Vê-se, portanto, que enquanto o modelo

Kanitz se baseia na liquidez, o modelo inicial de Altman tem como base o ativo total.

Mesmo estando seu modelo composto por três índices de liquidez, Kanitz afirma: "por

fim, é hora de jogar a última pá de cal nos famosos índices de liquidez ... " Com isto,

Kanitz chama atenção para o fato de que os modelos têm melhor desempenho que os

índices isoladamente.

47

2.5.3.2 ESTUDOS DE ALTMAN

Altman e mais dois professores da PUe-RJ, em 1979, construíram um modelo de

análise adaptado ao cenário econômico-financeiro do Brasil. As variáveis explicativas

basearam-se no modelo desenvolvido pelo próprio Altman, em 1968, nos Estados

Unidos, com algumas adequações, em face da necessidade de compatibilização do

modelo com os demonstrativos financeiros das empresas brasileiras.

Os modelos, ou funções, obtidos foram:

gl = -1,44 + 4,03)(2 + 2,25X3 + 0,14X4 + 0,42X51

ou

g2 = - 1,84 - 0,52Xl + 6,32X3 + 0,71X4 + 0,52X51

Sendo:

• Xl = (ativo circulante - passivo circulante)/ativo total

• X2 = (não exigível- capital aportado pelos acionistas)/ativo total

• X3 = lucros antes dos juros e impostos/ativo total

• X4 = patrimônio líquido/exigível total

• X5 = vendas/ativo total

Ambos os modelos, Z 1 e Z2, segundo os autores, apresentaram resultados análogos, e

têm o ponto crítico em zero. Foi observado, pelo uso de Z 1, comentado pelos autores,

que a faixa crítica está entre -0,34 e 0,20. Acima de 0,20 estão as empresas sem

problemas financeiros, enquanto que abaixo de -0,34 estão as empresas com problemas

financeiros.

2.5.3.3 ESTUDOS DE ISTVAN

Istvan (1987) propõe um estudo de Análise discriminante múltipla, de forma cartesiana,

objetivando buscar a essência, através da abordagem das causas, efeitos e soluções,

visando obter prática financeira do ponto de vista operacional. O autor procurou

48

explorar os aspectos quantitativos de cálculo de metrificação das falências, obtendo uma

técnica racional e objetiva.

Na pesquisa de Istvan (1987) há o estudo do modelo de Altman (1968) como cerne de

seu trabalho. O modelo de análise sugerido para os EUA é adaptado para a realidade

brasileira. Através deste modelo adaptado, mostrou-se que as políticas fiscais e

monetárias são as principais determinantes macro-econômicas para as falências das

empresas privadas no Brasil.

O modelo de Análise Discriminante Múltipla, concebido por Altman (1968), é

aperfeiçoado, no Brasil, por Istvan (1987), que faz um estudo de 124 empresas

subdivididas em duas categorias. Um grupo é representado pelas empresas sem

problemas e o outro pelas concordatárias e falidas. As empresas falidas pesquisadas

pertencem ao setor industrial, sofrendo processo de concordata ou falência entre 1978-

1982. A composição do grupo encontra-se no quadro abaixo:

Quadro 2.1: Composição do Grupo de Pesquisa

EMPRESAS

Falidas 11 + Concordatárias 44

- Com Problemas ( G2 ) _ 55

+ Sem Problemas (Gl )- 69

= Total de Amostra 124

Fonte: Istvan, 1987, pág. 54

Entre os argumentos que o autor cita em favor da Análise Discriminante Múltipla,

aplicada à análise de crédito, destaca-se que a "ADM considera conjuntamente um

grupo de características financeiras da firma que se aproximam mais do seu verdadeiro

perfil, além de valorizar a interação dessas propriedades, minimizando sua

co linearidade" (Istvan, 1987, pág. 52).

49

Para chegar à sua função discriminante, Istvan partiu de uma lista inicial de 178

indicadores, que se mostraram significativos como indicadores de dificuldades das

empresas. Dado o grande conjunto de coeficientes financeiros, o autor utilizou o

Método Stepwise5 da Análise Discriminante Múltipla, entendendo ser o mais indicado,

pois "consiste em selecionar seqüencialmente o "próximo melhor" discriminador a cada

etapa de cálculo realizado" (Istvan, pág.55).

Considerando que o processo adotado na Análise Discriminante Múltipla é

essencialmente interativo, o modelo de Istvan não inclui, necessariamente, variáveis

cujo poder explicativo seja individualmente alto. O que importa é a representatividade

global da função, que acabou sendo assim constituída:

Z = O,28Xl + 0,17X2 + O,19X3 + O,08X4 + 0,43X51

Onde:

• Xl = Capital de Giro/Ativo Total

• X2 = Capital Não exigível Total Líquido/Ativo Total

• X3 = Lucros Antes de Impostos e Juros/Ativo Total

• X4 = Valor de Mercado da Participação Acionária e das Ações Preferenciais/Passivo Total

• X5 = Vendas Liquidas/Ativo Total

Istvan (1987) coloca que os banqueiros utilizam muito o modelo discriminante Z e a

evolução deste, o ZET A, para prever corretamente o comportamento das organizações,

orientando, assim a concessão do crédito. O autor da importante adaptação do modelo

de Altman (1968) para a realidade das empresas brasileiras, afirma que o modelo de

análise discriminante minimiza o custo dos bancos, pois, além de melhorar a previsão

de falências e concordatas dos clientes, otimiza o tempo de produção do executivo

financeiro, que precisa analisar um menor número de dados e informações.

Istvan (1987) fala da dificuldade de estimar os custos dos diversos erros de

classificação das empresas. Entre os problemas enfrentados no Brasil, o autor cita as

5 Vide maiores explicações no item 4.3.1.1, desta dissertação.

50

taxas de juros elevadas e voláteis, inflação alta e obrigatoriedade de aplicação dos

recursos dos bancos em áreas específicas, entre outros aspectos, como sendo alguns dos

pontos que reforçam os erros de classificação das empresas. Apesar das dificuldades

apontadas, as empresas continuarão tendo que ser classificadas, sendo que, a exemplo

de Altman, Istvan também recomenda uma fórmula, abaixo colocada, para que seja

estipulado o ponto de corte a ser aplicado ao resultado da função classificatória.

Onde:

• Z = Índice Critico

• ql = Probabilidade prévia de considerar uma empresa em avaliação como falida;

• q2 = Probabilidade prévia de considerar uma firma em avaliação não falida;

• C I2 = Custo de erro em classificar uma empresa como boa, quando está falida;

• C21 = Custo do erro em classificar uma empresa como falida, quando é boa.

2.5.3.4 ESTUDOS DE ALBERTO MA TIAS

Em 1978, Alberto Borges Matias, ao desenvolver um trabalho usando a técnica

estatística da análise discriminante, trabalhou com 100 empresas de diversos ramos de

atividade, sendo 50 solventes e 50 insolventes. Para Matias (1978), empresas solventes

são aquelas que desfrutam de crédito amplo pelo sistema bancário, sem restrições ou

objeções a financiamentos ou empréstimos", enquanto que "empresas insolventes são

aquelas que tiveram processos de concordata, requerida e/ou deferida, e/ou falência

decretada". Segundo Matias, o "índice de endividamento, sozinho, aloca corretamente

93 das 100 empresas". A função discriminante final, do modelo de Matias, após ter

testado diversos índices, foi:

g = 23,792Xl - 8,260X2 - 8,868X3 - 0,764X4 + 0,535X5 + 9,912X61

51

Sendo:

• Xl = patrimônio líquido/ativo total

• X2 = financiamentos e empréstimos bancários/ativo circulante

• X3 = fornecedores/ativo total

• X4 = ativo circulante/passivo circulante

• X5 = lucro operacional/lucro bruto

• X6 = disponivel/ativo total

As médias da função discriminante foram de 11,176 e 0,321 para as empresas solventes

e insolventes, respectivamente, enquanto em ambos os casos o desvio-padrão foi de

3,328.

2.5.3.5 ESTUDOS DE JOSÉ PEREIRA DA SILVA

José Pereira da Silva desenvolveu dois modelos, sendo o modelo Z 1 para indicar a

possibilidade de insolvência para o primeiro (próximo) exercício e o modelo Z2 para até

os dois próximos exercícios, sempre se tomando por base a data dos demonstrativos

contábeis que estamos utilizando (Silva, 2000). A seguir apresenta-se o modelo

construído por Silva.

Modelo para empresa industrial (próximo exercício):

gl = 0,722 - 5,124B + 11,016C - 0,342D - 0,048E + 8,605F - 0,004Gj

Sendo:

• Z I = valor da função, que servirá para classificar a empresa

• 0,722 = constante

• B = Duplicatas DescontadaslDuplicatas a receber

• C = Estoques/custo do produto vendido

• D = Fornecedores/vendas

• E = (Estoque Médio/custo do produto vendido) x 360

• F = (lucro operacional + desp. Financ.)/(ativo total médio-investimento médio)

• G = Capital de terceiros/(Iucro líquido + O, limobilizado médio ± resultado CM)*

* CM = Correção Monetária. Quando o denominador de "G" for negativo, considere seu módulo como denominador e acrescente esse módulo ao numerador também.

52

Modelo para empresa industrial (próximos dois exercícios):

\Z2 5,235 - 9,4378 - O,OlOC + 5,327D - 3,939E - O,681F + 9.693Gj

Sendo:

• 5,235 = constante

• B = (passivo circulante + exigível a longo prazo )/ativo total

• C = Variação do Imobilizado/(lucro líquido + O,IIM - CM + Variação ELP)

Onde:

IM = imobilizado médio CM = Saldo da Correção Monetária ELP = Exigível a Longo Prazo

• D = Fornecedores/ativo total

• E = Estoques/ativo total

• F = Ativo CirculantelPassivo Circulante

• G = (lucro operacional + desp. Financ.)/(ativo total médio - investimento médio)

Como utilizar os Modelos de José Pereira da Silva

a) Quando a empresa é classificada como insolvente?

Em qualquer dos modelos apresentados, o ponto de separação entre empresas insolventes e boas é zero. Isso quer dizer que devemos calcular os índices que fazem parte dos modelos e em cada modelo multiplicar seus índices pelos respectivos pesos; se a soma final, dos produtos dos índices pelos pesos, for maior que zero, a empresa será classificada como boa; se for menor que zero será classificada como insolvente;

b) Aplicabilidade simultânea dos dois modelos

Se a empresa foi classificada como boa com base na aplicação dos dois modelos, tem-se o "sinal verde" para análise da proposta de crédito;

Se a empresa foi classificada como insolvente com base na aplicação dos dois modelos, tem-se o "sinal vermelho";

Se a empresa foi classificada como boa com base na aplicação de um modelo e como insolvente com base na aplicação do outro, tem-se o "sinal amarelo" , requerendo, portanto, uma análise complementar;

53

c) Qual o exercício a ser utilizado?

Nesta pesquisa, trabalhamos com dados do último e do penúltimo exercício, tendo-se chegado a modelos especificos para cada situação. No geral, os modelos baseados nos dados do último exercício apresentaram maior capacidade de previsão. Na prática, entretanto, a princípio não sabemos se determinada empresa terá sua possível insolvência no prazo de um ou dois anos. A nossa sugestão é que se apliquem os dois modelos (ZI e Z2) simultaneamente sobre os dados dos demonstrativos contábeis do último exercício disponível.

2.5.4 MODELOS COMO AVALIAÇÃO DE CRÉDITO

Como alternativa aos pontos de corte sugeridos por Altman6 e Istvan7, que trabalharam

basicamente com dois grupos de empresas, as "boas" e as "ruins", apresenta-se, a

seguir, os modelos como uma medida de probabilidade, fornecendo uma escala de

classificação de risco de crédito como decorrência do valor obtido da função Z. Na

figura 2.7 temos um exemplo de escala de classificação de risco, onde as probabilidades

de insolvência encontram-se associadas aos valores das funções "Z" antes mencionadas.

Observa-se que, associada a cada valor de Z, há uma probabilidade de a empresa ser

solvente. Portanto, não estamos considerando apenas um ponto de separação em Z igual

a zero. Estabelecemos, agora, cinco faixas de avaliação, as quais permitem ao analista e

ao gestor de crédito melhor medida de avaliação de risco.

Figura 2.7 - Exemplo de escala de classificação de risco, tendo como base as funções "Z" de Silva

-1,40 ° 1,39 2,94

(E) (D) (C)

Elevado Duvidoso Médio

0,20 0,50 0,80 0,95

PS* = Probabilidade percentual de Solvência da empresa. Fonte: Silva, 2000, pág. 303.

6 Item 2.5.2.4.2, desta dissertação. 7 Item 2.5.3.3, desta dissertação.

5,19 Z ~

(B) ( A) RISCO

Baixo Mínimo ~

0,99 PS*

54

Se, por exemplo, o valor de Z resultou em - 2,640 para uma determinada empresa, por

esse critério, a empresa seria classificada como sendo de risco elevado. isto é, avaliação

"E". Tal resultado, deve levar o analista a não recomendar crédito à empresa, uma vez

que sua probabilidade de solvência gira em torno de 20% apenas, muito baixa para

quem quer um mínimo de segurança.

De outra parte, se o valore de Z alcançar 3,9, colocará a empresa numa faixa de risco

considerado baixo, avaliação "B", com probabilidade de solvência acima de 95%, dando

tranqüilidade ao analista para recomendar o crédito pleiteado.

A escala acima pode ser construída, estatisticamente, a partir do histórico de crédito

observado pela instituição.

Nada impede que, além da aplicação dos modelos, a empresa que concede créditos

utilize outros parâmetros adicionais de análises, segundo suas necessidades. Supondo

que o único parâmetro seja a aplicação dos modelos e, se nesse caso a empresa for

classificada como sendo de risco "duvidoso" ou "elevado", parece lógico que não deva

operar, a não ser que prevaleçam outros fatores não considerados pela função.

2.5.5 NECESSIDADE DE ANÁLISE COMPLEMENTAR

Quando submetidas a situações que fogem à normalidade observada no mercado, certas

empresas precisam contar com uma análise complementar. Como exemplo, podemos

citar empresas em processo de fusão, submetidas a comitês de credores, ou que

apresentem projetos inovadores. Nesses casos, cabe ao profissional analista, em

conjunto e/ou de acordo com a gerência que recebeu o pedido de crédito, a

determinação do tipo de análise a ser efetuada. Esta análise pode compreender um

dimensionamento da necessidade de capital de giro, uma verificação da capacidade de

geração de recursos por parte das operações da empresa, ou mesmo a intenção de

aumento de capital (aporte de dinheiro), assim como o exame da política de

investimentos adotada pela empresa cliente.

55

2.6 NOVAS ABORDAGENS DE ANÁLISE DO RISCO DE CRÉDITO

Com o objetivo de posicionar os leitores sobre algumas teorias que começam a ser

discutidas no mercado, principalmente nos Estados Unidos e Europa, abordaremos nas

páginas seguintes o "Modelo KMV", "Redes Neurais", "Lógica Fuzzy" e "Neuro-

Fuzzy".

2.6.1 MODELO KMV

Esta modelagem foi extraída do livro de Saunders (2000), para quem "o

desenvolvimento de modelos internos para a medição de risco está em um estágio

inicial. "

Trata-se de uma modelagem voltada para o risco de empréstimos e não de um cliente

em particular. Embora um pouco desvinculada do tema central deste trabalho, que

discute mais especificamente o risco individual de cada cliente, aqui está colocada em

função das diferentes variáveis que utiliza e que poderão, futuramente, ser consideradas

nos modelos de rating a serem construídos (Saunders, 2000).

o nome KMV tem ongem na empresa que concebeu o método, que é a KMV

Corporation de San Francisco. O modelo relaciona o mercado de opções8 com os

empréstimos tomados pelas empresas, admitindo que a empresa poderá optar ou não

pelo pagamento do valor tomado, na medida em que o mesmo, ao longo de um período,

crie ou não valor para ela, respectivamente. Tudo, em consonância com o mercado de

opções, onde o titular exerce ou não a opção de compra ou venda, conforme lhe for

favorável ou não.

8 Opções: Instrumento do Mercado de Derivativos, ideal para constituir hedge (proteção) a ser usado caso o cenário futuro de um determinado negócio venha a ser desfavorável. Para maiores informações, sugere­se a leitura do livro Mercado Financeiro, de Eduardo Fortuna, Editora Qualitymark, 1999, p. 426.

56

Observando o Gráfico 2.1, suponha que a empresa tome OB e o valor de mercado dos

ativos da empresa no final do período seja OA2. A empresa pagará o empréstimo e os

detentores do capital reterão o valor residual dos ativos da empresa (OA2 - OB).

Quanto maior o valor de mercado dos ativos da empresa no final do período do

empréstimo, maior o valor residual de seus ativos para os detentores de seu capital.

Entretanto, se os ativos caírem para menos de OB (ou seja, sejam iguais a OA 1), os

detentores do capital da empresa não poderão pagar o empréstimo. Estarão

economicamente insolventes e entregarão os ativos da empresa ao banco.

Observe que o risco de perda patrimonial dos detentores do capital é diminuído,

independente de quão baixos sejam os valores dos ativos, em comparação com o

montante tornado. Especificamente, a "limitação de responsabilidade" protege os

detentores do capital contra perder mais do que OL (a participação original dos

proprietários na empresa).

Como mostrado no Gráfico 2.1, o resultado para o detentor do capital de urna empresa

alavancada, tem um risco de queda limitado e uma acentuada possibilidade de aumento.

Aqueles que têm familiaridade com opções reconhecerão imediatamente a similaridade

entre a função resultado para um detentor de capital de uma empresa alavancada e a

aquisição de uma opção de compra sobre uma ação.

Podemos, assim, considerar a posição de valor de mercado dos detentores de capital de

uma empresa tomadora (E) como sendo isomórfica à posse de urna opção de compra

sobre os ativos da empresa (A). Se der lucro os sócios ganham muito, se quebrar,

perdem pouco.

o ponto de exercício da inadimplência estaria em B, que é tido corno o valor de todas as

obrigações de curto prazo (um ano ou menos) mais a metade do valor contábil da dívida

de longo prazo em circulação.

Valor do

Capital (E)

57

Gráfico 2.1: Capital como Opção de compra sobre uma empresa.

B

AI A2 Valor dos Ativos(A)

L~--------------~

Fonte: Saunders,2000

De modo geral, o capital pode ser valorado como:

E = h (A, erA, r, B, t)

Onde:

• E = valor de mercado do capital (preço da ação x número de ações)

• A = valor dos ativos da empresa

• crA = desvio padrão dos ativos da empresa

• r = taxa de juros

• B = valor dos empréstimos

• t = tempo sob análise

Conforme Saunders (2000), após serem calculados, os valores A e crA podem ser

utilizados, juntamente com suposições sobre os valores de B e t, para gerar uma

pontuação EDF (Expected Default Frequency Freqüência Esperada de

Inadimplência) teórica para qualquer tomador dado. A idéia é demonstrada no Gráfico

2.2. Suponha que os valores retirados da equação anterior sejam A = R$ 100 milhões e

crA = R$ 10 milhões, enquanto o valor de B é de R$ 80 milhões. Na prática, o usuário

pode estabelecer o limite de inadimplência ou "preço de exercício" (B) igual qualquer

58

proporção do endividamento total a pagar que seja de seu interesse. Suponha que

desejemos calcular o EDF para um horizonte de um ano. Dados os valores de A, aA, B

e r, e com t = um ano, qual a probabilidade (teórica) de inadimplência de uma empresa

tomadora no horizonte de um ano? Como pode ser verificado no Gráfico 2.2, o EDF é a

área sombreada da distribuição de valores de ativos abaixo de B. Esta área representa a

probabilidade de que o valor corrente dos ativos da empresa, R$ 100 milhões, cairá para

menos de R$ 80 milhões no horizonte de tempo de um ano.

Se presumirmos que os valores futuros dos ativos sejam distribuídos normalmente em

tomo do valor corrente dos ativos da empresa, podemos medir a distância t = O (ou a de

hoje) da inadimplência no final do horizonte de um ano como:

Distância da inadimplência A-B aA

R$ 100m - R$ 80m R$10 m

2 desvios-padrão

Para que a empresa entre na área de inadimplência (área sombreada), o valor dos ativos

deveria sofrer uma queda de R$ 20 milhões, ou 2 desvios-padrão, ao longo do ano

seguinte. Se os valores dos ativos forem normalmente distribuídos, saberemos que há

uma probabilidade de 95 por cento de que os valores dos ativos variem entre mais ou

menos 2a de seu valor médio. Assim, há uma probabilidade de 2,5 por cento de que o

valor dos ativos aumente em mais de 2a ao longo do próximo ano, e uma probabilidade

de 2,5 por cento de que caia em mais de 2a. Em outras palavras, há uma freqüência

esperada de inadimplência ou EDF de 2,5 %.

o Credit Monitor da KMV utiliza uma suposição de crescimento de ativo constante para

todas as empresas que estejam no mesmo mercado, que é a taxa esperada de

crescimento do mercado como um todo.

As pontuações EDF mostram-se mais sensíveis em relação à sistemas baseados em

dados contábeis, fato que pode ser creditado à sua ligação direta com os preços das

ações nas bolsas de valores (Saunders, 2000).

59

Gráfico 2.2 - Cálculo da Freqüência Esperada de Inadimplência de uma determinada empresa.

A ~ $100m

B ~ t80m

t ~ O

Fonte: Saunders,2000

t~ 1

Área de 1nadimplência

Tempo (I)

Em resumo, a abordagem de precificação de opções à previsão de falências pOSSUi

diversos pontos fortes. Em primeiro lugar, pode ser aplicada a qualquer empresa de

capital aberto. Segundo, por ser baseada em dados de bolsas de valores em vez de em

dados históricos contábeis, tem uma visão de futuro. Terceiro, possui forte

fundamentação teórica, por ser um "modelo estrutural" baseado na moderna teoria de

finanças corporativas e opções, na qual o capital é visto como opção de compra sobre os

ativos de uma empresa.

2.6.2 O SISTEMA DE TOMADA DE DECISÃO ATRA VÉS DAS REDES NEURAIS

A abordagem da mudança, mencionada nesta dissertação, sugere que as organizações se

adaptem aos novos princípios de gerenciamento do negócio. A necessidade de

compreensão e assimilação de informações, mencionada por Ulrich (1998), é melhor

aplicada na tomada de decisão, quando se leva em consideração a visão de Simon

(1965) e a evolução que vem sofrendo. O cenário está repleto de transformações e as

organizações precisam estar sintonizadas com estas mudanças.

60

Este ambiente mutante impõe uma transfonnação das estruturas organizacionais,

exigindo que as decisões sejam razoavelmente planejadas, maximizando a visão dos

reflexos causados pela ação incidente sobre o objeto da decisão.

Segundo Turban (1995), o uso de informações para tomada de decisão minimiza ° risco,

na medida em que o decisor acumula o conhecimento do processo decisório. Fala-se em

um sistema de infonnações, capaz de ampliar a visão do decisor.

o decisor precisa diferenciar dado de infonnação, aspecto de extrema importância para

o processo decisório. Os conceitos mencionados anterionnente por Comella (1994)

devem ser ampliados para um melhor entendimento.

Há uma diferenciação conceitual muito clara que parece não deixar qualquer dúvida a

respeito do que é dado e infonnação, mas que na prática não é tão fácil de ser feita.

Segundo Goldratt (1991), as pessoas estão afogadas em oceanos de dados, onde

raramente parecem estar satisfeitas com as infonnações disponíveis. É preciso dar um

sentido lógico para dado e infonnação, relativizando-os em relação à tomada de

decisão.

Os modelos de análise do risco de crédito, sugeridos até o momento, podem não passar

de meros geradores de dados. Índices que representam pontos de corte, dependendo

como são considerados, podem levar à decisões que a atual incerteza do ambiente não

mais comporta. Embalado pela velocidade das mudanças, o processo decisório

necessita, cada vez mais, contemplar tendências e aproximações, em detrimento de

indicadores hennéticos. Assim, há que se produzir, através dos modelos de análise, não

apenas dados, mas infonnações, pois somente elas traduzem importância para o decisor

(Goldratt, 1991).

Para minimizar o erro da tomada de decisão, existem sistemas onde o próprio processo

de decisão é encaixado num sistema de infonnação. Estes sistemas, estruturados em

novas tecnologias, começam a ser utilizados com sucesso por algumas instituições

financeiras, assegurando vantagem competitiva.

61

Os modelos mencionados neste estudo têm extrema importância para o decisor,

fornecendo informações estreitamente relacionadas com objeto da decisão. Contudo, os

modelos escore Z , ZET A e outros aqui mencionados, podem ser aperfeiçoados com o

uso de novas tecnologias.

A complexidade crescente no ambiente das organizações, fez com que se buscasse

informações além da fronteira tradicional. As instituições financeiras procuram este tipo

de recurso dentro de seu processo decisório, falando-se, hoje, no uso de sistemas de

redes neurais (Abelém, Pacheco & Vallasco, 1995).

A abordagem das redes neuraIS apresenta algumas características que, em tese,

poderiam superar certas limitações dos modelos baseados em análise discriminante

linear. As redes neurais, segundo Caouette (1999), se assemelham à análise

discriminante não-linear, na medida em que deixa de lado a presunção de que as

variáveis que entram na função de previsão de dificuldades são linear e

independentemente relacionadas.

Estas redes neurais, que reproduzem a capacidade do cérebro de maneira simplificada,

elaboram, por exemplo, princípios associativos ou capacidade de aprendizado, através

da utilização das redes neurais artificiais. O uso dos princípios associativos do cérebro

humano, remete a representações do conhecimento sobre a avaliação do risco de

inadimplência, sendo de especial interesse das instituições financeiras. Estas técnicas de

análise do risco, podem tratar não apenas os dados quantitativos, fornecidos por

fórmulas de risco que estabelecem pontos de corte do crédito, mas métodos estatísticos

que privilegiam, além das correções nestes modelos determinísticos, a análise de dados

qualitativos (Kohonen, 1988).

Uma rede neural é um conjunto de elementos computacionais simples interligados. O

cérebro humano é um conjunto de neurônios interligados. No cérebro, sinais elétricos

passados entre os neurônios são inibidos ou aumentados, dependendo do que a rede

neural aprendeu no passado. De modo semelhante, podem ser construídos, com software

ou hardware, neurônios artificiais que se comportem de maneira semelhante à dos

neurônios biológicos. O comportamento da rede deriva do comportamento coletivo das

unidades interligadas. Os elos entre as unidades (neurônios) não são rígidos, podendo

62

ser modificados por meio dos processos de aprendizado gerados pela interação da rede

com o mundo exterior. Uma instalação simples de rede neural pode ser vista na Figura

2.8.

Figura 2.8: Exemplo de uma rede neural simples.

resultado

Fonte: Caouette (1999)

Cada unidade recebe uma entrada "X" do mundo exterior, podendo ser um índice

financeiro, uma tendência de mercado ou qualquer outra variável de entrada. Também

pode ser o sinal de saída de outro neurônio a que a unidade esteja ligada. Cada "X" está

associado a um peso, indicando a importância de cada entrada.

Note-se que Pi é simplesmente uma combinação linear de pesos das entradas Xj no

neurônio. O aspecto seguinte da rede é o uso, pelo neurônio, de uma função de

transferência que converte o potencial Pi em um resultado Yi com valor entre O e 1, que

pode ser um resultado final ou uma entrada para unidades neurais subseqüentes. A

diferença em relação à análise discriminante linear, é que esta última é um caso especial

de rede neural que consiste em um único neurônio que recebe sinais de um conjunto de

indicadores e gera um resultado, o escore discriminante.

Dá-se à rede um conjunto de entradas, e isto dá origem a uma reação, que é então

comparada à reação requerida (ou correta). Se a taxa de erro exceder de um determinado

nível de tolerância, são feitas alterações nos pesos, e o processo de aprendizado

recomeça. Após um grande número de ciclos, o erro é reduzido a um nível aceitável.

63

Uma vez que se chegue ao nível necessário de precisão, o aprendizado termina, e os

pesos são travados. Assim, o processo não diverge muito dos modelos tradicionais,

sendo que a única diferença está em que se chega aos pesos por tentativa e erro, em vez

de uma solução de forma fechada.

A abordagem de redes neurais pode ser criticada por seu embasamento teórico "ad hoc"

e pelo uso de mineração de dados para identificar correlações ocultas entre as variáveis

explicativas. Em um teste comparativo, Altman, Marco e Varetto (1994) concluíram que

a abordagem de redes neurais não representa melhoria material em relação à estrutura

linear discriminatória na previsão de quebras de empresas.

As redes neurais são constituídas por pesos de conexão adequados entre os neurônios,

que são estabelecidos através do método de aprendizado, também chamado de retro­

propagação. Este método de aprendizado, é supervisionado por resultados observados

na saída dos neurônios usados para ajustar os pesos e conexões, otimizando os índices

constituídos pela formula. Há uma comparação de vetores utilizados no processo,

modificando seus pesos a partir da inserção de decisões anteriores. Ocorre, assim, o

aprimoramento do conhecimento e, em conseqüência, do processo decisório. Existem

diversos modelos de redes neurais, cada qual com suas particularidades (Kohonen,

1988).

A afirmação de Goldratt (1991), de que as pessoas estão afogadas num oceano de dados,

é perfeitamente aplicável às instituições financeiras. A qualidade da decisão depende, da

base de dados e da capacidade de transformá-los em informações valiosas para a

organização.

As redes neurais artificiais são estruturas paralelas, densamente interconectadas,

compostas de uma rede de elementos simples e adaptativos. Estes, obedecem a uma

organização hierárquica, interagindo com os objetos do mundo real, através de unidades

processadoras, os chamados neurônios artificiais.

Este sistema neural diferencia-se de um simples sistema de informação, pOiS ele

consegue aprender com exemplos inseridos pelo decisor em seu sistema de

processamento de informações. Estas redes modificam sua estrutura interna, os pesos

64

das sinapses entre seus neurônios artificiais e as relações de entrada e saída, através de

um comportamento mais dinâmico e aberto.

2.6.3 A LÓGICA FUZZY

Os meios determinísticos usados nas instituições bancárias, como apoio para a análise e

decisão do crédito, começam a ser questionados a partir das novas teorias, como visto

no caso das Redes Neurais.

A ciência computacional vem desenvolvendo meios alternativos, num quadro em que se

discute a chamada inteligência artificial. Estes sistemas inteligentes nada mais são do

que modelos de análise, síntese dos processos para resolução de problemas.

A inteligência computacional envolve sub-áreas, que vão desde a neuro-computação,

sistemas caóticos, probabilísticos, evolutivos, imunológicos, ecológicos e nebulosos.

Dentro da análise de risco de crédito, surge a Lógica Fuzzy como instrumento para a

tomada de decisão.

A teoria Fuzzy se baseia em modelos lingüísticos para descrição de processos que

ocorrem na natureza. Esta teoria consegue modelar o risco para o decisor de crédito, sob

o ponto de vista qualitativo, pois considera, além das variáveis objetivas, também as

subjetivas.

A Teoria Nebulosa, como também é chamada a Lógica Fuzzy, suporta modelos de

raciocínio aproximados, ao invés de exatos. É uma técnica de tratamento de

informações qualitativas de uma forma aprimorada, através de métodos algoritmos de

modelagem e controle de processos. Isto permite a redução da complexidade dos

antigos métodos clássicos de análise do risco de crédito.

A Lógica Fuzzy, utilizada para análise de risco, é baseada na teoria dos conjuntos

Fuzzy. Nesta lógica, o raciocínio exato corresponde a um valor aproximado.

65

Existem diversos sistemas de decisão apoiados na lógica Fuzzy, onde, para melhor

compreender como esta é aplicada, se tomará o sistema ASK. Esta aplicação, como

análise de risco do crédito, foi primeiramente experimentada em 1986, sendo o primeiro

sistema de suporte à decisão, baseado na lógica fuzzy, disponível comercialmente no

mundo (Von Altrock, 1996).

2.6.3.1 O CASO DO SISTEMA ASK

o ASK é baseado em pesquisa psico-lingüística empírica, conduzido na década de 80,

tendo sido aplicado em um banco suíço. Este banco não quer, ou não pode, ser

identificado, segundo Von Altrock (1996), pois não pretende ver seu nome vinculado à

publicações. Para mantê-lo no anonimato, Von Altrock (1996) passou a referenciá-Io

como Apls Credit Bank.

o sistema ASK foi concebido para avaliação da credibilidade de consumidores de

crédito. O montante do empréstimo era considerado pequeno, não sendo conduzidas

análises históricas de crédito do cliente. As agências do Apls Credit Bank, neste caso,

assumem o processo de tomada da decisão, baseado em formulários internos, onde,

inclusive, são detalhados os critérios de aceitação.

A experiência com o sistema ASK mostrou que os bancos podem adotar critérios

uniformes e ao mesmo tempo não muito rígidos para a tomada de decisão. Se houver

um padrão de rigidez por parte da maioria dos gerentes de toda a rede do Apls Credit

Bank, aumentará o custo da não concessão do crédito. Ao mesmo tempo, o banco não

pode assumir os custos por uma operação de empréstimo que causará perdas

consideráveis para a instituição.

o Apls Credit Bank, através das soluções automatizadas, assentadas em um sistema

computacional inteligente que se utilizou da lógica Fuzzy, reforçou o processo de

tomada de decisão, eliminando as desconformidades decisórias existentes entre as

unidades do banco. Ocorreu, inclusive, diminuição de diferentes interpretações que se

verificavam entre os funcionários do banco nos critérios para a concessão do crédito.

Assim, há uma agilidade na tomada de decisão, e ao mesmo tempo diminui-se o risco

de o cliente, ao qual foi negado o pedido de empréstimo, passar em outra unidade do

66

banco e conseguí-Io. Isto causaria uma situação desconfortável para alguns gerentes de

unidades (Von Altrock, 1996).

o sistema de apOlO à decisão, baseado na lógica Fuzzy, automatiza e reforça os

procedimentos de tomada de decisão, integrando as informações e tomando-as

disponíveis para todos os gerentes de determinadas áreas. Quando houver uma

mudança na política de crédito, basta torná-la disponível no sistema de apoio à decisão e

a mudança irá ocorrer num intervalo de tempo reduzido, otimizando o processo

decisório (Caminhas et. aI. 1995).

Quando é feita a avaliação da credibilidade dos clientes, são utilizados não somente

fórmulas determinísticas, mas sim múltiplos fatores financeiros e pessoais, que

aumentam a efetividade na concessão do crédito. Utilizam-se, portanto, as técnicas

quantitativas, como verificado nas análises discriminantes Z e ZET A, por exemplo,

mas, agora, apoiadas em outras informações qualitativas interessantes ao processo

decisório (Fontonari F., 1997).

Propriedade menos Débitos a Longo Prazo

Outras Propriedades Líquidas

Recebimentos menos Despesas

Continuidade da Margem

Potencial Físico e Mental

Motivação

Pensamento Econômico

Figura 2.9: Modelo de Decisão Hierárquico

SEGURANÇA

I FINANCEIRO

LIQUIDEZ

I

PERSONALIDADE

COMPORTAMENTO NEGOCIAL

COllÍürrnidade com Padrões I Econômicos e Sociais

Fonte: Von Altrock, 1996- pág. 30

CREDIBILIDADE

67

Acima, na figura 2.9, é mostrado um layout simplificado da estrutura de um sistema de

apoio à decisão, o qual ajudou a modelar o sistema do Alps Credit Bank.

A visualização da figura 2.9 mostra que, na avaliação da credibilidade dos clientes, são

utilizados diversos fatores. Existem oito variáveis no lay-out do exemplo deste sistema

de lógica Fuzzy, que representam a entrada de dados, agrupados de forma hierárquica.

Nas quatro camadas superiores temos os hard facts, dados objetivos que foram

retirados do histórico financeiro do cliente. Nas quatro camadas inferiores do sistema,

encontramos os soft facts, dados qualitativos, subjetivos, que são obtidos pelos

funcionários através de consulta ao cliente ou outras fontes de informações.

Este sistema possui algumas restrições para o nível funcional, pOIS os resultados

intermediários não são mostrados. Há portanto um processamento das informações

inseridas no sistema, onde a restrição de acesso a certas informações serve para evitar

que os funcionários daquele nível hierárquico aprendam a burlar o sistema, mesmo que

de forma involuntária, com julgamentos equivocados a respeito dos fatos qualitativos.

Existe portanto uma parametrização feita pela comissão de planejamento organizacional

da instituição, que é estabelecida no sistema. O sistema permite que o funcionário

decida a respeito do crédito, mas que não ultrapasse as restrições. Isto ocorre para que

as informações e processos de decisão fiquem documentados e possam ser otimizadas.

Através do mapeamento do processo decisório, é possível alcançar resultados cada vez

melhores com o uso das ferramentas de apoio a decisão. Essas novas metodologias

pretendem superar as deficiências dos antigos métodos utilizados pelas instituições

financeiras, que, em geral, se restringiam a analisar os dados quantitativos empíricos,

num quadro em que a eficácia das decisões passava a depender diretamente da

competência profissional e características pessoais do decisor.

O Alps Credit Bank utilizou a lógica Fuzzy em seu sistema de análise de crédito,

obtendo bons resultados com o modelo de apoio à decisão. A empresa planeja aumentar

o grau de automação do sistema, para que seus clientes possam realizar maior número

de operações via sistema bancário, entrando, aí, o conceito mais aprofundado de

inteligência artificial.

68

Existem outros bancos que utilizam a lógica Fuzzy para análise de avaliação de risco de

crédito, como ocorre no banco japonês Nikko Securities Ykohama. Neste banco, é

utilizada a mesma metodologia descrita para o caso do Alps Credit Bank.

Outro exemplo de Utilização da lógica nebulosa é o modelo desenvolvido pela BMW

Bank Gmbh da Alemanha, em conjunto com a Inform Software Gmbh of Germany. A

seguir, é feita a descrição do modelo, que apresenta um sistema de "score card",

melhorado pela lógica Fuzzy (Von Altrock,1996).

2.6.3.2 O CASO DA BMW BANK

A BMW Bank tinha como objetivo principal descentralizar o processo de decisão,

através do melhoramento do sistema "score card", utilizando a lógica Fuzzy. Esta lógica

foi integrada ao sistema disponível para o cliente, sendo que os vendedores ficam

conectados, através de seus computadores, ao banco de dados do sistema de crédito da

empresa.

Através deste sistema melhorado, a BMW Bank poderia consultar o histórico do

cliente, fazendo uma classificação mais rigorosa. Por este sistema, é feita uma separação

dos diferentes tipos de cliente, graças a diferentes tipos de módulos da lógica Fuzzy.

Os clientes foram separados em privados, trabalhador autônomo e corporativo, que só

em parte eram cobertos pelo sistema antigo. Quando a BMW Bank integrou a seu

sistema o conceito de redes neurais para apoio à decisão, através da lógica Fuzzy, houve

uma transformação dos dados em informações, estas, agora, diretamente vinculadas às

necessidades do processo decisório.

Através da figura 2.10, a seguir, é possível visualizar a estrutura do sistema da lógica

Fuzzy para clientes privados. Esta separação permitiu que se fizesse uma análise mais

detalhada de cada cliente, considerando o perfil individual de cada um deles.

69

Figura 2.10: Avaliação do Risco de Leasing para Clientes Privados

Passados

Crédito

Pagamentos

Históric o de Demográfic

Score Card

Desemprego

0_

--

Mm. Pagamentos Passados Histórico de Crédito Perfil Cliente Proporção

Máx.

Mm. Demográfico Score CardPerdil Cliente r--Desemprego

Máx.

Proporção

Fonte: Von Altrock (1996) pág. 284

IIClassificação I

Na figura 2.10, a variável de entrada "score card" aparece como resultado da avaliação

"score card", juntamente com outras variáveis de entrada, "Desemprego" e

"Demográfico", ajudando a computar o risco através do perfil deste cliente. A variável

"Desemprego" tem a possibilidade de consulta de um banco de dados, que armazena a

atual taxa de desemprego da profissão do cliente. A outra variável, "Demográfico", faz

a leitura do cliente através de um banco de dados, que mede a taxa relativa de risco de

inadimplência/falta de liquidez do local de residência do cliente.

Da mesma forma que se estabelecem variáveis para avaliação de clientes privados, o

sistema da BMW Bank possui sistema de lógica Fuzzy para avaliação do risco de

clientes corporativos, conforme demonstra a figura 2.11, logo a seguir.

Este tipo de cliente possui um processo de decisão mais complicado, o que ocorre em

função do envolvimento de mais variáveis decisórias relacionadas com o objeto da

decisão. Na figura 2.11 é possível observar o bloco de regras diretamente relacionadas

com a variável de saída "Classificação", que é estruturada a partir de quatro variáveis de

entrada: "Risco de Indústria", "Risco da Falta de Liquidez", "Avaliação de Crédito" e

"Pagamentos Passados".

70

Figura 2.11 : Avaliação Do Risco de Leasing para Clientes Corporativos

Tipo Indústria MIN -- CAPITAL Capita! -- SUPORTE F1NANC.

RECEITA

'" MÁX MIN SUPORTE F1N AN.

Receita

RISCO FALTA L1Q.

Força de V ESTR. COMPANHIA

TIPO INDÚSTRIA MIN Trab_ MIN MÁX r-- RISCO FALTA L1Q. FORÇA TRABALHO r- AVALIAÇÃO CRÉD CLASS I-

IDADECOMP. ESTR. COMP. Comp_ TIPO LEGAL PAGTOS PASSAD

MÁX

CLASS

Idade da

MÁX

INmcECRÉD MIN

"""."'c ... ;~ AV AUAÇÃO CRED.

INFORM CRED

a! Informação de Crédito MÁX Tipo Leg

Pgtos Passados -

Fonte: Von Altrock (1996) pág. 285

o "Tipo de indústria" é uma variável de entrada que está ligada a um quadro de base de

dados, estabelecendo, através de uma classificação subjetiva para cada tipo de indústria,

o grau de risco da atividade. A variável "Pagamentos Passados", é definida com base no

histórico de pagamentos do cliente.

As outras duas variáveis do bloco mais à direita da figura 2.11 , originam-se de outros

blocos de regras. "Avaliação do Crédito" é uma combinação das variáveis de entrada

"Índice de Crédito" e "Informação do Crédito". Ambas vêm de provedores de serviços

de informação que mantém classificações de crédito para cada companhia na Alemanha.

"Risco de Falta de Liquidez" é a avaliação do sistema de lógica Fuzzy do risco desta

companhia tomar-se sem liquidez. O bloco de regras computa esta variável da avaliação

do "Suporte Financeiro" e da avaliação da "Estrutura da Companhia". A avaliação do

"Suporte Financeiro" considera a base de capital da companhia - "Capital" - e sua

receita anual- "Receita". A avaliação da estrutura da companhia considera o número de

empregados - "Força de Trabalho" -, a idade da companhia - "Idade" - e o status legal

da mesma - "Tipo Legal" - conforme seja Sociedade Anônima, Limitada, etc.

Os casos aqui apresentados caracterizam-se por juntar o que se chama de redes neurais

com a teoria Fuzzy, caracterizando a Neuro-fuzzy. Estas redes são utilizadas como

71

ferramentas de apoio à decisão, pennitindo a modelagem e aprendizado de regras num

só arcabouço computacional. Desta fonna, pode-se ampliar o conhecimento detido pela

instituição, através de um sistema computacional inteligente.

A seguir será analisada esta combinação que resultou na Neuro-Fuzzy, trazendo

contribuições para a análise de risco nas instituições financeiras, a partir de um sistema

que utiliza infonnações quantitativas e qualitativas, com o objetivo de apoiar as

decisões.

2.6.4 TOMADA DE DECISÃO, RISCO E A NEURO-FUZZY

A fonna tradicional de avaliar o risco nas instituições financeiras, onde eram utilizados

somente meios estatísticos/probabilísticos com o objetivo de controlar e otimizar os

processos de decisão, não satisfaz as atuais necessidades do contexto sócio-econômico­

financeiro, onde inseridos os bancos de crédito (Walker, 2000).

Esta nova realidade trabalha muito mais com abstrações e idéias do que somente com

números e valores. As teorias de Altman, Haldeman & Narayanan (1977), por exemplo,

que enfocam a Análise discriminante, assim como outras teorias desta natureza, jamais

deixarão de ter importância. Elas contribuem de fonna decisiva para a construção de

modelos de análise de crédito que são utilizados como base em muitas instituições

financeiras atuais.

Quando se fala em tomada de decisão baseado em sistemas Neuro-Fuzzi, de maneira

alguma vai se abolir as outras fonnas de análise do crédito. Há uma união destas teorias

extremamente representativas, com uma lógica qualitativa de infonnações.

Dentro da perspectiva dos novos sistemas de apOlO à decisão nas instituições

financeiras, a ciência computacional vem gerando meios alternativos, que são

constantemente incrementados, discutidos e criticados. Esta área da "inteligência

artificial" surgiu entre 1950-1960, vindo basicamente da lógica.

72

Alguns bancos, através destes sistemas Neuro-Fuzzy, consegUIram embutir em seu

"know how", através de meios lingüísticos e subjetivos, um conhecimento mais apurado

de seus clientes. Não se tomam decisões baseadas em dados isolados, mas em

informações processadas de forma adequada, que geram conhecimento significativo.

A instituição bancária atual, utiliza, além de um modelo determinístico para análise de

seus clientes, conhecimentos mais subjetivos, conseguindo, assim, explicar certos casos

imprevistos. Este sistema Neuro-Fuzzy, voltado para a análise do risco, é capaz de

modelar um comportamento-alvo por meio de um sistema de regras e números Fuzzy,

constituindo os controladores, processadores e outros algoritmos de decisão que levem a

alcançar o objetivo esperado (Walker,2000).

A inteligência computacional é muito mais do que Fuzzy. Ela está ligada às redes

neurais, constituindo os sistemas anteriormente mencionados de Neuro-Fuzzy. A partir

de um conjunto de padrões analisados anteriormente, nos casos do Apls Credit Bank e

BMW Bank, é possível construir um sistema que aprenda a representar.

Através de um conjunto de neurônios artificiais, se obtém um sistema de processamento

de informações poderoso, com funções de mapeamento. Este sistema é baseado em

dados do sistema real, onde existe um ajuste dos pesos que ponderam a contribuição

para cada neurônio. A cada novo evento mapeado, o sistema registra e procura colocar

esta informação à disposição das outras variáveis do sistema, ocorrendo uma otimização

nos procedimentos de decisão (Kienitz, 1997).

As redes Neuro-Fuzzy são, basicamente, modelos de sistemas Fuzzy explicitados num

formato/estrutura de rede neural, ou seja, um sistema de informação aliado ao

processamento. Através disto, se consegue interpretar o conhecimento embutido na

rede, de tal forma que se consiga inserir e extrair regras lingüísticas.

As redes Neuro-Fuzzy podem ser utilizadas como ferramentas de tomada de decisão,

pois permitem modelagem e aprendizado das regras de decisão numa só estrutura

computacional. Desta forma, pode-se extrair conhecimento de alto nível, a partir

daquilo que o sistema aprendeu/inferiu.

73

Nos últimos anos tem se verificado um crescente interesse sobre os chamados sistemas

"Neuro-Fuzzy" . A rigor, qualquer sistema que misture os paradigmas de sistemas

nebulosos e sistemas conexionistas poderia ser chamado de "Neuro-Fuzzy", como, por

exemplo, a utilização de um controlador nebuloso para alterar dinamicamente a taxa de

aprendizado de uma rede neural (Von Altrock, 1996).

Nos sistemas Neuro-Fuzzy, os termos e regras de um sistema Fuzzy são aprendidos

mediante a apresentação de pares (entrada, saída desejada), como foi visto

anteriormente nos casos do Apls Credit Bank e BMW Bank . Eles apresentam dois

comportamentos distintos, dependendo de estar numa fase de aprendizado ou numa fase

de processamento de regras que modelam o conhecimento do sistema.

Como uma rede neural (do tipo supervisionada), o aprendizado do sistema é feito a

partir da apresentação de exemplos. Os sistemas Neuro-Fuzzy não são uma "caixa

preta" e, sim, uma orientação das informações e processos decisórios armazenados

anteriormente pelo funcionário.

O sistema Neuro-Fuzzy apóia as decisões na instituição financeira, através das

informações anteriormente inseridas pelo usuário. Existe, portanto, o papel

inquestionável do decisor, que tem a maior parcela de contribuição para o processo de

decisão. Retoma-se, assim, às afirmações de Simon (1965), onde a decisão é tomada

com relação a ação, mas com descrições de fatos anteriores e possibilidades futuras.

Os sistemas de apOlO à decisão possuem o caráter de dinamicidade do processo

decisório, mas que dependem do bom decisor, tanto na parte de inserção de informações

no sistema, como na interpretação adequada.

As variáveis-chave, sugeridas por Freitas (1993), devem ser orientadas pelas

informações mais importantes e imprescindíveis, definidas através de uma avaliação

prévia de cada caso. Com um modelo bem estruturado e bem alimentado, os sistemas

Neuro-Fuzzy podem emprestar maior segurança ao processo decisório, permitindo,

inclusive, visualização adequada das conseqüências de cada decisão.

74

Determinadas informações devem ser inseridas no sistema pelo nível estratégico da

organização, reduzindo, assim, o risco de utilização de um sistema de apoio para

produzir resultados enganosos. Existe, portanto, a necessidade de hierarquizar a

responsabilidade pelo fornecimento das informações ao sistema, utilizando-se, para isso,

dos níveis estratégico, tático e operacional (Macadar apud Freitas, 1998).

Através das informações inseridas e processadas pelos sistemas Neuro-Fuzzy, as

decisões podem ser consideradas mais programadas, reduzindo o risco de execução.

Não há a afirmação de extrema programação da decisão, baseado em informações

estáticas. O que existe é uma dinâmica do processamento das informações, monitorada

por um sistema de apoio, que otimiza o resultado das decisões através de um constante

aprendizado.

Os sistemas Neuro-Fuzzy possibilitam que o tomador de decisão adquira um maior

conhecimento do objeto da decisão. Através do conjunto de informações quantitativas e

qualitativas é possível estabelecer o cenários para decisão ( Turban, 1995).

Este sistema de apoio à decisão, como no caso da BMW Bank, gera soluções que

aperfeiçoam o processo decisório nas instituições financeiras.

O sistema Fuzzy, no caso BMW Bank, envolveu 413 regras de lógica nebulosa, em três

módulos. O desenho completo, teste e verificação dos três módulos, demandaram o

esforço de duas pessoas/ano. A integração dos módulos, nos softwares baseados em

micro-computadores para gerenciamento de contratos de leasing, requereu outra

pessoa/mês. O sistema está atualmente em operação nas concessionárias BMW e o

BMW Bank considera sua performance equivalente à de um experiente perito em

contratos de leasing.

Apesar de o BMW não ter publicado qualquer avaliação sobre a economia alcançada

com o novo sistema, estima-se que a mesma é substancial. O mais importante, porém, é

o aumento da qualidade das decisões.

75

3 METODOLOGIA

Este capítulo demonstra a forma como a pesquisa foi realizada, com o propósito de

relacionar a tomada de decisão em relação à concessão de crédito na organização

pesquisada. A seguir, apresenta-se o tipo de pesquisa, o plano de coleta de dados, o

método de análise de dados, a população/universo, a amostra e as limitações

metodológicas da pesquisa.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Este trabalho caracteriza-se como um Estudo de Caso, de caráter exploratório e

descritivo, sendo trabalhada a análise de crédito do segmento das indústrias movei eiras,

através dos processos internos do Banco do Brasil, devidamente normatizados (Vergara,

2000).

Pesquisas exploratórias são consideradas investigações mais amplas, abordando temas

pouco investigados, onde são levantadas hipóteses para estudo posterior. As pesquisas

descritivas fazem a descrição do fenômeno ou população investigada. A junção destas

duas formas de pesquisa, faz com que a investigação do caso pesquisado consiga

responder melhor ao problema de pesquisa (Gil, 1994).

3.2 PLANO DE COLETA DE DADOS

Os dados serão recolhidos através de documentos e processos normatizados. Desta

forma, pretende-se estabelecer uma base de dados do Banco do Brasil, através de

normatizações e modelos de apoio à decisão na concessão do crédito, tomando-se como

base o referencial teórico do trabalho, onde são abordadas questões relativas à decisão

com relação à concessão de crédito.

76

3.3 ANÁLISE DE DADOS

Na interpretação dos dados coletados foi utilizado o método de análise de conteúdo,

baseado em técnicas sistemáticas de análise, em relação aos objetivos. Assim, existe

uma descrição das situações, permitindo uma inferência dos conhecimentos adquiridos

na pesqUIsa.

As informações recolhidas na instituição pesquisada foram organizadas por categorias,

que coloca as informações prestadas com relação ao plano de coleta de dados em

elementos constitutivos, agrupados conforme seu conjunto de diferenciação.

Posteriormente, estas informações são juntadas conforme seu gênero, assim havendo

uma visão total sobre as informações prestadas (Roesch, 1999).

Existe, portanto, uma pré-análise das informações, onde se procura identificar hipóteses

iniciais com o objetivo de estabelecer um esquema que faça uma interpretação posterior

precisa dos dados.

Chega-se, após, a uma fase de tratamento dos resultados, onde se faz uso da

interpretação das informações prestadas pelo grupo pesquisado. Existe um esforço de

agrupar os dados recolhidos com os questionários e documentos, utilizando a estrutura

pré-definida nos questionários.

Trabalhando os dados desta forma, se consegue descrever como são tomadas as

decisões em relação à concessão do crédito, no caso da instituição e do grupo de clientes

pesquisados.

3.4 POPULAÇÃO UNIVERSO

o universo da pesquisa abrange as indústrias moveleiras sediadas no país, com limites

de crédito analisados pelo Banco do Brasil.

77

3.5 AMOSTRA

Para esta pesquisa foram selecionados os executivos que trabalham há mais de dez anos

no Banco do Brasil e que participam do comitê de análise de crédito para indústria

moveleira, fazendo parte dos processos da concessão do crédito. Foram selecionados,

também, documentos e manuais internos do banco que se referem aos modelos

utilizados na concessão do crédito.

Os critérios para seleção desta amostra foram baseados no objetivo de pesquisa, onde se

procurou o grupo que participa das decisões com relação à concessão de crédito e a

disponibilidade destes para participar da pesquisa.

Os executivos escolhidos estão diretamente envolvidos com a concessão de crédito às

indústrias moveleiras, detendo amplo leque de informações sobre o segmento

pesquisado e as técnicas de análise.

3.6 LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS

Sabendo da complexidade que as instituições financeiras atuais enfrentam na questão da

análise de crédito, num quadro de rápidas mudanças enfrentadas pelo setor, o trabalho

optou por não estabelecer novos modelos de análise de risco. A intenção é mostrar

como são constituídos e utilizados os modelos de análise de crédito do Banco do Brasil,

para, a partir daí, fazer uma interface com as teorias mais recentes.

78

4 TOMADA DE DECISÃO EM RELAÇÃO AO CRÉDITO NO BANCO DO BRASIL PARA PESSOAS JURÍDICAS DO SETOR MOVELEIRO

Esta parte do trabalho apresenta o modelo de análise de crédito adotado pelo Banco do

Brasil, pesquisado junto às agências que representam os principais pólos moveleiros do

país. Aqui são discutidas as principais características desta atividade, de acordo com os

parâmetros estabelecidos na revisão de literatura. Inicialmente, aborda-se a estrutura

hierárquica do processo decisório, observada pela instituição pesquisada, direcionando­

se, depois, para o objetivo principal do trabalho, que é o estudo do processo de análise e

decisão do crédito.

Neste capítulo será descrito o processo de análise de crédito desenvolvido pelo Banco

do Brasil no que diz respeito ao segmento de empresas foco do presente trabalho,

representado pelas indústrias moveleiras do país que faturam entre R$ 1.200 mil e R$

50.000 mil por ano.

A escolha de um segmento específico de atividade empresarial se deu em função das

necessidades intrínsecas do processo de construção de um modelo de análise de crédito,

que, para ser mais representativo, deve ser elaborado a partir de dados de empresas

afins.

4.1 A ESTRUTURA HIERÁRQUICA DO PROCESSO DECISÓRIO

A figura 4.1 apresenta o fluxo de documentos, pareceres e despachos observados no

processo decisório, que tem por objetivo a concessão de crédito às indústrias moveleiras

que faturam entre R$ 1.200 mil e R$ 50.000 mil por ano.

Como se pode observar, todo o trabalho começa e termina numa unidade operacional,

representada pela agência responsável pelo relacionamento com o cliente, a qual irá

receber os pedidos de crédito e efetuar as devidas contratações e condução das

operações.

Figura 4.1: Estrutura do Processo Decisório

(Agência) Recebimento de Dados e Documentos da Empresa

(AI)

Distribuição a um Analista

(D3)

-Estudo Preliminar -Complementação de Informações -Ajustes

(E l )

..

Diligências junto à Empresa

Diligências junto à Agência

Digitação de Dados Técnicos e Qualitativos

no Sistema

(E2)

Recebimento Dossiê na Agência

(G)

SIM-.

--""

-Confecção Relatório Visitas -Coleta de Informações -Atualização Cadastral -Composição do Dossiê

(Div. de Crédito) Recebimento

Dossiê

(Dl)

Emissão de Planilhas de Análise

'---- (E3)

Devolução Dossiê à Agência

-------+ Parecer do Comitê de Crédito da Agência

(C)

,,.

Envio Dossiê à Divisão de Crédito

Análise e Emissão de Parecer pelo Analista

(E4)

r

Análise e Despacho do Comitê da Divisão de

Crédito

(F)

80

Para facilitar a compreensão dos procedimentos adotados pelo Banco, descreve-se, a

seguir, o passo a passo do seu processo de análise de crédito, seguindo o fluxo decisório

acima apresentado.

4.1.1 DOCUMENTAÇÃO SOLICITADA PARA ANÁLISE - (A)

Os documentos essenciais para os procedimentos de análise, e que também possibilitam

a confecção das respectivas fichas cadastrais, são os seguintes:

- Contrato Social ou Estatuto da empresa devidamente registrado na Junta Comercial;

2 - No caso de Sociedade Anônima, Atas de Assembléias Gerais ou de reuniões do Conselho de Administração, elegendo Diretoria e Conselho FiscaL

3 - Demonstrativos Contábeis:

a) - Três últimos balanços, acompanhados das respectivas Demonstrações de Resultado do Exercício;

b) - quando prescrita pela legislação, a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados e o Demonstrativo das Origens e Aplicações de Recursos;

c) - último balancete

4 - Informações complementares prestadas pela empresa;

5 - Matriculas dos Cartórios de Registro de Imóveis, comprovando a propriedade de bens imóveis;

6 - Documento comprovando o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Juridicas - CNPJ;

7 - Documentos pessoais dos sócios ou diretores, necessários à confecção de fichas cadastrais dos mesmos (carteira de identidade, CPF, certidão de casamento, comprovação de bens imóveis e veículos automotores);

8 - Autorização para consulta à CERIC - Central de Risco de Crédito do Banco Central - , que abrange informações sobre o endividamento do cliente nas instituições financeiras do país;

Quando se tratar de grupo empresarial, todas as empresas do grupo devem enviar a

documentação acima descrita, possibilitando, inclusive, a consolidação dos balanços.

81

4.1.2 O RELATÓRIO DE VISITAS - ( B )

A visita à empresa, e a elaboração do respectivo relatório, representa um procedimento

muito importante para o processo de análise de crédito, uma vez que, como será visto

mais adiante, tem peso significativo na determinação do risco.

Enquanto os demonstrativos contábeis aCIma mencionados estão relacionados

diretamente com o aspecto quantitativo da análise, ou, mais especificamente, o Capital,

o Relatório de Visitas está intimamente vinculado aos demais Cs do Crédito, quais

sejam o Caráter, a Capacidade e as Condições.

Dado o relacionamento que possuem com as empresas, conhecendo-as de forma mais

aprofundada, os Gerentes de Contas são os responsáveis pela elaboração dos respectivos

Relatórios de Visitas.

Considerando que a parte qualitativa da análise pode representar 50%, ou mais, do risco

indicado para a empresa, é de se esperar que o profissional visitador reúna condições

técnicas para avaliar corretamente os diversos subsistemas que integram uma

organização, tais como o financeiro, o mercadológico, o de produção, o logístico, o de

pessoal, entre outros. Trata-se de uma qualificação que exige formação e experiência na

área, necessitando contar, ainda, com a necessária isenção do profissional, que deverá,

neste momento, separar adequadamente os papéis de analista e negociador, por ele,

simultaneamente, exercidos.

4.1.3 COLETA DE INFORMAÇÕES EFETUADA PELA AGÊNCIA - ( B)

A partir da documentação recebida, a agência levanta informações junto às fontes de

referência indicadas pela empresa, procurando confirmar seu nível de negócios, a

pontualidade, a imagem da organização, etc, o que é complementado com a consulta

aos órgãos protetores do crédito, tais como CADIN - Cadastro Informativo de Créditos

não Quitados do Setor Público Federal - , SERASA - Centralização de Serviços dos

Bancos S.A e SPC - Serviço de Proteção ao Crédito.

82

4.1.4 CONFECÇÃO DAS FICHAS CADASTRAIS - ( B )

Também a partir da documentação recebida, a agência elabora as fichas cadastrais tanto

da empresa, quanto dos seus respectivos sócios ou diretores. Trata-se, também, de um

procedimento importante, pois a ficha cadastral representa o ponto de partida da análise

de crédito, influenciando diretamente o seu resultado final.

Além dos dados de identificação, tais como razão social, atividade e endereço, a ficha

cadastral revela a existência ou não de restrições comerciais ou bancárias, o tempo em

que está no mercado, a experiência que possui junto ao banco ou outras instituições

financeiras, o patrimônio que possui e o de seus sócios ou diretores, dados

imprescindíveis para quem concede crédito.

4.1.5 MANIFESTAÇÃO DO COMITÊ DE CRÉDITO DA AGÊNCIA - (C)

o Comitê de Crédito da Agência é um colegiado constituído pelos principais

comissionados da unidade, sendo obrigatória a participação do Gerente Geral e do

Gerente de Contas que assiste a empresa.

Quanto ao processo de análise de crédito das empresas aqui estudadas, cabe ao Comitê,

com base na documentação recebida, nas fichas cadastrais elaboradas, no relatório de

visitas, no conhecimento que possui a respeito da empresa ou grupo empresarial e

também tendo em conta os negócios que vêm realizando ou que possam ser realizados

com a empresa, manifestar-se de forma conclusiva a respeito dos limites de crédito a

serem concedidos e respectivas formas de utilização.

o parecer do Comitê de Crédito da Agência se constitui num importante insumo a ser

utilizado pelo analista de crédito, que, em função da distância que muitas vezes

experimenta em relação à empresa, encontra dificuldades para traduzir a real situação

do empreendimento, no que diz respeito à capacidade administrativa de seus dirigentes,

novos contratos comerciais que estão sendo fechados, decisões sobre investimentos em

tecnologia, etc. Assim, cabe ao Comitê de Crédito da Agência uma significativa

83

responsabilidade, elaborando seu parecer de sorte a contemplar informações que não se

encontram explicitadas na documentação reunida, mas que estariam intimamente

ligadas ao risco de crédito oferecido pela organização.

Além de influenciar diretamente a parte qualitativa da análise, a manifestação do

Comitê de Crédito da Agência tem o poder de motivar o posicionamento do analista de

crédito e mesmo do Comitê da Divisão de Crédito, que, como se verá adiante, possuem

a prerrogativa de flexibilizar os Limites de Crédito calculados pelos modelos, desde que

observadas certas condições.

4.1.6 O TRABALHO DA DIVISÃO DE CRÉDITO

A Divisão de Crédito se constitui numa estrutura criada pelo Banco para realizar a

análise de crédito, definindo o risco, os limites de crédito e respectivas formas de

utilização, daquelas empresas cujos valores encontram-se fora da alçada das agências,

como é o caso do segmento empresarial objeto deste trabalho - empresas que faturam

acima de R$ 1.200 mil por ano.

No país, o Banco conta com 5 (cinco) Divisões de Análise de Crédito, cada uma

atendendo uma região pré-determinada. Estas Divisões foram criadas a partir do ano de

1995, fundamentadas em uma nova filosofia administrativa, que busca segregar a

análise de crédito dos aspectos negociais. Com a relativa isenção emprestada à análise

de crédito, procurou-se melhorar o desempenho da instituição, via redução da

inadimplência, o que realmente foi alcançado. A referência "isenção relativa" foi aqui

utilizada de propósito, uma vez que a completa segregação entre a análise de crédito e

os negócios realizados com as empresas ainda não se concretizou por inteiro. O ponto

crucial encontra-se no relatório de visitas, elemento decisivo para o resultado da análise,

mas que, inadvertidamente, ainda é elaborado pelo Gerente de Contas, profissional

diretamente interessado na realização de negócios.

84

A implantação desta nova filosofia, teve no conceito de Limite de Crédito um dos seus

pontos basilares. Limite de Crédito que representa o valor máximo de assistência

creditícia a ser disponibilizado a uma determinada empresa e está diretamente associado

ao Risco de Crédito apresentado pela mesma. Risco que também passou a ser estimado

a partir da adoção da nova filosofia e que é gerado a partir da aplicação de Modelos de

Análise, cujas naturezas e características, sob o enfoque teórico, foram exaustivamente

comentadas na Revisão de Literatura deste trabalho.

Antes do advento dessa nova prática, as agências, dentro de suas alçadas evidentemente,

decidiam sobre quanto e como emprestar, sem a utilização de qualquer modelo de

Análise de Crédito, valendo-se, apenas, de cálculos simplificados de "assistência

máxima" e da experiência e feeling do gerente. O Risco de Crédito da cliente não era

dimensionado. As análises de balanço que eram feitas, assim como as considerações

sobre Caráter, Capacidade e Condições, se revestiam de muita subjetividade, o que

implicava, muitas vezes, em tratamentos díspares e equivocados em relação ao volume e

às condições do crédito, tudo variando de profissional para profissional e trazendo, em

seu bojo, inúmeras dificuldades para o Banco, via inadimplência. Com a segregação

entre Crédito e Negócios, o processo ficou revestido de maior robustez conceitual e

relativa isenção, trazendo resultados positivos para a instituição.

Se hoje as agências ainda possuem alçada para deferir limites de crédito, ela está

limitada a pessoas fisicas e a micro e pequenas empresas, tudo, o que é muito

importante, trabalhado a partir de Modelos de Análise instituídos e constantemente

atualizados por uma Gerência específica, que os acompanha, modela e padroniza,

gerenciando efetivamente o Risco de Crédito no Banco. Com isso, ficam limitadas as

preferências pessoais, estabelecendo-se, ainda, clara delimitação entre o risco do

banqueiro e do bancário.

Esse novo procedimento, caracterizado por um tratamento mais técnico e profissional

do crédito, além de homogeneizar a cultura de crédito no seio da instituição como um

todo, teve como principal mérito uma magnífica elevação da qualidade dos créditos

operados pelo Banco. A inadimplência, hoje, encontra-se em níveis admitidos pelo

Banco e coerentes com aqueles verificados no mercado. Isso trouxe maior solidez e

85

segurança para os negócios desenvolvidos, além de contribuir para a redução do risco

sistêmico do mercado financeiro nacional e, no caso do Banco do Brasil, aliviando o seu

acionista principal - a União - de fazer novos aportes de capital para compensar os

prejuízos decorrentes de empréstimos mal concedidos.

É importante ressaltar que o sucesso desses modelos depende de constante atualização,

de sorte a manter a aderência com as práticas administrativas, com o nível tecnológico,

com os desdobramentos da conjuntura econômica nacional, com as novas fonnas

comerciais adotadas, etc.

Voltando ao foco, enfatiza-se que os documentos necessários para a análise de crédito e

o parecer do Comitê de Crédito da Agência "sobem" para a Divisão de Crédito por uma

questão de alçada, detenninada a partir do porte das empresas a serem analisadas. A

Divisão conta com profissionais mais preparados para as funções de análise de crédito e

utiliza modelos de análise exclusivos, não disponibilizados às agências. Trabalha com

empresas de maior porte, dado o maior impacto potencial que as respectivas operações,

por seus valores, podem representar para a instituição, fator que demanda maior

cuidado e aprofundamento. A análise das empresas consideradas neste trabalho é de

alçada das Divisões de Crédito.

4.1.6.1 RECEPÇÃO DO DOSSIÊ PELA DIVISÃO DE CRÉDITO - ( D )

Recebida pela Divisão de Crédito, a documentação passa por um "check list", com o

objetivo de verificar se está completa ou depende de novas solicitações a serem

endereçadas à agência. Constatado o atendimento de todos os requisitos, em tennos de

documentação, o dossiê é distribuído a um dos analistas de crédito.

4.1.6.2 O ANALISTA DE CRÉDITO

Através de treinamentos internos ou externos que lhe são oferecidos, o analista de

crédito constitui-se em um profissional bem preparado, que internaliza de fonna

86

substantiva as políticas de crédito do Banco, tem amplo domínio dos sistemas através

dos quais são operacionalizados os modelos de crédito, conhece em profundidade as

técnicas mais modernas de análise de demonstrações financeiras e reúne plenas

condições para interpretar cenários econômicos e empresariais. A partir deste perfil

profissional, que, por óbvio, exige permanente atualização e leitura diária de

publicações especializadas em economia, política e administração, o analista, com o

auxílio dos modelos de análise, está apto a posicionar-se quanto ao volume e às

condições de crédito a serem disponibilizados à determinada cliente, garantindo a

assunção de riscos compatíveis com aqueles admitidos pela organização.

Em que pese a sua qualificação técnica, por motivos de segurança, ou, maIS

especificamente, por questões de sigilo empresarial, ao analista não é dado conhecer as

características dos modelos, tais como critérios adotados, funções matemáticas, pesos,

réguas discriminantes, etc. O sistema é, realmente, muito fechado, sendo do

conhecimento de um grupo restrito de funcionários do Banco, responsável pelo

gerenciamento e atualização dos modelos e que têm seu trabalho centralizado na Capital

Federal.

4.1.6.3 O TRABALHO DO ANALISTA - ( E 1,2,3 )

A pnmelfa tarefa do analista, após receber o dossiê, é completar a coleta de

informações, que, por sua natureza, não foram oferecidas pela empresa ou pela própria

agência. Entre as informações coletadas pelo analista, através dos sistemas do Banco,

destacamos o endividamento da cliente j unto a todo o sistema financeiro nacional,

obtido junto à CERIC - Central de Risco de Crédito do Banco Central -, e sua

performance comercial na área internacional (exportações e importações), dados obtidos

através do SISBACEN - Sistema de Informações do Banco Central do Brasil.

A partir desse momento, o analista faz um rápido e genérico estudo do dossiê, com o

objetivo de relacionar dados aparentemente desconexos ou levantar algumas dúvidas

que necessitem de esclarecimentos junto à agência, ou mesmo junto à empresa. Note-se

que este profissional, embora nem sempre conhecendo a empresa pessoalmente,

87

mantém com ela, na pessoa de seus administradores ou contadores, freqüentes contatos

por telefone ou e-mail, buscando a clareza necessária a respeito de todos os aspectos. É

de se supor, porém, que esses contatos não substituem, de forma condizente, a visita à

empresa.

Sem mais dúvidas a serem esclarecidas a respeito dos documentos contábeis e das

demais informações constantes do dossiê, o analista passa a alimentar o sistema que

operacionaliza o modelo de análise adotado pelo Banco.

o pnmeIrO passo é a digitação dos dados dos balanços e das demonstrações de

resultados dos últimos três exercícios, assim como os do último balancete. Neste

momento, as atenções do analista estão voltadas para as contas que, segundo critérios

adotados pelo banco, possam demandar uma reclassificação contábil. Neste aspecto,

destacam-se verbas relacionadas com atrasos de clientes, depósitos judiciais,

empréstimos a sócios ou diretores, excesso na reavaliação de bens do imobilizado, bens

obsoletos e outros valores de difícil realização ou incobráveis, que devem ser deduzidos

do ativo, afetando, por conseguinte, o próprio Patrimônio Líquido. Outros ajustes

podem revelar-se necessários, como, por exemplo, dívidas junto ao sistema financeiro

nacional não contabilizadas. O objetivo é realizar a análise a partir de números que

melhor reflitam a realidade da empresa.

A partir da digitação dos dados contábeis, o sistema gera planilhas de análise. São

planilhas bastante ricas em termos de análise econômico-financeira, oferecendo fácil

leitura dos aspectos mais importantes, tais como a evolução dos principais indicadores

de estrutura, liquidez, rentabilidade e prazos médios, situação do capital de giro e

geração interna de recursos.

Tratados os dados contábeis, que representam a parte quantitativa da análise, ou seja, o

Capital, o analista passa a alimentar o outro segmento do modelo, chamado de análise

qualitativa e que utiliza dados e informações relacionados com o Caráter, a Capacidade

e as Condições enfrentadas pela empresa.

88

Esta etapa do trabalho consiste em respostas curtas e padronizadas, que objetivam

posicionar a empresa de forma favorável, ou não, frente a cada uma das dimensões

acima citadas.

Com os dados quantitativos e qualitativos processados, o analista aciona o sistema que

operacionaliza o modelo de análise de crédito, o qual, de forma automática, calcula o

nível de risco e o respectivo limite de crédito da empresa em estudo.

Quanto à "emissão do parecer do analista", letra "E4" da figura 4.1, e "despacho do

comitê da Divisão de Crédito", letra "F" da figura mencionada, os assuntos serão

melhor discutidos no item 4.3 deste estudo.

4.2 ASPECTOS EXTERNOS DO MODELO DE CRÉDITO ADOTADO PELO BANCO DO BRASIL

o Banco do Brasil adota vários modelos de Análise de Crédito, procurando melhor

refletir as características de cada segmento de sua ampla clientela. Tem-se, assim,

desde modelos mais simples, operacionalizados pelas próprias agências e destinados a

avaliar o crédito de pessoas fisicas ou micro e pequenas empresas, até modelos mais

sofisticados, operacionalizados pelas Divisões especializadas de crédito e destinados à

análise de médias e grandes empresas, como é o caso do segmento empresarial enfocado

neste trabalho.

Os modelos utilizados pelo banco contemplam, normalmente, duas partes principais: a

quantitativa e a qualitativa, que, na seqüência, são descritas.

89

4.2.1 ANÁLISE QUANTITATIVA OU TÉCNICA

A parte quantitativa, também chamada análise técnica, trata do primeiro "C" do crédito

e analisa, basicamente, os números da empresa, mais especificamente os seus

demonstrativos contábeis.

A partir de vários índices econômico-financeiros, nesta parte é aplicada a análise

discriminante múltipla, cujos resultados, no caso do Banco do Brasil, buscam classificar

as empresas em 5 (cinco) níveis de Risco, de acordo com a pontuação obtida. Os

procedimentos são análogos aos observados por Altman (1968), Silva (2000), Istvan

(1987) e Matias (1978) cujos trabalhos foram discutidos no Capítulo 2 e que, também

através da análise discriminante múltipla, objetivavam separar os diferentes perfis de

empresas.

No caso do Banco do Brasil, o resultado da função matemática, gerada pelo modelo,

acaba sendo transformado numa pontuação que vai de O a 100, traduzindo a situação do

fator Capital.

Os principais índices econômico-financeiros calculados pelo Banco, em seu processo de

análise, encontram-se no quadro 4.1, que apresenta as medianas de 688 indústrias

moveleiras do país. As medianas foram construídas a partir de um banco de dados, que

contém os valores de todas as contas patrimoniais e de resultado das 688 empresas,

além do risco e do limite de crédito calculado para cada uma delas. Através de uma

planilha eletrônica, inicialmente foram calculados todos os índices constantes no quadro

4.1, e a partir deles, as respectivas medianas, sempre se observando os níveis de risco

das empresas.

Os índices selecionados, e os respectivos pesos, nem sempre são os mesmos nos

diversos modelos de análise utilizados pelo Banco, embora estejamos tratando de uma

mesma atividade, qual seja a indústria moveleira do país. Existe, até onde se pôde

apurar, uma variação em função do porte e da região onde localizada a empresa. Só

para exemplificar, para as empresas que faturam entre R$ 1.200 mil e R$ 5.000 mil

existe um modelo, para aquelas que faturam entre R$ 5.000 mil e R$ 20.000 mil, outro

90

modelo e para as que faturam entre R$ 20.000 mil e R$ 50.000 mil, outro. Outro

modelo, no sentido de tomar indicadores diferentes, atribuir pesos diversos aos mesmos

e, ainda, estabelecer pontuações diferenciadas tanto para a análise técnica quanto para a

qualitativa. Tudo seria gerado através de ferramentas estatísticas, a partir do amplo

banco de dados que a instituição financeira possui e sempre procurando melhor refletir

as características de cada subgrupamento.

Quadro 4.1 - Medianas de índices econômico-financeiros da indústria moveleira nacional, por faixa de risco.

MEDIANAS POR RISCO CALCULADO ÍNDICE A B C D E

Estoques/Ativo total 20% 19% 20% 19% 14% Ativo Circulante Cíclico/Ativo Total 51% 53% 53% 48% 50% Ativo Circulante Financeiro/Ativo Total 5% 2% 2% 1% 1% Passivo Circulante Cíclico/Ativo Total 16% 18% 17% 21% 26% Fornecedores/Ativo total 8% 10% 9% 10% 16% Passivo Circ. Financeiro/Ativo Total 4% 10% 15% 22% 31% Necessidade de Capo GirolRec.Oper.Líq. 21% 19% 18% 17% 17% Patrimônio LíquidolRec. Opero Líq. 49% 38% 27% 21% 12%

RFR* 35% 56% 99% 143% 120% IPL * 49% 64% 83% 114% 98% EG * 23% 36% 50% 67% 76%

POSA * 8% 15% 26% 42% 45% LC * 2,5 1,7 1,3 1,0 0,8 LG * 2,1 1,5 1,1 0,8 0,8

PMR* 45 47 42 45 48 PME* 61 61 68 63 61 PMC* 32 35 32 37 56 CO* 116 118 117 127 95 CF* 87 78 74 81 47 RI* 15% 12% 8% 1% 0%

RPL * 19% 17% 13% 4% 0% MOL* 10% 8% 6% 2% 0% RA * 1,5 1,5 1,5 1,3 1,3

GAF* 1,2 1,4 1,4 0,1 1,0

i Fonte: Calculadas a partir de um banco de dados fornecido pelo Banco do Brasil, contendo informações de 688 empresas.

* Legenda

RFR '" Relação entre fontes de recursos, dada pela fórmula: (PASSIVO CIRCULANTE + PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO + RESULTADOS DE EXERcíCIOS FUTUROSIPATRIMÔNIO LÍQUIDO) x 100

IPL Imobilização do Patrimônio Líquido, PERMANENTEIP ATRIMÔNIO LÍQUIDO) x 100

dada pela fórmula: (ATIVO

91

EG = Endividamento Geral, dado pela fórmula (PASSIVO CIRCULANTE + PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO/ATIVO TOTAL) x 100

POSA = Passivo Oneroso sobre o ativo total, dado pela fórmula: (PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO + PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO/ATIVO TOTAL) x 100

LC = Liquidez Corrente, dada pela fórmula: ATIVO CIRCULANTEIPASSIVO CIRCULANTE

LG = Liquidez Geral, dada pela fórmula: ATIVO CIRCULANTE + ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZOIPASSIVO CIRCULANTE + PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO

PMR = Prazo Médio de Recebimento, dado pela fórmula: 360 x CLIENTESIRECEIT A OPERACIONAL BRUTA

PME = Prazo Médio de Estoques, dado pela fórmula: 360 x ESTOQUES/CUSTO DO PRODUTO VENDIDO

PMC = Prazo Médio de Compras, dado pela fórmula: 360 x FORNECEDORES/CUSTO DO PRODUTO VENDIDOS (diante da indisponibilidade do Montante de Compras para a grande maioria das empresas do banco de dados, considerou-se o CPV como representativo das compras para todas as empresas)

CO = Ciclo Operacional, dado pela fórmula PMR + PME

CF = Ciclo Financeiro, dado pela fórmula: CO - PMC

RI = Retomo sobre o Investimento, dado pela fórmula (LUCRO OPERACIONAL LÍQUIDO/ATIVO TOTAL) x 100

RPL = Retomo sobre o Patrimônio Líquido, dado pela fórmula: (LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIOIPATRIMÔNIO LÍQUIDO) x 100

MOL = Margem Operacional de Lucro, dada pela fórmula (LUCRO OPERACIONAL LÍQUIDOIRECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA) x 100

RA = Rotação do Ativo, dada pela fórmula: RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA! ATIVO TOTAL

GAF = Grau de Alavancagem Financeira, dado pela fórmula (LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO + DIVIDENDOS E PARTICIPAÇÕESIPATRIMÔNIO LÍQUIDO) / (LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO + DIVIDENTOS E PAR TICIP AÇÕES + DESPESAS FINANCEIRAS/ATIVO TOTAL)

4.2.2 ANÁLISE QUALIT ATIVA

Atribuída pontuação para a parte técnica da análise, agora é a vez da parte qualitativa.

Neste ponto, e a partir das respostas aos questionamentos que visam apurar o Caráter, a

Capacidade e as Condições, determina-se, da mesma forma, uma pontuação de O a 100

para cada empresa, cuja escala divisória de riscos, assim como acontece com os itens e

respectivos pesos considerados, também não é revelada pelo Banco. As fontes

92

principais de dados e informações para esta etapa da análise são as Fichas Cadastrais e o

Relatório de Visitas.

4.2.3 A PONTUAÇÃO FINAL DO MODELO E A DEFINIÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO DO CLIENTE

De posse das pontuações atribuídas às partes quantitativa e qualitativa da empresa sob

análise, o passo seguinte é determinar a pontuação final e o respectivo Risco de Crédito.

Embora sem qualquer certeza sobre os pesos atribuídos pelo Banco do Brasil aos termos

da equação, foi possível apurar que a pontuação final da cliente resulta de uma média

ponderada entre as pontuações das análises técnica e qualitativa. Uma das certezas é

que os pesos de cada um dos tipos de análise - técnica e qualitativa - variam em função

do porte da empresa, tendo-se indicações seguras de que o peso da análise qualitativa

aumenta confonne diminui o porte da empresa. Tal tratamento é justificado pela maior

consistência e confiabilidade das demonstrações financeiras das grandes empresas, que,

inclusive, são auditadas, assim como pela necessária e natural maior capacitação de seus

profissionais administrativos.

A seguir, é apresentada uma fórmula matemática, que poderia estar sendo utilizada pelo

modelo de análise do Banco, para estipular a pontuação final do cliente. Mesmo sem

condições de afirmar a qual porte de empresa a fórmula se refere, é certo que os pesos,

como explicado anteriormente, variam de acordo com o tamanho das mesmas. Assim,

uma grande empresa pode ter peso 6 para a análise técnica e peso 4 para a análise

qualitativa, enquanto uma pequena teria peso 4 para sua análise técnica e 6 para a

qualitativa. A certeza restringe-se à dinâmica do modelo, que deve ser constantemente

ajustado em seus pesos e fatores, de forma a refletir a experiência creditícia da

instituição e suas políticas de crédito, assim como as constantes mudanças que ocorrem

na conjuntura econômica e no cenário político interno e externo.

PONTUAÇÃO FINAL (AT x 6) + (AO x 4)

10

93

onde:

• AT = pontuação da Análise Técnica de O a 100~

• AQ = pontuação da Análise Qualitativa de O a 100

Através da ponderação das pontuações técnica e qualitativa, tem-se, então, uma nova e

final pontuação, que, obviamente, também estará inserida num intervalo de O a 100.

Resta, agora, enquadrar a pontuação em uma escala que, além da pontuação de O a 100,

apresente também os pontos de corte entre os níveis de risco projetados. Embora

também sem a certeza dos pontos de corte adotados pelo Banco em cada um de seus

modelos, concluiu-se que os mesmos são definidos de forma estatística, a partir da

experiência histórica que a instituição possui a respeito de crédito.

No Quadro 4.2, encontra-se um exemplo de escore a ser adotado para a pontuação final,

onde aparecem os pontos de corte entre os Riscos "A", "B", "C", "D" e "E", numa

escala de O a 100, para grandes, médias e pequenas empresas.

Quadro 4.2: Exemplo de régua discriminante do risco das empresas.

EMPRESAS RISCO GRANDES MEDIAS PEQUENAS

A >75,96 >80,57 >77,86 B Entre 58,90 e 75,96 Entre 63,03 e 80,57 Entre 62,61 e 77,86 C Entre 39,38 e 58,90 Entre 41,21 e 63,03 Entre 44,34 e 62,61 D Entre 10,80 e 39,39 Entre 13,58 e41,21 Entre 13,46 e 44,34 E <=10,8 <=13,58 <=13,46

Fonte: Sistema de Informações do Banco do Brasil.

A partir do estabelecimento do risco da empresa, o Modelo de Análise de Crédito

adotado pelo Banco do Brasil calcula, automaticamente, um valor de Limite de Crédito

a ser disponibilizado, constituindo-se, sempre, em um percentual da Receita

Operacional Líquida ou do Patrimônio Líquido, aquele que resultar num valor menor.

Esse percentual também está estabelecido em uma escala, cujos pontos de corte são

94

dados em função do risco da cliente. Quanto menor o nível de risco, maior o percentual

a ser calculado.

No Quadro 4.3 apresentamos as medianas percentuais da Receita Operacional Líquida­

ROL - e do Patrimônio Líquido - PL, referente aos Limites de Crédito calculados pelo

Banco para as 688 empresas aqui consideradas.

Quadro 4.3: Medianas dos percentuais utilizados pelo Banco do Brasil para calcular os Limites de Crédito a partir da Receita Operacional Líquida (ROL) e do Patrimônio Líquido (PL) das

empresas, por nível de risco

RISCO % da Receita Operacional % do Patrimônio Líquido Líquida

A 17 36 B 12 32 C 7 23 D 2 8 E O O

Fonte: Cálculos efetuados a partir do banco de dados fornecido pelo Banco do Brasil.

Com base no Quadro 4.3, elaborou-se o Gráfico 4.1, onde pode ser visualizada a

representatividade dos percentuais acima descritos, que decrescem conforme aumenta o

risco oferecido pela empresa. Considerando que o faturamento, em situação normal, é

sempre superior ao Patrimônio Líquido, o percentual em relação à Receita Operacional

Liquida, logicamente, é menor.

Gráfico 4.1: Percentuais da ROL e do PL, por nível de risco, utilizados pelo Banco do Brasil para calcular o limite de crédito das empresas

40

35

30

25

20

15

10

5

O A B C

RISCO

D E

.%ROL

.%PL

95

4.3 POSICIONAMENTO DO ANALISTA

Neste momento, o analista tem, diante de si, um risco estipulado para a empresa, sobre o

qual deixa de ter qualquer ingerência, ou seja, não pode mais modificá-lo. Possui,

também, uma sugestão de valor de Limite de Crédito dada pelo modelo e o parecer da

agência operadora. Cabe a ele, agora, posicionar-se a respeito do valor final a ser

concedido e suas condições de utilização.

Ressalta-se que o analista, desde que argumente de forma convincente, pode propor

Limites de Crédito superiores àqueles sugeridos pelo modelo. Nestes casos, é natural

que cerque o aumento da exposição ao risco através do direcionamento de linhas de

crédito, estipulação de prazos ou garantias diferenciadas. Tal prática tem sido muito

observada no Banco, encontrando-se no Quadro 4.4, uma indicação de valores

calculados pelos modelos de análise e os efetivamente deferidos para empresas do

Estado do Rio Grande do Sul, no período compreendido entre setembro de 2000 e

agosto de 2001.

I

i

,

i

Quadro 4.4: Limites Calculados e Deferidos para empresas do Rio Grande do Sul, no período Set/2000 a Ago/2001, em R$ mil

Limite calculado Valor deferido pelo modelo Limite deferido acima do Percentual de 3

RISCO calculado (2 - 1) sobre 2 ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

A 167.028 208.848 41.820 20 B 233.282 387.156 153.874 40 C 97.850 232.486 134.636 58 D 5.374 58.840 53.466 91 E - 11.305 11.305 100

Fonte: Banco do Brasil

o Quadro 4.4, merece ser cuidadosamente analisado, uma vez que revela aspectos

teóricos e práticos muito significativos no contexto da administração do crédito.

Com base no Quadro 4.4, foi construído o Gráfico 4.2, apresentando uma comparação

visual entre os valores calculados pelos modelos de análise e os limites de crédito

realmente deferidos.

96

Gráfico 4.2: Limites de credito deferidos para empresas do RS no período Set/2000 a Agol2001 (Valores em R$ Mil)

4SO.<XX>

4OO.<XX>

3SO.<XX>

3OO.<XX>

250.<XX>

200.<XX>

lSO.<XX>

l00.<XX>

SO.<XX>

O

A B C

RISCO

D

• limite calculado

• limite deferido

E

Uma das constatações é no sentido de que os resultados extraídos dos modelos de

análise, na prática, realmente não são soberanos, existindo considerável espaço para a

ponderação de outros fatores que acabam determinando uma flexibilização dos valores a

serem emprestados.

Analisando-se os números da tabela, observa-se que o percentual deferido acima do

calculado pelo modelo de análise aumenta conforme aumenta o risco das empresas.

Uma das explicações para a ocorrência de tal fato seria a própria fórmula utilizada para

o cálculo dos limites, que emprega percentuais decrescentes da ROL ou do PL, à

medida que o risco aumenta. Com os limites calculados caindo de acordo com o

aumento do risco, acaba-se gerando um efeito inverso no percentual dos valores

deferidos acima do calculado, já que não existe qualquer parâmetro de relatividade para

esta concessão, como, por exemplo, um percentual sobre os limites calculados.

Observando-se o caso das empresas "E", constata-se que o valor alcançou 100%, o que

decorre da não estipulação de qualquer limite por parte do modelo de análise para este

nível de risco.

Mas isso não seria ignorar por completo o risco de crédito calculado pelos modelos de

análise e, inclusive, a própria política de crédito da instituição? Pode-se afirmar que não.

97

É necessário perceber, com clareza, o papel que o Risco de Crédito representa no

contexto da política de crédito do Banco e que fatores justificariam a flexibilização dos

valores operacionais a serem despachados, aspecto que se constitui no ponto central dos

questionamentos aqui realizados.

Quanto ao Risco de Crédito das empresas, calculado pelos modelos de análise do

Banco, já se comentou que não podem ser alterados por nenhuma instância

administrativa. Entre as diretrizes da política de crédito, tem-se a determinação no

sentido de que os Limites de Crédito sejam calculados a partir de percentuais da ROL

ou do PL, conforme visto no Quadro 4.3, onde observa-se que os percentuais diminuem

à medida que o risco das empresas aumenta. Trata-se, porém, de Limite Calculado, ou

Limite Sugerido pelo modelo, o que representa uma indicação de valor e não o próprio

limite deferido, abrindo-se, assim, a possibilidade de flexibilização.

Sobre a outra questão - justificativas para esta flexibilização -, pode-se dizer, de forma

sucinta, que estão relacionadas com o Risco das Operações de Crédito a serem

contratadas.

Conhecendo as diversas modalidades de crédito existentes no mercado, sabe-se que o

risco representado por umas e outras, para uma mesma empresa, é diferente, tudo

dependendo da finalidade, do prazo e das garantias. Como exemplo, pode-se citar dois

empréstimos para capital de giro, sendo o primeiro com garantia fidejussória9 e o

segundo com mecanismos de auto-liquidez lO, onde este último, sem qualquer dúvida,

oferece um risco extremamente menor, podendo, em conseqüência, ter seus valores

ampliados. São operações desta natureza (lastreadas em recebíveis ou penhor de

produtos, por exemplo) que, em síntese, levam ao incremento dos limites de crédito

despachados, sem, contudo, implicar numa exposição indesejável dos capitais

emprestados.

9 Garantia Fidejussória: garantias pessoais, representados por aval ou fiança. 10 Mecanismos de auto-liquidez: tipo de garantia que proporciona a liquidação automática do empréstimo, como, por exemplo, caução de duplicatas.

98

Assim, se é razoável concluir que os Limites de Crédito sugeridos pelos modelos de

análise do Banco são um tanto conservadores, uma vez que trabalham com os menores

valores entre os possíveis, é necessário reconhecer, também, que os resultados extraídos

desses modelos de análise não são desrespeitados. O que ocorre é o surgimento de fatos

e informações não contempladas por inteiro no ferramental utilizado. Fatos e

informações com poder de modificar decisões, como é o caso do tipo de negócios que se

pretende realizar.

Esta flexibilidade pode ser considerada imprescindível no atual contexto negociaI e

mercadológico, caracterizado por acirrada concorrência, e atesta, por si só, que os

modelos de análise, embora importantíssimos para a decisão do crédito, representam

apenas uma parte do processo.

O posicionamento do analista pode ser confirmado ou modificado pelo Comitê da

Divisão de Crédito, cujo despacho é enviado à agência para ser operacionalizado,

concluindo-se, assim, o fluxo do processo decisório apresentado na figura 4.1.

4.4 ASPECTOS INTERNOS DO MODELO DE ANÁLISE DE CRÉDITO DO BANCO DO BRASIL

Com base nas informações da Revisão de Literatura desta dissertação, procurou-se,

através dos dados e observações coletados durante a pesquisa, descrever a forma como é

constituído o modelo de análise de crédito do Banco do Brasil. Registre-se que a

instituição não fornece as funções matemáticas geradas pelos seus modelos estatísticos,

assim como não informa sobre composição e pesos de indicadores. O trabalho, a partir

desse momento, e com fundamento na pesquisa realizada, procura inferir, da forma mais

aproximada e fiel possível, a prática do Banco do Brasil em termos de modelagem de

análise e decisão do crédito.

99

Conforme já mencionado, os modelos utilizados pelo Banco do Brasil buscam

classificar as empresas em 5 (cinco) níveis de risco, a partir dos indicadores financeiros

e qualitativos das mesmas, conforme explicitado na Figura 4.2.

Figura 4.2: Aspectos considerados na constituição dos modelos de Análise de Crédito utilizados pelo Banco do Brasil

Informações financeiras Informações qualitativas

Pontuação financeira Pontuação qualitativa

~ t? I Grau de risco I

4.4.1 DESENVOLVIMENTO DA PARTE QUANTITATIVA DO MODELO

o ponto de partida é o banco de dados acima mencionado, fornecido pelo próprio Banco

do Brasil, composto de informações financeiras de 688 empresas da indústria movei eira

do país, contemplando, inclusive, o grau de risco atribuído a cada uma delas pelo

modelo de análise utilizado pelo próprio Banco. A partir deste banco de dados, foram

calculadas, para cada empresa, 29 (vinte e nove) variáveis independentes, que se

encontram listadas no Quadro 4.5.

Mesmo diante da recomendação de Silva (2000), no sentido de que os índices devem

ser regionalizados, entende-se, a priori, e para os fins deste estudo, que o recente

recrudescimento da globalização atenua, em muito, a necessidade desta prática, dado o

nivelamento e a ampliação dos mercados, tanto do lado fornecedor quando do

comprador. A partir desta concepção, tratou-se a indústria moveleira nacional como

sendo um único bloco para fins de análise, estabelecendo-se para o mesmo um modelo

comum.

100

A variável dependente utilizada no estudo é o grau de risco, variando entre "A" e "E",

onde "A" representa risco mínimo e "E" máximo.

Quadro 4.5: Variáveis independentes utilizadas no desenvolvimento do modelo de análise de crédito.

RFR

IPL

EG

POSA

LC

LG

PMR

PME

PMC

CO CF

RI

RPL

MOL RA

GAF

COG

NCG ST

E/AT

ACC/AT

ACF/AT PCC / AT F/AT

PCF / AT

NCG/ROL ST / ROL

PL/ROL ROL

..

.... ......

****

!Relação entre fontes de recursos * !Imobilização do patrimônio líquido * [Endividamento geral * Passivo oneroso sobre ativo total * Liquidez corrente * Liquidez geral * Prazo médio de recebimento * Prazo médio de estoques * Prazo médio de compras * Ciclo operacional * Ciclo fmanceiro * Retomo sobre o investimento * iRetorno sobre o patrimônio líquido * Margem operacional de Lucro * iRotação do ativo * p-rau de alavancagem financeira * tapital de giro * * Necessidade de capital de giro *** Saldo de Tesouraria **** [Estoques/Ativo Total

!Ativo Circulante Cíclico/ Ativo Total

!Ativo Circulante Financeiro/ Ativo Total lPassivo Circulante Cíclico/ Ativo Total

fornecedores/ Ativo Total

!Passivo Circulante fmanceiro/ Ativo Total

Necessidade de Capital de Giro/Receita Operacional Líquida Saldo de Tesouraria/Receita Operacional Líquida

lPatrimônio LíquidolReceita Operacional Líquida

!Receita Operacional Líquida

indicadores já descritos na legenda do Quadro 4.1; CDG = Passivo Não Circulante - Ativo Não Circulante; NCG = Ativo Circulante Cíclico - Passivo Circulante Cíclico; ST = Ativo Circulante financeiro - Passivo Circulante Financeiro.

Com o objetivo de avaliar a relação entre o porte da empresa e seu respectivo grau de

risco, se classificou as indústrias em 4 (quatro) categorias de Receita Operacional

Líquida, incluindo aquelas com faturamento superior a R$ 50.000 mil/ano. As faixas

101

estipuladas foram as seguintes:

ROL 1: ROL entre R$ 1.200.000 e R$ 5.000.000 ROL 2: ROL entre R$ 5.000.000 e R$ 20.000.000 ROL 3: ROL entre R$ 20.000.000 e R$ 50.000.000 ROL 4: ROL acima de R$ 50.000.000

Aplicado o teste de associação qui-quadrado sobre a classificação de risco efetuada pelo

Banco, verificou-se que não existe associação entre o porte e o grau de risco das

empresas (p=O,654), ou seja, os percentuais de empresas classificadas em grau "A",

"B", "C", "D" e "E" não diferem significativamente de acordo com o porte das

empresas.

o Quadro 4.6 apresenta os resultados da distribuição dos graus de risco, por porte, em

percentuais, obtidos a partir deste cruzamento.

Quadro 4.6: Distribuição percentual dos graus de risco calculados pelo Banco, por porte de empresa.

Risco Porte da empresa

Total ROLl ROL2 ROL3 ROL4

A 10,4% 9,0% 14,3% 15,4% 10,3% B 36,8% 32,8% 28,6% 30,8% 35,0% C 34,3% 33,3% 40,5% 46,2% 34,6% D 13,9% 20,9% 14,3% 7,7% 15,8% E 4,6% 4,0% 2,4% 4,2%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Entre as empresas com ROL 1 (ROL entre R$ 1.200.000 e R$ 5.000.000), 10,4%

possuem risco associado "A", 36,8% possuem risco associado "B", 34,3% risco "C",

13,9% risco "D" e 4,6% risco "E". Para os demais níveis de Receita Operacional

Líquida, os percentuais de empresas por grau de risco praticamente se repetem,

afastando, assim, como era de se esperar, qualquer relação entre o porte e o risco das

organizações empresanalS.

Excluída a hipótese de existência de relação entre porte e risco, passou-se à análise dos

dados das empresas de todos os portes conjuntamente. Salienta-se mais uma vez, que o

102

ponto de partida da análise foram os níveis de risco já calculados pelo Banco, que

indicam os perfis dos índices de cada um dos grupamentos "A", "B", "C", "D" e "E".

Esta alternativa foi escolhida em substituição aos blocos de empresas "boas", "médias"

e "ruins", o que poderia se constituir em outra opção, aqui, contudo, não disponível.

o modelo foi construído com o auxílio da análise discriminante múltipla, sendo o fator

de risco utilizado como variável dependente e os 29 indicadores constantes do Quadro

4.5 como variáveis independentes.

Análise discriminante é uma técnica de análise de dados utilizada quando a variável

dependente (grau de risco, no caso em tela) é categórica (A, B. .. E) e as variáveis

independentes são intervalares. A função discriminante é a combinação linear de

variáveis independentes, estabelecida pela análise discriminante, que melhor procede a

discriminação entre as categorias da variável dependente (grau de risco) - (Malhotra,

2001).

As técnicas de análise discriminante são utilizadas para classificar indivíduos em um,

dois ou mais grupos alternativos, como base de um conjunto de mensurações. As

populações são sabidamente distintas, e cada indivíduo pertence a uma delas. Essas

técnicas também podem ser utilizadas para identificar quais variáveis contribuem para

que se faça tal classificação. Assim, a previsão e a descrição, como na análise de

regressão, são dois elementos básicos da análise discriminante.

o objetivo da análise discriminante é encontrar uma combinação linear das variáveis

independentes que maximize a discriminação entre dois ou mais grupos e minimize a

probabilidade de erro na designação de indivíduos ou objetos aos grupos a que devem

pertencer. Tal espécie de análise envolve a derivação da combinação linear de duas ou

mais variáveis independentes que irão melhor discriminar entre dois grupos pré­

definidos. Isso é obtido por meio da maximização da variância entre grupos, em relação

à variância dentro do grupo (Aaker, 2001).

103

A análise discriminante calcula a "constante" e os "pesos" de cada variável,

automaticamente, sendo que, quanto mais índices forem utilizados, mais eficaz tende a

ser o modelo.

Para a determinação do modelo discriminante empregou-se o software estatístico SPSS

- Statistical Package for Social Science. O modelo inicial foi composto por todas as

variáveis independentes de todas as empresas que compõem o banco de dados. Através

da opção stepwise methodll, chegou-se ao modelo final formado pelas variáveis abaixo,

tidas como mais significativas:

• •

Endividamento geral,

Liquidez geral,

Ativo circulante cíclico/ativo total,

Ativo circulante financeiro/ativo total,

Fornecedores/ativo total e

Patrimônio LíquidolReceita Operacional Líquida

A análise discriminante forneceu 4 funções, sendo as duas primeiras significativas l2. A

primeira função discriminante, denominada Dl, é responsável pela explicação de 84,7%

da variação e a segunda, D2, é responsável por 12,4%. Devido à quantidade de variação

explicada, percebe-se que a primeira função, a seguir apresentada, é a mais

representativa, passando a ser adotada pelo modelo. O somatório explicativo das quatro

funções alcançaria 100%.

RI = -1,02489 + 5,11234A + 0,04244B -1,262I6C - 8,10574D - 4,28461E + 0,29333f1

Sendo:

• Constante = -1,02489

• A = Endividamento Geral

• B = Liquidez Geral

11 Método seqüencial que, através da introdução sucessiva de variáveis no modelo discriminante, uma a uma, vai testando a significância das mesmas. 12 Utilizando a estatística À de Wilks, as funções discriminantes foram testadas ao nível de significância a = 0,05.

104

• C = Ativo Circulante Cíclico/Ativo Total

• D = Ativo Circulante financeiro/Ativo Total

• E = Fornecedores/Ativo Total

• F = Patrimônio LíquidolReceita Operacional Líquida

Observa-se que cada variável possui um coeficiente associado, sendo que, à medida que

se atribuem valores às variáveis, obter-se-á o valor da função discriminante Dl. A

função discriminante em referência é de natureza linear, ou seja, existe uma

proporcionalidade direta entre os valores das varáveis independentes e o valor da

variável dependente. Ao aumentar-se uma unidade em D, por exemplo, D I será

diminuído de 8,10574. De outra parte, ao aumentar-se uma unidade em F, Dl será

aumentado em 0,29333. Quanto menor o valor final da função, menor será o risco

oferecido pela empresa, e vice-versa.

Os índices selecionados pelo modelo, como sendo os de maior poder discriminante,

revelam os aspectos valorizados pela parte técnica da análise. Sobre isso, e tendo a

função Dl como referência, pode-se chegar às seguintes conclusões:

a) Endividamento Geral (sinal positivo ~c quanto maior, pior): conclui-se que o modelo valoriza o baixo endividamento;

b) Liquidez Geral (.<;inal positivo = quanto maior, pior): ao exigir um certo endividamento da empresa, poderíamos di::er que o modelo está valorizando um determinado nível de alavancagemfinanceira, o que não deixa de ser ra::oável;

c) Ativo Circulante Cíclico/Ativo total (sinal negativo = quanto maior, melhor): o modelo dá maior importância aos valores investidos no giro do negócio, em detrimento às imobili::ações;

d) Ativo Circulante Financeiro/Ativo total (sinal negativo =

quanto maior, melhor): o modelo enfatiza, de certa forma, a geração interna de recursos e o próprio ciclo financeiro da empresa;

e) Fornecedores/Ativo Total (sinal negativo = quanto maior, melhor): o modelo valori::a as fontes espontâneas de financiamento;

105

f) Patrimônio Líquido/Receita Operacional Líquida (sinal positivo = quanto maior, pior) : o modelo dá ênfase ao volume de faturamento, exigindo que seja significativo em relação aos capitais próprios.

Em síntese, pode-se dizer que, embora não tenha contemplado diretamente a

rentabilidade dos negócios, o modelo considerou aspectos importantíssimos para a

saúde financeira e conseqüente longevidade das empresas, tendo boas chances de

estabelecer uma discriminação condizente do risco de crédito por elas apresentado.

o valor obtido para Dl deve, então, ser convertido para uma escala de pontuação do

grau de risco, sendo que, no caso do Banco do Brasil, a mesma irá variar de O a 100.

A construção da escala foi determinada com base nos valores mínimo e máximo que a

pontuação da função Dl pode atingir. Para chegar-se a esses resultados, foi necessária a

delimitação dos valores mínimos e máximos de cada variável independente, optando-se

por aqueles que contemplassem 95% da amostra do estudo. Neste caso, utilizou-se

como valor máximo "razoável" o valor do percentil 97,5 e como valor mínimo

"razoável" o percentiI2,5. Com isso, buscou-se, também, garantir que valores outliersJ3

não distorcessem a escala de conversão.

o Quadro 4.7 apresenta os valores mínimos e máximos utilizados para definir o valor

da função discriminante Dl.

Quadro 4.7: Valores mínimos e máximos das variáveis independentes.

Valor Valor Significado Variável mínimo máximo

/Endividamento Geral 0,0609 0,9815 Quanto maior, pior

tLiquidez geral 0,4262 8,2911 Quanto maior, pior

[Ativo circulante cíclico/ativo total 0,1237 0,8941 Quanto maior, melhor

k\tivo circulante financeiro/ativo total 0,0006 0,2270 Quanto maior, melhor

!Fornecedores/ativo total 0,0008 0,5176 Quanto maior, melhor

lPatrimônio LíquidolRec. Opero Líquida 0,0048 1,8187 Quanto maior, pior

13 Outliers: Valores que fogem ao normal dentro de uma determinada amostra. Se a média é 50 e o desvio padrão é 10, um valor de 140 pode ser considerado um outlier.

106

A escala resultante é a seguinte:

Valor da função discriminante Dl

Pontuação da empresa

Pior situação possível

4,713205

I o

Melhor situação possível

-5,8803054

I 100

Obtido O valor da função discriminante, resta convertê-lo para a escala de

pontuação, mediante a técnica da interpolação linear, vertida na fórmula abaixo:

P t ~ 100 Dl + 5,8803054 on uaçao = -------0,105935104

Desta forma, dada uma empresa Y, pode-se calcular, com o uso do modelo aqUl

inferido, sua pontuação financeira. Tomando-se como exemplo uma empresa ruim, que,

por hipótese, apresentasse os valores mínimos e máximos estipulados no Quadro 4.7.,

ou seja:

• endividamento geral ................... 0,9815 • liquidez geral.. ............................. 8,2911 • ACC/ A T. ..................................... 0,1237 • ACF/AT. ..................................... 0,0006 • Fornecedores/Ativo TotaL ........ 0,0008 • PLIROL. ..................................... 1,8187

chega-se, através da aplicação da função discriminante, ao resultado apresentado no

Quadro 4.8, ou seja, um total de + 4,7138 pontos. Utilizando este resultado na fórmula

de conversão acima apresentada, obtém-se uma pontuação final que se aproxima de

Zero, determinando a situação da empresa como sendo uma das piores possíveis no que

se refere aos aspectos econômico-financeiros. O cálculo encontra-se a seguir

apresentado.

107

Pontuação 100 - + 4,7138 + 5,880305 = ZERO 0,105935104

Tal fato comprova o significado dos coeficientes apresentados no Quadro 4.7, bem

como confirma a validade da escala de pontuação. Pode-se fazer o mesmo para uma

empresa julgada boa, que, por hipótese, apresentasse os valores mínimos e máximos

indicadores de uma ótima situação. O resultado da função discriminante deve ser de

aproximadamente -5,8803054 que, convertido para a escala de pontuação, alcançará o

valor 100.

Quadro 4.8: Resultado da função discriminante Dl, aplicada a uma empresa hipotética.

Variáveis Valor Coeficiente Resultado

independentes (A) (B) (Ax B)

Constante -1,02489

Endividamento Geral 0,9815 + 5,11234 +5,01776

Liquidez geral 8,2911 + 0,04244 + 0,35187

ACC/AT 0,l237 - 1,26216 - 0,15613

ACF/AT 0,0006 - 8,10574 - 0,00486

F ornecedores/ A T 0,0008 - 4,28461 - 0,00343

PLIROL 1,8187 + 0,29333 + 0,53348

Pontuação final + 4,7138

4.4.2 DESENVOLVIMENTO DA PARTE QUALITATIVA DO MODELO

Antes de entrar diretamente no desenvolvimento desta parte do modelo, precisamos

discorrer sobre os fatores que integram a análise qualitativa, colocando-se em relevo a

importância que representam para o processo de análise de crédito e a subjetividade que

os caracteriza.

Segundo Armando de Santi Filho (1997), "não existem riscos no passado. Ele é certo.

Os riscos estão sempre em algum lugar além do presente. Sobre esse ponto, cabe

ressaltar que as técnicas de análise de crédito mais difundidas atualmente, ao serem

108

predominantemente compostas pelos instrumentos aplicados sobre os demonstrativos

contábeis das empresas, têm seus olhos voltados para o passado. A introdução da visão

prospectiva do cliente deverá ser a forma que, combinada com a análise retrospectiva,

dominará o cenário da análise de crédito nas instituições financeiras que desejarem fazer

do crédito uma de suas principais atividades"

Olhar para o futuro da empresa significa avaliar seu Caráter, sua Capacidade e as

Condições onde está inserida. A seguir, e tendo como base os ensinamentos de

Armando de Santi Filho (1997), apresenta-se um ensaio que, a exemplo dos

procedimentos adotados na parte quantitativa, procura seguir, ou talvez, mais

precisamente, inferir, a modelagem adotada pelo Banco do Brasil, no que se refere à

análise qualitativa das empresas. Ao final, aliando-se o risco técnico ao risco

qualitativo, chegar-se-á ao risco final da cliente.

Inicialmente, coloca-se um esclarecimento, no sentido de que os itens sugeridos em

cada fator, e os respectivos critérios de pontuação, estão diretamente atrelados a uma

opção pessoal deste autor, não sendo fruto de qualquer avaliação estatística. Assim, esta

parte do trabalho carece de uma maior objetividade, devendo, oportunamente, ser

submetida a testes e avaliações práticas mais cuidadosas, com o objetivo de confirmar

sua real capacidade para indicar o risco de crédito oferecido pelas empresas. O que

procuramos, aqui, é refletir as práticas adotadas pelo Banco do Brasil, que, pela

natureza do tema, sofrem constantes adequações.

Em termos de avaliação, pode-se optar entre estabelecer um risco individual para cada

um dos fatores - Caráter, Capacidade e Condições -, ou um risco global para toda a

parte qualitativa da análise. Em qualquer caso, é necessário se estabelecer uma escala

de pontuação e seus respectivos pontos de corte, de acordo com os níveis de risco com

que se irá trabalhar.

Ao final dos procedimentos, os modelos de análise de crédito do Banco do Brasil

estabelecem uma pontuação única para a parte qualitativa, não tendo ficado claro se ela

é resultado das pontuações individuais de cada fator ou não. Entendemos que isso não

traz grandes prejuízos para o estudo aqui realizado, onde se opta por esclarecer como as

109

pontuações individuais podem ser obtidas, para, após, chegar a um valor geral.

Começaremos pelo fator Caráter.

4.4.2.1 CARÁTER

Está relacionado com a intenção da empresa em efetivamente pagar o empréstimo que

tomou e tem como fonte fundamental de pesquisa a sua ficha cadastral.

Neste trabalho, o fator Caráter encontra-se dividido em três itens, conforme consta no

Quadro 4.9.

o modelo de análise poderia estabelecer uma escala de pontuação para cada um dos

itens relacionados no Quadro 4.9. Tomando-se o item Pontualidade como exemplo,

pode-se pontuá-lo conforme os dias médios de atraso verificados nos pagamentos feitos

pela empresa. Este, porém, não será o caminho adotado neste trabalho, uma vez que se

optou por uma avaliação global da parte qualitativa da análise, conforme se verá mais

adiante.

Quadro 4.9: Itens a serem observados na avaliação do fator Caráter da empresa.

ITEM Observações

Pontualidade Deve ser apurada a partir das fontes de informações bancárias e comerciais apresentadas pela cliente; consulta ao SERASA, CADIN, SPC e através de um relacionamento condizente com os gerentes de outras instituições fmanceiras da praça.

Restrições Protestos, concordata, falência, ações judiciais, cheques sem fundos, impostos atrasados, situação irregular no comércio exterior.

Atuação na praça Respeito ao consumidor, comportamento ético, relacionamento com a comunidade.

A atribuição dos pontos pode competir ao analista de crédito ou a um sistema

informatizado, a partir da inserção de respostas dadas a quesitos que visam avaliar cada

fator ou item.

110

Caso a opção fosse por estabelecer um risco individual para o fator Caráter, se poderia

utilizar o Quadro 4.10, que indica os pontos a serem atribuídos a cada um dos itens

conforme o grau de risco por eles revelados, sendo que, a partir do somatório dos pontos

obtidos, pode-se chegar ao nível de risco da empresa neste fator.

Quadro 4.10: Pontuação a ser observada na avaliação de risco do fator Caráter

Pontos a serem atribuídos a cada um dos itens Avaliação do nível de risco do fator Caráter, com base no somatório de pontos obtidos

Risco Elevado 1 ponto Risco Elevado De 3 a 5 pontos

Risco Médio 2 pontos Risco Médio De 6 a 8 pontos

Risco Baixo 3 pontos Risco Baixo De 9 a 10 pontos

Risco Mínimo 4 pontos Risco Mínimo De 11 a 12 pontos

Para exercitar a Tabela acima, pode-se utilizar o caso de uma indústria moveleira

hipotética, em cuja ficha cadastral encontram-se as seguintes anotações:

Pontualidade: atrasos de até 30 dias, conforme informações de terceiros.

Restrições: diversos protestos (11) e várias inclusões no CCF, já regularizados. Impostos (IPI, ICMS) em atraso, tendo solicitado parcelamento.

Atuação na praça: sem registros desabonadores.

A partir das informações acima, co~ugadas com a tabela de pontuação

estabelecida, o analista de crédito pode construir o Quadro 4.11, onde é apresentada a

pontuação final do fator Caráter da cliente, que, neste caso, apresenta Risco Médio.

Quadro 4.11: Definição do nível de risco do fator Caráter de uma indústria moveleira hipotética

Itens Pontos Risco f"mal do fator Caráter

Pontualidade 2 Restrições 1 Atuação na praça 4 TOTAL DE PONTOS 7 RISCO MÉDIO

111

4.4.2.2 CAPACIDADE

Está relacionada com o gerenciamento da empresa, constituindo-se na habilidade que a

mesma possui para pagar suas dívidas. Diz respeito, fundamentalmente, aos aspectos

internos da organização, revelando a sua competência empresarial. É de dificil

avaliação, dada a sua subjetividade, e deve ser atribuição do profissional que está em

contato direto com a cliente, implicando uma grande capacidade de percepção, aliada a

um preparo técnico condizente.

Enquanto o Caráter tem como base a ficha cadastral da cliente, a avaliação da

Capacidade depende diretamente do Relatório de Visitas.

Quadro 4.12: Itens a serem observados na avaliação do fator Capacidade da empresa

ITEM OBSERVAÇÕES

Estratégia Empresarial a) Busca verificar se a Missão e as Metas encontram-se condizentes com o negócio. Como exemplos, podemos citar a estratégia de aumentar a fatia de mercado, que implica em forte assistência financeira ou, de outra parte, maximizar ganhos mesmo às custas da fatia de mercado, que, normalmente torna a empresa doadora de recursos. b) Coerência de sua opção negocial em busca de vantagens competitivas. Como exemplo, citamos a opção por vender a preços baixos, o que demanda controles rigidos e utilização plena da capacidade instalada. Se a opção for pela exploração de um segmento de poder aquisitivo mais elevado, a área mercadológica deverá ser bastante ativa.

Organização e Uma empresa bem organizada deve possuir um bom sistema de

controles gerenciais informação gerencial e controles eficientes, sobretudo os financeiros. Em negócios de maior complexidade, deve ser verificada a existência de um procedimento formal de planejamento e orçamentos.

Tecnologia e As condições gerais das instalações e equipamentos, com destaque para a

Equipamentos obsolescência, uso eficiente e ociosidade, em especial nos setores mais competitivos, determinam em alto grau o nsco do negócio, dada, ~rincipalmente, a globalização atual da economia.

Gestão do Capital de Está relacionado com o giro dos negócios. Longos prazos dados aos

Giro clientes, estoques elevados, inadequada negociação com fornecedores, atrasos nos recolhimentos fiscais e previdenciários, são fatores relevantes de risco.

Capacitação dos Busca identificar se a formação acadêmica dos dirigentes é compatível

dirigentes e tempo de com a complexidade do negócio, a experiência que os dirigentes possuem na atividade e o tempo de vida da empresa. Segundo estudo da DUN &

atividade da empresa BRADSTREET (entidade de avaliação empresarial e prestação de informações sobre empresas de âmbito mundial), 90% dos insucessos empresariais são causados por insuficiente experiência empresarial ou simples incompetência. De outra parte, estudos revelam que na faixa de 3 a 6 anos da data da fundação ocorrem os maiores índices de mortalidade de empresas.

112

Aqui, o fator Capacidade encontra-se dividido em 5 (cinco) itens básicos, que são

apresentados no Quadro 4.12, acima.

A exemplo dos procedimentos adotados para estabelecer o risco individual do fator

Caráter, abaixo é apresentado o Quadro 4.13, que define os pontos a serem atribuídos

pelo analista para cada um dos itens da Capacidade, indicando, também, com base no

somatório dos pontos obtidos, o nível de risco da empresa neste fator.

Quadro 4.13: Pontuação a ser observada na avaliação de risco do fator Capacidade.

Pontos a serem atribuídos a cada um dos itens Avaliação do nível de risco do fator Capacidade, com base no somatório de pontos obtidos

Risco Elevado 1 ponto Risco Elevado De 5 a 8 pontos

Risco Médio 2 pontos Risco Médio De 9 a 12 pontos

Risco Baixo 3 pontos Risco Baixo De 13 a 16 pontos

Risco Mínimo 4 pontos Risco Mínimo De 17 a 20 pontos

Para exercitar a aplicabilidade da tabela aCIma, tomou-se como exemplo o caso

hipotético de uma indústria moveleira especializada em móveis MDF, adquirida pelos

atuais proprietários em 1990 e que, recentemente, passou por um processo de

reestruturação, com corte de custos, recuperação de equipamentos, melhoria do

processo produtivo, ampliação da estrutura de vendas e alongamento do perfil das

dívidas.

Na primeira parte do Relatório de Visitas, encontram-se as seguintes informações:

a) Estratégia Empresarial: Bem definida. Busca especializar-se em móveis de

alto padrão, explorando as classes de maior poder aquisitivo. As áreas de

produção e mercadológica mostram-se condizentes com a estratégia adotada, ou

seja, a qualidade dos produtos é compatível com o segmento a ser explorado e a

política de vendas é bastante agressiva.

113

b) Organização e controles gerenciais: Os documentos de projeção apresentados

demonstram um eficiente sistema de planejamento e controle gerencial.

c) Tecnologia e equipamentos: Neste ano, está sendo concluída a implantação de

um moderno processo de automação industrial. A maioria dos equipamentos

encontra-se reformada ou é de aquisição recente. A organização da fábrica

mostra-se eficiente.

d) Gestão do capital de Giro: O prazo de vendas é curto e não existe concentração

de clientes. A empresa possui um eficiente sistema de logística que reduz custos

e otimiza os estoques. Fornecedores não apresentam concentração, não tendo

maiores riscos de fornecimento. Na condição de exportadora, busca a quase

totalidade da sua necessidade de capital de giro em Adiantamentos de Contratos

de Câmbio, fato que, além do hedge natural (vendas em dólares) que propicia,

reduz seu custo financeiro, uma vez que os encargos deste tipo de operação, em

relação às linhas internas de crédito, são menores.

e) Capacitação dos dirigentes e tempo de atividade da empresa: A empresa é

dirigida por profissionais competentes, com formação compatível e experiência

no ramo. É tradicional, com mais de 15 anos desde sua fundação.

A partir das informações contidas no Relatório de Visitas e com fundamento nos

critérios definidos na tabela de pontuação indicada para o fator Capacidade, verifica-se

que ela apresenta Risco Mínimo, conforme Quadro 4.14.

Quadro 4.14: Definição do nível de risco do fator Capacidade de uma indústria moveleira hipotética

Itens Pontos Risco (mal do fator Ca~acidade

Estratégia Empresarial 4 Organização e Controles 4 Tecnologia e Equipamentos 3 Gestão do Capital de Giro 3 Capacitação dirigentes e tempo de vida da empresa 4

TOTAL DOS PONTOS 18 RISCO MÍNIMO

114

4.4.2.3 CONDIÇÕES

Segundo Armando de Santi Filho (1997), o fator Condições "envolve aspectos externos

à empresa, integra o macro-ambiente em que ela atua e foge de seu controle". Está

relacionado com as políticas econômicas do governo, tais como restrições ao crédito,

taxa cambial, juros básicos da economia, incentivo ou restrições às importações ou

exportações, etc. Diz respeito, também, a fenômenos naturais imprevisíveis como secas

ou enchentes, além de outros acontecimentos que independem da vontade dos

dirigentes.

A exemplo das informações que conduziram à avaliação do fator Capacidade, também

aqui o Relatório de Visitas é a fonte principal. Observando a necessidade de considerar

o ambiente organizacional como um todo, estas informações podem e devem ser

suplementadas por dados e análises setoriais elaboradas por órgãos técnicos do próprio

Banco ou externos. O Banco do Brasil, neste particular, produz, através de seus órgãos

internos de assessoria, um boletim mensal, denominado "Panorama Setorial", onde são

traçadas as perspectivas da economia interna e externa, bem como apresentadas as

tendências dos principais setores.

Quadro 4.15: Itens a serem observados na avaliação do fator condições da empresa.

ITEM Observações

Política Econômica O objetivo é avaliar o impacto que as políticas econômicas do governo (Monetária, Cambial, Fiscal, De Rendas) possuem em relação aos negócios da empresa sob análise. Quem tem seus negócios atrelados ao dólar é fortemente afetado pela política cambial; quem possui grande dependência de financiamentos bancários sofre com juros elevados e assim por diante.

F atores Setoriais Diferentes ramos empresariais reagem de forma diferente em relação às políticas econômicas governamentais. Se os juros básicos da economia são elevados, reduzem-se os investimentos, cai o nível de emprego e a tendência é que as empresas envolvidas com bens não básicos tenham dificuldades. Temos, assim, setores com baixa, média, ou alta ênfase negocial, o que deve ser considerado pelo analista.

Ambiente Competitivo Refere-se à concorrência existente ou não entre as empresas, ao poder de barganha dos fornecedores e dos compradores, a entrada de novas empresas no setor, assim como a ameaça de novos produtos e serviços.

Dependência do Governo Dadas as dificuldades que o Estado enfrenta em todas as suas esferas -federal, estadual ou municipal - as empresas cujas vendas dependem do Governo apresentam maior grau de risco.

115

Para avaliar as Condições enfrentadas pelas empresas, vamos tratar o assunto através de

quatro itens básicos, conforme apresentado no Quadro 4.15, acima.

A exemplo do tratamento dispensado aos fatores Caráter e Capacidade, aqui também foi

criado o Quadro 4.16, que define os pontos a serem atribuídos pelo analista a cada um

dos itens do fator Condições, sendo que, a partir do somatório dos pontos, chega-se ao

nível de risco da empresa no fator sob análise.

Quadro 4.16: Pontuação a ser observada na avaliação de risco do fator Condições

Pontos a serem atribuídos a cada um dos itens Avaliação do nível de risco do fator Condições, com base no somatório de jJ~ntos obtidos

Risco Elevado 1 ponto Risco Elevado De 4 a 7 pontos

Risco Médio 2 pontos Risco Médio De 8 a 10 pontos

Risco Baixo 3 pontos Risco Baixo De 11 a 13 pontos

Risco Mínimo 4 pontos Risco Mínimo De 14 a 16 pontos

Como exemplo, tomou-se o caso hipotético de uma indústria moveleira, em cuja

segunda parte do Relatório de Visitas encontra-se o seguinte:

Política Econômica (Macro-ambiente): Tendo em vista ser uma empresa

altamente capitalizada, não está sendo afetada pela atual política de juros elevados.

Como direciona 40% de sua produção para o mercado externo, está, de um lado, sendo

beneficiada pela elevação da taxa cambial e, por outro, começa a ter seu volume de

exportações reduzido, em função do desaquecimento da economia mundial. Como

vende para 17 países, não existe concentração de vendas, ponto que lhe favorece.

Fatores Setoriais: A redução do crescimento econômico a nível mundial e as

incertezas internas do país, têm dificultado o incremento de vendas de móveis, já que

não se constituem em bens de primeiríssima necessidade. Apesar disso, a tendência é de

estabilidade para o setor.

Ambiente competitivo: Não há concentração de vendas. Não se evidenciam

riscos de fornecimento, dada a diversidade de fornecedores. Diante das incertezas da

116

economia global, o aparecimento de novos concorrentes, neste momento, não deve

ocorrer. A empresa necessita investir mais no desenvolvimento de novos produtos ou

aperfeiçoamento dos produtos que já fabrica, como forma de não ser ultrapassada pelos

concorrentes.

Dependência do Governo: As vendas não dependem do governo.

Tomando-se por base as informações do Relatório de Visitas e utilizando-se a

pontuação estabelecida, concluiu-se que o risco final do fator Condições é BAIXO,

conforme apresentado no Quadro 4.17.

Quadro 4.17: Definição do nível de risco do fator Condições de uma indústria moveleira hipotética

Quesitos Pontos Risco Final do Fator Condições

Política Econômica 4 Fatores Setoriais 3 Ambiente Competitivo 2 D~endência do Governo 4 TOTAL DOS PONTOS 13 RISCO BAIXO

4.4.2.4 DEFINIÇÃO DA PONTUAÇÃO DA PARTE QUALITATIVA DO MODELO

Até aqui, trabalhou-se com o estabelecimento de riscos individuais para cada fator da

parte qualitativa da análise. Como já comentado, outra alternativa seria estabelecer um

risco único, envolvendo Caráter, Capacidade e Condições. Para o último caso, alguns

exemplos de escalas de pontuação são abaixo apresentados:

a) - escala de pontuação única, com pesos iguais para todos os itens;

b) - escala de pontuação única, com pesos diferentes entre os itens;

c) - escala de pontuação individual para cada fator, ponderando-se os resultados conforme a importância atribuída a cada um deles;

117

Como já constatado, esta parte da análise apresenta grande subjetividade, exigindo, por

conseguinte, muita experiência dos profissionais da área de crédito, que devem valorizar

adequadamente os dados históricos, de forma a testar e aperfeiçoar os respectivos

modelos, continuamente.

Diante da falta de dados históricos e da impossibilidade em realizar, neste momento,

estudos e testes mais aprofundados, que permitissem identificar a importância relativa

de cada fator ou item no contexto da parte qualitativa da análise de crédito, optou-se

por avaliá-la em um único bloco, como se todos os itens ou fatores tivessem o mesmo

peso. Basta, assim, que o analista atribua, para cada um dos itens antes mencionados,

1, 2, 3 ou 4 pontos, conforme o risco dos mesmos seja elevado, médio, baixo, ou

mínimo, respectivamente.

A partir desta decisão, elaborou-se uma escala de pontuação, cUJos extremos

totalizam 12 e 48 pontos, conforme a empresa seja avaliada em todos os itens com

nota mínima ou máxima, respectivamente.

Convertendo-se esta escala para uma régua de O a 100 pontos, obtém-se:

Total de pontos obtidos

Pontuação da empresa

Pior situação possível

12

I

o

Melhor situação possível

48

I

100

A técnica aqui adotada também é a da interpolação linear de valores, sendo que a função

para conversão é dada pela seguinte fórmula:

P t - Total de pontos - 48 100 on uaçao = + 0,36

118

A título de exemplo, tomou-se a mesma empresa hipotética antes avaliada no aspecto

técnico, admitindo que teria recebido a avaliação constante do Quadro 4.18, para os seus

aspectos qualitativos.

Quadro 4.18: Pontuação Qualitativa atribuída a uma empresa hipotética.

Itens Avaliados Pontos

Pontualidade 3

Restrições 4

Atuação na praça 3

Estratégia Empresarial 3

Organização e controles gerenciais 3

Tecnologia e equipamentos 2

Gestão do capital de giro 2

Capacitação dos dirigentes e tempo de atividade 2

Política econômica 4

Fatores setoriais 3

Ambiente competitivo 3

Dependência do Governo 4

Pontuação total 36

Aplicando-se a fórmula de conversão, coloca-se a empresa na posição 66 da régua de

pontuação, referente a parte qualitativa da análise, conforme cálculo abaixo:

Pontuação 36 - 48 + 100 0,36

66,66 pontos

4.4.3 PONTUAÇÃO FINAL E DEFINIÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

Tendo sido obtidas as pontuações quantitativa e qualitativa da empresa, pode-se, neste

momento, determinar sua pontuação final.

119

Embora perfeitamente possível calcular uma média ponderada entre a pontuação técnica

e a qualitativa, também, aqui, diante da inexistência de elementos mais conclusivos

para a determinação da importância relativa de cada segmento, optou-se por estabelecer

a pontuação final a partir da média aritmética entre os mesmos, com o uso da seguinte

fórmula:

P t - fi I Pontuação financeira + Pontuação qualitativa on uaçao ma = 2

Como exemplo, foram usados os mesmos dados da empresa antes analisada, recordando

que recebera O (zero) pontos na análise técnica e 66 pontos na qualitativa. Neste caso, a

sua pontuação global final será de 33 pontos (O + 66/2).

Precisa-se, agora, determinar a escala de conversão da pontuação final para os graus de

risco das empresas. Neste ponto, optou-se pela escala abaixo apresentada, extraída do

Quadro 4.2, segmento de empresas de porte médio. Trata-se de uma escala utilizada por

um dos modelos do Banco do Brasil, tendo sido modificada apenas no ponto de corte

que separa os Riscos "D" e "E" , que foi elevado de 13 para 17 pontos.

Pontuação

Grau de risco

o I

I E

17 I

I D

41

I I

C

63 I

I B

80 I

I A

100 I

Neste estágio, basta tomar a pontuação global final da empresa acima analisada e aplicá­

la na escala para concluir que a mesma, sob os critérios do modelo aqui desenvolvido,

fica caracterizada como sendo de Risco "D", uma vez que ficou situada entre os 17 e 41

pontos. Sobre este nível de risco, bastaria aplicar a política de crédito do Banco.

120

4.5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS RESULTADOS PRÁTICOS OBTIDOS PELO BANCO DO BRASIL E OS RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DO MODELO DE ANÁLISE DE CRÉDITO AQill DESENVOLVIDO

Com o objetivo de constatar a aproximação entre os procedimentos inferidos nesta

dissertação e aqueles realmente praticados pelo Banco do Brasil, far-se-á, a seguir, uma

comparação entre os riscos de crédito definidos por aquela instituição, para 13 (treze)

indústrias moveleiras localizadas no município de Bento Gonçalves (RS), e os riscos de

crédito calculados através do modelo aqui desenvolvido, para o mesmo grupo de

empresas.

Quanto à parte técnica da análise, assegura-se que os demonstrativos financeiros

utilizados pelos dois modelos são absolutamente os mesmos.

Com vistas à comparação, após identificado o risco de crédito atribuído pelo Banco a

cada uma das 13 (treze) empresas sob análise, passou-se ao levantamento dos dados e

informações necessárias à utilização do modelo aqui desenvolvido, iniciando-se pelo

cálculo dos 6 (seis) índices que compõem a parte quantitativa.

A seguir, foi desenvolvida a etapa qualitativa da análise. Neste ponto, e a partir do

conhecimento obtido em relação às empresas consideradas, atribuiu-se pontos de 1 a 4 a

todos os itens, seguindo-se os critérios e descrições feitas quando da construção do

modelo.

De posse dos dados acima mencionados e já tendo formatado o modelo em planilha

eletrônica, bastou digitar os indicadores da parte técnica e a pontuação da parte

qualitativa no sistema para obter-se os resultados constantes do Quadro 4.19, que, ao

apresentar, também, os riscos calculados pelo Banco do Brasil, facilita sobremaneira a

comparação aqui pretendida.

I I I

I I !

i

121

Quadro 4.19: Comparação entre os riscos definidos pelo Banco do Brasil e aqueles estabelecidos pelo modelo de análise desenvolvido neste trabalho

Empresas Analisadas

0001 0002 0003 0004 0005 0006 0007 I 0008 0009 0010 0011 0012 0013 Risco Atribuído pelo BB A A B B B B B le e e ID D E

Modelo Desenvolvido neste Trabalho

Indicadores !

* 1 0,10 0,43 0,62 0,20 0,68 0,62 0,44 0,33 0,71 0,52 0,70 0,57 0,86

Valor dos 2 6,52 1,18 1,20 1,49 1,22 1,06 1,16 0,51 0,56 0,87 0,96 1,41 0,84

indicadores 3 0,52 0,44 0,70 0,31 0,74 0,64 0,47 0,16 0,37 0,23 0,65 0,80 0,73

Quantitativos 4 0,15 0,07 0,03 0,00 0,03 0,02 0,01 0,01 0,01 0,00 0,02 0,01 0,00

5 0,07 0,08 0,40 0,12 0,14 0,13 0,16 0,13 0,15 0,19 0,17 0,29 0,13

6 1,11 0,28 0,22 0,57 0,19 0,26 0,42 1,07 0,25 0,32 0,16 0,13 0,18

Pontuação Quantitativa 64 46 50 51 37 38 44 43 30 38 36 48 26

7 4 4 4 4 4 4 3 3 2 3 3 1 1

8 4 4 4 4 4 4 4 4 2 4 2 2 1

9 4 4 4 4 4 3 4 4 3 3 3 2 1

10 4 4 2 3 3 3 3 3 2 2 3 1 1

11 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 1 1

Valor dos 12 4 4 3 3 3 3 3 1 3 3 4 2 1 indicadores ]3 4 4 3 3 3 3 3 3 2 3 1 1 1 Qualitativos 14 4 4 3 3 4 3 3 2 3 2 3 1 1

15 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 1

16 4 4 2 3 3 3 3 2 3 3 3 2 1

17 4 4 2 3 3 3 3 2 3 2 2 1 1

18 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 1

Pontuação Qualitativa 100 100 67 78 81 75 75 64 56 64 61 22 8

Pontuação Final do 82 73 58 65 59 56 60 53 43 51 48 35 17

Modelo Risco Atribuído pelo A B B B B B B C C C C D E

Modelo

* indicadores

Quantitativos

- Endividamento Geral

2 - Liquidez Geral

3 - Ativo Circulante Cíclico/Ativo Total

4 - Ativo Circulante Financeiro/Ativo Total

I I

I I

122

5 - Fornecedores/Ativo Total

6 - Patrimônio LíquidolReceita Operacional Líquida

Qualitativos

7 - Pontualidade

8 - Restrições

9 - Atuação na praça

10 - Estratégia Empresarial

11 - Organização e Controles

12 - Tecnologia e Equipamentos

13 - Gestão do Capital de Giro

14 - Capacitação dos Dirigentes e Tempo de Empresa

15 - Política Econômica

16 - Fatores Setoriais

17 - Ambiente Competitivo

18 - Dependência do Governo

Pela análise dos resultados constantes do Quadro aCIma, percebe-se que os riscos

atribuídos pelo modelo de análise aqui desenvolvido coincidem em 84,62% dos casos

com aqueles definidos pelo Banco do Brasil. As diferenças apresentadas restringem-se

às empresas 0002 e 0011.

Quanto aos casos que apresentam diferenças, observa-se que as pontuações se

aproximam dos pontos discriminantes recíprocos, se não vejamos:

a) a empresa 0002 obteve uma pontuação de 73, sendo classificada pelo modelo

aqui desenvolvido como Risco "3 ". Caso obtivesse somente mais 7 pontos,

alcançaria o escore necessário para ser considerada Risco "A" e, assim,

coincidiria com o resultado do Banco;

123

b) a empresa 0011 obteve uma pontuação final de -18 pontos, sendo classificada

pelo modelo aqui desenvolvido como Risco "C ". Caso obtivesse 7 pontos a

menos, alcançaria um escore que a caracteri::aria como Risco "D ", coincidindo

com o risco atribuído pelo Banco.

De qualquer forma, a comparação dos resultados permite concluir que o modelo de

análise de crédito, praticado pelo Banco do Brasil, foi muito bem apreendido nesta

dissertação, servindo para perceber como foi construído e como está sendo utilizado.

4.5.1 PONTOS CRÍTICOS DA ANÁLISE DE CRÉDITO PRATICADA PELO BANCO DO BRSASIL

Sem comentar a parte técnica da análise, eis que realizada de forma objetiva através da

Análise Discriminante Múltipla, pode-se fazer algumas considerações sobre a parte

qualitativa, cuja avaliação, sempre revestida de grande subjetividade, pode levar

analistas diferentes a estabelecer diferentes riscos, mesmo trabalhando com o mesmo

modelo de análise. Tome-se como exemplo a empresa 0011, que teve seu Risco

definido pelo banco como sendo "D", considerado, portanto, elevado, enquanto o risco

calculado pelo modelo aqui desenvolvido foi "C".

No caso em questão, trata-se de uma empresa de alto nível tecnológico, que goza de um

quadro de administradores profissionalizados e que vêm adotando estratégias

condizentes com sua situação, tanto que já experimenta melhora em seus indicadores.

Tais aspectos são extremamente importantes para o sucesso futuro de qualquer

organização, merecendo a devida consideração no processo que objetiva definir risco de

crédito. Enquanto a parte quantitativa da análise tem uma conotação mais retrospectiva,

detendo-se nos acontecimentos do passado, a parte qualitativa busca identificar o futuro

do empreendimento a partir de suas potencialidades, estando diretamente vinculada

àquilo que se convencionou chamar de Caráter, Capacidade e Condições, quesitos em

que a empresa 0011 estaria bem posicionada.

124

Nesta parte da análise, muito embora tenha se procurado seguir os ensinamentos do

professor Santi Filho (1977), é necessário reconhecer várias dificuldades encontradas no

processo. Entre elas, destacam-se os problemas enfrentados em relação à definição dos

quesitos que acabaram sendo considerados no modelo, suas respectivas escalas de

pontuação e, principalmente, incertezas vivenciadas quando da formalização da

avaliação da empresa. Foram momentos que se caracterizaram pela insegurança.

Sentiu-se o quanto de subjetividade comporta este lado da análise. Não se tendo

convicção, ao final, sobre qual dos fatores pode ser considerado mais representativo, se

o Caráter, se a Capacidade ou se as Condições enfrentadas pela empresa. Da mesma

forma, e embora sabendo da importância representada pela parte qualitativa da análise,

é impossível afirmar, pelo menos por ora, que ela se sobressai diante da parte técnica.

São questões que devem continuar merecendo estudos e debates.

Dada a subjetividade da análise qualitativa, deve-se questionar, incisivamente, a "semi­

segregação" entre crédito e negócios que o Banco hoje procura praticar. Os analistas

de crédito, em função da distância e conseqüente desconhecimento que, não raro,

apresentam em relação às empresas analisadas, são forçados a considerar informações

levantadas ou fornecidas por colegas operacionais, muitas vezes não qualificados para a

análise de crédito e, o mais grave, quase sempre interessados em conceder empréstimos,

uma vez que necessitam atingir metas geralmente desafiadoras. Tal fato compromete

não só o resultado final da análise, mas, principalmente, a sua credibilidade. Neste

particular, é de se entender que o Banco deva buscar uma alternativa mais condizente,

procurando emprestar verdadeira isenção às suas técnicas de análise.

Por tudo que já foi discutido até aqui, percebe-se com muita clareza a complexidade

oferecida por um processo de análise de crédito verdadeiramente interessado em

estabelecer o real grau de risco oferecido por cada cliente. Deve ser um processo

assentado em uma boa estrutura organizacional, onde as responsabilidades estejam

claramente definidas e as funções sejam ocupadas por profissionais com preparo técnico

condizente.

125

A importância do relatório de visitas, ou talvez, mais especificamente, a importância das

informações relacionadas com a parte qualitativa da análise, foi sentida de forma muito

clara no momento que se realizou a análise das 13 (treze) empresas. A subjetividade

que caracteriza esse lado da análise, acaba por estabelecer um espaço para significativas

variações de resultados entre profissionais diferentes, ainda mais quando não

adequadamente preparados para oferecer respostas confiáveis sobre o complexo mundo

do Caráter, da Capacidade e das Condições.

Este estado de coisas muitas vezes nem é percebido pelas partes envolvidas. No caso

das operacionais, pode-se conjeturar que nem todos os gerentes têm conhecimento do

verdadeiro impacto que a parte qualitativa do crédito exerce em relação ao risco final da

empresa. A causa principal disso, talvez ironicamente, é o próprio desconhecimento que

têm em relação aos critérios utilizados pelos modelos de análise. Nenhum dos

operadores, nem mesmo os analistas de crédito, conhecem os pesos atribuídos a cada

item ou fator, o que pode levá-los, até inconscientemente, a não dar o devido valor aos

dados e informações que coletam e transmitem. Seria interessante que o Banco buscasse

um maior equilíbrio entre o sigilo, de fato imprescindível até determinado ponto, e um

nível mínimo de informação a ser repassada aos seus profissionais. Isso seria, conforme

discutido no Capítulo 2, trabalhar em prol de uma maior sedimentação da cultura do

crédito, fazendo com que a mesma permeie toda a organização, garantindo maior

eficácia na administração do crédito.

Nesta mesma ótica, é necessário apontar, também, a grande possibilidade de

manipulação dos aspectos qualitativos por parte de profissionais mal intencionados.

Explicando melhor, deve-se admitir que o conhecimento operacional do processo de

análise pode levar os profissionais envolvidos a alterar dados e informações qualitativas,

produzindo riscos e limites nos quais, eventualmente, possam estar interessados. Há que

se estabelecer freios para isso.

Outro desafio que se coloca, é buscar a contemplação dos riscos extra-balanço, como,

por exemplo, aqueles representados por contratos de derivativos. Derivativos que não se

encontram contabilizados, mas que representam direitos e obrigações da empresa a ser

126

analisada e que, por isso mesmo, poderá ter seus indicadores iniciais modificados, de

acordo com a solução final dos contratos mencionados.

Conforme Caoutte (2000), "os derivativos expandem o conceito de risco de crédito para

incluir o risco da contraparte". Suponha-se que uma empresa X compre dólares no

mercado futuro para garantir um contrato de aquisição de matéria prima de uma

importadora Y. Diante de uma eventual frustração no cumprimento do contrato futuro,

tanto a empresa X quanto a empresa Y poderão enfrentar dificuldades imprevisíveis e

de avaliação complexa por parte do analista, mesmo que a transação conste nas notas

explicativas das respectivas demonstrações contábeis. Tal circunstância se constitui no

chamado "risco da contraparte", que, com o aumento do requinte e complexidade do

mercado financeiro, tende a se fazer presente cada vez mais no nosso contexto

empresarial, constituindo-se em um grande desafio para os estudiosos dos modelos de

análise de crédito.

São novas faces de um mundo cada vez mais dinâmico e tecnológico, não mais podendo

ser avaliado com as mesmas ferramentas de meados do século passado. Há que se

superar as limitações da Análise Discriminante Linear, uma vez que o ambiente

empresarial é caracterizado por incertezas e mudanças muitas vezes imprevisíveis.

Neste contexto, a inteligência artificial, aqui representada pelas Redes Neurais, pode se

constituir em uma possível solução.

127

4.6 A FORMA DA DECISÃO NO BANCO DO BRASIL

As decisões tomadas com relação à concessão de crédito no Banco do Brasil, conforme

se pode verificar na hierarquia do processo decisório, analisada anteriormente, passa

peJo que Simon (1965) chamou de decisões programadas.

A decisão é tomada com base na interpretação das informações a respeito do objeto da

decisão, ou seja, realização ou não do negócio do crédito. É praticado o que Simon

(1965) chama de decisão com caráter de execução. Portanto, o Banco do Brasil

classifica as informações de acordo com a programação reservada às variáveis

importantes para o objetivo da decisão, que estão incorporadas em seu modelo

decisório, resultando na concessão ou não do crédito.

A decisão passa pelos diversos níveis da organização, onde é possível visualizar,

conforme Figura 4.1, a existência de uma pré-estrutura que proporciona ao processo

decisório maior segurança para as pessoas que com ele se envolvem. Isto acontece num

ciclo determinado de tempo, pois existe a necessidade de atender o cliente que está na

ponta do processo aguardando o resultado da decisão, de forma célere e satisfatória

Na descrição do processo, apresentada na Figura 4.1, é possível verificar que existe um

nível baixo de envolvimento com decisões não programadas. A decisão envolve um

ciclo extremamente programado, com diferentes níveis hierárquicos, para que seja

diminuído o risco da decisão. Conforme Simon (1977), decisões programadas tendem a

diminuir o nível de incerteza com relação ao objeto da decisão.

o conhecimento é fator determinante para a decisão, segundo Turban (1995), pOIS

quanto maior for, menor será o nível de incerteza. O processo decisório, voltado para o

crédito no Banco do Brasil, envolve especialistas, desde o visitador, passando pelos

gerentes de agência e analistas de crédito, consubstanciando-se em comitês

especializados.

128

As pessoas envolvidas com o processo decisório do segmento pesquisado, agem não em

função de respostas impulsivas, respondendo conforme sua percepção da realidade de

cada cliente, mas através de dados formais, que se transformam em informações

importantes para o decisor. Estes dados são colhidos ao longo do processo de

investigação do cliente que busca crédito. Qualquer que seja a forma de coleta de

informações - através da visita do representante do banco à empresa~ informações já

cadastradas no sistema do banco; informações colhidas através do analista ou comitê de

crédito -, elas devem estar relacionadas com o objetivo final do processo, qual seja o de

aumentar o grau de eficiência da decisão.

o Banco do Brasil possui um sistema de informações, hoje importante para o processo

decisório das instituições em geral, que, conforme afirma Turban (1995), está se

tomando cada vez mais complexo. Dada a volatilidade internacional de capitais, as

instituições financeiras, principalmente, precisam mostrar agilidade e eficácia em seus

processos, buscando e utilizando adequadamente as informações importantes.

As informações chave no Banco do Brasil, assim como acontece em outras instituições

financeiras, estão ligadas a modelos de análise de crédito. Estes modelos são

construídos ou adquiridos por cada instituição, procurando contemplar os diversos

fatores abordados na Revisão de Literatura do presente estudo e que foram

detalhadamente analisados neste Capítulo, em relação à empresa pesquisada.

4.7 A LÓGICA NEURAL, FUZZY E NEURO-FUZZY NO BANCO DO BRASIL

o processo de mudança vivenciado pelas organizações exige sistemas de informação

adequados aos novos tempos. Na instituição financeira, dada a complexidade

experimentada pela atividade, esses sistemas se revestem de extrema importância para o

processo decisório.

129

Na instituição pesquisada, existe um sistema de informações que possibilita ao decisor

consultar e selecionar dados importantes e transformá-los em informações úteis,

objetivando a eficácia das decisões.

Os modelos de análise de crédito adotados pelo Banco do Brasil, como mencionado ao

longo da dissertação, contemplam sistemas de informações que alimentam uma parte

quantitativa e outra qualitativa do processo decisório, mas ainda estão longe dos

conceitos da Neuro-Fuzzy.

A adoção dessas novas ferramentas pode melhor aproveitar o sistema de informações

existente no Banco, além de agilizar e melhorar as decisões em relação ao crédito. Uma

rede neural caracteriza-se por um conjunto de elementos computacionais interligados,

permitindo ao decisor maior efetividade e agilidade no processo decisório. Por mais

efetiva que seja a análise de crédito no Banco do Brasil, o seu processo, no que se refere

à análise de crédito das indústrias moveleiras, não se beneficia das vantagens oferecidas

pelas novas abordagens.

As redes neurais, segundo Caouette (1999), possuem qualidades superiores à análise

discriminante linear, pois estabelecem uma relação entre as principais variáveis, não

havendo o isolamento das informações. A idéia da inteligência computacional, inseridas

nas redes Neuro-Fuzzy, permite superar as limitações da matemática tradicional, que

tem se revelado pobre em termos de recursos para modelagem de níveis mais elevados.

Considerando que "risco" apresenta um conceito intrinsecamente relativo, subjetivo e

vago, há que se utilizar ferramentas capazes de trabalhar com esse tipo de informação.

Ferramentas que nos dêem respostas em níveis perceptuais, lingüísticos e subjetivos.

Tem-se que, este tipo de conteúdo, pode ser muito bem trabalhado sob a ótica de

sistemas nebulosos, que apresentam grande flexibilidade na representação do

conhecimento e já possuem ferramental lógico desenvolvido.

A adoção de uma rede neural, permitiria que a instituição pesquisada apresentasse elos

de ligação entre as variáveis consideradas importantes na concessão do crédito. Estes

elos de ligação, considerados os neurônios dos modelos, permitiriam que o sistema

fosse constantemente aperfeiçoado, através da aprendizagem computacional.

130

Aprendizagem baseada em dados do sistema real. Aprendizagem que atua no ajuste dos

pesos que ponderam as contribuições que cada neurônio deve ter tanto na entrada como

na saída do sistema.

o Banco do Brasil possui um sistema que classifica o cliente, aprovando limites de

crédito, mas que ainda não é capaz de fazer uma inter-relação das variáveis-chave do

processo decisório, em relação ao objeto da decisão. A instituição, através de um

conjunto de neurônios artificiais, com dados de um sistema que opera em tempo real,

seria capaz de mapear as variáveis importantes para o processo decisório, inclusive

ponderando a parte quantitativa dos modelos utilizados na análise do crédito. Haveria

uma diminuição dos custos, pois as faixas de classificação dos clientes, se atualizadas

constantemente pelo processo de aprendizado do sistema, estariam sempre disponíveis

para a pronta, eficaz e menos custosa tomada de decisão.

Conforme os negócios de cada um de seus clientes, as respectivas movimentações

financeiras e a dinâmica da economia, o Banco do Brasil poderia atualizar, de forma

mais ágil e eficaz, os limites de crédito que viabilizam as suas operações. Bastaria

desenvolver essas novas ferramentas, que têm a capacidade, através da tecnologia da

computação, de fazer ponderações instantâneas a partir de um bom e interligado sistema

de informações.

o antigo problema, apontado por Simon (1965), relacionado com a necessidade de

programar a decisão a partir do seu objeto, parece não estar ainda satisfeito na

instituição pesquisada. Existem os dados que são transformados em informações

importantes para o decisor, mas ainda corrigidos externamente ao sistema.

A qualidade da decisão depende das informações valiosas selecionadas pelo decisor,

mas que podem ser otimizadas quando o sistema decisório incorpora os processos de

análise repetitivos (Goldratt, 1991).

Não há, na instituição pesquisada, um sistema de análise das informações cumulativo,

ou seja, existem procedimentos repetitivos, feitos pelas pessoas da instituição, que

poderiam ser incorporados pelo sistema, fazendo com que estas se concentrassem mais

no objeto da decisão, que Simon (1965) afirma ser vital para o processo decisório.

131

As teorias de Altman, Haldeman & Narayanan (1977), sobre a Análise discriminante,

são muito importantes para o processo decisório no Banco do Brasil, assim como os

modelos adaptados para a realidade brasileira, citados no capítulo 2 desta dissertação,

mas precisam ser adaptados para os cenários e demandas atuais.

132

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A forma como as empresas tomam suas decisões mudou muito nas ultimas décadas,

ocorrendo um aperfeiçoamento na estrutura do processo decisório. As decisões tomadas

através de modelos desestruturados, privilegiando variáveis isoladas, ou seja, por uma

única pessoa, com base na sua percepção, estão sendo cada vez menos utilizadas. As

organizações preparam-se para se tomarem mais rápidas e efetivas em seus processos.

No ambiente das Instituições Financeiras, na área de crédito em particular, a efetividade

no processo decisório é sinônimo de rentabilidade direta, pois lida com valores. Uma

estrutura decisória desestruturada é capaz de gerar custos para a organização,

diminuindo sua rentabilidade financeira.

A forma como uma Instituição Financeira toma suas decisões com relação à concessão

do crédito, depende de um conjunto complexo de variáveis inter-relacionadas e que

devem estar conectadas com o objeto da decisão, através da utilização das informações

mais importantes.

A efetividade do processo decisório depende, no entanto, dos modelos de análise de

risco utilizados pelas instituições. Estes modelos se constituem em um ferramental

muitas vezes complexo e sempre dinâmico, cujos estudos foram abordados ao longo

desta dissertação, concluindo-se que devem ser constantemente aperfeiçoados para que

ofereçam respostas rápidas e adequadas às atuais demandas do mercado.

Os modelos de análise de risco são orientados por variáveis qualitativas e quantitativas,

observando-se uma maior importância e melhor aproveitamento dos dados qualitativos

do cliente nos últimos tempos.

Os bancos utilizavam uma forma determinística para classificar seus clientes no negócio

do crédito, valendo-se de modelos que estabeleciam o "bom" e o "mau" tomador de

crédito. Acompanhando a evolução das estruturas organizacionais e fazendo uso de

novas tecnologias, as instituições financeiras cresceram em eficiência e melhoraram em

muito a performance do seu processo decisório relacionado com o crédito. Conseguiram

133

sair de um sistema decisório mais cartesiano e reducionista, para um modelo mais

probabilístico no tratamento dos dados de seus clientes, onde começam a prosperar,

inclusive, os fundamentos da própria lógica nebulosa, conforme visto nesta dissertação.

Os modelos de análise de risco começaram a ficar mais ligados à gestão do negócio do

crédito, havendo relação direta entre as variáveis hierárquicas do processo decisório. A

forma como as decisões são tomadas nas instituições financeiras estão ligadas à

informações cada vez mais precisas a respeito dos clientes. Isto ocorre através do

aperfeiçoamento dos sistemas de apoio à decisão, que incorporaram os modelos de

análise de risco, inter-relacionando informações.

Hoje são utilizados os chamados modelos neuraIS, ou inteligência artificial, que

proporcionam maior efetividade na análise do crédito. Estes sistemas são capazes de

cruzar os diversos dados de um cliente, transformando-os em informações importantes

para a empresa. Estes modelos são aperfeiçoados pela aprendizagem computacional,

através de estruturas neurais complexas, fazendo com que o processo decisório com

relação ao crédito, nas instituições financeiras, seja aperfeiçoado a cada dia.

Com o auxilio do referencial teórico, onde se procurou analisar as tendências das teorias

voltadas para a decisão do crédito, e a partir das observações feitas na instituição

pesquisada, chegou-se à uma descrição de como as decisões são tomadas no Banco do

Brasil em relação à definição do risco dos seus clientes e a conseqüente concessão de

crédito.

Sem prejuízo das observações até aqui formuladas, percebe-se que a empresa

pesquisada possui um modelo decisório extremamente planejado. Há uma estrutura

hierárquica organizada, utilizando diversos modelos orientados pela Análise

Discriminante Múltipla, ajustados à realidade brasileira. Há uma estruturação de

informações a respeito de clientes, que valoriza de forma significativa inclusive os

dados qualitativos. A Instituição, porém, pela tradição e importância que representa para

a economia do país, precisa, sem perda de tempo, adquirir "know how" que lhe permita

a utilização das novas teorias discutidas nesta dissertação, como forma de otimizar seu

processo decisório.

134

Através da utilização dessas teorias mais modernas de análise, o Banco do Brasil poderá

reduzir seus custos de emprestar e não emprestar, o que condiz com seus objetivos de

maior rentabilidade.

135

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