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Coleção Aventuras Grandiosas Henry Fielding TOM JONES Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez 1ª edição

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Coleção Aventuras Grandiosas

Henry Fielding

TOM JONES

Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez

1ª edição

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�� LATIFUNDIÁRIO: dono de latifúndio (grande propriedade rural)�� ESBOÇAVA: deixava entrever, entremostrava��PARADEIRO: lugar onde alguém está

1. Um bebê para o Sr. Allworthy

O Sr. Allworthy vivia na cidade de Somerset, no oeste da Inglaterra. Ele era umhomem muito honesto. Tinha boa saúde, bom senso, além de ser um dos LATIFUNDIÁRIOSmais ricos do país. Seus três filhos morreram ainda crianças. Sua esposa, a quem eleamava muito, também morrera, cerca de cinco anos antes de esta história começar. Eleagora estava morando com a irmã, a Srta. Bridget Allworthy. Bridget tinha pouco mais detrinta anos e era solteira. Ela cuidava do irmão com bastante carinho.

Uma noite, o Sr. Allworthy voltou para casa tarde. Ele estava retornando de umaviagem de negócios a Londres que durara muitos meses. Depois de jantar com a irmã,ele foi para o quarto dormir. Ajoelhou-se no tapete para fazer suas preces noturnas e, emseguida, puxou as cobertas, pronto para deitar-se. Mas, para sua enorme surpresa, haviaum bebê recém-nascido dormindo profundamente sobre o lençol. Depois de observara criança por alguns segundos, o Sr. Allworthy chamou a Sra. Deborah Wilkins, antigagovernanta da casa.

— Deus do céu! O que vamos fazer? — gritou a Sra. Wilkins, depois de se inteirarda situação.

— A senhora irá cuidar da criança esta noite. Amanhã vou contratar uma enfer-meira – respondeu o patrão.

— Senhor, penso que seria melhor ajeitarmos este bebê dentro de uma cesta e ocolocarmos na porta da igreja. Se o senhor ficar com a criança, todos vão pensar que osenhor é o pai.

— Não me importa o que os outros pensem. Se a mãe decidiu deixá-lo aqui, éporque não podia criá-lo. E se esta casa foi escolhida como um lugar de confiança, sintoorgulho disso – disse o Sr. Allworthy, brincando com a mãozinha do bebê, que agoraestava desperto e ESBOÇAVA um sorriso no rosto corado.

No dia seguinte de manhã, o Sr. Allworthy chamou sua irmã e contou-lhe a históriado bebê achado entre as cobertas da cama. Bridget ficou em silêncio até quando o irmãodisse:

— Decidi criar este menino como se fosse meu próprio filho.— Você é um homem generoso, meu irmão. Mas acredito que devemos tentar

encontrar a mãe da criança, não acha?O Sr. Allworthy encarregou a governanta dessa tarefa. Assim que ele saiu da sala,

Bridget aproximou-se do menino e beijou sua testa.— Que bebê lindo! Tão puro e inocente... – suspirou, olhando para a Sra. Wilkins.Nessa hora, a governanta também beijou e acariciou o menino, que dormia tran-

qüilamente em seu colo. Ela se apegara ao bebê e estava arrependida de ter sugerido aopatrão deixá-lo na porta da igreja. Bridget e ela foram arrumar um bom quarto para onovo morador da casa.

Só à tarde a Sra. Wilkins foi até o vilarejo mais próximo investigar sobre o PARADEIRO

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�� TOSTÃO: dinheiro

da mãe da criança abandonada. Quando voltou, trouxe com ela Jenny Jones, queconfessou ser a mãe do bebê. Jenny Jones era uma menina pobre, que tinha trabalhadocomo empregada doméstica na casa de um professor e sua esposa durante vários anos.Ela era muito esperta, por isso o professor a ensinara a ler, a escrever e a gostar deestudar.

Pouco antes de o Sr. Allworthy voltar de viagem, Jenny havia estado na casa delepara auxiliar Bridget. Ela havia estado doente e precisava de alguém constantemente aoseu lado. Na verdade, a Sra. Wilkins tinha visto Jenny na casa exatamente na noite anteriorem que a criança tinha sido achada.

— Agradeço ao senhor por cuidar do meu filho, Sr. Allworthy. Espero que ele lhedê muitas alegrias – disse ela.

— Jenny, diga quem é o pai. Talvez ele queira cuidar da criança.— Prometi a Deus que não diria o nome do pai agora. Garanto que um dia o

senhor saberá, mas não agora.Jenny estava decidida a não criar seu filho. O Sr. Allworthy, então, deu-lhe um

bom dinheiro para que ela deixasse o vilarejo e batizou a criança com seu primeironome, Thomas. A vizinhança aproveitou para inventar diversas fofocas. A maioria delasdizia que o Sr. Allworthy era o pai do bebê e que ele tinha obrigado Jenny Jones a partirsem um TOSTÃO no bolso.

2. Tom versus Blifil

Depois de alguns meses passados da descoberta do pequeno Tom, BridgetAllworthy resolveu casar-se com o Capitão Blifil. Ele tinha cerca de trinta e cinco anos. Eraum homem instruído. Havia servido o exército do Rei George II, mas deixara o quartelpara levar uma vida tranqüila no campo.

O Capitão Blifil freqüentava a casa dos Allworthy, pois gostava de conversar sobrea Bíblia e outros livros de interesse do dono da casa e de sua irmã. Durante essas visitas,Bridget apaixonara-se por ele. O Capitão não amava Bridget, mas gostava muito da pro-priedade do Sr. Allworthy, das fazendas e dos vilarejos, que ele praticamente comandavana região. Ele sabia que o Sr. Allworthy não tinha filhos legítimos, então, de olho naherança da família, casou-se com Bridget assim que percebeu o interesse da moça.

Pouco menos de um ano depois do casamento, Bridget e o Capitão tiveram umfilho. Feliz com a chegada de uma nova criança, o Sr. Allworthy disse à irmã que queriaque os dois meninos fossem criados juntos. Ele agora era padrinho de Tom e gostavadele como se fosse o pai. Bridget concordou, mas o Capitão Blifil se opôs.

— Veja, está na Bíblia – dizia ele ao Sr. Allworthy. — Bastardos devem ser punidos.— Os filhos não devem pagar pelos erros dos pais – discordava o Sr. Allworthy.

— Eles são inocentes e Deus não pune os inocentes.Enquanto o Capitão Blifil ia ficando cada vez mais enciumado do amor que seu

cunhado dedicava ao pequeno Tom, a Sra. Wilkins apareceu repentinamente com umanotícia. Ela pensava ter descoberto quem era o pai do menino abandonado.

Como já foi dito, Jenny Jones viveu na casa de um professor e sua esposa durantealguns anos. Ela trabalhava como empregada e, nas horas de folga, tinha aulas com seu

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��REVIDOU: contestou, replicou, vingou com uma ofensa maior�� FLAGRADO: surpreendido, pego em flagrante��RÍGIDO: severo, rigoroso

patrão, o Sr. Partridge. Ela tinha aprendido muitas coisas com ele, inclusive latim. Certodia, a Sra. Partridge achou que professor e aluna estavam sentados próximos demais edespediu a menina. Ela era uma mulher ciumenta e não podia suportar a idéia de ver seumarido apaixonar-se por outra mulher. Alguns meses depois de Jenny Jones deixar ovilarejo, a Sra. Partridge ouviu sobre o nascimento do filho dela.

— Não se sabe ao certo quem é o pai – diziam. — Alguns pensam que é o Sr.Allworthy, pois ele aceitou cuidar da criança, mas deve ser alguém aqui do vilarejo,onde ela morava e trabalhava.

Imediatamente, a Sra. Partridge foi para casa e acusou o marido de ser o pai. Elapartiu para cima dele com tamanha violência, que o deixou coberto de sangue. Ele nãoREVIDOU, mas os vizinhos foram avisar o Sr. Allworthy que o Sr. Partridge estava batendona esposa.

O casal foi chamado na casa do Sr. Allworthy. O professor jurou que era inocente,que nunca havia tocado um dedo sequer em Jenny Jones. No entanto, sua esposa afir-mou que havia FLAGRADO os dois juntos na cama. O Sr. Allworthy mandou alguém irbuscar Jenny, que estava morando a vários quilômetros dali, mas o encarregado voltoucom a informação de que Jenny Jones havia partido com um soldado.

— Sinto muito, Sr. Partridge – disse então o Sr. Allworthy. — Pelo que sua esposacontou, acredito que o senhor seja mesmo o pai de meu afilhado, embora o senhornegue a paternidade.

O Sr. Partridge, que era dono de uma escolinha no vilarejo, perdeu seu meio desustento depois dessa declaração, pois ninguém queria matricular o filho na escola deum homem desonesto. Logo depois, ele perdeu também a esposa, que faleceu repen-tinamente. Os moradores estavam começando a ter pena dele, mas o Sr. Partridge resolveuir para longe do lugar que havia lhe causado tanta tristeza.

Embora o Sr. Allworthy tenha sido RÍGIDO com o suposto pai de Tom, ele gostavamuito do menino. Continuou a tratá-lo com amor, o que enfurecia cada vez mais oCapitão Blifil. O Capitão sonhava com o dia em que seu filho, o pequeno Blifil, fosseherdar o dinheiro e as propriedades do tio. Ele passava horas imaginando como iriareformar a casa e mudar o jardim. No entanto, o destino foi cruel com ele. O Capitãosofreu uma queda de cavalo e morreu subitamente, antes de colocar as mãos no dinheirodo Sr. Allworthy.

Doze anos se passaram. Tom e o pequeno Blifil cresceram juntos, mas adquirirampersonalidades bastante diferentes. Tom era mais levado e, por isso, recebia muitasbroncas do Sr. Allworthy e dos vizinhos. Dentre os empregados da casa, apenas um eraamigo de Tom. Seu nome era George Seagrim. Ele cuidava dos animais da fazenda.

Um dia, Tom e George Seagrim foram dar uma volta perto da propriedade deum vizinho. Levaram escondida uma espingarda e, assim que viram alguns pássarosvoando, começaram a atirar. O vizinho, atraído pelos tiros, pegou Tom com uma avemorta nas mãos. George Seagrim escondeu-se no mato. Tom foi levado até o Sr. Allworthy,que perguntou:

— Por que você foi matar a ave do nosso vizinho?

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��PUNIÇÃO: pena, castigo�� DEMITIDO: despedido, destituído do cargo, desempregado��ENÉRGICO: rigoroso, forte��CARIDOSA: pessoa que faz caridade

Envergonhado, Tom respondeu que estava só se distraindo. Ele jurou que nãohavia mais ninguém com ele. Tom recebeu uma boa surra de cinto e foi dormir semjantar. De madrugada, mesmo correndo o risco de ser pego, Tom escapou do quarto efoi até a casa de George Seagrim entregar a ave. Ele sabia que o pobre empregado tinhamuito pouca comida.

Algumas semanas depois, Blifil descobriu o que Tom tinha feito e contou para oSr. Allworthy. Tom apanhou ainda mais, por ter mentido dizendo que havia ido atirarsozinho nos pássaros e por escapar do quarto à noite. George Seagrim recebeu PUNIÇÃOpior. Ele foi chamado e DEMITIDO, após receber seu pagamento mensal. Tom ficoumuito preocupado com a família de George Seagrim. Para ajudá-los, vendeu sua Bíblia edeu-lhes o dinheiro.

O Sr. Allworthy gostava de Tom como se fosse seu próprio filho. Ele era um homemENÉRGICO, que acreditava na disciplina para educar. Porém, era também muito carinhosocom Tom. O menino correspondia esse carinho com respeito e dedicação. Blifil tinhaciúme de Tom. Estava sempre arrumando uma maneira de prejudicá-lo.

Os garotos tinham aulas com dois professores, o Sr. Thwackum e o Sr. Square. Elespraticamente viviam na casa do Sr. Allworthy. Secretamente, os dois mestres cultivavamo desejo de conquistar o coração de Bridget, viúva há bastante tempo, certos de queconseguiriam uma fatia da herança do Sr. Allworthy. Na tentativa de agradá-la, ambosprotegiam e demonstravam suas preferências por Blifil, que recebia bem menos puniçõesdo que Tom.

3. Tom apaixona-SE

Mais alguns anos se passaram e Tom acabou ficando amigo do vizinho quehavia causado tanta confusão por causa do pássaro morto. Chamava-se Sr. Western eadorava caçar. Ele tinha armas, cavalos e até cachorros de raça que o acompanhavamem suas caçadas. Um dia, ele convidou Tom para ir com ele, e a partir de então os doiscomeçaram a praticar esse esporte juntos de vez em quando.

O Sr. Western tinha uma única filha, Sophia, que estava morando com a tia hátrês anos. Ela tinha ido estudar e adquirir boas maneiras, coisas difíceis de se conseguirvivendo no campo. No dia em que Sophia voltou para casa, Tom havia ido caçar como Sr. Western. À noite, pouco antes do jantar, os dois foram apresentados.

— Esta é Sophia, minha filha. Voltou de Londres para cuidar do velho pai –disse o Sr. Western, olhando com orgulho para ela.

Tom pensou que estivesse sonhando. Sophia Western era a moça mais bela queele já havia visto na vida. Tinha dezessete anos, cabelos pretos volumosos, olhos brilhan-tes, nariz e lábios perfeitos. Além disso, era também inteligente e CARIDOSA.

Sophia simpatizou com Tom na mesma hora em que o conheceu. Ele estavacom quase vinte anos. Havia se tornado um rapaz bonito, afetuoso e divertido. Como o

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�� EMBARAÇO: timidez, vergonha�� PÁROCO: sacerdote encarregado de uma paróquia, vigário, padre

Sr. Western passava muitas horas do dia cuidando de seus cachorros de caça, os doisjovens tinham muito tempo para ficar sozinhos, conversando e caminhando pelapropriedade. Quando menos perceberam, estavam apaixonados.

Um dia, enquanto os dois passeavam no final da tarde, Tom pegou a mão deSophia e a beijou suavemente. Era a primeira vez que um rapaz beijava sua mão. Perce-bendo que ela estava sem graça, Tom resolveu contar uma história para distraí-la. Contoua história de George Seagrim, o pobre empregado demitido pelo Sr. Allworthy anosatrás por ter ajudado Tom a matar uma ave.

— E foi justamente um pássaro encontrado aqui, na fazenda de seu pai – disseTom, com certo EMBARAÇO.

— Pobre homem! E onde ele está agora? – perguntou Sophia.— Está desempregado até hoje. Sua família sofre com a falta de comida.Sophia, que era um verdadeiro anjo, convenceu o pai a dar emprego a George

Seagrim. Além disso, ela deu um vestido seu à esposa dele, pois a moça andava quasesó com trapos sobre o corpo. George, a esposa e as três filhas mudaram-se para afazenda do Sr. Western.

Tom gostava de Sophia. Ele admirava sua beleza e bondade. No entanto, umaoutra mulher acabou atraindo a atenção dele. Era Molly Seagrim, filha mais velha deGeorge, que tinha cerca de dezesseis anos, três a menos do que Tom.

Tom sentia um desejo enorme de beijar e acariciar a moça cada vez que ele a viana fazenda dos Western, mas acreditava que isso não era certo. Um dia, os doisencontraram-se acidentalmente perto do lago e entregaram-se ao desejo que estavareprimido há muito tempo. Eles passaram a se encontrar com freqüência, e, em poucotempo, a barriga de Molly começou a crescer.

4. Um amor impossível

Uma noite, Tom e o Sr. Supple, o PÁROCO do vilarejo, foram convidados parajantar na casa do Sr. Western. Durante a refeição, o Sr. Supple disse:

— Molly Seagrim, filha de seu empregado, Sr. Western, vai ter um filho bastardo.— O que o senhor está me dizendo? E quem é o pai?— Ela se recusa a dizer, mas deve ser alguém das redondezas, pois ela é uma

garota que quase nunca sai de casa. Talvez algum outro empregado, não sei.Tom empalideceu de repente. Pediu licença e disse que precisava voltar para

casa. Assim que ele saiu, o Sr. Western falou com firmeza:— Tom deve ser o pai do bastardo.O Sr. Supple discordou:— Ele é um bom rapaz. Não sei se seria capaz de uma coisa dessas.Sophia percebeu a mudança de comportamento de Tom quando a gravidez de

Molly foi mencionada. Por mais que não quisesse acreditar nos fatos, concordou comseu pai. Sentindo-se confusa e magoada, saiu da mesa e foi deitar-se mais cedo.

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��EXAUSTIVAMENTE: de modo cansativo e esgotante�� TERNO: meigo, suave, afetuoso��POSSESSIVA: pessoa que tem exacerbado sentimento de posse��RENUNCIAR: desistir de, abdicar

Quando Tom chegou em casa, ele admitiu para o Sr. Allworthy que era o pai dofilho de Molly Seagrim. O Sr. Allworthy já estava sabendo da gravidez da moça, poistodo o vilarejo comentava o assunto.

— O que você fez não está certo, Tom – disse ele.Tom concordou que havia errado. Ele pediu desculpas EXAUSTIVAMENTE e

prometeu que iria tentar ser uma pessoa melhor. O Sr. Allworthy não o puniu, pois admiroua coragem que o rapaz teve de contar a verdade. No entanto, ficou bastantedecepcionado com as atitudes do afilhado em relação à Molly Seagrim.

Sophia ficou muito triste. Ela passou a evitar Tom, por mais que seu coraçãoquisesse estar sempre perto dele. Um dia, porém, quando Sophia andava a cavalojunto com seu pai e Tom, o animal no qual a bela moça estava montada disparou ederrubou-a no chão. Percebendo que Sophia estava em perigo, Tom se jogou de seucavalo para tentar salvá-la.

— Sophia! – gritou ele, aproximando-se dela. — Você está machucada?— Estou bem – respondeu ela, encantada com o gesto do rapaz.Nesse momento, porém, Tom percebeu que ele havia se ferido com a queda.

Seu braço direito estava quebrado, e ele mal tinha forças para se mexer. Dois empregadosda fazenda o carregaram para dentro da casa do Sr. Western. Um médico foi chamado.

— Ele terá que ficar de cama. Vamos deixá-lo em observação para saber senenhum outro osso quebrou – disse o doutor.

Tom precisou, então, ficar morando na casa dos Western por alguns dias. Elerecebeu muitas visitas: a de seu padrinho, o Sr. Allworthy, a dos professores Thwackume Square, e até a de Blifil. Quando Tom conseguiu sentar-se, o Sr. Western levou Sophiapara uma visita ao rapaz. Na presença da filha, ele falou:

— Gosto muito de você, Tom. Por isso quero dar-lhe um presente. Quando selevantar desta cama, irá para casa cavalgando um cavalo novo. Escolha o que quiserdentre os que tenho aqui na fazenda.

Ele sorriu e agradeceu. Sophia sentiu o coração bater forte na presença de Tom.Quando o pai saiu para caçar nas manhãs seguintes, ela passou a visitar o rapaz. Logo osdois voltaram a conversar e a se divertir juntos como antes. Sophia não dizia nada sobreseus sentimentos, mas seu olhar TERNO dizia a Tom que ela ainda o amava.

Tom ficou muito confuso. Ele também estava apaixonado por Sophia, mas duascoisas o obrigavam a se afastar dela: primeiro, o Sr. Western gostava da filha de umamaneira muito POSSESSIVA. Ele nunca permitiria que ela se casasse com um homem quenão fosse rico. Ainda por cima, o Sr. Western não gostaria que Sophia fosse esposa deum bastardo. Segundo, Tom não tinha coragem de deixar Molly sozinha, esperando umfilho dele.

Assim que melhorou, Tom foi procurar Molly. Eles precisavam conversar. Tom es-tava disposto a RENUNCIAR seu amor por Sophia para ficar com ela. Assim que chegou nacasa dos Seagrim, a irmã de Molly disse que ela estava no quarto. Tom subiu as escadas ebateu na porta. Depois de algum tempo, ela abriu a porta, visivelmente incomodada.

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LIBRAS: unidade monetária da Grã-Bretanha

— Ah, é você – disse ela, forçando o sorriso.— Vim ver como você está – disse Tom.Os dois sentaram-se na cama e beijaram-se. Um barulho estranho atrás da cortina

fez Tom olhar para trás. Ele dirigiu-se até a janela e percebeu que havia um homemescondido lá. Era o Sr. Square, um de seus professores. Molly chorou e acabouconfessando que ela dormia com outros homens além de Tom.

— Quem é o pai da criança que você está esperando, Molly? – perguntou Tom.— Não... não é você, Tom Jones. É Will Barnes, o primeiro homem com quem fiz

amor – respondeu entre lágrimas.Tom prometeu ao professor não dizer nada sobre sua presença naquela casa.

Ele saiu aliviado de lá, pois não tinha mais a responsabilidade de ser pai com tão poucaidade. No entanto, uma coisa o deixava triste e nervoso: seu amor por Sophia cresciamais a cada dia. O Sr. Western não percebia, mas Tom e Sophia coravam na presença umdo outro. Um dia, ele não resistiu e declarou-se:

— Sophia, eu não sei mais o que fazer – disse ele, olhando nos olhos dela. —Estou lutando contra o meu amor, mas sinto que não sou forte o bastante para vencê-lo.

Percebendo que era correspondida, Sophia chorou lágrimas que representavamuma mistura de alegria e tristeza. Ela estava feliz por saber que Tom a amava, mas sentiauma angústia profunda por ter certeza de que seu pai não aprovaria o casamento dos dois.

Tom foi embora cabisbaixo naquela tarde. Mal sabia ele que más notícias oaguardavam em casa.

O testamento do Sr. Allworthy

Tom encontrou Blifil chorando. O Sr. Allworthy caíra doente de repente e, se-gundo o médico, poderia morrer logo. Bridget não estava em Somerset. Ela tinha idopassar um tempo em Londres. Blifil e Tom foram até o quarto do Sr. Allworthy, que pediupara os dois ficarem calmos.

— A vida é como uma festa, meus meninos. Alguns vão embora mais cedo,outros mais tarde – disse ele. — Eu não tenho medo da morte. Agora sentem-se aquiperto da cama. Quero lhes falar sobre meu testamento.

O bom homem abriu um envelope lacrado e começou a ler o que tinha dentro:— Para você, meu sobrinho, deixo todas as minhas terras, além desta casa. Para

sua mãe, Bridget, minha irmã, deixo quinhentas LIBRAS por ano. A mesma quantia serádeixada para você, Tom, meu afilhado. Está tudo registrado neste papel. Por favor, façamcumprir meus últimos desejos, depois que eu me for.

Tom beijou as mãos do padrinho, dizendo:— Obrigado, senhor. Considero-o um pai para mim. Obrigado pelo cuidado

que recebi do senhor desde que nasci.O Sr. Thwackum e o Sr. Square ficaram de cara feia, pois esperavam ganhar mais

do que as mil libras prometidas para eles. O Sr. Allworthy pediu para todos saírem doquarto, pois ele queria descansar. Logo em seguida, um advogado vindo de Londresbateu na porta da casa. Era uma má notícia para Blifil: sua mãe estava morta.

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��ACUDI-LO: socorrê-lo��BORRIFOU-LHE: molhou seu rosto com borrifos, pequenas gotas d’água

— Você deve aceitar esta notícia como um homem – disse o Sr. Square.— Como um verdadeiro cristão – completou o Sr. Thwackum.Blifil subiu as escadas e acordou o tio. Primeiro o médico examinou o doente e

achou que ele estava melhor. Então, o Sr. Allworthy abriu os olhos e ouviu a notícia sobrea morte da irmã.

— Chame o advogado que trouxe a notícia, Blifil – disse ele.— Ele já foi embora, meu tio. Disse que tinha algo para fazer.— Nesse caso, cuide você mesmo do enterro de sua mãe.Depois do jantar, o médico informou a todos de que o paciente não corria mais

perigo de vida. Tom ficou felicíssimo e bebeu para comemorar. Acabou bebendo alémda conta, por isso foi caminhar um pouco perto do lago, ainda cantando e celebrandoa saúde recuperada do padrinho.

A noite estava quente e estrelada, ideal para o amor. Tom ouviu um barulho nomato e foi procurar o que havia por lá. Encontrou Molly Seagrim sentada perto da água,admirando as estrelas. Os dois conversaram por alguns minutos e não resistiram: entrega-ram-se ao desejo que sentiam.

O estranho é que, minutos antes de encontrar Molly, Tom estava pensando noquanto amava Sophia. “Eu sempre vou te amar, querida Sophia. Mesmo que o destinonos separe, saiba que meu coração é seu”, pensara ele. Mas ele estava se sentindo muitosozinho. A noite estava bonita demais e Molly o desejava ardentemente. Os sentimentospor Sophia foram colocados de lado por um tempo.

De repente, Tom e Molly escutaram passos. Ela correu para casa e Tom foi verquem estava os espionando. Assim que caminhou alguns passos, deu de cara com Blifile Thwackum.

— Ah! É você? – perguntou Thwackum.— Sim, sou eu. Algum problema? – disse Tom.— Quem é a mulher que se deitava com você aí no mato? – perguntou Blifil.— Não interessa a nenhum de vocês – falou Tom, com a voz firme.Blifil sentiu-se ofendido e começou uma briga. Thwackum, que havia lutado

profissionalmente na juventude, deu um soco na cara de Tom. Ele conseguiu recuperar-se e partiu para cima de Blifil, que caiu no chão desacordado. Thwackum e Tomcontinuaram a se agredir.

A briga só terminou quando o Sr. Western apareceu na companhia do pároco,o Sr. Supple; de sua irmã, a Sra. Western, a tia que havia educado Sophia; e a própriaSophia. Blifil começava a acordar. Todos correram para ACUDI-LO, mas um barulho seouviu atrás deles. Era Sophia, que, impressionada com o sangue cobrindo o corpodos lutadores, desmaiara. Tom a carregou no colo e a levou para perto do lago.BORRIFOU-LHE água no rosto, o que fez a moça despertar suavemente.

Quando o Sr. Western soube o motivo da briga, ele foi falar a sós com os trêslutadores.

— O que é isso, rapazes. Brigar por causa de uma mulher... Onde está ela? –perguntou.

— Foi embora – disse Tom.

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�� CONSENTIMENTO: permissão, licença

— Venham, vamos beber juntos e fazer as pazes – o Sr. Western convidou.Blifil e Thwackum recusaram, mas Tom acompanhou o pároco, o Sr. Western e as

mulheres até a fazenda vizinha.

5. A desilusão de Sophia

No dia seguinte, a Sra. Western teve uma conversa com o irmão.— Sinto que alguma coisa está acontecendo com minha sobrinha.— Ela está doente? Chame o melhor médico da região. Eu a amo mais do que a

mim mesmo – disse o Sr. Western.— Sophia não está doente. Ela está apaixonada.— Apaixonada? Sem me dizer nada? Vou expulsá-la de casa sem um tostão no

bolso! – gritou o pai, enfurecido.— E se o homem por quem Sophia está apaixonada for alguém que você aprove?

– perguntou a Sra. Western.— Como assim?— Você não reparou como ela desmaiou ao ver Blifil desacordado no chão?— É verdade, minha irmã – respondeu ele, acalmando-se. — Sophia fez uma

ótima escolha. Blifil é um bom rapaz. Além disso, nossas propriedades são uma ao ladoda outra. Se os dois se casarem, uniremos nossas fortunas. O que devo fazer?

— Vá conversar com o Sr. Allworthy sobre o casamento dos dois.Alguns dias depois, quando o Sr. Allworthy já estava quase totalmente recupe-

rado de sua doença, o Sr. Western foi visitá-lo. Depois de ouvir a proposta do vizinho, oSr. Allworthy disse que precisava discutir o assunto com Blifil. O rapaz foi chamado.

— O Sr. Western veio até aqui oferecer-lhe a mão de sua única filha em casa-mento – explicou o tio.

Blifil pensou por alguns segundos, e perguntou:— Sophia quer se casar comigo, Sr. Western?— Sophia é obediente. Os pais são os melhores juízes para resolver o que é

bom para os filhos.— Nesse caso, aceito o que meu tio decidir.O Sr. Allworthy achou a resposta do sobrinho um pouco fria, mas permitiu o

casamento. Blifil foi convidado para visitar Sophia no dia seguinte. A Sra. Western foiencarregada de informar a sobrinha. Quando entrou no quarto, encontrou Sophia lendo.

— É um livro sobre o amor? – perguntou a tia.Sophia corou.— Pode se abrir comigo, querida – continuou a Sra. Western.— Do que a senhora está falando?— Você pode enganar seu pai, mas não a mim. Vamos, confie em sua tia. Eu

percebi que você está apaixonada quando desmaiou aquele dia perto do lago.— Não sei o que está dizendo.— Pois eu lhe digo que, graças a mim, o homem que você ama virá aqui esta

tarde, com o CONSENTIMENTO de seu pai, fazer-lhe uma visita.

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��RUDE: descortês, grosseiro

— A senhora está me assustando.— Calma, minha querida. Ele é um rapaz charmoso. Falei com seu pai e ele já

acertou tudo com o Sr. Allworthy. Vocês em breve estarão casados.Sophia não agüentou mais e confessou.— A senhora tem razão. Ele é gentil, inteligente, bonito... Ele é perfeito! Que

mal há em ele ser pobre?— Pobre? Blifil não é pobre.Sophia ficou pálida de repente.— Blifil? – murmurou Sophia, perdendo a voz. — Eu amo Tom Jones.Os olhos da Sra. Western encheram-se de ódio.— Não acredito que tenha sequer passado pela sua cabeça a idéia de desgraçar

o nome dos Western se casando com um bastardo! – gritou.— Foi a senhora que me obrigou a contar meu segredo. Eu iria morrer com ele –

disse Sophia, em lágrimas.A tia ameaçou chamar o irmão e contar-lhe tudo, mas Sophia ajoelhou-se

pedindo para que ela não fizesse isso. Ela aceitou receber Blifil como seu futuromarido para calar a Sra. Western, mas implorou que ela fizesse seu pai adiar ocasamento.

— Não, Sophia, vocês devem se casar o mais rápido possível. É preciso protegê-la daquele bastardo. Não temos nem um minuto a perder – disse ela, batendo a portado quarto.

Naquela tarde, Sophia e Blifil ficaram a sós durante alguns minutos na sala dacasa dos Western. Ela quase não falou, mas também não foi RUDE. Blifil achou que elaestivesse tímida e foi embora satisfeito com a visita. “É normal”, pensou, “todas asmoças são tímidas”. Ele não tinha a menor idéia de que sua prometida amava Tom.

À noite, o Sr. Western foi ao quarto da filha. Ele beijou-a e encheu-a de carinho.— Você é meu único tesouro, Sophia. Quero vê-la feliz, pois só assim estarei bem

– disse ele.Sophia começou a chorar e não resistiu:— Ah, meu pai, o senhor é tão bom para mim – disse ela.— Por que está chorando, minha querida?— Porque não quero me casar com Blifil.— O que você está falando? Pensei que o amasse.— Eu o odeio! Se me casar com ele serei a pessoa mais triste do mundo!— Sophia, escute! – gritou o Sr. Western. — O casamento não mata ninguém!

Você será obediente e honrará a palavra de seu pai. Já está tudo arranjado com o Sr.Allworthy.

— Mas...— Nem mais uma letra! Largo você no meio da rua passando fome se me deso-

bedecer!O Sr. Western saiu do quarto pisando firme, deixando Sophia em lágrimas, ajoelhada

no chão.

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�� INFLAMADA: exaltada

7. Tom e Sophia enfrentam

grandes dificuldades

A vida de Tom transformou-se em um pesadelo depois que a Sra. Western contouao irmão que Sophia estava apaixonada por ele. O Sr. Western foi até a fazenda vizinhafalar com o Sr. Allworthy.

— Minha filha não quer se casar com Blifil – explicou ele, com a voz INFLAMADA.— O que houve? – perguntou o Sr. Allworthy.— Ela apaixonou-se pelo seu bastardo! Foi isso o que houve!— Sinto muito, Sr. Western, mas acho que isso é natural. Os dois passavam

muitas horas juntos...— E eu que recebi Tom em minha própria casa! – gritou. — Levei o próprio

demônio para caçar comigo!— O que vamos fazer?— Sophia vai se casar com Blifil ou eu a abandonarei no mundo! Ela não terá

mais família se me desobedecer! E o senhor mantenha Tom Jones longe de minha casa.O Sr. Allworthy estava cansado das gritarias do vizinho. Despediu-se dele e foi

para a varanda sentar-se um pouco. Blifil, que escutara a conversa toda, aproximou-se:— Tom o decepcionou, não é, meu tio? – perguntou ele.— A vida às vezes nos expõe dificuldades, meu sobrinho.Blifil aproveitou para se vingar de Tom pela surra que havia levado recentemente.— Tom tem feito coisas horríveis... – disse ele, desviando o olhar.— Como assim? O que quer dizer? – perguntou o tio.— Na noite em que o senhor estava à beira da morte, todos nós estávamos

muito tristes. No entanto, Tom parecia animado. Ele bebeu uma garrafa de vinho, dançoue cantou de felicidade. Depois foi caminhar perto do lago.

— Continue, Blifil.— Bem, o Sr. Thwackum e eu resolvemos segui-lo para evitar que ele fizesse

alguma bobagem. Foi então que o flagramos com uma mulher. Ele nos viu e partiu paracima de nós. Cheguei a ficar desacordado.

— Tom bateu em vocês dois?Blifil mostrou uma marca roxa que ainda restava nas costas. O Sr. Allworthy

checou a história do sobrinho com o Sr. Thwackum e, em seguida, mandou chamar Tom.Colocado contra a parede, Tom não teve como se defender, uma vez que o que Blifilcontou ao tio era, em parte, verdade.

— Perdoe-me, Sr. Allworthy, por favor – disse ele.— Eu já o perdoei outras vezes. Primeiro foi a ave que você matou na fazenda

de nosso vizinho. Depois foi o caso de Molly Seagrim. Agora, bater em seu professor eem Blifil foi além da conta.

O Sr. Allworthy estava quase arrependido de ter pego Tom para criar. “Talveztivesse sido melhor tê-lo deixado na porta da igreja”, pensou. Influenciado por Blifil eThwackum, ele deu um envelope com algum dinheiro ao afilhado e mandou-o embora.

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��DESPOSAR: casar�� ESTALAGEM: hospedaria, pequeno hotel

Tom teve que deixar a casa imediatamente, levando apenas algumas roupas eobjetos pessoais. Ele ficou caminhando perto do lago, pensando no que iria fazer. Decidiuescrever um bilhete para Sophia. Encontrou um pedaço de papel no bolso e escreveu:

Querida Sophia,Preciso ir embora e temo que seja para sempre. Não se preocupe comigo.

Depois de te perder, nada mais é importante nesta vida. Ah, Sophia, como é difícildeixá-la para trás... Por favor, tente me esquecer. Que Deus a proteja.

Ele foi até a casa dos Seagrim e pediu se seu velho amigo George Seagrimpoderia entregar o bilhete a Sophia. Ele conseguiu chegar até a criada da moça, queentregou as palavras de Tom a ela. Em menos de meia hora, George estava de volta coma resposta:

Tom, meu amor,Como você sabe, meu pai é um homem difícil. Fique longe dele, para seu próprio

bem. Eu gostaria de ajudá-lo, mas tudo o que posso dizer-lhe é que nada me faráDESPOSAR ou amar outra pessoa.

Tom beijou a carta várias vezes, despediu-se de George e seguiu para a cidademais próxima. O Sr. Western decidiu que Sophia se casaria com Blifil o mais rápidopossível, mesmo que fosse à força. Ele chamou o Sr. Supple e pediu-lhe que realizasseo casamento dos dois jovens. O pároco aceitou o pedido e a cerimônia foi marcadapara o dia seguinte.

Blifil não amava Sophia, mas gostava da idéia de se casar com a mulher escolhidapor seu rival Tom. Acima de tudo, Blifil adorava a fortuna dos Western. A criada deSophia, a Sra. Honour, escutou a conversa entre o Sr. Western e o pároco. Ela correu parao quarto de sua patroa para informá-la de que, no dia seguinte, ela estaria casada.

— Honour, minha fiel criada, preciso de sua ajuda – disse Sophia.— Farei tudo o que estiver ao meu alcance, senhora.— Vamos fugir da casa de meu pai esta noite.— E para onde vamos?— Para Londres. Conheço uma senhora que tem um parentesco distante comigo.

Conheci-a quando estava morando na cidade com minha tia. Ela me convidou paravisitá-la diversas vezes. Vamos para Londres.

Tom passou a noite em uma ESTALAGEM na beira da estrada para Bristol. Eledecidira ir trabalhar perto do mar, na esperança de enriquecer. Pouco antes de ir sedeitar, um grupo de soldados de casacos vermelhos chegou na hospedaria. Eles lutavampelo Rei George II. Estavam marchando rumo ao Norte para lutar contra um exércitorebelde. Tom decidiu seguir com eles no dia seguinte e apoiar a causa do rei.

Eles marcharam o dia inteiro brincando, cantando e fazendo piadas. À noite,chegaram em um lugar onde um velho capitão os aguardava. Tom foi convidado parajantar com ele e o resto dos oficiais. Depois do jantar, eles falaram sobre a guerra. Umdos soldados, Northerton, ficou bêbado. Ele não tinha gostado de Tom e esperava umaoportunidade de fazê-lo de bobo.

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Northerton propôs que cada homem brindasse à saúde de sua amada. Quandochegou a vez de Tom, ele brindou “à saúde da Srta. Sophia Western”. Tom nunca poderiaimaginar que alguém por ali a conhecesse.

— Eu conheci uma Sophia Western – disse Northerton. — Ela dormiu com ametade dos homens da cidade de Bath.

— Então não estamos falando da mesma pessoa. A Srta. Western é uma damade muita elegância e DISCRIÇÃO – falou Tom.

Northerton tinha visto Sophia em Bath na companhia de sua tia, por isso foicapaz de descrevê-la perfeitamente. Ele sabia também que o pai da moça era dono deuma grande propriedade em Somerset. Irritado, Tom pediu:

— Por favor, faça outro tipo de piada.— Piada? Meu amigo Thomas French dormiu com ela e com sua tia na mesma

noite – disse Northerton.— Só posso dizer que você é um mentiroso! – gritou Tom.Northerton atirou uma garrafa na cabeça de Tom, que caiu desmaiado. O capitão

perguntou:— O que você disse sobre a moça é verdade?— Não – gargalhou Northerton. — Eu estava só brincando.— Nesse caso, como sua brincadeira matou um homem, o senhor é meu

prisioneiro.Northerton deu um passo para trás e saiu correndo pela porta. EMBRENHOU-SE

no meio do mato e desapareceu sem deixar rastro.

8. Um amigo para Tom

Quando Tom acordou, ele já tinha sido medicado e todos os soldados, incluindoo capitão, tinham marchado para longe. A dona da hospedaria entregou a Tom umbilhete deixado pelo capitão, que desejava uma pronta recuperação e pedia desculpaspor um homem de seu exército ter lhe nocauteado com um golpe na cabeça.

Tom estava se sentindo bem. Pediu um prato de comida e um pouco de água.Depois de comer, perguntou se uma das criadas poderia chamar um barbeiro. O homemveio rápido e começou a barbear Tom. A conversa entre os dois fluiu naturalmente, eTom descobriu que o senhor que lhe fazia a barba falava um pouco de latim.

— O senhor é um estudioso! – exclamou Tom.— Na verdade, o estudo ARRUINOU minha vida. Meu pai queria que eu fosse

dançarino. Em vez de aprender a dançar, preferi aprender a ler em latim. Por causa dissoele me DESERDOU. Seu dinheiro foi todo para os meus irmãos.

Tom gostou de conversar com aquele homem. Ele estava precisando de umamigo, de alguém para contar o que vinha lhe acontecendo nos últimos tempos. Porisso, perguntou:

��DISCRIÇÃO: recato, decência�� EMBRENHOU-SE: escondeu-se, meteu-se��ARRUINOU: destruiu, arrasou��DESERDOU: excluiu da herança, privou de bens concedidos a outros

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�� ESPLENDOROSA: magnífica, admirável��MATAGAL: terreno coberto de plantas bravas, mato

— O senhor me acompanharia em uma garrafa de vinho mais tarde?— É claro! Gosto de uma boa conversa.Quando o barbeiro voltou à estalagem à noite, Tom lhe disse que pretendia

viajar até Bristol em busca de trabalho.— Desculpe-me – disse o barbeiro —, mas o senhor me parece uma pessoa de

classe. Por que está viajando sem um criado? E por que está procurando trabalho?Tom lhe contou que era afilhado do Sr. Allworthy, de Somerset. Depois explicou

toda a situação entre ele, Sophia e Blifil. Enquanto Tom falava, o babeiro precisou sentar-se para não cair. Sentiu as pernas enfraquecerem, depois disse:

— É muita coincidência... meu Deus!— O que houve? – perguntou Tom.— O senhor foi meu grande inimigo no passado – falou, com a voz trêmula.— Eu? Seu inimigo? O senhor está se sentindo bem?— Não se preocupe, o senhor era um bebê e não fez nada para me prejudicar.

Acho que tudo se esclarecerá quando eu lhe disser quem sou. Por acaso já ouviu onome de Partridge, um homem que teve a honra de ser considerado seu pai e quedepois foi destruído por essa honra?

— Sim, já ouvi – disse Tom, intrigado. — Sempre acreditei ser filho desse homem.— Pois bem, eu sou Partridge, mas o senhor não é meu filho.O Sr. Partridge achou que o encontro inesperado com a pessoa que lhe causara

tanta desgraça era um sinal de que sua sorte estava mudando para melhor. Ele entãodecidiu acompanhar Tom. O Sr. Partridge acreditava que o pai de Tom era o Sr. Allworthye pensava que Tom estivesse, na realidade, fugindo de casa. “Se eu conseguir convencê-lo a voltar para perto do pai, talvez o Sr. Allworthy me dê uma recompensa”, pensou.

Os dois caminharam até Gloucester, jantaram em uma pequena estalagem edecidiram seguir viagem durante a noite. Eles se lembraram de poemas sobre a Lua,que estava ESPLENDOROSA, e fizeram comentários em latim. Caminharam cerca decinco quilômetros, depois deitaram-se no alto de uma colina e adormeceram, à medidaque o Sol aparecia.

9. Uma mulher em apuros

Tom despertou com gritos de uma mulher que vinham de um MATAGAL embaixoda colina. Ele deixou o Sr. Partridge dormindo profundamente e correu para o local deonde vinham os berros. Encontrou uma mulher de uns trinta e sete ou trinta e oito anos comas roupas rasgadas e um cinto ao redor do pescoço. Um homem puxava o cinto e tentavaenforcá-la. Tom partiu para cima dele e conseguiu derrubá-lo no chão. Qual não foi suasurpresa quando ele viu que o sujeito era Northerton, o soldado que quase o matara diasatrás. Tom amarrou as mãos do oficial e ofereceu seu casaco para que a mulher se cobrisse.

— Você deve ser um anjo, rapaz – disse ela. — Obrigada por salvar minha vida.Tom ainda tentou bater mais em Northerton, para assim descontar a raiva que

sentira dele na noite em que tinha levado uma garrafada na cabeça, mas a mulher pediupara ele parar.

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��CARRUAGEM: carro de quatro rodas com suspensão de molas, de traçãoanimal, para transportar pessoas

— Só não o mato aqui mesmo em consideração a essa senhora! Agora vá, sumadaqui, desapareça! – gritou Tom, mandando Northerton para dentro do mato com asmãos amarradas.

Em seguida, Tom acompanhou a mulher, que estava impressionada com a bele-za, a juventude e a força do rapaz, até Upton, a cidade mais próxima. Levou-a para amelhor hospedaria do lugar e pediu um quarto no andar de cima. Enquanto subiam asescadas, guiados por uma criada, o dono da hospedaria gritou:

— Vocês dois, parem! Essa mendiga não pode entrar aqui!— Deixe-a em paz! – respondeu Tom, ignorando os gritos do homem e continu-

ando a subir.A esposa do dono da estalagem correu até a cozinha e voltou com uma panela

de ferro bem pesada para bater em Tom. Ela estava pronta para subir as escadas quandoTom desceu pedindo que a senhora arrumasse algumas roupas que servissem na mulheragredida. O dono da estalagem gritou todos os insultos possíveis. Tom bateu no homem.A senhora levantou sua panela no ar, mas, nessa hora, o Sr. Partridge entrou e segurou obraço dela.

— Tom Jones! Que bom encontrá-lo de novo – disse ele.A senhora virou-se e atingiu o Sr. Partridge violentamente na cabeça. Ele caiu no

chão derramando sangue pelo nariz. O barulho de uma CARRUAGEM do lado de forapôs fim à briga. Enquanto os donos da estalagem foram acomodar uma jovem senhoracom sua criada recém-chegadas no melhor quarto que tinham, Tom levou o Sr. Partridgeaté o lado de fora para lavar o rosto.

A mulher agredida desceu à procura de alguma coisa para vestir. Nessa mesmahora, um soldado chegou e pediu um copo de cerveja.

— Por acaso a senhora não é esposa do capitão Waters? – perguntou ele, reco-nhecendo a mulher.

— Sim, sou eu mesma – disse ela.— Meu Deus, o que houve? A senhora sofreu algum acidente? Todas as suas

roupas estão rasgadas.— Se não fosse esse rapaz – disse ela apontando para Tom, que voltava à parte

de dentro da casa com o amigo ferido —, eu estaria morta a essa hora.— Tenho certeza de que o capitão o agradecerá por isso. Se eu puder lhe ser

útil em alguma coisa, por favor, diga, senhora – falou o soldado.Ao ouvir a conversa, a dona da estalagem desculpou-se imensamente com a

Sra. Waters:— Perdoe-me, senhora. Como eu poderia saber que uma mulher de classe fosse

aparecer aqui com trapos pelo corpo?A Sra. Waters perdoou a senhora. As duas foram buscar algumas roupas limpas

no andar de cima O dono da estalagem trouxe cerveja para Tom e o Sr. Partridge, e oclima de paz se instalou no local.

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��ANFITRIÃ: aquela que paga as despesas de uma refeição ou recebe convidados��EXCETO: com exclusão ou à exceção de, afora, salvo, menos

10. Muita confusão na estalagem de Upton

Mais tarde, a Sra. Waters convidou Tom para jantar em seu quarto. Ele aceitouprontamente, uma vez que não comia há vinte e quatro horas. Durante o jantar, a Sra.Waters tentou mostrar ao rapaz o quanto tinha gostado dele, mas Tom só tinha olhos paraa comida. Somente depois da refeição, Tom percebeu quais eram as intenções reais desua ANFITRIÃ. Ele pensou em Sophia por um instante, mas acabou cedendo ao desejode deitar-se com uma mulher mais velha e experiente nas artes do amor.

Enquanto isso, o Sr. Partridge, o soldado e os donos da hospedaria conversa-vam do lado de baixo. O soldado explicou que a Sra. Waters vivia com o capitãoWaters há vários anos, mas os dois não tinham se casado oficialmente. As pessoascomentavam que ela também era muito próxima do Sr. Northerton, embora o capitãonão soubesse disso.

— Essa senhora pode estar sujando a reputação da nossa hospedaria – disse odono para a esposa.

— Pareceu-me uma pessoa de bem – respondeu ela.O que eles não sabiam ao certo é que a Sra. Waters era mesmo amante do Sr.

Northerton. Na noite em que agredira Tom, ele correra para a casa dela em busca de umesconderijo, pois pensava que havia matado o rapaz. O capitão não estava, então a Sra.Waters resolvera ajudá-lo a chegar em um porto onde pudesse pegar um navio para forado país. Quando os dois estavam perto daquele matagal onde Tom os encontrou,Northerton tentou matá-la para roubar o dinheiro que ela levava no bolso e um anel dediamante que ela tinha no dedo. Se não fosse Tom, ela poderia mesmo estar morta.

Por volta da meia-noite, quando todos já estavam dormindo, EXCETO Susan, acriada que lavava a cozinha, um homem adentrou a estalagem e perguntou à moça sehavia uma dama sozinha hospedada no local. Amedrontada com o jeito violento dosenhor, Susan confessou que havia sim e perguntou quem era ele.

— Sou o marido dela! – respondeu o homem, com raiva.A criada pensou imediatamente na Sra. Waters. Talvez ele tivesse tomado co-

nhecimento do acidente que sua esposa sofrera e estivesse nervoso. Levou-o até o quartodela. O homem, com força, empurrou a porta sem bater e surpreendeu uma mulher noescuro deitada ao lado de Tom. Como ele não conseguia ver o rosto da mulher, elepresumiu que fosse sua esposa na cama com um amante. Aos berros, partiu para cimade Tom, enquanto a Sra. Waters gritava:

— Socorro! Ladrão! Assassino!Um hóspede do quarto ao lado apareceu segurando uma espada e uma vela.

Ele olhou para o senhor que batia em Tom e disse, espantado:— Sr. Fitzpatrick, o que significa isso?— Sr. Maclachlan, que bom encontrá-lo. O demônio está dormindo com

minha esposa.— Perdão, meu amigo, mas essa não é a Sra. Fitzpatrick.

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Para variar, a noite acabou com mais pedidos de desculpas. O Sr. Fitzpatrickaceitou dividir o quarto com o amigo Maclachlan e contou-lhe:

— Minha esposa fugiu. Eu estava certo de que a encontraria aqui – disse.O Sr. Fitzpatrick era um homem pobre que havia se casado com uma mulher

rica. Ele nunca a tratara muito bem e cuidava do dinheiro dela com GANÂNCIA. Elehavia gasto toda a fortuna da esposa, e ela resolvera abandoná-lo. Depois do terrívelengano no quarto da Sra. Waters, ele nunca pensaria que a Sra. Fitzpatrick estivesse emoutro quarto da estalagem. Foi dormir exausto e decepcionado. Enquanto isso, a Sra.Fitzpatrick dormia sossegada no quarto ao lado. Sua criada e ela estavam dispostas apartir bem cedo.

A dona da estalagem, Susan e o Sr. Partridge sentaram-se na cozinha para falardas coisas que tinham acontecido aquela noite. Meia hora depois, uma linda jovem esua criada chegaram na hospedaria. Elas não desejavam passar a noite. Precisavam apenasde uma lareira para se esquentar durante umas duas horas. A dona do local levou-as paraum quarto no andar de cima e providenciou tudo o que elas pediram.

Quando a jovem estava bem instalada, sua criada foi até a cozinha comer algu-ma coisa. O Sr. Partridge e ela começaram a conversar:

— O senhor está aqui sozinho? – perguntou ela.— Estou acompanhando o filho do Sr. Allworthy, de Somerset.A criada estranhou e disse:— Conheço bem o Sr. Allworthy e sei que ele não tem filhos vivos.— Bem... senhora, nem todos sabem, mas Tom Jones é filho do Sr. Allworthy.— Tom Jones está aqui? – perguntou ela, com espanto.— Sim, está dormindo no andar de cima.A criada era a Sra. Honour. Ela correu para o quarto onde sua patroa Sophia

tentava descansar um pouco. Assim que soube que Tom estava na hospedaria, Sophiamandou a Sra. Honour pedir para alguém ir acordá-lo. O Sr. Partridge explicou a ela quenão podia fazer isso, pois seu amigo estava muito cansado.

— Por favor, minha patroa insiste – disse a criada.— Uma mulher por noite já é suficiente – disse o Sr. Partridge.— Como assim? O Sr. Jones está com uma mulher?O Sr. Partridge, que estava um pouco bêbado, acabou contando a ela que Tom

estava dormindo no quarto da Sra. Waters. Quando Sophia soube, ela se DEBULHOU emlágrimas. Pagou sua conta e partiu com a Sra. Honour logo depois. No entanto, resolveupunir Tom por ter traído seu amor. Entregou a Susan um anel seu e pediu que ela colo-casse no travesseiro vazio de Tom, enquanto ele passava a noite com a Sra. Waters.

De manhã bem cedo, a Sra. Fitzpatrick e sua criada partiram. Do outro lado docorredor, Tom levantou-se e foi até seu quarto trocar de roupa. Encontrou o anel deSophia e saiu à procura dela pela estalagem. O Sr. Partridge explicou toda a situação,sentindo-se um pouco envergonhado por ter contado à criada de Sophia que Tom estavadormindo com outra mulher.

— Vamos embora, Partridge, ela não deve estar longe – disse Tom.— Não seria melhor você voltar para casa? O Sr. Allworthy deve estar preocu-

pado – disse o Sr. Partridge, que insistia em pensar que Tom estivesse fugindo de casa.

��GANÂNCIA: ambição desmedida�� DEBULHOU: desmanchou, desatou

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— Você vem ou fica? – perguntou Tom, irritado. — Não vou voltar para Somerset.Tom e o Sr. Partridge estavam prontos para sair quando um homem chegou

cavalgando, acompanhado de vários serviçais. Era o pai de Sophia.— Tom Jones, você está aqui? O que faz com o anel de minha filha na mão? –

berrou o Sr. Western.— É o anel de Sophia, mas eu não a vi – disse Tom.— Mentiroso! – gritou o Sr. Fitzpatrick, que adentrou a sala e acusou Tom de tê-

lo visto na cama com Sophia. — Venha, senhor, eu mesmo o levarei até lá.Quando o Sr. Western entrou no quarto onde Tom dormira na noite anterior,

quem ele encontrou em trajes de dormir foi a Sra. Waters, que novamente fora confundi-da com outra mulher. O Sr. Western vasculhou todo o local, depois partiu com seuscriados xingando e AMALDIÇOANDO todos os presentes.

Tom partiu a pé com o Sr. Partridge. O Sr. Fitzpatrick e o Sr. Maclachlan convida-ram a Sra. Waters para os acompanhar até Bath. Ela aceitou e foi embora em uma carru-agem que os dois senhores alugaram. Os donos da hospedaria de Upton puderam final-mente descansar.

11. Viajando para Londres

No meio do caminho para Londres, Sophia, a Sra. Honour e o guia que as levavaencontraram-se com duas outras senhoras acompanhadas de seu guia.

— Sophia! – exclamou a viajante.— Harriet!A mulher era a Sra. Harriet Fitzpatrick, que escapara do marido ciumento na

estalagem de Upton. Harriet era prima de Sophia. As duas haviam morado juntas com aSra. Western, tia delas. Viviam como duas irmãs, até que Harriet fugira para se casar como Sr. Fitzpatrick aos dezoito anos de idade e fora morar com ele na Irlanda.

Harriet estava fugindo do marido, que a maltratava e gastava seu dinheiro, en-quanto Sophia fugia do pai que a obrigava a se casar com um homem a quem ela nãoamava. As duas resolveram ir juntas para Londres, mas, no caminho, pararam em umaoutra hospedaria para descansar, uma vez que nenhuma das duas havia dormido bemna noite anterior. Sophia fez questão de OMITIR o nome de Tom quando contou seusproblemas à prima. Era como se ele nem existisse.

Pouco antes de ir se deitar, Harriet recebeu um bilhete. Era de um vizinho delana Irlanda, que chegara na estalagem e soubera que Harriet estava passando a noite ali.Imediatamente, Harriet o convidou para subir e tomar um chá. Ela parecia bastante ani-mada com a presença do irlandês.

— Permitam-me acompanhar as senhoras até Londres amanhã de manhã – disse ele.— Aceitamos sua oferta com prazer – disse Harriet.Quando ele saiu, Harriet explicou a Sophia que tinha sido com a ajuda daquele

homem que ela conseguira fugir da casa do Sr. Fitzpatrick, seu marido. Ela falou delecom empolgação e FRISOU que sua esposa era uma pessoa maravilhosa.

�� AMALDIÇOANDO: praguejando contra, maldizendo��OMITIR: esconder, deixar de fazer, dizer ou escrever, não mencionar�� FRISOU: salientou, sublinhou

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— Acredito que ele seja o marido mais fiel do mundo – disse ela, antes de dormir.Dois dias depois, Sophia, Harriet, suas criadas e o senhor irlandês chegaram em

Londres. Sophia foi até a casa de Lady Bellaston, a parente que ela desejava procurar aosair de Somerset. A Sra. Honour e ela foram recebidas de braços abertos.

— Farei tudo o que estiver ao meu alcance para protegê-las – disse Lady Bellaston.— Agradeço-a de coração – respondeu Sophia.— Vocês fizeram boa viagem?— Um pouco cansativa. Além disso, acho que perdi um cheque que recebi de

meu pai para comprar meu ENXOVAL. Devo ter deixado cair na estrada, quando tirei olenço do bolso do vestido – respondeu Sophia.

Harriet decidiu ficar na casa que o senhor irlandês tinha em Londres, embora suaesposa não estivesse na cidade. Desconfiada, Sophia tentou alertá-la:

— Querida prima, não acho uma boa idéia que você fique na casa desse senhor.Ele é casado. As pessoas podem comentar – disse ela.

— Não se preocupe, Sophia. Eu logo irei visitá-la. Tire essas idéias caipiras dacabeça.

Por coincidência, Tom e o Sr. Partridge seguiram na mesma direção que Sophiatinha ido. Quando chegaram em uma BIFURCAÇÃO, o Sr. Partridge tentou mais uma vezconvencer Tom a voltar para Somerset, mas o rapaz estava decidido a seguir viagem.

Quando os dois pararam para descansar embaixo de uma árvore, Tom viu umpequeno caderno entre a folhagem do terreno. Pegou-o nas mãos e leu, na primeirapágina, escrito com uma letra feminina: Sophia Western.

— Veja, Partridge, é o caderno de Sophia. Eu sabia que estava no caminho certo!De repente, um papel caiu de dentro do caderno. Era um cheque no valor de

cem libras. O Sr. Partridge ficou animado e propôs que eles usassem o dinheiro parapagar as despesas da viagem, mas Tom foi CATEGÓRICO:

— Esse cheque não nos pertence. É nosso dever entregá-lo à sua dona.Os dois continuaram andando. Tom pensava em Sophia, enquanto o Sr. Partridge

pensava no cheque dela. No caminho, eles encontraram um homem com três cavalos. OSr. Partridge o reconheceu como o guia que chegara na estalagem de Upton com Sophiae sua criada. Ele explicou que a senhora dispensara seus serviços, pois seguira de carru-agem até Londres. Tom ofereceu dinheiro ao rapaz para que ele os conduzisse até lá. Apartir daquele ponto, Tom e o Sr. Partridge passaram a viajar a cavalo e logo chegaram àcapital inglesa.

12. Dificuldades para encontrar Sophia

Ao chegarem em Londres, o Sr. Partridge foi procurar um lugar para eles ficarem,enquanto Tom foi em busca de Sophia. Depois de se informar com diversas pessoas, eleacabou indo parar na casa do senhor irlandês. A criada disse que Sophia não estava,mas levou o bilhete de Tom para Harriet Fitzpatrick, que ainda estava hospedada lá.

��ENXOVAL: roupas e certos complementos, em geral úteis, de quem secasa ou de recém-nascido

��BIFURCAÇÃO: ponto em que a rua se divide��CATEGÓRICO: claro, explícito

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Como Sophia não havia dito nada sobre Tom Jones, Harriet estranhou quandoum rapaz apareceu à procura de sua prima. Pensou que fosse Blifil, o noivo prometidode Sophia, mas admirou-se com a história do amor impossível que Tom contou emdetalhes, incluindo a parte da traição na estalagem de Upton.

— Sophia está na casa de uma outra parente. Amanhã vou conversar com ela elhe direi se ela quer vê-lo – prometeu Harriet.

Harriet foi até a casa onde Sophia estava, mas achou melhor conversar com LadyBellaston primeiro. Explicou a situação a ela, descrevendo Tom MINUCIOSAMENTE.Empolgada com a possibilidade de conhecer o rapaz alto, forte e gentil de quem Harrietestava falando, Lady Bellaston disse:

— Aqui está o endereço do local onde poderei conhecer esse rapaz. É precisosaber se ele não está ILUDINDO Sophia.

Quando Tom voltou à casa do senhor irlandês, Harriet entregou-lhe o bilhete deLady Bellaston e explicou que ele deveria encontrar-se com ela naquela tarde. O lugarera uma casa que Lady Bellaston costumava alugar para receber pessoas que podiamcomprometer sua reputação, caso fossem em sua residência.

Empolgado com a idéia de que Sophia pudesse estar lá, Tom vestiu a melhorroupa que tinha e foi ao encontro marcado. Ele logo percebeu que ela estava interessadanele e que, para ver Sophia, deveria satisfazer os desejos daquela senhora. Mas Tom jáestava culpado demais por ter traído o amor de Sophia com a Sra. Waters. Lady Bellastone ele encontraram-se diversas vezes depois daquele dia, mas em nenhuma delas elecedeu às suas tentativas de seduzi-lo. Lady Bellaston ficava irritada quando Tom falavaem Sophia. Ela acreditava que ainda iria conseguir tê-lo para si, enquanto Tom acreditavaque, sendo gentil e simpático, ela o levaria para sua amada.

Um dia, Tom recebeu um bilhete no local onde estava hospedado. O encontrocom Lady Bellaston mudara de local. Na verdade, a casa onde eles costumavam se verestava alugada para outra pessoa, então ela pediu que Tom fosse a sua própria casa.

O bilhete dizia que Tom deveria chegar às sete horas, mas ele chegou cerca dequinze minutos antes. Enquanto esperava na sala, qual não foi sua surpresa quando aporta da rua se abriu e ninguém menos do que sua querida Sophia apareceu. LadyBellaston mandara, convenientemente, Sophia para o teatro, mas ela não tinha gostadoda peça e voltara para casa mais cedo.

Os dois apaixonados abraçaram-se. Tom ajoelhou-se aos pés de Sophia e pediuperdão por tê-la traído com a Sra. Waters. Ela o perdoou, contanto que ele nunca maisse encontrasse com aquela mulher. Tom devolveu o caderno e o cheque de Sophia. Derepente, ouviu-se uma voz vinda do alto da escada. Era Lady Bellaston, que estavatomando banho e agora descia para o encontro com Tom.

— Sophia, pensei que você estivesse no teatro.Como Sophia não tinha a menor idéia do motivo pelo qual Tom estava naquela

casa, ela limitou-se a explicar que tinha voltado mais cedo e que aquele rapaz estavalá para devolver-lhe o cheque que ela perdera durante a viagem a Londres. A situaçãoficou um pouco constrangedora, mas Tom saiu-se bem, dizendo:

— A recompensa que peço, senhoras, é que me permitam visitá-las novamente.

�� MINUCIOSAMENTE: cuidadosamente, meticulosamente, detalhadamente�� ILUDINDO: enganando, zombando de

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Assim que Tom saiu, Lady Bellaston foi para seu quarto pensar em uma maneira deafastar sua rival do caminho, enquanto Sophia passou a noite em claro, pensando nafelicidade de ter reencontrado seu amor. Nenhuma das duas mencionou saber a identi-dade do rapaz que fora devolver o cheque perdido.

No dia seguinte, Lady Bellaston convidou um amigo seu chamado Lorde Fellamarpara almoçar. Ele era um lorde inglês, e havia se impressionado com a beleza de Sophiadurante um jantar dias atrás. Após o almoço, Sophia foi ler em seu quarto, enquanto adona da casa e seu convidado puderam conversar.

— Lorde Fellamar, o senhor gosta de Sophia, minha parente do interior? – perguntouLady Bellaston.

— Ah, ela é como um anjo! Linda, amável, um doce de criatura – respondeu ele.— Vejo que o senhor está empolgado.— Tanto que atrevo-me a perguntar se existe alguma possibilidade de o pai dela

me conceder sua mão em casamento.Lady Bellaston explicou ao lorde que Sophia estava prometida para Blifil e que só

existia uma maneira de ele conseguir se casar com ela: usando a força. Ele não compre-endeu no início, mas depois seguiu as instruções de Lady Bellaston. Entrou no quarto deSophia sem bater e encontrou-a sentada em uma poltrona, com um livro nas mãos. Elepegou a moça nos braços e disse:

— Sophia, vim até aqui para dizer que a amo!— O senhor enlouqueceu? – perguntou ela, quase desmaiando de susto.— Sim, estou louco para tê-la só para mim. Não posso esperar nenhum minuto.Sophia gritou, mas Lady Bellaston havia dispensado todos os empregados. Lorde

Fellamar começou a beijar o pescoço de Sophia e a tentar abraçá-la com força, mas, porsorte, um grande ESTRONDO veio do andar de baixo.

— Onde está minha filha? – gritou o Sr. Western, que adentrou a casa aos berros.O Sr. Western arrancou Sophia dos braços do homem que a atacava e levou-a

para sua carruagem do lado de fora, enquanto Lorde Fellamar levava uma surra dosserviçais que tinham vindo junto.

— Sua prima Harriet me escreveu dizendo que você estava aqui, Sophia! – gritouo Sr. Western. — Vim buscá-la para se casar com Blifil. Será por bem ou por mal!

Assim que ficou sabendo do que tinha acontecido, Honour, a criada, procurouTom e contou-lhe tudo. Ela não sabia para onde o Sr. Western havia levado sua patroa.Inconformado com o fato de ter perdido sua amada de novo, Tom ainda precisava selivrar de Lady Bellaston, que mandava bilhetes para ele de hora em hora. Uma idéiaarriscada veio-lhe à cabeça, mas ele resolveu tentar. Escreveu uma carta sedutora à mulherque o IMPORTUNAVA pedindo-a em casamento. Logo recebeu uma resposta:

Senhor Tom Jones,Li sua proposta. Por acaso acha que vou entregar-lhe toda a minha fortuna? O

senhor pensa que sou tola? Nunca mais volte à minha casa.Finalmente, Tom conseguiu afastar Lady Bellaston de sua vida. Ele agora estava

livre para procurar Sophia novamente.

�� ESTRONDO: grande ruído, barulho, alarde�� IMPORTUNAVA: aborrecia, incomodava

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13. Tom está em apuros

O Sr. Western levou a filha para um pequeno hotel no bairro londrino de Piccadillye tentou, sem sucesso, fazê-la aceitar o casamento com Blifil. Sophia chorou e implorouao pai que a deixasse simplesmente voltar para casa. Ela queria ter um pouco de paz.Em resposta, o pai a trancou no quarto e guardou a chave no próprio bolso.

Todos os dias, algum criado levava comida para ela, mas Sophia quase nãocomia. George Seagrim, que ainda trabalhava para o Sr. Western, tinha ido para Londrescom o patrão. Ele pediu ao Sr. Western se poderia levar uma galinha assada para a moça,pois sabia que ela gostava muito.

— Boa idéia, George. Sophia nunca recusou um prato cheiroso como esse –disse o patrão.

George subiu a escada e entrou no quarto de Sophia. Colocou a galinha sobre amesa e disse:

— A galinha está cheia de ovos...Intrigada, Sophia cortou a galinha ao meio e encontrou, entre ovos cozidos,

uma carta do Sr. Partridge, que se encontrara acidentalmente com George na rua e pediraque o rapaz entregasse uma carta para a moça. O Sr. Partridge dizia que Tom a amava.Ele queria fugir com Sophia, mas se ela preferisse fazer as pazes com o pai e voltar paraSomerset, ele entenderia.

Pouco depois de Sophia ter guardado a carta, sua tia, a Sra. Western, entrou noquarto aos gritos, tendo arrancado a chave das mãos do irmão. Ela havia chegado recen-temente de Somerset.

— Você está louco? – perguntou ela ao Sr. Western. — Como tem coragem deTRANCAFIAR sua filha? As mulheres não podem ser tratadas dessa maneira em um país livre!

A Sra. Western conseguiu tirar a sobrinha dali e levá-la para uma casa alugadacerca de dois quilômetros de onde o Sr. Western estava. Dessa casa, Sophia conseguiumandar uma resposta ao Sr. Partridge, que repassou a carta a Tom. Sophia escreveu quenunca se casaria com outro homem, o que deixou Tom louco de felicidade.

Quando Blifil chegou a Londres, dois dias depois, o Sr. Western levou-odiretamente à casa onde a filha estava. Para sua surpresa, a Sra. Western disse que nãoera educado fazer uma visita tão cedo e mandou-os voltar à noite.

Ela queria, na verdade, visitar Lady Bellaston para saber mais coisas sobre o lordeque queria se casar com Sophia. As duas se encontraram ainda naquela manhã e a Sra.Western ficou bem impressionada com o que Lady Bellaston falou sobre Lorde Fellamar.

— O problema é que Sophia está apaixonada por um bastardo – desabafou aSra. Western.

— Tom Jones – disse Lady Bellaston, que estava ÁVIDA por se vingar de Sophia,sua rival no amor de Tom.

— A senhora o conhece?— A senhora acreditaria se eu lhe dissesse que aquele RAPAZOTE quis dormir

comigo?

�� TRANCAFIAR: prender, encarcerar��ÁVIDA: que deseja ardentemente, ansiosa�� RAPAZOTE: rapaz, garoto, menino

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Lady Bellaston, então, mostrou o pedido de casamento de Tom.— Estou perplexa! – exclamou a Sra. Western.— Imagine eu – disse Lady Bellaston. — Pode ficar com o bilhete, se achar que

ele pode lhe ser útil.Quando a Sra. Western saiu, Lady Bellaston recebeu a visita de Lorde Fellamar.

Ainda disposto a conquistar Sophia, ele disse à sua anfitriã que planejava seqüestrar Tome matá-lo. Só assim teria Sophia para ele.

De fato, Tom enfrentou problemas enormes nos dias que se seguiram. HarrietFitzpatrick, sentindo-se um pouco entediada com seu amante irlandês, embora aindaestivesse na casa dele, mandou uma carta a Tom convidando-o para jantar. Como Tomachava que teria notícias de Sophia, ele respondeu dizendo que ia.

Na hora em que chegou, foi surpreendido pelo Sr. Fitzpatrick, que ainda procuravaa esposa. Ele havia recebido a informação de onde ela estava por meio de uma carta daSra. Western. Quando viu o rapaz batendo na porta, o Sr. Fitzpatrick imediatamenteachou que Tom fosse o amante de Harriet. O senhor deu um soco em Tom pelas costas.Os dois começaram a lutar no meio da rua. Eles tiraram suas espadas da bainha e iniciaramos ataques.

Em um golpe fatal, Tom enfiou a espada na barriga do Sr. Fitzpatrick, que caiu,semimorto, na calçada. Um bando de homens correu e segurou Tom. Eram os contratadosde Lorde Fellamar, que o seguiam para seqüestrá-lo. Um médico foi chamado paraexaminar o Sr. Fitzpatrick.

— Vamos levá-lo ao hospital, mas acredito que ele não sobreviverá – disseo doutor.

Tom foi para a prisão, onde recebeu a notícia da morte do Sr. Fitzpatrick e umacarta de Sophia, levada por George Seagrim. Ela dizia:

Minha tia acabou de me mostrar uma carta na qual você pede Lady Bellaston emcasamento. Nunca mais quero ouvir seu nome. S. W.

O Sr. Allworthy, que chegara a Londres junto com Blifil, ficara sabendo da prisãode Tom. Ele estava cada vez mais decepcionado com o afilhado, enquanto Blifilaproveitava a situação para fazer seu tio acreditar que Tom era mesmo um criminoso deNASCENÇA. Blifil e o tio alugaram uma casa na capital inglesa.

O Sr. Western estava decidido a não entregar sua filha a Lorde Fellamar. Ele fezuma visita ao Sr. Allworthy para garantir-lhe que Sophia se casaria com Blifil. Quandosoube que Tom matara um homem, o Sr. Western pulou de felicidade, acreditando queSophia se esqueceria do bastardo em definitivo.

Na prisão, Tom recebeu a visita do Sr. Partridge.— Olhe esta carta – disse ele, ao amigo. — Foi George Seagrim que a trouxe.

Sophia me odeia agora e não entende o porquê de eu ter pedido Lady Bellaston emcasamento.

O Sr. Partridge ofereceu-se para levar uma carta de Tom a Sophia. Ela ficoufelicíssima quando leu a explicação de seu amado. Compreendeu que o pedido decasamento afastara Lady Bellaston, além de ter finalmente entendido por que sua parentesaía tanto de casa sozinha. Ela ia se encontrar com Tom, enquanto Sophia acreditava queTom estivesse com a mulher da estalagem de Upton.

��NASCENÇA: nascimento

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14. A verdade é revelada

A Sra. Western não compreendia por que Sophia não queria honrar o nome dafamília e trocar Blifil por Lorde Fellamar.

— Você não quer ter um nome nobre? – perguntou ela.— Querida tia – explicou Sophia —, aquele homem me segurou pelos braços,

tentou levantar meu vestido e beijou meu COLO com violência. Ele é horroroso!— Isso é verdade, minha sobrinha?— Juro pelo que me pedir. Se não fosse meu pai chegar bem na hora...— Mas então também não quero um homem assim na minha família. Tive vários aman-

tes, vários, mas nenhum ousou me beijar abaixo do queixo, a menos que eu permitisse.— Então, minha tia, deixe-me recusar Lorde Fellamar.A Sra. Western estava quase convencida a não casar mais a sobrinha com o lorde,

quando uma criada que arrumava o quarto de Sophia encontrou a carta de Tom e mos-trou-a para a patroa.

— Sophia! – gritou a Sra. Western. — O que significa isso? Vejo que recebeu cartade um assassino! Você traiu minha confiança, por isso vou devolvê-la para seu pai amanhãde manhã!

Quando o Sr. Partridge foi visitar Tom na prisão de novo, ele levou duas notíciasconsigo. Primeiro: os homens de Lorde Fellamar, que tinham assistido à briga entre Tom eo Sr. Fitzpatrick, iriam testemunhar ao juiz dizendo que Tom DESFERIRA o primeiro golpede espada.

— É mentira! Eu estava só me defendendo – disse Tom, com a certeza de queseria enforcado por um crime que não tivera a intenção de cometer.

Segundo: quando o Sr. Partridge fora buscar a carta de resposta de Sophia, elatinha ido embora.

— Estou pronto para me encontrar com Deus, Partridge. Quando eu morrer, talvezalguém consiga esclarecer os fatos e limpar meu nome – disse Tom.

Um guarda entrou na cela e avisou que uma senhora estava lá para uma visita. OSr. Partridge saiu e disse que voltaria mais tarde, enquanto Tom teve uma surpresa.

— Sra. Waters! – exclamou.— Olá, lembra-se das nossas peripécias em Upton?Tom sorriu e perguntou o que ela estava fazendo ali.— Saí de Upton junto com o Sr. Fitzpatrick e seu amigo, o Sr. Maclachlan. Fomos

para Bath. Pois bem, o Sr. Fitzpatrick e eu nos casamos. Ele disse que havia desistido deprocurar a esposa enquanto eu, bem, todos sabem, nunca fui de fato casada com oCapitão Waters.

— Mas... – interrompeu Tom.— Espere, deixe-me explicar. Quando Fitzpatrick recebeu uma carta da Sra.

Western dizendo que Harriet estava morando em Londres, na casa de um irlandês, ociúme tomou conta dele. Meu marido partiu para Londres, sem se despedir, em buscade vingança. Foi então que ele o viu chegando para visitar Harriet e presumiu que vocêfosse o amante.

��COLO: pescoço��DESFERIRA: dera, aplicara

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— E como a senhora sabe de tudo isso?— Vim para Londres atrás de meu marido. Quando cheguei, encontrei-o em um

leito de hospital. Somente quando começou a melhorar, ele me contou o que se passou.Fitzpatrick está arrependido. A proximidade da morte o fez ver que ele realmente meama. Não quer mais saber de Harriet.

— Quer dizer que ele está vivo? Eu não o matei? – perguntou Tom, EXULTANTE.— Ele está vivo sim e pretende dizer ao juiz que foi ele que provocou a briga.Assim que a Sra. Waters saiu, o Sr. Partridge, que observara a conversa de longe,

entrou na cela.— Tom, meu amigo, aquela é a mulher da estalagem de Upton? Foi com ela que

você dormiu?— Sim, foi com ela, Partridge.— Deus do céu! – exclamou ele, lembrando-se do tempo em que morava em

Somerset. — Aquela é Jenny Jones. Você dormiu com sua mãe! A felicidade de Tom por saber que não havia matado um homem desapareceu.

Seu rosto parecia o retrato do desespero. Ele pediu que o Sr. Partridge fosse atrás dela,mas a Sra. Waters já tinha ido embora. Horas mais tarde, uma carta da Sra. Waters chegouaté as mãos de Tom. Dizia o seguinte:

Acabei de descobrir sua identidade. Tenho algo importante para lhe dizer dapróxima vez que nos encontrarmos.

No dia seguinte, o Sr. Partridge encontrou a Sra. Waters. Os dois foram visitar o Sr.Allworthy.

— Você é estranho, Partridge – disse o Sr. Allworthy. — Como pode trabalharpara seu próprio filho?

— Eu não trabalho para Tom Jones, senhor. Também não sou o pai dele. E gostariamuito que sua mãe não fosse sua mãe.

O Sr. Partridge, então, explicou ao padrinho de Tom tudo o que estava aconte-cendo. O Sr. Allworthy ficou chocado com a possibilidade de Tom ter dormido com aprópria mãe. Logo em seguida, a Sra. Waters entrou na sala.

— Aqui está Jenny Jones, senhor – disse o Sr. Partridge. — Ela lhe dirá que nãosou pai de Tom.

— De fato, ele não é o pai. O senhor se lembra de que prometi contar-lhe, umdia, quem era o pai do bebê deixado em sua cama? Pois bem, esse dia chegou. Gostariaque conversássemos a sós.

O Sr. Partridge saiu e ela começou a história:— O senhor se lembra de um rapaz chamado Summers? Ele morou em sua casa

durante um tempo. Estudava e fazia serviços gerais.— É claro que me lembro. Infelizmente, ele morreu muito jovem. Era um rapaz

bonito e bem-humorado – disse o Sr. Allworthy. — É ele o pai de seu filho?— Ele é o pai da criança, mas Tom não é meu filho. Agradeço a Deus por isso.— Não minta que será pior – disse o Sr. Allworthy, secamente.— Ajudei a criança a nascer e o coloquei na sua cama, mas o bebê é filho de sua irmã.— De Bridget? Como isso é possível?— Bridget amava Summers e queria se casar com ele. Ele morreu de repente,

��EXULTANTE: muito alegre

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deixando Bridget com uma criança na barriga. Sem saber o que fazer, ela me pediu paraajudá-la a ter o bebê em segredo.

— Não entendo por que minha irmã carregou esse segredo para o túmulo.— Tenho certeza de que ela não fez isso – disse a Sra. Waters. — Ela sabia que

o senhor amava o filho dela. Bridget apenas esperava uma boa oportunidade paradizer a verdade.

O Sr. Allworthy mandou chamar o Sr. Dowling, advogado de sua irmã. Por coinci-dência, ele estava em Londres ajudando Blifil em alguns negócios. Quando a Sra. Waterso viu, ela levou um susto, mas se calou e esperou o momento certo para falar.

— Sr. Dowling, acabo de descobrir que Tom Jones é meu sobrinho legítimo –disse o Sr. Allworthy. — O senhor sabia disso?

— Sim, eu sabia – respondeu o advogado.— E por que nunca disse nada?— Como o senhor nunca mencionou o assunto, achei que quisesse esconder

os fatos.— Eu não sabia! – gritou o Sr. Allworthy.— Mas, senhor, eu mesmo levei a carta da Sra. Bridget Western até sua casa na

noite em que ela morreu. Entreguei-a ao Sr. Blifil.— Por Deus! Eu nunca vi essa carta!A Sra. Waters resolveu falar:— É estranho, Sr. Allworthy, mas se esse cavalheiro sabia que Tom Jones era seu

sobrinho, como é que ele decidiu condená-lo à forca? O senhor sabia que o Sr. Dowlingaqui presente ofereceu dinheiro ao Sr. Fitzpatrick para que ele testemunhasse dizendoque foi Tom quem começou a luta de espadas?

— Isso é verdade? – perguntou o Sr. Allworthy.— É verdade, senhor – disse o advogado. — O Sr. Blifil mandou que eu SUBOR-

NASSE o Sr. Fitzpatrick, também fizesse o mesmo com os homens que assistiram à luta.— Estou chocado! – exclamou o Sr. Allworthy. — Chame Blifil imediatamente. E

diga para ele trazer a carta que sua mãe me escreveu antes de morrer. Vou sair agora,mas quero encontrá-lo aqui quando eu voltar.

15. Final feliz

O Sr. Allworthy foi até o hotel onde o Sr. Western estava e pediu para falar comSophia a sós. Depois de alguns segundos em silêncio, ele disse que estava lá para liberá-la do compromisso de se casar com Blifil. Ela o agradeceu quase de joelhos, tamanha foisua felicidade.

— Blifil não era a pessoa que eu imaginei. Sinto muito que minha família tenhafeito a senhorita sofrer – disse o Sr. Allworthy.

— Ah, Sr. Allworthy, tudo o que eu desejo agora é voltar para Somerset e cuidarde meu pai.

Ele calou-se durante alguns instantes, depois disse:— Há um outro parente meu que deseja CORTEJÁ-LA.

��SUBORNASSE: oferecesse dinheiro ou outros valores para conseguir vantagens��CORTEJÁ-LA: flertar com ela, enamorar-se, fazer a corte

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— Desculpe-me, senhor, mas não pretendo aceitar esse tipo de proposta agora.— Meu parente irá sofrer...Sophia sorriu.— Como pode sofrer se nem me conhece? – perguntou ela.— Ele a conhece e a ama. É Tom Jones, meu sobrinho legítimo, a quem decidi

entregar toda a minha fortuna depois que eu morrer.Sophia precisou sentar-se para ouvir toda a história do filho de Bridget Allworthy.

Ela estava emocionada demais. O Sr. Western entrou no quarto dizendo que iria trancar afilha novamente, pois recebera uma carta de Lady Bellaston avisando que Tom estava solto.

— Antes disso, sente-se aqui, caro vizinho. Tenho algumas coisas para lhe contar– disse o Sr. Allworthy.

Depois de ouvir tudo, o Sr. Western acompanhou o Sr. Allworthy até sua casa. OSr. Partrige levara Tom para lá e acomodara-o no andar de cima, pois o rapaz estavamuito cansado após vários dias dentro de uma cela apertada e FEDORENTA.

Quando tio e sobrinho se encontraram, lágrimas brotaram dos olhos dos dois.— Ah, Tom, será que um dia você será capaz de perdoar seu tio? – perguntou o

Sr. Allworthy.Tom abraçou-o com força, mostrando que não guardava mágoas.— Senhor – disse Tom ao Sr. Allworthy -, perdi meu anjo. Perdi Sophia para sempre.Nesse momento, o Sr. Western também entrou no quarto e pediu perdão por ter

tratado Tom com desprezo e HUMILHAÇÃO.— Agora venha comigo, meu amigo. Sophia a espera.Chegando ao hotel, o Sr. Western, o Sr. Allworthy, Tom e Sophia tomaram um chá.

Em seguida, os dois jovens foram deixados a sós. É incrível como duas pessoas quetinham tanta coisa para dizer quando havia situações de perigo, agora não conseguiamfalar nada um ao outro. Tom tomou a iniciativa:

— Preciso que me perdoe, Sophia. Fui infiel, é verdade, mas a vida me corrigiu.Quase enlouqueci quando achei que havia perdido você.

— É você que deve se perdoar – disse Sophia. — Como posso saber quevocê mudou?

Tom levou-a até um espelho e mostrou-lhe seu belo rosto de menina refletido.— Olhe bem para este rostinho lindo, querida Sophia. Olhe para a beleza destes

olhos, a delicadeza destes lábios. Como alguém pode ser infiel a alguém como você?Essa é a minha prova. Dou-lhe minha palavra de que serei só seu, se me perdoar.

— Então – disse Sophia, meio sem graça —, podemos falar em casamento, nãopodemos?

— Quando, meu amor, diga quando. Não quero esperar muito.— Talvez em... um ano – disse ela.Tom abraçou-a com paixão e a beijou ARDENTEMENTE. Nesse momento, o Sr.

Western entrou na sala.— Que linda cena de amor! Então quer dizer que teremos um casamento amanhã?

– perguntou ele.

�� FEDORENTA: com mau cheiro, fedida�� HUMILHAÇÃO: vexame, rebaixamento moral�� ARDENTEMENTE: apaixonadamente

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— Não, não – disse Sophia. — Amanhã não.— Sim, sim, amanhã. Você ousa me desobedecer? – perguntou o Sr. Western.Os apaixonados olharam um para o outro e sorriram.— Se meu pai quer assim... Amanhã! – disse Sophia.Tom e Sophia casaram-se no dia seguinte em uma cerimônia simples organizada pelo

Sr. Supple, que fora a Londres somente para celebrar a união do casal. Todos voltaram amorar em Somerset, inclusive o Sr. Partridge, que recuperou o respeito de todo o vilarejo. Acerca que dividia as propriedades dos Allworthy e dos Western foi derrubada, criando assimuma enorme fazenda. Era um local bonito e PACATO, ideal para, anos mais tarde, Sophia eTom brincarem com o casal de gêmeos que nasceram nove meses após o casamento.

��PACATO: tranqüilo, sereno, sossegado

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Roteiro de Leitura

1) Descreva e compare os personagens de Tom e Blifil. Por que eles não eram ami-gos?

2) Você acha que Blifil tinha motivos para odiar Tom? Por quê?

3) Por que o Sr. Western queria que sua filha se casasse com Blifil? Por que ele nãoconsiderava Tom um bom marido para Sophia?

4) Escolha uma dessas cenas e, junto com um(a) colega, dramatize-a usando suaspróprias palavras: O Sr. Allworthy está expulsando Tom de casa ou o Sr. Partridgeestá contando a Tom como ele o conhece desde seu nascimento.

5) Por que esses objetos são importantes na história: um anel no travesseiro e umcheque encontrado dentro de uma caderneta na beira da estrada?

6) Tom é um rapaz atraente, de cerca de 20 anos de idade. Ele ama Sophia, mas nãoconsegue resistir aos encantos de outras mulheres. O que você acha disso?

7) Este livro foi lançado em 1749. O que mudou em relação à instituição do casa-mento, se compararmos aquela época com a nossa?

8) Muitos relacionamentos foram desfeitos durante a história em função de traiçõese maus-tratos entre os cônjuges. Por que esse tipo de coisa ocorria com freqüênciana época? E hoje em dia, como são os casamentos?

9) Sophia perdoou a infidelidade de Tom. Você acha que ela fez bem? Por quê?

10) Descreva o personagem do Sr. Western. Qual é a contradição que existe nele?

11) Muitos personagens agiam por interesses financeiros, em benefício e prazer pró-prios. Quais são eles?

12) Imagine que você é o Sr. Western. Conte para seus netos (os gêmeos, filhos deTom e Sophia) como seus pais se casaram.

13) Como Jenny Jones passa de uma mulher escorraçada do lugar onde morava a“salvadora da pátria” para Tom?

14) Que tipo de mulher era Lady Bellaston? Descreva seu lado bom e seu lado ruim,se você julgar que ela tem os dois.

15) Com que personagem você mais se identificou? Por quê? Com qual deles vocêmenos se identificou? Por quê?

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16) O nome Allworthy, em inglês, significa algo como “acima de qualquer suspeita”.Você acredita que o Sr. Allworthy era um homem confiável? Justifique sua resposta.

17) Por que Bridget escondeu a gravidez e a maternidade de Tom? O que aconteciacom mulheres solteiras de sua época que tinham filhos? Como a sociedade atualvê a questão de pais e mães solteiros?

18) Imagine que você é Tom Jones e está preso. Escreva uma carta a Sophia, expli-cando-lhe por que pediu Lady Bellaston em casamento.

19) O Sr. Fitzpatrick e a Sra. Waters vão passar um tempo na cidade inglesa deBath, depois que saem da estalagem de Upton. Com a ajuda de seu professorde história, descubra por que Bath é tão visitada por turistas de várias partesdo mundo.

20) Se você fosse Tom, perdoaria seu tio por ter sido mandado embora de casa?

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Henry Fielding

BIOGRAFIA DO AUTOR

Henry Fielding nasceu em 1707 em Somerset, Inglaterra. Perdeu a mãe ainda criançae foi mandado pelo pai para estudar na Eton College. Aos vinte e dois anos, Fieldingmudou-se para Londres e passou a viver como escritor de peças teatrais. De 1729 a1737, ele escreveu vinte e cinco peças. Entre as mais famosas está Tom Thumb, encenadapela primeira vez em 1730. É uma comédia que satiriza outros dramaturgos.

As peças de Fielding eram, em sua maioria, comédias. Elas criticavam a políticae os políticos da época. No ano de 1737, esse tipo de peça ficou proibido na Inglaterra.Por causa disso, Fielding precisou mudar de profissão. Ele estudou direito e formou-seadvogado. Mas como escrever ainda era importante para ele, Fielding estudou jornalis-mo também. Ele tornou-se editor de uma revista chamada The Champion, onde pôdecontinuar a expressar seus pontos de vista.

Somente anos mais tarde, Fielding começou a escrever romances. Ele recebeuforte influência de autores como Dickens e Thackeray. Seus dois romances mais famosossão Amelia (1751), e este, originalmente chamado The History of Tom Jones, A Foundling(1749). A história de Tom Jones mistura amor, aventura e comédia, e se passa na épocado Rei George II, na Inglaterra.

Fielding sempre trabalhou muito. Junto com a profissão de escritor, ele atuoucomo oficial de justiça durante vários anos. Colaborou, assim, para garantir que houvesseseriedade e honestidade no sistema legal de seu país.

Quando Fielding ficou doente, em 1754, ele viajou para Portugal em busca detratamento. Morreu no mesmo ano, em Lisboa. Seu último livro, intitulado The Journal ofa Voyage to Lisbon (Diário de Uma Viagem a Lisboa), foi publicado um ano após suamorte. Fielding casou-se duas vezes. Sophia Western, a heroína deste romance, possuivárias características de sua primeira esposa, que faleceu dez anos após ter se casadocom Fielding.

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