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Coleção Aventuras Grandiosas Sir Walter Scott IVANHOÉ Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez 1ª edição

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Coleção Aventuras Grandiosas

Sir Walter Scott

IVANHOÉ

Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez

1ª edição

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1. O torneio da cavalaria

Por volta dos anos de 1193 e 1194, quando se passa esta história, a Ingla-terra enfrentava vários problemas políticos. O Rei Ricardo fora preso na Áustriapor seu próprio irmão, o Príncipe John, e por seus inimigos, o Rei Philip da Françae o maldoso Duque da Áustria.

Naquela época, os membros da nobreza eram NORMANDOS e domi-navam a Inglaterra desde 1066. Eles estabeleceram que o idioma a ser faladoem toda a ilha deveria ser o francês. Além disso, praticamente escravizavamos pobres trabalhadores ANGLO-SAXÕES, cujos antecessores governaram aInglaterra muito tempo antes.

O Príncipe John também era normando e queria tornar-se rei da Inglaterra.Depois de prender seu irmão, conhecido por ser o bravo Ricardo Coração deLeão, ele reuniu um Conselho para ajudá-lo a governar. O povo sofria ainda maiscom o despreparo do príncipe diante do comando da nação.

Muitos anglo-saxões não aceitavam o domínio estrangeiro. O velho cavalei-ro Cedric de Rotherwood e sua protegida, a bela Rowena, por exemplo, eramdescendentes da mais alta sociedade anglo-saxã. Eles cultivavam, intimamente, odesejo de que seu povo voltasse a ter o prestígio tomado a força pelos invasoresde língua francesa.

Apesar de todos esses problemas, o povo da Inglaterra apreciava os torneiosda cavalaria, cujas tradições foram estabelecidas pelos normandos. Os torneioseram marcados por boa música, competições de arco e flecha e disputas entrecavaleiros vestidos com armaduras.

Nossa história começa, então, na região de Leicester, mais especificamente nacidade de Ashby, onde o maior torneio da Inglaterra estava prestes a acontecer.Milhares de pessoas entravam em uma ampla ARENA através de dois enormes portões,cada um deles guardado por um grupo de seis homens tocando cornetas. À medidaque iam chegando, nobres e burgueses acomodavam-se nas galerias, enquanto opovo tinha que se aglomerar nos morros e nas árvores vizinhas para assistir aoespetáculo. Até mesmo no topo da torre da igreja havia gente tentando se equilibrar.

��NORMANDO: nascido na Normandia (região da França)��ANGLO-SAXÃO: indivíduo do povo germânico (anglos, saxões e jutos) que

invadiram a Inglaterra entre os séculos V e VI, e lá se fixaram.��ARENA: terreno circular, fechado, com chão de areia, especial para espetáculos

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Quando a arena parecia praticamente lotada, ouviu-se o rufar de tamborese o toque de várias cornetas em conjunto. Era o anúncio da chegada do PríncipeJohn, que adentrou o local do torneio pelo portão Norte, escoltado por váriosnobres e membros influentes da Igreja. Seu cavalo estava todo enfeitado e elevestia um traje feito especialmente para a ocasião. Usava luvas de couro, roupanos tons vermelho e dourado, e um chapéu adornado com pedras preciosas.Levava um atento falcão na mão esquerda. O pequeno pássaro tinha o olhar tãoimponente e desafiador quanto o do próprio príncipe.

Antes de dirigir-se ao seu trono, colocado em um palanque mais alto doque as galerias, ele percorreu toda a arena, examinando cuidadosamente osrostos ansiosos pelo início das disputas. De repente, o príncipe parou em umadas galerias. Observou a linda moça sentada ao lado de Isaac de York, um judeurico que freqüentemente emprestava dinheiro aos nobres. Embora Isaac fosseextremamente importante para eles, nem o príncipe nem os nobres aceitavam-no como membro da sociedade inglesa. Isso ocorria pelo simples fato de eleter descendência judia.

Magnetizado pela beleza da moça, o príncipe aproximou-se de Isaac eperguntou:

— Esta é sua esposa ou sua filha, Isaac?— É minha filha Rebecca, Alteza.O príncipe quis conduzir Rebecca ao trono que ficava em frente ao dele.

Era todo decorado com tapetes e panos finos e estava reservado à “Rainha doAmor e da Beleza”. No entanto, um dos conselheiros que acompanhava o cavalodo príncipe convenceu-o do contrário.

— Deixe que o trono da “Rainha do Amor e da Beleza” permaneça vaziopor enquanto, Alteza. Aquele que ganhar o torneio de hoje deve escolher arainha — disse ele.

O Príncipe John e os outros nobres foram para o palanque, enquanto asregras do festival eram anunciadas por um dos ARAUTOS em alto e bom som:

— Regra número um: haverá cinco competidores heróicos, famosos porterem lutado nas CRUZADAS. São os cavaleiros TEMPLÁRIOS. Eles poderão serdesafiados por qualquer cavaleiro que esteja disposto a enfrentá-los.

��ARAUTO: oficial que faz proclamações solenes, anúncios��CRUZADAS: expedições realizadas pelos cristãos europeus nos séculos XI, XII

e XIII para recuperar a Terra Santa tomada pelos muçulmanos.�� TEMPLÁRIO: cavaleiro do Templo, uma ordem militar religiosa fundada em

Jerusalém no século XII pelos cavaleiros das Cruzadas

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— Regra número dois: o cavaleiro que quiser desafiar um dos cinco heróisdeverá tocar, com sua lança, o escudo do oponente. Se o toque for feito com aparte de trás da lança, o duelo será apenas uma demonstração, uma espécie detreinamento. As duas lanças serão protegidas por uma capa de madeira, quecobrirá o ferro e ajudará a diminuir o impacto dos golpes. Contudo, se o escudode um cavaleiro for tocado com a ponta da lança, o duelo será para valer, com aslanças livres para o embate.

— Regra número três: o cavaleiro que conseguir quebrar cinco lançasserá o vencedor do primeiro dia do torneio. Ele não só ganhará um cavalo deraça, como também receberá o prêmio de poder escolher a “Rainha do Amor eda Beleza”.

— Regra número quatro: amanhã, no segundo dia do torneio, haverá umduelo coletivo, no qual qualquer cavaleiro poderá se inscrever. Os homensserão divididos em grupos de número igual e lutarão até o príncipe mandá-losparar. A “Rainha do Amor e da Beleza” irá coroar o vencedor escolhido pelopríncipe.

Ditas as regras, os cinco cavaleiros templários adentraram a arena. Monta-vam cavalos fortes e suas lanças levavam pequenas bandeiras amarradas na pon-ta. O líder deles cavalgava na frente. Era Brian de Bois-Guilbert, um normandoconhecido por ter sangue-frio durante as lutas. Do lado oposto, vários outroscavaleiros agitavam-se sobre seus cavalos, vestiam os capacetes e empunhavamos escudos. Eram homens mais novos ou menos experientes do que os cincoprimeiros e estavam ÁVIDOS para ter seus momentos de glória.

Quando o príncipe deu o sinal, os primeiros cavaleiros audaciosos tocaramos escudos dos heróis com a parte de trás de suas lanças, o que indicou que oprimeiro duelo seria uma bela demonstração, praticamente sem risco de vidapara nenhum dos participantes. As pontas das lanças foram cobertas e os cavaleirosse posicionaram em lados opostos da arena.

Ao toque breve e seco das cornetas, os dez cavaleiros dispararam ao mes-mo tempo em direção uns dos outros. No encontro deles, ouviu-se um somestridente de metal e madeira se chocando. Muita poeira surgiu do centro daarena, enquanto os espectadores levantaram-se em UNÍSSONO para observar oresultado do embate.

Três cavaleiros das Cruzadas, Brian de Bois-Guilbert, Sir Philip Malvoisin eReginald Fronte-de-Boeuf, derrubaram no chão aqueles que os desafiaram. Umdos cavaleiros anônimos conseguiu desviar milagrosamente da lança de Hugh de

��ÁVIDO: ansioso��UNÍSSONO: ao mesmo tempo

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Grantmesnil. Um único cavaleiro foi capaz de honrar o grupo dos desafiadores.Ele não derrubou o quinto herói, o Cavaleiro de Saint John, mas quebrou umpedaço de sua lança.

Palmas surgiram da platéia, cornetas foram tocadas a todo vapor, enquantoos heróis eram cada vez mais consagrados. O Cavaleiro de Saint John cumpri-mentou aquele que quebrou sua lança, deixando o rapaz, satisfeito, comemorarsua feita junto aos amigos.

2. O Cavaleiro Deserdado

Depois do início do torneio, três outras rodadas parecidas ocorreram.Em todas elas, os templários foram campeões. Bois-Guilbert derrubou todosos seus oponentes, e nenhum dos cinco heróis foi ao chão uma vez sequer.Quando ninguém mais parecia querer desafiar os cavaleiros das Cruzadas e opríncipe preparava-se para declarar Bois-Guilbert vencedor, uma forte cornetacomeçou a soar do portão Sul. Todos se voltaram para lá, pois um novo cavaleiroestava entrando na arena.

Ele vestia armadura de aço com costura de ouro e um capacete cobria-lheo rosto. Parecia baixo e até um pouco magro. Seu escudo tinha a figura de umaárvore com raízes longas estampada. Sob o desenho, a palavra “Deserdado” esta-va escrita.

Depois de percorrer todas as galerias observando os espectadores, o ca-valeiro aproximou-se de Bois-Guilbert e tocou-lhe o escudo com a ponta dalança. Um grito de espanto surgiu da platéia.

— Não tem medo de colocar a vida em risco assim, com tanta facilidade?— perguntou Bois-Guilbert.

— Um de nós pode não ver o Sol se pôr hoje — disse o CavaleiroDeserdado. — Tenho certeza de que não serei eu.

Essas palavras enfureceram o líder dos templários, que se colocou prontopara o duelo quase instantaneamente. Estava louco para mostrar à multidãotoda a sua superioridade. Nenhum anônimo havia demonstrado tamanhaousadia ao desafiá-lo para uma disputa. A única precaução que tomou foitrocar o escudo por outro mais forte. No novo escudo havia a figura de umcorvo segurando um crânio entre as garras. Embaixo podia-se ler a frase:“Cuidado com o corvo”.

Quando o príncipe autorizou a luta, uma corneta soou e os cavaleiros saí-ram galopando furiosamente em direção um do outro. Ao se chocarem, o impactofoi tão violento que os cavalos tiveram que recuar, equilibrando-se nas patas de

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trás. Nenhum dos combatentes caiu, mas as duas lanças se estilhaçaram. A multi-dão aplaudiu entusiasmada.

O príncipe permitiu um novo embate entre eles. Bois-Guilbert e o CavaleiroDeserdado trocaram as lanças por outras intactas e posicionaram-se novamente.Ouviu-se o toque da corneta e o público assistiu a um novo choque ainda maisforte. Quando a poeira se dissipou, todos viram Bois-Guilbert levantando dochão, enquanto seu cavalo corria sozinho pela arena. Enraivecido, o templáriopegou sua lança e apontou-a para o homem que o derrubou.

— Isso não fica assim! Você me paga! — gritou.— Quando quiser — disse o Cavaleiro Deserdado.— Nós vamos lutar fora daqui! Esteja certo disso!O Cavaleiro Deserdado concordou e depois saiu galopando para come-

morar a vitória. À medida que acelerava o ritmo do cavalo, gritava:— A todos os verdadeiros ingleses! Que os TIRANOS estrangeiros sejam

derrubados!!!Em seguida, ele desafiou os outros quatro templários. Diante dos olhos

dos espectadores, o Cavaleiro Deserdado levou todos eles ao chão, arrancandovivas e palmas da platéia. O príncipe não teve outra escolha, senão declará-lovencedor do primeiro dia do torneio.

Na hora da entrega do cavalo de raça como prêmio, a multidão pediu queo cavaleiro tirasse o capacete para que todos conhecessem sua identidade, masele se recusou. O Príncipe John sentiu as pernas tremerem com a aproximaçãodo Cavaleiro Deserdado. Ele temia que, sob o capacete daquele homem, estivesseseu irmão Ricardo Coração de Leão, o verdadeiro Rei da Inglaterra. Ao ver o cava-leiro mais de perto, no entanto, o príncipe acalmouse um pouco. Ricardo erabem mais alto e dificilmente caberia naquela armadura.

— Aqui está seu cavalo de raça, Cavaleiro Deserdado — disse o príncipe.— O senhor também terá a honra de escolher uma moça para ser a “Rainha doAmor e da Beleza”.

O cavaleiro agradeceu apenas com um cumprimento de cabeça. Ele es-tendeu a lança ao príncipe, que colocou sobre ela a coroa de cetim douradodedicada à rainha do torneio. O cavaleiro agradeceu mais uma vez com um gestode cabeça e foi percorrer as galerias à procura da mais bela moça que encontrasse.

Depois de alguns minutos, o vencedor parou diante da linda Rowena. SeuTUTOR, o velho anglo-saxão Cedric de Rotherwood, havia rejeitado o próprio

�� TIRANO: governante que abusa de sua autoridade�� TUTOR: pessoa legalmente encarregada de tutelar alguém; protetor, defensor

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filho, Ivanhoé, pois este lutara ao lado do normando Ricardo Coração de Leão nasCruzadas até a Terra Santa. Cedric almejara, tempos antes, o casamento de Rowenae Ivanhoé, mas agora a moça estava prometida para Athelstane, um anglo-saxãocomo ela, porém um rapaz de inteligência MEDÍOCRE.

Rowena foi coroada a “Rainha do Amor e da Beleza” ao som de muitascornetas. O Cavaleiro Deserdado partiu levando o cavalo que recebera comoprêmio. Muitas pessoas foram atrás dele, mas não conseguiram alcançá-lo. Apesardas várias ESPECULAÇÕES a esse respeito, ninguém descobriu a verdadeira iden-tidade do vencedor do primeiro dia do torneio.

3. Uma grande disputa

No dia seguinte de manhã, muitos cavaleiros já estavam inscritos para oduelo do segundo e último dia do festival. Pouco antes da luta, o Príncipe Johnadentrou a arena ao som de muitas cornetas e na companhia de seus conselhei-ros. Cedric e Rowena chegaram junto com Athelstane, o noivo prometido danova “Rainha do Amor e da Beleza”. O próprio príncipe recebeu a moça pelasmãos de seu tutor e conduziu-a ao trono em frente ao dele.

Athelstane estava enciumado desde o dia anterior. Não gostou de versua futura esposa ser coroada rainha por outro homem. Por causa disso,resolveu que precisava impressionar Rowena. Inscreveu-se no duelo para lutarao lado do templário Brian de Bois-Guilbert. Segundo as ordens do príncipe,o Cavaleiro Deserdado seria líder de um grupo, enquanto Bois-Guilbertcomandaria o outro.

Os dois grupos de cavaleiros posicionaram-se em lados opostos. Os líderesficavam um metro à frente de seus homens. Ao sinal emitido por cornetas, umaverdadeira multidão de cavalos e homens uniu-se no centro da arena. Ouviram-segritos na platéia. O centro do espetáculo só pôde ser visto quando a poeiradesceu. Muitos homens estavam caídos. Alguns cavaleiros lutavam agora no chão,tendo trocado as lanças quebradas por espadas.

Aos poucos o número de participantes foi diminuindo, até que sobraramno meio da arena apenas o Cavaleiro Deserdado, Bois-Guilbert e dois dos seushomens: Athelstane e o templário Reginald Fronte-de-Boeuf. O CavaleiroDeserdado conseguia lutar contra os três ao mesmo tempo graças ao ótimo cavalo

��MEDÍOCRE: mediana, comum�� ESPECULAÇÃO: tentativa de se descobrir por meio de perguntas indiscretas

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que ganhara no primeiro dia do torneio. Ele girava o corpo apoiado no lombo doanimal e mantinha seus adversários na ponta de uma espada.

De repente, como que por milagre, um cavaleiro que pouco se destacaradurante todo o embate veio auxiliar o Cavaleiro Deserdado. Vestia uma armadurapreta como carvão e seu escudo não tinha nada escrito ou desenhado. IMPELIDOpor uma cavalgada de alta velocidade, o Cavaleiro Negro, como foi chamado,INVESTIU de modo certeiro sobre Athestane e Fronte-de-Boeuf, derrubando osdois quase ao mesmo tempo. Em seguida afastou-se, deixando os dois líderesfinalmente se enfrentarem.

A luta estava emocionante e o público mal conseguia se controlar nas gale-rias. Gritavam e incentivavam os cavaleiros sem parar. Os adversários defendiam-se como podiam. DE SÚBITO, o Cavaleiro Deserdado desferiu um golpe de mestreem Bois-Guilbert, atingindo o topo do capacete do templário, que sedesequilibrou e caiu no chão.

Bois-Guilbert ficou indignado. Levantou-se e xingou o Cavaleiro Deserdadocom todas as forças, ameaçando-o das mais terríveis vinganças. Os adversáriospoderiam continuar lutando no chão, mas o príncipe achou melhor terminar aluta. Era preciso evitar que o herói das Cruzadas saísse da arena ainda maishumilhado.

Depois de consultar seus conselheiros, o Príncipe John declarou o CavaleiroNegro como o vencedor do dia, mas o misterioso homem de preto havia desa-parecido. Sem outra alternativa, o príncipe disse à multidão que o CavaleiroDeserdado deveria ser coroado como o vencedor do festival.

4. Confusão no final do torneio

Rowena, a “Rainha do Amor e da Beleza”, fez sinal para que o cavaleirovitorioso se aproximasse.

— Como devo coroá-lo, senhor, se sua cabeça está coberta por este ELMO?— perguntou a bela moça.

O Deserdado apenas esticou o braço para receber a coroa em suas mãos.Neste momento, porém, um auxiliar do príncipe puxou o capacete do vencedor

�� IMPELIDO: impulsionado�� INVESTIU: atacou�� DE SÚBITO: repentinamente, inesperadamente�� ELMO: espécie de capacete que protegia a cabeça nas armaduras antigas

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e, num instante, o rosto de um bonito rapaz de cerca de vinte e cinco anos semostrou ao público. Rowena precisou sentar-se diante daquela visão.

— Ivanhoé, Wilfred de Ivanhoé! — exclamou ela.Ivanhoé mal teve tempo de reclamar por ter sua identidade revelada.

Assim que recebeu a coroa, caiu desmaiado aos pés da bela moça. Rapidamente,a armadura do cavaleiro foi retirada e os que estavam em volta dele puderamver que um golpe de espada havia lhe ferido o peito. A multidão, emPOLVOROSA, gritava incessantemente o nome de Ivanhoé, o filho deserdadode Cedric de Rotherwood.

Reconhecendo no rapaz desmaiado o parceiro de seu irmão Ricardo nasCruzadas, o Príncipe John sentiu um calafrio invadindo-lhe o corpo. Na mesmahora, um de seus conselheiros aproximou-se com um bilhete anônimo.

— Alteza, acabaram de jogar este papel aqui no palanque — disse ele.O príncipe pegou com avidez o papel nas mãos e leu, escrito em letras

GARRAFAIS, a seguinte mensagem: “CUIDADO, SEU INIMIGO ESTÁ SOLTO!”— Meu Deus! - disse o príncipe. — Ricardo Coração de Leão está solto!— Não perca tempo, Alteza — falou um importante membro da Igreja.— O que devo fazer? — perguntou o inexperiente ASPIRANTE a rei.— Termine o festival de uma vez. Precisamos reunir o Conselho — respon-

deu um de seus auxiliares. — Vamos para York.A confusão foi geral. O torneio foi dado por terminado antes das últimas

exibições de cavalos de raça e das performances musicais. O povo reclamou,mas foi obrigado a deixar a arena.

Cedric, ao ver o filho machucado, teve ÍMPETO de correr até ele e levá-lopara casa, mas não podia fazer isso. Ele havia prometido aos nobres e ao príncipeque nunca mais se aproximaria do filho que os traíra, indo lutar ao lado do inimigodo príncipe. Já era muito difícil para um anglo-saxão viver entre os normandos,uma vez que os dois povos não se davam bem. O fato de o Cavaleiro Deserdadoter dedicado sua vitória aos “ingleses de verdade” havia enfurecido os invasoresda Inglaterra. Cedric temia por sua vida e pela do filho, caso voltasse atrás e orecebesse em casa novamente.

No entanto, sua preocupação era imensa. Assim que conseguiu vencer amultidão e chegar até Rowena, perguntou, desesperado, à sua protegida:

— Onde está ele, Rowena? Onde está ele?

�� POLVOROSA: tomada de grande agitação��GARRAFAIS: de tamanho superior ao habitual; grandes, graúdas��ASPIRANTE: alguém que pretende, que deseja ardentemente alguma coisa�� ÍMPETO: impulso, precipitação

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— Isaac de York e sua filha Rebecca o levaram para casa — respondeu ela.— Isaac, o judeu? Por que ele faria isso?— Rebecca insistiu. Eles têm uma pequena casa aqui em Ashby. Ela tem

algum conhecimento de medicina e vai cuidar dele. Foi o melhor para Ivanhoé;os homens do príncipe poderiam querer prendê-lo e ele estava perdendo sangue.

Na casa de Isaac, Ivanhoé passou a noite toda delirando e queimando emfebre. Rebecca desempenhou o papel da mais ZELOSA enfermeira que já existiu.Limpou o ferimento do rapaz e envolveu-o em cobertores para que a febre ofizesse suar e eliminar todas as impurezas do corpo. De manhã, quando abriu osolhos, Ivanhoé não sabia o que tinha acontecido.

— Calma — disse Rebecca. — Você está em segurança e, pelo que vejo,irá recuperar a saúde depressa.

Ela contou-lhe o que tinha se passado, pois Ivanhoé não se lembrava denada após ter derrubado Bois-Guilbert na arena. A boa moça explicou tambémque eles deveriam partir para York o mais rápido possível. Ela havia escutado queera lá que o príncipe e seus conselheiros estavam planejando um encontro paraarquitetar outra investida contra o Rei Ricardo.

— O rei está solto? — perguntou o rapaz.— Foi o que se ouviu depois da luta. As comemorações do final do torneio

foram até canceladas para apressar a reunião do Conselho.Isaac e Rebecca esperaram até o fim da tarde, assim Ivanhoé teve mais

tempo para se fortalecer. Ao cair da noite, junto com alguns empregados, deixa-ram Ashby e saíram cavalgando pelo meio da floresta a caminho de York.

5. Ataques na floresta

Assim como Isaac, Rebecca e Ivanhoé, os anglo-saxões Cedric, Athelstanee Rowena também abriam caminhos pela floresta. Isaac era nascido em York. Elepossuía uma mansão na cidade. Cedric e Rowena moravam em Rotherwood.Estavam viajando para York em busca de informações sobre Ivanhoé e sobre asdecisões do Conselho. Athelstane ainda estava muito abalado pela derrota notorneio, mas quis acompanhar sua amada de perto durante o trajeto. Os doisgrupos cavalgavam por terrenos difíceis, atravessavam riachos e andavam sobrepedras roliças. Cerca de duas horas depois de terem partido, Rowena escutoualguma coisa.

��ZELOSA: cuidadosa

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— Esperem — disse ela. — Acho que ouvi vozes.Todos pararam. Ficaram alguns minutos em silêncio até que Cedric man-

dou seu empregado Wamba ir um pouco mais à frente verificar o local. Wambaera um VALETE que trabalhava para Cedric desde criança. Ele caminhou algunspassos pelo mato e ficou À ESPREITA, atrás de uma árvore. De repente, umapessoa aproximou-se por trás dele e tampou-lhe a boca. Wamba quase desmaioude susto. Olhou para trás e...

— Gurth! — disse ele. — É você, que alívio!Gurth era um guardador de porcos, amigo de Wamba há tempos. Traba-

lhava para Ivanhoé desde que o bravo cavaleiro havia sido deserdado pelo pai.Ajudara Rebecca a carregá-lo, ferido, até a casa de Isaac em Ashby no dia anterior.

— O que está acontecendo, Gurth? — perguntou Wamba.— Estávamos indo para York quando fomos atacados. O senhor Isaac,

Rebecca e meu patrão estão presos. Os outros empregados e euconseguimos fugir.

Neste momento, ouviu-se um grito. Wamba e Gurth correram para espiare assistiram Rowena, Cedric e Athelstane serem arrastados pelos normandos. Ovalete e o guardador de porcos fugiram assustados, temendo cair nas garras dosbandidos também. Os dois corriam em velocidade pela mata, quando levaramum enorme susto.

— Parem! — gritou um homem vestido de verde, armado com arcoe flecha.

A flecha estava apontada para eles, por isso Wamba e Gurth tiveram queinterromper a corrida.

— Quem é você? — perguntou Gurth.— Acalmem-se. Meu nome é Locksley. Sou inglês de corpo e alma e

estou aqui para ajudá-los.Os dois acalmaram-se e o rapaz baixou o arco.— Vi seus patrões e amigos serem capturados e sei bem que os bandidos

que o fizeram são amigos do Príncipe John. São nobres da Normandia e cavaleirostemplários das Cruzadas.

— O que vão fazer com os presos? — perguntou Wamba.— Eles costumam mantê-los no castelo de um dos cavaleiros, Reginald

Fronte-de-Boeuf. É um dos maiores castelos de York. Precisamos entrar lá antesque aqueles bárbaros enforquem seus amigos.

��VALETE: bobo da corte, comediante��À ESPREITA: de atalaia; em observação ou espreitando, a fim de avistar

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— Enforcar? O que vamos fazer? Somos só três contra um exército inteirode normandos — disse Wamba.

— Venham comigo - chamou Locksley.Os três percorreram cerca de dois quilômetros a pé até chegarem a uma

clareira. Lá estavam muitos amigos de Locksley, anglo-saxões que viviam escondi-dos para não ter que aceitar a opressão estrangeira. Todos foram logo informadosda situação e, rapidamente, organizaram-se em grupos para atacar o castelo deFronte-de-Boeuf.

O que ninguém esperava era que houvesse mais alguém entre eles. Umbarulho de folhas secas saiu do mato e todos apontaram seus arcos naqueladireção. Um homem com armadura preta cobrindo todo o seu corpo e rostosaiu da floresta.

— O Cavaleiro Negro do festival de Ashby! — exclamou Locksley.— Sim, sou eu mesmo, amigos. Por favor, baixem seus arcos, eu não pre-

tendo fazer-lhes mal nenhum.— O que faz aqui? — perguntou Locksley.— Quero ajudá-los a recuperar aqueles que estão presos no castelo. Vi

tudo de trás de uma árvore.— E por acaso você é cidadão inglês? Um inglês capaz de lutar de verdade?

Ou será que sua coragem fica só dentro de uma arena?— Ninguém tem mais amor pela Inglaterra e maior preocupação com a

vida dos ingleses do que eu. Darei meu sangue se for preciso.— Neste caso, sigamos viagem sem demora. Precisamos salvar o senhor

Cedric, Rowena e os outros.A Lua estava tão cheia, que ofuscava o brilho das estrelas e iluminava o

caminho dos homens. Montados agora em cavalos, eles disparavam pelas PICA-DAS a caminho de York.

6. O plano

Dentro do castelo, Isaac fora preso no CALABOUÇO. Rebecca e Ivanhoéforam colocados em uma cela no alto de uma torre. O rapaz ainda precisava doscuidados da moça, por isso ela implorou para seus captores que os deixassemjuntos até Ivanhoé melhorar completamente. Cedric e Athelstane foram separa-

��PICADA: atalho estreito��CALABOUÇO: prisão subterrânea; cárcere, lugar úmido e sombrio

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dos de Rowena. A bela “Rainha do Amor e da Beleza” foi CORTEJADA por umdos nobres amigos do príncipe. Além de o homem parecer-lhe ASQUEROSO,Rowena só conseguia pensar em Ivanhoé. Ela não imaginava que ele estava natorre ao lado, sob os cuidados da filha de Isaac.

Do lado de fora, Locksley e o Cavaleiro Negro traçaram um plano. Seguin-do as orientações deles, Wamba aproximou-se do castelo. Ele vestia um mantoescuro com capuz. Os outros homens esconderam-se nas REDONDEZAS.

— Alto lá! Quem é você? — perguntou um guarda, assim que viu a figurade Wamba chegar em um dos portões.

— Que a paz do Senhor esteja convosco — disse o valete. — Sou apenasum irmão da Ordem de São Francisco. Tenho a missão de trazer conforto aosprisioneiros deste castelo.

— Como assim? O que quer? — insistiu o guarda.— Desejo apenas conversar com aqueles que se encontram presos. É

preciso levar ALENTO às suas almas, afinal, em breve todas elas terão ido parao céu.

O guarda olhou desconfiado, depois chamou outro guarda, que, por suavez, entrou no castelo e trouxe autorização de um dos nobres para levar o supostomonge até Cedric e Athelstane. Assim que ficou sozinho com os prisioneiros nacela, Wamba tirou o capuz.

— Meu caro valete! — exclamou Cedric.— Não temos tempo, senhor — disse Wamba. — Troque de roupa comigo

e saia do castelo em meu lugar. Lá fora há um verdadeiro exército de ingleses paranos ajudar. O senhor sabe onde está Rowena e os outros prisioneiros?

— Outros prisioneiros?— Sim, o judeu Isaac e sua filha Rebecca estão presos. E... e também...

seu filho, senhor.— Ivanhoé? Meu Deus! Sim, eu acho que sei onde eles estão. Ouvi cor-

rentes subindo a torre vizinha e também escutei vozes vindas do calabouço, quefica bem embaixo de onde estamos.

— Então vá lá fora e avise nossos homens.— Wamba, nunca vou esquecer esse seu gesto. Você está arriscando sua

vida para me salvar. Prometo que vou lutar até o fim para que todos saiam vivosdaqui. Não permitirei que normando nenhum enforque um de nós.

�� CORTEJADA: paquerada, galanteada��ASQUEROSO: nojento�� REDONDEZA: arredores, locais próximos��ALENTO: conforto, consolo

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Quando Cedric saiu caminhando, vestido de monge franciscano, um friopercorreu-lhe a espinha. “Será que conseguirei chegar a salvo até o portão docastelo?”, pensou. Ao mesmo tempo que andava rápido, olhava tudo atenta-mente. De repente, um voz feminina o chamou baixinho.

— Senhor Cedric.Ele não ousou virar para trás e seguiu caminhando, mas a voz insistiu:— Senhor, por favor, sou Ulrica, filha do falecido Torquil Wolfganger.Cedric fora reconhecido mesmo naqueles trajes. Ulrica era filha de

seu velho amigo anglo-saxão. Ela casara-se, muito apaixonada, com o normandoReginald Fronte-de Boeuf, cavaleiro templário e dono do castelo onde estavam.Depois do casamento, no entanto, Fronte-de-Boeuf pareceu ter perdido aSANIDADE. Matou o pai de Ulrica e mantinha-a prisioneira dentro de casa jáhavia doze anos.

— Vamos atacar o castelo, Ulrica — disse Cedric.— Farei o que puder para ajudar. Preciso vingar a morte de meu pai —

respondeu.

7. Batalha no castelo

Assim que Cedric saiu, uma enorme agitação ocorreu do lado de dentro.— Um prisioneiro fugiu! O anglo-saxão fugiu! — gritou o guarda da torre.Imediatamente, uma verdadeira muralha de normandos colocou-se nos

portões. Cedric mal teve tempo de informar seus defensores sobre os caminhosque deveriam percorrer para chegar aos prisioneiros. Era preciso atacar logo, ouperderiam a oportunidade de entrar no castelo.

Uma chuva de flechas foi lançada pelos ares, indo parar na parte de den-tro das muralhas. O primeiro ataque foi REVIDADO e os ingleses precisaram desviarrapidamente das flechas normandas.

Do alto da torre, Ivanhoé escutou a agitação e conseguiu escalar a paredede pedras até alcançar uma janela mínima dentro da cela.

— Por favor, Ivanhoé, você ainda está muito fraco. Não deve fazer ne-nhum tipo de esforço ou meus cuidados terão sido em vão — pediu Rebecca.

— Os ingleses estão lutando, cara Rebecca. Os verdadeiros ingleses estãolutando para nos salvar! Ainda sinto dores terríveis no peito, mas preciso me

��SANIDADE: normalidade física e psíquica, saúde mental��REVIDADO: respondido, vingado com um ataque maior

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equilibrar aqui na janela o máximo que puder. Quero assistir a tudo e torcer! Eudaria minha vida para estar lá fora!

Do alto da torre, Ivanhoé viu quando o Cavaleiro Negro fez uma FENDAcomprida em um dos muros e entrou no castelo, seguido por vários homens. EleEMPUNHAVA um machado, com o qual enfrentava Fronte-de-Boeuf pessoalmente.Normandos e ingleses feriam-se e vários caíam mortos, mas cada vez mais ingle-ses adentravam o castelo.

— Eles vão conseguir, Rebecca, eles vão conseguir! — gritava Ivanhoé. —Meu Deus! Ele caiu!

— Quem? Pelo amor de Deus, quem? — implorava Rebecca.— O Cavaleiro Negro. Espere... ele... ele conseguiu se levantar!Nesta hora, o Cavaleiro Negro deu um impulso do chão e pulou em direção

à Fronte-de-Boeuf, cravando-lhe uma machadada certeira. Sangue brotou da ar-madura do templário. Vários nobres vieram de dentro da casa com espadas apon-tando para o Cavaleiro Negro, que precisou recuar. Fronte-de-Boeuf foi arrastado,morto, para dentro.

De volta ao lado de fora, o Cavaleiro Negro conseguiu, junto com outrosguerreiros, derrubar o portão principal, fazendo com que a multidão de inglesesque ainda estava fora do castelo conseguisse invadir a FORTALEZA normandadefinitivamente.

A luta cessou por alguns instantes, pois os combatentes precisavam reor-ganizar suas estratégias. Ivanhoé, completamente exausto e dolorido, quase des-pencou do alto da janela onde tentara se equilibrar durante todo o tempo. Rebeccao fez deitar e o rapaz adormeceu rapidamente.

8. Fogo!

Pouco tempo depois da invasão, enquanto o grupo atacante ainda tenta-va resolver o que fazer para salvar os prisioneiros, ouviu-se um berro estridentesaindo de dentro do castelo.

— Fogo! O castelo está em chamas!Imediatamente, vários soldados normandos correram em direção ao portão

�� FENDA: abertura estreita�� EMPUNHAVA: segurava�� FORTALEZA: fortificação, forte, castelo

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lateral para tentar fugir. Abriram o cadeado e correram para a floresta. O fogoavançava rápido, queimando tudo o que encontrava pela frente. Um dos nobres,desesperado, gritou aos soldados:

— Vão fugir agora e nos deixar aqui com os ingleses? Covardes! Traidores!Livre da maior parte dos inimigos, o local ficou mais propício para o

resgate dos presos, mas os ingleses precisavam agir rápido, ou morreriamqueimados. O primeiro a entrar no castelo atrás de sua protegida foi Cedric.Encontrou Rowena em um quarto, sentada no chão, assustada. Levou-a para olado de fora do castelo e voltou atrás de Wamba e Athelstane. Os dois não estavammais na cela. Eles haviam conseguido fugir. Sem saber que a moça estava a salvo,Athelstane procurava sua amada Rowena pelo meio da fumaça que invadia todosos cômodos. Wamba encontrara Gurth e fora, junto com o amigo guardador deporcos, tirar o judeu Isaac do calabouço.

Vendo que não conseguiria chegar até Ivanhoé, Cedric correu até o Cava-leiro Negro e pediu:

— Pelo amor de Deus, salve meu filho. Ele deve estar preso em alguma torre.Na saída do castelo, Cedric viu Ulrica. Ela estava de cabelos soltos, parada

perto de uma janela, observando o fogo avançar. O velho anglo-saxão chamoupor ela, gritou seu nome com força. Ulrica aproximou-se e disse:

— Eu não falei que podiam contar comigo? Fui eu que coloquei fogoneste lugar que aprendi a odiar.

— Venha comigo, salve sua vida, vamos — falou Cedric, puxando-a pelo braço.Ulrica DESVENCILHOU-SE das mãos de Cedric e caminhou para o interior

do castelo, dizendo:— Não sei mais o que é viver do lado de fora.Impressionado, mas sem tempo para ir atrás dela, Cedric saiu correndo

no exato momento em que o teto daquele cômodo despencou. O CavaleiroNegro escalou a torre principal atrás de Ivanhoé. Chamou pelo nome dele váriasvezes, mas não teve resposta. De repente, o Cavaleiro Negro ouviu um grito demulher e uma voz dizendo:

— Salve-se, Rebecca, salve-se.Identificando o local de onde vinham os sons, o bravo cavaleiro enfrentou

a fumaça e as chamas e conseguiu chegar onde Ivanhoé estava preso, amarradoao pé de uma cama no alto da torre.

— Cavaleiro Negro! Você novamente chegou para me salvar! — exclamouo jovem Cavaleiro Deserdado, mal conseguindo falar, tamanha a dor que aindasentia no ferimento causado durante o torneio.

�� DESVENCILHOU-SE: soltou-se, livrou-se, desprendeu-se

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— Quem lhe amarrou assim? — perguntou o cavaleiro, desatando o rapaze colocando-o nas costas, a fim de descer as escadas mais rápido.

— Brian de Bois-Guilbert, o templário que eu derrotei no torneio. Elelevou Rebecca com ele e prendeu-me aqui para eu morrer no incêndio.

Do lado de fora, Bois-Guilbert subiu em seu cavalo, levando Rebeccana frente dele e segurando uma espada em uma das mãos. Athesltane, vendoaquela cena, imaginou que a donzela seqüestrada era Rowena. Pegou a espadade um soldado morto e um cavalo que andava de um lado para o outro semsaber como escapar do fogo e partiu atrás do templário. Bois-Guilbert,percebendo que estava sendo perseguido, deu uma GUINADA com o cavalo eacertou sua espada diretamente na cabeça de Athelstane. O jovem anglo-saxãocaiu morto imediatamente.

Minutos depois da saída do Cavaleiro Negro e de Ivanhoé do castelo, astorres começaram a despencar uma a uma. O fogo durou a noite inteira, mas,felizmente, RESTRINGIU-SE a queimar somente a área entre as muralhas, não seALASTRANDO pela floresta.

9. Rebecca está em apuros

Longe do incêndio, os ingleses encontraram-se na floresta. Como erampessoas simples e pobres, viviam de doações, de pequenos furtos e daquiloque conseguiam encontrar na mata e nos arredores da cidade. Inconformadoscom o domínio normando, moravam na floresta para não se sujeitarem à escravidãoimposta pelos estrangeiros. Alguns conseguiram saquear algumas coisas de dentrodo castelo antes de fugirem do fogo. Sentados em volta de uma fogueira, elesagora dividiam o ESPÓLIO reunido.

Ivanhoé fora levado pelo Cavaleiro Negro até um mosteiro próximo. Osmonges cuidariam dele e o jovem só deveria sair de lá quando estivesse comple-tamente recuperado dos ferimentos no peito.

Depois disso, o bravo homem de preto foi até a clareira onde os inglesescomemoravam o grande resgate dos prisioneiros de dentro da fortaleza de Fronte-de-Boef. Ao chegar, cumprimentou Cedric e Rowena, que partiam para Rotherwood.

��GUINADA: virada��RESTRINGIU-SE: limitou-se��ALASTRANDO: espalhando��ESPÓLIO: despojo, resto

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— Adeus, Cavaleiro Negro. Não sei como lhe agradecer por tudo o quefez por nós - disse Cedric. — Sei que o senhor deixou meu filho em boas mãos.

— Em breve farei-lhes uma visita em Rotherwood — respondeu o cavaleiro.— Assim poderá me retribuir o favor. Tenho um pedido a lhe fazer, mas só orevelarei quando chegar a hora.

— Nós o aguardaremos com ansiedade. Agora Rowena e eu passaremosalguns dias no castelo da família do pobre Athelstane. Após as cerimônias fúne-bres, voltaremos para nossa casa.

— Sendo assim, boa viagem. Por enquanto, peço apenas sua permissãopara levar seu empregado Wamba comigo, caro Cedric. Preciso de alguém parame acompanhar em uma viagem e creio que ele pode ser esta pessoa.

— Não há problema nenhum nisso — respondeu o velho anglo-saxão. —Wamba é fiel e digno. Leve-o consigo e estará protegido.

— Obrigado e, mais uma vez, viajem em paz.Locksley e seus companheiros insistiram para que o Cavaleiro Negro

pegasse um pouco das coisas adquiridas dentro do castelo, mas ele recusoua oferta.

— Agradeço, mas vocês precisam destas coisas mais do que eu. Ajudei-os por princípios. Nenhum coração inglês há de sofrer enquanto eu puder fazeralguma coisa por ele — disse o cavaleiro.

— Aceite, então, esta corneta. Se precisar de nossa ajuda, toque-a comforça e ouviremos seu som ECOANDO através das árvores — disse Locksley.

O Cavaleiro Negro aceitou e agradeceu. Depois de se despedir, partiulevando Wamba junto com ele. Os dois foram em direção ao mosteiro ondeIvanhoé estava.

— Vou levar Ivanhoé até Cedric, Wamba — disse o Cavaleiro Negro. — Émeu dever fazer a reconciliação entre pai e filho.

Enquanto isso, Rebecca fora levada por Bois-Guilbert até o grande castelodos cavaleiros templários. Desesperado, Isaac resolveu ir até lá para tentar pagarum resgate pela liberdade de sua filha. Ele sabia que os templários tinham umprazer especial em perseguir judeus. Mesmo sabendo que corria o risco de sermorto, foi atrás de Rebecca.

Chegando lá, SUBORNOU um guarda e foi levado à presença do GrandeMestre de todos os templários. Era um homem de barba branca e com bastanteidade, mas seu olhar tinha uma marca forte e IMPIEDOSA.

��ECOANDO: soando, ressoando, repercutindo ou se reproduzindo no ar��SUBORNOU: deu dinheiro para conseguir alguma coisa�� IMPIEDOSA: que não tem piedade

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— O que faz aqui, Isaac de York? — perguntou o velho cavaleiro.— Vim em busca de minha filha.— Sua filha está aqui, no castelo dos templários?— Sim, Grande Mestre. Brian de Bois-Guilbert a seqüestrou durante o

incêndio entre as muralhas de Fronte-de Boef.O Mestre mandou um empregado investigar se o que dizia Isaac era ver-

dade. Não era admitida a presença de mulheres dentro do castelo dos guerreirosdas Cruzadas. Assim que o serviçal voltou com a confirmação dos fatos, o GrandeMestre enfureceu-se.

— Sua filha só pode ser uma bruxa! — gritou. — Ela enfeitiçou Bois-Guilbert!

— Caro Mestre, Rebecca é apenas uma CURANDEIRA. Ela aprendeu a arteda medicina com Míriam, a famosa sábia judia — disse Isaac.

— Míriam, a feiticeira? Míriam morreu na fogueira e é assim que sua filhairá morrer. Ela não pode sair por aí enfeitiçando um cavaleiro do Templo Sagrado.

Isaac foi ESCORRAÇADO do castelo e Rebecca foi chamada à presençado Grande Mestre. Bois-Guilbert também estava lá, juntamente com osPRECEPTORES dos templários.

— Brian de Bois-Guilbert, é verdade que você seqüestrou esta moça etrouxe-a para cá? - perguntou o Grande Mestre.

O jovem guerreiro não respondeu e baixou a cabeça, envergonhado.— Estão vendo? — perguntou o Mestre aos preceptores. — Este não é o

comportamento de um cavaleiro do Templo. Ele foi enfeitiçado por esta bruxa epor isso ela deverá morrer na fogueira!

— Concordo — disse um dos preceptores —, mas acredito que elatenha direito a um julgamento.

Rebecca então foi informada de que seria julgada. Se condenada, morre-ria queimada por ter utilizado seus poderes do além contra um cavaleiro templário.Sem derramar uma lágrima e com o olhar fixo no rosto do Grande Mestre, a docemoça falou:

— Não preciso de um julgamento.— Prefere morrer sem defesa, feiticeira INSOLENTE? — perguntou o Mestre.— Quero ter o direito de me defender através de uma batalha — respon-

deu a moça.

��CURANDEIRA: pessoa que cura sem título nem habilitações�� ESCORRAÇADO: afugentado, expulso, rejeitado�� PRECEPTORES: mestres, mentores, professores�� INSOLENTE: atrevida, arrogante, desaforada, ousada

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— Muito bem — disse o Mestre. — Sou cavaleiro e soldado desde criança.Nunca recusarei uma luta. A senhorita terá no máximo três dias para conseguiralguém disposto a enfrentar Bois-Guilbert. Mesmo enfeitiçado, ele não pode terperdido sua bravura. Se Bois-Guilbert vencer, a fogueira estará pronta para queimá-la. Caso contrário, o que eu acho muito improvável, nós a libertaremos.

— Preciso escrever uma carta a meu pai, pois é ele quem deverá conseguirum defensor para mim.

— O velho Isaac? — perguntou o Mestre, dando uma boa gargalhada. —Está bem, escreva a carta. Vamos ver que tipo de homem aquele judeu irá arrumarpara lutar contra um cavaleiro do Templo.

10. Uma importante revelação

Dentro do mosteiro, Ivanhoé recuperou prontamente suas forças. Despe-diu-se dos monges e, tendo Gurth como companhia, partiu para a floresta. Umdos monges ainda tentou alertá-lo:

— Meu jovem, você não deve sair assim. Lembre-se de que o CavaleiroNegro virá buscá-lo.

— Agradeço a preocupação, amigo, mas é justamente porque temo pelasegurança do Cavaleiro Negro que desejo ir à sua procura. Sinto que ele possaestar EM APUROS.

De fato, Ivanhoé tinha certa razão em se preocupar. A caminho do mos-teiro, Wamba e o Cavaleiro Negro foram atacados por sete homens vestidos comarmaduras. Wamba caiu do cavalo e fingiu-se de morto, deixando o CavaleiroNegro sozinho na luta contra os atacantes. Espadas tocavam-se no ar, cavalosrelinchavam, enquanto o bravo homem de negro abatia um a um, tentando aomesmo tempo ESQUIVAR-SE dos golpes que sofria.

Wamba aos poucos arrastou-se para trás de uma árvore e viu a corneta,presente dos ingleses da floresta, jogada no chão. Ela provavelmente caíra emfunção da luta. Imediatamente, tocou-a com toda força.

Cerca de três minutos depois, um verdadeiro exército comandado pelojovem Locksley apareceu para ajudar o Cavaleiro Negro. O ataque terminou emsegundos, com seis homens mortos e um bastante machucado.

— Você está bem, Cavaleiro Negro? — perguntou Locksley.

��EM APUROS: em situação difícil, em angústia, em miséria�� ESQUIVAR-SE: escapar, livrar-se, safar-se

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— Sim, só um pouco cansado. Agora me ajudem a tirar o elmo desteCavaleiro Azul ferido aos meus pés. Quero saber quem me atacou assim, derepente, no meio da mata.

O único dos atacantes sobreviventes, e que vestia uma armadura todaazulada, era Waldemar Fitzurse, antigo amigo do Cavaleiro Negro.

— Meu Deus, como pude ser atacado pelas costas desta maneira? Meupróprio amigo tentou me matar...

— Vamos acabar com ele! — gritou uma voz, que logo se transformou emum coro.

— Esperem! — pediu o Cavaleiro Negro. — Dêem a este homem um cavaloe deixem-no ir. Suma daqui, Fitzurse, desapareça da Inglaterra e nunca mais ponhaos pés em solo inglês.

Os homens de Locksley não concordaram e estavam prestes a acabar coma vida do traidor, quando o Cavaleiro Negro gritou:

— Ordeno que cumpram a minha vontade, cavaleiros. Não é com maissangue que resolveremos esta situação.

— E quem é você para nos dar ordens? — perguntou uma voz.Nesta hora, o Cavaleiro Negro tirou o capacete, revelando:— Sou Ricardo Coração de Leão, o rei da Inglaterra.Todos se ajoelharam e deixaram o Cavaleiro Azul partir.— Também tenho uma revelação a fazer, grande rei — disse Locksley.— Então faça-o, amigo — pediu o rei Ricardo.— Meu verdadeiro nome é Locksley, mas sou conhecido na floresta como

Robin Hood, o rei dos ladrões.— Sim, já ouvi falar de Robin Hood, aquele que rouba dos ricos para dar

aos pobres. Não sou totalmente a favor dos seus métodos, Robin Hood, masreconheço que, como eu, você também quer o bem-estar e a felicidade dosingleses. Garanto-lhe que não sofrerá nenhuma punição enquanto eu for o rei daInglaterra. Juntos, conseguiremos REAVER a paz neste reino.

Neste momento, Ivanhoé apareceu galopando a toda velocidade junto comGurth. Eles ouviram o som das espadas e da corneta de longe e vieram o maisrápido que puderam.

— O que está acontecendo? Rei Ricardo? O senhor é o Cavaleiro Negro?— perguntou o jovem, atônito.

Depois de tudo explicado, o rei aceitou fazer uma refeição junto com os homensque o salvaram. Reunidos, fizeram uma fogueira, assaram um porco-do-mato, cantarame contaram histórias da floresta. Ivanhoé, ainda confuso com as novidades, perguntou:

�� REAVER: recobrar, recuperar

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— Rei Ricardo, por que o senhor ainda não foi tomar seu lugar no palácio real?— Caro Ivanhoé, é preciso ter paciência. Estou aguardando o momento

certo de derrubar os traidores que me tiraram o poder. Entre eles está meu irmão,um homem que envergonha toda a nação inglesa com sua tirania. Não pretendofazer mais ninguém pegar em armas, por isso espero a hora adequada para retomaro trono que me pertence.

11. O perdão

Na manhã seguinte, o Rei Ricardo Coração de Leão, Ivanhoé, Gurth eWamba despediram-se de Robin Hood e de seus homens para dirigirem-se aocastelo de Coningsburgh, pertencente à família de Athelstane.

Ao entrarem no local onde o antigo noivo de Rowena estava sendo vela-do, viram diversas famílias anglo-saxãs tradicionais. Algumas pessoas choravam,outras consolavam os pais do jovem morto. Athelstane estava dentro de um cai-xão aberto, no centro da sala principal do castelo.

O rei colocou sua armadura de Cavaleiro Negro e ordenou que Ivanhoécobrisse a cabeça com um capuz. Entre os anglo-saxões poderia haver um ououtro normando DELATOR, que fosse contar ao príncipe sobre a presença dofilho de Cedric no velório.

Depois de percorrerem toda a parte térrea do castelo de Coningsburgh,o rei finalmente localizou Cedric e Rowena sentados em um sofá de uma saletaCONJUGADA.

— Cavaleiro Negro, o senhor veio antes do que imaginávamos! É umapena não poder recebê-lo em minha própria casa. Seja bem-vindo a Rotherwood.

— Vim pedir o favor do qual lhe falei dias atrás.— Por favor, peça o que quiser.O Cavaleiro Negro então tirou o capacete e mostrou sua verdadeira iden-

tidade, causando enorme espanto em Cedric e Rowena.— É na verdade um pedido do próprio rei da Inglaterra este que tenho

a lhe fazer.— Tenho certeza de que o atenderei imediatamente, Majestade — disse

Cedric, REVERENCIANDO o rei.

��DELATOR: aquele que delata, denuncia��CONJUGADA: ligada, unida (no caso, à sala principal)�� REVERENCIANDO: fazendo reverência, saudando, cumprimentando

respeitosamente, obedecendo, acatando, respeitando

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O rei então aproximou-se do jovem de cabeça coberta e tirou-lhe o capuz.— Desejo que perdoe seu filho, Cedric. É minha obrigação dizer-lhe que

o jovem Wilfred de Ivanhoé é um dos mais bravos guerreiros que já existiram. Elenão pode ser punido por ter ajudado o rei de seu país nas Cruzadas à Terra Santa.

Com lágrimas nos olhos, Cedric falou:— Majestade, mas... e os normandos...? Eles vão me matar. Jurei que

nunca mais aceitaria meu filho de volta. Eles consideram Ivanhoé um traidor.— Estou mais perto de voltar ao trono do que imagina, caro Cedric. Não

é preciso temer nenhuma REPRESÁLIA por parte daqueles que me derrubaram,pois eles em breve serão DEPOSTOS.

Rowena chorou de alegria ao ver Ivanhoé são e salvo. Cedric correu paraabraçar o filho RENEGADO durante tanto tempo.

— Perdoe-me, pai — implorou Ivanhoé.— Tem meu perdão e é de coração aberto que o concedo, filho —

respondeu Cedric.Neste momento, ouviu-se um grito vindo da sala principal. Algumas mu-

lheres desmaiaram de susto, pois ninguém menos do que Athelstane levantou docaixão e pôs-se a caminhar pelo castelo sem entender o que estava acontecendo.

— Meu Deus! — exclamou Wamba. — Eu mesmo o vi cair morto depoisdo golpe que recebeu de Bois-Guilbert.

Atordoado, Athelstane explicou que a espada de Bois-Guilbert havia pegode raspão em sua cabeça, jogando-o violentamente ao solo. Todos deduziramque ele tinha ficado desacordado durante três dias, até a hora em que se viudeitado em um caixão no meio da sala de sua casa.

Emocionados, os velhos pais do rapaz o abraçaram. Outros convidadosabriram garrafas de vinho para comemorar o fato de não precisarem mais velarninguém. Athelstane foi apresentado ao rei Ricardo, a quem jurou fidelidade.

Ao ver Rowena e Ivanhoé perto um do outro, Athelstane foi falar comCedric:

— Amo demais Rowena, por isso mesmo quero a felicidade dela. Seique ela gosta de Ivanhoé e que seríamos ambos infelizes se nos casássemos.

— Caro Athelstane, prometi a mão de Rowena a você — disse Cedric.— Desde que acordei, pareço ter me dado conta de muitas coisas. Não

quero me casar com Rowena. Ela e Ivanhoé pertencem um ao outro.

�� REPRESÁLIA: vingança, retaliação, desforra��DEPOSTOS: tirados de posição elevada, postos abaixo, destituídos do cargo�� RENEGADO: rejeitado, desprezado

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Em meio às comemorações do retorno do jovem anglo-saxão à vida,ouviu-se uma forte batida na porta do castelo. Um empregado abriu aporta e a figura exausta e desesperada de Isaac surgiu diante dosconvidados.

— Vim em busca do cavaleiro Wilfred de Ivanhoé. Minha filha Rebeccacorre perigo — falou, antes de cair desacordado.

Algumas pessoas rapidamente fizeram o velho judeu voltar a sidando-lhe comida e bebida. Depois de explicar tudo ao Rei RicardoCoração de Leão, que agora já havia revelado sua identidade a todos ospresentes, Isaac pediu:

— Por favor, façam alguma coisa. Minha filha será queimada viva se nãose apressarem...

Menos de uma hora depois de o jovem Athelstane ter levantado do cai-xão, Ivanhoé e o rei Ricardo partiram a galope, junto com Isaac, Gurth e Wamba,em direção ao castelo dos templários.

12. Um golpe do destino

Durante o trajeto, Ivanhoé distanciou-se dos outros. Galopou com todas asforças para salvar a donzela que havia cuidado dele com tanta dedicação e a quemele devia sua própria vida. Mesmo assim, quase chegou tarde demais.

No castelo dos templários, havia uma arena formada do lado de fora.Nobres aglomeravam-se em uma pequena galeria. O Grande Mestre estavafinamente vestido, sentado em um pequeno trono montado sobre umpalanque. Rebecca fora colocada perto da fogueira, que estava prestes a seracesa. Cerca de seis ALGOZES vestidos de preto rodeavam-na, como se amoça fosse tentar fugir.

Bois-Guilbert, montado em um belo cavalo, preparava-se para ver sua ama-da morrer. Ele aproximou-se de Rebecca e sussurrou:

— Suba no cavalo. Vamos fugir daqui, só você e eu.Indignada, a jovem disse apenas:

— Sou inocente!O Grande Mestre, depois de esperar uma hora por alguém disposto a en-

frentar Bois-Guilbert, ordenou que todos se preparassem, pois os males da feiti-ceira seriam reparados.

��ALGOZ: pessoa cruel, desumana, que mata ou aflige outras; carrasco

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— Morra, bruxa sem escrúpulo. É com sua vida que pagará por ter se metidocom um cavaleiro do Templo Sagrado.

Rebecca não derramou uma lágrima. Olhou para o Mestre com olhar desa-fiador, o que o deixou ainda mais enfurecido. De repente, um arauto tocou suacorneta e um cavaleiro adentrou a arena, ESBAFORIDO.

— Apresente-se — ordenou o Grande Mestre.— Sou Wilfred de Ivanhoé, filho de Cedric de Rotherwood. Vim a pedido

de Isaac de York, lutar pela vida de sua filha Rebecca.Um sorriso iluminou o rosto da moça. Bois-Guilbert aproximou-se e disse:— Recuso-me a lutar contra um cavaleiro cansado, cujo cavalo está obvia-

mente em péssimas condições.— Lute, seu covarde. Lute ou acabarei com sua reputação! — gritou Ivanhoé.Sem saída e enlouquecido de raiva por ter sido chamado de covarde,

Bois-Guilbert rapidamente se posicionou na arena. O Grande Mestre levantou osbraços e mandou que soassem as cornetas.

— Lutem cavaleiros! — gritou ele, jogando no chão as luvas de Rebecca,gesto que significava o sinal para o início da disputa.

Ao se chocarem no centro da arena, um golpe levou o exausto Ivanhoéao chão. Rebecca deu um grito de desespero. Seu berro foi seguido de outromaior, vindo desta vez da multidão que assistia à luta. Estranhamente, Bois-Guilbert perdera o controle das RÉDEAS e, apesar de não ter sido sequer tocadopela lança de seu oponente, caiu desacordado no centro do solo da disputa.

Nesta hora, o Cavaleiro Negro adentrou o local a cavalo e aproximou-se dotemplário caído.

— Este homem está morto — disse ele, enquanto ajudava Ivanhoé ase levantar.

— Quem é você? — gritou o Grande Mestre. — Com que direito interfereneste duelo?

— Sou Ricardo, rei da Inglaterra! — disse ele, tirando o elmo que cobriaseu rosto. — Seu homem morreu aparentemente de um ataque cardíaco, poisnão há nenhum tipo de ferimento em seu corpo.

O Grande Mestre ficou sem ação diante do rei, que foi logo ordenando:— Soltem a moça!Rebecca correu para os braços do pai, que só agora conseguira chegar

ao castelo.

�� ESBAFORIDO: ofegante, com a respiração cansada��RÉDEA: correia para guiar os cavalos

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— Grande Mestre dos templários, — continuou o rei — o senhor e seushomens têm apenas duas opções: ficam na Inglaterra sob minhas ordens ou somemdaqui para sempre.

O Mestre resolveu partir. O Rei Ricardo Coração de Leão recebeu gritos de“Viva o rei!” e retomou o trono naquele mesmo dia. Seu irmão, o príncipe John,foi EXILADO juntamente com todos os homens que faziam parte do Conselho.

A partir daquele dia, o Rei Ricardo declarou que todos os que vivessemna Inglaterra teriam que respeitá-lo. Normandos e anglo-saxões deveriamviver em paz, sem mágoas e sem nenhum tipo de escravidão. Além disso,todos poderiam falar a língua que escolhessem. Tanto o inglês como o francêsseriam permitidos.

13. O casamento e a despedida

Depois de sua heróica atitude de lutar pela vida de Rebecca, Ivanhoé, aolado do rei, também foi aplaudido pela multidão que assistiu à curta batalha nocastelo dos templários. Em função de sua lealdade e bravura, Ricardo Coração deLeão tinha um APREÇO especial pelo jovem cavaleiro. Por causa disso, prometeua Ivanhoé que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para convencer Cedric apermitir o casamento dele com Rowena.

Dias depois de Ricardo reassumir sua posição de rei da Inglaterra, Cedricfoi chamado ao palácio real.

— Sente-se, meu caro Cedric — convidou o rei Ricardo, ao receber ovelho anglo-saxão em uma sala do castelo.

— O que o senhor, um homem tão ocupado, agora que voltou ao poder,pode querer com uma pessoa comum como eu, Majestade? — perguntou Cedric.

— Tenho um pedido a lhe fazer.

— Mas Majestade, eu já perdoei meu filho. Eu o fiz de coração.

— Sim, trata-se mais uma vez de seu filho Ivanhoé. É meu dever ajudar opovo desta nação a ser feliz. Por isso, chamei-o aqui.

— Não estou entendendo, Majestade.

— Ivanhoé e Rowena se amam. Sei que a bela moça, sua protegida, temum compromisso com o jovem Athelstane, mas eu, como rei da Inglaterra, autori-

�� EXILADO: expatriado, desterrado, banido, degredado��APREÇO: consideração, estima

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zo-a a desfazer este compromisso, se é que minha autorização vale alguma coisaem questões morais como essa.

— Rei Ricardo, o senhor está me pedindo...

— Sim, Cedric, gostaria de ver Ivanhoé e Rowena casados. Ivanhoé seráum cavaleiro da guarda real e eu mesmo faço questão de apadrinhar a união entreeles, se você assim o permitir.

— Mas ... Athelstane...

— Ele não quer mais se casar com Rowena, Cedric. E pelo que sei, jádisse isso a você. Permita que todos sejam felizes, aceite meu pedido.

Cedric curvou-se diante do rei e, cerca de um mês depois, Rowena, abela “Rainha do Amor e da Beleza”, e o corajoso cavaleiro Wilfred de Ivanhoécasaram-se em uma linda cerimônia. A presença do rei e de outros nobresnormandos e anglo-saxões deu ainda mais POMPA às festividades.

Dois dias depois do casamento, Rowena recebeu a visita de Rebecca emsua casa.

— Entre, minha cara Rebecca. Que bom que você veio. Há tempos desejoretribuir, de alguma forma, toda a dedicação que teve com meu marido.

— Vim me despedir — disse Rebecca.

— Despedir-se? Para onde vai?

— Meu pai tem um irmão na Espanha. Vamos para lá. Este país não éseguro para minha gente.

— Não diga isso, Rebecca. Uma pessoa dedicada como você, que salvouo cavaleiro Ivanhoé da morte, não precisa temer nada. Além disso, o rei desejaque todos os povos se reconciliem.

— Meu pai e eu estamos de partida.

— Fique, Rebecca. Converta-se ao cristianismo. Eu mesma lhe ensinareios PRECEITOS de nossa religião. Nós duas poderemos ser como irmãs.

— É demais o que me pede, senhora Rowena. Não posso mudar minhafé como quem troca de roupa. A partir de agora, vou dedicar a vida aosnecessitados. Cuidarei dos doentes, darei comida aos que sofrem de inanição,consolarei os infelizes. Diga isso ao cavaleiro Ivanhoé, se por acaso ele perguntarsobre a pessoa que salvou da morte na fogueira.

��POMPA: luxo, gala�� PRECEITO: ensinamento, doutrina

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Rowena ainda tentou argumentar, mas Rebecca partiu como se o vento ativesse levado em uma única RAJADA. Sua visita foi tão rápida, que deixou Rowenasem ação. Ivanhoé também ficou impressionado com a atitude de Rebecca e seupai, mas não havia nada que ele pudesse fazer.

Os obstáculos que durante tanto tempo separaram Rowena e Ivanhoéacabaram por unir ainda mais o jovem casal. Ligados por profundos laços deamor e de carinho, os dois foram muito felizes. Cedric continuou morando emRotherwood. Os amigos Wamba e Gurth trabalhavam para ele.

Ivanhoé tornou-se um importante cavaleiro do rei. Ele poderia terrecebido ainda mais medalhas e menções honrosas, se o bravo Ricardo Coraçãode Leão não tivesse morrido, ainda jovem, na batalha do Castelo de Chaluz.Infelizmente, a morte do grande rei também pôs fim a todos os bons projetosiniciados por ele.

��RAJADA: aumento repentino, temporário e forte da intensidade com que ovento sopra; lufada

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Roteiro de Leitura

1) Sir Walter Scott era um escritor do Romantismo. Com a ajuda de seu (sua)professor(a), faça uma pequena pesquisa e descubra as características dessaescola literária.

2) No livro, Ivanhoé foi punido pelo pai por ter lutado ao lado do rei nasCruzadas até a Terra Santa. Junto com seu (sua) professor(a) de História,pesquise mais sobre essa guerra. Por que ela aconteceu? Como foi? Quaisas conseqüências que a guerra trouxe para os povos envolvidos nela?

3) Os judeus Isaac e Rebecca eram discriminados na Inglaterra. Por que issoacontecia?

4) Em que outra época da História os judeus sofreram uma grande discrimina-ção na Europa?

5) Como são os costumes da religião judaica? Investigue algumas característi-cas das crenças e hábitos dos judeus fazendo uma entrevista com um co-lega ou amigo que tenha descendência judaica.

6) Rowena deveria casar-se com Athelstane porque ela estava prometida parao rapaz. Você já ouviu falar de lugares onde, ainda hoje, existam casamen-tos arranjados pelos pais? Em que lugares do mundo isso acontece? Oque você acha disso?

7) Por que você acha que Rebecca cuidou de Ivanhoé? Ela estava simples-mente exercendo seu papel de curandeira ou ela gostava de Ivanhoé? Jus-tifique sua resposta com passagens do próprio livro.

8) O príncipe John era considerado um tirano. Compare a atitude dele detomar o poder e prender o irmão com o período de ditadura no Brasil eem outros países da América Latina. Quais as diferenças e semelhançasentre os dois acontecimentos?

9) Na aula de Geografia, faça um mapa da Inglaterra em papel vegetal e des-cubra os lugares por onde os personagens deste livro passaram.

10) Rebecca seria morta na fogueira se não tivesse sido salva em uma batalha.Joana D’Arc foi uma personagem famosa da história que morreu na foguei-ra. Por que ela morreu assim? Procure filmes e livros que falem sobre ela eapresente uma pequena explicação para a classe.

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11) No final do livro, o príncipe John foi exilado. Algumas pessoas famosas noBrasil, como os cantores e compositores Chico Buarque e Gilberto Gil,também foram exiladas. Por que e quando isso aconteceu? Para que paíseseles foram? Descubra alguma música de um desses dois brasileiros que foifeita durante o período do exílio que eles viveram.

12) Gurth e Wamba eram, respectivamente, um guardador de porcos e umvalete que se transformaram em “guarda-costas”. Quais as característicascomuns entre esses dois personagens?

13) Robin Hood roubava dos ricos para dar aos pobres. O que você achadisso? O rei estava certo em não puni-lo por roubo? Depois de refletirsobre essa questão, escreva uma pequena redação e leia-a para seus colegas.

14) Apesar de muito tempo ter se passado, os territórios da Palestina e deJerusalém ainda não estão em paz. Quais são os principais conflitos queacontecem nessas regiões?

15) Com qual personagem você se identificou mais? Por quê?

16) Escolha um trecho do livro que você tenha gostado e, em grupo, faça umapequena peça de teatro.

17) Escreva com suas próprias palavras o significado das seguintes palavras:

tirania:_______________________________________________________________

escrúpulo:_____________________________________________________________

18) Como o povo inglês sentia-se com a invasão normanda? Pensando em ques-tões culturais como linguagem e costumes e em questões de cidadania,como trabalho e liberdade de expressão, na sua opinião, qual a pior coisaque um povo escravizado enfrenta?

19) Qual foi a estratégia que o Rei Ricardo usou para retomar o poder? Se vocêestivesse no lugar dele, qual seria a sua estratégia?

20) Por que você acha que o Rei Ricardo era chamado de “Coração de Leão”?Pensando nas suas qualidades pessoais, invente um apelido semelhantepara si próprio. Use sua criatividade.

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Sir Walter Scott

BIOGRAFIA DO AUTOR

Walter Scott nasceu em Edimburgo, na Escócia, no dia 15 de agosto de

1771. Formou-se em Direito na própria cidade natal e trabalhou como advogado

durante vários anos, tornando-se, inclusive, juiz de Selkirkshire. Quando criança,

contraiu poliomielite e ficou permanentemente manco da perna esquerda.

Embora tenha ficado conhecido como um dos maiores romancistas eu-

ropeus, no início de sua carreira literária, Scott fez muitas traduções de poemas e

textos em prosa do alemão para o inglês. Muitos desses trabalhos traduzidos

estavam relacionados com um tema de muito interesse de Scott: as tradições da

fronteira entre Inglaterra e Escócia.

Seu primeiro livro totalmente original foi publicado em 1805 sob o título

de The Lay of the Last Minstrel. O livro foi um sucesso de crítica e de vendas. Em

1808, publicou Marmion; em 1810, The Lady of the Lake; e, em 1814, publicou

Waverly, um romance de grande sucesso, que gerou o lançamento de várias outras

obras subseqüentes.

Todos os seus romances, inclusive Waverly, foram publicados de forma

anônima. A verdadeira identidade do autor só foi revelada em fevereiro de 1827,

em uma manifestação pública. Mesmo depois da revelação, muitos de seus livros

eram publicados sob autoria de “O Autor de Waverly”.

Scott escreveu livros sobre as tradições escocesas em geral, mas

também foi um autor muito favorável à existência de um Reino Unido. Alguns

de seus livros mais famosos, como este, Ivanhoé (1819), tratam de temas da

história da Inglaterra.

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Walter Scott morreu no dia 21 de setembro de 1832, na cidade de

Abbotsford. O Edinburgh’s Scott Monument, monumento inaugurado em sua

homenagem em 1844, e a estação de trem com o nome de Waverly Station

demonstram a enorme tradição de Scott na Inglaterra vitoriana. Foi ele que definiu

a imagem da Escócia no século XIX. Scott ajudou a inventar, até mesmo, a tradição

do tecido quadriculado nos kilts (as saias usadas pelos escoceses) na época da

visita de George IV a Edimburgo, em agosto de 1822.

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