tolkien - sobre histórias de fadas

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    Este livro rene dois textos fundamentais para

    compreender como e em que circunstncias surgiu o

    universo ficcional de J.R.R. Tolkien. Escritos em uma

    poca em que O Senor das !nis come"ava a ganar

    forma# o ensaio $So%re &ist'ria de (adas) c o conto

    $(ola por *iggle) comp+em um amplo panorama da

    vis,o de Tolkien so%re a literatura# a fantasia e a

    cria",o de sua pr'pria o%ra. *o ensaio que d- nome a

    esta edi",o# o autor discute a naturea das camadasist'rias de fadas e qual seria sua fun",o na

    sociedade contempornea. J- $Tola por *iggle)# tido

    como uma met-fora da vida e da o%ra de Tolkien# o

    retrato de um artista que tenta a muito custo transpor

    uma vis,o para a tela# mas freq/entemente

    interrompido pelas conting0ncias do dia1a1dia.

    Somados# os dois textos oferecem uma resposta ao

    aparente enigma2 por que um prestigiado professor de

    Oxford# que poderia ter dedicado seu tempo a estudos

    acad0micos# passou mais de meio sculo criando algo

    como um inundo imagin-rio.

    $3m livro que deve ser lido 4...5# explica cm

    profundidade a naturea da arte e 6ustifica o sucesso

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    de J.R.R. Tolkien.)

    Te 7am%ridge Revie8

    $3ma vis,o esclarecedora ainda que

    inevitavelmente controversa do conto de fadas e de

    sua fun",o.)

    *e8 9ork Times

    O que s,o ist'rias de fadas: ;ual a sua origem:

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    O Senhor dos Anis, alm de praticamente inaugurar

    um g0nero# elevou1o a um impressionante n?vel de

    popularidade# inscrevendo seu nome de forma

    definitiva entre os imortais da literatura universal.

    TT3KOORILI*!K2 Tree and Leaf

    7!

    TR!M3NO2 Ronald PQrmseEMINO2 !lexandre Hoide

    MI!LR!>!NO2 !na Solt

    REISO2 Kucas 7arrasco e Kudmilla Oliveira

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    NOTAINTRODUTRIA

    Estas duas coisas# Sobre Histrias de Fadas eFolha por Niggle, est,o aqui reimpressas e pu%licadas

    em con6unto. J- n,o s,o f-ceis de se o%ter# mas ainda

    podem ser consideradas interessantes# em especial

    por aqueles a quem O Senhor dos Anis deu algum

    praer. !pesar de uma ser um $ensaio) e a outra um

    $conto)# est,o relacionadas2 pelos s?m%olos da rvore

    e da (ola e pelo fato de am%as se referirem# de

    formas diferentes# ao que o ensaio cama de

    $su%cria",o). Tam%m foram escritas no mesmo

    per?odo D@AC1CAG em que O Senhor dos Anis

    come"ava a se desenvolver e a desdo%rarperspectivas de la%uta e explora",o numa terra ainda

    desconecida# t,o assustadora para mim quanto para

    os o%%its. >ais ou menos =quela poca av?amos

    cegado a Hri# e eu n,o tina muito mais no",o do

    que eles so%re o que fora feito de Landalf ou quem

    era

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    concisa# foi apresentado na 3niversidade de St.

    !ndre8s em @AC@. !ca%ou sendo pu%licado# com

    uma pequena amplia",o# como um dos itens de

    Essays Presented to Charles Willias, Oxford

    3niversitQ

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    mar"o de @ACA2 &umpreQ 7arpenter# -iography(p( @[email protected]

    SOBREHISTRIASDEFADAS

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    do que um explorador errante Dou transgressorG nessa

    terra# ceio de admira",o# mas n,o de informa"+es.

    @. *o original Fa.rie, cu6a sonoridade remete a $fair) D$%elo)# em ingl0sG.

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    essas perguntas 1 ou ao menos es%o"os de respostas

    que pude o%ter 1 com %ase principalmente nas

    pr'prias ist'rias# as poucas que cone"o dentre o

    seu grande nmero.

    HISTRIADEFADAS

    O que uma ist'ria de fadas: *este caso voc0

    se voltar- em v,o para o */ford English "i0tionary(

    Ele n,o contm refer0ncia = com%ina",o fairy1story, e

    n,o auxilia muito so%re o assunto fadas em geral. *o

    Suplemento# fairy1tale2est- registrado desde o ano de

    @BWV# e seu sentido principal est- indicado como DaGum conto so%re fadas# ou em geral uma lenda de

    fadas# com desdo%ramentos de sentido# D%G uma

    ist'ria irreal ou incr?vel# e DcG uma falsidade.

    F. 7onto de fadas D*. E.G

    Os dois ltimos sentidos o%viamente tornariam

    meu t'pico desanimadoramente vasto. >as o primeiro

    demasiado restrito. *,o para um ensaio 1 amplo o

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    %astante para diversos livros# mas restrito demais

    para dar conta do uso real. Em especial se aceitarmos

    a defini",o de fadas do lexic'grafo2 $seres

    so%renaturais de tamano diminuto# que a cren"a

    popular sup+e possu?rem poderes m-gicos e terem

    grande influ0ncia so%re os afaeres dos omens# para

    o %em ou para o mal).

    Sobrenat#ral uma palavra perigosa e dif?cil em

    qualquer um de seus sentidos# se6a mais amplo oumais estrito. >as dificilmente poder- ser aplicada =s

    fadas# a n,o ser que sobre se6a considerado

    meramente um prefixo superlativo.

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    em grande parte um produto sofisticado da fantasia

    liter-ria.UTalve se6a natural que na Inglaterra# onde o

    amor pelo delicado e fino freq/entemente ressurgiu

    na arte# a fantasia se volte# nesta quest,o# para o

    gracioso e diminuto# assim como na (ran"a ela foi =

    corte e se co%riu de p'1de1arro e diamantes. icael MraQton desempenaram seu papel.]

    Nyphidia, de MraQton# um ancestral daquela longa

    linagem de fadas florais e duendes irrequietos com

    antenas que tanto me desagradavam quando crian"a

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    e que meus filos# por sua ve# detestavam. !ndre8

    Kang tina sentimentos semelantes. *o pref-cio do

    Lila0 Fairy -oo3B ele se refere aos contos de autores

    contemporneos enfadonos2 $sempre come"am com

    um garotino ou uma garotina que sai ao encontro

    das fadas dos narcisos# das gard0nias e das flores de

    macieira 4...5 Essas fadas tentam ser engra"adas e

    fracassam# ou tentam faer um serm,o e t0m 0xito).

    U. (alo da evolu",o antes do aumento do interesse pelo folclore de

    outros pa?ses. !s palavras inglesas# como elf por muito tempo foram

    influenciadas pelo franc0s Ddo qual derivaram fay e fa.rie, fairy'4 porm#

    posteriormente# por terem sido usadas em tradu"+es# tanto fairy como

    elf adquiriram muito da atmosfera dos contos alem,es# escandinavos e

    celtas# e muitas caracter?sticas dos h#ld#1fl3, dos daoine1sithe e dos

    tyl&yth teg(W.

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    de MraQton# considerada uma ist'ria de fadas Duma

    ist'ria so%re fadasG# uma das piores 6- escritas. O

    pal-cio de O%eron tem paredes de pernas de arana#

    !nd 8indo8s of te eQes of cats# !nd for te

    roof# instead of slats# Is covered 8it te 8ings of

    %ats.

    . E 6anelas de olos de gato# \ E o telado# sem sarrafos# \ X co%erto de

    asas de morcego. D*. T.G

    O cavaleiro a%# uma

    pulseira de olos de formiga e marca um encontro

    numa flor de pr?mula silvestre. >as a ist'ria contada

    em meio a toda essa lindea um o%tuso conto deintriga e astutos intermedi-rios. O galante cavaleiro e

    o marido furioso caem no atoleiro# e sua ira

    acalmada por um gole das -guas do Ketes.ATeria sido

    melor que o Ketes engolisse o caso todo. O%eron#

    >a% e

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    A. *a mitologia cl-ssica# o rio do inferno# cu6a -gua provocava o total

    esquecimento do passado. D*. E.G

    Fairy, como su%stantivo mais ou menos

    equivalente a elfo, uma palavra relativamente

    moderna# quase n,o usada antes do per?odo Tudor. !

    primeira cita",o no */ford "i0tionary Da nica antes

    de @UWVG significativa. X do poeta Lo8er2 as he &ere

    a faierie(@V >as n,o foi isso que Lo8er disse. Ele

    escreveu as he &ere offaierie, $como se tivesse vindo

    de (a_rie 4o Helo Reino5). Lo8er estava descrevendo

    um 6ovem galante que %usca enfeiti"ar os cora"+es

    das donelas na igre6a.

    @V. $7omo se fosse uma fada 8faierie9) D*. T.G

    &is croket kem%d and tereon set ! *ouce 8it

    a capelet# Or elles one of grene leves Zic late com

    out of te greves# !l for e solde seme freiss

    !nd tus e loket on te fleiss# Rit as an auk

    8ic at a site 3pon te foul ter e scal lite#

    !nd as e 8ere of faierie &e sce8et im tofore ere

    Qe.@@`

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    @@. 7onfessio !mantis# v. BV]W ff.

    ` Seu caco penteado e nele est- posta \ 3ma fivela com um diadema#

    \ Ou uma de folas verdes \ Recm1tiradas dos %osques# \ Tudo para eleparecer vigoroso E assim ele contempla a carne# \ 7omo um falc,o que

    fa mira \ *a ave onde vai pousar# \ E como se tivesse vindo do Helo

    Reino \ Exi%e1se diante dos seus olos. D*. T.G

    Este um 6ovem de sangue e ossos mortais# mas

    fornece uma imagem muito melor dos a%itantes da

    Terra dos Elfos do que a defini",o de $fada) em que

    foi colocado por um duplo equ?voco.

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    do que a

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    !s narrativas que de fato se ocupam

    principalmente de $fadas)# isto # de criaturas que na

    linguagem moderna tam%m poderiam ser camadas

    de $elfos)# s,o relativamente raras e# em geral# n,o

    muito interessantes. ! maioria das %oas $ist'rias de

    fadas) trata das a%ent#ras dos omens no Reino

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    Ca%aleiro 6erde um exemplo admir-vel dessa

    seriedade.

    @U. er mais adiante Dp. ]VG.

    >as# mesmo que apliquemos apenas esses

    limites vagos e mal definidos# fica claro que muitos#

    at os entendidos em tais assuntos# usaram de forma

    muito descuidada o termo $conto de fadas). Hasta%ater os olos nos livros recentes que afirmam ser

    cole"+es de $contos de fadas) para ver que ist'rias

    so%re fadas# so%re a %ela fam?lia em qualquer uma de

    suas casas# ou mesmo so%re an+es e duendes# s,o

    apenas uma pequena parte de seu contedo. Isso#

    como vimos# era de se esperar. >as esses livros

    tam%m cont0m muitas narrativas que n,o usam nem

    mesmo resvalam o Helo Reino# e que na verdade nem

    deveriam ser inclu?das.

    Marei um ou dois exemplos de expurgos que eu

    realiaria. Isso refor"ar- o lado negativo da defini",o.Tam%m se ver- que conduir- = segunda pergunta2

    quais s,o as origens das ist'rias de fadas:

    O nmero de cole"+es de ist'rias de fadas

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    coisas francesas# como O Lato de -otas, Cinderela ou

    Chape#?inho 6erelho( !lgumas pessoas poder,o

    lem%rar1se primeiro dos Contos de :ri(

    @W. $Kivro de (adas !ul) D*. T.G

    >as o que dier so%re a apari",o de @a

    6iage a Lillip#t no -l#e Fairy -oo3 Eu diria que essa

    narrativa n7o uma ist'ria de fadas# nem como oautor a conce%eu nem como aparece $condensada)

    ali pela srta. >aQ Pendall. Est- totalmente deslocada

    ali. Temo que tena sido inclu?da simplesmente

    porque os liliputianos s,o pequenos# diminutos at 1 a

    nica ra,o pela qual s,o not-veis. >as a pequene#

    no Helo Reino como em nosso mundo# apenas um

    acidente. Os pigmeus n,o est,o mais pr'ximos das

    fadas do que os patagnios. *,o excluo essa ist'ria

    por causa de sua inten",o sat?rica2 existe s-tira#

    sustentada ou intermitente# em narrativas que s,o

    indu%itavelmente ist'rias de fadas# e a s-tira muitasvees pode ter sido intencional em contos tradicionais

    nos quais o6e n,o a perce%emos. Excluo1a porque o

    ve?culo da s-tira# por mais que se6a uma inven",o

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    %rilante# pertence = classe das ist'rias de via6antes.

    Tais narrativas relatam muitos prod?gios# mas s,o

    prod?gios para ver neste mundo mortal# em alguma

    regi,o do nosso pr'prio tempo e espa"o somente a

    distncia as oculta. Os contos de Lulliver n,o t0m

    mais direito de entrada do que as narrativas do Har,o

    de >/ncausen# ou# digamos# do que *s Prieiros

    Hoens na L#a ou ! 5B#ina do Tepo( *a verdade#

    os Eloi e os >orlocks teriam mais direitos do que osliliputianos. Estes s,o simplesmente omens vistos de

    cima# sarcasticamente# do alto do telado. Eloi e

    >orlocks vivem muito longe# num a%ismo de tempo

    t,o profundo que lan"a um encantamento so%re eles.

    E# se s,o nossos descendentes# podemos recordar que

    outrora um antigo pensador ingl0s afirmou que os

    ylfe, os pr'prios elfos# descendiam de !d,o atravs de

    7airn.@] Esse encanto da distncia# em especial do

    tempo distante# s' enfraquecido pela pr'pria

    >-quina do Tempo# a%surda e inacredit-vel. >as

    vemos neste exemplo um dos principais motivos porque as fronteiras do conto de fadas s,o

    inevitavelmente d%ias. ! magia do Helo Reino n,o

    um fim em si mesma# sua virtude reside em suas

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    opera"+es 1 entre elas est- a satisfa",o de certos

    dese6os umanos primordiais. 3m desses dese6os

    inspecionar as profundeas do espa"o e do tempo.

    Outro Dcomo veremosG entrar em comun,o com

    outros seres vivos. !ssim# uma ist'ria poder- tratar

    da satisfa",o desses dese6os com ou sem a

    interfer0ncia de m-quinas ou de magia# e na medida

    em que tiver sucesso se aviinar- da qualidade de

    ist'rias de fadas e ter- o seu sa%or.

    @].Heo8ulf @@@1@F.

    Em seguida# ap's as ist'rias de via6antes# eu

    tam%m excluiria# ou declararia inadequada# qualquer

    uma que usasse a maquinaria do Sono# do sonar do

    real sono umano# para explicar a aparente ocorr0ncia

    de seus prod?gios. *o m?nimo# ainda que so% outros

    pontos de vista o pr'prio sono relatado fosse uma

    ist'ria de fadas# eu condenaria o todo como algo

    gravemente defeituoso2 como um %om quadro numamoldura desfiguradora. X verdade que o Sono n,o

    aleio ao Helo Reino. *os sonos podem ser li%erados

    estranos poderes da mente. Em alguns deles uma

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    pessoa pode# dentro de certos limites# desfrutar do

    poder do Helo Reino# esse poder que# mesmo

    enquanto conce%e a ist'ria# le d- formas e cores

    vivas diante dos olos. bs vees um sono real pode

    de fato ser uma ist'ria de fadas de tranq/ilidade e

    destrea quase lficas 1 enquanto est- sendo

    sonado. >as# se um escritor desperto le disser que

    seu conto apenas uma coisa imaginada durante o

    sono# ele defraudar- deli%eradamente o dese6oprimordial no cora",o do Helo Reino2 a compreens,o

    do feito prodigioso imaginado# n,o importa a mente

    que o conce%a. >uitas vees di1se que as fadas Dem

    verdade ou mentira# n,o seiG produem ilus+es# que

    enganam os omens com $fantasia)# mas esse um

    assunto %em diferente. E pro%lema delas. Se6a como

    for# tais trapa"as acontecem no interior de narrativas

    em que as pr'prias fadas n,o s,o ilus+es.

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    apresentada como $verdadeira). Em %reve

    considerarei o significado de $verdadeira) nesse

    contexto. >as# visto que a ist'ria de fadas trata de

    $maravilas)# ela n,o pode tolerar qualquer moldura

    ou maquinaria que d0 a entender que toda narrativa

    em que ocorrem uma fic",o ou ilus,o. X claro que o

    pr'prio conto pode ser t,o %om que torne poss?vel

    ignorar a moldura. Ou pode ter sucesso e ser divertido

    como uma narrativa on?rica. S,o assim as ist'rias daAli0e de Ke8is 7arroll# com sua moldura e suas

    passagens de sono.

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    sua pr'pria terra para ent,o le revelar que o sult,o

    de l- estava doente e precisava de um cora",o de

    macaco para curar sua molstia. >as o macaco logrou

    o tu%ar,o e persuadiu1o a voltar# convencendo1o de

    que seu cora",o ficara em casa# pendurado num saco

    numa -rvore.

    ! f-%ula de animais# claro# tem liga",o com as

    ist'rias de fadas. !nimais# p-ssaros e outras

    criaturas muitas vees falam como omens nasverdadeiras ist'rias de fadas. Em parte Dmuitas

    vees pequenaG# esse prod?gio decorre de um dos

    $dese6os) primordiais que est,o pr'ximos ao cora",o

    do Helo Reino2 o dese6o dos omens de se comunicar

    com outros seres vivos. >as a fala dos animais# no

    tipo de f-%ula que se desdo%rou em um ramo

    separado# tem pouca rela",o com esse dese6o# e

    freq/entemente se esquece dele por completo. !

    compreens,o m-gica por parte dos omens das

    linguagens pr'prias dos p-ssaros# dos animais e das

    -rvores# isto o que est- muito mais pr'ximo dosverdadeiros o%6etivos do Helo Reino. >as nas ist'rias

    que n,o envolvem nenum ser umano 1 ou nas

    narrativas em que os er'is e ero?nas s,o animais e

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    os omens e muleres# quando aparecem# s,o

    simples coad6uvantes 1 e principalmente naquelas em

    que a forma animal apenas uma m-scara so%re um

    rosto umano# um artif?cio do satirista ou do pregador#

    nessas ist'rias temos f-%ulas de animais e n,o

    ist'rias de fadas# quer se6am $eynard $aposa, quer

    O Conto do Padre da Freira, quer o r7o Coelho, ou

    simplesmente *s Trs Por#inhos( !s ist'rias de

    Heatrix as Peter $abbit, apesar de conter uma

    proi%i",o# e apesar de existirem proi%i"+es na terra

    das fadas Dcomo provavelmente existem em todo o

    universo# em todos os planos e em todas as

    dimens+esG# continua sendo uma f-%ula de animais.

    @. * Alfaiate de :lo#0ester talve se aproxime mais. Sra( Tiggy&in3leficaria = mesma distncia# n,o fosse pela alus,o de uma explica",o

    on?rica. Eu tam%m incluiria O 6ento nos Salg#eiros entre as f-%ulas de

    animais.

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    Tam%m O CoraD7o do 5a0a0o claramente

    apenas uma f-%ula de animais. Suspeito que sua

    inclus,o num $Kivro de (adas) n,o se deve em

    particular = sua qualidade como entretenimento# mas

    precisamente ao fato de dier que o cora",o do

    macaco foi deixado para tr-s num saco. Isso era

    significativo para Kang# estudioso de folclore# mesmo

    que essa curiosa idia se6a usada somente como

    %rincadeira# porque nesse conto o cora",o do macacoera de fato %em normal e estava no peito dele. !inda

    assim# esse detale claramente apenas um uso

    secund-rio de uma idia antiga e muito difundida no

    folclore que ocorre nos contos de fadas@A1 a idia de

    que a vida ou a for"a de um omem ou de uma

    criatura possa residir em algum outro lugar ou o%6eto#

    ou em alguma parte do corpo Despecialmente o

    cora",oG# que pode ser destacada e escondida num

    saco# ou so% uma pedra# ou num ovo. Em um extremo

    da ist'ria registrada do folclore# essa idia foi usada

    por Leorge >acMonald em sua ist'ria de fadas OCoraD7o do :igante, que retira esse motivo central

    D%em como muitos outros detalesG de contos

    tradicionais %astante conecidos. *o outro extremo#

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    na verdade no que provavelmente uma das mais

    antigas narrativas escritas# ela ocorre no 7onto dos

    "ois r7os no papiro eg?pcio MYOrsignQ. !li o irm,o

    mais mo"o di ao mais velo2

    $&ei de encantar meu cora",o# e ei de coloc-1lo

    no alto da flor do cedro. O cedro ser- derru%ado e

    meu cora",o cair- ao c,o# e tu vir-s %usc-1lo#

    mesmo que passes sete anos %uscando1o mas

    quando o tiveres encontrado p+e1no em um vaso de-gua fria# e em verdade ei de viver.)FV

    >as esse ponto de interesse e compara"+es

    como esta nos conduem = imin0ncia da segunda

    pergunta2 ;uais s,o as origens das $ist'rias de

    fadas): Isso# claro# deve significar a origem ou as

    origens dos elementos fant-sticos.

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    ORIGENS

    *a verdade a pergunta $;ual a origem do

    elemento fant-stico:) nos coloca# em ltima an-lise#

    na mesma indaga",o fundamental. &- entretanto

    muitos elementos nos contos de fadas Dcomo aquele

    cora",o destac-vel# ou mantos de cisne# anis

    m-gicos# proi%i"+es ar%itr-rias# madrastas malvadas eat as pr'prias fadasG que podem ser estudados sem

    atacar essa quest,o principal. Tais estudos porm s,o

    cient?ficos Dpelo menos na inten",oG# s,o ocupa",o de

    folcloristas ou antrop'logos# isto # de pessoas que

    usam as ist'rias n,o como se pretendia que fossem

    usadas# mas como uma fonte da qual possam extrair

    evid0ncias ou informa"+es so%re assuntos que les

    interessam. 3m processo perfeitamente leg?timo por

    si s' 1 mas a ignorncia ou o esquecimento da

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

    34/179

    naturea de uma ist'ria Dcomo coisa contada por

    inteiroG muitas vees levou tais pesquisadores a

    estranos 6ulgamentos. edia).

    F@. er 7amp%ell# op( 0it(, vol. i.

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    !firma"+es desse tipo podem at expressar

    Dnuma a%revia",o indevidaG alguma verdade# mas n,o

    s,o verdadeiras no sentido das ist'rias de fadas# n,o

    s,o verdadeiras em termos de arte ou literatura. S,o

    precisamente o colorido# a atmosfera# os

    inclassific-veis detales individuais de uma ist'ria e#

    acima de tudo# o teor geral que dotam de vida os

    ossos n,o dissecados do enredo# que realmente faem

    a diferen"a. O $ei Lear, de Sakespeare# n,o amesma ist'ria de KaQamon em seu -r#t( Ou#

    tomando o caso extremo de Chape#?inho 6erelho,

    de interesse meramente secund-rio o fato de as

    vers+es recontadas da ist'ria# em que a garotina

    salva pelos lenadores# derivarem diretamente da

    narrativa de

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    da !rvore dos 7ontos. Ela tem uma liga",o muito

    pr'xima com o estudo filol'gico da confusa meada da

    Kinguagem# da qual cone"o alguns pedacinos. >as#

    mesmo no que di respeito = linguagem# parece1me

    que a qualidade e as aptid+es essenciais de certa

    l?ngua enquanto ainda est- viva s,o mais importantes

    de capturar e muito mais dif?ceis de explicitar do que

    sua ist'ria linear. Sendo assim# no que se refere =s

    ist'rias de fadas# aco que mais interessante# etam%m mais dif?cil a seu modo# considerar o que elas

    s,o# o que se tornaram para n's e quais valores os

    longos processos alqu?micos do tempo produiram

    nelas. *as palavras de Masent eu diria2 $Temos que

    nos satisfaer com a sopa que nos servem# e n,o

    querer ver os ossos do %oi com que foi fervida.)FF*o

    entanto# estranamente# ao dier $sopa)# Masent se

    referia a uma mix'rdia de pr1ist'ria espria

    fundamentada nas con6eturas primitivas da (ilologia

    7omparada# e com $querer ver os ossos) tina a

    inten",o de expressar a necessidade de enxergar asopera"+es e as provas que levaram a essas teorias.

    7omo $sopa) eu me refiro = ist'ria tal como

    servida por seu autor ou narrador e como $ossos)# a

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    suas fontes ou seu material 1 mesmo quando Dpor rara

    sorteG possam ser desco%ertos com certea. >as

    claro que n,o pro?%o a cr?tica da sopa como sopa.

    FF. Contos Pop#lares Nrdi0os, p. xviii.

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    simplifica",o em excesso# e n,o supono que isso se6a

    exce",o. ! ist'ria dos contos de fadas

    provavelmente mais complexa do que a da ra"a

    umana# e t,o complexa quanto a da linguagem

    umana. Todas as tr0s coisas 1 inven",o

    independente# eran"a e difus,o 1 evidentemente

    tiveram seu papel na produ",o da intrincada teia das

    &ist'rias. Mesemaran-1la agora est- alm de

    qualquer a%ilidade que n,o se6a a dos elfos.FC

    Mastr0s# a in%enD7o a mais importante e fundamental# e

    portanto Dn,o de surpreenderG tam%m a mais

    misteriosa. !s outras duas ter,o que retornar# no fim#

    a um inventor# ou se6a# um criador de ist'rias. !

    dif#s7o Demprstimo no espa"oG# se6a de um artefato

    ou de uma narrativa# s' remete o pro%lema da origem

    para outro lugar. *o centro da suposta difus,o - um

    lugar onde outrora viveu um inventor. O que similar

    = heranDa Demprstimo no tempoG2 desse modo# por

    fim# cegamos somente a um inventor ancestral. 7aso

    acreditemos que =s vees tena ocorrido a cria",oindependente de idias# temas e esquemas

    semelantes# simplesmente multiplicamos o inventor

    ancestral# mas sem com isso compreender mais

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    claramente seu dom.

    FC. Exceto em casos especialmente felies# ou em alguns detales

    ocasionais. *a verdade mais f-cil desemaranar um nico fio I umincidente# um nome# um motivo 1 do que rastrear a ist'ria de alguma

    iage definida por muitos fios. Isso porque a imagem na tape"aria

    introduiu um novo elemento2 a imagem maior do que a soma dos fios

    componentes# e n,o explicada por eles. !? reside a fragilidade inerente

    ao mtodo anal?tico Dou $cient?fico)G2 ele desco%re muito so%re coisas

    que ocorrem nas narrativas# mas pouco ou nada so%re seu efeito numa

    determinada narrativa.

    ! filologia foi destronada do lugar elevado que

    ocupava neste tri%unal de inqurito. ! opini,o de >ax

    >/ller# a vis,o da mitologia como $doen"a da

    linguagem)# pode ser a%andonada sem remorso. !

    mitologia n,o nenuma doen"a# porm pode

    adoecer# como todas as coisas umanas. Ma mesma

    forma algum poderia dier que o pensamento uma

    doen"a da mente. Estaria mais pr'ximo da verdade

    dier que as l?nguas# em especial as europias

    modernas# s,o uma doen"a da mitologia. >as aindaassim a Kinguagem n,o pode ser descartada. ! mente

    encarnada# a l?ngua e o conto s,o contemporneos

    em nosso mundo. ! mente umana# dotada dos

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    poderes de generalia",o e a%stra",o# n,o v0 apenas

    graa %erde, discriminando1a de outras coisas De

    contemplando1a como %elaG# mas v0 que ela %erde

    alm de ser graa( >as qu,o poderosa# qu,o

    estimulante para a pr'pria faculdade que a produiu#

    foi a inven",o do ad6etivo2 nenum feiti"o ou m-gica

    do Helo Reino mais potente. E isso n,o de

    surpreender2 tais encantamentos de fato podem ser

    vistos apenas como uma outra vis,o dos ad6etivos#uma parte do discurso numa gram-tica m?tica. !

    mente que imaginou le%e, pesado, 0in?ento, aarelo,

    i%el, %elo? tam%m conce%eu a magia que tornaria

    as coisas pesadas leves e capaes de voar#

    transformaria o cum%o cinento em ouro amarelo e a

    roca im'vel em -gua velo. Se era capa de faer

    uma coisa# podia faer a outra# e inevitavelmente fe

    am%as. ;uando podemos a%strair o verde da grama# o

    aul do cu e o vermelo do sangue# 6- temos o poder

    de um encantador em um determinado plano# e o

    dese6o de mane6ar esse poder no mundo externo vema nossa mente. Isso n,o significa que usaremos %em

    esse poder em qualquer plano.

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    podemos faer reluir a rara e terr?vel lua aul# ou

    podemos faer com que os %osques irrompam em

    folas de prata e os carneiros tenam pelagem de

    ouro# e pr o fogo quente no ventre do rptil frio. >as

    numa $fantasia)# tal como a camamos# surge uma

    nova forma2 o Helo Reino vem = tona# o &omem se

    torna su%criador.

    !ssim# um poder essencial do Helo Reino o de

    tornar as vis+es da $fantasia) imediatamente efetivasatravs da vontade. *em todas s,o %elas# nem

    mesmo salutares# certamente n,o as fantasias do

    &omem deca?do. E ele maculou os elfos que t0m esse

    poder Dem verdade ou f-%ulaG com sua pr'pria

    m-cula. Este aspecto da $mitologia) 1 a su%cria",o#

    n,o a representa",o ou interpreta",o sim%'lica das

    %eleas e dos terrores do mundo 1 muito pouco

    considerado# em mina opini,o. Ser- porque mais

    visto no Helo Reino do que no Olimpo:

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    das origens# ainda que fosse %reve.

    Em certa poca uma opini,o dominante era a de

    que todos esses assuntos derivavam de $mitos da

    naturea). Os ol?mpicos erampersonifi0aDJes do Sol#

    da aurora# da noite e assim por diante# e todas as

    ist'rias contadas so%re eles eram originalmente

    itos !alegorias seria uma palavra melorG das

    grandes mudan"as elementais e dos processos da

    naturea. Ent,o o pico# a lenda er'ica e a sagalocaliavam essas narrativas em lugares reais e as

    umaniavam# atri%uindo1as a er'is ancestrais# mais

    poderosos do que omens e no entanto 6- omens. E

    finalmente essas lendas# ao minguarem#

    transformaram1se em contos populares# 5Gr0hen,2K

    ist'rias de fadas 1 contos infantis.

    FU. $7ontos de fadas) em alem,o D*. T.G

    Isso parece ser a verdade quase de ca%e"a para

    %aixo. ;uanto mais pr'ximo o camado $mito danaturea)# ou alegoria dos grandes processos da

    naturea# est- de seu suposto arqutipo# menos

    interessante ele e menos se torna capa de

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    proporcionar qualquer esclarecimento so%re o mundo.

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    verdade# $religi,o). !ndre8 Kang disse# e alguns ainda

    o elogiam por di01lo#FWque mitologia e religi,o Dno

    sentido estrito da palavraG s,o duas coisas distintas

    que ficaram inextricavelmente enredadas# apesar de a

    mitologia em si ser quase isenta de significado

    religioso.F]

    FW.

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    arce%ispo de 7anter%urQ escorregou numa casca de

    %anana s' por sa%er que 6- fora relatado um infortnio

    cmico semelante envolvendo muitas pessoas# em

    especial cavaleiros idosos e respeit-veis. Muvidaria

    da ist'ria se desco%risse que nela um an6o Dou

    mesmo uma fadaG avisara o arce%ispo de que

    escorregaria se usasse polainas numa sexta1feira.

    enina dos Lansos vinculou1se a Herta). Essa forma

    de expressar1se %astante inofensiva# no que

    comumente se conece por $ist'ria). >as ser- de

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    fato uma %oa descri",o do que est- acontecendo# e

    aconteceu# na ist'ria da cria",o de narrativas: !co

    que n,o. 7reio que seria mais veross?mil dier que o

    arce%ispo se vinculou = casca de %anana# ou que

    Herta foi transformada na >enina dos Lansos. !inda

    melor2 diria que a m,e de 7arlos >agno e o

    arce%ispo foram postos na

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    antiga tradi",o inglesa. O rei &rotgar e sua fam?lia

    t0m muitas marcas manifestas de ist'ria verdadeira#

    muito mais do que !rtur# e no entanto mesmo nos

    relatos DinglesesG mais antigos eles s,o associados a

    muitos vultos e eventos das ist'rias de fadas2

    estiveram na as me refiro agora aos

    remanescentes dos mais antigos contos ingleses

    registrados do Helo Reino Dou de suas fronteirasG# a

    despeito de serem pouco conecidos na Inglaterra#n,o para discutir a transforma",o do menino1urso no

    cavaleiro Heo8ulf# nem para explicar a intrus,o do

    ogro Lrendel no sal,o real de &rotgar. Messas

    tradi"+es dese6o destacar algo mais2 um exemplo

    singularmente sugestivo da rela",o entre o $elemento

    do conto de fadas) e omens annimos# deuses e reis#

    ilustrando DcreioG a opini,o de que esse elemento nem

    so%e nem desce# mas est- l-# no 7aldeir,o das

    &ist'rias# esperando pelos grandes vultos do >ito e da

    &ist'ria e pelo Ele ou Ela ainda sem nome# esperando

    pelo momento no qual ser,o lan"ados no ensopadoem lenta fervura# um por um ou todos 6untos# sem

    levar em conta dignidade nem preced0ncia.

    O grande inimigo do rei &rotgar era (roda# rei

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    dos &eato%ards. *o entanto ouvimos ecos de uma

    estrana ist'ria so%re (rea8aru# fila de &rotgar 1

    n,o uma ist'ria usual das lendas er'icas n'rdicas2 o

    filo do inimigo de sua casa# Ingeld# filo de (roda#

    apaixonou1se por ela e# desastrosamente# com ela se

    casou. >as isso extremamente interessante e

    significativo. *o segundo plano da antiga disputa

    aparece o vulto daquele deus que os n'rdicos

    camavam de (reQ Do SenorG ou 9ngvi1(reQ# e osanglos de Ing2 um deus da antiga mitologia De religi,oG

    n'rdica da (ertilidade e do Trigo. ! inimiade das

    casas reais estava ligada ao local sagrado de um culto

    dessa religi,o. Ingeld e seu pai t0m nomes que

    pertencem a ela. ! pr'pria (rea8aru se cama

    $

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    de fato Ingeld e (rea8aru 6amais viveram# ou pelo

    menos 6amais amaram# ent,o em ltima an-lise de

    um omem e uma muler annimos que provm sua

    ist'ria# ou melor# foi na ist'ria deles que os dois

    entraram. (oram postos no 7aldeir,o# onde tantas

    coisas potentes passam eras em fervura lenta so%re o

    fogo# entre elas o !mor1=1primeira1vista. O caso do

    deus semelante. Se nenum 6ovem 6amais tivesse

    se apaixonado por uma donela por se encontrarfortuitamente com ela# e 6amais tivesse encontrado

    velas inimiades que se interpusessem entre ele e

    seu amor# ent,o o deus (reQ 6amais teria visto Lerdr#

    a fila do gigante# do elevado trono de Odin. >as se

    falamos de um 7aldeir,o n,o podemos nos esquecer

    totalmente dos 7oineiros. &- muitas coisas no

    7aldeir,o# mas os 7oineiros n,o mergulam a

    conca exatamente =s cegas. Sua sele",o

    importante. !final de contas deuses s,o deuses# e

    uma quest,o importante que tipo de ist'rias se conta

    so%re eles.

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    cu6as tradi"+es s,o as do Mourado (reQ e dos anir#

    n,o as de Odin# o godo# ou de *ecromante# que

    alimenta os corvos# Senor dos >ortos. *,o de

    espantar que a palavra spell signifique ao mesmo

    tempo uma ist'ria contada e uma f'rmula de poder

    so%re os omens viventes.

    >as depois de faermos tudo o que a pesquisa 1

    coleta e compara",o das narrativas de muitas terras 1

    capa de faer# de explicarmos muitos doselementos que comumente est,o envolvidos nas

    ist'rias de fadas Dcomo madrastas# ursos e touros

    encantados# %ruxas cani%ais# ta%us so%re nomes e

    coisas assimG como rel?quias de antigos costumes

    outrora praticados na vida di-ria# ou de cren"as antes

    classificadas como cren"as e n,o como $fantasias)#

    ainda resta um ponto muitas vees esquecido2 o efeito

    produido hoe por essas coisas antigas nas ist'rias

    tais como s,o.

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    esp?rito de p-ssaro que emerge de uma nvoa que se

    erguia da -rvore# permaneceram comigo desde a

    infncia# e no entanto sempre o principal sa%or dessa

    ist'ria presa na lem%ran"a n,o foi a %elea nem o

    orror# e sim a distncia e um grande a%ismo de

    tempo# n,o mensur-vel nem mesmo em t&e t#send

    )ohr(2Sem o coido e os ossos 1 de que as crian"as de

    o6e s,o muito freq/entemente poupadas em vers+es

    suaviadas dos LrimmF

    essa vis,o teria se perdidoem larga medida. *,o penso que fui pre6udicado pelo

    orror no abiente do 0onto de fadas, n,o importa de

    que o%scuras cren"as e pr-ticas do passado ele possa

    ter vindo. Tais narrativas t0m agora um efeito m?tico

    ou total Dn,o analis-velG# um efeito %astante

    independente das desco%ertas do (olclore

    7omparado# e que essa disciplina n,o consegue

    estragar nem explicar. Elas a%rem uma porta para

    Outro Tempo e# se a atravessarmos# nem que se6a por

    um momento# estaremos fora de nosso tempo# talve

    fora do pr'prio Tempo.

    FB. $Mois mil anos) em alem,o dialetal. D*. T.G

    F. *,o deveriam poup-1las disso 1 a n,o ser que as poupem da ist'ria

    toda at que sua digest,o se6a mais resistente.

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    Se nos detivermos n,o apenas para notar que

    tais elementos antigos foram preservados# mas para

    refletir so%re como foram preservados# devemos

    concluir# penso# que isso aconteceu# muitas vees se

    n,o sempre# precisamente por causa desse efeito

    liter-rio. *,o podemos ser n's# nem mesmo os irm,os

    Lrimm# que o sentimos primeiro. Me forma nenuma

    os contos de fadas s,o matries rocosas das quais osf'sseis s' podem ser arrancados por ge'logos

    especialistas. Os elementos antigos podem ser

    extra?dos# ou esquecidos e descartados# ou

    su%stitu?dos por outros ingredientes com a maior

    facilidade. Isso mostrado por qualquer compara",o

    de uma ist'ria com suas variantes pr'ximas. !s

    coisas que l- existem muitas vees devem ter sido

    mantidas Dou inseridasG porque os narradores orais#

    instintiva ou conscientemente# sentiram sua

    $significncia) liter-ria.FA >esmo quando se suspeita

    de que uma proi%i",o em uma ist'ria de fadas derivade algum ta%u praticado muito tempo atr-s# ela

    provavelmente foi preservada nas etapas posteriores

    da ist'ria do conto em virtude do grande significado

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    m?tico da proi%i",o.

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    perguntas2 quais s,o# se que existem# os valores e

    as fun"+es das ist'rias de fadas hoe *ormalmente

    se presume que as crian"as s,o o p%lico natural ou

    especialmente apropriado desse tipo de ist'ria. !o

    descrever uma ist'ria de fadas que imaginam que os

    adultos possivelmente poder,o ler para seu pr'prio

    entretenimento# os cr?ticos costumam se permitir

    6ocosidades como2 $Este livro se destina a crian"as de

    ] a ]V anos). >as nunca vi um anncio de um novocarrino que come"asse assim2 $Este %rinquedo

    divertir- crian"as de @B a BV anos). 7ontudo# em

    mina opini,o# isso seria muito mais apropriado.

    Existe alguma conex,o essen0ial entre crian"as e

    ist'rias de fadas: Existe alguma necessidade de

    coment-rio quando um adulto as l0 soino: Isto #

    quando as l como contos# n,o quando as est#da

    como curiosidades. Os adultos t0m licen"a para

    colecionar e estudar qualquer coisa# at mesmo

    velos programas de teatro ou sacos de papel.

    Entre aqueles que ainda t0m sa%edoria %astantepara acreditar que ist'rias de fadas n,o s,o

    perniciosas# a opini,o comum parece ser a de que

    existe uma conex,o natural entre a mente das

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    crian"as e as ist'rias de fadas# da mesma ordem da

    conex,o entre o corpo delas e o leite. 7reio que isso

    um erro na melor das ip'teses um erro de falso

    sentimento# e portanto um erro cometido mais

    freq/entemente por aqueles que# se6a qual for seu

    motivo particular Dcomo n,o ter filosG# tendem a

    enxergar as crian"as como um tipo especial de

    criatura# quase uma ra"a diferente# e n,o como

    mem%ros normais# ainda que imaturos# de umadeterminada fam?lia e da fam?lia umana em geral.

    *a verdade# a associa",o entre crian"as e

    ist'rias de fadas um acidente de nossa ist'ria

    domstica. *o mundo letrado moderno as ist'rias de

    fadas foram relegadas ao $%er"-rio)# assim como a

    mo%?lia vela ou fora de moda relegada = sala de

    recrea",o# principalmente porque os adultos n,o as

    querem mais e n,o se importam se a usarem de

    forma inadequada.CV*,o a escola das crian"as que

    define isso. !s crian"as como classe 1 classe que n,o

    s,o# exceto pela falta de experi0ncia que les comum 1 n,o gostam mais das ist'rias de fadas nem

    as compreendem melor do que os adultos# e n,o as

    apreciam mais do que muitas outras coisas. S,o

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    6ovens e est,o em crescimento# e normalmente t0m

    apetites agu"ados# de forma que em geral as ist'rias

    de fadas s,o %astante %em digeridas. >as na verdade

    s' algumas crian"as# e alguns adultos# t0m um gosto

    especial por elas. E# quando o t0m# ele n,o

    exclusivo# nem mesmo necessariamente dominante.C@

    E tam%m um gosto que# segundo creio# n,o surgiria

    muito cedo na infncia sem est?mulo artificial

    certamente um gosto que n,o diminui# e sim crescecom a idade# se inato.

    CV. *o caso de ist'rias e outros assuntos infantis# - tam%m outro

    fator. !s fam?lias mais ricas empregavam muleres para cuidar das

    crian"as# e as narrativas eram traidas por essas pa6ens# que =s vees

    tinam contato com conecimentos rsticos e tradicionais esquecidos

    por seus $superiores). (a muito tempo que essa fonte secou# pelo

    menos na Inglaterra# mas outrora ela teve alguma importncia. >as#

    outra ve# n,o - prova da adequa",o especial das crian"as como

    destinat-rias desse $sa%er popular) em extin",o. !s pa6ens podiam

    muito %em ter sido encarregadas de escoler os quadros e a mo%?lia 1 e

    talve o fiessem at melor.

    C@. er *ota 7 ao final Dp. UG.

    X verdade que em tempos recentes as ist'rias

    de fadas normalmente t0m sido escritas ou

    $adaptadas) para crian"as. >as tam%m se pode

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    faer isso com a msica# ou a poesia# ou os romances#

    ou a ist'ria# ou manuais cient?ficos. um processo

    perigoso# mesmo quando necess-rio. *a verdade s'

    se salva da desgra"a pelo fato de as artes e as

    ci0ncias n,o serem em geral relegadas ao %er"-rio.

    Este e a sala de aula s' rece%em dos adultos as

    amostras e os relances que les parecem ser

    adequados na opini,o dos adultos Dfreq/entemente

    muito equivocadaG. ;ualquer dessas coisas# se fossedeixada inteiramente no %er"-rio# ficaria gravemente

    pre6udicada. Tam%m uma %ela mesa# um %om

    quadro ou um instrumento til Dcomo um microsc'pioG

    seriam desfigurados ou que%rados se os

    a%andon-ssemos por muito tempo numa sala de aula.

    !s ist'rias de fadas assim %anidas# isoladas de uma

    arte plena e adulta# ao final estariam arruinadas. *a

    verdade t0m sido arruinadas na medida em que foram

    %anidas desse modo.

    !ssim# na mina opini,o# o valor das ist'rias de

    fadas n,o pode ser encontrado levando em contaespecificamente as crian"as. *a verdade# as cole"+es

    de ist'rias de fadas s,o s't,os e quartos de despe6o

    por naturea e quartos de %rincar apenas pelo

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    costume tempor-rio e local. Seu contedo

    desordenado# freq/entemente fragmentado# uma

    mix'rdia de diferentes datas# o%6etivos e gostos. >as

    no meio dele pode1se ve por outra encontrar algo de

    valor permanente2 uma antiga o%ra de arte# n,o muito

    estragada# que s' a estupide teria tratado como

    %ugiganga.

    Os Fairy -oo3s de !ndre8 Kang n,o s,o# talve#

    quartos de despe6o. S,o mais parecidos com %arracasde um %aar. !lgum com um espanador e um %om

    olo para coisas que conservam algum valor deu uma

    percorrida nos s't,os e dep'sitos. Suas cole"+es s,o

    em larga escala um su%produto de seu estudo adulto

    da mitologia e do folclore# porm transformadas em

    livros infantis e apresentadas como tais.CF !lgumas

    das ra+es dadas por Kang merecem ser

    consideradas.

    CF.

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    omem fiel aos seus primeiros amores# e t0m seu

    gume de cren"a que n,o perdeu o corte# um apetite

    recente por maravilas). $X verdadeh):# continua# $

    a grande pergunta feita pelas crian"as).

    Mesconfio que 0renDa e apetite por ara%ilhas

    s,o aqui considerados coisas id0nticas ou %em

    pr'ximas. S,o radicalmente diferentes# se %em que o

    apetite por maravilas n,o se6a diferenciado pela

    mente umana em crescimento# imediata ouprimeiramente# de seu apetite geral.

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    %oa a ponto de produi1la. Esse estado mental tem

    sido camado de $suspens,o volunt-ria da

    incredulidade). >as isso n,o me parece ser uma %oa

    descri",o do que acontece. O que acontece de fato

    que o criador da narrativa demonstra ser um

    $su%criador) %em1sucedido. Ele conce%e um >undo

    Secund-rio no qual nossa mente pode entrar. Mentro

    dele# o que ele relata $verdade)2 est- de acordo

    com as leis daquele mundo. undo undo Secund-rio malsucedido. Se formos

    o%rigados a ficar# por %enevol0ncia ou circunstncia#

    ent,o a incredulidade precisa ser suspensa Dou

    a%afadaG# do contr-rio ser- intoler-vel ouvir e olar.

    >as essa suspens,o da incredulidade um su%stituto

    da coisa genu?na# um su%terfgio que usamos quando

    nos deixamos levar por uma %rincadeira ou um fa1de1conta# ou quando tentamos Dmais ou menos

    voluntariamenteG desco%rir alguma virtude na o%ra de

    arte que fracassou para n's.

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    3m verdadeiro f, de cr?quete est- no estado

    encantado2 a 7ren"a Secund-ria. Eu# quando assisto a

    uma partida# estou no n?vel inferior. 7onsigo atingir

    Dmais ou menosG a suspens,o volunt-ria da

    incredulidade quando sou mantido ali e sustentado

    por algum outro motivo que afaste o tdio 1 por

    exemplo uma predile",o selvagem# er-ldica# pelo

    aul escuro em detrimento do claro. !ssim# essa

    suspens,o pode ser um estado mental um tantodesgastado# roto ou sentimental# portanto tendendo

    ao $adulto). Imagino que freq/entemente esse o

    estado dos adultos na presen"a de uma ist'ria de

    fadas. S,o mantidos ali e sustentados pelo sentimento

    Dlem%ran"as da infncia ou idias de como deveria ser

    a infnciaG. as# se realmente o apreciassem por ele mesmo# n,o

    teriam que suspender a incredulidade2 creriam# nesse

    sentido.

    Se Kang tivesse dese6ado dier algo assim#

    poderia aver alguma verdade em suas palavras.

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    adulta produida pela umildade das crian"as# por sua

    falta de experi0ncia cr?tica e voca%ul-rio e por sua

    voracidade Dpr'pria do crescimento r-pidoG. Lostam

    ou tentam gostar do que les d,o mas# se n,o

    conseguem# s,o incapaes de expressar %em sua

    avers,o ou 6ustific-1la De portanto podem escond01laG

    e gostam indiscriminadamente de uma grande

    variedade de coisas# sem se preocuparem em analisar

    o grau de sua cren"a. Me qualquer forma duvido queessa po",o 1 o encantamento da ist'ria de fadas

    %em1sucedida 1 realmente se6a do tipo que se

    $em%ota) com o uso# menos potente depois de

    repetidos goles.

    $X verdade:h a grande pergunta feita pelas

    crian"as)# disse Kang. Sei que faem# sim# essa

    pergunta# e n,o algo que possa ser respondido de

    modo impulsivo ou negligente.CC >as essa quest,o

    dificilmente prova de $cren"a que n,o perdeu o

    corte)# nem mesmo do dese6o por ela. >ais

    freq/entemente ela provm do dese6o que a crian"atem de sa%er que espcie de literatura est- diante

    dela. >uitas vees o conecimento do mundo pelas

    crian"as t,o pequeno que elas n,o conseguem

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    discernir# de imediato e sem a6uda# entre o fant-stico#

    o estrano Disto # fatos raros ou remotosG# o

    despropositado e o simplesmente $adulto) Dcoisas

    comuns do mundo de seus pais# ainda quase

    totalmente inexploradoG. >as reconecem as

    diferentes classes# e =s vees podem gostar de todas

    elas. E claro que os limites entre elas com freq/0ncia

    flutuam ou se confundem# mas isso n,o vale s' para

    crian"as. Todos conecemos essas diferen"as# masnem sempre temos certea de como classificar algo

    que ouvimos. 3ma crian"a pode muito %em acreditar

    num relato de que existem ogros no condado viino

    muitos adultos acam f-cil crer nisso quando se trata

    de outro pa?s e# quanto a outro planeta# muito poucos

    adultos parecem capaes de enxerg-1lo povoado# se

    que o termo esse# por algo diferente de monstros

    perversos.

    CC. >uito mais freq/entemente elas t0m me perguntado2 $Ele era %om:

    Ele era malvado:) Isto # estavam mais preocupadas em distinguir o

    lado 7erto e o lado Errado# porque essa uma quest,o que tem a

    mesma importncia na &ist'ria e no Helo Reino.

    Eu fui uma das crian"as =s quais !ndre8 Kang se

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    de Kang n,o se a6usta =s minas pr'prias lem%ran"as#

    nem = mina experi0ncia com elas. Kang podia estar

    enganado em rela",o =s crian"as que conecia# mas#

    se n,o estava# pelo menos elas s,o

    consideravelmente diferentes# mesmo dentro dos

    estreitos limites da Lr,1Hretana# e tais

    generalia"+es# que as tratam como uma classe

    Ddesconsiderando seus talentos individuais# as

    influ0ncias da regi,o em que vivem e sua cria",oG#s,o ilus'rias. Eu n,o tina nenum $dese6o de

    acreditar) especial. Eu queria sa%er. ! cren"a

    dependia do modo como as narrativas me eram

    apresentadas pelos mais velos# ou pelos autores# ou

    do tom e da qualidade inerentes ao conto. >as em

    nenum momento de que me lem%ro a aprecia",o da

    ist'ria foi dependente da cren"a de que tais coisas

    poderiam acontecer# ou tinam acontecido# na $vida

    real). 7laramente as ist'rias de fadas n,o se

    ocupavam em primeiro plano da possi%ilidade# mas

    sim da dese6a%ilidade. Se despertavam deseo,satisfaendo1o enquanto muitas vees o ati"avam

    insuportavelmente# tinam sucesso. *,o necess-rio

    ser mais expl?cito aqui# porque espero dier algo mais

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    tarde so%re esse dese6o# um complexo de muitos

    ingredientes# alguns universais# outros particulares

    aos omens modernos Dinclusive =s crian"as

    modernasG# ou mesmo a certas espcies de omens.

    Eu n,o dese6ava ter sonos nem aventuras como

    Ali0e, e o relato deles simplesmente me divertia.

    Mese6ava %em pouco procurar tesouros enterrados ou

    com%ater piratas# e a lha do Teso#ro n,o me

    entusiasmava. Os peles1vermelas eram melores2avia nessas ist'rias arcos e flecas Dtive e teno um

    dese6o totalmente insatisfeito de atirar %em com um

    arcoG# l?nguas estranas# vislum%res de um modo de

    vida arcaico e# acima de tudo# florestas. >as a terra

    de >erlin e !rtur era melor do que isso e# melor do

    que tudo# o norte sem nome de Sigurd dos lsungs e

    o pr?ncipe de todos os drag+es. Essas terras eram

    proeminentemente dese6-veis. *unca imaginei que o

    drag,o pertencesse = mesma ordem do cavalo. E isso

    n,o somente porque eu via cavalos todos os dias# mas

    tam%m porque nunca vira nem mesmo a pegada deum lagarto.C] O drag,o tina a marca registrada "o

    -elo $eino inscrita com clarea. *,o importa em que

    mundo ele existia# era Outro >undo. ! fantasia# a

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    cria",o ou o vislum%rar de Outros >undos era o

    cora",o do dese6o do Helo Reino. Eu dese6ava drag+es

    com um dese6o profundo. E claro que# com meu corpo

    franino# n,o queria t01los nos arredores#

    intrometendo1se em meu mundo relativamente

    seguro# onde por exemplo era poss?vel ler ist'rias

    desfrutando de pa mental# livre de medo.CB >as o

    mundo que contina at mesmo a imagina",o de

    (=fnir era mais rico e mais %elo# n,o importava ocusto do perigo. O a%itante da plan?cie tranq/ila e

    frtil pode ouvir falar das colinas castigadas pelas

    intempries e do mar sem vida e ansiar por eles em

    seu cora",o. esmo assim# por mais que eu agora perce%a a

    importncia do elemento ist'ria de fadas nas leituras

    infantis# falando por mim quando crian"a# s' posso

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    dier que gostar dessas narrativas n,o foi uma

    caracter?stica dominante dos primeiros gostos. O

    verdadeiro gosto por elas despertou ap's os dias do

    $%er"-rio) e ap's os anos# poucos# mas que pareciam

    longos# entre aprender a ler e ir = escola. *aquele

    tempo Dquase escrevi $feli) ou $dourado)# mas foi na

    verdade triste e tur%ulentoG eu gostava igualmente#

    ou mais# de muitas outras coisas# como ist'ria#

    astronomia# %otnica# gram-tica e etimologia. Eu n,ome parecia nem um pouco em ess0ncia com as

    $crian"as) generaliadas de Kang por acaso as

    lem%rava em alguns poucos pontos2 por exemplo# eu

    era insens?vel = poesia# e a pulava quando ela

    aparecia nas ist'rias. Mesco%ri a poesia muito mais

    tarde# no latim e no grego# especialmente por ser

    o%rigado a tentar verter versos ingleses para versos

    cl-ssicos. 3m gosto real por ist'ria de fadas foi

    despertado pela filologia no limiar da idade adulta# e

    estimulado pelo resto da vida pela guerra.

    Talve eu tena dito mais do que o suficienteso%re este tema.

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    elas de tr0s modos2 naturalmente# porque as crian"as

    s,o umanas e as ist'rias de fadas s,o um gosto

    umano natural Dporm n,o necessariamente

    universalG acidentalmente# porque as ist'rias de

    fadas representam grande parte do material liter-rio

    que a Europa recente enfiou nos s't,os

    antinaturalmente# por causa de um sentimento

    errneo so%re as crian"as# um sentimento que parece

    aumentar com a diminui",o das crian"as.X verdade que a era do sentimento infantil

    produiu alguns livros agrad-veis Dporm

    especialmente encantadores para adultosG de

    ist'rias de fadas ou semelantes# mas tam%m foi

    respons-vel por uma espantosa vegeta",o rasteira de

    narrativas escritas ou adaptadas para o que se

    conce%ia ou conce%e ser a medida da mente e das

    necessidades infantis. !s antigas narrativas s,o

    a%randadas ou expurgadas em ve de ser

    preservadas. >uitas vees as imita"+es s,o

    simplesmente tolas# algo como

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    Kang de desdm dissimulado# mas com certea ele

    sorriu consigo mesmo# e tam%m muitas vees

    espiava o rosto de outras pessoas espertas por so%re

    as ca%e"as de sua platia infantil# em srio detrimento

    =s CrOni0as de Panto#flia(

    Masent respondeu com vigor e 6usti"a aos

    cr?ticos pudicos de suas tradu"+es de contos

    populares n'rdicos. *o entanto# cometeu a espantosa

    loucura deproibir as crian"as de ler especialmente asduas ltimas ist'rias de sua cole",o.

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    miseric'rdia n,o temperada pela 6usti"a. E verdade

    que esse apelo n,o foi dirigido =s crian"as# e sim aos

    pais e tutores# a quem Kang estava recomendando

    seu PrMn0ipe Prigio e PrMn0ipe $i0ardo como adequados

    aos seus protegidos.C (oram os pais e tutores que

    classificaram ist'rias de fadas como)#%enilia( E essa

    uma pequena amostra da conseq/ente falsifica",o

    de valores.

    C.

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    certamente n,o melor do que cegar# apesar de

    precisarmos via6ar esperan"osos se quisermos cegar.

    >as uma das li"+es das ist'rias de fadas Dse

    pudermos atri%uir li"+es a coisas que n,o lecionamG

    que# = 6uventude imatura# indolente e ego?sta# o

    perigo# o pesar e a som%ra da morte podem conferir

    dignidade e =s vees at sa%edoria.

    *,o dividamos a ra"a umana em Eloi e

    >orlocks2 crian"as %onitas 1 $elfos)# como o sculo^III costumava cam-1las idioticamente 1 com seus

    contos de fadas Dcuidadosamente podadosG e >orlocks

    escuros cuidando de suas m-quinas. Se a ist'ria de

    fadas digna de ser lida# ent,o digna de ser escrita

    e lida por adultos. X claro que elas acrescentar,o mais

    e extrair,o mais do que as crian"as s,o capaes de

    lidar. Ent,o# como um ramo de arte genu?na# as

    crian"as poder,o dese6ar ler ist'rias de fadas

    adequadas para elas e que este6am ao seu alcance#

    %em como poder,o dese6ar rece%er introdu"+es

    apropriadas = poesia# = ist'ria e =s ci0ncias.7ontudo# pode ser melor para elas que leiam

    algumas coisas# em especial ist'rias de fadas# que

    est,o alm do seu alcance e n,o aqum. Seus livros#

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    FANTASIA

    ! mente umana capa de formar imagensmentais de coisas que n,o est,o presentes de fato. !

    faculdade de conce%er as imagens Dou eraG

    naturalmente camada de Imagina",o. >as em

    tempos recentes# em linguagem tcnica# n,o normal#

    a Imagina",o muitas vees tem sido considerada algo

    mais elevado do que a mera cria",o de imagens#

    atri%u?da =s opera"+es relacionadas a Fan0yCA Duma

    forma reduida e depreciat'ria da palavra mais antiga

    Fantasy'( !ssim tenta1se restringir# eu deveria dier

    perverter# a Imagina",o ao $poder de dar a cria"+es

    ideais a consist0ncia interna da realidade).

    CA. Esta palavra inglesa tem# entre outros# os significados de $idia

    vision-ria) e $o%sess,o). D*. T.G

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    aspecto# e deveria apropriadamente ser camada de

    Imagina",o. ! percep",o da imagem# a compreens,o

    de suas implica"+es e o controle# que s,o necess-rios

    para uma express,o %em1sucedida# podem variar em

    vivacidade e intensidade 1 mas essa uma diferen"a

    de grau de Imagina",o# n,o de espcie. ! realia",o

    da express,o# que confere Dou parece conferirG $a

    consist0ncia interna da realidade)#UV na verdade

    outra coisa# ou aspecto# que necessita de outro nome2!rte# o v?nculo operativo entre a Imagina",o e o

    resultado final# a Su%cria",o.

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    etimol'gicas e semnticas de fantasia e fantBsti0o,

    mas contente com elas2 imagens de coisas que n,o

    somente $n,o est,o presentes de fato)# mas que na

    verdade nem podem ser encontradas em nosso

    mundo prim-rio# ou que geralmente se cr0 que n,o

    possam ser encontradas ali. >as# mesmo admitindo

    isso# n,o consinto o tom depreciativo. O fato de as

    imagens refletirem coisas que n,o s,o do mundo

    prim-rio Dse que isso poss?velG uma virtude# n,oum v?cio. 7reio que a fantasia Dnesse sentidoG n,o

    uma forma inferior de !rte# e sim superior# de fato a

    forma mais pr'xima da pura# e portanto Dquando

    alcan"adaG a mais potente.

    UV. Ou se6a# que imp+e ou indu a 7ren"a Secund-ria.

    U@.

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    interfer0ncia no >undo as o erro ou a m- inten",o# engendrados pela

    inquieta",o e conseq/ente avers,o# n,o s,o a nica

    causa dessa confus,o. ! (antasia tam%m tem uma

    desvantagem essencial2 dif?cil de alcan"ar. Ela podeser# na mina opini,o# n,o menos# e sim mais

    su%criativa# mas de qualquer modo desco%re1se na

    pr-tica que $a consist0ncia interna da realidade)

    torna1se mais dif?cil de produir quanto mais as

    imagens e os rearran6os do material prim-rio forem

    diferentes dos arran6os reais do >undo

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    tem sido usada frivolamente# ou apenas de maneira

    quase sria# ou s' como decora",o2 ela permanece

    apenas $fantasiosa). ;ualquer pessoa que tena

    erdado o fant-stico dispositivo da linguagem

    umana pode dier o sol %erde( >uitos podem ent,o

    imagin-1lo ou conce%01lo. >as isso n,o suficiente 1

    apesar de 6- poder ser algo mais potente do que

    muitos $%reves es%o"os) ou $reprodu"+es da vida)

    que rece%em louvores liter-rios.(aer um >undo Secund-rio dentro do qual o sol

    verde se6a veross?mil# impondo a 7ren"a Secund-ria#

    provavelmente exigir- tra%alo e reflex,o# e

    certamente demandar- uma a%ilidade especial# uma

    espcie de destrea lfica. as# quando elas s,o tentadas e

    executadas em algum grau# ent,o temos uma rara

    realia",o da !rte2 na verdade# a arte narrativa# a

    cria",o de ist'rias em seu modo prim-rio e mais

    potente.

    *a arte umana a (antasia algo que deve serdeixado a cargo das palavras# da verdadeira literatura.

    *a pintura# por exemplo# a apresenta",o vis?vel da

    imagem fant-stica tecnicamente f-cil demais 1 a

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    . S' toler-vel quando o enredo e sua fantasia se

    reduem a uma mera estrutura vestigial para a farsa#

    e n,o se exige nem espera de ningum a $cren"a) em

    qualquer parte da representa",o. Isso# claro# deve1

    se em parte ao fato de que os produtores de teatro

    precisam# ou tentam# tra%alar com mecanismos para

    representar a (antasia ou a >agia. 7erta ve assisti a

    uma camada $pantomima infantil)# a ist'ria do

    :ato de -otas, que tina at a metamorfose do ogroem um camundongo. 7aso tivesse avido um 0xito

    mecnico# teria aterroriado os espectadores ou ent,o

    teria sido apenas um truque de prestidigita",o de alta

    classe. Ma forma como foi feito# apesar de alguma

    a%ilidade na ilumina",o# a incredulidade n,o foi

    tanto suspensa quanto enforcada# estripada e

    esquarte6ada.

    UC. er *ota E ao final Dp. WG.

    Em 5a0beth, ao ler a pe"a# aco as feiticeirastoler-veis2 elas t0m fun",o narrativa e uma alus,o de

    sinistro significado no entanto s,o vulgariadas#

    po%res representantes de sua espcie. *a pe"a s,o

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    quase intoler-veis. Seriam totalmente intoler-veis se

    eu n,o fosse fortalecido por alguma lem%ran"a de

    como s,o no texto. Miem1me que eu me sentiria

    diferente se pensasse como as pessoas daquela

    poca# com suas ca"adas e 6ulgamentos de feiticeiras.

    >as isso equivale a dier2 se eu considerasse as

    feiticeiras poss?veis# de fato prov-veis# no >undo

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    m-gico# mesmo com sucesso mecnico# exigir algo

    como um mundo interno ou terci-rio. X um exagero.

    as no m?nimo n,o

    pode ser considerado a forma apropriada de Teatro#

    em que pessoas que caminam e falam s,o os

    instrumentos naturais da !rte e da ilus,o.UU

    UU. er *ota ( ao final Dp. ]G.

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    aos o%6etos. *uma pe"a pode1se incluir muito pouca

    coisa a respeito de -rvores como -rvores.

    J- o $Mrama do Helo Reino) 1 aquelas pe"as que#

    conforme a%undantes registros# os elfos muitas vees

    apresentavam aos omens 1 capa de produir

    (antasia com um realismo e um car-ter imediato que

    ultrapassam os limites de qualquer mecanismo

    umano. 7omo conseq/0ncia# seu efeito usual Dso%re

    um omemG ir alm da 7ren"a Secund-ria. Sepresenciarmos um drama do Helo Reino# n's

    estaremos# ou pensaremos estar# pessoalmente

    dentro de seu >undo Secund-rio. ! experi0ncia pode

    ser muito semelante ao Sono# e =s vees Dpelos

    omensG tem sido Dao que pareceG confundida com

    ele. >as no drama do Helo Reino estamos em um

    sono que outra mente est- tecendo# e o

    conecimento desse fato alarmante pode escapar =

    nossa compreens,o. !o experimentar diretaente um

    >undo Secund-rio# a po",o forte demais# e n's a

    atri%u?mos = 7ren"a

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    mesmos n,o se iludem. -gica ou da >agia propriamente

    dita. Eles n,o vivem nela# apesar de talve serem

    capaes de gastar mais tempo com ela do que os

    artistas umanos. O >undo

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    enquanto est,o dentro mas em estado puro ele

    art?stico por dese6o e prop'sito. ! >agia produ# ou

    finge produir# uma altera",o no >undo

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    Mis1graced e maQ %e# Qet is not de1troned# and

    keeps te rags of lordsip once e o8ned2 >an# Su%1

    creator# te refracted Kigt troug 8om is

    splintered from a single Zite to manQ ues# and

    endlesslQ com%ined in living sapes tat move from

    mind to mind. Toug ail te crannies of te 8orld 8e

    filled 8it Eives and Lo%lins# toug 8e dared to %uild

    Lods and teir ouses out of dark and ligt# and

    so8ed te seed of dragons 1 Yt8as our rigt Dused ormisusedG. Tat rigt as not decaQed2 8e make still %Q

    te la8 in 8ic 8ere made.)UW

    UW. $>eu caro)# eu disse# $Em%ora aleado# \ o &omem n,o perdido

    nem mudado. \ Sem gra"a# sim# porm n,o sem seu trono# \ tem restos

    do poder de que foi dono2 \ Su%criador# o que a Ku desata \ e de um s'

    Hranco cores mil refrata \ que se com%inam# varia"+es viventes \ e

    formas que se movem entre as mentes. \ Se deste mundo as frestas

    ocupamos \ com Elfos e Muendes# se criamos \ @ Meuses# seus lares#

    treva e lu do dia# \ drag+es plantamos 1 nossa a regalia \ D%oa ou m-G.

    *,o morre esse direito2 \ eu fa"o pela lei na qual sou feito). D*. T.G

    ! (antasia uma atividade umana natural.7ertamente ela n,o destr'i# muito menos insulta# a

    Ra,o e n,o a%randa o apetite pela verdade cient?fica

    nem o%scurece a percep",o dela. !o contr-rio.

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    ;uanto mais agu"ada e clara for a ra,o# melor

    fantasia produir-. Se os omens estivessem num

    estado em que n,o quisessem conecer ou n,o

    pudessem perce%er a verdade Dfatos ou evid0nciasG#

    ent,o a (antasia definaria at que eles se curassem.

    Se cegarem a atingir esse estado Do que n,o parece

    ser imposs?velG# a (antasia perecer- e se transformar-

    em Ilus,o >'r%ida.

    ! (antasia criativa est- fundamentada no firmereconecimento de que as coisas s,o assim no mundo

    como este aparece so% o Sol# no reconecimento do

    fato# mas n,o na escravid,o perante ele. !ssim foi

    fundamentado na l'gica o contra1senso que se exi%e

    nos contos e poemas de Ke8is 7arroll. Se as pessoas

    realmente n,o conseguissem distinguir entre sapos e

    omens# n,o teriam surgido ist'rias de fadas so%re

    reis sapos.

    X claro que a (antasia pode ser levada ao

    excesso.

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    adoraram# adoraram at mesmo aqueles mais

    deformados pelo mal de seu pr'prio autor. >as

    fieram falsos deuses a partir de outros materiais2

    suas opini+es# seus estandartes# seus dineiros 1 at

    suas ci0ncias e suas teorias sociais e econmicas

    demandaram sacrif?cio umano. Ab#s#s non tollit

    usum.U]! (antasia continua sendo um direito umano2

    faemos em nossa medida e em nosso modo

    derivativo# porque somos feitos# e n,o somente feitos#mas feitos = imagem e semelan"a de um 7riador.

    U]. $O a%uso n,o pre6udica o uso.) D*. E.G

    RECUPERAO, ESCAPE, CONSOLO

    ;uanto = velice# se6a pessoal ou pertencenteaos tempos em que vivemos# pode ser verdade# como

    se sup+e freq/entemente# que ela imp+e

    incapacidades Dver p. UFG. >as essa principalmente

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    uma idia produida pelo simples est#do das ist'rias

    de fadas. O estudo anal?tico de ist'rias de fadas

    uma prepara",o t,o ruim para apreci-1las ou escrev01

    las como seria o estudo ist'rico do drama de todos

    os pa?ses e tempos para apreciar ou escrever pe"as

    de teatro. O estudo pode na verdade tornar1se

    deprimente. X f-cil o estudioso sentir que# com toda

    sua la%uta# est- coletando apenas umas poucas

    folas# muitas agora rotas ou deterioradas# daincont-vel folagem da !rvore dos 7ontos# com as

    quais atapetada a (loresta dos Mias. as

    isso n,o verdade. ! semente da -rvore pode ser

    replantada em quase qualquer solo# mesmo em um

    t,o saturado de fuma"a Dassim disse KangG como o da

    Inglaterra. E claro que de fato a primavera n,o

    menos %ela porque vimos ou ouvimos falar de outroseventos semelantes2 eventos semelantes# nunca o

    mesmo evento do come"o ao fim do mundo. 7ada

    fola# de carvalo# freixo e espineiro uma

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    complica",o de formas at o ponto da tolice a

    camino do del?rio. !ntes de atingirmos tais estados

    precisamos de recupera",o.

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    os mais dif?ceis de ver com mais aten",o# perce%endo

    sua semelan"a e dessemelan"a2 s,o rostos# e no

    entanto rostos singulares. Essa trivialidade # de fato#

    apenas a penalidade da $apropria",o)2 as coisas

    triviais ou Dno mau sentidoG familiares s,o aquilo de

    que nos apropriamos# legal ou mentalmente. Miemos

    que as conecemos. Tornaram1se algo como as coisas

    que uma ve nos atra?ram pelo %rilo# ou pela cor# ou

    pela forma# e pusemos as m,os nelas e as trancamosem nosso tesouro# adquirimo1las# e ao adquiri1las

    paramos de ol-1las.

    X claro que as ist'rias de fadas n,o s,o o nico

    meio de recupera",o ou profilaxia contra a perda. !

    umildade %asta. E existe Despecialmente para os

    umildesG 5ooreeffo0, ou (antasia cestertoniana.

    5ooreeffo0 uma palavra fant-stica# mas poderia ser

    vista escrita em todas as cidades deste pa?s. X a

    palavra Coffee1rooUBvista do lado de dentro em uma

    porta de vidro# como foi vista por Mickens num escuro

    dia londrino# e usada por 7ester1ton para denotar aestranea de coisas que se tornaram triviais quando

    de repente s,o vistas por um novo ngulo. ! maioria

    das pessoas concordaria que essa espcie de

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    $fantasia) %astante saud-vel# e que 6amais le

    faltar- material. >as ela tem apenas# segundo penso#

    um poder limitado# porque recuperar o frescor da

    vis,o sua nica virtude. ! palavra 5ooreeffo0 pode

    faer1nos perce%er de repente que a Inglaterra um

    pa?s totalmente estrano# perdido num passado

    remoto vislum%rado pela ist'ria# ou num futuro

    estrano e turvo que s' pode ser alcan"ado numa

    m-quina do tempo ver a espantosa excentricidade eo interesse de seus a%itantes# seus costumes e

    -%itos alimentares porm nada pode faer alm

    disso2 agir como um telesc'pio temporal focaliado

    em um ponto. ! fantasia criativa# por estar

    principalmente tentando faer outra coisa Dfaer algo

    novoG# pode a%rir nosso tesouro e deixar voar como

    p-ssaros engaiolados todas as coisas trancadas.

    Todas as 6'ias se transformam em flores ou camas# e

    seremos alertados de que tudo o que t?namos Dou

    conec?amosG era perigoso e poderoso# n,o realmente

    acorrentado com efic-cia# livre e selvagem# t,o pouconosso quanto ramos n's.

    UB. Restaurante de otel# onde se servem caf# outras %e%idas e

    refei"+es. D*. T.G

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    Os elementos $fant-sticos) em verso e prosa de

    outras espcies# mesmo quando s,o apenas

    decorativos ou ocasionais# auxiliam essa li%era",o.

    >as n,o t,o inteiramente quanto uma ist'ria de

    fadas# uma coisa constru?da so%re a (antasia ou

    acerca dela# da qual a (antasia o ncleo. ! (antasia

    feita do >undo

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    -rvore e grama# casa e fogo# p,o e vino.

    !gora concluirei considerando o Escape e o

    7onsolo# que naturalmente est,o %em conexos entre

    si. !pesar de as ist'rias de fadas# claro# de forma

    nenuma serem o nico meio de Escape# o6e em dia

    s,o uma das formas mais '%vias e Dpara algunsG

    a%usivas de literatura $escapista). !ssim sendo#

    rao-vel acrescentar a um estudo delas algumas

    considera"+es do termo $escape) na cr?tica em geral.!firmei que o Escape uma das principais

    fun"+es das ist'rias de fadas# e como n,o as reprovo

    '%vio que n,o aceito o tom de desdm ou pena com

    que se usa $Escape) com tanta freq/0ncia o6e em

    dia2 um tom em nada 6ustificado pelos usos da palavra

    fora da cr?tica liter-ria. *aquilo que aqueles faem um

    mau uso do Escape gostam de camar ida Real# em

    geral o Escape evidentemente muito pr-tico# e pode

    at ser er'ico. *a vida real dif?cil culp-1lo# a n,o

    ser que fracasse. *a cr?tica parece ser tanto pior

    quanto mais o%tm sucesso. Evidentemente estamosdiante de um mau uso das palavras# e tam%m de

    uma confus,o de pensamento.

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    tenta sair e ir para casa: Ou se# quando n,o pode

    fa01lo# pensa e fala so%re outros assuntos que n,o

    se6am carcereiros e muros de pris,o: O mundo

    exterior n,o se tornou menos real porque o prisioneiro

    n,o consegue v01lo. 3sando o escape dessa forma# os

    cr?ticos escoleram a palavra errada e# anda mais#

    est,o confundindo# nem sempre por erro sincero# o

    Escape do

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    3m exemplo superficial2 n,o mencionar Dna

    verdade# n,o ostentarG num conto lmpadas de rua

    eltricas# do tipo produido em massa# Escape

    Dnesse sentidoG. >as isso pode provir# quase

    certamente provm# de uma estudada avers,o a um

    produto t,o t?pico da Era Ro%'tica# que com%ina

    ela%ora",o e engenosidade de meios com feira# e

    Dmuitas veesG com resultado inferior. Essas lmpadas

    podem ter sido exclu?das do conto simplesmente porserem lmpadas ruins# e poss?vel que uma das

    li"+es a ser aprendidas na narrativa se6a a percep",o

    desse fato. >as a? vem o porrete2 $!s lmpadas

    eltricas vieram para ficar)# diem. &- muito tempo

    7esterton o%servou veridicamente que# assim que

    ouvia que algo $viera para ficar)# sa%ia que muito logo

    aquilo seria su%stitu?do 1 na verdade seria considerado

    deploravelmente o%soleto e ordin-rio. $! marca da

    7i0ncia# cu6o ritmo acelerado pelas necessidades da

    guerra# prossegue inexor-vel 4...5 tornando algumas

    coisas o%soletas e prefigurando novas evolu"+es nouso da eletricidade) 1 um anncio. Ele di a mesma

    coisa# s' que de modo mais amea"ador. ! lmpada de

    rua eltrica pode de fato ser ignorada simplesmente

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    porque insignificante e transit'ria. Se6a como for# as

    ist'rias de fadas t0m coisas mais permanentes e

    fundamentais so%re o que falar. O raio# por exemplo.

    O escapista n,o t,o servil aos capricos da moda

    evanescente como aqueles oponentes. Ele n,o fa dos

    o%6etos Dque podem %em racionalmente ser

    considerados ruinsG seus mestres ou seus deuses#

    adorando1os como inevit-veis# at $inexor-veis). E

    seus oponentes# de despreo t,o f-cil# n,o t0mgarantia de que ele parar- por a?2 ele poder- incitar as

    pessoas a derru%arem as lmpadas de rua. O

    escapismo tem outro rosto# ainda mais perverso2 a

    Rea",o.

    *,o fa muito tempo 1 por incr?vel que pare"a 1

    ouvi um erudito de OxenfordUdeclarar que $saudava)

    a proximidade de f-%ricas ro%otiadas de produ",o

    em massa e o rugido do tr-fego mecnico auto1

    o%struidor# porque isso puna sua universidade em

    $contato com a vida real).

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    n,o poderiam ter feito coisa melor do que faem

    normalmente# com todos os seus a%undantes meios.

    7reio que as ist'rias de fadas podem ser melores

    >estres de !rtes do que o indiv?duo acad0mico a

    quem me referi.

    >uito daquilo que ele DsuponoG e outros

    DcertamenteG camariam de literatura $sria) nada

    mais do que %rincar so% um telado de vidro ao lado

    de uma piscina municipal. !s ist'rias de fadaspodem inventar monstros que voam pelo ar ou

    a%itam as profundeas# mas ao menos n,o tentam

    escapar do cu ou do mar.

    E# se por um momento deixarmos de lado a

    $fantasia)# nem mesmo creio que o leitor ou criador

    de ist'rias de fadas precise se envergonar do

    $escape) do arca?smo2 de preferir n,o drag+es# mas

    cavalos# castelos# veleiros# arcos e flecas n,o

    apenas elfos# mas cavaleiros# reis e sacerdotes.

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    das metraladoras e %om%as que parecem ser seus

    produtos mais naturais e inevit-veis# ousemos dier

    $inexor-veis).

    $! cruea e a feira da vida europia moderna) 1

    dessa vida real cu6o contato devemos saudar 1 $s,o

    sinais de inferioridade %iol'gica# de rea",o

    insuficiente ou falsa ao am%iente).UA O mais louco

    castelo que 6- saiu da sacola de um gigante numa

    extravagante narrativa galica n,o apenas muitomenos feio do que uma f-%rica ro%'tica como tam%m

    # Dusando uma frase modernaG $num sentido muito

    real)# imensamente mais real. as para eles# emregra# muito dif?cil deduir o que as pessoas far7o

    numa cidade mundial como essa.

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    folgados Dcom ?peresG# mas usar,o essa li%erdade

    principalmente# ao que parece# para %rincar com

    %rinquedos mecnicos no 6ogo de mover1se em alta

    velocidade# que logo satura. ! 6ulgar por alguns

    desses contos# ainda ser,o t,o luxuriosos# vingativos

    e gananciosos como sempre# e os ideais de seus

    idealistas mal cegam alm da espl0ndida idia de

    construir mais cidades do mesmo tipo em outros

    planetas. X de fato uma era de $meios aperfei"oadospara fins deteriorados). (a parte da enfermidade

    essencial desses dias 1 produindo o dese6o de

    escapar# n,o de fato da vida# mas sim de nosso tempo

    presente e da misria que n's mesmos fiemos 1

    estarmos agudamente conscientes tanto da feira de

    nossas o%ras quanto de seu mal. !ssim# para n's o

    mal e a feira parecem indissoluvelmente aliados.

    !camos dif?cil conce%er o mal e a %elea 6untos. O

    temor da %ela fada que perpassava as eras antigas

    quase nos escapa das m,os. >ais alarmante ainda2 a

    %ondade em si foi privada de sua %elea pr'pria. *oHelo Reino podemos de fato conce%er um ogro que

    possui um castelo medono como um pesadelo

    Dporque a maldade do ogro assim o dese6aG# mas n,o

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    podemos conce%er uma casa constru?da com %om

    prop'sito 1 uma estalagem# um otel para via6antes# o

    sal,o de um rei virtuoso e no%re 1 que se6a ao mesmo

    tempo repugnantemente feia. *os dias atuais seria

    temer-rio esperar ver uma que n,o fosse feia 1 a n,o

    ser que tena sido constru?da antes de nosso tempo.

    UA. 7ristoper Ma8son# Progress and $eligion, pp. W# WA. >ais alm ele

    acrescenta2 $! plena pan'plia vitoriana da cartola e so%recasaca sem

    dvida expressava algo essencial = cultura do sculo ^I^# e portanto se

    espalou por todo o mundo com essa cultura# de uma forma como

    nenuma moda do vestu-rio 6amais fe antes. E poss?vel que nossos

    descendentes recone"am nela uma espcie de austera %elea ass?ria#

    6usto em%lema da era implac-vel e grandiosa que a criou mas# se6a

    como for# ela se desvia da %elea direta e inevit-vel que todos os tra6es

    deveriam possuir# porque# como sua cultura1m,e# ela estava desconexa

    da vida da naturea e tam%m da naturea umana).

    Esse# no entanto# o aspecto $escapista)

    moderno e especial Dou acidentalG das ist'rias de

    fadas# que elas partilam com os romances e outras

    narrativas do passado ou a respeito dele. >uitas

    ist'rias do passado s' se tornaram $escapistas) em

    seu apelo porque so%reviveram desde uma poca em

    que os omens em regra se deleitavam com o

    tra%alo realiado por suas pr'prias m,os at o nosso

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    seres vivos. So%re esse dese6o# t,o antigo quanto a

    ;ueda# fundamenta1se em larga medida o discurso

    dos animais e das criaturas nas ist'rias de fadas# e

    especialmente a compreens,o m-gica de sua fala

    caracter?stica. Essa a rai# e n,o a $confus,o)

    atri%u?da aos omens do passado n,o registrado# uma

    alegada $aus0ncia do sentimento de separa",o entre

    n's e os animais).WV 3m sentimento vivo dessa

    separa",o muito antigo# mas tam%m uma sensa",ode que foi um rompimento2 um estrano destino e

    uma culpa repousam so%re n's. Outras criaturas s,o

    como outros reinos com que o &omem rompeu

    rela"+es# e que agora s' v0 de fora# ao longe#

    encontrando1se em guerra com eles ou nos termos de

    um inquietante armist?cio. &- alguns poucos que t0m

    o privilgio de faer algumas viagens para o exterior

    outros precisam se contentar com ist'rias de

    via6antes 1 mesmo so%re sapos. (alando da ist'ria de

    fadas O $ei Sapo, %astante estrana mas muito

    difundida# >ax >/ller perguntou com seu modoempertigado2 $7omo foi que uma ist'ria como essa

    cegou a ser inventada: Os seres umanos# podemos

    esperar# sempre foram suficientemente ilustrados

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    para sa%er que o casamento entre um sapo e a fila

    de uma raina a%surdo). Me fato podemos esperar

    isso

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    >as o $consolo) das ist'rias de fadas tem outro

    aspecto alm da satisfa",o imaginativa de antigos

    dese6os. >uito mais importante o 7onsolo do (inal

    (eli. Eu quase me arriscaria a afirmar que todas as

    ist'rias de fadas completas precisam t01lo. *o

    m?nimo diria que a Tragdia a verdadeira forma do

    Mrama# sua fun",o mais elevada# mas o contr-rio vale

    para a ist'ria de fadas. J- que n,o parecemos possuir

    uma palavra que expressa esse contr-rio# vou cam-1lo de E#0atBstrofe( O conto e#10atastrfi0o a forma

    verdadeira do conto de fadas# e sua fun",o mais

    elevada.

    O consolo das ist'rias de fadas# a alegria do

    final feli# ou mais corretamente da %oa cat-strofe# da

    repentina $virada) 6u%ilosa Dporque n,o - um final

    verdadeiro em qualquer conto de fadasG#WC essa

    alegria# que uma das coisas que as ist'rias de

    fadas conseguem produir supremamente %em# n,o

    essencialmente $escapista) nem $fugitiva). Em seu

    am%iente de conto de fadas 1 ou de outro mundo 1 ela uma gra"a repentina e milagrosa2 nunca se pode

    confiar que ocorra outra ve. Ela n,o nega a

    exist0ncia da dis0atBstrofe, do pesar e do fracasso2 a

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    possi%ilidade destes necess-ria = alegria da

    li%erta",o. Ela nega Dem face de muitas evid0ncias#

    por assim dierG a derrota final universal# e nessa

    medida e%angeli#, dando um vislum%re fuga da

    !legria# !legria alm das muralas do mundo#

    pungente como o pesar.

    WC. er *ota & ao final Dp. G.

    O sinal de uma %oa ist'ria de fadas# do tipo

    mais elevado ou mais completo# que# n,o importa

    qu,o desvairados se6am seus eventos# qu,o

    fant-sticas ou terr?veis as aventuras# ela pode

    proporcionar = crian"a ou ao adulto que a escuta#

    quando cega a $virada)# uma suspens,o de flego#

    um %atimento e nimo no cora",o# pr'ximos =s

    l-grimas Dou de fato acompanados por elasG# t,o

    penetrantes como aqueles dados por qualquer forma

    de arte liter-ria# e com uma qualidade peculiar.

    !t mesmo as ist'rias de fadas modernasconseguem =s vees produir esse efeito. *,o algo

    f-cil de faer depende de toda a ist'ria que o

    cen-rio da virada# e ainda assim reflete uma gl'ria

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    para o come"o. 3ma narrativa que tena 0xito nesse

    ponto# em qualquer medida# n,o fracassou por

    completo# quaisquer que se6am seus defeitos e

    qualquer que se6a a mistura ou confus,o de

    prop'sitos. Isso acontece at na ist'ria de fadas

    PrMn0ipe FrMgio, do pr'prio !ndre8 Kang# ainda que

    se6a insatisfat'ria de muitas maneiras. ;uando $cada

    cavaleiro reviveu# ergueu a espada e exclamou2 1 ida

    longa ao

  • 8/14/2019 Tolkien - Sobre Histrias de Fadas

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    Te glassQ ill I clam% for tee#

    Te %luidQ sirt I 8rang for tee#

    !nd 8ilt tou not 8auken and turn to me:)W]