título o conceito de moral -...

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Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br Aristóteles classificava a excelência moral como uma disposição da alma, e não como emoção ou sentimento. Para ele, o que diferenciava a política da moral é que a primeira tem como fim o bem dos homens, e a última a felicidade do indivíduo. A moral é uma arte, e como toda arte deve preencher certos requisitos. A primeira é determinar que a moral trata das ações humanas. A segunda é que ela trata de determinadas ações voluntárias, mais especificamente as que partem da escolha. Por fim, ele classifica que o objeto do desejo racional, que caracteriza a escolha, é a finalidade de atingir um bem propriamente dito. "[1109b] A excelência moral se relaciona com as emoções e ações, e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e censuradas, enquanto as involuntárias são perdoadas, e às vezes inspiram piedade; logo, a distinção entre o voluntário e o involuntário parece necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral, e será útil também aos legisladores com vistas à atribuição de honrarias e à aplicação de punições. Consideram-se involuntárias as ações praticadas sob compulsão por ignorância; um ato é forçado quando sua origem é externa ao agente, sendo tal a sua natureza que o agente não contribui de forma alguma para o ato, mas, ao contrário, é influenciado por ele – por exemplo, quando uma pessoa é arrastada a alguma parte pelo vento, ou por outra pessoa que a tem em seu poder. Mas há algumas dúvidas quanto ás ações praticadas em conseqüência do medo de males maiores com vistas a algum objetivo elevado[1097b] (por exemplo, um tirano que tendo em seu poder os pais e filhos de uma pessoa, desse uma ordem ignóbil a esta, tendo em vista que o não cumprimento acarretasse na morte dos reféns); é discutível se tais ações são involuntárias ou voluntárias. (...) Tais ações, então, são mistas mas se assemelham mais as voluntárias, pois são objeto de escolha no momento de serem praticadas, e a finalidade de uma ação varia de acordo com a oportunidade, de tal forma que as palavras “voluntário” e “involuntário” devem ser usadas com referência ao momento da ação; com efeito, nos atos em questão as pessoas agem voluntariamente, portanto são voluntárias, embora talvez sejam involuntárias de maneira geral, pois ninguém escolheria qualquer destes atos por si mesmos. (continua) Título: Autor: Ano: Páginas: Obs: O conceito de moral Aristóteles - 02 Traduzido por Mario da Gama Kuy 1

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Page 1: Título O conceito de moral - meucci.com.brmeucci.com.br/wp-content/uploads/2010/07/aristoteles_moral.pdf · Tendo de˜nido voluntário e involuntário, devemos examinar em seguida

Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br

Aristóteles classi�cava a excelência moral como uma disposição da alma, e não como emoção ou sentimento. Para

ele, o que diferenciava a política da moral é que a primeira tem como �m o bem dos homens, e a última a felicidade do

indivíduo. A moral é uma arte, e como toda arte deve preencher certos requisitos. A primeira é determinar que a moral trata

das ações humanas. A segunda é que ela trata de determinadas ações voluntárias, mais especi�camente as que partem da

escolha. Por �m, ele classi�ca que o objeto do desejo racional, que caracteriza a escolha, é a �nalidade de atingir um bem

propriamente dito.

"[1109b]

A excelência moral se relaciona com as emoções e ações, e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e censuradas,

enquanto as involuntárias são perdoadas, e às vezes inspiram piedade; logo, a distinção entre o voluntário e o involuntário parece

necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral, e será útil também aos legisladores com vistas à atribuição de

honrarias e à aplicação de punições.

Consideram-se involuntárias as ações praticadas sob compulsão por ignorância; um ato é forçado quando sua origem é externa

ao agente, sendo tal a sua natureza que o agente não contribui de forma alguma para o ato, mas, ao contrário, é in�uenciado por

ele – por exemplo, quando uma pessoa é arrastada a alguma parte pelo vento, ou por outra pessoa que a tem em seu poder.

Mas há algumas dúvidas quanto ás ações praticadas em conseqüência do medo de males maiores com vistas a algum objetivo

elevado[1097b] (por exemplo, um tirano que tendo em seu poder os pais e �lhos de uma pessoa, desse uma ordem ignóbil a esta,

tendo em vista que o não cumprimento acarretasse na morte dos reféns); é discutível se tais ações são involuntárias ou

voluntárias. (...) Tais ações, então, são mistas mas se assemelham mais as voluntárias, pois são objeto de escolha no momento de

serem praticadas, e a �nalidade de uma ação varia de acordo com a oportunidade, de tal forma que as palavras “voluntário” e

“involuntário” devem ser usadas com referência ao momento da ação; com efeito, nos atos em questão as pessoas agem

voluntariamente, portanto são voluntárias, embora talvez sejam involuntárias de maneira geral, pois ninguém escolheria qualquer

destes atos por si mesmos.

(continua)

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O conceito de moral

Aristóteles

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02

Traduzido por Mario da Gama Kuy

1

Page 2: Título O conceito de moral - meucci.com.brmeucci.com.br/wp-content/uploads/2010/07/aristoteles_moral.pdf · Tendo de˜nido voluntário e involuntário, devemos examinar em seguida

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[1111b]

Tendo de�nido voluntário e involuntário, devemos examinar em seguida a escolha, esta, com efeito, parece relacionar-se

intimamente com a excelência moral, e proporciona um juízo mais seguro sobre o caráter do que sobre as ações. A escolha então

parece voluntária, mas não é a mesma coisa, pois o âmbito da última é mais ampla. Tanto crianças quanto animais inferiores são

capazes de ações voluntárias, mas não de escolha. Os que identi�cam a escolha com o desejo ou as paixões não o fazem

acertadamente, pois a escolha não é efetuada pelos seres irracionais.

[1112a]

Que é a escolha, ou que espécie de manifestação da alma ela é? Aparentemente é voluntária, mas nem tudo que é voluntário é

objeto da escolha. Seja como for, a escolha requer o uso da razão e do pensamento. Seu próprio nome, aliás, parece sugerir que

ela é aquilo que é escolhido de preferência a outras coisas."

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Ed. UNB, 2001 p. 49; 52; 54

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