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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL FÁTIMA APARECIDA MACHADO DE ANDRADE IMPACTOS DOS BARCOS-HOTÉIS NA ECONOMIA DE CORUMBÁ (MS), ARROYO CONCEPCIÓN E PUERTO QUIJARRO, FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA – MATO GROSSO DO SUL CORUMBÁ - MS 2013 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL

FÁTIMA APARECIDA MACHADO DE ANDRADE

IMPACTOS DOS BARCOS-HOTÉIS NA ECONOMIA DE CORUMBÁ (MS), ARROYO CONCEPCIÓN E PUERTO

QUIJARRO, FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA – MATO GROSSO DO SUL

CORUMBÁ - MS 2013

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL

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FÁTIMA APARECIDA MACHADO DE ANDRADE

IMPACTOS DOS BARCOS-HOTÉIS NA ECONOMIA DE CORUMBÁ (MS), ARROYO CONCEPCIÓN E PUERTO QUIJARRO,

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA – MATO GROSSO DO SUL

Defesa de Dissertação final apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, Curso de Mestrado Profissional, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Linha de Pesquisa: Desenvolvimento, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente

Orientadora: Vanessa dos Santos Bodstein Bivar

Corumbá - MS 2013

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FÁTIMA APARECIDA MACHADO DE ANDRADE

IMPACTOS DOS BARCOS-HOTÉIS NA ECONOMIA DE CORUMBÁ (MS), ARROYO CONCEPCIÓN E PUERTO QUIJARRO,

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA – MATO GROSSO DO SUL

Defesa de Dissertação final apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, Curso de Mestrado Profissional, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Aprovada em 20 de fevereiro de 2013, com Conceito A.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Orientadora: Prof. Drª Vanessa dos Santos Bodstein Bivar Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

__________________________________ 1º avaliador: Prof. Dr. Roberto Ortiz Paixão

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS

_________________________________________ 2º avaliador: Prof. Dr. Gustavo Villela Lima da Costa Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus Pai, que guia todos os meus passos; à minha mãe de

coração, Srª Doralice das Neves, pela dedicação e aconselhamentos; ao Ilmº. Dr.

Salomão Baruki (in memoriam), a quem dedico este trabalho, e à sua filha, Lígia Baruki

e Melo, ambos responsáveis pelo meu conhecimento e formação superior,

oportunizando a realização deste sonho. Destaco a paciência e a dedicação de

familiares, em especial Josival, companheiro de anos de luta, sempre apoiando os meus

projetos, e meus filhos, pelo incentivo, mesmo a distância. Em especial agradeço, com

carinho, à minha filha Andressa, pelo companheirismo durante pesquisas de campo e

responsabilidades assumidas durante a minha ausência.

Registro que o mais importante dessa trajetória foi a Fé que me move e fortalece, com o

amparo dos protetores de luz, que me levaram a cumprir todas as etapas da investigação

proposta, sob a orientação da Profª Drª Vanessa dos Santos Bodstein Bivar, a quem

agradeço de coração, por sua dedicação, sem medir esforços. Expresso meus

agradecimentos aos Professores Dr. Gustavo Villela Lima da Costa e Prof. Dr. Roberto

Ortiz Paixão, que gentilmente aceitaram o convite para participar da Banca de Exame de

Qualificação, quando contribuíram com sugestões e alterações que enriqueceram o

trabalho, e que retornaram para a Banca de Defesa. Minha gratidão à Professora

Marilene Aparecida Gonçalves, pela sua contribuição na elaboração e orientação de

gráficos do trabalho; à amiga de sempre Marisa Aparecida Gonçalves, que ajudou a

apagar algumas fogueiras no percurso da pesquisa; à amiga Ramona Trindade,

secretária do MEF, pelo importante apoio de todas as horas; ao Prof. Nelson de Almeida

Junior, autor do Guia Completo do Rio Paraguai, que gentilmente me cedeu para

demonstrar pontos favoráveis à prática da pesca amadora-recreativa-esportiva no

Pantanal de MT-MS.

Expresso os mais sinceros agradecimentos a todos os Professores Doutores do Programa

de Pós-Graduação, Mestrado Profissional em Estudos Fronteiriços da UFMS – Campus

do Pantanal, alguns já amigos de longa data e outros que tive a oportunidade de

conhecer e de quem recebi valiosas contribuições nas disciplinas cursadas; aos colegas

de turma, que considero amigos e mestres, pelas conversas informais e esclarecimentos

que nortearam o final deste trabalho.

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Igualmente, e com o mesmo carinho, agradeço às irmãs Cleide e Clemilda, que

mergulharam em uma viagem, especialmente para prestigiar a minha apresentação final.

Esta é a realização não apenas de um sonho, mas de um objetivo de vida, que se iniciou

ainda na graduação, com expressiva contribuição de alguns empresários do segmento da

pesca de Corumbá que revelaram, em várias ocasiões, detalhes históricos da atividade.

Como exemplos, citamos a Srª Nélida Asunción Gomes Benitez e o Sr. Jorge Marinho

Nader (La Barca Turismo), o Sr. Orozimbo Garcia Decenzo (Cabexy), Ivan Porto, João

Venturini, dentre outros, que foram os precursores da modalidade de pesca embarcada

em Corumbá (MS), juntamente com o Sargento Eurípedes, Aza Roy Smith, Sr. Severino

e a família Aguilar. Destaco o apoio do Sr. Luiz Antonio Martins (Navio Kalypso e

Pérola do Pantanal) e toda equipe do Navio Kalypso, que me proporcionaram a coleta

de dados primários durante a viagem exploratória. Em seu nome, estendo

agradecimentos a todos os empresários que colaboraram, autorizando as entrevistas aos

turistas na chegada das embarcações.

Meus agradecimentos à Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo

– ACERT, na gestão da presidente Srª Joice Carla Santana Marques, equipe e

associados, que me autorizaram a adentrar nesse espaço de muitos campos

desconhecidos para leigos.

Minha gratidão ao Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Aquaviários na área do

Turismo, Sr. Clarindo Silva Costa, pelas informações sobre acordos salariais da

categoria; à presidente da Colônia de Pesca Z-1 Srª Luciana; aos componentes da

Corporação da Polícia Militar Ambiental de Corumbá – PMA, Comandante Joilson

Santana, Major QOPM Freitas pelo apoio no período das pesquisas ainda na graduação

e Pós-Graduação – Especialização, e ao Major QOPM Nivaldo de Padua Mello e toda

equipe, que me permitiram aplicar questionário aos turistas nas dependências do lacre

do pescado e trouxeram dados importantes para a elaboração de quadros e tabelas.

Especiais agradecimentos à Drª Emiko Kawakami de Resende e ao Dr. Agostinho

Carlos Catella, da EMBRAPA Pantanal, que me concederam entrevistas, com

informações técnicas, e aos ribeirinhos da região do Pantanal Sul, que também

forneceram depoimentos que esclareceram suas dificuldades e a vontade de

prosperidade.

Finalmente, agradeço ao Consul da Bolívia no Brasil, Sr. Juan Carlo Mérida Romero,

que gentilmente concedeu a autorização Consular para a aplicação dos questionários em

território boliviano, e também aos comerciantes e lojistas do Shopping de Puerto

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Aguirre, Miami House e Districtos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro. Aos

empresários de Corumbá, que participaram prestando informações para complementar a

análise de dados, esclarecendo fatos, ritos e especificidades do turismo de pesca

embarcada em barcos-hotéis, e todas as empresas que fazem parte da cadeia produtiva

da pesca local e regional.

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Resumo

Esta investigação apresenta discussão sobre a atividade de lazer e desporto da pesca amadora-recreativa-esportiva praticada em Corumbá, na fronteira Brasil/Bolívia, em Mato Grosso do Sul. A pesquisa empírica buscou informações e especificidades desse segmento, para melhor compreensão dos efeitos multiplicadores que se propagam na cadeia produtiva do turismo de pesca que a atividade vem desencadeando ao longo de cinco décadas no Pantanal sul-mato-grossense, ambiente propício devido às suas riquezas e belezas naturais, com foco específico na modalidade embarcada em Barco-Hotel, associado ao turismo de compras de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro (Bolívia). A região fronteiriça possui uma variedade de empresas entrelaçadas na cadeia produtiva do turismo de pesca, que mantém em movimento várias atividades econômicas, configurando, mesmo que imperceptivelmente, o efeito multiplicador, que se trata da necessidade de as empresas adquirirem produtos e serviços de outras empresas da mesma localidade. O processo se inicia a partir dos gastos efetuados por turistas de outras regiões do país, no destino receptor, ao adquirirem produtos e serviços turísticos, que perpassam por diversos setores da economia, utilizados para pagamento de fornecedores, nem sempre ligados ao turismo, sendo que uma parte é direcionada aos trabalhadores do setor. Outro objetivo abordado na pesquisa dimensiona os impactos nas empresas durante a piracema, período de reprodução dos peixes migratórios em que a pesca é proibida, em diferentes níveis, direta ou indiretamente, acarretando anualmente a queda nas receitas de alguns empreendimentos em ambos os lados da fronteira, com a consequente demissão massiva de funcionários, principalmente pelas empresas de barcos-hotéis, recorrente ao final de cada temporada, com raras exceções. Os resultados desse aporte, obtidos em pesquisa de campo, junto aos empresários, gerentes, turistas de barcos-hotéis e comerciantes (lojistas) de Corumbá, do Shopping de Compras de Puerto Aguirre, Miami House e de Arroyo Concepción - Feirinha da Fronteira – em Puerto Quijarro proporcionaram demonstrativos desses reflexos, em Gráficos, Quadros e Tabelas, ocasião em que há o fechamento da pesca e, por conseguinte, a redução de cerca de 60% de turistas que visitam Corumbá anualmente. O fato atinge o comércio da região e confirma as dificuldades no período de sazonalidade (alta e baixa temporada). Também descrevemos sobre a comercialização e os valores dos pacotes, a média da quantidade e duração das viagens nas embarcações, a logística e os aspectos laborais das empresas que movimentam essa cadeia produtiva. Com dados atualizados, obtivemos a confirmação do perfil socioeconômico dos visitantes, além de depoimentos obtidos durante a aplicação dos questionários, (corpo a corpo) que permitiu com isso, elaborarmos a avaliação da estrutura física e a qualidade dos serviços prestados durante a viagem pelas embarcações, segundo a visão dos usuários. Dentre todos os questionamentos relevantes, destacamos as suas perspectivas quanto ao futuro do turismo em Corumbá (MS), expostas em tabelas, quadros e gráficos demonstrativos.

Palavras Chave: fronteira, turismo, pesca, barco-hotel, economia

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Resumen1

Esta investigación presenta análisis sobre la actividad de ocio y pesca deportiva de aficionados-deporte-recreativo practicada en Corumbá, en la frontera Brasil/Bolivia, en Mato Grosso do Sul. La investigación empírica, recabó informaciones y especificidades de este segmento, para mejor comprensión de los efectos multiplicadores que se propagan en la cadena productiva del turismo de pesca que la actividad desencadena a lo largo de cinco décadas en el Pantanal sul-mato-grossense, ambiente favorable debido a sus riquezas y bellezas naturales, con especial énfasis en la modalidad embarcada en Barco-Hotel, asociado al turismo de compras de Arroyo concepción y Puerto Quijarro (Bolivia). La región fronteriza presenta una variedad de empresas entrelazadas en la cadena productiva del turismo de pesca, que mantiene en movimiento varias actividades económicas, figurando, aunque imperceptiblemente, el efecto multiplicador, que se trata de la necesidad de las empresas en obtener productos y servicios de otras empresas en la misma localidad. El proceso empieza a partir de los gastos efectuados por los turistas de otras regiones del país, en el destino receptor, al comprar productos y servicios turísticos, que abarcan diversos sectores de la economía, utilizados para pagar a los proveedores, no siempre relacionados con el turismo, siendo que una parte es dirigida a los trabajadores del sector. Otro objetivo abordado en esta pesquisa dimensiona los impactos en las empresas durante el desove, ciclo de reproducción de peces migratorios cuando la pesca es prohibida en distintos niveles, directa o indirectamente, dando lugar a la disminución de los ingresos anuales de algunas empresas en ambos lados de la frontera, con el consecuente despido masivo de empleados, principalmente por empresas de barcos-hoteles, recurrente al final de cada temporada, con raras excepciones. Los efectos de esta contribución, obtenidas en investigación de campo, junto a los empresarios, gerentes, turistas de barcos turísticos, hoteles y comerciantes (tendero) de Corumbá, del Shopping de Compras de Puerto Aguirre, Miami House y de Arroyo Concepción – Feria de la Frontera – en Puerto Quijarro proporcionaron demostrativos de estos reflejos, en Gráficos, Cuadros y Tablas, ocasión que ocurre el cierre de la pesquería, y por lo tanto, una reducción de alrededor del 60% de turistas que visitan Corumbá anualmente. Hecho que afecta el comercio en la región, y confirma las dificultades en el período de la estacionalidad (temporada alta y baja). También describimos sobre la comercialización y los valores de los paquetes, el promedio de la cantidad y duración de viajes en las embarcaciones, la logística y los aspectos laborales de las empresas que movilizan esa cadena productiva. Con datos actualizados, obtuvimos la confirmación del perfil socioeconómico de los visitantes, además de las declaraciones obtenidas durante la aplicación de los cuestionarios, (cuerpo a cuerpo) lo que permitió con eso, que elaboremos la evaluación de la estructura física y la calidad de los servicios prestados durante el viaje por las embarcaciones, de acuerdo al enfoque de los usuarios. De entre todos los cuestionamientos relevantes, destacamos sus perspectivas sobre el futuro del turismo en Corumbá (MS), exhibidos en tablas, cuadros y gráficos demostrativos. Palabras claves: frontera, turismo, pesca, barco-hotel, economía.

1 Lenir Alencar Peinado. Tradutora, Intérprete: Espanhol-Português. Habilitada pela Justiça Federal. Título registrado sob nº. 18437- Mat. CB / 031/07. E-mail: [email protected]. Corumbá (MS). Janeiro-2013.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

Capítulo 1. FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA (MS), TURISMO E

TERRITORIALIDADE: OCUPAÇÃO, (RE)PRODUÇÃO E USO DO ESPAÇO ........ 6

1.1. Fronteira, identidade, turismo ............................................................................... 6 1.1.2. Interrelações na fronteira Brasil/Bolívia (MS) ...................................................... 9 1.1.3. Aspectos políticos e interrelações socioeconômicas de Corumbá (MS) ................ 11 1.1.4. Aspectos políticos e socioeconômicos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro. 16

1.2. Turismo contemporâneo: conceitos, tendências global e nacional ...................... 21 1.2.1. Turismo e território: interrelações socioeconômicas e efeitos multiplicadores ..... 23 1.2.2. O Turismo de pesca no Pantanal sul-mato-grossense ............................................ 25. 1.2.3. Ecoturismo do Parque Nacional do Pantanal – PARNA ....................................... 27 1.2.4. Patrimônio Arquitetônico e Paisagístico de Corumbá (MS). ................................. 31

1.3. Aspectos históricos: Crise da Industrialização e do Turismo -Corumbá (MS). 35 1.3.1. Turismo na fronteira Brasil/Bolívia (MS) .............................................................. 37 1.3.2. Identidade e territorialidade: apropriação, produção e uso do território ............... 39

Capítulo 2. A PESCA: ASPECTOS HISTÓRICOS, INSTITUCIONAIS E SOCIOECONÔMICOS ........................................................................................................ 46

2.1. A pesca desportiva .................................................................................................. 46 2.1.1. Contribuições econômicas ..................................................................................... 48 2.1.2. Visão geral da pesca no Brasil e Mato Grosso do Sul: aspectos institucio- nais ........................................................................................................................ 52 2.1.3. Modalidades da pesca: artesanal, comercial e embarcada em Barco-Hotel,

e sua importância socioeconômica ........................................................................ 54. 2.1.4. A pesca embarcada: amadora, recreativa e esportiva ............................................ 57. 2.1.5. Panorama atual da pesca amadora: Aumento das emissões de licenças de pesca

........................................................................................................................ 66 2.2. Legislação e dados sobre a pesca embarcada: aspectos de Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul .......................................................................................................... 70 2.2.1 Situação atual e perspectivas: gestão do setor de pesca nos Estados de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul ............................................................................................... 72 2.2.2. Pesca predatória e fiscalização no Pantanal mato-grossense (MS - MT) .............. 78 2.2.3. Aspectos da pesca recreativa, amadora, e esportiva no Pantanal do Mato Grosso do Sul 80 2.2.4. Primeira Lei de Pesca Municipal – Corumbá (MS) ............................................... 82 2.2.5. Equipamentos utilizados no Mato Grosso do Sul: características da pesca embarcada: artesanal, profissional e recreativa ................................................................................... 84.

2.3. Aspectos históricos e estrutura dos barcos-hotéis do Pantanal sul mato-grossense ..................................................................................................... 87

2.3.2. Barcos-hotéis de Turismo de pesca: estrutura física ............................................. 87 2.3.3. A administração e viagens de barco-hotel: Características da comercialização

dos pacotes ............................................................................................................ 89 2.3.4. A logística que movimenta as viagens do setor produtivo de barco-hotel e

aspectos laborais .................................................................................................... 99

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3. Capítulo 3 – TURISMO DE PESCA EM BARCO-HOTEL: EFEITOS

MULTIPLICADORES E IMPACTOS NA PIRACEMA 100

3.1. Empresas da cadeia produtiva da pesca ...................................................................... 104 3.1.2. Empresas de barco-hotel pesquisadas em Corumbá (MS): efeitos multiplicadores

e impactos da piracema na cadeia produtiva da pesca ......................................... 106 3.1.3. Empresas de Corumbá ligadas diretamente ao turismo de pesca de barco-hotel ...

............................................................................................................................... 109 3.1.4. Associação do turismo de pesca e o comércio varejista de Corumbá e os Impactos

na piracema ............................................................................................................. 110 3.1.5. Início da BRASBOL - Comércio brasileiro-boliviano em Corumbá (MS) ........... 114

3.2. O surgimento do complexo de compras em Puerto Quijarro e Arroyo Concepción.

................................................................................................................................ 116 3.2.2. Os impactos da piracema na economia do comércio localregional ....................... 118 3.2.3. A queda das receitas nas empresas do Shopping Puerto Aguirre, Miami House e

Arroyo Concepción (BO) ...................................................................................... 119 3.2.3. Coletores de iscas vivas do Pantanal Sul-Mato-grossense .................................... 125

3.3. Preocupação com o meio ambiente e resultados aferidos na pesquisa de campo e entrevistas com turistas de barco-hotel ....................................................................... 128

3.3.1. Cuidados com o descarte dos resíduos gerados na embarcação ............................ 128 3.3.2. Despesas fixas das empresas de barco-hotel durante a proibição da pesca e a crise no setor .................................................................................................................. 130 3.3.3. Resultados obtidos em pesquisa de campo dos turistas de barco-hotel por gênero e faixa etária 135 3.3.4. A origem dos turistas de pesca de barco-hotel de Corumbá (MS) ........................ 137 3.3.5. A escolha da embarcação e o grau de satisfação durante a viagem ....................... 137 3.3.6. Avaliação das instalações e serviços oferecidos nas embarcações e indivíduos que foram à Bolívia .............................................................................................. 138 3.3.7. Gastos dos turistas na compra de pacotes em Barco-Hotel de turismo de Corumbá (MS) 140 3.3.8. Perspectivas dos turistas quanto ao futuro do turismo na região de Corumbá (MS) ................................................................................................................................ 143 3.3.9. Situação atual do turismo de pesca amadora ......................................................... 147

Considerações Finais ............................................................................................................. 148 Proposta Ação da pesca aliada a outras modalidades de turismo .................................... 153 Referências ............................................................................................................................. 156

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APÊNDICES E ANEXOS

A. Questionários – Turistas de Barco-Hotel

B. Entrevistas aos Empresários de Barco-Hotel

C. Entrevistas direcionadas aos Comerciantes do Shopping de Puerto Aguirre – Miami House e Comercial 12 de Octubre em Arroyo Concepción – Puerto Quijarro – Bolívia

D. Perguntas para Entrevistas a Comerciantes de Empresas da Cadeia Produtiva do turismo de pesca de Corumbá (MS)

E. Guia Completo de Pesca Esportiva - ECOGUIAS

F. Tabela Salarial – 2012, dos Trabalhadores Aquaviários na área do Turismo.

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CAPÍTULO 1

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA (MS), Turismo e Territorialidade: Ocupação. Re-produção e uso do espaço

TABELAS - QUADROS - FIGURAS - GRÁFICOS

TABELAS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fronteira Brasil-Bolívia em Mato Grosso do Sul. ................................ 14 Figuras 2-3. Galeria de Lojas comerciais, Comércio e Moradia. ............................. 18 Figuras 4-5. Casa Venâncio, Restaurante La Bodeguita. ......................................... 18 Figura 6. Status do avanço das construções na Feirinha da Fronteira. ................ 19 Figura 7. Shopping de Compras em Puerto Aguirre-BO. ....................................... 19 Figura 8. Loja do Shopping de Compras Puerto Aguirre-BO ............................ 20 Figura 9. Shopping China em Puerto Aguirre-BO. ............................................ 20 Figura 10. Transporte de minério pela hidrovia Paraguai-Paraná ........................ 26 Figura 11-12. Ninhal de pássaros, Flor da Vitória Régia. ......................................... 28 Figura 13-14. Moradores ribeirinhos, Representantes da Associação Barra São Lourenço ............................................................................................... 30 Figura 15. Casario do Porto Geral. ....................................................................... 32 Figura 16. Prédio Wanderley Baís – MUPHAN .................................................. 33 Figura 17. Edificações da parte alta na Av. General Rondon. .............................. 34 Figura 18. Prédios em estilos: antigo e moderno .................................................. 34 Figura 19. Centro de Convenções Miguel Gomes. ............................................... 35 Figura 20-21. Festa da Virgem de Urkupiña na Brasbol e Campeonato de Pesca. .. 40 Figura 22. Carnaval de Corumbá. ......................................................................... 40 Figura 23. Apresentação grupo de dança típica boliviana – UFMS ..................... 40 Figura 24. Turismo e desenvolvimento sustentável: relações entre os dois aspec- tos de sustentabilidade ......................................................................... 45

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CAPÍTULO 2.

A PESCA: ASPECTOS HISTÓRICOS, INSTITUCIONAIS E SOCIOECONÔMICOS.

TABELAS - QUADROS - FIGURAS - GRÁFICOS

TABELAS

Tabela 1. Barcos-Hotéis de Turismo e de Esporte e Recreio............................................. 88

QUADROS

Quadro1. Espécie e medidas permitidas para captura no Pantanal (MT-MS) ................ 84 Quadro 2. Demonstrativo de Salário dos Profissionais Fluviais. .............................. 101 Quadro3. (Empresas ligadas aos Barcos-Hotéis de turismo de pesca em Corumbá MS)........................................................................................................... 108

GRÁFICOS

Gráfico 1. Total de licenças expedidas por UF – 2012 ...................................................... 68 Gráfico 2. Destino de preferência dos pescadores por UF ................................................. 69 Gráfico 3. Evolução das embarcações no município de Corumbá e Ladário/MS ............ 71

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LISTA DE FIGURAS

Figura 25. A pesca praticada por mulheres e crianças. ....................................... 48 Figura 26-27. Comércio de Barcos e Motores de pesca e outros equipamentos: mo- linete, carretilha, vara, iscas, anzóis, etc. ........................................... 49 Figura 28-29. Pesca no Habitat natural do peixe, Prática da pesca desportiva. ....... 50 Figura 30. Distribuição estadual dos pescadores profissionais de acordo com gêneros registrados no Brasil em 2009. .................................................................... 53 Figura 31. Apreensão de pesca predatória em Mato Grosso do Sul ................... 60 Figura 32. Equipamentos de pesca: anzóis, iscas artificiais, varas, molinetes, carretilhas, Roupas especiais, Jet Sky, cooler e outros. ............................................ 69 Figura 33. Barco Hotel Cabexy. ......................................................................... 71. Figura 34-35. Petrechos utilizados na pesca amadora/recreativa. ........................... 75 Figura 36-37. Tubos de acondicionamento para as varas, Iscas Vivas. ................... 76. Figura 38-39-40. Petrechos utilizados na pesca profissional .................................... 77 Figura 41-42-43-44. Pintado, Cachara, Pacu e Dourado ........................................... 81. Figura 45. Canoa de pesca artesanal com zinga. ................................................ 85 Figura 46. Barco de pesca profissional com motor. ........................................... 85 Figura 47. Bote de alumínio com motor de popa 25hp ...................................... 86 Figura 48-49. Barcos Hotéis Kayamã Vip, Yacht Millenium ................................. 89 Figura 50. Navio Kalypso. ................................................................................. 90 Figura 51-52-53. Camarote dos barcos-hotéis: Antares, Millenium,Kalypso. ......... 90 Figura 54. Refeitório e salão de convivência. .................................................... 91 Figura 55. Piscina do navio Kalypso ................................................................... 91 Figura 56. Praça de máquinas – motor de 6 cilindros ........................................ 91 Figura 57-58. Painel de controle da embarcação ..................................................... 92 Figura 59-60. Ritual de saída da viagem do barco-hotel Millenium. ....................... 93 Figura 61-62. Troféus e medalhas para premiação nas competições empreendi- das pelos grupos durante a viagem. .................................................. 94 Figura 63-64-65-66. Noite italiana no navio Kalypso. ............................................. 95 Figura 67-68. Primeiros pescadores a sair – 04:30h. ............................................... 96 Figura 69-70. O troféu de recompensa, o peixe........................................................ 96 Figura 71. Chegada do grupo do barco-hotel Kayamã Vip. ............................... 97 Figura 72-73. Grupo Clube dos Nove (MG). . ......................................................... 98

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CAPÍTULO 3

TURISMO DE PESCA EM BARCO-HOTEL: EFEITOS MULTIPLICADORES E

IMPACTOS DA PIRACEMA

Quadro 3. Empresas de barcos-hotéis pesquisadas ................................................... 107 Quadro 4. Empresas ligadas aos Barcos-Hotéis da cadeia produtiva do turismo de pesca em Corumbá (MS) .................................................................. 110 Quadro 5. Empresas da cadeia produtiva da pesca pesquisadas de Corumbá em vários segmentos e Impactos na piracema .............................................. 112/3 Quadro 6. Empresas pesquisadas no - Shopping de Puerto Aguirre;Miami House; Shopping de Compras Comercial 12 de Octubre. ..................... 122 Quadro 7. Gastos fixos mensais no comércio boliviano durante a piracema. ........... 124 Quadro 8. Empresas da cadeia produtiva da pesca pesquisadas em Corum- bá nos variados segmentos...................................................................... 147

LISTA DE FIGURAS

Figuras76-77. Feira BrasBol – (Brasil-Bolívia) em Corumbá ................................. 116 Figura 78-79 ......................................................................................................... 116 Figura 80-81. Shopping de Puerto Aguirre após o final de Zona Franca. ............. 117 Figura 82. Loja de departamentos. Puerto Quijarro. Bolívia. .......................... 118 Figura 83. Fiscalização de mercadorias na fronteira do Brasil. ....................... 124 Figura 84-85. Artesanato comercializado por ambulantes bolivianos. ................. 125 Figura 86. Isqueiras em atividade utilizando os equipamentos para extrair Iscas vivas, utilizando os EPIs (Equipamento de Proteção Individual. ............................. 127 Figura 87. Produto utilizado para decantar a fossa séptica ............................. 129 Figura 88-89. Lixo descartado na chegada das viagens dos barcos-hotéis .......... 130 Figura 90-91. Embarque de passageiros 1º.Nov-2011 .......................................... 132 Figura 92. Aplicação de questionário a turistas no barco-hotel. ....................... 140. Figura 93. Aplicação de questionários a turistas no Porto Geral ..................... 140 Figura 94-95. VI Expedição Pantanal, 2011 – Corumbá (MS). Out-2011 ............. 143

GRÁFICOS

Gráfico 4. Gênero dos turistas de pesca de barco-hotel .......................................... 134 Gráfico 5. Número de Turistas de Barco-Hotel por Faixa Etária e gênero ............. 134 Gráfico 6. Turistas de Barco Hotel por Gênero/Número de Visitas ao Pantanal .... 135 Gráfico 7. Origem dos turistas de pesca de Corumbá/MS ...................................... 136 Gráfico 8. A escolha da embarcação........................................................................ 137 Gráfico 9. O que mais gostaram ou não na viagem ................................................. 138 Gráfico 10. Avaliação segundo opinião dos Turistas ............................................... 139 Gráfico11. Turistas de barco-hotel que visitaram a Bolívia ..................................... 139 Gráfico12. Média de Gastos pelos turistas na compra de pacotes de pesca nos Barcos-Hotéis de Corumbá (MS) .......................................................... 141

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1. INTRODUÇÃO

O turismo possui grande influência na cidade de Corumbá, no estado de Mato

Grosso do Sul e, igualmente, nos distritos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro, na

Bolívia, na fronteira com o Brasil. Na área que compreende a região do Baixo Pantanal

está localizado o município de Corumbá, onde se desenvolvem a agroindústria

frigorífica e de laticínios; a indústria minero-siderúrgica, de cimento e de calcário; o

turismo ecológico e de pesca e a indústria de refrigerantes (SEMAC-MS, 2011).2 Em

conformidade com Andrade (2003-2005, p. 3-8), a atividade turística na modalidade da

pesca amadora-recreativa-esportiva é responsável por “[...] absorver mão-de-obra de

pouca ou nenhuma qualificação, sendo muitas vezes a única oportunidade de emprego

para certos grupos de indivíduos”.

Com enfoque e análise que permeiam as atividades associadas ao turismo de

pesca, compras e serviços, sob a luz regionalista e internacional, e devido à carência de

estudos na temática, consultamos fontes de outras áreas que não somente a do turismo,

de maneira interdisciplinar, como economia, história, geografia e antropologia, que

proporcionaram maior aproximação aos indivíduos e empreendimentos tratados neste

trabalho.

Há tempos já investigando o turismo na categoria de pesca em barco-hotel,

podemos citar trabalhos anteriormente desenvolvidos, como o TCC (Trabalho de

Conclusão de Curso) realizado no curso de Graduação em Turismo, em 2003, na área

das Ciências Sociais Aplicadas, subárea Turismo. A pesquisa empírica, intitulada “O

diagnóstico do turismo de pesca de barco-hotel”, demonstrou quem são os indivíduos

que vêm a Corumbá usufruir dessa modalidade de esporte e lazer.

Continuando nossa trajetória acadêmica, em outro viés da mesma modalidade,

abordamos aspectos voltados para a melhor compreensão do perfil socioeconômico dos

trabalhadores que movimentam os barcos-hotéis, na Monografia do curso de Pós-

Graduação - Especialização em Sociedade e Novos Paradigmas, na área de Ciências

Humanas, em 2005, com o título “Turismo de pesca de Corumbá-MS: sua importância

social”. A pesquisa empírica permitiu-nos incluir dados do primeiro trabalho e trouxe

2 SEMAC – Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia. Diagnóstico Socioeconômico de Mato Grosso do Sul. 2011. Disponível em: <http://www.semac.ms.gov.br/controle/ShowFile.php?id=100833>. Acesso em 23-fev-2013.

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outros inéditos, sobre a atividade econômica da pesca amadora-recreativa-esportiva,

considerando aspectos como o perfil socioeconômico dos indivíduos que atendem aos

turistas que têm preferência por essa atividade esportiva.

Dando proseguimento, esta pesquisa de Dissertação do curso de Pós-Graduação

em Estudos Fronteiriços relaciona outras características do segmento de pesca

embarcada – barco-hotel. Nosso interesse principal voltou-se aos impactos dos barcos-

hotéis na economia de Corumbá/MS, e nos Districtos de Arroyo Concepción e Puerto

Quijarro, na Bolívia, analisando com maior profundidade os efeitos multiplicadores e

os reflexos da piracema nas empresas dessas localidades, em que a atividade é proibida

de novembro a fevereiro, com consequências que reverberam na cadeia produtiva da

pesca. O turismo de pesca e de compras gera emprego, renda e pagamento de tributos;

amplia o crescimento econômico varejista e o movimento do fluxo interfronteira. Tal

fator despertou-nos o interesse pelo segmento ligado às empresas responsáveis pelo

abastecimento dos barcos-hotéis para as viagens e outros prestadores de serviços,

incluindo aqueles que realizam a manutenção periódica das embarcações de todos os

tipos. Para melhor compreensão do processo que envolve não somente as empresas,

mas a mão de obra necessária para movimentar toda a cadeia produtiva da pesca,

norteamos nosso trabalho em Cooper et al. (2001), que explica a necessidade de uma

empresa adquirir produtos de outra na mesma localidade, gerando o efeito

multiplicador.

Elencamos informações sobre o panorama atual da pesca amadora-esportiva-

recreativa em Corumbá (MS), adentrando na gestão do segmento pelas empresas, como

a comercialização dos pacotes, a média do número de viagens por temporada e a

logística que movimenta esse setor produtivo. Incluímos pesquisa de campo com

turistas que praticam essa modalidade de esporte e lazer em barco-hotel, indagando

sobre as suas perspectivas quanto ao futuro do turismo na região. Outro propósito foi

verificar os reflexos do período da piracema na economia de Corumbá e dos Districtos

de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro-Bolívia, na fronteira Brasil/Bolívia em Mato

Grosso do Sul. Este trabalho pretende contribuir como mais uma perspectiva de análise,

com a intenção de fornecer dados úteis para subsidiar a tomada de decisões da gestão

do turismo e da pesca.

Para tanto, a investigação realizada mostra, no Capítulo 1, o período que

compreende a fase inicial do turismo, desde os seus primórdios, entre os séculos XV e

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XVII, sobe os quais constam os apontamentos de Feifer, citado por Urry (1999),

Rodrigues e Corner (2001). O turismo desenvolveu-se a partir do século XIX, ganhou

força no século XX, em variadas modalidades de lazer e seguiu promovendo

transformações socioeconômicas (relações de trabalho) e culturais na localidade

receptiva, ou seja, no destino receptor, como ocorre em Corumbá (MS), que se expande

para além-fronteira no Mato Grosso do Sul. No local encontra-se a população que vive

e convive diariamente com sentidos e significações múltiplas neste território de

representatividade diferenciada, nos seus aspectos políticos e socioeconômicos e

também através das inter-relações sociais, culturais e econômicas de brasileiros e

bolivianos, que fazem parte da zona fronteiriça. Destaca-se, ainda, a territorialidade

empreendida na ocupação, produção, reprodução e uso dos espaços terretre e fluvial,

que nos remete a uma dimensão escalar ampla, se considerarmos a extensão de

Corumbá, de cerca de 65.000km, e também o Rio Paraguai, com aproximadamente

164.000km, localizado na microrregião do Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do

Sul. O rio, dentre outras atividades econômicas, é propício para a pesca amadora-

recreativa-esportiva e faz parte do cotidiano de inúmeras pessoas que vivem na

dependência dos recursos naturais, alguns como sua única forma de sobrevivência,

como observado em pesquisas anteriores3.

A partir daí passamos a discorrer sobre a temática da pesca, com base não

somente na atividade propriamente dita, mas também nas contribuições

socioeconômicas e ambientais promovidas por esse esporte e lazer nos Estados Unidos

da América (EUA), referência mundial desse desporto, mesmo não possuindo a

modalidade de pesca embarcada em barcos-hotéis. Detalhamos, no Capítulo 2, dentro

de uma visão geral, as modalidades de pesca praticadas no Brasil: a artesanal, a

profissional (comercial) e a amadora-recreativa-esportiva. O enfoque principal é nos

barcos-hotéis, incluindo as legislações que permitiram traçar a gestão da atividade em

nível nacional, antes de desvelar características do esporte e lazer nos estados de Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, no Pantanal brasileiro, trazendo também informações

sobre as empresas que orbitam em torno do segmento. Em Corumbá, destacamos não

apenas os aspectos estruturais e administrativos, mas a comercialização dos pacotes de

3 Andrade, Fátima Aparecida Machado de. Diagnóstico do turismo de pesca de Corumbá (MS). MSMT/ Missão Salesiana de Mato Grosso do Sul. Corumbá, 2003. TCC de Graduação e Turismo de pesca: sua importância social.Corumbá, 2005. Monografia de Pós-graduação latu sensu. FUFMS – Campus do Pantanal.

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pesca embarcada, a média de gastos e a duração das viagens, com ênfase nos reflexos

socioeconômicos. Apresentamos, ainda, os petrechos (equipamentos) utilizados em

cada modalidade, além de dados inéditos adquiridos através de depoimentos e imagens

específicas, que evoluíram para o inventário qualitativo e quantitativo das embarcações

construídas em estaleiros de Corumbá, em sua maioria. Outras informações fizeram

parte do capítulo: o número de profissionais necessários para movimentar as

embarcações de acordo com seu porte, pequeno, médio e grande, e as conquistas

salariais dos últimos anos.

Ademais, alguns aspectos ocorrem durante todo o processo, antes e durante a

viagem, presenciados durante a pesquisa exploratória, como a administração, o

receptivo e a logística que movimentam esse setor produtivo e que possuem uma

particularidade: estão sob o comando predominante das mulheres, enquanto a bordo, os

profissionais são do gênero masculino.

Já a partir do Capítulo 3, juntamente com outros fatores conectados à pesca

amadora, inserimos: a destinação e/ou descarte dos resíduos gerados pelas embarcações

durante a viagem; a abertura de espaço a outras funções como, por exemplo, a atividade

econômica dos ‘coletores de iscas’ ou isqueiros4, até então inexistente, e o

aprofundamento sobre a associação com o turismo de compras, iniciado com o

comércio informal de ambulantes bolivianos, que deu origem à Feira BRASBOL

(Brasil/Bolívia) em Corumbá e além-fronteira. Assim, as informações adquiridas sobre

o turismo de pesca e o turismo de compras do comércio varejista do Shopping de

Compras de Puerto Aguirre, Miami House e dos Districtos de Arroyo Concepción e

Puerto Quijarro, Bolívia, permitiram-nos descrever os reflexos da piracema e o período

anual de proibição da pesca, incluindo, nesse rol, as empresas de Corumbá que também

fazem parte da cadeia produtiva, fechando o ciclo que define os Efeitos Multiplicadores

do segmento. Isso direcionou-nos a destacar os impactos em diferentes níveis, no

comércio local-regional, principalmente no período de defeso (piracema), com duração

de quatro meses, e compreende a reprodução dos peixes migratórios no Rio Paraguai,

juntamente com outros fatores, como a oscilação do número de visitantes.

Por sua vez, há ainda um estudo local e citações de autores como Banducci Jr.

(2003) e Paixão (2006), que descreveram sobre a exploração sexual, entretenimento

oferecido ao público masculino que visita Corumbá, nas Wysquerias/Casas de

4 Isqueiros: Catadores de iscas vivas, matéria prima utilizada na pesca amadora (esportiva).

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prostituição, como são denominadas, e que também ocorrem na zona rural. Tal

empreendimento fomenta economicamente a cidade, tanto que os empresários do ramo

chegam a importar profissionais de outros estados, embora não seja algo bem aceito

pela população local. Isto nos leva a crer que mudança de comportamento dos gestores,

como a inserção de maiores investimentos em marketing direcionado ao público

familiar, possibilitará a frequência de visitantes que procuram o Pantanal para descanso,

lazer e contato com a natureza, elemento que reforça a atração e a retenção do público

nacional e internacional.

Nesse contexto, selecionamos como palco e cenário desta pesquisa a fronteira

Brasil/Bolívia em Mato Grosso do Sul, que representa múltiplos sentidos interpretados

pelos diferentes olhares, desejos e intenções que ela permite. O valor dado à fronteira,

que está sempre em movimento e transformações é, e sempre será relativizado pela

prática social, apropriação e uso do espaço como território por um grupo de empresas e

indivíduos. A fronteira é, sobretudo, um lugar de oportunidades.

Entretanto, faz-se necessária uma melhor compreensão do segmento e o

embasamento em novas teorias e reflexões que possam subsidiar e/ou reformular as

políticas públicas para melhor gestão e ordenamento do turismo e da pesca em

Corumbá e atividades afins. Tal conjunto configura-se como fator de grande

importância para a manutenção da atividade e das empresas e para a geração de

emprego e renda para inúmeros indivíduos e suas famílias, que têm na pesca amadora-

esportiva-recreativa seu único meio de sobrevivência. Também se incluem os coletores

de iscas vivas, o comércio varejista e os serviços das empresas brasileiras e bolivianas

que movimentam a região da fronteira Brasil/Bolívia em Mato Grosso do Sul.

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CAPÍTULO 1

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA (MS), TURISMO E TERRITORIALIDADE: OCUPAÇÃO, (RE)PRODUÇÃO E USO DO ESPAÇO

1.1. Fronteira, identidade, turismo.

Na etimologia da palavra, a fronteira é polissêmica, (FOUCHER, 1991;

GRIMSON, 2000). Pode significar limite político e jurídico, espaço onde se estabelece

a linha divisória entre territórios nacionais ou, ainda, o limite internacional. A linha

fronteiriça é a forma simbólica indicativa de posse territorial que define a região,

enquanto que “[...] a fronteira ocupa uma franja, constituindo uma área, uma zona,

podendo ser habitada e desenvolver atividades de intercâmbio” (COSTA, 2009, p. 69).

Linha e limite representam o espaço de atuação e poder de soberania territorial

do Estado-nação. A lógica fronteiriça representa o desconhecido, que por si só nos

remete ao medo, à tensão e principalmente ao desconhecimento do outro. A fronteira

consolida-se pelos movimentos e interesses dos organismos econômicos e das práticas

de cooperação e complementaridade, considerada como vibrante por Oliveira (2009, p.

2), como um “[...] elemento de diferenciação, comunhão e comunicação que, muitas

vezes interpõe a ordem e a desordem, o formal e o funcional como equilíbrio dinâmico

das regras e dos ritos”.

A fronteira é um fato social. Mattos (1975, p. 36) define: “A observação e a

experiência provam que o elemento separador de dois povos (ideias, costumes, línguas)

é sempre uma zona ou faixa de transição, por reunirem características dos dois

elementos em contato”, portanto, um território humanizado, construído.

Em conformidade com Machado et al. (2005, p. 87-95), “[...] zona de fronteira é

espaço de interações, contatos e fluxos sociais, econômicos e culturais, movidos por

diferenças, através do limite internacional, enquanto a faixa como expressão jurídica,

delimita o poder do Estado”.

Esses conceitos identificam a fronteira Brasil/Bolívia em MS, composta por dois

estados-nacionais, localizados na porção oeste do país, separados apenas por um traçado

político, a linha divisória do limite internacional, compartilhado espacialmente no meio

de uma estreita ponte sobre um Arroyo que, traduzido do castellano, significa pequeno

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riacho. Como corre pouca ou quase nenhuma quantidade de água (no período de seca), é

considerada fronteira seca, pois não impede a circulação das pessoas que podem, sem

dificuldade, ultrapassar a pé o córrego.

Construída histórica e dialeticamente por migrantes, imigrantes e locais, a

fronteira estabeleceu uma convivência secular que, para Costa e Britts (2009, p. 163) é

definida por estar “[...] em movimento e transformação socioeconômica e geográfica e a

população é parte integrante nas práticas e ações responsável pela produção do espaço e

reflete na garantia de permanência e a sustentabilidade do território”.

Mas o que vem a ser o espaço, senão uma porção dimensional física ou

imaginária, terrestre ou espacial, objeto de preocupação dos filósofos, de Aristóteles a

Platão, com diferentes significações? Nas palavras de Eduardo, (2006, p. 177-78) 5: É fundamental ressaltar que o espaço constitui, metaforicamente, a “matéria-prima” para a produção do território, e este é anterior ao espaço. É formado, em sua multidimensionalidade, pelos atores sociais que o (re) definem constantemente em suas cotidianidades, num “campo de forças” relacionalmente emaranhado por poderes nas mais variadas intensidades e ritmos.

Esse fator delega aos agentes sociais a responsabilidade pela (re)produção do

território, da territorialidade, o que, na visão de Sack (2007, p. 84), representa uma:

“[...] multiplicidade de contextos históricos sociais nos quais se definem as estratégias e

os efeitos territoriais, socialmente produzidos”. A esse respeito, Machado explica: [...] é uma construção social materializada nas relações entre os povos que vivem o cotidiano do contato e das trocas. A fronteira é do “domínio dos povos”, enquanto que o limite está ligado a uma abstração política, uma criação feita através de acordos diplomáticos no intuito de delimitar soberanias e jurisdições, neste caso, os limites do Estado-Nação (MACHADO, 2000, p. 9-11).

Historicamente, a fronteira induz às interrelações, favorecendo a integração da

população fronteiriça, que ganha força nos elementos de contato, das trocas entre dois

domínios territoriais, referenciado por Lia Osório Machado, (1998; 2000; 2005), o que

ocorre favorecido pela proximidade física territorial. Além de representar visivelmente

um espaço fisiográfico de uma zona militarizada, favorece intensos fluxos mercantis

(capital) e ainda de bens, serviços e migratórios (turistas). É fácil detectar a

demonstração de discriminação e marginalização, característica pejorativa existente

5 Eduardo, Márcio Freitas. Território trabalho e poder: por uma geografia relacional / territory, work and Power: for a relational geography. (2006, p. 177, 178). Artigo. Disponível em www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/11790. Acesso em 12-Jun-2012.

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entre brasileiros e bolivianos, também verificada entre os brasileiros que circulam nos

espaços fronteiriços, principalmente moradores locais e visitantes que transpassam a

fronteira Brasil/Bolívia em Mato Grosso do Sul.

Seguindo essa linha de pensamento, Martins (2010, p. 245) avalia: “Mais trocas

e comunicação, rompendo com a situação de isolamento relacional com os centros

hegemônicos brasileiros e bolivianos, subverte, (re)funcionaliza a fronteira no sentido

da afirmação e atendimento aos interesses locais”.

Na explicação de Cataia (2011), a fronteira possui três etapas de funcionamento:

a) a função legal que determina o dentro e o fora, o legal e o ilegal; b) a função controle

refere-se à inspeção do fluxo de bens, serviços e migratórios (turistas), tem no seu papel

fiscal um instrumento da política econômica; c) a função ideológica, que marca

territórios e ainda esconde conflitos potenciais no espaço. Essa condição reflete

diretamente na convivência na fronteira, que Oliveira (2005, p. 380) expõe da seguinte

forma: [...] é um espaço bipolar e multiforme, um meio geográfico que exige uma quase necessidade de se transportar seus limites de natureza conflitiva, e o comportamento se enviesa em ambos os lados […] os princípios que identificam os nacionalismos se afloram em rivalidades com mais intensidade que alhures.

Apesar das ricas contribuições e reflexões de diversos autores já citados, Cataia

(2007), inspirado em Milton Santos e Jean Gottmann, aponta que a fronteira é, também,

um espaço dinâmico, com movimentos seculares de interação, dotados de

transformações, informacional no meio geográfico, promovendo a compartimentação do

espaço6, fruto da divisão social e territorial do trabalho e das divisões políticas, definida,

a partir das relações de interação que para House (1980, p. 456-477)7 é “[...] a fonte do

dinamismo do espaço fronteiriço”. Possibilitando também, a ampliação das perspectivas

socioeconômicas da fronteira vivida, corroborando com Nogueira (2007, p. 52), que

destaca, dentro da geografia humanística, detalhes significativos como: [...] perceber a fronteira como vivida significa captar a compreensão e o relacionamento que os habitantes deste lugar possuem com o mesmo, nos seus mais variados aspectos, lazer, trabalho, contravenção, consumo, defesa, disputa, amor, reconhecendo que o outro lado “tem outra lei”, podemos afirmar que esta fronteira é capaz de refletir o grau de interação ou ruptura entre sociedades fronteiriças (NOGUEIRA, 2007, p. 52).

6 O termo “compartimento do espaço” para designar os territórios nacionais “Westphalianos” demarcados por fronteiras políticas é referido a Jean Gottmann (La Politique des États et Leur Géographie. Paris, Armand Colin 1952, e, “Géographie Politique”, in Encyclopedie de la Pléiade, Paris, Gallimard, 1966) 7 HOUSE, J.W. The frontier zone: A conceptual problem for policy makers. International Political Science Review. Vol.1, 1980: 456-477.

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Assim, a fronteira não pode ser entendida apenas como um elemento de

diferenciação, mas de transformações internacionais, na (con)formação de uma

sociedade contemporânea e na consolidação da complementaridade cotidiana, mantida

na sustentabilidade inferior da economia informal, porém funcional, suplantada pela

economia formal.

1.1.2. Interrelações na fronteira Brasil/Bolívia (MS)

Com a construção de espaços próprios comuns, a interrelação ocorre

simplesmente para atender aos interesses individuais e coletivos, de acordo com suas

necessidades, o que se configura na fronteira Brasil/Bolívia (MS). Castrogiovanni

(2010, p.16) explicita: [...] sendo parte constituinte do espaço geográfico, brinda com várias possibilidades operacionais em diferentes escalas geográficas e se manifestando através de diferentes formas em si mesma (material e imaterialmente) e enquanto unidade espacial relacional.

Embora isso não possa ser considerado regra geral, na zona fronteiriça

Brasil/Bolívia (MS) os habitantes adotam um comportamento transversal a certos

aspectos legais e promovem articulações contidas no fluxo cotidiano interfronteira – o

que difere de região para região – favorecendo a funcionalização da fronteira. Apesar de

também ser área de conflito, Oliveira (2009, p. 10-11) revela que: [...] há confrontação/cooperação das duas lógicas: das “organizações econômicas” e a das “organizações políticas” e torna-se benéfico quando uma consolida um limite da outra. As transgressões, manutenções, interposições, distorções e as trocas confirmam um movimento e um comportamento transversal nas convivências e nas interações capaz de suplantar a concepção tradicional de fronteira como barreira e limite.

Nesse contexto, Costa (2009, p. 68-69), referindo-se à fronteira Brasil/Bolívia

(MS) complementa que, apesar do que fora dito, “[...] do ponto de vista dos fluxos

humanos não inibe a discriminação cultural, social e econômica em relação ao outro e

também não significa agressão física ou manifestação públicas contrárias. Trata-se de

uma discriminação silenciosa”. Quase que imperceptível aos próprios habitantes locais.

O intenso fluxo de veículos de todo tipo e tamanho é intenso. São, no mínimo,

cerca de 200 que, diariamente, transpõem a zona fronteiriça no período diurno,

transportando mercadorias de exportação e importação, sempre arbitradas pelo Controle

do Posto Esdras da Receita Federal e Polícia Federal (brasileira) e pelo Control

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fronterizo, (departamento aduaneiro boliviano) e Policia Nacional (boliviana), fixados

em ambos os lados da fronteira Brasil-Bolívia (MS), separados apenas pela pequena

ponte que delimita o território do Estado-nação, englobando nações de diferentes etnias,

como explicou Oliveira, (2009, p. 5), formado por: “[...] brasileiros, paraguaios,

bolivianos, palestinos, europeus e árabes”, e os descendentes indígenas da nação Guató

que vivem a mais de dois séculos na região.

No entanto, o que está intrínseco especificamente nessas cidades fronteiriças, é

a mescla de interação social, étnica, cultural, política, econômica e ambiental, de

contato e trocas entre a população regional, favorecendo oportunidade para os

habitantes que possuem interesses comuns em ambos os lados, no que se refere às

relações de trabalho (socioeconômicas).

Diante dos fluxos mercantis de cidades integradas na economia globalizada

mundial, o trânsito circulante de trabalhadores que estende o mercado de trabalho,

gerando emprego e renda, seja ele formal ou informal, para além-fronteira, cria

condições de concorrência, disputando visibilidade e reconhecimento.

Oliveira (2009, p. 2) exemplifica que, antigamente, as fronteiras se

posicionavam no fechamento e restrição dos fluxos, enquanto que, “[...] na lógica mais

atual, do abrir, integrar, expandir [...] com elevada integração, fortes assimetrias e

porosidades [...]”, as possibilidades ampliam-se socioeconômica, política e

culturalmente.

Na nova reconfiguração da fronteira do século XXI, fazem parte de um novo

processo de apropriação, produção e reprodução do território, os acontecimentos

cotidianos das cidades conurbadas, que englobam e interagem com uma população que,

segundo Oliveira (2009), soma aproximadamente 150.000 habitantes conjuntamente8

em Corumbá/Ladário (MS), Puerto Quijarro (BO), favorecendo a funcionalização da

zona fronteiriça Brasil/Bolívia (MS), o ponto vital da integração dos povos na região.

8 OLIVEIRA, M.A.M. de. Projeto Universal FAPEC, 2009-2010, “no prelo”

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11

1.1.3. Aspectos políticos e interrelações socioeconômicas de Corumbá (MS)

Corumbá (MS), conceitualizada por renomados autores, como Costa, Edgar;

Costa, Gustavo; Oliveira, Tito; Oliveira, Marco; Mariani, Milton; Sérgio Martins,

Antonio Firmino O. Neto, e também os mestres e mestrandos do curso de Pós-

Graduação em Estudos Fronteiriços/UFMS, dentre outros, é cidade reconhecida como o

principal centro urbano na zona de fronteira. Situada na margem direita do Rio

Paraguai, é o terceiro município de maior extensão territorial, com cerca de 65.000km2,

dentre os 78 municípios do estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE9, possui um total de 103.703 habitantes, com predominância de

moradia na área urbana (91%, 93.452), sendo que mais de 40% estão na linha de

pobreza, ou em situação de vulnerabilidade10. Entretanto, Políticas Públicas têm sido

implantadas no município, principalmente na saúde e na educação, alterando esse

quadro socioeconômico, o que demanda uma pesquisa mais aprofundada. Conta com

386 km de extensão de fronteira com a Bolívia e está a 418km distante da capital,

Campo Grande. Limita diretamente a leste com o município brasileiro de Ladário, e a

oeste (a 4,4km), com os Districtos de Arroyo Concepción (além-fronteira) e Puerto

Quijarro - Bolívia.

Atualmente, a pecuária extensiva e a exploração industrial de minérios, do

Maciço do Urucum pela empresa Vale S/A de (ferro e manganês) e a MMX –

Mineração e Siderurgia e a Vetorial, Cimento Itaú, estão dentro das principais

economias do município de Corumbá (MS). Em seguida vêm o turismo e a pesca

amadora-esportiva-recreativa. O fluxo de turistas completa a cadeia produtiva, pois

estão interessados na compra de produtos importados. Há ainda os sacoleiros, que

adquirem mercadorias para revender. O município concentra aproximadamente 9,51%

no PIB do estado, que corresponde ao Valor Adicionado Bruto do PIB Municipal por

Setor de Atividade, conforme se segue: Agropecuária 261.703,00, Indústria, 247.138,00

e Serviços 1.655.937,0011.

9 Disponível em: < http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=50&dados=21 > Acesso em 25-Out-2012 10 Aspectos Socioeconômicos do município de Corumbá (MS) Censo coordenado pela Prof.ª Maria Cristina Lanza de Barros – Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Publicado no SIMPAM – 2004. EMBRAPA PANTANAL. 11 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=500320#. Acesso em 27-Out-2012.

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12

Em conformidade com o boletim informativo da Secretaria de Estado Meio

Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia - SEMAC do estado de Mato

Grosso do Sul, no ano de 2011, nos últimos dez anos, de 2001 a 2010, foram criados no

estado, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED, aonde consta,

117.570 empregos com carteira de trabalho, sendo que as principais atividades

empregadoras foram indústria, respondendo por 32,4%, seguidas dos serviços, com

32,2%, e comércio com 31,0%. Já a agropecuária foi responsável por apenas 4,0% dos

empregos com carteira assinada no acumulado. Outras atividades responderam por

0,4%.12

Tais resultados confirmam a representatividade do setor terciário, de serviços,

em nível estadual. Com a exuberante beleza e riqueza natural da planície pantaneira,

com mais de 86 mil km² em áreas de entorno, Mato Grosso do Sul dispõe,

principalmente nessa região, de grandes atrativos turísticos, com inúmeros rios piscosos,

propícios para a prática da pesca em barcos-hotéis, hotéis-fazenda e pousadas

pantaneiras. Também fazem parte desse ecossistema as diversas grutas (em Forte

Coimbra, Corumbá e Bonito) e uma fauna e flora consideradas das mais ricas, com

grande variedade de espécies de fama internacional. A região conta, ainda, com um

atrativo específico, que são as fronteiras internacionais com a Bolívia e o Paraguai, onde

é possível adquirir produtos importados nas cidades vizinhas de Corumbá e de Ponta

Porã.

Souza (2004) cita a importância dos acordos celebrados entre os países com

interesses econômicos e geopolíticos, em escala binacional, a exemplo da exploração de

recursos naturais (petróleo, gás natural, minério), delimitação da fronteira, comércio

exterior e a ocupação e a integração nacional na faixa de fronteira. (apud MARTINS,

2010, p. 244). Esse status demonstra o interesse integracionista do país com a América

Latina, como os vizinhos mais próximos: a Bolívia e Paraguai, a Argentina, o Uruguai e

até mesmo o Chile e a Venezuela.

Para Oliveira, a composição geográfica e territorial da fronteira Brasil/Bolívia de

Mato Grosso do Sul é de: [...] semi-conurbação ou cidades-gêmeas, (na linguagem dos arquitetos) entre as cidades brasileiras de Corumbá e Ladário com as bolivianas a começar pelo Districto de Arroyo Concepción, Puerto Quijarro e Puerto Suarez - é um exemplo de integração com fortes assimetrias e porosidades (OLIVEIRA, 2009, p. 32-33).

12 Disponível em: < http://www.semac.ms.gov.br/controle/ShowFile.php?id=100833, (p.41) Acesso em 23-Fev-2013.

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Esse modelo é predominante de interações espontâneas, movidas por interesses

individuais e/ou coletivos, que ocorrem em função da busca de oportunidades de

trabalho e de se estabelecer comercialmente. A situação é comum entre brasileiros e

bolivianos, migrantes e imigrantes. Em ambos os lados da fronteira, há facilidade de

transposição principalmente para os moradores locais, característica que faz dessa

fronteira um espaço territorial singular, diferente de qualquer outra.

As cidades fronteiriças citadas convivem em situação de isolamento, pela

distância das grandes metrópoles, o que também dificulta investimentos em recursos

financeiros. Estão interligadas por uma ponte e orbitam no entorno de Corumbá, que

possui capacidade estrutural e que representa um espaço de mobilidade e contato,

(quando as fronteiras são abertas), não apenas nas relações de trocas e distribuição dos

fluxos mercantis, serviços e migratórios (turistas), mas de convivência, impondo um

novo desenho nas configurações sociais. Porém, não deixam de incluir negociações

ilícitas, a exemplo da prostituição e drogas, que injetam valores na economia local

(lavagem de dinheiro), através de eventos capitalizados pela cocaína, também

considerados efeitos multiplicadores.

Por outro lado, os habitantes do país vizinho buscam compensação na saúde,

educação, trabalho, segurança e moradia, direitos adquiridos por bolivianos e brasileiros

em ambos os territórios, estabelecidos pelo Decreto nº 6.737, de 12 de janeiro de 2009,

assinado pelos dois países, em vigor desde dezembro de 2009:

Promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Bolívia para Permissão de Residência, Estudo e Trabalho a Nacionais Fronteiriços Brasileiros e Bolivianos, celebrado em Santa Cruz da Serra, em 8 de julho de 2004 (BRASIL, D.O.U., 2009)13.

Entretanto, as cidades gêmeas envolvidas, semiconurbadas (municípios e

distrito) demandam, por exemplo, considerar um planejamento e ordenamento a partir

de ações de cooperação e combinações associativas. São regiões administrativas que

apresentam contiguidades territoriais, cujos centros urbanos são física e socialmente

próximos do limite internacional, como demonstra a Figura 1. Oliveira (2009, p. 42)

considera que é fácil se deparar com um “[...] ambiente onde é possível constatar

intenso dinamismo, aproximações culturais diversas e solidariedades de toda ordem”.

13 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6737.htm Acesso em 27-Out-2012.

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14

Figura 1. Fronteira Brasil-Bolívia em Mato Grosso do Sul Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de campo. Corumbá, Fev-2012.

A atividade do turismo, assim como a fronteira, é igualmente polissêmica

(FOUCHER, 1991; GRIMSON, 2000) e envolve fatores como o investimento

socioeconômico, responsável pela construção da cadeia produtiva, necessária ao

desenvolvimento da economia. A característica também é impressa no território

fronteiriço, o que nos remete ao imaginário de perigo, medo, descontrole, mas que,

principalmente, requer o respeito dos locais e visitantes, quando se trata de atravessar a

fronteira.

Essa fronteira que já foi mais fluída, atualmente está mais para a fluidez

capitalista do que para a de pessoas. A fronteira, percebida com seus aparatos

institucionais de controle, como também articulações do estado paralelo que, na

pequena escala se encontra embrionário, representa parte de uma rede.

Economicamente, o principal fator observado é o relacionamento entre

brasileiros e bolivianos na negociação de bens e serviços, que são compartilhados como

consequência de sobrevivência para alguns e de oportunidade para outros, formal ou

informal, independentemente da legalidade ou não do processo. Apresentam-se como

cenário de contato e trocas as cidades semiconurbadas e o Districto de Arroyo

Concepción, na fronteira Brasil-Bolívia (MS).

O comportamento mais funcional enviesa-se em ambos os lados da fronteira,

onde os habitantes se sentem impelidos a interrelações, encontrando no equilíbrio das

regras e dos ritos, estabelecendo vínculos e dinâmicas próprias no que tange à oferta de

vantagens existente na diferença cambial.

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15

Enquanto o interesse dos imigrantes bolivianos é comercializar produtos na

moeda brasileira, a população local, os turistas de pesca e todos os que de alguma forma

visitam Corumbá, assumem o gosto de compra de produtos importados. Isso constrói

uma relação de convivência típica, sem demonstrar impedimento ou estranheza

“aparente”, embora elas existam. Para Rogério Haesbaert “[...] a diferença do Outro se

transforma na sua estigmatização, no seu ‘rebaixamento’, na sua depreciação”

(HAESBAERT, 2005, p. 176).

Nesse contexto, portanto, há uma “fronteira simbólica”, segundo Bhabha (1998,

p. 69), uma fronteira imaginária, para os indivíduos que vivem e convivem entre si,

pautando, na interrelação, a aceitação, a permissividade, mas também a resistência e a

dificuldade, motivados pela “sobreposição de superioridade”, exercida pela população

brasileira em relação à boliviana.

O espaço territorial é formado por migrantes e imigrantes que chegaram, desde o

final do século XVII e no século XVIII, ao pequeno vilarejo, a atual cidade de

Corumbá. A cidade possui um cenário de interação das populações que vivem e

convivem espontaneamente, apesar de conflitos, raças, diferentes culturas, religiões,

políticas e funções econômicas, uma espécie diferenciada de interrelação complexa,

englobando nações de diferentes etnias.

Trata-se de um espaço físico sempre em movimento, configurando as

transformações das fronteiras, a partir dos reflexos das revoluções e “[...] oportunidades

de fluidez oferecida pelo meio técnico-científico e informacional”, (SANTOS, 1996, p.

51), e também dos transportes. Igualmente segue, no século XXI, a revolução

comunicacional, com a velocidade das informações instantâneas, acelerando os

processos políticos e socioeconômicos.

A correlação e os relacionamentos interescalares com o turismo motivaram-nos

a desenvolver este trabalho, com destaque na atividade do turismo de pesca em barcos-

hotéis, na porção territorial urbana da cidade de Corumbá (MS), com a mesma

delimitação nos Districtos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro, que se

desenvolveu no turismo de compras, e pelo fato de que as localidades estão conectadas

na ordem socioeconômica e geográfica.

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1.1.4. Aspectos políticos e socioeconômicos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro

O limite internacional da fronteira Brasil/Bolívia (MS) liga diretamente aos

Districtos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro, cuja fundação data de 1940. Puerto

Quijarro possui área territorial de 24.903 km2, com cerca de 18.600 habitantes. Já

Arroyo Concepción foi fundada por Salomon Espinoza Vaca e possui cerca de 6.000

habitantes. Foi reconhecido como Districto há apenas seis anos14.

Segundo o Instituto Nacional de Estadística – INE15 de 2007-2009 concentram

97,8% na área urbana com estimativa aproximada acima de 20% na linha de pobreza.

Limita a oeste com Corumbá (MS), seu PIB municipal está na marca de (U$

24.447.459) com PIB per capita de (US$) 1.485,7216. (SEBRAE, 2011).

Puerto Quijarro destaca-se nas exportações com escoamento dos produtos: soja

e seus derivados, madeira, açúcar, através da infraestrutura portuária de Puerto Aguirre.

Fica próximo das lojas do Centro Comercial Aguirre, onde estão o Shopping China e a

loja de departamentos Euroshopping, comercializando perfumarias, artesanato, bebidas,

além de restaurante e outros comércios, em um espaço com dois andares. Há ainda lojas

na parte externa, e possui estacionamento. De Puerto Quijarro permite-se acesso por

estrada de terra até a Zoframaq, onde há lojas de vestuários e variedades em utensílios

domésticos (pouco frequentada) e ainda, seguindo por estrada asfaltada, está Puerto

Suarez, 15km distante da fronteira, onde normalmente a população se dirige ao

Supermercado Tocalle e ao Mirante da Lagoa ou Baía de Cáceres.

Na Fronteira da Bolívia estão instalados, após o Control Fronterizo e a Aduana,

do lado esquerdo, a Sede da Sub Alcaldia (subprefeitura) e ainda alguns comércios

variados.

Na mesma área, após o limite internacional, há bares, restaurantes, agências de

viagens, posto de embarque e desembarque de passageiros para viagens internacionais,

como por exemplo, para São Paulo, sete unidades de hotéis e alojamentos (que não

hospedam turistas brasileiros) e empreendimentos financeiros como Cooperativas de

crédito. Há três agências bancárias e três Cooperativas de Crédito nas proximidades da

Feira: o Banco de La Unión/ Bisa/ FIE, e as Cooperativas de Crédito Jesus Nazareno/ 14 Informações fornecidas pela sub-alcadia de Puerto Quijarro em Arroyo Concepción – Bolívia. 15 INE: Instituto Nacional de Estadística. Disponível em <http://www.ine.gob.bo>. Acesso em 26-Jan-2012. 16 Disponível em: http://semfronteiras.ms.sebrae.com.br/portal/index.php?page=channel&id=33. Acesso em 09-07-2012.

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Proden/ Pro Mujer, responsáveis pela movimentação financeira do complexo de

compras de turistas brasileiros na Feirinha da Fronteira, preferido pelos locais e

sacoleiros. A Loja Miami House, o Shopping China e as lojas do Shopping de Compras

de Puerto Aguirre são os locais escolhidos por turistas de maior poder aquisitivo, como

os de barco-hotel. Poucos deles se dirigem à Feirinha.

O Districto de Arroyo Concepción teve inicialmente sua economia baseada na

pequena atividade agrícola e pecuária, no setor de transportes e serviços, na exploração

industrial de cimento pela empresa Camba. Mas foi no comércio atacadista e varejista

que se desenvolveu o turismo de compras.

As lojas comerciais já despontam a uns 100m de distância da fronteira à direita

de quem chega. A estrutura comercial que se encontra nessa zona fronteiriça começa na

rua principal, Salazar, onde já iniciam os empreendimentos comerciais. No entanto, na

primeira esquina virando à direita, está o complexo denominado Shopping Center de

Compras Comercial 12 de Octubre, também conhecido como Feirinha da Fronteira. A

Feirinha era chamada de shopping-chão, por ter começado sua produção em estilo

camelódromo, com barracas de madeira cobertas de lonas de plástico sobre o chão de

terra batida.

Atualmente, são ruas e alamedas pavimentadas por concreto, com edificações

que configuram comércio e moradia. Foram construídas por migrantes vindos de

diversas partes da Bolívia como: La Paz, Oruro, Potosi, Sucre, Cochabamba, da parte

ocidental, e ainda de Santa Cruz de La Sierra, Beni, Pando, da parte oriental boliviana,

conforme informações adquiridas em pesquisa de campo, através da Asociación de

Comerciantes 12 de Octubre, estabelecida desde 1990 em Arroyo Concepción. Com o

crescimento e ampliação das lojas comerciais, posteriormente se formaram outras

associações de comerciantes, como: Asociación 21 de Septiembre, Asociación 10 de

enero, Asociación 23 de Julio y Asociación 16 de Julio, totalizando cinco, somente em

Arroyo Concepción.

A região, que não apresenta desenvolvimento igual a outras cidades bolivianas

como El Carmem, Roboré, Santiago de Chiquitos, a poucos quilômetros da fronteira,

tem um processo acelerado de construções novas, de lojas comerciais com residência

anexa e lojas de eletroeletrônicos, restaurante como La Bodeguita, com comidas típicas,

demonstradas nas Figuras 2, 3, 4 e 5, localizadas em Arroyo Concepción.

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Figura 2. Galeria de Lojas comerciais Figura 3. Comércio e Moradia Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de campo. Arroyo Concepción, (BO). Fev-2012.

Figura 4. Casa Venâncio Figura 5. Restaurante La Bodeguita

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de campo Arroyo Concepción, (BO). Mar-2012

Não obstante, nesses locais, apesar de demonstrarem certo desenvolvimento,

fazem-se visíveis a pobreza e as dificuldades, que podem ser apreendidas por seus

frequentadores: moradores locais e bolivianos, turistas brasileiros, principalmente os de

pesca, sacoleiros, excursionistas e outros que visitam Corumbá por diferentes motivos e

também vão às compras.

A Feirinha da Fronteira acompanhou o crescimento da demanda, com a chegada

dos excursionistas, turistas brasileiros sacoleiros, que compram para revender as

mercadorias, ofertando produtos como vestuários, eletroeletrônicos, perfumaria,

bebidas, brinquedos, artesanato, malas, sapatos, botas e bolsas etc., nem sempre

originais, mas de primeira e segunda linha, como os vendedores se referem à qualidade

dos produtos. Os bolivianos ampliam a estrutura predial comercial constantemente, já

alcançando as cercas do limite internacional, conforme demonstra a Figura 6. Em

Puerto Aguirre está o Shopping Comercial Aguirre, retratado nas Figuras 7- 8 e 9, em

que os turistas de pesca de barco-hotel compram produtos importados, devido ao seu

perfil socioeconômico.

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Figura 6. Status do avanço das construções na Feirinha da Fronteira

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Posto Esdras, Corumbá (MS). Mai-2012.

Figura 7. Shopping de Compras de Puerto Aguirre Fonte: Fátima Andrade. Shopping e lojas. Puerto Quijarro-BO. Ago-2012

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Figura 8. Loja do Shopping de Compras de Puerto Aguirre

Fonte: Fátima Andrade. Shopping e lojas. Puerto Quijarro-BO. Ago-2012 .

Figura 9. Shopping China em Puerto Aguirre-BO.

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Shopping e lojas. Ago-2012. O movimento segue aumentando as vendas; surgem novas construções no

entorno da feira a cada semana. Há clientes comuns, como moradores locais, brasileiros

e bolivianos, turistas de pesca, sacoleiros e visitantes que vêm a Corumbá a negócios ou

em visita a familiares, para eventos, ou por outros motivos.

Contrariando o crescimento que ocorre em Arroyo Concepción, o Shopping

Puerto Aguirre encontra-se estagnado desde o término do sistema de Zona Franca, por

Decreto presidencial em (2010), quando começaram a incidir impostos sobre as

mercadorias importadas. Como consequência, lojas foram fechadas permanentemente.

A Miami House saiu e optou por construir o empreendimento na Avenida Salazar, que

fica entre o Shopping e a Feirinha da Fronteira, principal foco dos turistas de pesca e

população corumbaense de maior poder aquisitivo que a frequentam em busca de

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produtos importados de qualidade. Apenas recentemente (2012) finalizou a ampliação

de uma das lojas do Shopping, que até 14 de julho estava sendo abastecida para abrir

definitivamente, mas o aspecto é de abandono.

São dois setores (turismo de pesca e compras) que se integram regionalmente,

gerando emprego e renda em ambos os lados da fronteira, e oportunidades de trabalho

para brasileiros e bolivianos, ampliando o crescimento econômico varejista e o

movimento do fluxo interfronteira, apesar de ser interrompido parcialmente no período

de defeso, quando há a reprodução dos peixes migratórios que sobem o rio para desova.

Nessa época, é comum as empresas sentirem os reflexos dos impactos

socioeconômicos que reverberam nesses empreendimentos, principalmente porque a

região deixa de receber milhares de turistas de novembro a março, ou seja, durante

quatro meses, com leve aquecimento nas semanas que antecedem as festas natalinas e o

carnaval, quando se injetam recursos financeiros na fronteira.

Apesar de ter havido desenvolvimento do turismo de pesca e compras, poderá

ainda ocorrer em outras modalidades, a partir de propostas concretas dos órgãos

competentes para fomentar essa atividade, que necessita de políticas públicas

específicas, condizentes com o potencial do estado de Mato Grosso do Sul.

Com diagnóstico e análise somados à disposição política, poderão ser delineados

caminhos decisórios integradores do turismo, com a participação da população.

A pesca na modalidade pesque-e-solte se inicia em fevereiro, mas ainda não é

suficiente para aquecer a economia, devido aos poucos adeptos. O início da temporada,

que vai até 5 de novembro, aumenta o fluxo de turistas de pesca e contemplativos a

partir de junho. Com isso, há aumento, também, de movimentação de compras além-

fronteira.

1.2. Turismo contemporâneo: conceitos, tendências global e nacional.

Para a Organização Mundial de Turismo – OMT e a World Tourism

Organization – WTO (1991), o turismo é basicamente gerado pelo deslocamento

voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm

residência fixa, por qualquer motivo, exceto o de exercer alguma atividade remunerada.

O turismo encontra registros históricos do século XV até o XVII, período em

que existiam as excursões organizadas de Veneza à Terra Santa, consideradas como o

maior fenômeno das peregrinações. Nesse período, as hospedarias para viagens eram

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mantidas por religiosos, os chamados mosteiros (FEIFER, citado por URRY, 1999;

RODRIGUES, 2001; CORNER, 2001). Após essa incursão surgiu, no final do século

XVII, início do XVIII, o Grant Tour Clássico, sendo lançado o primeiro pacote turístico

constituído pelos serviços de transporte, acomodação e a satisfação de um novo e

desejado destino, com recreações educacionais, exercícios físicos, artesanato, formação

musical e excursões (URRY, 1999).

O turismo dependia da cooperação e organização dos poderes públicos e

privados, juntamente com a comunidade local (CORNER, 2001; LICKORISH &

JENKINS, 2000). Segundo esses mesmos autores, a competitividade de uma região

turística é o resultado de ações integradas do governo, do setor privado e da

comunidade, na produção e reprodução da infraestrutura básica e infraestrutura de apoio

turística, em termos de: hospedagem, alimentação, atrações turísticas,

entretenimentos/atividade de lazer, excursões, serviços pessoais (jornais, lavanderia,

cabeleireiro), lojas varejistas, bancos/seguros, e de suporte, como serviços do setor

público compartilhados com a comunidade local, como: combustível, farmácia,

pequenas (familiares) e grandes indústrias e atacadistas, saúde, segurança, meio

ambiente, etc., ou seja, todos aqueles que permitem ao turista usufruir dos bens

materiais e imateriais (MOTA, 2001; LICKORISH & JENKINS, 2000)17. Ainda no

século XIX, o turismo desenvolveu-se em diferentes modalidades: de negócios;

pedagógico; científico; rural, religioso; histórico-cultural e o ecoturismo, que inclui o

turismo de pesca, mais especificamente a pesca desportiva, como conhecido pelos

adeptos dessa modalidade de esporte e lazer, o principal foco deste trabalho.

Empreender uma viagem é passar de um estágio (rotina) a outro, como de um

espaço conhecido – vivido – para outro – espaço desconhecido ou (re)conhecido. Esse

dualismo representa o lugar de origem e o lugar de destino, o deslocamento geográfico

– no tempo e no espaço – que implica contatar culturas diferenciadas, motivando

viajantes a ver ecossistemas18 em seu estado natural mais preservado, a vida selvagem,

e a população nativa e suas manifestações culturais. O turismo nas mais variadas

vertentes é de interesse universal. Vários países desejam alavancar e fomentar essa

atividade em seus territórios.

17 Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/estudo-dos-impactos-ecologicos-provocados-pelo-fluxo-turistico-na-praia-de-piedade-jaboatao-dos-guararapes-pe/2852/. Acesso em 22 jul.2002. 18 Conjunto de seres vivos e do meio ambiente em que eles vivem, e todas as interações desses organismos com o meio e entre si.

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Muitos são os benefícios para as populações envolvidas, que vão desde o

incentivo a investimentos financeiros para a conservação do meio ambiente, a geração

de emprego e renda, o estímulo ao desenvolvimento de infraestrutura de uso coletivo, à

integração econômica e inserção social, considerando a produção e a reprodução da

atividade no local em que se insere. Cooper et al. (2001, p. 283) alertam para o fato de

que “Qualquer mudança na demanda afetará toda a cadeia produtiva do turismo de uma

localidade, por conseguinte uma mudança no nível de produção, renda familiar,

emprego, receitas do governo e fluxo de moeda estrangeira”.

Apesar de ser economicamente viável, é necessário compreender a visibilidade

do desenvolvimento, adotando técnicas de planejamento e ordenamento das atividades

locais e regionais, baseando-se nos métodos sociais, políticos, ambientais e

pluriculturais, dentro da interdisciplinaridade, instrumento de integração dos campos

das várias ciências do conhecimento, considerando os principais aspectos das novas

tendências e desafios.

1.2.1. Turismo e território: interrelações socioeconômicas e efeitos multiplicadores

O turismo é uma atividade econômica que envolve fatores socioeconômicos,

com investimento responsável pela construção da cadeia produtiva necessária ao

desenvolvimento dessa economia. Como forma de lazer, apresenta-se como atividade

econômica diferenciada no mundo globalizado. A palavra turismo, segundo Knafou

(1989, p. 1-2): [...] é polissêmica evocando ao mesmo tempo uma atividade humana e social dos territórios que frequentam, mas que não tem menos necessidade de se apropriar, mesmo fugidiamente. Conflitos nos lugares turísticos são oriundos das diferenças de territorialidade, por razões tanto econômicas como sociológicas, o turismo não é mais uma prática elitista, mas tornou-se parte de uma cultura de massa.

A atividade turística possui um alto nível de relações, que Souza (2000, p. 78)

entende como “[...] um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de

poder[...]”, objeto de intensas transformações, resultantes da movimentação dos

indivíduos entre territórios e espaços de outrem, onde, na verdade, o outro é o próprio

turista.

O turismo desenvolveu-se com maior intensidade após a Segunda Guerra

Mundial, favorecido pelos investimentos nos transportes fluviais, terrestres e aéreos,

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que se popularizaram em muitos países das Américas. Promove transformações

socioeconômicas e culturais por onde passa, agregando movimentação, construções,

emprego e renda, mas também alguns fatores negativos, que são a superlotação nos

restaurantes e atrativos, a poluição, o excesso de lixo, a especulação imobiliária,

inclusive a exploração sexual camuflada pelo turismo do lazer e do prazer (PAIXÃO,

2006; BANDUCCI Jr. 2003; SWARBROOKE, 2000).

Como ocorre em todo local com potencialidade voltada para o turismo, no

entendimento de Lage e Milone (2001, p. 127-131) é natural que ocorram “[...] efeitos

econômicos, sociais, culturais e ambientais múltiplos [...]”, promovendo mudanças

comportamentais no aspecto social nas localidades onde o turismo é introduzido. Cita-

se como exemplo a busca de emprego nesse segmento pela população que apenas

consegue atuar “[...] em trabalhos de pouca qualificação direta ou indiretamente

relacionados com o turismo, que vêm oferecer-lhes uma substancial posição financeira,

a qual hes atribui certo status social”.

São empregos de natureza temporária, de poucos meses, ou como diaristas, que

se alteram de acordo com o fluxo de turistas, na alta e na baixa temporadas

(sazonalidade). Reforça-se a importância da gestão do setor, principalmente pelos

elementos socioeconômicos, culturais, políticos e ambientais inseridos em um

ecossistema dotado de recursos naturais frágeis, como o Pantanal brasileiro de Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, que suscita de utilização sustentável, visando a garantir a

utilização pelas futuras gerações.

A partir das interações comerciais e interpessoais nas atividades ligadas ao

turismo, em específico a pesca recreativa (amadora), como produto e produtor de

inserção econômica, Corumbá recebe milhares de turistas, aproximadamente 30.000 a

cada ano, de acordo com informações divulgadas pela Fundação de Cultura e Turismo

do Pantanal – Corumbá, embora não se apresente nenhuma pesquisa que comprove

esses números. Esse fator demandou efeitos multiplicadores, presentes na cadeia

produtiva. Citamos como exemplos: a) a migração dos pescadores profissionais para o

segmento do turismo de pesca; b) a atividade de coleta de iscas vivas praticada pelos

isqueiros, até então inexistente; c) desenvolvimento do turismo de compras conectando

Corumbá aos Districtos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro, que caracterizaram

conjuntamente uma (re)funcionalização socioeconômica na fronteira. Em sentido

inverso ao período da piracema, pescadores profissionais atuam como guias de passeios

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fluviais em lanchas voadeiras, que duram de uma a duas horas, apesar de a procura

ainda ser tímida.

1.2.2. O Turismo de pesca no Pantanal sul-mato-grossense

O turismo e a pesca amadora, recreativa e esportiva inseriram Corumbá em

âmbito internacional desde os anos 1980, período de sua consolidação. Recentemente

(2010), a cidade foi eleita e faz parte do Programa dos 65 Destinos Indutores do

Desenvolvimento Turístico do governo federal e Ministério do Turismo – Mtur - através

do Programa de Regionalização do Turismo.

A escolha envolveu a sua capacidade de infraestrutura, recepção e distribuição

de fluxos de visitantes na região do Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense, que

têm em comum o Rio Paraguai, que faz parte da Bacia do Alto Paraguai – BAP.

Dentre “[...] os principais tributários do rio Paraguai na BAP, destacam-se os

rios: Taquari, Cuiabá, São Lourenço, Miranda, Nabileque, Abobral, Negro, Aquidauana,

Paraguai-Mirim e Apa [...] a penetração dos desbravadores espanhóis e portugueses em

busca do ouro no interior de Mato Grosso no século XVI [...]” (PEREIRA, 2007, p. 54-

55), favorecida pela navegabilidade dos rios.

A ocupação no interior da BAP veio também por essas vias, “[...] Vila Bela,

Cuiabá, Poconé e Cáceres ao norte; Miranda, Nioaque, Aquidauana e Porto Murtinho ao

sul; Coxim, Camapuã a leste e Corumbá ao centro” (PEREIRA, 2007, p. 55). O

Pantanal (MT-MS) fazem parte da Bacia do Alto Paraguai – BAP. Possui cerca de

595.000 km2 de extensão e conta com 61% de seu volume em território brasileiro e

particularmente, no município de Corumbá (MS), corresponde a uma sub-bacia, que

remonta a 45% do total (TREVELIN, 2010)19.

Maior área alagável do planeta, declarada Patrimônio Histórico Nacional pela

Constituição Brasileira de 198820 o Pantanal foi reconhecido, após 12 anos, como

Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela UNESCO em 2000. A

maior planície pantaneira do mundo secularmente abriga a atividade pecuária e

despertou, nas últimas décadas, para uma nova e lucrativa atividade econômica, o

turismo baseado em atrativos naturais. 19 TREVELIN, Ana Cristina. Palestra ministrada durante o I Seminário do Turismo de Pesca realizado no mês de setembro, no município de Miranda (MS), 2010. 20 Programa de Desenvolvimento Sustentável de Aquicultura e Pesca no Território Pantanal Sul. Disponível em: HTTP://www.cpap.embrapa.gov.br. Acesso em 07-Fev-2012.

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Com 138.183 km², o Pantanal é banhado pelo rio Paraguai e seus afluentes e se

estende pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Possui belezas naturais e

riquezas aquáticas, tais como: 264 espécies de peixes, base da importância da pesca

amadora na economia da região, 162 de répteis, 40 de anfíbios, por volta de 656 tipos de

aves e 95 de mamíferos, além de 3.400 espécies de plantas em toda a extensão da BAP.

Segunda maior bacia hidrográfica do planeta21, a Bacia do Alto Paraguai - BAP

só perde para a Amazônica22. Estende-se pelo Brasil, Bolívia, Uruguai, Paraguai e

Argentina, ocupa uma área de 4,3 milhões de km², atravessa o Pantanal Brasileiro, que é

porta de entrada de produtos dos demais países da Bacia Platina. Tem como destaque o

Porto Fluvial de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Combinada com outros meios de

transporte, como o rodoviário e o ferroviário, a hidrovia também é um dos importantes

modais que transporta produtos de exportação, como demonstrado na Figura 10, como

os minérios de ferro e manganês, explorados no Maciço de Urucum, soja e seus

derivados, pela hidrovia Paraguai-Paraná até a Argentina, que envia para países como a

China.

Figura 10. Transporte de minério pela hidrovia Paraguai-Paraná

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Out-2012.

A representatividade da extensão hidrográfica e a livre navegação fluvial são

fatores determinantes para potencializar a promoção do ecoturismo. Existe um Projeto,

denominado Ecoturismo Participativo, elaborado pelo Parque Nacional do Pantanal –

PARNA (MT), dentro do seu território de área preservada, com 135.000 hectares, que 21 Disponível em: www.guiageografico.net/terra/america-sul.htm. Acesso em 21-12-2011. 22Disponível em: <www.ebah.com.br/content/ABAAABrQUAC/mudancas-climaticas-des-sustentavel-fasc-03-agua>. Acesso em 21-08-2011.

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disponibilizou cerca de 5 a 6 mil hectares para atividades de lazer no ambiente natural,

prevendo a sua conservação para as futuras gerações.

1.2.3. Ecoturismo do Parque Nacional do Pantanal – PARNA

O Pantanal mato-grossense possui ambiente propício para a prática do

ecoturismo, que basicamente pode ser efetuado em área protegida e de conservação,

como nos Parques e Reservas Naturais, direcionado a um público específico.

O Parque Nacional do Pantanal – PARNA (MT),23 administrado pelo Instituto

Chico Mendes – ICMBio, intenciona colocar em prática o Projeto de Ecoturismo

Participativo, beneficiando famílias ribeirinhas que vivem no seu entorno, gerando

emprego e renda, premissa do turismo e desenvolvimento sustentáveis.

Para que essa realidade se efetive, o técnico ambiental Nuno Rodrigues da Silva

– coordenador de uso público e equipe – iniciou o projeto24. Em entrevista gravada,

ressaltou que: O Projeto de Ecoturismo Participativo vem sendo construído desde 2008-2009, financiado com recursos da Unidade Internacional de Conservação Natural – UICN da Holanda (ONG), com o objetivo principal de inclusão social da comunidade de moradores do entorno do parque, da Barra do São Lourenço – Mato Grosso. Este projeto é voltado ao público de pesca amadora, recreativa, pois não desejam criar uma demanda de ecoturismo no parque por falta de estrutura [...] (NUNO, Junho-2011).

O objetivo é abrir a visitação permanente como mais uma alternativa para o

público do turismo de pesca, conforme citado acima, para o ecoturismo, com foco na

inclusão social da comunidade, como os condutores ribeirinhos da Barra do São

Lourenço, que receberam treinamento através de Oficinas ministradas pela ONG Eco

Pantanal – Cuiabá. Foi repassado conhecimento sobre as aves do Pantanal, principal

enfoque e riqueza da região, agregando valor intelectual à comunidade do entorno. Dez

monitores foram qualificados.

Os condutores acompanham os visitantes com limite de pessoas pré-definido,

para a prática do ecoturismo, que consiste de visitas aos atrativos naturais e trilhas no

23 Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/localizacao/parques-nacionais-e-reservas-ambientais/parque-nacional-do-pantanal-matogrossense-2013-mt.>. Acesso em 26/Jun-2012. 24 O Projeto de Ecoturismo Participativo do PARNA teve a participação e consultoria do Sr. Roberto Mourão, que fez o primeiro diagnóstico do Plano de Manejo

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Morro do Caracará, na Baía dos Burros, da observação de pássaros - ninhais25 - na

colônia e berçário, e ainda da observação da flora pantaneira, como a ilustração nas

Figuras 11 e 12.

As visitações ainda não acontecem. Segundo o coordenador do projeto, ainda é

necessário efetuar parceria com as empresas interessadas e infraestrutura de apoio ao

desembarque dos passageiros. Será mais um produto de atrativo turístico para a região

de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados que compartilham do mesmo

Ecossistema do Pantanal brasileiro e suas diversidades e riquezas faunísticas e

florísticas.

Figura 11. Ninhal de pássaros Fonte: Fillipe (turista de Belo Horizonte). Baía dos Burros. (MT). Jun-2011.

Figura 12. Flor da Vitória Régia Fonte: Fillipe (turista de Belo Horizonte). Baía dos Burros. (MT). Jun-2011.

25 Ninhal: local de concentração de várias árvores onde inúmeras espécies de pássaros fazem seus ninhos e procriam.

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Alguns meses após a visita técnica do Parque Nacional, participamos do I

Forum26 Populações Tradicionais do Pantanal sul-mato-grossense, organizado pelo

Ministério Público de Corumbá, EMBRAPA Pantanal e Faculdade Salesiana de Santa

Teresa – FSST, que oportunizou o encontro com moradores de várias regiões ribeirinhas

do Pantanal sul-mato-grossense.

Na oportunidade, pudemos registrar e gravar o depoimento da pessoa

responsável pela Associação dos pescadores profissionais, que engloba homens e

mulheres da Barra do São Lourenço, como se vê nas Figuras 13 e 14. A coleta de

opiniões foi direcionada sobre qual representação o turismo de pesca em barcos-hotéis

tem para as comunidades ribeirinhas. Em resposta, essa pessoa nos informou o que

descrevemos a seguir, sobre as mulheres ribeirinhas da Barra do São Lourenço. O

depoimento de Leonora Aires de Souza foi autorizado em gravador de voz. Ela nos

informou inicialmente quando perguntada se havia uma Associação: “[...] a associação lá tá parada e não tem ninguém pra tocar [...]” “Nós somos da Barra do São Lourenço NE, nós catamos isca, sobrevive de isca, e dependemos muito do turista, não temos uma casa boa, mas através deles hoje nós temos teto de eternite na casa que era de palha. E agradeço muito aos donos dos barcos que a gente dá o dinheiro a lista e eles traz a compra27 sem cobrar nada, a dona Vania, seu Pepino atende a gente, temos que lutar por essa rede”. “Com a ajuda do ramo do turismo temos nossos barcos, nossos motor, não pode acabar [...], tem que evoluir cada vez mais [...]” “[...] os barcos-hotéis trazem turistas, que nos ajudam, compram nosso nossos produtos (iscas vivas) [...]” “[...] nós as mulheres ribeirinhas temos problemas de vista, devido todo o tempo enfiado no camalote com o reflexo do sol na água, e isso aparenta que temos idade mais avançada [...], tem gente que já não enxerga de um olho” “[...] as crianças hoje ficam mais tempo na escola, mas ainda têm mães que leva o filho acompanhando o marido, e ficam o tempo todo no sol quente [...]”

Ainda alertaram pelo trabalho insalubre que praticam: “[...] o tempo todo na água correndo riscos com o sol quente e o reflexo do sol nos olhos, nos fazem sentir mais envelhecidas [...]” “[...] nas enchentes [...] todo mundo trepado em giral, vem cobra, onça, formiga, mosquito, não tem pra onde ir, e não é dois, três dias, são três meses. Às vezes a enchente é tão forte que arranca as casas, a escola foi arrancada [...]” “O turismo direto e indiretamente é um ponto muito importante pra nós, tanto pros isqueiros, pros filhos, pros netos que já estão lá [...],famílias com 3/4 gerações acho que se pudéssemos ter aquele vínculo mais interagível com as empresa, podia ter uma vida melhor [...]” “Se você for lá na época das chuvas do mosquito, ninguém vai lá [...], nem professor vai lá [...] o sofrimento é muito grande [...]”

26 O Fórum ocorreu de 3 a 5 de outubro, 2011, nas dependências da Faculdade Salesiana Santa Teresa de Corumbá (MS). 27 São compras de produtos de primeira necessidade, botijão de gás, remédios, etc...

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“Se você for lá não vai aguentar [...] nós aguentamos porque lá é nosso e lá que queremos ficar [...]” “[...] as empresas de turismo precisa de nós e nós precisamos deles”

Os depoimentos de Leonida e Eliane, autorizados em gravador de voz (Figuras

13 e 14) esclareceram algumas dificuldades por que as famílias ribeirinhas passam.

Figura 13. Moradores ribeirinhos Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jun/Out-2011.

Figura 14. Representantes da Associação-Barra do São Lourenço Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jun/Out-2011.

Mulheres ribeirinhas do Taquari:

“Nosso trabalho é pescaria e pegar isca. A família fica na cidade com os filhos enquanto o marido fica dias pra lá trabalhando [...] mas tem muita dificuldade, a água tá na minha porta da casa”. ‘A gente trabalhava com agricultura, tinha mandioca, cana, abacaxi, e acabou tudo por causa da seca. Faz mais de dois anos de crise que ninguém mais planta nada lá.” “As famílias na maioria trabalha com roça, mas a seca tá demás”. “As terras lá, ninguém tem nada documentado [...] por isso resolvemos, vamos pegar isca”.

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Os relatos e depoimentos das dificuldades denotam pessoas que vivem

diariamente uma rotina de dificuldades no Pantanal (MT-MS), que parecem invisíveis

ao resto do mundo, apesar de serem assistidas por Programas Sociais, como Bolsa

Escola.

A atividade da pesca é importante para as comunidades, por garantir emprego e

renda. Entretanto, as pessoas esperam poder ampliar sua produção artesanal de extração

de iscas vivas, encontradas facilmente na natureza a um preço justo, principal insumo

para o turismo de pesca e objetivo do Fórum. Buscam, ainda, assimilar técnicas de

manipulação com frutos, sementes e ervas medicinais nativas, além do arroz selvagem,

potencializando um comércio endógeno.

O planejamento é para as famílias poderem melhorar sua qualidade de vida,

comercializando produtos ligados à economia familiar, tornando-os mais acessíveis à

população e ao público que visita Corumbá. O turismo histórico-cultural conta com um

acervo arquitetônico variado e extenso, que passou pela história da Guerra da Tríplice

Aliança (Guerra do Paraguai) e novamente foi reconstruído. O acervo reteve marcas

históricas da época, mas é subutilizado pelos gestores do turismo local-regional.

Corumbá é a cidade que possui o mais valioso Patrimônio Arquitetônico e Paisagístico,

de grande importância histórica no estado de Mato Grosso do Sul.

1.2.4. Patrimônio Arquitetônico e Paisagístico de Corumbá (MS)

Do período fausto da navegação comercial internacional, os prédios que

integram o Casario do Porto Geral, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Corumbá

está dividido em duas partes, a baixa e a alta. A primeira, voltada para o Porto, fica na

base da encosta, que possui aproximadamente 8m de altura. São edificações do final do

século XIX e início do século XX.

O casario integra toda a extensão da Rua Manoel Cavassa, no Porto Geral, como

se observa na Figura 15, ocupado em sua maioria por empresas de turismo de barcos-

hotéis, juntamente com utilização residencial, lojas de artesanato e produtos para a

pesca, bares e um posto da Marinha do Brasil – Capitania dos Portos do Pantanal. Há

ainda construções na Travessa Mercúrio, na Ladeira da Candelária (Cunha e Cruz) e na

Ladeira José Bonifácio.

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Figura 15. Casario do Porto Geral Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Set-2011.

O prédio Wanderley Baís, um dos mais imponentes, conforme demonstrado na

Figura 16, atualmente é o local onde se encontra instalado o Museu de História do

Pantanal – MUPHAN, que conta 8.000 anos de história da ocupação do homem. Possui

ainda uma sala de cinema no último andar, exposições periódicas e apresentações

culturais em alguns eventos, como no Festival América do Sul.

O acervo arquitetônico segue pelas ladeiras que dão acesso à parte alta da

cidade: Ladeira da Candelária (Cunha e Cruz) e Ladeira José Bonifácio, a Escadinha da

XV (em revitalização) e a Travessa Mercúrio, que recentemente recebeu melhorias

físicas. A parte alta, localizada na região superior da encosta, teve suas edificações

erguidas, em sua maioria, no início do século XX. O mapa da cidade (1914) se resumia

no quadrilátero, figurando um modelo tabuleiro de xadrez, concentrando os prédios de

valor histórico nas Ruas Oriental e Ocidental, a atual Rua Edu Rocha e a Rua Colombo

até a Avenida Marechal Rondon.

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Figura 16. Prédio Wanderley Baís- MUPHAN Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jul-2012.

Pereira (2007, p. 114-116) explica: [...] 719 imóveis que integram o patrimônio ambiental urbano de Corumbá. Os estilos inventariados vão do Neo-clássico – Art-deco – Art noveau – Neo gótico e Eclético. [...] Apenas 71 envolvidos pela área de tombamento. A maioria encontra-se concentrada no conjunto do Casario do Porto enquanto uma pequena parte aparece localizada na Avenida General Rondon entre a Ladeira Cunha e Cruz, e Rua 15 de Novembro.

Inventariado na ocasião de seu doutorado, Pereira (2007) comprovou a

existência de uma linguagem arquitetônica com forte influência europeia. As

edificações antigas, que formam o conjunto arquitetônico, são visivelmente

identificadas a olho nu, como a Figura 17, no início da Avenida General Rondon, ao

lado da Ladeira da Candelária (Cunha e Cruz), e também nas ruas Delamare, Treze de

Junho, Dom Aquino Correia, Antonio Maria Coelho, Frei Mariano, XV de Novembro e

Sete de Setembro.

Hoje, o conjunto arquitetônico de Corumbá mescla o antigo e o moderno,

conforme se exibe na Figura 18, contrastando com outras construções da Rua Antonio

Maria Coelho.

Ainda se encontram prédios na área central, parte baixa da cidade, que foram

totalmente revitalizados em estilo contemporâneo em suas fachadas pelos seus

proprietários, levando-nos de volta ao início do século XX.

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Figura 17. Edificações da parte alta na Av. General Rondon Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jul-2012.

Figura 18. Prédios em estilo: antigo e moderno Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jul-2012. Outro exemplo é o antigo depósito alfandegário do século XIX, totalmente

reconstruído com verbas federais e municipais, potencializando mais uma vertente do

turismo, o de negócios. O Centro de Convenções Miguel Gomes, no Porto Geral, às

margens do Rio Paraguai, possui um piso superior, salas equipadas, modernas com

auditório para eventos (Figura 19).

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Figura 19. Centro de Convenções Miguel Gomes Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Jul-2012.

As construções recentes surgem a cada dia por vários bairros e na área central e

se dividem em três setores: a parte baixa (beira rio), o centro e a parte alta, que fica após

os trilhos da Rede Ferroviária.

Embora o Patrimônio Paisagístico e Histórico-Cultural de Corumbá não seja

explorado economicamente pela população e instituições públicas e privadas,

salientamos que é uma oportunidade potencial de captação de novos mercados, podendo

vir a fomentar o turismo, como ocorreu na Europa.

1.3. Aspectos da crise na industrialização e do turismo de Corumbá (MS).

Sem uma infraestrutura urbana e econômica para criar alternativas direcionadas

ao setor comercial, a cidade de Corumbá, que nasceu e cresceu com o rio, “[...] iniciou

sua decadência quando o rio Paraguai perdeu sua função principal de comunicação e

transporte comercial internacional, que se transferiu para Campo Grande na década de

1920” (SOUZA, 1973, p. 34).

Embora as ocorrências de minérios de Ferro e Manganês (maior jazida do

mundo), Maciço de Urucum, distante 20km da região de Corumbá, serem conhecidas

desde 1870, tendo a primeira concessão outorgada ao Barão de Vila Maria em 1876, só

em 1970 foi criada a Urucum Mineração, em parceria com a Companhia Vale do Rio

Doce, que é a sua atual proprietária; em 1974 a Mineração Corumbaense S.A. foi criada

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por empresários do estado (PAIXÃO, 2006; MONTEIRO, 1997; OLIVEIRA, 1998;

GONÇALVES, 1999).

Em 2005 surgiu a MMX mineradora; logo em seguida, a Siderurgia estabelecida

na região de Maria Coelho, e mais recentemente, a Vetorial. A Mineração Corumbaense

– MCR – que explorou minério por muitos anos nessa região, recentemente foi vendida

para a empresa Vale do Rio doce, a atual VALE S/A, que incorporou mais essa

empresa. Todos esses empreendimentos geram emprego e serviços terceirizados.

A reserva de calcário de minério existente na região favoreceu a instalação do

grupo Votorantim de Cimento Itaú (1950), que atua até os dias de hoje. Paixão (2006, p.

150) destaca que o início do período de industrialização na cidade a partir dos anos

1950 também contou com a instalação de outras indústrias como: [...] Indústria Sociedade Brasileira de Minérios (SOBRAMIL) do Grupo Chamma que culminou na década de 1960; o Moinho Mato-grossense (1952); a Tecelagem Mato-Grossense (1959); a Fiação Mato-Grossense e a Tecelagem Mato-Grossense (1960) e o Curtume Mato-Grossense (1960).

Nova crise foi instalada e essas indústrias, que utilizavam os modais de

transporte hidroviário e ferroviário, encerraram suas atividades na metade dos anos

1970. Oliveira (2001) constatou o estabelecimento de “[...] novas inquietudes

socioeconômicas para a região” a partir de então.

Nessa época o turismo já despontava no cenário do Pantanal, que em 1974

iniciou uma nova era. Inspirado nos dizeres de Salomão Baruki (1974, p. 10-11), Paixão

(2006, p.151-152) confirma que, apesar da “[...] intervenção do governo Federal através

do Projeto para a região Centro-Oeste e o Programa de Desenvolvimento do Pantanal –

PRODEPAN, não criou mecanismos financeiros para alocação de recursos para o

turismo”.

No cenário que iniciou após um período de crise e estagnação (1930–1968) da

navegação fluvial comercial internacional, com a introdução da era industrial, que

também teve seus dissabores, a pesca esportiva despontava. Sua consolidação ocorreu

nos anos 1980, privilegiando o segmento com 20 anos de trabalho intenso,

proporcionando ampliação e reforma das estruturas dos barcos-hotéis e diversificação

nas formas de atração dos turistas, ampliando a participação das Feiras especializadas

nacionais e internacionais.

A superexploração dos recursos pesqueiros por longos anos assinalou para

períodos difíceis já no ano de 2002. Os recursos naturais, sem tempo hábil para

renovação, refletiram negativamente, provocando, com isso, a redução dos turistas de

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pesca. Atualmente o segmento vem mantendo uma variação desse público, com

oscilação nos últimos cinco anos, conforme informações adquiridas da Polícia Militar

ambiental – PMA que possibilitaram a análise que será demonstrada no terceiro capítulo

deste trabalho.

Essa situação denota o entrelaçamento entre um e outro problema em Corumbá.

Mesmo com esforços empreendidos pelos empresários em parceria com a Fundação de

Cultura e Turismo do Pantanal e do estado de Mato Grosso do Sul, ainda não se

encontrou a solução para corrigi-lo. A EMBRAPA Pantanal28 já havia alertado para

esse quadro, devido a outros fenômenos, como períodos de pouca cheia e maiores de

seca no Pantanal, que comprometem a recuperação dos estoques pesqueiros.

Tal fato demanda monitoramento e pesquisas que possam minimizar grandes

impactos, como a parada total da atividade de pesca, resultando na demissão em massa

dos trabalhadores do setor. A reação, no momento, é a participação ativa de feiras

nacionais e internacionais, buscando conquistar novo público. A pesca de barcos-hotéis

é frequentada por um público fidelizado, que continua sua vinda anualmente ao longo

de mais de 30, 20, 25, 15, 10, 5 anos, conforme depoimentos registrados durante a

aplicação dos questionários a turistas, em pesquisa de campo. No entanto, já despontava

em 2005 a introdução de famílias viajando conjuntamente para a prática do mesmo

esporte e lazer.

1.3.1. Turismo na fronteira Brasil/Bolívia (MS)

Apesar da grande importância da industrialização mineral e da pecuária para

Corumbá, o turismo faz parte das principais atividades econômicas do setor de serviços.

Busca-se alternativa para potencializar a exploração de outras modalidades de turismo

junto aos seus clientes, como: o histórico cultural, científico, ecoturismo, de negócios, e

de eventos. Entretanto, não há investimentos institucionais e privados, deixando um

Patrimônio como o Casario do Porto e outros atrativos turísticos regionais

subaproveitados, ignorando uma possível crise que atingirá toda cadeia produtiva do

turismo e a pesca.

28 Disponível em:< http://www.cpap.embrapa.br/destaques/2009texto04.html>. Acesso em 17-Jun-2012.

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O que continua em voga é o dueto turismo de pesca e turismo de compras além-

fronteira, pois o turismo contemplativo e histórico cultural tem pouca procura, devido à

falta de divulgação e oferta dos atrativos.

Estudos feitos por Jansen-Verbeke sobre a sinergia entre compras e turismo

consideraram “[...] a presença de uma oferta varejista diversificada [...] forte indício do

desenvolvimento de um atraente espectro de oportunidades turísticas nas áreas de

destino [...]” (JANSEN-VERBEKE, 2002, p. 441), o que ocorre exatamente em Arroyo

Concepción e Puerto Quijarro – a integração e pretensa ambientação espacial no local

de ação dos turistas. Essa sinergia é mais intensa se introduzida em pontos de

intervenção estratégicos, favorecendo a associação lugar/produto como elo do contexto

regional, edificando a identidade do lugar social e culturalmente, como a oferta dos

produtos artesanais, oferecidos nas lojas e pelos comerciantes bolivianos ambulantes em

Corumbá.

O artesanato disputa a preferência pelos produtos importados a preços

acessíveis, devido às vantagens do câmbio da moeda. Exemplificando, cada R$ 1,00

vale cerca de Bs 3,85 (bolivianos), porém sofre flutuações de acordo com a moeda

americana que está em (R$ 1,00 por US$ 2,15 29) um real, também utilizada nessa

região.

Entretanto, este não é fator impeditivo, e sim complementa como um atrativo a

ser considerado melhor, devido às potencialidades existentes para atração de novos

mercados para o turismo histórico-cultural, por exemplo, aproveitando-se do fluxo de

turistas de pesca que anualmente vêm para a região.

A integração dos atrativos turísticos da zona fronteiriça, elaborados

intencionalmente com acordo binacional, investimentos públicos e privados, é

potencialmente o caminho para contribuir com o desenvolvimento local, considerando

as características do Programa de Regionalização do Turismo e o Programa dos 65

Destinos Indutores do Desenvolvimento do Turismo30, dos quais Corumbá faz parte.

Os projetos podem requerer, em vários ministérios integrados, verbas federais

para fomentar o turismo regional. Corumbá foi selecionada pelo Ministério do Turismo

– Mtur - por sua infraestrutura e facilidade de distribuição dos fluxos migratórios na

região do Pantanal, que por si só é um produto.

29 Cotação de 06 de outubro, 2012. 30Disponível em: http://65destinos.blogspot.com.br/. Acesso em 23-Jun-2012.

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Sem a governança devida, Corumbá não está participando dos 65 Destinos

Indutores do Desenvolvimento do Turismo. Está paralisada, sem coordenador ou gestor

local. Justamente quando assola a cidade mais uma crise e recente decadência do

turismo pela (má) fama que ganhou em nível nacional como corredor de drogas e

descaminho de mercadorias, devido à constante presença nos noticiários na mídia.

1.3.2. Identidade e territorialidade: apropriação, produção e uso do território.

Corumbá, como centro urbano regional, possui funções comerciais, formais e

informais; mantém a funcionalidade da fronteira. Nesse espaço há um processo de

construção da identidade, do território e territorialidade. Para Yázigi, (2001, p. 29)

“[...] a definição de lugar está nas escalas do cotidiano e do turismo [...] ‘a alma do

lugar’ ou a personalidade, no sentido exposto”. O autor ainda observa que a identidade

está também na: [...] experiência do cotidiano das cidades, uma floresta ou um simples pôr-do-sol. Logo a autenticidade do que é produzido em função do dia-a-dia pode se converter em repertório turístico, desde que na perspectiva da ascensão social e da dignificação do mundo material – não conheço um só texto ou outra forma de comunicação que enalteça a miséria e suas sombras na melhoria da paisagem (YÁZIGI, 2001, p. 290).

Ademais, a distinção que essa região fronteiriça tem das outras é interpretada

pelos habitantes, que desenvolvem relações interculturais, sem, contudo, desmotivar a

identidade nacional, sustentada nos seus símbolos e signos, e que configura o

sentimento de pertencimento a uma extensão espaço-territorial. A reprodução e o uso

adotam novas maneiras a partir da compreensão que engloba o cotidiano do lugar nos

mais diversos aspectos, capaz de refletir no meio geográfico indefinido e complexo.

(OLIVEIRA, 2009).

Para Raffestin, (2003, p. 5), “[...] a identidade e as imagens antecedem o

território, a territorialização, a desterritorialização e a reterritorialização, porque

obedecem a diferentes escalas temporais”. Pela lógica, subentende-se que há territórios

de uso em comum, que são palco e cenário de festas e comemorações civis (políticas),

religiosas (sagrado), que estão ligadas às sociais, tais como: Aniversário da cidade,

Independência (Brasil e Bolívia), Campeonato Internacional de Pesca – Adulto e

Infantil, casamentos e aniversários, São João, São Pedro, todas englobadas que se

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efetivam nas sacralidades e territorialidades, como exemplificamos nas Figuras 20, 21,

22 e 23.

Figura 20. Festa da Virgem de Figura 21. Campeonato de Pesca Urkupiña na Brasbol Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). 2011/2012.

Figura 22. Carnaval de Corumbá Figura 23. Apresentação de um grupo de

dança típica boliviana – UFMS. Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). 2011/2012.

Na visão de Raffestin (2003, p. 6-7), “[...] o território do cotidiano é vivido

simultânea, territorial e linguísticamente. É o habitar por excelência e riqueza e pobreza,

banalidade, originalidade, potência e impotência, ao mesmo tempo das trocas; de

referência e do sagrado”.

Tais características despertam, entre brasileiros e bolivianos, um sistema de

aproximação maior do que com a colônia árabe da cidade. Existe um comércio de

produtos importados de consumo que atrai locais e turistas brasileiros, pelos

preços atrativos ofertados pelo comércio formal e informal, proporcionando maior

movimentação socioeconômica e geração de emprego internacional na fronteira. No

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entanto, não há diversidade ou quantidade em mercadoria artesanal que contenha o

nome do lugar gravado nas peças de madeira, por exemplo, ou camisetas com imagens

turísticas do país vizinho - Bolívia. Apenas duas pequenas lojas comercializam

artesanato da Bolívia e do Peru, uma no Porto Geral de Corumbá e outra na Feirinha da

Fronteira.

O destaque está na oferta em mais de 200 empreendimentos comerciais em

Puerto Quijarro, seguido de aproximadamente 650 lojas de atacado e varejo em Arroyo

Concepción, sendo que cerca de 150 não possuem registro. Segundo informado pela

sub-alcaldia, estes estão na informalidade. Não obstante, como um todo, contribui com

a geração de emprego e renda através da apropriação e transformação espacial-territorial

para a circulação do fluxo de clientes que vêm em busca de mercadorias, ampliando o

comércio da fronteira.

As mercadorias, em sua maioria, são vestuários, eletroeletrônicos, perfumaria,

louças, etc., trazidos de La Paz, Santa Cruz de La Sierra, Peru, Iquique (Chile) e Miami

(EUA). Nesses lugares, ouvem-se comentários diversos. Os turistas e/ou visitantes

criam apenas impressões imediatistas, que não são boas, tais como: Turista 1- “A fronteira é muito suja, tem muitas crianças e idosos na rua pedindo”.

Turista 2- “Aqui é só pra comprar o que encontrar de interessante e voltar logo para Corumbá”.

Outros ficam em restaurante, como La Bodeguita ou Manara, na Feirinha da

Fronteira, experimentando iguarias como a saltenha, que é um salgado com recheio de

frango assado, tomando a cerveja paceña, apenas aguardando os companheiros que vão

às compras. Mas realmente ocorre que ninguém sai da Feirinha sem uma sacolinha de

plástico com alguma compra.

Assim, comprovamos duas situações principais evidentes na fronteira: a) o

aumento do turismo de compras, b) isso incentivou alguns brasileiros a constituírem

empreendimentos comerciais na Bolívia, como lojas na antiga Zona Franca de Puerto

Aguirre, e nas imediações do limite internacional, no Disctricto de Arroyo Concepción,

atual Shopping Center de Compras, Comercial 12 de Octubre, a 100m da linha de

fronteira.

Em Puerto Quijarro, a Avenida Salazar é também local de interesse comercial.

Lá foi construída a loja de departamentos Miami House, instalada com estacionamento,

restaurante e banheiros. Anteriormente essa loja ficava nas dependências do Shopping

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Aguirre, o que vem corroborar com os dizeres de Raffestin (2005, p. 131): “O território,

lugar de enraizamento por definição, não tem mais uma existência estável, mas muda

conforme o ritmo dos grandes atores socieconômicos”.

A loja de departamentos que se reproduziu em outro espaço-território segue

ampliando suas instalações e, por consequência, gerou um fluxo de trabalhadores

brasileiros e bolivianos que desempenham atividades no território boliviano, e outro

com a participação na economia formal e informal em Corumbá, como ambulantes. Da

mesma forma, houve um aumento no comércio frequentado por grupos de turistas de

pesca nos barcos-hotéis e de Esporte e Recreio.

A mesma situação é identificada em outras regiões de fronteira, como o Brasil e

o Paraguai, o Uruguai, e mesmo em regiões do sul do país, como no Rio Grande do Sul,

onde Medeiros (2006) identificou a “saga” dos imigrantes italianos e alemães. Entre erros e acertos uma nova territorialidade vai sendo construída. Muitos abandonam, desistem, vão para outros lugares, mas há aqueles que ficam, resistem e começam a construir um território no qual as marcas de sua história vão sendo fixadas como marcas de sua identidade. (MEDEIROS, 2006, p. 282-3).

A fronteira Brasil-Bolívia (MS) é um espaço singular, favorecido pela interação

secular da população transfronteiriça que se encontra imbricada no território,

disputando, através de articulações e tramas, suas territorialidades. Costa, (2011, p.

167), em sua análise, expõe que a fronteira “[...] também é vista pelos próprios

bolivianos de outras partes do território nacional, como uma região “desterritorializada”,

sem uma identidade própria [...]”. Cremos que ela pode ser definida a partir de como os

moradores locais se veem e se aceitam nesse jogo de múltiplas etnias e culturas.

Isso dificulta a construção de uma nova identidade, objeto de análise dos

antropólogos e de outras ciências sociais que definem o nascimento de uma identidade

híbrida. No nosso entendimento, a identidade está ligada ao trabalho e ao território

vivido, e ambos são indissociáveis, é “[...] natureza transformada pela prática social,

produto de uma capacidade criadora, acumulação cultural que se inscreve num espaço e

tempo - essa a diferença entre lugares e não lugares” (CARLOS, 1996, p. 117), o que

explica o lugar como produto final. A partir do espaço, o território é produzido pelos

agentes sociais, apreendido e somado à cultura do indivíduo. Este decide, a partir do seu

próprio intelecto, a construção dos arranjos, usos e sensações, por práticas e crenças

sociais, quando, onde, o que e como produzir o território e as territorialidades.

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Logo, a (re)produção econômica, política, cultural e ambiental para o

(re)ordenamento territorial, baseado em políticas interdisciplinares, é considerada por

Saquet (2007, p. 148) nos seguintes termos: [...] a natureza está presente na construção histórica do território e da identidade, como um código genético local, material e cognitivo; é um produto social, da territorialização e se constitui no patrimônio territorial de cada lugar, e precisa ser gerida com vistas ao desenvolvimento territorial sustentável.

Segundo Hall (1996, p. 95), a situação de migrantes diferencia, pois acabam

sempre construindo identidades híbridas. “À medida que os indivíduos venham a

pertencer a dois mundos ao mesmo tempo, eles procuram manter, conflituosamente,

suas raízes, suas tradições e a memória que os ligam a um território de origem”. E ainda

explica: Elas são obrigadas a negociar com as novas culturas em que vivem, sem simplesmente serem assimiladas por elas e sem perder completamente a sua identidade. [...] devem aprender a habitar no mínimo duas identidades, a falar duas linguagens culturais, a traduzir e negociar entre elas (HALL, 1996, p. 95).

Expressividade, flexibilidade e historicidade favorecem resistência e adaptação

traduzida na permissividade, refletida na mescla de elementos emocionais e

comportamentais de aceitação e alteridade, que, segundo palavras de Frei Betto, está na

capacidade de “[...] apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e,

sobretudo, da sua diferença31” (FREI BETTO, 2003, p. 1).

Essa condição complexa divide opiniões sobre a identidade da população da

fronteira Brasil/Bolívia (MS), colocando-se em dúvida: quem são os fronteiriços? Os

corumbaenses e pantaneiros assim se definem e delegam aos bolivianos o estigma de

fronteiriços. Mas se pensarmos que estamos em território de fronteira, pela lógica, todos

nós somos fronteiriços.

A situação não restringe a vida cotidiana, com suas diferenças e estratégias de

agregação, comum em locais onde há facilidade na transposição interfronteira. Quando

as fronteiras são abertas, em especial não interferem nas interrelações entre moradores

locais, capazes de mobilizar e negociar em favor da condição socioeconômica.

O papel integracionista e de cooperação associativa entre países vizinhos

favorece iniciativas próprias e os países assumem suas potencialidades, como o turismo

de esporte e lazer da pesca amadora, existente nesta região há mais de cinco décadas. 31 Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto - autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=7063>. Acesso em 05-Mai-2012.

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Evoluiu com investimentos privados e públicos desde os anos 1970, consolidando-se a

partir de 1980, demandando outras atividades econômicas, como a dos coletores de

iscas, ou isqueiros.

Portanto, os isqueiros adentram em mais de um viés econômico para a

comunidade tradicional na Barra do São Lourenço, Paraguai-Mirim, Porto da Manga,

Porto Esperança, Albuquerque, dentre outros municípios que fazem parte do Pantanal

sul-mato-grossense.

O turismo de compras, iniciado em Puerto Suarez, distante 15km da fronteira,

mas que teve destaque no Districto de Arroyo Concepción em Puerto Quijarro, a

poucos metros além fronteira, e se ampliou ao longo dos anos em total interdependência

com Corumbá. Empresários brasileiros ainda o incluem no pacote turístico, como mais

um atrativo, e se especializaram na atração para esse destino. Basicamente vão às

compras na fronteira: os moradores locais, sacoleiros, (que revendem as mercadorias) e

turistas brasileiros, inclusive os grupos de pesca, que dão intensa movimentação na

fronteira.

Todas essas atividades geraram postos de trabalho até então inexistentes, bem

como a ampliação e o estabelecimento de novas empresas que necessitam de outros

produtos na mesma localidade, provocando impactos econômicos como os efeitos

multiplicadores, que detalharemos nos próximos capítulos.

Os empregos de natureza temporária ou como diaristas, alteram de acordo com o

fluxo de turistas e se tornam nulos nos períodos de sazonalidade, como na piracema,

quando aproximadamente 85% dos trabalhadores do setor são demitidos.

Isso reforça a importância do planejamento e gestão do setor integrado,

considerando modelos socioeconômicos, culturais, políticos, com técnicas que ofereçam

ferramentas de atuação mais abrangente e menos nocivas ao ambiente, relacionadas com

a utilização dos recursos sem esgotá-los, garantindo a herança e o uso para as gerações

futuras.

O turismo sustentável, para Swarbrooke (2000, p. 11), “[...] é simplesmente

parte do conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável, um sistema aberto no

qual cada elemento afeta os demais”, como ilustra a Figura 24.

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Figura 24. Turismo e desenvolvimento sustentável: relações entre os dois aspectos de sustentabilidade. Fonte: Swarbrooke (2000, p. 111).

O desenvolvimento sustentável é pré-requisito para o turismo. Sua característica

principal está pautada na geração de emprego e renda através da produção de pequenos

negócios (familiar-caseiro), principalmente a produção agrícola em zonas rurais em

pequena escala, com fornecimento para o mercado interno, favorecendo o

desenvolvimento local. A estratégia tem por finalidade incentivar a pequena produção

como mais um atrativo turístico para as famílias da localidade. Projetos assim podem

ser e são elaborados com apoio das universidades e financiados pelo Banco Nacional de

Desenvolvimento – BNDES, tendo como vantagem o acompanhamento de especialistas

na implementação e utilização de técnicas de conservação ambiental. Swarbrooke

(2000, p. 112) ainda atenta para: [...] o desenvolvimento não sustentável, que pode reduzir drasticamente a qualidade do produto do turismo devido a uma infraestrutura inadequada e a poluição causada por outras indústrias, substituir por atividade que seja vista socialmente inaceitável, ou mesmo ilegal, como a caça, ou mais litigiosa, como o turismo sexual.

Esse tipo de prática existe em Corumbá desde a introdução do turismo de pesca,

a partir dos anos 1980, período da consolidação da atividade, quando a vinda de

inúmeros turistas formados por grupos estritamente masculinos demandaram o

surgimento de empreendimentos especializados na exploração sexual na zona urbana e

rural da cidade.

A movimentação existente em Corumbá e nos Districtos de Arroyo Concepción

e Puerto Quijarro permanece concatenada na zona fronteiriça. No entanto,

aparentemente pode estar comprometida, pela redução do fluxo de turistas brasileiros

para a fronteira, despontando uma crise que pode envolver toda a cadeia produtiva.

Sistemas econômicos sustentáveis

Meio ambiente sustentável e recursos naturais

Preservação sustentável

Sociedades e comunidades

Agricultura sustentável

Turismo sustentável

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CAPÍTULO 2

A PESCA: ASPECTOS HISTÓRICOS, INSTITUCIONAIS E

SOCIOECONÔMICOS.

2.1. A pesca desportiva.

Os primeiros registros encontrados sobre caça e pesca foram feitos em papiros

com escrita egípcia – hieróglifos. Essa prática desportiva era considerada esporte apenas

de reis, cortesãos e dignitários32. Ainda há alguns escritos na Inglaterra datados do

século XII e XV. Para citarmos um deles, Wolfram Von Eschenbach escreveu sobre o

tema em 1210; outros textos datam de 1360, destacando sobre a pesca com mosca como

"el método elegido por la gente del pueblo"33, porém efetuado com muita sofisticação

na pesca de truta.

Autores como Isaac Walton, John Hawkins, John McDonald, Robert Atkinson,

Jorge Calandra, dentre outros, beberiam na fonte que foi o primeiro ensaio sobre a

pesca recreativa, publicado em 1496, intitulado Treatysse of Fysshynge Wyth an Angle,

da autora Juliana Berners, ícone da pesca na modalidade fly, com uso de mosca como

isca, que considerava um esporte de cavalheiros praticado pela nobreza como o Duque

de York, conforme descrito por Pablo Juan Gozio34.

Apesar de a pesca ter evoluído do sustento para a forma de esporte, para exercer

essa modalidade de esporte e lazer, se fez necessário levar em consideração as regras

internacionais e regulamentos em caso de competições, e ainda portar a licença de

autorização obrigatória nos Estados Unidos, por exemplo, onde a pesca tem grande

projeção.

Estima-se que o primeiro passo foi dado somente no final nos anos 1930, por

membros do clube britânico35 de atum, que esperavam formular regras de pesca – ético-

desportiva – a fim de estabelecer normas e promover práticas esportivas de importante

papel de reprodução na sociedade, com repasse da técnica de pai para filho. O código de

regras internacional de pesca amadora instituiu regulamentações para permitir alguma 32Disponível em: <http://www.touregypt.net/godsofegypt/sobek.htm>. Acesso em 26-Jan-2012. Trad. <http://tradukka.com/translate. 33 Disponível em: <http://www.pesca.org.mx/historia/medieval.html>. Acesso em 27-Jan-2012 34 Disponível em: <http://www.irresistibleflyshop.com.ar/juliana.htm>. Acesso em 27-Jan-2012. 35 Disponível em: <http://www.igfa.org/images/uploads/files/IGFA%20RulesReqiurements_021411.pdf>. Acesso em 27-Jan-2012.

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forma de padronização internacional nas competições sobre a utilização de

equipamentos de pesca, como linhas, linebacking, (linha de apoio), líder, haste, carretel,

ganchos, iscas, etc, uma forma de competitividade para a pesca e permissão para que ela

fosse elevada a um esporte.

A pesca desportiva divide-se em dois grandes módulos: água salgada - Big

Game Fishing – (pesca de grandes peixes), e pesca de água doce, - em rios e lagos -

(peixes esportivos).

Devido à sua popularidade, regulamentos de pesca são muito rigorosos sobre

como as espécies podem ser capturadas, o número de exemplares e o tamanho (medida)

a ser mantido. São características que diferem nas legislações de um país para outro, e

de região para região em um mesmo país, como ocorre no estado de Mato Grosso do

Sul, em Corumbá, Miranda, e também na legislação do estado vizinho, de Cuiabá -

Mato Grosso, que acabou de implementar a Cota Zero, e permite apenas a modalidadde

do pesque-e-solte nos rios da região.

A prática de esporte reconhecidamente eleita pelo público masculino vem sendo

alterada, tanto que nos Estados Unidos se confirma o crescente número de mulheres

nesse esporte. Barbara Baird, de womensoutdoorwire.com36, destaca que: [...] as mulheres são melhores pescadores porque escutam e são ansiosas para aprender, [...] a maioria dos homens mantém uma atitude "sabe tudo", [...] embora o peixe não saiba quem está do outro lado da linha, acredita-se que a maioria das mulheres pode detectar a mordida melhor por causa de sua sensibilidade ao toque37.

Ela afirma, ainda, surtir efeito a presença feminina no setor, considerando que a

indústria de pesca começou a ter conhecimento pelo fato de que mais mulheres estão

tomando decisões de compra de seus equipamentos, como barcos, molinete, carretilha,

varas e petrechos ligados ao esporte e lazer da pesca recreativa, esportiva, com base em

suas próprias necessidades. Um artigo escrito por Linda Berry, em 200838, enfatiza que

as mulheres que praticam esse esporte têm uma missão: Nossa missão é compartilhar conhecimentos e experiências, para fornecer informações úteis, para comunhão e apoiar outras senhoras ao ar livre, para introduzir outras mulheres nos desportos ao ar livre, para o estresse e promover o envolvimento da família, para educar os outros a ver a importância da conservação e preservação dos nossos recursos naturais39.

36Disponível em: < http://www.womenanglers.us/patience-passion.html>. Acesso em 26-Jan- 2012. Trad. <http://www.microsofttranslator.com/bv.aspx?from=en&to=pt&a=http%3A%2F%2Fwww.womenanglers.us%2Fpatience-passion.html>. 37 Disponível em: <http://www.womenanglers.us/home.html>. Acesso em 18-Jun-2012. 38 Disponível em: <http://www.womenanglers.us/home.html). Acesso em 18-Jun-2012. 39 Disponível em: <http://www.womenanglers.us/home.html>. Acesso em 18-Jun-2012.

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48

Assim, “[...] não é mais surpresa que algumas mulheres surgem à beira dos lagos

e em competições com seu barco de 22 pés e motor de 250 hp”40. Em um depoimento, a

autora relata a opinião de uma praticante do esporte: [...] há três atributos de um pescador: paixão pelo esporte, confiança em suas habilidades. Nenhum destes exigem habilidade física. Baseado em meus 18 anos de pesca de torneio, eu diria que a diferença entre homens e mulheres pescadores depende principalmente do pescador individual, sua personalidade, habilidade, limitações mentais e físicas ou nível - não o "fator de sexo.

A habilidade é demonstrada com orgulho na montagem da Figura 25, abaixo,

expressando a satisfação da prática do esporte e lazer de pesca pelo público infantil e

feminino, inclusive na participação de competições e torneios.

Figura 25. A pesca praticada por mulheres e crianças41

O crescimento dos torneios e equipes de colegiais nos Estados Unidos e

especialmente no Canadá fez com que a pesca desportiva fosse reconhecida como um

esporte oficial, incluindo, no orçamento do seu departamento atlético, a contratação de

treinadores profissionais e oferta de bolsas.

40 Disponível em: < http://www.womenanglers.us/patience-passion.html>. Acesso em 26-Jan- 2012. Trad. Disponível em: <http://www.microsofttranslator.com/bv.aspx?from=en&to=pt&a=http%3A%2F%2Fwww.womenanglers.us%2Fpatience-passion.html>. Acesso em 26-Jan- 2012. 41 Disponível em: <http://www.womenanglers.us/newer-banner.jpg>. Acesso: 18-jun-2012.

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49

2.1.1. Contribuições econômicas.

Nos tempos modernos, a pesca desportiva (recreativa) figura como um esporte

elitizado, especificidade dos barcos-hotéis de turismo de pesca de Corumbá, onde há

frequência das classes de maior poder aquisitivo, que efetuam os gastos com

equipamentos especiais sofiticados, oferecidos pelas empresas especializadas,

diferentemente dos esportistas dos Estados Unidos, em que é comum uma pessoa de

qalquer origem adquirir barco, motor de alta potência e outros produtos, como

demonstrado na Figura 26 e 2742, molinete, caniço, carretilha, iscas artificiais, linhas,

chumbadas, anzóis de vários tamanhos, alicate e outros aparelhos, acondicionados em

caixas e tubos especiais de proteção. Apesar de ser referência no esporte e lazer da

pesca recreativa, torneios e caça, nos Estados Unidos inexiste a modalidade de barco-

hotel de turismo, como é comum em Corumbá, onde também há um lento aumento da

participação de mulheres, filhos e netos de pescadores, apesar de não ser divulgado na

mídia e não aparecer nos folders (folhetos) que vão para a Feira de Pesca.

No entanto, existem outros tipos de petrechos mais simples, artesanais e

profissionais com custos menores, utitlizados por pescadores, como caniços de madeira

(vara) com linha, anzol e chumbada, redes, com o tamanho de malha permitido por lei e

também linhada, que eles próprios fabricam artesanalmente. Essa é uma atividade

comum em Corumbá. Esses profissionais e esportistas ainda consomem combustíveis,

gasolina e óleo 2Tempos - que são misturados para funcionamento do motor de popa de

algumas embarcações, como os botes ou voadeiras, licenças de pesca, hospedagem,

alimentação e serviços de agências e operadores turísticos no destino escolhido,

diferentemente dos que só não trazem o gelo porque derrete.

42 Disponível em: American Sportfishing Association, (2007, p. 2-3) <www.asafishing.org>.

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50

Figuras 26 e 27. Comércio de Barcos e Motores de pesca e outros equipamentos: molinete, carretilha, vara, iscas, anzóis, etc. Além disso, a atividade, segundo a American Sportfishing Association - ASA

(2011, p. 6): [...] nos Estados Unidos é tida como importante geração de investimentos que são direcionados à preservação, proteção e aprimoramento não apenas do esporte mas também do ambiente. Fruto da arrecadação dos impostos e licenças, para melhor ordenamento do habitat natural dos peixes.

Isso pode ser observado nas Figuras 28 e 2943. Ademais, ainda investem

recursos, quando e onde necessário, para construção e manutenção de pontes e

estruturas físicas nos locais destinados à pesca desportiva, recreativa, com o intuito de

facilitar o acesso do público, importante fator que possibilita maior segurança aos

esportistas.

Figura 28. Pesca no Habitat Figura 29. Prática da pesca desportiva

natural do peixe

43 Disponível em: < American Sportfishing Association, (2007, p. 2, 3). www.asafishing.org.>. Acesso em 30-Jan-2012.

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51

Apesar de manter grande importância econômica e impacto significativo

nacional, levamos em consideração que, nos Estados Unidos da América, em

conformidade também com a ASA, a pesca de lazer e desporto não caracteriza uma

grande indústria. A Sportfishing in America44 disponibilizou dados estatísticos através

de recente Relatório de 2008-2011. Deixa explicitado que a atividade da pesca e lazer suporta mais de 1(um) milhão de empregos, paga pouco mais de US $45 bilhões em salários e tem um impacto económico em efeito multiplicador global de cerca de US $125 bilhões gastos por cerca de 87,5 milhões de americanos anualmente. (AN ECONOMIC ENGINE AND CONSERVATION POWERHOUSE, 2008-2011, p. 4).

Mike Nussman, presidente da ASA, comenta sobre os dados publicados no

relatório: [...] como uma indústria, temos plena consciência do impacto que sportfishing tem na economia do país. Apenas por desfrutar de um dia sobre a água, homens, mulheres e crianças nos Estados Unidos bombeiam de bilhões de dólares na economia do país. E não é apenas a economia. Os pescadores da América são em muitas maneiras a mais poderosa força da nação para o ambiente investir centenas de milhões de dólares anualmente em gestão da pesca e conservação através de impostos sobre pesca e vendas de equipamentos e licença (Mike Nussman, 2011).

Nesse contexto, Andrade (2003-2005, p. 2 passim) confirma que o

gerenciamento que países como os Estados Unidos e o Canadá realizam para o setor

viabiliza recursos que certamente refletem sobre outros setores da economia.

Informes da reunião consultiva regional da América Latina e Caribe discutiram

recentemente sobre a gestão e proteção da “[...] pesca sostenible en pequeña escala:

unificación de la pesca responsable y el desarrollo social [...]”, em São José na Costa

Rica, de 20 a 22 de outubro de 2010, convocada pela Organización de las Naciones

Unidas para la Agricultura y la Alimentación – FAO en colaboración com apoio de:

[…] la Organización del Sector Pesquero y Acuícola del Istmo Centroamericano/Central American Organization of the Fisheries and Aquaculture Sector – OSPESCA, Instituto Costarricense de Pesca y Acuicultura - INCONPESCA - Comisión Económica para América Latina y el Caribe – CEPAL (FAO, 2010, p. 1).

Outras organizações governamentais e não governamentais discutiram sobre a

gestão e um Instrumento Internacional de Proteção da pesca sustentável em pequena

escala, propondo a unificação da pesca responsável e o desenvolvimento social. Dentre

44American Sportfishing Association - ASA . AN ECONOMIC ENGINE AND CONSERVATION POWERHOUSE. Disponível em: <http://www.asafishing.org/images/statistics/resources/SIA_2008.pdf>. Trad. Tradukka.com/translate. Acesso em 27-Jan-2012.

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as principais propostas de governança da pesca, foram elencados alguns itens

imprescindíveis, conforme descrito abaixo:

[...] Generación de medios de subsistencia complementarios y alternativos para los pequeños pescadores, tales como turismo comunitario; agricultura, acuicultura y otras oportunidades de pequeña empresa. Promoción de la igualdad de género en la pesca en pequeña escala. Beneficios sociales: como seguridad social, jubilación, maternidad y seguro de desempleo durante lãs temporadas de veda. Integración de la ciencia con los conocimientos tradicionales, así como el conocimiento ecológico45 (FAO, 2010, p. 2).

Ainda afirmaram a necessidade do fortalecimento da resiliência46 que está na

capacidade do indivíduo das comunidades de pescadores sobrepor-se e construir-se

positivamente frente às adversidades, e capacidade de adaptação, em relação à gestão de

riscos de desastres causados por mudanças climáticas, como vazamento de óleo,

tremores de terras e maremotos, atividades vulcânicas ou qualquer outra interferência no

ambiente.

2.1.2. Visão geral da pesca no Brasil e Mato Grosso do Sul: aspectos institucionais

No Brasil, a pesca artesanal, comercial, recreativa e esportiva, apresenta

desafios, principalmente em promover desenvolvimento sustentável com tantos recursos

naturais e muitos contrastes sociais, o que implica a busca de alternativas que possam

ser aplicadas em inúmeras regiões.

A atividade tem grande importância social e econômica na geração de emprego e

renda, principalmente para famílias inteiras que a ela se dedicam. Segundo dados do

Registro Geral da Pesca – RGP, o Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA lançou o

Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura47 - BEPA 2008-2009, com informações que

possibilitaram traçar um panorama da pesca nacional e o perfil dos pescadores

profissionais, por região.

Até 31/12/2009, o país registrou 833.205 pescadores profissionais, distribuídos

nas 26 Unidades da Federação e no Distrito Federal. Os mais altos números de

indivíduos estavam nas regiões Norte e Nordeste, esta última com significativo aumento 45 FAO Fisheries and Aquaculture Report No. 964 FIPI/R964 (Bi). ISSN 2070-6987. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/014/i2084b/i2084b00.pdf >. Acesso em 22-Jan- -2012. 46 Resiliência, a palavra vem do latim “resilio”, que significa voltar ao estado natural. 47 Disponível em: http://www.mpa.gov.br/mpa/seap/Jonathan/mpa3/docs/anu%E1rio%20da%20pesca%20completo2.pdf. Acesso em 31-Jan-2012.

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da participação das mulheres na pesca, correspondendo a 41,9%. A distribuição desse

número de profissionais em nível nacional, cadastrados no Registro Geral da Pesca –

RGP, na questão de gênero, contabilizou 64% (526.894) dos pescadores do sexo

masculino, e 36% (306.311) do sexo feminino, ilustrado na Figura 3048 (BRASIL,

2010, p. 19)49.

Observando-se dados do perfil no item faixa etária, os resultados apresentaram,

segundo análise contida no Boletim (BEPA), que a maior parte dos pescadores

profissionais, principalmente da região Norte e Nordeste, possuía menos de 40 anos. Na

região Centro-oeste e demais regiões, contrariando essa característica, os pescadores

circulavam na faixa acima de 30-40 anos, e até mais avançada. Foram registrados, em

2010, no estado de Mato Grosso do Sul, 5.373 pescadores profissionais, sendo 3.453 do

sexo masculino e 1.920 do sexo feminino. Nesse contexto, a presidente Luciene de

Lima, da Colônia de Pesca Z -1, de Corumbá, confirmou a existência de 1.300

pescadores cadastrados50, dentre eles vários que também são coletores de iscas.

Figura 30. Distribuição estadual dos pescadores profissionais de acordo ao gênero registrados no Brasil em 2009.

48 Disponível em: <http://www.mpa.gov.br/mpa/seap/Jonathan/mpa3/docs/anu%E1rio%20da%20pesca%20completo2.pdf. Acesso em: 31-Jan-2012>. 49 Boletim Estatístico de Pesca e Aquicultura – 2008-2009. 50 Luciene de Lima. A presidente da Colônia Z-1, de Corumbá, facilitou para registrarmos alguns petrechos utilizados pelos pescadores profissionais e em conversa nos forneceu algumas informações sobre o nº de cadastrados.

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54

A demonstração de informações sobre o quantitativo da pesca marítima pontua

que de 2007 a 2009 girou em torno de 600t., enquanto a pesca continental (em rios e

lagos) obteve um número próximo de 250t., com maior representatividade na região

norte, nos estados de Amazonas e Pará, com 58% do total nacional. É também onde o

Ministério da Pesca e Aquicultura disponibiliza mais recursos e tecnologia.

Entretanto, apresentou pequena progressão em outras regiões do país. Em Mato

Grosso do Sul, por exemplo, a pesca extrativista continental girou em torno de 4,5t

(BRASIL, 2010), o que nos leva a considerar que a predominância nessa região é da

pesca recreativa, esportiva.

2.1.3. Modalidades da pesca: artesanal, comercial e embarcada em Barco-

Hotel, e sua importância socioeconômica.

Segundo Dias-Neto & Dornelles (1996), a pesca pode ainda ser classificada de

acordo a sua finalidade ou categoria econômica, como pesca artesanal ou de pequena

escala, voltada para consumo próprio e comercialização do excedente. “A pesca

artesanal é um setor de transição entre a pesca de subsistência e a pesca empresarial

capitalista (comercial) e, portanto, tende a desaparecer51”. Já a pesca profissional, ligada

à área empresarial/industrial, é voltada para comercialização em maior escala52. Todas

as categorias necessitam de licença para atuar nos mares e rios da Federação e efetuar a

Declaração Geral do Pescado - DGP.

A expedição da licença de pesca passou a ser de competência do Ministério da

Pesca e Aquicultura – MPA, que agora disponibiliza esse serviço online. É individual e

pode ser retirada diretamente através do sítio do MPA - http://sinpesq.mpa.gov.br/pndpa/web/

- obtendo-se a licença provisória. Depois de completados dez dias do pagamento da taxa

são liberados a licença definitiva, válida pelo período de um ano em todo território

nacional. Há ainda licenças estaduais retiradas para a prática do esporte e lazer da pesca,

mas só válidas no próprio local. A legislação que pode ser mais restritiva que a lei

federal.

O praticante da modalidade esportiva igualmente necessita de licença

especial,,sendo que os aposentados e as pessoas acima de 65 anos estão dispensados 51 Texto retirado na apresentação efetuada pela Drª Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio, no I Fórum dos Povos Tradicionais do Pantanal de Mato Grosso do Sul, ocorrido em Corumbá/MS em Outubro/2011. 52 Pesca Artesanal e Pesca de Subsistência consiste em adquirir o produto para o próprio sustento e ainda, com a venda do excedente, adquirir outros produtos de sua necessidade. A Pesca Industrial consiste em recrutar pescadores para que pesquem em grande quantidade, para a revenda nos grandes centros.

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55

dessa obrigatoriedade. Não obstante, precisam comprovar essa condição, assim, como

os menores de 18 anos que, acompanhados por responsável, têm na dita isenção a não

permissão para o transporte do pescado.

Há que se atentar que a pesca é importante para a economia mundial, além de ser

favorável ao desenvolvimento do turismo de pesca, diretamente voltado para a

conservação do meio ambiente, além de ser uma das únicas atividades capazes de

absorver mão de obra de pouca ou nenhuma qualificação, sendo muitas vezes a única

oportunidade de emprego para certos grupos de indivíduos.

Percebe-se que a pesca desportiva, modalidade mais praticada no mundo todo,

segundo Fabri (2006), que detalharemos no próximo item, tem apresentado crescimento

em nível nacional, tornando-se mais do que uma atividade de lazer favorecida pela

riqueza dos recursos naturais dos mares e rios brasileiros. O governo federal criou o

Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora – PNDPA, uma parceria

entre o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo – MICT e o Ministério do Meio

Ambiente - MMA. O órgão dispõe das normas para regular os recursos pesqueiros e as

atividades afins desde 1996, entretanto, “[...] se fortaleceu em 1998 como projeto de

cooperação técnica com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –

PNUD, o Projeto Pesca Amadora” (BRASIL, PNDPA, 2003, p. 5)53.

O Brasil apresenta grande extensão territorial para a prática do esporte e lazer da

pesca e aquicultura. Segundo o MPA, o país conta com 5,5 milhões de hectares

localizados em lagos e reservatórios de usinas hidrelétricas e 8,5 mil km de costa

marítima. “Parte dessa extensão aquática está voltada a programas de inclusão social

que estimulam economias locais, contribuindo com melhor qualidade de vida de cinco

mil famílias que aumentaram sua renda, com o cultivo de pescado em águas da União”,

aquicultura em cativeiro acompanhado por técnicos da Secretaria Estadual de Pesca

(BRASIL, MPA. SEAP. 2010, p. 12). A meta até 2011 era garantir a participação de

300 mil pessoas na produção aquícola nacional.

No entanto, a morosidade de investimentos voltados para o aumento da

qualidade de vida dos recursos humanos, disseminação de novas tecnologias

(conhecimentos-pesquisas) para elevação da produção, inclusive com amplitude,

potencializando profissionais habilitados suficientes para atuar no processo de

planejamento, implantação e monitoramento de tendências que venham a ampliar a

53 Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora – PNDPA. Turismo & Meio Ambiente – Realizações 1998/2002.

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aquicultura no país de forma sustentável é grande, principalmente em ambientes

sensíveis. Esses ambientes possuem nascentes ou áreas de conservação, a exemplo do

Pantanal sul-mato-grossense. Através da aquicultura (criação em cativeiro), o local não

dependeria apenas do ciclo de cheias e seca para a manutenção e reprodução dos

recursos pesqueiros, que vêm apresentando redução gradativa há vários anos seguidos,

segundo técnicos da Embrapa Pantanal, que monitoram esse recurso renovável, além

das empresas e turistas de pesca.

Para o Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora – PNDPA

(2002, p. 7), essa atividade pode “[...] cumprir tanto os objetivos de desenvolvimento

com melhoria da qualidade de vida, quanto de conservação ambiental”. Por outro lado,

cabe ao Ministério do Turismo a tarefa principal de ordenamento, estruturação,

qualificação e promoção do turismo de outras modalidades em meio ambiente natural

conservado, agregando valor aos serviços de guias, aos moradores da região, após

receberem treinamento, investindo no mercado do ecoturismo pouco explorado no

Brasil.

Há estratégias de reordenamento para a prática do esporte e lazer da pesca

recreativa, que incluem limite, por exemplo, do tempo da atividade e número de atuação

em lanchas e barco-hotel pelos rios e mares para a prática do desporto, evitando o

acúmulo de várias embarcações em um só lugar, acarretando o esgotamento dos

recursos pesqueiros.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA, através do PNDPA, afirma

que a pesca amadora é uma atividade de baixo impacto ambiental. Além de

conscientizar os pescadores sobre a conservação do meio ambiente, a cultura e

qualidade de vida das populações tradicionais da região, incentiva a modalidade

recreativa e esportiva (pesque-e-solte), que não apenas garante a vida das mais variadas

espécies de peixes, desde que pouco manipuladas e devolvidas adequadamente na água,

como também a continuidade da atividade econômica e do ambiente aquático.

Todas as regiões do Brasil apresentam boas perspectivas para o desenvolvimento

da pesca recreativa (amadora), principalmente a Amazônica, em rios como: Negro54,

Tapajós, Trombetas e Xingu, conjunto que vem atraindo pescadores nacionais e

internacionais. 54 No Rio Negro desenvolve-se a pescaria de peixes ornamentais, cujos exemplares são destinados essencialmente à exportação (Estados Unidos, Alemanha e Japão), com marcante predomínio do cardinal tetra (Paracheirodon axelrodi) Publicado em documento do IBAMA in www.ibama.org.br/recursospesqueiros. Acesso em 24-04-2005.

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2.1.4. A pesca embarcada: amadora, recreativa e esportiva.

Para Fabri (2006), o turismo de pesca recreativa no Brasil teve grande expansão

desde o começo nos anos 1990. Estima-se que hoje existam 25 milhões de pescadores

amadores ocasionais no país55.

O setor, que movimenta toda uma cadeia produtiva, demanda investimentos

financeiros e tecnológicos necessários ao desafio de enfrentamento e administração de

um país com grande extensão de recursos naturais e com tantos contrastes sociais

(PNDPA, 2003).

Dados concretos sobre os investimentos efetuados no segmento da pesca

recentemente foram divulgados no Relatório do Plano-Plurianual 2008-201156, pelo

Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, afirmando que o Brasil dispunha de verba

estimada em R$ 500.000.000,00 para o gerenciamento e ordenamento da pesca em nível

nacional. Porém investiram-se em 2010 apenas R$ 66.762.395,47 no Desenvolvimento

da Pesca Sustentável e R$ 16.571.460,34 em Gestão da Política Aquícola e Pesqueira.

Embora não se tenha conhecimento dos investimentos específicos na área da

pesca recreativa e esportiva (amadora), a atividade no Brasil apresenta potencial de

desenvolvimento e é integrada a mercados internacionais, mais experientes, na

participação em feiras e eventos direcionados à pesca, lazer e desporto, na divulgação

extensiva para atrair fluxo de turistas estrangeiros para a prática desse esporte, que

envolve também a indústria, comércio, serviços, turismo, pesquisa científica, proteção

ambiental e mídia especializada.

O Ministério do Turismo, reconhecendo essas tendências de consumo como

oportunidades de valorizar a diversidade e as particularidades do Brasil, propõe a

segmentação como uma estratégia para estruturação e comercialização de destinos e

roteiros turísticos brasileiros, e explica:

[...] para que a segmentação do turismo seja efetiva, é necessário conhecer profundamente as características do destino: a oferta (atrativos, infraestrutura, serviços e produtos turísticos) e a demanda as especificidades dos grupos de turistas que já o visitam ou que virão a visitá-lo. Assim, torna-se importante orientar o desenvolvimento desse tipo de turismo, com informações conceituais, técnicas e institucionais que possam direcionar as ações de planejamento, gestão e promoção no sentido de colaborar na tomada de

55 FABRI, J.B. 2006. Pesca. In DACOSTA, L. (org.) Atlas do Esporte no Brasil. CONFEF, Rio de Janeiro, chap. 10; 9-12. 56 http://www.mpa.gov.br/mpa/seap/Jonathan/mpa3/planos_e_politicas/docs/Relatorio-de-Avaliacao-PPA-2008-2011-exercicio2011-ano-base-2010.pdf. Acesso em 23-jan.2012.

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decisões para a estruturação e operacionalização dos produtos de Turismo de Pesca no Brasil. (Brasil. Ministério do Turismo, 2010, p. 9-17).

Assim, ações vêm sendo tomadas em favor do planejamento e ordenamento do

segmento. Uma delas é o recente Acordo de Cooperação Técnica de nº 005/2011,

celebrado entre o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA e o Ministério do Turismo –

Mtur, cujo objetivo principal é "[...] Identificar, ordenar, promover e fortalecer a relação

entre a pesca recreativa e a atividade turística no Brasil” até 13 de Julho de 2014.

(BRASIL, DOU. 2011, p. 151)57.

Dentro desse contexto, ações apresentadas na Lei 11.959 de 29/06/2009 fazem

exigência quanto à instalação e operação das empresas pesqueiras, que necessitam de

“[...] autorização para operar embarcação de pesca e de embarcação de esporte e recreio,

quando utilizada na pesca esportiva; e para a realização de torneios ou gincanas de

pesca amadora” (BRASIL, Ministério da Pesca e Aquicultura, 2009).

No entanto, com relação à licença para operação de embarcação de esporte e

recreio da pesca, que inclui também as de turismo, há certo desacordo que vem

fomentando a discussão. Por exemplo, entre os empresários de Corumbá, há o

entendimento de que os barcos-hotéis pertencem à categoria de transporte fluvial de

passageiros e turismo, e a embarcação que se encaixa no registro obrigatório pela

Capitania dos Portos do Pantanal é apenas o bote de alumínio ou voadeira, equipado

com motor de popa de 25hp ou 40hp, disponibilizado para uma dupla de turistas na

prática da atividade da pesca amadora, recreativa (embarcada), acompanhado por um

guia de pesca (piloteiro), pescador profissional da região.

A pesca amadora embarcada e desembarcada praticada no Pantanal possui maior

incidência nos municípios de Cáceres, em Mato Grosso e Corumbá/

Miranda/Aquidauana e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul.

A legislação da pesca, que visa a ordenar, controlar, fiscalizar e regulamentar as

atividades econômicas, busca também inovações relacionadas à proteção da fauna

aquática e soluções para os recorrentes crimes e fenômenos ambientais ocorridos

durante muitos anos (pesca predatória, queimadas e decoada), inclusive devido à

oscilação no ciclo das secas e cheias do Pantanal, que causa inúmeras alterações no

ambiente, dentre elas, a redução dos recursos pesqueiros.

57 Disponível em: < http://www.in.gov.br/autenticidade.html>, pelo código 00032011080500151. Acesso em 31-Jan-2012.

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59

Calheiros e Oliveira (2010, p. 122) lembram que “[...] além do elevado potencial

de contaminação dos mananciais por fertilizantes e pesticidas provenientes da atividade

agropecuária, há também influência do fenômeno que se denomina - a decoada- [...]”,

que ocorre no início da enchente no Rio Paraguai de Mato Grosso e Mato Grosso do

Sul, deixando a água sem oxigênio suficiente e causando grande mortandade entre

peixes de todas as espécies. As autoras explicam ainda sobre as especificidades e

ocorrência desse fenômeno: Nesta fase, uma série de transformações naturais na qualidade da água (água de decoada) é resultante da interação inicial entre a água de inundação e o solo previamente seco, dando início à decomposição do material orgânico recém-submersas, principalmente gramíneas que se desenvolveram rapidamente na fase de seca, tornando-se facilmente decompostas (CALHEIROS e OLIVEIRA, 2010, p. 122).

No estado de Mato Grosso, adotou-se o sistema de Cota Zero, em 2012, lei que

permite a prática do esporte e lazer na modalidade pesque-e-solte, impedindo o

transporte do pescado por cinco anos nos rios da região.

Algumas medidas recentes e restritivas foram estabelecidas em Corumbá, como

a redução gradativa da cota de captura permitida do pescado e a moratória do Dourado,

em que os pescadores amadores praticam apenas a modalidade do pesque-e-solte dessa

espécie. Tal iniciativa constituiu um processo espontâneo, que ocorreu durante toda a

temporada de 2011 (fevereiro a outubro). Os empresários de barcos-hotéis de turismo

investiram na ideia, incentivando os guias de pesca e seus clientes à proteção da espécie.

Isso se transformou em Lei aprovada no final daquele ano, e começou a valer a partir de

1º de janeiro de 2012, embora o município vizinho de Ladário não tenha aderido, e nem

se obteve apoio por parte do governo estadual.

Toda essa organização está direcionada ao ordenamento da pesca nas múltiplas

modalidades, como já aludido anteriormente: a pesca de espécimes ornamentais, a pesca

artesanal e de subsistência, e a modalidade de pesca recreativa (amadora), desportiva,

que são regulamentadas pela Lei 11.958/2009, instituída pelo Ministério da Pesca e

Aquicultura – MPA. Dentre outras atribuições, compete-lhe a normatização e

fiscalização das atividades, bem como permite a:

[...] concessão de licenças de pesca no território nacional, compreendendo as águas continentais e interiores e o mar territorial da Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva, áreas adjacentes e águas internacionais,

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excluídas as Unidades de Conservação federais e sem prejuízo das licenças ambientais previstas na legislação vigente (BRASIL, 2009)58.

Atualmente o MPA já possui sistema eletrônico para emissão da licença de

pesca recreativa (amadora) esportiva, para a prática da pesca marítima, continental e

águas interiores. Ademais, é uma forma de controle para quantificar e identificar a

origem e destino dos esportistas adeptos a essa modalidade de turismo no Brasil. Por

outro lado, pode-se também utilizar a licença estadual, que recentemente apresenta

valores mais acessíveis e validade de um mês, e sistematicamente traz benefícios diretos

aplicados no ordenamento da atividade na região, como ocorre no estado de Mato

Grosso do Sul.

A fiscalização é permanente, e possui inserção de apreensão e multas para quem

estiver sem a devida licença ou com petrechos59 ilegais. Entretanto, para patrulhar a

extensa imensidão hídrica que há no Pantanal sul-mato-grossense, encontram-se

dificuldades devido à falta de equipamentos e materiais, como barcos e motores mais

potentes e de combustível para atender à demanda de denúncias, além do efetivo, que é

insuficiente (militar da polícia ambiental). Leis e Decretos existem para regular a

atividade, mas há grande incidência de ocorrências durante o ano todo, intensificadas

nos períodos de feriados nacionais prolongados. São notórios os grandes obstáculos

existentes na práxis diária, conforme a Figura 31.

Figura 31. Apreensão de pesca predatória em Mato Grosso do Sul Fonte: 2ª Companhia de Polícia Militar Ambiental – PMA. Corumbá (MS) Jul-2012.

58 Boletim Estatístico de Pesca e Aquicultura – 2008-2009. 59 Petrechos é o nome que se dá aos equipamentos utilizados na pesca.

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Quem for flagrado praticando pesca irregular estará sujeito a sanções segundo a Lei

Federal 9.605/199860, que dispõe sobre: [...] as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, além de ser encaminhado à Delegacia de Polícia, onde será autuado em flagrante por crime ambiental”, pode ser condenado judicialmente, pegar pena de até três anos de prisão. (Na esfera administrativa, a multa varia de R$ 700 a R$ 100 mil, mais R$ 20,00 por quilo do pescado irregular) (BRASIL, MMA. D.O.U. de 23/07/2008, p. 1)61.

O Decreto Federal 6.514/2008 reforça que cabe também apreensão de todo o produto

da pesca, petrechos, veículos, barcos e motores.

Um levantamento divulgado pela Polícia militar Ambiental – PMA revela que,

somente no período de 2009-2010, as apreensões somaram 3,6 toneladas de peixes durante a

piracema em Mato Grosso do Sul. A confirmação é de fácil acompanhamento pelos meios

de comunicação locais que divulgam os dados. Em pesquisa no sítio do

www.diarionline.com.br, selecionamos aleatoriamente algumas ocorrências comuns na

região, descritas a seguir: PMA apreendeu mais de uma tonelada de pescado na Piracema Ao longo de todo o período da suspensão da atividade pesqueira, de 2011-2012, foram apreendidos exatos 1.089 quilos de pescado sendo retirados diretamente dos rios. Segundo a PMA, 66 pessoas foram presas em flagrante. Foi aplicado um total de R$ 113.530 em multas. Também foram apreendidos 1.117 anzóis de galho; 15 barcos; 22 espinhéis; 127 redes; 38 tarrafas; 42 caniços; 3 canoas e 27 motores de popa. Ainda houve a apreensão de 62 carretilhas e molinetes; 13 veículos e 440 unidades de iscas. A quantidade de apetrechos, na avaliação da PMA "está dentro do que se apreendeu em piracemas anteriores". O Comando da PMA acredita que estes números se manterão, estabilizando-se em uma tonelada de apreensões de pescado e cerca de 70 pessoas presas a cada piracema. Quem for flagrado praticando pesca irregularmente será o encaminhado à Delegacia de Polícia, onde será autuado em flagrante por crime ambiental. Em Corumbá, a PMA fiscaliza o cumprimento uma área aproximada de 66 mil quilômetros de Pantanal (Marcelo Fernandes, março de 2012)62.

PMA mobiliza 300 homens na Operação Corpus Christi A Polícia Militar Ambiental (PMA) desencadeia nesta quarta-feira, 06 de junho, ação intensiva para prevenir e combater crimes ambientais em Mato Grosso do Sul. A operação Corpus Christi vai empregar, até segunda-feira, 11 de junho, 300 homens em barreiras nas estradas; fiscalização em propriedades rurais e patrulhamentos fluviais. Todas as 25 subunidades da PMA estarão intensificando a fiscalização em suas áreas de abrangência. A sede da corporação, em Campo

60 Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.605-1998?OpenDocument>. Acesso em 17-Abr-2012. 61 Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%206.514-2008?OpenDocument. Acesso em 17-Abr-2012. 62 Diarionline.com.br. Disponível em: <http://www.diarionline.com.br/index.php?s=noticia&id=42034.. Acesso em 04-Ago-2012.

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Grande, manterá três equipes itinerantes atuando em todo território do Estado sem área definida. A falta deste documento constitui infração administrativa, cabendo multa e ainda apreensão dos produtos, petrechos de pesca, barcos e motores. A licença pode ser retirada no site do Imasul (www.imasul.ms.gov.br e www.pma.ms.gov.br). A PMA também promoverá barreiras educativas para a distribuição do "Manual do Pescador" e do "Manual Régua de Peixes", que tratam sobre todas as regulamentações relativas à pesca e iscas vivas, aos pescadores sul-mato-grossenses e aos turistas. Na operação Corpus Christi do ano passado foram 12 pessoas autuadas, que receberam R$ 184.000,00 em multas (Camila Cavalcante, 2012)63.

PMA apreende 25 kg de pescado e aplica multa de R$ 2,5 mil O proprietário de um pesqueiro particular foi multado em R$ 2,5 mil pela Polícia Militar Ambiental (PMA) nesta sexta-feira, 06 de abril/12, durante patrulhamento pelo rio Paraguai, nas proximidades da localidade de Porto Esperança, região de Corumbá. Na fiscalização, os policiais encontraram, no rancho dele, a quantidade de 25 quilos de pintado. De acordo com a PMA, "diversos exemplares" do pescado tinham tamanhos inferiores aos permitidos pela legislação para retirada dos rios, o que é crime ambiental. O pescado foi apreendido e o homem, de 42 anos, responderá também pelo crime ambiental de pesca predatória. Se condenado judicialmente poderá pegar pena de até três anos de detenção. Fonte: Marcelo Fernandes em 06-Abril-1264.

PMA multa grupo em R$ 2,4 mil e apreende pescado irregular Patrulhamento da Polícia Militar Ambiental (PMA) de Corumbá pelo rio Paraguai encaminhou três pescadores para a Delegacia de Polícia Federal de Corumbá, na tarde desta terça-feira, 12 de julho. Moradores em Osasco (SP), o trio foi autuado em flagrante pelo crime de pesca predatória. Se condenados judicialmente, eles podem pegar pena de até três anos de detenção. Cada um deles ainda foi multado em R$ 800. Segundo o boletim da PMA, o trio tinha capturado pescado com tamanho inferior ao permitido pela legislação para a retirada dos rios. Com o grupo os policiais apreenderam 6 quilos de pescado; um barco de alumínio; três molinetes e um motor de popa 15 HP (Marcelo Fernandes, 13-Jul-2011) 65.

Embora o foco da mídia e das legislações seja direcionado ao ordenamento e

controle da pesca predatória, pouco ou nenhum destaque aparece sobre o lado negativo

da atividade, como por exemplo, a exploração da prostituição. Isso foi constatado em

entrevistas com proprietários de empreendimentos que desenvolvem esse tipo de

comércio. O problema está na exploração da prostituição infantil ou em lugares

públicos.

Como a maioria de clientes pertence ao gênero masculino, essa prática favorece

investimentos de altas somas em Casas de Entretenimento, conhecidas como Wyskerias/

Casas de prostituição e motéis. Em Corumbá há o Kalyfa´s, a mais luxuosa e

frequentada. São casas que promovem a atividade de entretenimento, em sua maioria,

juridicamente constituídas, onde há a presença de profissionais do sexo originadas até

63 Diarionline.com.br. em 05 de Junho de 2012) 64 Disponível em: <http://www.diarionline.com.br/index.php?s=noticia&id=43468>. Acesso em 04-Ago-2012. 65 Disponível em: http://www.diarionline.com.br/index.php?s=noticia&id=32497 Acesso em 04-Ago-2012.

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de outras regiões do país, e, em menor número, da própria localidade, aproveitando a

oportunidade para acumularem ganhos de capital durante a temporada de pesca, que

dura em média oito meses ao ano.

De acordo com investigações em pesquisa de campo, os turistas adeptos desse

entretenimento revelaram que chegam a gastar em uma noite de R$ 300,00 a R$ 500,00

por algumas horas de diversão. E, quando oferecido conjuntamente com outros serviços,

como churrasco completo, o valor é elevado para R$ 600,00 a R$ 1.000,00 por pessoa,

ou até mais, se o ambiente for contratado com exclusividade para um grupo de pessoas

com direito a banho de piscina e tudo o mais.

Depoimentos de turistas pescadores que frequentam a região há vários anos

registram que esse atrativo não é mais o mesmo, e informaram: “...no começo, havia fila para entrar, e tinha de 60 a 80 mulheres esperando a gente para se divertir...agora!...(2011) acho que não tinha nem 30...”.

Esses empreendimentos pertencem normalmente a famílias que administram tal

atividade. Um dos seus membros vem sendo investigado desde 2008, conforme dados

divulgados pelo Diarionline.com.br local. A demanda de operação da Polícia Federal

em 12 de julho (2012), segundo informações que o jornalista André Navarro descreveu

em sua matéria, já havia sido anunciada em 07 de julho, conforme texto extraído do

sítio G1. Suspeito de chefiar casas de prostituição é investigado em MS. O vereador de Ladário, a 435km de Campo Grande capital do Estado, foi conduzido à Polícia Federal (PF) na noite de quinta-feira (5), sob suspeita de comandar uma rede de prostituição em Corumbá. Ao todo, 40 pessoas foram levadas para a delegacia por suspeita no envolvimento no esquema. “O objetivo desses inquéritos era verificar realização do tráfico de pessoas para prostituição, aliciamento de menores e do tráfico de drogas nesses locais. Foi comprovado tanto o favorecimento à prostituição quanto o descaminho afirmou Nascimento”. 66

Foi a primeira vez que uma operação desse tipo foi efetuada em Corumbá.

Embora não seja divulgada com frequência, teve conotação de investigação sobre o

patrimônio do grupo. Já houve ocasiões em que a polícia invadiu o estabelecimento,

levada por denúncia anônima de menores trabalhando na Wyskeria/Casa de prostituição,

além do consumo de drogas. Nada ficou provado. Na realidade, a casa chegou a

importar profissionais do sexo de outras localidades.

Nesses casos, o que vale é a Lei do silêncio, na disputa por clientes que

exploram essa atividade na cidade e na zona rural. Os policiais dizem que são práticas

66 Disponível em: <http: http://www.diarionline.com.br/index.php?s=noticia&id=46845>. Acesso em 05-Ag0-2012.

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tidas como crimes habituais, conforme o Departamento Policial e da Delegacia de

Atendimento à Infância, Juventude e Idoso – (DAIJI), como explica o atendimento a

uma denúncia descrita na notícia abaixo: Dupla é acusada de incentivar prostituição de adolescentes em Albuquerque No Distrito de Albuquerque, as equipes do (DAIJI), chegaram a um imóvel onde funcionava uma casa de prostituição. “Lá encontramos três adolescentes sendo duas de 15 e uma de 17 anos. Ao entrarmos no local percebemos que tinham vários e eram reformados. A pessoa que cuidava já é ‘famosa’ na área de exploração sexual e lá encontramos preservativos, gel lubrificantes, colchões, as meninas com roupas típicas de pessoas que estão se prostituindo, bebidas alcoólicas, disse o delegado Enilton Zalla ao Diário. Dois homens foram presos, de 50 e 39 anos67.

As profissionais locais, por hábito, mantêm ponto estratégico próximo a hotéis,

bares e lanchonetes, como na Rua América, Frei Mariano e no Porto Geral. Possuem

conexão com os mototaxistas e taxistas que fazem o seu transporte.

Paixão (2006) já havia citado esse impacto social reclamado pela sociedade local

como decorrente do turismo de pesca. “Um trabalho desenvolvido em 2003 por Élida

Claros e Letícia Baltar, constatou junto aos empresários do sexo, a associação entre o

turismo de pesca e a manutenção de suas atividades” (PAIXÃO, 2006, p. 173).

Essa exploração da prostituição ocorre mesmo na época da proibição de pesca,

na zona urbana e rural em Albuquerque, Porto da Manga e Porto Murtinho.

Recentemente, surgiu outro concorrente, com uma chácara em Campo Grande –

a capital do estado. Segundo informações coletadas discretamente por pescadores

durante as entrevistas de campo, os grupos contratam os serviços de hospedagem,

alimentação, bebidas e entretenimento com acompanhantes, tudo em um só pacote,

antes de vir a Corumbá pescar.

Há também a concorrência interna entre os garotos de programa, que têm seu

‘ponto’ na Rua Edu Rocha. Observamos que existe respeito entre os concorrentes com o

lugar de trabalho do outro.

O autor Banducci Jr. (1999), durante expedição a Cáceres-Porto Murtinho, em

suas “Anotações de viagem” pelo rio Paraguai, visitou vários locais e também se

deparou com práticas que causam impacto social. Comenta que: É comum a visita de prostitutas aos barcos pesqueiros. Na cidade de Cáceres algumas casas de prostituição oferecem mulheres para acompanhar turistas, seja durante toda a pescaria, seja para fazerem programas esporádicos quando são trazidas aos barcos-hotéis mais distantes da cidade por ‘voadeiras’, e

67 disponível em: <http://www.diarionline.com.be/index.php?s=noticia&id=48012>. acesso em 05-ago-2012.

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fazem vir mulheres também para a tripulação, a fim de que todos participem de sua festa. Na Vila do Porto da Manga (MS), presenciou-se um grupo de cinco meninas, três delas seguramente menores de idade, devendo possuir entre 13 e 15 anos, oferecendo seus serviços aos pescadores esportivos e outros turistas que passavam pelo local. Os programas realizados com os turistas são os mais lucrativos, conforme informaram. Porém, na ausência destes, atendem aos marinheiros dos rebocadores que navegam pelo rio Paraguai e, quando nem mesmo essa clientela se mostra disponível, acabam por se entregar, à custa de alguns trocados, aos moradores do local, pescadores de iscas e funcionários de hotéis, que como elas, vivem na condição de pobreza (BANDUCCI Jr., 1999, p. 11) (nota de rodapé).

Registramos também, em depoimentos de outros turistas de pesca, que esse tipo

de serviço não é exclusividade de Corumbá e Cáceres. Há exploração da prostituição

também em Albuquerque, Porto da Manga e ainda no Porto Morrinho, local conhecido

como Curva do Mosquito. A concorrência interna inclui ainda os garotos de programa,

que têm seu ‘ponto fixo’ na Rua Edu Rocha, uma constância nas noites. No entanto, os

tradicionais pontos estão na área central da cidade, na Rua América e Porto Geral, onde

se concentram turistas de maior poder aquisitivo. A situação se complica quando os

turistas de pesca abordam os locais sem distinguir se é ou não comum a prática de

programas, como também há a abordagem de potenciais clientes nos estabelecimentos

comerciais, por garotas de programa, muitas vezes quando estão acompanhados de

familiares.

Também concorrem com uma chácara em Campo Grande e em outras cidades da

região do Pantanal Sul e Pantanal de Mato Grosso. Segundo informações discretamente

adquiridas durante pesquisa de campo, em outubro de 2011, os grupos contratam os

serviços de hospedagem, alimentação, bebidas e acompanhantes (garotas de programas),

tudo no mesmo pacote. Os turistas pernoitam antes de seguir viagem para o esporte e

lazer da pesca no Pantanal Sul e Pantanal de Mato Grosso.

Outra realidade é a contratação das profissionais do sexo de outra cidade, que

combinam encontrar com o grupo em Campo Grande e seguem viagem juntos. Algumas

vezes se hospedam em Pousadas pesqueiras, na zona rural, ou fretam um barco-hotel e

viajam juntos. Tivemos a oportunidade de obter algumas entrevistas de um dos grupos,

que nos deixaram surpresa com as estratégias utilizadas para unir o lazer de pesca com a

prostituição.

Os impactos delegados à atividade turística no destino receptor como Corumbá

nem sempre são exclusividade da atividade da pesca. Embora o enfoque na mídia e

legislações seja direcionado ao ordenamento e controle da pesca predatória, pouco ou nenhum

destaque aparece sobre os embates sociais da atividade da pesca amadora, recreativa e esportiva.

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Encontrados também em outros segmentos, a exemplo do turismo de negócio,

Swarbrooke (2001, p. 86-87) confirma que também: “[...] atrai crimes como prostituição

e assaltos; negócios de interesses dúbios como contrabando de animais ou de produtos

de origem animal, drogas e armas [...]”. O autor traz à tona reflexos do turismo de

negócio, antes ignorado. Já circularam na cidade de Corumbá comentários de que

grupos conseguem “fechar a casa/Wysqueria” para obter maior privacidade nas

comemorações, churrascos, festas, com exclusividade para poucos clientes, que não é

privilégio apenas de pescadores.

Assim a atividade da pesca, que não impede o estabelecimento de outras

atividades no destino receptor, é responsável pelo efeito multiplicador, se une a outros

segmentos gerando mais emprego, renda e pagamento de tributos na cidade.

Essa constatação descortina um tipo de combinação econômica que não exclui

outras, como o comércio varejista voltado para o turismo de compras, com maior

intensidade além-fronteira nos Districtos de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro.

2.1.5. Panorama atual da pesca amadora: Aumento das emissões de licenças de pesca

Pesquisa recente, baseada nos dados do sistema eletrônico de emissão da licença

de pesca, analisada e divulgada por Michel Lopes Machado – Coordenador Geral de

Registros e Licenças de Pesca Amadora – MPA em 2011, apurou que os pescadores

amadores originam em maior número dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná,

o que corrobora com nossa pesquisa empreendida no ano de 200368. Porém, é dos

estados de Mato Grosso do Sul e Goiás a maior demanda de turistas para Corumbá e

região do Pantanal Sul. Em menor número vêm dos estados do Mato Grosso, Rio

Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima, Distrito Federal, Santa Catarina e outros.

Já no quesito da destinação preferida dos pescadores amadores, o maior interesse

aponta para a região de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, São

Paulo e Paraná, sendo em menor número nas regiões de Tocantins, Amazônia e Santa

Catarina.

68 ANDRADE, Fátima A. M. de. Diagnóstico do Turismo de Pesca de Corumbá (MS). IESPAN/MSMT. Missão Salesiana de Mato Grosso. Corumbá (MS). 2003. Monografia.

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Permitimo-nos, aqui, um pequeno parêntese para declarar que discordamos dos

resultados quanto ao destino dos pescadores amadores, aferido pelo MPA, em relação à

preferência pela região de Mato Grosso.

Ocorre, e a esse respeito temos conhecimento empírico, aliado às pesquisas

anteriores (2003-2005) e ao contato direto com turistas desse segmento, que este fato se

deve a um equívoco que os pescadores (80% dos turistas) cometem normalmente, ao

generalizarem Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como um só estado. Isso se ouviu

diretamente deles, constantemente em Corumbá, quando temos a oportunidade de

entrevistá-los pessoalmente em pesquisa de campo, como na dúvida que expressam ter

no momento da inclusão dos dados no preenchimento do formulário para retirar a

licença de pesca online.

É comum a maioria das pessoas se referirem ao destino Corumbá como se

pertencesse a Mato Grosso, ao invés de Mato Grosso do Sul. A confusão

constantemente se observa também na mídia escrita, falada, televisionada e até mesmo

em discursos e apresentações locais, estaduais e nacionais.

Voltando à discussão, importantes informações trazem claramente a evolução do

esporte e lazer da pesca recreativa e esportiva no Brasil.

Em 2006, cerca de 100.000 licenças foram expedidas, constatando-se aumento

significativo: em apenas seis anos, até setembro de 2011, houve um acréscimo

aproximado de 230.000 licenças de pesca emitidas pelo sistema. Foi uma elevação de

130% do número de praticantes devidamente licenciados, o que demonstra a

conscientização do licenciamento do turista pescador para a prática do esporte e lazer,

conforme exposto no Gráfico 1, do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA. Não se

incluem nessa somatória os aposentados e menores de 18 anos, que são isentos da

licença de pesca, e aqueles que praticam a pesca esportiva sem a devida licença, ou seja,

ilegalmente, motivo recorrente de apreensões e multas, principalmente nos períodos de

feriado prolongado, em várias regiões onde a fiscalização é mais intensificada.

Recebemos comunicação pessoal recente, por mensagem particular, via e-mail,

do Coordenador Geral de Registro e Licenças de Pesca Amadora do Ministério de

Aquicultura e Pesca - MPA, Michel Lopes Machado: “Sobre 2012, envio-lhe os

números consolidados ainda não publicados”. As licenças de pesca amadora expedidas

em todos os estados do país, até outubro de 2012, remontam 345.094 emissões, o que

significa 33,5% a mais que no ano anterior.

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Gráfico 1. Total de licenças expedidas por UF - 2012. Fonte: Michel Lopes Machado – MPA. Organizadora Fátima Andrade. Fev-2013.

Ainda há registros do destino de preferência dos pescadores, indicados no ato do

preenchimento da licença de pesca, exposto no Gráfico 269.

Dados demonstram que o destino de 51% do total de pescadores amadores são

os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O crescimento da demanda alterou também as técnicas, equipamentos e

materiais de pesca, despontando, como nos Estados Unidos, outro mercado em território

brasileiro, a indústria e a comercialização de equipamentos variados, também

conhecidos como petrechos ou tralhas de pesca, compostos por carretilhas70, molinetes,

varas, linhas, anzóis, chumbadas, iscas artificiais, alicates, canivetes, facas, cada vez

mais modernos.

69 Michel Lopes Machado – MPA. Comunicação pessoal recebida do Coordenador Geral de Registro e Licenças de Pesca Amadora –por e-mail dia 18/Janeiro/2013. 70Carretilha: equipamento de pesca que serve para lançar e tracionar a linha, facilitando o recolhimento do peixe quando fisgado; difere do molinete porque a capacidade de tração é maior e é mais difícil. Molinete: equipamento de pesca de origem francesa, que serve para manusear lançar e tracionar a linha.

São Paulo 97.757 28%

Minas Gerais 61.472;

18% Paraná; 43.755 13%

Mato Grosso do Sul-35.345

10%

Goiânia; 26.685 8%

Mato Grosso 15.398

4%

Outros Estados 64.22 19%

Origem dos turistas de pesca - UF 2012

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Gráfico 2. Destino de preferência dos pescadores por UF.

Fonte: Michel Lopes Machado – MPA. Organizadora Fátima Andrade. Fev-2013.

Há outros equipamentos mais sofisticados, como barcos, lanchas, motores,

roupas especiais, bonés, mochilas, cooler, etc, alguns deles vistos na Figura 32. São

consumidos pelos adeptos desse esporte e lazer, em muitos casos por famílias inteiras,

que ampliam um efeito multiplicador na economia do país.

Figura 32. Equipamentos de pesca: anzóis, iscas artificiais,

varas, molinetes, carretilhas, Roupas especiais, Jet Sky, cooler e outros Fonte: Fátima Andrade. Cia Náutica. Porto Geral. Corumbá. Nov-2011.

Um levantamento feito pelo MPA identificou, ainda, que os equipamentos

adquiridos pelos esportistas movimentam esse setor, e o ambiente eleito para a prática

do esporte e lazer em território brasileiro são os rios, lagos e reservatórios. Portanto, os

dados comprovam a preferência do pescador recreativo (amador) esportivo para a pesca

continental, especialmente praticada pela maioria na Bacia do Alto Paraguai – BAP,

Mato Grosso 66.526 26%

Mato Grosso Su- 62.473

25%

Minas Gerais 25.363 10%

Goiás 21.59

9% São Paulo

21.085 8%

Paraná 5%

Outros Estados 42.262 17%

Outros 30%

Destino de preferência dos turistas de pesca 2012

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mais especificamente no Pantanal do Mato Grosso e sul-mato-grossense, que recebe

anualmente milhares de adeptos.

2.2. Legislação e dados sobre a pesca embarcada: aspectos de Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul.

A pesca amadora em Corumbá ocorreu por cerca de dez anos na informalidade,

no final nos anos 1960, com botes de alumínio e motor de 15 Hp, mais precisamente nas

Pousadas Pesqueiras que começaram a surgir na zona rural da Codraza, Albuquerque e

Porto Morrinho até o Buraco das Piranhas, na Estrada Parque – a Transpantaneira.

Andrade (2003)71 confirma que tudo transcorreu nesse período sem nenhum

planejamento. Com o crescimento gradativo, despertou o interesse de outros

empresários, inicialmente vindos dos estados de Paraná e São Paulo, que investiram na

exploração dessa atividade, que atualmente representa a terceira maior economia de

Corumbá.

Em pouco tempo, surgiu um grupo de empresários do turismo de pesca de

Corumbá, como Severino, João Porto, João Venturini, Sargento Eurípedes, Jorge Nader

e sua esposa, Srª Nélida, a família Aguilar e o Sr. Orozimbo Garcia Decenzo72, que

merecem um capítulo à parte na história do turismo de pesca no Pantanal. Precursores

da pesca embarcada, que pertence à Categoria B, iniciaram uma Associação

denominada Clube dos 13. Eles praticavam a pesca em local mais distante da cidade, em

botes com motor de popa, com auxílio de outra embarcação maior, a La Barca Tur, que

acompanhava, pois tinha estrutura para preparar e servir as refeições. À noite, os

tripulantes colocavam redes, colchões ou cama-tatu no salão, para que todos dormissem.

Não havia camarotes, como atualmente.

O Sr. Orozimbo, precursor da pesca em barco-hotel, foi quem construiu o

primeiro barco da categoria, nos anos 1970. Ele o chamava de Botel, o Cabexy, com

capacidade para oito pessoas, como se vê na Figura 33. A evolução do Turismo de

Pesca no município de Corumbá, que se deu gradativamente desde os anos 1970, e no

município de Ladário nos anos 1980, obteve maior ênfase a partir nos anos 90, quando

se demonstrou o potencial de um setor econômico crescente e promissor. Chegaram à 71 ANDRADE, Fátima A. M. de. Diagnóstico do Turismo de Pesca de barco-hotel. MSMT/IESPAN. Corumbá, MS. 2003, Monografia. 72 Informações obtidas diretamente do Sr. Orozimbo Garcia Decenzo em entrevista verbalizada aberta, cedida e autorizada sua divulgação pessoalmente em pesquisa de campo. Corumbá (MS), 2003.

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região vários outros empresários, que investiram na exploração do turismo de pesca

esportiva-amadora-recreativa embarcada.

Figura 33. Barco Hotel Cabexy

Fonte: Pantanal Tour. Orozimbo Garcia Decenzo, 1972.

A partir desse período, registrou-se um aumento na construção, reforma e

chegada de embarcações de outros lugares, como Porto Murtinho e Cáceres, para operar

na região do Pantanal sul mato-grossense, totalizando 59 embarcações, sendo que 54 se

encontravam na região, conforme demonstrado no Gráfico 3. Entretanto já houve mais

de 70 barcos-hotéis operando em Corumbá.

Gráfico 3. Evolução das embarcações no município de Corumbá e Ladário/MS Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá, 2005.

A última embarcação construída em Corumbá foi o Barco-hotel Yacht

Millennium, com capacidade para 30 passageiros. Suas operações foram iniciadas em

2003.

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72

Antes desse período, ainda nos anos 1980, com a visível exploração

indiscriminada dos estoques pesqueiros, que na época contava com mais de 70

embarcações entre turismo e esporte e recreio, uma equipe de empresários se dirigiu em

comitiva até Brasília – DF, a fim de tentar sensibilizar os governantes para a

implantação da primeira Lei de Pesca da região, que ocorreu graças ao Senador José

Fragelli73, na época, Presidente da República interinamente e ex-governador do estado

de Mato Grosso.

Preocupados com a proteção dos recursos naturais que vinham sendo explorados

sem nenhuma restrição, expuseram suas ansiedades diretamente a quem viria a ser o

autor do Projeto que resultou na Lei 7.653, sancionada pelo Presidente Sarney e

publicada no Diário Oficial da União de 12 de fevereiro de 198874 (BRASIL, DOU,

1988, p. 2689). Conhecida também como Lei Fragelli, a Lei nº 7.653/198875 alterou a

redação dos artigos 18, 27, 33 e 34 da Lei nº 5.197/1967, sobre a proteção à fauna e

outras providências.

As alterações foram efetuadas e, atualmente, a mais recente Lei em vigor é a

11.959/2009, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da

Aquicultura e da Pesca. Regula as atividades pesqueiras, “revoga a Lei nº 7.679/88 e

dispositivos do Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras

providências” (BRASIL, Diário Oficial da União – DOU - 2009, p. 1).

Estabelece-se, no capítulo III que trata da Sustentabilidade do Uso dos Recursos

Pesqueiros, o seguinte: Art. 3º. Compete ao poder público a regulamentação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Atividade Pesqueira, conciliando o equilíbrio entre o princípio da sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a obtenção de melhores resultados econômicos e sociais, calculando, autorizando ou estabelecendo, em cada caso: I - os regimes de acesso; II - a captura total permissível; III - o esforço de pesca sustentável; IV - os períodos de defeso; V - as temporadas de pesca; VI - os tamanhos de captura; VII - as áreas interditadas ou de reservas; VIII - as artes, os aparelhos, os métodos e os sistemas de pesca e cultivo; IX - a capacidade de suporte dos ambientes; X - as necessárias ações de monitoramento, controle e fiscalização da atividade; XI - a proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de estoques. § 1o O ordenamento pesqueiro deve considerar as peculiaridades e as necessidades dos pescadores artesanais, de subsistência e da aquicultura familiar, visando a garantir sua permanência e sua continuidade (BRASIL, DOU, 2009, p. 5).

73José Manuel Fontanilha Fragelli nasceu em Corumbá-MS, advogado, deputado federal, governador do estado de Mato Grosso e presidente interino da República Brasileira. 74 Diário Oficial da União – República Federativa do Brasil. Imprensa Nacional: 7.653. 1988-02-17 – Seção 1. 17/02/1988. p. 2689. 75 Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.653-1988?OpenDocument. Acesso em 20-Abr-2011.

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73

2.2.1. Situação atual e perspectivas: gestão do setor de pesca nos estados de

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Recentemente Ideli Salvatti, Ministra de Estado da Pesca e Aquicultura – MPA,

responsável pelas políticas públicas do setor, expõs a intenção da “[...] aplicação de uma

gestão democrática com os pescadores artesanais – pescadores

amadore/esportivo/recreativo – Aquicultores - Empresários e armadores de pesca -

Pesquisadores, técnicos e extensionistas”.76

Quanto à pesca recreativa, a ministra informou que “[...] cresce junto com o

turismo, o esporte e a defesa do meio ambiente, e [...] registrou em 2010 [...] expedição

de 217.499 licenças de pesca amadora e 98 autorizações para competição de pesca

amadora [...]”, estimando-se que o setor movimentou de R$ 15 a 20 milhões. (BRASIL,

Ministério da Pesca e Aquicultura, 2011, pp. 10-11). Em 2011, conforme comunicação

pessoal enviada por Michel Lopes Machado,77 destaca-se, até julho de 2012, a emissão

de 195.916 licenças de pesca.

Nesse contexto, o foco principal está voltado para a gestão e o ordenamento da

pesca, visando à promoção de revisão da regulamentação, registros e normas gerais nas

três esferas (federal, estadual, municipal). Para a aplicação da legislação, é preciso

ampliar o círculo de fiscalização, com o intuito de administrar conflitos territoriais entre

os usuários do mesmo recurso pesqueiro, a exemplo dos pescadores artesanais,

profissionais e amadores. Ainda incluem-se nesse rol as empresas de Barcos-Hotéis de

Turismo, onde constatamos um potencial impacto negativo dos efeitos multiplicadores e

que necessitam ser mais bem administrados e amparados legalmente pelos órgãos

competentes.

Os Barcos-Hotéis de Esporte e Recreio, por exemplo, comercializam pacotes de

viagens dentro da ilegalidade e não sofrem fiscalizações, controle e exigências

constantes como os Barcos-Hotéis de Turismo, que atuam no transporte fluvial de

passageiros e turismo, devidamente legalizados como Operadoras e Agências inscritas

juridicamente e cadastradas no Ministério do Turismo pelo CADASTUR.

76Disponível em: http://www.mpa.gov.br/mpa/seap/Jonathan/mpa3/docs/Apresentação%20Ministra%20Ideli%20Salvatti%20no%20Senado%20[Somente%20leitura].pdf. Acesso em 02-Fev-2012. 77 Comunicação pessoal: email enviado em 23/Julho/2012, por Michel Lopes Machado - Coordenador Geral de Registro e Licenças de Pesca Amadora do Ministério da Aquicultura e Pesca – MPA. Brasília-DF.

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A mesma lei federal 11.959/2009 salienta que “[...] compete aos Estados e ao

Distrito Federal o ordenamento da pesca nas águas continentais de suas respectivas

jurisdições, observada a legislação aplicável, podendo o exercício da atividade ser

restrita a uma determinada bacia hidrográfica” (2009, p. 6). O IMASUL conseguiu

estabelecer, com redução gradativa, a cota de pescado para o pescador amador nos rios

da região do Pantanal sul-mato-grossense, que já esteve na marca de 30kg, 25kg, 20kg,

15kg em anos anteriores e atualmente permanece em 10kg, mais um exemplar de

qualquer tamanho e peso, além de cinco piranhas.

A Legislação vigente também estabelece algumas restrições, como por exemplo,

locais onde a pesca é proibida: No Rio Salobra - municípios de Miranda e Bodoquena (neste rio a navegação é permitida somente com motor de 4 tempos, de potência até 15 hp). Córrego Azul – município de Bodoquena. Rio da Prata municípios de Bonito e Jardim. - Rio Formoso – município de Bonito. - Rio Nioaque município de Nioaque e Anastácio.Também é vedado o exercício da atividade pesqueira no Rio Apa, nos seguintes trechos: entre a Cachoeira Grande e Cachoeirinha, e do Destacamento Ingazeira até a foz. (Instituo de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul - IMASUL, 2012).

Também há os rios onde é permitido somente o sistema de pesque-e-solte: Rio

Perdido; Rio Abobral; Rio Vermelho; Rio Negro, no trecho que vai da foz do Córrego

Lageado até o brejo da Fazenda Fazendinha. Vale ressaltar os petrechos proibidos para

qualquer modalidade de pesca: Rede, tarrafa, anzol de galho, espinhel, cercado, covo, pari, fisga, gancho, garatéia, arpão, flecha, substâncias explosivas ou tóxicas. Também é proibida a pesca pelo processo de lambada, com equipamento elétrico, sonoro, luminoso ou qualquer outro aparelho de malha. Não será permitida a prática da pesca embarcada com motor ligado em movimento circular (cavalo-de-pau) (IMASUL, 2012).

Não será permitida a prática da pesca embarcada com motor ligado em

movimento circular estilo de cavalo-de-pau. No entanto, pode ser praticada a pesca de

rodada, que é a que se faz com o motor desligado, com o bote levado pela correnteza do

rio. Pela Portaria IBAMA nº 30, em 27 de maio de 2003, em conformidade com a

legislação estadual, permite-se a captura e o transporte de 10 kg, mais um exemplar de

qualquer tamanho e peso, pelos pescadores amadores nos rios dos estados da Federação

e no Distrito Federal. Entretanto, a Resolução 004/2011, da Secretaria de Estado do

Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia, regulamenta dispositivos da

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Lei Estadual 3.886/2010 e a Lei 11.959/2009 relativos ao exercício da atividade

pesqueira no âmbito do estado de Mato Grosso do Sul e dispõe, em seu capítulo III78: Art. 6°. O limite de captura e transporte de pescado, por pescador amador, deverá obedecer à cota de dez quilos, sendo admitido mais um exemplar de qualquer peso, respeitados os tamanhos mínimos de captura para cada espécie. Parágrafo único: Sem prejuízo do limite estabelecido no “caput” deste artigo, serão admitidos a captura e transporte de até 05 (cinco) exemplares de peixes da espécie piranha (Pygocentrus nattereri) e ou (Serrasalmus marginatus), por pescador amador, respeitado o período de defeso. (Secretaria Estadual de Meio Ambiente - SEMAC-MS n°004/11, p. 2).

Dispõe também sobre os petrechos79 permitidos para o pescador amador: “[...]

linha de mão, puçá, caniço simples, anzóis simples ou múltiplos, vara com carretilha ou

molinete; isca natural, isca artificial e isca viva autóctone (nativas da bacia)”. (SEMAC-

MS n°004/11, p. 3). Alguns elementos estão demonstrados nas Figuras 34, 35, 36, 37,

esta última adquirida em um comércio de iscas vivas, Esquema no Porto Geral, do

tanque que acondiciona iscas vivas (tuvira, cascudo, etc.), utilizadas na pesca recreativa.

Figuras 34 e 35. Petrechos utilizados na pesca amadora/recreativa Fonte: Fátima Andrade. Barco Hotel Yacht Milenium. Corumbá (MS). Mar-2012.

78 Disponível em: http://www.sejusp.ms.gov.br/controle/ShowFile.php?id=80759> Acesso em 07-Fev-2012. 79 Petrechos ou tralhas de pesca são todos os materiais utilizados para a prática da pesca recreativa-esportiva.

Carretilha e molinete, vara, chumbadas, anzóis

Linhas, alicates, faca, iscas artificiais

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Figura 36. Tubos de acondicionamento Figura 37. Iscas Vivas para as varas Fonte: Fátima Andrade. Barco Hotel Yacht Milenium. Esquema Iscas. Corumbá (MS). Mar-2012.

Não é exclusividade do pescador recreativo e esportivo a determinação dos

petrechos permitidos pela legislação. Para o exercício da pesca artesanal e profissional

(comercial), é autorizada a captura da cota de 400kg de pescado ao mês, que deve ser

declarada junto à Polícia Militar Ambiental – PMA. A legislação da SEMAC-MS (n.

004/11, p. 3) autoriza o uso dos seguintes petrechos, de acordo com as Figuras 38, 39,

40, abaixo, com algumas ressalvas no § 1º quanto aos locais que podem ser utilizados,

gerando conflitos entre os turistas e os pescadores profissionais: a) linha de mão; b) caniço simples; c) molinete; d) carretilha; e) joão bobo

(bóia com um anzol), limitado a 05 (cinco) unidades por pescador; f) cavalinho, limitado a 05 (cinco) unidades por pescador; g) tarrafa de isca; h) isca natural, isca artificial e isca viva proveniente da bacia; e, i) anzol de galho: aquele fixado em vegetação da mata ciliar ou em estacas afixadas no barranco, limitado a 08 (oito) unidades por pescador. § 1º. Os petrechos listados nas alíneas “e”, “f” e “i” deste artigo somente poderão ser utilizados em trechos de rios com mais de 30 (trinta) metros de largura e em lagos, lagoas ou baías, desde que não causem embaraços à navegação ou à balneabilidade, devendo tais equipamentos estar devidamente identificados através de plaqueta indicando o nome do pescador e o número da Autorização Ambiental expedida pelo IMASUL (SEMAC-MS n°004/11, p. 3).

Alguns desses petrechos, como o anzol de galho, o espinhéu e as redes (que não

conseguimos registrar em imagens) são as principais tônicas que fomentam discussões

entre os pescadores profissionais e amadores, e constantemente estão na mídia virtual e

escrita local em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Esquema Comércio de Iscas vivas Tubos para transporte dos molinetes e carretilhas e varas

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Figuras 38, 39 e 40. – Petrechos utilizados na pesca profissional Fonte: Fátima Andrade. Colônia de Pescadores - Z1. Corumbá (MS). Jun-2012.

A manifestação comum observada entre os turistas e pescadores profissionais

durante a pesquisa de campo é a acusação mútua de que o peixe está acabando, por

culpa da outra categoria. Os turistas acusam a utilização de equipamentos ilegais,

levados pelo desconhecimento quanto aos petrechos permitidos pela legislação para a

categoria dos pescadores profissionais, no que remete ao cenário regional-nacional,

válida para a pesca no Pantanal. Por outro lado, também observamos algumas reações

dos pescadores profissionais e dos guias de pesca que afirmam que os peixes estão

acabando por causa dos turistas.

Com base em pesquisas recentes, que buscam compreender a percepção que os

pescadores profissionais têm da atividade turística, o professor Mariani relata, dentre os

resultados encontrados, que 70% dos entrevistados se interessam pelo turismo, pois

vislumbram atuar nesse segmento.

De acordo com o autor (MARIANI, 2011, p. 185): “[...] 60% dos que gostariam

de trabalhar com o turismo não trabalham por falta de oportunidades, [...] hoje chegando

a 72% os pescadores que gostariam de desenvolver outra atividade em lugar da pesca,

revelando que seria o turismo”. Uma declaração aparentemente verdadeira, que leva à

contradição lógica, um paradoxo que, apesar de tudo, tem sentido, ou simplesmente por

vislumbrar a questão de status que figura no pensamento e a exposição de ideais até

então não revelados.

Bóia ou joão bobo Caniço simples Linhada de mão

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2.2.2. Pesca predatória e fiscalização no Pantanal mato-grossense (MS -

MT)

No período da piracema, época de reprodução dos peixes migratórios quando

sobem o rio Paraguai em cardumes para desovar nas cabeceiras, aumenta a recorrência

da pesca predatória. Informações retiradas dos sites de notícias do Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul divulgam o levantamento e os registros das ações dos órgãos de

fiscalização, da Polícia Militar Ambiental – PMA de Corumbá (MS), destacando que

durante a piracema: [...] foram apreendidos exatos 984 quilos de pescado sendo retirados diretamente dos rios. Segundo a PMA, 69 pessoas foram presas, foi aplicado um total de R$ 101.590 em multas”. Nesse processo houve também petrechos “[...] apreendidos 957 anzóis de galho; 9 barcos; 35 espinhéis; 103 redes; 44 tarrafas; 35 caniços; 1 canoa e 9 motores de popa. Ainda houve a apreensão de 50 carretilhas e molinetes; 17 veículos e 1.500 unidades de iscas (PMA, 2012).

Assim também ocorre no estado de Mato Grosso, no período de proibição da

piracema80. Os militares conferiram a existência da mesma prática ilegal, divulgada em

notícia que circulou na mídia virtual, dia 04 de dezembro de 2011: “Policiais Militares

Ambientais de São Gabriel do Oeste realizaram fiscalização no rio Coxim, no trecho

entre Camapuã e São Gabriel, de ontem para hoje e recolheram 132 anzóis de galho

(petrecho proibido)”81.

A fiscalização da pesca ilegal e predatória por pescadores profissionais, grupos de

turistas em botes, acontece durante o ano todo, não apenas na piracema. O combate,

conforme declaração de um policial ambiental de Corumbá visa à “[...] captura de peixes

fora da medida, uso de petrechos proibidos, falta de licença de autorização para a prática do

esporte, pesca dentro da Reserva, etc.”. No entanto, as apreensões aumentam no período de

proibição da pesca, devido à intensificação do efetivo de policiais com equipamentos

patrulhando os rios.

Outro agravante é a falta de oferta de emprego, o que favorece a ilegalidade da pesca

predatória como única saída para a subsistência de algumas famílias de pescadores ou

desempregados. Durante a proibição, é permitida ao pescador artesanal (MS) a retirada de

3kg de peixe/dia para alimentação ou escambo (troca por outra mercadoria), o que chama a

atenção e alerta para a necessidade de ações institucionais emergenciais que fechem essa 80 Disponível em: <http://busca.globo.com/Busca/RedeGlobo/?query=pescado+apreendido+no+per%C3%ADodo+da+piracema+2012>. Acesso em: 02-Fev-2012. 81 Disponível em: <http://www.guiadapesca.com.br/feed/>. Acesso em 04-Dez-2011.

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lacuna, com soluções que permitam repelir a ilegalidade e possibilitem ganhos, com mais

dignidade aos trabalhadores.

Lembramos que todos os anos os pescadores profissionais que declaram o

pescado são recadastrados pela Colônia de Pesca a que pertencem, para terem direito ao

recebimento do seguro-defeso, que consiste no pagamento, pelo governo estadual, de

um salário mínimo durante os quatro meses da piracema.

O mesmo não ocorre com pescadores profissionais com vínculo empregatício

em empresas de barco-hotel (carteira assinada), cadastrados na Marinha do Brasil e

portadores do curso que os autoriza a trabalhar como marinheiro fluvial. Apenas a cada

dois anos podem requerer o seguro desemprego devido ao tempo de trabalho, exigido

por lei, além do fato de que a profissão de guia de pesca/piloteiro não é reconhecida.

Entretanto, muitos conseguem trabalho na construção civil e empreitada nos estaleiros

para pintura de barcos. Outros atuam como guias no turismo contemplativo da fauna e

flora pantaneira, efetuando passeios de bote com motor (voadeira).

Toda ocorrência na região do Pantanal brasileiro (MT-MS), benéfica ou

maléfica, afeta imediatamente, atingindo de alguma forma os dois estados que detêm

conjuntamente 3/4 da extensão, um volume de cerca de 396.800 quilômetros

quadrados82, do total correspondente a 496.000km2 de toda a Bacia do Alto Paraguai –

BAP, segundo a Agência Nacional de Água – ANA.

A utilização consciente dos recursos naturais falíveis, como é o caso do setor

pesqueiro, precisa de monitoração e conscientização, com gestão institucional

transversal, a exemplo da Lei municipal 2.237/2011, sancionada em 08/12/2011, que

altera a pesca amadora (recreativa-esportiva), e dentre outros apontamentos, sem

prejuízo para a pesca artesanal: [...] suspende a pesca do dourado por cinco anos, sendo que este período pode ser revisto à medida que novos estudos técnicos e científicos forneçam subsídios para melhor compreensão de aspectos da biologia pesqueira da espécie, com a finalidade de ajustar as medidas de regulamentação para o uso sustentável do recurso. A proibição não se aplica à pesca de subsistência e nem aos exemplares oriundos de piscicultura devidamente registrada, desde que acompanhados de comprovante de origem, e à modalidade "pesque e solte" ou realizada para fins científicos autorizados pelos órgãos competentes (CORUMBÁ, MS, 2011).

82 A extensão territorial na BAP do estado do Mato Grosso é 189.551km2, e em Mato Grosso do Sul é de 207.249km2. Agência Nacional de Água - ANA, 2003.

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80

Tal atitude conservacionista logo refletiu no vizinho estado de Mato Grosso,

com a aprovação da Lei Estadual de Cota ZERO83, em plenário, em Julho/2012, e

confirma a prática do “pesque-e-solte” em todos os rios de Mato Grosso, alterando a lei

estadual de pesca 9.096/2009. A partir da publicação da lei no Diário Oficial, ficam

estabelecidos os termos para a pesca amadora e profissional: a) Obrigatoriedade do pesque-e-solte para os pescadores amadores; b) Vedação total do transporte de pescado para amadores durante os próximos três anos a partir da publicação oficial; c) Durante o quarto ano a cota de pescado será de 3 kg; d) A partir do quinto ano a cota permitida será de 5 kg; e) Proibição da captura e do transporte das espécies dourado (Salminus maxillosus) e piraíba (Brachyplathystoma filamentosum); f)Redução da cota semanal para pescadores profissionais de 150 para 100 kg; g) O Conselho Estadual de Pesca poderá ter autonomia para definir o tamanho mínimo e máximo de captura; h) Proibição do método de pesca com anzol ou garatéia “secos”; i) Autoriza a fiscalização para autoridades não governamentais por meio de convênios; j) Também ficam suspensas as emissões de novas licenças para pescadores profissionais.

No entanto, a cidade vizinha de Ladário e a Secretaria de Estado de Mato Grosso

do Sul não aderiram ou tampouco se manifestaram apoiando ou não a atitude municipal.

2.2.3. Aspectos da pesca recreativa, amadora, esportiva no Pantanal de

Mato Grosso do Sul

A pesca amadora, recreativa e esportiva atrai anualmente milhares de turistas

interessados em conhecer as belezas naturais, a imensa diversidade da flora e da fauna,

as riquezas de ecossistemas aquáticos, principal fator que contribui para o grande

número de pescadores esportivos no Pantanal mato-grossense.

Moraes e Seidl (2000) comentam sobre a existência da atividade, por haver uma

grande diversidade de espécies, constituindo-se um excelente atrativo. A modalidade do

turismo de pesca recreativa, não obstante, tem um potencial não apenas de geração de

emprego e renda, como também de divisas. Catella e Albuquerque (2007) ressaltam a

importante representatividade da atividade econômica e social no estado de Mato

Grosso do Sul, com base em dados adquiridos através do monitoramento do Sistema de

Controle da Pesca / SCPESCA/MS, existente há mais de dez anos, gerando informações

que subsidiam a gestão dos recursos pesqueiros.

83 Dos 22 deputados que participaram, apenas um votou contra.

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81

O órgão de pesquisa responsável pela elaboração e manutenção do sistema de

informática, análise de dados e publicação dos boletins de pesquisa é a Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Pantanal - EMBRAPA Pantanal, juntamente

com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul – IMASUL.

Apesar de todas as regiões do país serem favoráveis à atividade da pesca

recreativa e esportiva, os pescadores estrangeiros visitam muito a região Norte –

Amazônia – que também atrai os brasileiros. Entretanto, é a região Centro-oeste, no

Pantanal brasileiro, o local de preferência da pesca recreativa, esportiva (amadora)

nacional, onde as principais atrações são os peixes de couro, como pintado, cachara, jaú,

barbado, jurupensém, jurupoca, palmito, e os de escamas – pacu, curimbatá, piavuçú,

piranha, piraputanga, tucunaré (espécie exótica introduzida) e o dourado – tido como o

rei dos rios, famoso por sua resistência e luta no ato da captura, oferecendo mais

emoção aos esportistas.

O Sistema de Controle da Pesca – SCPESCA confirma também o interesse em

comum entre as categorias profissionais atuantes e turistas por algumas espécies nobres

de pescado, como se demonstra a seguir. Na Figura 41, o pintado (Pseudoplatystoma

corruscans), na Figura 42, o cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), na Figura 43, o

pacu (Piaractus mesopotamicus), e na Figura 44, o dourado84.

Figura 41. Pintado Figura 42. Cachara

Figura 43. Pacu Figura 44. Dourado

84 Disponível em:< http://www.cpap.embrapa.br/pesca/online/PESCA2010_MPA1.pdf>. Acesso :07-Jul-

2011.

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Essas espécies, em particular, são encontradas, além do rio Paraguai, detentor de

grande diversidade, igualmente em outras regiões do país como nos rios da Amazônia,

rio Paraná, e rios do Uruguai e Argentina. Igualmente no Pantanal de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul, no Rio Paraguai e afluentes.

A mais cobiçada espécie, o Dourado, segundo afirmam os empresários e turistas

que frequentam essa região, apresentou esgotamento e levou à aprovação da lei que

permite apenas o pesque-e-solte durante cinco anos para a pesca amadora – recreativa –

esportiva.

A iniciativa conjunta partiu dos empresários de turismo de pesca de Barco-Hotel

(protagonistas) e o trade85 turístico local, associados e colaboradores que compõem a

Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo – ACERT, juntamente

com órgãos municipais.

2.2.4. Primeira Lei de Pesca Municipal – Corumbá (MS)

A atitude da moratória em defesa da espécie partiu do anseio protecionista dos

empresários e funcionários dos barcos-hotéis, embasados no monitoramento que alertou

para a redução dos peixes no Pantanal, principalmente da espécie Dourado (Salminus

maxillosus).

Cientes da situação, os empresários do segmento investiram no método de

experimentação, incentivando seus clientes, turistas pescadores recreativos (amadores),

à prática da pesca esportiva - fish and drop (pesque-e-solte) - dessa espécie durante toda

a temporada de 2011, enfrentando resistência de algumas empresas.

A percepção para a conservação e sustentabilidade dos recursos pesqueiros do

Pantanal sul-mato-grossense recebeu a adesão ao movimento dos turistas pescadores

que visitam a região há anos seguidamente e os guias de pesca que atuam nos barcos-

hotéis, com objetivo principal da moratória do dourado.

A esse respeito, buscamos a opinião técnica da Drª Emiko Kawakami de

Resende, chefe da EMBRAPA-Pantanal, que afirmou em entrevista gravada: “[...] Esse caso em específico demanda pesquisas mais aprofundadas [...] é uma espécie estressada até a alma e não tolera manipulação, a taxa de sobrevivência pode ter bons resultados se for solto de imediato [...]”.

85 Trade significa um conjunto de profissionais e empresas da mesma localidade, voltado para a exploração do turismo.

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Complementou demonstrando ser favorável à reativação do Conselho Estadual

de Pesca – CONPESCA, e destacou: “...Ser um bom instrumento de discussão, controle e monitoramento, que já vai a 6-7 anos desativado [...] para resolver conflitos entre os atores do setor”.

A Prefeitura Municipal, em conjunto com a Fundação de Cultura e Turismo do

Pantanal, após ouvir inúmeros relatos de pescadores profissionais e amadores sobre a

redução dessa espécie nos últimos dez anos, iniciou consultas e debates com o trade

turístico e a comunidade científica da EMBRAPA Pantanal sobre a situação. Diante dos

fatos, apresentou ao poder público, aos órgãos ambientais, pescadores, ribeirinhos e

empresários do setor turístico, a proposta do Projeto de Lei de Desenvolvimento

Sustentável da Pesca.

Houve o ato público de entrega dessa proposta ao representante do poder

legislativo local, que a recebeu e encaminhou, anunciando sua aprovação, após 30 dias,

aos Órgãos interessados e ao Trade turístico. Entretanto, a legislação, federal, estadual e

municipal, infelizmente não conseguiu inibir a atuação ilegal recorrente de alguns

pescadores no período de defeso – piracema86. Apesar da intensa fiscalização, a captura do

pescado continua sendo praticada ilegalmente por moradores locais e pescadores

recreativos e esportivos sem a devida licença obrigatória, não apenas na piracema, mas

também durante os feriados prolongados.

Espécies diversas são capturadas fora da medida permitida por lei nos rios da

região, incluindo o dourado, na modalidade da pesca de barranco com caniço simples e

linha de mão, até mesmo na prainha do Porto Geral, desrespeitando a lei aprovada.

Outras espécies aquáticas em águas continentais também são protegidas por lei e

possuem medida limite para captura, em conforme se vê no Quadro 187.

86 É permitida aos pescadores artesanais a captura apenas de 3kg/dia de pescado para o próprio sustento ou escambo, observando-se as medidas aceitas pela legislação. 87 Disponível em:<http://www.sejusp.ms.gov.br/controle/ShowFile.php?id=80759>. Acesso em 07-Fev-2012.

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84

Quadro 1. Espécies e medidas permitidas para captura no Pantanal (MT-MS).

Essa resistência tem ampliado o efetivo da Polícia Militar Ambiental – PMA.

São divulgadas amplamente na mídia as consequências do ato ilegal e a aplicação de

multas e apreensões, portanto, não se pode alegar desconhecimento.

2.2.5. Equipamentos utilizados em Mato Grosso do Sul: características da

pesca embarcada artesanal, profissional e recreativa.

O rio Paraguai, navegável em toda sua extensão, atualmente também é utilizado

pelas embarcações que partem em direção rio acima (montante) para a prática da pesca,

dando-se uma nova funcionalização para a hidrovia.

Como já citamos, é comum a prática da pesca embarcada nas modalidades a)

artesanal, com utilização de canoa movida por remo ou zinga, atuando próximo de sua

moradia; b) pesca profissional, com barcos a motor e uma equipe de quatro a oito

indivíduos que se deslocam avançando maiores distâncias, e acampando na beira do rio

por oito a 15 dias, ambos demonstrados nas Figuras 45 e 46:

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Figura 45. Canoa de pesca artesanal Figura 46. Barco de pesca com Profissional com zinga. motor.

Fonte: Fátima Andrade. Viagem exploratória. Barra do São Lourenço (MT). Jun-2011.

O esporte e lazer da pesca recreativa (amadora) é a modalidade embarcada em

botes de alumínio com motor de popa de 25hp a 40hp, com a presença do guia de pesca,

conforme a Figura 47. Também é praticada raramente com lanchas Marajó, que

utilizam motores mais potentes, de aproximadamente 100hp a 150hp. São pilotadas

pelos proprietários, que também possuem a carteira de Arrais amador, habilitados de

acordo com as normas exigidas pela Capitania dos Portos do Pantanal de Corumbá, para

conduzir embarcações no limite da navegação interior, e igualmente inscrição de toda e

qualquer embarcação pertencente a essa região e profissionais que atuam na

navegação88.

Ademais, não temos nenhuma indicação de que essas embarcações, assim como

as de Esporte e Recreio, são fiscalizadas com o mesmo rigor das de turismo de pesca,

quanto suas condições de navegabilidade, manutenção, segurança e habilitação da

tripulação, como piloto fluvial – marinheiro fluvial, cozinheiro, taifeiro (garçon), etc.

88 MARINHA DO BRASIL. Comando do 6º Distrito Naval. NORMAM – 03. CAPITANIA FLUVIAL DO PANTANAL – Corumbá-MS. Disponível em: < http//:www.mar.mil.gov.br>.

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86

Figura 47. Bote de alumínio com motor de popa 25hp

Fonte: Fátima Andrade. Viagem exploratória. Barra do São Lourenço (MT). Jun-2011.

Em sua maioria, os turistas de pesca dão preferência ao barco-hotel de turismo

e/ou esporte e recreio, por oferecer mais conforto ao longo da viagem de

aproximadamente 200 km a montante (rio acima,) partindo do Porto Geral de Corumbá,

ou ainda de Aquidauana, Miranda e Porto Murtinho89.

Com parada em vários portos, próximo de pontos mais piscosos (reduto dos

peixes), utilizam os botes de alumínio com motor e guia de pesca, percorrem pequenas

distâncias, sempre acompanhados pela embarcação maior, até um ponto combinado para

embarque. O trajeto é longo e ultrapassa a região do Parque Nacional do Pantanal –

PARNA (MT), uma unidade de Conservação, onde se pode desfrutar das riquezas da

flora e fauna pantaneira, em suas proximidades. De acordo com o Anexo E, é possível

visualizar a imensidão desse ecossistema, bem como o trajeto efetuado pelos barcos-

hotéis, passando por locais como, pontos de pesca, fazendas com pistas de pouso para

pequenas aeronaves, reservas ambientais (MMX) e pequenos povoados onde vivem os

ribeirinhos, o Parque Nacional do Pantanal – PARNA, que podem ser visitados com

permissão do responsável.

89 Outros preferem hospedagem em Pousadas pantaneiras à beira dos Rios Paraguai, Miranda, Aquidauana ou Porto Murtinho.

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2.3. Aspectos históricos e estrutura dos barcos-hotéis do Pantanal sul-mato-

grossense.

Dentre os locais preferenciais de partida pelos turistas da pesca amadora90 em

Mato Grosso do Sul estão Ladário, Porto Murtinho e Corumbá. Este último município,

além da exploração industrial, mineral e agropecuária, é dotado de potencialidades

turísticas, dado o seu caráter histórico-cultural, porém pouco explorado, conforme

citado no Capítulo 1.

Mas foi no turismo de pesca que se desenvolveu, na modalidade amadora,

recreativa, ainda nos anos 1970, demandada por empresários paulistas e paranaenses

que, na época, observaram a riqueza dos recursos naturais privilegiados da região, como

mencionamos. O Sr. Orozimbo Garcia Decenzo,91 que inicialmente atuava com botes de

alumínio e motor de 10 a 15hp e permanece há mais de 50 anos em atividade, disse: “... não precisava ir muito longe para uma boa pescaria... aqui em frente ao farol pegava peixe de toda qualidade e tamanho.”

Posteriormente, os precursores responsáveis pela atividade passaram a conduzir

pequenos grupos em embarcação rústica denominada Chalana, favorecendo, assim, a

cobertura de maiores distâncias. Com uma estrutura bastante simplória, eram oferecidos

aos visitantes serviços como alojamento, com colchões no piso ou cama-tatu92 e

refeições preparadas de improviso. Através de investimentos financeiros privados, já

confirmados por Andrade (2003, p. 8), “[...] o turismo de pesca nesta região começou a

ser explorado desde então sem nenhum planejamento”.

Empresários do segmento pesqueiro potencializaram investimentos, ampliando a

estrutura da frota pesqueira (barco-hotel) ao longo dos anos, confirmados através de

levantamento quantitativo e qualitativo, efetuado em pesquisa de campo, nos últimos

meses de 2011. Após visitação in loco, procedemos ao inventário e catalogamos todas

as embarcações por tipologia, de Turismo, que pertencem a Operadoras e Agências

Turísticas e comercializam pacotes de 4, 5 a 6 dias de pesca e lazer no Pantanal, e de

Esporte e Recreio93, que são pertencentes a pessoas físicas (particulares ou grupos de

90 Pesca recreativa (amadora) e esportiva: praticada por brasileiros ou estrangeiros, com a finalidade de lazer, turismo e desporto, sem finalidade comercial. 91 Orozimbo – conhecido como Zimbo. In memoriam. 92 A cama-tatu é utilizada comumente pelo exército e pescadores que acampam na beira do rio. Pode ser instalada facilmente e possui mosquiteiro para proteção. 93 A esse tipo de embarcação, de acordo as Normas da Marinha do Brasil - NORMAM- 03, é autorizada saída diária com duração máxima de 12 horas de afastamento do porto, e não é permitido pernoitar no rio.

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amigos), e não têm permissão para comercialização de pacotes de turismo, embora o

façam na ilegalidade, nos portos urbanos de Corumbá e Ladário. Concluiu-se um

quantitativo de 53 barcos-hotéis, contabilizando 980 leitos disponíveis, conforme

apresentado na Tabela 1, juntamente com outras características como: tipologia,

qualitativo, quantitativo e número de leitos.

Tipologia da embarcação Pequeno porte Médio porte Grande porte Total B.hotel Nº Total leitos4 a 19 leitos 20 a 39 leitos 40 a 98 leitos

Barco-Hotel de Turismo 8 13 3 24 624

Barco-hotel deEsporte e recreio 25 4 0 29 356

Total Geral em 2012 53 980

Tabela 1. Barcos-Hotéis de Turismo e de Esporte e Recreio Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Mar-2012.

Os dados da Tabela acima demonstram as embarcações por tipologia, de acordo

com o número de leitos disponibilizados, denominadas a) barcos-hotéis de Turismo, que

num total de 24 embarcações sendo 8 de pequeno porte, 13 de médio e 3 de grande

porte, com total de 624 leitos; - b) barcos-hotéis de esporte e recreio, que totalizaram

29, sendo 25 de pequeno porte, 4 de médio e nenhuma de grande porte, contendo 356

leitos.

Esses dados são diferenciados do último inventário, elaborado no ano de 2005,

quando foram contabilizadas 59 embarcações, com 54 em operação. Constata-se que

mais de 50% das embarcações de turismo migraram para a tipologia de Esporte e

Recreio.

Vale salientar que a movimentação ativa no Porto Geral está entrelaçada à

temporada de pesca permitida pela legislação na região do Pantanal (MT-MS), que vai

do período de fevereiro a outubro, proibitiva no período da piracema e causa retração na

economia local, implicando a busca de outras oportunidades de trabalho, principalmente

na construção civil, para os pescadores que conseguem trabalho nessa categoria, e em

estaleiros para pintura de barcos, ou alguns bicos.

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2.3.1. Barcos-Hotéis de Turismo de pesca: estrutura física

As empresas voltadas à exploração da atividade econômica do turismo de pesca

recreativa e esportiva estão localizadas estrategicamente, com maior expressividade nos

portos fluviais do município de Corumbá, como Porto Tamengo, Prainha Vermelha,

Porto Geral, Porto Marina Limoeiro, Porto Marina Figueira, além do Porto Ecológico

do município vizinho de Ladário, onde ficam ancoradas algumas poucas embarcações

de esporte e recreio. Embora não seja nosso objeto de pesquisa, constam em nosso

inventário.

As empresas-agências-operadoras de Corumbá administram suas embarcações –

barcos-hotéis – voltadas para a exploração da pesca embarcada. Andrade (2003-2005)

identificou que essa estrutura foi sendo construída para suprir uma necessidade

demandada pelo aumento do fluxo de turistas dessa categoria de 1980 a 2001.

Tratava-se de oferecer equipamento necessário para movimentar esse setor

produtivo na região, cobrindo longas distâncias via fluvial, navegando com o suporte de

barcos-hotéis flutuantes, compostos de restaurante, camarotes com ar-condicionado,

atendidos por uma rede de profissionais até pouco tempo atuando no improviso.

Alguns anos depois do Cabexy, o seu proprietário construiu o Cabexy II. Outras

embarcações começaram a surgir nos anos 1980 em diante, em contraste com as

posteriormente construídas nos anos 1990 até 2001, sendo de médio porte, conforme

demonstrado nas Figuras 48 e 49, e grande porte, na Figura 50.

Figura 48. Barco Hotel Kayamã Vip Figura 49. Yacht Millenium Fonte: Fátima Andrade. Corumbá (MS) Jun-2011 Fonte: Fátima Andrade. Corumbá (MS) Jun-2011.

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90

Um exemplo desta última embarcação, é o Navio Kalypso, com capacidade para

94 pessoas, evoluindo até mesmo em termos de segurança e equipamentos de alta

tecnologia.

Figura 50. Barco Hotel - Navio Kalypso

Fonte: Fátima Andrade. Viagem exploratória. Corumbá (MS) Jun-2011.

É composta de camarotes com ar-condicionado e banheiro privativo, alguns

possuem também televisor (Kalypso). Na sala de estar há Tv LCD e aparelho de som,

conforme exposto nas Figuras 51, 52, 53, 54 e 55. O Solarium se localiza no deck

superior; alguns possuem piscina de uso comum ou de hidromassagem e churrasqueira.

Acompanham o pacote todas as refeições com cardápio variado, que inclui comida

típica regional, (café da manhã, almoço e jantar), e petiscos servidos antes das principais

refeições e Open bar (água, refrigerante, cerveja).

Figuras 51, 52 e 53. Camarote dos barcos-hotéis: Antares94, Millenium, Kalypso.

Fonte: Fátima Andrade. Corumbá (MS). Jun-Out-2011

94 Disponível em: <www.antares.com.br>. Acesso em: Mai-2011.

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Figura 54. Refeitório e salão de convivência Figura 55. Piscina do navio Kalypso95 Fonte: Fátima de Andrade. Pesquisa de campo. Barco Hotel Kalypso. Jun-2011.

A praça de máquinas fica normalmente no sub-solo da embarcação. É equipada

com um motor gerador e dois motores propulsores. As marcas variam: MWM,

Mercedes Benz de seis cilindros a diesel cada, (um é sempre reserva) e Scania 380 hp, e

os mais sofisticados possuem ainda painel eletrônico de controle, conforme as Figuras

56, 57 e 58, além de equipamentos como ecobatímetro, capaz de indicar obstáculos,

cardumes e a profundidade do rio.

Figura 56. Praça de máquinas – motor de 6 cilindros

Fonte: Fátima de Andrade. Pesquisa de campo. Barco Hotel Yacht Millenium. Mar-2012.

95 Disponível em: <www.peroladopantanal.com.br>. Corumbá (MS). Acesso em: Jun-2011.

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Figuras 57 e 58. Painel de controle da embarcação Fonte: Fátima de Andrade. Pesquisa de campo. Barco Hotel Yacht Millenium. Mar-2012.

Os botes de alumínio com capacidade para até cinco pessoas navegam com três a

quatro pessoas no máximo, (um guia de pesca e dois a três passageiros). Possuem motor

de popa de 25hp a 40hp, utilizam combustível temperado (gasolina e óleo 2T). Esse

equipamento é levado em compartimento superior ou traseiro da embarcação maior –

barco-hotel – em quantidade que difere por viagem, devido ao número de passageiros, e

o mesmo ocorre com o número de guias de pesca para atendê-los. Consta, ainda, motor

de popa e bote extra na embarcação, para alguma emergência.

Os guias de pesca são responsáveis pelo atendimento direto aos turistas, sob o

comando do chefe dos guias (piloteiros). Estes são orientados a preparar e colocar os

botes na água somente quando vão iniciar as saídas para a prática do esporte,

normalmente a partir das 4h da madrugada, no dia seguinte à saída do porto de

Corumbá. Os botes, já com o motor de popa instalado e abastecido com a quantidade de

iscas vivas necessárias para o período estimado ao tempo de pescaria, contêm bebidas,

gelo, equipamento (rádio de comunicação) e petrechos necessários para auxiliar na

captura do pescado.

Acompanhamos o processo de embarque e atendimento in loco em viagem

exploratória em junho de 2011, no Barco-hotel Navio Kalypso. Verificamos que, além

da organização de distribuição, o preparo da equipe permite alojar rapidamente e/ou

mudar os clientes nos camarotes. Nessa viagem havia cerca de 50 pessoas.

Quando a embarcação toca o primeiro apito, anunciando a saída, os que ainda

não estão a bordo seguem para embarque e, após o terceiro apito, o barco-hotel

desatraca do Porto Geral. Todos buscam um local no Deck superior (Kalypso) ou no

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salão principal (refeitório), para aproveitar o momento tão esperado e o início do serviço

de atendimento do bar.

Antes das embarcações seguirem viagem, cumpre-se um Ritual de Saída, em que

todos, tripulação e turistas reunidos, ficam de mãos dadas. Um momento sagrado,

normalmente iniciado pelo empresário ou responsável pela empresa, ou o próprio

comandante, que profere agradecimentos pela presença de todos e expressa desejos de

uma viagem prazerosa e de sucesso na pescaria, seguida das orações do Pai-Nosso e

Ave-Maria, conforme as Figuras 59 e 60.

Figuras 59 e 60. Ritual de saída da viagem do barco-hotel Millenium Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Yacht Millenium. Corumbá (MS). Mar-2012.

A viagem segue subindo o rio Paraguai, enquanto se realiza o sorteio dos guias

de pesca (piloteiros) para cada dupla. Observamos na embarcação Yacht Millenium,

antes da primeira saída da temporada, que não se trata apenas de sair para pescar, mas

os grupos de turistas promovem confraternização, campeonatos entre eles e os guias de

pesca, e ao final da viagem, antes da chegada ao porto, de acordo com critérios da

organização, distribuem troféus e medalhas. Isso é demonstrado pelo chefe do grupo nas

Figuras 61 e 62 que, além de posar para as fotos, prestou seu depoimento: “Essa confraternização é a principal motivação da viagem, organizada todos os anos há mais de 30 anos. Somos um grupo de amigos que se dedicam a vários segmentos empresariais em São Paulo e nos encontramos sempre. A vinda para o Pantanal já é tradição do nosso grupo há muitos anos”.

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Figuras 61 e 62. Troféus e medalhas para premiação nas competições empreendidas pelo grupo durante a viagem. Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Yacht Millenium. Corumbá, (MS). Mar-2012.

Esse fato serve de referencial e confirma a fidelização desse e também de outros

grupos que entrevistamos durante a aplicação dos questionários, que frequentam os

barcos-hotéis e o Pantanal de Corumbá há muitos anos.

Por sua vez, as empresas se esforçam em dedicação e atenção, não somente no

conforto e atendimento profissional, como também no cuidado com a alimentação. Os

pratos não se repetem a cada refeição, pois são elaborados a partir de um cardápio

variado, que inclui comidas típicas regionais. São preparados pelo próprio chef e sua

equipe no barco-hotel, ou por nutricionista.

A comemoração e a confraternização tornam especial cada refeição que, em

algumas embarcações, é temática, produzida desde a decoração do refeitório até o

acompanhamento de bebidas adequadas ao cardápio servido. Como exemplo citamos a

Noite Italiana, com refeição e decoração típicas, acompanhadas de música ao vivo,

visualizada nas Figuras 63, 64, 65 e 66. As Noites do Peixe, Churrasco Pantaneiro e

Almoço Pantaneiro ambientam as pessoas a uma viagem imaginária, desde a sua

entrada no salão, com músicas típicas para cada situação.

O salão de refeições dessa e da maioria das embarcações é climatizado e

confortável, com mesas e cadeiras dispostas de forma a comportar de quatro a seis

pessoas. No almoço pantaneiro, foram colocadas em formato de L, para que todos

compartilhassem da refeição como uma família, sempre sob os olhares atentos do chef e

equipe.

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Figuras 63, 64, 65 e 66. Noite italiana no navio Kalypso Fátima de Andrade. Viagem exploratória. Barco-Hotel Navio Kalypso. Jun-2011.

Após o almoço, o destino são os camarotes para descanso breve. À noite, a

ordem é dormir cedo, para, após o café da manhã, que se inicia às 04h30min, sair para a

pescaria antes do nascer do sol, conforme combinado com os guias de pesca, que já

aguardam nos botes com tudo preparado, inclusive uma nova saída no período da tarde.

A esperança de cada turista é obter sucesso na pescaria, trazendo consigo, se possível,

um exemplar na medida permitida, como se vê nas Figuras, 67, 68, 69 e 70. As fotos

saíram um pouco escuras, o que comprova a hora real da saída das duplas de pesca.

Outros, no retorno, exibem seu troféu de recompensa.

Esse grupo era composto de casais, famílias e amigos de Belo Horizonte (MG),

Santa Catarina (SC), parceiros de pescaria, e até um, em especial, que foi sozinho do

Rio de Janeiro (RJ), mas no final todos estavam integrados. Esse dado importante

auxilia na mudança da imagem local do prostiturismo.

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A embarcação de maior porte possui camarotes com duas a três camas de

solteiro e também de casal. Essa categoria de acomodação tende a aumentar, para

atender aos grupos de famílias inteiras com filhos, netos, etc, o que já ocorre nas

viagens que compartilham comemoração ou confraternização com o lazer da pescaria,

conforme observamos ao longo da temporada de 2011, registrado na Figura 71 no

primeiro semestre de 2012.

Figuras 67 e 68. Saída dos primeiros pescadores Fátima de Andrade. Viagem exploratória. Navio Kalypso. Pantanal.Jun-2011.

. Figuras 69 e 70. O troféu de recompensa, um pintado

Fátima de Andrade. Viagem exploratória. Navio Kalypso. Pantanal. Jun-2011.

A introdução de crianças, adolescentes e pessoas do gênero feminino entre os

participantes desse esporte havia sido detectada inicialmente em pesquisas anteriores,

em 2003, 2005, 2011 e 2012. O cenário atual reflete a vocação e a expressão de uma

atividade econômica de grande importância social, cada vez mais presente na cidade e

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orla urbana de Corumbá. Um número considerável transita no Porto Geral, onde é fácil

o acesso para se admirar o evento de saída e chegada das embarcações. A Figura 71

apresenta um grupo recém-desembarcado. Tal clientela está presente em vários outros

pontos, como: Lacre do Peixe, restaurantes urbanos, aeroporto de Corumbá e nas lojas

de Arroyo Ceoncepción e Puerto Quijarro – (Miami House – Shopping de Puerto

Aguirre).

Figura 71. Grupo desembarcado do barco-hotel Kayamã Vip Fátima de Andrade. Pesquisa de campo. Grupo Kayamã Vip. 5-Nov-2011.

Percebe-se que essa tendência não tem mais retorno, e inclusive demanda outra

pesquisa quantitativa para avaliar os efeitos no segmento com essa alteração de gênero e

idade frequentando tal esporte. No entanto, predomina o público masculino que vem a

Corumbá. São grupos de amigos em confraternização, em viagem de lazer e descanso,

que têm o hábito de se repetir; às vezes as viagens são regularmente programadas todos

os anos, conforme depoimentos durante pesquisa de campo.

Ademais, percebe-se o anúncio de repasse da tradição do esporte e lazer da

pesca de pai para filho e filhas, além das esposas, que também aderem à atividade,

fazendo suas próprias descobertas, a exemplo da prática do Ecoturismo contemplativo.

De acordo com depoimentos, é uma sensação única poder estar em um local conservado

ambientalmente, distante das metrópoles, em contato com a natureza junto à família.

É fácil reconhecer os turistas de pesca de barcos-hotéis no Porto Geral,

Aeroporto, restaurantes urbanos e até mesmo em lojas em Puerto Quijarro (BO),

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conforme registramos nas Figuras 72 e 73, abaixo, pois eles têm uma característica

inconfundível.

Permanecem sempre em grupos batizados com nomes que eles colocam e estão

sempre uniformizados, com destaque nas camisetas que identificam a intenção da

pescaria em Corumbá.

Contudo, o turismo, especialmente o de pesca recreativa, esportiva (amadora), se

enquadra na visão atual, que propõe desafio de promoção do desenvolvimento local e

melhor reordenamento da atividade, bem como utilização sustentável dos recursos

naturais.

Figura 72. Grupo Clube dos Nove (MG). Figura 73. Grupo do Bode (SP) Fonte: Fátima Andrade. Miami House. Fonte: Fátima Andrade Churrascaria Espeto Puerto Quijarro Mai-2012. de Ouro. Corumbá (MS). Jul-2012.

Existem ainda outras empresas que englobam a cadeia produtiva da pesca

amadora, como hotéis, pousadas, estaleiros, lojas comerciais de produtos para pesca

(varas, molinetes, carretilhas, iscas artificiais, caniços, linhas, anzóis), barcos, Jet ski,

gêneros alimentícios, hotéis, supermercados, açougues, restaurantes, postos de

combustíveis, venda e manutenção de barcos e motores, empresas de transporte

turístico, companhias aéreas, rodoviárias e o turismo de compras.

Há ainda as que abastecem hotéis e pousadas pesqueiras e os Barcos-Hotéis, que

estão direta ou indiretamente envolvidos na movimentação de compras e vendas entre

empresas na mesma localidade, configurando o efeito multiplicador na economia local-

regional.

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A partir do próximo capítulo, detalharemos as impressões dessas empresas que

orbitam em torno do turismo de pesca, especificamente dos barcos-hotéis, elencando

informações coletadas em pesquisa de campo sobre os impactos reverberados na

movimentação socioeconômica de Corumbá (MS), Arroyo Concepción e Puerto

Quijarro (BO), no período da piracema, bem como a outros empreendimentos que

circundam a atividade e igualmente fazem parte da cadeia produtiva da região.

2.3.2. A administração e viagens de barco-hotel: Características da

comercialização dos pacotes

A pesca amadora-recreativa-esportiva em barcos-hotéis de turismo de Corumbá

comercializa os pacotes de pesca all inclusive, que é efetuado com seis a um ano de

antecedência em forma de bloqueio e pagamento parcelado. Na sua maioria são vendas

efetuadas pelas próprias operadoras e agências da embarcação, e outras, por operadoras

de capitais como São Paulo, Belo Horizonte, dentre as que possuem público interessado

na vinda para o Pantanal sul-mato-grossense.

As viagens, além da prática da pesca, também são disponibilizadas para

expedições, comemorações diversas como aniversários, casamentos, bodas, dia das

mães, como observado durante a temporada. Os pacotes, que variam de preço,

custavam, no ano de 2011, de R$ 3.500,00 a R$ 4.800,00 por pessoa, com tudo incluso,

mas esse valor pode ser alterado (eleva ou reduz), dependendo do número de

passageiros (turistas), porte e estrutura da embarcação escolhida e a duração da viagem.

Isso que caracteriza o efeito multplicador de primeira ordem.

Contudo, todas têm em comum o atendimento especializado da equipe de bordo

e de apoio terrestre. Não inclui hospedagem em hotéis, alimentação que não esteja no

pacote, despesas de viagem da origem ao destino in/out. (ida e volta).

Outra característica que despertou interesse da clientela é que as empresas de

barcos-hotéis são, na maioria, familiares, administradas e comandadas por mulheres na

operacionalização, com o apoio da equipe de bordo, que é masculina. Possui desde a

participação ativa do proprietário ou gerente, que reveza na viagem junto com os

turistas quando há grupos como casais e familiares.

O efetivo administrativo responsável pelos departamentos financeiro (vendas-

recebimentos-pagamentos) e de logística é responsável pelo abastecimento e preparo da

embarcação para saída. Há empresas que contam, além de equipamentos administrativos

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comuns a todas, com: ônibus, micro-ônibus, camionetes, caminhão, carros utilitários96 e

vans. Alguns são terceirizados, quando a empresa não tem suporte necessário,

principalmente para conduzirem os clientes ao país vizinho às compras e passeio na

Bolívia. A pessoa responsável pelo setor receptivo é quem assessora os turistas, desde a

chegada à cidade, até a embarcação desatracar do porto, em suas necessidades

particulares, como por exemplo, ir à farmácia, agência bancária, compras na Bolívia,

restaurantes, pizzaria, etc. Quando chega o horário do embarque, repassa-os para o

comandante e sua tripulação, que assume o atendimento de bordo. A viagem é

acompanhada por rádio amador, quando os guias de pesca saem com os turistas nos

botes menores para a pescaria, e ainda por telefone via satélite (ou via rádio) pela

empresa, caso haja quaisquer ocorrências ou necessidade de prestar socorro, havendo

algum tipo de avaria no motor ou gerador durante a navegação.

2.3.3. A logística que movimenta as viagens do setor produtivo de barco-

hotel e aspectos laborais

Para se movimentar barcos-hotéis de médio e grande porte, necessita-se de um

efetivo de seis a oito profissionais fixos, mais os guias de pesca, que variam de acordo

com o número de turistas e o porte do barco-hotel, como se vê nas Figuras 74 e 75.

Exemplo: para um grupo de 40 pessoas = 20 guias de pesca acompanham. Se for grupo

de 80 pessoas, 40 são guias de pesca, sempre um para cada dupla ou trio de turistas,

pescadores ou não.

Figuras 74 e 75. Equipe da tripulação do barco-hotel – diversas funções Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Porto Geral. Nov-2012.

96 Os utilitários são necessários para o abastecimento da embarcação e a retirada da rouparia utilizada, lixo, etc.

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Os profissionais fixos para conduzir a embarcação acima de 40 passageiros

(turistas) são: um comandante (piloto fluvial); um mestre fluvial; um contramestre; um

condutor fluvial; um maquinista; um auxiliar de maquinista; um cozinheiro; um taifeiro.

Já em um barco-hotel maior, essa tripulação é ampliada de acordo com o número de

passageiros a serem atendidos. Além dos citados acima em barcos de médio porte,

soma-se mais um auxiliar de cozinha, e um a dois taifeiros (garçom-camareiro).

Completa o quadro um chefe dos guias de pesca - piloteiros denominados marinheiros

fluviais.

Barcos com menor capacidade para passageiros suprimem alguns desses

profissionais; segue viagem apenas o efetivo necessário, que assume às vezes mais de

uma função. Em matéria de ganhos, esse emprego oferece algumas especificidades para

a categoria desde 2005, quando assumiu a presidência do Sindicato dos Aquaviários em

Corumbá e Ladário (MS) o Sr. Clarindo Silva Costa, que nos concedeu informações e

as tabelas dos últimos três anos em que houve negociação e acordo entre os

empresários, Sindicato e Ministério do Trabalho, obtendo algumas conquistas

anteriormente inexistentes.

Para cada categoria há um salário base, acrescido de insalubridade, 50 horas

extras = HE 50%; mais 10 horas extras = HE 100% e adicional noturno; mais DSR x 4

= Descanso Semanal Remunerado; e mais 30% do salário base de adicional de função.

Apresentamos resultados de ganhos por categoria em 2012 no Quadro 2.

OCUPAÇÃO NO BARCO-HOTEL

SALÁRIO

Piloto fluvial

R$ 2.262,79

mestre-fluvial R$ 1.981,09 contra-mestre R$ 1.829,56 condutor fluvial R$ 2.186,77 maquinista fluvial R$ 1.734,00 maquinista auxiliar R$ 1.943,20 cozinheiro fluvial R$ 1.943,20 cozinheiro auxiliar (ajudante de cozinha)

R$ 1.600,00

marinheiro fluvial - (guia/piloteiro)

R$ 1.691,83

FAC/MFAM/taifeiro R$ 1.691,83 Quadro 2. Demonstrativo de Salário dos Profissionais Fluviais Fonte: Sindicato dos Aquaviários de Corumbá e Ladário (MS).

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Os dados acima foram retirados da Tabela e refletem o acordo entre o Sindicato

e as Empresas de Turismo de pesca, conforme consta no Anexo F. Há ainda outro item

a ser incluído neste espaço, que diz respeito à contratação de diarista, como ajudante de

cozinha para uma única viagem, por exemplo. Caso isso ocorra, seu vencimento ao

desembarcar é de R$ 300,00. Trata-se de uma prática proibida, mas na visão dos

empresários é necessária, quando em uma ou outra viagem algum funcionário falta e

precisa ser reposto de imediato. Todos a bordo têm que ser registrados e ter carteira

fluvial expedida pela Capitania Fluvial do Pantanal de Corumbá – Marinha do Brasil.

As empresas de barco-hotel efetuam, em média, no mínimo 24 e no máximo 36

viagens por temporada (fevereiro a outubro). É uma das poucas atividades que possuem

clientes fidelizados, confirmados em pesquisa de campo. Encontramos indivíduos que

nos informaram que vêm todos os anos ou em anos alternados ao Pantanal de Corumbá

há mais de 33, 30, 25, 20, 15, 12, 10, 5, 2 anos e pela 1ª vez, que detalharemos em

gráficos, quadros e tabelas no próximo capítulo.

Os dados levam-nos a considerar que se trata de um destino consolidado e

demonstra status de renovação, com novos adeptos trazidos pelos amigos e familiares que

já possuem como hábito visitar o Pantanal sul-mato-grossense e estar em contato com a

natureza.

O que se deve levar em conta é o impacto social do turismo e as alterações do

seu cotidiano, com a presença do turista (visitante), que se acha no direito de liberar as

emoções, adotando comportamentos e atitudes que podem refletir nos valores culturais

da sociedade local, levando até mesmo a supervalorizar a cultura do visitante,

renegando a sua própria. Coriolano (1999) destaca que, em muitos lugares, as principais

atrações dos turistas são voltadas para exposição da cultura, gastronomia, belezas e

riquezas naturais, mas a interrelação dos povos é indissociável no ordenamento da

atividade e deve constar nos programas e projetos, na educação para a população com

base local.

Essa iniciativa é capaz de alertar a sociedade para as vantagens e as implicações,

sobretudo o reconhecimento de mercado desejado, a fim de não atingir a deformação da

atividade, o pseudoturismo. O turismo sustentável é uma parte do conceito mais amplo

de desenvolvimento sustentável. Swarbrooke (2000, p. 112) alerta para: [...] o desenvolvimento não-sustentável, que pode reduzir drasticamente a qualidade do produto do turismo devido a uma infraestrutura inadequada e a poluição causada por outras indústrias, substituir por atividade que seja vista socialmente inaceitável, ou mesmo ilegal, como a caça, ou mais litigiosa, como o turismo sexual.

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Não obstante, cabe ao poder público encarregar-se do ordenamento e da

coordenação da atividade turística, atuar em casos em que haja a introdução de impactos

negativos e empreendimentos ilegais e mal vistos pela sociedade, como a exploração

sexual, a prestação de serviços de má qualidade e trabalhos autônomos com atuação na

informalidade.

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CAPÍTULO 3

TURISMO DE PESCA EM BARCO-HOTEL: EFEITOS MULTIPLICADORES E IMPACTOS NA PIRACEMA

3.1. Empresas da cadeia produtiva da pesca de Corumbá (MS), Arroyo

Concepción e Puerto Quijarro (BO).

Como citado no capítulo anterior, uma variedade de empresas está entrelaçadas

na cadeia produtiva do turismo de pesca, que mantém em movimento várias atividades

econômicas, o que configura cumplicidade, mesmo que imperceptível, caracterizando o

efeito multiplicador.

Esse conceito, elaborado por Cooper et al., (2001, p.201), “[...] baseia-se no

reconhecimento de que as vendas de uma firma requerem compras de outras empresas

dentro da economia local, ou seja, os setores de serviços de uma economia são

interdependentes”. Isso significa a existência de um processo sequencial de recebimento

de gastos dos turistas nas empresas locais circulando entre empresas nas quais adquirem

produtos e serviços para atendê-los durante sua estada no destino.

Cooper et al. (2001, p. 281) confirmam que: “[...] parte dessa renda caberá aos

residentes locais, na forma de ganhos, salários, distribuição de lucros, aluguéis, juros

[...]”, em que incluímos também a caixinha, algumas generosas, que os guias de pesca

recebem diretamente dos turistas, e que também serão injetadas na economia local e

além-fronteira na compra de mercadorias e serviços. Particularmente em Corumbá, por

estar localizada na zona de fronteira próxima à Bolívia, parte dessa renda dos gastos

turísticos também se transfere para o comércio de Arroyo Concepción e Puerto

Quijarro. Esses casos de gastos no comércio do país vizinho caracterizam-se fuga de

capital, termo utilizado por Cooper et al. (2001) na área econômica. A transferência

espacial de renda para o destino receptor, ao se adquirirem produtos e serviços turísticos

nas compras, ocorre com frequência devido à proximidade física e administrativa das

cidades na fronteira Brasil/Bolívia (MS). No entanto, essa renda passa por diversos

setores da economia, e são utilizados ainda, para pagamentos de fornecedores, nem

sempre ligados ao turismo. Em outras ocasiões, revertem para a quitação de dívidas,

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salários, investimentos em outros empreendimentos comerciais (estoque ou

construções) a remuneração recebida oriunda de fonte turística.

Ainda podemos incluir nesse rol a fabricação caseira (familiar) de doces típicos

em compotas adquiridos pelo barco-hotel e servidos como sobremesa, a exemplo do

doce de leite com coco, doce de abóbora com coco, doce de banana e o furrundu,

preparado com mamão verde, coco ralado, rapadura e açúcar e servido puro ou com

queijo branco fresco. Isso favorece o desenvolvimento local e gera renda na economia

familiar.

Em outra ocasião o recurso financeiro ainda poderá sair de circulação

temporariamente, através de poupança, para futuramente se transformar em

investimentos turísticos ou estabelecer investimento em outro empreendimento e bens

de consumo durável. Também é aplicado na construção, ampliação e reformas da

embarcação e botes de alumínio, motor de popa, compra ou reforma de imóveis, compra

ou troca de veículos de passeio e/ou utilitário, etc, dando início a um novo ciclo.

Normalmente as viagens são de cinco a seis dias de duração, porém ocorre ainda

variação, já que algumas empresas, mais flexíveis, atendem a grupos para viagem de

quatro dias. Para tanto, o abastecimento da embarcação e o trajeto percorrido dessas

saídas garantem o efeito multiplicador na localidade, se considerarmos fatores como o

número de passageiros a serem atendidos durante a temporada (fevereiro a outubro).

Aproximadamente 18.000 turistas circulam nos barcos-hotéis, de acordo com o controle

efetuado no Lacre do pescado pela Polícia Militar ambiental – PMA, além dos que

preferem pousadas de pesca ou se hospedam em ranchos de particulares, ainda não

contabilizados.

Em suma, todos necessitam obter combustível como óleo diesel, gasolina e óleo

2Tempos para movimentar a estrutura de botes com motor de popa e barco-hotel,

adquiridos em empresa da localidade, base do conceito do efeito multiplicador, que

detalharemos adiante. Para citar alguns exemplos: Posto Paulista, Posto Nave da rede

Janjão e Posto Marina Limoeiro. Dois destes estão estrategicamente localizados à beira

do rio Paraguai, o que facilita o trabalho de abastecimento.

Em média, estima-se que, para cada viagem, ocupam-se em torno de 2.500lt a

4.500lt de óleo diesel, mais 1.800lt a 3.800lt de gasolina, considerando o porte do barco

que pode ser: de pequeno, médio e grande, como já demonstrado no Capítulo 2.

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Ademais, adquirem ainda óleo 2Tempos97 para misturar com gasolina

obrigatoriamente para os motores de popa dos botes de pescaria (voadeiras) de 15hp,

25hp ou 40 hp. E ainda utilizam óleo hidráulico e óleo lubrificante para motor

propulsor, gerador, etc.

A troca do óleo dos motores, de popa ou propulsor, é efetuada conforme a

necessidade, e uma vez substituído, é descartado e doado pelos empresários aos

ribeirinhos, que utilizam na proteção das cercas de madeira em suas residências.

3.1.1. Empresas de barco-hotel pesquisadas em Corumbá (MS): efeitos

multiplicadores e impactos da piracema na cadeia produtiva da pesca

A primeira questão levantada foi adquirir os dados da empresa e a função do

responsável pelas repostas. As suas características físicas e equipamentos utilizados nas

embarcações, tratados no Capítulo 2, assim como informações sobre os funcionários e

salários, duração (tempo) e comercialização e número de viagens efetuadas com

estimativa do valor do pacote (gastos do turista), abastecimento da embarcação,

balizaram como indicativo para estender a pesquisa às empresas de Corumbá.

Neste capítulo, evidenciaremos os impactos que atingem as empresas que param

literalmente de funcionar no período da piracema, época da reprodução dos peixes

migratórios, e os reflexos na economia local-regional nas que também fazem parte da

cadeia produtiva do turismo de pesca. Um dos impactos mais gritantes são as demissões

que ocorrem em massa no segmento da pesca amadora ao final da temporada, nos

primeiros dias de novembro, seja em barco-hotel, Pousada-Pesqueira, Hotel-Pesqueiro

ou os que alugam botes (voadeiras) com motor e piloteiro.

Muitos são os desempregados que remontam altas despesas com o rompimento

do contrato de trabalho (recisões) e representam, em algumas empresas, um patamar de

85% a 100%98 de indivíduos demitidos, permanecendo um para cuidar da embarcação

(barco-hotel) e dois a três que revezam férias no setor administrativo, efetuando venda

de pacotes para a temporada seguinte, o que ocorre em média com seis meses ou mais

de antecipação.

97 O óleo 2Tempos tem que ser misturado com gasolina para funcionamento do motor de popa dos botes de pesca de alumínio. 98 Nesse caso, os proprietários fecham o estabelecimento, saem de férias e dispensam os funcionários, para evitar gastos que julgam ser desnecessários.

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Inicialmente elencamos as empresas que contribuíram para a pesquisa

respondendo os questionários aplicados, em sua maioria aos proprietários ou gerentes

das empresas de barcos-hotéis, conforme Quadro 3.

AGÊNCIA E OPERADORA BARCO HOTEL L.M.C. Martins - Pérola do Pantanal Turismo e Passeios

Navio Kalypso e Pérola do Pantanal (2*)99

Real Tour- Transp. Fluvial e Turismo Real e Real Tour- (2*)

H. B. S. Ag. de Viagens e Turismo Ltda Netuno O Pantaneiro Transp. Fluvial e Turismo Yacht Millenium Joice Pesca e Turismo Kayamã VIP Porto do Pantanal do Pantanal Peralta Arara Pantaneira Transp. Fluvial e Turismo Albatroz Matusalem Santana ME Celebridade .T.C.B. Transp. Fluvial e Turismo Kassato Marú Pevê-Tour Transp. Fluvial e Turismo Barão do Lago - Pevê-Tur II - (2*)

Transtur Transp. Fluvial e Turismo – (passeios)

Corumbí News e La Barca Family -(2*)

Veneza Tur. Transp. Fluvial e Turismo Veneza Quadro 3. Empresas de barcos-hotéis pesquisadas Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Jul-2012.

São empresas que atuam no mercado local há 7, 11, 13, 15, 18, 20, 27 e 33 anos

nesse segmento, seja na pesca em botes com motor inicialmente, ou direto com barco-

hotel. Tais números são assim colocados para evidenciar as respectivas variações de

longevidade das empresas. Nesse sentido foi unânime a resposta quanto ao período da

piracema, época da reprodução dos peixes. Vários dos proprietários e gerentes

relataram: “[...] devido às despesas que antecedem à próxima temporada somada à manutenção anual da embarcação, é comum começar o ano no vermelho”.

Há vistoria nas embarcações pela Capitania Fluvial do Pantanal, depois do que

são liberadas caso tenham cumprido todos os itens necessários à navegação e segurança.

Entretanto, a Capitania Fluvial do Pantanal não fiscaliza igualmente as de Esporte e

Recreio, que ainda comercializam viagens ilegalmente, assim como a documentação dos

profissionais responsáveis pela navegação e outros que são contratados como diaristas.

Quanto à situação desses funcionários após o término da temporada, os

resultados apresentaram que, à medida que são contratados pela empresa, sua carteira é

assinada. Entretanto, um mês antes do fim da pesca assinam aviso prévio, o que não 99 As empresas com (*) asterisco são as que possuem duas embarcações em atuação.

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descarta a existência de trabalhadores arregimentados informalmente. Por exemplo,

quando há mais turistas, tem-se a necessidade de reforçar, nessa viagem específica, o

quadro de funcionários, que são fluviais contratados como diaristas para trabalhar na

função de ajudante de cozinha ou guia de pesca, recebendo apenas o que foi acordado

por essa viagem, sem nenhum vínculo empregatício com a empresa.

O mesmo ocorre com os profissionais fluviais que são contratados pelas

embarcações de Esporte e Recreio, apenas por viagem, com duração de cinco a seis

dias.

Ao final da temporada, quando a pesca é proibida, a maioria dos funcionários

dos barcos-hotéis é demitida, representando cerca de 240 indivíduos das 12

embarcações, 86,5% do total de 278 trabalhadores. O restante continua prestando algum

tipo de serviço nas empresas, contabilizando 13,5%, que tiram férias em sistema de

rodízio.

Esse quadro é um alerta que assinala o período de crise recorrente em toda a

cadeia produtiva, anualmente. Os guias de pesca de barco-hotel, por obterem vínculo

empregatício com a empresa (carteira assinada), não têm nenhum direito ao seguro

desemprego, a não ser em anos alternados, como nos informaram verbalmente. E

aqueles que não têm como sobreviver com a pesca de subsistência permitida, que na

piracema é de 3 kg ou um exemplar, buscam trabalho com alguns bicos, como dizem, na

construção civil, estaleiros, como pintor de barcos ou residências. Outros se defendem

burlando a legislação ao atuarem na pesca predatória, arriscando-se a multas e perda de

todo o pescado, embarcação, petrechos, veículos utilizados, etc., segundo a Polícia

Militar Ambiental – PMA de Corumbá (MS).

Poucos foram os que garantiram estar tranquilos, como os que possuem costume

de “guardar algum dinheiro todo mês”, para manter-se com familiares durante a

proibição da pesca. Já os que mantêm a pesca artesanal e profissional como sua única

fonte de renda, têm direito ao seguro defeso, já referenciado, recebendo durante quatro

meses um salário mínimo, e obrigatoriamente são recadastrados anualmente na Colônia

Z-1 de Corumbá (MS) que estima obter um quantitativo de 1.300 profissionais.

Ademais, são obrigados também a expedir a nota do Registro Geral do Pescado - RGP

na Polícia Militar Ambiental – PMA, para comprovar sua atividade profissional. Mas há

os que não vêm alternativas senão a de burlar a lei, e se arriscam a pescar na piracema.

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3.1.2. Empresas de Corumbá ligadas diretamente ao turismo de pesca de

barco-hotel

O abastecimento para a viagem dos barcos-hotéis depende de outros items, como

produtos alimentícios de primeira necessidade e outros servidos durante as refeições,

como alguns petiscos que antecedem as refeições principais e estão inclusos no pacote,

assim como as bebidas, iscas vivas, e um passeio na Bolívia para tour de compras.

Devido ao crescimento gradativo do turismo de pesca, surgiram ainda empresas

específicas para atender às embarcações: Estaleiros, na construção e manutenção das

embarcações; Rezende, para manutenção e reparos de botes alumínio; Cia Náutica (2

lojas), especializada em artigos para a pesca e lazer, venda de artigos diversos para

pescaria diversos, lanchas, barcos e Jet-Ski, botes e motor de popa, além de consertos e

reparos; Edináutica, que também efetua manutenção e reparo de botes, barcos, lanchas,

inclusive da Marinha, Exército, etc. Há ainda outros profissionais, a exemplo da

Refrigeração Amaral, que atua na manutenção e reparo de ar-condicionado, geladeiras,

freezer, máquina de gelo da embarcação e mecânicos autônomos, que trabalham

informalmente nas embarcações à beira do rio Paraguai, nos portos da área urbana e

rural. Podemos citar também a prestação de serviços de músicos, vidraçaria, pintores,

dentre outros. Alguns fabricam alimentos durante a viagem, como doce de leite natural,

biscoitos diversos, pães e tortas, doces e salgados para o café da manhã, o que for

necessário para surpreender os passageiros, e outros adquiridos em empresas da

localidade e preparados por autônomos, servidos nas refeições, o que favorece o

desenvolvimento local. Essas empresas que fazem parte da cadeia produtiva da pesca e

não são exclusividade do segmento atendem também à população local, como os

mecânicos autônomos, que atuam informalmente nas embarcações à beira do rio

Paraguai, nos portos da área urbana e rural.

Levantamos 42 empreendimentos interligados diretamente aos barcos-hotéis,

não apenas de abastecimento e/ou na prestação de serviços, mas fornecedores de

rouparia, objetos de decoração, dentre outros, de maneira a garantir conforto, segurança,

entretenimento e bem estar para os turistas que visitam Corumbá para a prática do

esporte e lazer de pesca.

Para destacarmos alguns, exemplificamos os supermercados, açougues,

verdurarias, barracas das feiras livres (diárias), lojas de conveniências, postos de

combustíveis e derivados de petróleo, distribuidores de bebidas, comércio de gelo,

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atacados de mercadorias (secos e enlatados, dentre outros), hotéis, restaurantes, lojas de

artesanato, churrascarias, Wyskerias, Casas de entretenimento/prostituição, conforme

demonstrativo na Quadro 4.

Empresas ligadas diretamente aos Barcos-Hotéis

E fazem parte da cadeia produtiva da pesca

1. Estaleiro Tamengo 22. Churrascaria Espeto de Ouro 2. Estaleiro J. D. Brito Leal (Ladário) 23. Churrascaria e Restaurante Rodeio 3. Edináutica 24. Restaurante Miguéis 4. Cia Náutica 25. Peixaria e Restaurante Ceará 5. Rezende manutenção e reparos 26. Peixaria do Lulu 6. Supermercado Panoff Quadri 27. Pizzaria Fiorella 7. Supermercado Fernandes 28. Bar e Lanchonete da Sandrinha 8. Açougue – San Diego 29. Bibi Iscas 9. Açougue – Imada 30. Posto Nave (Rede Janjão) 10. Conveniência O Frangão 31. Posto Marina Limoeiro 11. Fábrica de Gelo (Bado e Margareth) 32. Força Nova – Distrib. Bebidas 12. Gelo Bom 33. Pit Stop Conveniências e bebidas 13. Atacado Fernandes 34. Verdurão (Rua Cabral e D.Aquino) 14. Atacadão (Campo Grande) 35. Feiras Livres 15. Nacional Palace Hotel (outros) 36. Bibi Conveniências 16. Santa Mônica Palace Hotel 37. Loja do Porto Artesanato 17. Águas do Pantanal Palace Hotel 38. Arte Pantaneira Artesanato 18. Churrascaria do Gaúcho – 39. Artesanato boliviano (ambulantes) 19. Restaurante Laço de Ouro 40. Refrigeração Amaral 20. Wiskeryas – Casas de entretenimento/prostituição 41. Vidraçaria Vidromax 21. Cachara´s Restaurante 42. Empresas de rouparia

(lençóis/toalhas/fronhas) Quadro 4. Empresas ligadas aos Barcos-Hotéis da cadeia produtiva do turismo

de pesca em Corumbá (MS). Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Mar-2012.

Fazemos aqui um parêntese sobre os aspectos especiais da loja Arte Pantaneira

Artesanato, localizada no Porto Geral. Ela é formada por uma Associação composta por

18 famílias bolivianas, que há anos vivem em Corumbá e região, e que formalizaram a

empresa em Corumbá através da Prefeitura municipal, que forneceu o Alvará de

funcionamento e da inscrição no Órgão Estadual da Agência Fazendária - AGENFA.

3.1.3. Associação do turismo de pesca e o comércio varejista de Corumbá e

os Impactos na piracema

Como havíamos observado, há uma correlação direta entre a atividade

econômica do turismo e a pesca de Corumbá com o comércio local, e as lojas varejistas

de Arroyo Concepción e Puerto Quijarro. Entendemos que o movimento se deu

induzido pelos empresários de pesca; o Sr. Orozimbo Garcia Decenzo, em 2003,

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confirmou incluir o passeio no pacote comercializado ainda nos anos 1970, quando

passaram a levar os turistas além-fronteira, como mais um atrativo, o que ocorre até os

dias atuais. Inicialmente o destino era Puerto Suarez, na loja de Artesanato La Paz (27

anos), a antiga Casa Mari e o Supermercado Tocalle, que também frequentam os

moradores locais.

Enquanto alguns têm decréscimo em suas atividades, resultando no corte de

algumas despesas, dentre elas, a dispensa de funcionários, como ocorre nas Agências e

Operadoras de Turismo e Transporte Fluvial de Passageiros (barco-hotel), outros

fecham as portas literalmente, retornando às atividades normais após a segunda

quinzena de janeiro. Por isso entendemos a necessidade de ampliação da população

desta pesquisa a algumas empresas que fazem parte da cadeia produtiva da pesca de

Corumbá, para processar com mais amplitude e nos aproximarmos mais da realidade.

Os dados primários inseridos irão completar o ciclo, embora não tenham sido tratados

no projeto inicial.

Partindo da premissa de que há impactos no comércio do país vizinho no

período da piracema (quatro meses), fez-se necessária, para melhor compreensão e

comparação dos fatos, a inclusão das empresas de Corumbá diretamente ligadas aos

barcos-hotéis. Ao todo entrevistamos 17 empreendedores. São empresários que atuam

no mercado local há 83, 42, 31, 26, 25, 23, 21, 20, 19, 12, 11, 10, 9, 5 e 4 anos, e têm

algum reflexo negativo de queda na receita no período da proibição da pesca e parada

total dos barcos-hotéis.

As empresas que sentem maior queda nas vendas são: a Fábrica de gelo, com

100%, Comércio de iscas e artigos para pescaria, 100%, Loja de artesanato e os Postos

de Combustíveis 98%, 95% e 80%, conforme explicitado no quadro a seguir.

Outros empreendimentos que apresentam menores impactos são: os hotéis, bares

e restaurantes, que variam entre 30%, 40%, 45% e até 50%, e Atacado de produtos

alimentícios, com 30%, seguido de supermercados, com 5%.

Já as lojas e oficinas de manutenção e reparos de barcos e motores, artigos de

pesca e estaleiros são exceção. Apresentaram movimento normal e até acréscimo na

prestação de serviços, como exposto no Quadro 5.

O fato é explicado pela época em que as embarcações efetuam manutenção

anual. Dependendo, a despesa varia de R$ 20.000,00 a 80.000,00, por avaria no casco,

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ocasião em que embarcação tem que ir para as docas100, fora as outras partes da

embarcação que necessitam reparo geral antes do início da temporada seguinte e geram

gastos estimados de R$ 150.000,00 até R$ 500.000,00 caso o problema apresente maior

gravidade, conforme depoimento de uma empresária no início do capítulo.

Empresa Nº func. Ativo

Funcionário Dispensado na piracema

Principais Clientes

Queda nas vendas - %

Pretende investir no estabelecimento

1. 6 0 (férias) Barcos-hotéis de turismo; navios estrangeiros, mineração.

80%

Posto Comb. Nave Sim Ampliar/construir

Marina

2. 6 0 (férias) Barcos-hotéis de turismo

95% Posto Combustível Marina Limoeiro - Não

3. 5 0 - Contrata + 8 quando têm construção

Marinha, Exército, Barcos-hotéis de turismo

Não tem acréscimo Serviços

Estaleiro Tamengo Não

4. 4 0 (férias) Hidronave – EBX, Exército, Barcaça/ barcos-hotéis de turismo

Normal Estaleiro J.D. Brito Leal-ME

Não

5. 10 Mantém Marinha, Exército, Barcos-hotéis de turismo, particulares.

Estável o ano todo

Ednáutica Consolini –ME - Não

6. 6 4 Barcos-Hotéis de turismo

100% Fábrica de Gelo Margareth - Sim. Prédio próprio e

maquinários 7. 10 8 Barcos-Hotéis de

turismo e particulares (varejo)

100% Esquema Isca viva e Pesca-ME

Não informou 8. 4 4 Barcos-Hotéis de

turismo/ Comerciantes de Campo Grande/ Coxim/Miranda/ Aquidauana / Anastácio/Ayolas Argentina

100% Fecha a empresa

Bibi Isca viva – Sim. Adquirir mais

duas lanchas

9. 4 4 (dispensa e férias)

Turistas de pesca, Hotéis e Pousadas pesqueiras

100% Fecha a empresa

Bibi Iscas e Conveniências Não informou

10. 30 0 (escala de férias)

Turistas de pesca e grupos da melhor idade, Estudantes.

40% Hotel Santa Mônica Sim- Ampliar +

12 apartamentos 11. 53 0 (escala

de férias) Coorporativos, Turistas de pesca e Melhor Idade.

40% Hotel Nacional Sim

12. 30 0 Supermercados, Restaurantes, Barcos-Hotéis de Turismo, Hotéis de Corumbá, Ladário/ Bolívia.

30% Atacado Fernandes -Sim. Ampliar p/ atender frutas/frios verduras/ e admitir mais funcionários

100 Retirada do barco-hotel do rio para reparos nas docas.

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13. 412 direto + 1600 indiretos

0 (escala de férias)

População geral/ Corumbá-Ladário/P.Quijarro e P. Suarez Fazendas/Empresa Coorporativa/ Órgãos Públicos/ Barcos-Hotéis de Turismo

5% Supermercado Panoff - Sim

14. 6 0 (escala de férias)

Turistas de Pesca e Barcos-Hotéis de turismo

45% Cia Náutica - Sim. Vestuário especial/ p/pesca, e produtos esportivos.

15. 3 a 6 4 População local turistas de pesca Sacoleiros do interior

50% Bar e Rest. Sandrinha -Sim. Atende sacoleiros. Atua na diversificação de ofertas Revellión – Navio Kalypso

16. 1 0 Grupos de Turistas de pesca e Melhor Idade

98% Loja do Porto – Artesanatos - Sim

17. 3 0 (escala de férias)

População local/ Grupos turistas de pesca/visitantes

40% Restaurante Laço de Ouro - Sim

Quadro 5. Empresas da cadeia produtiva da pesca pesquisadas em Corumbá em vários segmentos e Impactos na piracema. Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Jul-2012.

Nesta análise, observamos que das 17 empresas pesquisadas, apenas 25%

declararam não pretender investir na sua atividade, mesmo com quedas altas no período

da proibição da pesca. Por sua vez, 75% apontaram maiores investimentos, ampliação,

compra de equipamentos, diversificação dos produtos ofertados, para aquecer o

mercado interno, o que nos leva a crer que o setor apresenta otimismo por parte dos

empresários e um possível arrefecimento na próxima temporada (2013).

Observamos, nos resultados obtidos, que as empresas que dispensam seus

funcionários no final da temporada somaram um quantitativo de 30%. As que

declararam possuir quedas altas nas vendas somam 35% do total, sendo que 42%

variam com queda de 50%. Houve ainda outras que apresentaram normalidade nas

vendas, com pequena variação na marca de 12% de queda na receita, e 6% indicaram

acréscimo de serviços. O restante não informou.

O resultado a que chegamos, até o momento, é que as empresas dependentes

direta e indiretamente da cadeia produtiva da pesca têm um período de queda – redução

dos lucros – e procuram alternativas para manter o equilíbrio nas despesas e receitas.

O mesmo não ocorre nos empreendimentos comerciais da Feira BrasBol de

Corumbá (MS) e do Districto de Arroyo Concepción, que possuem um público mais

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trivial e constante, com assiduidade nas compras. Eles sofrem impactos menores, graças

ao montante de comércio no local e à procura por produtos importados e mais baratos,

apesar de, neste momento o dólar estar em alta, U$ 2.15 e a moeda brasileira em baixa.

3.1.4. Início da BRASBOL - Comércio brasileiro-boliviano em Corumbá

(MS)

Com as oportunidades que surgiram com o turismo de pesca, também

começaram a chegar imigrantes bolivianos no final nos anos 1980 e início de 1990 e a

frequentar Corumbá, como ambulantes, causando desagrado aos comerciantes da

localidade. Alojavam-se nas calçadas da área central, em frente às lojas. Isso fez com

que houvesse a solicitação de providências junto à Associação Comercial para a retirada

dos ambulantes. Fato é que, ao longo dos últimos 30 anos até os dias atuais, alguns

indivíduos continuam a comercializar produtos artesanais e chineses (como celulares).

As constantes ocorrências propiciaram o estabelecimento de uma área na Rua

Edu Rocha, próxima do Aeroporto, para instalar e regularizar a “Associação dos

Pequenos Comerciantes Bras (Brasil) e Bol (Bolívia) - Feira Internacional BRASBOL”.

A atividade principal: comércio varejista, confecções, calçados, armarinhos em geral,

com início em 08/4/95.

O registro consta no Alvará de Licença de localização e funcionamento expedido

pela Prefeitura Municipal de Corumbá e de Inscrição Estadual e CNPJ cedido pelo

Órgão responsável. Atualmente a feira abriga, além de brasileiros e bolivianos,

palestinos, peruanos, etc., e também se tornou um atrativo para os locais e turistas na

cidade, principalmente quando há o fechamento da fronteira. Em depoimento, o Sr.

Jimmy Antezana Ayala, ex-presidente da Associação, comentou:

“Na década de 1990 chegaram a ser mais de 300 barracas em estilo camelódromo. De acordo com a constante investida da Receita Federal recolhendo as mercadorias (em batidas), fez com que muitos perdessem tudo! Por isso retornaram para o território boliviano na fronteira, onde se deu início à Feirinha da Fronteira denominada pelos brasileiros de Shopping-Chão”.

A Brasbol em Corumbá atualmente possui cerca de 170 barracas, ainda com

estrutura de madeira e com energia elétrica precária, que é compartilhada (o padrão de

energia) entre três a seis comerciantes. Possui piso de cimento em desalinho e vários

obstáculos no percurso entre as barracas, e um telhado de amianto (Eternit) que os

comerciantes pagaram para construir.

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Possui uma característica diferenciada, sendo montada toda manhã, de segunda-

feira a sábado. As mercadorias são expostas pela manhã, encaixotadas novamente e

retiradas à noite, diariamente. Figuras 76, 77, 78 e 79.

Figuras 76 e 77. Feira BrasBol – (Brasil-Bolívia) em Corumbá

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá-MS. Out.-2012.

Figuras 78 e 79. Feira BrasBol – (Brasil-Bolívia) em Corumbá Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá-MS. Out.-2012.

Encontramos também comerciantes que moram na cidade, possuem filhos

brasileiros e outros que afirmaram ter mais de 20 anos de atividade no local.

É a única feira, segundo o Sr. Jimmy Antezana Ayala, que paga tributos ao

estado e ao município, e se localiza a 4,4km da fronteira, e atende a toda a população

local, turistas, principalmente quando a fronteira é fechada, por reivindicações políticas

e sociais. Os comerciantes reclamam pela falta de estrutura de um local fechado e

segurança para suas mercadorias, além das dificuldades no período chuvoso.

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3.2. O surgimento do complexo de compras em Puerto Quijarro e Arroyo

Concepción.

Diferentemente do espaço localizado a cerca de 100 metros da divisa

internacional na fronteira Brasil-Bolívia (MS), o complexo de compras foi

territorializado e transformado por migrantes vindos de La Paz, Oruro, Potosi, Sucre,

Cochabamba, da parte ocidental, e ainda de Santa Cruz de La Sierra, Beni, Pando, da

parte oriental boliviana, conforme informações adquiridas através da Asociación de

Comerciantes 12 de Octubre, estabelecida em 1990 em Arroyo Concepción. Também

encontramos brasileiros e libaneses estabelecidos nesse Complexo de Compras - a

Feirinha da Fronteira, como denominam os corumbaenses e brasileiros visitantes.

Essa movimentação oportunizou que empresários bolivianos e brasileiros, em

consórcio, construíssem o Shopping Comercial de Puerto Aguirre101, com estrutura de

acabamento fino e lojas climatizadas, como pode se pode observar nas Figuras 80 e 81.

a) 70 modulos comerciales con 48 m2; b) 2 galpones comerciales, cada uno con más de 500 m2 en áreas de exposición; c) Parqueo para vehículos particulares, públicos y Buses de Turismo e d) Plaza de Alimentación. De esta forma se constituye el Shopping Comercial en un atractivo importante para el comercio turistico del Pantanal Boliviano - Brasilero102.

Tudo foi preparado para atender a um público exigente, com início em 1991.

Aos poucos outras foram sendo construídas e as lojas ocupadas em 1997, dentre elas a

Miami House (17 anos), Shopping China (15 anos), Artesania La Paz (12 anos),

Perfumaria Prestígio (18 anos), comércio de materiais de pesca em geral Capitan

Bueno (18 anos) lojas de departamentos que, juntamente com outras, comercializam

bebidas, eletro-eletrônicos, vestuários e o Lange Coffee Restaurant (10 anos),

Euroshopping (4 anos), todas frequentadas por turistas brasileiros, principalmente os de

pesca de barco-hotel, passeio já incluso no pacote com compras na Bolívia.

Com o Decreto Supremo nº 470 do Presidente da Bolívia, Evo Morales, foi

retirada a categoria de Zona Franca. As imposições entraram em vigor no dia 08 de abril

de 2010, passando apenas a funcionar como Centro Comercial Aguirre, restringindo a

comercialização de produtos em área livre de impostos como cosméticos, cremes,

101 El 21 de Febrero de 1991, el Gobierno de Bolivia otorga a Central Aguirre la concesión por cuarenta años de Zona Franca Comercial, Industrial y Terminal de Depósito y desde ese entonces ZONA FRANCA PUERTO AGUIRRE, integra su estructura de logística de transporte intermodal y los beneficios de exención arancelaria y tributaria otorgados por Ley a los usuarios de la zona franca. 102 Disponível em: <http://www.puertoaguirre.com/shopping.php.> Acesso em 24-Jul-2012.

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maquiagens, xampus, condicionadores e tinturas de cabelos, sabonetes líquido, gêneros

alimentícios, bebidas alcoólicas e perfumaria em geral.

Gabriela Winkler103 confirma a reação dos comerciantes “[...] liquidando os

estoques, pois todas as mercadorias seriam nacionalizadas, pagando as devidas taxas de

impostos a partir de 08 de Agosto de 2010”.

Figuras 80 e 81. Shopping de Puerto Aguirre após o final de Zona Franca Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Dez-2011.

Os descontos chegaram até a 50%. Foi uma festa para turistas brasileiros e

locais, que aproveitaram a oportunidade para adquirir produtos importados a preços

reduzidos. A partir de 2011, o comércio do Centro Comercial Aguirre apresentou

aquecimento nas vendas devido à proximidade das festas natalinas, com ampliação de

lojas e estoques. É frequentado por poucos turistas, visitantes e moradores locais, que

buscam produtos importados, valendo-se da diferença cambial e qualidade das ofertas

das mercadorias.

A loja de departamentos Miami House, uma das maiores e mais frequentada

mudou de endereço, construiu prédio próprio na Rua Salazar, que se tornou parada

obrigatória de quem vai em direção ao Shopping de Puerto Aguirre, mais próximo à

fronteira e à Feirinha. Anexo há banheiros, um pequeno restaurante e lanchonete

climatizados e estacionamento para o conforto dos clientes, conforme Figura 82.

103 Disponível em: http://www.diarionline.com.br/?s=noticia&id=16615. Acesso em 24-Jul-2012.

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Figura 82. Loja de departamentos. Puerto Quijarro. Bolívia

Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Dez-2012.

Apesar do cenário desolador do passado, podemos dizer que o período crítico

ficou para trás e o mercado se aquece lentamente. No Centro Comercial do Shopping

Aguirre, empresários reagem, insistindo na atividade econômica do comércio de

importados, principal atração dos turistas e locais que reduzem sua frequência. No

entanto, não possui estratégia que desfaça o quadro que se apresenta todos os anos no

período da proibição da pesca, limitando e muito o número da vinda de turistas e

moradores locais, o que causa reflexos nas decisões de compra.

3.2.1. Os impactos da piracema na economia do comércio local-regional

Com o objetivo de melhor compreensão e clareza na correlação entre os

envolvidos, responsáveis pelos efeitos multiplicadores da cadeia produtiva do turismo

de pesca em barcos-hotéis, buscamos, através de fontes primárias, respostas colhidas

com a aplicação de questionários. Após a tabulação e a análise dos dados, os resultados

disponibilizados poderão ser utilizados para propósitos e interesses empresariais e para

a população local-regional (individuais), e ainda servir de base para subsidiar a tomada

de decisões na gestão estratégica dos órgãos e instituições públicas e privadas, na

elaboração e/ou reformulação de políticas públicas específicas para a Gestão do turismo

e da pesca amadora - esportiva, importante para a economia local e a região da fronteira

Brasil/Bolívia (MS). Os resultados possibilitam, ainda, esclarecer quais impactos

propagam na cadeia produtiva local-regional e que reverberam na economia das cidades

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da fronteira Brasil-Bolívia (MS): Corumbá e Districtos de Arroyo Concepción e Puerto

Quijarro, com foco especial no período da piracema.

Somando nosso conhecimento empírico e a oportunidade de adentrar em

pesquisa de campo na busca de dados primários, adotamos procedimento teórico

metodológico, optando pela aplicação de questionários do tipo survey, com perguntas

abertas e fechadas a turistas de pesca; proprietários e/ou gerentes de agências e

operadoras de barco-hotel; lojistas e comerciantes (atacado e varejo) da Bolívia. No

decorrer dos trabalhos, detectamos a necessidade de incluir os comércios de Corumbá

ligados diretamente aos barcos-hotéis. A população pesquisada em 2011 e 2012, durante

a temporada de pesca, teve a participação de: a) 12 Agências e Operadoras locais de

barcos-hotéis; b) 15 Lojas de comércio varejista e atacadista de Arroyo Concepción e

Puerto Quijarro; c) 17 empresas do comércio local, prestadoras de serviços e/ou

compra/venda de produtos diretamente a barcos-hotéis; d) 382 turistas de pesca de

barcos-hotéis (homens e mulheres) na chegada da viagem ao Pantanal sul-mato-

grossense, utilizando o sistema de Bola de Neve, ou seja, por indicação de outra

empresa ou pessoa.

Os questionários foram aplicados pessoalmente, a fim de possibilitar análise e

avaliação mais concreta, dentro do círculo pré-definido em que se estima ser atingido

pelo efeito multiplicador direto/indireto induzido dessa atividade econômica, principal

foco do nosso trabalho. Foram aplicados questionários aos turistas no período da

temporada, do mês de maio a outubro de 2011, e de Julho a Setembro de 2012, portanto

durante nove meses, especialmente optando pelo período de alta temporada, em sua

maioria. Nas Agências e Operadoras de barco-hotel, os questionários, pré-agendados,

foram aplicados nos meses de junho, julho e agosto. Nas lojas comerciais de ambos os

lados da fronteira, demos preferência pelo período da piracema: novembro e dezembro

de 2011, janeiro e fevereiro de 2012, portanto, mais quatro meses.

3.2.2. A queda das receitas nas empresas do Shopping Puerto Aguirre, Miami

House e Arroyo Concepción (BO)

Em pesquisa de campo, foram aplicados questionários a 15 empreendedores,

sendo 40% nas lojas do Shopping Comercial Aguirre, 7% na Miami House, que fica

entre os dois pontos, e 53% lojistas de Arroyo Concepción, com autorização para

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divulgação pelos seus proprietários e/ou gerentes através do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, assinado conforme determinação do Comitê de Ética.

Apesar da redução dos funcionários nas lojas após o decreto presidencial, com a

queda no comércio da ex-Zona Franca, atualmente têm sido mantidos os números e até

há contratações em períodos específicos, como na época do dia das mães, das crianças,

dos pais e das festas natalinas.

As lojas pesquisadas não apresentaram dispensas. Aproveitam para dar férias por

escala, sendo que algumas contratam temporários em dezembro para reforçar nas

vendas de fim de ano. Com exceção da loja que é especializada no comércio de artigos

de pesca e abre normalmente todos os dias, que apresenta queda de 100% nas vendas no

período da piracema.

Os resultados são equivalentes aos das perfumarias, que apresentam queda de

80% na receita e o restaurante, de 70%. Há elevação, ainda que timidamente, na semana

que antecede as festas natalinas, em todas as lojas do Centro Comercial Aguirre. Ainda

assim, na entrevista, uma empresária se referiu desta maneira ao período da proibição da

pesca: “Este é o pior período pra nós aqui. O Shopping fica vazio e a gente fica agonizando esses três meses, só tem um pouco de movimento na semana do natal, depois, nada mais, é muito triste”. “Apesar do prejuízo, não dispenso funcionários, por ser mão de obra que trabalha há vários anos comigo e fui eu que treinei e dificilmente encontra na região”.

Outros empresários também expressaram desolamento:

“O que a gente vai fazer, tem que amargar esse período sem nenhum lucro e com despesas fixas que continuam”. “A gente reduz os funcionários, dá férias, com isso contrabalança as despesas”. “Ainda tem a comissão dos guias que trazem turistas para comprar”.

As lojas do interior da Galeria em Arroyo Concepción e as inúmeras que

surgiram em todo seu entorno figuram um aspecto de produção e uso territorial

organizado. Ao conferir há quanto tempo se estabeleceram na fronteira, os números

foram: 29, 23, 20, 19, 17, 16, 11 e 8 anos.

As lojas do Centro Comercial do Shopping Aguirre atuam desde 1994, há 18,

17, 15, 12, 10 e 4 anos. Todas têm em comum a geração de emprego e renda para

brasileiros e bolivianos, compartilham como principais clientes turistas brasileiros,

grupos de pescadores, da melhor idade, de estudantes, moradores locais, com o mesmo

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objetivo, compras, com mais frequência em Arroyo Concepción, Feirinha da Fronteira

que, nos últimos três a quatro anos, tem sido alvo dos sacoleiros.

Dentre a variedade de produtos, os sacoleiros compram basicamente vestuários,

eletroeletrônicos, bebidas, perfumaria e movimentam o comércio da fronteira

diariamente. Observa-se frequência maior nos finais de semana, a partir de quinta-feira,

durante a temporada de pesca, e nos dias que antecedem as datas comemorativas como

o dia das mães, dos namorados, das crianças e Natal.

Dos empreendimentos pesquisados, os sete que representam maior queda na

receita são do Shopping de Compras Aguirre, além de uma loja que se estabeleceu na

Avenida Salazar, a Miami House. Trata-se de uma loja de departamentos que também

declarou acentuar pequena queda de 30% a 40% nas vendas. Entretanto, contrata

funcionários temporários na semana que antecede as festas natalinas.

O restante, oito deles, estão situados na Feirinha da Fronteira - Shopping de

Compras Comercial 12 de Octubre de Arroyo Concepción. Apresentam quedas menores

nas vendas porque comercializam produtos de interesse geral da população local,

principalmente com destaque aos sacoleiros. Percebe-se a presença de vários veículos

particulares, vans, micro-ônibus e ônibus fretados, que fazem o transporte até a fronteira

trazendo esses revendedores para compras por atacado. São de várias partes do interior

do estado e vêm repetidas vezes, não somente de outubro a dezembro, mas durante o

ano todo.

Os dados primários apurados demonstram que a queda das vendas em Arroyo

Concepción é menor do que nas lojas da ex-Zona Franca.

A análise apontou variação na queda das vendas, desde 20%, 30%, 40%, em sua

maioria, com outras acima de 50%, chegando a apresentar quadros de 70%, 80% e até

100%, conforme o Quadro 6.

Há ainda outras características observadas durante pesquisa de campo, que

merecem destaque e que a maioria das empresas pesquisadas tem em comum, os

clientes. Na maioria são pescadores dos barcos-hotéis e de outros empreendimentos,

grupos de turistas da melhor idade, estudantes, visitantes que vêm a negócios somados

aos moradores locais, brasileiros, em sua maioria o ano todo.

Elencamos também o número de funcionários que cada empresa possui,

destacando a porcentagem dos dispensados na piracema. Entretanto não fecham o

estabelecimento, mantendo expediente normal, visto que possuem outros produtos de

interesse dos turistas, motivo pelo qual se elaborou o Quadro 6 a seguir, retratando

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outras informações de grande importância, que refletem com impactos nas receitas das

empresas, na piracema.

O que mais nos surpreendeu em relação ao nível de queda na receita no período

da piracema foi que, das 15 lojas pesquisadas além-fronteira, duas declararam não ter

intenção de investir no seu comércio, e três afirmaram ampliar e até mesmo obter outra

loja no mesmo local (na Feirinha). O restante, dez lojas, pretende investir e diversificar

o estoque de suas mercadorias.

Empresas Pesquisadas

Nº de funcionários

Ativos

Funcionários Dispensados

Principais Clientes

Queda nas vendas-%

Pretende investir no comércio?

1 25 0 (férias) 60% turistas

40% locais 40% Sim - ampliar

a loja

2. 40 0 (férias) 60% Pescadores

40% locais 40% Sim

3. 1 0 (férias) 60% Pescadores

40% locais 50% Não

4. 15 (contrata temporário Dezembro)

60% turistas

40% locais 40% Sim

5.* 6 0 (férias) 80% turistas

20% locais 70% Sim

6.* 4 0 (férias) 80% turistas 20% locais 80% Sim

7. 3 0 (férias) 100% turistas 100% Sim

8.* 4 0 (férias) 75% turistas

25% locais 50% Sim

9. 5 0 (férias) 30% turistas

70% locais 30% Sim

10.* 5 (contrata temporário em dezembro)

40% turistas

60% locais 40%

Sim

Outra loja

11.* 5 0 70% turistas

30% locais 40% Não

12. 4 0 70% turistas

30% locais 40% Sim

13.* 4 0 70% turistas

30% locais Normal Sim. Ampliar

14. 1 0 60% turistas

40% locais 40% Sim. Outra loja

15. 18 (contrata 2/3 dezembro)

70% turistas

30% locais 20% Sim

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Quadro 6. Empresas pesquisadas no - Shopping de Puerto Aguirre; Miami House; Shopping de Compras Comercial 12 de Outubro. Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Out-2012.

Os dados revelam que o efeito da piracema não é absolutamente devastador; há

estratégias por parte dos comerciantes que mantêm, inclusive, o desejo de expandir o

negócio.

Portanto, as adaptações, a despeito das dificuldades aqui relatadas, existem.

Tanto que, diferentemente dos barcos-hotéis, alguns desses estabelecimentos não

dispensam seus funcionários, dando férias em sistema de rodízio no período da

piracema; outros até efetuam contratações nas vésperas do natal.

Quanto aos gastos fixos mensais, que permanecem no período de piracema,

obtivemos informações dos que se declararam como lojistas do Centro Comercial

Aguirre e de Arroyo Concepción, expostas no Quadro 7.

No entanto, a realidade mostra que, de qualquer maneira, mesmo o salário

mínimo sendo de Bs. 800,00 há prejuízo no período de defeso, com a queda da receita,

com menor intensidade de impacto nas empresas que contêm produtos diversificados,

como normalmente ocorre nas lojas de Arroyo Concepción.

Gasto fixo mensal nas lojas de Puerto Aguirre Feirinha da Fronteira

*5. Gasto fixo mensal

- Bs. 4.000,00

*6. Gasto fixo mensal

– Bs. 28.000,00 (2 lojas)

*8. Gasto fixo mensal

– Bs. 1.500,00

*10.Gasto fixo mensal- Bs.

5.000,00

*11. Gasto fixo mensal

- Bs. 2.500,00

*12. Gasto fixo mensal

- Bs. 4.000,00

Quadro 7. Gastos fixos mensais no comércio boliviano durante a piracema.

Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Ago-2012.

A Feirinha de Arroyo leva vantagem pela quantidade de estabelecimentos e

ofertas. Por isso atraiu, nos últimos dois ou três anos, os sacoleiros. Não obstante,

deve-se levar em consideração a cota permitida, atualmente de US$ 300,00 por

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pessoa, sendo a fiscalização da Receita Federal na fronteira brasileira intensa e

criteriosa, conforme demonstrado na Figura 83.

Figura 83. Fiscalização de mercadorias na fronteira do Brasil Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Mai-2012.

Faz parte da cadeia produtiva da pesca, e não poderíamos deixar de citar nesta

exposição, o Artesanato boliviano e mercadorias diversas (produtos chineses), para

muitos o único meio de subsistência, oferecidas por ambulantes diretamente aos turistas,

que se percebe facilmente por toda a cidade, principalmente em lugares como hotéis e

restaurantes.

Os vendedores permanecem sempre alerta à chegada de ônibus turísticos que

trazem grupos de famílias na chegada e/ou saída dos barcos-hotéis no Porto Geral e à

porta dos hotéis da área central da cidade, onde é comum presenciar a exposição de seus

produtos (Figuras 84 e 85).

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Figuras 84 e 85. Artesanato comercializado por ambulantes bolivianos Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de campo. Corumbá (MS). Ago-2012.

3.2.3. Coletores de iscas vivas do Pantanal sul-mato-grossense

A atividade de pesca amadora-recreativa-esportiva é um desafio da cadeia

produtiva do turismo que necessita maior atenção e planejamento de ações estratégicas

para captar novos mercados e garantir sua manutenção e diversificação. Outras

características a se observar são o uso consciente dos recursos naturais e o

favorecimento da geração de emprego e renda, para os moradores ribeirinhos e as

futuras gerações, beneficiando-se das atividades que se complementam através do efeito

multiplicador na região do Pantanal sul-mato-grossense.

O setor movimenta uma atividade que buscamos pesquisar em seus aspectos

global e local, observando investimentos e benefícios gerados nos Estados Unidos,

referência econômica e social da pesca esportiva-recreativa para países como o Brasil e

o Canadá por exemplo. Em sua maioria, os adeptos desse esporte e lazer norte-

americanos pertencem aos dois gêneros, masculino e feminino, possuem sua própria

embarcação e participam de torneios e campeonatos em variadas categorias.

Essa prática difere da existente no Brasil, onde poucos possuem barcos próprios

com motor e autorização para pilotar, e dão preferência ao sistema de pesca em barco-

hotel, principalmente na região do Pantanal brasileiro de Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul, facilitando a cobertura de grandes distâncias, devido à sua grande extensão

hidrográfica que favorece, além da pesca amadora-recreativa, a aquicultura.

A pesca praticada especialmente em Corumbá atrai, anualmente, milhares de

turistas para a região, o que necessita de uma organização, mesmo que informal. No

início, a atividade gerou o efeito migratório dos pescadores profissionais e condutores

de embarcações fluviais para o turismo de pesca nos anos 1980, com a consolidação

dessa modalidade de esporte.

Isso causou o efeito multiplicador na localidade-região, onde surgiu outra

atividade econômica, até então inexistente, os coletores de iscas ou isqueiros.

Apesar de não ser nosso principal foco de pesquisa, é importante ressaltar que

essa categoria soma aproximadamente 2.500 pessoas trabalhando em toda região do

Pantanal de Mato Grosso do Sul104, com acompanhamento dos técnicos da ONG

104 No estado de Mato Grosso é proibida a coleta de iscas vivas.

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Ecologia e Ação – ECOA como o Sr. André Luiz Siqueira105, Diretor de Políticas

Públicas. Sua vinda a Corumbá (MS) se deu a convite do Ministério Público Federal

que, em parceria com a EMBRAPA Pantanal e a Faculdade Salesiana Santa Teresa –

FSST, organizou o I Fórum “Povos Tradicionais do Pantanal”.

O Fórum teve duração de três dias e incluiu a discussão com os isqueiros e

pescadores profissionais ribeirinhos, que vieram de várias regiões para discutir a

atividade de coleta de iscas vivas na região pantaneira, sobre a elevação do valor (isca)

por unidade, gradativamente. Consideraram-se aspectos fundamentais do tema, como

manutenção de barco e motor, alimentação, frete fluvial, taxa de impostos sobre guia do

produtor, taxa de Registro Geral de Pesca - RGP, e equipamento para manejo e

manutenção das iscas capturadas. Estiveram presentes, também, Joice Carla Santana -

presidente da Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo – ACERT,

empresários que atuam no turismo de pesca de barco-hotel e os que têm empresas que

comercializam o produto, fundamental para a sobrevivência da atividade econômica da

pesca em todas as modalidades e das empresas que orbitam à sua volta.

Na oportunidade, o Sr. André informou-nos sobre as dificuldades que se

enfrentam nessa atividade, responsável pelo principal insumo da pesca amadora-

esportiva-recreativa. No caso dos isqueiros, há ainda a necessidade de utilização de

Equipamento de Proteção Individual – EPI, (macacões, tela e tarrafa para iscas), como

na Figura 86 (ECOA, 2011), o que nem todos possuem, pois a distribuição depende de

patrocinadores. Por isso há muitos ainda trabalhando sem a proteção recomendada.

Além de o I Fórum das Populações Tradicionais do Pantanal sul-mato-grossense

surtir efeito quanto à determinação da nova medida autorizada para a captura da tuvira

(17 cm) e do caranguejo (3cm), ficou também determinada a obrigatoriedade do uso do

Equipamento de Proteção Individual – EPI, que inclui macacões especiais para proteção

do indivíduo. Organização que permite aos isqueiros o acesso à Declaração Geral do

Pescado ou iscas, junto à Polícia Militar Ambiental – PMA.

A atividade extrativista de iscas vivas é de grande importância econômica e

social. É a principal e, muitas vezes, a única fonte de renda das comunidades ribeirinhas

da região do Pantanal sul-mato-grossense (PEREIRA, 2001; MORAES & ESPINOSA,

2001; ROTA, 2004; CATELLA et al., 2008).

105 André Luiz Siqueira, durante o GT de preço justo da isca, no 1º Fórum "Povos Tradicionais do Pantanal”, realizado em Corumbá (MS). MPF/FSST. Corumbá (MS). Out-2011.

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Figura 86. Isqueiras em atividade para extrair iscas vivas, utilizando os EPIs106. Fonte: Jean Fernandes. ECOA. Porto da Manga. Corumbá (MS). 2010.

O pesquisador da EMBRAPA PANTANAL, Dr. Agostinho Carlos Catella,

apresentou dados preliminares sobre o recente Censo Estrutural da Pesca em

andamento, afirmando, na ocasião, que apenas 49% dos pescadores profissionais da

Região do Pantanal sul-mato-grossense efetuavam o registro. O restante não declarou,

comercializando diretamente na cidade, bares, lanchonetes, restaurantes, etc.

Quanto a essa problemática, sugere-se a elaboração de políticas públicas específicas

para suprir as necessidades de conservação ambiental e da atividade do turismo de pesca,

como também para garantir geração de emprego e renda e meios de sobrevivência das

comunidades envolvidas (pescador artesanal – pescador profissional – guias de pesca –

isqueiros), que têm nesse trabalho a sua principal ou única fonte de renda, além de outros

que dependem diretamente das empresas de turismo de ambos os lados da fronteira.

Esse ciclo, em parte, é interrompido temporariamente no período de proibição da

pesca, piracema, tida como baixa temporada, apesar de ser época de férias de final de

ano. Corumbá, particularmente, deixa de receber um fluxo de 60% de um total

aproximado de 30.000 turistas, de acordo com estimativa da Fundação de Cultura e

Turismo do Pantanal de Corumbá. Porém, não existem dados empíricos

comprobatórios.

106 EPI. Equipamento de Proteção Individual.

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3.3. Preocupação com o meio ambiente e resultados aferidos na pesquisa de

campo nas entrevistas com turistas de barco-hotel.

3.3.1. Cuidados com o descarte dos resíduos gerados na embarcação

Observamos um cuidado em muitos barcos-hotéis com aspectos voltados à

desinfecção e limpeza das caixas sépticas e sanitárias móveis (fossa séptica) dos barcos-

hotéis107. A maioria utiliza o produto denominado Desigran, específico limpador e

desodorizante da empresa Multiquímica, que traz ficha técnica com instruções de uso.

Tal produto possui registro no Ministério da Saúde. Seu princípio ativo é à base de

Ácido Dodecilbenzeno Sulfônico 90%, conforme demonstrado na Figura 87.

A limpeza consiste na colocação do produto misturado e batido diretamente

dentro da caixa séptica. Após o processo de decantação, é descartado no rio com a

embarcação em movimento, conforme informações adquiridas da empresa de turismo e

passeios L.M.C. Martins - Navio Kalypso. Não há indicativo ou medição de impacto no

ambiente do uso desse produto nem da forma de descarte no rio após decantação.

Cremos que demanda estudos específicos a esse respeito, por técnicos habilitados da

EMBRAPA Pantanal, para monitoramento e análise da água.

Figura 87. Produto utilizado para decantar a fossa séptica Fonte: Fátima Andrade. Viagem exploratória. Jun-2011.

O processo de higienização e limpeza da embarcação e dos camarotes é diário,

bem como a coleta seletiva do lixo, efetuada enquanto os turistas estão pescando. As

latas e garrafas pet (de plástico) são acondicionadas separadamente e doadas aos guias

107 Nem todas as embarcações possuem Fossa céptica nos barcos-hotéis.

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de pesca da embarcação, que as comercializam, com o objetivo de angariar fundos para

a festa de confraternização no final da temporada108. Os outros resíduos são ensacados e

transportados de volta para a cidade e disponibilizados nos containers de coleta de

resíduos municipal, ou descartados em local apropriado, com orientação do órgão

ambiental, conforme demonstrado nas Figuras 88 e 89.

Figuras 88 e 89. Lixo descartado na chegada das viagens dos barcos-hotéis

Fátima de Andrade. Pesquisa de campo. Porto Geral de Corumbá (MS). Ago-2011.

3.3.2. Despesas fixas das empresas de barco-hotel durante a proibição da pesca e a crise no setor

As empresas possuem gastos fixos mensais, que ampliam com a paralisação da

pesca. Aferimos isso junto aos proprietários e gerentes e, após analisar os dados,

verificamos que os valores diferem, dependendo do porte da empresa. No entanto existe

um patamar fixado, que descrevemos a seguir.

Nas embarcações de pequeno e médio porte, os gastos fixos mensais variam

entre R$ 12.000,00, R$ 18.000,00 e R$ 30.000,00. Já as de grande porte gastam

aproximadamente mais R$ 25.000,00 na manutenção da embarcação ao mês e ainda em

despesas fixas em torno de R$ 20.000,00, que correspondem ao pagamento de salários,

tributos e despesas administrativas (contador, despachante).

Ainda há manutenção anual das embarcações, que chega a R$ 100.000,00 e

atingindo valores ainda mais elevados, dependendo do quadro de avaria apresentado.

São despesas que, independentemente da movimentação da pesca recreativa, esportiva,

(amadora) têm que ser enfrentadas.

108 A confraternização é feita com uma partida de futebol entre os piloteiros (guias), regada a churrasco, cerveja, refrigerantes, água, etc. Ocorre todo o final de temporada, no bairro da Cervejaria.

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130

Registramos, a esse respeito, alguns depoimentos de empresários de barcos-

hotéis que contaram, durante as entrevistas, detalhes que vieram a corroborar com a

análise acima. Mas não se resume apenas a isso, em conformidade com o depoimento

de uma proprietária de Barco-Hotel, cujo anonimato mantemos. Ela declarou que: “[...] são efetuados os pagamentos dos salários, aluguéis, encargos tributários, incluídos no Simples Nacional. Fomentamos as compras de produtos no comércio local e no país vizinho para atender ao turista, e ainda há a manutenção na embarcação, que gira em torno de R$ 70.000,00 para qualquer tipo de avaria, sem contar a manutenção anual, efetuada quando a pesca está proibida. Dependendo do porte do barco-hotel, os pequenos ajustes como pintura e substituição de material de uso comum, como louças, rouparia, por exemplo, há elevação do gasto em até R$ 150.000,00 aproximadamente. Caso não haja nenhuma substituição mais séria como motor propulsor, gerador, etc. Nesses casos o valor é bem maior, pode até chegar a R$ 500.000,00. Por isso é comum começar a temporada no vermelho. [...] Todos têm que fazer vistoria e manutenção anualmente nas embarcações”.

Essa manutenção é exigência da Capitania Fluvial do Pantanal, observada em

todas as embarcações e equipamentos obrigatórios e em condições de uso utilizados na

atividade praticada em barcos-hotéis de turismo e de Esporte e Recreio109. Esta

modalidade de embarcação, Esporte e Recreio, pertence à particulares, portanto, não

possui autorização para a comercialização de pacotes de pesca conforme as Normas da

Autoridade Marítima - NORMAM – 02 DPC, Capítulo 2: é obrigatória, da inscrição

e/ou registro das embarcações de todos os tipos e tamanhos, pelos proprietários e

armadores em geral, de embarcações nacionais ou estrangeiras sujeitas à inscrição,

conforme o código: 0307 - BARCOS DE PESCA: Embarcação de Pesca - é toda embarcação de carga destinada exclusiva e permanentemente à captura dos seres vivos que tenham nas águas seu meio natural ou mais frequente de vida. Para as embarcações destinadas à pesca deve-se observar que a concessão da licença de construção não exime o proprietário da necessidade de obtenção das licenças. - 3-9 - NORMAM-02/DPC - Mod. 12 - que, porventura, sejam exigidas pelo Órgão Federal controlador da atividade de pesca, antes da entrada em operação da mesma. Transporte coletivo aquaviário de passageiros: É todo aquele que tenha sido autorizado, concedido ou permitido, por autoridade competente, para a prestação de serviço de transporte de passageiros deverão atender os requisitos de acessibilidade previstos na ABNT NBR 15450, após a data de 10/09/2011. As embarcações empregadas no transporte de passageiros deverão dotar, adicionalmente, uma quantidade de coletes salva-vidas adequada para crianças (colete tamanho pequeno) igual a, pelo menos, 10% do total de

109 As embarcações de esporte e recreio são de propriedade de pessoas particulares, que não possuem empresa jurídica, não pagam impostos nem têm tripulação fixa. Não são autorizadas a comercializar pacotes de pesca, mas o fazem ilegalmente.

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passageiros, ou uma quantidade maior, como for necessário, de modo que haja um colete salva-vidas para cada criança110.

Ademais, segundo a Lei nº 8.374/91, há o Seguro obrigatório de danos pessoais

causados por embarcações ou por suas cargas, e ainda envolve acessibilidade

(NORMAM 02, p. 64), além de outras exigências.

Nesse contexto, outros depoimentos de empresário demonstraram que são tantos

os agravantes e exigências, além das já citadas, que julga estar: “[...] provocando o aumento da crise no setor, que abarca tanto as empresas voltadas para a exploração do turismo de pesca como: barco-hotel, casas de entretenimento - a Babilônia; Pousadas pesqueiras; isqueiros; postos de combustíveis e derivados de petróleo; comércio de materiais de pesca; de iscas e os pescadores profissionais e, por conseguinte, as lojas comerciais brasileiras e bolivianas”.

Dentre as dificuldades já mencionadas, acrescentou outras, em tom de desabafo:

“[...] falta de peixe no rio [...] e ninguém faz nada!” “[...] as intensas exigências absurdas feitas pelo Ministério do Trabalho, Sindicato, ANVISA, etc”. “[...] o assoreamento nos Portos da zona urbana, dificultando o embarque e desembarque dos passageiros na vazante, na seca, o que é uma vergonha pra nós”.

Tal empresário referiu-se à falta de manutenção e à preocupação com a

acessibilidade dos passageiros no momento do embarque no barco-hotel, principalmente

no período de seca quando as dificuldades são graves devido à baixa das águas, como

ilustramos nas Figuras 90 e 91.

Figuras 90 e 91. Embarque de passageiros 1º-Nov-2011. Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Corumbá, Nov-2012.

110 Disponível em: https://www.dpc.mar.mil.br/normam/N_02/normam02.pdf (p. 64, 65, 72). Acesso em: 22-Out-2012.

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Depoimentos alertam para um futuro de escassez e movimentação de alguns

empresários mais visionários, que se antecipam à busca de alternativas para amenizar a

crise e a queda total nos quatro meses de proibição da pesca, inserindo passeios diários

com almoço ou jantar a bordo. É o caso do Barco Pérola do Pantanal e La Barca

Family111, incluindo rodada de caipirinha, caldo de piranha, petiscos e música ao vivo.

A diversificação dos serviços é outra estratégia, como breves passeios, a

exemplo do Navio Kalypso, em parceria com outros empresários do Porto Geral, que

apostam no Reveillón com direito à ceia completa, música ao vivo, pernoite e café da

manhã. Também promovem eventos a bordo para a confraternização de empresas no

final do ano, festas como casamento, aniversários, reuniões. Outras ideias, como

viagem-prêmio oferecida por empresas coorporativas de funcionários, se ampliam a

cada ano.

Dentre outras atividades, fazem a manutenção para iniciar a temporada seguinte.

Alguns proprietários aproveitam para tirar férias e realizar viagens de lazer

3.3.3. Resultados obtidos em pesquisa de campo dos turistas de barco-hotel

por gênero e faixa etária

Como já havíamos informado, aplicamos questionários para os turistas de pesca

do segmento de barco-hotel, homens e mulheres, no período de temporada de 2011 e em

2012, durante nove meses. Foram aplicados questionários do tipo survey, com perguntas

abertas e fechadas a uma população total de 382 indivíduos, intencionando a obtenção

de dados primários. Dentre os clientes que se referiram à vinda anual para o Pantanal de

Corumbá (MS), foram muitos os que declararam ser permanentes e fidelizados.

Na busca de resultados mais consistentes a respeito da cadeia produtiva do

turismo e da pesca dessa categoria, os resultados apurados por gênero indicaram que

85,5% (327 pessoas) são do sexo masculino e 14,5% (55 pessoas) do sexo feminino,

conforme exposto no Gráfico 4.

Esses resultados, comparados com os obtidos na pesquisa de graduação no ano

de 2003112, alteraram: naquela época o sexo masculino representou 94% dos

111 Este barco, em particular, é operado pela empresa L.M.C. Martins Ltda - Pérola do Pantanal. 112ANDRADE, Fátima Ap. M. de. Diagnóstico do Turismo de Pesca de Corumbá/MS: MSMT/IESPAN/UCDB. Graduação do curso de Turismo, Corumbá (MS). 2003. 39 p. MONOGRAFIA.

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entrevistados, com atual decréscimo de 8,5%, enquanto o sexo feminino com 6,5%,

indicando acréscimo de 8% no levantamento recente.

Gráfico 4. Gênero dos turistas de pesca de barco-hotel Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Out-2012.

Gráfico 5. Número de Turistas de Barco-Hotel por

Faixa Etária e gênero Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Out-2012 Dados analisados após tabulação dos questionários aplicados aos turistas

demonstraram numerários por faixa etária e indicaram ainda que indivíduos com idade

de 40 a 60 anos foram os que mais visitaram Corumbá (MS) em 2011 e 2012, como se

visualiza no Gráfico 5.

Seguindo a lógica para completar o ciclo, verificamos que, do total de turistas de

barco-hotel entrevistados, os que estiveram no Pantanal pela primeira vez representaram

42% do total entrevistado; de duas a cinco vezes foram 32,2%; de seis a dez vezes

somaram 16,5%. Os que aqui estiveram de 11 a 20 vezes ficaram em 8%, finalizando

86%

14%

Gênero dos turistas - barco-hotel

Masculino

Feminino

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com os que vieram de 21 a acima de 30 vezes, que chegaram a 2,7% do total, como

mostra o Gráfico 6.

Gráfico 6. Turistas de Barco Hotel por Gênero/Número de Visitas ao Pantanal. Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Nov-2012

O quadro leva-nos a crer que o destino dos turistas para o Pantanal sul-mato-

grossense de Corumbá (MS) procede com preferência pela modalidade de pesca

embarcada em barcos-hotéis. Podemos afirmar que o público continua se renovando,

fato constatado por 42% dos entrevistados, que vieram pela primeira vez, seguidos por

32% que vieram de duas a cinco vezes.

3.3.4. A origem dos turistas de pesca de barco-hotel de Corumbá (MS)

As entrevistas efetuadas durante a temporada de 2011-2012 demonstraram que

59% dos turistas são originários do estado de São Paulo, que se mantém como principal

emissor. A origem dos turistas de pesca entrevistados, conferidos em pesquisa de

campo, são de São Paulo – capital e interior - São José do Rio Preto; Ribeirão Preto;

Jaú; Rio Claro; São Carlos; Campinas; Franca; Matão; Limeira; Jundiaí; São Bernardo

do Campo e de outras cidades.

Quanto ao estado do Paraná, o destaque foi o acréscimo de 5% em comparação a

2003, de modo que o volume de 22% dos visitantes é permanente das cidades de

Apucarana; Londrina; Curitiba; Maringá; Cianorte e Paranaguá, com acréscimo de 3%

em relação à apuração anterior. 13% vieram do estado de Minas Gerais, das cidades de

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Itaúna, Nova Era, Belo Horizonte e outras; 5% dos visitantes dos estados de Goiás, Rio

de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul; 2% pertencem a

outros estados.

Tais informações possibilitaram comparar os dados referentes às emissões de

licenças de pesca no sítio do Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA com os dados

primários adquiridos em pesquisa de campo, sobre a origem dos turistas - Gráfico 7.

Gráfico 7. Origem dos turistas de pesca de Corumbá/MS Fonte: Marilene Aparecida Gonçalves. Organizadora. Corumbá (MS). Out-2012.

Sobre esse aspecto, o Ministério de Aquicultura e Pesca – MPA, representado

pelo Sr. Michel Lopes Machado, Coordenador Geral de Registro e Licença da

Pesca Amadora – MPA, complementou que foi publicado um Boletim em 2011, com os

seguintes dados: [...] a absoluta maioria dos pescadores amadores licenciados pelo MPA em 2011 é de brasileiros, que totalizaram 286.754 pessoas, representando 99,9%. Já para os pescadores estrangeiros foram expedidas 299 licenças. Verifica-se que pescadores de 31 países emitiram licença de pesca amadora junto ao MPA para pescar no Brasil. Dentre eles estão: Estados Unidos, Paraguai e Argentina responsáveis por 64,5% deste total. O reduzido número de licenças para estrangeiros indica que provavelmente estes não estão se licenciando devidamente, pois se sabe que sua presença é comum em algumas regiões, tais como o Amazonas e Roraima, e no litoral da Bahia e Espírito Santo (BRASIL, MPA. 2011, p. 4).

Nesse escopo, as informações recebidas da mesma fonte, referentes ao ano de

2012 revelaram que houve 345.094 emissões de licenças de pesca, tendo como maior

quantidade, os originados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e

São Paulo e interior

59%

Paraná 22% Minas

Gerais 13%

Outros estados

7%

Outros 19%

Origem dos turistas de barco-hotel

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Goiás, das capitais e cidades do interior. E novamente surgiu, dentre as licenças

emitidas, o registro de que 447 foram para estrangeiros113.

3.3.5. A escolha da embarcação e o grau de satisfação durante a viagem

Quando perguntado aos turistas como a escolha do barco-hotel para viagem é

efetuada, vários comentaram que a viagem é programada com antecedência de um ano

ou de seis meses para retorno anual ao Pantanal. A título de esclarecimento, os grupos

de pesca normalmente já deixam um bloqueio na data da viagem do próximo ano

(temporada) de sua preferência no Barco-Hotel escolhido, para mais uma

confraternização com os amigos e/ou familiares e a prática do lazer da pesca.

Foi verificado que 36% já conheciam o barco-hotel; para 25%, o guia do grupo

escolhe; 35% decidem por indicação de amigos ou agência de viagens e 4% disseram

que foi pelo sistema de busca na internet, ou a única opção disponível recomendada por

uma agência de Corumbá que comercializa outras, além da própria embarcação, que

estiverem livres na data da viagem, conforme solicitação dos clientes. O Gráfico 8

mostra como é feita tal escolha.

Gráfico 8. A escolha da embarcação

Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Corumbá (MS). Nov-2012.

Quando perguntados sobre a satisfação da viagem, 44% gostaram de tudo;

21,5% responderam a preferência pela paisagem e contato com a natureza intocada, e

11,5% revelaram que gostam da emoção de pescar, além do conforto e lazer oferecido

nos barcos-hotéis e a confraternização com os amigos, como se vê no Gráfico 9.

113 Comunicação pessoal recebida do Coordenador Geral de Registro e Licenças de Pesca Amadora – Michel Lopes Machado – MPA, por email, no dia 18/Janeiro/2013.

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Gráfico 9. O que mais gostaram na viagem

Fonte: Marilene Aparecida Gonçalves, Organizadora. Dez-2012

Já sobre o que não gostaram na viagem, alguns demonstraram a frustração no

momento da resposta, “tem pouco peixe”. Outros reclamaram do frio que pegaram na

época do inverno e também se referiram ao excesso de piranhas e jacarés. Ainda

deixaram claro a sua indignação, por presenciarem a pesca predatória com rede e muitos

anzóis de galho; outros reclamaram por não terem conhecido a cidade.

3.3.6. Avaliação das instalações e serviços oferecidos nas embarcações e

pelos indivíduos que foram à Bolívia

Dos barcos-hotéis com maior rotatividade, qualificados e avaliados pelos turistas

nos itens instalações e serviços oferecidos, obtivemos e destacamos os resultados no

Gráfico 10. Segundo mostra o gráfico, 23% avaliaram como Bom, 23% Muito Bom,

24% Ótimo e 30% Excelente.

Durante o período da aplicação dos questionários, buscou-se, coletar dados

primários com informações fidedignas, sobre qual a avaliação quanto às instalações e

serviços prestados pelos barcos-hotéis, segundo a visão dos turistas de pesca – usuários

– com intuito qualificar a frota de barcos-hotéis e a qualidade dos serviços prestados nas

embarcações.

Gostaram de Tudo

44%

NaturezaIntocada 21,50%

Emoção da Pesca

Conforto e Lazer

Qualidade no Atendimento

Outra11,5%

Turistas - o que mais gostaram na viagem

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Gráfico 10. Avaliação segundo opinião dos turistas Fonte: Fátima Andrade. Organizadora. Pesquisa de Campo. Corumbá (MS). Nov-2012.

A seguir, verificamos se os turistas foram ou tiveram intenção de ir à Bolívia.

Dentre os pesquisados, 68% afirmaram que sim, enquanto 4% responderam que não. Os

demais, 28%, foram apenas passear, pois alegaram estar incluso no pacote, mas não

efetuaram compras. O Gráfico 11 mostra tal resultado.

Gráfico 11. Turistas de barco-hotel que visitaram a Bolívia Fonte: Marilene Aparecida Gonçalves. Organizadora. Corumbá (MS). Dez.2012.

Este tópico tem elevada importância, devido ao ineditismo que abrange a

questão, pois temos a oportunidade de relatar a opinião dos usuários (turistas de

pesca), adquirida de fonte primária, como demonstrada nas Figuras 92 e 93.

Observamos, inicialmente, haver uma variação de preços na negociação entre

empresas de barcos-hotéis e clientes, principalmente porque estes retornam todos os

anos e até mais de uma vez, são clientes preferenciais. Dependendo da embarcação,

são levados em consideração, no momento da negociação, os custos para

SIM 68%

NÃO 4%

SIM e

NÃO fez Compras

Outra 28%

Turistas de Barco-Hotel que visitaram a Bolívia

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abastecimento a fim de atender os visitantes. Além disso, avaliam-se os dias de

permanência da viagem, o trecho a ser percorrido e o número de turistas.

Figura 92. Aplicação de questionário Figura 93. Aplicação de questionários no Barco-Hotel. Navio Kalypso a turistas no Porto Geral. Fonte: Fátima Andrade. Viagem exploratória. Fonte: Fátima Andrade. Porto Geral, Corumbá. Corumbá, Junho, 2011 Corumbá, Out-2012.

3.3.7. Gastos dos turistas na compra de pacotes em Barco-Hotel de turismo

de Corumbá (MS).

No que se refere aos gastos efetuados por turistas pescadores, chegamos a um

demonstrativo, conforme se vê no Gráfico 12. Em média, na compra de pacotes de 5 a

6 dias de pesca no Pantanal sul-mato-grossense e/ou Mato Grosso, os turistas pagaram,

por pessoa, na temporada de 2011 e 2012 valores, que diferenciam de acordo ao porte,

conforto e o conceito avaliativo da embarcação conforme segue.

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Gráfico 12. Avaliação dos Barcos-Hotéis e Variação de valores de

Pacotes Turísticos. (MS). Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de campo. Porto Geral, Corumbá. Nov-2012

a) Embarcações avaliadas com conceitos bom e muito bom, seus

valores variaram de R$ 3.500,00 a R$ 3.800,00 por pessoa.

b) Outros fretamentos avaliados com conceitos ótimo e excelente

praticaram valores de R$ 3600,00 até R$ 4.800,00 por pessoa.

c) Todas possuem em comum atendimento satisfatório, segundo a opinião

dos grupos de turistas entrevistados, tanto da equipe de bordo quanto da

equipe de apoio terrestre.

d) Os valores têm acréscimo no caso de os turistas serem em menor número,

mas pagam pela exclusividade.

É importante destacar que a diferença de valores dos pacotes está de acordo com

a categoria/porte/instalações/serviços das embarcações, que também deixam claro as

variadas classes dos frequentadores, A, B, C, ‘paparicado’ o tempo todo pelos

proprietários e funcionários, que os elegem como o fator mais importante para o

segmento, os verdadeiros patrões.

Há ainda os de poder aquisitivo mais elevado, que não se importam em pagar

mais pela exclusividade do seu grupo de amigos em embarcações mais sofisticadas,

com serviços e instalações de melhor nível e com número reduzido de participantes,

mesmo nas embarcações com capacidade maior. Um exemplo é um barco-hotel com

Bom/Muito Bom

R$ 3

.500

,00

R$ 3

.800

,00

R$ 3

.800

,00

R$ 4

.800

,00

Ótimo e Excelente

*Avaliação dos Barcos-Hotéis

*Variação de Valores de PacotesTurísticos

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capacidade para 30 pessoas ser fretado por dezoito 18 apenas. Esso é o motivo pelo qual

o valor do pacote é elevado.

Além desse valor, os turistas pagam à parte suas despesas com transporte

(origem e destino), seja aéreo ou terrestre, ou com fretamento de ônibus de turismo (ida

e volta), não incluso no pacote. Nesse último caso, os motoristas, ficam na cidade

aguardando o final da viagem ao Pantanal para retornarem à cidade de origem.

Esse serviço de transporte tem acréscimo de aproximadamente R$ 1.300,00 por

pessoa. O fato leva a repetidas reclamações a respeito da falta de mais opções de voos

comerciais na cidade, que tem um Aeroporto Internacional e só possui um voo diário,

efetuado pela aeronave da Cia Aérea TRIP, que atende aproximadamente a 65

passageiros. A empresa foi recentemente comprada pela Cia Aérea AZUL e não

apresenta redução ou preços promocionais, na baixa temporada. O trecho Campo

Grande / Corumbá / Campo Grande, chega a custar acima de R$ 400,00, ida e volta em

tarifas reduzidas, entretanto, nos dias de maior movimento, alcança cerca de R$ 600,00

em apenas um trecho cm duração de uma hora de voo.

Tal situação é recorrente. Há anos esse trecho é mais caro do que Campo Grande

/ São Paulo / Campo Grande114, que compreende uma hora e quarenta minutos de voo.

O mesmo ocorre com os turistas que vêm de Belo Horizonte e Paraná – e

cidades interioranas de outros estados, na compra de passagens aéreas.

Na realidade, a população local-regiona, empresários e os turistas em geral,

anseiam por maior quantidade de voos diários, preços competitivos, em aeronaves

maiores, como as que operavam nesta região há pouco tempo, quando os valores

diferenciavam entre a passagem aérea e a rodoviária, no máximo cerca de 20. Para

seguir até Corumbá, a solução mais viável em questões de custos é efetuar o trecho

aéreo maior e mais barato até Campo Grande (ida e volta) e fretar ônibus da região, o

que normalmente é feito com apoio e assessoria das agências e empresas que atendem

aos turistas.

Apesar das dificuldades, o turismo apresentou algumas inovações que chamam a

atenção. Referimo-nos ao acréscimo das viagens de incentivo oferecidas pelas empresas

e Associações aos fornecedores e funcionários, bem como as expedições. Um exemplo

desse caso foi o fretamento do Navio Kalypso, embarcação com capacidade para

acomodação de 80 pessoas, cujo embarque acompanhamos. Tratava-se de uma

114 O valor da passagem praticada em transporte rodoviário de Corumbá / Campo Grande / Corumbá, em ônibus executivo é de R$ 188,00, e convencional, R$ 148,00.

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expedição ao Pantanal, com jovens, adolescentes, homens, mulheres, etc, vindos de São

Paulo, conforme demonstramos na Figura 94 e 95.

Figuras 94 e 95. VI Expedição Pantanal, 2011 – Corumbá (MS). Out-2011. Fonte: Fátima Andrade. Pesquisa de Campo. Porto Geral. Corumbá (MS). Out-2011.

Há ainda viagens chamadas fracionadas, que são negociadas por camarote e

com pessoas de origens variadas, que acabam por se conhecer e estreitar laços de

amizade. Isso é comum até mesmo com quem viaja sozinho, com um amigo ou a

família (esposa, filhos, netos, irmãos, avós, etc.). Ao fim da viagem, todos estão

praticamente integrados, como se fossem velhos amigos.

3.3.8. Perspectivas dos turistas quanto ao futuro do turismo na região de

Corumbá (MS).

Alguns turistas expressaram, durante a temporada de 2011 e 2012, o

descontentamento quando da aplicação do questionário na chegada da viagem do barco-

hotel. Solicitamos que nos dessem depoimento informal a respeito da sua perspectiva

quanto ao futuro do turismo nas cidades da fronteira Brasil/Bolívia (MS), atentando

para a importância que isso poderia contribuir com a gestão e o ordenamento da pesca

na região. Ressaltamos que sua opinião poderia ser exposta de forma livre de qualquer

véu que os impedisse de revelar o seu ponto de vista. Os turistas explicaram o respeito

que têm para com o verdadeiro pescador artesanal e profissional e o desprezo com o

pescador da pesca comercial.

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Relataram, entretanto, algumas opiniões de acordo com suas observações in loco

e afirmaram ser comum presenciar ocorrências insólitas no Pantanal durante a

temporada de pesca, como descrevemos a seguir:

“Se não cuidarem disso aqui, vai acabar tudo.” “Acabamos de encontrar um casal com oitenta anzóis de galho no barco deles.” “[...] o Pantanal vai acabar se não tomar medidas drásticas de fechamento da pesca, ou proibir de levar peixe [...]” “[...] a gente vê o que acontece e a mídia não mostra os milhares de metros de redes, anzóis-de-galho115, tarrafas que encontramos pelo rio e as inúmeras toneladas de pescado e material de pesca apreendidas pela Polícia Militar Ambiental.” “[...] se não cuidar, nossos filhos, nossos netos não vão ver essa beleza toda que vocês têm aqui [...] o Pantanal é lindo demais [...] a gente vem todo ano.” “O Pantanal está fadado a extinção pela matança [...] pesque e solte já!” “Vejo a situação negra, [...] reduzindo o peixe, [...] tem que ter um programa de conscientização para repovoamento [...] pesque e solte ajuda.” “[...] a pesca tem que ser esportiva, sem levar o peixe [...]” “[...] tem que melhorar [...] só tem peixe fora da medida [...] pesque e solte e Cota Zero! “[...] tem muito fogo no Paraguai-Mirim, muita fumaça. A preservação tem que ser o ponto forte, tem que ser cuidado quanto ao estoque e espécies.” “[...] se continuar com a falta de peixe [...] vai acabar [...] tem que repovoar o rio.” “[...] providências quanto à conservação [...] coloca pra criar peixe de cativeiro!”

Com essas indagações, podemos confirmar que a crise que se instala no Pantanal

é recorrente. Os pescadores locais bem conhecem essa realidade, ainda mais devido a

outros fatores que interferem na reprodução dos peixes migratórios, que precisam subir

o rio para a desova.

A Drª Emiko Kawakami de Rezende – chefe da EMBRAPA Pantanal explicou,

em recente entrevista ao vivo no Jornal MS 2ª Edição pela TV Morena local, no final da

temporada, no dia 5 de novembro de 2012, que: “Enquanto houve uma grande cheia ano passado, tudo indica que, este ano, será de seca, portanto vai afetar na redução das espécies migratórias, pois nem todos vão conseguir chegar às cabeceiras para o processo de reprodução”.

115 Entende-se por anzol-de-galho como um equipamento fixo de pesca, de baixa seletividade, dotado de anzol e linha, amarrado em galhos flexíveis da vegetação. Disponível em : http://pantanal.spaceblog.com.br/882171/anzol-de-galho-o-direito-a-informacao-e-o-dever-de-veracidade/. Acesso: em 19-jul-2012.

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Esse fator sinaliza um período de escassez e de queda no número de turistas, o

que reflete em toda a cadeia produtiva do turismo de pesca e compras nas cidades

fronteiriças de Corumbá e Arroyo Concepción - Puerto Quijarro.

Essa situação, que se altera constantemente nos dias atuais, vem sendo analisada

por Catella (2003, p. 23). Segundo esse pesquisador, a crise que o setor tem

experimentado se deve a uma série de fatores como “[...] concorrências com outras

áreas que oferecem o mesmo tipo de produto turístico, gerando uma competitividade ao

setor, a falta de um sistema de transporte eficiente, a redução na cota de pescado [...]”,

cada vez mais restritiva devido à legislação federal e estadual, e ainda à escassez do

peixe, principal atrativo para essa modalidade esportiva na região do Pantanal Sul mato-

grossense que, em decorrência das pequenas cheias dos últimos anos, teve sua

reprodução comprometida.

Sobre essa temática, Rodrigues (1998, p. 9-15) tece as seguintes considerações:

Cabe aqui uma nova questão que contemple tanto a sustentabilidade de um frágil ecossistema, que constitui o Pantanal, quanto da manutenção do próprio turismo de pesca no município nos atuais modelos de exploração. Faz-se oportuno lembrar, portanto, que a natureza possui certo limite de tempo necessário à sua renovação, o que não tem sido bem considerado pelos que estão envolvidos direta ou indiretamente nesta atividade.

Andrade (2003) inclui a percepção e expectativa dos empresários dos barcos-

hotéis, destacando o seguinte: Os empresários alegam que, com a continuidade da crise, o município perderá muito em termos de emprego e renda. [...] Assim, postos de trabalho poderão deixar de existir refletindo efeitos consideráveis sobre várias famílias, o que já ocorre no final de cada temporada, quando cerca de 90% dos funcionários que trabalham nas empresas de barcos-hotéis em diversas qualificações são dispensados, ficando sem direcionamento e sem perspectivas de trabalho a não ser na construção civil e outros “bicos” como os mesmos se referem (ANDRADE, 2003, p. 30-34).

Essa realidade continua e pode ser visualizada no texto abaixo neste capítulo,

que expõe a estimativa de pescado vistoriado em Kg, cedido pela Polícia Militar

Ambiental – PMA de Corumbá, dos anos 2009 – 2010 – 2011 – 2012. Os números

deixam clara a redução do esforço de extração do pescado, dentro do limite e medida

permitidos, e demonstra um desequilíbrio entre as duas categorias que praticam a

mesma ação.

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Entrelaçados com os pescadores profissionais que migraram para a pesca

esportiva na região, objeto de desejo de muitos. Entretanto, os pescadores profissionais

voltam à sua atividade anterior, à medida que há a redução dos pescadores amadores.

É visível essa redução ano após ano, de pescadores amadores e esportivos na

região, mas que têm se mantido, apesar da escassez do pescado nos rios e baías

pantaneiras, reclamação de muitos dos turistas entrevistados.

Cremos que a esses números pode ser acrescentado, em média, de 35% a 40%.

Devido a pouca quantidade de pescado extraído, apenas parte deles são contabilizados e

sempre correspondentes à cota permitida por pessoa, autorizada para lacre e registrados

na Guia de declaração do pescado. Portanto, não há controle algum do quantittivo que

frequentam a pesca no Pantanal de Corumbá, o que demanda outra pesquisa. Apenas a

Capitania dos Portos do Pantanal possui esses dados, no entanto não os fornecem.

Muitos dos turistas de barco-hotel não levaram um único exemplar. Ficavam

aguardando na embarcação, enquanto os agentes da empresa que os atendem efetuam

os procedimentos do Lacre do pescado e os trâmites legais junto à Polícia Militar

Ambiental - PMA, para transporte do mesmo. Ainda paga-se Taxa de turismo no valor

de 1 UFIR no valor de R$ 17,42 por pessoa, que altera a cada mês, contemplados no

demonstrativo do Quadro 8. A partir de janeiro de 2013 esse valor mudou para R$

17,46, conforme Resolução 2.433/2012 da Secretaria de Fazenda do estado de Mato

Grosso do Sul – SEFAZMS116.

Na sequência, demonstramos os últimos quatro anos: por categoria e quantidade

de extração dos pescados declarados no Posto da Polícia Militar Ambiental – PMA de

Corumbá.

Os resultados desta pesquisa demonstraram quantitativos que corroboram com a

pesquisa elaborada em 2003. Há redução dos turistas amadores e igualmente, pela

lógica, reduz-se o esforço de pesca. Essa estimativa, entretanto, não inclui os pescados

lacrados no Posto da PMA, localizado no Buraco das Piranhas, na BR-262, distante de

Corumbá cerca de 120km.

116 Disponível em: HTTP://www.sefaz.ms.gov.br/index.php?inside=18cp.3&comp=&show=5918. Acesso em: 16 Jan.2013.

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Categoria Ano Número de turistas

Número de pescado extraído

kg Amador 2009 9.046 105.450 Profissional Não

informado

99.743,5 Amador 2010 7.461 89.452

Profissional

Não informado

66.021,3

Amador 2011 7.557 58.806

Profissional Não

informado

87.232 Amador 2012 6.189 74.271

Profissional

Não informado

58.328

Total de pescado capturado por turistas

Nº total de turistas 30.253

386.307

Total capturado por profissionais

311.324

Quadro 8. Número de pescador amador (turistas) e quantidade de pescado vistoriado dos amadores e profissionais- 2009 a 2012.

Fonte: Polícia Militar Ambiental – PMA117.Corumbá (MS)

3.3.9. Situação atual do turismo de pesca amadora de Corumbá (MS)

Calcula-se que, por temporada, a cidade de Corumbá e a região do Pantanal-Sul

recebem, em média, 18.000 turistas pescadores, representando 60% do total estimado

em 30.000/ano, segundo a Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal de Corumbá.

Esse número, para os empresários que acompanham o segmento há vários anos, é no

mínimo 35% a 40% maior, se contabilizarmos aqueles que se hospedam em Hotéis-

pesqueiros, Pousadas-pesqueiras na Transpantaneira (Estrada-Parque) à beira do Rio

Paraguai e Miranda118, e os que possuem ranchos de pesca119. Isso sem contar com

outros que utilizam os barcos-hotéis de Esporte e recreio, de Corumbá, comercializados

ilegalmente devido à falta de efetivo condizente para a fiscalização.

Embora não haja maximização de recursos humanos e financeiros voltados a

esse segmento, principalmente extensivo à pesquisa e monitoramento da atividade do

turismo de pesca amadora-recreativa-esportiva, ele pode estar ameaçado por vários

fatores, considerando-se o que citamos acima, com base na visão dos autores Catella

(2003), Rodrigues (1998) e nossa pesquisa de campo. 117 Autorizado pelo Major QOPM – Nivaldo de Padua Mello – Comandante da 2ª Cia PMA - Corumbá 118 Os turistas pescadores que se hospedam na zona rural não lacram o pescado em Corumbá, pois há outro Posto da PMA em Miranda, distante aproximadamente 300km de Corumbá. 119 Érika Andrade Aragi e Wilson contabilizaram cerca de 70 Ranchos de Pesca em 2003, durante pesquisa de campo.

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147

A reclamação dos empresários e frequentadores do turismo de pesca nessa

região é unânime, quando se referem sobre a escassez do principal atrativo, o peixe,

seguido pela queda na demanda apresentada na temporada de 2011 e 2012, o que

sistematicamente comprometerá a manutenção das atividades econômicas da cadeia

produtiva da pesca. Nos meses de novembro a janeiro, período da piracema ou defeso,

Corumbá recebe pequenos grupos de turistas da Melhor Idade, estudantes e famílias de

férias, que buscam a região associando atividades do turismo de compras e

contemplativo, por ser baixa temporada e os preços serem mais atrativos,

diferentemente de outros destinos.

No desenrolar do trabalho ao longo dos meses da pesquisa de campo e consulta

bibliográfica a vários autores que fundamentaram os resultados iniciais, vimos que

estamos presenciando uma crise no setor do turismo de pesca que não atinge todo o

comércio varejista do turismo de compras, que fica claro em Arroyo Concepción –

Bolívia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para melhor compreensão da representatividade que a pesca tem no Brasil, com

foco na região do Pantanal sul-mato-grossense, mais especificamente em Corumbá,

descrevemos informações que permitiram comparações e irão contribuir para o

esclarecimento de alguns fatos. Tomamos como referência a pesca esportiva-recreativa

nos Estados Unidos, com 87,5 milhões de americanos praticando os esportes e nas

palavras de Nussman (2011), no Capítulo 1, bombeiam milhões de dólares na economia

do país, além de serem investidas algumas centenas de milhões anualmente na gestão de

pesca e conservação ambiental, obtidas através da arrecadação de impostos sobre a

venda de equipamentos e licença. Os esportistas gastam muito mais ainda em barcos,

motores e equipamentos para utilizar no seu lazer, torneios e competições.

No entanto, a opção da pesca para grupos na modalidade de barco-hotel, nosso

objeto de pesquisa, é inexistente no exterior, o que explica a vinda de estrangeiros para

praticar esse esporte e lazer da pesca em nosso país. Esse grupo é muito pequeno, se

comparado à clientela brasileira, que atingiu em 2011 um patamar de 286.754 pessoas,

com licenças de pesca expedidas e 2012 apresentou crescimento chegando a 345.094.

(MPA). O Ministério da Aquicultura e Pesca – MPA divulgou que, somente em 2010, o

setor movimentou de R$ 15 a R$ 20 milhões na economia nacional (Brasil, MPA,

Relatório de 2011). Por outro lado, se compararmos com as informações de Fabri

(2006), que afirma a existência de uma estimativa de aproximadamente 25 milhões de

pescadores ocasionais no país, praticando a pesca esportiva-recreativa-amadora no

Brasil, pode-se concluir que muitos podem estar atuando sem a devida licença de

autorização para a prática do esporte.

O que nos ocorre seria o fato dos esportistas que pescam em ambientes na

modalidade de pesque-e-pague, e isso pode ser relevante, não retiram a licença

obrigatória para a prática do esporte em pesqueiros particulares, e/ou pela ineficiência

da fiscalização e monitoramento dos órgãos responsáveis, fato que demanda

investigação.

Em Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, o turismo representa a terceira

economia local, incluindo o turismo contemplativo (rural), de negócios e a pesca

amadora-esportiva-recreativa, sendo que 12 empresas foram abordadas em pesquisa de

campo com aplicação de questionário, especificamente na modalidade de barcos-hotéis.

No entanto contabilizamos na região um total de 53 barcos-hotéis, totalizando 980

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leitos. Estão divididos em 24 embarcações de turismo – distribuídas em pequeno, médio

e grande porte, algumas de luxo e alta tecnologia, destinadas a atender a um público

mais elitista e exigente. Constatamos o desejo de exclusividade em grupos fidelizados,

em sua maioria, que variam em quantidade.

Além desses, há 29 barcos-hotéis de Esporte e Recreio, que diferem dos outros

por pertencerem a grupos de pessoas particulares e por não ser permitida a

comercialização de pacotes de pesca, embora isso ocorra ilegalmente, devido à falta de

fiscalização. Ainda concorrem com o setor os hotéis pesqueiros existentes na zona rural,

os ranchos de pesca120, que não estão sujeitos à constante fiscalização pela Capitania

dos Portos do Pantanal, Agência Nacional de vigilância Sanitária – ANVISA,

Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e Sindicato dos Trabalhadores Aquaviários

na área do turismo de pesca de Corumbá e Ladário, que têm como principal alvo as

empresas de barco-hotel de turismo.

Os fluxos mercantis das cidades integradas na economia globalizada da fronteira

Brasil/Bolívia possuem um trânsito circulante de trabalhadores, que se estende no

mercado de trabalho de brasileiros e bolivianos em ambos os lados da fronteira, gerando

emprego que garante renda – formal e informal, a exemplo da cadeia produtiva do

turismo de pesca associado ao turismo de compras. Refletem-se em outras atividades

comerciais, como a Feira BrasBol, movimentada por locais e turistas, registrando

aumento desses últimos quando a fronteira é fechada.

Igualmente ocorrem fluxos no Porto Geral, com o trânsito de ambulantes que

comercializam seus produtos artesanais e eletroeletrônicos importados nos dias da

chegada dos barcos-hotéis do Pantanal, ocasionando os efeitos multiplicadores na região

das localidades concatenadas não apenas geográfica, como também

socioeconomicamente.

Inicialmente ocorreu o efeito migratório, com mudanças de comportamento dos

trabalhadores da região, que atuavam em embarcações fluviais no transporte de minério

de ferro, manganês e gado, que foram sendo agregados à atividade econômica do

turismo de pesca, seguidos dos pescadores profissionais, conhecidos como

pirangueiros121 ou piloteiros, detentores do conhecimento empírico do rio Paraguai e

120 Ranchos de pesca ou segunda residência. Somam aproximadamente 70 unidades na região de Corumbá e Ladário (MS), segundo inventário elaborado por acadêmicos do curso de Turismo, Wilson e Érika, sob a orientação do prof. Roberto Ortiz Paixão. 121 Pirangueiro é um termo utilizado no estado de São Paulo, trazido por empresários precursores da pesca no Pantanal.

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seus afluentes, - o capital social -, patrimônio social e humano, que buscavam status de

melhor qualidade de vida. Essa integração à pesca recreativa-esportiva reuniu

investimentos das empresas que se profissionalizaram na atração dos turistas. Outro

detalhe está em agregar valor à sua condição profissional, através da (re)qualificação,

conforme a demanda dos visitantes, que inclui ultimamente atendimento com padrão de

qualidade no trato especializado com o público mais exigente, que recentemente

apresenta a inserção de mulheres de várias idades, adolescentes e crianças, figurando o

interesse de um novo público, conforme descrito e demonstrado nos Capítulos 1 e 2.

Registramos, além dos que compartilham do mesmo Ecossistema do Pantanal

mato-grossense, como os pescadores artesanais, profissionais, e amadores, outro espaço

para uma atividade econômica até então inexistente: a dos Coletores de Iscas Vivas122,

insumo principal para a pesca amadora em modalidades diferenciadas como embarcada,

de barranco ou em algum platô de madeira à beira do rio, com exceção da pesca com

rede. Demonstramos a capacidade dos indivíduos de adaptação nos postos de trabalho, o

que gerou emprego e renda ao longo de cinco décadas, promovendo mudanças sociais e

econômicas em ambos os lados da fronteira, a partir da inserção do turismo de compras.

Por outro lado, elencamos as legislações específicas para a atividade e

trabalhadores, dentro de um panorama geral da pesca amadora no Brasil e em Corumbá,

e levantamos dados bibliográficos e empíricos que nortearam os impactos que

reverberam na economia local-regional, principalmente no período da piracema.

Outros aspectos dessa atividade no Pantanal sul-mato-grossense especificaram-

se na média do número de viagens que fazem durante a temporada e os procedimentos

da rotina da viagem dos barcos-hotéis, os salários dos trabalhadores, as funções

exercidas pela tripulação fixa na embarcação, e o trabalho intensivo que é 5/6 dias de

viagem entre ida e retorno. Informamos como funcionam a logística e a comercialização

de pacotes, o atendimento ao turista, e como ele chega até Corumbá, atraído pela

oportunidade de desfrutar de um ambiente natural, praticando o esporte e lazer

preferido, a pesca. Detalhamos a forma de comercialização e administração das

empresas de barco-hotel que, curiosamente, são comandadas por inúmeras mulheres, em

vários setores, como administrativo ou como guia, ciceroneando os turistas pela cidade

em restaurantes, e alguns atrativos turísticos que também são designados aos homens,

como atendê-los no caso do desejo e busca de entretenimento nas Wysquerias/casas de

122 Isqueiros: Catadores de iscas vivas, matéria prima utilizada na pesca amadora (esportiva).

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prostituição. Tal elemento fomenta economicamente a cidade, que chega a importar

profissionais do ramo de outros estados.

Embora o foco na mídia e legislações seja direcionado ao ordenamento e

controle da extração predatória do pescado, pouco ou nenhum destaque aparece sobre o

lado dos impactos socioeconômicos ou da exploração sexual, que evoluiu paralelamente

à atividade da pesca. Nesse escopo, cremos que, com a inserção maior de familiares e

com a presença do gênero feminino, assinala-se uma mudança, mesmo que lentamente,

do mercado dos turistas que procuram o Pantanal para descanso, lazer, contato com a

natureza e outros detalhes revelados no Capítulo 3, que demandam a geração de novos

postos de trabalho, oportunizando que o profissional do gênero feminino seja admitido

ou substituído por alguns trabalhadores nos barcos-hotéis. O principal foco trabalhado

foram os reflexos na sazonalidade (baixa temporada), durante a piracema. No período,

deparamo-nos com resultados de queda nas receitas de algumas empresas, demissão

massiva de funcionários, principalmente dos barcos-hotéis, explícitas em gráficos,

quadros e tabelas no Capítulo 3, fato que ocorre anualmente, de novembro a fevereiro,

apesar de que em fevereiro fica permitida a pesca apenas na modalidade pesque-e-solte,

que ainda tem poucos adeptos, comercialização de pacotes e oferecimento de vagas de

emprego. Os meses de auge da temporada são de junho a outubro.

A metodologia utilizada na pesquisa de campo, promovida em 2011 e 2012 nas

29 empresas com os resultados descritos acima, e perguntas diferenciou específicas a

cada público, como a população de turistas de pesca de barco-hotel, que contabilizou

382 indivíduos. A aplicação dos questionários do tipo Survey ocorreu corpo a corpo,

com perguntas abertas e fechadas, voltadas à obtenção de respostas para melhor

compreensão dos impactos econômicos nas cidades da fronteira Brasil/Bolívia (MS), no

período de proibição da pesca. As perguntas e respostas foram distribuídas como

explicitado nos Apêndices A – B – C e D. Dados primários adquiridos dos participantes

da pesquisa foram descritos ao longo da pesquisa. Finalizamos com informações e

opiniões dos turistas dessa modalidade de esporte e lazer, como se segue.

Para esclarecimento dos leitores, os aspectos apresentados no Capítulo 3

elaboraram-se por meio de demonstrativos (gráficos, quadros e tabelas), focando o

panorama atual das empresas brasileiras e bolivianas que fazem parte da cadeia

produtiva da pesca. A pesquisa contou com a participação diretamente dos proprietários

e/ou gerentes das empresas brasileiras e bolivianas, assim distribuídas: a) 12 empresas

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de barcos-hotéis, b) 17 empreendimentos de atividades variadas de Corumbá e, c) 15 do

Shopping de Compras Aguirre, Miami House e de Arroyo Concepción-Bolívia.

Dos resultados apresentados, podemos afirmar que as empresas de barcos-hotéis

são as mais atingidas já que, por lei federal, citada no Capítulo 2, não é permitido pescar

na piracema, período de reprodução dos peixes. Por esse motivo, conclui-se que é muito

difícil ofertar viagens de outro tipo, como minicruzeiro contemplativo, com duração de

três a quatro noites, já que o destino é consolidado e propício para a pesca. Ademais, no

verão as temperaturas são elevadas, aproximando-se dos 44ºC, com sensação térmica de

mais 5ºC. Outro detalhe é a quantidade de mosquitos (pernilongos), o que torna inviável

a viagem por turistas na época. Logo, as empresas aproveitam para efetuar a

manutenção dos barcos-hotéis, botes e motores, e dos equipamentos como ar-

condicionado, geladeiras e freezers, troca de rouparia, etc. Os poucos funcionários que

permanecem trabalhando são movimentados em férias por escala, pois as vendas e

informações dos pacotes para o primeiro semestre iniciam com antecedência.

Dos empreendimentos comerciais bolivianos pesquisados, sete que representam

maior queda na receita são do Shopping de Compras Aguirre, e variam de 20% a 100%;

a Miami House, loja de departamentos estabelecida na Avenida Salazar, declarou queda

de 30% a 40% nas receitas na piracema, mas não dispensa os funcionários, optando por

escala de férias, e efetua contratações de funcionários temporários na semana que

antecede o Natal.

O restante, oito empresas pesquisadas, situadas na Feirinha da Fronteira no

Shopping de Compras Comercial 12 de Octubre de Arroyo Concepción, apresentaram

quedas menores nas receitas, devido à comercialização de produtos de interesse geral da

população local, principalmente dos sacoleiros. Nas lojas localizadas no Shopping de

Puerto Aguirre, varia a queda nas receitas, sem demissão dos funcionários. Algumas até

contratam temporários para reforçar o atendimento e outras trabalham com quadro

reduzido e escala de férias.

Das empresas de Corumbá ligadas à cadeia produtiva da pesca que sentem maior

queda nas vendas foram: a Fábrica de gelo, com 100%, Comércio de iscas e artigos para

pescaria, 100%, Loja de artesanato e os Postos de Combustíveis 98%, 95% e 80%.

Outros empreendimentos que apresentam impactos foram: os hotéis, bares e

restaurantes, que variam entre 30%, 45%, 40% e até com queda de 50%, e um (1)

Atacadista de produtos alimentícios, com 30%, seguido do Supermercado com 5%.

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Já as lojas e oficinas de manutenção, reparos de barcos e motores, estaleiros

foram exceção, apresentando movimento normal e até acréscimo na prestação de

serviços, o que se justifica ser no período em que há reformas e manutenção dos barcos-

hotéis, botes e motores.

Os resultados obtidos de fonte primária, como os turistas de pesca de barco-

hotel, demonstram uma leve mudança de comportamento e frequência dos mesmos

nesta região de fronteira, para a prática do desporto da pesca embarcada. Primeiramente

acusamos leve queda no número de visitantes do gênero masculino e aumento do

feminino123.

Registrou-se ainda a faixa etária com maior frequência desse esporte está entre

40 a 60 anos, e a quantidade dos que estiveram pela primeira vez contabilizaram 42%

dos entrevistados, seguido por 32% que vieram de duas a cinco vezes, o que deixa claro

a renovação do mercado.

Esse novo público demonstrou que a pesca não é seu único interesse, razão pela

qual elaboramos a seguir propostas e sugestões de outras atividades de lazer que podem

ser oferecidas a esses visitantes que já frequentam a região, e que permitirá maior

aproveitamento de seu tempo livre, proporcionando conhecimento dos atrativos

histórico-culturais das cidades de Corumbá, Puerto Quijarro e Puerto Suarez, na

fronteira Brasil/Bolívia, em Mato Grosso do Sul.

Proposta Ação da pesca aliada a outras modalidades de turismo

Registramos nos últimos sete anos, a introdução, mesmo que lentamente, de

familiares que acompanham os esposos com os filhos adolescentes e crianças menores.

Essa inserção demanda proposta de mudança nos métodos de atração de turistas,

com divulgação especializada, promovendo ações integradas voltadas para a atração

direta desse novo público (mercado) de interesse que, cremos, poderá mais rapidamente

proporcionar a refuncionalização da atividade do esporte e lazer da pesca, inovando

com a introdução nos pacotes, de atividades opcionais com visitas aos atrativos voltados

ao turismo contemplativo e de natureza (rural) para grupos familiares, bem como a

modalidade de turismo histórico e cultural. É possível, então, vislumbrar uma série de

exemplos como: visita ao Museu de História do Pantanal – MUPHAN, com 8000 anos

de história da ocupação do homem na região; a Casa da Escultora Izulina Xavier – 123 Comparado com nossa pesquisa de graduação em 2003.

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ART’IZU; a Casa do Artesão; o Forte Junqueira; o Museu com animais mumificados; o

memorial dos artefatos utilizados na Guerra do Paraguai do século XVIII; a Igreja

Matriz Nossa Senhora da Candelária, padroeira da cidade; o Santuário de Nossa

Senhora Auxiliadora; as Praças da República e da Independência; o Instituto Luiz de

Albuquerque – ILA; a Ladeira Cunha e Cruz, onde ocorreu a Guerra do Paraguai na

Retomada de Corumbá; o Casario do Porto Geral, com rico acervo arquitetônico e

paisagístico neo-clássico, Art-Deco – Art-Noveau; a Estação Natureza da Fundação

Boticário, com exposição interativa; o Moinho Cultural – Projeto de acolhimento de

crianças carentes brasileiras e bolivianas, que proporciona aulas de dança clássica,

música, línguas e reforço escolar; a Cacimba da Saúde; a Casa do Massa Barro, onde

adolescentes expressam a cultura local - a fauna e flora em imagens feitas de argila; o

Cristo Rei do Pantanal, onde há, na subida, as doze passagens da Via Sacra, em imagens

de tamanho real, dentre outros.

Também é comum a demanda por pessoas que viajam em pares ou pequenos

grupos que passam por Corumbá com destino a outros países como a Bolívia - Santa

Cruz de La Sierra, onde existem atrativos, por exemplo, as Missões Jesuíticas e Salar

de Uyuni, ou seguem diretamente para o Peru, para visita às construções Incas de

Machu Pichu.

Como proposta-ação acreditou-se, inicialmente, na elaboração de um projeto

contendo o roteiro dos atrativos existentes em Corumbá e Ladário, Arroyo Concepción,

Puerto Quijarro e Puerto Suarez com possibilidade de visitação, que se denominou

Roteiro Integrado de Turismo, que traz, em seu protótipo, o inventário dos atrativos

locais-regionais, com breve descrição para avaliação e seleção do visitante, que

possibilita a formatação de vários roteiros independentes de curta duração, podendo ser

efetuado por qualquer visitante, de acordo com o tempo livre disponível, durante sua

estada na região. No entanto, para que a proposta seja assertiva, haverá necessidade da

celebração de um Acordo de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento do

Turismo Regional, inclusivo aos municípios do país vizinho que fazem parte da zona

fronteiriça Brasil/Bolívia (MS), e que demandam recursos humanos, preferencialmente

moradores locais, com possibilidade de capacitação e qualificação técnica ministrada

por profissionais de turismo de acordo com a demanda de mercado.

Para isso, serão necessários o comprometimento e a parceria dos dirigentes e

gestores das Prefeituras Municipais das cidades fronteiriças citadas, dos Órgãos

Institucionais e/ou privados, como a Fundação de Cultura e de Turismo do Pantanal, em

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conjunto com a Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo –

ACERT, mantendo parceria com Associações ou Órgãos Municipais bolivianos.

Ademais, a atuação conjunta no controle, monitoramento e atendimento aos visitantes

necessita de acompanhamento de guias turísticos e profissionais cadastrados

(monitores), com conhecimento da história e cultura regionais, devidamente cadastrados

nos municípios, e o atendimento monitorado por voucher único, que garante a qualidade

dos serviços e assegura a satisfação dos clientes. Paralelamente, promoverá a geração de

mais postos de trabalho e aproveitamento de discentes do curso de graduação de

História da UFMS, em período de estágio.

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