dissertacao arroyo jan2008

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i Dissertação de Mestrado em Economia A INSERÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA NO EMERGENTE AGLOMERADO DA MODA EM BELÉM DO PARÁ João Cláudio Tupinambá Arroyo Orientador: Dr.Sc. José Otávio Magno Pires Belém/PA - 2007

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i

Dissertação de Mestrado em Economia

A INSERÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA NO EMERGENTE

AGLOMERADO DA MODA EM BELÉM DO PARÁ

João Cláudio Tupinambá Arroyo

Orientador: Dr.Sc. José Otávio Magno Pires Belém/PA - 2007

ii

Personagens da capa (De cima para baixo e da esquerda para a direita)

1. Sigmund Freud 2. Muhammed Yunus 3. Max Weber 4. John Stuart Mill 5. Saymour Melman 6. Joseph Schumpeter 7. Jean-Baptiste Say 8. Robert Putnam 9. Michael Porter 10. Paul Singer 11. Friedrich Nietzsche 12. Milton Santos 13. Karl Marx 14. Maria da Conceição Tavares 15. John Mainard Keynes 16. Jeffrey Sahcs 17. Ignacy Sachs 18. Albert Hirschman 19. Gunnar Myrdal 20. Émile Durkheim 21. Friedrich Hayek 22. Adam Smith 23. Alvin Toffler 24. Amartya Sen 25. David Ricardo 26. Vasquez Barquero 27. Índia 28. João Cardoso de Mello 29. Antonio Gramsci 30. Friedrich Engels 31. Celso Furtado 32. Boaventura de Souza Santos 33. Jeremy Bentham 34. Barão de Münchhausen 35. Miséria 36. Chê Guevara 37. Erich Fromm 38. Darcy Ribeiro 39. Andrew Oswald 40. Edward Diener 41. D. Mira

iii

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE MESTRADO EM ECONOMIA

A INSERÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DA

ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA NO

EMERGENTE AGLOMERADO DA MODA

EM BELÉM DO PARÁ

João Cláudio Tupinambá Arroyo

Orientado por

Prof. Dr. José Otávio Magno Pires

Belém do Pará – Brasil

2007

iv

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE MESTRADO EM ECONOMIA

A INSERÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DA

ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA NO

EMERGENTE AGLOMERADO DA MODA

EM BELÉM DO PARÁ

Dissertação submetida ao Programa de

Mestrado em Economia da Universidade da

Amazônia - UNAMA, como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Economia (M.Sc.).

João Cláudio Tupinambá Arroyo

Orientado por

Prof. Dr. José Otávio Magno Pires

Belém do Pará – Brasil

2007

v

FICHA CATALOGRÁFICA

ARROYO, JOÃO CLÁUDIO TUPINAMBÁ

A inserção de empreendimentos da economia popular e solidária no emergente aglomerado da moda em Belém do Pará, 2007

XIII, 248 fl, Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de Mestrado em Economia, Universidade

da Amazônia – UNAMA, 2007.

1. Economia – Dissertação 2. Economia Solidária

3. Cooperação 4. Aglomerado econômico

5. Moda/Confecção de roupas e acessórios 6. Políticas Públicas

CDDXXX

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARROYO, JCT(2007) – A inserção de empreendimentos da economia popular e solidária no emergente aglomerado da moda em Belém do Pará, 2007. Dissertação de Mestrado, Programa de Mestrado em Economia, Universidade da Amazônia, Belém, PA, 248 fl.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: João Cláudio Tupinambá Arroyo

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: A inserção de empreendimentos da economia popular e solidária no emergente aglomerado da moda em Belém do Pará, 2007

É concedida à Universidade da Amazônia – UNAMA – permissão para reproduzir cópias desta dissertação

de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor

reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a

autorização por escrito do autor.

___________________________________

João Cláudio Tupinambá Arroyo

[email protected]

Tv. Dr. Moraes, 780/307

CEP: 66.050 – 260, Belém, Pará – Brasil.

vi

A inserção de empreendimentos da economia popular e solidária no emergente aglomerado da moda em Belém do Pará, 2007

João Cláudio Tupinambá Arroyo

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE

MESTRADO EM ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

ECONOMIA.

Avaliado por:

________________________________________

Prof. Dr. José Otávio Magno Pires

(Orientador)

________________________________________

Prof. Dr. Hélio Raymundo Ferreira Filho

(Examinador Interno)

________________________________________

Prof. Dr. Paul Singer

(Examinador Externo)

BELÉM, PARÁ – BRASIL

DEZEMBRO DE 2007

vii

DEDICATÓRIA

À minha esposa, Betânia, por seu amor, dedicação e competência.

À minha mãe, Argemira, melhor economista que conheci.

À minha família, que por mim sempre tudo fez.

Aos empreendedores da Economia

Popular e Solidária, razão maior

deste trabalho.

DEDICO.

viii

AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Betânia, por sua força e fé, pelo amor, auxílio e encorajamento em todos

os longos momentos desta jornada, além de ter me matriculado neste mestrado, contra minha

vontade.

À minha família: minha irmã Catti, meu cunhado Célio Vasconcellos. Minha sogra, Vera,

meu sogro Raimundinho(em memória), meus cunhados, Antônio, Júnior, Vera e Paulinho e todos

os sobrinhos. Por serem a principal demonstração científica, da mais importante pretensão desta

dissertação, a de que sem cooperação e solidariedade qualquer relação humana, inclusive a

econômica, perde eficácia e sentido. Além do grande amor a mim sempre dispensado.

Em especial minha mãe, D. Mira, que além de amor e proteção, me elevou com

ensinamentos morais e éticos, a partir de seu próprio exemplo de vida, nos momentos mais difíceis

que tivemos, o que, seguramente, me fizeram ser o que sou e sonhar chegar onde, um menino que

começou como office-boy aos 11 anos de idade, se fosse outro, jamais sonharia.

À Diretoria da FAP (Faculdade do Pará), na pessoa da Dra Maria Sônia Rodrigues Gluck

Paul, pelo apoio financeiro durante todo o curso. Aos colegas da FAP, pelo apoio e compreensão

nos momentos em que houve a necessidade de priorizar a finalização deste estudo.

Particularmente, o Prof. M.Sc Hélcio Monteiro, que com Betânia Fidalgo me deram grande auxílio

na revisão do texto final, além de estarem sempre dispostos a, gratuitamente, trocar reflexões

sobre os desafios da ciência econômica.

Ao meu orientador, Professor Dr. José Otávio Magno Pires, pelas descobertas teóricas,

esclarecimentos e pela agradável maneira com que conduziu esta orientação, sempre buscando

uma relação de cooperação e integração. E aos Profs, Dr. Hélio e Dr. Carlos Augusto pelo apoio e

por aceitarem fazer a qualificação desta dissertação.

Aos Professores e amigos, Francisco Costa, o Chiquito, e Antônio Cordeiro de Santana

que, como Betânia, me ins(piraram) profundamente a tomar a carreira acadêmica.

À Joana Mota, Vera, Sr. Miguel, Carlos Raposo e todos os empreendedores populares com

quem aprendi, nestes últimos seis anos, que economia é muito mais do que aparece na televisão e

na maioria dos livros, que o principal fator de produção é gente, em sua integridade indivisível, com

tudo o que isso significa.

E, a todos os outros que, contribuíram para que a Economia Solidária passasse a ser, além

de objeto de pesquisa, opção de vida.

ix

CREO (Erich Fromm)

1.- Creo que la unidad del hombre, a diferencia de otros seres vivientes, se debe a que el hombre es la vida consciente de sí misma. El hombre es consciente de sí mismo, de su futuro, que es la muerte ; de su pequeñez, de su impotencia. Es consciente del otro en cuanto otro. El hombre está en la naturaleza, y sometido a sus leyes, aunque la trascienda con el pensamiento.

2.- Creo que el hombre es consecuencia de la evolución natural : que ha nacido del conflicto de estar preso y separado de la naturaleza y de la necesidad de hallar unidad y armonía con ella.

3.-Creo que la naturaleza del hombre es una incoherencia, debida a las condiciones de la existencia humana, que exige buscarle soluciones, las cuales a su vez crean nuevas incoherencias y la necesidad de nuevas soluciones.

4.- Creo que toda solución a estas incoherencias puede cumplir realmente la condición de ayudar al hombre a superar el sentimiento de separación y a lograr un sentimiento de concordancia, comunidad y participación.

5.- Creo que, en toda solución a estas incoherencias, el hombre sólo tiene la posibilidad de escoger entre avanzar o retroceder. Estas opciones, que se manifiestan en actos precisos, son medios para rebajar o para desarrollar la humanidad que tenemos dentro.

6.-Creo que la alternativa fundamental para el hombre es la elección entre "vida" y "muerte", entre creatividad y violencia destructiva, entre la realidad y el engaño, entre la objetividad y la intolerancia, entre fraternidad con independencia y dominio con sometimiento.

7.- Creo que podemos atribuir a la "vida" el significado de continuo nacimiento y constante desarrollo.

8.-Creo que podemos atribuir a la "muerte" el significado de suspensión del desarrollo y continua repetición.

9.- Creo que, con la solución regresiva, el hombre trata de encontrar la unidad librándose del insoportable miedo a la soledad y a la incertidumbre, desfigurando lo que lo hace humano y lo atormenta. La orientación regresiva se desarrolla en tres manifestaciones, juntas o separadas : La necrofilia, el narcisismo y la simbiosis incestuosa.

Por necrofilia entiendo el gusto por todo lo que es violencia y destrucción : el deseo de matar, la adoración de la fuerza, la atracción por la muerte, el suicidio y el sadismo y el deseo de transformar lo orgánico en inorgánico sometiéndolo al "orden". El necrófilo, por carecer de las cualidades necesarias para crear, en su impotencia encuentra más fácil destruir, porque para él sólo una cualidad tienen valor : la fuerza.

Por narcisismo entiendo la falta de un interés autentico por el mundo exterior y un intenso apego a uno mismo, al grupo, clan, religión, nación, raza, etc., con graves distorsiones del juicio racional. En general, la necesidad de satisfacción narcisista deriva de la necesidad de compensar una pobreza material y cultural.

Por simbiosis incestuosa entiendo la tendencia a seguir ligado a la madre y a sus equivalentes : la estirpe, la familia o la tribu ; a descargarse el insoportable peso de la responsabilidad, la libertad y la

x

conciencia, para ser protegido y amado en un estado de seguridad con dependencia, que paga el individuo con el cese de su propio desarrollo humano.

10.-Creo que , escogiendo avanzar, el hombre puede encontrar una nueva unidad mediante el pleno desarrollo de todas sus energías humanas, que se muestran en tres orientaciones, juntas o separadas : la biofilia, el amor a la humanidad y a la naturaleza y la independencia y libertad.

11.- Creo que el amor es la llave principal para abrir las puertas al "crecimiento" del hombre. El amor y la unión a alguien o algo fuera de uno mismo permite trabar relaciones con otros, sentirse uno con otros, sin reducir el sentido de integridad e independencia. El amor es una orientación positiva, para la cual es esencial que se hallen presentes al mismo tiempo la solicitud, la responsabilidad, el respeto y el conocimiento del objeto de unión.

12.- Creo que la experiencia del amor es el acto más humano y humanizador que es dado gozar al hombre y, como la razón, carece de sentido si se entiende de manera parcial.

13.-Creo en la necesidad de "liberación" de los lazos, externos o internos, como condición para poder tener la "libertad" de crear, obrar, querer saber, etc., para poder llegar a ser un individuo libre, activo y responsable.

14.- Creo que libertad es la capacidad de obedecer la voz de la razón y del conocimiento, en contra de las voces de las pasiones irracionales. Es la emancipación que libera al hombre y lo pone en el camino de emplear sus facultades racionales y de comprender objetivamente el mundo y el papel que en éste representa.

15.- Creo que la "lucha por la libertad" tiene, en general, el sentido excluido de lucha contra la autoridad impuesta sobre la voluntad individual. Hoy "lucha por la libertad" debe significar liberarnos, individual y colectivamente, de la "autoridad" a la que nos hemos sometido "voluntariamente" : liberarnos de las fuerzas interiores que exigen este sometimiento porque somos incapaces de soportar la libertad.

16.- Creo que la "libertad de elección" no siempre es igual para todos los hombres en todo momento. El hombre de orientación exclusivamente necrofílica, narcisista o simbiótico incestuosa, puede tomar sólo una opción regresiva. El hombre libre, liberado de lazos irracionales, no puede tomar ya una opción regresiva.

17.- Creo que el problema de la libertad de elección existe sólo para el hombre de orientaciones contrapuestas, y que esta elección siempre está estrechamente condicionada por deseos inconscientes y por justificaciones tranquilizadoras.

18.- Creo que nadie puede "salvar" a su prójimo decidiendo por él. Únicamente podrá ayudarlo señalándole alternativas posibles, con toda sinceridad y amor, sin sensiblería ni engaño alguno. La conciencia intelectiva de las alternativas liberadoras puede reavivar en un individuo sus energías ocultas y ponerlo en el camino en el que escoja la "vida", en lugar de la "muerte".

19.- Creo que la igualdad se siente cuando, al descubrirse uno mismo por completo, se reconoce igual a otros y se identifica con ellos. Todo individuo lleva la humanidad en su interior. La "condición humana" es única e igual en todos los hombres, a pesar de las inevitables diferencias de inteligencia, talento, estatura, color, etc.

20.- Creo que la igualdad entre los hombres se debe recordar especialmente para evitar que uno se convierta en instrumento de otro.

xi

21.- Creo que la fraternidad es el amor dirigido a nuestros semejantes. No obstante, se quedará en palabra hueca mientras no se hayan eliminado todos los lazos "incestuosos" que impiden juzgar objetivamente al "hermano".

22.- Creo que el individuo no puede entablar estrecha relación con su humanidad en tanto no se disponga a trascender su sociedad y a reconocer de qué modo ésta fomenta o estorba sus potenciales humanas. Si le resultan "naturales" las prohibiciones, las restricciones y la adulteración de los valores, es señal de que no tiene un conocimiento verdadero de la naturaleza humana.

23.- Creo que la sociedad ha chocado siempre con la humanidad, aun teniendo una función a la vez estimulante e inhibitoria. La sociedad no dejará de paralizar al hombre y promover la dominación hasta que su fin se identifique con el de la humanidad.

24.- Creo que podemos y debemos esperar una sociedad cuerda que fomente la capacidad del hombre de amar a sus semejantes, de trabajar y crear, de desarrollar su razón y un sentido real de sí mismo basado en la experiencia de su energía positiva.

25.- Creo que podemos y debemos esperar la recuperación colectiva de una salud mental caracterizada por la capacidad de amar y crear, por la liberación de los lazos incestuosos con el clan y la tierra, por un sentido de identidad basado en la experiencia que tienen de sí mismo el individuo como sujeto y agente de sus facultades y por la capacidad de influir en la realidad exterior e interior a uno mismo, logrando el desarrollo de la objetividad y de la razón.

26.- Creo que, mientras parece que este mundo nuestro enloquece y se deshumaniza, cada vez más individuos sentirán la necesidad de asociarse y colaborar con quienes compartan sus preocupaciones.

27.- Creo que estos hombres de buena voluntad, no sólo deben hacerse una interpretación humana del mundo, sino que también deben señalar el camino y trabajar por su posible transformación : la interpretación sin voluntad de reforma es inútil ; la reforma sin previa interpretación es ciega.

28.- Creo posible la realización de un mundo en que el hombre "ser" mucho aunque "tenga" poco ; un mundo en que el móvil dominante de la existencia no sea el consumo ; un mundo en que el "hombre" sea el fin primero y último ; un mundo en que el hombre pueda encontrar la manera de dar un fin a su ida y la fortaleza de vivir libre y desengañado.

Fragmentos del libro "El humanismo como utopía real ", de Erich Fromm

xii

RESUMO

A Sociedade brasileira dá sinais cada vez mais nítidos de estar assumindo a responsabilidade por seus destinos. Um dos consensos estabelecidos é com relação ao absurdo da concentração de renda e poder no Brasil, como fator perverso do crescimento econômico e avesso ao desenvolvimento. Outro consenso, importante é o de que já não basta aguardar, nem mesmo apenas reivindicar soluções estruturais das esferas e lideranças políticas – algo precisa ser feito no espaço público da sociedade, sem que seja uma iniciativa totalmente estatal. As pessoas se juntam espontaneamente procurando soluções alternativas a partir de sua contribuição direta particular. Estamos assistindo o surgimento de uma nova cultura política que após acumular vitórias no campo social, ambiental e dos direitos cidadãos, começa a avançar na direção da economia – esfera cabal da efetivação prática, ou não, dos direitos conquistados para além do marco político-jurídico. No entanto, o desafio da transformação dos problemas em oportunidades de desenvolvimento humano, exige mais do que uma consciência teórica. Está a exigir a capacidade de materializar novas relações políticas, sociais e econômicas. Do conjunto das alternativas visíveis hoje, consideramos que há uma discreta tendência a construção de uma síntese possível – menos na academia ainda, e bem mais na política e na prática cotidiana da economia da maioria das pessoas. A Economia Popular e Solidária é uma das dimensões desta síntese possível. Neste estudo, o central está em indicar o processo emergente da aglomeração econômica da moda no qual se insere o setor de confecção da Economia Popular e Solidária, identificar os processos que colocam a cooperação no centro das estratégias competitivas que aos poucos vai mudando profundamente as relações entre os agentes socioeconômicos e criando uma alternativa que já conquistou merecimento de maior respeito como alvo de políticas públicas econômicas e lugar certo na estratégia de um novo modelo de desenvolvimento, justo e sustentável. Ao fim, oferecemos sugestões tanto de políticas públicas quanto de estratégias mercadológica para que os empreendedores populares, protagonistas deste processo, tenham mais alternativas de se viabilizar econômica e como seres humanos dignos que são.

PALAVRAS-CHAVE: Economia Popular e Solidária, Aglom erado, Cooperação,

Competitividade

xiii

ABSTRACT

Brazilian society are sending signs that is getting the responsibility for their own destiny. One of the established consensuses is with regard to the nonsense of the concentration of income and power in Brazil, as perverse factor of the economic growth and against to the development. Another important consensus is that it is not enough to wait anymore, not even to demand structural solutions of the spheres and politic leaderships - something needs to be made in the public space of the society, without it is a total state initiative. The people are joining each other spontaneously looking for alternative solutions from its particular direct contribution. We are expecting the dawn of a new politic culture witch after getting great victories in the social, environmental and right fields, goes ahead toward the economics conditions of living – exactly where the rights become a reality, or not, even when the law says yes. However, the challenge of the transformation of the problems in chances of human development, demands more than what a theoretical conscience. We need, today, the capacity to materialize new relationships - politics, social and economic. Of the set of the visible alternatives today, we consider that it has a discrete trend to the construction of a possible synthesis – less in the academy and much more in the practical politics and the daily one of the economy of the majority of the people. The Solidary and Popular Economy is one of the dimensions of this possible synthesis. In this study, the central office is in indicating the increasing process of the economic fashion agglomeration where sector of confection of the Popular and Solidary Economy is in, to identify the process that place the cooperation in the center of the competitive strategies that, step by step, goes deeply changing the relations between the social and economics agents and creating an alternative who already conquered merit of bigger respect as aim of economic public policies and certain place in the strategy of a new model of development, fair and sustainable.To the end, we offer such a way of suggestions of public policies and strategies marketing so that the popular entrepreneurs, protagonists of this process, have more alternatives to make possible them selves successful in the real economy as worthy human beings that they are.

KEY-WORDS: Popular and Solidary Economy, Cluster, C ooperation, Competitiveness.

xiv

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................

1

2. METODOLOGIA................................................................................................

8

3. TEORIA DE BASE ...........................................................................................

20

3.1 A CAUSAÇÃO CIRCULAR ACUMULATIVA E OS FATORES NÃO-

ECONÔMICOS EM MYRDAL..................................................................

20

3.1.1 Equilíbrio Dinâmico: A Circularidade Espiral da Interação

dos vetores econômicos............................. .......................................................

23

3.1.2 A Premissa Irrealista dos Fatores Não-Econômi cos.................

25

3.1.3 A Abordagem Complexa da Economia e a Lógica d a

Distribuição de Renda e Riqueza.................... ...................................................

28

3.1.4 Desenvolvimento Local e Desenvolvimento Endóg eno............

33

3.2 EFEITOS EM CADEIA, EM HIRSCHMAN.........................................

38

3.2.1 Cadeia Produtiva, Visão Sistêmica e Complexid ade................

38

3.2.2 Efeitos em Cadeia............................ ............................................

41

3.3. AGLOMERADOS (CLUSTERS), EM PORTER...............................

54

3.3.1 Espaço e Território.......................... .................................................

56

3.3.2 Aglomerados e Setores........................ ..........................................

61

3.3.3 Ambiente de Negócios e Competitivi dade.................................

63

3.3.4 O Diamante de Porter.............. .....................................................

65

xv

3.3.5 A Competitividade da localidade.............. ...................................

68

3.3.6 Estratégia Coorporativa...................... ..........................................

70

3.3.7 Cadeia de Valores e Marketing................ ....................................

73

3.3.8 Liderança, Investimento, Compatibilidade e Ge stão da

Informação......................................... ...................................................................

78

4. REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................

81

4.1 COOPERAÇÃO ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE.....................

81

4.1.1 A Divisão do Trabalho Social e a desumanizaçã o da

economia........................................... ................................................................

84

4.1.2 Cooperação e Competitividade................. ................................

92

4.2 ECONOMIA SOLIDÁRIA.................................................................

107

4.2.1 Breve histórico.............................. ..............................................

107

4.2.2 Economia Solidária no Brasil......... ........................................

110

4.2.3 Conceitos............................ ......................................................

112

4.2.4 Princípios da Economia Solidária no Br asil...........................

117

4 .2.5 As dimensões da Economia Popular e Solidária no Brasil.......

119

4.3. O SETOR TÊXTIL-CONFECÇÕES..................................................

126

4.3.1 A cadeia têxtil-confecções(ctc) e os mercados ........................

129

xvi

4.3.2 A formatação geral da ctc (cadeia têxtil-conf ecções)...............

131

4.3.3 As tendências do mercado têxtil mundial e o B rasil.................

134

4.3.4 A indústria têxtil de confecções e a estratég ia de

desenvolvimento.................................... .............................................................

134

4.3.5 O papel das PME’s (pequenas e micro empresas) e da

economia popular solidária na indústria têxtil de c onfecções .......................

135

4.3.6 A indústria têxtil de confecções no Pará..... ...............................

139

4.3.7 A Questão da Moda como Fator Econômico ...... .......................

141

4.3.8 A Indústria Têxtil de Confecções e o Potencia l Dos

Aglomerados ....................................... ................................................................

144

5. O PONTO DE PARTIDA..................................................................................

148

6. A CADEIA VERTICAL ......................................................................................

159

7. A CADEIA HORIZONTAL....................................................................... ........

184

8. AS INSTITUIÇÕES DE APOIO.........................................................................

202

9. AS INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS........................................................

211

10. AS AGÊNCIAS DE REGULAÇÃO...................................................................

224

11. A INSERÇÃO DA ASCOOP NO AGLOMERADO DA MODA.........................

231

12. AGLOMERADO: ESPAÇO SUPERIOR DE SOLIDARIEDADE

238

13. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGLOMERADO DE CONFECÇÃO DA ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA...

246

xvii

14. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................

254

15. REFERÊNCIAS................................................................................................

257

ANEXOS

xviii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Formas de organização da Economia Solidária..................... 3

Tabela 2 Estrutura-Ação das Sociedades Capitalistas.......................... 71

Tabela 3 Valor Agregado pela Cooperação.......................................... 114

Tabela 4 Distribuição de EES............................................................... 133

Tabela 5 Balanço da Empregabilidade no Setor Têxtil-Confecções

2007........................................................................................

141

Tabela 6 Participação do Norte na Produção Física Nacional Têxtil-

Confecções..............................................................................

151

Tabela 7 Percepção dos Empreendedores de Confecção Popular

quanto aos Fatores Limitantes do desenvolvimento do

aglomerado............................................................................

198

Tabela 8 Principais agentes do Aglomerado de Confecção da

economia Popular e Solidária em Belém ..............................

201

Tabela 9 Produtos demandados e motivações declaradas pelos

clientes de confecção popular.................................................

201

184

LISTA DE FIGURAS

Fig 1 Mapa de Atuação da ASCOOP e Pólos......................................... 29

Fig 2 Hierarquia dos Sistemas segundo Bertalanffy................................ 53

Fig 3 O Diamante de Porter – Vantagem Competitiva das nações......... 78

Fig 4 O Efeito H de Vázquez Barquero................................................... 77

Fig 5 Fontes da Vantagem Competitiva da Localização......................... 81

Fig 6 Complexo Congressual, Industrial, Militar de Seymour Melman e

outros..............................................................................................

84

Fig 7 Cadeia de Valores.......................................................................... 88

Fig 9 Globalização e Território em Milton Santos.................................... 117

Fig 10 Diagrama Evolução dos Modos de Produção................................. 120

Fig 11 Rede de Relações Institucionais da Economia Solidária no Brasil. 134

Fig 12 Mapa da Concentração Territorial dos EES no Brasil..................... 135

Fig 13 Gráfico da Evolução do Número de EES de 79 a 2005.................. 136

Fig 14 Gráfico da Evolução do Número de EES por Região Territorial..... 136

Fig 15 Gráfico do Número de EES por Atividade....................................... 137

Fig 16 Gráfico do Percentual de EES por Faixa de Remuneração............ 137

Fig 17 Gráfico dos Investimentos na Ind. Têxtil-Confecções 90/2001....... 140

Fig 18 Diagrama da Cadeia Produtiva Têxtil-Confecções no Brasil.......... 143

Fig 19 Tabelas do Complexo Têxtil-Confecções....................................... 144

Fig 20 Diagrama Novos Formatos Institucionais e Financeiros para

Promoção de Sistemas de PME´s.................................................

148

Fig 21 Modelo do Aglomerado Têxtil-Confecções do Vale do Itajaí-SC.... 149

Fig 22 Gráficos do Perfil dos Empreendimentos do Setor de Confecção

Popular.........................................................................................

160

Fig 23 Gráficos sobre a relação do Setor de Confecção Popular com

Fornecedores..................................................................................

162

Fig 24 Gráficos da relação do setor de Confecção Popular com

Clientes...........................................................................................

163

Fig 25 Gráficos da Relação entre os Empreendedores/as do Setor de

185

Confecção Popular.......................................................................... 164

Fig 26 Gráficos da Percepção de agentes Correlatos............................... 165

Fig 27 Gráficos sobre o Perfil econômico dos Empreendimentos do

Setor de Confecção Popular...........................................................

166

Fig 28 Gráficos sobre a Motivação para a Cooperação no Setor de

Confecção popular.........................................................................

168

Fig 29 Gráficos do Perfil dos Clientes do Setor de Confecção Popular.... 170

Fig 30 Gráficos da Relação dos Clientes com o Setor de confecção

Popular ..........................................................................................

171

Fig 31 Gráfico das Motivações dos Clientes para consumir confecção

popular...........................................................................................

172

Fig Gráficos do perfil Econômico dos Empreendimentos Clientes do

Setor de Confecção Popular..........................................................

173

Fig 32 Gráficos do Perfil da participação dos Fornecedores no Setor de

Confecção Popular..........................................................................

174

Fig 33 Gráficos da Relação dos Fornecedores com o Setor de

Confecção Popular..........................................................................

175

Fig 34 Gráficos da Articulação entre Fornecedores do Setor de

Confecção Popular..........................................................................

176

Fig 35 Gráficos do Perfil Econômico dos Fornecedores do setor de

Confecção Popular ........................................................................

177

Fig 36 Gráfico da Percepção dos Fornecedores das Instituições

Correlatas ......................................................................................

178

Fig 37 Gráficos do Perfil das organizações Correlatas ao setor de

Confecção Popular ........................................................................

179

Fig 38 Gráficos da Relação dos Correlatos com o Setor de Confecção

Popular..........................................................................................

180

Fig 39 Gráficos do Perfil Econômico dos Empreendimentos Correlatos

ao Setor de Confecção Popular......................................................

182

Fig 40 Círculo Vicioso da Economia Popular e Solidária, setor de

confecção em Belém do Pará........................................................

192

186

Fig 41 Circulo Virtuoso da Economia Popular e Solidária, setor de

confecção em Belém do Pará ........................................................

193

Fig 42 Desenho do Aglomerado de Confecção da Economia Popular e

Solidária em Belém do Pará ..........................................................

194

187

APRESENTAÇÃO

Realidades sem teoria são realidades inexistentes. Ou, quando se trata de realidades sociais, são existentes ‘apenas’ na lide real-concreta dos que as conformam, luta cotidiana que por vezes não tem outro sentido que o da razão imediata e primária da existência enquanto problema de cada um; ou, para os que as observam, existem como representações místicas de um outro fantasmagórico, imaterial, obviamente não-igual, reveladamente não-antagônico. Talvez incômodo – como tal, entulho a ser removido. Talvez má presença – a qual se evita, da qual se esconde. No melhor dos tratamentos, um reconhecimento na condição de marginal, seja porque desprezível, seja porque rumo à degradação – lumpen. (Francisco Costa)

Este estudo pretende se somar a tantos outros que recentemente têm

lançado luzes sobre a realidade de, pelo menos, 20 milhões de brasileiros e

brasileiras, definidos pelo IBGE como “economia informal”, “trabalhadores por

conta própria”, “micro e pequenos empresários”.

Segundo o Sebrae(2000) – Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Micro

Empresa, este é o único segmento econômico que tem gerado 80% dos postos de

trabalho do país – dentre os quais 95% dos novos postos de trabalho – e que

movimenta algo em torno de 30% do PIB(Produto Interno Bruto) do Brasil.

Na Amazônia, os cálculos criteriosos do Prof. Dr. Francisco Costa(in Arroyo

e Schuch, 2006, p. 108), ratificam seu peso econômico, estimando uma

participação da Economia Popular no PIB da região de 21%. No Pará, 22% do PIB

é relativo à esta economia que, por ter pouca visibilidade estatística e sofrer com

os preconceitos dos “grandes” tomadores de decisão públicos e privados,

padecem com a ausência de políticas públicas adequadas para lhe colocar em

sinergia positiva com a economia de escala.

Portanto, um segmento vital para o conjunto da economia que precisa ser

tratado adequadamente para que suas potencialidades sejam otimizadas,

cumprindo um papel estratégico para a construção de um novo modelo de

desenvolvimento que seja justo, solidário e sustentável. Onde o significado de

188

“mercado” se confunda com o de “sociedade”, não se restringindo mais apenas

aos que “podem pagar”. Onde a idéia de “riqueza” esteja associada a “distribuição”

e não a “acumulação”. Enfim, onde o “trabalho” presida o “capital”. O que coloca a

Economia Popular como segmento central para a construção do projeto de

Economia Solidária, e esta sim, como solução global.

Aqui propomos compreender a economia a partir de sua unidade atômica, a

troca. A troca é um fenômeno humano – que preside inclusive a relação com o

meio ambiente. Um processo baseado na identificação de objetivos comuns ou

complementares entre as partes e, na confiança de que ambos serão satisfeitos

com a troca. Ou seja, comprar e vender significa a mesma coisa: trocar.

Em última instância, a troca envolve o mesmo objetivo dos dois lados: a

melhoria da qualidade de vida – claro que segundo as referências de cada um.

Daí propormos concluir que a motivação original da interação econômica é a

solidariedade: objetivos comuns e confiança.

Acontece que esta motivação original sofreu, e sofre, distorções à medida

que as relações humanas deixam de ser livres para se basearem em condições de

dominação. O monopólio, e seus derivados, são exemplos de relações

econômicas que distorcem o fundamento solidário, obrigando uma das partes a

uma condição sem o direito de escolha.

Na Economia Popular, apesar do conjunto do sistema econômico ser

hegemonizado por complexas situações de dominação, o principal capital é a

credibilidade, em função de quase sempre se tratar de mercados concorrenciais.

Na Economia Popular a solidariedade é, portanto, uma forte tendência intrínseca.

189

Quando nos referimos à Economia Popular estamos tratando de um

segmento da economia caracterizado, entre outros aspectos, por negócios que se

estruturam a partir do atendimento direto das demandas da população e por

estabelecerem giro local – movimentando majoritariamente seus insumos e

produtos em um determinado território.

Corroborando com o dinamismo que alimenta as diversas cadeias do

aglomerado produtivo local, além de se comunicar com cadeias que extrapolam

aquele arranjo econômico estão, por exemplo, a feira, a padaria, a mercearia, a

danceteria, a papelaria, a loja de tecidos, a loja de móveis e eletrodomésticos, a

costureira, o mecânico, o médico, o professor, a cabeleireira, o taxista, o

advogado, a cooperativa etc, todos e todas empreendedores(as) populares que

além de gerarem a sua própria inserção na economia, proporcionam a de muitos

outros.

Geram uma massa de renda e salários que alimentam o consumo no

mesmo bairro, tanto no que diz respeito a parte dos insumos produtivos – já que

outra parte importante interage com outros segmentos econômicos incluindo a

indústria e a agricultura – quanto em relação aos produtos e serviços ofertados por

eles e elas.

Já o termo Economia Solidária tem se colocado com dois significados

articulados entre si: a) segmento econômico formado pelos empreendimentos de

base cooperativa em associações, redes, empresas autogestionárias e

cooperativas propriamente ditas ou, b) projeto político-econômico global, erigido

sobre a lógica da solidariedade como dimensão fundamentalmente humana que

deveria estabelecer o centro ético a partir do qual toda engenharia institucional

social, econômica, política e cultural deveria respeitar e reproduzir.

Portanto, neste estudo, pretendemos trabalhar na interface da Economia

Popular e da Economia Solidária, denominando-a Economia Popular e Solidária,

190

tal com tem sido adotado por diversos segmentos do Fórum Brasileiro de

Economia Solidária.

Para tanto, adotamos como ferramental teórico as categorias de análise de

Gunnar Myrdal, Nobel de economia em 1976, principalmente a “Causação Circular

Cumultiva”; as de Albert Hirshman, principalmente a “Efeitos em Cadeia

(Produtivas)”; e, de Porter, principalmente, “Competitividade” e “Aglomerados

Econômicos”. Além, obviamente, do conceito de Economia Solidária, em Paul

Singer.

Estruturamos o estudo em cinco capítulos, preocupando-se no primeiro em

explanar aspectos introdutório da pesquisa.

No segundo, abre-se uma discussão teórica sobre o fenômeno em

estudo tomando como referência entendimentos sobre: causação circular

cumulativa; os efeitos em cadeia; da aglomeração econômica.

No terceiro capítulo constituiu-se na revisão da literatura onde

aspectos foram explicitados : A cooperação; a economia solidária e a industria

têxtil-confecções.

Em um quarto momento referenda-se os caminhos metodológicos

norteadores do estudo.

A partir do quinto capítulo, refletiu-se os dados de campo a luz da

teoria dos Aglomerados de Porter, aplicando-a com rigor e fundamentação. Neste

capítulo, apresentamos o Ponto de Partida do estudo e do aglomerado

descortinando-o nos capítulos seguintes.

No sexto capítulo descobrimos a Cadeia Vertical; no sétimo, a

Cadeia Horizontal; no oitavo, as Instituições de Apoio; no nono, as Instituições

Representativas; e, no décimo, as Agências de Regulação das atividades do

conjunto do aglomerado.

191

No décimo-primeiro capítulo, revelamos a interação entre o setor da

confecção popular e solidária e o contexto do aglomerado de moda ainda

emergente, mas promissor, aglomerado de moda que se conforma na capital

paraense.

No décimo-segundo capítulo, aprofundamos a reflexão sobre a

natureza da cooperação em condições de aglomerado, relacionando com o

patamar da solidariedade que ocorre na dimensão da unidade cooperativa.

No décimo-terceiro capítulo, abordamos as políticas públicas

genericamente, enfatizando as adequações, ao nosso ver, necessárias para que a

Economia Popular e Solidária se torne visível e corrobore com um novo modelo de

desenvolvimento e sociedade.

Na última parte apresentamos algumas considerações finais à guisa

de conclusão após o estudo.

Para os que de longe irão ler esta obra é que saibam : Belém é uma típica

cidade amazônica, de quase 1,5 milhões de pessoas, na foz do Rio Amazonas.

Uma metrópole que ainda sofre com os impactos da implantação “de cima” e “de

192

fora” dos grandes projetos de infra-estrutura e mínero-metalúrgicos que alçaram o

Estado do Pará ao posto de segundo maior saldo exportador da federação, ao

mesmo tempo em que a magnitude da imigração desordenada, a amplitude

galopante da devastação ambiental e o abandono da educação e da saúde, fazem

do mesmo estado um lugar onde 42% da população está abaixo da linha de

pobreza, de acordo com o PNUD/ONU.

1 INTRODUÇÃO

193

A concentração de renda no Brasil, como fator perverso do crescimento

econômico, é hoje um amplo consenso acadêmico e político. Outro consenso,

decorrente do primeiro, é que a concentração de renda gera exclusão social,

descaracterizando o crescimento (econômico/PIB) como sinônimo de

desenvolvimento (humano/IDH).

No entanto, as divergências sobre as causas e as conseqüências destes

dois consensos, percebemos, estão polarizadas majoritariamente por três campos

do pensamento político-econômico: a) A dos que trabalham com a lógica da

tendência ao Equilíbrio Estável, em que as forças de mercado são os

protagonistas do processo econômico; b) A dos que trabalham a lógica do

Equilíbrio Instável, considerando que as forças do mercado por si, levam às

desigualdades e desequilíbrios, demandando permanente intervenções

reguladores do Estado e a consciência econômica do consumo, sobretudo; e, c) a

dos que trabalham a lógica de que é possível uma Sociedade “sem mercado”, já

que este seria ontologicamente avesso ao humanismo.

Embora polarizado pelo segundo campo de pensamento, consideramos que

há uma discreta tendência a construção de uma síntese possível – menos na

academia e bem mais na política. A Economia Solidária é uma das dimensões

desta síntese possível.

A Economia Popular é um segmento da economia composto por

trabalhadores/empreendedores da economia informal, trabalhadores por conta

própria, profissionais liberais, pequenos e micros empresários, de acordo com a

nomenclatura adotada pelo IBGE. Portanto, não importando renda nem a situação

jurídica do empreendimento, desde que não signifique a quebra do código penal:

pirataria, narcotráfico entre outros e, correlatos.

Já a noção de Economia Solidária, implica no Projeto de Sociedade onde

a economia se sustentaria majoritariamente a partir de relações econômicas

baseadas na cooperação, tanto na produção quanto no consumo, em um contexto

de humanização do conjunto das relações mantidas na Sociedade. Enquanto

194

Projeto político, portanto, a Economia Solidária é também movimento social,

empenhado pragmaticamente na utilização dos parâmetros e princípios adotados,

em práticas cotidianas que já sustentam centenas de milhares de pessoas através

do cooperativismo, de empresas auto-gestionárias, associações, redes, grupos

entre outras formas de expressão da solidariedade na economia no mundo.

Vale frisar que aqui, “solidariedade”, se diferencia de caridade.

Implicando, não em uma relação vertical – entre quem tem e quem não tem –

mas, em uma relação horizontal entre sujeitos que se reconhecem e identificam

objetivos comuns, partilhando estratégias de sucesso e resultados,

equilibradamente (ALAIN CAILLÉ IN MEDEIROS e MARTINS, 2002, p.59).

A Economia Popular e Solidária é o segmento que mais emprega no Brasil,

alcançando, por sua capilaridade, 95% dos novos postos de trabalho e 65% da

mão de obra efetivamente ocupada no Brasil, segundo Sebrae e IBGE. Ademais,

é aquele que apresenta a menor demanda de capital (os bancos do povo têm

gerado trabalho direto a 700 reais cada).

No Brasil, o SIES - Sistema Nacional de Informações da Economia

Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, levantou, considerando

estritamente os empreendimentos de produção cooperada, os dados da tabela

abaixo:

Forma s de org anização da ecosol

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO QUANTIDADE Grupo informal 5.086Associação 8.281Cooperativa 1.634Sociedade mercantil por cotas de responsabilidade limitada 52Sociedade mercantil em nome coletivo 52Sociedade mercantil de capital e indústria 101Outra 113TOTAL 15.319

Tab. 1 Formas de Organização da Economia Solidária, Fonte: SIES, 2005.

195

Por sua vez, na Amazônia, segundo cálculos de Costa (in ARROYO e

SCHUCH, 2006, p. 108),

ratificam seu peso econômico, estimando uma participação da Economia Popular no PIB da região de 21%. No Estado do Pará, esta participação atinge 22% do PIB, mas que, por ter pouca visibilidade estatística, sofre com os preconceitos dos “grandes” tomadores de decisão públicos e privados e padecem com a ausência de políticas públicas adequadas para lhe colocar em sinergia positiva com a economia de escala.

No entanto, existem muitos problemas culturais, políticos e econômicos

para o resgate da cultura da solidariedade – que não se confunda com caridade.

Tal resgate, é central para construirmos as condições fundamentais do novo

modelo de desenvolvimento, estimulando os formatos associativos entre os

empreendedores populares, como cooperativas, associações, fóruns, conselhos,

grupos de compra conjunta, clubes de troca etc.

Ademais, o sistema financeiro nacional ainda apresenta muitos óbices para

a constituição de um Sistema de Finanças Solidárias, que combine diversos

produtos financeiros dirigidos aos empreendedores populares como crédito

popular/microcrédito, poupança, seguro, cartão de crédito, troca de cheque etc, é

um instrumento indispensável que deve vir umbilicalmente associado à formação e

à organização dos empreendedores populares.

Também é ainda muito precária a atenção com a pesquisa que gere

tecnologias adequadas à natureza e à escala dos negócios populares, para que os

produtos e serviços do segmento ganhem qualidade e competitividade.

A adaptação do instrumental mercadológico também é fundamental para

que se tenha parâmetros científicos para dialogar com a cultura de consumo,

inserindo novos paradigmas culturais e éticos.

Acima de tudo, são pouco identificadas as cadeias produtivas locais e

ocorre uma baixa compreensão da interação destas em arranjos econômicos

locais. Assim, torna-se indispensável desenvolver metodologias que considerem o

196

empreendedor popular como sujeito protagonista do processo organizativo

econômico e social.

A análise da Economia Popular e Solidária também requer reflexões

sobre como os empreendimentos da Economia Popular conseguem sobreviver, e

eventualmente até crescer, nas condições dadas para suas operações. A

observação direta revelou que há muito a Economia Popular recorre a estratégias

de cooperação com empreendedores do mesmo ramo, para superarem barreiras

que sozinhos não teriam capacidade. As feiras e outras aglomerações revelam

que a partilha do espaço de comercialização, a sinergia na relação com

fornecedores e clientes, bem como a atratividade de empreendimentos correlatos

e instituições públicas e privadas de assessoria e capacitação, são registros

imemoriais de que a aglomeração econômica tem sido uma estratégia vitoriosa.

Fato vivenciado desde as primeiras cooperativas da localidade britânica de

Rochedale, passando pela mega estrutura cooperativa de Mondragon na Espanha

e pela revolucionária iniciativa financeira de Muhamed Yunus, em Bangladesh.

Mais recentemente, Porter apontou que alguns dos grandes pólos de

desenvolvimento na face da Terra apresentam como forte semelhança o fato de

que se organizam em “aglomerados”, um sistema no qual as empresas, o governo

e outras instituições não governamentais competem, mas, principalmente,

cooperam, para a promoção da eficiência. Alguns destes aglomerados seriam o

complexo da informática no Vale do Silício, o complexo médico-hospitalar em

Boston e o Farmacêutico em New Jersey e New York.

Assim, Porter aponta que a cooperação é um elemento que eleva a

competitividade das empresas e, portanto, do sucesso econômico corporativo, o

qual possuiria direta relação com a capacidade de promoção da simultaneidade

entre esta e a competição. Esta última deveria florescer dentro de um mesmo

setor, enquanto a cooperação permitiria inúmeras outras relações ascendentes

entre as empresas, entre as empresas e instituições e entre as empresas e o

governo.

197

Em Belém, desenvolveu-se, nos últimos anos, uma série de pequenos

empreendimentos da atividade de confecções, com desdobramentos que se

anunciam promissoras. No entanto, mesmo assim, para uma avaliação melhor das

perspectivas destes negócios e, acima de tudo, para que se venha a elaborar

políticas públicas que melhor permitam o sucesso dos mesmos, foi realizada

investigação que queria saber se estes empreendimentos de confecção já

estariam fazendo parte de um aglomerado, ou “cluster”, como coloca Porter.

Assim, a pergunta utilizada por esta pesquisa foi exatamente a seguinte: Existem

elementos suficientes para afirmar que os empreendimentos de confecção e

acessórios da ASCOOP estão inseridos em um emergente aglomerado da moda,

em Belém?

Para nortear a busca da resposta para a indagação desta pesquisa, foi

estabelecida como resposta provável, ou hipótese, a seguinte afirmativa: Já

haveria elementos suficientes para afirmar que os empreendimentos de confecção

e acessórios da ASCOOP participam de um emergente aglomerado da moda, em

Belém.

Foi também utilizada uma sub-hipótese que supôs que a não visibilidade

e, principalmente, falta de identificação da emergência de um aglomerado da

moda pelos órgãos de políticas públicas tem impedido que o governo não esteja

apresentando mecanismos de remoção dos obstáculos ao crescimento, portanto,

de melhoria deste aglomerado.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi realizar um estudo exploratório,

investigativo/analítico, visando verificar a existência de elementos suficientes para

caracterizar que o conjunto de empreendimentos de confecção e acessórios da

ASCOOP participa de um emergente aglomerado da moda, em Belém.

E para alcançar tal objetivo foram estabelecidos os seguintes objetivos

específicos:

198

a. caracterizar o conjunto de empreendimentos de confecção popular, em

Belém.

b. levantar a cadeia vertical de empresas em relação ao conjunto de

empreendimentos de confecção popular, em Belém.

c. levantar os setores correlatos à atividade de confecção popular e

solidária;

d. identificar o apoio de instituições governamentais e não

governamentais ao conjunto de empreendimentos de confecção popular, em

Belém;

e. demonstrar que, claramente, o governo não apoiou, nem buscou

iniciativas que permitissem a remoção de obstáculos ao crescimento do

aglomerado de confecção popular, em Belém

Por todos os elementos até aqui levantados, desde a percepção da

magnitude que a Economia Popular e Solidária possui na economia nacional e

regional, até os impactos que se pode proporcionar através dela sobre o conjunto

da sociedade na perspectiva da distribuição de renda, equilíbrio dos fundamentos

macroeconômico e na qualidade das relações sociais, políticas e econômicas que

travamos, justifica-se a realização de pesquisa sobre a possível conformação de

um aglomerado a partir do conjunto de empreendimentos de confecção e moda

popular, em Belém.

Também, justifica-se pela novidade do objeto e da abordagem. Um objeto

que ainda precisará muito mais esforços para desvelá-lo e torná-lo elemento do

cotidiano do conjunto de investigações que de alguma forma de dirigem a

contribuir com o desenvolvimento humano. E, uma abordagem inovadora que

procura se adaptar às condições originais do objeto ousando assumir riscos

metodológicos medidos para poder concluir com máxima simplicidade a cerca de

um elemento básico, porém fundamental para oferecer suporte para investigações

199

futuras, digo da constatação da existência do aglomerado de moda em Belém do

Pará. Perfil que torna esta iniciativa científica inédita.

Além do autor deste trabalho tomar a economia popular e solidária como

a questão central de seu trabalho profissional e militância, entende-se que esta

pesquisa pode contribuir para melhor desenhar políticas promovendo a Economia

Popular e Solidária, para que, assim, possam ser incluídas nos PPAs - Plano

Plurianual, do governo federal e do governo estadual do Pará, não apenas por

uma questão moral, mas também por sua competência em incluir pessoas e

distribuir renda pela própria via da economia e não pela exclusiva via das políticas

sociais com que se trata os segmentos econômicos populares.

No entanto, além de uma nova teoria e uma nova estratégia é preciso

construir uma nova percepção social da Economia Popular e Solidária.

Neste estudo, foi reforçada, cientificamente, a importância do papel a ser

cumprido pela Economia Popular e Solidária para o sucesso do processo de

desenvolvimento. Se trabalhada adequadamente em sinergia com outros

segmentos, a Economia Popular, urbana e rural, poderá contribuir até mesmo para

com as exportações, fortalecendo a moeda e, portanto, equilibrando o câmbio.

O incremento da Economia Popular traz um sincronismo entre a geração

de empregos e de produtos/serviços, tendendo a estabelecer uma relação entre

oferta e demanda que proporcione o equilíbrio dos preços, evitando a inflação.

Portanto, a Economia Popular é uma das peças importantes para melhorar o perfil

dos fundamentos macroeconômicos do país.

No entanto, é preciso destacar que a Economia Popular se diferencia de

outros segmentos da economia por estabelecer a possibilidade mais nítida de

inverter a ordem entre o econômico e o social, ao mesmo tempo em que reforça a

relação dialética entre o social e o econômico: o econômico é o social e, ao

mesmo tempo, o social é o econômico.

200

Finalmente, mas não menos importante, a Economia Popular está

diretamente ligada à segurança alimentar da população, ao usufruto de direitos

básicos, à inserção econômica do cidadão ou cidadã, à conquista de uma vida

com dignidade e à melhoria da qualidade de vida.

2 METODOLOGIA

201

É impossível totalizar pela razão este país. Como alguém poderia explicar teoricamente os acontecimentos que vi?... Em 1959, Celso Furtado publica Formação Econômica do Brasil . Já tinha lido Caio Prado Júnior. Fui ler então Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda e Casa Grande e Senzala, do Gilberto Freyre. Aí não entendi mais nada, porque tudo era verdade: a nação, a aliança operário-camponesa, os senhorios cordiais, o tropicalismo. Não dá para pensar este país com as categorias européias. O Brasil não suporta teses definitivas, é sempre recorrente: quando se pensa que uma coisa acabou, ela volta.

Maria da Conceição Tavares, economista.

O presente estudo buscou, através de uma pesquisa exploratória, identificar

o fenômeno da “aglomeração”, clusters, em empreendimentos populares e

solidários de confecção e assessórios, em Belém do Pará, partindo da teoria dos

Aglomerados, de Michael Porter, apoiada pelas teorias da Causação Circular

Cumulativa, de Gunnar Myrdal, e dos Efeitos em Cadeia, de Albert Hirshman.

Estes estudos são fundamentais para que se possam estabelecer políticas

públicas para os referidos empreendimentos, voltadas para a promoção de suas

competitividades econômicas e sociais, estas últimas voltadas para a avaliação de

suas capacidades de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população

local.

A opção pela pesquisa exploratória deveu-se ao fato de que a temática não

possui um volume bibliográfico com ampla cobertura do tema, no Brasil,

especificamente, sendo seu objeto raramente alvo de pesquisas anteriores, com o

mesmo foco, ou seja, o estudo de “aglomerados” rigorosamente de acordo com a

teoria de Michael Porter (existem um número crescente de estudos utilizando

teorias similares, principalmente aquela chamada de “redes” e ainda “arranjos

produtivos locais”), daí a caracterização deste estudo como pesquisa exploratória

e inédita (SELLTIZ et al., 1967,p.63 ). Apesar disto, ousou-se trabalhar com

hipóteses definidas, cuja elaboração baseou-se, apenas, na própria metodologia

definida por Porter para a “identificação” dos “aglomerados”.

202

Inspirado em Babbie (1986), entendemos que a pesquisa exploratória, ou

estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se

apresenta, seu significado e o contexto onde ela se insere. Pressupõe-se que o

comportamento econômico é mais bem compreendido no contexto social onde

ocorre.

Assim, tem por finalidade evitar que as predisposições não fundadas no

repertório que se pretende conhecer influam nas percepções do pesquisador e,

conseqüentemente, no instrumento de medida. Não corrigido, este tipo de

tendência poderá conduzir o pesquisador a perceber a realidade segundo sua

ótica pessoal.

Esta compreensão nos obrigou a ter como objetivo de nossa pesquisa a

verificação sistemática, a partir da concentração de empreendimentos

semelhantes (confecção e moda popular) da existência ou não de um

“aglomerado”, a la Porter. Aliás, assumir a sua existência, mesmo sem estudos

comprobatórios anteriores, seria fazer uma investigação a partir de uma simples

conjectura, o que esvaziaria qualquer caráter científico do trabalho. Assim, a tarefa

principal da pesquisa é a busca da identificação de elementos suficientes para a

caracterização do “aglomerado”, o que, dada a rigorosa e detalhada metodologia

de Porter, já é, por si, um estudo de muito fôlego, dificuldade agravada pela

inexistência de literatura brasileira utilizando, de forma “pura”, tal método. No

entanto, a investigação ainda teve fôlego para elaborar, a partir da identificação do

“aglomerado”, um capítulo indicando “novos papéis” do governo diante deste

fenômeno, particularmente os de elaboração de políticas públicas voltadas para a

“remoção dos obstáculos ao crescimento” e para a “melhoria” do aglomerado

estudado.

Portanto, o uso da pesquisa exploratória teve por finalidade o refinamento

dos dados da pesquisa, aumentando o seu grau de objetividade, tornando-a mais

representativa da realidade, ajustando suas percepções à percepção dos

entrevistados, sem ser refém absoluto de paradigmas anteriores..

203

A ousadia deste estudo em tentar desvelar e corroborar teoricamente a

respeito do objeto definidor da pesquisa, encontra no princípio exploratório, a

possibilidade científica de edificar o pensamento lógico do estudo, principalmente

quando um fato é reproduzido de forma recorrente e controlado.

Tratar a temática “Estudo da Aglomeração Econômica como Estratégia de

Cooperação para a Competitividade de Empreendimentos Populares e Solidários

de Confecção em Belém do Pará”, nos levou a empreender caminhos teórico-

analíticos que vão para além da causalidade proveniente de um sistema

quantificador de pessoas, onde se gerencia processos de sustentabilidade

humana dentro da lógica do acaso econômico do mercado.

Para tanto, sustentar uma pesquisa de empreendimentos econômicos

sobre princípios conceitualmente “populares e solidários” também nos remeteu

para uma abordagem metodológica qualitativa e quantitativa inovadora, como

fonte geradora de entendimentos empírico/analíticos provocadores de

compreensões diversas que venham a sustentar o leque das possibilidades com

que tratamos o objeto.

Como abordagem qualitativa, podemos apontar o processo de dinamismo

e contradições reproduzidas pela realidade imposta no e pelo cotidiano que se

impõe, que ora reproduz a realidade, ora parte da atividade prática da totalidade

dos fatos, tal como percebidos abstratamente. As contradições reveladoras do

conhecimento do fenômeno estudado estão explícitas no seio da própria teoria de

Porter (mesmo que a força reveladora das contradições permaneça um processo

apenas implícito no texto daquele autor), tais como: insumo / produto; local /

global; concentração / dispersão; dentro da empresa / fora da empresa; dentro do

setor /fora do setor; unidade de negócios;/ ambiente de negócios; nível

microeconômico / nível macroeconômico; privado / público; inovação / imitação;

análise vertical / análise horizontal; cadeia vertical / cadeia horizontal; unidade de

negócios / órgãos coletivos; urbano / rural; setores tradicionais / setores

modernos; aglomerados reconhecidos / aglomerados não reconhecidos;

aglomerados de pequenas e micro empresas / aglomerados de médias e grandes

204

empresas e, principalmente, cooperação / competição e colaboradores /

competidores.

Entendemos, portanto, que quando constituímos a abordagem qualitativa

a pesquisa exploratória torna-se instigadora e propícia a uma práxis reveladora de

um cotidiano, intrinsecamente contraditório, permitindo à investigação visualizar o

fenômeno em toda sua complexidade.

Portanto, entendimentos como, percepção; significados; processos;

trajetórias; percursos; saberes; conhecimentos e práticas gerados

qualitativamente, vieram engendrar valores substanciais para a revelação do

fenômeno causador desta pesquisa.

Oliveira (2005,p.41), aponta a abordagem qualitativa como:

(...) sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e / ou segundo sua estruturação.

No caso, mais do que o contexto histórico, tal metodologia apoiou

sistematicamente a revelação da classificação dos diversos elementos da

realidade, comparada, vis-a-vis, à noção de “aglomerados” de Porter, permitindo

inferir se a estrutura empírica se assemelha á estrutura teórica, sem amarras

quantitativas e tecnológicas, mas, apenas, como uma busca de semelhanças e

dessemelhanças, em diversos graus, em um processo inter-disciplinar, não restrito

ao jogo de variáveis econômicas e não econômicas, mas apenas variáveis e,

acima de tudo, sem um único padrão possível, como irrepreensivelmente aquele

autor elabora seus conceitos. Em determinado momento de seu texto

“Aglomerados e Competitividade” (1999), Porter afirma que talvez o aspecto mais

decisivo do desenvolvimento de um “aglomerado” sejam, até mesmo, as relações

pessoais entre os diversos agentes em, uma concentração de empresas e

instituições, o que reforça o caráter qualitativo de sua abordagem.

205

Fazenda (1994) ao se reportar sobre a importância de uma pesquisa

qualitativa como fonte de validação de um estudo proposto, diz que:

A pesquisa qualitativa descreve-se e determina-se com precisão conceitual rigorosa a essência genérica da percepção ou das espécies subordinadas, como a percepção da coisalidade etc. Mas a generalidade mais elevada está na experiência em geral, no pensamento em geral, e isto torna possível da natureza da coisa ( p.58 ).

Ainda segue, esclarecendo que:

Na pesquisa qualitativa, uma questão metodológica importante é a que se refere ao fato de que não se pode insistir em procedimentos sistemáticos que possam ser previstos, em que passos ou sucessões como uma escada em direção à generalização ( idem ).

Ao adotar-se a idéia de que economia e sociedade devem ser analisadas

sobre pontos de vistas isolados e, portanto, previstas suas ações e influências no

campo das relações separadamente, passa-se a deixar de assumir interpretações

e posturas equivocadas. Fazenda, quando esclarece o fato em questão sobre a

ótica da pesquisa, aponta para o cuidado com estudos generalistas, sem um foco

muito claro, um objeto claramente definido, quando o referencial metodológico é a

abordagem qualitativa. No caso, a pesquisa teve um único foco, identificar a

existência de um determinado tipo de fenômeno e o nível de manifestação do

mesmo, se existente.

Com vistas à estruturação dos aspectos qualitativos dispensados ao

estudo, buscamos como enfoque a leitura crítica analítico, pois o mesmo ofereceu

ao pesquisador subsídios metodológicos que estão pautados em processos de

representação social; sócio-histórico, que permitirá emitir ecos que venham ao

encontro do objeto que envolve a percepção do fenômeno em estudo: a

aglomeração econômica, como estratégia de cooperação para a sobrevivência de

empreendimentos populares e solidários de roupas e acessórios em Belém do

Pará, condição central desta pesquisa.

Portanto, fazer análise histórico-crítica do cotidiano, discutir práticas,

refletir trajetórias, cartografar movimentos coletivos, discutir estratégias, propor

206

mudanças etc., passaram a ser o retrato de uma realidade prevista e desejada por

quem se utiliza dos saberes constituídos por grupos que pretendem alcançar um

posicionamento sustentável diante da realidade socioeconômica.

Tratar o fenômeno da economia sobre o prisma dialético como uma das

tendências do estudo da sociedade, nos remeteu a contextualizá-lo a partir da

aplicação de pesquisas que sustentam o processo dicotômico entre o pensar e o

agir, fruto do objeto em questão.

Por outro lado, além de buscarmos suporte teórico ao fenômeno em

pesquisa, realizamos complementarmente uma abordagem quantitativa, por

entender ser necessário estabelecer uma leitura a partir das informações

provindas do campo.

Oliveira (2005), afirma que combinar técnicas de análise qualitativa com

as de entendimentos quantitativos: “Proporciona maior nível de credibilidade e

validade aos resultados da pesquisa evitando-se, assim, o reducionismo por uma

só opção de análise” (P.43-45).

Nesta linha de pensamento, Duffy (1987 apud OLIVEIRA 2005, p.44)

apresenta os seguintes benefícios quanto ao emprego conjunto de técnicas

quantitativas e qualitativas na análise de dados:

1. Possibilidade de congregar controle dos vieses

(pelos métodos quantitativos) com compreensão da perspectiva

dos agentes envolvidos no fenômeno (pelos métodos qualitativos);

2. Possibilidade de congregar identificação de variáveis

específicas (pelos métodos quantitativos) com uma visão global do

fenômeno (pelos métodos qualitativos);

3. Possibilidades de completar um conjunto de fatos e

causas associadas ao emprego de metodologia quantitativa com

uma visão da natureza dinâmica da sociedade;

4. Possibilidade de enriquecer constatações obtidas

sobre condições controladas com dados obtidos dentro do

contexto natural de sua ocorrência.

207

5. Possibilidade de reafirmar a validade e confiabilidade

das descobertas pelo emprego de técnicas diferenciadas.

Sobre o contexto acima citado, percebemos ser coerente e seguro a

utilização da combinação de um estudo pautado em concepções oriundas de

aspectos quali/quantitativos, por favorecer o processo de fundamentação teórico-

prático.

Inicialmente buscando-se a contextualização do presente estudo, optou-

se em um primeiro momento para o encaminhamento metodológico do presente

estudo, pela pesquisa bibliográfica ou fontes secundárias, visto que a mesma dá

oportunidade para o pesquisador analisar e compreender o objeto de estudo,

através do contato direto com o que foi escrito, dito e documentado sobre o

assunto em questão, ainda que insuficiente para caracterizar uma teoria da

Economia Solidária.

Definida a primeira fase, passou-se então à segunda fase: elaboração de

um plano de trabalho. Nesta fase, procurou-se, através de um planejamento

prévio, dar sentido à iniciação da pesquisa. Para tanto, buscou-se problematizar

com máxima objetividade o tema em questão, ou seja, a existência de elementos

suficientes que possam caracterizar a formação de um aglomerado de confecção

popular (ACPop), em Belém.

Inquietados com a exigência imposta pelo problema e na necessidade de

esclarecê-lo, passamos então à identificação e ao reconhecimento do assunto.

Adotamos como método, os critérios estabelecidos por Porter (1999) para a

caracterização de aglomerados. Traduzido nos seguintes passos:

1º, a identificação das partes constituintes do aglomerado exige que se

adote como ponto de partida uma grande empresa ou uma concentração de

empresas semelhantes;

2º, em seguida, busca-se analisar a montante e a jusante a cadeia vertical

de empresas e instituições;

208

3º, Nesta etapa são identificados setores horizontais que: utilizam

distribuidores comuns; fornecem produtos ou serviços complementares; usam

insumos ou tecnologias especializadas semelhantes; Identificar as cadeias

horizontais de setores tendo como base o uso de insumos ou tecnologias

especializadas semelhantes ou através de outros elos com fornecedores comuns;

4º, isolar as instituições que oferecem: qualificações especializadas;

tecnologias; informações; capital ou infra-estrutura; órgãos coletivos envolvendo

os participantes do aglomerado;

5º, procurar as agências governamentais e outros órgãos reguladores que

exerçam influências significativas sobre os participantes do aglomerado.

Na pesquisa de campo, visando à aplicação da metodologia para

caracterização de aglomerados elaborada por Michael Porter, utilizamos a

observação sistemática, entrevistas preparatórias seguidas da elaboração e

aplicação de questionários fechados e a realização de entrevistas analíticas

abertas como procedimentos metodológicos de coleta de dados.

A partir do conhecimento sobre o objeto, que tem sido observado desde

2001, mesmo antes do início desta pesquisa, definiu-se 3 grupos para realizar

entrevistas que pudessem produzir a estratégia e o conteúdo adequados dos

questionários a serem aplicados.

O primeiro grupo, formado por costureiras articuladas formal e

informalmente com a ASCOOP (Cooperativa de Confecção de Roupas e

Assessórios do Pará – em legalização), que não possuem participação sistemática

nos fóruns políticos dos empreendedores popular e solidários embora a eles se

filiem. Empreendedoras que fazem a base da cooperativa e que se dedicam

diuturnamente ao trabalho de confecção popular, com alguma noção sobre a

construção de uma economia de natureza solidária.

O segundo grupo foi formado por empreendedores dirigentes do Fórum

de Economia Solidária e do Fórum de Empreendedores Populares e Solidários do

Pará. Pessoas com a identidade de empreendedores mas possuem como

principal atividade a coordenação política do movimento de empreendedores

209

populares por uma economia solidária. Sujeitos estratégicos que possuem grande

clareza dos propósitos do movimento e dos percalços políticos e econômicos,

particularmente no que tange às políticas públicas.

O terceiro grupo abordado, foi formado por dirigentes de instituições

correlatas, públicas e particulares que têm atuado nos últimos 3 anos, no mínimo,

prestando assessorias de diversas naturezas aos movimentos de economia

solidária e aos empreendimentos solidários.

O roteiro-base das entrevistas, que foi comum aos 3 grupos, foi composto

por 3 questões fundamentais:

a. A caracterização das relações mantidas com / entre os elos da

cadeia;

b. A caracterização do impacto econômico vertical e horizontal

(correlato), particularmente sobre a geração de ocupações

econômicas;

c. A percepção da aglomeração como estratégia de competitividade,

sobretudo em sua dimensão econômica e política, particularmente às

políticas públicas.

Com o apurado nas entrevistas formulamos quatro questionários semi-

abertos específicos por segmento:

1º) Atores centrais da atividade da confecção de caráter popular e

solidária, bem como;

2º) Fornecedores;

3º) Clientes mais importantes;

4º) Empreendimentos e instituições correlatas – relações horizontais.

Após análise do material coletado por estes questionários foram

elaboradas e realizadas 3 entrevistas analíticas abertas com personagens

estrategicamente posicionados na observação do objeto, principalmente por sua

210

posição profissional e/ou acadêmica e que possuem grande poder de análise e

síntese sobre o mesmo. Com estes, partilhou-se os dados coletados e foram

auscultadas impressões que foram incorporadas no bojo do capítulo de análises.

A observação direta foi realizada na ASCOOP – Cooperativa de Roupas e

Acessórios do Pará. Criada em 2003, a partir de uma associação denominada

ASCAPA (Ass. de Empreendedores Populares de Confecção e Acessórios do

Pará), formada em 2001, que se estabeleceu com o objetivo de reunir

empreendedores já em atividade, em uma experiência de economia solidária, a

ASCOOP possui 46 associados e está organizada em 3 pólos:

1. Pólo Sede (Água Cristal, Marambaia) 20 cooperados,

2. Pólo Tapanã 14 cooperados,

3. Pólo Sacramenta 12 cooperados.

211

Fig 1: Mapa da Atuação da ASCOOP e Pólos, em Belém do Pará, maio de 2007.

Além da observação de elementos que pudessem caracterizar o ACPop,

trabalhou-se com os seguintes pontos na observação:

• As estratégias utilizadas para a organização do

processo de aglomeração pelos empreendedores;

212

• Os momentos em que as relações de cooperação para

a competitividade, entre os empreendedores, acontecem e como

se dão.

• Os entraves no processo de cooperação para a

competitividade em empreendimentos populares.

No processo de aplicação dos questionários aos empreendedores da

ASCOOP, foram entrevistados 100% da base da cooperativa, quarenta e seis

empreendedoras/es, sendo vinte no pólo sede, 14 no pólo Tapanã e 12 no Pólo

Sacramenta, que compõem a cooperativa estudada. O modelo de questionário

semi-aberto, buscou conduzir o processo de forma a permitir flexibilidades quando

criteriosamente necessárias.

Alguns dos principais pontos dos questionários foram:

• Percepção da cadeia, da aglomeração, e seus efeitos

Análise dos elementos de caracterização de Aglomerado

• Utilização da cooperação como estratégia de competitividade – Impactos na Renda e geração de ocupação econômica

Cultura da Cooperação como prática recorrente para auferir competitividade

• Acesso a recursos institucionais e Políticas públicas

Conformação de Capital Social

• Perfil de ocupação econômica e faturamento bruto na atividade empreendida isoladamente

Perfil Econômico dos Agentes envolvidos

Identificação do quadro

Este mesmo arcabouço, ajustado para a especificidade de cada

segmento foi aplicado em:

� 62 clientes da confecção popular, sendo 32 consumidores

individuais, 17 pequenos/as lojistas e 13 feirantes/camelôs.

213

� 9 fornecedores da confecção popular, sendo 4 de tecidos, 3 de

máquinas e 2 de armarinho.

� 45 correlatos da confecção popular, sendo 33 empreendimentos, 6

instituições públicas e 6 instituições particulares.

Os dados foram tabulados e daí gerados os gráficos que estão

integralmente no capítulo de resultados deste estudo, a disposição para uma

leitura mais detalhada.

214

2 METODOLOGIA

É impossível totalizar pela razão este país. Como alguém poderia explicar teoricamente os acontecimentos que vi?... Em 1959, Celso Furtado publica Formação Econômica do Brasil . Já tinha lido Caio Prado Júnior. Fui ler então Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda e Casa Grande e Senzala, do Gilberto Freyre. Aí não entendi mais nada, porque tudo era verdade: a nação, a aliança operário-camponesa, os senhorios cordiais, o tropicalismo. Não dá para pensar este país com as categorias européias. O Brasil não suporta teses definitivas, é sempre recorrente: quando se pensa que uma coisa acabou, ela volta.

Maria da Conceição Tavares, economista.

O presente estudo buscou, através de uma pesquisa exploratória, identificar

o fenômeno da “aglomeração”, clusters, em empreendimentos populares e

solidários de confecção e assessórios, em Belém do Pará, partindo da teoria dos

Aglomerados, de Michael Porter, apoiada pelas teorias da Causação Circular

Cumulativa, de Gunnar Myrdal, e dos Efeitos em Cadeia, de Albert Hirshman.

Estes estudos são fundamentais para que se possam estabelecer políticas

públicas para os referidos empreendimentos, voltadas para a promoção de suas

competitividades econômicas e sociais, estas últimas voltadas para a avaliação de

suas capacidades de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população

local.

A opção pela pesquisa exploratória deveu-se ao fato de que a temática não

possui um volume bibliográfico com ampla cobertura do tema, no Brasil,

especificamente, sendo seu objeto raramente alvo de pesquisas anteriores, com o

mesmo foco, ou seja, o estudo de “aglomerados” rigorosamente de acordo com a

teoria de Michael Porter (existem um número crescente de estudos utilizando

teorias similares, principalmente aquela chamada de “redes” e ainda “arranjos

produtivos locais”), daí a caracterização deste estudo como pesquisa exploratória

215

e inédita (SELLTIZ et al., 1967,p.63 ). Apesar disto, ousou-se trabalhar com

hipóteses definidas, cuja elaboração baseou-se, apenas, na própria metodologia

definida por Porter para a “identificação” dos “aglomerados”.

Inspirado em Babbie (1986), entendemos que a pesquisa exploratória, ou

estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se

apresenta, seu significado e o contexto onde ela se insere. Pressupõe-se que o

comportamento econômico é mais bem compreendido no contexto social onde

ocorre.

Assim, tem por finalidade evitar que as predisposições não fundadas no

repertório que se pretende conhecer influam nas percepções do pesquisador e,

conseqüentemente, no instrumento de medida. Não corrigido, este tipo de

tendência poderá conduzir o pesquisador a perceber a realidade segundo sua

ótica pessoal.

Esta compreensão nos obrigou a ter como objetivo de nossa pesquisa a

verificação sistemática, a partir da concentração de empreendimentos

semelhantes (confecção e moda popular) da existência ou não de um

“aglomerado”, a la Porter. Aliás, assumir a sua existência, mesmo sem estudos

comprobatórios anteriores, seria fazer uma investigação a partir de uma simples

conjectura, o que esvaziaria qualquer caráter científico do trabalho. Assim, a tarefa

principal da pesquisa é a busca da identificação de elementos suficientes para a

caracterização do “aglomerado”, o que, dada a rigorosa e detalhada metodologia

de Porter, já é, por si, um estudo de muito fôlego, dificuldade agravada pela

inexistência de literatura brasileira utilizando, de forma “pura”, tal método. No

entanto, a investigação ainda teve fôlego para elaborar, a partir da identificação do

“aglomerado”, um capítulo indicando “novos papéis” do governo diante deste

fenômeno, particularmente os de elaboração de políticas públicas voltadas para a

“remoção dos obstáculos ao crescimento” e para a “melhoria” do aglomerado

estudado.

216

Portanto, o uso da pesquisa exploratória teve por finalidade o refinamento

dos dados da pesquisa, aumentando o seu grau de objetividade, tornando-a mais

representativa da realidade, ajustando suas percepções à percepção dos

entrevistados, sem ser refém absoluto de paradigmas anteriores..

A ousadia deste estudo em tentar desvelar e corroborar teoricamente a

respeito do objeto definidor da pesquisa, encontra no princípio exploratório, a

possibilidade científica de edificar o pensamento lógico do estudo, principalmente

quando um fato é reproduzido de forma recorrente e controlado.

Tratar a temática “Estudo da Aglomeração Econômica como Estratégia de

Cooperação para a Competitividade de Empreendimentos Populares e Solidários

de Confecção em Belém do Pará”, nos levou a empreender caminhos teórico-

analíticos que vão para além da causalidade proveniente de um sistema

quantificador de pessoas, onde se gerencia processos de sustentabilidade

humana dentro da lógica do acaso econômico do mercado.

Para tanto, sustentar uma pesquisa de empreendimentos econômicos

sobre princípios conceitualmente “populares e solidários” também nos remeteu

para uma abordagem metodológica qualitativa e quantitativa inovadora, como

fonte geradora de entendimentos empírico/analíticos provocadores de

compreensões diversas que venham a sustentar o leque das possibilidades com

que tratamos o objeto.

Como abordagem qualitativa, podemos apontar o processo de dinamismo

e contradições reproduzidas pela realidade imposta no e pelo cotidiano que se

impõe, que ora reproduz a realidade, ora parte da atividade prática da totalidade

dos fatos, tal como percebidos abstratamente. As contradições reveladoras do

conhecimento do fenômeno estudado estão explícitas no seio da própria teoria de

Porter (mesmo que a força reveladora das contradições permaneça um processo

apenas implícito no texto daquele autor), tais como: insumo / produto; local /

global; concentração / dispersão; dentro da empresa / fora da empresa; dentro do

setor /fora do setor; unidade de negócios;/ ambiente de negócios; nível

217

microeconômico / nível macroeconômico; privado / público; inovação / imitação;

análise vertical / análise horizontal; cadeia vertical / cadeia horizontal; unidade de

negócios / órgãos coletivos; urbano / rural; setores tradicionais / setores

modernos; aglomerados reconhecidos / aglomerados não reconhecidos;

aglomerados de pequenas e micro empresas / aglomerados de médias e grandes

empresas e, principalmente, cooperação / competição e colaboradores /

competidores.

Entendemos, portanto, que quando constituímos a abordagem qualitativa

a pesquisa exploratória torna-se instigadora e propícia a uma práxis reveladora de

um cotidiano, intrinsecamente contraditório, permitindo à investigação visualizar o

fenômeno em toda sua complexidade.

Portanto, entendimentos como, percepção; significados; processos;

trajetórias; percursos; saberes; conhecimentos e práticas gerados

qualitativamente, vieram engendrar valores substanciais para a revelação do

fenômeno causador desta pesquisa.

Oliveira (2005,p.41), aponta a abordagem qualitativa como:

(...) sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e / ou segundo sua estruturação.

No caso, mais do que o contexto histórico, tal metodologia apoiou

sistematicamente a revelação da classificação dos diversos elementos da

realidade, comparada, vis-a-vis, à noção de “aglomerados” de Porter, permitindo

inferir se a estrutura empírica se assemelha á estrutura teórica, sem amarras

quantitativas e tecnológicas, mas, apenas, como uma busca de semelhanças e

dessemelhanças, em diversos graus, em um processo inter-disciplinar, não restrito

ao jogo de variáveis econômicas e não econômicas, mas apenas variáveis e,

acima de tudo, sem um único padrão possível, como irrepreensivelmente aquele

autor elabora seus conceitos. Em determinado momento de seu texto

“Aglomerados e Competitividade” (1999), Porter afirma que talvez o aspecto mais

218

decisivo do desenvolvimento de um “aglomerado” sejam, até mesmo, as relações

pessoais entre os diversos agentes em, uma concentração de empresas e

instituições, o que reforça o caráter qualitativo de sua abordagem.

Fazenda (1994) ao se reportar sobre a importância de uma pesquisa

qualitativa como fonte de validação de um estudo proposto, diz que:

A pesquisa qualitativa descreve-se e determina-se com precisão conceitual rigorosa a essência genérica da percepção ou das espécies subordinadas, como a percepção da coisalidade etc. Mas a generalidade mais elevada está na experiência em geral, no pensamento em geral, e isto torna possível da natureza da coisa ( p.58 ).

Ainda segue, esclarecendo que:

Na pesquisa qualitativa, uma questão metodológica importante é a que se refere ao fato de que não se pode insistir em procedimentos sistemáticos que possam ser previstos, em que passos ou sucessões como uma escada em direção à generalização ( idem ).

Ao adotar-se a idéia de que economia e sociedade devem ser analisadas

sobre pontos de vistas isolados e, portanto, previstas suas ações e influências no

campo das relações separadamente, passa-se a deixar de assumir interpretações

e posturas equivocadas. Fazenda, quando esclarece o fato em questão sobre a

ótica da pesquisa, aponta para o cuidado com estudos generalistas, sem um foco

muito claro, um objeto claramente definido, quando o referencial metodológico é a

abordagem qualitativa. No caso, a pesquisa teve um único foco, identificar a

existência de um determinado tipo de fenômeno e o nível de manifestação do

mesmo, se existente.

Com vistas à estruturação dos aspectos qualitativos dispensados ao

estudo, buscamos como enfoque a leitura crítica analítico, pois o mesmo ofereceu

ao pesquisador subsídios metodológicos que estão pautados em processos de

representação social; sócio-histórico, que permitirá emitir ecos que venham ao

encontro do objeto que envolve a percepção do fenômeno em estudo: a

aglomeração econômica, como estratégia de cooperação para a sobrevivência de

219

empreendimentos populares e solidários de roupas e acessórios em Belém do

Pará, condição central desta pesquisa.

Portanto, fazer análise histórico-crítica do cotidiano, discutir práticas,

refletir trajetórias, cartografar movimentos coletivos, discutir estratégias, propor

mudanças etc., passaram a ser o retrato de uma realidade prevista e desejada por

quem se utiliza dos saberes constituídos por grupos que pretendem alcançar um

posicionamento sustentável diante da realidade socioeconômica.

Tratar o fenômeno da economia sobre o prisma dialético como uma das

tendências do estudo da sociedade, nos remeteu a contextualizá-lo a partir da

aplicação de pesquisas que sustentam o processo dicotômico entre o pensar e o

agir, fruto do objeto em questão.

Por outro lado, além de buscarmos suporte teórico ao fenômeno em

pesquisa, realizamos complementarmente uma abordagem quantitativa, por

entender ser necessário estabelecer uma leitura a partir das informações

provindas do campo.

Oliveira (2005), afirma que combinar técnicas de análise qualitativa com

as de entendimentos quantitativos: “Proporciona maior nível de credibilidade e

validade aos resultados da pesquisa evitando-se, assim, o reducionismo por uma

só opção de análise” (P.43-45).

Nesta linha de pensamento, Duffy (1987 apud OLIVEIRA 2005, p.44)

apresenta os seguintes benefícios quanto ao emprego conjunto de técnicas

quantitativas e qualitativas na análise de dados:

6. Possibilidade de congregar controle dos vieses

(pelos métodos quantitativos) com compreensão da perspectiva

dos agentes envolvidos no fenômeno (pelos métodos qualitativos);

7. Possibilidade de congregar identificação de variáveis

específicas (pelos métodos quantitativos) com uma visão global do

fenômeno (pelos métodos qualitativos);

220

8. Possibilidades de completar um conjunto de fatos e

causas associadas ao emprego de metodologia quantitativa com

uma visão da natureza dinâmica da sociedade;

9. Possibilidade de enriquecer constatações obtidas

sobre condições controladas com dados obtidos dentro do

contexto natural de sua ocorrência.

10. Possibilidade de reafirmar a validade e confiabilidade

das descobertas pelo emprego de técnicas diferenciadas.

Sobre o contexto acima citado, percebemos ser coerente e seguro a

utilização da combinação de um estudo pautado em concepções oriundas de

aspectos quali/quantitativos, por favorecer o processo de fundamentação teórico-

prático.

Inicialmente buscando-se a contextualização do presente estudo, optou-

se em um primeiro momento para o encaminhamento metodológico do presente

estudo, pela pesquisa bibliográfica ou fontes secundárias, visto que a mesma dá

oportunidade para o pesquisador analisar e compreender o objeto de estudo,

através do contato direto com o que foi escrito, dito e documentado sobre o

assunto em questão, ainda que insuficiente para caracterizar uma teoria da

Economia Solidária.

Definida a primeira fase, passou-se então à segunda fase: elaboração de

um plano de trabalho. Nesta fase, procurou-se, através de um planejamento

prévio, dar sentido à iniciação da pesquisa. Para tanto, buscou-se problematizar

com máxima objetividade o tema em questão, ou seja, a existência de elementos

suficientes que possam caracterizar a formação de um aglomerado de confecção

popular (ACPop), em Belém.

Inquietados com a exigência imposta pelo problema e na necessidade de

esclarecê-lo, passamos então à identificação e ao reconhecimento do assunto.

Adotamos como método, os critérios estabelecidos por Porter (1999) para a

caracterização de aglomerados. Traduzido nos seguintes passos:

221

1º, a identificação das partes constituintes do aglomerado exige que se

adote como ponto de partida uma grande empresa ou uma concentração de

empresas semelhantes;

2º, em seguida, busca-se analisar a montante e a jusante a cadeia vertical

de empresas e instituições;

3º, Nesta etapa são identificados setores horizontais que: utilizam

distribuidores comuns; fornecem produtos ou serviços complementares; usam

insumos ou tecnologias especializadas semelhantes; Identificar as cadeias

horizontais de setores tendo como base o uso de insumos ou tecnologias

especializadas semelhantes ou através de outros elos com fornecedores comuns;

4º, isolar as instituições que oferecem: qualificações especializadas;

tecnologias; informações; capital ou infra-estrutura; órgãos coletivos envolvendo

os participantes do aglomerado;

5º, procurar as agências governamentais e outros órgãos reguladores que

exerçam influências significativas sobre os participantes do aglomerado.

Na pesquisa de campo, visando à aplicação da metodologia para

caracterização de aglomerados elaborada por Michael Porter, utilizamos a

observação sistemática, entrevistas preparatórias seguidas da elaboração e

aplicação de questionários fechados e a realização de entrevistas analíticas

abertas como procedimentos metodológicos de coleta de dados.

A partir do conhecimento sobre o objeto, que tem sido observado desde

2001, mesmo antes do início desta pesquisa, definiu-se 3 grupos para realizar

entrevistas que pudessem produzir a estratégia e o conteúdo adequados dos

questionários a serem aplicados.

O primeiro grupo, formado por costureiras articuladas formal e

informalmente com a ASCOOP (Cooperativa de Confecção de Roupas e

Assessórios do Pará – em legalização), que não possuem participação sistemática

nos fóruns políticos dos empreendedores popular e solidários embora a eles se

filiem. Empreendedoras que fazem a base da cooperativa e que se dedicam

222

diuturnamente ao trabalho de confecção popular, com alguma noção sobre a

construção de uma economia de natureza solidária.

O segundo grupo foi formado por empreendedores dirigentes do Fórum

de Economia Solidária e do Fórum de Empreendedores Populares e Solidários do

Pará. Pessoas com a identidade de empreendedores mas possuem como

principal atividade a coordenação política do movimento de empreendedores

populares por uma economia solidária. Sujeitos estratégicos que possuem grande

clareza dos propósitos do movimento e dos percalços políticos e econômicos,

particularmente no que tange às políticas públicas.

O terceiro grupo abordado, foi formado por dirigentes de instituições

correlatas, públicas e particulares que têm atuado nos últimos 3 anos, no mínimo,

prestando assessorias de diversas naturezas aos movimentos de economia

solidária e aos empreendimentos solidários.

O roteiro-base das entrevistas, que foi comum aos 3 grupos, foi composto

por 3 questões fundamentais:

a. A caracterização das relações mantidas com / entre os elos da

cadeia;

b. A caracterização do impacto econômico vertical e horizontal

(correlato), particularmente sobre a geração de ocupações

econômicas;

c. A percepção da aglomeração como estratégia de competitividade,

sobretudo em sua dimensão econômica e política, particularmente às

políticas públicas.

Com o apurado nas entrevistas formulamos quatro questionários semi-

abertos específicos por segmento:

1º) Atores centrais da atividade da confecção de caráter popular e

solidária, bem como;

2º) Fornecedores;

223

3º) Clientes mais importantes;

4º) Empreendimentos e instituições correlatas – relações horizontais.

Após análise do material coletado por estes questionários foram

elaboradas e realizadas 3 entrevistas analíticas abertas com personagens

estrategicamente posicionados na observação do objeto, principalmente por sua

posição profissional e/ou acadêmica e que possuem grande poder de análise e

síntese sobre o mesmo. Com estes, partilhou-se os dados coletados e foram

auscultadas impressões que foram incorporadas no bojo do capítulo de análises.

A observação direta foi realizada na ASCOOP – Cooperativa de Roupas e

Acessórios do Pará. Criada em 2003, a partir de uma associação denominada

ASCAPA (Ass. de Empreendedores Populares de Confecção e Acessórios do

Pará), formada em 2001, que se estabeleceu com o objetivo de reunir

empreendedores já em atividade, em uma experiência de economia solidária, a

ASCOOP possui 46 associados e está organizada em 3 pólos:

4. Pólo Sede (Água Cristal, Marambaia) 20 cooperados,

5. Pólo Tapanã 14 cooperados,

6. Pólo Sacramenta 12 cooperados.

224

Fig 1: Mapa da Atuação da ASCOOP e Pólos, em Belém do Pará, maio de 2007.

Além da observação de elementos que pudessem caracterizar o ACPop,

trabalhou-se com os seguintes pontos na observação:

• As estratégias utilizadas para a organização do

processo de aglomeração pelos empreendedores;

225

• Os momentos em que as relações de cooperação para

a competitividade, entre os empreendedores, acontecem e como

se dão.

• Os entraves no processo de cooperação para a

competitividade em empreendimentos populares.

No processo de aplicação dos questionários aos empreendedores da

ASCOOP, foram entrevistados 100% da base da cooperativa, quarenta e seis

empreendedoras/es, sendo vinte no pólo sede, 14 no pólo Tapanã e 12 no Pólo

Sacramenta, que compõem a cooperativa estudada. O modelo de questionário

semi-aberto, buscou conduzir o processo de forma a permitir flexibilidades quando

criteriosamente necessárias.

Alguns dos principais pontos dos questionários foram:

• Percepção da cadeia, da aglomeração, e seus efeitos

Análise dos elementos de caracterização de Aglomerado

• Utilização da cooperação como estratégia de competitividade – Impactos na Renda e geração de ocupação econômica

Cultura da Cooperação como prática recorrente para auferir competitividade

• Acesso a recursos institucionais e Políticas públicas

Conformação de Capital Social

• Perfil de ocupação econômica e faturamento bruto na atividade empreendida isoladamente

Perfil Econômico dos Agentes envolvidos

Identificação do quadro

Este mesmo arcabouço, ajustado para a especificidade de cada

segmento foi aplicado em:

� 62 clientes da confecção popular, sendo 32 consumidores

individuais, 17 pequenos/as lojistas e 13 feirantes/camelôs.

226

� 9 fornecedores da confecção popular, sendo 4 de tecidos, 3 de

máquinas e 2 de armarinho.

� 45 correlatos da confecção popular, sendo 33 empreendimentos, 6

instituições públicas e 6 instituições particulares.

Os dados foram tabulados e daí gerados os gráficos que estão

integralmente no capítulo de resultados deste estudo, a disposição para uma

leitura mais detalhada.

227

4. REVISÃO DA LITERATURA

4.1 COOPERAÇÃO ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

Tem sido no mínimo interessante observar na sociedade brasileira, para

não mencionar outras, que ao mesmo tempo em que o modo capitalista de vida

aprofunda o individualismo, o egoísmo, a ganância, a competição pura e a

concentração de renda e poder, ou “parcimônia” como percebeu Adam Smith,

temos assistido à proliferação de iniciativas solidárias que vão bem além da

tradição da filantropia (do grego: dedicar-se ao outro). Tradição que já não é

pouco, se contarmos o sem-número de iniciativas institucionais e anônimas que

indivíduos, famílias e grupos de afinidade passam a assumir autonomamente.

No seio da sociedade civil, o crescimento do voluntariado, da

responsabilidade social, da ação social das igrejas e da organização dos próprios

setores populares excluídos chama nossa atenção para o fato do

descontentamento com este modo de vida, embora ainda não haja uma forte

mobilização contra o modo de produção (capitalista).

A formação de ong’s (organizações não governamentais) ou terceiro

setor, quer pela motivação social ou ambiental, se coloca como mais um indicador

desse descontentamento, agora em um patamar de percepção maior do que as

manifestações difusas na sociedade. As ong’s, tanto entre as organizações que

pretendem apenas amenizar os efeitos perversos do capitalismo quanto as que

têm em perspectiva a superação definitiva desses efeitos, constituem um espaço

sócio-político novo de institucionalização de interesses públicos não estatais.

Ainda que as denominações “não governamental” e “terceiro setor” digam pouco

sobre a definição e pluralidade deste fenômeno, fica claro o descontentamento

com o papel do Estado sobre este modo de produção e vida em que nos

encontramos.

No Brasil, as ONG’s, particularmente as vinculadas ao campo organizado

hoje sob a ABONG (Associação Brasileira de Organizações não governamentais),

228

são uma expressão eloqüente de possibilidades de cooperação institucional

nacional e internacional que desde a década de 60 vêm gerando novos espaços

de sociabilidade, de educação política por meio de metodologias de “Educação

Popular” e de avanços na direção do “Controle Social” sobre o Estado, visando

influir nas Políticas Públicas para diminuir a exclusão política e o aperfeiçoamento

da democracia.

No plano institucional econômico, as cooperativas – possibilidade de

organização social e de produção que foi derrotada pela hegemonia capitalista –

desde o século XIX, permanecem como alternativas que se mantêm e hoje

crescem como opção de viabilidade econômica de grupos sociais antes excluídos

e até de reabilitação de empresas falidas, que passam a ser gerenciadas pelos

seus trabalhadores cooperados, sob auto-gestão. Sob empreendimentos em

regime de autogestão, apenas no âmbito da ANTEAG (2005), estão “mais de 32

mil postos de trabalho. Apenas de 1999 a 2001, foram reestruturados 420

empreendimentos em áreas de 129 municípios brasileiros”.

O exemplo mais eloqüente desta possibilidade é a experiência tida em

Mondragon, na Espanha. Do trabalho iniciado pelo jesuíta Dom José Maria

Arizmendiarreta – que na década de 40 ao mesmo tempo em que ensinava aos

jovens do lugar um ofício também ensinava gerência e ética – hoje há o Complexo

Cooperativo de Mondragon que ultrapassou os 22 mil cooperados em mais de 100

cooperativas do grupo, movimentando mais de 2,6 bilhões de dólares anuais.

Quase impossível pensar nisso quando começou com apenas cinco alunos de D.

José.

O segredo de D. José? Foi a percepção dos atributos locais, uma região

basca que sob pressão do governo espanhol desenvolveu “um povo esforçado e

trabalhador, uma solidariedade baseada nos maus-tratos do governo e uma forte

estrutura social” (BARKER, 1997). Somou aos atributos do local uma respeitável

reputação do trabalho que realizava com os jovens para enfrentar um desemprego

de 20% e uma estratégia de marketing capaz de mobilizar a sociedade local que

mesmo com suas dificuldades arrecadou cerca de 360 mil dólares para que

229

iniciassem um negócio. Ou seja, o segredo não é segredo, é teoria. A Causação

Circular Cumulativa de Myrdal (1965) nos ajuda a entender o exemplo.

Assim, exatamente no período em que o neoliberalismo grassava no

mundo – a segunda metade do século XX – o Complexo Cooperativo de

Mondrgon “cresceu e desenvolveu uma democracia trabalhista única, na qual os

funcionários eram donos das empresas, a relação capital-trabalhador foi invertida

e o espírito empreendedor florescia num ritmo de sucesso sem igual”. (BARKER,

1997)

(Sobre a estrutura financeira) Antes de mais nada todos os trabalhadores participam com recursos financeiros próprios na cooperativa da qual fazem parte. Em segundo lugar, (com o fundo acumulado) foi criado um banco cooperativo para atender à cooperativa. Sua missão é muito clara: financiar novos empregos de forma que todas as pessoas que desejem trabalhar na região de Mondragon possam fazê-lo. Essa missão é mais importante é mais importante do que conseguir o melhor retorno sobre o investimento, violando assim o paradigma predominante das atividades bancárias. (BARKER, 1997, p.76)

O próprio mercado, como um todo, começa a dar sinais práticos da

percepção de que os processos de exclusão social e econômico diminuem suas

possibilidades de crescimento, mesmo na lógica do lucro crescente. A

flexibilização dos critérios de crédito no comércio crescem para recuperar

contingentes que a inadimplência colocou para fora e os parâmetros para acesso

a crédito, a partir do que já é feito no microcrédito, começam a flexibilizar o

paradigma de Basiléia, criado no acordo de Comitê de Basiléia em 1988, que

definia os parâmetros de risco e garantia para todo o sistema bancário mundial.

As mudanças de critério já refletem sobre estatísticas interessantes.

Existem no país, segundo CONDERE, a empresa de pesquisa de mercado de São

Paulo, 29 milhões de cartões de créditos. Em 2007,apenas 18% desses estão em

mãos das classes de renda A e B. Mais de 18 milhões de cartões de crédito estão

nas classes C e D, entre os que ganham até 3 salários mínimos. Outra consultoria,

a Data Popular (2007) de São Paulo, estimou que 42% dos que usam cartão de

crédito são da classe C e 29% da classe D.

230

Ou seja, por dentro da lógica comercial e capitalista, vai ocorrendo a

gestação de uma nova possibilidade. Uma organização social e econômica que

começa a buscar na inclusão sócio-econômica a solução de seus problemas.

Estabelecendo estratégias cada vez mais focadas na cooperação.

A clara tendência a modelos de desenvolvimento que dão relevância para

cadeias, clusters, aglomerados, arranjos e sistemas produtivos vai aos poucos

dando evidência para o papel de estratégias cooperativas na sustentação da

sobrevivência de empreendimentos, particularmente os da Economia Popular

(ARROYO e SCHUCH, 2006) e, da própria Vantagem Competitiva (PORTER,

1999) de setores e regiões.

Curioso que, em rápidas inserções buscando as raízes da cooperação,

encontramos evidências de que, na origem, esta era a nossa tendência natural

e/ou preferencial, antes da opção pela competição.

4.1.1 A Divisão do Trabalho Social e a desumanizaçã o da economia

Nossa investigação procurou elementos teóricos para compreender o que

e em que momento fez a composição cooperação-competição ser presidida pela

competição, distorcendo uma tendência que nos viabilizou como espécie.

Do que entendemos, percebemos que a composição cooperação-

competição é inseparável. No entanto, a causação cumulativa sob a presidência

da cooperação é bem diferente da presidida pela competição.

Na origem, viabilizamos-nos pela nossa capacidade de cooperação. Ou

seja, foi a cooperação que nos conferiu competitividade diante de espécies

predadoras mais aptas. Tanto porque, ao não excluir indivíduos, o rebanho

humano crescia em número, quanto pela interação e solidariedade que fez a

qualidade das relações e laços para que propiciassem a execução de tarefas mais

complexas capazes de garantir sobrevivência e segurança a todos.

231

No entanto, á medida que os rebanhos foram se constituindo em

sociedades e as ameaças externas à sobrevivência foram ficando menos

evidentes, a competição se colocou como possibilidade de desenvolvimento

humano. A latência desta possibilidade se somou à diferenciação de grupos no

interior das sociedades que se complexificavam, em estratos e outras subdivisões.

Além desta, combinou-se também a um longo período histórico obscuro, a Idade

Média, quando a dimensão individual ficou marcadamente subordinada aos

ditames de uma lógica coletiva muitas vezes perversa, ainda que bastante

diferenciada ente os estratos sociais.

Com a Renascença (do pensamento Greco-Romano) e o Iluminismo, a

valoração da dimensão individual ganhou força tanto como filosofia e arte quanto

como discurso político, crescendo gradualmente até o marco histórico da

Revolução Francesa que cravou definitivamente o tema da Liberdade como

parâmetro para a recomposição da política, da economia e outras dimensões

sociais.

Surgiram daí, pelo menos duas possibilidades no avanço da valoração da

individualidade solapada na Idade Média. Uma em que a liberdade individual se

articulava à fraternidade e à igualdade como no ideário republicano da Revolução

Francesa. E, outra que focava a liberdade individual como direito à iniciativa

econômica (a dos burgos), pragmaticamente tomada como único caminho para,

pelo menos, equilibrar a curto prazo as relações sociais e políticas com uma

nobreza opressora, mesmo quando decadente. Como se sabe, a segunda

hegemonizou a história até aqui.

No entanto, não se pode perder de vista que neste processo a

diferenciação da sociedade, que cada vez mais se complexificava, permanecia

como elemento estruturante na nova possibilidade que se efetivava. Diferenciação

esta que, combinada à valoração da individualidade e à estratégia de recorrer à

acumulação econômica para enfrentar a nobreza opressora, foi virando

individualismo, tal como o assistimos hoje, reeditando rupturas a partir de grupos e

232

nichos sociais específicos que articulam outras ordens por dentro do Estado como

o fenômeno do crime organizado, das gangues, tribos etc.

A partir daqui recorreremos a Èmile Durkheim que em sua primeira

grande obra, A Divisão do Trabalho Social (1893), apresenta algumas categorias

que nos ajudam a entender o desfecho histórico deste período e perscrutar as

tendências em que vivemos.

Para Durkheim (1893), qualquer agrupamento humano só se constitui em

sociedade se for estabelecido algum laço de solidariedade entre os indivíduos

para que daí se estabeleça o pacto de convivência e a ordem social que deverá

ser respeitada por todos.

Na origem da sociedade, quando se encontravam poucas diferenciações

internas, a manutenção dos laços sociais se dava por uma Solidariedade

Mecânica (DURKHEIM, 1893), estabelecida exatamente pela semelhança e alta

identidade de cultura, crenças e valores entre seus membros. Com a

complexificação da sociedade – pela miscigenação, migração, acordos de guerra

entre outros – se deu uma diferenciação interna em estratos, funções econômicas

e papéis sociais, entre indivíduos e pequenos agrupamentos que não mais tinham

o mesmo grau de identidade, exigindo uma outra lógica de solidariedade para que

se chegasse ao pacto e ordem social necessários para sua unidade. Neste

momento, a solidariedade busca assentar-se exatamente nas diferenças, e não

mais na semelhança como antes. Este é o conceito de Solidariedade Orgânica

(DURKHEIM, 1893).

A Solidariedade Orgânica inclui um elemento que ainda não tratamos. O

processo de complexificação social que mencionamos teve na diferenciação por

função econômica um elemento-chave: A Divisão do Trabalho.

Consideramos que a complexificação da sociedade com sua conseqüente

diferenciação, no início marcadamente étnica, fez com que na transição entre a

Solidariedade Mecânica, baseada na semelhança, e a Solidariedade Orgânica,

233

baseada na diferença, ocorresse uma superposição entre diferenciação étnica e

diferenciação econômica, social e política. Não por acaso, os derrotados na guerra

eram incorporados na sociedade do grupo vitorioso como escravos, cumprindo um

papel econômico e político muito específico. Não por acaso, em período muito

mais recente, no Brasil, os pobres de hoje possuem uma expressiva relação étnica

com os escravos da colonização.

Assim, os benefícios da conquista da Liberdade, também foram

apropriados diferenciadamente. Com a conquista de o livre empreender pelos

burgueses e a busca de tecnologias como as que eclodiram a Revolução

Industrial, a divisão social do trabalho se aprofundou atribuindo, a cada segmento

uma função na engenharia do novo modo produtivo, conseguindo sobreviver a

uma contradição intrínseca.

Ao mesmo tempo em que a linha de montagem se decompunha em

operações simples, fazendo com que a interdependência entre os indivíduos se

evidenciasse, inclusive criando condições para a possibilidade de um

aprofundamento da solidariedade, a capacidade produtiva aumentava

exponencialmente sem garantir a sobrevivência e a segurança, principais

motivações originais da cooperação, já que a acumulação de capital era

fortemente concentrada entre os burgueses apenas, em uma escala muito maior

do que a própria reprodução destes necessitava.

Portanto, ao mesmo tempo em que se operava a Solidariedade Orgânica

(DURKHEIM, 1893) entre diferentes, para a unidade da sociedade sob um mesmo

Estado, no plano econômico, a partição desigual se aprofundava aceleradamente

com uma densidade que acabou por fazer com que tudo o mais lhe gravitasse em

torno.

No plano ideológico-filosófico, Durkheim identifica o Utilitarismo como

elemento que conferiu densidade ao processo econômico capitalista naquela

situação histórica específica.

234

O Utilitarismo, doutrina estruturada por Jeremy Bentham e John Stuart Mill

na primeira metade do século XIX, forte tributária do Racionalismo, considerava

que toda decisão humana se apoiava em um cálculo de utilidade com relação a

sua conseqüência, ou resultado, na direção do bem-estar entre os envolvidos.

Bentham em Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação explica:

Por princípio de utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função se sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação...Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as vantagens, etc. O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentimento corrente de modo de vida com um fim imediato. (BENTHAM apud WIKIPÉDIA, 2007, p.54)

A ressalva de Bentham serviu de profecia. Fundindo-se ao processo de

divisão social do trabalho e ao individualismo, o utilitarismo se estabeleceu como

cultura, instalando o imediatismo em torno de resultados, a depreciação da moral

em função da ação e sua conseqüência, o sacrifício, de um indivíduo ou segmento

como recurso justo, se compreendido como necessário para o benefício de todos

– o que acabou sendo o sacrifício de um grupo para o benefício de outro.

Na economia, o Utilitarismo consolidou a idéia de que os indivíduos

tomam decisões sempre racionais buscando maximizar seus ganhos e lucros. E,

traduziu bem-estar e felicidade em conforto material, fazendo “acumulação” tomar

o significado de prosperidade e, também, fazendo “crescimento” tomar o

significado de desenvolvimento.

Neste instante, ocorre uma passagem fundamental, a nosso juízo, para a

compreensão de por onde passou a acomodação da contradição instalada entre a

solidariedade necessária para a constituição da sociedade e a acumulação

privada de capital. O somatório cumulativo entre a noção de liberdade individual

liberal, a divisão social do trabalho, as pretensões sociais e políticas burguesas, o

individualismo, as possibilidades tecnológicas da Revolução Industrial e o

Utilitarismo compuseram o ambiente da apartação entre trabalho e trabalhador.

235

Esta concepção apartou na abstração da percepção humana e, por

interação, na concretude da vida prática, o “trabalho” – que passou a figurar entre

outros fatores de produção, na mesma altura do capital e da terra – do

“trabalhador”, ser humano com uma dada função econômica, como todos os

outros, e elemento fundante da sociabilidade necessária, inclusive, para o fluxo

econômico.

Assim, a idéia de “força de trabalho” passou a simbolizar esta abstração e

ser concebida como mercadoria, exatamente como qualquer outra, subordinada a

toda e qualquer suposta lei econômica. Portanto, trabalho e trabalhador, já que

inseparáveis, artificialmente foram reduzidos a insumo e elemento de custo que

precisa ser otimizado para gerar a maximização da rentabilidade.

Com a apartação entre “trabalho” e “trabalhador”, no contexto cultural

Utilitarista, tornou-se plenamente justificável o recurso do desemprego – ou mais

amplamente, da exclusão social, e política, portanto – como estratégia de

acumulação de capital de alguns. Como se isso não implicasse na

desestabilização da unidade familiar, considerada como pilar da sociedade e da

própria economia. Como se isso não concorresse para a diminuição da força de

trabalho ativa que gera a riqueza da nação. Como se isso não rebaixasse a

qualidade de vida geral com a geração de miséria, violência e degradação

ambiental, aumentando os custos econômicos de gestão dos equipamentos

públicos. Como se isso não afetasse o próprio pacto societário e a própria razão

de ser da sociedade: garantir sobrevivência e segurança aos seus associados.

No entanto, recorrer ao “corte de pessoal”, como cortar qualquer insumo

produtivo, é tido como uma atitude racional, absolutamente coerente com o

pressuposto liberal, enunciado por Adam Smith(1776), de que a maximização do

interesse coletivo se alcança exatamente quando cada indivíduo busca maximizar

os seus ganhos particulares – tese contraditada com consistência por John Nash,

a partir da aplicação da Teoria dos Jogos na economia, que lhe rendeu o Nobel de

1994 por seu trabalho “Jogos Não-Cooperativos”(1951) no qual expunha a

possibilidade de ocorrência de mais de uma solução de equilíbrio em uma dada

236

situação competitiva e que estas soluções dependiam de cooperações entre os

envolvidos.

Neste ponto, a noção de Solidariedade Orgânica de Durkheim (1893),

precisa da assessoria do conceito de Hegemonia de Gramsci (2000a), para

explicar que tal solidariedade ocorre, não por livre adesão, mas por uma

combinação de consenso e coerção.

Durkheim(1893), aprofunda a crítica ao Utilitarismo e à economia clássica,

dizendo que “A economia clássica criou um mundo econômico que não existe”,

gerando a desregulação econômica e superdimensionando instituições

econômicas particulares. A vida econômica não nasceu da vida individual, ao

contrário, foi a segunda que nasceu da primeira.

Outros autores que consideramos, por exemplo como Marx, Habermas,

Drucker, contribuíram com a crítica ao Utilitarismo e à idéia de que os indivíduos

decidem racionalmente pelo que maximiza seus ganhos. Destacamos três fortes

argumentos: 1) A assimetria da informação e conhecimento entre os atores do

jogo econômico, que não permite a previsibilidade do comportamento humano. 2)

A incerteza dos resultados que não garantiria a causação estimada pelo

comportamento utilitarista. E, 3) o forte componente emocional nas tomadas de

decisão individuais, já demonstradas empiricamente pelo marketing.

Sumariamente, diríamos que a racionalidade da calculabilidade utilitária,

particularmente aplicada à economia, reduz o ser humano a uma peça produtiva

descartável, reeditando o darwinismo da lei do mais forte, desumanizando

profundamente a sociabilidade que vivemos.

Esta racionalidade e calculabilidade não considera que os seres humanos

adoecem, vivem neuroses e psicoses, crêem, envelhecem, necessitam de

relações confiáveis e que são profundamente interdependentes tanto em sua

sustentação física quanto emocional. Considera apenas os aspectos humanos que

concorrem para a acumulação de riqueza e poder, chegando a precificar relações

237

e pessoas. “Dinheiro compra tudo. Compra até amor sincero” , disse Nelson

Rodrigues, dramaturgo, 1912-1980.

Na verdade a “desumanização” da economia é uma possibilidade

humana, uma construção abstrata a partir de um processo de alienação do

homem com relação as suas próprias projeções na natureza e nos outros

indivíduos. Passando a admitir sua própria reificação. (MARX, 1893)

Apenas como ilustração de um outro caminho necessário para se

aproximar da plena compreensão da relação entre o ser humano, suas decisões e

o fenômeno econômico, lembramos a obra de Sigmund Freud.

Agora, penso eu, o significado da evolução da civilização não mais nos é obscuro. Ele deve representar a luta entre Eros e a Morte, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como ela se elabora na espécie humana. Nessa luta consiste essencialmente toda a vida, e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da espécie humana pela vida. E é essa batalha de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu. (FREUD, 1978, p.175).

Para os economistas pode parecer impróprio ou inadequado, mas para os

homens de marketing a psicologia é apenas um instrumento de trabalho para

“fazer” mercado. Basta olhar no mar da propaganda a eterna luta entre Eros e

Tanatus de que fala Freud. Sugerindo que o comportamento humano exige uma

apreciação bem mais complexa e profunda do que os modelos econômicos têm

podido explicar. Mais um reforço à tese da incorporação dos “fatores não-

econômicos”.

Neste sentido, mesmo de passagem, registramos ainda que este suposto

conflito humano incurável, simbolizado por Freud, entre Eros e Tanatus é uma

pista possível para compreender melhor a natureza da relação Cooperação-

Competição, a ser checada.

Outra pista interessante com que nos deparamos são as duas atribuições

aparentemente distintas à Felicidade. O Utilitarismo atribui à felicidade o sentido

de conforto material. Freud atribui à felicidade a satisfação de “Eros”, das pulsões

238

ao prazer dos seres humanos. Como enfrentar esta questão, já que toda

pretensão de desenvolvimento, incluindo o econômico, é no sentido da felicidade,

sem que se defina exatamente o que se quer dizer com isso?

4.1.2 Cooperação e Competitividade

Como vimos, não há antagonismo entre competição e cooperação. Ao

contrário, estas duas estratégias quase sempre ocorrem de maneira

complementar entre si. No entanto, identificamos que há uma mudança de

qualidade nos resultados de um processo hegemonizado pela cooperação de

outro, hegemonizado pela competição, mesmo encontrando combinações entre as

duas estratégias.

A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite...escolher o que mais nos satisfaz pelo menor preço; e ela faz com que o melhor vença...(Mas) o que acontece com os empresários e empregados das empresas que quebram?...o capitalismo produz desigualdade crescente, verdadeira polarização entre ganhadores e perdedores. Enquanto os primeiros acumulam capital, galgam posições e avançam nas carreiras, os últimos acumulam dívidas pelas quais pagam juros cada vez maiores, são demitidos...tornam-se inempregáveis... (SINGER, 2002, p.8)

Nos processos em que a combinação cooperação-competição é presidida

pela competição, a tendência é de exclusão dos “derrotados” enfraquecendo o

ambiente sistemicamente, ou seja, todos perdem. Nos processos em que a

combinação é presidida pela cooperação a tendência é a alternância de liderança

ou a consolidação de uma liderança sem exclusão que provoque perda sistêmica,

mantendo a diversidade e a riqueza de possibilidades de interações que levem às

sinergias positivas ou Causação Circular Cumulativa (MYRDAL, 1969)

ascendente.

Vemos na política uma atividade humana que, apesar de envolver muito a

idéia de “aliança” e “consenso”, tende a ser presidida pela competição já que

aquilo que poderia ser o pano de fundo de sua regulação, ou seja, as regras do

jogo, são elas mesmas objeto da disputa de poder. A obediência dos “derrotados”

às regras estabelecidas pelos “vencedores” só é aceita por absoluta

239

impossibilidade de não se submeter. Daí a validade do sentido de hegemonia em

Gramsci, “consenso e coerção”. Se houver possibilidade de não se submeter há a

cisão, o racha e o sistema se enfraquecem. Ocorre ainda a possibilidade de um

raro equilíbrio em que as forças se anulam e o sistema se enfraquece do mesmo

jeito. Há cidades no interior da Amazônia onde a cada eleição, se ocorre

alternância de grupo de poder, há a mudança de algo como 20% da população.

Os do grupo vitorioso, que moravam fora, voltam e, mais ou menos o mesmo tanto

dos derrotados que podem migrar o fazem para se proteger das humilhações e

perseguições políticas.

No esporte, o que ganha visibilidade é a idéia da competição. Há na

verdade, antes da competição, a cooperação para construir um marco regulatório

e institucional da disputa com o acordo em torno de regras que tornem a vitória

algo reconhecido por todos e que agregue valor ao sistema, fazendo com que

todos ganhem.

Na economia, sob a presidência da competição temos assistido a um

processo de exclusão social e econômica, além da devastação ambiental que vem

empobrecendo sistemicamente a sociedade na mesma proporção em que

concentra renda e poder. Tanto quantitativamente, a média que reduz mercado e

potencial produtivo ao excluir pessoas que poderiam gerar consumo e força de

trabalho, quanto qualitativamente com a depreciação das relações sociais,

econômicas e culturais com a venalização do trabalho, apartado artificialmente do

trabalhador, e dos valores morais e éticos que dão integridade aos indivíduos e à

Sociedade.

Por outro lado, quando a economia, mesmo localmente, é presidida pela

cooperação, como na experiência já relatada de Mondragon, podemos assistir a

processos de recuperação de regiões antes deprimidas economicamente onde a

cooperação foi a principal substância da competitividade. Tal percepção tem dado

a grande atratividade as idéias como clusters, arranjos, aglomerados e sistemas

produtivos. E esta é uma tendência que transborda a economia e remete a uma

240

expectativa de resgate da valoração da integralidade humana e seus valores

positivos nas mais diversas atividades da Sociedade.

Entendemos que a cooperação é uma opção estratégica econômica

baseada na interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são

compartilhadas e os benefícios são distribuídos com equilíbrio por todo o sistema.

Já a competição é uma estratégia econômica que aposta em uma interação social

excludente, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são

isoladas ou em oposição umas as outras. E os benefícios são concentrados em

alguns segmentos do sistema.

Adotar a competição como estratégia, mesmo quando fundada na idéia

da dessemelhança entre os seres humanos – que justificaria a riqueza de uns

diante do determinismo da pobreza de outros – significa cair na ilusão da exclusão

social como forma de “purificar” ou “qualificar” a sociedade. Na verdade, os

“excluídos” não são excluídos do sistema, eles ficam no sistema, pesando como

força de trabalho inativa e demandante de serviços de educação, assistência,

saúde e segurança, o que onera o Estado, além de contribuir com outros fatores

geradores de um ambiente propício à violência social e organizada, depreciando a

qualidade de vida de todos, sem exceção.

Contudo, quando a competição está subordinada à cooperação, cumpre

um papel imprescindível de mobilização de forças novas e inovadoras, únicas

capazes de fazer o sistema ganhar com saltos de qualidade. A cooperação pura,

sem qualquer mediação com estratégias competitivas subordinadas, leva á

estagnação e à perda de qualidade nivelando o sistema por baixo. Nem o mais

fraco deve ser a referência da média, nem o “mais apto” significa ser o mais forte –

tal como se atribui ao darwinismo.

No entanto, contam, que mesmo Darwin, ficou amargurado por suas

teorias terem sido distorcidas para justificar negociatas, crueldades e guerras

contra os mais fracos. Charles Darwin afirmou claramente que, para a raça

humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e

241

na cooperação social. (SOLLER, 2003) O ideal seria construir possibilidades de

contribuir para desenvolver na Sociedade o respeito mútuo, a solidariedade e a

amizade sem abrir mão de empreendimentos bem administrados, competitivos no

sentido de sua própria sustentabilidade.

Uma destas possibilidades, destacamos, é a do jogo cooperativo como

instrumento pedagógico para empreendedores. Segundo Lopes (2005), o jogo por

si só é uma atividade que contém em si mesmo o objetivo de decifrar os enigmas

da vida e de construir momentos de prazer. Podendo ser utilizado como uma

atividade de desenvolvimento humano, permitindo, então, uma participação de

aprendizagem, que contextetualiza a competição, transformando-a em um

exercício crítico e consciente de apreender a solidariedade.

Quando se evidencia que se jogam uns com os outros e não uns contra

os outros, trabalha-se a percepção da importância econômica da convivência

entre as pessoas, a confiança mútua e a participação autêntica de todo o grupo

como únicos elementos capazes de maximizar o que a Sociedade pode nos dar:

melhor qualidade de vida – melhor sobrevivência e maior segurança. É preciso

reconhecer que a verdadeira vitória acontece, quando não há a derrota dos outros,

porque isto significa maior estabilidade e sustentabilidade do sistema.

Podemos compreender que ao participarmos do jogo econômico,

concebendo-o como um componente da vida, o principal valor está na

oportunidade de conhecer melhor nossas próprias habilidades e nosso potencial e

então cooperar para que os outros realizem o mesmo. Os jogos cooperativos,

segundo Barreto (2005), possuem cinco princípios básicos, julgados fundamentais

para seu desenvolvimento. São eles: inclusão, coletividade, igualdade de direitos e

deveres, desenvolvimento humano e a processualidade ou estratégia. A partir

desta reflexão pedagógica podemos inferir algumas possibilidades de aumento de

competitividade, a partir de estratégias econômicas cooperativas, principalmente

em Aglomerados, como expressão mais intensa do que ocorre na Sociedade

como um todo.

242

Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em conseqüência da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias distintas: em primeiro lugar, devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança daquele tempo que, em geral, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente, à invenção de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho que, de outra forma, teria de ser feitas por muitas...(assim) o casaco de lã, por exemplo, que o trabalhador usa para agasalhar-se é o produto do trabalho conjugado de uma multidão de trabalhadores. O pastor, o selecionador de lã, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, o pisoeiro, o confeccionador de roupas, além de muitos outros...(transporte, armazenagem, comércio, crédito etc.) (SMITH, 1988, p.19/22)

Fica aqui claro, que as raízes da divisão do trabalho que abriram a

possibilidade do Capitalismo, ao mesmo tempo, multiplicaram as

interdependências entre os indivíduos, aprofundando a necessidade de

cooperarem entre si em função de serem obrigados a estabelecer um círculo

muito maior de trocas e portanto, de relações humanas confiáveis, o que significa

solidariedade, para obterem o que precisam para seu conforto material, espiritual,

afetivo e social, ou seja, sua qualidade de vida – considerando sua cultura.

Portanto, a superposição da hegemonia Utilitarista sobre este processo

econômico, acarreta-lhe uma contradição estrutural, ao lhe induzir à lógica da

concentração de renda e poder, gerando a exclusão social, contraindo o mercado

de trabalho. A taxa de lucro cai, não por explorar-se menos o trabalho, e sim por

empregar-se menos trabalho em relação ao capital aplicado. (MARX, 1890, p.283)

Ora, esta citação permanece válida se considerarmos que o único fator de

produção capaz de gerar mais-valia é a força de trabalho. Se é possível que surja

um resultado diferente em uma empresa específica – em função de uma possível

composição tecnológica que exploraria sobretudo a mais-valia relativa (MARX,

1893) – na magnitude agregada da economia esta formulação ganha, a nosso ver,

validade lógica inconteste. Particularmente se percebemos ao interdependência e

as interações entre agentes e fatores de produção como a sinergia do fenômeno

econômico, tal como estamos tentando fazer neste trabalho.

243

Quando todo o sistema começa a mover-se, depois desse choque (devido à intervenção externa), as mudanças que se operam nas forças atuam na mesma direção, o que não é a mesma coisa. Isto ocorre porque as variáveis se entrelaçam de tal sorte, em processo de causação circular, que a mudança em qualquer delas provoca alteração nas outras, estas fortificam as primeiras, seguindo-se efeitos terciários sobre aquela primeira variável afetada, e assim sucessivamente. (MYRDAL, 1969, p.40)

Identificamos que, ao descrever o processo da Causação Circular

Cumulativa, Myrdal trabalha evidentemente com as relações entre agentes e

fatores como mencionamos. Portanto, subjaz na elaboração desse autor a

cooperação como condição intrínseca necessária para que ocorra a causação

circular positiva ou ascendente. Ora, se o choque dado no sistema não induzir

entre os agentes a perspectiva de objetivos comuns, em que todos ganhem – ou

vier acompanhado de outros mecanismos que façam tal indução – ocorrer um

atrito também cumulativo, até que se consegua frear, e parar, a roda da Causação

Circular. Ou ainda, a cooperação como percepção do “jogo de ganha-ganha” por

parte dos agentes – os que fazem a roda continuar a mover-se, ou não – funciona

como um lubrificante necessário para diminuir o atrito entre as engrenagens. Mas

um lubrificante muito especial, que não só diminui o atrito como até pode acelerar

o giro da causação, mesmo após cessada a intervenção exógena no dado sistema

econômico.

Hirschman (1976) ao apresentar sua teoria dos Efeitos em Cadeia,

promete, um conceito “mais inclusivo para ser usado na consideração de algumas

seqüências de desenvolvimento selecionadas”, referindo-se sobretudo à situações

de subdesenvolvimento que estudou como poucos.

...uma atividade com muitos elos diretos com o resto da economia, por seus efeitos em cadeia retrospectivos e prospectivos, ou mais simplesmente porque se localiza na região central de um país e é realizada por produtores que possuem íntimos laços com uma vasta rede de comerciantes e habitantes da localidade: com tantas relações de amizade a sua atividade não será submetida a severas taxações. (HIRSCHMAN, 1976, p.14)

Na tentativa de demonstrar a diferença da incidência da capacidade

estatal de tributar entre enclaves, mais desprotegidos pela baixa interação com a

244

Sociedade local, e cadeias, como na citação, Hirschman revela o peso que atribui

às “laços íntimos” e “relações de amizade” com “redes” e “habitantes da

localidade”. Como no texto o autor está se referindo a sua tese dos Efeitos em

Cadeia de natureza Fiscal, estes elementos surgem com forte conotação política.

A nosso ver, isto só reforça as evidências de que, para Hirschman, a cooperação

entre os agentes econômicos é um elemento relevante para o grau de eficácia e

reprodução dos Efeitos em Cadeia, embora alerte que isto também pode ensejar

uma cooperação perniciosa ao conjunto do sistema, quando a cooperação se

limita a uma dada corporação ou setor em detrimento da competitividade do

sistema como um todo.

Hischman(1994), sobre conflitos em Sociedades de mercado pluralista,

invoca a indagação “De quanto espírito comunitário a Sociedade Liberal precisa?”

para fundamentar que a cooperação pode servir de barreira ao aumento da

competitividade se não permitir um certo conflito capaz de motivar a sociedade

produtiva, agregando-lhe maior coesão, servindo-lhe de “cola” aquele que gera

Capital Social, como em Robert Putnam, que denominou Conflitos Divisíveis.

Estes seriam conflitos que, em seu exemplo, levam à “distribuição do produto

social entre diferentes classes, setores ou regiões”. Já os Conflitos Não-Divisíveis

são excludentes, do tipo ou/ou, e servem de “solvente” do Capital Social.

(Caracterizam Sociedades)...cindidas por rivalidades étnicas, lingüísticas ou religiosas...Os conflitos não-divisíveis tornaram-se, recentemente, mais relevantes nas democracias antigas, especialmente nos EUA, devido à importância assumida por questões como aborto e multiculturalismo. (HIRSCHMAN, 1994, p.41)

No turbilhão do mundo moderno democrático e pluralista, conflitos

Divisíveis e Não-Divisíveis são concomitantes. O que vai definir a qualidade da

resultante é qual deles hegemoniza o processo social e econômico. Muito próximo

do que acontece com a relação cooperação-competição tal como consideramos

anteriormente.

Enfatizamos, portanto, mais uma vez, que a cooperação – tomados os

cuidados indicados por Hirschman – é um fator que altera qualitativamente as

245

estratégias de desenvolvimento econômico, como já vimos, em regiões e cadeias

produtivas. No entanto, é na noção de aglomerados econômicos de hoje, que esta

perspectiva se torna mais visível enquanto teoria e experimento empírico.

Com base em levantamentos numa ampla variedade de setores, constatamos que a tecnologia da informação está alterando as regras da competição de três maneiras. Primeiro, seus avanços estão mudando a estrutura setorial. Segundo, a tecnologia da informação é uma alavanca cada vez mais importante à disposição das empresas para criar vantagem competitiva...à medida que os concorrentes imitam as inovações estratégicas dos líderes. Por fim, a tecnologia da informação está disseminando negócios completamente novos. (PORTER, 1999, p.94)

Esta citação sob o sugestivo título “Mudando a Natureza da Competição”

atualiza com grande objetividade a percepção das alterações que estão

ocorrendo, neste momento, no fenômeno econômico.

Muitas mudanças no sistema de conhecimento da sociedade influem diretamente nas operações comerciais. Esse sistema de conhecimento é uma parte ainda mais difusa do ambiente de toda firma do que o sistema bancário, o sistema político, ou o sistema energético... Sem falar no fato de que nenhuma firma poderia abrir as portas se não houvesse linguagem, cultura, dados, informações e conhecimento técnico. De fato, o conhecimento (às vezes só informação e dados) pode ser usado como substituto de outros recursos... O conhecimento – em princípio, inexaurível – é o substituto fundamental. (TOFFLER, 1995, p.109)

O conhecimento é um bem que, ao contrário dos demais, cresce quanto

mais é dividido. É exatamente aí que ocorre, em nosso entendimento, a

transformação da natureza da competição. A partir de uma “economia do

conhecimento” se estabelece a lógica de quanto mais se partilha mais se acumula.

Com um ganho adicional de qualidade nas relações humanas, agora includentes,

social e economicamente.

A habilidade de compartilhar atividades é uma base poderosa para a estratégia corporativa, pois o compartilhamento geralmente acentua a vantagem competitiva, através da redução do custo e do reforço da diferenciação. (PORTER, 1999, p.154)

Partilha válida entre unidades de uma mesma empresa, entre empresas

de uma mesma cadeia, entre setores de um mesmo aglomerado e entre regiões

246

de um mesmo país. Vale registrar que quando Porter aborda a importância em

P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), e recomenda “restringir ao máximo a

cooperação entre setores rivais” ele se refere pontualmente a leis que inibem a

inovação uma vez que o que a pesquisa criar não servirá de diferencial

competitivo entre rivais que partilham a mesma investigação.

Esta referência nos alerta a separar claramente a idéia de cooperação da

idéia de cartelização, quando esta última ocorre quando há cooperação entre

poucos para auferir vantagem em detrimento dos interesses da maioria da

Sociedade.

Já quando se refere à competitividade de aglomerados, Porter deixa claro

seu entendimento sobre a relação cooperação-competitividade.

(...)as políticas macroeconômicas são condições necessárias, mas não suficientes, para fomentar a competitividade... Os aglomerados(...) Constituem o foro que possibilita novas e imprescindíveis modalidades de diálogo entre empresas, órgãos governamentais e instituições (como escolas, universidades e empresas de utilidade pública). (PORTER, 1999, p.210/211)

Ou seja, para Porter, a economia deve ser tratada como acontece no

esporte em que a competição se dá subordinada à consolidação da cooperação

em torno dos termos regimentais e regulatórios que servirão de arcabouço político,

ético e institucional para que a competição, seja qual for seu resultado, contribua

para a melhoria do ambiente sistemicamente. Assim, os aglomerados seriam

definidos como um sistema de empresas e instituições inter-relacionadas, cujo

valor como um todo é maior do que a soma das partes. (PORTER, 1999, p.210/211)

Sintetizamos, sob nossa versão, os principais valores agregados pelas

estratégias de Cooperação econômica, entre elas os aglomerados, no quadro

abaixo.

247

Valor agregado pela Cooperação

Valor Benefícios Estratégia Operacional Resultados

Confiança

Transações mais

seguras, satisfação

com o atendimento

Eliminação de etapas de

controle excessivo

Redução de custo de

transação e maior

agilidade

Credibilidade

Respeito e

reconhecimento

Garantia de qualidade e

demais termos do contrato

Estabilidade comercial

e sustentabilidade de

longo prazo

Partilha

Conhecimento

acumulado se

multiplica

socialmente

Compra conjunta de

insumos, MKT articulado,

formação e treinamento em

parceria, demandas

políticas

Maior poder de

barganha e pressão,

menor custo de MKT e

treinamento, acesso à

Políticas Públicas

Relacionamento

Pluralidade e

complementariedade

Negociação, articulação em

redes

Fidelização

Objetivos comuns Interação institucional Enraizamento cultural

248

Identidade permanente

Solidariedade

Maior aquecimento

econômico e

qualidade de vida

Inclusão permanente de

agentes e instituições,

compras locais prioritárias

Ampliação da base de

sustentação, maior

produção e consumo

Tabela 3: Valor Agregado proporcionado pela Cooperação

Na tabela em pauta, procuramos evidenciar como um valor, tido muitas

vezes como apenas ético ou moral, se projeta estrategicamente também como

valor econômico, às vezes especificamente financeiro, a conferir maior

competitividade ao conjunto do sistema e às corporações e instituições que fazem

parte dele.

No entanto, julgamos de grande importância a compreensão da afirmação

de Porter, de que “o valor do conjunto é maior do que a da soma das partes”. É

preciso perceber o sinergismo entre as estratégias cooperativas e entre os valores

que agregam.

É possível, unilateralmente, adotar o valor “confiança” e economizar

etapas de controle e fiscalização excessivas. Fizemos isto no Banco do Povo de

Belém (vide Memorial), dispensando a consulta ao SPC (Serviço de Proteção ao

Consumidor) e à SERASA para concessão de crédito e, em 7 anos tivemos

apenas 8% de inadimplência, ou seja, 92% de sucesso atendendo uma população

empobrecida e rechaçada pela rede bancária tradicional por não oferecer

garantias reais o que constituiria altíssimo risco. Esta estratégia vem, aos poucos

ganhando espaço no mercado local e mundial com destaque para os movimentos

pelo Comércio Justo e Solidário entre empresas, comunidades e países.

Contudo, a maximização dos resultados possíveis com a adoção do valor

“confiança”, só se alcança quando na outra ponta encontramos um parceiro

comercial que adota o valor da “credibilidade” por seu turno. Ora, se de uma lado

249

procura-se apostar na seriedade e capacidade produtiva do parceiro e, no outro,

temos alguém comprometido com a qualidade de sua oferta e com os termos do

contrato, o resultado tende a ser muito positivo, tanto economicamente quanto

pelo que representa de qualidade de vida ao desenvolver relações confiáveis que

geram conforto, estabilidade e sustentabilidade.

Se a adoção destes valores acumulam à adoção de novos valores

cooperativos, a tendência é ampliar ainda mais os resultados materiais e

imateriais, econômicos, sociais, políticos e culturais. O que jamais seria possível

alcançar, isoladamente, por uma das partes, ou, sob um sistema presidido pela

competição pura.

Do ponto de vista estratégico, a inovação de valores em um sistema

econômico, por ser de natureza cultural – portanto, com fortes apelos psicológicos

e emocionais (não-racionais) – é um desafio complexo por exigir sincronismos

entre medidas exógenas de incentivo e regulação e movimentos endógenos de

liderança e exemplificação prática. Tal como constatamos na implantação do

Atacadão Solidário, projeto de compra conjunta do Banco do Povo de Belém, junto

aos feirantes do Complexo de São Braz, em 1999.

A principal estratégia cooperativa que aqui destacamos, e pretendemos

trabalhar, é a dos Aglomerados.

Os vínculos sociais mantêm a coesão dos aglomerados, contribuindo para o processo de criação de valor. Boa parte da vantagem competitiva dos aglomerados depende do livre fluxo de informações, da descoberta de intercâmbios e transações agregadoras de valor, da disposição de alinhar agendas e atuar além das fronteiras empresariais e da forte motivação para os aprimoramentos. Os relacionamentos, as redes e o senso de interesse comum são os pilares de sustentação dessas circunstâncias. Assim, a estrutura social dos aglomerados assume uma importância fundamental. (PORTER, 1999, p.239)

Como obter, livre fluxo de informações e as demais condições citadas

acima sem confiança e uma forte convicção da contribuição da cooperação para a

competitividade? O pensamento de Milton Santos nos ajuda a responder.

250

O tema remete para o global, para a globalização e para o território, como também Milton Santos aproximou: o território local, mas que tem implícito o que está na agenda geográfica – os territórios inteligentes (o saber: as learning regions, as creative cities), que são a seqüência lógica da translação da abordagem global para a abordagem do lugar e do território. A passagem das inovações, dos conhecimentos técnicos, do global para o local, só é efetiva porque aqui se verificou um enraizamento e um “imbricamento”, facilitados pela existência de relações de proximidade. Relações que decorrem da coesão social (e cultural) e que, no fundo, estão no cerne do próprio conceito de território. (GASPAR, 2004, p.180)

Globalização e Domínio Territorial em Milton Santos

Fig 9: Globalização e Território em Milton Santos (fonte: GASPAR, 2004)

Articulando as idéias de conhecimento, fluxo de informações e de

inteligência como expressão do composto cultura e território, nos vemos diante de

uma questão incontornável: a educação.

Sendo o trabalho que define a existência humana...a educação não é algo de fora para dentro, que acontece apenas em cursos de capacitação...Não é sinônimo de ensino, mas se dá em diferentes espaços e tempos da formação humana. Fundamentalmente, é parte integrante da cultura do trabalho que vai se constituindo no

Técnica

Ocupação e Ordenamento /

Dominação

Poder

Estado

Território

Civilização / Espaços Criativos

Geografia

251

cotidiano da produção associada e nas relações que...estabelecem com o mundo lá fora. Por isto, dizemos que a prática é a fonte de conhecimento e que o trabalho é instância e é, ao mesmo tempo, princípio educativo. (TIRIBA, 2006, p. 102)

A experiência do Complexo Cooperativo de Mondragon, tal como descrito

por Barker (1997,p.132), possui forte presença do componente educacional em

toda sua história e em toda sua estratégia organizacional, criando escolas e

universidades vinculadas à sua estratégia mercadológica.

Este componente surge com destaque nas considerações de Porter sobre

as condições dos aglomerados em condições de paises em desenvolvimento,

principalmente se tomarmos a educação como na citação de Tiriba, acima.

O desenvolvimento de aglomerados que funcionem bem é um dos passos essenciais na evolução para uma economia avançada. Nas economias em desenvolvimento, a formação dos conglomerados é inibida pelo baixo nível de educação e de qualificação do pessoal local, pelas deficiências tecnológicas, pela falta de acesso ao capital e pelo subdesenvolvimento das instituições. Às vezes, as políticas governamentais também atuam contra a formação dos aglomerados. As restrições relativas à localização industrial e aos subsídios provocam uma dispersão artificial das empresas. Os currículos das universidades e das escolas técnicas, estabelecidos por órgãos centrais, não se adaptam às necessidades dos aglomerados... (PORTER, 1999, p.245)

Esta precisa descrição do sinergismo negativo que em parte vivemos no

Brasil, é o construto de nossa história, cultura e de tudo o que nos conforma como

sociedade – mais um exemplo eloqüente da validade da Teoria da Causação

Circular Cumulativa de Myrdal (1969).

Os impactos sociais, ambientais, culturais e econômicos que o estilo de

vida das sociedades modernas gerou, chegaram a tal ponto que sua reversão

exige uma grande e eficiente soma de esforços. Porém, articular eficientemente

ações coletivas em sociedades e indivíduos que estão bem melhor treinados, e

condicionados a atuar individualmente e mais “contra” o outro do que “junto com”

ele é o maior desafio das organizações econômicas. Neste momento em que a

cooperação é tão necessária, como aprender a trabalhar harmonicamente com

aquele de quem habituei a desconfiar?

252

No entanto, contrariando esta tendência, encontramos alento, ao

constatar, embora não seja raro encontrar, principalmente em comunidades

empobrecidas, um grande número de pessoas da própria comunidade que,

espontaneamente, desenvolvem ações voluntárias – absolutamente

antieconômicas e portanto “irracionais”, segundo os clássicos – em benefício do

próximo.

Essas pessoas, porém, quando convidadas a somar esforços e atuar em

conjunto para ampliar a eficácia de sua ação, recuperam a “racionalidade” e

recusam-se terminantemente, porque não confiam nas intenções do outro, temem

serem passadas para trás, roubadas, enganadas ou manobradas politicamente.

Preferem seguir fazendo o que podem sozinhos, ainda que com poucas chances

de resolução do problema, do que se arriscar com o outro. O medo, a

desconfiança e a desmotivação nos impedem de experimentar ultrapassar

coletivamente os limites das nossas impossibilidades individuais. Precisamos de

uma nova racionalidade: A racionalidade da Solidariedade

Muito em geral poderá dizer-se que a emergência do terceiro setor significa que, finalmente, o terceiro pilar da regulação social na modernidade ocidental, o princípio da comunidade, consegue destronar a hegemonia que os outros dois pilares, o princípio do Estado e o princípio do mercado, partilharam até agora com diferentes pesos relativos em diferentes períodos...o princípio da comunidade afirma a obrigação política horizontal e solidária de cidadão a cidadão. Segundo ele (Rousseau, 1762/1775), é esta a obrigação política originária, a que estabelece a inalienabilidade da soberania do povo de que deriva a obrigação política com o Estado. (SANTOS,2006, p.352)

Ainda segundo Santos (2006, p.351), alguns autores como Defourny,

Favreau e Laville (1998) denominam este campo de “nova economia social”,

outros como “economia social e solidária” (Laville at al, 2005).

4.2 ECONOMIA SOLIDÁRIA

4.2.1 Breve histórico

253

Nos primórdios da humanidade tivemos uma forma de organização

sócio-econômica altamente equilibrada, em que a troca econômica era feita de

forma coerente através do mutualismo, do cooperativismo e da solidariedade.

Esse sistema econômico era o comunismo primitivo, ainda hoje fossilizado em

algumas comunidades indígenas. Caracterizava-se por apresentar uma

formação social sem divisão em classes sociais e uma cultura econômica

altamente de subsistência baseada no cooperativismo e na solidariedade

humana entre todos, ou seja, cada membro da tribo apresenta importante papel

visando o bem-estar da coletividade. À medida que o medo primitivo se

inviabilizava, a possibilidade de evolução realizada pela humanidade, fazia com

que essa base econômica solidária fosse sendo distorcida por um processo

marcado pela diferenciação social, pela tecnologia da divisão do trabalho e pela

adoção do Utilitarismo como filosofia hegemônica.

Evolução dos Modos de Produção

Fig 10: Evolução dos Modos de Produção

Apenas esquematicamente, é possível apresentar a evolução dos

modos de produção tal como na figura acima. O modelo M1 – M2 significa a

troca direta de mercadorias. O modelo M1 – D – M2 significa a troca de

mercadorias mediada pelo dinheiro como trocador universal. Note-se que aí o

M1 – M2 Escambo/Solidariedade

Sociedade Primitiva

M1 – D – M2 Comércio

Sociedade Mercantilista

D – M – D’ Indústria

Sociedade Industrial

D – D’ Financeirização

Sociedade Global

Evolução dos Modos de Produção

254

relacionamento começa a ser mediado, distanciando a percepção da

necessidade da confiança e da credibilidade como cimento da transação.

O modelo D – M – D’ implementou o que conhecemos como

Capitalismo e significa a autonomia do dinheiro frente à mercadoria. A partir

desse momento o dinheiro ganha a condição de capital e vai ocupando o centro

do conjunto de relações humanas que se estabelecem.

Distante da mercadoria, e distante também da noção de que são elas

que conferem qualidade de vida aos indivíduos em Sociedade, colocam-se

como centro dos interesses a acumulação de capital e de poder,

particularizadamente, como fim em si mesmo, em detrimento da busca de

melhor qualidade de vida, que só se conquista como produto do

desenvolvimento social e ambiental, o que acaba comprometendo a eventual

conquista de qualidade de vida particular.

Neste ponto, é preciso destacar que a possibilidade da acumulação de

capital só acontece com a “descoberta” da mais-valia (MARX, 1893). Com a

percepção de que o trabalho tem o dom de agregar valor. Ao mesmo tempo em

que recorre a apartação artificial entre trabalho e trabalhador e com isso ganha

o poder de aperfeiçoar o trabalho, em si, como mercadoria.

Antes, no escravismo e no feudalismo, comprar trabalho implicava em

comprar o trabalhador o que trazia a obrigação de cuidar de sua reprodução na

saúde e na doença, na juventude e na velhice. No capitalismo, se compra

trabalho por hora ou produto, sem se comprometer com a hora da doença e da

velhice, naturais do ser humano, cujos custos são diluídos pelo conjunto da

Sociedade, através da assistência e previdência social, em sua maioria de

trabalhadores.

Por fim, com o modelo D – D’ enveredamos, com a globalização, no

caminho da acumulação agora de natureza financeira, na qual o capital se

acumula distante das mercadorias e sem precisar mobilizar trabalho,

255

vampirizando a mais-valia da indústria e se reproduzindo pela especulação da

remuneração, apartada da produção, no giro das bolsas de valores. Aqui a

distância da natureza solidária como fundamento da sociabilidade humana

chega a um ponto extremo. E começa a sugerir a percepção das perdas

fundamentais que são geradas e da necessidade de resgate da solidariedade

econômica para uma acumulação social do capital.

4.2.2 Economia Solidária no Brasil

Para entender o processo de economia solidária no Brasil é importante

analisar as transformações da sócio-econômica ocorridas durante as décadas

de 70-90. De acordo com Carlos Langoni (1991), a década de 70 –

principalmente a segunda metade – é marcada pela transição do modelo

keynesianos (endividamento do Estado) para o modelo econômico neoliberal e

caracteriza-se pelo início de uma nova crise econômica mundial, a crise do

petrodólares. A década de 80 é a década do liberalismo econômico, na qual se

verifica o inicio de mudanças profundas nas estruturas econômicas e políticas

de paises em desenvolvimento onde os termos economia de mercado,

privatizações e investimento estrangeiros passam a ser extremamente

utilizados.

Constata-se também na década de 80 um forte endividamento dos

países em desenvolvimento em decorrências das políticas keynesianas (1945-

75) que fez com que o mercado privado de crédito em longo prazo paralisasse

suas operações, o acesso a empréstimos privados se tornasse mais seletivo e

debates sobre questões ambientais se tornassem elemento central sobre novos

caminhos alternativos de desenvolvimento.

A década de 90 é a década da integração econômica e da globalização

em que países formaram blocos econômicos objetivando integração monetária,

econômica e financeira entre si assim como a globalização através do avanço

da tecnologia quebra barreiras políticas, econômicas e sociais adentrando e

fazendo conexão entre todos os continentes.

256

A globalização econômica e financeira, ao forçar a concorrência no plano internacional, vem atuando no sentido de diluir as fronteiras econômicas nacionais e regionais abrindo assim espaço para a emergência dos regions states – regiões de um país ou de países que se articulam em diferentes planos estratégicos econômicos e comerciais. (CARVALHO, 2005, p.43)

De acordo com Paul Singer (2002), nas últimas décadas a organização

do trabalho mudou, fazendo com as empresas capitalistas reduzissem seus

quadros de mão-de-obra mediante adoção de novas tecnologias/técnicas de

trabalho e da subcontratação de serviços autônomos e cooperativos.

O crescimento econômico é interrompido sucessivamente nos anos 80-

90 por crises financeiras, fazendo com que a demanda por força de trabalho

diminuísse por parte das empresas, porém em contra partida, o mercado de

desempregados aumentava exponencialmente.

O resultado das mudanças foi não somente o aumento do desemprego

mas também a diversificação das relações de trabalho criando além do trabalho

assalariado formal o trabalho, por conta própria, o individual, o coletivo/solidário

(cooperativas e associações), assalariamento informal, além da volta do

trabalho escravo e da exploração do trabalho infantil.

Assim como nos países europeus e nos Estados Unidos, a economia

solidária ressurge no Brasil como forma alternativa de defesa da classe

trabalhadora contra o processo neoliberal de eliminação de milhões de postos

de trabalho formal que se dá a partir da década de 80. Isto, tanto por parte da

iniciativa privado quanto por parte do setor público, fazendo com que a pobreza

se multiplicasse em proporções até então jamais vistas.

Em conseqüência, cresceu a organização dos trabalhadores que se

uniram lançando mão de suas economias para iniciarem seus próprios

negócios. Surge nesse contexto, sócio-econômico entidades dos movimentos

sociais, como a Cáritas e a ANTEAG, que promoveram projetos comunitários

257

alternativos os quais são capitalizados por fundos rotativos. Em meados dos

anos 90 despontam em várias universidades as Incubadoras de Cooperativas

Populares visando ajudar os grupos de comunitários a desenvolver

coletivamente, atividades econômicas.

Apesar de os movimentos sociais solidários no Brasil terem se iniciado

na década de 80, é a partir da década de 90 que se verificará a massificação do

processo do ideal solidário e popular, assim como as primeiras literaturas a

respeito deste novo conceito de economia, já que o conceito de economia

solidária ficou por décadas imerso no que a literatura cientifica chama de

autogestão, cooperativismo, economia informal ou economia popular.

4.2.3 Conceitos

É comum se referir à Economia Popular, genericamente, como economia

“informal”. A idéia de economia “informal” deveria limitar-se como referência à

legalidade. Toda atividade econômica que não é registrada na Junta Comercial,

que não tem CNPJ, é informal. No entanto, o uso extrapola esta limitação e se

expande expressando preconceitos que deixa de perceber as vantagens de se

incluir todas as formas lícitas de economia, no mesmo modelo de

desenvolvimento.

Ora, quando uma costureira “informal” trabalha, além de gerar sua própria

renda e ocupação econômica, pode gerar a de outros. Ao mesmo tempo,

movimenta o consumo de seus insumos e o de seus produtos por terceiros, o que

irá movimentar todas as cadeias comerciais “formais” que seu negócio interage

indo reforçar a indústria, em última instância, incluindo a cadeia de tributação.

Ou seja, o tratamento como “informal”, não permite que se enxergue a

Economia Popular como parte importante da economia, como peça estratégica

para a solução do conjunto da problemática do desenvolvimento. A conseqüência

dramática é a de todo preconceito: transforma a vítima em réu.

258

A recusa em enxergar a Economia Popular como uma instância própria da

economia, é a recusa dos direitos de milhões de pessoas que praticam uma

economia que exige uma nova abordagem tanto pela via do capital quanto, e

principalmente, pela do trabalho.

Até porque neste contexto, quase sempre capital e trabalho estão

fundidos em um amalgama econômico em que a maioria dos sujeitos também se

funde como trabalhador/empreendedor. Só uma abordagem inovadora resgatará

milhões da marginalidade ao mesmo tempo em que os colocará em sinergia com

a construção de um novo modelo de desenvolvimento capaz de gerar trabalho,

emprego e renda para todos e todas.

Então, propomos compreender a economia a partir de sua unidade

atômica, a troca. A troca é um fenômeno humano – que marca inclusive a relação

com o meio ambiente. Um processo baseado na identificação de objetivos comuns

ou complementares entre as partes e, na confiança de que ambos serão

satisfeitos com a troca. Ou seja, comprar e vender significa a mesma coisa: trocar.

Apenas se chama “compra” quando se troca dinheiro por um objeto ou serviço.

Se a troca é de um objeto ou serviço por dinheiro, aí dizem que houve

uma “venda”. Em última instância, a troca envolve o mesmo objetivo dos dois

lados: a melhoria da qualidade de vida – claro que segundo as referências de

cada um. Além disso, se uma das partes não confiar que seu objetivo será

satisfeito, a troca não ocorre. Daí propormos concluir que a motivação original da

interação econômica é a solidariedade: objetivos comuns e confiança.

O conceito de economia de solidariedade aparece pela primeira vez no

Brasil em 1993 no livro “Economia de solidariedade e organização popular”,

organizado por Gadotti, no qual o autor chileno, Luis Razeto, o concebe como

uma formulação teórica de nível científico.

(...) elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas que compartilham alguns traços

259

constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e auto gestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas. (NOELLE LECHAT, 2002 apud ROZETO, 1993).

Somente a partir de 1995 se observa autores brasileiros escrevendo

sobre economia solidária e referindo-se a ela desta maneira.

Para Luis Gaiger (2003), a solidariedade popular se expressa na

prática e no ideal de número crescente de empreendimentos econômicos os

quais são levados à frente por trabalhadores que tiveram sua forma de

subsistência roubada pelo sistema neoliberal ou foram movidos pelas suas

próprias convicções de se tornarem empreendedores.

Tais empreendimentos se organizaram das mais variadas formas tais

como: associações informais, cooperativas e pequenas empresas. No Brasil,

essas iniciativas vêm adquirindo visibilidade e densidade social. A adesão

crescente dos trabalhadores à alternativa de trabalho e renda de caráter

associativo e cooperativo,configuram, gradativamente, a economia solidária.

A economia solidária demonstra claramente que a cooperação,o

mutualismo, a solidariedade e o associativismo não são meros ordenamentos

éticos, mas possuem vantagens comparativas diante da economia capitalista

em suas condições.

Estudos realizados (PEIXOTO,2000; SINGER & SOUZA, 2000;

SANTOS,2002) apontam indícios de que empreendimentos associativos

consolidam-se e alcançam níveis de competitividade e acumulação que os

habilitam a um processo de crescimento endógeno, pois ao assumirem uma

racionalidade econômica própria e planificarem seus investimentos,

compatibilizam e reforçam a cooperação no trabalho e na rentabilidade

econômica.

260

A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, consumir ou poupar. A chave dessa proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre desiguais. (SINGER, 2002, p.9)

Surge aqui, novamente, a necessidade de se compreender o impacto

de uma percepção filosófica sobre a economia: O darwinismo impregnou a

Sociedade com a fortíssima idéia da seleção natural. Essa noção, no processo

de diferenciação étnica e social por que passou a sociedade ao se

complexificar, resultou na idéia de que há diferenças inatas entre os seres

humanos que determinam sua inteligência, capacidade de trabalho, sua índole

e sua moral.

Daí justificando toda e qualquer desigualdade, principalmente a

miséria, não reconhecendo o processo de empobrecimento a que foram

submetidas parcelas majoritárias da população. Com isto, a justificação moral e

política que sustentava a diferenciação entre senhor e escravo ou entre nobre e

servo, descola-se da fundamentação dogmático-religiosa da Idade Média para,

agora, apoiar-se em uma argumentação “científica” que subjaz, principalmente

no senso comum, para explicar e aceitar a distância entre ricos e pobres,

homens e mulheres, brancos e negros etc.

Essas pessoas não eram pobres por estupidez ou por preguiça. Elas trabalhavam o dia inteiro, realizando tarefas físicas muito complexas. Eram pobres porque as estruturas financeiras de nosso país não tinham a disposição de ajudá-las a melhorar sua sorte. Era um problema estrutural, e não um problema individual. (YUNUS, 2001, p.24)

Por outro lado, ainda que a economia solidária exija a penetração do

social sobre o econômico, não comporta identidade com a idéia de “caridade”.

Solidariedade, aqui, remete ao resgate de como era adotada como valor pelas

sociedades primitivas.

A obrigação de dar algo a alguém não é a obrigação de ser caridoso, de amar o próximo, não é uma obrigação cristã...A obrigação de dar é uma obrigação de rivalizar em generosidade. De certa forma isto é violento, pois quando damos temos poder sobre quem recebe. ..A dádiva é o meio de passar da guerra para

261

a paz, sem esquecer a dimensão de guerra, da rivalidade, que permanece nas relações humanas. O Dom não é caridade. O Dom é política. (ALAIN CAILLÉ apud MEDEIROS E MARTINS, 2002, p.62/63)

O ideário cristão tem sido distorcido pelos que vão às igrejas todos os

domingos, para descarregarem de suas consciências os pecados que

cometeram e poder começar tudo de novo, do mesmo jeito, em seu juízo

perfeito, na certeza do perdão divino. Não obstante, esse ideário reproduz muito

das relações solidárias dos cristãos primitivos e está em sintonia com o sentido

da economia solidária. Tanto que há uma vertente, reconhecida como de

economia solidária que é a Economia de Comunhão.

A economia solidária, hoje é uma tessitura de fazeres sociais,

econômicos e políticos que vão, a partir de práticas efetivas cerzindo

evolutivamente uma cultura em torno da solidariedade. Por ir constituindo-se

em cultura, também é produto da prática refletida e daí aperfeiçoada como

processo histórico. Reflexão que se aprofunda cientificamente na academia e

nas próprias instâncias dos empreendedores que tomam consciência e optam

livremente por adotar a economia solidária e a reproduzi-la no dia-a-dia da

prática econômica e na educação que vivem entre si, com seus filhos, parceiros

e amigos.

A Economia Solidária parte do princípio de que o central na organização da sociedade é o ser humano. É essa noção que vai redefinir relações sociais, econômicas, afetivas e produtivas. Portanto, a formação em Economia Solidária precisa dialogar com o trabalhador, trazendo para o conteúdo do processo formativo o sentido que é dado pelas vivências e anseios do trabalhador. (ANTEAG, 2005, p.21)

Portanto, apesar de adensar-se com elementos teóricos – já que não

identificamos até aqui uma “teoria da economia solidária” – o faz sem pré-

condições e aberta a um considerável leque de possibilidades. A suposição de

que haveria na economia solidária uma imanente relação com o Socialismo, ou

até, que seria a própria renovação do pensamento socialista, não possui

fundamentos nem testemunhos. Embora, quanto à renovação do pensamento

socialista, consideremos esta possibilidade desejável, dentre outros resultados.

262

No dinamismo conceitual em que ainda flutua a economia solidária,

encontramos uma definição oficial, que em parte representa o acúmulo ocorrido

nos movimentos sociais, que é o que está expresso no SIES (Sistema Nacional

de Informações em Economia Solidário) ligado a SENAES (Secretaria Nacional

de Economia Solidária) do Ministério do Trabalho e que é a referência que o

Governo Federal adota para fins de políticas públicas: Conjunto de atividades

econômicas organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e

trabalhadoras sob a forma de autogestão. (SIES, 2006)

3.2.4 Princípios da Economia Solidária no Brasil

A economia solidária apresenta-se, enquanto movimento social

expresso por empreendimentos, ong’s, setores da academia e de governos,

fundamentada na perspectiva de uma globalização humanizadora, objetivando

a criação de uma sociedade justa, racional e equilibrada. Segue o caminho do

processo de desenvolvimento sustentável e integrado para a geração de uma

melhor qualidade de vida não somente para seus associados/cooperativos

(indivíduos), mas para todos os cidadãos e cidadãs do mundo.

Este movimento por uma economia solidária, que compõe o FBES

(Fórum Brasileiro de Economia Solidária) apresenta como princípios gerais os

seguintes pontos:

a) valorização social do trabalho humano, ou seja, a valorização do homem como ser humano na atividade econômica onde este não é mais visto como mero portador de mercadoria de sua força de trabalho;

b) o reconhecimento do papel da mulher e do feminino; c) desenvolvimento integrado e sustentável da

sociedade cujo objetivo é o intercambio respeitoso do homem/mulher com a natureza;

d) busca os valores do associativismo, cooperativismo, mutualismo e solidariedade como forma de criar uma sociedade humanizadora e eficaz para todos;

e) apresenta como base central o trabalho, o saber (coleta de informação para geração de conhecimento) e a criatividade humana que é fruto do trabalho e do processo de geração de conhecimento;

263

f) o ser humano é sujeito e finalidade da atividade econômica e não gerador de riquezas e capitais para particulares;

g) buscar a unidade entre produção e reprodução evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mais exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso a seus benefícios, gerando crises recessivas hoje de alcance global;

h) busca a solidariedade dos povos do hemisfério norte e sul objetivando o aumento da qualidade de vida para todos e propõe a atividade econômica e social enraizada no seu contexto mais imediato, e tem a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de referencia;

i) geração de trabalho e renda visando combater a exclusão social e a eliminação das desigualdades materiais;

Como princípios específicos, estratégicos, a economia solidária traz os

seguintes pontos:

a) sistemas de finanças solidárias : O objetivo é permitir as pessoas excluídas do sistema bancário adquirirem créditos e com isso criarem seu próprio meio de trabalho e subsistência, ou seja, a economia solidária visa a busca da democratização de acesso ao credito popular onde a seleção de investimentos dos projetos se dará mediante sua utilização social e enfatiza que a importância do acompanhamento do projeto, uma vez este iniciado. Promove o direito das comunidades e nações à soberania sobre suas próprias finanças assim como estimula os bancos cooperativos, os bancos éticos, as cooperativas de credito e as instituições de microcrédito solidário a financiar seus membros e a não concentração lucros através de altos juros. Preocupa-se também com a chamada utilidade do investimento financeiro onde o objetivo é a busca da aplicação ética do dinheiro, por exemplo, esforços na luta contra a exclusão, pela preservação ambiental, em trabalhos de ação cultura e desenvolvimento local assim como outras aplicações.

b) criação do comercio justo : Estabelecer relações comerciais mais justas entre consumidores e produtores a partir de um nível local, nacional e internacional. O seu objetivo é eliminar o máximo de numero de intermediários entre produtores e consumidores.

c) economia sem dinheiro: E a favor da redefinição do papel do dinheiro assim como da descentralização responsável das moedas circulantes nacionais. Tais iniciativas se tão em escala local e busca a articulação de redes, como organizações territorial, visando enfrentar a exclusão social. Apresenta três principais características que são: a autoprodução coletiva, a elaboração

264

de sistemas de trocas locais e as redes de trocas recíprocas de saberes.

d) construção de um estado político democrático: a economia solidária é um projeto de desenvolvimento local integrado e sustentado que visa a justiça econômica, social, cultural, ambiental e a democracia participativa. A economia solidária exige a responsabilidade dos Estados nacionais pela defesa dos direitos universais dos trabalhadores. Tem como valor central também a relação entre os povos e a soberania nacional num contexto de interação com a soberania de outras nações.

3.2.5 As dimensões da Economia Popular e Solidária no Brasil

Na Economia Popular, apesar de o conjunto do sistema econômico ser

hegemonizado por complexas situações de dominação, o principal capital é a

credibilidade, em função de quase sempre se tratar de mercados concorrências.

Esse aspecto a coloca como terreno fértil para o avanço da Economia

Solidária. Estamos tratando de um segmento da economia caracterizado, entre

outros aspectos, por negócios que se estruturam a partir do atendimento direto

das demandas da população e por estabelecerem giro local.

Movimentando majoritariamente seus insumos e produtos em um

determinado território, corroborando com o dinamismo que alimenta as diversas

cadeias da economia local, além de se comunicar com cadeias que extrapolam

seu território. Aqui, entendemos por “negócios” as diversas formas de combinação

entre capital e trabalho que, no caso da Economia Popular, quase sempre são

hegemonizados pelo trabalho.

Se observarmos as diversas cadeias produtivas que atendem a

população de um bairro, por exemplo, poderemos ver que há uma interação entre

a feira, a padaria, a mercearia, a danceteria, a papelaria, a loja de tecidos, a loja

de móveis e eletrodomésticos, a costureira, o mecânico, o médico, o professor, a

cabeleireira, o taxista, o advogado, a cooperativa etc, todos e todas

empreendedores(as) populares que, além de gerarem a sua própria inserção na

economia, proporcionam a de muitos outros. Geram uma massa de renda e

salários que alimentam o consumo no mesmo bairro, tanto no que diz respeito à

265

parte dos insumos produtivos – já que outra parte importante interage com outros

segmentos econômicos incluindo a indústria e a agricultura – quanto em relação

aos produtos e serviços ofertados por eles e elas.

Estamos tratando de cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras,

definidos pelo IBGE como “trabalhadores por conta própria”, “micro e pequenos

empresários”. Segundo o Sebrae, estamos tratando do segmento que gera 80%

dos postos de trabalho do país – gerando 95% dos novos postos de trabalho – e

que movimenta algo em torno de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.

O SIES (Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária, 2006)

registra o seguinte quadro nacional de EES (empreendimentos econômicos

solidários) tomados como organizações:

• “Coletivas suprafamiliares de trabalhadores/as dos meios urbano e rural que exercem a gestão coletiva do empreendimento.

• Permanentes (difere de práticas eventuais). • Podem dispor ou não de registro legal. • Realizam atividades econômicas de produção, prestação de serviços, crédito

popular, comercialização e consumo solidária. • São organizações singulares ou complexas”

(SIES, 2006)

Quanto a atividades econômicas, desenvolvem:

• Produção de bens, Prestação de serviços, Finanças

solidárias, Comércio justo e Consumo solidário.

Podendo ter os seguintes formatos:

• Cooperativas, Associações, Empresas autogestoras, Grupos

solidários, Redes solidárias, Clubes de troca etc.

Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidár ios(EPS) no Brasil

266

Tabela 4: Empreendimentos Solidários no Brasil – Atlas da Economia Solidária

no Brasil (SIES, 2006)

Do ponto de vista institucional, a fotografia do SIES (2006) registra a

diversidade, pluralismo e dinamismo da Economia Solidária.

267

Fig 11: Rede de relações institucionais da Economia Solidária no Brasil

O mapa da localização e concentração de EES (Empreendimentos

Econômicos Solidários), segundo o SIES (2006) vem a seguir:

268

Fig 12: Mapa da concentração territorial de Empreendimentos Solidários no Brasil

A evolução dos EES teve, segundo o SIES (2006), o seguinte

comportamento:

269

Fig 13: Gráfico da Evolução do número de EES de 1979 a 2005 (SIES, 2006)

Da mesma fonte, a distribuição dos EES pelo território nacional teve a

seguinte evolução:

Fig 14: Gráfico da Evolução do número de EES por região territorial (SIES, 2006)

270

O Atlas da Economia Solidária (SIES, 2006) também contabilizou os

empreendimentos por atividade:

Fig 15: Gráfico do Número de EES por Atividade (SIES, 2006)

Quanto à remuneração dos EES, por atividade econômica, o SIES

apresenta o seguinte gráfico:

Fig 16: Gráfico do Percentual de EES por faixa de remuneração, no Brasil e por regiões.

Os dados e informações acima confirmam os principais pontos que temos

encontrado na literatura sobre a Economia Solidária: a) grande capilaridade, b)

271

principal sustentação no capital trabalho, c) principal estratégia no capital de giro

e, d) ampla área de superposição com a Economia Popular.

A Economia Popular e Solidária, intersecção do segmento popular da

economia com a economia de natureza solidária é, portanto, um segmento vital

para o conjunto da economia que precisa ser tratado adequadamente para que

suas potencialidades sejam otimizadas, cumprindo um papel estratégico para a

construção de um novo modelo de desenvolvimento que seja justo, solidário e

sustentável, em que o significado de “mercado” se confunda com o de

“sociedade”, não se restringindo mais apenas aos que “podem pagar” e a idéia de

“riqueza” esteja associada à “distribuição” e não à “acumulação”. Enfim, onde o

“trabalho” presida o “capital” e a cooperação presida a competição.

4.3. O SETOR TÊXTIL-CONFECÇÕES

A indústria têxtil é tida como a de maior tradição no Brasil. Embora haja

registros desde os primórdios da colonização, o período 1844-1913 pode ser

considerado a fase de efetiva implantação da indústria têxtil no Brasil, quando em

1844, esboçou-se a primeira política protecionista brasileira, com a elevação das

tarifas alfandegárias de 20 para a média de 30%.

Em 1864, o Brasil já tinha cultura algodoeira, mão-de-obra abundante e

mercado consumidor em crescimento. Outros fatores influenciaram também a

evolução da indústria: a Guerra Civil Americana, a Guerra do Paraguai e a

abolição da escravatura, que resultou em maior disponibilidade dos capitais antes

empregados no ramo negreiro.

Naquele ano, estariam funcionando no país vinte fábricas, com cerca de

15 mil fusos e 385 teares. Em 1881, o parque têxtil possuía 44 fábricas e 60 mil

fusos e propiciava cerca de 5 mil empregos. Em 1920, a cadeia como um todo

ocupava 115.519 pessoas, o que representava 41% do emprego na indústria de

transformação (MONTEIRO e CORREA, 2003).

272

No final da década de 1940, a indústria têxtil alcançou 20% do PIB

industrial. Se somado ao PIB da indústria de confecção, atingiria quase 25% do

PIB. Apesar de seus esforços, o complexo industrial têxtil-confecções, perdeu

terreno para a indústria química e o complexo metal-mecânico, caindo, em 1966,

para o equivalente a 11% do PIB industrial do país. A queda continuou e, em

1996, o complexo têxtil-confecções era só 6,4% do PIB industrial e 1,4% do PIB

Nacional. (SEBRAE, 2001)

Tomando apenas a indústria têxtil, tínhamos cerca de 5 mil empresas na

década de 80, já em 1997, pouco mais de 3.500. Dos 900 mil empregos gerados

em 1990, restaram 419 mil em 1996.

Os estabelecimentos industriais de confecção, ao contrário, entre 1990 e

96, cresceram de 15 mil para 18 mil, aumentando a produção em quase 50%

nesse período – de 4,4 para 6,5 milhões de peças. Destes estabelecimentos 70%

são enquadrados como pequenos e/ou micro e apenas 3% são grandes. No

entanto, os pequenos respondem por apenas 10% da produção (SEBRAE, 2001).

A indústria têxtil (excluindo-se a confecção), teve um aumento da

produtividade do trabalho entre 1990 e 1997 – estimadas como a razão entre a

variação do valor adicionado e a variação do pessoal ocupado – e atingiu a marca

de 50%. A maior parte dos investimentos realizados foi destinada a equipamentos

(cerca de 62% do total), tendo os equipamentos importados representado parcela

de 36% do total.

A cadeia têxtil-confecção, a qual respondeu por 14% dos empregos

gerados na indústria brasileira em 1999, apresentou elevados investimentos em

modernização e expansão da capacidade produtiva durante toda a década de 90.

(MONTEIRO e CORREA, 2003)

273

Fig 17: Gráfico dos Investimentos na Ind. TêxtiConfecções 1990/2001 (MONTEIRO e

CORREA, 2003)

Mais recentemente, os prejuízos causados pelas importações asiáticas

aos fabricantes de calçados e itens de vestuário, aliados à demora dos processos

de defesa comercial, fizeram o governo brasileiro elevar de 20% para 35% o

imposto de importação desses produtos. A decisão foi tomada em abril de 2007

pelos sete ministros que integram a Câmara de Comércio Exterior - CAMEX e será

submetida às instâncias superiores do Mercosul. O aumento de alíquota foi

autorizado sem o governo exigir contrapartidas - em investimento, manutenção do

emprego ou modernização tecnológica - dos setores beneficiados (ABIT, 2007).

Os empresários do setor têxtil e de calçados comemoraram a elevação da

tarifa, mas enfatizaram que a medida não soluciona os problemas internos de

competitividade e a perda de participação no mercado internacional. Apesar de

acharem que a indústria deve ser exposta à competição internacional, mas em

igualdade de condições. E, contraditoriamente, criticam a política cambial que

274

tende a fortalecer o real em vez de reivindicar estratégias de agregação de valor,

para deixar de competir pelo preço e passar a competir pela qualidade.

Do ponto de vista do trabalho, estes esforços recentes ainda não

refletiram significativamente na geração de emprego, mas começam a esboçar

uma tendência positiva.

MTE/CAGED

Fev/2007

Mês Ano 12 meses

Admissão 34.620 65.686 373.875

Demissão 29663 56.710 341.947

Saldo 4.957 8.976 31.928

Variação 0,56% 1,03% 3,79%

Tabela 5: Balanço de Empregabilidade no Setor Têxtil-Confecções em 2007 (fonte:

www.abit.org.br, em 30.04.2007)

4.3.1 A Cadeia Têxtil-Confecções (Ctc) e Os Mercado s

Segundo Prochnik (2003), a CTC brasileira é muito competitiva na cultura

do algodão e na sua fiação e tecelagem. Nestes dois últimos setores, a liderança

da cadeia está nas mãos de um pequeno grupo de grandes empresas

internacionalmente competitivas. Suas exportações, que concentram boa parte

das exportações de toda CTC (as três maiores, Santista, Vicunha e Coteminas,

são responsáveis por praticamente um terço de todas as exportações), são

volumosas e crescentes.

Mesmo assim, no período recente, devido à combinação de maior

competitividade com câmbio favorável, embora prejudicadas pelos diversos tipos

de barreiras tarifárias e não tarifárias, as exportações brasileiras da CTC vêm

aumentando. Este aumento, embora lento, verifica-se tanto nos segmentos mais

275

competitivos (algodão, tecidos de algodão e outros têxteis, incluindo lençóis,

cama, mesa & banho etc.), como também no segmento de vestuário.

No entanto, como o ganho de competitividade é concentrado em poucos e

grandes empreendimentos, foram geradas fragilidades sem perspectivas de uma

reversão deste quadro no curto prazo.

É importante lembrar que a quase totalidade dos investimentos feitos no

Brasil, nos anos 90, beneficiou a cadeia de têxteis naturais (algodão),

praticamente não contemplando a cadeia sintética ou de origem química. Esta

fragilidade consiste sobretudo em uma grande massa de empresas ineficientes e

uma subcadeia menos competitiva, a de produtos à base de fibras sintéticas e

artificiais. (PROCHNIK ,2003)

Note-se que, nos anos 90, diante da pressão das importações, a

modernização não ocorreu. Com o acirramento da competição mundial, e a

consolidação de diversos produtores de baixo custo – principalmente da China –

as empresas mais atingidas foram os empreendimentos da Economia Popular,

com atuação exclusiva no mercado interno e baixo nível tecnológico.

No plano internacional, os subsídios do governo dos EUA aos plantadores

de algodão também interferem nos mercados do mundo todo.

Essa questão é especialmente importante para o Brasil, atualmente um

dos produtores mais competitivos do mundo, no que diz respeito à produção de

algodão, graças à expansão no Centro-Oeste. Apenas em 2001, o Cotton Advisory

Committee dos EUA estimou que os fazendeiros americanos receberam entre

US$ 1,7 e US$ 2,0 bilhões de “assistência emergencial”. Além de outros

benefícios como as quotas de importação, o suporte à exportação e subsídios com

base no preço do produto. Enquanto a área plantada no mundo caiu, nos EUA, a

área plantada aumentou cerca de 10% entre 1998 e 2001. A pressão do produto

norte-americano nos mercados internacionais tem contribuído para diminuir o seu

preço barrando novos entrantes. (PROCHNIK, 2003)

276

A participação da produção têxtil-confecções brasileira na União Européia,

como nos EUA, também é pequena. O Brasil é o 24º maior exportador de produtos

têxteis, tendo respondido por 0,56% das importações européias, em 2000, e o 45º

maior exportador de confecções, com apenas 0,07% do mercado europeu. Com

relação aos EUA, a participação do Brasil também foi declinante entre 1995 e

2000. (PROCHNIK, 2003)

4.3.2 A Formatação Geral da Ctc (Cadeia Têxtil-Conf ecções)

A Cadeia produtiva Têxtil-Confecções (CTC) é bastante linear, tendo

como último elo, mais próximo do consumidor, a indústria de confecções e

vestuário. A interdependência entre os setores têxtil e confecções é bastante

acentuada, e o tecido prepondera na composição dos custos de produção das

confecções. Aqui, entende-se o complexo têxtil-confecções como o conjunto de

cadeias de fios, tecidos planos e malhas, rouparia em geral e confecções de

assessórios.

Fig 18: Diagrama da Cadeia Produtiva Têxtil-Confecções no Brasil (Fonte: IPT-1992, in

PROCHNIK, 2003)

O segmento de acabamento pode integrar-se tanto com a indústria têxtil,

ao lado da fiação e da tecelagem, quanto com a de confecções, no caso do

277

acabamento da peça pronta. O setor de bens de capital é responsável por grande

parte das inovações de processo na cadeia.

A comercialização dos produtos para o mercado interno é feita utilizando-

se como canais de distribuição principalmente o varejo independente, incluindo a

Economia Popular (sacoleiras, feiras e camelôs), seguido de lojas especializadas

e de atacado, com, respectivamente, 19%, 18% e 17% de participação. No

mercado externo a principal forma de distribuição é a importação direta.

Até o ano de 2000, os registros do desempenho econômico da CTC são

claramente declinantes, como podemos depreender das tabelas abaixo:

278

Fig 19: Tabelas do Complexo Têxtil-Confecções (in PROCHNIK, 2003)

279

4.3.3 As Tendências do Mercado Têxtil Mundial e o B rasil

As quatro características dos padrões de consumo e produção

internacionais são:

1) Tendências para o maior consumo de fibras químicas e produção de tecidos mistos (fibras naturais e químicas). A participação das fibras naturais, no consumo mundial de fibras, declinou de 52%, em 1990, para 48%, em 2000. O Brasil, entretanto, é mais competitivo na cadeia de bens feitos à base de algodão. 2) Maior dependência dos produtos às variações da moda. A maior influência da moda tende a valorizar a produção perto dos centros consumidores, através de sistemas de produção integrados. Mas o Brasil está distante dos principais centros consumidores, em relação aos seus concorrentes (México, América Central e Caribe, em relação aos Estados Unidos da América e Canadá, e Turquia, países do Norte da África e do Leste Europeu, em relação à UE). 3) Crescente difusão do supply chain management (Gerenciameno da Cadeia de Suprimentos). Como conseqüência, os determinantes da competitividade, agora, podem ser encontrados nas formas de relacionamento entre empresas ao longo das cadeias, e não no nível das empresas consideradas individualmente. O Brasil, entretanto, encontra-se bastante atrasado na adoção de técnicas de supply chain management. De fato, a ausência de parcerias e alianças estratégicas é um dos gargalos da cadeia têxtil nacional. 4) Constante relocalização de atividades da cadeia têxtil. Este aspecto é mais intenso no setor de confecções, mais intensivo em mão-de-obra e menos exigente em escalas de produção, mas também vale, em menor grau, para os setores de fiação e tecelagem.(PROCHNIK, 2003)

Nota-se entre as tendências apontadas por Prochnik, um espaço

estratégico importante a ser ocupado pela Economia Popular e Solidária,

principalmente por suas potencialidades inerentes que agregariam valor às CTC’s

e aglomerados que a absorverem com sua capilaridade e articulação produtiva

institucional.

4.3.4 A Indústria Têxtil de Confecções e a Estratég ia de

Desenvolvimento

Um ponto que chama atenção como recurso estratégico de

desenvolvimento regional é o caráter migratório da indústria de confecções que

280

advém da relevância do pagamento de salários mais baixos para sua

competitividade, treinamento relativamente simples requerido pela sua força de

trabalho e poucos requisitos de infra-estrutura para sua instalação. No entanto,

pouco tem sido utilizada com este propósito.

No Brasil, nos anos 90, a produção apresentou tendências a relocalizar-

se no Nordeste. Em geral, esta região registrou ganhos de participação tão

maiores quanto maior a escala média de produção do elo da cadeia. Em

confecções cresceu de 8% para 11% entre 1990 e 2000. (PROCHNIK, 2003)

No entanto, o espontaneísmo deste movimento é revelado pelo fato de

que o Nordeste está distante das novas localizações de produção do algodão

(Centro-Oeste) e possui mão-de-obra muito barata. Ou seja, sem buscar incentivar

a implantação de unidades de produção de algodão, fiação e tecelagem na

mesma região, os efeitos cumulativos ascendentes na cadeia, são parcos e

acabam mantendo a remuneração da mão-de-obra – ao que está ligado o

consumo e o transbordamento do crescimento econômico para outras cadeias –

abaixo do necessário para impulsionar o conjunto do desenvolvimento da região,

em sinergia com outros setores estratégicamente incentivados.

4.3.5 O Papel das Pme’s (Pequenas E Micro Empresas) e da

Economia Popular Solidária na Indústria Têxtil de C onfecções

De acordo com Vargas (et al, 2002), ao lado da regionalização do crédito,

as novas políticas de desenvolvimento vêm valorizando e promovendo

sistematicamente a cooperação entre os agentes econômicos (e entre estes e o

Estado) e levam em conta a necessidade de mobilização simultânea e de forma

coordenada das diversas instâncias governamentais responsáveis por políticas

específicas.

Destacamos que tem se dado um papel destacado às PME’s.

Especialmente, reconhecendo-se a importância das aglomerações locais de tais

281

empresas da Economia Popular como fontes de dinamismo econômico, com

reflexos significativos na geração de emprego, trabalho e renda.

O principal argumento é que a proximidade geográfica das firmas

especializadas do arranjo local, engendradas em função de uma ativa divisão

social do trabalho, ajuda na obtenção de externalidades positivas tendo em vista,

a possibilidade de intensa comunicação/cooperação entre os produtores.

Destacando os instrumentos financeiros teríamos a seguinte engenharia

institucional produtiva:

Fig 20: Diagrama Novos Formatos Institucionais e Financeiros para promoção de

Sistemas de PME´s. (Fonte: VARGAS et al, 2002)

O financiamento, para grupos solidários de PME’s articuladas em arranjos

e sistemas apresenta uma série de vantagens:

• Redução nos custos de transação em relação à provisão de serviços financeiros para as empresas individuais;

Ações de Capacitação de agentesfinanceiros e empreendedores

Novas fontes de recursosfinanceiros para conjuntos

articulados de MPME

Ações de Regulamentação

Arranjos de MPMEs incipientes ou

não estruturados

Sistemasde MPMEs

Bancos oficiais de crédito e fomento e demais atores governamentais e privados

Novos formatos organizacionais para financiamento de arranjos e

sistemas de MPME

(Cluster Bank, Bolsa especializada MPME articuladas, Agências locais

de financiamento, etc.)

Novos instrumentos parafinanciamento de arranjos

e sistemas de MPME

QUADRO DE REFERÊNCIA:Integrando Novos Formatos Institucionais a Novos Instrumentos Financeiros

para a Promoção de Sistemas de MPME

282

• Diluição de riscos associados ao financiamento; • Fortalecimento das relações entre atores nos arranjos e sistemas, para o aumento da eficiência coletiva e para o desenvolvimento de formas interativas de aprendizado e; • Superação de barreiras tradicionais de garantias ligadas ao financiamento de investimentos de médio e longo prazo. (VARGAS et al, 2002)

Observando duas experiências de Aglomerações concretas obtivemos

algumas informações importantes e de possível recorrência:

A) Aglomerado do Vale do Itajaí - SC

Desta experiência destacamos a modelagem do Arranjo feita por

Casarotto (2004).

Fig 21: Modelo de Aglomerado Têxtil-Confecções do Vale do Itajaí-SC

Com mais de 4.000 empresas, entre fiações, fábricas de tecidos,

malharias, confecções, componentes, e acabamentos e beneficiamento o

283

aglomerado têxtil-confecções do Vale do Itajaí, nos deixa 4 lições para observar

no processo de interação produtiva das cadeias:

1 - Conhecimento das necessidades das empresas – a evolução e

especialização das empresas, e ainda, a grande disponibilidade de informações

segmentou-as em termos de características culturais e necessidades de produtos

e serviços. A presença de um centro de informações deverá criar uma interface

relacional entre as empresas e instituições (publicas e privadas) que fornecem

produtos e serviços;

2- Produtos e serviços com maior conteúdo competitivo – além de

responder às necessidades percebidas pelas empresas, um Centro de

Informações poderá monitorar o ambiente, interpretar as necessidades do

mercado e configurar produtos e serviços orientados às necessidades futuras das

empresas, preparando-as para afrontar as novas condições de competição;

3- Informações focadas no mercado e nas características dos produtos e

processos produtivos – considerando as afirmações acima, pode-se dizer que as

necessidades das empresas encontram-se cada vez mais ligadas aos fenômenos

de mercado e suas tendências evolutivas. As informações sobre produto,

materiais e processos devem ser derivadas das informações do mercado;

4- Integração dos atores locais, nacionais e internacionais – um grande

risco das concentrações industriais pode ser o excesso de importância dada às

relações internas, esquecendo-se de que o mercado acompanha a evolução

global dos gostos e hábitos dos consumidores, além das necessidades de busca

de novos mercados. Relações de colaboração consolidadas a nível nacional e

internacional deverão ser constantemente buscadas pelo Centro de Informações.

(CASAROTTO, 2004)

B) O Pólo de Moda Íntima (PMI) de Nova Friburgo - RJ

A experiência mostra que os principais riscos para o desenvolvimento do

PMI são:

284

• escassez de informação sobre os canais de distribuição e o

consumidor final;

• falta de uma política de diferenciação do produto;

• dificuldades das pequenas empresas para aprimorar sua

produção e exportar;

• limitações da oferta de serviços tecnológicos e a pequena

participação dos empresários, trabalhadores e da população em geral no

projeto institucional.

As oportunidades, por sua vez, são:

• esforço político conjugado de diversas instituições;

• amplo acesso a recursos financeiros; e

• mercado internacional promissor. (PROCHNIK, 2006)

4.3.6 A indústria têxtil de confecções no Pará

Alguns aspectos da indústria têxtil-confecções no Pará destacam-se e

merecem especial atenção, pois são percepções do mercado que potencializam a

indicação de novos caminhos e oportunidades de negócios que poderiam mudar a

trajetória de uma indústria que é de fundamental importância para a geração de

emprego e renda, principalmente em um Estado como o Pará, que precisa

resgatar sua tradição no ramo têxtil e apostar na capacidade indutora da atividade

de confecções.

Considerando a participação da Região Norte no montante da produção

têxtil-confecções nacional, encontramos:

Participação do Norte na Produção física nacional t êxtil-confecções (1999)

Itens de produção (ton) Norte % sobre total naciona l

285

Tecelagem 34.900 4

Malharia 1.017 0

Fiação 30.580 2

Confecções (mil peças) 370.066 5

Tabela 6: Participação do Norte na Produção física nacional têxil-confecções(1999)

(Fonte: IEMI-Instituto de Estudos e Marketing Industrial, Anuário Estatístico 1995-1999, in

Gorini, 2000).

Os números apontam para um espaço aberto na produção em todas as

etapas da cadeia e um grande potencial de mercado interno. Não por acaso, o

desembolso do BNDES para investimentos no setor, na região representou

apenas 0,19 % do total desembolsado com essa finalidade, em relação ao

montante investido em toda a década de 90. (GORINI, 2000)

Curioso que, entre os anos de 1880 e 1955, o Pará foi um grande

produtor nacional de algodão. Segundo Davi Ferreira, engenheiro agrônomo da

Sagri-PA e especialista em cotonicultura (cultura de algodão), “nessa época o

Pará chegou a exportar para o mercado norte-americano e europeu”.

No entanto, o Pará vem aumentando sua importação de tecidos, e mostra

o desperdício de um grande potencial desde a agricultura, passando até as fases

de beneficiamento de fibras e produção de tecidos e malhas. O crescimento das

importações de tecidos entre 2005 e 2006 foi de 1,46% (FIEPA/CIN, 2007). Esse

dado indica um mercado interno crescente, distanciando-se da oferta da própria

região, o que configura uma oportunidade de negócios que precisa ser melhor

investigada.

Outros dados e informações reforçam esta idéia. O Pará possui somente

2,5% das empresas do setor em funcionamento no Brasil o que significa baixo

investimento e captação de créditos para o setor; Falta, no Pará, um dos setores

286

mais importantes da atividade, que é a indústria de terceira geração – a

transformação de fios; A indústria de confecção não polui e é um grande gerador

de empregos, pois utiliza mão-de-obra intensiva, tanto mais se articulada a uma

estratégia que potencialize a capilaridade já existente na Economia Popular e

Solidária nesta atividade; 70% das empresas estão concentradas na Região

Metropolitana de Belém. Essa característica geográfica é uma vantagem em

termos logísticos para a implantação de uma cadeia têxtil-confecções competitiva,

principalmente pelo potencial de integração e cooperação.

4.3.7 A Questão da Moda como Fator Econômico

A Cadeia Têxtil-Confecções possui como uma de suas metas principais a

demanda do varejo de vestuário, cama, mesa e banho, mercado de grandes

proporções e em crescimento no mundo.

Contudo, mesmo considerando que no varejo a componente “motivação

do consumo” seja apenas citada em alguns trabalhos econômicos que observam

as determinantes da competitividade de aglomerados baseados neste setor, não

encontramos estudos consistentes que aprofundem o impacto da geração de

Moda como fator econômico agregador de valor, o que nos parece tarefa

incontornável se for importante compreender plenamente as oportunidades de

negócios – prospectivamente, para além do que já se consolidou como lacuna na

relação insumo-produto – como alavancas para investimentos econômicos

propulsores de desenvolvimento.

Desde as fibras, até as roupas, ou seja, desde a escolha de materiais e

fibras, passando pela fiação, tecelagem, beneficiamento, estamparia e modelagem

(corte, montagem e acabamento) há uma indução crescente da estética e da

qualidade demandada pelo mercado/Sociedade em um determinado período.

Acontece que da fibra à roupa leva-se dois anos, porém a oferta precisa

se renovar, na ponta do varejo, a cada seis meses.Essa questão exige resposta

em dois questionamentos: 1) Como fabricar um produto têxtil de qualidade estética

287

sujeito às limitações industriais? E, 2) Como planejar uma promoção eficaz e

divulgar a mensagem do estilo ao longo de todas as etapas do processo.

(VINCENT-RICARD, 2002, p.33)

O primeiro impacto econômico da moda, que tivemos registro, foi da

experiência do empreendedor Marcel Boussac que comprou o excedentes de

tecidos usados para cobertura de aviões e uniformes da Primeira Grande Guerra

Mundial e, na década de 30, trabalhou a idéia de roupas masculinas que

expressassem o heroísmo do período e a necessidade de comodidade para

ocupações antes reprimidas de esporte e laser (VINCENT-RICARD, 2002, p.34).

Assim, o estorvo de um rejeito da economia de guerra adquiriu um novo valor e

passou a ter a França como referência global na geração de valor a partir da

moda.

Em nossa percepção, apesar de haver certa autonomia entre a indústria

têxtil e a moda, a missão do produto de confecção é um elo forte que liga as duas

economias profundamente. Talvez fosse mais adequado denominar Cadeia Têxtil-

Confecções-Moda, ou simplesmente, Cadeia Têxtil-Moda, sempre que se tratar de

linha de produtos voltado para o varejo.

Desde o início, já nas comunidades primitivas, as vestimentas

identificavam a função e a posição social dos indivíduos no grupo. Implicando uma

forte interação entre o produto e a personalidade e o estilo do indivíduo, processo

que se aprofundou até às vésperas da Revolução Industrial do século XIX, quando

a produção de tecidos ganhou uma produção em escala, o que conflitava com a

sintonia com estilos personalizados. O que, em absoluto, a moda tenha perdido

sua capacidade de impacto econômico.

A partir da Revolução Industrial foi se construindo a moda do comum, da

peça fabricada em massa, contraditoriamente, no momento em que o

individualismo mais crescia. Mas, apesar do relativo sucesso desta estratégia de

massificação, este conflito entre indústria e estilo pessoal do consumidor é mesmo

insolúvel.

288

Em 1959, a indústria dá o primeiro sinal de fadiga, criando os estilistas

industriais, que passaram a investigar tendências de estação, de grupos

específicos(hippies, yuppies, punks, etc) e de possibilidades de adaptá-las às

possibilidades técnicas e econômicas da CTC. Era preciso “construir” um sistema de

evolução que fosse fácil de aplicar, pondo de lado o princípio de optar, ao acaso, por

determinada cor. (VINCENT-RICARD, 2002, p.38).

Assim, uma nova mediação entre varejo e indústria se estabele. Note-se

que se de um lado se restringia, por absoluta falta de oferta, a escolha de cores e

padrões pelos consumidores, a indústria precisava encomendar os tecidos

necessários um ano e meio antes, dando certa instabilidade aos produtos

primários da cadeia que começou a se pluralizar, particularmente com a entrada

das fibras sintéticas.

A estratégia da indústria se concentrou na idéia do bonito-barato, que só

a produção em escala poderia proporcionar. No entanto, o atendimento ao estilo

individual permaneceu ameaçador, amparado pelo enorme charme da alta costura

e das grifes exclusivas, que acabaram se consolidando como balizadores da

indústria para a próxima temporada.

Ao mesmo tempo, manteve-se viva também na outra extremidade do

consumo, na porção mais empobrecida da Economia Popular, entre os setores

que tinham dificuldade em adquirir os produtos “baratos” da indústria, a

permanência das costureiras e alfaiates de bairro permaneceram, como até hoje,

presentes como alternativa de oferta e economia.

No entanto, o conflito entre a produção em escala e o estilo pessoal

parece apontar para novos caminhos a partir de uma coincidência matemática. A

arte de tecer, desde a Idade do Bronze, se baseava em técnicas de composição

binária, como a linguagem usada pelos computadores. A partir desta mesma

lógica binária se produziu as mais distintas texturas e possibilidades de tecidos,

bem como as mais surpreendentes possibilidades que a automação e à robótica

289

podem trazer para a indústria, que se desmaterializa ganhando a leveza e a

fluidez do conhecimento.

A sociedade pós-industrial está prestes a experimentar uma nova

possibilidade, a de ter suas roupas produzidas com exclusividade e em larga

escala. Medidas pessoais digitalizadas por escaneamento com raio laser.

Comando de associação entre milhares de quesitos de estilo que determinará

desde a escolha entre centenas de fibras, passando pela texturização,

beneficiamento, corte e acabamento para em uma semana, talvez, ser remetido

por via postal ao cliente, ao domicílio. Mas esta possibilidade, altamente provável,

precisará de uma capilaridade de pontos de venda e de unidades produtivas que

revolucionará a lógica da CTC tal como a conhecemos hoje, abrindo

possibilidades de desenhá-la a partir de um modelo econômico geral que busque

a cooperação e a inclusão para a explosão produtiva que se faz necessário nesta

e em outras cadeias.

4.3.8 A Indústria Têxtil de Confecções e o Potencia l Dos

Aglomerados

Se articularmos a noção de Aglomerados (PORTER, 1999) com o

conceito de Sistemas Produtivos Locais desenvolvido pela REDESIST - que se

refere a aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em

um mesmo território, operando em atividades correlacionadas e que apresentam

vínculos expressivos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem

(VARGAS et al, 2002) – veremos que a CTC como um todo ainda tem muito o que

caminhar.

Um sistema deveria incluir não apenas empresas – produtoras de bens e

serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de

serviços, comercializadoras, clientes, entre outros, suas variadas formas de

representação e associação - mas também diversas outras instituições públicas e

privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa,

desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento.

290

Mesmo aplicando o conceito de Arranjos Produtivos Locais - APLs - para

referenciar aquelas aglomerações produtivas que não apresentam significativa

articulação entre os agentes locais e que, portanto, não podem se caracterizar

como sistemas (VARGAS et al, 2002) – ainda assim a CTC brasileira fica devendo

sobretudo na integração e gerenciamento cooperativo da cadeia.

Segundo Paul Krugman (1995), é possível observar os retornos

crescentes advindos da aglomeração. A isto se soma a evidência econométrica de

que a atividade inovativa tende a se concentrar em aglomerações tendo em vista

“spillovers” (transbordamentos) advindos do conhecimento;

De uma maneira geral, constata-se que aglomerações de PME’s são

particularmente importantes quando:

• os desequilíbrios regionais e as disparidades na distribuição de

renda são grandes;

• representam uma parcela significativa dos investimentos nas regiões

envolvidas, constituindo-se na principal - e muitas vezes única - oportunidade

de emprego e desenvolvimento econômico local (Vargas et al, 2002).

Tal como, caracteriza-se a economia da Região Norte, entendemos ser,

aqui ainda de maior importância, os processos de aprendizagem coletiva,

cooperação e dinâmica inovativa desses conjuntos de empreendimentos da

Economia Popular e Solidária. Provavelmente esta é uma estratégia fundamental

para o enfrentamento dos novos desafios colocados pela difusão da chamada

Sociedade da Informação ou Era do Conhecimento, crescentemente globalizada.

A análise de diferentes experiências de arranjos e sistemas produtivos

locais no Brasil aponta para uma conclusão fundamental. Percebem-se limitações

associadas principalmente à ausência de formatos institucionais capazes de

operacionalizar formas coletivas de apoio em detrimento de ações centradas em

empresas individuais (VARGAS et al, 2002).

291

Portanto, a indústria têxtil-confecções encontra-se em um processo em

que os resultados gerais permanecem estáveis já há algum tempo, depreciando

sua participação no PIB Nacional. Contudo, embora o resultado geral seja

declinante, ocorre a especialização de poucas e grandes unidades que investem

em tecnologia desintensificando o uso de trabalho. Isto, na ponta têxtil do

complexo, porque no lado das confecções ocorre uma pulverização do varejo e a

ampliação do uso de mão-de-obra e de oportunidades de auto-trabalho.

Essas tendências abrem espaços vazios, tanto na disputa do mercado

internacional quanto na disputa do mercado interno, ambos abertos aos produtos

brasileiros.

Destacamos também, que aí encontramos o nexo que coloca a atividade

de confecção como uma das mais recorrentes no seio da Economia Popular. À

medida que a indústria diminui sua oferta, ou prioriza o mercado externo e

desabastece o mercado interno, a Economia Popular fica a mercê dos importados,

com destaque para os da China, embora abra oportunidades para pequenos

empreendimentos de revenda.

Destacamos, para encerrar este tópico, os seguintes pontos centrais para

uma nova estratégia para o setor.

i) A ausência de parcerias/alianças estratégicas ou, num conceito mais abrangente, a ausência de redes integradas de empresas, tanto no varejo (com investimentos em pontos-de-venda, para melhor expor o produto) como nas parcerias com fornecedores (para desenvolvimento de novos produtos, aquisição de matérias-primas e estabelecimento de etapas conjuntas de produção, como, por exemplo, no acabamento). ii) O baixo nível de informação e a ausência de sistemas de comunicação instantânea entre os sujeitos da CTC. iii) A pouca agilidade e dificuldade para produzir em lotes menores, mais próximo de nichos de consumo. iv) A comercialização ineficiente, com equipe de vendas pequena e inexperiência no mercado internacional (umas poucas empresas são responsáveis pela maior parte das exportações têxteis nacionais).

292

v) O baixo investimento em desenvolvimento de produto e design. (MONTEIRO E CORREA, 2003)

Depreende-se dessas informações que o setor têxtil-confecções passou

por um processo de alta concentração, mais pronunciada na ponta têxtil. Produto

da combinação de uma modernização tecnológica com condições de comércio,

principalmente internacional, que a fizeram encolher. No entanto, a forte demanda

interna fez com que, na ponta de confecções, houvesse uma abertura para

pequenos empreendimentos que inundaram a Economia Popular, mantendo

acesa a possibilidade de adoção da CTC como parte importante em uma nova

estratégia de desenvolvimento regional e nacional.

5. O PONTO DE PARTIDA: EMPRESAS SEMELHANTES

CONCENTRADAS ESPACIALMENTE

A ASCOOP, vista como um objeto sociológico e antropológico, apresenta

traços bastante representativos da composição humana da economia popular

amazônica. Quase 90% são mulheres, 80% estão na faixa etária entre 35 e 50

anos e oriundos das classes C, D e E. Quanto à principal ascendência étnica, 50%

são de negros, 30% brancos e 20% índios.

293

No que diz respeito á religião, há um equilíbrio muito grande entre o

número de seguidores do catolicismo e o grupo de seguidores de religiões

protestantes, basicamente evangélicos, divididos em diversas denominações.

Quanto à educação formal dos empreendedores, apesar da pesquisa não ter

identificado nenhum deles com um diploma de curso superior, por outro lado,

também não foi encontrado nenhum cooperado que pudesse ser considerado

como um analfabeto formal.

Na ASCOOP, encontraram-se muitas famílias que vieram do interior do

Estado do Pará e que estão na primeira ou segunda geração no ambiente urbano,

com famílias tipicamente urbanas. Menos de 20% tem acesso regular a recursos

de informática.

Choques culturais, geracionais, de gênero e de nível de escolaridade

entremeiam o grandioso desafio de entrelaçar histórias de vidas tão distintas com

os fios da solidariedade. O processo de transformar um agrupamento de

empreendedores populares em uma organização produtiva solidária ainda está em

pleno curso.

Outra característica da ASCOOP é a de que seus empreendedores

apresentaram diversidade quanto ao tipo de atividade desempenhada no setor

têxtil e de acessórios, além de, não raramente, combinarem o exercício de várias

funções a um só tempo. Parte deles se dedica exclusivamente à produção, outra

atua apenas com serviços, um segmento trabalha unicamente no comércio, uma

outra parte combina a produção com serviços e, finalmente, um segmento exerce,

simultaneamente, as atividades de produção, serviços e comércio. Por produção

entende-se a confecção de roupas ou assessórios novos, sejam padronizados ou

“sob encomenda”. Já o termo serviço é entendido, neste caso, como concerto de

roupa, elaboração de “aplique” e a realização de pequenas modificações e

adaptações “sob encomenda”, portanto, não padronizadas. Finalmente, o termo

comércio deve ser entendido, aqui, como a venda de roupas e assessórios

produzidos por produtores da cooperativa.

294

Pode-se afirmar, com razoável evidência, que o foco do conjunto dos

empreendedores da cooperativa é a produção de roupas e acessórios de moda, já

que aqueles que se dedicam exclusivamente à produção somam 47% de todo o

conjunto (ver figura abaixo). Ademais, a produção também aparece como uma das

atividades exercidas pelos empreendedores quando estes combinam pelo menos

duas funções, como no caso da união da produção com serviços, que teve

freqüência de 22%, e também a combinação das tarefas de produção, serviços e

comércio, que teve 7% de freqüência.

No total, a produção acaba sendo atividade exercida pelos

empreendedores em 83% de todos os casos. No entanto, este número que

poderia, sem grandes artifícios, ser esticado até mesmo a 90%, se considerado

que o termo “serviços”, como aplicado nesta análise (“concerto de roupa,

elaboração de ‘aplique’ e a realização de pequenas modificações e adaptações”)

é, em muitos aspectos, uma função muito próxima do que também é entendido

como “produção”, cuja maior diferenciação dos “serviços” repousa no fato de

representar a elaboração de nova produção.

Desta forma, a produção seria a atividade de, no mínimo, 8,3

empreendedores em cada 10 participantes da cooperativa, sendo um forte

elemento de coerência e afinidade dentro deste grupo. Tal fator de intensa

similitude torna-se, assim, um primeiro ponto (evidentemente, não desprezível) a

favor do enquadramento do conjunto de empreendedores da cooperativa dentro

da categoria “concentração de empresas semelhantes”, que, segundo Porter, é

um dos dois possíveis tipos de “ponto de partida” para a identificação das partes

de um “aglomerado”, sendo o outro tipo uma “grande empresa”.

295

47%

7%17%

22%

7%

Produção ServiçoComércio Produção e ServiçoProdução, Serviço e Comércio

Figura 23:Tipos de atividades dos empreendedores da ASCOOP Fonte: Pesquisa de campo.

Também é alto o nível de semelhança entre os componentes da

cooperativa no que diz respeito aos seus níveis de faturamento, caindo todos eles,

indistintamente, na categoria de “microempresa”, segundo classificação do

SEBRAE, conforme tabela abaixo.

Tabela “07”. Parâmentros de classificação das MPE’S: 2007

Classificação Tipo de atividade / Parâmetro Micro empresa Pequena empresa

SEBRAE Comércio e Serviços até 9 empregados 10 a 49 empregados

SEBRAE Indústria até 19 empregados 20 a 99 empregados

RAIS / MTE Nº de empregados até 19 empregados 20 a 99 empregados

SIMPLES Receita Bruta Anual R$ 120 mil R$ 1 200 mil Estatuto MPE Receita Bruta Anual R$ 244 mil R$ 1 200 mil BNDES Receita Bruta Anual US$ 400 mil US$ 3 500 mil

Fonte: SEBRAE, 2007

Na verdade, praticamente 9 em cada 10 dos empreendedores do grupo

apresentaram forte similaridade, já que 89% deles informaram ter um faturamento

menor ou igual a R$500,00 por mês (ver figura abaixo). Por sua vez, os restantes

11% das empresas não ficam em uma situação muito diferenciada dos quase 90%

que possuem renda até R$500,00, já que, todas estas restantes, informaram

possuir renda que começa em R$500,00 e não ultrapassa R$1.000,00 por mês.

296

11%

89%

Até 500 reais 500 a 1000 reais

Figura 24: Faturamento bruto mensal dos participantes da cooperativa Fonte: Pesquisa de campo.

Portanto, não seria demais dizer que, em termos de geração de renda, as

empresas da cooperativa apresentam 89% de alta semelhança e, até mesmo,

uma forte similitude no conjunto dos 100% dos negócios analisados da mesma

cooperativa, já que R$1.000,00 ainda resenta uma receita relativamente pequena,

considerando os próprios padrões aceitos para classificação dos

empreendimentos no país. Este outro fator de forte similaridade entre os membros

da cooperativa reforça o enquadramento deste conjunto dentro da categoria “uma

concentração de empresas semelhantes”, portanto, como um possível “ponto de

partida” para a identificação de um aglomerado.

Evidentemente que tais níveis de renda não podem ser considerados

como razoáveis, ou mesmo animadores. No entanto, estes dados seriam melhor

analisados se for considerado que, provavelmente, na maior parte dos casos das

pessoas envolvidas nos empreendimentos, a opção ao trabalho nestas atividades

do setor têxtil e de acessórios seria o desemprego, um cenário que tornaria a

qualidade de vida destas pessoas ainda mais difícil.

A caracterização dos empreendimentos da cooperativa analisada como

“micro empresas” é reforçado pelo indicador do número médio de pessoas

trabalhando diretamente em cada um destes empreendimentos. Em geral, o

SEBRAE também classifica um negócio como sendo “micro empresa” quando este

possui número de pessoas ocupadas inferior a “Y”. No caso, nenhum dos

empreendimentos da cooperativa informou gerar mais do de “Y” ocupações

297

diretas, mas muito pelo contrario. A absoluta maioria das empresas da

cooperativa, ou seja, 83%, gera de 1 a 5 ocupações diretas, enquanto que o

restante 17% delas gera de 6 a 10 ocupações diretas (ver figura abaixo). Portanto,

nenhuma empresa do conjunto de empreendimento da cooperativa informou gerar

mais do que 10 ocupações diretas. O fato de 100% dos negócios da cooperativa

terem informado que geram 10 e menos ocupações diretas é um fator a mais a

fortalecer o grau de semelhança destes empreendimentos.

17%

83%

1 a 5 ocupações 6 a 10 ocupações

Figura 25: Ocupações diretas por empresa da cooperativa Fonte: Pesquisa de campo.

Mas não é apenas pelo fato de terem apresentado baixo nível de geração

de ocupações diretas mais permanentes que as empresas da cooperativa

apresentaram similitudes. Também no caso da geração de ocupações diretas

temporárias foi identificado um alto grau de homogeneidade entre estes negócios.

Neste último caso, nenhuma das empresas da cooperativa apresentou níveis de

ocupação maiores do que 10 ou mesmo entre 6 e 10 (ver figura abaixo). Em 100%

dos casos, os estabelecimentos, em algum momento, contrataram

temporariamente, ou estabeleceram parceria temporária de produção envolvendo

até 5 ocupações, o que, no entanto, não significa, necessariamente, um sinal de

fraqueza das “microempresas” na sua capacidade de geração de ocupações na

economia.

Uma microempresa, obviamente, não tem, em termos absolutos, uma alta

capacidade individual de geração de ocupações, como os próprios dados acima

discutidos revelam. Entretanto, se do ponto de vista do empreendimento individual

298

o número de ocupações geradas parece pequeno, utilizando-se uma abordagem

relativa ao fato de que estes negócios se proliferam aos milhares, se for

considerado somente a cidade de Belém, e milhões, se for considerado o Brasil,

existe, na verdade, um grande potencial de geração de ocupação de mão-de-obra

por este tipo de empresa no país. Na verdade, não é necessário muita discussão

para estabelecer consensos em torno da hipótese de que não são desprezíveis os

efeitos multiplicadores dos pequenos negócios para a geração de emprego e

renda.

100%

1 a 5 ocupações temporárias 6 a 10 mais de 10

Figura 26: Ocupações diretas temporárias por empresa da cooperativa Fonte: Pesquisa de campo.

Uma das razões para a proliferação das microempresas é que exigem

pouco ou quase nenhum investimento para a obtenção de uma determinada

locação ou meio físico em que funcionam. Este fenômeno repetiu-se, em quase

todos os casos, na análise dos empreendimentos da cooperativa, desde que 73%

dos empreendedores funcionam em residências, 20% não precisam mais do que a

própria via pública para operarem, enquanto que apenas 7% operam em

estabelecimentos, que não sejam residências (ver figura abaixo). Assim, 90% de

todas as empresas da cooperativa não requerem um estabelecimento especial

para desenvolverem suas atividades, o que representa mais um forte elemento de

semelhança entre elas.

299

73%

7%20%

Rua Residência Estabelecimento

Figura 27: Meio físico em que opera suas atividades Fonte: Pesquisa de campo.

Entretanto, o nível de semelhança entre empresas da cooperativa não é

tão intenso quando se trata dos seus respectivos tempos de funcionamento.

Apenas metade destes empreendimentos, ou mais exatamente 46% (ver figura

abaixo), apresentou um tempo de funcionamento com maior nível de semelhante,

ou seja, entre 2 a 5 anos. Qualquer tentativa de elevar este nível de

homogeneidade pela soma aos 24% de ocorrências do grupo de empresas que

apresentaram de 6 a 10 anos de funcionamento não ocorreria sem muitas e

difíceis ressalvas, pois este último intervalo de tempo já representa um nível de

sobrevivência de muito maior dificuldade do que entre 2 e 5 anos. Ademais, existe

um grupo nem um pouco desprezível, de 30% de freqüência, que alcançou um

patamar de sobrevivência ainda mais diferenciado, ou seja, de mais de 10 anos,

alto para qualquer padrão. Assim, o tempo de funcionamento dos

empreendimentos não pode ser um indicativo utilizado, pelo menos com muito

entusiasmo, para demonstrar a adequação dos empreendimentos da cooperativa

ao padrão de “igualdade” requerido pelo conceito de “ponto de partida” de um

aglomerado, considerando os índices anteriores de similitude de 90% e até

mesmo de 100%.

300

Mesmo que não tenha contribuído para fortalecer o já demonstrado alto

grau de semelhança entre as empresas da cooperativa, os dados do tempo médio

de funcionamento, nem de longe, contribuíram para diminuir tal característica, até

porque não se tratou de uma constatação de grandes diferenças, mas, apenas, de

um menor nível de similaridade. Aliás, o mesmo resultado da apuração do tempo

de funcionamento das empresas da cooperativa, se olhado por um outro ângulo,

pode ser usado para demonstrar mais um forte fator de coerência e homogeidade

interna neste conjunto de negócios. Como a superação dos 2 anos de

funcionamento de uma empresa tem sido considerada, frequentemente, como um

corte temporal decisivo para avaliar o potencial de sobrevivência das empresas,

pode-se dizer que, em geral, as unidades produtivas da cooperativa

apresentaram, em 100% dos casos, um tempo de vida acima do normal – de dois

anos. Dentro deste critério, é marcante o fato de que 54% das empresas

apresentaram um tempo de sobrevivência acima dos 5 anos e que um terço delas

chegou mesmo a apresentar sobrevivência de mais de 10 anos.

46%

24%

30%

2 a 5anos 6 a 10 anos mais de 10 anos

Figura 29: Tempo de funcionamento dos empreendimentos da cooperativa Fonte: Pesquisa de campo.

Um outro fator de semelhança entre os empreendimentos têxteis e de

acessórios da ASCOOP é o padrão tecnológico. Por muito tempo, estes

microempresários utilizaram equipamentos semi-industriais e domésticos. Mais

recentemente, ocorreram melhoramentos dos equipamentos da maioria dos

empreendedores, harmonizando a densidade tecnológica do grupo em um

301

patamar acima. Tais avanços se deram através de iniciativa da Fundação Banco

do Brasil, que, atendendo solicitação da diretoria da ASCOOP, doou para os

membros desta cooperativa 27 máquinas industriais sendo: máquinas de costura

reta, zig-zag, galoneiras, overlock, interlock e máquina de bordar.

Costura reta Galoneira Interlock

Por algum tempo, os produtores passaram por um processo de

aprendizado para poderem operar, com eficiência e rapidez, as novas máquinas,

revelando-se, indistintamente, no grupo, um “choque tecnológico”. No entanto,

estes empreendedores superaram este desafio do conhecimento e obtiveram, com

isso, ganhos consideráveis de escala e de qualidade, tanto do produto, como de

entrega.

Outra característica claramente evidenciada no conjunto de

empreendedores da ASCOOP foi de estão concentrados em determinadas áreas

do território da cidade de Belém. No processo de mobilização de empreendedores

populares de confecção, iniciado com as iniciativas do Banco do Povo de Belém,

em 2000, a ASCAPA (que foi a organização que antecedeu a ASCOOP), que

servia de referência de articulação e organização produtiva para os

empreendedores populares, atuava principalmente nos bairros do Marco, da Terra

Firme, do Guamá, da Pedreira, da Sacramenta, do Tapanã, de Icoaraci, do

Outeiro, da Marambaia, do Reduto e da Cremação.

No entanto, com o processo de enfraquecimento decorrente da mudança

política, a partir de 2004, quando ocorreu esvaziamento do programa do Banco de

Povo que dava de apoio aos micro empreendedores, apenas três pólos destes

302

empresários conseguiram manter seu nível de intensidade: Marambaia (Água

Cristal), Tapanã e Sacramenta (ver figura abaixo).

Esta nova geografia da ASCOOP, fruto do dinamismo da política pública e

da economia popular, em Belém, não impediu que empreendedores de outros

bairros fossem acolhidos por qualquer dos pólos remanescentes. Evidentemente

que a retomada de políticas públicas municipais mais conseqüentes para o

desenvolvimento do empreendedorismo popular permitirá o retorno de um escopo

espacial mais amplo da localização dos membros desta associação.

303

Assim, os dados disponibilizados pela pesquisa demonstraram, com muita

evidência, que os empreendimentos têxteis e de acessórios da cooperativa

possuem indícios de forte semelhança entre eles. Tal reconhecimento permite

afirmar, com bastante categoria, que esta formação de “micronegócios”, ou

melhor, negócios da economia popular, se enquadra, fortemente, à categoria

“concentração de empresas semelhantes” que representa um dos tipos de “pontos

de partida” para a identificação de um “aglomerado”, utilizando-se a abordagem

elaborada por Michael Porter.

6. A CADEIA VERTICAL A PARTIR DOS

EMPREENDIMENTOS DE CONFECÇÕES E DE ACESSÓRIOS DA

ASCOOP

304

Os empreendimentos associados à ASCOOP, voltados para a atividade

têxtil e de produção de acessórios, apresentaram razoáveis evidências de que

podem ser caracterizados como uma “concentração de empresas semelhantes”, o

que permite enquadrar tal conjunto como “um ponto de partida”, que, de acordo

com Michael Porter, seria o passo inicial na identificação dos componentes de um

possível aglomerado. Na seqüência, este capítulo busca a identificação de

elementos característicos de uma formação de cadeia vertical de empresas e

instituições.

Esta cadeia vertical teria como ponto de referência a “concentração de

empresas semelhantes” da produção têxtil e de acessórios da ASCOOP e se

materializaria através de relações insumo-produção para trás e para frente. Em

uma direção, a cadeia se materializaria através das relações insumo-produto

deste conjunto de empresas têxteis e de acessórios com seus elos produtivos, à

montante, formado por empresas e instituições localizadas em Belém,

fornecedoras de insumos requeridos por estes empreendimentos da ASCOOP.

Em outra direção, a cadeia se materializaria através de relações insumo-produto

do mesmo conjunto de empresas têxteis e de acessórios com seus elos

produtivos, à jusante, formado por empresas e instituições localizadas em Belém,

consumidoras da produção de bens e serviços oriundos destes empreendimentos

cooperativados.

Iniciando-se a identificação daqueles empreendimentos que são os elos

produtivos à montante das empresas têxteis e de acessórios da ASCOOP, em

Belém, observou-se, em particular, a presença de empresas comerciais provendo

insumos para a produção têxtil e de acessórios. Os mais demandados destes

insumos foram tecidos, produtos de armarinho e máquinas e equipamentos, que

tiveram, sem exceção, freqüência igual ou maior que 89% nas investigações

realizadas junto aos citados negócios (ver figura abaixo). Os produtos de

armarinho foram os que obtiveram a maior freqüência de respostas entre todos os

tipos de requerimentos utilizados pelas empresas da cooperativa, aparecendo, na

verdade, em 100% de todos os 46 casos. Em segundo lugar, apareceu o

305

requerimento de máquinas e equipamentos, com 93% de freqüência e, em terceiro

lugar, os tecidos, com 89% de presença. A seguir, aparece o insumo “formação”

(treinamento de recursos humanos), com 83% de presença, o que representa,

certamente, uma boa notícia, no sentido de que, aparentemente, é uma forte

evidência da disposição destes microempresários em melhorar cada vez mais

suas capacitações e, portanto, seus resultados. O requerimento crédito apareceu

em apenas 26% de todas as respostas, o que, por sua vez, é um indicador do

quanto o sistema de crédito formal ainda pode estar distante do mundo da

economia popular, apesar de todos os esforços realizados ultimamente. Mesmo

que a questão do crédito à economia popular não seja o foco destes estudos

sistemáticos desta pesquisa, não é demais registrar que, em conversas informais

com estes empreendedores, notou-se que uma das principais razões para

estivessem ainda bastante alienados do sistema formal de crédito era o custo do

dinheiro, ainda esta bastante elevado, mesmo com a forte diminuição que o preço

deste ativo vem sofrendo nos últimos dois anos.

4146 43

612

38

0

20

40

60

Cita

ções

Tecidos Armarinho Máq e Equip Borracha Crédito Formação

Figura 30: Principais insumos demandados pela concentração de empresas semelhantes da atividade têxtil e da produção de acessórios. Fonte: Pesquisa de campo.

Porém, a principal e mais marcante característica da estrutura à montante

da cadeia vertical levantada foi de que toda a quantidade de produtos de

armarinho, tecidos, máquinas e equipamentos consumidos pelo conjunto de

empreendedores da cooperativa eram oriundos de unidades produtivas

localizadas fora de Belém e, na verdade, do próprio Estado do Pará. Tal

306

peculiaridade significa que muitos dos importantes benefícios dos elos para trás, a

partir dos referidos micro empreendimentos, estavam se dando longe da economia

local, dada a inexistência de unidades produtivas regionais produtoras destes

insumos (ver tabela abaixo).

Tabela 08: A origem espacial da produção dos in sumos das empresas

da ASCOOP

INSUMOS LOCAL (%) EXTERNA (%)

Armarinho 0 100

Tecidos 0 100

Máquinas 0 100

Equipamentos 0 100

Borracha 0 100

Fonte: Pesquisa de Campo, 2007.

A produção local dos insumos industriais da cadeia produtiva da atividade

têxtil e de acessórios, em Belém, poderia ter sido criada tanto por “efeitos em

cadeia interior” como por “efeitos em cadeia exterior”. A primeira alternativa, que,

307

no caso, significaria a produção local dos insumos através de negócios liderados

pelos empresários das próprias unidades produtivas têxteis e de acessórios, em

Belém, teria chances praticamente nulas de ter ocorrido, dado o “grau de

desconhecimento tecnológico” dos empresários da cooperativa sob análise. Tal

categoria significa o nível de desconhecimento dos empresários da ASCOOP

sobre o processo produtivo da produção subseqüente ou anterior à produção de

produtos têxteis e de acessórios. Dado ao estágio de informação e conhecimento

que estes empresários se encontravam, não foi difícil deduzir que, em todos os

casos, era praticamente nulo o “grau de desconhecimento tecnológico” sobre o

processo produtivo de elaboração de produtos de armarinho, tecidos e de

máquinas e equipamentos, o que, evidentemente, tornou muitíssimo difícil

qualquer iniciativa para a produção local dos seus insumos. Assim, seria muito

significativo o “salto tecnológico” necessário para que os empreendedores em foco

alcançassem a condição necessária para operar a produção dos seus principais

insumos, considerando o patamar de conhecimento e de informação em que

foram encontrados.

A expansão da cadeia produtiva têxtil e de acessórios, em Belém, através

da produção de insumos desta indústria, localmente, poderia ter vindo via “efeitos

em cadeia exterior”, ou seja, com empresários que não fossem aqueles já

envolvidos com a produção têxtil e de acessórios, na mesma cidade. Tal opção

teria sido uma maneira de superar os problemas de “grau de conhecimento

tecnológico” apresentados com a opção dos “efeitos em cadeia interior”,

materializando, assim, os elos industriais locais “à montante” da produção têxtil e

de acessórios, nesta cidade. Mas, para que a cadeia produtiva da indústria têxtil e

de acessórios, em Belém, pudesse ter se expandido à montante, através da

produção local de insumos industriais, teria sido necessário a aplicação de

“arranjos institucionais” e de “incentivos econômicos” promovidos pela esfera

governamental, o que não ocorreu, evidentemente.

Tais “interferências políticas planejadas” eram necessárias dado que,

como apontado por Myrdal, “o equilíbrio estável”, ou seja, uma suposta tendência

308

das forças de mercado para a correção de desequilíbrios, não passaria de uma

“premissa irrealista” da teoria econômica tradicional. Em outras palavras, a

“causação circular e cumulativa” negativa, características de regiões periféricas

de países em desenvolvimento, tornou improvável a implantação, em Belém, de

industrias de insumos da indústria têxtil e de acessórios, na ausência de uma

iniciativa intencional para romper um “circulo vicioso” muito claro: a produção

industrial de insumos para a produção têxtil e de acessórios, em Belém, não

ocorria porque por ser esta uma região periférica de um país em desenvolvimento;

e Belém seria uma região periférica de um país em desenvolvimento porque não

possuía produção de insumos industriais. Entre estas “interferências políticas

planejadas” teria sido fundamental o enfrentamento de “pontos de

estrangulamento” da infra-estrutura econômica e social, através de ações

adequadas como a “provisão de obras públicas pelos estado”, através de novos

serviços de saúde pública, educação, estradas, pesquisa básica, energia, controle

ambiental, etc.

De toda modo, a realidade é que, a cadeia produtiva formada pelas

empresas da ASCOOP e seus elos à montante, todos em Belém, era composta

principalmente por empresas de comércio que vendiam insumos industriais para

este conjunto de empreendimentos. Tal cadeia não apresentou nenhum elo “à

montante” constituído por unidades produtiva industrial fornecedora de insumos

para os produtores da ASCOOP (ver fluxograma abaixo).

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE PRODUTOS

DE ARMARINHO

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE TECIDOS

PARA ROUPAS

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DE COMÉRCIO

DE BORRACHA

Cadeia produtiva textil e de acessórios, à montante, em Belém

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE REFEIÇÕES

309

Fonte: Pesquisa de campo, 2007.

Uma outra forma de revelar o grau de desenvolvimento da cadeia

produtiva têxtil e de acessórios foi através da análise do nível de “cooperação”

(categoria que também pode ser entendida como “parcerias”) entre as empresas

produtoras de produtos têxteis e de acessórios da ASCOOP e seus fornecedores.

Por cooperação entendeu-se a categoria usada por Michael Porter em sua

discussão da teoria dos aglomerados, no sentido de iniciativas entre dois

elementos, quando tanto um lado como o outro sai ganhando. Assim, observando-

se os levantamentos feitos, identificou-se que um pouco mais da metade dos

produtores têxtil e de acessórios vivenciaram ações de cooperação com os seus

fornecedores (ver figura abaixo). Este resultado, aparentemente, sugere que ainda

não são muito intensas as relações de parcerias entre as empresas da referida

cooperativa e seus fornecedores.

Sim52%

Não48%

Figura 31: Freqüência das parcerias entre os empreendimentos da ASCOOP e seus fornecedores Fonte: Pesquisa de campo

Essas cooperações foram classificadas em cinco diferentes tipos:

“promoção”, “compra por encomenda”, “prazo de pagamento”, “adiantamento”,

“formação” e “avalista”. Por “promoção” entendeu-se a situação na qual um

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS SEMELHANTES DE TÊXTEIS E ACESSÓRIOS

310

fornecedor aceitaria ou ofereceria desconto no preço de seus insumos, ou mesmo

a doação dos mesmos, em troca de ação de divulgação de sua loja e da marca

destes insumos pelo produtor (comprador), como por exemplo: a loja de comércio

de tecidos doaria tecido à costureira, a qual, por sua vez, divulgaria a loja e a

marca do tecido no mercado local.

Como “compra por encomenda” entendeu-se a iniciativa do fornecedor

em adquirir, de uma indústria, certo produto especificamente para atender um

determinado pedido feito por um produtor têxtil ou de acessórios, como por

exemplo: uma costureira se dirigiria a uma loja com um pedido de produtos de

armarinho de um tipo que normalmente não seria adquirido pela loja, que, no

entanto, solicitaria uma partida deste tipo à indústria da mercadoria para atender

especificamente à costureira.

Por sua vez, “prazo de pagamento” foi entendido como a situação na qual

o fornecedor aceitaria ou daria prazo de pagamento para o produtor pagar por sua

encomenda, como por exemplo: uma costureira iria a uma loja e ao comprar

tecidos pediria ou receberia um prazo de pagamento de 30, 60 e 90 dias para

pagar o material.

Por “adiantamento” se entendeu a situação na qual um fornecedor

adiantaria um determinado insumo para o produtor sem receber nada, de forma

imediata, deixando o pagamento para quando o produtor vendesse o produto feito

com o insumo comprado por adiantamento, como por exemplo: uma pequena

fábrica de uniforme profissional não teria capital para fazer face ao valor da

compra dos insumos para uma grande encomenda, mas receberia de um

fornecedor um adiantamento de 100% dos insumos requeridos em troca do

pagamento de apenas 20% do valor desta compra, com a promessa de que a

dívida seria totalmente saldada após a venda do produto final que utilizou o

insumo adiantado.

O tipo de cooperação “formação” foi entendido como a situação na qual

um fornecedor estaria interessado na melhoria da capacitação profissional de

311

produtores que, normalmente, atenderiam seus pedidos, como por exemplo:

quando uma loja de máquinas de costura oferecesse cursos para produtores com

o objetivo de ensinar-lhes novas formas de costurar utilizando as máquinas por ela

vendidas, ou, então, quando uma loja oferecesse cursos de corte e costura para

produtores para ensinar-lhes novas formas de utilização de seus tecidos.

Finalmente, por “avalista” se entendeu a situação na qual um fornecedor

ou teria sido convidado ou teria se oferecido para ser avalista de uma compra do

produtor, como por exemplo: uma costureira precisaria obter um empréstimo de

um banco de fomento e o seu principal fornecedor se ofereceria para ser avalista

no contrato de empréstimo junto à instituição financeira.

2 3

24

8 5 30

50

Cita

çõe

s

Promoção Compra por encomendaPrazo de pagamento AdiantamentoFormação Avalista

Figura 32: Tipos de parcerias mais freqüentes entre os empreendedores da ASCOOP e seus fornecedores Fonte: Pesquisa de campo

Dos dados analisados verificou-se que o tipo de cooperação mais

freqüente foi o de “prazo de pagamento”, com freqüência de 52% entre todos os

cooperados da ASCOOP (ver figura acima). Isto significou, na prática, que um em

cada dois fornecedores encontrou razões para servir de financiador das compras

dos produtores, sendo que apenas a metade dos produtores não quis ou não pode

se beneficiar deste processo de cooperação. No entanto, mesmo que não tenha

estado presente em metade dos casos, a opção pela cooperação do tipo “prazo de

pagamento” acabou sendo a mais freqüente por ser uma forma de relacionamento

no qual, apesar de todo o custo ser assumido pelo fornecedor, ao mesmo tempo,

lhe garante a venda de seus produtos.

312

Já o tipo de cooperação que alcançou o segundo maior nível de

freqüência foi o de “adiantamento”, com 17%. Na verdade, este último tipo de

cooperação se trata, apenas, de uma variante do tipo de cooperação “prazo de

pagamento”. O “adiantamento” não passaria de uma venda a prazo, sem prazo de

pagamento muito bem definido – neste caso, não haveria uma data ou datas pré-

estabelecidas para pagamento dos insumos comprados pelos produtores, sendo

estes pagamentos dependentes diretamente da venda dos produtos que foram

elaborados com os insumos vendidos pelos fornecedores. Até mesmo as

principais razões para a efetivação da cooperação do tipo “adiantamento”

coincidem com as motivações que ocorrem no caso do “prazo de pagamento”.

O terceiro lugar nas preferências das cooperações ficou por conta da

“formação”, com 11% dos casos. Apesar de ser encontrada apenas uma vez a

cada produtores, este tipo de cooperação revela-se crescentemente útil para os

dois lados do “balcão”. Enquanto que para realizá-lo os fornecedores acabam

ficando com a maior parte dos custos dos treinamentos, em troca, os produtores

passam a dispor de mais amplas maneiras de utilização dos insumos, não só

permitindo um aumento da demanda, como um fortalecimento da marca, pelo

menos em termos de melhor qualidade do produto para o consumidor final.

No quarto lugar das preferências ficaram empatadas as cooperações dos

tipos “compra por encomendas” e “avalista”, com 7% e, em quinto lugar, a

cooperação “promoção”, com 4%. A “compra por encomendas” não apresenta

nenhum custo adicional aparente para os fornecedores, além dos custos já usuais

que eles assumem, inclusive no caso de outras cooperações, mas significa, com

certeza, maiores vendas, pois, enquanto impliquem na compra de produtos

diferentes dos que usualmente faz, por outro lado, o fornecedor já os compra com

venda garantida, já que foram encomendados.

Por sua vez, o tipo de cooperação “avalista” apresenta um ônus muito

elevado para o fornecedor, que passa a ser responsável, em última instância, pelo

empréstimo feito pelo produtor. É verdade que quando todo o valor obtido com o

empréstimo, ou grande parte deste, é usado pelo produtor para realizar compras

313

no fornecedor-avalista, este tem suas receitas elevadas. No entanto, até mesmo

toda a receita destas vendas pode ser perdida caso o produtor não cumpra com

suas obrigações de bom pagador de empréstimos. Finalmente, a preferência

menor pela cooperação “promoção” pode ser entendida por representar, sempre,

uma perda de receita por parte do fornecedor, seja através de descontos ou

mesmo doações. É interessante observar que em nenhum dos tipos de

cooperação analisada o produtor apresenta um nível de risco de perda maior do

que os riscos apresentados aos fornecedores. Assim, pode-se deduzir que a

freqüência de 52% de produtores realizando ações de cooperação com os seus

fornecedores pode ser considerada, relativamente, um número baixo, dada as

grandes vantagens e poucos riscos que o produtor adquiria com as parcerias,

Pela mesma razão, pode-se considerar baixa a freqüência com que os

produtores da ASCOOP tomaram a iniciativa de iniciar uma parceria com os

fornecedores, que chegou apenas a 33% (ver figura abaixo). No entanto, qualquer

análise mais confiável destes números exigiria, na verdade, uma análise temporal

(de pelo menos cinco anos) da adesão e das preferências relacionadas às

iniciativas de cooperação, dados que não estão disponíveis e que não teriam sido

possíveis de serem gerados por esta pesquisa.

Sim33%

Não67%

Figura 33: Freqüência com que os empreendimentos da ASCOOP tomaram iniciativas para parcerias com seus fornecedores Fonte: Pesquisa de campo

Na verdade, contrariamente ao que indicaria uma visão negativa sobre as

freqüências levantadas, não se pode deixar de hipotetizar que estes mesmos

números poderiam representar, isto sim, um crescimento das preferências pela

cooperação, que poderiam estar se descolando da tradicional e atrasada ideologia

do mercado capitalista que prega que a única a regra “é cada um por si e Deus

314

por todos”. Assim, mesmo 52% de casos de cooperação entre os produtores e

fornecedores e 33% de iniciativas dos produtores na direção da cooperação

podem ser positivos, sob este ponto de vista. A própria construção de teorias

como a dos aglomerados (clusters) – evidenciando a importância estratégica da

cooperação entre empresas e instituições para a promoção da produtividade e da

competitividade –, nascida nas entranhas de um dos centros de ensino de

negócios mais tradicionais do mundo, exatamente na Universidade de Harvard,

através do Prof. Michael Porter, poderia indicar que seria muito mais indicado ao

analista considerar que os números estariam indicando menos um desencanto

com as vantagens da cooperação do que um processo de mudança positiva,

mesmo que estivesse nos seus estágios iniciais.

Concluída a análise das relações do conjunto de empresas têxteis e de

acessórios da ASCOOP com os elos produtivos formados pelas empresas e

instituições à montante, localizadas em Belém, fornecedoras dos insumos

requeridos por estes empreendimentos cooperativados, segue-se na investigação

da cadeia produtiva vertical. Desta vez, discuti-se a possível materialização do

outro lado da cadeia produtiva vertical e que seria formado pelo próprio conjunto

de empresas têxteis e de acessórios mais os elos produtivos à jusante, constituído

por empresas e instituições localizadas em Belém, clientes dos empreendimentos

da referida cooperativa.

Iniciando-se a identificação daqueles que são, em Belém, os principais elos

produtivos à jusante dos empreendimentos têxteis e de acessórios da ASCOOP,

verificou-se que o tipo de clientes “vizinhos e familiares” forma o elemento que

com mais compra das empresas desta cooperativa, com freqüência de 41% (ver

figura a seguir). Tal característica representa, certamente, que uma boa parte da

estrutura dos canais de comercialização dos empreendedores da cooperativa

ainda é do tipo informal.

315

41

5

3221 15

8 2

0

20

40

60C

itaçõ

es

Vizinhos Interior Encomenda Peq lojista Feirante Galeria Shopping

Figura 34: Principais clientes dos empreendimentos da ASCOOP em Belém Fonte: Pesquisa de campo

No entanto, apesar da informalidade ser um elemento forte na roupagem

desta comercialização, não chega a ser dominante, chegando no máximo a 41%

do total de transações. Ademais, elementos de informalidade já convivem com

clientes muito mais exigentes, de gostos sofisticados, definidores de tendências de

consumo e mesmo globalizados, como as lojas em shopping centers (aqui

referidos simplesmente com “shopping”), que representam cerca de 2% do total

dos clientes e, possivelmente, muito mais do que isto em termos de faturamento.

Esta aparentemente crescente contradição formada pela convivência entre

estruturas modernas e tradicionais à jusante dos empreendimentos da ASCOOP

pode apontar para transformações bastante dinâmicas para muitas das empresas

desta cooperativa, particularmente em termos de qualidade, confiabilidade,

eficiência e diferenciação.

Outro fator que diminui a influência da informalidade na comercialização

das empresas da ASCOOP é, certamente, a diversificação dos tipos de canais de

vendas destes empreendedores de produtos têxteis e de acessórios. Além dos já

referidos canais de comercialização “vizinhos e familiares” e “shopping”, também

são canais de vendas destes empreendedores as “encomendas”, as “pequenas

lojas”, os “feirantes e camelôs”, a “galeria” e o “interior”.

Aliás, um cliente quase tão importante quanto os “vizinhos e familiares” são

as “encomendas”, que atingem 32%. Por sua vez, as “pequenas lojas”

316

representam 21% da demanda, os “feirantes e camelos” 15%, a “galeria” 8% e

clientes do “interior” do Estado 5%.

Considerando-se a localização dos diferentes tipos de clientes que

apresentaram, pode-se dizer que cerca de 95% da produção dos micro

empresários da ASCOOP é consumida em Belém e apenas 5% dirigida para

consumidores de fora da capital, mais exatamente para consumidores no interior

do Estado do Pará. Assim, os elos produtivos à jusante da cadeia vertical da

produção têxtil e de acessórios da ASCOOP, em Belém, se constituí pelos

“vizinhos”, pela “encomenda”, pelos “pequenos lojistas”, por “feirantes”, pela

“galeria” e pelo “shopping”. A estrutura composta pelos empreendimentos desta

cooperativa mais os seus referidos elos para frente formam a cadeia produtiva

têxtil e de acessórios, à jusante, em Belém. Nenhum dos elos prospectivos da

produção têxtil e de acessórios da ASCOOP representou, nesta cadeia produtiva,

unidades produtivas utilizando, como insumo industrial, os bens e serviços

gerados por estes empreendedores (ver fluxograma abaixo).

Cadeia produtiva têxtil e de acessórios, à jusante, em Belém

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS SEMELHANTES DE TÊXTEIS E ACESSÓRIOS

317

Fonte: Pesquisa de campo, 2007.

Outros dados obtidos na investigação sobre os elos à jusante dos

empreendimentos da ASCOOP dizem respeito às iniciativas de cooperação entre

os participantes desta cooperativa e os seus clientes. Da mesma forma que a

análise das relações dos empreendimentos da ASCOOP com os seus

fornecedores, a avaliação do nível de “cooperação” entre as empresas da

ASCOOP e seus clientes também pode contribuir para avaliar o grau de

desenvolvimento da cadeia produtiva vertical têxtil e de acessórios.

Assim, analisando-se os dados levantados, identificou-se que 61% dos

produtores têxteis e de acessórios da ASCOOP vivenciaram ações de cooperação

com os seus clientes (ver figura abaixo), o que representa aproximadamente 20%

a mais do que os 52% observados no caso das parcerias entre estes produtores e

seus fornecedores. Este resultado, aparentemente, sugere havia um pouco mais

de motivações para ocorrer iniciativas de cooperação entre os produtores da

ASCOOP e seus clientes do que iniciativas de cooperação entre os

empreendedores desta cooperativa e seus fornecedores. No entanto, mesmo

assim, tal freqüência ainda não poderia autorizar a afirmação de que tenha

ocorrido uma intensa presença de parcerias dos micro empresários têxteis e de

acessórios com os seus clientes.

Sim61%

Não39%

Figura 35: Freqüência das parcerias entre os empreendimentos da ASCOOP e seus clientes Fonte: Pesquisa de campo

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES

GALERIA

SHOPPINGS

318

Essas cooperações foram classificadas em sete diferentes tipos:

“promoção”, “compra conjunta”, “prazo de pagamento”, “formação”, “política

pública”. “encomenda” e “comercialização”. Mesmo que em alguns casos estes

tipos apresentem nomes iguais aos utilizados para classificar os tipos de parceria

entre os empreendedores da cooperativa e seus fornecedores, apresentam

sentidos diferentes, em todos os casos.

Assim, “promoção” tem o sentido de toda iniciativa do produtor no sentido

de ajudar o cliente a vender. Como exemplo, tem-se situação na qual um produtor

aceitaria ou ofereceria desconto nos preços de seus produtos, ou mesmo doaria

os mesmos, em troca de ação de venda dos produtos e divulgação de sua marca

pelos clientes.

Como “compra conjunta” entendeu-se a situação na qual o cliente compra

insumo ou insumos para o produtor antes deste iniciar a produção. Uma das

razões em que esta situação poderia ocorrer é quando o produtor recebe do

cliente uma encomenda em ordem que exige compras de alto valor de insumos,

fora do alcance do capital de giro do produtor. Tal impossibilidade poderia ser

resolvida através de ação do cliente que poderia, por exemplo, passar seu cartão

de crédito para pagar metade do total dos insumos. Tal compra já estaria pagando

parte do total do valor das compras do cliente junto ao produtor. É o adiantamento

de compra de insumo industrial pelo cliente.

Por sua vez, “prazo de pagamento” foi entendido como a situação em que

o produtor aceitaria ou ofereceu um determinado prazo de pagamento para o

cliente pagar por um pedido, como por exemplo: um feirante iria a um

estabelecimento industrial da ASCOOP e receberia um prazo de pagamento de

30, 60 e 90 dias para pagar os produtos adquiridos.

O tipo de cooperação “formação” foi entendido como uma situação na

qual o produtor busca desenvolver um processo educativo versando sobre

economia solidária, tendo como objeto de ação o cliente. Em algum momento,

buscou-se desenvolver parcerias de “formação” na qual um cliente se interessaria

319

pela melhoria da capacitação profissional dos produtores que normalmente

atendem seus pedidos, como através de cursos para o ensino de novas formas de

costurar. No entanto, este último tipo de parceria nunca veio a acontecer.

Pela parceria denominada de “política pública” entendeu-se qualquer

situação na qual tenham os produtores tenham se mobilizado ou simplesmente

provocado o poder público para criar novos canais de comercialização para seus

produtos. A parceria com os clientes completa-se, pois estes são convidados a

assumir postos nestes locais de vendas. Um exemplo deste tipo de parceria foi a

criação do Shopping Popular Usina Progresso, que é uma galeria de varejo

situado na Av. Assis de Vasconcelos, próximo à PARATUR, onde foram alocados

“comerciantes” que vendem produtos populares, inclusive produtos produzidos

pelos empreendedores da ASCOOP e outra cooperativas. Estes “comerciantes”

não tinham, no entanto, uma obrigação formal, mas, apenas política, de vender os

produtos dos cooperados.

Por “encomenda” entendeu-se a situação na qual um cliente dos

produtores da ASCOOP receberia a proposta de uma grande encomenda, de cuja

responsabilidade de entrega precisa ser dividida com os produtores. Assim, o

cliente, para aceitar a encomenda, precisaria de compromisso de um produtor, ou

de um grupo de produtores, ou mesmo de todos os produtores da ASCOOP, de

que é possível entregar o pedido com a qualidade, a quantidade e o prazo

requeridos. Desta maneira, para aceitar uma encomenda o cliente precisaria,

antes, “encomendar” à cooperativa.

A lista dos tipos de cooperação entre os produtores da ASCOOP e seus

clientes ainda incluía a “comercialização”. O principal objetivo desta parceria era a

exposição para venda, particularmente da grife “100% Amazônia”, de produtos da

ASCOOP. A “comercialização” incluía, muito frequentemente, a consignação,

situação na qual um produtor têxtil adiantaria um determinado produto para um

lojista sem que, no ato desta transferência, viesse a receber o seu pagamento,

deixando para ser pago apenas quando o lojista tivesse vendido o referido

produto, como por exemplo: uma pequena fábrica de uniforme profissional

320

repassaria 200 peças para uma loja, que só pagaria pelos produtos à medida que

os fosse vendendo; o que não fosse vendido seria recolhido pelo produtor, sem

ônus para os clientes.

Ao se analisar os dados sobre os tipos de cooperação entre os produtores

da ASCOOP e os seus clientes, encontrou-se como modo de parceria mais

freqüente, com 54%, o de “prazo de pagamento”, ou seja, a possibilidade de

serem adiados pagamentos do mesmo valor por um dado período de tempo, que

é, sem dúvida, um meio tradicional dos produtores atraírem a preferência dos

clientes (ver figura abaixo). Este é um tipo de cooperação cujo ônus fica quase

que inteiramente por conta do produtor, sendo muito benéfico para os clientes. Um

outro tipo de cooperação quase tão freqüente, com 39%, é a “comercialização”, no

qual se destaca o mecanismo da “consignação”, que também é muito interessante

para todos os tipos de clientes dos produtores, visto que permitem que este tenha

o potencial de realizar um faturamento com o comprometimento de menor capital

ou mesmo sem nenhum capital de giro. Por outro lado, a “comercialização”

apresenta, para o produtor, o atrativo de ser uma chance a mais de vender seus

produtos, enquanto poupa tempo do esforço de venda, podendo concentrar-se no

processo de produção, vantagem que, igualmente, obteria com o mecanismo do

tipo “prazo de pagamento”,

2518

4 2

0

20

40

Cita

ções

Promoção Compra conjunta Prazo pagto Comercialização Formação Pol. Púb. Encomenda

Figura 36: Tipo de parcerias entre os empreendimentos da ASCOOP e seus clientes Fonte: Pesquisa de campo

321

É interessante apontar que a “comercialização” é, aparentemente, apenas

uma variante da parceria “prazo de pagamento”, já que, a consignação, o principal

instrumento da “comercialização”, não passa de uma venda de mercadorias a

prazo, só que com um prazo indefinido, que pode se encerrar mais cedo ou mais

tarde do que os usuais prazos de pagamento, dependendo da velocidade de

venda do produto no mercado. Ademais, também é interessante destacar que os

dois mais freqüentes mecanismos de cooperação entre os produtores e os

clientes, o “prazo de pagamento” e a “comercialização”, eram, em geral, mais

benéficos para os clientes. Contrariamente, os dois mais freqüentes mecanismos

de cooperação entre os produtores e seus fornecedores, o “prazo de pagamento”

e o “adiantamento”, foram, em geral, mais benéficos para os produtores, por um

lado, na cooperação com os fornecedores, os produtores ganham mais, por outro,

na cooperação com os clientes, acabam sendo os menos privilegiados,

terminando em uma situação que, em geral, parece balanceada. Finalmente,

aponte-se que o prazo de pagamento é a forma mais freqüente de cooperação

nos dois lados da relação insumo-produção dos produtores, o que, parece

evidenciar que o ganho financeiro imediato ainda se apresentava como um forte

estímulo para o ato de cooperar por parte dos produtores da ASCOOP e,

igualmente, de seus fornecedores e clientes.

Comparativamente ao “prazo de pagamento”, a cooperação do tipo

“formação” teve muito pouco destaque, apesar de, teoricamente, nos dias atuais,

ser considerada uma das formas com maior capacidade de fortalecimento da

eficiência, talvez até mais do que o próprio capital, em alguns casos, podendo ser,

na verdade, um pré-requisito para que investimentos financeiros possam oferecer

seus melhores resultados. No entanto, entre as dificuldades que a “formação”

ostenta, para que possa ter maior preferência, esta o fato de que seus resultados

são mais indiretos do que diretos, requerendo que os empreendedores sejam

despertados para suas possibilidades.

Paradoxalmente ao fato de que, aparentemente, os clientes estariam tendo

mais vantagens do que os produtores nas parcerias entre esses dois grupos, 86%

322

dos produtores disseram ter iniciado o engajamento em algum tipo de parceria

entre estes dois conjuntos (ver figura abaixo). Aliás, esta freqüência foi muito

maior do que a verificada para as iniciativas do mesmo grupo para cooperar com

os seus fornecedores, que foi de apenas 33%, em uma situação na qual os

produtores eram, claramente, ganhadores, recebendo e não concedendo, prazos

de pagamento e outros favores em suas parcerias. Este índice mais alto de

iniciativas de parcerias por parte dos produtores, em direção aos seus clientes,

parece sugerir que em cada 10 vezes que os produtores concederam, por

exemplo, “prazo para pagamento”, quase 9 foram o resultado de iniciativa dos

produtores. Tal tendência dos produtores de terem tomado a iniciativa quase todas

as vezes que fazem uma parceria na qual não tiveram “a parte do leão” poderia

ter, como uma das explicações, a existência de um alto grau de competição entre

os próprios produtores de produtos têxteis e de acessórios da ASCOOP.

Não14%

Sim86%

Figura 37: Freqüência com que os empreendimentos da ASCOOP tomaram iniciativas para parcerias com seus clientes Fonte: Pesquisa de campo

É claro que, do ponto de vista de uma economia de mercado, não é apenas

normal, como é até mesmo desejável que estivesse ocorrendo uma saudável

competição entre produtores do mesmo ramo, principalmente pelo fato de que,

neste caso, os empreendedores moram não somente no mesmo bairro, mas, até

mesmo, na mesa quadra, fato agravado em função de que consideraram a

“vizinhança” como o principal de seus mercados.

Assim, utilizar a “competição” para explicar a excessiva iniciativa para

conceder descontos e realizar vendas por consignação não é convincente. Em

qualquer economia de mercado a competição estaria presente, o que a torna um

323

“fator neutro”, portanto, um fenômeno incapaz de operar explicações (a

competição explicar a competição não passaria de uma clara tautologia). Mas,

então, se a explicação para a excessiva iniciativa para a cooperação com os

clientes via mecanismos marcadamente prejudiciais não pode estar, por definição

metodológica, na presença da competição em um mercado capitalista, talvez

pudesse estar na falta desta em função de falhas (imperfeições) de mercado, tanto

no lado da oferta como da demanda.

Quanto às imperfeições na estrutura da oferta, os dados já apresentados

demonstram, claramente, que o conjunto de empreendedores da ASCOOP se

trata de um conjunto de empresas muito semelhantes, que aliás foi a conclusão do

capítulo anterior após farta análise qualitativa e quantitativa. Assim, não se pode

dizer, em hipótese nenhuma, que qualquer dos cooperados pudesse, por si só,

influir nos preços e nas quantidades das mercadorias. No entanto, se não só

nenhuma empresa da ASCOOP tem tamanho, como muito menos tem capacidade

de “inovação tecnológica” para distorcer os mercados, o mesmo não se pode dizer

no caso das empresas que são clientes dos empreendimentos desta cooperativa.

A possibilidade de ocorrência de falhas do mercado de têxteis e de

acessórios em Belém poderia estar ocorrendo pelo lado da demanda, em função

do aparecimento de compradores de tamanho e poder financeiro destoantes do

tradicional cliente da cooperativa. Trata-se da constatação, feita na figura “x”,

anteriormente mostrada neste capítulo, que indica lojas em “shopping centers”

como um dos compradores da cooperativa. Ademais, em 32% dos casos a

demanda pela produção destes microempresários veio por “encomendas”, parte

das quais poderia advir de intermediários de grandes lojas. Ainda mais, 21% dos

clientes da cooperativa eram de pequenos lojistas, os quais, se pequenos

comparativamente ao total da economia, poderiam, em vários casos, serem bem

maiores do que os empreendimentos cooperativados. De todo modo, mesmo tais

evidencias ainda não são tão convincentes, pois os “shopping centers” eram

responsáveis por apenas 2% dos pedidos para os produtores, como também não

foi levantada nenhuma informação que pudesse ser afirmativa da presença de

324

grandes compradores na origem das “encomendas” e nem nenhum estudo mais

detalhados sobre o perfil das chamadas “pequenas lojas”.

Assim, além das falhas de mercado, não poderem ser responsabilizadas

de forma definitiva como a explicação para a excessiva iniciativa dos produtores

para conceder descontos e consignação para seus clientes, existiria, ainda, a não

menos razoável tese de que a capacidade produtiva dos produtores estivesse

acima da capacidade de compra de seu principal grupo de clientes, composto

pelos seus “vizinhos”, os ‘feirantes”, a “galeria” e muitos dentro deste grupo de

“encomendas”. Mas, evidentemente, outros fatores mais poderiam ser elencados

para explicar o freqüente impulso rumo a tipos de cooperações não tão favoráveis.

No entanto, qualquer análise mais confiável do fenômeno exigiria, na verdade,

uma pesquisa mais focada na questão do mercado têxtil e de acessórios em

Belém e em com uma análise temporal de pelo menos cinco anos de extensão, o

que não só não foi objeto desta pesquisa, nem foi feito por qualquer outro

trabalho, até então.

Ao mesmo tempo em que se verificou a clara tendência dos

empreendedores da ASCOOP em iniciarem, com grande freqüência, cooperações

não tão favoráveis com seus clientes, identificou-se em 63% destes

microempresários o sentimento de que estariam realizando algum tipo de

cooperação entre eles (ver na figura abaixo). Mesmo que problemas de

compreensão por parte de alguns cooperados sobre o que seria exatamente

cooperação ou parceria pudessem estar na origem do fato de que, quase 4, em

cada associados da ASCOOP, não reconheceram estar desenvolvendo qualquer

tipo de ação solidária com seus pares da própria cooperativa, tal realidade volta a

lembrar a possibilidade de que o relacionamento entre os cooperativados poderia

estar sob algum tipo de pressão “extra” advinda de falhas de mercado. Afinal, é

alto índice de 37% de associados que ainda não se deram conta de que a

participação em uma cooperativa representa estar com algum nível de cooperação

com seus pares.

325

Sim63%

Não37%

Figura 38: Freqüência de parcerias entre os empreendedores da ASCOOP Fonte: Pesquisa de campo

Os tipos de parcerias que foram analisadas nas relações entre os próprios

microempresários da ASCOOP foram: “promoção”, entendida como o

oferecimento de descontos ou doação por uma das partes em troca de divulgação

de sua marca; “compra conjunta”, entendida como a situação na qual uma das

partes compra insumo ou insumos para a outra fazer a produção; “prazo de

pagamento”, utilizado no sentido de uma das partes aceitar ou oferecer um

determinado prazo de pagamento; “formação”, apliacada como uma situação na

qual uma das partes busca desenvolver um processo educativo da outra parte

sobre economia solidária; “política pública”, compreendida como qualquer situação

em que uma das partes tivesse se mobilizado ou simplesmente provocado ações

do poder público para criar novos canais de comercialização; e “comercialização”,

entendido como parcerias para a exposição para venda, particularmente da linha

grife “100% Amazônia”, inclusive via consignação.

Dentre todos os tipos de parcerias entre os produtores, o mais freqüente

foi “comercialização” com 50%, seguido por “formação”, com 46%, para em

terceiro aparecer “políticas públicas”, com 43%, e, em quarto, “compra conjunta”

com 26%. Na seqüência, vieram “promoção” com 17% e, finalmente, sem

nenhuma freqüência, “prazo de pagamento”,

326

8 1223 21 20

0

20

40C

itaçõ

es

Promoção Compra conjunta Prazo pagto Comercialização Formação Pol. Púb.

Figura 39: Tipos de parcerias entre os empreendedores da ASCOOP Fonte: Pesquisa de campo

O aspecto mais interessante destes dados sobre os tipos de parcerias entre

os produtores esta o fato de que o prazo de pagamento não teve qualquer

registro, depois de estar entre os dois mais freqüentes nas parcerias dos

produtores com os seus fornecedores e com os seus clientes. Tal resultado pode

ter acontecido em função de que estas parcerias teriam menos um papel de

diretamente relacionadas à fechamento de negócios e mais uma abordagem de

apoio aos negócios. Tal tendência ficou ainda mais forte pela alta freqüência das

parcerias voltadas para desenvolver “políticas públicas”, que nada mais são do

que ações voltadas para multiplicar canais de comercialização. O próprio tipo de

parceria mais freqüente, a “comercialização”, também tem um sentido de apoio

aos negócios, desde que busca ampliar os pontos de exposição dos produtos

resultantes dos empreendedores da ASCOOP. Apenas a menor parte das

parcerias entre produtores foi voltada diretamente para a realização de negócios,

como a compra conjunta e a promoção. Aparentemente os produtores

reconhecem uns aos outros mais como competidores e menos como parceiros, o

que desestimularia parcerias diretamente voltadas para negócios. No entanto, se

verdadeira esta afirmativa, valorizaria o nível de consciência coletiva das ações de

parceria tomadas voltadas para o apoio aos negócios.

O forte senso de consciência coletiva nas ações de parceria entre os

produtores parece ser confirmado pelo fato de que 62% (ver figura abaixo) deles

toma a iniciativa para a realização destas parcerias que não apresentam um

objetivo financeiro imediato. Tal número é menor do que a iniciativa dos

327

produtores para parcerias com os seus clientes, que foi de 86%, mas foi quase o

dobro da freqüência das parcerias dos produtores com os seus fornecedores.

Sim62%

Não38%

Figura 40: Iniciativa para parcerias com outros empreendedores da ASCOOP Fonte: Pesquisa de campo

Assim, pode-se concluir que são perfeitamente identificáveis muito

visíveis e até mesmo variados elementos característicos da formação de uma

cadeia vertical de empresas e instituições a partir dos empreendimentos têxteis e

de acessórios da ASCOOP. Esta cadeia vertical teve como ponto de referência a

“concentração de empresas semelhantes” da produção têxtil e de acessórios

associados à referida cooperativa e se estendeu através de relações insumo-

produção para trás e para frente, apresentando a forma abaixo expressa pelo

fluxograma da cadeia vertical da produção têxtil e de acessórios de Belém:

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE PRODUTOS DE ARMARINHO

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE TECIDOS

PARA ROUPAS

EMPRESAS DE COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DE COMÉRCIO

DE BORRACHA

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS SEMELHANTES DE TÊXTEIS E ACESSÓRIOS

EMPRESAS DE

COMÉRCIO DE

REFEIÇÕES

328

Figura 41: Cadeia produtiva vertical de empresas e instituições têxtil e de acessórios, em Belém. Fonte: Pesquisa de campo, 2007.

Esta cadeia produtiva vertical à montante não é muito densa, pois não está

instalada, em Belém, nenhuma indústria produtora de insumos industriais para a

atividade têxtil e de acessórios. Praticamente, esta cadeia para trás resume-se

aos negócios comerciais de abastecimento das indústrias de confecções e de

acessórios. No entanto, para frente, esta cadeia é bem mais sofisticada e intensa,

com uma enorme diversidade de atores clientes dos produtores, assim como

sistemática agregação de valor localmente.

Desta maneira, já foi levantado não só o “ponto de partida”, mas também a

“cadeia vertical de empresas e instituições” de um possível aglomerado do qual

fariam parte os empreendimentos têxteis, de acessórios e moda associados à

ASCOOP, em Belém. O próximo passo será a verificação da existência de uma

cadeia horizontal de setores a partir da concentração de empreendimentos têxteis

e de acessórios da ASCOOP.

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES

GALERIA

SHOPPINGS

329

7. A CADEIA HORIZONTAL DE SETORES A PARTIR DOS

EMPREENDIMENTOS DE CONFECÇÃO E DE ACESSÓRIOS DA

ASCOOP

No capítulo anterior foi demonstrado que são claramente identificáveis

vários elementos característicos da formação de uma cadeia vertical de empresas

e instituições à montante e à jusante dos empreendimentos participantes da

ASCOOP. Neste capítulo, dando continuidade à investigação de uma possível

inserção dos empreendimentos desta associação em um aglomerado, será

verificada a existência de uma cadeia horizontal de setores a partir deste conjunto

de negócios. As cadeias horizontais de setores são também chamadas de

“cadeias horizontais de setores correlatos”, ao mesmo tempo em que os setores

que formam as “cadeias horizontais de setores” são referidos como “setores

correlatos”.

Uma cadeia horizontal de setores apresenta uma organização bastante

diferenciada da estrutura da cadeia vertical de empresas e instituições. A

identificação dos componentes desta última é feita, de acordo com Hirschman

(1978), através da investigação das relações insumo-produto a partir de uma

“dada linha de produto”, que permite levantar as unidades produtivas que operam

como fornecedores da determinada “linha” e as unidades produtivas que operam

como consumidores da mesma.

330

No entanto, as relações insumo-produto não têm absolutamente nenhum

papel na identificação de uma cadeia horizontal de setores. Estes setores não são

identificados por serem insumo ou por serem consumidores dos produtos do

“ponto de partida” desta cadeia (no caso, os negócios de confecção e de

acessórios da ASCOOP), mas, por apresentarem outros tipos de relações com

este “ponto” que não a lógica input-output. Ademais, diferentemente da

metodologia de Hirschman, o próprio elemento de referência da análise desta

cadeia não é uma “dada linha de produto”, mas, setores. A cadeia horizontal de

setores é estruturada através do setor que funciona como “ponto de partida” e

“elos” (elementos parte de uma cadeia) com os quais apresenta relações

específicas, que não são de insumo-produto.

Entre as relações que determinam se o setor “ponto de partida” estabelece

algum tipo de “elo” com outros setores, materializando uma cadeia horizontal de

setores, está aquela em que este “ponto” compartilha seus “distribuidores” ou

clientes com qualquer outro setor. Se o setor “ponto de partida” fosse o de

alimentos, poderia apresentar como “elo” qualquer setor que compartilhasse com

ele os supermercados como sendo “distribuidor” dos seus produtos: o setor de

bebidas, por exemplo.

Outra relação na qual o setor do “ponto de partida” apresentaria um “elo”

com outro setor, formando uma cadeia horizontal de setores, é aquela em que os

produtos e serviços deste “ponto” são complementares aos produtos e serviços de

qualquer outro setor. Se o setor “ponto de partida” fosse o de alimentos, poderia

apresentar como “elo”, neste caso, qualquer setor que oferecesse produtos e

serviços complementares aos seus próprios produtos e serviços, como, por

exemplo, o caso do setor de artefatos de cozinha.

Mais uma relação que indica que o setor que funciona como “ponto de

partida” apresenta um “elo” com outro setor, materializando uma cadeia horizontal

de setores, é aquela em que os insumos e tecnologias deste “ponto” são

331

semelhantes aos insumos e tecnologias de qualquer outro setor. De novo, tendo o

setor de alimentos como “ponto de partida”, este teria como “elo” qualquer setor

que consumisse insumos e tecnologias semelhantes ao que ele consome, como,

por exemplo, o setor de ração animal.

Outra relação indicando que o setor que atua como “ponto de partida” tem

um “elo” como um outro setor, concretizando uma cadeia horizontal de setores, é

aquela em que os fornecedores deste “ponto” apresentam qualquer outra

afinidade com qualquer outro setor. Se considerado o setor de alimentos como o

“ponto de partida”, este teria como “elo” qualquer setor que apresentasse algum

tipo de relação comum com seus fornecedores.

Finalmente, outra relação apontando que o setor que funciona como “ponto

de partida” possui um “elo” com outro setor, materializando uma cadeia horizontal

de setores, é aquela na qual este “ponto” e outro setor qualquer compartilham

“mídias de marketing”, o que os leva a operar com “imagens semelhantes em

segmentos de clientes similares” . Se considerado o setor de alimentos como

“ponto de partida”, este teria como “elo” qualquer outro setor que, com ele,

desenvolvesse um trabalho de mídia comum, como, por exemplo, a hotelaria:

neste caso, um programa de marketing poderia ser desenvolvendo em conjunto

pelos setores de alimentos e da hotelaria para divulgar, por exemplo, um tema

como “férias nas Serras Gaúchas”, beneficiando estes dois setores, ao mesmo

tempo.

A importância maior da cadeia horizontal de setores é que eles apresentam

um grande potencial de cooperação entre si, já que seus papéis no jogo de

mercado são, em geral, de complementaridade. Tal característica significa que

quanto mais estes setores horizontais cooperarem entre si, melhor o ambiente de

negócios em geral para a economia como um todo. Esta característica seria

exatamente o contrário da situação de unidades produtivas da mesma linha de

332

produção, que, para Porter (1999), melhor contribuem para a qualidade e

competitividade do ambiente de negócios quanto mais competirem entre si.

A cooperação entre empresas correlatas (participantes de uma cadeia

horizontal de setores) e a competição entre empresas semelhantes, em um dado

ambiente de negócios, maximizaria as interações positivas voltadas para a

promoção da produtividade e da inovação neste ambiente, onde também seriam

criadas as melhores condições possíveis para a formação de novas empresas. No

entanto, mesmo empresas de uma mesma linha de produção poderiam cooperar,

desde que tal parceria não diminuísse a intensidade da competição entre as

mesmas, o que poderia prejudicar a oferta de produtos de qualidade e melhor

preço, além de inibir a inovação e formação de novos empreendimentos do

mesmo tipo.

A idéia da “benignidade” da cooperação e de sua simultaneidade com a

competição, no mesmo ambiente de negócios, forma um paradigma radicalmente

diverso daquele estabelecido pela teoria econômica ortodoxa. De acordo com a

teoria econômica tradicional, o ambiente de negócios deve propiciar as condições

ideais para que as empresas compitam e somente compitam entre si. No entanto,

Porter (1999) tem identificado que existem outros tipos de relações, voltadas para

a cooperação, que, em vez de criar cartéis, os quais dificultam a eficiência, a

produtividade e a inovação, podem multiplicar a competitividade das empresas. O

autor em questão diz que esta simultaneidade da competição e da cooperação

seria possível porque tais processos contraditórios não seriam dominantes no

mesmo tipo de compartimento de um mesmo ambiente de negócios, mas, sim, em

diferentes destes compartimentos: a competição como a relação mais socialmente

benigna dentro de um conjunto de empresas com a mesma linha de produto,

enquanto que a cooperação seria mais benigna socialmente se dominante dentro

de uma cadeia horizontal de setores, ou seja, quando ocorrendo entre empresas

correlatas.

333

Esta benignidade social da cooperação entre as firmas dos setores da

cadeia horizontal de setores, segundo Porter, dependeria, acima de tudo, de certo

nível de relacionamentos pessoais, da comunicação face a face e da interação

entre redes de indivíduos e instituições. Neste sentido, o referido autor sugere que

a soma das partes de um conjunto interconectado de firmas e instituições pode ser

menor do que o valor econômico criado pelo sistema deste conjunto como um

todo (1999; 213).

Assim, para que este processo de cooperação entre setores de uma cadeia

horizontal pudesse maximizar os ganhos econômicos e sociais para a sociedade,

seria necessário uma “cola social” (social glue) que conectaria e aproximaria as

empresas e instituições, contribuindo para um processo de criação de valor,

através dos relacionamentos pessoais, das comunicações face a face e das redes.

Desta maneira, a simples presença de firmas, clientes e fornecedores, apesar de

criar um potencial para a geração de valor, não seria uma garantia de que este

processo de agregação de valor viesse a se materializar, o que só poderia ser

garantido com a presença dos elementos da “cola social”. Tal afirmativa

concederia à estrutura social envolvida nas relações entre empresas e instituições

correlatas uma importância central na discussão dos aglomerados (PORTER,

1999).

Ao examinar a significação do papel de “redes de relacionamento” para

empresas e comunidades de sucesso, Porter afirmou que um crescente número

de autores concluiu que as atividades econômicas estariam sempre sustentadas

sobre relações sociais em andamento. Para ele, o acesso à informação e aos

recursos é largamente facilitado pelo relacionamento social entre indivíduos, de

acordo com investigações sobre a estrutura de redes tem revelado. A teoria do

“cluster” (aglomerado) de Porter considera que “valor econômico” é gerado pelo

“senso de comunidade” e pelo “engajamento cívico”: o crescimento da

produtividade, a promoção das inovações e a criação de novos negócios estariam

mais presentes em aglomerados que tem suas interações “azeitadas” pelo

334

“benefício da confiança” e da “permeabilidade organizacional”, fortalecidas pelas

repetidas interações e pelo “senso de dependência mútua” dentro de uma região

ou cidade. O aglomerado seria um tipo de organização que se caracterizaria pela

numerosa sobreposição de “conexões fluidas entre indivíduos, firmas e

instituições”, que se moveriam além das “redes hierárquicas”.

A competitividade dos negócios e a prosperidade econômica, assim como

suas expansões, seriam conectadas de forma muito próxima com as teorias de

redes, capital social e de engajamento cívico, através da teoria de “cluster”

(aglomerado). Ademais, esta teoria assumiria o papel de discutir os tipos de

benefícios de cada um dos tipos de redes, como no caso de relacionamentos e

confianças que resultam em cartéis, que, em princípio, diminuem o valor

econômico do ambiente de negócios. Também discute como as interações

ocorridas em função de relacionamentos formais e hierárquicos entre empresas ou

entre instituições e companhias seriam menos eficientes e flexíveis do que as

estruturas de rede construídas com base na proximidade e nos links locais

informais. Esta discussão permitiria, até mesmo, atravessar questões dialéticas do

tipo se os fortes relacionamentos surgiriam em função da existência de um

aglomerado ou se este tipo de organização teria maior probabilidade de

desenvolvimento a partir de redes pré-existentes (PORTER, 1999; 127).

Desta maneira, para identificar se o conjunto de empreendimentos de

confecções e de acessórios da ASCOOP formaria cadeias horizontais de setores,

através da formação de elos com quaisquer outros setores, foi necessário verificar

com quais setores esta associação de empreendimentos apresentava, pelo

menos, um dos seguintes tipos de relações: clientes comuns; produtos e serviços

complementares; insumos e tecnologias semelhantes; publicidade e propaganda

em conjunto. Ao serem indagados com quais setores apresentariam tais tipos de

relações, os micro empresários desta organização consideraram que a atividade

que se enquadrava com mais intensidade dentro destas características foi o

artesanato, que obteve 67% das repostas (ver figura abaixo). Tal resultado

335

sugeriu que o artesanato, em Belém, seria um elo deste conjunto de pequenas

empresas da ASCOOP e que, juntos, formariam uma cadeia horizontal de setores.

Muitos dos produtos do setor de artesanato, em Belém, são bens

complementares aos produtos da produção têxtil e de acessórios, com os quais

seriam utilizados complementarmente, como, por exemplo, no caso do uso de um

broche combinando com uma blusa. No caso, o consumidor não compraria

apenas um dos produtos, mas os dois, ao mesmo tempo, pois seria melhor usá-

los combinadamente, do que apenas um deles (como no caso do pão e da

manteiga). Outra explicação para que o artesanato tenha sido indicado, com alta

freqüência, como um elo dos empreendimentos da ASCOOP, formando com estes

uma cadeia horizontal de setores, é que estes dois setores possuem fornecedores

e tecnologias semelhantes. A terceira razão para que o artesanato e a produção

têxtil e de acessórios formem uma cadeia horizontal de setores é que apresentam

“distribuidores”, ou clientes, comuns, tanto no caso do consumidor final, como no

caso do lojista/comerciante. Esta soma de fortes sinergias entre estes setores e

quase nenhuma força de oposição diminui as barreiras para o estabelecimento de

parcerias e eleva o nível de possibilidades de cooperação, que seria o combustível

maior para o desenvolvimento e para a efetividade de um aglomerado.

8 625 31

12

0

50

Cita

ções

Salão de beleza Alimentação Manifestações culturais

Eventos de Moda Artesanato Shows de Música

Escola Não sabe

Figura 42: Setores componentes da cadeia horizontal de setores. Fonte: Pesquisa de campo, 2007.

Com 54%, o setor “eventos de moda” foi o que apresentou a segunda maior

freqüência de indicações que buscavam identificar um elo, a partir dos

empreendimentos da ASCOOP, que tivesse relações do tipo que permitiriam

336

materializar uma cadeia horizontal de setores. O setor “eventos de moda” foi

aplicado nesta análise como sendo desfiles de moda, reuniões e debates sobre

moda e festas para lançamento de novas coleções, entre outros eventos. O setor

“eventos de moda” comporia com os empreendimentos da ASCOOP uma cadeia

horizontal de setores porque, em primeiro lugar, são setores complementares,

visto que o setor “eventos de moda” precisou incluir coleções de moda dos

produtores da ASCOOP, como o 100%Amazônia, para se firmar como eventos

regionais, enquanto estes empreendedores de confecções e acessórios

dependeram da boa divulgação nos eventos para vender melhor. Ademais, os

eventos de moda influenciaram os designs das roupas produzidas pelos

empresários da ASCOOP, visto que cortes de roupas, cores de vestuário e tipo de

acessórios que acompanham foram influenciados pelos “eventos de moda”, ao

mesmo tempo em que a moda popular teve reflexos nas tendências da alta moda

paraense. Ademais, existiram casos nos quais estes dois setores fizeram

divulgação conjunta de seus produtos para públicos similares, como ocorreu por

ocasião de eventos como feiras, desfiles e shows.

Com 17%, o setor chamado de “salão de beleza” foi o que apresentou a

terceira maior freqüência de indicações que buscavam identificar um elo, a partir

dos empreendimentos da ASCOOP, que tivesse relações do tipo que permitiriam

materializar uma cadeia horizontal de setores. O setor chamado de “salão de

beleza” foi utilizado no sentido de representar locais onde homens, mulheres e,

ultimamente, até crianças: lavam, cortam, pintam e penteiam os cabelos; fazem

unhas; limpam e pintam o rosto e até mesmo levam massagens. Este setor seria

um elo do setor de confecções e de acessórios porque, em primeiro lugar, são

produtos fortemente complementares. Quando uma consumidora ou um

consumidor compra uma roupa para sair, também vai, quase que

necessariamente, ao salão de beleza para fazer os cabelos e também as unhas.

Outra razão para que estes dois setores formem uma cadeia horizontal de setores

é que possuem uma grande quantidade de clientes comuns. Muitos daqueles que

compram roupas e acessórios dos empreendedores da ASCOOP são aqueles que

337

adquirem serviços de salões de belezas, no mesmo bairro. Ademais, algumas

vezes, os salões de beleza e os produtores de confecções utilizaram mídia comum

para promover seus produtos em segmentos similares.

Com 13%, o setor chamado de “alimentação” foi o que apresentou a quarta

maior freqüência de indicações que buscavam identificar um elo, a partir dos

empreendimentos da ASCOOP, que tivesse relações do tipo que permitiriam

materializar uma cadeia horizontal de setores. O setor chamado de “alimentação”

foi entendido como a produção de refeições comerciais por famílias e por bares e

restaurantes nos locais próximos da produção têxtil. Apesar de apresentar o

quarto maior nível de indicações, este setor dificilmente poderia ser enquadrado

como um elo do setor de confecções e de acessórios para formar uma cadeia

horizontal de setores. Estes dois setores não possuem distribuidores comuns, não

são complementares (no sentido de que quem usa roupa “X” teria que,

provavelmente, comer “Y”), não possuem fornecedores e tecnologia semelhantes,

assim como não tiveram ações de mídia comum. A freqüência de indicações

recebida pelo setor de “alimentação” ocorreu, provavelmente, porque os

produtores da ASCOOP, quando realizam grandes jornadas voltadas para atender

suas encomendas, em geral, adquirem refeições comerciais de bares, pequenos

restaurantes e até de famílias dos bairros em que moram. Esta relação, no

entanto, ficaria muito melhor caracterizada como sendo do tipo insumo-produto, já

que o alimento, neste caso, se coloca mais como um requerimento do galpão da

ASCOOP, portanto, necessário para a produção de confecções e de acessórios

destes empreendedores; a refeição comercial não pareceu ser parte do consumo

das famílias, pois era consumido pelos empreendedores enquanto trabalhavam no

galpão da ASCOOP.

Por estabelecerem relações do tipo que permitiriam materializar uma cadeia

horizontal de setores, os setores “shows de música”, “escola” e “manifestações

culturais”, constaram como outros possíveis elos dos empreendimentos da

ASCOOP na lista de sugestões das respostas sugeridas pelo questionário da

338

pesquisa, mas não receberam nenhuma indicação. No entanto, todos eles,

claramente, são setores correlatos, por apresentam relações com o setor de

confecções e de acessórios do tipo que levam a uma cadeia horizontal de setores.

Tal afirmação pode ser sustentada tanto do ponto de vista teórico como do ponto

de vista de outras informações obtidas por observações de campo.

Shows de música foram entendidos como festas nos bairros, apresentações

de sistemas de sons, particularmente de música “brega”, e apresentações de

cantores populares. O setor de shows de música apresenta produtos

complementares ao consumo do setor de confecções e de acessórios, pois, ao

irem para os shows de música, os moradores dos bairros populares se vestem da

melhor maneira e da maneira mais adequada possível. Na prática, os próprios

artistas influenciam em modelos solicitados pelos consumidores.

Por sua vez, o setor chamado de escolas foi entendido como os

estabelecimentos de ensino público do 1º e do 2º graus. Na prática, este setor e o

setor de confecções e de acessórios são complementares, pois as crianças e os

jovens não podem freqüentar as aulas nestas escolas sem estar vestindo o devido

uniforme, o que gera, sazonalmente, uma grande demanda de roupas específicas

para esta atividade. Ademais, as escolas não demandam apenas os uniformes de

sala de aula, requerendo também roupas para educação física, roupas para festas

comemoradas nas escolas, como as festas juninas, e roupas para jogos e para

participação em bandas musicais.

Já o setor de manifestações culturais foi entendido como as festas

populares, como o carnaval em geral (principalmente os desfiles de escola de

samba e blocos), as festas juninas (particularmente as danças de quadrilhas e os

bois bumbas), as procissões do Círio (que anualmente requer que pessoas e suas

famílias se vistam “melhor” para todas as celebrações), as demais festividades

religiosas e as festas no interior – motivando o deslocamento de pessoas da

cidade. Portanto, o setor de manifestações culturais é complementar ao setor de

339

confecções e de acessórios, pois a participação nestas manifestações enseja,

necessariamente o consumo de produtos de confecções e de acessórios. As

escolas de samba e blocos carnavalescos ensejam grandes demandas sazonais,

da mesma forma que as festas juninas e o próprio Círio. Por outro lado, algumas

vezes, atividades do setor de manifestações culturais utilizam mídia comum ao

setor de confecções para um público similar, como quando se fazem vendas

casadas da participação em escolas de samba e da confecção do vestuário

carnavalesco.

Mas existem outros setores que não foram colocados na lista de opções do

questionário da pesquisa, mas que, por muitas evidencias, são elos compondo a

cadeia horizontal de setores com o setor de confecções e de acessórios. Os

principais destes setores são: “confecção artesanal e concerto de calçados”,

“cadernos e notícias de moda” (jornalismo), “alta costura” e “lavagem de roupa”.

Entende-se o setor de confecção artesanal e concerto de calçados como a

elaboração manual de sapatos e sandálias, masculinos e femininos, assim como o

reparo destes objetos. Este setor apresenta múltiplas e intensas relações com o

setor de confecções e utensílios, de quase todos os tipos que materializam uma

cadeia horizontal de setores. Em primeiro lugar, a confecção e concerto de

calçados é um setor complementar ao setor de confecções e acessórios porque

ao se usar roupas e seus acessórios sempre se usa calçados, sejam novos, sejam

usados, sendo que estes últimos requerem, muitas vezes, devidos e adequados

reparos. Em segundo lugar, o setor de confecção e concerto de calçados

compartilha com o setor de confecção e acessórios vários canais de distribuição,

como, por exemplo, no caso das barracas de feiras, pequenas lojas e as

sacoleiras, que vendem de porta em porta. Em terceiro lugar, estes dois setores

utilizam alguns insumos e tecnologias semelhantes, como no caso de peças de

couro, instrumentos de costura e linhas de costura, particularmente quando se

trata da elaboração de acessórios como bolsas e cintos. Em quarto lugar, estes

340

dois setores, por consumirem alguns insumos semelhantes, também compartilham

fornecedores.

Já o setor de jornalismo, mais especificamente cadernos e notícias de

moda, é entendido como os cadernos de jornais de circulação em Belém que,

crescentemente, noticiam eventos e fatos sobre a confecção de peças de

vestuário na cidade e, em especial, eventos de moda, como ocorreu recentemente

com o “Belém Fashion Week”. Este setor é complementar ao setor de confecção

e acessórios na medida em que este último vende mais quando seus produtos e

sua qualidade são apresentados pelo jornalismo da moda local, enquanto este

precisa do setor de confecções e acessórios para fabricar suas notícias.

O setor de “alta costura” é, “em primeiro lugar, um savoir-faire (um saber

fazer) ligado a um artesanato que perdura há cerca de cento e cinqüenta anos: a

origem da alta costura remonta a Charles Frederic Worth, que criou, em 1858, no

nº 7 da rue de la Paix, em Paris, a primeira verdadeira maison de alta costura,

criando modelos originais para clientes particulares. A alta costura está ligada ao

trabalho artesanal, tanto dos ateliês quanto dos fabricantes de adereços (plumas,

bordados, etc...) que, a cada estação, criam os enfeites que vão fazer a exceção.

... O termo alta costura constitui uma denominação juridicamente protegida e ‘da

qual só podem se prevalecer as empresas que constem da lista estabelecida

todos os anos por uma comissão com sede no Ministério da Indústria’, observa a

Câmara Sindical da Alta Costura”, na França (AMBRAFRANCE, 2007).

Em Belém a “alta costura” apresenta uma dinâmica cada vez maior,

reunindo ateliers, costureiras e costureiros que fazem peças exclusivas ou quase

exclusivas e que são lançadas anualmente em festivais e desfiles de moda. A “alta

costura” é um elo horizontal para o setor das confecções e acessórios da

ASCOOP porque, em primeiro lugar, apresenta alguns fornecedores comuns e,

em segundo lugar, porque, algumas vezes, a “alta costura” vai buscar inspiração

341

na moda popular, enquanto que a moda popular tem, outras vezes, a “alta costura”

como indicativo para cores, cortes e tecidos de suas peças.

Exatamente no sentido de buscar se aproximar da “alta costura”, a

ASCOOP relançou a grife 100%Amazônia, que esta se tornando uma “marca”

comercial importante para a nova organização (ver figura abaixo). Esta grife foi

desenvolvida no sentido de permitir ganhos de escala em trabalhos de

propaganda dos produtos da ASCOOP, como também para incentivar a qualidade

e a diferenciação, no caso, usando nos produtos da grife apenas materiais primas

oriundas da Amazônia.

Figura 43. Logo da grife criada pela ASCOOP

A grife 100% Amazônia foi um dos destaques de um dos mais importantes

eventos de moda, no Pará, o Amazônia Fashion Week, realizado em outubro de

2007, em Belém. Este evento serviu para que vários produtores mostrassem seus

trabalhos para um grande público, atraindo a atenção de muitos dos presentes,

inclusive pela participação em desfiles de moda.

342

Figura 44. Roupas da grife 100%Amazônia no Amazônia Fashion Week, 2007

O setor lavagem de roupa (familiar e através de lavanderia) é entendido

como a atividade de lavagem de roupa feita por famílias (mulheres) em muitos

bairros de Belém e, crescentemente, a lavagem de roupa por lavanderias

empresariais, que utilizam máquinas específicas, e que começam a se localizar

nos bairros mais populares. Este setor também é complementar ao setor de

confecção, pois quanto mais facilidades as famílias têm para lavagem de suas

roupas, mais fácil fica consumir roupas de forma mais diversificada, e vice-versa.

Teria ficado muito difícil consumir mais peças de vestuário se não estivesse

ocorrendo a expansão dos serviços de lavagem de roupa.

De todas as vezes que o setor de confecção e acessórios formou cadeias

horizontais de setores, em apenas 48% das vezes os produtores da ASCOOP

perceberam que elos haviam sido estabelecidos (ver figura abaixo).

343

Sim42%

Não58%

Figura 44. Percentual dos produtores da ASCOOP que reconheceram a existência de elos entre os setores de cadeias horizontais de setores. Fonte. Pesquisa de campo, 2007.

Esta razoável falta de reconhecimento das relações entre os setores de

uma cadeia horizontal de setores de certa forma explica porque vários importantes

elos dos produtores da ASCOOP com outros setores (relação que materializava

este tipo de cadeia) não foram indicados nas respostas dos questionários sobre o

assunto. Como já destacado, os empreendedores da ASCOOP não reconheceu

relações de seu setor com setores como escola, manifestações culturais, shows

de música e mesmo confecção e concerto de calçados eram correlatos ao setor

de confecções e acessórios.

Ademais, segundo a pesquisa de campo, quando os produtores da

ASCOOP reconheceram a existência de relações de seu setor com outros setores,

formando cadeias horizontais de setores, em 42% destas vezes entendeu serem

estas relações obrigatórias. Talvez seja esta a razão pela qual apenas 26% destes

empreendedores consideraram que tomaram a iniciativa para materializar estas

relações horizontais (ver figura abaixo).

344

Não74%

Sim26%

Figura 45. Percentual das vezes que empreendedor da ASCOOP entendeu ter tomado iniciativa para estabelecer elos com os setores da cadeia horizontal de setores. Fonte. Pesquisa de campo, 2007.

Na verdade, da mesma forma que uma unidade produtiva pode escolher um

determinado fornecedor, similarmente, um setor como um todo pode escolher se

aproximar mais de outro setor para se beneficiar das oportunidades de

cooperação positiva, estruturando uma cadeia horizontal de setores, como

expresso na figura logo abaixo, onde aparece integrada com a cadeia vertical

explicitada no capítulo anterior. Mesmo se reconhecendo as limitações trazidas

pela tradição do cooperativismo de se auto-definir como a busca de parcerias com

pares de um mesmo setor, já se pode desenhar uma intensa e extensa cadeia

horizontal de setores, organizada a partir dos empreendimentos de confecções e

acessórios da ASCOOP. Na relação horizontal os setores não estão competindo

diretamente no mercado de bens e serviços, ao contrário do que acontece entre

agentes produtivos de um mesmo setor, o que permite que sejam maximizadas as

oportunidades de cooperação.

345

346

Figura 46. Cadeia vertical das empresas têxteis e de acessórios da ASCOOP e cadeia horizontal de setores articulada a estas empresas. Fonte. Pesquisa de campo, 2007. Observação. Números explicam razão de serem correlatos: 1. clientes comuns; 2. produtos complementares; 3. fornecedores e tecnologias semelhantes; 4. outras relações com fornecedores; 5. publicidade e propaganda em comum.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

1, 2, 5

MERCEARIAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE PRODUTOS

DE ARMARINHO

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE TECIDOS PARA ROUPAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE BORRACHA

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS

SEMELHANTES DE CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES GALERIA

SHOPPINGS

CONFECÇÃO E CONCERTO DE SAPATOS

1, 2, 3, 5

EVENTOS DE MODA

1, 2, 5

LAVAGEM DE

ROUPA 1,2

CADERNOS E NOTÍCIAS DE MODA

1 2

SHOWS DE

MÚSICA 1, 2

ARTESANATO 1, 2, 3, 5

SALÃO DE

BELEZA 1, 2, 5

ESCOLA 1, 2

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE REFEIÇÕES

ALTA COSTURA

1,, 2

202

Como pode ser observado, logo acima, diferentemente da cadeia

produtiva vertical de empresas, a cadeia horizontal de setores não se estrutura

a partir de relações insumo-produção, mas de relações de parcerias em que se

evidenciam situações de “ganha-ganha” para ambos os lados, fórmula que é o

“sonho dourado” de qualquer arranjo produtivo solidário e popular, mas que é

muito rara ser revelada em um ambiente de negócios comum.

O fluxograma analisado evidencia a existência de uma diversificada e

relativamente intensa cadeia horizontal de setores, o que enseja repetidas

situações de cooperação positiva entre seus participantes, que são, além do

setor de confecções e acessórios, os seguintes: “shows de música”, “escola”,

“cadernos e notícias de moda”, “salão de beleza”, “confecção artesanal e

concerto de calçados”, “lavagem de roupa”, “manifestações culturais”, “alta

costura” e “eventos de moda”. Tal cadeia horizontal também pode ser chamada

de “cadeia horizontal de setores correlatos” e os setores que a formam

referidos como “setores correlatos”.

Assim, neste capítulo, foram claramente identificados elementos

característicos da formação de uma cadeia horizontal de setores,

representando um enorme avanço na identificação de indícios da possível

inserção dos empreendimentos de confecção e acessórios da ASCOOP em um

emergente aglomerado da moda, em Belém.

8. INSTITUIÇÕES DE APOIO AOS EMPREENDIMENTOS

203

No capítulo anterior foi demonstrado que eram claramente identificáveis

vários elementos característicos da formação de uma cadeia horizontal de

setores, expressando relações preponderantemente de cooperação entre o

setor confecção/acessórios e outros setores. A revelação desta cadeia

representou um enorme avanço na identificação de indícios da existência de

um emergente aglomerado da moda, em Belém, onde os empreendimentos da

ASCOOP estariam inseridos.

As identificações desta cadeia horizontal de setores, envolvendo o setor

de confecções e acessórios e seus elos, que foi feita no segmento anterior, e

da cadeia vertical de empresas, feita no capítulo seis, determinaram as

empresas e os setores que comporiam a complexa estrutura econômica sob

investigação nesta pesquisa. Já no presente capítulo são feitas análises para

identificar e isolar instituições que apóiam, assistem e atendem não só as

empresas da cadeia produtiva vertical erigida a partir dos empreendimentos de

confecções e de acessórios da ASCOOP, como também aos setores da cadeia

horizontal de setores, formada por relações entre estes empreendimentos da

ASCOOP e os setores que lhe são correlatos. Estas instituições também

apoiariam, assistiriam e atenderiam os demais empreendimentos em torno

destas cadeias produtivas. Os tipos de serviços e bens que seriam oferecidos

pelas instituições às empresas e setores seriam: qualificações especializadas,

tecnologias, informações, capital e infra-estrutura.

Entendeu-se por qualificações especializadas todos os tipos de serviços

prestados com o objetivo de oferecer, formar, e aperfeiçoar recursos humanos

de forma a torná-los mais adequados e eficientes para o funcionamento de

uma determinada indústria (esta, no sentido de negócio). Alguns dos tipos de

instituições que prestariam este tipo de apoio às empresas seriam

universidades, escolas técnicas, empresas de consultoria, empresas que

terceirizam recursos humanos, SENAI e SESC.

Já tecnologia foi entendida como todos os tipos de serviços e bens

oferecidos com o objetivo de alterar, aperfeiçoar e criar processos produtivos e

formas organizacionais corporativas. Os tipos de instituição que prestariam

204

este apoio às empresas seriam centros de pesquisa, universidades, escolas

superiores de design, ongs, empresas de pesquisa e desenvolvimento,

departamentos de pesquisa e desenvolvimento, empresas de software e

empresas de hardware.

Por sua vez, compreenderam-se por informações todos os tipos de

serviços oferecidos com o objetivo de transferir estatísticas, indicadores,

cenários, conjunturas, estruturas, legislação, jurisprudência, status de crédito,

tendências, relatórios e orientações. As modalidades de instituição que

prestariam este tipo de apoio às empresas seriam serviços de extensão das

universidades e dos governos, centros de pesquisas, revistas especializadas,

revistas de moda, banco de dados, sites de busca, serviços de proteção ao

crédito, serviços de assistência e promoção do empreendedorismo, cadernos e

revistas de moda, programas de TV falando de ou lançando moda, filmes

falando de ou lançando moda, escolas de 2º grau, entre outros.

Entendeu-se por capital como todos os tipos de serviços voltados para o

suprimento de recursos financeiros, máquinas e equipamentos, necessários à

abertura, fortalecimento ou recuperação de empreendimentos. Os tipos de

instituição que prestariam esta modalidade de apoio às empresas seriam

bancos comerciais, bancos de crédito popular, bancos de fomento, bancos de

desenvolvimento, agências de desenvolvimento, organizações de micro-

crédito, cooperativas de crédito, programas de extensão universitária,

programas de agências de promoção sócio-econômica, entre outros.

Finalmente, compreendeu-se como infra-estrutura todos os tipos de

serviços voltados para a oferta pública de estradas, rodovias, pontes,

aeroportos, portos, serviços básicos de saúde, serviços de educação básica,

saneamento, água, esgoto, combate à incêndio, polícia, controle de trânsito,

limpeza urbana, segurança nacional, controle e proteção ambiental e proteção

ao consumidor. Os tipos de instituição que prestariam esta modalidade de

apoio às empresas seriam governos municipais, governos estaduais, governo

federal, agências de desenvolvimento, empresas públicas municipais,

empresas públicas estaduais, empresas públicas federais, entre outros.

205

As informações apropriadas para servir de base da determinação de

quais instituições estavam entre aquelas que mais apoiavam as empresas

foram obtidas a partir de pergunta de um questionário respondido pelos

produtores da ASCOOP. Nesta pergunta, estes empreendedores foram

solicitados a indicar as instituições que, na opinião deles, mais ofereciam

“qualificações especializadas”, “tecnologias”, “informações”, “capital” e “infra-

estrutura”. As respostas oferecidas por aqueles empresários foram, de certa

maneira, intrigantes.

A instituição que teve o maior número de indicações de que ofereceria

apoio, assistência e atendimento às empresas e setores foi a “universidade”, no

sentido de escolas de nível superior, que poderiam ser classificadas tanto no

grupo de instituições provedoras de “informações”, como no grupo de

instituições supridoras de “tecnologia”. A freqüência alcançada pela instituição

mais reconhecida foi de 74%, ou seja, quase 8 indicações para cada 10

respostas, o que pode ser considerada como muito alta (ver figura abaixo). O

relativo nível de surpresa deste resultado adveio do fato de que, segundo os

padrões usuais, ocuparia o primeiro lugar da lista de preferência dos

empresários as instituições voltadas para prover apoio financeiro,

principalmente pelo fato dos empreendedores em foco serem muito pequenos

e necessitados, de quase tudo, mas, principalmente de capital.

1826 22

2834

29

18

6

25

0

20

40

Cita

ções

Banco do povo Banco do Cidadão Basa CEF Banco do Brasil Pref. de Belém Gov.Estadual Gov.Federal

Universidade Igrejas Ongs Grande empresa Sebrae Sist Seguridade Fórum Ecosol

Figura 47. Instituições percebidas como sendo de apoio às empresas da ASCOOP Fonte. Pesquisa de campo, 2007.

Aliás, o destaque dado às instituições do tipo “informações” nas

indicações dos produtores não se restringiu ao primeiro lugar. A segunda maior

freqüência das escolhas dos empresários da ASCOOP, com 63%, foi referente

206

às “ongs”, que também podem ser consideradas como instituições da

modalidade de “informações”, desde que se dedicaram, particularmente, a

fazer um trabalho social, educativo e ambiental, buscando elevar o nível de

educação, de conteúdo e de consciência dos produtores, de seus clientes e

fornecedores.

Mesmo a terceira maior freqüência de indicações dos produtores da

ASCOOP não foi referente a uma instituição voltada para dar assistência de

“capital” aos empreendedores populares. Esta colocação foi alcançada pelo

“governo federal”, com 61% das indicações, que foi um nível de

reconhecimento ainda muito alto. Esta instituição foi reconhecida

principalmente pelo seu trabalho com um programa de transferência de renda,

a “bolsa família”, e outro de combate à miséria, o “fome zero”. Apesar de, pela

suas naturezas, não proverem recursos para investimentos pelos produtores,

mas sim recursos para retirar as crianças do trabalho infantil, ajudar as famílias

a não necessitar que seus filhos mendiguem nas ruas, permitindo que as

famílias as coloquem nas escolas e para evitar que brasileiros e brasileiras

sofram o constrangimento de não ter nenhum alimento em suas panelas, estes

programas foram reconhecidos como de apoio aos produtores, o que pode ser

compreensível, se for feita uma abordagem indireta dos seus efeitos.

Foi apenas em quarto lugar que apareceu, pela primeira vez, um nível

de freqüência de indicações relativo a uma instituição provedora de “capital”, no

caso, o Banco do Brasil, que foi lembrado por menos de 6 produtores a cada

10 que se manifestaram, com um total de 57%. Aliás, dentre as 8 instituições

que foram destacadas pelos empreendedores da ASCOOP, apenas duas eram

instituições voltadas para assistência com “capital”, sendo uma o próprio BB e,

a outra, o Banco do Povo, este em sétimo lugar, com freqüência bem menor,

de 39%. Outras instituições de crédito popular, como o Banco do Cidadão, ou

bancos de desenvolvimento, como o Banco da Amazônia, não receberam

qualquer indicação de que teriam sido de qualquer utilidade para os referidos

empresários. Este baixo nível dedicado às instituições de crédito nas

prioridades dos empreendedores da ASCOOP pode refletir dois problemas

207

diametralmente opostos, que infelizmente não foram averiguados pela

pesquisa, visto que a análise destes dados foi feita já na fase final da pesquisa.

Os resultados relativamente baixos obtidos pelas instituições que

ofertam crédito no julgamento feito pelos produtores com respeito às

instituições que lhes apóiam, pode ter ocorrido em função de duas razões

bastante opostas. Por um lado, pode ter ocorrido que os bancos e demais

empreendimentos do ramo não estavam respondendo às necessidades de

capital dos referidos empresários. Neste caso, o sistema monetário nacional

poderia não estar sendo capaz de se adaptar à realidade dos

empreendimentos e/ou trazer o custo do dinheiro para patamares que

pudessem dar a confiança a estes produtores de que valeria a pena tomar

recursos, sem comprometer a sua capacidade de pagamento e mesmo de

funcionamento de suas operações. Mas, ao contrário, poderia ter ocorrido

simplesmente uma menor lembrança das instituições de crédito pelos

produtores da ASCOOP em função de estarem sendo suficientemente e

adequadamente supridos por capital.

O quinto lugar das freqüências das escolhas dos empresários da

ASCOOP, com 54%, foi referente ao Fórum Brasileiro da Economia Solidária

(EcoSol), que também pode ser considerado como uma instituição da

modalidade de “informações”, desde que apoiou os referidos produtores com

um trabalho educativo e ambiental, buscando elevar o nível de educação e de

consciência dos produtores e dos clientes e fornecedores daqueles. Os eixos

de ação deste Fórum, como destacado em sua plataforma, são sete: 1)

Organização Social do Movimento de Economia Solidária; 2) Redes de

Produção, Comercialização e Consumo; 3) Finanças Solidárias; 4) Marco

Legal; 5) Educação; 6) Comunicação; 7) Democratização do Conhecimento e

Tecnologia. Mesmo tendo alcançado apenas a quinta colocação das

indicações, as opiniões qualitativas dos produtores sobre o trabalho deste

fórum foram de muito entusiasmo.

O Fórum representa a estrutura nacional do movimento de economia

solidária no Brasil. Os empreendimentos solidários caracterizam-se pelo

exercício da autogestão na sua organização interna e o fato de serem

208

atividades econômicas supra-familiares. Pode se manifestar, como, por

exemplo, através de: cooperativas, empresas recuperadas de autogestão,

agricultores familiares, bancos comunitários, grupos de trocas solidárias,

cadeias produtivas solidárias, lojas de comércio justo, agências de turismo

solidário, entre outras.

Apesar de não ter tido um resultado ruim, comparado, por exemplo, com

o Banco da Amazônia, o maior banco de desenvolvimento da região, que não

recebeu qualquer indicação, o sétimo lugar do Sebrae também não foi uma

excelente situação, particularmente pela natureza desta organização. O Sebrae

é uma entidade privada e de interesse público, que apóia a instalação e

ampliação dos pequenos negócios e pretende mudar a vida de milhões de

brasileiros através do empreendedorismo. O “desenvolvimento do Brasil

através da geração de emprego e renda pela via do empreendedorismo” seria

a sua missão. Esta organização tem tido o papel de realizar a “extensão

urbana” da promoção de pequenos e médios negócios, mas,

surpreendentemente, não foi das mais lembradas pelos empreendedores da

ASCOOP entre aquelas instituições que eles consideravam como apoiando o

desenvolvimento dos seus negócios, apesar de todos os membros desta

associação se adequar perfeitamente ao perfil de “cliente típico” do Sebrae.

Em oitavo lugar entre as freqüências das escolhas dos empresários da

ASCOOP, com 13%, foi apontado o Sistema de Seguridade Social do Governo

Federal. Outras instituições estavam na lista para as indicações dos produtores

da ASCOOP, mas nunca foram indicadas, como o Banco da Amazônia, a

Igreja, a CEF, o Banco do Cidadão, a Prefeitura Municipal de Belém e

“Grandes Empresas”. O fato de não terem sido apontadas certamente reflete

que, comparativamente às instituições lembradas, estavam tendo uma atuação

de menor repercussão ou utilidade para os produtores, ou, pelo menos, a

utilidade de suas ações não estavam sendo percebidas pelos produtores. Mas,

isto não quer dizer que não estivessem fazendo absolutamente nada, ou que

não estivessem tendo nenhuma influência sobre o desenvolvimento da cadeia

vertical de empresas e da cadeia horizontal de setores e dos demais agentes

atuando em torno destas formações. A todas estas instituições ainda devem

209

ser adicionadas outras, que, nas observações de campo, se evidenciaram

como apoiadoras, mesmo que algumas vezes potenciais, das empresas das

formações estudadas, entre as quais se destacaram as seguintes: Cartão Visa,

DIEESE, IBGE, BNDES e ADA.

Então, revela-se neste capítulo que inúmeras instituições, que oferecem

apoio às empresas e setores, estão integradas em um conjunto no qual se

destacam a cadeia vertical de empresas (a partir da do conjunto de empresas

da ASCOOP) e a cadeia horizontal de setores (a partir também destes

empreendimentos da ASCOOP), acrescentando novas evidências de um

emergente aglomerado da moda, em Belém, no qual estaria inserida a

produção de confecções e de acessórios da ASCOOP, como pode ser

visualizado no fluxograma a seguir.

210

Figura X. Cadeia vertical das empresas têxteis e de acessórios da ASCOOP e cadeia horizontal de setores articulada a estas empresas e instituições de apoio a estas formações. Fonte. Pesquisa de campo, 2007. Observação. Números explicam razão de serem correlatos: 1. clientes comuns; 2. produtos complementares; 3. fornecedores e tecnologias semelhantes; 4. outras relações com fornecedores; 5. publicidade e propaganda em comum.

BANCO DO BRASIL

CAIXA

EcoSol

UNIVERSIDADE

ONGs

Governo Federal

Governo Estadual

Banco do Cidadão

Banco Amazônia

Grande Empresa

Banco do Povo

Sist. de Seguridade

Prefeit. de Belém

Cartões VISA

DIEESE

IBGE

BNDES

ADA

EVENTO

S

DE MODA

MERCEARIAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE PRODUTOS

DE ARMARINHO

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE TECIDOS PARA ROUPAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE BORRACHA

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS

SEMELHANTES DE CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES GALERIA

SHOPPINGS

CONFECÇÃO E CONCERTO DE SAPATOS 1, 2, 3, 5

MANIFESTAÇÕES

CULTURAIS 1, 2, 5

LAVAGEM DE

ROUPA 1,2

CADERNOS E NOTÍCIAS DE MODA

1, 2

SHOWS DE

MÚSICA 1, 2

ARTESANATO 1, 2, 3, 5

SALÃO DE

BELEZA 1, 2, 5

ESCOLA 1, 2

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE REFEIÇÕES

ALTA COSTUR

A

211

O fluxograma acima já dá bastante conta da complexidade da estrutura

de empresas e instituições na qual estão inseridos os empreendimentos da

ASCOOP, que esta sendo revelada por esta pesquisa, composição que vem foi

sendo revelada por esta análise.

212

9. OS ÓRGÃOS REPRESENTATIVOS DOS EMPREENDEDORES

O capítulo anterior revelou que inúmeras instituições, que oferecem apoio

às empresas e setores, estão integradas em um conjunto no qual se destacam a

cadeia vertical de empresas (a partir da do conjunto de empresas da ASCOOP)

e a cadeia horizontal de setores (a partir também destes empreendimentos da

ASCOOP), acrescentando novas evidências de um emergente aglomerado da

moda, em Belém, no qual estaria inserida a produção de confecções e de

acessórios da ASCOOP. Assim, após terem sido isoladas as empresas, os

setores e as instituições de apoio aos empreendimentos da ASCOOP, foi dada

seqüência, neste capítulo, à investigação visando identificar novos possíveis

elementos do referido aglomerado, mais especificamente os órgãos coletivos

envolvendo os participantes das empresas destas concentrações.

A principal destas organizações é a Cooperativa de Empreendedores

Populares e Solidários de Confecção e Acessórios do Pará (ASCOOP) ainda

está em processo de legalização, mas, que, informalmente, foi constituída em

2005. A ASCOOP é o produto da organização econômica de empreendedoras e

empreendedores de vários bairros de Belém, que no período de 2000 a 2003

participaram das iniciativas do Banco do Povo de Belém, programa de

microcrédito da Prefeitura da capital paraense. Naquele momento, a

administração municipal estava implantando uma abordagem de ação que

articulava o crédito às iniciativas de formação e de organização dos

empreendedores financiados, através de um processo de acompanhamento

integral do desenvolvimento do empreendimento.

O Banco do Povo nasceu, em Belém, como um órgão de fomento para

o desenvolvimento da economia popular da Prefeitura Municipal de Belém,

comandada pelo Prefeito Edimilson Rodrigues e pela Vice-Prefeito Ana Júlia

Carepa, eleitos em 1996, representando o Partido dos Trabalhadores (PT). Este

proposta foi implantada a partir de um programa de governo denominado de

213

Governo do Povo, que foi a diretriz maior da gestão de Edimilson, por dois

mandatos. Mais tarde, em 2006, Ana Júlia Carepa foi eleita governadora do

Estado do Pará, (ARROYO, 2004).

“Banco do Povo” era o nome de fantasia criado para a figura jurídica

Fundo de Solidariedade para Geração de Emprego e Renda Ver-O-Sol. Este

nome foi inspirado na experiência na experiência do Grammen Bank, de

Bangladesh (YUNUS, 2001). O objeto do trabalho era o microcrédito, tendo

como principais clientes os empreendedores da economia popular: confecção,

alimentação, abastecimento (mercearias), movelaria, artesanato, serviços e o

comércio ambulante de industrializados e importados. Um conjunto de atividades

que envolvem, segundo estimativas do IBGE, pelo menos 36% da PEA

(População Economicamente Ativa) de Belém, se considerarmos como indicador

a percentagem atribuída pelo DIEESE apenas à “economia informal”.

Com a precariedade das estatísticas dedicadas a este segmento e a

decorrente falta de visibilidade, ocorria uma grave ausência de políticas públicas

que pudessem potencializar o potencial da economia popular. Tal fato era

agravado pelo preconceito que fazia com que o segmento fosse visto somente

como um problema social e nunca como uma solução econômica, também.

As inovações estratégicas implantadas pelo Banco do Povo, no período,

oportunizaram o surgimento do Fórum de Empreendedores Populares de Belém,

dos Fóruns de Desenvolvimento Local Solidário nos bairros do município, do

Conselho de Controle Social do Banco do Povo e dos Centros de Apoio à

Economia Popular Solidária (CAEPS). Todos os instrumentos que colaboraram

para o fortalecimento da Economia Popular e a efetivação, em seu seio, da

perspectiva da Economia Solidária (Arroyo, 2004). Destes esforços surgiu a

ASCAPA (Associação dos Empreendedores Populares e Solidários de

Confecção e Acessórios do Pará), experiência que mais tarde geraria a

ASCOOP.

214

Por sua abordagem inovadora, o Banco do Povo de Belém foi

comunicado, em outubro de 2001, que, de um grupo de 757 casos, havia sido

selecionado como um dos 20 agraciados pelo Prêmio Gestão e Cidadania

promovido pela Fundação Getúlio Vargas e a Ford Foundation, em parceria com

o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

9.1. O FÓRUM DE EMPREENDEDORES POPULARES E SOLIDÁRIOS

DO PARÁ

Partindo da idéia de que “o sucesso do negócio popular depende do

maior grau de participação dos empreendedores e empreendedoras na

comunidade/sociedade”, é que o Banco do Povo de Belém adotou a estratégia

de fortalecer a organização dos Fóruns de Desenvolvimento Local Solidário e do

Fórum de Empreendedores Populares de Belém, entre outras iniciativas

(ARROYO, 2004).

O objetivo era fortalecer o segmento e sua atuação junto à comunidade.

Trabalhando a formação dos empreendedores, tanto para a compreensão da

situação da economia local, como para enfrentar os desafios das organizações

populares e da melhoraria das condições de vida da população.

Antes, em 2000, na sede do Sindicato dos Bancários, realizou-se o I

Encontro de Empreendedores Populares, promovido pelo Banco do Povo de

Belém. Deste encontro, surgiram grupos de trabalhos que organizavam um

grupo de participantes de cerca de 100 empreendedores, por ramo de atividade.

Os dois maiores grupos foram do setor de alimentação e de confecção.

Em 2002, entre reuniões e grandes plenárias, foram mobilizados em

torno de 3 mil empreendedores populares. A principal conseqüência deste

processo foi a constituição e/ou consolidação de 13 Fóruns de Desenvolvimento

Local Solidário, como um processo de acumulação de forças ao longo do

processo de preparação do II Encontro do Fórum dos Empreendedores

Populares de Belém. Tal encontro foi realizado em julho de 2002, com a

215

presença de mais de 1.000 empreendedores, estabelecendo as novas bandeiras

de luta, elegendo sua nova coordenação e apoiando duas características do

movimento: autonomia e a complementaridade entre eles.

Figura “X”. O autor da dissertação entre Joana Mota, empreendedora membro do

Conselho Nacional de Economia Solidária,, e Seu Miguel, presidente da ASCOOP..

Surgiu assim um novo ator no cenário social de Belém – o

empreendedor popular – com uma identidade capaz de reunir e articular

diversos segmentos econômicos, como feirantes, autônomos, merceeiros,

costureiras e camelôs; que passaram a encontrar nesta denominação uma maior

dignidade e auto-estima, saindo da obscuridade das abordagens pejorativas

para se assumir como sujeito político, passando a participar ativamente de

fóruns e processos sócio-políticos na interlocução com o governo e com outros

segmentos sociais. No campo político-organizativo, os empreendedores

populares começam a constituir um movimento unificado, apresentando uma

pauta retirada da discussão entre os vários segmentos específicos que os

compunha e a constituir uma base mobilizada para pressionar os poderes

constituídos, levantando questões sobre a tributação, a legislação trabalhista e

previdenciária, entre outras.

Por outro lado, trabalham também na possibilidade de estabelecer uma

nova relação entre quem produz e quem consome, diretamente, sem

216

participação do Estado. Este esforço, no entanto, requer que se fortaleçam

novos princípios e paradigmas para as relações econômicas, particularmente as

de troca (de mercadorias, valores e conhecimentos), acrescentando, desse

modo, novos significados para a moeda e tornando o mercado mais permeado

dos vetores da cooperação.

Motivados por essa possibilidade, o conjunto dos atores sociais de

Belém vinculados ao Fórum Paraense de Economia Solidária, começaram a

aceitar o desafio de estabelecer uma nova pauta dentro da luta cotidiana do

movimento popular, buscando avançar as estratégias para a dimensão

“econômica” no desafio do Desenvolvimento Humano. A partir da constituição

dos Fóruns e de sua interação com instituições acadêmicas, empresariais e

políticas, inicia uma significativa rede de relações sociais, econômicas, políticas

e culturais, Deste conjunto de relações estabelecidas, foi possível produzir

algumas experiências inovadoras de forte simbolismo, tais como:

Atacadão Solidário: Projeto que estimulou, em especial as organizações

dos merceeiros (mercearias residenciais, taberna, mercadinho, mini-mercados

etc.) para as compras coletivas de seus produtos, quer seja nos mercados locais

quer seja em outros mercados. Projeto também apoiado pela ADS (Agência de

Desenvolvimento Solidário da CUT).

Moda Popular: Após a organização da Associação dos Empreendedores

de Confecção e Acessórios do Estado do Pará – ASCAPA, criou-se uma nova

situação em que os empreendedores deste segmento conseguiram avançar

para um novo patamar de percepção sobre os mecanismos que inibem sua

evolução, criando desse modo novas formas de se relacionar com o mercado e

a sociedade, como, por exemplo, a criação de uma grife (100% Amazônia) e

suas linhas, ou em outras palavras, saindo da produção de roupas para a

produção de moda, ao incorporar uma perspectiva estratégica mercadológica.

Catálogo de Negócios Serviços e Produtos dos Empreendedores

Populares: Instrumento de divulgação das atividades empreendedoras dos

217

empreendimentos solidários, experimentado em 2001 com sucesso, numa

parceria entre o Banco do Povo e o Fórum dos Empreendedores Populares de

Belém, tornando-se, assim, num dos primeiros meios de divulgação alternativa

da Economia Popular, além de incentivar o consumo no próprio bairro. Neste

processo a ASCAPA transformou-se na ASCOOP.

Cartão de Crédito dos Empreendedores Populares: Baseado na

experiência da comunidade do Conjunto Palmeira, na periferia de Fortaleza, que

constituiu um banco popular, uma moeda chamada “Tupi” e um cartão de crédito

popular, o Palma Card, como instrumentos de apoio à comunidade local e de

fortalecimento dos negócios dos Empreendedores Populares do Conjunto. A

Associação dos Empreendedores Populares do Complexo de São Braz, em

parceria com o Banco do Povo de Belém e a Financeira Visa, estabeleceram

uma parceria inédita, em 2002, para atender feirantes da Feira de São Braz,

com cartões da bandeira Visa. A inspiração de Fortaleza e o sucesso do uso do

cartão em São Braz, estimulou os empreendedores populares de Mosqueiro, a

criarem o Sol Card, totalmente mantido e gerenciado pelos empreendedores

organizados no Fórum daquele distrito. Diferentemente das outras experiências,

esta durou pouco mais de um ano, encerrando meses após a troca no comando

político da Prefeitura.

Descentralização do crédito popular e o Aval Comunitário: A partir da

organização e consolidação dos Fóruns de Desenvolvimento Local Solidário

inicia-se um processo de descentralização do Crédito Popular. O Banco do Povo

passou a aceitar o Aval Comunitário, modalidade de aval em que a organização

dos empreendedores, seja associação, cooperativa, grupo solidário ou outra,

aprova em assembléia a indicação dos candidatos ao crédito para o banco,

dando assim um aval moral que compromete todo o grupo com o sucesso do

empreendimento para que este, quitando o financiamento, possa abrir a

possibilidades de novos tomadores.

218

No entanto, foi uma grande lição entender-se que essa modalidade de

aval requer, num primeiro estágio, que a comunidade estabeleça os critérios de

transparência (os critérios técnicos eram estabelecidos em discussões conjuntas

entre Banco e comunidade) onde a tônica seja o compromisso e a confiança de

todos os envolvidos, levando assim à prática da solidariedade econômica, o que

nem sempre ocorreu. Mesmo assim, vivenciou-se a possibilidade de novos

parâmetros de balizamento para a aprovação de empréstimos financeiros, com

base em novas necessidades, valores e princípios, que não os inspirados nos

Acordos de Basiléia.(1988)

Controle Social, pela sociedade civil, sobre o Banco do Povo: Esta idéia

refletiu concretamente a necessidade de democratizar o crédito público sob a

premissa de “quanto mais próximo estiver o parceiro/tomador do Banco do Povo,

melhor será a relação de parceria” e reciprocidade. Para tanto, a materialização

dessa conquista foi a criação e o funcionamento do Conselho Popular de

Controle Social do Banco do Povo, composto por representantes escolhidos

pelos Fóruns de Desenvolvimento Local. Outra experiência que não resistiu a

mudança eleitoral (ARROYO, 2004).

Centros de Apoio à Economia Popular Solidária, constituídos por

professores e alunos de graduação universitária em Ciências Econômicas,

Ciências Sociais, Ciências Contábeis, Ciências Jurídicas, Administração, Serviço

Social, Comunicação, Psicologia e Pedagogia, que como bolsistas formaram

equipes interdisciplinares de extensão universitária em apoio a cada Fórum

Local.

Sintetizando o trabalho realizado naquele período, desenvolveu-se uma

visão integradora da ação do Banco do Povo em torno de um tripé estratégico:

Formação-Organização-Crédito (FOC), adotado como fundamento metodológico

da prática adotada de Crédito Popular Assistido (Arroyo, 2004). Este trabalho

veio a avançar em áreas até então impensáveis, como a ACP (Associação

219

Comercial do Pará), tradicional entidade empresarial que teve a sensibilidade de

criar uma Câmara de Economia Solidária, em 2005.

9.2. O DESAPARECIMENTO DO BANCO DO POVO

Com a vitória de Duciomar Costa, nas eleições para prefeito de Belém,

em 2004, o Banco do Povo, enquanto tal, desapareceu, passando o Fundo Ver-

o-Sol a utilizar como nome de fantasia o seu próprio nome formal. A mudança no

Banco do Povo não foi só de nome, pois, enquanto a gestão petista

disponibilizava seus serviços para o conjunto da população de empreendedores,

a nova gestão privilegiava grupos de empreendedores específicos. Outro

aspecto é que passou a assumir políticas de “geração de emprego e renda”

tradicionais, trabalhando capacitação profissional sem interação obrigatória com

a política de microcrédito.

No entanto, esta nova situação revelou uma importante característica da

metodologia anterior. Mesmo sem a manutenção da marca, Banco do Povo, o

conjunto dos empreendedores que participaram daquela política pública no

período de 2000 a 2003, ainda o guardam como referência de apoio aos

empreendedores da economia popular e solidária. Além disso, mesmo com a

quebra da continuidade das linhas de crédito que apoiavam os

empreendimentos coletivos que serviam de aglutinadores de empreendedores

populares para que iniciassem uma vivência produtiva dentro dos parâmetros da

Economia Solidária, estes prosseguiram. Demonstrando a correção em lhes

conferir autonomia para que não se tornassem dependentes de governos e se

firmassem como empreendimentos, de fato.

No entanto, sem o apoio institucional dado até 2003 pelo Banco do Povo,

os empreendimentos menores sofreram descontinuidade e houve certa

dispersão. Momento em que se processou uma depuração entre os

220

empreendedores e técnicos de apoio, conferindo maior nitidez aos perfis que, de

fato, internalizaram os princípios e estratégias da Economia Solidária. A

ASCAPA foi um dos empreendimentos que resistiu e sobreviveu, mesmo

diminuindo suas atividades, tendo avançado para o formato de cooperativa,

como ASCOOP, e se articulado com a rede Justa Trama.

A sede da ASCOOP, em Belém, no bairro da Marambaia, teve suas

instalações razoavelmente melhoradas (ver figura abaixo), iniciando-se um

processo de transformação de sua estrutura de madeira para alvenaria. No

entanto, apesar das melhorias, as condições de trabalho no prédio ainda são

bastante precárias.

Figura “X”: Sede da ASCOOP em 2005 e, depois da reforma, em 2007

9.3. AVANÇOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

O acúmulo do trabalho político dos empreendedores populares, no Pará

e no Brasil, com a eleição de LULA em 2002, contribuiu fortemente para o

surgimento da SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária), como um

coadjuvante de alto nível do Ministério do Trabalho e Emprego. Vale registrar

que o mérito do trabalho desenvolvido no Banco do Povo de Belém e sua

decisiva influência para a criação da ABCRED (Associação Brasileira de

221

Entidades de Microcrédito e Crédito Popular Solidário) fez com que o Pará

pudesse indicar um dos coordenadores da Secretaria, já em sua primeira

formação.

Figura 48. Delegados da Amazônia no I Encontro Nacional de

Empreendedores Populares: Distrito Federal, 2004.

Em seguida, a ADA (Agência de Desenvolvimento da Amazônia)

prestou importante apoio à economia solidária na região, no período de 2003 a

2005, propiciando a criação do site Rede Amazônia Solidária para interação e

comercialização eletrônica regional. No mesmo período a FAP (Faculdade do

Pará) se somou a UNITRABALHO e diversas outras iniciativas de movimentos e

ong’s, realizando o primeiro MBA em Economia Solidária e Microcrédito da

região e instituindo o projeto de extensão “Fortalecendo a Economia Solidária”,

projeto que propiciou o relançamento da 100% Amazônia pela ASCOOP na

Amazônia Fashion Week. Neste mesmo período, a FBB (Fundação Banco do

222

Brasil), através de edital da SENAES, doou modernos equipamentos industriais

de confecção para incrementar a produção da ASCOOP.

Fig 49 Desfile coleção Justa Trama no Amazônia Fashion Week 2007

Assim, são reveladas, neste capítulo, inúmeras instituições que

representam órgãos coletivos das empresas das formações verticais e

horizontais organizadas em torno dos produtores de confecções e acessórios da

ASCOOP. Estas revelações são novas evidências que vêm somar na

investigação de identificação de um emergente aglomerado da moda, em Belém,

no qual estaria inserida a produção de confecções e de acessórios desta

associação, como pode ser visualizado no fluxograma a seguir.

223

Figura 50. Cadeia vertical das empresas têxteis e de acessórios da ASCOOP e cadeia horizontal de setores articulada a estas empresas, com instituições de apoio a estas formações e órgãos coletivos das empresas. e órgãos coletivos. Fonte. Pesquisa de campo, 2007. Observação. Números explicam razão de serem correlatos: 1. clientes comuns; 2. produtos complementares; 3. fornecedores e tecnologias semelhantes; 4. outras relações com fornecedores; 5. publicidade e propaganda em comum.

Sec. Nacion. de Economia Solidária

Assoc. Bras. de Entidades de Micro Crédito Popular Solidário

Centro de Apoio à Eco. Pop. Solid.

Associação Comercial do Pará

Fórum de Empreen. Pop. de Belém

Fórum de Desenv. Local Solidário

Agência de Des. Solidário da CUT

Partido dos Trabalhadores

Associação dos Empreendedores Populares do Complexo de S. Braz

ASCOOP

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE PRODUTOS

DE ARMARINHO

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE TECIDOS PARA ROUPAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE BORRACHA

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS

SEMELHANTES DE CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES GALERIA

SHOPPINGS

CONFECÇÃO E

CONCERTO DE

EVENTOS DE MODA 1, 2, 5

MANIFESTAÇÕES

CULTURAIS 1, 2, 5

LAVAGEM DE

ROUPA 1,2

CADERNO

S E

NOTÍCIA

MERCEARIAS

SHOWS DE

MÚSICA 1, 2

ARTESANATO

1, 2, 3, 5

SALÃO DE

BELEZA 1, 2, 5

ESCOLA 1, 2

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE REFEIÇÕES

BANCO DO BRASIL

CAIXA

EcoSol

UNIVERSIDADE

ONGs

Governo Federal

Governo Estadual

Banco do Cidadão

Banco Amazônia

Grande Empresa

Banco do Povo

Sist. de Seguridade

Prefeit. de Belém

Cartão VISA

DIEESE

IBGE

BNDES

ADA

ALTA COSTURA

1,2

224

As empresas das cadeias verticais e horizontais em torno da ASCOOP

apresentaram órgãos coletivos representativos bastante dinâmicos, dentre os

quais se destacaram a ASCOOP, a ASCAPA, o Fórum de Desenvolvimento

Local Solidário, o Fórum de Empreendimentos Populares de Belém, a

Associação Comercial do Pará, Centro de Apoio à Economia Popular Solidária

e a Associação dos Empreendedores Populares do Complexo de São Brás,

entre outros. Tal revelação agrega ainda mais à complexidade da estrutura de

empresas e instituições na qual estão inseridos os empreendimentos da

ASCOOP.

10. ÓRGÃOS REGULADORES DAS ATIVIDADES ANALISADAS

225

O grande número e o dinamismo dos órgãos coletivos, entre os quais se

destacam a ASCOOP, o Fórum de Desenvolvimento Local Solidário, e a

Associação Comercial do Pará, representativos das empresas das formações

estudadas, foram aspectos revelados no capítulo anterior, adicionando ainda

maiores evidências à caracterização de um emergente aglomerado da moda,

em Belém, onde estariam inseridos os empreendimentos da ASCOOP. No

presente capítulo, foi dado um novo passo que deu seqüência à investigação

de novos prováveis componentes do aludido aglomerado, o que foi feito

através da busca de identificação de agências governamentais e outros órgãos

reguladores que exerciam significativa influência sobre os participantes das

aglomerações estudadas nesta pesquisa.

Ao serem indagados quais instituições governamentais regulariam com

mais intensidade suas atividades, os produtores da ASCOOP entenderam que,

na maioria das vezes, não existe um aspecto ou pressão de fiscalização ou

regulamentação específica que seja dominante. Na prática, estes empresários

sofreriam a ação de todos os tipos de regulação, como no caso da ação dos

fiscais da Secretaria Municipal de Saúde, do PROCON, da Delegacia do Meio

Ambiente do Pará, do Ministério do Trabalho e da Justiça do Trabalho. No

entanto, ainda na órbita de regulação destas empresas estão o Juizado de

Pequenas Causas, o INMETRO, os Bombeiros, a Jucepa, a Secon (Secretaria

Municipal de Economia), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a

Delegacia de Crimes contra a Economia Popular.

A Secretaria Municipal da Saúde, gestora do Sistema Único de Saúde

no Município, é responsável pela formulação e implantação de políticas,

programas e projetos que visem a promover, proteger e recuperar a saúde da

população. À Secretaria Municipal de Saúde cabe organizar e coordenar sua

equipe técnica e segmentos com o auxílio do Conselho Municipal de Saúde. A

Divisão de Vigilância Sanitária de Engenharia, que fiscaliza o licenciamento de

estabelecimentos comerciais, industriais, de ensino, de saúde, de hospedagem

e similares, de recreação, de prestação de serviços, entre outros. No caso dos

produtores da ASCOOP, a atuação desta Secretaria tem como principal

226

objetivo investigar infrações relativas à prevenção contra o desenvolvimento do

mosquito da dengue, particularmente no caso a existência de depósitos de

água parada, sem a devida cobertura.

Por sua vez, PROCON é a sigla que se tornou usual para designar os

órgãos de defesa do consumidor, sejam municipais ou estaduais. Cada órgão

desses integra, como se lê no Código de Defesa do Consumidor (CDC), o

chamado Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), como vê no

CDC e em sua regulamentação, o Decreto Federal nº 2181/97. O PROCON,

então, é o local onde o consumidor tem apoio tanto informativo para efetuar um

melhor consumo, quanto coibitivo, quando, por qualquer forma, tiver seus

direitos violados. O PROCON, no caso dos produtores da ASCOOP, tanto

serve para fiscalizá-los, como para protegê-los.

A questão relativa às reclamações dos consumidores contra os serviços

e bens prestados por pequenos empreendimentos e mesmo artesões não é um

assunto novo, nem de menor importância. Por exemplo, em 1997, as

reclamações contra as fabricas de móveis foram o primeiro lugar na lista das

queixas no PROCON de São Paulo, com aproximadamente 7.000 processos.

Uma das justificativas dadas para que esta indústria tivesse sido a campeã no

PROCON daquele Estado, no referido ano, era de que entre as mais de 13.000

fábricas que compunham este setor, naquele Estado, 60% eram micro e

pequenas empresas. Segundo Nestor Bergamo, presidente da Abimóvel, a

associação que reúne os produtores de móveis do Brasil, "Muitos fabricantes

não têm conhecimento tecnológico e usam material inadequado" (REVISTA

VEJA, 2007).

As reclamações no PROCON são sempre menores quando são tomadas

iniciativas como a documentação de toda compra ou contratação de serviços.

Para isto devem ser exigidos os seguintes documentos: nota fiscal (quando

couber) ou um contrato contendo pedido, garantias, instruções, etc. Ademais,

os pagamentos devem ter recibos serem pagos em cheques nominais,

providencias que elevam o número de soluções amigáveis entre o empresário

e o consumidor, sem necessidade de recorrer ao PROCON (GENTEPRAIAS,

227

2007). Por outro lado, os próprios empresários recorreram ao PROCON,

principalmente em função de questões contra fornecedores.

No entanto, no caso específico do setor de confecções e acessórios da

ASCOOP, não constou, nem por parte das informações dos produtores, nem

de outras fontes, de que as reclamações teriam a grandeza da freqüência com

que o público consumidor reclama contra os fabricantes de móveis. Em geral,

estas reclamações ocorreram em níveis dos mais baixos, sendo que a maioria

das reclamações dos consumidores aos trabalhos destes produtores foi

resolvida diretamente entre as partes, através de ações de pós-venda.

A Delegacia Estadual de Meio Ambiente – DEMA - existe para investigar

e apurar os crimes e as contravenções praticadas no território paraense contra

a fauna, a flora e o meio ambiente de modo geral, na esfera de sua

competência, procedendo a todos os atos processuais previstos na legislação

em vigor. Esta Delegacia também utiliza cadastros atualizados das empresas e

firmas que explorem quaisquer serviços sujeitos à fiscalização da DEMA, bem

como fichários e prontuários de crimes e contravenções perpetrados contra o

meio ambiente.

As poucas ações movidas por agentes da DEMA em relação aos

produtores foram referentes à questão dos níveis de poluição sonora,

particularmente devido ao trabalho noturno, após as 22 horas. Em geral, a

atividade de confecções, na sua fase de fabricação de roupas, não apresenta

outros problemas de ordem ambiental, a não ser o desperdício de aparas e a

falta de coleta seletiva do lixo gerado pela produção.

O Ministério do Trabalho verifica o cumprimento, por parte das

empresas, da legislação de proteção ao trabalhador, com o objetivo de

combater a informalidade no mercado de trabalho e garantir a observância da

legislação trabalhista. No caso dos produtores a ação deste Ministério tem sido

muito mais de realização das visitas regulares para verificação do cumprimento

da legislação.

228

Por sua vez, a Justiça do Trabalho tem o papel de julgar todos os

conflitos individuais e coletivos resultantes da relação de trabalho, tais como

ações que envolvam litígios entre trabalhadores e empregadores, servidores

públicos e a administração pública, questões intra e intersindicais, direito de

greve, acidentes de trabalho, indenização por dano moral, crimes contra a

organização do trabalho e outros. A principal ação desta Justiça em relação

aos empresários foi de julgar as questões trabalhistas originadas em função de

conflitos entre os produtores e seus empregados e ex-empregados. Em relação

aos conflitos trabalhistas há de ser considerado a muito complexa e louvável

legislação do trabalho brasileira, que, no entanto, ainda tem dificuldades de

adaptar-se à existência de diferentes níveis de desenvolvimento regional e

enorme diferença entre a organização e estruturação das empresas.

Outro órgão que tem importante papel de regulação da produção dos

micros empresários da ASCOOP é a Secretaria Municipal de Economia de

Belém (SECON). Esta Secretaria busca fortalecer e desenvolver a economia

deste município, através de ações e projetos de apoio e fomento à produção e

à geração de emprego e renda à população. Também controla as atividades do

poder público, voltadas para a economia do município e administra o sistema

de abastecimento de feiras, mercados e portos, inclusive do licenciamento e

controle do comércio em vias e logradouros públicos, da propaganda comercial

em ambientes externos. Foi precisamente no âmbito do licenciamento e do

controle das feiras, dos mercados, dos portos e do comércio em vias públicas,

inclusive do artesanato, que a SECON teve a maior forte influência nas

atividades dos produtores da ASCOOP. A fiscalização exercida por aquela

Secretaria exigia um melhor preparo e maior organização dos distribuidores

dos produtos da ASCOOP que usavam a via pública para comercializá-los.

Desta maneira, foram identificadas, neste capítulo, inúmeras agências

governamentais e outros órgãos reguladores que exerciam significativa

influência sobre os participantes das aglomerações estudadas nesta pesquisa,

entre os quais se destacaram a Secretaria Municipal de Saúde, o PROCON, a

Delegacia do Meio Ambiente do Pará, o Ministério do Trabalho, a Justiça do

Trabalho e a Secretaria Municipal de Economia. Estes organismos reguladores

229

e fiscalizadores estão integrados ao conjunto no qual se destacam a cadeia

vertical de empresas (a partir da do conjunto de empresas da ASCOOP) a

cadeia horizontal de setores (a partir também destes empreendimentos da

ASCOOP), as instituições de apoio às empresas destas formações e aos

órgãos coletivos das mesmas empresas para a formação de um grande

número de evidências da existência de um emergente aglomerado da moda,

em Belém, no qual estaria inserida a produção de confecções e de acessórios

da ASCOOP, como pode ser visualizado no fluxograma a seguir.

Figura51 . Cadeia vertical das empresas têxteis e de acessórios da ASCOOP e cadeia horizontal de setores articulada a estas empresas, com instituições de apoio a estas formações, órgãos coletivos das empresas e órgãos de regulação.. Fonte. Pesquisa de campo, 2007. Observação. Números explicam razão de serem correlatos: 1. clientes comuns; 2. produtos complementares; 3. fornecedores e tecnologias semelhantes; 4. outras relações com fornecedores; 5. publicidade e propaganda em comum.

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE PRODUTOS

DE ARMARINHO

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE TECIDOS PARA ROUPAS

EMPRESAS DO COMÉRCIO DE MÁQUINAS

E EQUIPAMENTOS

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE BORRACHA

CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS

SEMELHANTES DE CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS

PEQUENOS LOJISTAS

VIZINHOS

ENCOMENDAS FEIRANTES GALERIA

SHOPPINGS

CONFECÇÃO E

CONCERTO DE

EVENTOS DE MODA 1, 2, 5

MANIFESTAÇÕES

CULTURAIS 1, 2, 5

LAVAGEM DE

ROUPA 1,2

CADERNOS E

NOTÍCIA

MERCEARIAS

SHOWS DE

MÚSICA 1, 2

ARTESANATO

1, 2, 3, 5

SALÃO DE

BELEZA 1, 2, 5

ESCOLA 1, 2

EMPRESAS DO COMÉRCIO

DE REFEIÇÕES

BANCO DO BRASIL

CAIXA

EcoSol

UNIVERSIDADE

ONGs

Governo Federal

Governo Estadual

Banco do Cidadão

Banco Amazônia

Grande Empresa

Banco do Povo

Sist. de Seguridade

Prefeit. de Belém

Cartões VISA

DIEESE

IBGE

BNDES

ADA

ALTA COSTUR

A

Sec. Nacion. de Economia Solidária

Assoc. Bras. de Entidades de Micro Crédito Popular Solidário

Centro de Apoio à Eco. Pop. Solid.

Associação Comercial do Pará

Fórum de Empreen. Pop. de Belém

Fórum de Desenv. Local Solidário

Agência de Des. Solidário da CUT

Partido dos Trabalhadores

Associação dos Empreendedores Populares do Complexo de S. Braz

ASCOOP ASCAPA

MINISTÉRIO DO TRABALHO

PROCON

JUIZADO DE PEQ. CAUSAS

JUSTIÇA DO TRABALHO

INMET RO

SECRETARIA DE ECONOMIA

DELEG. DE MEIO AMBIENTE

JUCEPA

231

A clara e marcante presença de agências e órgãos reguladores

governamentais voltados para controlar e aperfeiçoar a ação das empresas das

cadeias verticais e horizontais erigidas em torno dos empreendimentos da

ASCOOP, entre eles o PROCON, a Justiça de Trabalho, o Ministério de

Trabalho, a Secretaria de Economia e a Delegacia do Meio Ambiente, agrega

ainda mais à complexidade da estrutura de empresas e instituições na qual

estão inseridos os empreendimentos da ASCOOP. Esta estrutura, segundo as

evidências reveladas nesta pesquisa, pareceu demonstrar a existência de um

emergente aglomerado da moda em Belém.

232

11. A INSERÇÃO DAS EMPRESAS DA ASCOOP NO AGLOMERADO DA

MODA

A clara e marcante presença de agências e órgãos reguladores

governamentais voltados para controlar e aperfeiçoar a ação das empresas das

cadeias verticais e horizontais em torno dos empreendimentos da ASCOOP só

fez adicionar à complexidade da estrutura formada por empresas e instituições,

na qual estão inseridas as empresas desta associação. A demonstração da

existência destes órgãos se deu após uma série de outras revelações fruto de

análise sistemática que seguiu o rigoroso caminho metodológico de Porter,

permitindo, pouco a pouco, capítulo por capítulo, somar evidências da existência

de um emergente aglomerado da moda em Belém, onde estariam inseridos os

empreendimentos da ASCOOP.

Em primeiro lugar, os dados disponibilizados pela pesquisa

demonstraram, com muita ênfase, que os empreendimentos têxteis e de

acessórios da ASCOOP apresentavam indícios de forte semelhança entre eles

mesmos. Tal reconhecimento permitiu afirmar, com bastante realismo, que

aquela formação de micro negócios se enquadrava com nitidez à categoria

“concentração de empresas semelhantes”, que representa um dos dois

possíveis tipos de “pontos de partida” para a identificação de um “aglomerado”,

sendo o outro uma “grande empresa”.

Em segundo lugar, os dados levantados por esta investigação permitiram

revelar uma cadeia produtiva vertical à montante dos empreendimentos da

ASCOOP e outra cadeia à jusante das mesmas empresas. A cadeia produtiva à

montante não apresentou alta profundidade, por carecer da instalação, em

Belém, de indústrias produtoras de insumos industriais para a atividade de

confecções e de produção de acessórios. No entanto, esta mesma cadeia

produtiva revelou-se bastante intensa, desde que, entre outros elementos, era

composta por um numeroso e diverso grupo de empresas comerciais de

abastecimento das indústrias de confecções e de acessórios.

233

Por sua vez, a cadeia produtiva à jusante revelada caracterizou-se não

apenas por ser bem mais profunda, ao levar a uma maior agregação de valor,

localmente, como, igualmente, por ser bastante intensa, pelo número grande de

atores. Desta maneira, somando-se ao “ponto de partida”, ficou também

evidente a existência de uma “cadeia vertical de empresas e instituições” (à

montante e à jusante), adicionando evidências para a identificação de um

possível aglomerado da moda.

Em terceiro lugar, no capítulo sete, pode ser observada a existência de

uma diversificada e relativamente intensa cadeia horizontal de setores, que

ensejou repetidas situações de cooperação entre seus participantes, estando,

lado a lado, o grupo de empresas de confecções e acessórios da ASCOOP e

diversos outros setores, tais como: “shows de música”, “escola”, “cadernos e

notícias de moda”, “salão de beleza”, “confecção artesanal e concerto de

calçados”, “lavagem de roupa”, “manifestações culturais”, “alta costura” e

“eventos de moda”. Tal cadeia horizontal de setores também pode ser chamada

de “cadeia horizontal de setores correlatos” e os setores que a formam referidos

como “setores correlatos”.

Observou-se que, diferentemente da cadeia produtiva vertical de

empresas, a cadeia horizontal de setores não se estruturou a partir de relações

insumo-produção, mas de relações de parcerias em que se evidenciaram

situações de “ganha-ganha”, ou seja, favorável para todas as partes,

reproduzindo uma fórmula que é o “sonho dourado” de qualquer arranjo

produtivo solidário e popular, mas que sempre é muito rara de ser encontrada

dentro do ambiente setorial de negócios. Assim, naquele capítulo, a identificação

de elementos característicos da formação de uma cadeia horizontal de setores

representou um enorme avanço na identificação de indícios da possível inserção

dos empreendimentos de confecção e acessórios da ASCOOP em um

emergente aglomerado da moda, em Belém. As identificações desta cadeia

horizontal de setores e da cadeia produtiva vertical de empresas determinaram

234

as empresas e os setores que compunham a estrutura econômica sob

investigação, nesta pesquisa.

Em quarto lugar, no capítulo oito, foram identificadas inúmeras instituições

que ofereciam apoio às empresas da cadeia vertical (desenhada a partir do

conjunto de empresas da ASCOOP) e aos setores da cadeia horizontal de

setores (também desenhada a partir dos empreendimentos da ASCOOP),

evidenciando, ainda mais, a complexidade da estrutura de empresas e

instituições na qual estavam inseridos os empreendimentos desta associação.

Estas instituições de apoio às empresas e setores ofereciam serviços e bens tais

como qualificações especializadas, tecnologias, informações, capital e infra-

estrutura. Assim, as revelações do capítulo oito ofereceram novas evidências de

um emergente aglomerado da moda, em Belém, no qual estaria inserida a

produção de confecções e de acessórios da ASCOOP.

Em quinto lugar, foram identificados órgãos coletivos representativos dos

interesses das empresas participantes das cadeias vertical e horizontal que,

incluíam os produtores de confecções e acessórios da ASCOOP. Entre os

órgãos coletivos representativos mais dinâmicos que foram identificados estão a

ASCOOP, o Fórum de Desenvolvimento Local Solidário, o Fórum de

Empreendimentos Populares de Belém, a Associação Comercial do Pará,

Centro de Apoio à Economia Popular Solidária e a Associação dos

Empreendedores Populares do Complexo de São Brás, entre outros. Estas

revelações também foram evidências na investigação de identificação de um

emergente aglomerado da moda, em Belém.

Finalmente, no capítulo anterior, foram identificadas inúmeras agências

governamentais e outros órgãos reguladores que exerciam significativa

influência sobre as empresas e instituições participantes das cadeias estudadas

nesta pesquisa. Dentre as agências ou órgãos que apresentaram maior

ingerência nas operações destas empresas se destacaram a Secretaria

235

Municipal de Saúde, o PROCON, a Delegacia do Meio Ambiente do Pará, o

Ministério do Trabalho, a Justiça do Trabalho e a Secretaria Municipal de

Economia. Esta identificação foi mais uma importante evidência para a análise

voltada para verificar a inserção dos empreendimentos de calçados e acessórios

da ASCOOP em um possível emergente aglomerado da moda, em Belém.

A identificação de um claro e não modesto “ponto de partida”

(representado pelos empreendimentos da ASCOOP); a revelação de uma

cadeia vertical de empresas a partir destes empreendimentos, que se apresenta

muito intensa, particularmente à jusante; o desvendamento de uma cadeia

horizontal de setores em torno dos negócios da ASCOOP, que apresentou uma

complexidade e sofisticação ainda maior do que a cadeia vertical; o

levantamento de inúmeras e sólidas instituições de apoio às empresas e setores

das cadeias tanto verticais quanto as horizontais; o mapeamento de órgãos

coletivos com ação de intensa defesa dos interesses destas empresas e a

identificação de agências e órgãos reguladores das mesmas empresas são,

portanto, evidências suficientes para demonstrar, claramente, que existe o

desenho de um emergente aglomerado da moda, em Belém, onde estão

inseridos os empreendedores de confecções e de acessórios da ASCOOP,

como pode foi visualizado no fluxograma apresentado no capítulo dez.

As evidências levantadas ao longo desta análise, seguramente, se

referem a todos os elementos participantes de um aglomerado segundo a

metodologia de identificação desta formação apresentada por Porter (1999). O

que torna esta dedução ainda menos açodada é a observação deste autor de

que não necessariamente todos os aglomerados devem possuir todos os tipos

de elementos constantes da estrutura que ele desenhou como sendo as partes

de um aglomerado. Os aglomerados poderiam ter diversas formas, o que

significaria dizer que poderiam incluir mais ou menos elementos, dependendo

dos seus níveis de “profundidade” e “sofisticação”.

236

Aliás, um dos destaques do aglomerado da moda em Belém diz respeito à

profundidade e complexidade da sua cadeia horizontal de setores. Os elos

horizontais distinguidos a partir dos empreendimentos da ASCOOP são

dinâmicos e, alguns deles, muito sofisticados. A longa lista destes setores

começa em um setor moderno, como “jornalismo de moda”, passa pela “alta

costura”, pelos “shows de música”, as “escolas”, a “confecção artesanal e

concerto de calçados”, as “manifestações culturais” (que são riquíssimas aqui no

Pará), os “salões de beleza”, a “lavagem de roupa” e termina em um setor cada

vez mais diversificado e profundo que é o “artesanato”.

Outro destaque na estruturação do aglomerado de Moda, em Belém,

mesmo que limitado aos seus elos em torno dos empreendimentos da ASCOOP,

é a qualidade e a quantidade das “instituições de apoio” às empresas das

cadeias desta formação, que incluiu o Banco do Brasil, Cartões Visa, CEF,

Governo do Brasil, Governo do Pará, o SEBRAE, o DIEESE, o Banco da

Amazônia, as Universidades, a Prefeitura Municipal de Belém e o Banco do

Cidadão. Porter (1999) chamou de “setores de apoio” uma visão mais ampliada

das “instituições de apoio” e que dentro do aglomerado vinícola da Califórnia

formava um grupo que incluía a Universidade da Califórnia em Davis (uma das

mais importantes escolas do mundo na área de agricultura e alimentos), a

Comissão do Vinho da Assembléia Legislativa do mesmo Estado e a Associação

Comercial, também daquele Estado.

A idéia de que Porter (1999, p.246) elaborou a teoria do aglomerado

apenas para fenômenos econômicos de países desenvolvidos, não se

fundamenta, até mesmo porque o próprio autor lembra que, se estas formações

são mais freqüentes e mais evoluídas nestes países, eles também existiriam em

países em desenvolvimento, mesmo que “concentrados em setores de atuação

local”. Este autor inclusive alerta que, em regiões mais pobres, ou, em

desenvolvimento, devido à grande dependência de componentes, serviços e

tecnologias procedentes de fora da economia, os aglomerados tendem a ser

237

“superficiais”. Por tenderem a serem mais superficiais, os aglomerados, nestas

regiões, tenderiam a apresentar um menor número de participantes.

Tal observação, cabe muito bem no caso do aglomerado da Moda em

Belém dado que a maioria dos insumos e da tecnologia são importados do Sul

do Brasil, ou mesmo do exterior, em alguns casos. De todo modo, mesmo o fato

de apresentar esta grande dependência externa não impediria a materialização

de aglomerados localizados em regiões mais pobres, como é o caso do da moda

na capital do Estado do Pará. Porter chega a refletir que, como geralmente não

apresentam muitos elos com a economia em sua volta, as grandes empresas

em regiões em desenvolvimento dificilmente fazem parte de algum aglomerado,

funcionando mais como “ilhas”, que parece ser um sinônimo para o que

Hirschman (1977) chamou de “enclave”.

Ainda em termos das especificidades apontadas por Porter (1999) para as

características dos aglomerados em regiões em desenvolvimento, existe outra

que também se aplica muito bem ao caso do aglomerado da moda, em Belém.

Esta observação foi a de que as relações entre as empresas e as instituições,

nos aglomerados, seriam muitas vezes inexistentes devido ao fato de que a

“comunicação” entre estes atores tenderia a ser mais limitada nestas regiões.

Assim, apesar das instituições de apoio no aglomerado da moda no aglomerado

da moda nesta cidade serem bastante numerosas, as indicações dos produtores

da ASCOOP foram muito claras em evidenciar que muitas delas ainda deixam

muito a desejar no apoio que prestam às empresas. Apenas para ilustrar, o

Banco da Amazônia, o banco voltado para a promoção do desenvolvimento

regional, apesar de ser claramente uma instituição de apoio para a produção na

região, não foi indicado por nenhum dos entrevistados da ASCOOP como

entidade apoiadora. Ao contrário, haveria uma forte rede de comunicações e

elos entre os atores em aglomerados de sucesso nas regiões mais

desenvolvidas.

238

Mas existe outra característica do aglomerado da moda, em Belém, que

requer outra séria reflexão, até para ajudar a entender o seu processo de

revelação através de um grupo não tão numeroso quanto o conjunto de

empreendedores da ASCOOP. Tal reflexão começa com a questão de como é

possível que um grupo não tão poderoso financeira e tecnologicamente acabou,

no final, estando fortemente interligado a uma formação muito maior e muito

mais complexa, que é este aglomerado da moda. Porter, no entanto, alerta para

o fato de que, para o desenvolvimento de um aglomerado, “os mecanismos

organizacionais e de fortalecimento dos relacionamentos são imprescindíveis,

uma vez que as vantagens dos aglomerados baseiam-se sobretudo nos elos e

conexões entre indivíduos e grupos”. Assim, apesar de pequeno, o grupo de

empreendedores, parece apresentar uma imensa capacidade de organização,

de articulação e de mobilização, o que o ajudou a se qualificar para aproximar

de setores muito mais sofisticados e de maior poder financeiro. Na verdade,

paradoxalmente, os empreendimentos da ASCOOP parecem estar, inclusive,

contribuindo para a solidificação e fortalecimento de uma formação que inclui

elementos muito maiores e mais sofisticados do que ele. O próprio elemento da

cultura popular muito rica, que é a cultura popular paraense, tem contribuído

para o enriquecimento da moda na cidade, como aconteceu com a grife

100%Amazônia, lançada com muito sucesso pela ASCOOP na Amazônia

Fashion Week de 2007.

Finalmente, é importante frisar que o aglomerado da moda em Belém,

deve ser, e certamente é, menor, quando olhado pelo enfoque de seus elos com

o conjunto de empreendimentos da ASCOOP, do que quando olhado a partir do

enfoque dos elos de outros “pontos de partidas”, mais abrangentes, como seria

uma análise envolvendo todas as unidades produtivas de confecções e de

acessórios nesta cidade, inclusive as voltadas para um mercado de maior poder

aquisitivo. Neste enfoque, outros importantes setores seriam incluídos na cadeia

horizontal de setores deste aglomerado, como os seguintes: “restaurantes”

(comer bem e vestir bem, vão juntos), “clubes sociais” (socializar e vestir bem

239

vão juntos), “cinemas” (que vai junto com vestir bem), entre outros. Esta

digressão, não é um argumento para diminuir a evidência da existência do

aglomerado da moda, em Belém, mas, ao contrário, de que este aglomerado

não apenas foi revelado por esta pesquisa, mas que, mais do que isto, é maior

do que o desenho que os dados desta investigação elaboraram.

A opção pela abordagem a partir de um “ponto de partida” fisicamente

menor, deu-se pelo fato desta pesquisa ter a preocupação de discutir, em

profundidade, as possibilidades de interação entre as categorias de

“cooperativismo” e “aglomerado”.

240

12. AGLOMERADO: ESPAÇO SUPERIOR DE SOLIDARIEDADE

ECONÔMICA

Este trabalho constatou em campo a grande aderência entre cooperação

e competitividade, principalmente se tomarmos a noção de competitividade

contida na teoria de Porter. Aderência presente tanto no nível dos

trabalhadores/as que se articulam, formal ou informalmente, em torno de um

mesmo objetivo produtivo, quanto entre negócios concorrentes (do mesmo

setor), correlatos e instituições de apoio que cooperam economicamente em

torno de objetivos comuns, só que agora em um patamar relativo não mais

apenas à produção, mas a uma noção coincidente e/ou complementar de

desenvolvimento, em suas várias dimensões.

Os/as trabalhadores/as quando reúnem seu capital produtivo em torno

de uma organização empresarial, mesmo formalmente como cooperativa,

vinculam-se em torno de objetivos produtivos imediatos e a busca de sucesso

solidário mergulhados no ambiente do mercado capitalista que a contingência,

estabelecendo, ao fim e ao cabo, parâmetros capitalistas para conferir prestígio

a uma experiência econômica solidária, sua produtividade e lucratividade.

Embora, obviamente, sem a experiência das cooperativas, redes e associações

produtivas solidárias, não teríamos acumulado os elementos que hoje

comprovam a validade e a viabilidade de uma sócio-economia de novo tipo.

Quando, além da articulação cooperativa entre trabalhadores/as,

ocorrem interações econômicas solidárias entre entidades de diversos

posicionamentos econômicos e distintas naturezas institucionais, a pluralidade

contida na articulação estabelece a elevação do ponto de unidade para uma

percepção coincidente ou complementar no andar superior dos valores

necessários para a constituição de uma sociedade supostamente ideal. Esta

interação, portanto, se potencializa não apenas a partir de interesses cotidianos

241

apenas, mas passa a ganhar maior expressão à medida do grau de identidade

cultural entre os atores, daí a noção “miltoniana” de espaço com que

trabalhamos.

A conformação de um aglomerado é um processo em que, por via da

aproximação de interesses e identidades, atores de um mesmo espaço, forjam

no dia-a-dia as condições de sua reprodução e, ao mesmo tempo,

transformação – mediados pela interdependência, pelo intercâmbio e pela

relação com outros sistemas do organismo sócio-econômico, aludindo à noção

de complexidade em Bertalanfy.

Ao concluir pela existência do Aglomerado de Confecção Popular no

qual a ASCOOP está inserida, concluímos que parte do sucesso da experiência

estudada se deve, justamente, ao ambiente economicamente solidário no qual

está inserido, sem o que a superação dos percalços internos se tornariam

intransponíveis, como ainda o são para tantas outras experiências

individualmente similares.

Neste sentido, fazemos a leitura dos dados obtidos quanto aos

elementos que motivam os empreendedores na direção da cooperação

econômica de maneira a considerar o ambiente no qual estão situados.

242

25

4640

29 31

43

19

8

46

14

0

10

20

30

40

50C

itaçõ

es

Principais dificuldades na cooperação

Concorrência interna Falta crédito Fiador

CNPJ/NF Formação Comercialização

Incentivos econ/Tec Regulamentação Relacionamento

Acesso à mídia

Fig.52 Dificuldades da cooperação.

É interessante notar que, ao mesmo tempo, os três elementos com mais

de 40 citações, combinam interesses (Falta de crédito e Comercialização) com

aspecto de identidade (Relacionamento). O que coincide com nossa observação

direta nos últimos 5 anos em que acompanhamos a constituição e avanço da

experiência que é a ASCOOP.

Em nosso entendimento este dado revela a complementaridade entre

motivações materiais e de valor, tornando razoável concluir que a identidade

cultural concorre para o desempenho econômico da cooperação. E, que se isto

já está presente ao nível de trabalhadores que cooperam buscando seu sustento

imediato, portanto decorrente de forte apelo material, nos aglomerados o peso

dos fatores culturais tendem a ter impacto ainda maior, senão vejamos.

Como o tecido dos aglomerados é composto de instituições concretas e

estabelecidas (formal ou informalmente), há um maior distanciamento entre a

sustentação material do empreendimento ou instituição e o tipo de

relacionamento estabelecido. Ou seja, sem a premência da busca pela

sobrevivência imediata, ocorre um espaço maior para o crescimento do

relacionamento baseado na identidade, aliás, principal fundamento do marketing

243

de relacionamento, versão mais avançada das estratégias mercadológicas

adotadas nos dias de hoje.

A qualidade superior da solidariedade exercida no aglomerado decorre

também do fato de que se trata de uma composição plural de agentes verticais,

horizontais, de apoio e regulação onde a única possibilidade de estabelecer

pontos em comum entre todos está no plano dos valores subjetivos com que o

grupo ou comunidade, ou nação, abstrai a representação da realidade para si, a

interpretar e, a partir daí, projeta seu ideal de futuro.

Na vivência com o objeto deste estudo, constatamos que diferenças de

escolaridade, ou mais adequadamente, de formação social, técnica e política,

pode estabelecer maiores obstáculos do que diferenças de renda. Identificamos

que os empreendedores populares se aproximam por identidade de bairro mais

do que por identidade de produto. Por mais irracional que isto possa parecer

economicamente, o fato é que neste caso há outros valores como segurança

emocional, confiança pessoal e identidade cultural (até religiosa), que não

podem ser convertidas monetariamente. Não por acaso, encontramos no estudo

de campo o seguinte quadro quanto às motivações para a cooperação

econômica.

46 41 44

228

18 2028

0

50

Cita

ções

Vantagens da cooperação

Escala de produção Partilha de saberes Partilha de equip.

Compra conj. Promoção Força política

Acesso à crédito Eventos

244

Fig. 54 – Vantagens na Cooperação.

Neste caso, o significado da partilha, implica necessariamente em

relação de confiança pessoal e o reconhecimento da importância do outro para

uma estratégia de expansão produtiva. O somatório entre confiança e estratégia

é que fazem da cooperação um elemento chave para um novo tipo de

competitividade.

Mais uma vez, se isto é válido para a dimensão de uma cooperativa, no

aglomerado este processo ganha uma nova qualidade. Ora, o reconhecimento

de que é possível cooperar com correlatos, complementares e até concorrentes,

além da interação com instituições de apoio e reguladoras, e, que esta

cooperação é fundamental para uma estratégia de ganho de produtividade, abre

em cada agente flancos de contato antes inexpugnáveis.

Se antes, o que gerava ganho de produtividade era o mesmo agente

econômico verticalizar a produção de ponta-a-ponta, hoje, a lucratividade está

não no tamanho mas na agilidade. E, para isto, em uma adequação de tamanho

quase sempre buscando a redução e a busca de terceiros que gerem economia

de energia técnica e gerencial.

Com os aglomerados, descobriu-se que avançando nesta tendência, a

rentabilidade cresce a medida do grau de confiança entre as instituições, porque

os custos com riscos também tendem a crescer significativamente. Note-se que

isto recoloca a questão da cooperação não apenas como estratégia de

produção, mas de desenvolvimento. Inclusive, alcançando a esfera política, no

sentido trabalhado por Hirshman ( 976), já que a superação do custo com riscos

implica na estabilidade social. Não por acaso, a responsabilidade social e

ambiental tem sido pautada pelas empresas como elemento de investimento,

para além do marketing, tanto mais seriamente quanto mais lúcidos tornam-se

os empreendedores de que as instabilidades e diferenças sociais, acarretam

245

Fatores sócio -culturais (Moradia,

escolaridade, renda, segurança

etc)

Carência de formação

gerencial e educação

empreendedora

Valores

solidários insuficientes

Desgaste das

relações interpessoais e

da confiança

Perda de

produtividade e oportunidades de

negócio

Baixa

qualidade de produção

Baixo

comprometimento e disciplina

Expectativa

assistencialista diante das lideranças políticas

Cobranças

familiares por resultado

Desvio de energia pela

supervaloração dos espaços

políticos

Aumento do custo

operacional e

custos sistêmicos que muito dificilmente podem ser debelados isolada ou

individualmente.

Portanto, o combate aos fatores propulsores do círculo vicioso que

deprime o desenvolvimento e o crescimento econômico, ganham maiores

possibilidades a partir da sinergia dos aglomerados. Em campo, desenhamos o

círculo vicioso da economia popular e solidária de confecção em Belém da

seguinte forma:

246

Fig. 55.

Não obstante, pudemos também conferir a presença de outra

circularidade, justaposta a primeira no mesmo espaço e tempo, só que de

caráter virtuosa. Trata-se da presença de fatores propulsores da cooperação e

da competitividade do segmento, tal como representado abaixo.

Melhora da consciência

cidadã com a participação em

eventos políticos e econômicos

Percepção de que

só juntando gente se acumula trabalho e capital

Capacidade de

partilhar dificuldades

Construção de

complementarie-dades e parcerias

produtivas

Aumento das

oportunidades econômicas

Maior

estabilidade na cooperação

Continuidade e confiança no

Aumento da

percepção das

Maior

faturamento, remuneração e

auto -estima

Reforço da alternativa econômica solidária

247

Fig. 56

Note-se que nesta circularidade positiva, os fatores relativos à

cooperação e ao relacionamento com a comunidade e outros agentes, ganha

peso especial. Estas interfaces com o ambiente social e econômico é que

surgem dando estabilidade e sustentação às iniciativas no caso concreto

estudado.

Portanto, formamos a opinião de que o avanço da reorganização da

economia global que assistimos nos últimos tempos, marcados pela articulação

de blocos, não apenas econômicos – mas também políticos e culturais – como

na Europa, o Nafta e o Mercosul, ratificam a tendência que encontramos no

cenário microeconômico que estudamos revelando-se tratar de uma tendência

que se aprofunda abrindo possibilidades diversas, até mesmo antagônicas, que

mais uma vez desafiam a percepção e consciência das nações. A de que

depende nosso próprio futuro.

248

Este pequeno estudo ousa propor a idéia de que mais uma vez, nos

deparamos com a escolha entre dois campos de alternativas: 1) a natural

humanização da economia através da subordinação da competição diante da

cooperação – com a migração da lógica da produtividade e lucratividade

empresarial para a lógica da rentabilidade social, que julgamos ter demonstrado

como tendência original e ainda permanentemente presente na economia. Ou,

2) a distorção forçada do processo civilizatório, fundada na idéia das diferenças

humanas antagônicas e da exclusão.

249

13. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO

AGLOMERADO DE CONFECÇÃO DA ECONOMIA POPULAR E SOLID ÁRIA

Nossa conclusão confirma a questão colocada na sub-hipótese deste

estudo:a falta de visibilidade do aglomerado o prejudica fortemente. Mergulhado

no mar de desinformação e preconceitos que maculam a Economia Popular, até

na academia, constatamos nesta pesquisa a raridade dos dados gerados sobre

este segmento da economia que, quando gerados, são colocados sob o manto

generalizador da informalidade econômica, conceito este que além de impreciso

reforça a percepção social distorcida do conjunto de atividades que sustenta

economicamente parcela significativa dos brasileiros.

Esta invisibilidade estatística reforça o preconceito de que se trata de

uma economia que em nada contribui com o desenvolvimento do país, que na

verdade não é uma economia e sim um problema social, como se pudesse

apartar, no mundo real, estas duas dimensões entre outras, que conformam a

totalidade aberta da existência humana.

Sem visibilidade estatística, não temos parâmetros cabais da

contribuição da Economia Popular na contabilidade social do país, e muito

menos da Economia Solidária.

Sem informações tecnicamente consistentes, os discursos políticos

contra o apoio a esta parte da economia se fortalece, a revelia das evidências

das ruas. Fazendo com que mesmo aquilo que salta aos olhos nas praças e no

cotidiano da sociedade, não seja enxergado, entendido e considerado como

alternativa estratégica.

Sem esta natureza de visibilidade a conquista de apoio político da

sociedade às suas causas específicas ficam mais renhidas, demoradas e

instáveis, portanto, passíveis de reversão a cada momento.

250

Sem apoio político-social suficiente, a produção de políticas públicas

adequadas à Economia Popular e Solidária torna-se tarefa hercúlea e, quando

alcançada, nada garante sua execução prática, a não ser a própria capacidade

de Controle Social dos seus agentes.

Portanto, concluímos que enquanto a Economia Popular e a Economia

Solidária não se estabelecerem na pauta e na agenda das arenas políticas

centrais, estaremos perdendo a grande oportunidade de alavancarmos o

desenvolvimento nacional de maneira sustentável, combinando crescimento e

distribuição econômica, valorando nossa cultura e ambiente.

Neste sentido sugerimos, no plano das políticas públicas:

O reforço ao SIES (Sistema de Informações da Economia Solidária),

coordenado pela SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária) do

MTE(Ministério do Trabalho e Emprego do Governo Federal). Com sua absorção

pelo IBGE e pelo IPEA.

O avanço da metodologia da Contabilidade Social, incidindo

particularmente sobre o cálculo e desagregação do PIB (Produto Interno Bruto),

entre outros indicadores estratégicos.

Geração sistemática do cálculo do impacto tributário gerado direta e

indiretamente pelas atividades da Economia popular e Solidária.

Considerando o diagnóstico dos fatores limitantes apurados no campo,

em diálogo com os agentes do Aglomerado de Confecção da Economia Popular

e Solidária em Belém do Pará, elaboramos a tabela abaixo.

251

Percepção dos empreendedores do Aglomerado de Confe cção Popular de Belém

do Pará quanto aos Fatores Limitantes do desenvolvi mento do aglomerado.

Principais fatores Limitantes

Demanda de Políticas Públicas % dos entrevistados

Crédito

Falta oferta adequada 100%

Exigência de fiador 86%

Cultura da Cooperação

Relacionamento nos empreendimentos 100%

Concorrência interna 54%

Faltam oportunidades de Comercialização 93%

Inserção no mercado Falta Legalização (CNPJ / NF) 63%

Falta acesso à mídia 30%

Regulamentação adequada 17%

Suporte

Falta Formação, Capacitação e Treinamento 67%

Faltam incentivos econômicos e Tecnológicos 41%

Tab. 10 Percepção dos Empreendedores de Confecção Popular quanto aos Fatores

limitantes do desenvolvimento do aglomerado, em Belém do Pará

A partir dos elementos postos na tabela acima, sugerimos a

sintonização do conjunto das políticas públicas e da legislação com as seguintes

referências estratégicas:

1) Crédito Adequado

Ofertado ao setor em proporção de sua colaboração com o PIB e a

geração de ocupação econômica.

Aplicado ao potencial do negócio e não sobre a capacidade de

pagamento já instalada, com teto de valor relativo à produtividade e

ao número de ocupações geradas.

252

Com especificações de prazo, juros e carência a partir da

realidade, rentabilidade e potencialidade de cada negócio e sua

capacidade de participação e transbordamento econômico em

cadeias e aglomerados estratégicos, definidos democraticamente

na região.

Com sistema de garantias aberto à fiança solidária, em grupo ou

comunitária.

2) Reforço da Cultura da Cooperação

Incentivo aos Clubes de Trocas Solidárias, com e sem moeda

social.

Incentivo à Compra Conjunta, ao Cooperativismo e ao

associativismo, ao

Universalização da educação econômica nas escolas, destacando

o papel da Economia Popular e Solidária.

3) Apoio à inserção no mercado

Incentivo e educação ao consumo consciente

Emissão de Selo especial para referência legal e de mercado

Massificar o acesso aos benefícios do simples, do novo Estatuto da

Pequena e Micro Empresa e das Leis Estaduais de economia

Solidária.

Garantir cota mínima para ocupação da mídia para divulgação da

Economia Popular e Solidária e seus produtos e serviços.

Garantir cota mínima para compras governamentais.

253

Incentivo fiscal para empresas que estabeleçam contratos de

fornecimento junto aos empreendimentos da Economia Popular e

Solidária.

4) Incentivos Econômicos e Tecnológicos aos aglomer ados

Incentivo fiscal direto e indireto aos aglomerados de

empreendedores da Economia Popular e Solidária.

Incentivo ao crédito com juros negativos em situações estratégicas

definidas democraticamente, proporcional ao número de

ocupações geradas e transbordamento econômico local.

Cota mínima de investimento em pesquisas e desenvolvimento

tecnológico para solução de problemas de produção e/ou gerencial

dos empreendimentos da Economia Popular e Solidária.

Incentivo e apoio às práticas de incubação diretamente

proporcional à geração de ocupação e transbordamento econômico

local dos empreendimentos assistidos e inversamente proporcional

ao tempo de incubação, a partir de parâmetros estabelecidos

democraticamente

5) Estratégias mercadológicas para o desenvolviment o do

Aglomerado de Confecção da Economia Popular e Solid ária

A partir dos elementos mercadológicos estratégicos expostos nas

tabelas abaixo, passamos a considerar possibilidades de iniciativas

pertinentes aos próprios empreendedores do aglomerado.

254

Agentes do Aglomerado de Confecção da Economia Popu lar e Solidária em Belém do Pará

Cadeia Produtiva da Confec. Popular Empreendimentos e Instituições Correlatas

Fornecedores Clientes Sistemáticos Eventuais Polít. Públicas

Tecidos Consumidor ind. Salão de beleza Alimentação Governos

Máquinas Ambulantes Empr. Culturais Mercearias Ong´s

Armarinho Feirantes Empr. de Moda Segurança Igrejas

Sementes Regionais Peq. Lojistas E. de Artesanato Ensino Universidades

Crédito Méd. Lojistas Empr. de Som Emp.Uniforme Sistema S

Formação Galerias Emp. de Eventos Teledramaturgia Fórum de Ecosol

Designe Shopping Emp. Esportivos Empr. Gráfico Legislativo

Outros insumos Outros Clientes Outros Empr. Outros Empr. Fórum de Empreendedores

Tab. 11 Principais Agentes do Aglomerado de Confecção da Economia Popular e

Solidária em Belém

Produtos Demandados e Motivações dos Clientes de Co nfecção Popular

Produtos Demandados Motivações declaradas

Confecção adulto 100% Acompanhar a moda 58%

Lingerie 63% Preço e condições de pagamento 53%

Moda Praia 43% Venda em domicílio ou trabalho 31%

Confecção para Bebê 31% Datas Festivas(Círio, aniversário...) 39%

Uniformes 13% Qualidade 37%

Acessórios 31% Sob encomenda e exclusividade 27%

Uniforme de trabalho 24%

Férias 27%

Tab. 12 Produtos demandados e motivações declaradas pelos clientes da confecção

popular

A rica tessitura do Aglomerado de Confecção da Economia Popular e

Solidária em Belém do Pará ganha maior relevância e possibilidades

255

estratégicas de inserção e fortalecimento no mercado, se considerarmos que a

realidade econômica é muitas vezes maior do que se poder perceber nas

tabelas acima. Por exemplo, na tabela que apresenta o posicionamento dos

agentes no aglomerado, na verdade é uma representação parcial já que vários

agentes cumprem mais de um papel naquele contexto. Agentes colocados como

Correlato, podem também, e ao mesmo tempo, estar na cadeia produtiva, por

exemplo.

Portanto, para uma plena percepção das possibilidades estratégicas

deve-se ter um olhar sistêmico e integrado do aglomerado e suas interações.

Assim é que apresentamos a seguir algumas sugestões de estratégias

mercadológicas.

1. Em função da escala produtiva da média dos

empreendimentos e na própria natureza da Economia Popular,

sugerimos que as estratégias sejam focadas no público

adequado ao produto ofertado e que se privilegie a parcela

dele que está no entorno do empreendimento, para que mais

valor seja agregado na forma de serviços e benefícios.

2. De outro lado, é preciso casar a estratégia anterior, centrada

na relação direta entre produto e cliente, com estratégias de

massificação de marcas e da causa da Economia Popular e

Solidária, no sentido de conquistar uma atitude positiva do

público em geral diante de suas ofertas, criando um contra-

ponto ao preconceito ainda muito forte nas manifestações

públicas na mídia, através da:

a. Criação de um selo de garantia de qualidade;

b. Patrocinar mídias alternativas que associem o

produto ao projeto da Economia Solidária(geração

de emprego e renda, distribuição de riquezas e

256

oportunidades, justiça social, sustentabilidade

ambiental, segurança social etc).

3. Desenvolver promoções e outras estratégias de marketing que

potencializem a capilaridade do aglomerado:

a. Cartão de crédito popular;

b. Desconto casado;

c. Plano de Milhagem/Fidelidade;

d. Compra conjunta de insumos comuns;

e. Patrocínio conjunto (solidário) de programação na

mídia comercial;

f. Incentivo à organização de consumidores na base

das instituições correlatas.

4. Desenvolver agenda de eventos promocionais/comerciais,

sintonizados com o calendário e a sazonalidade da cultura de

consumo local, buscando envolver todos os segmentos do

aglomerado como feiras, desfiles, shows etc.

5. Organizar controle de qualidade para a participação produtos

nos eventos promocionais e comerciais, oferecendo serviços

agregados de customização.

6. Organizar consórcios para aquisição de máquinas,

equipamentos e matéria prima, para o fortalecimento da

aglomeração a partir do setor.

257

14. CONCLUSÃO

As evidências muito claramente permitiram demonstrar que os

empreendimentos de confecções e de acessórios da ASCOOP estão inseridos

no aglomerado da moda, em Belém. O desenho dos elementos pesquisados

ensejou a reprodução, com grande veracidade, de uma concentração geográfica

de empreendimentos semelhantes que não apenas competem, mas, sobretudo,

cooperam entre si.

Ficou demonstrada a existência de um “ponto de partida”, que no caso

foram os próprios empreendimentos da ASCOOP. Este ponto serviu como

elemento básico do desenho de uma cadeia vertical de empresas, para a trás e

para frente. Também foi revelado que este mesmo ponto fazia parte de uma

outra cadeia, chamada de cadeia horizontal de setores. Mapearam-se em torno

das empresas destas cadeias instituições que lhe davam apoio e sustentação

tecnológica, financeira, de infra-estrutura, de capacitação e de informações.

Também foi configurada a presença de órgãos coletivos representativos das

empresas das cadeias vertical e horizontal, que defendiam os interesses destes

empreendimentos. Como, finalmente, foi obtida a evidência de que agências e

outros órgãos governamentais reguladores exerciam grande influência sobre as

empresas das mesmas cadeias.

A revelação da inserção de que formações econômicas solidárias e

populares em um aglomerado em Belém não é uma boa notícia apenas no

sentido de que micro e pequenos empreendedores desta cidade podem tirar

proveito de relações de cooperação com empreendimentos de maior

complexidade e sofisticação econômica, ou, ainda, porque o aglomerado é uma

sofisticada formatação de organização espacial da economia, que, segundo

Porter, seria de maior eficiência na economia contemporânea, como no caso do

aglomerado do cinema, em Los Angeles, ou o da moda, em Milão, ou ainda o da

informática, no Vale do Silício, no norte da Califórnia. A melhor notícia de todas

258

é mesmo que os empreendedores de confecções e acessórios da ASCOOP

também estão contribuindo para o fortalecimento do aglomerado da Moda, em

Belém, como ficou evidenciado pelo sucesso da coleção grife 100%Amazônia,

lançada na Amazônia Fashion Week.

Se este estudo permitiu uma discussão da participação da economia

popular e solidária em um aglomerado, dialeticamente, também levou a uma

reflexão de como o aglomerado pode estar “dentro” da própria organização do

cooperativismo, para realçar, neste movimento, formatações econômicas mais

propensas à cooperação, contribuindo para dissipar as freqüentes tensões das

organizações solidárias com base em pares de uma mesma linha de produto. As

empresas de uma mesma “linha de produto”, pela própria lógica do mercado,

apresentam uma “natural” tendência para enfatizar a competição, em detrimento

da cooperação, visto que empresas de uma mesma linha de produção vivem e

morrem por um mesmo e único tipo de demanda, que enfraquece as

complementaridades nas relações entre unidades produtivas de produtos iguais

ou similares.

Não se trata, obviamente, de desqualificar “o produto” como organização

das estruturas de cooperativas. Trata-se, acima de tudo, de adicionar a estas

abordagens setoriais outra, a do aglomerado, que, não anula esta forma

tradicional, mas que pode conviver com ela, mesmo que tendendo a torná-la

subsidiária, por ser o aglomerado, em geral, um vetor muito mais forte da

cooperação e, também, da eficiência, segundo os estudos de Porter. Este autor,

inclusive, tem sido um crítico incisivo de políticas industriais típicas, ou seja,

aquelas que se resumem a beneficiar empresas de uma mesma linha de

produto, sem qualquer medida complementar que possa evitar o corporativismo

e a diminuição da competição entre os iguais.

Ademais, as discussões da economia solidária e popular não podem ser

detidas pela crença de que a tradicional organização das cooperativas na forma

de linha de produto definiria o próprio conceito de cooperativismo. Tem mais

sentido imaginar que o objetivo maior da economia solidária e popular não é

259

simplesmente garantir, a qualquer preço, a reprodução de fórmulas tradicionais,

mas o fortalecimento do princípio da solidariedade, como uma forma, ao mesmo

tempo, mais eficiente e mais humana de organização econômica e sócio-

ambiental.

O próprio capitalismo, mesmo a custa da aceleração de sua

transformação em outro sistema mais avançado, tem sido obrigado a se render

à cooperação para encontrar formas mais eficiente de avanço da reprodução do

capital e da própria sociedade democrática e burguesa – soluções que,

inclusive, tem passado ao largo do esquema baseado no capitalismo de Estado.

Mais recentemente, para enfrentar uma séria crise energética que gerou

“apagões” devastadores e enormes altas do preço da energia, o governo da

Califórnia, Prefeituras deste Estado, as empresas geradoras e as empresas

distribuidoras, criaram uma ong para fazer a transmissão da energia, diminuindo

as influências negativas da competição entre as empresas desta linha de

produto.

A sociedade e os agentes governamentais e privados envolvidos na

discussão da crise energética da Califórnia entenderam que a competição entre

as empresas transmissoras era um importante fator agravante dos “apagões” e

da elevação dos preços da energia para o consumidor. A conclusão foi que era

um desperdício social que empresas produtoras e distribuidoras de energia

utilizassem diferentes linhas de transmissão para transportar energia, arranjo

que, em nenhuma hipótese, melhorava a eficiência da cadeia produtiva, mas

que, ao contrário, elevava custos para o consumidor final. Ademais, esta

concorrência entre empresas de mesmo produto, a transmissão de energia,

dada a estrutura própria deste negócio, não só tornava cara demais o serviço de

levar energia do ponto de produção para o ponto de distribuição, como tornava

este negócio pouco rentável, criando problemas de mercado para a expansão

das linhas de transmissão: expansão para pontos que eram “gargalos” de oferta;

para a transmissão de energia de pontos com demanda folgada para os mesmo

“gargalos”, ou, ainda, a transmissão de energia a partir de novas “fontes” de

produção de energia.

260

Aliás, o exemplo do aglomerado da Moda, em Belém, deve servir também

de reflexão para a tentação de imaginar que a única maneira de sobrevivência

do cooperativismo é sua inserção em espaços “alternativos” ao do mercado

capitalista, dada sua suposta “incapacidade” de concorrer com as formas

tradicionais de mercado. Ao contrário, são estas formas tradicionais do mercado,

com o é a organização por dada linha de produto, uma importante fonte de

dificuldades para a economia popular e solidária, quando esta fórmula é usada

sem os devidos “contra-pesos”, como, por exemplo, a convivência com outras

formas organizativas da produção, a exemplo do aglomerado.

Neste sentido, seria interessante a realização de novos estudos sobre

outras experiências de cooperativas inseridas em aglomerados, no sentido de

avançar ainda mais a discussão das possibilidades do aglomerado como uma

forma superior de organização da economia popular e solidária.

261

15. REFERÊNCIAS

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SC.

275

ANEXOS

276

1. Questionário da Pesquisa Aglomerado de Confecção da Economia Popular e Solidária de Belém-PA - Setor

Parâmetros qualitativos da coleta

1. 46 associados da Ascoop, 100% dos cooperados 2. Pólo Sede(Água Cristal, Marambaia) 20, Pólo Tapanã 14, Pólo Sacramenta 12.

Perfil do empreendimento entrevistado

A) Tipo de atividade: Produção( ) Serviço( ) Comércio( )

Prod e Com( ) Prod e Serv( ) Serv e Com( ) Prod, Serv e Com( )

B) Tipo de local de atividade: Ambulante( ) Residência( ) Via Pública( ) Estabelecimento( ) Feira( ) Galeria( )

C) Tempo de empreendimento Até 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos ( )

Questões sobre os empreendimentos:

1. Como se relaciona com fornecedores? a. Quais os principais fornecedores demandados

i. Tecidos( ) ii. Armarinho(agulha, linha, peças de metal etc)( ) iii. Máquinas e equipamentos( ) iv. Lâmina de Borracha (Sola, Revestimento)( ) v. Crédito( ) vi. Formação e Treinamento( ) vii. Outro:______________________________________

b. Estabelece parcerias

i. Sim( ) ii. Não( )

c. Quais?

i. Promoção ii. Compra conjunta iii. Prazo de pagto (Fiado)( ) iv. Comercialização( ) v. Formação, Treinamento, Capacitação( ) vi. Demanda de Políticas Públicas vii. Outra:___________________________________________

d. Toma a iniciativa?

i. Sim( ) ii. Não( )

277

2. Como se relaciona com clientes?

a. Quais os principais clientes? i. Parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho(Sacola)( ) ii. Contatos no interior( ) iii. Encomendas( ) iv. Pequenos lojistas( ) v. Feirantes e camelôs( ) vi. Lojas de Galerias( ) vii. Lojas de Shopping( )

b. Estabelece parcerias? i. Sim( ) ii. Não( )

c. Quais? i. Promoção ii. Compra conjunta iii. Prazo de pagto( ) iv. Comercialização v. Formação, Treinamento, Capacitação vi. Demanda de Políticas Públicas vii. Outra:_Encomenda()___________

d. Toma a iniciativa? i. Sim () ii. Não ()

3. Se articula com seus pares(associados/concorrent es)? a. Com que outros empreendedores se articula, e como?

i. Costureiras com equipamentos próprios() ii. Costureiras sem equipamentos próprios() iii. Atelieres montados() iv. Revendedores estabelecidos v. Sacoleiras(os)() vi. Outro____________________________________________

b. Estabelece parcerias? i. Sim () ii. Não()

c. Quais? i. Promoção() ii. Compra conjunta() iii. Prazo de pagto iv. Comercialização() v. Formação, Treinamento, Capacitação() vi. Demanda de Políticas Públicas () vii. Outra:___________________________________________

278

d. Toma a iniciativa? i. Sim () ii. Não()

4. Quantas ocupações econômicas diretas permanentes são mantidas? a. 1 a 5() b. 6 a 10() c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

5. Quantas ocupações econômicas diretas temporárias são demandadas?

a. 1 a 5() b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

6. Qual o faturamento bruto médio por mês? a. Até R$500() b. R$500 a R$1.000() c. R$1.000 a R$5.000 d. R$5.000 a R$10.000 e. R$10.000 a R$20.000 f. Mais de R$20.000

7. Quais são os principais insumos demandados? (Marcar até 3 alternativas, identificando 1º, 2º e 3º)

a. Tecidos, linhas e agulhas ( ) b. Máquinas ( ) c. Crédito ( ) d. Formação, Treinamento, Capacitação ( ) e. Políticas Públicas ( )

8. Quais outros negócios também ganham com sua ativ idade? a. Salão de Beleza () b. Alimentação () c. Cultura d. Moda / Modelos() e. Mercearia f. Artesanato()

g. Segurança h. Som i. Ensino

Outro:_________________

279

9. Quais órgãos e instituições ajudam o desenvolvim ento do empreendimento?

a. Banco do Povo() b. Banco do Cidadão c. Basa d. CEF e. Banco do Brasil() f. Prefeitura:__________ g. Gov. do estado:__ h. Gov. Federal:___

i. Univers./Facul() j. Igrejas k. Ong´s () l. Grandes empresas m. Sebrae() n. Sesi, Sesc, Senai() o. Fórum de Ecosol() p. Outro:_____________

10. Quais as principais vantagens de cooperar com o utros

empreendedores do mesmo ramo? a. Escala de produção() b. Partilha de saberes() c. Partilha de equipamentos() d. Compra conjunta() e. Marketing (Promoção)()

f. Força Política() g. Acesso a Crédito() h. Feiras / Desfiles() i. Outro:________________

11. Quais as principais dificuldades enfrentadas?

a. Ver o outro como concorrente() b. Falta crédito() c. Fiador() d. CNPJ / Nota Fiscal () e. Formação Gerencial() f. Comercialização() g. Incentivos Econômicos / Tecnológico() h. Regulamentação do segmento() i. Relacionamento() j. Acesso aos meios de comunicação()

Nome do Entrevistador:__________________________ Nº da entrevista:_____ Bairro / Local de Referência:____________________________Data: / /

280

2. Questionário da Pesquisa Aglomerado de Confecção da Economia Popular e Solidária de Belém-PA - Clien tes Parâmetros qualitativos da coleta

3. Clientes de Empreendedores de produção, serviço e/ou comercialização de vestuário, cama, mesa e banho, acessórios, bijuterias, bolsas e sapatos.

4. Consumidor individual, Pequenos lojistas, lojas de galerias, de shopping, feirante etc. Perfil do empreendimento entrevistado A) Tipo de atividade: Consumidor indiv.( ) Instituição( ) Loja pequena( ) Feirante( ) Outro ( ) C) Tempo de empreendimento Até 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos ( ) Questões sobre os empreendimentos:

12. Como se relaciona com fornecedor de confecção? a. Quais os principais fornecedores demandados

viii. Roupa feminina e masculina ix. Roupa de trabalho x. Lingerie xi. Moda praia xii. Confecção para Bebê xiii. Acessórios(Bolsas, sandálias bijouterias)

b. Estabelece parcerias

i. Sim ii. Não

c. Quais?

i. Promoção ii. Compra conjunta iii. Prazo de pagto (Fiado) iv. Comercialização v. Formação, Treinamento, Capacitação vi. Demanda de Políticas Públicas vii. Outra:___________________________________________

d. Toma a iniciativa?

i. Sim ii. Não

13. Principais Motivações

a. Quais as principais motivações para comprar confecção da Economia Popular? i. Data festiva(aniversário, casamento, carnaval, círio, natal, São João etc) ii. Acompanhar a moda iii. Férias iv. Exigência do trabalho v. Preço baixo vi. Atende em casa vii. Sob medida / Exclusividade

281

viii. Qualidade ix. Outro____________________________________________

14. Quantas ocupações econômicas diretas permanente s são mantidas? a. 1 a 5 b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

15. Quantas ocupações econômicas diretas temporária s são demandadas? a. 1 a 5 b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

16. Qual o faturamento bruto médio por mês?

a. Até R$500 b. R$500 a R$1.000 c. R$1.000 a R$5.000 d. R$5.000 a R$10.000 e. R$10.000 a R$20.000 f. Mais de R$20.000

Nome do Entrevistador:__________________________ Nº da entrevista:_____ Bairro / Local de Referência:____________________________Data: / /

282

3. Questionário da Pesquisa Aglomerado de Confecção da Economia Popular e Solidária de Belém-PA - Forne cedores

Parâmetros qualitativos da coleta

5. Fornecedores de Empreendedores Populares de produção, serviço e/ou comercialização de vestuário, cama, mesa e banho, acessórios, bijuterias, bolsas e sapatos.

6. Lojistas de tecidos, máquinas e armarinhos(linha, linha, zíper etc). Perfil do empreendimento entrevistado A) Tipo de insumo: Tecido ( ) Máquinas ( ) Armarinho ( ) C) Tempo de empreendimento Até 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos ( ) Questões sobre os empreendimentos:

17. Como se relaciona com clientes? a. Quais os principais clientes?

i. Produção caseira – sem fins comerciais ii. Costureiras e alfaiates - autônomos iii. Atelieres e pequenas fábricas de confecção iv. Fábricas de médio porte v. Produção institucional – eventos culturais próprios vi. Outro:___________________________________________

b. Estabelece parcerias?

i. Sim ii. Não

c. Quais? i. Promoção ii. Compra conjunta iii. Prazo de pagto iv. Comercialização v. Formação, Treinamento, Capacitação vi. Demanda de Políticas Públicas vii. Outra:___________________________________________

d. Toma a iniciativa? i. Sim ii. Não

18. Se articula com seus pares(associados/concorren tes)? a. Com que outros empreendimentos se articula?

i. Lojistas do mesmo ramo ii. Lojas de máquinas iii. Armarinhos iv. Tranportadoras v. Outro____________________________________________

b. Estabelece parcerias? i. Sim

283

ii. Não

c. Quais? i. Promoção ii. Compra conjunta iii. Prazo de pagto iv. Comercialização v. Formação, Treinamento, Capacitação vi. Demanda de Políticas Públicas vii. Outra:___________________________________________

d. Toma a iniciativa? i. Sim ii. Não

19. Quantas ocupações econômicas diretas permanente s são mantidas? a. 1 a 5 b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

20. Quantas ocupações econômicas diretas temporária s são demandadas? a. 1 a 5 b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

21. Qual o faturamento bruto médio por mês? a. R$5.000 a R$10.000 b. R$10.000 a R$20.000 c. R$20.000 a R$50.000 d. R$50.000 a R$100.000 e. Mais de R$100.000

22. Quais órgãos e instituições ajudam o desenvolvi mento do empreendimento?

a. Banco do Povo b. Banco do Cidadão c. Basa d. CEF e. Banco do Brasil f. Prefeitura:__________ g. Gov. do estado:______ h. Gov. Federal:________

i. Univers./Faculdades j. Igrejas k. Ong´s l. Grandes empresas m. Sebrae n. Sesi, Sesc, Senai o. Fórum de Ecosol p. Outro:_____________

Nome do Entrevistador:__________________________ Nº da entrevista:_____ Bairro / Local de Referência:____________________________Data: / /

284

4. Questionário da Pesquisa Aglomerado de Confecção da Economia Popular e Solidária de Belém-PA - Corre latos

Parâmetros qualitativos da coleta

7. Instituições de apoio aos Empreendedores de produção, serviço e/ou comercialização de vestuário, cama, mesa e banho, acessórios, bijuterias, bolsas e sapatos.

8. Outros Empreendedores, formais e informais, que ganham com a atividade do setor de confecções – mesmo sem comprar ou vender diretamente ao setor.

Perfil do empreendimento entrevistado

A) Tipo de atividade: q. Salão de Beleza r. Alimentação s. Cultura t. Moda / Modelos u. Mercearia v. Artesanato w. Segurança x. Som y. Ensino z. Banco do Povo aa. Banco do Cidadão bb. Basa cc. CEF dd. Banco do Brasil ee. Prefeitura:__________ ff. Gov. do estado:______ gg. Gov. Federal:________ hh. Univers./Faculdades ii. Igrejas jj. Ong´s kk. Grandes empresas ll. Sebrae mm. Sesi, Sesc,

Senai nn. Fórum de Ecosol oo. Outro:_____________

285

C) Tempo de empreendimento Até 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos ( )

Questões sobre os empreendimentos:

23. Como se relaciona com a atividade de confecção popular? a. Qual a natureza da relação?

xiv. Complementar obrigatório xv. Acessório opcional xvi. Compõe o ambiente xvii. Estimulante do consumo xviii. Público Alvo xix. Política Pública xx. Crédito xxi. Outro:_______________________________________

b. Estabelece parcerias com o setor de confecções?

i. Sim ii. Não

c. Quais? i. Promoção ii. Evento iii. Comercialização iv. Formação, Treinamento, Capacitação v. Demanda de Políticas Públicas vi. Outra:___________________________________________

d. Toma a iniciativa?

i. Sim ii. Não

24. Se empreendimento particular, quantas ocupações econômicas

diretas permanentes são mantidas? a. 1 a 5 b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

25. Quantas ocupações econômicas diretas temporária s são demandadas?

a. 1 a 5

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b. 6 a 10 c. 10 a 20 d. 20 a 50 e. 50 a 100

26. Qual o faturamento bruto médio por mês? a. Até R$500 b. R$500 a R$1.000 c. R$1.000 a R$5.000 d. R$5.000 a R$10.000 e. R$10.000 a R$20.000 f. Mais de R$20.000

Nome do Entrevistador:__________________________ Nº da entrevista:_____ Bairro / Local de Referência:____________________________Data: / /